Você está na página 1de 7

UNISINOS - PROCESSOS DE ENSINO E APRENDIZAGEM II

Projeto de Intervenção na Escola de Ensino Fundamental Girassol

Nomes: Fernanda Zielke, Hanna Simon Horn, Mônica Tabajara, Djulie Wieliczko, Bruna
Luísa P. S. Rodrigues.
Professora: Fernanda Hampe Picon
Data: 15/06/2022

Dados de identificação do local: O local onde a intervenção será realizada é Escola de


Ensino Fundamental Girassol, uma rede privada de ensino.

A solicitação surgiu de um grupo de estagiárias de Pedagogia, a partir da observação


do grupo de professores e seus relatos nos momentos de intervalo entre as aulas, em seus
horários de almoço e observação ativa no dia a dia. Acrescido de uma situação ocorrida, com
uma professora que muito abalada se juntou às estagiárias chorando e relatando suas
dificuldades.

Os relatos encaminhados à psicologia demonstram sobrecarga de trabalho, devido ao


grande números de alunos, problemas com o gerenciamento de tempo, dificuldades com
algumas crianças, dúvidas constantes sobre a capacidade do seu trabalho dos pais de alunos
da escola e situações familiares das professoras que acabam afetando o bem estar físico e
psíquico das mesmas. A psicologia observou a necessidade de um espaço de escuta em que as
professoras pudessem falar sobre seus medos e fragilidades e com isso criar um ambiente que
proporcionasse um maior conforto emocional.

Primeiramente, se faz necessário, como bem coloca Bell Hoocks, traduzida por
Marcelo Cipolla, (2013, p. 253), a humanização do professor, porque quando o professor
pensa sobre o que fazer se precisar ir ao banheiro durante a aula, por exemplo, é possível
perceber uma necessidade da psicologia em auxiliar a personalização dos professores. Um
olhar real dos desejos, sentimentos e necessidades de quem faz parte da estrutura da escola,
de fazer com que essa instituição presente nas escolas possa ser um pouco rompida trazendo
para o olhar aos professores um pouco mais de compreensão.
Ademais, a humanização do professor se faz necessária, pois, como bem coloca
Marisa Rocha (1999, p.3), que as condições cotidianas do trabalho escolar caracterizam-se
pelo isolamento e assoberbamento de tarefas. Portanto, são demandas de atividades
humanamente cansativas e, às vezes, impossíveis de realizar por ser, como a citada autora
coloca, exploração dos trabalhadores (1999, p. 5).

Com relação aos mecanismos para lidar com as demandas que o cotidiano na sala
acarreta, pode-se pensar em tal questão diante da infância ser uma fase de desenvolvimento
da vida do ser humano em que surgem questionamentos e dúvidas. Heckert; Corona;
Manzini; Machado e Fardin (2001, p. 275) trazem a escola como um campo de forças em luta
permanente, falando que esse local não se constitui apenas como espaço de repetição de
naturalizadas verdades, apontando que as instituições que o atravessam produzem diferentes
movimentos. Nesse sentido, importante destacar que a escola é um dispositivo de novos
modos de viver, novos modos de produzir em cada sujeito uma subjetividade, dito isso,
pensamos, então, a escola como um espaço de transformação para todos que dela fazem
parte.

Outro ponto a ser dito, é sobre a falta de limites ou o não respeito pelas professoras
presente na escola, como mencionam os citados autores Ana Heckert, Cíntia Corona, Juliene
Manzini, Roger Machado e Vinicius Fardin (2012, p. 277), podem ser maneiras de expressar
necessidades por partes dos alunos. Sendo assim, a professora precisa saber de tal premissa e
estar preparada e, principalmente, não levar para o pessoal tais atitudes por parte dos alunos e
familiares.

Os sujeitos da intervenção serão as professoras. Tendo como estratégias de


enfrentamento proporcionar um espaço no qual elas possam ser ouvidas e acolhidas.

A estratégia pensada para a intervenção foi de criar espaços de escuta para que as
professoras pudessem conversar sobre as dinâmicas nas relações cotidianas. Acolher as
queixas e incentivar a reflexão e o diálogo sobre os problemas. Desenvolver temas como a
prática do cuidado focando na prevenção e potencializando fatores de proteção ao grupo.
Como também, promover debates sobre mecanismos para lidar com as demandas que o
dia-a-dia na sala de aula acarreta, pois como bem coloca Bell Hoocks, tradução por Marcelo
Cipolla, (2013, p. 253) a escola vai além da mente a ser ensinada. Indo ao encontro da ideia
de Marissa Rocha (1999, p. 6), em que a escola não abarca só problemas de aprendizagem
pedagógica, porque está intricado com a complexidade da vida.
Afinal, como diz a autora Marissa Rocha (1999, p.5), a realidade sempre muda o que
faz com que seja preciso a construção coletiva de novos recursos. Nesse sentido, quando
entraram na Escola Girassol as professoras tinham uma expectativa quanto a como seria seu
desenvolver, seu trabalho, e após alguns anos no local, a euforia, o entusiasmo do primeiro
momento foi sendo esquecido e começaram a surgir outras questões para serem trabalhadas,
com suas expectativas se tornando outras. Essa frustração levou ao ponto de onde pensamos
nossa intervenção, como um dos intuitos refletir e perceber, conforme a autora Marisa Rocha
(1999, p.5), se a realidade vivida condiz com as expectativas oficiais.

O Grupo de Apoio e Reflexão com os professores será composto pelas 6 professoras


da Escola, 2 profissionais da psicologia, sendo 1 psicóloga do local e 1 estagiária de
psicologia, as quais ficarão responsáveis por realizar a intervenção. Pensamos em propor 6
encontros, com duração de 45 a 60 minutos, que ocorrerão nas segundas-feiras após as aulas,
podendo mudar conforme o que vier sendo trabalhado.

Primeiro Encontro

No primeiro encontro será realizada a apresentação da proposta, do plano de trabalho


e a realização, junto com o grupo, dos combinados com relação ao horário, frequência dos
encontros e como acontecerá a dinâmica. Após, será perguntado sobre os assuntos que as
professoras gostariam de abordar nos encontros e quais não gostariam, bem como o que elas
esperam do Grupo de Apoio e Reflexão.

Os assuntos sugeridos serão abordados no quarto e quinto encontro. Caso não ocorra
sugestões, serão desenvolvidas as ideias citadas nos próximos tópicos.

Então, vamos trazer sobre a importância de se entregar para a experiência, de se expor


e se entregar para essa oportunidade, esse espaço especialmente pensado para as professoras.
O disparador para o tema da experiência, será o trecho abaixo, retirado do texto “Notas sobre
a experiência e o saber de experiência”:

A experiência, a possibilidade de que algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto

de interrupção, um gesto que é quase impossível nos tempos que correm: requer parar

para pensar, parar para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar, olhar mais

devagar, e escutar mais devagar; parar para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos

detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo, suspender a vontade, suspender o

automatismo da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os olhos e os ouvidos,


falar sobre o que nos acontece, aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a arte

do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se tempo e espaço. (BONDIA, 2002, p. 5)

Segundo Encontro

O segundo encontro terá como objetivo que as professoras se percebam além dos seus
alunos e demandas exigidas no dia-a-dia. Um momento para que cada professora se
reconheça como uma pessoa com suas particularidades e que compõe parte essencial da
Escola. Pois, o grupo é composto das particularidades de cada integrante: “no grupo, a par
das necessidades comuns, cada indivíduo, a seu modo, procurará atender às suas necessidades
pessoais. O grupo assume assim uma atitude de catalisador dessas necessidades.”
(QUALITYMARK, 1988, p. 60). O disparador será trazer sobre a importância da conversa a
respeito das experiências e sentimentos. Tal qual, expor e conversar sobre preocupações,
necessidades e sentimentos (DA SILVA; DA SILVA; DA FONSECA, 2021, p.7), para que
nesse sentido os professores se percebam todos como sujeitos que enfrentam desafios
constantes e torne sua dor mais válida.

É importante que as professoras compartilhem desafios e angústias para ajudar a


entender e a identificar emoções. Como também, para entender que as emoções são respostas
normais (DA SILVA; DA SILVA; DA FONSECA, 2021, p.8), para assim conseguir
normalizar o fato de sentir, trabalhar que emoções são apenas emoções e não há problema em
termos ela.

Terceiro Encontro

O terceiro encontro será destinado a um momento reflexivo o qual as professoras


possam perceber que a humanização delas em sala de aula é possível e necessária, sendo essa
condição humana delas relacionada ao gênero e raça, pois como sendo um grupo composto
de apenas mulheres e com mulheres negras, achamos importante falar sobre como elas são
vistas na sala de aula, ou seja, reconhecer a vulnerabilidade da condição humana e a
importância de buscar ajuda (DA SILVA; DA SILVA; DA FONSECA, 2021, p.8). O
disparador será o exemplo do “ir ao banheiro” apresentado no texto de Bell Hoocks,
traduzida por Marcelo Cipolla, (2013, p. 253).

Quarto Encontro
O quarto encontro será destinado para uma troca de experiências, sentimentos e
crenças para proporcionar a possibilidade de insights no grupo, e uma busca de significados
ou ressignificados de seus sentimentos (MANCIA, 2007, p. 19). Enfim, um momento para o
que “dar conta de um conteúdo” possa ser expressado em sentimentos (MANCIA, 2007, p.
20), trazendo a importância de ouvir e perceber outras vivências que dialoguem com a sua. O
disparador será o trecho 01:03 - 01:19 do vídeo Eu estou exausta:
https://www.youtube.com/watch?v=XYSQ4NJrZyI.

Quinto Encontro

O quinto encontro será destinado para abordar formas de manejo dos sentimentos e
emoções. Bem como, as demandas que o dia-a-dia na sala de aula acarreta, pois como bem
coloca Bell Hoocks, tradução por Marcelo Cipolla, (2013, p. 253) a escola vai além da mente
a ser ensinada porque a escola não abarca só problemas de aprendizagem pedagógica, pois
está intricado com a complexidade da vida (ROCHA, 1999, p. 6). O disparador será perguntar
sobre as relações das professoras fora da Escola. Sobre o que gostam de fazer, sobre como o
gênero e raça delas fora da escola implica para elas, fazer o pensar para além desse espaço
institucional, de que forma suas vivências se encontram e quem sabe se desencontram. O
desencontro a ser pensando no viés de terem gostos diferentes, sexualidades, vidas em geral,
mas com o intuito de que pensado em tudo que já foi trabalho elas consigam perceber que o
viver de cada é único, que apesar de se colocarem como “iguais” - professoras da Escola
Girassol - cada uma tem sua singularidade, seu modo de agir, pensar e ensinar. Pensamos
nisso, pois o artigo “As emoções à flor da pele e seus possíveis manejos na pandemia da
COVID-19” expõe a importância do fortalecimento e da manutenção de vínculos familiares e
sociais. Assim como, atividades físicas e de lazer/prazerosas.

Sexto Encontro

O último encontro será destinado para uma devolução ao grupo. Com intuito de
avaliação do processo e espaço para que a equipe expresse como foi o Grupo de Apoio e
Reflexão.

Considerando que, segundo Bondia (2002, p. 6) a palavra experiência vem do latim


experiri, provar (experimentar), e que a experiência é em primeiro lugar um encontro ou uma
relação com algo que se experimenta, que se prova, vamos questionar: o que vocês
conseguiram provar - experiência - mas também provar - prova -, para si mesmas nesses
encontros?

Esse último encontro é extremamente importante, pois é o momento onde vamos


integrar todos os acontecimentos, revisitando cada um dos encontros e fazendo uma análise
de todo o processo, verificando através dos relatos das professoras o impacto real que a
intervenção trouxe. Para além do ponto de vista das professoras, as psicólogas responsáveis
também vão trazer um feedback sobre suas percepções acerca da evolução do processo do
grupo, com o intuito de elucidar questões não percebidas pelas professoras e reafirmar as
colocações feitas por elas, validando sua experiência.

REFERÊNCIAS:

BONDIA, Jorge Larrosa. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Rev. Bras.
Educ. 2002, n.19, pp.20-28.

DA SILVA, Beatriz Soares; DA FONSECA, Paula Isabella Marujo Nunes; DA SILVA


Patrícia Duarte. As emoções à flor da pele e seus possíveis manejos na pandemia da
COVID-19. Disponível em:
file:///C:/Users/USUARIO/Downloads/18434-Article-230160-1-10-20210804.pdf. Acesso 11
de junho de 2022.

EU ESTOU EXAUSTA. Professora Coruja. Disponível em:


https://www.youtube.com/watch?v=XYSQ4NJrZyI. Acesso em 11 de junho de 2022.

HECKERT, Ana Lucia et all. "A escola como espaço de invenção". in: Jacó-Vilela, Ana
Maria (org). Clio-Psyque Hoje: Fazeres e dizeres psi na história do Brasil. Rio de Janeiro: Ed
Relume Dumará, 2001.

HOOKS, Bell. Eros, erotismo e o processo pedagógico. In: hooks, bell. Ensinando a
Transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo: Ed. Martins Fontes, 2013.
capítulo 13.
MANCIA, Lidia. GRUPISMO: O RISCO DA IGNORÂNCIA. Disponível em:
https://docs.google.com/document/d/1VhMlbggLqIKq5XWm8EuIKhejrCTNt9IymgUzAbRtI
Gk/edit. Acesso em 11 de maio de 2022.

MANCIA, Lídia Tassini Silva; DE BORBA, Paula Martyl. Como a escuta pode favorecer a
intervenção nos grupos de treinamento?. Disponível em:
file:///C:/Users/USUARIO/Desktop/Unisinos/Semestres/4s/Laborat%C3%B3rio/1/6/Escuta%
20e%20Grupos.pdf. Acesso em 11 de maio de 2022. pg. 14-20.

ROCHA, Marisa. A formação na interface Psicologia/Educação: novos desafios. In:


JACÒ-VILELA, Ana Maria; MANCEBO, Deise. (org). Psicologia Social: Abordagens
sócio-históricas e desafios contemporâneos. Rio de Janeiro: EdUERJ, 1999.

QUALITYMARK, ED. REAÇÕES CARACTERÍSTICAS DE GRUPO DO LIVRO


COMO TRABALHAMOS COM GRUPOS - AUREA CASTILHO. Disponível em:
file:///C:/Users/USUARIO/Desktop/Unisinos/Semestres/4s/Laborat%C3%B3rio/1/4/Rea%C3
%A7%C3%B5es%20caracter%C3%ADsticas%20de%20grupo.pdf. Acesso em 10 de maio
de 2022.

ROCHA, Marisa Lopes. Psicologia Social e Práticas Institucionais na escola: questões e


deslocamentos na pesquisa-intervenção. in: BRIZZOLA, Ana Lídia; ZANELLA, Andrea;
GESSER, Marivete. (orgs). Práticas Sociais, Políticas Públicas e Direitos Humanos. Ed:
ABRAPSO, 2013.

Você também pode gostar