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Papai, Mamie, Voce... Conversagées Terapéuticas em Familias com Criangas Helena Maffei Cruz (Org.) Casa do Psicélogo® Em Busca DO SAGRADO Sandra Fedullo Colombo Neste capitulo, gostaria de abrir uma trilha entre a possibilidade do encontro humano no processo terapéutico, a linguagem natural da crianga e o estimulo ao desenvolvimento de recursos que possibili- tem aos terapeutas de familia transitar no universo das familias com as criangas. Brincar é coisa séria Talvez muitas das idéias que me foram surgindo, nesses trinta anos de trabalho, tenham nascido das sementes deixadas pela convi- véncia com psiquiatras infantis, como Amélia Vasconcelos, Oswaldo Di Loreto e Michael Schwanizild, que faziam da ludoterapia uma arte na comunicagiio com a crianga, na qual a comunicacao simbéli- ca e a corporal constituiam um espaco magico de encontro. Nao é por acaso que acompanhar um atendimento de Carmine Saccu com familias com criangas é uma experiéncia profunda, to- cante, na qual todos voltam no tempo para, de novo, se encontrar. Ou de Maurizio Andolfi, que tem sempre nas maos um brinquedo, que, além de ser uma ponte para conversar com as criangas, & uma for- ma de estar mais préximo de suas emogoes, focado nelas. E dele um comentdrio de que gosto muito: “‘o terapeuta nao deve fazer brincar, mas saber brincar”. O brincar, para Moreno, € a possibilidade de integrar o drama de viver e tomar posse dele. Drama compreendido como 0 ato emocio- nal e afetivo de construir suas relagdes consigo mesmo, suas represen- tag6es de si mesmo com Os outros € com suas préprias representagdes. 170 Sandra Fedullo Colombo Encanta-me saber que podemos viver em diferentes nfveis de construgao de realidade, que viver é jogar, que a mente naturalmen- te faz operagdes metaféricas, que pensamos, realizando desejos, ¢ que brincar abre um canal para 0 mundo profundo de cada um, que © processo de socializagéo mais cunhador, enganosamente, tentou fechar. Tomo a expressao “cunhar” também do psicodrama de Mo- reno, com o sentido de formar individuos na familia ou nos diferentes grupos sociais como se cunham moedas, com a menor originalidade possivel, estimulando-se a repetigio de padrées culturais e desautorizando 0 pensamento crftico mobilizador do processo cria- tivo, boicotando-se, em diferentes niveis, o caminho da individuacao. Compreendo que as familias com criangas, quando apresentam dificuldades, tém uma riqueza enorme para o terapeuta ajudar a mobilizar, pois tudo esté mais a flor da pele: os canais do brincar, do jogar e do provocar engessamentos estio, nesse momento do ciclo vital, mais expostos. Ma§os & obra, terapeutas! Nossa caixa de ferramentas preci ser usada com liberdade. Nosso ser crianga pode acordar e se expressar.. Os canais dos sonhos, das magicas, das pogdes venenosas, de nossa espontdnea capacidade de viver esto abertos? Serao, com certeza, convidados a aparecer no encontro com as familias, mas especialmente mobilizados se existirem criangas E comum ouvirmos terapeutas comentarem que desistiram de trabalhar com criangas, pois ficavam muito cansados. De que can- sago estaremos falando? Da forga da demanda emocional, de che- gar perto desse momento evolutivo e de suas representagdes para cada um de nés, ou do cansago de colocar limites, do levantar ¢ sentar, da bagunga na sala...? Em nossas conversas nos bastidores, comentamos que as crian- gas € as pessoas que esto psicéticas percebem e comunicam tudo, e se pudermos nos encantar com suas linguagens penetramos no uni- verso mitico da familia, nos segredos, no momento em que 0 siste- ma nao péde continuar sua evolugdo no tempo, no momento em que a roda da vida esta engripando. Nao posso falar sobre 0 terapeuta e 0 nivel de disponibilidade que se espera no seu fazer sem pensar no que nds, que estamos en- volvidos na formagao de terapeutas, oferecemos para que possam desenvolver essas qualidades no seu ser e no seu viver terapéutico. Em busca do sagrado 171 Serio seu genograma, o genograma cruzado com a familia-cli- ente, a interlocugdo colaborativa dentro da equipe terapéutica, o de- senvolvimento de sua individuagao no trabalho com seus préprios mitos e suas crengas, 0 es fmulo ao desenvolvimento da curiosidade em relagao a si e ao outro, a apropriagdo das teorias sobre sistemas humanos, ciclo vital, psicopatologia, construgao da realidade, o cami- nho processual para o desenvolvimento do ser terapeuta? Penso que sim, porém quero enfatizar uma pega singular nessa construgao, que € a busca do artista dentro do terapeuta. Este é 0 elemento mais desejaével no processo de formagao, e é exatamente ai que, penso eu, nds, formadores, mais nos enganamos. Para permi- tir o surgimento da arte de cada um e criar condigdes para que ela se manifeste (ou se expresse), precisamos suportar a diminuigao de nosso poder te6rico e técnico, a mudanga da distancia hierarquica e, principalmente, assumir 0 nosso ser improvisador e curioso, sem tespostas faceis, mas capaz de gerar perguntas. Precisamos suportar um pé no ar para a caminhada... como diz Sluzki. Como ele, penso que o caminhar traz certa instabilidade, a nogao de realidades provisdrias, a procura de perguntas e nao res- postas, sair do porqué para o como, relativizando-se a experiéncia, contextualizando-se a realidade, e, assim, respeitando-se a singula- ridade, que se torna um sin6nimo de liberdade. Quando penso na formagdo de terapeutas familiares, a imagem que me surge € de uma danga (fui bailarina antes de ser terapeuta); a imagem para Keeney é de uma partitura de mtisica (era muisico). Como PoOsso, nesse encontro, envolver-me na danga do aluno, aceitando seus verdadeiros movimentos, sua improvisagao com a minha? E também essa metdfora que me surge, quando penso no en- contro com as familias, especialmente nas familias com criangas pe- quenas, pois nesse universo o terapeuta seré chamado no que ha de mais espontaneo: todas as pessoas podem dangar, ninguém precisa saber coreografias, cada um escreve com corpo € mente sua prépria coreografia. Os verdadeiros bailarinos criam espago para que sur- jam movimentos naturais de cada um e, a partir dai, constroem cami- nhos, O terapeuta-bailarino, se puder sé-lo, estara em contato com sua criatividade e improvisagao. Lembremos de Keeney: a terapia “nao é offcio, nem tecnologia que possam ser dominados”, “um artista utiliza completamente seus recursos e suas limitagdes pessoais com o objetivo de criar um estilo Unico, que € um retrato estético do seu ser-no-contexto” (1988, p. 16). 172 Sandra Fedullo Colombo Simone Castiel, em “Em busca de um terapeuta poético e Itidico” (1996, p. 230), escreve “ser espontaneo nao significa ser indepen- dente de influéncias culturais ou biolégicas, é apenas um momento de liberdade pessoal, ou seja, colocar-se frente a frente com a reali- dade, explor: e agir em conformidade com ela”. E de Whitaker e Blumberry 0 livro “Dangando com a Familia” (1988) no qual afirmam que “‘o processo de terapia familiar gira em torno de pessoas e relacionamentos, nao de técnicas de interven- gdo ou abstragées teéricas. Teoria e técnica tornam-se vivas e to- mam forma apenas quando filtradas por meio da personalidade do terapeuta” (p. 32). CO terapeuta, ao construir a realidade com a crenga em diferen- tes caminhos, a capacidade de atravessar a instabilidade sem se an- corar em teorias estdticas e protetoras, abrindo mao do desejo de controlar e ter poder, abre espago para a terapia como arte, e a im- provisagdo ocupa seu lugar como a expressao da singularidade do terapeuta por meio de sua espontaneidade. Essa postura envolve, portanto, um comprometimento total do ser com o fazer terapéutico e instiga-nos a pensar sobre qual o lugar que 0 terapeuta se d4 no seu fazer e qual a proposta de construgdo que oferece a familia. Acredito, como esses autores, que as familias néo se desenvolvem “por causa de algo que 0 terapeuta fez com elas, mas com © que terapeuta e familia fizeram um com o outro” (p. 30). FE o encontro que perturba 0 ja descrito e conhecido, o j4 danga- do, e representa 0 veiculo do crescimento. A capacidade de criar contexto apropriado para 0 acolhimento e nutrigéo, com limites e possibilidade incisiva, passa pelo ser do terapeuta, e acredito que gera a possibilidade de desenvolvimento de todos os envolvidos, familia e terapeutas. “Nutrigao excessiva cai na armadilha do ajudar, enquanto uma dureza exagerada & freqiientemente sddica. Ambos os componentes da dualidade nutri- gao-dureza devem existir em um certo equilibrio. Vocé s6 pode con- frontar na medida em que puder oferecer apoio” (p. 33). FE estimulante e desafiador o fato de que escolhemos uma ativida- de profissional na qual somos chamados a utilizar como instrumento basico de trabalho nosso préprio se/f, “Apenas quando vocé lutou con- sigo mesmo, vocé esté livre para trazer sua pessoa, e nao apenas seu uniforme de terapeuta para 0 consultorio psicoterapico” (p. 34). Como terapeuta € extremamente inquietante saber que a mdgi- ca que devo oferecer € minha integridade, aqui e agora, habitar a Em busce do sagrado 173 minha morada, estar em conexdo comigo, com minha histéria, cren- gas © preconceitos, meu humano e meu sagrado. Trazer 0 que so- mente eu posso, na minha singularidade e integridade. Como formador preciso, ao conectar-me com esse universo, construir com o aluno a descoberta dos portais que permitem atra- vessar o lugar de aprender terapia familiar para, em um rito de pas- sagem, alcangar o lugar de ser terapeuta familiar. Ns, terapeutas, gostamos muito de rituais, porque sabemos que, para desenvolver nossa integridade pessoal, instrumento do nosso tra- balho, necessitamos nao mergulhar no outro, mas mergulhar antes em nés mesmos, convidar a familia a fazer seu mergulho em nossa com- panhia e, por meio dessa relagado, emergir com novos recursos. Para uma tarefa de tanta complexidade, podemos usar instru- mentos que favoregam esse mergulho, como 0 oxigénio para os mer- gulhadores de profundidades, que so as metdforas e os ritu: Considero as metdforas como fabulas, em que podemos narrar a experiéncia emocional do viver com uma abrangéncia pictérica de imagens e sensagGes, que trazem um nivel diferente de relag’io com essa experiéncia. Nessa transposic¢ao de linguagens, surge uma am- pliagao na construgao da realidade, trazendo uma possibilidade de ocupar um outro lugar na prépria histéria. Esse alargamento, tanto para a familia quanto para o terapeuta, conquista um espago maior, no qual surgem novas coreografias, ou, talvez, mais oxigénio para o mergulho, pois a falta dele traz inicialmente uma sensaciio de perigo da morte e, depois, um profundo entorpecimento. A metéfora cria novos espagos, em que 0 perigo parece mais distante, traz uma protegio na qual ousamos mais ao nos sentirmos menos engalfinhados com os antigos constructos, dissolve a possivel rigidez do sistema terapéutico ou de aprendizado. O terapeuta, ao construir uma metdfora com a familia, abre um espago para o Itidico, podendo integrar os diferentes niveis evolutivos presentes, surgindo nessa possibilidade a confianca de que possuem Os recursos para enriquecer sua coreografia. O mesmo ocorre com o formador e os alunos, ou talvez o feiti- ceiro € seus aprendizes, pois ndo se ensinava a ser bruxo, mas, por meio de exercicios de desenvolvimento do self, tornava-se bruxo. Nao se impedia o exercicio da profissdio de bruxo, queimava-se o bruxo na fogueira em um ritual de transmutacdo e purificacao. Talvez este seja um exemplo enfatico da impossibilidade de separar papel social do proprio se/fem uma profissdo que se propée a ampli- ar construgGes conservadoras, solidamente construidas. 174 Sandra Fedullo Colombe Temos, portanto, como os bruxos e os artistas, um lugar na contracultura. Os rituais so um recurso para atravessar os porticos. Nas cultu- ras mais antigas, a construgao deles, geralmente como arcos, assina- lava a saida de um contexto relacional para outro, trazendo o sim- bolo da passagem de um estado para outro. Os rituais séo para mim construfdos para atravessar os pérticos no decorrer do ciclo vital, nas passagens evolutivas que envolvem do nascimento A morte, ou nas passagens traumdticas em que as expectativas da histéria sao quebradas por acontecimentos inesperados, como acidentes, doen- gas, separacGes, morte, etc. E pedido ao terapeuta que ele desenvolva a possibilidade de atravessar seus préprios pérticos, sejam evolutivos, sejam traumati- cos, e sua condi¢do de, ao viver e criar rituais, possibilitar que a roda da vida continue seu movimento evolutivo. Do formador espera-se, como diz Campbell em “O poder do mito”, que possa ajudar a encontrar 0 fio de Ariadne, visto por mim como uma possibilidade de construir um caminho mobilizado pelo encontro, e nio como uma revelagaéo ou um presente magico, con- tendo a percepgiio de que ao caminhar constréi-se 0 caminho, e que alguns encontros podem mobilizar novos desenvolvimentos. Nao precisamos oferecer a resposta para a perplexidade, o ca- minho para a dtivida, ou um pacote inteiro de sugestGes sdbias. A necessidade & procurar posturas que sugiram possibilidades. Assim como para a familia, para 0 aluno o convite a descoberta dos mistérios de sua danga e da ousadia de novas coreografias pres- supde um formador-bailarino. Penso que os rituais séo extremamente facilitadores, ao ofere cerem a possibilidade de condensar var narrativas e nfveis comunicacionais, ao unir a palavra & agdo, uma vez que abrem es- paco para todos os membros da familia, nos seus rentes momen- tos evolutivos, construfrem emocionalmente a hist6ria de pertencer, com 0 apoio e o nexo da experiéncia dentro do grupo, e a hist6ria de se diferenciar, cada um ocupando um espago, uma fungao e contri- buindo com sua prépria representagdo da realidade. O ritual é um ato draméatico, no sentido moreniano do drama, no qual as emogées colocadas podem ser usadas para fortalecer a tra: ma existente na histéria contada e recontada, ou 0 momento emoci- onal, em que novo significado pode emergir, como um passo para ocupar outro lugar na histéria. O ritual terapéutico é utilizado para Em busca do sagrado 175 que os aspectos da individuagiio sejam autorizados na histéria que esta sendo narrada. Tendo uma parte fortemente pré-verbal, € vivido de maneira primitiva por todos os participantes, abrindo um espaco para os membros da familia, e tocando vivéncias arquetipicas que remetem cada ser a singularidade de sua existéncia, mas também a dimens&o do pertencer a hist6ria humana. Poucos pérticos atravessamos pela vida sem nos instrumentarmos com os rituais. Observo com meus colegas que o encontro com as familias e suas criangas mobiliza mais intensamente o ser crianga do terapeuta, con- vidando-o a sair da cadeira mais protetora (hd muitos anos tinhamos ja perdido a mesa atrds da qual nos sentdvamos...) e entrar, transitar em um universo de vinculos afetivos, em que cada pessoa est em um momento singular do ciclo vital, o que significa poder construir uma linguagem, na qual todas as vozes possam ser ouvidas e re-significadas em suas necessidades emocionais. E fundamental que o terapeuta te- nha a condigio de penetrar no espago simbélico e inerente aquele momento de vida, convidando as familias a se encontrarem. Talvez estejamos chegando mais préximo do cansago do terapeuta... Apos os anos 80, com a ajuda de Maturana e Varela, percebe- mos que toda realidade é uma construgéo conjunta e multifacetada, pois entramos em contato com o mundo por meio de nés mesmos, portanto, com varios mundos coexistentes (multiverso, nao univer- so); desta forma, 0 encontro terapéutico néo mobiliza o surgir de uma “verdade”, mas, sim, amplia as possibilidades das varias cons- trugdes do real, restando-nos desenvolver uma linguagem comum a todos os membros da familia para que as criangas pequenas tegam, com seus recursos evolutivos, com os adultos, esse emergir amplia- do do universo de sua historia familiar, Todo trabalho do terapeuta é construido em torno da possibilidade de fortalecer o pertencimento com o garantir a diferenciagao. Para que possamos trabalhar nesse espago emocional no qual o eu e 0 nés se encontram, entrelacam e se diferenciam, é essencial que essas possibi- lidades estejam desenvolvidas na pessoa do terapeuta. Para que surjam Os primeiros movimentos de diferenciago e exogamia nas familias com criangas pequenas, 0 terreno do pertencimento, o apego filhos pais filho precisa apresentar sinais de confianga reciproca. Esse encontro ilumi- nard, no terapeuta, seu proprio caminho da endogamia para a exogamia, suas SatisfagGes e dores, e nessa intersegdo havera a possibilidade de se construir um novo significado para aquela experiéncia, que, dependendo 176 Sandra Fedutlo Colombo dos recursos de flexibilidade do terapeuta e da familia, podera permitir a emergéncia de novos significados. Mony Elkaim talvez nos permita chegar mais perto do cansago do terapeuta e, também, do mistério de percebermos que nao sao muitos os que entre nés se aventuram a construir um caminho de encontro com familias e suas criangas. Elkaim enriqueceu-nos, ao mostrar que as ressondncias séo fo- cos iluminados no encontro entre dois universos para serem utiliza- dos como pontes que tém a fungao de c! um ponto comum, que mobilizara afetos e emogées, a partir dos quais se pode narrar e re- significar suas historias. A ressonancia para mim € como uma luz para 0 terapeuta, no caminho que a familia Ihe prope, e que faz sentido em sua propria hist6ria. Essa possibilidade de entrar e sair, de observar 0 encontro entre ele e a familia e tomar consciéncia da utilidade da histéria surgid: no sistema terapéutico, devolve a ele a possibilidade de instrumentar suas dificuldades de forma criativa, mantendo-se inteiro nos seus recursos € esponténeo para continuar a estimular seu prdéprio cresci- mento e o da familia. Elkaim, enfaticamente, abre caminho para as singularidades do sistema terapéutico, e para um trabalho a partir da auto-referén- cia, que nao se apdia em quadros patolégicos, mas na postura de que © observador nao pode separar-se do observado, saindo da énfase na patologia para a énfase no processo evolutivo. Palavras de Mony, em seu “Se me amas nado me ames”, (1989): “‘o que sente o terapeuta remete nao s6 a sua histéria pessoal, mas também ao sistema em que este sentimento emerge: o sentido e a fungao dessa experiéncia vivida torna-se ferramenta de andlise e intervengao a servigo do pro: prio sistema terapéutico” (p. 15). A complexidade dessa postura, em que 0 ser e 0 fazer terapéutico so indivisiveis, em que 0 terapeuta mobilizara seus préprios recur- sos afetivos, emocionais e sua histéria para construir uma ampliagao dos recursos com a familia que o contrata, recebe um desafio a mais quando temos a presenga de criangas pequenas com seu universo simbélico, sua linguagem corporal e sua comunicagao Itidica. No desafio de transitar em diferentes niveis evolutivos com sua especificidade e comunicacao particulares, a espontaneidade e ca- pacidade de brincar so exigidas do terapeuta de maneira especial. Fazer brincar é diferente de saber brincar. Em busca do sagrado 177 Nos varios anos em que me dedico a formagao, vejo os alunos solicitando cursos de técnicas para terapia familiar com criangas, como se fosse possivel desvincular a experiéncia de brincar, do ser crianga de cada um, e do seu pertencimento aos pais. Quando che- gamos a esse nivel de possibilidade, descobrimos que brincar € coi- sa séria, e que o processo de aprender terapia familiar com crian- ¢as é, na verdade, uma viagem profunda aquele momento evolutivo, acordando sua prépria histéria de juntar-se e separar-se, pertencer e diferenciar-se, Lembremos de Virginia Satir: “Jogos constituem a forma e néo © processo da terapia. O processo ainda é e sempre seré o relacio- namento entre mim e vocé, aqui e agora” (p. 276). Para mim, a pessoa do terapeuta € 0 principal instrumento do encontro terapéutico. Somente por meio de sua criatividade e de sua propria evolugdéo humana podemos falar de sua possibilidade de propiciar, no encontro com a familia, os elementos instigadores do desenvolvimento. Fui evoluindo da Ansia de me tornar terapeuta de formagao profundamente cientifica e técnica para o desejo de me tornar também uma terapeuta integrada, com a propria histéria, com meu conhecimento intuitivo acordado, com as portas abertas a curi- osidade e, portanto, 4 evolugdo. Em busca do sagrado Tom Andersen conta-nos que buscou 0 termo “reflexdo” no fran- cés “reflexion”, que tem o mesmo sentido no noruegués “refleksjon”, que significa “algo que é ouvido, apreendido e pensado antes de dar uma resposta”(“A equipe reflexiva”, 1991, p. 34). Lynn Hoffman, continuando a ampliagao, fala de “posigdio re- flexiva”, ou seja, uma postura filosdfica e ética que compartilha a percepgao de que as idéias mudam por serem frutos do tempo e suas circunstancias, portanto contextuais, trazendo um profundo respeito ao existir de cada ser humano, a ética do valor a exist&ncia da diver- sidade e @ crenga na possibilidade de mobilizar o desenvolvimento dos recursos que todos os seres possuem. Até agora fui construindo as metéforas de caminho pela vida, de dangar com a familia; agora quero trazer Jean Shinoda Bolen, 178 Sandra Fedullo Colombo uma psiquiatra junguiana, que provocou a ampliag4o de minhas cons- trugdes com seu fivro instigante “O caminho de Avalon” (1994), com o qual me convidou a fazer uma peregrinagdo, mudando para mim o sentido do caminhar, pois penetrei no territ6rio da busca do sagra- do. Para mim, a nogiio do sagrado esta no territério do emocional, afetivo, relacional e como a expansio da individuagao, fecundada pela construcdo do significado da prépria existéncia. O peregrino mais que o andarifho traz a dimensao da constru- ¢4o de significados e a busca de energias escondidas que serao re- significadas para uma transformagao. O sagrado para mim esté no emergir da propria singularidade. O peregrino abre uma possibilida- de de novas significagSes para o caminhar. Pensando em como recebi meus filhos, com a profunda convic- cao da representagao tinica de cada um daqueles seres, percebo que talvez foram os primeiros momentos da vida nos quais tive nogao do significado do sagrado e dos sacramentos, estes como a construcio miitua do que é sagrado. Indo além, ocorre-me que busco com meus alunos e famflias a construgao de um clima sagrado de encontro, pois isso s6 € possfvel dentro do encontro consigo mesmo e com 0 outro, em que a forga energética esteja presente néo sé na mente, mas principalmente no ventre. Lembro-me de Carmine Saccu, em um atendimento, passar a mao na barriga para mostrar onde sentia a emogao com a familia; aproximo-o nesse momento de Shinoda (“Em Busca do Santo Graal’), e de Campbell (“O poder do mito”) para me apropriar das imagens da terra, da umidade, do ventre, dos subterraneos, dos labirintos, sig- nificando a origem e a morte. Tudo se da nesse encontro, desde nascer até morrer; essa para mim é a dimensao do sagrado. Os rituais so pontes que unem a mente e © ventre e tocam o sagrad Dentro das minhas crengas e preconceitos nao acredito ser po: vel um processo terapéutico e de aprendizado sem tocarmos essa umidade. A vulnerabilidade, curiosidade e espontaneidade sao exigidas para esse encontro. As familias chegam-nos quando esses ingredicn- tes da vida e da morte amedrontam tanto que se tornam intocdveis. Os alunos chegam-nos, a maior parte das vezes, com a mente e nado com © ventre. Do terapeuta e do formador pede-se a condigao de, nao se assustando demasiadamente com essa peregrinacéo, penetrar nesses territorios e convidar os demais para essa entrada nos labirintos, con- fiando na possibilidade do fio de Ariadne. Lendo Bolen, pude resgatar algumas experiéncias de vida, como conhecer as cavernas do Pétar Em busca do sagrado 179 ou acratera do vulcao Vila Rica, no Chile. Os sonhos que tive na visita ao Pétar trouxeram sensac6es profundas de comunhao com a terra na dimensao de origem da vida, quase como um ser feminino ampliado, um grande titero, timido e fértil. As imagens, no sonho, traziam-me o nivel magico das entranhas pulsantes e férteis, avermelhadas e aveludadas. Tive uma sensagio maravilhosa de reencontro com um estado antigo para o qual nao sabia dar um nome. Por intermédio da autora junguiana, dei um sentido a experién- cia quando li “descer até uma caverna equivale a fazer uma viagem simb6lica a terra, ao mundo subterraneo, aos outros mundos, o lugar de onde provém toda forma de vida e para qual toda forma de vida retorna na morte” (“Em Busca do Santo Graal”, 1994, p. 75). Para mim, essa visita 4s cavernas, que despertou os sonhos com imagens arquetipicas do feminino sagrado e do nascer, foi como um ritual, pelo qual cheguei ao meu sagrado, iluminando interiormente algo muito esperado e em alguma esfera conhecido, a profunda ex- periéncia de pertencer e ser tinico. Campbell e Bolen chamaram essa experiéncia de evocagio da divindade em si mesmo, Jung fala do caminho para a individuagao. Eu, ao me encontrar com esses pensadores, sinto que a dimensdo do encontro terapéutico e humano, que chamo magico, é também sa- grado, por ser tinico e iluminar a individuagao de todos os envolv: dos, terapeutas, formadores e familias, e que 0 processo de aprendi- zado € terapia ocorre nesse espago relacional do eu, vocé e nés. Quando precisamos ocultar nossa vulnerabilidade ¢ emocionalidade, também nos distanciamos de nossos préprios sen- timentos e reagGes, perdendo a capacidade de sermos esponténeos, base para qualquer encontro. O encontro da familia com os terapeutas sentados ao redor de um ponto de conversagao funciona como um caldeirao de emogdes e afetos sendo aquecidos, as vezes fervidos, mas sempre um lugar assegurado e protegido, um ventre fértil para abrigar as novas possi- bilidades de nascimento do que é evolutivo no ciclo vital. Um cal- deirao no qual se apuram as forgas da vida e da morte, em um caldo forte que alimentard cada indivfduo do sistema terapéutico em sua jornada como filhos, pais, alunos, formadores, etc. Pesquisando no- vamente Bolen, descobri que os gregos tinham um nome para ex- pressar tudo isso que descrevi: TEMENOS, lugar sagrado onde a confiabilidade de poder existir, como uma expressao tinica, esta as- segurada. Ah!... os gregos! 180 Sandra Fedullo Colombo Nesse momento, volto a pensar em Tom Andersen, quando, ao criar sua equipe reflexiva, abriu aos terapeutas uma possibilidade maior de convidar ao mergulho, com mais oxigénio, menos perigo, repre- sentado pela criagiio de um continente receptivo e qualificador com- partilhado por colegas que estavam presentes com sua humanidade, diminuindo o perigo de penetrar nesses caminhos. A ética de relagado humana proposta por Tom Andersen e seu grupo para mim amplia as im sendo, da individu possibilidades da busca do sagrado, e, >. Brincar.. uma dimenstio do sagrado As criangas estao mais préximas da possibilidade espontanea de criar, se nao estiverem excessivamente machucadas, e podem. dessa forma, responder as transformag6es do contexto com mai: flexibilidade. Precisamos estimular os adultos, terapeutas e familia- res a reaprenderem o contato com a espontaneidade, a voarem com as fantasias, a entrarem em diferentes personagens no “como se”, a contarem hist6rias e vivé-las. Tudo est4 geralmente pronto na crianga, esses instrumentos va- liosos para penetrar no labirinto sao pedacinhos do fio de Ariadne; no entanto, na maior parte das vezes nés, adultos-terapeutas, procura- mos puxar 0 mundo simbélico da crianga para o do adulto, nao en- trando em contato com sua linguagem rica, no nos deixando auxiliar pela comunicagio Itidica na construgao do contexto terapéutico. Pensando muito sobre como podemos ampliar esses recursos para 0 terapeuta e a familia, depois de assistir a varios terapeutas importan- tes fazendo sess6es inteiras sem interagirem com as criangas, imagi- nei alguns jogos para facilitar ao terapeuta o desenvolvimento do seu mergulhar na infancia, na sua construgao de movimentos endogémicos e exogdmicos, no pertencer e separar. Realizei varios workshops em congressos e encontros com 0 objetivo de viver com os terapeutas a possibilidade do mergulho, com muito oxigénio, nesse universo. O sucesso desses encontros mos- trou-me ser esta uma necessidade partilhada por muitas pessoas, & que essas experiéncias, quando propiciadas, levam a uma ampliagao significativa para a utilizagao do self do terapeuta. Em busca do sagrado 181 A linguagem metaférica, utilizando-se de objetos, favorece a manutengao do clima emocional vivido na sessdio terapéutica, tra- zendo uma concretude que tem cor, peso, cheiro, podendo ser vivido como um objeto intermedidrio, que faz a ponte entre o que eraeo que pode vir a ser. Lembro-me de um casal que usou, durante me- ses, uma pequena escultura de Dali, do relégio escorrendo, que leva- va para a casa e as vezes trazia de volta, para com isso autorizar a morte do pai moribundo e a realizagdo do proprio casamento, O ato de brincar envolve objetos metaforicos que, mesmo quando nao decodificados para a linguagem verbal, processam a trama relacional. O jogo lida com uma realidade constru(da, que pode ser transformada desde que seja possivel a negociagio entre todos os participantes, transformando-se concretamente em um laborat6rio de experiéncias interacionais. Brincar talvez seja a unica possibilidade de, vivendo, poder, ao mesmo tempo, ensaiar a vida. A partir de varias situagdes como estas do casal que citei, orga- nizei 0 jogo que denominei “O meu amuleto”, no qual a pessoa traz de sua casa um objeto importante que contenha magicamente o nas- cer e 0 morrer, um objeto que, quando nos falta, nos sentimos mais desprotegidos. Com esse objeto brincaremos com o nascer, morrer, perder e todas nossas representag6es de apego. Por meio do jogo, recriaremos o sistema de confianga do grupo e re-significaremos 0 sentido do pertencer, com perguntas enderegadas a cada pessoa, partilharemos o imagindrio desses amuletos, diminuindo o poder de- les, ao mesmo tempo que fortaleceremos a compreensio da neces- sidade emocional que preenchem, sendo que o respeito a vulnerabilidade aumenta a intimidade. Perguntas propostas: O que seu amuleto faz por vocé? Se ele nao existisse, 0 que tomaria esse lugar? De onde ele vem? Conte uma histéria para ele. Pega para ele contar uma historia dele para vocé. Para quem da familia vocé con- fiaria a guarda do amuleto? Para quem vocé deixaria de heranga? Para quem vocé emprestaria se a pessoa precisasse? Qual outro amuleto da familia vocé desejaria ter? Para quem pediria ? Quando existem criangas pequenas, a forma de falar € diferente, mas a brincadeira ocorre com extrema facilidade e sao trazidas de casa; mamadeiras, chupetas, fraldinhas de rogar o nariz, ursinhos, etc. Esse jogo mostrou-se interessante nos workshops com terapeutas, ao criar um contexto relacional rico em afetos, imagens de medos primitivos, e principalmente o contato com a possibilidade 182 Sandra Fedullo Colombo de cada um re-significar suas historias de vulnerabilidade e sua pr6- pria capacidade de criar contextos de confianga. O jogo permite ao terapeuta sair das operagGes puramente ver- bais para desenvolver um fazer terapéutico que Ihe exige uma maior complexidade, usando sua crianga interna, seu corpo como veiculo interacional de comunicagio. Essa operagio de pensar em diferen- tes nfveis, passando do concreto ao metaférico, do adulto para a crianga, e a integragao do corpo e mente, pois o jogo diminui a dis- tAncia corporal, convida o terapeuta a ultrapassar a comodidade do conhecido. Muitos jogos, que depois sistematizei, surgiram de momentos Gnicos, em que 0 encontro me chamou a criar um contexto diferente que respondesse criativamente ao que estava acontecendo. Assim surgiu o que chamei de brincadeira “da barriga da ma- mie ou da cabaninha”. A origem desse jogo foi o fato de existirem duas criangas pe- quenas na familia, engalfinhadas em uma disputa sobre a mae, o pai apavorado, sem conseguir entrar no acolhimento as criangas, ea mie deprimida a maior parte do tempo, tentando pedagogicamente colocar limites. No meio desse caldeirao de emogées, a crianga maior esconde- se debaixo do tapete, e esse ato transformou o clima da sessio. O movimento ltidico dessa crianga apontou-me um caminho para aju- dar a formar o continente emocional daquela familia. Durante meses brincamos de cabaninha ou de voltar para a barriga da mamie. To- dos podiamos voltar para a barriga da grande-mae, cada um tinha sua vez, pais, filhos, marido, mulher, terapeuta. Essa brincadeira recria e re-sig! a 0 continente afetivo da familia, e leva o terapeuta a perceber sua propria vivéncia e condi- ges de ter um continente e ser um continente. Esse jogo recria concretamente o “caldeirao de emogGes e afe- tos” de que falamos antes. Da minha prépria histéria surgiu a brincadeira que chamei do “caldeirao da bruxa”. Desde crianga fui fascinada por contos de fadas, sempre contados por minha av6 paterna, sentada em minha cama. Essa hora da noite era um privilégio, em que construir histé1 as de nossas cabegas era fascinante, pois minha avé, a cada noite, construia os personagens comigo, em que podfamos ter fadas e bru- xas em grandes negociagSes sobre suas maldades e bondades. Um objeto especial para mim era © caldeirao das bruxas: fascinante al- quimia com a forga do desejo. Em busca do sagrado 183 Nunca me conformei com o fato de que o caldeirdo fosse das bruxas e a varinha, das fadas. O cozinhar, ferver, misturar pocdes parecia-me muito mais forte e mais magico. Depois, ao ter meus filhos, recriei as histérias de minha infancia, fazendo com eles caldei- rées no fundo do quintal, onde juntavamos diferentes sementes, ter- ra, pétalas, cocé de passarinho, carvao, agua, ferviamos ¢ faziamos nossas pogdes mégicas, que podiam ser de fadas com raiva, duendes com medo, bruxas bem-intencionadas... Pensando no caldeirao, sinto a possibilidade do encontro do que é meu, do que é do outro e da magia que surge da interpenetragao dos diferentes mundos. Tudo cabe em um caldeirfo fervendo, e o mais fantastico é que no se sabe realmente o que vai surgir. E sem- pre uma surpresa 0 que vai ser criado daqueles ingredientes coloca- dos juntos fervendo. A varinha de condao sempre me traz uma sen- sagao de poder controlado, estratégico, algo que era de um jeito e vai transformar-se em outra coisa que determinamos. Um poder focal, que nao abarca o processo (eu adoro 0 processo!) e, tenho de con- fessar..., parece-me um poder menor, pois outra varinha pode desfazé- lo se possuir encantamento maior. Lembremos dos contos de fadas. nos quais sempre surgia uma bruxa com recursos estratégicos mais eficientes, e somente por meio de um caminho cheio de obstaculos 0 heréi poderia construir a transformagio. Para se desfazer a forga da paralisagéo magica nao bastava uma varinha magica, mas se exigia novos ingredientes no caldeirao. O brincar permite-nos 0 contato com a realidade mutante, com as construgdes mentais relativas ao contexto onde surgem. Sem sa- ber, com minha avo, j4 construia realidades muiltiplas. Noite apés noite narrdvamos as hist6rias, e sempre surgia uma nova possibilidade. Com meus filhos, mais tarde, re-significamos es- sas experiéncias e partimos para o jardim, para a concretizagao me- taf6rica, com caldeirao, ingredientes e fogo. A primeira vez que esse jogo acordou em mim, no consultério, foi com uma familia cuja m&e havia morrido ha um ano, ¢ 0 pai estava namorando de novo. O nivel de dor, revolta, 6dio e, traigao era muito grande. O luto das criangas estava muito no inicio, senti- am-se atropeladas. Durante varias sess6es fizemos um caldeirao com uma pogao magica com “venenos terriveis”, “sementes malignas” retiradas do jardim do consultorio, aquelas que “os passarinhos nao comem”, pois poderiam morrer, raizes podres retiradas de vasos velhos, cin- 184 Sandra Fedullo Colombo zas, argila e, o ponto alto, a urina da crianga menor, que pegou um copinho, levou ao banheiro e voltou gargalhando, como uma bruxinha, com seu Ifquido amarelo. Pudemos, durante esses encontros, dis uir a pogo magi para aqueles que querfamos que morressem. Aos poucos, os ingred! entes foram mudando e a pogdo magica também servia para fortale- cer as pessoas, protegé-las, ou seja, para realizagdes evolutivas. O caldeirao da bruxa permitiu a criago de um espago Itidico. metaférico, em que adultos e criangas podiam, em diferentes nive: do real, encontrar os significados para aquele momento da familiz que envolvia uma situagao traumatica (suicidio da mae) e uma nova situagdo evolutiva (namorada do pai). O que estava em negociagaio era a possibilidade de continuarem a viver, integrando 0 que cada um e a familia tinham de ataque e morte. O faz-de-conta cria um lugar para a mente familiar encontrar, de forma menos ameagadora, espago para ousar e buscar novas con- figuragdes. A mensagem “esta € uma brincadeira” fornece uma metaposigdo em que familia e terapeuta, ou aluno e formador, pode- rao construir um “com se” ampliador das regras implicitas do jogo cotidiano do viver. O desenvolvimento da ousadia criativa do terapeuta estimula a familia a dar lugar para comunicagées e desejos até ali expressos somente por meio dos sintomas, e permite, também, transitar intergeracionalmente, havendo lugar para todas as vozes. Essa plasticidade do terapeuta € desenvolvida por meio do e: mulo a estar conectado ao seu proprio mundo interno, suas histéri- as, oferecendo para o encontro terapéutico essa integridade. Em busca do sagrado 185 Barriga da mamde Saindo da barriga 186 Sandra Fedullo Colombo A toca dos ursinhos Em busca do sagrado Ursinho esperando a mamae 187 188 Abrindo conversagies Referéncias Bibliogrdficas ANDERSEN, T. El equipo reflexivo didlogos y didlogos sobre los didlogos. Editora Gedisa, Espanha, 1994: ANDOLFI, M. & ANGELO, C. Tempo e mito em piscoterapia Familiar. Editora Artes Médicas, Porto Alegre, 1989. BOLEN, J.S. Em Busca do Santo Graal. In: O caminho de Avalon. Editora Rosa dos Tempos, Brasil, 1994. CAMPBELL, J. O poder do mito. Ed. Palas Athenas, 1990, CAPRA, F. O ponto de mutagdo. Editora Cultrix, Brasil, 1982. COLOMBO, S.F. Filhos do divércio. Temas em terapia familiar e colaboradores. Editora Plexus, Brasil, 1994. ELKAIM, M. Si me amas, nao me ames. Editora Gedisa, Espanha, 1989, IMBER-BLACK, E.; WHITING R. & ROBERTS, J. Rituales terapeuticos y ritos. In: La Familia. Editora Gedisa, Espanha, 1997. KEENEY, P.B. A improvisdo em psicoterapia. 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