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Capa e diagramação
Kel Costa
Revisão
Geisa Brito e Raquel Moreno
1ª edição – 2022
Dominic: “Não quis fazer parecer que a culpa foi sua pelo que
aconteceu mais cedo. O descontrole foi todo meu.”
Dominic: “Bem... Não é todo dia que jogo uma garota no carro e
gozo na mão dela.”
Norah: “Foi uma época muito boa. Dei meu primeiro beijo de língua
durante um acampamento.”
Dominic: “Tenho certeza de que não era essa a intenção dos seus
pais quando a mandaram pra lá.”
Norah: “Pronta para hibernar. Boa noite, Davis. Sonhe com o calor
entre as minhas pernas.”
Dominic: “Durma bem, Norah. Provavelmente, sonharei com os
touchdowns de sábado.”
Norah: “Claro que você os conhece, muito bem, por sinal. Esteve
com eles hoje, os meus lindos dedos!”
Então, ela enviou uma foto de sua mão sobre sua coxa e eu
consegui respirar mais aliviado. Fechei meus olhos, percebendo o
quanto ela vinha me afetando por motivos bobos.
Não, não, não. Aquele não era mais o momento para Norah
fazer um discurso do tipo. Não podia aceitar nem deixar que ela se
afastasse, tinha sido uma idiotice falar aquelas coisas numa hora
tão imprópria e estava mais do que arrependido.
Norah: “Tô indo dormir. Beijo e bom jogo amanhã. Faz um gol pra
mim!”
Dominic: “Vou fingir que foi o corretor do seu teclado que trocou a
palavra touchdown por gol. Não durma! Precisamos conversar!”
Esperei pela resposta que não veio e afundei a cabeça no
travesseiro, ainda mais frustrado do que antes. Mas era meia-noite e
eu não podia mais ficar acordado ou a manhã seguinte seria
desastrosa, por isso, baixei um aplicativo que ajudava o usuário a
relaxar para ter uma boa noite de sono e fechei os olhos à força,
tentando livrar minha mente de qualquer pensamento.
Claro que eu não receberia uma resposta tão cedo por causa
do horário, mas não me preocupei. Voltei a dormir o sono dos justos,
tentando tirar aquela idiotice de frase da cabeça.
Quando acordei de verdade naquele domingo, por volta das
dez horas, fui com Aika tomar café da manhã numa lanchonete que
a gente adorava. Ela quis saber tudo o que tinha rolado com
Dominic na noite anterior e eu contei sobre o sexo oral, mas sempre
deixando de fora os detalhes que envolviam a virgindade dele.
Aquela era a minha melhor amiga e eu queria muito poder
compartilhar o segredo, ouvir seus conselhos e chorar minhas
frustrações, mas não era uma informação minha para que eu saísse
contando. Confiava na Aika, mas tinha muito medo de que, de
alguma forma, a notícia se espalhasse por culpa minha.
— Eu não consigo acreditar que vocês vivem juntos
ultimamente e ainda não transaram — comentou ela, mexendo o
canudo em seu milk-shake. — O Dominic é um cara muito
controlado.
Bastou tocar no nome dele, que meu telefone vibrou com a
chegada de uma notificação e vi que o loiro enviara uma mensagem
para mim.
Dominic: “Atletas.”
Revirei meus olhos para aquela resposta, que veio seguida de
um emoji sorridente. E então, a surpresa me atingiu em cheio com
um tapa na cara quando o loiro me enviou uma foto. Era da cintura
para cima, ele estava sorrindo, com um boné com o logotipo do
time, sem camisa, exibindo o abdômen muito sarado. Dominic Davis
estava se soltando aos poucos.
•
Acordei com um barulho alto que me fez dar um pulo na cama.
Minha cama ficava embaixo da janela e levei um susto ao perceber
que alguém tentava entrar por ali, mesmo com o vidro fechado. A
primeira coisa que pensei era que estava sendo assaltada, então
corri meus olhos pelo quarto na tentativa de encontrar algo que
pudesse usar para machucar o invasor. Como não encontrei nada e
ainda me sentia sonolenta, agarrei meu travesseiro e me ajoelhei
sobre o colchão, pronta para atacar o indivíduo.
O grito ficou estrangulado na minha garganta quando vi
Dominic prestes a bater no vidro, se equilibrando sobre o telhado no
primeiro andar.
Soltei a respiração que estava prendendo quando o jogador
me lançou um sorriso safado e abri o trinco depressa para que ele
não caísse ali de cima e morresse. Eu ainda seria culpada por
Henry Davis.
— Você resolveu me matar de susto no meio da noite? —
perguntei quando ele se sentou.
Eu fui logo arrancando seus tênis porque de jeito nenhum o
deixaria pisar de sapato no meu lençol limpinho. Assim, também
permitia que meu cérebro acordasse de uma vez e voltasse a
funcionar normalmente depois de me recuperar do susto.
— Eu tentei te ligar, mas você não atendeu — murmurou o
loiro, pisando de meias brancas na minha cama. — Não podia tocar
a campainha às duas horas da manhã.
— E aí você resolveu escalar a minha janela?
Dominic deu de ombros.
— Não é tão difícil assim, sabia?
— Esse não é o ponto — protestei, bocejando. — Desde
quando você escala janelas?
Ele tinha se sentado no meio da cama e se encostado na
parede, pois meu quarto era bem pequenino. Meu guarda-roupas
ocupava a parede onde ficava a porta e, de frente para ela, ficavam
minha escrivaninha de um lado e minha cama de outro, encostada
na parede.
— Desde agora — respondeu Dominic. — Eu precisava de
você.
Ao ouvi-lo falar assim, meu corpo bobo amoleceu e eu me
aconcheguei puxando-o para se deitar. Usei seu braço como
travesseiro ao ficar de lado e jogar uma de minhas pernas sobre as
dele.
— Como foi a conversa com o seu pai? Ele me odeia muito?
Já mandou meu nome para o FBI?
— Posso garantir que você não deixou Henry Davis feliz, mas
conseguiu surpreendê-lo — respondeu, beijando os meus cabelos e
fazendo carinho no meu braço. — Fique tranquila, pois depois que
foi embora, meu pai utilizou muito bem o tempo dele me dando mais
um de seus sermões sobre como estou a um passo de estragar tudo
que me esforcei para conquistar.
— Não vejo a hora de receber o convite para o Natal em
família — zombei.
— Sabe por que vim até aqui? — perguntou o loiro gostoso,
sorrindo para mim.
— Então... — pigarreei, dando um tapinha gentil no peito dele.
— Eu estava dormindo, sabe? Minha bocetinha está sonolenta...
Que tal você passar a noite aqui e aí me pega quando acordarmos?
Dominic soltou uma gargalhada alta e eu tapei sua boca para
que não acordasse ninguém. Seu corpo grande se inclinou sobre o
meu e o garoto veio lamber a minha bochecha.
— A experiente Norah Brown, ícone das safadas, está mesmo
me negando sexo? — Fiz biquinho para ele, torcendo para o pau
biônico não se levantar, mas o jogador sorriu e me deu um selinho.
— Estou brincando com você, baixinha. Vim aqui porque temos um
assunto importante a tratar, que iniciamos lá no dormitório, mas a
visita do meu pai interrompeu.
Tomei alguns segundos para pensar no que ele disse, tentando
me lembrar de tudo o que conversamos mais cedo, mas meu
cérebro não tinha realmente voltado ao funcionamento normal. Além
disso, a discussão com Henry Davis acabou nublando todo o resto
para mim.
— Refresque a minha memória, por favor — pedi.
— Tudo bem. — Dominic sorriu e inspirou profundamente. —
Sei que nunca conversamos sobre isso e não possuo nenhuma
experiência em fazer esse tipo de sugestão, mas... Bem,
precisamos ser exclusivos. Não suporto pensar na ideia de você
com qualquer outro cara e sei que gosta de ser solteira, que não
estava cogitando me namorar, mas eu me apaixonei e estou meio
apavorado com a possibilidade de te perder em algum momento.
Eu estava encarando a gola da camisa dele, sem conseguir
piscar direito, porque foram muitas informações jogadas de uma só
vez em cima de mim. Meu coração começou a acelerar ao final
daquela declaração que eu nem sabia se tinha sido proposital ou se
Dominic soltara sem querer a revelação sobre o que sentia.
Ok, Norah, respira, se acalma, agora olha para ele.
Consegui encarar Dominic, que me olhava com muita
expectativa. Senti meus lábios ressecarem com a respiração que eu
soltava pela boca, então engoli em seco.
— Eu achava que você não pensaria em namoro porque
acabou de descobrir a vida sexual e tudo mais... — comentei, vendo
sua testa se franzir. — Pensei que fosse querer experimentar... hm...
com outras garotas.
— Cogitei isso em algum momento, sim, mas aí percebi que eu
só quis perder a virgindade, porque queria você.
Fechei meus olhos e escondi meu rosto na axila dele sem
pensar direito no que estava fazendo, mas felizmente, Dominic
estava sempre muito cheiroso. Senti suas mãos tocarem meus
cabelos e logo um braço apertar minha cintura.
— Você não quer? — perguntou quase em um sussurro.
Senti meus olhos arderem, era por isso que estava me
escondendo, e minha voz também ficou um pouco embargada.
Mesmo assim, criei coragem e levantei meu rosto, notando a
apreensão nos olhos verdes.
— Está chorando?
— Não, é que... — Tentei sorrir, mas me atrapalhei e fiz careta.
— Eu nunca namorei e ninguém nunca se declarou pra mim. Eu
quero, claro... — Ok, tive que levar um dedo ao meu olho direito
porque ele estava acumulando muita água. — Mas não sei se sou
boa em namorar.
— Para tudo na vida há uma primeira vez — disse Dominic,
arqueando as sobrancelhas e sorrindo meio zombeteiro. — E cá
entre nós, acho que estamos namorando há algum tempo, só não
rotulamos nada.
Ele tocou meus olhos que tinham molhado um pouco mais e
piscou. Quis perguntar a ele como sabia que estava apaixonado. Eu
tinha quase certeza de que também sentia o mesmo, mas como
nunca havia vivenciado aquele sentimento, tive medo de falar da
boca pra fora e não ser verdade. Queria descobrir por conta própria
e não por achar necessário falar de volta.
Segurei a mão dele, mexendo em seus dedos que faziam
maravilhas em mim, e me aconcheguei mais dentro de seus braços.
— Pode ser a primeira vez dos dois — comentei, me sentindo
feliz com a decisão. — Eu quero namorar, Davis. De qualquer forma,
não beijei mais nenhuma boca desde que tirei a sua virgindade.
Ele riu e fez meu corpo tremer junto com o seu. Parecendo
satisfeito com a minha resposta, Dominic se levantou e tirou toda a
roupa, ficando só de cueca e entrando debaixo do meu lençol. Eu
não tinha o costume de dormir pelada ou tão à vontade porque
sempre tive medo de que houvesse um incêndio no meio da noite e
precisasse sair depressa do quarto, portanto, estava vestida com
um pijaminha confortável de calça de moletom, nada sensual.
Isso não impediu que a mão de Dominic acariciasse as minhas
costas e descesse até minha bunda, ultrapassando o elástico da
calça para sentir que eu não usava calcinha.
— Que tentação — murmurou, soltando um suspiro pesado.
— Bocetinha dorminhoca — lembrei a ele, ouvindo sua risada.
— Ela não aceitaria nem uma lambidinha?
— Não.
— Uma dedada? — ele insistiu.
— Também não — respondi.
Dominic segurou o meu rosto com as mãos enormes e me
beijou devagar, roçando a ponta de seu nariz no meu e sorrindo
como um verdadeiro bobo apaixonado. Eu tinha transformado o
quarterback carrancudo num ursinho pervertido.
— Guarde essa sua disposição toda para quando acordarmos
— avisei, sussurrando contra seus lábios. — Pode ser que eu
acorde animada quando abrir os olhos e perceber que um loiro
gostoso passou a noite toda ao meu lado.
— Vou me lembrar dessa promessa.
Dei um selinho em Dominic e me virei de costas para ele,
deixando que me puxasse para encaixar nossos corpos numa
conchinha aconchegante. Por fim, fechei meus olhos e toquei sua
mão sobre a minha barriga, sentindo que me acostumaria muito fácil
em dormir daquele jeito, com o corpo grande colado em mim, ciente
de que era tudo só meu.
Em plena segunda-feira, eu tive uma notícia desagradável
quando Dominic me mandou uma mensagem avisando que Henry
Davis estava insistindo para jantar conosco. No dia em que o
conheci eu jurava que nunca mais veria aquele homem na minha
frente, mas pelo visto, ele ainda devia ter algo a me dizer.
Norah: “Nós iremos, Davis. Me avise que horas vai passar pra me
buscar.”
•
Abri a porta da casa de Mike e me surpreendi em ver como
homens podiam ser bagunceiros. Tinha copos, pizzas e cigarros
para todos os lados da casa, além da música muito alta e das
risadas de alguns grupos. Eles eram muitos, entre titulares e
reservas, e pareciam não comemorar apenas o aniversário de Mike,
como também o sucesso que vinham tendo na temporada.
— Norah! — Peter apareceu na minha frente e abriu os braços.
— Você veio!
— É claro que sim. — Aceitei o abraço e olhei em volta. —
Onde está o Dominic?
— Lá fora com o Mike. — O melhor amigo do meu namorado
notou que Aika estava atrás de mim. — E aí, ruivinha? Qual nome
você vai riscar da sua lista hoje?
Revirei meus olhos para os dois, porque sabia que ambos
queriam se curtir e não davam o braço a torcer, então fui procurar
pelo meu quarterback. Assim que saí para o jardim dos fundos da
casa, vi Dominic sentado em uma cadeira ao lado de Mike e mais
um jogador do Bama que não reconheci por nome.
O aniversariante estava com um baseado na mão e o passou
para Dominic, que o pegou sem hesitação e o levou à boca. Vi seus
olhos se arregalarem enquanto caminhava até os três, mas o loiro já
havia dado uma tragada quando tomei o cigarro de sua mão.
Ele olhou para mim e logo o seu olhar assustado se
transformou em um olhar muito feliz.
— Norah — chamou meu nome, mas se engasgou com a
fumaça do baseado.
Revirei meus olhos e entreguei o baseado de volta para Mike,
que ria da cara do Dominic junto com o outro idiota. Francamente,
ainda bem que Peter me chamou ou não sei como o meu namorado
estaria até o final da noite.
— Vocês deviam poder fumar maconha com a temporada
chegando ao fim? — perguntei, lançando um olhar assassino para
Mike.
— Não esquenta — respondeu ele, com a voz lenta de quem
já tinha fumado muitos daqueles. — Dominic só deu essa tragada,
não cometeu nenhum crime. Mas... Talvez seja melhor ele se
manter só no charuto mesmo.
— Charuto?
Apoiei minhas mãos na cintura, olhando ao meu redor e
pensando o que diabos Dominic Davis estava fazendo ali. Ele nem
gostava de festa, muito menos uma que fosse destinada a bebidas e
cigarros.
Sua mão tocou minha perna porque eu ainda estava de pé e
senti seus dedos deslizarem por trás do meu joelho. Baixei meu
rosto em sua direção e vi seu sorriso bobo quando piscou para mim.
— Está tudo bem, meu amor — murmurou. — Eu só quis
experimentar.
— Você está bêbado — falei, agachando-me diante dele.
Seus olhos indicavam o quanto estava fora de si, bem tonto,
mas Dominic se curvou para a frente e tocou meu rosto.
— Eu estou feliz que tenha vindo. — Sorriu todo embriagado.
— Sabia que chamei por você? Eles não queriam nenhuma mulher
aqui, mas eu disse que a minha mulher podia vir.
Sorri de volta para ele, pensando em como faria para carregar
aquele homem enorme até o Uber que eu ainda teria que chamar.
Levaria ele para meu quarto, pois temia entrar com Dominic daquele
jeito no dormitório do Crimson e ficar ruim para sua imagem.
— Norah, está tudo girando — murmurou, rindo.
— Por que vocês embebedaram ele? — perguntei ao virar o
rosto para Mike.
— Ele quis beber por conta própria — respondeu o garoto,
encolhendo os ombros. — O Peter ainda tentou fazê-lo desistir da
ideia, mas Dominic estava repetindo um discurso de que precisava
viver mais.
— E o mais engraçado é que ele só bebeu três garrafas —
falou o cara que eu não conhecia.
Três garrafas de cerveja para alguém que nunca colocou uma
gota de álcool no organismo, devia ser muita coisa. Passei a mão no
rosto do loiro, vendo-o fazer uma expressão de quem parecia
enjoar, e senti vontade de colocá-lo no colo para poder protegê-lo.
— Quer vomitar, Dom? — perguntei, pegando o meu celular
para chamar o Uber.
Ele balançou a cabeça em negativa e formou um bico com os
lábios.
— Não... Só quero ficar com você.
Achei fofo, mas queria dar uns tapas nele. No entanto, sabia
que tinha o direito de fazer o que quisesse, depois de passar tantos
anos se privando de tudo. Eu me levantei e encarei Mike, que ainda
tragava o baseado com o outro amigo, então dei um tapa no ombro
dele.
— Levante essa bunda e me ajude a colocar o Dominic dentro
de um carro — pedi. — Ou vocês todos acham que com o meu
tamanho, eu consigo carregar alguém como ele?
O jogador se colocou de pé e ajudou o quarterback a se
levantar. Ele passou um braço pela cintura de Dominic, mas
começou a caminhar na direção oposta à casa.
— Não adianta eu o colocar no carro se você não vai
conseguir tirá-lo de lá — explicou. — O quarto dos fundos está livre
e o Davis sempre o usa. Vocês podem dormir lá.
O loiro se desvencilhou de Mike, ajeitando a camisa e
cambaleando. Temi que ele simplesmente desabasse no chão, mas
mostrou que ainda conseguia se manter de pé quando pegou a
minha mão e me puxou na direção do anexo onde eu já estive com
ele em outra festa.
— Vou levar minha baixinha pra cama — murmurou, acenando
para Mike e sorrindo para mim.
Eu o abracei pela cintura para evitar que caísse, ciente de que
se isso acontecesse, nós dois iríamos ao chão. Quando passamos
pela porta de vidro, tranquei a fechadura e o levei até a cama. Ele
praticamente se jogou e caiu sentado na beira do colchão.
— Você vai ficar comigo aqui, né? — perguntou.
Suspirei e me agachei diante de Dominic, pegando o seu pé
direito e tirando o seu tênis.
— Claro que sim — respondi, repetindo o processo com o
outro pé. — Vou tirar a sua roupa pra você dormir mais confortável,
ok?
Dominic apenas balançou a cabeça para assentir e levantou os
braços como uma criança. Evitei rir porque não sabia se ele era um
bêbado sentimental, mas era muito engraçado ver aquele homem
que estava sempre sério, tão embriagado e vulnerável.
— Norah?
— Oi.
Puxei a camiseta por cima da cabeça de Dominic, dobrando-a
e a colocando sobre a cama, sentindo que ele só me encarava,
quase de olhos fechados.
— Eu acho que eu estou apaixonado por você — declarou.
Pressionei os meus lábios, com muita vontade de soltar uma
gargalhada. Se três cervejas fizeram esse estrago, como ele ficaria
com um porre de verdade?
— Que lindo, Dom — murmurei, tocando seus cabelos. — Mas
você já me disse isso várias outras vezes. E eu também sou
apaixonada por você.
O loiro arregalou os olhos e levou a mão ao peito de forma
muito exagerada. Em seguida, se jogou de costas na cama e ficou
com as pernas penduradas e os braços abertos.
— Norah... Vou ligar pra polícia porque você roubou o meu
coração.
Ah, fala sério! Como eu nunca pensei nessa cantada? Ela era
incrível e muito original! Peguei meu celular e anotei a ideia para
não me esquecer. Usaria em algum momento com Dominic e
torceria para que ele não se lembrasse que tinha sido o autor da
obra. Depois de guardar o telefone, encarei o homem esparramado
sobre o colchão. Levei a mão até o zíper da sua calça e a puxei com
dificuldade por suas coxas saradas até deixá-lo só de cueca.
Dominic continuou deitado na cama, imóvel, e por um
segundo, achei que já estivesse dormindo. Respirei fundo três vezes
seguidas, bati em seu ombro.
— Dominic Davis! — chamei. — Deite-se direito. Eu não tenho
forças para mover você.
Fiquei empurrando seu braço até que começou a resmungar,
abriu os olhos, e engatinhou para cima até se deitar no lugar certo,
com as pernas esticadas sobre o colchão. Passei por cima dele e
me deitei ao seu lado, suando para puxar o lençol que tinha ficado
preso embaixo de sua bunda.
Quando finalmente consegui cobrir a nós dois, respirei aliviada
e me aconcheguei contra o corpo grande e quente.
— Norah... Não vai embora...
— Eu não vou — sussurrei, sentindo seu braço agarrar minha
cintura.
Por mais que minha cabeça pesasse uma tonelada e minha
boca estivesse com gosto de areia, eu tinha Norah em meus braços.
Só queria ficar ali para sempre e congelar aquele momento, porque
me sentia completo e em paz. Nunca passou pela minha cabeça
como seria a sensação de estar apaixonado, mas agora podia ter a
certeza de como era bom.
Norah estava com a cabeça deitada em meu braço, que tinha
adormecido há muito tempo, os lábios entreabertos, e o polegar
colado no inferior, mas ela não o estava chupando. Não podia
acreditar que houvera um tempo em que eu a achava comum,
quando hoje tinha certeza de que era a mais linda de todas.
Passei um dedo por seu nariz pequenino como ela e inclinei a
cabeça para beijar a ponta, fazendo a garota abrir os olhos escuros
e me fitar.
— Bom dia, princesinha. — Seu sorriso indicava que não
estava chateada pelo trabalho que dei na noite anterior. — Obrigado
por vir cuidar de mim.
Infelizmente, precisei soltá-la porque senti minha cabeça
latejar e tive que massagear minhas têmporas que pulsavam. Tudo
porque ontem eu decidi chutar o balde pelo menos uma vez na vida
e aproveitar como um cara normal da minha idade faria ao lado dos
amigos.
Não me lembrava de todos os detalhes com exatidão, mas
sabia que não tinha dado conta de beber direito e fiquei mal
rapidamente. Ainda bem que estávamos na casa de Mike e havia
um lugar para dormir, ou não saberia como a Norah faria para ir
embora comigo.
— Puta merda... — murmurei, me sentando na cama. — Eu
estou me sentindo péssimo.
— Isso se chama ressaca. Bem-vindo ao mundo dos bêbados.
— Norah também se sentou e me deu um beijo no ombro. — Veja o
lado positivo: você não chegou a vomitar.
— Tem uma coisa que está um pouco nublada na minha
memória — comentei, virando o rosto para a baixinha. — Por acaso,
eu fumei maconha?
Norah começou a gargalhar e se levantou da cama. Vi que
estava vestida de short e cropped, mostrando aquele corpinho que
era meu justo na noite em que disse que sairia com as amigas — e
encontraria com o Joe.
— Sinto informar, mas sim, você deu uma tragada no baseado
do Mike — respondeu o que eu não queria ouvir. — Por sorte, eu
cheguei a tempo de impedir que fosse mais de uma.
Joguei as pernas para fora da cama e também me levantei,
descobrindo que vestia apenas a cueca. Até me lembrava mais ou
menos de sentir as mãos da minha namorada passeando pelo meu
corpo enquanto me despia, mas em algum momento, eu me esqueci
desse detalhe.
Só quando peguei minha calça do chão é que percebi que
estávamos no meio da semana. Sentindo meu coração acelerar,
procurei meu celular e não encontrei, apesar de que o aparelho
deveria estar em meu bolso.
— Você viu meu telefone? — perguntei e Norah pegou sua
bolsa, puxando o iPhone lá de dentro.
— O Peter me entregou quando cheguei.
Quando peguei o celular e olhei o relógio na tela, precisei me
sentar de novo com o baque que recebi. Passava das dez horas, o
que significava que eu tinha perdido as duas primeiras aulas do dia.
Imediatamente, encarei Norah, que estava prendendo os
cabelos num rabo de cavalo e controlei minha vontade de reclamar
por ela não ter me acordado mais cedo. A verdade era que a garota
não tinha nenhuma culpa pela minha bebedeira, muito menos
responsabilidade de cuidar de um cara da minha idade.
— O que foi? — perguntou ela, franzindo a testa e encarando
meu telefone. — Ah... Perdeu alguma aula, né? Não será o fim do
mundo, isso já aconteceu com todos os seres mortais.
— Vamos embora — falei, me levantando e guardando o
celular no bolso antes de pegar a camisa para vestir. — Agora que
já me fodi, pelo menos, vou te levar pra comer.
— Essa sim é uma ótima decisão, sabia? — Norah saltitou até
enroscar os braços na minha cintura e se esticar nas pontas dos
pés.
Demos apenas um selinho porque nenhum dos dois tinha
escovado os dentes, mas eu nem me incomodaria com isso, se não
fosse por mim. Sabia que meu hálito estava pavoroso porque podia
me sentir com um gosto horrível na boca, portanto, antes de parar
em qualquer lugar, tinha que ir até meu dormitório.
Norah protestou porque estava com fome, mas me
acompanhou mesmo assim, e eu aproveitei e emprestei a ela uma
escova que ainda estava lacrada. Depois, a levei para uma
lanchonete que servia um café da manhã incrível e me sentei ao
lado da garota, que encarava com muita felicidade, um prato gigante
de panquecas.
— Norah, precisamos conversar sobre um assunto importante
— avisei, sentindo que minha dor de cabeça estava diminuindo à
medida que eu comia.
— Ok... — Ela franziu a testa, com a boca cheia, colocando
mais calda em seu prato.
— Ontem o John estava contando sobre a situação dele e da
namorada, porque ela se forma agora, mas John ainda tem um ano
pela frente. E isso me fez pensar na gente. — Sorri ao ver como a
esfomeada mal respirava enquanto devorava sua comida. — Você
possui um destino em mente quando se formar?
Norah assentiu, usou o guardanapo para limpar a calda que
sujou seu queixo e me olhou depois de engolir.
— Nova York — respondeu. — Por quê?
Uma parte minha imaginava justamente aquela escolha,
porque a garota combinava muito com a cidade que nunca parava.
— Bem, eu não posso escolher pra onde vou — contei, porque
acho que ela não sabia. — Tenho que ir para o time que me
escolher no Draft.
Como eu esperava, Norah soltou os talheres e se virou no
banco para mim, movendo apenas os olhos e, então me encarando.
— Como assim? Não é você quem escolhe pra onde vai? Você
não é tipo... o rei do futebol?
— Fico lisonjeado com sua fé em mim, mas não. — Toquei seu
queixo, notando seu semblante preocupado. — A liga entende que
os times que estão tendo desempenhos piores e campanhas mais
fracas merecem a oportunidade de escolher primeiro os melhores
jogadores disponíveis. Então, na época do Draft, qualquer equipe
pode me escolher e eu vou ter que ir.
— Mentira! — A garota tapou a boca, depois cruzou os braços.
— Então, se um time lá de Washington te escolher, você precisa
aceitar?
— Se eu quiser jogar pela NFL, sim.
— De que adianta ser o melhor, se não puder jogar pelo
Patriots ou pelo Giants, ou sei lá, qualquer outro grande?
— Você pesquisou na internet, não foi? — perguntei, rindo, e
ela revirou os olhos, assentindo. — Em algum momento, serei
transferido para um time maior. É para isso que servem os agentes.
Há também outra possibilidade, que consiste em alguma grande
equipe negociar com outra para tomar sua posição no Draft e,
assim, poder escolher primeiro. Meu pai diz que soube de alguns
rumores para esse ano, mas não é nada concreto e nem quer dizer
que o alvo seja eu.
Norah assentiu, com os olhos ainda bem grandes, e voltou a
encarar seu prato. Aquele era um assunto que passou despercebido
por mim até ontem, mas desde então, não conseguia parar de
pensar em como seria quando cada um fosse para um canto do
país. Sabia que agora, ela também estava compreendendo a
gravidade da questão e nem pegou de novo seus talheres, puxou
apenas a taça de milk-shake e sugou o canudo rosa.
Eu me inclinei e passei meu nariz por seus cabelos,
aproximando meu rosto do pescoço dela e beijando sua bochecha.
— Norah, eu quero que venha comigo — confessei, vendo-a
soltar o canudo. — Independente do lugar para onde eu for, preciso
de você ao meu lado. — Ela virou o rosto para mim, abriu e fechou a
boca, e suspirou. — Sei que é pedir muito e que você já tem todo o
seu planejamento, mas se por acaso, não possuir um emprego
certo, nenhum tipo de compromisso já firmado em Nova York, você
pode me acompanhar e eu te darei todo o suporte que precisar.
Minha garota tocou meu rosto com olhos tristes que fizeram
meu coração perder uma batida. Ainda faltavam algumas semanas
para a formatura e o final da temporada, mas sentia que não ficaria
em paz enquanto não alinhasse com ela os nossos próximos
passos.
— Eu sei que pode parecer que estou pedindo para que abra
mão dos seus planos — falei, fechando meus olhos e deitando
minha cabeça em sua mão. — Mas não é isso. Eu vou ter uma
rotina corrida e vou viajar muito com a equipe, o que tornaria bem
difícil a gente conseguir se ver se formos para estados muito
distantes.
— Dominic...
— Morando comigo — eu a interrompi — você pode me
acompanhar sempre nas viagens. Se quiser, claro.
Norah enfiou um pedaço de panqueca na minha boca, me
obrigando a mastigar aquela porcaria.
— Só assim para você se calar — comentou, revirando os
olhos. — Gosta de gastar saliva, porque eu estava pronta para
aceitar o convite desde que sugeriu da primeira vez.
A safadinha sorriu toda boba e enroscou os braços no meu
pescoço, enchendo meu rosto de beijos com cheiro de sorvete de
morango. Quando engoli a panqueca gosmenta com tanta calda,
apertei seu corpo em meus braços e a puxei para o meu colo, mais
feliz do que nunca. Tive tanto receio de tocar naquele assunto, com
medo de que Norah recuasse diante da sugestão de se mudar
comigo, que nem cheguei a pensar em como seria se ela aceitasse.
E a sensação era... surreal de tão maravilhosa.
— Garota, eu te amo muito — murmurei, segurando sua nuca
quando ela afundou o rosto no meu pescoço. — Achei que fosse
detestar a ideia.
— Acha que eu deixaria você livre pra que alguma outra vadia
usasse esse corpinho? — disse Norah, estalando a língua. — Eu
criei meu monstro com muito afinco pra abrir mão dele de uma hora
pra outra.
— Não precisa se preocupar com isso, porque eu não tenho
olhos pra nenhuma outra mulher. Suas cantadas toscas
funcionaram, acredite.
Norah recuou o rosto e me olhou com uma cara de espanto,
em seguida, começou a rir e arqueou as sobrancelhas como se me
desafiasse a alguma coisa.
— As minhas cantadas toscas? Jura? — perguntou, apoiando
o cotovelo na mesa. — Pois você ontem soltou uma do mesmo nível
que as minhas. Ou não se lembra?
Tentei me recordar de algum momento parecido, mas os
detalhes tinham sido perdidos em minha memória.
— Não me lembro — confessei, mas ri por antecipação.
— Norah, vou ligar pra polícia porque você roubou o meu
coração — ela recriou a frase imitando a minha voz e revirando os
olhos numa careta.
Gargalhei, não sabia dizer se por conta da cantada idiota ou
por causa da encenação da minha namorada. Eu jurava que não
falava tão estranho como ela fez parecer.
— Eu disse isso? — perguntei e Norah assentiu. — Significa
que seu caso é grave e contagioso, acabou me infectando.
— Da próxima vez que ficar bêbado, eu vou filmar tudo e
guardar como conteúdo para usar em chantagens.
Fui pego de surpresa quando Norah passou o dedo pela calda
acumulada sobre suas panquecas e o levou até meu nariz. Antes
que eu reclamasse, ela trouxe sua boca e me lambeu
delicadamente, descendo os lábios até os meus e me beijando com
tanta paixão, que senti meu pau sofrer um leve espasmo. Sua língua
brincou com a minha e a filha da mãe mordeu minha boca, em
seguida, se afastou e se encolheu contra a parede, puxando as
pernas para cima do banco e me encarando com uma cara de
safada.
— Se a gente dividir o mesmo teto, vou passar meus dias
pelada porque já sei que iremos foder como coelhos — comentou,
lambendo os lábios.
— Não espero menos do que isso — avisei, segurando seus
dedos e os apertando, ao mesmo tempo em que me aproximava
para sussurrar, pois estávamos em local público. — Inclusive, faça o
favor de me receber sempre com a bocetinha pronta para ser
chupada.
Para a sorte de Norah, ela estava usando um short jeans, pois
o olhar esfomeado que me lançou teria sido suficiente para me fazer
perder a cabeça e enfiar meus dedos dentro dela ali mesmo, se o
caminho fosse facilitado por uma saia.
Decidi, portanto, que não seria tão ruim pedir a conta, ignorar o
restante das aulas do dia, e levá-la para meu quarto para
compensar todo o tempo que eu perdi, enquanto a garota dava em
cima de mim e eu fugia dela como um belo idiota.
Eu tinha um coração muito forte, foi o que constatei. Primeiro,
porque o dia começou com altas emoções e não de um jeito bom.
Faltavam três semanas para o final do semestre e a minha
formatura, portanto, tirei aquela manhã de sábado para arranjar
caixas de papelão e começar a guardar algumas coisas. Eu me
conhecia, sabia que tendia a ser um pouco procrastinadora, então
não podia deixar tudo para a última hora.
Separei uma pequena caixa apenas com itens que deveriam
ser jogados fora e, enquanto arrumava uma de minhas gavetas,
encontrei uma foto minha e de Anna, no nosso primeiro ano ali.
Parecia ter acontecido em outra realidade, nós duas abraçadas e
sorrindo para a câmera instantânea de Louise, a terceira do trio, que
acabou se transferindo para a Califórnia no terceiro semestre.
Naquela época, eu nunca imaginaria que um dia, eu seria
inimiga de Anna. Ela era para mim como a Aika é hoje e eu não me
conformava que tivesse sido tão sacana comigo.
— Vida que segue, Norah — murmurei, jogando a foto dentro
da caixa e descendo até a sala, pois mais tarde colocaria tudo na
lixeira.
Infelizmente, a garota estava na cozinha e passou por mim
naquele momento. Fofoqueira do jeito que era, Anna inclinou a
cabeça para olhar dentro da caixa e quando viu a foto, notei que
seus olhos se arregalaram e ela puxou a fotografia. Vi seus lábios
se franzirem e, em seguida, me encarou, parecendo prestes a
chorar.
— Acho impressionante como você me odeia — murmurou,
empinando o nariz. — É tudo inveja?
— Inveja de quê? — Eu ri com escárnio. — Meu problema
contigo é você sempre ter sido uma vaca comigo.
— Eu só fui uma vaca com você porque você foi uma vaca
comigo primeiro! Foi você quem começou a me tratar mal, Norah.
Respirei fundo e cruzei meus braços para evitar voar em cima
dela.
— O que você esperava que eu fizesse depois do que fez
comigo? — gritei, percebendo a chegada de Aika e Alice.
Anna franziu a testa e me encarou, levando as mãos à cintura.
— Eu não sei do que está falando.
— De você me roubar no primeiro ano — falei para ver se ela
melhorava seu probleminha de memória.
— Até onde eu me lembro, você é quem me roubou —
retrucou, arqueando uma sobrancelha.
Mais algumas meninas se aproximaram para assistir a
discussão e, em outra época, eu evitaria o barraco. No entanto, eu
me formaria em breve e iria embora da Zeta. Não tinha nada a
perder.
— Agora vai se fazer de santa? — perguntei, batendo palmas.
— Quer se fingir de vítima e me colocar como a vilã?
Anna apontou um dedo para mim.
— Foi você quem começou, sua doida! Não bastasse me
abandonar do dia pra noite no passado, ainda roubou o Jeremy de
mim.
— Eu roubei o Jeremy de você? — questionei, chocada com a
cara de pau de Anna. — Isso só pode ser uma piada, não é?
— Meninas, por que vocês não deixam pra conversar quando
estiverem mais calmas? — Aika se aproximou e tocou meu braço,
mas eu recuei, me aproximando ainda mais da filha da mãe.
— Você vai negar na minha cara que não roubou o Jeremy de
mim? — insistiu Anna.
— E o que você tem a dizer sobre o Anthony? — perguntei de
volta, desafiando-a a mentir.
Anna juntou as sobrancelhas e enrugou a testa.
— O que tem o Anthony?
— Eu gostava dele. Estava gostando dele de verdade, Anna.
Já você, nunca gostou do Jeremy. Só estava com ele porque era
rico e sempre me dizia isso.
Ela bufou e balançou a cabeça, visivelmente chateada. E eu
queria saber por qual motivo continuava se fingindo de magoada da
história toda.
— Você nunca pareceu se incomodar com o que eu fazia ou
deixava de fazer com o Jeremy, até o dia que resolveu trocar de
personalidade e decidir que me odiava.
— Eu troquei de personalidade? — Ri, querendo esganá-la. —
Agora eu sou a bipolar?
— Você começou a me tratar como lixo — disse Anna, me
lançando um olhar ferido. — E como se isso não bastasse, armou
toda a confusão com o Jeremy para acabar comigo, de propósito!
— E isso não chegou nem aos pés do que você fez! — Bati no
meu peito com raiva. — Eu gostava do Anthony e você sabia disso.
Ele foi o primeiro garoto com quem eu pensei em tentar me
relacionar de verdade aqui na faculdade.
Anna me lançou um olhar esquisito como se eu falasse em
grego.
— Norah, eu já te disse mil vezes... Não sei que droga o
Anthony tem a ver com essa história.
— Ele tem tudo a ver com essa história! Tudo começou com
ele. De como você o roubou de mim!
— Eu roubei o Anthony de você? — Anna questionou,
balançando a cabeça com a testa franzida. — Norah, você bateu a
cabeça? O que está dizendo não faz sentido nenhum. Nunca tive
nada com o Anthony. Você está louca!
Eu a encarei em silêncio, enquanto me lançava um olhar
genuíno de quem não estava entendendo nada daquela conversa,
mas isso não era possível. Anna tinha ficado com Anthony algumas
semanas depois de eu ter contado que estava gostando dele. Eu
não era apaixonada, mas vinha curtindo nossos encontros, até que
os dois ficaram e ele sumiu da minha vida.
— Você alguma vez me viu com o Anthony? — ela perguntou.
Precisei pensar por alguns segundos, porque fazia muito
tempo e, desde então, eu quase não relembrava aquela época. Mas
não, por incrível que pareça, nunca cheguei a ver os dois juntos. As
únicas vezes em que os presenciei no mesmo ambiente, eu estava
no meio porque Anthony estava comigo.
Anna ergueu uma sobrancelha.
— Não, né? Você nunca viu nada porque eu nunca estive com
ele.
— Eu não preciso ver para saber, pois me contaram —
respondi.
— Quem contou? — Anna quis saber, erguendo a
sobrancelha.
Eu olhei à nossa volta, percebendo que umas dez meninas
assistiam a tudo, muito curiosas. Só a Aika e a Alice pareciam
preocupadas com a situação.
— A Louise me contou — confessei, sabendo que não tinha
mais problema tocar no nome dela, porque não tínhamos mais
contato de qualquer forma.
Anna gargalhou, jogou a cabeça para trás e levou as mãos à
boca. Ela parecia não acreditar no que estava ouvindo e seu rosto
era uma máscara de descrença.
— Louise? — repetiu. — A mesma Louise que transou com o
Anthony naquela festa em que você desmaiou de bêbada dentro da
piscina?
— O quê?
Que informação era aquela que eu desconhecia? Louise e
Anthony? Ele pegava todas as minhas amigas?
— Pois é... — Anna abriu os braços, sorridente. — Depois que
você se embebedou até passar mal e quase se afogar, a querida
Louise foi flagrada pagando um boquete pro Anthony no banheiro.
Não fui eu quem vi, pois a idiota aqui estava cuidando de você, mas
várias garotas ficaram sabendo. E aquela nem tinha sido a primeira
vez que eles foram vistos juntos em público. Havia vários boatos,
mas eu sempre achei que eram mentiras. Como a Louise era nossa
amiga, não achava que faria isso, até o dia em que a vi dentro do
carro dele.
Aquilo me atingiu com força, e eu fechei os olhos, tentando
entender tudo o que estava acontecendo. Quando Anthony parou de
falar comigo de repente, eu fiquei mal, sem entender. Ele
simplesmente começou a me ignorar e tudo o que disse uma única
vez, foi que estava saindo com outra. Eu fiquei neurótica, tentando
descobrir quem era. Louise, então, me disse que tinha visto ele com
Anna. Que a Anna era a outra garota.
Na época, eu quis enfrentar Anna e tirar a história a limpo, mas
Louise me convenceu do contrário e agora eu entendia o motivo. Ela
não queria que eu botasse Anna contra a parede, porque saberia
que era mentira. Tudo fez sentido na minha cabeça e a verdade me
atingiu com força.
— Foi por isso que você parou de falar comigo? Foi por isso
que começou a me tratar como uma estranha? — Anna me lançou
um olhar magoado. — Por conta de uma mentira? — gritou para
mim, cerrando os punhos ao lado do corpo. — Você acabou com a
nossa amizade por causa de uma mentira, Norah?
Não havia nada que eu pudesse falar. Tinha acreditado em
Louise e duvidado de Anna porque parecia a coisa mais sensata.
Estava com tanta raiva e tão magoada, que não pensei
racionalmente, apenas aceitei o culpado que me foi entregue.
— Você deveria ter falado comigo — Anna disse, com os olhos
enchendo de lágrimas. — Eu era a sua melhor amiga, droga. Estava
sempre ao seu lado e a Louise chegou depois.
Agora parecia óbvio e eu sentia um nó se formar em minha
garganta. Era a verdadeira vilã daquela história, porque com
exceção desse problema, Anna sempre foi uma ótima amiga.
— Você acabou com as minhas chances com o Jeremy, por
algo que eu nunca fiz e iniciou uma rivalidade estúpida por conta de
uma mentira.
Engoli em seco e continuei em silêncio, apenas ouvindo-a
desabafar. Depois de anos achando que Anna tinha sido injusta
comigo, eu descobri, finalmente, que havia sido eu a injusta da
história.
Stephanie, uma caloura, se aproximou para afagar os ombros
de Anna, que tinha começado a chorar.
— Você tem noção do que fez? — perguntou. — Todos esses
anos... Meu Deus! Era só você ter me perguntado. Era só ter falado
comigo... Isso era o mínimo que você poderia fazer. — Anna
gesticulou um dedo, apontando de mim para ela. — Você fez isso
com a gente!
A primeira lágrima escorreu pelos meus olhos sem que eu
pudesse evitar e me sentia prestes a desabar de verdade, mas não
deixaria acontecer na frente de todo mundo. Virei-me de costas e
caminhei na direção da escada, sentindo que Aika vinha atrás de
mim. Parei na porta do meu quarto e olhei para ela, balançando a
cabeça para que entendesse que eu queria ficar um pouco sozinha.
Não sei por quanto tempo fiquei chorando com o rosto abafado
contra o travesseiro, mas uma hora eu precisei parar porque tinha
que finalizar minha dissertação e enviá-la ainda naquela tarde para
minha orientadora. Portanto, passava das duas horas quando tomei
um banho para me sentir melhor e me sentei para mexer no
notebook.
Digitei as últimas cinco mil palavras que faltavam para encerrar
aquele capítulo da minha vida e enviei o e-mail depois de revisar
todo o texto duas vezes.
Naquele sábado, o Crimson Tide estaria jogando no Mercedes-
Benz Stadium, que ficava em Atlanta, contra o Georgia Bulldogs.
Meu coração ficava apertadinho quando os jogos não aconteciam
aqui e eu precisava me separar de Dominic, mas não significava
que eu não torceria igual uma louca.
Terminei de me arrumar às seis da tarde e fui com Aika, Carlos
e Alice, encontrar com Joe e Katherine no Steven’s, onde
assistiríamos aquele confronto imperdível. Precisei usar muita
maquiagem para disfarçar as olheiras que ganhei depois de tantas
lágrimas, mas nada apagaria o brilho do meu amado em campo.
O Bama já começou com um touchdown nos primeiros cinco
minutos de jogo, levando a torcida do estádio e do bar ao delírio, e
meu coração acelerava no peito. Pedi mais uma cerveja de caneca
quando as batatinhas chegaram à nossa mesa e ignorei as
conversas paralelas que aconteciam na mesa, porque não podia
piscar para não perder nenhuma jogada de Dominic.
Só que então, em dado momento quando ele gritou e a bola foi
passada para suas mãos, meu quarterback recuou dois passos e
procurou por Peter. Ele lançou no instante exato em que uma
muralha se jogou sobre seu corpo. A câmera saiu de cima de
Dominic para acompanhar a trajetória da bola, que caiu nas mãos
do incrível Peter quando ele pulou no ar. E ao tocar os pés no chão,
outra muralha gigantesca o derrubou de cabeça.
Eu já tinha aprendido que era comum esse tipo de
acontecimento no futebol americano. Os jogadores quase se
matavam em campo, partiam para o ataque com sangue nos olhos e
o importante era parar o adversário a qualquer custo. Todo torcedor
estava acostumado com esses bloqueios, só que se esperava que o
jogador se levantasse imediatamente.
O que não aconteceu com Peter. À minha volta, muitas
pessoas que assistiam pela televisão, se levantaram com os olhos
grudados na tela. O wide receiver — finalmente aprendi — do
Crimson permaneceu imóvel na mesma posição em que caiu, de
bruços, com a cabeça numa posição estranha e o braço direito
dobrado sob o corpo. Aika, ao meu lado, começou a chorar porque
eles vinham ficando cada vez com mais frequência, e ver as
lágrimas da minha amiga me deixou ainda mais preocupada.
— Ele está bem, né? — perguntei.
Na televisão, os locutores começaram a falar ao mesmo tempo
e uma confusão se iniciou em campo. Mas não parava por aí, pois
ficou muito pior quando a câmera mudou para Dominic também
caído e imóvel.
— O quê? — murmurei, me aproximando da televisão. — O
que foi?
Ao redor dele começou a juntar um monte de jogador e
pessoas da equipe técnica, enquanto meu namorado estava deitado
de costas, com braços e pernas afastados e olhos fechados. Dava
para ver quando deram o zoom em seu rosto.
Foi a minha vez de começar a chorar e senti braços me
envolverem os ombros. Era Carlos que me puxava de volta para a
mesa, enquanto eu tapava o rosto.
— Diz que eles vão ficar bem, por favor — gemi, sentindo meu
rosto inundar com o choro e Joe apareceu no meu campo de visão,
segurando minhas mãos. — Ele morreu?
— Não, Norah — disse ele, mas seu semblante era de
preocupação. — Ele vai ficar bem.
— E o Peter? — perguntei, tentando passar as mãos pelos
meus olhos para parar as lágrimas.
Na televisão, um dos locutores perguntou para o outro se
Dominic Davis estava respirando. Foi a última coisa que escutei
antes de me curvar para a frente e vomitar toda a comida e o álcool
que ingeri.
Eu me sentei na escada do lado de fora da irmandade,
observando a praça mais à frente e apoiando minha cabeça nos
joelhos. Passava das onze da noite e não conseguia dormir porque
não tinha notícias de Dominic nem de Peter.
Depois que eles se acidentaram em campo, um alívio deve ter
tomado conta de todos os torcedores quando os locutores
garantiram que ambos estavam vivos. Eu vi Peter mexer as pernas
quando a maca chegou para buscá-lo, mas não notei Dominic fazer
o mesmo, o loiro ainda parecia apagado quando foi retirado de
campo.
Eu não conseguia parar de chorar quando meus amigos me
trouxeram de volta para casa e Aika se deitou comigo na cama, tão
triste quanto eu. Era inútil ficar tentando ligar para Dominic, pois
todas as minhas chamadas foram direcionadas para a caixa postal e
eu nem tinha o contato dos pais dele.
Seriam impossível dormir enquanto não tivesse notícias do
meu namorado, então deixei Aika no meu quarto e desci para pegar
um pouco de ar puro. Meu coração estava em frangalhos e eu não
fazia ideia de que era tão forte o amor que tinha por Dominic. Nos
segundos em que fiquei sem saber se estava vivo, parecia que
minhas forças se esvaíram do meu corpo e eu perdi meu chão.
Não sei por quanto tempo fiquei ali fora, mas a porta se abriu
às minhas costas e eu me apressei para enxugar o meu rosto das
lágrimas. Ouvi o barulho de passos lentos na minha direção até que
alguém se sentou ao meu lado, em silêncio, e soltou um longo
suspiro.
— Ele vai ficar bem.
Era Anna. Eu a encarei e a garota me lançou um olhar triste,
mas consolador.
— Você deve estar se divertindo com o meu desespero —
murmurei.
— Eu nunca estive tão triste em toda a minha vida — disse ela.
— De alguma forma, pensar que perdemos todos esses anos em
uma briga estúpida me magoa muito mais do que a situação em si.
Engoli em seco e abaixei os olhos. Havia um pedido de
desculpas preso na minha garganta, e eu sabia que precisava soltá-
lo para poder respirar de novo.
— Sinto muito. — Suspirei forte. — Não há nada que eu possa
fazer ou dizer além disso, porque você estava certa. — Encarei
Anna de uma vez. — A culpa foi minha. Não posso nem ao menos
culpar a Louise, porque fui eu quem decidi acabar com a nossa
amizade. — Enxuguei mais uma lágrima que escorreu pela minha
bochecha. — Você merecia mais do que isso. A gente merecia mais.
Anna lançou um sorriso triste, assentindo e olhando na direção
da praça iluminada.
— Nós éramos tão boas como amigas... — murmurou, rindo.
— Muito melhores do que como inimigas.
Eu sorri também, me sentindo ainda mais triste. Observei a rua
deserta àquela hora, pois não havia nenhuma festa acontecendo em
respeito aos rapazes machucados. As árvores balançavam com o
vento frio da noite que se aproximava e eu me encolhi com um
arrepio.
— Sinto muito por ter acabado com a nossa chance, Anna.
— Mas ainda dá tempo, não dá? — perguntou. — De
recuperar o tempo perdido.
Olhei para a garota ao meu lado, que mantinha o sorriso no
rosto. A verdade é que por mais que a gente brigasse, Anna sempre
parecia dar um jeito de se aproximar, nem que fosse para me irritar.
Era o jeito dela de se manter perto, mesmo que eu a repelisse. E
isso me fez sentir ainda mais culpa.
— Isso quer dizer que você me perdoa? — perguntei.
Ela deu de ombros, ainda sorrindo.
— Amigas brigam, não é? Isso foi só um desentendimento.
Eu ri. Eu realmente ri. Não achei que poderia encontrar
motivos para rir no meio de todo aquele caos, mas ali estava eu,
gargalhando.
— Um desentendimento de três anos — frisei, ciente de que
não foi só uma semaninha boba.
— Pelas minhas contas... — murmurou ela, encolhendo os
ombros e franzindo os lábios. — Nós temos pelo menos uns
sessenta anos de vida para compensar.
Eu encarei a garota ao meu lado com atenção, tentando
perceber se, por acaso, ela não estava sendo irônica. Então
comecei a chorar porque minha sensibilidade estava nas alturas.
Havia muita coisa acontecendo dentro de mim naquele momento,
muitas emoções confusas.
Senti seu abraço desajeitado e rápido antes que se afastasse
e soltasse um suspiro. Tratei de enxugar meus olhos mais uma vez
naquele dia horrível e respirei fundo.
— Dominic vai ficar bem, Norah — murmurou ela, acariciando
as minhas costas. — Foi só um susto.
Naquele momento, luzes fortes dos faróis de um carro que se
aproximava quase cegaram a nós duas e precisei desviar meus
olhos. Encarei meus pés descalços, deixando a minha mente vagar
de encontro ao meu quarterback, mas o automóvel parou na porta
da Zeta e uma pessoa que eu não conhecia saiu de dentro dele, se
virando na nossa direção.
— Você é a Norah? — perguntou a mulher loira, com
semblante abatido, mas muito bonita.
— Sim.
— Eu sou Shannon, a mãe do Dominic — disse ao se
apresentar, cruzando os braços como uma forma de abraçar o corpo
e dando dois passos na minha direção.
No momento em que ouvi o nome dele, eu me levantei e desci
os degraus com pressa, quase não conseguindo parar antes de
alcançar a mulher. Por um instante, pensei nas piores notícias que
ela poderia me dar, afinal, por qual motivo estaria ali?
— O que foi? — Comecei a chorar sem conseguir me
controlar. — O que houve com ele?
— Norah. — Suas mãos tocaram meus ombros. — Dominic
está bem, mas quer ver você.
— O quê?
Precisei piscar algumas vezes para me livrar de toda a
inundação em meus olhos e ouvi mais uma porta se abrir e fechar.
Henry Davis deu a volta pela frente do carro, amarrando o sobretudo
na cintura e parando diante de mim. Eu não esperava voltar a vê-lo
tão cedo.
— Vá calçar algum sapato e volte, senhorita Brown —
murmurou não tão simpático quanto a esposa. — Antes que eu me
arrependa disso.
Shannon virou o rosto para o lado e o lançou um olhar
assassino, fazendo com que o homem suspirasse e erguesse as
mãos em sinal de paz.
Eu não estava entendendo nada, mas decidi acatar a ordem
dele e corri para dentro da Zeta, pulando os degraus da escada de
dois em dois e invadindo o meu quarto. Estava de pijama e não
perderia tempo trocando de roupa, por isso, joguei um sobretudo
sobre meus ombros e calcei os tênis que já estavam perto da cama.
Aika acordou com o barulho e a movimentação no quarto e se
sentou na cama quando percebeu que eu estava de saída.
— Onde vai?
— Vou ver o Dominic — respondi, olhando apressada à minha
volta, até achar meu celular e o guardá-lo no bolso. — Não sei onde
ele está, mas eu vou. Voltarei com notícias sobre o Peter, ok?
— Como assim?
Eu não perdi tempo explicando mais nada para Aika porque
tive medo de os pais do loiro se cansarem de esperar e me
deixarem para trás. Mas o carro ainda estava lá, com os faróis
acesos, e os dois me esperavam do lado de dentro. Eu entrei com
pressa no banco traseiro e bati a porta, respirando com alívio.
— Nós estamos indo pra Atlanta?
— Não — respondeu a mãe de Dominic. — Ele e o Peter
Johnson já foram transferidos para cá de helicóptero.
— Como eles estão? — perguntei, me debruçando sobre os
encostos dos bancos dianteiros.
Eu sabia que Henry Davis me detestava e não tinha certeza
dos sentimentos de Shannon, mas naquele momento, pouco me
importava com nada daquilo. O pai do quarterback me olhava
constantemente pelo retrovisor interno enquanto dirigia, mas se
manteve calado.
— Dominic sofreu uma concussão leve, está fora de perigo,
mas será mantido esta noite no hospital em observação.
Uma concussão? Soltei o ar que estava prendendo e me
encostei no banco, fechando os olhos e evitando chorar. Se era
leve, não era grave, certo? Ele não ia morrer e essa era a melhor
notícia que eu podia ter recebido na vida. Muito melhor do que
quando eu soube da minha aprovação para a faculdade.
— O Peter sofreu uma lesão mais grave no ombro —
murmurou Shannon, suspirando. — Ainda não sabemos os
detalhes.
— Meu Deus... — Levei a mão à boca, aliviada por saber que
o problema dele era apenas no ombro, mas ao mesmo tempo,
preocupada porque entendia o que uma lesão podia significar no
futebol.
O carro voltou a ficar silencioso e eu passei os minutos
seguintes observando o casal. Não queria ter conhecido a mãe de
Dominic numa situação como aquela, preferia ter sido apresentada
num almoço ou jantar, qualquer coisa que não tivesse relação com o
estado de saúde de seu filho.
— Ele deve realmente ter chamado muito por mim, né? —
murmurei, olhando para Henry. — Para ter feito vocês virem me
buscar...
O pai me lançou um olhar azedo, mas a mãe se virou no banco
para olhar para trás e deu um sorriso meio triste.
— Antigamente, quando Dom se machucava, era para os
meus braços que ele corria — confessou, suspirando com um olhar
saudoso. — Agora, parece que há outra mulher mais importante na
vida dele.
— Ele é muito importante pra mim também — declarei,
sentindo meu peito inflar. — Eu amo o seu filho.
— Se amasse mesmo, teria deixado Dominic em paz.
— Henry! — Shannon ralhou, apertando o braço do marido ao
se virar de novo para a frente.
Eu dei um sorriso bem grande para ele, que me encarou pelo
retrovisor, mas não disse mais nada.
— Norah, sei que podemos ser um pouco controladores —
disse a mulher loira —, principalmente o Henry, mas sabemos que
nosso filho precisa começar a caminhar sozinho daqui pra frente, e
se ele escolheu você para ter ao seu lado, então vamos apoiar a
decisão.
Eu sabia que ela estava falando por conta própria, porque o
marido não apoiava coisa nenhuma. Mesmo assim, não importava
para mim. Eu não me assustava facilmente e Henry poderia me
olhar com a cara feia que fosse, pois não conseguiria me afastar de
Dominic.
A última coisa da qual eu me lembrava era de lançar a bola na
direção de Peter e sentir o impacto dos adversários que se jogaram
contra mim. Depois eu apenas abri os olhos e me vi dentro de uma
ambulância, com meu pescoço imobilizado e um dos médicos da
nossa equipe ao lado de um socorrista que nunca vi na vida.
Não pude falar porque estava com aquela máscara de oxigênio
no rosto e sempre que eu tentava levar minha mão até ela para
puxá-la, os dois me impediam. Jerome, nosso médico, me avisou
que eu tinha sofrido um desmaio e estava sendo levado para fazer
uma tomografia computadorizada e ser melhor avaliado.
Assim que me tiraram da ambulância escandalosa, minha mãe
surgiu ao meu lado com o rosto banhado em lágrimas, pegando a
minha mão e dando um sorriso triste. Meus pais sempre viajavam
quando os jogos não aconteciam no Alabama, então não me
surpreendi em vê-los por ali. Mas também percebi alguns flashes na
minha direção, além de muito burburinho, o que indicava que a
imprensa já devia estar toda na porta do hospital para cobrir notícias
do acidente.
As horas seguintes foram muito confusas. Eu preciso
confessar que não estava em poder de toda a minha capacidade
mental, vez ou outra me sentia um pouco tonto e minha cabeça
latejava na nuca. Me contaram que o impacto que sofri foi muito
forte e que se não fosse o capacete, eu podia ter sofrido um
traumatismo craniano. Aquela era a primeira vez em que me
machucava dentro de campo e via tanta gente preocupada com meu
estado de saúde, o que significava que devia ter sido muito feio para
quem assistia.
Pensar nisso fez minhas entranhas congelarem, pois sabia que
Norah estaria com os olhos grudados na televisão. Em dado
momento, quando tive um minuto de paz, sem nenhum médico em
cima de mim, olhei para minha mãe e perguntei:
— Cadê a Norah?
Ela lançou um olhar preocupado para o meu pai, que franziu a
testa para mim e se aproximou da cama, tocando minha perna.
— Filho, você está em Atlanta — explicou. — Como está se
sentindo neste momento?
Pelo visto, eu havia perdido a noção de tempo e espaço,
porque acabei me esquecendo de que não estava jogando no
Alabama. Olhei ao meu redor, procurando pelo meu telefone, pois
precisava ligar para tranquilizar Norah, sabia que a garota estaria
surtando.
— Onde está o meu celular?
— Suas coisas devem estar todas no vestiário — disse minha
mãe, levantando-se da poltrona e tocando meus cabelos. — Fique
tranquilo, não vão deixar nada seu para trás.
— O quê? Não posso ficar sem meu telefone esse tempo todo
— murmurei, sentindo a cabeça latejar e precisando fechar os olhos.
— Preciso ligar pra Norah.
A merda era que eu não havia decorado o número da minha
namorada, portanto, não adiantaria pegar o celular de um dos meus
pais emprestado, pois não saberia para onde ligar.
— Vocês precisam falar com ela — pedi, tentando me sentar.
— Avisar que estou bem.
— Dominic, tenha um pouco de paciência. — Meu pai me
impediu de levantar e eu me deitei de novo. — Você sofreu uma
concussão, não queira agravar o seu quadro atual.
Eu me calei porque sabia que não havia muito a ser feito e
fechei os olhos por alguns segundos. Sentia uma pressão de leve
na nuca e a dor de cabeça estava me incomodando bastante. Fora
isso, pelo menos, eu me sentia novo em folha, e ansioso para saber
como o jogo tinha terminado. Não me perdoaria se o Crimson
tivesse sido derrotado pelos idiotas do Tigers.
Cochilei, não sabia dizer por quanto tempo, mas as horas
seguintes foram bastante agitadas. Uma nova equipe médica
apareceu para me avaliar, depois fui colocado em um helicóptero
que funcionava internamente como uma UTI, então voei com meus
pais, Jerome e outros médicos, para o Alabama.
Pousamos no heliponto do hospital e logo fui abordado por
enfermeiros e médicos, todos falando ao mesmo tempo enquanto eu
era empurrado pelos corredores. Muito tempo e vários exames
depois, fui levado para uma suíte na companhia dos meus pais, que
conversavam em sussurros no sofá perto da janela.
— Vou ficar internado? — perguntei e os dois levantaram as
cabeças para me olhar.
— Os médicos querem que fique em observação, pelo menos,
por uma noite — respondeu meu pai. — É só por precaução.
— Ok. — Assenti, respirando fundo. — Busquem a Norah e a
tragam aqui.
Ele riu como se eu estivesse contando piadas e voltou a
conversar com minha mãe. Levei minha mão aos eletrodos em meu
peito e os puxei todos de uma vez, fazendo com que o aparelho
insuportável ao meu lado emitisse um sinal sonoro intermitente.
Os dois pularam do sofá e correram até a cama, ao mesmo
tempo em que enfermeiras invadiam o quarto, assustadas,
pensando que o paciente tinha sofrido alguma parada cardíaca.
— Dominic! — minha mãe resmungou, chocada com minha
atitude.
— O que pensa que está fazendo? — perguntou meu pai.
— Posso repetir isso a noite inteira se vocês não forem buscar
a Norah — avisei, sorrindo para os dois e piscando para as
enfermeiras, que se apressavam em grudar os aparelhos
novamente em mim. — A madrugada vai ser divertida.
Minha mãe sorriu e se aproximou, tocando meu ombro direito e
me olhando como se eu fosse um bebê. O que para ela, devia
mesmo parecer até hoje. As enfermeiras terminaram seus trabalhos
e saíram do quarto, nos deixando novamente sozinhos para que
meu pai bufasse e estalasse a língua bem alto para que eu o
ouvisse.
— Essa menina é tão importante pra você? — questionou
minha mãe.
— Ele só está obcecado por ela porque foi a primeira com
quem se deitou — declarou o idiota do meu pai, cruzando os braços.
— Agora que meteu os pés pelas mãos e perdeu a virgindade, faça
as coisas do jeito certo e experimente quantas outras puder, antes
de se prender a alguém que não tem nada em comum com você.
Estava pronto para respondê-lo, quando minha mãe se virou
de costas para mim e foi até Henry, apontando o dedo indicador
para o marido.
— Eu vou fingir que você não acabou de aconselhar o seu filho
a se tornar um cafajeste que sai transando com todo mundo só
porque é homem. — Ela me olhou por cima do ombro e arqueou a
sobrancelha. — Como a gente faz pra encontrar essa Norah?
— Shannon, por favor. — Meu pai suspirou e esfregou o rosto.
— Eu tive a oportunidade de conhecer a garota e te garanto que
você não a quer como nora.
— Sua raiva é porque ela não abaixou a cabeça diante do
poderoso Henry Davis, não é? — zombei, sorrindo para ele. —
Esperava que fosse crescer pra cima dela, mas encontrou alguém
que não o teme e tampouco o idolatra. Para que ambos saibam,
Norah e eu vamos morar juntos quando nos formarmos e ela vai me
seguir para onde eu for.
Acho que se eu estivesse sofrendo uma parada cardíaca eles
não teriam ficado mais em choque do que estavam naquele
momento. Os olhos da minha mãe se arregalaram em surpresa e
meu pai levou as mãos à cintura, abaixando e balançando a cabeça
em negação.
— Acho que... — minha mãe murmurou, ainda em choque. —
Bem, vou precisar conhecê-la, afinal de contas.
— Você não sabe o que está falando, Dominic. Acha que sua
vida será um mar de rosas quando sair da faculdade, garoto? —
Henry se aproximou da cama e apoiou as mãos no colchão. —
Ainda terá a pós-temporada pela frente e o Draft. E não pense que
irá chegar em seu novo time como se estivesse num acampamento
de férias. O período de testes e adaptação é intenso e vai deixá-lo
esgotado. Não terá McDowell pra alisar seus cabelos e dar tapinhas
nas suas costas. Você será apenas mais um entre tantos outros
talentos.
— Eu sei, pai. — Sorri para ele. — Você me fala todas essas
coisas desde que eu era bem mais novo. Foi pra isso que me
preparou, se não me engano.
— E acha que vai ter tempo pra brincar de casinha?
— Acho que sou homem o suficiente para decidir o que fazer
com a minha vida — respondi. — Norah e eu estamos namorando e
vocês têm todo o direito de não aceitar isso. Porém, eu também
tenho o direito de me afastar se a mulher que amo não for bem-
vinda entre vocês.
O rosto do meu pai ficou vermelho e eu sabia que, se não
fosse minha mãe se aproximando e apertando seu braço, ele teria
explodido ali mesmo. Ela, no entanto, era mais sensata, e se
inclinou para beijar a minha testa, com um sorriso tenro no rosto.
— Vamos procurar a Norah, querido — disse, por fim. — Sua
carreira não deve ficar acima da sua felicidade.
Eu não achava que meu pai concordava com essa declaração,
mas não me dei ao trabalho de questioná-lo. Apenas passei o nome
da irmandade de Norah para que fossem até ela e aguardei,
aproveitando o quarto silencioso após a saída deles, e cochilando
um pouco já que não tinha nada para fazer.
Quando despertei, pelo relógio de parede que havia no quarto,
consegui descobrir que tinham se passado uns cinquenta minutos
desde que fiquei sozinho, até o momento em que uma baixinha
magrela de rabo de cavalo passou pela porta, com os olhos mais
arregalados e assustados que jamais vi, também inundados de
lágrimas.
Sem modos nenhum, eu mal pisquei e Norah já estava
agarrada a mim, enchendo meu rosto de beijos enquanto segurava
minha cabeça entre as mãos.
— Oi — murmurei, sorrindo e ganhando um selinho antes de
sentir meus olhos serem beijados. — Ok.
Ela, por fim, recuou e me encarou, com os lábios trêmulos,
antes de me dar um tapa no peito. Vi meu pai tentar se aproximar,
mas minha mãe o puxou pelo braço e o manteve em rédeas curtas.
— Você não tem o direito de me assustar desse jeito! —
resmungou Norah, enxugando os olhos. — Achei que não fosse ter
notícias tão cedo.
— Tem noção de que acabou de bater numa pessoa
acamada? — perguntei, arqueando a minha sobrancelha para ela.
— Não seja dramático, o seu problema foi na cabeça —
retrucou, estreitando os olhos para mim. — Eu posso até chutar sua
canela.
Sorri, percebendo que senti muita saudade dela, pois tinha
viajado com o time um dia antes. Deslizei meu corpo um pouco para
o lado e abri mais espaço na cama, para que pudesse acomodar a
criaturinha pequena no melhor lugar de todos, que era dentro dos
meus braços.
— Deite-se aqui comigo, meu amor — pedi, observando-a tirar
o sobretudo e jogá-lo na cadeira ao lado da cama antes de subir no
colchão e revelar um conjunto preto de calça e mangas compridas,
com estampa de donuts. — Você veio de pijama?
— Lógico. Seus pais me tiraram da cama, estava dormindo
plenamente quando chegaram.
— Duvido — zombei, cutucando a orelha da garota. — Algo
me diz que estava em prantos, deitada no chão da sala, lamentando
a minha morte.
Norah riu, passando uma perna por cima da minha e apoiando
o rosto no meu peito. Meus pais tinham se sentado e enquanto
Henry digitava no celular, com uma expressão azeda, Shannon não
tirava os olhos de cima de nós dois, parecendo muito curiosa com a
nossa interação. Pisquei para minha mãe, que sorriu e piscou de
volta, então, beijei os cabelos de Norah e esfreguei meu pé no dela.
— Te amo — declarei, sentindo sua mão pequena sobre meu
peito.
— Também te amo. — Norah levantou o rosto e me encarou
de testa franzida. — Tem notícias do Peter? Fiquei de avisar pra
Aika.
— Como assim? O que houve com o Peter?
Eu me sentia sonolenta quando abri os olhos ao perceber que
estava segurando o pau de Dominic. Ele era meu namorado, não
seria uma situação absurda se não estivéssemos numa cama de
hospital. Apesar de as enfermeiras terem reclamado muito por eu
me deitar com ele, ninguém conseguiu nos separar, nem mesmo
seus pais, que não estavam no quarto naquele momento.
Ergui meus olhos para o loiro que sorria para mim quando
soltou minha mão, deixando-a ainda dentro de sua calça.
— O que pensa que está fazendo? — perguntei.
— Estou com tesão.
— Quem sente tesão dentro de um hospital?
— Com você do meu lado, eu sinto em qualquer lugar —
respondeu, mordendo o lábio.
O filho da mãe estava de pau duro e gemeu quando o apertei
de leve, descendo minha mão até suas bolas.
— Se eu for expulsa daqui, a culpa será toda sua e seus pais
ainda vão ter a certeza de que eu sou a pervertida.
— Mas você é — disse ele. — Acontece que eu acho que
também sou.
Puxei minha mão e a coloquei para fora do lençol, deixando
meus dedos bem longe daquele membro gigante.
— Eu não vou te masturbar aqui, Dominic, porque você vai
gozar e ficar todo sujo — avisei, suspirando quando ele me lançou
um olhar frustrado.
— Se você montar em mim rapidinho, eu gozo dentro.
Ninguém vai saber.
— Meu Deus, você se tornou um ninfomaníaco!
Ele riu, me olhando com cara de safado e levando a mão até o
pau. Soltou um suspiro, fechando e apertando os olhos, enquanto
fazia a minha calcinha molhar. Era muito difícil ver Dominic se
tocando e não me afetar nem que fosse um pouquinho, por mais
que estivéssemos em local público.
— Por favor, Norah...
— Não vou sentar em você — sussurrei com medo de alguém
passar no corredor e ouvir aquele absurdo, mas ergui o lençol e
encarei o pau bonito para fora da calça. — Ok, posso engolir, fica
mais fácil. Consegue ser rápido?
— Na sua boca é melhor ainda — disse Davis, alisando a
cabeça rosa.
Eu não era uma pessoa tão religiosa, sempre faltava às missas
de domingo. Por isso, tinha certeza de que todos os deuses e
santos me odiavam.
Um pigarro bem alto ecoou dentro do quarto e nós dois
soltamos o lençol rapidamente, levantando nossas cabeças para ver
Shannon e Henry parados na porta. A mãe de Dominic segurava um
copo de café na mão e o pai, carregava uma sacola que devia ter
comida dentro.
Claro que podia ficar ainda pior, porque quando percebi, o pau
do quarterback estava tão ereto que deixou o lençol branco armado
como uma barraca.
— Ahhhhh, eu sabia que isso ia acontecer! — Tapei o rosto e
pulei da cama, esbarrando em corpos pelo caminho na tentativa de
sair do quarto. — O filho de vocês é ninfomaníaco!
Nem tive tempo de calçar meus tênis, pois os tinha tirado para
me deitar com o loiro e, agora, estava no corredor de um hospital,
descalça e vestindo pijama. Larguei meu corpo numa poltrona
acolchoada porque o lugar era de rico e deixei meus ombros
desabarem. Os pais de Dominic já me odiavam, agora a gente tinha
dado ainda mais conteúdo para que planejassem meu sequestro
com passagem pra China.
Encostei minha cabeça contra a parede, pensando em como
era azarada. Tudo culpa do safado de pau grande que não
conseguia se controlar desde que perdeu o maldito cabaço. Estava
revoltada, praguejando mentalmente para que Dominic sentisse
coceira nos sacos, quando Henry Davis surgiu no corredor,
caminhando com meus tênis nas mãos.
Ele me encarou ao parar diante de mim e se abaixou para
deixar meus sapatos, antes de se virar de costas e voltar para o
quarto.
— Dominic puxou a mim — falou ao me olhar por cima do
ombro e entrar.
O que... Ele... Eca! Henry Davis tinha acabado de me contar
que era maníaco por sexo? Estremeci e abri a boca, colocando
minha língua para fora, com vontade de vomitar. A noite não podia
ficar pior.
Calcei meus tênis e aproveitei para andar pelo corredor até
onde eu sabia que ficava o quarto de Peter. O wide receiver também
tinha sido transferido e estava internado, mas ficaria mais tempo do
que Dominic, pois seu braço precisou ser imobilizado.
Meu namorado ficou chocado quando soube o que aconteceu
com seu melhor amigo e quis ir até ele, mas não deixamos. Peter
estava sob efeito de analgésicos muito fortes por conta da dor
intensa, mas felizmente, seu caso não necessitava de cirurgia.
Henry nos contou que se ele tivesse precisado operar, não se
recuperaria totalmente em menos de seis meses e isso acabaria
com suas chances no Draft.
O prognóstico dos médicos era otimista e acreditavam que o
jogador ainda conseguiria voltar para a pós-temporada, caso tivesse
uma boa recuperação.
Abri a porta do quarto dele e coloquei a cabeça para dentro
antes de sair entrando. A única pessoa no local era um dos médicos
do Crimson, que eu conheci quando ele foi conferir como Dominic
estava. Os pais de Peter já estavam a caminho, mas moravam no
Colorado, então era natural que demorassem a chegar.
— Com licença — pedi, entrando e fechando a porta. — Ele
ainda está dormindo?
O médico assentiu do sofá.
— Acordou uma hora atrás — respondeu. — Estava um pouco
confuso por causa da concussão e da dor, mas voltou a dormir.
Eu me aproximei de sua cama e depositei um beijo em sua
testa antes de sair do quarto e voltar para Dominic. Logo que tive as
primeiras notícias do estado de Peter, avisei Aika para que ficasse
mais tranquila e prometi que tentaria descobrir quanto tempo o
jogador ficaria no hospital e se ela poderia visitá-lo.
O quarterback e seus pais tinham engatado uma conversa
sobre futebol quando eu reapareci e os interrompi. Senti meu rosto
queimar por vergonha do casal e parei no meio do cômodo, sem
saber o que fazer. Então, Shannon pegou o copo que estava em
suas mãos quando chegou e esticou o braço para mim.
— Isso é um chocolate quente que trouxe pra você. — Ela
apontou para a sacola ao lado de Henry. — E tem donuts também...
já que você parece gostar deles.
Virei meu rosto na direção da cama, observando que o pau de
Dominic finalmente voltara ao estado normal de repouso e o filho da
mãe sorriu para mim como um anjo. Virei-me para os seus pais e
me aproximei, pegando o copo que me era oferecido e sentindo que
ainda estava quente.
— Obrigada — agradeci, indo até a sacola e a abrindo para
conferir o conteúdo. Escolhi um donuts rosa e o prendi entre os
dentes enquanto me aproximava da poltrona ao lado da cama.
— Então vocês vão morar juntos — comentou Shannon.
A afirmação fez com que um pedaço do donuts entalasse na
minha garganta e eu precisasse tossir três vezes para voltar a
respirar. Não sabia que Dominic tinha contado para eles e podia
imaginar como Henry tinha ficado feliz com a notícia.
— Hm, sim — respondi, querendo comer e não conversar.
— Seus pais estão sabendo? — perguntou a mulher. — O que
eles disseram?
— Meus pais são hippies — falei de boca cheia, azar, e fiz o
“v” de vitória com meus dedos. — Pregam a paz e o amor.
A gargalhada do jogador ecoou pelo quarto e no meu ouvido.
Os olhos de sua mãe se esbugalharam e eu imaginei que meus pais
não seriam mesmo o tipo de pessoa que faria parte do círculo social
dos riquinhos que comiam caviar no café da manhã. Eu não me
importava, e os conhecendo como eu conhecia, os dois tampouco
se importariam com o que o senhor e senhora Davis pensariam de
seu estilo de vida — ou de sua filha.
— Hippies... de verdade? — perguntou Henry.
Assenti sem muita vontade de conversar porque estava com
fome. Inclusive, gostaria muito de saber se alguém ia comer os
outros dois donuts que sobraram dentro da sacolinha.
Dominic ainda não havia parado de rir e eu percebi que nunca
chegamos a conversar sobre os meus pais. Apesar de que ele
também nunca perguntou. Mas Cassidy e Walter eram pessoas
muito normais e muito tranquilas, que sempre me criaram com muita
liberdade e eu era grata por isso. Dentro de minha casa, eu podia
falar abertamente sobre qualquer assunto e até andar pelada a
qualquer momento, assim como eles também faziam.
A gente sempre se comunicava desde que vim para a
faculdade, mas eles não eram do tipo de pais que enchiam meu
saco, ficavam preocupados por qualquer besteira ou tentavam me
controlar. Pelo contrário, estavam felizes que criaram uma filha e ela
finalmente saiu de casa para que pudessem fazer suas viagens
malucas e viver sem amarras.
FIM
Tudo bem?
Espero que tenha gostado o suficiente do livro para chegar até
aqui! Então, se gostou, que tal expor sua opinião para que outros
leitores possam se interessar pela história? É rapidinho, basta
deixar uma avaliação na Amazon em poucas palavras (ou muitas,
depende da sua inspiração) e eu vou ficar extremamente feliz
quando ler. Muita gente não sabe como a avaliação é importante
tanto para conquistar novos leitores como para incentivar a nós,
autores, escrevermos sempre mais.
Se você não curtiu o livro, tudo bem, acontece! Vou torcer para
que em outro momento encontre algum trabalho meu que te
conquiste para podermos mudar essa impressão ruim, ok?
Obrigada!
AGRADECIMENTOS
Minha vida anda tão corrida que em meu último livro, eu
simplesmente coloquei os agradecimentos errados e nem notei.
Venho trabalhando muito para entregar cada vez mais conteúdo a
vocês, leitores, e preciso agradecer a Deus por sempre cuidar de
mim, mesmo nos momentos em que tenho certeza de que vou
falhar. Concluo mais um trabalho sabendo que dei o meu melhor e
coloquei meu coração nessas páginas.
Como sempre, cada história se torna um filho meu, e com Meu
Clichê Invertido não foi diferente. Meu primeiro romance new adult e
muitas expectativas (minhas e de todos, eu acho), mas não
esperava me apaixonar tanto por esse casal tão divertido. Eu espero
que ele tenha conquistado cada leitor que chegou até aqui.
Deixo um agradecimento especial às minhas parceirinhas Camila
Cocenza e Laryssa Gendri, que me aturaram durante toda a escrita
do livro e tiraram TODAS as dúvidas a respeito de futebol americano
que eu jogava em cima delas (e foram muitas hahahaha).
Aos meus leitores que me acompanham pelo Instagram, pelo
Wattpad, Facebook, que estão sempre por perto, obrigada! Aos
meus amores do Whatsapp, que me aturam, me zoam, toleram
meus sumiços, que gostam de me ver cantar, que mandam as
figurinhas e vídeos de putaria, obrigada. Vocês me movem e me dão
uma energia surreal, e fazem parte de cada lançamento.
Raquel e Geisa, podem comemorar, pois terminei um dia antes
hahahaha. Nem dei tanto trabalho dessa vez, né?
UM POUCO SOBRE MIM
Estou tentando descobrir até hoje. Incrível, não é? Mas a vida
é assim mesmo, uma constante evolução, mudanças e mais
mudanças, cicatrizes que vão formando nossa história e sonhos que
vão se renovando.
Eu comecei a escrever lá em 2008, quando me tornei uma fã
obcecada por Crepúsculo e passei a frequentar muitas comunidades
no Orkut (pois é, a idade não mente). Não demorou para que
decidisse me aventurar pelo universo das fanfics e tomei coragem
para criar as minhas, até que me vi ganhando certa relevância
naquela rede social e me animei a escrever as minhas próprias
histórias.
Foi daí que surgiu Fortaleza Negra, o primeiro livro que
publiquei por uma editora tradicional. Inicialmente era para ser uma
trilogia e só existia em formato físico, mas no meio do caminho eu
descobri o mundo dos livros digitais e me apaixonei. Passei algum
tempo trabalhando exclusivamente com literatura fantástica até que
decidi me arriscar a caminhar um pouco pelo mundo dos romances.
Foi um caminho sem volta e hoje não me vejo mais parando de
escrever o gênero, apesar de querer muito conciliá-lo com os
demais.
Nasci em 1983, faço aniversário dia 24 de agosto e sou uma
virginiana meio lá meio cá. Sabe? Aquele tipo de pessoa que se
adequa pela metade em seu signo. Por exemplo, sou muito
perfeccionista, neurótica com coisas desalinhadas, cores ou
padrões descombinados, excessivamente pontual e extremamente
analítica, meio chata com higiene e racional demais para
relacionamentos. No entanto, você seria capaz de se perder em
meu quarto de tão bagunçado que ele é, minhas roupas estão
sempre amarrotadas e sou uma das maiores procrastinadoras que
conheço.
Mas eu sou gente boa, juro que sou. Se me encontrar
pessoalmente, não pense que sou antipática, sou apenas tímida
num primeiro momento. Sou alguém que se for reconhecida na rua,
primeiro vai olhar para trás só para conferir se é comigo que estão
falando, depois vai ficar vermelha, e em seguida vai bater o maior
papo com a pessoa. Nas redes sociais tendo a me soltar muito
mais, então não estranhe se você acessar meu Instagram e achar
que sou louca, que ninguém mais ou menos normal pagaria metade
dos micos que eu pago. Sou bem aleatória e posso falar sobre
cachorros e gatos, sobre músicas antigas, mecânica de carro, soltar
minha afinação no seu ouvido ou sei lá, postar uma foto de alguma
comida bem gordurosa. E isso tudo pode acontecer só num único
dia. Ou eu posso simplesmente sumir por uma semana porque deu
vontade ou porque estava com a energia baixa. Todos nós temos os
nossos momentos bons e ruins.
Tenho tatuagens, moro no Rio de Janeiro, não sou muito fã de
praia, tenho certeza que sou um unicórnio e nunca passo muito
tempo com o mesmo corte ou cor de cabelo.
Acho que deu para me conhecer um pouquinho, mas se quiser
saber mais, eu estou sempre disponível nas redes sociais. É só
clicar e começar a me seguir!
Um beijo!
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Sinopse
ENEMIES TO LOVERS E AGE GAP REUNIDOS
MISTER SEX
A Garota Deles
ZOMBIE
Garota de Aluguel