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Copyright © 2022 Kel Costa

Capa e diagramação
Kel Costa

Revisão
Geisa Brito e Raquel Moreno

Texto em conformidade com as normas do novo acordo ortográfico


da língua portuguesa (Decreto Legislativo Nº 54 de 1995).

1ª edição – 2022

Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução total ou parcial,


de qualquer forma ou por qualquer meio, mecânico ou eletrônico,
incluindo fotocópia e gravação, sem a expressa permissão da
autora. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei
nº 9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
ÍNDICE
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Epílogo
Capítulo Bônus
Eu enxergava tudo em dobro quando encarei os copos vazios
espalhados pelo chão e me lembrei de ter ficado acordada até às
seis da manhã, porque Joe e eu resolvemos fazer uma festinha
básica no meu quarto. Isso significava que eu só tinha dormido por
uma hora e meia e ainda me sentia bêbada ao me levantar.
Portanto, tinha quinze minutos para escovar os dentes, jogar uma
água no rosto, trocar de roupa, atravessar o campus inteiro e chegar
à aula, visto que o professor de Ciências Comportamentais Sociais
não era nada compreensível com atrasos.
Eu era veterana no curso de Desenho da Universidade do
Alabama e confesso que contava os dias e horas para me formar e
finalmente ir para Nova York, meu sonho desde garotinha. Não que
eu não gostasse do lugar, pelo contrário, me diverti muito durante
todos os últimos anos, mas estava ansiosa para dar início à nova
fase da minha vida.
Esfreguei os olhos enquanto empurrava meus pés para dentro
dos tênis, sentindo minha cabeça pesada, mas o corpo leve demais.
Dei de cara com Anna ao descer a escada, mas não tinha tempo
nem mesmo para sorrir, então passei direto por ela e corri porta
afora até o bicicletário, montando com pressa no único meio de
transporte que meu dinheiro me permitia ter.
Confesso que não podia ser considerada a melhor condutora
de todas, principalmente quando meu cérebro ainda tentava lidar
com todo o álcool que eu havia consumido até poucas horas atrás
— muita vodca misturada com energético —, mas precisava fazer
de tudo para não perder aquela disciplina. Eu só esperava não
vomitar no meio da aula, isso seria vergonhoso.
Faltando um minuto para o meu tempo estourar, eu me sentia
suar quando saltei da bicicleta e a prendi ao cadeado. Ia me atrasar,
estava claro, e isso era péssimo considerando que eu tinha faltado
as duas primeiras aulas daquela matéria. Não pretendia arranjar
problemas com meus professores logo no meu último semestre.
Entrei no prédio às pressas, esbarrando nas pessoas enquanto
atravessava o corredor até a escada, pois não tinha tempo de
esperar pelo elevador. Na correria ao procurar pela sala, acabei
passando por ela rápido demais, derrapei no piso escorregadio ao
parar bruscamente, causando aquele barulho infernal de quando a
borracha da sola do tênis agride o chão, então refiz o caminho.
Respirei fundo duas vezes, ajeitei meus cabelos atrás das
orelhas, depois entrei sorrateiramente pela porta entreaberta. O
professor estava de costas para mim, enquanto explicava alguma
coisa e anotava uma frase no quadro branco. Com medo de chamar
atenção, me joguei na primeira cadeira que vi vazia, numa das
fileiras do fundo da sala.
Assim que me sentei, olhei o relógio mais uma vez. Cinco
minutos de atraso não era grande coisa, certo? Além disso, ele não
tinha notado a minha entrada silenciosa. Para todos os efeitos, eu
estava ali desde o começo.
— Bom... — O professor se virou para a classe. — Eu vou
pedir um seminário sobre o assunto para a próxima semana.
Estreitei os olhos, tentando enxergar melhor o quadro. Eu
estava muito longe, e minha ressaca mal curada deixava minha
visão meio turva. O docente era um coroa de uns cinquenta anos,
tinha alguns cabelos brancos na cabeça e na barba, usava óculos
quadrados e se vestia como a maioria: camisa, sapato e calça
social. Eu não o conhecia, mas me pareceu simpático, o que era
ótimo. Será que se importaria se eu pedisse para falar seja lá o que
tenha dito durante os poucos minutos em que não estava em sala?
— Ainda hoje vocês receberão as instruções sobre o seminário
— declarou, caminhando até a mesa e abrindo um livro. —
Aproveitem para fazer suas duplas.
Ele estava brincando, né? Eu me atrasei cinco minutos, porra!
Que pesadelo era aquele? De que seminário o homem estava
falando?
Escorei-me na cadeira e suspirei, nada satisfeita com um
trabalho puxado logo na terceira semana de aula. Olhei ao meu
redor, notando a sala cheia, mas a maioria dos alunos estava
sentada mais para a frente. Perto de mim, havia poucas pessoas e,
definitivamente, nenhuma que eu conhecesse naquela matéria
eletiva. Quem eu procuraria para fazer dupla comigo, afinal?
Olhei para a minha esquerda. Três cadeiras além da minha
havia um garoto sozinho, de cabeça baixa, anotando algo no
notebook e parecendo alheio ao que acontecia ao seu redor.
Enquanto todos se movimentavam para encontrar uma dupla, ele
continuava focado no que escrevia. Mas o que era mais
interessante, foi perceber que muitas pessoas olharam na direção
do cara, como se ponderassem ir até ele ou não, e então, buscavam
outro par.
Observei o loiro mais atentamente. Ele não tinha a aparência
de um nerd. Era bem alto e pelo perfil, parecia ser muito bonito, mas
algo em sua postura me dizia ser inteligente, ou pelo menos,
estudioso. E era exatamente disso que eu precisava. Pulei as três
cadeiras que nos separavam e me sentei com um baque pesado ao
lado dele. Minha cabeça girou como se eu estivesse num barco em
alto-mar e eu fiz uma careta, tentando controlar os efeitos da
bebedeira.
Ao meu lado, o rapaz gostosíssimo de olhos azuis me lançou
um olhar nada amistoso. Nossa, sério, ele era impressionante
mesmo. Do tipo que eu me sentaria no rostinho bonito e pediria para
me chupar a noite inteira.
Forcei um sorriso para o bonitão que não tinha uma aparência
totalmente desconhecida. Eu estava certa de que nunca nos
esbarramos, mas algo em seu semblante parecia muito familiar para
mim. Rosto quadrado, carinha de malvadão do tipo “você é
insignificante para mim”, boca rosinha e bonita e um nariz perfeito
demais para ser real. Seus possíveis defeitos ou era um grave caso
de chulé impossível de tratar, ou era um pau de cinco centímetros
que a gente masturba só com dois dedinhos.
— Meu nome é Norah — disse, estendendo a mão em sua
direção. — Serei a sua dupla.
O esnobe — levei dois segundos para perceber isso — nem ao
menos olhou para a minha mão, ele apenas encarou a sala ao
nosso redor, como se quisesse fugir desesperadamente de mim.
Para a minha sorte, e para o azar dele, parecia que todos os outros
alunos já haviam encontrado um parceiro. Então, me lançou um
novo olhar, me observando em silêncio por algum tempo. Logo
entendi porque as outras pessoas não se aproximaram, porque na
certa o conheciam e sabiam como ele podia ser alguém difícil de
lidar.
O loiro não esboçou nenhum sorriso, apenas me encarou com
uma expressão pouco satisfeita. Por fim, soltou um leve suspiro.
— Sou Dominic.
Estreitei meus olhos quando o rapaz simplesmente voltou a
olhar para frente, me ignorando totalmente, indicando que não
estava a fim de conversar.
— Um prazer te conhecer também — ironizei. — Que tal você
me passar o seu contato? Vai ser importante, não acha?
Sem esboçar nenhuma reação, Dominic levou a mão ao bolso
da calça, puxou um recibo qualquer e o colocou na minha frente
com o verso virado para cima.
— Anote o seu e-mail — pediu. — Eu entro em contato com
você.
Fiz uma careta.
— E-mail? Jura?
Ele não respondeu, apenas continuou digitando em seu
notebook caro, assim como suas roupas, seu cabelo e até o seu
próprio perfume. Revirei meus olhos, soltando um suspiro pesado,
começando a me sentir com preguiça daquela manhã inteira. Que
péssima escolha eu tinha feito. Já estava arrependida de ter me
juntado ao nerd gostoso do meu lado.
— Tudo bem, então. — Estendi minha mão. — Pode me
emprestar uma caneta?
Dominic me lançou um olhar enviesado, como se eu estivesse
pedindo por esmola ou coisa pior. Quando notou que eu estava
falando sério, levou a mão até a nuca e inspirou com força. Se ele
não fosse tão delicioso, eu já teria me levantado e implorado para o
professor deixar que fizesse o trabalho sozinha, mas pelo menos o
loiro arrogante seria um bom colírio para meus olhos de piriguete.
— Obrigada — agradeci quando me entregou a porcaria de
uma caneta, então anotei o meu e-mail no papel e devolvi ambos ao
dono.
Imediatamente, Dominic voltou a prestar atenção na aula. Eu
me ajeitei na cadeira em uma posição mais confortável e tentei fazer
o mesmo, mas acabava me sentindo tonta e sonolenta toda vez que
focava demais os meus olhos num único ponto. Nunca mais eu
beberia durante a semana. Nunca mais.
Ri sozinha da minha promessa, sabendo que ela cairia por
terra em um ou dois dias, balançando a cabeça. Esfreguei meu
rosto e bocejei, em seguida, encarei meu parceiro ainda muito
concentrado na aula, fazendo uma anotação aqui e outra ali. Seus
braços eram fortes, mas não do tipo musculoso igual um
halterofilista. Sua estrutura corporal era grande mesmo ou eu era
muito pequena — essa segunda opção era válida perto da maioria
das pessoas que eu conhecia. E o perfume... Ah, o perfume! Qual
seria o nome? Quis me inclinar mais para perto e poder sentir
melhor, só que me contive.
O loiro era bonito num nível galã, mas era extremamente
contraditório. Geralmente, caras como ele estavam sempre
rodeados de pessoas e gostavam de chamar atenção, mas num
primeiro momento, Dominic me fazia pensar que preferia ser
discreto. Se ele estivesse no ensino médio, certeza de que faria
parte do grupo dos populares mesmo contra sua vontade, e que
estaria cercado de gostosonas vestidas em uniformes de líderes de
torcida.
Ah... que preguiça dos atletas. Estremeci ao me lembrar
daquela época insuportável da vida de quase todos os
adolescentes.
Respirei fundo e parei meu olhar em sua boca, encarando sem
nenhum pudor. Carnuda, bem desenhada e extremamente beijável.
Era uma tentação, eu tinha que reconhecer. Um verdadeiro convite
ao pecado.
— Quer parar de encarar? — Os lábios de Dominic se
moveram, me pegando desprevenida e me dando um leve susto.
Ele não olhava para mim, mas aparentemente, estava ciente
de que eu estava encarando. Usei as mãos para abafar uma risada
porque estava bêbada demais para sequer ficar com vergonha, o
que não era meu feitio nem quando estava sóbria.
— Ainda bem que você é bonito, Dominic — disse, apontando
meu dedo na direção do nariz perfeitinho. — Porque a simpatia
passou longe.
— Estou tentando prestar atenção na aula. Você deveria fazer
o mesmo.
Bonito, mas chato demais, não é mesmo? Revirei os olhos,
entediada.
— Ok, então... — Estiquei minha mão em sua direção. — Pode
me arranjar uma folha?
O loiro me encarou, nada contente. Claramente eu o estava
irritando, o que achava, de certo modo, engraçado. Por alguns
segundos, Dominic não fez nada, apenas continuou me fitando, e eu
continuei sorrindo.
— Percebe que estou usando um notebook? — questionou.
— Não tem nenhum papelzinho aí dentro dessa mochila? —
Pisquei meus olhos, balançando meus cílios para ele. — Por favor?
O bonitinho fechou os olhos por alguns segundos e respirou
fundo. Até parecia que estava se controlando, como se eu fosse
algum problema a ser resolvido. Eu hein.
Então, abriu sua mochila chique, mexeu lá dentro por um
tempo e me entregou um pequeno caderno, que mais parecia um
bloco de anotações. Como eu não podia exigir muita coisa, sorri e
aceitei de bom grado a sua gentileza.
— Vou precisar de novo da caneta — acrescentei.
Dominic fez um grunhido, parecendo se estressar com a minha
inconveniência. Normalmente, eu não era relapsa assim, mas na
pressa acabei esquecendo de pegar a mochila no quarto.
— Você veio para a aula e não trouxe nem uma caneta
sequer? — perguntou, erguendo uma sobrancelha. — É caloura, por
acaso?
Embora estivéssemos no fundo da sala, o loiro falava em tom
baixo para não atrapalhar o professor. Isso, no entanto, não foi o
suficiente para não chamarmos atenção. Lá embaixo, o homem
pigarreou alto e olhou diretamente na nossa direção.
— Algum problema aí? — perguntou.
Fiz minha melhor cara de moça recatada e cruzei minhas
mãos sobre a mesa, sorrindo para o professor.
— Só estamos discutindo o seminário — falei alto o suficiente
para que ouvisse.
Ele me lançou um olhar que indicava que a conversa paralela
estava incomodando, mas era educado demais para passar algum
sermão em pessoas da nossa idade. Sendo assim, depois de alguns
segundos encarando Dominic, o homem pareceu decidir que não
valia a pena dizer mais nada.
O loiro ao meu lado me encarava com um olhar de reprovação
quando me cutucou com um objeto, finalmente me entregando a
caneta que nem estava usando. Tentei voltar a minha atenção para
a matéria, mas a sala começou a girar novamente, de modo que
decidi apenas abaixar a cabeça e desenhar um pouco na folha de
papel. Esse, a propósito, era o meu único talento.
Meu interesse pelo desenho começou cedo, ainda criança, e
desenvolvi a habilidade ao longo do tempo. Até o final do colegial eu
era uma menina sem amigos, então usava meus lápis e cadernos
como uma companhia para a solidão. Porém, o que era para ser
somente um hobby, acabou se tornando a minha paixão.
Quando a aula finalmente acabou, Dominic se virou para mim.
Ele encarou o desenho que eu fiz, então me encarou com um novo
olhar de reprovação.
— Foi para isso que pediu o papel e a caneta?
— Não, a ideia era realmente prestar atenção na aula, mas
estou muito bêbada pra isso.
Talvez não fosse a melhor coisa a dizer ao cara que eu tinha
chamado para fazer um trabalho em dupla comigo, mas meus
amigos costumavam dizer que eu não tinha muitos filtros. E pela
forma como me observava, Dominic havia me desaprovado.
— Olha... — Ele estalou a língua, passando a mão pelos
cabelos. — Claramente você não dá a mínima para essa matéria,
mas eu preciso de boas notas. Já que não tenho escolha a não ser
fazer esse seminário com você, poderia se esforçar em fazer sua
parte? Depois pode se afundar sozinha.
De uma coisa eu tinha certeza: o loiro se achava a última
bolacha do pacote, a preciosidade do Alabama. Mas como eu não
me deixava abalar facilmente, precisei morder meus lábios com
força para evitar rir. Talvez fosse a quantidade absurda de álcool no
meu sangue, ou talvez fosse porque Dominic era realmente
engraçado, ainda que não quisesse ser.
Franzi os lábios para espantar a vontade e respirei fundo,
tentando ficar séria antes que o Senhor Perfeição ficasse com raiva
e resolvesse me denunciar por estar bêbada.
— Estamos de acordo? — questionou, erguendo a
sobrancelha bonita.
Balancei a cabeça de forma positiva, porque também era do
meu interesse fazer esse trabalho com ele, por dois motivos:
primeiro porque eu tinha perdido muito conteúdo daquela matéria e
não sabia de nada, e segundo, porque ele era um filho da puta
gostoso.
— Certo. — Dominic se levantou, jogando a mochila nas
costas. — Eu te mando um e-mail mais tarde.
O cara era rápido, veloz demais para que eu conseguisse
reagir antes que estivesse saindo da sala. Peguei meu casaco que
era a única coisa além do celular, que consegui levar para a aula, e
me levantei depressa. Tomei uns segundos para recuperar o
equilíbrio quando me senti bêbada, e em seguida, dei o fora da sala.
Assim que saí no corredor, senti meu estômago embrulhar e
um gosto ruim subir até a minha garganta. Sem pensar, corri para o
banheiro mais próximo, torcendo para chegar a tempo. Botei a mão
na boca e empurrei quem estava no meu caminho, causando uma
confusão no corredor. Abri a porta às pressas e me joguei no
primeiro sanitário que notei estar vazio, vomitando toda a vodca que
eu tinha bebido há algumas horas.
Primeiro, senti um alívio enorme por finalmente me ver livre da
sensação de enjoo. Depois, senti nojo e me levantei do chão
rapidamente, dando descarga e indo em direção à pia para me
limpar. E foi nesse segundo, que eu percebi que tinha entrado no
banheiro masculino.
Dois rapazes, usando os mictórios, me encaravam
boquiabertos, apesar de um deles me lançar um olhar debochado.
Encarei suas bundas que infelizmente estavam cobertas por suas
calças e me aproximei da pia, tentando manter a dignidade intacta.
— Não há nada entre as pernas de vocês que eu já não tenha
visto, queridos — avisei, lavando minhas mãos e me encarando no
espelho antes de pegar um punhado de água para jogar no rosto e
lavar a boca.
Assobiei uma música qualquer enquanto passava um pedaço
de papel ao redor dos meus lábios e me dirigi para a saída, dando
de cara com um terceiro homem que entrava naquele instante.
— Pode entrar — falei, piscando e segurando a porta para que
ele passasse e eu pudesse sair. — Fique à vontade.
Tudo bem, não tinha sido a pior coisa pela qual eu passara na
vida. Não chegava nem perto da vez em que flagrei meus pais
transando em cima da mesa da cozinha aos onze anos. Nem
ganhava do dia em que o garoto de quem eu era a fim no primeiro
ano do ensino médio me chamou pra ir nadar no lago perto de
nossa casa, então, esperou eu tirar a roupa pra pular na água e as
levou embora só pra me filmar nua — antes de soltar o vídeo para o
colégio inteiro ver.
Eu tinha uma coleção de fracassos e situações humilhantes
para emoldurar. Entrar no banheiro masculino não era nada
comparado ao tanto de merda que vivi.
Cheguei na minha bicicleta, pronta para abdicar da próxima
aula do dia e ir para casa dormir, quando meu celular vibrou,
anunciando a chegada de uma notificação. Era um e-mail de
Dominic, que me dizia para encontrar com ele no dia seguinte, na
parte da tarde, no prédio do seu dormitório. O loiro me mandou o
nome do edifício, mas o campus da universidade possuía mais de
duzentos e noventa prédios e uma extensão de aproximadamente
oito quilômetros. Eu precisaria dar uma olhada no mapa para
descobrir onde ficava.
Meus olhos se abriram antes mesmo do despertador acionar o
alarme, o que era uma coisa comum de acontecer. Anos de uma
intensa disciplina condicionaram meu cérebro e meu organismo a
funcionarem como um relógio preciso que acabava sendo muito útil
para alguém com a rotina que eu levava.
No automático, fiz minha higiene pessoal, sem me importar em
tomar banho pois faria isso ao final do treino. Vesti uma roupa
básica, arrumei minha bolsa e encontrei com Peter na cozinha do
nosso apartamento no Bryant Hall, o dormitório exclusivo para os
atletas da UA. Dividíamos uma suíte com dois quartos individuais e
ainda tínhamos uma sala com sofás e televisão, além da pequena
cozinha que nos servia muito bem. Não era um luxo, mas era muito
melhor do que a grande maioria dos dormitórios estudantis. Antes
de me mudar, pensei que levaria um tempo para me adaptar, visto
que cresci numa família rica, mas tudo aconteceu muito
naturalmente.
— Bom dia, QB — Peter fechou o punho para me
cumprimentar e eu bati nossas mãos.
— Vai sair? — perguntei, pegando um copo d’água e o
tomando num gole só.
Peter, que era wide receiver[1] do Crimston Tide, o programa de
futebol americano da Universidade do Alabama no qual eu jogava
como o quarterback[2] titular, fazia o papel de meu melhor amigo,
mesmo que fôssemos muito diferentes um do outro. Nos
conhecemos quando ele foi transferido do Ohio State para cá no
segundo ano, e sempre nos demos muito bem dentro e fora de
campo.
— Eu me atrasei um pouco, ainda preciso ir ao banheiro —
avisou, com a camisa ainda na mão. — Pode ir na frente porque
conheço suas manias.
Assenti e deixei nossa suíte para pegar o elevador e ir tomar
café no restaurante do Centro de Treinamento, onde as refeições
eram preparadas de forma equilibrada para o que cada atleta
necessitava ingerir. Não que fosse uma obrigação, mas se tornava
muito mais prático deixar que profissionais preparados para isso se
preocupassem com a nossa alimentação.
Eu não tinha manias, como Peter gostava de dizer, era apenas
extremamente disciplinado. Os motivos por trás de cada passo que
eu dava em minha vida eram extensos e todos relacionados à
criação que tive.
Sendo filho de Henry Davis, não parecia haver outro caminho a
seguir que não o do futebol americano, e eu já saí da maternidade
vestindo uma camisa do Alabama Crimson Tide[3], feita sob medida
e personalizada com o meu nome. Meu pai foi simplesmente o mais
famoso quarterback que já passou por esta Universidade desde a
década de setenta até o presente momento, e quando se formou, foi
draftado[4] pelos Giants para a NFL[5].
Por longos doze anos, sua carreira foi estrondosa e de muito
sucesso até o dia em que sofreu uma lesão na mão direita que o
impediu de continuar jogando profissionalmente. Eu era muito
pequeno quando isso aconteceu e não tenho tantas memórias
daquela época, mas me recordo de que minha mãe não perdia um
único jogo e eu estava sempre lá, ao lado dela, mesmo quando
ainda não entendia nada do esporte.
Devia ter uns seis anos quando as brincadeiras
despretensiosas com o meu pai, onde ficávamos lançando a bola
um para o outro, se tornaram treinos mais frequentes, ali mesmo no
gramado de casa. Até o dia em que treinadores começaram a ser
contratados para que o filho de Davis pudesse ser lapidado aos
poucos. Meus videogames foram substituídos por filmes sobre
futebol americano e vídeos de partidas antigas da época em que
meu pai jogava no colegial. Fui tirado das aulas de natação para
respirar o esporte em todo o meu tempo livre.
Àquela altura, meu pai já tinha se aposentado e dedicava
horas de sua vida a me treinar para seguir seus passos como a
estrela que foi. Eu embarcava em cada decisão porque a coisa mais
importante para mim era justamente ter a companhia dele, mas
quando menos esperava, estava enterrado até o último fio de cabelo
no mundo do futebol americano. Tornou-se a minha vida e o meu
futuro, e aumentou de proporção a cada vez que eu me sobressaía
em algum jogo do colégio.
E sim, eu era bom. Não. Eu era fenomenal. Aprendi a me
alimentar daqueles resultados positivos, que só me incentivavam a
melhorar o que era ótimo. Não ligava para os aplausos, nem para os
holofotes, muito menos para a fama que vinha acompanhada de um
bom trabalho. O que me interessava mesmo era a sensação de
realização depois de cada jogo, o poder que me dominava em
campo, enquanto eu podia sentir a bola entre minhas mãos,
naqueles milésimos de segundos que antecediam o momento do
lance.
Eu me apaixonei pelo futebol americano com a mesma
intensidade em que fazia minhas jogadas. Para o meu pai, foi como
um elixir saboreado lentamente, visto que era seu sonho que eu
realmente continuasse com o legado dele. Por isso, dos meus treze
anos até hoje, minha vida, minha rotina, cada passo meu, foi
pensado estrategicamente para o dia em que eu participaria do
Draft[6] da NFL.
No último ano do ensino médio, eu já colecionava propostas
para diversas universidades que desejavam receber o quarterback
mais promissor das próximas temporadas, mas a tradição não podia
ser quebrada. Sendo assim, nos mudamos para o Alabama quando
decidimos, eu e meu pai, que o melhor caminho a tomar seria jogar
pelo Crimson Tide, não só a equipe onde ele fez seu nome, como
também uma das mais tradicionais e com mais títulos do College[7].
A mudança não foi um sacrifício para a família que respirava
futebol americano o tempo todo e que tinha meu futuro como
prioridade. Minha irmã mais nova, de qualquer forma, agora
estudava na UCLA e só se encontrava com todos nós durante as
férias. Algo me dizia que ela evitava voltar para casa mais vezes,
ciente de que passaria os dias inteiros escutando sobre o esporte.
Eu não a culpava. Meu pai podia ser... sufocante na maioria das
vezes.
— Bom dia, QB.
— E aí, Davis?
— Bom dia — respondi aos que me cumprimentavam
enquanto caminhava até uma mesa do restaurante e me sentei para
fazer o desjejum.
Confesso que eu não era a pessoa mais sorridente e
comunicativa que já tinha passado por aquele local, mas tentava ao
máximo ser simpático e atencioso com todos os que não tinha tanto
contato comigo, mas que mesmo assim gostavam de se aproximar.
Era um pouco complicada essa exposição. Controlar a fama
durante o ensino médio não foi difícil porque eu ainda era um
moleque e vivia naquele mundinho pequeno do colégio, conhecido
por um número bem limitado de pessoas. Agora, sendo a estrela de
uma das equipes mais brilhantes do país e a maior aposta do
próximo Draft, era impossível controlar o que acontecia em minha
vida. Eu não estava mais preso àquele grupo de estudantes
adolescentes, meu rosto era exibido nas televisões que
sintonizavam no maior canal de esportes do mundo, minhas redes
sociais explodiam em números de seguidores diariamente e a legião
de fãs que iam ao estádio gritar meu nome chegava a me assustar
de vez em quando.
Eu sempre fui muito reservado porque cresci muito sozinho por
conta de uma rotina exigente de treinos, então nem sempre sabia
lidar bem com todo o assédio. E ele vinha, em grande parte, das
mulheres, o que era um outro grande problema para mim. Eu as
evitava desde que comecei a me desenvolver e perceber que eram
muito mais do que simples garotinhas chatas e nojentas, como eu
achava quando era criança. Mulheres não podiam fazer parte da
minha rotina, porque todos os caras que me cercavam eram
péssimos exemplos do que a paixão ou o sexo podiam fazer com a
mente de um homem.
Eu não tinha tempo para me preocupar com questões
sentimentais nem sexuais. Não podia me ocupar com conversas
bobas, flertes, discussões de relacionamentos, joguinhos de sexo,
ou mesmo com o desejo incontrolável. Não era apenas pelo futebol,
mas também pelas minhas notas, que precisavam ser excelentes
para que alcançasse o padrão que sempre desejei para mim.
Quando me formasse, quando começasse a jogar
profissionalmente, então daria atenção a esse lado da minha vida
pessoal e me permitira viver como qualquer homem da minha idade
viveria. Mas por enquanto, não existia a possibilidade de perder meu
foco porque eu mirava com muita decisão em meu futuro e ele
estava há alguns meses de se tornar realidade.
Peter entrou no restaurante quando eu estava saindo e me
lançou um sorriso idiota de quem sabia que estava bem atrasado.
Fui direto para o estacionamento, pois o campo onde ocorriam os
treinos era um pouco longe, e cheguei ao vestiário ainda vazio, pois
raramente alguém conseguia ser mais pontual do que eu.
Tinha terminado de calçar as chuteiras quando peguei meu
celular para conferir as notificações e encarei os lembretes da
agenda do dia. Um dos meus compromissos era encontrar a bêbada
maluca que era nada mais nada menos que minha dupla numa
eletiva. Eu havia me distraído por alguns segundos, enquanto fazia
algumas anotações, e não percebi que o pessoal já estava se
movimentando para isso. A parte ruim de ser quem eu era, ficava
por conta de que algumas pessoas tinham receio de se aproximar
de mim por eu parecer quase intocável. Portanto, me sobrou a
garota cujo nome eu já não me lembrava direito.
Ela era um excesso, por assim dizer. Apesar de ser pequena
como um filhotinho de Chihuahua, havia uma energia muito caótica
em torno dela e tudo do que eu não precisava era problema para
cima de mim.
Quem ia para a aula estando bêbada, afinal? Que horas tinha
começado a beber? Ou melhor, que horário a dita cuja tinha parado
de ingerir álcool para chegar tão destrambelhada em sala de aula
numa manhã de terça-feira? Era desrespeitoso com o corpo docente
e com os alunos que tinham interesse em aprender alguma coisa.
— Dominic! — Guardei o celular e me levantei quando vi meu
treinador, McDowell, entrar no vestiário. — Venha à sala de
reuniões, quero estudar algumas jogadas para hoje.
— Sim, senhor.
Guardei minhas coisas e o segui pelo corredor iluminado até o
lugar onde muitas vezes eu passava horas na companhia dos
técnicos, ouvindo suas ideias táticas, recebendo os esporros
quando não obtínhamos o rendimento desejado num jogo, e
acatando as novas ordens para serem colocadas em prática dentro
e fora de campo.
O barulho alto do despertador me fez acordar em um pulo.
Levei a mão até o celular e desliguei o alarme, decidindo dormir por
mais cinco minutinhos depois de me aconchegar de novo no corpo
quente de Joe, deitado do meu lado. Meu corpo estava destruído do
dia anterior e eu precisava de uma boa dose de sono para me
recuperar.
Tinha voltado a sonhar com sereias e donuts quando fui
acordada com um solavanco.
— Você não tinha aula às oito? — perguntou a voz que eu
conhecia bem.
Abri os olhos, frustrada por ter perdido meus minutinhos do
cochilo e encarei o meu amigo com benefícios.
— Tinha, não. Eu tenho — murmurei, sorrindo e me
espreguiçando. — Eu ainda vou, só preciso tomar um banho antes.
Joe franziu os lábios antes de dar um sorriso besta e suspirar,
mexendo nos meus cabelos e, por fim, fazendo algo que eu
detestava: apertando meu nariz.
— Sinto informar que passa de meio-dia, gatinha.
O quê? Mas que merda!
Sentei-me na cama, chocada, debruçando-me sobre o corpo
magro do meu amigo para pegar meu celular na mesinha, visto que
parecia termos trocado de lados na cama em algum momento.
O relógio do aparelho marcava 12:15 e eu me senti muito
derrotada por estar há dois dias seguidos fracassando com minhas
aulas. O pior era que a de hoje tratava-se realmente de uma
disciplina importante que eu não podia ter faltado, o que me deixava
com mais peso na consciência.
— Você podia ter me acordado antes. — Dei um soco no braço
de Joe antes de me levantar. — Merda! Ok, não vamos mais nos
encontrar durante a semana!
— Eu teria acordado se não estivesse dormindo, Norah. — Ele
sorriu, revirando os olhos e alisando o peito. — Não tenho culpa se
você tem apego ao meu corpo e não quis me soltar.
— Vai cagar, Joe!
Catei as roupas dele do chão do meu quarto e as joguei em
seus braços antes de me dirigir para a porta do quarto, mas quando
fui abri-la, percebi que estava pelada e não pretendia desfilar
daquele jeito pela irmandade, pois nunca sabia quem encontraria
pelo caminho.
— Vai logo embora, anda! — pedi, estalando meus dedos e
pegando um blusão para vestir, além da minha toalha de banho. —
Ainda preciso almoçar, passar na biblioteca e depois me encontrar
com um colega pra fazer um trabalho.
Senti braços de polvo enroscarem em minha cintura e me
impedirem de sair do quarto. Precisei respirar fundo e contar até
dez, porque se tinha uma coisa que eu detestava, era homem
grudento.
— Como nós dois já perdemos nossas aulas, o que acha de
continuarmos aqui no quarto e aproveitarmos um pouco mais? —
sugeriu Joe.
Dei uma cotovelada em suas costelas, ignorando seu lamento,
e me virei de frente para ele.
— Tenho um compromisso real — respondi, com pressa. —
Vai logo embora ou precisarei te expulsar a pontapés?
— Ah, Norah, qual é! Basta remarcar.
Deixei-o falando sozinho e fui para o banheiro, tomando um
tempinho para fazer minha higiene pessoal e gastando alguns
minutos debaixo da ducha quente. Quinze minutos depois, ao abrir a
porta do meu quarto, dei de cara com Joe deitado na cama e
mexendo no celular.
— Sério? — Cruzei meus braços. — Virou carrapato?
Ele apenas riu e continuou mexendo em seu aparelho. Como
eu não tinha mesmo tempo para gastar com bobeiras, apressei-me
em me arrumar. Escolhi um jeans escuro de cintura alta e um
cropped com estampa de girassóis, calcei meus tênis, passei rímel e
gloss e prendi meus cabelos num rabo de cavalo alto.
— Vamos almoçar no Steven’s? — sugeriu Joe, sentando-se
na cama.
Parei para encarar o homem diante de mim. O filho da mãe era
muito bonito. Alto, negro, de cabelos pretos, todo tatuado e brinco
na orelha. Era estiloso e eletrizante. Eu realmente o adorava, mas
Joe não valia nada, e por isso éramos apenas amigos com
benefícios. Ambos sabiam que não queriam se relacionar um com o
outro, mas curtíamos o sexo entre nós e isso bastava.
— Eu não vou beber mais no meio da semana — comentei,
pegando minha mochila. — Não posso reprovar em nenhuma
matéria nesse semestre, então, o almoço será mesmo apenas um
almoço. Sem bebidas.
— Mas a festa da Anna não é hoje? — Joe me olhou,
questionador, enquanto calçava os tênis.
Praguejei, me lembrando daquela porcaria só naquele
momento.
— Bom, eu não preciso beber — declarei, sentindo-me
confiante.
Joe gargalhou, passando o braço pelos meus ombros.
— Se eu não a conhecesse, juro que acreditaria em suas
palavras. — Ele estalou a língua e abriu a porta para mim. —
Principalmente, sendo uma festa da Anna.
Joe tinha um ponto. Se fosse a comemoração de qualquer
outra pessoa, seria mais fácil me controlar. Mas era a festa de
aniversário da Anna, e eu a odiava. Nem ao menos tinha sido
convidada, só estaria presente porque nós morávamos juntas na
mesma irmandade, e a festa seria aqui na Zeta. Dessa forma, não
havia como evitá-la.
— Bom, mas eu tenho orientação amanhã cedo, então serei
obrigada a me controlar — comentei, vendo-o esboçar uma careta.
— Estou falando sério.
— Eu até poderia te oferecer horas de sexo, pra você se
ocupar com alguma outra coisa, mas...
— Mas você não sustenta horas de sexo? — zombei,
estalando minha língua. — Eu sei, Joe.
— Hilária. Não, não é isso. Eu tenho um encontro hoje —
completou.
Aquela informação era nova e merecia alguma atenção de
minha parte, por isso, parei com ele no meio da escada e o encarei
de verdade.
— Será que está prestes a se apaixonar, Joe? — Ergui minhas
sobrancelhas. — Não está enganando nenhuma garota inocente por
aí, né?
— Ah, cala a boca, Norah! — Sua mão enorme tapou meu
rosto e deslizou para cima, bagunçando meus cabelos.
Levei um tempo para me ajeitar e perdi o momento em que o
filho da mãe passou por mim e chegou ao primeiro andar. Ele
cumprimentou algumas meninas que circulavam por ali e me
esperou diante da porta.
Na sala de estar, esbarrei com Aika, que saía da cozinha com
um copo de milkshake na mão. A que estava livre ela enganchou no
meu braço e aproximou o rosto do meu para sussurrar.
— Amiga, tenta fazer menos barulho da próxima vez — pediu.
— Tive dificuldade pra dormir essa noite com você e o Joe com
tanta energia pra gastar.
— Foi mal, prometo pegar mais leve com ele. — Pisquei para
Aika e roubei seu copo, puxando o milkshake gostoso pelo canudo e
correndo até meu amigo.
— Sua vaca, eu acabei de fazer esse! — gritou.
Joguei um beijo e Aika riu. Ela era a garota mais linda que eu
conhecia, com seus cachos ruivos e peitões que eu nunca teria
porque morria de medo de colocar silicone e sofrer uma parada
cardíaca na mesa de cirurgia. Quando ria, seus olhos verdes
praticamente desapareciam, e duas covinhas profundas surgiam em
suas bochechas. Era tão fofa que nem parecia que era quase tão
louca quanto eu.
A luz do sol me atingiu com força e eu precisei botar a mão na
frente do rosto para enxergar direito. A caminhonete de Joe estava
estacionada nas vagas na porta do edifício e eu me joguei no banco
do passageiro assim que ele destravou o carro. Cinco minutos
depois, estacionávamos na frente do Steven’s, um bar descolado
perto do estádio, onde sempre íamos para comer e beber —
principalmente essa segunda parte.
Ele ficava fora do campus, mas era tão perto que praticamente
fazia parte dele. Por isso, o local era bastante frequentado pelos
universitários. Durante a semana, se eu quisesse sair para encher a
cara, aquele era sempre o meu destino.
— E aí, Steven? — cumprimentei o homem ao me sentar de
frente para o balcão. — O que temos para o almoço hoje?
Ele colocou as duas mãos na cintura e me encarou,
zombeteiro, estreitando os olhos. Fingia que era sério e ranzinza,
mas na verdade, era um amorzinho de pessoa. Como um urso
domesticado.
— E você tem coragem de aparecer aqui depois de ter
vomitado meu bar todinho?
— Me desculpa por isso — falei, soltando um suspiro e
apoiando meus braços no balcão. — Eu vou te recompensar.
Começando por hoje, que vou comer muito e Joe vai pagar tudo.
— Não entendo por qual motivo tenho que pagar pelo seus
atos — murmurou o pilantra ao se sentar do meu lado.
— Talvez porque eu estava com você, que me deixou encher a
cara até passar mal? — Arregalei meus olhos e cutuquei a
bochecha dele. — Que coisa feia, Joe. Embebedar uma garota
inocente...
— Não sei por que dou trela pra você, Norah.
— Porque eu sou incrível. — Pisquei para Steven, que
observava tudo como se estivesse se divertindo. — Vou começar
com uma Coca bem gelada.
Joe fez os nossos pedidos porque sabia o que eu gostava de
comer naquele lugar e depois que o dono sorriu satisfeito e entrou
na cozinha, fomos nos sentar na nossa mesa de sempre, perto da
janela, com vista para o estádio de futebol americano.
— Pode começar a falar sobre o seu encontro.
— O que tem ele? — perguntou meu amigo, digitando algo no
celular.
— Não vai me mostrar nem uma foto?
— Não — respondeu.
Bufei, me sentindo contrariada, mas não deixei de encará-lo.
Observava enquanto digitava, até que estiquei minha mão por cima
da mesa e fiz minha melhor cara de choro, aquela que ninguém
conseguia resistir.
— Como você é chata... — murmurou ele, suspirando e me
entregando o celular.
Sorri quando vi que tinha selecionado uma foto da garota e me
espantei com a beleza dela. Era negra, parecia ser muito alta, tinha
cabelos longos e ondulados, e olhos castanho-claros. Na imagem,
estava vestindo um uniforme da banda da faculdade e era uma
grande gostosa.
— Ainda bem que não sou apegada a você, porque seria
impossível competir com essa mulher — comentei, rindo e saindo
da imagem.
Então, me surpreendi ao perceber que estava dentro da
conversa de Joe com a garota e, bisbilhoteira como eu era, comecei
a deslizar pelas mensagens. Parei quando encontrei um nude do
homem diante de mim, duas noites atrás, e logo em seguida, um
nude dela mesma.
— Caramba, Joe! Não sabia que você gostava de apimentar a
troca de mensagens...
— Ok, chega. — Ele tomou o celular da minha mão e o
guardou rápido no bolso. — Nem era pra ter visto nada.
Na entrada do bar, uma voz familiar chamou minha atenção.
Carlos, um amigo meu, estava curvado sobre o balcão, conversando
com Steven. Como sempre, seu cabelo cacheado estava
bagunçado e ele carregava o seu violão nas costas. Antes que o
chamasse, Carlos olhou para o lado, deu um sorriso, e então se
despediu do homem com um aceno antes de vir na nossa direção.
Eu deslizei para o lado no banco e dei espaço para que se
sentasse.
— E aí, galera? — Ele nos cumprimentou enquanto tirava o
violão das costas e o apoiava na lateral da mesa. — Tudo bem?
Havia algo no modo como Carlos falava, como se estivesse
sempre chapado, que me entretinha muito. Eu poderia ficar ouvindo
divagar durante horas e não era só por causa da fala superlenta e
arrastada, mas também pelo sotaque chileno que era muito
diferente do que estava acostumada a ouvir.
— Quais são os planos para o dia? — ele emendou uma
pergunta na outra.
— Depois que meu dia saiu dos trilhos, só tenho um
compromisso mais tarde — comentei, vendo a garçonete se
aproximar com nossos pratos. — E mais tarde tem a festa de
aniversário da Anna.
— É a garota que você odeia, certo?
— Isso mesmo. — Sorri, muito feliz. — Por que você não
aparece por lá?
Ele enrugou a testa, pareceu pensar um pouco, e então me
fitou com uma interrogação na testa. Era sua expressão cotidiana e
eu o adorava por ser um momento de distração sempre que
aparecia.
— Eu fui convidado?
Joe e eu rimos. Apesar de ser só metade do dia, Carlos com
certeza já tinha fumado um baseado.
— Eu estou te convidando!
— Mas você não é a dona da festa — disse ele, como se fosse
óbvio.
— Só apareça, Carlos. — Dei um tapinha em seu ombro e
comecei a cortar meu bife suculento. — A Alice estará por lá e eu
sei que gosta de conversar com ela.
Toquei no ponto certo quando vi seus olhos brilharem e o
sorriso nascer em seu rosto. Sempre que ouvia o nome da minha
amiga, Carlos ficava todo animadinho. Então, aceitou o convite e
prometeu que apareceria mais tarde na festa.

Os dois homens sentados nos bancos dianteiros encaravam o


prédio boquiabertos, e Carlos, que estava no carona, tinha o nariz
grudado no vidro da janela.
— Você está fazendo um trabalho com um dos atletas? —
perguntou meu amigo chileno.
— Eu não sei...
Era verdade, não fazia a menor ideia. Apenas disse o nome do
edifício para Joe, que me deu carona para que eu não me perdesse,
achando que eu estava zoando com a cara dele. Mas agora,
parados bem ali, o boboca tinha acreditado que eu não estava
mentindo.
— Como você não sabe, Norah? — questionou ele, bebendo
de sua garrafa d’água. — Esse é o dormitório dos atletas do futebol
americano e do basquete. A elite da universidade, sua tonta.
— Ora, me desculpe, senhor sabe-tudo — zombei, dando um
tapa na nuca dele. — Não havia nenhum letreiro na testa do
Dominic quando eu...
Interrompi o que estava dizendo porque Joe cuspiu toda a
água que estava bebendo e molhou o painel do carro, o volante, e
até mesmo o pobre coitado do Carlos ao seu lado.
— Dominic Davis? — perguntou ele, com o tom de voz um
pouco alterado, quase parecido com o de uma menina. — Sua dupla
é Dominic Davis?
— Uou... — murmurou Carlos, se virando de frente para mim
com os olhos arregalados. — Maneiro...
— Não sei o sobrenome dele. — Revirei meus olhos,
insatisfeita ao me lembrar que o loiro arrogante nem quis me passar
o número do celular. — Vou nessa, galera. Até mais tarde!
Antes que a conversa ficasse mais estranha, dei o fora
daquele carro e entrei no prédio. O saguão era espaçoso e muito
mais limpo do que qualquer outro dormitório no qual eu já tinha
entrado. Conferi o número que o tal do atleta tinha me enviado e
subi de elevador até o terceiro andar.
O quarto de Dominic ficava no fim do corredor. Bati na porta e
levei um susto quando ela foi aberta imediatamente.
— Você está atrasada — ele me lançou um olhar nada
satisfeito.
Misericórdia divina, parecia que o infeliz ganhara mais dez
pontos de beleza de um dia para o outro. Como era possível? Meu
parceiro vestia uma camiseta regata que deixava os braços fortes
expostos para o meu deleite e estava usando um boné virado para
trás.
— Por dez minutos, tenha dó — falei, entrando sem nem ao
menos ser propriamente convidada.
O lugar nada mais era do que um apartamento, com direito até
a uma cozinha, o que achei muito injusto com os pobres mortais.
Notei três portas, indicando o que provavelmente eram os quartos e
o banheiro, e observei a falta de decoração naquele dormitório, com
exceção do quadro pendurado na parede, que exibia o logotipo do
Alabama Crimson Tide, a equipe de futebol americano da
universidade.
Então estava explicado por que eu o achava tão arrogante. Só
podia mesmo ser atleta, por isso eu não me dava bem com essa
turma. Aquele loirinho ali, provavelmente pensava que seria o
próximo Michael Jordan. Não, calma. Esse era do basquete. Vamos,
Norah, pense num jogador famoso... Ah, sim! Usain Bolt!
— Lugar bem legal — comentei, jogando minha mochila em
cima de uma das cadeiras e me sentando.
Dominic fechou a porta e pegou minha mochila, tocando a
base da minha cadeira e indicando que eu deveria levantar. Percebi
que ele gostava de economizar palavras, ou a voz, talvez. Estava no
esporte errado, devia ter apelado para o coral da faculdade.
— Vamos para o meu quarto porque meu amigo deve chegar
daqui a pouco — disse ele, caminhando pelo corredor curto sem me
esperar.
— Que fique claro que é pelos estudos! — avisei, assobiando
e encarando a bunda gostosa que o loiro tinha. — Eu não sou do
tipo que fica indo pro quarto com qualquer um.
A garota inteira indicava displicência, mas eu não podia me
afetar por isso. Bastava fazer o meu trabalho da mesma forma como
sempre fazia todos, nem que para isso precisasse me esforçar por
ela também. Seria ótimo, inclusive, se a tal de Norah apenas
decidisse que aquele seminário não era tão interessante e me
deixasse fazer tudo sozinho. Eu não me importaria que recebesse
os pontos por algo que não participou, desde que pudesse me
deixar em paz.
Quando entramos em meu quarto, a doida foi simplesmente se
jogando na minha cama, chutando os tênis para longe e dobrando
as pernas sobre meu lençol, achando que estava em sua casa.
— Claro, fique à vontade — ironizei, puxando a cadeira de
frente para a escrivaninha pequena que havia ali ao lado da cama.
— Então, você é um atleta, certo? — questionou enquanto
abria a mochila sem deixar de me encarar.
Que tipo de pergunta era aquela? Encarei bem a garota,
olhando dentro de seus olhos escuros, tentando captar algum traço
de deboche, mas ela parecia muito plena enquanto esperava ouvir a
minha resposta. A impressão que me dava era de que realmente
estava sendo sincera em seu questionamento e isso... bem, eu não
me lembrava da última vez em que uma garota se aproximou de
mim sem saber quem eu era.
— Exato — respondi, virando-me de frente para o notebook e
de costas para ela.
— Quem é seu ídolo, aquele de quem os passos você quer
seguir? Usain Bolt?
O quê? Precisei virar o rosto e encarei a garota de cabelos
pretos, que sorria para mim.
— Eu jogo futebol americano. — Ela assentiu e eu não tinha
certeza se estava me sacaneando. — Usain Bolt era velocista.
Senti vontade de rir quando percebi a confusão passar pelos
olhos escuros e Norah pigarrear. Ela observou meu quarto, talvez
procurando alguma referência, mas não acharia nada ali porque eu
era minimalista.
— Joe Montana, Henry Davis, Tom Brady... Talvez você
conheça algum — indiquei, notando seus olhos se estreitarem.
— Ah! — Ela bateu palmas. — O marido da Gisele!
O cara era simplesmente o maior campeão de toda a história
do Super Bowl e ela o reconhecia por ser casado com uma ex-
modelo. Achei engraçado e curioso, pois significava que Norah não
parecia entender absolutamente nada do esporte e, talvez, por
causa disso, não fosse o tipo de pessoa que tentaria se aproximar
por interesse ou puxar meu saco.
A garota deslizou pela minha cama até apoiar as costas na
parede e esticou as pernas, deixando pendurados os pés com
meias com estampa de ursinhos. Observei enquanto puxava um
estojo de dentro da mochila e pegava uma caneta, levando a tampa
até sua boca e a mastigando durante o tempo em que encarava seu
caderno.
— Com tanta gente naquela sala e eu tive que escolher um
atleta. — Bufou, esquecendo da minha presença bem ali. —
Francamente, Norah. Que dedo podre.
— Algum problema?
— Não. — Ela sorriu de um jeito forçado e respirou fundo,
batendo as mãos nas pernas. — Tudo perfeito!
Antes que o tempo passasse e não evoluíssemos no trabalho,
eu me virei de novo para a frente do notebook e comecei a abrir
todas as páginas que deixei como favoritadas para o momento.
Havia feito uma pesquisa mais profunda na véspera antes de dormir
e já tinha todo o conteúdo do seminário praticamente desenvolvido
na minha cabeça.
Durante os quinze minutos seguintes, passei todas as minhas
ideias e tópicos de abordagens para Norah, que me ouviu calada
por um tempo até que começou a dar suas sugestões também.
Quando a garota tirou o seu notebook da mochila, precisei aguardar
que desenrolasse todo o cabo do carregador e procurasse por uma
tomada para ligar o aparelho, explicando que ele não funcionava
mais sem ser dessa forma.
— Sabe do que você precisa? — perguntou, mas não esperou
pela minha resposta. — De uma festa.
— Eu preciso terminar esse seminário, isso sim.
— Hoje vai ter uma festa lá na Zeta Tau, onde eu moro —
Norah comentou, voltando a se sentar perto de mim. — Você
deveria ir para relaxar um pouco. Parece muito tenso.
Tentei ignorar a presença dela e comecei a digitar o que
tínhamos decidido que seria minha parte no trabalho. Depois,
salvaria o arquivo no Drive para que a garota também tivesse
acesso e pudesse editá-lo ao dar a sua contribuição. Mas de
repente, senti um arrepio na nuca e virei discretamente a cabeça
para o lado, percebendo que ela não estava mais no mesmo lugar.
— Qual perfume você usa?
Porra!
Quase caí da cadeira quando vi Norah parada atrás de mim,
com o nariz quase grudado no meu pescoço. Segurei firme na
escrivaninha e equilibrei minha cadeira que balançou quando me
inclinei para o lado, tentando me desvencilhar da maluca. Como ela
podia ser tão silenciosa ao ponto de eu nem ter percebido que se
levantara da cama?
Virei-me de lado e a encarei exibindo os lábios franzidos e uma
cara de quem gostava de ferrar com a mente dos outros.
— Quer deixar de ser tão invasiva? — pedi, passando minha
mão pelo pescoço arrepiado. — Vá se sentar, por favor.
— Que grosseria hein... — Ela suspirou, retomando o seu
lugar. — Só queria saber o nome do perfume. Não é nenhum crime.
— Invadir o espaço pessoal de outras pessoas não é a melhor
abordagem a se fazer — comentei, tentando recuperar a
concentração no texto à minha frente.
— Você tem namorada?
Parei de novo de digitar e girei minha cadeira para ficar de
frente para Norah. Ela tinha cruzado os braços e balançava os pés
pequenos, me encarando com um sorriso sem mostrar os dentes.
— Isso é importante para nosso trabalho? — perguntei.
— Não. — Encolheu os ombros e puxou uma mecha do rabo
de cavalo para enrolá-la em seu dedo. — Estou apenas curiosa,
considerando que você é chato na mesma proporção em que é
gostoso.
Abri e fechei a boca, surpreso por ela conseguir ser tão direta.
Eu era virgem, nunca tinha me relacionado com ninguém além de
alguns poucos beijos e, mesmo assim, essas raríssimas exceções
aconteceram durante o ensino médio. Desde que passei a me
concentrar exclusivamente na carreira, deixei de lado qualquer tipo
de tentação. Sendo assim, não costumava dar brecha para que as
garotas tivessem qualquer intimidade comigo e as que se
aproximavam mais, acabavam se retraindo pelo meu jeito meio frio
de me comunicar.
Pelo visto, minha tática não funcionava bem com Norah, pois a
garota simplesmente não estava nem aí para qualquer limite que eu
tentasse impor.
— Ah, meu Deus! — Ela levou as mãos à boca e arregalou os
olhos. — Terminou algum relacionamento recentemente? É por isso
que está assim, todo tenso e carrancudo?
— Eu não acho que seja da sua conta, seja qual for a minha
resposta — declarei, sorrindo com deboche.
Norah se curvou até apoiar os cotovelos nos joelhos,
aproximando o rosto do meu. Reparei nos cílios longos e escuros
que emolduravam os olhos grandes, porém, levemente puxadinhos
nas laterais. Não conseguia imaginá-la como uma garota que me
chamaria a atenção se eu estivesse procurando por isso, mas havia
um certo charme no rosto pequeno de lábios cheios.
— Só estou tentando conhecer melhor o meu parceiro de
seminário — resmungou, se encostando de novo na parede e
revirando os olhos. — Você é um pé no saco.
— Joga meu nome no Google que vai descobrir tudo sobre
mim. — Virei-me para o notebook, balançando a cabeça, um pouco
frustrado por perder tempo. — Não tenho namorada, Norah.
Podemos voltar ao que importa agora?
— Gay?
Parei meus dedos a centímetros do teclado, sem acreditar
naquilo. Respirei fundo, encarei a tela do computador e movi o
mouse até o trecho onde parei de digitar.
— Está tirando essas conclusões só porque não dei mole pra
você?
— Touché! — Ela suspirou. — Ok, vou calar a boca. Essa
doeu.
Pensei em me desculpar, porque realmente não gostava de
tratar ninguém daquele jeito, principalmente uma mulher, mas por
um lado foi muito proveitoso que Norah tivesse ficado calada. Só
dessa forma eu pude voltar a me concentrar no trabalho de uma vez
por todas.
Pedi que fizesse uma pesquisa em seu notebook enquanto eu
dava continuidade à digitação dos tópicos já prontos, e em algum
momento, a coisa finalmente andou. Passamos quase duas horas
conseguindo tirar proveito do tempo e estipulando todo o conteúdo
que seria abordado. Fiquei satisfeito por ver que Norah cooperou
bastante depois que deixou toda a sua curiosidade de lado e percebi
que a garota era muito inteligente.
— Acha que consegue finalizar sua parte da digitação até
quando? — perguntei quando ela começou a arrumar sua mochila
para ir embora.
— Até sexta eu termino, com certeza. — Franziu os lábios,
pensativa. — Terminaria hoje mesmo se não fosse a festa.
— Tudo bem.
Abri a porta do quarto para que saísse, percebendo que Peter
tinha chegado e se trancado no dele, e a levei até a sala, pronto
para me despedir e vê-la somente na próxima semana, no dia da
aula. No entanto, Norah quase esbarrou em mim quando parou de
andar e se virou, com um sorriso no rosto.
— Você vai, não é? — perguntou. — Na festa. Hoje à noite,
não se esqueça. Seria interessante vê-lo bêbado e um pouco mais
relaxado.
— Eu não bebo — respondi de uma vez, com a mão na
maçaneta.
Percebi a careta que Norah tentou esconder, mas estava muito
acostumado a ver aquela reação nas pessoas, quando descobriam
que eu não ingeria bebidas alcóolicas. Faziam parecer que era
ilegal um cara da minha idade não gostar de beber, mas poucos
entendiam por que meu rendimento no esporte possuía um nível
único de excelência.
— Então... — Norah suspirou e encolheu os ombros. — Até
terça.
A garota de rabo de cavalo que se parecia muito com a Ariana
Grande, ergueu a mão direita e levantou apenas o indicador e o
dedo médio, formando um “V” de vitória antes de sair do
apartamento e caminhar sem pressa até o elevador. Era muito
baixinha e magra, mas meus olhos acabaram focando na bunda
dentro do jeans apertado.
— Esquece isso, Dominic... — murmurei quando fechei a
porta, balançando minha cabeça e pensando que um simples tapa
meu faria o corpo minúsculo se desmontar. Ela devia ser bem
corajosa para dar em cima de mim.
— Sim, seu idiota. E por qual motivo você está pensando
nessa babaquice? — resmunguei para mim mesmo ao entrar no
meu quarto e me sentar na frente do notebook. — Deixa pra pensar
em mulheres no ano que vem.
Estalei meu pescoço e alonguei um pouco os braços antes de
abrir um arquivo com o vídeo das jogadas do nosso primeiro rival
daquela temporada. Estávamos todos ansiosos para massacrá-los
dentro de nossa casa.
A decoração da festa de Anna era a mais previsível de todas,
com flores para todos os lados e muita luz néon rosa. As meninas
que eram mais próximas a ela corriam de um lado para o outro,
ajudando na arrumação para mais tarde, enquanto a dondoca
estava sentada dando ordens.
— Norah! — Minha inimiga acenou, balançando a mão cheia
de tralhas. — Por que não ajuda a pendurar esses pisca-piscas?
Quando me aproximei, Anna se levantou, toda sorridente e
prestes a jogar aquele emaranhado de fios em cima de mim. Para o
azar dela, seu sorrisinho falso não me comovia, nem mesmo um
pedido no dia de seu aniversário.
— Não faço trabalho voluntário nessa época do ano — avisei,
tentando passar pelo obstáculo que a garota era.
— Pois eu acho que deveria ajudar, já que fiz a gentileza de
convidar você.
— Eu moro aqui, Anna — retruquei, apoiando meu braço no
corrimão da escada. — Não há uma maneira de evitar que eu esteja
presente na festa.
— Você poderia permanecer no quarto, bem solitária — disse
a peste, fazendo biquinho e franzindo a testa. — Aposto que
ninguém lembraria de perguntar pela cachaceira da irmandade.
Estava prestes a mandar a aniversariante para o inferno
quando Bella, uma das calouras, surgiu na sala com o celular em
uma mão e a outra sobre o peito. Parecia apavorada.
— Anna! As bebidas vão atrasar!
— Não! Você falou com o fornecedor?
— Estou com ele na linha — respondeu a outra, quase
chorando.
Bem, se não tivesse pelo menos uma cerveja quente na festa,
eu seria obrigada a realizar o desejo de Anna e ficar trancada no
quarto.
A garota irritante estrangulou um gritinho, pegou o celular da
mão de Bella e começou a reclamar com a pessoa que estava do
outro lado da ligação. Ela se virou e marchou rumo à cozinha,
deixando as luzes que segurava caírem todas no chão. Sorri para a
caloura e apontei naquela direção, indicando que deveria terminar o
trabalho, pois não seria eu quem me penduraria numa escada para
espalhar mais luzes pela casa.
Larguei minha mochila sobre a cama e abri o guarda-roupas
pequeno de duas portas para decidir o que vestiria mais tarde.
Escolhi uma calça preta skinny e um top da mesma cor, sendo
frente-única, e incrementaria o look com minhas pulseiras e meus
cordões. Queria ficar bonita, mas sem chamar atenção porque meu
humor não estava dos melhores para aquela festa.
Aproveitei que a maioria das meninas estava envolvida com os
preparativos e me tranquei num dos quatro banheiros da casa para
tomar banho, fazer hidratação nos cabelos e depilar as pernas.
Quando terminei tudo, ainda era muito cedo para começar a
me arrumar, então me sentei na minha mesinha de estudos e peguei
o notebook para mexer no meu arquivo onde vinha reunindo o
conteúdo a ser tratado na minha tese. Eu teria orientação no dia
seguinte e queria estar preparada, afinal, era o momento pelo qual
eu esperara durante todos esses anos.
Depois das oito da noite, quando a música e o barulho de
vozes ficaram altos, e eu já não podia mais me concentrar, resolvi
descer. Do topo da escada, observei Anna com seu vestido curto,
rosa, extremamente brilhoso, destoando de todos ao redor. Ela era
um holofote ambulante.
Aika logo apareceu com dois copos na mão e me entregou um
deles, como uma heroína.
— O que é isso? — perguntei, olhando para a bebida escura.
— Não sei. Eu só peguei por aí.
Cheirei o líquido dentro do copo, sem conseguir identificar o
que era. Tinha álcool, isso estava claro. Assim como também estava
tão forte que os meus olhos arderam por um momento. De jeito
nenhum eu tomaria o que estivesse ali dentro.
— Hoje eu estou low profile — anunciei, colocando o copo
sobre uma mesa. — Tenho orientação amanhã cedo, então se for
para beber, que seja a boa e velha cerveja.
Ao contrário de mim, minha amiga não se preocupou com o
conteúdo estranho e deu um longo gole, fazendo uma careta ao
engolir e colocando a língua para fora. Seu rosto rapidamente
ganhou uma coloração avermelhada e eu agradeci por ter soltado o
meu copo.
— Mas que merda! — resmungou, franzindo o nariz. — O que
colocaram aqui dentro? Querosene?
Era de se esperar que Aika parasse de beber aquela coisa
estranha, mas não foi o que fez.
— E aí, galera? — Alice apareceu ao nosso lado, passando
um braço por dentro do meu. — O que vocês estão bebendo?
— Descubra — respondi, apontando para o copo que tinha
deixado sobre a mesa.
— Hum... Acho que prefiro pegar uma cerveja.
Alice era uma loira hippie que eu adorava ter por perto. Seus
olhos eram muito claros, assim como os seus cabelos e toda a sua
pele. Competia com Aika na altura e eu me sentia uma anã perto
das duas, mas tentava disfarçar com meus saltos altos.
Assim como Carlos, Alice adorava uma maconha. Era por isso,
aliás, que Carlos gostava da garota e estava sempre grudado nela.
E pelos seus peitos enormes também, claro.
— O lance do preto é porque está de luto por Anna? — Ela riu,
sabendo da nossa rixa interminável.
Alice riu e esticou a mão fechada na minha direção para que
eu desse um soco.
— Adoraria que fosse, mas é só porque gosto muito da cor. —
Suspirei, olhando ao nosso redor e reconhecendo alguns rostos.
As festas na irmandade eram sempre bastante movimentadas
e atraíam um público grande, mas quase sempre, os rostos se
repetiam. Não éramos a organização mais famosa e popular do
campus, portanto, estávamos limitadas a receber pessoas tão
interessantes quanto nós — e isso não era um elogio. Ou seja,
quando eu queria paquerar e conhecer gente nova, não adiantava
nutrir esperanças de que numa festa da Zeta eu arrumaria alguém
com quem passar a noite.
Por isso, tudo o que podia fazer era beber e me divertir com
minhas amigas. Cogitei pegar uma cerveja, mas pensei bem e me
lembrei da orientação na manhã seguinte. Não me mataria passar
uma noite sem ingerir álcool, certo? Eu era forte, ia conseguir!
— Preciso de um copo de Coca – anunciei, decidida a me
esforçar.
Tocava “STAY”, de The Kid LAROI feat Justin Bieber, quando
abri espaço entre as pessoas para chegar na cozinha. Aika e Alice
me acompanharam enquanto eu pegava uma garrafa de refrigerante
e enchia um copo com a bebida gasosa. Por sorte, a Coca estava
intocada, mas eu não sabia até quando, pois assim que acabasse a
cerveja, migrariam para a vodca.
— Não me diga que Norah Brown está tomando Coca-Cola! —
Anna surgiu ao meu lado, sorrindo com todos aqueles seus dentes à
mostra. — Eu não me lembro qual foi a última vez em que a vi sem
uma cerveja nas mãos.
— Quer tirar uma foto? — perguntei, fazendo pose e erguendo
meu copo. — Aproveite a oportunidade. Pode ser que com um post
sobre mim o seu perfil finalmente ganhe algum engajamento.
Ela revirou os olhos cor de mel. Anna era até uma garota
bonita, pena que insuportável. Tinha cabelos curtos escuros com
mechas douradas e um corpo legal, o que estragava realmente era
a sua personalidade. A gente se conheceu no primeiro ano, logo
que ambas entraram para a Zeta. Por incrível que possa parecer,
fomos amigas até um certo tempo, quando simplesmente passou a
se tornar difícil convivermos perto uma da outra.
No entanto, ela não era aquele tipo de inimiga que me fazia
mal de verdade. Só era uma chata implicante, mas não desejava
mal para a garota — desde que me deixasse em paz.
— Anna, é a sua festa. Por que não vai dançar um pouco e
comemorar? — sugeri, tomando um gole da minha bebida.
— Era isso mesmo que estava prestes a fazer. — Ela cruzou
os braços e olhou para trás.
O problema é que era tão chata que não tinha amizades
verdadeiras, afinal, gostava de distribuir patadas por aí e só as
calouras acabavam abaixando a cabeça para ela. Isso era triste, no
entanto, me senti desconfortável quando percebi que não tinha
mesmo ninguém do lado dela para comemorar seu aniversário. Nem
mesmo uma companhia para dançar um pouco.
Eu não era uma boa samaritana. Não mesmo. Mas podia abrir
uma exceção e fazer uma boa ação naquela noite, pois não me
custava nada.
— É uma pena... — murmurei, puxando Aika pelo braço e
encarando Anna. — Porque era justamente isso que estava indo
fazer. Quer apostar que danço melhor do que você?
Os olhos da garota se arregalaram e uma expressão de alívio
tomou seu rosto quando nos seguiu para o meio da sala.
— Obrigada pelos parabéns que você não me deu — disse
gritando acima da música alta.
Levantei o meu copo no ar, em sua direção, enquanto ainda
me encarava com os lábios franzidos.
— Parabéns pela porra do seu aniversário! — gritei, e de
repente, um monte de gente gritou junto comigo.
Anna soltou uma risada e por alguns minutos, nós apenas nos
divertimos em grupo, dançando e tentando esquecer das
responsabilidades da vida adulta, dos problemas que nos cercavam,
dos corações partidos e das desavenças.
Quando meu copo estava vazio, minhas amigas me
abandonaram e o suor escorria pelas minhas costas, decidi que era
hora de parar. Saí caminhando pela sala até ver que Carlos e Alice
estavam sentados no sofá, ele deitado com a cabeça no colo dela
enquanto compartilhavam um baseado. Nossa irmandade possuía
regras severas sobre consumo de drogas em suas dependências,
mas ninguém ligava quando acontecia no meio de uma festa.
Eu me joguei em cima das pernas esticadas de Carlos e tomei
o cigarro da mão dele, dando uma tragada de leve antes de
devolver ao dono.
— Estou cansadinha — comentei, controlando-me para não
bocejar, ou iria lacrimejar e isso borraria meu delineador na linha
d’água dos olhos.
— Estou bêbada. Caramba, o que tinha naquela bebida? —
perguntou Aika ao se sentar no braço do sofá, rindo sem motivo, até
que de repente, soluçou e arregalou os olhos. — Meu pai amado!
Aquele é o Dominic Davis?
Eu me senti a menina do exorcista virando a cabeça para o
lado, mas na posição em que estava seria impossível ver alguma
coisa com tanta gente no caminho. Precisei me levantar e quando
olhei na direção da entrada, notei que a festa tinha praticamente
parado porque todo mundo encarava o meu parceiro de seminário,
que havia acabado de passar pela porta.
Parecia até cena de filme, com o povo nada descolado
boquiaberto com a presença do popular, que não estava dando a
menor ideia para ninguém. Dominic olhava ao seu redor como se
procurasse por alguma coisa.
— O que ele está fazendo nessa festa? — perguntou minha
amiga.
— Você o conhece? — questionei, surpresa demais.
Aika me encarou como se enxergasse dois chifres no meio da
minha testa e revirou os olhos.
— Quem não conhece, Norah? Ele é o quarterback do
Crimson. Provavelmente, a pessoa mais famosa dessa
universidade.
Eu não entendia muito de esportes, mas sabia o que era um
quarterback. Mais ou menos. Pelo menos, compreendi que o loirinho
era alguém muito mais importante do que eu imaginava, por isso
todo mundo o encarava como se fosse um ser superior, enquanto
caminhava no meio do povão. Estava explicado o motivo de tanta
antipatia, com certeza, se achava o maioral e não gostava de dar
atenção para os plebeus.
— Ela está fazendo um trabalho com ele, sem saber que o
Dominic, bem... É o Dominic — disse Carlos, rindo com seu
baseado quase escorregando de seus dedos. — Norah, você é
muito doida.
— Vocês sabem que não ligo para futebol — retruquei para me
defender. — Ou para nenhum outro esporte.
Dominic parecia perdido e extremamente desconfortável
naquele reduto de gente desinteressante que sorria para ele como
se fosse um pedaço de carne. E como parecia ainda procurar por
alguém, eu entendi que podia ser a mim, portanto, passei as mãos
pelos meus cabelos e pigarreei.
— Eu o convidei, então ele veio — expliquei, deixando meus
amigos para trás e indo atrás do loiro gostoso.
Abri caminho pelo mar de bêbados e pisei nos pés de duas
garotas que berravam sobre o quanto ele era impressionante tão de
perto. Quando me viu, uma centelha de alívio cruzou seu olhar e
seus ombros pareceram relaxar um pouco.
— Olha só quem resolveu aparecer — brinquei, cruzando os
braços ao parar diante dele. — Quer beber uma... sei lá... água?
— Não vim para a festa, Norah — respondeu, curto e grosso.
— Vim porque encontrei um erro em nosso trabalho.
Levei alguns segundos para compreender aquelas palavras e
acreditar que o cara estava mesmo falando sobre o seminário no
meio da festa, com a música alta e um monte de gente bebendo e
dançando à nossa volta.
— O quê?
Dominic suspirou, olhando para os lados, então se aproximou
mais e tocou meu braço ao se inclinar na minha direção e aproximar
os lábios da minha orelha.
— Descobri que os dados que usamos são referências de uma
pesquisa de seis anos trás e há novas atualizações sobre o tema,
que não podem ser confundidas. — O loiro trouxe o rosto um pouco
para o lado, olhando-me dentro dos olhos. — Precisamos corrigir e
eu não tinha como falar com você antes que começasse a digitar o
que está errado.
A boca dele era tão atraente que eu só conseguia pensar em
beijar aquele homem, mas precisei me controlar. Pisquei algumas
vezes, descendo meus olhos para seu peitoral largo, observando-o
pela primeira vez, como um jogador de futebol americano. Estava
bem ali na minha cara e eu não notei antes que tinha o físico
perfeito para o esporte.
— Ouviu o que eu disse ou gastou esse tempo todo me
secando?
A mão que estava em meu braço tinha se afastado quando
Dominic ajeitou a postura e tirou o celular do bolso.
— Podemos resolver isso, Norah? — perguntou. — Vai ser
rápido.
— Você quer... — pigarreei, dando um passo para trás porque
ele era muito alto para mim. — Quer fazer isso agora?
— Sim.
— Não pode ser amanhã?
— O jogo de abertura da temporada acontece nesse sábado e
os próximos dias serão de treinos intensos — explicou, enfiando
uma mão no bolso da calça. — Não vou ter tempo nem disposição
para isso.
Revirei os olhos e suspirei, sem acreditar que realmente teria
que abandonar uma festa para fazer trabalho de faculdade. Soava
ridículo, mas não adiantaria me esquivar porque Dominic já estava
ali e, aparentemente, não iria embora sem conseguir o que queria.
Não era mesmo o meu desejo ter que sair do meu dormitório e
invadir uma festa para falar com Norah, e essa ideia fez com que eu
me arrependesse de não ter trocado nossos números de telefone
anteriormente. Tudo podia ter sido resolvido com uma simples
ligação, mas eu não podia me dar ao luxo de enviar um e-mail para
a garota destrambelhada e esperar que ela o visualizasse só na
véspera da apresentação.
Agora, estava sendo arrastado escada acima em direção ao
quarto dela, com seus dedos enroscados nos meus, sendo o alvo da
atenção de mais da metade da galera presente naquela festa.
Certamente, as fofocas se espalhariam e Norah seria mais uma
garota que achariam que eu comi. Os boatos não eram um
problema para mim, cresci acostumado com eles, mas não sabia se
seria para ela.
Como se não bastasse mais nada acontecer, quando eu
terminava de subir o último degrau um garoto com cara de calouro
foi descer com pressa e esbarrou em mim, derramando muita
cerveja na minha camisa.
— Puta merda! — praguejei, lançando um olhar assassino ao
idiota, que ergueu as mãos e arregalou os olhos ao perceber quem
eu era.
— D-Davis... D-Do-Dominic...
— Só some da minha frente — pedi, empurrando-o para o lado
passando por ele de uma vez.
Norah não deu muita atenção ao caso, apenas continuou me
puxando até que paramos diante de uma porta que ela abriu e se
afastou para me dar passagem. Não precisava pensar muito para
saber que era seu quarto, decorado com alguns desenhos feitos a
lápis pendurados nas paredes, além de um monte de roupa jogada
sobre a cama e pelo chão. Itens de maquiagem estavam
espalhados em cima de uma mesinha perto da janela e em cima da
cama tinham algumas calcinhas bem pequenas.
— Não surte com a bagunça — disse a doidinha, catando a
roupa do chão. — Não esperava trazer ninguém para o quarto esta
noite. Pretendia dormir sozinha.
— Você vai dormir sozinha — tranquilizei-a, escolhendo a
única cadeira para me sentar. — Não se preocupe porque não
pretendo demorar.
Quando se curvou sobre o colchão e pegou as calcinhas, não
consegui desviar o olhar de uma das peças de renda branca,
extremamente minúscula. Meu cérebro me traiu e fez com que eu
encarasse a bunda de Norah, tentando imaginar como aquela
lingerie podia cobrir qualquer coisa daquele corpo.
— Você é tão agradável quanto uma conjuntivite, sabia? —
murmurou a garota, socando a roupa toda dentro do armário.
— Eu só vim para resolver essa pendência, Norah. Quanto
antes a gente terminar, mais cedo você poderá voltar para a festa.
Virando-se para mim, a garota de cabelos lisos e escuros se
aproximou com uma camiseta na mão e esticou o braço para que eu
a pegasse. Não esbocei nenhuma reação, apenas continuei
encarando, tentando imaginar de quem era aquela roupa que queria
me emprestar.
— Vista logo isso — pediu. — A não ser que prefira feder a
cerveja barata.
— Tem sempre roupa masculina sobrando no seu armário? —
zombei, levantando-me e pegando a blusa.
— É de um dos caras com quem eu transo — respondeu ela,
dando de ombros e se sentando na beira da cama. — Ele não é tão
alto, mas vai servir.
Era um pouco chocante vê-la falar tão natural e abertamente
sobre sua vida sexual, mas eu entendia que eu era a pessoa
diferente naquela situação e que Norah tinha idade suficiente para
dormir com quem quisesse. A parte ruim foi olhar na direção da
cama dela e acabar imaginando a garota deitada ali, com algum
homem sobre seu corpo, fazendo-a gemer. Era, no mínimo,
desconfortável.
Estava prestes a puxar minha camisa pela cabeça quando
notei que os olhos pretos tinham sido fixados em mim. Ela
aguardava pelo momento do show como se ansiasse por aquilo, e
só para irritá-la, eu me virei de costas e puxei a roupa.
— Ah, qual é! — resmungou atrás de mim. — Sério?
Eu não devia me divertir, mas estava sorrindo, satisfeito por
meu plano ter surtido efeito na garota sem filtro. Nunca tive nenhum
problema em exibir meu corpo, até porque ele era minha ferramenta
de trabalho e eu sabia que era bonito. Sempre tive um rosto que
chamava atenção e quando comecei a desenvolver meu físico, o
assédio aumentou. Mas de repente, me peguei querendo deixar
Norah passar vontade.
— É muito injusto eu te emprestar uma camisa e não poder ver
nada.
— Você viu — respondi quando me virei, totalmente vestido, e
encarei o rosto pequeno com os lábios franzidos.
Eu me sentei de novo na cadeira quando ela pegou o celular e
começou a mexer nele, permanecendo um tempo em silêncio. Fiz o
mesmo, mas no meu caso, precisava puxar o material que tinha
deixado salvo no Drive para elencarmos as alterações que seriam
feitas no trabalho. O notebook de Norah estava ali em cima da mesa
e apertei uma tecla para ver se estava ligado, sendo presenteado
com um papel de parede de filhotes de gatos.
Lancei um olhar para a garota calada e notei que estava muito
concentrada no telefone, mas alternava olhares entre mim e a tela
do aparelho.
— O que tanto faz aí que seja mais importante que o
seminário?
— Você mandou jogar seu nome no Google — respondeu ela
sem me olhar. — Acabei de fazer isso. Estou vendo umas fotos...
— Sinto muito, mas não vai encontrar nenhum nude meu —
avisei, dobrando uma perna sobre a outra e aguardando que a
destrambelhada largasse o celular. — Podemos fazer o trabalho,
Norah?
— Você tem todos esses gominhos mesmo ou é filtro? —
perguntou, virando o telefone para mim e me mostrando uma foto
minha sem camisa, só com a calça do uniforme do Crimson.
Prendi a risada. Ela era inacreditavelmente muito desinibida e
cara de pau. E não parecia ser fingimento, do tipo que forçava algo
que não era, pois demonstrava estar realmente interessada em
ouvir a resposta.
— Talvez eu tenha, talvez não — respondi, encolhendo meus
ombros e esticando minha mão. — Me dá o seu telefone, vou tirar
uma foto e depois você deleta.
Seus olhos se arregalaram e o celular veio parar na palma da
minha mão em segundos. Encarei mais uma vez a imagem que ela
havia aberto e apertei o botão lateral do aparelho para bloquear sua
tela antes de colocá-lo entre minhas pernas e me virar de frente
para o notebook.
— Agora, vamos fazer o trabalho — declarei depois de roubar
o celular da garota.
— Não acredito que fez isso! — Norah se levantou, mas não
me virei. — Acha mesmo que não tenho coragem de enfiar a mão
aí?
— Acredito que tenha sim, mas sei que não conseguirá pegar
mesmo que queira muito. — Abri o navegador do computador e
procurei pelo Drive dela para acessar o arquivo do nosso trabalho.
— Eu sou muito maior e muito mais forte do que você, além de
possuir excelentes reflexos, então se não quiser passar vergonha,
sugiro que sente a bunda e dê atenção a isso aqui. No final, terá seu
celular de volta.
Vi seu braço se esticar na direção da minha perna e o bloqueei
em segundos, empurrando-o para trás com delicadeza. Ela tentou
usar a outra mão e foi novamente enxotada. Virei meu rosto e sorri
para a menina insistente, até que se levantou e parou arás da minha
cadeira, apoiando as mãos nos meus ombros.
Senti um arrepio passar pela minha nuca quando Norah
envolveu meu pescoço com um braço e deslizou a mão livre pelo
meu peito. Consegui segurá-la para que não se movesse mais,
porém, o estrago no meu psicológico já tinha sido feito porque o
estremecimento percorreu meu corpo inteiro quando senti que
passava a língua em minha orelha.
— Tem certeza mesmo de que não quer que eu vá mais pra
baixo? — sussurrou a maluca diabólica.
Mordi as bochechas internas quando percebi o arrepio se
intensificar e aquela sensação descer até meu pau. Norah agora
estava lambendo atrás da minha orelha e minha cueca se tornou tão
apertada que me senti incomodado pelo inchaço da ereção.
Merda! Peguei a porra do celular e o devolvi para ela, que
soltou uma risadinha e afastou a boca da minha pele.
— Olha só quem acordou! — murmurou, estalando a língua
em meu ouvido. — O tamanho desse volume me deixou com uma
dúvida. Vocês contam como dois jogadores ou um só quando estão
em campo?
Permaneci imóvel até que se afastasse e quando sentou de
novo na cama, puxei o ar com força e fechei meus olhos para
recuperar minha concentração. Meu coração batia acelerado e um
frenesi tinha se instalado dentro de mim, e era por causa dessas
porcarias de hormônios que eu fazia de tudo para me manter longe
de qualquer flerte.
— Você é sempre assim ou eu dei azar? — questionei,
voltando a encarar Norah, que franziu a testa.
— Assim como?
— Caótica — respondi.
Ela abriu um sorriso enorme antes de encolher os ombros e
mexer nos cabelos como se não fizesse ideia do que eu estava
falando. Então, se ajeitou na cama e se aproximou da minha cadeira
para olhar o notebook. Observei quando apoiou os cotovelos sobre
os joelhos, concentrada na tela do computador, e talvez essa fosse
a melhor oportunidade para esquecer o que tinha acabado de
acontecer e voltar a focar no trabalho.
— Abra também o Drive no seu celular porque mandei os
arquivos com as pesquisas atualizadas — avisei enquanto
selecionava os trechos que deletaria do que já tinha sido digitado.
— Eu espero que a nota desse seminário seja muito boa para
me fazer estudar numa noite de festa.
— Na verdade, você não está estudando coisa nenhuma, visto
que eu fiz a parte mais trabalhosa que foi agrupar todas as
informações mais importantes e você só precisará digitar a sua
parte.
— Ei! — Levei um tapa no braço e virei o rosto para ver a
garota furiosa. — Você quis fazer a parte da pesquisa, nem me deu
a chance de aceitar ou recusar.
— Tenho dificuldade para confiar em que vai bêbada assistir
uma aula — confessei.
Norah abriu a boca, me lançando um olhar maligno, mas
decidiu se calar e cruzou os braços, afastando-se de mim para se
sentar e encostar as costas na parede.
— É por isso que não gosto de atletas — resmungou. — Vocês
todos se acham muito.
Desisti de ficar naquela discussão sem fundamento que não
me levaria a lugar nenhum e passei a fazer as alterações que tinha
ido concluir. Por graciosos quinze minutos, Norah ficou muito quieta
e em silêncio total, e eu sentia que seus olhos estavam grudados
em cada gesto meu, como se esperasse por algum passo em falso.
Por fim, consegui substituir todos os trechos desatualizados
que usamos mais cedo e agora ela poderia seguir com sua parte
quando bem entendesse.
Quando me levantei e me virei, percebi que Norah havia
pegado no sono na posição em que estava, com a boca aberta e a
cabeça caída um pouco para o lado. Podia simplesmente ir embora,
atravessar aquela porta, e deixar que ela acordasse no tempo certo.
Em algum momento isso aconteceria e a garota seguiria sua vida.
Mas algo me impeliu a apoiar um joelho em cima do colchão e me
inclinar na direção dela, aproximando nossos rostos e a olhando
bem de perto.
— Norah, acorde — chamei, mas nada aconteceu. — Norah...
Balancei minha mão na frente de seus olhos e as pálpebras
sequer se moveram. Então, assoprei seu rosto devagar, até que
seus cílios tremessem e sua mão batesse na minha cara para
espantar o que achava que a estava incomodando e ocasionando o
vento indesejado. Esperei que finalmente me encarasse e notei o
espanto nos olhos escuros. Sua boca era bonita? Sim, mas muitas
outras também eram e isso não nunca foi motivo para que eu
fraquejasse.
— Estou indo embora — sussurrei e sorri antes de me afastar.
— Tente fazer a sua parte antes da aula na terça e, por favor, não
chegue novamente bêbada.
Não dei tempo para que retrucasse e me adiantei em abrir a
porta para descer sozinho, mas no momento em que fiz isso, um
casal bastante animado surgiu diante de mim. Estavam obviamente
bêbados e a saia da garota já tinha sido embolada ao redor da
cintura, deixando-a com a calcinha de fora, que inclusive, o garoto
tentava tirar.
— Acho que o quarto do sexo não é este — avisei, fechando a
porta atrás de mim e os encarando. — Está ocupado, procurem
outro.
— Valeu! — O cara me deu um soquinho no braço como forma
de agradecimento e puxou a menina que ria sem parar, até sumirem
dentro de um cômodo mais adiante.
Balancei a cabeça na tentativa de espantar a imagem dos dois
transando como coelhos no cio e desci a escada do casarão,
desejando ir embora antes que algo ou alguém me tragasse para
dentro daquela festa. Quando cheguei no primeiro andar, mais dois
casais passaram correndo por mim, subindo com muita pressa e eu
pensei se Norah, por acaso, costumava trancar sua porta para não
ser interrompida em dias como esse. Aquela ideia ficou grudada em
minha mente e me fez voltar para dentro de casa quando já estava
na calçada.
Encarei a escada mais uma vez, suspirando e me xingando
mentalmente por ficar me preocupando com uma besteira, mas subi
até o segundo andar e girei a maçaneta da porta da garota. Para
minha surpresa, a destrambelhada tinha voltado a dormir. Estava
deitada de frente para mim, abraçada com um travesseiro, com a
boca escancarada e engolindo uma mecha de cabelos.
O que aconteceria se um casal de bêbados invadisse o lugar e
decidisse compartilhar a cama com ela? Será que acordaria? Olhei
em volta e tive uma ideia, então puxei a mesinha onde ficava o
notebook e a arrastei para bem perto da porta, colocando-a no
espaço entre a parede e o armário, o único caminho a fazer quando
se entrava no quarto. Se alguém por acaso surgisse ali de penetra,
o móvel seria um obstáculo pesado o suficiente para impedir que
qualquer bêbado caísse na cama da garota.
Fiz a minha parte, foi o que repeti para mim mesmo quando
entrei no meu carro. Tinha sido ensinado por minha mãe a respeitar
e proteger uma mulher, então esse era o único motivo pelo qual me
esforcei para não deixar Norah à mercê de qualquer maluco.
Sorri para a Norah que me encarava pelo espelho e fiquei
satisfeita com o que vi em meu reflexo. Naquela manhã, embora
estivesse extremamente relaxada, eu estava focada. Era
exatamente disso que eu precisava para poder apresentar o
seminário ao lado de Dominic.
Cheguei na porta da sala com cinco minutos de antecedência,
o que era um recorde para mim, achando que o surpreenderia
quando aparecesse, mas quando entrei, identifiquei Dominic
sentado no mesmo lugar onde estava na última aula. O seu
notebook estava aberto em cima da mesa e ele parecia revisar os
slides. Me joguei ao seu lado.
— Bom dia — murmurei, sorrindo e encarando o loiro gato.
— Nós seremos os primeiros a se apresentarem — disse
Dominic, sem me olhar. — Esteja preparada.
Ele era sempre tão sério que isso só me incentivava a quebrar
toda aquela pose de durão que parecia se esforçar em manter. Será
que entre amigos ou em seus momentos de lazer o Dominic
carrancudo também existia?
O atleta era uma incógnita, demonstrava gostar de se manter
distante, mas sabia que tinha cuidado de mim naquele dia da festa
porque quando acordei, vi a confusão que fez em meu quarto ao
bloquear a minha porta. Eu ainda não tinha acreditado que minhas
cantadas baratas não surtiram nenhum efeito nele. Podia não ser a
mulher mais gata de todas, na verdade, estava bem longe disso,
mas não costumava ter dificuldade de pegar quem eu queria. Tudo
bem que meu padrão não era tão alto quanto Dominic, mas
universitários solteiros, geralmente, não dispensavam uma mulher
que desse mole para eles.
— Ouviu o que eu disse? — perguntou, olhando para mim e
estreitando os olhos. — Ou está no mundo da lua?
— Por que nós seremos os primeiros?
— Porque eu pedi — respondeu, passando a mão grande
pelos cabelos.
— Por que você pediu?
— Porque sim — Dominic respondeu, inclinando a cabeça de
lado e endurecendo a expressão.
— Por que sim?
Talvez eu não tenha conseguido disfarçar muito bem.
— Você está chapada, Norah?
Levantei a minha mão bem alto e fiz um gesto com os dedos,
unindo meu polegar e meu indicador para indicar que eu estava só
um pouco chapada. Um pouquinho. Então, o homem ficou
realmente bravo e me lançou um olhar nada amigável ao fechar o
notebook com força.
— Isso é sério? — sussurrou, quase rosnando. — Você está
prestes a apresentar um seminário lá na frente, ao meu lado, e está
chapada? Por acaso possui alguma responsabilidade?
— São muitas perguntas ao mesmo tempo. — Tirei meu
cotovelo da mesa e me encostei na cadeira, tentando relaxar um
pouco. — Primeiro... — Levantei um dedo para ele. – Esse
seminário não é tão importante, não vale nem dez por cento da
nota. Desencana! — Levantei um segundo dedo. — Segundo, eu
não me dou bem em apresentações de trabalho, fico nervosa. É por
isso que eu fumo, para relaxar.
Pela forma como o jogador me encarava, tive a impressão de
que estivesse entendendo que eu havia assaltado um banco ou
coisa pior. Não era tão ruim. Era só um pouco da maconha da Alice
e ela fumava o tempo todo e nunca teve nenhum problema.
Dominic abriu a boca para protestar, mas eu o calei com um
gesto.
— Antes que você pergunte... — murmurei. — Sim, isso é
sério. Eu sempre faço isso. — Pisquei para ele. — Confia.
Meu colega de trabalho parecia mais branco do que já era,
tinha mesmo ficado pálido com a preocupação que o rondava. Mas
eu estava sendo sincera quando dizia que ficaria tudo bem.
Ele não disse mais nada porque nosso professor entrou na
sala e começou a discursar sobre o que esperava das
apresentações de hoje, repassando os temas de cada dupla e, por
fim, avisando que seríamos os primeiros.
Dominic me lançou um último olhar ameaçador, então se
levantou. Eu fui logo atrás dele, e enquanto o loiro conectava seu
computador aos cabos do projetor, eu observava as pessoas. A sala
estava cheia e todo mundo parecia me encarar.
Suspirei, aliviada por estar chapada o suficiente para não me
importar com aquilo. Parecia contraditório que eu fosse tão
desinibida em todas as outras situações, mas ficasse nervosa na
hora de apresentar trabalhos. Mas essa era a verdade. Eu sofria
muito com isso antes de conhecer Carlos, mas tinha sido ele quem
havia me dado a dica de fumar um pouco antes de falar em público.
Desde então, só apresentava algum trabalho na frente da turma
dessa forma, e minhas notas geralmente eram boas.
Dominic abriu a apresentação e introduziu os slides. Eu senti
que ele estava apreensivo ao meu lado, não por sua causa,
obviamente, mas por mim. Devia achar que eu estragaria a
apresentação, mas adoraria vê-lo mordendo a língua depois de
perceber que deu tudo certo.
— Como vocês podem ver pelas imagens apresentadas,
existem dados concretos que confirmam essa teoria...
Eu falava sem pausas, sem hesitações, sem gaguejar. A minha
oratória parecia até mesmo melhor do que a do próprio Dominic,
que ficou parado no canto, me encarando aliviado e, principalmente,
impressionado. Isso foi combustível para eu me soltar ainda mais e
fazer a melhor apresentação da minha vida. Ao fim dela, o professor
nos parabenizou pelo trabalho excelente e chamou a dupla
seguinte. Voltamos para os nossos lugares e ao sentar ao seu lado,
aproximei minha boca do seu ouvido.
— Admita... — sussurrei, antes de depositar um beijo na
bochecha dele. — Eu mandei bem.
— Foi bem — declarou Dominic, a única coisa que ouvi pelo
restante da aula inteira.
Suspirei, pelo menos tinha feito um bom trabalho e agora sim,
poderia relaxar o quanto quisesse. Deslizei meu corpo um pouco
para baixo, apoiando a cabeça no encosto da cadeira, e cruzei
minhas mãos sobre a barriga enquanto assistia as próximas
apresentações.
Aproveitei para conferir meu Instagram e, por curiosidade,
digitei o nome de Dominic para encontrar seu perfil. Foi muito fácil,
porque ele era verificado e foi o primeiro resultado que apareceu
bem no topo. Na foto em miniatura, o loiro estava de perfil,
mostrando o nariz perfeito. Eu só não esperava clicar e descobrir
que o jogador tinha mais de um milhão e duzentos mil seguidores, o
que fez meu queixo cair com o espanto que me tomou.
— Caralho... — sussurrei, virando meu rosto e o encarando. —
Mentira!
Ele continuou sério, com o foco na dupla que se apresentava
lá na frente, então fui vasculhar seu feed. A maioria das fotos eram
tiradas com uniforme, dentro de campo, antes ou depois dos jogos,
mas tudo indicava que eram registros feitos por profissionais.
Algumas postagens mais engajadas passavam de cinco mil
comentários e isso era aterrorizante. Eu não fazia ideia de que
Dominic alcançava tanta gente ainda na faculdade.
Encontrei uma foto dele com um casal, que logo identifiquei
sendo seus pais por causa da legenda, e fiquei impressionada em
ver como o filho era tão parecido com seu genitor. O homem,
obviamente, era bem mais velho, mas tão bonito quanto minha
dupla, assim como também mantinha o mesmo olhar imponente.
— Bom, fico feliz que tudo tenha terminado bem — disse ele
ao me pegar de surpresa e fechar o notebook, me fazendo perceber
que a aula tinha chegado ao fim. — Trabalho entregue, boa sorte
com a vida, Norah. A gente se vê por aí.
O filho da mãe já estava se levantando e eu precisei arrumar
minhas coisas com pressa se quisesse alcançá-lo. Joguei tudo
dentro da mochila e corri para a porta, avançando pelo corredor e
descendo a escada correndo, por onde ele tinha ido. Só o encontrei
de novo já na calçada, enquanto Dominic olhava o celular com uma
das mãos no bolso.
— Não acha que merecemos comemorar? — perguntei,
esbaforida, parando pra recuperar o fôlego.
— Não fizemos mais do que nossa obrigação, Norah — disse,
virando-se para mim. — Eu comemoro vitórias nos jogos. Além
disso, eu não bebo, caso tenha esquecido, e estou com uma
reunião marcada com meu técnico para daqui a meia hora.
Quando começou a caminhar, eu o segui lado a lado, satisfeita
ao notar que o loiro diminuiu o ritmo dos passos para que eu
conseguisse acompanhá-lo — sua perna era o dobro do tamanho da
minha, muito injusto.
— Nossa, você só pensa em futebol o dia todo?
— Eu sou Dominic Davis — retrucou, sorrindo de lado. —
Quando olham para mim, é a primeira coisa que associam, não é?
— Não faço ideia — respondi, cruzando meus braços e
encarando a SUV da qual a gente se aproximava. — Mas olhei seu
Instagram durante a aula. Estou impressionada com a sua fama.
Ouvi sua risadinha e então ele parou, tirando uma chave do
bolso e destravando as portas do automóvel. Antes de entrar,
Dominic apoiou um braço sobre a janela e me encarou, curvando
uma sobrancelha e me observando com curiosidade.
— Não sabia mesmo que eu jogava para o Crimson quando
me abordou?
— Não sou fã de esportes — respondi, encolhendo meus
ombros. — Sinto muito se afetei seu orgulho de celebridade.
— Quer dizer que você não sabia quem eu era quando se
sentou ao meu lado e me obrigou a ser sua dupla?
Eu ri e inclinei a cabeça.
— Pareceu que eu te conhecia?
— Todo mundo me conhece — respondeu ele, estreitando os
olhos e passando a ponta da língua pelo canto dos lábios.
— Isso teria soado um pouco prepotente se não fosse
verdade, mas já entendi que o mocinho aqui é uma celebridade.
Dominic continuou me encarando, com um meio sorriso no
rosto, como se não acreditasse em minhas palavras.
— Se não sabia quem eu era, por que me escolheu?
— Porque você era a pessoa que estava mais próxima de mim
naquele momento. — Sorri, tocando a ponta do nariz dele. — E,
obviamente, porque é um gostoso. Eu não queria ficar presa a uma
dupla feia. Fala sério, estou na faculdade para me aproveitar dos
bons momentos com homens bonitos.
Ele gargalhou, empurrando a porta para frente quando seu
corpo se pendurou sobre ela, mas eu estava falando sério mesmo.
Minha meta era ficar com o máximo de caras gatos que
conseguisse, porque sabia que depois de se formar, a vida adulta
podia se tornar chata e sem graça, e quando eu menos percebesse,
estaria casada com um homem de meia-idade barrigudo, calvo, que
passa muito tempo na frente da televisão e só quer transar uma vez
a cada quinze dias.
Meu Deus... Talvez eu tenha acabado de descrever o meu pai.
— Então você pega todo universitário gostoso que aparece na
sua frente? — perguntou o Dominic, cruzando os braços.
Levei uma mão ao peito e ergui a outra com a palma virada
para fora, sentindo-me muito orgulhosa.
— Eu prometo que me esforço o máximo que posso para isso
— declarei, vendo-o revirar os olhos. — Às vezes, até mesmo uma
guerreira como eu perde uma batalha, mas na maioria das vezes, a
vitória é garantida.
Ele balançou a cabeça e correu os olhos pelo meu corpo, a
primeira vez que eu via o loiro fazer algo do tipo comigo. Dominic
sempre parecia desinteressado demais e não prestava atenção de
verdade em mim, então, com a secada que me deu, senti um frio na
barriga. Por sorte, estava com uma roupa legal, uma calça jeans
nova e um cropped preto bonitinho.
— Olhando pra você, eu não diria que é pegadora como faz
parecer — murmurou, voltando a me encarar. — Penso logo em
alguma loira siliconada e não numa garota de um metro e meio.
Ele tinha acabado de fazer pouco caso de mim? Eu ouvi certo?
Respirei fundo e apertei a alça da minha mochila, erguendo
meu queixo e tentando manter meu orgulho intacto.
— Eu tenho seis centímetros a mais do que você supõe —
respondi, recuando e apontando meu indicador. — Isso foi baixo,
Davis. E de qualquer forma, tem muita gente que quer, viu?
— Não... — Eu o ouvi estalar a língua quando me virei para ir
embora, mas seus dedos apertaram meu braço e me fizeram virar
para ele. — Saiu errado, não foi o que quis dizer.
— Pra mim pareceu exatamente isso — retruquei, desviando
meu olhar. — Só para a sua informação, eu tenho espelho em casa
e sei que sou maravilhosa. Ninguém nunca reclamou do meu corpo.
Claro que eu tinha consciência de que mesmo se fosse morar
numa academia, nunca teria coxas grossas e saradas, nem aquela
bunda volumosa capaz de amortecer uma queda, muito menos
peitos gigantes. Um dia, talvez, eu até me animasse para colocar
silicone, mas estava muito satisfeita com os meus gêmeos. Eu era
pequena e podia comer o mundo inteiro, que não engordava.
A mão que ainda me segurava me soltou, mas tocou minha
cintura com muita rapidez e me puxou na direção do corpo rígido
para me tirar do caminho na hora que uma bicicleta passou
apressada atrás de mim.
— Só quis dizer que você parece uma menininha fofa desse
tamanho, é difícil imaginar que é você quem chega nos caras. — Ele
sorriu. — Quer dizer, você é comum, sabe? Eu não...
— Shhhhh! — Colei meu dedo nos lábios gostosos para que
parasse de uma vez. — Só está piorando, cala a boca. Nossa, se
isso não é uma crítica, então você é péssimo com as palavras,
Davis.
— Certo. — O loiro pigarreou e me soltou, ajeitando a postura
e olhando em volta. — Realmente... Não sou bom nisso.
— É, deve ser do tipo que nem perde tempo conversando, né?
— Balancei a cabeça para ele. — Só come e vaza no minuto
seguinte.
— Você se surpreenderia — disse, sorrindo de forma
convencida, e eu não entendi.
— Com o quê?
Dominic se curvou na minha direção, ainda com o sorriso
estranho no rosto, e abriu a boca para me responder. Mas então, ele
ficou ali parado por alguns segundos, olhando em meus olhos, até
que passou a mão na nuca e recuou rapidamente.
— Nada — declarou, balançando a chave do carro. — A gente
se vê por aí, Norah. Se cuida.
Em outro momento eu até o impediria de ir embora e tentaria
estender a conversa, mas o jogador tinha perdido alguns créditos
comigo pelas idiotices que falou, sendo assim, eu também não
queria mais papo. Não me faltava opção de boca para beijar, eu
sempre tive muita facilidade em ficar com os caras que me
interessavam, então Dominic Davis não seria alguém por quem eu
rastejaria. Não mesmo.
Eu precisava prestar atenção nas jogadas que o meu técnico
queria me mostrar a respeito do que o Arkansas Razorbacks vinham
fazendo em campo, e percebi que era justamente por isso que eu
não me envolvia com ninguém. Dava muito trabalho e ocupava
tempo. Minha concentração deixou a desejar durante os minutos em
que observei a tela onde McDowell ora adiantava, ora pausava o
vídeo, tudo porque minha mente estava focada em me xingar por ter
falado besteira para Norah.
Por que eu fui falar logo do corpo dela? Muito me admira que
não tenha me dado uns tapas ou um chute nas bolas, ou até mesmo
me xingado de coisas terríveis. Sabia que nenhuma mulher gostava
de ser comparada a outra e depois que ouvi o que saiu da minha
boca, me arrependi de imediato. Não quis fazer parecer que a
achava feia ou incapaz de ficar com alguém. Pelo contrário, eu a
achava muito mais bonita e interessante do que garotas com corpos
mais volumosos.
Será que isso significava que eu preferia as magrinhas e
baixinhas?
— E aí, depois disso, a gente finalmente consegue uma
derrota espetacular!
Calma.
— O quê? — Encarei McDowell, que me olhava com a
sobrancelha arqueada. — Que derrota?
— Não tenho certeza, mas como seu foco não está aqui, acho
que é isso que acontecerá no sábado — respondeu o técnico.
O silêncio pairou entre nós e eu voltei meus olhos para a tela
onde o vídeo tinha sido pausado. Nunca, desde o dia em que pisei
na faculdade, eu havia levado um puxão de orelhas de um técnico.
Ninguém nunca precisou duvidar da minha capacidade de
administrar a responsabilidade que era ser o quarterback titular
porque não existia nada mais importante na minha vida universitária
do que o futebol.
Engoli em seco, olhando ao meu redor e observando as
paredes brancas e a persiana preta que estava fechada, impedindo
que passassem pelo corredor do centro de treinamento e nos
vissem através dos janelões. Ali não era o lugar onde a equipe se
reunia três vezes por semana para sentar, assistir partidas de
oponentes e ouvir os nossos treinadores. Aquela era a sala onde
estes estudavam jogadas, alterações na equipe, e depois me
chamavam para repassar o que era importante.
Notei que McDowell esperava que eu dissesse alguma coisa,
então pigarreei antes de pensar numa boa desculpa, porque jamais
diria que estava pensando numa garota.
— Sinto muito. Hoje é um dia atípico porque estou com uma
leve dor de cabeça.
— Está passando por algum problema?
Sim, pensei. Ele tinha um metro e cinquenta e seis e gostava
de andar de rabo de cavalo.
— Nada para se preocupar — respondi, sorrindo. — Só não
dormi muito bem esta noite, tive pesadelo e perdi o sono.
— Tudo bem. — McDowell apertou meu ombro ao se levantar.
— Vá descansar então, Davis. Quero você inteiro para o treino de
amanhã.
Assenti e o acompanhei ao pegar minha mochila e jogá-la no
ombro. Precisava malhar, mas não iria para a academia agora,
depois de ter dito ao técnico que não me sentia bem. Precisava
sustentar a mentira, então aproveitaria a tarde para estudar um
pouco para a minha tese e voltaria ao centro de noite para fazer
minha série do dia.
Parei para almoçar no caminho e depois segui para o
dormitório, encontrando Peter no sofá, falando no celular. Ele fez um
sinal para que eu esperasse antes de ir para meu quarto, então se
despediu da pessoa na linha e desligou, jogando o aparelho sobre a
almofada.
— Estava no CT? — perguntou, se alongando.
— Sim, McDowell queria repassar umas jogadas comigo.
— Estou ansioso pra derrotar os Razorbacks aqui em casa —
disse Peter, se referindo ao time rival que nos encontraria no
sábado. — Seu pai vem?
— O que você acha? — Ri, me jogando ao lado dele e
esticando as pernas para colocá-las sobre a mesinha. — Alguma
vez na vida ele perdeu um jogo meu?
Era a mais pura verdade. Meu pai ia a todos os jogos, sem
exceção. A única vez em que faltou uma partida foi quando seu voo
atrasou por problemas na aeronave e ele não conseguiu decolar a
tempo. Fora isso, Henry Davis sempre batia ponto todas as vezes
em que eu jogava, fosse aqui no estádio do Bama[8] ou em qualquer
outro, independente da distância. Para meus amigos e colegas de
time, isso era incrível, afinal, qualquer fã de futebol americano
endeusava um dos maiores nomes que já passaram pela NFL. Para
mim, era sufocante. Como se ele quisesse deixar claro que estava
ali, acompanhando todos os meus passos, e que veria se eu
pisasse fora da linha invisível que havia traçado para a minha vida.
Como se adivinhasse que era o assunto da vez, o nome do
meu pai piscou na tela quando meu celular começou a tocar. Sabia
que era uma chamada de vídeo, então me levantei para atender em
meu quarto. Mas antes, me virei para Peter e perguntei:
— O que você faria para se desculpar com uma garota com
quem vacilou?
— Sei lá... — respondeu, encolhendo os ombros. — Levaria
para jantar e pediria desculpas?
Um restaurante bacana seria uma boa ideia e... não.
— Muito romântico — retruquei, descartando a sugestão. —
Ela entenderia errado.
— Flores? — Peter sorriu. — Pode soar romântico, mas às
vezes, também pode ser considerado apenas um gesto de cortesia.
Eu gostava da ideia. Estalei o dedo e pisquei para ele antes de
ir para meu quarto retornar a ligação, pois meu pai tinha desistido já
que demorei a atender. Sentei-me na cama e fiz a chamada,
dobrando o joelho direito para apoiar meu braço sobre ele e nivelar
o telefone na altura do meu rosto.
Henry Davis atendeu no segundo toque, sorrindo e suando, o
que indicava que devia estar se exercitando.
— Oi, campeão! Tudo bem?
— Sim, pai.
— Por que está em casa a essa hora? Não devia estar
malhando ou treinando?
A lógica era quase inexistente. Se ele esperava que eu
estivesse fazendo uma dessas duas coisas, então por que tinha me
ligado? Só para poder fazer essa pergunta?
— O técnico McDowell me dispensou mais cedo, pois senti um
pouco de dor de cabeça — respondi.
— Algum problema? — Estreitou os olhos, me sondando.
— É só uma dor de cabeça, pai. Nada além disso.
Eu raramente ficava doente, então quando acontecia qualquer
coisa que envolvesse saúde, era motivo para gerar preocupação. Só
que neste caso, havia sido uma simples mentira.
Sorri, observando que minha mãe se aproximava por trás dele,
até que colocou seu rosto em evidência perto da câmera e me jogou
um beijo. Eu amava os dois, mas ambos podiam ser muito
controladores de vez em quando. No caso do meu pai, quase
sempre, e como ele cuidava da minha carreira bem de perto, se
tornava difícil colocar um pouco de distância entre nós.
— Oi, querido. Está se alimentando direito? — perguntou
Shannon, minha mãe.
— Ele sentiu dor de cabeça — meu pai a respondeu. — E isso
atrapalhou seu rendimento do dia.
— Não atrapalhou nada — retruquei.
— Então descanse, filho. — Minha mãe sorriu. — Relaxe um
pouco, quem sabe não seja bom sair com um amigo?
Antes que eu pudesse responder, meu pai virou o rosto na
direção dela e encarou a esposa.
— Em plena terça-feira? Ficou louca? Quem é que manda um
garoto com dor de cabeça sair pra beber?
— Eu não mandei ele beber, Henry. — Ela revirou os olhos. —
Dominic nem sequer bebe.
— Sair com um amigo é sinônimo de encher a cara para mim.
— Que bom que nosso filho não é igual a você, não é? —
Mamãe cruzou os braços e me encarou. — Ignore o seu pai e vá se
divertir hoje.
— Shannon! — meu pai resmungou.
Minha mãe, então, arrancou o celular da mão dele e começou
a caminhar pelo jardim, mexendo nos cabelos loiros lisos como
precisasse mesmo se arrumar para falar comigo.
— Querido, talvez seja a hora de você se soltar mais... —
Suspirou. — Está na idade. Ou melhor, passou da idade.
— Mas que merda você está falando pra ele, Shannon? —
Meu pai veio atrás dela, quase espumando de raiva. — Dominic não
precisa encher a cabeça com mulheres justo às vésperas da
formatura.
— Gente, eu não... — murmurei, mas fui interrompido pela
minha mãe.
— Você transou com a faculdade inteira, Henry! Acha que não
lembro disso?
Fechei os olhos e puxei a respiração pelo nariz, sem saco para
aquela discussão. Quando os dois estavam em casa e falávamos
por telefone, quase sempre acontecia algo parecido, porque um
sempre discordava do outro em relação ao meu comportamento e a
forma como levava a vida.
— Transei, sim — retrucou papai. — E talvez se eu não ficasse
pensando em quem seria a próxima a esquentar minha cama toda
noite, meu desempenho poderia ter sido ainda melhor.
— Henry, você está por um triz de levar um tapa. — Minha
mãe estreitou os olhos para ele e apontou o dedo em riste. — Eu fui
uma das que esquentou sua cama, seu filho da mãe!
— Certo, foi ótimo falar com vocês — falei bem alto para
chamar a atenção dos dois. — Pretendo fazer umas pesquisas para
a minha tese, então nos vemos no final de semana, ok?
Desliguei antes que pudessem me encher mais o saco e soltei
o celular na cama, com medo de que tocasse de novo. Quando
falava por telefone com a minha família, geralmente terminava a
ligação me sentindo esgotado.
Fui me sentar na frente do notebook, mas antes de abrir o
Word, peguei meu telefone de novo e procurei empresas que
trabalhavam com entrega de flores aqui na região. Não fazia ideia
se Norah era o tipo de garota que gostava disso, mas mesmo que
não fosse fã de flores e decidisse jogá-las no lixo, pelo menos, eu
teria tentado me retratar e limpar minha consciência.
Sábado costumava ser um dia engraçado dentro da Zeta,
porque para todos os cantos que eu olhava, sempre via uma garota
ou de máscara facial na cara, ou desfilando com os cabelos presos
com creme de tratamento, ou espalhadas pelos sofás enquanto
pintavam as unhas, enfim, parecia uma franquia de um salão de
beleza.
Eu mesma estava confortavelmente sentada no grande tapete
do salão principal, passando esmalte rosa nos pés e conversando
com Aika e Alice, quando uma das meninas surgiu com um
entregador logo atrás dela e parou perto de nós.
— Norah, é pra você — disse.
Olhei para o homem que carregava um buquê de rosas
gigante, depois olhei para minhas amigas, e voltei a encarar o
rapaz. Quem tinha armado essa pegadinha para mim?
— Norah Brown, da Zeta, é você? — perguntou ele, lendo um
papel na mão.
— Sim...
O homem se curvou até que o buquê estivesse em meus
braços e sorriu antes de dar as costas e se afastar. Aquilo foi
suficiente para todas as garotas que estavam na sala correrem até
mim como um bando de urubus.
— Desde quando você ganha flores? — perguntou Aika, um
pouco mais distante e de braços cruzados.
— Quem mandou, Norah? — Jessica quis saber.
Logo um monte de gente começo a falar ao mesmo tempo e
eu só consegui encarar o buquê pesado, sem entender nada. Havia
um cartão pendurado no embrulho e eu o virei para ler o que estava
escrito.

“Não sabia como me desculpar pelas besteiras que falei naquele


dia, então espero que ache as rosas bonitas. Você é uma garota
linda, Norah. Qualquer um teria sorte em ir pra cama com você. Do
seu parceiro, Dominic.”

Gargalhei, chocada com aquela mensagem. Que tipo de


pessoa escrevia um cartão começando com desculpas e terminando
com papo sobre sexo? Estava tão distraída relendo aquelas
palavras que meu reflexo não foi rápido o bastante para evitar que
arrancassem o cartão da minha mão, e ele começou a passar de
uma por uma, transformando-as todas em garotas chocadas.
— Então é verdade que você dormiu com o Dominic Davis? —
alguém perguntou.
— O quê? — Ri da loucura. — Não...
— Só se fala nisso desde que ele subiu pro quarto dela na
última festa — mais alguém murmurou e eu me levantei para acabar
com aquele showzinho.
— É verdade que o pau do Davis é gigante?
Bom, parecia ser, pelo menos dentro da calça. Mas não me
senti à vontade para falar sobre os atributos do cara que nem me
dava bola.
— Ouvi dizer que ele já deixou uma menina da Kappa sem
andar por dois dias.
Eu me senti num mundo completamente oposto do delas,
porque até poucos dias atrás sequer sabia quem era o Dominic. Isso
significava que não me atualizava muito nas fofocas que rolavam
pelo campus, pois nunca ouvi sobre a vida sexual dele.
Vi quando Anna pegou o cartão de volta quando ele chegou às
mãos de Aika, e veio me devolver. A minha inimiga me lançou um
olhar de puro desdém e baixou os olhos para as rosas em meus
braços, torcendo o nariz.
— Ele é rico, podia ter escolhido flores mais caras —
comentou, rindo. — Rosas são tão comuns... Mas pelo visto, é o
que combina com você. Talvez o sexo não tenha sido bom o
suficiente para merecer um buquê melhor, não é?
Anna me lançou um olhar debochado quando passei por ela.
Ultimamente, eu vinha tentando praticar o dom da paciência com a
garota. Morar com ela por todos aqueles anos, debaixo do mesmo
teto, tinha me concedido habilidades como aquela.
Lembrei-me de quando nós nos conhecemos logo na primeira
semana como calouras e passamos a fazer tudo juntas. Eu achava
que tinha encontrado minha alma gêmea de faculdade porque nossa
relação era muito boa, por isso, decidimos nos candidatar para a
mesma irmandade. Eu só não sabia que com o tempo, ela se
tornaria insuportável.
Vi quando Carlos chegou e foi recebido por Alice, que pegou
na mão dele, bem discretamente, para puxá-lo pela escada. Eu
sabia que os dois estavam se encontrando para fumar um baseado
e quis me juntar a eles, porque qualquer coisa era melhor do que
aturar a Anna.
Meneei a cabeça para Aika, tentando avisar a ela, que
percebeu a movimentação e saiu na frente.
— Vou levar minhas rosas comuns para o quarto — falei para
a chata, sorrindo e piscando. — Tomara que o seu momento
chegue, Anna. É bem legal receber um buquê, talvez um dia você
conheça a sensação.
— Eu não preciso de um buquê!
Eu a ouvi resmungar quando já me afastava e subia a escada
atrás dos meus amigos. Cheirei as rosas em meus braços mais uma
vez ao entrar no meu quarto e as coloquei sobre a cama, sem saber
ainda o que fazer com elas. Acho que precisaria de água, certo?
— Ai, Norah, elas são tão lindas! — disse Aika atrás de mim
até se aproximar e passar o braço pelos meus ombros. — E você
disse que só ficaram fazendo o trabalho, mas pelo visto, a fofoca
que inventaram é outra.
— Pelo que entendi, o Dominic é pegador, então é o que todo
mundo deve pensar ao vê-lo ir pro quarto com alguém.
Eu só não sabia se ele ia gostar de saber da fofoca, já que,
pelo visto, parecia se esforçar para se manter longe de mim. Enfim,
Dominic que lidasse com as mentiras, pois foi culpa dele mesmo
que as meninas da Zeta tenham reforçado o boato depois de terem
lido o que escreveu no cartão.
— Não acha que ele está totalmente na sua, amiga? —
perguntou Aika, rindo.
— Hum, não parece não — respondi, puxando-a para fora do
quarto para irmos encontrar com Alice e Carlos. — Em todas as
vezes em que interagimos, ele foi muito fechado comigo. Sempre
todo sério e reticente... E não teria dito o que disse se tivesse
mesmo interesse em me pegar.
Minha amiga me olhou com curiosidade, pois ela não sabia
sobre a última conversa que tivemos. Para ser sincera, nem tinha
sido nada de importante, eu mesma havia esquecido do que
aconteceu e não me sentia frustrada ou chateada com Dominic.
Entendi que ele falou de uma forma que pareceu uma coisa, quando
queria se referir a outra. Não sabia por que estava com peso na
consciência por conta disso.
Alice estava em seu quarto, sentada no chão ao lado de
Carlos, que enrolava os baseados para se divertirem. Aika não
fumava nada e eu já tinha chapado vez ou outra, mas não estava
com vontade naquele dia, queria só a companhia deles.
— Quer dizer que a sortuda está pegando o mais gostoso do
campus?
— Eu jurava que você era hétero, Carlos — disse Alice,
franzindo a testa.
— Eu sou! — Ele abriu um sorriso bobo. — Mas sou fã do
cara, ué. E tenho ouvidos, escuto bem o que as garotas falam.
— Gente, não entrem na onda das fofocas — avisei, me
encostando na cama de Alice. — Eu nunca nem sequer beijei a
boca do Dominic. A gente só subiu aqui pra fazer mesmo um
trabalho em dupla. Nada além disso.
— E por que ele te mandou flores? — perguntou Carlos.
— Porque ele foi meio babaca comigo há uns dias. — Dei de
ombros. — Eu não sabia que o cara era tão famoso.
— Filho de quem é, não poderia ser diferente — disse meu
amigo, olhando como um apaixonado para o baseado que tinha
acabado de enrolar. — Henry Davis foi um dos maiores jogadores
que já passaram por nossa universidade. O cara é uma lenda.
Imaginei a pressão que devia ser ter toda essa
responsabilidade de ser tão bom quanto seu pai foi um dia. Não era
por acaso que Dominic vivia tão focado na carreira e só pensava
nisso.
— A gente devia ir ao jogo esta noite — comentou Alice,
sorrindo para mim. — O Bama vai jogar contra o time do Arkansas.
Nunca na vida eu tinha assistido uma partida de futebol
americano — ou qualquer outro esporte —, mas de repente, me
senti muito empolgada e curiosa para ver Dominic Davis em seu
habitat natural. Queria saber se o atleta era bom mesmo e se todo
aquele esforço que ele fazia para se dedicar à carreira, realmente
valia a pena.
— Essa é uma ótima ideia! — respondi, animada. — Ainda dá
pra conseguirmos ingressos?
Aika me lançou um olhar de desconfiança.
— Você odeia futebol.
— Eu não odeio, apenas não tive a oportunidade de gostar. —
Sorri com malícia. — Ainda.
— Você só quer ir por causa do Dominic — zombou Carlos,
deitando-se de costas no chão. — Se está mesmo gostando dele,
boa sorte para sofrer.
— Ficou louco? — Chutei o pé dele. — Desde quando vocês
costumam me ver caidinha por alguém? O cara é gostoso, talvez eu
queira dar pra ele, só isso.
Então eu me curvei sobre meu amigo, tirei o baseado da mão
dele e dei uma tragada antes de devolver ao dono. Levantei-me,
decidida a ir ao jogo e peguei meu celular para tentar encontrar mais
informações sobre a partida. Não foi difícil achar o perfil do Alabama
Crimson Tide no Instagram e descobrir que os times se enfrentariam
em duas horas, o que me daria tempo suficiente para me arrumar.
— Quem vai comigo? — perguntei, vendo que os três me
encaravam. — O ingresso é caro? Espero que não.
— Se conseguirmos ingresso — disse Aika, estreitando os
olhos. — Geralmente, jogos em casa lotam rápido. Mas vou
descobrir se ainda tem pra comprar.
Um sorriso surgiu no rosto de Aika, de uma ponta a outra,
porque ela jamais me deixaria embarcar numa loucura sozinha. As
covinhas marcaram sua bochecha, e eu me curvei para apertá-las.
— Você é tão fofa!
— Ai! — protestou, afastando minhas mãos. — Para com isso
ou eu mudo de ideia.

Fomos a pé até o estádio naquela noite, porque Carlos disse


que era legal e contagiante, já que todo mundo nas redondezas
estava fazendo o mesmo caminho e tão empolgado quanto. Noites
de jogos em casa, segundo ele, faziam a faculdade toda parar e se
empolgar com o clima festivo do esporte.
Confesso que como eu não era muito ligada nisso, meus
programas de sábado à noite se limitavam a algum barzinho fora do
campus ou ao quarto de algum garoto interessante — às vezes, até
mesmo o meu. Aquela era a primeira vez que eu me aproximava
tanto do Estádio Bryant-Denny e descobria por intermédio de
Carlos, que era o décimo maior estádio do mundo, com capacidade
para cem mil lugares.
Aika e eu parecíamos duas estranhas no ninho, vestidas com
cores aleatórias quando todo mundo que passava por nós vestia
alguma peça de roupa vermelha. Eu tinha colocado um short preto e
uma camisa tie-dye puxando para tons de amarelo e azul, o que me
fez torcer para que o time adversário não usasse nenhuma dessas
duas cores.
— Esta é a Calçada dos Campeões — disse Carlos quando
pisamos no local e ele parou, quase sendo levado pela multidão
barulhenta. — Esta noite será impossível ver direito, mas
espalhadas por todo esse chão de tijolinhos existem dezenas de
placas de granito, em homenagem a cada um dos campeonatos que
o Crimson trouxe para casa.
Não dava mesmo para reparar nisso porque não parava de
passar gente ao nosso redor, mas eu estava ansiosa para entrar no
estádio e ver o jogo começar, por isso não dei tanta atenção.
Ao chegarmos do lado de dentro, compramos pipoca e
refrigerantes, então fomos para os nossos lugares. O ingresso não
tinha sido caro, no entanto, os assentos escolhidos ficavam lá na
puta que pariu do topo do estádio, bem perto do céu, de onde eu
nunca conseguiria enxergar o rosto de Dominic se não fosse pelos
telões.
— Francamente, Aika, se eu soubesse que estaria sentada a
quilômetros de distância do campo, teria ficado em casa —
resmunguei ao tomar meu lugar entre ela e Alice.
— Ué, da próxima vez basta desembolsar uns duzentos
dólares para ocupar a posição mais privilegiada do estádio —
respondeu, me dando um peteleco. — Mas eu não estou querendo
pegar nenhum jogador, então não pretendo gastar uma fortuna por
um ingresso.
— Como eu vou reconhecer o Dominic?
— Existe uma coisa que ele estará usando, que se chama
camisa com número — disse Carlos, curvando-se para frente e me
olhando. — O Davis é o 20.
— Além disso, ele é o quarterback — emendou Aika. — Não
deve ser muito difícil encontrá-lo.
— Ok — respondi, preparada, encarando o campo enorme. —
E o que o quarterback faz?
O cara que estava sentado na fileira da frente virou a cabeça
para trás e me encarou com a testa franzida.
— O que foi? — perguntei. — Está gostando do que vê?
A mulher ao lado dele também virou o rosto e falou alguma
coisa no ouvido do idiota, que riu e se virou de novo para frente.
Mostrei a língua para eles, mas já estavam de costas e Aika
envolveu meu ombro enquanto ria e me cutucava na altura das
costelas.
— Você não quer arranjar confusão, né? — perguntou,
bagunçando meus cabelos. — Doida! Vamos curtir!
Desisti de tentar saber sobre a função do quarterback e só
aguardei, comendo e conversando com meus amigos, observando o
estádio encher cada vez mais. O público ovacionou a banda da
faculdade, que se apresentou e eu até achei bacana, mas a histeria
começou mesmo quando o Crimson Tide entrou em campo.
Vestindo camisas vermelhas e calças brancas, os jogadores
surgiram correndo sob os gritos da torcida, num estádio que brilhava
nas cores do time. Confesso que era bastante contagiante toda
aquela animação e até eu me levantei para recebê-los, observando
pelo telão porque as câmeras tentavam focar um pouco em cada
um. Até que um rosto ganhou evidência porque enquanto ele corria,
era acompanhado de perto. Não precisei esperar para ver o número
20 na camisa, porque os olhos eram inconfundíveis.
Larguei o telão e acompanhei os passos de Dominic em
campo, mesmo muito distante de mim. O filho da mãe chato ficava
ainda mais gostoso dentro do uniforme e eu já começava a ter
várias fantasias com ele vestido daquele jeito dentro do meu quarto.
Meus devaneios ficaram de lado quando a partida começou e
eu me vi perdida sem saber onde Dominic tinha ido parar. Num
instante ele estava inclinado atrás da bunda de um cara grandão, no
segundo seguinte, sumiu. Ah, não. Não sumiu, só foi esmagado por
cinco homens ao mesmo tempo.
— Isso é normal? — perguntei para Aika. — Eu ainda nem
provei, não quero que quebrem ele.
Ela riu e assentiu, deixando-me mais ou menos tranquila. Mas
meu pavor foi só aumentando a cada nova jogada, cada vez que
todo mundo parecia correr para cima dele antes que lançasse a bola
no ar. Precisei levar a mão ao peito e massageá-lo, porque o jogo
era muito violento e sempre que algum jogador ia ao chão e
pulavam sobre ele, eu pensava que tinha morrido.
Enquanto a partida se desenrolava, Carlos e Aika tentavam me
explicar como funcionava o futebol americano. Eu não estava muito
interessada nas regras, estava só acompanhando Dominic, mas no
fim, acabei aprendendo uma coisa ou outra. No meio da partida, já
estava gritando e torcendo junto com a galera.
Quando o jogo terminou — com vitória do Crimson — e o time
deixou o gramado, todos nós nos deslocamos para fora do estádio.
A meu pedido, Carlos me mostrou por onde os jogadores
costumavam sair e ficamos por ali, junto com várias outras pessoas
que queria vê-los e tietá-los, mesmo que Alice tenha precisado ir
embora porque estava se sentindo enjoada.
— Não os deixem respirar! Estão me ouvindo? — gritou Wolf,
o treinador da linha defensiva ao se reunir conosco no vestiário. —
Nem por um minuto! Não os deixem respirar! Quero vocês entrando
lá com instinto assassino!
As palmas se espalharam conforme nos levantávamos,
cumprimentando uns aos outros com tapas nas costas, apertos nos
ombros e abraços confiantes.
— Vai ser exatamente como nos preparamos! — McDowell
gritou quando nos preparamos para deixar o vestiário. — Vamos
para a batalha, Crimson! Vamos entrar com tudo, como se nossas
vidas dependessem disso. É assim que vamos jogar, ok?
As últimas palavras do técnico sempre ficavam se repetindo na
minha cabeça quando eu corria para o campo, em quase todos os
jogos. Como se fosse um mantra e eu precisasse repetir vezes e
vezes. Eu estava sempre confiante, mas cada partida era uma
caixinha de surpresas, porque eu não tinha o costume de
subestimar o oponente.
Com o Bryant-Denny lotado com a grande maioria dos nossos
torcedores, iniciamos o jogo sob aplausos e muita torcida. Sofremos
uma blitz[9] logo no início, mas na segunda jogada consegui lançar
[10]
para Peter na linha de vinte jardas, que fez um down na linha
cinco.
Quando voltamos à posição, reuni o grupo de ataque e passei
a nova jogada, dando a bola para Mike, que correu e fez o primeiro
touchdown[11] da noite.
Nossa defesa fez um trabalho excelente, com John e Eric se
sobressaindo, de forma que conseguiram manter os Razorbacks
quase estagnados até voltarmos com o ataque.
— Vermelho 80! Hut! — gritei, recebendo a bola das mãos de
Wallace, recuando com pressa e entregando para Peter, que lutou
para chegar à end zone, mas marcou um novo touchdown para nós.
Bati palmas antes de ser abraçado pelos meus colegas e ouvir
a torcida nos ovacionar, entusiasmados pela pontuação, e olhei na
direção do setor onde sabia que meus pais estariam. Henry Davis,
ao contrário de muitos que se orgulhariam, provavelmente, devia
pensar que aquela não passava da minha obrigação.
Aproveitei para levantar o rosto e dar uma boa olhada no
estádio inteiro, observando o público que enchia a casa, sem fazer
ideia de quem era de qual torcida, afinal de contas, os Razorbacks
também usavam as cores vermelho e branco.
Faltando uma jogada para encerrarmos a partida, McDowell
bateu nas minhas costas.
— Você está bem?
— Sim — respondi.
— Foi um choque e tanto ali.
— Estou bem. — Sorri para tranquilizá-lo, tirando meu
capacete para beber um pouco de água.
— Ok. — Ele apertou meu ombro. — Bom trabalho, garoto.
Bom trabalho!
Não respondi antes de voltar ao campo e à formação,
repassando a próxima jogada e lançando a bola para Peter, que
conseguiu correr e saltar por cima de um adversário, fugindo de um
possível tackle[12], e conseguindo marcar o touchdown.
O estádio foi à loucura por encerrarmos aquela partida com
uma vitória, enquanto todos os outros integrantes do Crimson
invadiam o gramado e comemoravam conosco. Era o segundo jogo
da temporada e continuamos invictos, e assim seria até ganharmos
o título nacional, no que dependesse de mim.
Dentro do vestiário, no meio de toda aquela confusão que
sempre marcava o final de um jogo vitorioso, entre gritos, cantos e
conversas paralelas, vi quando meu pai se aproximou, quando eu
ainda estava só de cueca.
Henry Davis parecia ter acesso liberado a qualquer lugar
daquela universidade, então não era incomum que ele entrasse nas
dependências exclusivas ao Crimson. Também era um costume o
pessoal ficar meio abobalhado sempre que aparecia, principalmente
os calouros, que ainda não haviam tido a chance de vê-lo com
frequência.
— Dominic! — Eu me levantei, jogando a toalha sobre o ombro
e me aproximando dele.
Dois calouros, um quarterback e um free safety, pediram para
tirar foto com ele, e como Henry adorava um espetáculo, não deixou
de atender os fãs. Depois, passou um braço pelo meu ombro e me
puxou para um canto, usando a mão livre para dar dois tapinhas de
incentivo em meu peito.
— Sua mãe quer que apareça amanhã em casa para almoçar
conosco — falou, sem soltar sequer um elogio pela minha atuação.
Apesar de meus pais terem se mudado para o Alabama com a
intenção de se manterem perto de mim, eu sempre deixei claro que
queria viver toda a experiência de uma vida universitária e não os
visitaria toda semana. No início, eles protestaram, mas meu pai
entendeu que meu rendimento seria melhor se eu não sofresse
influências externas.
— Eu vou amanhã — respondi, pois não ia em casa desde que
as aulas do semestre começaram. — Mas agora preciso tomar
banho, pai. Tenho uma comemoração para ir.
— Ah... — Henry estalou a língua e fez uma careta, olhando
por cima do meu ombro, para onde a algazarra continuava
acontecendo. — Sabe que detesto quando vai a essas festas, não
é?
— E o senhor sabe que não posso me isolar do meu time —
retruquei. — Sou o quarterback.
Meu pai gastou alguns segundos para me olhar dentro dos
olhos, como se daquele jeito, pudesse descobrir alguma mentira
minha. Mas a verdade era exatamente essa. Eu só frequentava as
festas que aconteciam após os jogos do Crimson, porque era um
tipo de confraternização pós-vitória. Fora desses momentos, eu
muito raramente participava de eventos do tipo, então essa era a
maneira que eu usava para comemorar e me parabenizar pelo bom
trabalho. E meus pais não me tirariam isso.
Ele se despediu quando percebeu que eu não cederia e
reforçou o aviso sobre o almoço no dia seguinte antes de ir embora.
Depois que os técnicos vieram conversar conosco e nos
parabenizar pela noite de sucesso, finalmente fui tomar meu banho.
Peter e eu fomos um dos últimos a deixar o vestiário e eu me
vi surpreso quando pisei na calçada e avistei Norah bem ali. Estava
na companhia de uma garota e um rapaz alto e com cara de
lunático, e se aproximou de nós dois com um sorriso cínico,
enrolando a ponta do rabo de cavalo nos dedos.
— O que está fazendo aqui? — perguntei, percebendo seu
short muito curto.
— Oi, Dominic — disse ela, revirando os olhos. — Eu estou
bem, obrigada por perguntar. E você, como vai?
— Achei que não gostasse de futebol.
A garota que a acompanhava abafou uma risada e o cara não
conseguia tirar os olhos arregalados de cima de mim.
— Talvez agora, eu goste — retrucou Norah, encolhendo os
ombros. — É crime mudar de opinião? Devo procurar um
advogado?
Eu apenas sorri, não queria entrar numa discussão
interminável a respeito do que ela achava ou deixava de achar
sobre esportes em geral. Então, antes que eu pudesse dizer
qualquer coisa, Peter deu um passo à frente e estendeu a mão para
Norah, com um sorrisinho sacana direcionado à garota.
— Sou Peter — se apresentou. — Wide receiver do Bama.
— Eu não faço ideia do que seja isso, mas é um prazer, Peter.
— A garota sorriu. — Eu sou a Norah e esses são meus amigos,
Aika e Carlos.
— O jogo foi incrível, vocês arrasaram! — disse o amigo dela,
intercalando olhares entre mim e Peter. — Cara, que irado, vocês
dois apertando minha mão.
— Vão fazer alguma coisa agora? — perguntou Norah,
olhando para mim. — Existe algum ritual pós-jogo?
— Sim — Peter respondeu e eu quis dar um chute nele. —
Estamos indo para a festa na casa do Mike e do Josh, é tradição
depois de cada vitória.
— Você falou no plural? — Ela arregalou os olhos e tapou a
boca. — O Dominic se diverte?
Lancei um olhar de tédio para Norah, que sorriu e ergueu os
dois polegares para mim. Eu sabia muito bem o que a espertinha
estava tentando e era claro que Peter cairia logo na dela, pois o
wide receiver assentiu, sorridente, olhando para os três diante de
nós.
— Querem ir? — perguntou o óbvio.
Não que fosse uma festa exclusiva para o time de futebol, pois
o convite se estendia a amigos de todos os jogadores, mas ainda
assim, era um lugar onde não entrava qualquer pessoa, e eu sabia
que Norah só queria ir para azucrinar o meu juízo.
Os três aceitaram imediatamente e o tal do Carlos anotou o
endereço de Mike e Josh, pois iriam no carro dele. Quando fiquei
sozinho com meu amigo, enquanto caminhávamos até meu
automóvel, ouvi três suspiros dele, até que destranquei as portas e
esperei que se sentasse no banco do carona.
— O que foi? — perguntei. — Fala logo o que está querendo
falar.
— Nada... — Estalou a língua. — Só não entendi o que está
rolando entre você e essa Norah.
— Não há nada rolando.
— Senti uma tensão sexual no ar. Bem pesada.
— Fizemos um trabalho juntos — respondi, ligando o motor do
carro. — Só isso.
Ninguém sabia que eu era virgem, então era muito comum que
sempre criassem ilusões sobre mim. Bastava que me vissem com
alguma garota para já espalharem boatos de que eu estava
comendo, que era mais uma de minhas conquistas, e todo aquele
drama de sempre. Eu nem precisava fazer nada, nunca nem mesmo
tinham me flagrado beijando uma boca, tudo se tratava de
suposições, porque era muito fácil acreditar na imagem de que um
cara na minha posição só podia ser um pegador nato.
Às vezes, tornava-se um pouco cansativo, mas ao mesmo
tempo, era seguro. Dessa forma, eu não precisava me explicar a
respeito da minha vida sexual e a forma como lidava com a nulidade
dela.
Fazia um tempo que eu vinha querendo contar a verdade para
Peter, porque ele era meu melhor amigo, a única pessoa na qual eu
confiava ali, e era péssimo não ter com quem conversar sobre o
assunto. Portanto, de alguma forma, tocar na questão de estar ou
não envolvido com Norah me trouxe um pouco de coragem naquele
momento. Quando parei na porta da residência onde acontecia a
festa, decidi confessar.
— Tem algo que eu preciso contar e não pode sair daqui —
falei, encarando Peter. — Nunca.
— Caralho... Quem você matou?
— É sério. — Toquei o braço dele. — Promete que o assunto
vai morrer dentro deste carro?
— Está me assustando, Dom. — Ele encolheu os ombros. — É
claro que prometo, não brinco com o segredo alheio.
Vi quando Norah e os dois amigos atravessaram a rua e
passaram na frente do meu automóvel sem nos verem ali. Olhei de
novo para Peter, que ainda aguardava com ansiedade.
— Eu sou virgem, cara — declarei. — E sim, estou falando
sério.
A careta que o wide receiver do Crimson fez era esperada por
mim e ele ganhou alguns pontos por simplesmente não ter caído
numa gargalhada. Até notei um sorriso querendo se formar em seus
lábios, mas Peter conseguiu contê-lo, franzindo a testa e olhando na
direção do meu pau, antes de voltar a me encarar.
— Porra.
— Oportunidades nunca faltaram, você deve imaginar —
comentei, encostando a cabeça no banco. — Trata-se apenas de
uma decisão minha.
— Não sei o que dizer — murmurou, passando a mão pela
cabeça. — Isso é estranho. Como você consegue? E todas essas
gostosas que se jogam em cima da gente? Porra, Dominic. Que
fodido.
Podia ser para quem via de fora do cenário, mas para mim, era
algo ao qual estava acostumado. Apertei o ombro de Peter antes de
abrir minha porta e saltar do carro, dando a volta até a calçada e o
encontrando no caminho.
— Enfim, contei apenas para desabafar com alguém. Não
quero que essa revelação se torne um bicho de sete cabeças, ok?
— Sim — respondeu, olhando para mim como se eu tivesse
dois chifres. — Eu tô de boa.
— Não, não está. — Dei um tapa nas costas dele e ri. — Mas
tudo bem, não ligo. Vamos curtir.
Claro que a minha ideia de curtição era bem diferente da de
Peter, então mal entramos na casa, ele já se enfiou na cozinha para
procurar por bebidas. Eu cumprimentei algumas pessoas, tirei fotos
com outras, e fui me sentar no sofá de frente para a televisão onde
passava um jogo de futebol americano. Era LSU contra o Texas
A&M.
Se eu virasse o rosto para o lado direito, podia ver uma parte
da cozinha, onde Norah tinha encontrado com Peter e agora os dois
conversavam. Ao meu lado, eu me dei conta de que estava a amiga
dela, Aika, assistindo a partida com atenção, enquanto bebericava
uma cerveja.
— Você arrasou com as flores — comentou a garota, sem me
encarar. — Norah nunca vai admitir, mas ela ficou toda bobinha
quando as recebeu.
Eu me dei conta de que a baixinha não tinha comentado nada
sobre o buquê, mas gostei de saber daquilo.
— Ela é assim, meio vida louca, mas tem um coração enorme.
Eu trucidaria qualquer filho da mãe que tentasse magoar minha
amiga.
— Que sorte a dela — murmurei, sentindo a indireta bem para
cima de mim e notando que agora, Aika me encarava com os olhos
estreitos numa linha reta.
Porque a garota achava que eu era uma ameaça? Norah tinha
inventado alguma coisa a nosso respeito ou as flores deram uma
ideia errada do que havia entre nós? Pensei em sondar melhor a
ruiva cacheada ao meu lado, mas minha atenção foi atraída para a
cozinha quando ouvi risadas exageradas vindo de lá. Peter estava
todo sorridente para cima de Norah, que ria junto e o tocava no
braço de dois em dois segundos como se compartilhassem uma
piadinha. Ou talvez, conhecendo bem o meu amigo, ele estivesse
dando em cima dela, pois seria a opção mais certeira.
Observei os dois interagindo por um tempo, tentando adivinhar
se o jogador fazia o tipo da garota, sentindo-me desconfortável.
Quanto tempo eles ficariam naquela cozinha?
— Ele não tem a menor chance com ela — disse Aika,
sussurrando em meu ouvido.
— Não? — Virei meu rosto e a encarei, curioso. — Por quê?
Peter é um cara bem atraente.
— Hum... Norah é muito focada, sabe? — A ruivinha sorriu. —
Ela já mirou outra pessoa e não vai recuar enquanto não conseguir
o que quer. E convenhamos, olha bem para aquela garota. — Virei o
rosto na direção da cozinha mais uma vez. — Norah é a pessoa
mais incrível que eu conheço. Se eu gostasse de mulher, estaria de
quatro por ela.
Ajeitei-me no sofá, encarando Aika e sorrindo para ela, que
parecia muito inofensiva, mas eu sabia que seu cérebro mexia todas
as engrenagens naquele momento, trabalhando em prol de um
objetivo.
— Você é uma amiga fiel — murmurei, dobrando minha perna
sobre o joelho. — Daria uma boa advogada. Por acaso está
cursando Direito?
Por incrível que pareça, Aika riu e assentiu, me deixando
surpreso por ter acertado em cheio. Então, foquei em conversar com
ela e saber mais sobre sua vida acadêmica para não ter que ficar
pensando na conversa que rolava no meio da cozinha, visto que
minha curiosidade estava quase me matando.
Da cozinha, eu observava Dominic sentado no sofá ao lado de
Aika. Quando passei para ir ao banheiro, consegui escutar alguma
coisa e descobri que estavam tendo uma conversa interessante
sobre como as leis da física impactavam nos arremessos de bola. O
jogador parecia ter se dado bem com minha amiga, talvez por ela
ser nerd como ele, ou talvez porque ela era uma das poucas
mulheres da faculdade, que não estava se esforçando para tirar a
roupa dele.
— Norah! — Peter apareceu ao meu lado quando estava
vasculhando os armários. — O que você está fazendo?
Ele, assim como a maioria da festa, já estava bêbado. Não
contente, continuava bebendo, e toda vez que nos esbarrávamos,
havia uma garrafa cheia em sua mão.
— Procurando um abridor. Ele estava por aqui da última vez
que vi, mas sumiu...
O atleta tão alto quanto Dominic, mas de cabelos escuros e
olhos pretos como a noite, fez um gesto de desfeita e pegou minha
garrafa, depositando a dele em cima do balcão. Observei seus
gestos e seus músculos em evidência enquanto abria minha tampa
com os dentes. Era impressionante como só tinha macho bonito
jogando naquele time, pelo menos, ainda não tinha visto uma única
pessoa que eu descartasse totalmente.
— Sabe de uma coisa, Norah? — Ele pegou sua garrafa de
volta quando devolveu a minha e se escorou no balcão, olhando
para mim. — A gente devia transar.
Pega de surpresa, eu gargalhei com a ousadia. Peter estava
tão bêbado que era hilário como parecia se esforçar para soar sério.
— Você sabe que eu quero o seu amigo, não é?
— Meu amigo está conversando com a sua amiga sobre física
no meio de uma festa. — Ele fez uma careta. — Você não vai beijar
o Dominic esta noite.
— Está me subestimando, bonitão.
Ele jogou a cabeça para trás e suspirou, antes de tocar a ponta
do meu nariz e se inclinar para mais perto. Confesso que se fosse
em outra realidade e ele me fizesse aquela sugestão, eu já estaria
trepada em seu colo. Mas no momento, havia uma certa fixação que
não me deixava parar de querer o Davis.
— Você é muito gostosa para ficar correndo atrás do Dominic,
quando ele claramente não está disponível.
— Você sempre rouba as garotas dos seus amigos?
Peter deu de ombros.
— Eu tento.
Então eu dei uma gargalhada. Ri tão alto que as pessoas ao
redor se assustaram e botei a mão na boca para abafar o barulho.
Da sala, Dominic me fitou, parecendo levemente curioso.
— Peter, eu gosto de você — falei, batendo minha garrafa na
dele.
— O suficiente para transar comigo? — perguntou o abusado,
erguendo uma sobrancelha e passando a língua no canto dos
lábios.
— Talvez. — Comecei a andar de costas em direção à sala. —
Se tudo der errado com o Dominic... Quem sabe eu não te ligue?
Peter estreitou os olhos, parecendo pensar um pouco, então
apontou o dedo para mim, fingindo se sentir ofendido.
— Você está me tratando como segunda opção, Norah. — Não
era uma pergunta, era uma afirmação. — Perfeito para mim!
O garoto era uma grande figura e mesmo o conhecendo há
pouco tempo, eu acreditava que a gente se daria muito bem. Nem
entendia como Peter e Dominic podiam ser amigos já que era tão
diferentes um do outro. E foi pensando nisso que eu decidi me
aproximar do carrancudo e me sentei no braço do sofá, deixando
que minha perna encostasse em sua mão que estava apoiada ali.
— O seu amigo é muito engraçado — comentei, sorrindo
quando ele me encarou. — Você deveria aprender com ele.
— A sua amiga é muito educada — retrucou, dando um gole
em seu refrigerante. — Você deveria aprender com ela.
Aika, sentada do outro lado de Dominic, fez com que sua
bebida espirrasse pelo nariz e arregalou os olhos para mim num
pedido de desculpas. Balancei minha cabeça, indicando que ela
podia ficar tranquila, pois eu não estava chateada, e apertei o ombro
do jogador, sentindo-o se retesar.
— Eu adoro quando você me maltrata. — Levei a mão até o
cabelo dele e arrumei um fio solto que estava caído sobre a sua
testa. — Você fica tão sexy nesse papel de antipático...
Eu não me lembrava de alguma outra vez na minha vida em
que eu tinha sido tão insistente com algum homem. Geralmente, ou
eles chegavam em mim ou eu dava o primeiro passo, mas sempre
marcava um ponto. Tudo bem que meu padrão nunca foi tão alto
quanto um Dominic da vida, mas eu pegava caras bonitinhos e não
costumava levar nenhum fora.
Aquele filho da mãe ficava me instigando a ir mais além,
mesmo que minha dignidade gritasse para que eu o deixasse quieto
e esquecesse de sua existência. E o pior de tudo era que estava
gostando de provocar o atleta e deixá-lo irritado até que me olhasse
daquela maneira, como se estivesse prestes a me enforcar.
— Norah, para onde o Carlos foi? — Aika perguntou, olhando
ao redor. — Ele simplesmente sumiu.
— Não seria o nosso amigo se não fosse assim — respondi. —
Foi embora, talvez.
Existiam, de fato, altas probabilidades de que Carlos tivesse
simplesmente ido embora sem avisar. Ele costumava fazer isso. Ia
para onde queria na hora que desse vontade, sem dar satisfação
para ninguém. No começo, assim que o conhecemos, deu muitos
sustos na gente. Tinha uma história muito boa, inclusive, de uma
vez em que tínhamos chamado a polícia porque Carlos havia
evaporado no meio de uma festa, e um dia depois, ele apareceu
dizendo que tinha ido com uma garota para a cidade vizinha.
— Falando em ir embora... — Dominic murmurou, batendo as
mãos nas pernas. — Essa é a minha deixa.
Como assim? Não fazia nem uma hora que chegamos naquela
casa e ele queria encerrar a noite? O quarterback fez menção de se
levantar, colocando um sorriso murcho no rosto, e eu me ocupei de
impedir que isso acontecesse. Deixei que minha bunda
escorregasse pelo couro do sofá e caí em cima dele, passando uma
perna para o lado e me sentando de frente para o gostoso.
— Você não pode ir agora — murmurei, fazendo beicinho e
apertando seus ombros. — Mal chegamos. Aika e eu não
conhecemos ninguém e não queremos ficar sozinhas.
Por um segundo, o corpo inteiro de Dominic ficou tenso, e ele
pareceu chocado com o fato de que eu estava sentada em seu colo.
Seus olhos azuis focaram em mim e seu maxilar parecia travado
enquanto o loiro me escrutinava com muita calma. Eu podia sentir
meu coração bater mais acelerado com toda aquela proximidade e
precisei engolir em seco para dissipar a vontade que me deu de
colar minha boca na dele.
— A festa só está começando — murmurei.
— Essa é a sua maneira de me prender aqui? — perguntou
ele, arqueando uma sobrancelha. — Quanto você pesa?
Provavelmente menos do que eu pego na academia. Posso me
levantar com ou sem você em cima de mim, Norah.
— Será? — Também arqueei minha sobrancelha para parecer
ameaçadora. — Eu comi bastante hoje. Mais do que o normal. E
você jogou muito, deve estar fraco.
A seriedade de Dominic ruiu por alguns milésimos de
segundos quando eu notei um sorriso querer se formar em seus
lábios, mas o loiro conseguiu se controlar muito bem e não perdeu
a pose.
— Joguei muito? — questionou, esticando seus braços sobre o
encosto do sofá. — Não era você que não entendia ou não gostava
de esportes?
— Lá no estádio, ela perguntou pra gente qual a função de um
quarterback — dedurou minha amiga e eu a encarei. — Desculpa,
foi engraçado, Norah. Eu continuo te amando.
O corpo abaixo do meu começou a tremer com a risada de
Dominic e eu estiquei minha mão para dar um tapa em Aika, aquela
lingaruda. O jogador fechou os olhos e os apertou enquanto ria da
minha cara, mas se ele achava que eu me importava com isso,
estava muito enganado.
— A pessoa quer dar em cima de um quarterback e nem sabe
o que ele faz... — murmurou, voltando a abrir os olhos e me fitar. —
Eu esperava mais de você, Norah. Não fez o dever de casa todo?
— Não pretendo entrar em campo com você, Davis —
respondi, tocando seu peito duro. — Só quero entrar no seu quarto.
O homem suspirou, voltando a ficar sério e me encarando por
tempo demais em silêncio. Eu pensava em soltar outra indireta
quando, sem nenhum aviso, Dominic me agarrou pela cintura e se
levantou comigo, colocando-me no chão com delicadeza antes de
ajeitar a camisa amarrotada.
— Vejo você por aí — disse ao se virar de costas e sair em
direção à porta.
Aika levou as mãos à boca e tentou, sem nenhum sucesso,
abafar a risada, até que me olhou e ergueu a mão com o polegar
virado para baixo como se indicasse que eu havia me dado mal.
Uma boa filha da mãe, se divertindo às minhas custas, mas eu não
estava triste.
— Não se preocupe, ele vai voltar... — Sorri e abri minha mão
esquerda para mostrar a ela o que havia ali.
Na minha palma, estava apenas a chave do carro de Dominic.
Eu me orgulhava muito por ter a mão leve e o loiro nem havia
percebido o momento em que levei meus dedos ágeis para dentro
do bolso de sua calça e puxei o chaveiro arredondado. Talvez ele
estivesse mais focado em manter o autocontrole comigo em seu
colo ou eu apenas era muito boa mesmo.
— Norah, você não presta. — Aika riu, balançando a cabeça.
— Ele vai ficar furioso, estou ansiosa.
Dei um sorriso triunfal e coloquei a chave do carro dentro do
meu sutiã. Se ele a quisesse muito, teria que pegar, pois eu não a
entregaria por vontade própria. Queria testemunhar o jogador sair
um pouco de sua zona de conforto, se descontrolar com alguma
coisa que não fosse um passo ou uma jogada errada dentro de
campo.
Fui até a cozinha pegar uma nova cerveja e estava focada em
procurar de novo o abridor, já que dessa vez, Peter não estava ali
para usar seus dentes, quando senti alguém parar ao meu lado.
Pela forma como os meus pelinhos da nuca se arrepiaram, eu não
precisava me virar para descobrir quem era.
— Resolveu voltar? — perguntei, bem cínica.
— Cadê a minha chave, Norah?
Então eu girei meu corpo para encarar a beleza loira diante de
mim, que com raiva ficava ainda mais deliciosa. De braços
cruzados, Dominic passou os olhos pelo meu corpo antes de trazê-
los até o meu rosto e pressionar um lábio no outro.
— Ela está comigo — confessei.
— Isso eu percebi minutos atrás. Agora, a devolva para mim.
— Hum... — Sorri, lhe entregando minha garrafa. — Pode
abrir, por favor?
Pensei que Dominic fosse se recusar, já que eu estava com
um objeto pessoal muito importante para ele, mas o atleta
simplesmente aproximou o gargalo da camisa e usou o tecido para
abrir com a própria mão, me devolvendo em segundos, sem
desfazer nosso contato visual.
— A chave — pediu.
— Então, você vai precisar encontrá-la — respondi, tomando
um gole da cerveja. — E vou dar uma dica: talvez precise tirar
minha roupa para isso.
— Eu não estou brincando, Norah.
— Nem eu — disse, sorrindo e passando por ele, esbarrando
de propósito em seu braço antes de me encaminhar para os fundos
da casa.
Devagar, sabendo que o loiro me seguia, abri caminho entre as
pessoas até as portas de vidro que tinha avistado anteriormente.
Quando cheguei na parte externa, me deparei com uma enorme
piscina. Algumas meninas estavam sentadas na borda com os pés
pendurados, mas dentro da água não havia ninguém. Ali do lado de
fora não estava tão cheio quanto o interior da casa, mas tinham
algumas pessoas espalhadas pelo gramado, bebendo e
conversando muito animadas.
Olhei por cima do ombro mais uma vez, tendo uma ideia.
Dominic desviou de um grupo de jovens e finalmente saiu da casa,
se posicionando ao meu lado.
— Cadê a chave do carro, Norah? — ele perguntou
novamente.
Ele logo ia descobrir, pensei, ansiosa. Enquanto o loiro me
encarava com os olhos estreitos para mim, tirei minha blusa e a
deixei cair aos meus pés, ficando apenas de sutiã. Dominic não
pareceu se surpreender nem esboçou reação, apenas encarou
meus peitos. Tirei meus tênis usando os próprios pés e, então
desabotoei meu short lentamente. O jogador continuou calado, me
observando como se esperasse o momento em que eu ficaria
pelada.
O vento frio da noite me atingiu e a minha pele toda se
arrepiou. Os olhos intensos de Dominic me fitavam, da cabeça aos
pés, produzindo um calor gostoso no meu ventre. Quando ele
finalmente voltou a me olhar nos olhos, eu dei um sorriso. Notei que
ele abriu a boca, mas a fechou e pareceu engolir em seco.
— Norah... — sussurrou, dando um passo à frente.
Eu recuei devagar, mantendo o sorriso convidativo, até me
sentir bem perto da piscina.
— Você vai ter que vir pegar — avisei e pulei na piscina.
Não gritei para não dar a ele o gostinho da minha derrota, mas
a água estava tão gelada que senti congelar meu cérebro enquanto
o choque percorria todo o meu corpo. Abafei o gemido, tirando os
cabelos molhados do rosto e rangendo meus dentes, aguardando o
frio passar. Quando me virei para Dominic, ele ainda estava parado
no mesmo lugar, com os olhos me fitando e havia algo de diferente
em seu semblante. Parecia quase enfeitiçado.
Depois de perder segundos me encarando sem tomar uma
atitude, Dominic finalmente reagiu. Para a minha surpresa, ele
começou a tirar a própria roupa. Primeiro, a camiseta azul, depois
os tênis, até por último, a calça jeans. Estava usando uma cueca
box preta que marcava bem o seu pacote. Não tive muito tempo
para analisar o tamanho porque logo em seguida, o loiro se jogou na
piscina, fazendo a água espirrar para todos os lados.
As meninas que estavam sentadas por ali se levantaram com
pressa, nervosas por terem se molhado um pouco. Ao nosso redor,
as pessoas começavam a nos observar, mas eu não me importava
com nada disso. Dominic estava só de cueca bem na minha frente e
eu queria transar com ele ali mesmo.
Ele deu um passo na minha direção, quase colando o corpo no
meu, e passou a mão pelos cabelos. Era impressionante a força que
o loiro possuía no olhar firme e tão intenso, que me fez estremecer
mesmo com ele em silêncio.
— Eu vou pegar a chave, Norah — sussurrou, encarando
meus peitos.
— É por isso que estou aguardando.
Eu sentia seu corpo retesado com a nossa proximidade, assim
como o olhar dele que queimava a minha pele. Dominic suspirou
pesadamente e manteve os olhos naquela região, que subia e
descia rápido por conta da minha respiração ofegante. Eu não
estaria daquele jeito se não fosse a ansiedade que me consumia.
Então, as mãos largas me tocaram na altura das costelas e o
loiro me puxou para mais perto, deslizando os dedos para o alto e
apalpando as laterais do meu sutiã. Ele os trouxe para a frente
lentamente, parecia que estava mais aproveitando do que realmente
procurando a chave, até que seus polegares roçaram meus mamilos
que estavam em evidência, pois a lingerie não tinha bojo e o tecido
era bem delicado.
De todas as reações que eu poderia ter, eu ri. Não foi uma
gargalhada, mas não consegui evitar soltar uma risada que logo
abafei, mas não sabia de onde tinha saído. Acho que a ansiedade
com o nervosismo me tirou um pouco do eixo e eu reagi daquela
forma estranha, só que isso também fez com que Dominic saísse do
transe em que tinha entrado. Ele piscou e me encarou, mudando o
tipo de toque e logo enfiando dois dedos em pinça no vão entre os
meus seios, capturando a chave.
Aproveitando a gravidade da piscina, eu não o deixaria
escapar daquela forma. Portanto, antes que o loiro conseguisse
pensar e agir rápido, me deixando ali sozinha, eu envolvi meus
braços ao redor do pescoço dele e colei nossas bocas com pressa.
Para a minha surpresa, ele não recuou nem tentou me afastar,
apenas afastou os lábios para me receber. A minha língua tinha
acabado de encontrar com a dele, quando um grito muito próximo,
seguido de muita água espirrando sobre nós dois, acabou com o
momento.
Carlos emergiu com os braços abertos, gargalhando.
— Todo mundo para a piscina! — gritou.
Foi o suficiente para que as pessoas que estavam ali perto se
empolgassem com o convite. Alguns pularam de roupa mesmo,
enquanto outros começavam a se despir antes de mergulhar.
À minha frente, Dominic deu um passo para trás, se afastando
de mim. O clima tinha acabado e agora ele parecia ter voltado a si.
Com um último olhar em minha direção, se virou de costas e saiu
sem dizer nada. Observei-o deixar a piscina e pegar suas roupas no
chão rapidamente, entrando na casa logo em seguida.
Suspirei, decepcionada, e então lancei um olhar de ódio a
Carlos. Se não fosse por ele, eu estaria beijando Dominic agora
mesmo e, em alguns minutos, estaria levando ele para um quarto lá
em cima.
— O que foi? — perguntou meu amigo naquela cadência lenta
dele.
— Eu te odeio!
Sem dizer mais nada, virei de costas e saí nadando pela
piscina, que agora estava lotada. Vesti minha roupa sem me
preocupar em me secar, torci meus cabelos ensopados, então entrei
na casa. Sabia que Dominic devia ter ido embora, então fui procurar
por Aika, torcendo para que minha amiga estivesse cansada e doida
para voltar para nossa irmandade.
Era um saco só conseguir encontrar com Dominic na aula de
Ciências Comportamentais Sociais, mas além da minha rotina
naquele semestre ter ficado mais puxada, o jogador também era
quase inacessível e a maioria dos treinos do Crimson Tide estavam
fechados para o público naquelas primeiras semanas. Pensei em
mandar uma mensagem para o jogador, mas eu só tinha o seu e-
mail, e isso era tão ridículo que desisti da ideia. O melhor era
esperar pela aula na terça, ainda que me corroesse de ansiedade.
Com um sorriso no rosto, eu me sentei ao lado dele, que
estava de cabeça baixa, focado na leitura de um livro.
— Bom dia — murmurei, sorrindo.
Dominic levantou o olhar para mim. Eu esperava que ele fosse
ficar um pouco desconcertado ao se lembrar do selinho na festa,
mas não. Apenas me fitou como se nada tivesse acontecido, com
aquele seu jeito básico de ignorar o mundo à sua volta.
— Você não é mais minha dupla, sabia? Pode sentar onde
quiser.
— Eu estou sentada onde quero — respondi, aproximando
meu rosto do dele. — Melhor do que isso só se eu estivesse
sentada em você.
— As suas cantadas funcionam com algum outro cara? —
perguntou quando o professor entrou na sala. — Elas são péssimas,
Norah. Talvez você deva melhorá-las.
— Eu tenho uma muito boa! — Pisquei, apoiando a mão no
braço dele quando suspirou. — Dominic, sua boca tem duas
línguas?
O loiro franziu a testa, confuso.
— O quê?
— Só responda sim ou não.
Ele ainda pareceu pensar um pouco.
— Sua boca tem duas línguas? — repeti, ansiosa.
— Não...
— Quer ter? — Abri meu sorriso e passei a ponta da minha
língua pelos lábios. — Eu te empresto a minha.
Ele tentou permanecer sério e merecia alguns pontos por isso,
mas então, precisou abaixar a cabeça enquanto ria, tentando ser
discreto e levando a mão ao rosto. Encarei o professor na frente da
sala, que ainda não tinha começado a aula, e me ajeitei na cadeira,
satisfeita por ter arrancado alguma reação do carrancudo.
— Não acredito que ouvi isso — murmurou, com o rosto
vermelho de tanto rir. — Você não existe.
— Eu existo e posso provar — respondi, deslizando meus
dedos pelo braço forte. — Posso provar onde você quiser.
— Não tem nenhum outro indivíduo nessa sala que você
queira pegar? — perguntou ele, olhando na direção das outras
fileiras. — Seria ótimo dividir esse fardo com outra pessoa.
— Mas eu já te peguei.
— Eu não me lembro disso.
— Na festa, querido. — Sorri quando Dominic estreitou os
olhos. — Nos beijamos. Você estava bêbado para ter perdido a
memória?
— Foi um selinho muito fajuto, Norah — ele respondeu,
sorrindo de volta. — Não acho que isso conta. Você não me pegou e
nem vai pegar.
Pisquei quando o dedo dele tocou a ponta do meu nariz como
se estivesse falando com uma criança, então o jogador se ajeitou e
se virou para frente, empurrando o livro para o lado e abrindo o
notebook.
Talvez Dominic não soubesse, mas eu era muito competitiva e
adorava um desafio. No entanto, precisava pensar nas minhas
próximas abordagens. O que percebi no sábado foi que ele não
recuou quando o beijei, pelo contrário, acho que a situação se
desenrolaria muito bem se não tivéssemos sido interrompidos pelo
mergulho de Carlos. Então, o que eu entendia era que Dominic
devia ser tímido para chegar em mim e aguardasse o momento
certo para investir.
Quando a aula começou, decidi dar um tempo nas brincadeiras
e prestar atenção, mas só quando senti a mão do jogador pousar
sobre minha coxa, eu me dei conta de que estava balançando a
perna de forma enlouquecida. Era mesmo uma mania minha quando
me sentia ansiosa e, muitas vezes, fazia sem perceber.
— Mais um pouco e você vai sair andando — sussurrou o loiro
ao meu lado, mas sem tirar os olhos do professor. — Está me
distraindo.
— Você tem uma pegada boa — retruquei, inclinando minha
cabeça para o lado. — Quer subir os dedos um pouco mais?
Imediatamente, Dominic tirou a mão da minha perna. Ele
pigarreou e, por um segundo, pareceu ficar desconcertado. Um leve
abalo em sua pose de durão.
Mordi os lábios, satisfeita, e abri o caderno para desenhar um
pouco e tentar relaxar. Não havia nenhum motivo real para ficar
daquele jeito, pelo menos, nada que envolvesse minha vida
estudantil. Talvez, tivesse ligação com Dominic e eu, ou melhor, com
a minha obsessão pelo cara que me ignorava o máximo que
conseguia. Só me faltava começar a sofrer crises de ansiedade por
causa disso.
A aula tinha acabado quando finalizei o desenho. Era uma
reprodução bem pobre do que eu me recordava do estádio onde
assisti ao jogo no sábado. Ao meu lado, senti que o quarterback
recolhia seus pertences e imediatamente, pensei em me apressar
para poder segui-lo e puxar mais assunto, porém, respirei fundo e
grudei minha bunda naquela cadeira. Hoje, não.
— Não vai levantar? — perguntou Dominic, em pé ao meu
lado.
— Daqui a pouco — respondi, guardando o meu caderno, mas
sem nenhuma pressa. — Até terça.
Pensei que ele fosse dizer algo, mas apenas se virou e me
deixou para trás. Quando coloquei a mochila sobre o ombro direito e
saí da nossa fileira, a pessoa que vinha subindo atrás de mim
esbarrou em meu braço e nossos celulares caíram no chão. O meu,
por sorte, com a tela virada para cima.
— Merda! — O rapaz passou para o meu lado e se abaixou
para pegar os dois aparelhos, entregando o meu e conferindo o
dele, que não sofreu nada. — Desculpa, você entrou na minha
frente e não deu tempo de desviar.
Encarei o moreno alto de olhos verdes e sorri, percebendo que
minha cegueira por causa de Dominic não me permitiu ver que havia
outro gato naquela sala. Não era absurdamente lindo quanto o
jogador que parecia irradiar uma luz própria, mas era bastante
atraente.
— Ah, tudo bem — respondi depois de pigarrear. — O que
importa é que não quebrou a tela.
— Sabe o que significa quando duas pessoas se esbarram e
derrubam os celulares? — questionou ele e eu só balancei a
cabeça, em negativa. O moreno sorriu. — Que elas devem trocar os
números de telefone.
Ele estava dando em cima de mim e isso era tão gostoso que
senti minha boca quase se rasgar com o tamanho do sorriso que se
formou em meus lábios. Eu não seria louca de não passar meu
número para ele porque se havia algo que eu nunca desperdiçava,
era uma boa paquera.
— Norah? — Meu corpo retesou com a voz atrás de mim,
quase em meu pescoço, e eu me virei para ver Dominic parado com
as mãos nos bolsos da jaqueta, semblante sério e olhos fixos no
moreno. — Você vem?
Vou aonde, criatura de Deus? Foi o que quis perguntar porque
achava até que o jogador já tinha ido embora, mas engoli minhas
palavras e o observei com atenção. Tudo em sua postura indicava
que estava marcando o território e foi delicioso perceber que o
intocável quarterback parecia estar com ciúmes do que rolava ali.
Se eu não tivesse me dado uns segundos para raciocinar, teria
simplesmente saltitado até ele, agradecida por interferir. No entanto,
eu sabia que não podia abrir mão daquela ceninha de ciúmes. Por
isso, virei-me de novo para o rapaz de cabelos escuros e ofereci
meu celular a ele. Parecia um pouco pálido enquanto observava
Dominic numa postura predatória demais para alguém que nem
ligava para mim.
— Anote o seu número e eu faço contato — falei, piscando e
sorrindo. — Qual o seu nome?
— Thomas — respondeu ele enquanto digitava com pressa. —
Você, pelo visto, é a Norah.
Senti o corpo de Dominic grudar atrás do meu, mas ele não se
intrometeu na conversa, como se apenas quisesse amedrontar a
pessoa que dialogava comigo. E o Thomas realmente o encarou,
arregalando levemente os olhos e recuando um passo depois de me
entregar o celular.
— Cara, assisto todos os seus jogos — murmurou ele para o
loiro. — Arrasou na temporada passada e tenho certeza de que vai
levar o Bama pra final. — O moreno olhou de Dominic para mim. —
Vocês são amigos ou...
— Amigos — respondi.
— Ou — Dominic respondeu, ao mesmo tempo que eu, a coisa
mais incoerente possível.
Pressionei meus lábios para evitar questionar o jogador na
frente de Thomas e respirei fundo. Quando este apertou a alça de
sua mochila e voltou a me encarar, deu um sorriso amarelado e
ergueu a mão num aceno.
— A gente se vê por aí.
— Eu te ligo! — avisei quando ele já se afastava e então, me
virei para Dominic. — Ou? O que significa “ou”?
O gostoso ainda olhava na direção das costas de Thomas, que
finalmente passou pela porta e nos deixou sozinhos na sala vazia.
Quando os olhos do loiro encontraram os meus, ele esboçou uma
expressão de tédio e suspirou, começando a andar para a saída
sem me esperar.
— O que foi isso, Dominic Davis? — perguntei, apressando
meus passos. — Você tentou flopar a minha paquera ou estou
enganada?
— Já vi esse cara em algumas festas e é um babaca —
murmurou, sem me encarar, caminhando ao meu lado. — Ele pega
qualquer uma que dê mole, leva pra cama e depois descarta.
— E foi por isso que eu dei meu número de telefone pra ele! —
retruquei, dando um soco no braço do loiro, que parou quando
chegamos na calçada. Pela forma como me encarou, parecia que
eu falava em latim. — Acha que estou procurando casamento? Eu
só quero fazer sexo gostosinho.
Dominic abriu e fechou a boca, arqueando as sobrancelhas
atrevidas. Claro que eu não acreditava no papo de que tentou me
proteger de um possível babaca, sabia que tinha sido uma pequena
crise de ciúmes, que ele nunca assumiria. E tudo bem, eu
conseguiria jogar com o pouco que tinha.
Não sabia se acontecia apenas comigo ou se Norah tinha esse
efeito em todas as pessoas, de tirar o raciocínio delas e fazê-las se
sentirem à beira da loucura. A garota era uma metralhadora
ambulante e sempre que eu tinha algo a dizer, ela aparecia com a
resposta pronta.
O pior era que havia conseguido se impregnar na minha
mente, pois desde a noite de sábado, eu não parava de pensar nela.
Mais precisamente, na sua boca atraente.
A primeira coisa que fiz quando entrei no apartamento ao
voltar da festa, tremendo de frio por causa da roupa molhada, foi ir
direto tomar um banho quente. E ali debaixo do chuveiro, acabei me
masturbando enquanto pensava na garota de um metro e meio, que
gostava de provocar e que tinha se esfregado no meu colo. Foi um
momento complicado para mim, ter que me controlar para não ficar
excitado no meio da festa, precisei usar toda a minha concentração
para não permitir que meus hormônios falassem mais alto. As
pernas finas pressionadas contra a lateral do meu corpo e aquelas
mãos pequenas e muito rápidas me tocando como um polvo, quase
destruíram meu autocontrole impecável.
Como se não tivesse sido péssimo o sofrimento no sofá, ainda
mergulhei na piscina com a filha da mãe, nervoso por ter que
arrancar a chave de dentro do sutiã dela. Mas tudo bem, eu
entendia que o culpado de estar naquela situação, era eu mesmo,
afinal de contas, podia ter capturado a chave a qualquer momento,
sem que precisasse esperar Norah entrar na água.
Só quando pensei melhor em cada segundo da noite é que me
dei conta de que eu quis aquilo. Quis deixar que ela flertasse e,
principalmente, eu quis que chegasse o momento em que teria que
tocá-la para pegar a chave do carro. Eu até mesmo desejei o beijo,
constatei, horrorizado, enquanto deslizava os meus dedos pelo meu
pau duro, sentindo a água morna escorrer pela minha pele.
Quis saber como ela me tocaria ao me beijar e como seria a
textura dos seus lábios sedutores. Eu quis...
Ah, porra! Encostei-me na parede de azulejos e fechei os
olhos, alisando minha glande e me sentindo estremecer. Desde que
conheci aquela filha da mãe provocadora, tinha perdido as contas
de quantas punhetas bati pensando nos olhos escuros e intensos.
Por qual motivo Norah vinha tirando a minha paz? Queria
entender para saber o que fazer, pois era uma incógnita para mim.
Depois de anos recebendo cantadas de líderes de diversas
irmandades conceituadas, driblando investidas das estudantes
consideradas mais gostosas da faculdade, tinha que prestar atenção
justo numa garota franzina, desbocada, cachaceira e
completamente aleatória? O que o destino tentava me mostrar com
isso? Havia algum significado que eu estava deixando passar?
Perguntas que não vinham com respostas prontas e, naquele
momento, eu nem queria mais me preocupar com nada do tipo. O
orgasmo chegou e o gozo se misturou à água conforme escorria
pelos meus dedos até o chão. Eu me mantive parado por uns
segundos, curtindo a sensação gostosa que ainda dominava o meu
corpo, e fui aos poucos me permitindo relaxar antes de dar
continuidade ao banho.
Naquela noite, consegui não pensar mais em Norah, forçando
o meu cérebro a se ocupar com os próximos jogos e estudar
algumas matérias do curso até que o sono me atingisse por
completo.
No domingo, que costumava ser um dia sem nada para fazer,
eu fui almoçar na casa dos meus pais, como havia prometido na
noite anterior. Como acontecia quase sempre, o encontro começou
tranquilo, pude matar a saudade da minha mãe, atualizá-la de
algumas coisas sobre minha rotina, mas no final da tarde, o estresse
surgiu.
Meu pai sempre queria jogar. Sempre. Usava qualquer
oportunidade de estarmos juntos para irmos ao jardim e jogar um
pouco. Deveria ser uma brincadeira saudável entre pai e filho — e
assim era na minha infância —, mas Henry Davis era tão
competitivo quanto eu e acreditava que estava numa final de
temporada quando tinha a bola nas mãos.
Meu pai não era apenas bom jogador. Ele era fenomenal.
Havia sido um dos maiores da NFL e possuía um histórico invejável,
que eu mesmo desejava para mim quando me tornasse profissional.
O problema, era sua idade. Obviamente, meu rendimento era muito
melhor do que o dele. Eu tinha mais disposição, mais agilidade e
mais força. Então, quando ele se reunia comigo para uma simples
brincadeira de passe de bola, achava que precisava competir para
ver qual dos dois lançava mais rápido e mais forte.
O que era para ser uma brincadeira acabava gerando
discussões e eu perdia a paciência muito rapidamente. A parte boa
de morarem perto da universidade, era justamente eu poder bater a
porta e ir embora, para depois ouvir sermões pelo celular, além de
minha mãe choramingando que a gente sempre brigava.
Naquele domingo, eu realmente senti falta de Norah. A
facilidade que ela tinha de distrair qualquer pessoa seria muito bem-
vinda quando eu estava de cabeça cheia, e por pouco, não mandei
um e-mail para a garota. Só consegui me controlar porque acabei
me distraindo com Peter e outros colegas do time, nos reunindo
para jogar sinuca.
— E foi por isso que eu dei meu número de telefone pra ele!
Acha que estou procurando casamento? Eu só quero fazer sexo
gostosinho.
Interrompi meus devaneios quando meu cérebro processou
aquela última frase. Norah me encarava emburrada, mas sua
expressão que prometia me dar uns socos no nariz não me causava
medo algum. Ter me intrometido na conversa dela com o tal de
Thomas não foi algo que previ, apenas aconteceu, e na hora, eu só
senti que precisava me impor e deixar que ele entendesse que eu
estava bem ali. Não significava que eu estava a fim da garota, não
era isso. Mas sair da sala e descobrir que ela não havia me seguido
nem estava no meu ouvido tagarelando como sempre, me fez sentir
sua ausência. Para a minha surpresa, quando abri a porta para ver
por que estava demorando, flagrei o cara dando em cima dela de
forma descarada. Derrubar o celular só para pedir o telefone de uma
garota? Fala sério!
Não que Norah parecesse incomodada. Pelo contrário, ela
demonstrava estar muito à vontade enquanto se derretia em
sorrisos para o babaca, e eu me perguntei como conseguia ser tão
cara de pau. Estava há poucos minutos batendo aqueles cílios
volumosos para mim e bastou eu me virar de costas, para aceitar
ser cortejada por outro. Inacreditável.
— Não sabia que gostava de ser usada — comentei a primeira
coisa que me veio à cabeça, pois precisava dizer algo depois de
ouvir sua contestação.
Ela falava de sexo de uma forma muito natural e, pelas coisas
que dizia, era de se esperar que transasse com bastante frequência.
Tudo a respeito de Norah indicava que eu devia me manter o mais
longe possível dessa confusão, mas ali estava eu, aguardando pela
próxima frase espirituosa ou por alguma cantada barata.
— Usada? — Ela bufou e revirou os olhos antes de cruzar os
braços. — Vocês homens, são tão machistas. Por que não pode
passar pela sua cabeça que, talvez, seja eu quem esteja usando?
Comecei a caminhar na direção de onde meu carro estava
estacionado, sabendo que ela me acompanharia. Para isso,
precisava andar a passos mais curtos e provavelmente, chegaria
atrasado na próxima aula, estava saindo dos trilhos uma vez na
vida.
— Você usa os caras, então? — questionei, rindo. — Diz que
vai ligar no dia seguinte e depois some?
— Não necessariamente. Se o sexo for bom, não há problema
em repetir. — Ela deu um passo em falso, mesmo estando de tênis,
mas se equilibrou antes que eu a segurasse. — Para isso, existem
os amigos com benefícios.
— Hum, entendo. — Quantos amigos ela tinha naquele
campus, afinal? — O Carlos é um... desses?
Destravei as portas do meu carro quando nos aproximamos,
mas me encostei no automóvel ao me virar de frente para Norah,
que agora tinha uma expressão debochada. A garota então, caiu na
gargalhada, balançando a cabeça e fazendo o rabo de cavalo se
mover rapidamente. Era longo e liso, quase impecável, e eu senti
vontade de tocá-lo para descobrir como se encaixava em meus
dedos.
— Não, Carlos é só um amigo comum. Mas por que você está
perguntando coisas que com certeza também faz? — Sua
sobrancelha direita se arqueou. — A sua fama no campus o
precede, Dominic. Eu soube que destrói várias calcinhas e corações
por aí.
— Mesmo? — Sorri, me divertindo com o boato. — E o que
dizem a respeito da minha performance?
Norah pareceu pensativa por uns segundos, com o olhar
perdido no horizonte.
— Pois então... Não ouvi detalhes sobre isso — declarou.
Eu olhei ao nosso redor, observando o estacionamento cheio
de carros, mas sem ninguém passando por ali além de nós dois.
Estávamos ao ar livre, a pouco mais de trinta metros do prédio de
onde tínhamos saído, e não havia a menor possibilidade de
qualquer pessoa ouvir nossa conversa.
Normalmente, eu descartaria rapidamente a ideia, até porque
nunca senti necessidade em sair espalhando a notícia. Da faculdade
inteira, a única pessoa que sabia era Peter e mesmo assim, eu tinha
contado somente há alguns dias. No entanto, algo em Norah me
fazia querer revelar minha condição, soltar logo a verdade e ver
como ela reagiria sobre isso.
Pensei mais um pouco enquanto encarava seu rosto delicado
iluminado pela luz do sol. Uma folha seca e amarelada caiu sobre
seus cabelos e ficou presa ali, naquele início de outono que
começava a enfeitar as ruas do campus. Eu estiquei minha mão
para tirá-la e a segurei entre meus dedos, observando seu formato
bonito.
— Há um motivo para você não ter ouvido nenhum detalhe
sobre minha vida sexual — murmurei, deixando a folha cair no chão
e voltando a olhar para Norah. — Quer saber o motivo?
— Você é gay, né? — Ela franziu os lábios, se aproximou mais
e tocou meu braço. — Negou naquele dia porque ficou
desconfortável, eu entendo, mas teria sido mais fácil ter dito antes
para que eu parasse de dar em cima de você.
Abri a boca para responder, mas Norah apontou o dedo para
mim, estreitando os olhos.
— Porém, se você for bi e quiser tentar uma coisa diferente...
— Ela piscou de uma forma nada elegante e sim, patética. — Eu
topo fazer um trisal com você e outro gostosão. Nunca experimentei
nada do tipo, mas eu acredito que estamos nessa vida para viver
intensamente.
— Norah! — Segurei seu rosto entre minhas mãos e o puxei
para cima, para que me encarasse e parasse de falar. — Eu sou
virgem.
— Legal! Eu sou sagitariana — respondeu, levando um dedo
ao queixo. — Nossa, você tem mesmo tudo a ver com seu signo.
Ah, meu Deus... Não imaginei que ela fosse entender errado.
Era tão efusiva, agitada e impaciente, que sequer digeriu o que eu
tentei dizer e saiu se atropelando. Deixei que se soltasse de mim e
pensei em como alguém daquele tamanho, tão pequena e frágil,
podia ser um grande acontecimento, pois não havia outra maneira
de explicar aquela garota.
Naquela manhã, estava mais arrumada do que o habitual,
vestindo uma calça preta e uma jaqueta jeans por cima de uma
blusa marrom, da mesma cor de suas botas. Nos lábios só havia
uma camada de gloss transparente e eu achava que as bochechas
mais coradas eram por conta do clima que tinha esfriado desde o
final de semana. No sábado, quando me beijou, sua boca não
estava coberta por nenhum tipo de maquiagem. Como seria o beijo
com gloss?
— Então, em que dia você nasceu? — perguntou ela.
— Dezenove de novembro.
Norah franziu a testa e levou as mãos à cintura.
— Eu tenho certeza de que não tem como você ser virginiano,
Dominic. O signo de virgem vai de agosto a setembro.
— Eu disse que sou virgem, não que sou virginiano —
declarei, sorrindo com um pouquinho de deboche. — Virgem, de
virgindade. Entendeu?
A garota mexeu apenas os olhos como se quisesse conferir se
havia alguém perto de nós, então abriu um sorriso safado e mordeu
o lábio, dando um passo mais à frente e colando o corpo no meu.
— É um fetiche? — perguntou, quase ronronando. — Eu
também devo me fingir de virgem? Ah, não, Dominic, você quer
fazer towchdown no meu hímen, não é? — Norah deu uma
entonação exageradamente sedutora na voz, como se estivesse
filmando um pornô.
Ela era a criatura mais absurda que eu já tinha conhecido.
Minha mãe infartaria se a conhecesse com essa boca suja.
— Você escuta as coisas que fala? — questionei, abrindo a
porta do meu carro, decidido a ir embora e encerrar aquele papo
absurdo. — Norah, não dá pra conversar sério com você.
— Comigo? — Ela levou a mão ao peito, chocada e
boquiaberta. — Foi você quem começou com esse assunto bizarro
de virgindade, eu só entrei na sua onda. O fetiche é seu.
— Não é fetiche — retruquei, entrando e me sentando no
carro. — Eu sou virgem. Nunca transei. Nunca fiz sexo. Entenda
como quiser.
Como Norah não estava no caminho, fechei a porta e ela logo
começou a bater na janela, com os olhos arregalados, até que eu
descesse o vidro e permitisse que se debruçasse ali.
— Tá zoando! Dominic! — Levou uma mão à boca e repetiu,
abafado: — Tá zoando!
— Estou?
Sorri e encarei os olhos escuros que ficaram vidrados nos
meus. Os segundos se passaram e a garota permaneceu em
silêncio, me encarando com um semblante visivelmente chocado.
Talvez tenham se passado um ou dois minutos e eu precisava
mesmo me apressar para não perder a próxima aula, mas estava
achando curiosa aquela reação.
— É a primeira vez que consigo deixá-la sem palavras —
comentei, acionando o motor do meu carro. — Estou impressionado,
mas preciso ir.
— Não! — gritou ela, arregalando ainda mais os olhos e
correndo até a frente do carro.
Quando percebi o que tentaria, travei as portas e me preparei
para acelerar, mas a louca parou e deu um tapa no capô, até dar a
volta e vir bater na outra janela.
— Abre essa porcaria pra mim!
Balancei a cabeça, negando seu pedido, pois não pretendia
dar nenhuma carona, mas Norah grudou o rosto no vidro, de um
jeito bem idiota que me arrancou uma risada. Respirei fundo,
alonguei meu pescoço, sentindo minha musculatura enrijecida,
então destravei as portas e ela entrou, se jogando no banco do
carona e soltando a mochila no chão.
— Você é virgem? — Decidi acelerar e sair dali quando a ouvi
quase gritar. — Não é uma pegadinha?
— Não.
— Como pode você ser virgem?
— Simples, eu nunca transei — respondi, fazendo uma curva,
sem encará-la. — Dessa forma, continuo virgem.
— Mas você é um grande gostoso.
— Não há nenhuma lei que impede uma pessoa gostosa de se
manter virgem — retruquei, quase sentindo a fumacinha sair da
cabeça dela.
— Seu pau é grande, Dominic — Norah declarou, me fazendo
soltar uma gargalhada. — Pelo menos, parece ser. Por qual motivo
você evitaria transar? Se tivesse um pau minúsculo, eu acreditaria
ser por vergonha, mas...
— Eu apenas não quis transar. Tinha outras preocupações na
cabeça.
— Na de cima? A de baixo é tipo... — Parei num semáforo
fechado e virei o rosto para ver Norah fazer uma careta e gesticular
como se fosse um zumbi. — Está em estado vegetativo? Você é
impotente?
Eu não me lembrava da última vez em que sentia minha boca
doer de tanto se alargar em risadas espontâneas, mas
simplesmente não conseguia permanecer muito tempo sério do lado
de Norah.
— Não sofro de impotência — tranquilizei-a, vendo sua testa
se franzir. — Ele sobe muito bem. Para onde está indo?
— Quê? — Ela piscou, parecendo atônita.
— Você está de carona. Para onde está indo?
Norah se deu conta de que estávamos em movimento e olhou
pela janela por alguns segundos. Eu a vi encolher os ombros e tirar
o celular do bolso da jaqueta, acionando a tela para ver as horas,
sem perceber que havia um relógio digital no painel do carro.
— Não sei... — murmurou, segurando a cabeça com as duas
mãos. — Estou meio desestabilizada. Eu nunca precisei desvirginar
ninguém. Tenho que... Tenho que estudar alguns materiais e talvez
assistir uns vídeos educativos e...
A doida simplesmente não desistia. Pensei que fosse recuar
quando soubesse da virgindade, mas parecia ainda mais empolgada
e ansiosa do que antes. E agora, era ainda pior, porque ela parecia
prestes a continuar me enchendo com um milhão de perguntas
sobre os motivos para que eu nunca tivesse transado.
Não podia ser verdade. Podia? Bem, Dominic não era uma
pessoa brincalhona, que gostava de pregar peças nos outros. Então
sendo uma informação que partia dele mesmo, se tornava difícil não
acreditar na veracidade da coisa. Mas era tão chocante imaginar
aquele espetáculo de homem como alguém que nunca tinha
transado, que eu me sentia meio abobalhada.
Enquanto dirigia, eu o observava com atenção. Sua beleza não
era comum, seu porte físico era impressionante e tudo nele exalava
poder e autoridade. Como conseguiu se manter virgem por tantos
anos, quando certamente, todas as garotas solteiras deviam dar em
cima dele? A época do colégio era uma fase em que os hormônios
entravam em ebulição e os garotos ficavam ansiosos para perderem
a virgindade antes da formatura. Ninguém queria chegar à faculdade
sem ter experimentado o sexo.
Qual era o problema de Dominic, então? Será que tinha algo a
ver com alguma religião? Queria se casar virgem? Ou será que era
apaixonado por alguém e tinha sofrido alguma desilusão amorosa?
— Eu posso sentir sua mente trabalhando a todo vapor. Norah,
não te contei isso para que seja um incentivo a mais pra você. —
Ele sorriu de um jeito aniquilador. — Nós não vamos transar.
— Claro que vamos. Por qual outro motivo você decidiu me
contar?
— Para que desista de tentar — respondeu ele, manobrando
para estacionar o carro. — Para que você entenda que eu me
mantive virgem por todos esses anos, não vai ser uma saia curta ou
uma sentada no meu colo, que fará com que eu resolva fazer sexo.
— Quer se casar virgem? É isso? — Cocei minha cabeça,
tentando entender aquele homem.
— Não. Quero que aconteça apenas quando eu me formar e
toda essa pressão do Draft tiver passado.
Era a primeira vez que eu me sentia numa saia justa com
Dominic, porque ele não fazia justamente a coisa que eu mais
gostava de fazer. Eu tinha vários planos formados em mente de
como seduzi-lo e fazer com que desejasse me levar para a cama,
mas agora tudo tinha mudado. Os virgens que eu conheci quando
era mais nova, só faltavam transar com as paredes e não
desperdiçariam uma oportunidade sequer. Dominic Davis era uma
rocha e não demonstrava estar à beira do precipício, ansioso para
fazer sexo pela primeira vez na vida.
— Entendi. — Engoli em seco, olhando pela janela, pensando
nos meus próximos passos. — Então... As pessoas não sabem?
— Só você e o Peter — disse ele, desligando o carro, e
quando virei o rosto, Dominic apoiou o braço no encosto do meu
banco. — Nunca vi necessidade de sair espalhando por aí.
— E não tem medo de que eu espalhe? Sério, eu não sei
guardar segredo.
Ele apenas encolheu os ombros, sorrindo.
— Nunca acreditariam em você. Eu sou Dominic Davis.
O jogador tinha razão. Se eu contasse para alguém, achariam
que eu estava louca ou era alguma garota que levou um fora dele e
começou a espalhar boatos pela faculdade. Olhando para o loiro
diante de mim, não dava mesmo para acreditar. Os olhos verdes
intensos e aquela boca atraente passavam uma imagem
completamente diferente.
— Olha, falando sério agora — murmurei, me ajeitando no
banco e endireitando a postura para ficar mais elegante. — Eu sou
experiente e seria muito paciente na sua primeira vez. Então,
acredito que seja a sua melhor opção, pois você vai poder perder a
virgindade, descobrir que o sexo é muito bom, e eu garanto que não
serei uma dessas garotas grudentas e apaixonadas que vão querer
namorar no dia seguinte. Nenhuma dor de cabeça!
— Você é muito bondosa, Norah — disse ele, sorrindo e
tocando a ponta do meu nariz. — Agradeço a sua oferta, mas
mesmo assim, eu passo.
Desejei montar em cima daquele loiro gostoso e roubar um
beijo, quem sabe uma punheta também, mas de repente, eu me
senti uma velha tarada que tentava tirar a virtude de um pobre
rapaz. Será que estava me tornando o tipo de pessoa que salva
vídeo pornô no computador? Meu Deus... Será que eu era a velha
que queria pegar o novinho?
— Quantos anos você tem? — perguntei, apavorada.
— Vinte e dois.
— Graças a Deus! — Dominic franziu a testa e eu sorri. —
Pensei que fosse mais velha, mas temos a mesma idade.
O atleta balançou a cabeça, se divertindo às minhas custas, e
eu percebi que nunca tinha visto o loiro tão sorridente num mesmo
dia. Quantas vezes ele tinha me mostrado os dentes daquela forma
desde que nos conhecemos? Com certeza, foram poucas. Até hoje,
quando parecia mais descontraído.
— Ser virgem não significa ser um adolescente, Norah —
comentou, estreitando os olhos.
Queria dar um beijo na boca dele e me esfregar em seu colo,
mas o despertador do meu celular tocou, me avisando que eu tinha
reunião com minha orientadora em dez minutos e estava bem longe
do prédio. Por isso, os amassos dentro do carro teriam que esperar
mais um pouco porque eu não pretendia me ferrar com minha tese.
— Não vou contar para ninguém, fica tranquilo. Mas agora eu
preciso ir, Dominic — avisei, abrindo a porta do veículo e saindo
com minha mochila.
Ainda me sentia atônita e tive que parar no meio do
estacionamento para me localizar e descobrir qual direção deveria
tomar. Atrás de mim, ouvi a porta do carro bater e vi algumas
garotas por perto, encarando com sorrisinhos apaixonados.
Nenhuma nunca soube o que é estar na cama com Dominic, então
como surgiram os boatos que o cercavam?
— Norah! — O jogador tocou meu ombro e eu me virei para
ele, que tinha seu celular em mãos. — Anote seu número aqui.
Segurei o iPhone de última geração e encarei o teclado,
digitando o que ele pediu e o devolvendo com pressa. Estava
surpresa por finalmente ter decidido trocar números comigo, mas
não quis demonstrar muito interesse.
— Do e-mail para o telefone, estamos evoluindo — zombei,
vendo-o revirar os olhos. — Que tal selarmos o encontro com um
beijo?
Dominic sorriu, guardando o aparelho e enfiando as mãos nos
bolsos enquanto recuava todo imponente e virgem.
— Isso não foi um encontro. A gente só estuda a mesma
matéria.
— Prefiro pensar que temos encontros marcados todas as
terças — respondi, acenando e me virando para tomar meu
caminho.
Estava muito ferrada, porque agora, mais do que nunca, eu
queria descobrir como seria Dominic na cama, porém, não sabia
com que armas lutar para conseguir o que tanto desejava. Quando
estava em território conhecido, lidando com homens safados que só
pensam e só querem sexo, era muito simples saber como agir com
eles. Mas o jogador estava localizado fora da minha zona de
conforto e, pelo visto, nada que eu fizesse conseguiria derrubar
aquela muralha que ele mantinha com resistência.

Eu tinha acabado de sair do banho, no final da tarde de quinta-


feira, quando meu celular tocou e eu não reconheci o número que
apareceu na tela. Sentei-me na cama, puxando a toalha que estava
enrolada nos cabelos, então atendi a ligação, colocando-a no viva-
voz para poder me vestir enquanto falava.
— Oi.
— Norah? — Era a voz de Dominic? — Tudo bem?
— Melhor agora — respondi, passando hidratante no corpo. —
Viu como eu sempre consigo o que quero? De alguma forma, estou
pelada enquanto conversamos.
— Está pelada?
— Acabei de sair do banho — expliquei, abrindo meu guarda-
roupas para escolher um pijama. — Achei que tivesse pegado meu
número só para enfeitar a agenda, mas que bom que eu estava
errada. Está com saudade?
— Há muitas chances de eu me arrepender disso, mas liguei
pra saber se você joga sinuca.
Nunca joguei e achava uma brincadeirinha bem chata.
— Claro que sim! — respondi, curiosa, largando o pijama e
esperando. — Por quê?
— Já jogou em dupla? — Fiz uma careta, sem nem saber que
isso era possível. — Uma galera do time está indo jogar e,
geralmente, faço dupla com Peter, mas ele tem um encontro esta
noite.
Eu não conhecia nem as regras da sinuca, mas ainda era
cedo, podia muito bem fazer umas pesquisas online e tentar me
situar um pouco para não ficar muito visível que eu não sabia jogar.
Só o fato de Dominic ter pensado em me chamar, era um
grande avanço e eu não podia desperdiçar a oportunidade.
— Que horas você vem me buscar? — perguntei, olhando
minhas opções no armário.
— Eu não sei se...
Opa, ele estava pensando até demais e isso não era um bom
sinal. Parecia em dúvida, bem ali na beira do abismo, e eu não
podia permitir que tivesse chance de voltar atrás.
— Me manda o horário por mensagem — pedi e encerrei a
ligação.
Joguei o celular sobre a cama e encarei minhas roupas,
decidindo por um vestido de lã curto, mas de mangas compridas,
num tom de caramelo lindo, e separei um par de botas pretas até os
joelhos, com saltos quadrados. Em seguida, peguei meu notebook e
procurei por vídeos sobre sinuca, para poder ouvir enquanto secava
meus cabelos.
Levou menos de quinze minutos para a mensagem de Dominic
chegar em meu celular, informando que ele me buscaria às
dezenove em ponto. Eu tinha duas horas para me arrumar e isso
era o suficiente para tudo que eu precisava.
— Norah! — Ouvi as batidas na porta antes de Aika abrir e
colocar a cabeça para dentro. — Está ocupada?
— Pra você eu nunca estou — respondi, ligando meu secador
na temperatura média e o agitando na direção dos cabelos.
— As meninas vão pedir pizza — disse minha amiga,
sentando-se na cadeira de frente para a minha cama e aumentando
o tom de voz por causa do barulho. — Vai sair ou quer descer pra
comer mais tarde?
Eu amava pizza e amava mais ainda passar um tempo com
Aika, mas tinha planos melhores para aquela noite.
— Vou sair com o Dominic. — Ela arregalou os olhos com a
surpresa. — Ele me chamou pra jogar sinuca com os amigos.
— Certo... — Aika franziu a testa, pois me conhecia muito
bem. — E desde quando você joga sinuca? O Joe tentou te ensinar
várias vezes e você nunca quis aprender.
— Eu nunca precisei me esforçar pra dormir com o Joe.
A ruivinha pegou de cima da minha escrivaninha uma folha de
papel que já estava amassada, fez uma bolinha e a jogou em cima
de mim enquanto ria.
— Ok, você não acha que está se esforçando até demais pelo
Davis? Eu sei que é gato, famoso e tal, mas será que isso não o
torna ainda mais inacessível? Todo mundo diz que ele trata as
garotas sempre com indiferença.
Soltei um pouco o secador desligado sobre a cama, pois
pesava muito e eu tinha um pulso fraco. Aika me encarava como se
estivesse mesmo preocupada com meu julgamento.
— Você pareceu bem confortável enquanto conversava sobre
assuntos de nerd com ele naquela festa — comentei só para
relembrá-la. — O Dominic só é muito fechado, mas não é um
babaca igual a maioria dos atletas.
Agora que eu sabia o segredo dele, entendia o motivo para
não dar confiança a ninguém. Ele apenas não queria se envolver e
sofrer distrações. Era uma lástima que eu tenha cruzado o caminho
do pobre rapaz.
— Ele foi legal comigo — murmurou Aika, encolhendo os
ombros e ficando vermelha. — Mas é porque eu não estava
tentando ir pra cama com ele, né? Dominic deve ter percebido isso e
conseguiu relaxar.
— Sim, porque normalmente todo mundo quer um pedaço
dele.
— Inclusive, você — ela retrucou, sorrindo muito cínica.
— Eu não quero um pedaço — avisei, ligando de novo o
secador para continuar com o trabalho. — Eu quero ele todinho,
como veio ao mundo.
— Ok, não vou mais tentar te contrariar. — Aika ergueu as
mãos em sinal de rendição. — Vai fundo, garota!
Eu ia mesmo, mas antes, precisava aprender o básico da
sinuca para não ser tão vergonhoso quando chegasse lá e tivesse
que pedir para Dominic me ensinar. Pretendia deixá-lo excitado, não
com vontade de me enforcar.
Enquanto esperava Norah aparecer, fiquei remoendo a loucura
que me levou a fazer aquele convite. Eu podia ter somente avisado
que não jogaria hoje porque Peter tinha outro compromisso, afinal
de contas, era só uma forma de passarmos o tempo e nos divertir
sem pensar em futebol. Não entendia ainda por que fui pensar
justamente na garota doidinha que agora sabia muito sobre mim.
Tudo bem que eu vinha me divertindo ao lado dela ultimamente,
mas levá-la para junto dos meus amigos, era passar dos limites.
Esperava não me arrepender da decisão tomada, mas só de
ver Norah se aproximar do carro, eu já me sentia fodido. O que tinha
acontecido para ela ter se vestido daquele jeito? Onde estavam as
calças jeans? Justo numa noite para jogar sinuca, precisava ter
escolhido um vestido curto que mais parecia uma camisa?
Suspirei, já me sentindo esgotado, e levei a mão à maçaneta
da porta para sair do carro e abrir a dela, porém, congelei meus
movimentos ao pensar que não deveria fazer aquilo. Não era um
encontro, eu não tinha que ser cavalheiro a esse ponto, pois ela
entenderia errado.
— Oi! — a garota me cumprimentou ao abrir a porta do
automóvel e se sentar ao meu lado. — Antes que reclame, eu não
me atrasei. Você chegou cinco minutos antes do horário marcado.
Assenti, tentando ignorar o perfume doce que entrou pelo meu
nariz. Meus olhos fitaram as coxas finas e descobertas, e subiram
até o rosto delicado. Norah estava com os cabelos soltos,
extremamente lisos e divididos ao meio, usava uma sombra que
combinava com a cor do vestido e tinha passado batom de um tom
parecido nos lábios. Havia investido no look enquanto eu estava
usando um jeans simples e um casaco do Crimson Tide,
extremamente básico para um dia de semana normal entre amigos.
— Sabe que estamos indo para um bar, não para uma festa,
né?
— E daí? — Norah deu de ombros e me olhou. — Fica
tranquilo, pois esta noite só você pode ter acesso ao parquinho de
diversões.
A filha da mãe esticou o braço e tocou a minha nuca com as
unhas, me deixando tenso enquanto eu ligava o carro. Respirei
fundo, apertando minhas mãos ao redor do volante, tentando
controlar meu corpo que sofria arrepios intensos. O toque era
gostoso e me fazia querer fechar os olhos para curtir uma sensação
diferente, ao mesmo tempo em que me deixava com vontade de
testar o mesmo gesto nela e descobrir se ficaria tão afetada quanto
eu.
— Eu não quero acesso nenhum, Norah.
— Então somos só amigos? — questionou, baixando o para-
sol do carro para se olhar no espelho.
— Sim. E parceiros na sinuca — respondi, respirando com
alívio quando ela puxou a mão que ainda estava em minha nuca
para ajeitar seus próprios cabelos. — Que bom que está começando
a entender.
— Combinado!
Fiquei um pouco desconfiado por ter aceitado e concordado
tão rapidamente, sem nem ao menos tentar retrucar ou soltar
alguma piadinha estranha como sempre fazia. Mas me ocupei em
achar uma vaga próxima ao bar e afastei esse pensamento, afinal,
era justamente isso que eu queria de Norah, que ela se
comportasse.
Quando parei ao seu lado, prestes a entrarmos no bar, notei
como os poucos centímetros dos saltos das suas botas faziam
alguma diferença em sua altura. Ela era tão baixinha que qualquer
coisa ajudava e agora, sua cabeça batia com tranquilidade em meu
ombro.
— Não conhecia esse lugar, apesar de já ter passado na porta
várias vezes — comentou quando entramos e passou na minha
frente.
Aproveitei para observar novamente as pernas nuas sem que
ela percebesse, aliviado por pelo menos as botas serem compridas
e esconderem metade de toda aquela pele. Toquei em suas costas
para indicar que seguisse comigo e fomos para os fundos do bar
que estava cheio naquele horário.
Existiam duas mesas de sinuca cercadas por mesas e
poltronas para a galera que gostava de ficar ali atrás jogando.
Alguns caras do Crimson já tinham se reunido e quando nos
aproximamos, notei os olhares mais para cima de Norah do que de
mim.
Mike, John e Eric eram os que estavam mais próximos, então
os apresentei primeiro a ela, antes de me virar para falar com a
namorada de John. Não me lembrava seu nome porque quase não
a encontrava, então nem tentei apresentar Norah para não me
colocar numa saia justa. As duas amigas que estavam com a garota
se levantaram para me cumprimentar com sorrisos animados
demais e bastou dois segundos de distração, para me virar na
direção de Norah e não a encontrar onde a deixei.
Corri os olhos pelo salão e vi a garota falando com outros
rapazes do time sem esperar por mim. Achei impressionante como a
pequena safada era comunicativa e extrovertida, fazendo amizade
com facilidade em qualquer lugar.
— Ela joga bem ou você só a trouxe porque está pegando? —
perguntou Mike, ao passar o braço pelos meus ombros.
— Não estamos nos pegando — respondi, notando sua
surpresa.
Não podia dizer que Norah era boa na sinuca porque eu não
fazia ideia disso e não queria falar nada que me comprometesse
depois. Quando contei sobre o jogo, a garota me pareceu muito
animada, então eu deduzi que sua experiência fosse suficiente para
não levarmos uma surra.
— Essa é uma ótima notícia — uma voz feminina sussurrou
atrás de mim e me virei para ver Sarah, da banda do Crimson, sorrir
antes de me abraçar. — Oi, Davis.
Ah, que saco. Era mais uma que vivia no meu pé, amiga da
namorada de John, e eu me cansava de dar foras educados nela.
Deviam me achar maluco, pois a garota era uma loira bem alta, com
seios enormes e lábios carnudos, que fazia quase todos os machos
do time babarem. Nunca senti atração por ela, e ao contrário de
Norah, de quem eu também fugia, com Sarah eu tinha zero
paciência.
— Que surpresa você por aqui — murmurei, frustrado, porque
na verdade ela ia quase todas as vezes em que nos reuníamos para
jogar.
— Vou torcer por você, como sempre. — Sorriu, alisando meu
braço, até que recuei e vi Norah se aproximar. — Onde está o
Peter? Por que ele não veio?
— Porque deve estar fodendo. — Desbocada e indiscreta
como era, Norah foi ouvida, provavelmente, por todos que nos
cercavam ali perto da sinuca. — Bem, eu torço para que esteja, né?
Sarah estava boquiaberta e com os olhos azuis arregalados na
direção da morena, que deu um soquinho no meu peito e abriu um
sorriso para mim, sem se preocupar em se apresentar para a loira.
— Precisamos falar sobre uma coisa muito urgente, então que
tal deixar o flerte pra depois?
Eu nem tive tempo de responder ou reagir porque Norah saiu
me puxando pela manga do casaco até nos afastarmos de todos.
Paramos perto da outra mesa de sinuca e ela se encostou ali,
cruzando os braços, pigarreando e erguendo os olhos para me
encarar.
— Então, me explica rapidinho como funciona o lance das
bolas.
— Que bolas?
— As da sinuca — respondeu, apontando para a mesa. —
Percebi que tem muitas cores variadas.
Eu estava sendo filmado? Parecia muito com alguma
pegadinha onde, de repente, algum amigo apareceria me zoando.
Levei alguns segundos refletindo sobre aquela pergunta e
observando a garota diante de mim, com uma expressão ansiosa.
— Quantas vezes na vida você jogou sinuca? — perguntei.
Norah cruzou as mãos na frente dos quadris e me lançou um
sorriso muito meigo.
— Zero vezes — confessou, então ergueu as mãos, tocando
meus braços. — Mas não se preocupe, eu tive tempo de ler um
pouco sobre o jogo antes de você me buscar.
Senti uma dor intensa no peito, mas sabia que era muito novo
para infartar, devia ser psicológico, pela preocupação que Norah
estava me causando naquele momento. Quando eu achava que ela
não conseguia ser mais cara de pau nem me surpreender, a garota
arranjava um jeito de mudar meu pensamento.
Peter e eu éramos uma ótima dupla e funcionávamos muito
bem juntos. Nossos jogos aconteciam com frequência, pelo menos
umas duas vezes por mês, e sempre rolava algum dinheiro como
prêmio. Meu amigo e eu ganhamos as três últimas partidas, mas
agora, eu acreditava que nem em último lugar conseguiria ficar.
— Norah, por que mentiu? — perguntei, sem ter muito o que
fazer. — Eu sou competitivo, gosto de ganhar.
— Ganharemos, pelo menos, experiência. — Ela continuou
sorrindo e apertando meu braço. — Confia, vai dar certo. Pode ser
que a gente dê sorte e eu me revele como uma... quarterback da
sinuca.
Senti muita vontade de colocar minhas duas mãos ao redor
daquele pescocinho e apertar um pouco, mas me controlei porque
tinha um futuro brilhante pela frente para sujá-lo com uma ficha
criminal. Como ainda estávamos aguardando a chegada da dupla
do Eric, aproveitei que aquela mesa do canto estava sem uso e
resolvi dar umas lições rápidas para Norah.
Escolhi um dos tacos disponíveis e usei o giz para dar uma
polida rápida na ponta dele, antes de me aproximar à beira da mesa
e observar as bolas arrumadas.
— Norah, venha aqui — chamei, entregando o taco para a
garota que parou ao meu lado. — Vou te ensinar, pelo menos, a
usar esse incrível objeto.
— Eu sei que basta bater com ele na bola — murmurou,
sorridente. — Vi uns vídeos.
Ela fazia parecer muito fácil, mas certamente não saberia nem
mesmo o jeito certo de segurar o taco e se posicionar para jogar.
— Ok, então me mostre o que aprendeu — pedi, estendendo
minha mão à frente. — Faça a sua tacada antes que nosso jogo
realmente comece. Quero ver se consegue me surpreender.
Norah revirou os olhos e encarou a mesa de sinuca, erguendo
o taco completamente sem jeito e o segurando como se fosse uma
espingarda. Quando se inclinou, sem tática alguma, meus olhos
foram atraídos para o traseiro que, por muito pouco, não ficou de
fora por causa do vestido curto. E então, Norah bateu na bola
branca e uma outra vermelha saiu voando pelo ar até cair no chão,
chamando a atenção dos meus amigos. Eu quis desistir do jogo
naquele momento, enquanto John gargalhava ao lado de Mike.
— Tudo bem que eu não coloquei nenhuma no buraco, mas
você viu minha força? — Ela parecia genuinamente empolgada. —
Que tacada incrível!
Com desgosto, peguei a bola do chão e a devolvi para a mesa,
encarando a garota que segurava o taco contra o peito e me
encarava como se estivesse cheia de orgulho de si mesma.
— Na sinuca, a força não é a melhor aliada, Norah — falei,
parando atrás dela. Levantei o taco e o apoiei na mesa. — Incline-
se, assim. — Fiz com que dobrasse o corpo, colocando sua mão a
aproximadamente um palmo de distância da bola branca e encaixei
a peça de madeira entre seus dedos. — Esse braço você vai dobrar,
deixando o cotovelo levemente arrebitado, e vai mover apenas o
antebraço.
Eu estava muito concentrado na explicação da melhor postura
para que ela jogasse, mas a baixinha safada tinha outros planos e
acabou rebolando na direção dos meus quadris, empinando o
traseiro e virando a cabeça para me olhar por cima do ombro.
— Se eu soubesse que você me ensinaria, tinha deixado pra
aprender tudo aqui mesmo.
— Bata na bola branca, Norah.
— Com você muito perto, é difícil raciocinar — ela sussurrou e
mordeu o lábio. — Desse jeito, com certeza, nós vamos perder.
— Está reclamando do contato? — perguntei, pressionando
mais o meu corpo contra o dela e apertando sua mão. — Como
você não sabe jogar, posso arranjar uma outra dupla.
Ela jogou a cabeça mais para trás, abrindo um sorriso, e sua
boca ficou perigosamente perto da minha. Por muito pouco, não a
beijei, mas deixei que sentisse meu hálito quando soltei um suspiro
e usei minha mão livre para tocar em sua cintura fina.
— Empurre a bola, Norah — pedi, roçando meus lábios em
sua bochecha. — Olhe para frente e use o taco.
— Não era bem este taco que eu gostaria de usar... —
murmurou e deu uma rebolada atrevida que me fez recuar, pois
tinha sentido um espasmo no pau.
A garota fez sua jogada, batendo contra a bola branca e
espalhando as coloridas, mas nenhuma entrou em qualquer caçapa.
Ela era péssima naquele jogo e nós dois seríamos a chacota da
noite.

Como eu esperava, ficamos em último lugar e eu saí do bar


sem os duzentos dólares que apostamos aquela noite. Parei na
calçada, esperando por Norah que tinha ido ao banheiro e aproveitei
para conferir as notificações em meu celular. Quando ela me
encontrou, eu estava me preparando para parabenizá-la por ser
péssima na sinuca, quando Eric apareceu com um sorriso cínico e
passou um braço pela cintura da garota.
— Ei, Norah, o que acha de sair comigo? — perguntou,
beijando o rosto dela de repente.
— Eu a estou levando para casa, Eric. — Dei um passo à
frente, pronto para intervir se precisasse.

— Ainda está cedo! — retrucou o linebacker[13] do Crimson. —


Prometo que não vai se arrepender.
Ele só podia estar de sacanagem com a minha cara. Como
tinha coragem de chamar para sair a garota que eu tinha levado
para a merda do bar? Por mais que tivesse dito que não estávamos
juntos nesse sentido, ainda assim era um desrespeito, pois Norah
tinha ido até ali comigo e voltaria comigo.
— Hoje eu estou cansada, mas podemos marcar outro dia —
disse a filha da mãe, sorrindo para ele. — Depois do jogo de
sábado, talvez?
— Você vai assistir?
— Acho que sim — respondeu, soltando-se dele e acenando.
— Faça um touchdown para mim e nós sairemos.
Mordi a língua para evitar gargalhar quando Eric me encarou,
sem entender nada, e eu apenas encolhi meus ombros, me fingindo
de desinteressado naquela conversinha barata dos dois. Com um
sorriso sem graça, o jogador assentiu e se despediu da gente antes
de atravessar a rua.
— Ele é do time de defesa — falei, atraindo o olhar de Norah.
— O que tem?
— Deixa pra lá. — Balancei a cabeça, com preguiça de
explicar algo que ela esqueceria no dia seguinte, já que não se
interessava pelo esporte, e comecei a caminhar na direção do meu
carro.
— Ei, Dominic! — a garota gritou nas minhas costas. — Dá pra
andar mais devagar?
Mantive meus passos na mesma velocidade, pois não estava
correndo, e quando parei diante do carro para destravar as portas,
percebi que estava tudo muito silencioso ao meu redor. Virei-me
para trás e notei que Norah tinha parado de me seguir, e agora,
caminhava na direção oposta à minha, devagar e prestes a
atravessar a rua.
Fechei novamente o meu automóvel e refiz o caminho, com a
impressão de que a mocinha estava se dirigindo para o mesmo lado
em que Eric tinha ido minutos antes.
— O que está fazendo, Norah? — perguntei, atravessando
atrás dela.
— Vou procurar outra carona já que você está me ignorando.
Ela era pequena e ficava engraçada quando andava a passos
curtos e rápidos, batendo os saltos das botas com força e raiva
contra o asfalto. Os cabelos escuros balançavam à medida em que
caminhava e o vestido curto parecia que subiria mais a qualquer
momento.
— Você vai me fazer tomar medidas drásticas! — avisei e,
quando a alcancei, a segurei pela cintura e a virei para mim. — Eu a
trouxe. Eu a levo.
Inclinei meu corpo para a frente e joguei Norah por cima dos
meus ombros, travando suas pernas com meu braço e sentindo
suas mãos agredirem minhas costas. Não me importava, ela pesava
muito menos do que eu costumava pegar de peso na academia, e
consegui ajeitá-la perfeitamente em meu colo.
— É sério que você está fazendo isso? — resmungou,
tentando beliscar a minha bunda. — Que bom que eu coloquei uma
calcinha nova, já que você decidiu mostrar minha intimidade para
todo o campus.
Merda, não tinha me dado conta disso. Imediatamente, usei a
mão livre para esconder sua bunda e bloquear qualquer visão que
poderiam ter de sua lingerie, enquanto apressava meus passos de
volta ao carro.
— Só pra constar, eu não a ignorei em nenhum momento.
Você é quem resolveu dar mole para todo o time de futebol esta
noite.
— Eu sou simpática, não tenho culpa se você não sabe o que
é isso — retrucou. — E mesmo assim, posso dar mole para quem
eu quiser.
Fiz uma coisa que eu nunca pensei que faria em toda a minha
vida. Dei um tapa em Norah. Na bunda dela. Não muito forte, foi
mais para tentar impor minha presença ou... sei lá, não sabia de
onde tinha surgido aquele ímpeto que não fazia parte da minha
índole.
Então a coloquei de volta ao chão quando chegamos no meu
carro e enquanto ajeitava os cabelos bagunçados, eu a encarei.
— Tem coragem de dar mole pra mim e pra todos os meus
amigos ao mesmo tempo?
— Eu sou solteira — respondeu, puxando o vestido para baixo
e cruzando os braços numa pose muito petulante. — E só pra
esclarecer, foi você quem me encoxou a noite toda.
Tudo bem, eu não me orgulhava disso. Me senti mesmo um
pouco ciumento aquela noite, porque Norah parecia muito animada
com o jogo e com a conversinha fiada que rolava entre ela e o
pessoal. Eric usava qualquer oportunidade para se aproximar
quando a garota se inclinava sobre a mesa, então eu sempre me
apressava para ficar atrás dela com a desculpa de ajudá-la a
segurar direito o taco. Não deixaria que qualquer idiota se
aproveitasse da situação, pois comigo, pelo menos, Norah já tinha
um pouco mais de intimidade. Já tinha sentado até em meu colo e,
com certeza, havia sentido minha ereção em outro momento. Se
alguém a encoxaria, então era melhor que fosse eu.
Fiz minha melhor expressão de chateada enquanto encarava
um Dominic ciumentinho e furioso. Não esperava que ele fosse ficar
tão incomodado, então foi uma grata surpresa vê-lo tentar marcar
território mais uma vez perto de mim. Ao contrário do que pensava,
eu não estava dando mole para todo mundo, aquele era apenas o
meu jeito. Tinha facilidade de interagir e me socializar com as
pessoas e esse meu jeito de ser muito faladeira podia passar uma
impressão errada para quem não me conhecia bem.
Confesso, eu gostava de saber que um homem tinha a
atenção presa em mim e que havia interesse em jogo, mas não
significava que isso era suficiente para eu querer ficar com a
pessoa. No caso daquela noite, claro que exagerei um pouco na
simpatia para dar uma lição no jogador, já que ele fez questão de
deixar claro para todo mundo que eu era apenas uma parceira de
sinuca. Afinal de contas, isso deu margem para que aquelas garotas
passassem a noite toda se jogando para cima dele. Então, se ele
podia atrair olhares e sorrisinhos, eu também podia.
Nós perdemos muito feio não somente porque eu não sabia
jogar, mas também porque o próprio Dominic estava mais
preocupado com quem chegava perto de mim do que com as bolas
que deveria encaçapar. Ele me lançava olhares duros e intensos
que indicavam o quanto de ciúme borbulhava naquele sangue, e
vinha destruindo aos poucos a minha calcinha.
Num determinado momento, quando eu tinha acabado de fazer
uma jogada e era a vez de Eric, o quarterback espalmou a mão
grande em minha barriga e me puxou para trás, para me tirar do
caminho do outro jogador, que teria que roçar em mim para passar.
Minhas costas se chocaram contra a dureza do loiro, que pareceu
crescer ainda mais atrás de mim, e me senti arrepiar inteira com
aquela pegada bruta. Era um desperdício que Dominic não fosse
uma máquina de sexo.
Agora, me jogar sobre o ombro como um verdadeiro troglodita
homem das cavernas, foi a maior das minhas surpresas. Desse
jeito, ele tinha se revelado um grande ciumento só porque percebeu
que eu não o seguiria. O jogador vinha se soltando cada vez mais e
eu estava ansiosa para descobrir quais seriam seus novos limites.
— Eu não a encoxei para me aproveitar de você — disse, todo
sério, com a mão na nuca. — Desculpe se fui inconveniente.
— Não peça desculpas. — Cutuquei o peito dele e sorri. —
Sendo você, eu permito. Mas aprenda que se somos só amigos,
isso significa que somos só amigos e eu tenho o direito de dar mole
para quem quiser, dormir com quem quiser, inclusive, posso até ir
pra cama com todos os seus amigos ao mesmo tempo, se quiser.
A última frase surtiu o efeito desejado quando vi os olhos
verdes se estreitarem com raiva e Dominic cresceu diante dos meus
olhos, tocando minha cintura e me empurrando para trás. Minhas
costas se chocaram contra o carro dele e suas mãos vieram parar
ao lado da minha cabeça quando as apoiou na lataria. Sua boca
cobriu a minha com força, mas o que me surpreendeu foi a mão que
tocou minha coxa e subiu por dentro do meu vestido, até alcançar
minha calcinha.
— Opa! — Dei um tapa em seus dedos e ele me olhou ao
trazer a mão de volta para o alto. — Está pulando muitas etapas,
Davis.
O loiro pigarreou, me encarando com os lábios entreabertos,
todo gostoso. Se estivéssemos a sós eu até teria deixado que ele
explorasse o quanto quisesse, afinal, não era tímida nem cheia de
pudor e convenhamos, minha calcinha tinha molhado tantas vezes
aquela noite, que uma dedada me faria muito bem. Só que apesar
de ser tarde, a rua ao redor do bar estava movimentada e Dominic
atraía muita atenção. Não queria que uma foto nossa com a mão
dele dentro do meu vestido fosse publicada pelas redes sociais.
— Eu não devia ter feito isso? — perguntou, franzindo a testa.
— Dependendo da situação e da garota, você poderia levar
uns bons tapas. Existe um caminho a percorrer até chegar à
calcinha. — Alisei seu peitoral que eu podia sentir o quanto era
definido mesmo por baixo do casaco e me estiquei para beijar sua
boca. — Deixa de ser difícil e me dá logo um beijo delicioso.
Por um instante, achei que fosse negar e voltaria a ser o
carrancudo de sempre, me dando alguma resposta atravessada e
me mandando entrar no carro. Mas então, Dominic passou a língua
pelo lábio inferior, observando meu rosto e grudando os olhos na
minha boca, segundos antes de me beijar.
Eu não sabia quanta experiência ele tinha com beijos, mas
fazia aquilo muito melhor do que eu esperava. Havia urgência, mas
também dedicação ao chupar meus lábios e me deixar ter acesso à
sua língua. Meu corpo esquentou quando o de Dominic grudou no
meu e suas mãos desceram pelos meus braços e me apertaram.
Ele gemeu contra a minha boca e pressionou sua ereção em mim
ao mesmo tempo em que movia nossos corpos para o lado.
Eu estava entregue, não sabia nem queria saber o que o
jogador tinha em mente, deixava apenas que me consumisse com
seu beijo intenso e molhado, até que entendi que ele tinha aberto a
porta traseira do carro para se deitar comigo no banco de couro
cheiroso.
Ok, talvez eu tivesse destrancado a jaula do leão esfomeado,
porque Dominic desceu a boca pelo meu pescoço, me beijando e
me chupando, com todo o peso de seu corpo enorme me
esmagando no banco traseiro do automóvel. De alguma forma,
mesmo sendo um espaço apertado para ele, o loiro conseguiu
afastar minhas pernas e esfregar a ereção em minha calcinha,
roçando com força e gemendo contra a minha pele.
— Dominic... — murmurei, tentando resgatar um mínimo de
consciência antes de entrar no modo tesão total. — Estamos na
rua...
— Eu preciso... — Ele fechou os olhos, sussurrando e
engolindo em seco ao levantar a cabeça e tocar meus lábios de
novo. — Me ajuda, Norah.
Os movimentos intensos e urgentes deixavam claro que ele
estava louco para gozar. Para um cara daquela idade e virgem, que
devia ter tanto tesão encubado e acumulado por anos, era de se
esperar que perdesse o controle tão rápido, por algo tão comum
como um simples beijo mais quente.
E eu não conseguiria impedir que ele chegasse ao orgasmo
porque sua expressão ansiosa me deixou tão encantada, que
comprei aquela loucura toda. Sabia que qualquer um que passasse
perto do carro veria as pernas de Dominic para fora, pois tínhamos
permanecido do jeito que caímos ali dentro. No entanto, ele era
grande e me cobria totalmente, não seria possível ver o que
realmente acontecia em detalhes.
Queria passar por aquele momento com o quarterback, queria
que ele tivesse essa primeira experiência comigo, por isso, deslizei
minha mão entre nossos corpos e apertei o volume em sua calça.
Ele abaixou o rosto, fechando de novo os olhos, com os lábios
entreabertos deixando escapar gemidos pesados.
— Nunca senti desse jeito... — murmurou com a respiração
ofegante e me encarou. — Não consigo me controlar.
— Não se controle. — Esfreguei a palma da minha mão no
volume endurecido e comecei a abrir o botão. — Goza pra mim,
camisa vinte.
Quando consegui ter acesso ao zíper do jeans, fazendo um
pouco de malabarismo para me mover embaixo daquele corpo, senti
o pau enorme querendo explodir da cueca e o apertei, tentando
masturbar o contorno delineado da cabeça quente, mas antes que
eu conseguisse puxar o membro para fora, Dominic começou a
gozar.
— Norah... — Ele soltou o corpo de uma vez, prendendo
minha mão entre os nossos corpos e enterrando o rosto no meu
pescoço, sem conseguir abafar os gemidos. — Ai, caralho...
Mesmo preso ainda na cueca, eu pude sentir o gozo dele
ultrapassar o tecido e tocar minha pele, enquanto Dominic se movia
devagar. Usei a mão livre para alisar seus cabelos macios, sentindo
meu coração acelerado com o que acabara de acontecer,
esperando alguns segundos até que o jogador levantou a cabeça e
me encarou.
A compreensão passou por seus olhos e logo ele pareceu se
tocar do que tinha acontecido e onde estava naquele momento.
Quando ergueu o tronco, eu pude ver a cueca molhada e senti
minha boceta piscar pela vigésima vez naquela noite. Suspirei
quando o loiro se levantou com pressa, abotoando a calça de
qualquer jeito e olhando para os lados, já estando fora do carro.
Eu me sentei sem a mesma urgência que ele e limpei minha
mão no vestido, ciente de que o Dominic carrancudo parecia ter
retornado.
— Sinto muito, Norah — disse quando se inclinou para dentro
do SUV e aproximou o rosto do meu. — Não sei o que aconteceu.
— Faltou às aulas de biologia? — Sorri, ajeitando os cabelos
dele. — Eu aceito você ser virgem, mas não aceito homem burro.
Dominic quase sorriu, mas conseguiu se controlar e franziu os
lábios enquanto corria os olhos pelo meu corpo.
— Estou falando sério — murmurou. — Isso não devia ter
acontecido, principalmente neste lugar. Foi a primeira vez que perdi
a cabeça e... — Fechou os olhos por um segundo e voltou a me
olhar. — Enfim, foi desrespeitoso com você.
— Nisso, nós dois concordamos — respondi, apertando as
bochechas dele e o empurrando para trás para poder sair do carro.
— Eu não lutei esses dias todos para que quando finalmente te
fizesse gozar, fosse na minha mão. Da próxima vez, precisa ser
dentro de mim.
Claro que não era nesse sentido que Dominic tinha se referido,
mas eu não perderia a oportunidade de deixá-lo sem palavras,
exatamente como agora. Afaguei o ombro dele e dei a volta para
acessar o lado do carona e entrar de novo no automóvel, esperando
que se juntasse a mim.
Quando se sentou à frente do volante e bateu a porta,
pigarreou e virou o rosto para me olhar.
— Não estava me referindo a esse tipo... de desrespeito.
— A gente deu uns amassos dentro do carro — comentei,
encolhendo os ombros e sorrindo. — É normal, acontece, todo
mundo faz. Pare de problematizar o momento.
Nos encaramos por um tempo e eu achava que Dominic tinha
algo mais para dizer, mas ele se manteve calado até voltar a se
ajeitar no banco, respirar fundo, e colocar o automóvel em
movimento. Eu decidi me manter quieta e não ficar soltando tantas
piadinhas porque entendia que era uma situação nova para ele, e
que poderia se sentir desconfortável com as brincadeiras. Nenhum
homem costumava se orgulhar por gozar na calça e eu imaginava
que para o jogador, podia ter um peso maior justamente por ser
inexperiente.
Ele dirigiu pelas ruas do campus, saindo daquela parte mais
movimentada e entrando na região onde se concentravam os
prédios de fraternidades e irmandades. Relaxei no banco,
observando minhas mãos pousadas no colo e invejando os dedos
que tiveram um final de noite muito empolgante.
— É melhor que a gente não se veja mais — declarou Dominic
ao fazer a curva na minha rua. — Você me desconcentra e extrai de
mim, sem que eu consiga controlar, a minha pior versão.
— Pra mim, é apenas a versão real, aquela que retrata um
jovem que gostaria de curtir a vida — comentei, observando seu
semblante tenso.
— Não é o lado que eu gosto de mostrar, Norah. Vamos nos
limitar às terças-feiras.
— Ok.
Quando Dominic parou na porta da Zeta, eu me preparei para
descer do carro, mas ele segurou meu braço quando fui tocar a
maçaneta.
— Estou falando sério — murmurou, me encarando.
— Você me chamou para sair esta noite — relembrei a ele,
arqueando minha sobrancelha — e foi você quem me jogou sobre o
ombro, quem bateu na minha bunda, quem me trouxe para dentro
do carro e quem ficou roçando em mim até gozar. Eu vou fazer a
minha parte, Davis.
Joguei um beijinho no ar antes de abrir a porta e saltei do
carro, caminhando pela calçada e entrando em casa sem olhar para
trás, só para que ele tivesse bastante no que pensar aquela noite.
Toda sexta-feira, véspera de jogo, nos reuníamos no centro de
treinamento e passávamos a tarde inteira na sala de projeção,
debatendo com os técnicos sobre a partida do dia seguinte e
assistindo gravações de disputas anteriores do Cincinnati Bearcats,
o time adversário. Era um momento de extrema concentração que
eu levava muito a sério, afinal de contas, era responsável por liderar
o Crimson até a vitória, mas naquele dia, minha cabeça estava
muito longe e eu temia que isso afetasse meu desempenho em
campo.
Não consegui dormir direito na véspera, depois que deixei
Norah na irmandade e fui para meu dormitório. Se Peter estivesse
lá, talvez eu tentasse desabafar com ele sobre o que aconteceu,
mas passei o resto da noite sozinho, forçando o meu cérebro a
idealizar diversas situações que poderiam ter ocorrido.
Durante todos esses anos, vivi momentos em que me senti
excitado, afinal, era humano e não conseguia controlar todas as
minhas emoções o tempo todo. Eu era afetado por situações
externas, por imagens, por pessoas, por mais que me esforçasse
em não interagir tanto com mulheres. Porém, aquela tinha sido a
primeira vez em que me senti completamente descontrolado, sem
conseguir recuperar as rédeas do meu corpo. O tesão que me
dominou foi tão intenso que eu cheguei a cogitar, por um segundo,
chutar o balde de uma vez por todas e implorar para Norah transar
comigo ali mesmo dentro do carro.
Não sabia dizer o que me levou a manter um mínimo de
raciocínio lógico e não chegar a esse nível, no entanto, não pude
evitar gozar. Foi um momento estranho pra caralho porque ao
mesmo tempo em que me sentia louco de tesão por aquela garota
diferente de tudo o que eu conhecia, também estava morrendo de
raiva e vergonha por passar por uma situação tão humilhante. Eu
sabia que era patético gozar assim, de repente, sem ter o controle
do próprio corpo e parecer um adolescente cheio de hormônios,
mas a necessidade foi mais forte do que a minha consciência e,
tudo o que eu desejava naquela hora, era sentir o orgasmo liberar a
dopamina pelo meu organismo.
Norah merecia um prêmio por ter sido compreensiva e ter se
entregado àquela loucura no meio do estacionamento, com a porta
do carro aberta, possibilitando que qualquer pessoa nos flagrasse.
Muito diferente da Norah destrambelhada e zombeteira de sempre,
a garota foi doce e atenciosa ao me apoiar, mesmo que eu
soubesse que estava adorando aquele acontecimento.
Não era um puritano. Apesar da virgindade, eu me tocava,
sabia me dar prazer, assistia alguns vídeos na internet, lia sobre o
assunto, enfim, fazia coisas normais que envolviam a sexualidade
de um adulto, a única exceção era o sexo. Mesmo assim, fiquei
chocado quando me levantei e percebi a cueca suja, a mão de
Norah toda melada, e ela ali, deitada no banco e me encarando
como se esperasse algo mais de mim.
Naquele momento, quando tive essa compreensão do que
realmente aconteceu, eu me senti um merda. Primeiro, porque
percebi o quão fraco eu fui logo na primeira vez em que me vi nessa
situação conflitante. Segundo, porque dei a Norah algo que eu não
pretendia dar novamente, e que a deixaria cheia de esperanças.
Mas então, eu consegui finalizar a noite de um jeito ainda pior,
dizendo coisas que não deveriam ser ditas daquela forma. Claro que
eu não queria deixar de ver a garota ou me afastar dela. Eu era
muito inteligente para entender que vinha a procurando nos últimos
dias simplesmente porque gostava da companhia dela. Eu estava
curtindo conhecer Norah, era a verdade, mesmo que não me
sentisse preparado para algo mais. Aquela era minha última
temporada no futebol americano universitário e eu precisava que
meu rendimento fosse excelente. Eu queria ser nomeado para o
Troféu Heisman[14], queria fazer história no Crimson Tide, queria
entrar para a NFL como a maior aposta daquela temporada. Não
tinha dado todo o meu sangue e suor durante anos da minha vida,
para chegar na última etapa e deixar que toda a glória escorresse
pelos meus dedos.
Deitado em minha cama, encarando o teto e repassando
minhas palavras na cabeça, eu me senti basicamente como
qualquer outro babaca que dorme com uma garota e depois quer
fingir que nada aconteceu. O que deu em mim para dizer que seria
melhor não nos vermos mais?
Eu acabei pegando meu celular e mandando uma mensagem
para Norah, e disse para mim mesmo que não me surpreenderia se
ela não respondesse. Porém, para minha surpresa, a resposta veio
alguns minutos depois.

Dominic: “Não quis fazer parecer que a culpa foi sua pelo que
aconteceu mais cedo. O descontrole foi todo meu.”

Norah: “Não foi mesmo minha culpa, mas eu te perdoo, Davis. Eu


sou irresistível, sei que não é fácil se controlar perto de mim.”

Fechei os olhos, sorrindo com a mensagem. O que aquela


pequena safada estava fazendo comigo, afinal de contas? Eram
quase meia-noite e eu agora pensava no rosto angelical com boca
bonita, o corpo delicado e a forma como o rabo de cavalo dela
balançava atrevido conforme andava.

Dominic: “Como pedido de desculpas, quer assistir o jogo de graça


no sábado?”

Norah: “Depende. Poderei pegar o quarterback no final?”

Dominic: “Não posso prometer isso, mas só para esclarecer, devo


avisar que não sou o único quarterback do time.”
Gargalhei quando ela mandou algumas figurinhas
demonstrando estar chocada com a revelação que fiz.

Norah: “Não me avisaram que tinham outros. Então você não é


exclusivo? Pode me mandar fotos dos demais, por favor? Preciso
avaliar e recalcular minha rota.”

Dominic: “Posso apresentá-la a eles sábado, se preferir. Amanhã


de tarde deixarei um par de ingressos em seu nome na portaria do
meu dormitório.”

Norah: “Um par? Porra! Agora estou me sentindo muito importante.”

Dominic: “Bem... Não é todo dia que jogo uma garota no carro e
gozo na mão dela.”

Ah, droga. Eu me arrependi daquilo assim que cliquei em


enviar, e não dava mais para deletar a mensagem porque ela já
tinha sido lida.

Norah: “Esteja preparado! Esse é o lema dos escoteiros. Estou


sempre à disposição, alerta e obediente. Sabia que já fui escoteira?”

Dominic: “Não consigo imaginar isso.”


Norah: “Pois imagine. Eu ficava uma gracinha dentro do uniforme. E
como eu sempre fui um pouco fofoqueira, ameaçava as tias da rua a
comprarem meus biscoitos ou espalharia os segredos delas.”

Dominic: “O orgulho do escotismo. Estou impressionado.”

Norah: “Foi uma época muito boa. Dei meu primeiro beijo de língua
durante um acampamento.”

Dominic: “Tenho certeza de que não era essa a intenção dos seus
pais quando a mandaram pra lá.”

Norah: “Acho que não.”

Realmente tentei visualizar a garota dentro de um uniforme de


escoteira, com aquelas trancinhas fofas e sorriso angelical, mas foi
muito difícil ligar essa imagem a que eu conhecia hoje. Enquanto eu
me distraía com esse pensamento, recebi uma foto de Norah
deitada na cama, mostrando apenas o rosto, com os olhos fechados
e os cabelos espalhados no travesseiro. Ela fazia um bico para a
câmera como se me mandasse um beijo e eu achei a coisa mais
linda do mundo.

Norah: “Pronta para hibernar. Boa noite, Davis. Sonhe com o calor
entre as minhas pernas.”
Dominic: “Durma bem, Norah. Provavelmente, sonharei com os
touchdowns de sábado.”

No fim das contas, não sonhei com droga nenhuma, porque


demorei mais umas duas horas para conseguir relaxar e pegar no
sono. Quando isso aconteceu, eu já estava tão cansado que
apaguei como uma pedra e só abri os olhos quando o despertador
tocou.
Por isso, passei as primeiras duas horas daquela reunião me
sentindo quase como um vegetal, sem conseguir me concentrar
muito bem. Felizmente, no fim da tarde McDowell nos fez uma
surpresa e chamou para a sala ninguém menos que o seu irmão
mais novo, que era um dos técnicos do New York Giants.
Obviamente, ele era alguém que todo jogador de futebol americano
da atualidade conhecia, visto que trabalhava num dos maiores times
da NFL, mas nunca tivemos a chance de ficar cara a cara com o
homem.
— E aí, pessoal? É um prazer estar aqui conhecendo vocês,
por isso aceitei o convite do meu irmão. — Mitchel McDowell sorriu,
com as mãos nos bolsos da calça. — Quem não gosta e não torce
alguma vez na vida para o Crimson Tide, não é mesmo? Não é à
toa que daqui, mais de dez nomes foram selecionados no Draft do
ano passado. E sabe qual a diferença de vocês para esses caras?
Ajeitei-me na cadeira, prestando atenção no técnico que
exalava poder. Ninguém ousava se mexer ou fazer qualquer
barulho, alguns jogadores tinham até largado suas canetas e parado
as anotações nos cadernos.
— Nenhuma diferença — concluiu Mitchel. — Vocês jogam
com raça. Sabem o que precisam fazer. Isso é ótimo, porque
nenhum técnico da NFL quer um jogador em seu time, que não
saiba o que precisa ser feito. Que não pensa em futebol. Queremos
jogadores com sangue nos olhos, com vontade de ganhar. Vocês
querem ganhar?
Segundos se passaram até que alguns murmúrios surgiram
em resposta, mas uma coisa bastante dessincronizada. O técnico
dos Giants arqueou as sobrancelhas e riu.
— É com essa disposição que pretendem entrar na NFL? —
perguntou, tirando seu boné. — Vocês querem ganhar, Crimson?
— Sim! — respondemos em uníssono, com maior potência
vocal.
— Então, amanhã, quando entrarem em campo com o
Bearcats, façam com que eles pensem na merda em que se
meteram. Deixem que pensem que o número de homens em campo
parece ter dobrado. Que a defesa está por todos os lados. Que os
atacantes se multiplicaram.
Eu estava mais do que preparado para passar por cima deles
e confiava que minha equipe faria um excelente trabalho.
— Amanhã, quando fizerem exatamente isso, você estarão
sendo notados — declarou Mitchel McDowell, levando as mãos à
cintura. — É neste momento que todos nós, técnicos e dirigentes,
estamos atentos. Mas só queremos os melhores. Vocês são os
melhores?
Gritos de vitória e aplausos se espalharam enquanto o técnico
sorria e acenava em despedida antes de voltar a se sentar para
deixar que Wolf começasse a discursar para o time de defesa e
estendesse a reunião até pouco além das dezoito horas.
Quando deixei o centro de treinamento com o Peter, passei na
recepção do meu prédio para deixar os ingressos de Norah e fui
com ele para o restaurante. Em vésperas de jogo, nossa
alimentação era controlada por um time de nutricionistas e
evitávamos sair da linha.
— Então, vai me dizer o que está rolando com a Norah? —
perguntou ele quando nos sentamos à mesa. — Nunca vi você
convidar ninguém para um jogo.
Todos os jogadores tinham direito de usar um número limitado
de ingressos a cada jogo, mas os únicos que eu usava eram os dos
meus pais. Era a primeira vez que eu fazia questão de retirar os
meus ingressos na administração para usá-los com quem não era
da minha família.
Assim que nos vimos essa manhã, contei a Peter sobre a
derrota humilhante na sinuca e precisei revelar o que aconteceu
depois disso, pois queria ouvir o ponto de vista do meu amigo. Ele
achou tudo natural para alguém que nunca tinha transado e
acumulava tanto tesão há anos, mas não conseguiu evitar rir
quando soube que gozei na cueca.
— Talvez eu esteja gostando, mais do que deveria, da
companhia dela — confessei. — Norah me diverte. Acho que... sua
peculiaridade torna tudo mais interessante.
— Acho que sua virgindade não vai durar muito. — Peter sorriu
enquanto se espreguiçava.
— Uma coisa não tem nada a ver com a outra. — O sorriso
dele aumentou. — É sério. Olha, só o que aconteceu ontem no carro
já foi suficiente para me desestabilizar pelo resto da noite e ainda
senti os efeitos hoje o dia todo. Não posso permitir que a situação
piore ainda mais.
— Não acha que tudo pode se resolver com uma transa? —
Peter se debruçou sobre a mesa para cochichar. — Dominic, pense
bem. A Norah é experiente, está doida por você, é gata e divertida.
E o mais importante, não demonstra querer se apegar. Ela é a
garota perfeita pra sua primeira transa, cara. Não desperdice essa
chance.
— E se eu me apegar? — questionei, notando a surpresa em
seus olhos. — Quem garante que depois da primeira vez, não vou
querer repetir?
— Mas por que você se apegaria? É só sexo!
O que Peter não entendia, era que estar em meu lugar tornava
tudo diferente. Eu não sabia o que esperar de nada, apenas me
baseava em achismos e conceitos vividos por terceiros.
— Eu não sei! — sussurrei, debruçando-me também na
direção dele. — Não conheço a minha versão pós-sexo, Peter.
Como vou reagir? O que vou sentir? Eu não sei. Andei sentindo
ciúmes da Norah esses dias...
Meu amigo se reclinou para trás até encostar na cadeira e me
encarou, com os lábios franzidos e uma sobrancelha arqueada. Não
gostei de sua expressão porque sabia que o que havia em sua
mente não podia ser nada bom.
— Ciúmes, né? — Sorriu. — Acho que você está a caminho de
se foder.
— Não quero pensar nisso até domingo.
Peter ergueu as mãos em sinal de paz e eu agradeci por
nossos pratos terem chegado, pois comecei a sentir fome logo
depois que a reunião começou. Por enquanto, encerraria a conversa
sobre Norah e tentaria não pensar na garota pelas próximas horas.
Tinha que me concentrar e ser o Dominic de sempre para trazer
mais uma vitória para casa.
A minha perna direita não parava de tremer enquanto eu me
forçava a manter meu corpo sentado na cadeira. O que eu queria
mesmo era levantar e xingar todos os nomes feios que conhecia,
mas estava tentando me manter plena.
— Isso não pode ser possível — Aika comentou ao meu lado.
Dominic tinha cumprido sua promessa de me dar ingressos e
eu levei minha melhor amiga para me fazer companhia. Ela, que era
realmente fã de futebol americano, surtou quando chegamos ao
estádio e descobrimos que os tickets nos davam acesso a um setor
VIP, localizado numa posição muito privilegiada.
Infelizmente, as coisas não estavam indo bem naquela noite. A
defesa havia deixado muitos furos que possibilitaram o avanço do
time adversário, que no momento ganhava com um placar de 25 por
11.
Aika estava tão tensa quanto eu. Ela roía as unhas
freneticamente e já tinha amassado o copo vazio de refrigerante,
além de usar todos os palavrões que eu conhecia.
— A gente não pode perder esse jogo — murmurou. — O
histórico do Bama está impecável até agora, não podemos sofrer a
primeira derrota.
Um garoto aleatório, que estava sentado na nossa frente, virou
o rosto e olhou para Aika, sorrindo para ela.
— Ainda dá tempo de virar. Nem tudo está perdido, confio no
Davis.
Minha amiga devolveu o sorriso e virou o rosto para mim.
— Você também confia no Davis, Norah? — Arregalou os
olhos, me provocando. — Espero mesmo que ele esteja com a
cabeça neste jogo.
Respirei fundo, procurando por ele na lateral do campo, pois
naquele momento era a defesa que estava jogando. Torcia para que
o que aconteceu na quinta-feira não fosse suficiente para
desestabilizar Dominic a ponto de fazê-lo jogar mal. Não que sua
performance da noite estivesse ruim, mas certamente, o rendimento
dele não parecia ser o mesmo do primeiro jogo que assisti. O
quarterback precisaria marcar mais touchdowns se quisesse ganhar
aquela partida.
Quando foi a vez do ataque voltar ao campo, eu me senti
nervosa. A tensão parecia tomar conta de toda a arquibancada
enquanto esperávamos pelo apito. Daquela posição privilegiada, eu
conseguia ver Dominic sem necessitar de um telão e percebia que
ele ficava extremamente gostoso dentro do uniforme.
O apito soou. Os jogadores desfizeram a formação e
começaram a jogar. Logo no primeiro passe, o quarterback teve
êxito em seu arremesso e lançou uma bola perfeita para Peter, que
já estava bem próximo à endzone[15] e não encontrou muita
resistência para completar o touchdown. Eu me vi comemorar os
pontos com Aika, gritando e pulando igual a todo mundo ao nosso
redor, como se fosse uma torcedora desde criancinha. Aquele jogo
era meio que viciante, só havia essa explicação.
Não tivemos muita sorte nas jogadas seguintes, que foram
todas interceptadas e fizeram meu coração se apertar vez ou outra,
quando eu via Dominic ser esmagado em campo por outros
trogloditas como ele. Mas quando o relógio se aproximou do fim,
todo mundo se calou, provavelmente tão tensos quanto os
jogadores.
Eu prendi a respiração, apreensiva, e dei uma última olhada
para o relógio. Era agora ou nunca. Nós precisávamos de um
touchdown ou iríamos perder. A jogada não começou tão longe da
endzone e eu não entendia muito das regras do futebol americano
para poder mensurar com exatidão, mas a bola foi parar na mão de
Dominic e ele começou a correr, furando o bloqueio por um milagre
divino. Eu nem sabia que isso era possível, sempre via apenas o
loiro lançar a bola para outra pessoa.
Ao meu redor, todo mundo, inclusive eu, se levantou em um
pulo, esperando pela jogada que nos traria a vitória. Meu coração foi
parar na boca e eu sentia que poderia desmaiar a qualquer
momento, cada vez que tinha a impressão de que Dominic teria os
ossos quebrados em algum impacto muito forte.
— Davis! — Começaram a entoar um coro na arquibancada.
— Davis! Davis!
Quis fechar os olhos, não achei que ele chegaria ao destino,
mas a multidão explodiu em gritos quando Dominic pisou no
gramado colorido da endzone e conseguiu marcar o touchdown. Ele
não só não caiu como ainda correu por aquele pedaço do campo,
com a bola erguida nas duas mãos para o público, antes de ser
esmagado pelos próprios companheiros de time. O que o filho da
mãe tinha de irritadinho, tinha de talento também, impressionante
como me surpreendeu naquela noite. Era um pecado que a gente
não pudesse comemorar com muito sexo.
— Isso aqui é Alabama, porra! — gritou o garoto que tinha
falado antes com a gente.
Por muito tempo, a arquibancada vibrou com gritos, pulos e
muitos celulares filmando a comemoração da vitória. No campo, os
jogadores se abraçaram, felizes com o bom desempenho. O clima
tenso passou, e agora todo mundo comemorava em êxtase. Só
depois de muitos minutos, quando o campo já estava vazio, a
multidão se acalmou e nos sentamos de novo para esperar aquele
frenesi da saída que fazia todo mundo se acotovelar.
— Isso foi emocionante — confessei, sentindo calor.
— Eu sinceramente não acredito que passei esse anos
falhando na tentativa de te arrastar para um jogo... — Aika
comentou. — E um homem conseguiu fazer isso em alguns dias.
Sem nem tentar!
— Trabalho com prioridades, queridinha. — Pisquei e joguei
um beijo para ela, pegando a minha bolsa. — Podemos ir?
— Está doida pra se atirar em cima do gostoso, né?
Balancei a cabeça em negativa. Ou pelo menos, em
fingimento.
— Claro que não. Depois eu o agradeço pelos convites. Hoje
eu só vim como espectadora.
— Aposto que se chamarem a gente para o after de novo,
você vai aceitar — comentou Aika, arqueando a sobrancelha ao se
levantar.
— Mas é claro que eu aceitaria. Afinal, eu nunca dispenso uma
festa.
— Até parece que esse é o único motivo — rebateu ela, rindo
enquanto saíamos da nossa área.
Eu dei de ombros e caminhamos em silêncio para fora do
estádio, ou melhor, eu fiquei calada, porque Aika estava muito
animada cantarolando uma música junto com outros torcedores que
se dirigiam para a saída conosco. Parecia algo como um hino do
Crimson Tide, alguma música que era popular entre eles, pois
muitas pessoas sabiam a letra, sendo que para mim, era
completamente desconhecida.
Do lado de fora, a praça estava abarrotada de barracas
vendendo comida e, como eu queria esperar um pouco mais, tive
uma boa ideia.
— Preciso comer alguma coisa — avisei, me dirigindo a uma
barraca de sanduíches.
Eu precisava de uma desculpa para enrolar um pouco mais ali
fora. Se fôssemos embora agora, não esbarraria com Dominic ou
com Peter e não seria convidada para a festa. Isso não poderia
acontecer. Mas eu não queria dar o braço a torcer na frente de Aika,
pois ela ficaria rindo da minha cara.
— Você acabou de comer lá dentro. — Minha amiga estreitou
os olhos para mim, já desconfiando.
— Eu quero comer mais. Estou em fase de crescimento, não
sabia?
Aika revirou os olhos, mas me seguiu e parou ao meu lado
quando comecei a escolher meu pedido no cardápio colado na
frente da barraca. Claro que eu escolhi a que estava mais próxima
da saída por onde passavam os jogadores, eu não era burra. Pedi o
maior hambúrguer que eles tinham e comecei a comer da forma
mais lenta que consegui.
— Eu acho impressionante como a força de vontade mexe
com a gente — murmurou ela, estalando a língua ao cruzar os
braços. — Depois do cachorro-quente que você comeu lá no
estádio, mais o copo de meio litro de refrigerante, e depois o saco
de pipoca, eu nunca imaginei que fosse sentir fome tão cedo.
— Hum... — murmurei enquanto mastigava, sentindo vontade
de vomitar porque não cabia mais nada no meu estômago. Quando
engoli, passei as costas da mão pela boca e sorri. — Minha barriga
estava roncando. O que posso fazer?
O que eu podia fazer era rezar para que Dominic aparecesse
antes que eu fosse obrigada a ingerir todo aquele sanduíche. Agora,
eu sabia que Aika estava se divertindo às minhas custas, ansiosa
para descobrir até onde eu conseguiria fingir.
Alguns minutos depois, quando eu me aproximava da metade
do hambúrguer monstruoso, ouvi a comoção ao nosso redor e me
virei para trás. Os jogadores começavam a sair do estádio e rolava
aquela empolgação por parte dos torcedores — mulheres eram a
maioria.
Esperei que a multidão dispersasse um pouco e joguei o resto
do sanduíche no lixo, sorrindo para Aika.
— Estou cheia — declarei.
— Você é ridícula. — Ela riu.
Eu sorri, lambendo os dedos sujos de ketchup, e me virei de
novo de costas para o estádio, segurando a mão de Aika e
gargalhando, enquanto dava alguns passos para trás, na direção de
onde Dominic e Peter caminhavam.
— Norah! — Senti mãos pesadas em meu ombro e imaginei,
pela voz, que fosse Peter. — Que coincidência você aqui fora.
Ao me virar de frente, vi a expressão zombeteira em seu
semblante e sorri para o jogador. Ao seu lado, Dominic apenas me
fitou, sem esboçar nenhuma reação, e atrás estava o infeliz que
ganhou na sinuca de quinta-feira, o Mike.
— Muita coincidência mesmo! — respondi, abrindo a boca, me
fingindo de chocada. — Mas que bom que a gente se encontrou,
pois eu precisava parabenizá-los pela vitória. Foi incrível!
Foi Mike que deu um passo à frente e passou o braço pelos
meus ombros.
— Valeu, gata! — disse ele, me lançando um olhar cheio de
interesse. — Estamos indo pra minha casa. Venham conosco!
Mordi os lábios para evitar o sorriso e forcei um olhar de
dúvida, como se estivesse pensando seriamente sobre o assunto.
— Não sei... — falei, soando o mais desanimada possível. —
Eu vim com a minha amiga, então só vou se ela quiser ir.
Se pudesse jogar um laser sobre mim, tenho certeza de que
Aika faria isso naquele momento. Só que assim como eu, ela era
uma safada que adorava festas e muita bebida, talvez não tanto
quanto eu, mas quase no mesmo nível. Eu sabia que não recusaria
o convite, principalmente sendo comemoração dos seus queridinhos
do futebol.
— Vamos sim — respondeu, colocando um sorrisão no rosto.
— Mas estamos sem carro.
— Eu levo vocês — disse Mike, apertando meus ombros antes
de me soltar e girar a chave na mão. — Vou só tirar umas fotos ali
que estão chamando e já volto.
Ele se afastou, assim como Peter que também foi atender a
alguns pedidos de fotos, mas Dominic permaneceu me encarando,
muito sério. Eu ouvi algumas vozes femininas chamando pelo nome
dele, mas o quarterback parecia mais interessado em ser
carrancudo comigo.
— O que está fazendo? — perguntou.
— Eu vou... hum... comprar um refrigerante ali naquela barraca
— Aika avisou, saindo de perto de propósito, é claro.
— O que eu estou fazendo? — perguntei em resposta a ele. —
Ué, você me deu convites, eu vim assistir o jogo. Posso te abraçar?
Queria dar os parabéns, você jogou muito.
De forma alguma eu pediria autorização para fazer alguma
coisa, eu perguntei apenas por educação, mas não esperei por uma
resposta. Precisei ficar nas pontas dos pés, mas como Dominic não
ajudou dando uma inclinadinha, o máximo que consegui foi tocar os
ombros dele com minhas mãos pequenas e grudar meu rosto no
seu peito.
— Tira uma foto comigo? — Do nada, fomos abordados por
uma garota com camisa do Crimson Tide.
Ela chegou praticamente enfiando na nossa cara a mão que
segurava o celular, passando um braço pela cintura de Dominic e
colando o corpo no dele quando recuei com o susto. Observei o
sorriso em seu rosto contrastar com a seriedade do loiro, que
permaneceu me encarando enquanto a fã batia a foto. Ele era um
doce de pessoa.
O problema é que essa garota acabou atraindo outras que se
amontoaram ao nosso redor, exigindo um pedaço de Dominic
enquanto apontavam celulares para a cara dele. Aguardei enquanto
o quarterback tentava atender aos pedidos, sempre com o mesmo
rosto sério e zero vontade de dar aquela atenção que solicitavam.
Quando finalmente foram embora, eu notei que Aika estava um
pouco distante, com um copo na mão, esperando o melhor
momento de se aproximar. Mike também estava voltando até nós e
Dominic franziu os lábios, cruzando os braços.
— Você vai de carona com o Mike? Sério mesmo?
— Ele foi o único a oferecer — respondi, encolhendo os
ombros.
— Vamos? — O outro jogador chegou tocando em minha
cintura.
Dominic Davis deu um passo à frente, parecendo ter crescido
mais alguns centímetros, então encarou Mike e tocou em minha
nuca ao me puxar para longe do outro.
— Ela vai comigo — avisou, me direcionando para o lado
oposto como se eu fosse uma bonequinha de pano. — Leve o Peter
e a Aika no seu carro.
Eu sairia em defesa da minha amiga, se não tivesse visto os
olhos dela brilharem de emoção por andar de carro com dois
jogadores gostosos. Eu também não tinha o que reclamar, pois
estava torcendo para que o loiro tomasse uma atitude e
demonstrasse seu jeitinho ciumento e possessivo que vinha
aflorando nos últimos dias.
Ele não esperou pela resposta do Mike, simplesmente
começou a caminhar, descendo a mão até o centro das minhas
costas e eu aproveitei o momento para abraçar sua cintura.
— O que está fazendo? — questionou sem me olhar.
— Você se importa? Considerando que não pretende dormir
com nenhuma mulher dessa universidade, acho que tanto faz o que
vão pensar ao vê-lo com a mais gostosa de todas.
— E essa gostosa seria você?
— Quando provar, você vai concordar comigo — respondi,
inclinando minha cabeça para o lado e o olhando.
Dominic me encarou e esboçou um sorriso que terminou com
uma risada fofinha, e o que me deixou surpresa é que eu tinha
certeza de que a pele dele estava avermelhada.
— Sei — murmurou. — Você está muito certa de que vou
provar.
— Se não vai, é melhor que não reclame quando eu permitir
que outros façam a degustação.
— E você teria coragem? — Dominic questionou quando
paramos ao lado de seu carro e ele destravou as portas, abrindo a
do carona para mim.
Eu ia entrar, mas parei e me virei, observando seu rosto bonito
que tinha voltado a ficar sério.
— Coragem de quê?
Ele encolheu os ombros, mas desviou o olhar e o focou em um
ponto atrás de mim.
— De dormir com outro mesmo pensando em mim.
Ele era tão fofo se achando o maioral! Eu me estiquei toda
para conseguir segurar seu rosto entre minhas mãos, puxando-o na
minha direção, então dei um sorriso e bati meus cílios para o
jogador.
— Meu cérebro pode até pensar em você, mas minha boceta
nem sabe o seu nome, querido. Ela leva uma vida independente.
Controlei a vontade de gargalhar quando os olhos de Dominic
voltaram a me fitar, levemente em choque, e o loiro demorou muitos
segundos para reagir. Talvez eu tenha causado pane no córtex
cerebral do jogador, que abriu e fechou a boca, depois coçou a
orelha e, por fim, pigarreou ao recuar um passo e menear a cabeça
para o carro.
— Entra logo, Norah.
Eu sorri como uma lady da alta sociedade faria e me sentei no
banco do carona, esperando até que ele fechasse a minha porta e
desse a volta pela frente do carro. Não me passou despercebida a
forma como ajeitou a calça antes de se sentar no volante e ligar o
motor.
Quando dei os ingressos para Norah, esperava só falar com
ela no dia seguinte, quando eu mandasse uma mensagem
perguntando se tinha gostado do jogo, mas até que gostei de vê-la
ali do lado de fora, fingindo que não estava me aguardando. Só que
eu não queria ter encontrado com ela justamente na presença de
Peter e Mike, principalmente porque a garota estava bem bonita
naquela noite.
Com uma calça branca muito justa e um cropped preto de
mangas até os cotovelos, boa parte de sua barriga lisa estava
exposta e os seios pequenos pareciam ter ganhado um volume a
mais dentro da peça que valorizava a região. O rabo de cavalo
enorme estava preso bem no alto da cabeça e hoje Norah tinha
usado delineador preto nos olhos, com as pontas dos traços
puxadas nos cantos.
Não consegui falar nada antes que Mike a abraçasse e a
convidasse para a festa. Isso mexeu um pouco comigo e me fez
querer arrancar a língua dele com minha mão, mas me controlei e
tentei entender a merda na qual estava me enfiando. Novamente, fui
atrapalhado por garotas querendo fotos comigo e só consegui ficar a
sós com Norah por muito pouco tempo antes que Mike nos
abordasse de novo.
Agora, enquanto dirigia até a casa dele, pensava o quanto eu
vinha permitindo que essa situação alterasse toda a minha rotina e a
minha cabeça. Não foi meu melhor desempenho da temporada e eu
tinha consciência de que as mais recentes atividades da minha vida
tinham influenciado bastante no meu rendimento. Uma das jogadas,
eu tinha certeza de que perdi porque me vi preso numa batalha
interna, lutando contra a vontade de levantar a cabeça e procurar na
direção da área VIP para descobrir se Norah estava lá ou não. Erros
como aquele não podiam acontecer de novo, porque eu precisava
ter meu foco cem por centro dentro de campo.
— O Peter joga em qual posição? — perguntou ela, ao meu
lado no carro.
— Ele é wide receiver — respondi. — Explicando de uma
forma que entenda, ele é aquele que recebe algumas bolas que eu
lanço para longe.
— E o Mike?
— Running back. Ele costuma ficar perto do quarterback para
receber a bola e correr com ela.
— Não tem medo de sofrer um acidente? — Norah perguntou
e eu senti seu olhar preso em mim. — Me dava um nervoso toda
vez que iam uns três caras direto pra cima de você.
Encolhi os ombros, ciente de que era a preocupação de muitos
e sempre o que mais chocava uma pessoa que não tinha o costume
de assistir futebol americano.
— Faz parte da profissão que escolhi — respondi. — A gente
aprende que nossa vida inteira pode mudar em um segundo dentro
daquele campo. A carreira de um jogador de futebol americano pode
ser muito curta, mas mesmo assim, todo mundo aceita correr o
risco.
— Seus pais não devem conseguir dormir direito com tanta
preocupação.
— Eles estão bastante acostumados. — Sorri ao olhar para ela
e ver o pavor em seu semblante. — Meu pai já passou por inúmeros
sustos quando jogava pela liga.
— E você nunca se machucou?
— Já sofri algumas contusões, mas nada grave... E o uniforme
é cheio de proteção também.
Ao entrarmos na rua da casa de Mike, comecei a procurar
vaga para estacionar o carro e diminuí a velocidade, de forma que
algumas pessoas que caminhavam pelas calçadas acabassem
notando a minha chegada. Percebi como eram curiosas a ponto de
encararem Norah sentada no banco do carona e sabia que logo
tentariam descobrir quem era a garota.
— Essas proteções, protegem também o seu pau, né? —
perguntou ela, atraindo de novo a minha atenção. — Seria
lamentável que ele sofresse um impacto muito forte.
— Ele está bem e saudável — respondi, sorrindo.
— Tipo da coisa que só acredito vendo — comentou a safada,
balançando o rabo de cavalo. — Não caio em qualquer papinho.
Finalmente encontrei um lugar para estacionar, mas antes de
girar o volante para entrar na vaga, levei minha mão até a nuca de
Norah e apertei meus dedos ali, puxando sua cabeça para o lado e
aproximando seu rosto do meu.
— Quer ver mesmo? — perguntei e a encarei quando
arregalou os olhos, com os lábios se abrindo num sorriso
empolgado.
Então, eu a soltei e não consegui controlar minha risada,
voltando minha atenção para a câmera de ré do carro enquanto
entrava com ele na vaga. Queria apenas provocá-la, visto que era
sempre ela que atirava o tempo todo em cima de mim e, muitas
vezes, me deixava até sem reação.
— Seu filho da mãe! — Recebi um tapa no braço. — Não faça
isso se não quiser ser agarrado!
Estalei a língua perante a reclamação e desliguei o automóvel
antes de me virar para Norah. Ela estava com os lábios franzidos e
parecia uma menininha fofa, para quem não a conhecia. Eu, no
entanto, conseguia imaginar as putarias que rolavam em sua mente
naquele momento.
— Que pegada foi essa, Dominic Davis? — perguntou,
abanando o rosto. — Meu coração até acelerou...
— Sou quarterback. — Sorri, piscando. — Tenho uma pegada
bem firme.
Ela sorriu, revirando os olhos e passando um dedo pelo meu
braço.
— E quando você vai me apresentar aos demais
quarterbacks?
Aproveitei para desafivelar o cinto de segurança e me inclinei
na direção de Norah, ganhando a impressão de que a menina era
mesmo muito menor do que eu. Com a mão esquerda, segurei seu
rosto, usando o outro braço para me apoiar no encosto de seu
banco. Eu agi antes que ela conseguisse raciocinar e a beijei com
fúria, roçando meus dentes no lábio inferior gostoso e o puxando
sem machucar, antes de soltá-lo para passar minha língua pela
boca entreaberta cheia de gloss. Tinha gosto de morango e quando
a beijei de novo, senti que o produto tinha sido transferido para a
minha pele, mas não me importei porque nada era mais intenso do
que o beijo daquela garota.
Precisei recuar o rosto quando senti que estava prestes a ter
uma puta ereção e não queria correr o risco de gozar na calça de
novo. Mas meu coração estava acelerado quando encarei Norah,
que abriu os olhos lentamente e mexeu os dedos pequenos que
estavam grudados no meu braço.
— Me diga... que você tem camisinha — murmurou ela,
suspirando e tocando um dos seios. — Eu não trouxe bolsa, só
documento, dinheiro e celular.
Meu olhar foi atraído para o movimento de sua mão e pude
notar que seus mamilos estavam duros e pontudos por baixo do
tecido fino do cropped. Mas não demorei a encarar Norah e ouvir o
que estava sugerindo.
— Não ando com camisinha, porque não transo e não
pretendo transar — justifiquei-me para ela, que revirou os olhos.
Ela fechou os olhos e se ajeitou no banco, batendo com a
cabeça no encosto.
— Deus, por que o Senhor está me fazendo passar por isso?
— murmurou, quase choramingando. — Eu prometo que vou rezar
mais a partir de hoje, mas não interfira na minha vida sexual.
— Está mesmo citando Deus e sexo na mesma frase?
Norah virou o rosto para mim, com a testa franzida, mas logo
estreitou os olhos e usou a mão pequena para me dar uns tapas no
peito. Nem força direito ela possuía, então tudo não passava de
uma distração cômica, porque pela sua expressão, eu tinha certeza
de que se achava uma lutadora de MMA.
— Claramente eu estou pagando penitência por algum pecado
cometido, então preciso conversar com Ele — reclamou,
continuando com os tapas. — Qual a lógica de colocar você no meu
caminho se não posso usufruir?
— Tecnicamente, foi você quem entrou no meu caminho,
quando quis fazer o trabalho comigo — consertei, segurando a mão
dela. — Eu estava quieto.
— Eu só me aproximei porque queria ir pra cama com você...
— Norah choramingou, puxando o braço e ajeitando seu rabo de
cavalo antes de abrir a porta do carro. — Você está estragando a
minha vida sexual, Davis!
Eu segurei-a pelo braço para impedir que saísse e a baixinha
se virou de novo para mim, sem entender. Apontei na direção dos
seus seios e ela acompanhou meu olhar em silêncio, antes de voltar
a me encarar.
— Não vai esperar que voltem ao normal?
— Com você os encarando? — questionou, sorrindo. —
Ficariam assim a noite toda, querido. Vamos logo, tenho certeza de
que, com exceção de você, todo mundo na festa já viu uns peitos
excitados de perto.
Precisei me calar para não estender o assunto, mas Norah
estava muito errada. Certa vez, depois que voltei de uma festa pós-
jogo uns dois semestres atrás, cheguei no apartamento e encontrei
Peter com duas garotas completamente nuas na sala. Eles nem
perceberam a minha presença e eu não fiz questão de me anunciar,
fui direto para o meu quarto. Porém, ao abrir a porta, encontrei mais
duas deitadas na minha cama, à minha espera. O idiota tinha
deixado que as garotas fossem para lá aguardar o meu retorno e
tive muita dificuldade de me livrar delas, pois não queriam sair de
jeito nenhum.
Por fim, precisei inventar que tinha comido alguma coisa
estragada e estava passando mal, sem disposição para transar, pois
meu amigo não sabia que eu era virgem naquela época. Por sorte,
eu não as achei bonitas o suficiente para perder a cabeça, mas
agora, enquanto trancava o carro e caminhava para a festa alguns
passos atrás de Norah, me perguntei o que teria acontecido se
fosse a morena baixinha no lugar das outras duas.
Eu conseguia me controlar perto dela, por mais que tivesse
dado uns escorregões vez ou outra. Mas teria a mesma resistência
se ela simplesmente aparecesse pelada em meu quarto?
— Me ajude a encontrar a Aika — pediu ela assim que
passamos pela porta, segurando minha mão.
Fiquei impressionado de ver como a festa estava mais cheia
do que o normal, era um mar de gente para todos os lados e se eu
não estivesse segurando os dedos de Norah, seríamos facilmente
separados ali na sala principal.
Minha altura me possibilitou encontrar a garota ruiva perto do
balcão da cozinha, conversando com Peter, então nos
encaminhamos naquela direção. De repente, Norah soltou minha
mão para correr e abraçar a amiga, sussurrando alguma coisa no
ouvido dela antes de soltá-la e procurar por uma bebida. Como era
uma pessoa que se resolvia com facilidade, não demorou a
aparecer com um copo de cerveja em mãos e um sorriso safado
para cima de mim.
O problema é que eu tinha me distanciado um pouco para falar
com Peter sobre como tinha sido no carro de Mike — estava curioso
para saber se ele falara de Norah — e no tempo que a garota levou
para se aproximar, uma outra me abordou com uma intimidade que
não existia.
— Eu disse pra minha amiga que ia conseguir um beijo seu
hoje à noite — murmurou, apontando na direção de outra que ria
sozinha. — É questão de honra, Dominic.
— Amor! — Norah falou alto demais, segurando meu braço e o
passando ao redor de sua cintura pequena. — Tem certeza de que
não quer beber nada?
Eu não esperava por aquela encenação, então demorei a
reagir, pois estava preso ainda na palavra “amor”.
— Quem é a mocinha que está dando em cima de você? —
perguntou Norah, encarando a garota que ficou pálida.
— Não sei o nome dela — respondi.
— Vocês... Vocês estão juntos? — questionou, franzindo a
testa e intercalando olhares entre mim e Norah. — Eu jurava que
você era solteiro.
— Estamos numa fase sem rótulos — respondeu Norah,
afugentando a menina que nem olhou mais para a minha cara.
— O que você acha que está fazendo? — perguntei.
Ela então me soltou e se virou de frente para mim, levando o
copo à boca por um segundo antes de voltar a sorrir. Esticou-se e
ficou nas pontas dos pés, usando a mão livre para se apoiar no meu
braço e aproximar o rosto do meu quando me inclinei.
— De nada. Acabei de te salvar de um sexo gostoso —
zombou, piscando. — A garota é bem gostosa. Deus o livre de ter
que suportar algo assim.
Eu estava prestes a dizer que Norah andava muito atrevida e
quase fazendo eu me arrepender de ter contado sobre minha
virgindade, quando duas mulheres passaram atrás dela,
conversando e gesticulando muito, e acabaram a empurrando para
a frente. Com o impacto, o copo em sua mão foi de encontro ao seu
peito e a cerveja caiu por sua blusa, escorreu pela barriga e molhou
até mesmo a calça branca.
Ela soltou um gritinho antes de colocar o copo sobre a
bancada e passar as mãos pela pele molhada.
— Mas que droga! Vocês não sabem olhar por onde andam?
— Ainda se virou para trás, mas as garotas nem estavam mais ali,
sequer perceberam o que causaram. — Ah, que inferno. Vou ficar
fedendo a cerveja.
Eu me inclinei na direção dela e inspirei profundamente,
sentindo o odor enjoado alcançar minhas narinas.
— Um perfume exclusivo — brinquei, enquanto Aika e Peter se
aproximavam e a amiga tentava consolar Norah.
Segurei sua mão e a puxei ao ter uma ideia para que não
passasse a festa inteira chateada e fedendo daquele jeito. Desviei
da multidão até alcançarmos a porta dos fundos da casa, saindo
para a área da piscina e a contornando até a extremidade do
terreno. Adiante, havia uma construção pequena de apenas um
andar, e a porta de vidro ficava camuflada atrás das árvores. Poucos
sabiam da existência daquele lugar.
Puxei minha carteira do bolso e tirei a chave que abria a
fechadura. Nada mais era do que uma suíte que funcionava como
quarto de hóspedes e Mike deixava a chave comigo, porque ele
achava que eu vinha para cá com mulheres, quando na verdade,
fugia das festas para jogar algum videogame.
Havia uma televisão de sessenta e duas polegadas com
Playstation, uma cama de casal, um sofá de dois lugares, uma
estante que funcionava como biblioteca da casa e um banheiro
pequeno, bem simples.
— Pode usar aquele banheiro sem pressa — avisei para
Norah, apontando para a única porta do cômodo. — Dá para se
limpar sem ter uma dúzia de outras garotas querendo fazer xixi.
— Olha só, ele é meu herói!
Revirei meus olhos quando ela sorriu e jogou um beijo no ar
para mim, antes de saltitar até o banheiro. Como não se deu ao
trabalho de fechar a porta porque, obviamente, queria me provocar,
eu me adiantei em baixar as persianas do vidro do quarto, para
impedir que quem estivesse do lado de fora visse alguma coisa aqui
dentro. Norah era louca, mas eu duvidava de que gostaria de ter sua
intimidade exposta nas redes sociais.
Esperava que ela se limpasse na pia, pelo menos passasse
um pano pela barriga, mas fui surpreendido quando ouvi o barulho
do chuveiro. A doida estava tomando banho e, por sorte, sempre
havia toalhas no banheiro.
Eu a ouvi assobiar um country famoso e me sentei no sofá
para esperar, resistindo à vontade de ir lavar as mãos e espiar
aquele banho. Decidi ocupar a mente navegando pelo Instagram e
respondendo alguns directs. Minha equipe de mídias sociais tinha
postado uma foto minha no jogo de hoje e isso gerou muito
engajamento.
De repente, vi a cabeça de Norah aparecer no cantinho da
porta do banheiro, e a garota parecia olhar pelo quarto, pensativa.
— O que foi?
— Dá para ver alguma coisa lá de fora? — perguntou e eu
neguei, notando seu sorriso aparecer. — Ótimo!
Dito isso, Norah simplesmente saiu do banheiro seminua,
vestindo apenas uma calcinha ridiculamente pequena, de renda
branca, que só tinha duas tiras muito finas nas laterais. Meus olhos
subiram do triângulo entre suas pernas para o restante do corpo até
focarem os seios pequenos, de mamilos marrons com aréolas
pequeninas como a garota. Meu santo Deus, eu senti perfeitamente
o momento em que meu coração parou de bater por alguns
segundos, enquanto eu tinha certeza de que o sangue sumia do
meu rosto e descia para meu pau. A garota era linda, toda delicada
e sensual, e eu desejei muito que não tivesse colocado a calcinha.
— Vou precisar dessa sua jaqueta emprestada — murmurou
ao parar diante de mim sem nenhum pudor. — Minha roupa está
cheirando mal.
O corpo seminu estava a menos de um braço de distância de
mim e eu só conseguia encarar os seios empinados com mamilos
enrijecidos. A saliva que eu engoli em seco desceu rasgando minha
garganta e eu precisei umedecer meus lábios antes de tentar formar
mais um pouco de saliva.
— Anda logo, Dominic — resmungou, estalando os dedos. —
Não vou roubar sua jaqueta. Eu a lavo e devolvo depois.
Norah encenava muito bem, se fingindo de rogada daquele
jeito, enquanto eu sabia que tinha planejado aquilo
meticulosamente, para me deixar em maus lençóis. Mas eu não
cairia com facilidade, não antes de lutar muito, mesmo que já me
sentisse duro dentro da calça.
Eu estava mesmo me sentindo péssima com a roupa molhada
e fedida por conta da cerveja, então não pensei duas vezes e tomei
logo um banho, aproveitando a toalha que vi dobrada sobre a
bancada e que tinha cheiro de amaciante. Só que naquela hora eu
não pensei que quando saísse do banho toda limpa, teria que vestir
a mesma blusa e a mesma calça.
Portanto, levei alguns segundos em pé diante do espelho, só
de calcinha, repetindo para mim mesma que seria uma oportunidade
imperdível aparecer desse jeito na frente de Dominic. Eu pediria a
jaqueta dele emprestada, pois em mim ela ficaria parecendo um
vestido e, de quebra, ainda o deixaria nervoso e com tesão.
Dito e feito, os olhos do loiro pareciam ter entrado em surto
porque subiam e desciam pelo meu corpo, sem saber direito onde
focar. Quando finalmente me encarou após eu pedir sua jaqueta
emprestada, sustentei o olhar dele, observando cada nuance de
emoção que transpassava nos olhos verdes. Ele permaneceu
calado por um tempo, até que tirou a jaqueta e me entregou. Eu
supus que era mais fácil para ele, me emprestar a roupa do que ter
que lidar com minha nudez.
Sorrindo, muito agradecida, subi o zíper da jaqueta,
transformando-a em um quase perfeito vestido. Sentei-me ao lado
dele, que nem se moveu, mas felizmente, não fugiu de mim.
— Que lugar é esse? — perguntei.
— É um quarto de hóspedes onde costumo vir. — Ele esfregou
os olhos como se estivesse cansado e eu aproveitei para observar
sua calça, onde aparecia um leve volume, nada muito anormal. —
Acredito que não vá querer ficar na festa vestindo apenas isso,
então eu a levarei para casa.
Dominic estava nervoso, eu conseguia perceber isso pela
forma como seus dedos pressionavam suas coxas e ele nem sequer
me encarava. Ao mesmo tempo, ele também emanava uma
sensação de conforto e plenitude, o que me fazia sempre querer
observá-lo.
A artista que havia em mim reparava em mínimos detalhes
como a postura, a luz do cômodo e a forma como era capaz de
expor ou esconder determinados traços de seu rosto. Parei para
analisar qual seria o melhor enquadramento para desenhá-lo e me
inclinei em sua direção, analisando o seu rosto mais de perto.
Naquele momento, desejei com todas as minhas forças que tivesse
papel e lápis comigo.
— O que está fazendo? — questionou, me encarando.
Fitei os seus olhos. Em um desenho colorido, eu teria que usar
vários tons de marrom e verde para conseguir chegar perto da
beleza real da sua íris.
— Eu podia desenhar você.
Dominic ergueu uma sobrancelha.
— O quê?
— Desenhar você — repeti.
Não havia sido um movimento premeditado, mas quando me
dei por mim, eu estava sentada no colo de Dominic, uma perna de
cada lado do seu corpo. Tomei seu rosto em minhas mãos e inclinei
sua cabeça para trás, para que eu pudesse ter uma visão melhor de
alguns traços.
— Norah... — o loiro começou a protestar.
— O formato do seu rosto é muito bonito — eu o interrompi. —
Seus traços são simples, mas ao mesmo tempo, complexos. —
Deslizei meus polegares pelas maçãs do seu rosto, sentindo a
textura lisa de sua pele. — Precisaria fazer uma mistura de cores
para chegar nesse tom das suas bochechas quando você fica
corado como agora. E os seus olhos dariam muito trabalho, mas
aposto que conseguiria retratá-los com perfeição.
Encarei a boca de Dominic, tocando o lábio inferior com meu
indicador e o separando do de cima, enquanto eu só ouvia o som da
respiração do quarterback.
— Para desenhar a sua boca acho que precisaria de três tons
diferentes de rosa. Mais escuro aqui — passei o dedo pela parte
inferior —, mais claro aqui — levei o dedo até o centro dos lábios.
Senti seu hálito fresco me atingir quando ele deu um suspiro
pesado e foi só então que me senti voltar à realidade e olhar à
minha volta. Estávamos sozinhos com as persianas abaixadas e
Dominic permanecia imóvel. Seu peito subia e descia em um ritmo
acelerado e ele me olhava quase como se estivesse hipnotizado. Eu
nem ao menos havia notado quando tinha feito isso, mas suas mãos
tinham entrado por baixo da jaqueta e estavam apoiadas
despretensiosamente sobre meus quadris.
— É melhor... eu levar você...
— Eu não quero ir embora agora — declarei, passando meus
dedos pelos cabelos loiros e usando minhas unhas em sua nuca.
Quando se deu conta de onde estava segurando, Dominic
puxou as mãos e as apoiou no assento do sofá.
— Não vai acontecer o que você deseja, Norah — murmurou,
engolindo com dificuldade.
— Eu não mereço nem um beijinho? — perguntei, fazendo
bico e deslizando minhas mãos pela camisa dele. — Torci tanto por
você esta noite...
— Já descobriu qual a função de um quarterback?
— Fazer touchdowns.
Ele riu, jogando a cabeça para trás e me arrancou um sorriso
também porque era empolgante ver Dominic daquele jeito. Quase
sempre o loiro estava de semblante sério e nunca parecia se divertir,
então quando ele relaxava ao meu lado e ria de algo que eu dizia ou
fazia, eu me sentia vitoriosa.
— Em geral, é um pouco mais complexo do que isso, mas
aceito a sua resposta — concluiu, ainda com o sorriso no rosto. —
Acho que está pronta para conhecer os outros sem passar
vergonha.
— Não quero outros — declarei, colocando seriedade no meu
tom de voz. — Quero você.
Dominic ficou em silêncio e o sorriso, aos poucos, foi se
desfazendo, ao mesmo tempo em que seu olhar se tornava mais
intenso. O loiro suspirou, passando os dedos pelos cabelos.
— Para quem parece não viver sem sexo, acho que você não
fez uma boa escolha ao colocar um alvo em mim.
— Eu sou paciente — respondi, encolhendo meus ombros. —
Mas se minha autoestima não fosse incrível, as suas recusas teriam
arrasado comigo. Eu juro que não sei como consegue resistir.
Quando me olho no espelho, tenho vontade de me pegar.
— Isso se chama narcisismo — Dominic gargalhou,
balançando a cabeça.
— Isso se chama realidade. — Pisquei para ele. — Fala sério,
minha bunda é perfeita e, tudo bem, meus peitos podem ser
pequenos — levantei a jaqueta para expô-los bem pertinho do rosto
do jogador —, mas são simétricos e dizem que têm o tamanho ideal
pra serem colocados na boca.
Os olhos verdes que antes encaravam meus mamilos, de
repente se ergueram e focaram meu rosto, enquanto um meio
sorriso se formava nos lábios de Dominic.
— Você adora provocar, não é? Eu sempre acho que você não
tem mais nenhuma forma de me surpreender ou me deixar sem
palavras... — Ele estalou a língua e, finalmente, tocou meus seios.
— Mas sempre estou errado.
O seu toque era tão leve quanto o roçar de uma pluma, como
se estivesse com medo de ir adiante. Primeiro, suas mãos
envolveram cada mama por inteiro, acho que sentindo o peso e
formato delas, então os dedos apertaram a minha carne e foram,
aos poucos, se movendo para o formato de garras até que pararam
nos mamilos tão intumescidos. Minha calcinha molhou com o
contato delicado, mas marcante, e senti minha boceta se contrair
quando Dominic trouxe os olhos até os meus e me deixou ver o
tesão estampado neles.
— Você é linda, Norah — murmurou, usando os polegares
para me acariciar no mesmo lugar. — Qualquer homem ficaria feliz
em ter você nua para ele. Sinto muito que tenha cismado logo com
um cara virgem.
Eu me movi em seu colo, sentindo o volume crescer em sua
calça e ansiosa para poder liberar aquele monstro, mas tive medo
de me adiantar demais e afugentar o quarterback. Ele não
conseguiu se manter impassível quando rebolei, pois precisou
fechar os olhos por alguns segundos, apertando os dedos em meus
seios e suspirando.
Pensei que aquele seria o melhor momento para deixar
Dominic ainda mais louco porque ele demonstrava estar bem no
limite, mas observando sua expressão tão entregue e ao mesmo
tempo tensa, senti um pouco de peso na consciência por ficar
forçando aquela situação. E se eu tirasse a virgindade dele, e o loiro
se arrependesse disso? Será que eu estava agindo como aqueles
caras idiotas que fazem de tudo para desvirginar as meninas?
— Você me considera uma assediadora? — perguntei,
baixando a jaqueta para me cobrir, e Dominic saiu do transe ao
voltar a me encarar.
— O quê?
— Tipo, acha que estou te assediando?
— Você gosta de provocar e é muito focada nessa missão —
disse ele, arqueando a sobrancelha. — Mas acha que estaria no
meu colo se eu não permitisse? Já viu seu tamanho?
— Eu fiquei nua sem que você estivesse esperando. — Levei
uma mão à boca, pensando no que fiz, na verdade, em todas as
coisas que tinha feito desde que conheci Dominic. — Meu Deus, eu
sou mesmo uma assediadora.
Eu me levantei, me sentindo em choque por perceber o quanto
tinha perseguido e insistido em dar em cima do quarterback, mesmo
quando ele deixava bem claro que não queria nada comigo. Voltei
ao banheiro para pegar minhas roupas e calcei meus tênis,
pensando numa maneira de ir embora e passar por todo mundo na
festa, com uma muda de roupa nas mãos.
Quando voltei ao quarto, Dominic estava em pé e se
aproximou com um vinco no meio da testa. Ele colocou as mãos em
meus ombros e meus olhos foram desviados para o volume em sua
calça.
— Acho que está exagerando, Norah. Você não fez nada que
eu não tivesse permitido, pois sempre dei abertura para isso.
— É porque você é homem e não entende — retruquei, me
sentindo péssima. — Mas se fosse o contrário e um cara que eu não
quero pegar ficasse falando da minha boceta o tempo todo, eu teria
nojo dele.
— Se você realmente não o quisesse, não andaria com ele —
Dominic murmurou, inclinando a cabeça para a esquerda. —
Concorda que já teria se livrado do indivíduo?
Abri a boca para responder, mas parei. O loiro tinha dito o que
eu achava? Porque ele permitia que eu andasse com ele, afinal, até
me mandou os ingressos para o jogo e fez questão de me trazer de
carona à festa. Estava tentando me dizer que me queria ou eu havia
chegado num nível muito grande de alucinação?
— Sim, mas...
Não pude terminar de falar porque a boca de Dominic cobriu a
minha e muita coisa aconteceu ao mesmo tempo. Enquanto sua
língua me invadia lábios adentro, um dos seus braços apertava
minha cintura ao se enroscar nela e tirava meus pés do chão sem
muito esforço. Com a outra mão, o quarterback agarrou minha coxa
e a levantou até seus quadris, pressionando meu corpo contra o
dele antes de correr os dedos até minha bunda descoberta.
Gemi com vontade ao senti-lo apertar minha nádega,
ensopando a minha calcinha que eu adoraria arrancar. Dominic
chupou meus lábios e, por fim, desceu a boca pelo meu queixo,
chegando ao meu pescoço e me lambendo como um verdadeiro
cachorro faminto. As minhas expectativas estavam muito aquém da
realidade. O beijo de Dominic era muito intenso. Seus lábios eram
macios e saborosos. Sua língua era habilidosa, e ele parecia fazer
exatamente o que eu desejava.

Abrindo os olhos, percebi que estávamos caminhando na


direção do sofá novamente, mas então, ele me jogou ali sobre o
estofado e recuou, apertando a ereção dentro da calça.
— Essa é a minha deixa para ir embora — murmurou,
ofegante, vermelho, e muito gostoso. — Ou você vai comigo e eu a
levo pra sua casa, ou vai ter que ir sozinha depois.
O loiro foi de zero a cem, depois de volta para zero, muito
rápido e eu precisei de um tempo para acompanhar aquele
raciocínio. Era impressão minha ou Dominic tinha acabado de dizer
que estava encerrando o que mal tinha começado?
— É sério? — perguntei, chocada, sentindo-me hiperventilar.
— Como consegue ter esse autocontrole?
— Anos de prática — respondeu, sorrindo. — Só a beijei para
tirar a neurose da sua cabeça, Norah. — Então, ele me esticou a
mão. — Vamos?
— Eu me recuso a sair daqui sem que a gente resolva isso
direito, Dominic. — Cruzei meus braços, começando a me irritar. —
Não estou dizendo que precisamos transar, mas sei lá, podemos
pelo menos conversar? Trocar mais uns beijos, talvez?
— Não quero passar pela mesma situação do dia da sinuca —
declarou, pegando seu celular no bolso da calça, olhando a tela e o
guardando de novo. — E eu duvido que você saiba se conter porque
tem fogo de sobra nesse corpo.
Balancei a cabeça, sem querer concordar com nada que ele
dizia, mas Dominic só suspirou e enfiou as mãos nos bolsos antes
de se aproximar do sofá. Com muita agilidade, ele se inclinou na
minha direção e depositou um beijo na minha testa antes de se
afastar.
— A gente se vê por aí, Norah — declarou em direção à porta.
Eu chamei por ele, mas fui ignorada. — Depois pego a jaqueta com
você.
Percebi que ele tinha falado sério mesmo quando passou pela
porta e me deixou sozinha. Eu me deitei no sofá, frustrada, tentando
entender o que tinha acabado de acontecer. Dominic estava
envolvido, tinha certeza disso ou ele não teria me beijado daquele
jeito incrível. Mas até quando ficaríamos nesse impasse, brincando
de gato e rato? Será que eu devia continuar insistindo ou era hora
de partir para outro?
Eu andava tranquilamente em direção ao prédio naquela terça-
feira, depois de ter deixado minha bicicleta no bicicletário. Como
sempre, tinha saído em cima da hora, o que queria dizer que
provavelmente chegaria atrasada, mas não me importava. A manhã
estava linda e eu só queria aproveitar o calor do sol em minha pele
antes que começasse a esfriar de verdade.
Algumas pessoas olhavam para mim ao passar, o que me
causou estranhamento porque apesar de me dar bem com muita
gente e fazer amizade com facilidade, nunca fui popular, do tipo que
chamava atenção e marcava muita presença para ter meu nome na
boca do povo.
Imediatamente, conferi meu reflexo na tela escura do meu
celular, me certificando de que não havia nada no meu rosto.
Nenhum rímel borrado nem dente sujo. Eu estava completamente
normal, então não conseguia imaginar motivos para as pessoas me
encararem daquele jeito.
— Norah! — Alguém me chamou quando eu estava prestes a
pisar no primeiro degrau da escada.
Era o melhor amigo de Dominic, que me alcançou e eu logo
ergui minha mão, dando um soquinho quando ele estendeu seu
braço.
— E aí, Peter? Encontrar um amigo logo de manhã, eu adoro!
— E eu adoro como você, sutilmente, sempre me coloca na
friendzone — zombou ele, sorrindo como um maluco e levando a
mão ao peito. — Preciso ter uma conversa séria com Dominic, para
ele sair logo do caminho.
Eu ri porque sabia que ele falava de brincadeira.
— Tenho alguns amigos que podem afirmar que a friendzone
não é assim tão ruim. — Pisquei para o jogador.
Achei que fosse soltar alguma piada sobre aquilo, mas Peter
sorriu e abanou a mão num gesto de desfeita, antes de passar um
braço sobre meus ombros para me acompanhar na caminhada.
— Agora não adianta — concluiu. — Você é uma mulher
comprometida. Afinal, está namorando o Dom, não é?
Enruguei a testa.
— Estou?
— É a fofoca da semana, gatinha. — Peter pegou o seu celular
e o estendeu para mim, mostrando a imagem de um post. — Saiu
até em um perfil de fofoca no Instagram.
De que diabos ele estava falando? Precisei pegar o seu
telefone em minha mão e olhar direito. Havia mesmo uma
montagem com uma foto minha ao lado de Dominic na festa de
sábado, no momento em que estávamos na cozinha. Deve ter sido
quando eu o chamei de amor e fingi para a outra garota, que
estávamos juntos. Essa era a imagem do lado esquerdo da
montagem, pois a do lado direito mostrava eu sozinha na festa,
vestida apenas com a jaqueta dele. Foi tirada quando fui embora
alguns minutos depois do quarterback. Na legenda do post, dizia
que aquela era a suposta namorada de Dominic Davis.
Aquele era um perfil de fofoca só da Universidade do Alabama,
criado para espalhar boatos sobre alunos e professores. Coisa de
quem não tinha nada de mais interessante para fazer.
— Isso é, no mínimo, interessante — comentei, devolvendo o
celular para Peter. — Também explica por que todo mundo está me
encarando.
— Os dois foram vistos juntos e abraçados, depois você
apareceu sem a calça, usando só a jaqueta dele. É óbvio que as
pessoas tirariam muitas conclusões. — Ele sorriu como um safado.
— No mínimo, pensam que estão transando.
— Bom, eu tenho tentado bravamente transar com ele —
comentei. — Então, vou me dar o crédito por isso. O que o Dominic
achou desses boatos?
Peter deu de ombros.
— Ele não disse nada e nem acho que vá dizer. Dominic é
muito reservado e não é a primeira vez que o nome dele é envolvido
em boatos falsos.
Queria muito transformá-los em notícias reais, mas estava
difícil e não era algo que dependia exclusivamente de mim. Era o
tipo da coisa que precisava de duas pessoas concordando e a outra
parte em questão, podia ser um grande cabeçudo.
Eu me despedi de Peter, avisando que estava atrasada para
minha aula, e fiz o restante do percurso até a sala no menor tempo
possível, correndo como uma louca. O professor já tinha chegado e
estava fazendo anotações no quadro, então entrei silenciosamente
e me sentei na cadeira de sempre. Dominic estava lá, mas não se
deu ao trabalho de me cumprimentar ou olhar para mim.
— Bom dia, luz do dia! — murmurei, cínica.
Ele apenas fez um sinal para que eu ficasse em silêncio, o que
me irritou levemente. Se ele me queria tanto quanto eu o queria, por
que ficava fugindo e me tratando com indiferença? Não era como se
eu estivesse pedindo sua mão em casamento, eu só queria uma
boa transa.
Respirei fundo e abri meu caderno para tentar acompanhar a
aula, pois a semana de provas já seria a próxima. Precisava parar
de ser relapsa naquela matéria, talvez deixar Dominic um pouco de
lado para não ser reprovada. Então, eu dei a ele meu silêncio, como
um presente, e foquei em realmente estudar.
Nada contribuiu, no entanto, para que o tempo de aula
passasse rápido. Eu me sentia prestes a me dispersar em
pensamentos quando me inclinei para o lado e conferi a tela do
notebook onde o jogador anotava tudo. Achei impressionante a linha
de raciocínio dele a respeito do que o professor vinha explicando e
senti vontade de pedir suas anotações emprestadas.
Ele percebeu que eu estava observando, mas não só não
reclamou como também virou um pouco o computador para mim, de
forma que eu conseguisse ler sem me entortar completamente.
Aproveitei para transferir alguns itens para o meu caderno, ciente de
que Dominic não parava de digitar, parecia uma máquina, focada no
que fazia. Talvez ele usasse toda a energia que acumulava com a
falta de sexo, justamente para os estudos.
Quando o professor encerrou a aula e se despediu da turma,
eu guardei minhas coisas com pressa na mochila, pois estava na
passagem, entre o jogador e o corredor por onde todos saíam.
— Vai demorar quantas eternidades, Norah? — questionou,
cruzando os braços enquanto aguardava.
Revirei meus olhos e puxei o zíper da minha mochila.
— Você deveria me tratar melhor agora que estamos
namorando — brinquei.
— Então você ouviu os rumores?
Mais ou menos, né? Graças a Peter, estava ciente do que
acontecia, mas e se ele não tivesse me avisado? Será que eu seria
a última a descobrir?
— Existe alguém nesse campus que não tenha ouvido? —
questionei.
Ele suspirou ao meu lado e eu me levantei, pronta para sair da
sala. Sustentei seu olhar por alguns segundos para ver o que faria,
pois não queria me despedir dele enquanto fosse tão vago.
— Não importa o que os outros dizem — disse Dominic,
encolhendo os ombros. — Não é verdade e nós sabemos. Um beijo
não quer dizer nada.
— Alguns beijos, se contabilizarmos vários dias — murmurei.
— E algumas ereções, um orgasmo...
Dominic arregalou os olhos e olhou ao redor, parecendo se
certificar de que ninguém escutara o meu relato indiscreto. A aula já
tinha acabado, mas ainda havia alguns alunos por perto. Ele tocou
minhas costas, andando rápido comigo para fora de sala como se
visse um fantasma até estarmos na rua arborizada.
— Você poderia ser mais discreta? — perguntou, bufando.
— Eu estou sendo discreta. — Sorri, me sentindo irônica. —
Nem espalhei por aí que você parece ser muito bem-dotado.
Ele estreitou os olhos para mim e balançou a cabeça em total
desaprovação.
— Está adorando isso, não é?
— Um pouco — respondi, sorrindo e alisando a camisa dele.
— Nunca namorei desde que vim para a faculdade, então está
sendo uma nova experiência.
— Aproveite enquanto pode, porque esse boato não vai durar
para sempre.
Ergui uma sobrancelha.
— Você vai desmentir?
— Não preciso — sussurrou ele, arqueando a sobrancelha. —
Logo vão perceber que é apenas um boato, porque eu jamais
namoraria alguém como você.
— Alguém como eu? O que isso quer dizer?
Dominic parecia mais irritado do que nunca e eu me perguntei
se era mesmo só por causa do boato ou havia acontecido alguma
outra coisa.
— Você não tem compromisso, Norah — respondeu, jogando a
cabeça para trás. — Só pensa em sair por aí transando e se
divertindo. A gente nunca daria certo, não importa o quanto você
queira isso.
— Do que você está falando? — perguntei, ajeitando minha
mochila no ombro. — Eu não quero botar uma aliança no seu dedo
nem nada do tipo. É isso que pensa? Que quero um relacionamento
sério contigo? Eu não quero nada além de um pouco de diversão.
— E esse é, precisamente, o seu problema — pontuou
Dominic, tocando com o dedo indicador em meu ombro. — Você
não quer nada. E é por isso que eu jamais te darei algo tão
importante para mim. Não tive tanto trabalho e me privei de tantas
experiências, para chutar o balde por alguém como você, que só
quer diversão.
O que tinha acontecido com o Dominic Davis que beijou minha
testa no sábado à noite? Aquele ali não se parecia em nada com o
mesmo cara e, mesmo que por várias vezes o loiro tivesse me dado
algumas respostas atravessadas, daquela vez ele estava indo longe
demais.
— Eu não sei se você teve pesadelos esta noite ou se chutou
o pé da cama quando se levantou, mas certamente, está bem azedo
— comentei, erguendo minha mão e esticando um dedo. — Por
isso, vou encerrar a nossa conversa antes que fique ainda pior,
porque eu não quero desgostar de você.
Eu sabia que, no fundo, Dominic não estava errado. Nós dois
éramos, de fato, incompatíveis. A diferença era que eu conseguia
enxergar uma transa só como uma transa, mas ele, aparentemente,
não. Por mais que eu odiasse ter que admitir, ele tinha esse direito,
mas eu não era obrigada a ouvir certas coisas que, se não fosse
uma pessoa muito segura, poderiam me magoar.
— Se alguém vier comentar comigo, eu faço questão de
desmentir esse boato — avisei, sentindo que era a hora de ir
embora.
Não dei tempo para que falasse mais nada, apenas atravessei
a rua com pressa até o bicicletário, para evitar que Dominic
proferisse qualquer outra insanidade. Eu confiava que ele só estava
num dia muito ruim e que logo cairia em si do quanto tinha sido
babaca comigo, por isso, não levaria nada do que disse para o
coração.

Foi uma surpresa quando Joe me mandou mensagem no final


da tarde, avisando que estava jogando sinuca num bar muito legal e
me chamando pra ir até lá. Na hora eu reconheci o endereço, pois
era o mesmo lugar onde eu tinha ido com Dominic, e avisei que logo
o encontraria. Precisava, urgentemente, de dopamina e serotonina
no meu cérebro. E nada como um bom orgasmo para me
proporcionar esse prazer.
Joe estava jogando com um de seus colegas e eu desabei em
um sofá que ficava ao lado da mesa que ocupava.
— Problemas no paraíso? — Ele me lançou um olhar.
— Eu tive muitas derrotas para um único dia. — Parei para
pensar, e então, balancei a cabeça. — Na verdade, foi só uma. Mas
foi uma puta derrota. Agora eu preciso de uma vitória.
Joe sorriu de lado.
— E por vitória, você quer dizer sexo?
— Você me compreende tão bem — respondi, sorrindo de
volta para ele.
Eu me levantei com preguiça, mas me arrastei até o balcão do
bar e pedi uma cerveja antes de voltar para perto da mesa. Tive
algumas lembranças do dia em que joguei e fiquei observando Joe
dar uma tacada, todo concentrado. A bola branca foi certeira até o
outro lado da mesa e encaçapou uma bola azul.
— Eu ouvi que você está namorando o Dominic Davis —
comentou ele, enquanto procurava o melhor ângulo para uma nova
tacada.
— E você acreditou nisso?
Joe fez o seu segundo lance, mas acabou errando. Enquanto
esperava pela jogada do colega, voltou a sua atenção para mim,
com um sorriso zombeteiro nos lábios.
— Nem por um segundo. — Balançou a cabeça e estalou a
língua, se aproximando bastante. — Namoro? Não. Se o boato
fosse apenas sobre estarem transando, tudo bem.
— Isto nós também não estamos fazendo. Aparentemente, eu
sou errada demais para o senhor certinho.
— Entendi. — Ele estreitou os olhos e apertou a minha
bochecha. — Então essa é a fonte do seu mau humor?
Assenti, mas como não queria tocar no assunto, me afastei e
fui me sentar no sofá, enquanto o jogo se desenrolava. Tive tempo
de beber duas cervejas e me sentir um pouco mais relaxada quando
os dois amigos se despediram e eu fui embora do bar com Joe. Ele
morava numa fraternidade e ficava sozinho em seu quarto, o que
era ótimo e nos dava muita privacidade.
Já era início de noite quando chegamos e, por sorte, a casa
não estava tão movimentada. Eu não queria que novos boatos se
formassem, dessa vez envolvendo a tal namorada de Dominic
Davis, que era flagrada indo para o quarto com um outro rapaz.
O sexo entre nós dois era fácil e era bom. Fazia mais de um
ano que a gente transava sem compromisso e era tempo suficiente
para conhecermos os gostos um do outro. Sendo assim, depois de
gozar duas vezes, eu finalmente me senti muito plena, deitada na
cama de Joe enquanto ele jogava no celular.
Estávamos virados em direções opostas e eu cutuquei suas
costelas quando o telefone dele recebeu uma notificação que o fez
encerrar o jogo imediatamente. Notei que ficou concentrado,
digitando alguma coisa e sorrindo de vez em quando.
— Ainda está conversando com aquela garota? — perguntei,
curiosa.
— Sim.
— Ai, Joe, pelo amor de Deus... — Tapei meu rosto. — Não
me diga que vocês estão namorando e nós acabamos de trair a
menina...
— Ficou louca? — Ele me deu um tapa no pé. — Claro que
não estou namorando. De onde você tirou essa hipótese?
— Sei lá, faz um tempo que conversa com ela — respondi,
chutando-o de novo. — Você não é de ficar de chamego assim.
— Fico com você. A gente sempre troca mensagens.
— Eu sou sua amiga — retruquei.
— Com benefícios — completou ele, sorrindo e segurando
meu pé até aproximar a boca dos meus dedos e beijá-los.
— Amiga do mesmo jeito. — Eu me sentei, prendendo meus
cabelos num rabo de cavalo e dando um peteleco nele. — Estou
notando sua cara de apaixonado enquanto digita, Joe. Não se
engane, você tá caidinho.
— Não estou. — Ele revirou os olhos e soltou o celular. —
Acho que os orgasmos de hoje fizeram mal a você, Norah. Quem
chegou toda cabisbaixa no bar foi você, por causa de Dominic
Davis. Que sorte a sua que eu consegui animá-la.
Suspirei e encostei as costas na parede, lamentando que ele
tenha tocado no nome do quarterback. Minha mente imediatamente
me levou de volta a todos os momentos que eu passei com Dominic,
ocasionando uma aceleração idiota no meu coração.
Joe deve ter percebido alguma mudança física em mim, pois
se aproximou e passou um braço pelos meus ombros, beijando
minha cabeça.
— Você não quer conversar sobre o que está rolando, mas
espero que o Davis consiga valorizar o que tem.
— Ele não tem nada — respondi.
— Mas você quer que ele tenha. — Virei meu rosto para Joe,
que arqueou a sobrancelha. — Eu não queria trazer isso à tona,
mas como estamos falando dele, talvez seja legal ficar ciente de que
trocou os nossos nomes enquanto gozava.
— Eu fiz isso? — Arregalei meus olhos, chocada, porque
nunca havia dado um furo tão grande como esse? — Credo, Joe!
Desculpa...
— Tudo bem. — Meu amigo riu, encolhendo os ombros. — Foi
interessante me sentir o quarterback do Bama por alguns segundos.
Somos mesmo muito parecidos, por isso você está louca pelo cara.
— Babaca! — Dei um tapa nele e revirei meus olhos.
Eu não me lembrava e nem mesmo reparei que falei o nome
de Dominic durante o orgasmo e isso era preocupante. O filho da
mãe devia estar tão enraizado em meu cérebro, que não me dei
conta do que fazia, como se fosse algo muito natural de acontecer.
Precisava começar a sair com outras pessoas para tentar me
desintoxicar do jogador antes que enlouquecesse de vez por
frustração sexual.
Estava me sentindo péssimo por ter deixado que Norah fosse
embora daquele jeito, sem que eu me desculpasse pelas merdas
que falei. Claro que éramos pessoas de personalidades, rotinas e
objetivos muito diferentes, mas isso nunca foi motivo para eu
diminuir ou fazer pouco caso de ninguém, principalmente, do jeito
que aconteceu.
Eu não estava no meu melhor momento naquela manhã,
porque no domingo à noite, quando a postagem do Instagram deve
ter ganhado mais força, recebi uma ligação dos meus pais. Henry
parecia um cão raivoso quando atendi e precisei afastar o celular do
ouvido para não ficar surdo.
— O que você tem na cabeça para resolver, no último ano,
começar a sair em página de fofoca com mulheres do lado? Virou
pegador? Dominic, eu preciso lembrá-lo que existe uma reputação e
um nome a zelar?
— Boa noite pra você também, pai — respondi, me sentando
na cama. — Eu não estava cercado de mulheres, estava apenas
com uma garota que é amiga minha.
— Amiga? Tem certeza? Porque não é isso que diz a legenda
da foto. Ela estava nua vestindo a sua jaqueta, Dominic! — gritou
ele a última frase. — Perdeu a virgindade? Não podia ter escolhido
momento pior para isso?
— Henry, me dá o telefone. — Ouvi a voz da minha mãe ao
fundo.
— Para você passar a mão na cabeça dele? — retrucou meu
pai. — Ele já é adulto, está na hora de parar de tentar mimá-lo.
Ouvi murmúrios incompreensíveis que pareciam ser de uma
possível batalha para ver quem ficaria com o celular, até que se fez
um silêncio rápido.
— Querido... — disse minha mãe com sua voz doce. — O
problema do seu pai é que não sabe se expressar. O que ele quer
dizer é que você precisa ter cuidado pra não perder a cabeça,
depois de ter se esforçado tanto. A menina na foto estava bebendo.
Será que é uma boa influência pra você?
— Eu não posso ficar do lado de pessoas que bebem ou, no
caso, essa regra se aplica apenas para a Norah? Porque caso
vocês não saibam, eu sou o único do time que não ingere bebidas
alcóolicas.
— Ela se chama Norah? — perguntou e estalou a língua. —
Meu amor, a gente só está preocupado porque no lugar da mídia
estar falando do seu belo desempenho no jogo de sábado, o
assunto da pauta é seu relacionamento inexistente com a menina.
Eu não tenho lido nenhuma fofoca boba sobre o Steven Wolf, além
do excelente trabalho que vem fazendo.
Revirei meus olhos com aquela tentativa de me desestabilizar
por causa de outro nome. Além de mim, Wolf era um dos três
quarterbacks com melhor campanha nas últimas duas temporadas,
alguém que já era uma grande promessa do Draft ainda no primeiro
ano de faculdade.
— Preciso desligar, pois quero dormir cedo.
— Querido, não há ninguém nesse mundo inteiro que deseje o
melhor pra você mais do que os seus pais — murmurou ela. — Tudo
o que falamos e fazemos, sempre é pensando no seu futuro, que
será brilhante.
— Tudo bem, mãe — respondi, cansado demais para discutir.
— Só peço que tenham um pouco de fé em mim, pois nunca fui
irresponsável e sei muito bem o que está em jogo.
Só consegui desligar uns dez minutos depois, porque aquele
assunto ficou se alongando e me deixando a cada segundo mais
estressado. Eu detestava que meus pais se metessem na minha
vida justamente porque eu nunca dei nenhum tipo de dor de cabeça
a eles. Enquanto todos os meus amigos do colégio passavam as
noites em festas, enchendo a cara e experimentando drogas, eu
ficava em casa ou jogando videogame ou estudando. Vez ou outra
eu ia até uma dessas festas porque também não era de ferro e
gostava de um pouco de diversão, mas sempre voltava antes do
horário estipulado pelos meus pais e nunca os preocupei com a
possibilidade de voltar bêbado. A única vez em que saí da linha foi
quando experimentei maconha, mas só o suficiente para achar
aquilo uma merda.
Sendo assim, eu não admitia receber sermão com vinte e dois
anos, prestes a me formar, e por conta de um boato sem sentido.
Claro que eu sabia, desde que conheci Norah, que a garota em
algum momento me causaria problemas, por mais que eu tentasse
manter a discrição de sempre. Só não esperava que isso chegasse
tão rápido aos ouvidos dos meus pais.
Na segunda-feira, a situação tinha piorado um pouco porque
minha assessoria tinha avisado para meu pai que meu direct do
Instagram estava lotado de pessoas comentando sobre a foto de
sábado. Inclusive, muitos perfis da imprensa foram procurar mais
informações, e o fato de a situação ter vazado para fora do universo
da faculdade, irritou demais Henry Davis.
Eu acordei na segunda com a porta do meu quarto sendo
escancarada e meu pai em pé, olhando para a minha cara.
— O que está fazendo aqui? — perguntei, me sentando, ainda
sonolento porque eram seis horas da manhã.
— Vim me certificar de que você estava dormindo sozinho —
comentou, suspirando com as mãos na cintura e andando pelo meu
quarto para olhar pela janela. — Precisava me certificar de que meu
filho não está sujando ainda mais seu histórico.
Demorei a acreditar que aquela loucura estava mesmo
acontecendo diante dos meus olhos. Meu pai tinha acabado de
invadir meu quarto, pensando que encontraria uma mulher na minha
cama? Acabei rindo daquele absurdo e até podia parecer que
estava achando graça, mas por dentro, senti meu sangue ferver
com uma raiva me consumindo.
— Pai, não quero ter que brigar — murmurei, segurando minha
cabeça com as mãos. — Por favor, vá lá pra fora e me deixe acordar
direito.
Ele assentiu, esboçando um sorriso.
— Claro, tudo bem, campeão. — Senti sua mão tocar meus
cabelos. — Tem comida nos armários? Vou preparar algo para nós
dois. Peter está em casa?
— Não aja como se não tivesse acabado de invadir meu
quarto falando asneiras — pedi, me levantando e tentando controlar
minha voz para não gritar na cara dele. — Isso não vai passar
despercebido. Você não tem nenhum direito de me controlar dessa
forma.
Henry Davis riu, jogando a cabeça para trás, e se virou para
sair do meu quarto. Antes, ele segurou a maçaneta e me olhou mais
uma vez, arqueando a sobrancelha.
— Mandei pesquisar sobre a tal Norah — murmurou. —
Parece que ela já dormiu com mais gente nessa faculdade do que
eu na minha vida toda. É com esse tipo que você quer se envolver?
Eu teria me revoltado em ouvir o discurso babaca de qualquer
forma, mas acho que por se tratar de Norah, mexeu ainda mais
comigo. Odiei que meu pai falasse dela daquela maneira
completamente desrespeitosa quando nem conhecia a garota, mas
odiei mais ainda ter a consciência de que havia um pouco de
verdade em sua pesquisa. Não era nenhum mistério para mim, que
Norah transava à vontade, só que me senti péssimo ao ver outra
pessoa tirando aquela conclusão.
Primeiro, fiquei puto com ele e o expulsei do meu quarto no
braço mesmo, empurrando-o para fora, considerando que já estava
ali na porta, e a batendo na cara dele. Segundo, fiquei com raiva de
Norah por diversos motivos. Por me colocar numa situação
complicada com minha família, por me fazer baixar a guarda o
suficiente para coisas desse tipo acontecerem, e por ser alguém que
só pensa em sexo e diversão. Afinal, ela deixava sempre muito claro
que queria transar comigo. Não era o tipo de garota que eu temia
que se apaixonasse por mim, eu sabia que isso não aconteceria
com Norah. O que ela desejava, literalmente, era o meu corpo. O
meu pau, no caso.
Com quantos ela tinha agido assim antes de mim? Será que
tinha uma lista de suas conquistas? Será que repetia as mesmas
pessoas? E afinal, como ela conseguia ser tão desconstruída e
desapegada? Eu cansava de ouvir relatos dos meus amigos, que
contavam sempre sobre garotas que levavam para a cama e depois
elas ficavam sonhando com relacionamento sério. Por que Norah
era diferente?
Estava me vestindo quando bateram na minha porta e Peter
colocou a cabeça para dentro. Ele me lançou um sorriso sem graça
e entrou no quarto, coçando a nuca, ainda vestido só com uma
cueca.
— Cara, por que Henry Davis está fazendo ovos mexidos na
nossa cozinha?
Ele nunca conseguiu acostumar com o fato de que meu pai era
o ídolo da maioria dos jogadores. Ainda o encarava com medo e
respeito, além de um pouco de vergonha.
— Ele resolveu me fazer uma visita matinal para me dar
sermão sobre ter transado com Norah — expliquei, vestindo uma
camiseta e vendo Peter arregalar os olhos.
— Sério que você perdeu o cabaço?
— Não, idiota. — Dei um tapa em suas costas. — É por causa
das fotos que vazaram.
— Ah!
Peter sentou em minha cama e cruzou uma perna, parecendo
pensar em alguma idiotice enquanto olhava para a janela.
— Cara, por que você não aproveita e transa logo, já que está
levando essa fama? Aproveita o boato e torna ele verdadeiro.
— Não é assim tão simples.
— A Norah é um pingo de gente com aquele meio metro de
altura, mas é toda gostosinha — murmurou, suspirando e sorrindo
para mim. — Eu não pensaria duas vezes.
— Alguma vez você pensou duas vezes? — perguntei e usei
minha meia para esticá-la e dar na cara do idiota. — Não fale assim
dela na minha frente, babaca.
Ele gargalhou e se levantou da cama, apoiando as mãos nos
meus ombros e aproximando o rosto como se fosse me beijar. Me
preparei para lhe dar um soco se ousasse fazer algo do tipo, mas
então Peter abriu um sorriso sacana.
— Se você não pega, eu posso pegar, não posso? Consigo me
imaginar perfeitamente com aquele rabo de cavalo que ela gosta de
usar, todo enrolado no meu pulso enquanto puxo a cabeça dela para
trás e enfio...
Eu não queria, mas acabei dando um tapa forte no rosto dele.
Evitei o soco para não quebrar seu nariz porque estávamos muito
próximos um do outro e o impacto seria desastroso.
— Agradeça por ter sido um tapa, porque sei que só está me
provocando e não falando sério.
Peter riu, esfregando a bochecha e segurando meu rosto entre
as mãos.
— Você está fedendo a ciúmes ou isso é cheiro de possessão?
— zombou, estreitando seus olhos. — Cara, você está muito
caidinho. Nunca na vida eu te vi arranjar briga por causa de mulher.
— Norah é uma amiga, não quero ouvir essas coisas.
Na verdade, Peter não estava completamente errado. Talvez,
eu estivesse mesmo gostando da baixinha dona das piores
cantadas. Não havia outro motivo para não parar de pensar nela e
eu sabia que não tinha só a ver com tesão, porque isso eu só sentia
quando estávamos juntos. O fato era que vinha pensando o tempo
todo naquela doida e percebia que meu cérebro a trazia à tona
mesmo nos momentos em que eu queria me concentrar em outras
coisas.
Norah estava me estragando e o problema maior era que não
importava o que eu sentia. Se eu passasse mesmo a gostar da
garota, teria o trabalho de desgostar depois, porque éramos
diferentes como água e vinho e a única coisa que ela sentia por mim
era fogo no rabo.
— Não vou mais falar da Norah... — murmurou Peter,
estalando a língua, ainda com o sorriso besta no rosto. — Mas
podemos ir lá pra sala? Não quero ficar sozinho com o seu pai
porque sempre fico gaguejando quando tô perto dele.
— Ele é uma pessoa normal — falei, sentando para calçar os
tênis.
— Pra você. Pra mim, ele é Henry Davis, o nome que ficava na
camisa que eu usava quando era moleque. — Levei um pontapé na
canela e me levantei. — Respeite a minha tietagem.
Balancei a cabeça, querendo contar para Peter que não era
assim sempre tão legal ter o ídolo dele como pai. Havia sim, muitos
bônus, mas a parte do ônus, de vez em quando, me fazia pensar
como seria se eu tivesse nascido numa família comum.
Passei a tarde toda de quarta-feira me culpando por ter tratado
Norah mal. O estresse que eu tinha acumulado depois da conversa
com meus pais por telefone e da visita de Henry ao meu quarto,
culminou na minha explosão perto da garota, soltando coisas que eu
sabia muito bem o quanto poderiam ser maldosas. Ela estava
apenas sendo ela mesma e nunca fingiu ser o que não era,
tampouco me enganou de alguma forma, escondendo suas
intenções.
Acho que apenas descontei minha frustração em cima dela,
assim como alguns receios que vinham me consumindo nos últimos
dois dias a respeito do que eu sentia ou deixava de sentir.
Fiquei quase uma hora inteira encarando meu celular,
digitando e deletando mensagens. Queria mandar alguma coisa
para Norah, pedindo desculpas por ter sido babaca, mas não
conseguia me decidir sobre o que deveria dizer.
Meu treino naquela tarde foi horrível, errei todos os passes e
fui bloqueado tantas vezes, que minha calça branca do uniforme
estava preta quando McDowell encerrou os trabalhos do dia. No
entanto, ele não me deixou sair de campo e parou com os braços
cruzados diante de mim, depois que todos tinham se retirado.
— Você está bem, Davis?
— Sim, técnico — respondi, segurando meu capacete,
sentindo-me derrotado. — Tive uns problemas ontem, sinto muito.
Vou compensar amanhã.
— Tem a ver com as fotos que estão rolando por aí? —
perguntou, estreitando os olhos. — Se for isso, supere logo. Fofocas
sobre a sua vida sempre existirão aos montes e você não pode se
deixar abalar sempre que isso acontecer.
— Eu sei — fui sucinto porque não queria entrar em detalhes
da minha vida pessoal.
— Temos um jogo importante no sábado, Davis. — Ele apertou
meu ombro e me encarou com a cara de quem dava um aviso muito
sério. — Se eu não notar uma melhora no treino de amanhã, você
corre um grande risco de não entrar em campo.
Meu coração parou por alguns segundos diante daquela sutil
ameaça. Durante toda a minha vida universitária, as duas únicas
vezes em que não joguei como titular foram justamente nos
momentos em que me machuquei e precisei fazer repouso por
ordem médica. E eu sabia que McDowell levava muito a sério tudo
que falava e não pensaria duas vezes antes de me substituir.
Na hora, eu pensei em Norah e em como a garota conseguia
perturbar a minha paz mesmo sem estar por perto. Mas logo a
deixei de fora do problema e senti raiva de mim mesmo, porque a
culpa era toda minha. Eu me coloquei numa situação em que me
permiti sempre focar só em ser o melhor no futebol e, agora, mal
conseguia olhar para o lado sem me desestabilizar. Eu era como
uma criança que passou a vida inteira dentro de uma bolha e na
primeira vez em que sai de casa, descobre que não adquiriu
imunidade e cai logo doente.
Será que tinha sido mesmo uma boa decisão, ter me mantido
longe de mulheres, festas e sexo esse tempo todo? Quantos outros
atletas possuíam um ótimo desempenho e conseguiam administrar
normalmente a vida pessoal e profissional ao mesmo tempo, sem
precisarem abdicar de uma coisa ou outra? De que havia adiantado
todo o meu histórico impecável, se no menor dos erros, meus pais
me trataram como um criminoso e meu técnico já cogitava me trocar
por outro quarterback?
Precisei engolir em seco, porque não podia responder
McDowell como eu gostaria ou o resultado seria desastroso. Sabia
que ele sempre colocaria a equipe inteira como prioridade e não
apenas um jogador. Ou seja, eu que suasse a camisa para
conseguir recuperar meu desempenho e mostrar no treino no dia
seguinte, que continuava sendo o mesmo Dominic. Não podia ficar
pensando em Norah e nos problemas que nos cercavam, mas para
isso, me dei conta de que precisava resolver o que ficou pendente
com ela, ou não ficaria em paz tão cedo.
Por um acaso divino, eu tinha saído do campo aberto e estava
dirigindo para o prédio do centro de treinamento, pois queria ir ao
laboratório de vídeo e assistir sozinho algumas jogadas do próximo
adversário. Não era um jogo qualquer e sim, uma das maiores
rivalidades do futebol americano universitário, que reunia o Crimson
Tide contra o Auburn Tigers, também do Alabama. O encontro era
conhecido como Iron Bowl e incendiava as torcidas, que se
preparavam dias antes para o duelo. Perder para o Tigers estava
fora de cogitação.
No caminho, vi Norah distribuindo panfletos na porta de um
edifício administrativo. Diminuí a velocidade para observar melhor e
ela não parecia muito animada, além de fazer careta quando as
pessoas davam as costas. Bem típico dela.
Fiz a curva no quarteirão e estacionei o carro para aproveitar
aquela oportunidade. Quando me aproximei por trás da garota, eu a
ouvi murmurar algo sobre sua mão doer de tanto ficar segurando
aquelas porcarias de panfleto. Então duas meninas se aproximaram
e ela as abordou, praticamente jogando alguns papéis sobre as
garotas que pegaram, assustadas, e ainda passaram por mim sem
nem me enxergar.
— Inscrições até amanhã! — gritou a doida. — Eu disse até
amanhã, hein!
Sem que ela notasse a minha aproximação, eu fui rápido e
puxei um papel por cima do seu ombro, lendo o que estava escrito
enquanto se ocupava de virar de frente para mim.
— Desde quando você faz trabalhos voluntários para o
governo estudantil?
Norah estava distribuindo panfletos de aviso sobre a abertura
de inscrições para quem quisesse participar da votação do novo
Comitê de Associação do Governo Estudantil, o que eu acreditava
que não tinha nada a ver com ela.
A baixinha revirou os olhos e me entregou um bolo de papel
para diminuir a pilha em sua mão.
— Inscrições até amanhã — repetiu o mantra, quase gritando
na minha cara. — Os chatos também são bem-vindos.
Ela estava bem bonitinha usando um boné virado para trás,
com seu famoso rabo de cavalo, um short jeans muito curto que
quase mostrava a virilha e uma camiseta cinza larga, bem cavada,
que deixava à mostra o top preto e exibia a seguinte frase: não uso
fantasias, só as realizo.
— E você está participando disso porque...
Esperei que ela completasse a minha frase e Norah franziu os
lábios bonitos, fazendo com que eu me lembrasse de nossos beijos
e da forma como sua boca se encaixava bem na minha.
— Você está supondo que eu jamais faria trabalho voluntário
porque acha que eu não ligo para essas coisas, não é mesmo?
Porque você me conhece tão bem, afinal. — Ela revirou os olhos de
novo. — Bom, você não me conhece.
— Precisa de créditos para se formar, não é?
— Sim — Norah respondeu, suspirando e encolhendo os
ombros. — Não me encha a paciência. Não aguento mais entregar
essa porcaria de papel e a maioria corre quando vê um folheto.
Sorri porque gostei de vê-la daquele jeito estressadinha,
considerando que Norah estava sempre feliz da vida, sempre
soltando piadas toscas e vivendo num mundo cor de rosa. Então,
peguei o bolo de panfletos que ela segurava e me afastei para perto
da rua, abordando três garotas que passavam por ali.
— Oi, moças. Tudo bem? — Elas pararam e se abriram em
sorrisos, com os olhos brilhando de emoção. — Posso contar com a
ajuda de vocês para distribuir alguns desses?
Dividi o bloco de papel em três partes e os ofereci para as
garotas, que pegaram sem pestanejar e ainda pareceram
agradecidas por terem sido escolhidas para a missão.
— Faz um touchdown pra mim no sábado? — pediu uma
delas, batendo os cílios.
— É claro que sim — prometi, inclinando-me para o lado
quando uma outra me puxou para tirar uma selfie.
De repente, todas as três quiseram fotos e eu me vi cercado
com os celulares na minha cara, precisando sorrir sem muita
vontade. Uma delas, a que era mais alta, ainda beijou minha
bochecha e eu não consegui evitar pensar no meu pai arrancando
os cabelos se a imagem fosse parar na mídia. Ele teria com o que
se preocupar além da Norah, afinal.
Quando eu finalmente fiquei livre e elas foram embora,
carregando aquelas centenas de panfletos, eu me virei para a
baixinha e abri meus braços, me sentindo muito vitorioso por ter
resolvido o problema dela.
Norah me encarou os olhos estreitos numa linha reta e mãos
na cintura. Eu me aproximei, curvando meu corpo para a frente e
tentando nivelar nossos rostos.
— Ser popular tem suas vantagens — falei, piscando.
— Por que você está tão simpático hoje? — perguntou ela,
muito séria. — Não tem nenhum lugar entediante onde gostaria de
estar?
Fingi parar para pensar em uma resposta, olhando na direção
do céu, então sorri.
— O que acha de sair comigo para tomarmos um sorvete? —
convidei, com a ideia que me ocorreu naquele momento.
Norah ficou surpresa com minha proposta porque abriu e
fechou a boca, sem ter o que dizer. Quando se tratava de uma
garota que parecia uma matraca, era realmente incrível quando se
passava mais de trinta segundos sem ninguém falar nada.
— Olha, preciso me desculpar, Norah. Falei coisas absurdas
que você não merecia ouvir e estou desde ontem me sentindo mal
por causa disso.
— Mas você não disse nenhuma mentira. — Sua boca formou
um biquinho que eu senti vontade de beijar.
— Não vamos entrar de novo nesse assunto, por favor. Só
aceite minhas desculpas.
Norah passou por mim e eu me virei, pensando que ela
simplesmente ia me deixar falando sozinho e me ignoraria para
sempre, mas a garota agora me encarava com uma sobrancelha
erguida.
— Só para esclarecer, você sabe que se a gente interagir, eu
ainda vou dar em cima de você, né? — questionou, cruzando os
braços. — Então o melhor para o seu histórico de monge seria nem
falar mais comigo. Desse jeito, você continua sendo o chato de
sempre e eu posso desencanar e voltar a pegar caras aleatórios.
— Pode dar em cima de mim, eu não ligo — respondi, me
sentindo muito corajoso e não consegui evitar sorrir.
Norah pareceu ainda mais surpresa e cruzou as mãos embaixo
do queixo.
— Não vai chorar e ter pesadelos?
Gargalhei por um instante, mas me aproximei e me curvei de
novo para aproximar a boca de sua orelha delicadinha.
— Talvez eu queira que você me pegue — confessei, sentindo
meu sangue esquentar e o coração acelerar um pouco.
Primeiro, ela moveu apenas os olhos, que estavam
arregalados. Depois, seu rosto se mexeu discretamente, o suficiente
para que conseguisse me olhar nos olhos, como se quisesse
descobrir se eu estava falando sério. Não esbocei nenhum sorriso,
apenas sustentei seu olhar curioso, antes de ajeitar minha postura.
— Não se emocione, é apenas uma hipótese — avisei,
pegando meu celular do bolso para conferir as horas. — Que tal eu
passar na Zeta às dezessete horas?
Norah me encarou em silêncio por mais alguns segundos até
que assentiu e esticou a mão para mim. Um gesto um tanto
inusitado, mas mesmo assim eu a apertei.
— Combinado — disse ela, usando a mão livre para segurar a
minha entre as suas e começar a mexer em meus dedos como se
os avaliasse.
— O que está fazendo?
— Só conferindo o peso e o tamanho deles — respondeu, sem
me encarar. — Quero ver se vale a pena eu ir sem calcinha.
Meu cérebro deu uma travada que não me permitiu interpretar
corretamente aquela frase, me tirando a certeza de ter entendido
direito o que Norah havia falado.
— O quê? — perguntei, me sentindo um pouco fora de órbita.
Ela falou sobre não usar a calcinha ou eu estava imaginando
coisas?
— O que o quê? — Sorriu, soltando minhas mãos e puxando o
boné para frente. — Até mais tarde, Davis!
Então, a filha da mãe me deu as costas e saiu saltitando pela
rua, balançando os braços como se estivesse fazendo ginástica e
atraindo mais atenção do que o normal. Eu devia ter sofrido uma
contusão muito feia em algum momento do último jogo, para estar
cogitando fazer algumas alterações no meu modo de levar a vida, e
querendo incluir, justamente, a pessoa mais louca que conhecia.
Ainda achava surreal que Dominic estivesse todo fofinho e
simpático, além de ter me chamado para sair, depois de todas as
coisas que jogou em cima de mim na véspera. Sentada em minha
cama, demorei a acreditar que ia mesmo sair com ele, sem nenhum
motivo além do que realmente era: um encontro.
Quando finalmente faltava só meia hora para ele vir me buscar,
tomei vergonha na cara e fui procurar o que vestir. Escolhi um
vestido verde militar com decote tomara-que-caia que tinha um
caimento mais folgadinho na cintura, joguei uma jaqueta preta por
cima e calcei tênis brancos. Passei apenas muito rímel, um blush
nas maçãs do rosto e batom nude para o meu tom da minha pele.
Eu amava andar de rabo de cavalo, mas decidi deixar os cabelos
soltos dessa vez, e colocar apenas uma tiara preta bem fina para
dar um charme a mais no penteado.
Quando desci a escada, vi que Anna estava sentada no sofá
da sala, mexendo no celular. Ela levantou o olhar para mim e me
lançou um sorriso cínico.
— Eis aqui a celebridade do momento — zombou. — Eu fico
feliz que você tenha, finalmente, encontrado um otário para
namorar.
— Ah, que fofa! — Sorri para ela. — Você acha mesmo que
me ofende falando assim, que gracinha.
Aika apareceu saindo da cozinha com um potinho na mão que
eu jurava ser sorvete e se sentou no braço do sofá.
— Não disse nada de tão absurdo — murmurou a chata, antes
de bocejar. — Afinal de contas, acho que ninguém aqui da Zeta
esperava que, algum dia, fosse aparecer um homem que
conseguisse te aturar.
— Eu acredito que todo mundo possui uma alma gêmea. —
Levei minha mão ao peito e sorri. — Inclusive, você. Tenha fé que,
mesmo sendo mais vadia do que eu, um dia, vai aparecer alguém
especial ao seu lado.
Aika riu atrás de mim, mas Anna não gostou tanto de ter se
tornado um pouco o assunto da conversa ridícula que ela mesma
tinha iniciado. Outras meninas acabaram surgindo na sala para
fofocarem o que acontecia, porque nada passava despercebido
numa irmandade.
— Ah, Norah, francamente. — Ela revirou os olhos, guardando
o celular no bolso ao se levantar e cruzar os braços. — Você adora
ser o centro das atenções.
— Eu? — Ri da cara da doida. — Mas quem começou a
implicar foi você. Acho que está com inveja, visto que eu não me
lembro se alguma vez na vida, você pegou alguém tão popular
quanto o Dominic.
Anna riu, debochada.
— Inveja de você? Se pelo menos esse namoro fosse de
verdade, coisa que nem é. — Ela revirou os olhos. — Não passa de
um boato, não há nada rolando entre vocês.
Ergui uma sobrancelha.
— Tem certeza disso?
Como aquela criatura petulante me irritava! Eu seria expulsa e
não teria onde dormir se arrancasse o alongamento de cílios dela,
então apenas me contive e mantive o sorriso, enquanto Anna se
aproximou mais e levou uma mão à cintura.
— Você não é o tipo de garota com quem Dominic Davis sairia
— declarou, franzindo os lábios. — Ele faz parte do topo da cadeia
alimentar, entende? Enquanto você está... — a peste lançou um
olhar para o chão — lá no último nível.
— Isso foi maldoso até mesmo para você, Anna — disse uma
das meninas, a Luna, que fazia o mesmo curso que eu, porém, em
semestres diferentes.
Mas a filha da mãe não respondeu porque seus olhos estavam
arregalados e seu rosto parecia ter ganhado um pouco de palidez.
Finalmente, tinha calado a boca, assim como todas as garotas que
estavam na sala, o que era bem estranho.
— Boa tarde, moças.
A voz atrás de mim me fez congelar por alguns segundos,
sentindo os pelinhos da minha nuca se arrepiarem conforme eu
assimilava ela ao seu dono. Quando me virei de frente, Dominic
estava parado a uns trinta centímetros de mim, o que me obrigou a
jogar a cabeça para trás porque estava muito baixa sem saltos perto
dele.
— Demorei? — perguntou, tocando meu queixo todo
carinhoso.
— Não.
Ele sorriu de um jeito diferente, com algo que parecia uma
mistura de orgulho e sarcasmo, então, fez o que eu jamais esperava
que fizesse em qualquer momento. Inclinou a coluna para frente,
passando um braço pela minha cintura e alisando minhas costas,
enquanto descia a mão até a minha bunda e a apertava. Isso tudo
ao mesmo tempo em que cobria minha boca com a sua e me dava
um beijo lento, de língua, que me tirou tão de órbita que eu
cambaleei para trás e o jogador precisou me segurar firme.
Havia muita informação acontecendo em um curto espaço de
tempo. Primeiro, Dominic estava fabuloso vestido todo de preto,
com uma jaqueta de couro que o deixava com um estilo bem
diferente — e mais gostoso. Segundo, o loiro tinha investido
bastante no perfume porque daria para senti-lo a quilômetros de
distância. Terceiro, desde quando ele me beijava por livre e
espontânea vontade, principalmente, em público?
Só consegui abrir os olhos quando o senti beijar minha mão e
o encarei bem dentro daqueles olhos verdes que estavam meio
enigmáticos. Ao meu redor, o silêncio se tornou quase sepulcral e,
só então, me lembrei de Anna atrás de mim.
— Você está linda — murmurou o quarterback ao sorrir e
passar os olhos pelo meu corpo.
— Obrigada. Podemos ir?
Dominic estendeu a mão para mim e eu a segurei, achando
tudo aquilo cada vez mais bizarro. Não me dei ao trabalho de olhar
para trás porque sabia que Anna estaria se roendo de tanto ódio no
coração. O que eu achava ótimo. Deveria se engasgar com o
próprio veneno.
Quando alcançamos a calçada e eu vi a SUV do loiro parada
bem ali na porta, olhei ao nosso redor e percebi que não havia
ninguém por perto. Era o momento ideal para esclarecer as coisas.
— O que aconteceu lá dentro? — perguntei quando ele abriu a
porta do carro para mim. — Você está se sentindo bem?
— Eu ouvi uma parte da conversa e não podia deixar que ela
te humilhasse daquele jeito — Dominic respondeu, encolhendo os
ombros. — Acho que a tal Anna vai ter conteúdo para uma noite de
insônia.
Bati palmas e dei dois pulinhos sem sair do lugar, muito
animada com a encenação do jogador. Ele tinha conseguido me
surpreender e se até eu acreditei em tudo, quem dirá as meninas. A
filha da mãe implicante me odiaria pelo resto da vida, mas com
certeza, tinha valido a pena. Eu devia ter me virado para olhar a
cara de espanto dela. Que droga!
Dominic deu a volta no carro e eu me sentei no banco do
carona, sentindo que o interior também estava contaminado com o
perfume inebriante.
— Fiquei empolgada agora — comentei. — Me senti dentro
daqueles filmes em que a protagonista se vinga da garota má. Você
apareceu no momento mais propício de todos!
— Eu realmente não sei o que pensam de mim. — O loiro
balançou a cabeça ao ligar o carro. — Vocês, mulheres,
principalmente, agem como se eu fosse algum deus supremo do
universo ou uma estrela inalcançável. Se soubessem como eu não
ligo a mínima pra isso... — Ele suspirou, dirigindo para fora do
campus. — A única coisa que quero é jogar em paz e ser bem-
sucedido.
— Dominic, você é bem rico — levantei a mão para usar meus
dedos e enumerar —, joga o esporte mais popular do país, numa
posição que, eu descobri recentemente, é a mais concorrida, tem
talento transbordando pelos poros, e é incrivelmente gostoso.
De olho na direção, ele me lançou um olhar rápido e irônico.
— Não tem jeito, sinto muito. — Estalei a língua. — Todo
mundo te deseja. Deve ser muito difícil conviver com essa certeza.
Realmente, Deus tem os seus favoritos.
— Você também é desejada.
— Será? — questionei sem esperar resposta e me ajeitei no
banco para olhá-lo melhor e ele poder ver minha mão. — Vejamos...
Não tenho dinheiro nem família rica. Não pratico nenhum esporte e
se correr cem metros acho que desmaio. Não tenho um metro de
pernas curvilíneas, nem peitos grandes, muito menos bunda. Não
tenho modos, deixo a calcinha aparecer quando sento, não sei
comer com vários talheres na mesa e, de vez em quando, arroto em
público porque não consigo evitar.
— Solta cantadas toscas — completou ele.
— Sim, ok, não precisa aumentar minha lista.
— Corre como um patinho.
— O quê?
Aquilo não foi legal. Como assim? Eu o elogiei segundos antes
e ele vinha me criticar? Que tipo de encontro era aquele?
— Vi você correndo hoje mais cedo — disse Dominic, rindo à
toa. — Parecia um pato. E você também é extremamente
desbocada, bebe muito, é relapsa com os estudos e sua safadeza
passa um pouco dos limites.
Continuei o encarando por um longo tempo até que virou o
rosto para me olhar e ficou corado muito rápido.
— Quer dizer... — pigarreou, sorrindo. — Achei que estávamos
citando os defeitos um do outro.
— Não me lembro de ter citado nenhum defeito seu — concluí,
querendo estapear o rostinho bonito.
— Bem, eu durmo de meias mesmo quando está muito quente
— confessou, encolhendo os ombros.
Era só isso? Meias? Francamente, eu esperava alguma coisa
muito horrorosa sendo revelada. Sentei-me direito no banco e cruzei
meus braços, achando um absurdo que só eu tenha sido totalmente
exposta naquela conversa. Dominic pareceu levar na brincadeira,
achando graça da minha cara e apertando minha bochecha quando
suspirei pela terceira vez.
— Para onde você está me levando? — perguntei, curiosa.
— Tem uma sorveteria artesanal maravilhosa a uns vinte
minutos do campus — respondeu. — Eu conheço porque é caminho
para a casa dos meus pais.
— Espero que seja um sorvete muito, muito saboroso, porque
estou me sentindo de volta à adolescência, aceitando convite pra ir
à sorveteria. — Olhei pela janela, admirando o céu que estava
bonito naquele fim de tarde. — A última vez que cheguei perto de
um sorvete foi durante uma transa e a casquinha era o p...
— Eu não quero saber, Norah! — o jogador me interrompeu,
aumentando o tom de voz.
Virei-me para ele, mas percebi que estava sorrindo e com as
bochechas vermelhas. Balançou a cabeça e diminuiu a velocidade
ao pararmos num semáforo vermelho. Quando virou o rosto para
mim, prendeu o lábio entre os dentes e suspirou, antes de falar:
— Sei que já fez muito sexo, mas não quero ouvir os detalhes
sórdidos envolvendo outros homens.
— Podiam ser nossos detalhes, mas você não colabora —
comentei, suspirando.
— Tenho um pouco de medo do que vou ouvir, mas com
quantos anos você perdeu a virgindade, afinal?
— Com quinze — respondi, dando um tapa no braço dele. —
Também não precisa achar que sou uma grande vadia, né? Eu só
faço sexo como qualquer outra pessoa normal da minha idade,
desde que não se chame Dominic Davis.
Ele sorriu todo fofo e estacionou o carro sem que eu me desse
conta de que já tínhamos chegado. Mas o loiro não abriu a porta,
apenas se virou para mim e apoiou um braço no encosto do banco.
— Quinze é uma idade boa — murmurou, arqueando a
sobrancelha bonita. — Foi bom?
— Não muito. A primeira vez da mulher não é indolor como a
dos homens. E o garoto também era virgem, então nenhum dos dois
sabia direito o que fazer.
Eu me lembrei do momento em que Eric Evans pegou a
camisinha e se enrolou todo para colocá-la e eu precisei assistir um
vídeo educativo para podermos usar o preservativo de maneira
adequada.
— E você... — Dominic pigarreou, desviando os olhos para o
painel do carro. Era fofo quando ele ficava vermelho. — Quantas
vezes costuma fazer sexo?
Era impressionante que estivéssemos conversando sobre
aquele assunto e eu fiquei muito orgulhosa em saber que o
quarterback estava se sentindo à vontade para me fazer aquelas
perguntas tão íntimas.
— Não há um número exato — respondi com sinceridade. — É
o tipo de coisa que varia muito, mas quando estou numa fase mais
desapegada, pode rolar umas três vezes.
— Por mês? — perguntou, me encarando com atenção.
— Por semana — retruquei, vendo-o abrir e fechar a boca. —
Como assim, por mês? Quando você começar a transar, vai querer
comer alguém todo dia, querido. Imagina quanta testosterona tem
acumulada nesse organismo?
De repente, eu me dei conta do que falei e bateu uma
frustração grande. Estava passando ensinamentos valiosos para
Dominic, e corria o risco de nem usufruir do parquinho de diversões,
se ele levasse a sério aquela ideia de só perder a virgindade depois
que se formasse. Eu era uma grande otária, mas estava me
sacrificando pelo bem de uma nação.
— Acha que serão muitas mulheres? — perguntou o filho da
mãe, com um sorrisinho de lado, parecendo se divertir de alguma
piadinha interna que esqueceu de compartilhar comigo.
Suspirei, pegando a mão dele e alisando seus dedos
gigantescos que foderiam perfeitamente a minha bocetinha.
— Tenho certeza de que sim — respondi. — Você tem cara de
quem vai comer muito bem e vai me deixar orgulhosa. Afinal, estou
te criando para o mundo.
Ele riu, talvez pensando que eu estava brincando, mas falava
sério. Algumas mulheres queimam o sutiã, aquela era a minha
contribuição para a sociedade feminina: preparar Dominic para ser
um bom fodedor. Gostaria muito de dar aulas práticas a ele, mas se
não fosse possível, me esforçaria para me limitar às teóricas.
O jogador encarou a mão que eu segurava, observando meus
movimentos com atenção, até que inclinou a cabeça de lado e
lançou um sorriso safadinho.
— Veio de calcinha? — indagou, segurando meus dedos para
me fazer parar de alisá-lo.
— Sim, mas eu tiro agora se você quiser.
O filho da mãe gargalhou, não me levando a sério, então
puxou a mão e apertou a minha bochecha como se eu fosse uma
criança levada. Eu me senti umedecer só com aquela pergunta e
agora teria que andar até a sorveteria, sentindo a lingerie molhada.
— Vamos tomar o sorvete porque, pelo visto, minha mão não
vale a pena — declarou, abrindo a porta e saindo do carro antes de
mim.
Eu me apressei para acompanhá-lo, decidindo deixar a bolsa
ali dentro e levar só meu celular, e quando parei ao lado dele na
calçada, segurei seu braço e passei o meu por dentro dele. A
fachada do estabelecimento era bonita e passava a sensação de um
lugar luxuoso.
Entramos na sorveteria e nos sentamos em uma mesa próxima
à janela. Ao contrário dos lugares que eu conhecia e que precisava
ir até o balcão, ali fomos atendidos por um rapaz de avental
colorido, que nos entregou um cardápio cheio de opções de
sabores. Sem nem parar para olhá-lo, pedi logo duas bolas de
morango.
— Morango? Jura? Não quis ver o que tem de diferente aqui?
— Dominic perguntou quando o garçom se afastou.
— Sorvete de morango é o meu preferido. — Encolhi os
ombros. — Aí tenho medo de pedir outra coisa e não gostar, depois
ficar triste porque podia ter tomado o de morango.
Dominic Davis sorriu de um jeito muito estranho, mas ele
estava assim desde que apareceu na Zeta. Eu ainda não
compreendia o que estava acontecendo, mas não podia e nem
queria reclamar dessa versão Golden Retriever que o jogador
encarnou naquela tarde.
Pela primeira vez em muito tempo, eu me sentia feliz e à
vontade ao lado de uma garota, e o mais engraçado era a certeza
de que a pessoa em questão não tinha absolutamente nada a ver
comigo. Mesmo assim, Norah se revelou a companhia da qual eu
mais gostava atualmente.
Era incrível a maneira como ela interagia comigo, apesar de
saber que era daquele jeito com quase todo mundo. Sua
naturalidade e espontaneidade acabaram me conquistando mesmo
contra a minha vontade inicial. A garota era o tipo de pessoa
descontraída que a gente quer ter por perto.
Ali na sorveteria, enquanto ela sujava a ponta do nariz com
sorvete, perdi um tempo a observando com atenção. Os cabelos
soltos caíam ao redor do rosto pequeno e oval e a boca se
movimentava lentamente conforme se deliciava com seu doce.
Meus olhos foram atraídos para a língua que deslizava pelo sorvete
rosa e retornava para dentro da boca, antes de tocar a ponta do
lábio inferior para lamber o resíduo que sempre se acumulava ali.
Ela segurava a casquinha com firmeza e não consegui evitar
pensar no que comentou dentro do carro, sobre usar o alimento
durante o sexo. Então, quando usou os lábios para abocanhar a
bola de sorvete, senti meu pau sofrer um espasmo porque foi
impossível não associar uma coisa à outra.
— Você sabe que o seu teatrinho lá na Zeta só vai aumentar
os rumores de que estamos namorando, não é?
Pisquei quando percebi que Norah estava falando comigo e
olhei para a minha mão suja por causa do meu sorvete que estava
pingando. Talvez não tenha sido a melhor das ideias trazer a garota
neste lugar que beirava a pornografia.
— Acho que consigo viver com isso — respondi, pensando nos
meus pais. — As pessoas sempre irão me cobrar o tempo todo,
sobre tudo. É o preço que se paga.
— Você não sente falta de levar uma vida normal? — Norah
encolheu os ombros. — Sei lá, de não precisar abrir mão das
coisas? De ser anônimo.
— Não se pode sentir falta de algo que nunca teve.
Por ser filho de um astro da NFL, eu cresci nesse universo de
mídia, holofotes, fofocas sobre minha família, fora a pressão de todo
o peso colocado sobre os ombros do filho prodígio de Henry Davis,
que seguiria os passos do pai.
— Isso é triste, Dominic — comentou Norah. — Você devia
aproveitar mais a sua juventude. Devia tomar um porre, transar com
umas garotas aleatórias... — Ela levantou a mão e eu sorri. —
Enfim, precisa viver mais, porque só teremos vinte e poucos anos
uma vez na vida.
— Talvez eu comece mesmo a me aventurar mais —
confessei, atraindo sua atenção enquanto lambia seu sorvete. — O
que sugere?
O sorriso de Norah aumentou e eu logo pensei que estivesse
prestes a dizer algo que envolvesse sexo, mas a garota se levantou
e me puxou pela mão, quase me fazer derrubar meu sorvete. Só tive
tempo de puxar as notas de dentro da carteira e deixar o pagamento
sobre a mesa antes de ser rebocado para fora da sorveteria.
— Tenho um lugar incrível pra te levar — comentou,
começando a morder a casquinha. — Eu ia com a Aika e alguns
amigos quase toda semana, mas então a galera enjoou de
frequentar sempre o mesmo bar.
— Não quero ir a um bar, Norah.
Ela largou minha mão quando paramos na frente do meu carro
e estreitou os olhos, batendo um dos pés pequenos depois de
cruzar os braços.
— Pensei que quisesse viver novas aventuras.
— Num bar? — Arqueei minha sobrancelha. — O que há de
especial lá?
— Você vai ver!
Norah revirou os olhos e foi para o lado do carona, abrindo a
porta e entrando para me esperar. Quando eu me sentei ao volante,
virei o rosto para a garota que parecia muito animada em me levar
para um bar e desci meus olhos até as pernas nuas e finas. Eu
nunca tive esse tipo de interesse em ficar tocando ou descobrindo o
corpo de ninguém, mas ultimamente, Norah vinha acendendo um
desejo em mim, que me deixava um pouco perdido quando a
observava com atenção.
Conseguia me lembrar perfeitamente de cada vez em que a
toquei, mesmo que tivesse sido da forma mais delicada possível, e
admitia ter gostado de todas elas. Outra coisa à qual vinha me
acostumando era falar ou agir de maneira que a surpreendesse
momentaneamente. Por isso, acabei não resistindo e me curvei
sobre ela, apoiando minha mão numa de suas coxas.
— Você tinha dito que se minha mão valesse a pena,
consideraria vir sem calcinha — comentei, vendo sua boca abrir. —
Isso significa que minha mão não é tão valiosa assim?
Sem dizer nada, a safada afastou as pernas e sorriu para mim,
aguardando meu próximo movimento. Confesso que senti uma
vontade enorme de deslizar os dedos para cima até encontrar a
lingerie e descobrir como seria tocar a boceta de Norah, mas os
vidros das janelas do carro eram incolores e eu não estava nada
ansioso para ter mais fotos nossas circulando nas redes sociais.
Apenas apertei a coxa da baixinha antes de voltar à posição
original e segurar o volante com as duas mãos, para não cair em
tentação.
— Frouxo — murmurou ela ao meu lado, puxando o cinto de
segurança.
— Me dá o endereço do lugar onde vamos — mudei de
assunto porque me sentia um covarde.
Norah bufou, mas se ajeitou no banco e passou o nome do tal
pub, que eu digitei no GPS do carro, pois não conhecia o
estabelecimento. Ficava a mais ou menos dez minutos da
sorveteria, então não demoramos a chegar e consegui estacionar
bem perto da entrada movimentada.
Do lado de fora já dava para ouvir o country que tocava bem
alto e assim que passamos pelas portas, descobri que o lugar era
praticamente um altar dedicado ao Alabama Crimson Tide. Toda a
decoração era baseada nas cores do nosso time de futebol
americano, e havia mais de quinze televisores espalhados por todas
as paredes do local. No alto, atrás do grande bar onde três
funcionários se dividiam entre os clientes, ficavam emolduradas as
camisas de diversas gerações do Bama, incluindo a que tinha o
número e nome do meu pai.
— Foi por isso que me trouxe aqui? — perguntei, admirado,
pois desconhecia a existência do lugar e tinha certeza de que a
galera do time ia curtir aparecer qualquer dia.
— Ahn? — Norah pareceu não perceber o quanto eu estava
surpreso, e só então ela seguiu meu olhar. — Ah, não. Lembra que
eu não curtia esportes? Isso não é nada.
Para ela, podia não ser. Para dois homens que estavam
sentados à frente do balcão, e também para um dos barmans, a
resposta seria outra. Um dos clientes cuspiu a cerveja que estava
bebendo quando olhou para a minha cara e o funcionário parou o
que estava fazendo para me encarar boquiaberto.
— Eu o trouxe aqui por causa dele. — Norah me puxou para
longe do bar e passou comigo pelo ambiente que servia como pista
de dança, pois algumas pessoas seguiam alguns passos
engraçados. — Olha como é lindo!
Por “ele”, a doida se referia ao touro mecânico que balançava
freneticamente enquanto um homem tentava, sem sucesso, se
segurar. O animal de mentira ficava em cima de uma plataforma
redonda e acolchoada, e o homem caiu, rolando pelo chão e
gargalhando quando os que assistiam, comemoraram sua queda.
— Não sei se você esqueceu, mas tenho jogos todos os
sábados e não pretendo quebrar uma perna por subir num touro
mecânico.
Ela se virou e me encarou com a testa franzida, depois revirou
os olhos. Então, marchou de volta ao bar e montou numa banqueta
alta demais para seu tamanho, apoiando as mãos no balcão e
acenando para o barman que ainda me olhava apavorado.
— Uma cerveja, por favor! — pediu Norah, já entregando sua
identidade para o homem, pois ele com certeza pediria por ela.
— Você poderia nos dar a honra de assinar sua camisa? —
perguntou o cara para mim, praticamente a ignorando. — Ela está
bem ali.
Olhei na direção em que ele apontou, percebendo que tinha
virado o foco de todos que estavam perto de nós e alguns celulares
começavam a piscar. Depois, voltei minha atenção para o barman e
assenti para ele.
— Primeiro, sirva a moça — pedi. — Então, eu autografo o que
quiser.
Norah sorriu de forma orgulhosa e se empertigou toda,
cruzando as mãos pequenas sobre o balcão e batucando seus
dedos enquanto esperava pela cerveja. Os minutos seguintes foram
de pura confusão quando comecei a atender vários pedidos de fotos
e autógrafos. Dentro do campus, era mais difícil isso acontecer,
geralmente eu só tirava fotos, mas como estava sempre convivendo
com todos, não rolava muito esse lance de assinar meu nome.
Quando as pessoas se cansaram de mim e deixei de ser
novidade, consegui assinar com calma a camisa do meu número
vinte e descobri que Norah tinha terminado sua caneca gigante de
cerveja.
A garota passou as costas da mão pela boca e sorriu para
mim, piscando de um jeito engraçado. Então, ela pulou da banqueta
e seguiu na direção da pista, até se aproximar do touro.
— Norah, você vai se machucar — falei, segurando seu braço
para impedir que fosse até ele.
— Meu amor, eu passava minha vida em cima desse touro! —
Ela deu um tapinha no meu peito e suspirou. — Estou com saudade
dele. Se não monto em você, pelo menos, tenho uma segunda
opção.
Os homens por perto ovacionaram quando a garota de um
metro e meio entrou na área reservada ao touro e ergueu o braço,
confiante. Eu fiquei logo ao lado, temendo que uma tragédia
acontecesse, mas me preparando para arrancá-la dali de cima caso
percebesse algum perigo real.
Norah tirou a jaqueta e a jogou para mim, foi quando percebi
que a garota estava de vestido e ia mostrar demais quando se
sentasse no animal que era mais largo do que as pernas dela
conseguiam dar conta. Começou a tocar “Man! A I Feel Like a
Woman”, da Shania Twain, o que inflamou ainda mais os ânimos de
todos.
A baixinha montou o touro sem ajuda de ninguém, escalando o
corpo dele e se segurando no suporte que ficava no centro. Estava
com medo de assistir, confesso, mas logo o animal começou a se
movimentar e a maluca ergueu um dos braços, se divertindo.
O touro pulava, sacodia de um lado para o outro, empinava e
descia, dava voltas, e Norah arrancava gritos de quem torcia por
ela. Em determinado momento, ela perdeu o apoio de mãos e
acabou se deitando completamente até segurar o touro pelos
chifres. Ri sozinho da imagem terrível, pois a garota parecia uma rã
grudada no bicho, com a bunda empinada mostrando a calcinha
preta. Mas ela, simplesmente, não caía.
O cronômetro digital corria em disparada e eu olhei para o
outro lado da parede, descobrindo que ela tinha batido o recorde
daquela noite. Acho que quando se deu conta disso, afrouxou os
braços e se deixou ser derrubada, caindo toda destrambelhada e se
levantando num segundo. Balancei a cabeça, horrorizado, mas
orgulhoso, vendo-a ser aplaudida com os dois braços para o alto.
Em seguida, apontou para mim.
— Não — avisei, recuando, mesmo ciente de que de onde
estava ela não podia me ouvir.
Norah correu até onde eu estava, saltitando daquele seu jeito
engraçado como um patinho, então passou os braços ao redor da
minha cintura e grudou o queixo no meu peito ao olhar para cima.
— Se for no touro, eu prometo que fico uma semana inteira
sem dar em cima de você.
— Por que você quer tanto que eu me humilhe? — perguntei,
rindo e ajeitando os cabelos dela, que estava toda despenteada.
— Porque eu quero que se divirta! — A filha da mãe se virou
para as mesas lotadas, que aguardavam minha decisão com
expectativa, e perguntou: — Quem quer ver o futuro astro da NFL,
Dominic Davis, em cima do touro?

Encostei-me contra a porta do carro e ri de forma


descontrolada, me sentindo muito alucinado. Não tinha colocado
uma gota de álcool na boca, ao contrário de Norah que tomou três
canecas de cerveja, porque o recordista do touro sempre tinha
direito a duas bebidas grátis. Eu estava bêbado era de endorfina e
precisava admitir que a garota tinha feito um bom trabalho.
Acabei em cima do touro mecânico, sim, e não demorei nem
cinco segundos para cair da primeira vez. Mas acabei subindo
novamente, e então, fiquei oito segundos, o que não era tão
vergonhoso assim, considerando que dois caras que subiram depois
de mim mal completaram seis segundos.
Depois disso, Norah me obrigou a dançar aquelas coreografias
ridículas que os amantes de country adoravam fazer e, quando
percebi, já estava dando meu braço para desconhecidos, enquanto
seguia o fluxo das trocas de pares. Uma hora e meia depois, nós
dois deixamos o pub com suor escorrendo pelo rosto e bochechas
doendo de tanto rir.
Antes de entrarmos no carro, precisei parar ali fora para
respirar ar puro e virei o rosto para o céu estrelado. Ao meu lado,
Norah vestia sua jaqueta e amarrava os cabelos no famoso rabo de
cavalo, antes de simplesmente soltar o arroto mais alto que ouvi na
vida inteira.
— Muito elegante — zombei, tocando sua mão pequena e a
puxando para colocá-la de frente para mim.
— Eu avisei que sofria desse probleminha — disse, usando o
indicador e o polegar para indicar o tamanho do problema.
Minhas costas estavam apoiadas na porta da SUV e, agora, eu
tinha Norah entre minhas pernas e meus braços. Ela me encarou
com atenção, apoiando as mãos no meu peito, em seguida,
suspirou. Ficamos assim por um tempo até que eu comecei a
estranhar sua reação.
— O gato comeu sua língua? — perguntei.
— Eu prometi que não daria em cima de você, se subisse no
touro — ela quase choramingou, formando um bico com os lábios.
— Estou arrependida. É tão fácil falar sacanagem pra você...
— Uma pena. — Encolhi os ombros e toquei seu rosto bonito,
passando meu dedo indicador por seus lábios. — Mas posso fazer
isso por nós dois.
— Isso o quê?
Aproximei meu rosto do dela e abri um sorriso.
— Dar em cima de você, Norah — confessei, beijando o canto
de sua boca. — Apesar de que não deveria, porque você mostrou a
calcinha pra todo mundo daquele bar. Eu jurava que teria alguma
exclusividade, mas me iludi.
Os olhos escuros me fitavam de um jeito hipnotizante quando
a beijei devagar, alisando sua bochecha com meu polegar conforme
sentia nossas línguas se tocarem sem pressa. Eu poderia ficar
daquele jeito com Norah em meus braços por muito tempo, porque
já sentia que aquele era o lugar da baixinha e eu me sentia muito
bem tão perto dela.
Respirei fundo, procurando por um pouco de autocontrole,
quando passou os braços ao redor do meu corpo e me apertou,
esmagando os seios pequenos em meu peito e me deixando de pau
duro por causa dos gemidos que soltou baixinho contra meus lábios.
Acabei descendo minhas mãos até a bunda durinha que a
garota tinha, aproveitando que o lugar onde tinha estacionado ficava
bem debaixo de um poste com a lâmpada queimada. Levantei o
vestido discretamente até conseguir sentir a pele macia e quente,
além da calcinha de tecido fino, que eu provavelmente rasgaria com
facilidade se desejasse puxá-la.
Meu pau começou a inchar rapidamente e eu esfreguei o corpo
de Norah no meu, sentindo-a mordiscar meu lábio inferior antes de
trazer a boca até a linha do meu maxilar.
— Você é linda — falei quando me olhou sedenta. — É
impossível não ficar excitado...
Norah sorriu, deslizando a mão pela minha cintura e a
trazendo para a frente do meu corpo. Prendi a respiração quando
senti seus dedos ágeis tocarem minha calça e apertarem minha
ereção. Não sabia o que era esperado de mim naquele momento,
porque estávamos no meio da rua e eu não queria, de novo, gozar
do jeito que aconteceu anteriormente.
— Eu adoro quando você se permite ficar assim — murmurou
ela, com um tom de voz doce, porém, sensual, esfregando a palma
da mão no meu jeans. — É normal ficar de pau duro no meio de um
amasso, Dominic. E, cá entre nós, é um elogio pra garota com quem
você está ficando.
— Mas não quero que aquele... incidente, se repita — avisei,
respirando devagar e tentando não deixar que o tesão me
dominasse.
Vi a compreensão alcançar o olhar de Norah, que assentiu e
recuou a mão, ao mesmo tempo em que se esticou e me deu um
selinho. Ela se afastou e rodopiou, talvez um pouco mais alegre do
que o normal por conta da bebedeira. Deu a volta no carro e abriu a
porta do carona para se sentar. Eu a acompanhei e a encarei antes
de ligar o automóvel, mas a garota parecia tranquila, com a cabeça
apoiada no encosto do banco e os olhos fechados.
— Serei boazinha com você, não vou te fazer perder o controle
hoje — murmurou, bocejando.
— Quase uma santa — zombei dela, dando partida no motor e
saindo da vaga.
— Uhum... — Notei que ela parecia sonolenta, então toquei
seus cabelos e fiz um carinho em sua nuca. — Estou sendo meiga e
carinhosa porque hoje você me surpreendeu de muitas maneiras,
além de ter me beijado por vontade própria.
Sorri com seu discurso cara de pau, porque seria muito difícil
enxergá-la como uma menina meiga, mas a piadinha que eu queria
soltar morreu no fundo da minha garganta quando Norah se inclinou
para o lado e deitou a cabeça no meu ombro. Mantive minha
atenção na direção e deixei que cochilasse até o campus,
percebendo que eu não devia mais temer perder o controle, porque
ele já tinha ido embora há muito tempo e eu estava muito mais
fodido do que imaginei que um dia estaria.
Quais seriam as consequências de me apaixonar por alguém
como Norah Brown?
Ele estava perto, muito perto. Suas mãos ainda estavam na
minha cintura, e me apertavam com ainda mais força do que antes.
Dominic me encarava profundamente, e seus lábios pareciam
abertos na medida certa, me chamando para eles. Botei a mão atrás
da sua nuca e o puxei para mim, eliminando o espaço que existia
entre nossas bocas. Ele correspondeu ao beijo instantaneamente,
me agarrando contra si e me invadindo com a sua língua.
Aquele beijo não era lento e delicado. Pelo contrário, era
intenso, nervoso, selvagem... Gemi contra os seus lábios, em
êxtase. Desci as mãos pelo seu peito, por cima da camiseta,
explorando o seu corpo. Continuei o caminho até chegar à sua
virilha e agarrar seu pau ereto. Apertei-o levemente, arrancando um
gemido forte de Dominic, e o senti pulsar contra a minha mão.
— Norah — o jogador chamou meu nome em um sussurro.
Ele era tão grande, quente, macio... Dominic gemeu de novo
contra os meus lábios, mas algo em sua postura mudou. O loiro
ficou tenso, de repente, e se afastou num piscar de olhos.
— Eu... — balbuciou, muito nervoso. — Eu nunca fiz isso.
Foi quando abri os olhos e encarei o teto do meu quarto,
sentindo-me suar dentro do pijama e me sentando na cama. Era só
o que me faltava, além de sofrer com tesão incubado na vida real,
agora o quarterback também me maltratava em sonho. Porque nem
mesmo dormindo eu conseguia ter sucesso em minhas tentativas de
transar com ele?
Peguei a garrafinha de água que sempre deixava sobre a
mesa de cabeceira e tomei todo o conteúdo num único gole bem
longo, antes de voltar a me deitar e torcer para pegar no sono.

Naquela sexta-feira véspera do tal jogo que era


superimportante, chamado Iron Bowl, e que nem aconteceria aqui
no estádio da universidade, Dominic me chamou para jantar num
restaurante ali perto. Era aniversário de Eric e eles sairiam para
comer pizza, já que não podiam se dar ao luxo de fazer uma
comemoração regada a muita bebida.
Eu aceitei porque fiquei surpresa de o jogador querer me
incluir num momento que deveria ser dele com os amigos, mas de
qualquer forma, descobri que não era a única mulher que tinha sido
convidada.
Não chegamos a conversar direito sobre a noite anterior e o
que aconteceu — e o que não aconteceu — entre nós, porque a
pizzaria era muito perto da Zeta e passamos pouco tempo dentro do
carro a sós.
Sentamos numa mesa reservada para o aniversariante, com
uns vinte lugares ou mais, e me senti à vontade por estar entre
Dominic e Peter, com quem eu já tinha alguma intimidade. Enquanto
eu conversava com ele sobre a Aika, pois tinha perguntado por
minha amiga, pousei a mão na coxa do quarterback, mas de forma
muito despretensiosa.
Acho que só me dei conta do meu gesto quando o loiro me
imitou e trouxe sua mão pesada até minha perna. Como eu estava
de saia, senti minha pele arrepiar com o toque inesperado e soltei
um suspirou pesado.
Sobre a mesa havia uma toalha xadrez vermelha e branca,
bem típica de restaurantes italianos, e ela era comprida o suficiente
para cair sobre o nosso colo e esconder o que acontecia ali debaixo.
Eu podia ter aproveitado para explorar o conteúdo daquela calça
jeans, mas fiquei com medo de que Dominic se descontrolasse e
acabasse causando uma cena que o deixaria desconfortável,
considerando que não tinha nenhuma experiência em disfarçar o
prazer.
Daquela vez, preferi agir um pouco diferente e com mais
ousadia. Toquei a mão dele e a subi para mais perto da minha
virilha. Dominic não percebeu o que eu estava fazendo até ser tarde
demais, pois quando seus dedos alcançaram a minha calcinha de
renda, ele tentou puxar a mão num ato involuntário, mas eu fechei
minhas pernas e o mantive preso.
O gostoso praguejou baixinho ao meu lado e eu levei a mão
até a boca para abafar o riso. Estavam todos muito ocupados em
conversar falando ao mesmo tempo e Peter, ao meu lado, parecia
focado no cardápio.
Lancei um sorriso triunfante para Dominic, e ele me encarou
de volta com um olhar nada gentil. Movi meus quadris com muita
discrição, e apertei mais as minhas coxas, fazendo sua mão deslizar
ainda mais para dentro das minhas pernas. Pensei que o loiro fosse
resistir por mais tempo àquela minha aventura, mas talvez, sentir o
tecido molhado da minha calcinha tenha sido o suficiente para
incentivá-lo. Eu o vi respirar fundo e seu braço estremecer com a
mão parada em mim.
Decidi fazer um teste e o soltei, apoiando meus antebraços na
beira da mesa e relaxando minhas pernas para deixar que Dominic
tomasse uma decisão. Eu queria muito que me tocasse, sentia-me
encharcar a cada segundo que passava, ciente de que o dedo dele
podia fazer um estrago em mim.
— Qual pizza vocês vão pedir? — perguntou Peter ao meu
lado, se inclinando para olhar para Dominic. — Decidiram?
O loiro negou apenas com um gesto de cabeça e pegou um
dos cardápios que estavam sobre a mesa, ao mesmo tempo em que
me surpreendeu ao colocar a minha calcinha para o lado e resvalar
os dedos gelados pelos meus grandes lábios. Sem esboçar
nenhuma reação, ele passeou pela minha fenda melada e eu apoiei
meu cotovelo na mesa para tapar minha boca com meu punho
fechado.
Com movimentos lentos e sutis, Dominic começou a me
explorar como se tentasse entender com o que estava lidando.
Imaginei que havia grandes chances de aquela ser a primeira vez
que ele tocava uma mulher e isso me deixou com mais tesão do que
o normal. Ele reconhecia meu corpo aos poucos, sem pressa,
parecendo brincar com minha boceta enquanto aprendia o que era
cada pedaço dela. Para cima e para baixo e em movimentos
circulares, às vezes, esbarrando no meu clitóris. Precisei afastar um
pouco mais as pernas, dando maior liberdade a ele, ansiosa por
sentir mais de Dominic.
— Norah, o que acha de pedirmos uma grande de pepperoni?
— perguntou, de uma forma que ninguém nunca imaginaria que
estava me masturbando. — Eu, com certeza, vou comer umas cinco
fatias.
— Tá.
Foi a única coisa que consegui falar porque corria o risco de
acabar gemendo junto da resposta. Eu sentia minha lubrificação
escorrer pela minha virilha, e minha vagina piscava com vontade de
sentir algo sendo introduzido em seu interior. Discretamente,
precisei segurar de novo a mão de Dominic e o manuseei para que
levasse seus dedos até lá. Ele não resistiu e deixou que eu fizesse o
que queria, respondendo apenas com um suspiro pesado. Movi os
quadris para que ele fosse mais fundo e mordi minhas bochechas
para evitar gemer. A excitação por estar fazendo isso em público era
tão boa quanto o prazer do ato em si.
Eu sabia que precisava parar porque não podia gozar na mesa
com todos os amigos dele em volta, pois eu tinha o costume de ser
um pouco escandalosa. Tinha plena consciência de que não
conseguiria me controlar o bastante para que ninguém percebesse
nada, e logo, Peter mataria a charada porque minha vontade era a
de começar a rebolar com força.
Pensando com clareza, eu toquei a mão de Dominic e a puxei
de volta, discretamente, lançando para ele um olhar que eu
esperava que entendesse. A brincadeira não poderia continuar. O
jogador me encarou em silêncio antes de apoiar a bendita mão
sobre a mesa, ao lado do cardápio, e fitou seus dedos por alguns
segundos. Eu daria tudo para descobrir o que se passava naquela
mente tão misteriosa e discreta, mas Peter disse alguma coisa e eu
tive que me virar para falar com ele.
— O quê? — perguntei, pois não tinha escutado direito.
— Dominic contou do seu desastre na sinuca e eu acho que
preciso ensiná-la a jogar.
— Basta marcarmos um dia — respondi, batendo meu ombro
no dele. — Eu aprendo rápido. Tem certeza de que quer me ensinar
pra levar uma surra de mim depois?
Nós dois nos assustamos quando Dominic levantou de
repente, empurrando sua cadeira para trás e chamando a atenção
de toda a mesa. Ele guardou seu celular no bolso e esticou a mão
para mim.
— Vamos embora — pediu. — Lembrei-me de um
compromisso que eu tenho pra esta noite.
— Está de sacanagem, né Davis? — algumas cadeiras
adiante, o aniversariante gritou e jogou uma bolinha de guardanapo
no loiro. — Nem começamos a comer!
Se eu estivesse entre meus amigos, diria para que ele fosse
embora sozinho, pois estava morta de vontade de comer pizza. Mas
como era a turma dele, se eu ficasse, seria capaz de deixá-lo puto,
então dei um beijo no rosto de Peter e me levantei também.
— É sério, eu que acabei esquecendo e envolve minha família,
não posso faltar — o quarterback explicou para o pessoal que nos
assistia sair da mesa. — Parabéns, Eric.
Ao contrário de todos que ficaram muito surpresos pela partida
repentina, eu notei que Peter nos olhava de um jeito diferente, como
se compartilhasse um segredo conosco. Acenei para ele, que
balançou a mão de volta antes de pegar o celular que começou a
tocar.
— Estou admirada de você, todo certinho, esquecer um
compromisso — comentei, chateada. — Vai ter que me pagar uma
pizza depois. Agora fiquei com vontade.
— Pago quantas quiser.
Nossa, gostei disso. Comecei a pensar no melhor dia para
voltarmos aqui e quando deixamos a pizzaria, Dominic segurou
minha mão, me puxando na direção do estacionamento. Seu carro
estava estacionado logo nas primeiras vagas e quando abriu a porta
do passageiro, praticamente me jogou lá dentro, dando a volta no
carro e entrando com pressa do outro lado.
— Você está tão atrasado assim pra essa pressa toda? —
perguntei, soltando minha bolsa no chão e puxando o cinto de
segurança.
— Não há nenhum compromisso, Norah — Dominic
confessou, me surpreendendo. — Só precisava sair de lá com você.
Eu realmente tinha sido enganada porque nunca imaginei o
loiro fazendo algo do tipo, então acabei não prestando atenção nos
detalhes. Como, por exemplo, a enorme ereção que se formou em
sua calça quando eu parei para observar seu corpo depois de
perceber como ele estava ofegante. Entre as suas pernas, havia um
volume grande e imponente que me fez desejar, mais uma vez,
experimentar o gosto.
Dominic se inclinou até mim e afundou o rosto no vão do meu
pescoço, deixando os lábios encostarem na minha pele, enquanto
uma de suas mãos passeava pela minha coxa.
— Eu quero você, Norah Brown — sussurrou todo gostoso. —
Quero sentir a sua boceta de novo. Posso?
Ah, que delícia de macho fofo! Agarrei Dominic pelos cabelos e
o fiz levantar o rosto, que mesmo dentro do carro escuro, eu sabia
que estava corado porque ele era muito branco e qualquer reação
podia ser notada. Engoli sua boca gostosa e chupei seus lábios,
enquanto deixava meu corpo deslizar um pouco pelo banco,
afastando minhas pernas para dar espaço para a mão grande.
— Enfia seus dedos em mim... — pedi, usando minha própria
mão para guiá-lo até a entrada da minha vagina. — Você pode
deixá-los um pouco curvados, assim, porque vai me causar um
prazer muito maior.
— Você é sempre quente e melada? — perguntou Dominic,
enquanto tirava e colocava os dois dedos em mim.
— Perto de você, sim... — respondi, fechando os olhos por um
segundo e rebolando contra a mão dele. — Você me excita
demais...
Dominic agia por instinto, com movimentos ágeis e certeiros.
Sem que eu tivesse que guiá-lo o tempo todo ou dizer o que tinha
que fazer, ele acrescentou um terceiro dedo, me fazendo soltar um
gemido mais alto do que deveria.
O loiro sorriu para mim, demonstrando muita animação, mas
de repente, seu semblante murchou um pouco e os movimentos de
seus dedos cessaram.
— Você fala isso para todos, né safada?
— Que todos? — questionei ao vê-lo voltar para o seu lugar e
apoiar na calça a mão que estava me masturbando.
— Os caras com quem dorme — respondeu o jogador,
soltando um suspiro forte antes de pigarrear. — Eu certamente não
sou o único que a deixa excitada.
Ele não podia estar falando sério. Aquilo era uma crise de
ciúmes justo na noite em que eu finalmente tinha conseguido driblar
a Muralha da China que havia ao redor do quarterback? Eu era tão
azarada assim?
— Temos passado muito tempo juntos e acabo esquecendo
que sou apenas o cara do momento — murmurou, dando um sorriso
sem muita vontade. — O significado disso tudo é diferente pra mim
do que é pra você.
Ajeitei minha saia que tinha ficado toda embolada e me virei
para Dominic, procurando pelas melhores palavras. Ele ainda
estava com a ereção monstruosa e eu só desejava cair de boca ali,
mas pelo visto, o clima se acabaria se eu não tentasse consertar as
coisas.
— Eu sou faladeira, mas não sou boa em dizer coisas bonitas
e profundas — expliquei, encolhendo meus ombros. — Não sei o
que você quer ouvir, Dom, mas posso garantir que não quero só tirar
a sua virgindade. Eu espero que a gente continue sendo sempre
amigos.
Soube que falei alguma coisa errada pelo semblante dele e me
senti nervosa porque aquela era uma situação nova para mim. Os
homens, geralmente, não se importavam com nada disso. Eles
estavam tão focados em tirar minha roupa quanto eu, a deles. O
único com quem eu realmente conversava antes e depois do sexo
era o Joe, mas porque desenvolvemos uma amizade muito legal. E
eu queria isso com Dominic, pois não conseguia imaginar uma vida
em que ele não estivesse nela. Meu coração apertava no peito só
de pensar no jogador deixando de falar comigo por qualquer motivo.
Para quebrar o clima de enterro, toquei sua perna e subi minha
mão devagar, aproximando-me do volume delicioso. Mantive a
atenção compartilhada entre o botão do jeans e o rosto de Dominic
para ter certeza de que ele não estava odiando minha atitude.
Quando passou a língua pelos lábios e fechou os olhos, eu entendi
sua reação como um sinal positivo e puxei o zíper da calça,
revelando a cueca preta toda inchada.
Respirei fundo, pronta para ver o pau de milhões do Alabama,
e o jogador tirou o seu braço do caminho quando me inclinei mais
para a frente. Finalmente, coloquei a mão dentro da sua cueca e
libertei o seu pênis grande, grosso e delicioso.
Podia perder alguns segundos para admirar a obra de arte,
mas tinha medo de que o tempo contribuísse para que Dominic
desistisse da ideia, então sem enrolar, abocanhei a cabeça do pau
com vontade, sentindo seu gosto e sua textura macia. Ela estava
toda meladinha, assim como a cueca demonstrava um pouco de
umidade, e isso me deixou ainda mais excitada.
— Meu Deus... — o quarterback gemeu. — Norah...
Os músculos das pernas de Dominic se tensionaram e ele
continuou gemendo quando desci meus lábios pelo comprimento
inteiro, quase até o fim. A posição não era das melhores e eu nunca
tive coragem de fazer garganta profunda porque tinha medo de
vomitar, então como Dominic era bem-dotado, não dava para engolir
tudo.
— Isso é... incrível... — balbuciou entre um gemido e outro.
Estimulada pela reação do loiro, aumentei a pressão da
chupada. Ele gemeu mais alto e moveu os quadris para cima, na
direção da minha boca. Poderia nunca ter feito aquilo, mas sabia
exatamente do que precisava. O corpo humano era fabuloso
mesmo!
Afastei um pouco o rosto para poder admirar o pau lindo, com
a glande brilhando, rosinha, e desci minha mão pelo mastro cheio
de veias deliciosas. Coloquei minha língua para fora e o lambi
naquela região mais macia da cabeça, erguendo meus olhos para
encontrar os dele focados no que eu fazia.
— Você é ainda melhor do que eu imaginei — murmurei,
deixando um fio de saliva escorrer até seu pau. — Espero que não
me maltrate por muito mais tempo e me deixe sentar logo nele.
— Vou gozar, Norah.
Coloquei a mão na base de seu pau e comecei a masturbá-lo
enquanto o chupava. Dominic tocou minha cabeça e agarrou meus
cabelos com força, forçando os quadris para o alto, tentando manter
um certo ritmo. Ele agia por instinto, atrás do próprio prazer, e eu me
sentia deliciada por ter sido a primeira que havia provado daquela
maravilha.
— Pode gozar na minha boca — avisei, percebendo que ele já
estava no limite. — Não se segure, Dom.
Sem dizer mais nada, abaixei meu rosto novamente e chupei a
glande com muita dedicação. Um segundo antes do orgasmo, senti
o corpo inteiro de Dominic se retesar em minhas mãos e, em
seguida, os jatos fortes inundaram a minha língua. Eu detestava
engolir esperma, geralmente, se quisesse fazer uma ceninha a
mais, só deixava que escorresse pelos meus lábios, mas não
engolia. No caso do loiro, eu realmente quis que acontecesse
daquele jeito, queria ser a primeira a tomar tudo dele. De todas as
formas.
Dominic soltou um gemido pesado enquanto gozava e, como
se curvou na direção do volante, acabou até mesmo acionando a
buzina sem querer. Depois de alguns segundos de tensão, senti seu
corpo relaxar completamente, e então lambi o pau com delicadeza,
limpando qualquer resíduo que tenha sobrado.
Até que um barulho no carro quase nos fez infartar e eu
levantei a cabeça.
— Porra! — Dominic resmungou e eu vi o rosto de Peter
sorrindo para a gente.
O filho da mãe começou a rir e só então eu me dei conta de
que estávamos ainda no estacionamento da pizzaria. Não parecia
haver muito movimento por perto, mas Peter, com certeza, tinha
dado a sorte de nos flagrar.
Enquanto eu limpava minha boca, Dominic guardava o pau de
volta na cueca e fechava a calça com pressa. Por fim, acionou o
botão que fez o vidro da janela descer e seu amigo ergueu o dedo
polegar para nós dois.
— Eu poderia estar com um pouco de inveja, mas estou feliz
demais por você, QB! — Deu um tapinha no ombro do loiro. —
Finalmente perdeu o cabaço!
Eu me inclinei por cima de Dominic, apoiando meus braços
nas pernas dele para poder olhar melhor o Peter e balancei o dedo
indicador.
— Não transamos, então ele ainda é virgem — revelei. — Um
boquete não tira a virgindade de ninguém.
— Pelo menos, perdeu a virgindade no oral — concluiu o
amigo.
— E nos dedos! — Sorri, pegando a mão de Dominic e a
balançando.
Peter fez um ar dramático, carregado de sarcasmo.
— Ele dedou você, Norah? — Levou a mão ao peito.
— Lá dentro na pizzaria e agora, aqui no carro. — Pisquei. —
Pasme, foi por isso que seu amigo saiu correndo.
— Vocês podem parar de falar de mim como se eu não
estivesse aqui?
Sem conseguir controlar o meu sorriso feliz, encarei o loiro que
tinha voltado a ficar carrancudo, mas as bochechas estavam
levemente coradas. Dei um beijo no rosto lindo, com aquele nariz
perfeito, e pisquei para Peter.
— Acho que Dominic está com vergonha!
— Não estou, não — disse ele.
— Está, sim — o outro endossou minha teoria.
— Cala a boca, Peter — Dominic retrucou. — O que você está
fazendo aqui, afinal? Resolveu se tornar voyer?
Então, o amigo dele jogou uma carteira no colo do quarterback
e eu a reconheci como sendo dele. O próprio ainda tateou os bolsos
traseiros da calça antes de perceber que não estava com ela.
— Você esqueceu lá dentro, QB. — Peter sorriu. — Vim tentar
a sorte caso ainda estivessem por aqui e não é que deu certo? —
Ele ergueu os dois polegares para mim. — Mandou bem, Norah! É
assim que se faz, campeã!
Ele apertou o ombro de Dominic antes de se despedir e voltar
para a pizzaria. Ao meu lado, o loiro suspirou, colocando a carteira
no compartimento do console central do carro e segurou o volante
com as duas mãos, tudo isso em silêncio. Ligou o motor, começou a
manobrar para sair da vaga e, só quando já estávamos na rua, ele
virou o rosto para mim.
— O jogo de amanhã será em Auburn. Se você tiver como ir,
posso reservar os ingressos.
— Acho que não consigo — respondi. — Justamente por não
ser em casa, a Zeta vai reunir as meninas para assistirem juntas e,
depois, vai rolar uma festa. Não vai ter ninguém pra me fazer
companhia.
— Não tem problema. — Dominic sorriu, mas não parecia tão
feliz. — Você pode torcer de longe mesmo.
Inclinei meu corpo e deitei minha cabeça no ombro dele,
curtindo aquele finalzinho de noite, ciente de que amanhã ele
viajaria bem cedo com a equipe. Mesmo com a calcinha melada e
sem ter curtido um orgasmo, eu me sentia feliz por ter avançado um
passo com Dominic e não via a hora de ultrapassarmos novas
barreiras.
Fechei os olhos quando senti seu braço direito envolver meu
corpo e eu receber um beijo nos cabelos. Eu não costumava ter
esse tipo de intimidade com ninguém, mas me sentia livre para curtir
esses momentos com o quarterback.
Estava há mais de dez minutos sentado dentro do carro, no
estacionamento escuro ao lado do prédio do meu dormitório, sem
coragem de me levantar e entrar. Minha mente se agitava como um
mar em ressaca diante de tudo o que aconteceu e eu sentia meu
corpo inteiramente alerta. Parecia que ainda podia curtir a sensação
de ter a boca de Norah ao redor do meu pênis e até me arrepiei ao
relembrar a língua da garota tocando minha pele sensível. Era tudo
muito mais intenso do que eu imaginei mesmo durante meus sonhos
pervertidos.
Agora, enquanto digeria os acontecimentos com calma, não
sabia quais seriam meus próximos passos. Sentia-me um pouco
perdido e confuso, para ser sincero. Tinha brigado mais uma vez
com meu pai pela manhã, quando ele me ligou para falar sobre fotos
minhas montando um touro mecânico, e infelizmente, a figura de
Norah tinha sido captada em quase todas as imagens vazadas, o
que novamente a colocava como a culpada por me desvirtuar do
caminho certo.
Minha família queria desesperadamente que eu me afastasse
da garota, mas eu percebi que seria impossível obedecer a um
pedido dos meus pais pela primeira vez na vida. Estava gostando de
Norah, era a verdade que não queria admitir. Não havia outra
explicação para só pensar nela o tempo todo e começar a sentir
ciúmes de qualquer coisa que fazia e que não me envolvia.
O problema todo era que Norah só queria curtir a vida e mais
nada. Eu era um passatempo para ela e precisava aprender a agir
como os outros caras com quem eu convivia, que também se
relacionavam sem compromisso nenhum e levavam uma vida de
solteiro tranquilamente. Deveria encarar o boquete como algo
normal e não como o maior acontecimento da minha existência.
Encostei a cabeça no volante e fechei os olhos, pensando
mais uma vez em como foi tocar a boceta de Norah. Era tão lisinha
e macia, tão quente e escorregadia. Eu não fazia ideia do que
sentiria quando finalmente tocasse uma mulher daquela forma mais
íntima e tinha superado todas as minhas expectativas. Foi incrível
poder ouvi-la gemer e estremecer enquanto meus dedos a
exploravam, mesmo que eu ainda não tivesse certeza se estava
fazendo da melhor maneira possível. Sabia que Norah estava
entregue por completo naquele momento e que curtia o gostinho de
vitória, por finalmente ter conseguido me fazer dar um passo além.
Quando tranquei o carro e entrei no prédio, ainda não tinha
tirado a garota da cabeça. Minha vontade era pegar o telefone e
ligar para ela ou apenas dar um pulo até lá e ver se queria
conversar, mas me controlei para não parecer um adolescente
apaixonado. Eu não estava gostando dela nesse nível, não mesmo.
Só tinha me envolvido um pouco mais do que deveria.
O banho foi pensando nela e também me deitei pensando na
baixinha. Não conseguia dormir e começava a me preocupar com
isso, pois viajaria amanhã bem cedo com o time e não podia me dar
ao luxo de não ter uma boa noite de sono.
Quando ouvi Peter chegar e bater a porta do quarto dele,
acabei me levantando e fui até lá. Precisava conversar com alguém
e ele era o único, além de Norah, com quem eu podia falar sobre
minha virgindade.
Bati na porta de seu quarto e entrei quando ele mandou,
sentando-me logo na cadeira perto de sua escrivaninha e o
observando descalçar os tênis.
— O que você geralmente faz depois que ganha um boquete?
— perguntei e ele arqueou a sobrancelha.
— Está me oferecendo um, QB? — Riu o infeliz. — Porque se
for, é bom que saiba que não gosto de macho. — Nem me dei ao
trabalho de responder e ele se sentou na cama, revirando os olhos.
— Cara, eu sei lá. Não existe um livro de regras, ué. Qual é o
problema, afinal?
— Nada específico, só... — Suspirei, encarando Peter. Talvez
ele não fizesse ideia de como eu me sentia. — Sei lá, não consigo
parar de pensar no que rolou.
— Pelo que Norah contou, você a masturbou e ela te chupou.
Não foi isso? — Assenti, pensativo. — Isso é bom, você
experimentou coisas novas. Se os dois consentiram, então não tem
problema nenhum. E aí? O que sentiu quando viu a gata gozar? É
bom pra caralho, né?
Minha mente travou no mesmo instante ao ouvir a pergunta,
porque eu não sabia responder. Nem ao menos tinha resposta para
dar porque não havia vivido aquele momento em questão.
— A Norah não gozou... — comentei, me sentindo estranho
por compartilhar uma informação tão íntima com Peter.
— Mas você não a masturbou?
— Sim, mas depois ela começou a fazer o oral e...
— Calma aí — Peter me interrompeu, se levantando. — Me
explica isso direito. Você estava com a mão no meio das pernas
dela, tocando a garota, e não a fez gozar?
Até então eu não tinha percebido nenhuma maldade na
pergunta inicial de Peter, mas agora, quando ele a reformulou e
trouxe uma entonação mais grave à voz, eu me preocupei. Era
assim tão absurdo ela não ter gozado? Eu sabia que Norah tinha se
divertido, tinha certeza disso.
— Acredito que ela não tenha chegado ao orgasmo, porque
aconteceu alguma coisa que não me lembro direito e acabei
parando para conversar — expliquei, tentando capturar os
fragmentos daquela noite. — E logo depois, Norah veio pra cima de
mim.
Peter se aproximou de mim e tocou meus ombros ao se curvar,
colocando um sorriso no rosto e arqueando uma sobrancelha.
— Cara, vou te dar um grande conselho. Dê bons orgasmos à
sua garota. Sempre. Muitos, de preferência. Ou ela não será sua por
muito tempo.
— Não pensei que fosse um problema tão grande — comentei,
sentindo minha nuca suar. — Norah não pareceu se incomodar com
isso.
— Ela sabe que você é inexperiente e está aprendendo. —
Peter se sentou depois de tirar a camiseta. — Mas Dom, a garota é
sexualmente ativa. Acho bom você se apressar antes que a
concorrência aumente muito. Me deixe dormir, anda.
Peter deu dois tapinhas no meu rosto antes que eu me
levantasse, com minha cabeça mais confusa do que estava quando
o procurei para conversar. Se antes eu não conseguia dormir, agora
mal fechava os olhos, enquanto pensava no que falou. De repente,
eu me lembrei que havia gozado duas vezes diante de Norah, e em
nenhuma das duas, eu me preocupei em dar qualquer prazer à
garota.
Acabei me sentando na cama e peguei meu celular, não
resistindo a enviar uma mensagem para ela. Não sabia se dormia
cedo ou tarde, mas caso a resposta não viesse, eu esperaria que
fosse por já ter pegado no sono e não por simplesmente estar me
ignorando.

Dominic: “Você gostou da noite?”

Dominic: “Desculpe por não te fazer gozar.”

Norah: “Sim para a primeira mensagem e tudo bem para a


segunda.”

Li duas vezes, percebendo que não era o estilo de Norah ser


tão sucinta. Tinha alguma coisa errada.
Dominic: “Fui babaca por ter tentado falar sobre um assunto
sério bem na hora em que estava te tocando. Queria que tivesse
gozado... Agora estou arrependido e não consigo dormir.”

Norah: “Durma tranquilo, Davis. Eu já gozei!”

A resposta dela veio seguida de um emoji sorridente e eu sofri


uma leve arritmia ao imaginar aquilo.

Dominic: “Hum, legal. Eu conheço o cara?”

Não devia ter perguntado, mas Norah já tinha visualizado a


mensagem. Algo me dizia que ela não se importaria em falar,
porque não tinha nenhum filtro, mas eu não sabia se queria
descobrir quem era o filho da puta que tinha transado com a garota
logo depois que ela esteve comigo.

Norah: “Claro que você os conhece, muito bem, por sinal. Esteve
com eles hoje, os meus lindos dedos!”

Então, ela enviou uma foto de sua mão sobre sua coxa e eu
consegui respirar mais aliviado. Fechei meus olhos, percebendo o
quanto ela vinha me afetando por motivos bobos.

Norah: “Sobre aquelas coisas que falou no carro mais cedo... Eu


entendo que esteja buscando algo diferente do que tenho pra
oferecer. Se você quer esperar a pessoa certa pra transar, eu vou
me afastar pra poder respeitar a sua decisão. Você é um cara legal,
Davis, quero poder continuar sendo sua amiga.”

Não, não, não. Aquele não era mais o momento para Norah
fazer um discurso do tipo. Não podia aceitar nem deixar que ela se
afastasse, tinha sido uma idiotice falar aquelas coisas numa hora
tão imprópria e estava mais do que arrependido.

Dominic: “Por que está dizendo essas coisas? Esqueça o que


eu falei mais cedo, por favor.”

Norah: “Acho que posso me contentar só em ter chupado o pau de


ouro do Alabama. Não quero que daqui a alguns anos você conte
para os seus filhos que perdeu sua virgindade com uma vadia louca
que te assediava na faculdade.”

Dominic: “Você fumou a maconha daquele seu amigo?”

Norah: “Tô indo dormir. Beijo e bom jogo amanhã. Faz um gol pra
mim!”

Dominic: “Vou fingir que foi o corretor do seu teclado que trocou a
palavra touchdown por gol. Não durma! Precisamos conversar!”
Esperei pela resposta que não veio e afundei a cabeça no
travesseiro, ainda mais frustrado do que antes. Mas era meia-noite e
eu não podia mais ficar acordado ou a manhã seguinte seria
desastrosa, por isso, baixei um aplicativo que ajudava o usuário a
relaxar para ter uma boa noite de sono e fechei os olhos à força,
tentando livrar minha mente de qualquer pensamento.

Fui um dos primeiros a descer do ônibus quando chegamos ao


estádio, na área de acesso exclusivo para o estacionamento das
equipes. O Iron Bowl era um duelo anual tão intenso e aguardado
que fazia as pessoas saírem de casa horas antes do jogo, para
aguardarem a chegada dos ônibus. Um cordão de isolamento era
necessário para que pudéssemos desembarcar em paz, sem
histeria dos torcedores, apenas credenciados da imprensa tinham
acesso àquela área.
Ajustei os fones de ouvido presos ao redor da minha cabeça,
item indispensável para usarmos em viagens, fechei o botão do
paletó do terno e desci os degraus carregando minha mala de mão.
Ergui a mão num aceno na direção de alguns fotógrafos e entrei
rápido nas dependências do estádio rumo ao vestiário. Daquele
momento em diante, não havia mais Norah, nem sexo, nem
boquete, absolutamente nada que não tivesse relação com o
futebol.
Tinha conseguido dormir boas horas de sono e acordei me
sentindo muito disposto, sem as neuroses que me consumiam na
noite anterior. Minha concentração não tinha sido afetada, afinal de
contas. As próximas horas seriam cruciais para garantir que o Bama
continuasse invicto na temporada e um passo mais próximo do título
de campeão.
Quando todos nos acomodamos e, aos poucos, fomos
deixando nosso momento introspectivo de lado, desligando
celulares e fones de ouvido, retomando o foco como equipe que
funcionava unida, nossos técnicos nos levaram para a sala de
reunião. Passamos os noventa minutos seguintes lá dentro, ouvindo
estratégias e motivações, e alinhando mais uma vez algumas
jogadas importantes para aquela tarde antes de voltarmos ao
vestiário, prontos para trocarmos nossos ternos pelos uniformes.
O coração acelerou, como sempre acontecia, quando pisei no
campo e ouvi o barulho que vinha das arquibancadas. Aquilo
sempre me contagiava e funcionava como o melhor incentivo de
todos. Fiz o sinal da cruz enquanto me direcionava para a nossa
área e olhei na direção do telão, bem no momento em que meu
rosto entrava em foco para todo mundo ver. Dei um sorriso para a
felicidade dos torcedores e ergui meu indicador enquanto corria pelo
gramado.
Foi tudo mais difícil do que previmos e a defesa do Tigers nos
deu um trabalho desgraçado, quase me fazendo crer que aquele
seria um dia de derrota. Mike acabou sendo substituído por Michael
ao longo da partida porque não parecia que nossos passes estavam
alinhados, mas a verdade era que não conseguíamos fazer nenhum
milagre enquanto nossa equipe de defesa também parecia ser
soterrada aos poucos.
Na segunda vez em que entrei em campo, foi que as coisas
começaram a melhorar e Peter e eu entramos em uma ótima
sintonia, como sempre acontecia. Aproveitei ao máximo aquele
momento e marcamos dois touchdowns que nos deixaram um
pouco à frente do adversário.
Eu me sentia exausto e dolorido porque havia sofrido
bloqueios intensos, mas John com certeza estava pior, com uma
contusão na perna que o tirou do jogo mais cedo. Felizmente,
mesmo que por poucos pontos de diferença, a vitória ficou do lado
do Crimson Tide e isso era motivo de muita comemoração, mesmo
que estivéssemos todos acabados.
Como o confronto ocorrera na parte da tarde, ainda nem eram
dezenove horas quando pegamos novamente a estrada para voltar
pra casa. Enquanto todo mundo parecia dormir, eu me ocupei com o
celular, atualizando meu Instagram e conferindo as postagens sobre
nosso jogo. Acabei vendo também alguns stories de um conhecido
meu que estava na festa da Zeta e, num de seus vídeos, eu pude
ter um vislumbre de Norah.
O mais certo a fazer seria ir para o dormitório e descansar,
afinal, além do jogo cansativo, viajar algumas horas dentro de um
ônibus também era um saco, Só que eu sabia que não conseguiria
relaxar enquanto não me resolvesse com aquela garota que tirava a
minha paz. Ela estava na festa, bebendo e se divertindo, talvez sem
nem lembrar da minha existência. Ou seja, eu precisava marcar
presença e deixar claro que não permitiria que se afastasse de mim,
como tinha prometido na mensagem da noite anterior.
Estava decidido. Eu iria à porcaria da festa da Zeta e daria um
jeito de surpreender Norah. Pelo menos, tinha tomado banho no
vestiário, estava novamente com meu terno Armani cinza, perfume
reforçado e zero vestígio de sono. Ainda aproveitaria para tirar uma
foto e postar no meu Instagram, só para irritar meus pais, que
tiveram a ousadia de me aguardarem na saída, junto dos demais
parentes da equipe, e em vez de me parabenizarem, tentaram me
dar um sermão ainda sobre o episódio do touro mecânico. A gota
d’água tinha sido quando me perguntaram se Norah tinha ido ao
estádio e quando neguei, pareceram muito aliviados. Mal sabiam
eles que era para os braços dela que eu pretendia ir o quanto antes.
— Engraçado, se você tivesse provado de verdade, eu diria
que a Norah te deu um belo chá, mas nem chegou a isso ainda e já
está de quatro por ela — murmurou Peter ao meu lado. — A garota
é uma bela de uma atacante!
— Não faça com que eu me arrependa de te trazer comigo.
— A festa é pública, QB. — Ele abraçou meus ombros.
Passava das onze horas da noite quando os ônibus deixaram
a todos nós no estacionamento do centro de treinamento e Peter se
surpreendeu quando eu avisei que iria direto para a Zeta, ainda
carregando a minha mala de mão. O carrapato não me deixou vir
sozinho e invadiu o meu carro enquanto eu largava minhas coisas
no banco traseiro, me imitando e tomando logo conta do banco do
carona.
— Decidiu perder o cabaço esta noite?
— Não que seja da sua conta, mas só estou indo ver a Norah
— respondi, manobrando o carro.
— Tem certeza de que não quer trocar de roupa? — perguntou
ele, franzindo o nariz para mim.
Assim como meu amigo, eu ainda estava usando o terno e não
via nenhum problema nisso, até porque nossos técnicos exigiam
que nos vestíssemos de forma adequada para as viagens. Peter, no
entanto, tirou o paletó e o jogou para trás, então me observou e
estalou a língua.
— Cara, eu tenho uma grande ideia — murmurou, se virando
para o banco traseiro e começando a mexer na minha mala, até que
puxou a camisa que tinha usado no jogo. — Vista isso.
— Esse trapo suado? Está brincando, não é?
— Lógico que não! — Ele sorriu e a jogou sobre mim. — Sua
garota vai amar.
— E por que você não veste a sua?
— Primeiro, porque eu troquei a minha com o QB do Tigers. —
Ele encolheu os ombros e sorriu. — Segundo, que não sou eu o
virgem que não fez a namorada gozar.
Encarei Peter por um tempo, tentando entender o que nós dois
podíamos ter em comum para, um dia, eu realmente ter gostado
dele para considerá-lo meu melhor amigo. Quase todas as vezes
em que a gente conversava, sentia vontade de dar uns socos em
seu nariz grande.
Mesmo assim, dei uma cheirada de leve na minha camisa do
jogo, me certificando de que não estava fedendo igual a um gambá,
e saí do carro para me trocar. Tirei calça e paletó, vesti a blusa,
depois tirei a calça do terno e fiquei de cueca enquanto pegava um
jeans na mala.
— Eu não quis dizer pra ficar nu dentro do campus —
murmurou ele, balançando a cabeça.
— Está tarde, não tem ninguém aqui — respondi, me vestindo
com pressa. — E mesmo se tivesse, não fiquei pelado, só de cueca.
— Quanto será que me pagariam por uma foto dessa? — ele
questionou como se pensasse em voz alta. — Talvez seja bom
pensar no meu futuro e começar a tirar umas fotos de nudes seus.
Se eu não for draftado, vou precisar de grana. Certeza que me
pagariam milhares de dólares por uma foto da bunda de Dominic
Davis.
— Isso é o seu jeitinho fofo de dizer que está louco pra ver
minha bunda, querido? — perguntei ao voltar para dentro do carro e
ligar o motor. Dei um tapinha na perna de Peter e joguei um beijo
para ele. — Eu fico lisonjeado, mas gosto de mulher.
O idiota gargalhou e afastou a minha mão com um tapa forte.
— Falou o cara que nunca comeu uma boceta.
— Babaca. — Eu ri enquanto dirigia rumo à Zeta, sentindo a
ansiedade dominar meu peito. — E só para constar, Norah não é
minha namorada.
Algo me diz que ela sairia correndo se ouvisse tal palavra, pois
sempre deixava claro que seu único interesse era transar comigo.
De qualquer forma, eu não queria pensar nessas coisas esta noite
para não encher minha cabeça de neuroses novamente. Só queria
ver a garota, tocá-la e beijá-la, tentar curtir o momento com ela, sem
trazer assuntos sérios para a roda.
Dava para perceber que dentro da casa estava bem cheio
quando paramos na porta e vimos uma galera aglomerada na
calçada, bebendo e dançando, muitos usando as cores do Bama.
De repente, me senti ainda mais ansioso, porque estava indo para
uma festa que era comemoração da nossa vitória, e ainda tinha
comprado a ideia de Peter e vestido a camisa do time. Chamaria
pouca atenção, para não dizer o contrário.
Meu amigo idiota não me esperou. Eu mal tinha terminado de
estacionar e ele saiu do carro, cumprimentando algumas pessoas
sem nem olhar para trás. Guardei a chave no bolso, respirei fundo,
abri uma cartela de chiclete e coloquei um na boca, então abri a
porta do carro.
Os olhos vieram primeiro para a camisa vinte vermelha, mais
larga do que o normal porque ela era feita para se adaptar às
proteções corporais que usávamos para o jogo. Eu atravessei a rua,
sorri para algumas pessoas que falaram comigo, mas não parei para
dar atenção a ninguém porque estava muito focado.
Quando pisei dentro da Zeta, não tive dificuldade para
encontrar Norah Brown. No meio da sala, em cima de uma mesa
retangular, a garota estava em pé, dançando ao som de “thank u,
next”, de Ariana Grande, com seu famoso rabo de cavalo
balançando no ar. Em uma das mãos, ela segurava uma garrafa de
vodca pela metade, enquanto balançava o corpo de olhos fechados.
Respirei fundo com aquela imagem, subindo meus olhos pelas
pernas finas e descobertas, e parando para encarar a merda que ela
vestia. Estava com um short preto de tecido fino, muito curto, que
quase não aparecia porque a garota vestia uma camisa do Crimson
Tide do número oito. A porra do número de Mike.
Senti que a multidão que dançava ao redor da mesa e pulava
com animação, acabou se afastando para me dar passagem e,
talvez, tudo bem, eu não estivesse com minha expressão mais
simpática no rosto.
Toquei a perna dela quando parei de frente para a mesa e
quando Norah abriu os olhos, eles se arregalaram ao parar de
dançar. Ficou alguns segundos me encarando boquiaberta, até que
se curvou para colocar a garrafa no chão e puxou a camisa pela
cabeça, ficando apenas de sutiã.
— Essa é pra casar mesmo — sussurrou Peter no meu ouvido,
atrás de mim, rindo da minha cara.
Se eu não infartei naquele momento, significava que tinha um
coração muito bom, porque Norah parecia gostar de me testar.
Enquanto eu me sentia ser puxado por todos os lados com vários
celulares sendo apontados para o meu rosto, não conseguia tirar os
olhos da doida seminua que jogou a camisa oito em cima de alguém
antes de apontar para mim.
— Meu quarterback chegou! — Norah pulou simplesmente,
confiando que eu a pegaria e precisei pensar rápido para segurá-la
em meus braços.
Senti suas pernas se enroscarem na minha cintura ao mesmo
tempo em que ela apertou meu pescoço com força e me beijou na
boca. Nossas línguas se encontraram enquanto eu ouvia a gritaria
ao fundo, e a safada ainda teve a ousadia de pegar meu chiclete
antes de afastar o rosto e sorrir pra mim.
— Quero sua camisa, bebê! — Movendo a boca com a goma
de mascar que me roubou, a garota ainda colocou a língua para fora
e lambeu meu rosto na frente de todo mundo, antes de encarar um
ponto atrás da minha cabeça e gritar: — Tirem os olhos, vadias!
Esse loiro tem dona!
Percebi que Norah tinha bebido bastante por conta de seu
hálito, mas estava linda com o rosto corado e os olhos brilhantes.
Ela sempre era um caos da natureza e eu precisava admitir que isso
a tornava ainda mais interessante. Eu não conhecia ninguém que
tivesse uma personalidade parecida com a da garota de um metro e
meio e língua afiada.
— Bebi um pouquinho. — Ela riu em meus braços, mordendo o
lábio e piscando para mim. — Se me der sua camisa, eu deixo você
me pegar essa noite.
Prendi a risada, pensando se por acaso, tinha alguma
consciência de que sempre me deixava pegá-la, ou melhor, que
normalmente se jogava em cima de mim sem que eu nem pedisse
por isso.
Como não quis contrariá-la, levantei seu corpo pela cintura e a
ajudei a subir de novo na mesa, que tinha sido ocupada numa outra
ponta por mais uma garota desconhecida. Então, puxei minha
camisa pela cabeça e a entreguei para a dona, que a girou no ar
entre os dedos, sob os gritos de quem acompanhava o caos gerado,
para só depois a vestir e transformá-la em um vestido.
Virei o rosto quando alguém me puxou para bater uma selfie,
mas não consegui tirar os olhos de cima da morena que dançava e
sensualizava, bebendo de novo a vodca no gargalo e balançando a
bunda pequena. Foi só quando me virei para procurar por Peter e
notar que ele tinha sumido, que percebi um cara com a camisa oito
pendurada sobre o ombro. Ele olhava para Norah e sorria, enquanto
eu tentava descobrir se o conhecia. Era alto e negro, tinha ombros
largos e parecia ser o dono da blusa que a garota vestia quando
cheguei.
Voltei minha atenção para ela, que permanecia alheia ao outro,
então toquei em sua perna e atraí seu olhar. Fiz um gesto com
minha cabeça, indicando para que descesse dali, me sentindo nu no
meio de toda aquela gente que demonstrava estar curtindo e se
aproveitando para se esfregar em mim, agora que estava sem
camisa.
Norah se curvou e tocou meus ombros quando a peguei no
colo para tirá-la de cima da mesa, e quando a coloquei no chão, a
garota segurou minha mão e me puxou pela multidão. Respirei com
muito alívio quando alcançamos a escada e me vi sendo guiado até
o quarto dela, que por sorte não tinha sido invadido por nenhum
casal.
— Graças a Deus — murmurei quando fechou a porta e me
encostei na parede. — Estava me sentindo num drive-thru lá
embaixo.
Norah, que estava descalça, se esticou nas pontas dos pés e
me encontrou no meio do caminho, me dando um selinho antes de
recuar dois passos, levando a mão até a barra da camisa e a
retirando. Ela abraçou o tecido e o cheirou antes de jogá-lo sobre a
cadeira do quarto e, então, tocou o botão do short e o abriu.
Observei enquanto deslizava a peça de roupa pelas pernas
delicadas e ficava apenas de calcinha e sutiã diante de mim. Estava
usando um conjunto preto de renda que levou todo o sangue do
meu corpo direto para o meu pau e me fez ficar de boca seca.
— Você não devia ter vindo aqui hoje, Davis — disse,
enganchando os dedos na minha calça e me puxando. — Porque eu
vou te devorar.
— Me devorar? — Ri da ousadia e permiti que me tirasse do
lugar. — É mesmo? E se eu não quiser?
Ela abriu um sorriso divertido.
— Eu nunca joguei pesadão com você, quarterback —
ronronou, toda sexy, passando a língua pelos lábios. — Mas hoje
não serei boazinha. Quando sentar no seu rosto e esfregar minha
bocetinha na sua cara, tenho certeza de que vai querer.
Minha boca que estava seca um segundo antes, se encheu de
saliva ao imaginar a cena de Norah com as pernas abertas em cima
do meu rosto. Por instinto, levei minha mão até meu pau, que latejou
dentro da calça, e a safada acompanhou meus movimentos com
orgulho.
Ela se deixou cair de costas na cama, me levando junto para
cima de seu corpo e precisei aparar minha queda para não
machucá-la.
— Eu vim até aqui com algumas ideias em mente, mas você
está bêbada, baixinha — murmurei, beijando a ponta de seu nariz.
— Não vai rolar nada esta noite.
— Bêbada? — Ela revirou os olhos e estalou a língua. — Me
respeite, eu preciso de muito mais álcool pra isso acontecer.
— Você está fedendo a vodca.
— Que tal esfregar seu pau em mim para eu ficar cheirosinha
de rola gozada?
Gargalhei ao ouvir aquele absurdo e consegui me desvencilhar
das mãos pequenas, porém ágeis, que tentavam abrir a minha
calça. Eu daria algo do qual ela gostaria, apesar de não ser
exatamente o que sonhava, mas que seria suficiente para aplacar o
fogo que a garota tinha. Pelo menos, esperava que sim.
No entanto, eu queria ter certeza de que Norah estava mesmo
querendo aquilo, então recuei e corri meus olhos por seu corpo,
observando os seios pequenos dentro do sutiã sensual, e descendo
por sua barriga bonita, natural, típica de quem era magro mas não
fazia academia. Por fim, encarei o triângulo entre as pernas, vendo
a garota deslizar o corpo pelo colchão até deitar a cabeça no
travesseiro e me chamar com o dedo indicador.
— Tire a sua calcinha para mim — pedi, sem ir até ela. — Eu
quero chupar você.
Um sorriso se formou no rosto bonito e notei quando afastou
as pernas lentamente, flexionando os joelhos.
— Voltou animadinho da viagem? — perguntou, mordendo o
lábio e tocando as laterais da lingerie. — Não sei o que fiz pra
merecer a honra de ser chupada pelo astro da faculdade, mas estou
à sua disposição.
Eu me aproximei e me ajoelhei diante dela quando Norah se
contorceu com pressa e deslizou a calcinha pelas pernas até chutar
a pequena peça para o alto. Eu a peguei no ar e a coloquei num
canto do colchão, voltando a encarar o que havia bem à minha
frente.
Sua boceta era pequena e delicada assim como todo o resto
do corpo da garota. Era bem magra, com os grandes lábios
sutilmente afastados por conta das pernas que estavam abertas e o
clitóris aparecendo para mim. Eu podia ser virgem, mas não era
ignorante e tinha buscado entender sobre a região íntima de uma
mulher. Sabia que naquele ponto, ela podia sentir muito prazer.
A pele de Norah brilhava com a lubrificação e ela era tão
perfeitinha que parecia uma pintura. Toquei devagar pelo centro
molhado, deixando que meus dedos penetrassem os pequenos
lábios macios e parei com eles sobre o ponto principal, colocando
um pouco de pressão em círculos só para ouvir a garota soltar um
gemido.
— Não me torture, Dominic... — Ergui meus olhos e vi que
Norah estava relaxada, de olhos fechados e sorriso no rosto. — E
não economize. Use muitos dedos, muita língua, muito tudo. Se
quiser, use o pau também.
— Você adoraria isso, não é mesmo? — provoquei.
— Sim. Nasci pronta pra isso.
— Não vai ter pau hoje, Norah — avisei, enfiando um dedo
dentro dela, sentindo a boceta quente me receber.
— Você sabe mesmo como entristecer uma garota —
murmurou, suspirando.
— Mas vai ter orgasmo — prometi, ouvindo mais um suspiro.
— Vamos ver...
De repente, eu me senti tenso. Por que tinha feito uma
promessa se não sabia se conseguiria cumprir? E se meu oral fosse
terrível e eu não soubesse como chupar uma boceta do jeito certo?
Merda. Precisava dar o meu melhor, como se estivesse em
campo. Não podia fracassar na primeira tentativa, principalmente
com Norah, com quem eu já tinha dado outros furos.
Encarei a boceta pequena e linda, respirei fundo e desci meu
rosto, decidido a fazer aquela garota gozar e gritar o alfabeto inteiro.
Quando subi em cima da mesa, depois de vestir a camisa que
o Joe estava usando, e puxei um grito de comemoração pela vitória
do Crimson Tide, eu jamais imaginei que Dominic fosse aparecer ali
na festa. Afinal, o jogo tinha sido em Auburn, que ficava a quase três
horas de distância de Tuscaloosa e tinha ainda a questão de que o
loiro não era o maior fã de festas, frequentava apenas as que os
amigos da própria equipe realizavam.
Então, ver o famoso Dominic Davis invadir a Zeta com uma
postura de macho alfa, foi uma grande surpresa. Para melhorar a
noite, ele estava todo gostoso vestindo a camisa que usou para
ganhar do Auburn Tigers e me encarava com intensidade. Não
estava mesmo bêbada, mas é claro que me sentia muito mais solta
do que o normal, porque vinha bebendo desde o início do jogo, e
isso não me permitiu pensar em nenhum tipo de consequência
antes de me jogar nos braços dele.
O quarterback entrou na minha onda e me deixou fazer tudo
que quis em público, e agora, estava aqui com a cabeça no meio
das minhas pernas, tornando a me surpreender mais uma vez
naquela noite.
Era quase como se já tivesse feito aquilo antes, puro instinto.
Eu nem ao menos precisei dar as primeiras instruções para
Dominic, tudo o que eu fazia era controlar a velocidade ao tocar sua
cabeça para guiá-lo melhor.
Mordi os lábios, tentando controlar os gemidos, mas depois me
lembrei de que estávamos na Zeta e havia uma festa no andar de
baixo, então soltei a voz sem pudor algum. Dominic acrescentou um
dedo dentro da minha vagina e passou a me penetrar sem parar o
movimento da língua, e eu comecei a mover meus quadris contra a
sua boca. Era gostoso me esfregar nele, mas melhor ainda era
saber que estava se esforçando e não ficava dependendo que eu
falasse qualquer coisa.
O loiro me lambia como se eu fosse o doce mais saboroso de
todos e usava os lábios para me chupar de um jeito muito bom,
babando a minha boceta enquanto me fodia com seu dedo.
— Dom, coloca mais um dentro de mim — pedi, sentindo-o me
obedecer e acrescentando o novo dedo. — Isso... Agora, deixe-os
um pouco curvados, como um gancho...
Ele afastou o rosto para me encarar com atenção, enquanto
fazia o que eu tinha pedido e investia nos movimentos de entra e sai
dos dedos longos e grossos. Minhas pernas se abriram ainda mais,
involuntariamente, e eu gemi alto com o atrito causado. Sorrindo,
Dominic levou a língua até meu clitóris, sem desfazer o contato
visual, e eu me permiti fechar os olhos por alguns segundos, para
curtir com mais intensidade aquela chupada deliciosa.
— Dominic, seu gostoso! — gritei bem alto, agarrando o lençol.
Senti o orgasmo se aproximar e curvei minhas costas em
êxtase, esperando pela sensação avassaladora que me dominaria.
Não demorou muito e eu deixei que meus gemidos escapassem
sem controle algum, para que o loiro soubesse o quanto tinha sido
bom.
Entre as minhas pernas, Dominic não parou de me chupar,
mesmo depois de eu já ter gozado. Agora, ele parecia estar me
limpando com a sua língua. Lentamente, lambeu a parte interna das
minhas coxas e então, minha boceta. Eu fiquei ali, observando,
quase que em transe. Meus músculos relaxaram e minha mão foi
parar nos cabelos do quarterback, que ainda parecia endeusar
minha vagina.
— Parabéns pelo seu primeiro oral — murmurei, fechando um
pouco os olhos. — Foi muito gostoso.
Senti as mãos pesadas passearem pelo meu corpo e virei o
rosto para o lado no travesseiro, querendo descansar um minutinho
antes de começar a investir pesado na perda de virgindade do loiro.
Infelizmente, eu perdi a batalha, pois quando abri de novo os
olhos, estava sozinha no quarto e como a casa inteira estava em
silêncio, entendi que a festa tinha acabado. Precisei me levantar e
peguei meu celular que estava no bolso traseiro do meu short, ainda
jogado no chão. O relógio indicava quatro horas da manhã e meu
hálito tinha gosto de meia suja.
Tive que ir ao banheiro escovar os dentes antes de voltar a
dormir, mas quando retornei ao quarto e me sentei na cama, vi que
um dos meus cadernos de desenho estava aberto em cima da
cadeira, sobre a camisa de Dominic. Eu o peguei e encarei a folha
com uma mensagem escrita à mão.

“Não quis te acordar porque você parecia um anjinho dormindo — e


Deus sabe que de anjo você não tem nada. Espero que tenha
gostado da noite e que eu tenha te surpreendido de várias formas.
Amei o que aconteceu, chupar boceta é realmente muito bom
(tomara que mais ninguém leia isso aqui). Beijos do seu QB.”

Joguei-me no colchão, sem evitar sorrir. Quis ficar com raiva


de Dominic quando acordei e descobri que ele tinha ido embora,
mas ao mesmo tempo o filho da mãe conseguia ser todo fofo.
Parecia até um bobo apaixonado se não fosse um pequeno detalhe
naquele texto. Eu precisei reler e interpretar bem o que havia
escrito, então peguei meu celular e digitei uma mensagem para ele.

Norah: “Chupar boceta é realmente muito bom? A frase


deveria ser: “chupar a sua boceta, Norah, é realmente muito bom”.
Mas ok, tomara que você pegue muita DST por aí!”

Claro que eu não receberia uma resposta tão cedo por causa
do horário, mas não me preocupei. Voltei a dormir o sono dos justos,
tentando tirar aquela idiotice de frase da cabeça.
Quando acordei de verdade naquele domingo, por volta das
dez horas, fui com Aika tomar café da manhã numa lanchonete que
a gente adorava. Ela quis saber tudo o que tinha rolado com
Dominic na noite anterior e eu contei sobre o sexo oral, mas sempre
deixando de fora os detalhes que envolviam a virgindade dele.
Aquela era a minha melhor amiga e eu queria muito poder
compartilhar o segredo, ouvir seus conselhos e chorar minhas
frustrações, mas não era uma informação minha para que eu saísse
contando. Confiava na Aika, mas tinha muito medo de que, de
alguma forma, a notícia se espalhasse por culpa minha.
— Eu não consigo acreditar que vocês vivem juntos
ultimamente e ainda não transaram — comentou ela, mexendo o
canudo em seu milk-shake. — O Dominic é um cara muito
controlado.
Bastou tocar no nome dele, que meu telefone vibrou com a
chegada de uma notificação e vi que o loiro enviara uma mensagem
para mim.

Dominic: “Foi só jeito de falar, estava cansado e com sono. Não


estou cogitando sair pra chupar outras bocetas.”

Dominic: “Quer me encontrar hoje? Vou ao campo aberto correr um


pouco.”

Norah: “Quem escolhe sair pra correr num domingo?”

Dominic: “Atletas.”
Revirei meus olhos para aquela resposta, que veio seguida de
um emoji sorridente. E então, a surpresa me atingiu em cheio com
um tapa na cara quando o loiro me enviou uma foto. Era da cintura
para cima, ele estava sorrindo, com um boné com o logotipo do
time, sem camisa, exibindo o abdômen muito sarado. Dominic Davis
estava se soltando aos poucos.

Norah: “Você vai correr sem camisa?”

Dominic: “Eu posso.”

Norah: “Que horas eu te encontro?”

Estava muito animada a caminho do lugar onde Dominic


avisou que estaria, quando encontrei com Joe no meio da rua. Na
verdade, ele quem me encontrou, pois chegou por trás de mim e
usou as mãos para tapar meus olhos. O que o denunciou foi o
perfume que sempre usava e meu olfato era excelente.
— Hum, deixe-me ver se descubro quem é — murmurei,
ouvindo a risada dele e recebendo um beijo na bochecha. — É
preto, é gostoso, tem pau grande e come bem.
Seu sorriso se abriu para mim quando parou na minha frente e
revirei meus ohos.
— Estou surpresa!
— Ah, garota, você vai sentir saudade desse pau. — Ele
piscou. — Sei que vai.
— Não se ache tanto, existem muitos outros pelo campus. —
Devolvi a piscadinha e passei meu braço por dentro do dele. — E no
momento, estou muito empenhada em um bem específico.
— Dominic Davis. — Joe riu. — É, mesmo que todo mundo
não estivesse falando sobre vocês depois de ontem, eu testemunhei
com esses meus olhos, o quanto o cara tá gamado em você. O que
é ótimo , já que estou... hm... — ele pigarreou ao puxar o celular e
me mostrar uma foto. — Namorando.
Parei de andar, sentindo meu queixo cair e encarei a imagem
diante do meu rosto. A garota de cabelos loiros estava sentada no
colo do meu amigo e dava um beijo em sua bochecha. Joe parecia
apaixonado e muito fofo com os braços ao redor da cintura dela.
— Mentiraaaa! — Eu o abracei e dei dois tapinhas em seu
ombro. — Estou orgulhosa, parabéns! Eu sabia que isso ia
acontecer, por mais que você negasse. Quando poderei conhecê-
la?
— Sobre isso, Norah... Você não pode jamais contar a ela que
nós costumávamos transar. Não quero perder nossa amizade
porque é a minha única amiga mulher, mas também não quero que
Katherine se sinta desconfortável.
— Justo — respondi, batendo continência. — Eu não diria
nada, mas agora que falou, é melhor porque não corro o risco de
soltar algo sem querer. Mas é bom avisar para as pessoas que
sabem que a gente se pegava.
— Vou tentar evitar aparecer com ela pela Zeta por enquanto.
— Ele encolheu os ombros, soltando uma risada. — É muita gente
pra ser avisada. Melhor esperar a notícia do namoro circular um
pouco mais.
— Norah!
Eu me virei para trás ao ouvir a voz de Dominic e vi sua SUV
preta parada na rua. O loiro estava com o braço apoiado na janela
com o vidro abaixado e encarava Joe com a testa franzida. Não
pensei direito antes de puxar meu amigo pela mão para nos
aproximarmos do carro do quarterback, só quando seu semblante
endureceu e seus olhos focaram em meus dedos entrelaçados ao
de Joe, é que me dei conta de seu ciúmes.
— Que ótimo que você apareceu! Aproveitarei pra apresentar
os dois. — Sorri, sentindo o clima dentro da SUV ficar pesado. —
Dominic, este é o Joe, meu amigo. Joe, este é...
— Vai mesmo me apresentar o cara mais famoso da
faculdade? Todo mundo sabe o nome dele, Norah. — O idiota riu,
esticando a mão para o jogador. — Prazer, Davis.
Eu me senti gelar quando Dominic apenas encarou a mão de
Joe estendida, então me olhou e inclinou a cabeça de lado.
— Entra no carro para irmos logo, Norah — pediu e ouvi o
barulho das portas destravando.
Levantei minha cabeça para Joe, que sorriu para mim e
assentiu, provavelmente sem paciência para entrar em uma disputa
territorial. Ele estava em outra vibe, inclusive, mas o quarterback
não sabia disso.
— A gente se fala depois, pra marcarmos algo com a
Katherine — avisei, dando a volta no carro.
— Eu não estou ansioso pra isso — respondeu ele, rindo e
balançando a cabeça. — Ela é uma menina tímida e inocente.
— Eu também sou! — retruquei, fazendo cara de santa antes
de abrir a porta e entrar no banco de carona.
Quase não tive tempo de puxar o cinto de segurança antes de
Dominic acelerar com o automóvel e minhas costas grudaram no
banco. Virei meu rosto e o observei muito sério, todo cheiroso, mas
muito chato.
— O que acabou de acontecer? — questionei, vendo-o me
lançar um olhar de soslaio.
— Ele é um dos seus amigos com benefícios?
Gargalhei, não consegui prender a vontade, e acabei atraindo
a atenção do jogador, que agora entrava num estacionamento
coberto e estacionava o carro. Então, ele se virou no banco e apoiou
um braço no meu encosto, arqueando a sobrancelha perfeitinha.
— Qual a graça?
Enxuguei meus olhos antes de responder, e suspirei, tocando
a bochecha dele.
— Homens ciumentos e possessivos não me amedrontam,
Davis. Vocês são todos iguais, não podem ver outro macho na área.
— É mesmo? Quem era que estava me mandando mensagem
toda raivosinha a respeito de outras bocetas?
— É diferente — retruquei, abrindo a porta do carro quando ele
fez o mesmo e se preparou para sair.
Nós nos encontramos do lado de fora e olhei em volta,
percebendo que estávamos caminhando pelo local onde funcionava
a pista de atletismo. Eu sabia disso porque uma das meninas da
Zeta fazia corrida de obstáculos e já tinha vindo aqui assisti-la —
Aika me obrigou.
— Por que é diferente? — perguntou Dominic, segurando a
minha mão como se fosse meu dono. — Me explica porque quero
entender seu ponto de vista.
— Porque Joe faz parte da minha vida muito antes de você
chegar e eu não posso apagar meu passado — respondi. — Já
você, bem... Eu fui a sua primeira em algumas coisas. — Encolhi
meus ombros, me sentindo nostálgica, com a voz querendo
embargar. — Sempre sentirei ciúmes quando você estiver com
outras.
— Então você aceita que eu fique com outras?
Que tipo de pergunta era essa? Não sabia como devia
responder, porque podia ser uma pegadinha. Senti a saliva descer
arranhando a minha garganta, enquanto encarava meus tênis
conforme caminhava pelo corredor que nos levava à pista de
atletismo. Dominic acenou para um funcionário quando este nos
permitiu passar e depois sumiu.
Bem, se eu dissesse que aceitava, o loiro pensaria que podia
sair pegando um monte de mulher e que eu não me importaria. O
que não seria verdade, eu sentiria um pouco de ciúmes. Mas se eu
respondesse que não aceitava, ele acharia que eu estava tentando
amarrá-lo num compromisso e aí a situação desandaria ainda mais.
— Não sabe o que dizer, Norah Brown? — questionou ele,
apertando meus dedos e sorrindo ao virar de frente para mim,
andando de costas para a pista. — É sempre um prazer deixá-la
sem palavras!
Revirei meus olhos e puxei as minhas mãos, cruzando os
meus braços para me sentir protegida e espantar a sensação
estranha que me atingiu.
— Que seja! O que importa é que Joe está namorando e você
ficou com ciúmes à toa, pois nosso lance se encerrou. E ele é um
cara muito legal, além de ser fã de futebol americano. — Dei um
tapa no peito duro dele e o vi sorrir. — Não seja babaca com meu
amigo.
— Vou me esforçar da próxima vez — prometeu, piscando e se
virando de frente para a pista.
Estava tudo vazio, não havia uma única alma naquele lugar e
eu me perguntei o que a gente estava fazendo ali. Dominic disse
que tinha vindo correr, mas achei que era o time inteiro, não apenas
ele.
— Por que estamos aqui e não no campo de futebol?
— Eu gosto de correr na pista e o técnico McDowell sempre
mexe os pauzinhos pra me deixarem entrar aqui quando quero. —
Dominic tirou a camisa e a jogou para mim, cumprindo sua
promessa de correr com aquele abdômen sarado à mostra. — Tente
não babar muito, baixinha.
— A estrela tem seus privilégios, não é?
Cheirei a blusa dele para me impregnar com o perfume
delicioso e fui me sentar na primeira fileira da arquibancada.
Dominic não sabia, mas tinha levado meu caderno de desenho e o
abri sobre as pernas para tentar captar um pouco daquela imagem,
pois aproveitaria para desenhá-lo.
Era um pouco difícil fazer isso com ele em movimento, mas eu
tinha o olho bom, e consegui retratá-lo da cintura para cima. O
abdômen bem definido, os braços bem delineados, os ombros
largos e os lábios entreabertos pelo esforço do treino.
Cada vez que completava uma volta e passava na minha
frente, ele diminuía a velocidade para me olhar e piscar, todo fofo. E
em todas as vezes em que isso aconteceu, meu coração acelerou
de forma inesperada. Aquela era a primeira vez em que senti medo
de verdade desde que conheci Dominic. Medo por não saber para
onde estávamos indo e como eu lidaria com os sentimentos que
vinham surgindo em meu peito. A pior coisa que podia acontecer era
se apaixonar por alguém e eu sempre me esforcei para não viver
nada disso. Por que então, agora, eu sentia que nada que eu
fizesse seria suficiente para evitar cair nessa armadilha do coração?
Fazia mais de uma hora que eu estava ali. Não sabia quanto
tempo mais Dominic demoraria, pois depois de correr, ele resolveu
fazer abdominais e flexões, mas não estava com pressa. Eu gostava
de observá-lo. Nós dois éramos tão diferentes que chegava a ser
fascinante. O jogador era a pessoa mais dedicada e focada que eu
conhecia.
Ele não estava brincando quando falou que ser o melhor tinha
um preço. O peso em seus ombros devia ser enorme, afinal, ele não
era só o quarterback do Crimson Tide, também era filho de Henry
Davis, um astro da bendita NFL. Todo mundo esperava que Dominic
fosse tão brilhante quanto ele, então não podia entregar menos do
que as expectativas que colocavam em suas costas. Eu supunha
que desde a infância ele tivesse uma rotina restrita entre estudos e
treinos, nunca podendo se dar ao luxo de ter mais do que isso.
Pensando dessa forma, era compreensível que ele fosse tão
avesso à ideia de perder a virgindade logo agora, tão perto de se
formar e conquistar o que tanto almejou.
Guardei meu caderno na mochila quando ele se aproximou
todo suado e ofegante. Parou em frente a mim e pegou a sua
mochila no banco, exibindo as veias em evidência no seu antebraço.
— Vou tomar uma ducha rápida e, depois, podemos comer
alguma coisa.
O filho da mãe nem me deu oportunidade de responder,
simplesmente saiu em direção ao que eu achava que seria o
vestiário e sumiu após passar por uma porta. Obviamente, eu não
ficaria só esperando por ele, depois de ouvir que aquele corpinho
gostoso estaria se molhando inteiro. Segui na mesma direção que
tomou e logo entrei no lugar silencioso e vazio, como todo o resto,
havendo apenas o barulho do chuveiro onde o quarterback devia
estar.
Coloquei a minha mochila em cima de um dos bancos entre os
armários e me preparei para ir até lá, mas na hora acabei me
controlando. Talvez não fosse a melhor abordagem de todas, eu já
vinha insistindo bastante e Dominic tinha evoluído muito nos últimos
dias. Seria melhor dar um tempo para ele e deixar que se sentisse
pronto para isso. Seria horrível se eu o surpreendesse no meio do
banho e ele acabasse brochando por insegurança.
Pensei em voltar para a arquibancada, mas o banho foi
realmente rápido e logo o chuveiro cessou o barulho. Ouvi
atentamente a porta se abrir e fechar, e então os pés descalços de
Dominic surgiram no meu campo de visão. Eu tinha abaixado a
cabeça, me arrependendo de não ter saído antes, mas era tarde
demais.
Quando me viu, o jogador parou, segurando a toalha ao redor
da cintura. Era muita tentação para uma pessoa como eu, que tinha
sérios problemas de autocontrole.
— Você nunca deixa de ser safada, né? — murmurou Dominic,
se aproximando de mim.
— Não — respondi, baixando meus olhos, torcendo para que
não ficasse muito puto. — Eu acho você muito gostoso, não consigo
me segurar.
Encolhi os ombros quando Dominic soltou uma gargalhada e
parou diante de mim, balançando a cabeça como se eu fosse um
caso perdido. Ele se inclinou e me deu um selinho, segurando meu
rosto entre as mãos grandes com cheirinho de sabonete. Em
seguida, recuou um passo, depois mais outro, e então mais um.
Exibiu um sorriso cínico e levou as mãos até o nó da toalha,
desfazendo-o sem pressa e deixando o tecido branco cair no chão.
Eu vi seu pau no dia do boquete no carro, mas ter uma visão
completa do monumento loiro diante de mim era algo muito
diferente. Dominic era todo grande e proporcional, além de que seu
baixo ventre possuía aquela linda trilha musculosa que formava um
“v” de vitória em direção ao púbis. Assim como em seus braços,
havia também algumas veias distribuídas pela região que fizeram
minha boca salivar. E eu pude ver, ao vivo e a cores, o pau grande
ganhar vida lentamente, enquanto ele me encarava.
— Gosta do que vê? — perguntou ele, voltando a se aproximar
de mim.
— Você acabou de molhar minha calcinha — respondi,
suspirando, encarando o pau bonito.
Dominic riu, mas suas bochechas coraram, o que era uma
contradição imensa considerando o quanto aquele homem era
imponente e exalava virilidade. Toquei seu peito com minhas duas
mãos, deslizando-as para os lados até alcançar os bíceps
torneados. Seus dedos encontraram os meus quando ele se curvou
e aproximou o rosto, pressionando os lábios antes de dizer:
— Norah, você tem muitas expectativas em relação a isso... —
Ele encolheu os ombros. — Pode não ser tão bom. Considerando a
sua experiência e o tipo de cara com quem costuma ficar... Tipo
aquele Joe...
Abri minha boca, mas ele grudou um dedo nos meus lábios e
sorriu, passando a mão pela cabeça antes de ajeitar a postura.
Parecia nervoso. Não, ele estava mesmo, porque agora nem olhava
nos meus olhos.
— Andei pensando — comentou, se sentando num banco. —
Eu poderia sair do campus e transar com alguém que não espere
nada de mim. Então aí sim, a gente ficaria junto e não seria tão
frustrante pra você.
— O quê?
— Parece doido, eu sei. — Ele riu, esfregando a nuca e
encarando o colo. — Mas eu não acho que será simples como foi no
oral... A penetração é mais complexa e...
— Pare! — Eu me sentei no colo dele, com uma perna para
cada lado de seu corpo, e segurei seu rosto. — O que está dizendo
é uma insanidade. Eu quero você exatamente deste jeito, Davis.
Ele me olhou dentro dos olhos, passando a língua pelo lábio,
visivelmente tenso. Percebi que engoliu com dificuldade antes de
soltar um suspiro profundo e deitar a testa no meu ombro.
— Não quero que se decepcione. Não pensei que fosse ser
tão difícil quando chegasse esse momento... — Ele deu mais um
suspiro. — Eu não consigo aceitar não ser excelente em tudo que
faço, então se o sexo for ruim...
Essa confissão ia de encontro ao que eu andava pensando
sobre ele e a forma como foi criado. Dominic foi condicionado a ser
o melhor, a ter sucesso em tudo que fizesse. A insegurança da
primeira vez parecia assombrá-lo por causa disso, provavelmente,
temendo não me agradar.
— Não acredito que vou dizer isso — murmurei, alisando a
nuca dele —, mas não precisamos transar. Quer dizer, precisamos,
em algum momento, e eu te mato se a primeira vez não for comigo.
— Dei um beliscão nele, que o fez levantar a cabeça. — Mas não
precisa ser hoje, agora.
O loiro sorriu, passando os olhos pelo meu rosto e alisando
meus braços.
— Faz questão que seja com você? — indagou, me
provocando.
— Você viu o quanto eu me esforcei pra ganhar o seu cabaço?
É muito injusto que uma vadia qualquer passe a minha frente.
Ouvir sua gargalhada acalmou o meu coração. Dominic estava
inseguro, porque era a primeira vez dele, e ele achava que minhas
expectativas eram muito altas. Aquilo era, precisamente, o que
sentia em relação ao resto da sua vida: pressão. Pressão para ser o
melhor. Uma cobrança absurda para ser, sempre, o incrível Dominic
Davis.
— E se for ruim?
— A gente pratica até ficar bom — respondi, sorrindo e dando
de ombros. — Eu só tenho vinte e dois anos, não é como se fosse
gastar minha boceta de tanto usá-la.
— É uma bela boceta, por sinal — disse ele, mordendo o lábio.
— Amei o gosto, a textura... — Suas mãos apertaram minhas coxas
e subiram devagar. — E principalmente, amei sentir você gozar na
minha boca.
Joguei minha cabeça para trás, me segurando nos ombros
fortes e rindo um pouco. Senti o pau de Dominic dar algum sinal de
vida ali entre nós e procurei me controlar.
— Falando assim na minha cara, fica difícil não sentar logo em
você — comentei, soltando o ar ao encará-lo.
— Está com tesão? — O filho da mãe sorriu, tocando a minha
bunda. Eu assenti, aproximando meu rosto do vão de seu pescoço e
o abraçando. — Porque eu estou com sentimentos muito
contraditórios neste momento, Norah...
Alisei suas costas com minhas unhas e deixei alguns beijos em
seu ombro antes de levantar a minha cabeça e ouvir Dominic gemer
baixinho. Ele moveu os quadris discretamente, usando os braços
para segurar meu corpo e me roçar contra o seu, aumentando sua
própria ereção.
— O que você quer? — sussurrei, segurando seu rosto entre
minhas mãos. — Eu topo qualquer coisa com você, Dominic.
Mesmo que seja sair daqui pra comermos alguma coisa.
Seus olhos verdes se fecharam e um sorriso se desenhou em
seus lábios. Beijei o queixo másculo e bonito, causando um
estremecimento no jogador.
— Não quero mais esperar — declarou. — Preciso saber como
é ter você por inteira. Mostre para mim, por favor.
— Tem certeza?
Seu polegar deslizou pelo meu lábio inferior e seus dedos da
outra mão tocaram a lateral da minha calcinha ao apertar minha
cintura, me deixando bem mole em seus braços. O quarterback
tinha uma pegada tão gostosa, mesmo inexperiente, que me tirava
do eixo.
— Posso estar um pouco inseguro, mas... — Dominic suspirou,
lambendo os próprios lábios. — Ninguém nunca me fez sentir o que
sinto quando estamos juntos, assim... Tão íntimos.
— Confia em mim? — perguntei, descendo minha mão pelo
abdômen dele. — Prometo que não será ruim, independente do que
aconteça, porque eu te desejo muito. — Toquei seu púbis e tateei
devagar mais para baixo, ouvindo seu suspiro pesado. — Eu sei que
é inexperiente e quero muito te ensinar tudo. Eu gosto que você seja
assim, Dom.
Eu estava de vestido, o que era um facilitador. Apenas abaixei
as mangas finas, despindo os meus seios para Dominic, que agora
estava bem duro embaixo de mim. Peguei uma de suas mãos e a
levei até minha calcinha, sentindo seus dedos afastarem-na para o
lado e tocarem minha boceta molhada de tesão. Sendo um aluno
exemplar, o loiro já sabia o que fazer e massageou meu clitóris com
o polegar, enquanto enfiava dois dedos em mim.
— Vamos apenas curtir o momento, sem pressão — comentei
para que ele relaxasse e tirasse da mente a ideia de que precisava
ser perfeito.
Dominic trouxe a boca até meus peitos excitados, lambendo
cada mamilo com muita dedicação, ao mesmo tempo em que eu o
masturbava sem pressa, só para aumentar aquela lubrificação
gostosa que o pau dele soltava.
— Eu sempre a deixo molhada assim? — perguntou quando
gemi e tirou os dedos de dentro de mim.
— Sempre. — Segurei sua mão melada e passei só a pontinha
da minha língua pelo dedo médio. — Quero que os chupe e sinta
meu gosto neles.
A futura estrela da NFL arqueou a sobrancelha, mas me
obedeceu e lambeu cada resíduo meu que havia em sua pele, sem
desfazer o contato visual comigo, até que fechou os olhos e me
beijou na boca. Seus lábios massagearam e sugaram os meus
devagar, num beijo tão molhado quanto nossas intimidades. Eu me
sentia pegar fogo no momento em que o loiro segurou a mão que eu
usava para masturbá-lo e me fez parar.
— Não vou durar muito, Norah — murmurou, franzindo a testa.
— Estou me sentindo pulsar, é difícil controlar isso... Podemos...
Fazer logo?
Eu olhei em volta, procurando pela minha mochila, que tinha
largado no outro banco. Sentia-me escorrer de tanto tesão e
precisava sentar logo naquele pau rosa delicioso, mas a camisinha
que eu possuía estava na carteira, bem longe de mim. Isso me fez
tomar uma decisão incomum, principalmente quando Dominic soltou
um grunhido pesado, do fundo da garganta, e suspirou contra os
meus lábios.
— Eu tomo remédio e juro que estou limpa — avisei rápido. —
Quer continuar?
Sorrindo e demonstrando estar ansioso, ele apenas assentiu.
Levantei o meu corpo levemente e posicionei a cabeça do seu pau
na entrada da minha vagina, descendo devagar para que ele
pudesse sentir em detalhes como era a sensação de penetrar
alguém. O loiro era grosso e me provocou uma dorzinha gostosa
conforme abria caminho dentro de mim, deliciosamente.
Dominic me agarrou com força pela cintura e me abraçou,
gemendo tão alto que chegou a fazer eco no vestiário. Esforcei-me
para não fechar os olhos em nenhum momento, pois os verdes dele
estavam fixos nos meus, tensos, mas também demonstravam
surpresa.
— Minha nossa, eu esperei muito por isso — murmurei,
rebolando com o pau inteiro cravado no fundo da minha boceta,
passando meus braços ao redor do pescoço do quarterback. —
Você é tão gostoso, Dom...
Havia muita emoção em seus olhos, não era apenas luxúria.
Ele os fechou por um segundo, formando um sorriso com os lábios
bonitos, antes de apertá-los com os dentes.
— Norah... — Dominic jogou a cabeça para trás, com os
braços quase me esmagando. — Isso é... muito bom... Eu vou
gozar...
— Segure o quanto conseguir, mas não se torture.
Dei um selinho nele e comecei a cavalgá-lo. No começo, em
um ritmo mais lento, para que Dominic entendesse os movimentos e
degustasse de cada segundo, e aos poucos, fui aumentando meu
ritmo e tomando mais distância, até quase deixar seu pau sair de
mim, para voltar a descer gostoso por todo seu comprimento, e
socar a cabeça inchada bem fundo na minha boceta.
— Nooossa... — Abrindo a boca, gemeu baixinho. — Puta que
pariu, garota infernal! — Aumentou a voz num gemido mais alto,
deixando a cabeça cair para trás enquanto gozava intensamente,
com a testa franzida e os braços que ainda me apertavam,
estremecendo ao meu redor. — Ah, porra! Porra, Norah...
Desci minhas mãos pelos seus ombros e alisei seu peito largo,
voltando só a dar reboladinhas curtas, sentada no pau que me
alargava de forma deliciosa. Lentamente, Dominic foi se
recuperando, a respiração se acalmando, até que voltou a me
encarar com o rosto todo vermelho. Lançou-me um meio sorriso e
inspirou profundamente, passando a mão pelos cabelos.
— Nunca senti nada parecido... — comentou, engolindo em
seco. — Mas ainda me sinto muito duro... É normal?
— Eu falei que a gente ia praticar muito. — Sorri, sem parar de
me mover. — Você tem muita energia e muito sêmen pra gastar.
Agora que o fantasma da primeira vez tinha ficado para trás,
Dominic me lançou um olhar duro e sacana, tocando meus peitos e
os apertando entre os dedos, fazendo minha boceta arder. Uma das
mãos subiu pelo meu pescoço e segurou os cabelos em minha
nuca, grudando meu rosto no dele todo possessivo.
— Eu quero aprender a te comer, Norah. Você não gozou.
— A prioridade hoje, é você — comentei, achando fofa sua
preocupação.
Dominic balançou a cabeça como se negasse o que eu disse e
me lançou um olhar injetado de desejo. De repente, ele me jogou
para o lado, me depositando deitada sobre o banco e se
posicionando sobre o meu corpo. Eu mal o senti sair de dentro de
mim e seu pau já me penetrava de novo, porque o jogador queria
estar no controle.
— Se estiver estranho, me avisa — pediu, apoiando as mãos
ao redor da minha cabeça e mostrando que seu condicionamento
físico para flexões estava em dia. — Assisti muitos vídeos, acho que
consigo me virar.
Posicionando minhas pernas ao redor da sua cintura, Dominic
começou a me penetrar. Ele respirava ofegante acima de mim e eu
pousei minha mão sobre o seu peito, sentindo o seu coração bater
freneticamente. Ajudei, movendo meus quadris de encontro aos
dele, deixando que viesse mais fundo. Como era sempre mais difícil
para a mulher gozar com penetração, e Dominic ainda não era um
expert nisso, eu tinha que fazer a minha parte para que tivesse um
orgasmo também. Por isso, levei minha mão até meu clitóris e o
esfreguei com carinho, aumentando minha excitação a cada nova
estocada do jogador.
Claro que ainda não havia técnica, ele apenas entrava e saía,
sem saber controlar os movimentos no ritmo adequado para cada
momento, mas seu pau inchado dentro de mim era tão gostoso, que
eu sabia que gozaria com facilidade.
— Está bom? — perguntou, pressionando os lábios um no
outro.
— Sim, mas você pode soltar o peso sobre mim e vir me beijar.
— Você é pequena demais, Norah...
— Não vai me machucar, se esse é o seu medo — tranquilizei-
o, tocando em seus ombros e o incentivando a soltar as mãos. —
Eu quero você colado em mim.
Dominic suspirou e fez o que pedi, testando o peso ao se
deitar e se apoiar somente num antebraço. Seu corpo passou a
fazer o atrito gostoso em meu clitóris e eu o esmaguei pelo pescoço,
puxando sua boca para a minha e o beijando. Não importava se
estávamos num local público e podíamos ser flagrados a qualquer
momento, pois ali, tudo o que existia para mim era Dominic Davis.
Eu me contorci embaixo dele, deliciada enquanto observava
todas as suas expressões faciais. Prazer, desejo e ânsia por
experimentar novamente a sensação avassaladora que era gozar
dentro de uma boceta. Senti meu orgasmo se aproximar, e apertei
minhas coxas em volta da cintura do loiro, enquanto meus músculos
se contraíram violentamente, ao mesmo tempo em que Dominic
continuava estocando bem fundo.
Acho que as contrações da minha vagina ao redor do pau dele
não o permitiram ir mais longe, pois também gozou junto comigo,
aumentando o ritmo com o qual socava dentro de mim, como se
precisasse aproveitar até o último segundo.
— Você é muito gostosa — murmurou, fechando os olhos e
gemendo. — Norah... Eu quero mais...
Ri de nervoso, achando que aquele pau ainda continuaria
duro, mas felizmente, nós dois relaxamos e Dominic saiu de dentro
da minha bocetinha. Ficamos abraçados por algum tempo,
respirando fundo, até nossos corações voltarem ao ritmo normal. O
loiro se sentou e encarou minha vagina por um bom tempo, só
quando me apoiei nos cotovelos e tentei descobrir o que tanto
olhava, compreendi que estava hipnotizado porque devia estar
vendo a confusão que era seu gozo misturado ao meu, escorrendo
pela minha intimidade.
Sentir a boceta da morena engolir, pela primeira vez, o meu
pau, foi a coisa mais surreal que já vivi. Primeiro, minha glande
roçou a entrada dela e fui acometido por uma pressão gostosa, com
aquela região quente e macia, escorregadia, se alargando enquanto
eu me sentia ir mais fundo. Sua vagina me apertou quando sentou
de uma vez em meu colo e eu achei que podia desmaiar de prazer
naquele momento. Nada tinha me preparado para aquilo. Usar a
mão não era nem de longe tão gostoso quanto penetrar uma boceta
molhada, e tudo o que eu queria naquele momento, era que Norah
se mexesse de novo.
Nem reconheci o gemido que saiu de minha própria boca, mas
não conseguia controlar o que as ondas de adrenalina causavam
em mim. Eu não durei absolutamente nada quando a garota
começou a subir e descer em cima do meu pau, e cada vez que
proporcionava aquela fricção, eu pensava que ia explodir de prazer.
Encarei os peitos lindos que quase roçavam no meu rosto e pensei
em chupá-los, mas acabei gozando antes.
Ter a consciência de que minha glande babava bem fundo na
boceta de Norah, enquanto meu pau pulsava com o orgasmo que
me atingia, era simplesmente maravilhoso. Nas últimas horas, eu
tinha reformulado meu top 3 de coisas mais bonitas que meus olhos
já viram, e elas eram, não necessariamente nesta ordem: a imagem
do rosto de Norah enquanto gozava, a boceta de Norah com o meu
pau enterrado dentro dela, e a boceta de Norah aberta daquele jeito,
com minha porra escorrendo pelos lábios internos.
A visão era alucinante e me deixava com vontade de começar
tudo de novo só para sujá-la ainda mais. Precisei tocar aquela
região e deslizei meus dedos pela carne delicada e avermelhada por
conta do atrito. Enfiei um dedo dentro dela, vendo a garota soltar o
corpo sobre o banco e encarar o teto, e o puxei de volta, para enfiar
de novo e ouvir seu gemido baixinho.
Decidi, então, fazer um teste para descobrir o que aconteceria
se eu a chupasse daquele jeito. Desci meu rosto até o meio de suas
pernas e lambi a boceta quente, pegando Norah de surpresa.
Confesso que não curti sentir o gosto do meu sêmen nela, preferia
apenas o seu gostinho, mas isso não foi suficiente para me repelir.
A garota gemeu, se contorcendo contra o meu rosto, até que
percebi que meu pau começava a latejar mais uma vez. Não tinha
certeza se aquela reação era normal ou se Norah realmente mexia
muito comigo — e com ele —, mas acabei tendo uma ideia genial
que desejava colocar em prática.
Eu me levantei e estiquei minha mão para ela, que franziu a
testa, mas a aceitou e deixou que a puxasse. Apertei seus dedos e
observei seu corpo delicado, caminhando com a baixinha até a parte
onde ficava a enorme bancada com as pias na frente da parede
toda espelhada.
— Posso te comer aqui? — perguntei, olhando-a através do
nosso reflexo.
Norah riu, abaixando a cabeça e apoiando as duas mãos na
bancada de granito preto, enquanto afastava as pernas e empinava
a bunda.
— Eu acho fofo que você pede, como se eu fosse negar —
comentou, sorrindo. — Só não confunda os orifícios, porque meu
cuzinho é virgem e vai continuar sendo.
Aquela era uma confissão que eu não esperava, mas que
gostei de ouvir, porque se ela tinha tirado a minha virgindade, eu me
senti bem em saber que havia alguma primeira vez que Norah
também poderia vivenciar comigo.
Toquei sua boceta com cuidado, sentindo a entrada quente
com meus dedos, e direcionei meu pau ereto até ela. Segurando em
seus quadris estreitos, empurrei devagar, até me sentir enterrado
dentro de Norah, que gemeu e rebolou para mim. Levantei o rosto
para poder admirar nossos reflexos e comecei a estocar num ritmo
moderado.
A sensação de penetrar era incrível e eu percebia que quanto
mais sentia o atrito entre nossos corpos, mais vontade também
sentia de ir mais fundo e mais forte. Meus músculos, minhas veias,
parecia que tudo era dominado por um torpor insano que me fazia
esquecer de qualquer outra coisa que não fosse o ato em si.
— Isso, Dom... Me fode... — Encarei Norah, que mordia o lábio
com um sorrisinho safado. — Mete esse pau com força em mim.
— Então você gosta de falar putaria?
— Por favor! — pediu ela, ansiosa.
Mas eu não consegui pensar em nada para falar, porque não
estava acostumado a um vocabulário tão baixo sendo dito em voz
alta. No entanto, dei um tapa na bunda de Norah para mostrar que
podia surpreendê-la e a filha da mãe riu, rebolando para mim.
— De novo — pediu.
Bati mais uma vez, antes de estocar forte em sua boceta e
arrancar um gemido seu. Um braço a garota apoiou sobre a
bancada e o outro ela levou até o meio da pernas para se tocar. Dei
mais um tapa e apertei a carne da sua bunda em meus dedos,
fazendo-a pular de surpresa, e usei a mesma mão para deslizar por
suas costas e alcançar seu pescoço.
— Quer que eu goze de novo na sua boceta, safada?
Sem conseguir me manter no personagem, acabei rindo e
sentindo vergonha, mas Norah era perfeita, porque passou a língua
pelos lábios e piscou para mim.
— Repete, por favor... — ronronou, sedutora.
— Vou gozar na sua boceta — avisei, tirando meu pau por
completo, antes de penetrá-la de novo.
A garota abaixou a cabeça quando começou a gemer muito
alto e eu a senti me esmagar muito forte, o corpo estremecendo e
seus joelhos cedendo a ponto de eu precisar envolver sua cintura
com o meu braço para que não caísse. Era impossível me controlar
e retardar meu orgasmo enquanto a vagina pequena de Norah
parecia moer meu pau, que latejou com a pressão e me fez explodir
em seu interior.
Parei meus movimentos, alucinado com a sensação inebriante
que me dominava, e puxei Norah para trás até me encostar contra
uma parede. Eu ainda estava enterrado dentro dela e, agora, com
suas pernas fechadas, a filha da mãe sofria uns espasmos fortes
nos músculos da bunda e das pernas. Ela pegou com pressa uma
de minhas mãos e a levou até sua boceta para que eu a esfregasse.
— Não me solta... — pediu, gemendo. — Só... mais um...
pouco...
— Você está gozando de novo em menos de dois segundos?
— questionei, beijando sua orelha.
A garota só assentiu, rebolando contra mim enquanto eu
deslizava meus dedos pelos lábios internos e quentes. Conseguia
sentir cada contração de sua vagina apertada e me perguntava se
aquilo era o tal do orgasmo múltiplo, porque se fosse, eu me sentiria
orgulhoso por ter proporcionado isso a Norah.
— Você é muito linda — murmurei em seu ouvido. — E muito
gostosa. — Beijei seu ombro nu. — E eu quero repetir essa transa
mais umas vinte vezes.
Seu corpo estremeceu com a risada que soltou e, aos poucos,
Norah foi se acalmando, até que liberou meu pau ao afastar as
pernas e se virar de frente para mim. Ela passou a mão pelos meus
braços e meu peito, olhando para cima e sorrindo com o rosto todo
corado.
— Acho bom você me carregar no colo agora porque parece
que enfiaram algo muito grande e muito grosso em mim. — Arqueou
a sobrancelha e desceu os olhos na direção do meu membro. —
Que coincidência, pois parece muito com o que você carrega entre
as pernas.
Subi as alças de seu vestido, parando para apertar os seios
durinhos, e dei um beijo na testa suada. Seus olhos se fecharam
quando a peguei nos braços e a levei até o banco, deixando-a
sentada ali para que eu pudesse me vestir. Norah parecia sonolenta
e cansada, mas eu não via a hora de chegarmos em algum lugar
mais confortável para entrar mais uma vez dentro de sua boceta.
Ela que lutasse para dar conta de mim, já que me atazanou o juízo
por tantas semanas.

Acompanhei, chocado, enquanto Norah comia a quinta fatia de


pizza, que não era pequena, sem que eu entendesse para onde ia
toda aquela comida. A garota pequena lambeu os dedos quando
terminou e usou as duas mãos para puxar seu copo gigante de
refrigerante, bebendo o líquido pelo canudo e me encarando.
— Sexo me deixa com fome — comentou, lançando um olhar
para a fatia que estava em meu prato.
— Estou vendo — respondi, rindo e empurrando a louça para
ela. — Pode comer essa aqui também.
— Não quer? — perguntou se fazendo de rogada, quando eu
sabia que estava louca para pegar.
— Já comi três pedaços e não tenho o costume de ingerir tanto
carboidrato num único dia — declarei, observando o sorriso que
lançou antes de pegar a pizza.
Eu a levei no lugar onde o pessoal tinha se reunido para
comemorar o aniversário de Mike há uns dias. Ainda me sentia
anestesiado com tudo o que aconteceu no vestiário, parecia
estranho pensar que não era mais virgem, considerando que
esperei tantos anos para transar e o ato em si durou tão pouco
tempo.
Sabia que com a prática eu aprenderia a me controlar para
durar mais, porém, gostaria muito de ter um número exato em
mente. Quantas vezes precisaria transar para chegar o dia em que
conseguiria retardar o orgasmo o suficiente para dar mais prazer à
minha parceira? Se houvesse um objetivo determinado, eu o
encararia com muito mais facilidade, visto que fui condicionado a
lidar com metas, rotina e prazos, desde muito novo.
— E então, Davis? Você gostou? — Norah perguntou,
bebericando do refrigerante. — Foi o que esperava, foi melhor ou
ficou decepcionado?
— Melhor, claro — respondi, vendo-a balançar a cabeça. — Se
eu soubesse que seria isso tudo, não teria esperado tanto tempo.
Como foi transar com um virgem?
Norah estava mastigando quando fiz a pergunta e sorriu,
usando a mão para tapar a boca e falar:
— Você foi ótimo! Aprende muito rápido!
A garota se levantou de onde estava sentada, na minha frente,
e veio ocupar um espaço ao meu lado, pois eu tinha escolhido me
sentar no sofá que ficava do outro lado da mesa. Ela grudou o corpo
no meu ao se inclinar, cruzando as pernas e aproximando o rosto.
— Aos poucos, você precisa aprender a mesclar os ritmos e a
forma como vai penetrando, sabe? — sussurrou, apoiando a mão na
minha perna. — O seu pau é bem grande, então pode acabar
incomodando ou machucando.
— Norah — chamei, encarando sua mão e me sentindo
arrepiar.
— Sim?
— Você vai me deixar duro se continuar falando assim.
Seus olhos se estreitaram e seu corpo desencostou do meu
propositalmente. Ela agarrou o copo de refrigerante e sugou o
canudo para encerrar o assunto e eu sabia por qual motivo estava
se esforçando para me evitar: tinha ficado assada e dolorida.
Quando entramos no carro para vir à pizzaria, deixou bem claro que
não transaríamos mais hoje porque, de acordo com ela, meu pau
fez um estrago em sua bocetinha.
— Estou me sentindo mal por não ter usado camisinha —
murmurou, com os ombros caídos, ao soltar o copo e se recostar no
sofá. — Foi muito irresponsável, desculpa.
— Se você diz que não tem nenhuma doença, eu acredito.
— Não saia acreditando em tudo que dizem pra você na hora
do sexo — retrucou ela, suspirando. — O tesão faz as pessoas
mentirem. Eu já passei por um susto muito grande alguns meses
antes de vir para a faculdade. Logo que iniciei a minha vida sexual,
não me preocupava muito em usar preservativo e também é comum
o homem sempre insistir pra não usar. Um dia, eu transei com um
garoto da escola, que disse que tinha esquecido a camisinha, mas
que sempre usava e eu seria uma exceção. — Norah tapou o rosto
com as mãos e sua voz ficou mais abafada. — Dois meses depois,
correu a notícia de que ele tinha sífilis e os dias que levaram para o
resultado do meu exame sair, foram os piores da minha vida.
Acabou que eu estava limpa e descobri que ele se contaminou
depois que ficamos juntos. Claro que eu não fui a exceção, ele devia
dizer aquilo para todas com quem dormia.
Afastei uma de suas mãos do rosto e a segurei.
— Ele está bem?
— Não sei. — Norah encolheu os ombros. — Vim pra cá
algumas semanas depois e nunca mais soube de Thomas. Mas
desde então, eu sempre tomo cuidado.
— Eu faço exames periodicamente por conta do futebol, então
posso garantir que não tenho nada — falei, vendo um sorrisinho
bobo se desenhar em seu rosto.
— Por isso mesmo não devia confiar em mim.
— Teoricamente, eu comecei a confiar no instante em que
fizemos sexo oral sem proteção. — Sorri quando Norah estreitou os
olhos. — Não é verdade?
A garota deixou os ombros caírem ao soltar um suspiro e
baixar a cabeça. Não que eu quisesse desanimá-la, mas já que
estávamos falando sobre o assunto, verdades precisavam ser ditas.
Qualquer médico recomendaria o uso de preservativos até mesmo
durante o sexo oral, mas a mais pura realidade, era que quase
ninguém seguia à risca o conselho.
— Vou fazer um exame de sangue amanhã — comentou
Norah.
Minha atenção foi desviada para o meu celular que tocou
sobre a mesa, com o nome do meu pai aparecendo na tela. Apenas
silenciei a ligação, pois tinha alguma ideia do que ele queria falar.
Na certa, alguma foto minha na festa da Zeta devia ter vazado e
Henry Davis estava doido para me dar algum dos seus sermões
intermináveis. Hoje, no entanto, eu não falaria com ele nem com
minha mãe. Não queria que nada estragasse aquele dia que tinha
começado tão bem.
— Se for por minha causa, você pode atender lá fora — Norah
murmurou, apontando para meu telefone.
— Não é — respondi para tranquilizá-la. — Ele só quer encher
o saco.
— Vocês não se dão bem?
— Em partes. — Acenei para a garçonete providenciar a conta
e encarei a baixinha ao meu lado, que me olhava com curiosidade.
— Meu pai toma conta de cada passo meu, então às vezes, ele
consegue ser sufocante. Ele odeia que eu saia da linha e eu só
tenho feito isso desde que a conheci.
Vi um sorriso irônico brotar no rosto delicado de olhos escuros
e beijei a boca gostosa, levando minha mão até a cintura de Norah e
a puxando para mim. Minha mente me fez relembrar de seu corpo
em detalhes, enquanto estava sentada em meu colo, e eu quis
muito tomar mais um pouco daquela garota. Talvez estivesse viciado
em seu toque, seu cheiro e seu gosto.
Quinta-feira à tarde era dia de faxina na Zeta, o que significava
que o mais inteligente a fazer seria encontrar qualquer compromisso
inadiável para poder escapar do mutirão. Infelizmente, não consegui
inventar nenhuma mentira para aquele dia, então precisei encarar o
martírio.
Separávamos a irmandade pela metade a cada semana, para
que todas sempre pudessem ter uma quinta de folga. E levávamos
isso muito a sério, então quem estivesse na lista daquela semana,
precisava assinar a chamada de participação. Três faltas
consecutivas tornavam o caso passível de expulsão da Zeta.
Por sorte, Aika e eu sempre éramos colocadas juntas, então
aproveitávamos para limpar e nos distrair ao mesmo tempo. Estava
colocando minha amiga a par da minha tese, que felizmente, vinha
avançando graças à orientadora incrível que eu tinha escolhido,
quando me joguei de costas no chão da sala e abri os braços,
cansada.
— Queria tanto ser rica pra contratar uma empregada e não
precisar mais limpar a sujeira alheia... — murmurei, fechando os
olhos.
— Se você fosse rica, estaria morando num apartamento
exclusivo e não nessa espelunca — retrucou Aika, bufando ao meu
lado. — E eu poderia me aproveitar da amiga cheia da grana.
— Eu sou rico e moro num dormitório compartilhado.
Abri meus olhos imediatamente e vi Dominic pairando quase
em cima de mim, levemente inclinado, com as mãos nos bolsos do
casaco do Crimson e a testa franzida.
Não podia ser verdade que ele tenha aparecido na Zeta justo
num dia em que eu vestia uma calça de moletom velha, uma camisa
antiga do Joe que batia no meu joelho, e estava com o cabelo
repartido no meio usando maria-chiquinha. O destino era o vilão
daquele meu clichê invertido.
— Atrapalho? — perguntou enquanto eu me levantava
depressa e Aika me acompanhava.
— O que está fazendo aqui?
Ele me lançou um olhar levemente tímido.
— Eu vim falar sobre aquele nosso projeto, lembra?
Enruguei a testa, tentando me lembrar se havia algum projeto,
de fato. Passei a última aula de terça tão desligada, desenhando o
rosto do quarterback, que temi ter perdido alguma informação
importante. Quando me certifiquei de que não tínhamos nenhum
seminário ou qualquer trabalho para fazermos em dupla, deduzi que
por “projeto” ele quisesse se referir a sexo.
Meneei a cabeça em direção à escada.
— Vamos até meu quarto para... resolvermos logo isso —
murmurei, feliz por ter uma desculpa para me livrar da faxina.
Aika me fuzilou, com as mãos na cintura, porque eu sabia que
não conseguiria enganá-la, mas esperava que me ajudasse com
aquela fuga. Sorri para minha amiga enquanto pegava na mão de
Dominic e ela balançou a cabeça, suspirando.
— Vê se você se esforça pra tirar uma boa nota! — falou
quando eu subia a escada.
Assim que tranquei a porta do meu quarto, Dominic avançou,
me puxando pela cintura e abocanhando os meus lábios. O jogador
era tão rápido, acostumado com o ritmo em campo, que eu nem
consegui raciocinar direito sobre o que estava acontecendo. Ele me
jogou na cama com força e montou em cima de mim, tirando minha
blusa num piscar de olhos.
— Eu devo ser mesmo muito gostosa pra você estar tão
alucinado — murmurei, rindo daquele desespero todo.
— Você é!
Quase como se estivesse correndo contra o tempo, ele puxou
minha calça e minha calcinha ao mesmo tempo, deixando-me
pelada e ofegante. Havia algo de diferente em Dominic naquele dia,
pois mal me tocava direito, tamanha era a sua pressa. Parecia que
não poderia esperar de tanta ansiedade para transar, estava
pulando as preliminares e indo direto para o sexo em si.
Eu conseguia ver os seus olhos injetados de desejo e entendia
a sua urgência. O loiro tinha esperado por muito tempo, e agora que
tinha finalmente experimentado, parecia uma fera recém-saída da
jaula. Depois de domingo a gente não tinha feito sexo novamente
porque a agenda de treinos dele ficou apertada e me disse que não
queria colocar em risco seu desempenho na temporada.
Acredito que tenha encontrado um tempo nesta tarde, mas ir
com tanta sede ao pote desse jeito não seria bom para nenhum dos
dois.
— Dominic. — Segurei seu rosto e o afastei um pouco para
que me encarasse. — Vai com calma.
— Preciso sentir você, Norah... — Ele suspirou, fechando os
olhos. — Quero você.
Eu sorri e puxei seu rosto na minha direção, dando um beijo
lento em seus lábios. O filho da mãe não podia ficar soltando
aquelas pérolas quando desejasse, porque isso confundia minha
cabeça e meu coração.
— Você já tem a mim — esclareci, sorrindo. — Não estou indo
a lugar algum.
— Você não entende... — Dominic riu, passando a mão pelos
cabelos. — Eu não consigo parar de te desejar desde domingo.
Venho tentando me controlar, mas quero você o tempo todo.
Era quase fofo o jeito que falava, mas eu sabia que não havia
nada de romântico naquelas declarações. O quarterback me olhava
cheio de tesão, não de paixão. Eram vinte e dois anos de desejo
acumulado, que agora tinha sido liberado e ele ainda não estava
sabendo administrar.
Desci minha mão esquerda pelo seu corpo até alcançar a sua
virilha. Por baixo da sua calça moletom, agarrei seu pau e comecei
a massageá-lo da base até a cabeça. Dominic fechou os olhos em
êxtase e gemeu baixinho, apertando meu seio esquerdo e me
arrancando um suspiro, fazendo meu corpo começar a entrar no
mesmo ritmo que o dele. O loiro beliscou o meu mamilo com força
antes de tocar minha boceta.
Ele era tão gostoso nu, mas nem tive muito tempo para
admirar, pois o homem estava enlouquecido para transar de uma
vez. Porém, quando estava abrindo as minhas pernas, parou por um
segundo como se se lembrasse de algo e levantou rápido da cama.
Mexeu no casaco que tinha jogado no chão e puxou uma
embalagem de preservativo, voltando-se para mim com um sorriso
orgulhoso.
— Muito bem — comentei, rindo. — Está aprendendo!
Esperei que ele colocasse a camisinha, mas sua pressa e
ansiedade só o atrapalharam, sendo assim, eu acabei me sentando
na cama para ajudar. Ao me deitar de novo, posicionei o seu pau
sobre a minha boceta e puxei Dominic para mais perto, curtindo me
esfregar um pouco em seu corpo. Ele gemeu perto do meu ouvido,
movendo os quadris junto comigo, depois me beijou, arranhando
meus lábios devagar, para soltá-los e chupá-los com pressa.
— Acho que estou viciado — murmurou com a voz rouca. —
Poderia ficar aqui o dia inteiro.
Quando finalmente me penetrou, foi rápido e com força. Meu
gemido pareceu incentivá-lo, mas apertei meus dedos em seu braço
e franzi minha testa, pois ele precisava entender que seu tamanho
necessitava de mais cuidado na hora da penetração.
— Assim você me machuca — revelei, sentindo seu pau me
alargar.
Ele congelou os movimentos e me encarou com medo, seus
braços tremendo ao redor da minha cabeça.
— Agora não precisa parar, mas quando quiser entrar com
essa força toda, eu preciso estar bem lubrificada, porque você é
muito grande — expliquei, alisando o rosto bonito contorcido numa
careta. — Dica de ouro: gaste dinheiro com lubrificante.
— Sinto muito. — Ele beijou minha testa, depois minha boca,
mas permaneceu imóvel. — O que eu faço?
Rebolei embaixo do corpo pesado e contraí minha boceta ao
redor do pau dele propositalmente, vendo-o fechar os olhos e
respirar fundo.
— Continue, Dom — autorizei, arranhando seus braços. — Me
fode do jeito que você quiser.
Ele sorriu todo safado, voltando a se mover dentro de mim,
balançando a cabeça.
— Assim você complica a minha vida, Norah...
Agarrei seus cabelos e o puxei para grudar seu peito no meu,
lambendo sua boca e apertando sua cintura com as minhas pernas.
— Quero que você me foda e me deixe com a sensação de
que fui arrombada por Dominic Davis. — Arqueei minha
sobrancelha. — Consegue fazer isso, quarterback?
Ele não respondeu, apenas puxou os quadris para trás antes
de me penetrar até bem fundo e rebolar dentro de mim. Começou a
estocar mais rápido, fazendo meu colchão se afundar com sua força
e o nosso peso, enquanto eu me controlava para não gritar. Não
podia fazer escândalo e deixar que as meninas soubessem que
estava deixando de faxinar para transar.
— Quero uma visão da sua bunda! — disse o loiro quando se
afastou e me puxou pela cintura, virando o meu corpo mole. — Fica
de quatro!
Obedeci o autoritário, apoiando meus cotovelos na cama e
empinando minha bunda o máximo que consegui. Minha boceta
ardeu quando o recebeu novamente, junto de um tapa forte que
parecia pronto para deixar a marca dos dedos. Agarrando firme nos
meus quadris, o jogador meteu fundo e saiu devagar, para repetir o
processo, e cada vez que me penetrava, deixava um tapa numa de
minhas nádegas.
Precisei puxar meu travesseiro e enterrei minha cabeça ali
para abafar meus gritos e gemidos. Naquela posição, acabei
gozando rápido e sentindo como se o pau de Dominic inchasse
ainda mais dentro de mim. Foi quando reparei que ele tinha
conseguido se controlar por mais tempo, e mesmo me sentindo
estremecer, me contrair toda ao seu redor, o loiro se manteve firme
e forte.
— Meu Deus, Dom... — gemi contra a fronha quando o filho da
mãe me jogou para a frente e se deitou sobre mim, estocando
curtinho com minhas pernas fechadas. — Eu sou muito nova pra
morrer empalada...
Senti sua risada e suas mãos tocarem meus cabelos. Ele me
beijou no ombro, depois na bochecha, respirando no meu ouvido e
gemendo gostoso. Eu ainda latejava em cada canto da minha
boceta e meu corpo se recuperava do orgasmo, então curti aquele
carinho em boa hora e virei meu rosto, sorrindo para ele.
Dominic fechou os olhos, jogando a cabeça para trás ao
começar a gozar. Senti todo o seu corpo estremecer em cima do
meu e seus dedos se enroscarem nos meus cabelos.
— Eu amo... — sussurrou, me fazendo gelar. — Amo transar
com você, Norah...
Sorri, pensando que obviamente, ele amava. Eu era a única
com quem ele estava transando, não havia nenhuma outra
referência.
Dominic saiu de dentro de mim e se jogou ao meu lado na
cama. Ele estava todo suado e respirava fundo, puxando ar para os
pulmões. Passei meus olhos pelo corpo suado e me sentei,
cutucando a perna dele para que me encarasse.
— Tire a camisinha e a enrole no papel higiênico para eu
depois descartar no lixo — falei, meneando a cabeça para seu pau.
— Tem um rolo na primeira gaveta da minha escrivaninha.
O loiro pareceu se lembrar de que estava usando preservativo
e levantou rápido para fazer o que pedi. Eu me deitei de costas,
admirando a bunda deliciosa que Dominic possuía, e fiquei
observando o jogador se vestir e calçar os tênis. Tão rápido quanto
chegou, Dominic se curvou sobre mim na cama, me deu um selinho
e depois um beijo na testa.
— Preciso ir embora, pois tenho treino daqui a pouco.
— Se alguém lá embaixo perguntar por mim, diga que fiquei
digitando um trabalho muito importante. — Sorri.
Ele balançou a cabeça, soltando uma risada, mas assentiu ao
se afastar e abriu minha porta para deixar meu quarto. Continuei
deitada na mesma posição por mais alguns minutos, pensando no
que vinha acontecendo entre nós dois. Em que momento ele tinha
se tornado o centro da minha vida? Por que eu tinha parado de sair
com outras pessoas? E o mais importante: por que eu não estava
incomodada com isso?
Me olhei uma última vez na frente do espelho para conferir se
o meu look estava bom. Um vestido preto de alcinha fina, uma bota
coturno igualmente preta, batom vermelho e delineado. Estava bom
o suficiente para uma festa de fraternidade e a roupa facilitaria muito
se eu quisesse dar uns amassos gostosos com Dominic.
Alguém bateu na porta do meu quarto e logo Aika colocou a
cabeça para dentro, me lançando um sorriso. Ela parou em uma
pose de modelo, deu uma voltinha, e voltou a ficar de frente. Estava
usando um batom rosa bonito, um cropped branco extremamente
decotado que deixava os peitos dela incríveis, uma saia vermelha e
sandálias brancas. Seus cabelos estavam amarrados em uma
trança de raiz, especialidade de Aika.
— Acha que Peter vai curtir? — perguntou ela.
Pensei ter ouvido errado, mas minha amiga continuava me
encarando com as mãos na cintura e um sorriso animado. Ela
estava mesmo se referindo ao amigo de Dominic?
— Eu perdi alguma coisa durante esse tempo em que corria
atrás do Davis? — questionei, sentando-me na cama. — Você gosta
do Peter?
— É exatamente o que você disse. — Aika revirou os olhos e
cruzou os braços. — A senhorita andou tão ocupada no último mês,
que não percebeu que eu venho tentando chamar a atenção dele.
— Por que você não me disse isso? O Peter está sempre com
o Dominic, eu podia ter arranjado encontros duplos.
Aika encolheu os ombros e se aproximou da minha
escrivaninha, onde meus itens de maquiagem ainda estavam
espalhados. Ela mexeu numa paleta de sombras que tinha algumas
cores em glitter e sorriu.
— Será que essa vai combinar com o meu look?
Franzi a testa, chocada, porque a sombra de glitter verde não
tinha absolutamente nada a ver com a roupa de Aika.
— Gata, você está indo para uma festa universitária e não para
um concurso de beleza — avisei, levantando-me e tirando a paleta
da mão dela. — Está linda com a make que fez, não invente mudar.
— Você está falando isso porque a sua transa já está
garantida. — Bufou, revirando os olhos. — A minha eu ainda tenho
que conquistar.
— É o Peter! — frisei, rindo. — Não vai ser tão difícil assim.
Você é muita areia para o caminhão dele.
Pensei no sorriso fácil do garoto e que ele adoraria saber que
Aika estava a fim dele. Eu sabia que minha amiga já tinha ficado
com um jogador do time de basquete, mas ao contrário de mim, ela
era mais discreta. Eu jamais imaginei que tivesse algum interesse
em Peter ou teria comentado com Dominic, para que ele facilitasse
os encontros.
Pensar no quarterback fez meu coração acelerar. Os últimos
dois jogos tinham sido fora de casa, então passamos as últimas
duas semanas mais afastados e só conseguimos nos encontrar para
transar duas vezes, pois minha orientação da tese também me
tomou mais tempo do que eu esperava.
Ele tinha viajado na sexta com a equipe e só retornou nesta
manhã de domingo, portanto, hoje a grande Kappa Kappa estava
dando uma festa de comemoração à temporada invicta do Crimson
até o momento. Por isso eu tinha caprichado mais no look. Primeiro,
porque não era todo dia que eu pisava numa fraternidade daquele
porte. Segundo, porque veria Dominic depois de três dias longe
dele.
Aika deixou meu quarto avisando que ia passar perfume e logo
em seguida, escutei uma outra batida. Carlos entrou, me deixando
em choque ao surgir de terno na minha frente.
— Estava fumando com a Alice e vim perguntar se gostou da
minha escolha — disse ele, ajeitando a lapela. — Ela achou
exagerado.
— Eu acho que você e eu não estamos indo para a mesma
festa — comentei, rindo, mas alisando o tecido em seus ombros. —
De qualquer forma, você está bem bonito.
— Queria ir chique pra Kappa Kappa. — Seus olhos vermelhos
se arregalaram. — Eles são muito ricos.
Revirei meus olhos porque não aguentava ver ninguém
endeusando esse povo. Eles eram a fraternidade de elite do
campus, os intocáveis, os filhos de gente importante como políticos,
por exemplo. E eu só teria acesso àquela festa porque o Crimson
Tide possuía acesso liberado, então Dominic colocou o meu nome e
os dos meus amigos na lista. Eu deixei que colocasse até mesmo o
da chata da Anna, porque ela prometeu que me substituiria na
faxina da próxima semana.
Carlos colocou a mão dentro do bolso do paletó e tirou um
maço de cigarros e um isqueiro. Ele não fumava cigarro normal,
mas sempre tinha um maço vazio para guardar os seus baseados.
— Nada disso! — Apontei para ele. — Não vai fumar dentro do
meu quarto.
— Tá bom, tá bom… — Ergueu as mãos, se virando para sair.
— Vou descer e esperar a Alice.
— Amigo, só pra te avisar, você já está fedendo a maconha. —
gritei quando ele começou a se afastar. — Eu não vou perder a festa
para cuidar de drogado, viu? Você faça o favor de não morrer de
overdose de maconha!

Eu estava muito chocada que, ao contrário das festas que


costumava frequentar e precisava me virar pra pegar uma bebida,
ali na Kappa Kappa tinha barman pra servir as pessoas. Cinco
homens vestidos igual ao Carlos, ocupando uma mesa montada no
jardim da propriedade, preparavam as mais diversas e coloridas
bebidas.
Eu tinha acabado de pegar meu copo e provei o primeiro gole,
me deliciando com o sabor docinho e forte.
— Eu não acredito! — Anna surgiu ao meu lado num passe de
mágica, me dando um susto. — Este é aquele drink de morango
delicioso?
A filha da mãe tirou o copo da minha mão porque eu não
esperava pelo ataque, deu um longo gole fora do canudo, esboçou
uma cara de satisfação e me lançou um sorriso antes de virar as
costas e sair andando.
Minha vontade foi ir atrás de Anna e derramar a bebida inteira
em seus cabelos, mas então o Peter apareceu no meio daquele
povo todo desconhecido e eu comecei a procurar pelo amigo dele.
Ainda não tinha visto Dominic, porque não combinamos de virmos
juntos.
— Oi, gatas! — O jogador me abraçou pelos ombros e beijou o
topo da minha cabeça. — O que temos aqui?
Vi um copo colorido em sua mão e roubei assim como fui
roubada. Provei o drink, que tinha gosto de mijo, e o devolvi para
seu dono. Então, me lembrei que aquele era um ótimo momento
para dar uma ajuda à minha amiga, que se manteve calada e
fingindo prestar atenção em qualquer coisa que não fosse o homem
bonito na frente dela.
— Você já conhece a Aika, não é? — perguntei para Peter.
— Eu não esqueço das garotas bonitas — respondeu ele,
piscando para ela.
— Mas sabia que Aika é a maior fã do Bama? — Minha amiga
estreitou os olhos para mim. — E olha só que engraçado, ela está
solteiríssima!
Peter virou o rosto para me encarar e eu abri um sorriso para
que o lerdo entendesse a minha indireta. Ele apertou meus ombros
antes de me soltar e dar um passo à frente, pegando a mão de Aika
e a beijando devagar.
— O destino é incrível, porque eu também estou solteiro —
declarou, alisando os dedos da minha amiga com o polegar.
Tudo bem, não era a forma mais sutil de juntar duas pessoas,
mas pelo menos eu tinha feito a minha parte. Quando me virei para
voltar à mesa de bebidas, senti alguém segurar meu braço e olhei
para trás. Não sabia se era por não vê-lo pessoalmente há alguns
dias ou se era possível que tivesse ficado ainda mais bonito, mas
Dominic estava ali diante de mim e parecia alguém prestes a arrasar
todos os corações e as calcinhas da festa.
Ele ficava perfeito quando se vestia todo de preto, mas além
disso, dessa vez havia algo diferente em seu olhar. Um pouco de
luxúria, intensidade, desejo... Um fogo que faltava ao Dominic
virgem, mas que agora, parecia transbordar pelos olhos verdes.
Perdi o fôlego quando seus dedos deslizaram pela parte
interna do meu pulso e seu rosto se aproximou do meu, ao curvar
aquele corpo grande para cima de mim.
— Oi, razão da minha ereção — sussurrou antes de me beijar
no canto da boca.
Sorri toda derretida quando seu braço agarrou minha cintura e
me puxou de encontro ao corpo dele, quase tirando meus pés do
chão. Inspirei profundamente, sentindo o cheiro bom de seu
perfume e passei minhas mãos pelos braços fortes. Antes que eu
conseguisse falar qualquer coisa, Dominic começou a me puxar pela
multidão, entrelaçando os nossos dedos e nos levando para mais
aos fundos do amplo jardim.
Percebi que nos aproximávamos de uma área mais deserta e
tive que pular alguns arbustos com ele, pensando se já tinha
escolhido aquele local de forma premeditada. Era isolado do
restante da festa, escuro, e quem passasse na frente das plantas
teria que se aproximar muito para nos enxergar.
— Isso é uma festa, sabia? — murmurei, rindo do desespero
do ex-virgem. — O objetivo é se divertir com as pessoas e não se
esconder no mato.
Dominic me lançou um sorriso malicioso.
— Mas eu pretendo me divertir — sussurrou, passando a
língua devagar pelo lábio inferior e fazendo minha boceta pulsar.
Ele se encostou numa árvore e segurou minha cintura, me
puxando em sua direção até os nossos corpos estarem colados.
Fitou minha boca por alguns segundos e, então, me beijou. No
começo, foi lento e delicado, mas logo começou a se agitar.
Coloquei minhas mãos em sua nuca, trazendo-o para mais perto de
mim, e senti as suas deslizarem da minha cintura para a minha
bunda.
Dominic esfregou os quadris contra os meus e eu senti o
volume pesado no meio de suas pernas.
— Então não vai entrar? — questionei, me sentindo arrepiar.
— Claro que sim — o filho da mãe respondeu soltando uma
risada.
Com uma das mãos, Dominic levantou o meu vestido e me
tocou entre as pernas, afastando minha calcinha com pressa e
alcançando o meu clitóris, que já pulsava por ele, para um pouco
depois, enfiar dois dedos em mim.
— Eu quis dizer na festa — retruquei, tentando não perder a
cabeça.
— Norah, o único lugar em que eu quero entrar, é em você.
Afundei meu rosto no peito dele e fechei os olhos, sentindo os
calafrios percorrerem meu corpo inteiro. Os seus dedos trabalhavam
sem parar, entrando e saindo de dentro de mim, me deixando cada
vez mais ensopada e cheia de tesão. Levei a mão até o zíper da sua
calça e abri, puxando seu pau duro para fora e o masturbando bem
gostoso. Gostava de sentir o membro de Dominic em minhas mãos,
na minha boca ou na minha boceta. Em qualquer lugar, na verdade.
— Ontem à noite eu gozei pensando em você — sussurrou o
quarterback. — Depois do jogo, deitado na cama do hotel. Duas
vezes.
Meu estômago se contraiu de um jeito bom com a visão de
Dominic se masturbando e pensando em mim. A sensação foi tão
forte que as minhas coxas também se contraíram e o meu clitóris
pulsou, quase implorando para que o loiro me comesse logo.
— Me conta o que você estava fazendo comigo nesses
pensamentos impuros.
Fechei um pouco mais a minha mão ao redor do seu pau
quente e aumentei a velocidade. Dominic gemeu e também
aumentou o ritmo dos seus dedos, para me acompanhar.
— Eu fodia a sua bocetinha linda e pequena por trás —
declarou, aproximando a boca do meu pescoço e me mordendo
bem ali. — Acho que posso gozar de novo só de relembrar a
imagem.
Eu gemi alto, sem me importar com o local, sentindo minhas
pernas fraquejaram. Até então, Dominic não tinha se acostumado a
usar aquele tipo de linguajar comigo, e ouvi-lo falar, com a boca tão
próxima do meu ouvido e a voz tão rouca, foi demais para mim. Aos
poucos, estava se soltando e se tornando uma máquina sexual, e eu
me sentia muito orgulhosa disso. Queria mais. Queria saber até
onde ele iria. Queria desvendá-lo por inteiro e provar tudo com ele.
— Então me fode exatamente assim — pedi, afastando minha
mão do pau grosso.
Sem que eu precisasse falar de novo, Dominic tirou a mão de
dentro de mim e me girou em seus braços até minha bunda se
encaixar com o membro ereto. Ele puxou as alças do meu vestido
para baixo, despindo os meus seios, e o vento frio da noite me
atingiu com força. Com uma mão, agarrou meu seio direito, e com a
outra, tocou minha boceta e começou a me masturbar. Eu sentia
seu pau pulsar contra a minha bunda, me levando à loucura, mas
Dominic demorou para me penetrar.
— O que você está esperando? — perguntei, gemendo,
jogando a cabeça para trás. — Não me tortura...
— Calma, mulher... — ele resmungou e consegui ver que
estava enrolado para colocar a camisinha, então aguardei
pacientemente.
Quando finalmente se arrumou, o loiro gostoso rosnou atrás de
mim, levando a boca até o meu pescoço, me chupando com fome e
voltando a me masturbar. Dessa vez, me penetrou com cuidado,
devagar, se lembrando do meu aviso do outro dia. Suspirei
profundamente, extasiada. Se eu pudesse, congelaria o tempo e
ficaria ali para sempre, nos braços de Dominic, enquanto ele me
possuía por inteiro.
Nunca me senti tão inebriada por outro cara, com esse
sentimento de pertencer a alguém de forma intensa e selvagem.
Talvez fosse essa contradição entre o homem e o menino, a
inocência e a luxúria. Dominic não era experiente e estava
aprendendo tudo comigo, e isso era excitante de uma forma que eu
não poderia explicar. Gostava muito quando ele me olhava com
adoração, como se eu fosse a coisa mais impressionante do mundo,
e quando me tocava, não de um jeito safado, mas como quem está
descobrindo algo totalmente novo. Eu gostava, principalmente, do
quanto ele me queria o tempo todo, quase como se precisasse de
mim para respirar.
— Dominic... — gemi seu nome. — Eu quero mais.
Comecei a mover os meus quadris e o senti aumentar a
intensidade das estocadas. Ainda me penetrava devagar, mas agora
ia mais fundo e com mais força, abrindo espaço em minha boceta
estreita, com aquele pau enorme e maravilhoso.
Eu o senti morder o lóbulo da minha orelha, me enchendo de
tesão, e rebolei em seu pau, movendo os meus quadris para foder
junto com o jogador.
— Que gostoso, Dom...
— Fala que é minha — ele pediu, apertando o meu pescoço e
se enterrando, parando de se mover. — Só minha.
Mordi os lábios com força. Sempre que ele sussurrava assim
perto do meu ouvido, uma onda de prazer me invadia, fazendo todo
o meu corpo estremecer. E mesmo sem saber de onde estava
surgindo aquela possessividade absurda, eu entrei na onda do
quarterback.
— Eu sou apenas sua — declarei.
Seu pau inchado voltou a se movimentar em meu interior, me
penetrando mais rápido e com força, mas eu precisava de mais.
Queria senti-lo mais fundo, mais intenso, tomando mais espaço
dentro da minha boceta.
— Preciso sentir você inteiro dentro de mim — gemi, rebolando
contra seus quadris.
Ouvi Dominic suspirar próximo ao meu ouvido e um segundo
depois, ele largou o meu seio e agarrou meus cabelos. Eu só
entendi o que tinha em mente quando forçou o meu corpo para a
frente para que eu me curvasse. Por instinto, estiquei minha mão
achando que cairia de cara no chão, mas Dominic me prendeu com
força pelos quadris, me segurando enquanto metia com força em
mim. Para não perder o equilíbrio, segurei meus próprios
calcanhares, sentindo o jogador me alargar cada vez que estocava
bem fundo, atendendo ao meu pedido.
— Melhorou? — perguntou o safado, abafando uma risada.
Precisei tapar minha boca e me mordi, tentando abafar os
gritos. Eu não era a pessoa mais ajuizada do mundo, mas transar
assim, em local público, podendo ser flagrada a qualquer
momento... Isso eu nunca tinha feito antes, mas era extremamente
excitante. O mais absurdo era que a ideia nem tinha sido minha.
Quem tinha planejado aquilo havia sido o ex-virgem, aquele que não
saía da linha, não cometia erros e não gostava de se expor.
Inacreditável!
— Norah... — Dominic gemeu atrás de mim. — Eu vou gozar.
Tirei a mão da boca e a levei até o meu clitóris, me
masturbando. Eu mesma não estava muito longe do orgasmo e a
pressão entre as minhas pernas estava quase insuportável, sinal de
que logo explodiria.
Sem nada para me impedir de gemer alto, mordi os lábios com
força, mas isso não foi assim tão eficiente. Dominic me puxou para
cima novamente, me agarrando pela cintura e tapando a minha
boca com a sua própria mão.
— Quietinha — sussurrou no meu ouvido, ainda me fodendo
por trás.
Então o orgasmo veio. Intenso, avassalador, de tirar o fôlego.
Mordi a palma da mão de Dominic com força enquanto as minhas
pernas tremiam tanto que eu parecia levar um choque. O loiro
gemeu alto atrás de mim, mais alto do que nunca, e eu não soube
se era pelo orgasmo, pela mordida na sua mão ou as duas coisas.
Alguns segundos depois, quando meu corpo voltou a relaxar,
soltei a mão de Dominic, toda babada e marcada de dentes. Ele
grunhiu e me soltou de seus braços, parecendo tão sem forças
quanto eu. Virei-me de frente e me aconcheguei em seu peito que
subia e descia, ofegante, alisando o rosto suado do jogador.
Eu mesma puxei a camisinha de seu pau e dei o nó, pensando
onde descartaria o preservativo. Então, me abaixei para pegar um
copo vazio que tinha sido jogado ali no chão, coloquei o pacotinho
dentro e amassei todo o papel para jogá-lo no lixo quando voltasse
à festa. Depois, voltei minha atenção para o membro que ainda
estava duro e todo melado do próprio gozo.
Por algum motivo, isso me deixou extremamente excitada, e
eu me peguei ajoelhada em frente ao quarterback, lambendo seu
pênis, chupando-o até estar completamente limpo e brilhante. Tentei
engolir o máximo que podia, pois adorava senti-lo chegar perto do
fundo da minha garganta, pulsando contra a minha língua. Adorava
o seu cheiro, seu gosto, a sua textura macia, as bolas firmes e
redondas...
— Norah — Dominic gemeu o meu nome, me agarrando pelos
cabelos.
Ele ainda estava apoiado contra a árvore, a cabeça jogada
para trás, os olhos fechados e a boca entreaberta enquanto
respirava com dificuldade. Era tão perfeito assim, mas ficava ainda
melhor pelado.
Em algum momento, o loiro assumiu o controle da situação,
segurando minha cabeça com força e passando a foder minha boca
com mais ímpeto. Se fosse qualquer outro eu teria beliscado as
bolas e recuado, porque odiava que o homem tentasse controlar o
sexo oral que eu estava fazendo. Mas sentia que Dominic podia
tudo comigo, porque eu amava vê-lo descobrir os prazeres do sexo.
Portanto, permiti que ele continuasse.
Ele era grande e eu logo me engasguei, fechando os olhos e
sentindo a saliva escorrer pelos meus lábios. O loiro parou os
movimentos e alisou minha testa.
— Te machuquei?
Neguei, abrindo meus olhos e o encarando. Dei um sorriso
safado e suguei a cabeça de seu pau para incentivá-lo a continuar.
Ele voltou a meter com força como queria e não demorou muito para
gozar de novo, se esvaziando dentro da minha boca com um
gemido alto.
Enquanto se recuperava, eu ainda o chupava, devagar,
limpando cada pedacinho do membro bonito. Ele começou a
amolecer em minhas mãos quando o guardei dentro da cueca e subi
o zíper da calça preta, mas de repente, um barulho nos arbustos
chamou a minha atenção.
Olhei para o lado, assustada, procurando por alguma coisa, e
senti Dominic entrar em estado de alerta. Ficamos olhando ao nosso
redor por alguns segundos, mas não conseguimos ver nada, pois
estava muito escuro. No entanto, apesar de não ver nada, ouvimos
risadinhas por perto.
Dominic reagiu imediatamente e me levantou do chão, pois
estava ajoelhada. Ele me lançou um olhar atento antes de pular os
arbustos com pressa e ir conferir os arredores na esperança de
encontrar quem fosse o engraçadinho. Mas quando olhei para o
outro lado, vi dois vultos de cabelos longos correndo na direção da
casa. Obviamente, elas tinham visto alguma coisa, ou talvez tudo.
Isso, em si, não era realmente uma preocupação. O que me
preocupava mesmo era ter notado um brilho em suas mãos, o que
podia indicar que estavam com as câmeras dos celulares ligadas.
— Você acha que elas viram? — Dominic perguntou quando
me ajudou a pular os arbustos.
Ele ainda estava com a respiração pesada e parecia
levemente preocupado com o que aconteceu.
— A pergunta é: será que elas gravaram? — Encolhi os
ombros, chateada.
— O quê?
— Posso jurar que estavam com os celulares nas mãos —
expliquei, vendo seus olhos se arregalarem.
Dominic fechou os olhos e passou a mão no rosto. Agora ele
não estava só levemente preocupado e eu o entendia porque não
sabíamos o que aquelas garotas fariam com o que tivessem
registrado.
Não me importava mais que me vissem em festas ou com
Norah, nem que meus pais detestassem cada vez que meu nome
saía na mídia e que não tivesse relação com o futebol. Mas uma
coisa era ser flagrado beijando na boca ou com um copo de bebida
na mão — coisa que eu nem fazia. Outra bem diferente e que
poderia me complicar muito, era vazar um vídeo íntimo meu.
As garotas que vimos correr tinham desaparecido e não
prestamos atenção em suas roupas para que isso facilitasse pela
busca dentro da festa. As chances de reconhecê-las eram mínimas
e eu estava puto com isso.
— Você por acaso viu quem eram?
— Não — Norah respondeu, segurando firme a minha mão
enquanto entrávamos na casa. Ela então se virou e segurou meu
rosto. — Não surta, ok? O que está feito, está feito. Se tudo der
errado, o pior que pode acontecer é a gente ter uma sextape indo
parar em algum site pornô.
— Norah, isso é sério. — Revirei meus olhos ao ver que ela
estava brincando. — Eu sou o Dominic...
— Davis — completou, soltando o meu rosto. — É, eu sei. Mas
não sabemos quem eram, não há muito o que possamos fazer. E
olha só, estava bem escuro lá atrás. Eu duvido que tenha dado para
ver os nossos rostos, caso tenham mesmo filmado ou fotografado
alguma coisa.
Por esse lado, a garota tinha um pouco de razão. Eu escolhi
aquele local justamente por ser bem afastado e escuro, sem
nenhum tipo de iluminação por perto. Senti até o sangue voltar ao
meu rosto enquanto me dava conta disso, porque com certeza não
tinha sido usado nenhum flash, ou nós teríamos percebido antes.
Podiam apenas ter gravado um casal transando, mas não seria
possível dizer quem eram os envolvidos.
— Só tem um problema — comentei ao me lembrar de um
detalhe. — O que me diz das vezes em que gememos os nossos
nomes?
Norah abriu e fechou a boca, chocada ao perceber que havia
sim um motivo para nos identificarem. Quais eram as chances de
existir algum outro casal com os mesmos nomes, dentro daquela
festa? Zero possibilidade.
— Sabe do que eu preciso? — questionou Norah, suspirando.
— De álcool.
Nossas necessidades eram muito diferentes, porque eu
precisava encontrar as garotas e descobrir se tinham mesmo visto
alguma coisa. Mas mesmo assim, deixei que Norah me puxasse
pelo salão até o lado de fora, caminhando em direção a uma mesa
que estava servindo bebidas. Eu a observei de costas, os cabelos
longos e soltos tocando a cintura fina, o vestido bonito que deixava
o corpo dela ainda mais gostoso, e as pernas finas que eu gostava
de sentir em volta de mim.
Ela lançou um olhar para trás por cima do ombro, enquanto
esperava o barman preparar seu drink e eu sorri, tocando sua
bochecha. Colei nossos corpos e passei meus braços por sua
cintura, apoiando meu queixo em seu ombro e observando o copo
de líquido azul e rosa.
— Posso provar? — perguntei, ouvindo um som de espanto
deixar sua boca.
— Mentira! — ela murmurou, virando o rosto. — Quer mesmo?
Nora aproximou o canudo da minha boca e eu dei um gole,
sentindo a bebida doce e forte descer pela minha garganta. Não era
ruim, mas como eu não estava acostumado, acabei tossindo duas
vezes.
— Acho que só isso será suficiente pra me deixar bêbado —
declarei, sentindo o gosto de vodca impregnado em minha língua.
— Eu cuido de você se isso acontecer, bebê. — Norah se virou
de frente para mim, sorrindo enquanto mordiscava o canudo. —
Agora, vamos procurar meus amigos.
Ela voltou a me puxar e eu só segui, porque estava na festa
apenas por causa de Norah. Em qualquer outra situação, antes de
conhecê-la, eu jamais iria a um evento tão cheio que não
acrescentaria nada na minha vida.
Ela acenou para o amigo maconheiro e engraçado, que estava
jogando beer pong com uma garota que eu já tinha visto, mas não
lembrava o nome. Ambos estavam tão bêbados, que um peteleco os
derrubaria em segundos.
— Grande Dominic Davis! — Carlos se aproximou, largando o
jogo e vindo me abraçar. — Eu sou seu fã...
Sorri para o cara que estava cheirando muito forte e dois
tapinhas nas costas dele. Tinha certeza de que minha roupa inteira
ficaria fedendo a maconha.
— Valeu — respondi, sem saber o que mais dizer porque ele
ainda estava abraçado a mim.
— Então vocês estão juntos de verdade? — perguntou a
garota, sorrindo para Norah, enquanto Carlos me soltava e alisava
meu rosto.
— Não — respondo.
— Sim — disse Norah ao mesmo tempo.
Nós dois nos encaramos rapidamente e eu pigarreei.
— Sim — consertei.
— Não — disse ela.
Os amigos dela gargalharam e eu me senti péssimo por ter
sido o primeiro a negar aquela pergunta. O que Norah estaria
pensando agora? Eu só respondi que não porque temi que ela não
gostasse de rotular o que havia entre nós, considerando que
prezava seu status de solteira. Agora, sentia medo de que pensasse
que eu não queria assumir nada e se afastasse de mim.
A garota engatou uma conversa com Carlos e a outra menina
e eu procurei por Peter entre a multidão, pois não o tinha visto
desde a hora que chegamos. Peguei meu celular para mandar uma
mensagem para ele e fiquei ali perto de Norah, esperando enquanto
ela falava sobre algo relacionado à irmandade.
Carlos se aproximou, passando um braço pelos meus ombros,
mas como ele era mais baixo, ficou numa posição um tanto
desconfortável. Então, puxou uma caixa de cigarro do bolso do
paletó — gostaria de entender por que estava usando terno — e
ofereceu para mim.
— Eu não fumo, mas obrigado.
— É maconha — disse ele, piscando como se fosse brilhante.
— Eu guardo aqui. E meus baseados são os melhores, confie.
— Eu não uso drogas, mas novamente, obrigado. — Sorri,
querendo fugir.
O cara estalou a língua e soltou uma risadinha.
— Maconha não é droga, pô. É só... maconha...
Carlos pegou um dos seus rolinhos, guardou a caixa de volta
no bolso, acendeu o baseado e deu uma tragada forte, soltando a
fumaça em cima de mim. Balancei minha mão no ar, tentando
dissipar aquela nuvem e tossindo quase engasgado.
— Quando quiser entrar em campo relaxado... — Ele piscou
de novo. — Fala comigo...
— Carlos! Quer parar de intoxicar o Dominic? — Graças a
Deus, Norah enganchou o braço no meu e me puxou para longe,
rindo igual doida. — Nossa, você pegou uma brisa forte ali.
— Seria pedir muito a gente ir embora? — pedi, segurando o
rosto pequeno e beijando sua boca antes de grudar nossas testas.
— Podemos ir para meu dormitório. O Peter, provavelmente, está
comendo alguém por aí. Quero aproveitar e comer uma baixinha
também.
— Você está insaciável — disse ela, revirando os olhos. — Eu
criei um monstro.
— Sou zero quilômetro, baby.
Norah me lançou um sorriso safado e entrelaçou os dedos nos
meus, me puxando para a saída sem nem se despedir de seus
amigos.
A gente só não esperava que fosse chegar no meu dormitório
e a primeira coisa que veria, seria a bunda de Peter, que transava
no sofá da sala com Aika. Norah soltou um grito, que fez com que a
amiga a imitasse e então, o wide receiver se levantou depressa,
ficando pelado de frente para a minha garota, que agora tinha
cruzado os braços e observava tudo como se estivesse se
divertindo.
— O que vocês estão fazendo aqui? — Peter perguntou e eu
parei atrás de Norah, tapando seus olhos.
— Eu moro aqui, idiota.
— Norah? — A menina no sofá se encolheu e eu virei o rosto.
— Oi, Dominic...
— Nós vamos para o meu quarto — avisei, caminhando com a
baixinha para o corredor.
Ela gargalhava em meus braços e tentava afastar as mãos que
eu só retirei quando saímos da sala. Entrei com ela no meu quarto e
fechei a porta, chocado com o que tinha acabado de acontecer. Não
era a primeira vez que eu flagrava meu amigo com alguma mulher,
mas nunca tinha sido com uma amiga da garota que eu estava
pegando.
— Aquela safada foi embora da festa e nem me contou! —
Norah resmungou, sentando-se na cama. — Então, Aika se deu
bem!
— Quem disse? — questionei. — Ela pegar o Peter significa
que se deu bem? Por quê? Ele é tão interessante assim?
Norah arregalou os olhos e sorriu, levantando-se para subir e
ficar de pé sobre o meu colchão. A doida me puxou pelos ombros e
passou os braços ao redor deles, me olhando de cima pela primeira
vez na vida.
— Você fica tão lindinho quando demonstra ciúmes...
— Não é ciúmes. — Respirei fundo, sentindo seus lábios
espalhando beijos pelo meu rosto. — É só curiosidade pra saber o
que pensa sobre Peter. Mas como entramos nesse assunto, se você
quiser, pode me contar quem foram os jogadores que já pegou.
Norah arqueou a sobrancelha e estreitou os olhos que
estavam muito sensuais naquela noite, com delineador preto sobre
as pálpebras.
— Tem certeza de que quer saber a verdade? — perguntou ela
e meu coração errou uma batida.
— Prefiro saber.
— Por que acha que peguei algum jogador além de você? —
Encolhi os ombros, sem ter uma resposta exata. Sabia que não
éramos exclusivos, então isso poderia acontecer, certo? — Dominic
Davis foi o único. Nunca liguei para atletas, bobinho.
— E por que cismou comigo? — Isso eu realmente queria
muito saber, porque até hoje não entendia como Norah teve tanta
persistência.
Ela encolheu os ombros e sorriu, franzindo os lábios gostosos.
Desci minhas mãos pela bunda pequena e subi o vestido, sentindo
que a calcinha tinha se enfiado no traseiro. Alisei as coxas, trazendo
meus dedos para a frente de seu corpo e os subindo até sua virilha
macia.
— Eu o encarei como um desafio — respondeu ela, rebolando
discretamente enquanto eu puxava as laterais de sua calcinha. —
Você é bonito demais para que eu ignorasse.
— Vai ser gostoso chupar sua bocetinha nessa posição —
mudei o assunto e a surpreendi quando rasguei de uma vez a
lingerie só pra poder enfiar dois dedos na vagina úmida.
Peter e Aika que me desculpassem, mas seria a nossa vez de
usar o dormitório e fazer barulho. Minha garota era gostosa demais
para que eu conseguisse me controlar por muito tempo e eu só
conseguia pensar na sorte que dei por ela nunca ter desistido de
mim.
Olhei a foto mais uma vez. Como havia previsto, estava muito
escuro e mal dava para distinguir os formatos de nossos corpos,
quanto mais os rostos. Mas o flagra estava nítido o suficiente para
saber que se tratava de um homem em pé e uma mulher agachada
à sua frente, fazendo um boquete — que tinha sido delicioso.
Quem quer que tenha tirado aquela foto, sabia, ou pelo menos
desconfiava, que se tratava de Dominic e Norah, pois era
exatamente o que a legenda tentava dizer. Claro que sem rostos
para confirmar, tudo girava em torno de uma hipótese, uma
suspeita, e uma pergunta: seria mesmo Dominic Davis e a sua nova
namorada, Norah Brown?
— Isso é péssimo — comentei, mais preocupada com o loiro
do que comigo.
— Pensa pelo lado bom... — Aika murmurou, desanimada, ao
meu lado. — Foi só uma foto. Se fosse um vídeo, seria muito pior.
— Até onde sabemos... — Anna comentou atrás de mim e eu
me virei para ver seu sorriso petulante. — Ainda pode haver um
vídeo por aí. Será que devemos procurar no XVideos?
— Pelo amor de Deus! — Lancei um olhar feio para ela e
abanei minha mão. — Dá o fora daqui e me deixa em paz!
— Anna... — Joe lançou um olhar nada amigável. — Não é
hora para isso, por favor.
Ela ergueu as duas mãos, como se estivesse se rendendo, e
se afastou até o fundo do bar onde estava jogando sinuca com
algumas meninas da Zeta. Infelizmente, eu e meus amigos
tínhamos ido até lá para fazer um lanche e descobrimos que
teríamos companhia. Eu estava sentada em uma mesa, rodeada por
Alice, Carlos, Joe e Aika, tentando não me sentir tão mal por conta
da foto vazada naquela quinta de manhã.
— Bom, não é como se eu não estivesse esperando por isso,
não é? — comentei, largando o meu celular. — Até que demorou.
Desde o incidente na festa da Kappa Kappa, havia se passado
quase uma semana. Eu vinha esperando por aquelas publicações
dias atrás, mas nada aconteceu e supus que as garotas não tinham,
de fato, registrado nada. Estava enganada, pois já havia saído em
todos os perfis de fofoca da universidade e, aparentemente, era só o
que se comentava no Twitter. Criaram até uma hashtag sobre o
caso, e estudantes de outras universidades estavam comentando
sobre o assunto porque, afinal, era o nome do quarterback do
Bama.
— Vocês podem negar — Joe disse, dando tapinhas de
consolo na minha mão. — Ninguém vai conseguir provar que são
vocês.
— Mas também não vão acreditar na negação — comentou
Carlos, que estava tão chocado que nem tinha fumado nenhum
baseado o dia todo. — As pessoas só acreditam no que querem e
bem, elas querem que seja Dominic Davis na foto.
— Mas ainda assim, é a palavra deles contra uma fofoca.
— Isso não vai dar em nada, gente — disse Alice. — Em uma
semana, todo mundo já vai ter esquecido do assunto, que será
substituído por algum outro.
— Eu, de verdade, não me importo com a minha imagem,
sabe? — Encolhi os ombros, preocupada. — Mas sei que pode
prejudicar o Dominic.
Alice me encarou, parecendo se lembrar, só naquele momento,
que estávamos falando sobre um cara bem famoso. Ela fez uma
careta, e seus ombros se encolheram em desanimação.
— Você já falou com ele? — Aika perguntou.
— Não. — Olhei meu celular, mas não havia nenhuma
mensagem do jogador. — Ele deve estar surtando.
Desde que descobri que tinham vazado a foto, pensei em
correr até Dominic, mas estava tão apavorada que não consegui
tomar uma atitude. Agora, enquanto conversava com os meus
amigos e sentia meu peito abafado, decidi parar de adiar esse
momento e ir logo descobrir como o loiro estava.
Se o melhor para ele fosse negar em público, então faríamos
isso. Dominic saberia o que era melhor para a sua imagem. Além
disso, ele era quase uma celebridade, certo? Devia ter uma equipe
que cuidasse desse tipo de coisa, assessoria de imprensa e tudo o
mais. Devia ter alguém que pudesse nos dizer o que era o melhor a
se fazer.
Eu me despedi rápido de todos e peguei minhas coisas para
me dirigir ao dormitório dele. Como estava a pé porque tinha ido
para o bar de carona com Carlos, demorei quase uns quinze
minutos para chegar lá, mas o dia estava fresco e o céu estava azul,
o que me proporcionou uma caminhada deliciosa.
Não cheguei a conferir se Dominic estaria no quarto, mas
àquela altura eu já conhecia mais ou menos os seus horários e não
me lembrava de nenhum compromisso que ele tinha naquele
horário. Logo que cheguei, ele me atendeu sem camisa e vestindo
apenas uma cueca, o que me fez enviar uma mensagem ao meu
cérebro, dizendo que eu tinha ido ali apenas para conversar.
— Ei. — Ele sorriu, um pouco desanimado, e me deixou entrar.
— Pela sua cara, acho que ouviu as notícias — falei e me
sentei em sua cama quando entramos no quarto.
— Alguém não ouviu?
Dominic pegou uma bola de futebol americano que estava
perto do travesseiro e se jogou ao meu lado, atirando-a contra a
parede, para segurá-la e repetir o movimento. Na terceira vez, eu
me inclinei para o lado e agarrei a porcaria da bola, colocando-a
entre minhas pernas para que ele focasse em mim.
— Vim até aqui saber como você está se sentindo com o
boato.
— Não é boato, Norah. — Ele encolheu os ombros e encostou
a cabeça na parede. — Somos nós dois na foto. — Em seguida, ele
suspirou e esfregou o rosto. — Eu estou preocupado, mas não tanto
quanto deveria. Não acho que isso vá impactar em muitas coisas na
minha carreira.
— No domingo você parecia bem mais nervoso com a simples
possibilidade de alguma coisa vazar.
Ele assentiu, me observando e dando um meio sorriso.
Dominic tocou meus cabelos e deslizou a mão pelo meu ombro,
meu braço, então alisou meus dedos.
— Eu estava no centro de treinamento quando a foto foi
publicada e todo mundo ficou sabendo. Meu técnico comentou algo
comigo que tem um pouco de lógica e acabou me tranquilizando
mais. — O loiro sorriu e piscou. — Ele disse que eu só fui pego
transando e não vendendo drogas ou cometendo um crime. Transar
é algo que se espera que um jovem da minha idade, e com a minha
fama, faça.
— Coitado, não poderia estar mais enganado... — murmurei.
O quarterback passou os braços pelo meu corpo e me puxou,
mordendo o meu ombro e me fazendo cócegas. Ele era grande
demais para que eu conseguisse me defender e acabei largada com
as costas grudadas em seu peito, sentada no espaço entre suas
pernas.
— Eu deveria ter continuado virgem, mas você azucrinou o
meu juízo até conseguir me trazer para o mau caminho.
— Pobre menino — murmurei, estalando minha língua.
— De verdade, eu estou bem. — Dominic beijou minha
bochecha quando joguei minha cabeça para trás. — Acho que a
minha única preocupação é em relação ao meu pai. Ele está muito
silencioso até agora, o que é estranho.
— Talvez ele não descubra.
— Impossível. — Dominic bufou. — Mas não quero falar nisso.
O jogador me lançou um sorriso malicioso e, então, se curvou
sobre mim, jogando o seu corpo por cima do meu. Ele abocanhou
os meus lábios e me deu um beijo lento e molhado, do jeito que eu
gostava. Sua mão alcançou o zíper da minha calça e o abriu, em
seguida, ele se levantou para me despir. Primeiro, meus tênis,
depois, a calça e a calcinha, e por último minha blusa, me deixando
completamente nua.
Quando se livrou de sua cueca e voltou para cima de mim,
deixou pequenos beijos no meu pescoço e começou a explorar o
meu corpo com ambas as mãos. Acariciou meus seios
delicadamente, apertou as minhas coxas e, então, começou a
estimular o meu clitóris. Entrelacei minhas pernas ao redor da sua
cintura e o agarrei com força pelos cabelos, girando na cama para
inverter as nossas posições. Alisei seu peito largo e desci meus
dedos pelo abdômen sarado, sentindo os gominhos definidos sob
meu toque.
Comecei beijando o seu pescoço e dando leves mordidinhas
espalhadas. Quando alcancei seus mamilos enrijecidos, os coloquei
entre meus lábios e ouvi o gemido de prazer de Dominic. Gastei
mais alguns segundos lambendo aquela região antes de descer pela
barriga esculpida e me deliciar com o tanque do loiro.
Seu pau já estava duro quando minha boca chegou à sua
virilha e eu só dei um beijinho na glande antes de levantar a cabeça.
— Tem camisinha? — perguntei e Dominic negou, fazendo
uma careta. — Está transando com mais alguém?
— Não — respondeu rápido.
— Promete?
Seu semblante ficou sério e sua mão tocou a minha,
entrelaçando nossos dedos.
— Você é a única que eu desejo, Norah — declarou com uma
voz rouca. — Mas eu queria muito que você pagasse a promessa
que fez uma vez e viesse sentar no meu rosto.
Fiz o possível para ignorar meu coração desesperado que
batia freneticamente, porque não era a hora de ficar sentimental.
Engatinhei por cima de seu corpo até me equilibrar com minhas
coxas ao redor de sua cabeça, virei-me para ficar de frente para seu
pau e baixei um pouco os quadris, sentindo suas mãos apertarem
minha bunda e sua língua me tocar.
O bom de Dominic era que ele estava na fase de conhecer e
experimentar tudo. Não seguia um padrão, como acontecia com
alguns homens que passavam a vida inteira transando do mesmo
jeito de sempre porque não se interessavam em evoluir. Não, o
quarterback parecia querer explorar tudo o que lhe era dado, não
havia pudor, nem nojo, nem nenhum tipo de receio, Dominic só
chegava e fazia tudo com muita intensidade.
A forma como ele chupava minha boceta parecia uma tentativa
desesperada de sugar todo o meu corpo através daquela região. Ele
não economizava um só segundo e eu o sentia em cada terminação
nervosa. Meu clitóris pulsava entre seus lábios e minha boceta
babava sobre a língua que a lambia por inteira.
Perdi o controle com a sensação maravilhosa que me
consumia e deixei que todo o meu peso caísse sobre o rosto de
Dominic, que agarrava minhas coxas com vontade e me impedia de
me mover. Ele investiu pesado com sua língua dentro de mim, me
fodendo com paciência e sem pressa e me fazendo gozar em sua
boca. Precisei levar a minha mão até a boceta e me senti escorrer,
melada, direto na língua faminta.
— Dom... — gemi, sem forças, apoiando minhas mãos em seu
peito. — Chega, Dom...
Minhas pernas convulsionavam trêmulas e meu ventre se
contorcia porque ele simplesmente não parava. Seu pau estava tão
duro que eu podia vê-lo pulsar e eliminar o líquido pré-ejaculatório
lentamente. Eu era pequena e sua língua e sua boca engoliam
minha pobre boceta e meus lábios ensopados.
— Eu vou morrer assim... — gemi, alucinada, começando a
sentir novos espasmos. — Dominic!
Uma única vez na vida eu tinha me sentido daquele jeito,
quando tive uma ejaculação forte, mais conhecida como squirting, e
foi há uns anos com um cara com quem dormi só uma vez. Naquele
instante, eu me sentia bem próxima de passar novamente pela
mesma coisa porque todo o meu corpo pegava fogo e lá dentro da
minha boceta, eu me sentia preste a explodir.
— Dom, é sério... — gemi, não querendo que aquilo
acontecesse bem na cara dele.
O loiro também gemeu e eu me sentia gozar cada vez mais em
sua boca, até que ele próprio começou a ejacular sem nem precisar
se tocar. Estava curtindo tanto a minha boceta que chegou ao
orgasmo sozinho e eu não consegui resistir. Inclinei-me para pegar
seu pau e enchi minha boca com ele, ainda aproveitando um pouco
de seu gozo, ao mesmo tempo em que me sentia esguichar sobre o
rosto do quarterback.
Meu corpo se arrepiou e uma descarga elétrica percorreu
minha espinha, atingindo meus membros inferiores enquanto eu
percebia todo aquele líquido descer pela minha virilha. Não havia
força alguma em mim, tanto que precisei soltar o pau de Dominic e
me mantive deitada sobre ele, enquanto os espasmos me
dominavam e os gritos escapavam pela minha garganta.
Fui colocada de costas no colchão por um homem com o rosto
e os cabelos pingando, todo melado, mas com um sorriso enorme
no rosto. Ele montou sobre mim, passando a mão pelos olhos, antes
de me beijar na boca e suspirar.
— Isso foi foda! Porra! — Pareceu muito empolgado enquanto
eu era apenas uma gelatina gigante. — Vi uns vídeos na internet e
quis tentar. Você ejaculou em mim, Norah.
— Aham...
— Fiquei com tanto tesão que até gozei. — Ele afundou o
rosto no vão do meu pescoço e em seguida, se levantou.
Não me mexi porque não tinha forças, mas ouvi a porta do
quarto abrir, fechar, até que Dominic reapareceu com uma toalha,
enxugando seu rosto.
— Agora vou te comer bem gostosinho.
— Você não era virgem? — consegui formular uma pergunta
enquanto o filho da mãe subia sobre mim.
Ele piscou, usando a mão para alisar minha pobre boceta que
ainda latejava.
— Era — respondeu. — A culpa disso é sua. Você não quis o
pacote? — Seu pau me penetrou devagar, com muita facilidade. —
Eu vou te comer o tempo todo, várias vezes, porque estou viciado
na sua boceta.
Ri, fechando os meus olhos e tapando o meu rosto. Dominic
vinha me surpreendendo cada dia mais.
— Precisa lavar a boca com sabonete — comentei quando ele
se enterrou bem fundo dentro de mim. — Você não falava essas
coisas...
Ele abaixou o corpo e aproximou o rosto do meu, passando a
língua pelo canto dos lábios.
— Acabei de lavar minha boca na sua boceta que gozou pra
caralho e eu bebi tudo.
Ofeguei, levando minhas mãos até suas costas, sentindo a
minha boca ficar seca. Dominic pareceu adivinhar, pois me beijou
devagar, no mesmo ritmo de suas estocadas lentas e profundas. Ele
gemeu contra meus lábios, junto comigo, porque eu não me
acostumava com seu tamanho que me alargava.
— Diz que ninguém nunca mais vai gozar com você, além de
mim — pediu.
— Faça... por merecer... — respondi, ouvindo seu rosnado.
Dominic estocou com força e trouxe a mão ao meu pescoço,
apertando sem me machucar, mas para mostrar quem mandava ali.
Ele ainda não sabia se controlar tão bem, então eu o provoquei,
contraindo a minha vagina várias vezes e arrancando gemidos seus,
só para mostrar que eu podia virar o jogo, se quisesse, pois o
bonitinho não teria a menor chance.
Eu o deixei se divertir e não demoramos para gozarmos mais
uma vez, quase ao mesmo tempo, antes de cairmos de exaustão.
Minha pele estava pegajosa, suada, e meu peito subia e descia
rapidamente, assim como o de Dominic. Meu coração martelava no
peito e eu puxava ar para dentro dos pulmões com dificuldade.
Ao meu lado, o loiro ficou um tempo de olhos fechados,
parecendo muito relaxado. Havia algo nele que me transmitia paz. O
modo como eu sempre ficava à vontade em sua companhia, como
não precisávamos pensar em algo para conversar só para
preencher o silêncio... Isso era raro.
No outro dia, após a festa, nós tínhamos dormido juntos depois
de transarmos por horas. Quando acabamos, eu simplesmente
deitei a cabeça em seu ombro e Dominic me envolveu nos braços. E
foi isso. Dormimos assim até o dia raiar. Aquela sensação de
intimidade profunda com outra pessoa era nova para mim tanto
quanto era para o quarterback. Nem mesmo Joe, com quem eu
tinha uma ótima relação de amizade, me fazia sentir desse jeito.
— Norah...
Dominic me despertou dos meus devaneios. Abri meus olhos e
o encarei, vendo que me fitava com um olhar que eu começava a
conhecer muito bem. Queria transar de novo, claro.
— Não é possível — falei, inclinando o meu corpo e me
apoiando sobre os cotovelos para olhar o pau duro dele. — Fala
sério! Isso deveria ser fisicamente impossível.
Eu achava que entendia alguma coisa sobre os limites
fisiológicos dos homens, mas Dominic estava me fazendo
questionar tudo. Em poucos minutos de descanso, depois de dois
orgasmos seguidos, ele era capaz, sim, de transar de novo. Por
quanto tempo convivendo com aquele indivíduo a minha pobre
boceta aguentaria?
Abri minha porta ao olhar pelo olho mágico e ver que era
Norah parada ali do lado de fora. Ela me deu um selinho e entrou no
dormitório já largando a mochila sobre a cadeira da mesa e
balançando o rabo de cavalo conforme se movimentava e falava um
monte de coisa sobre as quais eu não prestava atenção. O motivo?
Só conseguia admirar cada pequeno detalhe da garota porque
estava completamente apaixonado por ela.
— Não é engraçado? — perguntou ao parar diante de mim,
daquele jeitinho fofo quando erguia o rosto para me encarar.
— O quê? — Ah, droga, eu realmente não ouvi nada.
— Que o Peter esteja todo cheio de ciúmes.
— Peter está com ciúmes de você? — Franzi a testa, meio
puto. — Ou de mim?
Norah fez uma careta e deu um tapa no meu braço antes de se
afastar e se jogar no sofá, puxando as pernas para o alto.
— Você não estava ouvindo, né safado? — resmungou,
estreitando os olhos. — Eu disse que Peter ficou reclamando no
meu ouvido porque viu Aika ficando com o Mike num dia... E com o
Oscar no outro.
— Quem é Oscar?
— Um rapaz da banda do Crimson — respondeu ela,
encolhendo os ombros. — Isso não importa. A questão aqui é que o
Peter acha que tem direito de cobrar alguma coisa. Se ele quer
exclusividade, por que não chega pra ela e fala isso?
Entramos em um assunto que era interessante e eu parei
diante dela, me encostando na parede e cruzando os braços.
Naquela semana tinha acontecido uma coisa que me deixou um
pouco preocupado. Nós passamos a noite juntos pela primeira vez
no dia da festa da Kappa Kappa e eu achava que estava tudo muito
bem entre nós. Mas na terça-feira depois que deixei o treino, eu vi
Norah e Aika sentadas sobre o capô de uma caminhonete,
conversando com dois homens que eu não conhecia. Não estava
acontecendo nada, mas a impressão que tive, era de que rolava
algum clima de paquera no ar.
Acabei não comentando nada com ela porque não sabia como
abordar o assunto, não queria que parecesse que eu a estava
seguindo ou controlando, mas fiquei incomodado. Só que então,
aconteceu o lance da foto vazada na internet, o estresse com meu
pai, e eu deixei isso de lado. Agora, ouvindo-a falar sobre Aika, a
lembrança voltou com tudo à minha mente e eu não podia deixar
passar de novo.
— Nós somos exclusivos? — perguntei. — Ou não chegamos
a esse ponto ainda?
Norah franziu os lábios e desviou o olhar, o que me deixou
desconfiado.
— Não conversamos sobre isso... — murmurou, parecendo
nervosa. — Você quer ser exclusivo?
— Você está transando com mais alguém? — A filha da mãe
arregalou os olhos e sorriu. — Fala logo, Norah, pelo amor de Deus.
A garota se levantou e caminhou na minha direção, enrolando
alguns dedos em minha camisa e me puxando para mais perto. Seu
queixo encostou no meu peito e ela revirou os olhos, toda fofa.
— Francamente, QB. Você não me deixa nem dar dois passos
sem foder a minha boceta, como eu arranjaria tempo pra dormir com
mais alguém?
Tentei manter uma pose de irritado para que ela não pensasse
que era fácil me amansar, mas não consegui evitar sorrir diante
daquela frase. Apertei sua cintura e a peguei no colo, beijando sua
boca antes de dar uma mordida no pescoço cheiroso.
— Em breve, quero começar a foder seu cuzinho também —
anunciei o que estava entalado há um tempo.
— Nunca! — Norah revirou os olhos. — Desse tamanho?
Nunca mesmo! Eu não vou dar meu cu pra alguém que perdeu a
virgindade ontem. Isso requer prática.
— Ok, posso sair pra praticar — retruquei, levando um tapa no
rosto.
Aquilo me surpreendeu completamente, mas não consegui
ficar com raiva. Apenas gargalhei, porque não machucou, e apertei
ainda mais os meus braços ao redor da cintura fina. Norah envolveu
meu corpo com suas pernas e deu um beijo no lugar onde bateu.
— Se quiser praticar com outra, não toca mais em mim —
avisou, dando de ombros.
— Então somos exclusivos?
Ela abriu a boca para responder quando ouvi a batida na porta
e a coloquei no chão. Eu não estava esperando ninguém, mas fui
conferir o olho mágico e senti meu sangue congelar quando vi meu
pai ali fora.
— Quem é? — perguntou Norah atrás de mim.
Peguei-a pela mão e a levei para meu quarto, fechando a porta
e torcendo para que meu pai não tivesse nos escutado. Como a
garota me olhava sem entender, eu precisei dizer que Henry Davis
estava ali para me encher a paciência mais uma vez.
— Ele veio por causa da foto, não é? Eu sinto muito por isso,
Dom.
— A culpa não é sua — respondi, tocando seu queixo e
ouvindo as batidas na porta.
— Você fica repetindo isso, mas a verdade é que a culpa é
minha, sim. — Norah encolheu os ombros. — Ou uma parte dela,
pelo menos.
— E qual foi o seu crime? Transar comigo? — Balancei a
cabeça para tranquilizá-la, pois não queria que carregasse esse
peso. — Isso não é sobre nós dois e, sim, sobre meu pai e eu. Ele
me sufoca o tempo todo, nunca fui Dominic, o filho dele, pois
sempre vou ser Dominic Davis, a sua herança para o futebol
americano.
Merda, agora ele estava ligando para o meu celular e precisei
tirar o som com pressa, mas deve ter dado tempo de ouvir o
primeiro toque. Não sabia como o receberia com Norah ao meu
lado, porque não queria envolver a garota nos meus problemas com
minha família.
— A vida inteira foi assim — continuei, encostando-me na
parede. — Você sabia que ele escolheu o meu nome pensando se
seria um nome apropriado para um jogador? Se seria imponente o
bastante para a mídia? Eu cresci com meu pai me lembrando o
tempo todo das minhas responsabilidades. — Percebi que estava
falando sem parar e Norah não tinha nada a ver com meus
problemas. Passei a mão pelos seus cabelos e a beijei. — Não me
leve a mal, amo o que faço e sou muito bom nisso. Só... me sinto
sufocado.
— Você tem todo o direito de se sentir assim — disse a garota
que se sentou no meu colo quando me sentei na cama.
— Com a minha irmã ele sempre foi um pai muito diferente.
Ele só a ama, sabe? Não deposita um mundo de expectativas sobre
os ombros dela, enquanto comigo... Henry Davis age como se
gerenciasse a minha vida.
— Eu não conheço o seu pai, mas já não gosto dele.
— Mas ele é realmente um bom marido e um bom pai para a
minha irmã.
Senti seus dedos em minha nuca e sorri para Norah, que me
olhava com carinho. Era bom poder desabafar com ela, pois eu
nunca dizia o que pensava a respeito disso para ninguém mais.
Nem mesmo para Peter.
— Você já tentou falar como se sente para seu pai? —
perguntou.
— Você não o conhece, Norah. Ele é uma pessoa difícil
comigo.
— Então me apresente a ele. — A garota ergueu o queixo,
fazendo cara de má. — Tem algumas coisas que eu poderia dizer a
ele, sabe?
Meu celular não parava de tocar, mas pelo menos, eu não
ouvia mais as batidas na porta. Se meu pai tinha vindo até aqui sem
me avisar, teria que esperar para ser recebido quando eu quisesse
falar com ele. Primeiro, eu precisava fazer com que Norah fosse
embora para não ter que cruzar o caminho de alguém que já não
gostava dela mesmo sem a conhecer.
Aproveitei o silêncio para sair do quarto e fui conferir o olho
mágico. O coroa era esperto, pois ainda estava no mesmo lugar,
encostado à parede, de braços cruzados, demonstrando ter o dia
inteiro para me esperar.
Quando me virei para trás, Norah estava me encarando com a
sobrancelha arqueada. Ela alisou meu braço e sorriu, sem imaginar
o que a esperava.
— Posso me esconder no banheiro se quiser — sussurrou. —
Mas não tenho medo de conhecê-lo.
Suspirei, ciente de que não poderia prender a garota o dia
inteiro ali dentro, caso o meu pai decidisse não ir embora. Então,
respirei fundo e fui abrir a porta, dando de cara com um Henry Davis
nada feliz, que saiu entrando sem pedir licença, com as mãos na
cintura e passos largos.
Conhecia Henry Davis através de fotos, mas isso não me
impediu de ficar fascinada com o homem diante de mim. Ele era
alto, mais ainda que Dominic, e tão bonito quanto. Seus cabelos e a
sua barba beiravam o grisalho por conta da idade, mas isso só o
deixava ainda mais charmoso.
Com uma olhada na direção de Dominic e outra na minha,
Henry deu um passo para dentro e, de repente, o dormitório pareceu
pequeno demais. Ele era imponente e tinha uma postura notória,
assim como Dominic, possuía uma presença que chamava atenção
quando entrava em um ambiente. A diferença entre os dois era que
o mais velho parecia muito mais intimidante.
—Filho — cumprimentou o quarterback com um aceno de
cabeça. — Depois precisa me explicar por que não queria me
atender. — Por fim, virou o rosto para mim e estendeu a mão. —
Você deve ser a Norah. É um prazer finalmente conhecê-la.
O seu olhar intimidante, assim como sua voz rouca e profunda,
me deixou levemente desconfortável. Eu, no entanto, não permitiria
que percebesse isso. Com o queixo erguido, estendi a mão e o
cumprimentei com firmeza.
— O prazer é todo meu, senhor Davis.
— A Norah já estava de saída — avisou Dominic, pegando a
minha mochila de cima da cadeira e me entregando. — Ela tem uma
aula importante que começará em alguns minutos.
— Tenho certeza de que não será problema chegar um pouco
atrasada — disse Henry, sorrindo para mim como uma cobra pronta
para dar o bote. — Afinal, você já tem esse costume, não é mesmo?
Ergui uma sobrancelha.
— Como é que é?
O homem manteve o sorriso e esticou a mão, apontando para
o sofá. Se não fosse o pai de Dominic, eu teria mostrado meu dedo
do meio a ele só por ter dito aquilo.
— Por que você não se senta? — sugeriu. — Você e o meu
filho estão juntos, certo? Nada mais normal do que eu querer te
conhecer.
Olhei para Dominic por cima do ombro de seu pai. Ele me
encarou, então fez um aceno de cabeça para que eu aceitasse o
convite nada agradável. Eu só ficaria por causa dele, porque homem
nenhum falava comigo daquele jeito.
Lancei mais um olhar em direção a Henry e larguei minha
mochila de volta na cadeira antes de ir até o sofá e me sentando,
logo sendo acompanhada por Dominic. O ex-jogador com sorriso
prepotente puxou uma cadeira vazia e a trouxe para perto de nós,
sentando-se de frente e apoiando uma perna sobre o joelho.
— Eu espero que você não se incomode, Norah, mas andei
sondando a universidade a seu respeito.
Ele fez o quê? Prendi a respiração para evitar soltar um
palavrão e avançar sobre aquele homem. Precisava agir com
educação perante os mais velhos, pelo menos, foi o que minha mãe
havia me ensinado.
Ao meu lado, eu percebi que Dominic ficou tenso e se ajeitou
no sofá, se curvando para a frente e apoiando os cotovelos sobre os
joelhos.
— Quem te deu o direito de fazer isso, pai?
Eu não deveria me surpreender, considerando que o
quarterback tinha acabado de me contar sobre como o homem
conseguia ser controlador. Henry, com certeza, tinha contatos e
poder dentro da universidade.
— Você tem boas notas, menina — murmurou, unindo as
mãos —, mas não é uma boa aluna, não é mesmo? Parece ter o
hábito de faltar aula e se atrasar constantemente.
— Pai — Dominic aumentou o tom de voz, em alerta. — Seu
problema não é com a Norah e sim, comigo.
— Será? — Henry encarou o filho. — Porque até a Norah
entrar na sua vida, você não protagonizava polêmicas sexuais na
universidade.
— É só sexo, pelo amor de Deus — comentei, sorrindo para o
homem. — Você não fodia durante a faculdade? Ou somente o seu
filho não podia fazer isso? Se tem alguma coisa a dizer sobre mim
ou para mim, faça isso logo e seja direto, senhor Davis. Eu não sou
muito paciente.
Fez-se silêncio durante muitos segundos, muitos mesmo, até
que Dominic pigarreou ao meu lado. O pai dele me encarava de
uma forma que demonstrava não esperar que eu revidasse tão
cedo, mas não demorou para voltar com o sorriso cínico ao rosto e
refazer sua pose de durão.
— Posso ver porque meu filho está tão apegado a você —
comentou. — Bonita, espontânea e atrevida. Mas seria uma boa
influência na vida dele?
— Eu fico lisonjeada de saber que o senhor me considera
tanto assim e ainda acha que eu tenho o poder de influenciar um
homem de vinte e dois anos. Seu filho nunca fez nada que não
quisesse — esclareci, levantando-me de uma vez. — Agora, acho
que vamos encerrar a conversa porque já matei a minha curiosidade
e não fui com a sua cara.
Eu me virei para Dominic, que estava boquiaberto e se
levantou depressa, tocando minhas costas e beijando meu rosto
quando nos dirigimos até a porta. Peguei minha mochila, ajeitando-a
no meu ombro, e pisquei para ele antes de ir embora.
— Depois me liga pra marcarmos um sexo bem gostoso —
aumentei minha voz nas últimas três palavras para ser ouvida pelo
ex-jogador.
Eu não tinha nenhuma aula naquele horário, por isso, fui direto
para a Zeta e usei o tempo livre para desenhar e me desestressar
um pouco. Tinha planos de passar a tarde na companhia de
Dominic e fui frustrada pela aparição de seu pai babaca.
Francamente... Agora eu conseguia entender porque o loiro levava
uma vida tão regrada.


Acordei com um barulho alto que me fez dar um pulo na cama.
Minha cama ficava embaixo da janela e levei um susto ao perceber
que alguém tentava entrar por ali, mesmo com o vidro fechado. A
primeira coisa que pensei era que estava sendo assaltada, então
corri meus olhos pelo quarto na tentativa de encontrar algo que
pudesse usar para machucar o invasor. Como não encontrei nada e
ainda me sentia sonolenta, agarrei meu travesseiro e me ajoelhei
sobre o colchão, pronta para atacar o indivíduo.
O grito ficou estrangulado na minha garganta quando vi
Dominic prestes a bater no vidro, se equilibrando sobre o telhado no
primeiro andar.
Soltei a respiração que estava prendendo quando o jogador
me lançou um sorriso safado e abri o trinco depressa para que ele
não caísse ali de cima e morresse. Eu ainda seria culpada por
Henry Davis.
— Você resolveu me matar de susto no meio da noite? —
perguntei quando ele se sentou.
Eu fui logo arrancando seus tênis porque de jeito nenhum o
deixaria pisar de sapato no meu lençol limpinho. Assim, também
permitia que meu cérebro acordasse de uma vez e voltasse a
funcionar normalmente depois de me recuperar do susto.
— Eu tentei te ligar, mas você não atendeu — murmurou o
loiro, pisando de meias brancas na minha cama. — Não podia tocar
a campainha às duas horas da manhã.
— E aí você resolveu escalar a minha janela?
Dominic deu de ombros.
— Não é tão difícil assim, sabia?
— Esse não é o ponto — protestei, bocejando. — Desde
quando você escala janelas?
Ele tinha se sentado no meio da cama e se encostado na
parede, pois meu quarto era bem pequenino. Meu guarda-roupas
ocupava a parede onde ficava a porta e, de frente para ela, ficavam
minha escrivaninha de um lado e minha cama de outro, encostada
na parede.
— Desde agora — respondeu Dominic. — Eu precisava de
você.
Ao ouvi-lo falar assim, meu corpo bobo amoleceu e eu me
aconcheguei puxando-o para se deitar. Usei seu braço como
travesseiro ao ficar de lado e jogar uma de minhas pernas sobre as
dele.
— Como foi a conversa com o seu pai? Ele me odeia muito?
Já mandou meu nome para o FBI?
— Posso garantir que você não deixou Henry Davis feliz, mas
conseguiu surpreendê-lo — respondeu, beijando os meus cabelos e
fazendo carinho no meu braço. — Fique tranquila, pois depois que
foi embora, meu pai utilizou muito bem o tempo dele me dando mais
um de seus sermões sobre como estou a um passo de estragar tudo
que me esforcei para conquistar.
— Não vejo a hora de receber o convite para o Natal em
família — zombei.
— Sabe por que vim até aqui? — perguntou o loiro gostoso,
sorrindo para mim.
— Então... — pigarreei, dando um tapinha gentil no peito dele.
— Eu estava dormindo, sabe? Minha bocetinha está sonolenta...
Que tal você passar a noite aqui e aí me pega quando acordarmos?
Dominic soltou uma gargalhada alta e eu tapei sua boca para
que não acordasse ninguém. Seu corpo grande se inclinou sobre o
meu e o garoto veio lamber a minha bochecha.
— A experiente Norah Brown, ícone das safadas, está mesmo
me negando sexo? — Fiz biquinho para ele, torcendo para o pau
biônico não se levantar, mas o jogador sorriu e me deu um selinho.
— Estou brincando com você, baixinha. Vim aqui porque temos um
assunto importante a tratar, que iniciamos lá no dormitório, mas a
visita do meu pai interrompeu.
Tomei alguns segundos para pensar no que ele disse, tentando
me lembrar de tudo o que conversamos mais cedo, mas meu
cérebro não tinha realmente voltado ao funcionamento normal. Além
disso, a discussão com Henry Davis acabou nublando todo o resto
para mim.
— Refresque a minha memória, por favor — pedi.
— Tudo bem. — Dominic sorriu e inspirou profundamente. —
Sei que nunca conversamos sobre isso e não possuo nenhuma
experiência em fazer esse tipo de sugestão, mas... Bem,
precisamos ser exclusivos. Não suporto pensar na ideia de você
com qualquer outro cara e sei que gosta de ser solteira, que não
estava cogitando me namorar, mas eu me apaixonei e estou meio
apavorado com a possibilidade de te perder em algum momento.
Eu estava encarando a gola da camisa dele, sem conseguir
piscar direito, porque foram muitas informações jogadas de uma só
vez em cima de mim. Meu coração começou a acelerar ao final
daquela declaração que eu nem sabia se tinha sido proposital ou se
Dominic soltara sem querer a revelação sobre o que sentia.
Ok, Norah, respira, se acalma, agora olha para ele.
Consegui encarar Dominic, que me olhava com muita
expectativa. Senti meus lábios ressecarem com a respiração que eu
soltava pela boca, então engoli em seco.
— Eu achava que você não pensaria em namoro porque
acabou de descobrir a vida sexual e tudo mais... — comentei, vendo
sua testa se franzir. — Pensei que fosse querer experimentar... hm...
com outras garotas.
— Cogitei isso em algum momento, sim, mas aí percebi que eu
só quis perder a virgindade, porque queria você.
Fechei meus olhos e escondi meu rosto na axila dele sem
pensar direito no que estava fazendo, mas felizmente, Dominic
estava sempre muito cheiroso. Senti suas mãos tocarem meus
cabelos e logo um braço apertar minha cintura.
— Você não quer? — perguntou quase em um sussurro.
Senti meus olhos arderem, era por isso que estava me
escondendo, e minha voz também ficou um pouco embargada.
Mesmo assim, criei coragem e levantei meu rosto, notando a
apreensão nos olhos verdes.
— Está chorando?
— Não, é que... — Tentei sorrir, mas me atrapalhei e fiz careta.
— Eu nunca namorei e ninguém nunca se declarou pra mim. Eu
quero, claro... — Ok, tive que levar um dedo ao meu olho direito
porque ele estava acumulando muita água. — Mas não sei se sou
boa em namorar.
— Para tudo na vida há uma primeira vez — disse Dominic,
arqueando as sobrancelhas e sorrindo meio zombeteiro. — E cá
entre nós, acho que estamos namorando há algum tempo, só não
rotulamos nada.
Ele tocou meus olhos que tinham molhado um pouco mais e
piscou. Quis perguntar a ele como sabia que estava apaixonado. Eu
tinha quase certeza de que também sentia o mesmo, mas como
nunca havia vivenciado aquele sentimento, tive medo de falar da
boca pra fora e não ser verdade. Queria descobrir por conta própria
e não por achar necessário falar de volta.
Segurei a mão dele, mexendo em seus dedos que faziam
maravilhas em mim, e me aconcheguei mais dentro de seus braços.
— Pode ser a primeira vez dos dois — comentei, me sentindo
feliz com a decisão. — Eu quero namorar, Davis. De qualquer forma,
não beijei mais nenhuma boca desde que tirei a sua virgindade.
Ele riu e fez meu corpo tremer junto com o seu. Parecendo
satisfeito com a minha resposta, Dominic se levantou e tirou toda a
roupa, ficando só de cueca e entrando debaixo do meu lençol. Eu
não tinha o costume de dormir pelada ou tão à vontade porque
sempre tive medo de que houvesse um incêndio no meio da noite e
precisasse sair depressa do quarto, portanto, estava vestida com
um pijaminha confortável de calça de moletom, nada sensual.
Isso não impediu que a mão de Dominic acariciasse as minhas
costas e descesse até minha bunda, ultrapassando o elástico da
calça para sentir que eu não usava calcinha.
— Que tentação — murmurou, soltando um suspiro pesado.
— Bocetinha dorminhoca — lembrei a ele, ouvindo sua risada.
— Ela não aceitaria nem uma lambidinha?
— Não.
— Uma dedada? — ele insistiu.
— Também não — respondi.
Dominic segurou o meu rosto com as mãos enormes e me
beijou devagar, roçando a ponta de seu nariz no meu e sorrindo
como um verdadeiro bobo apaixonado. Eu tinha transformado o
quarterback carrancudo num ursinho pervertido.
— Guarde essa sua disposição toda para quando acordarmos
— avisei, sussurrando contra seus lábios. — Pode ser que eu
acorde animada quando abrir os olhos e perceber que um loiro
gostoso passou a noite toda ao meu lado.
— Vou me lembrar dessa promessa.
Dei um selinho em Dominic e me virei de costas para ele,
deixando que me puxasse para encaixar nossos corpos numa
conchinha aconchegante. Por fim, fechei meus olhos e toquei sua
mão sobre a minha barriga, sentindo que me acostumaria muito fácil
em dormir daquele jeito, com o corpo grande colado em mim, ciente
de que era tudo só meu.
Em plena segunda-feira, eu tive uma notícia desagradável
quando Dominic me mandou uma mensagem avisando que Henry
Davis estava insistindo para jantar conosco. No dia em que o
conheci eu jurava que nunca mais veria aquele homem na minha
frente, mas pelo visto, ele ainda devia ter algo a me dizer.

Dominic: “Sinto muito por te colocar nessa posição. Acabei


contando aos meus pais sobre nosso namoro e agora ele quer
jantar com a gente.”

Dominic: “Você não precisa aceitar, é claro.”

Eu pensei na opção de recusar, mas me lembrei que tinha


aceitado um pedido de namoro e se íamos mesmo viver um
relacionamento sério, eu não podia simplesmente ficar fugindo dos
pais de Dominic. Em algum momento, também acabaria
conhecendo a mãe dele, considerando que o casal morava na
mesma cidade.
Além de tudo, eu não era covarde. Essa palavra nem mesmo
existia no meu vocabulário.

Norah: “Nós iremos, Davis. Me avise que horas vai passar pra me
buscar.”

Ele mandou um emoji de coração e disse que marcaria um


horário com Henry.
À noite, escolhi um vestido um pouco mais comportado do que
eu geralmente usava, de mangas longas e mais soltinho, calcei
botas até os joelhos e joguei um sobretudo por cima, porque algo
me dizia que o pai de Dominic não nos levaria a uma simples
pizzaria.
Dito e feito, o restaurante onde paramos o carro era fora do
campus, numa parte bem chique da cidade, dentro do qual Henry
Davis já nos aguardava enquanto tomava um vinho que parecia bem
caro.
O lugar era silencioso apesar de haver várias mesas
ocupadas, porque rico falava baixo. Os garçons usavam ternos e
ficavam a postos perto de cada mesa para nunca permitirem que o
copo do cliente ficasse vazio e ele precisasse ter o trabalho de se
servir.
Podia garantir que nunca tinha pisado em um restaurante
como aquele, o que dizia bastante da diferença entre mim e
Dominic. O jogador, apesar de dirigir um carro de luxo, não era do
tipo que ostentava e, às vezes, eu até me esquecia que era rico.
Mas seu pai talvez quisesse me mostrar o que o cercava.
— O que achou do jogo de sábado, Norah? — perguntou ele,
depois que escolhi meu prato e entreguei o cardápio ao garçom.
— Ótimo — respondi. — Dominic foi excelente, como sempre.
— Você é suspeita pra dizer isso — murmurou o jogador,
sorrindo para mim.
— Torce para qual equipe da NFL? — questionou o pai.
Eu o encarei, sentindo que era uma pegadinha. Não conhecia
os times, não sabia seus nomes. Henry, na certa queria ver o que eu
responderia, porque devia ter seu predileto, onde gostaria de ver
seu filho jogar.
— Não tenho um favorito porque nunca assisti futebol
americano até conhecer o Dominic.
Vi sua sobrancelha se arquear e o homem virar a cabeça na
direção do filho, que estava ao meu lado, porém, numa mesa
redonda e enorme.
— Isso só mostra como vocês não possuem muitas coisas em
comum. — Ele sorriu. — Eu me pergunto como acabaram juntos.
Enquanto minha comida não chegava, eu aproveitei para
apoiar meus cotovelos sobre a mesa, ciente de que o gesto era uma
transgressão de regras de etiqueta, inclinei-me para a frente e
encarei o homem de olhos da mesma cor do quarterback. Como
alguém tão bonito conseguia ser tão arrogante?
— Senhor Davis, eu serei bem sincera. Dominic sabe que não
tenho muitos filtros que me impeçam de falar o que quero. — Olhei
na direção do meu namorado, que não parecia incomodado comigo.
— Aceitei vir a esse jantar porque estou iniciando um
relacionamento com o seu filho e ele é muito importante para mim.
Só que eu não dou a mínima para o que qualquer pessoa pensa a
meu respeito, muito menos o senhor. Então não adianta fazer esses
joguinhos e tentar me intimidar, porque eu só vou largar o Dominic
se ele me der um pé na bunda ou se eu enjoar da cara dele.
Ainda não tinha pedido nada para beber, mas havia três taças
de vinho sobre a mesa, sendo que apenas a de Henry estava cheia.
Sendo assim, passei a mão na sua garrafa cara e despejei um
pouco daquele líquido escuro em minha taça, bebericando um gole
e sorrindo.
— Gostoso — comentei, notando o homem travar a mandíbula.
— O senhor tem bom gosto, viu? Pelo visto, sabe fazer bom uso do
dinheiro.
Ao meu lado, ouvi Dominic abafar uma risada e virei meu rosto
para ele. A gente estava tão distante, mas acho que pensou o
mesmo que eu e se levantou, trazendo sua cadeira para perto de
mim e pegando minha mão ao se sentar de novo, antes de dar um
beijo no meu ombro.
— Você é maravilhosa — murmurou. — Eu já disse isso hoje?
Diante de nós, Henry suspirou e balançou a cabeça com uma
expressão azeda. Ele encarava o filho fixamente, parecendo ter
muito a dizer, mas aguardou quando os garçons chegaram trazendo
os nossos pratos escolhidos. O cheiro da comida era fantástico e eu
estava ansiosa para provar o sabor.
Quando voltamos a ficar a sós, Henry Davis se inclinou e
sussurrou na direção de Dominic:
— Com tantas garotas na universidade, você foi escolher justo
essa? Só pode ter sido para me desafiar, eu suponho.
Dominic soltou os talheres com força, fazendo mais barulho do
que deveria.
— A Norah não tem nada a ver com os nossos problemas e as
suas expectativas sobre mim — disse o loiro, com um tom de voz
ameaçador. — Deixe-a fora disso.
Mas o pai dele não tinha ido até ali para brincar. O homem
estalou a língua, praticamente ignorando o pedido do quarterback, e
me encarou com desgosto.
— Me diga, Norah, com quais intenções você se aproximou do
meu filho?
Processei aquela pergunta devagar, mas não consegui resistir
e acabei rindo. Alto, de verdade. Soltei uma gargalhada tão forte
que as pessoas nas mesas no salão onde estávamos, acabaram
nos olhando.
Henry ganhou uma coloração avermelhada no rosto bonito e
eu podia jurar que o homem gostaria de me enforcar por receber
uma atenção indesejada.
— Desculpa — falei, enxugando os cantinhos dos meus olhos.
— Nunca pensei que fosse ouvir algo do tipo. Isso é tão parecido
com aqueles filmes de época! Mas olha só, sogrinho, parece que
você já tem uma opinião formada sobre mim e me considera uma
vagabunda interesseira, então, não preciso mesmo perder tempo
pensando numa resposta, não é?
Henry se agitou na mesa, talvez não esperando um ataque tão
direto da minha parte, e me lançou um olhar de advertência.
Dominic apertou meus dedos com um sorriso divertido no rosto, mas
pigarreou quando o pai o encarou.
— A única coisa que penso sobre você, Norah, é que deveria
ser um pouco mais discreta — sussurrou e fez uma pausa antes de
voltar a me olhar, arqueando a sobrancelha. — Deixar o meu filho
em paz não seria nada mal.
— Chega, pai! — Dominic reagiu, lançando um olhar assassino
em direção ao outro homem da mesa. — Não fale por mim como se
eu não estivesse aqui. Eu não tenho quinze anos mais e sei bem o
que eu estou fazendo. Não pretendo me afastar da Norah.
Henry olhou para o filho, deu uma garfada em seu prato e
mastigou a sua comida pacientemente, enquanto intercalava olhares
entre nós dois. O meu bife suculento estava esfriando no prato,
portanto, também resolvi comer um pouco.
— Você diz que não tem mais quinze anos, mas age como se
tivesse — murmurou o ex-jogador. — Não sabe nem ao menos
escolher as garotas com quem se deita.
Eu estava prestes a levar o garfo à boca, mas desisti no meio
do caminho e soltei um suspiro pesado, revirando os olhos para o
homem chato e implicante. Agora o idiota tinha ido longe demais e
eu estava por um triz de jogar meu garfo na cabeça dele.
Abri a boca para soltar uma resposta afiada, mas Dominic foi
mais rápido do que eu e deu um soco na mesa, assustando a todos
nós.
— Eu não admito que fale assim da minha namorada —
avisou, lançando um olhar duro ao seu pai — Você não tem direito
algum de opinar sobre nós dois.
— Se ela está atrapalhando a sua carreira, é claro que eu
tenho.
— Não tem, não — Dominic respondeu. Apesar da raiva
contida na voz, ele falava calmamente. — Eu deixei você controlar a
minha vida por muito tempo, mas isso tem que acabar de uma vez.
Você não pode escolher com quem eu me envolvo. Você não pode
decidir o que eu faço ou deixo de fazer fora de campo. Você é muito
bom em gerir a minha carreira e só. Na minha vida pessoal, não vai
mais dar palpite.
Dominic arrastou a cadeira pesada para trás com muita
facilidade e se levantou depressa, esticando a mão para mim. Fiquei
surpresa com a atitude dele, porque até então, o que eu havia
entendido esse tempo todo, era que por mais que discordasse de
como seu pai o tratava, o loiro mesmo assim se mantinha obediente.
Sem hesitar, afastei minha cadeira e peguei a mão de Dominic
ao me levantar.
— Não sejam tolos — Henry murmurou, vermelho, com os
talheres nas mãos. — Vocês estão comigo. Sentem-se e terminem o
jantar como os dois adultos que fingem ser.
O homem observava o ambiente ao seu redor, claramente
preocupado com os olhares de algumas pessoas sobre nós. A
última coisa que ele queria, naquele momento, era uma nova
polêmica envolvendo uma briga com o filho e a namorada no meio
do restaurante chique.
— Não faça uma cena, Dominic — pediu.
— Se não quer uma cena, é melhor que me deixe ir logo —
respondeu o quarterback. — Porque tem muita coisa que está presa
na minha garganta que eu adoraria soltar no meio desse monte de
gente.
Henry agiu com cautela, meneando a cabeça para um garçom,
que se aproximou rapidamente. O homem se levantou, tirou cinco
notas de cem dólares da carteira e as jogou sobre a mesa, enquanto
usava o guardanapo de tecido para limpar a boca.
— Encerre o jantar, por favor — pediu. — Aqui tem o suficiente
para pagar a conta.
Nós não ficamos para ver como aquilo se desenrolaria, pois
Dominic me guiou para fora do restaurante assim que pegamos
nossos casacos, e nos encaminhamos para onde o carro tinha
ficado estacionado. Porém, eu estava usando saltos altos e finos, o
que me impedia de andar com tanta pressa como o loiro gostaria.
Sendo assim, seu pai conseguiu nos alcançar.
— Agora estamos sozinhos — disse Henry, atrás de nós. —
Pode fazer a sua cena, Dominic. Estou curioso para saber o que
tem a dizer.
Nós dois nos viramos e o vimos com as mãos dentro dos
bolsos do sobretudo. Meu namorado apertou os meus dedos e ficou
tenso do meu lado, encarando o outro com uma expressão nada
feliz.
— Eu odeio você — Dominic falou, de repente, assustando
não só ao seu pai, mas a mim também.
— Como é? — Henry pareceu muito surpreso e chocado.
— Eu odeio você — repetiu o quarterback. — Achava que não,
mas realmente odeio você.
Ele soltou a minha mão para se aproximar do pai e eu percebi
que o melhor era me manter longe daquela conversa. Era algo que
os dois precisavam resolver, pois Dominic tinha muita coisa entalada
para ser dita e não cabia a mim, alguém que entrou recentemente
em sua vida, fazer parte daquele momento.
Recuei até me encostar na SUV preta da Land Rover e assisti
o confronto de pai e filho.
— Você nunca quis exatamente um filho, só desejava alguém
que pudesse dar continuidade ao seu legado.
— Dominic, pelo amor de Deus...
— Eu cansei de ser um projeto — o loiro interrompeu o pai. —
Cansei de ser só a droga da extensão da sua vida! — Agora ele
estava gritando. — Você nem me conhece direito, pai. Você forjou
uma versão do filho perfeito que desejava ter e me obrigou a me
encaixar nesses moldes. E por todos esses anos eu me esforcei
para caber neles, mas eu estou cansado. De verdade. Não sou
perfeito. Não sou esse robô que aparece nas capas das revistas ao
seu lado. E, principalmente, eu não sou você!
— Dominic! — Henry também aumentou a voz e seu rosto
ficou ainda mais vermelho. — Pare de falar bobagens. Tudo o que
eu sempre fiz por você...
— Nunca foi por mim! — Dominic gritou. — Você só fez por
você mesmo. Pelo seu nome, pelo seu time, pela droga do seu
legado. — Ele jogou as mãos para o alto. — Eu nem pude escolher
a faculdade onde queria estudar, pois essa escolha tinha sido feita
quando eu ainda era criança. — O loiro apontou um dedo para o seu
pai. — E eu aceitei tudo por medo de decepcionar você e a mamãe.
Mas quer saber de uma coisa? Foda-se!
Henry deu um passo na direção de Dominic e lhe lançou um
olhar duro. De repente, eu temi que pudesse acontecer algo mais
naquela conversa. Algo que os dois viessem a se arrepender.
— Não ouse falar assim comigo! Eu sou o seu pai, garoto!
Você não sabe o que está falando.
— Olha para a gente. — Dominic abriu os braços e soltou uma
risada de puro escárnio. — Acha mesmo que essa é uma boa
relação entre pai e filho? Você só me liga para falar da minha
carreira ou para me dar algum sermão, mesmo que eu tente ser o
filho perfeito.
— Dominic...
— Sabe quantas vezes você me disse que me amava? — o
quarterback perguntou e riu. — Caso não saiba, basta contar o
número de troféus e medalhas que eu coleciono. É exatamente o
mesmo número, pois você só me ama quando me parabeniza por
alguma conquista.
Dominic deu um passo para trás e se virou para vir até o carro.
Eu me desencostei e dei a volta para o lado do carona, mas o vi
parar antes de abrir a sua porta e olhar por cima do ombro, mais
uma vez, para Henry Davis.
— Você é previsível e decepcionante, pai — declarou,
acenando com a cabeça. — Até o próximo jogo.
Nunca havia me sentido daquele jeito, com uma raiva tão
grande me consumindo, a ponto de ter medo de dirigir. Sentia meus
dedos apertarem com força o volante e meus olhos quererem
embaçar, porque também havia um choro embargado dentro de
mim.
A mão de Norah tocou o meu braço e fez um carinho de leve
antes de subir até minha nuca e alisar meus cabelos. Eu sabia que
a garota ao meu lado estava preocupada, ela tinha presenciado
tudo, mesmo que eu tivesse desejado poupá-la de tudo aquilo. E só
por causa dela, afrouxei um pouco o meu pé do acelerador e diminuí
a velocidade, pois não pretendia deixá-la apavorada.
— Sinto muito pelo que aconteceu — murmurou, soltando um
suspiro. — Acho que a minha presença só agravou a situação entre
vocês.
Me mantive em silêncio porque não iria mesmo pronunciar
nada sem desabar ou me desconcentrar da direção. Sendo assim,
só quando parei o carro no estacionamento do dormitório, quinze
minutos depois, é que me permiti tocar a mão dela que agora estava
pousada na minha perna e a encarar.
— Estou bem, Norah.
— Não está, não — disse, apertando meus dedos. — E
mesmo que não queira, eu vou passar a noite aqui com você.
— Ele não tinha o direito de falar daquele jeito com você! —
murmurei, sentindo-me tremer de raiva.
Abri a porta do carro e saí num impulso, sentindo que
precisava extravasar minha raiva de alguma forma. Queria chutar
alguma coisa, dar alguns socos, mas não podia fazer nada disso.
Nem mesmo aguentei esperar pelo elevador do meu prédio e
empurrei a porta que dava acesso às escadas.
Quando cheguei em meu dormitório, ouvi o apito sonoro e vi
Norah saindo da caixa metálica de braços cruzados e lábios
franzidos. Eu a tinha deixado para trás e nem havia percebido.
— Que tal conversarmos um pouco e você tentar se acalmar?
— perguntou ela quando entramos na sala.
Joguei a chave sobre a mesa e fui direto para o meu quarto,
sentindo que devia ter gritado um pouco mais com meu pai,
terminado de desabafar tudo que estava entalado no meu peito.
Acabei chutando a minha cadeira, na fúria, e notei que Norah se
encolheu contra a porta, assustada. Virei-me para a garota e toquei
seu rosto, me arrependendo daquilo.
— Desculpa — murmurei, suspirando. — Estou frustrado...
Odeio meu pai.
— Tudo bem — disse, tocando meus braços e me dando um
selinho. — Você está com raiva, eu entendo.
— Não acho que dê pra entender o que estou sentindo, Norah
— respondi, respirando fundo e recuando.
Não achava que era o melhor momento para a garota me fazer
companhia, pois estava irritado e podia acabar dizendo algo que me
arrependesse ou até a assustando como aconteceu segundos
antes. Mas Norah se aproximou de novo e segurou meu braço,
fazendo-me encará-la.
— Me mostra o que sente — pediu, com uma expressão muito
decidida. — Desconte em mim.
— O quê?
Sem me responder em palavras, a doida começou a tirar as
botas, deslizando o zíper delas pelas panturrilhas e as atirando num
canto do quarto. Em seguida, levou as mãos à barra do vestido e
começou a puxar o tecido para cima na intenção de se despir.
— O que está fazendo? — perguntei, um pouco chocado.
— Estou dizendo para descontar sua raiva em mim —
explicou, ficando só de calcinha ao jogar o vestido no chão, pois não
tinha usado sutiã naquela noite. — Quando estamos assim,
frustrados ou com muita raiva, podemos usar o sexo como um
escape.
Ela só podia estar brincando comigo. Sabia que Norah tinha
um parafuso a menos e era louco por esse jeitinho dela, mas não a
ponto de embarcar em algo tão absurdo.
— Não vou fazer isso — respondi, recuando e me sentando na
cama. — Não estou com raiva o bastante para perder a cabeça e
aceitar machucá-la.
A filha da mãe sorriu e caminhou na minha direção como uma
gata manhosa. Até esqueci dos problemas com meu pai, porque me
ocupei em manter o controle e não entrar nessa loucura que Norah
estava propondo. E se eu perdesse a cabeça e a pegasse forte
demais? Ela era tão pequena e tão magra, que se eu não dosasse
os tapas que gostava de dar, a machucaria de verdade.
— Dom, confie em mim. — Norah abriu as pernas e se sentou
no meu colo, tocando o meu rosto. — Você vai se sentir mais
relaxado.
— Não vou tratar a minha garota desse jeito — falei, alisando a
cintura fina e subindo minhas mãos para roçar meus polegares nas
curvas de seus seios. — Não quero ser esse tipo de homem.
Norah sorriu, mordendo o lábio, mas não de um jeito sensual e
sim, emocionado. Ela era linda demais de todas as formas, mas
quando ficava meio bobinha e me olhava como se não fosse a
garota mais decidida e empoderada que eu conhecia, meu coração
errava algumas batidas e meu instinto protetor aflorava ainda mais.
— Eu te amo — soltou, de repente, formando um biquinho com
os lábios. — Ah, droga.
Raramente via aquele rosto delicado ficar vermelho por
vergonha, então quando acontecia, eu apreciava cada segundo.
Neste momento, eu me deliciei com a visão antes de Norah usar as
mãos para se esconder.
— Saiu sem querer.
— Você me ama? — perguntei, provocando, aproximando meu
nariz de seu pescoço e roçando em sua pele. — Tem certeza?
— Cala a boca — resmungou, ainda com o rosto tapado.
— É a sua cara se declarar quando estou com vontade de
matar alguém, não havia momento mais inoportuno para isso. —
Gargalhei, apertando seu corpo entre meus braços e esperando seu
tempo. — Eu também te amo, Norah.
— Eu não te amo — disse ela, com a voz abafada. — É
mentira. Eu me confundi.
— É mesmo? — O sorriso em meu rosto era tão grande que
temi rasgar meus lábios. — Vou aceitar a mentira, então. Eu sei que
Norah Brown é desapegada demais para amar.
Presa dentro do casulo que criei com meus braços, a garota
inclinou a cabeça para trás e me olhou quando abaixou as mãos.
Seus lábios estavam pressionados um contra o outro, em linha reta,
e em sua testa havia um leve vinco.
— É sério, saiu sem querer — murmurou, suspirando. — Foi
bem... hm... sincero, eu acho, porque só senti que precisava contar.
Acho... que não sabia ainda que te amava.
— Bem, isso com certeza tirou o foco de cima do idiota do meu
pai — comentei, fazendo-a sorrir. — Quem se importaria com Henry
Davis depois de ouvir um “eu te amo”?
Norah revirou os olhos e esmaguei seus lábios com urgência,
chupando a boca gostosa e a tocando com minha língua, enquanto
seus dedos brincavam em minha nuca. Eu adorava sentir as unhas
longas arranharem minha pele e me fazerem arrepiar com o toque.
Assim como também amava saber que seus mamilos ficavam
durinhos com um simples beijo meu, como estavam naquele
momento.
Joguei levemente o corpo pequeno para trás de forma que a
inclinasse para poder lamber aqueles seios lindos, só para brincar
um pouco com ela antes de trazê-la de volta e beijar sua testa.
— Agora falando sério, não quero transar — declarei,
encolhendo meus ombros. — Não agora. Eu entendi a sua
sugestão, mas quero construir um relacionamento que não se
baseie sempre em sexo. Se estou com raiva, quero poder dialogar
com você, desabafar, sabendo que vai me ouvir quando eu precisar.
— Encarei seus seios empinados à minha disposição e voltei meus
olhos ao rosto dela. — Talvez, existam algumas vantagens em ter
permanecido virgem por toda a minha adolescência e esse período
da minha vida adulta, porque eu não tive esse escape, como você
chama. Precisei aprender a resolver meus problemas com muita
reflexão.
Norah sorriu, apertando minhas bochechas antes de unir as
mãos e me olhar muito pensativa.
— Minha nossa senhora, você é um senhor de oitenta anos no
corpo de um rapaz de vinte e dois. — Seus ombros caíram. — Eu só
queria levar uns tapinhas...
— Achei que sua intenção fosse apenas me ajudar, como uma
boa samaritana.
Norah me lançou um sorriso cínico antes de se levantar e se
fazer de rogada.
— Claro que sim. Era exatamente por isso.
Ela se virou de costas para mim e abriu meu guarda-roupas,
mexendo nas minhas camisas penduradas, provavelmente,
procurando alguma coisa para vestir e nunca mais me devolver. Era
o que tinha acontecido com a jaqueta que a emprestei numa das
festas na casa de Mike.
Encarei a bunda pequena dentro da calcinha rosa,
impressionado em perceber como eu sempre parava para admirar
cada pedaço da garota, como se fosse a primeira vez vendo-a
pelada. Então, precisei me inclinar para a frente e desci a mão com
força naquele traseiro gostoso, surpreendendo-a e a fazendo pular
com o susto e o tapa inesperado.
— Seu filho da mãe! — gritou a pessoa de um metro e meio,
levando as mãos à cintura ao se virar para mim. — Isso doeu! Devia
me compensar agora!
— Quero chupar sua bocetinha — falei, salivando ao pensar
em como Norah ficava deliciosa gozando na minha boca. — Sabe
que eu chego ao orgasmo só de senti-la gozar, não é?
Nos últimos dias, eu descobri que era viciado em beber tudo o
que aquela boceta pequena babava para mim, e era meio alucinante
perceber que eu causava aquela cachoeira em Norah, por isso, o
tesão aumentava e eu acabava gozando junto enquanto minha boca
se enchia com o gozo da garota. Claro que ainda havia muito a
percorrer nesta vida, pois tinha perdido a virgindade há menos de
dois meses. Mesmo assim, sentia que já tinha minhas preferências.
Sexo oral era um deles, pois Norah era muito gostosa. E transar
com ela sentada em mim, enterrando a boceta em meu pau, era
uma visão que eu nunca me cansaria de ter.
Por isso, me levantei e me despi com agilidade enquanto a
garota me fitava com malícia. Voltei a me sentar na cama e
encostei-me à parede, movendo minha mão e a chamando para
mim.
— Agora você decidiu transar? — perguntou, se aproximando
devagar.
— Dominic Davis é imprevisível — brinquei, arregalando meus
olhos.
— Dominic Davis precisará me dar um orgasmo muito top
depois de ter batido forte na minha bunda. — Ela ficou de pé no
colchão, parando de frente para meu rosto, e esfregou o traseiro. —
Fiquei doloridinha.
Deslizei minhas mãos pelas pernas finas, subindo até as coxas
e alcançando a bunda lisinha. Depositei um beijo na boceta
escondida pela calcinha antes de enrolar meus dedos nas laterais e
puxar a lingerie devagar. Norah ajudou a se desvencilhar da peça e
eu admirei a fenda pequenina no meio daquela pouca carne, que
quase nem conseguia esconder os lábios internos.
— Nenhum Rembrandt, Picasso ou Michelangelo jamais
retratou em suas pinturas, algo tão bonito — declarei, usando meu
polegar para alisar a bocetinha depilada.
— Essa foi uma cantada de respeito — Norah murmurou. —
Vou usar depois com meu namorado.
Revelei seu clitóris delicado ao afastar os lábios e acariciei o
ponto, usando o mesmo dedo para esfregar a fenda úmida algumas
vezes, alternando o contato aqui e ali. Depois, penetrei-a com o
indicador e o dedo médio, retos e profundos de uma vez, tirando-os
e os colocando repetidamente até que sentisse toda aquela
cavidade se encharcar de tesão.
Norah gemeu, mexendo as pernas, apoiada com as mãos na
parede acima da minha cabeça. Eu a segurei pela bunda para evitar
que se desequilibrasse em algum momento e a trouxe para a minha
boca, mamando os grandes lábios vaginais antes de afastá-los com
a língua e capturar todo o seu interior com a minha boca.
— Por que você é... tão bom... nisso? — murmurou minha
garota. — Dominic...
Intensifiquei os movimentos com a minha língua aberta,
lambendo a região inteira de trás para frente, em seguida, eu a
endureci para levar a ponta até a entrada apertadinha. Ela escorria
pelos meus lábios, molhava meu queixo e a ponta do meu nariz,
enquanto sua dona gemia e rebolava, ansiosa.
Sentia meu pau pulsar e trepidar contra meu abdômen, a
cabeça quente, a tensão consumindo cada nervo daquela região, e
calafrios tomando meu corpo, enquanto eu fodia Norah com a minha
língua. Lambi repetidas vezes a entradinha sensível e usei meu
polegar para estimular seu clitóris, percebendo que ela ficava cada
vez mais agitada.
Seu orgasmo chegou sem que ela anunciasse e eu a chupei
com mais intensidade, dominando toda a boceta quente e melada,
deixando que seu gozo escorresse pela minha língua até que eu
engolisse o líquido mais espesso com o gosto próprio de Norah.
Meu pau parecia que sofria um estrangulamento quando levei
minha mão até ele, deixando que a ejaculação fosse liberada em
jatos fortes, e antes que eu pedisse, minha garota engatinhou sobre
o meu corpo e se sentou de forma elegante no membro gozado e
duro, subindo e descendo sobre ele, apertando meus ombros com
os dedos finos e me encarando com o rostinho delicioso de quem
estava feliz.
— Eu te amo, seu virgem gostoso — murmurou ela, de olhos
fechados e testa franzida, gemendo baixinho enquanto me
cavalgava.
— Não sou mais virgem — retruquei, enrolando seus cabelos
na minha mão.
— Cala a boca!
Norah rebolou e eu me calei como pediu, porque comecei a
chupar seus seios durinhos de bicos pequenos, que cabiam
perfeitamente na minha boca. Brinquei com cada mamilo, roçando
meus dentes, esfregando minha língua neles, em seguida,
encaixando o meu rosto no vão e depositando vários beijos
espalhados por sua pele.
Dessa vez, gozei dentro da boceta da baixinha safada, que
rebolava devagar agora, mexendo a bunda com maestria enquanto
tomava tudo de mim. Ela trouxe a boca até o meu pescoço e me
mordeu com força, esfregando os peitos gostosos em mim ao
mesmo tempo em que lambia minha pele arrepiada. Seus lábios
subiram pelo meu maxilar e sua língua continuou trilhando um
caminho bom até encontrar minha boca.
Norah se acalmou quando nos beijamos sem pressa, minhas
mãos alisando sua bunda macia, enquanto eu me inclinava e me
deitava com ela em meus braços. Estávamos suados e ofegantes,
melados de todo o prazer que compartilhamos, mas não tivemos
coragem de nos soltar por um longo tempo. Ficamos ali, curtindo
apenas o contato de nossos corpos, nos encarando sem pressa
alguma, até que vi a garota fechar os olhos e a deixei descansar por
alguns minutos.
Estávamos todos no Steven’s. Eu, Aika, Carlos, Alice, Joe e
sua namorada. Aquele era o dia de conhecer a Katherine que, a
propósito, parecia encantadora. Ela era toda fofinha e ainda mais
bonita pessoalmente do que nas fotos. Fiquei muito feliz por ver
meu amigo radiante, sem conseguir tirar os olhos de cima da
menina. Joe merecia viver um amor incrível.
— Eu não sei por que você demorou tanto para nos apresentá-
la — comentou Aika, estalando a língua. — Somos todos tão legais,
por acaso estava com medo?
Abafei a risada enquanto mastigava minhas batatas fritas.
Todos nós sabíamos que ele havia adiado aquele encontro porque
estava inseguro. Alice e Carlos não eram os melhores exemplos de
discrição e poderiam deixar alguma coisa escapar sobre meu ex-
lance com Joe. Não foi por acaso que o rapaz nos deu um discurso
de meia hora no dia anterior, nos lembrando de que nada poderia
escapar quando Kath — eu estava íntima — estivesse presente.
— Vocês são meio estranhos, meio nerds — comentei depois
de engolir. — Eu entendo o medo do Joe.
— Seu namorado também é nerd, Norah — retrucou Aika,
estreitando os olhos para mim.
— Ele também é o quarterback do Bama — Carlos murmurou,
encolhendo os ombros. — Então não conta.
— Ah, é verdade! — Katherine, que era bem calada e quase
não abriu a boca até aquele momento, arregalou os olhos na minha
direção. — Você é a Norah, namorada do Dominic Davis. Como eu
não liguei uma coisa à outra antes?
Abanei minha mão para a garota, antes de encher minha boca
com mais batatas.
— Tudo bem, a celebridade não sou eu. Ninguém conhece a
minha cara direito.
— Mas a gente não está aqui para falar da Norah e do Dominic
— disse Alice, batendo palmas. — Quero saber como se
conheceram. Contem-nos tudo!
Katherine e Joe se entreolharam e trocaram sorrisos
apaixonados. O meu amigo estava com um dos braços ao redor dos
ombros dela, e a mantinha perto com tanto afinco que chegava a ser
fofo. Fiquei observando-os em silêncio, me perguntando se era
daquele jeito que eu também olhava para Dominic, como se fosse a
única pessoa do mundo todo.
— Kath é uma caloura do meu curso — explicou Joe,
apertando a bochecha dela.
— Eu sinto saudade da minha época como caloura... — Aika
revirou os olhos quando fiz uma careta para ela. — Vai dizer que
não sentirá saudade da faculdade?
Dei de ombros.
— Pode ser que sim — respondi, bebendo meu refrigerante
geladinho. — Mas a expectativa pelo que está por vir é maior do que
a nostalgia pelo que está ficando para trás. Está na hora de viver
coisas novas.
— Eu concordo com a Norah. — Alice apontou para mim. —
Chega de faculdade.
— Eu só estou começando — murmurou a namorada de Joe,
com os olhos brilhando de empolgação. — Então, desejo que passe
o mais devagar possível para poder aproveitar tudo.
Caramba, ela era animada mesmo, porque eu não me
lembrava de ser assim nem mesmo no meu primeiro semestre.
— Vai passar bem devagar, acredite. — Sorri para a menina.
— Vai passar mais rápido do que você gostaria — Aika me
contrariou e eu joguei uma batata frita em sua cabeça.
— Sua opinião não conta — retruquei. — Você só não se
encaixa totalmente na categoria nerd porque é um pouco piranha.
Todo mundo na mesa explodiu em gargalhada e Aika revirou
os olhos, dando de ombros porque sabia que era verdade. Eu
também não podia negar que me encaixava naquela categoria até
muito recentemente, mas agora, era uma mulher comprometida e
muito séria.
— Parem de mudar de assunto — protestou Alice, que se
voltou para Katherine e Joe novamente. — Anda logo, contem a
história antes que essa doidas os interrompam de novo.
— Bom, a gente começou a se esbarrar em algumas aulas
todos os dias, — disse a garota, parecendo tímida, mas sorrindo o
tempo todo. — Começamos a trocar olhares, sorrisos... Até que Joe
me chamou pra sair.
— Você foi especial — Carlos comentou. — Porque o Joe não
era muito de relacionamento, né?
— Ah, sim. — Ela sorriu e olhou para o namorado. — Ele me
disse que estava em uma fase de pegação quando nos
conhecemos.
— Pegando todo mundo da universidade — zombou Alice,
aquela lingaruda que eu tentei fuzilar com os olhos.
Meu amigo me olhou discretamente e eu sabia muito bem o
que estava pensando. Que em algum momento, os lesados do
Carlos ou da Alice deixariam escapar o quanto nós dois trocamos
fluidos corporais durante esses últimos anos. Portanto, era a minha
obrigação mudar o rumo da conversa o quanto antes.
— Por falar em pegação, a dona Aika está pegando o time
inteiro do Bama — explanei, vendo-a abrir a boca ao meu lado e
querer me matar.
— Por que você está me expondo? — A filha da mãe apontou
Carlos e Alice. — Exponha eles dois!
— Eles só se pegam entre si, não é nenhuma novidade.
— Nossa! – Katherine olhou para Carlos e para Alice com um
ar de surpresa. — Vocês estão juntos?
— Juntos é uma palavra muito forte — respondeu Alice,
franzindo o nariz na direção de Carlos. — A gente fica, às vezes,
quando a maresia bate.
A menina olhou minha amiga sem parecer entender do que ela
falava e eu preferi não comentar, na primeira vez que nos
encontrava, que estava sentada diante de dois dos maiores
maconheiros da faculdade.
— Legal — comentou, rindo e olhando pela mesa. — Mais
algum de vocês ficam entre si?
Por um segundo, apenas um segundo, houve um silêncio
mortal entre todos nós. Joe olhou para mim, eu olhei para Joe, Alice
olhou para Carlos, Carlos olhou para Aika, e Aika olhou para mim.
Depois, todos nós explodimos em gargalhada. Não foi combinado,
apenas aconteceu.
— Você está louca? — Aika arregalou os olhos. — Imagina só,
eu pegando o Carlos.
— Que loucura! — Balancei a cabeça, muito séria. — Nada a
ver.
— Eu pegaria a Aika — murmurou Alice, sorrindo. — Mas ela é
muito hétero.
Eu não sabia até onde aquela conversa de quem pegaria
quem iria, mas fui salva por uma ligação. Em cima da mesa, o nome
de Dominic apareceu na tela do meu celular, por uma chamada de
vídeo. Meu coração parou por um segundo e todos olharam do
celular para mim.
— Agora ela vai abandonar a gente — comentou Joe, rindo. —
O namorado está ligando.
— Shiu, cala a boca. — Passei a mão no aparelho sobre a
mesa e pulei as pernas de Aika para sair dali e ir até o fundo do bar,
onde estava mais silencioso.
Ajeitei meus cabelos, passei a língua pelos dentes para não
correr o risco de atender com um pedaço de batata grudado neles, e
sorri, tocando no ícone para aceitar a chamada. Para a minha
surpresa, não foi Dominic quem apareceu do outro lado, e sim,
Peter.
Eu sabia que estavam juntos porque estavam comemorando o
aniversário de um dos rapazes do time. O loiro avisou que seria uma
reunião íntima, só com os jogadores e ninguém levaria namorada
nem chamaria outras mulheres, então estávamos separados
naquela noite de quarta-feira. Mesmo assim, eu não esperava que
Peter me ligasse do celular do meu namorado.
— Norah! — Ele me cumprimentou com um grito animado
demais, indicando que estava bêbado, e não era pouco.
— O que você está fazendo com o celular de Dominic?
— Eis a questão... — Ele riu, coçando a cabeça. — Nós
estamos aqui na casa do Mike, você sabe... Mas seu namorado
resolveu que hoje seria o dia em que ele faria tudo que nunca fez
em todos os anos de faculdade. — Ouvi muitas vozes rindo e
falando alto ao mesmo tempo, quase não dava para escutar Peter.
— Resumindo, o Dominic tá totalmente bêbado!
Dito isso, o jogador começou a gargalhar, tão forte que chegou
a dobrar o corpo, como se fosse uma piada hilária. Para mim,
parecia que estava falando latim, porque não conseguia imaginar
uma realidade em que o quarterback ficasse tão alcoolizado a esse
ponto. Desde quando ele bebia?
— Dominic está passando mal? — perguntei, preocupada.
— Não! Ele está bem... eu acho... — Peter virou o rosto numa
direção em que eu não podia ver, parecendo conferir algo, então
balançou a cabeça positivamente. — Ele está bem sim. Subiu em
cima da mesa e está dançando com as mãos nos joelhos.
Sofri um leve choque ao imaginar a cena. Não podia ser
verdade. Será que os rapazes resolveram fazer uma pegadinha
comigo?
Encarei bem o Peter na ligação, observando seu semblante e
tentando perceber algum vestígio de ironia, mas ele parecia muito
descontraído para ser armação.
— Você não pode levá-lo embora? — perguntei. — Por que
está me ligando?
— Então... Eu só liguei porque Dominic chamou por você umas
vinte vezes. — Sorriu. — Ele desbloqueou o celular e me mandou te
ligar. Portanto, venha pra cá pegar o seu macho, porque quero curtir
o resto da noite em paz. E se você estiver por aí com a sua
amiguinha... Traga ela. — Peter franziu os lábios e fez uma cara
engraçada. — Diga que tem um monte de gente pra ela aumentar a
listinha fajuta.
— Resumindo, você quer que eu fale pra Aika que está
aguardando por ela, bem ansioso.
Eu ri quando ele encolheu os ombros.
— Pode ser... Se ela quiser...
— Tchau, Peter. Não deixe que Dominic vá embora sozinho!
Cuide dele enquanto eu não chegar.


Abri a porta da casa de Mike e me surpreendi em ver como
homens podiam ser bagunceiros. Tinha copos, pizzas e cigarros
para todos os lados da casa, além da música muito alta e das
risadas de alguns grupos. Eles eram muitos, entre titulares e
reservas, e pareciam não comemorar apenas o aniversário de Mike,
como também o sucesso que vinham tendo na temporada.
— Norah! — Peter apareceu na minha frente e abriu os braços.
— Você veio!
— É claro que sim. — Aceitei o abraço e olhei em volta. —
Onde está o Dominic?
— Lá fora com o Mike. — O melhor amigo do meu namorado
notou que Aika estava atrás de mim. — E aí, ruivinha? Qual nome
você vai riscar da sua lista hoje?
Revirei meus olhos para os dois, porque sabia que ambos
queriam se curtir e não davam o braço a torcer, então fui procurar
pelo meu quarterback. Assim que saí para o jardim dos fundos da
casa, vi Dominic sentado em uma cadeira ao lado de Mike e mais
um jogador do Bama que não reconheci por nome.
O aniversariante estava com um baseado na mão e o passou
para Dominic, que o pegou sem hesitação e o levou à boca. Vi seus
olhos se arregalarem enquanto caminhava até os três, mas o loiro já
havia dado uma tragada quando tomei o cigarro de sua mão.
Ele olhou para mim e logo o seu olhar assustado se
transformou em um olhar muito feliz.
— Norah — chamou meu nome, mas se engasgou com a
fumaça do baseado.
Revirei meus olhos e entreguei o baseado de volta para Mike,
que ria da cara do Dominic junto com o outro idiota. Francamente,
ainda bem que Peter me chamou ou não sei como o meu namorado
estaria até o final da noite.
— Vocês deviam poder fumar maconha com a temporada
chegando ao fim? — perguntei, lançando um olhar assassino para
Mike.
— Não esquenta — respondeu ele, com a voz lenta de quem
já tinha fumado muitos daqueles. — Dominic só deu essa tragada,
não cometeu nenhum crime. Mas... Talvez seja melhor ele se
manter só no charuto mesmo.
— Charuto?
Apoiei minhas mãos na cintura, olhando ao meu redor e
pensando o que diabos Dominic Davis estava fazendo ali. Ele nem
gostava de festa, muito menos uma que fosse destinada a bebidas e
cigarros.
Sua mão tocou minha perna porque eu ainda estava de pé e
senti seus dedos deslizarem por trás do meu joelho. Baixei meu
rosto em sua direção e vi seu sorriso bobo quando piscou para mim.
— Está tudo bem, meu amor — murmurou. — Eu só quis
experimentar.
— Você está bêbado — falei, agachando-me diante dele.
Seus olhos indicavam o quanto estava fora de si, bem tonto,
mas Dominic se curvou para a frente e tocou meu rosto.
— Eu estou feliz que tenha vindo. — Sorriu todo embriagado.
— Sabia que chamei por você? Eles não queriam nenhuma mulher
aqui, mas eu disse que a minha mulher podia vir.
Sorri de volta para ele, pensando em como faria para carregar
aquele homem enorme até o Uber que eu ainda teria que chamar.
Levaria ele para meu quarto, pois temia entrar com Dominic daquele
jeito no dormitório do Crimson e ficar ruim para sua imagem.
— Norah, está tudo girando — murmurou, rindo.
— Por que vocês embebedaram ele? — perguntei ao virar o
rosto para Mike.
— Ele quis beber por conta própria — respondeu o garoto,
encolhendo os ombros. — O Peter ainda tentou fazê-lo desistir da
ideia, mas Dominic estava repetindo um discurso de que precisava
viver mais.
— E o mais engraçado é que ele só bebeu três garrafas —
falou o cara que eu não conhecia.
Três garrafas de cerveja para alguém que nunca colocou uma
gota de álcool no organismo, devia ser muita coisa. Passei a mão no
rosto do loiro, vendo-o fazer uma expressão de quem parecia
enjoar, e senti vontade de colocá-lo no colo para poder protegê-lo.
— Quer vomitar, Dom? — perguntei, pegando o meu celular
para chamar o Uber.
Ele balançou a cabeça em negativa e formou um bico com os
lábios.
— Não... Só quero ficar com você.
Achei fofo, mas queria dar uns tapas nele. No entanto, sabia
que tinha o direito de fazer o que quisesse, depois de passar tantos
anos se privando de tudo. Eu me levantei e encarei Mike, que ainda
tragava o baseado com o outro amigo, então dei um tapa no ombro
dele.
— Levante essa bunda e me ajude a colocar o Dominic dentro
de um carro — pedi. — Ou vocês todos acham que com o meu
tamanho, eu consigo carregar alguém como ele?
O jogador se colocou de pé e ajudou o quarterback a se
levantar. Ele passou um braço pela cintura de Dominic, mas
começou a caminhar na direção oposta à casa.
— Não adianta eu o colocar no carro se você não vai
conseguir tirá-lo de lá — explicou. — O quarto dos fundos está livre
e o Davis sempre o usa. Vocês podem dormir lá.
O loiro se desvencilhou de Mike, ajeitando a camisa e
cambaleando. Temi que ele simplesmente desabasse no chão, mas
mostrou que ainda conseguia se manter de pé quando pegou a
minha mão e me puxou na direção do anexo onde eu já estive com
ele em outra festa.
— Vou levar minha baixinha pra cama — murmurou, acenando
para Mike e sorrindo para mim.
Eu o abracei pela cintura para evitar que caísse, ciente de que
se isso acontecesse, nós dois iríamos ao chão. Quando passamos
pela porta de vidro, tranquei a fechadura e o levei até a cama. Ele
praticamente se jogou e caiu sentado na beira do colchão.
— Você vai ficar comigo aqui, né? — perguntou.
Suspirei e me agachei diante de Dominic, pegando o seu pé
direito e tirando o seu tênis.
— Claro que sim — respondi, repetindo o processo com o
outro pé. — Vou tirar a sua roupa pra você dormir mais confortável,
ok?
Dominic apenas balançou a cabeça para assentir e levantou os
braços como uma criança. Evitei rir porque não sabia se ele era um
bêbado sentimental, mas era muito engraçado ver aquele homem
que estava sempre sério, tão embriagado e vulnerável.
— Norah?
— Oi.
Puxei a camiseta por cima da cabeça de Dominic, dobrando-a
e a colocando sobre a cama, sentindo que ele só me encarava,
quase de olhos fechados.
— Eu acho que eu estou apaixonado por você — declarou.
Pressionei os meus lábios, com muita vontade de soltar uma
gargalhada. Se três cervejas fizeram esse estrago, como ele ficaria
com um porre de verdade?
— Que lindo, Dom — murmurei, tocando seus cabelos. — Mas
você já me disse isso várias outras vezes. E eu também sou
apaixonada por você.
O loiro arregalou os olhos e levou a mão ao peito de forma
muito exagerada. Em seguida, se jogou de costas na cama e ficou
com as pernas penduradas e os braços abertos.
— Norah... Vou ligar pra polícia porque você roubou o meu
coração.
Ah, fala sério! Como eu nunca pensei nessa cantada? Ela era
incrível e muito original! Peguei meu celular e anotei a ideia para
não me esquecer. Usaria em algum momento com Dominic e
torceria para que ele não se lembrasse que tinha sido o autor da
obra. Depois de guardar o telefone, encarei o homem esparramado
sobre o colchão. Levei a mão até o zíper da sua calça e a puxei com
dificuldade por suas coxas saradas até deixá-lo só de cueca.
Dominic continuou deitado na cama, imóvel, e por um
segundo, achei que já estivesse dormindo. Respirei fundo três vezes
seguidas, bati em seu ombro.
— Dominic Davis! — chamei. — Deite-se direito. Eu não tenho
forças para mover você.
Fiquei empurrando seu braço até que começou a resmungar,
abriu os olhos, e engatinhou para cima até se deitar no lugar certo,
com as pernas esticadas sobre o colchão. Passei por cima dele e
me deitei ao seu lado, suando para puxar o lençol que tinha ficado
preso embaixo de sua bunda.
Quando finalmente consegui cobrir a nós dois, respirei aliviada
e me aconcheguei contra o corpo grande e quente.
— Norah... Não vai embora...
— Eu não vou — sussurrei, sentindo seu braço agarrar minha
cintura.
Por mais que minha cabeça pesasse uma tonelada e minha
boca estivesse com gosto de areia, eu tinha Norah em meus braços.
Só queria ficar ali para sempre e congelar aquele momento, porque
me sentia completo e em paz. Nunca passou pela minha cabeça
como seria a sensação de estar apaixonado, mas agora podia ter a
certeza de como era bom.
Norah estava com a cabeça deitada em meu braço, que tinha
adormecido há muito tempo, os lábios entreabertos, e o polegar
colado no inferior, mas ela não o estava chupando. Não podia
acreditar que houvera um tempo em que eu a achava comum,
quando hoje tinha certeza de que era a mais linda de todas.
Passei um dedo por seu nariz pequenino como ela e inclinei a
cabeça para beijar a ponta, fazendo a garota abrir os olhos escuros
e me fitar.
— Bom dia, princesinha. — Seu sorriso indicava que não
estava chateada pelo trabalho que dei na noite anterior. — Obrigado
por vir cuidar de mim.
Infelizmente, precisei soltá-la porque senti minha cabeça
latejar e tive que massagear minhas têmporas que pulsavam. Tudo
porque ontem eu decidi chutar o balde pelo menos uma vez na vida
e aproveitar como um cara normal da minha idade faria ao lado dos
amigos.
Não me lembrava de todos os detalhes com exatidão, mas
sabia que não tinha dado conta de beber direito e fiquei mal
rapidamente. Ainda bem que estávamos na casa de Mike e havia
um lugar para dormir, ou não saberia como a Norah faria para ir
embora comigo.
— Puta merda... — murmurei, me sentando na cama. — Eu
estou me sentindo péssimo.
— Isso se chama ressaca. Bem-vindo ao mundo dos bêbados.
— Norah também se sentou e me deu um beijo no ombro. — Veja o
lado positivo: você não chegou a vomitar.
— Tem uma coisa que está um pouco nublada na minha
memória — comentei, virando o rosto para a baixinha. — Por acaso,
eu fumei maconha?
Norah começou a gargalhar e se levantou da cama. Vi que
estava vestida de short e cropped, mostrando aquele corpinho que
era meu justo na noite em que disse que sairia com as amigas — e
encontraria com o Joe.
— Sinto informar, mas sim, você deu uma tragada no baseado
do Mike — respondeu o que eu não queria ouvir. — Por sorte, eu
cheguei a tempo de impedir que fosse mais de uma.
Joguei as pernas para fora da cama e também me levantei,
descobrindo que vestia apenas a cueca. Até me lembrava mais ou
menos de sentir as mãos da minha namorada passeando pelo meu
corpo enquanto me despia, mas em algum momento, eu me esqueci
desse detalhe.
Só quando peguei minha calça do chão é que percebi que
estávamos no meio da semana. Sentindo meu coração acelerar,
procurei meu celular e não encontrei, apesar de que o aparelho
deveria estar em meu bolso.
— Você viu meu telefone? — perguntei e Norah pegou sua
bolsa, puxando o iPhone lá de dentro.
— O Peter me entregou quando cheguei.
Quando peguei o celular e olhei o relógio na tela, precisei me
sentar de novo com o baque que recebi. Passava das dez horas, o
que significava que eu tinha perdido as duas primeiras aulas do dia.
Imediatamente, encarei Norah, que estava prendendo os
cabelos num rabo de cavalo e controlei minha vontade de reclamar
por ela não ter me acordado mais cedo. A verdade era que a garota
não tinha nenhuma culpa pela minha bebedeira, muito menos
responsabilidade de cuidar de um cara da minha idade.
— O que foi? — perguntou ela, franzindo a testa e encarando
meu telefone. — Ah... Perdeu alguma aula, né? Não será o fim do
mundo, isso já aconteceu com todos os seres mortais.
— Vamos embora — falei, me levantando e guardando o
celular no bolso antes de pegar a camisa para vestir. — Agora que
já me fodi, pelo menos, vou te levar pra comer.
— Essa sim é uma ótima decisão, sabia? — Norah saltitou até
enroscar os braços na minha cintura e se esticar nas pontas dos
pés.
Demos apenas um selinho porque nenhum dos dois tinha
escovado os dentes, mas eu nem me incomodaria com isso, se não
fosse por mim. Sabia que meu hálito estava pavoroso porque podia
me sentir com um gosto horrível na boca, portanto, antes de parar
em qualquer lugar, tinha que ir até meu dormitório.
Norah protestou porque estava com fome, mas me
acompanhou mesmo assim, e eu aproveitei e emprestei a ela uma
escova que ainda estava lacrada. Depois, a levei para uma
lanchonete que servia um café da manhã incrível e me sentei ao
lado da garota, que encarava com muita felicidade, um prato gigante
de panquecas.
— Norah, precisamos conversar sobre um assunto importante
— avisei, sentindo que minha dor de cabeça estava diminuindo à
medida que eu comia.
— Ok... — Ela franziu a testa, com a boca cheia, colocando
mais calda em seu prato.
— Ontem o John estava contando sobre a situação dele e da
namorada, porque ela se forma agora, mas John ainda tem um ano
pela frente. E isso me fez pensar na gente. — Sorri ao ver como a
esfomeada mal respirava enquanto devorava sua comida. — Você
possui um destino em mente quando se formar?
Norah assentiu, usou o guardanapo para limpar a calda que
sujou seu queixo e me olhou depois de engolir.
— Nova York — respondeu. — Por quê?
Uma parte minha imaginava justamente aquela escolha,
porque a garota combinava muito com a cidade que nunca parava.
— Bem, eu não posso escolher pra onde vou — contei, porque
acho que ela não sabia. — Tenho que ir para o time que me
escolher no Draft.
Como eu esperava, Norah soltou os talheres e se virou no
banco para mim, movendo apenas os olhos e, então me encarando.
— Como assim? Não é você quem escolhe pra onde vai? Você
não é tipo... o rei do futebol?
— Fico lisonjeado com sua fé em mim, mas não. — Toquei seu
queixo, notando seu semblante preocupado. — A liga entende que
os times que estão tendo desempenhos piores e campanhas mais
fracas merecem a oportunidade de escolher primeiro os melhores
jogadores disponíveis. Então, na época do Draft, qualquer equipe
pode me escolher e eu vou ter que ir.
— Mentira! — A garota tapou a boca, depois cruzou os braços.
— Então, se um time lá de Washington te escolher, você precisa
aceitar?
— Se eu quiser jogar pela NFL, sim.
— De que adianta ser o melhor, se não puder jogar pelo
Patriots ou pelo Giants, ou sei lá, qualquer outro grande?
— Você pesquisou na internet, não foi? — perguntei, rindo, e
ela revirou os olhos, assentindo. — Em algum momento, serei
transferido para um time maior. É para isso que servem os agentes.
Há também outra possibilidade, que consiste em alguma grande
equipe negociar com outra para tomar sua posição no Draft e,
assim, poder escolher primeiro. Meu pai diz que soube de alguns
rumores para esse ano, mas não é nada concreto e nem quer dizer
que o alvo seja eu.
Norah assentiu, com os olhos ainda bem grandes, e voltou a
encarar seu prato. Aquele era um assunto que passou despercebido
por mim até ontem, mas desde então, não conseguia parar de
pensar em como seria quando cada um fosse para um canto do
país. Sabia que agora, ela também estava compreendendo a
gravidade da questão e nem pegou de novo seus talheres, puxou
apenas a taça de milk-shake e sugou o canudo rosa.
Eu me inclinei e passei meu nariz por seus cabelos,
aproximando meu rosto do pescoço dela e beijando sua bochecha.
— Norah, eu quero que venha comigo — confessei, vendo-a
soltar o canudo. — Independente do lugar para onde eu for, preciso
de você ao meu lado. — Ela virou o rosto para mim, abriu e fechou a
boca, e suspirou. — Sei que é pedir muito e que você já tem todo o
seu planejamento, mas se por acaso, não possuir um emprego
certo, nenhum tipo de compromisso já firmado em Nova York, você
pode me acompanhar e eu te darei todo o suporte que precisar.
Minha garota tocou meu rosto com olhos tristes que fizeram
meu coração perder uma batida. Ainda faltavam algumas semanas
para a formatura e o final da temporada, mas sentia que não ficaria
em paz enquanto não alinhasse com ela os nossos próximos
passos.
— Eu sei que pode parecer que estou pedindo para que abra
mão dos seus planos — falei, fechando meus olhos e deitando
minha cabeça em sua mão. — Mas não é isso. Eu vou ter uma
rotina corrida e vou viajar muito com a equipe, o que tornaria bem
difícil a gente conseguir se ver se formos para estados muito
distantes.
— Dominic...
— Morando comigo — eu a interrompi — você pode me
acompanhar sempre nas viagens. Se quiser, claro.
Norah enfiou um pedaço de panqueca na minha boca, me
obrigando a mastigar aquela porcaria.
— Só assim para você se calar — comentou, revirando os
olhos. — Gosta de gastar saliva, porque eu estava pronta para
aceitar o convite desde que sugeriu da primeira vez.
A safadinha sorriu toda boba e enroscou os braços no meu
pescoço, enchendo meu rosto de beijos com cheiro de sorvete de
morango. Quando engoli a panqueca gosmenta com tanta calda,
apertei seu corpo em meus braços e a puxei para o meu colo, mais
feliz do que nunca. Tive tanto receio de tocar naquele assunto, com
medo de que Norah recuasse diante da sugestão de se mudar
comigo, que nem cheguei a pensar em como seria se ela aceitasse.
E a sensação era... surreal de tão maravilhosa.
— Garota, eu te amo muito — murmurei, segurando sua nuca
quando ela afundou o rosto no meu pescoço. — Achei que fosse
detestar a ideia.
— Acha que eu deixaria você livre pra que alguma outra vadia
usasse esse corpinho? — disse Norah, estalando a língua. — Eu
criei meu monstro com muito afinco pra abrir mão dele de uma hora
pra outra.
— Não precisa se preocupar com isso, porque eu não tenho
olhos pra nenhuma outra mulher. Suas cantadas toscas
funcionaram, acredite.
Norah recuou o rosto e me olhou com uma cara de espanto,
em seguida, começou a rir e arqueou as sobrancelhas como se me
desafiasse a alguma coisa.
— As minhas cantadas toscas? Jura? — perguntou, apoiando
o cotovelo na mesa. — Pois você ontem soltou uma do mesmo nível
que as minhas. Ou não se lembra?
Tentei me recordar de algum momento parecido, mas os
detalhes tinham sido perdidos em minha memória.
— Não me lembro — confessei, mas ri por antecipação.
— Norah, vou ligar pra polícia porque você roubou o meu
coração — ela recriou a frase imitando a minha voz e revirando os
olhos numa careta.
Gargalhei, não sabia dizer se por conta da cantada idiota ou
por causa da encenação da minha namorada. Eu jurava que não
falava tão estranho como ela fez parecer.
— Eu disse isso? — perguntei e Norah assentiu. — Significa
que seu caso é grave e contagioso, acabou me infectando.
— Da próxima vez que ficar bêbado, eu vou filmar tudo e
guardar como conteúdo para usar em chantagens.
Fui pego de surpresa quando Norah passou o dedo pela calda
acumulada sobre suas panquecas e o levou até meu nariz. Antes
que eu reclamasse, ela trouxe sua boca e me lambeu
delicadamente, descendo os lábios até os meus e me beijando com
tanta paixão, que senti meu pau sofrer um leve espasmo. Sua língua
brincou com a minha e a filha da mãe mordeu minha boca, em
seguida, se afastou e se encolheu contra a parede, puxando as
pernas para cima do banco e me encarando com uma cara de
safada.
— Se a gente dividir o mesmo teto, vou passar meus dias
pelada porque já sei que iremos foder como coelhos — comentou,
lambendo os lábios.
— Não espero menos do que isso — avisei, segurando seus
dedos e os apertando, ao mesmo tempo em que me aproximava
para sussurrar, pois estávamos em local público. — Inclusive, faça o
favor de me receber sempre com a bocetinha pronta para ser
chupada.
Para a sorte de Norah, ela estava usando um short jeans, pois
o olhar esfomeado que me lançou teria sido suficiente para me fazer
perder a cabeça e enfiar meus dedos dentro dela ali mesmo, se o
caminho fosse facilitado por uma saia.
Decidi, portanto, que não seria tão ruim pedir a conta, ignorar o
restante das aulas do dia, e levá-la para meu quarto para
compensar todo o tempo que eu perdi, enquanto a garota dava em
cima de mim e eu fugia dela como um belo idiota.
Eu tinha um coração muito forte, foi o que constatei. Primeiro,
porque o dia começou com altas emoções e não de um jeito bom.
Faltavam três semanas para o final do semestre e a minha
formatura, portanto, tirei aquela manhã de sábado para arranjar
caixas de papelão e começar a guardar algumas coisas. Eu me
conhecia, sabia que tendia a ser um pouco procrastinadora, então
não podia deixar tudo para a última hora.
Separei uma pequena caixa apenas com itens que deveriam
ser jogados fora e, enquanto arrumava uma de minhas gavetas,
encontrei uma foto minha e de Anna, no nosso primeiro ano ali.
Parecia ter acontecido em outra realidade, nós duas abraçadas e
sorrindo para a câmera instantânea de Louise, a terceira do trio, que
acabou se transferindo para a Califórnia no terceiro semestre.
Naquela época, eu nunca imaginaria que um dia, eu seria
inimiga de Anna. Ela era para mim como a Aika é hoje e eu não me
conformava que tivesse sido tão sacana comigo.
— Vida que segue, Norah — murmurei, jogando a foto dentro
da caixa e descendo até a sala, pois mais tarde colocaria tudo na
lixeira.
Infelizmente, a garota estava na cozinha e passou por mim
naquele momento. Fofoqueira do jeito que era, Anna inclinou a
cabeça para olhar dentro da caixa e quando viu a foto, notei que
seus olhos se arregalaram e ela puxou a fotografia. Vi seus lábios
se franzirem e, em seguida, me encarou, parecendo prestes a
chorar.
— Acho impressionante como você me odeia — murmurou,
empinando o nariz. — É tudo inveja?
— Inveja de quê? — Eu ri com escárnio. — Meu problema
contigo é você sempre ter sido uma vaca comigo.
— Eu só fui uma vaca com você porque você foi uma vaca
comigo primeiro! Foi você quem começou a me tratar mal, Norah.
Respirei fundo e cruzei meus braços para evitar voar em cima
dela.
— O que você esperava que eu fizesse depois do que fez
comigo? — gritei, percebendo a chegada de Aika e Alice.
Anna franziu a testa e me encarou, levando as mãos à cintura.
— Eu não sei do que está falando.
— De você me roubar no primeiro ano — falei para ver se ela
melhorava seu probleminha de memória.
— Até onde eu me lembro, você é quem me roubou —
retrucou, arqueando uma sobrancelha.
Mais algumas meninas se aproximaram para assistir a
discussão e, em outra época, eu evitaria o barraco. No entanto, eu
me formaria em breve e iria embora da Zeta. Não tinha nada a
perder.
— Agora vai se fazer de santa? — perguntei, batendo palmas.
— Quer se fingir de vítima e me colocar como a vilã?
Anna apontou um dedo para mim.
— Foi você quem começou, sua doida! Não bastasse me
abandonar do dia pra noite no passado, ainda roubou o Jeremy de
mim.
— Eu roubei o Jeremy de você? — questionei, chocada com a
cara de pau de Anna. — Isso só pode ser uma piada, não é?
— Meninas, por que vocês não deixam pra conversar quando
estiverem mais calmas? — Aika se aproximou e tocou meu braço,
mas eu recuei, me aproximando ainda mais da filha da mãe.
— Você vai negar na minha cara que não roubou o Jeremy de
mim? — insistiu Anna.
— E o que você tem a dizer sobre o Anthony? — perguntei de
volta, desafiando-a a mentir.
Anna juntou as sobrancelhas e enrugou a testa.
— O que tem o Anthony?
— Eu gostava dele. Estava gostando dele de verdade, Anna.
Já você, nunca gostou do Jeremy. Só estava com ele porque era
rico e sempre me dizia isso.
Ela bufou e balançou a cabeça, visivelmente chateada. E eu
queria saber por qual motivo continuava se fingindo de magoada da
história toda.
— Você nunca pareceu se incomodar com o que eu fazia ou
deixava de fazer com o Jeremy, até o dia que resolveu trocar de
personalidade e decidir que me odiava.
— Eu troquei de personalidade? — Ri, querendo esganá-la. —
Agora eu sou a bipolar?
— Você começou a me tratar como lixo — disse Anna, me
lançando um olhar ferido. — E como se isso não bastasse, armou
toda a confusão com o Jeremy para acabar comigo, de propósito!
— E isso não chegou nem aos pés do que você fez! — Bati no
meu peito com raiva. — Eu gostava do Anthony e você sabia disso.
Ele foi o primeiro garoto com quem eu pensei em tentar me
relacionar de verdade aqui na faculdade.
Anna me lançou um olhar esquisito como se eu falasse em
grego.
— Norah, eu já te disse mil vezes... Não sei que droga o
Anthony tem a ver com essa história.
— Ele tem tudo a ver com essa história! Tudo começou com
ele. De como você o roubou de mim!
— Eu roubei o Anthony de você? — Anna questionou,
balançando a cabeça com a testa franzida. — Norah, você bateu a
cabeça? O que está dizendo não faz sentido nenhum. Nunca tive
nada com o Anthony. Você está louca!
Eu a encarei em silêncio, enquanto me lançava um olhar
genuíno de quem não estava entendendo nada daquela conversa,
mas isso não era possível. Anna tinha ficado com Anthony algumas
semanas depois de eu ter contado que estava gostando dele. Eu
não era apaixonada, mas vinha curtindo nossos encontros, até que
os dois ficaram e ele sumiu da minha vida.
— Você alguma vez me viu com o Anthony? — ela perguntou.
Precisei pensar por alguns segundos, porque fazia muito
tempo e, desde então, eu quase não relembrava aquela época. Mas
não, por incrível que pareça, nunca cheguei a ver os dois juntos. As
únicas vezes em que os presenciei no mesmo ambiente, eu estava
no meio porque Anthony estava comigo.
Anna ergueu uma sobrancelha.
— Não, né? Você nunca viu nada porque eu nunca estive com
ele.
— Eu não preciso ver para saber, pois me contaram —
respondi.
— Quem contou? — Anna quis saber, erguendo a
sobrancelha.
Eu olhei à nossa volta, percebendo que umas dez meninas
assistiam a tudo, muito curiosas. Só a Aika e a Alice pareciam
preocupadas com a situação.
— A Louise me contou — confessei, sabendo que não tinha
mais problema tocar no nome dela, porque não tínhamos mais
contato de qualquer forma.
Anna gargalhou, jogou a cabeça para trás e levou as mãos à
boca. Ela parecia não acreditar no que estava ouvindo e seu rosto
era uma máscara de descrença.
— Louise? — repetiu. — A mesma Louise que transou com o
Anthony naquela festa em que você desmaiou de bêbada dentro da
piscina?
— O quê?
Que informação era aquela que eu desconhecia? Louise e
Anthony? Ele pegava todas as minhas amigas?
— Pois é... — Anna abriu os braços, sorridente. — Depois que
você se embebedou até passar mal e quase se afogar, a querida
Louise foi flagrada pagando um boquete pro Anthony no banheiro.
Não fui eu quem vi, pois a idiota aqui estava cuidando de você, mas
várias garotas ficaram sabendo. E aquela nem tinha sido a primeira
vez que eles foram vistos juntos em público. Havia vários boatos,
mas eu sempre achei que eram mentiras. Como a Louise era nossa
amiga, não achava que faria isso, até o dia em que a vi dentro do
carro dele.
Aquilo me atingiu com força, e eu fechei os olhos, tentando
entender tudo o que estava acontecendo. Quando Anthony parou de
falar comigo de repente, eu fiquei mal, sem entender. Ele
simplesmente começou a me ignorar e tudo o que disse uma única
vez, foi que estava saindo com outra. Eu fiquei neurótica, tentando
descobrir quem era. Louise, então, me disse que tinha visto ele com
Anna. Que a Anna era a outra garota.
Na época, eu quis enfrentar Anna e tirar a história a limpo, mas
Louise me convenceu do contrário e agora eu entendia o motivo. Ela
não queria que eu botasse Anna contra a parede, porque saberia
que era mentira. Tudo fez sentido na minha cabeça e a verdade me
atingiu com força.
— Foi por isso que você parou de falar comigo? Foi por isso
que começou a me tratar como uma estranha? — Anna me lançou
um olhar magoado. — Por conta de uma mentira? — gritou para
mim, cerrando os punhos ao lado do corpo. — Você acabou com a
nossa amizade por causa de uma mentira, Norah?
Não havia nada que eu pudesse falar. Tinha acreditado em
Louise e duvidado de Anna porque parecia a coisa mais sensata.
Estava com tanta raiva e tão magoada, que não pensei
racionalmente, apenas aceitei o culpado que me foi entregue.
— Você deveria ter falado comigo — Anna disse, com os olhos
enchendo de lágrimas. — Eu era a sua melhor amiga, droga. Estava
sempre ao seu lado e a Louise chegou depois.
Agora parecia óbvio e eu sentia um nó se formar em minha
garganta. Era a verdadeira vilã daquela história, porque com
exceção desse problema, Anna sempre foi uma ótima amiga.
— Você acabou com as minhas chances com o Jeremy, por
algo que eu nunca fiz e iniciou uma rivalidade estúpida por conta de
uma mentira.
Engoli em seco e continuei em silêncio, apenas ouvindo-a
desabafar. Depois de anos achando que Anna tinha sido injusta
comigo, eu descobri, finalmente, que havia sido eu a injusta da
história.
Stephanie, uma caloura, se aproximou para afagar os ombros
de Anna, que tinha começado a chorar.
— Você tem noção do que fez? — perguntou. — Todos esses
anos... Meu Deus! Era só você ter me perguntado. Era só ter falado
comigo... Isso era o mínimo que você poderia fazer. — Anna
gesticulou um dedo, apontando de mim para ela. — Você fez isso
com a gente!
A primeira lágrima escorreu pelos meus olhos sem que eu
pudesse evitar e me sentia prestes a desabar de verdade, mas não
deixaria acontecer na frente de todo mundo. Virei-me de costas e
caminhei na direção da escada, sentindo que Aika vinha atrás de
mim. Parei na porta do meu quarto e olhei para ela, balançando a
cabeça para que entendesse que eu queria ficar um pouco sozinha.
Não sei por quanto tempo fiquei chorando com o rosto abafado
contra o travesseiro, mas uma hora eu precisei parar porque tinha
que finalizar minha dissertação e enviá-la ainda naquela tarde para
minha orientadora. Portanto, passava das duas horas quando tomei
um banho para me sentir melhor e me sentei para mexer no
notebook.
Digitei as últimas cinco mil palavras que faltavam para encerrar
aquele capítulo da minha vida e enviei o e-mail depois de revisar
todo o texto duas vezes.
Naquele sábado, o Crimson Tide estaria jogando no Mercedes-
Benz Stadium, que ficava em Atlanta, contra o Georgia Bulldogs.
Meu coração ficava apertadinho quando os jogos não aconteciam
aqui e eu precisava me separar de Dominic, mas não significava
que eu não torceria igual uma louca.
Terminei de me arrumar às seis da tarde e fui com Aika, Carlos
e Alice, encontrar com Joe e Katherine no Steven’s, onde
assistiríamos aquele confronto imperdível. Precisei usar muita
maquiagem para disfarçar as olheiras que ganhei depois de tantas
lágrimas, mas nada apagaria o brilho do meu amado em campo.
O Bama já começou com um touchdown nos primeiros cinco
minutos de jogo, levando a torcida do estádio e do bar ao delírio, e
meu coração acelerava no peito. Pedi mais uma cerveja de caneca
quando as batatinhas chegaram à nossa mesa e ignorei as
conversas paralelas que aconteciam na mesa, porque não podia
piscar para não perder nenhuma jogada de Dominic.
Só que então, em dado momento quando ele gritou e a bola foi
passada para suas mãos, meu quarterback recuou dois passos e
procurou por Peter. Ele lançou no instante exato em que uma
muralha se jogou sobre seu corpo. A câmera saiu de cima de
Dominic para acompanhar a trajetória da bola, que caiu nas mãos
do incrível Peter quando ele pulou no ar. E ao tocar os pés no chão,
outra muralha gigantesca o derrubou de cabeça.
Eu já tinha aprendido que era comum esse tipo de
acontecimento no futebol americano. Os jogadores quase se
matavam em campo, partiam para o ataque com sangue nos olhos e
o importante era parar o adversário a qualquer custo. Todo torcedor
estava acostumado com esses bloqueios, só que se esperava que o
jogador se levantasse imediatamente.
O que não aconteceu com Peter. À minha volta, muitas
pessoas que assistiam pela televisão, se levantaram com os olhos
grudados na tela. O wide receiver — finalmente aprendi — do
Crimson permaneceu imóvel na mesma posição em que caiu, de
bruços, com a cabeça numa posição estranha e o braço direito
dobrado sob o corpo. Aika, ao meu lado, começou a chorar porque
eles vinham ficando cada vez com mais frequência, e ver as
lágrimas da minha amiga me deixou ainda mais preocupada.
— Ele está bem, né? — perguntei.
Na televisão, os locutores começaram a falar ao mesmo tempo
e uma confusão se iniciou em campo. Mas não parava por aí, pois
ficou muito pior quando a câmera mudou para Dominic também
caído e imóvel.
— O quê? — murmurei, me aproximando da televisão. — O
que foi?
Ao redor dele começou a juntar um monte de jogador e
pessoas da equipe técnica, enquanto meu namorado estava deitado
de costas, com braços e pernas afastados e olhos fechados. Dava
para ver quando deram o zoom em seu rosto.
Foi a minha vez de começar a chorar e senti braços me
envolverem os ombros. Era Carlos que me puxava de volta para a
mesa, enquanto eu tapava o rosto.
— Diz que eles vão ficar bem, por favor — gemi, sentindo meu
rosto inundar com o choro e Joe apareceu no meu campo de visão,
segurando minhas mãos. — Ele morreu?
— Não, Norah — disse ele, mas seu semblante era de
preocupação. — Ele vai ficar bem.
— E o Peter? — perguntei, tentando passar as mãos pelos
meus olhos para parar as lágrimas.
Na televisão, um dos locutores perguntou para o outro se
Dominic Davis estava respirando. Foi a última coisa que escutei
antes de me curvar para a frente e vomitar toda a comida e o álcool
que ingeri.
Eu me sentei na escada do lado de fora da irmandade,
observando a praça mais à frente e apoiando minha cabeça nos
joelhos. Passava das onze da noite e não conseguia dormir porque
não tinha notícias de Dominic nem de Peter.
Depois que eles se acidentaram em campo, um alívio deve ter
tomado conta de todos os torcedores quando os locutores
garantiram que ambos estavam vivos. Eu vi Peter mexer as pernas
quando a maca chegou para buscá-lo, mas não notei Dominic fazer
o mesmo, o loiro ainda parecia apagado quando foi retirado de
campo.
Eu não conseguia parar de chorar quando meus amigos me
trouxeram de volta para casa e Aika se deitou comigo na cama, tão
triste quanto eu. Era inútil ficar tentando ligar para Dominic, pois
todas as minhas chamadas foram direcionadas para a caixa postal e
eu nem tinha o contato dos pais dele.
Seriam impossível dormir enquanto não tivesse notícias do
meu namorado, então deixei Aika no meu quarto e desci para pegar
um pouco de ar puro. Meu coração estava em frangalhos e eu não
fazia ideia de que era tão forte o amor que tinha por Dominic. Nos
segundos em que fiquei sem saber se estava vivo, parecia que
minhas forças se esvaíram do meu corpo e eu perdi meu chão.
Não sei por quanto tempo fiquei ali fora, mas a porta se abriu
às minhas costas e eu me apressei para enxugar o meu rosto das
lágrimas. Ouvi o barulho de passos lentos na minha direção até que
alguém se sentou ao meu lado, em silêncio, e soltou um longo
suspiro.
— Ele vai ficar bem.
Era Anna. Eu a encarei e a garota me lançou um olhar triste,
mas consolador.
— Você deve estar se divertindo com o meu desespero —
murmurei.
— Eu nunca estive tão triste em toda a minha vida — disse ela.
— De alguma forma, pensar que perdemos todos esses anos em
uma briga estúpida me magoa muito mais do que a situação em si.
Engoli em seco e abaixei os olhos. Havia um pedido de
desculpas preso na minha garganta, e eu sabia que precisava soltá-
lo para poder respirar de novo.
— Sinto muito. — Suspirei forte. — Não há nada que eu possa
fazer ou dizer além disso, porque você estava certa. — Encarei
Anna de uma vez. — A culpa foi minha. Não posso nem ao menos
culpar a Louise, porque fui eu quem decidi acabar com a nossa
amizade. — Enxuguei mais uma lágrima que escorreu pela minha
bochecha. — Você merecia mais do que isso. A gente merecia mais.
Anna lançou um sorriso triste, assentindo e olhando na direção
da praça iluminada.
— Nós éramos tão boas como amigas... — murmurou, rindo.
— Muito melhores do que como inimigas.
Eu sorri também, me sentindo ainda mais triste. Observei a rua
deserta àquela hora, pois não havia nenhuma festa acontecendo em
respeito aos rapazes machucados. As árvores balançavam com o
vento frio da noite que se aproximava e eu me encolhi com um
arrepio.
— Sinto muito por ter acabado com a nossa chance, Anna.
— Mas ainda dá tempo, não dá? — perguntou. — De
recuperar o tempo perdido.
Olhei para a garota ao meu lado, que mantinha o sorriso no
rosto. A verdade é que por mais que a gente brigasse, Anna sempre
parecia dar um jeito de se aproximar, nem que fosse para me irritar.
Era o jeito dela de se manter perto, mesmo que eu a repelisse. E
isso me fez sentir ainda mais culpa.
— Isso quer dizer que você me perdoa? — perguntei.
Ela deu de ombros, ainda sorrindo.
— Amigas brigam, não é? Isso foi só um desentendimento.
Eu ri. Eu realmente ri. Não achei que poderia encontrar
motivos para rir no meio de todo aquele caos, mas ali estava eu,
gargalhando.
— Um desentendimento de três anos — frisei, ciente de que
não foi só uma semaninha boba.
— Pelas minhas contas... — murmurou ela, encolhendo os
ombros e franzindo os lábios. — Nós temos pelo menos uns
sessenta anos de vida para compensar.
Eu encarei a garota ao meu lado com atenção, tentando
perceber se, por acaso, ela não estava sendo irônica. Então
comecei a chorar porque minha sensibilidade estava nas alturas.
Havia muita coisa acontecendo dentro de mim naquele momento,
muitas emoções confusas.
Senti seu abraço desajeitado e rápido antes que se afastasse
e soltasse um suspiro. Tratei de enxugar meus olhos mais uma vez
naquele dia horrível e respirei fundo.
— Dominic vai ficar bem, Norah — murmurou ela, acariciando
as minhas costas. — Foi só um susto.
Naquele momento, luzes fortes dos faróis de um carro que se
aproximava quase cegaram a nós duas e precisei desviar meus
olhos. Encarei meus pés descalços, deixando a minha mente vagar
de encontro ao meu quarterback, mas o automóvel parou na porta
da Zeta e uma pessoa que eu não conhecia saiu de dentro dele, se
virando na nossa direção.
— Você é a Norah? — perguntou a mulher loira, com
semblante abatido, mas muito bonita.
— Sim.
— Eu sou Shannon, a mãe do Dominic — disse ao se
apresentar, cruzando os braços como uma forma de abraçar o corpo
e dando dois passos na minha direção.
No momento em que ouvi o nome dele, eu me levantei e desci
os degraus com pressa, quase não conseguindo parar antes de
alcançar a mulher. Por um instante, pensei nas piores notícias que
ela poderia me dar, afinal, por qual motivo estaria ali?
— O que foi? — Comecei a chorar sem conseguir me
controlar. — O que houve com ele?
— Norah. — Suas mãos tocaram meus ombros. — Dominic
está bem, mas quer ver você.
— O quê?
Precisei piscar algumas vezes para me livrar de toda a
inundação em meus olhos e ouvi mais uma porta se abrir e fechar.
Henry Davis deu a volta pela frente do carro, amarrando o sobretudo
na cintura e parando diante de mim. Eu não esperava voltar a vê-lo
tão cedo.
— Vá calçar algum sapato e volte, senhorita Brown —
murmurou não tão simpático quanto a esposa. — Antes que eu me
arrependa disso.
Shannon virou o rosto para o lado e o lançou um olhar
assassino, fazendo com que o homem suspirasse e erguesse as
mãos em sinal de paz.
Eu não estava entendendo nada, mas decidi acatar a ordem
dele e corri para dentro da Zeta, pulando os degraus da escada de
dois em dois e invadindo o meu quarto. Estava de pijama e não
perderia tempo trocando de roupa, por isso, joguei um sobretudo
sobre meus ombros e calcei os tênis que já estavam perto da cama.
Aika acordou com o barulho e a movimentação no quarto e se
sentou na cama quando percebeu que eu estava de saída.
— Onde vai?
— Vou ver o Dominic — respondi, olhando apressada à minha
volta, até achar meu celular e o guardá-lo no bolso. — Não sei onde
ele está, mas eu vou. Voltarei com notícias sobre o Peter, ok?
— Como assim?
Eu não perdi tempo explicando mais nada para Aika porque
tive medo de os pais do loiro se cansarem de esperar e me
deixarem para trás. Mas o carro ainda estava lá, com os faróis
acesos, e os dois me esperavam do lado de dentro. Eu entrei com
pressa no banco traseiro e bati a porta, respirando com alívio.
— Nós estamos indo pra Atlanta?
— Não — respondeu a mãe de Dominic. — Ele e o Peter
Johnson já foram transferidos para cá de helicóptero.
— Como eles estão? — perguntei, me debruçando sobre os
encostos dos bancos dianteiros.
Eu sabia que Henry Davis me detestava e não tinha certeza
dos sentimentos de Shannon, mas naquele momento, pouco me
importava com nada daquilo. O pai do quarterback me olhava
constantemente pelo retrovisor interno enquanto dirigia, mas se
manteve calado.
— Dominic sofreu uma concussão leve, está fora de perigo,
mas será mantido esta noite no hospital em observação.
Uma concussão? Soltei o ar que estava prendendo e me
encostei no banco, fechando os olhos e evitando chorar. Se era
leve, não era grave, certo? Ele não ia morrer e essa era a melhor
notícia que eu podia ter recebido na vida. Muito melhor do que
quando eu soube da minha aprovação para a faculdade.
— O Peter sofreu uma lesão mais grave no ombro —
murmurou Shannon, suspirando. — Ainda não sabemos os
detalhes.
— Meu Deus... — Levei a mão à boca, aliviada por saber que
o problema dele era apenas no ombro, mas ao mesmo tempo,
preocupada porque entendia o que uma lesão podia significar no
futebol.
O carro voltou a ficar silencioso e eu passei os minutos
seguintes observando o casal. Não queria ter conhecido a mãe de
Dominic numa situação como aquela, preferia ter sido apresentada
num almoço ou jantar, qualquer coisa que não tivesse relação com o
estado de saúde de seu filho.
— Ele deve realmente ter chamado muito por mim, né? —
murmurei, olhando para Henry. — Para ter feito vocês virem me
buscar...
O pai me lançou um olhar azedo, mas a mãe se virou no banco
para olhar para trás e deu um sorriso meio triste.
— Antigamente, quando Dom se machucava, era para os
meus braços que ele corria — confessou, suspirando com um olhar
saudoso. — Agora, parece que há outra mulher mais importante na
vida dele.
— Ele é muito importante pra mim também — declarei,
sentindo meu peito inflar. — Eu amo o seu filho.
— Se amasse mesmo, teria deixado Dominic em paz.
— Henry! — Shannon ralhou, apertando o braço do marido ao
se virar de novo para a frente.
Eu dei um sorriso bem grande para ele, que me encarou pelo
retrovisor, mas não disse mais nada.
— Norah, sei que podemos ser um pouco controladores —
disse a mulher loira —, principalmente o Henry, mas sabemos que
nosso filho precisa começar a caminhar sozinho daqui pra frente, e
se ele escolheu você para ter ao seu lado, então vamos apoiar a
decisão.
Eu sabia que ela estava falando por conta própria, porque o
marido não apoiava coisa nenhuma. Mesmo assim, não importava
para mim. Eu não me assustava facilmente e Henry poderia me
olhar com a cara feia que fosse, pois não conseguiria me afastar de
Dominic.
A última coisa da qual eu me lembrava era de lançar a bola na
direção de Peter e sentir o impacto dos adversários que se jogaram
contra mim. Depois eu apenas abri os olhos e me vi dentro de uma
ambulância, com meu pescoço imobilizado e um dos médicos da
nossa equipe ao lado de um socorrista que nunca vi na vida.
Não pude falar porque estava com aquela máscara de oxigênio
no rosto e sempre que eu tentava levar minha mão até ela para
puxá-la, os dois me impediam. Jerome, nosso médico, me avisou
que eu tinha sofrido um desmaio e estava sendo levado para fazer
uma tomografia computadorizada e ser melhor avaliado.
Assim que me tiraram da ambulância escandalosa, minha mãe
surgiu ao meu lado com o rosto banhado em lágrimas, pegando a
minha mão e dando um sorriso triste. Meus pais sempre viajavam
quando os jogos não aconteciam no Alabama, então não me
surpreendi em vê-los por ali. Mas também percebi alguns flashes na
minha direção, além de muito burburinho, o que indicava que a
imprensa já devia estar toda na porta do hospital para cobrir notícias
do acidente.
As horas seguintes foram muito confusas. Eu preciso
confessar que não estava em poder de toda a minha capacidade
mental, vez ou outra me sentia um pouco tonto e minha cabeça
latejava na nuca. Me contaram que o impacto que sofri foi muito
forte e que se não fosse o capacete, eu podia ter sofrido um
traumatismo craniano. Aquela era a primeira vez em que me
machucava dentro de campo e via tanta gente preocupada com meu
estado de saúde, o que significava que devia ter sido muito feio para
quem assistia.
Pensar nisso fez minhas entranhas congelarem, pois sabia que
Norah estaria com os olhos grudados na televisão. Em dado
momento, quando tive um minuto de paz, sem nenhum médico em
cima de mim, olhei para minha mãe e perguntei:
— Cadê a Norah?
Ela lançou um olhar preocupado para o meu pai, que franziu a
testa para mim e se aproximou da cama, tocando minha perna.
— Filho, você está em Atlanta — explicou. — Como está se
sentindo neste momento?
Pelo visto, eu havia perdido a noção de tempo e espaço,
porque acabei me esquecendo de que não estava jogando no
Alabama. Olhei ao meu redor, procurando pelo meu telefone, pois
precisava ligar para tranquilizar Norah, sabia que a garota estaria
surtando.
— Onde está o meu celular?
— Suas coisas devem estar todas no vestiário — disse minha
mãe, levantando-se da poltrona e tocando meus cabelos. — Fique
tranquilo, não vão deixar nada seu para trás.
— O quê? Não posso ficar sem meu telefone esse tempo todo
— murmurei, sentindo a cabeça latejar e precisando fechar os olhos.
— Preciso ligar pra Norah.
A merda era que eu não havia decorado o número da minha
namorada, portanto, não adiantaria pegar o celular de um dos meus
pais emprestado, pois não saberia para onde ligar.
— Vocês precisam falar com ela — pedi, tentando me sentar.
— Avisar que estou bem.
— Dominic, tenha um pouco de paciência. — Meu pai me
impediu de levantar e eu me deitei de novo. — Você sofreu uma
concussão, não queira agravar o seu quadro atual.
Eu me calei porque sabia que não havia muito a ser feito e
fechei os olhos por alguns segundos. Sentia uma pressão de leve
na nuca e a dor de cabeça estava me incomodando bastante. Fora
isso, pelo menos, eu me sentia novo em folha, e ansioso para saber
como o jogo tinha terminado. Não me perdoaria se o Crimson
tivesse sido derrotado pelos idiotas do Tigers.
Cochilei, não sabia dizer por quanto tempo, mas as horas
seguintes foram bastante agitadas. Uma nova equipe médica
apareceu para me avaliar, depois fui colocado em um helicóptero
que funcionava internamente como uma UTI, então voei com meus
pais, Jerome e outros médicos, para o Alabama.
Pousamos no heliponto do hospital e logo fui abordado por
enfermeiros e médicos, todos falando ao mesmo tempo enquanto eu
era empurrado pelos corredores. Muito tempo e vários exames
depois, fui levado para uma suíte na companhia dos meus pais, que
conversavam em sussurros no sofá perto da janela.
— Vou ficar internado? — perguntei e os dois levantaram as
cabeças para me olhar.
— Os médicos querem que fique em observação, pelo menos,
por uma noite — respondeu meu pai. — É só por precaução.
— Ok. — Assenti, respirando fundo. — Busquem a Norah e a
tragam aqui.
Ele riu como se eu estivesse contando piadas e voltou a
conversar com minha mãe. Levei minha mão aos eletrodos em meu
peito e os puxei todos de uma vez, fazendo com que o aparelho
insuportável ao meu lado emitisse um sinal sonoro intermitente.
Os dois pularam do sofá e correram até a cama, ao mesmo
tempo em que enfermeiras invadiam o quarto, assustadas,
pensando que o paciente tinha sofrido alguma parada cardíaca.
— Dominic! — minha mãe resmungou, chocada com minha
atitude.
— O que pensa que está fazendo? — perguntou meu pai.
— Posso repetir isso a noite inteira se vocês não forem buscar
a Norah — avisei, sorrindo para os dois e piscando para as
enfermeiras, que se apressavam em grudar os aparelhos
novamente em mim. — A madrugada vai ser divertida.
Minha mãe sorriu e se aproximou, tocando meu ombro direito e
me olhando como se eu fosse um bebê. O que para ela, devia
mesmo parecer até hoje. As enfermeiras terminaram seus trabalhos
e saíram do quarto, nos deixando novamente sozinhos para que
meu pai bufasse e estalasse a língua bem alto para que eu o
ouvisse.
— Essa menina é tão importante pra você? — questionou
minha mãe.
— Ele só está obcecado por ela porque foi a primeira com
quem se deitou — declarou o idiota do meu pai, cruzando os braços.
— Agora que meteu os pés pelas mãos e perdeu a virgindade, faça
as coisas do jeito certo e experimente quantas outras puder, antes
de se prender a alguém que não tem nada em comum com você.
Estava pronto para respondê-lo, quando minha mãe se virou
de costas para mim e foi até Henry, apontando o dedo indicador
para o marido.
— Eu vou fingir que você não acabou de aconselhar o seu filho
a se tornar um cafajeste que sai transando com todo mundo só
porque é homem. — Ela me olhou por cima do ombro e arqueou a
sobrancelha. — Como a gente faz pra encontrar essa Norah?
— Shannon, por favor. — Meu pai suspirou e esfregou o rosto.
— Eu tive a oportunidade de conhecer a garota e te garanto que
você não a quer como nora.
— Sua raiva é porque ela não abaixou a cabeça diante do
poderoso Henry Davis, não é? — zombei, sorrindo para ele. —
Esperava que fosse crescer pra cima dela, mas encontrou alguém
que não o teme e tampouco o idolatra. Para que ambos saibam,
Norah e eu vamos morar juntos quando nos formarmos e ela vai me
seguir para onde eu for.
Acho que se eu estivesse sofrendo uma parada cardíaca eles
não teriam ficado mais em choque do que estavam naquele
momento. Os olhos da minha mãe se arregalaram em surpresa e
meu pai levou as mãos à cintura, abaixando e balançando a cabeça
em negação.
— Acho que... — minha mãe murmurou, ainda em choque. —
Bem, vou precisar conhecê-la, afinal de contas.
— Você não sabe o que está falando, Dominic. Acha que sua
vida será um mar de rosas quando sair da faculdade, garoto? —
Henry se aproximou da cama e apoiou as mãos no colchão. —
Ainda terá a pós-temporada pela frente e o Draft. E não pense que
irá chegar em seu novo time como se estivesse num acampamento
de férias. O período de testes e adaptação é intenso e vai deixá-lo
esgotado. Não terá McDowell pra alisar seus cabelos e dar tapinhas
nas suas costas. Você será apenas mais um entre tantos outros
talentos.
— Eu sei, pai. — Sorri para ele. — Você me fala todas essas
coisas desde que eu era bem mais novo. Foi pra isso que me
preparou, se não me engano.
— E acha que vai ter tempo pra brincar de casinha?
— Acho que sou homem o suficiente para decidir o que fazer
com a minha vida — respondi. — Norah e eu estamos namorando e
vocês têm todo o direito de não aceitar isso. Porém, eu também
tenho o direito de me afastar se a mulher que amo não for bem-
vinda entre vocês.
O rosto do meu pai ficou vermelho e eu sabia que, se não
fosse minha mãe se aproximando e apertando seu braço, ele teria
explodido ali mesmo. Ela, no entanto, era mais sensata, e se
inclinou para beijar a minha testa, com um sorriso tenro no rosto.
— Vamos procurar a Norah, querido — disse, por fim. — Sua
carreira não deve ficar acima da sua felicidade.
Eu não achava que meu pai concordava com essa declaração,
mas não me dei ao trabalho de questioná-lo. Apenas passei o nome
da irmandade de Norah para que fossem até ela e aguardei,
aproveitando o quarto silencioso após a saída deles, e cochilando
um pouco já que não tinha nada para fazer.
Quando despertei, pelo relógio de parede que havia no quarto,
consegui descobrir que tinham se passado uns cinquenta minutos
desde que fiquei sozinho, até o momento em que uma baixinha
magrela de rabo de cavalo passou pela porta, com os olhos mais
arregalados e assustados que jamais vi, também inundados de
lágrimas.
Sem modos nenhum, eu mal pisquei e Norah já estava
agarrada a mim, enchendo meu rosto de beijos enquanto segurava
minha cabeça entre as mãos.
— Oi — murmurei, sorrindo e ganhando um selinho antes de
sentir meus olhos serem beijados. — Ok.
Ela, por fim, recuou e me encarou, com os lábios trêmulos,
antes de me dar um tapa no peito. Vi meu pai tentar se aproximar,
mas minha mãe o puxou pelo braço e o manteve em rédeas curtas.
— Você não tem o direito de me assustar desse jeito! —
resmungou Norah, enxugando os olhos. — Achei que não fosse ter
notícias tão cedo.
— Tem noção de que acabou de bater numa pessoa
acamada? — perguntei, arqueando a minha sobrancelha para ela.
— Não seja dramático, o seu problema foi na cabeça —
retrucou, estreitando os olhos para mim. — Eu posso até chutar sua
canela.
Sorri, percebendo que senti muita saudade dela, pois tinha
viajado com o time um dia antes. Deslizei meu corpo um pouco para
o lado e abri mais espaço na cama, para que pudesse acomodar a
criaturinha pequena no melhor lugar de todos, que era dentro dos
meus braços.
— Deite-se aqui comigo, meu amor — pedi, observando-a tirar
o sobretudo e jogá-lo na cadeira ao lado da cama antes de subir no
colchão e revelar um conjunto preto de calça e mangas compridas,
com estampa de donuts. — Você veio de pijama?
— Lógico. Seus pais me tiraram da cama, estava dormindo
plenamente quando chegaram.
— Duvido — zombei, cutucando a orelha da garota. — Algo
me diz que estava em prantos, deitada no chão da sala, lamentando
a minha morte.
Norah riu, passando uma perna por cima da minha e apoiando
o rosto no meu peito. Meus pais tinham se sentado e enquanto
Henry digitava no celular, com uma expressão azeda, Shannon não
tirava os olhos de cima de nós dois, parecendo muito curiosa com a
nossa interação. Pisquei para minha mãe, que sorriu e piscou de
volta, então, beijei os cabelos de Norah e esfreguei meu pé no dela.
— Te amo — declarei, sentindo sua mão pequena sobre meu
peito.
— Também te amo. — Norah levantou o rosto e me encarou
de testa franzida. — Tem notícias do Peter? Fiquei de avisar pra
Aika.
— Como assim? O que houve com o Peter?
Eu me sentia sonolenta quando abri os olhos ao perceber que
estava segurando o pau de Dominic. Ele era meu namorado, não
seria uma situação absurda se não estivéssemos numa cama de
hospital. Apesar de as enfermeiras terem reclamado muito por eu
me deitar com ele, ninguém conseguiu nos separar, nem mesmo
seus pais, que não estavam no quarto naquele momento.
Ergui meus olhos para o loiro que sorria para mim quando
soltou minha mão, deixando-a ainda dentro de sua calça.
— O que pensa que está fazendo? — perguntei.
— Estou com tesão.
— Quem sente tesão dentro de um hospital?
— Com você do meu lado, eu sinto em qualquer lugar —
respondeu, mordendo o lábio.
O filho da mãe estava de pau duro e gemeu quando o apertei
de leve, descendo minha mão até suas bolas.
— Se eu for expulsa daqui, a culpa será toda sua e seus pais
ainda vão ter a certeza de que eu sou a pervertida.
— Mas você é — disse ele. — Acontece que eu acho que
também sou.
Puxei minha mão e a coloquei para fora do lençol, deixando
meus dedos bem longe daquele membro gigante.
— Eu não vou te masturbar aqui, Dominic, porque você vai
gozar e ficar todo sujo — avisei, suspirando quando ele me lançou
um olhar frustrado.
— Se você montar em mim rapidinho, eu gozo dentro.
Ninguém vai saber.
— Meu Deus, você se tornou um ninfomaníaco!
Ele riu, me olhando com cara de safado e levando a mão até o
pau. Soltou um suspiro, fechando e apertando os olhos, enquanto
fazia a minha calcinha molhar. Era muito difícil ver Dominic se
tocando e não me afetar nem que fosse um pouquinho, por mais
que estivéssemos em local público.
— Por favor, Norah...
— Não vou sentar em você — sussurrei com medo de alguém
passar no corredor e ouvir aquele absurdo, mas ergui o lençol e
encarei o pau bonito para fora da calça. — Ok, posso engolir, fica
mais fácil. Consegue ser rápido?
— Na sua boca é melhor ainda — disse Davis, alisando a
cabeça rosa.
Eu não era uma pessoa tão religiosa, sempre faltava às missas
de domingo. Por isso, tinha certeza de que todos os deuses e
santos me odiavam.
Um pigarro bem alto ecoou dentro do quarto e nós dois
soltamos o lençol rapidamente, levantando nossas cabeças para ver
Shannon e Henry parados na porta. A mãe de Dominic segurava um
copo de café na mão e o pai, carregava uma sacola que devia ter
comida dentro.
Claro que podia ficar ainda pior, porque quando percebi, o pau
do quarterback estava tão ereto que deixou o lençol branco armado
como uma barraca.
— Ahhhhh, eu sabia que isso ia acontecer! — Tapei o rosto e
pulei da cama, esbarrando em corpos pelo caminho na tentativa de
sair do quarto. — O filho de vocês é ninfomaníaco!
Nem tive tempo de calçar meus tênis, pois os tinha tirado para
me deitar com o loiro e, agora, estava no corredor de um hospital,
descalça e vestindo pijama. Larguei meu corpo numa poltrona
acolchoada porque o lugar era de rico e deixei meus ombros
desabarem. Os pais de Dominic já me odiavam, agora a gente tinha
dado ainda mais conteúdo para que planejassem meu sequestro
com passagem pra China.
Encostei minha cabeça contra a parede, pensando em como
era azarada. Tudo culpa do safado de pau grande que não
conseguia se controlar desde que perdeu o maldito cabaço. Estava
revoltada, praguejando mentalmente para que Dominic sentisse
coceira nos sacos, quando Henry Davis surgiu no corredor,
caminhando com meus tênis nas mãos.
Ele me encarou ao parar diante de mim e se abaixou para
deixar meus sapatos, antes de se virar de costas e voltar para o
quarto.
— Dominic puxou a mim — falou ao me olhar por cima do
ombro e entrar.
O que... Ele... Eca! Henry Davis tinha acabado de me contar
que era maníaco por sexo? Estremeci e abri a boca, colocando
minha língua para fora, com vontade de vomitar. A noite não podia
ficar pior.
Calcei meus tênis e aproveitei para andar pelo corredor até
onde eu sabia que ficava o quarto de Peter. O wide receiver também
tinha sido transferido e estava internado, mas ficaria mais tempo do
que Dominic, pois seu braço precisou ser imobilizado.
Meu namorado ficou chocado quando soube o que aconteceu
com seu melhor amigo e quis ir até ele, mas não deixamos. Peter
estava sob efeito de analgésicos muito fortes por conta da dor
intensa, mas felizmente, seu caso não necessitava de cirurgia.
Henry nos contou que se ele tivesse precisado operar, não se
recuperaria totalmente em menos de seis meses e isso acabaria
com suas chances no Draft.
O prognóstico dos médicos era otimista e acreditavam que o
jogador ainda conseguiria voltar para a pós-temporada, caso tivesse
uma boa recuperação.
Abri a porta do quarto dele e coloquei a cabeça para dentro
antes de sair entrando. A única pessoa no local era um dos médicos
do Crimson, que eu conheci quando ele foi conferir como Dominic
estava. Os pais de Peter já estavam a caminho, mas moravam no
Colorado, então era natural que demorassem a chegar.
— Com licença — pedi, entrando e fechando a porta. — Ele
ainda está dormindo?
O médico assentiu do sofá.
— Acordou uma hora atrás — respondeu. — Estava um pouco
confuso por causa da concussão e da dor, mas voltou a dormir.
Eu me aproximei de sua cama e depositei um beijo em sua
testa antes de sair do quarto e voltar para Dominic. Logo que tive as
primeiras notícias do estado de Peter, avisei Aika para que ficasse
mais tranquila e prometi que tentaria descobrir quanto tempo o
jogador ficaria no hospital e se ela poderia visitá-lo.
O quarterback e seus pais tinham engatado uma conversa
sobre futebol quando eu reapareci e os interrompi. Senti meu rosto
queimar por vergonha do casal e parei no meio do cômodo, sem
saber o que fazer. Então, Shannon pegou o copo que estava em
suas mãos quando chegou e esticou o braço para mim.
— Isso é um chocolate quente que trouxe pra você. — Ela
apontou para a sacola ao lado de Henry. — E tem donuts também...
já que você parece gostar deles.
Virei meu rosto na direção da cama, observando que o pau de
Dominic finalmente voltara ao estado normal de repouso e o filho da
mãe sorriu para mim como um anjo. Virei-me para os seus pais e
me aproximei, pegando o copo que me era oferecido e sentindo que
ainda estava quente.
— Obrigada — agradeci, indo até a sacola e a abrindo para
conferir o conteúdo. Escolhi um donuts rosa e o prendi entre os
dentes enquanto me aproximava da poltrona ao lado da cama.
— Então vocês vão morar juntos — comentou Shannon.
A afirmação fez com que um pedaço do donuts entalasse na
minha garganta e eu precisasse tossir três vezes para voltar a
respirar. Não sabia que Dominic tinha contado para eles e podia
imaginar como Henry tinha ficado feliz com a notícia.
— Hm, sim — respondi, querendo comer e não conversar.
— Seus pais estão sabendo? — perguntou a mulher. — O que
eles disseram?
— Meus pais são hippies — falei de boca cheia, azar, e fiz o
“v” de vitória com meus dedos. — Pregam a paz e o amor.
A gargalhada do jogador ecoou pelo quarto e no meu ouvido.
Os olhos de sua mãe se esbugalharam e eu imaginei que meus pais
não seriam mesmo o tipo de pessoa que faria parte do círculo social
dos riquinhos que comiam caviar no café da manhã. Eu não me
importava, e os conhecendo como eu conhecia, os dois tampouco
se importariam com o que o senhor e senhora Davis pensariam de
seu estilo de vida — ou de sua filha.
— Hippies... de verdade? — perguntou Henry.
Assenti sem muita vontade de conversar porque estava com
fome. Inclusive, gostaria muito de saber se alguém ia comer os
outros dois donuts que sobraram dentro da sacolinha.
Dominic ainda não havia parado de rir e eu percebi que nunca
chegamos a conversar sobre os meus pais. Apesar de que ele
também nunca perguntou. Mas Cassidy e Walter eram pessoas
muito normais e muito tranquilas, que sempre me criaram com muita
liberdade e eu era grata por isso. Dentro de minha casa, eu podia
falar abertamente sobre qualquer assunto e até andar pelada a
qualquer momento, assim como eles também faziam.
A gente sempre se comunicava desde que vim para a
faculdade, mas eles não eram do tipo de pais que enchiam meu
saco, ficavam preocupados por qualquer besteira ou tentavam me
controlar. Pelo contrário, estavam felizes que criaram uma filha e ela
finalmente saiu de casa para que pudessem fazer suas viagens
malucas e viver sem amarras.

Dominic não jogaria naquele sábado porque a equipe médica


não o liberou, alegando que uma semana não era tempo suficiente
de recuperação. Seria o primeiro jogo daquela temporada em que
ele ficaria de fora, mas estava surpresa em ver que o loiro tinha
levado a situação de forma mais tranquila do que imaginei.
Também era aniversário dele, estava fazendo vinte e três anos,
e eu tinha preparado uma pequena surpresinha para ele,
considerando que o time estava viajando e não teria festa na casa
do Mike.
— O que você guardou aqui dentro? Pedra? — perguntou Joe
ao tirar uma caixa do chão do meu quarto.
Ele e Carlos estavam ajudando a mim e Dominic com nossa
mudança. Ou melhor, com a mudança das nossas coisas. Como nos
formaríamos em alguns dias, mas o Draft só aconteceria quase no
final do primeiro semestre ano seguinte, havia essa lacuna em que
não saberíamos qual seria a próxima casa de Dominic. Portanto, ele
alugou um apartamento perto do campus, considerando que ainda
teriam os jogos da pós-temporada depois das festas de fim de ano.
Aquela seria a nossa primeira fase de testes como namorados
que moravam juntos e eu estava morrendo de ansiedade. Ainda
ficaria mais duas semanas na Zeta e ele, em seu dormitório, mas
nossa casinha já estava vazia e a chave, em nossas mãos.
— Tem livros, seu idiota — respondi ao Joe, dando um tapa no
braço dele.
Desci a escada da irmandade, sendo seguida pelo meu amigo,
e encontrei com Dominic na calçada. Por causa da concussão, eu o
proibira de pegar qualquer peso, e Peter também estava inútil com
aquele braço imobilizado na tipoia.
— Não podia ter pedido ajuda só pro Carlos? — perguntou o
quarterback, franzindo os lábios, com ciúmes.
— Seja gentil e educado — avisei, estreitando meus olhos
para ele.
Ele observou enquanto Joe se aproximava com a última caixa
e a colocava na mala da SUV. Ao meu lado, Peter passou o braço
livre pelos meus ombros e aproximou a boca da minha orelha.
— Você é muito corajosa em deixar esse pitbull raivoso muito
perto do pobre Joe — zombou antes de bagunçar meu rabo de
cavalo.
— Eu controlo a coleira do pitbull — respondi, acotovelando
suas costelas e me afastando. — Mas se continuar assim, talvez eu
tenha que comprar uma focinheira.
Dominic revirou os olhos porque tinha escutado e eu joguei um
beijinho no ar para ele. Peter gargalhou e eu fiquei feliz em vê-lo
mais leve. O jogador tinha chorado muito quando recebeu a notícia
de que ficaria de fora do resto da temporada e que, talvez, só
voltasse a jogar nas eliminatórias da pós-temporada. Foi horrível ver
aquele cara grande e brincalhão tão triste, e isso também afetou
muito o Dominic, afinal, além de serem melhores amigos fora de
campo, eles funcionavam como uma dupla perfeita dentro dele.
Peter era um dos grandes nomes do Crimson, o que significava que
sua ausência nos próximos jogos poderia prejudicar muito o time.
— Acabamos aqui. O que acham de fumarmos um baseado
pra relaxar? — perguntou Carlos, tirando sua caixinha do bolso.
— Depois que levarmos tudo para o apê, eu deixo você se
drogar. — Pisquei para ele e enganchei nossos braços. — Por
enquanto, você tem uma missão.
— Eu não estou carregando nada e nem vou jogar por muito
tempo — disse Peter, se aproximando do meu amigo. — Portanto,
aceito o baseado. Estou mesmo precisando disso.
Revirei meus olhos e puxei Dominic para entrarmos no carro
antes que eles jogassem fumaça nos meus cabelos.
O relógio marcava quatro da tarde quando o pessoal foi
embora, depois de nos ajudar a trazer os bagulhos de Norah — e
algumas coisas minhas — para o apartamento. De pé no centro da
sala que ainda não tinha nenhum móvel, eu abracei minha baixinha
pela cintura e tirei seus pés do chão, beijando sua boca macia.
— Enfim, sós — falei, me sentindo muito ansioso para
finalmente nos mudarmos. — O que acha de dormirmos aqui esta
noite?
— No chão duro?
— Eu fico no chão — retruquei, sorrindo. — Você pode dormir
em cima de mim.
Ela riu e se soltou dos meus braços quando seu celular tocou.
Norah correu para atendê-lo, pois estava carregando em cima da
bancada da cozinha de conceito aberto, e murmurou coisas que não
entendi antes de desligar. Lançou para mim um sorriso sem graça e
pigarreou.
— Joe esqueceu de me entregar uma caixa — avisou,
caminhando até a porta. — Vou pegar e já volto.
— Eu pego.
— Não! — ela gritou e apontou o dedo para mim. — Se você
ousar se machucar, o McDowell vai comer meu fígado cru.
Norah saiu rápido e bateu a porta, mas me deixou muito
desconfiado. Eu acreditava nela quando dizia que Joe era só amigo
agora, mesmo que ainda sentisse um ciúme um tanto descontrolado
quando via os dois juntos. Mesmo assim, aquilo foi estranho. Por
que o cara ligaria para que ela fosse buscar a caixa? Não podia
simplesmente tocar a campainha e vir aqui entregar?
Cogitei ir atrás dela, mas parei com a mão na maçaneta.
Precisava confiar na minha garota. Não era nada, apenas uma
caixa. Por isso, encostei-me na parede e enfiei as mãos nervosas
dentro dos bolsos do meu moletom, tentando ser paciente.
— Dominic! — Ouvi o grito dela no corredor e isso foi o
suficiente.
Abri a porta com pressa e saí do apartamento, sentindo meu
coração acelerar, para encontrar a garota tentando se equilibrar com
um bolo na mão esquerda e um embrulho gigante, quase da altura
dela, sendo amparado pelo braço direito.
— Surpresa — disse, choramingando, quando me aproximei.
— Droga, achei que fosse conseguir carregar tudo sozinha.
Eu peguei o embrulho, porque ela mal conseguia arrastá-lo, e
deixei que segurasse o pequeno bolo de chocolate com uma vela de
números dois e três na cor vermelha espetada no centro.
— Você preparou isso? — perguntei quando entramos e fechei
a porta. — Norah...
Ela soltou o bolo sobre a bancada e eu peguei seu rosto,
beijando a boca gostosa e a abraçando.
— Joe foi buscar tudo agora e eu não deixei ele subir —
resmungou, com os ombros caídos. — Droga.
— Mas não deixou de ser uma surpresa. — Pisquei para ela.
— Eu não esperava por isso.
Passei meus dedos pelo rosto delicado que me olhava com
admiração e pensei que não era possível amar ainda mais aquela
garota. Se eu pudesse, gostaria de reviver todos os nossos
primeiros momentos, só para ser eu a conquistá-la, e não o
contrário.
— Você achou que eu não fosse te dar nenhum presente? —
indagou, arqueando a sobrancelha. — Jura? Acha que ficaria atrás
dos seus pais? Eles provavelmente vão aparecer com algum carrão
hoje no jantar... Ou algo ainda mais caro.
— Posso abrir?
Virei-me para o embrulho que deixei encostado na parede e
senti os braços de Norah me abraçarem pelas costas. Ela murmurou
em confirmação e eu comecei a rasgar o papel pardo do objeto que
devia ter, pelo menos, um metro e vinte de altura. Aos poucos o seu
interior foi sendo revelado e meu coração se apertou no peito ao
identificar o que era: um desenho meu enquadrado e emoldurado
todo em vidro. Nele, eu vestia um terno preto, estava sorrindo e
segurando o Troféu Heisman, que era o prêmio dado àquele
considerado o melhor jogador de futebol americano universitário da
temporada. O meu objetivo, desde que entrei para a faculdade.
Meus olhos lacrimejaram com o presente inesperado porque
ainda faltavam algumas semanas para o vencedor daquele ano ser
anunciado, mas eu entendia o significado do desenho.
— Eu só adiantei o trabalho, porque sabemos que esse troféu
virá aqui para casa — murmurou Norah, parando ao meu lado. —
Talvez não tenha ficado perfeito já que eu nunca vi um desse
pessoalmente, mas baixei várias imagens do troféu e tentei fazer
uma reprodução fiel.
Ah, merda. Precisei enxugar meus olhos antes de pegá-la no
colo e apertar seu corpo pequeno em meus braços. Suas pernas
rodearam a minha cintura e senti seus lábios formarem um sorriso
enquanto a beijava.
— Nada precisa ser perfeito na minha vida — falei, olhando-a
nos olhos. — Porque sei que não posso ter tudo, afinal, já tenho a
garota perfeita.
— Então você gostou? — ela perguntou, com expectativa, os
olhos arregalados.
— Eu amei, obrigado — respondi, esfregando meu nariz no
dela. — Foi o presente mais incrível que ganhei na vida.
— Mais do que a minha bocetinha? — indagou, fazendo
beicinho e me arrancando uma risada.
— Não vamos exagerar. O quadro é legal, mas a bocetinha é
maravilhosa.
Apertei-a mais um pouco, sentindo meu pau se animar dentro
da cueca e pensei qual seria o melhor cômodo para estrearmos com
um sexo gostoso. Porém, Norah me empurrou e desceu do meu
colo, saltitando até a bancada da cozinha.
— Primeiro, vamos comer o bolo! — Ela olhou em volta e
suspirou. — Não acredito que eu não pensei em trazer uma faca.
Encarei o doce cheio de cobertura e imaginei como faríamos
para comê-lo. Mas durante os segundos que perdi tentando
encontrar uma solução, Norah simplesmente enfiou o dedo
indicador dentro do bolo, perto da vela, e o usou como uma
espátula. Era exatamente por coisas desse tipo que eu a amava.
— Como você não é muito fã de doces e comidas muito
gordurosas, não tem problema comer só um pedacinho —
murmurou, me entregando na mão um quadrado todo esmigalhado.
— Eu faço o esforço de comer o resto.
Sem cerimônia, a doida usou a mão inteira como uma pá e
pegou um pedaço gigante de bolo, se lambuzando toda ao levá-lo
até a boca. Norah costumava comer muito bem desde que a
conheci, mas ultimamente, minha namorada parecia faminta.
Fiquei a observando enquanto eu mastigava meu quadradinho
de dez centímetros de bolo de chocolate, muito desconfiado daquela
situação.
— Norah... Você não está grávida não, né?
— O quê? — A garota franziu a testa e abanou a mão livre. —
Claro que não, esqueceu que minha menstruação foi embora essa
semana?
Realmente, ela me deixou quatro dias sem transar por causa
disso, apesar de eu implorar para que considerasse fazer sexo
assim mesmo. De qualquer forma, peguei mais um pedaço pequeno
de bolo e deixei que se deliciasse o quanto quisesse.
Voltei ao quadro e o admirei mais um pouco, pegando-o com
cuidado e indo até o meio da sala para pensar onde o penduraria
quando a gente se mudasse. Acho que ficaria incrível na parede que
ficava próxima ao corredor dos quartos, pois ela era ampla e ali
batia iluminação natural.
Observei os traços do meu rosto e os detalhes do troféu, tudo
desenhado de forma muito meticulosa. Norah era uma artista
impressionante e eu queria que todo mundo pudesse ver aquele
trabalho.
A garota surgiu atrás de mim e segurou minha mão, me
puxando pelo corredor com um sorriso travesso, até abrir a porta do
que seria o nosso quarto e me surpreender mais uma vez. Havia
vários cobertores espalhados pelo chão, dois travesseiros e
algumas almofadas. Nas janelas, cortinas brancas tinham sido
penduradas para nos dar privacidade e a safada tinha mentido para
mim quando sugeri que passássemos a noite no apartamento.
— Como daqui a pouco precisaremos ir embora para nos
arrumarmos pro jantar com seus pais, vai ter que ser só uma
rapidinha — avisou, tirando a roupa sem titubear.
— Você anda muito misteriosa. Como conseguiu preparar
essas coisas sem que eu soubesse?
Ela piscou, puxando a calcinha pelas pernas, enquanto eu me
livrava da minha camisa.
— Eu tenho amigos muito maravilhosos que me ajudam em
tudo — declarou. — E o Peter roubou a chave do apartamento na
noite passada, quando você estava dormindo.
— Bom saber que ele tem talento para o crime.
Eu me aproximei e segurei a cintura fina da baixinha safada,
doido para chupar os peitos bonitos e durinhos. Deslizei minhas
mãos pela bunda de Norah, apertando-a com vontade porque eu
amava consumir tudo daquela garota.
— Hoje é seu aniversário, então preciso te dar muitos
presentes — murmurou, se ajoelhando diante de mim.
Suspirei quando as mãos pequenas alisaram meu abdômen,
desceram pelas minhas coxas e tocaram minhas bolas. Norah
segurou meu pau e o empurrou com delicadeza para cima, de forma
que pudesse encher a boca com meus testículos sem desviar o
olhar do meu. Precisei de muito autocontrole, porque poderia gozar
só com aquela imagem pervertida e deliciosa.
— Sei que não gosta de me machucar — disse, quase
ronronando, e me deixando alerta. — Mas quero tentar fazer
garganta profunda com você.
Só podia ter enlouquecido, porque meu pau era enorme e
sempre que Norah me chupava, eu temia que deslocasse a
mandíbula.
— Eu amo suas coxas grossas e cheias de músculos... —
murmurou, alisando a minha pele.
Ela passou a língua pela minha glande antes de colocar a
cabeça na boca e me engolir até a metade. Porra, porra... Eu tinha
péssima resistência quando se tratava de oral. Acabei cambaleando
até me encostar na parede e me segurei ali, levando uma mão até
os cabelos de Norah.
— Você vai acabar comigo um dia — comentei, sentindo meu
coração acelerado.
— Antes disso, que tal você acabar comigo, QB?
Sorri para a diaba que me olhava de forma intensa, vulgar e
excitante, lambendo meu pau de baixo para cima como se fosse um
picolé e levando uma mão até a boceta.
— Mete na minha boca, por favor, amor? — pediu, fazendo
biquinho.
A maluca colocou meu pau de novo na boca, me engolindo
aos poucos e me apertando entre os lábios. Massageou minhas
bolas com as mãos livres, causando-me arrepios intensos e mais
palpitação. Sentia meu membro pulsar e arder de tesão, e precisei
fechar os olhos para me controlar. O visual era algo que mexia muito
comigo, e se continuasse vendo o que Norah aprontava, só duraria
mais alguns segundos.
— Safada... — murmurei, molhando meus lábios ressecados.
— Que gostoso, Norah...
Ela me chupou mais rápido, passando a me masturbar ao
mesmo tempo, e eu acabei apertando meus dedos em seus
cabelos, pois precisava de um pouco mais. Senti que minha
namorada foi um pouco mais além e me levou inteiro para dentro de
sua boca. Precisei abrir os olhos e a observei com atenção, me
encarando e lacrimejando enquanto forçava meu tamanho todo.
Senti meus músculos das pernas contraírem com uma
excitação incontrolável e segurei sua cabeça, movimentando meus
quadris devagar para frente e para trás, fodendo a boquinha bonita.
Ela esboçou um sorriso e fechou os olhos quando seu corpo
estremeceu e suas mãos me apertaram, parecendo querer vomitar.
Um filete de saliva escorreu pelo canto de seus lábios e eu me
arrepiei quando o orgasmo me atingiu forte, me fazendo meter com
mais força em Norah, antes de perceber o que estava fazendo e
afastar o rosto dela. A filha da mãe abriu os olhos e deixou que eu
visse as lágrimas escorrerem, então colocou a língua para fora e
começou a lamber meu pau que ainda expelia um pouco de sêmen.
— Você é a pessoa mais louca que conheço — comentei,
pegando-a no colo com um braço e usando a mão livre para
enxugar seu rosto. — Nunca mais faça isso.
— É horrível. — Riu, toda babada. — Mas eu queria muito
experimentar com você. A vida é feita pra ser vivida, Dom!
Ela tossiu várias vezes enquanto eu a colocava sobre os
cobertores que substituíam uma cama e a beijei com carinho
quando parou, grudando meu corpo no dela e a encarando em
seguida.
— Quero experimentar tudo com você, Norah, mas não gosto
de fazer coisas que a machuquem, mesmo que seja consentido.
— É que eu sei que nada com você será ruim — disse a
garota, alisando meu rosto. — E eu amo ver você perder o controle,
ir um pouco além do limite.
Levei minha mão até a boceta que estava ensopada e
quentinha, enfiando três dedos de uma vez e a fazendo soltar um
grito inesperado. Movimentei-os lentamente no início e aumentei a
velocidade logo em seguida, deixando Norah enlouquecida com o
atrito intenso. Tinha aprendido que ela amava quando eu curvava os
dedos e os esfregava no ponto mais enrugadinho de sua vagina.
— Ah, Dom... — A garota fechou os olhos e lambeu os lábios.
— Me chupa também...
Desci minha boca até a bocetinha gostosa e deitei minha
língua sobre as dobras molhadas, batendo com ela no clitóris de
Norah e a fazendo se contorcer. O tesão que escorria de sua
cavidade ajudava meus dedos a deslizarem muito facilmente na
vagina apertada, o barulho alto e molhado de sexo ecoava pelo
cômodo vazio mais alto do que deveria.
O corpo de Norah estremeceu e suas pernas se sacodiram
contra os cobertores quando o orgasmo chegou. Ela curvou as
costas, puxando os tecidos grossos entre os dedos e empinando
mais os quadris. Eu me mantive fodendo sua boceta faminta e usei
a mão livre para dar tapinhas de leve nos lábios internos abertos,
até que a senti começar a relaxar e fui parando os movimentos aos
poucos.
Fiquei de joelhos e observei seu corpo bonito, alisando meu
pau duro e melado, ansioso pelo momento em que entraria ali
dentro. Pulei por cima de Norah e me deitei de costas, tocando os
cabelos da baixinha.
— Vem sentar em mim — pedi, ajudando-a a se levantar. —
Não pense que acabou, nada de cochilar.
Sorri para seu resmungo e pisquei quando encarou meu pau,
posicionando-a para se sentar de costas para mim. Norah encaixou
a boceta pequena até o fim, soltando um suspiro pesado, em
seguida, eu a puxei pela cintura e a fiz deitar de costas sobre meu
abdômen.
Preciso confessar que andava assistindo muito vídeo pornô
ultimamente, porque queria pegar ideias de posições e praticar
todas elas com Norah. Fiz a garota abrir bem as pernas e comecei a
meter devagar, com sua cabeça encaixada no vão do meu pescoço,
enquanto minhas mãos corriam pela barriga lisa e a seguravam nos
quadris.
— Meu Deus, Dominic... — ela murmurou, gemendo e
rebolando em meu pau. — Você está se superando...
Beijei o pescoço dela, alcançando seu clitóris que ainda
parecia sensível pela forma como tentou fechar as pernas. Usei a
mão livre para explorar os seios duros e excitados e gemi em seu
ouvido.
— Eu quero tudo de você, amor — falei, estocando com mais
velocidade e fazendo seu corpo quicar sobre o meu. — Quero toda
a sua boceta pra mim. Rebola, vai...
— Hm...
Norah choramingou, mas mexeu os quadris de encontro aos
meus, sem que eu parasse de empurrar meu pau dentro dela. Seu
corpo se contorceu, as costas ondularam, seus gemidos se
tornaram mais altos e se misturaram aos meus.
— Tô pronto pra gozar de novo — avisei, esfregando o clitóris
inchado com uma mão e roçando os dedos da outra pelos lábios
internos. — Mas quero que você venha junto.
Norah gritou e fechou as pernas, toda suada em meus braços,
e eu a fodi daquele jeito mesmo, apertada, empurrando com
dificuldade por dentro da sua boceta, até o mais fundo que
conseguia ir.
— Dominic! — choramingou, mas eu sabia que estava tão
enlouquecida quanto eu. — Mais rápido...
Quando voltou a abrir as pernas, meu pau deslizou com pressa
e eu aumentei a fricção das minhas duas mãos por toda a bocetinha
pequena. Comecei a gozar sem conseguir mais me segurar, e vi
naquele instante, Norah esguichar muito líquido translúcido para o
alto, como fez da outra vez em que ejaculou na minha boca.
Ela tremia o corpo inteiro sobre o meu, esmagando meu pau
que jorrava num gozo gostoso, e usei meus braços para apertar
firme sua cintura e a manter bem ali, rebolando e se contraindo em
cima de mim, até que nós dois relaxássemos por completo.
Se eu posso dar um conselho muito, muito importante para
todo mundo é: nunca, em hipótese alguma, deixem de usar a
camisinha. Usem preservativo. Sempre. Não confiem apenas no
anticoncepcional porque, bem... ele é um filho da puta que pode
falhar.
Acontece que eu não sabia que dava para estar grávida e
continuar menstruando. Também era possível estar grávida sem
sentir os sintomas de uma gestação. Olha que incrível, não é
mesmo?
Não.
Não mesmo.
De jeito nenhum.
Eu só fui descobrir que estava grávida de gêmeos duas
semanas antes da decisão do campeonato universitário, em janeiro.
Simplesmente porque Dominic ficou enchendo a porcaria do meu
saco, dizendo que meus peitos tinham crescido sem motivo algum
e, ao mesmo tempo, eu comecei a reparar que algumas calças e
shorts de modelagem mais justa não estavam fechando na minha
barriga. E tudo bem, ela estava um pouco inchada, mas eu jurava
que era por conta da comida, porque andava sempre com muita
fome.
Para tirar a ideia da cabeça do meu namorado, fiz o teste de
farmácia na frente dele e tomei uma rasteira da vida quando o
resultado foi positivo. Nós dois nos encaramos em silêncio por
alguns segundos, antes do quarterback me pegar no colo e começar
a pular comigo. Até então, eu nem imaginava que ele queria ser pai.
No dia seguinte, ele me levou para fazer o exame de sangue, o
qual saiu o resultado dois dias depois, indicando o que já era óbvio.
Nesse momento, eu começava a entrar em depressão porque me
achava muito nova para ser mãe. E muito pequena também. De
forma alguma eu poderia ter parto normal se o bebê puxasse o
tamanho do pai, pois ele me arrebentaria toda.
Então, quando chegou o dia da ultrassonografia e eu escutei
as batidas do coração, tudo mudou no mesmo segundo. Algo dentro
de mim pareceu se partir e me levou às lágrimas, acompanhando
Dominic que já entrou no consultório aos prantos. A surpresa veio
logo em seguida, quando a médica sorriu e nos parabenizou pelos
gêmeos.
Eu disse GÊMEOS.
Imagina você nunca nem pensar em ter um filho e, de repente,
descobrir que está esperando dois. Dois peitos para mamar, duas
fraldas para trocar, dois carrinhos, dois berços, dois choros, tudo em
dobro. Só que eu só tinha um homem para explorar quando não
quisesse me levantar no meio da madrugada. A conta não batia
desse jeito.
Com o passar dos dias, eu aceitei a surpresinha. A animação
de Dominic acabou me contagiando e me vi planejando nossa vida
inteira com ele, incluindo duas crianças e duas babás velhas — eu
não era otária.
No dia do jogo final pelo Crimson, o quarterback tinha algo a
mais para comemorar, afinal de contas. Eu me sentei no setor VIP
entre os pais dele, que ainda não sabiam de nada, e Aika, Carlos e
Alice, meus convidados. De todos os presentes ali, eu só tinha
contado para Aika, a quem logo convidei para ser a madrinha.
Volta e meia, durante a partida, eu me pegava levando a mão
à barriga quando Dominic entrava em cena e acertava algum lance.
Ele marcou três touchdowns contra o Georgia Bulldogs, com a ajuda
de Peter, que voltara ao campo dois jogos antes. E então,
finalmente, o cronômetro zerou anunciando a vitória do Alabama
Crimson Tide.
Eu chorei e gritei ao mesmo tempo, ficando de pé junto com
todo mundo e sendo logo abraçada por Aika. Aproveitei para chorar
por muitas coisas. Pela felicidade da vitória, por ver meu amor
conquistando algo pelo qual tanto lutou, por saber que estávamos
prestes a iniciar uma nova fase da nossa vida, e porque podia sentir
que dentro de mim, dois bebês estavam igualmente felizes.
Eu nunca vi tanta gente dentro de campo, uma festa
impressionante, com muita gritaria, muita música, muito choro para
todos os lados. Procurei por Dominic, que tirou o capacete e o jogou
no chão de qualquer jeito, então olhou exatamente na minha direção
e começou a correr. A minha respiração, que já estava ofegante de
tanto comemorar, ficou presa na garganta quando o loiro pulou as
grades da arquibancada e se enfiou no meio do público que tentava
arrancar um pedaço dele.
O quarterback estava subindo, pulando de banco em banco e
empurrando as mãos das outras pessoas que atrapalhavam seu
caminho. Senti meus olhos se inundarem quando chegou bem perto
com um sorriso lindo no rosto e um olhar apaixonado. A câmera do
telão acompanhava Dominic em sua escalada até mim e todo
mundo no estádio começou a assistir. O sorriso em seu rosto se
alargou quando o jogador segurou o meu rosto com as mãos e me
puxou para um beijo, ao mesmo tempo em que, ao nosso redor, o
estádio inteiro vibrava com gritos e assobios. O barulho da multidão
era ensurdecedor, mas o loiro me beijou com tanta intensidade que,
por um momento, pareceu que não havia mais ninguém por perto.
Eu estava completamente perdida e sem fôlego quando Dominic
recuou, se inclinou para a frente e depositou um beijo na minha
barriga.
Ao meu lado, a mãe dele soltou um gritinho, mas eu não pude
saber o que ela diria, porque seu filho me pegou no colo e andou
comigo pelo caminho correto, o das escadas, descendo de volta
para o campo.
Foi tudo uma grande loucura e, naquela noite, quando Dominic
foi entrevistado por uma repórter que o perguntou como se sentia
sendo campeão e segurando o troféu, a resposta dele foi:
— Eu vou ser pai!
Não era exatamente o que a mulher esperava ouvir, mas ela
acabou rindo porque não dava para ficar brava com um cara de
quase dois metros de altura, com um sorriso bobalhão, que gritava
para o mundo inteiro ouvir sobre sua recém-descoberta paternidade.
Agora eu estava aqui, com trinta e cinco semanas, me
sentindo uma rolha de vinho dentro daquele vestido longo e preto,
sentada ao lado do futuro papai, segurando sua mão enquanto
aguardávamos o início do Draft.
A cerimônia estava acontecendo em Las Vegas e eu talvez me
sentisse mais nervosa do que ele. Sabia que era uma bobeira
minha, afinal de contas, Dominic era o melhor dos melhores.
Primeiro, ele conquistou o Troféu Heisman em dezembro, seu sonho
de consumo, sendo eleito o melhor jogador da temporada, que
graças a Deus aconteceu porque senão eu teria que jogar fora o
quadro que pintei para seu aniversário. Depois, ele venceu a pós-
temporada e levou o Bama à vitória com um histórico impecável.
Agora, nós tínhamos ouvido muitos burburinhos sobre uma ou outra
equipe que tentara negociar trocas para pegar posições melhores
no ranking das escolhas, e eu tinha quase certeza de que uma das
trocas era por Dominic.
Olhei na direção de Shannon, Henry e Ashley, a irmã do meu
namorado, que era muito legal e eu conheci dois meses antes.
Estávamos todos ansiosos, sentados no teatro onde acontecia o
evento. Peter estava com seus pais uma fileira atrás da gente, pois
também era um dos nomes cotados.
Alisei a mão de Dominic e o observei todo bonito dentro de um
terno cinza impecável, com os dedos entrelaçados aos meus e os
olhos vidrados no telão. Os jogadores e suas famílias não ficavam
junto ao público que lotava o local, e sim, nos bastidores. Havia um
grande salão equipado para nos receber com elegância, com direito
a poltronas acolchoadas, serviço de bar e toda a imprensa reunida
ali para captar as primeiras reações dos escolhidos.
Eu não fazia ideia do tamanho e da importância do Draft, até
estar presente em um. Jurava que era algo que a gente descobria o
resultado pela internet ou através de um telefonema, mas na
verdade, era um evento transmitido para o país inteiro, que parava
para assisti-lo.
— Está nervoso? — perguntei, deitando minha cabeça no
ombro dele.
— Ansioso — respondeu, beijando meus cabelos. — Você e os
bebês estão bem?
Assenti pra tranquilizá-lo, mas a verdade era que tinha
começado a sentir umas fisgadas estranhas há pouco mais de
quinze minutos. O que eu faria? Não podia simplesmente dizer para
Dominic que havia alguma possibilidade de entrar em trabalho de
parto. Eu só estava com trinta e cinco semanas e minha obstetra
queria que eu chegasse, pelo menos, na trigésima sexta. De
qualquer forma, não podia atrapalhar o primeiro dia do Draft. Os
bebês — um casal para a nossa felicidade — estavam bem. Tinham
que estar.
— Quer que eu pegue alguma coisa pra você? — perguntou
ele em meu ouvido.
— Norah está se sentindo mal? — indagou Shannon, que tinha
se tornado uma babona mesmo antes de os netos nascerem.
— Eu estou ótima. — Sorri e respirei fundo.
Henry tinha se levantado, porque estava mais ansioso do que
o próprio filho, e se virou para mim, me observando em silêncio. Ele
estreitou os olhos e pareceu adivinhar que alguma coisa acontecia
comigo. Nós dois não tínhamos nos tornado melhores amigos, mas
desde o anúncio da gravidez, o homem vinha me tratando muito
bem, com educação e mais simpatia. Acho que percebeu que nós
dois só desejávamos o melhor para Dominic.
Sustentei seu olhar e encolhi os ombros, meneando a cabeça
discretamente para que não falasse nada. O ex-jogador suspirou,
levando as mãos aos quadris e olhando na direção dos sapatos.
— Espero que você seja uma das primeiras escolhas —
murmurou antes de voltar a se sentar.
— Quanto melhor o jogador, mais rápido ele é escolhido? —
perguntei para me distrair e fazer o tempo passar mais rápido.
Dominic negou com um gesto de cabeça.
— Não necessariamente. Depende do que o time que vai
escolher, está necessitando mais. Às vezes, estão de olho num
wide receiver, ou em alguém pra defesa. Como as equipes com
piores classificações na temporada passada são as primeiras a
escolherem, elas tendem a pegar jogadores que possam suprir suas
maiores fraquezas em campo.
— A não ser que haja alguma troca na escolha — interrompeu
Henry. — Equipes fortes podem surgir na primeira rodada se
quiserem muito um determinado jogador.
— É. — Dominic assentiu, encolhendo os ombros. — Tem isso.
Nossa conversa foi silenciada quando o apresentador deu
início ao grande show. Minhas mãos começaram a suar na mesma
medida em que eu passei a sentir as fisgadas, que logo entendi
serem contrações, em espaços mais curtos de tempo.
O público ovacionou quando a equipe Jacksonville Jaguars fez
a sua primeira escolha por um linebacker da LSU, que resultou em
muita comemoração de sua família. Os flashes estouraram sobre
ele enquanto abraçava os pais, então saiu do salão onde estávamos
e passamos a acompanhá-lo pelo telão, enquanto o rapaz percorria
um corredor iluminado com os emblemas de todas as trinta e duas
equipes da NFL, até parar para receber um boné e a camisa do
novo time, e partir direto para o palco.
Agora, meu coração parecia bater fora do peito, de tão ansiosa
que estava. Comecei a respirar mais profundamente, para controlar
as contrações, e soltei a mão de Dominic, temendo apertar seus
dedos e ele perceber que havia algo estranho acontecendo comigo.
Dois minutos depois, o locutor voltou ao microfone e anunciou:
— Com a segunda escolha no Draft de 2022 da NFL, New
England Patriots escolhe Dominic Davis do Alabama Crimson Tide.
— Eles trocaram! — Henry gritou ao pular da cadeira, com o
rosto vermelho e os punhos fechados. — Eles trocaram por você!
O público lá fora gritava enquanto Dominic, ao meu lado,
respirou fundo e virou o rosto para mim. Seus olhos estavam
marejados quando o abracei e comecei a chorar em seu ouvido.
— É o Patriots — ele murmurou, tremendo nos meus braços.
Shannon, Henry e Ashley se abraçaram e o pai dele logo o
puxou da poltrona, esmagando o filho num abraço, enquanto eu
tentava acalmar meu coração. Minhas mãos tremiam com a emoção
e eu só conseguia chorar, nem enxergava mais nada à minha frente.
— Eu sempre soube — murmurou Henry, ainda abraçado a
ele.
— Obrigado, pai. — Dominic sorriu e beijou a mão do homem
chato antes de beijar a mãe a irmã.
Então, ele se virou de novo para mim e se agachou diante da
minha poltrona, segurando meus dedos gelados e os beijando.
— A gente vai pra Massachusetts — disse, todo feliz.
— Nós vamos — respondi. — Inclusive, seus filhos que vão
nascer ainda hoje. — Seus olhos se arregalaram e eu abanei a mão
quando a família toda me encarou chocada. — Vá buscar o que é
seu e não demore.
Eu o empurrei de uma vez antes que cancelassem a escolha
dele e quando se levantou, Peter se aproximou e os dois se
abraçaram.
Mais tarde, depois que Dominic pegou seu boné incrível, sua
camiseta bonita, fez seu agradecimento no microfone, avisou que
estava a caminho da maternidade, e eu consegui parir meus bebês,
vieram me contar que o Patriots fez duas trocas com duas equipes
que tinham direito a escolherem antes. Uma delas, foi para pegar
Dominic a qualquer custo antes que outro time o escolhesse. A
outra, foi para garantir que Peter e o meu quarterback pudessem
jogar juntos novamente e mantivessem a dobradinha invencível.
Não soube o que o Patriots cedeu para as outras equipes em troca
desses privilégios, mas não deve ter sido pouca coisa.
Emma nasceu às dezenove horas e dezoito minutos, Jordan
chegou onze minutos depois. Ambos pareciam duas batatinhas bem
branquelas com uma fina penugem loira no alto da cabeça. Achei
triste ter carregado por tanto tempo e eles nem parecerem
remotamente comigo, mas eu sabia que os deuses não me
suportavam.
Com trinta e cinco semanas, os dois nasceram bem
pequeninos e precisaram ir direto para a UTI neonatal, mas
felizmente, eram saudáveis e estavam perfeitos. Aquele devia ser o
dia mais confuso da vida de Dominic, que parecia perdido sem
saber o que fazer. Não era para menos, pois mal tinha recebido a
notícia do Draft e já precisou correr comigo para um hospital que
nem estava em nossos planos para o dia do parto.
— Seus pais já estão a caminho, baixinha. Conseguiram pegar
um voo uma hora atrás, mas esperei você acordar pra avisar.
— Eles devem ter surtado em saber que os bebês nasceram
antes da hora — murmurei, preocupada.
— Eu os tranquilizei e falei que estão bem.
— Como está se sentindo? — perguntei para o jogador
sentado ao lado da minha cama, depois de finalmente ter
sossegado, pois ficou o tempo todo indo e voltando da UTI.
— Não deveria ser eu a perguntar isso pra você?
— Quero saber sobre o seu coração — respondi, esticando
meu braço para segurar a mão dele. — Como foi ouvir o anúncio do
seu nome mais cedo?
Dominic sorriu e alisou meus dedos, tomando um tempo em
silêncio e suspirando.
— Foi incrível — disse ele. — Eu ouvi os rumores sobre as
trocas, mas não vazaram detalhes a respeito. Não cogitava nada,
sinceramente.
— O Patriots é legal, né? — perguntei. — Pelo pouco que
estudei sobre o assunto, acho que sim.
Dominic riu como se eu tivesse falado alguma idiotice,
balançando a cabeça.
— É... Claro. — Encolheu os ombros. — É uma equipe
legalzinha, sabe? Uma das melhores.
Revirei meus olhos e me ajeitei na cama, sentindo muito
incômodo na barriga, agora que o efeito da anestesia não existia
mais. O loiro se apressou em levantar e mexer nos meus
travesseiros, pegando-me com delicadeza pelos braços e me
ajudando a erguer mais o corpo. Sua mão alisou meus cabelos
antes de depositar um beijo no topo da minha cabeça.
— Amo você, Norah. — Suspirou. — O Draft foi ótimo, mas
você me deu o maior presente de todos hoje. Emma e Jordan são
perfeitos.
— Você diz isso porque devem ser a sua cara — resmunguei.
— Acho que serão muito parecidos comigo e meu pai.
— Eu mereço mesmo. Espero que não tenham a mesma
personalidade dos dois.
Dominic voltou à cadeira e revirou os olhos, curvando-se para
não precisar soltar a minha mão. Ele estava tão feliz, que não tirava
o sorriso do rosto. Sabia que seria o tipo de pai babão que faria tudo
pelos filhos, assim como sabia também que jamais deixaria de
demonstrar o amor que não sentiu de seu próprio pai.
— Você fala isso, mas se apaixonou pelo meu jeitinho bem
azedo — murmurou, piscando todo sensual.
— Jeitinho? Eu me apaixonei quando senti que seu pau era
grande.
— É mesmo? E quando será que meu pau poderá fazer uma
visita pra sua bocetinha?
— Parece que a gente sempre chega no momento errado. —
Meu rosto virou na direção da porta e vi meus sogros ali de pé. Pior
que dessa vez, minha cunhada estava junto e ria da nossa cara.
Fechei meus olhos, lamentando não poder sair correndo
porque estava com a barriga cheia de pontos. Pelo visto, eu não me
dava muito bem com hospitais e precisaria evitar frequentá-los para
sempre, pois não aguentava mais vivenciar essas situações
humilhantes perante os pais de Dominic.
Henry pigarreou e se aproximou, caminhando até a janela e
olhando para o lado de fora, enquanto Shannon veio tocar meu
rosto e sorriu, parecendo emocionada.
— Meus netos são lindos, Norah. Tenho certeza de que você e
Dominic serão ótimos pais.
— Obrigada — respondi, quase chorando. — Ele já é o melhor
pai do mundo!
Meu namorado piscou para mim e um filme passou em minha
cabeça, relembrando o dia em que o conheci e pensei como era
carrancudo. Foi difícil quebrar aquela armadura que vestia, mas eu
tinha certeza de que faria tudo de novo se fosse preciso, porque
Dominic era a melhor parte da minha vida.
DOIS ANOS DEPOIS

Joguei um punhado de pipoca dentro da boca, o terceiro


pacotinho que eu comia aquela tarde, e o jogo nem tinha começado
ainda. Eu estava uma pilha de nervos porque era a final do Super
Bowl e o Patriots jogaria contra o Los Angeles Rams. Ainda faltavam
alguns minutos para os times entrarem em campo, mas eu já estava
morrendo de ansiedade.
Emma e Jordan ainda eram muito pequenos e choravam
quando estavam em um estádio barulhento, então ficaram aos
cuidados dos meus pais para que eu pudesse vir à final. A todo
instante eu conferia meu celular, nervosa porque raramente me
separava deles e sempre achava que iam precisar de mim.
Henry apareceu ao meu lado com os braços carregados com
tudo o que pedi: salgadinhos, refrigerante e alguns pacotes de
M&M’S. Havia também uma mão gigante de borracha, com o dedo
indicador levantado e o símbolo do Patriots desenhado nela, pois eu
tinha pedido para comprar pra mim.
— Finalmente! — Peguei a latinha de Coca-Cola e a abri. —
Você demorou uma eternidade.
— Não levei nem cinco minutos, Norah — resmungou o coroa
ao sentar entre mim e Shannon. — Vai passar mal com esse
nervosismo.
— Olha só quem fala — retruquei. — Você só está calmo
agora porque o jogo ainda não começou. E diferente de mim, devia
mesmo se preocupar com o coração, porque tem uns oitenta anos.
Shannon gargalhou porque era óbvio que o pai de Dominic mal
tinha chegado aos cinquenta, mas eu adorava tirar a paciência do
homem. Era uma piada interna. Ele me chamava de caótica e eu o
chamava de velho.
Nossa relação, apesar disso, havia melhorado muito desde
que as crianças nasceram. Depois do Draft, ele não era mais aquele
pai insuportável que não deixava Dominic respirar, e aceitou que o
filho precisava andar com as próprias pernas. Era chato e
controlador, mas aprendemos a conviver e nos respeitar. Aos
poucos, até fomos realmente gostando da companhia um do outro e
atualmente, quando o casal ia nos visitar, eu passava algumas
horas bebendo e jogando cartas com Henry.
— Por acaso você não está grávida de novo? — perguntou ele
para mim, ao me ver abrir o pacote de M&M’S.
Revirei meus olhos, porque dessa vez, eu tinha certeza de que
não havia essa possibilidade. Usava DIU e aprendi a controlar
perfeitamente a minha tabelinha para saber quando entrava no
período fértil, mas resolvi brincar com o idoso:
— Seu herdeiro não tem o direito de fazer mais nenhum filho
em mim — respondi. — Nem casados nós somos.
Ele sorriu e Shannon abafou uma risadinha estranha, mas não
dei muita atenção porque os jogadores entraram em campo naquele
momento. Olhei na direção da extremidade direita do estádio e
avistei Dominic logo à frente, caminhando ao lado de Peter.
No gramado, os dois times se posicionaram em seus devidos
lugares. Um silêncio ensurdecedor tomou conta de todo o lugar
enquanto esperávamos, ansiosos, para que fosse anunciado o início
da partida. Dois segundos depois, o relógio começou a rodar e
todos nós gritamos em êxtase.
Dizer que eu tinha virado uma fanática por futebol era pouco.
Depois de quase três anos vivendo sob o mesmo teto que Dominic
Davis, eu tinha aprendido a amar aquele esporte. Conhecia todas as
regras, todos os times, todos os campeonatos, e adorava
acompanhar meu amor sempre que os gêmeos me permitiam.
Tínhamos uma casa maravilhosa na cidade de Foxborough,
em Massachusetts, onde sonhávamos em criar nossos filhos.
Porém, na prática, meu namorado possuía uma vida quase nômade
por conta de tantas viagens durante as temporadas. Foi difícil me
acostumar com a ausência dele nos seis primeiros meses, porque
eu não podia simplesmente largar tudo e ir atrás, visto que nossos
filhos eram apenas bebês. Aos poucos, além de me acostumar,
tentava dar um jeito de deixar com algum casal de avós, que tinham
se mudado para a mesma cidade só para ficarem perto das
crianças.
— Não! — Os gritos ecoaram ao meu redor.
O Rams tinha marcado um touchdown e estava liderando o
placar. Eu me sentei, tentando me acalmar, mas não consegui ficar
assim por muito tempo, logo estava de pé novamente, xingando e
gritando. Enfiei mais um punhado de M&M’S na boca, muito
nervosa. Quando acabou, roubei o pacote de salgadinho de Henry,
que me olhou enfezado. Não podiam me culpar, estava quase
infartando ali. No último Super Bowl tinha sido exatamente assim,
ficamos atrás o jogo inteiro e acabamos perdendo por poucos
pontos. Eu me lembrava de ter sido uma grande decepção, pois era
o primeiro da carreira de Dominic.
Um breve intervalo se iniciou para que acontecesse a troca
entre os times de ataque e defesa de cada equipe, portanto, eu me
sentei, aproveitando o tempo para tentar me acalmar. Dominic e os
outros jogadores se reuniram na lateral do campo, e vi meu
namorado beber um pouco de água antes de colocar o capacete e
se fechar com a equipe, formando uma pequena roda.
Quando se posicionaram prontos para jogar, eu me levantei
novamente. Em algum momento, eles conseguiram virar o jogo,
fazendo toda a arquibancada tremer. Mas essa alegria demorou
para chegar porque Dominic estava sofrendo um bloqueio atrás do
outro e errando muitos passes.
Quando faltavam alguns segundos para o jogo acabar, ele
lançou uma bola perfeita na direção de Peter, que pulou e a segurou
como se fosse o objeto mais precioso do mundo. Não devia ter uma
única alma naquele estádio que estivesse respirando com
tranquilidade, fosse um torcedor nosso ou do time adversário. Todos
os olhos agora estavam focados nas pernas do wide receiver, que
driblava os gigantes que tentavam pará-lo.
Ele atravessou a linha três segundos antes do tempo acabar e
o grito entalado em minha garganta finalmente saiu. A arquibancada
inteira gritava em êxtase e os jogadores comemoravam dentro de
campo. Eu não tive tempo de ver mais nada antes de começarmos a
sair do camarote e sermos levados pelos seguranças através das
áreas internas do estádio até o gramado.
Lá embaixo a confusão era enorme, aqueles papéis picados e
coloridos voavam para todos os lados, mas quando avistei Dominic,
meu coração parou. No meio da multidão de jogadores, equipe
técnica, imprensa e familiares, estava o meu namorado com os
nossos filhos, segurando um em cada braço. Ele abriu um sorriso
gigantesco para mim e enquanto corria na sua direção, vi meus pais
num canto, com suas caras de safados que me enganaram
direitinho.
Ele deu um beijo na bochecha de cada criança antes de
entregá-las a Shannon e Henry, então me pegou no colo e me girou
no ar, segurando-me abaixo das axilas.
— Eu te amo, baixinha! — declarou, trazendo-me de encontro
ao seu peito e me beijando. — Eu te amo!
— Eu também! — Esmaguei seu pescoço. — Parabéns,
campeão!
Dominic me colocou no chão e eu ainda estava meio atônita
com tudo à nossa volta, pois nunca tinha pisado num campo em
pleno Super Bowl. Vi de relance o pai dele tirar algo do bolso interno
do paletó e entregar para o filho, que se ajoelhou na minha frente no
instante em que percebi se tratar de uma caixinha de veludo.
O meu coração foi parar no início da garganta e eu nem ao
menos esperei que Dominic abrisse para me mostrar o conteúdo,
apenas me joguei em cima dele.
— Sim! — gritei, chorando.
O quarterback não estava esperando pela minha investida e
acabou caindo comigo para trás no meio de toda aquela confusão.
Não sabia dizer se o público comemorava ainda a vitória ou se tinha
alguém nos filmando, porque os gritos aumentaram bastante, como
se fosse possível maior algazarra do que a de antes.
— Sim — repeti caso ele não tivesse escutado. — Sim, mil
vezes sim!
Dominic riu, me ajudando a levantar, mas voltando a se
ajoelhar, com uma sobrancelha arqueada. Ele ergueu a mão com a
palma virada para mim e sorriu todo lindo e gostoso.
— Você quer deixar eu fazer o pedido apropriadamente?
Sorri, sem graça, percebendo que sim, alguns jornalistas
estavam quase em cima de nós dois e meu rosto aparecia no telão
de alta qualidade. Justo no dia em que resolvi usar maquiagem
comprada em promoção. Mordi o lábio e respirei fundo, tentando me
controlar para não me jogar sobre o loiro de novo, antes que fizesse
o pedido.
— Norah Brown — Dominic murmurou, abrindo a caixa de uma
vez.
Puta que pariu! Quase mordi a língua quando vi a joia reluzir
bem na minha cara. Era um absurdo de linda.
— Você quer bagunçar a minha vida inteira para sempre? —
perguntou, sorrindo e piscando como um galã de cinema.
— Sim — respondi, esperando ter soado muito fina e elegante,
já que estava em rede nacional. — Não tem nada que eu deseje
mais nesse mundo.
Cuidadosamente, Dominic tirou o anel de diamante de dentro
da caixinha. Estendi a minha mão, que ele segurou com carinho
enquanto deslizava a joia pelo meu dedo anelar. Tão devagar, que
não combinava com o ritmo acelerado do meu coração.
— Posso me jogar em você agora?
Ele riu, abrindo os braços.
— Com toda certeza — respondeu com uma carinha de safado
que só eu conhecia.
Eu me lancei em sua direção, mas o filho da mãe não era o
poderoso quarterback do Patriots à toa. Ele ergueu o corpo, me
encontrando no meio do caminho, e conseguiu passar um braço por
trás das minhas pernas e me pegar no colo. Sua boca encontrou a
minha quando girou comigo no campo do Super Bowl e eu me senti
a mulher mais, sortuda, mais feliz e mais realizada do mundo.
— Agora você vai ter que me aturar pra sempre — avisei em
seu ouvido, depositando um beijo em sua orelha e o fazendo
arrepiar.
— Que Deus me ajude.
Normalmente, eu acordava feliz todos os dias, principalmente,
quando não estava viajando e podia abrir os olhos em minha cama,
ao lado da minha esposa. Mas hoje havia um clima mórbido no ar e
eu sentia que todas as flores da casa tinham morrido.
Despertei já notando uma dor de cabeça chata e bati o dedo
do pé na poltrona que ficava ao lado da cama. Passei a manhã toda
me sentindo mal e enjoado, sem conseguir achar nenhuma graça
das piadas toscas de Norah e desejando ter uma conversa muito
séria com ela. À noite, eu só queria poder matar alguém e
extravasar toda a raiva que sentia.
— Deixa de ser carrancudo, você não tem mais idade pra isso
— murmurou minha esposa ao parar com os braços na cintura e
revirar os olhos. — Dominic, é só um encontro inocente.
— Jura?
Eu estava prestes a abrir a boca e enumerar todos os
problemas que enxergava naquela situação, quando a campainha
tocou. Aos trinta e seis anos, eu nunca pensei que alguma coisa
ainda poderia ser capaz de me tirar do sério, porque costumava ser
um homem muito controlado. No entanto, não era todo dia que um
criminoso vinha à minha casa bater na minha porta.
— Entra, Joshua. — Ouvi Norah ronronar e me levantei,
cruzando logo os braços.
Cabelos pretos cheios de gel, jaqueta de couro, sorriso muito
fácil e estilo de bad boy. Era isso que eu enxergava no indivíduo
diante de mim.
— Olá, senhor e senhora Davis — murmurou o moleque de
treze anos. — A Emma está pronta?
— Joshua, você sabe bem quem eu sou, não sabe?
Ele arregalou os olhos.
— Claro que sim, senhor Davis.
— Sabe que tenho contatos na polícia? — perguntei, inflando
meu peito. — Sabe que conheço um diretor do FBI?
— Dominic... — Norah segurou meu braço e sorriu. — Por que
você não vai jogar videogame com o Jordan?
De jeito nenhum eu sairia daquela sala enquanto o moleque
abusado estivesse ali. Quem ele pensava que era? Qual direito
tinha de chamar minha princesinha para ir ao cinema? Ela só tinha
treze, repito, treze anos! Se tivesse puxado a mim, eu nem estaria
tão preocupado, mas Emma era a cópia da mãe. Tinha língua
afiada, era desbocada, abusada e sorria para qualquer garoto que
passasse na frente dela. Francamente.
Encarei Norah, que estreitou os olhos para mim, e virei o rosto
para ignorá-la.
— Jordan está jogando online com os amigos — respondi,
inventando uma mentira qualquer.
Nosso filho não dava nenhuma dor de cabeça, assim como eu
nunca preocupei meus pais. Ele não tinha vocação alguma para o
esporte, mas não me importava com isso. Achava incrível como era
inteligente e desenvolvia os próprios jogos com aquela idade.
— Oi, Joshua! — A voz de sereia alcançou os meus ouvidos e
meu coração parou.
Eu estava prestes a perder minha princesa. Ela cairia nas
garras do moleque atrevido.
Fechei os olhos por um segundo quando vi Emma descer a
escada saltitando, dentro de uma saia jeans e uma blusa preta que
até era normal, mas a saia...
— Suba e coloque uma calça agora — ordenei, parando ao pé
da escada e impedindo a passagem dela. — Se abrir a boca para
reclamar, não sairá desta casa.
— Pai!
— Pai — repeti, imitando-a e revirando meus olhos.
Emma soltou um gritinho irritado e eu sorri. Ela era linda, com
seus cabelos loiros, olhos verdes e lábios idênticos aos meus. A
minha verdadeira cópia, o que por muito tempo deixou Norah
frustrada.
— Sabe que eu te odeio, né? — resmungou, me dando as
costas e subindo enquanto pisava com força nos degraus.
— Sabe que eu te odeio, né? — repeti mais uma vez, achando
graça.
— Argh!
Quando ela sumiu, eu me virei de frente para Joshua, que
parecia ter visto um fantasma e abaixou rápido a cabeça. Minha
esposa estava ao lado dele, de braços cruzados e me encarando
com uma expressão feia.
— Joshua, Joshua... — Dei um passo adiante e grudei meu
corpo no do garoto. — Sabe qual o meu brinquedo favorito nessa
casa? Uma lâmpada de luz negra, que eu uso na minha filha toda
vez que ela chega da rua.
Norah revirou os olhos e tocou o ombro do garoto.
— Ele está brincando, Joshua.
— Será? — Arqueei minhas sobrancelhas e aproximei o meu
rosto do dele. — Sei onde você mora, ok?
O safado recuou um passo e engoliu com dificuldade, enfiando
as mãos nos bolsos.
— Eu... eu posso... deixar pra outro dia.
— O quê? — Apertei seu ombro e o mantive no lugar. — Está
cogitando dispensar a minha filha?
— Não! — respondeu, quase choramingando.
— Acho bom.
— Sabia que o meu pai pode lançar uma bola a uma
velocidade de cem quilômetros por hora? — Ouvi a voz do meu
campeão e me virei na direção da escada, vendo o garoto de
cabelos num tom de loiro escuro e olhos verdes descer os degraus.
— Imagina se ele joga a bola em cima da cabeça de alguém?
Pisquei para Jordan, que era meu parceiro na interminável
guerra contra Emma. Quando eu não estava em casa, ele era o
responsável por tomar conta daquela assanhada mirim e me
passava todas as informações por telefone. Ele também era
extremamente ciumento, até mais do que eu, por isso, parou diante
de Joshua e o encarou de cima, pois tinha puxado a mim no quesito
altura.
— Qual filme vocês vão assistir? — perguntou para o moleque.
— Acho que também quero ir.
— Você não quer não! — Norah o puxou pelos ombros e o
afastou de Joshua, que começou a suar.
— Estou pronta!
Precisei sair do caminho quando Emma desceu igual um
foguete e quase me atropelou. Dei uma conferida no novo look, uma
calça jeans muito justa que deixava o umbigo de fora. Ia reclamar
disso, mas pela forma como minha esposa me encarou, eu percebi
que se abrisse a boca, ficaria sem transar por um ano.
— Lembre-se do que conversamos, Joshua. — Pisquei para
ele, que assentiu. — Princesa, cadê meu beijo?
Ah, ela me amava. Não conseguia me odiar. Por isso, se virou
e revirou os olhos antes de ficar nas pontinhas dos pés lindos e
esticar os braços. Eu a peguei no colo mesmo com seus protestos e
ganhei um beijo carinhoso.
— Você está ficando muito rabugento e me envergonhando
toda hora — reclamou, sussurrando no meu ouvido. — A sua sorte é
que é o melhor pai do mundo.
Eu sabia que era. Sabia, nasci para isso. Lancei um olhar
assassino na direção do meu inimigo antes de soltar minha filha e
respirei fundo. Maldita hora em que permiti que Emma se tornasse
uma dessas líderes de torcida. Ela passou a desenvolver seu corpo
muito mais rápido desde que começou a se exercitar, e eu tinha
certeza de que Joshua tentaria passar a mão em sua perna em
algum momento durante a merda daquele filme.
— Preciso beber — falei quando eles foram embora, me
sentando no primeiro degrau da escada e segurando a cabeça com
as mãos.
— Você não bebe, Dom. — Norah afagou meu ombro.
— Vou começar hoje. Minha filha está em seu primeiro
encontro oficial. Acho que é um bom momento para me tornar
alcóolatra.
— Vocês são muito frouxos — murmurou Jordan, olhando pela
janela. — Não acredito que deixaram mesmo a Emma sair sozinha.
— Quando você fica todo cheio de gracinha pra cima da
Sophia, sua irmã não fala nada. — Norah o puxou para longe da
janela e estreitou os olhos. — Pare de ser igual ao seu pai e não
fique marcando território.
— Sophia não é a minha filha — intervi. — O Jordan está
totalmente certo.
O pai da outra menina que cuidasse da garota, não eu. Ela era
filha de Peter e Aika, tinha dez anos e era a melhor amiga de
Jordan. Eu sabia que os dois nutriam mais do que um sentimento de
amizade, mas meu filho insistia em dizer que não existia nada entre
eles.
— A Sophia não tem nada a ver com a Emma — disse Jordan,
suspirando e subindo a escada. — Minha irmã tem fogo no rabo, a
minha amiga é uma menina inocente.
Encarei Norah e arqueei minha sobrancelha para ela, pois o
garoto tinha razão. Respirei fundo, contei até dez e me levantei,
tentando não pensar mais em tudo o que podia acontecer dentro de
um cinema escuro.
Quando fiquei sozinho com minha esposa, passei meus braços
ao redor de sua cintura e sorri. Minhas mãos desceram até a bunda
durinha e beijei a ponta do seu nariz. O tempo tinha sido muito
amigo da baixinha, que não envelheceu absolutamente nada,
apenas ganhou um ou outro fio branco que ficavam escondidos
pelos cabelos escuros.
— Que tal você me fazer esquecer dos problemas enquanto
me dá a bocetinha?
— Não sei se está merecendo — murmurou ela, alisando
minhas costas.
— Por favor...
— Se me fizer gozar em um minuto com a boca, eu dou o que
tanto quer.
Encarei o desafio como um Super Bowl e a peguei no colo,
correndo escada acima para nos trancar no quarto.

FIM
Tudo bem?
Espero que tenha gostado o suficiente do livro para chegar até
aqui! Então, se gostou, que tal expor sua opinião para que outros
leitores possam se interessar pela história? É rapidinho, basta
deixar uma avaliação na Amazon em poucas palavras (ou muitas,
depende da sua inspiração) e eu vou ficar extremamente feliz
quando ler. Muita gente não sabe como a avaliação é importante
tanto para conquistar novos leitores como para incentivar a nós,
autores, escrevermos sempre mais.

Se você não curtiu o livro, tudo bem, acontece! Vou torcer para
que em outro momento encontre algum trabalho meu que te
conquiste para podermos mudar essa impressão ruim, ok?

Se encontrou algum erro de revisão durante a leitura, pode


reportar à Amazon que eles sinalizarão para que eu conserte. Ou
pode me procurar pelas redes sociais e falar diretamente comigo, eu
não mordo e sou muito tranquila com isso.

Obrigada!
AGRADECIMENTOS
Minha vida anda tão corrida que em meu último livro, eu
simplesmente coloquei os agradecimentos errados e nem notei.
Venho trabalhando muito para entregar cada vez mais conteúdo a
vocês, leitores, e preciso agradecer a Deus por sempre cuidar de
mim, mesmo nos momentos em que tenho certeza de que vou
falhar. Concluo mais um trabalho sabendo que dei o meu melhor e
coloquei meu coração nessas páginas.
Como sempre, cada história se torna um filho meu, e com Meu
Clichê Invertido não foi diferente. Meu primeiro romance new adult e
muitas expectativas (minhas e de todos, eu acho), mas não
esperava me apaixonar tanto por esse casal tão divertido. Eu espero
que ele tenha conquistado cada leitor que chegou até aqui.
Deixo um agradecimento especial às minhas parceirinhas Camila
Cocenza e Laryssa Gendri, que me aturaram durante toda a escrita
do livro e tiraram TODAS as dúvidas a respeito de futebol americano
que eu jogava em cima delas (e foram muitas hahahaha).
Aos meus leitores que me acompanham pelo Instagram, pelo
Wattpad, Facebook, que estão sempre por perto, obrigada! Aos
meus amores do Whatsapp, que me aturam, me zoam, toleram
meus sumiços, que gostam de me ver cantar, que mandam as
figurinhas e vídeos de putaria, obrigada. Vocês me movem e me dão
uma energia surreal, e fazem parte de cada lançamento.
Raquel e Geisa, podem comemorar, pois terminei um dia antes
hahahaha. Nem dei tanto trabalho dessa vez, né?
UM POUCO SOBRE MIM
Estou tentando descobrir até hoje. Incrível, não é? Mas a vida
é assim mesmo, uma constante evolução, mudanças e mais
mudanças, cicatrizes que vão formando nossa história e sonhos que
vão se renovando.
Eu comecei a escrever lá em 2008, quando me tornei uma fã
obcecada por Crepúsculo e passei a frequentar muitas comunidades
no Orkut (pois é, a idade não mente). Não demorou para que
decidisse me aventurar pelo universo das fanfics e tomei coragem
para criar as minhas, até que me vi ganhando certa relevância
naquela rede social e me animei a escrever as minhas próprias
histórias.
Foi daí que surgiu Fortaleza Negra, o primeiro livro que
publiquei por uma editora tradicional. Inicialmente era para ser uma
trilogia e só existia em formato físico, mas no meio do caminho eu
descobri o mundo dos livros digitais e me apaixonei. Passei algum
tempo trabalhando exclusivamente com literatura fantástica até que
decidi me arriscar a caminhar um pouco pelo mundo dos romances.
Foi um caminho sem volta e hoje não me vejo mais parando de
escrever o gênero, apesar de querer muito conciliá-lo com os
demais.
Nasci em 1983, faço aniversário dia 24 de agosto e sou uma
virginiana meio lá meio cá. Sabe? Aquele tipo de pessoa que se
adequa pela metade em seu signo. Por exemplo, sou muito
perfeccionista, neurótica com coisas desalinhadas, cores ou
padrões descombinados, excessivamente pontual e extremamente
analítica, meio chata com higiene e racional demais para
relacionamentos. No entanto, você seria capaz de se perder em
meu quarto de tão bagunçado que ele é, minhas roupas estão
sempre amarrotadas e sou uma das maiores procrastinadoras que
conheço.
Mas eu sou gente boa, juro que sou. Se me encontrar
pessoalmente, não pense que sou antipática, sou apenas tímida
num primeiro momento. Sou alguém que se for reconhecida na rua,
primeiro vai olhar para trás só para conferir se é comigo que estão
falando, depois vai ficar vermelha, e em seguida vai bater o maior
papo com a pessoa. Nas redes sociais tendo a me soltar muito
mais, então não estranhe se você acessar meu Instagram e achar
que sou louca, que ninguém mais ou menos normal pagaria metade
dos micos que eu pago. Sou bem aleatória e posso falar sobre
cachorros e gatos, sobre músicas antigas, mecânica de carro, soltar
minha afinação no seu ouvido ou sei lá, postar uma foto de alguma
comida bem gordurosa. E isso tudo pode acontecer só num único
dia. Ou eu posso simplesmente sumir por uma semana porque deu
vontade ou porque estava com a energia baixa. Todos nós temos os
nossos momentos bons e ruins.
Tenho tatuagens, moro no Rio de Janeiro, não sou muito fã de
praia, tenho certeza que sou um unicórnio e nunca passo muito
tempo com o mesmo corte ou cor de cabelo.
Acho que deu para me conhecer um pouquinho, mas se quiser
saber mais, eu estou sempre disponível nas redes sociais. É só
clicar e começar a me seguir!
Um beijo!


Instagram
@kelcosta.oficial

TikTok
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Último lançamento:

Seduzida pelo safado irresistível


Livro Único
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Sinopse
ENEMIES TO LOVERS E AGE GAP REUNIDOS

Uma carioca exuberante que adora funk.


Um goiano milionário que é um famoso cantor de uma dupla
sertaneja.
Ele não faz muito o estilo dela.
Ela é proibida para ele.
Um romance "enemies to lovers" que fará com que duas
pessoas de estilos diferentes se atraiam irreversivelmente.

Melissa é uma jovem que cresceu no Rio de Janeiro, criada


pelo pai viúvo ao lado do irmão mais velho, que se torna empresário
de uma das maiores duplas sertanejas do Brasil. Quando ela volta
de um intercâmbio nos Estados Unidos e vai morar com seu irmão
em Goiânia, sabe que terá que se adaptar ao novo estilo de vida
dele. A jovem passou a vida frequentando bailes funks e rodas de
samba, por isso, sertanejo é um dos poucos gêneros musicais que
ela detesta. Então, conhecer o poderoso Mateus da dupla Mateus e
Rafael não a faz se sentir diferente, mesmo que o cantor sempre
destrua todas as calcinhas das mulheres que frequentam seus
shows.
Mateus recebeu um único aviso de seu empresário, quando
soube que a irmã caçula dele iria morar em Goiânia: "fique longe de
Melissa porque ela não é para o seu bico". O problema é que a
garota é muito bonita e o cantor, um grande cafajeste. Ele tenta lutar
contra seus instintos o máximo possível, mas toda vez que Melissa
sorri ou requebra a bunda mágica, Mateus cogita passar por cima
de sua promessa.
A garota sabe que é irresistível com suas curvas, pele morena
e olhos verdes, e usa todas as armas que possui para deixar o
sertanejo louco da cabeça.
Mateus é expert no jogo da sedução e só precisa lançar um
olhar certo para ter a mulher que desejar na cama, porém, com um
microfone nas mãos, ele se torna indecente e irresistível. Qual dos
dois será que vai cair primeiro nessa batalha?

ATENÇÃO: livro recomendado para MAIORES DE 18 ANOS.


Tenho outros livros publicados na Amazon,
confira:

MISTER SEX

Como (não) se casar com um CEO

Segredos de uma escritora virgem e apaixonada

A Garota Deles

ZOMBIE

Garota de Aluguel

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[1]
É o recebedor. São jogadores que se deslocam em rotas após o início da
jogada para receber passes dos quarterbacks. Um bom WR normalmente é alto e
ágil, para poder ganhar dos defensores no alto e na explosão do início da jogada.
[2]
É o líder da equipe e o cérebro do time. Um dos responsáveis pela organização
das jogadas de ataque, é o jogador que faz passes e distribui as bolas nos
movimentos ofensivos. Deve analisar a defesa adversária, para decidir qual
jogada será feita.
[3]
Time (ou equipe) de futebol americano da Universidade do Alabama.
[4]
Ser escolhido para jogar por uma das 32 equipes da liga profissional.
[5]
Sigla para National Football League, que é a liga esportiva profissional de
futebol americano dos Estados Unidos.
[6]
É o processo seletivo em que as equipes profissionais da NFL escolhem
jogadores novos, vindo do futebol americano universitário, para o seu elenco.
Esse mesmo processo acontece em outras ligas norte-americanas, como a NBA.
[7]
College Football é o futebol americano universitário.
[8]
“Bama” é o apelido que os torcedores usam para se referir ao Alabama
Crimson Tide.
[9]
Tática de defesa que visa dificultar o passe adversário, atacando e
pressionando o quarterback.
[10]
É a descida em direção à endzone adversária, com o objetivo de avançar 10
jardas e manter a posse de bola.
[11]
É a principal pontuação do futebol americano. Acontece quando uma equipe
chega à endzone com a posse da bola. Vale 6 pontos e uma tentativa de extra
point.
[12]
Significa impedir o avanço do ataque adversário derrubando o jogador que
estiver com a posse da bola.
[13]
Esses jogadores se posicionam algumas jardas atrás da linha, para parar o
jogo corrido e os passes curtos.
[14]
O Troféu Heisman é um prêmio anual de maior prestígio, dado pela Heisman
Trophy Trust, para o melhor jogador da temporada do futebol americano
universitário.
[15]
O espaço após a última linha do campo, onde os jogadores devem entrar com
a bola para marcar um touchdown.

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