ae Capiruto I
PROFISSOES: AUTONOMIA E CONTROLE BUROCRATICO
Para efeito de melhor sistematizacao do campo tebrico, meu pon-
tode partida 6a contiibuigio dos funcionalistas para o estudo das profis-
des, pois foram os soci6logos funcionalistas americanos que delinearam
esta rea de investigacdo a partir do final dos anos 30. De fato, em 1939
Talcott Parsons publicou seu famoso ensaio sobre as profissdes em ge- [Mf
ral, a0 qual se seguiram seu estudo sobre a medicina no The Social System,
|, € sobre as profissdes de direito, em 1952; em 1968 ele voltari
ma num verbete preparado para a International Encyclopedia of
l Sciences, organ:zada por Edward Shills. Raramente citado nas bi- [%
bliografias especificas, também oestucio de Merton (1963) sobre os “in-
telectuais como categoria ocupacional”, publicado em 1945, comparti- (agg
tha com os de Parsors das mesmas preocupasdes.
Para os funcionélistas, o problema central era demonstrar comoos [|
valores associados ac desempenho dos “papéis ocupacionais” estavam |p
integrados ao sistema valorativo da sociedade e em identificar as fun-
‘ses que estes papéis desempenhavam para o sistema social mais am-
plo. Entretanto, come identificar as “profissdes” como categoria ocupa
ional distinta? Quais caracteristicas distinguiam as profissdes das ocu
foi gerada toda uma tradigao especifica de pesqui
sa voltada para iden‘ificagio indutiva de atributos definidores de toda
qualquer profissao. E desse “problema de definigio” na vertente tesrica
lo funcionalismo quetratarei em seguida, isto porque o conceito deauto-
omia profissional & certral nesta tradigao e tem posicio estratégica na ex-
osicao do meu propro argumento. Exponho também os limites e defict-
éncias desta vertente pelo recurso a estudos de natureza macro-histériea
que apontam para a associacio intima entre o desenvolvimento de certas
Profissdes (sobretudo medicina e direito) em sociedades particulares —
Estados Unidos e Inghterra - e a concepcao funcionalista-atributiva de
“profissiio” como irremediavelmente etnocéntrica.ia de pesquisa de carter
‘em determinar, como fazem
‘silo através de atividades particulares e quais as conseqiiéncias disso
fa forma em que véem a si mesmos e sobre seu desempenho.
eEntretanto, mesmo esta estratégia metodoldgica daria resultados
2emiticos visto que, em sociedades complexas como as do nosso
ep, Varios grupos ~ 05 membros das varias ocupacdes, os agentes do
war que virtualmente todos os principais estudiosos conc
use uma definigao, “minima” devera fazer referéncia as profissOes
+ : ocupagdes nao-manuais que requerem funcionalmente para seu
sicio um alto nivel de educagao formal usualmente testado em exa-
> confirmado por algum
Was sociedades modernas contemporanea:
I” significa educagio de terceiro grau
instituigdes unive “credencial
fuploma. Mas ¢ pre
Hla um desses termos variam
lObtida esta definicao operaci
bacima anunciada.
(orias atributivas-funciolistas: autonomia
}Oa perspectiva funcionalista, a posigao de importancia das profis-
fsa sociedade industrial moderna 6 tinica. Nao é o capitalismo ou a
livre empresa que constituem as caracteristicas mais salientes destas so
ciedades, masa emergéncia dos grupos profissionais. Para Talcott Parsons
parece evidente que muitas das caracteristicas mais importantes de nossa
sociedade so em medida CO ivel dependeentes do funcionamento
‘adequado das profissoes” (1964; 34). Em particular, os profissionais $40
(os portadores por excelencta dos Valores racionais do conhecimento cr
‘entifico e tecnologico, damodema versao da autoridade fundada na com
peténcia técnica funcionalmente espe pedo universatismo que Con”
a 0s funcionalistas em que as profissées modernas
‘tio orientadas para oservico da coletividade, equenesta fungioa“pri-
‘mazia da racionalidade co} iva” significa adicionalmente a énfase na
dimensio técnica do desempenho com exclusdo de condicionamentos
‘extracognitivos (por exenplo, origem social da clientela) o, argue
mentam que o retorno monetario e simbélico que 0s p' ais rece-
em pela prestacio de seus servigos nao tem o significado ‘econémico
‘convencional de remuneracdo num “mercado”, mas sim de reconheci-
‘mento da importante fangio que desempenham.
‘Na terminologia ‘uncionalista uma profissio é um agrupamento
de papéis “ocupacionais"” que se distinguem por determinados elemen-
icos. Parsors, por exemplo, enfatiza a importancia da res-
ponsabilidade fiducidsia do profissional ipico (aquele qualificado para
jonal ¢ portanto treinado através de um processo de
1968). Em sintese,
do,seu dominio
iécnico” em.
bilidades necessArias a sua aplicagio.
‘elementos paca supor que Parsons tinha em mente 0 dircito ¢ a
10 definir as tragos centrais de uma “profisstio” reconhecendo,
nitro lado, 0 caréter fluido e indistinto das fronteiras profissionais: aAinda na vertente de andlise funcionalista Bernard Barber, na sua
‘Hlefinigdo de “profissio”, ressalta o alto grau de conhecimento generali-
wszado e sistemat m como 0 altruismo expresso na orientagio
ara 0 interesse da comunidade antes do que
(do profissional). Até mesmo interesses in-
mo 0 sistema de recompensas ~ monetdrias
sl:honorérias ~ s80 considerados um conjunto de simbolos de exceléncia
o1rofissional e, portanto, fins em si mesmo e nao meios para a consecu-
‘Bao de interesses individuais. A sua énfase na autonomia profissional é
tslaramente visivel através da importancia que atribui ao alto grau de
‘uutocontrole do comportamento através de cddigos de ética internalizados
00 processo de socializacao no trabalho, ¢ através de associagées organi-
bmadas e operadas pelos préprios profissionais (1963: 671).
Sao inimeros os exemplos na literatura pertinente destes esque-
ssaas de “definicéo por atributos” € nao hé necessidade de listé-los*;
‘terifica-se, entretanto, um considerdvel grau de superposicao entre eles
1 forma a permitir a definigao de um niicleo de atributos mais ou me-
208 constantes e que seriam: a existéncia de um corpo de conhecimento \
Anficientemente abstrato e complexo para requerer um aprendizado |
sermal prolongado; uma cultura profissional sustentada por associ
2eies profissionais; uma orientag&o para as necessidades da clie1
service orientation) e um cédig
mat
de ética.
| 1968; Moore, 1970) estes elementos
‘te atributos, e estariam distribuidos ao longo dos valores de uma escala
'p qual uma ocupagio pode atingir diferentes niveis de“ profissionalismo”,
‘se acordo com esta concepgio, profissionalismo é um problema de grau
alle consisténcia entre os diversos elementos; e uma ocupacdo pode se
vvover tanto para o pélo de menor quanto para o de maior profissionalismo
‘ol longo do continuo compasto pelas varidveis definidoras.
Da perspectiva das teorias atributivas-funcionalistas estas carac-
\elisticas formais das profissdes tém em conjunto a fungio de garantiro
Untrole ocupacional - autonomia e auto-regulagio; no caso da medici-
4. por exemplo, controle sobre o treinamento dos médicos, sobre 0
que os médics legitinamerte exrcem sebreoclente -e em seu bene-
ficio~em viruide do contecimento espealizado que detém*. Por.
processo de.con-
“sohdagio dast “assimetria da especialiacio", processo este que, na
versio forte da teoria, implica uma orden cu equ Ide
xentas Porexemplo para Caplow (1966Jactagio de associagGes pro- ji
i 0 primeiro eventa seins, dado que nao seria pos-
,0 pleno desenvolvimento das carac-
issées seia akangado por ocupagdes
quechegamo 7
primera ~clssica ~ versio empiria oi deterninada por Wilensky,
‘Através de extensa pesquisa 0 autor observou
cupagio se torna um trabalhode empo int;
tabelecas gras de comportamento
« deconduta profissional ~ um cdigo de ica - para regular as rela-
‘gbes do profisional com seus clientes e com seus pares. s
so do proceso de profissionalizagao espe-
‘uma série de caracteristicas ou atributos considerados inerentes e Tig
importantes para 0 desenvolvimento e a modemizagao da sociedade.
comessasteoriesé-que crirautor pode acrescentar a
* ou, en trmos mais gerais, a“
ignlaorequisito funciCritican:+ eprciimente as conclusdes
so as qualidade inns ao conhecimento
__fissional que aitonomamente determinam as fort
= orgatzasoe paca da Pro su
ricas segundo as quais
‘de forma crucial as formas possiveis de
eristalizado no séc. XIX, e por isso mesmo incapaz de dar conta de
fenémeno tipico do séc. XX como o desenvolvimento das profis-
\; e sua crescente importancia estratégica nas sociedades modernas:4s profissio
Uco si
> prop!
0 sio nem %
’- Certamente no
bros dos pequenos grt
sOes Ndo Sao classenem
* categoria de “papéis
iferencialmente gratifi-
mas adaptativos
ima hierarquia
ages”, das quais
idades bésicas
“ede“estrutura
1990:25}- A adogao
nte para
sse”: para
dos nos ni-
fe nas socieda-
Murphy (1984), as
pphy-a postular a existéncia de uma classe dominant
ma dominada ~ 0 protetariacdo=
{elas formas derivadas e contingentes de exclusdo que fragmen-
{as duas classes principais (p, 563). Sendo este 0 caso, onde situam-
} profissionais? Segundo Murphy eles ocupam uma posigdo tinica
m suas crédenciais e-compéténcias:
“Os profissionais for}
‘sua prdpria base original de poder, recompensas e privilégios q
stingue do proletariado; mas esta base nao 0s prové com recursos | (
classe dominante.
issional e, de outro, o Estado
{processos distint
Eles criaram seus proprios ni
ntre profi
pel dominante através
lises separa
», Qautonomia
como se se ed
adintensito—
yes. como condi=
io do Estado comoa
onde ela existe”desde o séc. XVIIl,
abalho e de re-
is. Neste caso, a8