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Pacto Nacional
pela Alfabetização
na Idade Certa
PLANEJANDO A ALFABETIZAÇÃO
E DIALOGANDO COM DIFERENTES ÁREAS
DO CONHECIMENTO
Ano 02
Unidade 06
Brasília 2012
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
Secretaria de Educação Básica – SEB
Diretoria de Apoio à Gestão Educacional
ISBN 978-85-7783-111-1
CDU 37.014.22
_______________________________________________________________________________
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO BÁSICA
Esplanada dos Ministérios, Bloco L, Sala 500
CEP: 70047-900
Tel: (61)20228318 - 20228320
Sumário
PLANEJANDO A ALFABETIZAÇÃO
E DIALOGANDO COM DIFERENTES ÁREAS
DO CONHECIMENTO
Iniciando a conversa 05
Aprofundando o tema 06
Planejar para integrar saberes e experiências 06
Projetos didáticos:
compartilhando saberes, compartilhando responsabilidades 14
Compartilhando 31
Planejamento do ensino: Alimentação saudável? Hum! Faz bem! 31
Aprendendo mais 41
Sugestões de leitura 41
Revisor:
Iran Ferreira de Melo.
Ilustrações:
Airton Santos.
Capa:
Anderson Lopes, Leon Rodrigues, Ráian Andrade e Túlio Couceiro.
Iniciando a conversa
Dando continuidade às reflexões que têm sido expostas nos outros cadernos dessa
coleção, buscaremos, nesta unidade, refletir sobre o planejamento do ensino, na busca
de garantirmos a alfabetização das crianças na perspectiva do letramento e da integração
entre diferentes componentes curriculares. Centraremos o debate em torno de duas
formas de organização do trabalho pedagógico: os projetos didáticos e as sequências didá-
ticas na alfabetização, por entendermos que são modos de conceber a prática de ensino
em consonância com as concepções sobre ensino e aprendizagem que vimos discutindo.
Serão também objeto de atenção os debates acerca da importância da linguagem oral e
escrita na apropriação de conhecimentos de diferentes áreas do saber escolar.
No caderno “Educa- É por meio do planejamento que o profes- muitas vezes, as mudanças são necessárias
ção Especial – A alfa-
betização de crianças sor busca melhor organizar sua prática. Ao e garantem melhor participação dos estu-
com deficiência e
com transtorno de
planejar, o docente reflete sobre os obje- dantes. O profissional que tem o controle
aprendizagem: uma tivos que quer alcançar, exerce sua ação de sua ação didática, que tem consciência
proposta inclusiva”,
há dicas de como didática segundo suas intenções. Assim, das possibilidades e limites dos estudan-
adequar a realidade
aos alunos com
as atividades a serem desenvolvidas são tes, é aquele que é “capaz de considerar
necessidades educa- articuladas de forma mais consciente com a realidade da criança, que defende a
cionais especiais.
o que se pretende desenvolver. necessidade de voltar-se diariamente para
o já feito e de reorganizar a rotina, de modo
No entanto, é necessário ter clareza de que
a adequá-la e cada realidade”. (GUEDES-
a flexibilidade é um princípio necessário
-PINTO et al, 2007, p. 23).
nos momentos de planejamento. Ao se de-
parar com a realidade da sala de aula – as Essa flexibilidade do planejamento, no
expectativas, as necessidades, os desejos entanto, não minimiza sua importância,
dos estudantes, as condições de espaço pois os improvisos e as mudanças tendem
e de tempo, os imprevistos –, o docente a ser mais articulados às necessidades das
necessita, muitas vezes, modificar o que crianças quando o profissional pensou
tinha sido pensado, mudar o rumo dos antes sobre o que iria fazer e o motivo pelo
encaminhamentos previstos. No entanto, qual iria fazer o que estava planejando.
A atividade de planejar cada aula é mais alunos, estímulo à reflexão, promoção de
produtiva quando o docente tem clareza do situações de interação propícias às apren- Nos cadernos
que pretende ensinar e quando tem ma- dizagens, favorecimento da sistematização da unidade 8,
há discussão de
teriais didáticos adequados disponíveis, dos conhecimentos, diversificação de questões relati-
assim como quando tem algumas rotinas estratégias didáticas. vas à organiza-
ção do trabalho
escolares, que orientam os planejamentos. pedagógico e do
Essa necessidade de integração entre os registro.
Nesse sentido, Nery (2007, p. 111) afirma: diferentes componentes curriculares é
defendida por diferentes autores, como
“O planejamento da escola con- Corcino (2007, p. 59), que ressalta que “é
templa, assim, desde os crité- importante que o trabalho pedagógico com
rios de organização das crianças as crianças de seis anos de idade, nos anos/
em classes ou turmas, a defi- séries iniciais do ensino fundamental,
nição de objetivos, por série ou garanta o estudo articulado das Ciências
ano, bem como o planejamento Sociais, das Ciências Naturais, das Noções
do tempo, espaço e materiais Lógico-Matemáticas e das Linguagens”.
considerados nas diferentes Dessa forma, os diferentes componentes
atividades e seus modos de or- curriculares devem ser contemplados,
ganização: hora da sala de aula, porém não de modo fragmentado, com
brincadeiras livres, hora da divisão estanque do tempo escolar, mas sim
refeição, saídas didáticas, ativi- de forma integrada, sem perder de vista o
dades permanentes, sequências contexto de cada área. Contemplar os con-
didáticas, atividades de siste- teúdos necessários em cada área de conhe-
matização, projetos etc.” cimento, as diferentes estratégias didáticas,
as diversas formas de organização das
Desse modo, é possível estabelecer rotinas atividades, as variadas formas de avaliação,
que contemplem diferentes tipos de ativi- requer planejamento, intencionalidade.
dades e organização do tempo pedagógico.
Diante disso, Coll (1997, p. 63) defende
Mas é fundamental também que os dife-
“uma estrutura essencialmente aberta de
rentes componentes curriculares sejam
currículo, deixando ampla margem de atu-
contemplados na rotina escolar, de modo
ação ao professor, que deve adaptá-lo a cada
articulado, atendendo a princípios didáti-
situação particular, conforme as caracterís-
cos gerais, tais como: escolha de temáticas
ticas concretas dos alunos e outros fatores
relevantes para a vida das crianças, valo-
presentes no processo educativo”. Isso não
rização dos conhecimentos prévios dos
significa, no entanto, que não tenhamos
unidade 06 07
compromisso com alguns conhecimentos O movimento pela interdisciplinaridade
fundamentais a serem apropriados pelas coloca em seu horizonte imediato a inte-
crianças de todo o país, que são os direitos gração entre os saberes – que acontecerá
de aprendizagem dos estudantes. graças a novos arranjos curriculares e
principalmente graças a novas maneiras
Considerando os direitos de aprendiza-
de trabalhar os conteúdos disciplinares.
gens no ciclo de alfabetização definidos
Arranjos curriculares afetam a seleção
nas redes de ensino e nas escolas, a exem-
de conteúdos, metodologias de ensino,
plo dos quadros expostos anteriormente, o
avaliação etc. A interdisciplinaridade não
professor precisa desenvolver seu trabalho
é categoria de conhecimento, mas de ação
em cada ano.
(FAZENDA, 1995).
No entanto, para planejar a ação didática,
Diversas propostas curriculares, seja na
é necessário avaliar o que as crianças já
esfera municipal, estadual ou federal,
sabem e sobre como pensam sobre os temas
sinalizam para a importância dessas arti-
em foco. Por tal motivo, Dolz e Schneuwly
culações entre as áreas de conhecimento,
(2004, p. 42 e 43) afirmam que “os conteú-
mas é na prática diária, no planejamento
dos disciplinares são definidos em função das
sistemático, que poderão surgir formas
capacidades do aprendiz e das experiências
cada vez melhores de garantir essa inter-
a ele necessárias”. Esses autores concebem
disciplinaridade.
que os professores devem ter informações
concretas sobre os objetivos visados pelo Além de garantir as relações entre os com-
ensino e sobre as práticas de linguagem, ponentes curriculares, nos anos iniciais do
para, assim, possibilitar um ensino e apren- Ensino Fundamental também é necessário
dizagem mais sistemática em cada ciclo ou articular o processo de apropriação do
série, com objetivos progressivos. Se tal Sistema de Escrita Alfabética ao trabalho
tarefa é difícil ao centrarmos a atenção em com as temáticas diversas pertinentes às
um componente curricular, obviamente, produções do conhecimento nas diferen-
ao tratarmos de modo integrado os dife- tes áreas de conhecimento.
rentes componentes, a tarefa é ainda mais
Como vem sendo discutido, para que as
complexa. Mudanças no modo de organizar
crianças tenham autonomia para lidar com
o espaço escolar e as interações entre seus
a escrita e, portanto, tenham acesso aos
profissionais são, portanto, necessárias. O
materiais que veiculam conhecimentos
planejamento coletivo, o estudo sistemático
oriundos dos diferentes campos do saber
são exigências claras hoje para a melhoria
na sociedade letrada, precisam se apro-
da educação brasileira.
priar da base alfabética, ou seja, precisam
08 unidade 06
estar alfabetizadas. Desse modo, essa é Nos acervos, são encontrados diferentes
uma das prioridades nos anos iniciais do gêneros que circulam na sociedade, como
ensino fundamental. biografias, textos instrucionais, repor-
tagens, notícias, contos, lendas, fábulas,
A articulação entre as diferentes áreas do
artigos científicos, ou seja, textos de
conhecimento pode ser feita por meio de
diferentes tipologias e esferas de circu-
sequências didáticas e projetos didáticos.
lação. Desse modo, pode-se familiarizar
Nessas sequências ou projetos, recursos
as crianças com diferentes linguagens.
didáticos diversos podem ser usados, como
Em suma, a integração entre os diferen-
os computadores, a televisão, os jornais,
tes componentes curriculares pode ser
as revistas, os livros. Dentre os materiais
garantida tanto pelas temáticas escolhi-
distribuídos pelo MEC pode-se destacar o
das, quanto pela forma de organização do
conjunto de livros que compõem os acer-
trabalho pedagógico (por exemplo, por
vos das obras complementares.
meio de sequências didáticas e projetos
Segundo o documento que acompanha os didáticos), quanto por meio dos recursos
acervos de livros “a articulação dos conteú- didáticos selecionados.
dos das diferentes áreas pode ser realizada
Um exemplo de integração pode ser pen-
por meio da utilização de uma mesma obra
sado se focarmos na área de Matemática,
com diferentes finalidades. Por exem-
conforme discutiremos a seguir.
plo, um livro inscrito na área de Ciências
Humanas ou de Ciências da Natureza pode Em matemática, colocam-se duas perspec-
ser utilizado nas atividades destinadas ao tivas em relação ao trabalho de articulação:
desenvolvimento de habilidades impor- a primeira sobre a necessária articulação
tantes na área de alfabetização” (BRASIL, entre os quatro eixos. Recomenda-se,
2009, p. 55).
Nessa perspectiva, esses livros distribuí-
dos pelo MEC (acervos das obras comple-
mentares) possibilitam que os estudantes
tenham acesso a diferentes conhecimen-
tos em uma mesma obra, contemplando os
processos de alfabetização, seja por meio
de estimulo à reflexão sobre o funciona-
mento do sistema de escrita, seja por meio
do estímulo à leitura autônoma.
unidade 06 09
atualmente, que no ensino de Matemática estados brasileiros distintos, por exem-
se abordem de forma mais equilibrada os plo) e Ciências (composição química dos
quatro eixos temáticos de aprendizagem, elementos constituintes de materiais).
buscando uma articulação interna entre
Pode-se ainda articular com o trabalho
os conteúdos de cada um e dos quatro
relativo ao componente curricular Língua
eixos entre si, bem como uma articulação
Portuguesa. Por exemplo, ao se trabalhar as
externa – entre conteúdos matemáticos
receitas culinárias, pode-se iniciar com uma
e das diversas outras áreas do conheci-
atividade em que as crianças sejam desa-
mento. Dessa forma, deve-se trabalhar
fiadas a escrever em dupla os ingredientes
em sala de aula atividades que mobilizem
de um determinado alimento e o professor
conhecimentos de mais de um eixo, como
pode, ao recolher tais tentativas de escrita,
os geométricos e de grandezas e medidas,
colocá-las no quadro e refletir coletivamen-
por exemplo, e que se relacionem a outras
te sobre quais letras estão faltando, quais
Na unidade 1, áreas do conhecimento – como Ciências,
caderno do ano 3, letras precisam ser trocadas. No trabalho
História e outras.
são discutidas al-
gumas dimensões
com embalagens, pode ser realizado um
do trabalho com Em atividades, por exemplo, de exploração bingo de embalagens. Pode-se também re-
oralidade
na escola. de receitas culinárias ou de embalagens alizar atividades de leitura das receitas para
de mercadorias podem ser articulados produção do alimento, em que as crianças
os eixos números e operações numéricas vivenciem as estratégias de leitura própria
(quantidades de ingredientes das recei- desse gênero (leitura por partes para seguir
tas ou de elementos constituintes das as instruções). Além disso, pode-se também
mercadorias, dentre outras), grandezas e organizar um livro de receitas de comidas
medidas (massas e volumes, entre ou- por meio de pesquisas na comunidade de
tras), geometria (formas) e tratamento de “pratos” aprendidos através de receitas
informações (uma vez que receitas são, em orais. Pessoas da comunidade podem ser
geral, apresentadas em listas e elementos convidadas a ir explicando como é a comida
constituintes de mercadorias aparecem e coletivamente o grupo pode transformar a
nas embalagens em forma de tabelas). receita oral em receita escrita.
Além dessa relação interna entre os eixos Enfim, muitas são as possibilidades de
da Matemática, atividades como as descri- interdisciplinaridade no trabalho com o
tas acima também possibilitam articula- eixo das grandezas e medidas, por exemplo.
ções extramatemáticas com outras áreas Também mantendo articulações com o
do conhecimento tais como Geografia componente curricular Língua Portuguesa,
(receitas típicas das diferentes regiões ou tem-se o enfoque da grandeza tempo, a
10 unidade 06
partir do estudo de relações temporais em lisaram atividades que abordam conteúdos
narrativas (como contos, fábulas e lendas) relacionados às grandezas e medidas em situ-
e em relatos (como biografias, notícias, ações envolvendo contextos socioambientais
relatos pessoais). Nas Ciências Naturais, em coleções de livros didáticos de matemá-
o estudo da alimentação e de diversas tica para os anos iniciais do Ensino Funda-
energias (como a eólica, hidráulica, solar, mental. A pesquisa revelou que, embora de
térmica, sonora), bem como de fenômenos maneira “simplista”, mas criativa, as abor-
diversificados (como a chuva, as enchentes, dagens dos livros didáticos têm valorizado a
os alagamentos, as queimadas, o desliza- necessidade de uma educação voltada para a
mento de barreiras e o aquecimento global) compreensão dos fenômenos que envolvem
e de micro-organismos e medicações o homem e o que ocorre no seu mundo. A ar-
oportuniza uma rica articulação com esse ticulação entre matemática e ciências dá-se,
eixo matemático. A exploração de noções de por exemplo, a partir de textos propostos nas
espaço e tempo, na qual o entendimento de atividades analisadas. Com frequência são
grandezas diversificadas se faz necessário, é encontradas atividades em livros didáticos,
possível na articulação com a Educação Físi- onde são expostos textos retirados de revis-
ca e também com a História. A percepção de tas, jornais, enciclopédias para contextualizar
características físicas (de pessoas e ambien- os conceitos matemáticos.
tes), explorada no estudo de Artes, também
Além de promover o trabalho que articula
se ampara na compreensão de grandezas
Matemática e Ciências, a presença dos textos
(como comprimento e área, dentre outras)
estimula as tentativas de leitura autônoma
e da comparação entre as mesmas.
das crianças, contribuindo também para a
Em livros didáticos de matemática para o consolidação das correspondências grafofô-
Ensino Fundamental, pesquisas também têm nicas. Para isso, no entanto, é preciso que o
evidenciado laços de colaboração e recipro- professor desafie as crianças a tentarem ler,
cidade entre matemática e outras áreas de seja em situações individuais, seja em duplas,
conhecimento. Santos e Teles (2011) ana- antes de fazer a leitura em voz alta.
unidade 06 11
O professor pode pedir que as crianças leiam a aprendizagem da Matemática seja mais
e digam o que o texto está dizendo, quais são prazerosa e significativa. Ao mesmo tempo,
as informações que aparecem, que palavras sinalizam para a possibilidade de criação de
as crianças conseguem ler, no caso das que laços de colaboração e reciprocidade entre
ainda não estão plenamente alfabetizadas. essas áreas de conhecimento, visto que os
livros didáticos podem oportunizar o acesso
No entanto, as pesquisadoras alertam que
a obras de artistas como Escher, Odetto
se faz necessário conhecer bem o objeto
Guersoni e outros.
matemático a ser contextualizado, para
evitar inadequações. Não se pode perder os Assim, ao ler determinado texto, podemos
focos do ensino, abandonando os conceitos ter acesso a conhecimentos de áreas varia-
que se quer ensinar em um componente e das e acesso a diferentes linguagens. O es-
centrando apenas em outro componente tudo de Santos e Teles (2012), por exemplo,
curricular. Santos e Teles (2011) desta- destaca a utilização de textos instrucionais,
cam que o desafio é não descaracterizar os como os que ensinam a fazer dobraduras.
objetos do saber da Matemática, porém,
Tal tipo de atividade pode ser ressignifica-
redescobri-los para dar significado ao que
da pelo professor, que pode propor que as
está sendo estudado. Vários fatores podem
crianças leiam o texto e com base nele pro-
interferir diretamente no desenvolvimento
duzam, por exemplo, bandeirinhas para
do processo de contextualização do objeto
enfeitar a festa junina da escola ou outros
do saber, que, de certa forma, é construído e
objetos que estejam sendo ensinados no
influenciado pelas concepções e impressões
texto. As crianças, assim, seriam desafia-
de quem o constrói, do professor, do aluno
das a ler a parte verbal e articular com as
e do meio social, o que pode desencadear
imagens, ajudando-as a desenvolver essa
efeitos didáticos indesejáveis.
capacidade que é tão importante nos dias
Ainda nesta perspectiva de integração entre atuais. Tal desdobramento também daria
diferentes áreas do saber, Santos e Teles sentido à leitura do texto.
(2012) realizaram um estudo que mapeou
Ressaltamos que uma das grandes con-
a presença de atividades que articulam
tribuições do trabalho articulado entre
Simetria e Artes Visuais, em 17 coleções de
as diferentes áreas do conhecimento é a
livros didáticos de Matemática para os anos
possibilidade de desenvolver nas crianças
iniciais do ensino fundamental. As autoras
habilidades e conceitos diversificados de
evidenciaram que as coleções têm buscado,
modo que sejam alfabetizadas e letradas,
através das conexões entre Artes Visuais
ampliando suas percepções do mundo que
e Geometria, trilhar um caminho no qual
vivem com maior autonomia.
12 unidade 06
Referências:
unidade 06 13
Projetos didáticos:
compartilhando saberes,
compartilhando responsabilidades
Telma Ferraz Leal
Juliana de Melo Lima
14 unidade 06
de suas próprias aprendizagens, assim Essa forma de organização da ação nos
como de avaliação de suas ações e motivar projetos também foi objeto de reflexão
as crianças, por implicar em ações por Leite (1998), que destaca as seguintes
concretas, pois, como explicita Nery características como fundamentais:
(2007, p. 119):
unidade 06 15
projetos alguns momentos são decisivos: devem ser integrados ao projeto na medida
a definição do problema, o planejamento em que colaborarem para que se chegue
do trabalho, a coleta, a organização e o aos produtos planejados. Não é necessário
registro das informações, a avaliação e a que todos os componentes curriculares
comunicação. sejam contemplados.
Barbosa e Horn (2008) ressaltam ainda Em suma, alguns requisitos são básicos no
que trabalhar com projetos implica desenvolvimento de projetos didáticos:
considerar o que as crianças já sabem
sobre o tema em discussão. Assim, o
a) intencionalidade – os participantes
docente pode, diferentemente do que devem partilhar intenções que
concebem alguns educadores, propor os justificam a realização do projeto;
temas, os problemas a serem investigados, b) problematização – o projeto deve ser
assim como sugerir produtos a serem originado em algum problema a ser
resolvido ou de uma necessidade ou
elaborados. No entanto, ele não pode desejo que para ser concretizado é
impor tais temas, problemas, produtos, necessário engajamento do grupo;
pois o engajamento dos estudantes c) ação – as atividades devem constituir
depende justamente de eles considerarem ações que levam a transformações
individuais e coletivas;
relevante o que vai ser realizado.
d) experiência – os conhecimentos
Vê-se, portanto, que o professor é um prévios devem ser mobilizados para
a realização das atividades e para
mediador, mas tem papel central de subsidiar as novas aprendizagens;
coordenar o trabalho, problematizar e) pesquisa – a resolução dos problemas
e orientar as crianças durante todo precisa ser decorrência de trabalhos de
o percurso. Desse modo, o docente pesquisa que forneçam informações
que orientem as ações.
precisa considerar as possibilidades,
necessidades e características dos
alunos. Precisa também romper com a
Desse modo, os projetos propiciam
fragmentação dos conhecimentos que
situações didáticas em que o professor e os
muitas vezes é presente na escola. Diante
alunos se comprometem com um propósito
de um determinado problema, pode ser
e com um produto final: em um projeto,
necessário mobilizar conceitos relativos
as ações propostas ao longo do tempo
a diferentes componentes curriculares,
têm relação entre si e fazem sentido em
favorecendo um estudo multidisciplinar.
função do produto que se deseja alcançar
Contudo, é importante ressaltar que os
(produção de um livro; jornal escolar;
diferentes componentes curriculares só
organização de uma Feira Literária...).
16 unidade 06
Um exemplo de projeto didático que pode ajudar a refletir sobre tais princípios
foi desenvolvido por Ivanise Cristina Calazans (Escola Municipal Nova Santana,
Camaragibe – PE):
unidade 06 17
componentes curriculares contemplados, bem como as múltiplas
atividades a serem realizadas. Combinamos que iríamos estudar,
em cada bairro que eles moravam: o que tinha no bairro (lojas,
hospitais, escolas, igrejas...), o relevo, o clima, os tipos de moradias,
os problemas (lixo, dengue...). Decidimos que iríamos utilizar, na
pesquisa, mapas, textos de jornais, entrevistas, visitas aos locais.
As produções foram diversas: listas (individuais e coletivas, orais e
escritas); relatos (orais e escritos); textos não verbais (fotografias,
desenhos); convites; poemas. Realizamos leituras de palavras e de
textos, no decorrer das atividades. Utilizamos, além dos materiais
que tinham sido combinados anteriormente: livros didáticos, livros
literários, cartazes, CD, atividades fotocopiadas, jogos temáticos,
jogos populares, data show, DVD, quadro, marcador de quadro
branco. O resultado positivo deveu-se ao fato de ter a participação
dos estudantes no planejamento e elaboração do projeto. Eles se
envolveram porque se sentiram parte do trabalho.”
O relato de Ivanise descreve uma deles não conheciam bem os locais onde
experiência que foi provocada pela moravam, pois não sabiam o que tinha no
professora. As crianças, no entanto, bairro, quais eram suas possibilidades e
consideraram as ideias boas. É problemas.
interessante destacar também que as
A docente, então, propôs um trabalho
questões que orientaram o trabalho foram
voltado para que eles conhecessem o
formuladas em decorrência do que ela
bairro onde moravam, entendessem que
observou na conversa com as crianças.
existem diferentes bairros na cidade e
Muitas delas não sabiam que moravam
que havia semelhanças e diferenças entre
em Camaragibe, pois confundiam o
eles. Ela pretendia que eles valorizassem
conceito de cidade e de bairro. Portanto,
a cidade, mas também identificassem
não sabiam relacionar os dois conceitos.
seus problemas. Para isso, realizaram
Por outro lado, ela observou que muitos
18 unidade 06
diferentes atividades, envolvendo vivenciadas nos bairros foram propícias
oralidade, leitura e escrita, e mobilizando ao desenvolvimento da oralidade, que é
conhecimentos relativos a outros um eixo fundamental para a construção
componentes curriculares, sobretudo de conhecimentos em diferentes áreas do
História e Geografia. saber.
Ao realizar atividades de leitura e O trabalho de leitura e produção de
escrita de listas (o que tem no bairro, textos literários, sobretudo poemas,
por exemplo), as crianças mobilizavam também foi essencial, para ajudar Nos cadernos
os conhecimentos relativos ao domínio as crianças a perceberem diferentes da unidade 7,
o fenômeno da
do Sistema de Escrita Alfabética, pois recursos linguísticos que provocam heterogeneidade
é discutido.
precisavam registrar. Ao propor tal tipo efeitos de sentido nos textos produzidos.
de atividade, o professor pode estimular A proposta de construção de um
as crianças a tentarem entender as poema a ser divulgado na feira de
relações entre as letras e os sons que elas conhecimentos da escola enriqueceu
representam (fonemas). No caso das mais ainda o trabalho realizado, pois as
crianças que já dominam o Sistema de crianças tiveram um propósito concreto
Escrita Alfabética, tal tipo de atividade para a realização de todo o trabalho
favorece bastante as reflexões sobre as e uma forma de socialização do que
convenções ortográficas. Elas fizeram aprenderam.
tal tipo de tentativa na escrita de uma
Outros produtos poderiam ter sido
lista que fazia parte de um trabalho com
planejados com as crianças, como, por
objetivos mais amplos.
exemplo, organizar textos informativos
Nas atividades de leitura de textos sobre os
conceitos que estavam sendo construídos
(relevo, clima, bairro, cidade) e sobre
a própria cidade, diferentes estratégias
de leitura estavam sendo contempladas
(localização de informações, elaboração de
inferência, estabelecimento de relações
de intertextualidade...), tendo em vista
finalidades claras: conhecer a cidade e
seus bairros.
As atividades que envolveram a
produção de relatos orais de situações
unidade 06 19
para a comunidade sobre os serviços Enfim, por meio de um projeto didático
que estão disponíveis em cada bairro. como esse, as crianças podem agir
Poderiam também ter identificado as socialmente, aprendendo como mobilizar
principais necessidades das pessoas do seus conhecimentos para participar da
bairro para pensar em estratégias para sociedade de forma mais ativa.
resolver os problemas.
Referências:
20 unidade 06
Sequência didática: sistematização
e monitoramento das ações rumo
a novas aprendizagens
Juliana de Melo Lima
Telma Ferraz Leal
Rosinalda Teles
unidade 06 21
“conjunto de atividades escolares organi- Qualquer uma dessas escolhas pode
zadas, de maneira sistemática, em torno de originar trabalhos sistemáticos e abranger
um gênero oral ou escrito”. Estas permitem diferentes aprendizagens, mas o foco de
uma maior sistematização do ensino e da articulação é o que dá à sequência a noção
aprendizagem, “com a finalidade de ajudar de totalidade. Por exemplo, se o foco é um
o aluno a dominar melhor um gênero de tex- tema, como animais em extinção, as crian-
to, permitindo-lhe, assim, escrever ou falar ças podem ler textos variados, como textos
de uma maneira mais adequada numa dada didáticos, notícias, notas informativas de
situação de comunicação” (2004, p. 97). revista, pesquisar em sites de internet.
Desse modo, ao mesmo tempo em que
Diante disso, o que precisamos definir ao
elas estão aprendendo sobre os animais
optar por trabalhar em sala de aula com
e desenvolvendo atitude de preservação,
sequências didáticas?
elas estão desenvolvendo capacidades
Um primeiro aspecto é o objetivo que variadas de produção e compreensão de
pretendemos alcançar diante das necessi- textos orais e escritos e se familiarizando
dades dos alunos. Qual a minha intencio- com diferentes gêneros textuais. Ativi-
nalidade diante do ensino? dades de escrita dos nomes dos animais
em fichas para construção de um mural
Outra escolha é em função dos objetivos
podem ajudar no processo de apropriação
didáticos estabelecidos, os quais articulam
do sistema alfabético. A organização de um
as situações de ensino. O eixo de articulação
dicionário temático sobre os animais pode
da sequência é um tema? É um conteúdo
ajudar a trabalhar as letras do alfabeto.
didático específico? É um gênero textual?
Enfim, ao mesmo tempo estarão sendo
contemplados conhecimentos dos com-
ponentes curriculares Ciências e Língua
Portuguesa. Dependendo das informações
e textos selecionados, podem estar em foco
conceitos da área de Matemática (tamanho
dos animais, tempo de vida, dentre ou-
tros). Embora todos esses conhecimentos
estejam sendo apropriados, a continuida-
de e a totalidade da sequência é o tema:
animais em extinção.
Se o foco de articulação é um conteúdo
específico, como a convenção ortográfica
22 unidade 06
de uso do C e QU, as possibilidades de momento das discussões dos textos, mas o
articulação entre áreas são menores, mas é foco principal é na apropriação do gênero.
possível nas atividades previstas ter leitura
É possível ainda mesclar tais tipos, pro-
de textos sobre temas variados, brinca-
pondo, por exemplo, uma sequência
deiras e jogos que estimulem a leitura das
didática para trabalhar reportagens sobre
regras, dentre outros. Nesse caso, o que vai
preconceito. Neste caso, a sequência além
ligar uma atividade à outra é a busca pela
de aprofundar o estudo do gênero, também
apropriação, por parte da criança, desse
aprofunda os conhecimentos do tema. A
conhecimento específico, que é também
interface entre Língua Portuguesa e outros
parte do que ela precisa aprender na
componentes curriculares, neste caso, é
escola.
ainda mais profunda.
Quando o foco de articulação da sequência
No momento do planejamento das sequên-
é o gênero textual, as atividades giram em
cias, é preciso, ainda, levar em consideração
torno de um dado gênero. Por exemplo, po-
outras dimensões como: o tempo destina-
de-se realizar uma sequência com o gênero
do, as etapas de desenvolvimento, os tipos
conto de fadas. Neste caso, é fundamental
de atividades, as formas de organização
que os estudantes leiam vários contos de
dos alunos, os recursos didáticos para
fada, individualmente ou em grupo, para
utilização, as formas de avaliação.
ampliar seus repertórios de textos lite-
rários, desenvolvam o gosto pela leitura, Nos exemplos dados nos parágrafos acima,
desenvolvam estratégias de compreensão foi possível verificar que diferentes tipos
de textos. É importante também que anali- de conhecimentos podem ser apropriados
sem e discutam sobre o que é um conto de em atividades organizadas em sequências,
fada, quais são suas finalidades, quem são contemplando, tal como discutido nos PCN
as pessoas que escrevem contos, quais são (BRASIL, 1997, p. 74), conteúdos concei-
os temas mais comuns nos contos de fadas, tuais, que envolvem fatos e princípios;
como eles se organizam. É possível tam- conteúdos procedimentais e conteúdos
bém chamar a atenção em alguns contos de atitudinais, que envolvem a abordagem de
fada para recursos linguísticos utilizados. valores, normas e atitudes.
A produção de contos também pode fazer
As sequências didáticas também tendem
parte da sequência, como forma de os es-
a efetivar interações favoráveis às apren-
tudantes se inserirem como autores, como
dizagens, partindo-se do pressuposto de
agentes que interagem por meio da escrita.
que, como é dito por Corcino (2007, p.
Temas variados perpassam os contos de
59), “o conhecimento é uma construção
fada e podem ser objeto de discussão no
unidade 06 23
coletiva e é na troca dos sentidos cons- Ao planejar cada etapa da sequência é
truídos, no diálogo e na valorização das necessário monitorar as etapas anterio-
diferentes vozes que circulam nos espa- res para se ter um maior direcionamento
ços de interação que a aprendizagem vai das atividades seguintes, possibilitando
se dando”. vivências diversificadas, sejam elas de
organização dos alunos, dos tipos de ativi-
Assim, ao propormos o trabalho por meio
dades, a exemplo de leituras em voz alta,
de sequências didáticas precisamos, da
compartilhada ou silenciosa, ou atividades
mesma forma como ocorre com qualquer
de produção textual em duplas, individual-
outra modalidade de organização do traba-
mente, coletiva.
lho pedagógico, planejar o ensino de modo
a favorecer a aprendizagem dos alunos. Em relação às etapas do desenvolvimento
de situações didáticas precisamos conside-
Outro destaque que já foi discutido ante-
rar alguns princípios.
riormente são as relações estabelecidas
entre os conteúdos selecionados das dife- Leal, Brandão e Correia (2009), ao anali-
rentes áreas do conhecimento, bem como sarem textos teóricos sobre o tema e expe-
a articulação entre elas. Identificar o que riências didáticas de professores fizeram
é possível ser trabalhado dentro de uma uma sistematização de alguns princípios
atividade nas diferentes áreas do currículo que regem as sequências didáticas que são
requer um olhar atento sobre os direitos organizadas em uma perspectiva socioin-
de aprendizagem de cada área. Devemos teracionista. As autoras perceberam que
considerar também o tempo destinado ao um dos princípios básicos é a problemati-
trabalho com sequências que podem variar zação na resolução de problemas. Outros
em função do que os alunos precisam princípios também foram enfatizados:
aprender, do desenvolvimento do traba- ensino centrado na interação, através de
lho, da mediação do professor durante as atividades em pares; ensino reflexivo, com
atividades, dos objetivos alcançados, do ênfase na explicitação verbal, que favorece
acompanhamento dos alunos durante o a argumentação em sala de aula; sistema-
processo. tização dos saberes em que são valorizados
os conhecimentos dos alunos.
Pensar nas atividades propostas também
requer um monitoramento das aprendi- Lima (2011) apontou, além dos princípios
zagens realizadas, envolvendo de forma elencados acima, outros como o favore-
intencional, atividades mais introdutórias, cimento da argumentação, incentivo à
de aprofundamento, de sistematização, participação dos alunos e diversificação de
com diferentes níveis de progressão. estratégias didáticas.
24 unidade 06
Ribeiro, Azevedo e Leal (2011), em outra investigação, evidenciaram como princípios, o
aspecto formativo do processo de realização da sequência (planejamento e avaliação), o
favorecimento da autoavaliação, o favorecimento da metacognição e o desenvolvimento
atitudinal. Nessa pesquisa, as autoras entrevistaram docentes que tinham desenvolvido
sequências em que o planejamento era coletivo. As docentes, em seus depoimentos, sa-
lientaram aspectos muito importantes da prática pedagógica, conforme pode ser ilustra-
do pelos trechos a seguir:
unidade 06 25
Ah, eu acho que as atividades que você realiza, você vê o aluno, se
o aluno tá interagindo, ou não, com o conhecimento. É ele real-
mente tá ali, envolvido com aquilo. (...) Eu acho que importante é
isso. É o... a própria vivência.
E pro... teve um menino que... às vezes, a gente se surpreende com
uma coisa, né? Que ele, que ele, não era muito interessado não,
mas ele ficou tão interessado nessa atividade que ele trouxe um
jornal...
Eu vi o resultado, eu vi o interesse do aluno e, modéstia parte, eu
aprendi a fazer junto com eles, (...) tanto eu aprendi, como eles
aprenderam. Então não dá pra dizer que não vá utilizar mais, se o
resultado foi tão positivo.
É... o ponto positivo seria o planejamento mais organizado, né?
(...) Esse momento de estudo, ele é muito importante e ele devia
acontecer em todas as escolas, né?
E, assim, havia um entusiasmo, sabe? Aquele momento que era a
hora da produção, de construção. Quando a gente tava trabalhan-
do a sequência didática reportagem impressa, era uma festa.
Demonstravam! No caso da reportagem, (...) você percebia um
interesse maior, tinha a ver com a identificação deles com o tema
que estava sendo trabalhado. (...) houve interesse acredito que nas
duas sequências que eu estou relatando, (...) e no momento que eu
percebia que eles já estavam cansados ou “isso de novo?”, aí eu
retomava o que a gente já tinha feito, dizia a importância da gente
continuar, e que ia ter um fechamento aquela atividade. E esse
fechamento só seria possível se a gente desse sequência ao que
tava planejado.”
26 unidade 06
cias eram focadas em gêneros textuais foco em debate), alimentação (sequência
específicos, mas foram escolhidos temas com foco em cartaz educativo), adoção
relevantes que empolgaram as crianças. e preconceito (sequência com foco em
reportagem), dentre outros.
Schneuwly e Dolz (2004) propõem que
devemos promover situações de leitura, Schneuwly e Dolz (2004) também afir-
produção de textos e reflexões sobre os as- mam que podemos explorar os mesmos
pectos sócio-discursivos, composicionais gêneros em diferentes etapas da escolari-
e estilísticos dos diferentes gêneros nas dade, de modo adequado às necessidades
sequências didáticas. Foram essas dimen- dos alunos e finalidades de uso, numa
sões do gênero que as professoras explo- proposta de aprendizagem em espiral.
raram em suas aulas, de modo articulado à Portanto, o trabalho com os gêneros pode
discussão sobre os temas dos textos lidos. ser desenvolvido de modo que diferentes
Foram relatadas sequências didáticas gêneros sejam trabalhados em todos os
focadas em reportagens, cartazes educati- anos de escolaridade, não esgotando suas
vos, cartas de leitores, cartas de reclama- possibilidades de ensino e reflexão.
ção, debates, planejados em encontros de
Os trechos de entrevista citados foram
estudo no âmbito do Projeto de Pesquisa
relativos ao desenvolvimento de sequên-
“Argumentação na escola: do diagnóstico
cias didáticas organizadas com base nas
às práticas produtivas”, coordenado por
sugestões de Dolz, Noverraz e Schneuwly
Telma Ferraz Leal e Ana Carolina Perrusi
(2004). Assim, para cada sequência foi
Brandão e financiado pelo CNPq. Em cada
realizada uma avaliação inicial, que envol-
sequência um ou mais temas eram explora-
via uma exploração prévia do gênero e a
dos nas atividades de leitura e de produção
produção de um texto do gênero. Com base
de textos, como, por exemplo, brincadeiras
nessa avaliação, foram planejados e desen-
de meninos e de meninas (sequência com
unidade 06 27
volvidos os módulos, que são as atividades em dupla). Não há assim uma limitação
didáticas, considerando-se os objetivos e a das aprendizagens em determinada etapa.
avaliação final. Princípios sociointeracio- Esse modelo possibilita vivenciar diferen-
nistas respaldam o trabalho. tes estratégias de organização do ensino no
decorrer da sequência.
Esse tipo de proposta busca que os alu-
nos possuam uma regulação maior sobre Com o transcorrer das atividades, há
sua própria aprendizagem. Desse modo, atendimento ao princípio de progressão.
os alunos se tornam mais responsáveis Os alunos se apropriam gradativamente
Na unidade 7, há
discussões sobre
pelas atividades escolares. Essa regulação da linguagem que cada gênero utiliza em
progressão. vinculada principalmente nos momentos diferentes contextos e com participação
de avaliação torna-se rica, pois haverá um de diversos interlocutores. Os alunos se
maior envolvimento nas atividades de envolvem de modo gradativo nas situações
reflexão sobre os modos de participação. em que os gêneros circulam. Assim, eles,
ao vivenciarem o trabalho com sequência
A motivação em participar dos diferentes
didática, refletem sobre a língua, seus
momentos também é outro importante prin-
usos, as práticas sociais em que os diferen-
cípio desenvolvido nessa proposta. Os alunos
tes gêneros circulam.
são motivados a expor o que pensam, seja
oralmente ou por escrito. Numa perspectiva Podemos perceber também que a organiza-
sociointeracionista, o incentivo à explicitação ção do ensino numa perspectiva sociointera-
do que estão aprendendo, pensando sobre o cionista abordada neste modelo de sequência
trabalho com os gêneros, proporciona enten- favorece uma tomada de consciência no
der como os diferentes textos que circulam aluno acerca dos seus próprios processos de
socialmente são percebidos pelos alunos nos aprendizagem, pois eles avaliam constante-
seus diferentes contextos. mente o que aprendem na escola. Tais estra-
tégias de reflexão devem ser voltadas tanto
O princípio da diversificação de ativida-
para a reflexão do próprio professor quanto
des também está presente na sequência
dos alunos aprendizes.
didática proposta por Dolz, Noverraz e
Schneuwly (2004). O modelo permite A explicitação da proposta do trabalho aos
momentos de modularização em que alunos, tendo em vista o levantamento
diferentes exercícios nos diferentes eixos das expectativas diante do que será fruto
do ensino são priorizados. Dessa forma, os de aprendizagem e o desenvolvimento
alunos podem se apropriar dos instrumen- do processo através de um plano de ação
tos e noções em diferentes momentos e e negociações possíveis, é um momento
de formas variadas (individual, em grupo, importante da sequência.
28 unidade 06
Outro princípio importante é o levan- fundamentais para as definições do
tamento dos conhecimentos dos alunos conjunto de atividades, selecionando os
diante da proposta. O que os alunos já sa- recursos necessários, as possibilidades de
bem? O que precisamos delimitar durante variação das atividades e organização dos
o trabalho? Nesse sentido o professor pode alunos.
utilizar, para mapear os conhecimentos
A mediação do professor também se torna
dos alunos, atividades diagnósticas, num
um aspecto necessário. Em que momentos
processo avaliativo, seja de forma escrita
da sequência podemos atuar de forma mais
ou oral, através de conversas sobre os
pontual? Quais conteúdos posso explorar
conteúdos enfocados. Uma possibilidade
de forma mais sistemática e em que mo-
é uma atividade de escrita, uma discussão
mento? Como posso ampliar as situações
sobre determinado tema. Esse levanta-
de aprendizagem? Quais as orientações
mento dos saberes dos alunos fornece ao
que posso desenvolver durante as ativida-
professor pistas para que possa intervir
des? Quais as perguntas que devo fazer aos
melhor no processo de aprendizagem.
alunos? Elas levam à reflexão e à proble-
A partir do mapeamento realizado pelo matização do conhecimento? Quais os
professor, as informações passam a ser níveis dos desafios que posso propor?
unidade 06 29
Referências:
30 unidade 06
Compartilhando
Objetivos específicos:
- ler conto, realizando antecipações de sentidos;
- narrar oralmente o desfecho de uma história;
- ler e produzir receitas culinárias;
- refletir sobre as características do gênero receita culinária;
- compreender a relação do homem com os alimentos ao longo da história;
- conhecer os alimentos típicos da região onde vive;
- compreender as medidas usadas em receitas culinárias;
- compreender o conceito de alimentação saudável;
- construir uma pirâmide alimentar, considerando o conceito de alimentos saudáveis.
1º Momento
Camilão, o comilão
Autor (a): Ana Maria Machado
Ilustrador: Fernando Nunes
Editora: Salamandra
“Camilão, o comilão” conta a história de um porco bem guloso, preguiçoso e muito bem humorado.
Certo dia, o leitão resolve sair pedindo alimentos para os animais que encontra no caminho, e
num passeio divertido, ele ganha melancia, abóbora, leite, queijo, espiga de milho, banana, mel e
outras guloseimas dos amigos. Depois, ele resolve retribuir a gentileza fazendo uma festa com os
alimentos que recebeu e convidar os animais que contribuíram. O livro cita diversos alimentos,
utilizando expressões como: dúzia, meia dúzia e etc. A obra dá margem para o trabalho sobre os
diversos tipos de alimentos, como cereais, frutas e verduras, bem como para reflexão de uma
alimentação saudável.
32 unidade 06
2º Momento
3º Momento
Ler imagens de diversos momentos de refeições e conversar sobre as imagens (Ver livro
de história – “Projeto Prosa”, 2º ano, ou outro suporte textual).
Apresentar uma pirâmide alimentar, explicar o que significa e pedir que as crianças
realizem a atividade prevista na ficha para estudo na classe (Anexo I).
Solicitar que os alunos pesquisem imagens de alimentos (atividade de casa). Explicar
que as imagens irão compor a pirâmide alimentar que será construída pela turma
coletivamente.
4º Momento
Construir coletivamente a pirâmide alimentar (colar pouco a pouco, refletindo com o grupo
sobre as imagens dos alimentos pesquisados); decidir com as crianças onde cada desenho
vai ser colado [Ver Anexo II – Foto] – o trabalho com a pirâmide pode ser retomado ao
longo das aulas, tornando-se desse modo um instrumento de reflexão para a mudança de
atitudes.
Propor aos alunos que façam o “diário da alimentação do dia”. Eles podem escrever ou
desenhar o que comeram no dia (colocar a data e o alimento).
5º Momento
Ler texto sobre a alimentação ao longo da história (Ver livro “Projeto Prosa”, 2º ano, ou
outro texto sobre o tema).
Socializar o que foi escrito em alguns diários (tarefa solicitada no dia anterior) – Selecionar
quatro ou mais alunos por dia para socializar com o grande grupo suas refeições do dia
anterior. refletir sobre o que for relatado, localizando os alimentos na pirâmide alimentar e
conversando sobre os alimentos que tenham sido colocados na pirâmide.
Solicitar aos alunos que realizem uma pesquisa sobre a culinária da região onde vivem, por
meio de observação do que eles comem em suas residências e em consulta a outras pessoas.
unidade 06 33
6º Momento
7º Momento
Ler uma receita para o grupo e conversar sobre o texto: para que serve? Por que
precisamos saber os ingredientes? Para o que serve o modo de fazer?
Ler um texto de outro gênero e comparar, pedindo que as crianças digam quais são as
diferenças entre os textos.
Colocar no quadro os ingredientes, reler e perguntar se eles sabem o que significam as
palavras que indicam medidas.
Fazer uma atividade de medidas do livro didático.
Solicitar que os alunos pesquisem receitas saudáveis, pedindo que alguém registre a receita
no caderno deles ou eles próprios escrevendo, se já dominarem o sistema de escrita.
8º Momento
9º Momento
Solicitar aos alunos que tragam frutas, a fim de preparar com eles uma salada de frutas
(Usar a cozinha da escola).
Em seguida, produção coletiva da receita, para inserir no livro de receitas.
Servir a salada de frutas.
Fazer a avaliação dos trabalhos realizados.
34 unidade 06
ANEXO I
unidade 06 35
ANEXO II
36 unidade 06
Sequência didática:
tirinhas na sala de aula
Professora: Rielda Karyna de Albuquerque
Escola Municipal Ubaldino Figueirôa (Jaboatão dos Guararapes/PE).
Ano: 2a série
Obs. A sequência foi adaptada de: SILVA, Jorge L. Lira da. Tira em quadrinhos: DiverTI-
RAS. In: Diversidade textual: propostas para a sala de aula. Recife, MEC/CEEL, 2008.
Passo-a-passo Observações
1º momento
Você poderá questionar se
Leitura deleite: tirinhas da turma da Mônica.
as crianças conhecem os
personagens que receberam,
- Espalhe as tirinhas na sala antes das crianças entrarem.
de que personagem gostam
mais.
- Deixe as crianças observarem as tirinhas e peça que façam a lei-
tura e depois conversem com os colegas, socializando as que mais
O professor pode realizar
gostaram.
atividades com os nomes das
personagens, refletindo sobre
- Organize a turma em grupos com personagens da turma da
as semelhanças e diferenças
Mônica. Cada grupo deverá montar o nome do personagem do seu
entre as palavras (partes
grupo com o alfabeto móvel ou silabário e listar características dos
iguais da palavra, tamanho
personagens.
das palavras)
- Proponha a construção de um livrinho de tirinhas da turma.
2º momento
- Pergunte se gostaram da leitura, se já leram textos como Você pode levar suportes
esses antes, quem sabe onde podemos encontrar textos como autênticos das tiras: gibis,
esse (suporte textual), que outros personagens eles conhecem jornais, revistas, sites (seções
que podem também ser encontrados em textos como esse. específicas), para que os
alunos visualizem.
- Analise o texto com as crianças, discutindo sobre os recursos e
como eles ajudam no sentido do texto (desenhos, cores, tipos de Questionar se os alunos
balões, tipos de letras, outros recursos presentes na tirinha lida). conhecem esses recursos e o
que eles representam.
- Entregue outras tirinhas, para que eles leiam, socializem com
a turma o que cada dupla mais gostou;
- Peça que cada dupla escolha uma das tirinhas e fale sobre a
qualidade dos desenhos, sobre os tipos de balões, tipos de le-
tras, sempre relacionando aos efeitos de sentido que provocam.
unidade 06 37
Passo-a-passo Observações
3º momento Poderá propor que seja mon-
tado, na aula seguinte, um
Leitura deleite: tirinhas mural sobre as características
dos personagens, no qual as
- Leia o texto do livro didático: “Saiba como surgiram alguns crianças, em grupos, dese-
personagens” fonte: GAZETA DO POVO. Curitiba, ano 24, nhem as personagens e carac-
n.1213, 18 de jul. 1998. Gazetinha, p. 5 (ou outro texto que terizem cada personagem de
trate sobre personagens de histórias em quadrinhos/tirinhas). uma forma bem humorada.
4º momento
5º momento
38 unidade 06
Passo-a-passo Observações
6º momento
9º momento
unidade 06 39
Passo-a-passo Observações
10º momento
Converse com as crianças
Leitura deleite: história em quadrinhos – higiene bucal
sobre quais personagens irão
inserir na tirinha, qual seria o
- Converse com as crianças sobre o texto, perguntando se
cenário, sobre o que irão falar
aprenderam alguma coisa nova;
na tirinha etc.
- Promova uma discussão, pedindo que eles comparem a história
Converse bastante sobre as
em quadrinho lida e as tirinhas que eles estavam lendo nas outras
diferentes finalidades dos
aulas (quanto à finalidade, estilo, forma composicional, recursos...).
textos, mostrando que as ti-
rinhas geralmente são textos
- Saliente que o texto lido tem a intenção de ensinar alguma coisa
para divertir, provocar riso,
e que há histórias em quadrinhos e tirinhas com esse objetivo.
mas há tirinhas e histórias em
quadrinhos que servem para
- Peça que as crianças produzam tirinhas em duplas sobre a
ensinar alguma coisa.
temática HIGIENE BUCAL E ALIMENTAÇÃO SAUDÁVEL; diga que
eles terão dois gibis: um com as tirinhas produzidas no 9º mo-
mento e outro com os textos produzidos no 10º momento.
11º momento
Que tal aprender o alfabeto e algumas palavras com os personagens da turma da Mônica? Neste livro,
encontramos a Mônica, o Cebolinha, o Cascão, a Magali e outros personagens da Turma da Mônica
ensinando aos leitores as letras do nosso alfabeto, que podem estar no começo, no meio ou no final das
palavras que usamos no nosso cotidiano. Além disso, podemos perceber como cada letra pode aparecer
nos livros e outros impressos, pois, em cada página, encontramos letras escritas de diferentes formas.
40 unidade 06
Aprendendo mais
Sugestões de leitura
1.
apresentação de um procedimento.
DOLZ, Joaquim, NOVERRAZ, Michèle e SCHNEUWLY, Bernard. Sequências didáticas para
o oral e a escrita: apresentação de um procedimento. In: SCHNEUWLY, Bernard, DOLZ,
Joaquim. Gêneros orais e escritos na escola. São Paulo: Mercado de Letras, 2004.
2.
CORSINO, Patrícia. As Crianças de seis anos e as áreas do conhecimento. In: Org. BEAU-
CHAMP, Janete; PAGEL, Denise; NASCIMENTO, Aricélia R. Ensino Fundamental de nove anos:
orientações para a inclusão de seis anos de idade. Brasília: MEC/SEB, 2007. (Disponível em:
http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/ensifund9anobasefinal.pdf)
Modalidades organizativas
do trabalho pedagógico: uma possibilidade.
3.
NERY, Alfredina. Modalidades organizativas do trabalho pedagógico: uma pos-
sibilidade. In: Org. BEAUCHAMP, Janete; PAGEL, Denise; NASCIMENTO, Aricélia R.
Ensino Fundamental de nove anos: orientações para a inclusão de seis anos de
idade. Brasília: MEC/SEB, 2007. (Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seb/ar-
quivos/pdf/Ensfund/ensifund9anobasefinal.pdf)
42 unidade 06
4.
Ler e escrever na escola:
o real, o possível e o necessário.
LERNER, Délia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário.
Porto Alegre: Artmed, 2002.
unidade 06 43
Sugestões de atividades
para os encontros em grupo
1º momento (4 horas)
44 unidade 06
2º momento (4 horas)
1 – Ler texto para deleite: “O frio pode ser quente?”, de Jandira Masur.
5 - Planejar uma aula em que seja levada uma proposta para o desenvolvi-
mento de um Projeto Didático; utilizar um livro do PNBE para introduzir a
conversa.
6 – Discutir sobre os textos lidos na seção “Sugestão de leitura”, com base nas questões
do grupo.
unidade 06 45
3º Momento (4 horas)
46 unidade 06
Tarefas (para casa e escola)
– Realizar um projeto didático inspirado nas discussões da unidade 6 e escrever um relato.
– Desenvolver a sequência didática planejada na Unidade.
unidade 06 47