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Praticas iT AM RES ir ai ee Perstiirs a(t Sugestoes Cy ete He a fee re Oxf ere ees (BCT educ: eet ed ifr) Roberto Greco PRG | UNICAMP Dados Internacionais de Catalogagao na Publicacao (CIP) ‘Angélica llacqua CRB-8/7057 G8279 Greco, Roberto Praticas de geociéncia na educacao basica: sugestoes de atividades préticas. para o ensino de contetidos de geociéncia na educagao basica / Roberto Greco. ~ Sao Manuel, SP: Frieden, 2018. 250 p. :il., color. Bibliografia ISBN: 978-85-92955-08-3 4. Geociéncias ~ Estudo e ensino 2. Prética de ensino I. Ti 18.0399 cpp 550.07 Indices para catélogo sistemstico: 41. Geociéncias: Pratica de ensino ORGANIZAGAO E COORDENAGAO EDITORIAL Prof. Dr. Roberto Greco fhttlx//www. ige.unicamp.br/_ IMAGEM DA CAPA Pedestais ou Demoiselles, Comunidade Nossa Senhora das Gragas, microbacia Zé Agu, Parintins, AM. Autor da foto: Roberto Greco. Maio 2017. PRODUGAO GRAFICA www.friedeneditora.com.br FRIEDEN | srttscnsstorsonstson EDEN } sieonesc1) 98800-2744 EDITORA (14) 99167-9567 Fabiano Aranda Amado Flaminio (Coordenago) Jodo Marcelo Ribeiro Soares (Design & Produgao Grafica) Larissa Bernardi (Revisao) CAPITULO 11 Trabalhos de campo: do planejamento 4 execugao Wagner da Silva Andrade s Trabalhos de Campo (TC) so uma oportunidade tinica de ensino-apren- O dizagem, pois envolvem e atingem todos os sentidos, afinal no campo é pos- sivel ver e perceber a paisagem, sentir os cheiros presentes, tocar os afloramentos rochosos, ouvir uma variedade de ruidos e sons e até mesmo provar os sabores locais. Mesmo para aqueles em que nao se fazem presentes um ou mais desses sentidos, hé um agucamento dos demais, o que Ihes permite uma percepeéio por nés desconhecida. Rebelo et al (2012) afirmam que o ensino da Ciéncia ocorre em diversos am- Dientes de aprendizagem - sala de aula viva, laboratorio, campo, computadores ~ @, especialmente, na sua interagdo. Para tanto, fundamenta propostas de ope- rabilidade de alguns estdgios das atividades de campo, a saber: preparagao de safdas e avaliagao de aprendizagem. A palavra “campo” é usada pela autora como ambiente exterior a sala de aula (AESA), ou seja, fora da escola (por exemplo, campos, jardins ciéncia, museus, centros de ciéncia, indistrias), AESA portanto constitui um outro espaco de aprendizagem que vai contribuindo conjuntamente com a atividade em aula para a realizagdo das grandes metas da Educagdo em Ciéncia, na educagio formal. Em outras palavras, eles so ambientes fora da sala de aula em que os alunos realizam atividades sob a orientacao do professor. Assim, a denominagao adotada aqui, Trabalhos de Campo (TC) se refere também as AESA, ou seja, as ativida- des desenvolvidas fora do ambiente escolar que necessitam deslocamentos e que variam de um a mais dias. Orion (1993) afirma que a literatura mostra evidéncias de que os TC sao bené- ficos, especialmente quando o professor combina experiéncias de ensino conereto como passo intermediério para nfveis mais elevados de ensino cognitivo. O prin- cipal papel dos TC ¢ a experiéncia direta com fendmenos concretos e materiais. 130 | Essa possibilidade de contato com fenémenos concretos € amplificada por ser uma atividade necessariamente coletiva, uma vez que toda a turma de alunos esté envolvida (figura 11.1), ocorre a formagéio de lagos afetivos entre alunos e entre alunos e professores, favorece o contato, a conversa, a duvida, a troca de experiéncias, a partilha da garrafa de agua, do biscoito, do sanduiche, a fotografia tirada em conjunto, a selfie, a misica cantada juntos, tudo isso compée um quadro } de experiéncias que s6 0 TC é capaz de proporcionar. Por todas essas facetas, os TC realizados nos estégios iniciais da disciplina tém a vantagem de aproximar os envolvidos e de ser uma oportunidade de avaliar os conhecimentos prévios por eles trazidos. Praticas de Geociéncias na Educagao Bésica | Wagner da Silva Andrade // oe |. ae Figura 14.1 - Fotografias de um Trabalho de Campo de Geologia Geral, realizado com alunos do curso técnico em mineracao do IFES/ Campus Nova Venécia/ES. Fonte: Arquivo do autor. Essas caracteristicas seriam suficientes para que os TC fizessem parte de todos os curriculos e dos contetidos de todas as disciplinas e daquelas que en- volvem contetidos de Geociéneias em particular. Porém, de maneira geral, o que se percebe € certo receio em realizar esse tipo de atividade. Para Orion (1993), a nivel internacional, as lacunas existentes entre o potencial educacional dos TC e sua realizagdo se referem a trés fatores: i) limitagdes logisticas como dificuldade para organizacéo, custos envolvidos, seguranga e falta de tempo, ii) por serem consideradas atividades complementares néio fazem parte do curriculo oficial e néo dispdem de materiais de ensino adequados, iii) a filosofia, organizagao e didatica dos TC nao sao familiares A maioria dos professores, 0 planejamento pode ajudar a mitigar um pouco esses impactos. As limitages logisticas podem ser sanadas pela apresentacdo de um programa bem definido e sistemético, afinal custos e tempo podem ser contornados, por exemplo utilizando © espaco préximo a escola. A literatura disponivel pode auxiliar na elaboragéo de guias de campo e 0 fato de tal tipo de atividade nao estar sempre colocada no curriculo de cada disciplina nao impede sua realizagao. \\ Wagner da Silva Andrade | Praticas de Geociéncias na Educagao Basica 132 | Compiani e Carneiro (1993) discutiram as possiveis fungdes do TC definindo as seguintes categorias segundo seus papéis didaticos: ilustrativas, indutivas, motivadoras, treinadora e investigativa. Para Orion (1993) a literatura disponivel traz importantes conclusdes sobre © papel dos TC nos processos de aprendizagem, e sobre os estilos de aprendiza- gem mais utilizados nos TC além da importancia da preparagio da atividade em detalhe. Sobre o papel dos TC, a literatura indica que devem ser realizados nos estgios iniciais da aprendizagem e focados em atividades concretas que néio podem ser realizadas em sala de aula. Os estilos de ensino que mais favorecem a aprendizagem nos TC sao aqueles que focam 0 processo e nao o contetido. Na pre- paragdo é importante a redugio do “espaco de novidade” ou “novidade do espaco” ese refere as novidades cognitivas, psicoldgicas e geogréficas a que os estudantes serdio submetidos. Orion (1993) propde um modelo para implantagio de TC, onde as atividades sejam concentradas naquelas que nao podem ser realizadas em sala, abordagens que envolvam observar, tocar, identificar, medir e comparar, familiarizagéio com a tarefa a ser executada, com o local a ser visitado e o tipo de evento de que parti- cipardo, de forma a limitar o “espaco de novidade” e se tornar uma aprendizagem significativa. Além disso, devem ser levados em consideragao critérios adminis- trativos de ensino, curriculares e educacionais na operacionalizagao do TC. Orion (1993) propée a organizagao de estdgios para o planejamento de um TC: i) organizagao hierérquica dos conceitos curriculares do concreto ao abstrato; if) escolha da drea a ser visitada; iii) mapeamento do potencial educacional (facilidade de acesso, seguranca, dima); iv) coincidéncia do coneeito curricular com as caracteristicas locais; y) planejamento da rota (distancia, pontos de parada, tempo disponivel, conexdo légica, facilidade fisica); vi) ajuda para ensino (guias, mapas, banners, monitores). planejamento do TC, quando apoiado pelo curriculo, favorece os processos de ensino-aprendizagem, pois a coincidéncia da organizagao curricular dos con- ceitos do concreto ao abstrato aliada ao prévio mapeamento educacional da érea de estudo leva a um planejamento de rota em que o ensino e 0 uso de materiais de apoio produzem a aprendizagem. Com base nos projetos de elaboragdo de curriculos baseados em competéncias, Brusi et al (2011) propdem a elaboragao de atividades de campo, em que o desen- volvimento de competéncias esteja aliado. Por competéncia entende-se a garantia de que a educacao ajuste melhor suas respostas as necessidades atuais das so- ciedades e que as pessoas sejam capazes de abordar com éxito um determinado trabalho ou resolver um problema. Num sentido mais geral, implica na capacidade Praticas de Geos! nna Educagao Bésica | Wagner da Silva Andrade // das proprias pessoas de envolverem-se e desenvolverem uma tarefa, uma ideia, um projeto. Entre as oito competéncias bésicas gerais, estao: a comunicativa e audiovisual; artistica e cultural; o tratamento da informagéo; a autonomia e ini- ciativa pessoal; 0 conhecimento e interag&o com o mundo fisico; social e cidadao; aprender a aprender e a matemitica. : Apesar de ndo ser uma unanimidade no meio educacional, algumas considera- es merecem ser discutidas. Existe certo mal-estar em discutir esse assunto, pois para certo mimero de educadores, habilidades e competéncias so relacionadas ao mundo do trabalho, ou seja, possuem um viés mercadolégico, pois estado ligadas ao capitalismo e a formagdo de mao-de-obra para o mercado, néo se relacionando com uma formagao cidada. Brusi et al (2011) propde um planejamento para se alcangar determinadas competéncias, por meio de atividades de aprendizagem e de diversos contetidos. Recomendam também que os estudantes realizem autoavaliagao, que conhegam © assumam os critérios de avaliagao que sero aplicados em cada tarefa e quais as ferramentas de avaliagao que serdo utilizadas. Em sua proposta, os autores definem as atividades a serem realizadas antes (guia didatico), durante (aplicar a metodologia cientifica) e depois do trabalho de campo (sintese), além do desen- volvimento das habilidades metodolégicas, técnicas, comunicativas, de relagao social, e fomentar atitudes e valores de carter cientifico, cultural ¢ ambiental. Entre as atividades de avaliagao propostas, poderia figurar um diagnéstico sobre as ideias dos alunos, que serviria para adaptar as atividades ou mesmo readaptar 08 objetivos iniciais. Buscando contribuir para o planejamento dos TC, propomos um modelo sim- plificado das etapas a serem realizadas. As etapas foram divididas em atividades a serem desenvolvidas antes, durante e apés 0 TC. A tabela\11.1 apresenta de forma resumida as etapas, atividades e responsabilidades a Serem assumidas para a realizagio do TC. \\ Wagner da Silva Andrade | Préticas de Geociéncias na Educagao Basica | 133 el + Definigiio dos objetivos e conceitos a serem abordados de acordo com o curriculo; Definigao do roteiro com pontos de parada; Preparagao do guia de campo; Mapeamento de possibilidades pedagogicas; 2 Definicao dos materiais, equipamentos Professor = e ferramentas para utilizagao no TC; Professor/Coordenagao/ & | - _ Impressao do documento de autorizacoes Diregao a dos pais para participacao dos filhos; Professor/Alunos & |» Solicitagao de transporte; Professor + Reunio com alunos para apresentagao do TC (informagoes sobre os objetivos, roteiro, horérios, seguranga, alimentagao, comportamento, solicitagao de autorizacao, materiais, guias); + Devolugao das autorizagdes assinadas. + Sala: verificar documentos e presenga dos alunos, equipamentos de seguranca, ferramentas; + Apresentaoao geral dos pontos de parada, controle de seguranga © apoio; + Registro das observagées (anotacées, fotografias, 2g esbocos, croquls, desenhos), coleta de : amostras, uso de equipamentos, reconhecimento | Froressor/ nono” de felgdes, elaboracao de hinsteses; + Verificagao do retorno dos alunos ao transporte, realizagao de chamada apos cada atividade; + Retorno: verificagao da presenca dos alunos 20 final da atividade, armazenamento dos materials e equipamentos. + Catalogagao e armazenamento de amostras, registros de campo para produgao de relatério de campo; Elaboragao e apresentagao do relatorio de campo; Avaliagao do TC. Professor/Alunos POS-CAMPO- Tabela 14.2 - Tabela das etapas do TC. Fonte: elaborado pelo autor. Praticas de Geociéncias na Educagao Bésica | Wagner da Silva Andrade // Para uma melhor visualizagao e checklist dos momentos foi proposto na figura 11.2 um fluxograma das atividades. B aconselhavel a definigao de datas limite para a realizaedo de cada atividade, com um prazo de tempo suficiente para sua realizacéo. Essas datas devertio ser respeitadas sob pena de procrastinagdo e de- sorganizagao da atividade. toot equpementn ramets [bined rapombiean ea de [ein cases toroere arr Frege oa ina psa ornate Tm Inelourvpome pare mia ees ean ener as evo sie dr ser sor ban pos stegio os | [ct promo redo, ea em tot seperti de sharcom lseecmseasareocoe |___—stloprs amano aii olan | ‘Riededes Pasar sme ents str prod eri ae Figura 14.2 - Fiuxograma das etapas de trabalho de campo. Fonte: elaborado pelo autor. A sabedoria popular nos ensina que ao se realizar algo a partir de um planeja- mento prévio pode ser que alguma coisa dé errado, mas na auséncia desse planeja- mento podemos imaginar que alguma coisa possa dar certo. Assim o planejamento nos permite antecipar problemas e solucioné-los antes que eles venham a ocorrer. As diversas possibilidades pedagégicas impulsionadas pelos TC permitem aos alunos estabelecer relagdes a partir da oportunidade de se aliar o concreto \\ Wagner da Silva Andrade | Préticas de Geociéncias na Educago Bésica | 135 a0 abstrato. A facilidade com que as sensagdes so percebidas e influenciam na capacidade que os estudantes tém para aprender so enormes e nao podem ser abandonadas. Acreditamos que os contetidos relacionados as Ciéneias da Terra, necessariamente, devem ser acompanhados de atividades de campo, de forma a contribuir para a formacdo intelectual, social, afetiva, cientifica e acima de tudo, cidada, mesmo nesses dias complexos e dotados de incertezas. Referéncias ERUSI, D,; etal. Reflexiones sobre el disefio por competenclas en el trabajo de campo en Geologia, Enseftanza de las Ciencias de la Tierra, (19.1) 2011. p. 4-14. ‘COMPIANI, M.; CARNEIRO, C.D.R.. Os papéls didaticos das excursies geol6gicas, Ensefianza de las Clencias de la tierra, (1.2), 1993. p. 90-97. ORION, N. A Model for the Development and Implementation of Fleld Trips as an Integral Part of the ‘Solence Curriculum, Selence Teaching Department. The Weizmann Institute of Science. Rehovot, Israel . Volume 93(6). 1993. REBELO, D.; MARQUES, L.; COSTA, N. Actividades en ambientes exteriores al aula em la Educacién en Ciencias: contribuctones para su operatividad. Revista Ensefianza de las Ciencias de la Tierra, (19.4) ~ 15, 2011. p. 15-25. Praticas de Geociéncias na Educagao Basica | Wagner da Silva Andrade // Wagner da Silva Andrade Nasci em Volta Redonda/RJ, cresci em Cubatéo/SP, ‘onde estudel até 0 ensino médio e, trabalhei como técnico de edificagbes na COSIPA na area de fiscalizacao de sondagens até 1981, A graduagao em Geologia, na Universidade de Fortaleza/CE, foi concluida em 1988, trabalhei como gedlogo de campo, acompanhando sondagens para pesquisa de minerais pesados ao longo do litoral do Ceara e Espirito Santo até 1991. Em 1994 comecei a atuar como professor de Geografia Geral e do Brasil no ensino médio e pré-vestibular. Em 2000 comecel a atuar no ensino superior nos cursos de Licenciatura em Geogratia, Historia e Ciéncias Blolégicas. Em 2002 obtive 0 titulo de mestre pela Universidade S80 Marcos/SP. Em 2008 ful aprovado em concurso pulblico ‘como professor de ensino basico, técnico e tecnol6gico ‘no Instituto Federal de Educagao, Ciéncia e Tecnologia do Espfrito Santo, campus Nova Venécia, onde atuo até hoje. Em 2015 iniciei os estudos de doutoramento no Programa de Ensino e Histéria de Ciéncias da Terra do Instituto de Geooiénoias da Unicamp. e-file prolgeguaphero quai om

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