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Racer wes BL) O PROBLEMA MORAL NA FILOSOFIA DE SPINOZA E NA HISTORIA DO SPINOZISMO, RINT: Baa LLL Copyright © 2016 Faltora FOV Dito det clo reiridon us oats Orlando Danas. 37 22231010 Bid ae [Da “ee 000.021-777 [0 399-6427 Fee (2) w99430 sciosatgv | padlocdtoeuigcbe vlpteedins Impresso no Brasil Printed n Brae ‘Todos drctos reservados A reproducao nao auorizada desta pobliasio, no tod ou em pate, const vilaczo do copyright (Le 9610/9). (Os conto emits neste liv sa de ere responsabilidad do enter, Hedigio: 2016 Coordenago editorial ecopidesque: Ronald Plta “Traduglo: Mactha de Aratanha Revisio técnica: Emanuel Angela da Rocha Fagot Revido: Marco Antonio Cortés eSandro Gomes dos Santos Imagem da capa: Marta de Arata Projetogrfio de mil, cap edlageamasSo: sto 513 ia catlogafica labora pla Biblioteca Maro Hearigue Simonsen Dados, Vicor, 1862-1916 © probiema moral na soa de Spinoza / Victor Debos,— Ro de Jala: GV Fltor, 2016 si6p “Tradugo de: Le probléme mocal dans lapilosophiede Spina &t dans Thisoir du spinozsme. nc bibograi, ISBN: 978-45-225 1968 1. Spinors,Beneitus de, 1632-1677 — Pica. 2 Spinora, enedictus de, 1632-1677 — Influéncia. 3. lca. 4. Filosofia, I-FundagSo Getalio Vargas. IL. Tule cpp - 199492 Ao senhor Léon Ollé-Laprune Docente na Escola Normal Superior Homenagem de reconhecimento, devogio ¢ respeito CAPITULO X © PROBLEMA MORAL NA FILOSOFIA DE SPINOZA oblema moral, tal como Spinoza concebeu, 86 pode ser resolvido por um lina, € 0 sistema, tal qual Spinoza edificou, consiste em colocar a priori a ontolégica como a medida de tudo. © que nao esté na Razao, 0 que nio indado por ela, é s6 uma ilusio ¢ um nada: nada pode ser concebido, nada le ser dado como bom por qualificagao externa ou por vontade contingent. coisa sé & boa se, podendo ser afirmada absolutamente, existe necessaria. inte por uma poténcia inteligivel interna, Mas também uma coisa s6 & boa se esti fora de nds, se nos concerne diretamente e se nos interessa, Consequen- lente, nossa melhor e mais certa maneira de concebera Raza é de concebé-ta licada a vida: a suprema verdade, da qual decorre toda a doutrina, é a afirma absoluta da vida. E verdade, é util tudo o que exprime a vida, o que a sust completa; é falso, é prejudicial tudo o que desnatura a vida, 0 quea rebaixa ou iminui. A Metafisica s6 pode ¢ sé deve existir para compreender e glorificar a ida: a Metafisica é uma ética. Assim se explica o sistema de Spinoza. & um idealismo, ja que estabelece I origem, pela prépria definigao de “causa de si’, a identidade entre o pensa- ‘mento ea existéncia, entre o Ser racional que & em si e 0 Ser real que é por si Sobretudo ele é um idealismo concreto, isto é, que ele se recusa a fazer da exis téncia um nao ser, uma simples a ae que cle a funde imediatamente ny esséncia, Ele coloca a verdade, ao mesmo tempo, na ideia ¢ na coisa, na ide tal como concebida pelo entendimento, purificado de todo elemento sensivel € imaginério, na coisa tal como cla é realmente, sem mistura nem corrupyiv, Ele lembra o platonismo pelo esforco que faz em colocar, antes do préprio ser, a inteligibilidade do ser; ele lembra o aristotelismo pela preocupagao dle | ‘em consideragao 0 que é dado, o que se manifesta, Ele se apresenta, contuilo, como diretamente oposto as doutrinas antigas, e procura justificar a nog «ly individualidade humana. Trabalhando para se aprofundar, a razio ontoliyti se desprende de toda ideia de fatalidade externa; ela entende, no se submete, mas se coloca; ela toma consciéncia do que existe nela de subjetividade pro funda ¢ de liberdade interna. A obra filosdfica de Spinoza, apesar de tudo qui ji foi dito, tende mesmo a afirmar o individuo. Se essa tendéncia pdde se desenvolver e se completar em um sistema, ¢ certamente gracas a Descartes. A légica geométrica de Descartes teve com resultado descartar e substituir a logica antiga pela Igica do concelto. Ela climinou da cigncia todas as nogbes especificas com as quais se tentava re solver os objets reais. Por sua vez, Spinoza tenta eliminar da filosofia moral todas as nogdes anilogas com as quais se tenta resolver a vida, Palam de Bem supremo, de Perfeigio exemplar: nada é mais, itil do que esses tipos transcendentes que sio propostos ou que sio impostos ao homem; nada ¢ mais tiranico do que a pretensao de tentar encaixar o homem em géneros: homem tem nele préprio seu modelo, que é ele mesmo, com a sua naturezs, 0 seu desejo de ser, a sua necessidade de felicidade; o homem nao pertence a um género, ele tem o seu préprio género, sui generis; néo hé hicrarquia que possa tirar os seres de scus Ingares ¢ fixé-los arbitrariamente em outras, Posigdes: cada ser, pelo que ele é jé est em sua posigao. E necessario, en Go, quebrar todas essas estruturas convencionais nas quais, quer queira quer nao, querem aprisionar uma humanidade desfigurada, ¢ em vez, de imaginar luma razao inimiga do homem, que o absorve e 0 reduz a nada, reconhecer que todo homem é uma Razao, Ao idealismo antigo, que se fundava antes de lo sobre a necessidade logica ¢ estética dos universais, € que era sempre luo alguma contingeneia, Spine ils ou menos forgado a admitir no indi substitu, sob a influéncia de Descartes, um novo idealismo que onsidera Inirias as ideias universais de género e de espécie, € que afirma, em primel Jigar, a necessidade racional do individuo.' Em ver de se sacrificar& bel ud regularidade da ordem e de ficar fora do sistema que ele pod bat, o individuo declara inconsistente a ordem que nao o compreende, ¢ estabelece energicamente no centro do sistema que ele mesmo desenvolve. Sem diivida, a diferenga entre essas duas concepgdes esti nas « \ineiras de entender o Pensamento. © Pensamento, segundo os antigos, 0 snsamento que se pensa, funda sua unidade sobre sua homogencicale luta. Ele s6 conhece essencialmente ele mesmo, segundo 0 principio que winclhante pode somente conhecer o semelhante. Fle & o Ser determinadlo jor exceléncia, o Ser completo, o Ser perfeito, cujo ato puro &a reflexdo sobre | Hle & incomparivel, pois é 0 itimo termo de toda comparacio. Se cle aye re os seres, nao € por impulso, mas por atragio, que nao é por um contato lireto, mas pela influéncia que exerce, 20 longo de toda natureza, a perfeiy los modelos que mais ou menos o imitam: de tal sorte que ele & o supremo Artista da obra de arte que se efetua nas coisas. O Pensamento divino, tal come o concebe Spinoza, é um Infinito que nao poderia se pensar, que, em ver de se ponsar eternamente, produz eternamente os seres: ele & incomparivel porque o que é por ele nao poderia ser como ele, Ble nfo é entdo um objeto determinado {que pudesse servir de modelo original e fazer da natureza a sua cépia. Ble ni. (1 causa final, a causa transcendente que se mantém a distancia das coisas que tle move; ele € a causa eficiente € imanente, que sustenta imediatamente as coisas de sua ago. Ele é uno com aquilo que engendra; mas 0 que ele engendra ( outra coisa que nao cle: néo éa nogao universal, é 0 individuo; ¢ entre ele e 0 individuo nada se interpae. A realidade, entdo, ndo € uma obra de arte que se : cant ss feo, mas, eo "Os angpr diserm bem que a verdadkr inca proce da faba des amalsconcberare come nés gua apo segundo certs es dtc ome que um atrato epual TE. organiza segundo formulas; ela & uma ordem viva de afirmagdes individuais, uum sistema de i Piracdes singulares. O Pensamento divino é indiferente 9 tudo, isto é a todas as qualificagées gerais que vém de fora para nomear 0% seres; ele ndo é indiferente aos individuos que ele determina a ser, ¢ que, por assim dis ele chama pelo nome. (© que é ento eterno no Pensamento divino sio inicialmente as [deias indivi

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