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Ademanda por habitacao MARio VALE CLAUDIA PIRES* Eliana Silva, segundo consta, foi uma lider comunitaria preocu- pada com o crescente nuimero de familias demandantes de habita- cdo e o também galopante des Compasso entre as politicas ofi- ciais do governo para provimen- to habitacional ao longo dos anos. Na falta de uma resposta imediata e eficaz ao problema ha- bitacional, as familias organiza- das em torno da sua luta pelo cesso a terra e o direito a mora- dia resolveram ocupar uma érea na regido do Barreiro, cujo zonea- mento a classifica como Preser- vacao Ambiental. Segundo fontes consultadas, a mesma rea, apesar da classifica- cao, carecia de mais atencao por parte do poder ptiblico, e os condi- cionantes ambientais mais evi dentes nela eram caracterizados como abandono e degradacao. Se finalmente fosse transformada em parque, deveria tera recupera- do das suas caracteristicas natu- ais. Mas isso nao entra na cabeca de quem esta hd tanto tempo nas filas da habitacao, pagando alu- endo nas ruas ¢ desejan do uma casa. Aparentemente, se considerarmos que uma familia vi- ve em condicdes de miséria, preca- riedade de acesso aos bens de con- sumo eemsituacao de vulnerabili- dade social, seria parte da agenda de problemas a serem resolvidos pela sociedade para se aleancar 0 equilfbrio ambiental, tem-se af uma contradigao de termos. ‘Aparentemente, para essas fa- miflias, aterra do Barreiro resolve um problema hist6rico relaciona- doa habitacao na cidade. Portan- to 0 assentamento das mesmas em uma area de preserva¢ao nao resolveria, na visao delas, 0 pro- blema da propria preservacao da espécie? Polémicas a parte, as fa- miflias de baixa renda enfrentam situagao de desigualdade, frente aos extratos médios e altos de renda. As classes altas t¢m, mes- mo com todos os problemas, mais oportunidades eo livre arbi- trio da escolha, no consumo de produtos e localizacoes na cida- de, comacesso ao crédito e opor- tunidades para o consumo. Nin- guém pede as classes altas que ocupem pacientemente as filas de cadastros, até porque, nessa faixaa histéria éoutra, Entao, finalizando, pegando © gancho no exemplo triste da ocupagao e desocupacao da drea pelos sem tetos da Eliana Silva, nao se usa policia pra resolver 0 problema da casa: se usa os recur- sos vultosos existentes no gover- no federal que subsidiam 83% dos recursos para as famflias que nao podem ou nao tém como pa- gar, investindo-se mesmo na cria- tividade na politica de atendi mento. E dever do Estado dar as familias mais pobres 0 direito da escolha e a efetividade da politi- cahabitacional, Esses, com a demora das filas e por conta de um deficit de 62 mil domicflios se impacientam por- que a espera pode levar anos, e a habitacao continua sendo tratada como artigo de luxo. E preciso efi- ciéncia na resposta aos pobres e considerar que, se ha demanda, e essa se concentra nos extratos mais baixos, o mercado capitalis- ta da produgao habitacional, que e alimentado pelo consumo, nao tem, em tempos de largueza de recursos para investimentos, porque prontamente nao atender. “Expesidente dolAB-MG eatvel eanseleirada

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