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CLÁUDIA TERESA PEREIRA PIRES

TIPOLOGIAS HABITACIONAIS ENCONTRADAS NA

ÁREA CENTRAL DO DISTRITO-SEDE DE NOVA LIMA

(Relação com a Estrutura Viária Urbana)

Monografia apresentada ao Curso de


Urbanismo da Faculdade de Arquitetura,
da Universidade Federal de Minas Gerais,
como requisito parcial para obtenção do
título de Especialista em Urbanismo.
Área de concentração: Urbanismo
Orientador: João Nazário Villaschi

Belo Horizonte
Faculdade de Arquitetura da UFMG
1996
AGRADECIMENTOS

Trabalhar as questões sobre a cidade de Nova Lima exigiu além do meu

esforço, a cooperação dos meus colegas de trabalho, de antigos colegas de serviço, dos

meus amigos, do meu orientador. O resultado desse trabalho é fruto da ajuda de vocês.

Agradeço à Enga. e amiga Márcia A. Nazareth, Guto, Pepeta, a Arquiteta

Virgínia, Sandra e Sr. Walder, todos da Prefeitura Municipal de Nova Lima.

Aos amigos Ivana Bretas , à Márcia e ao Janderson pelo carinho.

A Renata, da R3, pela montagem do texto e esforço no sentido de me auxiliar.

Ao Prof. Alyson, Mônica e Simone, pela compreensão.

Ao Prof. Mário Berti pelo apoio e por ter me incentivado desde o início.

Ao Juca, por ter paciência.

Ao pessoal do Fernando Graça Arquitetura e Construções , em especial à Nilda,

Juliano e Fernando Graça.

E a todos que contribuíram direta e indiretamente para que este trabalho fosse

finalmente entregue.
DEDICATÓRIA

Este trabalho é especialmente


dedicado à Moisés e aos meus pais.
“Perfazer com perfeição é útil.
Plenitude sem finitude é desejável.”
Lao tsé
SUMÁRIO

1 - APRESENTAÇÃO.................................................................................................... 17

2 - INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 20
3 - O MUNICÍPIO DE NOVA LIMA............................................................................. 24
3.1 - Localização ............................................................................................................. 24
3.2 - Relevo e Vegetação ................................................................................................ 25
3.3 - Hidrografia.............................................................................................................. 25
3.4 - Clima ...................................................................................................................... 26
3.5 - Geomorfologia da Região ....................................................................................... 27
3.6 - População ............................................................................................................... 27
3.7 - Acessos ................................................................................................................... 31
3.8 - Atividades Industriais ............................................................................................. 32

4 -HISTÓRICO DO MUNICÍPIO DE NOVA LIMA .................................................... 40


4.1 - Antecedentes ........................................................................................................... 40
4.2 - Nova Lima .............................................................................................................. 44
4.4 - Descrições Históricas do Sítio Urbano Existente ................................................... 59

5 - METODOLOGIA ...................................................................................................... 78
5.1 - O Espaço Urbano Central - Zoneamento e Delimitação
da Área de Estudo ................................................................................................... 86

6 - O TIPO - CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS.............................................................. 93


6.1 - O Tipo ..................................................................................................................... 94

7 - TIPOLOGIAS ENCONTRADAS DENTRO DO SÍTIO URBANO ...................... 103


7.1 - Tipologia 1 - A Vila Colonial e seus Remanescentes em Nova Lima.................. 103
7.2 - Tipologia 2 - “Casinhas Brasileiras” ou Chalets .................................................. 110
7.2.1 - Partido ...................................................................................................... 111
7.2.2 - Sistemas Construtivos .............................................................................. 112
7.2.3 - Fachadas ................................................................................................... 113
7.3 - Tipologia 3 - Os Bonserás .................................................................................... 116
7.3.1 - Implantação e Fachadas ........................................................................... 116
7.3.2 - Partido ...................................................................................................... 117
7.3.3 - Sistema Construtivo ................................................................................. 118
7.3.4 - Variações Dentro da Mesma Tipologia - Influência dos Bonserás
nas Construções Particulares .................................................................... 123
7.3.4.1 - Casas de um Cômodo Só (Cortiços) ......................................... 123
7.3.4.1.1 - Implantação ............................................................ 125
7.3.4.1.2 - Fachadas................................................................. 125
7.3.4.1.3 - Sistema Construtivo ............................................... 125
7.3.4.2 - Os Barracões.............................................................................. 126
7.3.4.2.1 - Partido .................................................................... 127
7.3.4.2.2 - Implantação ............................................................ 128
7.3.4.2.3 - Sistema Construtivo ............................................... 128
7.3.4.2.4 - Fachadas................................................................. 129
7.5 - Tipologia 4 - “Casas de Companhia” ................................................................... 130
7.5.1 - Partido e Implantação ............................................................................... 132
7.5.2 - Sistema Construtivo ................................................................................. 135
7.5.3 - Fachadas ................................................................................................... 136
7.5.4 - Obras Particulares .................................................................................... 136
7.6 - Tipologia 5 - Quintas Inglesas .............................................................................. 144
7.6.1 - Implantação .............................................................................................. 146
7.6.2 - Partido ...................................................................................................... 147
7.6.3 - Sistema Construtivo ................................................................................. 149
7.7 - Tipologia 6 - Casas da Rua Santa Cruz ................................................................ 155
7.7.1 - Implantação .............................................................................................. 156
7.7.2 - Fachadas ................................................................................................... 157
7.7.3 - Sistema Construtivo ................................................................................. 158
7.7.4 - Influência da Arquitetura Art decó na Construção das
Casas Populares na Cidade ...................................................................... 159

8 - A HISTÓRIA RECENTE DO MUNICÍPIO DE NOVA LIMA ............................. 163


8.1 - A Dinâmica dos “Condomínios” Residenciais .................................................... 172

9 - TIPOLOGIAS ENCONTRADAS RECENTEMENTE .......................................... 175


9.1 - Tipologia 7 - Apartamentos .................................................................................. 180
9.2 - Tipologia 8 - Variação na Tipologia “Apartamentos” .......................................... 187
9.3 - Tipologia 9 - As Casas para Morar e as Casas de Aluguel ................................... 191
9.4 - Terrenos em Aclive .............................................................................................. 192
9.5 - Terrenos em Declive ............................................................................................. 193
9.6 - O Aluguel como Fonte de Renda Familiar ........................................................... 194

10 - CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 199


10.1 - O Homem Moderno, a Cidade, a Habitação e Nova Lima ................................. 212

11 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFIAS ..................................................................... 215

12 - GLOSSÁRIO ......................................................................................................... 217

13 - ANEXO ................................................................................................................. 223


LISTA DE MAPAS

NOVA LIMA - INSERÇÃO EM MINAS GERAIS ...................................................... 24

NOVA LIMA - DISTRITO SEDE.................................................................................. 24

DENSIDADE DEMOGRÁFICA NO DISTRITO SEDE ............................................... 30

DISTRIBUIÇÃO DA POPULAÇÃO EM CLASSES SOCIAIS ................................... 30

ÁREA DE INFLUÊNCIA DE MORRO VELHO SÉCULO XVIII ............................... 52

EVOLUÇÃO URBANA DO DISTRITO SEDE - ESQUEMA ..................................... 81

ÁREA DE ESTUDO ...................................................................................................... 87


LISTA DE TABELAS

1 - ÍNDICES PLUVIOMÉTRICOS (mm) ...................................................................... 26

2 - OS MUNICÍPIOS REGIÃO METROPOLITANA DE BELO HORIZONTE .......... 28

3 - COMPARATIVO RENDA PER CAPITA RMBH ................................................... 29

4 - CRESCIMENTO POPULACIONAL (E PROJEÇÃO) DO MUNICÍPIO DE


NOVA LIMA ............................................................................................................ 31

5 - POPULAÇÃO DO MUNICÍPIO DE NOVA LIMA (POR SEXO) .......................... 31

6 - PRINCIPAIS RODOVIAS QUE SERVEM DE ACESSO AO MUNICÍPIO .......... 32

7 - PRODUÇÃO DE MINÉRIO BRUTO ...................................................................... 33

8 - EFETIVO DE OPERÁRIOS ..................................................................................... 35

9 - TEOR AURÍFERO DO MINÉRIO BRUTO............................................................. 36

10 - LEVANTAMENTO DE EDIFICAÇÕES EM NOVA LIMA ................................ 38

11 - SERVIÇOS BÁSICOS/INDICADORES. ............................................................... 39

12 - PARTICIPAÇÃO DE VÁRIOS EMPREENDIMENTOS NA


PRODUÇÃO AURÍFERA DA PROVÍNCIA DE MINAS GERAIS ...................... 48

13 - TAXA DE RENDIMENTO MÉDIO ANUAL DAS OITO


RENTÁVEIS EMPRESAS DE CAPITAL BRITÂNICO INSTALADAS
NO BRASIL. ............................................................................................................ 50

14 - MUNICÍPIOS MAIS INDUSTRIALIZADOS DE MINAS GERAIS (1920) ......... 58

15 - MUNICÍPIOS MAIS INDUSTRIALIZADOS DE MINAS GERAIS (1946) ......... 58

16 - PRODUÇÃO DE OURO EM MINAS GERAIS (1700/1950)................................ 59

17 - RESERVA DO MINÉRIO DE FERRO (10 TON) ............................................... 174


LISTA DE FIGURAS

1 - VISTA PARCIAL DE NOVA LIMA TENDO AO FUNDO IGREJA DO


ROSÁRIO E MATA ................................................................................................. 17

2 - INSTRUMENTOS UTILIZADOS PARA MOAGEM E APURO DO


OURO EM MORRO VELHO NO SÉCULO PASSADO ...................................... 55

3 - DETALHE DO BICAME - CONSTRUÇÃO QUE CUMPRE FUNÇÃO


DESDE O SÉCULO PASSADO DE DESVIAR A ÁGUA NECESSÁRIA
DE UM RIBEIRÃO PARA MINA .......................................................................... 56

4 - EM PRIMEIRO PLANO, MÁQUINA DA LOCOMOTIVA UTILIZADA


PELA MORRO VELHO PARA PUXAR CARGA - VÊ-SE NESTA FOTO
VAGÃO DE PASSAGEIRO ................................................................................... 57

5 - PINTURA 1867 - FOTO 1995 - PRAÇA DA MATRIZ........................................... 60

6 - CASA ARISTIDES ................................................................................................... 68

7 - USINA DO QUEIROZ - VISTA PARCIAL ............................................................. 76

8 - VISTA ATUAL DO MORRO DO ROSÁRIO AO FUNDO .................................... 89

9 - CASA DA RUA ANTÔNIO PEREIRA (ZIG ZAG) -


NOTAR SISTEMA CONSTRUTIVO - CONSTRUÇÃO REMANESCENTE .... 109

10 - RESIDÊNCIA NA PRAÇA DO ROSÁRIO Nº 12, CASA TÉRREA

DE DUAS MORADAS ......................................................................................... 109

11 - ASPECTO DE MORADIA PARTICULAR EXISTENTE NO BAIRRO DO

CASCALHO, DÉCADA DE 30 - EDIFICAÇÃO JÁ DEMOLIDA ..................... 109

12 - MORADA PARTICULAR EXISTENTE NO BAIRRO DO ROSÁRIO -

DÉCADA DE 30 - RUA SÃO JOSÉ - EDIFICAÇÃO JÁ DEMOLIDA ............. 110

13 - RESIDÊNCIA RUA CHALMERS - NOTAR ESTRUTURA

PAU A PIQUE - EDIFICAÇÃO JÁ DEMOLIDA ............................................... 110

14 - HOTEL CONGONHEIRO, HOJE PENSÃO SOUZA ......................................... 110


15 - RIO DE PEIXE, USINA HIDRELÉTRICA DE A. PEIXE ................................. 114

16 - RUA SÃO JOSÉ - CHALETS COM 3, 5, OU 6 CÔMODOS, INCLUINDO


PORÃO. ALUGADOS PELA MINERAÇÃO AOS EMPREGADOS.
EDIFICAÇÃO ÚLTIMA DÉCADA DO SÉCULO XIX.
FOTO DA DÉCADA DE 30 - EDIFICAÇÃO JÁ DEMOLIDA .......................... 114

17 - BAIRRO MATADOURO - RUA MADRE TEREZA - CHALETS


ALUGADOS PELA MINERAÇÃO. FOTO DÉCADA DE 30.
EDIFICAÇÃO EXISTENTE E REFORMADA, CONSTRUÍDA FINAL E
INÍCIO DO SÉCULO ............................................................................................ 114

18 - CASA RUA SANTO ANTÔNIO, Nº 152, RETIRO


OBSERVAR ÓCULO ACIMA DAS JANELAS ................................................. 115

19 - CHALET - CASINHA BRASILEIRA .................................................................. 115

20 - BAIRRO ROCINHA, BONSERÁ DA PRIMEIRA FASE. CONSTRUÍDO


NO SÉCULO PASSADO. OBSERVAR O DETALHE CONSTRUTIVO ......... 121

21 - RUA SANTO ANTÔNIO - BONSERÁ REFORMADO.


NOTAR JANELAS E BEIRAL DE GUARDA PÓ ............................................. 121

22 - BAIRRO ROCINHA, RUA DUQUE DE CAXIAS, BONSERÁ. NOTAR


MEIO PORÃO CONTRAFORTE, ELEMENTOS DE AERAÇÃO E VÃOS .... 121

23 - BAIRRO CARIOCAS - BONSERÁS PARA SOLTEIROS. DÉCADA DE 30 ... 122

24 - BAIRRO CARIOCAS - BONSERÁS PARA SOLTEIROS. HOJE


TRANSFORMADO EM RESIDÊNCIA PARTICULAR - FOTO ATUAL........ 122

25 - RUA ANTÔNIO JARDIM, CENTRO. BONSERÁ PARA SOLTEIROS.


OBSERVAR PORTAS E JANELAS QUE SERÃO UTILIZADOS
NAS CASAS DE COMPANHIA - FOTO DA DÉCADA DE 30......................... 122

26 - RUA ANTÔNIO JARDIM, CENTRO, BONSERÁ PARA SOLTEIROS.


TRANSFORMADOS HOJE EM RESIDÊNCIAS PARTICULARES.
OBSERVAR ALTERAÇÕES QUE AS TRANSFORMA EM
PEQUENOS APARTAMENTOS ......................................................................... 122
27 - RUA ANTÔNIO JARDIM, CENTRO, DETALHES DAS
MODIFICAÇÕES DOS BONSERÁS ................................................................... 123

28 - RUA ANTÔNIO JARDIM, CENTRO, BONSERÁ 1ª FASE. COMO


ELE EXISTIA MAIS OUTRO NO FUNDO DO TERRENO QUE FOI
INCENDIADO. POSSUI INSTALAÇÕES SANITÁRIAS COLETIVAS, HOJE
INDIVIDUALIZADAS. ATUALMENTE RESIDÊNCIA PARTICULAR ......... 123

29 - O BONSERÁ - PLANTA TÍPICA ........................................................................ 129

30 - CÔMODOS DE ALUGUEL - QUARTOS - PLANTA TÍPICA DE 1949 ........... 130

31 - CASAS DE UM CÔMODO SÓ - PLANTA TÍPICA ........................................... 130

32 - CASAS DE COMPANHIA - RUA ARISTIDES DE MARTINS


BAIRRO RUA NOVA - FOTO DÉCADA DE 30 ............................................... 137

33 - CASAS DE COMPANHIA - RUA SANTA LUZIA


VILA OPERÁRIA. FOTO DA DÉCADA DE 30 ................................................ 137

34 - CASAS DE COMPANHIA - RUA SANTA LUZIA - ATUALMENTE ............. 137

35 - CASAS DE COMPANHIA - RUA SABARÁ C/PADRE EUSTÁQUIO.


EM CONSTRUÇÃO DEZEMBRO DE 1930. FOTO DA DÉCADA DE 30 ...... 137

36 - BARRACÃO - PLANTA E FACHADA TÍPICAS .............................................. 138

37 - CASAS DE COMPANHIA - RUA SABARÁ E RUA PADRE


EUSTÁQUIO. TERMINADAS EM 01/01/1931 .................................................. 139

38 - VISTA DAS CASAS DE COMPANHIA - RUA SABARÁ COM PADRE


EUSTÁQUIO - ATUALMENTE .......................................................................... 139

39 - CASAS DE COMPANHIA - RUA SANTA LUZIA, SEM


ACABAMENTO, MAIO 1931. NOTAR BALDRAMES E
AERAÇÃO DO PORÃO ....................................................................................... 139

40 - CASAS DE COMPANHIA DA RUA ITABIRA, SETEMBRO DE 1931 ........... 139

41 - CASAS DE COMPANHIA - R. ITABIRA E AMAZONAS 1931 ....................... 140

42 - CASAS DE COMPANHIA - R. ITABIRA ATUALMENTE............................... 140


43 - CASAS DE COMPANHIA, CENTRO, BAIRRO CASCALHO.
OBSERVAR PONTÃO NEOCLÁSSICO E PORÃO. FOTO DÉC.DE 30 ......... 140

44 - CASAS DE COMPANHIA, RUA SANTA LUZIA. FOTO DÉC. DE 30............ 140

45 - CASAS DE COMPANHIA DA RUA SANTA LUZIA. OBSERVAR


REFORMAS INCLUSIVE COM ALTERAÇÃO DO TELHADO.
FOTO ATUAL...................................................................................................... 141

46 - CASAS DE COMPANHIA, RUA CARLOS ROSCOE, RETIRO.


NOTAR INEXISTÊNCIA DE PASSEIOS E PORÃO.
OBSERVAR SARGETA DE ÁGUA PLUVIAL. FOTO DÉCADA DE 30 ........ 141

47 - CASAS DE COMPANHIA, RUA CARLOS ROSCOE,. FOTO ATUAL ........... 141

48 - SEQUÊNCIA MOSTRANDO TRÊS ETAPAS CONSTRUTIVAS


CASAS DE COMPANHIA ABRIL/MAIO 1931.................................................. 141

49 - RUA ITABIRA “CASAS DE COMPANHIA”. ATUALMENTE (CLÁUDIA)...... 142

50 - RUA PADRE EUSTÁQUIO “CASAS DE COMPANHIA”.


ATUALMENTE (CLÁUDIA) .................................................................................. 142

51 - CASAS DE COMPANHIA (CLÁUDIA) ................................................................. 142

52 - CASAS POPULARES - PLANTA E FACHADA TÍPICA (PMNL) ..................... 142

53 - CASAS PARTICULARES - PLANTA E CORTE TÍPICO (PMNL) ..................... 143

54 - CASA PARTICULAR (1941) PLANTA E FACHADAS TÍPICAS (PMNL) ........ 143

55 - CASAS DE PARTICULARES (1949) PLANTA E FACHADAS


TÍPICAS) (PMNL) .................................................................................................. 143

56 - CASAS PARTICULARES - PLANTA TÍPICA (PMNL) ..................................... 143

57 - RESIDÊNCIA BAIRRO QUINTAS. NOTAR VARANDA, ESQUADRIAS E


TELHADOS. CONSTRUÍDA NO COMEÇO DO SÉCULO (CLÁUDIA)............ 152

58 - ARRUAMENTO BAIRRO QUINTAS. NOTAR AUSÊNCIA DE PASSEIOS,


EXISTÊNCIA DAS SARGETAS PARA ESCOAMENTO DE ÁGUA
PLUVIAL. CERCA VIVA NO ALINHAMENTO DO LOTE E SISTEMA
VIÁRIO ESTREITO (CLÁUDIA) ........................................................................... 152

59 - RESIDÊNCIA DO BAIRRO QUINTAS. OBSERVAR VOLUMETRIA,


IMPLANTAÇÃO NO LOTE E GARAGEM (QUE FOI INCORPORADA
NA CASA A PARTIR DA DÉCADA DE 30), DESARTICULADA
DA CASA (CLÁUDIA) ........................................................................................... 152

60 - RESIDÊNCIA DO BAIRRO QUINTAS. OBSERVAR AFASTAMENTO


FRONTAL DA EDIFICAÇÃO EM RELAÇÃO A RUA. ACIMA E AO
FUNDO. BAIRRO QUINTAS 2 (CLÁUDIA) ........................................................ 152

61 - CASA DE QUINTAS (CLÁUDIA).......................................................................... 153

62 - CASA GRANDE (CLÁUDIA) ................................................................................. 153

63 - DETALHE BEIRAL CASA GRANDE (CLÁUDIA) .............................................. 153

64 - DETALHE ESQUADRIAS E REVESTIMENTO EXTERNO (CLÁUDIA) .......... 153

65 - CASA DE QUINTAS - PLANTA, PORÃO, SITUAÇÃO (MMV) ....................... 154

66 - CASA DE QUINTAS - PLANTA (MMV) ............................................................. 154

67 - CLUBE DOS ITALIANOS. RUA COCAIS, CENTRO. EDIFICAÇÃO


CONSTRUÍDA, ESTILO ART DECÓ. DÉCADA DE 30 (CLÁUDIA) ................ 155

68 - RESIDÊNCIA DOS OTHERO, RUA SANTA CRUZ EM ESTILO


ART DECÓ. NOTAR ACABAMENTO EM PÓ DE PEDRA ............................ 160

69 - RUA SANTA CRUZ. EDICÍCIOS RESIDENCIAIS E


COMERCIAIS. NOTAR PRESENÇA DE TERRAÇO EM ALGUMAS
EDIFICAÇÕES ...................................................................................................... 160

70 - RUA SANTA CRUZ. VISTA PARCIAL DAS EDIFICAÇÕES


EM ESTILO ART DECÓ ...................................................................................... 161

71 - RESIDÊNCIA PARTICULAR, MODIFICADA EM SUA FACHADA


COM CLARA INFLUÊNCIA DO ART DECÓ (CLÁUDIA) ................................. 161

72 - EDIFÍCIO ART DECÓ - PLANTA TIPICA ......................................................... 161

73 - PLANTA E FACHADA ART DECÓ TÍPICO. RUA BENEDITO


VALADARES ...................................................................................................... 161

74 - APARTAMENTO E COMÉRCIO. FACHADA E PLANTA


TÍPICOS. INFLUÊNICA ART DECÓ ................................................................. 162

75 - MINAS ATIVAS DA MINERAÇÃO MORRO VELHO (MMV) ......................... 165

76 - LOTEAMENTO DO ALTO DO GAIA (PMNL) ................................................... 171

77 - MAPA USO DO SOLO - ÁREA DE ESTUDOS. FONTE PMNL (CLÁUDIA) .... 178

78 - APARTAMENTO (CLÁUDIA) ............................................................................... 187

79 - APARTAMENTO COM RESIDÊNCIA (CLÁUDIA) ........................................... 187

80 - APARTAMENTO - ESQUEMA TÍPICO DE CONSTRUÇÃO


ORIGINADA DE UMA CASA DE COMPANHIA (CLÁUDIA) ........................... 190

81 - APARTAMENTO SURGIDO DE MODIFICAÇÃO DE UM


BONSERÁ (CLÁUDIA) ........................................................................................... 190

82 - A DIREITA MODIFICAÇÃO EM CASA DE COMPANHIA, COM


CRIAÇÃO DE UM TERRAÇO E MAIS UMA UNIDADE
HABITACIONAL NO 2º PAVIMENTO. RUA MARQUÊS DE
SAPUCAÍ - CENTRO (CLÁUDIA) ........................................................................ 190

83 - VISTA DO MORRO DO CRUZEIRO EM PRIMEIRO


PLANO ALGUNS APARTAMENTOS (CLÁUDIA)............................................. 190

84 - APARTAMENTO COM COMÉRCIO (CLÁUDIA) ............................................... 191

85 - O BONSERÁ COM APARTAMENTO (CLÁUDIA) ............................................. 191

86 - IMPLANTAÇÃO EM ACLIVE E DECLIVE (CLÁUDIA) .................................... 194

87 - ASSENTAMENTO TÍPICO. CASAS EM TERRENO


DE DECLIVE (CLÁUDIA) ..................................................................................... 194

88 - TIPOLOGIA RECENTE - PLANTA TÍPICA. CASA PARTICULAR


COM GARAGEM ................................................................................................. 197

89 - TIPOLOGIA RECENTE - BARRACÃO DE PARTICULAR.


PLANTA TÍPICA ................................................................................................. 197
90 - PLANTA POPULAR TÍPICA - MODELO I ........................................................ 197

91 - CASA POPULAR. PLANTA MODELO (MP - 03) (PMNL) ................................ 198

92 - PLANTA TÍPICA - CASAS PARTICULARES. TIPOLOGIAS RECENTES .... 198

93 - VISTA PARCIAL DE NOVA LIMA ONDE ESTÁ O BICAME.


AO FUNDO MINA GRANDE, À DIREITA, CASAS DE HÓSPEDE
DA MINERAÇÃO MORRO VELHO. BAIRRO BOA VISTA .......................... 199

94 - BAIRRO CRUZEIRO/MONTEVIDEU (CLÁUDIA).............................................. 207

95 - VISTA PARCIAL QUINTAS ............................................................................... 207

96 - VISTA PARCIAL MORRO VELHO - PLANTA INDUSTRIAL........................ 207


LISTA DE ANEXOS

Os anexos a seguir se referem a Lei de Uso do Solo de Nova Lima.

Anexo nº 2 - Zonas de Uso Ocupação e Parcelamento do Município de Nova Lima .. 224

Anexo nº 3 - Modelos de Parcelamento Urbano do Município de Nova Lima ............ 225

Anexo nº 4 - Modelos de Assentamentos Urbanos do Município de Nova Lima ........ 226


SIGLÁRIO

APA - SUL - Área de Preservação Sul

BNH - Banco Nacional da Habitação

CEMIG - Centrais Elétricas de Minas Gerais.

CLT - Consolidação das Leis Trabalhistas

COHAB - Cooperativa Habitacional

COPASA/MG - Companhia de Saneamento e Abastecimento de Minas Gerais

FAFICH - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IGA - Instituto de Geociências Aplicadas

LUOS - Lei de Uso e Ocupação do Solo

MA - Modelo Assentamento

MBR - Minerações Brasileiras Reunidas

PLANBEL -

PMNL - Prefeitura Municipal de Nova Lima

RMBH - Região Metropolitana de Belo Horizonte

SANUSA - Saneamento Urbano S/A.

SE - Setor Expansão

SEPLAN - Secretaria de Planejamento

UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais.

ZC - Zona Comercial

ZI - Zona Industrial

ZR - Zona Residencial
1 - APRESENTAÇÃO

O objeto de análise, proposto por este trabalho, versa sobre a dinâmica da

produção habitacional na cidade de Nova Lima, constituindo-se seu produto, como

Monografia final do Curso de Especialização em Urbanismo da Escola de Arquitetura

da Universidade Federal de Minas Gerais.

Figura 1

Vista Parcial da Cidade de Nova Lima tendo ao

fundo a Igreja do Rosário e Mata.

Nesta Monografia, procura-se analisar a dinâmica habitacional e a consolidação

do espaço urbano no município de Nova Lima. A área de pesquisa passa a ser

constituída pelas habitações existentes na área central da sede administrativa que é

reconhecida também como núcleo histórico principal da cidade.

Pretende-se montar a história de Nova Lima através da sua arquitetura civil,

detectando uma possível interferência de modelos de habitação que propiciaram o

surgimento de tipologias habitacionais que encontram-se hoje, espalhadas pela cidade.

Os modelos pesquisados constituem remanescente de uma ocupação iniciada por

volta de 1700, século XVIII, com descobrimento de ouro nesta região, ocasião que

Nova Lima surgiu como vilarejo próspero para a garimpagem. Logo a seguir, são

acompanhados pelos modelos de habitação trazidos para a cidade, com a imigração

Inglesa que , a partir de 1834, assume a direção da Mina de Morro Velho, investindo
massivamente na sistematização da produção aurífera cujo processo se encontrava em

declínio.

A proposta do trabalho seria o de observar a origem das influências recebidas na

formação da arquitetura habitacional de Nova Lima , primeiro com a mineração de

aluvião coincidente com o surto do Ouro em Minas, do qual a história de Nova Lima faz

parte. Depois investigaria-se o longo período da presença da influência inglesa na

cidade, interferindo diretamente na principal fonte econômica do município, de forma

a torná-la lucrativa. Finalmente, dentro deste trabalho, se discute à respeito da produção

arquitetônica que transforma o cenário urbano novalimense na atualidade.

A singularidade de Nova Lima enquanto área de pesquisa é explicada pelo fato

de Morro Velho ser uma das únicas minas de ouro de Minas Gerais a prolongar suas

atividades até os dias de hoje e possuir uma rica história que não se iguala a nenhuma

outra no estado. Se configura como sendo uma das mais profundas e lucrativas do

mundo e uma das únicas a prosseguir com atividade, ininterrupta, por mais de um

século. Por isso, acabou gerando uma estrutura urbana singular às demais cidades

históricas de Minas Gerais, merecendo ser pesquisada.

A análise da atividade da mineração dentro de Nova Lima, atenta para essas

diferenças no momento em que busca subsídios para a identificação de uma arquitetura

civil atual, que foi gerada a partir de um modelo habitacional inserido no espaço urbano

da cidade, por força e influência de uma atividade econômica estável e duradoura.

Faz-se aí um apanhado do que seja o resultado prático desta influência,

investigando suas origens. Estas origens possuem fontes guardadas no material histórico

pesquisado , na vivência da população e na convicção de que a presença da mineração,


por todos estes anos se torna, de fato, responsável pela modificação e gestão de um

espaço que, na atualidade, constantemente se fragmenta, se adensa, se transforma.

Far-se-á então, neste trabalho, uma reflexão relacionada com a análise das

tipologias habitacionais do município de Nova Lima e sua relação com a presença da

mineradora, enquanto atividade industrial agregadora e criadora do modelo fundamental

donde derivam-se as principais influências tipológicas aqui estudadas. Propõem-se um

inventário dos tipos criados pela autoprodução popular, que trabalha com os modelos

propostos em quase um século de história da cidade. A intenção será identificá-los, no

decorrer do trabalho, para que não se percam em suas transformações, sem que sejam

catalogados primeiramente.

Espera-se que o resultado desta análise seja dado no decorrer deste trabalho

quando montar-se-á, —a partir do histórico e documentos de época disponíveis para a

pesquisa,— este inventário contendo informações a respeito, não só da cidade de Nova

Lima, como também de aspectos da história das Minas Gerais, do século XVIII e XIX,

época em que a própria história do município também se inicia.


2 - INTRODUÇÃO

Durante o Curso de Especialização em Urbanismo, oferecido pela Escola de

Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais, no âmbito do qual foi

desenvolvida a presente monografia de conclusão, amadureceu-se a idéia de conciliar a

concepção urbana com a própria questão da produção arquitetônica da cidade. Não

seria o objetivo do trabalho desenvolver uma pesquisa histórica e uma análise da

evolução urbana caso esta se desvinculasse da prática da Arquitetura, principalmente da

arquitetura civil.

Sendo assim, o tema em questão — Tipologias habitacionais encontradas na

cidade de Nova Lima—, veio satisfazer um anseio de conciliar o estudo ou análise

urbana com a prática arquitetônica de uma determinada comunidade, cuja história foi

sendo resgatada paralelamente.

Nova Lima é uma cidade peculiar para um estudo da evolução urbana em Minas

Gerais já que sua história conjugou condicionantes importantes da economia, da

formação social, da formação cultural e das transposições culturais de outros povos em

decorrência de fatores ligados a uma industrialização do país iniciada em finais do

século XIX.

Neste trabalho, foi mister desenvolver uma trajetória histórica da cidade de

Nova Lima, fazendo uma relação entre sua evolução, enquanto núcleo urbano de

tradição mineradora do tipo garimpagem até 1834, e a história que se desenvolve, a

partir daí , com uma atividade extrativa que se faz sob controle completo do capital

inglês. Veremos no histórico apresentado no capítulo 4, que em Nova Lima, a

consolidação da produção de ouro na Mina de Morro Velho no período de 1834 à 1950,

coincide com o declínio do Ciclo do Ouro em Minas, ultrapassa as descobertas dos


antigos bandeirantes e, sob domínio do capital inglês, desenvolve uma estrutura

absolutamente nova para a exploração do ouro. A mineração subterrânea foi

desenvolvida e sistematizada com tecnologia européia, tornando-se, em pouco tempo,

lucrativa, fazendo com que o sucesso do empreendimento minerador na cidade,

transcendesse o Ciclo do Ouro e perdurasse até os dias de hoje.

No decorrer do capítulo 4, foi necessário remontar o cenário original da

história de Nova Lima, correlacionando os dados obtidos com a história do que tenha

sido a mineração no sertão de Minas Gerais por todo o século XVIII e meados do século

XIX. Muito foi escrito sobre a mineração em Minas e a elaboração deste trabalho se

embasou nas contribuições valiosas dos relatos dos viajantes que estiveram em Minas,

especificamente em Nova Lima, à época do Ciclo do Ouro, tais como Richard Burton

e Auguste Saint Hillaire. Também os trabalhos de Sylvio de Vasconcelos e Suzy de

Mello, arquitetos e pesquisadores da história da arquitetura colonial mineira, ajudaram

a compreender a evolução histórica das minas em seus aspectos mais importantes.

Outros trabalhos específicos sobre a cidade, tais como o de Yonne Grossi e do Prof.

Douglas Cole Libby apontam para a importância de Nova Lima enquanto núcleo

promissor para a mineração e fazem considerações sobre a importância da cidade no

século passado que, sob domínio inglês, dentre outras coisas, utilizou mão de obra

escrava em suas atividades, influenciou as redondezas com sua prosperidade econômica

e sua infra-estrutura e também transformou-se de vila colonial que era em um cidade

operária, — uma das primeiras em Minas— com características verdadeiramente

industriais.

O capítulo 5 delimita o espaço de pesquisa das tipologias habitacionais bem

como explicita a metodologia. O espaço delimitado procura abranger as áreas utilizadas


no final século XIX e início do século XX, como áreas de expansão urbana , de ênfase

habitacional, direcionadas a suprir as demandas da mineração.

No capítulo 6, fez-se necessário esclarecer para o leitor o que consideramos ser o

TIPO, argumento principal da análise arquitetônica e urbana realizada. É a tipologia

habitacional utilizada pela Saint John Minning Company que transforma o cenário

urbano de Nova Lima, fazendo com que a cidade perca as características de Vila

Colonial, surgida no século XVIII, e se renove incorporando uma linguagem

arquitetônica que se torna padrão, interferindo massivamente na imagem urbana do

distrito sede. Muitas vezes, este padrão incorpora, da Vila Colonial, apenas a estrutura

viária existente no sítio. Porém as condições topográficas desfavoráveis do sítio em

questão, vem fazer com que a adoção da estrutura viária já existente seja inevitável,

contribuindo para que a sua reprodução seja viabilizada. Ainda neste capítulo, apontam-

se as referências teóricas que determinam o surgimento do TIPO como unidade

projetual a ser desenvolvida e reproduzida em um determinado espaço urbano a ser

construído.

No capítulo 7, far-se-á a identificação de todas as tipologias habitacionais

encontradas no núcleo histórico desde seu surgimento até a década de 50.

No capítulo 8, faz-se uma retomada da história do município resgatando

períodos recentes com o objetivo de lançar bases para a compreensão da arquitetura civil

que se desvincula, na grande maioria de vezes, da legislação urbanística da cidade,

mas que continua reproduzindo o modelo de habitação que a mineração construiu em

toda a cidade de Nova Lima.


Finalmente, os últimos tópicos do capítulo 9 vêm caracterizar os aspectos físicos

que a autoconstrução popular encontra, explorando as características físicas do sítio

urbano. Neste ponto analisa-se a prática arquitetônica na cidade, atentando para o fato

de que o apoio técnico inexiste no processo de autoconstrução e que esta, muitas vezes

desconhece normas de uso do solo e o profissional da área que poderia auxiliá-la.

As tipologias habitacionais investigadas neste capítulo, serão analisadas com

referência aquelas descritas no capítulo 7.

Espera-se com este trabalho contribuir para uma melhor compreensão do que

significou a presença da mineração no processo de consolidação histórica e no

desenvolvimento econômico do município de Nova Lima, considerando sua influência

na expansão urbana da cidade, mais especificamente no aspecto da habitação.

3 - O MUNICÍPIO DE NOVA LIMA

3.1 - Localização

Com área total de 427,0 km², o município de Nova Lima está localizado no

estado de Minas Gerais, estando distante da Capital, Belo Horizonte, 15 km. Faz parte

da Região Metropolitana de Belo Horizonte, localizando-se na latitude 44 e longitude

20 sendo município integrante da região geológica denominada Quadrilátero Ferrífero.

A Região Metropolitana de Belo Horizonte, abrange, além de Nova Lima, mais

dezessete municípios. Nova Lima faz limite com cinco deles. Faz parte da macroregião

denominada Zona Metalúrgica de Minas Gerais.

Nova Lima - Inserção em Minas Gerais Nova Lima - Distrito Sede


Croqui sem escala

Segundo o diagnóstico realizado para o Plano Diretor de Nova Lima, o

município se encontra inserido em uma Área de médio comprometimento com a Região

Metropolitana, chamada de “Área de expansão Metropolitana” que conta com a

participação dos municípios de Santa Luzia, Sabará, Vespasiano e Ibirité, tendo cerca de

6,4 % da população desta Região.1

3.2 - Relevo e Vegetação

O relevo de Nova Lima é bastante acidentado, em todo o território,

predominando as cristas ravinadas, entremeadas por vales encaixados2 que recebem

grande parte da vegetação de mata fechada existente na região. Em áreas mais planas as

declividades chegam a 10 a 12 %, que se referem às áreas marginais aos cursos d’água

da região. As áreas mais íngremes estão localizadas próximas a maciços geológicos tais

1
PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA LIMA. Plano Diretor - Pesquisa e Diagnóstico, N. Lima,
1994, p. 10
2
BARBOSA, Getúlio V. e RODRIGUES, David Márcio S. Quadrilátero Ferrífero, UFMG, IGC, Belo
Horizonte, 1967.
como Serra da Moeda, Calçada, Cachimbo e Curral (Orientação SE-E) . Localizam-se a

norte e a sul do município áreas de maior incidência de erosão. A sede administrativa se

localiza a Norte onde se situam também, próximo ao Curso do rio das Velhas as áreas

ameaçadas por voçorocas. A vegetação é exuberante ficando localizada a oeste do

bioma Mata Atlântica3. A mata que recobre a região é semidecídua, com aparecimento

de campos e algum cerrado, principalmente nas Serras do Curral e Moeda4. A cidade

ainda possui regiões de reflorestamento pertencentes principalmente às duas mais

importantes minerações da região: Mineração Morro Velho S/A e MBR5.

3.3 - Hidrografia

Há abundância de recursos hídricos e minerais. O município está inteiramente

contido na Bacia do Rio das Velhas sendo drenado por seus tributários Ribeirão dos

Macacos, Água Suja, Rio de Peixe (que gera energia elétrica para Morro Velho desde

início deste século) . Além disso, corre por conta do município o fornecimento de 50%

das águas que a RMBH utiliza diariamente.6 Há ocorrência de bacias lacustres como

Lagoa grande, Miguelão e Codornas que integram o complexo de geração de energia

para o desenvolvimento das atividades da Mineração Morro Velho. A sub-bacia do

Cristais (antigo Ribeirão do Carmo) e Cardoso banham o Centro Histórico da Sede

administrativa do município tendo sido nele encontrados as primeiras evidências que o

subsolo era rico em ouro. A usina do Queiroz também aproveita um curso d’água da

Região para geração da energia para suas atividades7. Na região Central, um curso

3
. PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA LIMA. Plano Diretor - Pesquisa e Diagnóstico, N. Lima,
1994, p. 14.
4
Ibid., p. 24.
5
Ibid., p. 24.
6
Ibid., p.27
7
Ibid., p. 27
d’água serve de alimentador a Mina localizada no Centro histórico da Cidade. Obra feita

pelos ingleses, no século passado é conhecida em Nova Lima como Rego Grande. Além

do rego Grande, o rego dos Carrapatos também alimenta o processo da planta industrial

da Mineração, desde o século passado.

3.4 - Clima

O clima de Nova Lima é ameno, com temperaturas variando entre l7 e l8 C.

TABELA 1
ÍNDICES PLUVIOMÉTRICOS (MM)
MUNICÍPIO DE NOVA LIMA (CIDADE)
MÉDIAS MENSAIS - PERÍODO 1860/1983
MÊS MÍNIMO MÁXIMO MÉDIO
JANEIRO 31,1 778,1 300,0
FEVEREIRO 13,4 688,1 224,5
MARÇO 13,8 625,1 173,8
ABRIL 0 315,5 66,7
MAIO 0 121,9 30,9
JUNHO 0 89,5 12,6
JULHO 0 96,5 11,9
AGOSTO 0 99,1 15,1
SETEMBRO 0 206,0 51,2
OUTUBRO 3,5 415,3 137,4
NOVEMBRO 27,4 554,0 226,1
DEZEMBRO 104,8 748,2 340,7
ANUAL 418,3 2.537,1 1.598,2
Fonte: Plano Diretor - Diagnóstico de Nova Lima. p. 26.
3.5 - Geomorfologia da região

Nova Lima se localiza no Subgrupo Geológico denominado Nova Lima, parte do

Quadrilátero Ferrífero. O subgrupo Nova Lima é datado como Arqueano, sendo também

denominado Arqueano Nova Lima. Possui terras pertencentes à três províncias

geológicas:

1. Rebordo setentrional do Quadrilátero Ferrífero que se faz representado pela Serra do

Curral, com encosta abrupta para região de Belo Horizonte e Hidrografia mais

organizada.
2. O Sinclinal Moeda: Estabelece o divisor de águas entre a bacia do Rio das Velhas e

Paraopeba. Sobressai da paisagem as elevações mais importantes tais como a Serra

da Moeda.

O Anticlinal invertido do Rio das Velhas: estende-se até Sabará e possui eixo no

leito do Rio das Velhas. Relevo pertencentes ao Grupo Rio das Velhas que se

caracteriza por zonas “topograficamente deprimidas, circundadas por cristas”8.

3.6 - População

A população da cidade gira em torno de 53.000 habitantes, segundo dados do

Plambel de 1991 (ver quadro abaixo), a maioria deles, empregada nas atividades de

extração do ouro, minério de ferro e ligas derivadas, além de ácido sulfúrico, sendo

estas as maiores riquezas do município. O comércio também emprega, seguindo uma

tradição secular dentro da cidade (vide histórico). O Shopping Center é um local

atrativo para a oferta de emprego para a cidade

8
- BARBOSA, Getúlio V. e RODRIGUES, David Márcio S. Quadrilátero Ferrífero, UFMG, IGC, Belo
Horizonte, 1967.
TABELA 2
OS MUNICÍPIOS DA RMBH

ÁREA DIST. POPULAÇÃO


MUNICÍPIOS BH
(PC.7)
(Km ²) Km 1980 % 1990 % 1995 %
BELO HORIZONTE 335,5 -- 1.780.855 70,11 2.369.980 63,21 2.581.163 59,47
BETIM 353,5 30 84.183 3,32 244.850 6,00 354.301 8,16
CAETÉ 539,0 57 30.634 1,21 37.194 0,99 39.300 0,90
CONTAGEM 194,3 17 280.477 11,04 458.744 12,23 542.040 12,49
IBIRITÉ 170,5 21 39.970 1,58 69.326 1,85 93.122 2,15
LAGOA SANTA 274,5 39 19.508 0,77 31.657 0,84 42.076 0,97
NOVA LIMA 427,0 22 41.223 1,62 51.910 1,38 54.718 1,26
PEDRO LEOPOLDO 292,5 40 29.999 1,18 46.639 1,24 56.832 1,31
RAPOSOS 75,0 31 11.810 0,47 13.336 0,36 12.803 0,29
RIBEIRÃO DAS NEVES 153,0 30 67.257 2,65 144.625 3,86 195.707 4,51
RIO ACIMA 228,0 39 5.069 0,20 3.080 1,14 5.078 0,12
SABARÁ 302,0 20 64.204 2,53 93.298 2,49 105.905 2,44
SANTA LUZIA 236,6 27 59.092 2,33 144.148 3,84 182.303 4,20
VESPASIANO 117,5 28 25.049 0,99 58.878 1,57 75.086 1,73
RMBH 3.696,3 -- 2.540.130 100,00 3.749.865 100,00 4.340.374 110,0
0
Fonte: IBGE/IGA/PLAMBEL (ESTIMATIVAS)

Ultimamente, com o declínio do processo minerador dentro da cidade uma

alternativa econômica para a população é dedicar-se ao Setor Terciário, do Comércio

Local e prestação de serviços diversos, ou empregar-se na Capital Mineira, bastante

próxima da cidade. Os “condomínios” oferecem oportunidades para uma mão de obra

desqualificada configurada pelo trabalhadores braçais da Mina de Morro Velho e mães

de família que contribuem para o orçamento sempre apertado da família novalimense. A

renda per capita da cidade está representada no quadro abaixo:


TABELA 3
COMPARATIVO RENDA PER CAPITA DA RMBH

MUNICÍPIOS RECEITA PER CAPITA/PERÍODO


76/78 79/81 82/84 85/87
BELO HORIZONTE 74 82 60 77
BETIM 61 85 59 72
CAETÉ 69 71 59 64
CONTAGEM 97 76 70 83
IBIRITÉ 26 19 20 37
LAGOA SANTA 32 50 54 59
NOVA LIMA 98 84 81 89
PEDRO LEOPOLDO 109 114 94 106
RAPOSOS 21 31 24 46
RIBEIRÃO DAS NEVES 10 11 12 21
RIO ACIMA 42 47 47 72
SABARÁ 27 27 25 31
SANTA LUZIA 46 39 27 34
VESPASIANO 55 90 74 86
RMBH 75 76 58 72
Fonte: Prestação de Contas Prefeituras e Plambel
Em US$ 1,00 com base cotação média (valor de compra) 1987.

Em geral as famílias possuem a composição média de cinco pessoas. O

município é o quarto em extensão metropolitana da região Metropolitana e sua

densidade populacional gira em torno de 127,6 hab./km².9 Entre 1970/80 experimentou

uma taxa de crescimento bastante inexpressiva, em torno de 4,7 %. Segundo o

Diagnóstico do Plano Diretor, as taxas de crescimento da população rural tem

decrescidos e o os indicadores, desde 1960, vem concluir que:

“... Nova Lima não tem sido capaz de reter grande parte da população. Concorre com isso o
decréscimo relativo do setor industrial da cidade, que resume-se à extração mineral, frente aos
centros mais dinâmicos da região. Além disso a topografia acidentada isola Nova Lima 10 desses
centros, impedindo o fenômeno conurbação o atinja, ao mesmo tempo lhe conferindo condições
11
inferiores para localização de atividades industriais” .

De acordo com isto temos que:

9
PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA LIMA. Plano Diretor - Pesquisa e Diagnóstico, N. Lima, 1994,
P. 31.
10
- Isolada de tudo está, neste caso, a Sede administrativa. N.A.
11
- PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA LIMA. Plano Diretor - Pesquisa e Diagnóstico, N. Lima,
1994, p. 35
TABELA 4
CRESCIMENTO POPULACIONAL (E PROJEÇÃO) DO MUNICÍPIO DE NOVA LIMA
ANO POPULAÇÃO TOTAL CRESCIMENTOS (%)
no período ao ano
1920 12.000
1940 16.321 36
1950 21.232 30,1 2,66
1960 28.223 32,9 2,85
1970 33.992 20,4 1,91
1980 41.239 21,3 1,95
1991 52.326 26,9 2,20
1995 56.012 7,0
2000 59.765 6,7
2005 61.946 3,6
Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA LIMA. Plano Diretor - Pesquisa e Diagnóstico, N. Lima,
1994, p. 31.

TABELA 5
POPULAÇÃO DO MUNICÍPIO DE NOVA LIMA (POR SEXO)

NÚMERO DE HABITANTES
SEXO URBANO RURAL TOTAL %
HOMEM 21.438 4.299 25737 49,2
MULHER 22.521 4.068 26.589 50,8
TOTAL 43.959 8.367 52.326 100,0
Fonte: Censo de 1991.

3.7 - Acessos

O principal acesso à cidade é a rodovia MG-030. Esta rodovia corta uma região

rica em beleza natural e mineral (Serra do Curral e Jambreiro) e liga o município a Rio

Acima, pelo recém construído anel de contorno. O acesso à Raposos se dá pela Rodovia

MG 437. O acesso antigo a cidade se faz pela MG 020 que também liga o município a

Sabará, sua antiga Comarca.

Até bem pouco tempo, o acesso a estas cidades se fazia pelo caminho interno ao

perímetro urbano da cidade. Em 1988, Nova Lima ganhou um novo acesso e uma

estrada que se liga diretamente a esses municípios sem que se precise passar por dentro

da cidade. Denomina-se Estrada de Contorno, esta continuação da MG-030 Além disso,


esta medida beneficiou o escoamento de produção da Usina do Queiroz, produtora de

ouro e de aço sulfúrico, proveniente da depuração dos rejeitos que o processo de

mineração do ouro produz. A Usina do Queiroz é de propriedade da Mineração Morro

Velho.

Derivando do Anel de Contorno foram construídos cinco trevos de acesso à sede

do município, que vieram facilitar o acesso a cidade, feito outrora por uma única entrada

e propiciando possibilidades de expansão urbana próximas à essas áreas.

TABELA 6
PRINCIPAIS RODOVIAS QUE SERVEM O MUNICÍPIO

CATEGORIA NOME INTERLIGAÇÃO EXTENSÃO* TIPO


APROX.(km)
FEDERAL BR 040 B.Horizonte/R.de Janeiro 26,0 asfalto
BR 356 BR 040/Ouro Preto 10,5 asfalto
ESTADUAL MG 030 B.Horizonte/Rio Acima 21,8 asfalto
MG 437 MG 030/Raposos 7,0 asfalto
MUNICIPAL 200 BR 040/S.Seb.Águas Claras 6,4 asfalto
020 NL/Sabará 6,0 pav./s/pavim.
010 Campo Pires/S.Seb.Águas Claras 10,6
302 MG 030/S.Seb.Águas Claras 9,0 s/pavim.
(*) extensão dentro dos limites do município

3.8 - Atividades Industriais

Historicamente, como veremos a seguir, a presença do Capital Inglês em Nova

Lima, posteriormente a descoberta de ouro nos seus ribeirões, possibilitou o

desenvolvimento e consolidação do núcleo urbano que compõe o Distrito Sede tal qual

ele é hoje. Esta influência decisiva da extração mineral da cidade está sendo construída

ao longo de seus 296 anos tendo a St. John Del Rey Minning Company, posteriormente,

Mineração Morro Velho como seu principal fomentador.


A partir da década de 60, o potencial da cidade foi voltado para exploração de

sua segunda maior riqueza na região denominada “anticlinal da Serra do Curral”12, parte

integrante dos 1600 km de Serra do Espinhaço dentro do estado de Minas Gerais. A

MBR (Mineração Brasileiras Reunidas) explora o minério de ferro, entre outros metais

de grande valor, constituindo-se também como um pólo gerador de empregos para a

cidade. Porém a expectativa de exploração do minério na Serra do Curral em 2005, e

possui chances de sobreviver até 2012, em duas outras minas de propriedade do Grupo:

trata-se da Mina do Tamanduá e Capitão do Mato, localizada em área lindeira ao bairro

de Alta renda denominado Morro do Chapéu. Instala-se frente ao problema da

mineração na Serra do Curral, outro problema de origem ambiental que pode reverter

em conseqüências gravíssimas para o município caso este não seja amparado por uma

lei de diretrizes ambientais que comprometa a empresa com a obrigação de recuperar o

que explorou sistematicamente por quase trinta anos.

TABELA 7
PRODUÇÃO DE MINÉRIO BRUTO(em toneladas)
ANO PRODUÇÃO
1934 232.000
1935 240.500
1936 288.544
1937 284.404
1938 347.900
1939 353.500
1940 383.000
1941 410.486
1942 413.700
1943 363.600
1944 361.700
1945 375.420
1946 326.150
1947 325.900
1948 316.700
1949 328.900
1950 370.000
1951 400.211

12
BARBOSA, Getúlio V. e RODRIGUES, David Márcio S. Quadrilátero Ferrífero, UFMG, IGC, Belo
Horizonte, 1967.
1952 378.946
1953 308.326
1954 314.317
1955 303.745
1956 323.108
1957 285.976
Fonte: Annual reports. St. John D’El Rey Minning Co. Ltd.
Arquivo da Mineração Morro Velho S.A., Nova Lima, 1980. In: GROSSI, Yone. Morro Velho -
Extração do Homem. 1981. p. 258.

Na verdade a cidade sofre com este tipo de problema não só nas áreas de atuação

da MBR, como também nas áreas que por quase dois séculos, foi explorada pela Saint

John Minning Company e atualmente, pela Mineração Morro Velho. Faz-se necessário

elaborar planos para gerir a conseqüente desativação das minas devido à sua exaustão.

Além disso, no que tange a estrutura econômica da cidade, esta passa por um

aparente e assustador colapso. Se a Mineração, anteriormente, empregava 8000 pessoas

beneficiando 24000 pessoas direta e indiretamente e envolvendo toda a cidade no

processo de atividade da mina, hoje não emprega mais que 2750, um vez que grande

parte das atividades da mina se encontram muito mecanizadas.


TABELA 8
EFETIVOS OPERÁRIOS
ANO SUBSOLO TOTAL
1934 1.312
1935 1.356
1936 1.888
1937 1.923
1938 1.344
1939 2.044 8.163
1940 2.250
1941 2.498
1942 2.599
1943 3.074 7.684
1944 -
1945 2.594
1946 2.548
1947 2.403
1948 2.267
1949 2.267
1950 2.107
1951 2053 5.131
1952 2.123 5.140
1953 2.111
1954 2.093
1955 2.050
1956 2.202 4.925
1957
1958
1959
1960 2.397 4.602
.
.
.
1980 2138 3.619
Fontes: Annual reports (Relatórios 1938, 1939, 1960, 1980) da St. John D’El Rey Minning Co. Ltd. e
Mineração Morro Velho S.A. Arquivo da Mineiração Morro Velho S.A., Nova Lima, 1980. In:
GROSSI, Yone. Morro Velho - Extração do Homem. 1981. p.257.
TABELA 9
TEOR AURÍFERO DO MINÉRIO BRUTO
(em gramas por tonelada)
ANO MORRO VELHO OUTRAS MINAS TODAS AS MINAS
1934 16,90
1935 14,28
1936 13,83
1937 12,90
1938 13,06 9,55
1939 11.54 9,66 10,99
1940 12,10 8,95 10,93
1941 11,74 8,49 10,37
1942 11,93 8,45 10,36
1943 10,61
1944 12,20
1945 13,22
1946 13,21
1947 12,99
1948 13,02
1949 12,66
1950 11,04
1951 10,86
1952 10,42
1953 10,96
1954 11,10
1955 11,60
1956 12,64
1957 12,16
1958 13,06
1959 12,56
Fonte: Annual reports. St. John d’El Rey Minning Co. Ltd. Arquivo da Mineração Morro Velho S.A.
Nova Lima, 1980. In: GROSSI, Yone. Morro Velho - Extração do Homem, 1981. p. 259

A Morro Velho vem demitindo, em larga escala, desde 1990. As atividades da

Mina Grande estão paralisadas à espera de alternativas para extração do ouro localizado,

em linha reta, há 4,5 km de sua boca de entrada - mais precisamente na Região do

Morro das Bicas em Raposos - numa profundidade de 2590 metros que, até agora

inviabiliza o processo de extração. Mesmo assim a produção de ouro de Morro velho

corresponde à 30% da produção do país se somados os resultados obtidos em Crichás

(Goiás) e Jacobina (Bahia). Mina Velha (reaberta em 1990), Cuiabá e Raposos, - estes

dois últimos utilizando da apurada tecnologia de Queiroz - produzem juntos 8.000 kg.
de ouro anuais13, além de 300 ton./mês de ácido sulfúrico utilizado em indústria de

fertilizante.

Por parte do poder público notadamente, durante todos esses anos, influenciado

pela presença da Mineração aguarda-se um posicionamento no que diz respeito a estes

dois preocupantes problemas; o declínio da mineração e o desemprego provocado pela

falência de uma atividade exploratória.

Iniciativas tímidas vêm sendo tomadas no sentido de amortizar esta situação;

porém se desenrolam lentamente e ainda esbarram no problema da propriedade do solo

que se configura como entreve na resolução do problema da habitação, que dirá em

iniciativas que visem “acordar” o município para uma outra vocação econômica.

Atualmente o município está sendo invadido por uma especulação habitacional

que olha com bom olhos para o fato de que Nova Lima possui belíssimas áreas de

matas, protegidas pela Lei Orgânica do Município e pela APA-SUL e potencial para ser

uma espécie de “Cidade Jardim” de Belo Horizonte. Surgem iniciativas de se tornar

zona de expansão urbana de Belo Horizonte, principalmente através dos “condomínios”

de beira de estrada, sobre os quais não falaremos neste trabalho, mas que representam a

parcela de Nova Lima com eminente vocação para crescimento demográfico,

futuramente.

Dentro de seu espaço urbano central passa por uma crise sem fim que vai da

carência de espaço físico liberado à uma real expansão - provocado principalmente pela

13
- Fonte: Dados coletados em visita às instalações do Queiroz. Ouro que possui o Certificado Good
Delivery, da Bolsa de Londres, ou seja, ouro chamado de “quatro noves”, extremamente puro. No
beneficiamento do ouro pelo processo utilizado pelo Queiroz, o minério vindo das Minas possui um teor
de até 6 gr/ton. Quanto “enriquecido” com produtos químicos a empresa consegue apurar o equivalente a
20-30 gr/ton. N.A.
posse da terra dentro do município -, até o próprio esfacelamento da estrutura de

organização do espaço urbano central, que podemos considerar como sendo o Núcleo

Histórico da cidade e que será analisado aqui através do enfoque da Habitação popular.

Este espaço da “cidade antiga”, que carrega “nas costas” 296 anos de História, urge

por soluções imediatas que melhorem a qualidade de vida de seus moradores, sanem o

uso do espaço e que propiciem a esse espaço uma leitura equilibrada, harmoniosa

dentro do que se pode determinar como sendo de valor qualitativo do espaço. Aquele

que define a referência, e que produz unidade, tendendo a se harmonizar porque seu

planejamento se faz de forma cuidadosa e sensível. Infelizmente, o país se apresenta

carente desses espaços. Os últimos, as Vila Históricas, os conjuntos arquitetônicos

preservados pelas leis, sofrem de fora para dentro a pressão da desigualdade

social/econômica de seus moradores, que é a tônica do crescimento urbano no Brasil

Contemporâneo.

Trataremos agora de conhecer um pouco mais o núcleo urbano central, ponto de

referência histórica da cidade de Nova Lima. Abaixo seguem tabelas com vários

indicadores que podem servir de base para futuras pesquisas.

TABELA 10
LEVANTAMENTO DE EDIFICAÇÕES EM NOVA LIMA
DOMICÍLIOS TOTAL URBANOS RURAIS
TOTAL 13.729 11.205 2.524
COLETIVOS 28 19 9
PARTICULARES 13.701 11.186 2.515
ocupados 12.013 10.164 1.849
não ocupados 1.688 1.022 666
Uso ocasional 713 227 486
Fechados 151 109 42
Vagos 824 686 138
Fonte: Censo de 1991.
TABELA 11
SERVIÇOS BÁSICOS/INDICADORES

SAÚDE EDUCAÇÃO
MUNICÍPIOS nº de leitos hab./leito mort.infantil pop.idade esc. matrículas índice atend.
1988 1988 (por (6 a 19 anos) (%)
1000)1980
BELO HORIZONTE 14.070 149 87 744.027 459.144 61,7
BETIM 538 261 45 47.876 283.517 59,6
CAETÉ 89 380 51 13.216 8.502 64,3
CONTAGEM 1.082 339 59 151.344 85.946 56,8
IBIRITÉ 36 1.470 23 21.469 13.320 62,0
LAGOA SANTA -- -- 21 8.917 6.849 76,8
NOVA LIMA 257 179 44 16.050 11.616 72,4
PEDRO LEOPOLDO 169 204 83 13.005 9.575 73,6
RAPOSOS -- -- 26 4.889 2.865 58,6
RIBEIRÃO DAS NEVES -- -- 10 39.698 20.867 52,6
RIO ACIMA 55 98 25 1.881 1.375 73,1
SABARÁ 522 242 31 32.042 12.497 39,0
SANTA LUZIA 102 952 22 33.843 26.095 77,1
VESPASIANO 70 618 53 13.612 10.260 75,0
RMBH 16.790 186 72 1.141.870 697.428 61,1
Fonte: SEI/SEPLAN/COPASA/PREFEITURAS

ÁGUA ESGOTO CONSUMO DE ENERGIA ELÉTRICA/1987


MUNICÍPIOS POP. ATEND. POP. ATEND. CONSUMO TIPO DE CONSUMO (%)
(%) (%)
1988 1988 TOTAL/kWh RES. COM. IND. RURAL OUT.
BELO HORIZONTE 96 80 1.880.620.853 49,24 29,27 11,48 0,02 9,99
BETIM 76 26 138.496.021 23,37 9,29 28,34 2,05 36,95
CAETÉ 95 60 14.740.623 50,87 12,13 13,62 3,57 19,81
CONTAGEM 79 49 576.654.737 22,04 10,28 63,08 0,09 4,51
IBIRITÉ 84 53 35.892.152 50,61 5,75 29,92 2,46 11,26
LAGOA SANTA 95 02 29.291.192 26,49 7,56 5,41 2,32 58,22
NOVA LIMA 88 82 63.895.899 26,44 8,18 54,61 0,38 10,39
PEDRO LEOPOLDO 97 80 37.073.385 30,39 8,78 42,50 3,96 14,37
RAPOSOS 63 27 4.189.529 70,04 9,66 3,05 0,01 17,15
RIBEIRÃO DAS NEVES 56 27 38.116.100 52,11 4,97 22,64 1,99 18,29
RIO ACIMA 98 40 3.804.358 38,29 5,40 43,84 1,40 11,07
SABARÁ 85 75 25.247.278 58,15 12,34 15,89 1,09 12,53
SANTA LUZIA 85 35 122.064.280 24,96 4,74 65,53 0,63 4,14
VESPASIANO 78 39 140.992.718 8,34 2,31 83,22 2,55 3,58
TOTAL 3.111.079.125 39,48 20,95 20,95 0,41 10,37

4 - HISTÓRICO DO MUNICÍPIO DE NOVA LIMA

4.1 - Antecedentes Históricos - Montagem do Cenário.

“As minas porém não tiveram infância.


Nasceram como a deusa de Atenas,
já feitas e armadas”14.

As cidades mineiras são um campo riquíssimo para o entendimento da

problemática da urbanização no Brasil visto que este ciclo econômico assumiu

características urbanas, primeiramente. O surto minerador no Brasil foi um

acontecimento que demandou um fluxo muito grande de imigrações, e “inchou” regiões

do sertão mineiro quase que da noite para o dia.

Suzy Melo observa que o Ciclo do Ouro, um surto mineratório quer ocorreu na

última década do século XVII, no território depois conhecido como Minas Gerais foi

urbano por excelência15. Do dia para noite surgiram núcleos de povoamento que se

consolidaram e formaram, com o passar do tempo, o que conhecemos como nossas

cidade históricas. O ciclo do ouro foi sedutor na medida em que ofereceu riquezas

imediatas, “brotadas” da terra e enriqueceu facilmente quem dela se ocupou. E não

apenas que dela se ocupou; indiretamente enriqueceu a todos que se preocuparam em

fornecer a precária infra-estrutura que ela precisava para sobreviver no sertão hostil e

em regiões ainda não totalmente desbravadas do Brasil Colônia.

“... outros núcleos de povoamento tiveram origem em atividades subsidiárias da mineração ou


que a ela substituíram, quando começou a decadência da exploração do ouro na segunda
metade do século passado”16

O Ciclo do Ouro provocou o crescimento e desenvolvimento urbano de um

sertão hostil representado por Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, ao mesmo tempo que

ofereceu a Metrópole Portuguesa a chance de se recuperar enquanto economia e

14
- VASCONCELOS, Diogo. História Antiga das Minas Gerais, p. 188.
15
- MELLO, Suzy. Barroco Mineiro, p. 65-90.
16
- SINGER, Paul. Desenvolvimento econômico e Evolução Urbana. (Análise da evolução econômica de
São Paulo, Blumenau, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife”, p. 202.
potência econômica que até bem pouco tempo o era, antes que a cana de açúcar entrasse

em decadência como monocultura de exportação de extrema lucratividade.

Considerando-se os números, Minas Gerais recebeu um contingente habitacional da

ordem de 30.000 pessoas envolvidas no processo de mineração e chegava a apurar até

5250 quilos de ouro anuais.17 O efeito da mineração foi um efeito cascata, um ciclo tão

denso como efêmero, já que perdurou pouco mais de um século18.

O ciclo do Ouro beneficiou a todos que se preocuparam em fornecer a precária

infra-estrutura que se precisava para sobreviver no sertão hostil e em regiões ainda não

totalmente desbravadas do Brasil Colônia. As regiões mineradoras agiram como centros

de espirais de influência que ligavam Minas a quaisquer dos centros de escoamento de

Produção do Sudeste Brasileiro. Estas regiões desenvolviam atividades suporte para

manutenção da atividade mineradora fornecendo a comida, as ferramentas de manuseio,

o intercâmbio do comércio de escravos, a parada para o tropeiro que vinha de longe.

“... as áreas de ocorrência do minério, devido às suas características de solo e clima, eram (e
são até hoje) pouco próprias à agricultura, de modo que o Setor de Subsistência que apareceu
junto às lavras estava longe de poder satisfazer todas e nem mesmo a maior parte das
necessidades dos mineradores”19

O efeito econômico da mineração foi um efeito cascata, que enriqueceu homens

rapidamente, produzindo uma fama de eldorado para as Minas Gerais que culminou

um surto imigratório para o Brasil, de proporções nunca vistas, fazendo surgir cidades

da noite para o dia.20

“A mina é o núcleo funcional de tais cidades; uma localização centralizada com franca
acessibilidade o território circundante, ou mesmo tempo um terreno favorável em que colocar
ruas e os edifícios são questões de somenos. O terreno mais favorável nas mediações do núcleo

17
- Ibid. p. 204.
18
- MARTINS, Roberto Borges e outros. A história da Mineração no Brasil, p. 14-62.
19
- SINGER, Paul. Desenvolvimento econômico e Evolução Urbana. (Análise da evolução econômica de
São Paulo, Blumenau, Porto Alegre, Belo Horizonte e Recife”, p. 202.
20
- MELLO, Suzy. Barroco Mineiro. p. 65-90.
funcional é a posição escolhida. O acesso à cidade é ganho pela estrada disponível, por mais
dificultosa que esta seja.”21

As cidades mineradoras surgem somente em função de um veio aurífero, não se

preocupa ao extremo com a sua acomodação no sítio muitas vezes hostil. A cidade

acontece à medida em que os resultados da investida impetuosa dos descobridores de

riquezas, afloram à céu aberto. Tal como Sylvio de Vasconcelos descreve:

“Multiplicam-se assim, os manifestos e seus exploradores, desprovidos de garantias de vida e de


propriedade, são impelidos a entrincheirar-se no mesmo local de trabalho, levantando seus
abrigos nas próprias catas, à beira dos talhos a céu aberto ou aproveitando as próprias bocas
das minas concorrendo, desse modo, as exploração, para as disseminações dos povoados”22

Dentro desta ótica, podemos imaginar o que de fato ocorreu em cada ponto de

extração promissor. Surgem, com estas mesmas características e os mesmas

características estruturais, vilas importantes tais como Vila Rica, Mariana, Caeté, Santa

Bárbara, Congonhas de Sabará23 e Sabará que se consolidaram enquanto pólos urbanos

quase que da noite para o dia. Os Historiadores hoje classificam estes pólos mineradores

em três áreas distintas separadas pela dificuldade de transposição das barreiras físicas e

da região; Minas Gerais dos Cataguás, entre 1694 e 1700 e compreendida pelos achados

de Vila Rica, Itaverava, Itatiaia, Antônio Dias, Mariana e outros, o segundo, Minas do

Rio das Velhas, compreendida entre outros por Congonhas de Sabará, Raposos, Sabará

e Minas do Caeté, compreendendo o próprio município e mais Catas Altas, Morro

Vermelho, Cuiabá, Santa Bárbara e outras. Fato ocorrido aqui, logo não tarda achar-se

ouro nas regiões do Rio das Mortes, (Tiradentes e São João Del Rey) em 1703, com a

mineração tomando o rumo da região nordeste do país.

21
- JAMES, Preston. Belo Horizonte e Ouro Preto, estudo comparativo de duas cidades brasileiras. In:
Boletim Geográfico, ano 4, n 48, março de 1947, pp. 1599; SINGER, Paul. Desenvolvimento econômico
e Evolução Urbana. (Análise da evolução econômica de São Paulo, Blumenau, Porto Alegre, Belo
Horizonte e Recife”. p. 200.
22
- VASCONCELLOS, Sylvio. Arquitetura Particular em Vila Rica. p.16.
Em Nova Lima os acontecimentos históricos determinaram rumo diferente ao

Ciclo do Ouro. A exploração subterrânea, rocha adentro impulsionou o nascimento de

uma indústria de extração que foi considerada uma das mais importantes do Brasil e

cuja atuação impediu a estagnação precoce do município, a exemplo do que aconteceu

em muitas cidades mineiras. Esta mineração influenciou as diretrizes de expansão do

sítio urbano durante o século passado, porque agiu como fomentador das atividades

extrativas e até metade deste século coordenou, de forma imperativa, os processos

decisórios referentes a trajetória de desenvolvimento do município que sobrevive

bravamente, até os dias de hoje. Atualmente, a mineração - reconhecidamente recurso

mineral de fontes não renováveis -, entra em declínio.

Nova Lima é, portanto, um município que nasce da tradição mineradora das

Minas Gerais. Como outros municípios, com essa mesma tradição, conhece o apogeu no

século XVIII e atravessa o século XIX e XX, levando consigo a experiência de ter sido

um dos primeiros municípios de emergência industrial dentro de Minas Gerais, a partir

do declínio da mineração de aluvião que abre uma nova e atraente perspectiva na

extração mineral de ouro e minério de ferro, perdurando até os dias de hoje24. Dos

arrais surgidos com a corrida do ouro, Nova Lima25 foi um dos únicos que, depois do

declínio da mineração de aluvião26, continuou a se mostrar promissor para uma

exploração que utilizasse a tecnologia de forma a sistematizar os mecanismos de

23
- Atual Nova Lima. N.A.
24
- Histórico do município.
25
-Nossa Sra. do Pilar de Congonhas de Sabará, Congonhas de Sabará, Vila Nova de Lima e atualmente,
Nova Lima. N.A.
26
- Ouro de aluvião: “o ouro é encontrado em partículas soltas, misturado com cascalho de quartzo, areia
e terra: e os filões onde o metal aparece em veios disseminados em quartzo ou em outras rochas auríferas.
(...) são camadas mais ou menos superficiais depositadas nas encostas dos morros, nas margens e
principalmente no leito dos rios e córregos, como resultado da desagregação das rochas que originalmente
extração do minério e seu beneficiamento, transformando a produção em eficiente e

segura 27.

4.2 - Nova Lima

“...A nossos pés, a depressão ocupada pela cidadezinha, Congonhas, cujo terreno é uma
mistura irregular de fundos e saliências, pontilhados de igrejas e vilas, de jardins e pomares, e
embelezada com o curso de um regato cristalino.”28

A história de Nova Lima poderia se resumir a seguinte constatação: Sem a

mineração o município provavelmente não existiria.

A história do município está desde sua origem ligada ao processo de exploração

mineral sendo este o motivo de seu nascimento e tendendo a se definir, a partir disso, os

rumos da manutenção de sua existência. Partindo destas vocação natural surge o

município. A partir daí, no desenrolar histórico, que se segue até o os nossos dias e que

será relatado neste trabalho, urge-se encontrar alternativas para manutenção de sua

existência mesmo depois de constatado o declínio eminente do processo exploratório.

No desenrolar do trabalho, voltaremos a discutir esta questão de forma mais cuidadosa

Campos de Congonhas, hoje Nova Lima, é o achado promissor de Domingos da

Fonseca Leme, bandeirante do grupo de Borba Gato, que encontra veios ricos nas

confluências dos Ribeirões dos Cristais e Cardoso, no ano de 1700, dando início ao que

se considera ser o primeiro núcleo de povoamento da cidade de Nova Lima.

Essa descoberta define também a vocação da cidade para área mineradora com

grande influência regional a partir de sua administração sob capital inglês, e que não se

continham o metal, pela ação milenar das águas”. Fonte: MARTINS, Roberto Borges e outros. A história
da Mineração no Brasil, p. 19-20.
27
- ibid.p. 50.
28
- BURTON, Richard Francis. Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho. p.172. Publicado
originalmente em 1868.
exaure com o declínio da mineração de céu aberto, prorrogando-se até os dias de hoje

com a exploração também do minério de ferro, manganês, bauxita, cobre, prata, ácido

sulfúrico, dentre outros minerais de alto valor comercial.

Além do ouro aluvião aflorando nos leitos dos ribeirões Cardoso e Cristais, foi

encontrado, a partir de finais do século XVIII, ouro na cabeceira dos morros da parte

Norte que compõem o chamado Vale do Cardoso Conhecido como Morro Velho, era de

propriedade de religioso — o Padre Freitas foi— a primeira lavra subterrânea em Nova

Lima. Inicialmente trabalhada até 1820, de forma assistemática pelo grupo de escravos

de Freitas, era perfurada pôr vários túneis na cabeceira do morro, de forma contrária ao

sentido certo de exploração, atitude que demonstrava o despreparo técnico deste grupo,

frente a uma exploração mais complexa. O ouro que se extraía de lá, num processo de

moagem a seco, era ouro de 19 quilates, com uma produção anual que muitas vezes não

ultrapassava 16 kg. por ano.29 Até 1820 foi assim explorada sendo vendida neste ano ao

Capitão Inglês George Francis Lyon que posteriormente, em 1834, a vendeu a uma

companhia de capital inglês - a Saint John Minning Company. Esta, por sua vez, por

influências dos tratados de abertura de portos brasileiros e posteriormente pela próprio

processo de independência brasileira, atividades em Nova Lima, atuando como tantas

outras companhias inglesas que resolveram se aventurar na mineração e iniciaram os

investimentos no Brasil.

Nesta mesma época podemos traçar o cenário do processo de corrida do ouro nos

demais pontos de exploração da região das Minas Gerais. O esgotamento da mineração

29
- LEONARDOS, Othon Henry. Do Morro Velho do Padre Freitas ao Maracanã de George Wigle.
Engenharia, Mineração e Metalurgia. vol. 20, p. 3-5, 1954. In: GROSSI, Yone. Morro velho: Extração do
homem. p. 40.
de aluvião30 trouxe decadência a todos estes promissores vilarejos auto-suficientes e

ricos construídos ao longo de todo o século XVIII. No Em início do século XIX, porém,

o que se via era apenas abandono, fome e pobreza a ponto de um viajante alemão

Freireyss, em 1815, relatar o seguinte:

“Eu fantasiava grandes estabelecimentos; enorme foi a minha surpresa quando me mostraram,
aqui e ali, um par de negros nus, munidos apenas de uma enxada, uma gamela de madeira e
alguns trapos”31

Após o declínio da mineração à flor da rocha e do leito dos rios, Nova Lima

entrou em processo de decadência. A mina foi vendida ao Capitão Lyon mas isso, a

princípio, não significou avanços extrativos porque faltava o essencial capaz de acordar

a cidade para outra etapa de sua História. Faltava ferramental e maquinários . Lyon era

conhecedor de processos de exploração tal qual deveria ser feito e de que forma Afinal

havia trabalhado por anos como Superintendente na Mina de Gongo Socco, em Caeté,

antes de comprar sua própria mineração. Dentro disso o que Saint Hilaire, viajante

francês que passou por Morro Velho em finais da década de 30, presenciou foi

decadência e hostilidade ao desenvolvimento.

“Congonhas deve sua fundação a mineiros atraídos pelo ouro que se encontrava nos arredores
e sua história é a mesma de tantos outros arraiais: o metal precioso esgotou-se. Os trabalhos
tornaram-se mais difíceis e Congonhas não anuncia presentemente senão decadência e
abandono.”32

Uma situação que se repetia padronizadamente, em toda província de Minas.

Ele se assusta com o estado de abandono encontrado no Vilarejo após o abandono da

30
Ver nota de rodapé 4 . N. autor
31
MARTINS, Roberto Borges e outros. A História da Mineração no Brasil. p.46
32
- SAINT HILLAIRE, Auguste de. Viagem pelo distrito dos diamantes e litoral do Brasil com um
resumo histórico das revoluções do Brasil depois da chegada de D. João VI à América à abdicação de
D. Pedro. São Paulo, Nacional, 1941 (Biblioteca Pedagógica Brasileira), 5, Brasiliana, v. 210. In:
GROSSI, Yone. Morro velho: Extração do homem. p. 36
Mina de Morro Velho pelo Padre Freitas e conseqüente declínio do processo de lavra de

aluvião dos córregos auríferos da região.33

No entanto, - em acontecimentos contrários a decadência de Congonhas de

Sabará - a partir de 1817 e de acordo com as impressões de defendedores de que o ouro

existia em veios riquíssimos em Minas, bastando a tecnologia para a sua exploração, a

Coroa Portuguesa autorizou a formação de grupos para explorar este filão em larga

escala com investimentos de capital acionário privado34.Com a independência do Brasil

e afastamento do domínio português sobre sua antiga colônia, este investimento se

configurou, principalmente, como capital inglês privado em busca de expansões dentro

da chamada condição potencial da antiga província de Minas, em ser espaço propício

para o desenvolvimento de uma atividade industrial promissora. Reiterando a opinião

dos ingleses alguns provincianos teciam comentários elogiosos à esta investida, tal

como jornais de época citados por Libby:

“... Nós mesmos temos visto quanto pode o espírito de associação. Os ingleses que primeiro
vieram estabelecer Companhias de Mineração em a Província de Minas, nos estão ensinando
quanto com seu auxílio se podem melhorar, ou mesmo aproveitar imensas riquezas naturais que
temos perdidas por falta de capitães, e por não havermos ainda bem conhecido quanto elas
podem interessar-nos.”35

Primeiramente, a exemplo do que havia pensado o Capitão Lyon,36 Saint John

Minning Company utilizou grande parte do capital na adequação das instalações da

Mina de Morro Velho às condições mínimas de trabalho, passando a mesma por uma

grande restruturação que incluía desde instalação de maquinários para perfuração como

33
SAINT HILLAIRE, Auguste de. Viagem pelo distrito de diamantes e litoral do Brasil com resumo
histórico das revoluções do Brasil depois da chegada de D. João VI à América à abdicação de D. Pedro.
São Paulo, Nacional, 1941. (Biblioteca Pedagógica Brasileira), 5, Brasiliana, v. 210.
34
MARTINS, Roberto Borges e outros. A História da Mineração no Brasil. p. 48.
35
- O UNIVERSAL. Ouro Preto, 05 de novembro de 1834, p. 3, c.1-2. In: LIBBY, Douglas Cole. O
trabalho escravo na Mina de Morro Velho
36
GROSSI, Yone. “... revendeu- à Saint John Minning Company por 56434 libras incluindo na transação,
máquinas, ferramentas, armazéns, minério bruto, gado e escravos”. p. 37
para moagem do material recolhido no interior da mina. A iniciativa de equipar a Mina

faz com que em algum tempo o cenário de decadência encontrado em Morro Velho seja,

de todo, passado.

A Saint John Minning Company, compradora de Morro Velho em 1834, das

mãos do inglês Lyon, encerrou suas atividades em São João Del Rey - primeiro dos

seus investimentos de peso em território mineiro - transferindo-se definitivamente para

Campos de Congonhas, onde passa ter papel decisivo, até os dias de hoje sobre os

rumos de crescimento da cidade. Trabalhou inicialmente as Minas de Baú e Quebra

Panela, Cachoeira, Gambá, iniciando em ter lucro a partir de 1839. Entre 1835 e 1886, a

empresa foi considerada o investimento mais lucrativo feito em terras brasileiras no

Setor de Mineração. Distribui, durante este período, investimentos da ordem de 18 %

anual médio aos seus acionistas37.

“Das minerações estrangeiras instaladas em Minas Gerais no século passado, a


Mina de Morro Velho, propriedade da St. John Minning Co., sediada em
Londres, se destaca em termos da escala de suas operações e de sua produção
aurífera. Além de ser a maior das minerações, Morro velho foi de longe a mais
lucrativa delas.”38

Como dados da época que comprovam esta importância temos:

TABELA 12
PARTICIPAÇÃO DE VÁRIOS EMPREENDIMENTOS NA PRODUÇÃO AURÍFERA
DA PROVÍNCIA DE MINAS GERAIS - 1879
EMPREENDIMENTO produção % da produção % da produção
em kg. capitalizada global
St. John Minning Co. Morro Velho - Nova Lima 1.511,50 87,2 83
Santa Bárbara Gold Minnig Co 177,3 10,2 9,6
Dom Pedro North Dël Rey Minning Co. - Sta. Bárbara 40 2,3 2,2
Companhia Min. Brasileira - Itabira 5,5 0,3 0,2
Faiscadores 90,4 5
Produção global 1824,2 100

37
- MARTINS, Roberto Borges e outros. A História da Mineração no Brasil. p. 50.
38
- ibid. p. 2. N.A.: Para este assunto ver também BURTON, Richard Francis. Viagem do Rio de Janeiro
a Morro Velho, p. 172 e GROSSI, Yone. Morro velho: Extração do homem, p. 41.
FONTE : “Estatística da produção de ouro na província de Minas Gerais no ano de 1879. Annaes da
Escola de Minas de Ouro Preto. Ouro Preto,1:168, 1881. 39

Segundo Libby, mão de obra escrava é utilizada em larga escala pela Saint John

Minning Company que chegou a utilizar 2500 escravos na exploração de suas lavras40.

Campos de Congonhas, por sua vez, foi elevada a Distrito de Sabará em 1836, sendo

denominada Arraial de Nossa Sra. do Pilar de Congonhas de Sabará.41

No entanto, a partir de 1857, a Mina de Morro Velho passará por uma série de

problemas tendo paralisado, por diversas vezes, suas atividades, sendo uma delas o

desabamento da galeria da Mina Grande em 1857, que paralisou as atividades da Mina

por um ano. Mal se recuperava deste incidente, outro problema vem a surgir, desta vez

com um incêndio no ano de 1867.

Diante do temor da paralisação definitiva de Morro Velho, em 1867 depois do

incêndio que colocou abaixo os escoramentos da Galeria da Cachoeira matando

dezessete escravos e um inglês, a imprensa local, segundo Libby, escreve:

“Não se sabe ainda qual o resultado d esta espantosa catástrophe, porém supõem-se, que se o
fogo tiver estragado todo estivamento, terminará aquele serviço, o que será conseqüências as
mais calamitosas para habitantes de 5 ou 6 municípios, que mais ou menos todos tem interesse
direto naquelle importantíssimo estabelecimento, que ocupa mais de 2000 pessoas em seu
trabalho diário e que interessa a muitos agricultores, fabricantes de ferro, tropeiros, carreiros,
que para este estabelecimento conduz muitas arrobas de ferro...”42

Porém não havia como negar que mesmo com os riscos o investimento que se

fazia em Morro velho produzia lucros bastantes expressivos que justificavam o risco do

investimento “... que implicavam num entrosamento com a economia local. no caso

39
- Annaes da Escola de Minas de Ouro Preto. Ouro Preto, 1:168, 1881. In: LIBBY, Douglas Cole. O
trabalho escravo na Mina de Morro Velho. Tese de mestrado da FAFICH, UFMG, BH, p. 48.
40
- LIBBY, Douglas Cole. O trabalho Escravo na Mina de Morro Velho, 1979. Este trabalho nos dá um
excelente panorama do processo de extração da -Mina de Morro Velho e a utilização do trabalho escravo.
N.A.
41
- Lei provincial de 08.04.1836. In: GROSSI, Yone. Morro Velho: Extração do Homem. p. 34.
específico do Brasil, o grande sucesso da St. John Del Rey evidentemente estimulou

vários investimentos no setor aurífero embora a maioria malograsse”43

Abaixo, na tabela 13 nos mostra o ranking de empresas inglesas que, no mesmo

período, atuam no Brasil

TABELA 13
TAXA DE RENDIMENTO MÉDIO ANUAL DAS OITO MAIS RENTÁVEIS
EMPRESAS DE CAPITAL BRITÂNICO INSTALADAS NO BRASIL
EMPRESA - PERÍODO CALCULADO TAXA DE RENDIMENTO- %
São Paulo Railway Co.(1876-1930) 11,20
The London and Brazilian Bank(1873-1893) 9,00
The English Bank of R. de Janeiro(1874-1892) 9,50
Rio de Janeiro Gas Company(1865-1886) 10,00
São Paulo Gas Company(1882-1912) 9,00
Bahia Gas Company(1880-1894) 8,00
Santa Barbara Gold Minning Co.(1876-1886) 14,00
St, Jonh Del Rey Minning Company(1835-1886) 18,00
Fonte: RIPPY, J.Fred. British investments in latin america. 1822-1949.
MINNEAPOLIS, UNIVERSITY OF MINNESOTA PRESS, 1959 P.153-844

Em 1886, mais outro gravíssimo acidente mergulhou Morro Velho numa má


situação, tendo sido cogitado, na época, seu fechamento definitivo45 Houve um
desabamento em grandes proporções que obstruiu a entrada da Mina e matou muitos
trabalhadores à uma profundidade de 500 metros da superfície. A Saint John levou dois
anos se recuperando do prejuízo e se preparando para a reabertura da mina. Isso também
só aconteceu porque os investidores britânicos acreditavam ser a mina ainda lucrativa.
Porém a parte da mina que desabou não pode ser mais reaberta perdendo-se assim o
contato total com o veio que estava sendo explorado.

Morro Velho volta como sendo uma das mais profundas do mundo, em 1888,

após dois anos de paralisação de atividades quando a entrada da Mina Velha é abandona

42
- O CONSTITUCIONAL. Ouro Preto, 30 nov. 1867, p. 2, c-1. In: LIBBY, Douglas Cole. O trabalho
escravo na Mina de Morro Velho. p. 62.
43
Ibid. p. 26
44
LIBBY, 25
45
- LIBBY, Douglas Cole. O trabalho escravo na Mina de Morro Velho. p. 65-66.
e outro acesso, através de shaft é construído46.Volta dotada de uma tecnologia avançada

em termos de indústria extrativa existente no país, neste período.47

Interessante notar que segundo Grossi48, durante o fechamento temporário da

mina, o município continuou sendo financiado por uma elite comercial que tratou de

fornecer víveres para a população enquanto Morro Velho se recuperava. Este

financiamento objetiva sustentar a estrutura criada até aquele momento e nos dá prova

que a Mineração é de grande influência para o município e para regiões vizinhas até

num raio de 300 km. Segundo Libby, a Mina de Morro Velho possuiu um raio de

abrangência muito maior do que se possa imaginar, abrangendo regiões que hoje se

denominariam Zona da mata, Zona Metalúrgica, Campo das Vertentes e parte do Alto

São Francisco.49 e talvez fosse interessante em outro estudo investigar o papel destas

influências na história destes municípios.50

“Em termos de provisões alimentícias, Morro Velho abastecia-se quase totalmente nos
mercados locais ... chegou sozinha a sustentar a economia regional. O volume das compras
realizadas pela Companhia possibilitava que ela freqüentemente estabelecesse os preços de
mercado.”51

46
Shaft é o termo utilizado para designar poços verticais rocha adentro de acesso a Mina ou de ventilação
e transporte da mina. Os shaft construídos nesta época possuíam 662 e 700 m de profundidade, segundo
planejamento do então Superintendente da mina George Chalmers. Segundo Grossi, “O acompanhamento
do filão se fez por planos inclinados e a extração do minério em andares de 34 metros. O único túnel de
entrada foi construído”. In: GROSSI, Yone. Morro velho: Extração do homem. Rio de Janeiro: Paz e
Terra, 1981. p. 39 A superfície foi modernizada com a substituição dos pilões brasileiros pelos
californianos, favorecendo mais uma vez a indústria externa em detrimento da nacional. Sobre isso ver
LIBBY, Douglas Cole. O trabalho escravo na Mina de Morro Velho p. 84. O transporte de dentro das
minas se fazia em lombo de burro. N.A.
47
- GROSSI, Yone. Morro Velho: Extração do Homem. p. 39.
48
- Ibid.
49
LIBBY, Douglas Cole. O trabalho escravo na Mina de Morro Velho 82-83. Morro Velho foi cliente,
pôr muito tempo, das mais importantes metalúrgicas de Minas no período, incluindo a de Monlevade.N.A.
50
- Ibid.
51
- LIBBY, Douglas Cole. O trabalho escravo na Mina de Morro Velho. p. 79.
ÁREA DE INFLUÊNCIA DE MORRO VELHO SÉCULO XVIII
Fonte: LIBBY, Douglas Cole. O trabalho escravo na Mina de Morro Velho. p. 82
Conveniente observar que muitos vilarejos, no Ciclo do Ouro, foram surgindo

da própria necessidade de prover recursos para funcionamento das minas, “antecipando o


52
fenômeno que só viria ser verificado com freqüência após as grandes concentrações industriais(...)” .

Assim sendo surgiram do nada entrepostos comerciais de manutenção da atividade

mineradora, de dormida dos mascates de contato frente ao universo hostil que esta

região apresentava.

Morro Velho se serviu desta estrutura também, empregando mascates que a seu

mando traziam tudo que ela necessitava para o seu funcionamento ao mesmo tempo que

regulava o próprio fornecimento de víveres, feito pelos comerciantes próprios,

mantendo o que se pode denominar, nos dias de hoje, de estoque regulador.

Um dos problemas enfrentados também, à nível de produção, dizia respeito a

utilização de mão de obra escrava que teve de ser paralisada pela assinatura de leis

abolicionistas.53 A escravidão que foi abolida em 1889, numa atitude que beneficiou

além do escravos, os interesses mercantilistas e hegemônicos da Inglaterra.54 Todavia,

na década de 90, mesmo com assinatura de tratados abolicionistas e numa atitude

contrária a acordos como a Bill Aberdeen, tratados esses anteriores a Lei Áurea, a Mina

Morro Velho empregava na execução de suas atividades 2500 empregados, sendo 1690,

52
- MELLO, Suzy. Barroco Mineiro. p. 71.
53
- LIBBY, Douglas Cole. O Trabalho Escravo na Mina de Morro Velho. p. 14.
54
- Não interessava às políticas mercantilistas que dominavam a Europa nesta época a manutenção de mão
de obra escrava nos seus territórios de expansão de mercado .Afinal o capitalismo emergente na Europa
deveria poder estender cada vez mais o seu universo de consumo e o escravismo representava uma
ameaça ao amplo sucesso de uma política voltada para esta expansão de mercados. N.A.
escravos, intimamente envolvidos com o processo de redução, britagem do material

recolhido no interior da Mina55.

“... o escravo foi empregado em todas as atividades da Mina, demonstrando não só a


versatilidade do trabalho escravo, mas também sua importância como base de um esquema de
distribuição racional da força de trabalho”56

Reiniciando em 1888, foram necessários investimentos da ordem de 233.394

libras, um investimento apenas autorizado após a anuência dos acionistas ingleses. Três

anos depois, Congonhas de Sabará era elevada à Categoria de Vila - Vila Nova de Lima,

- dizem que em homenagem a uma ilustre família da região. As modificações

tecnológicas pelo qual a Mina passou produziram lucratividade esperada e Morro Velho

chegou a financiar, segundo Grossi, a construção da Nova Capital de Minas Gerais, com

pequenos empréstimos financeiros bem como emprestando seus serviçais para algumas

obras, antes de chegarem os imigrantes.57

No século XIX, a produção de ouro em Minas Gerais chegou a representar 60%

da produção nacional sendo Morro Velho responsável por até 83% do ouro produzido

no estado.58 Mesmo com esta produção, o Brasil que até o século XVIII, havia sido o

maior produtor mundial, declinando de posição somente com o advento da mineração

no Estados Unidos da América, no Alasca, e na África do Sul.

55
- LIBBY, Douglas Cole. O trabalho escravo na Mina de Morro Velho. p. 122. A Mineração Morro
Velho tinha por hábito alugar escravos. N.A.
56
- Ibid. p. 122.
57
- GROSSI, Yone. Morro velho: Extração do homem. p. 41.
58
- LIBBY, Douglas Cole. O trabalho escravo na Mina de Morro Velho. p. 50.
Figura 2

Instrumentos utilizados para moagem e apuro do

ouro produzido em Morro Velho no Século

passado.

Acima: Pilão

Abaixo Prensa

Em nome da melhoria da produtividade da Mina e de uma modernidade

anunciada Morro Velho inaugura sua usina e barragem em Rio de Peixe, em 1904,

capaz de gerar energia elétrica para manter os processos mecanizados da Mina. Os

ingleses de Morro Velho canalizaram córregos provenientes do Jambreiro de forma a

abastecer a mina de quantidade considerável de água utilizada para a lavagem do

minério e para apuração do ouro nos processos de cianetação.

“A extremidade sudoeste do Morro das Quintas, ou Morro do Ramos, tem 400 a 430 metros de
altura acima do ribeiro e para suleste há ainda um bloco ainda mais alto, o Morro do Pires.
Antigamente o regato atravessava Congonhas; foi comprado pelo capitão Lyon e elevado a um
nível suficiente para dominar a mina. É um dos muitos córregos que recebem água adjacentes.
(...) O Córrego dos Cristais atravessa em calhas a ravina do retiro, corre em torno do morro até
um poço receptor, depois atravessa uma das melhores obras do estabelecimento, aprofunda
garganta chamada criminoso. Sifões invertidos de ferro mergulham na água até o fundo e
distribuem 2000 pés cúbicos por minuto, a cerca de 60 metros acima do ribeirão, que,
finalmente, assegura o escoamento da água”59

Figura 3

Detalhe do “Bicame” construção que cumpre

função desde o século passado de desviar a água

necessária de um ribeirão para a mina.

E em 1913, foi inaugurada um ramal secundário de uma estrada de ferro que

ligava Nova Lima e Raposos, a Estrada de ferro, Leopoldina Railway, de forma a fazer

ligação direta entre a Morro Velho e o Rio de Janeiro, de onde vinham todas as suas

provisões. Anteriormente à construção dessa ferrovia, os bens necessários ao

funcionamento da Companhia chegavam em Carros de Boi, por estradas em péssima

condição, segundo conta George Chalmers, autor do projeto:

“Os benefícios que a Companhia usufruiu com o trem elétrico são incalculáveis, sendo difícil
avaliar o quanto lutamos nos primeiros dias com os transportes(...) neste acidentado e
montanhoso país. Depois que as máquinas chegaram à Raposos não se ouve falar em atrasos,
sendo o material prontamente entregue à Mina (...) Ele valorizou nossa desperdiçada e
devastada floresta oferecendo meios para o transporte de madeiras em toda uma grande área,
em outras palavras, tornou o solo onde passa apto para o cultivo de eucaliptus e recentemente
auxiliou na plantação transportando 4.400 operários ocupados neste trabalho” 60

Esta iniciativa se estende até a década de 60, quando é desativada pela

empresa61.

59
- BURTON, Richard Francis. Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho. Publicado originalmente em
1868. p. 197.
60
- George Chalmer’s letter. Fonte: Centro de Memória da Mineração Morro Velho, em Nova Lima.
Citação bibliográfica não mencionada. O grifo no transportes é meu. N.A.
61
O bondinho é lembrado por todos os moradores da cidade porque também era meio de transporte até
Raposos e era usado como lazer nos fins de semana por estes. No centro de memória está exposta a
máquina dessa locomotiva de bitola estreita. N.A.
Figura 4

Em primeiro plano máquina da locomotiva utilizada

pela Morro Velho para puxar carga. Vê-se nesta

foto vagão de passageiros.

Além desse investimento criado para romper com problemas de ordem funcional

e contribuir para o aumento da produtividade e diminuição dos desperdício, em 1920,

inaugura-se insuflamento mecânico da Mina, possibilitando, além disso, os trabalhos da

Mina à uma profundidade de 2400 metros.62 Data de 1923, a mudança do nome da

cidade para Nova Lima.63

Dentro do cenário do estado, Minas - que até então possuía um crescimento

industrial inexpressivo - começa a produzir resultados que são fruto de uma retomada

da expansão da usina siderúrgica, abandonada desde os finais do século passado e que

significava, até então, apenas uma indústria artesanal.64

62
- GROSSI, Yone. Morro velho: Extração do homem. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981. p. 42
63
- Lei estadual de 07.09.1923. In: GROSSI, Yone. Morro Velho: Extração do Homem. p. 34.
64
- SINGER, Paul, Desenvolvimento Econômico e Evolução Urbana. p. 208, 238-239. Quando o mesmo
monta o cenário da nossa siderurgia a partir da abertura dos portos e declínio da mineração em Minas. De
acordo com o autor, a siderurgia foi prejudicada de desenvolver junto com a mineração devido a
interessas ingleses, assumidos por leis Nacionais que protegiam as importações prejudicando o produto
nacional. Durante a dominação portuguesa sobre o Brasil, a história não foi outra. Qualquer tentativa
brasileira de manufaturar era prontamente impedida. N.A. Ver o caso da Portaria de 1785. “o mercado do
ferro provinha sobretudo da mineração do ouro, o qual tinha estimulado o aparecimento das indústrias
siderúrgicas...”.
TABELA 14
MUNICÍPIOS MAIS INDUSTRIALIZADOS DE MINAS GERAIS - 1920
MUNICÍPIOS VALOR DA PRODUÇÃO PESSOAL OCUPADO
(1.000 contos)
Juiz de Fora 33 4.953
Conselheiro Lafaiete 19 1.650
Belo Horizonte 18 2.223
Nova Lima 16 3.395
Santos Dumont 13 520
Ouro Preto 8 884
Oliveira 7 320
São João Nepomuceno 5 872
Itajubá 5 599
Ponte Nova 5 508
Fonte: Censo de 1920 (De acordo com o Plano de Eletrificação de Minas Gerais, 1950, vol. I, p. 189. In:
SINGER, Paul. Desenvolvimento Econômico e Evolução Urbana. p. 236

TABELA 15
MUNICÍPIOS MAIS INDUSTRIALIZADOS DE MINAS GERAIS - 1946
MUNICÍPIOS VALOR DA PRODUÇÃO PESSOAL OCUPADO NA
INDUSTRIAL INDÚSTRIA
(Em % sobre
Cr$ 1.000.000) Minas
Belo Horizonte 734 14% 16.134
Rio Piracicaba 516 10% 12.451
Juiz de Fora 434 8% 3.200
Sabará 140 2% 2.355
Nova Lima 125 2% 7.500
Barbacena 106 2% 2.400
Itabirito 77 1% 2.030
S. João del Rei 75 1% 2.880
Paraopeba 75 1% 910
Curvelo 72 1% 2.412
Fonte: Plano de Eletrificação de Minas Gerais, p. 188. In: SINGER, Paul. Desenvolvimento Econômico e
Evolução Urbana. p. 254

São dessa época Usina Siderúrgica Mineira de Sabará, a Belgo Mineira e os alto

fornos de Rio Acima (1921), Caeté (1924), entre outros.65

Duas décadas depois a St. Saint John Minning inicia um remodelamento da mina

que auxiliará na manutenção da sua produção anual responsável por 83 % da produção

nacional.66 É o que diz Rache, citado por Grossi:

65
SINGER, Paul, Desenvolvimento Econômico e Evolução Urbana. p. 208, 238-239.
66
Os pilões californianos foram substituídos por Moinhos de Bolas e a perfuração utilizaria a partir daí ar
comprimido. Além disso, o minério seria triturado antes de sair da mina. Este remodelamento consegue
retirar os burros de dentro da mina, que até então só saíam do interior desta, dia de ano Novo e São João
“... mesmo sem os avanços tecnológicos, em 1955, a produção de ouro da Morro Velho foi de
3225 kg, fato significativo quando comparado com a produção de 1972, que correspondeu a
5.400 kg. Os engenhos de tratamento da empresa, em 1955, receberam 305.400 toneladas de
minério, acrescentando-se que a produção total do estado em 1954 foi de 1.170 toneladas,
excetuando-se Nova Lima.”67

TABELA 16
PRODUÇÃO DE OURO EM MINAS GERAIS
1700 -1950
DISCRIMINAÇÃO QUILOGRAMAS MÉDIA ANUAL
(séculos)
XVIII 720.000,000 7.200,000
XIX 204.451,000 2.044,514
XX 244.855,752 2.296,114
Fonte: COSTA, Roberto A. A Cortina de Ouro (Morro Velho). Belo Horizonte, Gráf. Santa Maria, 1955.
p. 29. In: GROSSI, Yone. Morro Velho - Extração do Homem, 1981. p. 45.

Morro Velho é transferida ao capital Norte Americano, através da Hanna

Company em 1960 O grupo de Ohio, segundo Leonardo, levou junto com a transação da

mina de ouro, as reservas de ferro da Serra do Curral e mais os 42 ha. de propriedades

da St. John Minning Co., adquirida no decorrer dos anos que imperou absoluta sobre

este território. A transação se deu, segundo Grossi,68 após investimentos da St. John

Minnig Company de abertura de um poço apelidado de “Maracanã”. Com relação ao

potencial de exploração das reservas de ferro localizadas na Serra do Curral, foi criada

pelo grupo de Ohio, uma Companhia estritamente para explorar o minério de ferro e

ouro - principal produto extraído até então, em Nova Lima - foi entregue à um Grupo

com maioria acionária Brasileira, tendo a Hanna ficado com a minoria das ações.69

4.3 - Descrições Históricas do Sítio Urbano Existente

“Uma vereda que segue um corte profundo, com o pétreos remanescentes de uma antiquada
calçada, algumas cabanas, a capelinha do Bomfim e uma casa grande, de um fornecedor de

completamente desvairados sendo quase impossível fazer com que voltassem. N.A. Para ver mais sobre
isso: GROSSI, Yone. Morro Velho: Extração do Homem. p. 42; LIBBY, Douglas Cole. O trabalho
escravo na Mina de Morro Velho. Capítulo 3 e 4.
67
RACHE, Atos de Lemos. Contribuição ao Estudo da Economia Mineira, 1957. p.144-5. In: GROSSI,
Yone. Morro Velho: Extração do Homem. p. 47
68
- GROSSI, Yone. Morro Velho: Extração do Homem. p. 47. A respeito do poço Maracanã. N.A.
69
- Que possui ações nesses bancos brasileiros que possuem o controle acionário. N.A.
carvão constituem a entrada da cidade. Atravessamos a ponte sobre o ribeirão e dali
prosseguimos sobre o calçamento de escorregadias pedras(...)” 70

Figura 5

Pintura de 1867 e Foto 1995.

Praça da Matriz

A descrição acima feita se refere ao relato do geógrafo Richard Burton71 quando

de sua passagem pela Mina de Morro Velho em 1867, investigando o sistema de

exploração do ouro dentro do que era considerado um dos mais promissores

investimentos ingleses nas terras brasileiras. Se formos situarmos correlatamente esta

investida de Burton, pelos sertões de Minas - que ele considera como sendo “uma região

tão grande, um solo tão fértil e um clima tão salubre quanto o da Inglaterra”72 - e,

especificamente, por Nova Lima há um século atrás, veremos que ela coincide com o

que podemos considerar como sendo um dos períodos mais importantes de Morro Velho

que situam entre a prosperidade e as dificuldades de ajustar o investimento aos dois

consecutivos desastres ocorridos anteriormente e um outro que estaria para acontecer,

anos depois, considerado o mais grave da .história da existência da Mina.

“... Deixei a mina em próspera situação, porém, em 21 de novembro de 1867, irrompeu um


incêndio e, a despeito de todos os esforços, os danos foram consideráveis” 73

70
- BURTON, Richard Francis. Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho. p.172. Publicado
originalmente em 1868.
71
- Ibid, p. 196. Temos ainda do mesmo autor a seguinte introdução: “Espero que as minhas notas,
tomadas na Rainha das Minas Gerais não parecerão sem interesse. Elas mostram o que é a vida dos
ingleses no coração do Brasil, e fornecerão alguns pormenores sobre um lugar digno de estudo”.
72
BURTON, Richard Francis. Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho
73
Ibid., p. 203.
Mas o que nos interessa aqui, agora é construir, imaginariamente, o que Burton

descreveu como sendo Nova Lima, remontando assim um cenário que auxiliará na

compreensão do sítio urbano, tal como se apresenta hoje. Burton caracteriza a área

compreendida como sendo da mineração, aos pés do morro e nos dá uma idéia do que

era o processo produtivo de Morro Velho.

“Situado em um espaço pequeno, o núcleo da mineração fica na encosta ocidental do vale; ali
estão enormes rodas hidráulicas, os compridos e escuros barracões, com o chão coberto de
minério cinzento, casas de máquinas e pequenas construções em forma de quiosque, caiadas de
branco, onde ficam os homens encarregados das manobras”74

Em outra passagem reforça a afirmação que a cidade nasceu da bifurcação dos

dois córregos auríferos; Ribeirão do Cardoso e Ribeirão dos Cristais uma vez que o

próprio acesso da cidade, no original, vem seguindo a direção destes rios.

“...A nossos pés, a depressão ocupada pela cidadezinha, Congonhas, cujo terreno é uma
mistura irregular de fundos e saliências, pontilhados de igrejas e vilas, de jardins e pomares, e
embelezada com o curso de um regato cristalino.”75

Na atualidade o visitante que se encontra nas imediações da Matriz do Pilar pode

estranhar que todo o conjunto arquitetônico esteja “dando as costas” para o visitante. Na

verdade, segundo Suzy Mello, o conjunto arquitetônico colonial se voltava para o leito

dos rios visto que o rio era fonte de riqueza e consolidação do núcleo histórico e o

monumento religioso configurava-se como sendo o marco para o nascimento de um

determinado núcleo de povoação e a partir dele poderíamos avaliar o grau de

complexidade e desenvolvimento que permeava a história de cada uma dessas vilas

coloniais.

“... a princípio, nas povoações primeiras, unem-se os indivíduos em torno de uma única capela,
de construção precária, núcleo de povoação nascente e ponto de referência do lugar. Na capela
se reúne o povo em suas festas e aperturas...”76

74
- Ibid. p. 193
75
-Ibid. p. 172.
Segundo Vasconcelos, igrejas e casarios - que ao longo do tempo também

assumem formas mais complexas denotando riqueza dos seus moradores - comprovam

a teoria de que Minas se reiterou da lógica de formação da cidades no Brasil de forma

avessa ao restante do processo.

Aos primeiros afloramentos de povoamento acontecido nas regiões das Minas

eram dados os nomes de arraiais, nome de um folguedo popular muito comum em

Portugal na época das Romarias.77 As características de surgimento e assentamentos dos

núcleos de povoamento da Província de Minas contrariavam as chamadas “leis das

Índias” que regulavam o traçado das cidades entre um partido ortogonal de malha viária

ou, muitas vezes, radial. Nas regiões montanhosas de Minas essa configuração era

pouco propícia uma vez visto que grande parte das regiões onde a exploração febril se

iniciava ficava localizada em áreas onde o relevo era acidentado e a tendência natural da

população era se assentar nessas cumeadas traçando caminhos de acessos que

acompanhavam as curvas de nível78 . Em Nova Lima, como pode observar Burton, a

ocupação se deu das proximidades dos vales para as encostas, havendo também

incidência de ocupação em platôs localizados no cume de morros conforme o que

aconteceu com Boa Vista e Timbuctu.

Outra característica interessante a ser observada seria a de que sempre o

povoamento se faria no sentido longilíneo acompanhando, em grande parte das vezes, os

76
VASCONCELLOS, Sylvio de. A Arquitetura Colonial Mineira. In: Seminário de estudos mineiros,
Belo Horizonte, Universidade Federal de Minas Gerais, 1957, p. 68. In: MELLO, Suzy de. Barroco
Mineiro, p. 131.
77
- LATIF, Miran de Barros. As Minas Gerais. Rio de Janeiro, Agir, 1960, p. 109. In: MELLO, Suzy.
Barroco Mineiro. p. 71.
78
- MELLO, Suzy. Barroco Mineiro. p. 71.
caminhos tão importante ao contato do ambiente internos das povoações com mundo

externo de onde provinham os víveres e a manutenção da atividade mineradora.

“Esse íntimo relacionamento com o caminhos, além de acentuar a conformação longilínea das
79
povoações dava-lhes outra característica: “suas ruas eram sempre antigas estradas””

Em Nova Lima, confirma-se a tendência de formação do espaço urbano

longitudinal, espichando-se por entre os caminhos, entre eles o ribeirão, que conduzia

até o leito do Rio das Velhas, que alguns quilômetros à frente já era plenamente

navegável. Sua rua principal é a somatória de um amontoado de caminhos que se

fundem com o tempo.

As edificações de cunho religioso, construídas a medida em que o povoamento

se consolidava e identificados com classes que surgiam enriquecidas pelo poder

proporcionado pela mineração, nos primórdios da cidade, eram erguidos em locais

estratégicos: “... em Minas os templos são erguidos no centro de largos, circundados por praças ou

ruas independentes, das quadras urbanas deles vizinhas”80

Em Nova Lima, se o visitante observar a inversão contida no assentamento das

capelas com o eixo viário hoje existente, concluindo que uma vez exaurida a

exploração dos cursos dágua existentes - Ribeirão dos Cristais e Cardoso em sua

confluência, logo ao pé da primeira igrejinha de Nova Lima, a do Bomfim - a mineração

se voltou para a região oposta à esta que se situa atrás do núcleo urbano primitivo.

Eram de lá que provinham as pepitas, encontradas nos ribeirões e que carreavam com

as enxurradas em direção aos cursos d’água existentes e confluentes. Uma vez

consolidada a ocupação do Morro Velho como área de exploração de lavras profundas, a

79
- LATIF, Miran de Barros. As Minas Gerais. p. 109. In: MELLO, Suzy. Barroco Mineiro, p. 83.
80
- MELLO, Suzy. Barroco Mineiro. p. 74.
população se volta para esta direção, abandonando os cursos d’água agora improdutivos

e Nova Lima tende a crescer em torno do seu novo foco de incidência da sua principal

atividade econômica e mais tarde acompanha uma ordenação ditada pela própria

regulação do território pela mineradora. Isto pode ser comprovado na narração de

Burton. Ele primeiro nos fala, sobre a praça principal e simbolicamente o elo gerador de

todo processo de organização do arraial gerado pela garimpagem a céu aberto e nos

regatos localizados à uma curta distância:

“A praça principal tem algumas casas de dois pavimentos 81 e enfeitadas, e os dignatários da


localidade trataram de assegurar a presença de uma necessidade na vida municipal brasileira,
o teatro, decrépito, embora tenha apenas quinze anos. A matriz (...), tem uma fachada com três
janelas e um frontão coroado por uma cruz, as torres apresentam telhados suíços, virados nos
cantos (...)”82

Este trecho também reforça a idéia da consolidação do núcleo urbano uma vez

que o próprio já possuía uma matriz, sobrados e um comércio que segundo Burton
83
“...floresce em vinte estabelecimentos, inclusive um laboratório e algumas farmácias” .

No segundo trecho do relato de Burton, ele nos diz a respeito da expansão da

cidade até o Retiro, bairro que se consolidou às margens de um acesso futuro a Belo

Horizonte e que serviu de local para assentamento de casas que na opinião de Burton,

pelo próprio formato, tendiam a se inspirar no que era feito em termos de arquitetura no

Brasil Colonial. Neste segundo trecho percebemos que a cidade começa a se distanciar

deste elo organizador da forma urbana original para ir se assentando em terrenos mais

próximos da presença dos limites físicos de Morro Velho:

81
- Esta parte da narrativa nos remete a pensar que a cidade acompanha cronologicamente a evolução das
vilas de ouro de minas que segundo descrição de Sylvio de Vasconcelos e outros autores que se ocuparam
do fato, foi o sobrado a segunda fase de evolução das tipologias habitacionais encontradas nas Minas
indicando até que o povoamento conheceu um período de extração maior do que alguns povoados como
Tiradentes que possuem pouquíssimos exemplares de sobrados e muitas casas térreas. N.A.
82
-BURTON, Richard Francis. Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho. Publicado originalmente em
1868 p. 172
83
Ibid. p. 173
“... subimos o Morro do Depósito e chegamos à aldeia do retiro, construída em uma encosta.
Ali se erguem, em filas sucessivas, casas de aspecto brasileiro84, tendo na frente canteiro de
flores e verduras. São casas dos mineiros ingleses e suas famílias. O aluguel varia de 0$500 a
1$500 por mês. Outras casas ficam em Mingu, atrás do Hospital; três famílias (agosto de 1867)
moram perto do portão da Praia85 e algumas perto de Congonhas.”86

Podemos abrir um parênteses s reforçarmos a idéia de que a Saint John foi

pioneira em manter habitações disponíveis de forma a agregar ao trabalho da mina uma

mão de obra fiel e constante aos trabalhos.

Ao mesmo tempo que se refere às casas de acomodação da Companhia, como

mistura entre um estilo brasileiro, que consiste em acomodações para os hóspedes

eventuais bem como perceber influências inglesas nestas residências, que segundo

Burton são “... muito bem cuidadas, tendo em frente canteiros de flores cercados de grades e um
87
regato escuro de leito de ardósia...”

Ainda há uma passagem serve também para comprovar, dentro do cenário do

século XIX, a interferência da Companhia, no que diz respeito às habitações operárias

do tipo “bonserás” que a Companhia constrói no hoje conhecido como Bairro da

Rocinha:

“A Companhia construiu, além de Retiro88, casas para os mineiros brasileiros e alemães, mas as
acomodações residenciais são geralmente, más, e podem ser melhoradas sem grandes despesas
e com muita vantagem”89

84
- Seriam as primeiras casas construídas pela Companhia para abrigar tanto mineiros quanto inglês. As
primeiras casas de Quintas que foram construídas e que ainda existem estão nas proximidades do Bicame
e Rua Elogio Pimentel e Dick Morgan. Estas outras casas se situam principalmente no Bairro do retiro em
sua Rua principal. Em Rio de Peixe, distrito de Nova Lima, são encontradas também. N.A. Os grifos são
meus.
85
- Praia seria hoje a região compreendida na cidade como o Matadouro e finalzinho do Centro próximo
às ruas Antônio Jardim, onde até alguns meses atrás ainda podia ser vista uma represa. Na atualidade, esta
região está sendo transformada em uma Avenida Sanitária. N. A.
86
BURTON, Richard Francis. Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho. Publicado originalmente em
1868. p. 175. Congonhas poderiam então ser considerada como o núcleo histórico primitivo que
circundava a área da primeira descoberta de ouro. N.A. Os grifos são meus.
87
BURTON, Richard Francis. Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho. Publicado originalmente em
1868. p. 196
88
- Referencia ao bairro Retiro localizado próximo ao mencionado Morro do depósito. N.A.
As habitações construídas em Boa Vista e Timbuctu90, anteriormente, para

abrigar escravos possuem estas mesmas características bem como habitações existentes

até este século no Bairro do Rosário.

Mais tarde as regiões compreendidas como Vila Operária e Cristais, e mais tarde

liberam-se os terrenos de Cruzeiro e Montividiu91serão utilizados pela Mineração como

locais para construção demais casas para funcionários, ou cessão de terreno par que eles

mesmos as façam, numa fase posterior a esta, estabelecendo implantações em sistema

viário ortogonal que desrespeita as declividades superiores a quarenta e cinco por cento

ali existentes.

As casas da chamada Vila Operária também seguem o mesmo esquema. Já as

residências localizadas no Sopé do Morro das Quintas serão ocupadas por funcionários

ingleses que possuem cargos de chefia ou controle da produção da Mina de Morro

velho. As casas construídas no Retiro, menores, com varanda e jardim na frente,

representam as primeiras que foram construídas para abrigar estes funcionários, em fins

de século passado. Possuem as mesmas características das casas construídas nas Quintas

posteriormente, porém são um pouco menores.

89
- Há incidência de casas com planta quadrada e em cruz, com janelas quadradas cujo detalhe
interessante seria o da existência de um orifício localizado em ponto superior do pé direito que serve para
ventilação. N.A. Ver Capítulo sobre Tipologias. No livro de LIBBY, há uma observação sobre o fato de
que, em 1851, “... chegaram a Morro Velho, vinte ilhéus portugueses, presumivelmente da Ilha da
Madeira.”. p. 123-124. O texto informa que não se sabe quanto tempo ficaram em Nova Lima, visto que
nenhuma alusão a estes é feita depois. O fato é que de alguma forma estes portugueses podem ter
contribuído para influenciar a adoção de determinadas peculiaridades no modo de construir da
Companhia. N.A.
90
- Bairro localizado acima da Mina Grande e Velha, no chamado Morro do Morro Velho. O cruzeiro de
madeira, símbolo forte para os mineiros da mina e que é referencial histórico para a cidade, está assentado
neste Morro. Foi colocado lá em meados de 1840, pelo Superintendente da Mina, Mr. Keogh. O mesmo
que acompanha Burton na sua visita e o mesmo que falou, pela primeira vez, na construção de casas
populares. N.A.
91
- Local por onde Burton parece ter chegado. N.A.
Construção da influência da Companhia Inglesa Saint John Minning Company

no processo de consolidação do município.

De acordo com Libby, os custos de operação da Saint John Minning Company,

entre 1838 e 1885, foram da ordem de:

“(...)75000 libras anuais, uma boa parte das quais eram injetadas diretamente na economia
provincial Além dos salários dos trabalhadores livres e dos aluguéis pagos aos locadores de
escravos, a Saint John necessitava de grandes quantidades de madeira para escoramento,
carvão, (...) lenha, cal, sabão e alimentos que eram supridos pela economia local.” 92

Ressaltamos durante este trabalho, toda à importância que Morro Velho possuía

para a economia local destacando ainda a importância de fundições tais como a

Metalúrgica Monlevade, responsável pelo fornecimento do ferro, dos pilões e dos

moinhos, tendo as atividades de Morro Velho, em Nova Lima, como o fomentador da

demanda pelo crescimento de uma indústria de produtos siderúrgicos nas Minas

Gerais.93 A importância de Morro Velho se dava pelas:

“elevadas necessidades de suprimento da mina, em combinação com uma política de compra


que visava manter os custos no mais baixo nível possível, fizeram que a influência da St. John se
estendesse muito além da circunvizinhança imediata. No caso das comarcas de Sabará, Ouro
preto e do Rio das Velhas, a mina aparentemente sustentava a economia regional, inclusive
estimulando maior integração de agricultores de subsistência ao mercado monetário.” 94

Como já dissemos anteriormente, o comércio nascido em função da exploração

sistematizada da Saint John Minning Company Minning Company, trava, em certo

momento um pacto de subsistência da atividade mineradora no município de Nova Lima

e suas relações se estreitam e fortalecem a medida que :

 É em função da existência da mineração que o comércio acontece, tal como descrito

por tantos outros estudiosos no assunto95

92
- MARTINS, Roberto Borges e outros. A história da Mineração no Brasil. p. 61.
93
- LIBBY, Douglas C. O trabalho escravo na Mina de Morro velho. p. 61-62.
94
- Ibid, p. 61.
95
- FURTADO, Celso. História da Formação econômica do Brasil., 1967.
 A mineração encontra aí o auxílio para subexistir em seus momentos mais difíceis.

Interessante é citar o exemplo do entreposto comercial existente em Nova Lima, que

também exerceu influência regional no comércio de víveres de toda a região

adjacente por ser o mais completo estabelecimento comercial a se firmar nesta

região. A Casa Aristides situada em região lindeira aos limites físicos da própria

Saint John Minning Company, cooperou para estabelecer uma pouco a pouco,

coligada com a Companhia, um sistema de dependência entre trabalhadores livres e

empresa, promovendo vendas a Crédito através de uma Caderneta de Compras 96.

Figura 6

Casa de Aristides

Desta forma garantia-se, garantindo primeiramente, o endividamento do empregado,

que este não abandonasse o seu posto pois sempre dependeria do seu empregador e

do benefício criado pelo vínculo empregatício, estreitamente ligado a questão da

sobrevivência de sua família. Nova Lima pode ser considerada a primeira cidade a

possuir dentro das Minas Gerais, uma indústria de forte tendências a seguir modelos

encontrados no Capitalismo primitivos praticado, anos antes, na Europa. Consistiam

em práticas pré-industriais que seguiam uma atuação empresarial de cunho

claramente paternalista.

96
- LIBBY, Douglas Cole. O trabalho escravo na Mina de Morro Velho, 1979; GROSSI, Yone. O
São considerada de vanguarda as primeiras iniciativas que surgem de fixar o

trabalhador livre ao local de trabalho, através do fornecimento de moradias e bairros

planejados numa política típica das “company towns”97 bem como no estabelecimento

de acordos entre as Empresas e a este Grande Empório da região no sentido de fornecer

alimentos para seus funcionários através do regime de Cadernetas de Compras98. Este

endividamento progressivo dos empregados de Mina de Morro Velho através deste

sistema de dependências auxiliava ainda mais a manutenção de frentes permanentes de

trabalho prevenindo assim que a produção seguisse o curso dos planejamentos

realizados.99 O regime tem seu lado positivo apenas quando tomamos consciência de

que ele regulava o mercado interno de mercadorias evitando que a exploração dos

preços praticados nos alimentos — a exemplo de outras cidades mineradoras — fossem

maiores.

“Do sistema seguido pela firma Borges, Taveira e Cia. (...) e por sua cooperação cordial com o
chefe de armazém da Companhia, efetuaram-se reduções consideráveis nos preços de provisões
e outros artigos neste distrito durante o ano passado. Este fato é tão conhecido que pessoas
vindas de distância consideráveis procuram suas provisões gerais em Congonhas. Atualmente, a
100
classe trabalhadora pode viver mais barato aqui do que em qualquer lugar da província” .

O viés da influência da atividade mineradora na cidade Nova Lima é retomado

sobre a forma de análise do espaço urbano produzido, os reflexos na regulação do uso

do Solo e as perspectivas do município frente ao esgotamento da atividade mineradora

trabalho escravo na Mina de Morro Velho, 1981.


97
- Ibid. p. 85. Ver também: GROSSI, Yone. Morro velho: Extração do homem, 1981. Neste trabalho, a
influência da cessão de moradias pela Companhia aos seu funcionários é analisada como agregadora e o
empregado necessitava se mostrar disposto a “cooperar” com a empresa caso quisesse ser beneficiado
com elas. Praticamente toda região periférica à Mineração e encostas lindeiras foi ocupadas por estas
casas . A parte nordeste de topografia mais privilegiada foi cedida aos funcionários de alto escalão
(quintas inglesas) a empresa numa atitude simbólica de segregação e ao mesmo vigilância das classes
mais abastadas. N.A.
98
- Ibid. p.85.
99
- Ibid.p. 80. N.A.: Nova Lima atraiu um contingente migratório muito grande para Morro Velho de
collies chineses, alemães e ingleses da Cornualha.
que sempre foi sua principal fonte de riquezas. Além do condicionante de fixação e de

dependência da força de trabalho à empresa, - reforçado pela cooperação do comércio -

a Saint John Minning Company, a partir de 1844, inicia estrategicamente, a construção

de casas para os trabalhadores livres numa tentativa de fixá-lo ao trabalho, considerado

bastante árduo na mina101 e estabelece o que pode ser observado, com freqüência, como

característica do nascimento do processo industrial no Brasil; a adoção de um modelo

paternalista de vínculo estabelecido entre empregador/empregado, através cessão da

moradia construída e de propriedade da empresa.

A partir de 1847, face às necessidades de fixar mais e mais mão de obra à

produção - já que não se pode contar mais com os cativos -, a Companhia Inglesa, toma

iniciativa de construir mais algumas casas visto que “(...) o número de trabalhadores livres é

impedido unicamente pela impossibilidade dos recém chegados de acharem qualquer lugar para ficar

102
dentro de uma distância razoável da mina” . As pessoas que chegavam, muitas vezes, se

hospedavam e pagavam pensão na casa de parentes e amigos. A maioria da população

captada pela mineração para trabalhar em Morro Velho era do Campo. Aliando a falta

de moradia, com as péssimas condições de trabalho que a mina oferecia, este

contingente de mão de obra estava fadado a debandar de volta para o campo, onde pelo

menos a pequena colheita era certa. Mesmo assim, pela própria natureza dos trabalhos

em Morro Velho :

“Embora o superintendente e o capitão de minas se declarem satisfeitos com o constante


aumento do número de trabalhadores livres que pedem emprego na Mina, ao mesmo tempo
continuam queixando-se da irregularidade de freqüência que marcavam as duas décadas
anteriores. A frustração a este respeito foi multiplicada pelo fato de que vários esforços no
sentido de atrair operários brasileiros a Morro velho foram realizados, inclusive a construção

100
- Ibid. p.86. O grifo é meu para ressaltar o desenvolvimento de uma relação cada vez mais coesa e
caminhando para o desenvolvimento de relações plenamente capitalistas. N.A.
101
- GROSSI, Yone. Morro Velho: Extração do Homem, 1981.
102
LIBBY, Douglas Cole. O trabalho escravo na Mina de Morro Velho. p. 85.
de casas,103 a oferta de salários maiores e a organização de um sistema de compras no
Armazém da Companhia” 104

Consta nos registros da Companhia que o período de colheita no campo

coincidia com o maior índice de absenteísmo no ambiente de trabalho, ou seja, de

abandono das atividades pelos trabalhadores livres. Grande parte destes trabalhadores

eram filhos de pequenos proprietários de terras, geralmente sem escravos ou sem

empregados, que necessitavam da família para colher seu produto, nas épocas de

lavoura.105

A imigração ou o incentivo à imigração foi uma das alternativas utilizadas pela

indústria com objetivo de suprir deficiências relacionadas com a pouca especificidade

do trabalhador brasileiro. Os imigrantes eram geralmente trabalhadores com experiência

no maquinário e nos acontecimentos industriais da Europa. Foi assim com Belo

Horizonte, onde a eles foi dada a incumbência de construção dos principais

monumentos da Nova Capital, bem como preencher as lacunas encontradas no

trabalhador brasileiro inclusive na Agricultura comercial.

Morro Velho, na tentativa de suprir seus quadros de empregados, relativizar as

dificuldades encontradas com a cessão do tráfico negreiro e conseqüente proibição de

comercialização de escravos, empregou entre muitos, collies chineses, imigrantes

europeus tais como alemães, franceses, austríacos e ingleses vindos de uma região

inglesa chamada Cornualha106. A estes eram dadas as tarefas que demandavam alguma

técnica especial no manejo no interior da mina, de atividades perigosas tais como

103
- Mencionados neste trabalho e classificados como “Chalets” ou como Burton chamou, “Casas
Brasileiras”. N.A.
104
- SAINT, John Del Rey Minning Company, Limited. Annual Report 1855. Londres, R. Clay, 1855. p.
22-23. In: LIBBY, Douglas Cole. O trabalho escravo na Mina de Morro Velho. p. 107-108.
105
- LIBBY, Douglas Cole. O trabalho escravo na Mina de Morro Velho. p. 109.
dinamitamento de filões rochosos e, é claro, a supervisão destes trabalhos .Os ingleses,

geralmente vinham acompanhados de família para uma estada de seis anos, garantidas

as passagens de vinda e ida. Isto constituía uma das partes do contrato de prestação de

serviço feitas pelos imigrantes europeus107.

A iniciativa de se construir para os empregados livres era gerada pela

necessidade de locar, também, esta mão de obra estrangeira. As Quintas são a iniciativa

da empresa para alojar seus empregados de alto escalão, ou de funções especiais.. Surge

em Nova Lima, verdadeira colônia de empregados ingleses que trazem para a cidade

toda influência de sua cultura como também trazem uma consciência das diferenças

entre as classes sociais que, como Grossi analisa em seu trabalho, contribui para o

fortalecimento, anos mais tarde, de um processo de sindicalização que sai em defesa da

classe operária, constituída pelos mineiros de Morro Velho, culminando na fundação

de uma Central do Partido Comunista na cidade que incentiva o nascimento de um

sindicato forte nas primeiras décadas do século XX.108

Interessante citar nesta parte do trabalho, à problemática da divisão dos

territórios em Nova Lima - dos ingleses (Patrões) e dos empregados (Mineiros) - porque

esclarece, de antemão o processo de transformação de Nova Lima, em uma verdadeira

Cidade Industrial. Para os empregados não especializados (mineiros) - maioria na cidade

- surge a partir de 1850, os “bonserás”109, residências coletivas com um só banheiro.

Para os empregados solteiros ou em alguns casos para famílias inteiras e, mais tarde, as

106
- Ibid. p. 123-124.
107
- LIBBY, Douglas Cole. O trabalho escravo na Mina de Morro Velho. p. 123-124.
108
- GROSSI, Yone. Morro velho: Extração do homem.
109
- Ver Capítulo Tipologias encontradas no Sítio Urbano. N.A.
Casas de Companhia (como serão tratadas no Inventário das Tipologias),dedicadas aos

empregados casados.

Em um trecho do livro de Libby, o autor faz a seguinte observação:

“As habitações escravas de Morro velho eram divididos em dois agrupamentos ou Vilas, ambas
localizadas perto das instalações da Mina. Os casais - e o casamento era encorajado -
ganhavam pequenas casas dotadas de um quintal de tamanho suficiente para comportar criação
de porcos e galinhas, além de uma pequena horta”110

Se formos fazer uma analogia com esta frase mais tarde, mais tarde

concluiremos que os bonserás e as chamadas “Casas de Companhia” nada mais são do

que reproduções, em maior ou menor grau de senzalas. Nos aproximamos aí do modelo

muito bem descrito por Grossi, ao analisar a relação da Saint John com sua força de

trabalho111.

Para os empregados vindos diretamente do Continente Europeu e patrício dos

donos da indústria - os ingleses - as Quintas, casas espaçosas que traduzem um conforto

maior e não produzem o contato forçado com outros membros da coletividade, pela

própria natureza de seu assentamento dentro do Sítio Urbano.

A empresa começa a planejar sobre um território que já lhe pertence há mais de

meio século, realizando um planejamento voltado para a fixação de sua mão de obra

próxima a fonte de consumo desta mão de obra; a mina . Em lotes de 200,00 m², ou

360,00 m², utilizando muito de uma malha urbana encontrada em forma de caminhos ,

de preferência próxima ao centro de produção compreendido pela Mina de Morro

velho, a empresa constrói as casinhas e garante aí, pelo menos, a negociação da vinda do

homem do campo definitivamente para a cidade, uma vez que no final do século, a

110
LIBBY, Douglas Cole. O trabalho escravo na Mina de Morro Velho. p. 140
111
- Este assunto voltará ser analisado mais tarde nas “Tipologias encontradas no Sítio Urbano”. N.A.
escravidão já não mais é tolerada. A construção destas residência possui um efeito

multiplicador e na década de 60, compõem grande parte do cenário urbano da cidade.

Acompanhando a ideologia da Saint John Minning Company podemos concluir

que estas novas habitações constituem um objeto de barganha entre empregado e

empresa, no sentido de forçar o trabalhador a “vestir a camisa da empresa” e com isso

receber o direito de habitar seguramente, uma das residências que, para ele mineiro foi

planejada. À medida que atrela o homem ao seu local de residência, cria um elo

estruturador que vai garantir que a mão de obra para o trabalho na mina não faltará.

No caso das residências de Quintas, não funciona assim a dinâmica. Ela garante

a moradia do imigrante que se vê na obrigação de alojar seu patrício graduado. Afinal,

sua prática perante a Mineração corrobora para o pleno êxito das atividades

implementadas, uma vez que é sua função cuidar de que elas não percam os rumos da

lucratividade.

A influência coercitiva da barganha habitacional só é abolida com a criação da

lei do inquilinato em 1942112, que impede que o patrão retire o empregado de sua

residência caso este deixe de fazer parte do quadro de pessoal da empresa. Entretanto

cabe a Saint John Minning Company até a década de 60, e mesmo depois que é vendida

ao Capital Americano, bem como até os dias atuais, zelar pelo domínio sobre o

processo de compra e venda de qualquer imóvel construído dentro de áreas inicialmente

pertencentes à ela.

A estratégia é continuar exercendo o controle do bem, regulando o valor do solo

e do bem, inserindo no Contrato de Compra e Venda que a Empresa possui preferência

112
-LEMOS, Carlos A. C. História da Casa Brasileira. p. 58.
exclusiva da compra do imóvel, caso haja interesse do dono de negociá-la. Com isso,

garante-se que o imóvel possa voltar às mãos de seu dono original ou seja, a própria

empresa denominada nos dias de hoje Mineração Morro Velho S/A, que possui assim

valor do mercado para sua compra e sua posterior revenda. Plenamente regulado tal

como fazia em pleno século XIX, com o valor das mercadorias dos entrepostos

comerciais e com sua própria manutenção de estoques reguladores.

Podemos continuar construindo esta análise sobre a influência da Saint John

Minning Company Minning Company no município de Nova Lima através da infra-

estrutura implantada para funcionamento da mina de Morro Velho. Vimos no Histórico

que uma estrada de ferro foi construída afim de facilitar o transporte de suprimentos até

a mineração. Vimos também que a lucratividade e influência de Morro Velho contribuiu

com as obras da Nova Capital e também influenciou a vida de cidades próximas à Nova

Lima.

A Saint John Minning Company foi durante muito tempo e ainda é, auto-

suficiente em energia e água tratada. No que diz respeito a energia necessária para tocar

as Minas e consequentemente mecanizá-la constrói e inaugura em 1904, a Barragem de

Rio de Peixe, distrito de Nova Lima, que além de gerar energia para as atividades da

mina, serve o município de Nova Lima, Raposos (onde possui mina) e Belo Horizonte.

No que diz respeito ao abastecimento de água, em 1977, foi iniciado o abastecimento

pela COPASA. Anteriormente, a Saint John Minning Company, abastecia Nova Lima

inteiramente e até hoje trata a água dos bairros Quintas, Santo Antônio e Campo Alto

em sua antiga estação de tratamento - a SANUSA, utilizando “nascentes oriundas da


Serra do Curral (Córrego da Macena)113. Atualmente ainda mantém uma estação de

tratamento para o beneficiamento a ser feito da Usina de Ácido do Distrito Industrial

Queiroz. O cenário do controle do espaço e gestão está aí, sobre inteiro controle da

empresa, bastando que para isso ela opte, no momento mais oportuno para ela, sobre o

que fazer, quais rumos tomar.

Figura 7

Usina do Queiroz

Vista Parcial

O que Monte-Mor e Costa114 chamam de “espaço do excedente/poder/ festa/ o

espaço do trabalho” acontece em Nova Lima e parece ser a própria antecipação do que

viria a ser a cidade industrial do Brasil do começo do século 20 - um século atrasado

em relação à sua formação no início do século XIX, na Europa - está presente na

maioria dos núcleos históricos remanescentes do período colonial em Minas. A cidade

cresce em torno de um nó formado pela industria, uma única e grande indústria,

desencadeadora do processo de crescimento e desenvolvimento que nunca ocorre alheio

a sua vontade. Na construção desse cenário formado por Nova Lima, seu subsolo, sua

construção em prol da ação econômica, muitos aspectos são dignos de serem

113
- PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA LIMA. Plano Diretor de Nova Lima. Nova Lima, 1993, p.
66-7.
ressaltados, de forma a entendermos as questões cruciais do nosso tempo : política,

economia, capitalismo em ascendência como Nova Ordem e Gerente do Poder

Absoluto, unânime.

Chegamos a um ponto na construção da história da cidade de Nova Lima que

repetimos a afirmação de que tudo o que acontece na cidade prescinde da mineração, o

poder unânime, como dissemos. Em 1972, por exemplo, os quarenta mil habitantes da

cidade viviam direta ou indiretamente da atividade mineradora. As fotos que

apresentamos neste trabalho referentes a cidade são impressionantes, à medida que

reproduzem um cenário uniforme e projetado para servir de suporte a estrutura

industrial, muito bem organizada., dentro do embrião que formará a cidade que se torna

suporte para esse industrial emergente. A indústria, por sua vez, incentiva a formação da

cidade como forma de manutenção do que ela mais necessita: a mão de obra.

Nova Lima se torna aí perfeito exemplo para demonstração do poder da indústria

e de como a arquitetura, na preocupação recente de servir aos novos tempos, corrobora

para o surgimento do modelo industrial que persegue as cidades onde a atividade

econômica é um enclave. A habitação, no próprio Movimento Moderno, surge como

carro chefe e modelo para demonstração da força do standard,115 propenso a satisfazer a

necessidade do coletivo, não necessariamente do individual. Nova Lima exemplifica

esta opção que, num primeiro momento procura seus modelos na arquitetura da Vila

Colonial e num, segundo momento, porém sem abandoná-la, satisfaz os anseios da

114
- MONTE-MOR, Roberto L. de M. e COSTA, Heloísa S. M. Cidades Industriais planejadas e a
exclusão da força de trabalho. VI Encontro da Nacional da ANPUR. 1994. (mimeo)
115
CORBUSIER, Le. Por Uma Arquitetura. São Paulo, Ed. Perspectiva, 1972. Ver também : GROPIUS,
Walter Bauhaus, Nova arquitetura. São Paulo. Perspectiva, 1972.
produção em série sistematizando e uniformizando as incidências da habitação operária

em todo o sítio urbano.

5 - METODOLOGIA

O trabalho de pesquisa para realização deste trabalho começou com a idéia de

proposta de revitalização da área central da cidade de Nova Lima, que no ano de

1992, sofreu uma intervenção, com a canalização do Ribeirão dos Cristais,

transformando-se numa avenida sanitária. Pensava-se em resgatar a história do local

propondo um projeto de incentivo a atividade cultural, como meta de revitalização

proposta, que acontecesse a partir da recuperação dos espaços remanescentes surgidos

com a canalização do rio, nas áreas lindeiras à Avenida. Para conhecer melhor a cidade

e consequentemente propor um trabalho adequado a ela , passou-se então a investigar a

sua história. O objetivo era, num primeiro momento, o de recuperar os significados

daquele espaço de forma a perceber de que forma a transformação do rio numa avenida

canalizada havia transformado o cotidiano da população e de como ela se comportava

vivenciando um espaço totalmente novo, haja visto que o rio estivera presente durante

todo o processo de formação urbana do município.

Foi do rio que surgiu a possibilidade de nascimento da primeira forma de

povoamento que daria origem a cidade tal como ela se apresentava naquele momento. O

rio era ponto de grande referência, pois nele estavam as riquezas que atraíam as

pessoas. Porém, na atualidade, o rio se apresentava degradado, tanto pela poluição do

seu leito quanto pela ocupação inadequada de suas margens. O rio, na grande maioria

das vezes, era sinônimo de infortúnios, degradação e pobreza. Quando o canalizaram

estava resolvido o incômodo de sua presença e o espaço que se abre para a cidade é
sinônimo de progresso. A avenida é algo novo, avesso à realidade do espaço urbano

central que é caracterizado por um sistema viário truncado, bem característico às

cidades coloniais.

O trabalho proposto então objetivava desenvolver ante a “ausência’’ do rio, um

espaço totalmente reformulado de resgate e voltado para a cultura da cidade. Exige-se

conhecê-la profundamente e o ponto de partida seria a sua história.

Muitas mudanças ocorreram desde este primeiro trabalho, apresentado como

conclusão do curso de graduação na Faculdade de Arquitetura Izabela Hendrix, em

1992.

No curso de Especialização em Urbanismo, pretendeu-se elaborar uma

Monografia sobre a Evolução Urbana do município, dando continuidade a pesquisa

realizada, objetivando englobar o território como um todo, de forma a produzir uma

leitura do espaço urbano, através de sua imagem, utilizando técnicas de percepção

espacial, tais como sugeridas por Lynch116. Objetivava-se transformar estas observações

num diagnóstico sobre o espaço urbano da cidade. Porém, este tipo de iniciativa foi

descartada visto que o trabalho seria por demais complexo e extenso, sendo difícil

completá-lo no tempo previsto para conclusão do curso. Em decorrência disto, o objeto

de estudo se voltou para a análise da imagem da cidade com a recuperação do histórico

local. Paralelamente já se esboçava a abordagem simultânea da produção e arquitetura

urbanismo.

Um trabalho desenvolvido na disciplina Urbanologia apresentava um inventário

resumido da habitação popular em Nova Lima e como ela se assentava dentro da malha

116
Lynch, Kevin. A imagem da cidade. São Paulo: Editora Martins Fontes, 1956.
urbana existente na cidade. Já se havia observado que a arquitetura civil na cidade se

assentava no espaço de forma pouco harmoniosa, para não dizer inadequada e crescia a

ocupação dos terrenos centrais, muitas vezes reparcelados. As perguntas que o trabalho

tentava responder eram referentes aos motivos que levaram à degradação do centro

histórico, sede administrativa do município, e investigando as causas possíveis da perda

da memória cultural da cidade. Sabia-se que o surgimento do núcleo urbano se deu à

mesma época de outras cidades do Ciclo do Ouro. Porém, Nova Lima não desenvolveu

uma preocupação maior com a preservação de sua imagem de cidade histórica e podiam

ser contados nos dedos os exemplos arquitetônicos originários desta primeira ocupação.

Veio daí a idéia de investigar o motivo desta diferenciação da cidade diante de

outras cidades históricas do mesmo período. Pareceu interessante fazer uma análise

reconstituindo a história da habitação uma vez que, numa primeira observação da

cidade, Nova Lima possuía um grande número de habitações populares construídas pela

mineração. Muitas vezes, na atualidade, partindo da casa construída, às vezes no mesmo

terreno, as famílias redividiam os lotes gerando a construção de uma habitação

semelhante à construída pela mineração. Cabia inventariar parte destas habitações,

relacionando-as com o seu tempo histórico, desenvolvendo uma análise da cidade a

partir de seus exemplos de arquitetura civil.

A proposta era traçar a evolução de um determinado tipo de opção habitacional

caraterístico do local, dando a ênfase merecida aos aspectos construtivos, ao partido

arquitetônico e à relação existente da arquitetura com a atividade econômica

mineradora que persistia em continuar suas atividades em Nova Lima por mais de um

século, com absoluto sucesso. Constata-se que as características das habitações


populares, não variaram muito no decorrer dos anos. Além disso, a habitação popular

havia sido construída em três momentos distintos, que poderiam ser assim periodizados:

Período colonial - de 1700 até 1834

Período de influência inglesa

2.1 - 1834 até 1900

2.2 - 1900 até 1939

2.3 - 1939 até 1950

Período de expansão habitacional particular

3.1 - 1951 até 1980

3.2 - 1980 até os dias de hoje.

No entanto, pelo Plano Diretor de Pesquisa e Diagnóstico da Prefeitura de Nova

Lima, a evolução urbana se faz de acordo com o esquema abaixo:

Pela pesquisa realizada sabe-se que a periodização mais adequada seria a

coincidente com o final da influência do capital inglês na cidade. E isso acontece na


década de 50. A partir daí o que acontece em termos de evolução e transformação

urbana ocorre muito em função da iniciativa privada. Interrompe-se aí o período da

política habitacional da mineração considerado o mais marcante e se inicia, por parte

dessa, o monitoramento do território. Dado a esse fato convém fazer-se a adoção da

periodização, tal qual é definida neste trabalho, objetivando uma maior fidelidade à

reconstituição histórica que este trabalho propõe-se a realizar.

Resgatar esta história e analisar seus, continuar a pesquisas a influência inglesa e

logo a seguir tecer um relatório sobre os impactos na auto-produção habitacional da

cidade poderia contribuir para estabelecer uma relação entre habitação e estrutura

urbana.

As etapas definidas, para sistematização do estudo e elaboração do trabalho,

poderiam ser definidas da seguinte forma:

- Escolha do tema

- Escolha da área de estudo

- Delimitação da área de estudo

- Pesquisa bibliográfica

- Montagem do histórico

- Pesquisa de campo

- Elaboração de levantamento arquitetônico e fotográfico.

- Pesquisa no banco de dados da Prefeitura para checar a existência de projeto

arquitetônico arquivado das edificações de interesse.

- Consulta à mineração Morro Velho: plantas de casas construídas por ela.

- Análise do acervo comparando-o com fotografias antigas


- Montagem de acervo recente de fotografias destas tipologias

- Montagem do texto

- Conclusões.

O trabalho de campo e pesquisas específicas foram feitas no sentido de

investigar ao máximo a origem construtiva das habitações mais antigas, e suas

transformações ao longo do tempo. Este trabalho de campo foi sistematizado em duas

etapas distintas:

Reconhecimento da área, tendo à mão, o mapeamento das área de estudo. Escolha,

durante o reconhecimento da área, de habitações de interesse à pesquisa, onde se

efetuariam os levantamentos arquitetônicos e fotográficos. Estas habitações, quando

possível, deveriam constar de fotos de época de forma a poder relacionar sua

construção e conservação no tempo, detectando eventuais modificações no terreno de

implantação, no seu partido, tais como alterações de área construída, modificações nas

fachadas, acréscimos de elementos constantes de edificações mais recentes e que

configurassem transposições estilísticas de uma época para outra.

Elaboração de levantamento arquitetônico e fotográfico in loco. Esta segunda etapa

exigia contato pessoal com o morador da casa que poderia ou não concordar que o seu

imóvel fosse inventariado. Neste caso, para evitar transtornos e possibilitar uma

abordagem mais criteriosa do imóvel, um questionário padrão foi elaborado e aplicado.

Seu resultado comprovou os dados sobre o perfil sócio econômico do morador e seus

anseios diante da questão da moradia. Perguntar para o morador qual seria sua casa ideal

caso ele a projetasse, ou seja, se inteirar de um programa arquitetônico desejado,

contribuiu para compreender algumas das adaptações feitas às moradias e sempre


presentes nas construções mais recentes. Quanto à tabulação dos dados sócio

econômicos, esta não foi feita visto que estas informações estão condensadas nas

tabelas com dados censitários fornecidos pela Prefeitura Municipal de Nova Lima. Mas

dessa experiência podemos constatar que alguns modelos de habitação são desejados e

seguidos por uma parte da população e estas mudanças construtivas são consideradas

como status social para o seu proprietário, quando incorporadas à construção.

A execução destes levantamentos de campo para complementar dados

secundários ou o uso Departamento de Aprovação de Projetos da Prefeitura Municipal

de Nova Lima foi crucial para o processo. Foi feita uma amostragem das edificações de

forma a viabilizar a execução do trabalho no tempo previsto. A pesquisa feita no acervo

da Prefeitura visou resgatar projetos de arquitetura feitos a partir da década de 30,

escolhendo as que exemplificam o processo de construção em Nova Lima e as

tipologias descritas.

A área para coleta destas amostras, delimitada pelo mapa deste capítulo,

coincide com a área central e histórica da cidade, onde se encontram registrados os

momentos distintos e marcantes de transformação urbana. O primeiro, o núcleo urbano

original nascido com o povoamento decorrente da descoberta do ouro em 1700. O

segundo, a área de expansão da Saint John Minning Company, quando da sua vinda para

Nova Lima, coincide com área que a empresa fará sua iniciativa de construção de

habitação operária para locação de sua mão de obra. Estes dois momentos são cruciais

para compreensão da produção popular hoje . O terceiro e último, abrange a iniciativa

popular de auto-construção, constituindo-se como fato corriqueiro no cenário urbano ,

na atualidade de Nova Lima.


Após a pesquisa , o outro passo foi confrontar as diversas plantas encontradas e

verificar as semelhanças, para finalmente delimitar o número de tipologias existentes

dentro da área de estudo que possuíam relevância e eram importantes para compreensão

do processo histórico da habitação em Nova Lima.

Foram ao todo seis tipologias definidas:

1 - Remanescentes da Vila colonial que representam o primeiro período do

povoamento de Nova Lima

2 - Casinha brasileira ou chalets que marcam o início das primeiras construções

para empregados de Morro velho.

3 - Bonserás - Habitações geminadas para empregados com banho coletivo.

Casas de um cômodo só ou cortiços. Barracões.

4 - Casas de Companhia.

5 - Quintas inglesas.

6 - Casas da Rua Santa Cruz.

Neste caso observou-se, para diferenciação dos modelos encontrados: o partido,

a implantação, suas volumetrias e seu sistema construtivo. A todo momento, o resgate

histórico em paralelo foi imprescindível para explicar os resultados da pesquisa de

campo ou até mesmo para analisar que tipo de transformações construtivas foram feitas

nestas habitações .

Como o trabalho objetiva analisar a influência destes modelos na auto-

construção em Nova Lima, prosseguimos a pesquisa de campo observando exemplares

da arquitetura vernacular local que dissessem respeito à uma influência dos modelos
acima no seu partido ou na sua implantação. Investigamos as modificações construtivas

dentro destes exemplos e encontramos as seguintes tipologias:

- Apartamentos

2 - Variação na tipologia apartamentos

3 - Casas de morar e de aluguel.

5.1 - O Espaço Urbano Central - Zoneamento e Delimitação da Área de Estudo

Os critérios para delimitação da área de estudo foram escolhidos de forma

abstrata, a partir da coleta de imagens do ambiente arquitetônico da cidade, tomando por

base a própria minha observação, enquanto indivíduo consciente do processo histórico

da cidade e por isso mesmo preparado para distinguir uma boa área de estudos e análise

pertinentes ao enfoque deste trabalho.

A delimitação da área de estudo foi definida considerando os seguintes aspectos:

1 - Identificação, segundo as fontes históricas, do núcleo urbano inicial.

2 - Identificação das áreas de influência direta de Morro Velho e suas

conseqüências sobre a estrutura urbana.

3 - Delimitação de área onde a incidência dos elementos arquitetônicos

escolhidos estivessem agregados e fossem facilmente detectados.

4 - Percepção visual da área.

5 - Observação dos limites físicos próprios e característico ao relevo tais como

súbitas mudanças de declividades, presença de montanhas, ribeirões, linhas férreas ou

outra barreira intransponível.


Deste modo, segundo mapa anexo que comprova esta opção, os espaços

escolhidos fazem parte do que podemos dividir aqui como sendo:

 Área original do núcleo histórico compreendida como as confluências dos ribeirões

Cardoso e Cristais, a praça da Matriz, o Rosário.

 Área de expansão que acontece decorrente da vinda da Saint John Minning para a

cidade, que possui como limites máximos, o bairro Retiro, Olaria, Cristais, parte do

bairro Quintas e Matadouro.

A área de estudo delimitada neste trabalho compreendida também como área

central da cidade, pelo Plano Diretor117, é muito condensada. Atualmente, suas taxas

de ocupação extrapolam aos limites definidos como “saudáveis” e até o presente

momento, a cidade não possui uma Lei de Uso e Ocupação do Solo urbano

verdadeiramente implantada.

Além disso, a própria topografia do sítio urbano aliada à atual inexistência de

diretrizes de ocupação e/ou renovação urbana corroboram para o congestionamento

visual de sua imagem urbana bem como acabam por torná-la fragmentada, dificultando

sua leitura.

ÁREA DE ESTUDO

117
PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA LIMA. Plano Diretor-Diagnóstico. Nova Lima, 1994, p. 78.
Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA LIMA. Plano Diretor-Diagnóstico. N.Lima, 1994 ,p. 78.

Características da Área de Estudo

O traçado urbano original do Centro Histórico118 segue características das Vilas

coloniais espalhadas pela região das Minas Gerais cuja origem possui o pé na tradição

mineradora. Nas encostas dos morros, junto a outeiros ou a cumeadas, de onde se

observa o vale, surgiu a primeira manifestação urbana da cidade. Conforme Suzy Melo

explicita em seu livro, não houve ocupação do leito do rio inicialmente, preservando-se

suas margens ribeirinhas única e exclusivamente para a mineração, haja visto ter o rio o

papel de local do extrativismo e acumulação de riquezas e por isso nunca ser lembrado

efetivamente como agente de povoamento pela sua existência em si. O ouro atrai a

população, não o rio.


Neste aspecto o modelo de ocupação inicial se assemelha ao adotado em Vila

Rica como a adoção da curva de nível como caminho natural e sistema viário básico. O

rio é cenário da riqueza. O rio, neste caso, é o local da riqueza. “O rio corre na baixada. O
119
povoado sobe o morro. É uma rua só, espichada (...)”

O traçado é extremamente orgânico, espontâneo nos remetendo ao que Sylvio de

Vasconcelos descreveu como sendo características das povoações mineradoras cuja as

formas urbanas: “... São determinadas espontaneamente pela mineração”, no que diz respeito ao

seu eixo original conhecendo um certo geometrismo em locais onde a topografia é mais

amena e se pode adotar as conformações de largo que encerra o comércio principal, uma

administração municipal e um edifício religioso. No caso de Nova Lima, este

geometrismo se faz presente na praça da Matriz e em alguns pontos mais exíguos como

o largo do Rosário e o largo do Bonfim.

No restante da cidade o organicismo próprio do período colonial mineiro apenas

se perde onde a empresa de mineração tratou de estabelecer seu próprio arruamento.

Neste caso, esta iniciativa se funde com a iniciativa de construção das casas populares

que abrigariam seu contingente operário. Mas curioso saber que em termos de definição

de arruamentos, as alternativas adotadas pela Saint John são semelhantes às percebidas

no traçado orgânico do restante das ruas de Nova Lima. Estas semelhanças estão na

forma como se implanta a construção (executando-se aí as Casas de Quintas), na caixa

das ruas e na exiguidade dos passeios. Isso reforça a idéia de que o sítio obriga a adoção

de soluções desta natureza.

118
- Chama-se Centro Histórico, a área delimitada em mapas como sendo ponto de partida para o efetivo
consolidamento do núcleo urbano de Nova Lima. N.A.
119
- LEFÈBVRE, Renèe e VASCONCELLOS, Silvio de. Minas, cidades barrocas, 1968. In. MELLO,
Suzy. Barroco Mineiro. p. 76.
Os espaços lindeiros aos Ribeirões dos Cristais e Cardoso bem como as faixas

próximas aos locais de mineração e as encostas do Morro do Cruzeiro, Montividiu e

Mingu fizeram parte do plano de ocupação habitacional da mineração, numa atitude que

previa a locação de sua mão de obra operária.

Figura 8

Vista Atual do Morro do Rosário

Ao fundo à Esquerda a Igreja do Rosário

Em sua maioria, as áreas de encosta ocupadas, possuem uma declividade média

de quarenta por cento. Em alguns pontos desvinculou-se definitivamente a rua da curva

de nível cortando-a na perpendicular gerando ruas com declividades impressionantes e

uma ocupação que, a primeiro momento, parece ser perigosa. No que diz respeito à

topografia do sítio ocupado, em geral, o sítio urbano de Nova Lima não possui

condições favoráveis à implantação do núcleo urbano. Neste aspecto o modelo de

ocupação inicial se assemelha ao adotado em Vila Rica com o emprego da curva de

nível como caminho natural e sistema viário básico. Segundo Yone Grossi “Os mineiros

comparavam o formato geológico de Nova Lima a uma cuia...”120, porque do fundo de vale onde

estava a mina se iniciavam os morros e sua ocupação operária.

Na sua área lindeira aos limites da mineração estão assentados a maioria dos

sobrados encontrados como sendo habitações primitivas e operárias de Nova Lima. Em

geral os terrenos gerados por estes parcelamentos primitivos são estreitos, o que não

foge do encontrado em qualquer sítio urbano analisado em Minas Gerais. A presença do

120
Ibid. p. 59.
casario urbano margeando a rua evoca duas soluções encontradas na urbanização típica

das cidades brasileiras e em particular, nas Minas Gerais. O relacionamento íntimo com

os caminhos que ligam às cidades e o alinhamento das construções junto ao passeio

preserva o quintal121, remetendo-nos a uma tradição construtiva do período colonial que,

de acordo com Silvio de Vasconcellos, faz com que a imagem urbana tenha, uma

imagem peculiar:

“... as construções se amontoam, se interpenetram, multiplicam-se para o alto e para o fundo e,


escoram-se mutuamente, mas por outras razões: só há uma rua disponível que importa
aproveitar ao máximo. Fazem-se mínimas as testadas, comprimindo as frentes rueiras das
moradias”122

Numa tradução literal do que seria o problema de Nova Lima, cito sua obra

novamente:

“A própria instabilidade econômica e sua precariedade contribuíram para este estado de


coisas, hipertrofiando as aparências em detrimento da autenticidade da vida.(...) daí a pouca
sociabilidade do mineiro, seu baixo espírito de comunidade e seu alheamento às necessidades
públicas das povoações onde reside. Daí seu horror ao fisco e seu amor à oposição política,
quando não beneficiário do poder(...)”123

O casario segue a conformação da rua, encarreiradas, vez por outras folgando

para o jardim ou o recuo frontal agradável. E fluem-se em caminhos tortuosos. No caso

de Nova Lima, esse caminho principal vai se esticando no sentido de encontrar com

Belo Horizonte, gerando ocupação sempre ao longo dele, o que faz com que o eixo de

tensão principal de ocupação do sítio se forme ao redor deste caminho. A mineração,

seu parque industrial, está conectada a este caminho, configurando mais um

fortalecimento desta tensão. Este, por sua vez existe, contrário ao próprio sentido de

surgimento da povoação inicial - que subindo o rio das Velhas encontrou a confluência

121
- MELLO, S. BURTON, Richard Francis. Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho. Publicado
originalmente em 1868. p. 170.
122
- VASCONCELLOS, Sylvio de. Mineiridade. p. 89. In: MELLO, Suzy. Barroco Mineiro. p. 104.
123
- VASCONCELLOS, Sylvio. Noções sobre arquitetura. (A família mineira e a arquitetura
contemporânea). p. 26.
124
dos dois ribeirões e ali se fixou fazendo o mesmo caminho que Burton faria um

século e meio depois - e que cujo traçado foi o primeiro caminho oficial de ligação de

Congonhas de Sabará com a estrada antiga do Rio de Janeiro.

A parte oeste da cidade e da própria mineração foi ocupada pelas Quintas dos

ingleses e encontra uma topografia mais suave. Os terrenos parcelados para abrigar

estas casas são maiores propiciando a construção solta dentro do lote, em meio a profusa

vegetação e jardins. As cercas vivas delimitariam no futuro, a porção de terra existente

entre estas casas. Os espaços localizados nesta porção de Nova Lima, foram dedicadas

aos altos funcionários da mineração e seu assentamento se deu de forma a assegurar ao

seu morador, vindo do exterior, uma ambientação semelhante a que eles possuíam no

seu país de origem.

A pesquisa então se restringe a este riquíssimo laboratório de estudos - a relação

entre o econômico/ habitacional/ urbano - onde veremos que, a despeito do sítio

topograficamente movimentado, Nova Lima se apresenta, assim, inteiramente adensada

numa dinâmica histórico-social que, até esta década, representava um espiral crescente,

no crescimento da cidade.

6 - O TIPO - CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

Vamos localizar o problema de Nova Lima na dimensão tempo-espacial da

História do Mundo Moderno. Em 1862, Miller escreve o seguinte sobre Manchester:

“Nada parece mais característico da grande cidade fabril, embora tal coisa seja desagradável,
do que o Rio Irwell, que corre pelo local.... O rio infeliz - que poucas milhas acima é um belo

124
BURTON, Richard Francis. Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho. Publicado originalmente em
1868. p. 172-203.
curso d’água, com árvores a pender sobre as suas margens e franjas de relva verde a delinear
125
suas barrancas - perde a sua categoria ao passar por entre moinhos e usinas.”

O mundo passava por uma transformação febril. Estas transformações

interferiam diretamente na qualidade de vida das cidades decorrentes de um excessivo

povoamento e de uma súbita industrialização que precisava de mais e mais braços

disponíveis para produção, a cada dia. Assim sendo, segundo Mumford: “... era graças a

um excesso de mão de obra, regular, sagazmente empregada, insuficientemente remunerada, que os


126
novos capitalistas conseguiam reduzir os salários e enfrentar qualquer demanda de produção” .

Urgia encontrar alternativas de locação dessa mão de obra uma vez que sabemos que

estas cidades não teriam condições de alojá-la.

Nesse sistema de coisas, um papel estaria reservado para os países colonizados

ou recém libertados do processo de colonização. A História do Brasil está inserida no

contexto do mundo do século passado, no momento em que primeiro se transforma em

exportador de riquezas agrícolas escassas no mundo Moderno. Segundo quando

descobre-se que o seu subsolo é rico e que essas riquezas são passíveis de serem

exploradas pelos países desenvolvidos da Europa e terceiro quando se conquista o

direito de livre negociação e investimentos na república recém libertada das obrigações

hegemônicas do país que primeiro, o colonizou.

Assim sendo, quando Inglaterra, país que primeiro adquiriu Know-how na

chamada Revolução industrial partiu para utilizar seu potencial de investidor na Nação

brasileira, seu modelo de industrialização estava sendo construído e consolidado na

125
- Citado por MUMFORD, L. A cidade na História. BH, Ed. Itatiaia, 1962, vol. 2, p. 585. Sem citação
bibliográfica.
126
- Ibid, p. 581.
Europa. A Inglaterra se tornava assim uma das Nações mais poderosas do Mundo

Moderno.

Entre as transformações que o Moderno traz, estão aquelas que se dispõe a

solucionar o problema do caos urbano que é representado pela tríade urbanização,

produção, habitação. Era assim que se constituía a cidade industrial. Somado a isso

estavam os transportes e a facilidade de escoamento do produto industrial. Afinal

viabilizar à livre circulação de mercadorias garantindo expansão de divisas.

6.1 - O Tipo

Ao introduzirmos o estudo de tipologias habitacionais faz-se necessário analisar

a origem do “TIPO” como estratégia arquitetônica a serviço do Ideal Moderno.

A primeira reação ao processo fabril, foi de repúdio. Em pleno século XIX,

ninguém podia imaginar que um bem pudesse ser reproduzido e multiplicado sem

prejuízo da integridade do bem produzido. A manufatura, palavra introduzida com a

industrialização, produzia reações de protesto haja visto que produzir em série era parte

de um paradigma novo, ainda difícil de ser assimilado. A produção artesanal até então

era cultuada com a livre troca envolvida de forma que o resultado dessa operação fazia

parte de uma tradição milenar. Mas o processo de industrialização estava por acontecer

e abalava o sistema conhecido até então porque importava menos com a manutenção da

qualidade, propriedade vista apenas no bem artesanal, até então, e mais com a eficiência

produtiva e a abrangência extremamente lucrativa. No entanto, a qualidade era uma

característica inerente à série. O bem em série era igual e tão bom quanto o bem

artesanal e ameaçava por possuir também estas qualidades.


O TIPO surge a partir da chamada linha de montagem. Aliás, o personifica a

discussão da Arquitetura Moderna. O espaço modelo é o espaço da fábrica, onde

acontece a sincronia de movimentos, a precisão do processo produtivo que, pouco à

pouco subordina a sua vontade, a existência da cidade. Segundo Munford: “Os principais
127
elementos do novo complexo urbano foram a fábrica, a estrada de ferro e o cortiço”.

A tríade que traduz o progresso e o desenvolvimento do capitalismo, o

escoamento da produção e expansão de divisas e a habitação que mantém atrelado a

fábrica seu contingente humano que impulsiona sua produção.

O modelo da fábrica passa a ser um modelo estético. Condiciona a arte, instiga a

Arquitetura, a ciência, a se mover em direção ao progresso. E o progresso, neste instante

está associado ao movimento das máquinas. A estética predominante é fabril.

“A indústria criou seus instrumentos.


A empresa modificou seus hábitos;
A construção encontrou seus meios
A arquitetura se encontra diante de um código modificado “ 128

Le Corbusier é um dos primeiros a atentar para esta nova estética. E a defendê-la

bravamente. Suas considerações a respeito do nos ilustra o emblema moderno, que Le

Corbusier incorpora e personifica. A estética do novo não admite a adoção das formas

românticas e considera a arquitetura moderna, livre das aranhas românticas dos estilos

passados; a arquitetura moderna é cubica, retilínea, sua estética funciona a partir de

conceitos plásticos, a forma sob a luz.

127
- Ibid, p. 582.
128
- LE CORBUSIER. Por uma Arquitetura. p.201
Enquanto isso a industria luta para solucionar os problemas do abrigo para o

exército de reserva. É um problema para a indústria; investir na habitação como forma

de abrigar sua mão de obra próximo aos limites de suas necessidades.

Mas, tal qual o processo fabril nos parece fadado a produzir indefinidamente

artigos em séries, porque não veicular na arquitetura, o modelo em série? O produto

final, inteiramente produzido e reproduzido independente da hora e da situação, sem a

necessidade de considerar a necessidade do individual.

O TIPO surge como objeto ideal de satisfação de uma determinada necessidade

de consumo, de um objeto arquitetônico que fosse plenamente adequado ao tempo e

atendesse à demanda populacional que era alta. Nesse caso, o TIPO viria surgir como

produto de uma condição histórico-social, causada pelos acontecimentos econômicos

sociais de uma determinada época. Se até aquele momento a habitação popular havia

sido colocada em nível secundário  afinal a arquitetura estava voltada para a

construção de Catedrais, de Palácios para reis “iluminados” agora se via às voltas

com os problemas do povo, que de imediato, o Estado não tinha condições de suprir.

Para Le Corbusier, a habitação era a “Catedral dos nossos tempos”, num significativo

resumo do que estaria por vir a ser feito neste âmbito uma vez visto que de agora para

sempre, a sociedade criada para reproduzir e impulsionar o consumo era toda ela feita de

consumidores de casas.

“É preciso agir contra a antiga casa que usava mal o espaço. É preciso (...) considerar a casa
como uma máquina de morar”129

Considerando isso é preciso ter critérios para a construção das chamadas “casas

em série”130 . Le Corbusier prega então uma igualdade social expressa pelo TIPO:
“É aqui que o princípio das casas em série mostra seu valor moral: um certo laço comum entre
131
a habitação do rico e a do pobre, uma decência na habitação do rico” , visto que este jamais irá

de novo do espaço desnecessário. O espaço será racional, regulado por loteamentos

bem planejados que transmitam ordem e sobretudo limpeza. Foge-se a procura de uma

solução melhor que o cortiço para abrigar o homem moderno. E é claro, Le Corbusier se

preocupa com a beleza que: “... existe sempre onde houver intenção e os meios que são a

proporção: a proporção não custa nada ao proprietário, mas somente ao arquiteto” 132. E afinal, para

Le Corbusier, a série traz economia e benefícios, e põe um fim para a crise social.

“Todas as casas são construídas com elementos padrões, constituindo uma célula . Os lotes são

133
iguais; a ordenação é regular.” Ele chega ao ponto de presumir que a estética do novo, O

TIPO, é que conduzirá a nova sociedade para a beleza. “Quando o tipo é criado, estamos às

portas do belo”134 afinal “... a casa em série imporá a unidade dos elementos, janelas, procedimentos

construtivos e matérias”135.

O conceito de TIPO na obra de Rossi136, tem haver com a compartimentação de

duas áreas distintas, de implantação das cidades associando ao produto de cada uma

delas, os impactos sócio-históricos de cada uma dessas áreas. A compartimentação gira

em torno da compreensão de que a cidade possui uma área residencial e outra

monumental. Cria-se com isso uma tensão e uma relação de interdependência. A

dinâmica da cidade gira em torno do desenvolvimento das relações destas duas áreas. O

TIPO para Rossi surge desta relação, não podendo nunca ser imposto ou produzido para

129
- Ibid, p. 170.
130
- Ibid, p. 159.
131
- Ibid, p. 162.
132
- Ibid, p. 170.
133
- Ibid, p. 184.
134
- Ibid, p.168.
135
- Ibid, p. 168.
determinada coletividade. Para Rossi o desenvolvimento de uma determinada tipologia

surge da cultura da cidade com a vivência dos indivíduos daquela cidade. No caso de

fazer uma interconexão deste conceito com o caso de Nova Lima, as tipologias

habitacionais encontradas surgem como reflexo da cultura do lugar, se adequando aos

indivíduos porque existencialmente, aquela forma foi construída pelos mesmos e nelas,

eles se reconhecem enquanto indivíduos participantes do processo coletivo local

Seria interessante aqui colocar em consideração que, mesmo no processo de

formação da Vila original do núcleo urbano da cidade de Nova Lima, a noção de

unidade tipológica aparece. Ela representa uma transposição de uma condição ótima

vivenciada da Metrópole Portuguesa mas adaptada sem maiores problemas ao Brasil, no

caso sua colônia. Percebe-se aí que se formos analisar a transposição havida dentro da

abordagem sítio x condicionantes sócio históricos podemos estar cometendo o erro. As

minas não possuem esta vivência urbana, sua história pode ser considerada um

fenômeno de urbanização as avessas. Desta forma, o TIPO transposto pertence a outra

cultura e se adapta a nossa sofrendo algumas transformações que não modificam sua

estrutura espacial. Haja visto que este modelo é perfeitamente adequado às primeiras

edificações que Saint John faz para seus operários.

A definição do TIPO sugerida pelo Dictionnaire Historique dArchitecture

sugere a diferenciação entre MODELO e TIPO sugerindo que para cada modelo

imposto normativamente numa determinada sociedade corresponderá a uma releitura

feita pelos indivíduos da sociedade que se encarregarão de fazê-lo compatível com a sua

136
- ROSSI, A. La Arquitetura de la ciudad. Barcelona, Gustavo Gilli, 1981, 113-4.
necessidade espacial e/ou plástica. Nesse caso o modelo será o gérmen inicial e a

tipologia é fruto da invenção e cultura de uma determinada coletividade.

“ (...)Em todos os países, a arte de construir regularmente nasceu de um germe pré-existente. É


preciso antecedente para tudo: nada , em nenhum lugar, vem do nada(...)” 137

Nesta outra passagem do Dictionnaire Historique dArchitecture138 encontra-se

que:

“O modelo, entendido dentro da execução prática da arte, é um objeto que deve repetir tal qual
é; o tipo, é ao contrário, um objeto do qual cada um pode conceber obras que não se pareçam
entre si. Tudo é preciso e dado no modelo; tudo é mais ou menos vago no tipo. Além disso,
vejamos que a imitação dos tipos não tem nada que o sentimento e o espírito não possam
reconhecer, e nada que não possa ser contestado pela prevenção e ignorância. É isto que
aconteceu, por exemplo, na Arquitetura.(...)”139.

Faz-se necessária a definição do termo TIPO para explicarmos a natureza do

trabalho de pesquisa que se realiza nesta monografia. Ao se estudar as origens da

arquitetura civil dentro da cidade de Nova Lima, sabe-se primeiramente que ela se

originou de uma influência que nos remete ao período colonial de nossa história e

depois à própria presença do Capital Inglês empreendedor dentro da cidade. Observando

a coleção de mapas (mapas de evolução do Centro Histórico da Cidade, no capítulo

anterior), que ilustra este trabalho e observando a planta das casas coletadas durante a

pesquisa concluir-se-á que as semelhanças destas casas com exemplares de nossa

arquitetura colonial estão presentes, somadas às semelhanças destas mesmas casas com

exemplos do costume inglês implantado em Nova Lima que são perceptíveis, numa

primeira análise.

137
- “TIPO”: Quatremère de Quincy, Dictionnaire Historique dArchitecture Paris, 1832.
138
- Ibid.
139
- Ibid.
Estes modelos foram, imperiosamente, difundidos pela cidade, com ou sem

variações a ponto de olharmos fotografias de época e ser difícil identificar, a não ser por

um elemento e outro, em que ponto da cidade foi feita esta ou aquela fotografia.

Ao mesmo tempo que sabemos que esta uniformização do cenário se deve a

estas iniciativas que partem do processo produtivo “as casas em série” são implantadas

na cidade como forma de resolver o “déficit” habitacional existente e ao mesmo tempo

se utiliza de um vocabulário já conhecido na arquitetura local trazendo para a cidade o

conceito de arquitetura padrão, ou seja, arquitetura pronta para se repetir. Este TIPO

criado é incorporado no processo de criação da população que de acordo com

Muntanhöla diz:

“Se junto a noção do tipo colocamos seu correlativo de identidade veremos diafanamente como
ambas as noções se encontram precisamente no cruzamento entre reprodução e representação,
tanto no sentido de uma linguagem de tipos como no sentido de uma identidade social situada
entre a reprodução dos objetos e seu valor representativo...”140

Nada que acontece em termos de produção arquitetônica em Nova Lima foge de

ser classificado como produto da grande influência do momento histórico-social vivido

pelo núcleo urbano ao mesmo tempo que se configurava como fruto de transformações

de origem urbano-arquitetônicas. A produção arquitetônica do lugar foi envolvida por

uma urgência muito maior do que a da criação de habitações específicas e

individualizadas. Surgem, obedecendo a urgência da acomodação, a forma a se

respeitar, em funções da industria, não do morador. Constitui-se a área urbana, porém

desvincula-se completamente da responsabilidade de atender às necessidades

individuais de cada um. Estipula-se aí um padrão, não questionado.

140
- Muntanhola, J.T. Topogenesis dos, p. 90.
O trabalho de observação, identificação do TIPO e análise proposta para Nova

Lima visa um levantamento do modelo originais adotado que podem ter sido

transpostos pelos ingleses de sua terra Natal, combinando nesse modelo as necessidades

do próprio modo de construir das gerações passadas, perpetuando-se até os dias de hoje.

Na atualidade este modelo pode ou não ser transformado. E isso acontece a partir da

necessidade do momento.

Um exemplo típico desta transformação seria a incorporação de mais um

banheiro, a suíte, no partido original da casa141. Este muitas vezes pode aparecer

agregado à casa não interferindo na solução primeiramente adotada para o espaço

interno. Outro ganho que a casa atual construída ganha seriam as janelas “coloniais”142 e

a varanda frontal que dá para a rua saindo das salas ou dos quartos de fundo. Estas

varandas normalmente permanecem ociosas, mesmo assim representam um certo status

social para quem as têm.143

Não se refuta a idéia de que atualmente o próprio mercado da construção civil

de Belo Horizonte influencia na concepção de alguns partidos encontrados - até mesmo

a televisão traz para dentro da experiência destas pessoas, esta influência - modificando

o conteúdo programático e a implantação destas casas no tecido urbano. tampouco a

invasão da cidade pelos modismos de época que tomaram de assalto, o cenário urbano

de Belo Horizonte e devido ao intercâmbio entre as duas cidades, foi facilmente

incorporado como parte dos elementos preferidos pelos moradores de Nova Lima.

141
- Fala-se disso quando da apresentação das tipologias habitacionais adotadas encontradas na cidade.
N.A.
142
- Conhecidas assim pôr apresentarem verga curva. Termo curioso para designar uma corrente estilística
que se iniciou na década de 70, em Minas Gerais que sugere incorporação de varandas e destas citadas
janelas. O fato mais interessante é que a planta continua modernista. N.A.
O fato é que o TIPO existe. E está presente na construção das quase 3.000 “casas

de companhia” existentes em Nova Lima, são frutos da renovação da arquitetura voltada

para o modelo e sua reprodução que visa a saúde visual das nossas cidades, o abrigo

sem distinções de classe para uma determinada coletividade.

Nas reproduções do TIPO na atualidade, as adaptações continuam reproduzidas

em série a partir de uma necessidade gerada pelo senso comum. Produz-se apartamentos

em “série”. Reproduzem um mesmo ideal construtivo — uma mesma filosofia.

Esta reprodução é típica de uma sociedade acostumada a habitar um cenário

igual, uniforme. As modificações na paisagem estão programadas para aparecerem e

incorporarem a paisagem de forma semelhante.

Faz-se um apropriação conceitual do termo TIPO objetivando delinear os fatores

que determinam o seu surgimento bem como identificar o momento que utilizam o

TIPO, dentro do contexto e da produção arquitetônica industrial do século XX . Neste

ponto faz-se a identificação do momento em que o TIPO é incorporado ao espaço

urbano brasileiro, tendo como exemplo de aplicação dos seus conceitos, o caso de

Nova Lima.

Os dados encontrados na pesquisa histórica de Nova Lima, aliados ao interesse

em identificar os novos TIPOS que compõe o cenário urbano da área de estudo

delimitada no trabalho, motivaram a realização deste trabalho. As diversas tipologias

encontradas e identificadas no núcleo urbano são tema do capítulo 7. Este capítulo

porém, limita-se a identificar as tipologias que fazem parte do cenário urbano colonial

da cidade ou que foram construídas para os empregados da Mina de Morro Velho.

143
- Assim como representa status o telhado colonial em algumas casas e a presença do terraço de festas
7 - TIPOLOGIAS ENCONTRADAS DENTRO DO SÍTIO URBANO.

7.1 - Tipologia 1 - A Vila Colonial e Seus Remanescentes em Nova Lima

“Em toda parte eram pesquisadas as areias dos ribeirões e a terra das montanhas e, quando
encontravam algum terreno aurífero, construíam barracas em suas vizinhanças, afim de
explorá-lo. Estas espécies de acampamento (arraiais) tornavam-se pequenas povoações, depois
de vilas; e foi assim que os paulistas começaram a povoar o interior da terra, incorporando a
monarquia portuguesa regiões mais vastas que muitos impérios”144.

As vilas do ouro de Minas Gerais conheceram o apogeu e o declínio em um

processo histórico que perdurou por pouco mais que um século. Neste interim, a

evolução do simples abrigo de palha que caracterizava uma habitação provisória nas

precárias instalações do povoado conheceram melhorias, a medida que foram sendo

enriquecidas pelo processo extrativo. As Vilas do Ouro do período Colonial foram um

fenômeno ímpar que não conheceu, em dinâmica de urbanização e de consolidação de

forma urbana, nenhum exemplar semelhante, em qualquer região do país.

“As fachadas, (...) organizavam-se com grande simplicidade, com porta e janela - esta situada
a meia altura das paredes, fechada com uma folha única e com forma sempre quadrada. As
esquadrias eram ainda rústicas e o piso, antes de terra batida, passava a receber um tabuado
ainda irregular. Os forros, até então inexistentes, começaram também a se apresentar com o uso
de esteiras de ingênuos tramados sob as primeiras coberturas de telhas semicilíndricas, estas já
um evidente progresso.”145

O partido adotado nestas casas, inicialmente eram regidos pelo quadrado. O

traçado regulador gerado pelo quadrado estava presente na forma adotada na planta e na

própria fachada. Os pés direitos, por vezes não ultrapassavam os dois metros e meio e

as alterações de espaços residenciais se faziam por puxados que se estendiam quintal

adentro, já que a casa se alinhava a rua e dela ativamente participava.146 A adoção do

traçado retangular acompanhou a solução de se utilizar “embasamentos de pedra seca e

que comentaremos nas descrições das tipologias encontradas. N.A.


144
VASCONCELOS, Sylvio de. Arquitetura Particular em Vila Rica. p. 17.
145
- MELLO, Suzy. Barroco Mineiro. p. 97
146
- VASCONCELOS, S. Arquitetura Particular em Vila Rica. p. 63.
cal” distantes do chão que protegiam a casa das enxurradas e da umidade do solo.147 As

esquadrias e os forros internos também conhecem melhorias sendo executados com

mais capricho.

“As fachadas apresentavam-se com uma acentuação francamente horizontal, o que lhes confere
uma particular e muito agradável sensação de acolhimento que é reforçada pelos amplos
beirais e pela equilibrada distribuição das janelas, que já não se resumem a aberturas mínimas,
tanto em número quanto nas próprias dimensões”148

A planta dessas casas encerradas entre “paredes de meia”, eram basicamente as

mesmas; sala na frente, alcova no meio, - de forma a resguardar os seus moradores da

insalubridade dos ventos - “sala da família” atrás. Interligado a isto, a senzala e a

cozinha primitiva que muitas vezes acontecia em um puxado149. De tanto observar esta

constância no uso do vocabulário arquitetônico, Valthier enunciou; “... quem viu uma casa
150
brasileira viu quase todas” .

Com o enriquecimento rápido acontecido em algumas vilas de ouro de minas e

conseqüente escassez de terrenos urbanos para expansão, uma evolução a ser notada nas

Vilas do Ouro seria a construção do sobrado, que por muitas vezes significou também a

hierarquização social de uma determinada vila. De certa forma, o sobrado pode nos

servir como comparativo para analisarmos até que ponto a atividade mineradora

perdurou neste ou naquele local. Uma vila com muitos sobrados denota um avanço

muito maior no processo extrativo. Somando a esta característica da habitação

residencial, está a própria evolução da construção religiosa que passa pela capela até

chegar a matriz ricamente ornada e enriquecida pelas principais irmandades dos núcleos

urbanos mais prósperos. A própria evolução do partido, da ornamentação e da

147
- Ibid.. p. 64.
148
- VASCONCELOS, Sylvio de. Arquitetura particular em Vila Rica. Belo Horizonte, 1951, p. 131
149
- MELLO, Suzy. Barroco Mineiro p. 95.
estruturação tipológica do núcleo urbano marca e divide períodos do processo

minerador e delimita o que se pode considerar como sendo as três fases do barroco

mineiro, expressos pela pintura e pela arquitetura.

O sobrado interpola as funções de comércio e morada. Institui as funções de

serviço no andar de baixo e a vida doméstica no andar de cima. Além disso, quando não

interpola estas duas funções, é no seu andar inferior que acontecem as funções

corriqueiras da vida doméstica. No entanto a planta da casa térrea é retomada no andar

de baixo e a interligação das funções do pavimento superior com o inferior se faz

mediante o corredor. A parte superior ganha a varanda, mas os quartos continuam sendo

alcovas, como na casa térrea.

“... e os sobrados passaram a constituir uma tipologia própria, incluindo, além dos
exclusivamente residenciais, os mistos - de residência e comércio - e os apenas comerciais,
151
conhecidos como sobrados de negócios”

Na casa térrea moram os menos abastados. O status está garantido para quem

mora no alto. Os sobrados representavam “riqueza e poder” enquanto que as casas

térreas “pobreza e até mesmo caracterizavam áreas de prostituição”152.

Em Nova Lima, remanescentes históricos da primeira manifestação da

Arquitetura colonial mineira praticamente inexistem. Salvo pouquíssimas edificações

situadas próximas às margens dos Ribeirões dos Cristais e Cardoso - que constituiu o

núcleo original de Nova Lima e alguns exemplos isolados que aos poucos estão sendo

destruídos - estes exemplares desapareceram com o crescimento desta região Central,

sendo substituídos por habitações mais recentes .

150
- VAUTHIER, Ll. Casas de Residências no Brasil. p. 143.
151
- MELLO, Suzy. Barroco Mineiro. p. 97.
152
- Ibid. p. 99.
Porém classificamos como duas, as tipologias derivadas do período colonial.

Uma antecede à própria entrada do Capital Inglês no município e a outra, que parte da

iniciativa da Mineração de construir os “cômodos encarreirados” ou como Burton

observou “as casas de aspecto brasileiro”.

Ao lado dessas edificações que se originaram do próprio processo extrativo e

acumulativo de Nova Lima nos setecentos e que foram, com o tempo desaparecendo,

surgiram as iniciativas da Companhia que a partir 1847 de construir para os

empregados, numa manifestada vontade de erigir para abrigar e fixar operários próximo

à atividade extrativa. No decorrer do século XX, esta iniciativa, como veremos, povoou

o núcleo histórico de Nova Lima. Isso pode ser verificado examinando as fotos de

época no apêndice deste trabalho).

“Entre 1930 até meados de 1950, execetuando-se o centro de Nova Lima, a empresa e o bairro
habitado pelos ingleses, diretores e funcionários categorizados, no dizer dos entrevistados, “o
resto era tudo nosso; cidade feita por nós; cidade feita para nós, os mineiros da Morro Velho;
153
milhares de operários ativos, mais os dependentes”

Segundo Grossi, permanência certa do homem no trabalho árduo de Morro

Velho era fundamental. Garantir a terra para o pequeno cultivo de subsistência e

propiciar o acesso à habitação funcionavam “como um meio de fixar os trabalhador,

impedindo-o de retornar ao campo ou demandar para as cidades, onde os salários

fossem mais compensadores e os riscos de trabalho menores”154

De acordo com Plano Diretor da cidade o processo de expansão da cidade

identifica também dois núcleos de formação da cidade:

“a primeira de formação dos primeiros núcleos de residências e que foi determinado pelas
diretrizes da política ambiental da empresa mineradora inglesa, antecessora da Mineração
Morro velho. São dessa fase, dentre outros, os núcleos de Vila Operária, Boa Vista, Olaria,

153
GROSSI, Yone. Morro velho: Extração do homem. p. 69.
154
Ibid, 70.
Retiro, Vila Esportiva, Quintas e Cristais. Posteriormente (...) a partir da década de 60, passam
a surgir bairros criados pela conotação comercial de expansão urbana, voltados para pressões
da demanda habitacional insatisfeita. São dessa época, por exemplo, os seguintes: Nossa Sra.
de Fátima, Bom Jardim, Jardim das Américas(BNH), Carioca, Alto das Quintas, Vila São José,
155
Ouro Velho Mansões e Residencial Sul”

Preferi acrescentar à esta classificação, uma terceira que seria considerada a

primeira, de fato, manifestação de vida urbana em Nova Lima que seria os exemplares

de “Vila Colonial” cuja a incidência antecede a essas duas fases que o Plano Diretor

identifica e classifica.

No entanto, dos restam poucos exemplares que permaneceram intocados no

tempo tais como a pensão Souza156 (Antigo Hotel Congonheiro, citado por Burton), a

casa do Largo do Rosário n 12. O sobrado do Marquês de Sapucaí157, exemplar de rara

importância histórica por exemplificar a existência dessa categoria de edificação

colonial na cidade, que sobreviveria ao tempo e a destruição, agonizou por longos anos,

à espera de restauro e finalmente, foi demolido recentemente. A Casa Aristides sofre

ameaça constante de ser transformada em estacionamento, assim como o único sobrado

remanescente da Rua Santa Cruz, que poderia ser preservado e no entanto será

demolido, também para construção de um estacionamento. Estes três últimos

representam um tipo de edificação muito comum nas Vilas Coloniais - os grandes

sobrados de um ou dois pavimentos pertencentes à famílias abastadas que prosperavam

no sertão rico do Brasil Colônia.

155
- PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA LIMA. Plano Diretor - Pesquisa e Diagnóstico, p. 62.
156
- Citado por Richard Burton como antigo Hotel Congonheiro. N.A.
157
- Demolido em 1992. Era considerado o único sobrado colonial remanescente do período na cidade.
Foi demolido na calada da noite, estando naquela época em péssimas condições de conservação. Apesar
de esparsos movimentos no sentido de preservá-lo como bem histórico e artístico e sentimental (uma vez
sabido que o Marquês de Sapucaí passou nele algumas noites) o poder público local não demonstrou
interesse pelo caso. N.A.
Outro tipo comum de edificação existente seriam as edificações “encarreiradas”

ou geminadas uma às outras constituindo grande parte das tipologias encontradas nas

Vilas Coloniais. Seriam o casario típico de Ouro Preto e Mariana, por exemplo, que

embelezam os logradouros centrais. Infelizmente, os poucos existentes na cidade foram

demolidos em finais da década de 70, pouco sendo considerada a importância e o valor

históricos destas edificações. Alguns exemplares sobrevivem ao tempo e estão presentes

no “Zig-zag” da Praça Bernadino de Lima, em estado precário de conservação. Nas

fotos que aprecem neste trabalho, um destaque deve ser dado às casas térreas, muitas

vezes avarandadas - chamados aqui de “Casas brasileiras” ou chalets que existiam no

Bairro do Rosário, mais especificamente na Rua São José, que hoje inexistem. Trato de

classificar neste trabalho, esse exemplar de arquitetura civil, construído em período

colonial, anterior ao processo de florescimento de toda a sorte de residências operárias

no Brasil, de forma a comprovar que no século passado, a administração inglesa de

Morro Velho possuíam as iniciativas de ponta do Capitalismo praticado no restante da

Europa e Inglaterra.

De influência portuguesa, estas edificações “encarreiradas” apenas não

preservam o mesmo funcionamento visto as disparidades existentes entre a realidade da

Colônia e da Metrópole, sendo feitas desde o começo as adaptações necessárias. Mas a

modinatura, o modo de construir continuou a ser o mesmo que o existente em Portugal.

Em termos de sistema construtivo, o pau-a-pique foi largamente utilizado por

essas primeira residências de Nova Lima, o que contribui para a dificuldade em

preservá-las para o futuro na cidade. Ver foto 9, 10 e 11 que ante o tempo, as paredes

desta casas parece ser um alvo fácil, para infiltrações e posteriores desmoronamentos. O
acabamento final era dado por caiação, tendo a estrutura de pau a pique, secado

completamente.
Figura 9

Casa da Rua Antônio Pereira (Zig-zag).

Notar sistema construtivo.

Construção remanescente.

Figura 10

Residência na Praça do Rosário, nº 12.

Casa térrea de duas moradas

Figura 11

Aspecto de moradia particular existente no Bairro

do Cascalho, década de 30.

Edificação já demolida
Figura 12

Moradia particular existente no Bairro do Rosário,

década de 30. Rua São José.

Edificação já demolida

Figura 13

Residência Rua Chalmers.

Notar estrutura de pau-a-pique.

Edificação já demolida

Figura 14

Hotel Congonheiro, hoje Pensão Souza.

7.2 - Tipologia 2 - “Casinhas Brasileiras” ou Chalets

“A princípio, o trabalhador livre mostrou decidida indisposição para trabalhar em Morro Velho
(...) Em 1846, a proporção de sua classe era de 20,23; em 1852 tinha-se elevado para 112,70.
Verificou-se logo que uma semana de trabalho significava o salário de uma semana, que o
trabalho e a remuneração estavam em relação constante; depois, os operários foram
construídas casas para brasileiros nos terrenos da Companhia e eram encontrados alojamentos
158
a 0$500 por mês, eram em média de 1$500 por dia.”

158
- BURTON, Richard. Viagem do Rio de Janeiro a Morro Velho. p. 229.
Em Nova Lima, se faz perceber um outro tipo de edificação típica que pode ser

convencionalmente classificada, neste trabalho, como “casinhas brasileiras” ou chalets.

“Casinhas Brasileiras” pelo que penso ser o que Burton viu quando de suas andanças

pelo bairro do Retiro. Os chalets, seguindo esse raciocínio, foram construídos para

empregados da companhia e possuem curiosos exemplares espalhados pela cidade.

Exemplares conservados desta tipologia estão em Rio de Peixe, usina geradora

de energia para Morro Velho.

Faço aqui uma observação a respeito do significado dessa primeira iniciativa da

Saint John Minning Company que, inicia um processo de urbanização que transforma

Nova Lima em Vila Operária, muito antes do início do século XX. As Vilas Operárias, e

sobre elas tem-se um vastíssimo material para análise, foram inicialmente construídas

na Europa objetivando suprir os déficits de moradia decorrentes, primeiro:

 da invasão da cidade, pelos camponeses e forasteiros, atraídos pelos eldorados que as

cidades pareciam representar.

E segundo:

 para fixar o cidadão na cidade, a partir do momento que ele se torna força potencial e

motriz para funcionar as engrenagens que movimentam a produção em série,

manufaturada.

7.2.1 - Partido

Em Nova Lima, as primeiras manifestações deste tipo de iniciativa são

percebidas a partir de 1850. Seriam casas de planta quadrada, construídas à moda

paulista, visto que os cômodos se interpenetram sem existir uma circulação que os

setorize.
No total são quatro cômodos; acoplados a eles, um puxado onde se vê a

cozinha e a instalação sanitária. As casas brasileiras possuíam esta diferenciação da casa

européia: devido ao clima, os cômodos da cozinha, estavam afastados do interior da

casa ficando onde o ar circulava. O cômodo conhecido como a “casinha” em geral era

composto de uma latrina, sem recursos, desprovida do chuveiro e do lavatório, visto que

o banho era tomado dentro da alcova e o rosto lavado numa tina de louça depositada

sobre o móvel de toucador.

7.2.2 - Sistema Construtivo

Em geral são construções feitas de adobe, espécie de tijolo de barro muito

utilizado em Minas, no século passado assentados numa estrutura que empregava

esteios e baldrames de madeira. O telhado recebe madeirame de ponta trabalhada -

constituindo cachorros159 - que se arrematam pela presença de Guarda Pós160.

Em termos de acabamento interno possuíam piso assoalhado, encaixe macho-

fêmea e teto de esteira de bambu, que recebe gesso e cal como acabamento, sendo

sempre arrematada por tabeira de madeira maciça muito usada, tal como peroba.

Próximo ao teto destas edificações, um elemento construtivo se repete insistentemente e

serve como elemento de ventilação complementar para a casa, uma vez que permite uma

ventilação cruzada e constante dentro dos cômodos. Este elemento típico possui uma

grelha em madeira, muitas vezes trabalhada de forma criativa161, sendo destaque nos

panos planos de fachada. Trata-se do óculo, que segundo Corona e Lemos:

159
- Ver Glossário.
160
- Ver Glossário.
161
- Este detalhe construtivo é chamado de óculo por CORONA, E e LEMOS, C. A. Dicionário de
Arquitetura Brasileira. p. 28. N.A.
“Abertura ou janela circular ou oval abertas nas empenas, nos frontões, etc. que fornece
iluminação e ventilação internas, principalmente nos desvãos dos telhados” 162

Nas casas coloniais existentes em Nova Lima, este detalhe construtivo se

apresenta muito constante e aparece em forma de óculo com diâmetro redondo

trabalhado ou em forma de veneziana de madeira, acabada toscamente.

7.2.3 - Fachadas

Na fachada, tanto frontal como lateral - e existem as quatro fachadas -, é típica

a presença da janela minúscula de folha maciça e forma quadrada, - forma típica da

evolução das formas utilizadas na arquitetura brasileira colonial - e a porta pintada em

cores vivas163. O telhado possui duas águas - o que não quer dizer que são no sentido da

rua. Podem ser para as laterais uma vez que estas são livres - e a edificação ocupa um

terreno em que não se faz obrigatório geminar uma edificação à outra. Neste caso as

fachadas laterais também terão cômodos iluminados.

7.2.4 - Implantação

Em termos de implantação estão localizadas no alinhamento frontal do terreno,

sendo que uma ou outra foge a esta convenção, representando exceções a parte. Outra

tipo de arranjo entre as casas seria o de agrupá-las duas à duas. A praça da Olaria, no

bairro Retiro em Nova Lima, em sua pracinha principal, na Rua Santo Antônio, no

bairro Rosário, à Rua São José, na antiga Paria do Matadouro e no Distrito de Rio de

Peixe. (ver fotos no final deste tópico), abrigam grande parte destas edificações sendo

o bairro, o único onde podemos observá-las em toda a cidade. O conjunto é harmonioso

162
- CORONA, E e LEMOS, C. A. Dicionário da Arquitetura Brasileira S.P., Artshow Books, 1989,
p.28.
163
- Para saber mais sobre isso ver “Tipologias Encontradas na Vila Colonial”. N.A.
uma vez que a proporção entre altura e largura destas edificações é constante e

equilibrada.

No caso do bairro do Rosário, devido a grande declividade da rua - e como são

geminadas duas a duas - acontece uma não contiguidade entre um telhado e outro, bem

como há um a inversão do sentido das águas que agora caem para a rua. às vezes

apareciam as varanda na frente da casa, conferindo a edificação um aspecto agradável. A

varanda, muitas vezes invadia o alinhamento do passeio. A foto da Rua São José mostra

isso claramente (ver final deste tópico).

Figura 15
Rio de Peixe, Usina Hidrelétrica de A. Peixe. Casas
da Mineração Morro Velho, alugada a empregados.
Início do século.
Foto da dec. de 30.

Figura 16
Rua São José. Chalets com 3, 5 ou 6 cômodos,
incluindo porão. Alugados pela Mineração aos
empregados. Edificação última décadas do séc.
XIX. Foto da década de 30.
Edificação já demolida
Figura 17

Bairro Matadouro. Rua Madre Teresa. Chalets

alugados pela Mineração.

Foto década de 30.

Edificação existente e reformada, construída final e

início do século.

Figura 18

Casa da Rua Santo Antônio, nº 152 - Retiro.

Observar óculo acima da janela.

Edificação início do século.


Figura 19

Chalet

“Casinha Brasileira”
7.3 - Tipologia 3 - Os “bonserás”

“... o aumento continuado deste número (de trabalhadores livres) é impedido unicamente pela
impossibilidade dos recém chegados de acharem qualquer lugar para ficar, dentro de um
distância considerável da mina”164.

Em Nova Lima, um termo curioso é utilizado pela população de forma a

designar um exemplar de edificação comum na cidade desde o final do século passado e

início deste século. Dá-se o nome de “bonserás” ou “bonserás”, em Nova Lima, a uma

casa ou um conjunto de pequenas casas geminadas - em geral agrupadas seis a seis -

construídas pela mineração de forma a abrigar seus trabalhadores livres, vindos do

campo, que substituem pouco à pouco a mão de obra escrava preponderante.

7.3.1 - Implantação e fachadas

Implantados em lotes estreitos, foram construídos no alinhamento das ruas. A

testada destes lotes são geralmente de três metros, coexistindo nesta exígua fachada,

uma porta e uma janela. Pela própria implantação dentro do lote - com laterais coladas

uma às outras -, os “bonserás” possuem telhados de duas águas que deságuam

respectivamente, na rua e nos quintais. Os “bonserás” preservam uma semelhança com

os exemplares de edificações que encontramos na Vila Colonial

“... as moradias possuíam cômodos encarreirados. O da frente, com janela no alinhamento da


rua, quase sempre era sala de recepção, quando não abrigava alguma oficina de artesanato ou
mesmo uma loja. Os cômodos intermediários, acessíveis por corredor lateral, eram os
dormitórios, naquele tempo chamados de camarinha ou casas de dormir. Nos fundos, fechava a

164
- SAINT John D”el Rey Minning Company, Limited. Extracts of advice from Morro Velho. 1840-
1850. n. 2, s. p. Extrato de Keogh Letter, Dec. 18, 1847) manusc. In: LIBBY, Douglas Cole. O trabalho
escravo na Mina de Morro Velho. p. 85.
fila a cozinha, a varanda alpendrada165 que dava acesso ao quintal, onde sempre havia um
arremedo de instalação sanitária”166

Neste caso um ponto peculiar e característico do “bonserá” seriam sanitários

coletivos.

7.3.2 - Partido

A exceção, neste caso seria a inexistência do corredor separando a alcova e

ligando a entrada a cozinha que faz com que o “bonserá” se apresente com algumas

semelhanças com a tipologia básica típica da mora da paulista ou das primeiras

edificações que Minas tem conhecimento.

A tipologia adotada corresponde a uma extensão do que era e representava até

aquele momento, a casa para o indivíduo do final do século passado. Sua planta não

apresenta nenhuma inovação; não surpreende à ninguém uma vez que este partido

básico adotado era aceito e difundido no Brasil de norte a sul. Neste ponto referente ao

partido, o “bonserás” se assemelha à morada paulista, finalizando-se aí as

semelhanças.

Apresentam-se divididos em sala, quarto do tipo alcova, cozinha. O banheiro é

coletivo e não possui chuveiro, uma vez ser costume tomar banho de bacia. Os

tanques também eram coletivos e serviam às várias famílias que se revezavam no seu

uso. No caso das dependências sanitárias este revezamento também acontecia.

165
- Alpendre - Telhado que se prolonga para fora da parede mestra da casa e que apoiado nas
extremidades, por colunas, tendo como função precípua fazer sombra a construção, evitando que se
acumule na alvenaria, o calor do sol - refrescando, assim, os interiores. Invenção brasileira segundo
Lemos. N.A.
166
- LEMOS, Carlos. História da Casa Brasileira. p 32.
As plantas de três cômodos pareciam reproduzir as residências que ocupavam as

vilas operárias industriais na Europa e que se transpuseram para o Brasil na iniciativa de

se produzir moradia para nossos imigrantes.

Um sentido encontrado para terminologia “bonserá” seria uma alusão que os

mineiros fariam de uma vida mais fácil, mais regalada, em moradas que fossem

confortáveis para eles e seus filhos. O termo “bonserá” serviria aí então para expressar

uma vontade de que as coisas se transformassem num futuro próximo, que a situação do

mineiro, num futuro próximo, se aproximasse da facilidade, oficialmente alcançadas nas

casas de Quintas..

7.3.3 - Sistema Construtivo

Exclui-se da semelhança com o modelo paulista a utilização da taipa de pilão

como sistema construtivo, originando casas com testadas maiores e aberturas

minúsculas. Além disso, empregam a superposição de cômodos, sem a existência de

corredores que liguem a cozinha à porta de saída.

Podemos classificar a incidência de “bonserás” em Nova Lima em duas etapas

construtivas distintas: a primeira utilizando o elemento adobe, onde os esteios são

madeira bem como os baldrames estruturais e uma segunda etapa quando a Companhia

adota em sua edificação tijolos maciços assentados com argamassa de cal e areia que

caracterizam também a construção das casas de Companhia.

Em relação ao acabamento interno das edificações, os primeiros possuem piso

revestido em tijolo cerâmico requeimado e resistente que pode ser limpo e encerado. As

paredes de adobe recebem caiação que também pode ser utilizada em sua parte externa.

Os mais recentes possuem piso assoalhado formando meio porões - tal qual acontece
nas “Casas de Companhia”167 - e tetos coberto por foros de esteiras, fabricados com

bambu da região que são também caiados após receberem gesso. Um elemento

construtivo presente tanto nos “bonserás” como nas primeiras edificações existentes em

Nova Lima diz respeito à ventilação. Falamos disso quando mencionamos os chamados

“chalets” encontrados no Bairro Retiro. No geral, todas estas casas construídas como

“bonserás” possuem um elemento em formato de círculo, de madeira entalhada

recoberto de tela, posicionado quase junto ao forro permitindo uma aeração da

edificação, mesmo quando esta se encontra fechada. Com o passar dos anos esta

solução tem sido abolida nas reformas que consideram este elemento desnecessário. 168

Outro aspecto curioso a este exemplar de edificação seria a existência de uma

única instalação coletiva e de serviço, que chegavam a servir, outrora, todas as famílias

que habitavam o “bonserá”, ao contrário do que acontece nas edificações das Vilas

Coloniais. A justificativa para isso talvez fosse o fato de que a mineração aí cumpria o

papel de transpor para a cidade, um modelo de edificação bastante difundido em São

Paulo e Rio nos seus famosos surtos de industrialização. A empresa tratava de abrigar

seus funcionários numa estratégia de reter a sua força de trabalho junto às áreas lindeiras

da mina. Realmente, os “bonserás” foram construídos, em sua grande parte, juntos aos

muros da companhia de forma a garantir um trânsito fácil dos seus trabalhadores.

Somado a isso, a segunda estratégia talvez fosse manter sob controle e vigilância, o uso

destas edificações. Próximas aos limites da mineração, essas edificações se tornavam

alvo fácil deste controle. Além disso, facilitavam que o contingente de mão de obra que

a Mina de Morro velho necessitava, encontrasse facilmente o rumo do trabalho.

167
- Explicaremos esta tipologia a seguir. N.A.
“.... Ao se referirem aos portões que davam acesso à empresa explicavam que estes se abriam
em leque para a cidade: três entradas entornando para a mina e saindo dela. A entrada pelos
portões dependia de sua proximidade com a residência de cada um” 169

Os “bonserás” são edificações que até hoje existem em Nova Lima, mas foram

adaptadas às novas necessidades das famílias que neles habitam. Em grande parte

foram vendidos a particulares, em geral antigos empregados da mineração. Muitas

foram adaptadas no decorrer do tempo. Todas ganharam banheiros e áreas de serviço

individuais. Outras ganharam acréscimo que incluem a construção de um segundo

pavimento, conforme mostra alguns dos levantamentos feitos. Outros ganharam

garagens - cômodo que nenhuma casa de trabalhadores construída por Morro Velho

possui - e possuem acréscimos que ultrapassam o permitido por uma lei de uso do solo

coerente. Fato corriqueiro em Nova Lima, de se acontecer é se extrapolar os limites de

construção permitidos pela lei de uso.

Superocupados, ganham mais um quarto ou uma cozinha mais espaçosa. Na

parte de cima costuma ganhar um terracinho coberto, alternativa criativa da população

de Nova Lima para solucionar problemas ligados ao uso do solo em demasia. As

conseqüências da superutilização seriam a inexistência de solo para cultivo, para

secagem de roupas ou realização de eventos sociais. A adoção do terraço abre uma

perspectiva de solo disponível para realização das duas últimas atividades. Para

exemplificar este uso temos os “bonserás” modificados da Rua Antônio Jardim que

ganharam terraço, garagem e até jardim externo, além de segundo andar . Ha incidência

de “bonserás” no Bairro Boa Vista, Vista Alegre, Rocinha, Barracão dos Cariocas.

168
- Ver Fotografias. Consultar CORONA, E e LEMOS, C. A. Dicionário da Arquitetura Brasileira. p. 28.
N.A.
169
- GROSSI, Yone. Morro velho: Extração do homem, p. 59.
Outro ponto a ser considerado sobre a habitação popular operária seria o que

Carlos Lemos convenciona chamar de “superposições” de usos diversos gerados pela

exiguidade dos cômodos e pelo número bastante altos de pessoas que moram nessas

edificações:

“... tolera-se uma superposição estar-serviço, ou melhor, nela a família pode usufruir de
momentos de lazer dentro da cozinha, o que jamais ocorrerá em uma casa de classe média, ou
de gente rica que somente tolera a superposição estar-repouso. Gente que vê televisão no
quarto, gente que dorme na sala, no sofá cama” 170

Interessante constatar que em 1867, a companhia já havia construído alguma

dessas casas, da mesma forma em que se empenhou em construir casas de um quarto só,

como veremos a seguir. Os “bonserás” de um quarto eram comuns e bastante

construídos pela companhia.

Figura 20

Bairro Rocinha, Bonserá da primeira fase.

Construído no fim do século passado. Observar

detalhe construtivo. (Adobe, vãos de portas e

janelas e elementos de ventilação). Foto de 1930.

Figura 21

Rua Santo Antônio, Bonserá reformado. Notar

janelas e beiral de guardapó.

170
- LEMOS, Carlos. História da Casa Brasileira, p. 10.
Figura 22

Bairro da Rocinha, Rua Duque de Caxias, Bonserá

em título maciço. Notar meio porão, contrafortes,

elementos de aeração e vãos.

Foto de 1930

Figura 23

Bairro Cariocas, Bonserá para solteiros, década de

30.

Figura 24

Bairro Cariocas, Bonserá para solteiros. Hoje

transformado em residência de particular.

Foto atual
Figura 25

Rua Antônio Jardim, Centro, Bonserá para

solteiros. Observar portas e janelas que serão

utilizados também nas “Casas de Companhia”. Foto

da década de 30.

Figura 26

Rua Antônio Jardim, Centro, Bonserá para

solteiros. Transformados hoje em residências

particulares. Observar alterações que as

transformaram em pequenos “apartamentos”.

Figura 27

Rua Antônio Jardim, Centro, detalhes das

modificações dos Bonserás.


Figura 28
Rua Antônio Jardim, Centro, Bom-será da primeira
fase. Como ele existia mais outro existia mais outro
no fundo do terreno que foi incendiado. Possui
instalações sanitárias coletivas, hoje
individualizadas. Atualmente residência de
particular.

7.3.4 - Variações Dentro da Mesma Tipologia - Influência dos “Bonserás”

nas Construções Particulares

7.3.4.1 - Casas de um Cômodo Só (Cortiços)

“- Nós, mineiros, somos massa atrasada. A vinda de muitos de nós para a mina significou
avanço: ganhar um salário todo mês, garantir a sobrevivência das família” 171

A casa de um só quarto - chamadas também de cortiços pela ausência de

instalações sanitárias individuais bem como tanques - foi uma espécie de habitação

difundida em Nova Lima por duas iniciativas distintas. Primeiramente, pela Companhia

que em 1930 alugava a R$ 3,00 por quarto no caso dos “bonserás”. Destinavam-se a

empregados solteiros que vinham trabalhar em Morro Velho. Em segundo lugar, por

especuladores, com alguns lotes na cidade, de preferência próximo ao limite dos portões

da Companhia, que viram nesta atitude um modo fácil de angariar fundos e até

enriquecer. Assim sendo, estas manifestações da chamada necessidade da cidade

industrial se viu atendendo a demanda imediata da mão de obra migrante que se viu

aumentada principalmente nos anos de 1937,1939 e 1940.172 Um relato curioso pode ser

mencionado aqui, no que diz respeito ao processo de seleção para as disputadas vagas a

função de mineiro da Saint John, nesta época, numa situação contrária ao que a mesma

171
GROSSI, Yone. Morro Velho - Extração do Homem. p. 58.
tinha vivido há quase cinqüenta atrás. Ou seja, nas décadas de 30, 40, houve um inchaço

de mão de obra em Nova Lima que motivou uma iniciativa mais de peso da Companhia

no sentido de promover a construção de muitas casas populares em um período reduzido

de tempo. Sobre a disputa pela vaga na mina nesta época Grossi, traz um relato

interessante em seu livro, que também demonstra o jogo de poder que a St. John

Minning Company podia fazer uso quando quisesse.

... “tinha-se que ter cartucho para entrar na mina. Na seleção dos candidatos, a empresa
empregava um método singular, que persistiu até meados de 1940: pela manhã, os que
desejavam emprego se dirigiam a uma ponte de Nova Lima, (...) perto da mina. Um funcionário
da Companhia se encarregava de escolher poucos pelo físico. Os rejeitados eram dispersados a
jatos de água de mangueira”173

Da mesma forma que os indivíduos que vinham trabalhar não poderiam

fraquejar, com a ameaça de perder seu lugar para o imenso exército de reserva situado lá

fora dos limites da mina, na cidade feita para ser suporte estrutural da demanda da

Companhia por aumento de produtividade, reproduzindo na relação patrão empregado, a

mesma relação que se via entre senhor/escravo, alguns anos antes:

“... a empresa utilizava um dos recursos de elevar sua taxa de exploração, que é o aumento do
ritmo de produção, mantendo-se constantes os demais fatores. logo, o fazia com não com a
mediação de processos técnicos, mas valendo-se de estímulos culturais e quando preciso, de
coerção física. Para tanto, a figura central era o feitor”. 174

7.3.4.1.1 - Implantação

Os cortiços estão localizados em uma distância mediana dos principais portões

da Mina. Construídos em lotes de particulares possuíam uma praça central usada para o

banho de sol e a circulação do transeuntes. Divididos em dois blocos estavam assim

organizados:

172
- Ibid. p. 56.
173
- Ibid. p. 57.
174
- Ibid. p. 60.
 Bloco 1 - Barracão onde ficavam os quartos, em geral de testeiras igual a três metros,

medida comum de ser encontrada em Nova Lima.

 Bloco 2 - Barracão das instalações sanitárias e dos tanques para lavação de roupas.

Exíguas instalações sanitárias que serviam a até mais de seis unidades.

7.3.4.1.2 - Fachadas

Em composição alguns se assemelhavam às casas coloniais do início da

ocupação de Nova Lima - uma porta e uma janela retangulares de folhas maciças, bem

ao estilo americano. Recebem influência do tipo de habitação construída pela Morro

Velho, no que passam a ser confundidos com estes. Os cortiços mais recentes possuem

fachadas que dão para a rua em estilo “art deco” - estilo que muito influenciou as

reformas de fachada feitas na cidade a partir da década de 30 - num modismo que

perseguiu toda construção particular feita nesta época na cidade.

7.3.4.1.3 - Sistemas construtivos

No que diz respeito ao sistema construtivo utilizado para construção desses

cortiços, a alvenaria de tijolos maciços de cerâmica assentados com argamassa de areia

e cal, sobre alicerce de pedra seca é o que se encontra geralmente. O telhado cobre toda

longitudinalidade da construção com duas águas de telha curva, que expelem sua vazão

em direção a rua não acabada e eram rejuntada nas extremidades, por cal, usada em

abundância pela Companhia no tratamento do ouro. O beiral apresenta a telha vã.

Internamente, possuíam forros de esteira ou. telhados vãos175 Geralmente os quartos

representam o eixo deste barracão e além de serem construídos “parede de meia,”

possuíam os fundos dando para outro barracão. As esquadrias, em madeira: “Fecham-se

175
- Telhados aparentes. N.A.
vãos por folhas simples de tábuas, em junta seca ou encaixe, ligadas por travessas em malhete, pelo lado
176
de dentro” Já as portas eram tipo porta-janela ao mesmo tempo permitindo maior

aeração dos cômodos. Assim podia-se deixar a porta - sua bandeira de cima - bem como

a janela. O acabamento que recebiam tanto nas paredes como era uma caiação e uma

pintura resistente aos raios solares. essas casas também possuem o interessante detalhe

em formato de óculo, um pouco acima das janelas, num arremedo do que acontece em

todos as “casinhas brasileiras” e nos “bonserás”. Os cortiços ainda existentes na cidade

foram transformados em moradas para pequenas famílias, sendo que estas ocupam em

média de dois a três cômodos contíguos. Um exemplo deste tipo de edificação se

encontra na Rua Joaquim Marcelino, na Praça do Mineiro, no antigo Mercado, em frente

a Mineração Morro Velho.

7.3.4.2 - Os Barracões

Define-se como barracões em Nova Lima, as habitações de três cômodos

geralmente soltas no terreno e feitos através de iniciativa de particulares. geralmente

dedicados à pequenas famílias donas de lotes dentro da cidade, este tipo de habitação foi

muito construída em Nova Lima, existindo na Prefeitura de Nova Lima, arquivados,

vários exemplares desta edificação.

7.3.4.2.1 - Partido

Podemos considerar que os barracões de 3 cômodos, tais como encontramos em

Nova Lima, eram híbridos, ou seja, variações do modelo construído pela mineração e

conhecido como “bonserás”, que por sua vez, já percebemos, sofre influência direta dos

176
- VASCONCELLOS, Sylvio de. Arquitetura Particular em Vila Rica. p. 144.
exemplares da Vila Colonial Mineira. Podiam acontecer geminados com um portão para

cada lado do lote que poderia ser utilizado independentemente.

Podemos traçar aqui um primeiro paralelo entre duas influências presentes no

fazer arquitetônico expressos como satisfação das demandas produzidas pela indústria

no tocante a habitação : a influência do modelo colonial/ inglês e logo depois a

influência do “art deco”, presente na arquitetura dos prédios da Rua Santa Cruz, a partir

do início da década de 30, numa iniciativa que será explicada quando tratarmos dessa

tipologia.

Os barracões, feitos sobre medida para o aluguel ou para uma pequena família

possuem o partido semelhante ao “bonserá”, à exceção da entrada da casa que se dá pela

lateral e pelo meio no cômodo que se convenciona chamar de sala. Possui, além dela,

um quarto e uma cozinha com a instalação sanitária puxada para o lado de fora, porém

individual.

A fachada recebia, por muitas vezes, as influências dos estilos da moda tal qual o

clássico e o art deco. Este último foi bastante utilizado inclusive em reformas pelos

quais passaram estas casas e outras casas operárias no decorrer dos anos. A fachada

possuía uma janela só, centralizada, formando um conjunto, muitas vezes,

proporcionalmente equilibrado.

7.3.4.2.2 - Implantação

Geralmente implantado no alinhamento dos terrenos, não possuíam entretanto as

fachadas encarreiradas dos dois lados. Caso houvesse o geminado este era feito dois a
dois e pela fachada não se sabia se era ou não uma casa só ou duas. O resultado da

fachada é simétrico. O número que regia o cômodo era o três, outro detalhe a atentar se

quiser comparar a casa particular com as propriedades da Saint John Del Rey.

Há incidência de barracões não construídos no alinhamento da calçada distando

de dois à três metros do que se pode chamar de passeio. Geralmente, construídos nos

bairros vizinhos ao centro costumam - quando há diferenças de nível -possuir porões.

7.3.4.2.3 - Sistemas Construtivos

A Saint John Minning Company influenciou toda uma geração de construtores

em Nova Lima, tendo Know-how para poder edificar uma casa de quatro cômodos em

menos de seis meses. Assim sendo, é muito comum vermos casas de particulares

construídas a imagem e semelhança das “Casas da Companhia”. Os alicerces em pedra

seca, formando meio porão com ventilação nas formas das grelhas de ferro fundido.

Esse detalhe é muito utilizado em Belo Horizonte para edificação das casas nova da

Cidade recém inaugurada. O código de obra de Belo Horizonte, rege em benefício dos

meio porões, dos piso de assoalho e do pé direito alto com janelas longilíneas.

Em termos de acabamento interno, não se foge muito do “lugar comum” dos

forros de madeira de pinho, assentados em forma de lambri ou a esteira. Mais comum,

pela própria influência do art deco seria o lambri. O chão de tabuado seguia o modelo

original sob alicerce de pedra - tecnologia construtiva aprendida com os imigrantes - e

porão afastado do chão. O pé direito variou pouco sendo mantido nos 3,00m. O

acabamento final, tanto de fachadas quanto interno era a pintura inclusive do forro e das

portas. As esquadrias misto de vidro e madeira foram também utilizadas nesta tipologia.

7.3.4.2.4 - Fachadas
Em geral, se até a década de 30, possuíam aparência igual a uma casa de

companhia, com a janela única maciça ou duas janelas, no caso de serem geminadas, na

década de 30, perdem esta fachada para ganharem a cara do “art deco”. extremamente

festejado em Nova Lima, o “art deco” foi o estilo externo à produção arquitetônica

residencial em Nova Lima que mais influenciou o gosto dos habitantes e construtores da

cidade. Não raro ver um detalhe ou outro em alguma casa, nem que seja uma janela em

forma de escotilha ou um friso retilíneo e bem elegante. Em geral com esquadrias de

madeira e alvenaria trabalhada com pó de pedra, as fachada foram surgindo e se

modificando com o passar do tempo. Algumas casas receberam influência neoclássica,

outro gosto bastante difundido na Capital do estado de Minas Gerais, naquelas épocas.

A localização destas casas geralmente era próxima ao núcleo de trabalho. Porém,

terrenos postos à venda tanto na Vila Passos - bairro vizinho a muitas casas operárias - e

no Vila São José utilizaram-se muito deste modelo. O orifício de aeração, em muitas foi

esquecido, ou foi pouco utilizado.

Figura 29

“O Bonserá”

Planta Típica
Figura 30

Cômodo de Aluguel

Quartos - Planta Típica 1949

Figura 31

“Casas de 1 Cômodo Só”

Planta Típica

7.4 - Tipologia 4 - “Casas de Companhia”

Seguindo a filosofia de fixação dos empregados através da moradia, que torno a

repetir, é extremamente importante para o entendimento da história de Nova Lima,

surge esse outro tipo de tipologia habitacional que comumente é conhecida na cidade

como “Casas de Companhia”177. As “Casas de Companhia” são em conjunto com os

“bonserás”, os cortiços e as “casas brasileiras” parte da integrante da política de

habitação da mineração, - iniciada em 1850 e terminada em 1960 - sendo que estas

últimas beneficiavam principalmente os empregados casados. Porém foram as Casas de

177
- As casas de companhia eram 2800, na década de 60. A arrancada maior na construção de imóveis se
dá na década de 30 em virtude do decreto de 04.12.33 n 23.535, de Getúlio Vargas que “criou o
monopólio da compra e da venda do ouro pelo branco do Brasil, permitindo que as remessas de lucros
para o exterior somente de 1/3” Com isso a empresa investe seu dinheiro retido aqui em compras de
propriedades e construção de casas. N.A. Fonte: GROSSI, Yone. Morro Velho: Extração do Homem,
p.71.
Companhia que mais foram construídas a partir, principalmente, da década de 30,

quando a demanda populacional em Nova Lima aumentou, em função de um êxodo

rural percebido pelos fracassos de uma agricultura inexpressiva, praticada nos arredores

da cidade e por isso mesmo, frágil economicamente.

Diante disso tornou-se óbvio que o melhor lugar para buscar oportunidades nos

arredores seria justamente Nova Lima. Justamente também porque:

 Não exigia qualificação profissional, portanto o trabalhador, vindo do campo possuía

chances de ingressar no seu quadro de funcionários pela disposição e força física.

 “A produção de ouro de Morro Velho, com pequenos anos-prazo de queda, sempre

seguiam um espiral crescente, mesmo levando-se em conta que a confiabilidade de

seus dados era precária uma vez que a companhia gozava de isenção de impostos e

fiscalização”178 Deste modo, a oferta de mão obra era sempre boa porque a empresa

não passava por momentos recessivos.

 A empresa oferecia, dentro de uma política paternalista a habitação por preços

simbólicos de aluguel.

No entanto, com o aumentos dos índices imigração para Nova Lima, em direção

ao que poderia ser considerado como um bom campo de emprego para quem vinha do

campo, conseguir a casa bem como conseguir o emprego, como vimos anteriormente,

era difícil, exigindo do proponente, um pouco de sorte e apadrinhamento:

“A disponibilidade de moradias não atendia à procura. O direito de morar em casa de


Companhia incluía desde pedidos formais e a conseqüente entrada na fila de espera, até a
indicação ou proteção por parte dos funcionários que decidiam sobre as solicitações”179

178
- GROSSI, Yone. Morro Velho - Extração do Homem, p. 47.
179
- Ibid. p. 70.
Correlato esta iniciativa da empresa estão outras iniciativas surgidas em Belo

Horizonte como lembra Sylvio de Vasconcellos:

“Por volta de 1940 introduz-se o sistema de financiamento das construções por intermédio da
Caixa Econômica Federal e, em conseqüência, multiplicam-se as residências, tornadas, assim,
acessíveis à classe média. São porém, residências de tamanho e custo reduzido, nos limites
permitidos pelos citados financiamentos. O problema é construir o mais barato possível, com
plantas mínimas e pouca folga para embelezamento. De preferência vigora o “chalet” ou o
pseudocolonial com pequeninas varandas de acesso, três quartos de 3,00 por 3,00, uma sala,
copa, cozinha e banho.” 180

O trabalho na Mina era "árduo"; logo assegurar a casa aos empregados era uma

estratégia para garantir a fixação destes operários junto à empresa. A maioria destes

operários foi retirado do campo e locado nas recém-construídas casas de Nova Lima,

que eram muitas e representavam a maioria das casas construídas até então, sendo

portanto a única imagem que obtemos de Nova Lima, se quisermos retratá-la há quase

seis décadas atrás.

“... nas décadas de 30 e 40, a presença do imigrante rural foi um determinante na formação de
mão de obra na mina. A transição do trabalho do campo à atividade mineratória foi facilitada
em parte, por não exigir qualificação profissional. Nesta época, Nova Lima mais parecia um
acampamento industrial. Isolando-se o centro e a zona residencial inglesa, que se manteve
sempre capsulada e atomizada em sua condição patronal, todos os bairros eram habitados por
mineiros.”181

7.4.1 - Partido e Implantação

As “Casas de Companhia” podem ser vistas, em termos de partido

arquitetônico, como uma evolução da tipologia anteriormente analisada por este

trabalho - “chalet” ou “casas brasileiras”, na medida que a modificação do partido se dá

pela individualização da circulação interna para a área social e íntima da casa que ganha

um corredor bem como aumenta o espaço útil da casa saindo dos exíguos 3,00 m de

largura dos “bonserás”. Em termos da evolução, além dessa modificação do partido, as

180
- VASCONCELLOS, Sylvio. Noções de Arquitetura. p. 30.
181
GROSSI, Yone. Morro velho: Extração do homem. p. 59.
“Casas de Companhia” adotam um lote - em geral possuindo 300,00 m2 - mais amplo

na implantação da edificação em si, ganham mais cômodos - no geral quatro. A planta

toma o formato de cruz, com cômodos 3 x 3 m, o que nos leva a concluir que mais uma

vez, o partido destas casas se assemelha a construção de casas populares construídas e

espalhadas pelo país numa clara reprodução de um tipo de um padrão. Porém, nessas

“Casas de Companhia”, uma solução curiosa é adotada. Trata-se de um corredor de 1,00

m x 1,00 m que providencia a individualidade dos quartos existentes na moradia,

geralmente, em número de três. A planta se desenvolve em duas partes longitudinais,

quando no muito, onde sala quarto e cozinha produzem uma parte da planta e quarto,

quarto e banheiro fazem a complementação da outra metade do partido.

A cozinha é um puxado que possui, muitas vezes, o fogão a lenha.182 O

banheiro, tal qual na Vila Colonial e no “bonserás”, permanece desagregado da casa,

em uma solução que se aproxima muito das “casinhas”. Geralmente, o cômodo

conhecido como banheiro, possui o chuveiro e um vaso sanitário que, mesmo sendo de

louça, possui um reforço feito com argamassa de cimento forte, em sua parte externa

de forma a impedir que esta se quebre. O lavatório pode ser encontrado, tipicamente, na

área externa ao cômodo.

Dentro do sitio, ocupam um sistema viário planejado. Porém desconsideram os

afastamentos frontais da edificação em relação ao logradouro continuando a se alinhar

junto ao passeio estreito da rua. Continuam geminada uma às outras em grupos de casas

que podem atingir também o número de seis. Porém podem estar separadas uma das

outras e ganharem meio porão. Depende aí do sítio onde vai ser erguida.

182
- A utilização da lenha em Nova Lima é comum existindo famílias que até hoje coletam madeiras nas
matas próximas e descartam o uso do gás de cozinha, utilizando apenas o fogão à lenha. N.A.
Neste caso, aproveita-se o meio porão para qualquer coisa. É comum

encontrarmos enfileiradas e germinadas duas a duas, geminadas entre si . Ou ganharem

telhados independentes em terrenos muito íngremes. As casas geminadas tal qual

acontecem na Rua Carlos Roscoe, (ver foto no final deste tópico) possuem as casas da

extremidade privilegiadas, pois ganham a sobra lateral das quadras, o que lhes

permite individualizar entrada de serviço e social e lhes possibilitam cultivar um

pequeno jardim. Pela existência do alicerce distante do solo, na solução de meio porão,

os acessos ao interior das mesmas possuem uma entrada em forma de varanda

descoberta. Deste tipo também são as casas da Rua Amazonas, na Vila Passos.

Essa alternativa, no entanto, só acontece em alguns casos especiais, porque no

geral, as casas possuem uma planta padrão onde pode-se detectar uma única entrada

tanto para serviço quanto para o chamado estabelecimento de relações de cunho social

dentro da casa.. Essa característica também soa familiar quanto relacionamos as “Casas

de Companhia” às habitações que marcaram nossas Vilas Coloniais com a própria

iniciativa do Capital Inglês de construir na cidade. No entanto quando analisarmos as

“Casas de Companhia” implantadas em Sítio acidentado, onde são obrigadas a se

individualizar, não sendo prático veremos

Com a implantação no alinhamento da rua, as “Casas de Companhia” ganham

quintais profundos que são utilizados para o plantio de alimentos que complementam

o restante da dieta da famílias que as habitam. Como a maioria das pessoas que trabalha

em Morro Velho no início deste século vêm do campo, estas possuem uma vocação

natural para praticar algum tipo de cultura que lhes remetam às suas raízes campesinas.
Nestes quintais plantava-se de tudo um pouco que fosse necessário à complementação

da dieta familiar e criava-se algumas galinhas.

7.4.2 - Sistema construtivo

A adoção do tijolo como elemento construtivo ajudou a racionalizar as

construções da companhia diminuindo o tempo de obra. As casa construídas pela St.

John possuíam elementos estruturais de nome contraforte que dispensam o uso do

concreto armado, já utilizado com louvor na primeiras décadas do século 20, com

reserva de mercado. O cimento é um ligante pouco utilizado nestas construções, uma

vez que alicerces e paredes são construídos se utilizando de argamassa de areia, cal e

terra do local. Mesmo as vergas de janelas eram cunhadas com tijolo disposto à forma

de arco de forma a dar estabilidade a estrutura. Os meios porões e até porões inteiros -

dependendo das declividades encontradas no local - são extremamente fortes devido a

soluções desta natureza. A drenagem pluvial das águas era feita por sagetas

perfeitamente desviadas do contato com essas estruturas. Todas as casas possuem piso

assoalhado levantado do chão, na forma de meios porões, de forma a evitar o contato da

edificação com a umidade do solo, propiciando-se também uma ventilação natural de

todos os cômodos, através de grelhas de ferro fundido instaladas em pontos estratégicos,

onde a ventilação é cruzada. Em termos de acabamento interno estas edificações

possuíam internamente, um forro que primeiramente foi de esteira e com o tempo foi

substituído por ripas de pinho pintadas com tinta brilhante. As paredes são rebocadas

com uma argamassa constituída de cal, areia e pouquíssimo cimento, para depois ser

pintada à moda da fachada externa.


As habitações, em sua maioria, possuem telhados que deságuam na rua e nos

quintais, outra característica semelhante aos dois outros exemplos descritos aqui neste

trabalho e intimamente semelhante às características de nossas Vilas Coloniais.

7.4.3 - Fachadas

As fachadas se compõem em duas janelas e um porta de madeira, geralmente

pintada. Normalmente estas janelas possuem folhas de madeira maciça e bandeira

composta de caixilharia de madeira com vidro comum transparente . O limite de uma e

outra edificação geminada está sempre marcada pela presença de um tipo de contraforte

de alvenaria de tijolos maciços que é elemento volumétrico constante em todas estas

casas. Entre um cômodo e outro que compõe a fachada principal e lateral da casa se vê

este tipo de estrutura, incomum em tamanho pela própria simplicidade da solução

construtiva adotada. Em relação ao porão e ao próprio contraforte183, alvenaria de

fechamento se apresenta recuada tornando os planos um pouco movimentados em

relação a plana fachada dos “bonserás” e das casas coloniais.

As Casas de Companhia estão presentes na maioria dos bairros Centrais de Nova

Lima num percurso que se inicia no Bairro do Matadouro, vai para o Cascalho, Vila

Operária, Rosário, Rua Nova, Retiro, Vila Esportiva, Cristais, Chácara, Rocinha,

Cabeceiras, Boa Vista, Mingu, Mina D’água, Vista Alegre.

7.4.4 - Obras particulares

No que tange a produção habitacional particular desta época, estão em anexo

plantas de casas construídas no mesmo período ou uns anos mais tarde em relação a
estas casas que possuem a mesma planta, fachada e soluções Construtivas. Isto prova,

mais uma vez que o padrão executado pela Saint John está longe de ser repudiado pela

população que o aceita quando imposto e dele se utiliza até os dias de hoje.

Figura 32

Casas de Companhia da Rua Aristides Martins,


Bairro Rua Nova.

Foto da década de 30.

Figura 33

Casas de Companhia, Rua Santa Luzia, Vila


Operária.

Foto da década de 30.

Figura 34

Casas de Companhia da Rua Santa Luzia.

Atualmente.

183
- Ver Glossário.
Figura 35
Casas de Companhia da Rua Sabará e Rua Padre
Eustáquio. Em construção dezembro de 1930.
Foto da década de 30.
Figura 36
Barracão
Planta e
Fachada Típicas
Figura 37

Casas de Companhia da Rua Sabará e Rua Padre

Eustáquio, terminados em 01/01/1931.

Foto da década de 30.

Figura 38

Vistas das Casas de Companhia da Rua Sabará e

Rua Padre Eustáquio.

Atualmente.

Figura 39

Casas de Companhia da Rua Santa Luzia, sem

acabamento, maio de 1931. Notar baldrames, a

eração do porão, esquadrias e implantação do sítio.


Figura 40

Casas de Companhia da Rua Itabira, setembro de

31.

Figura 41

Casas de Companhia da Rua Itabira e Amazonas,

1931.

Figura 42

Casas de Companhia da Rua Itabira

Atualmente

Figura 43

Casas de Companhia no Centro, Bairro Cascalho.

Observar frontão neoclássico e porão.

Foto da década de 30.


Figura 44

Casas de Companhia da Rua Santa Luzia

Foto da década de 30.

Figura 45
Casas de Companhia da Rua Santa Luzia. Observar
reformas, inclusive com alteração do telhado.
Foto atual.

Figura 46
Casas de Companhia da Rua Carlos Roscoe, Retiro.
Notar inexistência de passeios e porão. Observar
sargeta de água pluvial.
Foto da década de 30.

Figura 47
Casas de Companhia da Rua Carlos Roscoe.
Foto atual.
Figura 48
Seqüência mostrando três etapas construtivas das
Casas de Companhia.
Abril/Maio de 1931

Figura 49
Rua Itabira
“Casas de Companhia”
Atualmente

Figura 50
Rua Padre Eustáquio
“Casas de Companhia”
Atualmente
Figura 51
“Casas de Companhia”

Figura 52
Casas Populares
Planta e Fachada Típica
1946

Figura 53
Casas Particulares
Planta e Corte Típico (1941)
Figura 54
Casa Particular (1941)
Planta e fachadas típicas

Figura 55
Casas de Particulares (1949)
Planta e fachada típica

Figura 56
Casas Particulares
Planta Típica

7.5 - Tipologia 5 - Quintas Inglesas

Para entender esta outra iniciativa habitacional de Morro Velho fazemos uso das

seguintes citações:

“Quando, especialmente nos últimos anos do nosso período, a oferta de salários maiores, em
combinação com outros benefícios estabelecidos pela Companhia, não conseguiu atrair
trabalhadores em número suficiente, a St. John não hesitou em recorrer às fontes estrangeiras
de mão-de-obra, incentivando a imigração à sua maneira.” 184

184
- LIBBY, Douglas Cole. O trabalho escravo na Mina de Morro Velho. p. 113
“Os europeus, na sua maioria ingleses de Cornualha, mas incluindo alemães, franceses e
austríacos, eram geralmente contratados por um período de seis anos, com passagem de ida e
volta ... Os ingleses em particular costumavam trazer suas famílias, criando uma verdadeira
comunidade britânica185 em Morro Velho.”186

Consideremos as Quintas Inglesas, uma iniciativa habitacional à parte na história

da arquitetura civil construída para empregados da Mina de Morro Velho. As Quintas

foram edificações construídas para atender uma necessidade habitacional gerada pela

imigração de estrangeiros especializados, vindos para o Brasil afim de se tornarem

empregados da Mina de Morro Velho, em uma época que a escassez de mão de obra

qualificada prejudica a produtividade da extração. Neste caso esta mão de obra

colocava-se a serviço da mineração para suprir as deficiências encontradas no

trabalhador brasileiro.

A primeira menção que temos da Casa de Quintas são as casas que Burton

menciona estarem sendo construídas próximas ao Morro do Retiro, dotadas de varanda e

jardins semelhantes aos construídos na Inglaterra. Casas que já possuíam como tarefa

abrigar os estrangeiros ocupados em coordenar as tarefas da mineração. Descobrimos aí,

uma diferenciação nas casas construídas para os operários — que foram descrita como

sendo os chalets de quatro cômodos e partido semelhante à nossa casa colonial, porém

dotada de algumas inovações construtivas— com as Casas de Quintas. As primeiras

eram menores, possuíam o jardim, o afastamento da rua, preservando a casa do

logradouro, possuíam a varanda, terrenos menos generosos. As primeiras casas de

Quintas foram construídas para ingleses, porém não possuem a mesma

185
- Constrói-se para esta comunidade, um cemitério, dois Clubes Esportivos (Retiro e Quintas), uma
igreja já mencionada por Burton em 1868. Cria-se com isso, em Nova Lima, uma difusão de hábitos
ingleses que se reflete na comida típica da cidade, nos nomes dos recém nascidos, etc...N. A.
186
- LIBBY, Douglas Cole. O trabalho escravo na Mina de Morro Velho. p. 113.
monumentalidade das construídas no Morro das Quintas, juntas ao Clube dos Ingleses e

mais resguardadas do convívio direto com a comunidade. Diríamos que no caso das

Casas de Quintas construídas a partir de início deste século, estas diretamente

abrigariam os empregados da mineração que possuíam funções mais especializadas. A

posição estratégica que se coloca a casa em relação a mina também é digna de ser

notada. Estabelece-se uma vigilância constante do pátio de atividades da mineração e

das casas operárias construídas mais abaixo. Acima das casas de Quintas não existe

mais nada construído, há mato e nada mais que não fuja ao controle da vigilância. “A

discriminação dos mineiros pelos ingleses ultrapassava a vida. Enquanto os mineiros

eram enterrados no cemitério da cidade, os ingleses possuíam o seu Campo Santo


187
particular”. O espaço da vigilância está também presente no local escolhido pela

mineração para locar seu cemitério. O cemitério inglês foi sempre separado do cemitério

da cidade

A construção das Casas de Quintas datam de finais do século passado e início

deste século, quando a imigração se tornou necessária e a consolidação das atividades de

Morro Velho obrigaram a mineração a especializar cada vez mais seus trabalhos de

exploração.

7.5.1- Implantação

O sítio escolhido para edificação das sempre o alto dos morros ou locais onde a

topografia privilegia a vigilância do território. As casas foram construídas primeiro o

187
Grossi 81
bairro do retiro, seguidos das encostas do Morro das Quintas, onde estão concentrados

os exemplares mais notáveis desta tipologia habitacional

Implantadas em terrenos de 1000,00 m² ou mais , estas edificações poderiam ser

consideradas privilegiadas. Possuíam um entorno ajardinado, bastante arborizado,

constituindo a implantação de edificação mais atípica e mais agradável existente na

cidade. Afastadas das ruas em muitos metros as Quintas inglesas dão espaço para a

profusão dos jardins e conseqüente individualidade de cada edificação. Porém, em

alguns casos especiais podem ser vistas algumas casas geminadas, duas a duas mas com

terrenos amplos e bastantes característicos destas construções no restante. Os

logradouros de acesso continuam possuindo semelhança com os existentes nas demais

áreas das cidades. São estreitos, cortam as curvas de níveis, e geralmente inexistem os

passeios.

A adaptação era também para eles muito difícil.188

As quintas inglesas são exemplo da tentativa da Empresa de adaptar seus

altos funcionários, de procedência estrangeira, à cidade. Da região das Quintas inglesas

vê-se claramente toda a área de operação da Mineração: consequentemente controla-se

de lá, da residência, os movimentos da fábrica e dos seus operários. A topografia

acidentada do sítio urbano corroborava com a permanente vigilância que o setor

administrativo da mineração - staff - fazia de seus setores de bairros operários.

Este aspecto ideológico da ocupação pode ser explorado e explicado como

controle da força de trabalho, aos moldes do pensamento taylorista e mais tarde

perfeitamente enquadrado no ideal de produção fordista. Antes disso a relação operário-

188
- LIBBY, D. Cole. O Trabalho Escravo: Mina de Morro Velho. p. 124.
inglês dentro das Minas de Morro Velho se adequa ao modelo feitor-escravo, muito bem

descrito por Grossi189, em sua tese a respeito do processo extrativo da mineração,

dentro de Nova Lima. A implantação das Quintas, estrategicamente ligada a questão da

mineração, fisicamente separa a porção da cidade, ligada à uma colonização estrangeira,

da parte da cidade ligada às classes operárias e ao próprio núcleo urbano original da

cidade.

A escolha do local para a implantação das casas de Quintas reforça duas idéias: a

da vigilância e a segunda, da segregação social de classes bem distintas: ingleses e

mineiros. Como diz este trecho:

“(...)... naquela possessão britânica (...) não é permitido entre os filhos falar nosso idioma, ali
nascem, crescem e educam filhos de ingleses, sem conhecerem uma só palavra de nossa língua:
o pirralho que vem ao mundo sob o sol deste Brasil hospitaleiro, que o enche de ouro e saúde,
não pode aprender os nossos costumes porque isso degeneraria a loura criança que vive sob um
dossel de rendas... ”190

7.5.2 - Partido

As casas possuem cômodos amplos, salas com lareiras, porões ou semi-porões

(de acordo com a topografia do local implantado) que permitem aeração dos cômodos

superiores, de piso assoalhado. Além disso, as casas possuem outra inovação atípica

aos exemplares de habitação construídos na cidade: as varandas amplas e muitas vezes

semi abertas que propiciam ao morador da casa se apropriar de um nicho para o

descanso, para a leitura ou para o lanche. Estas varandas possuem um papel importante

dentro do histórico da evolução da tipologias encontradas em Nova Lima pois mais

tarde influenciarão a arquitetura edificada pelo povo da cidade, quando estas incorporam

alguns dos seus elementos construtivos, muito em função do que os ingleses

189
- GROSSI, Yone. Morro velho: Extração do homem.
190
p. 87
representam em termos sociais para o restante das classes operárias que, em sua maioria,

ocupam a cidade: “Funcionários ingleses moravam em residências situadas em bairros separados e

não se misturavam com os trabalhadores”191

Neste sentido, numa visão pessoal, o comportamento dos ingleses e seu modo de

vida era exemplo de status social e diferença numa sociedade constituída por gente

sofrida e igual. O modo de vida dos ingleses se incorpora e personifica um ideal, na

auto-construção, a ser praticada no futuro. Constitui-se a Casa de Quintas como o

exemplo do “morar bem”.

No entanto algumas semelhanças são preservadas nas Quintas,. no que diz

respeito aos exemplares de habitação, mostrados até agora. A cozinha e as instalações

sanitárias são agregadas às outras dependências da casa, constituindo-se, muitas vezes,

um puxado. Porém, em algumas residências podemos detectar o quarto de banho192 -

uma inovação européia que pode ter sido transposta daquele continente pelos ingleses.

Uma situação i que pode ser encontrada é a da presença do retrete do vaso sanitário

separado do restante do banheiro, ou duplicado para auxiliar no uso múltiplo do recinto

pelos ocupantes da casa. Muitas vezes se encontram latrina e lavatório separados em

compartimento diferentes.

A cozinha espaçosa, conectada a um ambiente de almoço bem ventilado e

arejado, de preferência dando para um jardim. A despensa fechada pode ser um outro

elemento encontrado na casa de Quintas. No acabamento destes cômodos é dada a

preferência pelo ladrilho hidráulico.

191
- GROSSI, Yone. Morro Velho: Extração do Homem. p .81.
192
- Interessante citar aqui o Quarto de Banho, encontrado na Casa Grande e pertencente ao
Superintendente da Mina de Morro Velho entre 1184-1924. Possuía banheira, chuveiro, cômodo de
7.5.3 - Sistema construtivo

O que acontece em termos construtivos nas Quintas acontece nas casas de

Companhia. As quintas dos ingleses são construídas com tijolos de primeira, do mesmo

modo com que foram construídas as demais edificações, porém possuem um

acabamento mais trabalhado que pode ser explicado com sendo um rusticado, ou uma

textura nobre. As vezes é utilizado um pó de pedra com tijolos requeimados. Os beirais

geralmente apresentam acabamento de guarda pó, e suas peças trabalhadas e pintadas

conferem elegância ao conjunto. A telha mais utilizada é a francesa tal qual acontece nas

“Casas de Companhia” e nos “bonserás”. O motivo para difusão desta telha se deve a

imitação deste exemplar característico da região de Marselha, na França. As primeiras

telhas vistas aqui no Brasil eram proveniente desta região.

A parte de fundação e estruturas obedece a um esquema que prevê fundação em

sapata corrida de pedra e cal.

Na sua parte interna, as Quintas Inglesas, são bonitos exemplares de uma

Arquitetura típica de Nova Lima e produzida na cidade de Nova Lima. A composição

das fachadas se faz pelo jogo de volumes da varanda de guarda corpo treliçado e pintado

em cores brilhantes, com as paredes restantes da casa em composição com o telhado de

pouca inclinação devido ao uso de telhas francesas. Estes últimos geralmente possuindo

quatro águas, sendo seus beirais revestidos com um forro de pinho tal como existe

dentro da casa. As janelas são amplas de formato retangular, geralmente ostentando

caixilharia com abundância de vidros transparentes. Os tetos recebem as habituais

esteiras ou os tetos de ripa que muitas vezes podem ser encontrados no formato de

lavagem de urinóis e latrina, tudo separado em edículas próximas uma das outras e construídas agregadas
gamelas. 193 Os pisos das cozinhas e dos recebiam ladrilhos hidráulicos em duas cores e

formato geométrico, geralmente vermelho e branco. Já as suas paredes recebiam o

revestimento de luxo da época que seriam os azulejos. As louças sanitárias, importadas,

poderiam receber algum tipo de decoração sendo a louça importada e, muitas vezes,

decorada com motivos florais. Este tipo de decoração foi encontrado em banheiros da

Casa Grande. Azulejos brancos podem ser encontrados no acabamento dos banhos.

A Casas de Quintas é um tipo de construção que foi construída objetivando

trazer o conforto para os habitantes da colônia inglesa em Nova Lima. No caso da casa

grande, outro exemplar de arquitetura inglesa, esta foi reformada objetivando dar uma

certa característica inglesa ao seu partido colonial. Foi utilizada, durante muito tempo

como escritório da companhia e morada para seus diretores.

Outrora foi morada para o padre Freitas, primeiro dono da Mina de Morro

Velho. Neste tempo, segundo descrições dos viajantes, possuía um partido semelhante

as casas térreas típicas da construção portuguesas. Quando vendida à mineração inglesa

passou a ser ocupada pela nova direção da mina, que a reformou adaptando portas e

janelas de acordo com o que a tradição inglesa utilizava a ponto de Burton comentar :
194
“há algo de inglês nas casas bem cuidadas” , se referindo a Casa Grande e seus anexos

dedicados aos hóspedes.

Há semelhança nos materiais empregados para reforma da casa Grande com a

Casa de Quintas, como podemos observar nas fotos que se seguem.

à casa. Constituíam-se, no conjunto, o chamado “Chalmers bathroom”. N.A.


193
- Teto típico do período colonial brasileiro que possui formato trapezoidal. N.A. Para saber mais sobre
isso consultar Corona e Lemos e Sylvio de Vasconcelos no seu livro “Sistema s Construtivos”. N.A.
194
Burton, 175
As “Quintas Inglesas” possuem o que Lúcio Costa convencionou chamar de

“saúde plástica perfeita”195 pela harmonia obtida pela sua volumetria e a preocupação

com o Sitio escolhido para sua implantação. As Casas de Quintas estão implantadas no

Morro das Quintas e lá se preservam melhor do que as casas de companhia e bonserás.

O bairro ainda preserva as casas tal como foram na sua construção, apenas adaptando ao

seu partido os confortos da chamada vida moderna. Acrescenta-se aqui que, a partir de

um determinado momento a Casa de Quintas ganho o espaço para o automóvel. A

garagem não se incorporou à planta da casa mas ganhou espaço próprio. Junto ao

acesso principal da Casa de Quintas pode se encontrar o abrigo feito com telhado de

duas águas, sem fechamento lateral. Nas casas onde a própria implantação desfavoreceu

o acesso pôr rampa, o abrigo costuma estar no logradouro, fora do limite do lote.

O estilo da Casa de Quintas é digno de referência uma vez que o conjunto das

edificações representam uma área mais agradável, com entorno diferente do encontrado

no restante da área delimitada. Este estilo das Casas de Quintas influenciou algumas das

soluções encontradas dentro de habitações operárias, em Nova Lima, que veremos

mais adiante.

Figura 57

Residência, Bairro Quintas. Notar varanda,

esquadrias e telhados.

Construída no começo do século

195
- COSTA, Lúcio. Sobre a Arquitetura. p. 32.
Figura 58

Arruamento do Bairro Quintas. Notar ausência de

passeios, existência das sargetas para escoamento

de água pluvial. Cerca viva no alinhamento do lote

e o sistema viário estreito.

Figura 59
Residência do Bairro Quintas. Observar volumetria,
implantação no lote e garagem (que foi incorporada
na casa a partir da década de 30), desarticulada da
casa.

Figura 60

Residência do Bairro Quintas. Observar

afastamento frontal da edificação em relação a rua.

Acima e ao fundo Bairro Quintas II.


Figura 61

Casa de Quintas

Figura 62

Casa Grande

Figura 63

Detalhe Beral Casa Grande

Figura 64

Detalhe de Esquadrias

e Revestimento Externo
Figura 65
Casa de Quintas
Planta, Porão, Situação

Figura 66

Casa de Quintas

Planta

7.6 - Tipologia 6 - Casas da Rua Santa Cruz


O que se pretende, chamando atenção para esta tipologia é verificar se, na

adoção de um determinado partido, pela auto-construção popular em Nova Lima, há

influencias de alguns dos exemplares desta arquitetura extremamente futurista que

emergiu em meados da década de 40, em Nova Lima.

Figura 67

Clube dos Italianos. Rua Cocais, Centro.

Edificação construída em estilo art deco,

década de 30.

O comércio imediato de víveres e alimentos foram uma das atividades que mais

se desenvolveram concomitantemente à mineração. Representante máximo deste

desenvolvimento seria a Casa Aristides, que durante toda a sua existência corroborou

para que a mineração fosse uma atividade organizada lucrativa, e além de tudo, auto-

suficiente dentro de Nova Lima.

“Em Nova Lima, qualquer casa comercial vendia a crédito para o mineiro, porque o pagamento
nunca atrasava. Entretanto, desde o século XIX existia lá a Casa Aristides, de propriedade do
Cel. Aristides, um “empório comercial” com dezenas de funcionários, refeitório no próprio
local de funcionamento, capacidade de fornecer toda espécie de mercadoria s necessárias aos
habitantes da cidade, inclusive aos ingleses, além de casa importadora. No século XX, guardou
características de armazém capaz de atender às necessidades vitais dos mineiros, prosseguindo
suas atividades até os anos 60”196

Segundo Grossi, “...a natureza dos trabalho em Morro Velho mostrou poucos atrativos para

fixar o operário à mina, a não ser sua sobrevivência, aliada a exclusividade da oferta de trabalho da
Morro Velho em Nova Lima e adjacências”197. Aliado a oferta de emprego, mecanismos de

coerção da força de trabalho foram empregados tais como a oferta de moradia e a

chamada “caderneta de compras” que agia determinando um endividamento progressivo

do empregado durante todo o mês de trabalho obrigando-o sempre a se utilizar dela para

sobreviver no mês seguinte.

Esta delineada aí a, emergência de uma elite comercial que se estabelece e

adquire prestígio se entregando à uma atividade segura e lucrativa198 movimentada por

uma empresa que até a década de 40, segundo Singer199 gerava 8000 empregos em Nova

Lima, beneficiando indiretamente mais do que quádruplo deste número e fazia com que

Nova Lima figurasse entre as cidades mais industrializadas de Minas Gerais,

concorrendo com Contagem, Belo Horizonte e Juiz de Fora.

7.6.1 - Implantação

Os comerciantes da cidade foram os que mais sofreram influência do estilo

futurista conhecido como “art deco” e o trouxeram para a cidade. Podemos, observar

com raras exceções que a Rua Santa Cruz, possui, em sua maioria, um modelo de

edificação que se compõe de cômodo de comércio embaixo e ampla residência em cima.

A adoção da implantação da residência nos limites do afastamento frontal permanece.

Os lotes permanecem compridos mas ao contrário dos demais possuem uma testada

mais generosa. Estas construções podem ser consideradas como furto de uma renovação

196
- GROSSI, Yone. Morro Velho: Extração do Homem. p. 73.
197
- Ibid. p. 73
198
- Segundo Grossi, os trabalhadores de Morro Velho tentaram sair desta dominação do comércio local
em Nova Lima. Porém, diante do sucesso da iniciativa que sobretudo causou ameaça no comércio local,
trazendo a concorrência de preços. Esta iniciativa de combate à carestia, foi minada pela influência do
Comércio local junto ao governo do estado, Prefeitura, Associação de Comerciantes de Belo Horizonte e
Nova Lima, que decidiram tributar a iniciativa concorrendo assim para invibializá-la. Iniciativa, até então
urbana que teve que acontecer advinda da “explosão” da atividade mineradora e

conseqüente desenvolvimento da cidade. Data desta época, a construção do cinema

conhecido como “Cine Ouro”, o Hotel e a Reforma do Teatro Municipal. Curioso notar

que esta renovação acontece mais em torno do que se pode considerar o Centro de

Comércio novo que florescia em Nova Lima, situada próximo ao Portão principal da

Mineração, no caminho da Boa Vista, - onde estava localizada a Casa Grande - e junto à

sua famosa Praça de Mercado. Próximo à Casa de Mercado estava a Casa Aristides.

No geral, nas ruas as residências se encarreiravam mas contudo, possuíam um

estilo próprio. Entre uma casa e outra existia uma edificação que fugia ao estilo e estava

mais para o gosto eclético do dono. A presença da colônia italiana em Nova Lima serve

para reforçar o uso deste estilo que mistura características do futurismo italiano. Na rua

Tiradentes, a implantação de algumas casas neste estilo fogem a configuração da Rua

Santos Cruz e abre espaço para o jardim frontal.

7.6.2 - Fachadas

Em geral, as edificações do art deco existentes em Nova Lima, estão em bom

estado de conservação, possuindo parte do revestimento original: geralmente estas

edificações recebiam acabamento em um finíssimo pó de pedra brilhante, em torno de

suas simpáticas varandas que davam para a rua, suas janelas e suas fachadas,

entremeadas de janelas rasgadas e elementos de grande verticalidade. O acesso aos

chamados “apartamentos” se davam através de um vestíbulo, revestido em taco de

madeira ou parqués ricamente trabalhados, última novidade em termo de estilo.

bem sucedida, mas que foi sabotada pela organização político e econômica mais fortalecida que fez com
que o movimento sucumbisse. NA. Fonte: GROSSI, Yone. Morro velho: Extração do homem. p. 79.
199
SINGER, Paul. Desenvolvimento Econômico e Evolução Urbana. p. 236.
7.6.3 - Sistema Construtivo

A unanimidade do sistema construtivo adotado está no uso do tijolo, que desde o

início do século é o material de vedação mais largamente utilizado.

Os cômodos da casa são agora muito bem acabados possuindo piso em madeira,

paredes pintados e muitas vezes decorados e tetos de madeira sobre laje ou

simplesmente telhado que se escondia nas famosas platibandas. Os tetos possuíam

desenhos diferenciados em cada cômodo.

O conforto do banheiro dentro de casa era uma realidade trazida pelos arquitetos

do art deco bem como a individualização dos cômodos, a inserção da copa para os

almoços em família, onde a copa é o cômodo irradiador e ao mesmo tempo divisor de

todas as funções que estão por se desenvolver no ambiente doméstico. O banho possuía

a banheira, o chuveiro, a pia e o vaso de louça branca. O piso era revestido em pastilha,

outra invenção sensacional do estilo, e paredes (meias paredes) revestidas com azulejos

vitrificados.

A telha francesa de marselha é outra novidade que conforme visto nas tipologias

habitacionais da Saint John, também são utilizadas e num determinado momento, se faz

completo abandono da telha cilíndrica pertinente ao período colonial de nossa história.

Enquanto isso, o comércio floresce no andar térreo em amplos espaços,

existentes e utilizados até o dia de hoje. Podemos observar (ver plantas) que algumas

destas características, inerentes ao estilo foram assumidas pelo gosto popular e adotadas

em suas residências. Elementos verticais, molduras, cimalhas destacadas do plano da

fachada, platibandas escalonadas são elementos que podem ser identificados em

algumas soluções da auto-produção em Nova Lima.


Como muitas aproveitaram as fundações de outros prédios existentes,

estabelecem em grande parte o mesmo tipo de fundação.

7.6.4 - Influência da Arquitetura art deco na Construção de Casas Populares

na Cidade

Fala-se dessa influência quando citamos os barracões construídos para

particulares a partir da década de 40. O art deco foi evocado pelo gosto popular e

utilizado como forma de incrementar a fachada da casa de época ou da habitação que

por vontade do proprietário, passava por reforma de fachada sem contudo modificar o

conteúdo que:

“... continuavam a guardar aquela lógica tradicional: fachadas novas e plantas


tradicionais. Na frente, moderna para a época(...) para trás porém, espichavam-se ainda os
beirais largos, as varandas rurais e os pomares, muitas vezes em franco desacordo com o
formalismo das fachadas”200

Além de copiar o estilo das casas da elite do comércio, por vezes vem

acompanhando a solução estética a solução urbanística. Como o modelo era largamente

utilizado na Nova Capital de Belo Horizonte - representando este pormenor, um fator de

bastante relevância - por vezes se adotou, a moda da Capital, o alinhamento lindeiro a

via, que nos remonta a nossa tradição colonial que continuou arraigada aos gostos do

século XX, deixando o espaço dos extensos fundos de lotes vazios numa espécie de

Quinta. Ou, quando no muito, a adoção de um afastamento lateral de, no mínimo, três

metros . Esta recomendação foi prontamente seguida.

Mas o que realmente se incorporou do art deco foi a fachada. Os elementos

verticais, monumentais que tem como seu expoente máximo em Belo Horizonte, o

arquiteto Rafaelo Berti, foi bastante utilizado como elemento construtivo. Inúmeras
casas possuem uma mínima alusão que nos remete ao estilo que se transformou

facilmente reprodutível.

Exemplares desta arquitetura de fachadas estão espalhados em Nova Lima e

incorporam as próprias “Casas de Companhia” quando estas, por algum motivo,

começam a ser reformadas pelos seus moradores.

Figura 68
Residência dos Othero, Rua Santa Cruz, em estilo art deco.
Notar acabamento pó de pedra, implantação no alinhamento do
passeio e cômodo de comércio embaixo.

Figura 69
Rua Santa Cruz, edifícios residenciais e comerciais. Notar
presença de terraço e algumas edificações.

200
- VASCONCELLOS, Sylvio. Noções de Arquitetura, p. 27.
Figura 70

Rua Santa Cruz, vista parcial das edificações em estilo art deco.

Figura 71

Residência Particular, modificadas em sua fachada com clara

influência do art deco.

Figura 72
Edifício Art Decó
Planta Típica
Figura 73
Planta e Fachada Edifício Art Decó Típico
Rua Benedito Valadares

Figura 74

Fachada e Planta Típicas

Influência Art Decó


8 - A HISTÓRIA RECENTE DO MUNICÍPIO DE NOVA LIMA

“Quando eu cresci meu pai me disse: “-


filho pare de sonhar. É melhor tudo
largar e na mina trabalhar, ganhar o
pão...””201

Retoma-se novamente a história do município de Nova Lima para explicarmos o

processo de desenvolvimento do município a partir da transferência do capital Inglês,

representado pela Saint. John Minning Company, para o Capital Americano e

conseqüente transformação de Morro Velho em Economia mista brasileira/americana,

mais recentemente, sulafricana.

Morro Velho prossegue suas atividades dentro do cenário industrial de Minas,

que na década de 60, é emergente. No decorrer de todos estes anos o processo histórico

da mina foi permeado de ações político-sociais que se opuseram à irrestrito objetivo de

Morro Velho, de lucro acima de tudo, conseguindo assim - na formação de Sindicatos

fortes, na atuação do Partido Comunista na cidade - ganhos consideráveis para a classe

trabalhadora tais como redução da jornada de trabalho, melhoria das condições de

segurança dentro da mina, adequação das condições gerais de emprego em Morro Velho

ao que era previsto na C.L.T.

Até a década de 80, o número de trabalhadores necessários na produção de ouro

em Morro Velho se manteve estável. A partir da década de 80, seguindo os rumos do

mercado internacional, as crises mundiais e até mesmo uma postura internacional de

racionalização do uso da força de trabalho e redução de quadro de pessoal com

conseqüente automatização das linhas de produção, Morro Velho veio demitindo e

diminuindo sensivelmente os quadros de funcionários. Seus programas de locação de


funcionários com construção de casas populares duraram até a década de 60. Em 80, um

programa bastante tímido de vendas de lotes a funcionários das chapas A, B e C202 foi

iniciado e a empresa infraestruturou e loteou áreas suas localizadas na região do Bairro

Retiro. Os bairros Quintas 1 e 2, o bairro Cariocas 1 e 2. Respectivamente criados para

os funcionários de suas folhas de trabalho, ainda cultivando uma setorização por classes

sociais que pratica desde o século passado203.

Diante deste quadro e com a conseqüente demanda por imóveis dentro da cidade

as alternativas empregadas, - que são mostradas a seguir - esclarecem, em muito, nossas

perguntas a respeito do adensamento fora normal e a conseqüente favelização da região

central da cidade.

A partir de meios da década de 80, diante da dificuldade de exploração do ouro

de Mina Grande e devido ao melhoramento das técnicas de mercado utilizadas na

extração do metal, somados aos programas de qualidade com aumento do

aproveitamento do rejeito industrial, a Mineração Morro Velho inaugura o Queiroz. A

planta do Queiroz foi projetada para receber o bombeamento do minério recolhido em

Raposos e Mina de Cuiabá visando a mínima perda e o melhor aproveitamento do

rejeito produzido pelos processos de apuro do ouro.

201
- SOUZA, Jader J. De Mim. Composição de um músico da terra feita na década de 80.
202
- A folha A é composta pela staff ou seja, pelo pessoal de chefia da Mineração, graduados e de
confiança da administração. A folha B é composta por técnicos de nível médio que desempenham função
de supervisão e atuam medianamente entre chefias e peões. A folha C, obviamente é composta por
funcionários de escritório que são suporte além de englobarem os mineiros. estes últimos, tal qual
antigamente, possuem um número de inscrição, a “chapa” que identifica pelos 3 primeiros números a
procedência ou o setor ao qual pertence o funcionário. São conhecidos pelo número na empresa. A folha
B não possui chapa . As três classes de empregados recebem separados e suas festas de confraternização
são feitas em separado. O clube utilizado pelo pessoal da folha A, não permite acesso de funcionários da
folha C. N.A.
203
Para o Programa de seleção de funcionários aos lotes da Companhia, pesava-se muito tempo de casa na
empresa, faltas cometidas pelos funcionários na empresa tais como advertência, absenteísmos, local de
trabalho, quantidade de filhos, etc. Com a pouca demanda e a alta procura, em geral, o uso da “pistolão” é
Figura 75

Minas Ativas da Mineração Morro

Velho

Deste modo, a Planta do Queiroz, produz mensalmente, 450 kg de ouro, além de

300 toneladas de ácido sulfúrico, utilizado largamente na produção de fertilizantes. Este

processo reúne o que existe de mais sofisticado e moderno, no processo, comprovando

que a Mineração Morro Velho investiu pesado n a qualidade e no prejuízo zero.

A tendência, sobretudo em relação ao futuro da participação da Mineração

Morro velho dentro do cenário de Nova Lima, é que as operações da mina demandem

freqüente. Neste ponto, o apadrinhamento ainda é um ponto forte da política habitacional da Morro velho.
cada vez menos pessoal e bem mais maquinário para trabalhar a parte de insuflamento

de ar, drenagem e escoamento de água, enfim processos que garantam a manutenção da

cava profunda que se formou no subsolo em 160 anos de exploração.

É uma tendência preocupante uma vez que Nova Lima, sobrevive inteiramente

encarceirada à uma dependência cultivada de Morro Velho durante todos estes anos. A

comprovação de que as fontes certas de obtenção de lucros estão se esvaindo, estão

implícitas no ato de fechamentos das Minas Grande, Mina do Faria, Mina do Urubu,

estas três últimas estando nas imediações da cidade.

Cenário Urbano Atual

Na atualidade, a sede administrativa do município de Nova Lima possui um

processo de urbanização conturbado que ora passa por características de assentamento

espontâneo nascido com a mineração e ora passa por características típicas de cidade

planejada que foi afim de se transformar, em determinado momento, em Vila Operária

para locação de seu contingente operário, à manutenção dos quadros de mão de obra

imprescindíveis à continuidade de operações de um enclave industrial importante tal

como foi Morro Velho204 , durante estes últimos cento e sessenta anos.

Das características em comum com as cidades históricas típicas mineiras, o

núcleo histórico da cidade de Nova Lima pouco guarda. O que possui de original que

pode levá-la a se assemelhar a estes incríveis exemplares da história do auge do Ciclo

do Ouro pode ser a presença de um sistema viário truncado, aliviado na maioria das

vezes, única e exclusivamente pela existência de alguns largos lindeiros às igrejas

N.A.
204
- Morro Velho é o nome que se dá à primeira mina de exploração profunda que se tem notícias em
Nova Lima. Atual Mina Velha. N.A.
principais da cidade e que possuem as mesmas características dos demais conjuntos

construídos, em Minas, à mesma época possuindo a mesma evolução típica descrita de

estrutura e complexidade descrita por Sylvio de Vasconcelos em seus vários estudos

sobre as Vilas Mineiras205. Estes exemplos de riqueza e beleza urbana são furtos

inquestionáveis do rush minerador que se abateu nesta região a partir da última década

do século XVIII.

Os espaços urbanos gerados da existência destas igrejas dentro dos sistema

viário geram um ponto forte e imutável de referência, mesmo considerando que a

maioria do conjunto arquitetônico de entorno que somava força a esta conformação

espacial, inexiste. Desapareceram na maioria das vezes justificadas por uma renovação

urbana criada pela necessidade de crescimento populacional da cidade dentro de limites

pré-existentes visto que o município pouco possui terras para a expansão, estando estas

nas mão de quem detém a exploração mineral.

Partindo daí, as áreas destinadas a expansão real de sua demanda populacional é

a já existente que passa a ser, com o tempo renovada com superadensamentos que

analisaremos no decorrer desta etapa do trabalho. Ou produz iniciativas particulares que,

seguindo exemplo dos construtores paulistas do início do século e o próprio fenômeno

de industrialização da cidade decidem investir em “barracões” e “cômodo

encortiçados”206 de preferência em faixas de terreno que estão próximas a qualquer um

dos três acessos aos portões da St. John Minning Company. Isso muitas vezes

justificará a produção de uma tipologia bastante popular à cidade que é a casa com

205
- VASCONCELLOS, Sylvio. Arquitetura Colonial Mineira, 1957.
206
- Ver Capítulo sobre Tipologias Habitacionais encontradas na cidade. N.A.
terraço ou o que se pode determinar, na cidade, como “apartamento”207. Outro exemplar

peculiar a cidade e facilmente identificado é o da morada mista com comércio embaixo

e “apartamentos” em cima.

Nova Lima, por ter se tornado ponto de atração emergente dos fins do século

XIX, atraiu imigrantes que influenciaram seus costumes e transpuseram para a região,

um pouco de sua cultura. A cidade apresenta fortes interferências da colonização

inglesa, financiadora do boom industrial vivido pela cidade entre a década de 30, do

século passado até 1940 deste século e que tem sua máxima influência consolidada

quando opta em financiar construções de habitações populares para atração dos

“trabalhadores livres” à mineração208. Neste ponto podemos observar a interferência na

conformação urbana feita pela St. John Minning Company209 na ocupação imediata de

áreas lindeiras à mineração, dentro do sítio urbano. Aí os exemplos para compreensão

deste processo de progressiva influência e construção do modelo chave para auto-

produção encontrada na cidade está nos “bonserás”210 e nas “casas de companhia”211.

Está ainda na própria infra-estrutura da mineração para abrigar seus funcionários de alto

escalão que constrói as Quintas Inglesas212 na tentativa de alojá-los213.

Com base nesta influência e na própria atuação de St. John Minning Company

como ator social de maior influência na consolidação da estrutura urbana que servirá

como background para execução de sua proposta empresarial, analisaremos o porque da

cidade tratar com aparente descaso, sua memória cultural e histórica e se alienar quase

207
- Ver Capítulo sobre Tipologias Recentes encontradas no Sítio Urbano. N.A.
208
- LIBBY, Douglas Coli. O trabalho escravo na Mina de Morro Velho. p. 85.
209
- Hoje Mineração Morro Velho após ser vendida ao capital sul americano e africano. N.A.
210
- Ver Capítulo Tipologias Habitacionais encontradas na cidade. N.A.
211
- Ibid.
212
- Ibid.
que de todo da preservação do que há de rico em monumentos e sítios de interesse

artístico e cultural para a cidade. Este fato que pode ser comprovado na inexistência de

um patrimônio realmente significativo e legitimado. A explicação pode se conectar com

a existência do enclave industrial e, em grande parte, pela atuação da indústria

coligada na da exploração de minas dentro do perímetro urbano da cidade, fazendo com

que Nova Lima se torne aos poucos única e exclusivamente pano de fundo necessário

para abrigar seu exército de reserva exigindo que a propriedade do solo do município se

concentrasse nas mãos de quem o explora sistematicamente, inexistindo estagnação do

tecido urbano e existindo sim, a todo momento, necessidade de expansões urbanas

decentes e alojadoras do contingente populacional crescente.

No cenário urbano, Nova Lima, passa por obras de restruturação do sistema

viário urbano a partir de 1992, que culminaram na transformação do Ribeirão dos

Cristais, em Avenida Sanitária, como acontece atualmente (1996) com o Ribeirão do

Cardoso. A avenida possui uma caixa larga, dimensionada para ser um monumental

corredor de trânsito que - se comparado com o sistema viário urbano do restante da

cidade - forma uma estrutura desconexa. No decorrer do crescimento da cidade e com o

esgotamento da função do rio de ser fonte da riqueza do município a população

ribeirinha, caracterizada pela parte da população que possui péssimas condições de vida

e altos níveis de pobreza, passa a habitar as margens que também se transformam em

depósito de sujeiras e coletor do esgoto domiciliar da cidade. Como conseqüência disso

estão as inundações - fenômenos comuns que assolam áreas onde o desrespeito

ambiental gera desequilíbrios na natureza - que fizeram parte da história da cidade,

213
- LIBBY, Douglas Cole. O trabalho escravo na Mina de Morro Velho. p. 80.
tendo seu momento mais trágico, em 1979, quando da última enchente mais forte na

cidade.

Hoje, esta desconexão entre o novo urbano, representado pela avenida e as obras

de engenharia que visam apagar da imagem da população, é forte. A presença do rio -

hoje lembrado apenas como depósito fétido de excrementos, nunca como embrião de

formação do núcleo histórico - e sua relação com o entorno, são fortes referências e a

deterioração de qualquer lógica urbana que remonte as fases do surgimento do núcleo

urbano original, ficam difíceis de serem articuladas.

Casarios lindeiros a articulação dos dois rios foram demolidos e seu donos

indenizados. Construíram os chamados cômodos de comercio ou então guardam o lote

para uma impensada iniciativa arquitetônica. Digo impensada porque o projeto de

arquitetura, muitas vezes, surge de suas próprias cabeças inexistindo uma consciência

projectual ou um raciocínio estético sensível comandando estas investidas. O construtor

em Nova Lima é qualquer pessoa que tenha o capital para fazer o desaterro, diante dos

lotes de ribanceira, fazer a fundação, os muros, manipulando a brita, a pedra de mão, o

cimento e a laje finalizadora.

Neste interim, a cidade cresce com aquela aparência inacabada. Uma casa

sobreposta a outra aqui e ali, numa crescente distorção da qualidade de vida do ambiente

urbano.

Em termos de alternativas habitacionais, externas ao processo de Morro velho, a

cidade ganha recentemente um conjunto da COHAB e outro do próprio poder público,

numa iniciativa que garante pelo menos 1000 casas novas a população assalariada.

Exemplo esse que foi seguido revendo o caso BNH, na cidade, que na década de 70,
construiu para populares, não conseguindo construir para eles, mas conseguindo atingir,

em cheio os anseios de uma classe média e liberal dentro da cidade. As casa recentes da

COHAB e Loteamento Alto do Gaia não foram liberadas para moradia, sendo a primeira

mencionada sequer iniciada em suas obras civis.

Figura 76

Loteamento do Alto do Gaia

construído com recursos da

Prefeitura de Nova Lima. Ao todo

200 novas moradias.

As plantas resultantes destes programas habitacionais financiados pelo governo

Federal e amparados pela Prefeitura não serão reproduzidas aqui, neste trabalho, visto

que não traduzem uma tipologia criada, especificamente, para a cidade.

Enquanto isso, Nova Lima continua a se multiplicar em forma de seus barracões

ou das tipologias mais complexas que exploram os efeitos de época, os modismos, ou

em pequena incidência, os partidos considerados inovadores. Estes últimos criados

pelos arquitetos formados na Capital. A penetração, mesmo que tímida, na cidade tem

demonstrado ser benéfica, ao longo dos anos. Fez com que uma parcela da população se

sensibilizasse para o nosso trabalho, gerou gosto pela cor na pintura das edificações que

chegam até a fase final de acabamento e fez com que muitos novamente se
interessassem pelo uso do telhado cerâmico como cobertura, principalmente, quando o

assunto se trata apenas de reforma da edificação onde se vive, sem optar por acréscimos.

Mas a figura do arquiteto ainda é considerada por muitos, dispensável e sua mão

de obra é considerada cara, onerando em muito o custo final da construção, Uma grande

maioria da população desconhece a figura do arquiteto não sabendo o que ele faz ou às

vezes confundindo o trabalho do Engenheiro Civil, com o trabalho realizado pelo

Arquiteto.

8.1 - A Dinâmica dos Loteamentos Residenciais

Tem-se a considerar que as recentes expansões urbanas do município se deram

através dos loteamentos de Alta renda tais como, Residencial Sul, Ville de Montaigne,

Ouro Velho Mansões, Bosque da Ribeira, Vila Castela, Vila Del Rey, Retiro da Pedras,

Morro do Chapéu e alguns outros de menor porte que estão sendo lançados

recentemente.

Estes loteamentos representam a demanda de expansão urbana gerada pela

Capital, localizada nos limites da cidade, cuja as áreas centrais estão inchadas com um

população que cresce consideravelmente. Belo Horizonte possui necessidades de

expansão. Em alguns pontos esbarra em limites naturais e geográficos que dificultam

essa transposição. No caso de sua relação com Nova Lima, a barreira natural que se

interpõe chama-se Serra do Curral. Junto a ela, se localiza a Mata do Jambreiro. A área

possui uma particular beleza natural que atenua as dificuldades de acesso gerados uma

estrada estreita e curvilínea. Como tudo em Nova Lima, para se vencer a barreira

topográfica, a implantação do acesso rodoviário se fez acompanhando os limites

naturais de conformação do terreno.


O perfil do morador do loteamento tal qual um “condomínio” é composto por

pessoas da chamada classe A (ver mapa no Anexo) que procuram esses novos bairros na

alternativa de ter contato com um tipo de vida mais natural, habitar casas confortáveis

com segurança - já que todos estes “condomínios”, contrariando a lei federal, possuem

guaritas e restrições à entrada de estranhos - fugindo assim da grande metrópole, numa

postura que se assemelha a um bucolismo, que já aconteceu na Europa, em fins do

século passado.

Os assentamentos humanos são feitos em lotes onde a área mínima são 1000 m²,

uma alternativa que o Plambel encontrou para garantir que a região sobrevivesse pelo

menos fazendo a manutenção de suas áreas verdes, através da diminuição da

perspectivas de adensamentos nestes locais.

As casas construídas obedecem aos gostos dos arquitetos da Capital: são eles que

se empenham em mostrar sua competência em projetos com perfil final de casa para

viver no campo, com raras exceções. Neste caso, uma tipologia padrão não é seguida,

mas podemos advinhar, com a experiência do exercício da profissão, que o programa

utilizado é funcionalista que permeia nossa Arquitetura desde a década de 40. Setoriza-

se, em via de regra, os espaços em social, íntimo, lazer e serviço.

Esta “invasão” observada fora dos limites da sede administrativa, da margens a

algumas reflexões interessantes a respeito da dinâmica do crescimento urbano pertinente

a nossa época e que tem haver com metropolização, conurbação, desenvolvimento

regional que este trabalho não se propõe tratar.


O universo de estudos é a sede administrativa, a cidade velha. Porém, tenho a

consciência de que Nova Lima é mais do que isso e que o universo que abrange o

espaço considerado como a verdadeira cidade, se dilui, sobre este vasto território.

A Mineração na Serra do Curral

Nova Lima ainda possui uma forte atividade mineradora que ocupa também a

face da Serra do Curral que é voltada para o lado de seu território. A exploração do

minério de ferro se faz neste local e é outra atividade de peso, gerando divisas para o

município e que teve seu tem início em meados da década de 50, culminando com um

avanço de Minas como área de desenvolvimento industrial dentro do cenário Brasil. A

partir da década de 50, a St. John Del Rey Minning Company passa para o domínio do

capital americano, permanece fortalecida na cidade porque gera empregos214 e Nova

Lima é também “invadida” por esta mencionada exploração de jazidas com teor de

ferro, localizadas no chamado “anticlinal da Serra do Curral”215 que traz para o

município outras divisas advindas da exploração de seu subsolo mas também um outro

impacto de grandes proporções, a nível do ambiental, que de uma forma ou de outra

deverá ser solucionado pelo município daqui há alguns anos quando a extração se
216
esgotar. A cidade faz parte da região geológica denominada Quadrilátero Ferrífero,

sendo justificada aqui sua vocação para as atividades fim, nesta área. Sobre o potencial

da cidade para extração do minério de ferro temos que:

214
- N.A: 8000 empregos nesta época, 24000 habitantes beneficiados indiretamente. GROSSI, Yone.
Morro Velho: Extração do homem. p. 35.
215
- ÁVILA, Marília. Relatório de Campo, apresentado à disciplina Geomorfologia Dinâmica, no
Mestrado de Geografia, do IGC-UFMG, 1995. Com a MBR, Mineração Brasileiras Reunidas, vêm outras
pequenas minerações que desenvolvem extração em vários pontos do território do município. N.A.
216
- Neste ponto vale ressaltar que a proximidade de N.L. com Belo Horizonte faz com que aconteçam
interpenetração de influência administrativas que tornam a região difícil de governar uma vez que o que
atende a sede municipal pode não atender a estes bairros próximos a Belo Horizonte e de certa forma a de
BH pode também não ser a mais adequada. N.A.
TABELA 17
RESERVA DE MINÉRIO DE FERRO (10 TON.)
REGIÃO EXT. TERRIT. MINÉRIO MEDIDA INDICADA INFERIDA
(em km) CONTIDA
NOVA LIMA 427 1176,0 715 977 716
MINAS GERAIS 587172,0 9215,0 5177,0 4796,0 20632,0
BRASIL 8511965,0 12137,0 7077,0 7489,0 33781,0
RELAÇÃO NL/BR % 0,005 9,7 10,1 13 2,1
RELAÇÃO NL/MG % 0,073 12,8 13,8 20,4 3,5
Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA LIMA. PLANO DIRETOR - PESQUISA E
DIAGNÓSTICO, N. LIMA, 1994, P. 31.217

9 - TIPOLOGIAS ENCONTRADAS RECENTEMENTE

A Arquitetura vernácula - autoprodução para autoconsumo identificada em Nova

Lima, a partir de uma demanda gerada, constitui parte final do trabalho.

“Arquitetura vernácula é aquela feita pelo povo, por uma sociedade qualquer, com seu
delimilitado repertório de conhecimentos, num ambiente definido... (...) Com o seu próprio e
exclusivo “saber fazer”, essa sociedade providencia suas construções, suas casas, satisfazendo
à peculiares necessidades expressas em programas caracterizados por próprios e únicos
costumes”218.

“O problema é construir o mais barato possível, com plantas mínimas e pouca folga para o
embelezamento”219.

A auto-produção habitacional é uma realidade em qualquer cidade brasileira em

grande parte produzida para auto-consumo. Nasce de uma necessidade de resolução em

curto prazo de demandas geradas pela escassez ou ausência de oferta de novas moradias

destinadas a resolver os problemas emergentes de crescimento da população. Nos

últimos trinta anos, o setor da habitação no país como um todo sofre pressões mas é

incapaz de conter e resolver o déficit gerado pelos baixos índices de habitação ou de

programas de habitação popular.

217
- O Plano Diretor de Nova Lima, iniciado em 1989, não foi finalizado estando na fase de diagnóstico.
este trabalho tem divulgação restrita dentro do órgão público, sem data prevista para divulgação. N.A.
218
- LEMOS, Carlos. História da Casa Brasileira, p15.
219
- VASCONCELLOS, Sylvio. Noções de Arquitetura. p. 30.
Em Nova Lima, até 1960, a Companhia tratava de fornecer aos empregados

casas que eram construídas por ela em terrenos de sua propriedade, alugadas aos

funcionários primeiramente para depois serem vendidas.

“As casas eram fornecidas pela própria Companhia aos seus empregados com preços de
aluguel simbólico. Havia mais ou menos 2800 casas; a partir de 1960, com a compra da mina
pela Hanna220, as casas passaram a ser vendidas.”221

Cada operário que optou pela compra da casa oferecida pela mineração, possuía

seu pedaço de terra onde plantar e criar seus filhos. Possuía também um patrimônio que

poderia ser transmitido às suas gerações futuras.

Para entendermos como surgem estas novas modelos habitacionais que serão

narrados a seguir temos que entender que:

 Nova Lima continua a crescer. A quantidade de operários que possui nesta época

chega a cerca de 4600. Nas próximas décadas a população tende a aumentar

agravando o quadro de carência nesta área.

 Com exceção da implantação de um conjunto habitacional no BNH, na região

lindeira ao bairro dos Cristais222, construído na década de 70, de um conjunto

habitacional autoconstruído - denominado “Pastinho”223 - destinado à uma população

de baixíssima renda, na década de 80, a cidade de Nova Lima, em sua região Central

desconhece políticas de fomento ao número de habitações populares dentro da

cidade.

220
- Conglomerado americano que a partir da década de 60, assume o controle da Mina de Morro velho e
outras lavras que estavam sobre o controle da Saint John Minning até então. N.A.
221
- GROSSI, Yone. Morro Velho: Extração do homem. p. 255. Exceto do depoimento dado a Yone
Grossi por Dazinho. N.A.
222
- Bairro jardim das Américas. Ver mapas no Anexo. N.A
223
- Hoje Bairro Vale da Esperança. Parcelamento de parte da Gleba da Fazenda do Pastinho. N.A.
 Passam a surgir bairros com infraestrutura precária localizadas em áreas de risco,

pelas altas declividades em uma região próxima ao Bairro do Cruzeiro224 e o

Montividiu. Primeiramente, servem para alojar os “flagelados” da enchente de 1979,

que ocorreu na cidade.

 Fora do perímetro urbano da sede administrativa passam a surgir interesses de

expansão imobiliária, principalmente de áreas próximas à Mata do Jambreiro. Este

trabalho não trata desse assunto, deixando a discussão para outro trabalho uma vez

que o objetivo deste é investigar apenas e tão somente apenas a autoprodução e as

tipologias existentes dentro do espaço urbano central à sede administrativa.

Os modelos descritos anteriormente e enquadrados como variações tipológicas

comumente encontrados na cidade, pouco evoluíram e a casa que se constrói hoje,

pouco difere das construções operárias cedidas aos empregados da Companhia nos fins

do século passado e início deste século. É um modelo que parece estar incorporado no

fazer coletivo da cidade e é facilmente incorporado

Ao exemplar de habitação autoconstruído na cidade de Nova Lima. Este

modelo, com poucas exceções, é seguido em construções com um nível de acabamento

melhor e nas construções de péssima qualidade construtiva. Isso realça a influência que

a mineração ainda possui dentro da cidade. Mesmo quando suas atividades de extração

ameaçam ser interrompidas pela dificuldade gerada pelo aprofundamento da mina, por

uma inviabilidade operacional, pela escassez característico deste tipo de processo

exploratório, a influência da Mineração é uma constante e se perpetuou com extrema

facilidade até os dias de hoje.

224
- No morro de mesmo nome de onde Richard Burton teve a primeira visão de Nova Lima. N.A.
Esta é uma peculiaridade interessante em Nova Lima, digna de um estudo

aprofundado que evoque esta lógica de organização do espaço. Nova Lima ao mesmo

tempo se conecta ao espaço metropolitano como um todo, fazendo parte de Belo

Horizonte e sendo para a Capital solo de expansão, mas ao mesmo tempo se resguarda

por alguns interessantes fatores:

 Presença de um entorno físico que isola completamente sede do restante do território.

Nova Lima, está incrustada em um Vale, de difícil e tortuoso acesso.

 Manutenção de uma identidade territorial que resguarda as manifestações culturais do

resto da região.

 Presença de uma atividade que se configura como enclave econômico, uma vez que

por si só não admite nem atrai outros investidores diretos.

As edificações mais recentes, no entanto, preservam as características de uma

arquitetura própria da “Rainha das Minas Gerais”225, composta por uma produção

habitacional voltada para fixar a Mão de obra mas possuem um diferencial, que se

configura como melhoria da edificação sem contudo configurar como evolução. As

principais características desta autoprodução são:

 A autoprodução muitas vezes é anormativa, ou seja, desobedece o rigor das normas

de Uso do Solo ou dos Códigos de Obras existentes, ultrapassando os limites do

tolerado. Neste ponto vemos pelo mapa que os usos residenciais são predominantes.

Porém, além de Uso do Solo tal qual presente neste mapa nunca foi aprovada.

225
- Alcunha dada por Burton. N.A.
Figura 77

 A autoprodução é gerada pela carência de recursos da população. Uma vez que

faltam condições para que ela sobreviva com o que ganha e tenha acesso à habitação,

à saúde, ao lazer, como qualquer cidadão.

Neste ponto, temos que a autoprodução incorpora elementos que podem traduzir

determinado status social frente a determinada sociedade ou grupo e pode acarretar

melhorias progressivas a construção da habitação autoplanejada. O inconsciente coletivo

da população faz referências a imagens guardadas no subconsciente que traduzem as

idéias de conforto e bem estar que são pressupostos básicos da produção arquitetônica.

O povo possui este acervo qualitativo, só não é capaz de trabalhá-lo de forma desenvolta

como o arquiteto faz, não porque ignore a mensagem contida nestas imagens, mas

porque não está o suficientemente familiarizado e sensibilizado por elas. São fortes os

marcos referenciais que de um momento para o outro podem aflorar nos nossos sentidos

fazendo-nos explorar até o filão mais obscuro de nossa criatividade. neste ponto, com

base na observação, experimentação, a autoconstrução pode optar pela:

 Adoção de varandas: varandas no vocabulário e comportamento da gente simples da

cidade é sinônimo de “status” social. Transpõe para a arquitetura vernacular um

conforto existente na casa do alto funcionário da Mina.


 Adoção da suíte no banho do casal: A casa passa a ter um banheiro a mais: um

banheiro que sirva intimamente aos seus proprietários, já que o banho das casas

originais seguindo uma tradição da arquitetura popular brasileira, aparece como um

apêndice da casa. Na história brasileira ao banheiro tal como é conhecido hoje, o

banheiro assume num determinado momento um status da novidade e do conforto. É

assim definido por Lemos: “Os hábitos da higiene corporal também sofreram alterações. Os

ricos e remediados, quando seus jardins (sempre nos fundos das casas) permitiam, passaram a

construir casas de banho”226

 Adoção do terraço: Esta adequação na planta foi uma alternativa encontrada para a

população para criar áreas livres uma vez que o reparcelamento dos terrenos para os

filhos casados e com família foi uma alternativa adotada pela maioria da população

como forma de vencer os aluguéis e a baixa oferta de imóveis para aquisição. Em

termos construtivos os terraços ganham como cobertura, um telhado de estrutura

metálica com folhas de zinco novas e brilhantes. A opção por este tipo de solução

deve se dar pelo fato de que a Serralheria e a telha de zinco entraram na lista de

soluções consideradas baratas quando se trata de optar entre o terraço metálico e o

engradamento de madeira. Haja visto que o engradamento é mais pesado e o esforço

para combater o contraventamento é maior se o telhado possuir grandes vãos livres.

O telhado metálico é o preferido, apesar de não ser mais bonito, pela população e de

fácil instalação. Neste caso, a fácil instalação do material aliado a uma solução que

caiu no gosto comum, acabou por transformar o terraço coberto num padrão A

solução ganha mais força quando se pensa o terraço coberto em área ganha para a

apropriação múltipla do morador ou das famílias que desfrutam do uso do terreno.

226
LEMOS, C. A. História da Casa Brasileira. p. 56
Esta situação, de escassez de terrenos para expansão da cidade e altos preços

dos aluguéis, somadas às dificuldades de ordem econômico-social de conteúdo

histórico-estruturais, geraram a tipologia descrita a seguir.

9.1 - Tipologia 7 -Apartamentos

“... ocorre também que na maioria dos casos as plantas se conservam em partido tradicional,
sujeitas ao estilo de vida antigo (dormitórios-cozinha),enquanto que as fachadas se apresentam
luxuosamente modernas, quando não até alambicadas e pretensiosas” (Vasconcellos 227, sobre a
Arquitetura Mineira no século XIX)

Nova Lima possui um problema seríssimo que envolve o binômio habitação/

terras para expansão. O diagnóstico do Plano Diretor da cidade diz que:

“De uma maneira geral, a área central da cidade, que se confunde com a “Cidade Antiga” 228,
apresenta uma taxa de concentração muito alta, sobretudo como conseqüência da habitação
multi-familiar. Outro fator importante são as limitações impostas às expansões urbanas ditadas
pelos condicionamentos físicos locais. Destacam-se aqui as condições de relevo - que via de
regra impede tecnicamente soluções urbanísticas viáveis à condição econômica da população,
além do “cinturão” de área verde que se desenvolve sobretudo a noroeste da
cidade”229

Um entrave na viabilização da expansão urbana em Nova Lima, a ser

acrescentado a esta última informação acerca do solo urbano da cidade seria referente à

posse da terra. Grande parte da terra existente em Nova Lima está nas mãos de

mineradoras que exploram seu subsolo rico. Desta forma o controle da terra parte de

iniciativas pertencentes à estes grupos mineradores restando, por parte do poder público,

poucas alternativas de gestão do espaço urbano. A atuação do poder público, neste

casos, pode gerar controvérsias e entendo que uma vontade política maior agregada à

questão da terra rege o espaço territorial da cidade. A mineração representa força

política que por si só impede qualquer iniciativa de reação por parte da representação

227
- VASCONCELLOS, Sylvio. Noções de Arquitetura. p. 26.
228
- Trato de chamar neste trabalho “Cidade Antiga” de “Vila Colonial”. N.A.
229
- PREFEITURA MUNICIPAL DE NOVA LIMA. Plano Diretor - Pesquisa e Diagnóstico, p. 62.
política local quanto às questões de propriedade da terra. Assim sendo, os espaços

restantes ao desenvolvimento de uma expansão urbana, principalmente de cunho

habitacional estão presas à própria iniciativa da mineração de incentivá-la. Ou se

restringe à exígua área pertencente ao município e destinada a este fim.

Neste meio tempo a população cresce e com elas necessidade de locação do

excedente populacional, especulação imobiliária (envolvendo custo de imóveis e custo

de aluguel) que não consegue mais se alojar nos imóveis existentes. Após as iniciativas

dos loteamentos, destinados principalmente à classe operária da cidade, a parti da

década de 60, outra perspectiva interessante toma peso dentro da autoprodução existente

na cidade. E acontece porque:

 A população da cidade, eminentemente mineira, até a década 60, conta com os

programas habitacionais da Saint John Minning Company, que se encerram com a

compra da mina pela Hanna. Podemos demarcar o ano de 1960 como fundamental,

visto que depois disso, as iniciativas de peso dentro da construção civil na cidade vão

ser tímidas podendo ser caracterizadas como pequenas tendo em vista a relevância e

emergência do trabalho realizado até então. Diante disso, a habitação passa a ser

mais um bem conquistado pela população, através de seus próprios recursos

econômicos, não existindo assim subsídios para facilitar sua aquisição.

 O poder aquisitivo desta população continua baixo. Apesar da sindicalização

ostensiva da cidade, as lutas incessantes para melhorias do poder aquisitivo e das

condições de trabalho local, a média dos salários não propicia melhoras no padrão

geral da população.
 A população cresce. São as famílias dos primeiros mineiros se multiplicando. Filhos,

netos e até bisnetos.

 Quando procuram outra atividade que não a mina para desenvolverem alguma

atividade produtiva, os mineiros continuam mal remunerados. Procuram a capital,

depois que se aposentam230 ou mesmo antes. Acham emprego na construção civil que

o setor responsável por reter mão de obra não qualificada dentro das grandes cidades.

Neste ponto, o engajamento na construção civil produz pedreiros, mestre de obra,

serventes, práticos que investirão maciçamente na autoconstrução como forma de sair

do aluguel.

A tipologia descrita como apartamento surge da iniciativa - de acordo com as

causas descritas acima - dos próprios moradores da cidade construírem suas casas.

A opção por este modelo autoconstruído de edificação traduz a necessidade de,

dentro da escassa oferta de terras para expansão, criar solo para locar descendentes das

famílias mineiras de Nova Lima que crescem e decidem fixar residência na cidade,

trabalhar na mineração, se estabilizar e constituir famílias .

Dentro dessa perspectiva, um dos problemas gerados com a pouca oferta de

terrenos é a elevação dos preços dos aluguéis que inviabilizam a própria condição de

vida de grande parte da população que mora na cidade e até mesmo do migrante que

atraído por oferta de emprego na mina, decide vir para Nova Lima.

A cidade possui uma população de baixo poder aquisitivo, é operária, é

numerosa e necessita de local para morar. As alternativas para aquisição do terreno ou

da casa são ruins. Desta forma, facilmente o lote que outrora era utilizado como horta
pelo operário da mina, passa a representar para seus descendentes, a terra disponível

para edificação do seu barracão de quatro cômodos e teto de laje.

É bom lembrar aqui que o modelo de implantação das chamadas “Casas de

Companhia” obedece o alinhamento frontal deixando o fundo de lote disponível para

qualquer aproveitamento construtivo. domestico E aí é que a terra a antiga horta toma

forma de lote disponível para construção de mais um ou dois barracos. Sempre para

acomodar o crescimento da família. São construções irregulares, geralmente passadas de

pai para filho sem que haja trâmites legais de aprovação e averbação, envolvidos. As

custas judiciais também onerariam o processo. E o único dinheiro disponível é para o

cimento, o cascalho, a ferragem, materiais básicos para levantar qualquer barraco de três

ou quatro cômodos.

A alvenaria sem rebocar, o chão de cimento e as melhorias ao longo da vida, "na

maior dificuldade", são uma constante. O autoconstrutor não está preocupado em dotar

sua edificação, num primeiro momento, de beleza e equilíbrio estético e o que constrói

muitas vezes faz parte de sua memória cultural, assimilada no decorrer de constantes

contatos com a ambiente físico da cidade.

Quando o chão disponível, dos fundos de lotes estão ocupados e a família

continua a crescer ou parte da família necessita também de resolver seu problema de

habitação, o pai cede o telhado da casa. Surge o "apartamento". Contribui de forma

inconsciente para este tipo de construção, o sistema utilizado e multiplicado pela

mineração. O uso dos contrafortes, elementos estruturais que dão estabilidade, são agora

utilizado como apoio a estrutura do segundo andar. Com o concreto aramado, tudo é

230
- Quinze anos é o tempo máximo de atividade dentro da mina. N.A.
possível. Qualquer solução de engenharia. O concreto aramado permite flexibilizar as

construções o que é de grande valia para o operário auto construtor.

Nada mais que a multiplicação da planta operária original, algumas vezes com

adoção de algumas melhorias de conteúdo programático que foram descritas

anteriormente. Esses modelos de edificação são construídos pelos mutirões familiares e

carecem de auxílio técnico, na grande maioria das vezes. Neste ponto pode-se dizer que

o auxílio técnico e a tutela do poder público nestes processos irão existir apenas por

motivo de força maior quando estas pessoas são forçadas a regularizar seus imóveis por

algum motivo de força maior à vontade simplista delas. Para comprovar essa afirmação

temos que:

 A prefeitura tem perfeita ciência do que acontece no município. Porém seu

instrumento básico de controle do Solo - A Lei de Uso do Solo juntamente com o

Código de Obras - estão tramitando para aprovação na Câmara dos Vereadores, por

quase quinze anos, sem contudo ser aprovado.

 Existe um Departamento de Fiscalização dentro da Prefeitura de Nova Lima que

pode observar e em poucos casos autuar devido à insuficiência de embasamento

legal.

 A população desconhece o que seja Taxa de Ocupação máxima e Coeficiente de

Aproveitamento, tampouco afastamento frontal ou lateral, face à sua necessidade de

alojamento. Nova Lima, nesse sentido, continua a ser, “um imenso acampamento

industrial”231. O maior controle do solo e do que acontece nele se dá nos

“condomínios” de alta renda . Dentro da cidade, a Prefeitura anda com os olhos

vendados.
O corpo técnico que muitas vezes chega a assistir à população realiza

levantamentos e faz propostas condizentes com os sonhos da população de ter uma

“casinha.” A maioria destes levantamento é feito por desenhistas de formação

secundária. Os arquitetos representam um percentual bastante reduzido de interferência

nestes processos construtivos. Muitas vezes, os elementos de melhoria programática

inseridos no projeto parte de propostas destes técnicos que as introduzem de forma

padrão, tal qual um gabarito.

O acabamento das casas, tanto interno quanto externos, é relegado ao último

plano já que intenção é somente habitar e visto também que a possibilidade de que uma

nova construção recomece devido à necessidades futuras é sempre pesada. Pode ser que

esse "habitar" só seja melhorado e receba uma caiação por exemplo, depois de longos

anos de existência da construção, quando os filhos começam a trabalhar e a renda

familiar aumenta ou quando se recebe a aposentadoria da mina.

Em resumo, no que diz respeito a essa tipologia nova conhecida como

apartamento temos que:

1. Partido: Obedece o partido adotado na “Casa de Companhia” existente abaixo.

Muitas vezes se exclui da planta, o corredor de 1,00 x 1,00 m que individualiza os

quartos. A cozinha e o banheiro podem ser puxados e o acesso à esta casa pode ser

feito por uma escada lateral. Surge aí uma varanda que cumpre uma função de

transição dentro da casa. Em casas onde a evolução do partido está presente, temos

que a planta dá espaço para um corredor que individualiza os quartos e traz o

banheiro para dentro da casa. Pode haver incorporação de suíte. O programa inclui

231
- GROSSI, Yone. Morro Velho: Extração do Homem. p. 66.
sala/copa, com funções interconectadas, banho, cozinha, quartos, área de serviço e

varanda de acesso.

2. Fachada - Duas janela retangulares no sentido da largura e não da altura podem ser

encontradas na fachada. Não existem contrafortes uma vez que foram aproveitados

como estrutura recebendo um vigamento e um cintamento fortificado. Os planos de

parede das casas de baixo, originais “Casas de Companhia” podem vir a ter

enchimento de alvenaria no planos de fachada em decorrência destes cintamentos. Aí

então são remodeladas pelos seus donos.

3. Acabamento - Internamente são rebocadas inicialmente, tanto teto como paredes,

uma vez que são construídas de laje. Geralmente, a laje no forro dá opção para

construção do terraço que será, por conseguinte, coberto com um telhado de telhas

metálicas, largamente difundido na cidade, de gosto duvidoso mas que soluciona

questões ligadas à escassez de áreas para o lazer e a secagem das peças de roupas.

Uma vez que o chão se encontra totalmente ocupado esta alternativa cria solo livre
232
para os habitantes da casa ou do lote. O piso recebe um revestimento de madeira

ou cerâmica. Em edificações mais “sofisticadas”, o assoalho sintecado pode vir a ser

utilizado. A ardósia é largamente utilizada na cidade pelo seu baixo custo.

232
- Pode ser visto como status social já que nem todos tem e todos almejam possuí-lo. N.A.
Figura 78

Apartamento

Figura 79

Apartamento c/ Residência

9.2 - Tipologia 8 - Variações na Tipologia “Apartamentos”

Os loteamentos surgidos na década, como vimos, criados para satisfazer a uma

demanda a população por moradia curiosamente e reproduzem esta planta observada

nas modificações com criação de mais uma morada, presente nas chamadas “Casas de

Companhia”. Aí pode-se verificar quão forte é a influência do modelo reproduzido

fortemente em Nova Lima e que gera um influência reconhecida em todo o fazer

construtivo popular da cidade. Não se pode nos esquecer da influência do Moderno na

adoção de algumas variáveis construtivas. Entre elas, as esquadrias moduladas que

invariavelmente são utilizadas. Mas o Moderno prega o uso de uma planta livre que de
maneira nenhuma pode ser seguida no modelo adotado por Nova Lima em sua

autoconstrução.

Um outro elemento que costuma surgir junto com a adoção do modelo

"apartamento" chama-se "cômodo de comércio". Uma bitaca233, uma feirinha, um bar,

ou seja, tudo aquilo que traga algum retorno financeiro para a família ou aumente o

orçamento familiar apertado quer seja pela exploração do ponto ou pela sua locação.

Nova Lima possui muitos estabelecimentos comerciais desta natureza que reforça uma

tradição que acompanha a história da mineração em Nova Lima: “... os mineiros criaram

relações de amizade configurando uma cultura de rua adensada particularmente pelos contatos em

bares, compensando a fantasia no “deleite da cachaça, que dá devaneio e faz esquecer o trabalho”234.

Neste caso, a construção de barzinhos reforça uma tradição em uma cidade onde

os números do alcoolismo são bastante consideráveis.235 A construção de vagas de

garagem costuma ser um investimento rentável, visto que todas as casas construídas

pela companhia - e são a maioria em Nova Lima - não as possuem. Pelo que se percebe

em termos de construção popular dento da cidade, os novalimenses almejam construir

seu "apartamento" em cima de um ou dois "cômodos" de comércio embaixo quando

partem do “zero” em suas construções.

Nestes casos, um cômodo será utilizado e outro, certamente, será alugado por um

preço praticado no mercado imobiliário local. A execução de "apartamentos" e

barracões para aluguel é uma prática comum entre a população e pode significar

aumento das posses sociais da família além de representar um ganho extra para o

233
- Nome dado a pequenos bares, em Nova Lima, onde se vende antes de tudo, cigarros e pinga. N.A.
234
- GROSSI, Yone. Morro Velho: Extração do Homem. p. 71.
235
- A Mineração Morro Velho, faz um acompanhamento dos casos de alcoolismo dentro da empresa,
através do seu Departamento de Assistência Social. N. A.
orçamento doméstico. Durante a construção o morador é parte integrante da obra, pois

vive lá imerso no seu problema habitacional. Isso acontece também no outro tipo

descrito anteriormente. A preocupação com em se livrar do fantasma do aluguel é maior

do que o sacrifício de se mor em uma obra permanente.

O modelo descrito como apartamento com cômodo de comércio se assemelha

em muito com modelos reconhecidamente coloniais e pode-se conjecturar que sua

difusão dentro da cidade pode ser fruto de uma transposição dos modelos difundidos de

comércio em estilo art deco que invadiram a cidade a partir de meios da década de 40.

Nisso, vemos semelhança nos vestíbulos adotados para ser acesso ao cômodo superior

de morada. Na casa colonial, estes existem de forma a sofisticar a entrada para o

pavimento superior. No partido art deco são unidade isolada que cria acesso

independente ao usuário da morada do andar superior. Na casa colonial, ela não está

necessariamente desvinculada do cômodo térreo. Há uma comunicação, algum elemento

que divulgue a interligação das funções comércio/morada. É como que a planta

denunciasse o grande envolvimento que haveria de ter o proprietário do imóvel com o

inquilino, que no caso, seria ele mesmo.

Em termos de elementos é comum vermos a autoconstrução transpor alguns

elementos do art deco para o projeto de suas habitações. A tipologia apartamento que

analisamos aqui possui preferências para janelas em forma de óculos nos banheiros,

elemento profusamente utilizado na arquitetura art deco. Algumas cimalhas, frisos,

elementos verticais, por vezes utilizados, também referendam esta transposição.


Figura 80
“Apartamento”, esquema típico de construção
originado de uma antiga Casa de Companhia. Av.
Henrique Othero.

Figura 81
“Apartamento” surgido da modificação de um
bonserá da Vila Colonial, Rua Antônio Jardim,
Centro.

Figura 82
À direita modificação em Casa de Companhia, com
criação de um terraço e mais uma unidade
habitacional no 2º pavimento, Rua Marquês de
Sapucaí, Centro.

Figura 83
Vista do Morro do Cruzeiro, em primeiro plano
alguns “Apartamentos”.
Figura 84
Apartamento com Comércio

Figura 85
O Bonserá
com Apartamento

9.3 - Tipologia 9 - As Casas para Morar e as Casas de Aluguel

No decorrer deste trabalho apresentou-se descrições detalhadas a respeito do

sítio onde está localizado a sede do Distrito de Nova Lima, bem como se fala a respeito

da implantação das edificações em relação à malha viária existente na cidade. Em

resumo, considerando tudo que temos escrito, temos que:

 Nova Lima possui um sistema viário truncado, isto é, forçosamente adequado ao sítio

que se caracteriza por ser extremamente movimentado, do ponto de vista da

topografia do lugar. A malha urbana original está implantada entre vales e, numa

alternativa de expansão, sobe as encostas.

 O casario, forçosamente acompanhará estas declividades acentuadas dos terrenos. Há

ocasiões que as inclinações do terreno natural chegam quase à prumo. Nestas


ocasiões, mesmo contrariando diretrizes de implantação impostas pela recente lei de

parcelamentos - a lei 6766 de 1979, do governo Federal - as edificações continuam

alçando os morros, se encarapitando de qualquer jeito, os moradores levados pela

necessidade de construir, em qualquer sobra de terreno. Diz esta mesma lei que

declividades acima de 40 % são consideradas impróprias para o assentamento de

qualquer forma de construção. Ponto da lei negado a todo momento em Nova Lima.

Dessa forma é normal encontrarmos casas que são construídas da forma como se

descreve, a seguir:

9.4 - Terrenos em Aclive

A primeira medida a ser tomada é efetuar o desaterro, até o ponto do terreno,

onde seja possível ir de forma a aproveitar este pavimento térreo para construção das

primeiras lojas, ou as garagem ou mesmo a casinha que será o embrião de uma coisa

maior a ser construída no futuro, quando o dono do terreno conseguir se aprumar

financeiramente. Após concluído, far-se-á o muro de arrimo, em geral concreto

ciclópico, que abre espaço para construção do preterido tal como descrito acima.

Numa etapa posterior, quando se fizer a laje do segundo pavimento, na maioria

das vezes feita com o auxílio dos amigos visto que um ajuda o outro a melhorar seu

imóvel, se pensará em construir uma ou duas habitações espaçosas na parte superior,

coroadas por um terraço.

O programa a ser utilizado é o mesmo encontrado nos “apartamentos” pouco

fugindo do quarto, sala e copa, banho e área de serviço. A implantação da edificação,

não foge à regra colonial e se prende ao alinhamento frontal como limite máximo de

contato com a rua. É costume invadir com marquises, os passeios. As marquises, são
geralmente as varandas do pavimento superior. O acabamento destas casas se dá com o

reboco desempenado, raramente pintado. Por dentro é comum ver casas sem pintar. As

alvenarias são executadas em tijolo de oito furos em folha, para maior economia. O

terraço recoberto em folhas de zinco de forma a concretizar o projeto dos terraços

metálicos. Os pisos possuem acabamento em cimento queimado e partir da melhoria das

condições de vida da família podem ser arrematados em ardósia ou taco de madeira. As

esquadrias guardam o formato do estilo “colonioso”, muito em moda até hoje em Nova

Lima.

9.5 - Terrenos em Declive

Neste caso, o proprietário opta por fazer uma pequeno barracão no terreno, em

um ponto onde não precise arcar com grandes arrimos. Após a escolha, geralmente

abstrata que parte da experimentação, do caso prático, o arrimo de concreto ciclópico é

feito e acompanhando a ele, os tubulões para a alçar a casa definitiva ao nível da rua.

Alcançando a rua, bate-se a laje, em mutirão com os amigos, e com calma, dependendo

sempre das folgas no orçamento doméstico, a nova casa é construída. Caso seja viável

para o proprietário - em geral de pequenas posses - opta-se para construção de outro

andar e um terraço. À nível da rua podem ser construídos, também, o bar, a garagem

para aluguel ou carros futuros. A garagem é uma preocupação nova dentro do partido

das casas de Nova Lima. Poucos as têm. A implantação também se faz, lindeira ao

alinhamento natural. Em termos de melhoria construtiva, as mesmas características

encontradas na implantação anterior se encontram mais uma vez aqui, demonstradas.


Figura 86 Figura 87
Implantação em aclive e declive Assentamento Típico
Casa em Terreno de Declive

9.6 - O Aluguel como Fonte de Renda Familiar

“... não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de
fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um homem para
um porco outra vez: mas já se tornara impossível distinguir quem era homem e quem era
porco”236.

Nova Lima é cidade de tradição operária. Durante o trabalho esta frase foi

repetida incansavelmente. A pressão desta mesma classe operária faz com que a oferta

de alguns terrenos em bairros mal estruturados na periferia da cidade ou em regiões

menos ocupadas, cresçam durante o elevado crescimento da demanda de moradias na

cidade, decorrentes do processo de expansão dos trabalhos da mineração, numa elevação

por força humana que já perdura por todo este século.

As casas construídas para sanar os problemas habitacionais dos mineiros de

Morro velho, acabaram sendo em pouca quantidade, visto à crescentes aumentos da


população. Neste caso, os bairros de periferia, onde o trabalhador comprava seu terreno

e construía a casa tal qual se projeto pessoal se propagou e bairros inteiros tal qual

Monte Castelo, Montividiu, acompanharam este crescimento. Na região considerada por

nós como central, entraram neste esquema parcelas do bairro da Rocinha, Rosário,

Matadouro e mais recentemente - impulsionados pela liberação de lotes financiados para

empregados da Mineração Morro Velho - Cariocas I e II. Desta forma, são

característicos, semelhantes entre si e continuam a reproduzir uma determinada postura

que faz parte das crenças e costumes culturais locais.

O processo que envolve a construção destas casas (modo de construir e

implantação), está descrito nos dois comportamentos padrão, mencionados acima. E

como dissemos, aliada a alta demanda habitacional, eminente no cenário da cidade,

temos ainda que, quem obtém o privilégio de comprar o lote e consegue construir sua

casa, de acordo com esta receita, vai provavelmente, ceder a moradia que não utiliza

para um parente próximo - filhos, genro, pais, tios - ou vai alugar de forma a aumentar

sua renda mensal, garantindo assim a sobrevivência da família. Esta alternativa é sempre

bem sucedida visto que:

 Existe sempre uma demanda por habitação. Como a oferta é limitada, o valor do

aluguel sobe. Alugar, então, torna-se uma atividade extremamente lucrativa. Para o

operário que constrói sua casa e conseguiu construir uma anterior, o aluguel extra é a

fonte de renda que contribuirá para elevar o seu nível de vida. E na cidade, ter várias

casas de aluguel, independente de qual seja o padrão de acabamento da mesma, é

extremamente rentável.

236
Trecho final de : ORWELL, G, A Revolução dos Bichos. p. 98.
 Quando não se almeja viver da renda de alugueis domiciliares, pode-se viver do

aluguel do ponto comercial, já que todos sonham em ter seu próprio negócio para ser

o complemento ao salário parco que ganham ou para ser a atividade fim, projetada

para quando se aposentam e se comprometem com o negócio como forma de

complementar a indigna aposentadoria, recebida do governo, após longos anos da

chamada “contribuição social”.

 As construções são feitas de operário para servir à outros operários. Existem os que,

ao longo dos anos conseguem adquirir os imóveis e fazer uso do seu dinheiro de

forma a conseguir construir, mas construir muito e ter para alugar. Há uma diferença

social entre eles, ou a subdivisão da classe dos operários que possuem o pedaço de

terra e aqueles que almejam consegui-lo. Estas relações entre operários e seus iguais

substituem uma relação que até bem pouco tempo, era estritamente estabelecida

entre operário e Companhia Mineradora. A relação encontra seus substitutivos, mas

com uma desvantagem: O trabalhador não paga o preço simbólico do aluguel em

troca da casa, os operários trocam entre si, o valor autêntico de uma complementação

que irá garantir, para quem aluga, sua sobrevivência ou, para quem necessita de

morar de aluguel, a miséria absoluta.

As casas de aluguel surgem desta forma então. Primeiramente vem a própria

imposição do solo, depois a própria adequação ao pensamento comum que julga estar

resolvendo o problema da habitação e o problema econômico de forma ambivalente.

Observação Importante:

Comumente, estes projetos não serão aprovados pela Prefeitura, dependendo do

grau de adequação do mesmo às normas prévias exigidas pelo órgão. No entanto,


quando a interferência de um profissional da área, um técnico é feita reproduzindo o que

foi feito pela autoprodução, algumas vezes incorporando elementos construtivos que

dão melhoria à edificação e que são transposição de um “modus vivendi” encontrado na

televisão, na capital, nos projetos das Casas de Quintas.

A planta tende a não ter muitas mudanças. Em relação às fachadas e ao partido

podemos dizer que elas funcionam tal como gabaritos.

Outro dado importante é que a tipologia “barracão” não está aqui incluída,

porém ela existe e reproduz o mesmo partido encontrado na década de 30.

Plantas de residenciais construídas no distrito sede - Alguns exemplos

Figura 88

Tipologia resente

Planta Típica

Casa Particular com garagem

Figura 89
Tipologia Recente
Barracão particular
Planta Típica
Figura 90

Planta Popular Típica

Modelo I
Figura 91

Casa Popular

Planta Modelo MP-03

Figura 92

Planta Típica

Casa Particulares

Tipologia Recentes
10 - CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Para planejar a cidade se deve, ao


mesmo tempo, pensar na pluralidade do
real e tornar eficaz essa maneira de
pensar. Trata-se de saber e poder
articular”237

Figura 93

Vista parcial de Nova Lima onde está o Bicame. Ao

fundo Mina Grande. A direita, casas de hóspede da

Mina Morro Velho. Bairro Boa Vista.

A arquitetura civil, mais precisamente a produção da habitação voltada para

atender uma demanda popular em Nova Lima, serviu de base para uma observação

complementar da estrutura social, econômica e política da cidade. Na maior parte da

história de Nova Lima, a Mina de Morro Velho foi o personagem mais importante, o

agente das transformações que construíram o cenário urbano da cidade, tal como ele se

apresenta hoje.

As habitações , que são o principal objeto de análise deste trabalho, não

perderam suas características originais de um modelo multiplicado, em todo o

município, influência da Saint John Minning Company. Transformadas, modificadas

ou adaptadas, foram intensamente construídas no decorrer deste século. Alusões a este

modelo habitacional operário também foram encontradas em todo o sítio urbano através

das reproduções que a própria classe trabalhadora de Morro Velho fez em seu

processo auto-construção.

237
- SANTOS, C.N. A Cidade Como um Jogo de Cartas. p. 50.
A história do lugar revela que a existência de Nova Lima se deve à presença da

mineração — atividade estruturadora do cenário urbano— porque da sua presença,

advém a consolidação do comércio, o crescimento da população e a estrutura viária

hoje existente. Foram fortes os vestígios da influência inglesa e da importância da

mineração para o município. Como sua única atividade econômica a mineração inglesa

consolidou sua influência, que se faz presente nas obras de engenharia, no folclore, na

adoção de costumes gastronômicos que modificaram os hábitos da cultura local e o

modo de vida das pessoas e nas habitações operárias, objeto de análise deste trabalho.

A exemplo do ocorrido na mina de Gongo Socco ,empreendimento inglês da Brazilian

Minning no município de Barão de Cocais, o contato mesmo que hierarquizado com a

cultura inglesa, deixou fortes vestígios na tradição local. As dimensões desta influência

podem ser encontradas não só a nível popular, mas atinge ainda as instâncias decisórias,

nos níveis administrativos, sociais e políticos.

Na arquitetura civil, essa influência pode ser verificada na adoção de partidos

arquitetônicos e nas volumetrias, amiúde sob direta influência da cultura inglesa,

presente na cidade por mais de um século.

No decorrer do trabalho, o perfil histórico do desenvolvimento da mineração

demonstrou que o investimento inglês em Morro Velho se compara aos grandes

investimentos realizados no mundo no mesmo período.238

“.. em termos brasileiros não havia nenhum outro empreendimento minerador que se
aproximasse da produção de Morro Velho. Vimos também que a rentabilidade da Saint John
não foi igualada por nenhum investimento britânico no Brasil ou na América Latina e que a
essa rentabilidade deveu sua fama mundial”239

238
Libby, pag. 148.
239
Libby, pag. 149.
Sua importância realça-se neste ponto quando localizamos a cidade como

enclave econômico importante na economia do século XIX. Nova Lima se manifesta

como um campo riquíssimo para investigação das primeiras iniciativas brasileiras de se

promover uma industrialização. Morro Velho incorporou a tecnologia inglesa e operou

uma transição do trabalho informal da garimpagem para uma verdadeira organização do

trabalho de extração de ouro. Num primeiro momento, se utilizou da mão de obra

escrava, massivamente, conseguindo especializar esta mão de obra incomum ao

sistema capitalista, de forma a produzir resultados bastante satisfatórios em suas

operações.

Neste período, Morro Velho construiu para abrigar e manter sua mão de obra.

Os bairros Boa Vista e Timbuctu ( hoje incorporado ao primeiro) foram moradas

tradicionais dos escravos de Morro Velho sendo vilas construídas pela empresa

mineradora.

A partir do momento que Morro Velho necessita fazer a transição de sua mão de

obra escrava para a mão de obra livre, encontrou dificuldade em fixar o trabalhador

próximo ao local de produção porque:

“... o trabalhador livre geralmente era um pequeno proprietário, ele possuía hábitos de
trabalho pouco regulares, não preenchendo totalmente os requisitos da rigorosa organização
do trabalho da companhia inglesa”240

Fixar o trabalhador livre junto à mineração exigia garantir muito mais do que o

salário. Exigia criar a possibilidade da ligação definitiva através da garantia da casa

própria provida de quintal para o plantio e para manutenção dos hábitos alusivos à

roça. As Casas de Companhia, construídas do início do século até 1950 em número

240
Libby, pag. 154
que se aproximam das três mil unidades, traduziram a intenção de Morro Velho de

manter próxima de si a mão de obra necessária para que a organização rigorosa do

trabalho na mina não fosse interrompida.

Diante dos fatos levantados e constantes das histórias e “estórias” em torno da

mineração, conseguiu-se construir a análise deste trabalho. A partir de tão forte

influência gerada pela mineração em Nova Lima, a cidade se transformou no cenário da

produção. Influências geradas pelo modelo habitacional minerador, na iniciativa da

auto-construção popular, se adaptou às necessidades dos mais diferentes grupos de

pessoas e classes sociais.

Nas tipologias encontradas, derivadas dos modelos produzidos por Morro

Velho, detectamos a reprodução de um partido, de uma implantação e de características

construtivas que reforçam a importância da mineração.

Nova Lima apresenta, atualmente, um núcleo histórico, descaracterizado e

desgastado pela pobreza e adensado, muitas vezes, incorreta. O município é assolado

por assentamentos humanos desprovidos de beleza e carentes de uma adequação

racional de sua ocupação dentro das características de conformação físicas do sítio

urbano. Estes assentamentos, muitas vezes derivam de uma estrutura criada pela própria

companhia não existindo formas retroativas de atuação.

Os resíduos de sua memória, dentro deste quadro, se resumem a existência de

algumas casas coloniais decrépitas, alguns “bonserás” ainda não modificados, e das

“Casas de Companhia”241 que estudou-se na tentativa de analisar a evolução da

241
- E que ainda não foram demolidos ou modificados por serem de propriedade da Sociedade São
Vicente de Paulo que os recebeu de moradores da cidade que faleceram estando alugando estes barracões
de forma as garantir uma renda para a instituição. N.A.
produção habitacional popular dentro do espaço urbano delimitado po esta pesquisa.

Nestas duas últimas, as transformações ao longo dos anos estão contribuindo para que

exemplares originais não existam para futuras análises visto que passam por grandes

transformações. As Quintas Inglesas, belíssimas em seu estilo quase campestre, são

exemplares da arquitetura típica da elite mineradora dentro do município e são

habitações mais preservadas em seu conjunto do que as demais tipologias investigadas.

Outros exemplos que foram explorados neste estudo, são os modelos de uma

arquitetura art deco242 que sobrevive na cidade - principalmente em sua região central -

e que são exemplificadas pela existência de edifícios belíssimos dedicados ao comércio

embaixo, com a morada em sua parte superior. O florescimento de uma elite comercial

foi confirmada com exemplos do estilo art deco existente nos principais eixos de

comércio da cidade243 enfatizando a teoria de que o comércio, nas áreas mineradoras

faz enriquecer tanto quem nele trabalha quanto quem o ouro da terra retira. Nas minas

espalhadas por toda Minas Gerais, a afirmativa foi verdadeira visto que garantiram

subsistência à região de extração e eram fundamentais para fazer prosseguir o rush

minerador. Assim, vê-se como o setor comercial novalimense localizado sempre às

margens dos limites da mineração cumpriu, junto com a mineradora, o papel de estreitar

os laços de dependências entre o operário e a Empresa, através de relações de

benefícios veiculados à manutenção de endividamentos e baixos salários244.

A cidade se desenvolveu às margens de dois ribeirões e em suas encostas mais

próximas. A parte oeste da cidade e da própria mineração foi ocupada pelas Quintas dos

ingleses; a encosta leste e norte e a partir daí as baixadas, foram ocupadas pela

242
- Estilo de época que se contrapõe ao art nouveau e que antecede o Movimento Moderno. N.A.
243
- Ver mapas no Anexo e Capítulo sobre Tipologias.
população operária das minas de Morro Velho. Mais tarde, a ocupação toma rumo da

MG-030 que liga a sede do município à Capital, Belo Horizonte, numa clara influência

da existência do acesso245.

As encostas mais degradadas são as ocupadas pela classe operária pelos fatores

citados neste trabalho, tais como adensamentos, reparcelamento, favelização.

A habitação popular, num momento mais recente, sofre principalmente com a

escassez de terras para expansão e muitas vezes, face à inexistência de alternativas

imobiliárias que atendam sua demanda, subdividem seus terrenos de origem,

parcelando-os e reparcelando-os, atitude que prejudica qualitativamente, o espaço

urbano primitivo e consolidado. A história recente contada parte de finais da década de

50, coincide com a suspensão da iniciativa da mineradora de promover sua política

habitacional, nos moldes do que foi realizado até a década anterior. Este fato justifica-

se pela desvinculação total do capitalismo vigente com a incorporação imobiliária que

até então era feita com o objetivo de garantir uma mão de obra disponível e dependente

da habitação, que estivesse próxima ao seu parque industrial. Mão de obra controlada

pelo espaço criado e por isso dependente. No exemplo de Nova Lima, a interrupção da

construção de casas e a escassez de terras vem contribuir para o surgimento de um

déficit habitacional que culmina na disputa pela habitação e na marginalização das

iniciativas habitacionais da população, dentro do meio urbano, criadas pela pouca oferta

de terras. No entanto, estas iniciativas mesmo que deterioradas pelo mau uso da técnica

construtiva espelham o modelo de Morro Velho. E assim, a habitação popular vai

244
- GROSSI, Yone. Morro velho: Extração do homem, 1981.
245
- No que diz respeito a este assunto podemos fazer uma analogia ao caso de Belo Horizonte com a Av.
Amazonas que era ponto de ligação com S. Paulo: assim sendo o Distrito Industrial foi situado no barreiro
encontrando seus rumos. Primeiramente, constrói com o objetivo de abrigar a sua

família e descendentes. Então, ergue-se o segundo pavimento ou o cômodo de fundos.

Na sua maioria, ambos ilegais. Percebe-se claramente que essa alternativa está longe de

possuir respaldo legal, mas resolve o problema urgente de falta de moradia e do acesso

ao bem imóvel próprio.

Esta situação é vista nos apartamentos, nas casas de morar e de aluguel, onde

percebe-se a total incorporação do modelo. Somente em alguns momentos, estilos

adotados pela elite comercial emergente produzem interferências na arquitetura local

trazida pela proximidade da Capital Belo Horizonte. Modelos cujo exemplares mais

fortes são os prédios da Rua Santa Cruz. Nesta rua, na década de 30, o art decó aparece

como estilo que veio da Capital e começa a ser incorporado nas construções

particulares e logo a seguir interfere na construção, destinadas aos operários. Na década

de 70, outra influência trazida da Capital influencia o cenário urbano da cidade. Trata-se

de modismos, como adoção da suíte ou segundo banheiro da casa e a janela de verga

redonda, próprias de um estilo conhecido pela alcunha de “colonial”, que toma conta do

cenário urbano de Belo horizonte, nos primeiro anos da década de 70246. No entanto, a

influência maior construída foi sempre a planejada pela Mineração Morro Velho.

Abordou-se o tema da sublocação do imóvel como fonte de renda familiar, uma vez que

a baixa oferta de terras gera especulação imobiliária que torna a sublocação um bom

negócio para as famílias operárias que vivem com o salário mínimo. O aluguel se

configura como fonte de renda extra, um complemento no orçamento familiar. Este

tema não poderia de forma alguma deixar de figurar num estudo sobre a habitação e os

numa tentativa de facilitar o escoamento de mercadorias. A Av. Nossa Senhora do Carmo começa a ser
ocupada com bairros como Sion, após a inauguração da BR-040. N.A. Fonte: Plambel. 1988.
seus diversos modelos. O aluguel como fonte de renda já se incorporou no modo de vida

do novalimense da mesma forma que a mineração e todas as suas conseqüências.

A estrutura urbana do município sofre com problemas típicos de uma

organização urbana que realça mais o papel da Empresa de Mineração como agente

excludente do social e das alternativas de resolução dos impasses causados por uma

apropriação assistemática do solo urbano. Em resumo pode-se enfatizar alguns fatores

que contribuem para acelerar o processo de degradação do sítio urbano, entre eles:

 Ausência de leis reguladoras de ocupação do solo (LUOS, Código de Obras), bem

como diretrizes coerentes de crescimento urbano.247

 Ausência de ofertas de terras para expansão urbana na região central e/ou ofertas de

novas moradias provocando um quadro desolador de adensamento populacional

abusivo que compromete a qualidade de vida e a própria legibilidade do espaço

produzido causando a quem o observa uma certa estranheza.248

 Baixo poder aquisitivo da população cuja a escolaridade e qualificação profissional

deixam a desejar. Fazemos aqui um parênteses para determinar que esta

características têm raízes histórico culturais que pode, ao longo dos anos, daqui para

frente se reverter visto que a mineração poderá não ser a atividade preponderante e

que o município deverá encontrar outra vocação ou cai no risco de ser apenas cidade

dormitório de Belo Horizonte.

246
- Estilo “Colonioso”, como é chamado pelos seus críticos. NA
247
- Caso houvessem e fossem formalizadas e rigidamente seguidas seria interessante analisar sua
influência nos distritos e bairros distantes da sede administrativa. A Prefeitura faz este controle se
utilizando de uma Lei precária que nem sequer foi aprovada. Não possui Plano Diretor aprovado até esta
data. N.A.
248
- O estoque de terras concentradas nas mãos da mineradora que ao mesmo tempo age como
incorporador e controlador de grande parte do valor dos imóveis visto que em muitos casos, uma vez que
vende a um particular este só pode dispor de seu bem por intermédio da própria empresa que trata de
comprá-lo ao preço estipulado por ela. N.A.
 Ausência de uma preocupação real do poder público com adoção de medidas de

médio e longo prazo para auxiliar iniciativas populares, adotar uma política de

solução dos problemas de emprego, carência de moradia, planejamento urbano,

preservação do patrimônio histórico e ambiental.

Abaixo, três momentos atuais do cenário urbano de Nova Lima.

Figura 94
Bairro Cruzeiro/Montivideu

Figura 95
Vista Parcial
Quintas

Figura 96
Vista Parcial
Morro velho - Planta Industrial

A partir da década de 80, as perspectivas de oferta de emprego em Nova Lima

começar a escassear. A empresa passou a demitir e reduzir seus quadros. Contribui


muito para isso aos avanços tecnológicos que, apropriados pelo capitalismo vigente,

permite á empresa obter a mesma produção utilizando-se de um contingente de mão de

obra cada vez menor. Altera-se com isso toda a relação capital trabalho, traduzindo-se aí

o que ocorre no Capitalismo enquanto sistema econômico preponderante no mundo

moderno. No entanto é fato cada vez mais presente no cotidianos da cidade de que a

produtividade da Mina de Morro Velho já não é tão rentável, uma vez que os

investimentos em racionalização desta atividade se sofisticam e a produção de ouro, em

seu subterrâneo, nos próximos anos poderá se tornar inviável economicamente. Pode-se

dizer que a mineração inglesa constrói a história da cidade. Sua influência não faz

parte de uma lenda, mas tornou-se tradição. A mineração constitui um referencial tão

importante que a possibilidade de esgotamento da atividade da mineradora em Nova

Lima, difícil de ser compreendida.

Contudo, a infra-estrutura montada está consolidada. É fato que a cidade

continua seu crescimento em torno do espaço físico da mineração. A população de

origem operária se agarra a esperança de dias mais prósperos, tais como os que tiveram

notícias nos anos em que Morro Velho dispensava apresentações.

Salvo uma pequena elite comercial, política ou remanescente da administração

de Morro Velho, o restante da cidade é habitada pela classe operária que, de uma forma

ou de outra possuiu sua vida vinculada à existência da Mina.

A contribuição gerada por este trabalho poderia se concretizar posteriormente

com a utilização do resultado desta pesquisa para elaborar uma cartilha de orientação

aos procedimentos da auto-construção dentro da cidade de forma a oferecer, por

exemplo, uma orientação técnica básica à população que, muitas vezes, desconhece a
importância do profissional de arquitetura e o auxílio que este pode oferecer na solução

dos seus problemas técnicos, contribuindo para melhoria do produto final construído. A

auto-produção habitacional, não orientada por técnicos habilitados, é um lugar

comum, uma postura padrão inserida no cotidiano da cidade.

Temos que considerar a análise dos aspectos físicos da cidade tais como relevo,

clima, recursos hídricos e minerais que demonstram que a riqueza natural do sítio, o

clima e os recursos hídrícos e minerais propiciavam uma adaptação da atividade

extrativa, facilitaram a fixação inglesa no local, ocasionando uma ocupação de fundos

de vale e logo a seguir das encostas próximas. Ao mesmo tempo, agem como cenário

para estas deconstruções do urbano que ocorrem nas formas da apropriação marginal,

ilegal e insalubre de espaços já ocupados.

Por outro lado, pensa-se que o trabalho possa vir a promover uma primeira

discussão acerca do processo urbano de formação e desenvolvimento da cidade,

contribuindo para um maior desempenho do poder público, juntamente com o

planejador, nos problemas da cidade, desmitificando os questionamentos mais

intrínsecos e promovendo desenvolvimento e saúde urbana.

Um ponto de apoio que poderia ser utilizado afim de facilitar a realização de

uma ocupação mais organizada do sítio, seria orientar a produção popular e oferecer

alternativas imobiliárias acessíveis economicamente para locação da população que vive

o problema da escassez da habitação.

Acredita-se que o tema aqui tratado pode ser investigado com mais

profundidade, sendo que outros temas, apenas levantados aqui como hipóteses, podem

vir a ser desenvolvidos em trabalhos futuros. Acredita-se que o trabalho aqui


apresentado se configura como introdução para uma pesquisa que vise auxiliar num

diagnóstico e consequentemente na elaboração de prognósticos para a cidade, num

momento que a mineração de ouro, como atividade econômica de peso para o

município, entra em declínio, levando Nova Lima a tentar encontrar as alternativas

possíveis para garantir o seu futuro.

A mineração concedeu os espaços originais para a expansão da cidade e

conseqüente apropriação operária destes espaços. Hoje, eles prosseguem reproduzindo-

se neste espaço e construindo um cenário próprio, feito pelas suas próprias mãos e

derivados dos modelos lançados pelas necessidade de Morro Velho.

Repete-se que uma prática comum da auto-construção seria, então, o de utilizar

influências construtivas remanescentes da sua história da mineração, presente nos

modelos adotados pela mineradora para construção de suas casas realçando a

importância e toda a estrutura criada em torno dela, possui historicamente dentro da

construção do tecido urbano da cidade.

Em sua maioria, as habitações existentes na cidade são de origem operária, visto

que Nova Lima é, de fato, uma cidade de origem e tradição mineradora crescendo em

determinado momento para abrigar a mão de obra necessária para manutenção desta

atividade. Este fato fez com que seu espaço urbano crescesse a medida que se fazia

necessário aumentar o contingente humano a ser empregado nas atividades extrativas. A

cidade surgiu, portanto, como espaço estruturador da mineração, fornecendo o cenário

para a segura expansão e lucratividade do investimento representado por Morro Velho.

Outra característica que foi ressaltada neste trabalho que pode nos remeter a uma

hipótese acerca do futuro da cidade e da importância de realizar um trabalho sobre ela,


vem nascendo a partir de que pode-se visualizar nela características da chamada crise

moderna ou da chamada transição Pós-Moderna.

Seria a respeito de bairros ou distritos pertencentes ao município que possui dele

poucas características físicas (a legibilidade não é a mesma), que trabalha muito ou

pouca dependência administrativa e econômica com Nova Lima podendo ser ignorados

até certo ponto pela Prefeitura249. Em termos culturais não possui a mesma história, ou

por que se distanciam do Distrito Sede ou porque sofrem influência direta de Belo

Horizonte250 e aí neste caso perdem até a identidade territorial com o município formal.

Permaneceriam assim estratificados, desarticulados, participando muitas vezes de uma

posição ambígua frente ao todo.

Surge aí um universo novo de história para o município esfacelado na existência

de várias unidade de vida residencial coletiva que não se unificam e nem possuem

história comum. Este universo pode sugerir a formação de verdadeiros guetos sociais

que possuem leis251 próprias, pagam sua segurança, impedem a acessibilidade de

estranhos nos logradouros de seus loteamentos produzindo desconexões em todo tecido

urbano, mais realçadas - pelo que já se define como “culpa” da extensa área territorial -

249
-Ver caso do bairro jardim Canadá. Quanto a ser ignorados administrativamente, mencionamos a
pouca iniciativa (ou nenhuma) que o poder público tem em sanar problemas tais como lixo, esgoto, água
tratada, telefonia. Em alguns casos, o bairro é uma cidade independente tendo relação com a sede
administrativa do município, apenas jurídicas. O IPTU e aprovação de seus projetos são feitos nos órgãos
municipais da cidade oficial, mas os condomínios, por si só legislam em benefício da qualidade de vida de
seus moradores. Ex: Condomínio Morro do Chapéu, Lagoa Grande, Retiro das Pedras. N.A.
250
- No caso dos condomínios de alta renda dedicados a uma elite belohorizontina alheia a realidade
estrutural do município e mais interessada na comodidade de fugir da confusão e da poluição de Belo
Horizonte por fácil acesso e em curtas distâncias é fácil observar esta atitude. N.A. Em certos bairros no
decorrer da MG-030 ou mesmo da BR-040, a noção do estar em Nova Lima é perdida. Exemplificam esta
situação as teorias da Localização e das irradiações tendo aí sua fundamentação nas obras de Weber e
Christaller e que poderiam ser utilizadas, num determinado momento para discorrer a respeito dessa
hipótese. N.A.
251
- As chamadas “ edge cities” fenômeno que ocorre na Europa e Estados Unidos e tem ecos em S.
Paulo. Primo irmão das “gardens cities”, de Howard. N.A.
e pelos novos enfoques de construção contemporâneas da cidade.252 Estas questões, no

entanto, não serão tratadas neste trabalho, porém não podem deixar de ser mencionadas

podendo aguçar a atenção do leitor para uma pesquisa acerca dos impasses gerados pela

situação exposta.253

252
- HARVEY, D. Condição Pós Moderna, 1994.
253
- A tese de mestrado a ser desenvolvida, poderá discorrer melhor a respeito destas questões. N.A.
10.1 - O Homem Moderno, a cidade, a habitação e Nova Lima

“Às vezes, a casa cresce, se estende. É


preciso maior elasticidade do devaneio, um
devaneio menos desenhado afim de habitá-
la.”254

Em Nova Lima, a transição que se faz para o Moderno, não é, em momento

nenhum filosoficamente questionada. O que acontece é que a cidade é tomada pela

corrente que rompe fronteiras. Os processos que resultam nisso estão afastados e

povoam a Europa do século XIX. Lá está o berço de todas as decisões tomadas em

território brasileiro no que diz respeito à extração de matéria-prima, adequação do lugar,

ao domínio da recém nascida indústria capitalista.

De uma forma geral, a habitação nos dá espaço para análise dos condicionantes

históricos-econômicos e sociais que permitiram que os fatos se dessem tal como foram

em Nova Lima. E a cidade em si, carece de uma análise mesmo que tardiamente.

A habitação e poder econômicos são por vezes, companheiros. O modelo ideal

da casa condiciona. Ao mesmo tempo que percebemos que a casa é o refúgio de todos, o

único espaço individual, o espaço de convivência e partilha com a família, ao mesmo

tempo que é utilizada como fonte de renda.

A habitação é usada, pelo poder econômico, como estratégia de fixação do

homem ao processo de produção. Simbolicamente, com seus espaços e seus quintais,

reproduz o lugar de onde ele veio. Talvez por isso, as “Casas de Companhia” não

possuem uma planta mais bem elaborada. O homem do campo era o homem do século

XIX, pelo menos em suas raízes culturais e estava, por tempos e tempos, acostumado a

habitar aquelas casinhas simplórias.


Ao mesmo tempo que utilizava do quintal para o plantio: o quintal era o pedaço

de terra que era seu por direito e que ficou na roça. Não possuía o anseio de ter mais do

que aquilo: bastava aquele pedacinho para prover o sustento da família. Mas o sonho de

vida ideal era o de voltar para roça. Só não voltou porque viver na roça é duro, não

existem os recursos da cidade. Recursos estes que atraem milhões todos os anos.

E a transição em Nova Lima assim se dá ou prossegue. O fato é que o município

necessita de postura frente aos principais problemas modernos: emprego, habitação,

política urbana que preparem-no para o desafio da adequação ao desenvolvimento, a

mudança de posturas do capitalismo que não mais se utilizará do cenário construído

para efetuar suas ações. A situação muda, a cidade deveria estar se preparando para

acompanhá-la já há alguns anos.

Mas, mais uma vez, foi tomada de assalto, em processo semelhante ao que se

deu, primeiro em sua fundação, depois no seu soerguimento e transformação pelas

forças econômicas e agora pela perda do que foi considerado, durante todo este século, o

sustentáculo da economia local.

Preparar-se significa estar apto para aceitar a nova realidade já possuindo

diretrizes de desenvolvimento, planejamento que realçarão, no futuro, vocações novas

do sítio urbano que contribuirão para construção de suas divisas corroborando para

melhoria, principalmente, das condições de vida da população que, nos dias de hoje,

habita a cidade.

Dentro desta Monografia, pretende-se reforçar a afirmativa que as influências

construtivas que Nova Lima possui são fruto da ocupação de seu território por uma

254
BACHELARD, Gaston. A poética do espaço. p. 57.
empresa de mineração inglesa que trouxe para seu espaço urbano influências de

modelos construtivos por ela adotados, de forma planificada, em todo esse seu

território. Este trabalho constituiu um inventário para compreensão do assentamento

urbano de Nova Lima e de como os modelos implementados pela St. John Minning

Company, com o passar do tempo, se transformaram em tipologias habitacionais,

amplamente seguida pelos moradores da cidade, na construção do seu cenário.

Este cenário traduz pobreza, fragmentação e esperança. Esperança num futuro

que está por vir, expectativa de ter o eldorado de outrora retornando em forma de

novidade acerca de novo achado de ouro, nova mina. É senso comum entre a população

persistir confiante diante das más notícias sobre Morro Velho e acreditar no milagre.

Milagre da terra, até então bastante generosa, que poderá presentear Nova Lima com

mais um veio rico de ouro que dure, pelo menos, mais cem anos.

11 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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VASCONCELLOS, Sylvio. Noções de Arquitetura. Belo Horizonte, UFMG, 1962.
______________________. Arquitetura particular em Vila Rica. Belo Horizonte, 1951.
12 - GLOSSÁRIO

ACLIVE - Ladeira. Quando o terreno se apresenta em subida em relação à rua.

ACRÉSCIMO - Aumento da taxa de ocupação ou do coeficiente de aproveitamento de


uma construção.

ADOBE - Tijolo feito com uma mistura de barro cru, areia em pequena quantidade,
estrume e fibra vegetal. Deve ser revestido com massa de cal e areia. O termo adobe
vem do árabe atoobi e designa, também, seixos rolados dos leitos de rios.

AFASTAMENTO DE FUNDOS - Menor distância entre a construção e a divisa do


fundo do lote.

AFASTAMENTO FRONTAL OU RECUO - Menor distância entre a construção e o


alinhamento.

AFASTAMENTO LATERAL - Menor distância entre a construção e as divisas laterais


do lote.

ÁGUA DE TELHADO - Cada uma das superfícies inclinadas da cobertura, que


principia no espigão horizontal (cumeeira) e segue até a beirada. Ver Espigão.

ALCOVA - Quarto pequeno de dormir, sem aberturas para o exterior, que faz
comunicação com ante-salas. Do árabe al-qubbâ, que significa abóbada.

ALINHAMENTO - Limite entre o lote e o logradouro público.

ALPENDRE - Cobertura suspensa por si só ou apoiada em colunas sobre portas e vãos.


Geralmente, fica localizada na entrada da casa. Aos alpendres maiores dá-se o nome de
varanda. Ver Varanda.

ALVENARIA - Conjunto de pedras, de tijolos ou de blocos - com argamassa ou não -


que forma paredes, muros e alicerces. Quando esse conjunto sustenta a casa, ele é
chamado de alvenaria estrutural. O próprio trabalho do pedreiro.

ARDÓSIA - Pedra azulada ou esverdeada, macia e de corte fácil. Pode ser usada em
revestimentos internos ao natural ou impermeabilizada com resina acrílica. Risca com
facilidade.
ÁREA BRUTA DO PAVIMENTO - Área total do pavimento, incluídas a área das
paredes que separam os compartimentos e das paredes que separam os compartimentos
e das paredes externas.

ÁREA DE CIRCULAÇÃO VERTICAL - Área mínima, indispensável, necessária à


passagem de um pavimento para outro.

ÁREA TOTAL DA CONSTRUÇÃO - Soma das áreas brutas dos pavimentos.

ÁREA ÚTIL - Área do piso dos compartimentos, excluída a área das paredes limítrofes.

ÁREAS VERDES - Áreas livres de caráter permanente com vegetação destinada à


recreação e lazer.

ASSOALHO - Piso de madeira de tábuas corridas. Ver Tábua corrida.

ASSOBRADADA - Construção com mais de um pavimento.

BALANÇO - Saliência ou corpo que se projeta para além da prumada de uma


construção, sem estrutura de sustentação aparente.

BALDRAME - Designação genérica dos alicerces de alvenaria. Conjunto de vigas de


concreto armado que corre sobre qualquer tipo de fundação. Peças de madeira que se
apóiam nos alicerces de alvenaria e que recebem o vigamento do assoalho. Ver
Fundação.

BANDEIRA - Caixilho fixo ou móvel, situado na parte superior de portas e janelas.


Pode ser fixo ou móvel, favorecendo a iluminação e a ventilação dos ambientes.

CACHORRO - Peça de pedra, madeira ou concreto que sustenta beirais, sacadas ou


balcões.

CAIBRO - Peça de madeira que sustenta as ripas de telhados ou de assoalhos. Nos


telhados, o caibro se assenta nas cumeeiras, nas terças e nos frechais. No assoalho, se
apóia nos barrotes. Ver Barrote e Cumeeira.

CAIXILHO - Parte da esquadria que sustenta e guarnece os vidros de portas e janelas.


Ver Esquadria.

CASAS POPULARES - A expressão passou a ser empregada com freqüência para


designar moradias modestas fetias em conjunto formando bairros inteiros ou
aglomerados de habitações com o objetivo de proporcionar a possibilidade de aquisição
da casa própria.

CIMALHA - Parte superior da cornija. Saliência ou arremate na parte mais alta da


parede, onde assentam os beirais do telhado.

COEFICIENTE DE APROVEITAMENTO - Relação entre a área total da construção e


a área do lote.

CONSTRUÇÃO - Toda obra executada para qualquer destinação.

DECLIVE - Quando a inclinação do terreno se apresenta abaixo do nível da rua. Plano


que garante o rápido escoamento das águas das chuvas. Descida.

DESATERRO - Ato de retirar um volume de terra de um local.

EDIFICAÇÃO - Construção destinada a abrigar qualquer atividade humana.

EMBOÇO - Primeira camada de argamassa. Ver Massa Grossa.

EMPENA - Cada uma das paredes laterais onde se apóia a cumeeira nos telhados de
duas águas.

ESQUADRIA - Qualquer tipo de caixilho usado numa obra, como portas, janelas,
venezianas etc.

FACHADA - Cada uma das faces e qualquer construção.

FACHADA - Face externa da construção.

FORRO - Material que reveste o teto, promove o isolamento térmico entre o telhado e o
piso. Pode ser de madeira, gesso, estuque, placas fibrosas, tecidos etc. Há ainda o forro
gamela, típico do colonial mineiro, que é formado por cinco superfícies, quatro delas
inclinadas e trapezoidais. A quinta é retangular, horizontal e fecha o forro.

FRENTE OU TESTADA DO LOTE - Divisa do lote que coincide com o alinhamento.

FUNDAÇÃO - Alicerce. Conjunto de estacas e sapatas responsável pela sustentação da


obra. Há dois tipos de fundação rasa, ambas indicadas para terrenos firmes: a sapata
isolada, que é composta por elementos de concreto de forma piramidal, construídos nos
pontos que recebem a carga dos pilares e interligados por baldrames, e a sapata corrida,
constituída de pequenas lajes armadas, que se estendem sob a alvenaria e recebem o
peso das paredes, distribuindo-o por uma faixa maior do terreno.

FUNDO DO LOTE - Divisa, constituída de uma ou mais faces, em situação oposta ou


não contígua à testada.

GUARDA PÓ - Forro de tábuas que reverte o vigamento superior dos telhados. Em


geral usado somente na parte aparente dos beirais.

IMPLANTAÇÃO - Criação de traços no terreno para demarcar a localização exata de


cada parte da construção. O mesmo que locação da obra.

LAJE - Estrutura plana e horizontal de pedra ou concreto aramado, apoiado em vigas e


pilares, que divide os pavimentos da construção.

LOGRADOURO PÚBLICO - Superfície oficialmente reconhecida destinada ao trânsito


público.

LOTE - Terreno com frente para logradouro público, em condições de receber


construção, descrito e assegurado por título de propriedade.

MARCO - Parte fixa das portas ou janelas que guarnece o vão e recebe as dobradiças.

MASSA GROSSA - Mistura de areia, cal, água e cimento usada no emboço ou para
chapiscar paredes. Ver Emboço.

MURO DE ARRIMO - Muro usado na contenção de terras e de pedras de encostas.


Muro de contenção.

ÓCULO - Abertura ou janela circular ou oval aberta nas empenas, nos frontões, etc. que
fornece a iluminação e ventilação.

PARTIDO - Opção arquitetônica que atende a diversos fatores: topografia do terreno,


condições locais, necessidades de quem vai habitar, verba disponível para a construção e
a intenção plástica do arquiteto.

PASSEIO - Parte do logradouro público reservada ao trânsito de pedestres.

PAU-A-PIQUE - Tipo de taipa em que as paredes apresentam uma armação de varas ou


paus verticais, unidos entre si por pequenas varas eqüidistantes e horizontais, situadas
alternadamente do lado de fora e de dentro. Toda essa trama é, posteriormente,
preenchida com barro. Ver Taipa.

PAVIMENTO - Andar. Conjunto de dependências de um edifício situadas num mesmo


nível. Ver Piso.

PAVIMENTO TÉRREO - Pavimento situado sobre o solo ou sub-solo, com acesso


direto para o logradouro público.

PÉ DIREITO - Altura entre o piso e o teto.

PILAR - Elemento estrutural vertical de concreto, madeira, pedra ou alvenaria. Quando


é circular, recebe o nome de coluna.

PILOTIS - Pavimento livre sob a edificação, resultante do emprego de pilares.

PISO - Base de qualquer construção. Onde se apóia o contrapiso. Andar. Pavimento.

PORÃO - Pequeno espaço situado entre o solo e o primeiro pavimento de uma casa.

RECUO DO ALINHAMENTO - Mudança do alinhamento para fins de alargamento ou


correção de logradouro público.

SUBSOLO - Pavimento cuja laje de cobertura não se situe em nível superior ao do


ponto mais alto do alinhamento.

TABEIRA - Série de tábuas que contorna as paredes, formando a moldura que guarnece
os assoalhos ou forros.

TÁBUA - Peça de madeira plana e delgada, própria para pisos.

TACO - Cada uma das pequenas peças de madeira que formam o parquê. Pedaço de
madeira embutido na parede ou no concreto armado para receber pregos ou parafusos
nos marcos de portas, tábuas de rodapés, lambris de madeira etc.

TAIPA - Sistema de construção que usa barro molhado para fechar paredes. Chama-se
taipa de pilão quando se comprime a terra em formas de madeiras (taipal).

TAXA DE OCUPAÇÃO - Relação entre a área da projeção horizontal da construção e a


área do lote.
TELHA - Cada uma das peças usadas para cobrir as construções. As telhas têm formas
variadas e podem ser de barro, cerâmica, cimento, chumbo, madeira, pedra, cimento-
amianto, alumínio, ferro, policarbonato, vidro, manta asfáltica etc. Cada inclinação de
telhado requer um tipo de telha.

TELHA-VÃ - Telhado sem forro. As telhas da cobertura ficam aparentes e ajudam a


ventilar a casa.

TERRAÇO - Cobertura plana. Galeria descoberta. Espaço aberto no nível do solo ou em


balanço.

TERRENO - Lote. Espaço de terra sobre a qual se vai assentar a construção.

TOPOGRAFIA - Análise e representação gráfica detalhada de um terreno que direciona


toda a implantação da construção. Ver Implantação.

VARANDA - Alpendre grande e profundo. Ver Alpendre.

VERGA - Peça colocada, superior e horizontalmente, em um vão de porta ou janela,


apoiando-se sobre as ombreiras em suas extremidades.

VIA DE PEDESTRES (ALEA) - Logradouro público destinado ao trânsito de pedestres,


cujas divisas com os lotes adjacentes não constituem alinhamento, nas divisas laterais.

VIGA - Elemento estrutural de madeira, ferro ou concreto armado responsável pela


sustentação de lajes. A viga transfere o peso das lajes e dos demais elementos (paredes,
portas etc.) para as colunas.

VOLUMETRIA - Conjunto das dimensões que determinam o volum de uma construção,


dos agregados, da terra retirada ou colocada no terreno etc.
13 - ANEXOS

Os anexos se referem a Lei de Uso do Solo de Nova Lima aprovada pela Câmara

Municipal de Nova Lima (Anexo Nº 2 - Zonas de Uso Ocupação e Parcelamento do

Município de Nova Lima, Anexo Nº 3 - Modelos de Parcelamento Urbano do Município

de Nova Lima, Anexo Nº 4 - Modelos de Assentamentos Urbanos do Município de

Nova Lima), no entanto a Prefeitura de Nova Lima considera o que está escrito na lei

apenas não podendo autuar nenhum proprietário de lote por infração do que está

previsto nesta Lei.

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