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por cláudia pires

Arquitetura e Sociedade ILUSTRAÇÃO CAMILA MORAES

No momento em que este artigo for publicado, já teremos instalado no Brasil o primeiro Conselho de Arquitetura
e Urbanismo dos Arquitetos Brasileiros. Trata-se de uma conquista histórica, lapidada ao longo de 50 anos de
defesa de uma tese que se consolida como concretude: o CAU incluirá a Arquitetura na pauta da sociedade
brasileira. Ao mesmo tempo, em que as perspectivas alvissareiras de novos tempos nos satisfaz, não podemos
deixar de concordar que temos um longo caminho pela frente. A Arquitetura e Urbanismo, como profissão
que interfere e soluciona a cidade, deixou de ser considerada item importante na Agenda Política Brasileira,
justamente quando a sociedade urbana brasileira mais precisava destas respostas, dadas por este campo
disciplinar. Ao longo das décadas de 60, 70, 80, as cidades brasileiras tiveram sua expansão feita à margem
de investimentos públicos planejados, no médio e longo prazo, a despeito da implantação de órgãos de
planejamento que na época existiram. Estes órgãos até produziam a política, porém, esta geralmente estava
dissociada do orçamento. A consolidação do Estado Nação adequadamente urbanizado esteve sempre
distante da prática em gestão pública de cidades. Neste sentido, deixou-se sempre a desejar na oferta de
habitação, na produção de cidades, de infraestrutura urbana, nas políticas sociais e ambientais, na assessoria
técnica continuada para os mais pobres na cidade. As consequências são visivelmente observadas nas favelas,
nos bairros populares favelizados, nas periferias urbanas bastante comuns às cidades brasileiras. Povoam
esta cena, os exemplos inequívocos da falta que a inclusão da Arquitetura representa para a Sociedade. Quem
faz esta crítica e percebe o problema é gente do campo disciplinar. As pessoas que vivem a cidade percebem
que existe um incômodo nesta história. Sofrem cotidianamente os efeitos dos problemas, convivem com as
diferenças e os diversos níveis de atendimento das demandas, presentes nas cidades, mas não conseguem
identificar que o problema todo é a falta da Arquitetura. Em sentido metafórico, esta situação parece a mesma
quando as mulheres encontram o marido ou namorado depois de uma caprichada no visual. Os homens
acabam até intuindo que existe alguma coisa diferente, mas não percebem o quê na primeira aproximação
e acabam arranjando encrenca ao opinarem aleatoriamente sobre a mudança. As mulheres fazem muxoxo e
lamentam tamanha falta de sensibilidade. Mas não é que os Arquitetos se sentem da mesma forma ao repetir
que a Arquitetura é importante e tem que se inserir em nossa agenda cotidiana? Assim, acreditamos que muito
deve ser feito para que haja uma percepção coletiva da importância da Arquitetura. Com o novo Conselho, as
entidades, como o IAB, estão motivadas a investir na divulgação massiva desta tese. O CAU é a Boa Nova,
uma resposta de que a Arquitetura tem o seu papel, pode alterar os rumos da história da cidade brasileira. O
CAU poderá capitanear este esforço de Inclusão pela Arquitetura na sociedade, possibilitando a ampliação
da agenda política e do diálogo da sociedade brasileira com os Arquitetos, em prol da cidade. Estamos em
um bom momento para a Arquitetura. Certamente, com o passar dos anos – e o tempo é o melhor aliado –
voltaremos a este assunto novamente: qual a importância da Arquitetura para a Sociedade? Esperamos que
a resposta seja visível no espaço e óbvia, portanto satisfatória para a valorização da Arquitetura perante a
Sociedade.

164 HABITAT VERÃO DE 2012

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