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ige, Polity n Legality pefe and R. d Political 2, London, ponsiility pand State 001. B. ambridge, #'s Political pI. ge, Hackett Be Nation, pre hum bis Watch, Chatterjee Cambridge and Jorgen ar Journal, bk, 2000, ernational prvention”, jervenition, gum, 2002. A NacAo E © IMPERIO: AS HIERARQUIAS DA CIDADANIA NA Nova ORDEM GLOBAL’ Stephen Castles" Introdugao lado Cidadania e Migracdo (Castles ¢ Davidson, réprio defendemos que 0 Estado-nacao ¢ 0 con ela primeira vez na No nosso livro intitul: 2000), Alastair Davidson e eu pr cidadania se estavam a tornar normas globais. Pt al vivia em paises com as normas dos Estados-nacio ceito de hist6ria, a grande maioria da populacdo mundia as institucionais caracteristic: 2 conjuntura significava igualmente que a maior ralmente definida dentro da categoria de cida- constitucionais € as estrutura democriticos. De igual forma, esta parte da populago mundial era leg tijos em ver de sabditos de monarcas ou ditadores.F claro que muitos desses os-nagao eram democracis apenas de nome. No entanto, a xpi prolife: * publicacio original: Stephen Castles, Nation and Empire: Hierarchies of Citizenship in the New Global Orden, InernattonalPotics, ed. Michael Cox, 42, pp. 203-224. Traduzio € republcido mediante sutrizagao de Palgrave Macmillan. A wradogt par ings Pom Buss festeve a cargo de Femando Alves (falvesilch.uminbo.p0- w encradade de Oxford, Refugee Studies Gntre, Queen Blizabeth House ~ Reino Unido (stephen.castles@qch.ox.ac.uk. Cidadania no Pensamento Politico Contempordneo facio do modelo de Estaclo-nagao acabou porter um desenvolvimento signifca- {ivo tanto para a politica nacional como para as relagdes internacionais, Nesse ‘volume, tivemos igualmente a oportunidade de analisar os sérios desafios entre- tanto colocados ao conceito le cidadania do Estado-na¢ao pela lizacao e pela mobilidade populacional a nivel internaciona Nio obstante, as tendéncias mais recentes obrigam-nos a reequacionar o osso enfoque ea avancar um pouco mais com a nossa andlise. Na sequéncia do final da Guerra Fria, famosa diviso Leste-Oeste com as suas das superpoténcias foi substituida por uma divisio entre o Norte ¢ o Sul na qual ambos os blocos sio (F uum conceito now ‘Van Hear, 1998). cionais onde que nivel do comport ‘Aimigrag aos Estados-nag dada comunidad para a coesio es ripido que jé mi ser esquecido. Ea vez mais reduzis os trabalhadore mica e pelas poll manobra para os estes grupos em A Nagao e 0 Império seus paises de origem (Divisio da Populagao das Nacdes Unidas, 2002). Frequente- P i walizacdo social esto interligadas, acabando mente, a diferenca cultural e a margi por eriar minorias éinicas desfavorecidas. Os efeitos da migracio sto maiortaria mente sentidos em dreas ou regides que ja estao a sofrer uma brusca e rpida mudanca. A transformagaio econémica e social nos paises mais pobres conduz & cemigragio, a0 mesmo tempo que os destinos escolhidos sao, muitas veres, as cida- de servigos florescentes e em ripido crescimento, ou des globais com economi 0s novos paises industrializados que estio a sofrer uma répida urbanizacio, Em quaito lugarsa globalizacao altera a propria nogio de espaco social. Os melhoramentos verificados ao nivel dos transportes e comunicagdes fazem com que seja mais facil aos migrantes manterem as ligages com as suas regides de origem e, ao mesmo tempo, aplicarem desenvolverem toda uma mobilidade cle 10. Este desenvolvimento levou 2 emergencia das chama- circulagio ou de repeti das Coniunidades transnacionais, grupos com actividades regutares € significativas em dois ou mais paises, constituidos por pessoas que vivem fora das suas fronte ras nacionais. Os sociélogos estabelecem a distingao entre o transnacionalismo de tis cima para baixo — actividades -conduzidas por actores institucionais poderosos, como as sociedadles ou empresas multinacionais e os Estados- ~€ 0 transnaciona sn de iniciativas populares das lismo de baixo para cima’ actividades que resulta bases de tipo grassrbors, desenvolvidas pelos imigrantes e pelos seus homdlogos do pais de origems (Portes etal, 1999, p. 221). As comunidades transnacionais nao so um conceito novo: a nogiio de diaspora jé vem dos tempos antigos (Cohen, 1997; Van Hear, 1998). Nova é, porém, a ripida proliferacao das comunidades transna- conduz a mudangas significativas a0 nivel do comportamento e da consciéncia (Vertovec, 1999). A imigracio e a diversidade cultural grescente col aos Estados-nacio. Em primeiro lugar, a capacidade de dada comunidade nacional através da cidadania afigura-se como uma am cionais onde quer que haja migrantes, 0 qu am um desafio duplo admitir 0 Outro numa a para a coesio e a identidade nacionais. O processo de imigrago tomou-se tio ha tempo para elimina a diferenca, de forma a que ele possa rapido que jana ser esquecido. Em segundo lugar, 2 possibilidade de partlhar um bolo social cada ‘vez mais reduzido com outros grupos novos revelat-se uma ameaga as condicoes al causada pela reestruturagdo econd- dos trabalhadores locais. A polarizacio so ‘mica e pelas politicas de privatizacao e liberalizacio deixa muito pouco espago de ‘manobra para os direitos minoritirios. Por isso, ¢ bastante mais ficil wansformar estes grupos em bodes expiat6rios para a crise social, culpando-os no s6 pela sua ; | | ; | (Gidadania no Pensamento Politico Contemporaneo propria marginalidade, mas também pelo seu declinio em termos gerais. Por con- seguinte, a migragao € vista como um aspecto central do conflito Norte-Sul, e os igrantes podem ser, muitas vezes, consicerados agentes infiltrados que acabarao por arrastar os paises ricos para a pobreza do Terceiro Mundo. Ascensao € queda do multiculturalismo Em resposta a tas dilemas, quase todos os paises de imigracio mudaram as suas leis de imigragio e cidadania, bem como as suas Consttuigdes'. Na sequéncia da crise do petr6leo- de 1973, 0s Governos da Europa Ocidental adoptaram polit- cas de fimigragdo zer@p, mas viram-se incapazes de travar as reunides familiares e a formagao de comunidades. Com o aumento da migracio apés o colapso do bloco sovietico, os Estados adoptaram um leque de medidas direccionadas para restringir ‘imigracao, algo que surge muitas vezes caracterizado como a construcio de uma (Europifortalezs A nivel supranacional, @Acordo de Schengen de T985xtiou, por umiTado, uma dea dedicada ao livre movimento intemo, mas, por outro, apertou as fronteiras extemas. O Tratado de Amestertio de 1997 estabeleceu a introducao de ‘norms conjuntas sobre imigragao e asilo na Unido Europeia até Maio de 2004, as {quais tém sido de dificil aplicacao na pritica, em parte devido ao receio de perda de soberania por parte dos Governos dos Estados-membros. Q movimento rumo 20 multiculturalismo permite lidar com os dilemas dias sociedades etnicamente diversificadas de forma mais direeta, No passado, os Sas sociectades cioitarpeaeecaesaneadtas dc forma mais direct Governos achavam que a imigragio nao causaria uma mudanga cultural signifi- cativa, Por conseguinte, ou os imigrantes eram mantidos & parte da populacao anfiria, sendo-lhes negados os direitos de cidadania & imagem do modelo do strabalhador convidado: (como na Alemanha, na Suica, etc.), ou entao eram totale mente integrados € assimilados pela comunidade anfitria, como nos «paises de imigragao clissica» (os EUA, o Canada e a Australia). Por volta dos anos 70, no centanto, comegou-se a perceber que nenhuma destas duas abordagens estava a funcionar correctamente. Os migrantes estavam espalhados por toda a parte, de- sempenhando os trabalhos menos desejados e mais mal pagos, o que levou a processos de segmentacdo do proprio mercado laboral. Por outro lado, os baixos ‘Tem vindo a crescer uma literatura abrangente sobre este tema. Para perspectivas gers, consultar Aleinikoff e Klusmeyer (2000, 2001) e Koopmans e Statham (2000), rendimen Os migra -~estruturas Ne cidadiose que tinhas cas, Ores cio capaa| OBsados idiomas, a medidas aos servige «a discrimi em 1975, definir com ‘Alemanhe, ceita paray fornecime Cm paises da lizagao al dencia) si no pais de paises de! Actualmes (cidadani dencia 2h ° um docu -populars Esa palses de i sinda toda A Nacao eo Império rendimentos, a discriminago e o racismo conduziram a segregaciio residencial Os migrantes responderam através da criacio de comunidades étnicas com infra estruturas culturais, socioeconémicas ¢ politicas propria. No Canadi € na Australia, onde os imigrantes rapidamente se tornaram cidadios ¢ eleitores, 0s politicos ¢ funcionirios do Estado come¢aram a perceber {que tinham de ter em atencio as necessidaces e os valores das comunidades étni cas. O resultado foi aaiscensiio do multiculturalismo'vomo estratégia de governa. cao capaz, de combinar os principios da diversidade cultural e da igualdade social © Estado reconheceu a legitimidade das varias comunidades com os seus proprios idiomas, religides e priticas culturais, enquanto, em simultineo, foi adoptando medidas para garantir que os membros dessas comunidades tivessem igual acesso as servigos prestados pelo Govemo e a educacao, bem como a protecciio contra aa discriminacio. Na Europa, os modelos multiculturais foram adoptados na Suécia, em 1975, e na Holanda, em 1979. O Reino Unido avancou também no sentido de se definir como uma sociedade marcadamente multicultural. Contudo, na Franca e na Alemanha, os legisladores politicos encaravam o multiculturalism como uma re- ceita para a fragmentacio cultural. Mesmo ai, as agéncias locais especializadas no fornecimento de servicos a nivel educacional e social comecaram a adoptar, com frequéncia, ¢ tacitamente, medidas multiculturais. (No inicio dos anos 90)» problema-chave da Europa Ocidental era saber como incluir os imigranies e os seus clescendentes enquanto cidadaos. Varios paises da Europa Ocidental (Alemanha, Suica, Austria) tinham normas de natu lizagao altamente restritivas. © principio ius sanguinis (cidadania por descen- cdéncia) significava que nem sequer as criancas filhas de pais imigrantes, nascidas no pais de imigracao dos pais tinham direito a cidadania. Praticamente todos os paises de imigracio sentiram a necessidade de alterar as suas leis de cidadania Actualmente, as novas regras so uma combinacio de ius sanguinis com ius soli (cidadania por nascimento no pais) e ius domicilti (cidadania com base na resi déncia a longo prazo) Castles e Davidson, 2000, ¢. 4) (© marco hist6rico mais impressionante foi a lei de cidadania alema de 1999, um documento que assinalou uma mudanga histérica de um modelo de cidadania popular: ou -étnicor para um tipo de modelo mais modemo e de inclusio* Esta endéncia encontra-se, até ap momento, confinada aos paises acidentas. Os novos paises de imigeacao da Asia, tals como o Japao, a Mabisia, Taiwan € a Coreia do Sul, rejeitan Jind toda e qualquer forma de integraclo de imigrantes a longo przo (Castles, 2003), No ano de 2000 levaram a uma duph ov miiti ‘Bundesregienung fur Auslanderfragen, 2002. p. 414), No Finalmente 6S mod&los regionals supranacionais ‘podem conduzir a no- mente alter rejeitado m aborigenes Na Europa, mento dad ‘uma integer Esta em relagag) algumas seq ameacas ag vindo a serg trabalhador sido abolidas imigrantes ‘Una ameaga sos comega,| cia e da exch A ascensax Desd global baseay ca, militar, pa Soviética, jun Leste-Oeste fo da época, tals, a emergénciag logica e da ink crescimento d dessa luta, bea ram porter cox Quand ‘uitas pessoas mais unificado. bilitar 0 desvies 4 Nagao e o Imperio mente alteradas. 0 Governo conservador australiano, no poder desde 1996, tem rejeitado medidas a favor das minorias (tanto dos imigrantes, como dos povos aborigenes) e, 10 mesmo tempo, tem abolido intimeros servicos multiculturais, Na Europa, tanto a Suécia como a Holanda alteraram a sua énfase no reconheci- mento da diversidade cultural, substituindo-a por politicas destinadas a alcangar ‘uma integragiio educacional ¢ ocupacional. Estas mudangas ocorreram num clima de aumento da hostlidade publica em relagio aos imigrantes ¢ aos refugiados. Os partidos de diteita, bem como algumas secgdes dos media, tém retratado a imigragiio e 0 multiculturaismo como ameacas 4.coesio social e a identidade nacional. As restrig6es & imigracao tém Vindo a ser cada vez mais apertadas, de forma a suster a entrada de refugiados € trabalhadores ilegais provenientes do Sul. As politicas a favor das minorias tém sido abolidas e restringilas em muitos locais (Desde o 11 de Setembro de 2000s imigrantes e os refugiados tém sido retratados como potencizis terroristas, € como ‘uma ameaga a seguranca nacional. Uma nova forma de racismo contra os intru- sos come¢a, hoje, a ameacar as minorias existentes com o aumento da intoler cia e da exclusio social A ascensao do sistema hierarquico do Estado-nagao Desde finais dos anos 40'até cerca dos anos 90,2s relagdes de poder global baseavam-se numsistema bipolar decorrente da concorréncia ideologi ca, militar, politica e econémica entre duas superpoténcias, os EUA € a Unido Soviética, juntamente com os respectivos aliados ¢ paises-satélite. Este conflito Leste-Oeste foi um factor determinante para quase todas as grandes tendéncias da época, tais como a descolonizacio, a crescente importincia do Estado-nacio, a emergéncia do Terceiro Mundo, as guerras por procuracao, a revolugao tecno- logica e da informacio, 0 desenvolvimento dos Estados do bem-estar social e 0 crescimento de um modelo de governacio supranacional. E dbvio que o fi dessa luta, bem como a aparente vitéria do modelo liberal-democritico, acaba ram por ter consequéncias fundamentais para a cidadania, Quando 0 bloco soviético entrou em colapso no inicio dos anos 90, nuitas pessoas tiveram esperanga de que esse processo conduzisse a'um mundo mais unificado, Supostamente, 0 «dividendo da paze caf resultante deveria possi- bilitar o desvio dos recursos empregues em despesas militares para uma sua uti- Cidadania no Pensanenio Politico Conse nborani lizacao em prol do desenvolvimento, da democratizagio e da construcao da Houve mesmo um observador que proc lamou, de facto, o¢fim da Historia sentido em que os grandes conflitos ideol6gicos seriam substituidos por mudanca gradual dentro de um sistema universal de valores de cariz democeal o-liberal (Fukuyama, 1992). Contudo, rapidamente se tomou claro que a alegall divisio Leste-Oeste fora substituida pela divisao Nort ul. Este conceito ml expressa uma configuracio geogrifica, mas antes uma configuracio politica social. A principal divisio foi estabelecid: la entre as poderosas e prosperas naga Pos-industriis (incluindo a América do Norte, a Europa Ocidental, o Japaagal Austrilia e d Nova Zelindia) e os paises menos poderosos e pobres de Afciea Asia e América Latina. No entanto, o Nort inclui também sireas e grupos su 4 exclusio social, enquanto o Sul também comporta elites que gozam de wma prosperidacle considerivel. Existem também importantes te tas posicdes intermédias ou transit6rias. -gides € grupos em sey Uma das diferencas-chave entre o velho mundo bipolar Leste-Oesteem nova divisio Norte-Sul é que, hoje, hi apenas uma Gnica superpoténcia qual a sugerirem que os Etim Ao, actualmente, um -novo império- (Hardt e Negri, 2000): um poder impel global que governa o mundo inteiro, da me domina as duas partes. Este facto levou alguns analistas, a forma que Roma governowa maior parte do mundo mediterranico e a Europa Ocident ou que a Gra-Bretay nha governou o seu distante império antes de 1914, Muito embora a nogio dal lidade — incluinde gressivo e o poder econémico por parte dos EUA, bem como Sal io de um conjunto universal e superior de valores ~; império pareca descrever alguns dos aspectos da nova r uso militar reivindica averdade € quay -mplo, os confliamy la forca contra o Iraquel™ + nao indicam uma hegemonia imperial total, Pam outro lado, os EUA nao podem, pura e simplesmente, nomear os lideres dal Estados subordinados, ela nao se encaixa adequadamente a outros niveis. Por exe entre 0s EUA € os seus aliados em relacao ao uso d: contra outros «Estados pairia al como Roma nomeava os seus governadores ou a Gee -Bretanha os vice-reis. Por conseguinte, a nova ordem Pés-Guerra Fria parece adquitir um care tere contomos absolutamente novos, Este sist wa tem por base uma tinica supers Poténcia dominante no seu ¢entto, embo esse centro nao seja rodeado pam vassalos impotentes, mas por uma hier aarquia de Estados tom niveis de depem™ dencia varidveis em relacio ao centro, ¢ niveis varidveis de poder em relacio umm! 408 outros. Este modelo pode ser conceptualizado como um conjunto de ela Cidadania no Pensemenio Politico Conwenporan lizagao em prol do desenvolvimento, da democratiza Houve mesmo um observador que proclamou, de eda construgio da: facto, o¢fim da Historian sentido em que os grandes conflits ideol6gicos seriam substituidos por um mudanga gradual dentro de um sistema universal de valores de cariz demo co-liberal (Fukuyama, 1992). Contudo, rapidamente se tomou claro que a ak divisio Leste-Oeste fora substituida pela divisao Norte-Sul, Este conceito expressa uma configuracio geogrifica, mas antes uma configuracio politica social. A principal divisio foi estabelecida entre as poderosas e présperas nat p6s-industriais (incluindo a América do Norte, a E uropa Ocidental, o Japaagal Austrlia e d Nova Zelindia) e os paises menos poderosos e pobres de Afisea Asia ¢ América Latina. No entanto, o Norte inclui também dreas e grupos su 2 exclusio social, enquanto o Sul também comporta elites que gozam de Prosperidade considerivel, Existem também importantes regides e grupos em rias posigdes intermédias ou transit6rias, Uma das diferencas-chave entre 0 velho mundo bipolar Leste-Oestee nova divisio Norte-Sul € que, hoj hd apenas uma Gnica superpoténcia qual Este facto levou alguns analistas a sugerirem que os Et: Sto, actualmente, um snovo império- (Hardt e Negri, 2000): um poder impel slobal que gover domina as duas partes » mundo inteiro, da mesma forma que Roma governou il maior parte do mundo mediterrinico e a Europa Ocidental, ou que a Gri-Bretae nha governou o seu distante império antes de 1914. Muito embora a nogio dl império pareca descrever alguns dos aspectos da nova realidade incluindomy arte dos EUA, bem como a sal reivindicaedo de um conjunto universal e superior de valores uso militar agressivo e o poder econémico por p: Sa verdade € qa ela nao se encaixa adequadamente a outros niveis, Por exemplo, os confi entre os EUA € 05 seus aliados em relagao ao uso da forca contra 0 Iraquel contra outros “Estados parias- nao indicam uma hegemonia imperial total, Par outro lado, os EUA nao podem, pura e simplesmente, nomear os lideres da Estados subordinados, tal como Roma nomeava os seus governadores ov a Gala -Bretanha os vice-reis, Por conseguinte, a nova ordem Pés-Guen Fria parece adquirir um care tere contornos absolutamente novos. Este sistema tem por base uma tinica super Potencia dominante no seu centro, embora esse centro nao seja rodeado pam vassalos impotentes, mas por una hierarquia de Estados tom niveis de depema déncia varidveis em relaga > a0 centro, ¢ niveis Varidveis de poder em relago waa 408 outros. Este modelo pode ser conceptualizado como um conjunto deel culos concéntricos de Estados, definidos em termos de poder (e nao a nivel geogrs- fico). Sugiro, portanto, nente rotulada como jue esta ordem possa ser adequada Alem do mais, sugiro igualmente que 0 poder variavel (a nivel politico, mili s nesses circulos pode conduzir a uma hierarquia semelhante em termos dos direitos e liberdades dos seus povos, a qual chamare(Cidadania bierargmica, Esta nogo de hierarquias de poder ¢ de direitos deverd ser contrastada ‘econdmico e cultural) dos Estados presen: com as alegadas reivindicages de um universalismo inerentes aos discursos do- io de Fukuya minantes sobre a governagao global. A afirm: acerca do fim da Hist6ria foi sol de pouca dura; expirou, mais concretamente, no inicio dos anos 90 nos ca npos de batalha da ex-Jugoslivia, do Kuwait e da Somilia, Ainda assim, € 6bvio que os EUA e a «comunidade internacional (essencialmente, as nagoes do Norte as poderosas agéncias intergovernamentais)acreditam que existe ape- nas um modelo aceitavel > que conceme & economia, & politica, as relagdes intemnacionais e aos direitos humanos. Todas as outras abordagens sto retrogra- das atrasadas, ¢ $6 sio apoiadas por fundamentalistas, terroristas e Estados prias. Esta é precisamente a base que permite reckamar uma legitimidade politica global, dando ao Norte o direito de impor politicas estruturais de rectificacao, intervir militarmente em conflitos ¢ causar alteragdes ao regime onde bem desejar. Assim sendo, o ponto de vista optimista de Fukuyama acabou por ser substituido por um prognéstico bastante mais negro, também ele formulado no inicio dos anos 90: mais concretamente, o ponto de vista deTHuntingioh acerca do inevitével choque de civilizagdes\(Huntington, 1993). Modelos de relagdes internacionais na modernidade Seri importante situar esta nova ordem global numa perspectiva hist6rica trata-se da Gltima, ¢ mais recente, numa série de relagdes intemacionais desde o inicio da moderidade. O sistema vesiefaliano foi estabelecido eny1648)y seguir A. Guerra dos 30 Anos (Held et al, 1999), As relagoes interacionais finham entao por base a ideia de um mundo composto por Estados soberanos. Os governantes detinham a soberania sobre o seu territ6rio e, como tal, podiam governar os seus stibditos como bem thes aprouvesse, embora se esperasse que seguissem certas e determinadas regras — tais como a da nao-interferéncia nos assuntos internos ~ nas relagdes estabelecidas entre si. Este nundo era essencialmente conc Cidadania no Pensdmento Politico Contemportineo como um mundo europeu, pelo que a conquista e a colonizacao de Estados & povos fora da Europa era vulgarmente aceite, No ambito deste modelo, niio exis- tia propriamente a nogiio de uma comunidade cultural entre os governantes e os seus sibditos, que se mantinham unificados gracas ao poder e ao direito divino dos reis. De igual forma, 0 esforco de guerra nao necessitava de uma grande mobilizacio de massas, pois era sobretudo uma questo respeitante a cavaleiros, que comandavam exércitos de soldados regulares e mercendtios. Depois das revolugdes americana e francesa de finais do século XVIII, emergiu uma nova ordem democnitico-nactonalisia. A ideia de soberania po- pular tornou necessiria a definicio de quem pertencia ao povo, através da ins- tituigao da cidadania. O Estado tomou-se um Estado-nacdo, dependente da legitimidade popular e dos mitos da homogeneidade cultural. A identidade étni ca ea exclusao racial das minorias eram caracteristicas essenciais do nacionalis- ‘mo. O principio do cidadao-guerreiro, bem como o recrutamento militar universal significavam que os conflitos inter-Estados comecavam entio a adquirir as ca- racteristicas da guerra total descritas por Clausewitz (Kaldor, 2001), A guerra tomou-se ainda mais destrutiva, conduzindo a massacres em larga escala e a gigantescas movimentagoes em massa de refugiados. sistema do mundo bipotar,baseaco na confrontacao ideol6gica entre «as duas superpoténcias em competicio durante o petiodo da Guerra Fria, aca- bou por atenuar potencial destrutivo da ordem democritico-nacionalista — mas $6 devido & entrada em cena de um tipo de ameaga de destruicao ainda ‘maior, através da guerra nuclear. O impasse daf resultante foi correctamente rotulado como necessario para a mobilidade.) 7 Por outro lado, cria também o capital social necessirio para outra carac- tetistca-chave da globalizacio, iso é a capacidade de difundir o poder através de redes (Castells, 196). A organizaco em rede caracteriza,simultaneamente, a chamada globalizagao de cima para baixoy,tipica das empresas transnacionais ¢ dla governacio global, bem como a lobalizacao de baixo para cimas, dos | srantes e das respectivas comunidades, AS suas redes informs facilitam os mo- | vimentas, mesmo quando as polticas oficaistentam trav los (Castles, 2004), Ao | mesmo tempo, algumas dessas redes assumem fontias mais institucionalizadas, | Ro ambito da chamada sindstra a miigeacao-—uma das mais recentes formas de comércio internacional caracterizada pelo seu répido crescimento, Esta ex. Pressito engloba todas as pessoas que tém como meio de subsisténcia organi. Za a migracao, como por exemplo os agentes de viagens, os contrahandistas de seres humagossos bancérios, os advogados. os recrutadores de mao-de-obra e 0S agentes imobilfros. Sto precisamenteestas redes que ajudam aligar de novo © Sul e o Norte, numa altura em que muitas das regides do Sul se tomaram economicamente irtelevantes face & economia globalizada (Dutfield, 2001) A hierarquizacao do direito de migracio pode ser encarada como uma nova forma deyFacismo transnacioma ssa base intelectual assenta em discur- sos sobre a natalidade- da violEncsa mas regides em desenvolvimento, bem como a incompatibilidade cultural entre os seus povos e a chamada civlivacao ocidental. Este é 0 contexto prvilesiado onde ocorreo tafchoque de Siilizag6es- A Huntington. Esses discusses descavolvidos durante as gueTias ‘acomipantiaram o fim da Jugoslivia e da Unio Soviética. Os conflitos foram frequentemente retratados como 0 ressurgimento dos «velhos ddios étnicos an. Cestrais.. A mensagem implicita que passava ea que grupos com diferentes cult. ‘2 e hist6rias no podiam parihar um 6 reméeio Gallagher, 1997; Turton, 1997). Este facto acabou por levara ideia de wm novo ribalsmo-, no qual os Povos oriundos de zonas em desenvolvimento rewelam uma regressio nos seus Pontos de vista, passando a adoptar, em detimento de uma postura universlista, Perspectivas mais loalistas segundo as quais@.caos domina a maior parte do mundo (Comissio Global, 1995, pp. 16-17). Aguas analistas chegaram mesmoa fala de um aumento brutal em termos de wiekEmci. crime. guerae toxicodepen- <éncia,paralelamente ao desenvolvimento de wma nova barbie, na quala tor. 4 Nagdo e 0 Império 129 ar priticas comuns (Kaplan, ura, violagao e o canibalismo se estariam a torna lo medo do terrorismo € 1956a). Tai ideias vieram a ser, mas tarde, reforgacas pek mrentaismo, sobretudo desde 0 11 de Setembro de 2001 ve dos interesses locas e sectors contra o dominio do Norte pode ter como base os simbolos religiosos © culturais da dignidade e da sdemtidade. E provivel que os movimentos de resistencia POSS parecer dema- Sado partcularizadorese retrogrados, precisamente Pords discursos sobre 0 ssalismo tém sido monopol cas globalizadoras. E sio preci tio dispares como ses discursos que acabam Jo, deportacio de imigrantes indescjados- ou a> ,_ Alguns intelectuais do Norte defendem agora ist6ria mundial e, porver do fundan No Sul, a def unive izados petas for por legitimar medic: samente € normas de restrigo a imigraca ques militares 20s 5 racia foi apenas uma fa 4s culturas (Kaplan, 1996b). Noen deve, ser imposto pela forca, nos caso e passageira na hi ‘que a democt tura, inadequad: a democracia como algo que pode, € econémicos assim o exijam. to, outros encaram os em a algun {que os interesses politieds ‘ Hierarquias nacionais ¢ internacionais de cidadania Jania esto entre os factores » Sul. A desigualdade, causas, As hierarquias dos Estados-nacio e da cids 5 subdesenvolvimento e 0 conflito no levam & migracao. Bs {que perpetuam ¢ mpobrecimento ¢ a violencia | Jes a0 caricter indistinto ¢ confuso da a. Geralmente, a5 assimetrias, 0 €! si, conduzem muitas vez mica entre a migracio forgada ea migracio econ6mics ‘também sinonimo de Estados fracos, elites dirigentes reitos humanos. Da que esta ligaso leve, geralmen= os migrantes e refugiados tem erligadas entre dites ceconomias falhadas sai predatérias ¢ abuso dos di assaciacao asilo-migracao te ‘miltiplas razdes para a mobilidad -conémicas das dos direitos hum talmente as motivacdes € lesafio pata as categorias claramente OTB ‘ou seja, muit le, sendo praticamente impossivel separar 10> anos — algo que se anizadas que as assume como um dk Dpurocracias nos querem impor As hierarquias internacionais de cidadania smo cidadania df forma complexa. O enfraq 0 significa que os nto por fac substituiram as hierar as nacionais (supramencionadas Co srenciada). Pelo contra gem entre side «40 fendmeno da globalizaca am por estar moldados t quia rio, complementam-se ¢ inter das fronteiras nacionais inerente as condigdes dos cidadaos acaba quecimento direitos € Cidadania no Pensamento Politico Contempordineo tores nacionais como por Factores Estas hierarquias encontram- -se subsumidas nas duas tabelas que seguidamente apresentamos. A Tabela 1 ‘mostra as formas tipicas de diferenciacSo da cidadania dentro dos Estados- ao. E claro que nem todas 38 formas e530 presentes em todos os paises. Contudo, serd dificil encontrar um pais onde niko existam alguns tipos de desi- gualdade, o que, em si, acaba por cnemsatar os Peincipios inclusivos e universa- listas da teoria da cidadania. ‘TABELA 1 Hicrarquias de cidadania dentro do Estadiow mac ee Ne ee |. Tipos CCkladios complctos | Pessous sascine a gis ms rans caturalizados | de pleno direto ‘embers extant signs open menectaon Cidadhios residentes| [imines Que Re GBS ees dicios de ccadania Denizen com base sams sess long paz Migrants indocumentados| Caréncg de quawetadios as dietion, excepto aqucles que sto ‘cranttlppeios mamma xeesacioonis de direitos humanos Refgiados Diretos Sat Retains a eS peas Minorias étnicas, religiosas | Tém fomaiaaeane Radienier ines Iezais, mas podem nao ser estas copuzes de os cian Sato 3 Secret "Povos indigenas | branes (EA Canad Rae Neen Zelindia © América Latina). Sujctos 2 peace Ramis Se expeopracio, dscriminacio legal e exchao soca Divisdes por sexo Discreminagie kegel comms aan actuslmente rara 00s | alses do None es ais esses Comim nos do Su Poeniténci da GNSS imma! informal ATabela 2 nao representa tums Gnicsliierseesis. mas antes um determi- nado ntimero de mecanismos que foram sendin esticadios 20 longo deste artigo. Sera importante analisar as formas Segundo 2s-qusis2s hierarquias nacionais ¢ internacionais habitualmente interagem 8 dies eeigem num pais situado num nivel superior em termos de hierarquis imemaeional ds cidadania poderi even- tualmente conduzir a uma posicio Superiore mivel das hierarquias nacionais: poucos migrantes vindos de paises altamemte desemsoividos acabam como n ‘grantes ilegais ou tefugiados. As pessoas iciaitins mes miveis 4 € 5 da hierarquia internacional tem mais probabilidades de seater mums: posicio baixa na escala nacional. Toma-se jgualmente clara 4 imapartineis dos discursos sobre a naturali- dade da violencia, bem como 0 ca0s na deseemsitaaco de enupos para subordinar © estatuto nacional, A Nacaio e 0 Império ‘TABELA 2 Hierarquias internacionais de cidadania Diferenciagao dos direitos | Nivel 1; Gidadios dos EUA aan de cidadania Nivel 2: Cidactos de outros paises altamente desenvolidos Nivel 3: Citcios de paises em trnsigio © recentemente indstialzaden [Nivel 4 Cidados de paises em desenvolvimento Nivel 5: Populagdes de E no-idadios tadosfalhados, povos sem Estado e Divito de grat satifiado com base no local de origem e no capital humano educacio qualificacdes), segundo os nivelsacmua mencionados Naturalizagao da viokéncia | Discursos que legtimam a imposigio dos modelos de governacao fe do caos nas regies em | do Norte no Sul Racismo wansnacional | Discursos que legitimam normas de imigragio ‘como 0 tatamento diferencia das populacbes migrates pars ‘tr Forgas labors globals e nacionatscierenciadas Da cidadania hierarquica 4 cidadania transnacional? Os desenvolvimentos politicos internacionais analisados no presente arti- go funcionam como um complemento 3 construcio de uma nova ordem global de dominio na qual o principio legal da igualdade dos Estados-nacao € dos ladiios est em forte contradicio com a verdadeira realidade da hierarquia e da exclusto. Quererd isto dizer que a cidadania hierdrquica se encontra, inevitavel- ‘mente, sob as condigdes da globalizacio? Esta seria uma conclusio pessimista, implicando, por conseguinte, que a democracia - no sentido das condigoes que permitem aos cidadios activos partciparem na elaboracio das leis e no govemno nio tem futuro. Nao acredito que seja esse 0 caso. Embora a globalizagao nao possa ser invertida, € provavel que haja mais formas democriticas ¢ inclusivas de governanga global Nao se trata apenas de uma possibilidade teérica. Os recentes debates sobre assuntos tio cruciais como a intervengao militar a lei internacional, os direitos humanos, a politica comercial, o meio ambiente e a cultura demonstram que o(sistema hierirquico do Estado-nacao nem é monolitico, nem esta livre das) mpensatdriag)E possivel encontrar vozes discordantes nos nivels ane forcas saccional, nacional e subnacional, Nao cabe aqui descrever ou analisar essas vvozes, mas seri importante lembrar a forga hist6rica das tendéncias democraticas Cidadania no Pensamento Politico Contemporaneo no imbito das sociedades modernas. A ss demoeriticas a partir ‘do século: XVI nao resultou de processos estruturais inexoriveis, mas antes forma de movimentos sociais ¢ politicos (Habermas, 1996). Tais movimentos existem também nesta tiima fase da modemidade c incluem, movimentos ambientais, anti-racistas, pro-desenvolvimento "como patios politicos, Sto ees que fazem campanha favor. de cidadania de grupos excluidos dentro dos Estados-nagao, e a favor de mais e melhor democracia a nivel internacional. _ _Apassigem da cidadania hierarquica para uma cidadnia transnacional) See elementos principais, Em pr Rr primeira Tug ‘uma vez que 0 Estado- inda a ser o mais importante foco de poder, é necessirio ae ir formas mais inclusivas e eficazes de participacao dos cidadios a este nivel. Os grupos que sofrem de excluso neggssitam de medidas especiais que Ihes permitam uma maior participacao genfiina nas principais actividades da sociedade. Dependendo das circunstancias, tais medidas poderao incluir uma representagio especial (como, por exemplo, os lugares reservados aos maoris ‘no Parlamento neozelandes), programas educacionais e sociais, normas antidis- ctiminatorias e leis direccionadas para a igualdade de oportunidades. Sio igual- medidas no sentido de permitir uma maior participaci todos os cidadios. A complexidade dos processos de tomada de det dominio dos mass media na formagao de opiniao € o distanciamento entre as leis nacionais € as preocupagoes locais fazem com que, actualmente, seja ainda mais dificil a0s cidadaos fazerem algo mais do que votar num ou noutro partido ‘de,quatro em quatro ou de cinco em cinco anos. A descentralizacao das deci- ‘ses a nivel local e regional, o fornecimento de informagao através do recurso novas tecnologias, a democratizacao dos Orgios administrativos (por exem- plo, as autoridades sanitérias, educacionais ou responsiveis pela habitacio), e até mesmo os procedimentos necessirios para o voto electronico poderito aju- dara reanimar a democracia Cm segundo lugar, Inuitas decisdes cruciais so, actualmente, tomadas Por organismos intemacionais, o que faz com que a democracia também neces- site de ser estabilizada a este nivel. O processo de tomada de decisdes no FMI, na OMC e no Banco Mundial € dominado por grupos de interesse financeiros ¢ comerciais oriundos ce dentro dos paises ricos. Os conselhos de administracio destes organismos so maioritariamente compostos por ministros das Finangas do Comércio provenientes do Norte. Os Governos do Sul tém muito pouco a PEG RGAE TE ° g aeTMTEERTAE pied A Nagao e 0 Império dizer e, por conseguinte, os agricultores, os trabalhadores ¢ os pobres do mundo acabam por nao ser representados de forma alguma (Stiglitz, 2002, c. 9). 0 resul- ‘elem politicas que ignoram as necessidadles e os interesses da grande maioria das pessoas. O alargamento ’io s6 0s Governos do Sul, mas também os representantes directamente eleitos tado € consta participacio no sentido de ineluir do mundial seria, por conseguinte, um enorme passo rumo a demo- la popula cracta transnacional. Em terceiro lugaf)se as instituigées globais tivessem um mandato demo- critico e representassem interesses mais alargados do que os que representa uma maior legitimidade para a intervencio in- hoje em dia, haveria, certamente, temacional em situagdes de opressio ou conflito. As intervencdes militares no periodo decorrente desde 1992 tém sido onganizadas, sobretudo, para assegurar 605 interesses do Norte, através 1 contencio dos movimentos de refugiados, do controlo estratégico de reas importantes, da garantia e da certificacao dos bens essenciais (especialmente o pettéleo) e do combate as ameacas do terrorismo. Os direitos humanos e a democracia tém sido frequentemente meros agentes legiti- madores. As acces tardias ¢ ineficazes na Somalia e no Ruanda, bem como o fracasso em fornecer ajuda eficaz na reconstrucao da sociedade no Afeganistao € no Iraque sio indicadores dos verdadeiros interesses que esto por detris des- sas intervengoes. Gragas a uma melhor democracia ¢ uma maior transparéncia na tomada de decisoes a nivel internacional, poderia haver uma maior vontade na prevencao de massacres e genocidios, na reducio da repressao racial, étnica ou religiosa e na destituicao dos déspotas que oprimem o seu proprio povo. E pro: el que estas ideias parecam algo ut6picas, sobretudo quando encaradas do ponto de vista de algumas das tendéneias actuais, Porém, é importante aperce- icquica global nao & nem natural, ném inevitivel, bermo-nos de que a ordem hie inas sim um produto inequivoco da accao humana que também pode, por Conse Guinie, ser mudado airavés da acgio humana. Tal como sempre acontecet ao Tongo da hist6ria, normalmente a dlemocratizagao0 nao provém daqueles que de- témo poder — é algo que ocorre através de actividades desenvolvidas por movi- ‘mentos politicos e sociais. Tais movimentos estio, actualmente, a emergir €, por isso mesmo, é importante que tenham objectivos bem definidos. Efectivamente, € tendo em conta que a globalizaao € um processo que mio pode ser invertido, 0 slogan antiglobalizagao revelou-se deveras improdutivo, muito embora a luta por uma forma de globalizacao mais humana, inclusiva ¢ participativa nos ofere de mudanea, ‘uma perspectiva mais optimista Cidadania no Pensamento Politico Contemporiineo, Referéncias bibliograficas Aleinikoff, T. A. e Klusmeyer, D. (eds), Citizenship Today: Global Perspectives and Practices, Washington D.C., Camegie Endowment for International Pea- ce, 2001. Baubock, R, Social and Cultural Integration in a Cail Society, in R. Baubock, A. Hellere A.R. Zolberg (eds.), The Challenge of Diversity: Integration and Plu- ralism in Societies of Immigration, Aldershot, Avebury, 1996. Bauman, Z., Globalization: the Human Consequences, Cambridge, Polity, 1998. 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