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Mas, ao descer a colina, uma tristeza veio sobre ele, e ele pensou em seu coraçã o:
Como irei em paz e sem tristeza? Nã o, nã o sem uma ferida no espírito deixarei esta
cidade. Longos foram os dias de dor que passei dentro de seus muros, e longos foram as
noites de solidã o; e quem pode afastar-se da sua dor e da sua solidã o sem arrependimento?
Muitos fragmentos do espírito eu espalhei nessas ruas, e muitos sã o os filhos do meu
anseio que andam nus entre essas colinas, e eu nã o posso me afastar deles sem um fardo e
uma dor.
Nã o é uma roupa que eu joguei fora neste dia, mas uma pele que eu rasgo com minhas
pró prias mã os.
Também nã o é um pensamento que deixo para trá s, mas um coraçã o doce com fome e
sede.
Agora, quando chegou ao sopé da colina, voltou-se novamente para o mar, e viu seu
navio se aproximando do porto, e sobre ela rondavam os marinheiros, os homens de sua
pró pria terra.
E sua alma clamou a eles, e ele disse:
Filhos da minha antiga mã e, vó s cavaleiros das marés,
Quantas vezes você navegou em meus sonhos. E agora você vem no meu despertar, que é
o meu sonho mais profundo.
Pronto estou eu para ir, e minha â nsia com velas cheias aguarda o vento.
Só outra respiraçã o respirarei neste ar parado, apenas outro olhar amoroso lançado para
trá s,
E entã o eu estarei entre vó s, um marinheiro entre os marítimos. E tu, vasto mar, mã e
insone,
Que sã o os ú nicos paz e liberdade para o rio e o riacho,
Só outro sinuoso fará este riacho, apenas mais um murmú rio nesta clareira,
E entã o eu virei a ti, uma gota sem limites para um oceano sem limites.
E enquanto caminhava, viu de longe homens e mulheres deixando seus campos e suas
vinhas e correndo em direçã o aos portõ es da cidade.
E ele ouviu suas vozes chamando seu nome, e gritando de campo em campo contando
uns aos outros sobre a vinda de seu navio.
E disse a si mesmo:
O dia da despedida será o dia da reuniã o?
E dir-se-á que a minha véspera foi, na verdade, a minha aurora?
E o que darei à quele que deixou o seu arado no meio do sulco, ou à quele que parou a
roda do seu lagar? Será que o meu coraçã o se tornará uma á rvore pesada de frutos para
que eu possa colher e dar-lhes?
E fluirã o os meus desejos como uma fonte para que eu possa encher os seus copos?
Sou uma harpa para que a mã o do poderoso me toque, ou uma flauta para que sua
respiraçã o passe por mim?
Buscador de silêncios sou eu, e que tesouro encontrei nos silêncios que posso dispensar
de confiança?
Se este é o meu dia de colheita, em que campos semeei a semente, e em que estaçõ es nã o
lembradas?
Se esta é realmente a hora em que eu levanto a minha lanterna, nã o é a minha chama que
queimará nela.
Vazio e escuro levantarei a minha lanterna,
E o guardiã o da noite a encherá de ó leo e a acenderá também.
Essas coisas ele disse em palavras. Mas muito em seu coraçã o permaneceu nã o dito. Pois
ele mesmo nã o podia falar seu segredo mais profundo.
E quando ele entrou na cidade, todas as pessoas vieram ao seu encontro, e eles estavam
clamando a ele como com uma só voz.
E os anciã os da cidade se levantaram e disseram:
Ainda nã o vos afasteis de nó s.
Ao meio-dia, você esteve em nosso crepú sculo, e sua juventude nos deu sonhos para
sonhar.
Nenhum estranho és tu entre nó s, nem um convidado, mas o nosso filho e o nosso amado
querido.
Nã o sofra ainda os nossos olhos para ter fome do seu rosto.
E outros vieram também e suplicaram-lhe. Mas ele respondeu-lhes que nã o. Ele apenas
inclinou a cabeça; e os que estavam perto viram suas lá grimas caindo sobre seu peito.
E ele e o povo prosseguiram em direçã o à grande praça diante do templo.
E saiu do santuá rio uma mulher cujo nome era Almitra. E ela era uma vidente.
E olhou para ela com extrema ternura, pois foi ela quem primeiro procurou e acreditou
nele quando ele estava apenas um dia em sua cidade. E ela o saudou, dizendo:
Profeta de Deus, em busca do má ximo, há muito tempo você tem procurado as distâ ncias
para o seu navio.
E agora o seu navio chegou, e você precisa ir.
Profundo é o seu anseio pela terra de suas memó rias e a morada de seus desejos
maiores; e o nosso amor nã o vos prenderia nem as nossas necessidades vos prenderiam.
No entanto, pedimos isso antes que você nos deixe, que você fale conosco e nos dê a sua
verdade.
E nó s a daremos aos nossos filhos, e eles aos seus filhos, e ela nã o perecerá .
Em sua solidã o você assistiu com nossos dias, e em sua vigília você ouviu o choro e o riso
de nosso sono.
Agora, portanto, divulgue-nos a nó s mesmos e diga-nos tudo o que lhe foi mostrado
sobre o que está entre o nascimento e a morte.
E ele respondeu:
Povo de Orfalés, de que posso falar senã o daquilo que ainda agora se move dentro de
suas almas?
Entã o disse Almitra: Fale-nos de Amor.
E ele levantou a cabeça e olhou para o povo, e caiu uma quietude sobre eles. E com uma
grande voz ele disse:
Quando o amor acenar para você, siga-o,
Embora seus caminhos sejam duros e íngremes.
E quando as suas asas se envolverem tu te renderes a ele,
Embora a espada escondida entre seus pinhõ es possa feri-lo.
E quando ele fala com você, creia nele,
Embora sua voz possa destruir seus sonhos enquanto o vento norte devasta o jardim.
Porque, assim como o amor vos coroa, assim ele vos crucificará . Assim como Ele é para o
seu crescimento, assim é ele para a sua poda.
Mesmo quando ele sobe à tua altura e acaricia os teus ramos mais ternos que tremem ao
sol,
Assim descerá à s vossas raízes e as sacudirá em seu apego à terra.
Todas essas coisas vos farã o para que possais conhecer os segredos do vosso coraçã o e,
nesse conhecimento, tornar-vos-ei um fragmento do coraçã o da Vida.
Mas se em seu medo você buscasse apenas a paz do amor e o prazer do amor,
Entã o é melhor para você que você cubra sua nudez e passe pela eira do amor,
Para o mundo sem estaçã o, onde você deve rir, mas nã o todo o seu riso, e chorar, mas
nã o todas as suas lá grimas.
E ele disse:
Gostaria que você pudesse viver na fragrâ ncia da terra, e como uma planta de ar ser
sustentado pela luz.
Mas já que você deve matar para comer, e roubar o recém-nascido do leite de sua mã e
para saciar sua sede, que seja entã o um ato de adoraçã o,
E que a tua tá bua fique de pé um altar sobre o qual os puros e os inocentes da floresta e
da planície sejam sacrificados por aquilo que é mais puro e ainda mais inocente no homem.
E quando você esmagar uma maçã com os dentes, diga-lhe em seu coraçã o:
"Vossas sementes viverã o em meu corpo,
E os botõ es do teu amanhã florescerã o no meu coraçã o,
E a tua fragrâ ncia será o meu sopro, E juntos nos alegraremos através de todas as
estaçõ es."
E no outono, quando recolherdes as uvas das vossas vinhas para o lagar, dizei no vosso
coraçã o:
"Eu também sou uma vinha, e os meus frutos serã o colhidos para o lagar,
E como vinho novo serei guardado em vasos eternos."
E no inverno, quando tirardes o vinho, que haja no vosso coraçã o um câ ntico para cada
cá lice;
E que haja no câ ntico uma lembrança para os dias de outono, e para a vinha, e para o
lagar.
Entã o um arado disse: Fale-nos do Trabalho.
E ele respondeu, dizendo:
Você trabalha para que possa acompanhar o ritmo da terra e da alma da terra.
Pois ser ocioso é tornar-se um estranho à s estaçõ es, e sair da procissã o da vida, que
marcha em majestade e orgulhosa submissã o ao infinito.
Quando você trabalha, você é uma flauta através de cujo coraçã o o sussurro das horas se
transforma em mú sica.
Qual de vocês seria uma cana, e silenciosa, quando tudo o mais canta junto em uníssono?
Sempre vos foi dito que o trabalho é uma maldiçã o e o trabalho um infortú nio.
Mas eu lhes digo que, quando trabalham, realizam uma parte do sonho mais distante da
Terra, atribuído a vocês quando esse sonho nasceu,
E ao manter-se com o trabalho, você está , na verdade, amando a vida,
E amar a vida através do trabalho de parto é ser íntimo do segredo mais íntimo da vida.
Mas se você, em sua dor, chama o nascimento de uma afliçã o e o apoio da carne de uma
maldiçã o escrita em sua testa, entã o eu respondo que nada, mas o suor de sua testa lavará o
que está escrito.
Foi-vos dito também que a vida é escuridã o e, no vosso cansaço, ecoais o que foi dito
pelos cansados.
E eu digo que a vida é realmente escuridã o 'salvo quando há impulso,
E todo impulso é cego, exceto quando há conhecimento,
E todo conhecimento é vã o, exceto quando há trabalho,
E todo o trabalho é vazio, exceto quando há amor;
E quando você trabalha com amor, você se liga a si mesmo, e uns aos outros, e a Deus.
Alguns de vocês dizem: "A alegria é maior do que a tristeza", e outros dizem: "Nã o, a
tristeza é a maior".
Mas eu vos digo que eles sã o insepará veis.
Juntos, eles vêm e, quando um se sentar sozinho com você em sua prancha, lembre-se de
que o outro está dormindo em sua cama.
Em verdade, você está suspenso como balanças entre sua tristeza e sua alegria.
Somente quando você está vazio você está parado e equilibrado.
Quando o guarda-tesouros o levanta para pesar seu ouro e sua prata, as necessidades
devem sua alegria ou sua tristeza subir ou descer.
Entã o um pedreiro saiu e disse: Fale-nos de Casas.
E ele respondeu e disse:
Construa de suas imaginaçõ es um bower no deserto antes de construir uma casa dentro
das muralhas da cidade.
Pois assim como você tem voltas para casa em seu crepú sculo, o mesmo acontece com o
andarilho em você, o sempre distante e sozinho.
Sua casa é seu corpo maior.
Cresce ao sol e dorme na quietude da noite; e nã o é sem sonhos. Sua casa nã o sonha? e
sonhando, deixar a cidade para bosque ou colina?
Gostaria que eu pudesse reunir suas casas em minha mã o, e como um semeador espalhá -
las na floresta e no prado.
Oxalá fossem os vales as vossas ruas, e os caminhos verdes as vossas vielas, para que
pudésseis procurar uns aos outros através das vinhas, e vir com a fragrâ ncia da terra nas
vossas vestes.
Mas essas coisas ainda nã o estã o para ser.
Em seu medo, seus antepassados os reuniram muito perto. E esse medo durará um
pouco mais. Um pouco mais as muralhas da vossa cidade separarã o as vossas lareiras dos
vossos campos.
E diga-me, povo de Orfalese, o que você tem nessas casas? E o que você guarda com
portas presas?
Você tem paz, o impulso silencioso que revela seu poder?
Você tem lembranças, os arcos cintilantes que atravessam os cumes da mente?
Você tem beleza, que conduz o coraçã o de coisas feitas de madeira e pedra para a
montanha sagrada?
Diga-me, você tem isso em suas casas?
Ou você tem apenas conforto, e o desejo de conforto, aquela coisa furtiva que entra na
casa como um hó spede, e depois se torna um anfitriã o, e depois um mestre?
Ay, e ele se torna um domador, e com gancho e flagelo faz fantoches de seus desejos
maiores.
Embora suas mã os sejam de seda, seu coraçã o é de ferro.
Ele o acalma para dormir apenas para ficar ao lado de sua cama e zombar da dignidade
da carne.
Ele zomba de seus sentidos sonoros e os coloca em cardo como vasos frá geis.
Na verdade, o desejo de conforto assassina a paixã o da alma, e depois caminha sorrindo
no funeral.
Mas vó s, filhos do espaço, inquietos em repouso, nã o sereis presos nem domados.
Sua casa nã o será uma â ncora, mas um mastro.
Nã o deve ser uma película brilhante que cubra uma ferida, mas uma pá lpebra que
proteja o olho.
Nã o dobrareis as vossas asas para que possais passar pelas portas, nem dobrareis a
cabeça para que elas nã o batam contra um tecto, nem temais respirar para que as paredes
nã o se quebrem e caiam.
Nã o habitará s em tú mulos feitos pelos mortos para os vivos.
E embora de magnificência e esplendor, a vossa casa nã o guardará o vosso segredo nem
abrigará o vosso anseio.
Pois aquilo que é ilimitado em vó s habita na mansã o do céu, cuja porta é a névoa da
manhã , e cujas janelas sã o os câ nticos e os silêncios da noite.
E o tecelã o disse: Fale-nos de Roupas.
E ele respondeu:
Suas roupas escondem muito de sua beleza, mas nã o escondem o desagradá vel.
E embora você busque nas vestes a liberdade de privacidade, você pode encontrar nelas
um arnês e uma corrente.
Gostaria que você pudesse encontrar o sol e o vento com mais de sua pele e menos de
suas vestes,
Pois o sopro da vida está na luz do sol e a mã o da vida está no vento.
Alguns de vocês dizem: "É o vento norte que teceu as roupas que vestimos".
E eu digo, Ay, era o vento norte,
Mas a vergonha era o seu tear, e o amolecimento dos tendõ es era o seu fio.
E quando seu trabalho terminou, ele riu na floresta. Nã o vos esqueçais de que a modéstia
é para um escudo contra os olhos dos impuros.
E quando o impuro nã o existir mais, o que era modéstia senã o um grilhã o e uma sujeira
da mente?
E nã o se esqueça que a terra se deleita em sentir seus pés descalços e os ventos anseiam
para brincar com seus cabelos.
E um comerciante disse: Fale-nos de Compra e Venda.
E ele respondeu e disse:
A vó s a terra produz o seu fruto, e nã o quereis se souberdes encher as vossas mã os.
É na troca dos dons da terra que encontrareis abundâ ncia e ficareis satisfeitos.
No entanto, a menos que a troca seja em amor e justiça bondosa, ela apenas levará alguns
à ganâ ncia e outros à fome.
Quando no mercado vocês trabalhadores do mar, campos e vinhedos encontram os
tecelõ es e os oleiros e os coletores de especiarias,—
Invoque, entã o, o espírito mestre da terra, para entrar em seu meio e santificar a balança
e o acerto de contas que pesa valor contra valor. E nã o sofram os de mã os estéreis para
participar de suas transaçõ es, que venderiam suas palavras por seu trabalho.
A tais homens você deve dizer:
"Vem connosco para o campo, ou vai com os nossos irmã os ao mar e lança a tua rede;
Porque a terra e o mar vos serã o abundantes como para nó s."
Muitas vezes eu os ouvi falar de alguém que comete um erro como se ele nã o fosse um de
vocês, mas um estranho para vocês e um intruso em seu mundo.
Mas eu digo que, assim como os santos e os justos nã o podem elevar-se além do mais
elevado que está em cada um de vocês,
Assim, os ímpios e os fracos nã o podem cair mais baixo do que o mais baixo que está em
você também.
E como uma ú nica folha nã o se torna amarela, mas com o conhecimento silencioso de
toda a á rvore, assim o malfeitor nã o pode fazer o mal sem a vontade oculta de todos vocês.
Como uma procissã o, vocês caminham juntos em direçã o ao seu eu divino.
Vocês sã o o caminho e os viajantes.
E quando um de vocês cai, ele se apaixona por aqueles que estã o atrá s dele, uma
advertência contra a pedra que tropeça.
Ay, e ele se apaixona pelos que estã o à sua frente, que, embora mais rá pidos e seguros de
pé, ainda nã o removeram a pedra de tropeço.
E isto também, embora a palavra esteja pesada sobre os vossos coraçõ es:
O assassinado nã o é inexplicá vel por seu pró prio assassinato,
E o roubado nã o é inocente em ser roubado.
O justo nã o é inocente das obras dos ímpios,
E o de mã os brancas nã o é limpo nas açõ es do criminoso.
sim, o culpado é muitas vezes a vítima do ferido,
E ainda mais frequentemente o condenado é o portador do fardo para os inocentes e sem
culpa.
Nã o podeis separar o justo do injusto e o bom dos maus;
Pois eles estã o juntos diante da face do sol, assim como o fio preto e o branco estã o
entrelaçados.
E quando o fio preto se romper, o tecelã o olhará para todo o pano, e examinará também
o tear.
O que devo dizer deles, a nã o ser que eles também estã o à luz do sol, mas de costas para
o sol?
Eles vêem apenas suas sombras, e suas sombras sã o suas leis.
E o que é o sol para eles senã o um rodízio de sombras?
E o que é reconhecer as leis, senã o inclinar-se e traçar suas sombras sobre a terra?
Mas você que anda de frente para o sol, que imagens desenhadas na terra podem segurá -
lo?
Você que viaja com o vento, que cata-vento deve direcionar seu curso?
Que lei do homem vos ligará se quebrardes o vosso jugo, senã o sobre a porta da prisã o
de ninguém?
Que leis temerá s se dançares, mas tropeçares contra as correntes de ferro de ninguém?
E quem é aquele que vos levará a julgamento se arrancardes a vossa veste, mas nã o a
deixardes no caminho de ninguém?
Povo de Orfalese, você pode abafar o tambor, e você pode afrouxar as cordas da lira, mas
quem ordenará que a cotovia-celeste nã o cante?
E um orador disse: Fale-nos da Liberdade.
E ele respondeu:
À porta da cidade e junto à vossa lareira, vi-vos prostrar-vos e adorar a vossa pró pria
liberdade,
Assim como os escravos se humilham diante de um tirano e o louvam, embora ele os
mate.
Ay, no bosque do templo e à sombra da cidadela, vi os mais livres entre vocês usarem sua
liberdade como jugo e algema.
E meu coraçã o sangrou dentro de mim; porque só podeis ser livres quando até o desejo
de procurar a liberdade se torna um arnês para vó s, e quando deixais de falar da liberdade
como meta e realizaçã o.
De fato, sereis livres quando os vossos dias nã o forem sem um cuidado, nem as vossas
noites sem uma necessidade e uma tristeza,
Mas, ao contrá rio, quando essas coisas cingem sua vida e, no entanto, você se eleva acima
delas nu e desprendido.
E como você se levantará além de seus dias e noites, a menos que quebre as correntes
que você, no alvorecer de seu entendimento, prendeu por volta da hora do meio-dia?
Na verdade, aquilo que vocês chamam de liberdade é a mais forte dessas correntes,
embora seus elos brilhem ao sol e deslumbrem seus olhos.
E o que é isso senã o fragmentos do seu pró prio eu que você descartaria para que você
possa se tornar livre?
Se é uma lei injusta que você aboliria, essa lei foi escrita com sua pró pria mã o sobre sua
pró pria testa.
Você nã o pode apagá -lo queimando seus livros de leis nem lavando as testas de seus
juízes, embora você derrame o mar sobre eles.
E se é um déspota que você destronaria, veja primeiro que o trono dele erguido dentro
de você é destruído.
Pois como pode um tirano governar os livres e os orgulhosos, senã o por uma tirania em
sua pró pria liberdade e uma vergonha em seu pró prio orgulho?
E se é um cuidado que você rejeitaria, esse carrinho foi escolhido por você em vez de
imposto a você.
E se é um medo que você dissiparia, a sede desse medo está em seu coraçã o e nã o na mã o
dos temidos.
Em verdade, todas as coisas se movem dentro do seu ser em constante meio abraço, o
desejado e o temido, o repugnante e o acarinhado, o perseguido e aquilo de que escaparia.
Essas coisas se movem dentro de você como luzes e sombras em pares que se agarram.
E quando a sombra desaparece e nã o existe mais, a luz que permanece se torna uma
sombra para outra luz.
E assim a vossa liberdade, quando perde os seus grilhõ es, torna-se ela pró pria o grilhã o
de uma liberdade maior.
E a sacerdotisa falou novamente e disse: Fale-nos de Razão e Paixão.
E ele respondeu, dizendo:
Sua alma é muitas vezes um campo de batalha, no qual sua razã o e seu julgamento
travam guerra contra sua paixã o e seu apetite.
Gostaria que eu pudesse ser o pacificador em sua alma, que eu pudesse transformar a
discó rdia e a rivalidade de seus elementos em unidade e melodia.
Mas como serei, a menos que vó s mesmos sejais também os pacificadores, ou melhor, os
amantes de todos os vossos elementos?
Sua razã o e sua paixã o sã o o leme e as velas de sua alma marítima.
Se suas velas ou seu leme forem quebrados, você pode apenas jogar e derivar, ou entã o
ser mantido em uma parada no meio do mar. Pela razã o, governar sozinho é uma força que
confina; e a paixã o, desacompanhada, é uma chama que arde até sua pró pria destruiçã o.
Portanto, que a tua alma exalte a tua razã o ao á pice da paixã o, para que ela cante;
E que ela dirija sua paixã o com razã o, para que sua paixã o possa viver através de sua
pró pria ressurreiçã o diá ria, e como a fênix se eleve acima de suas pró prias cinzas.
Eu gostaria que você considerasse seu julgamento e seu apetite, assim como você faria
com que dois convidados amados em sua casa.
Certamente você nã o honraria um convidado acima do outro; porque aquele que está
mais atento a um perde o amor e a fé de ambos.
Entre as colinas, quando você se sentar à sombra fria dos choupos brancos,
compartilhando a paz e a serenidade de campos e prados distantes – entã o deixe seu
coraçã o dizer em silêncio: "Deus descansa na razã o".
E quando a tempestade vier, e o vento poderoso sacudir a floresta, e trovõ es e
relâ mpagos proclamarem a majestade do céu, entã o deixe seu coraçã o dizer com
admiraçã o: "Deus se move em paixã o".
E uma vez que você é um sopro na esfera de Deus, e uma folha na floresta de Deus, você
também deve descansar na razã o e mover-se na paixã o.
E uma mulher falou, dizendo: Conte-nos de Dor.
E ele disse:
Sua dor é a quebra da casca que envolve sua compreensã o.
Assim como a pedra do fruto deve quebrar, para que seu coraçã o fique ao sol, assim você
deve conhecer a dor.
E se você mantivesse seu coraçã o maravilhado com os milagres diá rios de sua vida, sua
dor nã o pareceria menos maravilhosa do que sua alegria;
E você aceitaria as estaçõ es do seu coraçã o, assim como você sempre aceitou as estaçõ es
que passam sobre os seus campos.
E você observaria com serenidade através dos invernos de sua dor.
Grande parte da sua dor é auto-escolhida.
É a poçã o amarga pela qual o médico dentro de você cura o seu eu doente.
Portanto, confie no médico e beba seu remédio em silêncio e tranquilidade: pois sua mã o,
embora pesada e dura, é guiada pela mã o terna do Invisível, E o cá lice que ele traz, embora
queime seus lá bios, foi formado do barro que o Oleiro umedeceu com Suas pró prias
lá grimas sagradas.
E um homem disse: Fale-nos de Autoconhecimento.
E ele respondeu, dizendo:
Vossos coraçõ es conhecem em silêncio os segredos dos dias e das noites.
Mas seus ouvidos têm sede do som do conhecimento do seu coraçã o.
Você saberia em palavras o que você sempre conheceu em pensamento.
Você tocaria com os dedos o corpo nu de seus sonhos.
E está bem que você deveria.
A fonte oculta de sua alma precisa se levantar e correr murmurando para o mar;
E o tesouro de suas profundezas infinitas seria revelado aos seus olhos.
Mas que nã o haja balanças para pesar o vosso tesouro desconhecido;
E nã o busque as profundezas do seu conhecimento com a equipe ou a linha de som.
Pois o eu é um mar sem limites e sem medida.
Nã o diga: "Eu encontrei a verdade", mas sim, "Eu encontrei uma verdade".
Nã o diga: "Eu encontrei o caminho da alma". Diga, em vez disso: "Encontrei a alma
andando no meu caminho".
Pois a alma caminha por todos os caminhos.
A alma nã o anda sobre uma linha, nem cresce como um junco.
A alma se desdobra, como um ló tus de incontá veis pétalas.
Entã o disse um professor: Fale-nos de Ensinar.
E ele disse:
"Nenhum homem pode revelar-vos senã o o que já está meio adormecido no alvorecer do
vosso conhecimento.
O mestre que caminha à sombra do templo, entre os seus seguidores, nã o dá da sua
sabedoria, mas da sua fé e do seu amor.
Se ele é realmente sá bio, ele nã o lhe pede que entre na casa de sua sabedoria, mas sim o
leva ao limiar de sua pró pria mente.
O astrô nomo pode falar com você de sua compreensã o do espaço, mas ele nã o pode lhe
dar sua compreensã o.
O mú sico pode cantar-lhe o ritmo que está em todo o espaço, mas ele nã o pode dar-lhe o
ouvido que prende o ritmo nem a voz que o ecoa. E aquele que é versado na ciência dos
nú meros pode falar das regiõ es de peso e medida, mas ele nã o pode conduzi-lo até lá .
Pois a visã o de um homem nã o empresta suas asas a outro homem.
E assim como cada um de vocês está sozinho no conhecimento de Deus, assim cada um
de vocês deve estar sozinho em seu conhecimento de Deus e em sua compreensã o da terra.
E um jovem disse: Fale-nos de Amizade.
E ele respondeu, dizendo:
Seu amigo é suas necessidades atendidas.
Ele é o vosso campo que semeis com amor e colhereis com acçã o de graças.
E ele é a sua tá bua e a sua lareira.
Porque viestes a Ele com a vossa fome e buscais-O para a paz.
Quando seu amigo fala o que pensa, você nã o teme o "nã o" em sua pró pria mente, nem
retém o "ay".
E quando Ele se cala, o vosso coraçã o deixa de nã o escutar o seu coraçã o;
Pois sem palavras, na amizade, todos os pensamentos, todos os desejos, todas as
expectativas nascem e sã o compartilhadas, com alegria que nã o é aclamada.
Quando você se separa de seu amigo, você nã o se entristece;
Pois o que você mais ama nele pode ser mais claro em sua ausência, como a montanha
para o alpinista é mais clara da planície. E que nã o haja propó sito na amizade, exceto o
aprofundamento do espírito.
Pois o amor que busca apenas a revelaçã o de seu pró prio mistério nã o é amor, mas uma
rede lançada: e somente o inú til é capturado.
Quando você encontrar seu amigo na beira da estrada ou no mercado, deixe o espírito
em você mover os lá bios e direcionar sua língua.
Deixe a voz dentro da sua voz falar ao ouvido do ouvido dele;
Pois sua alma guardará a verdade do seu coraçã o enquanto o sabor do vinho é lembrado
Quando a cor é esquecida e o vaso nã o existe mais.
E um astrô nomo disse: Mestre, e o Tempo?
E ele respondeu:
Você mediria o tempo o sem medida e o imensurá vel.
Você ajustaria sua conduta e até mesmo direcionaria o curso de seu espírito de acordo
com horas e estaçõ es.
De tempos em tempos, você faria um riacho em cuja margem você se sentaria e
observaria seu fluxo.
No entanto, o atemporal em você está ciente da atemporalidade da vida,
E sabe que ontem é apenas a memó ria de hoje e amanhã é o sonho de hoje.
E aquilo que canta e contempla em você ainda está habitando dentro dos limites daquele
primeiro momento que espalhou as estrelas para o espaço. Quem de vó s nã o sente que o
seu poder de amar é ilimitado?
E, no entanto, quem nã o sente esse mesmo amor, embora ilimitado, englobado no centro
de seu ser, e nã o se movendo do pensamento de amor para o pensamento de amor, nem de
atos de amor para outros atos de amor?
E o tempo, mesmo como o amor, nã o é indivisível e sem ritmo?
Mas se em seu pensamento você deve medir o tempo em estaçõ es, deixe que cada
estaçã o envolva todas as outras estaçõ es,
E que hoje abrace o passado com lembrança e o futuro com saudade.
E um dos anciã os da cidade disse: Fale-nos do Bem e do Mal.
E ele respondeu:
Do bem em vó s posso falar, mas nã o do mal.
Pois o que é o mal senã o o bem torturado por sua pró pria fome e sede?
Na verdade, quando o bem está com fome, procura alimento mesmo em cavernas
escuras, e quando tem sede bebe até mesmo de á guas mortas.
Você é bom quando é um consigo mesmo.
No entanto, quando você nã o é um consigo mesmo, você nã o é mau.
Pois uma casa dividida nã o é um covil de ladrõ es; é apenas uma casa dividida.
E um navio sem leme pode vagar sem rumo entre ilhas perigosas, mas nã o afundar no
fundo. Você é bom quando se esforça para dar de si mesmo.
No entanto, você nã o é mau quando busca ganho para si mesmo.
Pois quando você se esforça para o ganho, você é apenas uma raiz que se agarra à terra e
suga seu peito.
Certamente o fruto nã o pode dizer à raiz: "Sede como eu, maduros e cheios e sempre
dando da vossa abundâ ncia".
Pois para o fruto dar é uma necessidade, como receber é uma necessidade para a raiz.
Você é bom de inú meras maneiras, e você nã o é mau quando você nã o é bom,
Você está apenas vagando e preguiçoso.
Pena que os veados nã o possam ensinar rapidez à s tartarugas.
No seu anseio pelo seu eu gigante reside a sua bondade: e esse anseio está em todos
vocês.
Mas em alguns de vocês essa saudade é uma torrente correndo com força para o mar,
carregando os segredos das encostas e os cantos da floresta.
E em outros é um riacho plano que se perde em â ngulos e se curva e permanece antes de
chegar à costa.
Mas nã o diga à quele que anseia muito à quele que anseia pouco: "Por que está s lento e
parado?"
Pois os verdadeiramente bons nã o perguntem aos nus: "Onde está a sua veste?" nem aos
sem-teto: "O que aconteceu com a sua casa?"
Entã o uma sacerdotisa disse: Fale-nos de oração.
E ele respondeu, dizendo:
Rezai na vossa angú stia e na vossa necessidade; oxalá possais rezar também na plenitude
da vossa alegria e nos vossos dias de abundâ ncia.
Pois o que é a oraçã o senã o a expansã o de si mesmo para o éter vivo?
E se é para o seu conforto derramar a sua escuridã o no espaço, é também para o seu
deleite derramar o alvorecer do seu coraçã o.
E se você nã o pode deixar de chorar quando sua alma o convoca para a oraçã o, ela deve
estimulá -lo de novo e de novo, embora chorando, até que você venha rindo.
Quando você ora, você se levanta para encontrar no ar aqueles que estã o orando naquela
mesma hora, e que, salvo em oraçã o, você pode nã o encontrar.
Portanto, que a sua visita à quele templo invisível seja em vã o, a nã o ser êxtase e doce
comunhã o.
Pois se entrardes no templo para nenhum outro propó sito que nã o seja pedir, nã o
recebereis:
E se entrardes nela para vos humilhardes, nã o sereis elevados:
Ou mesmo se você entrar nela para implorar pelo bem dos outros, você nã o será ouvido.
Basta que você entre no templo invisível.
E agora você pergunta em seu coraçã o: "Como distinguiremos o que é bom em prazer do
que nã o é bom?"
Ide aos vossos campos e aos vossos jardins, e aprendereis que é o prazer da abelha
colher o mel da flor,
Mas também é o prazer da flor entregar seu mel à abelha.
Pois para a abelha uma flor é uma fonte de vida,
E para a flor uma abelha é mensageira do amor,
E para ambos, abelha e flor, o dar e o receber do prazer é uma necessidade e um êxtase.
Povo de Orfales, esteja em seus prazeres como as flores e as abelhas.
E um poeta disse: Fale-nos da Beleza.
E ele respondeu:
Onde buscareis a beleza, e como a encontrareis a menos que ela mesma seja o vosso
caminho e o vosso guia?
E como falareis dela, a nã o ser que ela seja a tecelã da vossa fala?
Os ofendidos e os feridos dizem: "A beleza é gentil e gentil.
Como uma jovem mã e meio tímida de sua pró pria gló ria, ela caminha entre nó s".
E os apaixonados dizem: "Nã o, a beleza é uma coisa de força e pavor.
Como a tempestade, ela sacode a terra abaixo de nó s e o céu acima de nó s."
Os cansados e os cansados dizem: "A beleza é de sussurros suaves. Ela fala em nosso
espírito. Sua voz cede aos nossos silêncios como uma luz fraca que treme de medo da
sombra."
Mas os inquietos dizem: "Ouvimo-la gritar entre as montanhas,
E com seus gritos veio o som dos cascos, e o bater das asas e o rugido dos leõ es."
À noite, os vigias da cidade dizem: "A beleza se levantará com o amanhecer do leste".
E ao meio-dia os trabalhadores e os viajantes dizem: "Nó s a vimos debruçada sobre a
terra das janelas do pô r do sol".
No inverno, dizem os cobertos de neve: "Ela virá com a primavera saltando sobre as
colinas".
E no calor do verã o, os ceifeiros dizem: "Nó s a vimos dançando com as folhas de outono,
e vimos uma deriva de neve em seus cabelos". Todas essas coisas você disse de beleza,
No entanto, na verdade, você nã o falou dela, mas de necessidades insatisfeitas,
E a beleza nã o é uma necessidade, mas um êxtase.
Nã o é uma boca sedenta nem uma mã o vazia estendida,
Mas sim um coraçã o inflamado e uma alma encantada.
Nã o é a imagem que você veria nem a mú sica que você ouviria,
Mas sim uma imagem que você vê, embora você feche os olhos e uma mú sica que você
ouve, embora você feche os ouvidos.
Nã o é a seiva dentro da casca franzida, nem uma asa presa a uma garra,
Mas sim um jardim para sempre em flor e um rebanho de anjos para sempre em voo.
Povo de Orfalese, a beleza é a vida quando a vida revela seu rosto santo.
Mas você é a vida e você é o véu. A beleza é a eternidade olhando para si mesma em um
espelho.
Mas você é a eternidade e você é o espelho.
E um velho sacerdote disse: Fale-nos da Religião.
E ele disse:
Já falei neste dia de outra coisa?
Nã o é religiã o todas as açõ es e toda reflexã o,
E aquilo que nã o é nem açã o nem reflexã o, mas uma maravilha e uma surpresa sempre
brotando na alma, mesmo enquanto as mã os cortam a pedra ou cuidam do tear?
Quem pode separar sua fé de suas açõ es, ou sua crença de suas ocupaçõ es?
Que pode espalhar suas horas diante dele, dizendo: "Isto para Deus e isto para mim; Isto
para a minha alma, e este outro para o meu corpo?"
Todas as suas horas sã o asas que batem através do espaço de si para o eu. Aquele que
usa sua moralidade, mas como sua melhor vestimenta, era melhor nu.
O vento e o sol nã o rasgarã o buracos em sua pele.
E aquele que define sua conduta pela ética aprisiona seu pá ssaro canoro em uma gaiola.
A mú sica mais livre nã o vem através de barras e fios.
E aquele a quem adorar é uma janela, para abrir, mas também para fechar, ainda nã o
visitou a casa de sua alma, cujas janelas sã o de amanhecer a amanhecer.
Entã o ele desceu os degraus do Templo e todas as pessoas o seguiram. E ele alcançou seu
navio e ficou no convés.
E de frente para o povo novamente, ele levantou a voz e disse:
Povo de Orfalese, o vento me pede para deixá -lo.
Menos apressado sou eu do que o vento, mas devo ir.
Nó s, errantes, sempre buscando o caminho mais solitá rio, nã o começamos nenhum dia
onde terminamos outro dia; e nenhum nascer do sol nos encontra onde o pô r do sol nos
deixou. Mesmo enquanto a terra dorme, viajamos.
Nó s somos as sementes da planta tenaz, e é em nossa maturidade e nossa plenitude de
coraçã o que somos dados ao vento e dispersos.
Breves foram os meus dias entre vó s, e mais breves ainda as palavras que proferi.
Mas se a minha voz se desvanecer em seus ouvidos, e meu amor desaparecer em sua
memó ria, entã o eu voltarei,
E com um coraçã o mais rico e lá bios mais rendidos ao espírito falarei.
sim, voltarei com a maré,
E embora a morte possa me esconder, e o silêncio maior me envolva, mais uma vez
buscarei o seu entendimento.
E nã o em vã o eu buscarei.
Se o que eu disse é a verdade, essa verdade se revelará em uma voz mais clara e, em
palavras, mais parente de seus pensamentos.
Vou com o vento, povo de Orfalés, mas nã o para o vazio; E se este dia nã o é uma
satisfaçã o de suas necessidades e do meu amor, entã o que seja uma promessa até outro dia.
As necessidades do homem mudam, mas nã o o seu amor, nem o seu desejo de que o seu
amor satisfaça as suas necessidades.
Sabei, pois, que do silêncio maior voltarei.
A névoa que se afasta ao amanhecer, deixando apenas orvalho nos campos, se levantará e
se reunirá em uma nuvem e depois cairá na chuva.
E nã o muito diferente da névoa que eu fui.
Na quietude da noite, andei nas vossas ruas, e o meu espírito entrou nas vossas casas,
E seus batimentos cardíacos estavam em meu coraçã o, e sua respiraçã o estava em meu
rosto, e eu conhecia todos vocês.
Ay, eu conhecia sua alegria e sua dor, e em seu sono seus sonhos eram meus sonhos.
E muitas vezes eu estava entre vocês um lago entre as montanhas.
Eu espelhei os cumes em você e as encostas curvas, e até mesmo os rebanhos que
passam de seus pensamentos e seus desejos.
E ao meu silêncio veio o riso de seus filhos em có rregos e o anseio de seus jovens em rios.
E quando chegaram à s minhas profundezas, os riachos e os rios ainda nã o pararam de
cantar.
Mas mais doce ainda do que o riso e maior do que a saudade veio a mim.
Era o ilimitado em você;
O vasto homem em quem sois todos, menos células e tendõ es;
Aquele em cujo canto todo o seu canto é apenas um palpitar sem som.
É no homem vasto que você é vasto,
E ao contemplá -lo que eu te vi e te amei.
Pois que distâ ncias o amor pode alcançar que nã o estã o nessa vasta esfera?
Que visõ es, que expectativas e que presunçõ es podem superar esse voo?
Como um carvalho gigante coberto de flores de maçã é o vasto homem em você. Seu
poder o liga à terra, sua fragrâ ncia o eleva ao espaço e, em sua durabilidade, você é imortal.
Foi-lhe dito que, mesmo como uma corrente, você é tã o fraco quanto o seu elo mais fraco.
Isso é apenas metade da verdade. Você também é tã o forte quanto o seu elo mais forte.
Medi-lo pelo seu menor ato é considerar o poder do oceano pela fragilidade de sua
espuma.
Julgá -lo por seus fracassos é culpar as estaçõ es por sua inconstâ ncia.
Ay, você é como um oceano,
E embora navios pesados aguardam a maré em suas costas, no entanto, mesmo como um
oceano, vocês nã o podem apressar suas marés.
E como as estaçõ es do ano você também é,
E embora no seu inverno você negue a sua primavera,
No entanto, a primavera, repousando dentro de você, sorri em sua sonolência e nã o se
ofende. Nã o pense que eu digo essas coisas para que você possa dizer uma para a outra:
"Ele nos louvou bem. Ele viu apenas o bem em nó s."
Eu só lhes falo em palavras daquilo que vocês mesmos conhecem em pensamento.
E o que é o conhecimento da palavra senã o uma sombra de conhecimento sem palavras?
Seus pensamentos e minhas palavras sã o ondas de uma memó ria selada que mantém
registros de nossos dias de ontem,
E dos dias antigos, quando a terra nã o nos conhecia nem a si mesma,
E de noites em que a terra estava cheia de confusã o.
Homens sá bios vieram a vó s para vos dar a sua sabedoria. Vim tomar da tua sabedoria:
E eis que encontrei o que é maior do que a sabedoria.
É um espírito de chama em você sempre reunindo mais de si mesmo,
Enquanto vó s, indiferentes à sua expansã o, lamentais o definhamento dos vossos dias. É
a vida em busca da vida nos corpos que temem a sepultura.
Nã o há sepulturas aqui.
Estas montanhas e planícies sã o um berço e um trampolim.
Sempre que passardes pelo campo onde pusestes os vossos antepassados, olhai bem
para o mesmo, e vereis a vó s mesmos e aos vossos filhos a dançar de mã os dadas.
Na verdade, muitas vezes você se alegra sem saber.
Outros vieram a vó s, a quem, por promessas de ouro feitas à vossa fé, apenas riquezas,
poder e gló ria.
Menos do que uma promessa eu dei, e ainda mais generoso você tem sido para mim.
Você me deu minha sede mais profunda de vida.
Certamente nã o há maior dom para um homem do que aquele que transforma todos os
seus objetivos em lá bios ressequidos e toda a vida em uma fonte.
E nisto reside a minha honra e a minha recompensa:
Que sempre que venho à fonte para beber, encontro a pró pria á gua viva com sede;
E ele me bebe enquanto eu bebo.
Assim dizendo, ele fez um sinal aos marinheiros, e logo eles pesaram a â ncora e soltaram
o navio de suas amarras, e eles se moveram para o leste.
E um grito veio do povo como de um ú nico coraçã o, e subiu ao crepú sculo e foi realizado
sobre o mar como uma grande trombeta.
Apenas Almitra ficou em silêncio, olhando para o navio até que ele tivesse desaparecido
na névoa.
E quando todo o povo estava disperso, ela ainda estava sozinha sobre o paredã o,
lembrando-se em seu coraçã o de sua palavra:
"Um pouco de tempo, um momento de descanso sobre o vento, e outra mulher me
suportará ."