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A INFLUENCIA DO SISTEMA DE GESTAO AMBIENTAL NA IMAGEM ORGANIZACIONAL PERANTE OS STAKEHOLDERS: UMA INDUSTRIA TEXTIL DE MINAS GERAIS Christiane de Miranda e Silva Correia Juliano Francoe Silva Amaral Resumo Uma caracteristica da sociedade contempordnea é a crescente inquietagao com a qualidade do ambiente natural. Grupos de pressdo, cientistas, consumidores, politicos e empresas estao mais conscientes do meio ambiente e cada vez mais influ- entes. Na decada de 1990, temas e conceitos importantes foram estudados: a teorta dos stakeholders, @ ética nos negocios, a gestdo ambiental, a cidadania empresarial, 0 desenvolvimento sustentavel e a governan¢a corporativa. Para Freeman apud Kret- tion (2003), os stakeholders podem ser definidos como qualquer grupo ou individuo capaz de afetar ou ser afetado pela organizagao. Em sentido estrito, sao aqueles grupos vitais para o negocio da empresa. Segundo Moreira (2001), a organizacao que tem gestao ambiental é aquela que possui um departamento de meio ambiente responsével por atender as exigéncias dos 6rgaos ambientais e indicar equipamentos e dispositivos de controle ambiental apropriados é realidade do negocio e aos impactos ambientais. Por outro lado, o sistema de gestdo ambiental adquire uma visdo estratégica do meio ambiente. A organizagao deixa de agir apenas em funcao dos riscos e passa a perceber também as oportunidades de acordo com orientacoes de insercao da variével ambien- tal na gestao do negocio. Este artigo tem como objetivo descrever a influéncia da im- plantacao do sistema de gestao ambiental na imagem de uma industria téxtil de ‘Minas Gerais frente aos stakeholders. A metodologia utilizada foi a revisao bibliogréfi- ca sobre sistema de gestao ambiental, a andlise de documentos da Empresa Alfa e entrevistas nao estruturadas com os responsaveis pela implantagao da ISO 14001 e pela érea de relacao com investidores. Palavras-chave: Sistema de gestao ambiental, Stakeholders; Responsabili. dade social. WENO Ee Belo Horizonte, v. 7, n. 2, p. 39-50, jul-dez. 2006 A influéncia do sistema de gestao ambiental na imagem organizacional perante os stakeholders... Introdugao Uma caracteristica da soci- edade contemporanea é a crescente inquietagao com a qualidade do am- biente natural. Grupos de pressao, cientistas, consumidores, politicos e empresas estao mais conscientes do meio ambiente e cada vez mais in- fluentes. Avaliagées por grupos for- mais, foros globais sobre questées ambientais e a midia representam um desafio significativo a formas tradicionais de pensar as atividades sociais e industriais. Ante as cres- centes evidéncias cientificas de detec- cao e medicdo de contaminantes ambientais, aumentou a pressdo pt- blica para que o governo e as empre- sas enfrentem os problemas ecoldgi- cos. Com isso, as organizagdes tém buscado diferenciar seus produtos através de um comportamento am- biental responsavel. Donaire (1999) enumera os motivos que encorajam as empresas a protecao ambiental: sentido de res- ponsabilidade ecoldgica, requisitos legais, salvaguarda da empresa, ima- gem, protegao do pessoal, pressao do mercado, qualidade de vida e lucro. Aglobalizagao, a internacionalizagao dos padroes de qualidade ambiental através da série ISO 14000, a consci- entizagao dos consumidores e a dis- seminagao da educagao ambiental permitem antecipar a intensificagao da exigéncia da preservagao do meio TEXTO 40 ambiente e da qualidade de vida. Este artigo tem como objeti- vo descrever a influéncia da implan- tacdo do sistema de gestao ambien- tal na imagem de uma industria téx- til de Minas Gerais frente aos stakeholders. Adota-se 0 nome ficti- cio de empresa Alfa. A metodologia utilizada foi a revisao bibliografica sobre sistema de gestao ambiental, a andlise de documentos da empresa Alfa e entrevistas nao estruturadas com os responsaveis pela implanta- ao da ISO 14001 e pela area de rela- cao com investidores. Os stakeholders e a organizagao Na década de 1980, as rela- goes entre as organizagées e a socie- dade se modificaram. As necessida- des de eficiéncia, ganhos de escalaem nivel global e modelos complexos de logistica provocaram fusées, aquisi- goes e aliangas estratégicas entre empresas. O foco das atengées pas- sou a ser o desempenho social em- presarial, a ética nos negdécios e o gerenciamento dos stakeholders. A mais importante contribuigaéo dessa década sobre responsabilidade social é a de Freeman apud Kreitlon (2003), precursor da teoria dos stakeholders. Para ele, os stakeholders podem ser definidos como qualquer grupo ou individuo capaz de afetar ou ser afe- ‘Belo Horizonte, v.72, p. 39-50, ju-dez. 2006 Christiane de Miranda e Silva Correia e Juliano Franco e Silva Amaral tado pela organizagao; num sentido estrito, podem ser entendidos como aqueles grupos vitais para 0 negécio da empresa. Da década de 1990 até os dias atuais, poucas contribuigdes inova- doras foram apresentadas. Temas e conceitos correlacionados foram es- tudados: a teoria dos stakeholders, a ética nos negocios, a gestao ambien- tal, acidadania empresarial, 0 desen- volvimento sustentavel e a governan- ca corporativa. Diante de tantas mudangas ocorridas nas empresas nos ultimos anos, uma tendéncia é a administra- cao para os stakeholders. Os modelos de gestao empresarial deixam de fo- car a gestao dos recursos internos e passam a se preocupar com todos os stakeholders, requerendo uma admi- nistragao participativa e dinamica. Os estudos sobre stakeholders adotam varios enfoques. As diferengas variam quanto ao grau de importan- cia dos stakeholders para as organiza- ges. O papel e a importancia dos stakeholders sao baseados nos princi- pios morais e éticos dos negocios. Os stakeholders devem julgar e perceber 0 valor da companhia, e ainda interferir e influenciar decisoes que afetam a sobrevivéncia, direta ou indiretamente. O éxito dessa adminis- tragao dependera da acao estratégica, da capacitagao gerencial e das prati- cas de gestao do conhecimento. A gestao do conhecimento mostra mais uma vez a sua impor- tancia. Segundo Figueiredo (2003), a administragao é para os stakeholders assim como a gestao do conhecimen- to. Os stakeholders sao as pessoas in- teressadas e responsaveis pelo suces- so da empresa. Incluem funcionarios, acionistas, clientes, sociedade, forne- cedores, parceiros de negécio, consu- midores finais, etc. A gestao do co- nhecimento depende das parcerias e contratacées externas para obtengao do conhecimento necessario ao suces- so de uma estratégia, que requer uma gestao mais focada nos stakeholders. Para Clarkson apud Campos (2002), os stakeholders estao relacio- nados com 0 risco envolvido. Sao vo- luntarios quando incorrem em algum risco por terem investido alguma for- ma de capital ou valor na firma. Sao involuntarios quando 0 risco resulta da agao das firmas. A responsabilidade social exi- gira das empresas uma gestao volta- da para os stakeholders. Cada vez mais, voluntariamente ou por pres- sao de clientes ou consumidores, as empresas se véem diante dos desafi- os da responsabilidade social. Trans- formar a empresa em uma organi- zagao socialmente responsavel impli- cara reconstruir sua atuagao e rever sua relacéo com a sociedade, meio ambiente, funcionarios, comunidade, cultura e muito mais. Ha varias ma- neiras de materializar e expressar a TEXTO Belo Horizonte, v 7,n.2, p. 39-50, jubdex. 2006 A influéncia do sistema de gestao ambiental na imagem organizacional perante os stakeholders... responsabilidade social. Contudo, pro- duzir e aplicar conhecimentos 6 a grande tarefa. E necessario desenvol- ver empatia com os stakeholders, procurando superar as expectativas dos acionistas, clientes, fornecedores, parceiros de negécios, sociedade e entidades de proteg¢ao e vigilancia do meio ambiente. Para a Comissao Européia (2001), responsabilidade social é 0 conceito segundo o qual as empresas integram, de forma voluntaria, pre- ocupagées sociais e ambientais as suas atividades e relagdes com os stakeholders. Segundo Kreitlon (2003), a responsabilidade social pode ser con- ceituada como o processo através do qual uma empresa promove, por meio do didlogo e da participagao, a inclu- sao de diversos grupos de interesses legitimos que se encontram sob sua esfera de influéncia, tendo por obje- tivo a formulagao de estratégias e politicas organizacionais coerentes com esses interesses. Segundo o Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social (2000), as relagGes e praticas corpo- rativas com os diversos publicos de- vem englobar os seguintes aspectos: valores e transparéncia, publico in- terno, meio ambiente, fornecedores, consumidores ou clientes, comunida- de, governo e sociedade. Valores e transparéncia sao indicados como dever da agao empresarial no sentido de trazer beneficios para a socieda- de, propiciar a realizagao profissio- nal dos empregados, promover bene- ficios para os parceiros e para o meio ambiente e trazer retorno para os investidores. Publico interno porque a empresa socialmente responsavel deve investir no desenvolvimento pes- soal e profissional de seus emprega- dos, na melhoria das condigées de trabalho, no estreitamento de suas relagdes com os trabalhadores e no respeito as culturas locais. Meio am- biente visa a minimizar os danos cau- sados pelas empresas pela melhoria das condigées ambientais e o compro- misso de levar a outras empresas as praticas e conhecimentos adquiridos nas tentativas bem-sucedidas. Forne- cedores dizem respeito ao cumpri- mento dos contratos e ao aprimora- mento das relagoes de parceria. E importante que a empresa transmita seu codigo de conduta a todos os seus fornecedores e estimule o seu cum- primento. Deve ainda buscar ampli- ar sua cadeia de fornecedores, incen- tivando a livre concorréncia. Consu- midores ou clientes tratam do conhe- cimento e minimizagao dos riscos dos produtos e servicos a satide das pes- soas, além de publicidade que nao gere falsas expectativas e de informagoes detalhadas nas embalagens. Deve haver ainda um bom servigo de aten- dimento ao cliente antes, durante e ap6s 0 consumo. A comunidade em TEXTO a Belo Horizonte, v.7,n. 2, p.39-50, juldez. 2006 Christiane de Miranda e Silva Correia e Juliano Franco e Silva Amaral que se insere a empresa deve ter seus costumes e culturas respeitados, além de receber incentivos das empresas em educagao e na rea social. Para isso, a empresa deve engajar-se em projetos locais, projetos proprios, e valorizar o trabalho voluntario de seus empregados. Governo e socieda- de porque a empresa deve buscar uma melhoria continua das condigées so- ciais e politicas do pais, através nao apenas do cumprimento das leis, mas de uma atuagao politica coerente com seus principios éticos, 0 que pressu- poe relagées transparentes. Evolugao da gestao ambiental Iniciou-se na Europa, na dé- cada de 1970, a discussao sobre al- ternativas para reduzir os efeitos das atividades industriais sobre o meio ambiente. O assunto ganhou desta- que na pauta de governos de muitos paises. A primeira discussao das ques- toes ambientais em nivel mundial ocorreu na Conferéncia de Estocol- mo, em 1972. Nos anos 1980, os conceitos de protegao ao meio ambiente come- caram a se expandir. Alguns aciden- tes contribuiram para mudangas nas politicas oficiais de meio ambiente e no comportamento de parte da socie- dade. Nessa década surgiram, em al- guns paises, os partidos verdes, de- fensores dos seres vivos e do meio em que vivem. O meio ambiente deixou de ser um tema isolado para se in- corporar em varios setores, principal- mente na industria quimica (indus- trias petroquimicas, industrias de celulose e papel, indtstrias de alimen- tos). As questdes de meio ambiente, seguranga e satide passavam a ser tratadas em nivel de assessoria espe- cializada no interior das empresas. Aquestao ambiental vem, ao longo dos anos, ganhando importan- cia. A consciéncia ecolégica da comu- nidade e a escassez de recursos cada vez mais evidente levam ao aprofun- damento da questao. Dessa nova postura surgiu o conceito de sistema de gerenciamen- to ambiental, formalizado pela Br7- tish Standard Institution na norma BS 7750 — Specification for Environ- mental Management Systems. O sis- tema proposto para 0 gerenciamento ambiental esta baseado em conceitos de gestao ja definidos na norma BS 5750, que deu origem a série de nor- mas ISO 9000. Os conceitos de gestao da qualidade podem ser ampliados, a fim de englobar as quest6es ambien- tais. As normas da série ISO 14000 para sistemas de gestao ambiental sao baseadas na BS 7750 e utilizadas em nivel mundial nara a certificagao do sistema de gerenciamento ambiental de organizagées. Essas normas nao estabelecem nenhum requisito de de- sempenho ambiental além da confor- TEXTO Belo Horizonte, v. 7, n.2, p. 39-50, jurdex. 2006 A influéncia do sistema de gestio ambiental na imagem organizacional perante os stakeholders... midade as legislagoes ambientais apli- caveis e 0 compromisso com a me- lhoria continua, mas contribuem para 0 estabelecimento de um siste- ma de gerenciamento ambiental. A década de 1990 caracteri- zou-se pela globalizagao dos concei- tos. Nos primeiros anos, houve mai- or divulgagao das normas que apre- sentam requisitos para sistema de gerenciamento da qualidade (normas da série ISO 9000). O setor industrial comegou a considerar o enfoque glo- bal no que tange a protecao ambien- tal. A industria é considerada como responsavel pelos efeitos ambientais de seus processos e produtos (desde a obtengao da matéria-prima até a dis- posicao final dos produtos como re- siduos). A Tabela 1 apresenta a evo- lugao das organizag6es na adogao do foco na gestao ambiental. Sistema de gestao ambiental Segundo Moreira (2001), a organizagao que tem gestao ambien- tal é aquela que possui um departa- mento de meio ambiente responsavel por atender as exigéncias dos 6rgaos ambientais e indicar equipamentos e dispositivos de controle ambiental apropriados a realidade do negécio e aos impactos ambientais. Por outro lado, 0 sistema de gestao ambiental adquire uma visao estratégica do TEXTO “4 meio ambiente: a organizagao deixa de agir apenas em fungao dos riscos e passa a perceber também as opor- tunidades de acordo com orientacgées de insergao da variavel ambiental na gestao do negocio. Delgado (2000) afirma que os questionamentos sobre a interface entre as atividades produtivas e o meio ambiente e o investimento para atender a legislagao ambiental e ga- rantir a certificagao ambiental, nao perdendo a competitividade, encon- tram respostas na gestao ambiental, conjunto de rotinas e procedimentos que permitem a unidade produtiva administrar adequadamente as rela- Ges entre os processos € o meio am- biente, conciliando as expectativas das partes interessadas. Segundo Del- gado (2000), o sistema de gestao am- biental é uma ferramenta adminis- trativa que focaliza o uso racional de matérias-primas, insumos, energia, agua, ar, processos produtivos menos agressivos ao meio ambiente, redu- gao de lixo, despejos e degradagao. Nos Ultimos anos, ante a crescente preocupacao da sociedade com 0 meio ambiente, outros requi- sitos de “clientes” da organizagao vém sendo incorporados ao negocio prin- cipal. As empresas cujos processos produtivos possuem impacto ambien- tal mais significativo e que sofreram agdes mais contundentes dos 6rgaos de controle ambiental aceleraram os processos de adequagao do sistema de Belo Horizonte, v.7, n.2, p.39-50, jul-dex. 2006 Christiane de Miranda e Silva Correia e Juliano Franco e Silva Amaral 7 Tabelal EVOLUGAO DO FOCO DA GESTAO AMBIENTAL Caracteristicas e fatos: * Industrializagao acelerada. Aceitagao da idéia de que os prejuizos ambientais devem ser assumidos pela sociedade, em favor do desenvolvimento econémico; * Preocupacao com acidentes de trabalho; * Legislacao ambiental incipiente no Brasil; * Na década de 60, publicagao do romance Silent spring (Primavera silenciosa), da bidloga americana Rachel Carson, que contribuiu decisivamente para a proibigao do uso do DDT. Marco principal: Conferéncia de Estocolmo, promovida pela ONU em 1972. Caracteristicas e fatos: * Crise do petréleo e aceleracao dos programas nucleares na Europa; * Grandes acidentes ambientais em todo o mundo; * Aces corretivas; * Surgimento das organizagdes nao governamentais (ONGs). Em 1971, nasce 0 Greenpeace, com uma das atuacdes mais radicais em favor do meio ambiente; * Controle da poluigao no final da linha (ponto de descarga); * Em 1974, pela primeira vez, cientistas americanos chamam a aten¢ao do mundo para os perigos da destruicao da camada de oz6nio pelo uso dos CFCs (clorofluorcarbono); * Desenvolvimento da legislacao ambiental, com énfase no parametro de qualidade da agua e do ar, bem como padrées de langamento de efluentes e emissdes atmosféricas; * Instituigao da politica nacional do meio ambiente, em 1981, e criagao de diversos Orgaos de atuacao ambiental; * Legislac4o brasileira sobre zoneamento ambiental, licenciamento de atividades poluidoras e avaliagao do impacto ambiental (Resolugao Conama 1/86), dentre outras; * Preocupacado das empresas em atender as exigéncias dos érgaos ambientais; * Inclusao do planejamento ambiental nas empresas, investimentos em sistemas de controle; * Pouca ou nenhuma visao das oportunidades de ganhos decorrentes de uma gestao ambiental eficaz; * Mobilizagao das comunidades; * Convengao de Viena, de 1985, e Protocolo de Montreal, em 1987, sobre 0 uso de substancias nocivas a camada de oz6nio; * Aprovacao e divulgacao pela ONU, em 1987, do relatério Nosso futuro comum, no qual foi defendido o conceito de desenvolvimento sustentavel. TEXTO en 45 Belo Horizonte, v.7, n.2, p.39-50, jubdez. 2006 A influéncia do sistema de gestao ambiental na imagem organizacional perante os stakeholders... Marco principal: Conferéncia Rio-92, que consolidou o conceito de desenvolvimento sustentavel e aprovou a Agenda 21. Caracteristicas e fatos: * Promulgada, em 1991, pela Camara Internacional do Comércio (ICC), a “Carta de Roterda”, conhecida também por “Principios do desenvolvimento sustentavel”; * Gestao proativa (agdes preventivas para evitar a poluicao no ponto de gera¢ao); * Intensificacao da mobilizacdo das comunidades de forma organizada e reivindicativa; * Adesao das empresas a principios estabelecidos por determinados grupos, com base no conceito de desenvolvimento sustentavel. Exemplos: Responsible care (Atuacao responsavel), da Associacao de Induistrias Quimicas e “Principios do desenvolvimento sustentavel”, da ICC; * Emissao da Norma ISO 14000, abrangendo diversos temas relacionados ao meio ambiente, dentre eles 0 conceito de ciclo de vida do produto (analise ambiental de todas as etapas de producao, incluindo fornecedores e consumidores, conhecida também pela expressao “do berco ao timulo”); * Integracao das quest6es ambientais a estratégia do negocio, gestao ambiental vista como um diferencial competitivo e um fator de melhoria organizacional; * Introducao da visao sistémica das quest6es ambientais; * Em 1997, elaboragao da “Carta da Terra”, uma referéncia ética para todos os Povos; * Negociagées internacionais sobre redugao das emissdes de CO, (Protocolo de Kyoto); * Surgimento da legislagao brasileira sobre “crimes ambientais” (1998); * Exploragao do ecomarketing. as empresas com atuagao responsavel frente as questoes ambientais se preocupam em demonstrar sua postura a comunidade e ao mercado de maneira geral; valorizacao da empresa cidada; valorizacao, pelo mercado globalizado, da gestao ambiental eficaz. Fonte: MOREIRA, M. S. Horizonte: Editora de De gerenciamento ambiental existente de acordo com a legislacao vigente. Pa- ralelamente, e ainda em processo de divulgagao no Brasil, as normas da série ISO 14000 atentam para a ne- cessidade de um sistema de gerencia- mento ambiental com aprimoramen- to continuo e do estabelecimento de metas e objetivos pela organizacao, jo de sistema de gestao or 2001. p. 35-36. O 14000. Belo levando-a ao aperfeigoamento de suas relagdes com o meio ambiente. AISO (international organi. zation for standardization), estabe- lecida em 1947, com sede em Gene- bra, 6 uma organizagao nao gover- namental com a missao de promover o desenvolvimento mundial da nor- malizagao e atividades relacionadas, TEXTO 2, p. 39-50, julder. 2006 Christiane de Miranda e Silva Correia e Juliano Franco e Silva Amaral de forma a facilitar a troca internaci- onal de bens e servigos e desenvolver cooperagao nas reas intelectual, ci- entifica, tecnolégica e econdmica. Se- gundo Moreira (2001), a norma ISO 14001 tem por objetivo prover as or- ganizacoes de elementos de um siste- ma de gestao ambiental eficaz e inte- grado aos objetivos organizacionais e principios de orientagao que signifi- cam 0 compromisso da empresa com o desenvolvimento sustentavel a lon- go prazo. A implantagao do sistema de gestao ambiental permite a certifi- cagao da empresa na ISO 14001. Segundo Delgado (2000), 0 sistema de gestao ambiental deve per- mitir a organizacao: * Estabelecer uma politica ambien- tal apropriada ao negécio. * Identificar os aspectos ambientais criados pelas atividades, produtos e servicgos existentes ou planejados, vi- sando a impactos ambientais signifi- cativos. * Identificar as exigéncias legais e regulamentares pertinentes. * Identificar prioridades e definir ob- jetivos e metas ambientais apropria- dos. * Estabelecer uma estrutura para implantagao da politica e concretiza- cao de objetivos e metas. * Facilitar o planejamento, controle, monitoramento, acao corretiva e ati- vidades de auditoria e revisao, de for- maa garantir que a politica seja obe- decida e mantida relevante. * Ser capaz de adaptar-se a mudan- cas de circunstancias. A empresa Alfa e o sistema de gestao ambiental A organizagao em estudo é uma das maiores indistrias téxteis do Brasil. Localizada no Estado de Minas Gerais, possui cinco unidades fabris e aproximadamente 3000 fun- cionarios diretos. Osistema de gestao ambien- tal foi implantado em 2004 e a certi- ficagao na ISO 14001 ocorreu em 2005. As motivagdes da empresa Alfa foram: melhorar a imagem perante a comunidade, conquistar novos cli- entes internacionais e nacionais que ja possuem a certificagao, obter mais uma vantagem competitiva, gerenci- ar o atendimento a legislagao ambi- ental e reduzir a geracdo de residu- os, dando-lhes a destinagao correta. Aorganizagao tem uma pos- tura ambiental ha alguns anos. Uma area de meio ambiente cuidava do atendimento a legislagao ambiental e de coleta seletiva. Em 1988 foram instaladas ETEs (estagoes de trata- mento de efluentes) para transformar residuos provenientes do processo produtivo e devolver agua limpa ao meio ambiente. TEXTO 47 Belo Horizonte, v. 7, n. 2, p.39-50, jul-dez. 2006 A influéncia do sistema de gestao ambiental na imagem organizacional perante os stakeholders... No periodo de implantagao do sistema de gestao ambiental, a orga- nizagao utilizou diversos meios de comunicagao interna e externa para informar os stakeholders sobre o andamento do projeto. Aos colabora- dores, clientes, acionistas e fornece- dores foram entregues cartilhas e informativos. Treinamentos e cam- panhas educativas foram promovi- dos. Nas comunidades foram reali- zadas passeatas em prol do meio ambiente e visitas as escolas locais. A area de relagao com investidores manteve informado o mercado finan- ceiro através de notas de jornais e comunicados a Bovespa. Mudangas percebidas apos a implantagao: adogao de critérios para selecao de fornecedores e parceiros com preferéncia para aqueles que in- corporassem medidas de protegao ao meio ambiente, identificagao de me- todologias adequadas para disposigao e reciclagem de residuos, implemen- tagao de técnicas de produgao mais limpa e mudanga no gerenciamento de residuos, que se transformou numa unidade de negocios da empresa. Conclusao No mundo globalizado e ca- pitalista, a empresa interage com o seu ambiente, agindo e reagindo as situagdes, influenciando e sendo in- fluenciada, adaptando-se continua- mente e provocando adaptagées. A sociedade exige cada vez mais uma redefinicao do papel social da empresa e, para isso, 0 desenvol- vimento de um modelo de gestao fo- cado na responsabilidade social pode evitar o retorno do controle estatal e reformas no sistema. Dependendo do contexto social onde os negécios de uma empresa se desenvolvem, 0 com- portamento ético pode ter um escopo mais amplo do que o simples cum- primento de responsabilidades legais. As empresas devem buscar na gestao ambiental um fator poten- cial de aumento do seu valor agrega- do: geragao de oportunidades, promo- cao da imagem e reputagao, elevagao da satisfacao de funcionarios, entre outros. O modelo apresentado neste artigo procura estimular a definigao de uma estratégia direcionada a um sistema de gestao socialmente res- ponsavel, buscando oferecer uma vi- sao estratégica que minimize as bar- reiras a implantagao de uma gestao ambiental aliada aos objetivos orga- nizacionais e aos sistemas de gestao ambiental e da qualidade ja definidos, o que possibilitara maior aderéncia aos valores do desenvolvimento sus- tentavel. --TEXTO Belo Horizonte, v.7,n.2,p. 39-50, juldez. 2006 Christiane de Miranda e Silva Correia e Juliano Franco e Silva Amaral Referéncias ALMEIDA, G. 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PRETEXTO ——<————————— —— 4 oe Belo Horizonte, v.7,n. 2, p.39-50, jul-dez. 2006

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