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CURSO DE ELABORAÇÃO DE PROJETOS SOCIOAMBIENTAIS

AULA 4 – PESQUISA DESK E DIAGNÓSTICO PARTICIPATIVO

A etapa de escuta é essencial em um projeto socioambiental para evitar que


ocorra o tipo de estratégia top-down, ou seja, aquela estratégia de planejamento em
que não são considerados os interesses genuínos das comunidades beneficiadas. Nesta
etapa, a equipe observará as características presentes do contexto, por meio de um
diagnóstico da realidade local. Tal diagnóstico deve ser pensado como ponto de partida
para a estruturação da iniciativa, buscando acrescentar elementos preventivos e ações
resolutivas.

DESK RESEARCH

A desk research consiste em um grande levantamento de material já publicado


em relação ao público-alvo ou ao tema que desejamos trabalhar. Esse levantamento
pode ser, inicialmente, interno, ou seja, dentro da sua própria instituição, caso pertença
a uma. Após essa etapa, você pode passar à pesquisa externa, buscando informações
científicas, de outras instituições científicas, de órgãos públicos, organizações não
governamentais, dentre outros, visando compilar algumas informações para embasar a
sua escrita, ou seja, a parte teórica do projeto, que consiste em itens como
contextualização, justificativa, metodologia e avaliação, que serão trazidos
oportunamente nas aulas futuras.
Por isso, dizemos que a desk baseia-se em dados secundários, que são
informações coletadas a partir de pesquisas feitas para outros projetos e por outras
pessoas que não você ou a sua instituição. Caso você coletasse os dados diretamente
com as pessoas ou em pesquisa de campo, por exemplo, estaria produzindo dados
primários.
Caso já conheça seu público-alvo, uma ferramenta poderosa é o feedback das
pessoas que já participaram de algum tipo de atividade com você ou com a sua
instituição. Outro recurso que pode ser utilizado como fonte de pesquisa é a observação
de projetos já existentes. Observe os conceitos, as interações e as experiências que esses
projetos proporcionam, quais são os seus públicos, produtos, qual impacto prometem.
Como fonte inicial, essa análise pode ser bastante conveniente.

MATRIZ CoCoCo

O que achamos que


O que conhecemos O que não conhecemos
conhecemos
Aqui devem ser descritas Aqui devem ser descritas
as informações que você as informações que você
Dúvidas relacionados ao
sabe e possui referências afirma mas não possui
meu tema ou ao objetivo
de fontes confiáveis que referências de fontes
da pesquisa desk.
possam apoiar sua confiáveis que possam
afirmação apoiar sua afirmação
Fonte: ECHOS. Toolkit design thinking: Introdução. São Paulo: Echos - Laboratório de inovação, 2016.

DIAGNÓSTICO PARTICIPATIVO

O diagnóstico participativo deverá ser aplicado após a pesquisa desk e poderá


ser feito em formato de reuniões, antes que o projeto comece a ser elaborado. Além
disso, precisa ser estruturado de maneira a garantir a maior participação possível das
comunidades. A linguagem deve ser o mais acessível possível, evitando o excesso de
termos técnicos e entendendo as comunidades a partir dos seus saberes e das suas
peculiaridades.
Ao ouvir a comunidade, a equipe terá um panorama dos seus desafios e
potencialidades, levando em conta aspectos sociais, ambientais, econômicos e culturais,
dessa forma, propondo ações coerentes com a realidade e as necessidades concretas da
comunidade em questão.
Ferramentas para o diagnóstico participativo

Entrevista Semiestruturada,
Uma conversa informal, que possui um roteiro estruturado, mas que segue a
conversa livremente, cujo objetivo é levantar informações a respeito da família, da
comunidade, das relações estabelecidas no espaço de estudo, os principais problemas
enfrentados, sonhos futuros, entre outras.
O responsável pela entrevista se apresenta, contextualiza o objetivo da
entrevista e procura dados relevantes na fala do entrevistado de acordo com a proposta
do seu projeto. Sugere-se que a ferramenta seja aplicada em dupla, pois enquanto um
conversa, o outro anota. Embora o diálogo possa ser gravado, certifique-se de que será
autorizado pelo entrevistado.

Mapa participativo socioambiental


Registro gráfico para identificar as diferentes áreas geográficas ocupadas por
cada atividade, incluindo, por exemplo, áreas urbanas, áreas de preservação
permanente, recursos hídricos, dentre outras.
Para fazer o mapa, algum participante do grupo desenha a área escolhida e vai
localizando as atividades existentes, enquanto o debate vai ocorrendo. A ferramenta
pode ser o starter das discussões, facilitando o processo de reflexão sobre as causas dos
problemas, as alternativas para solução e a visão de futuro.

Linha do tempo
Para montar a linha do tempo, trace uma linha em um papel ou arquivo
eletrônico e permaneça na escuta ativa com os participantes, buscando conhecer os
principais fatos ocorridos marcando-os temporalmente ao longo da linha.
Como vantagem dessa prática está a reflexão e contextualização a partir da
história dos participantes e do lugar, bem como o compartilhamento de experiências.
Você pode sugerir que sejam elencados tantos pontos positivos quanto negativos,
separando-os visualmente de forma que o resultado seja atrativo. Para enriquecer os
dados reunidos a partir da ferramenta, podem ser utilizadas entrevistas com os
moradores e participantes mais antigos, fotos, filmes e notícias que tragam mais
informações sobre as memórias do lugar, entre outros.

Árvore de problemas
Pode ser utilizada para analisar as relações de causa e efeito de um determinado
problema já diagnosticado, por exemplo, no mapa participativo socioambiental ou em
outras ferramentas. As raízes da árvore representam as causas do problema, que é
representado pelo tronco. Já as folhas e frutos representam os efeitos do problema.
Essa ferramenta possibilita analisar um problema de forma mais profunda,
alcançando as causas primárias (raízes) que representam o ponto de partida para a
busca de soluções. Durante a discussão, os cartões adesivos podem ser trocados de lugar
e devem ser debatidos as causas que podem ser eliminadas ou controladas, por exemplo.
As informações alcançadas com essas metodologias serão utilizadas para o
planejamento das ações.

Matriz FOFA

Uma ferramenta que pode ser utilizada tanto para sistematizar a pesquisa desk
quanto para realizar essa categorização é a matriz SWOT ou FOFA, que te permite
compreender os pontos positivos e pontos a desenvolver, auxiliando você a mapear com
mais clareza as categorias alcançadas na interpretação dos dados qualitativos.
A matriz FOFA permite analisar os ambientes interno e externo do seu projeto a
partir dos seguintes componentes: Fortalezas e Oportunidades, (pontos positivos),
Fraquezas e Ameaças (pontos a desenvolver).
As fortalezas e fraquezas dizem respeito aos elementos internos, ou seja, sobre
os quais você tem mais controle, por exemplo, a gestão da equipe de trabalho e a
estrutura que serve de base para o seu projeto. Já os elementos oportunidades e
ameaças dizem respeito aos fatores externos sobre os quais você não tem tanto controle,
como um potencial parceiro interessado em apoiar o seu projeto.
Essa ferramenta versátil pode te ajudar tanto na identificação coletiva dos
recursos disponíveis (humanos, materiais, financeiros) quanto os prováveis desafios,
contribuindo na elaboração do seu planejamento e na etapa de avaliação dos riscos,
utilizando o mesmo sistema. Para utilizar esta ferramenta, basta desenhar a matriz em
uma folha grande e preencher durante o diálogo coletivo, tanto com a equipe quanto
com a comunidade.

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