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A verdade sobre os hormônios - Revista Time desta semana – 15 de julho 2002

Um grande estudo federal forneceu provas definitivas de que o estrogênio e o progestogênio não são os
medicamentos dos sonhos para combater o envelhecimento. O que uma mulher deve fazer?

Por Christine Gorman e Alice Park

Susan Pierres, uma fotojornalista de Miami que acabou de fazer 60 anos, está confusa e furiosa. Há dez
anos, quando ela estava se aproximando da menopausa, o médico dela lhe receitou uma terapia de
reposição hormonal, ou TRH. "Eu não tinha nenhum sintoma", ela se recorda, "mas ele a recomendou
para um bem-estar geral, para os ossos e para o coração". Muitos anos e pílulas depois, a ginecologista
dela sugeriu que talvez fosse hora de parar. Afinal, havia relatos de que a TRH podia aumentar o risco
de câncer de mama na mulher, uma doença que atingiu a mãe e a tia de Susan. Ela procurou vários
outros médicos para aconselhamento. Mas eles não chegavam a um acordo. Agora surge a notícia de
que um grande estudo mostra que se submeter à TRH por muitos anos consecutivos não é realmente
muito bom.

Será que Susan deve acreditar nestes resultados mais recentes e procurar seu médico em busca de
explicações? Qual médico? E ela não está tão ansiosa por abrir mão dos hormônios: "Você sente que
eles são seu último vestígio de juventude. E se minha pele começar a escamar e meu cabelo começar a
cair?" ela teme. "São coisas complicadas. Pessoas como eu não sabem para onde ir ou a quem dar
ouvidos".

E quem é que sabe? Por décadas, milhões de mulheres como Susan Pierres foram instruídas que a TRH
era uma verdadeira fonte da juventude. Ele mantinha a elasticidade da pele, prevenia doenças
cardíacas, evitava a osteoporose e podia até afastar a demência senil. Mais de 40% de todas as
mulheres nos Estados Unidos iniciaram algum tipo de TRH durante a menopausa. Muitas delas
prosseguiram o tratamento ao longo dos 70 e 80 anos, convencidas de que estas pequenas pílulas lhes
davam um brilho da juventude.

Mas como um Ponce de Leons moderno, estas mulheres estão vendo seu sonho da juventude eterna se
desmanchar. Um grande teste clínico realizado com recursos federais, parte de um grupo de estudos
chamado de Iniciativa para a Saúde das Mulheres (WHI), mostrou definitivamente pela primeira vez que
os hormônios em questão -o estrogênio e o progestogênio- não são as maravilhas desafiadoras da
velhice que todos achavam. E se isto já não fosse ruim o bastante, os resultados, divulgados na semana
passada, provaram que tomar estes hormônios juntos por mais do que alguns poucos anos na verdade
aumenta o risco de a mulher desenvolver problemas cardiovasculares potencialmente mortais e câncer
invasivo de mama, entre outras coisas.

Assim como qualquer grande anúncio médico, há advertências e complicações. A WHI não foi concebida
para avaliar o uso por curto prazo durante a menopausa, por exemplo. Mas a mensagem principal é esta:
tomar estrogênio e progestogênio por anos na esperança de prevenir doenças cardíacas ou derrame não
pode ser mais considerada uma estratégia médica válida.

Aqui está um raro momento de clareza. O debate sobre os benefícios e riscos a longo prazo da TRH
durou décadas. Agora ao menos temos algumas respostas concretas.

Os resultados foram tão marcantes que o estudo foi suspenso três anos antes do prazo determinado.
(Os outros estudos da WHI, que incluem como o estrogênio sozinho afeta mulheres que passaram por
histerectomia, ainda prosseguem.) E o relatório científico formal, que está sendo publicado nesta semana
no Journal of the American Medical Association, foi divulgado uma semana antes em uma coletiva de
imprensa em Washington.

Desde então os telefones não pararam de tocar. Mulheres de todas as partes dos Estados Unidos
começaram imediatamente a ligar para seus médicos, suas mães, filhas, amigas. Você ainda está
tomando as pílulas? Você acha que hormônios de origem vegetal são melhores? Será que reduzir a
dosagem o torna mais seguro?

"Talvez eu tenha confiado demais", disse Muriel Smith, coordenadora de filiação do Centro Comunitário
Judaico Dave e Mary Alper, no sul de Miami, que está organizando um debate sobre o assunto. "Todo
mundo quer saber o que fazer".

Algumas, como Ellen Robinson, de 58 anos, uma advogada que trabalha em Chicago, já tomaram sua
decisão. Ellen decidiu na semana passada suspender bruscamente o uso dos hormônios. "Eu não tive
câncer de mama, derrame ou ataque cardíaco", ela explica, "mas agora estou nervosa. Todo mundo
estava no escuro quanto aos riscos". Outras que se mantiveram céticas quanto aos hormônios durante o
tempo todo se sentiram vingadas. "Eu não sou antiestrogênio, mas nós precisamos aceitar a menopausa
como um processo normal, natural e psicológico", insiste Vicki Meyer, fundadora de uma
cibercomunidade chamada International Organization to Reclaim Menopause (organização internacional
para reabilitar a menopausa). A idéia de que nossos corpos nos deixam na mão na menopausa, disse
ela, é "ridícula, extremamente sexista e completamente errada".

Os médicos estão lutando para atender a todos. Uma ginecologista de Dallas escreveu um roteiro para
ajudar suas secretárias a lidarem com o grande volume de chamadas. A Faculdade Americana de
Obstetrícia e Ginecologia criou uma força-tarefa para repensar suas diretrizes quanto à TRH. "A bolha
estourou", disse o dr. Isaac Schiff, do Hospital Geral de Massachusetts em Boston, que está presidindo a
força-tarefa. Schiff admite que após as notícias da semana passada, os médicos precisam de orientação
tanto quanto seus pacientes. "Alguns médicos dizem que não vão mudar seu procedimento e defenderão
a TRH como sempre fizeram", disse ele. "Outros dizem que isto mudará dramaticamente sua forma de
pensar".

O expresso do estrogênio

Para compreender como chegamos a este ponto, ajuda saber um pouco de história médica. Há cerca de
40 anos, a atenção estava concentrada em apenas um hormônio feminino, o estrogênio. Seu maior
popularizador foi um ginecologista chamado Robert Wilson, que achava que o hormônio poderia servir
como um rejuvenescedor para todos os propósitos para mulheres de uma certa idade. É preciso admitir
que havia um pouco de sexismo, sem contar preconceitos quanto à idade, no ponto de vista dele. Em
seu livro de enorme sucesso, "Feminine Forever" (Feminina para Sempre), publicado em 1966, Wilson
descreveu a menopausa como uma "decomposição em vida", na qual as mulheres desciam até um
estado "enfadonho como uma vaca". A suplementação de estrogênio, insistia Wilson, transformaria
quase que magicamente a vaca sonsa em uma esposa e mãe de aspecto mais jovem, mais dinâmico.
Ela não apenas se sentiria melhor, mas também faria as pessoas em volta dela se sentirem melhor -
especialmente, como ficou implícito, seu parceiro na cama.

Mas, é claro, aqueles eram tempos diferentes. Mas a idéia de que uma única pílula poderia fazer
rapidamente o relógio voltar para trás se fixou na imaginação popular. Não fazia mal a principal
fabricante do hormônio, a Wyeth Pharmaceuticals, lançar uma campanha agressiva de marketing.
Graças aos céus os anúncios de hoje foram amenizados para exibir os tons mais leves da cantora Patti
LeBelle, abandonando mensagens como a de um anúncio de 1975 -"Quase todos os tranqüilizantes
conseguem acalmá-la... mas na idade dela, o estrogênio pode ser o que ela realmente precisa".

Ao longo dos anos os argumentos médicos para a prescrição do estrogênio também foram atualizados.
"O estado de 'vaca sonsa' se foi, e aumentou a linguagem científica sobre densidade dos ossos e
doenças cardíacas", explicou Cynthia Pearson, diretora-executiva da Rede Nacional para a Saúde das
Mulheres, que há muito tempo se manteve cética em relação à TRH.

Tudo parecia muito lógico e convincente. As mulheres apresentam uma probabilidade muito menor do
que os homens de sofrer ataques cardíacos e derrames na faixa dos 30 e 40 anos. Mas quando o
estrogênio natural deixa de fluir após a menopausa, o risco das mulheres alcança rapidamente o dos
homens. Claramente o estrogênio apresenta algum tipo de influência positiva. E um grande número de
estudos nos anos 1980 mostraram que as mulheres que tomaram o hormônio na menopausa
apresentaram níveis mais baixos de colesterol LDL, o chamado colesterol ruim, e níveis maiores de HDL,
o chamado colesterol bom, do que aquelas que não tomavam o hormônio. Os benefícios da
suplementação de estrogênio pareciam óbvios.

Mas a biologia raramente é assim tão direta. Os pesquisadores perceberam posteriormente que não era
seguro ministrar o estrogênio sozinho para mulheres com um útero intacto. O estrogênio sem oposição,
como é chamado, aumenta dramaticamente as chances da mulher desenvolver câncer uterino.
(Obviamente, isto não é um problema para as mulheres que se submeteram à histerectomia.) A adição
do progestogênio, outro hormônio feminino, parecia resolver este problema.

A convicção de que a TRH era benéfica a longo prazo se tornou tão entranhada que os médicos que
lidavam com a questão mais de perto ficaram surpresos ao descobrir o quanto careciam de evidências
para apoiar isto. No início dos anos 1990, a dra. Deborah Grady, da Universidade da Califórnia, em São
Diego, foi convidada a ajudar a redigir diretrizes para o uso da TRH pelo Colégio Americano de Médicos.
Ela se lembra de ficar cada vez mais desconfortável à medida que estudava a literatura científica
disponível. Nenhum dos estudos era conclusivo. A maioria se tratava de estudos observacionais que
mostravam que as mulheres que se submetiam ao TRH viviam mais e com menos problemas de saúde
do que aquelas que não. Talvez a TRH fosse o verdadeiro motivo, ou talvez as mulheres que recebiam a
TRH simplesmente fossem mais conscientizadas em termos de saúde do que as outras. Ninguém podia
dizer ao certo.

Mesmo os estudos que mostravam que o estrogênio melhorava o perfil do colesterol da mulher não eram
totalmente satisfatórios. Afinal, muitas mulheres com níveis normais de colesterol sofriam ataques
cardíacos. O que era necessário era um teste clínico de peso, projetado de forma tão rigorosa que
ninguém poderia questionar os resultados.

A ex-congressista americana, Pat Schroeder, lembra de ter pedido tais estudos. No final dos anos 1970,
ela se recorda, o maior estudo feito pelo Instituto Nacional do Envelhecimento "não contava com a
participação de nenhuma mulher. Eles não sabiam nada sobre osteoporose, menopausa, nada. Eles não
faziam nada pelas mulheres a não ser ministrar pílulas". Com um empurrão de Schroeder, de outras
legisladoras e de grupos de direitos das mulheres, foi lançado a WHI em 1991. A investigação gigante foi
projetada para obter respostas precisas para o debate em torno dos hormônios e para determinar as
melhores estratégias para prevenir as doenças da idade, incluindo doenças cardíacas, câncer e
osteoporose.

Finalmente algumas respostas

Mais de 160 mil mulheres americanas foram inscritas na WHI, que está dividida em cinco grandes
estudos que investigam tudo, do papel da dieta na determinação da saúde da mulher à medida que ela
envelhece ao papel dos hormônios neste processo. Mais de 16 mil mulheres saudáveis, com idades de
50 até 79 anos, foram voluntárias para o estudo do estrogênio e do progestogênio.

Metade destas mulheres foram apontadas aleatoriamente para receber a combinação de hormônios, e a
outra metade recebeu placebo, ou uma pílula de mentira. Nem as mulheres nem seus médicos sabiam
quem estava tomando a medicação ativa. Este tipo de estudo, chamado de teste controlado, aleatório, é
o tipo mais rigoroso de investigação que os cientistas são capazes de conduzir. É um caminho longo e
difícil para se obter uma resposta, mas pelo menos é possível ter certeza em relação aos resultados.

O plano era acompanhar as mulheres por uma média de oito anos e registrar quantas sofreram ataques
cardíacos, derrames, coágulos sangüíneos, fraturas na bacia ou câncer de cólon. Desde o início, um
conselho de segurança monitorou os dados para assegurar que o estudo fosse interrompido antes do
prazo estabelecido para 2005 caso surgisse evidência clara de benefícios, pois não seria ético privar as
mulheres do grupo de controle do tratamento. Ele também seria interrompido caso os riscos da TRH
obviamente superassem os benefícios, para proteger o grupo sob tratamento.

O primeiro indício de que tudo não estava bem surgiu no final de 1999, quando o conselho de
monitoramento detectou um aumento inesperado do risco de coágulos sangüíneos e ataques cardíacos
nas mulheres que estavam se submetendo à terapia de hormônios combinados. Apesar do risco
absoluto ser pequeno, ele foi um choque. A maioria dos médicos acreditava que a reposição hormonal
oferecia proteção contra doenças cardiovasculares. Os investigadores informaram às participantes e
seus médicos sobre suas descobertas no início de 2000, mas decidiram continuar o estudo para ver se o
efeito negativo persistiria. Eles raciocinaram que talvez os benefícios cardiovasculares demorassem mais
para aparecer.

Mas na primavera americana deste ano, um novo risco surgiu nos dados. Não apenas as mulheres que
estavam recebendo estrogênio e progestogênio estavam mais propensas a sofrer ataques cardíacos e
desenvolver coágulos de sangue nos pulmões e pernas, mas também estavam apresentando um risco
maior de desenvolver câncer de mama. Foi o suficiente para fazer pender a balança. Apesar das
mulheres sob TRH estarem sofrendo menos fraturas de bacia (1 mulher em cada mil por ano contra 5,5
mulheres em cada mil por ano), o benefício não era grande o bastante para compensar o risco. Como o
teste clínico foi projetado para avaliar mulheres saudáveis, foi estabelecida uma alta margem de
segurança. Dados os critérios desenvolvidos pelo conselho de monitoramento antes do início do estudo
da WHI, esta parte do estudo teve que ser suspensa.

Curiosamente, prossegue a parte do estudo da WHI que se concentra nos benefícios a longo prazo do
estrogênio ministrado sozinho para mulheres que se submeteram a histerectomia. Até o momento, o
conselho de segurança não detectou qualquer aumento de risco de câncer de mama neste grupo.
Aparentemente, o estrogênio somado ao progestogênio apresenta um efeito negativo cumulativo no seio
que o estrogênio sozinho parece não ter.

Ainda restam perguntas

Estas foram as principais conclusões. Agora vamos às advertências e complicações. O estudo da WHI
avaliou a marca mais popular de estrogênio e progestogênio, que se chama Prempro e é produzida pela
Wyeth. Falando tecnicamente, os resultados da WHI não se aplicam aos outros produtos. Alguns
médicos especularam que doses menores de hormônio ou estrogênio-progestogênio em adesivos e
cremes poderiam evitar alguns dos riscos associados ao Prempro. Isto ainda precisa ser provado.
Mesmo os chamados hormônios naturais (os derivados de plantas) não são necessariamente isentos de
riscos. Afinal, eles não foram tão cuidadosamente testados como o Prempro. Há evidência laboratorial
preliminar, segundo o dr. Wulf Utian, que preside a Sociedade Norte-Americana da Menopausa, de que
os hormônios naturais podem promover o crescimento de tecido nos seios e portanto contribuir para um
risco de câncer.

Também há uma chance de que certos componentes semelhantes ao estrogênio possam ser
desenvolvidos, capazes de manter todos os benefícios dos hormônios sem qualquer um de seus riscos.
Um destes medicamentos, o raloxifeno, demonstrou prevenir fraturas, até o momento sem aumentar o
risco de câncer de mama nas mulheres. Mas uma série de mulheres sofreu com ondas de calor e até
com o surgimento de coágulos sangüíneos enquanto tomavam raloxifeno, o tornando um candidato
pouco provável para substituir o estrogênio.

Apesar das notícias da semana passada levantarem grandes dúvidas para qualquer pessoa que esteja
se submetendo à terapia de reposição hormonal, mulheres que estão tomando pílulas anticoncepcionais
não precisam entrar em pânico. É verdade que estas pílulas contêm estrogênio e progestogênio, mas a
maioria das mulheres as tomam antes da menopausa, quando seus corpos estão produzindo mais dos
seus próprios hormônios. Então é bem possível que seus corpos sejam mais capazes de lidar com o
excesso. Em qualquer caso, é impossível extrapolar a partir do estudo da WHI.

As mulheres também não devem entrar em pânico se estiverem se submetendo à TRH por curto período
para aliviar as misérias da menopausa. Pois de uma maneira estranha, o estudo remete a TRH de volta
às suas origens, para fazer o que fazia melhor -aliviar as intensas ondas de calor, os suores noturnos e
as alterações de humor durante o período limitado em que ocorrem. "Estrogênios", disse o dr. Howard
Judd da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, um dos principais investigadores da WHI, "ainda
são a melhor, e de muitas formas a única, forma de tratar a menopausa".

Vale a pena correr um risco muito pequeno, por um curto período, de formação de coágulos sangüíneos
para combater as ondas de calor? "Pode apostar que sim", disse Christine Fulbright, 53 anos, uma dona
de salão de cabeleireiros em Venice, Califórnia. Os sintomas de menopausa de Christine, que
começaram há um ano, foram tão ruins que ela achava que ia morrer. "Eu ficava com dores e chorava o
tempo todo", ela se recorda. "Certo dia eu estava cortando o cabelo de um homem, e do nada tive que
conter as lágrimas". Christine tentou tratamentos alternativos, como cremes de inhame, mas o alívio só
veio quando ela experimentou o Prempro há quatro meses. "Foi como um milagre", disse Christine. "Eu
voltei a ser eu mesma".

A parte difícil é imaginar por quanto tempo mulheres como Christine precisam permanecer sob TRH,
como tirá-las do tratamento, e como protegê-las da osteoporose e de outros problemas decorrentes da
idade sem recorrer aos hormônios. "O mundo da administração da menopausa", disse Utian, da
Sociedade Norte-Americana da Menopausa, "acabou de se tornar muito mais complexo".

E parte desta complexidade é lidar com o vínculo emocional que algumas mulheres têm com sua TRH.
Muitas gostam de sua condição atual. A mudança as assusta.

E isto, talvez, seja o motivo da irritação e frustração de Susan Pierres, a fotojornalista de Miami, que
ainda precisa tomar uma decisão diante das notícias da semana passada. Assim com muitas outras
mulheres, ela continua se debatendo sobre se realmente quer deixar de lado suas pílulas.

- Com reportagem de Amanda Bower/Nova York, Wendy Cole/Chicago, Jeanne DeQuine/Miami e


Jeanne McDowell/Los Angeles

O que o estudo sobre hormônios mostra?

A terapia de reposição hormonal não é a panacéia que parecia ser. Mas há muitas outras formas das
mulheres permanecerem saudáveis depois da menopausa e reduzirem os riscos de ataques cardíacos,
osteoporose e outros problemas.

Por Alice Park

A Iniciativa para a Saúde das Mulheres (WHI), iniciada em 1991 pelos Institutos Nacionais de Saúde, é
um dos maiores estudos já realizados sobre a saúde das mulheres. Mais de 160 mil mulheres na pós-
menopausa, com idades entre 50 e 79 anos, foram recrutadas para uma variedade de testes clínicos
desenvolvidos para avaliar as melhores formas de prevenir doenças cardíacas, cânceres de mama e
coloretal, e osteoporose.

Graças à rígida metodologia do estudo, a maioria dos médicos consideram a WHI como a palavra
definitiva sobre a saúde das mulheres. Os resultados finais são ansiosamente aguardados para 2005.
Mas uma parte do estudo, envolvendo mais de 16 mil mulheres, foi suspensa na semana passada. Estas
mulheres estavam recebendo uma combinação de estrogênio e progestogênio chamado terapia de
reposição hormonal (TRH).

Os pesquisadores concluíram que os riscos da TRH claramente ultrapassavam os benefícios. Apesar da


TRH poder ser mais apropriada como um tratamento de curto prazo para desconfortos derivados da
menopausa, as mulheres não podem esperar que ela as proteja a longo prazo contra doenças
relacionadas ao envelhecimento. Outras partes do estudo gigante da WHI, incluindo um teste que avalia
os efeitos do estrogênio ministrado sozinho, continuam.

O que eu posso fazer ao invés da TRH?

Doenças Cardíacas
Ao contrário dos estudos iniciais sobre a TRH, a WHI mostrou que os hormônios não protegem contra
doenças cardíacas. Na verdade, eles aumentam o risco. Uma dieta de baixa gordura e exercícios
regulares várias vezes por semana são as melhores opções. Reduzir o colesterol também é importante;
se a dieta não bastar, medicamentos como estatinas podem ajudar a reduzir os níveis de colesterol,
assim como o risco de ataque cardíaco.

Resumindo: Esqueça a TRH. Vá à academia e cuide de sua dieta.

Osteoporose

A TRH previne que os ossos se tornem quebradiços e reduz o risco de fraturas. Mas há outras formas de
manter os ossos fortes sem correr os mesmos riscos. Elas incluem suplementos de cálcio,
medicamentos como bisfosfonatos e exercícios de levantamento de peso. Uma nova classe de
medicamentos semelhantes ao estrogênio chamados de moduladores seletivos dos receptores de
estrogênio (o raloxifeno é um exemplo), também estão se mostrando promissores na redução de fraturas
sem aumentar o risco de câncer de mama.

Resumindo: Levante pesos. Beba leite. Explore outras opções de tratamento.

Câncer de cólon

A incidência de câncer de cólon foi mais baixa nas mulheres da WHI que estavam se submetendo à
TRH, mas os médicos não acham que a proteção contra o câncer de cólon supere o risco de câncer de
mama. Uma detecção precoce do câncer de cólon é a melhor arma contra a disseminação da doença;
check-ups regulares do cólon são uma boa idéia. Comer frutas e verduras e exercícios também ajudam.

Resumindo: Coma mais verduras, e pare de adiar a colonoscopia.

Pele

Quando os níveis de estrogênio despencam depois da menopausa, as células da pele perdem sua
elasticidade e o aspecto jovem. O cabelo fica mais seco e mais ralo. Apesar de a TRH poder combater
estes sinais do envelhecimento, os hormônios o fazem por um preço muito elevado. Cremes e
hidratantes podem não ser tão eficazes, mas não apresentam nenhum risco sério à saúde. E há uma
variedade crescente de procedimentos cosméticos.

Resumindo: Que tal uma cirurgia plástica? Ou que tal envelhecer graciosamente?

Câncer de mama

A WHI provou definitivamente o que 30 estudos anteriores não conseguiram:

A TRH aumenta o risco do desenvolvimento de câncer invasivo de mama. Mas os médicos notam que
mais pesquisas são necessárias para determinar se outros tipos de estrogênio usados na TRH -o estudo
da WHI estudou apenas uma combinação- em doses e combinações diferentes, estão associados a uma
maior ou menor incidência de câncer de mama.

Resumindo: Se você se preocupa com câncer de mama, a TRH está descartada. Mamogramas e auto-
exames continuam valendo.

Derrame

Com o envelhecimento dos vasos sangüíneos, eles se tornam menos flexíveis, provocando um aumento
da pressão sangüínea que pode causar derrames. O estrogênio, com sua tendência de provocar
coágulos sangüíneos, apenas aumenta o risco. Manter a pressão sangüínea sob controle com
medicamentos ou programas de relaxamento, como ioga ou meditação, são uma boa opção para evitar
derrames.

Resumindo: Reduza sua pressão sangüínea, respire profundamente, e diga não aos hormônios.

Mal de Alzheimer

Estudos iniciais indicaram que o estrogênio podia ajudar a evitar o mal de Alzheimer em mulheres mais
velhas. Algumas pesquisas mostraram que as mulheres que estavam sob TRH apresentavam uma
menor probabilidade de desenvolver a doença, enquanto outras demonstraram que mulheres sofrendo
de Alzheimer podiam melhorar sua memória recente. Estudos mais completos, incluindo um que faz
parte da WHI, estão em andamento para saber se a terapia de hormônios pode ajudar a prevenir ou
tratar a doença. Os resultados da WHI são esperados para 2005.

Resumindo: É cedo demais para saber se o estrogênio é de alguma ajuda.

E quanto aos sintomas da menopausa?

A TRH funciona melhor contra ondas de calor, suores e oscilações de humor, mas há alternativas.

Ondas de calor - Quando os níveis de estrogênio caem abruptamente, como ocorre na menopausa, o
hipotálamo instrui o corpo a recalibrar seu termostato. Suar e corar são os sintomas mais comuns deste
estágio de transição.
Opções: remédios naturais contendo estrogênio à base de plantas, incluindo o black cohosh (Cimicifuga
racemosa), produtos a base de soja e inhame, podem promover algum alívio.

Secura vaginal - Quando os tecidos, incluindo os da vagina, são privados de estrogênio, eles perdem sua
elasticidade e se tornam mais secos e irritáveis. A coceira e o desconforto podem piorar com o tempo.
Opções: cremes vaginais e anéis flexíveis que são colocados na vagina para liberar pequenas doses de
estrogênio podem aliviar parte do desconforto. A vitamina E, tomada oralmente ou aplicada no local
como creme, também pode ajudar.

Oscilações de humor - Por motivos que não são bem compreendidos, a queda drástica dos níveis de
estrogênio pode causar irritabilidade e depressão. A falta de sono devido aos suores noturnos também
pode contribuir para o cansaço e mudanças na personalidade.
Opções: exercícios de relaxamento como meditação ou massagem podem reduzir a irritabilidade,
enquanto antidepressores podem ser necessários para mudanças de humor mais severas e duradouras.

Tradução: George El Khouri Andolfato

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