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Fragmentos de Obras Sobre MELISMAS
Fragmentos de Obras Sobre MELISMAS
Crocker observa a manifestação dos melismas em peças por volta de 700 d.C. e
cita expoentes como Amalarius of Metz (ca 775-ca 850)6. Este autor utiliza um triplo
melisma no responsório de Natal Descendit de caelis. A forma desses responsórios
matinais é resposta - verso - fim da resposta - Gloria Patri - fim da resposta. A terceira
das três partes do melisma deste responsório é dada no exemplo abaixo.
Os músicos francos do início dos anos 800 cultivavam uma ampla variedade de
formas musicais que combinavam aclamação e melisma de maneiras modificadas e mais
utilizáveis. Muitas das novas formas francas foram associadas aos adereços de massa
1
Melisma. In: Dicionário infopédia da Língua Portuguesa [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2021.
[consult. 2021-04-04 02:01:58]. Disponível na Internet:
<https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/melisma>
2
Bizâncio, foi por mais de um milênio uma cultura florescente na Europa, cominando elementos
helenísticos e orientais. (GROUT, D. J.; PALISCA, C. V. História da Música Ocidental. Tradução de
Ana Luísa Faria. 5. ed. Lisboa: Gradiva, 2007. p.36).
3
Ibid.
4
Ibid.
5
Ibid., p. 60.
6
CROCKER, R. L. A History of Musical Style. New York: Dover Publications, 2014. p. 42. Tradução
minha. Outro famoso cântico em estilo responsorial, é o aleluia (GROUT e PALISCA, op. cit., p. 69).
gregorianos recentemente importados, especialmente com a introdução: as frases sóbrias
da introdução gregoriana eram envolvidas com textos floridos, muitas vezes em estilo
aclamatório e com música moderadamente neumática. Tal adição à introdução foi
chamada de tropo (tropus). Segue abaixo um exemplo de um tropo7, na introdução da
Páscoa Resurrexi, com sinais que expressam os pontos de floreios ou melismas:
7
CROCKER, op. cit., p. 43.
8
BENNETT, R. Uma breve história da música. Tradução de Maria Teresa Resende COSTA. Rio de
Janeiro: Zahar, 2007. p. 14.
9
Ibid., p. 15.
10
Ibid., p. 16.
11
Nos organa de Notre-Dame (França), as partes mais altas estão mensuradas (arranjadas em precisas
unidades de tempo musical), com as vozes tecendo frases parecidas com as de dança e baseadas em padrões
rítmicos, todos de três tempos - na verdade, uma métrica emprestada da poesia. (Ibid.).
12
Ibid., p. 17.
13
Ibid.
em seguida transformado em um triplum com as palavras de outro poema, este já um
pouco mais alegre. Ambos estão em francês.
14
Bennet apresenta um quadro sinóptico que demonstra a continuidade (e a paulatina passagem entre os
períodos) dos elementos musicais renascentistas no período barroco. (BENNETT, R. Uma breve história
da música. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. p. 80). Matte também atesta a passagem gradual e as diferencas
ornamentais entre os períodos: “Embora houvesse uma clara diferença de atitude entre as práticas
renascentistas e barrocas, partindo de diminuições contínuas a ornamentos mais pontuais relacionados a um
affetto especifico, isso não significa que houve uma quebra clara entre a estética da sonoridade vocal entre
os dois períodos.” (MATTE, I. F. Estética musical na transição da Renascença para o Barroco: revisão
de fontes historiográficas sobre o treinamento vocal e ornamentação. Per Musi. Ed. por Fausto Borém et al.
Belo Horizonte: UFMG, 2017. p. 2).
15
BENNETT., op. cit., p. 24, 35.
16
Girolamo Dalla Casa (ou Hieronymo de Udene, morreu em 1601) foi um compositor, instrumentista e
escritor italiano do final do Renascimento. Ele era membro da Venetian School.
(https://ms.wikicore.net/wiki/Girolamo_Dalla_Casa)
17
ARNOLD, Denis; MARCIALIS, Andrea. Girolamo Dalla Casa. Grove Music Online. Oxford Music
Online, http://www.oxfordmusiconline.com/subscriber/article/grove/music/07076.
modificações significantes em alguns elementos renascentistas (motetos, madrigais e
chansons, que apresentavam melismas), ao prosseguirem no Barroco.
18
HORSLEY, Imogene. Improvised embellishment in the Performance of Renaissance Polyphonic Music.
Journal of the American Musicological Society 4.1. California: University of California Press, 1951.
p.14. Citado por: MATTE, op. cit., p. 15-16.
19
MATTE, op. cit., p. 17-18.
20
Ibid., p. 21.
do Renascentismo, faz-se necessário agilidade e observação do tempo, pois agora, “o
efeito desejado que decidiria a velocidade e não a habilidade do cantor”21.
c. Matte também apresenta as modificações estéticas descritas por Pier Francesco Tosi22,
quando o Barroco avança ao seu apogeu. As observações de Tosi mostram sua
preocupação com o excesso de ornamentação. O ponto de maior destaque é a sua ênfase
na unificação dos registros, que consiste na união perfeita entre a voz de peito com a
voz de cima de tal forma que uma não consiga distinguir da outra, tendo um só registro e
consequentemente não perdendo sua beleza23. Esta é uma preocupação que não parece ter
tido um papel mais relevante em épocas anteriores. Outras ênfases de Tosi, o
fortalecimento do registro superior, o mascaramento entre a passagem do registro modal
para o registro de falsete e a qualidade do cantabile são extremamente importantes. Esses
conceitos revelam uma grande mudança de atitude que levam ao ideal de voz homogênea
encontradas no bel canto, vista como uma verdade inquestionável pelos cantores hoje.
3) Destaca-se também a atenção dada no período barroco aos efeitos produzidos sobre o
indivíduo, sucedendo alterações na própria prática melismática: As figuras ornamentais
tornaram-se mais curtas para aumentar o efeito emocional de determinada palavra”,
substituindo-se as consonâncias principais por apoggiaturas e dissonâncias. A escrita de
ornamentos para instrumentos e para a voz de forma mais idiomática. Além disso,
observa-se a atenção renovada ao texto poético e o retorno aos parâmetros retóricos
clássicos, em direção à simplificação de texturas e a correlação entre embelezamento,
texto e afeto. Como exemplo, Matte expressa que:
É interessante notar, que esta prática é compartilhada pela Nova Chanson francesa (em
contraste à anterior Chanson Francesa renascentista). Grout e Palisca corroboram e
descrevem esta novidade ao comentar que o seu estilo é homofónico com um ritmo
musical subordinado à métrica do texto. Os poemas estróficos franceses substituíram
a moderna acentuação tónica pelas quantidades (sílabas longas e breves) da antiga
poesia em metros da antiguidade clássica greco-latina. As peças vocais compostas
sobre estes versos, seguiam rigorosamente o princípio de uma nota para cada sílaba
breve. Um exemplo é Revecy venir du printans, cujos poemas consideram sílabas com
longos e breves valores. E “Melismas com não mais de quatro notas atenuam a
uniformidade do ritmo e conferem uma certa leveza e encanto a cada uma das vozes”.
[Nota 6]
21
Ibid.
22
Castrato italiano, compositor e escritor. Seu tratado Opinioni de’ cantori antichi e moderni (Bologna,
1723) codificou ensinamentos passados e incluiu considerações de canto de ópera, igreja e câmera. Os
alunos deviam praticar escalas, unificar os registros de peito e de cabeça, saber realizar ornamentos e atuar
(Ibid., p. 22).
23
Tosi, citado por (FOREMAN, Edward Vaught (1969). A comparison of Selected Italian Vocal Tutors
of the Period circa 1550 to 1800. DMA diss. Illinois: University of Illinois., p. 33).
[Nota 6] GROUT, D. J.; PALISCA, C. V. História da Música Ocidental. Tradução
de Ana Luísa Faria. 5. Ed. Lisboa: Gradiva, 2007. p. 249.
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No conjunto das peças de cantochão podemos distinguir as que: (a) usam textos bíblicos
e (b) as que usam textos não bíblicos; cada uma destas divisões pode ser subdividida em
peças sobre textos em prosa e peças sobre textos poéticos.
-- Exemplos de textos bíblicos em prosa são as lições dos ofícios e a epístola e o
evangelho da missa; como textos bíblicos em prosa temos os salmos e os cânticos. Nos
textos não bíblicos em prosa incluem-se o Te Deum, diversas antífonas e três das quatro
antífonas marianas; cantos com textos poéticos não bíblicos são os hinos e as sequências.
-- O cantochão pode ainda ser classificado, segundo a forma como é cantado (ou era
cantado em épocas mais remotas), em: (a) antifonal (em que os coros cantam
alternadamente), (b) responsorial (a voz do solista alterna com o coro) e (c) directo (sem
alternância).
-- Uma terceira classificação baseia-se na relação entre as notas e as sílabas. (1) Os cantos
em que a maioria ou a totalidade das sílabas correspondem cada uma à respectiva nota
designam-se por silábicos; (2) os que se caracterizam por longas passagens melódicas
sobre uma única sílaba designam-se por melismáticos. A distinção nem sempre é nítida,
uma vez que as peças predominantemente melismáticas costumam incluir alguns trechos
ou frases silábicas e muitas peças quase inteiramente silábicas têm, por vezes, breves
melismas de quatro ou cinco notas sobre algumas sílabas. Este tipo de cantochão recebe,
por vezes, o nome de neumático.
Dá-se a um melodioso grupo de notas cantado numa única sílaba o nome de
meJisma, daí esse tipo de organum ser conhecido como "organum melismático". O tenor
da peça que transcrevemos abaixo foi tirado do Benedicamus Domino (mostrado na p.13):
Organum p. 14
Organum melismático p. 14
No começo do século XII, esse rigoroso estilo de nota contra nota foi inteiramente
abandonado, substituído por outro em que a voz principal se estica por notas do canto
com longos valores. A voz principal passou, então, a ser chamada de tenor (do latim
tenere, isto é, manter). Acima das notas do tenor, longamente sustentadas, uma voz mais
alta se movia livremente, expressa por notas de menor valor que, com suavidade, se iam
desenvolvendo. Dá-se a um melodioso grupo de notas cantado numa única sílaba o nome
de meJisma, daí esse tipo de organum ser conhecido como "organum melismático". O
tenor da peça que transcrevemos abaixo foi tirado do Benedicamus Domino (mostrado na
p.13)
Clausula p. 16
Moteto p. 17
No século XIII, as vozes mais altas das clausulae começaram a receber palavras
independentes do texto. O duplum passou, então, a ser conhecido como motetus (do
francês mots, que significa "palavras"), dando assim origem a um tipo de música popular
que foi chamada de moteto. Como muitas dessas composições foram elaboradas para
serem cantadas fora das igrejas, passaram a ser usadas palavras seculares. Sobre uma
clausula, talvez tirada de um organum a duas vozes, acrescentava-se uma terceira voz
(triplum), escrita com notas mais rápidas. Esta tinha palavras inteiramente independentes,
às vezes até em outra língua. É curioso observar que, musicalmente, o triplum poderia
tanto ajustar-se ao tenor (agora mais tocado do que cantado) como o duplum, mas não
precisava necessariamente adequar-se aos dois, do que por vezes resultavam conflitos dos
mais dissonantes! É típica da Idade Média essa forma de construção musical em camadas,
por vezes resultantes do trabalho de diferentes compositores.
Imitação
Nos finais de frases, onde a música pedia uma resolução interrompendo seu fluxo, o
compositor geralmente introduzia nova modalidade de imitação: os acordes finais eram
sustentados, enquanto uma das vozes surgia, trazendo nova idéia melódica, logo imitada
por outra voz. Desse modo, a trama musical ia sendo tecida, sobrepondo-se um fio ao
outro e criando-se um fluxo musical contínuo, sem "costuras" visíveis. Embora, nessa
música, o tecido polifônico seja o aspecto mais importante, a harmonia, por seu lado,
também começava a ganhar corpo, com os compositores renascentistas cada vez mais
conscientes do arcabouço vertical dos acordes que suportam a trama horizontal do
contraponto. Uma das questões que mereceram especial atenção da parte deles foi o
tratamento dos acordes dissonantes. Tudo isso veio ampliar em muito o campo da
expressão musical.
Musica Profana p. 26
Madrigais p. 26
Em 1588, uma série de madrigais italianos, com versos em inglês, foi publicada na
Inglaterra. O fato causou grande entusiasmo e logo os compositores ingleses estavam
compondo os seus próprios madrigais, que passaram a ser cantados nos lares de todas as
famílias apaixonadas pela música. Em geral, eram composições com um solista para cada
voz. Chegou a haver três tipos de madrigais na Inglaterra: o madrigal tradicional, o balé
e o ayre.
Na basílica de São Marcos, em Veneza, havia dois grandes órgãos e duas galerias para
coro, situadas em ambos os lados do edifício. Isso deu aos compositores o ensejo de
escrever peças para dois coros distintos. As composições nesse estilo são chamadas
policorais - músicas para mais de um coro. Assim, uma frase vinda da esquerda é
respondida por ela própria, ou talvez por outra, vinda da direita. E os efeitos obtidos eram
ricos e muito poderosos, quando se combinavam todas as forças. Os compositores
venezianos gostavam muito de empregar instrumentos ao lado de vozes na música sacra
e, com isso, podiam incluir em suas obras grupos de vários instrumentos, cada qual ligado
ao seu próprio coro. Algumas das peças policorais mais impressionantes são as de
Giovanni Gabrieli, que freqüentemente escreveu para três, ou até mais, diferentes grupos
tocando ao mesmo tempo. A textura dessa música policoral é um misto do estilo
homofônico com contraponto imitativo. E também existe a mistura da combinação com
contraste - combinação de sons dentro dos grupos, mas contrastes de vários tipos entre os
grupos. Por exemplo: •de registro: sons altos contrapondo-se a sons baixos; • de dinâmica:
sonoridade piano opondo-se a forte; • de textura: solos vocais ou instrumentais contra
grandes grupos de músicos; •de timbre: timbres brilhantes (ou coloridos) contrastados
com outros, mais profundos e sombrios.
RESUMO
QUADRO SINOPTICO – p. 80: Demonstra os elementos que continuaram sob nova configuração
no Barroco
FRICKE MATTE – p. 15
1) Nos tratados barrocos de ornamentação, embora gestos floridos mais longos ainda
fossem usados, podemos encontrar recomendações para o uso de figuras
ornamentais mais curtas com o intuito de aumentar o efeito emocional de
determinada palavra; apoggiaturas e dissonâncias frequentemente substituíam as
consonâncias principais e a escrita de ornamentos para instrumentos e para a voz
se tornou mais idiomática. O Regole, passaggi di musica, madrigali et mottetti
passeggiati (Veneza, 1594) de Giovanni Battista Bovicelli (fl 1592–4) é seguido
pelo Le Nuove Musiche (Florência, 1601, 2/1607, 3/1615) de Giulio Caccini
(1551-1618); o Regole utilissime… sopra la pratica della musica (Florence, 1606)
e o Varii esercitii, 1–2vv, insts, op.11 (Florence, 1614) de Antonio Brunelli (1577-
1630); e o Selva de varii passaggi (Milan, 1620) de Francesco Rognoni (segunda
metade do sec. XVI – morte em ou depois de 1626). De acordo com ERIG (1987),
os tratados que aparecem depois da publicação de Francesco Rogononi não são
comparáveis em extensão e, por isso, não os incluiremos aqui.
Eu rogo aos Signori Moderni para que me perdoem pela grande liberdade de
dizer em favor da profissão, que bom gosto não reside em velocidade contínua
de uma voz caminhando sem guia e sem fundamento, mas no cantabile, na
doçura do elevar a voz, na appoggiatura, na arte e inteligência de ornamentos,
indo de uma nota à outra com enganos singulares e inesperados e com o tempo
rubato, de acordo com o MOVIMENTO do baixo [letras maiúsculas de Tosi].
Essas são as qualidades principais indispensáveis e mais essenciais para cantar
bem e a inteligência humana não pode encontra-las em suas cadenzas
caprichosas. (Tosi, citado por FOREMAN, 44)
p. 249.
A par da chanson polifónica, surgiu em França, cerca de 1550, um outro tipo de chanson.
Estas novas chansons eram estritamente homofónicas, breves, estróficas, contendo muitas
vezes um refrão, e geralmente interpretadas a solo com acompanhamento de alaúde. De
início eram denominadas vaudevilles; mais tarde este tipo de composição passou a ser
conhecido por air ou air de cour (ária de corte).
Bibliografia
BENNETT, R. Uma breve história da música. Tradução de Maria Teresa Resende COSTA. Rio de
Janeiro: Zahar, 2007.
GROUT, D. J.; PALISCA, C. V. História da Música Ocidental. Tradução de Ana Luísa Faria. 5. ed.
Lisboa: Gradiva, 2007.
DELETADOS
24
Melisma. In: Dicionário infopédia da Língua Portuguesa [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2021.
[consult. 2021-04-04 02:01:58]. Disponível na Internet:
<https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua-portuguesa/melisma>
histórico-musical europeu, séculos antes dos períodos renascentista e barroco. É possível
rastrear a prática melismática na própria prática musical bizantina, que na Europa foi por
mais de um milênio uma cultura florescente, cominando elementos helenísticos e
orientais [Bizâncio: 330-1452 d.C.]. Este período deixou grandes marcas no cantochão
ocidental (principalmente séculos VI e o século IX)25.
25
GROUT, D. J.; PALISCA, C. V. História da Música Ocidental. Tradução de Ana Luísa Faria. 5. ed.
Lisboa: Gradiva, 2007. p. 36.