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Psicologia Social
Psicologia Social
A classe trabalhadora tem sofrido duros golpes com o avanço de políticas neoliberais no
território brasileiro e, no caso das mulheres, é preciso conceber como a vivência destas tem sido
atravessada pela pandemia no que diz respeito ao trabalho nas esferas produtiva e reprodutiva.
A diferenciação biológica entre os sexos justifica e naturaliza uma hierarquização entre os
gêneros, uma construção arbitrária que fundamenta uma visão androcêntrica de divisão sexual
do trabalho. Aos homens, historicamente é atribuído o trabalho produtivo, com funções
socialmente interpretadas como de maior valor. Já às mulheres é atribuído o trabalho
reprodutivo e o cuidado e a hierarquização de seu trabalho enquanto inferior ao que é
executado pelo homem.
Este, por sua vez, se apropria da mão de obra de mulheres, que executam a tarefa do cuidado
de modo não remunerado ao mesmo tempo em que concilia este com as tarefas de seu trabalho
remunerado. É indispensável frisar que a ascensão das mulheres ao mercado de trabalho se
deu não só como fruto da luta do movimento feminista, mas majoritariamente pelos interesses
da estrutura econômica capitalista, que agora via a figura da mulher enquanto consumidora e
mão-de-obra em potencial. Mesmo com a crítica e a pressão feminista, a precarização das
condições do trabalho e a desigualdade salarial em relação à remuneração oferecida aos
homens permanecem, bem como as tarefas da esfera reprodutiva. Trata-se de um ensaio
teórico-reflexivo embasado na epistemologia feminista, na psicologia social do trabalho e na
literatura sobre a temática.
Atualmente, apesar de ocuparem mais de 50% das vagas dos cursos de graduação , a
qualificação não tem garantido igualdade no acesso e permanência no espaço de trabalho, bem
como equidade nas condições de trabalho, sejam elas materiais ou relacionais. Tal
desigualdade se faz presente nos mais diversos campos, como por exemplo dentro da
universidade. É importante lembrar que mesmo que os concursos públicos garantam a isonomia
no acesso à função de docente das universidades e que haja instrumentos de garantias legais
de igualdade de direitos entre as e os docentes, como os planos de carreira, os salários e os
benefícios, entre outros, as discriminações provenientes da cultura patriarcal ainda se
encontram enraizadas nas IES públicas. Com a pandemia e a obrigatoriedade do trabalho
remoto, emergiram relatos sobre as diversas dificuldades que as docentes destas instituições
vêm enfrentando, uma vez que, com a não separação entre a casa e o trabalho, elas passaram
a exercer a dupla e até a tripla jornada de trabalho simultaneamente.
Além disso, em relação ao trabalho remoto, experimentaram falta de motivação, ansiedade, falta
de concentração e uma menor quantidade de trabalhado realizado. Sendo assim, as
discriminações diárias no ambiente de trabalho acarretam consequências físicas e psíquicas nas
vidas das docentes. Neste sentido, o papel da universidade deve ser vinculado a diminuição dos
abismos existentes entre raças, gêneros e classe econômica, e assim, não devem ser tratadas
como normais as disparidades entre os gêneros.
Assim, diante de tal problemática, o presente estudo teve por objetivo identificar como
ocorreu a adaptação dos estagiários de administração, discentes de uma instituição pública
de ensino superior no Estado do Rio de Janeiro, ao trabalho em home office durante a
Pandemia do Covid-19. O teletrabalho, em geral, é entendido como o tipo de trabalho
realizado fora das dependências da empresa, podendo ser em casa ou não, utilizando
tecnologias de informação e comunicação. 1 da Lei n 13.467 de 2017 caracteriza o
teletrabalho como «a prestação de serviços preponderantemente fora das dependências do
empregador, com a utilização de tecnologias de informação e de comunicação que, por sua
natureza, não se constituam como trabalho externo.» . Amador e Rocha também destacam
que o teletrabalho apresenta o «excesso de trabalho como resultado da adoção da
flexibilização de tempo e espaço».
Já Fontana , por sua vez, afirma que o estágio é relevante para a preparação da vida
profissional pois concede ao estudante a vivência do trabalho. Nesse sentido, o
desenvolvimento dessas questões em contexto de trabalho remoto apresenta-se como um
desafio não só para as organizações e para as universidades mas para o próprio processo
de formação acadêmica e de qualidade de vida dos estagiários. Foi possível com os
resultados da pesquisa, caracterizar o perfil dos estagiários de administração na
modalidade home office na instituição de ensino estudada, apresentar as características da
realização do estágio na modalidade home office, verificar como ocorreu a adaptação desta
modalidade de trabalho para os estagiários quanto ao ambiente de trabalho e à
aprendizagem, e identificar os impactos do teletrabalho na visão desses estagiários. Foi
possível perceber uma polarização quanto à visão dos estagiários sobre aspectos do
exercício do trabalho, da vida acadêmica e da experiência do teletrabalho.
Cabe destacar que a maioria dos estagiários não precisou adquirir equipamentos para
realização das tarefas em casa, mas os mesmos relataram a inexistência de ambiente
adequado em suas residências para realização do trabalho. Já quanto à relação
interpessoal e à saúde física e mental durante o trabalho remoto, as respostam indicaram
problemas à adaptação. Tal resultado condiz com pesquisas anteriores sobre a Pandemia
da instituição estudada, nas quais os estudantes já indicavam possuir dificuldades nas
relações interpessoais e no isolamento durante o trabalho este período.