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Lispectros

Lispectros é a presença fantasmática das reverberações da escrita de Clarice nos,


nem sempre indefectíveis, detalhes do cotidiano. Surge a partir dos devaneios de quem
se encontra em distanciamentos. Mas, também de antes, nasce dos encontros com o
texto de Clarice. Com aquelas sensações de não entendimento do que ocorre com meu
corpo durante a leitura dos seus textos.
Clarice é uma agulha que te espeta na escuridão da noite. Um horizonte sem
linha... deixa-te suspensa...
Agride-me o acinzentamento desses dias. Apavora-me a monocromia desses
tempos. Não me incomoda viver sozinha em um antigo apartamento de um conjunto
habitacional localizado na periferia de Porto Alegre e distante 25 km do centro da
capital do Rio Grande do Sul. Nesses lugares, onde as vidas são marcadas pela
monotonia da sobrevivência, todos os corpos parecem espectros, são presenças
fantasmas, perderam uma parte das ilusões. Estão distantes, geográfica e
emocionalmente, daqueles instantes pelos quais poderiam flutuar.
É quando Clarice entra pela porta e se apresenta como um espectro que está em
todos os lugares. É como observar um inseto que pousa em um vidro de uma janela.
Está, ao mesmo tempo, no céu e na janela. Clarice é essa poesia que nos vê. Um
espectro subsumido entre letras e palavras. Uma presença entre frases.

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