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Volume

APOSTILA DO ALUNO
Prof. Dr. Flávio Carvalho – MÚSICA/UFU

AnatomiaeFisiologiada
voz
APOSTILA DO ALUNO

Prof. Dr. Flávio Carvalho

2022
Capítulo

Introdução
Este material que apresentamos aqui, vem ao encontro da necessidade de termos em mãos um material de
fácil assimilação para os alunos da disciplina “Anatomia e fisiologia da voz” dos cursos de Música da
UFU..

C onscientes de que os Atlas de Anatomia em geral não são específicos para o ensino e aprendizagem do
aparelho fonador, e que ele é formado por partes distintas de outros setores da divisão do corpo
humano tradicionalmente feita pela ciência da anatomia, colocamos aqui as figuras e desenhos
relacionados ao ato fônico do canto com o objetivo de facilitar o estudo e a compreensão do aluno.
Todos os desenhos e figuras aqui representados receberão a devida referência de suas fontes.
Vejamos abaixo as características da disciplina:

Objetivos:
 Conhecer e identificar músculos e estruturas anatômicas do trato vocal;
 Conhecer e identificar órgãos, músculos e estruturas anatômicas coadjuvantes ao processo de
fonação;
 Identificar os processos e mecanismos envolvidos na produção vocal.
 Fundamentar seu comportamento vocal por meio de uma utilização consciente e segura das
potencialidades e limitações de seu aparelho fonador.

Ementa:
Conhecimentos básicos das características anatômicas, fisiológicas e acústicas da fonação em geral e
do canto, em particular, que favoreçam a conscientização dos seus processos e mecanismos,
possibilitando um maior controle da qualidade de emissão e segurança na sua utilização.

Conteúdo programático:
Noções básicas de anatomia e fisiologia relacionadas aos mecanismos e processos da fonação em geral
e do canto, em particular.

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1. Estudo da anatomia e fisiologia do órgão fonador

Apresentamos aqui os conhecimentos necessários para entendermos o órgão fonador.


Estudaremos então a anatomia da laringe, do pavilhão faringobucal e do setor respiratório, bem como
sua fisiologia e as inter-relações que estabelecem entre si.
Comecemos nosso estudo entendendo como se processa a fonação. Para isto vejamos o que nos
diz Paulo Louzada em seu livro As bases da educação vocal:

A fonação parece simples embora, de fato, seja bastante complexa: o ar sob pressão passa pela
glote estreitada, promove vibrações e se constitui em som; os harmônicos deste som sofrem supressão
ou ganham reforço nos espaços que vão da glote ao plano anterior das fossas nasais. A provisão de ar é
assegurada pelo reservatório pulmonar, num regime funcional específico e numa regulagem adequada à
equação fônica em questão, ou seja, ás exigências dos dois setores anteriores.

Sendo assim, entendemos que são três os setores responsáveis pela fonação: a laringe (órgão
fonador), a caixa harmônica ou de ressonância (espaços que vão da glote ao plano anterior das fossas
nasais), e o setor respiratório (pressão aérea subglótica)
Vejamos cada setor isoladamente para nosso estudo.

1.1. Laringe

A laringe está situada entre a traquéia e a faringe e se apresenta


como um cilindro curto formado pelas seguintes cartilagens (de
baixo para cima):
 Cartilagem Cricóide: em forma de anel, cuja altura aumenta
paulatinamente para a parte posterior.
 Cartilagens aritenóides: situam-se na placa ascendente da
cartilagem cricóide, uma de cada lado da linha mediana, com
forma piramidal.
 Cartilagem Tiróide: posiciona-se acima do anel da cricóide, em
forma de meio-tubo com abertura para trás envolvendo o
conjunto formado pela placa ascendente da cricóide encimada
pelas aritenóides.

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 Cartilagem Epiglote: em forma de folha, se fixa na parte interna da face anterior da cartilagem
tireóide.
Vejamos então as cartilagens em sua inter-relação anatômica e isoladamente:

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Cartilagens isoladas:

Cricóide

Aritenóides

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Tireóide

Epiglote

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1.1.1. Fisiologia e inter-relações
A cartilagem tireóide possui dois cornos (ou bordas) laterais inferiores direito e esquerdo que
se articulam lateralmente no terço posterior do anel cricóide, de modo que as duas cartilagens podem
realizar um movimento de báscula, como se um eixo as perpassasse neste ponto de encontro. Com
este movimento o diâmetro antero-posterior da laringe se modifica sendo mais acentuada a
modificação na parte superior. Esta movimentação laríngea se constitui em um dos mecanismos de
distensão das pregas vocais que tem sua parte anterior fixada na cartilagem tireóide e a parte posterior
nas aritenóides.
As cartilagens aritenóides, que estão sobre a placa ascendente da cricóide,tem seu formato
piramidal com uma base triangular que se alonga para trás e lateralmente. O ângulo anterior da base
(chamado apófise vocal) é o ponto onde se fixa a parte anterior da prega vocal e elementos musculares
a ela relacionados. O ângulo posterior (chamado apófise muscular) é onde se inserem os músculos
responsáveis pelo movimento de rotação das aritenóides que acontece em volta de um eixo vertical e
determina a adução (fechamento) e abdução (abertura) das pregas vocais. Este mecanismo aproxima e
distende as pregas vocais.

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Além do movimento de rotação, as aritenóides realizam o deslizamento sobre suas bases,
aproximando-se da linha mediana do anel cricóide, promovendo também a aproximação e a distensão
das pregas vocais.

1.2. Pregas vocais:


As pregas vocais são, basicamente, expansões músculo-membranosas da laringe. São livres em
toda a extensão e fixas à frente no centro da face posterior da cartilagem tireóide
e, atrás, na apófise vocal das cartilagens aritenóides; possui um lado externo, fixo no arcabouço
cartilaginoso, desde a extremidade anterior da corda até a posterior. As bodas internas formam entre si
um ângulo de vértice anterior. As bordas são reforçadas por uma lâmina fibrosa de corte triangular,
recobertas pela mucosa das cordas vocais. A face que fica diretamente em contato com o músculo
vocal chama-se ligamento tiroaritenoideu ou ligamento vocal. A mucosa que recobre as pregas
vocais se expande abaixo para a traquéia e acima para os recessos laríngeos.
Vistas de frente, no meio de sua extensão, as cordas vocais se apresentam triangulares com a parte
superior bastante horizontal e a parte inferior oblíqua, como podemos ver na figura abaixo:

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A estrutura interna das pregas vocais também deve ser observada quanto à sua formação,
como podemos ver na figura a seguir:

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1.3. Músculos da laringe1:
Os músculos da laringe podem ser agrupados em dois grupos:
Grupo 1: os que promovem o relacionamento entre as cartilagens do órgão.
Grupo 2: os que relacionam o órgão com outros setores.
No primeiro grupo, temos 5 músculos pares e um ímpar, que têm inserção na cartilagem
aritenóide (a chamada “Estrela aritenóidea”). São os chamados músculos intrínsecos à laringe. Um
outro músculo, que é externo, anterior que liga a cartilagem cricóide à tireóide, chamado metamérico.
Neste grupo somam-se, portanto, 7 músculos.
Passemos ao estudo de cada um deles e suas funções:

1.3.1. Músculos Tiroaritenoideus (TA)

1Para visualização dos músculos citados nesta parte da apostila, consultar o Atlas Anatômico disponibilizado pelo professor no Núcleo
de Computação Sônica do DEMAC.

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Um de cada lado inserem-se à frente, num ponto central da face posterior da cartilagem
tireóide; atrás, na apófise vocal da aritenóide e, por feixes dispersos, tanto no sentido vertical como
horizontal, em vários pontos cartilaginosos ou ligamentosos. Ocupam a espessura das pregas vocais e
são também chamados músculos vocais. (...) Sua ação, também objeto de muita controvérsia, não foi
(...) explicado de modo completo e definitivo. É obvio, entretanto, que sua contração determina ou
tende a determinar encurtamento e engrossamento; este, dado o maior volume local de sua massa,
predomina na parte posterior. (Louzada, 1982, p.29).

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Estes músculos estão relacionados à moldagem ou regulagem da fenda glótica que determina a
variação da freqüência do som laríngeo pela alteração do comprimento da “glote funcional”.

1.3.2. Músculo cricoaritenoideu lateral (CAL)


Sua extensão vai da parede externo-lateral da cartilagem cricóide até a apófise muscular da
cartilagem aritenóide do mesmo lado. Sua contração promove a rotação para dento da apófise vocal
de cada aritenóide promovendo aproximação (adução) e distensão das pregas vocais. É um músculo
tensor e adutor da glote.
Segundo muitos autores, esta forma de adução é comum na fala de baixa intensidade (o falar
cotidiano) e imprópria para a fonação de grande intensidade como o canto lírico e a locução.

1.3.3. Músculo cricoaritenoideu posterior (CAP)


Tem início na face posterior da cartilagem cricóide indo até a apófise muscular da cartilagem
aritenóide, de cada lado. Seu movimento é para cima e para fora, promovendo a rotação das apófises
vocais das aritenóides para fora, determinando a abertura da glote (abdução). Este movimento é
fundamental na respiração e prevalece na situação de repouso.
Os músculos CAL e CAP podem se contrair simultaneamente quando se faz necessário uma
contratensão fixando as aritenóides protegendo-as em caso de uma grande tração para frente pela ação
do músculo cricotiroideu.
1.3.4. Músculo ariepiglótico (AE)

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Nasce no vórtice da aritenóide e vai até a epiglote. È um músculo fino e atua no fechamento
da abertura superior da laringe. Sua importância para o canto é mínima.
1.3.5. Músculo interaritenoideu ou ariaritenoideu oblíquo (AAO)
Tem início na apófise muscular de uma aritenóide ao vértice de outra.
1.3.6. Músculo interaritenoideu ou ariaritenoideu transverso (AAT)
Músculo impar, formado por fibras transversais, indo da borda externo-posterior de uma
aritenóide à outra, aproximando as duas cartilagens por deslizamento. Sua ação, conjugada com a dos
CT, promove a adução (fechamento) das pregas vocais. Constitui-se na segunda forma de adução das
pregas vocais, sendo fundamental no canto lírico.

1.3.7. Músculo cricotiroideu (CT)


Este músculo é externo e anterior e relaciona a cartilagem cricóide com a tireóide, sendo de
grande interesse para o estudo do canto.
Está localizado na parte anterior da laringe e é chamado metamérico por relacionar dois anéis
sobrepostos. Nasce na linha anterior e externa do anel base da cricóide indo até a borda inferior da
tireóide.
Sua contração aproxima os dois anéis fazendo descer e avançar a cartilagem tireóide sobre a
cricóide, resultando da distensão das pregas vocais. É um músculo tensor das PV.

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1.3.8. Outros músculos da laringe
Estudaremos agora os músculos que relacionam a laringe com outros setores acima e abaixo dela, que
podem ter a função de abaixar ou elevar a laringe.

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Os abaixadores da laringe são o esternotiroideu e o esternoioideu, que vão, respectivamente
do esterno à cartilagem tireóide e do esterno ao osso ióide. Os dois músculos colaboram no
basculamento da tireóide sobre a cricóide. O músculo omoioideu também colabora no abaixamento
da laringe pelo rebaixamento do osso ióide mas em uma tração para trás.
Os elevadores da laringe podem ser divididos em dois grupos: o antero-posterior e o póstero-
superior.
Do primeiro grupo fazem parte o gênio-ioideu, o milo-ioideu, e o ventre anterior do
digástrico.
Do segundo grupo fazem parte o estilo-ioideu, o estilofaringeo, o ventre posterior do
digástrico e os constrictores da laringe elevam a laringe tracionando-a para trás.

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2. Teorias da produção da voz

2.1. Teoria mioelática


Lançada no início da década de 1930, esta teoria afirmava que os músculos vocais se contraiam
relativamente à altura do som que seria emitido. O ar subglótico sob pressão os separariam e estes
elementos, por sua elasticidade, voltariam à posição inicial. Prosseguindo a vibração em conseqüência
de um automatismo elástico involuntário
2.2. Teoria neurocronaxica
Em 1950, HUSSON, depois de suas pesquisas formulou esta teoria, segundo a qual a vibração não
seria um ato passivo, elástico, e sim um fenômeno de responsabilidade da fisiologia nervosa,
puramente. A adução e a vibração seriam governadas pelos centros nervosos corticais.
2.3. Teoria muco-ondulatória
Divulgada por PERELLÓ em 1962, ela propõe que não ocorre vibração por elasticidade
muscular, porém apenas um movimento ondulatório ou vibratório, da mucosa que recobre as pregas

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vocais, não aderentes no plano inferior – o conus elasticus – quando as cordas são tencionadas e algo
afrontadas, sendo este movimento provocado pela pressão aérea subglótica, que força uma saída de ar
aos bocados. Cada prega vocal é acionada passivamente, à semelhança do que ocorre com uma
bandeira ou uma superfície líquida, agitadas pelo vento. Esta teoria corrige e amplia os conceitos da
teoria neurocronaxica.
Veremos mais à frente que esta teoria também foi aperfeiçoada e que novas descobertas
científicas vão acrescentando informações importantes para entendermos o ato fônico.

https://www.youtube.com/watch?v=BLv_O7DuI4U&index=2&list=RDJgBM78h80Hg

https://www.youtube.com/watch?v=auzYrSpez8Y&index=3&list=RDJgBM78h80Hg

https://www.youtube.com/watch?v=IdDFkkxUTJ0

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