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Universidade Rovuma

Faculdade de Ciências de Educação e Psicologia

Trabalho de Carácter Avaliativo de Psicologia Comunitária

Nomes dos elementos do grupo:


Altino Rolinho José Quelimane
Amarildo Benjamim Victor Valane
Domingas Abacar Carlitos Momade
Docente: MA. Sérgio Salatiel Huó
O papel do psicólogo comunitário na promoção do bem-estar social das
comunidades: uma reflexão sobre as possibilidades de intervenção em contexto de
populações deslocadas por violência terrorista

Introdução

O acontecimento de um desastre carrega perdas, comummente se avaliando a gravidade


pelos prejuízos financeiros e sociais da região afectada, o que faz sentido num contexto
estatístico e de avaliação das consequências. Porém uma visão mais ampla e
direccionada às vítimas também deve enxergar os abalos psicológicos que estes
acontecimentos causam nos afectados, visto que a instabilidade da situação irá reflectir
na instabilidade das emoções e do manejo das diversas consequências, facilitando o
desenvolvimento de transtornos de ansiedade, estrese ou depressão.

Esses eventos podem provocar prejuízos físicos e emocionais, além dos danos materiais,
tornando a população vulnerável e ocasionando estrese e sentimentos de desamparo. É
possível confirmar aqui, a importância da actuação do psicólogo nesses contextos,
elaborando projectos de intervenção e promoção de saúde mental.

1. Terrorismo

O terrorismo, de uma forma geral, seria um ataque a um indivíduo específico ou a um


grupo de indivíduos, de forma a assustar e coagir um grande número de outros, ou seja,
é o recurso utilizado por uma minoria de maneira a impor à sociedade uma determinada
convicção. (CLUTTERBUCK, 1977. p. 11).
Liga das Nações, na primeira Convenção de Genebra de 1937, que previa em seu artigo
1º: “Na presente Convenção, a expressão ‘actos terroristas’ quer dizer fatos criminosos
dirigidos contra um Estado, e cujo objectivo ou natureza é de provocar o terror em
pessoas determinadas, em grupos de pessoas, ou no público”.

1.1. Características

A maioria das definições existentes, tanto na literatura académica, como na legislação,


tem pelo menos três características principais em comum:

 O terrorismo tem como intenção provocar a morte ou grave ofensa corporal e/ou
dano a uma propriedade pública ou privada;
 O terrorismo tem um alvo aleatório, em particular pessoas civis;
 O terrorismo tem como objectivo intimidar a população (ou um segmento
específico da população), ou compelir um governo ou uma organização
internacional a tomar determinada decisão, ou a abster-se de a tomar; ou a
desestabilizar governos e sociedades.
O terrorismo, apesar de não possuir uma definição universalmente aceite, pode ser
definido como o uso da força ou violência contra pessoas ou bens em violação das
legislações internacionais para fins de intimidação e coerção. Os terroristas usam
frequentemente ameaças para criar o medo entre o público, para tentar convencer os
cidadãos de que os seus governos são impotentes, para impedi-los e para obterem
publicidade imediata para as suas causas.

O tipo e as causas da catástrofe poderão ser também um elemento que influencia a


reacção das vítimas. Como apontado inicialmente, as catástrofes podem advir de causas
naturais ou humanas. As reacções das vítimas de catástrofes que derivam destas duas
causas podem diferir. Mais especificamente, quando a catástrofe acontece devido a
influência humana, como é o caso do terrorismo, poderá trazer confusão, incerteza e um
sentimento de vulnerabilidade contínua às vítimas.

As pessoas afectadas geralmente vão necessitar de mais tempo de suporte após os


ataques terroristas (Ben-Gershon et al., 2005).

1.2. Papel dos psicólogos comunitários face populações deslocadas por violência
terrorista
A ocorrência de um acto de terrorismo tem, igualmente, consequências que extravasam
as vítimas directas, uma vez que, pela sua natureza, um número muito elevado de
cidadãos será indirectamente afectado, constituindo-se como vítimas secundárias e com
necessidade de apoio psicológico de emergência.

Adicionalmente, os psicólogos representam um importante contributo nas operações de


socorro de outras áreas de intervenção, nomeadamente:

Evacuação de populações (entidade coordenadora: Forças de Segurança, de acordo com


o espaço de jurisdição da emergência) – evacuar a população em risco, com especial
atenção aos grupos mais vulneráveis (crianças, idosos, pessoas acamadas, pessoas com
mobilidade reduzida, pessoas com deficiência);

Apoio logístico às populações (entidade coordenadora: Instituto Nacional de Segurança


Social, INSS) – assegurar a distribuição de bens essenciais (água, alimentos e roupas);

Centro de pesquisa de desaparecidos e reunificação de familiares (entidade


coordenadora: Forças de Segurança Nacional) – assegurar as acções de pesquisa de
desaparecidos, proporcionar a reunificação dos familiares com as vítimas ilesas ou
hospitalizadas, bem como a inventariação e armazenamento dos espólios das vítimas
mortais;

Apoio ao reconhecimento de corpos e luto recente (entidade coordenadora: Ministério


Público) – apoio psicológico específico aos familiares das vítimas mortais, quer no
decorrer do processo de reconhecimento dos corpos quer no luto recente.

Na sua actuação o psicólogo comunitário no contexto de populações deslocadas por


violência terrorista actua especialmente na Implementar programas de aumento da
percepção de risco para a população (identificar e aceitar os riscos existentes, motivar
para a adopção de medidas e comportamentos de autoprotecção, aumentar o
conhecimento e confiança no sistema de resposta a emergências).

 Criar material psicodidáctico (efeitos dos incidentes potencialmente traumáticos


e medidas promotoras de resiliência psicológica) adaptado quer ao tipo de
emergências quer ao público-alvo;
 Criar Planos Prévios de Intervenção de apoio psicológico, consoante o tipo de
emergência e de público-alvo;
 Apoiar psicologicamente – Prestação de Primeiros Socorros Psicológicos às
vítimas primárias (directamente envolvidas no desastre), secundárias (familiares
das vítimas primárias) no Teatro de Operações;
 Evacuar populações – Evacuação da população em risco, com especial atenção
aos grupos mais vulneráveis (crianças, idosos, pessoas acamadas, pessoas com
mobilidade reduzida, pessoas com deficiência);
 Dar apoio logístico às populações – Assegurar a distribuição de bens essenciais
(água, alimentos, agasalhos e roupas);
 Apoiar o reconhecimento de corpos e luto recente – Apoio psicológico
específico aos familiares das vítimas mortais, quer no decorrer do processo de
reconhecimento dos corpos, quer no luto recente;
 Dinamizar grupos de auto-ajuda, com base na metodologia de trabalho de pares,
de vítimas associadas à emergência.
1.3. As possibilidades de intervenção em contexto de populações deslocadas por
violência terrorista

Hobfoll (2007) Apud Serra et al., 2015 reuniu um painel mundial de especialistas no
estudo e tratamento das pessoas expostas a catástrofes e violência em massa, para
extrapolar dos campos de pesquisa relacionados e para obter consenso sobre os
princípios de intervenção em Catástrofe. Segundo os meio possíveis de intervenção do
psicólogo comunitário perante as vitimas foram identificados cinco princípios de
intervenção suportados empiricamente que devem ser utilizados para orientar e informar
a intervenção nos cenários de populações deslocadas por violência terrorista. Estes são a
promoção de:

1. Sensação de segurança;
2. Tranquilização;
3. Sensação de auto-eficácia e de eficácia da comunidade;
4. Conexão;
5. Esperança.

Promoção da Sensação de Segurança

Reduz os aspectos biológicos das reacções de stress traumático; Afecta positivamente os


pensamentos que impedem a recuperação.
Acções para a saúde pública:

 Conduzir para um local seguro;


 Tornar claro que estão em segurança;
 Educar para como tornar o ambiente seguro;

Promoção do Tranquilizar

Reduz a ansiedade, a activação elevada, o adormecimento ou as emoções fortes, com


melhoria de: Sono; Alimentação; Tomada de decisão; Desempenho dos diferentes
papéis; Reduz a probabilidade de psicopatologia a longo prazo.

Acções para a saúde pública:

 Ajudar as pessoas a resolver preocupações;


 Dar informação sobre se os entes queridos estão seguros;
 Informar se ainda existe algum risco presente;

Educação comunitária em massa sobre:

 Reacções comuns após um evento potencialmente traumático;


 Técnicas de gestão da ansiedade;
 Sinais de evolução negativa das reacções de stress e onde e como procurar
ajuda;
 Limitar a exposição aos meios de comunicação social.

Promoção da Sensação de Auto-eficácia e de Eficácia da Comunidade

Promover as crenças das pessoas acerca das suas capacidades assim como promove a
auto-regulação de pensamentos, emoções e comportamentos.

Acções para a saúde pública:

 Dar recursos às pessoas;


 Tanto quanto possível envolver os sobreviventes nas tomadas de decisão e nos
trabalhos de recuperação;
 Promover actividades que eram desenvolvidas na comunidade, como:
 Actividades religiosas;
 Encontros convívio;
 Utilização de rituais colectivos de cura e de luto;
 Colaboração com líderes locais.
 Desenvolver “comunidades competentes”, que:
 Encorajam o bem-estar dos seus cidadãos;
 Têm esperança no futuro;

Promoção da Conexão à Rede Social de Suporte

Esta relacionado com melhor bem-estar emocional e recuperação e dá oportunidade de:

 Informação sobre recursos existentes;


 Resolução de problemas práticos;
 Compreensão emocional;
 Partilha de experiências;
 Normalização das reacções de stress e das experiências;
 Instruções mútuas sobre a forma de lidar com os problemas.

Acções para a saúde pública:

 Identificar aqueles que:


 Não têm suporte;
 Provavelmente ficarão socialmente isolados;
 Têm suporte social que transmite mensagens erróneas e desadaptactivas.
 Ajudar os indivíduos a ligarem-se aos seus entes queridos;
 Aumentar a quantidade, qualidade e frequência dos contactos de suporte;
 Falar sobre potenciais influências negativas.

Promoção da Esperança

 Resultados favoráveis estão associados com:


 Optimismo;
 Expectativas positivas;
 Sentimento de confiança na via e/ou no próprio;
 Crenças espirituais fortes.

Acções para a saúde pública:

 Suportar a reconstrução das economias locais;


 Ajudar as pessoas a:
 Ligarem-se aos recursos;
 Partilharem a sua experiência e a esperança;
 Construir significado do que aconteceu;
 Aceitar que as suas vidas e o seu ambiente mudaram.

Estes cinco princípios descritos por Hobfoll (2007) Apud Serra et al., 2015 são hoje
considerados como transversais a todas as intervenções e modelos na área da
intervenção em catástrofe, como é o caso de terrorismo. Na aplicação destes princípios a
nível internacional, é crítico que se considere a cultura local e se adapte a
implementação da intervenção às características singulares da população local.

Conclusão

Chegados ao fim é essencial realçar que a participação na resposta as possibilidades de


intervenção em contexto de populações deslocadas por violência terrorista ou às
operações de socorro, não é realizada por psicólogos a título individual, mas sim por
psicólogos inseridos em entidades devidamente acreditadas como agentes de protecção
civil. Só assim se garante a qualidade do apoio psicológico de emergência prestado às
vítimas, com psicólogos devidamente habilitados e formados para o efeito, integrados
em equipas de emergência, com estrutura de comando própria e abrangidos pela
coordenação das operações de socorro.

Bibliografia

Ben-Gershon, B., Grinshpoon, A., & Ponizovsky, A. (2005). Mental Health Services
Preparing for the Psychological Consequences of Terrorism.

Clutterbuck, R. (1977) Tradução de Virgínia Bombeta. Guerrilheiros e Terroristas Rio


de Janeiro: Biblioteca do Exército Editora. p. 11.

Serra, C, M., Pires, D., Faria, J., Pereira, M,. Ângelo, R, P,. & Guerreiro, V, O. (2015).
Intervenção Psicológica em Crise e Catástrofe. Ordem dos Psicólogos Portugueses. 1.ª
ed. Isabelgráfica. Lisboa.

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