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A IASD E A TRINDADE

Parte 1:
Os Pioneiros Adventistas e a Trindade
Joaquim A. Tchipoke

 Huambo, Angola
 30/12/2023
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OS PRIMEIROS ADVENTISTAS E A TRINDADE

Até aqui, mais de 170 anos já se passaram desde que a IASD (Igreja
Adventista do Sétimo Dia) foi fundada. São quase dois séculos. Pouco
tempo comparado com o tempo decorrido desde que o cristianismo foi
fundado. Também pouco tempo se comparado com o tempo decorrido
desde que o cristianismo se corrompeu nas mãos do papado. Pouco tempo
ainda se comparado com o tempo decorrido desde que o fogo da Reforma
protestante queimou a palha pagã do cristianismo. Mas foi tempo suficiente
para os salteadores nela se infiltrarem e roubarem e destruirem suas bases,
seus alicerces. Foi tempo bastante para seus membros se esquecerem do
caminho em que o Senhor fez seus filhos fiéis andar. Foi tempo suficiente
para se esquecerem das veredas antigas.
Hoje, assim como as igrejas protestantes e evangélicas não
correspondem às igrejas fundadas pelos reformadores, a Igreja Adventista
não corresponde à Igreja Adventista fundada há mais de um século e meio.
Isto é assim porque os líderes contemporâneos decidiram banir os
fundamentos da Igreja e substituiram-nos por outros que são segundo seus
corações e desejos, e não segundo o coração e vontade de Deus. Esses
líderes contemporâneos, líderes e doutores da Igreja fazem os outros
crerem que creem exactamente como creram seus pioneiros, quando em
verdade já foram conduzidos numa direcção completamente oposta.

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É verdade que crer como creram os nossos pioneiros não significa
crer como a Bíblia ensina, porque nenhum pioneiro foi uma vez um padrão,
uma norma de fé e doutrina; um pioneiro não é a Palavra de Deus e, não
é um pioneiro que tem a última palavra em questões de fé, doutrina e
prática. Mas, mesmo assim nós devemos atentar para a maneira como
Deus lhes guiou. Pois, se cremos que através deles Deus iniciou uma obra,
então Deus também lhes deu luz, verdades que nós devemos apreciar e
continuar nelas até que, achando graça diante de Deus, nos seja acrescida
luz e verdade. E Deus sempre acrescenta luz, e não substitui luz ou
verdades. Deus pode até substituir pessoas em Sua Obra, mas jamais
altera a sua Luz e a sua Verdade, porque a sua Palavra é eterna, o seu
Evangelho é eterno. Por causa da grandeza do seu Evangelho e da
pequenez da nossa mente, Deus nos dá a sua Luz em pequenas porções,
de tempos em tempos. E é importante perceber que uma porção nunca
substitui a outra, apenas a complementa.
Não levando em consideração isto, muitos, achando-se mais sábios e
inteligentes, viram que não precisavam atentar para as crenças e
experiências dos nossos predecessores e simplesmente formaram novas
crenças, novas concepções sobre Deus e sobre seu Evangelho. Com relação
à Deus que concepção tinham os pioneiros adventistas? Esta é questão que
nos leva a pesquisa, ao estudo onde descobrindo o que eles criam a respeito
de Deus faremos outra: por que não cremos como eles criam? Apenas uma
das seguintes respostas fará sentido:
1. Eles não acreditavam como a Bíblia ensina e nem como ensina o
Espírito de Profecia.
2. Nós nos recusamos a crer como a Bíblia ensina e como ensina o
Espírito de Profecia.
Que os primeiros adventistas de facto não concebiam a Deus do
mesmo jeito que hoje O concebemos é um facto incontestável. Vários
textos, artigos e até livros foram escritos trazendo provas deste facto.
Como nós concebemos a Deus hoje, ou a Divindade? Nós acreditamos que
Deus ou a Divindade é uma Trindade. Nós acreditamos que “há um só Deus:
O Pai, o Filho e o Espírito Santo, uma unidade de três pessoas coeternas”

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(NISTO CREMOS, 2017 P. 27). Os pioneiros, por sua vez, não acreditavam
que Deus é uma Trindade, uma unidade de três pessoas coeternas.
Alguns dizem que eles não acreditavam na doutrina da Trindade
porque na época ainda não tinham recebido de Deus luz suficiente a
respeito do assunto da natureza de Deus. Outros dizem que não
acreditavam porque na altura predominava a Trindade católica que é
diferente da Trindade bíblica que foi descoberta mais tarde na Bíblia e no
Espírito de Profecia pelos doutores adventistas. Bem, tudo isto não passa
de “blá blás” das pessoas que se recusam ver a verdade. A doutrina da
Trindade começou a ser apregoada entre os cristãos desde o IV século d.
C., como, então, até o século XIX Deus ainda não tinha dado luz suficiente
a respeito de sua natureza? Como é que Deus levanta homens e mulheres
para levar ao mundo a sua última mensagem de advertência sem dar-se a
conhecer primeiro? E, será que existe mesmo uma diferença significativa
entre a Trindade dita católica e Trindade dita adventista?
Em 1869 Cotrell, o pastor e pioneiro que preparava as lições da escola
sabatina, disse:
Sustentar a doutrina da Trindade, não é mais que uma evidência da
intoxicação pelo vinho que todas as nações beberam. O fato dessa ser uma
das principais doutrinas, senão a principal, pela qual o bispo de Roma foi
exaltado ao papado, não recomenda muito em seu favor. Isto deveria fazer
alguém investigar por si mesmo, como quando os demônios fazem milagres
para provar a imortalidade da alma. (1)

Os pioneiros, obviamente, não rejeitaram a doutrina da Trindade


como meras crianças no mundo teológico, completamente ignorantes sobre
o assunto. Eles rejeitaram a doutrina tendo conhecimento de causa e
fundamentos escriturísticos suficientemente sólidos. Sua posição, como
veremos, estava perfeitamente alinhada com a Bíblia. E só por este motivo
nos alinhamos a eles. Vários proeminentes pioneiros adventistas
manifestaram sua aversão à doutrina da Trindade apresentando suficientes
razões para a mesma atitude. O pioneiro James White foi quem maior
oposição apresentou. Em 1846 James White escreveu:
“A forma espiritualista pela qual negam a Deus como o único Senhor, e Jesus
Cristo esta, numa primeira posição, constitui um antigo credo trinitariano,
fora das escrituras; que Jesus é Deus eterno. No entanto não existe
passagem das escrituras que dê suporte isso. Temos testemunhos bíblicos
em abundância que ele é o Filho do Eterno Pai.” (2)

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Alguns alegam que James White escreveu contra a Trindade porque
ele vinha de um movimento chamado Coligação Cristã. Como esse
movimento era declaradamente antitrinitariano, James White não tinha
como não ser também antitrinitariano. Isto pode até ser o motivo. Mas
James White participou na fundação da igreja adventista e nela
permaneceu antitrinitariano até sua morte. Se ser antitrinitariano é contra
as Escrituras e, portanto, uma ofensa a Deus, como Deus o deixou nesta
posição até sua morte?
James White assevera que a doutrina da Trindade é uma forma de
destituir a Deus de único Deus eterno e a Jesus de único Filho do Deus
eterno. Para este pioneiro não existe nenhum fundamento bíblico para a
doutrina da Trindade. O que a Bíblia ensina é que Jesus é o Filho de Deus.
E isto não pode ser concebido simultaneamente com um “credo trinitariano”
que afirma que o Pai e o Filho são coeternos. O pioneiro James White
menciona a Trindade como uma das fábulas papais. Ele escreveu para a
mais antiga e, até então, a maior revista adventista:
Mas, a fábula Pagã e Papal da natural imortalidade, fez do maior inimigo do
homem, a morte, a porta para a felicidade eterna, e deixa a ressurreição
como uma coisa de pequena significação. É a base do espiritualismo
moderno.

Aqui nós devemos mencionar a Trindade que acaba com a personalidade de


Deus, e de seu Filho Jesus Cristo, e o batismo por aspersão que em vez de
sepultar em Cristo no batismo, em significado da sua morte. Mas nós saímos
destas fábulas para encontrar outra, que é sagrada para quase todos os
cristãos, católicos e protestantes. (3)

A doutrina da Trindade é uma invenção do papado. Na verdade ela é


uma herança idolátrica. Após herdar esta doutrina do paganismo, o papado
modelou-a e vestiu-a com roupagens cristãs e a impus aos cristãos. Todos
os cristãos tinham que crer nesta doutrina sob pena de morte. Com esta
doutrina o próprio Deus é destruído em lugar de ser glorificado. A grandeza
e a personalidade de Deus são engolidas nos conceitos impostos à fé cristã
com a doutrina da Trindade. J.N. Andrews (outro pioneiro de destaque)
escreveu, em concordância com James White, que a doutrina da Trindade
“destrói a personalidade de Deus e seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor.”
E que “a forma infame como foi imposta à igreja, aparece nas páginas da

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história eclesiástica, que causa aos que acreditam na doutrina corar de
vergonha.” (4)
Os doutores adventistas jactam-se de terem uma doutrina trinitária
distinta da dos católicos; dizem que sua concepção de Trindade é bíblica e
não “acaba com a personalidade de Deus, e de seu Filho Jesus Cristo”. Mas
isto simplesmente não é verdade; não é o que se percebe nos livros e
manuais da denominação. Diga-me, como não destruir a personalidade de
Deus o Pai e a de seu Filho Jesus Cristo ao se declarar que “há um só Deus:
O Pai, o Filho e o Espírito Santo, uma unidade de três pessoas coeternas.”?
(NISTO CREMOS, 2017 P. 27). Se há só um Deus, o qual é uma unidade de
três pessoas coeternas, então Deus não é uma pessoa, não tem
personalidade. Se o Pai é Deus eterno, o Filho é Deus eterno e o Espírito
Santo é Deus eterno conforme se diz nos livros doutrinários da IASD, então
não há um só Deus. Como disse o pioneiro LOUGHBOROUGH (1869): “Se
Pai, Filho e Espírito Santo são cada um de per si Deus, seriam três Deuses.”
Com efeito, esses doutores só se complicam e complicam os outros; a Bíblia
não tem nada disso.
Gostando ou não, essa doutrina cheira a paganismo e a papado. Essa
doutrina perverte todo conhecimento de Deus e de Sua pessoa; destrói Sua
grandeza, beleza e personalidade. Pena que a Reforma cessou sua obra
muito cedo, do contrário essa doutrina demoníaca teria sido extinta do seio
cristão, conforme declarou James White que a doutrina da Trindade é um
dos vestígios do papado deixado nas igrejas reformadas e um dos “erros
escriturísticos” em que elas permanecem:
A grande falta da Reforma foi que os reformadores pararam de reformar. Se
tivessem levado avante, não teriam deixado nenhum vestígio do papado
atrás, tal como a natural imortalidade, batismo por aspersão, a trindade, a
guarda do domingo, e a igreja agora estaria livre de erros escriturísticos.
(5)

Esses vestígios do papado permeiam todas as igrejas ditas reformadas


e protestantes. Elas de facto não se envergonham de assim se auto-
denominarem. Se fossem mesmo reformadas ou pelo menos protestantes,
não tolerariam os erros escriturísticos criados pelo papado. Todas essas
doutrinas: a natural imortalidade da alma, o batismo por asperssão, a
trindade, a guarda do domingo são invectivas do Diabo por meio do papado.

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Essas igrejas deveriam, com justiça, auto-denominar-se mensageiras do
papado.
A falta de verdade nesta doutrina é bastante evidente, mas mesmo
assim todas as igrejas a mantém como o primordial fundamento, como
principal assento de suas crenças. É verdade que a doutrina sobre Deus
deve ser o principal assento das doutrinas de qualquer igreja, mas se esta
doutrina estiver deturpada a igreja estará assentada sobre a areia, sobre a
palha se assentarão todas as demais doutrinas. Se essa doutrina
apresentasse Deus tal como Ele se revelou nas Escrituras e em Jesus Cristo,
seria verdadeiramente um assento para uma igreja, mas não, essa doutrina
não nos fala do Deus da Bíblia. A Bíblia nos fala de um Deus só, Criador de
todas a coisas e Pai do Senhor Jesus Cristo.
Pois, ainda que haja também alguns que se chamem deuses, quer no céu
quer na terra (como há muitos deuses e muitos senhores), todavia para nós
há um só Deus, o Pai, de quem são todas as coisas e para quem nós
vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual existem todas as coisas,
e por ele nós também. (1 Coríntios 8.5,6)

Os trinitarianos como não tomam a Escritura tal qual ela se apresenta,


não acatam seus ensinamentos e nem ensinam tal qual seus escritores os
apresentam, encontram dificuldade para se livrar da doutrina da Trindade.
No imaginário deles não é concebível Deus ser um só, o Pai e este ter um
Filho, o Senhor Jesus Cristo. Para eles não se pode negar a Trindade sem
com isto negar a divindade de Jesus Cristo e a do Espírito Santo. “O grande
equívoco dos trinitarianos, ao argumentarem esse assunto, parece ser
esse, escreveu James WHITE (1863), “eles não fazem diferença entre negar
a Trindade e negar a divindade de Cristo. Eles só vêem os dois extremos
em que está a verdade; tomam cada expressão referente à preexistência
de Cristo como uma prova da Trindade.”
Vários escritores ao tratarem do antitrinitarinismo dos pioneiros
adventistas levam-no a um extremo que não corresponde a verdade dos
factos. Fazem parecer que os pioneiros eram ignorantes com respeito a
divindade de Jesus Cristo ou que eles recusavam-se a aceitar a divindade
de Cristo. É verdade que os pioneiros não acreditavam na Trindade, mas
isto não significa que eles não aceitavam a verdade claramente revelada

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nas Escrituras sobre a divindade de Jesus Cristo. Os pioneiros sempre
procuraram posicionar-se onde a Bíblia lhes empurrava. Eles aprenderam
através de uma amarga experiência, a não falar mais e nem menos do que
a Bíblia! eles nunca negaram que Deus o Pai é um Ser eterno, que Jesus é
realmente Deus, Filho de Deus; também não se esquivavam da importância
do Espírito Santo, pois, desde o Antigo Testamento até o Novo, a Bíblia
está repleta de referências ao Espírito Santo destacando-se Suas funções
no processo da criação e redenção.
Com efeito, é uma mania dos trinitarianos fazer parecer que todo
aquele que rejeita a doutrina da Trindade também não crê na divindade de
Cristo. Eles, com esta estratégia, impõem aos não trinitarianos apenas duas
saídas: aceitar a Trindade ou negar a divindade de Cristo. Mas, a Bíblia não
faz isso. Na Bíblia há vários textos falando claramente da divindade de
Cristo sem, no entanto, com isto, levar-nos a crer em uma Trindade.
Referindo-se ao antitrinitarianismo dos pioneiros adventistas Jerry
MOON (2005, P. 20) admite que ““aqueles que rejeitavam a doutrina
tradicional da Trindade dos credos cristãos eram crentes sinceros no
testemunho bíblico concernente à eternidade de Deus o Pai, à divindade de
Jesus Cristo “como Criador, Redentor e Mediador” e à “importância do
Espírito Santo.”” E James WHITE (1863) deixa este ponto muito claro ao
admitir o facto que “as Escrituras ensinam abundantemente a preexistência
de Cristo e a sua divindade, mas são inteiramente silenciosas quando à
Trindade.” Ainda noutro momento James White declarou que “Cristo é igual
a Deus… A inexplicável trindade que faz a divindade três em um e um em
três é suficientemente má, mas esse ultra-unitarianismo que faz Cristo
inferior ao Pai é ainda pior.” (WHITE, 1877). Quer isto dizer que não é
necessário inventar uma Trindade para salvaguardar a divindade de Cristo
e, também, é desnecessário colocar Cristo num nível baixo em relação a
Deus, o Pai, para livrar-se da Trindade, pois a Bíblia não nos leva a tais
extremos.

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Referências

1. F., Cotrell R. The Advent Reviw and Sabbath Herald [A Revista do Advento e Arauto do Sábado]. 06
de 07 de 1869.

2. James, White. The Day Star. 24 de Janeiro de 1846.

3. —. The Advent Review and Sabbath Herald. 11 de Dezembro de 1855.

4. N., Andrews J. The Advent Reviw and Sabbath . 1852.

5. James, White. The Advent Review and Sabbath Herald. 7 de Fevereiro de 1856.

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