Joaquim A.

Tchipoke

Gênesis 6.1-4

"Como se foram multiplicando os homens na terra, e lhes nasceram filhas, vendo os filhos
de Deus que as filhas dos homens eram formosas, tomaram para si mulheres, as que,
entre todas, mais lhes agradaram.Então, disse o SENHOR: O meu Espírito não agirá para
sempre no homem, pois este é carnal; e os seus dias serão cento e vinte anos. Ora,
naquele tempo havia gigantes na terra; e também depois, quando os filhos de Deus
possuíram as filhas dos homens, as quais lhes deram filhos; estes foram valentes, varões
de renome, na antiguidade."

Este é um texto de difícil interpretação. A dificuldade se encontra principalmente

no verso 2 que diz: "vendo os filhos de Deus que as filhas dos homens eram
formosas, tomaram para si mulheres, as que, entre todas, mais lhes agradaram."

A questão é: quem são os "filhos de Deus"?

Há os que defendem que esses "filhos de Deus" são os descendentes de Sete,

terceiro filho de Adão, aqueles que verdadeiramente serviam e adoravam ao Deus
verdadeiro. Enquanto a expressão "filhas dos homens" refere-se à descendência de
Caim que, ao contrário da descendência de Sete, era uma descendência ímpia.

A base deste argumento é o facto que no Antigo Testamento a expressão "filhos

de Deus" é algumas vezes usada para se referir aos verdadeiros adoradores de
Deus(Êxodo 4.22, 23; Salmo 82.6; Oséias 1.10).

Um outro ponto indicado como sustentáculo deste argumento é o facto que no

verso 3 o juízo ou castigo de Deus recai apenas sobre a humanidade, indicando que
apenas seres humanos estavam envolvidos no pecado que causaria o dilúvio.

Há outros que sustentam que os "filhos de Deus" em Gênesis 6 são reis ou

homens poderosos, de renome, juízes, em fim, homens da realeza.
 Os defensores desta visão argumentam que tanto na Bíblia hebraica como em
culturas antigas (contemporâneas de Moisés) os reis, juízes, são identificados como
divinos, deuses ou filhos do Altíssimo. Como exemplo bíblico é citado Salmo 2.7; 82.6;
2 Samuel 7.14.

Há ainda, por último, os que defendem que os "filhos de Deus" em Gênesis 6 é

uma referência aos anjos.

Os defensores desta visão argumentam que há textos na Bíblia hebraica onde a

expressão "filhos de Deus" é usada em referência aos anjos, a seres celestiais, textos
como Salmo 89.6 e Jó 1.6; 2.1. Argumentam também que as expressões "filhos de
Deus" e "filhas dos homens" contrastam entre si no texto de maneira tal que fica clara
a distinção de duas naturezas: uma celestial (filhos de Deus) e outra terrena (filhas
dos homens).

De todas as interpretações sobre os "filhos de Deus" em Gênesis 6 esta última

sempre foi e ainda é a mais comum na literatura judaico-cristã. Um endosso desta
visão pode ser encontrado nos escritos de Filo de Alexandria, Flávio Josefo,
Clemente de Roma, Justino, Tertuliano, no primeiro livro de Enoque e até na carta de
Judas que se encontra no Novo Testamento (Judas 1.6). É importante também
ressaltar que a literatura da época de Moisés já tratava de casos como o de Gênesis
6, casos em que membros de um panteão divino se casavam com mulheres, as filhas
dos homens.

É difícil se posicionar quando se trata de Gênesis 6.1-4. Todas as interpretações

aqui expostas têm fortes argumentos e pontos fracos também. Todas podem ser
elogiadas e ao mesmo tempo criticadas.