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Introdução

O presente Trabalho da Cadeira de Teoria da análise Narrativa, tem como tema,


Análise do discurso narrativo: produção de sentidos, onde vai abordar sobre análise de
dois níveis: Narrativos e Discursivos, fazendo menção do texto do Autor Moçambicano,
Mia Couto, intitulado “AS IDOSAS PROFANADORAS”, do sexto Capitulo da Obra
“A TERRA SONAMBULA”.

Trabalho de carácter Científico, estruturado em Introdução, Desenvolvimento e


Conclusão.

As Idosas Profanadoras, é um tema Escolhido por livre espontânea vontade do


estudante, segundo as Orientações do Docente da cadeira ora em Questão.

Objectivo Geral

Constitui Objectivo Geral do Presente Trabalho: Analisar o discurso narrativo do Texto


AS IDOSAS PROFANADORAS, da Obra “A TERRA SONAMBULA” do Escritor
Moçambicano Mia Couto.

Objectivos Específicos:

- Identificar os Sentidos Narrativos patentes no Texto AS IDOSAS PROFANADORAS.

- Demostrar com exemplos Extraidos do Texto sobre a existência dos Sentidos do


Discurso narrativo no Texto AS IDOSAS PROFANADORAS.

-Analisar o discurso narrativo do Texto AS IDOSAS PROFANADORAS.

Metodologia

Quanto a metodologia usada no presente Trabalho, refere-se a Pesquisa Bibliográfica.


AS IDOSAS PROFANADORAS

À volta do machimbombo Muidinga quase já não reconhece nada. A paisagem


prossegue suas infatigáveis mudanças. Será que a terra, ela sozinha, deambula em
errâncias? De uma coisa Muidinga está certo: não é o arruinado autocarro que se
desloca. Outra certeza ele tem: nem sempre a estrada se movimenta. Apenas de cada vez
que ele lê os cadernos de Kindzu. No dia seguinte à leitura, seus olhos desembocam em
outras visões.

Muidinga já não reclama para passear pelas cercanias. Apenas Tuahir deseja sair,
se espraiar pelos matos. Seu pretexto é a água: é preciso ir buscála, armazenar uma boa
porção. Aconteceu nessa manhã mais cedo que o habitual:

- Vamos!
- Eu fico, tio.
- Nem pense. Aqui ninguém fica. Se não quer me acompanhar então siga noutra
direcção. Mas aqui é que não fica.

Valia a pena discutir? Muidinga se resigna, pois, a ir sozinho pelos carreiros dos
bichos. Tuahir segue em oposta direcção. Por onde seguia o moço os capins se
infindavam, num Moçambique de verdes. Os olhos de Muidinga se meninam a ver as
árvores. Em redor, já nada faz recordar a savana empobrecida. Agora a floresta floresce.
Os caminhitos com a guerra se desabituaram de servir. E os capins ganharam
confianças, cobrindo tudo. De repente, as árvores se suspendem em clareira. Um campo
se abre, de cultivos pobres: milho, meixoeira, pouca mapira.

Muidinga pára a olhar. Ali estava, mesmo que indigente, uma extensão da vontade
humana. Fica por instantes a inspirar aquele perfume da terra lavrada até que escuta
vozes, vindas do fundo da paisagem. Eram mulheres que se aproximavam, cantando.
Traziam ramos nas mãos e com eles iam batendo no chão. Da terra se levantavam
nuvens e talvez fosse a poeira que não as deixava ver o miúdo. À frente, vem uma
velha, corcunda, esbafurada. Muidinga grita para que seja notado. Há um alvoroço. Elas
primeiro se alarmam, depois fazem uma roda, bichanando. Muidinga vai chegando
perto, curioso. Súbito, elas correm para ele. O moço fica parado. Uma voz dentro o
avisa:

- Foge, Muidinga! Mas ele nem dá entendimento.


Fugir de um grupo de tão avançadas senhoras? As velhas já estavam junto,
cercando-lhe. Gritam em língua que ele desconhece, parecem dedicar-lhe azedos
insultos.
A mais velha se acerca e, com insuspeita força, lhe bate na cara. Muidinga fica
dominando fervuras, entre receio e rancor. O seu medo estava preparado para as demais
situações mas não para enfrentar tão idosa e feminina violência. Uma por uma, todas as
outras dão um passo em frente e lhe atiram pancadarias. Lhe batem com paus, ramos
secos, lhe atiravam areia, pedras, torrões.
- Porquê me batem, mães?

Mas elas não entendem a sua língua. E desse desencontro se enchameia mais a
zanga daquela gente. Braços e pernas se cruzam na az fama de lhe golpejar, gritos e
risos se enroscam na fria de lhe ofender. O miúdo se humilha, olhos prestes a se
aguarem, indefeso como bicho fora da toca.

- Não me batam mais, por favor!

Então, a mais velha se coloca de pernas abertas sobre seu corpo derrubado e,
num puxão, se desfaz da capulana. Aparecem as usadas carnes, enrugadas até aos ossos,
os seios pendentes como sacos mortos. Ela grita, se lambe a si mesma, em inesperadas
volúpias. Sobe a mão por entre as pernas e se deixa cair sobre o rapaz. E se desata a
esfregar de encontro ao prostrado Muidinga, mais ciosa que ansiosa. As outras
acompanham xiculunguelando, palmando. Uma por uma, todas restantes vão tirando as
roupas, trapos e sacos com que se cobriam. Estão nuas, dançando frenéticas à sua volta.
A mais idosa dá mais avanço a seus intentos, puxando as íntimas partes do rapaz,
abraçada como se lhe quisesse arrancar a alma. Muidinga nem se quer inteirar da
sucedência: estava a ser violentado, em flagrante abuso. A primeira se sacia, abusa e
lambuza. Depois, as outras se seguem, num amontanhado de corpos, gorduras e pernas.

O pobre moço nem sabe se perdeu o consenso ou se o mundo rodou mais rápido
que as mulheres endoidadas. Sabe apenas que está saindo de um escuro e as luzes
pirilampejam, abrindo soluços no céu. No recorte da visão está Tuahir, lhe puxando para
uma sombra.

- O que aconteceu?, pergunta Muidinga.

Tuahir sorri. E lhe explica com modos paternos. O que aconteceu foi que
aquelas mulheres estavam em sagrada cerimónia, afastando os gafanhotos que
assaltaram as plantações. Elas estavam a enxotá-los, a esconjurar a maldição. A chegada
de um intruso quebrou os mandamentos da tradição. Nenhum homem pode assistir a
esta cerimónia. Nenhum, nunca.

- É que esses não são gafanhotos próprios. São gafanhotos de alguém.


Tuahir fala apontando os campos onde cardumes de gafanhotos, em
nuventanias, mastigavam o mundo. Aquele escasso verde desaparece dentada por
dentada.
- Vamos para o machimbombo.
Muidinga se deixa levar nos braços do velho. Lhe sabe bem aquele abandono,
as marcas dos brutais apertos lhe parecem nem existir. E é assim dorido que Tuahir o
deixa tombar no banco do velho machimbombo. O miúdo geme enquanto o velho lhe
aquece um chá.
- Vá, beba. Fique forte que é para, mais logo, atacar aqueles caderninhos que
você sabe.
- Mas, tio. Nem sei se vou conseguir.
- Consegue. Leia como o velho Siqueleto, um olho aberto de cada turno.
1.Análise do discurso narrativo: produção de sentidos

Greimas (1975) defende que um texto é formado por uma estrutura que articula
diferentes elementos e constitui um sentido coeso e coerente.

1.1. NIVEL NARRATIVO

Para o caso da Narrativa acima intitulado “AS IDOSAS PROFANADORAS“ do 6º


capitulo da TERRA SONAMBULA de Mia Couto, referenciar-se-a quanto ao NIVEL
NARRATIVO, os quatro elementos patentes no texto:

- a) MANIPULAÇÃO: no presente texto, acontece na medida em que o narrador


procura encaixar e dar início ao conto. Ora vejamos no primeiro paragrafo do Texto:

- À volta do machimbombo Muidinga quase já não reconhece nada. A paisagem


prossegue suas infatigáveis mudanças. Será que a terra, ela sozinha, deambula em
errâncias? De uma coisa Muidinga está certo: não é o arruinado autocarro que se
desloca. Outra certeza ele tem: nem sempre a estrada se movimenta. Apenas de cada
vez que ele lê os cadernos de Kindzu. No dia seguinte à leitura, seus olhos desembocam
em outras visões.

Podemos também notar no 6º capítulo: Os caminhitos com a guerra se desabituaram de


servir. E os capins ganharam confianças, cobrindo tudo. De repente, as árvores se
suspendem em clareira. Um campo se abre, de cultivos pobres: milho, meixoeira, pouca
mapira.

Como podemos perceber, neste trecho o narrador demostra a capacidade de


manipulação de elementos da Natureza.

b) COMPETÊNCIA: manipulado, o sujeito precisa adquirir competência para realizar


a acção. Essa competência pode ser o SABER, o PODER e o QUERER. No caso do
texto em análise podemos nos espelhar nos seguintes parágrafos:

-das 3 competências acima destacadas, o texto faz referencia de duas: * PODER e


QUERER*
Quanto a competência de PODER, esta patente nos trechos do 7º a 8º Paragrafo: “O
moço fica parado. Uma voz dentro o avisa: - Foge, Muidinga! Mas ele nem dá
entendimento. Fugir de um grupo de tão avançadas senhoras?”

A Competência de QUERER, esta vinculada no princípio do 7º parágrafo: “Muidinga


pára a olhar. Ali estava, mesmo que indigente, uma extensão da vontade humana. Fica
por instantes a inspirar aquele perfume da terra lavrada até que escuta vozes, vindas
do fundo da paisagem.”

c) PERFORMANCE: os sujeitos realizam a acção. Acção esta, que teve a sua maior
ascensao no 8º a 12º Paragrafo, onde os personagens entram em cena:

” As velhas já estavam junto, cercando-lhe. Gritam em língua que ele desconhece,


parecem dedicar-lhe azedos insultos.
A mais velha se acerca e, com insuspeita força, lhe bate na cara. Muidinga fica
dominando fervuras, entre receio e rancor. O seu medo estava preparado para as
demais situações mas não para enfrentar tão idosa e feminina violência. Uma por uma,
todas as outras dão um passo em frente e lhe atiram pancadarias. Lhe batem com paus,
ramos secos, lhe atiravam areia, pedras, torrões.

- Porquê me batem, mães?

Mas elas não entendem a sua língua. E desse desencontro se enchameia mais a
zanga daquela gente. Braços e pernas se cruzam na az fama de lhe golpejar, gritos e
risos se enroscam na fria de lhe ofender. O miúdo se humilha, olhos prestes a se
aguarem, indefeso como bicho fora da toca.

- Não me batam mais, por favor!

Então, a mais velha se coloca de pernas abertas sobre seu corpo derrubado e,
num puxão, se desfaz da capulana. Aparecem as usadas carnes, enrugadas até aos
ossos, os seios pendentes como sacos mortos. Ela grita, se lambe a si mesma, em
inesperadas volúpias. Sobe a mão por entre as pernas e se deixa cair sobre o rapaz. E
se desata a esfregar de encontro ao prostrado Muidinga, mais ciosa que ansiosa. As
outras acompanham xiculunguelando, palmando. Uma por uma, todas restantes vão
tirando as roupas, trapos e sacos com que se cobriam. Estão nuas, dançando frenéticas
à sua volta. A mais idosa dá mais avanço a seus intentos, puxando as íntimas partes do
rapaz, abraçada como se lhe quisesse arrancar a alma. Muidinga nem se quer inteirar
da sucedência: estava a ser violentado, em flagrante abuso. A primeira se sacia, abusa
e lambuza. Depois, as outras se seguem, num amontanhado de corpos, gorduras e
pernas.”

d) SANÇÃO: depois de realizada a acção, os sujeitos são recompensados (sanção


positiva) ou punidos (sanção negativa).

E no caso do texto em análise, podemos afirmar que o Personagem principal foi Punido,
tal como podemos ver nos trechos do 13º a 16º Paragrafo:

- O pobre moço nem sabe se perdeu o consenso ou se o mundo rodou mais rápido que
as mulheres endoidadas. Sabe apenas que está saindo de um escuro e as luzes
pirilampejam, abrindo soluços no céu.

- Muidinga se deixa levar nos braços do velho. Lhe sabe bem aquele abandono, as
marcas dos brutais apertos lhe parecem nem existir. E é assim dorido que Tuahir o
deixa tombar no banco do velho machimbombo. O miúdo geme enquanto o velho lhe
aquece um chá.

1.2. Nível discursivo

Quanto ao nível discursivo do presente texto, podemos demostra-los com exemplos


extraídos em alguns trechos. Para o caso de Escolha de Personagens vejamos:

- Muidinga, Tuahir, mulheres, o Narrador, velha, Kindzu e o velho Siqueleto.

Quanto ao Espaço: Machimbombo, cercanias e os campos.

Tempo: Manhã.

Figuras: neste caso, faremos menção das Figuras de Estilo: intruso, mulheres
endoidadas, em flagrante abuso, abrindo soluços no céu, xiculunguelando.
Conclusão

Analisar um Texto narrativo, não significa apenas extrair as partes que achar essencial,
requere por vezes colocar se no lugar do Narrador, ir de acordo com os pensamentos do
autor.

Para o caso ora acima desenvolvido, primeiro afirmar que o narrador é Onisciente, pós
ele mostra ter total conhecimento dos factos. O texto apresentou total coersao da
narrativa, onde narra os factos numa ordem cronológica e Psicológica, com todos
elementos possíveis: Personagem, Tempo, Espaco, Enredo, modo, motivos e resultados.
Bibliografia:

COUTO, Mia. Terra Sonâmbula: As idosas profanadoras. Editorial Caminho. 1992.

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