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Faculdade de Direito – Aluna: Thaís da Silva Costa Data de Entrega: 03.12.

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Disciplina de Pesquisa Matrícula: 409904
Jurídica - Manhã

Referencial Teórico e Revisão de Literatura

O trabalho tem como objetivo investigar a construção histórica do Supremo


Tribunal Federal e sua influência na consolidação da democracia brasileira enquanto uma
instituição inerentemente republicana, visto que foi estabelecido, nos termos conhecidos hoje,
com a primeira Constituição Republicana do país em 1891. Desde então, sua importância e os
papeis assumidos pela Corte mudaram de acordo com os momentos políticos pelos quais o
Brasil passava.

A Corte Constitucional sobreviveu à seis constituições na história brasileira,


algumas democráticas e outras autoritárias. As funções atribuídas à instituição estiveram
profundamente relacionadas ao contexto político-social. A Constituição de 1988,
especialmente, impôs ao STF precipuamente sua guarda – conforme o art. 102, caput. Sua
competência, entretanto, não está apenas vagamente prevista. A partir do art. 102 e seguintes
da Constituição da República enumera suas competências, principalmente aquelas relacionadas
aos controles concentrado e difuso de constitucionalidade.

Comparativamente, suas atribuições cresceram exponencialmente da passagem da


Constituição autoritária de 1967 para a Constituição democrática de 1988 (COSTA, 2006). A
Constituinte entre 1987-1988, foi um momento de intensos debates em defesa de interesses
distintos. Fruto desses conflitos de interesses e da profunda desconfiança entre os atores
políticos, ao Poder Judiciário foram atribuídas diversas competências, inclusive para processar
e julgar esses mesmos atores políticos (VIEIRA, 2018).

A partir de então, a atuação do Supremo Tribunal Federal passou a estar no centro


do debate público no país, principalmente no que se convencionou chamar de “judicialização
da política”, que nos termos de Luiz Werneck Vianna, Marcelo Baumann Burgos e Paula
Martins Salles (2007) refere-se a um processo de ocupação por parte de juízes de lugares antes
reservados apenas às instituições especializadas em política.

Outro conceito popular foi o de “supremocracia”, cunhado por Oscar Vilhena


Vieira (2008), em que se observa a ampliação da autoridade dos tribunais em oposição a um
enfraquecimento do congresso no atual regime constitucional brasileiro.

Prestigiado como nunca, os julgamentos da Corte Constitucional foram alvo de


ampla cobertura midiática e de escrutínio de analistas políticos. Não só seus julgamentos,
todavia. O comportamento de seus onze ministros também. Conforme a situação política e
econômica do país se deteriorava, e com decisões em casos polêmicos e que reverberaram na
cena política, a contestação ao Tribunal tomou forma.

A legitimidade de suas decisões foi questionada, bem como seus ministros acusados
de adotar um certo comportamento ativista, isto é, de agir usurpando a competência de outros
Poderes – o que, principalmente após o julgamento da Ação Penal 470, tensionou a relação
entre o Judiciário e o Legislativo.

Em verdade, apesar da constituição estabelecer que seus três Poderes são


independentes e harmônicos entre si, difícil acreditar que os Poderes da República poderiam,
seja em abstrato ou em concreto, conviver harmonicamente – uma vez que o poder está sempre
em disputa, de forma que a teoria dos freios e contrapesos de Madison é justamente uma forma
de conter impulsos usurpadores.
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Mark Tushnet (2003), ao se referir às práticas dos atores políticos em agir no limite
da legalidade e das normas constitucionais para satisfação de seus interesses, cunhou a
expressão “constitutional hardball”. Dentro da realidade brasileira, o termo não se restringe
apenas aos representantes eleitos e seus semelhantes, mas também a certas práticas do Poder
Judiciário para conferir legitimidade às suas decisões, no que Oscar Vilhena Vieira (2018)
utiliza como exemplo a Operação Lava-Jato e suas repercussões político-jurídicas.

Apesar do Judiciário ser o campo da imparcialidade, o Supremo Tribunal Federal


vem sendo inserido cada vez mais no campo dos conflitos políticos. Como uma Corte
Constitucional, entretanto, não poderia ser diferente, já que são precisamente esses tribunais
que têm a última palavra sobre a Constituição - um instrumento jurídico, mas também político.

Nesse sentido, o que pode ou não fazer o STF e como faz, isto é, seu campo de
atuação e competência é extremamente relevante para a construção da democracia brasileira.
Levando em consideração as constituições democráticas contemporâneas, com seus núcleos de
organização do Estado, de garantia de direitos individuais e sociais e de normas a respeito do
jogo democrático, o papel dessas Cortes é substancial para assegurar a sua observância e, em
última análise, a própria democracia-constitucional.

Para Gargarella (2013), que observa uma falha dos atores governamentais em
assegurar que os direitos garantidos nas constituições sejam implementados, o Poder Judiciário
teria enorme relevância em suprimir omissões legislativas, principalmente no que se refere aos
direitos de grupos sociais minoritários e marginalizados. Dessa forma, seriam os mecanismos
judiciais uma forma de garantir a esses grupos o acesso à “sala de máquinas da constituição”.

No Brasil, o julgamento da ADPF 132 e da ADI 4277 pelo Supremo Tribunal


Federal em 2011 teve grande repercussão ao reconhecer a união estável entre pessoas do mesmo
sexo. A decisão que se pautou em princípios constitucionais como a dignidade humana,
igualdade e vedação à discriminação gerou controvérsia por um suposto ativismo judicial da
corte.

Desse modo, questiona-se: como garantir direitos constitucionalmente assegurados,


principalmente de minorias sociais, sem que a tese do ativismo judicial seja suscitada?

Para isso, o trabalho contará com uma revisão histórica sobre a atuação e
competências do Supremo Tribunal Federal a partir do trabalho de Emília Viotti da Costa
“Supremo Tribunal Federal e a Construção da Cidadania” (2006), comparando o estabelecido
nas constituições antigas com a atual constituição de 1988.

Também os artigos de Fabiana Luci de Oliveira “Processo decisório do Supremo


Tribunal Federal na transição democrática brasileira (1978-1988)” (2022) e “O Supremo
Tribunal Federal no processo de transição democrática: uma análise de conteúdo dos jornais
Folha de São Paulo e Estado de São Paulo” (2004). Por fim, o trabalho do ex-ministro Aliomar
Baleeiro “O Supremo Tribunal Federal, esse outro desconhecido” (1968).

A ideia é estudar comparativamente e perceber a crescente importância dada à


Corte, seja na Primeira República quando – por meio também da atuação de Rui Barbosa –
desenvolveu-se no Brasil uma doutrina peculiar sobre habeas corpus, seja quando o Tribunal
foi alvo de perseguição durante os períodos ditatoriais do Estado Novo e da Ditadura Militar.
A partir da contextualização social-política, também contemplar que a descrença e a
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desconfiança nos atores políticos levaram os constituintes de 1987-1988 a depositarem no


Judiciário tantas funções.

Para caracterizar a utilização do termo “democracia”, Robert Dahl “Poliarquia”


(1997) e Arend Lijphart “Modelos de democracias: desempenho e padrão de governo em 36
países (2019). Nessa parte, também uma discussão sobre a tensão constitucionalismo e
democracia a partir de Ronald Dworkin “Constitutionalism and Democracy” (1995), mas para
situar o debate no campo latino-americano e de maneira mais contemporânea Leonardo Avritzer
“O constitucionalismo democrático latino-americano em debate: soberania, separação de
poderes e sistema de direitos” (2017).

O pensamento aqui é estabelecer as bases do que se está falando quando se fala de


“democracia”, bem como, citar a tensão entre constitucionalismo e democracia. Isto é, sobre
posições majoritárias (democracia) e núcleo imodificável ou imprescindível de uma
constituição (constitucionalismo). A ideia é reforçar a posição contramajoritária das Cortes para
defesa dos direitos das minorias e posicionar o constitucionalismo democrático como uma
resposta a essa tensão.

Sobre ativismo judicial, tensão com o Legislativo e judicialização da política,


Jeremy Waldron “The Dignity of Legislation” (1999) para introduzir o debate. Além de Diego
Arguelhes e Leandro Ribeiro “Ministrocracia: o supremo tribunal individual e o processo
democrático brasileiro” (2019), Marcos Paulo Veríssimo “A constituição de 1988, vinte anos
depois: suprema corte e ativismo judicial "à brasileira" (2008), Luiz Werneck Vianna, Marcelo
Baumann Burgos e Paula Martins Salles “Dezessete anos de judicialização da política” (2007)
e Bruno Torrano “Democracia e Respeito à Lei: entre positivismo jurídico, pós-positivismo e
pragmatismo” (2019).

A opção é analisar essa tensão entre ativismo judicial e legislativo a partir de uma
ótica geral, mas debatendo em termos da teoria do direito.

A respeito do papel de cortes constitucionais, Hans Kelsen “Jurisdição


Constitucional” (2013), Maria Pinheiro Nogueira “Governando com juízes: jurisdição
constitucional e judicialização da política” (2018), Mauro Cappelletti “Juízes Legisladores?”
(1993) e Antoine Garapon “O juiz e a democracia: o guardião das promessas” (1999).

Especificamente sobre Supremo Tribunal Federal e democracia, Nathalia Brito de


Carvalho “A "Sala de Máquinas" das constituições latino-americanas e a teoria do
constitucionalismo democrático: uma breve reflexão sobre movimentos sociais, constituição e
o papel do judiciário na democracia” (2006), Bruno Thiago Krieger “O Supremo Tribunal
Federal: entre o constitucionalismo e a democracia (2019)”, José Pericles de Sousa “O Supremo
Tribunal Federal numa Democracia de Direitos: a rejudicialização da corte e a repolitização da
cidadania” (2010) e Leonardo Paixão “A função política do Supremo Tribunal Federal” (2007).

Nesse caso, o objetivo é explicar as funções de cortes constitucionais e os juízes


como guardiões do texto constitucional e posteriormente transferir a discussão para o contexto
brasileiro. O principal referencial será Roberto Gargarella e sua análise das constituições latino-
americanas, principalmente no livro “La sala de máquinas de la Constitución: dos siglos de
constitucionalismo en América Latina (1810-2010)” (2013). O fechamento será relacionar a
dificuldade de acesso a direitos com a necessidade de atuação do Judiciário.
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