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HISTÓRIA DE
CRUZ DAS ALMAS
BAHIA – MCMLIX
MÁRIO PINTO DA CUNHA
HISTÓRIA DE
CRUZ DAS ALMAS
BAHIA – MCMLIX
HISTÓRIA
DE
Ao Povo de Cruz das Almas dedico este pequeno trabalho sobre esta boa
Terra, como profissão de fé na sua destinação histórica.
Ao receber o convite feito por um amigo comum para escrever Orlando Procopio Ferreira.
algumas palavras sobre a “HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS”, de
Mário Pinto da Cunha, pensei em recusar, receoso de que, pouco afeito às
lides literárias, não me desincumbisse bem do encargo.
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M. P. C.
“FAÇA O BRASIL A ESTATÍSTICA QUE DEVE TER E A
ESTATÍSTICA FARÁ O BRASIL COMO DEVE SER”
M. A. TEIXEIRA DE FREITAS
O TOPÔNIMO
A HISTÓRIA E A LENDA
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Destina-se esta a romantizar a nimbar com a auréola de qualidades Absorvido pelo arraial, o “Cruzeiro das Almas” transformou-se na
e virtudes que não possuem, ditadores, chefes de governos de excessão ou Cruz das Almas, que pertenceu até o fim do Império a Outeiro Redondo,
mesmo de nações com aspiração à predominância, à hegemonia. Daí os integrando, destarte, esse distrito do município de São Félix. Era, então,
mitos de protecionismo, de ajuda financeira, de paternalismo de pequenino e incipiente, embrião apenas daquela que seria a cidade
determinados indivíduos e povos. progressista e moderna de hoje.
Também a ficção entra na explicação das razões do topônimo Nove anos depois a proclamação da República emancipou-se, pela
cruzalmense, e essas considerações feitas aparentemente sem motivo, Lei Estadual número 119, de 29 de julho de 1897, mercê dos esforços de
visam, como é nosso propósito, fugir à rotina e monotonia das simples filhos seus, à frente Manoel Caetano Passos, “O VELHO” e o Senador
narrações de fatos e datas. Temístocles da Rocha Passos.
Além do Cruzeiro, da “Cruz das Almas” que assinalava o local do Alçada à categoria de Vila, alguns anos depois teve restabelecido o
primitivo arraial, e que parece ser a mais acertada, existe outra, estar de termo, por força da Lei n. 697, de 17 de setembro de 1906. Crescia a nova
caráter sentimental, de saudosismo pátrio. Os fundadores da Vila, Vila, elevando-se na hierarquia político-administrativa do Estado.
portugueses, teriam batizado a nova povoação com o nome de sua terra de Mais alguns anos, ou seja, em 21 de agosto de 1921, a Lei Estadual
origem – a Cruz das Almas lusitana. É o que nos transmite a tradução oral. n. 1537 conferia-lhe os fóros de cidadania.
Como quer que seja, consagrou o uso. A chancela oficial o conservou. Destarte, armadão cavaleiro – seja-nos permitida a comparação,
não seria difícil ao novo burgo, que espraiava, tranqüilo, pela sua planície,
A propósito, esta versão inspirou ao jesuíta português, padre as sombras das palmeiras, eleva-se célere, projetando-se como estrela de
Gonzaga Cabral, grande orador sacro, que enpolgava os auditórios pala primeira grandeza na constelação corográfica do Estado.
década de 1920, notável sermão aqui pronunciado em festa religiosa, em Vai de logo impondo-se nas esferas políticas e administrativas.
1924, em que invocou o nome da Cruz das Almas de Portugal e da irmã e Bem gerida a coisa pública já é, então, prestigioso núcleo eleitoral.
homônima, a Cruz das Almas da Bahia e do Brasil, aquela já realizada e
estagnada na mediocridade provinciana, e está ainda adolescente, entre CRIAÇÃO DA VILA DE CRUZ DAS ALMAS
menina e o moça, radiosa promessa tropical de maturidade e afirmação.
Valeu o prognóstico. Lei nº. 119, de 29 de julho de 1897
ARRAIAL – VILA – CIDADE Teve lugar a primeira eleição no dia 3 de outubro de 1897 e foram
eleitos:
INTENDENTE
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CONSELHEIROS
LOCALIZAÇÃO E SUPERFÍCIE alcança a nascente do riacho Pirajuiba descendo por este até o marco no
lugar Pirajuía.
Situado na zona fisiográfica do Recôncavo, sobre grande planalto,
está o município de menor extensão territorial do Estado da Bahia, quiçá Com o município de São Felipe:
do Brasil, Cruz das Almas.
Conforme dados do Conselho Nacional de Geografia, a superfície Começa no marco no lugar Pirajuía, daí em reta até o marco no
do município, que era de 269 Km², após o desmembramento de Sapeaçu, lugar Vapor; daí ainda em reta até o nascente do riacho Papa-Ovo; por este
seu primeiro Distrito, tornado autônomo pela Lei Estadual n. 549 de 27 de abaixo até sua foz no riacho Araçá ou dos Pilões.
abril de 1953, passou a ser de 144 Km² (cento e quarenta e quatro
quilômetros quadrados) menor, portanto, do que este seu antigo Distrito. Com o município de Sapeaçu:
É, assim, bem velha a aspiração de independência do atual Embora integrante das vertentes do Paraguaçu, é insignificante o
município de Sapeaçu, conseguida, finalmente, em 1953, após árdua e sistema hidrográfico do município, sendo os seus principais cursos d’água,
memorável campanha, que faz honra, aliás, ao espírito cívico de seus como o Capivari, Poções e Jaguaripe de regime periódico.
cidadãos.
Autônoma, vive, progride e cresce a nova Comuna de Sapeaçu São apenas riachos, os córregos, mesmo o Capivari, que é o mais
que, antes de emancipar-se, teve a luz elétrica instalada e inaugurada em importante. Em compensação, não há o problema das enchentes.
1950, nela e no seu primeiro Distrito, - antigo segundo de Cruz das Almas,
Baixa do Palmeira, pelo então Prefeito deste, o Dr. Ramiro Eloy Passos. Não existem lagos nem lagoa, apenas águas estagnadas dos
Uma verdadeira dádiva régia da cidade sede aos seus antigos chamados “tanques”, feitos pelo homem.
distritos. Custo – setecentos mil cruzeiros.
OROGRAFIA
COORDENADAS GEOGRÁFICAS
Não há montes, nem mesmo morros, grutas ou cavernas.
São as seguintes as coordenadas geográficas da sede – 12° 40’ 19” Contrastando com as imensas planuras, vêem-se, a azular nos
de latitude sul e 39° 06’ 22” de longitude W. GR. longes do horizonte. Os perfis da serra da Copioba e do Aporá.
ALTITUDE CLIMA
A altitude é de 220 m 49, números que estão gravados em chapa O clima é relativamente ameno e saudável, com temperatura
colocada ao lado da porta principal da Igreja Matriz; em ponto mais alto, máxima em 1.957, de 32° C, mínima 19° C e média compensada de 23,5°.
230 m, onde edificaram a cidade. Os invernos têm sido, ultimamente, menos rigorosos, mais
temperados; as trovoadas ocorrem geralmente de novembro a março.
No terceiro plano sofre uma depressão, passando a 190 m, para Verificam-se mudanças bruscas de temperatura.
elevar-se adiante a 280 m , o máximo. A climatologia e meteorologia agrícola, bastante evoluídas hoje,
têm a seu serviço aqui dois Postos – um Instituto Agronômico do Leste e
HIDROGRAFIA outro na Escola Agronômica da Bahia.
De um trabalho do encarregado deste, Prof. Moisés Waxman,
intitulado “Levantamento Climatológico de Cruz das Almas”, extraímos os
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seguintes dados: - “Temos, pois, dois tipos climáticos, distintos e De acordo com o recenseamento de 1950, com o atual
interessantes para a região de Cruz das Almas: município de Sapeaçu ainda pertencendo a Cruz das Almas, a
população eleva-se a 32.376 habitantes, sendo 14.934 homens e
a) O tipo I, denominado “beira-campo”, representa uma transição 17.342 mulheres, - brancos 6.053 pessoas, pardas 16.394 e 9.812
característica entre a mata e a caatinga, com vegetação típica pretos.
de mimisáceas arbustivas e arbóreas, apresenta solos
profundos e arenosos. Tem uma temperatura média de 24,1° C Para 1958, reduzida a área primitiva a menos da metade, a
e precipitação anual média 1.136 mm, com regular distribuição população está estimada em 25.000 habitantes, sendo urbana cerca
de chuvas – 177 dias por ano, ou seja, 48% do ano – e períodos de 15.000 almas e 10.000 a rural. Em 1973 a população era de
secos definidos. 38.000 habitantes.
Zona típica para fruticultura em geral e para fumo e amendoim em É o município de maior densidade demográfica do Estado,
particular. quiçá da Nação, hoje com mais de 200 habitantes por Km².
b) O tipo II, denominado “tabuleiro acaatingado”, é formado de Os principais povoados são: - Embira, onde existe uma
espécies mais caracteristicamente xerófilas, notando-se velha capela construída pelos Jesuítas, com ricas alfaias, Três
especialmente o aparecimento de mirtáceas arbustivas e de Bocas, Poções, com mais de cem habitantes. Menores: - Sapucaia
cadeia branca. Apresenta solos pouco profundos, com uma do Caminhoá, Tuá, Pombal, Tabuleiro da Vitória e Má Vida,
precipitação média de 700 mm e distribuição irregular. Suas inadequada e imprópria denominação, que poderia ser mudada
áreas são quase todas cobertas de pastarias. pelo seu equivalente em língua indígena, como se tem feito em
outras partes.
Máxima ocorrida em Cruz das Almas – 37,2° C, em 21 de
novembro de 1952; mínima – 13,2° C, em 27 de julho de 1951; É uma justa aspiração dos seus habitantes, aqui submetida
precipitação máxima em 24 horas – 120,1 mm, em 15 de dezembro à consideração da Inspetoria Regional de Estatística.
de 1952.
Umidade média – 78%. Os primeiros povoados do Município, de acordo com
fontes fidedignas, vieram atraídos pela fertilidade do solo, próprio
POPULAÇÃO – primeiros habitantes para todas as culturas do Recôncavo, - de Cachoeira e outras
partes.
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* *
Von Martius
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- pertencem, como tantas outras coisas, ao passado. Hoje as Inaugurado em 8 de dezembro de 1922, na gestão do Intendente
viagens são algo triviais e corriqueiras, os meios de transporte muitos e Januário Velano, até hoje, funciona o Telégrafo Nacional no mesmo
vários. prédio, sito à praça Senador Temistocles, ao lado da Prefeitura.
As máquinas alteraram as medidas do espaço-tempo. O Correio foi instalado muito antes no ano de 1900, quando
Tudo isso é problema resolvido, com tendência a melhorar. Vai-se administrador dos serviços postais na Bahia o Dr. Virgilio de Carvalho.
à Capital, como a subúrbio. Dista Cruz das Almas de Salvador 71 km, em Assim como a Igreja Matriz, constitue também uma das falhas da
linha reta, por via aérea 93 km, ferrovia 158 quilômetros e 697 metros e paisagem da cidade, que já devia ter prédio próprio e adequado a tais
semi-marítima, 26 km. Para Cachoeira e desta para Salvador 48 milhas, serviços, - bem como o Templo Católico, - a inexistência até o momento,
passando por Maragogipe, diretamente, 45 milhas. desse importante melhoramento.
Poucas horas de ida e volta.
Passa pela cidade a Rodovia BR 101 – Litorânea e a Viação Férrea Leste É plano do Govêrno Federal construir, em todas as principais
Brasleiro que a liga à Capital Federal 1.560 km. De Cruz das Almas a cidades do País, edifícios adequados às funções postais-telegráficas.
Salvador pela Rodovia, 158 km. Pequenas e mesmo diminutas cidades, de reduzido movimento já foram
dotadas de prédios modernos.
Já em 1881 era o local servido pela Estrada de Ferro, desde o
tempo da "Chémins de Fer"; a Estação Ferroviária (velha) dista 3.500 Inúmeros assim. Extranhável, pois, já não possua o seu, Cruz das
metros do centro urbano. A nova, mais próxima, inaugurada em 15 de Almas, mormente já tendo o município doado terreno à União para esse
dezembro de 1958, funcionando em prédio moderno, está localizada a fim. Desde 1950 consta do Orçamento da República verba destinada à
1.900 metros do centro da cidade, construída no ramal ferroviário que fará construção do edifício telegráfico, continuando, assim, projeto, vai para
a junção desta com Santo Antônio de Jesus e a zona do Sudoeste, pela dez anos.
estrada de Ferro de Nazaré.
Com a fusão, em 1931, dos respectivos serviços, ao Telégrafo
Há um Campo de pouso, localizado na área da Escola Agronômica uniu-se o então quase estagnado Correio local.
e duas Empresas Rodoviárias.
Tem hoje a Agência Postal Telegráfica intenso movimento diário,
TELECOMUNICAÇÕES com grande volume de correspondência de toda espécie, para todas as
partes do País. Funcionam também como elementos de comunicação, o
Telégrafo da Estrada de Ferro e o Serviço Telefônico, que liga a cidade à
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Capital e a dezoito municípios outros, tendo tráfego mútuo com a É elevado o número de construções. Constróe-se intensamente.
Radio-InternacionaI. Foi instalado em 1928. A maioria dos novos edifícios é dotada de bom gosto e dos mais
modernos requisitos.
ILUMINAÇÃO ELÉTRICA
SITUAÇÃO PREDIAL
RIPERT
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Antonio Nicacio Pereira Nas Divisões Territoriais de 1936 e 37, no quadro anéxo ao Decreto
Estadual n. 10.704, de 30 de março de 1938, vo'ltou o Município a ser
Francisco Paríse Termo da Comarca de São Felix, situação que permanece até hoje, com os
Distritos Judiiciários de Sapeaçu e Baixa do Palmeira.
João Carlos
Pretoria de 3: Entrância, espera-se para breve a sua elevação à Comarca.
Cincinato Soares da França
O primeiro Juiz Preparador foi o DI'. Auugusto Prisco Paraíso, tomando
Francisco Antonio Nicacio êstes posteriorrmente a denominação de Pretores.
Guilherme Soares da Rocha. Após 1930, foi primeiro Pretar o Bel. Duuarte Muniz Barreto de Aragão.
Predomina a Religião Apostólica Romana, e toda a população O primeiro Vigário Encomendado a assinar, em livro de Outeiro
professa a cristã, integrada a não católica em outras doutrinas. Mas Redondo, porém citando "Cruz das Almas", foi o Pe. Teodósio Correia
prevalece a crença. O espírito religioso presente e atuante. Mendes Ferreira, em 1815, podendo ser este considerado o primeiro Cura
de Almas desta, salvo melhor juízo.
Paróquia criada pelo Alvará Régio do Príncipe Regente Dom João,
de 22 de janeiro de 1815, desmembrada da Freguesia de Outeiro Redondo, Nesse mesmo livro – em que assinara o Vigário Encomendado – às
subordinada ao Arcebispado da Bahia, exerce jurisdição em todo o fls. 221, lê-se. – “Na Capela de N. Senhora do Rosário, antiga Matriz de
território do município e o de Sapeaçu e o primeiro Distrito deste, a vila de Outeiro Redondo”, e ainda com o Pe. Teodósiom, a 24 de junho de 1824.
Baixa do Palmeira.
Esta situação meio confusa de Matrizes prolonga-se até 1854,
Desconhecida a data de instalação canônica, assim como outros continuando a escrituração em livros de Outeiro Redondo até 1857, quando
dados concernentes ao início da vida da Freguesia de Cruz das Almas, é iniciado o primeiro livro separado de Cruz das Almas, mas sem Termo de
quando desligada de Outeiro Redondo, devido às naturais deficiências de Abertura, sendo Vigário José A. Cerqueira de Mato Grosso, que pode ser
informação naqueles recuados tempos. Constam, porém, dos arquivos do considerado o segundo Vigário.
Arcebispado de São Salvador da Bahia, - na cidade do Salvador - as notas
que, por valiosas vão abaixo transcritas, apesar de não aludirem claramente O terceiro, cujo sobrenome não foi conservado pela tradição - não
ao assunto os livros mais antigos. existem nos arquivos da Freguesia dados sobre os primeiros parocos e
certas atividades primitivas da Igreja local - foi o Pe. Pedro, substituido
pelo de nome Francisco - sobrenome também ignorado - e esse pelo
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Cônego Antonio da Silveira Franca, que pode ser considerado o Na extensa, populosa e tradicional Rua Manoel Vilaboim, a grande
quinto paroco foi o primeiro Intendente, eleito na primeira eleição, em 3 de artéria, mais conhecida como da Vitória, por iniciativa dos seus habitantes,
outubro de 1897. foi construída pequena Capela, dedicada ao culto do Senhor do Bonfim, ali
venerado e festejado.
O atual é o Pe. Deraldo Esteves de Lima.
OUTRAS CONFISSÕES
As congregações e Irmandades Religiosas eretas na Matriz são as
dos SS. Sacramento, Apostolado da Oração, Filhas de Maria e Cruzada As demais agremiações religiosas estão representadas e
Eucaristica. congregadas, dentre outras, pela Igreja Batista, que aqui iniciou o culto em
janeiro de 1946, vinculada à Igreja Batista da Bahia.
A Igreja Matriz tem como Orago N. Senhora do Bom Sucesso,
cuja festa é celebrada em dezembro, constituindo esta e a da Imaculada A congregação, fundada naquele ano, foi transformada na atual
Conceição, a 8 do mesmo mês, as principais festividades religiosas do Igreja Batista em 18 de março de 1951. Templo situado à rua Prof. Mata
município. Pereira. Pastor José Rodrigues da Silva.
Existem no interior do Município sete Capelas dedicadas ao culto No interior existe uma igreja Batista na Fazenda Gurunga e uma
católico. Congregação na fazenda Araçás.
Platão
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Como em todo o Brasil, aliás, é longa a estrada a percorrer para a Escolas isoladas (zona urbana)
total extinção do mal. Professores nove (9).
Alunos matriculados – 333
A luta neste campo continua intensa e incessante. Totalizando esta zona 32 professoras para 1.201 alunos.
A instrução é ministrada nos diversos graus - primário, secundário Há uma escola particular com 43 alunos, à rua Manoel Vilaboim.
e superior, aquele pelo Colégio "Alberto Torres", e este pela centenária (Rua da Vitória).
“Escola Agronômica da Bahia”, de que damos uma síntese histórica em
outro local deste trabalho. Zona Rural
A união, o Estado e o Município, assim como a iniciativa Professoras – 12 Estaduais para 458 alunos matriculados e 10
particular – esta representada pelo “Alberto Torres” concorrem para a municipais com 557 alunos. Cinco dessas funcionam em prédios escolares.
instrução e elevação do nível cultural do Município e da zona.
Ensino Supletivo para Alfabetização de Adultos
A primeira escola foi criada em 1867. Em dezembro de 1958,
existiam dezenas delas, com outro tanto de professores, assim distribuida: Neste setor funcionam na sede cinco (05) escolas com 248 alunos e
na zona rural 275, num total de 523 alunos.
Zona Urbana
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Obs. – O total dos alunos da zona rural não está discriminado, Neste nosso trabalho, que, como já dito, não se resume a citar
sendo o acima das estaduais e municipais, englobadamente. apenas números e fatos, queremos render merecida homenagem ao mérito
na esfera do ensino e da educação, ao Mestre e ao cidadão, o ilustre filho
desta comuna, que por todos os títulos a honra, o Prof. Pedro Augusto da
METAS DO GOVERNO MUNICIPAL Mata Pereira.
O Governo Municipal tem se empenhado a fundo na luta pela Professor primário, que a várias gerações ensinou com eficiência
extinção total do analfabetismo. as primeiras letras e o propedêutico, foi além disto, o que é hoje raro,
rnodelador de carateres e disciplinador austero.
O titular da Prefeitura, cujo mandato terminou no dia 7 de abril,
construiu e fez funcionar, além do Grupo Escolar “Landulfo Alves”, em
cooperação com o Governo Federal, dezenas de escolas nas zonas urbana,
suburbana e rural.
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COLÉGIO "ALBERTO TORRES" (C.A.T.) Funcionando em bom, amplo e moderno edifício próprio, de
cimento armado, é perfeitamente adaptado à finalidade.
O Colégio Alberto Torres é uma instituição de ensino secundário,
que desde 1948 vem prestando relevantes serviços à instrução do Patrono - o sociólogo Alberto Torres.
Município e de toda a zona.
Primeiros Diretores, e até esta data - Bel. Oldegar Franco Vieira e
Visando a, desde o início, imprimir um cunho sério ao estudo das Eng.º Agr.º Clodoaldo Gomes da Costa.
humanidades, tem connseguido, em grande parte, o seu objetivo, como o
demonstram os estudantes que dele saem para ingressar em congêneres, Primeira Secretária - Professora Ivone Sampaio Passos.
quando transferidos, ou de ensino superior, distinguindo-se em provas, nos
cursos e vestibulares. Atual - Onésimo Martins Pianchão.
É claro que o "Alberto Torres" não faz milagres. Isto acontece Primeiro Inspetor Federal (Resp.) - Henrique José de Andrade,
quando há correspondência da parte dos educandos, que têm, realmente, o substituido pelo Dr. Haroldo A. Alves.
necessário corpo docente selecionado para adquirir conhedmentos e sólida
base de cultura ginasial e colegial. Comemorou este ano o seu primeiro Atual - Mário Pinto da Cunha
decênio.
O corpo docente é constituído, em sua maioria, de Professores da
Denominava-se inicialmente "Ginásio da Escola Agrônomica", Escola Agrônomica da Bahia.
construído que está nos terrenos desta, por contrato com a S. A . I. C. do
Estado, (aprovado pelo Decreto Estadual n. 13.835, de 21 de janeiro de Mantém Cursos primário, ginasial, científico e normal, com a
1948. matrícula em 1959, de 404 alunos.
Autorizado a funcionar pela portaria n. 144, de 25 de fevereiro do Extinto o noturno que funcionou até 1957.
mesmo ano, do Snr. Ministro da Educação foi solenemente inaugurado em
14 de março de 1948, em cerimônia presidida pelo então Secretário da
Agricultura, Dr. Nestor Duarte, no governo do Dr. Otavio Mangabeira.
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Contra o voto do Barão de Cotegipe e Teive e Argolo, que Embora nascida sob os auspícios da nobreza e do próprio
opinavam pela localização da nova entidade no Engenho Novo, em Água Imperador, nem sempre foi remansosa a existência da secular Escola
Comprida, prevaleoeu a sugestão do Barão de São Franncisco do Conde e Agrícola. Passou por muitos transes e dificuldades e até rnesmo pequena
outros, que votaram pela escolha do Engenho de São Bento das Lages, de interrupção de suas atividades.
propriedade dos Monjes Beneditinos, na velha e histórica cidade de São
Francisco do Conde.
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De acordo com o Dr. Sabino Fiuza, antigo professor e um dos O Dr. Cesar Rios foi o primeiro diretor da "Escola Agrícola", de
cronistas da Escola, a hisstória desta pode ser dividida em seis fases. 1875 a 1879, e na chamada "fase atual" o Bel. Joaquim Alves da Cruz
Rios, de julho de 1919 a março de 1924, quando faleceu.
Da fundação do Imperial Instituto Bahiano de Agricultura 1859-
1877. Dirige-a atualmente o Dr. Gilberto da Mata, catedrático da mesma,
sendo Secretário o Dr. João B. Santos Junior.
Fase sob a direção do Imperial Instituto Bahiano de Agricultura -
1877-1904. Possuindo cerca de 1.700 hectares de ótimas terras, em uma parte
delas foi construído o Instituto Agronômico do Leste.
Avocação pelo Governo Federal - Escola Média ou Teórica -
Prática de Agricultura - 1911-1917. Ao lado das suas instalações, as casas dos professores, corpo
administrativo, demais funcionários e pessoal de campo constituem um
Reabertura sob o Governo do Estado - 1917-1920. grande bairro, importante núcleo populacional, distante três quilômetros,
aproximadamente, do centro da cidade.
Fase atual, a partir de fevereiro de 1920, sexta e definitiva.
SEMANA DO FAZENDEIRO
Funcionou desde então, e ininterruptamente, sempre em São
Francisco do Conde, até 1931, quando foi transferida - por injunções Com a finalidade de ministrar ensinamenntos práticos e técnicos a
políticas - para a Capital do Estado, em Monte-Serrat. elementos ligados à lavoura e criação, vem a Escola Agronômica
promovendo, neste últimos anos, a partir de 1947, a “Semana do
Ali permaneceu até 1943, no ano em que foi definitivamente Fazendeiro”.
mudada para os novos e moderrnos pavilhões, construídos numa parte do
planalto, onde está magnificamente instalada. A ela, que consta de conferências, preleções, projeções, aulas
práticas de agricultura e demonstração de métodos de criação, etc.
É considerado fundador da mesma o Conselheiro Antonio Coêlho comparecem sempre grande número de fazendeiros e criadores de todas as
de Sá e Albuquerque, presidente da Província da Bahia, entre 1862 e 1863. partes do Estado e do País.
Na Escola Agronômica funciona um "Curso de Treinamento de No ano de 1958 cursaram a Escola Agronômica 78 alunos; em
Capatazes Rurais e Tratoristas", com a duração de três meses. 1959 elevaram-se as matrículas a 100 estudantes, sendo dois bolsistas
extrangeiros, peruano e boliviano.
Ainda na gestão do Dr. Gilberto da Mata foi iniciada a cultura
permanente de hortaliças, etc., em vastas áreas, por meio de irrigação, cuja DADOS REFERENTES À ESCOLA AGRONÔMICA DA BAHIA (1958)
água vem do açude do Instituto Agronômico do Leste, melhoradas e
ampliadas as pocilgas, hoje povoadas por suínos de raça, aviários, apiários, Diretoria
etc.
Diretor Eng.º Agr.º Gilberto da Mata
SEMINÁRIOS DOS ENGENHEIROS AGRÔNOMOS DA BAHIA Secretário - Eng.º Agr.º João Batista dos Santos Junior.
Por iniciativa do Dr. Gilberto da Mata, a partir de 1957 vem sendo Corpo Docente
realizados seminários dos Engenheiros Agrônomos da Bahia, "afim de
desenvolverem estudos no sentido de melhorar o nível técnico da nossa Prof. Annibal da Silva Ramos - Engenheiro Civil.
produção agrícola". (cadeira de Matemática e Desenho)
Com a realização destes seminários procura a Escola "enquadrar-se Prof. Moysés Waxman - Eng.º Agrônomo
no papel decisivo que lhe é destinado na vida das comunidades rurais (cadeira de Física Agrícola)
baianas, como elemento catalisador do seu desenvolvimento econômico e
social", como os definiu o Prof. Gilberto Mata. Prof. Flavio Dias Tavares - Eng.º Agrônomo
(cadeira de Geologia Agrícola)
É um movimento coordenador dos Engenheiros Agrônomos para
melhor planejamento e execução dos seus trabalhos profissionais. Prof. Minos da Silva Azevedo - Eng.º Agrônomo
(cadeira de Química Analítica)
Realizam-se de 31 de julho a 2 de agosto de cada ano.
Prof. Antonio Candido de Oliveira Filho - Eng. Agrônomo
MATRÍCULAS (cadeira de Química Orgânica e Tecnologia)
Prof. Clodoaldo Gomes da Costa - Eng.º Agrônomo Como já consignado em outra parte deste trabalho, a Escola
(cadeira de Mecânica Agrícola) Agronômica da Bahia originou-se do "Imperial Instituto Bahiano de
Agricultura". Foi criada pelo Decreto n. 2.500, de 1º de novembro de 1859,
Prof. Grimaldo Paternostro - Eng.º Agrônomo entrando o "Curso Agronômico" em funcionamento regular a partir de
(cadeira de Agricultura Geral) 1877.
Prof. José Francisco Junqueira Ayres - Eng.º Agrônomo Foi reconhecida a Escola pelo Governo Federal - (na fase Estadual)
(cadeira de Agricultura e Genética especializada) - pelo Decreto n. 8.208, de 12 de novembro de 1942.
Prof. Ivan de Souza Carneiro - Eng.º Agrônomo A Escola Agronômica da Bahia (E. A. B.) passou a funcionar em
(cadeira de Horticultura e Silvicultura) Cruz das Almas a 1º de maio de 1943, tendo como Diretor o Engenheiro
Agrônomo e Professor José Carlos de Abreu Ribeiro.
Prof. Pedro Batista Perez - Técnico Rural
(cadeira de Zootécnica especializada) Funcionava anteriormente em São Bento das Lages, município de
São Francisco do Conde, de onde foi mudada, por injunções políticas, após
85 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 86 MÁRIO PINTO DA CUNHA
a Revolução de 1930, ou seja em 1931, para Monte Serrat, - prédio Graças à atuação dinâmica deste, iniciados os trabalhos de
da Hospedaria de Imigrantes - e dali para esta, em 1943, de onde, construção em agosto de 1949, dentro em pouco elevavam-se os vários
certamente, jamais será transferida, de vez que faz parte de patrimônio pavilhões que o compõem, enquanto no campo, simultaneamente,
material, técnico e científico da Bahia e do Brasil, integrado em terras do desenvolvia-se intensa atividade, visando a que, prontas as instalações, ou
altiplano, na boa e fecunda terra de Cruz das Almas. antes, como ocorreu, - fossem de logo iniciados os trabalhos inerentes à
função do Instituto, que efetivamente, tiveram começo em maio de 1951.
DIRETORES:
Essa particularidade que registra a história da construção e
Desde a instalação da E. A. B. nesta, teve os seguintes Diretores, instalação desta instituição científica, que, talvez mesmo por isso, não foi,
todos catedráticos da mesma: até hoje, inaugurada oficialmente, tem algo de obra bandeirante, refugindo
à rotina burocrática, aos morosos métodos que constituem, via de regra,
Prof. José Carlos de Abreu Ribeiro, Eng.º Agr.º OrIando norma no trato da coisa pública.
Gonçalves de Aguiar Teixeira, Eng.º Agr.º Luiz Sales, Eng.º Agr.º Zinaldo
Figueirôa de Sena, Eng.º Agr.º Ivan de Souza Carneiro, Eng.º Agr.º Assim, funcionou de maneira inédita e eficiente o trinomio
Floriano de Araujo Mendonça e Eng.º Agr.º Gilberto da Mata. empregado pelo Dr. Renato Martins - construção - instalação - trabalho,
honrosa inovação, sem dúvida.
Este, cuja gestão terminou no dia 7 de abril, com o seu pedido de
exoneração, foi quem a dirigiu por mais tempo, ou seja, durante quatro Dispondo de uma área de cento e oitenta (180 ha.) - terrenos
anos e dez meses. cedidos pela Escola Agronômica da Bahia - está localizado nos arredores
da cidade, a leste. É integrado por vários pavilhões constantes do Prédio
INSTITUTO AGRONÔMICO DO LESTE (I. A. L.) Principal, Estação Central, Fitotécnica, Hotel de Campo, Almoxarife,
prédios residênciais, etc.
O Instituto Agronômico do Leste foi criado pelo Decreto-Lei de n.
9.815, de 9 de setembro de 1946, - Governo Eurico Dutra que alterou o de Vários Engenheiros Agrônomos trabalham nos seus diversos
n. 6.155, de 30 de dezembro de 1945. setores e secções que são - Solos, Botânica, Fitopatologia, Entomologia,
Fitotecnia, Horticultura, Citricultura, Fruticultura, Fumo, Mamona e
Nomeado primeiro Diretor, foi sua construção confiada à Zootecnia.
supervisão do Dr. Renato Gonçalves Martins.
87 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 88 MÁRIO PINTO DA CUNHA
Diretor - Eng. Agr.° José Pereira de Miranda Junior. Eng.º Agr.° Manoel Anastacio Ribeiro
Diretor-Susbstituto - Eng.º Agr.° Geraldo CarIos Pereira Pinto. Eng.º Agr.° Rosalvo Portugal
Eng.º Agr.° José Vasconcelos Sampaio Eng.º Agr.° Geraldo CarIos Pereira Pinto
Eng.º Agr.° Moacyr WanderJey A vida na família e a de relação com os grupos, a comunidade e a
sociedade, tudo alí é tratado com eficiência.
ESTAÇÃO EXPERIMENTAL DE N. S. DAS DORES
Verdadeira missão, quase diriámos, no sentido apostólico do
Eng.º Agr.° Moacyr Wanderley termo.
Trabalho de equipe, a execução dos seus diversos objetivos está Outras das principais finalidades dos centros de comunidade, são
confiada a profissionais e funcionários capazes. "estimular e orientar as energias criadoras" e demonstrar o que se pode
fazer por meio do uso dos recursos humanos e materiais da localidade.
A C. N. E. R. foi instituida no País em 9 de maio de 1952, pelo
Ministério da Educação e Cultura, com a finalidade de levar a educação CENTROS SOCIAIS DE COMUNIDADE
fundamental ao meio rural brasileiro.
As Missões Rurais do Estado da Bahia Já fundaram dezenas de
É o preparo que a Unesco define, - Fundamental education - como Centros Socíais de Comunidade, todos em plena atividade, organizados e
"o mínimo de educação geral necessário a ajudar as crianças, os mantidos pelos comunitários.
adolesoentes e adultos a compreenderem os problemas peculiares ao meio
em que vivem, a formarem uma ideia exata de seus deveres e direitos Neste município existem os seguintes:
individuais e cívicos e a participarem, eficazmente, do progresso
econômico e social da comunidade a que pertencem". Sapucaia - (sede própria)
Santa Teresinha - (sede cedida)
As Missões, que podem ser Rurais, Fluviais ou Marítimas, "vêm Araçás - (sede cedida)
realizando uma verdadeira penetração educacional nas zonas onde se Teresa Ribeiro - (sede própria)
instalaram" . Poções - (sede alugada)
Em cada trabalho uma equipe de técnicos. Têm como uma das Nos "centros" funcionam os "Clubes de Mães", que atendem aos
diretrizes o conceito de Aguayo, quando afirma que "a educação deve requisitos previstos pela Delegacia Federal da Criança, da qual recebem
antecipar o futuro, estimulando as energias criadoras dos jovens e orientação técnica e auxílio, leite em pó, instrumento de trabalho para as
diligenciar no sentido de que estes resolvam por si mesmos ou com a Mães e pequena contribuição financeira para os Clubes.
colaboração discreta do educador os seus próprios problemas e
dificuldades". Além desses funcionam também os Clubes dos Homens, das
Moças, Infantis e Agrícolas.
Esta é uma das razões da criação dos Centros Sociais, cujos bons
resultados já se fazem notar, mas que serão ainda mais fecundos e São supervisionados pelas equipes das Missões, que usam, nos
evidenciados depois de alguns anos. trabalhos de educação, além dos meios ordinários, o audiovisual e ensino
por demonstração.
93 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 94 MÁRIO PINTO DA CUNHA
Como se vê, sábias diretrizes, que objetivam não somente ensino e A equipe deste Município é constituída de um médico Dr. Otavio
educação, mas também congregar, promover e estreitar relações sociais, Menezes da Fonseca, um Eng.º Agrônomo, Dr. Alvaro Fonseca Brandão,
espírito de iniciativa, solidariedade e melhor entendimento. uma Assistente Social e uma Professora de Artesanato.
Obra notável, não há dúvida, que tem apenas a falha digamos lNSTITUTO BAHIANO DO FUMO (I. B. F.)
assim - de ter começado tarde e de não estar ainda disseminado por todos
os municípios do Brasil, sem exceção. O Instituto Bahiano do Fumo - I. B. F . - criado em março de 1935,
autarquia desde 1941, é órgão centralizador das atividades fumageiras do
A Campanha Nacional de Educação Rural promove anualmente, Estado, tendo por finalidade o fomento e a defesa sanitária da lavoura do
em instalações cedidas pela Escola Agrônomica, cursos de treinamel'itO fumo, comércio e industrialização do seu produto.
ceeducadores de base e professoras rurais.
Para isso, instalou e mantém em diversos municípios do Estado,
"INSTITUTO BAIANO DE EDUCAÇÃO RURAL" - (I. B. E. R.) inclusive este, Estações Experimentais, providas de laboratórios, campos
de demonstração e cooperação que muito têm beneficiado os fumicultores,
É projeto em estudo a organização e instalação do Instituto Baiano através da assistência técnica, ajuda financeira, distribuição de sementes,
de Educação Rural, que será localizado nesta Cidade . etc.
"Chegou a hora de o povo participar ativamente do destino do seu Funcionando aqui em excelentes e moderrnos prédios, bem
meio, de ajudar a resolver definitivamente as questões que decidem da adaptados, com residência para o agrônomo chefe, muito tem feito a
sobrevivência de todos e não continuar a ser ele, o povo, mero espectador Estação Experimental do I. B . F . de Cruz das Almas, no seu setor.
da iniciativa dos governos" .
Está entregue, faz alguns anos, à orientação do Eng.º Agrônomo
"Uma instrução que não desambiente o homem rural e uma Minos da Silva Azevêdo.
educação regional são medidas de máxima importância no progresso do
povo". C. T. B. Duque - "Solo e água no polígono das Secas". Sendo o fumo a principal cultura de Cruz das Almas, assim como
de muitos municípios baianos, o maior fator de prosperidade em que se
É o que fazem as Missões Rurais. esteia a estrutura econômica da comuna, merece lhe sejam dedicadas
algumas palavras e interessantes considerações dos estudiosos do assunto.
95 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 96 MÁRIO PINTO DA CUNHA
Em 1952, quando do 1º Congresso Nacional do Fumo, realizado esculápio trouxe sementes e uma "Memoria" interessante sobre o uso dessa
em Salvador, publicou o I. B. F. um fascículo, da autoria do seu então solanácea em inúmeras partes da América. A expansão do cultivo do fumo
Presidente, o Agrônomo Edgard Chastinet, e do qual reproduzimos os na Europa se intensificou entre as suas populações.
trechos abaixo transcritos:
Em 1585, o célebre Walter Ralleigh, transportou o fumo e seu uso
Da sua origem - "Foi no século XV, na memorável época das de Portugal para a Inglaterra.
grandes descobertas, que o fumo foi conhecido pela 1ª expedição de
Cristovam Colombo". O mundo oficial inglês insurgiu-se, de logo, contra o novo vício,
sobre o qual S. S. o Papa lançou a excomunhão.
Inúmeras são as opiniões que se chocam em controvérsias, quanto
à origem do fumo. O próprio rei Jaques I escreveu um livro sobre ele, com o título:
"Um adversário do tabaco", e os soberanos orientais condenaram 21
Botânicos e historiadores opinam que ele provém da América, mortes crueis os amantes do fumo.
principalmente da Ilha de Cuba, ou foi visto pela primeira vez em 1492,
pelo capitão Dom Rodrigues Xéres e seus comandados, quando realizavam Foi no tempo de Richellieu que chegou ele à França, reinando
o reconhecimento da ilha. Catarina de Medicis, que tinha como embaixador em Portugal o diplomata
Jean Nicot, (origem do nome nicotina).
Inúmeros soldados da expedição de Colombo observaram em torno
dos acampamentos dos naturais, muitos deles que se entregavam ao gosto Mas a rainha proibiu, apesar de exaltadas as "virtudes medicinais"
de fumar as folhas secas de uma planta, que até então não era conhecida na pelo seu embaixador, o uso do fumo por muito tempo.
Europa. Há autores, como Becker, que afirmam ser o fumo planta asiática,
cujas folhas eram mascadas pelo seu povo, muito antes da descoberta do Todavia, continua o Agrônomo Chastinet, a sua expansão não foi
continente americano. detida, pois os amantes do seu uso fizeram-no generalizar-se de tal forma,
que, com o passar dos séculos tornou-se ele conhecido universalmente,
Da sua história - Em 1494, na Espanha foi publicado o primeiro constituindo um dos fatores mais importantes da fortuna pública.
livro que se ocupava sobre o fumo e seu consumo na península ibérica.
Ainda em 1559, Felipe II, após 65 anos da entrada do fumo na Europa, É cultivado na Europa, na Ásia, África e Oceania, mas somente nas
ordenou ao médico da Corte, Dom Francisco Fernandes Tolêdo, seguir ao Américas, - Antilhas, Brasil e Estados Unidos - possue o fumo qualidades
México para estudá-lo no seu verdadeiro habitat. Ao regressar, o ilustre ditas excepcionais para os fumantes inveterados.
97 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 98 MÁRIO PINTO DA CUNHA
O Fumo do Brasil, o produzido principalmente nas terras da Bahia internacionais da Coroa, que influiu de modo relevante na parte político-
tem qualidades intrínsecas e extrínsecas, que recomendam a sua primazia social, trocando-se escravos pelo fumo em rolo.
no tocante à preferência dos connsumidores.
A fumicultura se pratica em todos os Estados do Brasil, do
A sua fama corre os tempos. Amazônas ao Rio Grande do Sul, avolumando-se neste e na Bahia.
Segundo o Prof. Dr. Horácio Gomes, autor da Monografia "Gênero Delgado de Carvalho diz que a América Central e o Brasil
Nicotiana", a descoberta da existência do fumo no Brasil, deve-se ao frade ensinaram ao Mundo o uso do fumo, tendo os colonizadores começado a
francês André Thevet, da ordem religiosa dos Carmelitas, e que fez parte cultivá-lo a partir de 1500, principalmente no Recôncavo e no planalto. É
da expedição que veio ao Brasil, em 1555, chefiada pelo Almirante planta de aclimação fácil, pois dá resultado em quase todos os climas.
Nicolau D. de Villegaignon. Os primitivos habitantes do Brasil colhiam
fumo da variedade Langsdorfi, que os índios chamavam "petum" ou Esta cultura teve importância excepcional desde os primeiros
"pety”, "pecum" ou "betum", talvez devido ao ruído produzido pelos lábios tempos de nossas relações comerciais com a Metrópole. Gozava de maior
ao fumarem. importância comercial do que o açúcar, sendo preferido - o fumo - como
carga nos navios.
O cronista De Bry, que escreveu a História do Brasil, em 1950, faz
consideração sobre o uso da cultura do fumo no território brasileiro e DENOMINAÇÕES
refere-se ao costume dos cachimbos usados pelos indígenas na região
amazônica, à margem do Rio Negro e na Bahia, no Recôncavo, onde a Sinonímia – Em Cuba é denominado Tabaco, no México Yelt, nas
confecção do fumo de corda reunia os negros africanos e indígenas, que Guianas Tamoui, no Brasil (indígenas) Betum e Pitumba, - daí o pito,
festivamente trabalhavam sob o jugo dos senhores brancos. (pitar) – em Portugal, “Brasil”, na França, Herbe Sainte, na Itália, Herbe de
Santa Croce, na Ásia, Tabaco do Brasil, no Haiti, Cohiba, no Peru, Sairi,
A lavoura do fumo no Brasil, segundo outros autores, em 1600, na Alemanha, Langedorf, DeinwelI, na Inglaterra, Indial Holu Heáling.
aproximadamente, foi explorada comercialmente na Província da Bahia,
com a variedade “machrophyla". O fumo brasileiro é exportado desde os 3 Essas e muitas outras tem o fumo, tão apreciado por uns e
últimos séculos. detestado por outros, pelo mundo afora.
Até aqui vimos a original História do fumo e suas particularidades. Sobre Cachoeira, a "Heróica", de tão gloriosas tradições, em 1802,
Tem ele apologistas e detratores, amigos e adversários. Exaltam-no uns, escrevia Vilhena:
enquanto outros o atacam como nocivo e deletério.
"A Vila de Cachoeira se faz recomendável e opulenta por ser caixa
Agora a faceta pinturesca ou cômica da história do fumo, em que é de todo Tabaco, que se fabrica no seu continente (sic) donde se conduz
invocada contra os excessos dos seus aficcionados a autoridade da Santa para a cidade; e a ela e Muritiba vão apartar todos os que descem das
Sé. minas e dos certons" .
De um documento antigo - Olinda - 1538 – “Todos os portugueses Sem embargo, defendido e combatido, usado e repelido, aumenta o
e europeus que aqui se encontram e que adquiriram o hábito nativo de seu consumo, lavoura e industrialização em todas as latitudes do País e do
fumar, estão seriamente ameaçados de excomunhão. As autoridades mundo, sustentando os que lavram, fazendo a prosperidade de muitos e a
religiosas da Capitania estão decididas a solicitar a medida ao Papa Paulo opulência de outros tantos.
III.
Além disto, podemos também nos ufanar de termos ensinado ao
É que europeus e índios, com sérios embaraços para o Capitão de mundo o uso de duas coisas, hoje essenciais à vida e a civilização - o do
Pernambuco começam a mesclar-se. Os primeiros, além de fumar, mascam fumo e o das asas, com Santos Dumont.
fumo enrolado. Mesmo durante as solenidades religiosas é comum ver-se
portugueses de pitimbaus - tipo de cachimbo - e charutos à boca" . MONUMENTOS
ESTRADAS MUNICIPAIS
POSTO DE HIGIENE
AUTARQUIAS
107 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 108 MÁRIO PINTO DA CUNHA
Estação Experimental do "Instituto Baiano do Fumo e Posto do Em prédio próprio, de bons e amplos salões, acomodações outras,
S.A.P.S. funciona esse grêmio social, que congrega grande número de sócios,
organizando periodicamente reuniões e bailes.
FILARMÔNICAS
Nele é que se realizam os carnavalescos do famoso Carnaval
Existem na cidade duas filarmônicas, ambas dispondo de Cruzalmense.
modernos e bons prédios próprios e boa organização:
Fundado em 1928.
A Euterpe Cruzalmense", inaugurada em 7 de setembro de 1910 e
"Lira Guarany", em 15 de novembro de 1922. ASSOCIAÇÃO DE ESCOTEIROS "GENERAL EDGAR DA CRUZ
CORDEIRO"
LOJA MAÇÔNICA "DEUS E FRATERNIDADE"
Região da Bahia.
A Oficina Maçônica "Deus e Fraternidade" iniciou as suas
atividades nesta em abril de 1954, dispondo hoje de moderno edifício Fundado em agosto de 1953, pelos senhores Dr. Otavio Menezes
próprio de dois pavimentos. da Fonseca, cirurgiã-dentista José Belchior da Fonseca e o chefe Carlos
Humberto Pires Ferreira, com quarenta e três escoteiros, funciona, desde
ROTARY CLUB (R. C.) então, com auspicioso rendimento moral, o escoteirismo nesta cidade.
O "Rotary Club" de Cruz das Almas foi fundado em 9 de maio de Teve como primeiro Presidente o Cirurgião-dentista José Belchior
1953. da Fonseca.
Conta atualmente com vinte e cinco (25) associados, realizando os Atualmente conta com quarenta e cinco elementos, dirigidos pelo
jantares de confraternização às sextas-feiras. chefe Carlos Humberto Pires Ferreira e dispõe de sede própria, com campo
de esporte anexo, construído em terreno oferecido pelo Dr. Lauro Passos.
CRUZ DAS ALMAS CLUB (R. C.)
COMPANHIA DE BANDEIRANTES DE CRUZ DAS ALMAS
109 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 110 MÁRIO PINTO DA CUNHA
Fundado o núc1eo Bandeirante de Cruz das Almas, em 26 de Foi substituído pelo 2.º Sargento Pericles, que, por motivo de
março de 1951, teve como primeira diretoria: moléstia pouco tempo esteve à frente do T. G., afastando-se antes de
completar um ano.
PRESIDENTE DE HONRA - Isolina Guerra
PRESIDENTE - Noemia Regis Em substituição ao Sargento Pericles, veio ocupar o comando do "347" o
VICE-PRESIDENTE - Profa. Maria Ubaldina Passos 2.º Sargento Marcelino, que aqui ficou até o ano de 1927.
1.ª SECRETÁRIA - Profa. Simone Vasconcelos
2.ª SECRETÁRIA - Profa. Otilia Conrado
TESOUREIRA - Profa. Iacir Pepe. Em 1928 foi designado Instrutor do T. G. desta o 1.º Sargento
Leandro Ferreira de Jesus, posto que ocupou até 1930.
ATUAL DIRETORIA:
Termina aqui a primeira fase da história do funcionamento do T.
PRESIDENTE - Consuelo Matias G. nesta.
VICE-PRESIDENTE - Dilma Torres
1.ª SECRETÁRIA - Margarida Ferreira A segunda fase tem início com a portaria n. 115, de 8 de abril de
2.ª SECRETÁRIA - Altair Dantas Maia 1952, do Ministério da Guerra, que criou o "Tiro de Guerra 1 J 6", com
TESOUREIRA - Alcina Antar Pereira. séde em Cruz das Almas.
Integrado na "Federação de Bandeirantes", possue Almas dezenas Foi solenemente instalado no dia 1.° de março de 1953, na sua
de componentes, havendo projeto de construção de sede própria, em séde, à praça da Bandeira, n. 47, iniciando as atividades no mesmo dia, sob
terreno doado pelo Dr. Lauro Passos. a chefia do então 1.0 Sargento do quadro de Instrutores, Napoleão Batista
Lemos, que neste posto permaneceu até 14 de dezembro de 1954, quando,
TIRO DE GUERRA - (1.ª Fase) por força de sua promoção a Subbtenente, foi substituido pelo 3.° Sargento
Tercí Severiano de Medeiros.
Foi fundada nesta a primeira unidade denominada "Tiro de
Guerra", em 3 de março de 1917, com o número 347, (T. G. 347) tendo No fim de 1955, por falta de número legal de atiradores, foram
como primeiro Instrutor o 1.º Sargento Pedro Balbino Torres, que aqui encerradas provisoriamente as atividades do "T. G. 116", situação que
permaneceu durante dezoito meses. perdurou até 1958.
111 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 112 MÁRIO PINTO DA CUNHA
No dia 6 de março de 1959 reiniciaram-se as instruções no "T. G. "ASSOCIAÇÃO DOS CONDUTORES DE VEÍCULOS
116" com 57 atiradores. MOTORIZADOS DE CRUZ DAS ALMAS"
É seu Diretor desde o dia 10 de março de 1953, o Cirurgião- Em 31 de março de 1959 foi fundado o órgão de classe acima,
dentista Waltercio Barroso Fonseca, 2.° Tenente da Reserva do Exército. representativo dos profisssionais do volante, abrangendo os municípios de
Cachoeira, São Felix, Muritiba, Maragogipe, Sapeaçu, Castro Alves, Sta.
COOPERATIVISMO Terezinha, C. do Almeida, São Felipe, Sto. Antônio de Jesus e Cruz das
Almas, sede, sendo seu primeiro presidente o Sr. Gerson Pais Coêlho
O brasileiro, em geral, parece não ser afeiçoado às organizações Maia, Inspetor da "Esso Standard".
cooperativas.
ESPORTES - ESTÁDIOS, ETC.
O cooperativismo, que Lavergne definiu como "O socialismo do
Ocidente" não o atrai, parece. É pouco difundido.
113 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 114 MÁRIO PINTO DA CUNHA
COLETORA FEDERAL
COLETORIAS ESTADUAIS
Arrecadação de 1958
“A. C. R. P. P.”
Platão
de Adubos Químicos.
FÁBRICA SUERDIECK S/A. Já cidadão brasileiro, após alguns anos de estadia no País,
continuou o Snr. Gerhard Meyer Suerdieck a trabalhar pela organização à
Integrada na vida da cidade, que ajudou a crescer e progredir, qual se devotou inteiramente.
elemento dos mais eficientes da economia e finanças da Comuna, a que Em 10 de janeiro de 1921 foi inaugurada a primeira grande Fábrica
deu notável impulso, ressalta, na História do Município, a parte que coube Suerdieck Matriz, em Maragogipe.
à Organização Suerdieck. Com o falecimento dos outros sócios, o Snr. Gerhard tornou-se
único dirigente da firma em 1931.
Pioneira da indústria do fumo na Bahia e representando a grande Em 1933, a construção da nova fábrica em Maragogipe, assinalava
indústria nesta, faz jus ao registro geral aqui feito sobre as suas atividades. também o início da nova época na indústria dos charutos.
Tendo começado em 1905, com cinco operários, apenas, as
Foi fundador da Empresa Suerdieck, - composta das fábricas de Fábricas Suerdieck, graças ao espírito pioneiro e dinâmico do seu antigo
Maragogipe, Matriz, Cachoeira e Cruz das Almas. – Filiais – O Snr. presidente, contam hoje com cerca de 18.000 m² de área coberta,
Gerhard Meyer Suerdieck que, chegando ao Brasil em 1909, transformou a empregando mais de 4.000 operários.
Fábrica de Charutos dos irmãos Augusto Ferdinand Suerdieck, em Conhecido não somente no País, mas em toda a América e mesmo
Maragogipe, na qual logo ingressara, como Gerente, e que tinha apenas além fronteiras do Novo Mundo, pela qualidade dos seus produtos, é um
cinco operários, produzindo 500 a 600 charutos diariamente, no que é hoje estabelecimento que faz honra a cidade, além disso, pelas instalações
a Suerdieck S./A. modernas, maquinária, etc. e grande benefício que representa o seu
funcionamento aqui, onde emprega mais de 400 pessoas.
Após um ano do início da sua atuação, em 1910, já a Fábrica
empregava cerca de 200 operários, tendo, então, o Snr. Gerhard Meyer Tendo começado a funcionar nesta em 1935, com 50 operários,
como Procurador da sociedade. vem então, progredindo incessantemente, contribuindo com não pequena
parcela para estabilidade e incremento da vida econômica e financeira do
Em 1911 foi iniciado o cultivo especial do fumo no Brasil, pela município.
firma Suerdieck, sob a orientação e com o incentivo do seu procurador
Gerhard Meyer. Produz diáriamente cento e vinte mil charutos (120.000).
Tal o desenvolvimento dessa iniciativa, que foi constituída a O mérito da escolha desta cidade para ampliação da indústria, que
organização especial que é a Sociedade Agro-Comercial Fumageira Ltda. desejava fazer o Snr. Gerhard Suerdieck, é devido, além deste de direito,
121 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 122 MÁRIO PINTO DA CUNHA
ao Dr. Lauro Passos, naquela época Deputado Federal, que sugeriu e se Indústria Baiana e benemérito das classes obreiras – a Organização
empenhou junto ao mesmo para aqui instalar a filial que pretendia fundar. Suerdieck.
Justo que na terra do melhor fumo fosse instalada uma das fábricas SOCIEDADE AGRO-COMERCIAL FUMAGEIRA S/A. – CRUZ DAS
do melhor produto industrial. ALMAS
Assim é que foram os Armazéns Suerdieck daqui transformados no Em 1950 foi fundada a Sociedade Agro-Comercial Fumageira
atual estabelecimento. Ltda., que, sob a direção da Suerdieck S/A. se dedica exclusivamente ao
cultivo científico e técnico do fumo “capeiro”, orientado pelo Snr.
Inaugurada em novembro de 1935, funciona sem interrupção até Fernando Meyer Suerdieck, com a finalidade patriótica de reduzir a
hoje; teve como primeiro Gerente o Snr. Johan Schinke; atual o Snr. Mario importação dessa matéria-prima, indispensável à Indústria dos charutos e
Fernandes de Almeida e assistente do Setor de Produção o Snr. Herbert cigarrilhos.
Stern.
SERRARIA UNIVERSO
Todos os seus funcionários e operários são associados do I.A.P.I.,
tendo estes assim como os dos demais armazéns de escolha e Em 1953, sob a razão social, JOSÉ ALBERTO & CIA., foi
beneficiamento, como órgão de classe, o “Sindicato dos Empregados na instalada nesta, à rua Silvestre Mendes s/n, a grande “Serraria
Indústria do fumo”, de Cruz das Almas. Universo”,hoje propriedade do seu sócio fundador José Albertino do
Nascimento.
O industrial Gerhard Meyer Suerdieck era artista nato.
Adolescente, alimentava o ideal de ser pintor. FÁBRICA DE ADUBOS QUÍMICOS – “CAMAB”
Auto-didata do pincel, pintou quadros sugestivos, como o Esta sigla identifica a Companhia de Adubos Químicos e Material
“Bonfim-Bahia”, outros bucólicos, vergilianos, como “Aliança”, “Forte de Agrícola da Bahia, à qual pertence à Fábrica de Adubos Químicos, aqui
São Diogo”, “Maragogipe”. construída em 1950, em terreno da Escola Agronômica.
Se não realizou os sonhos de esteia das cores e da perspectiva, em Produz adubos para toda espécie de cultura, inclusive flores,
compensação, com sabedoria, executou essa grande obra, quadro real, principalmente da zona leste do País, assim como balanceada alimentação
explêndida realidade em concreto e que o imortalizará como pioneiro da
123 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 124 MÁRIO PINTO DA CUNHA
de gado, rações balanceadas, inseticidas, pesticidas em geral, tudo, enfim, O fazendeiro ou sitiante procura melhorar o produto, produzindo o
que se relacione com a lavoura, sua defesa e fomento. tipo fino, esmerando-se nas condições higiênicas, eletrificando as
instalações.
Fundada pela Bolsa de Mercadorias da Bahia, sob a administração
do atual Diretor, o Dr. Renato Gonçalves Martins, foi transformada em Dentre as que se destacam pela organização e qualidade está a da
Sociedade Mixta e ampliada a capacidade de produção. “Fazenda Pontiac”, nos arredores da cidade.
Este velho e primitivo ramo de indústria rural, que dá nota alegre e Existem treze (13) armazéns de escolha e enfardamento de fumo.
típica a paisagem campestre, desenvolve-se constantemente em quantidade
e qualidade. São três as Agências Bancárias que aqui funcionam – a do Banco
Econômico da Bahia S/A. – Gerente Snr. Jorge Guerra, a do Banco da
125 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 126 MÁRIO PINTO DA CUNHA
Bahia S/A. – Gerente Dr. Ramiro Magalhães Costa, aquela inaugurada em Orlando Pereira Peixoto, que, com o Dr, Otávio Menezes da Fonseca, da
8 de abril de 1948 e esta em 1º de fevereiro de 1958. No dia 18 de Missão Rural, constituem o corpo médico da cidade.
fevereiro de 1959 foi inaugurada a Agência do Banco do Brasil S/A., em
moderno prédio, à rua J. B. Fonseca – Gerente Manoel Lages da Rocha. Administrado pela dedicação cristã de D. Armandina Gomes de
Santana, tem como Provedor o Dr. Floriano de Araujo Mendonça.
ASSISTÊNCIA MÉDICO-SANITÁRIA
Farmacêuticos - dois, dentistas - quatro.
Nesta esfera, podemos citar o modelar Hospital Nossa Senhora do
Bom Sucesso um dos bons do interior, obra feita por iniciativa e sob ASSISTÊNCIA SOCIAL
orientação do Dr. Luiz Eloy Passos, na sua segunda gestão, em 1939.
Inaugurado em 25 de junho desse ano, desde quando funciona sem No campo da assistência social e beneficência registra-se a
interrupção, vem prestando inestimáveis serviços ao povo de toda esta "Sociedade Beneficente dos Artistas", fundada em 27 de setembro de 1947,
zona, dos municípios próximos e até de longínquos. com prédio próprio.
Atende a gestantes e tem maternidade em construção. Os Adventistas mantém a "Sociedade Beneficente de Senhoras" e
outra de jovens.
Nos seus terrenos foi construído o Posto de Puericultura, em via de
conclusão. Em construção o "Lar dos Velhos Desamparados", do Núcleo da
Legião da Boa Vontade, a "Associação Cruzalmense de Proteção à
Uma das grandes obras do município é o Hospital mantido pela Infância", projeto, e o Posto de Puericultura, quase concluído.
Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Cruz das Almas, dispondo de
laboratórios, ambulatórios, farmácia, gabinete dentário, aparelhos de Raios NOSOLOGIA
X e 60 leitos, etc.
No setor das enfermidades, preponderam, em forma endêmica,
Primeiro Provedor – Dr. Luiz Eloy Passos. atenuada hoje pelo combate sistemático, a esquissostomose e a amebíase.
É Diretor desde a fundação o Dr. Edmundo Pereira Leite, hoje POSTO DE SAÚDE
auxiliado pelos Drs. Fernando Carvalho de Araujo - radiologista - e
O Estado mantém um Posto de Saúde, instalado em 1949.
CRUZ DAS ALMAS AGRÍCOLA
JEFFERSON
129 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 130 MÁRIO PINTO DA CUNHA
DAS ATIVIDADES AGRÍCOLAS A crendice, porém, foi superada pela técnica, ao sangue das
virgens preferem a adubação, os meios racionais, sementes selecionadas,
Tratando-se de Município cuja atividade fundamental é a como já fazem muitos agricultores da zona, orientados e auxiliados pela
agricultura, estando as demais, inclusive as do espírito, em função desta, Escola Agronômica da Bahia e Instituto Agronômico do Leste e Instituto
não serão importunas algumas considerações históricas sobre ela, que Baiano do Fumo.
sempre foi a preocupação máxima do homem.
O município de Cruz das Almas é essencialmente agrícola.
Na idade neolítica, registra a História, as terras das primitivas Nasceu, cresceu e vive em função do solo. Mesmo a sua indústria.
plantações eram regadas com sangue de virgens. A mulher, aliás, coube
relevante papel no desenvolvimento da agricultura, pois foi ela quem Sem embargos, em grande maioria, ainda são rotineiros os
iniciou o cultivo do solo. métodos de trabalho rural, que se ressente da falta de maquinário. Poucos
os tratores e arados.
O homem se dedicava, em geral, à caça, pesca e mistéres
guerreiros. As culturas feitas em maior escala são, além do fumo, cerca de
setenta mil arrobas, (1957), mandioca, cerca de três mil toneladas,
Era atribuída à agricultura, não sem alguma razão, a origem da amendoim, noventa mil quilos.
vida e energia criadora, ligada assim, aos mistérios da divindade. Daí os
trabalhos agrícolas terem cunho e rituais religiosos, conservados ainda em Há cerca de 800 propriedades rurais, algumas valiosíssimas. Não
algumas partes, e religiões, como a judaica, que observa o rito da oferta a existem latifúndios.
Jeovah das primícias da terra.
Fazendas consideradas modelares – a “Bom Sucesso”, de
“O homem primitivo quedava-se maravilhado, dizem historiadores, propriedade do Dr. Lauro Passos, a “Santa Julia”, do Dr. Luiz Eloy Passos
com a magnífica oferenda dos céus, constituída pelas searas fartas, e “Fazendas Reunidas Campo Limpo”, do Dr. Ramiro Eloy Passos,
sentindo, então, a necessidade de retribuir aqueles presentes à vida, com constituídas das terras dos antigos engenhos da Areia e da Prêsa.
dádiva de vidas.
FRUTICULTURA
E imolava filhas virgens, em holocausto à divindade, fazendo
escorrer o sangue pelos campos, para que estes se tornassem mais férteis. Terrenos de tabuleiro, antigas terras de matas sílico-argilosas,
pobre de matéria orgânica, ótimos para a fruticultura, floresce esta em
131 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 132 MÁRIO PINTO DA CUNHA
Segundo dados estatísticos o giro comercial de 1957 foi de Cr$ Dali surgiu uma grande floresta, que representa inestimável
181.664.414,20 (cento e oitenta e urn milhões, seiscentos e sessenta e potencial econômico e rivaliza com as plantações de São Paulo, tendo a
quatro mil, quatrocentos e quatorze cruzeiros e vinte centavos) e o de 1958 particularidade de ser constituída de uma única espécie, o que não ocorre
de Cr$ 160.404.514,60 (cento e sessenta rnilhões, quatrocentos e quatro com as demais, integradas por várias.
mil, quinhentos e quatorze cruzeiros e sessenta centavos).
135 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 136 MÁRIO PINTO DA CUNHA
Nesse empreendimento teve o Dr. Luiz Eloy Passos a cooperação e no entretanto, a Bahia que, depois de mandar para a California, fez também
assistência técnica do seu genro, o Eng.º Agr.º Archimar Baleeiro. a São Paulo o presente da laranjeira, fonte de riqueza para ambos, até aqui
nada produziu.
CITRICULTURA
CULTURA DE "LARANJA-PÊRA" A ausência de governo durante quinze anos reduziu-nos a situação
de pobreza em que vivemos em urn Estado com as possibilidades da Bahia.
Depois do fumo, e da mandioca a citricultura é a grande fonte de
renda do município. O financiamento a que se refere o estudo abaixo transcrito, precisa
funcionar entrosado com urn núcleo de produção de mudas que poderá ser
Neste particular, deve também ser assinalada a atuação do Dr. Luiz localizado na Escola Agronômica e ser dirigida por urn agrônomo que seja
Eloy Passos, que está empenhado na formação de laranjais, sobretudo os inteligente e trabalhador.
da espécie laranja-pêra, por ser mais econômica, prestando-se melhor a
exportação, e consequentemente, fonte de divisas para o Estado. As mudas produzidas dentro de rigorosa técnica serão pelo núcleo
citrícola vendidas a Cr$ 20,00 cada, e então proporcionarão uma renda ao
Convidado, faz pouco, para fazer parte de uma reunião da C. P. E. mesmo de vinte milhões de cruzeiros (Cr$ 20.000.000,00). Daí por diante
(Comissão de Planejamento Econômico), não podendo comparecer enviou o Núcleo viverá às suas próprias custas, sem precisar de auxílio do
por carta, os seus pontos de vista, que valem transcritos, em resumo. Governo”.
"A Bahia tem possibilidades imensas na CitricuItura. Estudo de financiamento feito pelo Dr. Luiz Passos para o Banco
do Brasil, Agência de Cruz das Almas:
A minha zona, tendo por centro Cruz das Almas, possue condições
ideais para a cultura do citrus, terrenos sílico-argilosos, planos, clima Ilmo. Snr.
ameno, boa queda pluviométrica e boas nascentes, permitindo irrigar, se Gerente do Banco do Brasil S/A
necessário. Agência de Cruz das Almas
Sobrepuja a zona citrícola de São Paulo. Acuso recebido com desvanecimento a sua carta de 19 deste, a
qual passo a responder.
Este está indo buscar grande volume de divisas em troca da
exportação de dois milhões de caixas, - cinco bilhões de frutos da laranja, -
137 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 138 MÁRIO PINTO DA CUNHA
estudo e meditação era naquele tempo, que assim foi classificado – mudas da árvore que levaram para a Califórnia, onde tão bem se deu e
do antigo Canela, a velha e quieta via romântica da cidade do Salvador. tanta fortuna fizeram os seus frutos de ouro, que tem monumento.
Deliciavam-nos e minoravam as restrições alimentares do regime Os ingleses levaram-nos da Amazônia para a Oceania, mudas de
de internato. borracha, com que nos suplantaram no mercado mundial; outros,
laranjeiras.
Como essas recordações da adolescência, também o primado da
laranja do Cabula é coisa superada. Passaram os seus tempos áureos. Felizmente não conseguiram matar o dragão, nem se apoderar do
Perdeu a primasia para a de Cruz das Almas. jardim, malgrado o imenso desejo.
Coisas da terra em que "nela se plantando tudo dá". Vão-se alguns frutos, mas o jardim permanecerá. O dragão está
vigilante.
O fumo "Mata-fina", o "capeiro", a laranja de qualquer espécie e os
seus afins, os demais frutos cítricos, todos ótimos.
ADMINISTRAÇÃO
146 MÁRIO PINTO DA CUNHA
No Império e nos primeiros tempos da República, dois partidos Poucos meses governou este, exonerando-se a pedido, sendo
políticos disputavarn aqui o poder - o Liberal e o Conservador, depois nomeado o Snr. José de Carvalho Rocha, que algum tempo depois
conhecidos como o do Governo e o da Oposição. transmitiu o cargo ao Dr. Geraldo Carlos Pereira Pinto.
Um, chefiado pelos Passos e outro, pelo Cel. Trajano Andrade, que Em 1947 foi nomeado o Snr. Milton Ernestino Silva, último
por mais de um decenio logrou predominância, perdendo-a para os Prefeito nomeado, que goverrnou até 5 de fevereiro de 1948, quando, após
adversários sob a chefia do Cel. Manoel Caetano da Rocha Passos, urn dos as primeiras eleições depois da derrocada da Ditadura, realizadas em 21 de
mais prestigiosos e prestimosos filhos do município cuja política Iiderou dezembro de 1947, em que fora eleito o Dr. Ramiro Eloy Passos, candidato
por muitos anos. da U. D. N., foi este empossado, governando até 31 de dezembro de 1951.
A vitória da Revolução de 1930 encontrou como Intendente, Vitorioso nas eleições de 1950, o Snr. Jorge Guerra - coligação P.
último, portanto, eleito na chamada República Velha, o Dr. Luiz Eloy S. D. - P. T. B. - assumiu o poder em 31 de janeiro de 1951, governando a
Passos, que a 23 de novembro de 1930 transmitiu o cargo ao Snr. Crisogno comuna até 10 de abril de 1955.
José Fernandes, que destarte, ingressou na História de Cruz das Almas
como primeiro Prefeito nomeado na República Nova. Em 1954 logrou reeleger-se o Dr. Ramiro Eloy Passos, candidato
da U. D. N., que se empossou a 10 de abril de 1955, para o quatrienio de
Algum tempo depois reassumiu a Prefeitura, como segundo 55-59.
Prefeito nomeado o Dr. Luiz Eloy que, em 1934, nas primeiras eleições
realizadas – voto secreto - após a Revolução, foi confirmado no cargo, É o atual governante. (1958)
como Prefeito eleito, por unamimidade.
Câmara de Vereadores
Ilustre Cruzalmense, e também urn dos beneméritos da sua terra, a
ele devendo Cruz das Almas a instalação da luz elétrica, a construção do A Câmara de Vereadores, composta de oito (8) representantes, tern
Hospital, o moderno Matadouro Municipal, etc. como presidente o Dr. Fernando Carvalho de Araujo, candidato da U. D.
N. ao Governo Municipal que venceu o seu competidor, Snr. Jorge Guerra,
147 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 148 MÁRIO PINTO DA CUNHA
candidato da coligaçâo P.S.D. - P.T.B. - P.R. - P.D.C., nas eleições de 3 de José de Carvalho Rocha - Serv. da Justiça
outubro de 1958.
Partido Trabalhista Brasileiro – (P.T.B.)
Os demais membros são:
Moacyr Antonio Ferreira – Comerciante
União Democrática Nacional - (U. D. N. ) João Gustavo da Silva – Comerciante.
Dr. Fernando Carvalho de Araujo – Médico
Dr. Geraldo Carlos Pereira Pinto - Eng.º Agrônomo. ELEITORES
Manoel de Sena Rebouças – Comerciante
Aderbal de Souza Pereira – Comerciário Em 1958 foram inscritos quatro mil, quatrocentos e noventa e nove
Antonio Leão da Conceição – Funcionário municipal. (4.499) eleitores, menor contigente do que em 1954, quando se
inscreveram cinco mil, cento e treze (5.113).
Partido Social Democrático (P. S. D.)
Jorge Guerra - Bancário CONFRONTO DE DUAS ÉPOCAS
Evandro de Andrade Guerra – Bacharel 1897 – 1930
José de Carvalho Rocha - Serventuário da justiça.
Intendentes eleitos até 1930
CÂMARA ELEITA EM 3 DE OUTUBRO DE 1958
Cônego Antonio da Silveira Franca, primeiro Governante - dois
União Democrática Nacional - (U.D.N.) períodos.
Comendador Temistocles da Rocha Passos
Valdomiro da Silva Silveira – Comerciante José Lino de Queiroz
Claudemiro Dias Pamponet – Bancário Major Alberto Veloso da Rocha Passos - dois períodos.
Maria Ubaldina Silva Passos – Professora Cel. Trajano Andrade - dois períodos.
Edmundo Pereira Leite – Médico Januario Rodrigues Velame - dois períodos.
Dr. Luiz Eloy Passos.
Partido Social Democrático – (P.S.D.)
Prefeitos nomeados e eleitos - 1930 a 1958
Evandro de Andrade Guerra – Bacharel
149 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 150 MÁRIO PINTO DA CUNHA
Dr. Luiz Eloy Passos (nomeado) NOTAS SOBRE 0 ELEITORADO DO ESTADO DA BAHIA
Crisogno José Fernandes (nomeado)
Dr. Luiz Eloy Passos (eleito - 1934) Em 1955, o eleitorado da Bahia elevava-se a 1.093.808; eleitores
Dr. Edmundo Pereira Leite (nomeado) inscritos até 24-07-1958, 920.249.
José de Carvalho Rocha (nomeado - dois períodos).
Dr. Geraldo Carlos Pereira Pinto (nomeado). % sabre o eleitorado de 1955 - 84,13.
Milton Ernestino Silva (nomeado).
Dr. Ramiro Eloy Passos - dois períodos – eleito. De acordo com dados estatísticos houve diminuição em quase
Jorge Guerra - (eleito). todos os Estados, a execeção do Ceará, São Paulo, Paraná e Santa Catarina.
Dr. Ramiro Eloy Passos - (eleito).
O fato, certamente, decorre do desencanto do povo, quase sempre
Passará este o governo do município ao seu sucessor, o Dr. ludibriado pelos que elege.
Fernando Carvalho de Araujo no dia 7 de abril de 1959.
TITULARES DAS REPARTIÇÕES PÚBLICAS - 1959
REPRESENTANTES NO LEGISLATIVO
FEDERAIS
República Velha – 1897 - 1930
Coletoria:
Temistocles da Rocha Passos - Senador Estadual (várias
legislaturas). Anfilofio Rodrigues Teixeira - Exator - classe "K"
Manoel Caetano da Rocha Passos - Câmara Estadual - (várias
legislaturas). D. C. T. – Correios e Telégrafos
República Nova - 1930 - 1958 Mário Pinto da Cunha - Telegrafista classe "M” - Chefe.
Eng.º Agr.º - José Pereira de Miranda Junior - Diretor - classe "M" Inaugurado em 2 de junho de 1957, teve como primeiro
encarregado o Snr. João de Oliveira Peixoto, atual - Mario Silva.
Departamento Nacional de Estradas de Ferro (D.N.E.F.)
TABELIONATO DE NOTAS
Eng.º Civil – José Correia Costa
Ivo Augusto Passos.
Campanha Nacional de Educação Rural
CARTÓRIO DO CÍVEL E CRIME
Dr. Otavio Menezes da Fonseca
Walter Siqueira Santos – Escrivão.
ESTADUAIS:
CARTÓRIO DO REGISTRO CIVIL DAS PESSOAS NATURAIS
1ª Coletoria Estadual
Anfilofio Lima de Oliveira – Escrivão.
Antonio Alves Dias
ADVOGADOS
2ª Coletoria Estadual
Militam no forum da cidade três advogados. Sendo dois bachareis
Gilberto Neves – Exator e um provisionado – Adalberto Passos.
Eng.º Agr.º - Minos da Silva Azevedo. Após a emancipação de Cruz das Almas, as primeiras eleições dos
candidatos a Intendência e Conselho Municipal foram realizadas no dia 3
Posto do S. A. P. S. de outubro de 1897 - coincidindo essa data com a das últimas, efetuadas
em 1958 - como se lê em outra parte desta.
153 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 154 MÁRIO PINTO DA CUNHA
Conselheiros:
PELAS ROTAS DO ÊXODO
MIGRAÇÕES PARA SÃO PAULO passadas. Procura instruir-se, lê jornais e revistas. Ouve rádio e crítica. Não
perde comício. Emite opiniões, julga os políticos e da maioria deles descrê,
Até 1956 a Bahia liderava as estatísticas de trabalhadores Tem gosto e, por vezes, requintes. Claro que esses ainda constituem
procedentes de outros Estados, em trânsito pela hospedaria especializada exceções, mas exceções que aumentam constantemente.
na capital de São Paulo.
Todo aquele que pode, forceja por melhores condições, fugindo à
Já em 1957, os mineiros passaram ao primeiro lugar, com 11.251 rotina e ao fadário dos antepassados. Pesa-lhe a enxada, a que vai ficando
pessoas e a Bahia a 2.° com 10.071. alérgico. Como aquele personagem de Érico Veríssimo, està sempre à
espera de que alguma coisa boa lhe aconteça.
A maior corrente migratória de trabalhadores baianos - com
destino a São Paulo ocorreu em 1952, quando entraram neste Estado, Dai a sedução da cidade grande. Ressurge, então, o "sampauleiro".
através da referida hospedaria, 249.586 pessoas, sendo baianos 46%, ou Verifica-se o "rush". Do Nordeste partem as bandeiras do desespero e da
seja, 113.758, procedentes da Boa Terra. morte, daqui saem as da esperança.
Este município concorre com uma quota apreciável de retirantes, O sul é a grande miragem , São Paulo a Méca, a Canaã mirífica, o
mormente de jovens e homens válidos, e ultimamente de elementos Eldorado, a Terra da Promissão. São Paulo, Paraná e menos
femininos de serviços domésticos, que preferem os grandes centros com frequentemente os remanescentes das zonas diamantinas de Mato Grosso.
suas atrações e salários mais elevados. Lá é que estao as minas fartas para a lavra fácil dos cruzeiros que lhes vêm
às mãos como maná caído do céu. Aquelas mãos calejadas, às quais,
DIGRESSÃO NECESSÁRIA somente a dura penas chegavam alguns anêmicos mil réis. adquirem ali,
com relativa facilidade, milhares de cruzeiros, desse mesmo cruzeiro que
Não há dúvida de que o interior civiliza-se. O camponês, o antigo se desvaloriza na razão direta das emissões e da inflação.
"tabaréu", o ex-Jeca-Tatu evolue. Já não tem o conformismo
mussulmânico que o caracterizava. Moderniza-se. Vai abandonando os E assim vai se despovoando a velha Bahia.
primitivos instrumentos e os antigos métodos de trabalho e, com eles, os
mais toscos objetos de uso doméstico. Tem noção de conforto e se esforça Cruz das Almas, como quase todos os demais municípios do
por obtê-lo. Quer melhorar de vida. Troca o cavalo pela bicicleta e pelo Estado, sente os efeitos do fennômeno. Ermos os campos. Há escassês de
"jeep". Rareia na paisagem rural a graça bucólica do carro de boi. braços, enquanto se expande o polígono das secas, - 936,993 Km² - que já
Aburgueza-se. Já não existe o roceiro hebetado de algumas décadas é nosso vizinho, os seus limites beirando as caatingas baixas de Castro
159 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 160 MÁRIO PINTO DA CUNHA
Alves. No sul há pletóra de nordestinos, há inflação de "baianos", Nern todas as cores são alegres nestas aquarelas das coisas que
mas o êxodo continua. E dentro dele o destino vai forjando a tessitura dos tentamos esboçar. Há por vezes sombrios traços, pinceladas tristes.
dramas, das comédias, das pequenas e grandes tragédias.
É que a natureza, que tão pródiga foi para com a Bahia, de certa
Há os que saem e voltam, frustrados, como Ícaro, asas desfeitas ao forma, e talvez para contrabalançar o excesso de riqueza, bens materiais e
impacto do insucesso. Melancolicamente, retornam ao antigo labor da raça, de inteligência, dessa "usina de inteligência" com que a aquinhoara, deu-
acalentando a esperança de novos vôos. E há os que não podem sequer, lhe, também, parte razoável disso que hoje se chama "Polígono das secas".
partir, os que ficam, com Prometheu, acorrentados ao rochedo do desejo A natureza tropical tem vocação de Saturno - devora os próprios filhos.
irnpossível, corroídos pela ambição insatisfeita. E há ainda os que voltam, Sobre esse tremendo fIagelo que tantos males tem feito ao Nordeste e ao
pelos fins de ano ou festas de Junho, bem vestidos, com ares citadinos, País, sobre essa quase constante irregularidade - aqui ultimamente - das
bolsos bem providos e que arrebanham, de retorno, quantos possam e estações, que trazem ao lavrador tantos malefícios, mesrno ao dos
queiram acompanhá-los. municípios não atingidos frontalmente pela seca, mas prejudicado, às
vezes, pelas longas estiagens ou pouca chuva, nunca será demais dizer-se
São os que vencern e abandonam, por rnuitos anos ou algo.
definitivarnente, o torrão natal, as paragens nativas.
Mesmo da planície, de onde certamente não chegará a montanha,
Com isto ressentem-se todas as atividades, morrnente a lavoura e o deve-se erguer a voz de todos os que podem, por qualquer meio, assim
comércio. Mas a seiva nova da cidade nova, nessa "ansia de crescer, criar, fazê-lo. São como as pequenas ondas que acompanham os vagalhões, e
subir" a energia da sua gente e o trabalho dos que ficam, desenvolvem e com eles, ao fim, se confundem e diluem-se. Restará sempre algurna coisa.
mantém a vida econômica e financeira do município. E Cruz das Almas
cresce. "Festina lente". Avança, porém, e cresce, e impõe-se como núcleo O problema não é do Nordeste. É da Bahia, é do Brasil. O
produtor de riquezas, irradiador de instrução, de cultura, de progresso. "Polígono das secas" tambérn é nosso. Interessa a todos.
O apontado é Temistocles da Rocha Passos, nascido na antiga Procedidas em 1.º de novembro de 1881 as eleições para a
freguesia de Nossa Senhora do Bom Sucesso de Cruz das Almas, atual composição da nossa Assembleia Provincial, as primeiras realizadas sob a
cidade de Cruz das Almas, onde foi batisado em 29 de agosto de 1832, vigência da conhecida "Lei Saraiva", foi eleito deputado para a legislatura
naquela época sob a jurisdição da então vila de Nossa Senhora do Rosário de 1882 a 1883 sendo reeleito em 30 de novembro de 1883 para a seguinte
do Porto de Cachoeira hoje a cidade de Cachoeira, e filho legítimo de de 1884 a 1885.
Manoel Caetano de Oliveira Passos, que, como Cadete da célebre
Companhia "Belona", fez toda a campanha da nossa Independência, Candidatou-se ao terminar o mandato, à reeleição para a legislatura
acrescendo como fizeram outros patriotas ao seu nome a palavra “Urtiga" e de 1886 a 1887, o que não conseguiu, sendo vencido no segundo escrutinio
de D. Balbina Maria do Amor Divino. eleitoral pelo seu competidor, Dr. José Pereira de Teixeira, candidato do
Partido Conservador.
Ainda muito moço, ao lado dos seus irmãos, Drs. Trasibulo da
Rocha Passos e Manoel Caetano de Oliveira Passos, ingressou na política Outra vez candidato nas eleições de 19 de dezembro de 1889, foi
da sua terra, filiando-se ao Partido Liberal do qual era seu pai prestigioso e vitorioso e fez parte da legislatura de 1888 a 1889, última do regime
acatado chefe, sendo em 7 de setembro de 1864, como representante da sua monárquico, exercendo durante a mesma o cargo de 3.º Vice-Presidente da
Freguesia eleito vereador do município de Cachoeira, cargo que exerceu sua Mesa.
durante o quatriênio de 1865 a 1868.
Ao ser proclamada a República em 15 de novembro de 1889, era
Terminado o mandato de vereador, quando já se achava no poder um dos candidatos indicados pelo Partido Liberal à reeleição para a
do Partido Conservador, resolveu, solidário com os seus correligionários, legislatura de 1890 a 1891, nas eleições já marcadas, para 7 de dezembro
não pleitear a renovação para o quatriênio seguinte de 1869 a 1872, e do mesmo ano, as quais não mais se realizaram por ter o Governo
permaneceu no ostracismo até a ascenção do seu grêmio político, em 1878, Provisório declarado pelo Decreto de 20 de Novembro, dissolvidas e
com o Gabinete presidido pelo Dr. João Lins Vieira Cansanção de extintas todas as Assembleias Provinciais.
Sinimbú, depois Visconde de Sinimbú.
Desmembrada do município de Cachoeira e elevada a categoria de
Assim, em 1.º de julho de 1881, foi novamente eleito vereador do vila e município, pelo decreto de 23 de dezembro de 1889, a Freguesia do
mesmo município para o período de 1881 a 1882 e escolhido para Senhor Deus Menino de São Felix a que ficou pertencendo a Freguesia de
presidente da Câmara Municipal, cargo naquele tempo equivalente ao de Cruz das Almas, foi nomeado em 15 de janeiro de 1890 membro do seu
Prefeito. Prestou em seu exercício notáveis serviços. Conselho Municipal, tendo como companheiros os Drs. Joaquim Inacio
Tosta e Salvador José Pinto, o Barão de Capivari e os senhores Americo
165 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 166 MÁRIO PINTO DA CUNHA
Furtado de Simas e Rosalvo de Menezes Fraga, funções que quando o renunciou para concorrer ao pleito em seu município de Cruz das
exerceu até 10 de janeiro de 1893. Almas, recém-instituido.
Fundado em 24 de julho de 1890, o Partido Nacional sob a chefia Como presidente do Conselho de São Felix exerceu por duas
do Conselheiro Dr. José Antonio Saraiva, filiou-se ao mesmo, sendo um vezes, interinamente, o cargo de, intendente do município, sendo a
dos que compareceram a reunião realizada para a sua organização, primeira de 16 de fevereiro a 7 de setembro de 1893, e a segunda de 27 de
convocada pe1os Conselheiros Drs. José Luiz de Almeida Couto e José janeiro a 3 de maio de 1896, em substituição respectivamente ao Snr.
Eduardo Freire de Carvalho, antigos chefes dos tradicionais Partidos Geraldo Danemann e Dr. Salvador José Pinto, que renunciaram os
monarquistas Liberal e Conservador bem como a posterior de 17 de mandatos.
Agosto, em que se procedeu a escolha do seu Diretório e Conselho Geral,
no qual foi incluido. Reunida em outubro de 1894 a Comissão Executiva do Partido
Republicano Federalista para confeccionar a lista dos seus candidatos às
Tendo os dirigentes do Partido Nacional, aliados aos elementos ern eleições de 4 de novembro do mesmo ano, para a renovação do terço do
oposição ao Governo do Estado, resolvido em reunião de 21 de abril de Senado do Estado, foi um dos escolhidos. Todavia, diante das diflculdades
1892 dissolver o citado Partido e organizar o Partido Nacional Democrata, surgidas ao Partido, pelo avultado número de pretendentes, juntamente
dissentiu da orientação dos seus correligionários e ingressou nas fileiras do com o Barão de São Francisco recusou a sua inclusão na aludida chapa.
Partido Republicano Federalista depois Partido Republicano, sendo, ao ser
constituido ern 15 de abril de 1894 o seu Conselho Geral, escolhido para Pouco depois, tendo o Senado em 6 de agosto de 1895 considerado
ser urn dos seus componentes, no mesmo se conservando por sucessivas vagos por abandono os lugares de nove Senadores, foi novamente indicado
reeleições, até 1905, quando foi extinto o seu mandato por ter deixado de e assim eleito em 30 de janeiro de 1896 para substituir o cônego Antonio
ser convocada na época deterrninada a indispensável Convenção, conforme Agripino da Silva Borges, um dos atingidos pela Revolução; exerceu o
o prescrito em suas bases, para renová-lo. mandato de Senador no Estado pelo tempo restante concluido em 1898,
sendo sucessivamente reeleito para os períodos seguintes de 1899 a 1904 e
Em 18 de dezembro de 1892, realizadas as primeiras eleições sob o de 1905 a 1910, vindo a falecer quando ia concluir esse último.
regime Republicano para o preenchimento dos cargos municipais, foi eleito
Conselheiro Municipal em São Felix para o período de 1893 a 1895 e No Senado, onde foi sempre uma figura respeitada fez parte das
reeleito em 22 de março de 1896 para o de 1896 a 1899, sendo escolhido Comissões de Comércio, Agricultura, Indústria e Artes, de Obras Públicas
para o cargo de Presidente do Conselho, funções que desempenhou durante e Empresas Privilegiadas de Finanças e de Justiça e Legislação, tendo
todo o tempo do seu mandato, interrompido ern 14 de setembro de 1897, oportunidade de elaborar vários pareceres que mereceram aprovação
167 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 168 MÁRIO PINTO DA CUNHA
unânime dos seus colegas. qual foi eleito membro do seu Conselho Geral e escolhido candidato ao
Governo do Estado Dr. Joaquim Inacio Tosta.
Ainda como Senador foi o autor do projeto aprovado e convertido
em lei, elevando à categoria de vila e criando o município de Cruz das Depois, ainda em 1908, foi um dos signatários dos Manifestos da
Almas, onde nascera o qual justificou ao apresentar em sessão de 22 de maioria da Assembleia do Estado, publicado no "Diáario da Bahia" de 22 a
abril de 1897, e defendeu demonstrando as razões da medida proposta 31 de março e de 3 de abril do mesmo ano, protestando contra as
quando o mesmo em discussão. violências do governo, impossibilitando-a do exercício de suas funções e
também contra a reunião da minoria, que reconheceu como Governador do
Criado pela lei n. 119 de 29 de julho de 1897 o município de Cruz Estado o Dr. João Ferreira de Araujo Pinho, à qual, dado como presente,
das Almas foi nas eleições ali realizadas em 3 de outubro do mesmo ano motivou veemente contestação da sua parte pela imprensa.
para escolha dos seus primeiros dirigentes eleitos, escolhido com o Dr. Ao serem reiniciados em 1909 os trabalhos do Senado, que não se
Antonio Maria Garcez e os senhores José Lino de Queiroz, Januario reuniu em 1908, já cessada a luta ocasionada pela sucessão governamental
Rodrigues Velame, Francisco Eloy da Silva, Eutimio Ferreira Braulio e com a posse do Dr. Araujo Pinho no Governo do Estado, passou a apoiar a
Alfredo Borges de Barros, para fazer parte do seu Conselho Municipal no sua administração embora a sua saúde já bastante alquebrada não mais lhe
período de 1897 a 1899, do qual foi o Presidente, cargo esse que exerceu permitisse ter qualquer atividade política.
em igual espaço de tempo. Fez por longos anos parte da Diretoria do Instituto Baiano de
Agricultura, prestando notáveis serviços até a sua extinção em 1905, com a
Tendo o povo da sua terra lhe renovado nas eleições de 12 de vocação por parte do Estado da tradicional Escola Agrícola.
novembro de 1899 o mandato de conselheiro Municipal para o quatriênio
de 1900 a 1903, continuou a ser o Presidente do Conselho. Entretanto não Era Comendador da Ordem Imperial de Nosso Senhor Jesus Cristo
concluiu esse novo mandato por ter sido em 15 de dezembro de 1901 eleito pelo decreto de 25 de maio de 1883 e esperava ser agraciado com o título
Intendente do município, em substituição ao cônego Antonio da Silveira de Barão do Rio de Areia quando foi proclamada a República.
Franca que renunciou, funções que desempenhou prestando os melhores Faleceu na sua cidade natal em 14 de novembro de 1910.
serviços até 31 de dezembro de 1903.
MANOEL CAETANO DA ROCHA PASSOS
Cindido em abril de 1907, o Partido Republicano ficou ao lado da
corrente chefiada por Severino Vieira comparecendo à reunião da Filho do Comendador Temistocles Passos, nasceu o Cel. Manoel
Convenção do referido Partido, realizada em 29 de junho do mesmo ano na Caetano da Rocha Passos no dia 23 de outubro de 1884, tendo falecido aos
74 anos, em l.º de novembro de 1958.
169 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 170 MÁRIO PINTO DA CUNHA
Em homenagem a sua memória, foi realizada em 13 de novembro Manoel Caetano da Rocha Passos era urn garoto de cinco anos,
do mesmo ano, uma sessão especial da Câmara Municipal, na qual falaram feliz na ingenuidade de todas as crianças desta idade, quando foi
o Eng.º Agr.° Geraldo Carlos Pereira Pinto, orador oficial, e o 1.º proclamada a República dos Estados Unidos do Brasil, com as
Secretário da mesma, Aderbal de Souza Pereira, de cujas orações consequências imensuráveis que tão profunda modificação de regime
reproduzimos os trechos abaixo, que valem também como as interessantes forçosamente haveria de trazer para a nossa pátria. Mais novo ainda, fora já
achegas à História de Cruz das Almas. testemunha viva de fatos históricos marcantes da nossa evolução social, e
Do discurso do Dr. Geraldo Carlos Pereira Pinto: do nosso equilíbrio econômico; com menos de urn ano, talvez tenha
“Pelos idos de 1884, estava em festas o lar do Comendador assistido ficar livre a mãe negra que o embalou como escrava, porque em
Temistocles da Rocha Passos. Era o 23 de outubro que marcava o 28 de setembro do ano seguinte ao seu nascimento, era proclamada a Lei
nascimento de mais um filho varão, que receberia na pia batismal, o nome dos sexagenários, que alforriava compulsoriamente, todos os escravos de
de Manoel Caetano. O nome fora-lhe dado em homenagem ao avô, Manoel mais de 60 anos. Três anos depois, a Lei aurea, assinada pela princesa
Caetano de Oliveira Passos, participante das lutas pela nossa Isabel a 13 de maio de 1888, abolia totalmente a escravatura no Brasil, e
Independência, e figura de escól do Brasil Império. criando profundas transformações nas classes produtoras, fez ruir um dos
Foi o caçula, e, não fugindo à regra geral, deve ter partilhado as potentes baluartes da manutenção do Império.
regalias a que fazem jús todos os caçulas. Sua primeira infância é, porém,
pouco conhecida. Manoel Caetano nasceu quando havia escravidão e assistiu a
Foi aluno do Prof. Mata Pereira que lhe orientou nos libertação; nasceu no Brasil Império e testemunhou o porvir do Brasil
conhecimentos básicos como ele sabia fazê-lo, incutindo nos jovens não só República.
o desejo de aprender, mas paralelamente enaltecendo os princípios de
moral rígida, que norteariam posteriormente a vida dos seus discípulos. O Um mês depois de proclamada a República, elevava-se à categoria
Comendador seu Pai, Comendador da Ordem Imperial de Nosso Senhor de vila a Freguesia do Senhor Deus Menino de São Felix, que,
Jesus Cristo, vivia atarefado nas suas lides políticas, e durante o ano do seu desmembrado do município de Cachoeira, passou a constituir o município
nascimento, como no seguinte de 1885, desempenhava o mandato de de São Felix. A freguesia de Nossa Senhora do Bom Sucesso de Cruz das
Deputado na Assembleia Provincial, para o qual fora eleito desde 1882, e Almas, ou simplesmente Freguesia de Cruz das Almas como já passara a
logo em seguida reeleito. ser chamada integrava o recém-criado município.
Cruz das Almas - era então, apenas a Freguesia de Nossa Senhora
do Bom Sucesso de Cruz das Almas, sob a jurisdição da vila de Nossa Ingressou no Seminário, mas nele permaneceu apenas dois anos,
Senhora do Rosario do Porto de Cachoeira, a qual pertencia também o Nao lhe foi possível continuar; nao lhe foi possível deixar encerrar-se a.
atual município de São Felix. carreira política magnífica, que seu avô, participante direto da campanha
171 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 172 MÁRIO PINTO DA CUNHA
pela nossa Independência, - legara a seu Pai e tios, e que estes tão Manoel Caetano foi um lutador de estirpe, forjado para a defesa
bem souberam continuar, elevando e honrando o já tradicional nome da dos interesses da democracia, e por ela batalhador intransigente. O seu
família. cargo funcional junto ao Ministério da Fazenda, nunca lhe deu grande
entusiasmo; assegurava-lhe o sustento e a educação dos filhos, porque não
Manoel Caetano tinha que ser po1ítico; o sangue que lhe circulava sendo rico, dedicava todo o seu tempo à causa pública.
nas veias, assim o exigia. Em 29 de julho de 1906 era um jovem de pouco
mais de 21 anos, quando Cruz das Almas emancipou-se de São Felix, e Eleito para a Assembleia Constituinte e Legislativa em 1934,
passou a constituir município autônomo. formou ao lado de Juracy Magalhães na corrente Udenista, e nela
permaceu até a morte. Em 1937 por força do golpe que instituiu o Estado
Quando em 1910 lhe faltou o Pai, em pleno desempenho de urn Novo, revogando a Constituição de 1934, perdeu o mandato que lhe
mandato de Senador do Estado, para o qual fora eleito e reeleito duas vezes outorgara o povo pelas urnas.
sucessivas, já o filho, com 26 anos de idade fora eleito Deputado Estadual,
mandato que, entretanto, não desempenhara devido às divergências Quase 10 anos passou afastado das lides políticas, embora fiel e
políticas havidas no Governo Severino Vieira. atento aos seus princípios e a linha partidária a que se filiara. Voltou ao seu
cargo funcional para servir, e nele aposentar-se, em São Paulo. Em fins de
Novamente eleito em 1927, ocupou a cadeira no Legislativo 1946, após a queda da ditadura, candidatou-se, e mais uma vez foi eleito
Estadual até o ano de 1930 quando por força da Revolução, foi deposto o como Constituinte para a Assembleia Estadual dando contas ao povo que o
Governo constituido. Manoel Caetano afasta-se por 3 anos das lides elegeu, até o término do seu mandato em 1950.
políticas que até então vivera. Ele que fora defensor intransigente dos
Governos legalmente constituídos, nutria a chama da esperança de voltar a Contava entao 66 anos de idade, e encerrou sua participação ativa e
ver imperando o regime democrático para o seu povo, que nascera para a direta na política estadual. Seu prestígio político, porém, de homem íntegro
liberdade, que não suportaria por muito tempo o jugo das imposições. e probo, não diminuiu. Continuou trabalhando pelo desenvolvimento e
progresso de Cruz das Almas, que nunca esqueceu como berço que o
A Revolução Constitucionalista de São Paulo, dois anos após ter embalou e o viu crescer, amando-a como a amaram seus antepassados.
sido renegada a nossa Constituição, foi-lhe a confirmação de que seus
prognósticos não eram vãos. Decretadas as eleições pelo Governo Nunca lhe batera às portas um cruzalmense, que não encontrasse a
Provisório para a Assembléia Constituinte, ei-lo novamente em ação, eleito receptividade que sempre o caracterizou. Empenhava-se indistintamente
pelo seu povo, trabalhando pela nova Constituição. para obter nomeações, hospitalizar enfermos, favorecer aos necessitados,
ajudar a quebrar as barreiras burocráticas das repartições, onde
173 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 174 MÁRIO PINTO DA CUNHA
pessoalmente fazia valer o seu prestígio, sem imposições, pelo cruzalmense que a morte roubou ao nosso convívio e ao serviço de sua
acatamento e respeito que sua figura veneranda exercia, pelas amizades terra.
que soube cultivar, pelo reconhecimento aos inumeráveis favores, que
tantos, indistintamente prestara. Assim, surpreso, comecei a indagar-me das razões que teria o
Presidente da Câmara Municipal, para escolher-me dentre tantos outros
Sua vida em família, foi como sua vida pública, um exemplo. páreas mais à altura da honrosa incubêmcia. E a resposta eu a tive de
Casou-se no ano de 1910 com D. Berila Eloy e do consórcio nasceram-lhe pronto: É que, como um dos mais velhos elementos desta casa, interessado
cinco filhos. As bençãos de Deus, recebidas na Capela de Muritiba, deram- sempre na sua vida, no seu progresso e no bem estar e progresso dos meus
lhe 48 anos de feliz existência no lar. concidadãos, teria certamente, acompanhado desde o início a vida pública
do notável baiano, cuja existência foi toda dedicada a esses fins, o nosso
Em 1.º de novembro corrente, exatamente há 13 dias passados, saudoso MANOEL CAETANO DA ROCHA PASSOS.
faleceu Manoel Caetano da Rocha Passos. 74 anos vividos de devotamento
e integridade, 74 anos que são um exemplo de como eram forjado os Realmente, senhores, a a vida de Manoel Caetano, foi como disse,
homens da sua geração. toda uma existência a serviço da coletividade. O seu lema era servir.
Ingressando, novo ainda, na vida pública, como funcionário e como
Cruz das Almas orgulhar-se-á sempre dele, como um dos seus político, foi esta a divisa da qual jamais se desviou, servir e bem servir. E
filhos que a enalteceram, porque Manoel Caetano da Rocha Passos foi um assim o fez.
marco vivo do seu progresso.
Foram quase sessenta anos de luta e de trabalho e de trabalho, em
À sua memória, rendemos neste momento as homenagens de que benefício não somente dos seus amigos, não somente dos seus
se fez merecedor. correligionários, não somente dos seus conterrâneos. Quem quer que
necessitasse dos seus bons ofícios, da sua influência, do seu prestígio, da
DO VEREADOR ADERBAL DE SOUZA PEREIRA boa vontade e da disposição que sempre teve, para resolver casos,
deslindar complicações, e sanar dificuldades, já estava de antemão servido,
“Não me deixou de surpreender a escolha do meu nome feita pelo de antemão atendido, de antemão amparado, que a todos atendia
Presidente desta Assembleia, para falar na sessão que ora realizamos, em MANOEL CAETANO, com benignidade e com o propósito sincero de
homenagem à memória de MANOEL CAETANO DA ROCHA PASSOS, beneficiar. Velho político e homem de bem, não se limitava a procurar os
e, como orador oficial pronunciar a oração em honra do eminente amigos apenas para solicitar o voto ou cooperação na hora da luta.
175 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 176 MÁRIO PINTO DA CUNHA
Amigo dos amigos, quando a eles se dirigia, quase sempre já tinha boa política e o conforto de ver a sua memória reverenciada com justiça e
saldo credor. MANOEL CAETANO nasceu nesta cidade a 23 de outubro amada com sinceridade.
de 1884. Era filho do Senador, Comendador Temistoc1es da Rocha Passos,
e de Dona Jacinta Veloso da Rocha Passos. Poi funcionário público Meus senhores, nós, que aqui estamos, nós, que somos por força de
federal, tendo se aposentado em São Paulo, como Fiscal do Imposto do imperativos democráticos, os representantes desta nossa Cruz das Almas e
Consumo; exerceu o mandato de Deputado Estadual em várias legislaturas, do seu nobre povo, não nos reunimos agora por um mero dispositivo
havendo sido constituinte baiano em 1934 e 1947. Contava ele 74 anos de protocolar; esta sessão não é feita em correspondência à rotina.
idade, quando a morte, com a sua faina traiçoeira ceifa-lhe a preciosa vida,
deixando-nos consternados. De seu consórcio com D. Berila Eloy Passos, Manoel Caetano merecia as flores que aqui lhe ofertamos neste
deixou os seguintes filhos: Dr. Manoel Caetano da Rocha Passos Filho, momento, flores que não fenecem e não morrem, porque eternas, porque
médico, D. Dulce Passos Santos, professora Maria José Eloy Passos, Profa. cultivadas pelo coração e alimentadas pela alma, e estas flores, meus
Jacinta Veloso Passos e Profa. Maria de Lourdes Passos Siqueira. senhores, são o amor do seu povo, a sagração à sua memória. Isto não
morre, isto não perece, porque não morrem, porque não perecem os
Rebento de tradicional família, tradicional era a sua atuação e a sua sentimentos da coletividade, como imperecíveis, como imarcecíveis são
figura nesta zona. Quase sempre ausente por longas temporadas da Cruz, também os louros que neste momento depositamos sobre a nobre fronte do
que ele tanto amava, era de ver-se quando aqui retornava em férias ou bom cruzalmense que foi MANOEL CAETANO DA ROCHA PASSOS.
visita à família e aos amigos, o que fazia constantemente, alegria Ele os mereceu”.
enternecida da dos humildes que lhe eram gratos por favores alcançados, e
a esperança de outros tantos deles carentes, quando a notícia corria pela Era irmão do Bel. Alfredo Veloso da Rocha Passos, que
cidade: Manoel Caetano, está na terra. desapareceu aos 90 anos, Juiz aposentado, genitor do Dr. Lauro Passos,
este também ilustre cidadão, antigo político e Deputado Federal, e do
Meus senhores, morreu Manoel Caetano da Rocha Passos. Pudesse Major Alberto Veloso da Rocha Passos – 1872-1953 – outro digno filho do
eu, fossem-me dados os dons da retórica, as graças do estilo, as louçanias município, de cujo necrológio citamos a parte que melhor resume a sua
do verbo e aqui me alongaria dissertar sobre este que acaba de retornar à vida – “Cidadão de Plutarco” e “Vir bônus et probus”.
origem da vida, descansando no seio de Deus. Se o fato consumado e Essas as características marcantes do seu caráter – bondade e
doloroso, se o temos pranteado desde o momento em que entregou a alma probidade. Foi o construtor do moderno e elegante Paço Municipal, na sua
ao Criador resta-nos, porém, como legado imperecível daquele grande segunda gestão, em 1925.
espírito, o orgulho de o termos tido sempre ao lado do bem, a serviço da
177 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 178 MÁRIO PINTO DA CUNHA
Artur Silveira - Como o precedente, por vários títulos e Artur Pela sua importância e crescente desenvolvimento, o Município de
Silveira digno de figurar entre os cidadãos egrégios de Cruz das Almas. Cruz das Almas estava já sentindo falta de um historiador, ou, pelo menos
de um cronista. Caminhando a passos largos, numa ânsia de progresso que
Comerciante que seguia mais os ditames do coração do que as lhe tem dado merecido renome, - o que honra sobremaneira os filhos da
normas rotineiras dos negócios, mesmo assim, aliando a bondade à terra e alegra os que a adotaram por sua, - Cruz das Almas, pode, hoje em
honradez, conseguiu fundar um grande estabelecimento, hoje tradicional, dia, ser considerado, sem favor, mas com justiça, entre os Municípios
aumentar a zona residencial da cidade, abrindo ruas ern terrenos de sua brasileiros, em que é mais acentuada a curva ascencional.
propriedade, uma das quais tem seu nome. Foi bom, portanto, que aparecesse esta "Monografia histórica -
corográfica" sobre o nosso município, a fim de que ele se tome melhor
Faleceu em 21 de setembro de 1952, ainda moço, aos 56 anos, conhecido, ocupando o lugar a que faz jus, entre os de mais acelerado
legando à cidade e a numerosa prole memória e nome honrados. rítmo de crescimento, entre os municípios do País.
Conselheiro Fausto Batista de Magalhães, de tradicional família
da região, um dos fundadores da cidade. Mario Pinto é o autor deste trabalho. Seria ocioso apresentar,
Flaviano Pinheiro, comerciante progressista, falecido em 1925, rigorosamente, o escritor, conhecidíssimo entre nós como homem de letras
proprietário do primeiro automóvel que trafegou na cidade. pelas suas crônicas e comentários na imprensa.
Alfredo Borges de Barros, filho do antigo primeiro Distrito
Sapeaçu. Melhor será acentuarmos o valor intrínseco do seu trabalho, que
Dr. José Carlos Ferreira Gomes, filho do humanitário médico Dr. levará para longe das nossas terras o nome de Cruz das Almas, nome que é
Mario Ferreira Gomes, que por muitos anos clinicou nesta cidade, e que foi uma legenda luminosa de trabalho e de progresso, título que é um padrão
catedrático da Escola de Farmácia do Salvador. de grandeza, como a própria Cruz de Cristo, em cujo pedestal se eregiu.
José Vicente Pereira, grande enfardador de fumo, patriarcal chefe
de numerosa prole. Cruz – 1959.
Dr. Ribeiro dos Santos, médico notável.
Dr. José Conrado, - Engenheiro Civil e muitos outros que serviram Floriano de Araújo Mendonça.
e honraram a sua terra e a sua gente. Catedrático da Escola Agronômica da Bahia.
PALAVRAS FINAIS Queremos esclarecer também que embora fiéis às nossas próprias
diretrizes, de modo geral, seguimos as normas clássicas do I. B. G. E. no
I elaborar e estruturar o conjunto de fatos e dados estatísticos, bem assim no
tocante à parte por essas normas denominada “Filhos Ilustres”.
Este retrato que tentamos esboçar da cidade e do município de
Cruz das Almas não estará, talvez, isento de falhas, sem embargo dos II
esforços despendidos para evitá-las.
Dizem que as cidades, na vertigem do progresso, perdem a alma.
Serão contudo, senões de somenos, que não prejudicam o todo, e
como tal, desculpáveis. Não assim Cruz das Almas. Cresce, mas não se despersonaliza,
evolui e progride sem se desumanizar.
Sanadas serão na segunda edição que, revista, ampliada e mais
atualizada esperamos fazer. É e será sempre a cidade nascida à sombra da Cruz, imbuída do
ideal cristão, alma e espírito plasmados pelos seus maiores nas virtudes
Queremos ressaltar, porem, o desejo que nos animou de fazer uma cívicas e que tanto tem de ático no amor às liberdades, no liberalismo
obra tanto quanto possível exata, completa e correta, também quanto à político e no devotamento à cultura.
parte técnica e estatística.
Essa foi a Cruz das Almas do passado, é a Cruz das Almas do
Faltou-nos tempo e lazer para maiores pesquisas e investigação. presente e será a do futuro e de sempre.
O nosso objetivo foi publicar trabalho útil, embora modesto, e que AGRADECIMENTO
viesse a servir a Cruz, como um todo, e para isto o melhor caminho a
seguir nestas pequenas digressões através dos seus fastos seria o da A todos quantos nos icentivaram e colaboraram conosco, prestando
sinceridade. E assim o fizemos. informações, e esclarecimentos especialmente o Advogado Provisionado –
Agente de estatística – Adalberto Damasceno Passos, os nossos efusivos
Se determinados fatos e personalidades são realçados é que o agradecimentos.
exigia a verdade histórica.
M. P. C.
LIVRO SEGUNDO
FLASHES
DO PLANALTO
PALMEIRAS IMPERIAIS...
189 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 190 MÁRIO PINTO DA CUNHA
NASCE UMA CIDADE "Albo lapillo notanda", como faziam os Romanos. Um dia,
realmente, a ser anotado em alvos caracteres nos fastos da cidade, que foi
No princípio eram apenas algumas casas em meio à mata ele o marco inicial da arrancada ininterrupta e vitoriosa na senda do
circundante. Poucas, pequenas e modestas moradias, plantadas descuidada progresso.
e despretenciosamente no solo generoso e fecundo, em meiados e fins do
século XIX. M.P.C.
Quem as visse, então, não diria que ali estava o embrião de uma
futura notável urbe, o núcleo de uma cidade em que, paripassu ao
progresso material, andariam as coisas do espírito, concretizados no estudo
das humanidades, da ciência agrícola, da análise, observação e
investigação científica.
Naveguei por seus mares azuis e profundos, vagas eriçadas aos E contemplei a beleza de Atenas, espiritual e nobre; tudo alí tinha a
ventos do Pireu, onde ainda reinam Tritões e sereias fascinam marinheiros; consagração dos séculos, na unção dos milênios. Admirando a Acrópole,
divaguei por entre ilhas sempre verdes em que remanescem, imortais, as compreendi Renan, em êxtase, ante ela, a louvar a grandeza ímpar ,da
divindades e os heróis de Homero. Vi templos de linhas impecáveis, em divina dádiva.
cujas naves oficiavam sacerdotes pagãos e li, contemplando as colunas do
Partenon, a ansiosa interrogação da metafísica, na inscrição: "Deo ignoto". Plantada, assim sobre a rocha, alteava-se da terra para a
Phidias e Praxiteles, magos da Arte, obravam milagres. luminosidade do espaço, todo urn poema de pedra e mármore, como
símbolo real e perfeito do que é imperecível.
Vi pitonisas e vestais, hetairas e cortesãs. Ali na Ágora, estavam
Temistocles, inconformado, a confessar, melancolicamente: “Os louros de
Milciades não me deixam dormir", e Aristófanes, genial, satirizava os erros
dos concidadãos. Pericles e Demostenes defendiam a liberdade,
antecedendo-se a Aristoteles, que preconizava a Democracia como a forma
de governo mais compatível com a dignidade humana.
Cruz das Almas, como todo o orbe cristão, ora e medita. Há bons
propósitos e melhores intenções nos espíritos dominados pela majestade do
grande mistério; propósitos de seguir realmente os ensinamentos e o
exemplo do Cristo da religião da caridade.
“BUMBA-MEU-BOI”, AS MASCARADAS, OS
M. P. C.
APÓS O VERÃO, QUE SE PROLONGA DE
Maio chegou, após as chuvas dos últimos dias de abril, que vieram
como a lavar a atmosfera e a natureza, para a entrada jovial do mês bonito
dos poetas, das flores e dos corações românticos.
É o mês adolescente e jovem, inspirador da mocidade sonhadora e
do aconchego doce dos idílios.
Vêde como reverdecem os campos sob a ação mágica da clorofila
nova e mais belas vivazes as flores que cobrem os jardins que se vão
reflorindo, ao influxo revitalizante e suave da seiva outonal.
E a cidade do altiplano respira desopressa, já livre do abraço cálido
e desconfortável da canícula intensa do verão, e se refaz, satisfeita e
eufórica, que vale a ação tonificante do ar leve e tépido desses dias que
mais parecem primaveris, que época pré-hibernal.
E assim, aos influxos sutis da natureza prodiga, que rejuvenesce, as
manhãs são mais bonitas, os dias aprazíveis, sem a exaustão do calor
tropical.
Às noites, o firmamento estrelado, à luz das nebulosas e
constelações, recobre a urbs num convite ao sonho e às divagações
extraterrenas, nas asas da fantasia. Há real e natural beleza em tudo.
Mas, por estranho paradoxo, Maio, que é o mês das suaves
devoções cristãs, mês em que os altares estão floridos e perfumes deles se
evolam, de envolto com a oferenda mística das devotas do doce culto
sempiterno e santo da Virgem, sugere aquelas priscas cenas pagãs, de
orgias campestres, de faunos e ninfas, dríades e sílfides, ao som das
melodias irreverentes e eternas da flauta de Pan, o brejeiro deus pagão.
M. P. C.
É ATUANTE O SENTIMENTO CRISTÃO DO
CRUZALMENSE.
Dentre todas as comemorações e festividades que assinalam vários Deve ser, talvez, mesmo por isto, que Maio tem tanto encanto e
dias do ano, sobreleva, pela transcendente magnitude a do segundo tanto se enfeita e colora e refulge à luz diáfana dos dias amenos e bonitos,
domingo de Maio, consagrado em todo o orbe civilizado - "DIA DAS como numa glorificação da natureza à mulher, mãe de Deus e as mulheres,
MAES". Sendo este o que mais de perto fala à sensibilidade e ao coração, mães dos homens.
enseja oportunidade para o reflorir das homenagens devidas sempre àquela
que, sem embargo da aparente debilidade da constituição fisica, foi
investida pela natureza da mais sublime de todas as funções - a
maternidade.
Mais alguns dias entregará o facho simbólico da eterna corrida do Snob, sofisticada e anêmica fenece, lentamente, a alegria. Já não há
tempo ao mês junino. a clorofila da ilusão a alimentar esperanças.
Antigamente, quando a vida, como a escola francesa cantada pelo E por sobre este panorama desolador e melancólico pairam,
saudoso poeta da Lorena, era risonha e franca, tinham os meses encantos sinistros, os torvos duendes da guerra, aguardando apenas, a ordem de
próprios, que lhes eram peculiares, com datas a serem festejadas Caim, para o entrevero macabro.
descuidadosamente, que eram quase todos eles também marcos de
folguedos e festas, públicas umas, íntimas outras. M. P. C.
Havia no início deles, como de cada ano, a enfeitar-lhes o
alvorecer, a flor verde da esperança de ingênuas alegrias e venturas
simples, quase sempre alcançadas.
Era isto, porém, nos tempos idos, tão deplorados pelos nossos
maiores.
Desventuradamente, já hoje não acontece assim.
São os anos, os meses e as semanas e os dias, todos eles
assinalados pela ansiedade constante, pelas ásperas vicissitudes da luta
cotidiana pela simples sobrevivência, tudo de permeio com o prosaísmo
das necessitades imediatas.
Não mais existe nas cidades aquela suavidade poética das velhas
eras. Há quem diga mesmo que a poesia morreu ou se ausentou do mundo
conturbado e materialista.
AS FESTAS JUNINAS EXERCEM ESPECIAL
CIDADE.
UMA CURIOSA TRADIÇÃO Aqui não era o "anjo da morte que, pálido, cosia, uma vasta mortalha",
como nas lutas épicas da Independência, em Pirajá, e sim os duendes maus
(De 31-1.° deste a cidade velou, assistindo à “anvant-premiére” da insônia que nos era imposta, a nós outros, pobres mortais, inermes e
junina daquela noite). vulgares, que não sabemos manejar raios, e alí estávamos, simples
espectadores, a experimentar os percalços das noites insones, como essa de
(Dos Jornais) 1º de junho do ano da graça de 1957, nesta bucólica cidade planaltina.
COM O...
224 MÁRIO PINTO DA CUNHA
SÃO JOÃO Dentro de mais alguns dias e toda a urbe estará transfigurada e
enfeitada de fogueiras e fogos, e nas ruas, nos lares e nos corações se
A Cidade, como, aliás, todo o País prepara-se para os festejos renderá a homenagem devida a Yokaanan, o precursor do Cristo, que a
juninos. maldade de Salomé fez degolar.
STO. ANTÔNIO DE LISBOA Vinda de além-mar, da mãe pátria, a sua devoção em breve se
assenhoreou dos corações brasileiros. Perito também em estratégia e tática
Fernando de Bulhões era o seu nome no século. Jovem, nobre e militar, defendeu mais de uma vez o território pátrio dos inimigos, sendo
destimido, foi durante muito tempo o herói de façanhas românticas e por estes feitos promovido a coronel, recebendo até o soldo e honrarias do
noitadas alegres, em que muitas vezes o reluzir das espadas se confundia posto.
com o tinir dos copos e as melodias nostálgicas dos seresteiros. Era a época E assim o milagroso santo-soldado, a maior devoção e esperança
bravia e cavalheiresca em que os homens se batiam por uma flor e morriam maior do belo sexo.
por um simples olhar de donzela. Em meio a esta plêiade de bravos, o E é por isto que vemos, todos os dias do ano em geral, e
espírito audaz do moço Fernando e a sua glória de espadachim quebravam particularmente nesta primeira quinzena de junho, a ele consagrada, a sua
a monotomia da triste Lisboa dos fados dolentes, e pela penumbra dos devoção pública revivida nas novenas caseiras em que os cânticos
seculares sobradões e solares medievais deslizavam as silhuetas graciosas laudatórios e os fogos álacres singram os espaço como mensagem de luz,
das jovens, todas sonhando com o amor daquele príncipe encantado. portadora das esperanças e súplicas das jovens.
E dizem que há muito sortilégio feito com a imagem do Santo
Eis, porém, que um dia foi ele tocado pela centelha divina. Português, para decidir candidatos e fazer aparecer o príncipe dos sonhos
Galvanizou-o a santidade de Francisco de Assis, de quem se tornou juvenis.
discípulo e seguidor. O espadachim temerário e temível transformou-se em
soldado de Cristo. Trocou as finas e complicadas indumentárias da época, De tudo se livrou galhardamente o taumaturgo: - das garras do
pelo burel simples e grosseiro do franciscano. pecado e dos inimigos materiais e espirituais; santo e soldado, praticou
prodígios e heroísmos.
E ei-lo, já agora frei Antonio de Padua, humilde monge, ungido do
senhor, a penitenciar-se das passadas culpas, espargindo bênçãos e Algo, porém, até hoje, através dos tempos, desafia a sua faculdade
consolação. Com a mesma decisão com que outrora se batera pelas ruas e sobrenatural – a pertinácia feminina que o assedia há séculos e dela, não
vielas de Lisboa, por elas andava agora levando o lenitivo e o conforto da haja dúvida, só o livrará mesmo o poder infinito do Padre Eterno.
religião onde se fizesse mistério.
M. P. C.
E operou milagres extraordinários o taumaturgo Antonio, o que lhe
valeu ser escolhido pelas filhas de Eva como propiciador de partidos e
patrocinador de enlaces.
AS FESTAS DE SÃO JOÃO ATINGEM O CLIMAX
CONSTITUEM VERDADEIRA...
232 MÁRIO PINTO DA CUNHA
OLIMPÍADA JOANINA serenos, tripudiando muita vez sobre os reptís de fogo, dominando-os e
devolvendo-os com elegantes passes de toureador.
Será esta, certamente, a primeira crônica a registrar e documentar a
já tradicional batalha de fogos que se verifica em Cruz das Almas, todos os Aqui por entre os canteiros de flores do centro da praça ou ali,
anos a 24 de junho, quando aqui atingem o clímax os festejos joaninos. sobre as palmeiras imperiais, veres outros tantos ramalhetes cambiantes e
caprichosas com as iridescentes, formadas pelos fogos cruzados que vão e
Bárbaro, semi-bárbaro, selvagem ou não, respeitados os vern, sobem e descem, rastejam e alteiam-se, avançam ou recuam, raivosos
sentimentos e as opiniões que despertam e originam, abstraidas certas e uivantes, sempre a despejar das entranhas a ira rubra da combustão que
naturais restrições e considerando do ângulo estético, temos de convir que os consome em holocausto à alegria e beleza pirotécnica. Mais além,
é algo digno de ver-se essa arrojada acrobacia faiscante e policrômica das podereis contemplar sobre os "ficus", outro que, imobilizado pela trama
“espadas", nas olimpíadas dos dias de São João, a que serve de anfiteatro a verde que em vão tentara romper, sugere "flamboyants" rutilantes.
nossa principal raça. E temos de reconhecer também, que já estão
ganhando fama, fazendo "astros" e escola, a técnica, perícia e audácia dos Se alguns acrobatas e trapezistas aerodinâmicos, esmeram-se e
aficionados do original sport, que tern algo de espartano. extremam-se, librando-se em remígios airosos ou formando estranhas e
loucas figuras geométricas, outros há que se exibem a saltitar, aos jatos,
Espetáculo digno de ver-se, essa orgia louca de fogos, que cedo se quais minúsculos dragões apocalípticos em fúrias inúteis, salamandras
inicia, intensificando-se gradualmente para atingir ponto máximo em vencidas nos estertores agônicos.
intensidade e beleza à noite até as vinte e duas horas a partir deste
momento começa a extinguir-se lentamente - quando jovens, adolescentes, E contemplareis, enfim, em meio as rajadas de fogo e cortinas de
respeitáveis adultos e quase crianças empenham-se nestes novos jogos fumaça, impávidos e serenos, ou pequenos gavroches, que formam
florais, a esgrimir em combates singulares, ora aos grupos, por vezes em espetáculo à parte, disputando os despójos da refréga, que são os troféus
"comandos" ou incursões solitárias, mas sempre a investir, sem dessa original dessa original olimpíada joanina.
tergiversões nem temores gladios flamejantes em punho, contra os alvos
que lhes antepõem os outros preliantes ou grupos, sem atentarem no perigo M. P. C.
nem se cuidarem dos riscos ou danos físicos, relampadejando fagulhas e
chamas, quais iracundas potestades ou humanos arcanjos.
DOIS DE JULHO... o povo, passa despercebida à grande maioria a data magna da Bahia, uma
das maiores da nação.
É como tudo tivesse acontecido ontem. Ainda se ouve nas
campinas do hinterland o entrechoque das armas nos entreveros épicos; nas Onde, pois, a tradição? Onde, pois, o seu culto? Morreu ela, acaso,
colinas e barrancas do litoral e das ilhas do recôncavo, ressoa ainda o eco a tradição que é assim, como a sublimação dos sentimentos e um dos
das bombardas nos canhoneios arrojados; ainda vagueiam pelos campos melhores bens do patrimônio cultural e moral dos povos? A constatação é
em que se extremaram em bravura e audácia os manes dos heróis de 22 e melancólica, mas desventuradamente, positiva-se, e aí está quase flagrante,
23. materializada quase, materializada como tudo nesta época da máquina e do
utilitarismo totalitário. Morre a tradição.
É como se tudo tivesse acontecido ontem, e já não se comemora
nem rememora o maior feito dos filhos da velha Bahia, talvez a sua maior Fenece lentamente, entre nós, a flama que jamais deveria
glória, - a de consolidadora da Independência da Pátria. extinguir-se, símbolo que é da grandeza dos povos, da fé que não morre e
do espírito que é eterno.
Os desta geração recordam o entusiasmo patriótico com que se
festejava o “2 de julho”. Era apenas o “2 de julho”. E todo um mundo de Machado de Assis em um dos seu lapidares sonetos, referindo-se
sentimento abrigavam estas três pequenas palavras – “2 de julho”. às festas do Natal, pergunta: “Mudaria o Natal ou mudei eu?” Parodiando-
o, pode-se formular a triste interrogação – mudaram os tempos ou mudou o
E quanta emoção eclodia, então a florir em poemas, em versos, em Brasil?
canções guerreiras, em retórica, em simulácros de batalhas, em cavargatas
bravias. E por sobre tudo, pairavam, legendárias e imortais, as figuras do M. P. C.
poeta, gênio, e da cabocla, símbolo da raça.
O...
240 MÁRIO PINTO DA CUNHA
ESPÍRITO DE CAXIAS abater pelos sabres paraguaios, em defesa da bandeira que lhe fora
confiada; era o corneteiro Lopes, já ferido de morte, a vibrar, de envolta
Aquele Império independente fundado pelo gesto romântico e com o último alento, a clarinada do toque de avançar.
cavalheiresco do seu primeiro titular, tive sempre ao lado numes
protetores. Foi em meio a esse ambiente austero e varonil, que veio à luz – um
século a 25 de agosto último – Luiz Alves de Lima e Silva, Bayard
Foi a fase áurea da Nação, a época dadivosa em estadistas, brasileiro, como este cavalheiro “sans peur et sans reproche”. Embora
diplomatas, financistas, intelectuais e chefes militares. É esse o grande política, à feição aristotélica, foi sobretudo militar cuja vida foi inteira
momento dos nossos fastos, do qual, salvo raras exceções, só temos por dedicada a “combater o bom combate”, de que nos falam as Escrituras. O
que nos orgulhar. vulto sereno e másculo do Duque de Caxias perpassa por quase toda a fase
Imperial, qual arcanjo protetor das instituições, sombra benfaseja a pairar
Pródiga a natureza, que se exauriu, então, ao que parece, a gerar sempre onde houvesse discórdias a dirimir, harmonia a refazer, erros ou
Homens, cujos vultos olímpicos emergem hoje do fundo dos tempos, das desmandos a corrigir. Foi o diplomata-soldado, o soldado-apóstolo, que
páginas da História, maiores assim, à distância, a comtemplar, aturdidos, o não conheceu as humanas fraquezas nem o travo da derrota, o que tudo o
imenso deserto. coloca no ápice de nossas glórias militares, ao lado dos maiores capitães da
História.
Havia emulação entre as regiões do vasto continente da Vera-Cruz,
no doar à Pátria filhos ilustres, que surgiam, à porfia, dos campos de Na herma do Condestável do Império arde, permanente, a chama
Piratininga, dos agrestes do norte, dos gerais do oeste e das coxilhas e votiva da saudade, homenagem da Nação ao leal filho e servidor, símbolo
campanhas do sul. da flama que foi o fanal da sua vida, essa que, desventuradamente, não
mais ilumina, como outrora, o espírito nem o coração dos nossos homens
Essa a época que teve a beleza épica das cargas de cavalaria de públicos.
Osorio, das abordagens homéricas de Barroso, da epopéia da retirada da
Laguna, dos entreveros gaúchos de Canabarro e das Cruzadas de Caxias. M. P. C.
Grandes ideias e grandes chefes, nobreza e cavalheirismo, caudilhismo e
bravura.
OUVIR ESTRELAS “Ora, direis, - ouvir estrelas” Mas quem não as ouve naquela
quadra, vos perguntarei eu e quem não torna a ouvi-las, em confidências
“Ora, direis, ouvir estrelas”, impossível. Não duvideis, que o poeta tristes, em noites assim, quando se confundem as suas trêmulas mensagens
tem a superestesia dos iluminados para apelos nem pressentidos, sequer, luminosas com essa outra branca do luar pleno?
por outros, para o entendimento das estrelas, alma aberta às sugestões da
natureza e o eterno enlevo das noites. Vive nele o fascínio da sutil sinfonia Ouvir estrelas, direis. Mas ouvi-las e entendê-las, quem não quer?
dos altos céus claros e escampos, com o mistério luminoso dos astros e Quem não deseja a fuga impossível do mundo objetivo e áspero para a
vias lácteas a pairar, envolvente, sobre as montanhas, os vales e as cidades. região subjetiva da quimera e do sonho?
Sente ele a fascinação das noites de luar que lhe trazem a evocação Ouvi-las e entendê-las, sim, e pedir-lhes que não partam, que não
de passadas venturas, de romances desfeitos, de vidas não vividas, de abandonem a noite para que o dia não volte a despontar, para que a luz
manhãs e tardes de sol, com o canto da cigarra dentro de crepúsculos prosaica do sol não retorne jamais – para que a vida transcorra toda assim,
tristes. E a saudade de emoções mal sentidas, a saudade do que poderia ter suave e mansa, dentro de uma estival noite intérmina, como algo irreal,
sido, do que deixou de ser e amar. como uma boa miragem, uma possível utopia nas regiões dos deuses e das
musas, almas e corações eluminados perenemente pelo encantamento lírico
O poeta sonha, sabei, sob a magia das noites, que tem o condão de das noites de luar, a ouvir e entender estrelas.
realizar o milagre de retorno ao passado, ao mundo da infância e da
adolescência, prelúdio descuidoso e feliz da realidade. M. P. C.
Sonha à luz das estrelas, que tem o dom mirifico de fazer ressurgir
mansamente das sombras dos caminhos da vida, quais bons duendes, as
reminiscências que ficaram para traz, ilusões de um dia, que se foram
todas, irremediavelmente.
***
DEPOIS, POR ENTRE AS MANIFESTAÇÕES
DE SOLIDARIEDADE E CONFRATERNIZAÇÃO
COM A...
248 MÁRIO PINTO DA CUNHA
ORAÇÃO DO NATAL Estarão hoje os homens aos vossos pés, mas já não haverá piedade
nas almas, a esperança já não suscita alentos, sentidos não são os doces
"Glória a Deus nas alturas, e paz na Terra aos homens de boa efluvios da vossa presença nem ouvida a mensaagem do Menino-Deus.
vontade". prevalece o espírito farisaico e somente a eles mesmos oferecern os
homens o ouro da ambição, incenso da vaidade e a mirra das vanglórias. E
(Os Anjos Aos Pastores) por isto as vossas bençãos, parece, diluem-se no infinito, já não chegam até
nós, indignos que somos delas.
Senhor - Eis que chega a vossa noite. Na penumbra tranquila que a
procede cantam os sinos e os corações o acalanto suave das melodias e nas Mas vos rogamos : - Ouvi, Senhor, a oração dos humildes, a prece
almas, em surdina, a rosa mística da fé recorda e perfuma a eterna saga do dos simples. Temos sede, dai-nos a beber a linfa cristalina da vida em Vós;
grande mistério. a Fé, fazei-a atuante, transformando-a, realmente, como o quisestes, e
ensinastes em instrumento de ação, de benemerência, de verdadeira justiça
Hoje, que descestes novamente até nós, na frágil forma humana, social e que ela volte a fecundar as almas, que a esperança ilumine os
escutai a prece dos simples, a oração dos humildes. Eles vos dizem: espíritos e a caridade ressurja e viceje na sua forma mais sublime, a
espiritual, - na fraternidade humana, na união dos povos, na compreensão
- Vinde, Senhor, e vede a que reduziram o mundo que redimistes, plena, na humanização dos homens em Cristo, para a felicidade dos que
vinde e vede a que reduziram os pequenos, que tanto amastes, e aqueles chegaram agora, os pequeninos, para o bem de todas as vossas creaturas,
outros que extremecestes tanto. "Deixai vir a mim as criancinhas", para a paz na Terra e aos homens de boa vontade e vossa maior g1ória...
dissestes. Mas, Senhor, vereis agora, que mães morrem ao desamparo,
crianças ternas e tenras como vós, nesta noite, fenecem inanidas e sem teto, M. P. C.
olhos abertos para a luz do alto, sorrindo, inocentes, quais flores dos
campos despetaladas às lufadas das tempestades. Perdoai-nos, então, se vos
perguntamos, como o poeta: "Senhor, que mal vos fizeram as rosas"?
SOBRE O MUNICÍPIO
DE
(A TERRA DO PETRÓLEO)
BAHIA
252 MÁRIO PINTO DA CUNHA
SÃO FRANCISCO DO CONDE – BAHIA Senhora do Socorro do Recôncavo, criadas em 1608, no Bispado de D.
Constantino Barradas.
Histórico
Depois foram criadas as Freguesias de Nossa Senhora da Madre de Deus
“Doando em 1629, Gaspar Pinto dos Reis e sua mulher Dona do Boqueirão e a de São Gonçalo, na sede da Vila, em 1696, de São
Isabel Fernandes, por escritura plública, cento e quarenta e três (143) Sebastião das Cabeceiras do Passé, em 1718 e a de Santana do Catu, em
braças de terras no lugar conhecido por "Sítio", na antiga sesmaria de D. 1796.
Fernando de Noronha, Conde de Linhares, aos religiosos franciscanos, e
Custódio da Ordem, Frei Antonio dos Anjos, fez seguir para aquele local A Freguesia de Nossa Senhora da Purificação do Sergí do Conde,
os frades Francisco Lisboa, Pedro da Purificação e Manoel Pôrto o corista foi, em 1727 desmembrada para constituir a Vila de Nossa Senhora da
Frei José de São Pedro e o leigo Frei Francisco Olegário, para darem início Purificação de Santo Amaro. A Freguesisia de Santana do Catu foi, em
à construção do Convento e da Igreja. 1868, desmembrada para constituir a Vila de Santana do Catu.
Com a inauguração destes, em 1636, o número de casas A Freguesia de São Sebastião das Cabeceiras do Passé, foi, em
residenciais em suas adjacências aumentou consideravelmente, 1926, desmembrada para constituir a Vila de São Sebastião.
constituindo uma próspera povoação que passou a ser denominada "São
Francisco do Sítio" ou "Sítio de São Francisco", em homenagem ao órago A Freguesia de Nossa Senhora da Purificação-Deus do Boqueirão
da sua Igreja, ficando deste modo lançados os alicerces da futura Vila. passou, em 1947, a pertencer a Cidade do Salvador.
A Vila de São Francisco da Barra do Sergí do Conde, por corrutela Assim, tem atualmente a antiga Vila de São Francisco Da Barra do
São Francisco da Barra do Sergí do Conde, por estar situada na foz do rio Sergí do Conde, depois simplesmente Vila de São Francisco e atual Cidade
Sergí do Conde, assim chamado por passar pelas terras do Conde de de São Francisco do Conde, apenas três Freguesias, que são as de São
Linhares - foi solenemente instalada em 16 de fevereiro de 1698, pelo Dr. Gonçalo, na sede, N. S. do Monte do Recôncavo e N. S. do Socorro do
Estevam Ferraz de Campos, Desembargador dos Agravos, Apelações Recôncavo, as quais constituem os atuais distritos de São Francisco do
Crimes e Cíveis da Relação do Brasil. Conde, Monte do Recôncavo e Mataripe.
Quando foi inaugurada a Vila de São Franncisco da Barra de Sergí (Notícia histórica escrita especialmente para a "Enciclopédia dos
do Conde, a ela pertenciam as Freguesias de Nossa Senhora da Purificação Municípios Brasileiros" pelo historiador Antonio de Araujo de Aragão
do Sergí do Conde, Nossa Senhora do Monte do Recôncavo e Nossa Bulcão Sobrinho).
253 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 254 MÁRIO PINTO DA CUNHA
Na divisão administrativa de 1933 aparece o município com a Em Mataripe a sua Refinaria, assim como a Petrobras, e uma
seguinte constituição: São Francisco, Born Jesus, Socorro do Recôncavo e explêndida realidade.
Madre de Deus do Boqueirão.
(Notas feitas de acordo com a "Enciclopédia dos Municípios
De acordo com a lei 628, de 30 de dezembro de 1953, a Brasileiros").
composição atual do município é a seguinte - São Francisco do Conde,
Mataripe e Monte Recôncavo, que constituem os principais núcleos ELEGIA DA VILA DE SÃO FRANCISCO
populacionais.
Godofredo Filho
Menores – D. João, Santo Estevão, São Bento das Lages,
Paramerim, São Roque, Engenho de Baixo e Engenho d'Agua. Das vilas do Recôncavo Baianofundadas no século XVIII por D.
João de Lencastre, “o bom governador”, nenhuma que possa lembrar um
Atividades econômicas passado tão pleno de glórias do mundo, como essa de São Francisco da
Barra de Sergí do Conde.
Localizado na zona do recôncavo, em terrenos de massapê, a
cultura da Cana de Açúcar e a sua industrialização formavam Terra ilustre, de Mem de Sá, seu primeiro dono, dos condes de
anteriormente a base da sua vida econômica e financeira. Linhares e de quantos fidalgos e fidalgotes que por ali passaram, batendo
nas Lages os saltos das botas altas; terra de senhores de engenho, de frades
A introdução do plantio do cacau branco produziu profunda bondosos, de freiras que iluminaram de graça humana ou de virtudes
alteração na economia da região. angélicas as arcadas do Desterro e terra das patuscadas de Gregório de
Matos, que estamos a ver, namorando na Matriz da Vila a sua Joana, "mais
Hoje, o petróleo é a principal riqueza do município. Os campos de bela que as estrelas", bebendo com sede rabelaiseana à saúde de Baltazar
D. João e Mataripe contam dezenas de poços de petróleo e de gás em plena Vanique, no Engenho que este flamengo possuia no Marapé; em pandegas
produção. inconfessáveis e caçadas com André Barbosa, Cosme de Moura, Pizarro e
outros rapazes alegres da nobreza do tempo.
Existem também poços submarinos em fase de produção, enquanto
prosseguem os trabalhos de perfuração de novos poços. Além da Matriz, se subirmos mais, à eminência de onde a vista
domina meio contorno da Bahia, também achamos o convento de São
Francisco, terminado em 1636 e a Igreja, mais tarde, em terra que ao
255 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 256 MÁRIO PINTO DA CUNHA
seráfico Padre São Francisco doou a piedade de Gaspar Pinto dos Reis e Mário Pinto da Cunha
sua rnulher Isabel Fernandes, os quais Deus haja em sua glória, pela
sombra e agasalho que nos deram e pelos sinos que ainda ouvimos. “Vinde ver! Vinde ouvir homens de terra estranha!”
Arthur de Sales, grande poeta, morava perto da Matriz e era nesse ***
ambiente, sob o prestígio da lua crescente, que nos, adolescentes líricos, o
ouviamos recitar os poemas do "Ermo em flor". É o Brasil de mãos calosas que os campos dilacera
E vê, passada a sarabanda dos temporais
Hoje o petróleo mudou e mudará mais ainda, de modo Num milagre divino, o hálito da primavera
imprevisível, a clássica fisionomia de São Francisco do Conde. Sua tristeza Desfraldar a bandeira verde dos Canaviais
desapareceu. Suas rugas. É o Brasil, semeador de lendas sertanejas,
De onde nos veio o Buriti, de Afonso Arinos
O sangue oleoso, espesso, que incha nas artérias da terra gorda, O Brasil de Ouro Preto, o Brasil das Igrejas
emprestar-lhe-á expressão nova, dinâmica e um outro sentido na vida A embalar os cristãos na viola dos seus sinos"
econômica do País. A “Vila” não voltará a ser silenciosa, bela e triste como
as coisas impossíveis. São Francisco do Conde, veterana e pioneira, que está no cerne
deste Brasil primitivo, austero e rude, utilitário e sonhador, da aristocracia
*** rural e da escravidão, "das mãos calosas que os campos dilaceram" e da
inteligência, semeadora de Luzes e de lendas, de poesia e de fé, das igrejas
Do escritor e jornalista baiano, Godofredo Filho, que estudou em "a embalar os cristãos na viola dos seus sinos", não merece apenas uma
São Francisco do Conde, em 1923, na Escola Agronômica, então elegia.
localizada ali, em São Bento das Lages, Fazenda do Estado, reproduzindo
os trechos acima, data-venia, de um artigo seu, publicado no “Diário de Vila de São Francisco da Barra do Sergí do Conde - CIDADE DE
Notícias”, de 21-9-58, da Cidade do Salvador. SÃO FRANCISCO DO CONDE, tradicionalmente apenas a - VILA, filha
primogênita da Bahia, de topografia semelhante a da capital, "qual
*** gracioso presépio à beira- mar plantado", é velha de quatrocentos anos de
glórias e de tradição.
ELOGIO DA CIDADE DE SÃO FRANCISCO DO CONDE
257 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 258 MÁRIO PINTO DA CUNHA
E vereis, então, que vale um poema a "fidalga São Francisco do Boa e brava terra, amada e cantada por vates notáveis, - Gregório
Conde", vetusta vila de pescadores e barões, velha terra solarenga de de Matos, o genial "Boca do Inferno", que ali esteve à sombra protetora da
cavalheiros e de grandes damas, de capitães do mato e senhores de sua gente, fugindo aos odios e perseguições que lhe valiam a sárira ferina;
engenhos, de missionários e pioneiros, de bandeirantes e aventureiros, de Artur de Sales, dos maiores, príncipe, no seu tempo, dos poetas brasileiros,
varões e patrícias, priscas terras lendárias das campinas de amor e de imortalizado na glória do estro, de quem foi ela a grande inspiradora, a São
sonha, velho mar, terra heráldica, essa e a "Valorosa Vila", título com que Francisco do Conde, com a qual ele se integrou, unidas e fundidas as suas
agraciou D. Pedro II a brava companheira de Santo Amaro, a "Leal" e de almas e o seu espírito, que tem origem, como as coisas eternas, o infinito.
Cachoeira, a "Heróica", das lutas da Independência.
O CENÁRIO
Berço de estadistas e sábios, de heróis e poetas, por suas ruas e
praças multicentenárias, por entre as sombras da História e a penumbra dos A Bahia de Todos os Santos, as ilhas e a cidade de São Francisco
séculos vagueiam os manes daqueles que foram os senhores das Casas do Conde.
Grandes, rebentos de boas estirpes, sementes de vastas árvores
genealógicas, que espalharam as frondes por todo o território pátrio - os "Esta Baia é a maior e mais formosa que se sabe no mundo" -
Aragão Bulcão, Muniz Barreto, Bulcão Viana, Teive e Argolo. Argolo Gabriel Soares.
Ferrão, Teixeira de Freitas, Pinheiro de Vasconcelos e tantos outros.
"É assim a Baia de Todos os Santos, Baia grande, que se estende
São Francisco do Conde, dos grandes da Colônia e dos nobres do do padrão ao morro de Tubaré, que demora um do outro nove ou dez
Império, dos guerreiros da Independência e dos prógonos da República, léguas" - Gabriel Soares.
dos que construiram a pátria com o trabalho e a sagraram com o sangue,
terra dos canaviais e da civilização do acúcar, em cujo subsolo dormia,
insuspeitado, o ouro negro, última dádiva da sua natureza à Nação.
259 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 260 MÁRIO PINTO DA CUNHA
"Baia magnífica, na compostura de nobreza, povoada de bosques, E vem logo Itaparica, 36 km de comprimento, de "Ita-pari,
abundante de pastos, cortada de rios, fecunda de fontes, sempre a mesma, tapagem de pedra. "Aparece depois a ilha dos Frades, a antiga Guenum,
sempre vária". - Simão de Vasconcellos. com os seus 12 km de comprimento, pertencente a Simão da Gama e
Andrade, seu primeiro dono, que a passou em 1561 para João Nepomuceno
Ora o conhecimento em todos os seus ângulos desta nossa Baia, e este a transferiu a Francisco da Costa, que construiu em 1645 a Igreja do
ensejou revelação de lugarejos aprazíveis, praias lindíssimas, ilhas Loreto.
verdejantes, confirmando o que disse Simão de Vasconcellos.
E sucessivamente as principais, a Ilha de Maré, com 12 km de
E, sem mais tardança descortinam-se uma após outra, aqui, ali e extensão, entre Mataripe - Rio da Mata - com os engenhos de João
acolá, ilhas e ilhotas varriadas, cobertas de intrincada mata virgem, que o Adriano, André Monteiro e as terras de Vasco Lobato, hoje Lobato.
luso colonizador vai logo desbravando e cultivando de "mantimentos
naturais da terra". E por todas elas o português foi transplantando desta A Ilha da Madre de Deus, antiga Cururupeba Sapo Miúdo - com
cidade - do Salvador - a "mandioca do tamanho da coxa de um homem", o meia légua de comprimento, cujo Principal, também chamado Cururupeba,
"aipim, mui doce e saboroso", os limões franceses, "da grandura de uma andou em luta com Tomé de Souza; Ilha das Vacas, em 1611 conhecida
cidra de Portugal", os inhames, "tão grandes que não pode um negro fazer por Ilha João de Araujo, com meia légua de extensão, muito visitada pelos
mais que tomar um às costas"; a cana de açúcar, “maior e melhor que as flamengos, que a pilharam várias vezes, "fazendo carnagem" em seus
das ilhas e partes de onde vieram”; o côco, “melhor que o da Índia” as currais; Ilha do Bom Jesus dos Passos, a "Pataiba-assu" - Madeira Grande
limas, muito doces, grandes e formosas; "as Cidras, grandíssimas e da Palmeira Pati - dos indígenas; Ilha de Maria Guarda, 15 quilômetros de
saborosas"; "as laranjas, de suave sabor, mais formosas e grandes que há extensão; Bimbarra, a Birapabuara, dos holandeses e das Fontes, com uma
no mundo"; "as melancias, maiores e melhores que as da Espanha", até légua de extensão, cujo primeiro proprietário, João Nogueira, a obteve por
mesmo os coentros, "do tamanho que cobre um homem". sesmaria; a Ilha de Santo Antonio, minúscula, raza, verdejante, habitada
desde a segunda metade do século 16".
E vão sendo, assim, conhecidas e habitadas, a princípio as mais
próximas, depois as ilhas todas deste nosso golfão, 32, entre grandes e (Notas coligidas de um estudo do historiador baiano, Prof. Alberto
pequenas, no cá1culo de Frei Vicente do Salvador, ou 55 na opinião de Silva, em "A Tarde" - 1956, sobre a Bahia de Todos os Santos).
Gabriel Soares, sendo 16 fluviais e 39 marítimas, compreendendo estas 22
ilhas e 17 ilhotas. Dentre estas e outras menores, que formam o cenário da cidade de
São Francisco do Conde, destaca-se a solarenga Cajaíba, fronteira à
Cidade, com 6 quilômetros de comprimento, fértil e bela, habitada desde
261 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 262 MÁRIO PINTO DA CUNHA
1584, cujo primeiro proprietário foi Mem de Sá, que a doou ao seu caridade evangélica, cuja longa vida foi toda ela também uma longa
genro, D. Fernando de Noronha, Conde de Linhares. cruzada contra os sofrimentos físicos e morais dos seus conterrâneos.
Propriedade fidalga, de Vice-Reis, Condes e Barões, pertence hoje As tuas virtudes cristãs, o espírito de fraternidade e solidariedade
a família Martins Catarino. humana, tendo a seu serviço uma notável inteligência, fazem honra a sua
terra e a mulher brasileira.
NOTAS HISTÓRICAS
Falecida em 1950, é ilustre e digna representante feminina da
Quatro dias após o pronunciamento de Cachoeira, a Vila de São Cidade do Santo de Assis, o de "Alma suave de cantor e o coração valente
Francisco aclamava o Príncipe Regente e na luta que se travou pela do soldado".
Independência os seus filhos se portaram com dênodo e heroismo.
***
Nessa época era seu Capitão-Mor Joaquim Inacio de Siqueira
Bulcão, primeiro Barão de São Francisco, que declarou não se submeteria REENCONTRO SENTIMENTAL
ao General Madeira, sendo a sua atuação tão relevante que mereceu o
honroso cognome de "Patriarca da Liberdade Baiana". O Autor, após alguns anos de ausência, volta à cidade natal,
revendo o mar de sua Terra e de sua infância, - o belo mar da "Vila".
Em, 16 de setembro de 1823 os Deputados Rodrigues de Carvalho
Silva Maia, Teixeira de Vasconcelos, Ribeiro de Rezende e outros A ele está associada a lembrança do vate, que foi uma das grandes
apresentam à Assembleia Constituinte do Império um projeto dando os admirações da sua adolescência, esse príncipe da poesia brasileira, Artur de
títulos de "Heroica", "Leal" e "Valorosa", as vilas baianas de Cachoeira, Sales, - o cantor do mar da "Vila".
Santo Amaro e São Francisco da Barra do Sergí do Conde.
***
VULTOS ILUSTRES
O MAR E O POETA
É longa a lista dos vultos ilustres nascidos nos rincões de São
Francisco do Conde, de cuja extensa galeria, por todos os títulos, merece "Se queres compreender-me sobe ao cume das montanhas ou para
fazer parte a medica, a grande "medica dos pobres" Carolina Elvira da a beira-mar".
Cunha Freitas, uma personalidade marcante aliada ao espírito de viva
263 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 264 MÁRIO PINTO DA CUNHA
Há afinidades entre o poeta e o mar. São almas irmãs. Há Contemplando-o, rememorava que ali, pelas mesmas vias
inconstância no mar tal como acontece com o vate. Têm ambos as mesmas seculares, de onde agora se extrae o "ouro negro", por onde hoje navegam
agruras e alegrias, tristezas e enlêvos, éstos e arroubos. as grandes embarcações, de "velas pandas, intrépidas velas", e as canoas
dos pescadores na faina prirnitiva, que evoca cenas bucólicas, velejaram e
265 HISTÓRIA DE CRUZ DAS ALMAS 266 MÁRIO PINTO DA CUNHA
LIVRO PRIMEIRO
Dedicatória
Prefácio
Apresentação
Da Importância da Estatística
O Toponimo
Arraial-Vila-Cidade
Lei n.º 119
Localização, limites, superfície, características, etc.
Pelas rotas do planalto
Organização Judiciária
Cultos Religiosos
Alfabetização e Ensino
Metas do Governo Municipal
Mérito Educacional
Instituições de Ensino, Pesquisa Científica, Culturais, etc.
Imprensa, Bibliotecas, Repartições, Esportes, etc.
Indústria, Comércio, Bancos, Pecuária, etc.
Cruz das Almas Agrícola
Política e Administração
Pelas Rotas do Êxodo – Das migrações, suas causas e efeitos
Filhos Ilustres do Município
A Cidade e o Cronista
Palavras finais
LIVRO SEGUNDO
Flashes do Planalto
Crônicas sobre festas, tradições, costumes locais, etc.
Homenagem do Autor à sua Terra Natal
São Francisco do Conde – Bahia
Sinopse Histórica
O Cenário
“Elegia da Vila de São Francisco”
Godofredo Filho
EM 8/12/1958
TERMINADO
EM 10/4/1959