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ESTRATÉGIA OAB

Reta Final

Sumário

1. Considerações Iniciais .................................................................................................................................... 2

2.Direito Civil ...................................................................................................................................................... 3

2.1 Pílulas Estratégicas de Doutrina............................................................................................................... 3

I. Teoria geral ............................................................................................................................................. 3

II. Espécies contratuais............................................................................................................................. 48

3. Direito Processual Civil................................................................................................................................. 77

3.1 Pílulas Estratégicas de Doutrina............................................................................................................. 77

Procedimento Comum ............................................................................................................................. 78

2.1 - Conceito ........................................................................................................................................... 78

2.2 - Efeitos .............................................................................................................................................. 78

2.3 - Requisitos......................................................................................................................................... 79

3.1 - Modificação do pedido .................................................................................................................... 84

4 - Admissibilidade da ação ......................................................................................................................... 87

4.1 - Emenda ............................................................................................................................................ 87

4.2 - Indeferimento da petição inicial ...................................................................................................... 88

4.3 - Improcedência liminar do pedido.................................................................................................... 93

4. Considerações Finais .................................................................................................................................. 105

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RETA FINAL EM PDF PARA O XXXV EXAME DE


ORDEM
1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS
Sejam muito bem-vindas e bem-vindos, futuras advogadas e futuros advogados!!

Eu sou a Professora Isabella Pires, aprovada no concurso da


Magistratura Estadual (TJBA), na Assembleia Legislativa do Estado
de Sergipe (ALESE) e em outras fases de concursos de Juiz Federal
e Defensor Público. Sou graduada em Direito pela Universidade
Federal do Rio Grande do Norte – UFRN, especialista em Direitos
Humanos e em Direito Penal e Processo Penal.

Aqui no Estratégia Carreiras Jurídicas, bem como no Estratégia


OAB, sou idealizadora e coordenadora dos nossos cursos Reta Final
em PDF.

Assim, desde já, coloco-me à disposição para sanar eventuais


dúvidas quanto ao curso, bem como para receber sugestões de vocês, nossas alunas e
nossos alunos!

Vocês podem entrar em contato pelo fórum do curso ou ainda:

E-mail: isabella.almeida@estrategia.com

Instagram: @profaisabellapires

No PDF de hoje veremos os seguintes temas:

MATÉRIA ASSUNTO MOTIVAÇÃO ESTUDADO OBSERVAÇÕES

Direito Civil Direito dos contratos:


teoria geral
-Incidência altíssima;

Direito dos contratos:
espécies comuns;
Direito
Processual
Procedimento Comum –
Parte I (até audiência de
-Incidência altíssima;

Civil
conciliação e mediação); -Excelente custo-
benefício;

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2.DIREITO CIVIL
Nosso estudo se concentrará nos seguintes temas:

- Direito dos contratos: teoria geral;

Direito dos contratos: espécies comuns;

Profa. Isabella: Os temas escolhidos para dar início ao nosso estudo em Direito civil
levaram em conta a alta incidência dos temas nas últimas provas, estando entre os pontos
mais cobrados na matéria!
Assim, mãos à obra e vamos avançar rumo à aprovação!

Por dizer respeito a tema predominantemente doutrinário, nosso ponto abrangerá:

>Pílulas Estratégicas de Doutrina;

>Questões Comentadas.

Vamos dar início?

2.1 Pílulas Estratégicas de Doutrina

Profa. Isabella Pires: As explanações a seguir tomam por base as aulas 04 e 05 do Curso
Regular de Direito Civil ministrado pelo Professor Paulo Sousa, para a qual vocês deverão
se encaminhar, caso sintam a necessidade de complementação do estudo com os demais
temas relacionados.

I. Teoria geral

1 - Princípios

A. Autonomia privada e liberdade de contratar

Na concepção tradicional, a autonomia privada e a liberdade de contratar significam que o sujeito tem o
poder de gerir seus negócios, já que ele é o melhor juiz de si mesmo. Ou, como dizia o jurista francês Alfred
Fouillée, “quem diz contratual, diz justo”.

Ou seja, a partir da vetusta “autonomia da vontade”, a vontade dos contratantes é suprema e inderrogável
senão pelas próprias partes. Ela significa a expressão máxima da igualdade formal (“todos são iguais perante

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a lei”), protegida, inclusive, no plano constitucional, a partir da liberdade de iniciativa, prevista no art. 170
da CF/1988.

A autonomia privada tem várias facetas, entre elas a liberdade de contratar, ícone de um excessivo
patrimonialismo e individualismo. A autonomia privada não é dogma inatacável, mas é limitada pelos demais
princípios, já que o contrato não se resume à vontade, mas também se subsume à lei, aos usos e à equidade.
No entanto, a liberdade de contratar dá base a toda a disciplina contratual, conforme prevê o art. 421:

A liberdade de contratar será exercida nos limites da função social do contrato.

Além da liberdade de contratar, há de se falar também da liberdade contratual. A liberdade de contratar se


liga à escolha do parceiro contratual, ao passo que a liberdade contratual se liga ao conteúdo do contrato.

Elas podem ser mitigadas para restabelecer-se a igualdade material entre as partes, por isso
contemporaneamente pode haver interferência na autonomia privada. Exemplo disso é a tipificação dos
contratos, visando à proteção da parte mais fraca.

Pode a liberdade de contratar ser mitigada fortemente quando se fala em contrato obrigatório. Não há
liberdade sequer para não contratar, quem dirá escolher o outro contratante; no DPVAT contrata-se
obrigatoriamente, e obrigatoriamente com a Seguradora Líder. Já nos contratos de consumo por adesão, em
regra, o consumidor pode escolher o parceiro contratual, mas não o conteúdo.

Consequência da autonomia privada é que, em geral, a leitem caráter supletivo (jus dispositivum) nos
contratos, sendo menos relevantes as normas cogentes, obrigatórias (jus cogens). Há, portanto, um espaço
de mais maleabilidade na composição de um contrato, espécie do negócio jurídico, do que num ato-fato
jurídico, por exemplo.

Igualmente, por conta da autonomia privada é que se pode pactuar fora dos esquemas predeterminados
pela Lei. Trata-se do contrato atípico, previsto no art. 425 do CC/2002:

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É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste
Código.

B. Força obrigatória (pacta sunt servanda)

“O contrato faz lei entre as partes”, já diz o ditado. Assim, se feito um contrato, de acordo com a lei, o
contratante pode valer-se do aparato coercitivo do Estado para fazer cumprir o pacto. É o outro lado da
moeda da liberdade de contratar. Daí decorrem duas consequências bastante importantes:

IRRETRATABILIDADE
• Por decorrência da autonomia, o contrato não pode ser alterado unilateralmente. É a pedra angular
da segurança jurídica;
INTANGIBILIDADE
• Também por decorrência da autonomia, há impossibilidade de revisão judicial, exceto para resolver
o contrato ou declarar nulidade.

Princípio esse que foi mitigado contemporaneamente em face da realidade social, ante a injustiça de levá-lo
às últimas consequências. Ainda que o princípio da força obrigatória ainda tenha muita “força”, já não pode
mais ser aplicado de maneira inconsequente, especialmente quando o contexto atual se torna
dramaticamente diferente das circunstâncias à época do fato (cláusula não escrita rebus sic stantibus).

A cláusula rebus sic stantibus (“enquanto as coisas estão assim”) confirma, ao contrário de rechaçar, a
regra de que há imutabilidade nos pactos; alterações só são possíveis quando a realidade se altera. Nesses
casos, o pacto continua sendo exigível e continua devendo ser cumprido, mas não exatamente nas mesmas
condições.

Foi a cláusula rebus sic stantibus que, a partir da década de 1910, foi resgatada no que se passou a chamar
de “Teoria da imprevisão por onerosidade excessiva” e “Teoria da quebra da base objetiva do negócio”,
contidas de maneira explícita e implícita, respectivamente, nos arts. 317 e 478 do CC/2002, em linhas gerais.

C. Consensualismo

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O elemento voluntário, corolário do liberalismo econômico-jurídico, tem relevância ímpar em matéria


contratual, especialmente quando relembramos, mais uma vez, a classificação ponteana do negócio jurídico
bilateral, qual seja, resumidamente, o ato jurídico no qual a vontade não apenas é elemento do suporte
fático como também é apta a escolher as categorias eficaciais incidentes.

Em outras palavras, é o consenso que permite aos contratantes escolher a carga eficacial do pacto, de
maneira ampla. Verificada a vontade de ambas as partes, não há mais que se exigir nada dos contratantes.
Não obstante, o princípio do consensualismo tem ainda duas outras facetas relevantes:

Consentimento basta
para a formação do • ou seja, via
contrato de regra

Formas específicas
são desnecessárias

Assim, vigora uma liberdade de formas no regime contratual.

D. Relatividade dos efeitos

A eficácia do contrato é interna às partes, ainda que sua existência não seja indiferente aos terceiros. Esse
princípio torna pessoal o pacto, excluindo os demais.

A partir da conjugação do princípio da força obrigatória com o da relatividade dos efeitos é que se criou a
clássica noção de que “o contato faz lei entre as partes”. Faz lei porque a Lei é obrigatória e irresistível;
entre as partes porque não pode ela vincular terceiros, mas apenas os próprios contratantes. Os

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contratantes, assim, agem como “pequenos legisladores”, cuja legislação é eficaz somente entre quem
contrata.

Não à toa, o ordenamento jurídico brasileiro proíbe contrato que tenha por objeto a herança de pessoa
viva, segundo o art. 426 do CC/2002.

E. Equilíbrio contratual

Esse princípio trata da justiça contratual, ou seja, da proporcionalidade entre a prestação e a


contraprestação dos contratantes.

Tal exigência é ainda mais premente nos casos de contratos de longa duração, por conta do fator tempo,
pelo que há a necessidade de reequilíbrio quando há desequilíbrio na avença. O exemplo mais visível dessa
situação está estampado no art. 478:

Nos contratos de execução continuada ou diferida, se a prestação de uma das partes se


tornar excessivamente onerosa, com extrema vantagem para a outra, em virtude de
acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do
contrato. Os efeitos da sentença que a decretar retroagirão à data da citação.

Ou seja, não pode o pacto ser excessivamente oneroso a apenas uma das partes. Isso não se aplica,
evidentemente, num sentido comum do termo, eis que certamente aquele que adquire veículo automotor
mediante financiamento ou aquele que paga o crédito rotativo do cartão de crédito estarão certos de que
seus contratos são excessivamente onerosos e, consequentemente, desequilibrados em favor da instituição
financeira.

Terão eles seus contatos revisados pelo Poder Judiciário? Em condições normais, não, já que o equilíbrio é
analisado casuisticamente e não depende apenas de análise numérica genérica, mas também de uma série
de fatores socioeconômicos mais complexos.

Por isso, o equilíbrio contratual é questão controvertida em face do lucro, já que os contratantes privados,
via de regra, pretendem obter o máximo lucro ao contratar. Até que ponto o contrato é desequilibrado?
Quando o lucro é demasiado? Para quem lucra, nunca; para quem paga, sempre.

F. Boa-fé objetiva

Estabelece o art. 422 do CC/2002 que:

os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua


execução, os princípios da probidade e boa-fé.

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A boa-fé objetiva analisa os comportamentos dos agentes e não suas intenções, ou seja, não importa o que
o sujeito pretendeu no contrato, seu estado de consciência, mas aquilo que comumente se espera a partir
de seus atos e emanações (fala, gestos etc.). Ela funciona como um standard de conduta para o contratante;
se a conduta do agente foi ética, honesta, proba, justa, leal, enfim, devida, segundo padrões mais ou menos
preestabelecidos.

A boa-fé objetiva, assim, estabelece um modelo de conduta aos contratantes (primeira função, função
modeladora). Ou seja, como eles devem portar-se desde o momento prévio à contratação, impedindo o
apelo a cláusulas abusivas não previstas, letras miúdas, redação confusa, erros propositais etc.

A principal função da boa-fé objetiva, no entanto, sequer está prevista na parte relativa aos contratos, mas
ainda na parte Geral do CC/2002. Essa é a função que está inserida no CC/2002:

Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do
lugar de sua celebração.

Trata-se da função interpretativa, ou hermenêutica (segunda função). Em outras palavras, o operador do


direito, e em especial o julgador, deve partir da premissa de que os contratantes agiram de boa-fé.

Em havendo dúvida sobre a interpretação de uma cláusula contratual, deve o operador optar pela
interpretação que mais se coaduna com um standard de comportamento esperado de um contratante de
boa-fé, probo, honesto, íntegro. Essa função, inclusive, agora está estampada também no art. 489, §3º do
CPC/2015.

A aplicação da boa-fé objetiva, igualmente, limita o exercício de direito (terceira função, função
controladora), pois:

Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos
bons costumes.

Essa função transparece outro relevante elemento da boa-fé objetiva, qual seja, a possibilidade de controle
do exercício de direitos. Isso porque, como deixa claro o art. 188, inc. I, não viola o ordenamento o exercício
regular de direito. Mas, o que é (ir)regular quando exercito direito meu?

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A resposta a essa pergunta passa, assim, pelo princípio da boa-fé objetiva. O exercício de um direito que
manifestamente limitado pela boa-fé é irregular, constituindo ato ilícito. Quanto à ilicitude em si, a
responsabilidade civil se ocupa em detalhes.

Desde já, não obstante, fica claro que a boa-fé objetiva, em matéria negocial, limita o exercício de direitos
conferidos ao credor e ao devedor. Ao credor se confere, tendo em vista a Teoria da obrigação como
processo, satisfação dos interesses, obtida por meio do adimplemento em sentido estrito. Uma das formas
de satisfazer o credor é o dotar de um direito creditório.

Porém, se o credor, na cobrança extrajudicial, utiliza-se de expedientes vexatórios, como comparecer ao


local de trabalho do devedor reiteradamente com uma cópia ampliada em 20x do cheque não pago, há
evidente abuso de seu direito creditório e de seu direito de cobrar.

Ainda que o cheque seja um título de crédito liquidável à vista, a praxe comercial determina que o credor
aguarde a data pactuada para compensação. Pode ele descontar o cheque pré-datado antes? Sim, mas há
evidente abuso de direito, igualmente indenizável.

Outrafunção que se sobressai no CC/2002 à boa-fé objetiva é a função integrativa (quarta função), prevista
no art. 422 supracitado. Assim, em havendo violação do princípio da boa-fé objetiva, pode estar a
contraparte diante da violação positiva do contrato.

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Nesse sentido, estabelece o art. 423 do CC/2002 que quando houver no contrato de adesão cláusulas
ambíguas ou contraditórias, dever-se-á adotar a interpretação mais favorável ao aderente. Igualmente, o
art. 424 estipula que nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada
do aderente a direito resultante da natureza do negócio.

FUNÇÕES DA BOA-FÉ OBJETIVA

MODELADORA
• Obrigação como processo;
• Estabelece standards de comportamento para as partes.
HERMENÊUTICA
• Art. 113;
• Estabelece standards de interpretação para o julgador.
CONTROLADORA
• Art. 187;
• Limita o exercício abusivo de direitos, objetivamente.
INTEGRATIVA
• Art. 422;
• Integra a norma jurídica para além da fase contratual.

G. Função social do contrato

O CC/2002 estabelece que:

Art. 412. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da função social do
contrato.

A função social do contrato tem um viés axiológico (um valor juridicamente protegido), criada a partir de
uma visão integrativa do contrato na sociedade, de modo a conciliar os interesses individuais com os
interesses da sociedade toda, promovendo a dignidade da pessoa humana.

Há, portanto, evidente transindividualização dos contratos, relativizando-se, como já dito, o princípio da
relatividade subjetiva dos efeitos do contrato (quem contrata já não contrata mais somente com quem
contrata – relativização dos efeitos relativos do contrato). Miguel Reale categoricamente afirma que a

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funcionalização do contrato não destrói a ideia tradicional de que pacta sunt servanda; o contratado deve
ser cumprido, já que essa noção é a pedra angular das relações interprivadas de índole voluntária.

O contrato, então, deixa de interessar apenas aos contratantes, já que o poder negocial, como fundamento
da atividade privada, é fonte do ordenamento jurídico de maneira mais ampla. O benefício da compreensão
da liberdade contratual não pode ser usufruído apenas pelo contratante em detrimento do interesse público,
que é superior.

A função social do contrato serve como ponderação entre os valores econômicos e a justiça social,
rompendo com o monismo das análises econômicas. O contrato, na atualidade, assim, não tem mais apenas
pertinência às partes, mas gera efeitos a toda a coletividade, daí a importância da função social. Para
exemplificar, é só analisar os contratos de planos de saúde, que afetam um direito fundamental de milhares
de brasileiros.

Autonomia
privada /
liberdade de
contratar
Força
Função social do obrigatória
contrato (pacta sunt
servanda)

Princípios

Boa-fé objetiva Consensualismo

Equilíbrio Relatividade dos


contratual efeitos

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(II Exame da OAB) Durante dez anos, empregados de uma fabricante de extrato de tomate distribuíram,
gratuitamente, sementes de tomate entre agricultores de uma certa região. A cada ano, os empregados
da fabricante procuravam os agricultores, na época da colheita, para adquirir a safra produzida. No ano
de 2009, a fabricante distribuiu as sementes, como sempre fazia, mas não retornou para adquirir a safra.
Procurada pelos agricultores, a fabricante recusou-se a efetuar a compra. O tribunal competente entendeu
que havia responsabilidade pré-contratual da fabricante. A responsabilidade pré-contratual é aquela que:
(A) deriva da violação à boa-fé objetiva na fase das negociações preliminares à formação do contrato.
(B) deriva da ruptura de um pré-contrato, também chamado contrato preliminar.
(C) surgiu, como instituto jurídico, em momento histórico anterior à responsabilidade contratual.
(D) segue o destino da responsabilidade contratual, como o acessório segue o principal.
Comentários
A alternativa A está correta, dado que o princípio da boa-fé objetiva, segundo o art. 422, deve ser observada
mesmo na conclusão do contrato, ou seja, na fase pré-contratual ambas as partes têm o dever de agir de
boa-fé, o que não ocorreu no caso.
A alternativa B está incorreta, pois não havia pré-contrato ainda, já que as partes sequer entabulam
quaisquer tratativas. A fabricante meramente entregou as sementes, sem se manifestar sobre a contratação.
Além disso, o contrato preliminar deve conter todos os requisitos do contrato que será celebrado, exceto a
forma, conforme previsão do art. 462
A alternativa C está incorreta, eis que, historicamente, se dividia a responsabilidade civil em contratual e
extracontratual, esta derivada de ato ilícito. Não se falava em responsabilidade pré-contratual, mas apenas
em responsabilidade após ter sido o contrato firmado.
A alternativa D está incorreta, também, porque, como não há contrato ainda, não se pode aplicar a
responsabilidade contratual (até porque se não há contrato, como eu aplicarei as regras de um contrato que
não existe ainda?), mas a responsabilidade extracontratual.
Gabarito: A

2 - Classificação

Classificações servem a algum propósito. Critico fortemente as classificações repetidas diuturnamente pelos
manuais porque boa parte delas ou é irrelevante, ou é questionável ou é simplesmente errada.

A doutrina verborragicamente repete essas classificações sem muito senso crítico. Infelizmente, as provas
continuam a cobrar essas classificações de maneira asséptica e irrefletida, pelo que não resta muita opção.

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No entanto, compreender a “lógica” dessas classificações ajuda a evitar muito decoreba. Ajuda também a
entender os “furos” taxionômicos e, com senso crítico, lembrar, no dia da prova, cada classificação.
Geralmente as pegadinhas vão ao encontro do “senso comum jurídico” e, quando você compreende bem
a classificação, não cai nesse tipo de cilada.

A. Quanto ao sujeito

1) Bipartites e pluripartites/plúrimos/plurilaterais

Nos contratos bipartites temos apenas dois polos na relação jurídica contratual. Assim ocorre com a
maioria dos contratos, como a compra e venda (comprador e vendedor), a doação (doador e donatário), a
prestação de serviço (prestador e consumidor) etc.

Nada impede que haja uma pluralidade de pessoas num dos polos da relação contratual, como ocorre no
caso em que eu e minha esposa doamos um terreno para você; o contrato de doação é bipartite, pois tem
apenas duas partes, ainda que num dos polos exista mais de uma pessoa.

CONTRATO BIPARTITE

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Vendedores Compradores

Ao contrário, há determinados contratos que são pluripartites, ou plurilaterais, ou seja, há mais de dois
polos na relação jurídica contratual. É o caso famoso do contrato social de uma empresa. Por isso, o contrato
para constituição de sociedade firmado por Pedro, Antônio e João é pluripartite, ou plurilateral.

CONTRATO PLURIPARTITE, PLÚRIMO OU PLURILATERAL

Pedro
Antônio

João

Sociedade

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Essa divisão é relevantíssima em determinadas situações. Por exemplo, a exceção de contrato não cumprido
se aplica apenas aos contratos bipartites, mas não aos contratos pluripartites/plurilaterais; ou a teoria da
distribuição dos riscos contratuais, que é aplicável aos contratos bipartites, mas não aos
pluripartites/plurilaterais.

Os contratos bipartites, por sua vez, podem ser subdivididos em dois grandes grupos, os contratos unilaterais
e os contratos bilaterais.

2. Unilaterais e bilaterais/sinalagmáticos

Essa classificação não se confunde com os negócios jurídicos unilaterais (atos unilaterais de vontade) ou
bilaterais (contratos). Naqueles há criação de efeitos jurídicos vinculantes independentemente de consenso,
ou seja, apenas uma das partes é capaz de criar efeitos jurídicos relevantes para a outra, ao passo que nestes
o consenso (acordo de vontades) é necessário para que os efeitos jurídicos sejam criados.

Portanto, lembre-se que todo contrato exige bilateralidade intrínseca, ou seja, ao menos dois contratantes
distintos. Assim, essa classificação não é relativa ao número de contratantes.

Segundo essa classificação, o contrato pode criar obrigações para uma ou para ambas as partes. Nos
contratos unilaterais há obrigações somente para um dos contratantes, como no contrato de comodato do
livro da biblioteca ou da doação pura, no qual o comodatário/donatário é somente “credor” e o
comodante/doador é somente “devedor”.

Assim, uma parte concorre com direitos e a outra parte concorre com deveres.Em suma, nos contratos
unilaterais os vetores vão para o mesmo lado, e uma parte é só credora e outra só devedora.

Já nos contratos bilaterais, cada contratante é credor e devedor ao mesmo tempo em vetores contrários,
como numa compra e venda. Assim, no contrato bilateral há direitos e deveres para ambas as partes,
reciprocamente.

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Consequência importante dessa distinção é que a exceção de contrato não-cumprido não se aplica aos
contratos unilaterais, já que não há que se falar em ausência de prestação por uma das partes, pois somente
uma delas presta. Igualmente, não faz sentido falar em contraprestação, porque, repito, somente uma das
partes presta.

(XXVI Exame da Ordem) Jorge, engenheiro e construtor, firma, em seu escritório, contrato de empreitada
com Maria, dona da obra. Na avença, foi acordado que Jorge forneceria os materiais da construção e
concluiria a obra, nos termos do projeto, no prazo de seis meses. Acordou-se, também, que o pagamento
da remuneração seria efetivado em duas parcelas: a primeira, correspondente à metade do preço, a ser
depositada no prazo de 30 (trinta) dias da assinatura do contrato; e a segunda, correspondente à outra
metade do preço, no ato de entrega da obra concluída. Maria, cinco dias após a assinatura da avença,
toma conhecimento de que sobreveio decisão em processo judicial que determinou a penhora sobre todo
o patrimônio de Jorge, reconhecendo que este possui dívida substancial com um credor que acaba de
realizar ato de constrição sobre todos os seus bens (em virtude do valor elevado da dívida). Diante de tal
situação, Maria pode
A) recusar o pagamento do preço até que a obra seja concluída ou, pelo menos, até o momento em que o
empreiteiro prestar garantia suficiente de que irá realizá-la.
B) resolver o contrato por onerosidade excessiva, haja vista que o fato superveniente e imprevisível tornou
o acordo desequilibrado, afetando o sinalagma contratual.
C) exigir o cumprimento imediato da prestação (atividade de construção), em virtude do vencimento
antecipado da obrigação de fazer, a cargo do empreiteiro.
D) desistir do contrato, sem qualquer ônus, pelo exercício do direito de arrependimento, garantido em razão
da natureza de contrato de consumo.
Comentários
A alternativa A está correta, nos exatos termos do art. 477 do CC/2002: “Se, depois de concluído o contrato,
sobrevier a uma das partes contratantes diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar

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duvidosa a prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe incumbe, até que
aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de satisfazê-la”. Trata-se da exceção de contrato
não cumprido.
A alternativa B está incorreta, pois a onerosidade excessiva ocorre, nos termos do art. 478 do CC/2002, nos
contratos de execução continuada, quando há extrema vantagem para uma das partes e onerosidade
excessiva para outra.
A alternativa C está incorreta, em interpretação extensiva do art. 477 do CC/2002. Isso porque poderia
ocorrer o inadimplemento antecipado. Trata-se de uma forma de extinguir o contrato antes que haja o
descumprimento, voltando às partes ao estado originário. Não consiste em exigir o cumprimento imediato
da prestação, mas sim, resolver o contrato ou recusar-se cumprir a prestação que lhe incumbe.
A alternativa D está incorreta, dado que o contrato firmado entre as partes não é regido pelo CDC. Maria
não se enquadra no conceito de consumidora do referido diploma legal.
Gabarito: A

B. Quanto ao objeto

1. Gratuitos/benéficos e onerosos

Nos contratos onerosos à vantagem equivale um sacrifício, seja para a parte, seja para um terceiro, como
numa permuta. Nos contratos gratuitos só uma parte tem proveito, como na doação.

2. Comutativos e aleatórios

Essa classificação só vale para os contratos onerosos. Ou seja, não há que se falar em contrato benéfico
aleatório ou contrato benéfico comutativo, mas apenas em contrato oneroso comutativo e contrato
oneroso aleatório.

Nos contratos comutativos, a vantagem e o sacrifício são equivalentes. Ou seja, as partes têm, de antemão,
certeza quanto à prestação e quanto à contraprestação, como na locação, no comodato, na compra e venda
de imóvel em geral.

Já nos aleatórios, há alternativa de ganho ou perda, havendo incerteza na contraprestação ou em sua


duração; a incerteza é, portanto, elemento central do contrato, como, por exemplo, na loteria, na
previdência privada com renda vitalícia, na compra e venda de safra, no mercado de ações etc. Posso, num
seguro, pagar R$3 mil e receber R$80 mil se meu carro é roubado; ou nada receber, percebendo a
seguradora os R$3 mil integralmente, se não houver qualquer sinistro.

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Vê-se, portanto, que o elemento risco é inerente ao pacto, pelo que sua inexistência desfigura a
aleatoriedade do contrato em questão. Dois exemplos confirmam essa noção. Primeiro, consoante o art.
773, o segurador que, ao tempo do contrato, sabe estar passado o risco de que o segurado se pretende
cobrir, e, não obstante, expede a apólice, pagará em dobro o prêmio estipulado. Segundo, conforme o art.
461, a alienação aleatória poderá ser anulada como dolosa pelo prejudicado, se provar que o outro
contratante não ignorava a consumação do risco a que no contrato se considerava exposta a coisa.

O CC/2002 classifica os contratos aleatórios em três:

EMPTIO SPEI
• Art. 458;
• Corre-se o risco pela existência da coisa, pelo que a contraprestação é devida mesmo
que nada venha a existir, salvo no caso de culpa da outra parte;
• Exemplo: contrato de safra. Pago X pela safra toda. Se der 10.000 sacas, empato; se der
mais, ganho; se der menos, perco; se der 0, perco tudo, mas continuo tendo de pagar.

EMPTIO REI SPERATE


• Art. 459;
• Corre-se o risco pela quantidade da coisa, pelo que a contraprestação é devida mesmo
que pouco venha a existir, salvo no caso de culpa da outra parte. Se nada vier a existir,
deve a contraparte restituir o preço recebido.
• Exemplo: contrato de safra. Pago X pela safra toda. Se der 10.000 sacas, empato; se der
mais, ganho; se der menos, perco; se der 0, não pago nada.

CONTRATOS FUTUROS
• Art. 460;
• O risco não é pela existência da coisa, que é presente, mas pela exposição da coisa a
riscos futuros.
• Exemplo: compra e venda de imóvel em processo de tombamento situado em área de
verticalização. Se tombar, não poderei erigir, tendo prejuízo; se não, posso demolir e
verticalizar, lucrando.

3. Principais e acessórios

O mais correto seria nominá-los como independentes ou dependentes. Os contratos acessórios ou


dependentes não têm existência autônoma, própria, independente, mas têm por função garantir o

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

cumprimento das obrigações contraídas no contrato principal. Não faz sentido, portanto, visualizar-se um
contrato acessório, ou dependente, sem que seu par principal, ou independente, seja invocado.

Por exemplo, os contratos de penhor, anticrese, hipoteca, fiança, caução, como todos os contratos de
garantia, são acessórios. Porém, outros contratos também podem ser acessórios, apesar de geralmente
serem principais, como, por exemplo, o seguro imobiliário, quando ligado a um contrato de mútuo
feneratício submetido ao SFH. Em que pese o contrato de seguro poder ser visto isoladamente, e, portanto,
ser principal, ou independente, como no caso de um seguro automobilístico, ele se subordina ao mútuo,
quando atrelado a este num financiamento habitacional.

O contrato acessório segue a sorte do principal (accessorium sequitur principale), consoante dita o princípio
da gravitação jurídica. Ou seja, se o contrato principal se extingue, extingue-se o acessório; se nulo o
principal, nulo também, segundo o art. 184. Evidente que o inverso não ocorre; estando prescrita a
pretensão do contrato acessório, nada ocorre com o principal.

Já o contrato principal ou independente tem existência autônoma, como a compra e venda, a locação, o
seguro automobilístico etc. Sua existência é autoexplicativa, sendo desnecessário apelar para outro pacto.

4. Instantâneos e de duração

Os contratos instantâneos são aqueles cujas prestações podem ser realizadas em um único instante,
podem ser cumpridos numa única prestação. Trata-se de classificação que toca ao cumprimento; cumpre-
se imediatamente.

Cumprida a obrigação, exaure-se o contrato, não importando se a execução é imediata ou posterior. Atente
porque esses contratos PODEM (atente ao verbo) ser executados instantaneamente, mas isso não significa,
necessariamente, que SÃO (repito: atente ao verbo).

É o caso, por exemplo, da doação; doei, exauriu-se o pacto. É o caso da compra e venda de um imóvel; paguei
o preço, à vista, e recebi a casa, dias depois, acabou o contrato.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Já o contrato de duração em sentido amplo (lato sensu), também chamado de contrato de trato sucessivo,
de execução continuada ou de débito permanente, tem sua execução protraída no tempo, ou seja, a
natureza da prestação torna impossível de se realizar em um instante. Ou seja, o contrato de duração não
pode ser cumprido numa única prestação (adivinha? NÃO PODE!).

A locação é um contrato necessariamente de duração. Impossível é exaurir o conteúdo do contrato numa


única prestação. Mesmo que a locação seja por temporada, ou seja, locação de um quarto de motel por
algumas poucas horas, não há como exaurir o conteúdo do contrato instantaneamente. Por mais curta que
seja sua duração, necessário que se protraia no tempo.

5. Instantâneos de execução imediata e diferida

Classificação que vale apenas para os contratos instantâneos. Lembre-se de que o contrato de duração só
pode ser executado ao longo do tempo, ao passo que o contrato instantâneo pode ser executado num
único instante, mas não necessariamente será!

1) CONTRATOS INSTANTÂNEOS DE EXECUÇÃO IMEDIATA


• A execução é feita imediatamente após a formação (compra e venda com pagamento imediato).
2) CONTRATOS DE DURAÇÃO DE EXECUÇÃO DIFERIDA
• A execução é igualmente realizada em um único ato, mas a termo, no futuro, por conveniência das
partes (compra e venda com parcelamento).

6. Por tempo determinado e indeterminado

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

O contrato pode se subordinar a eventos futuros, certos ou incertos, limitando, parcial ou totalmente, a
eficácia contratual, mas sem atingir sua existência ou validade. São os casos de termo (evento futuro e
certo) e condição (futuro e incerto). Assim:

1) CONTRATO POR TEMPO INDETERMINADO


• Puro, não se subordina a cláusula especial alguma.
2) CONTRATO POR TEMPO DETERMINADO
• Impuro, se submete à condição ou ao termo.

A consequência é que o contrato por tempo indeterminado pode ser extinto a qualquer tempo, por
iniciativa de uma ou de ambas as partes ou por força maior, mas necessita de declaração de vontade
específica, que visa a evitar consequências gravosas de uma ruptura brusca.

Se a ruptura é sem justa causa, a parte deve avisar a outra com antecedência, o chamado aviso prévio. Se a
denúncia for arbitrária, em alguns contratos admite-se indenização. Se a ruptura é com justa causa, essas
causas devem estar previstas em lei ou no contrato.

Já o contrato por tempo determinado não admite, em princípio, o aviso prévio, por incompatibilidade, já
que o contrato tem prazo certo para acabar, garantindo maior segurança jurídica para as partes. Ainda assim,
pode haver a extinção antes do tempo, mas a parte que promover a resilição unilateral ficará responsável
pelas perdas e danos.

C. Quanto à forma

1. Consensuais e formais/solenes

Essa classificação não anula o princípio do consensualismo. Em regra, apenas o consentimento basta para
formar o contrato (basta a integração das vontades, o acordo), mas, por vezes, algo mais também é
necessário para perfectibilizar o contrato.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Nos contratos formais há prescrição legal exigindo formalidade específica, ou seja, exige-se que o
consentimento seja expresso de determinada forma. Não confunda o contrato solene com as solenidades
específicas dos contratos que exigem formas cartoriais. O contrato de seguro, p.ex., não precisa de
intervenção cartorial, mas não pode ser gestual ou verbal, tem de ser escrito, sempre! A doação, do mesmo
modo, exige uma forma específica, que é a forma escrita. Ambos são contratos formais.

O “nível” de formalidade ou “solenidade” dependerá do contrato, desde uma forma escrita, simples, até
forma pública, mais complexa, até formas “soleníssimas”, como ocorre em algumas modalidades de
testamento.

2. Consensuais e reais

Essa é uma classificação bastante clássica, e fundada, segundo Pontes de Miranda e Orlando Gomes, num
erro de análise da Teoria do Fato Jurídico. Isso porque não há que se falar, no plano da validade, em entrega
da coisa objeto do contrato. Quando eu falo a respeito da teoria do fato jurídico, trato dos pressupostos de
validade do negócio jurídico e, evidentemente, inserir a entrega do dinheiro, no mútuo, por exemplo, é
absurdo, tecnicamente falando. A entrega, tecnicamente falando, é assunto do plano da eficácia.

No entanto, determinados contratos exigiriam, para sua perfectibilização, a entrega


do bem, a tradição (traditio rei), sem a qual haveria mera promessa ou compromisso
de contrato, não se falando ainda em conclusão do negócio. São exemplos de contratos
reais o depósito, o estimatório e o empréstimo lato sensu (comodato e mútuo). Nesses
contratos, antes da entrega haveria mera promessa de contrato.

3. Típicos/nominados e atípicos/inominados

A distinção deriva do art. 425 do CC/2002, que permite a construção de contratos de modo livre.
Assim, os contratos típicos ou nominados referem-se a contratos esquematizados em lei, com
previsão legal mínima. Os contratos atípicos, ao contrário, não têm previsão legal, ou seja, não
têm um estatuto legal mínimo.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

(VIII Exame da OAB) Embora sujeito às constantes mutações e às diferenças de contexto em que é
aplicado, o conceito tradicional de contrato sugere que ele representa o acordo de vontades estabelecido
com a finalidade de produzir efeitos jurídicos. Tomando por base a teoria geral dos contratos, assinale a
afirmativa correta.
A) A celebração de contrato atípico, fora do rol contido na legislação, não é lícita, pois as partes não dispõem
da liberdade de celebrar negócios não expressamente regulamentados por lei.
B) A atipicidade contratual é possível, mas, de outro lado, há regra específica prevendo não ser lícita a
contratação que tenha por objeto a herança de pessoa viva, seja por meio de contrato típico ou não.
C) A liberdade de contratar é limitada pela função social do contrato e os contratantes deverão guardar,
assim na conclusão, como em sua execução, os princípios da probidade e da boa‐fé subjetiva, princípios
esses ligados ao voluntarismo e ao individualismo que informam o nosso Código Civil.
D) Será obrigatoriamente declarado nulo o contrato de adesão que contiver cláusulas ambíguas ou
contraditórias.
Comentários
A alternativa A está incorreta, já que o art. 425 expressamente permite a criação de contratos fora do rol
daqueles previstos no CC/2002.
A alternativa B está correta, pois o art. 426 expressamente proíbe a pactuação de herança de pessoa viva,
com base no princípio da relatividade dos efeitos.
A alternativa C está incorreta, e tem uma pegadinha! Os contratantes têm de respeitar o princípio da boa-
fé, certo? Mas subjetiva? NÃO, objetiva! A boa-fé objetiva refere-se a um standard de comportamento, algo
a ser observado por todos. Já a boa-fé subjetiva se refere à intenção da pessoa.
A alternativa D está incorreta, pois segundo o art. 423, deve-se adotar a interpretação mais favorável ao
aderente, e não decretar a nulidade do contrato.
Gabarito: B

4. Paritários e por adesão

No contrato de adesão, no qual inexiste discussão prévia a respeito das cláusulas


contratuais, mas apenas a predisposição das cláusulas por uma parte, e a adesão,
ou não, da outra, a condições que lhe são impostas. O contrato de adesão deve ser
visto como gênero, em sentido amplo (lato sensu), abrangendo-se aí os “contratos
tipo” e os “contratos formulário” (contrato modelo de internet criado por um terceiro,
que, quando impresso, se torna um formulário padronizado).

O CC/2002 traz duas regras em relação aos contratos de adesão. Primeiro, segundo o art. 423,
quando houver no contrato de adesão cláusulas ambíguas ou contraditórias, dever-se-á
adotar a interpretação mais favorável ao aderente. Ademais, segundo o art. 424, nos
contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do aderente
a direito resultante da natureza do negócio.

Já o CDC traz numerosas regras especiais em relação aos contratos de adesão celebrados no âmbito de uma
relação de consumo, a mencionar algumas:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

ART. 30
• Obrigatoriedade de cumprimento da oferta feita ao consumidor

ART. 39, INC. I


• Impossibilidade de limitar quantitativamente a oferta

ART. 47
• Interpretação das cláusulas contratuais de maneira favorável ao consumidor

ART. 49
• Possibilidade de o consumidor resilir unilateralmente o contrato em 7 dias na contratação
fora do estabelecimento comercial

ART. 51, INC. I


• Nulidade de cláusulas que reduzam a responsabilidade do fornecedor

ART. 51, INC. II


• São nulas as cláusulas que exoneram o fornecedor do reembolso devido

O CDC conceitua o contrato de adesão, no art. 54, como aquele cujas cláusulas tenham sido
aprovadas pela autoridade competente ou estabelecidas unilateralmente pelo fornecedor de
produtos ou serviços, sem que o consumidor possa discutir ou modificar substancialmente seu
conteúdo. Veja-se que não necessariamente se exclui toda e qualquer discussão prévia do
contrato para que se o caracterize como de adesão.

Basta que o fornecedor as tenha estabelecido unilateralmente, de modo que a discussão prévia que possa
ser feita não seja capaz de modificar o conteúdo do contrato de maneira substancial. Assim, o núcleo do
contrato de adesão será sempre idêntico, ainda que mudanças menores possam ser feitas, em discussão
com o fornecedor.

O CDC chega a estabelecer duas regras específicas minuciosamente, nos §§ 3º e 4º do art. 54, no que tange
à redação de cláusulas contratuais em contratos de adesão:

Os contratos escritos serão redigidos


As cláusulas que implicarem limitação
em termos claros e com caracteres
de direito do consumidor deverão ser
ostensivos e legíveis, cujo tamanho da
redigidas com destaque, permitindo
fonte não será inferior ao corpo doze,
sua imediata e fácil compreensão
de modo a facilitar sua compreensão

Por fim, vale mencionar ainda a regra do §2°, que estabelece a possibilidade de estabelecimento de cláusula
resolutória expressa, desde que alternativa, e que tal alternativa caiba ao consumidor.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Bipartite/Pluripartite (Plurilateral)

Unilateral/Bilateral (Sinalagmático)
Sujeito
Pessoal/Impessoal

Individual/Coletivo (Normativo)

Gratuito (Benéfico)/Oneroso

Comutativo/Aleatório
CLASSIFICAÇÃO

Principal/Acessório
Objeto
Instantâneo/Duração

De Execução Imediata/Diferida
Tempo Determinado/Indeterminado
Consensual/Formal (Solene)

Consensual/Real
Forma
Nominado/Inominado ou Típico/Atípico

Paritário/de Adesão

3 - Formação

O contrato não deve ser visto como um ato, antes como um processo, que se desenvolve mais ou menos
lentamente a depender de um sem-número de fatores, como a complexidade, o montante financeiro
envolvido, o grau de paridade entre os contratantes etc. Vou começar... do começo!

A. Tratativas preliminares

A rigor, as tratativas preliminares, em regra, não têm força vinculante. Isso porque há
direito do contratante de contratar, não dever. É o caso do “xaveco”, aquele momento
inicial em que as pessoas estão avaliando os riscos da empreitada conjugal, mas sem
grandes compromissos.

Entretanto, há responsabilidade quando uma parte cria expectativas (inclusive levando


a outra parte a fazer despesas) e, sem motivo plausível, põe fim às tratativas.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Trata-se da aplicação do princípio da boa-fé objetiva na seara pré-contratual, de modo que o direito de
contratar pode ser exercido também abusivamente. As tratativas, então, obrigam em alguma medida,
quando se verifica a ocorrência do abuso de direito, gerador, no caso, de culpa extracontratual, segundo o
art. 186 do CC/2002.

REGRA
• Não têm força vinculante, não gerando qualquer obrigação;
• Não permitem tutela específica para obrigar a pactuação.
EXCEÇÃO
• Violação da boa-fé objetiva pela criação de expectativas;
• Obrigam a indenizar extracontratualmente, se desmotivada a desistência.

B. Proposta

Iniciadas as tratativas preliminares, surge a proposta, que é a “firme declaração receptícia de


vontade dirigida a pessoa a qual pretende alguém celebrar um contrato, ou ao público”, nas
palavras de Orlando Gomes. Exige o Código que a proposta seja clara, precisa, séria e definitiva.

A proposta é, desde já, obrigatória, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do
negócio, ou das circunstâncias do caso, a teor do art. 427. Já há, aqui, oferta formalizada, ou
seja, manifestação clara a respeito da intenção de contratar. Portanto, a proposta é uma declaração
unilateral de vontade receptícia, que depende do conhecimento da contraparte.

A proposta deixará de obrigar a depender se feita a presente ou ausente, segundo o art. 428 do CC/2002.
Ausente é quem pode não dar resposta imediatamente, em curto período de tempo (o “contrato epistolar”
enviado por carta, e-mail etc.), ao passo que presente é quem pode fazê-lo rapidamente (telefone,
videoconferência etc.).

Tome cuidado, porém, pois em se tratando de meios mais modernos de comunicação, você deve atentar
para a situação concreta, visualizando o que o enunciado do exercício te propõe. Isso porque há certa
ambiguidade na possibilidade ou não de resposta imediata em determinados aplicativos, como o Whatsapp.
A depender da situação (área rural afastada, consumo total do plano de dados), não pode uma das partes
tomar conhecimento imediato da proposta; mas, por outro lado, comum é que as pessoas fiquem
“permanentemente” conectadas a esses aplicativos.

Pois bem. E quando a proposta deixa de ser obrigatória? Proposta a ausente não é obrigatória em três
situações:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

1) SEM PRAZO
• se houve tempo suficiente para a resposta retornar (contrato com declarações intervaladas);
2) COM PRAZO
• quando a aceitação foi expedida depois de o prazo expirar;
3) SEGUE RETRATAÇÃO
• se a retratação chega antes do recebimento da proposta.

Proposta a presente não é obrigatória em duas situações:

1) COM PRAZO
• a aceitação nele não foi feita;
2) SEM PRAZO
• não foi imediatamente aceita (contrato com declarações consecutivas).

A oferta ao público vincula o proponente do mesmo jeito que a oferta, desde que traga em
si os elementos necessários, segundo o art. 429 (veja novamente o caráter receptício outrora
mencionado). Nesse caso, o oblato é apenas determinável, não determinado ainda, num
primeiro momento. Ela é, em princípio, irretratável, salvo se na própria proposta estiver
prevista essa possibilidade e desde que feita com a mesma publicidade (segundo o parágrafo
único do artigo).

Trata-se dos casos de propostas de venda de produtos e serviços feitas pela televisão ou pela internet, tão
comuns hodiernamente. Aqui, ganha importância o CDC, que regulamenta nos arts. 30 a 35 a proposta no
microssistema de proteção ao consumidor, criando uma série de direitos para ele.

C. Aceitação

Em geral, quando a aceitação não é costumeira ou o proponente a dispensa, nos termos do


art. 432, o contrato se conclui mesmo em não havendo aceitação expressa. Trata-se de regra
que deve ser compreendida à luz daquela presente no art. 111, ou seja, o silêncio importa
anuência apenas quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a
declaração de vontade expressa. Esse dispositivo consagra uma versão do ditado popular,
“quem cala, parece consentir”.

De qualquer forma, essa regra não vale para as relações de consumo, por força da aplicação do art. 39, inc.
III, do CDC. Essa regra veda ao fornecedor enviar ou entregar ao consumidor, sem solicitação prévia,
qualquer produto ou serviço.

A aceitação só produz efeitos se se adequar plenamente à proposta. Se houver divergência ou não se ajustar
perfeitamente, há dissenso. Pode o aceitante oferecer contraproposta, que é a aceitação modificativa, com
adições ou restrições que impedem a adesão plena. Nesse caso, na leitura do art. 431, a aceitação fora do
prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta. Invertem-se os polos: o
aceitante vira o proponente e vice-versa.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Assim ocorre quando você propõe vender seu carro a mim por R$45 mil (você é o proponente e eu sou o
aceitante) e eu faço uma contraproposta de R$42 mil (eu sou o proponente e você é o aceitante). Invertem-
se os polos. Apesar de aparentemente sem sentido tal regra, ela é relevante para a fixação do local da
contratação, por exemplo.

A aceitação deixa de ser obrigatória em duas situações:

1) CHEGA TARDE AO CONHECIMENTO DO PROPONENTE


• Por motivo imprevisto, segundo o art. 430. Porém, o proponente deve comunicar imediatamente o
aceitante que sua aceitação foi tardia (por exemplo, “ah, já vendi o produto para outrem, pois sua
carta chegou apenas agora”).
2) SEGUE RETRATAÇÃO
• Segundo o art. 433, se chega antes da expedição da resposta é válida, já que o contrato não se
formou. Mas ele ainda pode responder pelos danos negativos, configurando-se caso de
responsabilidade extracontratual, pela expectativa criada. Se chega depois a retratação, significa
recusa em comprimir, pelo que responde por danos positivos, no caso de responsabilidade
contratual

Enviada a aceitação, surge a questão: quando o contrato se aperfeiçoa?

1) ENTRE PRESENTES
• a resposta é simples: com a aceitação.
2) ENTRE AUSENTES
• por aplicação da Teoria da Expedição, adotada pelo art. 434, desde quando se envia a aceitação.

Por fim, estabelece-se como o lugar da celebração do contrato, segundo o art. 435, o local
onde foi feita a proposta. Lembra que eu disse que a questão da contraproposta seria relevante
em algum momento? Eis aqui a resposta: se você aceitar minha contraproposta de R$42 mil (eu
sou o proponente e você é o aceitante), o contrato terá sido celebrado no meu domicílio, caso
tenhamos domicílios diversos.

Porém, em se tratando de relação de consumo, segundo o art. 51, inc. I, do CDC, o contrato não pode prever
cláusulas que atenuem, reduzam ou impossibilitem o consumidor de exercer seus direitos. Por isso, por
aplicação do art. 101, inc. I, do CDC, o foro competente será sempre o de domicílio do consumidor, ainda
que o contrato traga previsão contrária.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

•Sem força •Dissenso/


Tratativas vinculante •A ausente contrapropo
prelimi- Proposta Aceitação sta
nares •Boa-fé •A presente
Objetiva •Expedição

4 - Transmissão

A. Cessão de posição contratual

Sem previsão legal expressa, mas extremamente comum na prática, dadas as dificuldades de
certos tipos de contratos (sobretudo nos casos de financiamento imobiliário), a cessão de
posição contratual tem fundamento no art. 425, que permite a criação de contratos atípicos.
Para a cessão de posição contratual necessita-se da figura do cedido (devedor), do cedente
(credor originário, que “sai” da relação) e do cessionário (novo credor), num contrato cujas
prestações não tenham sido adimplidas totalmente.

Numa perspectiva simplista, a cessão de posição contratual seria a soma uma cessão de crédito e assunção
de dívida. Assim, evita-se que seja necessário haver uma resolução contratual e posterior formação de novo
contrato, bastando haver a cessão.

Para que a cessão se constitua, devem cedente, cedido e cessionário acordarem com a cessão
para a formação do contrato. Entretanto, o assentimento do cedido não necessariamente
deve ser simultâneo ao dos demais, pelo pode ser prévio ou posterior. A vontade do cedido,
portanto, é imprescindível à formação do contrato e, em regra, é ela quem determina o
momento de sua formação.

B. Estipulação em favor de terceiro

Segundo Orlando Gomes, estipulação em favor de terceiro é:

O contrato por via do qual uma das partes se obriga a atribuir vantagem patrimonial
gratuita a pessoa estranha à formação do vínculo contratual.

Sua importância prática é enorme, sobretudo nos contratos de seguro de vida, constituição de renda e
transporte para terceiros. De qualquer sorte, ela ocorre nas mais variadas situações.

É essencial que a estipulação seja feita gratuitamente, pois, se houver imposição de


contraprestação, perde-se a essência da estipulação. Veja que o próprio nome
pressupõe a gratuidade, até porque não se pode “estipular” onerosamente.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Apesar de ser terceiro, o beneficiário pode exigir o cumprimento da obrigação do


promitente, tanto quanto o pode o estipulante, no permissivo do art. 436, parágrafo
único. Nesse caso, inclusive, se ao terceiro, em favor de quem se fez o contrato, se deixar
o direito de reclamar-lhe a execução, não poderá o estipulante exonerar o devedor,
segundo o art. 437.

O estipulante pode, por ato entre vivos ou por disposição de última vontade, substituir o beneficiário, sem
a anuência do próprio beneficiário e do promitente, segundo dispõe o art. 438 e seu parágrafo único.

C. Contrato com pessoa a declarar

O art. 467 coloca que:

No momento da conclusão do contrato, pode uma das partes reservar-se a faculdade de


indicar a pessoa que deve adquirir os direitos e assumir as obrigações dele decorrentes.

Assim, o nomeado assume a posição contratual do nomeante, que deixa a relação, como se
ele mesmo tivesse contratado originariamente em nome próprio.

Exige-se prazo para a nomeação. Esse prazo pode ser convencional, mas, se o contrato se
omitir, será ele de 5 dias, segundo dispõe o art. 468. A forma da aceitação deve seguir a forma
do próprio contrato, ou o contrato acessório será ineficaz, como exige o parágrafo único desse
dispositivo.

Ao assumir tal posição, o terceiro, agora parte, assume todos os direitos e obrigações oriundas
do contrato, a partir do momento em que a nomeação é feita, não podendo o outro
contratante negar-se a contratar, nos termos do art. 469.

Entretanto, o contrato será eficaz somente em relação aos contratantes originários, ineficaz
em relação ao nomeado, portanto, na dicção do art. 470 do CC/2002, se:

I - se não houver indicação de pessoa, ou se o nomeado se recusar a aceitá-la;


II - se a pessoa nomeada era insolvente, e a outra pessoa o desconhecia no momento da
indicação.

Além disso, o art. 471 amplia a eficácia entre os contratantes originários para as situações
nas quais a pessoa a nomear se torna incapaz ou insolvente, no momento da nomeação.
Desta feita, a doutrina coloca que a cláusula de “pessoa a nomear” trata de uma condição
que determina a uma das partes a alternativa de sujeitos no polo oposto.

D. Promessa de fato de terceiro

Trata-se, segundo Paulo Lôbo, de uma:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Obrigação assumida por uma parte no contrato, de obter a prestação de terceiro, no


interesse da outra e da consecução do fim contratual.

Ou seja, comprometo-me a conseguir que outrem faça algo por mim, mas se não o fizer, eu é quem estou
inadimplindo, segundo o art. 439. A exceção fica por conta do parágrafo único, que isenta de
responsabilidade a pessoa se ela for o cônjuge do promitente, dependendo da sua anuência o ato a ser
praticado, e desde que, pelo regime de bens do casamento, a indenização, de algum modo, venha a recair
sobre os seus bens.

No entanto, se o terceiro já se comprometeu a executar, a responsabilidade passa a ser dele, segundo o


art. 440.

(XI Exame da OAB) Visando ampliar sua linha de comércio, Mac Geral & Companhia adquiriu de AC
Industrial S.A. mil unidades do equipamento destinado à fabricação de churros. Dentre as cláusulas
contratuais firmadas pelas partes, fez-se inserir a obrigação de Mac Geral & Companhia realizar o
transporte dos equipamentos, exclusivamente e ao preço de R$100,00 por equipamento, por meio de Rota
Transportes Ltda., pessoa estranha ao instrumento contratual assinado. Com relação aos contratos civis,
assinale a afirmativa incorreta.
A) AC Industrial S.A. poderá exigir de Mac Geral & Companhia o cumprimento da obrigação firmada em favor
de Rota Transportes Ltda.
B) Ao exigir o cumprimento da obrigação, Rota Transportes Ltda. deverá efetuar o transporte ao preço
previamente ajustado pelas partes contratantes.
C) Somente Rota Transportes Ltda. poderá exigir o cumprimento da obrigação.
D) AC Industrial S/A poderá reservar-se o direito de substituir Rota Transportes Ltda., independentemente
de sua anuência ou de Mac Geral & Companhia.
Comentários
Cuidado com essa questão, já que é para assinalar a alternativa INCORRETA!
A alternativa A está correta, de acordo com o conceito de Paulo Lôbo (“Obrigação assumida por uma parte
no contrato, de obter a prestação de terceiro, no interesse da outra e da consecução do fim contratual”), já
que a Mac Geral fez promessa de fato de terceiro à AC Industrial.
A alternativa B está correta, novamente, de acordo com a mesma noção, já que se estipulou no contrato que
o transporte seria realizado por aquele valor.
A alternativa C está incorreta, pois também a AC Industrial poderá exigir o cumprimento da obrigação.
A alternativa D está correta, desde que tal previsão conste no contrato, é possível estabelecer tal direito.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Gabarito: C

Cessão de posição contratual


TRANSMISSÃO

Estipulação em favor de terceiro

Contrato com pessoa a declarar

Promessa de fato de terceiro

5 - Garantias

A. Vícios redibitórios

A disciplina dos vícios redibitórios vale para todos os contratos comutativos e onerosos; ou
seja, não vale para contratos aleatórios ou gratuitos/benéficos, conforme regra do art. 441.
Aplica-se aos contratos comutativos, já que a lei pretende dar garantia ao trânsito jurídico das
riquezas (vale, portanto, para todos os contratos translativos da propriedade), mas não para os
gratuitos/benéficos (por conta da liberalidade do doador e da ausência de onerosidade para o
donatário).

A exceção fica por conta das doações onerosas, sejam elas remuneratórias, com encargo ou
estabelecidas em transação (parágrafo único do art. 441). Por quê? Lógica! Apesar de gratuito,
esse contrato tem feição onerosa (reside aí um ponto de discordância que tenho nessas
classificações irrefletidas).

Mas, o que são os vícios redibitórios? Eles são os defeitos ocultos que desvalorizam
a coisa ou a tornam imprestável para o uso proposto. Aplica-se a redibição ainda que
a coisa pereça em poder do adquirente, desde que o vício tenha surgido antes da
tradição, na leitura do art. 444.

Aqui há um distanciamento do Direito Civil e do Direito do Consumidor, pois este é


bem mais amplo, abarcando situações de defeito de qualidade, defeito de quantidade, vícios de serviço e
vícios aparentes, como nos casos em que há menos produto do que deveria haver, produto de qualidade
inferior ou serviço ruim. Mostrarei a você a disciplina dos vícios redibitórios segundo a disciplina do
CC/2002, apenas.

Para que se verifique a existência de um vício redibitório, exige-se a presença de três requisitos:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

1) VÍCIO OCULTO
• Se for aparente ou de fácil constatação, presume-se que o adquirente quis receber a coisa ainda
assim.
2) EXISTÊNCIA NO MOMENTO DA CONCLUSÃO DO CONTRATO
• Ou melhor, na execução, já que o contrato e a tradição podem acontecer em momentos diferentes,
mas, se aparece posteriormente, já no domínio do adquirente, não vale. Portanto, se o vício aparece
posteriormente, não é redibitório.
3) TORNA A COISA IMPRÓPRIA PARA O USO DESTINADO OU LHE DIMINUI O VALOR
• Substancialmente, e não vício insignificante ou que não altere o valor (outra diferença para o Direito
do Consumidor).

Não importa se o alienante sabia ou não do vício, sua responsabilidade subsiste (danos positivos, o valor
do contrato mais despesas); se sabia, porém, responderá também pelos prejuízos causados (danos
negativos, as perdas e danos, integralmente), segundo o art. 443.

(XXIII Exame da OAB) Juliana, por meio de contrato de compra e venda, adquiriu de Ricardo, profissional
liberal, um carro seminovo (30.000km) da marca Y pelo preço de R$ 24.000,00. Ficou acertado que Ricardo
faria a revisão de 30.000km no veículo antes de entregá-lo para Juliana no dia 23 de janeiro de 2017.
Ricardo, porém, não realizou a revisão e omitiu tal fato de Juliana, pois acreditava que não haveria
qualquer problema, já que, aparentemente, o carro funcionava bem. No dia 23 de fevereiro de 2017,
Juliana sofreu acidente em razão de defeito no freio do carro, com a perda total do veículo. A perícia
demostrou que a causa do acidente foi falha na conservação do bem, tendo em vista que as pastilhas do
freio não tinham sido trocadas na revisão de 30.000km, o que era essencial para a manutenção do carro.
Considerando os fatos, assinale a afirmativa correta.
A) Ricardo não tem nenhuma responsabilidade pelo dano sofrido por Juliana (perda total do carro), tendo
em vista que o carro estava aparentemente funcionando bem no momento da tradição.
B) Ricardo deverá ressarcir o valor das pastilhas de freio, nada tendo a ver com o acidente sofrido por Juliana.
C) Ricardo é responsável por todo o dano sofrido por Juliana, com a perda total do carro, tendo em
vista que o perecimento do bem foi devido a vício oculto já existente ao tempo da tradição.
D) Ricardo deverá ressarcir o valor da revisão de 30.000km do carro, tendo em vista que ela não foi realizada
conforme previsto no contrato.
Comentários
A alternativa A está incorreta, porque se trata de vício redibitório, como se extrai do art. 441: “A coisa
recebida em virtude de contrato comutativo pode ser enjeitada por vícios ou defeitos ocultos, que a tornem
imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor”.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

A alternativa B está incorreta, já que ele deveria saber do defeito, respondendo nos termos do art. 443: “Se
o alienante conhecia o vício ou defeito da coisa, restituirá o que recebeu com perdas e danos; se o não
conhecia, tão-somente restituirá o valor recebido, mais as despesas do contrato”.
A alternativa C está correta, nos termos da alternativa anterior.
A alternativa D está incorreta, mais uma vez, de acordo com a afirmativa B.
Gabarito: C
(XXVIII Exame da OAB) Maria decide vender sua mobília para Viviane, sua colega de trabalho. A alienante
decidiu desfazer-se de seus móveis porque, após um serviço de dedetização, tomou conhecimento que
vários já estavam consumidos internamente por cupins, mas preferiu omitir tal informação de Viviane.
Firmado o acordo, 120 dias após a tradição, Viviane descobre o primeiro foco de cupim, pela erupção que
se formou em um dos móveis adquiridos. Poucos dias depois, Viviane, após investigar a fundo a condição
de toda a mobília adquirida, descobriu que estava toda infectada. Assim, 25 dias após a descoberta, moveu
ação com o objetivo de redibir o negócio, devolvendo os móveis adquiridos, reavendo o preço pago, mais
perdas e danos. Sobre o caso apresentado, assinale a afirmativa correta.
A) A demanda redibitória é tempestiva, porque o vício era oculto e, por sua natureza, só podia ser conhecido
mais tarde, iniciando o prazo de 30 (trinta) dias da ciência do vício.
B) Em vez de rejeitar a coisa, redibindo o contrato, deveria a adquirente reclamar abatimento no preço, em
sendo o vício sanável.
C) O pedido de perdas e danos não pode prosperar, porque o efeito da sentença redibitória se limita à
restituição do preço pago, mais as despesas do contrato.
D) A demanda redibitória é intempestiva, pois quando o vício só puder ser conhecido mais tarde, o prazo de
30 (trinta) dias é contado a partir da ciência, desde que dentro de 90 (noventa) dias da tradição
Comentários
A alternativa A está correta, na conjugação do caput do art. 445 (“O adquirente decai do direito de obter a
redibição ou abatimento no preço no prazo de trinta dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel,
contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à metade”) com
seu §1.
A alternativa B está incorreta, dado que o art. 441 descreve que a coisa pode ser rejeitada ou pode ser
requerido o abatimento proporcional, não havendo restrição quanto apenas a esta hipótese.
A alternativa C está incorreta, visto que como Maria conhecia o vício deverá arcar também com perdas e
danos, conforme art. 443.
A alternativa D está incorreta, porque o prazo é de trinta dias do conhecimento até cento e oitenta dias,
tratando-se de bens móveis, conforme art. 441, §1º: “Quando o vício, por sua natureza, só puder ser
conhecido mais tarde, o prazo contar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de
cento e oitenta dias, em se tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis”.
Gabarito: A

O adquirente de coisa viciada pode, assim, optar por uma de duas ações, inacumuláveis, para reaver seus
prejuízos. São as chamadas ações edilícias:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

• Art. 441;
• Meio para enjeitar a coisa pelos vícios;
• Efeito: resolução do contrato;
REDIBITÓRIA • Assim, o adquirente terá direito à restituição do preço pago e ao
reembolso das despesas pelo contrato;
• Se o adquirente sabia do vício, não há redibição; se o alienante sabia do
vício, arca ainda com as perdas e danos.

• Art. 442;
ESTIMATÓRIA • Meio para obter abatimento do preço;
• Efeito: redução do preço (não tem por efeito a resolução);
(QUANTI
MINORIS) • Essa redução não é feita unilateralmente nem pelo alienante nem pelo
adquirente, mas judicialmente, arbitrando-se a dedução do preço
proporcionalmente à diminuição do valor.

Feita a escolha, ela é irrevogável, devendo o adquirente seguir com aquela ação até o final.

Mas, há prazos para que o adquirente maneje uma dessas ações previstos no art. 445. Quais são esses
prazos?

A) BENS MÓVEIS:
• 30 dias (contados a partir da tradição).
B) BENS IMÓVEIS:
• 1 ano (contado a partir da tradição).
C) EXCEÇÕES:
• 1. Se o sujeito já estava na posse do bem (traditio brevi manu) o prazo cai pela metade, contado da
conclusão do negócio;
• 2. Quando o vício se conhece posteriormente (como numa rachadura dentro de uma viga), começa
a contar o prazo de seu conhecimento, segundo o §1º. Limita-se o prazo total, porém, a 180 dias, no
caso de bens móveis, e 1 ano, se imóveis;
• 3. Os semoventes têm regulamentação própria, não se sujeitando a esses prazos, segundo o §2º;
• 4. Não corre o prazo na constância de cláusula de garantia, mas o adquirente deve denunciar o
defeito em 30 dias, tomando conhecimento dele, sob pena de decadência (art. 446).

Por fim, não há proteção ao adquirente em relação aos vícios redibitórios caso o bem seja adquirido em
hasta pública. Tal é o entendimento do STJ (REsp 625.322):

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

(IX Exame da OAB) Em 12.09.12, Sílvio adquiriu de Maurício, por contrato particular de compra e venda,
um automóvel, ano 2011, por R$ 34.000,00 (trinta e quatro mil reais). Vinte dias após a celebração do
negócio, Sílvio tomou conhecimento que o veículo apresentava avarias na suspensão dianteira, tornando
seu uso impróprio pela ausência de segurança. Considerando que o vício apontado existia ao tempo da
contratação, de acordo com a hipótese acima e as regras de direito civil, assinale a afirmativa correta.
A) Sílvio terá o prazo de doze meses, após o conhecimento do defeito, para reclamar a Maurício o
abatimento do preço pago ou desfazimento do negócio jurídico em virtude do vício oculto.
B) Mauricio deverá restituir o valor recebido e as despesas decorrentes do contrato se, no momento da
venda, desconhecesse o defeito na suspensão dianteira do veículo.
C) Caso Silvio e Maurício estabeleçam no contrato cláusula de garantia pelo prazo de 90 dias, o prazo
decadencial legal para reclamação do vício oculto correrá independentemente do prazo da garantia
estipulada.
D) Caso Silvio e Mauricio tenham inserido no contrato de compra e venda cláusula que exclui a
responsabilidade de Mauricio pelo vício oculto, persistirá a irresponsabilidade de Maurício mesmo que este
tenha agido com dolo positivo.
Comentários
A alternativa A está incorreta, já que o art. 445 estabelece que o contratante tem prazo de 30 dias para
reclamar dos vícios redibitórios, que são os defeitos ocultos que desvalorizam a coisa ou a tornam
imprestável para o uso proposto. Tratando-se de vício de difícil constatação, esse prazo corre a partir do
conhecimento, mas limitado a 180 dias.
A alternativa B está correta, pela previsão dos arts. 441 e 443, que estabelecem que se o vendedor não sabia
do defeito, arcará com as despesas de transmissão mais a devolução do que recebera.
A alternativa C está incorreta, pois o art. 446 estabelece claramente que na vigência de cláusula de garantia
não corre o prazo estabelecido pelo Código.
A alternativa D está incorreta, porque nesse caso estaremos diante de um vício de consentimento que, como
vimos, vicia o negócio jurídico, invalidando a cláusula de isenção de responsabilidade.
Gabarito: B

B. Evicção

O que significa evicção? Segundo César Fiuza:

É a perda judicial da coisa, em virtude de sentença, por quem a possuía como sua, em favor
de terceiro, detentor de direito anterior sobre ela

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

É garantia própria dos contratos comutativos que cria a obrigação de transferir o domínio de determinada
coisa e deriva da obrigação do alienante de garantir a posse justa da coisa. Ocorre quando o adquirente
perde a coisa em virtude de decisão judicial que reconhece a outrem o direito de propriedade anterior a ele,
ou ainda quando ato administrativo o faz, segundo o STJ (REsp 259.726). Isso ocorre sobretudo com a
autoridade policial, como, por exemplo, nos casos de carros com licenciamento fraudado vendidos.

O CC/2002 protege o evicto quando da aquisição da coisa em hasta pública, numa tentativa
de aumentar o valor pago pelos bens em leilões e estimular sua compra, com menos riscos. É
o teor do art. 447; exatamente o inverso da disciplina dos vícios redibitórios!

São três os requisitos para que se verifique a evicção:

A) PRIVAÇÃO DO DIREITO
• A evicção pode ser total ou parcial. Nesse caso, o comprador escolhe entre a resolução ou o
abatimento, conforme estabelece o art. 45. Só pode haver devolução do bem caso a evicção seja
considerável, em vista dos princípios da função social da propriedade e da boa-fé objetiva.
• Por exemplo, se eu compro uma fazenda de 1.000 ha e perco três numa ação reivindicatória, não
posso devolver os outros 997 ha, pois a evicção é pequena. Nesse caso, posso pedir apenas
abatimento pelos hectares perdidos. Contrariamente, se eu perco 700 ha, posso devolver os outros
300 ha, recebendo o que paguei de volta ou abater o preço, proporcionalmente.
• Se a evicção for total, porém, só cabe resolução e consequente indenização, evidentemente, por
lógica.
B) SENTENÇA JUDICIAL RECONHECENDO DIREITO PREEXISTENTE
• Em regra, é necessária sentença condenatória, mas excepcionalmente pode ocorrer quando perde o
adquirente o domínio da coisa pelo implemento da condição resolutiva.
• O evicto deve denunciar a lide ao evictor (art. 125, inc. I, do CPC/2015). Se não denunciar, deverá
entrar com ação autônoma de evicção (§1º); se denunciar, na própria sentença o juiz condena o
evicto. Lembre-se que não cabe mais a denunciação per saltum.
C) RISCO ANTERIOR À AQUISIÇÃO DA COISA
• Deve o evicto ter boa-fé, ignorando que a coisa era alheia ou litigiosa. Do contrário, não poderá ele
demandar pela evicção, nos termos do art. 457. O contrato deve ser bilateral, comutativo e oneroso.

A ação do evicto tem natureza indenizatória, mas é limitada pela lei (art. 450):

a) restituição integral do preço (caput)

b) frutos (inc. I)

c) despesas e prejuízos (inc. II)

d) custas e honorários (inc. III)

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

O STJ tem entendimento de que a evicção não se resume ao art. 450, estendendo a indenização ao valor
necessário para a aquisição de outro bem equivalente, em valores atuais de mercado, numa interpretação
extensiva do parágrafo único desse artigo. Na verdade, não é a restituição do preço corrigido, mas o preço
da coisa segundo o valor de mercado.

Pode ser estabelecida cláusula de evicção em contrário, reforçando-a, reduzindo-a ou a exonerando,


segundo o art. 448. Em caso de reforço, o montante deve se limitar ao dobro do valor pactuado, à
semelhança do que ocorre com as arras e a cláusula penal (arts. 418 e 412, respectivamente), sob pena de
enriquecimento sem causa. Quanto à redução, o art. 449 estabelece limitações a essa cláusula de
irresponsabilidade:

Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se der, tem direito
o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção,
ou, dele informado, não o assumiu.

Por isso, terá o adquirente sempre direito a receber de volta, ao menos, o preço pago, exceto se sabia do
risco, ou, se informado dele, o assumiu, o que dota o contrato de caráter aleatório.

É por isso que na aquisição de um imóvel, se há uma certidão positiva, deve constar na escritura pública,
para que se prove que o credor teve conhecimento da possibilidade de ocorrer a evicção.

(XXX Exame da OAB) Joana doou a Renata um livro raro de Direito Civil, que constava da coleção de sua
falecida avó, Marta. Esta, na condição de testadora, havia destinado a biblioteca como legado, em
testamento, para sua neta, Joana (legatária). Renata se ofereceu para visitar a biblioteca, circunstância na
qual se encantou com a coleção de clássicos franceses. Renata, então, ofereceu-se para adquirir, ao preço
de R$ 1.000,00 (mil reais), todos os livros da coleção, oportunidade em que foi informada, por Joana,
acerca da existência de ação que corria na Vara de Sucessões, movida pelos herdeiros legítimos de Marta.
A ação visava impugnar a validade do testamento e, por conseguinte, reconhecer a ineficácia do legado
(da biblioteca) recebido por Joana. Mesmo assim, Renata decidiu adquirir a coleção, pagando o respectivo
preço. Diante de tais situações, assinale a afirmativa correta.
A) Quanto aos livros adquiridos pelo contrato de compra e venda, Renata não pode demandar Joana pela
evicção, pois sabia que a coisa era litigiosa.
B) Com relação ao livro recebido em doação, Joana responde pela evicção, especialmente porque, na data
da avença, Renata não sabia da existência de litígio.
C) A informação prestada por Joana a Renata, acerca da existência de litígio sobre a biblioteca que recebeu
em legado, deve ser interpretada como cláusula tácita de reforço da responsabilidade pela evicção.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

D) O contrato gratuito firmado entre Renata e Joana classifica-se como contrato de natureza aleatória, pois
Marta soube posteriormente do risco da perda do bem pela evicção.
Comentários
A alternativa A está correta, uma vez que, não tem evicção porque sabia do litígio, mas não assumiu a
evicção, nos termos do art. 449: “Não obstante a cláusula que exclui a garantia contra a evicção, se esta se
der, tem direito o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta, se não soube do risco da evicção, ou,
dele informado, não o assumiu”.
A alternativa B está incorreta, pois sabia sim do risco, ela foi informada. Contudo, só responde pela evicção
em contrato oneroso, de acordo com o art. 447: “Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção.
Subsiste esta garantia ainda que a aquisição se tenha realizado em hasta pública”.
A alternativa C está incorreta, eis que a informação sobre a evicção não é reforço, é exclusão.
A alternativa D está incorreta, já que Marta não tem nada a ver com a história.
Gabarito: A
(XII Exame da OAB) José celebrou com Maria um contrato de compra e venda de imóvel, no valor de
R$100.000,00, quantia paga à vista, ficando ajustada entre as partes a exclusão da responsabilidade do
alienante pela evicção. A respeito desse caso, vindo a adquirente a perder o bem em decorrência de
decisão judicial favorável a terceiro, assinale a afirmativa correta.
A) Tal cláusula, que exonera o alienante da responsabilidade pela evicção, é vedada pelo ordenamento
jurídico brasileiro.
B) Não obstante a cláusula de exclusão da responsabilidade pela evicção, se Maria não sabia do risco, ou,
dele informada, não o assumiu, deve José restituir o valor que recebeu pelo bem imóvel.
C) Não obstante a cláusula de exclusão da responsabilidade pela evicção, Maria, desconhecendo o risco, terá
direito à dobra do valor pago, a título de indenização pelos prejuízos dela resultantes.
D) O valor a ser restituído para Maria será aquele ajustado quando da celebração do negócio jurídico,
atualizado monetariamente, sendo irrelevante se tratar de evicção total ou parcial.
Comentários
A alternativa A está incorreta, pois o art. 448 estabelece claramente que é possível estabelecer cláusula em
contrário a respeito da garantia legal da evicção. A evicção consiste na perda do objeto pelo adquirente
(evicto), por sentença judicial ou ato administrativo que reconheceu o direito anterior de terceiro,
denominado evictor.
A alternativa B está correta, segundo o art. 449, especificamente: “Não obstante a cláusula que exclui a
garantia contra a evicção, se esta se der, tem direito o evicto a receber o preço que pagou pela coisa evicta,
se não soube do risco da evicção, ou, dele informado, não o assumiu”.
A alternativa C está incorreta, segundo o mesmo art. 449, acima.
A alternativa D está incorreta, na forma do art. 450, parágrafo único: “O preço, seja a evicção total ou parcial,
será o do valor da coisa, na época em que se evenceu, e proporcional ao desfalque sofrido, no caso de
evicção parcial.”
Gabarito: B

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Atente, por fim, para a revogação do art. 456 e seu parágrafo único, pelo CPC/2015. Com isso, não há mais
obrigatoriedade de notificação do alienante (denunciação da lide) pelo evicto.

Além disso, fica proibida a denunciação da lide per saltum; somente o alienante direto pode ser
litisdenunciado pelo evicto (art. 125, inc. I, do CPC/2015).

Por fim, fica proibida a denunciação da lide sucessiva, restringindo-se a litisdenunciação do alienante
direto a terceiro, sem que outros alienantes da cadeia negocial possam integrar aquela lide (art. 125, §2º,
do CPC/2015).

C. Exceção de contrato não cumprido

O art. 476 estabelece claramente que nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes pode
exigir o cumprimento da parte do outro, antes de cumprida a sua própria obrigação. É a
chamada exceção de contrato não cumprido (exceptio non adimpleti contractus). A exceção,
aqui, tem a noção processual de defesa, de contradireito, tal qual a exceção de incompetência
processual, por exemplo.

Somente aos contratos bilaterais aplica-se a exceção de contrato não cumprido. Em se tratando de
contratos unilaterais, ao contrário, não há que se falar em aplicação da exceção, tendo em conta que
apenas uma das partes é onerada por ele (ausência de bilateralidade).

A aplicação da exceção de contrato não cumprido depende de que ambas as prestações sejam
simultaneamente exigíveis.

6 - Extinção

A extinção dos contratos não se encontra sistematizada numa Teoria Geral, pelo que há grande confusão
na terminologia usada pela lei, a forma pela qual a doutrina trata do tema, e como a jurisprudência a aplica.
O contrato pode se extinguir por causas supervenientes ou posteriores, através de três modos específicos.

Boa parte das noções de inadimplemento foram vistas no Direito das Obrigações, pelo que vale exercitar
aqueles conhecimentos, mais uma vez, aqui:

(XVI Exame da OAB) Joana deu seu carro a Lúcia, em comodato, pelo prazo de 5 dias, findo o qual Lúcia
não devolveu o veículo. Dois dias depois, forte tempestade danificou a lanterna e o para-choques dianteiro
do carro de Joana. Inconformada com o ocorrido Joana exigiu que Lúcia a indenizasse pelos danos
causados ao veículo. Diante do fato narrado, assinale a afirmativa correta.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

A) Lúcia incorreu em inadimplemento absoluto, pois não cumpriu sua prestação no termo ajustado, o que
inutilizou a prestação para Joana.
B) Lúcia não está em mora, pois Joana não a interpelou, judicial ou extrajudicialmente.
C) Lúcia deve indenizar Joana pelos danos causados ao veículo, salvo se provar que os mesmos ocorreriam
ainda que tivesse adimplido sua prestação no termo ajustado.
D) Lúcia não responde pelos danos causados ao veículo, pois foram decorrentes de força maior.
Comentários
A alternativa A está incorreta, pois o credor, Joana, não perdeu o interesse no cumprimento da obrigação (a
entrega do veículo em perfeitas condições), pelo que o inadimplemento é relativo. Vide o art. 395, parágrafo
único: “Se a prestação, devido à mora, se tornar inútil ao credor, este poderá enjeitá-la, e exigir a satisfação
das perdas e danos.” Vide o art. 397, parágrafo único: “Não havendo termo, a mora se constitui mediante
interpelação judicial ou extrajudicial.”
A alternativa B está incorreta, pois essa era uma obrigação impura, sujeita a termo específico, qual seja a
devolução do veículo em cinco dias.
A alternativa C está correta, dado que se conseguir provar que os danos ocorreriam de qualquer forma, Lúcia
conseguirá afastar a indenização. Vide o art. 399: “O devedor em mora responde pela impossibilidade da
prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem
durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando a obrigação fosse
oportunamente desempenhada.”
A alternativa D está incorreta, pois, como Lúcia estava em mora, a mora é fator que exclui o afastamento da
indenização por força maior ou caso fortuito. Vide o art. 399: “O devedor em mora responde pela
impossibilidade da prestação, embora essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se
estes ocorrerem durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda quando
a obrigação fosse oportunamente desempenhada.”
Gabarito: C

A. Resolução

Uma situação superveniente pode impedir a execução normal do contrato; esse impedimento, se causado
pela inexecução por um dos contratantes, leva à resolução do contrato. No conceito de Orlando Gomes:

Resolução é, portanto, um remédio concedido à parte para romper o vínculo contratual


mediante ação judicial.

O principal efeito da resolução é extinguir o contrato ex tunc (retroativamente). Dessa forma,


em relação às partes, as prestações executadas devem ser reciprocamente restituídas,
restabelecendo-se o status quo ante. Se a devolução daquilo que foi executado se tratar de
dinheiro, ela deve ser feita com a correção monetária e juros de mora, sob pena de
locupletamento sem causa de um dos contratantes e de violação do princípio do equilíbrio
contratual.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Exceção à essa regra existe nos contratos de trato sucessivo (aqueles que não podem ser
executados de uma vez só). Nessas situações, é impossível aos contratantes restituir aquilo que
já foi executado, operando-se a resolução apenas eficácia ex nunc (sem retroação).

Se o devedor não cumpre suas obrigações, pode o credor resolver o contrato e exigir perdas e
danos. Pode também exigir a execução coativa do contrato, cabendo, nesse caso, indenização,
segundo estabelece o art. 475. Veja que estou a falar do inadimplemento voluntário, causado pelo
descumprimento imputável ao devedor (inadimplemento em sentido técnico).

1. Cláusulas resolutivas expressa e tácita

Segundo prevê o art. 474, todo contrato bilateral possui implicitamente, em si, a chamada
cláusula resolutiva tácita. Essa cláusula autoriza a parte a requerer a resolução do contrato
se a contraparte deixar de executar sua obrigação. Porém, nesse caso, exige-se, para a
resolução contratual, intervenção judicial para a prova do inadimplemento.

A cláusula resolutiva expressa é também chamada de pacto comissório expresso ou pacto


comissório contratual, permitida em geral pelo ordenamento jurídico

Inexecução Resolução Cláusula resolutiva


expressa ou tácita
(relativa ou absoluta) (eficácia ex tunc) (cláusula penal)

A meu ver, a resolução do contrato operada por cláusula resoluta expressa não é superveniente ao
contrato, e não causa anterior, ainda que prevista.

2. Resolução por onerosidade excessiva

Primeiro, tome muito cuidado ainda para não confundir duas situações que são muito
próximas: a onerosidade excessiva e a lesão, dois institutos que acabam tendo
aplicação prática muito semelhante, mas que têm fundamentos e funcionamento
diferentes. Lembra que já tratamos, anteriormente, da lesão?

Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por
inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da
prestação oposta.
§1º Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em
que foi celebrado o negócio jurídico.

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106
ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

§2º Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se


a parte favorecida concordar com a redução do proveito.

• 1. Formação do contrato
• 2. Presente
LESÃO
• 3. Previsível
• 4. Efeito: anulação

• 1. Execução do contrato
• 2. Superveniente
ONEROSIDADE EXCESSIVA
• 3. Imprevisível
• 4. Efeito: resolução/revisão

Verificada a onerosidade excessiva, pode o lesado requisitar a resolução do contrato, nos termos do art. 478.
No entanto, a situação mais comum pretendida pela parte é a revisão do contrato, e não sua resolução,
por aplicação da “teoria da imprevisão”, que mostrarei a você mais adiante.

3. Resolução por inadimplemento antecipado

O CC/2002 não tratou desta forma de resolução contratual, que, em verdade, nada mais é do
que a aplicação das noções de probabilidade aos contratos, e não de certeza, como
habitualmente se exige.

Em outras palavras, a contraparte ainda não descumpriu o contrato – ou seja, está,


a rigor, adimplente –, mas há um grau tão alto de probabilidade de
descumprimento – de inadimplemento – que diremos, de antemão, que ela descumpriu o
contrato.

B. Resilição

A resilição, nas palavras de Orlando Gomes, é:

A dissolução do contrato por simples declaração de vontade de uma ou das duas partes
contratantes.

Apesar de a resilição ter como fundamento a lei, ela pode ser convencionada pelas partes, de modo a
possibilitar arrependimento do pacto.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Quando contratualmente prevista, em geral ela vem acompanhada de uma sanção. Assim, exercida a
faculdade do arrependimento, a outra parte terá como contrapartida uma multa penitencial (que nada
mais é do que uma compensação pecuniária à parte que não pôde receber a vantagem esperada no
contrato).

A multa penitencial é diferente da cláusula penal. Cláusula penal pressupõe inadimplemento


de obrigações contratuais (e, portanto, tem caráter ressarcitório, pelos danos causados) e a
multa penitencial pressupõe o arrependimento pela contratação (e, portanto, tem caráter
liberatório, garantindo o poder de desvinculação pelo arbítrio).

A resilição ocorre de dois modos. Em ambos os casos há extinção com efeitos ex nunc, ou seja,
apenas com efeitos futuros, mas não retroativamente:

1. Resilição bilateral

Forma pura e mais comum de resilição. Com vista no princípio da autonomia privada, se têm as partes
liberdade para criar uma vinculação, têm igualmente o poder de se desvincular, se assim o desejarem.

O modo mais comum de resilição bilateral é o distrato, “negócio jurídico pelo qual as partes,
declarando conjuntamente a vontade de dar cabo do contrato, rompem o vínculo,
extinguindo a relação jurídica”, segundo Orlando Gomes. O distrato é, portanto, um contrato
pelo qual as partes “descontratam” outro contrato.

Qualquer contrato pode ser resilido por distrato, desde que não tenha operado todos os seus
efeitos, ainda. O conteúdo do distrato é livre, mas sua forma deve ser igual à do contrato, se
a lei exige forma específica para ele, consoante regra do art. 472. Assim, numa compra e venda
imobiliária, o distrato tem de ser feito por escritura pública, como o contrato.

2. Resilição unilateral

Forma excepcional de resilição, também chamada de denúncia. A resilição unilateral parece contrariar o
princípio da irretratabilidade unilateral dos contratos, eis que é um contrassenso se possibilitar que uma
parte extinga o contrato sem que a outra com ela concorde.

Entretanto, a resilição é admitida em alguns casos, através da denúncia. Sua natureza é de direito
potestativo, pois, por vezes, é o único meio de acabar com o contrato sem descumpri-lo. A resilição
unilateral pode ser classificada como:

A) MOTIVADA
• O sujeito precisa declinar seus motivos, as razões
• Na locação, se chama denúncia cheia (art. 47, incisos, da Lei 8.245/1991); no contrato de trabalho,
demissão com "causa justificadora" (art. 4º da Convenção 158 da OIT)
B) DESMOTIVADA
• Não há necessidade de apresentar razões, basta apresentar a denúncia
• Na locação, chamada de denúncia vazia (art. 46, §2º, da Lei 8.245/1991); no contrato de trabalho,
demissão sem justa causa do art. 477 da CLT

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

A denúncia, em geral, não exige justificativa para a parte denunciante. Já que a lei determina que o contrato
pode ser resilido a qualquer momento, sem que haja mesmo causa, não se pode exigir indenização.
Entretanto, em alguns contratos exige-se motivo para que a resilição se opere sem que seja
devida indenização. Não obstante, poderá haver resilição sem motivo, mas o contratante que
resiliu imotivadamente obriga-se pelas perdas e danos causados.

A notificação prévia à contraparte é indispensável, tanto nos casos em que a denúncia


permitida por lei é implícita quanto explícita, prevê o art. 473. Se não feita, sujeita-se o
contratante que pretende a resilição ao pagamento de indenização pelos prejuízos causados, eis
que o objetivo dessa exigência é justamente prevenir a contraparte dos efeitos nocivos de uma ruptura
abrupta.

O prazo da denúncia é geralmente estipulado em lei. Entretanto, a depender negócio, o lapso temporal
deve ser compatível com a natureza do negócio e o montante de investimentos que a outra parte realizou
para que o contrato pudesse ser executado, conforme exige o art. 473, parágrafo único. Esse dispositivo
determina que os efeitos da resilição sejam protraídos, mesmo sendo ela válida desde já.

Vontade: Unilateral (I)Motivada: perdas e


Resilição
(denúncia) danos
(eficácia ex nunc)
ou bilateral (distrato) (multa penitencial)

C. Rescisão

O termo rescisão é usado pelo Código Civil de modo confuso, ora como sinônimo de resolução, ora como
resilição, e a própria doutrina se divide bastante. A espécie rescisão acabou sendo usada como gênero,
como sinônimo de extinção do contrato pelos juristas brasileiros.

O Exame da OAB, certamente, utilizará a rescisão como gênero, igualmente, mas é importante que você
saiba distinguir as hipóteses de resolução – decorrente do inadimplemento – da resilição – decorrente da
vontade de quebrar o vínculo contratual –, pois seus efeitos são completamente diferentes, como vimos.

7 - Revisão

A base da revisão contratual é, certamente, o princípio da conservação. Resumidamente, se as partes


envidaram esforços para pactuar, gastaram energia com um determinado objetivo, não compete ao Direito
simplesmente descartar esse esforço, feito em vão.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Em virtude do princípio da conservação do contrato, nas ações que tenham por objeto a resolução do pacto
por excessiva onerosidade, pode o juiz modificá-lo equitativamente, desde que ouvida a parte autora,
respeitada sua vontade e observado o contraditório.

(IV Exame da OAB) Analisando o artigo 6º, V, do Código de Defesa do Consumidor, que prescreve: “São
direitos básicos do consumidor: V – a modificação das cláusulas contratuais que estabeleçam prestações
desproporcionais ou sua revisão em razão de fatos supervenientes que as tornem excessivamente
onerosas”, assinale a alternativa correta.
(A) Não traduz a relativização do princípio contratual da autonomia da vontade das partes.
(B) Almeja, em análise sistemática, precipuamente, a resolução do contrato firmado entre consumidor e
fornecedor.
(C) Admite a incidência da cláusula rebus sic stantibus.
(D) Exige a imprevisibilidade do fato superveniente.
Comentários
A alternativa A está incorreta, eis que a aplicação dessa teoria exatamente faz uma relativização do princípio
contratual da autonomia da vontade das partes.
A alternativa B está incorreta, pois, conforme dito acima, existem duas possibilidades, extinção e revisão,
sem que se fale em uma hipótese com primazia. A revisão se baseia no princípio da conservação, visando
não descartar totalmente todos os esforços despendidos pelas partes.
A alternativa C está correta, novamente, do jeito que eu disse antes, é exatamente essa cláusula que dá base
à aplicação da teoria. A cláusula rebus sic stantibus (“enquanto as coisas estão assim”) descreve que
alterações só são possíveis quando a realidade se altera. Nesses casos, o pacto continua sendo exigível e
continua devendo ser cumprido, mas não exatamente nas mesmas condições.
A alternativa D está incorreta, porque, como dissemos acima, não é necessário, no CDC, demonstrar que o
evento era imprevisível, basta que seja excessivamente oneroso.
Gabarito: C

A. Teoria da imprevisão por onerosidade excessiva

Ainda assim, aponta a doutrina e a jurisprudência que a cláusula rebus sic stantibus
sobrevive no ordenamento jurídico brasileiro no art. 480, que estabelece que se no
contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela pleitear que a
sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a fim de evitar a
onerosidade excessiva. É o apelo à vetusta cláusula canônica rebus sic stantibus.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

A partir dessa cláusula, a Teoria da Imprevisão pretende reconhecer que acontecimentos supervenientes
e imprevisíveis, ocorridos involuntariamente, refletem diretamente na execução do contrato, autorizando
em alguns casos a sua resolução ou revisão, ajustando o pacto a essas novas e diferentes circunstâncias.

Quais são os requisitos da Teoria da Imprevisão?

EVENTO EXTERNO, OBJETIVO, SUPERVENIENTE E IMPREVISÍVEL


• Não imputável à subjetividade das partes.

EXCESSIVA ONEROSIDADE AO DEVEDOR


• Cunho objetivo: oneroso para toda pessoa em semelhante situação;
• Há desequilíbrio em detrimento do devedor (enriquecimento sem causa do credor em
face da "extrema vantagem").

CONTRATO BILATERAL, COMUTATIVO, ONEROSO E DE DURAÇÃO


• Inaplicável aos contratos unilaterais, exceto os unilaterais onerosos;
• Inaplicável aos contratos aleatórios, exceto se fora da álea;
• Inaplicável aos contratos benéficos, exceto se houver dolo;
• Inaplicável aos contratos instantâneos, exceto se de execução diferida.

Surgem, então, duas possibilidades para o devedor cuja prestação se tornou excessivamente onerosa:

1. REVISÃO
• Para que o contrato seja reequilibrado;
• Previsão: art. 479.
2. RESOLUÇÃO
• Extinção do contrato, para evitar mais efeitos danosos;
• Previsão: art. 478.

A revisão, a rigor, depende, segundo o art. 479, de iniciativa da contraparte (“A resolução poderá ser evitada,
oferecendo-se o réu a modificar equitativamente as condições do contrato”). No entanto, a jurisprudência
atenua a literalidade do dispositivo, já que, do contrário, caso o credor não se oferecesse para rever o
contrato, o juiz estaria limitado à resolução, o que contraria a funcionalização social e impede a
manutenção do contrato. Ao juiz, portanto, permite-se a integração do contrato.

B. Teoria da quebra da base objetiva do negócio

Para que se aplique essa teoria, é necessário a presença de dois requisitos para sua configuração:

A. Desequilíbrio da prestação B. Rompimento objetivo da finalidade contratual

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Veja-se que é desnecessário se verificar os requisitos de imprevisibilidade,


onerosidade excessiva ou irresistibilidade para que se possa revisar ou resolver o
contrato, o que é bastante útil na prática, eis que não se precisa provar que tal fato
era ou não previsível e que sua alteração terá causado onerosidade pequena ou
grande. Basta que se prove que a mudança nos fatos tenha desnaturado a própria
razão de ser do contrato.

A frustração do fim do contrato, hipótese que não se confunde com a impossibilidade da prestação ou com
a excessiva onerosidade, tem guarida no direito brasileiro pela aplicação do art. 421.

II. Espécies contratuais

1 - Compra e venda

A. Disposições gerais

O contrato de compra e venda é a espécie mais comum dos contratos (verbal ou escrita). Não é à toa que
essa é a primeira espécie a ser tratada pelo Código Civil, sendo que outros contratos são regidos
supletivamente por ele.

Os requisitos e as características do contrato de compra e venda estão contidos nos dois


primeiros artigos que tratam do tema. O art. 481 estabelece que no contrato de compra e venda, um dos
contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em dinheiro.

A compra e venda trata de um contrato consensual e não solene. Ou seja, pode ela ser realizada verbalmente
e, em algumas situações, até de maneira presumida. Não se exige, em regra, formalidade específica. A
exceção fica por conta dos casos estritamente previstos em lei e, nesse caso, destaca-se a compra e venda
de bens imóveis, contratos nos quais é necessária a realização de contrato escrito mediante escritura
pública e seu registro no Registro de Imóveis para que gere efeitos perante terceiros.

Esse contrato é, também, classificado como sinalagmático ou bilateral. Em outras palavras, envolve
prestações recíprocas de ambas as partes. O comprador deve entregar o preço enquanto o vendedor deve
entregar a coisa.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Por isso, pode-se dizer que ele sempre será oneroso. Deixa claro o art. 482 que, quando
pura, a compra e venda é considerada obrigatória e perfeita, desde que as partes concordem quanto ao
objeto e ao preço. Assim, o preço é elemento essencial desse contrato.

Tanto o comprador quanto o vendedor têm prestações a cumprir, que envolvem transferência de seus
patrimônios. A gratuidade da compra e venda, expressa na desproporção manifesta entre o valor da coisa
transferida e o preço acordado, desfigura o contrato. Isso será importante em outros momentos, como,
por exemplo, na fraude contra credores, uma vez que os contratos onerosos não se presumem fraudatórios.

Conforme o art. 481, só é compra e venda se for realizada em dinheiro. Por quê? Aqui reside a diferença
entre a compra e venda e a permuta/troca. Nesta, há uma troca de uma coisa por outra coisa, ao passo
que naquela há a troca de uma coisa por dinheiro. Deve-se, obviamente, entender dinheiro num sentido
amplo, de crédito, como já visto anteriormente.

Além disso, o preço não pode ser irrisório, vil, pois, senão, pode ser considerado uma doação disfarçada (e
fraudatória, consequentemente) e não uma compra e venda. Ou seja, deve haver uma proporcionalidade
entre o valor da coisa e seu preço, segundo o princípio do equilíbrio contratual.

O preço, dessa forma, deve ser determinado, como ocorre na maioria das vezes, ou ao menos determinável.
A lei permite que o preço não esteja determinado desde logo no contrato e que as partes o indiquem através
de outros meios:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

1) TERCEIRO (PREÇO POR AVALIAÇÃO)


• Fixa o preço, já se estabelecendo quem ele será no próprio contrato, ou prevendo que ele será
posteriormente escolhido.
• E se o terceiro indicado não aceitar? A compra e venda será ineficaz, salvo se os contratantes
indicarem outra pessoa (art. 485).
2) TAXA DO MERCADO OU DA BOLSA (PREÇO POR COTAÇÃO)
• Em certo e determinado dia e local, nos termos do art. 486.
3) ÍNDICES OU PARÂMETROS (PREÇO POR COTAÇÃO)
• Desde que possam ser determinados objetivamente (art. 487);
• Esses índices podem ser qualquer um, desde que objetivos (salários mínimos, canetas Bic azul na
papelaria da esquina etc.).

A fixação do preço em regra segue o livre consentimento das partes. Sendo assim, qualquer fórmula
estipulada para fixação do preço é permitida, mas não é possível estabelecer que o preço será fixado de
acordo com a vontade de apenas uma das partes, pois nesse caso seria uma hipótese de condição
potestativa (sujeita ao puro arbítrio de uma das partes), vedada pelo art. 489.

Mas, e é possível alienar um bem que não existe? O art. 483 abre tal possibilidade, estabelecendo que a
compra e venda pode ter por objeto coisa atual ou futura. Nesse caso, ficará sem efeito (ineficácia, não
invalidade) o contrato se ela não vier a existir, salvo se a intenção das partes era de concluir contrato
aleatório. Aqui se vê a natureza comutativa da compra e venda, excepcionada caso as partes assim acordem,
como, por exemplo, no caso de compra e venda de safra futura.

O contrato aleatório, como você já viu na classificação dos contratos, pode ser de três tipos:

A. Emptio spei (art. 458), no qual se corre risco pela existência da coisa, pelo que a contraprestação é devida
mesmo que nada venha a existir, salvo no caso de culpa da outra parte;

B. Emptio rei sperate (art. 459), no qual se corre risco pela quantidade da coisa, pelo que a contraprestação
é devida mesmo que pouco venha a existir, salvo no caso de culpa da outra parte

C. Contratos futuros (art. 460), no qual o risco não é pela existência da coisa, que é presente, mas pela
exposição da coisa a riscos futuros.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

(XXX Exame da OAB) Vilmar, produtor rural, possui contratos de compra e venda de safra com diversos
pequenos proprietários. Com o intuito de adquirir novos insumos, Vilmar procurou Geraldo, no intuito de
adquirir sua safra, cuja expectativa de colheita era de cinco toneladas de milho, que, naquele momento,
estava sendo plantado em sua fazenda. Como era a primeira vez que Geraldo contratava com Vilmar, ele
ficou em dúvida quanto à estipulação do preço do contrato. Considerando a natureza aleatória do
contrato, bem como a dúvida das partes a respeito da estipulação do preço deste, assinale a afirmativa
correta.
A) A estipulação do preço do contrato entre Vilmar e Geraldo pode ser deixada ao arbítrio exclusivo de uma
das partes.
B) Se Vilmar contratar com Geraldo a compra da colheita de milho, mas, por conta de uma praga inesperada,
para cujo evento o agricultor não tiver concorrido com culpa, e este não conseguir colher nenhuma espiga,
Vilmar não deverá lhe pagar nada, pois não recebeu o objeto contratado.
C) Se Vilmar contratar com Geraldo a compra das cinco toneladas de milho, tendo sido plantado o exato
número de sementes para cumprir tal quantidade, e se, apesar disso, somente forem colhidas três toneladas
de milho, em virtude das poucas chuvas, Geraldo não receberá o valor total, em virtude da entrega em
menor quantidade.
D) A estipulação do preço do contrato entre Vilmar e Geraldo poderá ser deixada ao arbítrio de terceiro,
que, desde logo, prometerem designar.
Comentários
A alternativa A está incorreta, porque não pode ser deixado ao arbítrio exclusivo de umas das partes a fixação
do preço, conforme dispõe o art. 489: “Nulo é o contrato de compra e venda, quando se deixa ao arbítrio
exclusivo de uma das partes a fixação do preço”.
A alternativa B está incorreta, pois tem que pagar sim, mesmo que o objeto não venha a existir, já que a
intenção das partes era concluir o contrato, de acordo com o art. 483: “A compra e venda pode ter por objeto
coisa atual ou futura. Neste caso, ficará sem efeito o contrato se esta não vier a existir, salvo se a intenção
das partes era de concluir contrato aleatório”.
A alternativa C está incorreta, conforme alternativa anterior.
A alternativa D está correta, eis que, pode deixar a fixação do preço ao arbítrio de terceiro, de acordo com
o art. 485: “A fixação do preço pode ser deixada ao arbítrio de terceiro, que os contratantes logo designarem
ou prometerem designar. Se o terceiro não aceitar a incumbência, ficará sem efeito o contrato, salvo quando
acordarem os contratantes designar outra pessoa”.
Gabarito: D

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

A entrega da coisa, na falta de estipulação expressa em contrato, dá-se no lugar onde ela se encontrava ao
tempo da venda, segundo o art. 493. Em regra, as despesas de escritura e registro ficam a cargo do
comprador e as despesas com a tradição ficam sob responsabilidade do vendedor, nos termos do art. 490,
mas nada impede que as partes estabeleçam regra diversa.

No contrato de compra e venda à vista, em regra, quem tem que cumprir primeiro com sua
obrigação é o comprador, ou seja, o vendedor não é obrigado a entregar a coisa antes de receber o preço
(art. 491). Essa “ordem” é relevante para se pensar na aplicação da exceção de contrato não cumprido
(exceptio non adimpleti contractus).

Até o momento da tradição, os riscos da coisa correm por conta do vendedor, e os do preço por conta do
comprador, na dicção do art. 492 do CC/2002. Em outras palavras, tudo o que ocorrer com a coisa será de
responsabilidade do vendedor e tudo o que acontecer com o preço será de responsabilidade comprador,
em regra.

Você já viu essa regra extensamente; res perit domino, uma das regras de ouro do Direito Civil. Assim, se
antes de haver a entrega do celular, o vendedor é roubado, ele deverá providenciar outro para me entregar.
Se eu dependia de um financiamento para pagar pelo bem comprado, mas não consigo, terei de arranjar
outros meios para pagar.

(III Exame da OAB) Maria celebrou contrato de compra e venda do carro da marca X com Pedro, pagando
um sinal de R$ 10.000,00. No dia da entrega do veículo, a garagem de Pedro foi invadida por bandidos,
que furtaram o referido carro. A respeito da situação narrada, assinale a alternativa correta.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

(A) Haverá resolução do contrato pela falta superveniente do objeto, sendo restituído o valor já pago por
Maria.
(B) Não haverá resolução do contrato, pois Pedro pode alegar caso fortuito.
(C) Maria poderá exigir a entrega de outro carro.
(D) Pedro poderá entregar outro veículo no lugar no automóvel furtado.
Comentários
A alternativa A está correta, dado que segundo o art. 492, os riscos pela coisa correm pelo vendedor, até a
entrega do objeto. Assim, resolve-se o contrato (resolução que vimos em aula passada) e devolve-se o
dinheiro ao comprador.
A alternativa B está incorreta, já que a regra do art. 492 inclui as situações de caso fortuito (TODOS os riscos
correm por conta do vendedor, até a entrega da coisa).
A alternativa C está incorreta, porque, conforme regra do art. 481, o contrato de compra e venda trata de
coisa certa, pelo que não se pode exigir a entrega de outro bem, já que o vendedor deve entregar AQUELA
coisa.
A alternativa D está incorreta, igualmente, pela mesma razão da alternativa anterior.
Gabarito: A

De outra banda, os riscos com a coisa correm por conta do comprador quando:

1) A COISA ENCONTRA-SE À DISPOSIÇÃO DO COMPRADOR


• Para que ele possa contar, marcar ou assinalar a coisa e, em razão de caso fortuito ou força maior, a
coisa se deteriora (art. 492, §1º).
2) O COMPRADOR ESTÁ EM MORA DE RECEBER A COISA
• Foi posta à disposição pelo vendedor no local, tempo e modo acertado (complemento à regra res
perit domino, uma vez que não houve a tradição da coisa). Não seria justo, entretanto, que o
vendedor arcasse com os riscos da coisa, uma vez que cumpriu sua parte do contrato, segundo o
art. 492, §2º.
3) O COMPRADOR SOLICITA QUE A COISA SEJA ENTREGUE EM LOCAL DIVERSO
• Do lugar que deveria ser entregue (regra do art. 494).
4) HOUVER MÚTUO ACORDO ENTRE AS PARTES
• Em contrato, estabelecendo funcionamento diverso da distribuição dos riscos. Essa regra é
consequência do princípio da autonomia privada, que dá supletividade das normas em relação ao
contrato.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

B. Restrições

A lei veda que determinadas pessoas participem de compra e venda. Essa vedação não resulta da
incapacidade das pessoas para realizar essa operação, mas sim da posição na relação jurídica (legitimação).
No caso, eles não têm legitimidade para realizar determinadas operações. Isso ocorre nas seguintes
situações:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

1) TUTORES, CURADORES, TESTAMENTEIROS E ADMINISTRADORES


• Não podem comprar, ainda que em hasta pública, os bens confiados à sua guarda ou
administração (art. 497, inc. I);
2) SERVIDORES PÚBLICOS
• Não podem comprar, ainda que em hasta pública, os bens ou direitos da pessoa jurídica
a que servirem, ou que estejam sob sua administração, direta ou indireta (art. 497, inc.
II);
3) JUÍZES, SECRETÁRIOS DE TRIBUNAIS, ARBITRADORES, PERITOS E
OUTROS SERVENTUÁRIOS OU AUXILIARES DA JUSTIÇA
• Não podem comprar, ainda que em hasta pública, os bens ou direitos sobre os quais se
litigar em tribunal, juízo ou conselho, no lugar onde servirem, ou a que se estender a
sua autoridade (art. 497, inc. III);
• Segundo o art. 498 do CC/2002, essa proibição não compreende os casos de compra e
venda ou cessão entre coerdeiros, ou em pagamento de dívida, ou para garantia de
bens já pertencentes a tais pessoas.
4) LEILOEIROS E SEUS PREPOSTOS
• Não podem adquirir, ainda que em hasta pública, os bens de cuja venda estejam
encarregados (art. 497, inc. IV);
5) DESCENDENTES NÃO PODEM ADQUIRIR BENS DO ASCENDENTE
• Sem consentimento expresso dos demais descendentes e do cônjuge do alienante (art.
496);
• A autorização do cônjuge é dispensada se o regime é da separação obrigatória/legal de
bens.

Todas essas hipóteses são de nulidade da compra e venda, exceto no caso da venda de ascendente para
descendente, sem consentimento dos demais descendentes e do cônjuge, que é hipótese de
anulabilidade.

Curiosamente, é lícita a compra e venda entre cônjuges e companheiros, com relação a bens excluídos da
comunhão, consoante o art. 499. Isso exige, logicamente, que o regime de bens adotado pelo casal
possibilite a existência de bens individuais, ou um cônjuge estaria vendendo um bem próprio para si mesmo,
desvirtuando completamente o sistema.

C. Regras peculiares

1. Venda por amostra

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Ocorre quando a venda se dá com base em amostra, protótipo ou modelo exibidos ao comprador. Nesses
casos, o vendedor assegura que a coisa alienada terá as qualidades que se veem nas amostras, protótipos
ou modelos. É o exemplo da venda de um produto no supermercado depois que um vendedor da empresa
lhe fornece um petisco “para experimentar que essa cláusula contratual tem natureza resolutiva.

2. Venda ad corpus e venda ad mensuram

Na venda ad mensuram as partes estão interessadas em uma determinada área (exemplo: fazendeiro tem
interesse em adquirir mil hectares para poder plantar). O objetivo do adquirente é comprar uma coisa com
determinada medida (mensuram) necessária para desenvolver uma finalidade, muito mais do que a coisa
em si.

Já na venda ad corpus as partes estão interessadas em comprar coisa certa e determinada


(corpus), independentemente da extensão. Por exemplo, quando uma pessoa tem interesse em adquirir a
Fazenda Rancho Fundo. Nesse caso, entende-se que a referência à medida do terreno é meramente
enunciativa, nos termos do art. 500, §3º.

Por vezes é difícil determinar se a venda foi feita ad mensuram ou ad corpus, mas essa distinção se faz
necessária em razão das regras peculiares a cada uma. O indício para a solução está no próprio caput do art.
500: “Se, na venda de um imóvel, se estipular o preço por medida de extensão, ou se determinar a
respectiva área”, a compra é ad mensuram. Em outras palavras, quando eu compro uma fazenda
estipulando que pagarei R$15.000 por hectare, a compra é ad mensuram; quando eu compro uma fazenda
estipulando que estou comprado 5.000ha, a compra é ad mensuram.

No caso de venda ad mensuram, o comprador tem o direito de exigir que a coisa vendida tenha as medidas
acertadas e, não o tendo, pode pedir a complementação da área (actio ex empto, cabível exclusivamente
na venda ad mensuram). Caso isso não seja possível, pode ele pedir o abatimento proporcional do preço
(actio quanti minoris) ou resolver o contrato de compra e venda, repetindo o valor pago (ação redibitória),
na dicção do art. 500. Ao que parece, a resolução é medida que se impõe apenas em último caso.

Em que pese se tratar de venda ad mensuram, segundo o §1º, a referência às dimensões foi simplesmente
enunciativa, quando a diferença encontrada não exceder de um vigésimo da área total enunciada (5%).

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Nesses casos, compreende-se que há tolerância do comprador em relação à área reduzida. Trata-se de
presunção juris tantum (relativa), evidentemente.

Ao contrário, se não faltar, mas exceder, o comprador completa o valor ou devolve o excesso (na regra do
§2º), caso tivesse o vendedor motivos para ignorar a medida exata da área vendida. É o caso, por exemplo,
de uma agrimensura feita equivocadamente.

Já no caso de venda ad corpus, o comprador não teria esse direito, caso verifique que as medidas do imóvel
adquirido não correspondem exatamente às medidas constantes do contrato (§3º). Decai do direito de
propor as ações previstas nesse artigo o vendedor ou o comprador que não o fizer n4o prazo de um ano,
a contar do registro do título, a teor do art. 501.

VENDA • Medidas enunciativas;


• Coisa certa e discriminada;
AD CORPUS
• Solução: não se complementa a área faltante nem se devolve a em excesso.

VENDA • Preço por medida, determinação da área;


• Solução: complemento, resolução ou abatimento proporcional; excesso:
AD MENSURAM complementa ou devolve o excesso.

3. Venda conjunta

Segundo previsão do art. 503, nas coisas vendidas conjuntamente, o defeito oculto de uma não autoriza a
rejeição de todas, seja o conjunto uma universalidade de direito, seja uma universalidade de fato. Isso
ocorre, por exemplo, na compra de milhares de pares de calçados por um revendedor, ou na alienação de
centenas de vacas por um produtor rural a outro.

4. Coisa indivisa

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Por fim, o Código ainda estabelece um caso de direito de preferência na compra e venda de coisa indivisa,
em copropriedade/condomínio. Primeiro, ao se alienar um bem, oferece-se-o aos condôminos e depois a
terceiros, segundo a regra do art. 504. Se não for ofertada a preferência ao condômino, poderá ele,
depositando o preço, haver para si a parte vendida a estranhos, se o requerer no prazo decadencial de 180
dias.

E se mais de um condômino quiser a coisa comum? O parágrafo único estabelece que terá preferência
aquele que tiver benfeitoria de maior valor; se todas as benfeitorias forem de igual valor, a quem tem o
quinhão maior, de acordo com o parágrafo único.

D. Cláusulas especiais

1. Retrovenda

Também chamado de direito de recobro, direito de retrato ou direito de resgate. O vendedor tem direito
de exigir que o comprador lhe revenda o imóvel:

Art. 505. O vendedor de coisa imóvel pode reservar-se o direito de recobrá-la no prazo
máximo de decadência de três anos, restituindo o preço recebido e reembolsando as
despesas do comprador, inclusive as que, durante o período de resgate, se efetuarem com
a sua autorização escrita, ou para a realização de benfeitorias necessárias.

Na retrovenda, portanto, pode o vendedor exercer a recompra ainda que o comprador não lhe queira
revender, dentro do prazo máximo de 3 anos (cláusula resolutiva). Na recompra, o vendedor paga ao
comprador o preço pelo qual lhe vendera, independentemente da valorização imobiliária havida,
reembolsando as despesas realizadas e as benfeitorias necessárias. Ressalte-se que, em se tratando de
imóveis, o valor dessas despesas pode ter monta relevante, se somadas as despesas com tributos (ITBI) e os
custos registrais.

Para ter efeito erga omnes, o direito de retrovenda deve ser registrado no Registro de Imóveis, juntamente
com a escritura pública de compra e venda. Ou seja, a cláusula de retrovenda só se aplica a bens imóveis.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

O prazo para exercer tal direito é decadencial de três anos, no máximo, mas podem as partes estabelecer
prazo menor, segundo fixa o referido artigo. Se o prazo pactuado for superior, ignora-se o excesso,
simplesmente.

Esse direito, que é cessível e transmissível a herdeiros e legatários, poderá ser exercido contra o terceiro
adquirente, consoante regra do art. 507. Assim, por exemplo, se eu vendo um imóvel a João, com cláusula
de retrovenda, e ele vende a casa a Pedro, eu posso exigir o imóvel de volta de Pedro, desde que pague o
que se estabelece no art. 505.

Se o comprador ou o terceiro se recusarem a receber as quantias, o vendedor, para exercer o direito de


resgate, as depositará judicialmente, na dicção do art. 506. E o que significa isso? Significa que cabível a
chamada ação de resgate, que é muito semelhante à ação de consignação em pagamento, mas com eficácia
real.

Por fim, se a duas ou mais pessoas couber o direito de retrato sobre o mesmo imóvel, e só uma o exercer,
poderá o comprador intimar as outras para nele acordarem, prevalecendo o pacto em favor de quem haja
efetuado o depósito, contanto que seja integral. Essa é a regra trazida pelo art. 508.

(XVII Exame da OAB) Flávia vendeu para Quitéria seu apartamento e incluiu, no contrato de compra e
venda, cláusula pela qual se reservava o direito de recomprá-lo no prazo máximo de 2 (dois) anos. Antes
de expirado o referido prazo, Flávia pretendeu exercer seu direito, mas Quitéria se recusou a receber o
preço. Sobre o fato narrado, assinale a afirmativa correta.
A) A cláusula pela qual Flávia se reservava o direito de recomprar o imóvel é ilícita e abusiva, uma vez que
Quitéria, ao se tornar proprietária do bem, passa a ter total e irrestrito poder de disposição sobre ele.
B) A cláusula pela qual Flávia se reservava o direito de recomprar o imóvel é válida, mas se torna ineficaz
diante da justa recusa de Quitéria em receber o preço devido.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

C) A disposição incluída no contrato é uma cláusula de preferência, a impor ao comprador a obrigação de


oferecer ao vendedor a coisa, mas somente quando decidir vendê-la.
D) A disposição incluída no contrato é uma cláusula de retrovenda, entendida como o ajuste por meio do
qual o vendedor se reserva o direito de resolver o contrato de compra e venda mediante pagamento do
preço recebido e das despesas, recuperando a coisa imóvel.
Comentários
A alternativa A está incorreta, pois a retrovenda é permitida como cláusula especial da compra e venda, por
força do art. 505: “O vendedor de coisa imóvel pode reservar-se o direito de recobrá-la no prazo máximo de
decadência de três anos”.
A alternativa B está incorreta, já que o comprador não pode se recusar a re-vender o bem ao vendedor, na
dicção do art. 506: “Se o comprador se recusar a receber as quantias a que faz jus, o vendedor, para exercer
o direito de resgate, as depositará judicialmente.”
A alternativa C está incorreta, dado que preferência/preempção e retrovenda não se confundem. Vide a
disposição do CC/2002 sobre a preempção, que veremos adiante: “Art. 513. A preempção, ou preferência,
impõe ao comprador a obrigação de oferecer ao vendedor a coisa que aquele vai vender, ou dar em
pagamento, para que este use de seu direito de prelação na compra, tanto por tanto.”
A alternativa D está correta, segundo expressa previsão legal: “Art. 505. O vendedor de coisa imóvel pode
reservar-se o direito de recobrá-la no prazo máximo de decadência de três anos, restituindo o preço recebido
e reembolsando as despesas do comprador, inclusive as que, durante o período de resgate, se efetuaram
com a sua autorização escrita, ou para a realização de benfeitorias necessárias.”
Gabarito: C

2. Venda a contento e Venda sujeita a prova

A venda a contento ocorre nas situações em que o adquirente verificará se a coisa lhe traz o
“contentamento” esperado, na dicção do art. 509. Ver-se-á, por exemplo, na chamada “consignação”, em
que o vendedor de uma roupa a deixa em poder do adquirente para que este a prove e, posteriormente,
manifeste se a quer adquirir.

Nesse caso, embora haja a tradição do bem móvel, o domínio do bem não é transferido. Somente com a
concordância do comprador, o domínio é transferido (a concordância é, portanto, uma condição
suspensiva).

Já na venda sujeita a prova, o vendedor dá prazo para que o comprador verifique se a coisa tem as
qualidades anunciadas e seja idônea para o fim a que se destina, segundo o art. 510. Nesse sentido, a
tradição e a concordância seguem as mesmas regras da venda sujeita a prova.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Em ambos os casos, a consequência é que o domínio não é transferido


automaticamente pela tradição da coisa móvel ao comprador. Por isso, o comprador se equiparará ao
comodatário, apenas, consoante regra do art. 511.

E quando haverá a consolidação da propriedade nas mãos do adquirente, já que a tradição, aí, não transferiu
a propriedade? Se houver prazo, nesse prazo; se não houver prazo, pela interpelação judicial ou extrajudicial
para que o adquirente o faça em prazo improrrogável (se não se manifestar nesse prazo, presume-se que o
aceitou), nos termos do art. 512.

C. Preempção

Também chamada de prelação, a preferência convencional ocorre quando o comprador queira vender o
bem adquirido a terceiros. Havendo tal cláusula, ele estará obrigado a oferecer o bem ao vendedor, que
se pagar o mesmo valor oferecido pelo terceiro, nas mesmas condições, terá preferência sobre ele, nos
termos do art. 513. Não exercendo o direito, entende-se que há renúncia tácita.

Veja que não se confunde a preempção (preferência convencional, vista agora) com a prelação de coisa
indivisa (preferência legal, vista anteriormente). Quais são os requisitos dessa cláusula? Veja:

A) O COMPRADOR TEM QUE QUERER VENDER O BEM ADQUIRIDO


B) O VENDEDOR TEM QUE QUERER RECOMPRAR O BEM
• Estando disposto a pagar ao comprador o preço que ele tiver conseguido com terceiros, em
condições iguais.
C) O VENDEDOR TEM QUE EXERCER O DIREITO NO PRAZO
• Limite: não pode ser superior a 180 dias se bem móvel ou 2 anos, se imóvel; se não estipulado,
caducará em 3 dias, se bem móvel, e 60 dias, se imóvel.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Diferentemente da retrovenda, a preferência vale tanto para bens móveis quanto


imóveis. E, ao contrário daquela, também, segundo o art. 520, o direito de preferência não se pode ceder
nem passa aos herdeiros.

E se forem múltiplos os vendedores e se estipula preferência a mais de um deles? Quando o direito de


preempção for estipulado a favor de dois ou mais indivíduos em comum, só pode ser exercido em relação à
coisa no seu todo (direito indivisível). Se alguma das pessoas, a quem ele toque, perder ou não exercer o seu
direito, poderão as demais utilizá-lo, por força do art. 517.

(IX Exame da OAB) Marcelo firmou com Augusto contrato de compra e venda de imóvel, tendo sido
instituindo no contrato o pacto de preempção. Acerca do instituto da preempção, assinale a afirmativa
correta.
A) Trata-se de pacto adjeto ao contrato de compra e venda em que Marcelo se reserva ao direito de recobrar
o imóvel vendido a Augusto no prazo máximo de 3 anos, restituindo o preço recebido e reembolsando as
despesas do comprador.
B) Trata-se de pacto adjeto ao contrato de compra e venda em que Marcelo impõe a Augusto a obrigação
de oferecer a coisa quando vender, ou dar em pagamento, para que use de seu direito de prelação na
compra, tanto por tanto.
C) Trata-se de pacto adjeto ao contrato de compra e venda em que Marcelo reserva para si a propriedade
do imóvel até o momento em que Augusto realize o pagamento integral do preço.
D) Trata-se de pacto adjeto ao contrato de compra e venda em que Marcelo, enquanto constituir faculdade
de exercício, poderá ceder ou transferir por ato inter vivos.
Comentários
A alternativa A está incorreta, pois essa situação retrata não a preempção, mas a retrovenda, prevista no
art. 505: “O vendedor de coisa imóvel pode reservar-se o direito de recobrá-la no prazo máximo de
decadência de três anos, restituindo o preço recebido e reembolsando as despesas do comprador”.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

A alternativa B está correta, segundo a dicção literal do art. 513: “A preempção, ou preferência, impõe ao
comprador a obrigação de oferecer ao vendedor a coisa que aquele vai vender, ou dar em pagamento, para
que este use de seu direito de prelação na compra, tanto por tanto.”
A alternativa C está incorreta, dado que isso é venda com reserva de domínio, prevista no art. 521: “Na venda
de coisa móvel, pode o vendedor reservar para si a propriedade, até que o preço esteja integralmente pago.”
A alternativa D está incorreta, pois a preempção, segundo o art. 520 “não se pode ceder nem passa aos
herdeiros.”
Gabarito: B

• Noção: recobrar a coisa vendida;


• Prazo: máximo de 3 anos;
RETROVENDA • Objeto: só para bens imóveis;
• Comprador: se submete, mesmo que não queira vender;
• Pagamento: o que recebeu, mais despesas.

• Noção: preferência quando o outro vender;


• Prazo: máximo de 180 dias (móveis) e 2 anos (imóveis);
PREFERÊNCIA • Objeto: bens móveis e imóveis;
• Comprador: só se submete se for vender;
• Pagamento: o valor que terceiro pagaria.

4. Venda com reserva de domínio

Nessa modalidade de venda, o domínio permanece com o vendedor até que a última
prestação seja paga pelo comprador. Ela é uma venda condicional aperfeiçoada com o pagamento (evento
futuro e incerto), a teor do art. 521. Trata-se de resolubilidade da propriedade, portanto.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

A venda com reserva de domínio restringe-se aos bens móveis e exige forma escrita. Se não há previsão
expressa da reserva de domínio, aplica-se a regra geral de que a propriedade do bem móvel transfere-se
com a tradição do bem.

Para que seja oponível a terceiros, o contrato deve ser registrado no Registro de Títulos e Documentos, na
exata leitura do art. 522. Há eficácia especial erga omnes, cuja ausência importa eficácia meramente relativa,
inter partes, mas não invalida a cláusula.

Para executar a cláusula de reserva de domínio o vendedor deverá constituir o comprador em mora,
mediante protesto do título ou interpelação judicial, aplicando-se o art. 525. O STJ também permite a
interpelação extrajudicial (REsp 1.629.000/MG).

Se o comprador está em mora, o vendedor tem duas opções: promover ação de cobrança das prestações
vencidas e vincendas e o que mais lhe for devido, ou reaver a posse da coisa vendida, de acordo com o art.
526. Pode o vendedor reter as prestações pagas até o necessário para cobrir a depreciação da coisa, as
despesas feitas e o mais que de direito lhe for devido. Nesse caso, o excedente será devolvido ao comprador;
e o que faltar lhe será cobrado, segundo o art. 527.

5. Venda sobre documentos

Por fim, uma última cláusula especial à compra e venda é a venda sobre documentos, chamada também de
crédito documentário ou ainda trust receipt. Nesse caso, não há tradição da coisa propriamente dita, que
é substituída pela entrega do seu título representativo, segundo estabelece o art. 529.Achando-se a
documentação em ordem, não pode o comprador recusar o pagamento, a pretexto de defeito de qualidade
ou do estado da coisa vendida, salvo se o defeito já houver sido comprovado.

Por isso, em regra, o pagamento deve ser efetuado na data e no lugar da entrega dos documentos, na dicção
do art. 530. Se entre os documentos entregues ao comprador figurar apólice de seguro que cubra os riscos
do transporte, correm estes à conta do comprador, salvo se, ao ser concluído o contrato, tivesse o vendedor
ciência de perda ou avaria da coisa.

E. Compromisso de compra e venda

O compromisso de compra e venda (ou promessa de compra e venda, ou contrato preliminar de compra e
venda, ou ainda contrato de gaveta), apesar de um pouco deslocado aqui, é bastante relevante já nos
contratos, dado que tratamos da compra e venda e, inequivocamente, é aqui o local onde ele desaguará.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

No compromisso de compra e venda, o promitente-comprador e o promitente-vendedor obrigam-se a, no


futuro, realizar um contrato definitivo de compra e venda. Mas por que não fazer tão logo a compra e venda?
Por variadas razões, mas, principalmente, pela garantia, ao credor, quando do pagamento parcelado (já que
não haverá completa transferência da propriedade), e pelas menores formalidades e custos registrais, ao
devedor.

Normalmente, com o compromisso de compra e venda já se transfere a posse ao promitente comprador,


e com ela, inúmeras obrigações decorrentes da posição de dominus (como pagar as despesas condominiais,
os tributos etc.).

A jurisprudência passou a reconhecer a eficácia social translativa de propriedade ao compromisso de compra


e venda. Por isso, a Súmula 84 do STJ diz que o promissário comprador pode, por intermédio de embargos
de terceiro, defender sua posse a partir do compromisso de compra e venda.

O compromisso será adimplido completamente com a compra e venda definitiva, através da escritura
definitiva de compra e venda. Uma vez pago o preço todo, podem os promitentes exigir do outro a outorga
da escritura “definitiva”, segundo o art. 15 do Decreto-Lei 58/1937.

O compromisso de compra e venda gera outro efeito. Se uma vez pago todo o
peço, o promitente-vendedor recusa-se a celebrar o contrato definitivo, pode o promitente devedor não
apenas pretender obter o suprimento da vontade, mas também manejar ação de adjudicação
compulsória, pelo qual a sentença de adjudicação é levada ao Registro de Imóveis, como título de
transferência de propriedade. Tal é a previsão do art. 16, caput, e §2º, do Decreto-Lei 58/1937 e do art.
1.418 do CC/2002, que exige que o compromisso seja irretratável.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Esse direito é, inclusive, transmissível aos herdeiros, seja pelo promitente-comprador, seja pelo promitente-
vendedor, a teor do art. 29 da Lei 6.766/1979. O art. 1.418 expande esse direito ainda ao promitente-
comprador em face de terceiros a quem os direitos deste forem cedidos.

Veja-se, ulteriormente, que mesmo no caso de inadimplemento pelo promitente-comprador, ele terá direito
à indenização pelas benfeitorias necessárias ou úteis por ele levadas a efeito no imóvel, sendo de nenhum
efeito qualquer disposição contratual em contrário. Essa é a dicção do art. 34 da Lei 6.766/1979.

(II Exame da OAB) Por meio de uma promessa de compra e venda, celebrada por instrumento particular
registrada no cartório de Registro de Imóveis e na qual não se pactuou arrependimento, Juvenal foi residir
no imóvel objeto do contrato e, quando quitou o pagamento, deparou-se com a recusa do promitente-
vendedor em outorgar-lhe a escritura definitiva do imóvel. Diante do impasse, Juvenal poderá
(A) requerer ao juiz a adjudicação do imóvel, a despeito de a promessa de compra e venda ter sido celebrada
por instrumento particular.
(B) usucapir o imóvel, já que não faria jus à adjudicação compulsória na hipótese.
(C) desistir do negócio e pedir o dinheiro de volta.
(D) exigir a substituição do imóvel prometido à venda por outro, muito embora inexistisse previsão expressa
a esse respeito no contrato preliminar.
Comentários
A alternativa A está correta, pois fato de o contrato usar forma particular ou pública não gera distinção
alguma.
A alternativa B está incorreta, por contrariar o entendimento acima, já que ele tem direito à adjudicação
compulsória. Vide a previsão do art. 1.418: “O promitente comprador, titular de direito real, pode exigir do
promitente vendedor, ou de terceiros, a quem os direitos deste forem cedidos, a outorga da escritura
definitiva de compra e venda, conforme o disposto no instrumento preliminar; e, se houver recusa, requerer
ao juiz a adjudicação do imóvel”.
A alternativa C está incorreta, pois o contrato não previu a possibilidade de retratação, pelo que a retratação
significaria, na verdade, inadimplemento.
A alternativa D está incorreta, pois tal possibilidade, além de ser absolutamente incompatível com o
contrato, sequer tem previsão legal ou contratual.
Gabarito: A

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

4 - Doação

A. Disposições gerais

O contrato de doação é consensual (não se exige a tradição da coisa), comutativo, unilateral,


gratuito/benéfico (liberalidade, conforme estipula o art. 538), e solene, exigindo-se forma escrita, seja
particular, seja pública (art. 541). A gratuidade fica patente no art. 552, que afiança que o doador não é
obrigado a pagar juros moratórios, nem é sujeito às consequências da evicção ou do vício redibitório.

A exceção em relação à solenidade fica por conta dos casos de doação de bens móveis de pequeno valor,
nas quais se segue a tradição (a chamada doação manual). Aí, segundo o art. 541, parágrafo único,
desnecessária é a forma escrita. Ao contrário, exige-se escritura pública em caso de doação de bens imóveis
em valor superior a 30 vezes o maior salário mínimo vigente no país.

(XI Exame da OAB) A escritura pública, lavrada em notas de tabelião, é documento dotado de fé pública,
notadamente no que tange ao fato de o ato de declaração ter sido praticado na presença do tabelião e ter
sido feita sua regular anotação em assentos próprios, o que não importa na veracidade quanto ao
conteúdo declarado. A respeito desse tema, assinale a afirmativa correta.
D) A doação será realizada por meio de escritura pública ou instrumento particular, não tendo validade a
doação verbal, tendo em vista ser expressamente vedada pela norma.
A alternativa D está incorreta, pois a doação poderá ser verbal quando for de um bem móvel de pequena
doação na qual se segue imediatamente a entrega, segundo o art. 541, parágrafo único.

Por outro lado, a doação, ainda quando impura, não perde o caráter de liberalidade. São duas as espécies
de doação impura, segundo o art. 540:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

A) DOAÇÃO REMUNERATÓRIA
• Tem o objetivo de pagar um serviço prestado pelo donatário, mas que não podia ser exigido
pagamento pelo doador.
• Ocorre, por exemplo, no caso do prêmio pago a alguém que encontrou seu cachorro desaparecido.
B) DOAÇÃO COM ENCARGO
• O doador impõe ao donatário uma contraprestação que resulta em vantagem para o próprio doador,
para terceiro ou no interesse geral.
• Se o encargo for no interesse geral, o MP pode exigir sua execução após a morte do doador, se ele
não o tiver feito em vida.

A aceitação pelo donatário é elemento indispensável para a doação e precisa ser, em geral, expressa,
segundo se extrai do art. 539. A aceitação do donatário será tácita ou presumida nos casos previstos nos
arts. 539, 543 e 546:

1) DOADOR FIXA PRAZO AO DONATÁRIO, PARA DECLARAR SE ACEITA A LIBERALIDADE


• Desde que o donatário, ciente do prazo, não faça a declaração, entender-se-á que aceitou, se a
doação não for sujeita a encargo.

2) DOAÇÃO PURA, SE O DONATÁRIO FOR ABSOLUTAMENTE INCAPAZ, DISPENSA-SE


• Tome cuidado com as modificações do EPD, pois agora absolutamente incapaz é só o menor de 16
anos.
3) DOAÇÃO FEITA EM CONTEMPLAÇÃO DE CASAMENTO FUTURO COM CERTA E DETERMINADA PESSOA
(PROPTER NUPTIAS)
• Ou aos filhos que, de futuro, houverem, não pode ser impugnada por falta de aceitação, e só ficará
sem efeito se o casamento não se realizar.

Vale, igualmente, a doação feita ao nascituro, mas seu representante legal precisa aceitá-la, para que
valha (art. 542).

B. Restrições

Em geral, a doação é ampla e irrestrita. A lei, porém, em determinadas situações, veda que se doe, ou ao
menos restringe o alcance da doação. Quais são essas hipóteses?

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106
ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

A) DOAÇÃO DE TODOS OS BENS DO DOADOR (DOAÇÃO UNIVERSAL OU TOTAL)


• Segundo o art. 548, não se pode doar todo o patrimônio, sem reserva de parte ou de renda
suficiente para a subsistência (estatuto jurídico do patrimônio mínimo, na lição de Luiz Edson
Fachin).
• O objetivo é proteger o doador e a sociedade, evitando que aquele passe a ficar totalmente
desamparado e tenha que ser assistido pelo Estado.
B) DOAÇÃO DE PARTE QUE CABERIA À LEGÍTIMA (DOAÇÃO INOFICIOSA)
• Nos termos do art. 549, é nula a doação que é superior à parte disponível.
• A legítima é a parte da herança sobre a qual não pode o doador versar (art. 1.789). Essa restrição
visa a proteger o patrimônio dos herdeiros.
• No momento da doação deve ser aferido se o bem a ser doado é superior à metade dos bens do
doador. Se for, o prejudicado deve propor ação para reduzir o valor doado inoficiosamente, para que
ele volte à legítima.
• Se o doador não tiver herdeiros necessários, ele tem ampla liberdade de doar os bens, observando-
se apenas as demais restrições previstas;
• A exceção fica para o caso de a doação ser feita ao filho por nascer do descendente, o nascituro,
conforme permite o art. 542.
C) DOAÇÃO DO CÔNJUGE ADÚLTERO A SEU CÚMPLICE (DOAÇÃO ADÚLTERA)
• Prevista no art. 550, a restrição existe para proteger o cônjuge e os herdeiros necessários.
D) DOAÇÃO QUE PREJUDIQUE OS CREDORES DO DOADOR (DOAÇÃO FRAUDATÓRIA)
• Prevista no art. 158;
• Protege os credores quirografários contra fraudes;
• Podem anular a doação quando o doador estiver insolvente com eles ou ficar insolvente com os
credores por ter doado bens a terceiros.

(XXXI Exame da OAB) Antônio, divorciado, proprietário de três imóveis devidamente registrados no RGI,
de valores de mercado semelhantes, decidiu transferir onerosamente um de seus bens ao seu filho mais
velho, Bruno, que mostrou interesse na aquisição por valor próximo ao de mercado. No entanto, ao
consultar seus dois outros filhos (irmãos do pretendente comprador), um deles, Carlos, opôs-se à venda.
Diante disso, bastante chateado com a atitude de Carlos, seu filho que não concordou com a compra e
venda do imóvel, decidiu realizar uma doação a favor de Bruno. Em face do exposto, assinale a afirmativa
correta.
A) A compra e venda de ascendente para descendente só pode ser impedida pelos demais descendentes e
pelo cônjuge, se a oposição for unânime.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

B) Não há, na ordem civil, qualquer impedimento à realização de contrato de compra e venda de pai para
filho, motivo pelo qual a oposição feita por Carlos não poderia gerar a anulação do negócio.
C) Antônio não poderia, como reação à legítima oposição de Carlos, promover a doação do bem para um de
seus filhos (Bruno), sendo tal contrato nulo de pleno direito.
D) É legítima a doação de ascendentes para descendente, independentemente da anuência dos demais, eis
que o ato importa antecipação do que lhe cabe na herança.
Comentários
A alternativa A está incorreta, pois o consentimento dos descendentes e cônjuge deve ser unânime, não a
oposição, ou seja, não se realizará ainda que apenas um deles discorde, conforme o art. 496: “É anulável a
venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante
expressamente houverem consentido”.
A alternativa B está incorreta, já que, a venda de ascendente para descendente só poderá ser realizada, caso
os demais descendentes e o cônjuge concordem de forma unânime.
A alternativa C está incorreta, porque, não há nenhum impedimento a doação feita por Antônio, já que,
importa no adiamento da herança a ser recebido por Bruno no futuro.
A alternativa D está correta, eis que, Antônio poderá doar o imóvel ao seu filho, sendo a doação considerada
adiantamento da herança e independe da anuência dos demais herdeiros, conforme o art. 544: “A doação
de ascendentes a descendentes, ou de um cônjuge a outro, importa adiantamento do que lhes cabe por
herança”.
Gabarito: D
(XXI Exame da OAB) João e Maria casaram-se, no regime de comunhão parcial de bens, em 2004. Contudo,
em 2008, João conheceu Vânia e eles passaram a ter um relacionamento amoroso. Separando-se de fato
de Maria, João saiu da casa em que morava com Maria e foi viver com Vânia, apesar de continuar casado
com Maria. Em 2016, João, muito feliz em seu novo relacionamento, resolve dar de presente um carro 0
km da marca X para Vânia.
Considerando a narrativa apresentada, sobre o contrato de doação celebrado entre João, doador, e Vânia,
donatária, assinale a afirmativa correta.
A) É nulo, pois é hipótese de doação de cônjuge adúltero ao seu cúmplice.
B) Poderá ser anulado, desde que Maria pleiteie a anulação até dois anos depois da assinatura do contrato.
C) É plenamente válido, porém João deverá pagar perdas e danos à Maria.
D) É plenamente válido, pois João e Maria já estavam separados de fato no momento da doação.
Comentários
A alternativa A está incorreta, porque a previsão do art. 550 (“A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice
pode ser anulada pelo outro cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até dois anos depois de dissolvida
a sociedade conjugal”) só vale para as situações nas quais não há divórcio ou separação de fato à época da
doação.
A alternativa B está incorreta, novamente, porque o prazo estabelecido no art. 550, supracitado, não se
aplica para as situações nas quais já há divórcio ou separação de fato à época da doação.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

A alternativa C está incorreta e não encontra sequer uma explicação. Como é que João pode doar um bem
e depois ter de pagar perdas e danos?
A alternativa D está correta, portanto, pelas mesmas razões apontadas acima.
Gabarito: D

Assim, são nulas as doações de todos os bens do doador e as doações realizadas em


parte superior à da legítima, e, consequentemente, as ações declaratórias são imprescritíveis (art. 169).
Por sua vez, são anuláveis as doações feitas pelo cônjuge adúltero ao cúmplice, e, consequentemente, a
ação (des)constitutiva tem prazo decadencial de 2 anos (art. 179). Além disso, são anuláveis as doações
realizadas de maneira fraudatória em face dos credores, e, consequentemente, a ação (des)constitutiva
tem prazo decadencial de 4 anos (art. 178, inc. II).

Compra e venda: anulável, se os demais descendentes e o cônjuge não


TRANSFERÊNCIA DE
ASCENDENTE A
DESCENDENTE

manifestarem concordância.
Troca/permuta: anulável, se os valores forem desiguais; se forem iguais,
sem problemas.
Doação: adiantamento da herança; se avançar sobre a legítima (50% dos
bens do ascendente), é nula.

C. Resolução e revogação

A doação pode ser resolvida:

A) DOAÇÃO EM CONTEMPLAÇÃO AO CASAMENTO


• Se não casar, segundo o art. 546.
B) DOADOR SOBREVIVE AO DONATÁRIO
• O domínio do bem volta ao patrimônio do doador, consoante regra do art. 547.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

(VI Exame da OAB) Marcelo, brasileiro, solteiro, advogado, sem que tenha qualquer impedimento para
doar a casa de campo de sua livre propriedade, resolve fazê-lo, sem quaisquer ônus ou encargos, em
benefício de Marina, sua amiga, também absolutamente capaz. Todavia, no âmbito do contrato de
doação, Marcelo estipula cláusula de reversão por meio da qual o bem doado deverá se destinar ao
patrimônio de Rômulo, irmão de Marcelo, caso Rômulo sobreviva à donatária. A respeito dessa situação,
é correto afirmar que
(A) diante de expressa previsão legal, não prevalece a cláusula de reversão estipulada em favor de Rômulo.
(B) no caso, em razão de o contrato de doação, por ser gratuito, comportar interpretação extensiva, a
cláusula de reversão em favor de terceiro é válida.
(C) a cláusula em exame não é válida em razão da relação de parentesco entre o doador, Marcelo, e o terceiro
beneficiário, Rômulo.
(D) diante de expressa previsão legal, a cláusula de reversão pode ser estipulada em favor do próprio doador
ou de terceiro beneficiário por aquele designado, caso qualquer deles, nessa ordem, sobreviva ao donatário.
Comentários
A alternativa A está correta, pois o art. 547, parágrafo único expressamente proíbe a reversão da doação em
favor de terceiro.
A alternativa B está incorreta, porque o art. 114 estabelece que nos contratos benéficos, como é o caso da
doação, a interpretação é sempre estrita, nunca extensiva.
A alternativa C está incorreta, já que a irreversibilidade em favor de terceiro não tem nenhuma relação com
o parentesco, mas apenas com a proibição legal estatuída pelo art. 547, supramencionado.
A alternativa D está incorreta, novamente, pelas mesmas razões da alternativa A.
Gabarito: A

A doação pode ser revogada, não se permitindo, inclusive, que o doador renuncie antecipadamente ao
direito de revogar doações feitas (art. 556), nos seguintes casos:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

A) DESCUMPRIMENTO DO ENCARGO
• Se o donatário incorrer em mora, não cumprindo o encargo no prazo assinalado pelo doador, o
doador pode desfazer a doação (art. 555).
• Para isso, o doador deve conceder prazo razoável ao donatário para cumpri-lo (art. 562).
B) INGRATIDÃO DO DONATÁRIO
• O legislador visou a punir o donatário. Possibilidades (art. 557, incisos):
• a) se o donatário atentar contra a vida do doador ou cometer crime de homicídio doloso contra ele
(sendo que, nesse último caso, a ação de revogação será proposta pelos herdeiros do doador
assassinado);
• b) se o donatário praticar ofensa física contra o doador;
• c) se o beneficiado injuriou ou caluniou gravemente o doador;
• d) se o donatário, tendo condições financeiras, negar-se a prestar alimentos ao doador que deles
necessitar.

O art. 558 alarga a aplicação desse dispositivo a cônjuge, ascendente, descendente, ou irmão do doador.
Evidente que, por lógica sistemática, mais uma vez o dispositivo precisa ser relido para que se inclua o
companheiro nesse rol.

E qual é o prazo para a revogação? O prazo decadencial é de um ano, contado a partir do dia em que o
doador dele tenha tomado conhecimento, incluindo-se a autoria do ato pelo donatário, na dicção do art.
559.

Revogação

Descumprimento de encargo Ingratidão

Atentado à vida

Ofensa física

Calúnia e injúria

Não prestou alimentos

Há exceções à revogabilidade por ingratidão. Ou seja, mesmo que caracterizada a ingratidão, a doação se
manterá incólume (art. 564, incisos):

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

A) DOAÇÕES PURAMENTE REMUNERATÓRIAS


• Aquelas em que o doador transferiu o bem em reconhecimento a serviços prestados pelo donatário,
salvo na parte que excede a remuneração.
B) DOAÇÕES ONERADAS COM ENCARGO JÁ CUMPRIDO

C) DOAÇÕES QUE SE FIZEREM EM CUMPRIMENTO DE OBRIGAÇÃO NATURAL


D) DOAÇÕES FEITAS PARA DETERMINADO CASAMENTO (PROPTER NUPTIAS)

Como regra, o único legitimado a revogar a doação por ingratidão é o próprio doador, ou seja, é direito
intransmissível, segundo o art. 560. Porém, os herdeiros podem continuar na ação já promovida pelo doador
falecido, mesmo contra os herdeiros do donatário também já falecido, segundo o referido artigo.

A exceção à regra geral ocorre no caso de morte do doador, cuja ação poderá ser promovida
diretamente pelos herdeiros, salvo se o doador tiver perdoado o donatário, por força do art. 561. Evidente
esse dispositivo, já que seria absurdo exigir que o morto ressuscitasse por breve momento para promover a
demanda.

(III Exame da OAB) Sônia, maior e capaz, decide doar, por instrumento particular, certa quantia em
dinheiro em favor se seu sobrinho, Fernando, maior e capaz, caso ele venha a se casar com Leila. Sônia faz
constar, ainda, cláusula de irrevogabilidade da doação por eventual ingratidão de seu sobrinho. Fernando,
por sua vez, aceita formalmente a doação e, poucos meses depois, casa-se com Leila, conforme estipulado.
No dia seguinte ao casamento, ao procurar sua tia para receber a quantia estabelecida, Fernando deflagra
uma discussão com Sônia e lhe dirige grave ofensa física. A respeito da situação narrada, é correto afirmar
que Fernando
(A) não deve receber a quantia em dinheiro, tendo em vista que a doação é nula, pois deveria ter sido
realizada por escritura pública.
(B) deve receber a quantia em dinheiro, em razão de o instrumento de doação prever cláusula de
irrevogabilidade por eventual ingratidão.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

(C) não deve receber a quantia em dinheiro, pois dirigiu grave ofensa física à sua tia Sônia.
(D) deve receber a quantia em dinheiro, em razão de ter se casado com Leila e independentemente de ter
dirigido grave ofensa física a Sônia.
Comentários
A alternativa A está incorreta, já que a solenidade do contrato de doação é, segundo o art. 541, a adoção
forçosa da forma escrita, não se exigindo escritura pública. Aqui entra um cuidado que você tem que ter
sempre: não confundir solenidade com necessidade de escritura pública!Solenidade é exigir alguma forma
especial (pode ser escrita, pode ser forma pública).
A alternativa B está incorreta. Na realidade, a primeira parte está correta, mas o fundamento está incorreto,
pois o recebimento dos valores, por Fernando, não será devido em razão da cláusula de irrevogabilidade.
A alternativa C está incorreta, já que apesar da ofensa física ser situação prevista no art. 557, inc. II, que
permite revogação por ingratidão, o caso em comento tem uma peculiaridade.
A alternativa D está correta, pois, apesar de o art. 557, inc. II prever a possibilidade de revogação da doação
por ingratidão decorrente de ofensa física e apesar de o contrato estipular a irrevogabilidade por ingratidão,
o real fundamento da impossibilidade de revogação está no art. 564, inc. IV, que prevê que a doação não
pode ser revogada nos casos de Doações feitas para determinado casamento.
Gabarito: D
(XXXII Exame da OAB) Leandro decide realizar uma doação com a finalidade exclusiva de remunerar
serviços prestados voluntária e espontaneamente por Carmen em sua ONG (Organização Não
Governamental). Oferece, então, um pequeno imóvel residencial, avaliado em R$ 100.000,00 (cem mil
reais), por instrumento particular, oportunidade na qual o doador fez questão de estipular uma obrigação:
Carmen teria que realizar benfeitorias específicas na casa, tais como a troca dos canos enferrujados, da
fiação deteriorada, bem como a finalização do acabamento das paredes, com a devida pintura final. A
donatária aceita os termos da doação e assina o documento particular, imitindo-se na posse do bem e
dando início às obras. Alguns dias depois, orientada por um vizinho, reúne-se com o doador e decide
formalizar a doação pela via de escritura pública, no ofício competente, constando também cláusula de
renúncia antecipada do doador a pleitear a revogação da doação por ingratidão. Dois anos depois, após
sérios desentendimentos e ofensas públicas desferidas por Carmen, esta é condenada, em processo cível,
a indenizar Leandro ante a prática de ato ilícito, qualificado como injúria grave. Leandro, então, propõe
uma ação de revogação da doação. Diante desse fato, assinale a afirmativa correta
A) Mesmo diante da prática de injúria grave por parte de Carmen, Leandro não pode pretender revogar a
doação, porque houve renúncia expressa no contrato.
B) A doação para Carmen se qualifica como condicional, eis que depende do cumprimento da obrigação de
realizar as obras para a sua confirmação.
C) A doação para Carmen não pode ser revogada por ingratidão, porque o ato de liberalidade do doador teve
motivação puramente remuneratória.
D) O ordenamento admite que a doação para Carmen fosse realizada por instrumento particular, razão pela
qual a realização da escritura pública foi um ato desnecessário.
Comentários

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

A alternativa A está incorreta. A renúncia, de fato, não poderia ser prévia, conforme previsão do art. 556
("Não se pode renunciar antecipadamente o direito de revogar a liberalidade por ingratidão do donatário").
Mas, ainda assim, não é essa a causa que impede a revogação.
A alternativa B está incorreta. Conforme se depreende do enunciado, a doação é com encargo. Ela já produz
os efeitos no ato da doação, não dependendo de algum cumprimento para sua confirmação.
A alternativa C está correta. Detalhe: o enunciado trata que a doação teve finalidade remuneratória, por
isso, aplica-se os artigos 556 c/c 564, inc. I, do CC/2002: Art. 556. Não se pode renunciar antecipadamente o
direito de revogar a liberalidade por ingratidão do donatário. Art. 564. Não se revogam por ingratidão: as
doações puramente remuneratórias".
A alternativa D está incorreta, por ser doação de imóvel, é necessário que se faça por escritura pública, ante
o valor do imóvel e a transferência de sua propriedade por meio da doação.
Gabarito: C

Por fim, em relação aos efeitos contra terceiros, em regra, eles não serão prejudicados pela revogação ou
pela resolução (como, por exemplo, caso o bem seja alienado pelo donatário), sendo o donatário
condenado a indenizar o doador, pelos danos, na leitura do art. 563.Inclusive, até citação válida, o donatário
não é obrigado a restituir os frutos percebidos; depois, sujeita-se a pagar os posteriores.

(XXX Exame da OAB) Lucas, um grande industrial do ramo de couro, decidiu ajudar Pablo, seu amigo de
infância, na abertura do seu primeiro negócio: uma pequena fábrica de sapatos. Lucas doou 50 prensas
para a fábrica, mas Pablo achou pouco e passou a constantemente importunar o amigo com novas
solicitações. Após sucessivos e infrutíferos pedidos de empréstimos de toda ordem, a relação entre os dois
se desgasta a tal ponto que Pablo, totalmente fora de controle, atenta contra a vida de Lucas. Este, porém,
sobrevive ao atentado e decide revogar a doação feita a Pablo. Ocorre que Pablo havia constituído penhor
sobre as prensas, doadas por Lucas, para obter um empréstimo junto ao Banco XPTO, mas, para não
interromper a produção, manteve as prensas em sua fábrica. Diante do exposto, assinale a afirmativa
correta.
A) Para a constituição válida do penhor, é necessário que as coisas empenhadas estejam em poder do credor.
Como isso não ocorreu, o penhor realizado por Pablo é nulo.
B) Tendo em vista que o Banco XPTO figura como terceiro de má-fé, a realização do penhor é causa
impeditiva da revogação da doação feita por Lucas.
C) Como causa superveniente da resolução da propriedade de Pablo, a revogação da doação operada por
Lucas não interfere no direito de garantia dado ao Banco XPTO.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

D) Em razão da tentativa de homicídio, a revogação da doação é automática, razão pela qual os direitos
adquiridos pelo Banco XPTO resolvem-se junto com a propriedade de Pablo.
Comentários
A alternativa A está incorreta, eis que, o bem fica com o devedor, diante do que dispõe o art. 1.450: “Tem o
credor direito a verificar o estado das coisas empenhadas, inspecionando-as onde se acharem, por si ou por
pessoa que credenciar”.
A alternativa B está incorreta, uma vez que, não existe má-fé do banco, não sendo uma causa impeditiva de
revogação da doação.
A alternativa C está correta, pois, a revogação da doação não afeta a garantia, de acordo com o art. 563: “A
revogação por ingratidão não prejudica os direitos adquiridos por terceiros, nem obriga o donatário a
restituir os frutos percebidos antes da citação válida; mas sujeita-o a pagar os posteriores, e, quando não
possa restituir em espécie as coisas doadas, a indenizá-la pelo meio termo do seu valor”.
A alternativa D está incorreta, porque a revogação da doação não é automática e pode caducar, conforme o
art. 559: “A revogação por qualquer desses motivos deverá ser pleiteada dentro de um ano, a contar de
quando chegue ao conhecimento do doador o fato que a autorizar, e de ter sido o donatário o seu autor”.
Gabarito: C

3. DIREITO PROCESSUAL CIVIL


Nosso estudo se concentrará nos seguintes temas:

- Procedimento Comum – Parte I (até audiência de conciliação e mediação);

Os referidos temas são de incidência altíssima no Exame de Ordem, ocupando o ranking de temas mais
cobrados na matéria, razão pela qual trouxe para compor nosso estudo na aula de hoje!

Outro ponto importante a se destacar, é que das últimas vezes em que cobrado, a banca utilizou abordagem
legalista, explorando os dispositivos legais pertinentes, razão pela qual no nosso estudo contaremos com:

>Pílulas Estratégicas de Doutrina;

>Questões comentadas ao longo do PDF;

Vamos começar?

3.1 Pílulas Estratégicas de Doutrina

Profa. Isabella Pires: ressalto para vocês que as considerações a seguir foram extraídas da
Aula 03 do Curso Regular de Processual Civil ministrado pelo Professor Ricardo Torques.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Procedimento Comum

1 - Introdução

No NCPC, o art. 318 prevê dois tipos de procedimentos: o comum e os especiais. O procedimento comum é
a regra geral do sistema. Desse modo, não existe mais procedimento sumário e ordinário no NCPC, apenas
o procedimento comum e os procedimentos específicos.

Entre os procedimentos especiais podemos citar a consignação em pagamento (arts. 539 a 549), a ação de
exigir contas (arts. 550 a 553), a ação possessória (arts. 554 a 559), entre outros.

O procedimento comum desenvolve-se em cinco fases:

a) postulatória – propositura da ação;

b) organizatória – eventuais diálogos com as partes a fim de emendar ou de complementar a inicial,


indeferi-la, julgar liminarmente o pedido, citação do réu, conciliação e mediação, defesa e
reconvenção.

c) instrutória – produção de provas;

d) decisória - sentença; e

e) executória – satisfação do direito.

2 - Petição Inicial

2.1 - Conceito

A petição inicial é instrumento da demanda. Por intermédio da petição inicial podemos formalizar uma
demanda, ou seja, é a petição inicial que concretiza documentalmente a demanda proposta.

2.2 - Efeitos

A petição inicial pode ser pensada a partir de quatro momentos:

1º – petição inicial elaborada e assinada.

2º - petição inicial protocolizada no fórum.

3º - petição inicial registrada ou distribuição do processo.

4º - petição inicial despachada, pela primeira vez, pelo juiz.

O primeiro momento não produz efeito jurídico algum. Contudo, a partir do segundo momento, temos a
produção de efeitos.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Com a protocolização da petição inicial temos a propositura da ação, conforme explicita o art. 312, do NCPC.
Assim, para o autor, com o protocolo passa a existir a ação. A data do protocolo será relevante para fins de
fixação de interrupção da prescrição, conforme será analisado adiante.

Com o registro ou distribuição decorrem dois efeitos relevantes:

1º EFEITO: perpetuatio jurisdicionis

A perpetuação da jurisdição implica a impossibilidade de modificação do foro da ação. Por exemplo,


a mudança de domicílio das partes ou do estado de fato ou de direito das coisas, não conduz à
alteração do estado de fato ou de direito da coisa. Além disso, a perpetuação da jurisdição não
implica na modificação da competência à luz do NCPC.

2º EFEITO: prevenção

No CPC73, havia o entendimento no sentido de que, com a determinação para a citação, entre os
juízes da mesma comarca, o magistrado estaria prevento para as ações conexas e continentes. Agora,
quando estivermos diante de uma situação de comarcas ou seções judiciárias distintas, considera-se
a prevenção com o registro da ação.

Com o NCPC, a prevenção se dá com o registro ou a distribuição da ação. O juiz para o qual foi distribuída
a primeira ação estará prevento para as demais ações conexas, continentes ou derivadas.

Por fim, quando houver o despacho positivo da inicial (“cite-se”), há interrupção precária da prescrição. Se
a citação for efetivada, haverá a interrupção da prescrição desde o momento em que o magistrado
determinar a citação, retroagindo à data da propositura, que ocorre com o protocolo da petição inicial.

2.3 - Requisitos

Os requisitos da petição estão arrolados no art. 319, do NCPC.

A partir desse dispositivo, vamos analisar os requisitos da petição inicial:

1º REQUISITO (NÃO EXPRESSO): a petição inicial é escrita (escritura).

2º REQUISITO (INC. I): indicação do juízo (conforme as regras de competência).

3º REQUISITO (INC. II): qualificação das partes.

A indicação da parte e qualificação abrange:

a) nomes, prenomes e estado civil/união estável

b) profissão

c) inscrição do CPF/CNPJ

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

d) endereço eletrônico, domicílio e residência do autor e do réu.

Desses requisitos, dois são importantes: a indicação do CPF/CNPJ e o endereço eletrônico do réu. O endereço
eletrônico é relevante, pois o art. 246, §1º, e art. 269 e seguintes do NCPC, estabelecem que – com exceção
de microempresa e empresa de pequeno porte – as citações e intimações ocorrem de forma eletrônica (e-
mail).

Inclusive, o art. 1.050 e 1.051, do NCPC, estabelecem, na parte relativa às disposições finais e transitórias,
que a Defensoria Pública, o Ministério Público, a Advocacia Pública, as empresas limitadas e as sociedades
anônimas devem, no prazo de 30 dias, cadastrar os respectivos endereços eletrônicos para o recebimento
de citações e de intimações.

Se a parte não dispor dessas informações, o juiz deverá auxiliar a parte e se mesmo assim não forem obtidas
as informações, o processo poderá prosseguir sem elas, desde que seja possível localizar o réu.

4º REQUISITO (INC. III): causa de pedir.

Prevê o NCPC que a parte deve indicar os fatos e os fundamentos jurídicos do pedido, de acordo com a teoria
da substanciação, em contraposição à teoria da individuação.

De acordo com a doutrina1:

Adotou o nosso CPC a chamada teoria da substanciação da causa de pedir, que impõe ao demandante o ônus de indicar,
na petição inicial, qual o fato jurídico e qual a relação jurídica dele decorrente que dão suporte ao seu pedido. Não basta a
indicação da relação jurídica, efeito do fato jurídico, sem que indique qual o fato jurídico que lhe deu causa – que é o que
prega a teoria da individuação.

Assim:

a parte apenas narrará os


por exemplo, dado o
TEORIA DA fundamentos jurídicos,
inadimplemento, peço a
INDIVIDUAÇÃO sendo irrelevantes os fatos
condenação.
apresentados
por exemplo, devido a
a parte deve narrar a contrato de empréstimo
TEORIA DA causa de pedir, que não quitado no prazo,
SUBSTANCIAÇÃO engloba os fatos e a requeiro a condenação
tese jurídica. porque o réu está
inadimplente

Uma discussão relevante é a necessidade de intimação prévia das partes antes de o juiz aplicar o iuri novit
curia. Parte da doutrina sustenta que, com fundamento no art. 10, do NCPC, antes de aplicar o direito, o
magistrado deverá intimar as partes. Contudo, outra parte da doutrina entende que não é necessária a

1
JR. DIDIER, Fredie. Curso de Direito Processual Civil, volume 1, 18ª edição, rev., atual. e ampl., Bahia: Editora JusPodvim, 2016,
p. 560.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

intimação prévia das partes para que o magistrado julgue, podendo adequar o fundamento legal. Apenas se
o fato narrado estivesse incorreto é que seria necessário ouvir a parte contrária. Por um lado, o processo se
torna mais justo e democrático, por outro, haverá prejuízo à celeridade.

5º REQUISITO (INC. IV): pedido, que constitui o objeto da demanda.

6º REQUISITO (INC. V): valor da causa.

O valor da causa representa o conteúdo econômico da demanda de acordo com o art. 291, do NCPC.

Destaca-se, nesse aspecto, o fato de que, no valor da causa, deve ser considerado o valor devido a título de
dano moral. Na sistemática do CPC73 não era necessário que a parte precisasse o valor pretendido a título
de dano moral na ação. Contudo, de acordo com o NCPC, o valor pretendido pela parte deverá constar no
valor da petição inicial, não havendo mais espaço para aplicação da Súmula STJ 326, que liberava a parte de
falar do valor pretendido a título de dano moral.

7º REQUISITO (INC. VI): protesto genérico por provas.

8º REQUISITO (INC. VII): opção pela realização da audiência de conciliação e mediação.

9º REQUISITO (ART. 320): documentos indispensáveis.

Esse requisito é endossado com o art. 320, do NCPC:

Art. 320. A petição inicial será instruída com os documentos indispensáveis à propositura da ação.

10º REQUISITO: capacidade postulatória de quem assina a petição, com a ressalva do art. 76 e 104, ambos
do NCPC.

11º REQUISITO: requisitos específicos previstos, a exemplo da prova documental, no mandado de


segurança, ou a indicação do valor de excesso de execução, na petição de embargos.

Como você pode perceber, são vários os requisitos da petição inicial.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

REQUISITOS DA PETIÇÃO INICIAL


1º requisito: a petição inicial é escrita (escritura).
2º requisito: indicação do juízo (conforme as regras de competência)
3º requisito: qualificação das partes.
4º requisito: causa de pedir.
5º requisito: pedido, que constitui o objeto da demanda.
6º requisito: valor da causa.
7º requisito: protesto genérico por provas.
8º requisito: opção pela realização da audiência de conciliação e mediação.
9º requisito: documentos indispensáveis.
10º requisito: capacidade postulatória de quem assina a petição.
11º requisito: requisitos específicos previstos.

E se não estiverem todos presentes?

Se o magistrado constatar a falta de alguns dos requisitos acima, determinará que a parte proceda a emenda
da petição inicial. Portanto...

Faltar requisito da petição


inicial
HIPÓTESES
Existir defeito ou
SERÁ DETERMINADA A irregularidade capaz de
EMENDA OU dificultar o julgamento de
COMPLEMENTAÇÃO DA mérito.
PETIÇÃO INICIAL

PRAZO 15 dias

O autor deve cumprir a diligência ordenada pelo juiz, no prazo de 15 dias, caso contrário, terá sua petição
inicial indeferida.

3 - Pedido

O pedido é o objeto do processo e se divide em pedido imediato e mediato. O pedido imediato constitui o
provimento jurídico desejado, ao passo que o pedido mediato é o bem da vida.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Por exemplo, a condenação que o autor pretende ou declaração de determinado direito constituem pedidos
imediatos; já o bem da vida ou o resultado prático (pedido mediato) constitui a indenização ou título de
propriedade declarado judicialmente.

É possível que a parte formule vários pedidos para que todos, ou parte deles, possam
ser concedidos?

É POSSÍVEL! É o que conhecemos como pedido cumulativo, disciplinado no art. 327, do NCPC:

Art. 327. É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos, ainda que entre eles não
haja conexão.

À luz do caput acima citado é possível, por exemplo:

 que a parte formule uma ação em acidente de trânsito para reparar os danos causados no veículo,
indenização para reparação e tratamento das lesões que o autor sofreu e, ainda, reparação por danos
morais em face de danos estéticos que o acidente causou.

 que a parte formule contra o mesmo réu pedido para rescisão de dois contratos em face de
descumprimento pela parte contrária.

Para que a cumulação de pedidos ocorra é necessário o preenchimento de alguns requisitos, que estão
arrolados no §1º, do art. 327, do NCPC:

§ 1o São requisitos de admissibilidade da cumulação que:


I - os pedidos sejam compatíveis entre si;
II - seja competente para conhecer deles o mesmo juízo;
III - seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento.
§ 2o Quando, para cada pedido, corresponder tipo diverso de procedimento, será admitida a cumulação se o autor empregar
o procedimento comum, sem prejuízo do emprego das técnicas processuais diferenciadas previstas nos procedimentos
especiais a que se sujeitam um ou mais pedidos cumulados, que não forem incompatíveis com as disposições sobre o
procedimento comum.
§ 3o O inciso I do § 1o não se aplica às cumulações de pedidos de que trata o art. 326.

Portanto, para que seja admissível o pedido cumulativo é necessário que os pedidos sejam compatíveis entre
si, que o juiz seja competente para analisá-los e que todos sigam o mesmo procedimento

São três requisitos, portanto, que atuam de forma cumulativa.

Importante destacar, ainda, que em relação ao procedimento, se eles forem diversos, admite-se que a parte
adote o procedimento comum para tratar do pedido.

Vejamos alguns exemplos:

 pedidos incompatíveis: ação na qual o autor pede, ao mesmo tempo, a resolução do contrato e a
revisão.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

 juízo incompetente: ação distribuída no Poder Judiciário comum estadual em litisconsórcio


passivo contra sociedade de economia mista e contra a União. No segundo caso, por força do art.
109, I, da CF, a ação deve ser ajuizada na Justiça Federal.

 procedimentos incompatíveis: ação de indenização por danos causados em bem imóvel com valor
inferior a 40 salários mínimos cumulados com pedido de despejo.

Nesse caso, como os procedimentos são distintos (o primeiro pode tramitar pelo Juizado, o segundo
não) a parte poderá optar adotar o procedimento comum ordinário, para ambos os pedidos.

Assim...

pedidos compatíveis

REQUISITOS PARA CUMULAÇÃO


juiz competente
DE PEDIDOS
mesmo procedimento ou, alternativamente, adoção
do procedimento comum

3.1 - Modificação do pedido

Para encerrar os dispositivos relativos ao pedido vamos tratar do aditamento do pedido ou da causa de
pedir. Dito de forma simples, vamos analisar as situações em que a parte poderá alterar o pedido
propriamente, acrescentando novos pedidos, ou até mesmo alterar ou acrescentar os fatos e fundamentos
jurídicos do pedido.

Também conhecido como cumulação de pedidos superveniente, esse tema está disciplinado no art. 329, do
NCPC. Temos três situações:

1ª SITUAÇÃO: alteração do pedido ou da causa de pedir antes da citação.

Antes da citação, a parte autora poderá modificar os pedidos, alterá-los e, até mesmo, acrescentar
novos pedidos. O mesmo ocorre em relação à causa de pedir, que, antes da citação, poderão ser
alterados, modificados ou acrescentados fatos e fundamentos.

Não será necessário, nesse caso, consentimento da parte ré, até porque ela nem sequer foi integrada
à lida (citada).

2ª SITUAÇÃO: alteração do pedido ou da causa de pedir após a citação até o saneamento do processo.

Após a citação, a alteração, a modificação ou os acréscimos no pedido ou na causa de pedir depende


de consentimento do réu. Além disso, é importante ter em mente que essas alterações podem
ocorrer até o saneamento do processo.

3ª SITUAÇÃO: alteração do pedido ou da causa de pedir após o saneamento do processo.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Não será admitida, ainda que a parte ré concorde, pois, após o saneamento, o processo se estabiliza.

Em síntese...

ALTERAÇÃO DO PEDIDO E DA CAUSA DE PEDIR

após a citação até o


antes da citação após o saneamento
saneamento

pode ocorrer por liberalidade depende de consentimento da não será admitido, pois estável
da parte autora parte ré a lide

Veja como o assunto foi cobrado em provas:

(CESPE/OAB - 2010) Assinale a opção correta acerca dos prazos processuais.


a) A contestação apresentada antes de vencido o prazo pode ser aditada até o último dia do
prazo que lhe restar.
b) Em ação proposta contra um réu apenas, nula a citação, poderá o autor emendar a inicial
para modificar o pedido ou a causa de pedir, independentemente do consentimento do réu,
desde que a emenda se opere até o momento da nova citação.
c) Havendo litisconsortes ativos com diferentes procuradores de escritório distintos, aplica-se
o prazo em dobro, mesmo que se trate de autos digitais.
d) Para a prorrogação dos prazos processuais peremptórios, em qualquer hipótese, é suficiente
a concordância das partes, com a correspondente aceitação do juiz.
Versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito às partes
plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às especificidades da
causa, cuja validade ficará condicionada à homologação judicial.
Comentários
A alternativa A está incorreta. A contestação, uma vez apresentada, não poderá mais ser
editada, em razão da preclusão consumativa.
A alternativa B está correta e é o gabarito da questão, uma vez que até a citação, o autor
poderá aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, independentemente de consentimento.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

A alternativa C está incorreta. O prazo em dobro aplica-se somente aos litisconsortes com
diferentes procuradores de escritórios distintos em autos físicos. Nos autos digitais, ambos os
procuradores de escritórios diferentes possuem acesso simultâneo aos autos dentro do prazo
concedido.
A alternativa D está incorreta. De acordo com o art. 190 do NCPC, as partes podem fixar
negócios jurídicos processuais. A validade desses negócios, entretanto, não está sujeita à
homologação judicial. O juiz irá controlar a validade, recusando aqueles que tenham sido
firmados com vício, que contenham cláusulas abusivas em contrato de adesão ou que tenham
sido firmados com parte vulnerável.

--

(VUNESP/OAB-SP - 2007) Proposta a ação, o pedido formulado pelo autor somente poderá
ser alterado
a) até a citação, necessariamente com a concordância do réu.
b) até a citação, independentemente da concordância do réu.
c) após a contestação, necessariamente com a concordância do réu e do juiz.
d) até a contestação e após a citação, independentemente da concordância do réu.
Comentários
A alternativa B está correta e é o gabarito da questão. O art. 329, I, do NCPC, estabelece que
o autor poderá até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, independente do
consentimento do réu.
Art. 329. O autor poderá:
I - até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, independentemente de
consentimento do réu;
II - até o saneamento do processo, aditar ou alterar o pedido e a causa de pedir, com
consentimento do réu, assegurado o contraditório mediante a possibilidade de manifestação

--

(FGV/OAB - 2018) Em razão da realização de obras públicas de infraestrutura em sua rua,


que envolveram o manejo de retroescavadeiras e britadeiras, a residência de Daiana acabou
sofrendo algumas avarias. Daiana ingressou com ação judicial em face do ente que promoveu
as obras, a fim de que este realizasse os reparos necessários em sua residência. Citado o réu,
este apresentou a contestação.
Contudo, antes do saneamento do processo, diante do mal-estar que vivenciou, Daiana
consultou seu advogado a respeito da possibilidade de, na mesma ação, adicionar pedido de
condenação em danos morais.
Considerando o caso narrado, assinale a afirmativa correta.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

a) É possível o aditamento, uma vez que, até o saneamento do processo, é permitido alterar
ou aditar o pedido sem o consentimento do réu.
b) Não é possível o aditamento, uma vez que o réu foi citado e apresentou contestação.
c) É possível o aditamento, eis que, até o saneamento do processo, é permitido aditar ou
alterar o pedido, desde que com o consentimento do réu.
d) É possível o aditamento, porquanto, até a prolação da sentença, é permitido alterar ou
aditar o pedido, desde que não haja recusa do réu.
Comentários
A questão exige o conhecimento do art. 329, do NCPC. Vejamos:
Art. 329. O autor poderá:
I - até a citação, aditar ou alterar o pedido ou a causa de pedir, independentemente de
consentimento do réu;
II - até o saneamento do processo, aditar ou alterar o pedido e a causa de pedir, com
consentimento do réu, assegurado o contraditório mediante a possibilidade de manifestação
deste no prazo mínimo de 15 (quinze) dias, facultado o requerimento de prova suplementar.
Parágrafo único. Aplica-se o disposto neste artigo à reconvenção e à respectiva causa de pedir.
Dessa forma, como é possível o aditamento do pedido até o saneamento do processo, Daiana
poderá formular o pedido de danos morais. Assim, a alternativa C está correta e é o gabarito
da questão.

4 - Admissibilidade da ação
Uma vez protocolizada, registrada e, se for o caso, distribuída, a ação será encaminhada ao juízo competente
que fará a admissibilidade da ação.

São três as possibilidades do magistrado ao receber a petição inicial:

determinar a emenda da petição indeferir a petição inicial sem indeferir a petição inicial com
inicial julgamento de mérito julgamento de mérito

4.1 - Emenda

Determinar a emenda, com fundamento nos arts. 321, 139, IX e 6º, todos do NCPC.

A emenda é possível tão somente quando forem identificados vícios sanáveis no processo. De acordo com o
NCPC, se o juiz constatar que a petição não preenche os requisitos constantes dos arts. 319 e 320, do NCPC,
ou se apresentar defeitos ou irregularidades que possam dificultar o julgamento de mérito, poderá
determinar que o autor emende ou complete a ação no prazo de 15 dias.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Dentre os deveres do juiz, o magistrado deve atuar no sentido de pronunciar uma sentença de mérito, de
forma que sempre que a petição não estiver completa, faltar algum requisito ou, até mesmo, se o juiz estiver
com dúvidas quanto a algum elemento do processo, poderá determinar a emenda, a complementação ou o
esclarecimento de informações para que haja o regular processamento.

É de se notar, ainda, que, com base no art. 6º, do NCPC, o magistrado deve indicar com precisão o que deve
ser emendado ou completado. Não é admissível despacho genérico de emenda.

4.2 - Indeferimento da petição inicial

O magistrado, com fundamento nos arts. 330 e 485, I, do NCPC, poderá indeferir a petição inicial quando
não admitir a emenda ou quando a emenda for frustrada.

No caso de não admissão da emenda, entende-se possível que o magistrado extinga o processo sem
julgamento de mérito, quando houver erros suficientes de forma que impossibilite a parte de adequar o
pedido para processamento.

Em relação a essa hipótese de indeferimento, é importante saber que a decisão faz apenas coisa julgada
formal, não impedindo que a parte possa rediscutir a mesma matéria novamente, desde que corrigidos os
vícios anteriores.

Evidentemente que, no caso de novo ajuizamento, haverá distribuição por dependência em razão da
prevenção (art. 286, II, do NCPC).

O indeferimento da petição poderá ocorrer nas hipóteses do art. 330, do NCPC.

A primeira informação que devemos levar para a prova acerca do indeferimento da petição inicial é o fato
de que o magistrado deve tentar evitá-la. Assim, se diante de alguma irregularidade que possa implicar o
indeferimento liminar da petição inicial, intima-se a parte para o exercício do contraditório. Nessa
manifestação, a parte autora poderá demover o magistrado ou corrigir o vício. Caso a parte não tenha
sucesso, ou não se manifeste, temos a extinção do processo sem julgamento de mérito com indeferimento
liminar do pedido.

É importante registrar, ainda, que esse indeferimento liminar ocorre antes mesmo da integração do réu à
lide.

Confira:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Art. 330. A petição inicial será indeferida quando:


I - for inepta;
II - a parte for manifestamente ilegítima;
III - o autor carecer de interesse processual;
IV - não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321.

Vamos analisar cada uma das hipóteses acima mencionadas:

 Será indeferida a petição inicial quando inepta.

Aqui há absoluta ininteligibilidade da peça inicial. O magistrado não consegue nem mesmo compreender o
que está sendo requerido pela parte, de modo que indefere a petição inicial.

As hipóteses de indeferimento liminar por inépcia estão previstas no §1º, do art. 330, do seguinte modo:

§ 1o Considera-se inepta a petição inicial quando:


I - lhe faltar pedido ou causa de pedir;
II - o pedido for indeterminado, RESSALVADAS as hipóteses legais em que se permite o pedido genérico;
III - da narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão;
IV - contiver pedidos incompatíveis entre si.

Assim:

 Se a parte esqueceu de indicar o objeto da ação (o pedido), o magistrado não terá como sentenciar.
Não há como avaliar a pretensão da parte se ela não explicitar corretamente o pedido.

 Se a parte autora não indicar os fatos e fundamentos jurídicos não há como o magistrado decidir
se ela tem ou não direito. Nesse caso, não há como avaliar a subsistência do pedido formulado se
faltar indicação dos fatos e fundamentos jurídicos (causa de pedir). Note que se fala em fundamentos
jurídicos e não legais.

 O pedido deve ser certo, a não ser nas hipóteses em que é admitido o pedido genérico. Portanto,
se não for delimitado objetivamente o que a parte quer, impõe-se o indeferimento da petição inicial.

 Se os fatos narrados pela parte autora não fizerem sentido no contexto da ação haverá
indeferimento liminar. Por exemplo, se a parte autora apresentar determinado fato e fundamento
jurídico e pedir algo totalmente diverso, temos a inépcia da petição inicial.

 Se os pedidos forem incompatíveis entre si, por exemplo, determinar a obrigação de fazer e de
não fazer sobre o mesmo objeto ao mesmo tempo, haverá indeferimento liminar por inépcia.

Essa é apenas a primeira hipótese de indeferimento liminar da petição inicial. Vejamos as demais:

 Será indeferida a petição inicial quando a parte for manifestamente ilegítima.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

É considerado legitimado aquele que tem interesse direto em propor a ação. Assim, a quem a lei não confere
tal poder não será possível buscar a proteção jurisdicional. Fala-se, assim, em legitimidade ad causam e em
titularidade do direito.

 Será indeferida liminarmente a petição inicial quando o autor carecer de interesse processual.

Nessa hipótese é o caso em que o demandante não possui qualquer interesse na causa proposta.

As duas hipóteses citadas acima representam os pressupostos processuais sem os quais o processo não
subsiste.

 Será indeferida a petição inicial quando não atendidas as prescrições dos arts. 106 e 321.

De acordo com o art. 106, do NCPC, quando a parte postular em causa própria, o advogado e autor da ação
deverá declarar, na petição inicial ou na contestação, o endereço, o número da OAB e o nome da sociedade
do qual faça parte. Além disso, deverá informar eventuais alterações de endereço. Se isso não for observado,
após intimado para regularizar, o juiz poderá extinguir o processo sem julgamento de mérito.

Já na hipótese do art. 321, do NCPC, temos a possibilidade de extinção do processo caso a parte não proceda
à emenda da petição inicial após determinação do magistrado.

Sintetizando...

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Faltar pedido ou causa de


pedir
Pedido indeterminado (exceto
se for caso legal de pedido
genérico)
Inépcia da petição inicial
Falta de lógica entre narração
e conclusão
Manifestamente ilegítima
EXTINÇÃO DO PROCESSO
SEM JULGAMENTO DO Pedidos incompatíveis
MÉRITO Faltar interesse processual

Não manter endereço atualizado


quando atuar em causa própria ou não
proceder à emenda.

E qual a consequência para a parte que não observar as regras acima?

INÉPCIA DA PETIÇÃO INICIAL, o que resultará no indeferimento liminar do pedido formulado!

Como a decisão é definitiva, qualifica-se como sentença, pois põe fim ao processo. Em face disso, prevê o
art. 331, do NCPC, que, se a parte autora sentir-se prejudicada em face dessa decisão, e não se conformar
com a decisão do magistrado, poderá apelar.

Veja:

Art. 331. Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no prazo de 5 (cinco) dias, retratar-se.
§ 1o Se NÃO houver retratação, o juiz mandará citar o réu para responder ao recurso.
§ 2o Sendo a sentença reformada pelo tribunal, o prazo para a contestação começará a correr da intimação do retorno
dos autos, observado o disposto no art. 334 [designação da audiência de conciliação e de mediação].
§ 3o NÃO interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença.

O autor apresenta a apelação e, em seguida, o magistrado que decidiu pelo indeferimento irá analisar o
conteúdo da apelação, podendo retratar-se ou manter a decisão.

A retratação é a revisão da sentença. Se isso ocorrer, o magistrado determinará o seguimento do processo,


com a citação do réu.

Se não houver retratação, o réu será intimado para apresentar contrarrazões ao recurso da parte autora.
Atenção! O réu não será citado para contestar a ação, mas para contra-arrazoar o recurso que questiona o
indeferimento liminar.

Após, o processo será encaminhado ao tribunal para decidir sob o indeferimento liminar. O tribunal, por sua
vez, poderá decidir pela manutenção da decisão do juiz na origem ou poderá decidir que o autor tem razão.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

No último caso, o processo será enviado novamente ao juízo na origem para continuidade da demanda.
Somente nesse momento é que teremos a intimação do réu para contestar os pedidos contra ele
formulados.

Finalizamos, assim, a parte referente ao indeferimento liminar do pedido. Lembre-se de que, nesses casos,
nós teremos a extinção do processo sem julgamento do mérito.

E o que isso implica a prática?

Significa dizer que há formação apenas de coisa julgada formal. Não há análise do mérito, pois a parte não
conseguiu formular a ação de forma correta. Assim, na prática, o que temos é a impossibilidade de dar
continuidade a essa ação. Contudo, se a parte autora encontrar meios de sanar os vícios anteriores, poderá
ingressar com nova ação, pois aquela matéria – que ela pretendeu discutir anteriormente – não foi analisada
pelo magistrado e, por isso, não houve formação de coisa julgada material.

Veja como o assunto foi cobrado pela FGV:

(FGV/OAB - 2018) José ajuizou ação de indenização por danos morais, materiais e estéticos
em face de Pedro. O juiz competente, ao analisar a petição inicial, considerou os pedidos
incompatíveis entre si, razão pela qual a indeferiu, com fundamento na inépcia.
Nessa situação hipotética, assinale a opção que indica o recurso que José deverá interpor.
A) Apelação, sendo facultado ao juiz, no prazo de cinco dias, retratar-se do pronunciamento
que indeferiu a petição inicial.
B) Apelação, sendo os autos diretamente remetidos ao Tribunal de Justiça após a citação de
Pedro para a apresentação de contrarrazões.
C) Apelação, sendo que o recurso será diretamente remetido ao Tribunal de Justiça, sem a
necessidade de citação do réu para apresentação de contrarrazões.
D) Agravo de Instrumento, inexistindo previsão legal de retratação por parte do magistrado.
Comentários
Nesse caso, José deverá interpor apelação, sendo facultado ao juiz, no prazo de cinco dias,
retratar-se. É o que dispõe o art. 331, do NCPC:
Art. 331. Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no prazo de 5
(cinco) dias, retratar-se.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

§ 1o Se não houver retratação, o juiz mandará citar o réu para responder ao recurso.
§ 2o Sendo a sentença reformada pelo tribunal, o prazo para a contestação começará a correr
da intimação do retorno dos autos, observado o disposto no art. 334.
§ 3o Não interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença.
Portanto, a alternativa A está correta e é o gabarito da questão.

--

(CESPE/OAB - 2010) Ajuizada ação de indenização por danos morais, o autor foi devidamente
intimado para apresentar emenda à inicial, haja vista não estarem presentes os requisitos
exigidos no CPC. O autor, contudo, não apresentou a devida emenda, tendo sido indeferida
a petição inicial.
Nessa situação, caso entenda que sua petição inicial preenche os requisitos, o autor poderá
interpor
a) agravo de instrumento, independentemente da citação do réu, sendo possível a retratação
pelo juiz.
b) apelação, processada com a determinação de citação do réu e sem possibilidade de
retratação pelo juiz.
c) agravo retido, com a determinação de citação do réu, sendo possível a retratação pelo juiz.
d) apelação, processada independentemente da citação do réu, sendo possível a retratação da
decisão pelo juiz.
Comentários
De acordo com o art. 331, do NCPC, indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar,
facultado ao juiz, no prazo de 5 dias, retratar-se.
Art. 331. Indeferida a petição inicial, o autor poderá apelar, facultado ao juiz, no prazo de 5
(cinco) dias, retratar-se.
Assim, a alternativa D está correta e é o gabarito da questão.

4.3 - Improcedência liminar do pedido

O magistrado poderá indeferir o pedido com análise do mérito, quando verificar antecipadamente a
impertinência da postulação. Então, não será necessário nem mesmo ouvir o réu. Esse julgamento de plano
está previsto no art. 332, do NCPC.

Não confunda! Os arts. 330 e 331, já estudados, não se confundem com o art. 332 que veremos agora!

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106
ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

extinção do
vícios na
ARTS. 330 e 331 processo sem coisa julgada
petição
do NCPC julgamento do formal
(processo)
mérito

extinção do
improcedência
processo com coisa julgada
ART. 332 do NCPC do pedido
julgamento do material
(mérito)
mérito

De acordo com a doutrina, a improcedência liminar do pedido possui uma série de características2:

 É a decisão judicial que, antes da citação do demandado, julga improcedente o pedido formulado
pelo demandante. É decisão de mérito, definitiva, apta à coisa julgada e possível objeto de ação
rescisória.

 É técnica de aceleração do processo, que autoriza ao juiz proferir decisão favorável ao réu sem
que seja citado.

 Não haverá instrução e o processo se encaixa diretamente nas hipóteses do art. 332, do NCPC.

 A improcedência liminar do pedido permite o julgamento sem observância da regra cronológica


de conclusão que consta do art. 12, do NCPC.

 Com o trânsito em julgado da sentença de improcedência liminar, a equipe auxiliar do juízo deve
comunicar ao réu a decisão que lhe foi favorável.

Portanto, nas hipóteses que estudaremos a seguir, o juiz analisará o mérito, decidindo definitivamente o
pedido da parte autora, de forma negativa à pretensão formulada.

Tal como estudado nas hipóteses de indeferimento liminar da petição inicial, a decisão do juiz de primeiro
grau ocorre antes mesmo da citação do réu. Ele será beneficiado pela decisão, antes mesmo de se
manifestar.

Veja:

Art. 332. Nas causas que dispensem a fase instrutória, o juiz, independentemente da citação do réu, julgará liminarmente
improcedente o pedido que contrariar:
I - enunciado de súmula do Supremo Tribunal Federal ou do Superior Tribunal de Justiça;
II - acórdão proferido pelo Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior Tribunal de Justiça em julgamento de recursos
repetitivos;

2
JR. DIDIER, Fredie. Curso de Direito Processual Civil, volume 1, 18ª edição, rev., atual. e ampl., Bahia: Editora JusPodvim, 2016,
p. 601/4.

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106
ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

III - entendimento firmado em incidente de resolução de demandas repetitivas ou de assunção de competência;


IV - enunciado de súmula de tribunal de justiça sobre direito local.

Nos casos do art. 332, do NCPC, temos a formação de coisa julgada material.

Importante observar que não é possível aplicar as hipóteses de indeferimento liminar com julgamento do
mérito sem prévia comunicação da parte postulante, tal como exige o art. 10, do NCPC. Além disso, a
exigência da prévia manifestação da parte peticionante pode ser extraída do art. 487, parágrafo único, e do
art. 927, §1º, ambos do NCPC.

Discute-se se essa regra se aplica nas hipóteses de prescrição e de decadência. O art. 487, parágrafo único,
do NCPC, ressalva a hipótese de intimação prévia da parte para decretação da prescrição e da decadência.

Das decisões de indeferimento, caberá apelação na forma do art. 331 e do art. 332, §2º a 4º, do NCPC, com
prazo de 15 dias úteis. No caso dessa apelação, o juiz irá fazer juízo de retratação. Caso se retrate, irá
determinar a citação do réu. Se não for o caso de retratação, irá determinar a citação do réu para
contrarrazões no prazo de 15 dias. Juntadas as contrarrazões, o processo será remetido para o tribunal.

Veja:

§ 1o O juiz também poderá julgar liminarmente improcedente o pedido se verificar, desde logo, a ocorrência de decadência
ou de prescrição.
§ 2o NÃO interposta a apelação, o réu será intimado do trânsito em julgado da sentença, nos termos do art. 241.
§ 3o Interposta a apelação, o juiz poderá retratar-se em 5 (cinco) dias.
§ 4o Se houver retratação, o juiz determinará o prosseguimento do processo, com a citação do réu, e, se NÃO houver
retratação, determinará a citação do réu para apresentar contrarrazões, no prazo de 15 (quinze) dias.

Note que o procedimento em caso de sentença resolutória de mérito por improcedência liminar é muito
semelhante ao que vimos no caso de indeferimento liminar na petição inicial, de modo que remetemos ao
esquema anteriormente analisado.

OBS. O art. 333, do NCPC, que disciplina a conversão da ação individual em ação coletiva, foi revogado.

De tudo o que vimos neste tópico, é essencial ter em mente:

ADMISSIBILIDADE DA AÇÃO
Sem Julgamento do Mérito Com Julgamento do Mérito
 Inépcia da petição inicial: a) faltar pedido ou causa de  Pedido contrário a enunciado de súmula
pedir; b) pedido indeterminado (exceto se for caso legal do Supremo Tribunal Federal ou do Superior
de pedido genérico); c) falta de lógica entre narração e Tribunal de Justiça.
conclusão; e d) pedidos incompatíveis  Pedido contrário a acórdão proferido pelo
 Manifestamente ilegítima Supremo Tribunal Federal ou pelo Superior
 Faltar interesse processual Tribunal de Justiça em julgamento de
recursos repetitivos.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

 Não manter endereço atualizado quando atuar em  Pedido em sentido adverso a


causa própria ou não proceder à emenda. entendimento firmado em incidente de
resolução de demandas repetitivas ou de
assunção de competência;
 Pedido contrário a enunciado de súmula
de tribunal de justiça sobre direito local.
 Pedido contrário ao reconhecimento da
prescrição e da decadência.

Cabe informar, ainda, que a procedência liminar não é possível, a não ser que o magistrado se valha da
técnica da tutela de evidência, que consta do art. 311, do NCPC.

Vejamos como o assunto pode ser cobrado em prova:

(OAB/FGV - 2020) Um advogado elabora uma petição inicial em observância aos requisitos legais. Da
análise da peça postulatória, mesmo se deparando com controvérsia fática, o magistrado julga o pedido
improcedente liminarmente. Diante dessa situação, o patrono do autor opta por recorrer contra o
provimento do juiz, arguindo a nulidade da decisão por necessidade de dilação probatória.
Com base nessa situação hipotética, assinale a afirmativa correta.
A) O advogado pode aduzir que, antes de proferir sentença extintiva, o juiz deve, necessariamente,
determinar a emenda à inicial, em atenção ao princípio da primazia de mérito.
B) Não existem hipóteses de improcedência liminar no atual sistema processual, por traduzirem restrição do
princípio da inafastabilidade da prestação jurisdicional e ofensa ao princípio do devido processo legal.
C) Somente a inépcia da petição inicial autoriza a improcedência liminar dos pedidos.
D) Nas hipóteses em que há necessidade de dilação probatória, não cabe improcedência liminar do pedido.
Comentários
A alternativa D está correta e é o gabarito da questão. De acordo com o art. 332 do Código de Processo Civil,
a improcedência liminar do pedido só será possível nas causas que dispensem a fase instrutória (dilação
probatória) e quando o pedido contrariar: (1) enunciado de súmula do STF ou do STJ; (2) acórdão pelo STF
ou pelo STJ em julgamento de recursos repetitivos; (3) entendimento firmado em IRDR ou IAC; (4) enunciado
de súmula de TJ sobre direito local ou (5) quando o juiz verificar, desde logo, a ocorrência de decadência ou
prescrição. Assim, havendo necessidade de dilação probatória, não caberá improcedência liminar do pedido.
A alternativa A está errada. A improcedência liminar do pedido é uma possibilidade processual para garantir
que o processo não se prolongue para além do necessário à efetiva resposta do Estado-juiz à demanda.
Desse modo, ao deparar-se com causa que dispensa a fase instrutória e o pedido afronta precedente de
observância obrigatória (incisos I a IV do art. 332) ou ocorrência de decadência ou de prescrição, o juiz
poderá, sem necessidade de determinar a emenda à inicial, julgar o pedido.
A alternativa B está errada. O art. 332 trata sobre a improcedência liminar do pedido.
A alternativa C está errada. A inépcia da petição inicial é causa de indeferimento da petição inicial (art. 330,
I) e não de improcedência liminar do pedido.

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106
ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

5 - Audiência de conciliação e de mediação

No NCPC, a audiência de conciliação e mediação constitui o ato inicial do processo de rito comum. Como
sabemos, o NCPC prevê dois ritos, o comum (usado para a maioria das ações) e os especiais, que estão
disciplinados nas ações específicas.

O art. 334, do NCPC, prevê que, se a petição inicial não for indeferida e se eventualmente não for caso de
improcedência liminar, com ou sem resolução de mérito, o juiz designará audiência de conciliação e
mediação com antecedência mínima de 30 dias, devendo ser citado o réu com, pelo menos, 20 dias de
antecedência.

São dois prazos:

a) prazo mínimo para realização do ato: 30 dias; e

b) prazo mínimo para citação do réu para o ato: 20 dias.

A ideia do NCPC é efetivamente potencializar a autocomposição.

Entendeu-se adequado realizar uma audiência de conciliação logo no início do rito, quando as provas ainda
não foram produzidas, como forma de ganhar tempo para o Judiciário. Além disso, por se dar no início do
processo, entende-se que as partes estão menos desgastadas com a demanda, o que facilitaria o acordo
entre as partes.

Essa audiência de conciliação e mediação, de acordo com o que prevê os §§ 1º e 2º, do art. 334, do NCPC,
será realizada preferencialmente por conciliadores e mediadores. A disciplina desses mediadores e
conciliadores observa os arts. 165 a 175 do NCPC e, também, o disposto na Lei nº 13.140/2015 (Lei de
Mediação).

De acordo com §2º acima citado, o tempo destinado à conciliação e à mediação não poderá exceder o
período de 2 meses a contar da primeira sessão. Por exemplo, é admissível que sejam marcadas duas, três
ou mais sessões, contudo, o tempo máximo desses atos não pode ultrapassar o período de dois meses, a
contar da primeira sessão.

O art. 334, §4º, do NCPC, estabelece duas hipóteses nas quais não haverá essa audiência de mediação e de
conciliação. São elas:

a) direitos que não admitem autocomposição.

Por exemplo, ação de paternidade, ação para discutir curatela.

b) quando ambas as partes manifestarem expresso desinteresse na realização da referida audiência,


do que se extrai do art. 319, VII e art. 334, §5º, do NCPC. O momento para as partes manifestarem o
desinteresse é a inicial para o autor, e por petição pelo réu com antecedência de 10 dias antes do
ato.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

Fora essas duas hipóteses, todos os processos que tramitam pelo rito comum passam pela audiência de
conciliação e mediação.

Para a prova...

ambas as partes manifestarem


desinteresse na composição consensual
NÃO SERÁ REALIZADA A AUDIÊNCIA DE
CONCILIAÇÃO E DE MEDIAÇÃO SE
não for admissível a autocomposição

A manifestação de desinteresse deverá ser feita pelo autor com a protocolização da petição inicial e do réu
com o peticionamento 10 dias antes da realização da audiência.

No caso de litisconsórcio, ambos os litisconsortes devem manifestar o desinteresse, sob pena de realização
do ato.

A fim de potencializar a realização de tais audiências, o art. 334, §8º, do NCPC, prevê aplicação de multa pelo
não comparecimento à audiência de conciliação e de mediação designada. Essa multa não é revertida em
benefício das partes, mas destinadas aos fundos de equiparação do Poder Judiciário.

A finalidade dessa consequência é tentar colocar as partes frente a frente a fim de se chegar ao acordo.

Para a prova...

ato atentatório à dignidade da Justiça

NÃO COMPARECIMENTO À
multa no valor de até 2% da vantagem
AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO E
econômica ou valor da causa
DE MEDIAÇÃO

montante revertido à União ou ao Estado

Por fim, vejamos algumas questões que cobram o art. 334, dispositivo importantíssimo para a sua prova:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

(FGV/OAB – 2019) Carolina foi citada para comparecer com seu advogado ao Centro
Judiciário de Solução de Conflitos (CEJUSC) da comarca da capital, para Audiência de
Mediação (Art. 334 do CPC), interessada em restabelecer o diálogo com Nestor, seu ex-
marido.
O fato de o advogado de seu ex-cônjuge conversar intimamente com o mediador Teófilo,
que asseverava ter celebrado cinco acordos na qualidade de mediador na última semana,
retirou sua concentração e a deixou desconfiada da lisura daquela audiência. Não tendo sido
possível o acordo nessa primeira oportunidade, foi marcada uma nova sessão de mediação
para buscar a composição entre as partes, quinze dias mais tarde.
Sobre o caso narrado, assinale a afirmativa correta.
a) Carolina pode comparecer sem seu advogado na próxima sessão de mediação.
b) O advogado só pode atuar como mediador no CEJUSC se realizar concurso público específico
para integrar quadro próprio do tribunal.
c) Pode haver mais de uma sessão destinada à conciliação e à mediação, não podendo exceder
2 (dois) meses da data de realização da primeira sessão, desde que necessária(s) à composição
das partes.
d) O mediador judicial pode atuar como advogado da parte no CEJUSC, pois o CPC apenas
impede o exercício da advocacia nos juízos em que desempenhe suas funções.
Comentários
A alternativa C está correta e é o gabarito da questão. O Código de Processo Civil prevê que é
possível realizar mais de uma sessão destinada à conciliação e à mediação, desde que não
exceda 2 meses da data de realização da 1ª sessão e seja necessária à composição das partes
(art. 334, §2º).
A alternativa A está incorreta. As partes deverão comparecer acompanhadas por seus
advogados ou defensores públicos (art. 334, §9º).
A alternativa B está incorreta. O art. 167 do CPC estabelece como será o alistamento e
recrutamento de conciliadores e mediadores. O requisito é a capacitação mínima obtida em
curso ministrado por entidade credenciada, conforme parâmetro curricular definido pelo CNJ
juntamente com o Ministério da Justiça (§1º). O candidato a conciliador/mediador deverá
requerer sua inscrição no cadastro nacional e no cadastro do Tribunal de Justiça ou do Tribunal
Regional Federal, apresentando o respectivo certificado. Feito o registro, que poderá ser

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

precedido de concurso público (não é obrigatório!), o tribunal remeterá ao diretor do foro da


comarca, seção ou subseção judiciária onde atuará o conciliador ou o mediador os dados
necessários para que seu nome passe a constar da respectiva lista (§2º).
A alternativa D está incorreta. De fato, o art. 167, §5º afirma que os conciliadores e mediadores
judiciais, se advogados, estarão impedidos de exercer a advocacia nos juízos em que
desempenhem suas funções. Porém, o art. 172 impede que o conciliador ou mediador, pelo
prazo de 1 ano, contado do término da última audiência em que atuaram, assessore,
represente ou patrocine qualquer das partes.

--

(FGV/OAB – 2019) João dirigia seu carro a caminho do trabalho quando, ao virar em uma
esquina, foi atingido por Fernando, que seguia na faixa ao lado. Diante dos danos
ocasionados a seu veículo, João ingressou com ação, junto a uma Vara Cível, em face de
Fernando, alegando que este trafegava pela faixa que teria como caminho obrigatório a rua
para onde aquele seguiria.
Realizada a citação, Fernando procurou seu advogado, alegando que, além de oferecer sua
defesa nos autos daquele processo, gostaria de formular pedido contra João, uma vez que
este teria invadido a faixa sem antes acionar a “seta”, sendo, portanto, o verdadeiro culpado
pelo acidente.
Considerando o caso narrado, o advogado de Fernando deve
a) instruí-lo a ajuizar nova ação, uma vez que não é possível formular pedido contra quem deu
origem ao processo.
b) informar-lhe que poderá, na contestação, propor reconvenção para manifestar pretensão
própria, sendo desnecessária a conexão com a ação principal ou com o fundamento da defesa,
bastando a identidade das partes.
c) informar-lhe sobre a possibilidade de propor a reconvenção, advertindo-o, porém, que, caso
João desista da ação, a reconvenção restará prejudicada.
d) informar-lhe que poderá, na contestação, propor reconvenção para manifestar pretensão
própria, desde que conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa.
Comentários
A alternativa D está correta e é o gabarito da questão. A reconvenção é um mecanismo
processual que permite que o réu formule pretensões em face do autor (Fernando não queria
apenas defender-se, mas alegar que João era o verdadeiro culpado por ter invadido a faixa sem
acionar a seta). O caput do art. 334 prevê que a reconvenção serve para manifestar pretensão
própria, conexa com a ação principal ou com o fundamento da defesa.
A alternativa A está incorreta. Não é preciso intentar uma nova ação. O réu poderá valer-se da
reconvenção.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

A alternativa B está incorreta. De acordo com o caput do art. 334 acima, é preciso que haja
conexão com a ação principal ou com o fundamento da defesa.
A alternativa C está incorreta. O art. 343, §2º revela que, em caso de desistência da ação ou
ocorrência de causa extintiva que impeça o exame de mérito, haverá o prosseguimento do
processo quanto à reconvenção.

--

(FGV/OAB - 2018) Leilane, autora da ação de indenização por danos morais, proposta em
face de Carlindo na 5ª Vara Cível da comarca da capital, informou, em sua petição inicial, que
não possuía interesse na audiência de conciliação prevista no Art. 334 do CPC/15. Mesmo
assim, o magistrado marcou a audiência de conciliação e ordenou a citação do réu.
O réu, regularmente citado, manifestou interesse na realização da referida audiência, na qual
apenas o réu compareceu. O juiz, então, aplicou à autora a multa de 2% sobre o valor da
causa.
Sobre o procedimento do magistrado, a partir do caso apresentado, assinale a afirmativa
correta.
a) O magistrado não deveria ter marcado a audiência de conciliação, já que a autora informou,
em sua petição inicial, que não possuía interesse.
b) O magistrado agiu corretamente, tendo em vista que a conduta da autora se caracteriza
como um ato atentatório à dignidade da justiça.
c) O magistrado deveria ter declarado o processo extinto sem resolução do mérito, e a multa
não possui fundamento legal.
d) A manifestação de interesse do réu na realização da referida audiência pode ser feita em
até 72 horas antes da sua realização.
Comentários
De acordo com o §8º, do art. 334, do NCPC, a ausência injustificada da parte à audiência de
conciliação ou de mediação importa em ato atentatório à dignidade da justiça, ato este punido
com multa de até 2% do valor da causa.
§ 8o O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação é
considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até dois
por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da
União ou do Estado.
Portanto, o juiz agiu corretamente. Dessa forma, a alternativa B está correta e é o gabarito da
questão.

--

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106
ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

(FGV/OAB - 2018) Diego e Thaís, maiores e capazes, ambos sem filhos, são formalmente
casados pelo regime legal da comunhão parcial de bens. Ocorre que, devido a problemas
conjugais e divergências quanto à divisão do patrimônio comum do casal, o matrimônio teve
fim de forma conturbada, o que motivou Thaís a ajuizar ação de divórcio litigioso cumulada
com partilha de bens em face do ex-cônjuge.
Na petição inicial, a autora informa que tem interesse na realização de audiência de
conciliação ou de mediação. Diego, regularmente citado, busca orientação jurídica sobre os
possíveis desdobramentos da demanda ajuizada por sua ex-cônjuge.
Na qualidade de advogado(a) de Diego, assinale a opção que apresenta os esclarecimentos
corretos que foram prestados.
a) Diego, ainda que de forma injustificada, possui a faculdade de deixar de comparecer à
audiência regularmente designada para fins de solução consensual do conflito, não sofrendo
qualquer sanção processual em virtude da ausência.
b) Descabe, no processo contencioso de divórcio ajuizado por Thaís, a solução consensual da
controvérsia, uma vez que o direito em questão possui feição extrapatrimonial e, portanto,
indisponível.
c) Ante a existência de vínculo prévio entre as partes, a audiência a ser realizada para fins de
autocomposição entre Diego e Thaís deverá ser conduzida por um conciliador, que poderá
sugerir soluções para o litígio, vedada a utilização de qualquer tipo de constrangimento ou
intimidação.
d) A partir de requerimento que venha a ser formulado por Diego e Thaís, o juiz pode
determinar a suspensão do processo enquanto os litigantes se submetem à mediação
extrajudicial.
Comentários
A alternativa A está incorreta. Vejamos o que dispõe o §8º, do art. 334, do NCPC:
§ 8o O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação é
considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até dois
por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da
União ou do Estado.
Conforme se nota, no procedimento comum, a ausência injustificada do réu à audiência de
conciliação ou de mediação importa em ato atentatório à dignidade da justiça.
A alternativa B está incorreta. De acordo com o art. 694, caput, da Lei nº 13.105/15, nas ações
de família, todos os esforços serão empreendidos para a solução consensual da controvérsia,
devendo o juiz dispor do auxílio de profissionais de outras áreas de conhecimento para a
mediação e conciliação.
A alternativa C está incorreta. Acerca da intermediação feita por conciliador ou por mediador,
veja o que prevê o art. 165, §§ 2º e 3º, da referida Lei:

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

§ 2o O conciliador, que atuará preferencialmente nos casos em que não houver vínculo
anterior entre as partes, poderá sugerir soluções para o litígio, sendo vedada a utilização de
qualquer tipo de constrangimento ou intimidação para que as partes conciliem.
§ 3o O mediador, que atuará preferencialmente nos casos em que houver vínculo anterior
entre as partes, auxiliará aos interessados a compreender as questões e os interesses em
conflito, de modo que eles possam, pelo restabelecimento da comunicação, identificar, por si
próprios, soluções consensuais que gerem benefícios mútuos.
Ou seja, quando houver vínculo anterior entre as partes, quem atuará será, preferencialmente,
o mediador. Quando não houver vínculo anterior, será, preferencialmente, o conciliador quem
atuará.
A alternativa D está correta e é o gabarito da questão, pois é o que dispõe o parágrafo único,
do art. 694, do NCPC:
Parágrafo único. A requerimento das partes, o juiz pode determinar a suspensão do processo
enquanto os litigantes se submetem a mediação extrajudicial ou a atendimento
multidisciplinar.

--

(FGV/OAB - 2018) Almir ingressa com ação pelo procedimento comum em face de José,
pleiteando obrigação de fazer consistente na restauração do sinteco aplicado no piso de seu
apartamento, uma vez que, dias após a realização do serviço ter sido concluída, o verniz
começou a apresentar diversas manchas irregulares.
Em sua inicial, afirma ter interesse na autocomposição. O juiz da causa, verificando que a
petição inicial preenche os requisitos essenciais, não sendo caso de improcedência liminar
do pedido, designa audiência de conciliação a ser realizada dentro de 60 (sessenta) dias,
promovendo, ainda, a citação do réu com 30 (trinta) dias de antecedência.
Com base na legislação processual aplicável ao caso apresentado, assinale a afirmativa
correta.
A) Caso Almir e José cheguem a um acordo durante a audiência de conciliação, a
autocomposição obtida será reduzida a termo pelo conciliador e, independentemente da sua
homologação pelo magistrado, já constitui título executivo judicial, bastando que o
instrumento seja referendado pelos advogados dos transatores ou por conciliador credenciado
junto ao tribunal.
B) Agiu equivocadamente o magistrado, uma vez que o CPC/15 prevê a imprescindibilidade do
prévio oferecimento de contestação por José, no prazo de 15 (quinze) dias úteis a serem
contados de sua citação e antes da designação da audiência conciliatória, sob pena de vulnerar
o princípio constitucional da ampla defesa e do contraditório, também reproduzido na
legislação adjetiva.
C) Caso Almir, autor da ação, deixe de comparecer injustificadamente à audiência de
conciliação, tal ausência é considerada pelo CPC/15 como ato atentatório à dignidade da

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

justiça, sendo sancionado com multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida
ou do valor da causa, revertida em favor do Estado.
D) Almir e José não precisam comparecer à audiência de conciliação acompanhados por seus
advogados, uma vez que, nessa fase processual, a relação processual ainda não foi
integralmente formada e não há propriamente uma lide, a qual apenas surgirá quando do
oferecimento da contestação pelo réu.
Comentários
No NCPC, o comparecimento a audiência de conciliação é obrigatório, tanto é que o não
comparecimento configura ato atentatório à dignidade da justiça. Veja o art. 334, § 8º, do
NCPC, que responde a questão:
§ 8º O não comparecimento injustificado do autor ou do réu à audiência de conciliação é
considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será sancionado com multa de até dois
por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa, revertida em favor da
União ou do Estado.
Portanto, a alternativa C está correta e é o gabarito da questão.
Vejamos os erros das demais alternativas:
A alternativa A está incorreta, porque não há que se falar em título executivo judicial antes da
homologação pelo magistrado e, ainda, há disposição expressa no Código no sentido de que a
autocomposição obtida será reduzida a termo e homologada por sentença (art. 334, § 11).
A alternativa B está incorreta, porque a audiência conciliatória deve ocorrer, justamente, antes
da mediação, começando a correr o prazo para contestação da sua realização infrutífera.
A alternativa D está incorreta, porque existe sim a obrigatoriedade de as partes estarem
acompanhadas por seus patronos. Vejam o § 9º, do art. 334, do CPC:
§ 9o As partes devem estar acompanhadas por seus advogados ou defensores públicos.

--

(FGV/OAB - 2019) Maria ajuizou ação em face da José, sem mencionar, na inicial, se
pretendia ou não realizar audiência de conciliação ou mediação. Assim, O juiz designou a
referida audiência, dando ciência às partes. O réu informou ter interesse na realização de tal
audiência, enquanto Maria, devidamente intimada, quedou-se silente. Chegado o dia da
audiência de conciliação, apenas José, o réu, compareceu.
A respeito do caso narrado, assinale a opção que apresenta possível consequência ser
suportada por Maria
A) não existem consequências previstas na legislação pela ausência da autora à audiência de
conciliação ou mediação.
B) caso não compareça, nem apresente justificativa pela ausência, Maria será multada em até
2% da vantagem econômica pretendida ou do valor da causa.

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

C) diante da ausência da autora à audiência de conciliação ou mediação, o processo deverá


ser extinto.
D) diante da ausência da autora à audiência de conciliação ou mediação, as alegações
apresentadas pelo réu na contestação serão consideradas verdadeiras.
Comentários
De acordo com o §8º, do art. 334, do CPC/15, o não comparecimento injustificado do autor ou
do réu à audiência de conciliação é considerado ato atentatório à dignidade da justiça e será
sancionado com multa de até dois por cento da vantagem econômica pretendida ou do valor
da causa, revertida em favor da União ou do Estado.
Observe que mesmo que uma das partes demonstre interesse em não conciliar, a conciliação
ocorrerá e as partes deverão comparecer. O art. 334, § 4º traz as hipóteses nas quais a
audiência não será realizada:
§ 4º A audiência não será realizada:
I - se ambas as partes manifestarem, expressamente, desinteresse na composição consensual;
II - quando não se admitir a autocomposição.
Dessa forma, a alternativa B é correta e gabarito da questão.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Profa. Isabella Pires:
Com isso, me despeço de vocês por hoje! Voltaremos amanhã para dar continuidade ao
nosso projeto rumo à aprovação!
Aproveito para, mais uma vez, deixar meus contatos caso tenham dúvidas, críticas,
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Vocês podem entrar em contato pelo fórum do curso ou ainda:

E-mail: isabella.almeida@estrategiaconcursos.com.br

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ESTRATÉGIA OAB
Reta Final

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