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EFPJ Cursos Jurídicos

Prof. Efren F. P Jr.

AÇÃO MONITÓRIA NA JUSTIÇA DO TRABALHO


1. Subsidiariedade do CPC: Art. 15 CPC: Na ausência de normas que regulem processos eleitorais,
trabalhistas ou administrativos, as disposições deste Código lhes serão aplicadas supletiva e
subsidiariamente. CLT: art. 769: Nos casos omissos, o direito processual comum será fonte subsidiária do
direito processual do trabalho, exceto naquilo em que for incompatível com as normas deste Título.
Portanto, ao Processo do Trabalho aplicam-se as normas, institutos e estudos da doutrina do Processo
Civil, desde que: a) não esteja regulado de outro modo; b) não ofendam os princípios do processo laboral
(não mais expressamente colocado); c) seja adaptado às peculiaridades de procedimento.

2. Aplicabilidade: ação (propor, ajuizar) cognitiva especial, cuja competência material da Justiça do Trabalho
se fixa caso haja documento escrito, sem eficácia de título executivo extrajudicial, oriundo ou decorrente
da relação de trabalho.

Óbice procedimental: podem ser superados com a simples designação de audiência com o pagamento
em 15 dias1.
Partes: Autor da ação = Requerente (na JT) (Empregado, credor);
Réu da ação = Requerido (na JT) (Empregador, devedor).
Competência = art. 651 da CLT.

3. Admissibilidade na JT: entendimento majoritário de seu cabimento - não é pacífico2 - maior efetividade e
celeridade do processo. Mesmo antes da Lei 9.958/00 (execução de título executivo extrajudicial na
Justiça do Trabalho) a doutrina de forma majoritária e também a jurisprudência admitiam a ação
monitória no âmbito da JT, em razão de omissão da CLT e compatibilidade com os princípios do Direito
Processual do Trabalho (art. 769 da CLT).

a) Postura de Sergio Pinto Martins - MINORITÁRIA: não cabível a ação monitória no Processo do
Trabalho, por ser incompatível com suas determinações - estabelece o art. 876 da CLT que só serão
executadas na Justiça do Trabalho as decisões passadas em julgado, os acordos, quando não
cumpridos, os termos de ajuste de conduta firmados perante o Ministério Público do Trabalho, os
termos de conciliação celebrados perante as Comissões de Conciliação Prévia (CCP) e as custas
processuais, como aponta o §2º do art. 790 da CLT.

b) Postura de Carlos Henrique Bezerra Leite - MAJORITÁRIA: não verifica obstáculo legal a sua
admissibilidade. O art. 764 da CLT dispõe literalmente que os “dissídios individuais ou coletivos
submetidos à apreciação da Justiça do Trabalho serão sempre sujeitos à conciliação”. Dessa forma,
para o autor, no caso de apresentação de embargos monitórios, e somente neste caso, aí sim,
afigura-se necessária a designação de audiência de conciliação e julgamento, de modo que harmonize
o processamento da ação monitória ao princípio da conciliação inerente ao Processo do Trabalho.
Também Nelson Nery Junior: “É admissível a ação monitória no processo trabalhista. Trata-se de

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Sergio Pinto Martins entende que o prazo para ser designada audiência não será o de 15 dias, utilizado por analogia do
NCPC. Será de cinco dias o prazo para pagar ou apresentar embargos (e já marcar a audiência), conforme previsão do
art. 841 e 884 da CLT. Não se aplica, portanto, o CPC, em razão de que inexiste omissão na CLT.
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O argumento daqueles que defendem a inadequação da ação monitória na Justiça do Trabalho resume-se,
basicamente, ao fato de que o Processo do Trabalho não comporta a execução de títulos extrajudiciais e, portanto, não
se cogitaria da execução de algo que nem sequer é título.
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ação de conhecimento de rito especial compatível com o processo do trabalho, razão pela qual deve
ser admitida naquela justiça especializada (CLT art. 769). Não se coloca, portanto, o problema de
saber-se a respeito da questão polêmica sobre a admissibilidade ou não da execução por título
extrajudicial na Justiça do Trabalho.

É comum a existência de documento escrito onde a empresa reclamada faz os cálculos das verbas
rescisórias, mas não efetua o pagamento. Como se trata de documento escrito, sem eficácia de título
executivo, cabe a ação monitória para que, expedido o mandado monitório, a empresa pague,
querendo.

4. Entendimento jurisprudencial: Fica comprovada jurisprudencialmente a possibilidade de utilização da


ação monitória na via juslaboral, inclusive antes da Reforma do CPC em 2015 e da CLT em 2017.

AÇAO MONITÓRIA. CABIMENTO. A ação monitória visa a constituição de um título executivo judicial. No
Processo do Trabalho, as despesas judiciais, que engloba honorários periciais, fazem parte do título executivo
e devem ser executadas no próprio processo que as originou. (TRT2-SP 01669-2006-020-02-00-6, Relatora
Silvia de Almeida Prado, Data de Julgamento: 01/04/2009, 8ª Turma, Data de Publicação: 07/04/2009).

5. Hipóteses comuns de cabimento da ação monitória no Processo do Trabalho: pagamento de verbas


rescisórias com cheque sem fundos já prescrito; homologação sindical de rescisão contratual com
expressa ressalva de que os valores não foram colocados à disposição do empregado e que a
homologação se destina, por exemplo, ao levantamento do FGTS e recebimento do seguro-desemprego;
TRCT não quitado; acordo extrajudicial para pagamento parcelado das verbas rescisórias (ilegal, mas
comum na vida prática); recibo de férias não pagas ao Empregado; termo de confissão de dívida de
verbas trabalhistas pelo Empregador.

6. Custas processuais: Em relação à isenção de custas iniciais no Processo do Trabalho, Sergio Pinto Martins
entende que só beneficia o empregado com justiça gratuita, sendo pagas ao término pelo vencido (§1º do
art. 789 da CLT). O empregador em regra não goza de isenção de custas, exceto art. 899, §10 da CLT.

7. Honorários advocatícios: quando a lide derivar de relação de trabalho, se mostra plenamente possível o
arbitramento de honorários advocatícios. Após a Reforma, os honorários sucumbenciais chegaram à
Justiça do Trabalho, nos seguintes termos:
Art. 791-A. Ao advogado, ainda que atue em causa própria, serão devidos honorários de sucumbência, fixados entre o mínimo de 5%
(cinco por cento) e o máximo de 15% (quinze por cento) sobre o valor que resultar da liquidação da sentença, do proveito econômico
obtido ou, não sendo possível mensurá-lo, sobre o valor atualizado da causa. 1º.. Os honorários são devidos também nas ações contra
a Fazenda Pública e nas ações em que a parte estiver assistida ou substituída pelo sindicato de sua categoria. 2º.. Ao fixar os
honorários, o juízo observará: I – o grau de zelo do profissional; II – o lugar de prestação do serviço; III – a natureza e a
importância da causa; IV – o trabalho realizado pelo advogado e o tempo exigido para o seu serviço. 3º.. Na hipótese de procedência
parcial, o juízo arbitrará honorários de sucumbência recíproca, vedada a compensação entre os honorários. 4º ..Vencido o
beneficiário da justiça gratuita, desde que não tenha obtido em juízo, ainda que em outro processo, créditos capazes de suportar a
despesa, as obrigações decorrentes de sua sucumbência ficarão sob condição suspensiva de exigibilidade e somente poderão ser
executadas se, nos dois anos subsequentes ao trânsito em julgado da decisão que as certificou, o credor demonstrar que deixou de
existir a situação de insuficiência de recursos que justificou a concessão de gratuidade, extinguindo-se, passado esse prazo, tais
obrigações do beneficiário.5º.. São devidos honorários de sucumbência na reconvenção. (Redação dada pela Lei nº 13.467/17)

A previsão de recebimento de 5% a 15% é inferior ao previsto no art. 85, § 2º do CPC. Mas a legislação afeita
à ação monitória indica percentual máximo de 5% (honorários legais), que poderão ser excluídos em
havendo pagamento inicial com o mandado monitório.

8. Subsidiariedade do CPC

“DA AÇÃO MONITÓRIA”


Art. 700. A ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com base em prova escrita sem eficácia
de título executivo, ter direito de exigir do devedor capaz:
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I - O pagamento de quantia em dinheiro;
II - A entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel;
III - O adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer.
§ 1o A prova escrita pode consistir em prova oral documentada, produzida antecipadamente nos termos do art.
381.
§ 2o Na petição inicial, incumbe ao autor explicitar, conforme o caso:
I - A importância devida, instruindo-a com memória de cálculo;
II - O valor atual da coisa reclamada;
III - O conteúdo patrimonial em discussão ou o proveito econômico perseguido.
§ 3o O valor da causa deverá corresponder à importância prevista no § 2o, incisos I a III.
§ 4o Além das hipóteses do art. 330, a petição inicial será indeferida quando não atendido o disposto no §
2o deste artigo.
§ 5o Havendo dúvida quanto à idoneidade de prova documental apresentada pelo autor, o juiz intimá-lo-á para,
querendo, emendar a petição inicial, adaptando-a ao procedimento comum.
§ 6o É admissível ação monitória em face da Fazenda Pública.
§ 7o Na ação monitória, admite-se citação por qualquer dos meios permitidos para o procedimento comum.

Art. 701. Sendo evidente o direito do autor, o juiz deferirá a expedição de mandado de pagamento, de entrega
de coisa ou para execução de obrigação de fazer ou de não fazer, concedendo ao réu prazo de 15 (quinze) dias
para o cumprimento e o pagamento de honorários advocatícios de cinco por cento do valor atribuído à causa.
§ 1o O réu será isento do pagamento de custas processuais se cumprir o mandado no prazo.
§ 2o Constituir-se-á de pleno direito o título executivo judicial, independentemente de qualquer formalidade, se
não realizado o pagamento e não apresentados os embargos previstos no art. 702, observando-se, no que
couber, o Título II do Livro I da Parte Especial.
§ 3o É cabível ação rescisória da decisão prevista no caput quando ocorrer a hipótese do § 2o.
§ 4o Sendo a ré Fazenda Pública, não apresentados os embargos previstos no art. 702, aplicar-se-á o disposto
no art. 496, observando-se, a seguir, no que couber, o Título II do Livro I da Parte Especial.
§ 5o Aplica-se à ação monitória, no que couber, o art. 916.

Art. 702. Independentemente de prévia segurança do juízo, o réu poderá opor, nos próprios autos, no prazo
previsto no art. 701, embargos à ação monitória.
§ 1o Os embargos podem se fundar em matéria passível de alegação como defesa no procedimento comum.
§ 2o Quando o réu alegar que o autor pleiteia quantia superior à devida, cumprir-lhe-á declarar de imediato o
valor que entende correto, apresentando demonstrativo discriminado e atualizado da dívida.
§ 3o Não apontado o valor correto ou não apresentado o demonstrativo, os embargos serão liminarmente
rejeitados, se esse for o seu único fundamento, e, se houver outro fundamento, os embargos serão processados,
mas o juiz deixará de examinar a alegação de excesso.
§ 4o A oposição dos embargos suspende a eficácia da decisão referida no caput do art. 701 até o julgamento em
primeiro grau.
§ 5o O autor será intimado para responder aos embargos no prazo de 15 (quinze) dias.
§ 6o Na ação monitória admite-se a reconvenção, sendo vedado o oferecimento de reconvenção à reconvenção.
§ 7o A critério do juiz, os embargos serão autuados em apartado, se parciais, constituindo-se de pleno direito o
título executivo judicial em relação à parcela incontroversa.
§ 8o Rejeitados os embargos, constituir-se-á de pleno direito o título executivo judicial, prosseguindo-se o
processo em observância ao disposto no Título II do Livro I da Parte Especial, no que for cabível.
§ 9o Cabe apelação contra a sentença que acolhe ou rejeita os embargos.
§ 10. O juiz condenará o autor de ação monitória proposta indevidamente e de má-fé ao pagamento, em favor
do réu, de multa de até dez por cento sobre o valor da causa.
§ 11. O juiz condenará o réu que de má-fé opuser embargos à ação monitória ao pagamento de multa de até
dez por cento sobre o valor atribuído à causa, em favor do autor.

9. CONCLUSÕES
Diante das omissões contidas na CLT, entendemos que por força do artigo 769 da CLT e art. 15 do NCPC a
ação monitória não apresenta incompatibilidade com o Processo do Trabalho, mostrando-se como
instrumento célere a serviço do Empregado e, ao fim, do Empregador. Há possibilidade de ingresso pelo
Requerente que detenha prova escrita sem eficácia de título executivo, não havendo óbice para que
ingresse com uma reclamação trabalhista comum (o que seria mais lento). O Requerido poderá opor
embargos monitórios, ou mesmo reconhecer a dívida, pagando o crédito perseguido.

3
BIBLIOGRAFIA: [http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm]; Excertos de CARDOSO, Gerson
Alves. Ação Monitória. O novo CPC e a aplicação no processo do trabalho, 2015. CISNEIROS, Gustavo. Manual de Audiência e
Prática Trabalhista, 2016.

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