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14/05/2023
LIÇÃO: Providência, santificação e condenação.
Para entender
“Lembrem-se das coisas passadas, das coisas da antiguidade: que eu sou Deus, e não há
outro; eu sou Deus, e não há outro semelhante a mim. Desde o princípio anuncio o que há
de acontecer e desde a antiguidade revelo as coisas que ainda não sucederam. Eu digo: o
meu conselho permanecerá em pé, e farei toda a minha vontade." (Isaías 46.9-10)
INTRODUÇÃO
Avançando em nosso estudo da confissão de fé. Buscaremos compreender como a
providência de Deus atua nos eleitos e como ela atua nos reprovados. Essa seção,
antecede o último parágrafo sobre a igreja, e nos traz um rico conhecimento sobre o agir
de Deus na vida do seu povo e de toda sua criação.
I. A PROVIDÊNCIA E A SANTIFICAÇÃO
A confissão afirma em seu parágrafo 5:
O Deus mui sábio, justo e gracioso, frequentemente deixa, por algum tempo,
Seus próprios filhos em diversas tentações e na corrupção dos seus próprios
corações, para castigá-los pelos seus pecados anteriores ou fazer-lhes conhecer
o poder oculto da corrupção e engano de seus corações, para que eles sejam
humilhados; e para elevá-los a uma dependência mais íntima e constante de Seu
próprio auxílio, e para torná-los mais vigilantes contra todas as futuras ocasiões
de pecado, e para outros santos e justos fins. De forma que seja o que for que
ocorra com todos os Seus eleitos é por Sua designação, para a Sua glória e para
o bem deles.
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Deus, sendo muito sábio, justo e gracioso, muitas vezes permite que seus próprios
filhos passem por diversas tentações e pela corrupção de seus próprios corações,
por algum tempo.
Vimos em nossa lição anterior como Deus usa a providência inclusive sobre as ações
pecaminosas de anjos e homens. Neste novo parágrafo, vemos que Deus usa as
tentações de antigos pecados visando fins santos e o bem do seu povo.
Deus não deixa seus filhos debaixo da tentação sem o controle da Sua sabedoria;
Deus lida com nossos pecados com sabedoria, justiça e graça. Essas tentações não são
para sempre. Essas tentações podem ser diversas, ou seja, variadas e talvez muitas.
Qual é a origem dessa tentação e corrupção?
É o pecado anterior dos nossos próprios corações. Deus castiga os seus eleitos por
pecados passados. A natureza corrupta do pecado é tal que, mesmo quando uma pessoa
é convertida, ela ainda luta contra o pecado.
Essa é uma razão importante para jovens e adultos evitarem o pecado, pois as sementes
semeadas no passado podem buscar crescimento novamente e retomar a terra em tempos
posteriores, mesmo nos crentes. É verdade que em Cristo somos novas criaturas e não
mais escravos do pecado, mas ainda há corrupção remanescente que pode nos escravizar.
Deus pode nos castigar pelo pecado anterior, mas isso ocorrerá com o propósito de
santificação, não com o propósito do juízo eterno.
Vejamos nas Escrituras:
• Tiago 1:2-4, afirma que devemos considerar como alegria quando passamos por
diversas provações, pois elas produzem perseverança, maturidade e fé.
• 1 Pedro 1:6-7, fala sobre a necessidade de passarmos por provações para que
nossa fé seja provada genuína e resulte em louvor, glória e honra a Jesus Cristo.
• 2 Coríntios 12:7-10, mostra como Paulo aprendeu a depender mais do poder de
Cristo quando teve que lidar com uma fraqueza pessoal persistente.
• Romanos 8:28, afirma que Deus trabalha todas as coisas juntas para o bem
daqueles que O amam e são chamados segundo Seu propósito.
Embora haja um alerta aqui, há também um tremendo incentivo para aqueles que lutam
contra o pecado. Deus está trabalhando naqueles que são Seus para santificá-los.
Observem os fins específicos do castigo na Confissão: o castigo serve para humilhá-
los, elevar sua dependência de Deus, torná-los mais vigilantes contra todas as
futuras ocasiões de pecado e para outros fins santos e justos. Portanto, podemos ter
a certeza de que Deus não nos deixa sozinhos na luta contra o pecado, mas está
trabalhando em nós para nos santificar e nos tornar mais semelhantes a Ele.
1) Fazer-lhes conhecer o poder oculto da corrupção e engano de seus corações, para que
eles sejam humilhados (cf. 2 Crônicas 32:25, 26, 31; 2 Coríntios 12:7-9)
2) Elevá-los a uma dependência mais íntima e constante de Seu próprio auxílio (cf. 2
Coríntios 1:9; 12:9)
3) Torná-los mais vigilantes contra todas as futuras ocasiões de pecado (cf. 1 Coríntios
10:12-13; 2 Coríntios 2:11; 1 Pedro 5:8)
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4) [...] para outros santos e justos fins (cf. Romanos 8:28; Hebreus 12:10-11; Tiago 1:2-
Vejamos cada ponto em destaque:
A. Fazer com que conheçam o poder oculto da corrupção e engano de seus
próprios corações, a fim de que sejam humilhados:
Esse ponto da Confissão de Fé Batista ressalta que Deus, em Sua providência, pode
permitir que Seus filhos enfrentem tentações e a corrupção de seus próprios corações. Essa
experiência pode ser humilhante, mas serve para que os eleitos conheçam melhor a
natureza do pecado e sua própria fragilidade, levando-os a se arrependerem e a
dependerem mais de Deus.
Certamente, com o passar do tempo, podemos nos tornar orgulhosos e achar que temos
crescido além do ponto da tentação dos pecados antigos. Podemos correr o risco de nos
acharmos incapazes de cairmos em pecados, mas como dizem as Escrituras: “Aquele, pois,
que cuida estar em pé, olhe não caia” (cf. 1 Co10:12). Nossos corações ainda têm dentro
deles corrupção e engano escondidos. O nosso coração permanece desesperadamente
corrupto; quem o conhecerá (Jr 17:9)? Quando descobrimos corrupção e dolo ocultos
(desconhecidos para nós) somos muito humilhados. Podemos ter caminhado com o Senhor
por trinta anos e, de repente, a corrupção oculta é descoberta; se tivermos nos tornado
orgulhosos, ao invés de introspectivos, isso pode ser especialmente surpreendente e
humilhante, isso será um diagnóstico da nossa alma.
B. Levá-los a depender mais intimamente e constantemente da ajuda de Deus:
Neste ponto, a Confissão destaca que Deus, em Sua providência, pode permitir que Seus
filhos enfrentem dificuldades e provações para que aprendam a depender mais intimamente
e constantemente da ajuda de Deus. Essa experiência pode ser desafiadora, mas serve
para desenvolver a fé e a confiança na provisão divina. Quando múltiplas tentações e
desejos pelo pecado veem em nossa direção, só temos um lugar para fugir e este é para o
Senhor; corremos para Ele e isso nos leva para mais perto dEle, e nos faz depender dEle
em tais momentos. Os eleitos são aqueles que reconhecem que só podemos suportar a
tentação, se estivermos constantemente dependendo do Senhor para o nosso auxílio. Há
vezes em que nos tornamos negligentes com o nosso tempo na Palavra e relaxamos quanto
ao tempo que passamos em oração. Quando a tentação vem, qualquer negligência nos
lembra que precisamos daquela proximidade constantemente. Tal temporada da tentação
funciona como um alerta apontado que esta é a hora de nos aproximarmos de Deus e
nutrirmos nossa dependência dEle. Muitas vezes, em tais momentos, nos sentimos
indignos de Deus, e esse sentimento de alienação pode nos levar para longe do Senhor;
que é o que o Satanás, o acusador dos irmãos desejaria, mas o plano de Deus é que nos
aproximemos e permaneçamos constantes nisso. Idealmente essas estações são apenas
momentos de tentação resistida. Devemos nutrir nossa alma a fim de vencer a tentação e
passar pela provação. Entretanto, se nós cairmos em tentação, o que não é uma questão
sem importância, mas gravíssima, mesmo assim devemos lembrar daquela esperança do
Evangelho, bem como o comando para caminharmos de um modo que seja digno de nossa
vocação. O apóstolo João disse: “Meus filhinhos, estas coisas vos escrevo, para que não
pequeis; e, se alguém pecar, temos um Advogado para com o Pai, Jesus Cristo, o justo”
(cf. 1 Jo 2:1).
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C. Torná-los mais vigilantes contra todas as futuras ocasiões de pecado:
Avançando, percebemos que a confissão ressalta que Deus pode permitir que Seus filhos
enfrentem tentações e corrupção para que se tornem mais vigilantes contra o pecado
no futuro. Essa experiência pode ser dolorosa, mas serve para desenvolver uma
consciência mais aguçada e uma maior resistência ao pecado. Precisamos aprender com
as coisas que podem ter desencadeado temporadas de tentação e pecado; caso
contrário, vamos nos encontrar novamente caindo pelas mesmas razões. A Confissão nos
exorta a estar atentos que tal tentação e pecado não volte a acontecer. A pessoa que
luta com a embriaguez deve evitar as coisas que provocam tais tentações. Aqueles que
lutam contra a cobiça devem se tornar vigilantes em relação às coisas que provocam desejo
carnal e evitá-las. O Cristão deve temer a tentação, e assim fugir dela. Alguém que foi,
repetidas vezes, tentado pela mesma situação e que não está buscando erradicar
esta situação, é como ele tivesse mergulhando de cabeça num penhasco —
conscientemente. Deus espera que exercitemos a sabedoria e sejamos mais vigilantes
contra a tentação no futuro, uma vez que “cada um é tentado, quando atraído e engodado
pela sua própria concupiscência” (cf. Tg 1:14). Por causa de nossos desejos pecaminosos,
devemos vigiar nossos passos: “Pondera a vereda de teus pés, e todos os teus caminhos
sejam bem ordenados!” (cf. Pv 4:26). “Portanto, vede prudentemente como andais, não
como néscios, mas como sábios, remindo o tempo; porquanto os dias são maus. Por isso
não sejais insensatos, mas entendei qual seja a vontade do Senhor” (cf. Ef 5:15-17).
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Em primeiro lugar, Deus retém a Sua graça, pela qual eles poderiam ser iluminados em
seus entendimentos e forjados em seus corações. Deus não cria ativamente o mal em um
coração, a fim de cegar ou endurecer, antes, Ele faz isso passivamente removendo a graça
comum que restringe o pecado, e sem a qual eles livremente (de sua própria livre-agência
não-regenerada) tornam-se cegos e endurecidos pelo seu próprio pecado.
Sproul expressa:
“Não é que Deus coloque Sua mão sobre eles [os réprobos] para criar
diretamente o mal em seus corações; Ele simplesmente remove a Sua santa
mão de contenção deles e deixa-os fazer sua própria vontade”.
Os pecadores amam genuinamente o mal e o perseguem livremente; é somente pela
contenção ativa de Deus — por meio da graça comum — que eles não pecam mais. Deus
continua sendo justíssimo se Ele opta por remover essa graça comum; eles não mereciam
essa graça, em primeiro lugar, e uma vez que eles não usaram essa graça para arrepender-
se (cf. Rm 2:4), então, Deus é perfeitamente justo ao removê-la e entregá-los ao pecado.
A Confissão constata especificamente o endurecimento e a cegueira como um resultado da
remoção da graça comum em conjunto com a busca do pecador pelo pecado; é a graça
especial que teria iluminado a compreensão deles, e operado positivamente em seus
corações trazendo-os ao arrependimento e à fé. Esta graça especial será discutida no
Capítulo 10, Sobre o Chamado Eficaz. Esta graça seria forjada em seus corações. Em
outras palavras, ela teria aberto os olhos e quebrantado o coração deles. Somos lembrados
aqui que, se Deus não intervém por Sua graça para iniciar a salvação, nenhum pecador
jamais se arrependeria e viria a Cristo (cf. Jo 6:44). Deus dá gratuitamente esta graça ou a
retém. Ele a concederá aos Seus eleitos no seu tempo, mas nunca a dará ao réprobo sobre
quem Ele passa.
A segunda maneira pela qual Deus cega e endurece os perversos e ímpios pelo pecado
anterior é que, às vezes também lhes retira os dons que eles tinham. A Escritura declara:
“Porque àquele que tem, se dará, e terá em abundância; mas àquele que não
tem, até aquilo que tem lhe será tirado. Por isso lhes falo por parábolas; porque
eles, vendo, não veem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem” (cf. Mt 13:12-
13).
Jesus indica aqui que aqueles a quem Ele dá a Sua graça especial receberão uma
abundância de graças. Mas, aqueles a quem Deus não estende a Sua graça especial,
Deus, às vezes, remove até mesmo as graças comuns que eles tinham. As graças comuns
dadas a eles — para que se arrependam — são justamente removidas porque eles não se
arrependeram.
Em terceiro lugar, Deus cega e endurece ao expô-los a situações de forma que a
corrupção deles se torna em ocasiões de pecado; e, além disso, entrega-lhes às suas
próprias concupiscências. Isso parece difícil no começo porque pode parecer que Deus
está tentando-os, expondo-os a situações que levam ao pecado. Precisamos reconhecer
que a graça comum de Deus, muitas vezes serve ao propósito de restringir as
pessoas de serem tão más quanto elas podem ser. A doutrina da depravação total não
ensina que cada pecador é tão mau como poderia ser; antes, que o pecado invadiu cada
parte do seu ser. A Divina graça restritiva comum é uma graça; não é merecida. Assim,
se Deus remove esta graça imerecida, Ele é perfeitamente justo ao fazê-lo.
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Resumidamente, por Deus não expô-los a coisas que levam ao pecado Ele está
concedendo a graça comum, e assim por retê-la Ele permanece justo. Quando Deus retém
Sua graça restritiva isso pode significar que os perversos e ímpios não mais serão
protegidos, e, portanto, eles ficam expostos a coisas das quais a sua natureza pecaminosa
tirará proveito. Lembre-se, isso é por pecados anteriores; assim é, em parte, um juízo.
Somos lembrados a partir do parágrafo 5 que, quando Deus “deixa, por algum tempo, Seus
próprios filhos em diversas tentações e na corrupção dos seus próprios corações”, Ele o
faz em última instância, para o bem deles, mas aqui, esse objetivo não existe, mas somente
julgamento adicional.
Deus, por pecados anteriores, entregará os perversos e ímpios a um sentimento
reprovado (cf. Rm1:28). Mas o que nós não queremos esquecer é que a corrupção deles
se torna em ocasiões de pecado. Não é Deus que implanta a corrupção no coração do
pecador levando-os a pecar; eles fazem isso livre e abundantemente a partir de sua própria
vontade. Eles veem a ocasião (a oportunidade) para o pecado e precipitam-se nele. Como
resultado, Deus, além disso, entrega-lhes às suas próprias concupiscências, às tentações
do mundo. Deus havia graciosamente lhes repreendido, mas agora remove a restrição. Isto
lembra-nos o que está escrito:
“Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência” (Tg
1:14).
“Mas o meu povo não quis ouvir a minha voz, e Israel não me quis. Portanto eu os entreguei
aos desejos dos seus corações, e andaram nos seus próprios conselhos” (Sl 81:11-12).
“E por isso Deus lhes enviará a operação do erro, para que creiam a mentira; para que
sejam julgados todos os que não creram a verdade, antes tiveram prazer na iniquidade” (2
Ts 2:11-12).
Aqui há um sério alerta que o pecado, e uma falta de arrependimento pelo mesmo,
vem com um preço pesado. Poderíamos dizer que o pecado cria ocasião para mais
pecado, e um pecado leva a outro, a não ser que o poder redentor de Deus, por meio do
Evangelho de Cristo, intervenha para regenerar e santificar.
Em quarto lugar, Deus também entrega-os... ao poder de Satanás. Este é talvez o
julgamento mais preocupante pelos pecados anteriores. Nas Escrituras, vemos esta
passagem:
“E entre esses foram Himeneu e Alexandre, os quais entreguei a Satanás, para
que aprendam a não blasfemar” (cf. 1 Tm 1:20).
Este é um julgamento mais severo. Sem dúvida, a Confissão está ecoando, em parte,
Efésios 2:2-3: “Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o
príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência;
entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo
a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros
também”.
A Confissão afirma: de maneira que eles se endurecem, sob aqueles meios que Deus usa
para quebrantar os outros. Como diz o ditado: “o mesmo sol que derrete a cera endurece
o barro”. O meio que Deus usa para quebrantar os Seus, endurece os perversos e ímpios.
O parágrafo 5 declarou: “Deus... frequentemente deixa, por algum tempo, Seus próprios
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filhos em diversas tentações e na corrupção dos seus próprios corações, para castigá-los
pelos seus pecados anteriores”. Ali, o resultado é para o bem deles, mas aqui no parágrafo
6, o castigo pelos pecados anteriores não é para o bem dos perversos e ímpios.
APLICAÇÃO:
1. Glorifique a Deus ao passar por provações. Deus em Sua sabedoria faz uso dos nossos
pecados passados para nos santificar.
3. Deus usa o pecado dos ímpios para a própria condenação dEles. A vida deliberada no
pecado é um sinal de perdição e condenação.
4. Persevere em santidade. Deus não nos dará uma provação que sejamos incapazes de
suportar.
5. Lembre-se que Cristo em tudo foi tentado, mas sem pecar. Que possamos imitar a Cristo
Jesus, nosso Senhor.