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Estudo preliminar sobre a proposta


de um fluxograma de decanulação em
traqueostomia com atuação
interdisciplinar...
Telma Almeida

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Telma Almeida

WORLD CONFEDERAT ION FOR PHYSICAL T HERAPY


beat riz de freit as vale germano

EDIT OR DA COLC:Ç)\0 O ABC DA FISIOT ERAP IA RESPIRAT Ó RIA


Allana Suely
ARTIGO ORIGINAL

Estudo preliminar sobre a proposta de um fluxograma


de decanulação em traqueostomia com atuação interdisciplinar
Preliminary study on a proposal of an interdisciplinary flowchart of tracheostomy decannulation
Telma de Almeida Busch Mendes1, Leny Vieira Cavalheiro2, Rosana Tiepo Arevalo3, Renata Sonegth4

RESUMO Albert Einstein, following a protocol proposed and developed by


Objetivo: Avaliar as etapas do desmame e decanulação dos pacientes Physical Therapy and Phonoaudiology specialists, with a focus
traqueostomizados da Unidade Semi-intensiva do Hospital Israelita on interdisciplinary actions and also to analyze the values of
ventilatory measurements, weaning complications and the relation
Albert Einstein, seguindo um protocolo proposto pela Fisioterapia e
between success and decanulation mean time. Methods: A
desenvolvido em parceria com a equipe de Fonoaudiologia, com foco
weaning and decanulation flowchart was applied to a population of
na ação interdisciplinar. Analisar os valores encontrados de medidas
21 tracheostomized patients with several clinical diagnoses. All
ventilatórias, as complicações do desmame e relacioná-las ao
patients met the basic criteria for the weaning procedure. Maximum
sucesso e ao tempo médio para decanulação. Métodos: Foi aplicado
inspiratory pressure (MIP), maximum expiratory (MEP), vital capacity
um fluxograma de desmame e decanulação a uma população de 21
and peak cough flow data were analyzed. Results: In the population
pacientes traqueostomizados com diversos diagnósticos. Todos os
subject of this study, patients presented an average peak cough flow
pacientes se encaixavam nos critérios básicos para desmame da
value of 174.74 l/min in the beginning of the weaning, standard deviation
traqueostomia. Foram analisados dados da pressão inspiratória máxima
= 58.03, with a lower value of 80 and higher of 310 l/min. All patients
(PImax), pressão expiratória máxima (PEmax), capacidade vital e peak
who were decanulated presented MIP > -30cmH2O. In this preliminary
cough flow. Resultados: Em nossa população de estudo, os pacientes
study, the MEP and the MIP measure have not demonstrated to be an
apresentaram, no início do desmame, um valor médio de peak cough
effective measure for the sake of data analysis as success predictors.
flow de 174,74 l/min, desvio padrão = 58, 03, com o menor valor de
Conclusions: This study revealed that the weaning and decanulation
80 l/min e o maior valor de 310 l/min. Todos os pacientes que
of tracheomatized patients is more efficient and safer when there is
decanularam apresentaram PImax > -30 cmH2O. Neste estudo
an interdisciplinary participation and that available data are still at a
preliminar, a medida de PEmax e PImax tiveram seus valores corrigidos preliminary stage and they point out the need of further studies over
pela fórmula e não se mostraram efetivas na análise dos dados como a larger population.
preditores de sucesso. Conclusões: Este estudo revelou que o processo
de desmame e decanulação dos pacientes traqueostomizados se Keywords: Weaning; Tracheostomy
torna mais eficaz e seguro quando a participação é interdisciplinar; os
dados do presente trabalho ainda são preliminares e apontam para a
necessidade de novos estudos em uma população maior. INTRODUÇÃO
Descritores: Desmame; Traqueostomia A traqueostomia é um procedimento realizado com
muita freqüência nos hospitais gerais para o tratamento
de insuficiência respiratória por inúmeras razões. É
ABSTRACT comum o seguimento de regras específicas de indicação
Objective: To evaluate the weaning steps of decanulation in patients de traqueostomia, mas não há regras determinantes
admitted at the Semi-intensive Care Unit of the Hospital Israelita para o processo de retirada da traqueostomia, ou,

Trabalho realizado no Departamento de Fisioterapia e Fonoaudiologia do Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.
1
Mestre, Fisioterapeuta do Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.
2
Mestre, Fisioterapeuta do Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.
3
Mestre, Fonoaudióloga do Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.
4
Mestre, Fonoaudióloga do Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.
Autor correspondente: Telma de Almeida Busch Mendes – Rua Deputado João Sussumo Hirata, 770 – apto. 12 – Morumbi – CEP 05715-010 – São Paulo (SP), Brasil – Tel.: 11 3742-7565 – e-mail:
busch@einstein.br
Não há conflitos de interesse.
Data de submissão: 19/6/2006 – Data de aceite: 15/1/2008

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2 Mendes TAB, Cavalheiro LV, Arevalo RT, Sonegth R

como se costuma chamar, regras para o desmame da Esta avaliação também pode ser realizada precocemente,
traqueostomia até a sua retirada total. Na maioria dos ainda durante o desmame dos parâmetros do respirador.
hospitais, os fisioterapeutas são os responsáveis pelo Neste momento, o fonoaudiólogo tem como objetivos
processo de desmame e decanulação da traqueostomia. que o paciente consiga uma deglutição efetiva da saliva,
O que pôde ser observado no trabalho conjunto realizado coordenação da deglutição e respiração e, se possível,
na Unidade Semi-intensiva do Hospital Israelita Albert início de fala – aspectos que podem estar alterados pela
Einstein (HIAE) é que a interação entre médico, presença da traqueostomia ou pela doença do paciente(3).
enfermeiro, fisioterapeuta e fonoaudiólogo permite O foco de ação da Fisioterapia neste período é a
diminuir o tempo de uso da traqueostomia, acelerando diminuição das pressões do respirador, facilitando a
o desmame e tornando-o mais seguro para o paciente, adaptação da válvula de fala. A avaliação muscular em
com menor risco de insucesso e complicações. Guias pacientes em processo de decanulação também é de suma
de conduta baseados em evidências têm confirmado o importância, considerando que os pacientes submetidos
benefício dos protocolos de desmame do respirador e a à traqueostomia e à ventilação mecânica prolongada
importante participação da Fisioterapia neste processo, sofrem perda da força e do endurance por desuso.
mas pouco se publica sobre a importância da equipe Todos os profissionais envolvidos no tratamento
multiprofissional no desmame da traqueostomia(1). do paciente precisam estar atentos aos seguintes sinais
Considera-se desmame da traqueostomia o momento de alerta para complicações: resíduos de saliva ou
quando se inicia o desinsuflar do cuff, passando pela alimento na traquéia, mudança na coloração ou aspecto
troca da cânula plástica para metálica (sem o cuff), até da secreção, febre, piora da oxigenação, rebaixamento
a retirada da cânula de traqueostomia e realização do do nível de consciência e alteração brusca da imagem
curativo oclusivo do estoma. radiológica(3).
A decisão de quando iniciar o desmame da
traqueostomia é um trabalho de equipe, cujos fatores
preditores de insucesso precisam estar ausentes. As OBJETIVO
razões que levaram a indicação de uma traqueostomia Apresentar um fluxograma de atuação interdisciplinar
precisam ser consideradas antes de se iniciar o processo no desmame das traqueostomias e sua aplicabilidade
de desmame(2). em um hospital geral, bem como apresentar resultados
Para que se obtenha um desmame com sucesso, preliminares.
merecem atenção a necessidade de sedação, o tempo de
ventilação mecânica, a insuficiência respiratória aguda ou
crônica, a presença de obstrução de via aérea (por edema, MÉTODOS
tumor ou outras causas), as cirurgias prévias de cabeça e Para este estudo descritivo, preliminar, foi elaborado
pescoço, a paralisia das pregas vocais, a estenose glótica um fluxograma (Figura 1), que exemplifica passo a
ou subglótica – enfim, todos os problemas precisam ser passo a decanulação com atuação interdisciplinar. Os
sanados e a via aérea superior deve estar restaurada para a dados foram colhidos pelos fisioterapeutas na rotina
passagem adequada do fluxo aéreo. Alguns outros fatores de atendimento com os pacientes traqueostomizados,
preditores de sucesso na decanulação incluem a estabilidade demonstrando sua aplicabilidade.
do paciente, a ausência de secreções em quantidades que Todos os pacientes traqueostomizados da Unidade
possam comprometer o padrão respiratório, o desmame Semi-intensiva do HIAE, com prescrição de fisioterapia
total do respirador, a capacidade de deglutição na ausência e que atendiam aos critérios de inclusão do protocolo
do cuff sem sinais de broncoaspiração. O paciente deve no período de abril de 2004 a dezembro de 2006, foram
ser capaz de respirar por via aérea superior (nasal) com incluídos independente do diagnóstico, sexo ou idade,
a retirada da pressão do cuff e oclusão do traqueostoma, totalizando 21 pacientes.
sem qualquer sinal de obstrução ou resistência. O fluxo Foram excluídos todos os pacientes que não tinham
expiratório também deve ser suficiente para gerar força prognóstico de desmame da traqueostomia, ou seja,
para que o paciente possa tossir e falar(3). apresentavam critério clínico de manutenção da via
Caso as condições clínicas do paciente sejam aérea artificial. Também foram excluídos pacientes com
favoráveis, o médico autoriza o início do desmame. prognóstico para decanulação, mas que tiveram perda
Na presença de quaisquer sinais clínicos de aspiração, de dados e dificuldade de realização de medidas.
tais como tosse ou engasgos freqüentes com o cuff As etapas do processo de desmame de traqueostomia
desinsuflado, que sugere entrada de saliva ou alimentos foram esclarecidas para o paciente e familiar ou
na via respiratória, alteração nos valores de oximetria de acompanhante responsável, como é a rotina do Serviço
pulso e voz com presença de secreção(4), o fisioterapeuta de Fisioterapia.
sugere ao médico titular a avaliação fonoaudiológica.

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Estudo preliminar sobre a proposta de um fluxograma de decanulação em traqueostomia com atuação interdisciplinar 3

Paciente em programa de fisioterapia respiratória já


prescrita é desmamado do ventilador e avaliado
pelo fisioterapeuta

Fisioterapeuta realiza medidas:


pressão do cuff, CV, PImax, PEmax e
peak cough flow

Fisioterapeuta desinsufla o Fisioterapeuta


cuff: observa sinais clínico Parâmetros executa
de obstrução de via aérea e para intervenções com
S decanular? a anuência do
aspiração
médico titular
Fisioterapeuta S 2 N
sugere ao titular a Via aérea 4
avaliação das vias obstruída? Fisioterapeuta sugere
aéreas (AVA) ao titular a avaliação
N Paciente não
fonoaudiológica
será decanulado
Sinal
clínico –
1 S
aspiração?
Médico
titular N
N 3
concorda N
com AVA?
O titular
S Fisioterapeuta
S O paciente autoriza mantém o cuff S
está com S 3 continuidade desinsuflado por
dieta via oral do desmame
AVA liberada? sem AVA?
12 horas

N
Piora
Fisioterapeuta sugere ao clínica?
titular avaliação da
Via aérea S N
1 fonoaudióloga para
normal? alimentação VO com cuff
desinsuflado S Sinais –
4 aspiração?
N
N
Médico N
Paciente não concorda? 2 Fisioterapeuta indica ao
será titular a troca para cânula
decanulado S metálica de calibre menor (5 ou 4)
e redução após 48 horas
Avaliação
fonoaudiológica
Após 56 horas, ocorre a
retirada da cânula e a oclusão
do estoma, com anuência do
N Deglutição S titular
eficiente para
decanular?

Paciente
N decanulado
Terapia
fonoaudiológica

Figura 1. Fluxograma da decanulação no adulto traqueostomizado

No ato da internação, os pacientes ou seus responsá- Inicialmente, para as análises estatísticas, foram
veis assinaram os termos de consentimento informado e de realizadas as análises descritivas dos dados. As variáveis
compromisso que englobam tal procedimento. Dessa for- qualitativas são apresentadas por meio de freqüências
ma, não foram propostos outros termos de participação e absolutas (n) e percentuais das categorias de cada
consentimento, visto que os dados utilizados neste artigo uma delas. As variáveis quantitativas são apresentadas
são de coleta necessária para o tratamento do paciente e fo- por médias, desvios-padrão (dp), medianas e valores
ram apenas reunidos aqui para exemplificar o fluxograma, mínimo e máximo.
isentando-os de exames desnecessários e preservando total- As análises foram realizadas pelo programa
mente em sigilo as identidades dos pacientes participantes. computacional Statistical Package for Social Sciences
O fluxograma foi desenvolvido pelos autores, que são (SPSS), versão 10.0 for Windows (1999)(5).
integrantes das equipes de Fisioterapia e Fonoaudiologia
do HIAE, baseado na experiência clínica dos mesmos
somada aos dados da literatura específica.
O fisioterapeuta dá inicio ao processo de decanula- RESULTADOS
ção, desde que autorizado pelo médico. As medidas uti- Todos os pacientes inclusos na amostra seguiram o
lizadas são: PImax, PEmax, peak cough flow, capacidade fluxograma proposto, iniciando o processo de desmame
vital (CV) e pressão do cuff. após avaliação da Fisioterapia e cumprindo os critérios
Foram estudadas as diferentes etapas desse fluxo para decanular. O tempo médio para decanular foi
para cada paciente e os motivos do fluxo não ter sido de 20,94 ± 23,21 dias, sendo quatro dias o mínimo
seguido em alguns casos foram analisados. encontrado e 87 dias o máximo.

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4 Mendes TAB, Cavalheiro LV, Arevalo RT, Sonegth R

Do total de 21 pacientes, seis eram do gênero Entre os 21 traqueostomizados, somente três não
feminino (28,6%) e 15 do gênero masculino (71,4%), haviam sido entubados anteriormente. A média de
com média etária de 62,43 ± 20,37 anos, variando entre tempo de entubação antes da traqueostomia foi de
20 a 89 anos. 7,95 ± 5,21 dias.
Entre os diagnósticos apresentados pelos pacientes, Das 21 traqueostomias realizadas, 12 (57,1%) foram
bem como o motivo da internação, destacaram- cirúrgicas e nove (42,9%), percutâneas. Os números das
se insuficiência respiratória aguda (IrpA, 19,0%), cânulas utilizadas foram dez (4,8%), nove (9,5%) e oito
politrauma (14,3%) e ressecção de tumor (9,5%), como (85,7%). A cânula mais encontrada foi a Shiley® em 20
mostra a Tabela 1. casos (95,2%).
Tabela 1. Número e porcentagem dos diagnósticos e motivo da internação de A Tabela 3 revela os valores encontrados de PImax,
21 pacientes traqueostomizados na Unidade Semi-intensiva do Hospital Israelita PEmax, peak cough flow e CV entre os pacientes com os
Albert Einstein valores descritivos e valores de normalidade.
Diagnóstico na internação n %
Tabela 3. Valores descritivos de pressão inspiratória máxima, pressão expiratória
Infarto agudo do miocárdio 1 4,8
máxima, peak cough flow e capacidade vital de 21 pacientes traqueostomizados na
Laparotomia 1 4,8 Unidade Semi-intensiva do Hospital Israelita Albert Einstein
Drenagem de abcesso 1 4,8
Insuficiência cardíaca congestiva descompensada 1 4,8 Valores Média Mediana dp Mínimo Máximo
Linfoma não Hodgkin 1 4,8 Pressão do cuff 26,52 26,00 4,76 15 38
Pancreatite 1 4,8 Capacidade vital 382,19 120,00 427,00 30 1.500
Ressecção de tumor 2 9,5 PImax -59,10 -60,00 -21,72 -120 -30
Laringectomia parcial 1 4,8 Valor previsto PImax* 97,89 97,76 15,15 69,34 140,66
Meningocele 1 4,8 LIN PImax* 74,07 76,72 13,51 52,32 113,28
Insuficiência respiratória aguda 4 19,0 PEmax 81,67 72,00 42,31 24 150
Broncopneumonia 2 9,5
Valor previsto PEmax* 103,15 103,30 17,10 63,62 146,67
Acidente vascular encefálico hemorrágico 1 4,8
LIN PEmax* 79,63 81,40 15,16 45,26 121,09
Laparotomia 1 4,8
Peak cough flow (l/min) 174,74 180,00 58,03 80 310
Trauma crânio encefálico 1 4,8
Linfadenopatia retroperitonial 1 4,8 * valores corrigidos por fórmula segundo o gênero; dp = desvio padrão; PImax = pressão inspiratória máxima;
PEmax = pressão expiratória máxima; LIN = limite inferior de normalidade
Politrauma 3 14,3
A maioria (17) dos pacientes decanulou (81,0%).
Os antecedentes com maior porcentagem encontrada
Não houve óbito entre este pacientes.
foram: revascularização do miocárdio (RM), representan-
A Tabela 4 apresenta os pacientes que tiveram
do 38,1%; câncer (CA) e insuficiência respiratória (IRp)
e não tiveram sucesso na decanulação em relação à
em 19,0%; e hipertensão arterial sistêmica (HAS) em
normalidade da PImax.
14,3%, entre outros com o mesmo percentual, como apre-
Tabela 4. Número e porcentagem de pacientes com valor de normalidade
sentado na Tabela 2. e abaixo do limite inferior de normalidade de sucesso na decanulação em 21
Tabela 2. Número e porcentagem dos antecedentes de 21 pacientes pacientes traqueostomizados na Unidade Semi-intensiva do Hospital Israelita
traqueostomizados na Unidade Semi-intensiva do Hospital Israelita Albert Albert Einstein
Einstein Sucesso na Normalidade de pressão inspiratória máxima
Total
Antecedentes n % decanulação Valor de normalidade Abaixo do LIN
Trauma crânio encefálico 1 4,8 Sim 5 (29,4%) 12 (70,6%) 17 (100,0%)
Insuficiência respiratória 1 4,8 Não - 4 (100%) 4 (100,0%)
Insuficiência respiratória aguda 4 19,0 Total 5 (23,8%) 16 (76,2%) 21 (100,0%)
Traqueomalácea 1 4,8 LIN = limite inferior de normalidade

Granuloma 1 4,8
A Tabela 5 apresenta os pacientes que tiveram
Insuficiência cardíaca congestiva 2 9,5
e não tiveram sucesso na decanulação em relação à
Depressão 2 9,5
Hipertensão arterial sistêmica 3 14,3
normalidade da PEmax.
Diabetes 2 9,5 Tabela 5. Número e porcentagem de pacientes com valor de normalidade e
abaixo do limite inferior de normalidade da pressão expiratória máxima e sucesso
Doença pulmonar obstrutiva crônica 1 4,8
na decanulação em 21 pacientes traqueostomizados na Unidade Semi-intensiva
Neoplasia de laringe 1 4,8 do Hospital Israelita Albert Einstein
Revascularização miocárdica 8 38,1
Normalidade de pressão expiratória
Insuficiência coronariana 1 4,8 Sucesso na máxima Total
Câncer 4 19,0 decanulação
Valor de normalidade Abaixo do LIN
Obesidade mórbida 1 4,8 Sim 7 (41,2%) 10 (58,8%) 17 (100,0%)
Disfagia 2 9,5 Não 1 (25%) 3 (75%) 4 (100,0%)
Hidrocefalia 1 4,8 Total 8 (38,1%) 13 (61,9%) 21 (100,0%)
Outros 3 14,3 LIN = limite inferior de normalidade

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Estudo preliminar sobre a proposta de um fluxograma de decanulação em traqueostomia com atuação interdisciplinar 5

Nove pacientes (42,9%) apresentaram complicações condições que podem ser desfavoráveis e impedir a
durante o desmame. Dessas complicações, quatro casos decanulação.
foram por disfagia, dois casos apresentaram piora do O intuito do protocolo aqui apresentado é identificá-
quadro clínico e evoluíram com dependência total da las e propor intervenção precocemente. A disfagia
ventilação mecânica e três casos retardaram o desmame orofaríngea pode ser um fator complicador no processo
e decanulação (um por necessidade de cirurgia, outro de desmame da traqueostomia. No HIAE, preconiza-
pela presença de edema de face e o terceiro por se que o paciente que apresente sinais de alteração na
rebaixamento do nível de consciência e cirurgia). deglutição seja submetido à avaliação fonoaudiológica
Dos quatro pacientes que apresentaram disfagia, dois após prescrição médica, bem como avaliação das vias
tiveram sucesso na decanulação e dois não tiveram. aéreas. A identificação da presença de sinal clínico
sugestivo de aspiração não só agiliza a intervenção
fonoaudiológica como também possibilita a avaliação
DISCUSSÃO das vias aéreas, descartando qualquer fator que possa
A amostra foi escolhida aleatoriamente quanto ao tornar o desmame difícil ou impossível (estenose,
sexo, idade e diagnóstico principal, levando-se em granuloma, traqueomalácia e disfagia significativa).
consideração como fator de inclusão a presença de Na presente amostra, dos pacientes que apresentaram
traqueostomia. disfagia, a metade conseguiu decanular após o trabalho
Do total de pacientes analisados no presente do fonoaudiólogo. Entre os que não decanularam,
estudo, poucos não decanularam e a minoria não havia registraram-se a presença de videodeglutograma com
sido entubada anteriormente. A média de tempo de disfagia grave e a ocorrência de alta com traqueostomia
entubação antes da traqueostomia mostrou-se de acordo e com o atendimento fonoaudiológico domiciliar.
com os achados preconizados na literatura(6-7). Existem No presente estudo, alguns pacientes tiveram a dieta
vários fatores que podem dificultar a decanulação. via oral liberada com cuff ainda insuflado, sem serem
Estudos na literatura comprovam que a musculatura acompanhados pelo fonoaudiólogo. O presente
respiratória dos pacientes submetidos à ventilação protocolo permite ao médico liberdade na decisão
mecânica prolongada sofre perda de força e endurance clínica de solicitar ou não avaliações específicas, o
por desuso, e que dependentes da ventilação mecânica que sempre é resolvido com um trabalho de equipe,
apresentam maior predisposição à fadiga dos músculos avaliação e discussão clínica.
respiratórios, ao padrão respiratório anormal e também Segundo Hejidra(12), a PImax está relacionada
são muito mais suscetíveis à falência respiratória, o que ao sucesso no desmame do ventilador. No presente
pode dificultar o desmame da ventilação mecânica(8-9). estudo, não foi encontrada correlação direta entre as
Como conseqüência, pode dificultar ou até mesmo medidas de normalidade de PImax, PEmax e o sucesso
impedir o processo de decanulação. A rapidez na decanulação. No entanto, nos casos de insucesso na
da retomada da ventilação espontânea, quando a decanulação, os valores encontrados estavam abaixo
deficiência muscular é o ponto principal do insucesso, dos limites de normalidade(13).
e o treinamento constituem a melhor diretriz do Não há relatos na literatura de valor preditor de
tratamento(10-11). sucesso para decanular, exceto para pacientes com
É consenso entre os pesquisadores que a PImax doença neuromuscular. O estudo de Bach e Saporito
mínima para manter a ventilação espontânea é de -25 cm realizado em pacientes com doenças neuromusculares
H2O(12). No presente estudo, todos os pacientes tinham identificou o valor de peak cough flow > 160 l/min como
PImax no valor da normalidade segundo Hejidra(12), mas preditor de sucesso para decanular(14). A medida do
os valores de normalidade foram considerados segundo peak cough flow neste estudo não pôde ser considerada
Neder et al.(13). um fator preditivo de sucesso para decanulação,
Também no presente estudo, poucos pacientes possivelmente pela heterogeneidade da amostra.
tiveram dificuldade para decanular, com um tempo Vários autores(15-19) preconizam monitorar a pressão
para decanular alto, quer por dificuldades em alcançar do cuff regularmente com o uso de manômetro. Essa
o desmame total do ventilador ou relacionadas à verificação faz-se necessária pelo risco de complicações
disfagia, mas que foi solucionada com a intervenção na traquéia, o que pode interferir no processo de
do fonoaudiólogo. A metade dos pacientes apresentou desmame da traqueostomia. Lomholt(16) e Bernhard et
dificuldades durante o desmame. Desses, alguns devido al.(19) recomendam 25 cmH2O de pressão de cuff como
à presença de disfagia e outros casos por piora do o valor mínimo necessário para prevenir aspiração
quadro clínico, com conseqüente dependência total da ao redor do cuff e diminuir o risco de pneumonia
ventilação mecânica. A presença de disfagia grave e a nosocomial adquirida. Na prática clínica, é comum que
dificuldade do desmame da ventilação mecânica são as medidas de cuff estejam em desacordo com os valores

einstein. 2008; 6(1):1-6


6 Mendes TAB, Cavalheiro LV, Arevalo RT, Sonegth R

recomendados na literatura. No presente estudo, as 2. Godwing JE, Heffner JE. Special critical care considerations in tracheostomy
pressões encontradas estavam entre 20 e 30 cmH2O na management. Clin Chest Med. 1991;12(3):573-83.
maioria da amostra e nenhuma acima de 40 cmH2O. No 3. Pannunzio TG. Aspiration of oral feedings in patients with tracheostomies.
AACN Clinical Issues. 1996;7(4):560-9.
estudo de Sengupta et al.(15), em apenas 27% da amostra
4. Shapiro J, Downey L. The evaluation and management of swallowing disorders
o valor de pressão do cuff estava entre 20 e 30 cmH2O, in the elderly. Geriatric Times. 2003 [cited 2006 Out 22]; 4(6):[about 11 p.]
e a pressão excedia 40 cmH2O também em 27%. Nossa Available http://www.cmellc.com/geriatrictimes/g031217.html
amostra revelou que um pouco mais da metade das 5. The SPSS Statistical package for the social sciences: base users guide
medidas de pressão do cuff mostrou valores acima de [computer program]. Version 10.0. Chicago: SPSS; 1999.
25 cmH2O e aproximadamente um terço tinha valor 6. Griffiths J, Barber VS, Morgan L, Young JD. Systematic review and meta-
abaixo do recomendado (< 25 cmH2O). analysis of studies of the timing of tracheostomy in adult patients undergoing
Várias anormalidades podem ocorrer em artificial ventilation. BMJ. 2005;330(7502):1243.
conseqüência da pressão excessiva no cuff – entre elas, 7. Rumbak MJ, Newton M, Truncale T, Schwartz SW, Adams JW, Hazard PB.
A prospective, randomized, study comparing early percutaneous dilational
a traqueomalácea. Apesar de ter sido observada em um tracheotomy to prolonged translaryngeal intubation (delayed tracheotomy) in
único caso, não podemos afirmar com segurança a causa, critically ill medical patients. Crit Care Med.;32(8):1689-94. Erratum in: Crit
pois existem vários fatores que podem estar relacionados. Care Med. 2004 Dec;32(12):2566.
A paciente poderia ter traqueomalácea antes de ter 8. Le Bourdelles G, Viires N, Boczkowski J, Seta N, Pavlovic D, Aubier M. Effects
sido realizada a traqueostomia e não foi realizado of mechanical ventilation on diaphragmatic contractile properties in rats. Am
estudo (broncoscopia) antes para análise. O tempo de J Respir Crit Care Med. 1994;149(6):1539-44.
entubação estava no limite de tempo recomendado; 9. Tobin MJ, Alex CG. Discontinuation of mechanical ventilation. In: Tobin MJ.
Principles and practice of mechanical ventilation. New York: McGraw-Hill;
ainda assim sem avaliação prévia não se pode relacionar 1994. p. 1177-206.
esta complicação à pressão do cuff – mesmo porque a 10. Hulzebos EH, Helders PJ, Favié NJ, De Bie RA, Brutel de la Riviere A, van
pressão do cuff é rotineiramente verificada no Serviço do Meeteren NL. Preoperative intensive inspiratory muscle training to prevent
HIAE diariamente, duas vezes por período. postoperative pulmonary complications in high-risk patients undergoing CABG
surgery: a randomized clinical trial. JAMA. 2006;296(15):1851-7.
11. Enright SJ, Unnithan VB, Heward C, Withnall L, Davies DH. Effect of high-
CONCLUSÕES intensity inspiratory muscle training on lung volumes, diaphragm thickness,
and exercise capacity in subjects who are healthy. Phys Ther. 2006;86(3):
Não houve relação direta entre as medidas observadas 345-54.
e a decanulação, no entanto, pode-se afirmar que a 12. Heijdra YF, Pinto-Plata V, Frants R, Rassulo J, Kenney L, Celli BR. Muscle
normalidade das medidas respiratórias associadas à strength and exercise kinetics in COPD patients with a normal fat-free mass
atuação da equipe multiprofissional aumenta as chances index are comparable to control subjects. Chest. 2003 Jul;124(1):75-82.
de uma decanulação mais rápida, livre de complicações 13. Neder JA, Andreoni S, Lerario MC, Nery L. Reference values for lung function
e mais segura para o paciente. tests. II. Maximal respiratory pressures and voluntary ventilation. Bras J Med
Biol Res. 1999;32(6):719-27.
Diante dos aspectos discutidos, pode-se sugerir que
14. Bach JR, Saporito LR. Criteria for extubation and tracheostomy tube removal
um fluxograma com atuação interdisciplinar pode tornar
for patients with ventilatory failure. A different approach to weaning. Chest.
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minimizando os riscos de complicações e refletindo 15. Sengupta P, Sessler DI, Maglinger P, Wells S, Vogt A, Durrani J, et al.
na economia de tempo, de material e de mão-de-obra Endotracheal tube cuff pressure in three hospitals, and the volume required to
especializada. produce an appropriate cuff pressure. BMC Anesthesiol. 2004;4(1):8.
Estudos futuros com amostras maiores serão 16. Lomholt N. A device for measuring the lateral wall cuff pressure of endotracheal
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