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TEMAS DE DIREITO
DE FAMÍLIA
Editora AMCGuedes
2020
Direitos Reservados
Luiz Guilherme Marques
Capa
L.
Revisão
Lúcia Amorim
Tenho muita preocupação com os
processos de interdição.
ISBN: 978-85-8356-080-7
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PREFÁCIO
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APRESENTAÇÃO
O conceito de livre-arbítrio, que preconiza a liberdade
absoluta da vontade do ser humano, antecede o cristianismo e
propicia debates tanto na ciência quanto na teologia e na filosofia.
Apoiadores e opositores se digladiam em torno da questão que
pretende equacionar os julgamentos e as escolhas humanas.
Também é corrente a ideia de que as pessoas são os
frutos das suas vivências individuais, posto que estas determinam
a forma pessoal e intransferível de como o indivíduo lê o mundo
em que vive, ou seja, o seu entendimento da sua própria
existência no mundo.
As Ciências Humanas arquitetam teorias que buscam
integrar legivelmente os indivíduos em sociedades determinadas.
O elo perdido destas inquirições reside na disparidade
das ações individuais em face da vida em sociedade. Como
explicar atitudes diametralmente opostas em sujeitos que tiveram
experiências (materiais e espirituais) similares? Com entender
atitudes mesquinhas em ricos e detectar profundo desapego entre
os despossuídos? O que motiva pessoas bem sucedidas serem
perversas ao lado de fracassados sociais que guardam
mananciais inesgotáveis de bondade?
No seu livro fabuloso, O Quinze, Rachel de Queiroz
narra uma passagem em que retirantes se encontram e Chico
Bento ao ver que vão comer uma rês morta de mal dos chifres
“cabeça inchada não tinha chifres. Só dois ocos podres,
malcheirosos, donde escorria uma água purulenta”, reparte
as suas últimas provisões:
— Faz dois dias que a gente não bota um de-comer de panela
na boca...
Chico Bento alargou os braços, num gesto de fraternidade:
— Por isso não! Aí nas cargas eu tenho um resto de criação
salgada que dá para nós. Rebolem essa porqueira pros
urubus, que já é deles! Eu vou lá deixar um cristão comer
bicho podre de mal, tendo um bocado no meu surrão!
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Exige a lei processual básica alta sensibilidade do O princípio da dignidade da pessoa humana não está
juiz para decidir levando em conta esses sendo levado em contao quanto deveria, quando se interditam
referenciais, uma vez que, com essa postura, estará cidadãos e cidadãs simplesmente porque deixaram de ter a
formando sua própria jurisprudência, o que servirá mesma desenvoltura intelectual e laborativa de que eram dotados
de desestímulo para abusos de useiros e vezeiros no quando eram jovens e durante parte da sua maturidade (essa é
descumprimento das leis, e, de forma indireta, uma realidade palpável, sob o rótulo do acometimento do “mal
instigando à formulação de acordos. de Alzheimer”) e o princípio constitucional da moralidade também
Em cada caso concreto o juiz deve observar a não está, em muitos casos, sendo levado em conta por pessoas
exigência deste dispositivo legal, que representa um que, parentes ou não, querem, na verdade, se apropriar dos
dos grandes pilares da Justiça Cível no nosso país. rendimentos ou patrimônio dos curatelados ainda em vida.
O trabalho do juiz de 1ª Instância não é inexpressivo, No Brasil de hoje, ao invés do respeito com que, em
mas, ao lado dos advogados que apresentam os tempos mais pretéritos, eram tratados os idosos, apenas os jovens
fatos, formulará o respeito ao Estado Democrático e as pessoas que procuram manter a aparência física, natural ou
de Direito na sua Comarca. artificialmente,atraente são valorizadas, daí surgindo a “indústria
Este artigo deveria ser comemorado como uma da siliconagem”, das cirurgias de embelezamento, o
grande vitória para o Direito Processual Civil e os emagrecimento à custa de cirurgias bariátricas, as lesões
advogados devem peticionar no sentido de que as provocadas pelo excesso de exercícios físicos nas academias
decisões e sentenças dos juízes avancem no trilho de ginástica etc. etc.
deste dispositivo legal.” Em última instância, está sendo praticada a Eugenia [5]
Dentre os processos de Direito de Família os que tratam fria, de eliminação, sem a explicitação que se praticou no período
de curatela [4] são os que exigem maior respeito humano, porque, da Alemanha nazista,das pessoas que não mais estão em
de acordo com seu desfecho, cidadãos e cidadãs, se interditados condições físicas ideais de boa forma e produtividade laborativa
precipitada ou injustamente, perdem sua autoestima e, dentro em ritmo de “qualidade total” [6].
de um tempo mais um menos longo, vêm a óbito, como se pode Após a eclosão do movimento hippie [7], na década de
verificar estatisticamente, apesar de nunca quem quer que seja 1960, praticamente somente os jovens e os que se mantêm,
ter-se preocupado em realizar o trabalho de verificação do mesmo em idade avançada, com aparência e perfil psicológico
número de óbitos ocorridos. desse tipo, têm tido oportunidade de viver com maiores chances
Os operadores do Direito de Família devem ser dotados de respeitabilidade e dignidade nos variados setores da vida em
de um grande respeito humano e não agirem apenas como frios sociedade.
aplicadores das leis processuais e de Direito material, o que, Para contrabalançar essa discriminação contra os idosos,
infelizmente, tem acontecido, como tenho verificado depois que editou-se o Estatuto do Idoso [8], que, todavia, tem sido quase
assumi a 1ª Vara de Família da Comarca de Juiz de Fora – MG. que letra morta na realidade do dia a dia, bem como, para não
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orais de escassa confiabilidade na maioria dos casos, como se 2 – A TOMADA DE DECISÃO APOIADA
vê no dia-a-dia do foro, uma vez, por exemplo, que se queira DE ACORDO COM O CÓDIGO CIVIL
provar os rendimentos de uma pessoa ou as necessidades de
outra nas ações de alimentos.
TEXTO LEGAL: Art. 1.783-A. A tomada de decisão apoiada
Nas Varas de Família não há como se pensar de outra é o processo pelo qual a pessoa com deficiência elege pelo menos
maneira, pois a priorização das provas documental e pericial dá 2 (duas) pessoas idoneas, com as quais mantenha vínculos e
a agilidade ideal, a fim de durar cada processo apenas o tempo que gozem de sua confiança, para prestar-lhe apoio na tomada
razoável. de decisão sobre atos da vida civil, fornecendo-lhes os elementos
e informaçoÞes necessários para que possa exercer sua
Outro entrave para a duração razoável dos processos é
capacidade. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência).
a maioria das partes pedir a gratuidade de justiça sem ser pobre
no sentido da lei.
COMENTÁRIO: Trata-se de um processo judicial, ou
Em suma, acima de tudo, deve haver boa-fé nos pedidos seja, não vale se for combinado de outra forma, sem uma
e nas defesas, porque, assim cumprida essa regra do novo CPC, sentença judicial transitada em julgado.
estampada na Parte Geral, tudo fica mais fácil e atende-se ao Pessoa com deficiência é toda aquela que apresente
objetivo principal de cada processo, que é a solução mediante algum déficit físico ou mental.
autocomposição e, quando isso não acontecer, que quem tem Quem pode tomar a iniciativa é a pessoa portadora de
razão seja o vencedor na demanda, ao contrário do que costuma deficiência e não outrem. Trata-se da legitimidade ativa para o
acontecer, que é o mais esperto ganhar a causa. ajuizamento da ação judicial.
O número mínimo de indicados é dois, não havendo
Isso tudo falo no meu novo livro, que se chama “Código número máximo.
de Processo Civil – Parte Geral – Comentado”, publicado pela Pessoa idônea é aquela que, além de não ter sofrido ação
AMCGuedes, ed. 2019 e que pode ser adquirido através do penal com condenação, não tenha contra si qualquer restrição
endereço anunciado no portal do Tribunal de Justiça mineiro, no que o juiz entender incompatível com o exercício do “munus”,
setor de anúncios. mas deve-se esclarecer que o juiz é quem vai decidir se a ação
deve ser julgada procedente ou não, ou seja, no caso específico
da escolha das pessoas apoiadoras, se podem ou não ser
escolhidas.
Manter vínculo significa ter alguma ligação afetiva,
podendo ser parente ou não. Se não há o elo da afetividade não
deve ser escolhida uma pessoa, de vez que não se trata de função
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TEXTO LEGAL: § 3º Antes de se pronunciar sobre o pedido TEXTO LEGAL: § 5º Terceiro com quem a pessoa apoiada
de tomada de decisão apoiada, o juiz, assistido por equipe mantenha relação negocial pode solicitar que os apoiadores
multidisciplinar, após oitiva do Ministério Público, ouvirá contra-assinem o contrato ou acordo, especificando, por escrito,
pessoalmente o requerente e as pessoas que lhe prestarão apoio. sua função em relação ao apoiado. (Incluído pela Lei nº 13.146,
(Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência). de 2015) (Vigência).
COMENTÁRIO: A inversão na sequência dos atos COMENTÁRIO: Quem venha a ter qualquer relação
processuais é aceitável, aliás, sendo mais conveniente primeiro jurídica com a pessoa apoiada deve exigir a apresentação da
realizar-se perícia para verificação de ser a parte autora portadora sentença transitada em julgado ou decisão concessiva de tutela
ou não de deficiência. Em caso negativo, rejeita-se a inicial após de evidência de urgência, sendo essa opção melhor do que a
o parecer do Ministério Público. Em havendo deficiência exposta no texto legal, que diz: “...pode solicitar que os
comprovada pericialmente, afirmada também sua extensão pelo apoiadores contra-assinem o contrato ou acordo, especificando,
perito, o juiz inquire os interessados (pessoa apoiada e por escrito, sua função em relação ao apoiado”, uma vez que o
apoiadores) e faz constar o ocorrido no termo de audiência. que vale é o estabelecido na sentença transitada em julgado ou
Não sendo possível o comparecimento da pessoa portadora de na referida decisão de tutela.
deficiência, o juiz deve deslocar-se até onde ela se encontra.
Em seguida, dando oportunidade para a parte autora apresentar TEXTO LEGAL: § 6º Em caso de negócio jurídico que possa
suas alegações finais, o Ministério Público emite seu parecer trazer risco ou prejuízo relevante, havendo divergência de
final e o juiz sentencia. Todavia, em uma única audiência pode opinioÞes entre a pessoa apoiada e um dos apoiadores, deverá
ocorrer tudo isso. o juiz, ouvido o Ministério Público, decidir sobre a questão.
(Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência).
TEXTO LEGAL: § 4º A decisão tomada por pessoa apoiada
terá validade e efeitos sobre terceiros, sem restriçoÞes, desde COMENTÁRIO: Podem ocorrer desarquivamentos do
que esteja inserida nos limites do apoio acordado. (Incluído pela processo transitado em julgado quando ocorrerem as
Lei nº 13.146, de 2015) (Vigência). mencionadas divergências, sendo que, nesses casos, a
legitimidade ativa é de qualquer um dos interessados, ou seja, o
COMENTÁRIO: Para valer em relação a terceiros a apoiado ou qualquer dos apoiadores, evidentemente.
sentença transitada em julgado ou a decisão de tutela de evidência Nesses casos, o juiz pode determinar o que achar
ou de urgência tem de ser dada a conhecimento público, através conveniente para decidir, inclusive a realização de perícia acerca
dos meios próprios de comunicação e registro. do ato jurídico, por exemplo, a compra ou venda de um imóvel,
casamento etc.
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da prova pericial que afirme a necessidade ou desnecessidade Tomei ciência de pessoas que não preenchem os
da interdição, portanto, não devendo ser realizadas, pois requisitos de interesse de agir e legitimidade para ajuizar ações
significarão atraso no desfecho do processo. O mesmo quanto de curatela. Infelizmente, existem esses casos, que tomam o
a eventuais outras modalidades probatórias. tempo da Justiça, percebendo-se, em muitos deles, a intenção
A prova técnica (perícia) é a única relevante para o caso clara de se apropriarem dos rendimentos ou bens principalmente
quanto ao item 1 acima. de pessoas idosas.
A entrevista me parece uma inocuidade, uma vez que o Sou frontalmente contra alguém ser nomeado curador
juiz não detém os conhecimentos técnicos para se contrapor ao de mais de uma pessoa, a não ser em casos excepcionalíssimos,
perito que ele nomeou e que afirmou ser ou não caso de pois passa a ser um verdadeiro “profissional da curatela”, o que
interdição, mas cada caso é um caso, de tal forma que, em representa um desvirtuamento, que, infelizmente, acontece.
situação excepcional, deve realizar-se a entrevista, a critério do Não sou favorável ao estabelecimento de remuneração
juiz, naturalmente que sua decisão sujeita está a agravo. para curadores, principalmente se forem parentes, mas deve ser
O estudo psicossocial pode servir de subsídio, mas resolvido caso a caso esse aspecto da curatela. Principalmente
apenas para verificação da conjuntura que cerca o interditando, filhos e cônjuges não devem ser remunerados, os primeiros
mas o perigo está em os interessados em camuflar a verdade porque já deram muitas despesas aos seus pais principalmente
conseguirem criar um quadro irreal, que pode induzir os na infância, adolescência e juventude, sendo que os pais não
profissionais da Psicologia e da Assistente Social em erro, lhes cobraram essa ajuda e os segundos porque casaram-se
aparentando uma realidade que não existe e que apenas visa justamente para viverem os momentos bons e os difíceis durante
mostrar um quadro irreal de bons tratos ao interditando. o relacionamento.
Nesse aspecto vi um caso em que esses profissionais Houve um caso que chegou a um Tribunal em que o
dialogaram com todos, menos com os interditandos, porque filho apropriou-se do patrimônio do pai a pretexto de estar-lhe
estariam dormindo na hora da vistoria e entrevistas... prestando ajuda como curador e o referido Tribunal decidiu (a
A respeito da escolha do curador (item 2 acima), nem eu ver erradamente) que o filho tinha direito a uma remuneração.
sempre o juiz deve preferir o autor da ação, mas sim pessoa Outra questão grave, que é a do item 3 acima, infelizmente
realmente idônea moralmente e efetivamente tomada de afeição não costuma ser objeto da preocupação do Ministério Público,
pelo curatelado, pois não basta administrar-lhe os bens e sendo que, no caso da 1ª Vara de Família de Juiz de Fora, da
rendimentos, mas também representar um apoio afetivo ao qual sou titular, o Ministério Público não está cumprindo seu
curatelado, pois trata-se de um ser humano e não de uma massa dever quanto a esses dois pontos (apresentação de balanços e
falida: por isso, o aspecto afetivo conta, e muito, ou, na realidade, exigência de prestação de contas), que geram o enriquecimento
deveria ser levado em conta, pois, em inúmeros casos, os ilícito da maioria dos curadores à custa dos seus curatelados.
curadores são verdadeiros aproveitadores frios dos proventos A sentença não precisa ser prolixa, mas deve justificar a
e patrimônio dos seus curatelados e nada mais do que isso. necessidade ou não da interdição, principalmente com base na
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perícia, justificar por que foi escolhido o curador e determinar a 4 – A INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE
apresentação de balanços e prestação de contas.
Tenho como sugestão a apresentar ao notável e inovador A investigação de paternidade, a partir da verificação
presidente do TJMG desembargador Nelson Missias de Morais de que o exame de DNA é prova conclusiva, não deve demorar
que, em Comarcas de maior porte, determine, através de mais do que o necessário para realizar-se essa prova e as partes
Resolução, que apenas um juiz de Vara de Família fique apresentarem suas alegações finais.
especializado nos processos de curatela, como, aliás, acontece Muitas vezes os procuradores das partes requerem a
com os processos relacionados a administradoras de Planos de produção de outras provas, mas o processo tem de demorar
Saúde, que ficam, nas referidas Comarcas, sob a presidência apenas o tempo necessário, assim cumprindo-se a regra do art.
dos juízes das 2ªs Varas Cíveis. 6º do CPC, que diz:
A especialização é importante e a curatela é o ponto “Todos os sujeitos do processo devem cooperar
nevrálgico da área do Direito de Família, justamente por resolver entre si para que se obtenha, em tempo razoável,
sobre a possível “morte psicológica” dos injusta ou decisão de mérito justa e efetiva”.
equivocadamente interditados. Fala-se na exatidão de mais de 99% desse tipo de
exame. Não faz sentido, portanto, prolongar-se um processo
por conta de menos de 1% de dúvida.
Aliás, cumpre ao juiz impedir que haja atos processuais
desnecessários (art. 139, III, segunda parte, do CPC), tanto
quanto tem o dever de fazer com que os processos cheguem a
um final em prazo razoável, segundo o art. 139, II, do CPC.
Tenho para mim que, uma vez verificada a paternidade,
não se deve permitir que conste como pai outra pessoa que não
essa cuja paternidade é a real, a não ser que haja a opção por
outra pessoa, mas, em hipótese alguma, se deve permitir que
alguém tenha mais de um pai.
A tendência moderna para o quase “vale tudo” representa
um atentado ao princípio constitucional da moralidade, uma vez
que, por exemplo, no caso de direito hereditário, a duplicidade
pode prejudicar eventuais herdeiros que têm apenas um pai.
Essa novidade recente não encontra respaldo na Ética e
o Direito não pode e nem deve consagrar o antiético.
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Fiquei sabendo de um caso em que a parte autora ajuizou 5 – ALIMENTOS PARA FILHOS MAIORES
ação de investigação de paternidade em face de três pretensos
pais ao mesmo tempo. Se eu fosse o juiz da causa rejeitaria a Completando a idade de 18 anos, salvo exceções, o
inicial por desobedecer a regra processual de que a parte ré homem ou a mulher adquirem a capacidade civil, sendo que,
deve ser determinada e não cabe à Justiça investigar nesse caso, deveriam não mais ter direito a alimentos a ser
aleatoriamente, causando constrangimento a pelo menos dois cobrados dos pais e mães. Todavia, no nosso país, onde a cultura
dos imputados e, diga-se de passagem, talvez até aos três... do trabalho não fez escola, ao contrário do que acontece nos
A Justiça não deve se prestar a esse tipo de demanda, chamados países de 1º mundo, instituiu-se o entendimento
que está eivada de má-fé, devendo haver condenação por jurisprudencial de que os universitários têm direito a alimentos
litigância de má-fé contra o demandante e seu patrono. independente da sua idade.
Uma opção que se me afigura importante na atual Vejo casos de abusos no dia a dia do foro, quando
conjuntura, em que os juízes de 1º grau estão assoberbados pessoas adultas se aproveitam da morosidade da Justiça para
com os processos da sua Vara ou Comarca, e além disso ainda receberem pensões indefinidamente, quase sempre sem nenhuma
são obrigados a atuar nas Turmas Recursais dos Juizados intenção de trabalharem.
Especiais, presidir periodicamente audiências de custódia e, Deve-se considerar que é dever dos pais preparar os
agora, atuar no sistema de rodízio como juízes das garantias, filhos para o trabalho, o que será definitivo em suas vidas, enquanto
ficar designando audiências de instrução e julgamento para que o estudo visa apenas facilitar o ingresso em empregos ou
completar a prova pericial de DNA, que é a única conclusiva, é cargos normalmente melhor remunerados.
“chover no molhado” e aumentar a morosidade processual. O adjutório, todavia, deve cingir-se apenas ao necessário
Não há mais condições de superabundar nas provas para o homem ou a mulher passarem efetivamente à vida adulta,
dispensáveis simplesmente por amor ao debate. o que se faz através do autosustento pelo trabalho.
A jurisprudência tem se orientado no sentido de que o
importante na vida dos jovens é o estudo, devendo graduar-se
em nível o mais elevado possível, havendo até quem entenda
que os pais são obrigados a pensionar o filho ou a filha até a
conclusão de mestrado ou doutorado, mas esses que assim
pensam esquecem-se de que o decisivo mesmo na vida de um
homem ou uma mulher, na fase adulta e pelo o resto da vida, é o
trabalho, pois ele é que proporciona o auto sustento.
Normalmente, a pessoa que começa a trabalhar mais
precocemente, amadurece mais e se prepara para o futuro, como
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pessoa responsável e consciente não apenas como ser humano estudos em faculdades particulares, porque são maus alunos,
como na qualidade de trabalhador e cidadão. uma vez que os bons ingressam nas universidades públicas.
Essa forma de pensar é uma realidade em países como A jurisprudência paternalista a que me refiro contribui
os Estados Unidos, onde cerca de 92% dos jovens trabalham, para que muitos jovens deixem de trabalhar e ingressem no
sendo essa uma das causas principais dessa nação ser tão mundo da drogadição e do alcoolismo por conta do não
poderosa. compromisso com uma atividade laboral, a qual exige disciplina
A demora do ingresso dos jovens no mercado de e integração na realidade do exercício de um ofício, mesmo que
trabalho prejudica a eles próprios e faz com que a força de generalista.
trabalho que eles representam não seja aproveitada. Como juiz defendo essa tese, que, espero, aos poucos,
Pondere-se que o art. 8º do CPC diz que toda decisão vá derrubando a outra, brasileira, que contraria a americana.
judicial deve visar o bem comum, os fins sociais e a dignidade
da pessoa humana, além de outros itens.
Bem analisada a forma dos nossos juízes e Tribunais
decidirem, indiretamente incentivando a falta de vontade de
trabalhar efetivamente, verifica-se que essas decisões paternalistas
desatendem as exigências do bem comum e do atendimento aos
fins sociais, porque o país acaba sendo sobrecarregado com
milhões de pessoas que não trabalham, e igualmente não
consideram que faz parte da dignidade humana o cidadão prover
ao próprio sustento pelo trabalho.
A pessoa adulta que não trabalha realmente é uma
anomalia em países como os Estados Unidos, podendo-se afirmar
que Bill Gates, que fundou sua própria empresa aos 17 anos,
quando iniciou sua vida laboral, não é uma exceção naquele país,
sendo que, no nosso, todos os jovens querem ser universitários,
contando-se nos dedos aqueles que realmente levam a sério seus
estudos, principalmente comprovado esse fato se forem
aprovados para ingresso nas universidades públicas.
Tenho o entendimento de que, uma vez completada a
maioridade, o jovem deve prover ao próprio sustento pelo
trabalho e que os pais não devem ser obrigados a custear seus
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11 – A INTERPRETAÇÃO DO ART. 3º DO o grande garantidor da segurança dos cidadãos
CPC (PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA contra abusos e ameaças de abusos.
INAFASTABILIDADE) No meu livro “A Justiça e o Direito da Índia”,
publicado na Internet (https://jus.com.br/artigos/
“Art. 3º Não se excluirá da apreciação jurisdicional 4552/a-justica-e-o-direitoda-india) e outros sites, fiz
ameaça ou lesão a direito.” constar esta observação que vale para o Brasil:
No meu livro “Código de Processo Civil – Parte Geral “Em um contexto institucional de frágil separação
– Comentado” (AMCGuedes, 2019), comento esse dispositivo: de poderes e carência das instituições políticas os
“Esta regra, como todas as demais, tem de ser Tribunais são os únicos em condições de atender as
interpretada “cum grano salis”, uma vez que, por exigências da sociedade. (Institut des Hautes Études
exemplo, com a norma constitucional da separação sur la Justice, França)”.
dos Poderes, o Judiciário não deve invadir Comentei anteriormente, neste livro, sobre pais e mães
determinados espaços reservados aos demais que usam filhos como “buchas de canhão” em suas divergências
Poderes, nem também os espaços reservados a processuais e extraprocessuais.
pessoas físicas (grifos nossos) ou jurídicas, que Os juízes devem ficar atentos para não se transformarem
detêm o direito constitucional da liberdade, contanto em árbitros de questiúnculas que as partes deveriam evitar trazer
que não prejudiquem terceiros ou atentem contra o para os autos, até por uma questão de respeito à sobrecarga
Estado Democrático de Direito. vivenciada pela Justiça, que tem tarefas mais importantes a realizar
A receada “ditadura do Judiciário” deve ser que não a de solucionar o que nem merece ocupar espaço em
evitada, porque, em caso contrário, estaremos processos.
diante da supressão de garantias constitucionais em
favor da violência estatal praticada por um dos
Poderes da República.
Todavia, como os limites entre o público e o privado
e entre os três Poderes da República muitas vezes
são questionáveis ou questionados, cada caso deve
ser analisado de per si. A presença do Judiciário na
sociedade brasileira é essencial, principalmente
como garantia para as próprias pessoas físicas e
jurídicas, em um país onde as instituições são frágeis
e, em última instância, aqui no Brasil o juiz ainda é
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12 – O DEVER DOS OPERADORES DO 13 – INTENÇÃO FRAUDULENTA DAS
DIREITO DE CONTRIBUIR PARA A PARTES EM PROCESSO DE DIVÓRCIO
CONCILIAÇÃO CONSENSUAL OU LITIGIOSO
O art. 3º, § 2º, do CPC reza:
Nesses casos o juiz deve aplicar a regra do art. 142 do
“O Estado promoverá, sempre que possível, a solução
CPC, que diz:
consensual dos conflitos.”
“Art. 142. Convencendo-se, pelas circunstâncias,
O § 3º é taxativo no sentido de que “a conciliação, a
de que autor e réu se serviram do processo para
mediação e outros métodos de solução consensual de
praticar ato simulado ou conseguir fim vedado por
conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados,
defensores públicos e membros do Ministério Público, lei, o juiz proferirá decisão que impeça os objetivos
inclusive no curso do processo judicial.” das partes, aplicando, de ofício, as penalidades
Hoje em dia, com a presença dos CEJUSCs em grande da litigância de má-fé.”
parte das Comarcas, pelo menos mineiras, os juízes devem encaminhar Por incrível que pareça, há casos desse tipo, competindo
os processos a esse valioso setor da Justiça, que, mais cedo ou ao juiz julgar improcedente o pedido e condenando as partes
mais tarde, se tornará tão importante quanto os Juizados Especiais. como litigantes de má-fé.
Já ocorreu a interposição de agravo de instrumento Há casos de pedidos de divórcio e mudança de regime
contra determinação judicial de remessa de processo ao de bens para fraudar credores.
CEJUSC para tentativa de conciliação, o que significa uma Quando se trata de mudança de regime de bens,
desconsideração para com o espírito do CPC e texto expresso principalmente para lançar as dívidas sobre um dos cônjuges,
de lei que determina que todos devem contribuir para a realização isentando o outro, pode-se saber que o caso deve merecer
de acordos: art. 3º § 3º, que diz: atenção redobrada, devendo-se, para tanto, mandar intimar os
“A conciliação, a mediação e outros métodos de credores, que devem ser mencionados pelas partes, por ordem
solução de conflitos deverão ser estimulados por do juiz, os quais podem passar a compor a lide como terceiros
juízes, advogados, defensores públicos e membros interessados, ao invés de simplesmente serem comunicados via
do Ministério Público, inclusive no curso do edital, do qual, na certa, não tomarão conhecimento.
processo judicial” Em suma, compete ao juiz julgar com Justiça, atendendo
O legislador quer dizer que a conciliação deve ser tentada aos princípios inclusive do art. 8º do CPC, impedindo que
em qualquer fase processual, sendo que, quando juiz titular da aconteçam casos como se tem ciência, de divorciados que
2ª Vara Cível de Juiz de Fora – MG, realizei audiências de continuam a viver juntos, enquanto que seus credores ficam
conciliação até em processos em grau de recurso e em mandado
prejudicados com o aval da Justiça.
de segurança e consegui muitos acordos.
Posso ser rotulado como “o juiz das conciliações”.
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do Brasil, de modo que seja possível conhecer e 14. Por que é importante apresentar (junto com
acompanhar a relação de seus bens. os demonstrativos em papel) o arquivo, em mídia
Apresentar cópia da sentença homologatória da digital, contendo a planilha elaborada que
prestação de contas do período precedente, exceto evidencie os saldos mensais, inicial e final, os
na primeira prestação de contas. recebimentos e os pagamentos efetivados, relativos
Anexar todos os documentos acima mencionados à prestação de contas?
na petição inicial de prestação de contas, A apresentação do arquivo, em mídia digital,
juntamente com o arquivo, em mídia digital, contendo a planilha que evidencie os saldos mensais,
contendo a planilha elaborada que evidencie os inicial e final, os recebimentos e os pagamentos
saldos mensais, inicial e final, os recebimentos e os efetivados, confere agilidade ao exame da prestação
pagamentos efetivados, relativos à prestação de de contas e contribui para o alcance do princípio
contas. da celeridade processual.
12. Por que os extratos bancários de conta- 15. Por que é necessário relacionar os veículos e
corrente, poupança e fundos de investimentos os imóveis do curatelado/tutelado e comprovar a
devem ser apresentados na prestação de contas? regularidade do pagamento das despesas relativas
Por meio dos extratos bancários de conta-corrente, a esses bens?
poupança e fundos de investimentos é possível Ao curador/tutor cabe administrar não só os
identificar quais os montantes disponíveis em favor rendimentos do curatelado/tutelado, mas também
do tutelado/curatelado, em cada uma dessas contas, o patrimônio deste. Assim, a cada prestação de
no momento inicial da prestação de contas, bem contas deverá comprovar que os impostos e taxas
como acompanhar as movimentações ali estão devidamente pagos, por meio da juntada de
verificadas até o último dia da prestação de contas. certidões negativas, referentes a IPTU, IPVA e taxas
13. Por que é importante apresentar, na primeira condominiais, além de multas.
prestação de contas, a última declaração de 16. É preciso contador para elaborar a prestação
rendimentos do tutelado/curatelado junto à de contas?
Secretaria da Receita Federal do Brasil? Não é necessário contador, mas o tutor/curador
Por meio da apresentação da última declaração de pode contratar o serviço desse profissional para
rendimentos do tutelado/curatelado junto à auxiliá-lo.
Secretaria da Receita Federal do Brasil, é possível 17. Quando a prestação de contas pode ser
conhecer e acompanhar a relação de todos os seus dispensada?
bens e direitos. O juiz poderá dispensar a prestação de contas
quando o tutelado/curatelado não tiver bens nem
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renda, ou se os bens e a renda foram de baixo valor. 15 – CUIDADOS DO JUIZ PARA NÃO
Ademais, quando o curador for o cônjuge e o regime PERMITIR O SURGIMENTO DA PROFISSÃO
de bens do casamento for de comunhão universal, DE “CURADOR PROFISSIONAL”
não será obrigado à prestação de contas, salvo
determinação judicial (art. 1.783 do Código Civil).
Notei, em pouco tempo de exercício na área de Família,
Em resumo, a prestação de contas pode ser assim
a tendência para a nomeação de algumas pessoas como
organizada: curadoras de muitos interditados, sobretudo aqueles internos em
1. Declaração de Imposto de Renda;
Abrigos de idosos. Ouvi a notícia de que há uma funcionária de
2. Relação de bens e certidões negativas (veículos
uma dessas entidades que foi, no curso dos anos, sendo nomeada
e imóveis); curadora até chegar à cifra extraordinária de cerca de quatro
3. Planilhas e documentos respectivos mês a mês;
dezenas de curatelas. No mínimo, apresenta-se questionável e
4. Extratos de todas as contas bancárias e
inconveniente essa concentração de nomeações, agravada pelo
aplicações financeiras mês a mês; fato de nunca ter-lhe sido cobrada prestação de contas e nem
5. CD com as planilhas gravadas”.
apresentação de balanços. A Justiça não pode condescender
com esses quadros de facilitação de possíveis apropriações
indébitas de proventos de curatelados.
O Ministério Público entende que, com base em
entendimento jurisprudencial do STJ, não deve exigir prestação
de contas de curadores que administram valores que beiram pelo
salário mínimo, enquanto que os juízes nunca se preocupam em
exigir a referida prestação de contas, acreditando ser atribuição
de outros atuantes nos processos e não sua.
E os próprios curatelados, singelamente, não sabem que
têm o direito de questionar a forma como seus curadores agem,
normalmente sem grande honestidade.
Assim, considerando a gravidade do risco que paira sobre os
curatelados, em termos financeiros, recomendo aos juízes e membros
do Ministério Público que não admitam a concentração do “múnus”
nas mãos de um único “curador”, que a gente pode desconfiar de ser
“profissional”, ou seja, passar a completar sua remuneração mensal
com parcelas dos proventos dos curatelados, ilicitamente...
52 53
16 – O FALECIMENTO DO CURATELADO CONSIDERAÇÕES SOBRE A PRISÃO POR DÍVIDA
NÃO PODE GERAR O ENCERRAMENTO DO DE PRESTAÇÃO ALIMENTÍCIA
PROCESSO DE CURATELA ANTES DA
PRESTAÇÃO DE CONTAS PELO CURADOR (Luiz Guilherme Marques, juiz de direito da 1ª Vara de Família
da Comarca de Juiz de Fora – MG)
Tenho visto inúmeros casos desse tipo, em que o curador É mais do que sabido que a legislação civil prevê a
noticia, muitas vezes muito tempo depois de ocorrido o óbito, possibilidade da prisão por dívida alimentícia, sendo seu período
que o fato ocorreu, pedindo, pura e simplesmente, a extinção de até 3 meses.
do feito, que pede seja encaminhado ao arquivo definitivo. Igualmente é sabido que a finalidade não é punitiva, mas
Esquece-se de que a obrigação de prestar contas e sim coercitiva, como parte do poder geral de cautela, concedido
apresentar balanços é de lei e ninguém pode administrar ao juiz da causa, com o objetivo de convencer o devedor a
patrimônio alheio sem a corresponde obrigação de justificar a cumprir seu dever de pagar o que deve ao(à) credor(a),
boa ou má administração do que não lhe pertence. normalmente seu(a) filho(a) ou (ex)-cônjuge.
Tenho determinado que esses curadores prestem contas Não se pode interpretar esse regramento legal, bem como
antes de determinar qualquer outra coisa quanto ao processo de nenhum outro, sem a incidência da norma cogente estampada
curatela. no art. 8º do CPC, que estabelece:
Em muitos casos vi que a notícia do falecimento só foi “Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá
feita nos autos meses ou até anos depois do ocorrido, o que dá aos fins sociais e às exigências do bem comum,
a entender que o curador pode ter se apropriado de proventos resguardando e promovendo a dignidade da pessoa
(aposentadorias ou pensões) dos curatelados, inclusive após o humana e observando a proporcionalidade, a
óbito, o que significaria lesão ao patrimônio público em detrimento razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.”
da fonte pagadora. Em determinado caso concreto, no julgamento de um
Tudo isso deve ser verificado caso a caso pelo juiz e agravo de instrumento, o desembargador do TJMG Luís Carlos
pelo Ministério Público, inclusive devendo haver abertura de Gambogi votou de forma diferente da usual, ou seja, ao substituir
inquérito policial para apuração de eventual figura típica penal. a prisão comum de um devedor de 81 anos pela sua prisão
domiciliar com uso de tornozeleira eletrônica, com a condição
de prestar caução do valor cobrado.
Após a publicação desse entendimento realmente moderno
no portal do TJMG em 07/02/2020 e republicação em 10/02/2020,
determinei em um caso concreto ocorrido na minha Vara, a medida
do uso de tornozeleira eletrônica, sendo que a viabilização da
providência vai ficar por conta da burocracia do TJMG.
54 55
Devem ser colocados nos dois pratos da balança da como coerção para o pagamento, a não ser em casos extremos,
Justiça o credor e o devedor, cada um dos dois com sua os quais devem ser justificados com fundamentos sólidos.
dignidade, suas necessidades, sua realidade, acima de qualquer No nosso país, atualmente, tem-se colocado em um
abstracionismo, pois a Justiça julga pessoas e não abstrações. verdadeiro pedestal as crianças, os adolescentes e os jovens e
Devemos ponderar que o credor pode, por conta do deixado em terceiro plano os adultos que trabalham com
inadimplemento, estar sofrendo com a falta de medicamentos, dignidade e recebem seus salários ou proventos como frutos e
com a não frequência à escola ou até passando por situações consequências desse trabalho.
insuportáveis, talvez irreversíveis, ao mesmo tempo que devemos O número de jovens ociosos, que preferem fingir que
levar em conta que o encarceramento pode trazer consequências estudam e não admitem a realidade de que têm de trabalhar
irreversíveis, considerando-se a precariedade das prisões para terem a dignidade da cidadania plena, sobrecarregam seus
brasileiras, em que a convivência desses devedores com pais trabalhadores com cobrança de prestações alimentícias e
criminosos perigosos possivelmente trará consequências vivem como peso morto na sociedade, pois a ociosidade conduz
gravíssimas, inclusive até a morte, o que não é incomum nos aos vícios e, em muitos casos, à criminalidade.
presídios. É preciso repensar-se a questão do aprisionamento de
Conforme entendimento geral, a finalidade desse tipo pessoas trabalhadoras por dívida alimentar, quando a própria
de prisão é coercitivo e não punitivo. Portanto, se é possível Justiça Criminal tem, com argumentos vários, talvez até por
intimidar-se o devedor para providenciar o pagamento do débito leniência, favorecido bandidos perigosos com o não aprisionamento
através da utilização altamente vexatória da tornozeleira e a aplicação, em seu lugar, de tornozeleira eletrônica.
eletrônica, a sua prisão representará um excesso, verdadeiro Assim, como regra geral, nos casos ocorrentes nesta
desrespeito ao princípio da dignidade da pessoa humana, sem Vara, aplicarei essa medida, com base no art. 8º do CPC.
contar o desacato aos princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade, bem assim ao da eficiência, justamente por PS:
constituir-se um excesso. Ilustre Magistrado Luiz Guilherme, acuso o
No caso julgado pelo desembargador Luís Carlos recebimento de sua manifestação e agradeço.
Gambogi não sei se ele levou em consideração o enquadramento Seu artigo, ainda que caminhe por fundamentos
do caso no Estatuto do Idoso, o qual, diga-se de passagem, é diferentes, revela solidez jurídica, densidade
desrespeitado no Brasil, inclusive pelas autoridades do próprio intelectual e coração humanitário.
Judiciário por não aplicarem-no no dia a dia do foro. Fico feliz ao identificar que temos compreensão
Assim, considerando que o art. 8º tem vigência plena, comum acerca da prisão na hipótese de alimentos.
tratando-se de norma cogente e não um favor que se pode fazer Em vindo a BH, gostaria de conhecê-lo.
a uns e não se fazer a outros na realidade forense, entendo que, Fraternalmente, o colega,
em qualquer caso de dívida alimentar, não se deve aplicar a prisão Luis Carlos Gambogi
56 57
TEMAS DE DIREITO DE FAMÍLIA
[1]
“Direito de família é o ramo do Direito Civil que trata
das relações familiares e das obrigações e direitos
decorrentes dessas relações, tem como conteúdo os
estudos do casamento, união estável, relações de
parentesco, filiação, alimentos, bem de família,
tutela, curatela e guarda.
Dentro do Direit o de Famíl ia, encont ramos
o Casamento, que é a união voluntária entre duas
pessoas, formalizada nos termos da Lei, com o
objetivo de manter uma plena comunhão de vida.
Em Portugal encontra-se regulado no livro quarto
do Código Civil.
A mat éria está regulada no Código Civil
Brasileiro de 10 de Janeiro de 2002, nos artigos
1.511 a 1.783 (Livro IV – Do direito da família) e de
1.784 a 2.046 (Livro V – Do direito das sucessões).
Ela disciplina, ainda, a necessidade de contrato entre
[2]
“Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada
pela união indissociável dos Estados e Municípios e
do Distrito Fede ral, consti tui-se em Estado
democrático de direito e tem como fundamentos: (…)
III – a dignidade da pessoa humana”.
58 59
Luiz Guilherme Marques TEMAS DE DIREITO DE FAMÍLIA
Mundial) que a Qualidade Total tomou o formato O cliente é Rei. Não se permitir servi-lo senão com
que i nfluenciou os empre sários do mundo produtos de qualidade;
todo. Shigeru Mizuno publicou o livro Company-
A prevenção deve ser a tão montante quanto possível;
Wide Total QualityControl, publicado pela Asian
Productivity Organization em 1988, que teve milhares Na lógica anglo-saxônica de “trial and error”, nunca
de edições vendidas no mundo todo [2] . permitir que um problema se repita;
A Toyota, no Japão, foi a primeira organização a A lógica para que as empresas se possam desenvolver
empregar o conceito de “TQM” (ver Toyotismo), de acordo com estes pressupostos é a lógica
superando a eta pa do ford ismo, onde esta do PDCA (Plan; Do; Check; Acttocorrect).
responsabilidade era limitada apenas ao nível da Gerenciamento de Processos
gestão. No “TQM” os colaboradores da organização Ciclo PDCA
possuem uma gama mais ampla de atribuições, cada Controle de qualidade
um sendo diretamente responsável pela consecução ISO 9000
dos objetivos da organização. Desse modo, a Sete ferramentas da qualidade
comunicação organizacional, em todos os níveis, Kaizen
torna-se uma peça-c have da dinâ mica da 5s”
organização, e Vicente Falconi afirma que “um
(https://pt.wikipedia.org/wik i/
produto ou serviço com qualidade é aquele que
Gest%C3%A3o_da_qualidade_total)
atende sempre perfeitamente e de forma confiável,
de forma acessível, de forma segura e no tempo certo
às necessidades do cliente”. [7]
Os princípios básicos da qualidade total são: “O movimento hippie foi um comportamento coletivo
de contracultura dos anos 1960. Embora tendo uma
Produ zir bens o u serviço s que resp ondam
relat iva queda de popula ridade nos anos
concretamente às necessidades dos clientes;
1970 nos Estados Unidos, a célebre máxima “paz e
Garantir a sobrevivência da empresa por meio de um amor” (em inglês, “peace and love”), que precedeu
lucro contínuo obtido com o domínio da qualidade; a expressão “ban the bomb” (“proíbam a bomba”),
Identificar o problema mais crítico e solucioná-lo pela a qual criticava o uso de armas nucleares. As
mais elevada prioridade (Pareto); questõ es ambient ais, a prát ica de nud ismo e
a emancipação sexual eram ideias respeitadas
Falar, raciocinar e decidir com dados e com base em recorrentemente por estas comunidades.
factos; Optaram por um modo de vi da comunit ário,
Administrar a empresa ao longo do processo e não tendendo a uma espécie de Nova Esquerda, a um
por resultados; estilo de vida nômade e à vida em comunhão com a
natureza. Negavam o nacionalismo e a Guerra do
Reduzir metodicamente as dispersões por meio do Vietnã, bem como todas as guerras. Abraçavam
isolamento das causas fundamentais; aspectos de religiões orientais como o budismo e
62 63
Luiz Guilherme Marques TEMAS DE DIREITO DE FAMÍLIA
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Luiz Guilherme Marques TEMAS DE DIREITO DE FAMÍLIA
“Art. 1o É instituída a Lei Brasileira de Inclusão da educação física e dietética, em suma, campos direta
Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com ou indiretamente ligados ao que influi na maneira
Deficiência), destinada a assegurar e a promover, de viver ou estilo de vida. Um exemplo desta visão
em condições de igualdade, o exercício dos direitos clássica da ética pode ser encontrado na obra
e das liberdades fundamentais por pessoa com Ética, de Spinoza. Os filósofos tendem a dividir
defici ência, visa ndo à sua inclusão so cial e teorias éticas em três áreas: metaética, ética
cidadania”. normativa e ética aplicada.
Porém, c om a crescente profissionali zação e
“Art. 2o Considera-se pessoa com deficiência aquela
especialização do conhecimento que se seguiu
que tem impedimento de longo prazo de natureza
à revolução industrial, a maioria dos campos que
física, mental, intelectual ou sensorial, o qual, em
eram objeto de estudo da filosofia, particularmente
interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir
da ética, foram estabelecidos como disciplinas
sua participação plena e efetiva na sociedade em
científicas independentes. Assim, é comum que
igualdade de condições com as demais pessoas”.
atualmente a ética seja definida como “a área da
(https://pt.wikipedia.org/wiki/
filosofia que se ocupa do estudo das normas morais
Estatuto_da_Pessoa_com_Defici%C3%AAncia_(Brasil))
nas sociedades humana s” e busca explicar e
justi ficar os c ostumes de um determinado
[10]
agrupamento humano, bem como fornecer subsídios
“Ética ou filosofia moral é, na filosofia, o estudo do
para a solução de seus dilemas mais comuns. Neste
conjun to de valo res morais de um gru po ou
sentido, ética pode ser definida como a ciência que
indivíduo. A palavra “ética” vem do grego ethos e
estuda a conduta humana e a moral é a qualidade
significa caráter, disposição, costume, hábito, sendo
desta conduta, quando julga-se do ponto de vista
sinônima de “moral”, do latim mos, mores (que serviu
do Bem e do Mal.
de tradução para o termo grego mais antigo,
A ética é intrinsecamente relacionada à definição
significando também costume, hábito).
da moralidade, ao questionamento e julgamento
Na filosofia clássica, a ética não se resumia apenas
sobre quais são os bons e maus valores no
aos hábitos ou costumes socialmente definidos e
relacionamento humano (axiologia), pois seu campo
comuns, mas buscava a fundamentação teórica
de estudo é esclarecer o que pode ou deve ser
para encontrar o melhor modo de viver e conviver,
uma normatividade de conduta, se há alguma
isto é, a busca do melhor estilo de vida, tanto na
possível de se definir. Apesar da conotação negativa
vida privada quanto em público. A ética incluía a
de moral como vinculada à obediência a costumes e
maioria dos campos de conhecimento que não eram
hábitos recebidos, sua definição essencial é a mesma
abrangidos na física, metafísica, estética, na lógica,
de ética e, ao contrário, busca fundamentar as ações
na dialética e nem na retórica. Assim, a ética
morais de forma racional. A ética também não deve
ab ra ngi a os ca mp os qu e atu al men te são
ser co nfundida c om a lei, embora com certa
denominados antropologia, psicologia, sociologia,
frequência a lei tenha como base princípios éticos.
economia, pedagogia, às vezes política, e até mesmo
Ao contrário do que ocorre com a lei, nenhum
66 67
Luiz Guilherme Marques TEMAS DE DIREITO DE FAMÍLIA
indivíduo pode ser compelido, pelo Estado ou por que “d ispõe sobre a criaçã o de cadastro de
outros indivíduos, a cumprir as normas éticas, nem profissionais e órgãos técnicos ou científicos no
sofrer qualquer sanção pela desobediência a estas; âmbito da Justiça de primeiro e segundo graus”;
por outro lado, a lei pode ser omissa quanto a CONSIDERANDO a Resolução do Co nselho
questões abrangidas no escopo da ética”. Nacional de Justiça nº 236, de 13 de julho de 2016,
(https://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89tica) que “regulamenta, no âmbito do Poder Judiciário,
procedimentos relativos à alienação judicial por meio
[11] eletrônico, na forma preconizada pelo art. 882, §
RESOLUÇÃO Nº 882/2018 1º, do novo Código de Processo Civil (Lei 13.105/
Institui o Sistema Eletrônico Auxiliares da Justiça – 2015)”;
Sistema AJ, com a finalida de de cada stro, CONSIDERANDO o Decreto nº 21.981 de 19 de
credenciamento e gerenciamento de peritos, órgãos outubro de 1932, que “regula a profissão de Leiloeiro
técnicos ou científicos, tradutores, intérpretes, ao território da República”;
leiloe iros públic os e corret ores, e dá outras CONSIDERANDO a necessidade e a conveniência
providências. de instituir e implantar sistema eletrônico para
O ÓRGÃO ESPECIAL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA cadastro, credenciamento e gerenciamento de
DO ESTADO DE MINAS GERAIS, no uso das peritos, órgãos técnicos ou científicos, tradutores,
atribuições que lhe conferem os incisos V e VII do intérpretes, leiloeiros públicos e corretores, visando
art. 34 do Regimento Interno do Tribunal de Justiça, atender e facilitar a nomeação de auxiliares da
aprovado pela Resolução do Tribunal Pleno n° 3, justiça pelo Tribunal de Justiça do Estado de Minas
de 26 de julho de 2012, Gerais – TJMG e pelos juízos de Primeira Instância
CONSIDERANDO o teor dos incisos XXXV, LV e do Estado de Minas Gerais;
LXXIV do art. 5º da Constituição da República CONSIDERANDO o que ficou consignado nos
Federativa do Brasil; processos do Sistema Eletrônico de Informações –
CONSIDERANDO o disposto nos arts. 156 a 158, SEI nº 0010917-51.2017.8.13.0000 e n° 0048421-
162 a 164 e no § 3º do art. 880, todos da Lei nº 91.2017.8.13.0000;
13.105, de 16 de março de 2015, Código de Processo CONSIDERANDO ainda o que constou do Processo
Civil - CPC; da Comissão Administrativa nº 1.0000.18.055341-
CONSIDERANDO a Resolução do Co nselho 4/000, bem como o que ficou decidido pelo Órgão
Nacional de Justiça nº 127, de 15 de março de 2011, Especial, na sessão realizada em 12 de setembro de
que “dispõe sobre o pagamento de honorários de 2018, RESOLVE:
perito , tradutor e intérprete, em ca sos de CAPÍTULO I
beneficiários da justiça gratuita, no âmbito da DO OBJETO
Justiça de primeiro e segundo graus”; Art. 1º Fica instituído o Sistema Eletrônico Auxiliares
CONSIDERANDO a Resolução do Co nselho da Justiça – Sistema AJ, com a finalidade de
Nacional de Justiça nº 233, de 13 de julho de 2016, cadastro, credenciamento e gerenciamento de
peritos, órgãos técnicos ou científicos, tradutores,
68 69
Luiz Guilherme Marques TEMAS DE DIREITO DE FAMÍLIA
intérpretes, leiloeiros públicos e corretores, aptos a Resolução do Conselho Nacional de Justiça - CNJ
serem nomeados pelo Tribunal de Justiça do Estado nº 233, de 13 de julho de 2016, além de outros
de Minas Gerais – TJMG e pelos juízos de Primeira requisitos previstos em normas da Corregedoria-
Instância do Estado de Minas Gerais. Geral de Justiça do Estado de Minas Gerais – CGJ
Parágrafo único. O Sistema AJ conterá: e em edital.
I – o Cadastro Eletrônico de Peritos e Órgãos Art. 7º Os interessados em se cadastrar no CTRADI
Técnicos ou Científicos do Estado de Minas Gerais deverão atender às normas constantes do CPC, além
– CPTEC; de outros requisitos previstos em normas da CGJ e
II – o Cadastro Eletrônico de Tradutores e Intérpretes em edital.
do Estado de Minas Gerais – CTRADI; e Art. 8º Os interessados em se cadastrar no CCOLE
III – o Cadastro Eletrônico de Corretores e Leiloeiros deverão atender ao disposto no CPC e na Resolução
do Estado de Minas Gerais – CCOLE. do CNJ nº 236, de 13 de julho de 2016, além de
Art. 2° O CPTEC destina-se ao cadastramento de outros requisitos previstos em normas do TJMG, da
interessados em prestar serviços de perícia ou exame CGJ e em edital.
técnico, nos processos judiciais de natureza cível, Art. 9º A CGJ publicará edital contendo os requisitos
nos termos do § 1º do art. 156 da Lei nº 13.105, de e as condições necessárias, bem como a relação de
16 de março de 2015, Código de Processo Civil – documentos a serem apresentados pelos profissionais
CPC. e órgãos técnicos ou científicos interessados em se
Art. 3º O CTRADI destina-se ao cadastramento de cadastrar nos módulos do Sistema AJ.
tradutores e intérpretes, interessados em prestar § 1º O cadastramento a que se refere o “caput” deste
serviços de tradução e de interpretação em processos artigo, bem como a documentação apresentada e as
judiciais. informações registradas nos módulos do Sistema AJ,
Art. 4º Os profissionais e órgãos técnicos ou são de inteira responsabilidade do profissional ou
científicos, indicados nos arts. 2º e 3º desta do órgão técnico ou científico interessado, que são
Resolução, interessados em atuar nos processos em garantidores de sua autenticidade e veracidade, sob
que haja concessão de gratuidade da justiça, as penas da lei.
deverão assinalar a opção correspondente no § 2º Os profissionais e os órgãos técnicos ou
Sistema AJ. científicos deverão manter os dados cadastrais e as
Art. 5º O CCOLE destina-se ao cadastramento de informações prestadas devidamente atualizados.
corretores interessados em realizar alienações Art. 1 0. Caberá à Secretaria de Supo rte ao
particulares e de leiloeiros interessados em realizar Planejamento e à Gestão da Primeira Instância –
alienações particulares e leilões judiciais. SEPLAN, pela Coordenação de Atendimento à
CAPÍTULO II Primeira Instância – COAT, validar os dados pessoais
DO CADASTRO E DO CREDENCIAMENTO e profissionais, bem como a respectiva documentação
Art. 6º Os interessados em se cadastrar no CPTEC apresentada pelos profissionais e órgãos técnicos
deverão atender às disposições do CPC e da ou científicos interessados em prestar os serviços de
que trata esta Resolução.
70 71
Luiz Guilherme Marques TEMAS DE DIREITO DE FAMÍLIA
Art. 11. Caberá à Diretoria Executiva de Finanças e semestralmente, ou em prazo inferior e sempre que
Execução Orçamentária - DIRFIN, pela Gerência lhes for requisitado.
de Ex ecução Orç amentária e Administ ração Art. 15. A CGJ poderá, a qualquer tempo, realizar
Financ eira – GEFIN, conferir e valid ar as avaliações e reavaliações relativas à formação
informações e os documentos relacionados à técnica, ao conhecimento e à experiência dos
contribuição para o Regime Geral da Previdência profissionais e órgãos técnicos ou científicos
Social e ao Imposto Sobre Serviço de Qualquer credenciados.
Natureza – ISSQN dos peritos, órgãos técnicos ou Parágrafo único. Informações em relação ao
científicos, tradutores e intérpretes interessados em desempenho dos profissionais e órgãos técnicos ou
atuar nos casos de gratuidade da justiça. cientí ficos cred enciados, c omunicadas pelos
Art. 12. O credenciamento de profissionais e de magistrados, poderão ser anotadas no Sistema AJ.
órgãos técnicos ou científicos cadastrados será Art. 16. Não será admitido o credenciamento de
deferido após a validação do cadastramento pela empresas de tecnologia ou de instituições para
CGJ. realização do leilão eletrônico, nos termos do que
§ 1º Ressalvada a hipótese prevista no § 4º do art. dispõe o art. 19 do Decreto nº 21.981, de 19 de
880 do CPC, somente após a validação a que se outubro de 1932, podendo tais empresas, no entanto,
refere o “caput” deste artigo, o profissional ou órgão ter seus sistemas habilitados pelo TJMG, para uso
técnico ou científico estará apto a ser nomeado pelo pelos leiloeiros credenciados.
TJMG e pelos juízos de Primeira Instância do Estado Art. 17. Será disponibilizada no Portal do TJMG a
de Minas Gerais. lista contendo o nome dos profissionais e órgãos
§ 2º O credenciamento é requisito obrigatório para credenciados.
o perito, o órgão técnico ou científico, o tradutor CAPÍTULO III
ou o intérprete ser remunerado pelos serviços DAS NOMEAÇÕES
prestados e não assegura direito à efetiva nomeação. Art. 18. Caberá ao magistrado, nos feitos de sua
Art. 13. O credenciamento ou a efetiva atuação do competência, nomear, pelo Sistema AJ, profissional
profissional não gera vínculo empregatício ou ou órg ão técnico ou cientí fico deten tor de
estatutário entre ele e o Poder Público. conhecimento necessário à realização das perícias,
Art. 14. O regular credenciamento dos profissionais bem como tradutor, intérprete, corretor e leiloeiro
e órgãos técnicos ou científicos no Sistema AJ é judicial regularmente credenciado no Sistema AJ.
condicionado à ausência de impedimentos ou de Parágrafo único. A nomeação a que se refere o
restrições ao exercício profissional. Parágrafo único. “caput” deste artigo será realizada, equitativamente,
As ent idades, os conselhos e os órgã os de de forma direta ou mediante sorteio, observada a
fiscalização profissional deverão informar à CGJ necessidade do juízo, a impessoalida de, a
as suspensões e outras situações que importem capacidade técnica do profissional ou do órgão
impedimento ao exercício da atividade profissional, técnico ou científico e a sua participação em
trabalhos anteriores.
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Luiz Guilherme Marques TEMAS DE DIREITO DE FAMÍLIA
Art. 19. Observada a necessária especialização para V - ao órgão credenciado que possua em seus
a realização do serviço, o magistrado poderá quadros detentor de cargo, emprego ou função
nomear perito, órgão técnico ou científico, tradutor pública no âmbito do Poder Judiciário do Estado
ou intérprete não credenciado no Sistema AJ, se na de Minas Gerais, exceto nas hipóteses do inciso I
localidade não houver inscritos, ou quando houver do § 3º do art. 95 do CPC, quando não será devido
indicação consensual pelas partes. o pagamento de honorários periciais.
§ 1º O perito indicado pelas partes, na forma do Parágrafo único. A vedação de que trata o inciso
art. 471 do CPC, fica sujeito às mesmas normas e III do “caput” d este artigo é extensi va aos
deve reunir as mesmas qualificações exigidas do funcionários, sócios ou acionistas de órgãos
perito judicial. credenciados no Sistema AJ.
§ 2º Na hipótese prevista no “caput” deste artigo, o Art. 21. É vedado o exercício do encargo de tradutor
perito, o órgão técnico ou científico, o tradutor ou ou intérprete ao profissional:
o intérprete será notificado, no mesmo ato que lhe I – que incida nas hipóteses legais de impedimento
der ciência da nomeação, para proceder ao seu ou de suspeição, nos termos do art. 148 do CPC;
cadastramento, no prazo de 30 (trinta) dias, sob pena II – que seja cônjuge, companheiro ou parente, em
de ficar impedido de receber os honorários pelos linha reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro
serviços prestados. grau, de magistrado, de advogado com atuação no
CAPÍTULO IV processo ou de servidor do juízo em que tramita a
DAS VEDAÇÕES causa, devendo declarar, se for o caso, o seu
Art. 20. É vedado o exercício do encargo de perito: impedimento ou a sua suspeição;
I - ao profissional que incida nas hipóteses legais III – que não tiver a livre administração de seus bens;
de impedimento ou de suspeição, nos termos do art. IV – que for arrolado como testemunha ou atuar
148 do CPC; como p erito no p rocesso no qual tenh a sido
II - ao profissional ou órgão técnico ou científico nomeado; V – que estiver inabilitado para o exercício
que tenha servido como assistente técnico de da profissão por sentença penal condenatória,
qualquer das partes, nos 3 (três) anos anteriores; enquanto durarem seus efeitos.
III - ao profissional que seja cônjuge, companheiro Art. 22. É vedado o credenciamento de leiloeiros e
ou parente, em linha reta, colateral ou por afinidade, corretores, assim como seus respectivos prepostos,
até o terceiro grau, de magistrado, de advogado com que se enquadrarem em, pelo menos, uma das
atuação no processo ou de servidor do juízo em que seguintes situações:
tramita a causa, devendo declarar, se for o caso, o I – incida nas hipóteses legais de impedimento ou
seu impedimento ou a sua suspeição; de suspeição, nos termos do art. 148 do CPC;
IV - ao detentor de cargo, emprego ou função II – seja cônjuge, companheiro ou parente, em linha
pública no âmbito do Poder Judiciário do Estado reta, colateral ou por afinidade, até o terceiro grau,
de Minas Gerais, exceto nas hipóteses do inciso I de magistrado, de advogado com atuação no
do § 3º do art. 95 do CPC, quando não será devido processo ou de servidor do juízo em que tramita a
o pagamento de honorários periciais;
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causa, devendo declarar, se for o caso, o seu defesa, no prazo de 15 (quinze) dias, instruindo-a
impedimento ou a sua suspeição; com os documentos que entender necessários.
III – seja servi dor efetiv o, comissi onado, § 1º Ultrapassado o prazo concedido, com ou sem
terceirizado, estagiário ou cedido ao TJMG; apresentação de defesa, o pedido de suspensão ou
IV – esteja com o direito de licitar ou contratar de exclusão será submetido ao Corregedor-Geral
suspenso, ou tenha sido declarado inidôneo pela de Justiça do Estado de Minas Gerais.
Administração Pública Federal, Estadual, Municipal § 2º O profissional ou o órgão técnico ou científico
ou do Distrito Federal; e o magistrado representante serão comunicados da
V – esteja com a inscrição profissional suspensa decisão do Corregedor-Geral de Justiça do Estado
perante o conselho de classe ou a Junta Comercial; de Minas Gerais, que determinar a suspensão ou a
VI – não atenda aos requisitos do edital. exclusão a que se refere o art. 23 desta Resolução.
CAPÍTULO V § 3º A decisão a que se refere o § 2º deste artigo
DA SUSPENSÃO E DA EXCLUSÃO será anotada no Sistema AJ, para conhecimento dos
Art. 23. O profissional ou órgão técnico ou científico magistrados do Estado de Minas Gerais.
credenciado poderá ser suspenso ou excluído do CAPÍTULO VI
Sistema AJ, por até 5 (cinco) anos, pela CGJ: DA REMUNERAÇÃO E DO PAGAMENTO DOS
I – no caso de descumprimento de dispositivos desta SERVIÇOS PRESTADOS PELOS AUXILIARES DA
Resolução, de atos normativos do TJMG, da CGJ JUSTIÇA
ou do Edital de Credenciamento; Art. 25. O Sistema AJ, além do previsto no art. 1º
II – quando, por dolo ou culpa, prestar informações desta Resolução, será utilizado para a solicitação e
inverídicas, agir com negligência ou desídia; III – a validação de pagamentos de honorários devidos
por outro motivo relevante; a peritos, órgãos técnicos ou científicos, tradutores
IV – por meio de comunicação de suspensão ou de e intérpretes, nos feitos em que tenha sido deferida
exclusão pelo órgão de classe à CGJ, que promoverá a gratuidade da justiça.
a anotação no cadastro. Art. 26. Será autorizado o pagamento de honorários
§ 1º A suspensão ou a exclusão a que se referem os periciais e de traduções e interpretações por meio
incisos I, II, III do “caput” deste artigo não desonera do Sistema AJ, observada a legislação processual
o profissional ou o órgão técnico ou científico de vigente, quando:
seus deveres nos processos ou procedimentos para I – quem requerer o serviço for beneficiário da
os quais tenha sido nomeado, salvo determinação gratuidade da justiça;
expressa do juiz da causa. II – d eterminado, de ofício , pelo juízo ou a
§ 2º Nas hipóteses dos incisos I, II e III do “caput” requerimento do Ministério Público, desde que a
deste artigo será observado o contraditório e a parte autora seja beneficiária da gratuidade da
ampla defesa. justiça;
Art. 24. Apresentada a representação pelo magistrado, III – requerido pelo Ministério Público, na condição
o profissional ou o órgão técnico ou científico será de parte. Parágrafo único. O Sistema AJ também
notificado, por via eletrônica, para apresentar poderá ser utilizado para pagamento de honorários
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referentes à realização de exame técnico nos respeitados os limites previstos no art. 29 desta
processos de competência dos Juizados Especiais Resolução, e:
da Fazenda Pública. I – a complexidade da matéria;
Art. 27. Para pagamento dos honorários devidos aos II – o zelo e a especialização do profissional;
peritos, órgãos técnicos ou científicos, tradutores e III – o lugar e o tempo exigidos para a prestação do
intérpretes, o magistrado deverá encaminhar serviço;
solici tação de p agamento p elo Sistema AJ, IV – as peculiaridades regionais.
observado o término do prazo para manifestação Art. 31. Caberá à CGJ, pela SEPLAN, o controle
das partes ou, have ndo solicita ção de das de spesas com os recursos destina dos ao
esclarecimentos, após haverem sido prestados. pagamento de honorários, em processos em que haja
Parágrafo único. O encaminhamento da solicitação concessão de gratuidade da justiça, para o que
de pagamento de honorários pelo juízo competente contará com o apoio da Secretaria-Executiva de
comprovará a realização do trabalho pericial, valendo Planejamento e Qualidade na Gestão Institucional
como declaração de recebimento da prestação de – SEPLAG, da DIRFIN e da Diretoria Executiva de
serviço discriminado no documento fiscal. Gestão de Bens, Serviços e Patrimônio – DIRSEP.
Art. 28. O pagamento, em caso de gratuidade da Art. 32. O pagamento dos honorários nos feitos com
justiça, será efetuado após o processamento da gratuidade da justiça fica condicionado à existência
solicitação, observada a ordem cronológica de de previsão e de disponibilidade orçamentária.
apresentação das requisições no Sistema AJ e as Art. 33. Os recursos vinculados ao custeio da
deduções das cotas previdenciária e fiscal, devendo gratuidade da justiça destinam-se, exclusivamente,
o valor líquido ser depositado em conta bancária ao pagamento de honorários pela prestação de
indicada pelo prestador do serviço. serviços de perícia, de tradução e interpretação e
Art. 29. Caberá à Presidência do TJMG, por dos encargos incidentes.
Portaria, editar, atualizar e publicar tabela fixando Art. 34. Fica vedada a liberação de recursos
os valores máximos para a remuneração dos peritos, orçamentários e financeiros para pagamento de
órgãos técnicos o u científi cos, tradut ores e profissionais e órgãos não credenciados no Sistema AJ.
intérp retes, est abelecidos nesta Reso lução, Art. 35. O sucumbente no processo fica obrigado a
nomeados para atuar em processo em que a parte ressarcir, aos cofres públicos, os pagamentos
goze do benefício da gratuidade da justiça. efetuados nos termos desta Resolução, para o que
Parágrafo único. A tabela a que se refere o “caput” será intimado, salvo se beneficiário da gratuidade
deste artigo não se aplica aos casos em que haja da justiça enquanto suspensa a exigibilidade.
convênio ou contrato específico para a realização § 1º O ressarcimento de que trata este artigo será
de determinado tipo de trabalho. feito por Guia de Recolhimento de Custas e Taxas
Art. 30. O magi strado, mediante de cisão Judiciárias – GRCTJ.
fundamentada, arbitrará os honorários do perito ou § 2º Desatendida a intimação de que trata o “caput”
do órgão nomeados para prestar serviços nos deste artigo:
processos com deferimento de gratuidade da justiça,
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I – a secretaria do juízo emitirá a Certidão de Não desde que o pro fissional ou órgão e steja
Pagamento de Despesas Processuais - CNPDP; regularmente credenciado no Sistema AJ.
II – a CNPDP será enviada eletronicamente à Parágrafo único. Caso o profissional ou órgão
Advocacia-Geral do Estado de Minas Gerais – AGE, técnico ou científico não esteja devidamente
para que sejam adotadas as medidas cabíveis. credenciado, o pagamento permanecerá depositado
§ 3º Se a sucumbência recair sobre entidade com em conta bancária à disposição do juízo, até que a
prerrogativa de pagar suas dívidas na forma do art. situação seja regularizada.
100 da Constituição da República Federativa do Art. 40. O corretor nomeado pelo juízo para realizar
Brasil, será expedida requisição de pagamento em a alienação particular será remunerado conforme
favor do TJMG, em valor correspondente ao das comissão de corretagem fixada pelo juiz da causa.
despesas antecipadas no curso do processo. Art. 41. O leiloeiro público, além da comissão sobre
§ 4º O processo não poderá ser baixado: o valor da venda, a ser fixada pelo magistrado, no
I – enquanto não for quitado o débito a que alude o mínimo de 5% (cinco por cento) sobre o valor da
“caput” deste artigo; ou arrematação, a cargo do arrematante, fará jus ao
II – em caso de não ressarcimento das despesas com ressarcimento das despesas com a remoção, guarda
a assistência, enquanto n ão for exp edida e conservação dos bens, desde que documental-
eletronicamente a CNPDP. mente comprovadas, na forma da lei.
Art. 36. Nos processos extintos com resolução de § 1º Não será devida a comissão ao leiloeiro público
mérito, por transação, serão observados os termos na hipótese da desistência de que trata o art. 775
do acordo celebrado entre as partes. do CPC, de anul ação da arrematação ou de
Parágrafo único. Havendo transação, sem definição resultado negativo do leilão.
quanto ao responsável pela quitação do valor dos § 2º Anulada ou verificada a ineficá cia da
serviços prestados, será ele dividido igualmente entre arrematação ou ocorrendo a desistência prevista no
as partes. art. 775 do CPC, o leiloeiro público devolverá ao
Art. 37. O TJMG não antecipará ao profissional ou arrematante o valor recebido a título de comissão,
órgão técnico ou científico valores para custear corrigido pelos índices aplicáveis aos créditos
despesas decorrentes do trabalho técnico a ser respectivos.
realizado. CAPÍTULO VII
Art. 38. Nos casos de competência delegada, o DAS DISPOSIÇÕES FINAIS
pagamento dos honorários, nos processos em que Art. 42. Caberá à Diretoria Executiva de Informática
haja deferimento da gratuidade da justiça, será - DIRFOR, a gestão técnica, a manutenção e a
efetuado por sistema próprio, nos termos do disposto susten tação da i nfraestrutu ra necessá ria ao
em ato normativo da Justiça Federal. funcionamento do Sistema AJ.
Art. 39. Nas perícias, traduções e interpretações Art. 43. A DIRFOR poderá promover diligências
custea das pelas partes, os honorários serão destinadas à certificação da veracidade das
arbitrados e pagos nos termos da legislação vigente, informações técnicas prestadas por leiloeiros públicos.
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