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RBGN

© FECAP
REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO DE NEGÓCIOS
Review of Business Management
ISSN 1806-4892

Recebido em
15 de março de 2014
Determinantes da Política de
Aprovado em
27 de fevereiro de 2015
Dividendos: evidência de Portugal
1. Luís António Gomes Almeida Luís António Gomes Almeida e
Mestre em Economia pela Elisabeth Teixeira Pereira
Universidade de Aveiro
(Portugal)
Universidade de Aveiro, departamento de Economia,
[gomesalmeida@ua.pt] Gestão e Engenharia Industrial, Portugal

2. Elisabeth Teixeira Pereira Fernando Oliveira Tavares


Doutorada em Gestão Universidade Portucalense Infante D. Henrique,
Industrial pela Universidade departamento de Economia, Gestão e Informática, Portugal
de Aveiro (Portugal)
[melisa@ua.pt]
Editor Responsável: André Taue Saito, Dr.
3. Fernando Oliveira Tavares Processo de avaliação: Double Blind Review
Doutorado em Gestão
Industrial pela Universidade Resumo
de Aveiro (Portugal)
Objetivo – O presente artigo aborda a opção de distribuição dos lucros
[ftavares@upt.pt]
sob a forma de dividendos e tem como objectivo identificar os deter-
minantes da politica de dividendos das corporações não financeiras do
mercado de capitais Português e contribuir para resolver a divergência
existente nos vários estudos teóricos e empiricos sobre este tema.
Método – Para resolver a problemática em estudo foram testados vários
determinantes financeiros através da aplicação do Método da Regressão
Linear Múltipla para as empresas não financeiras cotadas na Euronext
Lisboa, entre 1997 e 2011.
Fundamentação teórica – Baseia-se nas teorias mais relevantes para a
explicação dos determinantes da política de dividendos.
Resultados – Os resultados sugerem a existência de vários indicadores
significativos para a política de dividendos do mercado de capitais
Português, tais como a estabilidade do pagamento de dividendos, o
valor de mercado, o pay-out anterior e a dimensão da corporação. Estes
indicadores influenciam positivamente o valor dos dividendos a distri-
buir pela corporação. Enquanto as oportunidades de crescimento e o
investimento influenciam negativamente a distribuição de dividendos.
Contribuições – Este estudo contribui para a compreensão dos fatores
determinantes da política de dividendos das empresas cotadas na Bolsa
de Lisboa, visando a permear um maior conhecimento científico no
contexto da compreensão dos fatores determinantes da política de
dividendos, bem como como auxiliar na tomada de decisões das cor-
Revista Brasileira de Gestão porações e dos investidores.
e Negócios
Palavras-chave – Politica de Dividendos, Euronext Lisboa, Fluxo de
DOI:10.7819/rbgn.v17i54.1943 Caixa, Passeio Aleatório, Mercado de Capitais.

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Luís António Gomes Almeida / Elisabeth Teixeira Pereira / Fernando Oliveira Tavares

1 Introdução como “dividend puzzle”, pois à medida que se


As empresas têm como finalidade econô- tenta solucionar esta questão, mais ela demonstra
mica o lucro, sendo que a esse lucro podem ser ser como um quebra-cabeça sem solução, ideia
atribuídos dois destinos; ou é mantido na empresa que Black (1976, p. 5) explicita na sua afirmação
e utilizado nas suas atividades, ou é distribuído “quanto mais olhamos para a imagem dos divi-
aos acionistas. Quanto à distribuição, esta pode ser dendos, mais ela se parece com um puzzle, onde
feita de duas formas: sob a forma de dividendos as peças simplesmente não se encaixam”.
ou através da recompra de ações em circulação. Apesar dos inúmeros estudos teóricos
O presente trabalho aborda a opção de e empíricos nesta área, não existe uma posição
distribuição dos lucros sob a forma de dividendos, unânime sobre a escolha dos determinantes da
testando empiricamente os determinantes da po- política de dividendos, continuando em aberto
lítica de dividendos nas empresas não financeiras, para novas investigações.
cotadas na Bolsa de Valores de Lisboa (BVL), entre Sob esta motivação, o presente trabalho
1997 e 2011. versa sobre os determinantes da política de divi-
Gordon (1959) definiu os dividendos dendos nas corporações cotadas na Bolsa de Valo-
como a forma de pagamento fragmentada que res de Lisboa (BVL), pelo fato do atual mercado
os investidores esperam receber, e apontou como de capitais Português ainda não ter alcançado o
causa mais provável para a distribuição de divi- mesmo nível de desenvolvimento dos mercados
dendos o lucro. de outras dimensões, como é o caso do mercado
A política de dividendos é considerada europeu, do norte-americano, e do brasileiro.
como parte integrante do conjunto de decisões Assim, com este estudo abre-se uma opor-
financeiras relevantes na vida das empresas, pois tunidade de contribuir na compreensão desta
desencadeiam alterações em seus indicadores problemática, visando permear um maior conhe-
econômico-financeiros, tendo impacto direto cimento científico no âmbito da compreensão dos
na política de financiamento e investimento. A determinantes da política de dividendos.
empresa, ao distribuir dividendos, provoca uma O presente artigo está estruturado da
diminuição da liquidez dos seus ativos, o que seguinte forma: na seção 2, que se segue a esta
se reflete numa diminuição dos excedentes de introdução, são abordadas as teorias mais relevan-
cash-flows1, influenciando diretamente a forma tes na explicação dos determinantes da política de
de remuneração dos investidores sob a forma de dividendos; a seção 3 é dedicada à formulação das
dividendos ou ganhos de capital. hipóteses, descrição da amostra, seleção de dados
A empresa ao definir a sua política de divi- e explicação da metodologia usada para obtenção
dendos tem necessidade de aferir um nível ótimo de resultados empíricos; na seção 4 procede-se à
de pagamento para maximizar a rentabilidade dos verificação e validação dos pressupostos da meto-
acionistas. A confrontação destes objetivos pro- dologia usada, é feita a apresentação e discussão
voca um trade-off 2 entre o valor a pagar e a reter. dos resultados obtidos através do MRLM; e as
A retenção traduz-se na adequação da estrutura conclusões gerais do presente estudo são apresen-
financeira da empresa, enquanto a distribuição tadas na seção 5.
se traduz na rentabilidade dos acionistas. Esta
indefinição transforma os dividendos num dos
temas mais controversos no mundo das finanças 2 Revisão da Literatura
empresariais, levando à existência de uma diver-
sificada e divergente literatura sobre este tema, e A controvérsia da política de dividendos é
comprovando que os determinantes da política uma discussão antiga, fazendo-nos recuar ao ano
de dividendos são uma das áreas das finanças de 1938, quando John Burr Williams estabeleceu
com várias questões sem respostas. Estes motivos pela primeira vez uma relação entre os dividendos
levaram Black (1976) a classificar esta temática e o valor da empresa. Contudo, foi nas décadas

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de 1950 e 1960 que este tema tomou relevância os dividendos influenciam o valor de mercado da
nas pesquisas com trabalhos teóricos e empíricos empresa.
evidenciando os dividendos e que persiste na atua- Estes autores partilham a opinião de que
lidade influenciando de maneira decisiva toda a os investidores são racionais e geralmente avessos
pesquisa e teorias explicativas recentes da política ao risco, exigindo um maior retorno perante
de dividendos que passaremos a enunciar. maior incerteza e risco. Este prêmio de risco faz
aumentar o custo de capital investido e diminuir
2.1 Teoria da relevância dos dividendos a cotação das ações. A distribuição de dividendos
reduz a incerteza e o retorno exigido, sendo pre-
A teoria da Relevância dos Dividendos, feríveis os dividendos à retenção dos resultados,
defendida por Lintner (1956) e Gordon (1959), ideia universalmente aceite na década de 1960,
sustenta a existência de uma relação entre o mon- ideia esta que foi desvanecendo ao longo dos anos.
tante de dividendos pagos e o valor das ações da Os dividendos são considerados “dinheiro
empresa, sendo estes resultantes de dois grandes na mão”, enquanto as mais-valias são meramen-
fatores, o lucro líquido gerado e o Dividend te potenciais. Esta relação ficou conhecida no
payout. Este último fator é um indicador de dis- mundo das finanças empresariais como “bird in
tribuição de dividendos relativamente ao exercício the hand theory”, ou seja, como teoria do pássaro
econômico anterior. na mão.
Lintner (1956) realizou um trabalho
pioneiro nesta área, através de uma série de vinte 2.3 Teoria irrelevância dos dividendos
e oito entrevistas a gestores de empresas norte
americanas sobre a decisão da distribuição de di- Numa linha oposta à relevância dos divi-
videndos, onde constatou que as decisões sobre a dendos, Modigliani e Miller (1961) encontraram
política de dividendos baseava-se essencialmente evidências de que os dividendos distribuídos não
em payouts3. O autor concluiu também que peran- afetavam o valor da empresa, nem a rentabilida-
te um ambiente de escassez, as empresas preferiam de dos investidores, isto é, são irrelevantes para
recorrer a capitais alheios ao invés de diminuir a o valor da empresa. Contudo, esta irrelevância
distribuição de dividendos, verificando uma certa dos dividendos depende de certas premissas,
estabilidade na política de dividendos ao longo como sejam: estar perante expectativas racionais,
dos vários exercícios econômicos. inexistência de impostos e custos de transação,
Considerada como a teoria embrionária assimetria de informação e outras imperfeições no
deste tema, as ideias alicerces são testadas em- mercado, sendo o mercado de capitais é perfeito
piricamente ao longo destas décadas, como nos e eficiente.
estudos de Grullon, Michaelly, Banertzi e Thaler Num mercado perfeito, o valor da empresa
(2005), Benzinho (2007), Ferreira, Nakamura, é determinado pela política de investimento e pelo
Martin e Bastos (2010), Ribeiro (2010) e Mubin, retorno que os seus ativos proporcionam, ou seja,
Ahmed, Farrukh, Lal e Hussain. (2014). pela sua capacidade em gerar lucro.
Modigliani e Miller (1961) defendem,
2.2 Teoria do pássaro na mão ainda, que o recurso à dívida é uma fonte de
financiamento mais barata, e preferível do que o
Na década de 1950, Gordon e Shapiro recurso ao capital próprio, à retenção de resulta-
(1956) apresentaram um modelo de avaliação de dos e à emissão de capital. Sob esta perspetiva, a
ações que pressupõe o crescimento do dividendo distribuição de dividendos irá alterar a necessidade
a uma taxa constante, sob a premissa da relação de recurso a fundos externos.
direta entre a política de dividendos e o valor de Muito embora as conclusões obtidas por
mercado da empresa. Este modelo defende que Modigliani e Miller (1961) sejam aceitas, exis-
uma ação vale em função das expectativas futuras, tem inúmeras opiniões contrárias à hipótese de

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mercados perfeitos e eficientes, nomeadamente às acesso privilegiado à informação, isto é, os gestores


premissas dos autores, particularmente referente são detentores de mais informação sobre o futuro
aos custos e impostos, personificadas a título da empresa do que o mercado. Esta diferença de
de exemplo nos custos de agência (Jensen & detenção de informação carateriza a assimetria e
Meckling, 1976). os gestores utilizam-na, como uma “mais-valia”,
Eugene Fama (1970) estabelece de uma para sinalizar o mercado sobre as suas expectativas
forma mais explícita a Hipótese de Mercado futuras através da política de dividendos (Miller
Eficiente (HME), defendendo que em mercados & Rock, 1985).
eficientes o preço de um ativo reflete consisten- Os mercados financeiros avaliam as ações
temente todas as informações, não existindo a dos gestores e as implicações destas sobre os resul-
possibilidade de se obter lucros anormais, tendo tados e sobre o valor futuro da empresa (Damo-
distinguido três tipos de eficiência: a fraca, a doran, 2001), sendo os dividendos considerados
semiforte e a forte. Devido às críticas sofridas, como “veículos” de informação, de fácil acesso e
Eugene Fama (1991) tornou a HME mais flexí- pouco onerosos.
vel, postulando que esta hipótese implica que os Lintner (1956) e Modigliani e Miller
preços dos títulos revelam inteiramente todas as (1961) obtiveram evidências empíricas consisten-
informações disponíveis. tes com esta teoria, ao constatarem que a maioria
Contudo, a HME continuou a ter críticas das empresas mantinha o dividend payout. Ali
de diversos autores, como Shiller (1981), Le Roy
(2010) concluiu para bolsa de Bangladesh que o
e Porter (1981), Summers e Shleiffer (1990),
período de tempo escolhido para o anúncio da
Genotte e Lelland (1990), Haugen (1999) e,
distribuição de dividendos sinaliza os investidores.
mais recentemente, podemos enunciar o estudo
Lintner (1956) e Lie (2005) documentam
empírico sobre ações Brasileiras de Cordeiro e
uma resistência por parte dos administradores em
Machado (2013).
aumentarem os dividendos quando existem boas
possibilidades de terem de voltar a retroceder nessa
2.4 Teoria residual dos dividendos
decisão. Estes autores consideram que, numa si-
tuação de equilíbrio, as empresas apresentam uma
A teoria residual assenta na linha conduto-
política de dividendos compatíveis com as suas
ra que só após uma decisão ótima de investimento
perspetivas de crescimento futuro. Por seu lado, o
por parte da empresa, se procederá à distribuição
estudo de Brugni, Sarlo, Bastianello e Paris (2012)
dos dividendos. Esta distribuição por seu lado faz
corrobora esta conclusão, encontrando evidências
diminuir as disponibilidades para os investimen-
de que os resultados das empresas analisados em
tos, que serão financiados por emissão de novas
conjunto com os dividendos apresentavam me-
ações ou capitais alheios. Todavia este capital tem
lhor informação na previsão das cotações do que
um custo associado superior ao custo do capital
próprio. Os dividendos são vistos como resíduo e quando analisados individualmente, reforçando
a política de dividendos como residual. assim a ideia de que os dividendos são portadores
O retorno é influenciado pela política de de uma sinalização informativa.
investimentos e não pela política de dividendos. Já Contudo, autores como Grullon, Mi-
os investidores são indiferentes à forma de retribui- chaelly e Swaminathan (2002) têm uma visão
ção do seu retorno, desde que este seja pelo menos diferente da teoria de sinalização, através da
igual ao exigido pelo mercado (Salsa, 2010). “maturity hypothesis” defendem que os dividen-
dos não sinalizam as boas notícias, pois uma
2.5 Teoria da Sinalização empresa só deveria pagar dividendos quando as
suas oportunidades de investimento estivessem
Esta teoria baseia-se na assimetria de infor- esgotadas, associando os dividendos ao risco e a
mação, que é caraterizada por uma das partes ter lucros decrescentes.

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Esta teoria ainda hoje é cenário para Jensen e Meckling (1976) defendem o
estudos empíricos, como Corso, Kassai e Lima, aumento da dependência do salário dos gestores
(2010), Pietro, Decourt e Galli (2011), e Moreiras, em função dos resultados obtidos. Estes autores
Tambosi Filho e Garcia (2012). defendem ainda que o nível de endividamento
e a distribuição de dividendos são instrumentos
2.6 A Teoria de Pecking Order de controle sobre os gestores, pois ao diminuir
os cash-flows disponíveis aumenta a pressão dos
Esta teoria, também conhecida como acionistas sobre a empresa (ou gestores) por parte
teoria da ordem ou hierarquia, foi reformulada do mercado, e esta pressão leva a um controle
por  Myers e Majluf (1984). Os autores defendem dos custos de agência. Por outro lado, Jesen e
que as empresas priorizam as suas fontes de Meckling (1976) defendem o aumento da depen-
financiamento, baseando-se na premissa de que dência do vencimento destes com os resultados
o custo de financiamento aumenta com a infor- obtidos, os autores defendem ainda que o nível de
mação assimétrica, defendendo que é mais barato endividamento e a distribuição de dividendos são
recorrer à dívida do que emitir novos títulos.  instrumentos de controle sobre os gestores, pois
O financiamento das empresas pode ter ao diminuir os cash-flows disponíveis, aumenta a
três fontes, financiamento interno, recurso à pressão dos acionistas sobre a empresa / gestores
dívida e por último recurso ao capital próprio, por parte do mercado, esta pressão leva a um
sendo estas fontes hierarquizadas, por esta ordem controlo dos custos de agência.
pelos gestores (Fama & French, 2002; Myers & Os autores defendem ainda que as oportu-
Majluf, 1984). nidades de crescimento proporcionam aumento
Myers e Majluf (1984) reconhece que este no endividamento, obrigando que os executivos
modelo, não explica a distribuição de dividendos, sejam mais eficientes (Jensen & Meckling, 1976).
mas devem ser consideradas por afetar as decisões Nesta ótica, o pagamento de dividendos
de dividendos, sendo que o payout ratio está ne- tem um efeito positivo sobre o valor de mercado das
gativamente relacionado com os investimentos empresas, perante a distribuição de dividendos o
e grau de alavancagem financeira. Os gestores capital disponível diminui, diminuindo a margem
retêm os lucros para financiar os investimentos de manobra dos gestores para manipular os recursos
preterindo a distribuição de dividendos aos acio- da empresa, (Silva, Santos, & Almeida, 2011).
nistas, para não ter de submeter-se à fiscalização DeAngelo, DeAngelo e Skinner (2004)
e avaliação externa do mercado, e estabelecem concluíram que as empresas pagam dividendos
dividend payouts menores. para reduzir os custos de agência, associados a um
indicador de endividamento baixo e a elevados
2.7 Teoria da agência fluxos de caixa. Uma ideia com aceitação unanime
é a de que a flexibilidade de gestão é a peça que
Teoria desenvolvida por Jensen e Meckling falta na resolução do puzzle.
(1976) que considera a empresa como um con- As regras seguidas pelos gestores, por
junto de contratos, onde os acionistas têm direito forma a mitigar os conflitos de agência têm
sobre os ativos e fluxos de caixa da empresa. sido investigadas sob a forma de “governança
Acionistas e gestores procuram agir em corporativa”. A qual considera a concentração
defesa dos seus interesses próprios, onde cada qual de propriedade, a constituição do conselho de
tenta maximizar a sua utilidade. Esta maximização administração e a dívida, como instrumentos de
é alcançada sob visões e perspetivas diferentes que controle destes conflitos, entre gestores e acionis-
criam divergências e conflitos entre as duas partes. tas, (Reyna, 2012).
Estes conflitos tendem a ser eliminados, sendo que Almeida, Santos, Ferreira e Torres (2010)
esta operação de eliminação gera custos, os quais e Lameira (2012) concluem que a adoção de boas
são denominados de custos de agência. práticas de governança corporativa abre espaço

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para uma gestão mais transparente, diminuindo a e esta pode ser influenciada pelos sentimentos
assimetria de informação e o conflito de agência. destes. Os gestores praticam uma política de di-
videndos elevados, quando os investidores estão
2.8 Efeito clientela dispostos a pagar um valor superior pelas ações
que distribuem dividendos.
Durante os anos de 1970, investigadores Quer seja por razões psicológicas, ou
e teóricos acrescentaram uma nova variável na razões profissionais, o tipo de dividendos procu-
discussão sobre os determinantes da política de rados pelos investidores varia ao longo do tempo,
dividendos: o efeito dos impostos; concluindo entre ações de rendimento, ou ações de crescimen-
que os dividendos criam uma desvantagem fiscal to. Outra ideia defendida pelos autores na base
para os investidores, pois são tributados a uma desta teoria são as estratégias de arbitragem, em
taxa mais elevada do que os ganhos de capital, que a construção de uma carteira de ações pode
reduzindo a taxa de retorno líquida. diversificar e eliminar o risco específico, contudo
DeAngelo, DeAngelo, Skinner e Douglas o sistémico é assumido.
(2009) defendem contrariamente ao exposto a
existencia investidores com preferência por ações
que pagam dividendos, os investidores apresentam 3 H ipote s e s , A m o s tra e
atitudes diferentes face às mesmas alternativas, esta Metodologia
preferência é considerada como efeito clientela.
Este efeito foi originalmente sugerido por Modi- Numa primeira fase, procede-se ao en-
gliani e Miller (1961), os autores sugerem que as quadramento das discussões de investigação a
empresas, através da sua política de dividendos, serem desenvolvidas e à enunciação das diferentes
atraem para si a sua própria “clientela”, cada inves- hipóteses a serem testadas, numa segunda fase,
tidor escolhe de acordo com as suas necessidades após a formulação das hipóteses, procede-se à
e pontos de vista, a empresa em que irá investir. apresentação e descrição da amostra, referencian-
As preferências dos investidores dependem do as fontes de informações utilizadas, o processo
dos escalões de imposto em que se encontram. In- de tratamento dos dados e a definição operacional
vestidores em baixos escalões de imposto preferem das variáveis- dependentes e independentes - in-
elevados dividendos, e vice-versa. Collins e Kem- cluídas no estudo, tendo a escolha destas, recaído
seley (2000) encontraram evidências empíricas sob as variáveis financeiras mais relevantes usadas
de que a distribuição de dividendos não penaliza em trabalhos empíricos com objetivos similares ao
fiscalmente os investidores, estes mantem em car- nosso, destacando-se a rentabilidade, a estrutura
teira as ações com uma distribuição de dividendos de capital, a dimensão, o risco e os resultados.
relacionados com os seus escalões de imposto. Numa terceira fase, descreve-se a meto-
Outros fatores, como o risco, liquidez e dologia de investigação usada, isto é, o modelo
situação fiscal de cada acionista, estão no suporte econométrico usado para estimar os resultados
da escolha dos investidores. Neste mesmo âmbito, empíricos.
o trabalho de Holanda e Coelho (2012) indica
que o efeito clientela influencia a política de di- 3.1 Hipóteses
videndos das empresas brasileiras.
As hipóteses de investigação inscrevem-se
2.9 Teoria do Catering na lógica teórica da problemática do trabalho de
investigação, baseada na literatura revista, e na
Desenvolvida por Baker e Wurgler (2004), lógica de testar os fatores determinantes da política
é uma teoria na área das finanças comportamentais de dividendos. As variáveis explicativas da política
que defende que as decisões sobre os dividendos de dividendos são agrupadas em grupos como a
são influenciadas pela demanda dos investidores, rentabilidade, a dimensão, o valor de mercado, o
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risco, estrutura financeira, liquidez e a estabilidade apresenta uma relação negativa com os divi-
no pagamento de dividendos, entre outros, são dendos. Lintner (1956) e Grullon et al. (2002)
atributos tidos como explicativos da política dos concluem que empresas com menor nível de
dividendos pelas diversas teorias financeiras. risco, apresentam maior tendência para pagar
Apresenta-se nos pontos seguintes o elenco dividendos mais elevados.
de hipóteses de investigação baseadas na literatura Já Lie (2005) partilha da mesma conclu-
e resultantes da articulação dos métodos utilizados são, contudo em vez de recorrer aos resultados
na construção do modelo respeitante às variáveis líquidos, usa os resultados operacionais e encontra
a testar. evidências de que uma menor volatilidade dos
resultados operacionais levam ao aumento da
3.2 Base de literatura e formulação das distribuição de dividendos. E conclui que após
hipóteses o aumento dos dividendos a volatilidade dos
resultados decresce.
A rentabilidade é um dos grupos de tri- Autores como Ribeiro (2010), Moreiras
butos recorrentes na explicação da política de et al. (2012) testam também a relação entre o
dividendos, considerada em diversos estudos lucro e a distribuição de dividendos. Esta possível
empíricos e teorias financeiras, sendo que estes relação negativa esperada entre a variabilidade dos
tributos financeiros evidenciam a rentabilidade resultados e os dividendos, levou à formulação e
que a mesma empresa apresenta, espelhando o teste da seguinte hipótese:
capital disponível e a distribuição destes fundos
sob a forma de dividendos. Hipótese 3: A variabilidade dos resultados
Autores como DeAngelo et al. (2004), da empresa está negativamente relacionada
Fama e French (2001), Lie (2005), Ribeiro (2010) com a distribuição de dividendos, ceteris
e Yegon, Cheruiyot e Sang (2014) concluíram que paribus.
as empresas com maiores níveis de rentabilidade
apresentam uma tendência superior para o paga- Lintner (1956), defende a existência de
mento de dividendos. Esta conclusão leva-nos a certa estabilidade na distribuição de dividendos,
esperar uma relação positiva entre a rentabilidade opinião defendida também por Ferreira et al.
e os dividendos. (2010) que encontrou uma relação positiva entre
Com base na literatura mencionada, os dividendos, e os atribuídos no ano imediata-
espera-se uma relação positiva entre a rentabilida- mente anterior.
de, resultados e os dividendos, por forma a testar Grullon et al. (2005) concluem que os
esta relação formulam-se as seguintes hipóteses: dividendos são afetados pelos resultados passados
e presentes, sendo que os resultados futuros não
Hipótese 1: A rentabilidade da empresa apresentam evidência sobre os dividendos.
está positivamente relacionada com os Ribeiro (2010) sugere que o lucro líquido
dividendos distribuídos pelas empresas e os dividendos relativos ao exercício econômico
portuguesas, ceteris paribus. anterior apresentam um efeito positivo e esta-
tisticamente significativo, para as empresas do
Hipótese 2: Os resultados da empresa PSI 20. Recentemente Mubin et al. (2014) testa
estão positivamente relacionados com os a estabilidade como determinante do pagamento
dividendos distribuídos pelas empresas de dividendos.
portuguesas, ceteris paribus. Com base no exposto, relativamente aos
resultados e dividendos do exercício anterior,
O risco, avaliado pela estabilidade dos espera-se uma relação positiva para as duas variá-
resultados, é também tido em conta e estudado veis, por forma a testar estes tributos, formula-se
em diversos estudos empíricos, sendo que este a seguinte hipótese:

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Hipótese 4: Os dividendos distribuídos dividendos (Lie, 2005). Os indicadores do desem-


no exercício econômico imediatamente penho operacional são vistos como indicador de
anterior, estão positivamente relacionados oportunidades de crescimento e investimento.
com a distribuição de dividendos no ano A autonomia financeira é um indicador,
seguinte, ceteris paribus. entre outros, de análise de equilíbrio financeiro
das empresas usado para estimar o impacto do
Autores como Lintner (1956) e Ribeiro endividamento e risco na política de dividendos.
(2010) concluem que o aumento do valor do Outro indicador frequentemente utilizado em
dividendo distribuído leva ao aumento do valor estudos similares é a solvabilidade, como forma
de mercado da empresa. de avaliar o nível de solvência da empresa. Islam,
Espera-se assim uma relação positiva entre Aamir, Ahmad e Saeed (2012) encontrou uma
os dividendos distribuídos e o valor de mercado relação negativa entre o endividamento e os di-
da empresa, medido através da cotação das suas videndos, conclusão confirmada por DeAngelo
ações e da sua capitalização de mercado. et al. (2004).
Assim, sob estes fundamentos, recorreu-se Entretanto, de acordo com Ribeiro
à cotação da ação e à capitalização de mercado (2010), os resultados não são consensuais entre
de cada empresa como variáveis explicativas do os vários estudos empíricos. Assim, utilizar-se-á
dividendo por ação. a autonomia financeira, o indicador de estrutura
do endividamento, para testar a relação do endí-
Hipótese 5: O nível dos dividendos dis- vidamento com os dividendos.
tribuídos está positivamente relacionado
com o valor de mercado, ceteris paribus. Hipótese 7: Os dividendos distribuídos
estão relacionados negativamente com o
A dimensão é outro fator de muito relevo nível de dívida da empresa, ceteris paribus.
em estudos similares. Os estudos recentes de Gi-
zelle, Allen e Weeks (2013) e Mubin et al. (2014) Hipótese 8: Os dividendos distribuídos
corroboram a conclusão de Salsa (2010) de que estão relacionados negativamente com as
a dimensão apresenta evidências estatisticamente oportunidades de investimento / cresci-
significativas na explicação da distribuição de mento da empresa, ceteris paribus.
dividendos. Tendo por base esta relação entre a
dimensão e a distribuição de dividendos, testa-se 3.3 Definição operacional das variáveis
a seguinte hipótese: empíricas

Hipótese 6: Os dividendos distribuídos Para que as hipóteses sejam encaradas


estão relacionados positivamente com a como hipóteses científicas é necessário que estas
dimensão da empresa, ceteris paribus. sejam suscetíveis de refutação empírica. Desta
forma, e na procura de respostas às hipóteses de
Outra variável financeira com elevada investigação, considerou-se como variável depen-
utilização nos estudos dos dividendos, são as dente o valor do dividendo distribuído por ação
oportunidades de crescimento / investimento das (DIVAC), é o montante, em euros que a empresa
empresas. DeAngelo et al. (2004) verificam uma distribui aos acionistas sob a forma de dividendos
relação negativa entre as oportunidades de cres- relativamente a cada um dos exercícios econômi-
cimento e investimento e o montante distribuído cos sobre os quais versa o estudo. A escolha recaiu
em dividendos, sendo que as empresas tendem a sobre este indicador por este ser usado em diver-
apenas distribuir dividendos quando apresentam sos estudos empíricos com objetivos similares ao
elevados níveis de liquidez, baixo endividamento e presente estudo, nomeadamente Lintner (1956),
falta de projetos de investimento é que distribuem Watts (1973), Arrazola, Hevia e Mato (1992),

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Determinantes da Política de Dividendos: evidência de Portugal

Bagues e Fumás (1995), Escuer e Cabestre (1995), Valor de mercado - O valor de mercado é um
Naceur, Goaied e Belane (2006), Benzinho (2007), atributo testado em diversos estudos empíricos
Ribeiro (2010) e Yegon et al. (2014). (Ribeiro, 2010), avaliado pelo valor da cotação das
Recorreu-se a um conjunto de variáveis ações. No presente estudo, foi usado para o seu
independentes para a explicação do valor do cálculo o valor de cotação referente ao último dia
dividendo distribuído por ação, e consequente- de cada ano, criando-se a variável cotação (COT).
mente dos fatores determinantes da política de Outra variável usada foi o valor da capitalização
dividendos seguida pelas empresas portuguesas. bolsita (CAPBOLS) de cada empresa referente
Relativamente às variáveis independentes, ao final de cada ano. A variável DIVYELDANT,
são vários os indicadores econômicos e financeiros, também pode ser relacionada com o fator, valor
associados às hipóteses de estudo, 13 variáveis se de mercado, pois evidencia o indicador de ren-
mostraram estatisticamente significativas após tabilidade do dividendo em relação ao valor da
aplicação do método stepwise, as quais são a seguir cotação das ações, do exercício anterior.
explicadas:
Dividend Yield (DIVYELD) - Este indicador
Payout Ratio (PAYOUT) - Este indicador eviden- evidencia a percentagem da remuneração do
cia a parte dos resultados líquidos distribuídos acionista dependente do dividendo. Os estudos
sob a forma de dividendos num determinado de Campbell e Shiller (1998) com os dados dos
exercício econômico. Esta variável foi incluída no EUA mostram que existe uma relação positiva
entre o dividend yield e o valor de mercado da
nosso estudo por forma a verificar a política de
empresa. No nosso estudo introduziu-se a variável
estabilidade no pagamento de dividendos, o que
DIVYELDANT por forma a testar a estabilidade
nos levou a incluir no nosso modelo a variável
da política dos dividendos.
(PAYOUTANT), isto é o indicador payout do
ano anterior.
Lucro líquido por ação (RESLIQAC) - O lucro
líquido é utilizado em estudos empíricos com
Rentabilidade Operacional do Ativo (RENDO-
objetivos similares ao presente, salientando-se os
PAT) - A rentabilidade do ativo da empresa ou in-
resultados obtidos por Lintner (1956) e Ribei-
dicador return on assets, evidencia a capacidade dos
ro (2010). Usamos o lucro líquido obtido pela
ativos da empresa gerarem resultados, é incluída
empresa e evidenciado no final de cada exercício
no estudo por forma a testar a significância da ren-
econômico, dividido pelo número de ações.
tabilidade na política de dividendos. A escolha des-
tas variáveis recai em estudos como Grullon et al. Resultado Operacional (RESOP) - O resultado
(2002) e Ribeiro (2010). operacional é utilizado, com a mesma finalidade
do resultado liquido, é o valor obtido pela em-
Dimensão - Testada no nosso modelo com re- presa e evidenciado no final de cada exercício
curso ao ativo líquido evidenciado nos relatórios econômico. Contudo, este é um indicador de
e contas do final de cada exercício econômico, o desempenho operacional da empresa, que para
volume de negócios (VNEG) evidencia o valor do muitos é visto como um indicador de avaliação
volume de negócios de cada empresa, o volume de das oportunidades de crescimento.
negócios por ação (VNEGAC), que é calculado
pela divisão do volume de negócios e o nº de ações Dividendo do exercício anterior (DIVEXANT)
da empresa. O ativo por ação (ATIVAC), ou seja, - No intuito de verificar a estabilidade na distri-
o valor do ativo líquido de cada empresa dividido buição de dividendos, no presente estudo empí-
pelo seu número de ações. Estes atributos são rico introduziu-se esta variável que se traduz nos
usados frequentemente em estudos com objetivos dividendos por ação que a empresa distribui aos
semelhantes ao nosso, como os estudos de Salsa seus acionistas relativamente ao exercício econô-
(2010) e de Ribeiro (2010). mico anterior.

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Luís António Gomes Almeida / Elisabeth Teixeira Pereira / Fernando Oliveira Tavares

Autonomia financeira (AUTFIN) - A autonomia sectores apresentam, bem como pelas suas
financeira, sendo um indicador que se enquadra estruturas de contas. Este critério já tinha
numa análise do equilíbrio financeiro a médio e sido seguido por outros autores, como
longo prazo e que permite avaliar o nível de en- Papadopoulas e Charalambidis (2007) e
dividamento e risco associado à empresa, permite Ribeiro (2010).
analisar a estrutura financeira de uma empresa. A amostra final ficou, assim, reduzida a 12
Surge como outro dos indicadores apontados empresas que cumprem integralmente os critérios
na literatura revista como suscetível de explicar de seleção anteriormente enunciados.
a política de dividendos da empresa. Este indi-
cador determina a percentagem dos ativos que 3.5 Fontes de dados
são financiados pelo capital próprio, espelhando
a dependência da empresa em face de capitais de O presente estudo empírico recorreu a
terceiros. De uma forma genérica, quanto maior várias fontes de dados para obtenção dos dados
o seu valor melhor e maior é a estabilidade finan- necessários, sendo estas a Euronext Lisbon, a
ceira da empresa. Comissão do Mercado de Valores Mobiliários
(CMVM).
3.4 Amostra Na CMVM, delegação do Porto, proce-
deu-se à consulta dos relatórios contabilístico-
O presente trabalho incide sobre o mer- financeiros anuais em formato papel, relatórios
cado bolsista português, sendo que as empresas sobre o governo das sociedades das empresas
incluídas na amostra respeitam os seguintes cri- incluídas na amostra, compilando-se dados usados
térios de seleção: na determinação das variáveis empíricas.
i. Foram incluídas na amostra final as empre- Na Euronext Lisbon foram recolhidos os
sas que permaneceram consecutivamente seguintes dados: cotação das empresas referentes à
cotadas em bolsa durante no período última cotação do ano que cada ação apresentava e
temporal de 1997 a 2011 (15 anos); o valor dos dividendos distribuídos aos acionistas.
ii. Foram incluídas na amostra final as em-
presas que procederam à distribuição de 3.6 Processo de tratamento dos dados
dividendos em pelo menos um terço do
período temporal (cinco anos), seguido A amostra foi selecionada através do
ou interpoladamente. Este critério deve-se site da Euronext Lisbon, retirou-se uma lista das
essencialmente ao motivo das empresas empresas cotadas a 31 de Dezembro de 2011,
que fazem parte da praça portuguesa, fazendo uma correspondência com a lista das
não recorrem com muita frequência ao empresas cotadas em 31 de Dezembro de 1997,
pagamento de dividendos, esta ocorrência obtida através da BVL.
poderá dever-se ao fato da bolsa portu- Contudo, o contexto econômico-financei-
guesa ser a menos valiosa da Euronext ro português no período em estudo admitiu duas
Lisbon. Contudo, outra justificação é as alterações que precisaram ser levadas em conta na
empresas reportarem resultados negativos análise dos relatórios contábeis e financeiros das
no período temporal em estudo. Para que empresas consideradas. A primeira foi a conversão
os dados da amostra apresentem critérios da moeda nacional do escudo4 para o atual euro,
mínimos de coerência e evitar falhas de os relatórios e contas das empresas no período de
dados na construção do painel, evitando 1997 até 2000 inclusive apresentavam valores em
assim falhas. escudos, por forma a termos valores uniformes e
iii. Não foram incluídas na amostra final as todos na mesma unidade de coerência, pelo que
empresas de natureza financeira e des- se procedeu ao câmbio escudo – euro, fazendo-se
portiva devido à especificidade que estes a correspondência de 1 euro equivaleria a 200,482
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Determinantes da Política de Dividendos: evidência de Portugal

escudos. A segunda foi a alteração do sistema a metodologia usada em 31 estudos similares


contabilístico Plano Oficial de Contabilidade ao nosso, verificando-se que 54,8% dos estudos
(POC) para o sistema de Normalização contabi- analisados recorrem ao MRLM.
lística (SNC).
Após estas particularidades aplicadas, pro-
Tabela 1 – Metodologias usadas em estudos
cedeu-se ao cálculo de um conjunto de indicado-
desta área
res econômico-financeiros. Os dados necessários
ao cálculo da variável dependente e dos atributos Metodologia Nº Trabalhos Percentagem %
a testar foram primeiro importados para folhas de MRLM 17 54,8%
cálculo, onde algumas das transformações foram Dados em Painel 5 16,1%
efetuadas. Apesar do ano base do estudo ser 1997, RLM e Dados em Painel 2 6,45%
recorreu-se ainda a dados referentes a 1996 para MRLM e Tobit 1 3,22%
cálculo de algumas variações e indicadores. Outros 6 19,35%
Após os cálculos dos vários indicadores, Total 31 100%
bem como das transformações consideradas ne-
cessárias e supracitadas, exportaram-se os dados
Na regressão realizada foi considerado o
para o software estatístico Statistical Package for the
p-value para um nível de significância de 5%. A
Social Sciences (SPSS), versão 19, com vista ao seu seleção das variáveis com poder discriminativo
tratamento estatístico. foi efetuada com recurso ao método Stepwise, por
forma a obter o melhor modelo possível. Este mé-
3.7 Metodologia do modelo de regressão linear todo consiste na junção de dois outros métodos a
múltipla Regressão Standard e a Regressão Hierárquica ou
Sequencial, ou seja, é uma mistura de Forward e
Por forma a testar os determinantes da Backward que, segundo Marôco (2011) permite
política de dividendos, surge a inevitabilidade que a análise vá acrescentando ou retirando va-
de procedermos à estimação de um modelo riáveis ao processo de análise automaticamente
econométrico, por forma a concluir que tipos de consoante a sua capacidade discriminativa e
relação apresentam as variáveis independentes na cumprimento dos pressupostos. Após obtenção
explicação da variável dependente. do melhor modelo, testaram-se os pressupostos
Optou-se pela realização de uma pesquisa do MRLM pela análise do coeficiente de corre-
de índole quantitativa e correlacional. Quantitati- lação (R), do coeficiente de determinação (R2),
va por recorrer a dados numéricos e correlacional dos testes de resíduos de Durbin-Watson e da
porque visa explorar e determinar a existência de re- normalidade de Kolmogorov-Smirnov.
lações entre as variáveis no plano hipergeométrico. O coeficiente de determinação (R2) é uma
A metodologia de investigação usada na medida de dimensão do efeito da variável inde-
construção do modelo para testar as hipóteses de pendente sobre a variável dependente, como des-
objeto de estudo, por forma a atingir os nossos crito pelo modelo de regressão (Marôco, 2011),
objetivos de investigação, recaiu, à semelhança e mede a variabilidade total que é explicada pela
de Ribeiro (2010) e Salsa (2010), no Modelo de regressão.
Regressão Linear Múltipla (MRLM). Este modelo Gujarati (2003) alega que as variáveis utili-
consiste numa técnica de análise de dados que zadas no MRLM devem respeitar os pressupostos
assume que existe uma relação linear entre a va- da normalidade de resíduos, homocedasticidade,
riável dependente e um conjunto de variáveis ex- linearidade dos coeficientes, ausência de corre-
plicativas, ou independentes (Gujarati, 2003). O lação entre os resíduos e da multicolinearidade.
recurso ao MRLM foi também motivado por este A relação funcional apresentada nos
ser a metodologia mais recorrente em estudos na MRLM entre a variável dependente e as variáveis
área das Finanças Empresariais. A tabela 1 resume independentes é do tipo:

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Yi = b 0 + b1 X 1i + β 2 X 2i + b 3 X 3i + β 4 X 4i + ......+ β k Xki + εi (1)

( i = 1,.....n)
Yi – variável dependente, ou seja, o indicador de dividendos por ação;
β – Coeficientes da regressão a estimar;
X i – variáveis independentes ou explicativas.
εi – erro ou variável aleatória.

Neste âmbito, testou-se o poder explicativo O pressuposto da distribuição normal dos


das variáveis independentes sobre a variável depen- erros pode ser verificado graficamente (Marôco,
dente, e o modelo final inclui apenas as variáveis 2011) através do gráfico de probabilidade normal
que se apresentam estatisticamente significativas e (normal probability plot).
que satisfazem os pressupostos do MRLM. Outro dos pressupostos do modelo a ser
O método dos mínimos quadrados é o uti- validado é a multicolinearidade das variáveis
lizado para estimar os parâmetros do modelo, em explicativas, que ocorre quando as mesmas são
que as estimativas dos coeficientes de regressão são altamente correlacionadas entre si. Este pressupos-
obtidas de modo a que os erros ou resíduos do mo- to pode ser avaliado através do fator inflacionário
delo de regressão linear, calculados por ei = yi − yˆi,, de variância (VIF). Quando este indicador apre-
sejam mínimos, isto é, de forma que a distância senta o valor 1 corresponde à não existência de
entre yi e yˆ i seja a menor possível e onde yˆ i são os autocorrelação e quando apresenta valores acima
valores esperados de acordo com o modelo. Assim do valor limite de 5 é considerada a existência de
sendo, a estimação dos coeficientes da regressão (β) autocorrelação (Marôco, 2011).
é obtida depois de considerar o efeito das outras A independência dos resíduos é outro
variáveis independentes sobre aquela dependente dos pressupostos a ser validado; o qual se ve-
pela determinação do mínimo da função da soma rifica através da estatística de Durbin-Watson,
dos quadrados dos erros (SQE) do modelo. a qual mede a correlação entre cada resíduo e o
resíduo para o período imediatamente anterior,
(2) testa a presença de autocorrelação entre os erros
ou resíduos do modelo de regressão linear. Se a
Os pressupostos foram testados pela re- autocorrelação estiver presente num conjunto de
corrência aos testes de ajustamento e pela inter- dados, o modelo de regressão poderá ficar seria-
pretação gráfica. mente comprometido.
Um dos pressupostos do modelo a validar O pressuposto da independência dos resí-
é a homogeneidade dos resíduos, testada empiri- duos é testado pelas seguintes hipóteses:
camente através do teste White (White, 1980),
sob as seguintes hipóteses: H0: ρ=0 existe independência. H1: ρ≠0
existe dependência.
H0: As variâncias dos resíduos são homo-
géneas, e
(4)

H1: as variâncias dos resíduos não são


homogéneas.
Segundo Marôco (2011), de uma forma
mais ou menos empírica, não rejeitamos H0 se
A estatística do teste White (White, 1980)
d ≈ 2,0 (±0,2), mas de uma forma mais exata para
é dada por:
este teste, deve-se comparar o valor de d com o
limite inferior (dL) e um limite superior (dU), estes
(3)
limites retiram-se da tabela “Critical Values for the

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Determinantes da Política de Dividendos: evidência de Portugal

Durbin-Watson Test”, para um nível de significân- são estatisticamente significativas para um nível de
cia de 5%, por forma a testar as hipóteses H0: não significância de 5%, e traduz-se, tal como em Ri-
existe autocorrelação entre os resíduos VS H1: beiro (2010), no método dos mínimos quadrados
existe autocorrelação entre os resíduos. ordinários (MQO) com desvios padrões robustos.
O teste de Kolmogorov-Smirnov com a Este método revela-se adequado para colmatar
correção de Lilliefors é um teste de ajustamen- eventuais problemas de heteroscedastecidade,
to à normalidade, sob as seguintes hipóteses, sucetíveis de surgirem em amostras seccionais.
H0: X~N(µ,σ) vs H1: X~N(µ,σ). Para demonstrar a inferência estatística
A estatística de teste é dada pela maior do modelo de regressão, que consideramos mais
diferença destas duas diferenças, isto é D= max explicativo e robusto, iniciamos com uma abor-
{max (|F(xi)-F0(xi)|; Max (|F(xi-1)-F0(xi)|)} em dagem à análise de variâncias do modelo, o que
que F0(X)~N(µ,σ), o valor crítico da distribuição permite testar as hipóteses, H0: β1=β2=...=βk=0
de Kolmogorov- Smirnov encontra-se tabelado e vs H1: ∃i≠βi≠0; (i=1,...,k). O valor da estatística
rejeita-se H0 se D≥ Dtabela (α). F que possui distribuição F-Snedecor, apresenta
A estacionariedade da série foi outro um valor de 45,018. A esta estatística está asso-
dos pressupostos a serem verificados. Segundo ciada um p-value = 0,00, o que significa que é
Gujarati (2003) uma série temporal é estacionária estatisticamente significativa para um nível de
se em todos os momentos da sua distribuição de significância de 5%, rejeitando-se H0 em favor
probabilidade, a média e a variância são constan- de H1, concluindo que o modelo é significativo.
tes ao longo do tempo. É esperado que os erros Após a estimação da regressão, verifica-se
sejam independentes. Para verificar a presença que esta apresenta uma elevada capacidade expli-
de diferentes variâncias, utiliza-se a represen- cativa, isto é as variáveis independentes testadas
tação gráfica dos resíduos estandardizados e os explicam 77,9% das variações da variável depen-
valores estimados. Se os resíduos se distribuírem dente, esta capacidade explicativa é superior a
de forma mais ou menos aleatória em torno de grande parte da apresentada pelos estudos simi-
zero, a variância é constante. O pressuposto da lares, já que os dividendos seguem uma forma
distribuição normal dos erros é averiguado através aleatória, Random Walk5.
do gráfico da probabilidade normal; recorreu-se A presença de multicolinearidade foi ve-
ainda ao teste de raiz unitária por forma a avaliar rificada através do VIF, sendo que o modelo não
a estacionariedade da série. apresenta problemas de multicolinearidade, pela
matriz de correlação de Pearson, conclui-se que as
variáveis não apresentam correlação forte entre si.
4 Análise ao Modelo Relativamente ao pressuposto da indepen-
dência dos resíduos, através da tabela “Critical
Nesta seção será abordada, em primeiro lu- Values for the Durbin-Watson Test” não rejeitamos
gar, a validação dos pressupostos das metodologias H0, pelo que se pode concluir pela não existência
de MRLM e de Dados em Painel, e em segundo de autocorrelação entre os resíduos.
lugar será feita a análise e discussão dos resultados Pela análise dos gráficos de resíduos, nor-
dos modelos comparativamente. mal probability plot, conclui-se que os resíduos
apresentam uma distribuição normal, analisando
4.1 Análise à estimação e validação de o gráfico scatterplot, não estamos na presença de
pressupostos do MRLM homocedasticidade, corroborou-se pelo teste de
raiz unitária de que a série é estacionária.
No MRLM, pela aplicação do método O teste de Kolmogorov-Smirnov, usado
Stepwise, foram propostos e testados 15 modelos para averiguar se os erros seguem uma distribuição
diferentes, tendo sido selecionadas 13 variáveis normal, ao apresentar um p-value de 0,223 maior
independentes. Todas as variáveis consideradas do que o nível de significância de 0,05 permite

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concluir pela não rejeição de H0, ou seja, os dados como o melhor modelo explicativo, onde estão
possuem distribuição normal, e podemos concluir explícitos os coeficientes de determinação, os coe-
que nos modelos não existe violação aparente dos ficientes de determinação ajustados, a estatística
pressupostos. de Durbin Watson e a estatística F.
A tabela nº 2 apresenta o resumo de mo-
delos testados, o último modelo foi considerado

Tabela 2 – Resumo dos outputs de alguns modelos estatisticamente significativos.

  Sinal Esperado Modelo 1 Modelo 2 Modelo 3 Modelo 4

CONST. ,096*** -,022 -,143*** -,203***


DIVEXANT + ,572*** ,321*** ,255*** ,190***
VARCOT +   ,005*** ,004*** ,004***
DIVYELD +   3,028*** 2,533*** 2,759***
DIVYELDANT -/+   -2,009*** -1,670*** -1,695***
CAPBOLS +   7,45E-12*** 7,84E-12*** 9,52E-12***
CF. INVEST. AÇÃO -   ,027*** ,003 ,087
ATIVAC +   ,004*** ,008*** ,010***
VNEGAC +/-   -,003*** -,003*** -,004***
PAYOUT +     ,053*** ,059***
AUTFIN +     ,157** ,147*
RENDOPAT +     ,628* 1,018***
RESLIQAC +       ,009**
PAYOUTANT +       ,044*
RESOP +/-       -3,11E-11*
R ,576 ,853 ,871 ,883
R 2
,332 ,728 ,758 ,779
Ra 2
,329 ,715 ,742 ,762
DW  1,775 1,784   1,820 1,817
F 88,607*** 57,252*** 47,823*** 45,018***

Variável dependente: Valor do dividendo por ação


*significância p <0,05; ** significância p <0,01; *** significância p <0,001

4.2 Análise e discussão dos resultados significativamente positivo sobre os dividendos


por ação distribuídos aos acionistas, sugerindo,
Pela análise dos valores absolutos dos coe- deste modo, que as empresas não financeiras cota-
ficientes de regressão estandardizados, verifica-se das no mercado de capitais português apresentam
que as variáveis que apresentam maiores contri- uma tendência para manterem certa estabilidade
buições relativas na explicação dos dividendos na sua política de dividendos. Esta estabilidade
por ação, são o ativo por ação, o dividendo yield, é também comprovada pela variável PAYOUT,
a capitalização de mercado, a rentabilidade ope- PAYOUTANT, DIVYELD, indo ao encontro
racional do ativo e volume de negócios por ação. das conclusões de autores como Lintner (1956),
Analisando o efeito explicativo das variá- Ferreira et al. (2010) e Ribeiro (2010).
veis independentes sobre a variável dependente, Já a variável DIVYELDANT apresenta
comprova-se relativamente à variável DIVE- uma relação negativa com o montante de divi-
XANT que os resultados evidenciam um efeito dendos distribuídos, sendo esta relação justificada

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Determinantes da Política de Dividendos: evidência de Portugal

devido a este indicador evidenciar a percentagem O investimento e oportunidades de cres-


da remuneração dos acionistas dependentes do cimento são variáveis financeiras com elevada
dividendo, ocorrendo uma distribuição sob a utilização em estudos com objetivos similares ao
forma de dividendos, produzirá um aumento nosso e frequentemente medidas pelo crescimento
do valor da cotação, esta valorização da cotação das vendas. Contudo esta variável não se mostrou
altera a percentagem de remuneração ao acionis- significativa na explicação dos dividendos na praça
ta sob a forma de dividendos, no ano seguinte, portuguesa, esta não significância é coincidente
ceteris paribus. com o estudo de Ribeiro (2010).
A variável COT e CAPBOLS apresentam Os resultados apresentados pela variável
um efeito significativamente positivo sobre o RESOP sugerem que os fluxos resultantes das
montante de dividendos por ação. Deste modo, atividades operacionais, permite criar oportuni-
os resultados obtidos parecem sugerir que a dades de investimentos pelas empresas, sendo a
cotação das ações e a capitalização de mercado distribuição de dividendos preteridos perante o
influenciam a política de dividendos, isto é, as investimento, parecendo reforçar a ideia de que
ações transacionadas a uma cotação mais alta no as empresas tendem a reter os resultados para os
mercado de capitais, permitem aos investidores investir em detrimento da sua distribuição, ideia
auferir montantes mais elevados de dividendos defendida por DeAngelo et al. (2004) e Patra,
por ação. Esta conclusão é, também, corroborada Poshakwale e Ow-Yong (2012).
A variável RENDOPAT, pelo sinal positi-
pela análise das variáveis DIVYELD e DIVYEL-
vo evidenciado, leva-nos a concluir que uma maior
DANT, como referenciado anteriormente, e vai
rentabilidade proporciona uma maior distribuição
ao encontro das conclusões obtidas por autores
de dividendos. Esta conclusão é coincidente com
como Gordon (1959) e Ribeiro (2010), que
as obtidas por DeAngelo et al. (2004), Fama e
afirmam que o aumento do valor do dividendo
French (2001), Naceur et. al. (2006) e Holan-
distribuído leva ao aumento do valor de mercado
da e Coelho (2012), contrariando por sua vez
da empresa, e vice-versa.
evidências encontradas por Guzmán (2004) e
A variável RESLIQAC evidencia um
Ribeiro (2010).
efeito significativo e positivo na relação com os
A variável VNEGAC como indicador
dividendos, leva-nos a concluir que um maior
da dimensão empresarial, contrariamente ao
resultado evidenciado no final do exercício eco-
esperado, apresenta uma relação negativa com os
nômico proporciona uma maior distribuição de
dividendos distribuídos com evidência estatística
dividendos, esta conclusão vai ao encontro da
significativa. Este resultado contraria as evidências
conclusão encontrada por Lintner (1956), e a
encontradas por Ribeiro (2010), apesar de estas
teoria da relevância dos dividendos, contrarian- terem sido obtidas para o volume de negócios em
do a evidência de uma relação negativa entre os valor absoluto e não valor por ação.
resultados líquidos e os dividendos distribuídos, A relação apresentada por esta variável
encontrada por Ribeiro (2010). para com os dividendos distribuídos por ação,
Contrariamente à hipótese formulada em que um aumento no volume de negócios
sobre o lucro líquido, os resultados operacionais proporciona oportunidades de crescimento da
RESOP que evidenciam os resultados da ativida- empresa, permite observar que um aumento de
de operacional da empresa, são estatisticamente valor apresentado por esta variável leva a empresa
significativos no modelo ; contudo apresentam a investir por forma a crescer no mercado, nacio-
uma relação negativa com a distribuição de divi- nal ou internacional, preterindo os dividendos
dendos, esta relação negativa pode ser explicada ao investimento. A constatação desta relação
pela criação de oportunidades de crescimento e negativa entre as oportunidades de crescimento e
investimento que um valor elevado apresentado a distribuição de dividendos vai ao encontro das
por estes resultados cria para as empresas. evidências empíricas e conclusões encontradas

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por autores como Patra et al. (2012) e Gizelle das áreas das finanças empresariais que tem con-
et al. (2013). cebido mais trabalhos de investigação empírica e
A dimensão, medida pela variável ATIVAC, teórica. O presente estudo teve por base identificar
apresenta uma relação positiva e estatisticamente os fatores determinantes da política de dividen-
significativa com os dividendos, defendendo a dos das empresas não financeiras do mercado de
ideia de que empresas de maior dimensão pagam capitais português, tendo sido aplicado o método
mais dividendos, o que vai ao encontro da con- dos mínimos quadrados ordinários num MRLM
clusão defendida por Holanda e Coelho (2012) em que a variável dependente é o dividendo por
e Gizelle et al. (2013). ação que a empresa distribui aos seus acionistas.
No presente estudo, a disponibilidade de De acordo com ótica da Teoria da Agência
meios líquidos e a sua estrutura financeira, testada de Jensen e Meckling (1976), a rentabilidade ao
sob indicadores de liquidez, solvência e cash flow, ser distribuída sob a forma de dividendos pode ter
não mostraram ser significativos, com exceção uma função mediadora de conflitos existentes en-
da variável AUTFIN, que apresenta uma relação tre investidores e gestores. Já sob a gênese da Teoria
positiva na explicação dos dividendos distribuídos. da Sinalização, a distribuição de dividendos pode
Este indicador expressa a participação do capital ser uma das formas de sinalização ao mercado.
próprio no financiamento, possibilitando analisar As conclusões do estudo para o indicador
o grau de alavancagem da empresa, em que um rentabilidade permitem ir ao encontro da opinião
aumento deste indicador implica uma diminui- de que as empresas cotadas na bolsa portuguesa,
ção do nível de endividamento e permitirá um que evidenciam um maior nível de rentabilidade
aumento nos dividendos. e resultados líquidos por ação, apresentam maior
Sendo que o indicador de autonomia tendência para pagar dividendos. O que mostra
financeira determina a percentagem dos ativos estar em consonância com a Teoria da Relevância
que são financiados pelo capital próprio. De uma dos Dividendos.
forma genérica, quanto maior for este indicador Contrariamente à evidência dos resultados
maior estabilidade financeira é apresentada pela líquidos, obteve-se uma relação negativa pelos
empresa, conclusão também obtida por DeAngelo resultados operacionais, concluindo que este
e DeAngelo (2009). No entanto, Ribeiro (2010) indicador apresenta um movimento contrário da
sugere que a autonomia financeira não é estatis- variável explicada e indicando que não é um valor
ticamente significativa. mais elevado dos resultados operacionais que fará
Quanto à variável solvência, medida da aumentar o montante distribuído em dividendos.
estabilidade financeira da empresa no presente es- Pelo que pode concluir-se que perante oportuni-
tudo, não se mostrou estatisticamente significativa. dades de crescimento as empresas optam por reter
O risco, avaliado pela estabilidade/volati- resultados para investi-los.
lidade dos resultados, foi testado empiricamente, Relativamente à influência exercida na po-
não se evidenciando estatisticamente significativo lítica de dividendos pelo nível de dívida apresen-
na explicação do montante de dividendos distri- tado pela empresa, conclui-se que os dividendos
buídos por ação, contrariamente aos resultados estão negativamente relacionados com a dívida,
de Litner (1956) e Grullon et al. (2002), que isto é uma empresa muito endividada tem ten-
concluíram que um aumento dos dividendos é dência a pagar menos dividendos.
efetuado por empresas com menor nível de risco. O presente estudo permite concluir que
as empresas cotadas na Euronext Lisbon, ao distri-
buírem dividendos apresentam uma valorização
5 Conclusões Gerais da cotação das suas ações e consequentemente da
sua capitalização de mercado.
Tal como foi referido na parte inicial do As empresas que permaneceram no índice
trabalho, a política de dividendos tem sido uma bolsista da Euronext Lisbon, no período de 1997 a

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Determinantes da Política de Dividendos: evidência de Portugal

2011, apresentam uma tendência de manutenção de governança corporativa das empresas brasileiras
e estabilidade no payout, concedendo privilégio de capital aberto que possuem investimentos
à prática de uma estabilidade na sua política de públicos. Revista Brasileira de Gestão de Negócios,
dividendos, encontrando-se também aqui evi- 12(37), 369-387.
dências coincidentes com o modelo de Lintner
(1956). Relativamente à indicação da política Arrazola, M., Hevia, J., & Mato, G. (1992).
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exercício econômico, esta é influenciada positi- Investigaciones Económicas, 16(2), 235-258.
vamente pelos dividendos do exercício anterior.
Bagüés, E., & Fumás, V. (1995). Explicaciones
Quanto à dimensão empresarial, os resul-
alternativas para la política de dividendos: análisis
tados obtidos através de uma relação positiva e
empírico con datos empresariales españoles.
significativa, permitem concluir que as empresas de
Investigaciones Económicas, 19(3), 329-348.
maior dimensão mostram tendência a pagar mais di-
videndos, o que é coerente com a Teoria de Agência. Baker, M., & Wurgler, J. (2004). A catering
As conclusões dos vários estudos empíricos theory of dividends. Journal of Finance, 59(3),
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teriormente, não são consensuais, o que nos leva
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2. ‘Trade-off significa uma situação de conflito de escolha,
optar por A em detrimento de B, a decisão quando Brugni, T., Sarlo, A., Neto, Bastianello, R., &
é tomada existe compreensão total dos dois lados da Paris, P. (2012). Influence of dividends on the
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3. ‘Trade-off significa uma situação de conflito de escolha, the BM&FBovespa. Revista Universo Contábil,
optar por A em detrimento de B, a decisão quando
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é tomada existe compreensão total dos dois lados da
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