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Determinantes Da Politica de Dividendos - Evidencia de Portugal
Determinantes Da Politica de Dividendos - Evidencia de Portugal
© FECAP
REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO DE NEGÓCIOS
Review of Business Management
ISSN 1806-4892
Recebido em
15 de março de 2014
Determinantes da Política de
Aprovado em
27 de fevereiro de 2015
Dividendos: evidência de Portugal
1. Luís António Gomes Almeida Luís António Gomes Almeida e
Mestre em Economia pela Elisabeth Teixeira Pereira
Universidade de Aveiro
(Portugal)
Universidade de Aveiro, departamento de Economia,
[gomesalmeida@ua.pt] Gestão e Engenharia Industrial, Portugal
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R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 17, n. 54, p. 701-719, jan./mar. 2015
Luís António Gomes Almeida / Elisabeth Teixeira Pereira / Fernando Oliveira Tavares
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de 1950 e 1960 que este tema tomou relevância os dividendos influenciam o valor de mercado da
nas pesquisas com trabalhos teóricos e empíricos empresa.
evidenciando os dividendos e que persiste na atua- Estes autores partilham a opinião de que
lidade influenciando de maneira decisiva toda a os investidores são racionais e geralmente avessos
pesquisa e teorias explicativas recentes da política ao risco, exigindo um maior retorno perante
de dividendos que passaremos a enunciar. maior incerteza e risco. Este prêmio de risco faz
aumentar o custo de capital investido e diminuir
2.1 Teoria da relevância dos dividendos a cotação das ações. A distribuição de dividendos
reduz a incerteza e o retorno exigido, sendo pre-
A teoria da Relevância dos Dividendos, feríveis os dividendos à retenção dos resultados,
defendida por Lintner (1956) e Gordon (1959), ideia universalmente aceite na década de 1960,
sustenta a existência de uma relação entre o mon- ideia esta que foi desvanecendo ao longo dos anos.
tante de dividendos pagos e o valor das ações da Os dividendos são considerados “dinheiro
empresa, sendo estes resultantes de dois grandes na mão”, enquanto as mais-valias são meramen-
fatores, o lucro líquido gerado e o Dividend te potenciais. Esta relação ficou conhecida no
payout. Este último fator é um indicador de dis- mundo das finanças empresariais como “bird in
tribuição de dividendos relativamente ao exercício the hand theory”, ou seja, como teoria do pássaro
econômico anterior. na mão.
Lintner (1956) realizou um trabalho
pioneiro nesta área, através de uma série de vinte 2.3 Teoria irrelevância dos dividendos
e oito entrevistas a gestores de empresas norte
americanas sobre a decisão da distribuição de di- Numa linha oposta à relevância dos divi-
videndos, onde constatou que as decisões sobre a dendos, Modigliani e Miller (1961) encontraram
política de dividendos baseava-se essencialmente evidências de que os dividendos distribuídos não
em payouts3. O autor concluiu também que peran- afetavam o valor da empresa, nem a rentabilida-
te um ambiente de escassez, as empresas preferiam de dos investidores, isto é, são irrelevantes para
recorrer a capitais alheios ao invés de diminuir a o valor da empresa. Contudo, esta irrelevância
distribuição de dividendos, verificando uma certa dos dividendos depende de certas premissas,
estabilidade na política de dividendos ao longo como sejam: estar perante expectativas racionais,
dos vários exercícios econômicos. inexistência de impostos e custos de transação,
Considerada como a teoria embrionária assimetria de informação e outras imperfeições no
deste tema, as ideias alicerces são testadas em- mercado, sendo o mercado de capitais é perfeito
piricamente ao longo destas décadas, como nos e eficiente.
estudos de Grullon, Michaelly, Banertzi e Thaler Num mercado perfeito, o valor da empresa
(2005), Benzinho (2007), Ferreira, Nakamura, é determinado pela política de investimento e pelo
Martin e Bastos (2010), Ribeiro (2010) e Mubin, retorno que os seus ativos proporcionam, ou seja,
Ahmed, Farrukh, Lal e Hussain. (2014). pela sua capacidade em gerar lucro.
Modigliani e Miller (1961) defendem,
2.2 Teoria do pássaro na mão ainda, que o recurso à dívida é uma fonte de
financiamento mais barata, e preferível do que o
Na década de 1950, Gordon e Shapiro recurso ao capital próprio, à retenção de resulta-
(1956) apresentaram um modelo de avaliação de dos e à emissão de capital. Sob esta perspetiva, a
ações que pressupõe o crescimento do dividendo distribuição de dividendos irá alterar a necessidade
a uma taxa constante, sob a premissa da relação de recurso a fundos externos.
direta entre a política de dividendos e o valor de Muito embora as conclusões obtidas por
mercado da empresa. Este modelo defende que Modigliani e Miller (1961) sejam aceitas, exis-
uma ação vale em função das expectativas futuras, tem inúmeras opiniões contrárias à hipótese de
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Esta teoria ainda hoje é cenário para Jensen e Meckling (1976) defendem o
estudos empíricos, como Corso, Kassai e Lima, aumento da dependência do salário dos gestores
(2010), Pietro, Decourt e Galli (2011), e Moreiras, em função dos resultados obtidos. Estes autores
Tambosi Filho e Garcia (2012). defendem ainda que o nível de endividamento
e a distribuição de dividendos são instrumentos
2.6 A Teoria de Pecking Order de controle sobre os gestores, pois ao diminuir
os cash-flows disponíveis aumenta a pressão dos
Esta teoria, também conhecida como acionistas sobre a empresa (ou gestores) por parte
teoria da ordem ou hierarquia, foi reformulada do mercado, e esta pressão leva a um controle
por Myers e Majluf (1984). Os autores defendem dos custos de agência. Por outro lado, Jesen e
que as empresas priorizam as suas fontes de Meckling (1976) defendem o aumento da depen-
financiamento, baseando-se na premissa de que dência do vencimento destes com os resultados
o custo de financiamento aumenta com a infor- obtidos, os autores defendem ainda que o nível de
mação assimétrica, defendendo que é mais barato endividamento e a distribuição de dividendos são
recorrer à dívida do que emitir novos títulos. instrumentos de controle sobre os gestores, pois
O financiamento das empresas pode ter ao diminuir os cash-flows disponíveis, aumenta a
três fontes, financiamento interno, recurso à pressão dos acionistas sobre a empresa / gestores
dívida e por último recurso ao capital próprio, por parte do mercado, esta pressão leva a um
sendo estas fontes hierarquizadas, por esta ordem controlo dos custos de agência.
pelos gestores (Fama & French, 2002; Myers & Os autores defendem ainda que as oportu-
Majluf, 1984). nidades de crescimento proporcionam aumento
Myers e Majluf (1984) reconhece que este no endividamento, obrigando que os executivos
modelo, não explica a distribuição de dividendos, sejam mais eficientes (Jensen & Meckling, 1976).
mas devem ser consideradas por afetar as decisões Nesta ótica, o pagamento de dividendos
de dividendos, sendo que o payout ratio está ne- tem um efeito positivo sobre o valor de mercado das
gativamente relacionado com os investimentos empresas, perante a distribuição de dividendos o
e grau de alavancagem financeira. Os gestores capital disponível diminui, diminuindo a margem
retêm os lucros para financiar os investimentos de manobra dos gestores para manipular os recursos
preterindo a distribuição de dividendos aos acio- da empresa, (Silva, Santos, & Almeida, 2011).
nistas, para não ter de submeter-se à fiscalização DeAngelo, DeAngelo e Skinner (2004)
e avaliação externa do mercado, e estabelecem concluíram que as empresas pagam dividendos
dividend payouts menores. para reduzir os custos de agência, associados a um
indicador de endividamento baixo e a elevados
2.7 Teoria da agência fluxos de caixa. Uma ideia com aceitação unanime
é a de que a flexibilidade de gestão é a peça que
Teoria desenvolvida por Jensen e Meckling falta na resolução do puzzle.
(1976) que considera a empresa como um con- As regras seguidas pelos gestores, por
junto de contratos, onde os acionistas têm direito forma a mitigar os conflitos de agência têm
sobre os ativos e fluxos de caixa da empresa. sido investigadas sob a forma de “governança
Acionistas e gestores procuram agir em corporativa”. A qual considera a concentração
defesa dos seus interesses próprios, onde cada qual de propriedade, a constituição do conselho de
tenta maximizar a sua utilidade. Esta maximização administração e a dívida, como instrumentos de
é alcançada sob visões e perspetivas diferentes que controle destes conflitos, entre gestores e acionis-
criam divergências e conflitos entre as duas partes. tas, (Reyna, 2012).
Estes conflitos tendem a ser eliminados, sendo que Almeida, Santos, Ferreira e Torres (2010)
esta operação de eliminação gera custos, os quais e Lameira (2012) concluem que a adoção de boas
são denominados de custos de agência. práticas de governança corporativa abre espaço
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para uma gestão mais transparente, diminuindo a e esta pode ser influenciada pelos sentimentos
assimetria de informação e o conflito de agência. destes. Os gestores praticam uma política de di-
videndos elevados, quando os investidores estão
2.8 Efeito clientela dispostos a pagar um valor superior pelas ações
que distribuem dividendos.
Durante os anos de 1970, investigadores Quer seja por razões psicológicas, ou
e teóricos acrescentaram uma nova variável na razões profissionais, o tipo de dividendos procu-
discussão sobre os determinantes da política de rados pelos investidores varia ao longo do tempo,
dividendos: o efeito dos impostos; concluindo entre ações de rendimento, ou ações de crescimen-
que os dividendos criam uma desvantagem fiscal to. Outra ideia defendida pelos autores na base
para os investidores, pois são tributados a uma desta teoria são as estratégias de arbitragem, em
taxa mais elevada do que os ganhos de capital, que a construção de uma carteira de ações pode
reduzindo a taxa de retorno líquida. diversificar e eliminar o risco específico, contudo
DeAngelo, DeAngelo, Skinner e Douglas o sistémico é assumido.
(2009) defendem contrariamente ao exposto a
existencia investidores com preferência por ações
que pagam dividendos, os investidores apresentam 3 H ipote s e s , A m o s tra e
atitudes diferentes face às mesmas alternativas, esta Metodologia
preferência é considerada como efeito clientela.
Este efeito foi originalmente sugerido por Modi- Numa primeira fase, procede-se ao en-
gliani e Miller (1961), os autores sugerem que as quadramento das discussões de investigação a
empresas, através da sua política de dividendos, serem desenvolvidas e à enunciação das diferentes
atraem para si a sua própria “clientela”, cada inves- hipóteses a serem testadas, numa segunda fase,
tidor escolhe de acordo com as suas necessidades após a formulação das hipóteses, procede-se à
e pontos de vista, a empresa em que irá investir. apresentação e descrição da amostra, referencian-
As preferências dos investidores dependem do as fontes de informações utilizadas, o processo
dos escalões de imposto em que se encontram. In- de tratamento dos dados e a definição operacional
vestidores em baixos escalões de imposto preferem das variáveis- dependentes e independentes - in-
elevados dividendos, e vice-versa. Collins e Kem- cluídas no estudo, tendo a escolha destas, recaído
seley (2000) encontraram evidências empíricas sob as variáveis financeiras mais relevantes usadas
de que a distribuição de dividendos não penaliza em trabalhos empíricos com objetivos similares ao
fiscalmente os investidores, estes mantem em car- nosso, destacando-se a rentabilidade, a estrutura
teira as ações com uma distribuição de dividendos de capital, a dimensão, o risco e os resultados.
relacionados com os seus escalões de imposto. Numa terceira fase, descreve-se a meto-
Outros fatores, como o risco, liquidez e dologia de investigação usada, isto é, o modelo
situação fiscal de cada acionista, estão no suporte econométrico usado para estimar os resultados
da escolha dos investidores. Neste mesmo âmbito, empíricos.
o trabalho de Holanda e Coelho (2012) indica
que o efeito clientela influencia a política de di- 3.1 Hipóteses
videndos das empresas brasileiras.
As hipóteses de investigação inscrevem-se
2.9 Teoria do Catering na lógica teórica da problemática do trabalho de
investigação, baseada na literatura revista, e na
Desenvolvida por Baker e Wurgler (2004), lógica de testar os fatores determinantes da política
é uma teoria na área das finanças comportamentais de dividendos. As variáveis explicativas da política
que defende que as decisões sobre os dividendos de dividendos são agrupadas em grupos como a
são influenciadas pela demanda dos investidores, rentabilidade, a dimensão, o valor de mercado, o
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risco, estrutura financeira, liquidez e a estabilidade apresenta uma relação negativa com os divi-
no pagamento de dividendos, entre outros, são dendos. Lintner (1956) e Grullon et al. (2002)
atributos tidos como explicativos da política dos concluem que empresas com menor nível de
dividendos pelas diversas teorias financeiras. risco, apresentam maior tendência para pagar
Apresenta-se nos pontos seguintes o elenco dividendos mais elevados.
de hipóteses de investigação baseadas na literatura Já Lie (2005) partilha da mesma conclu-
e resultantes da articulação dos métodos utilizados são, contudo em vez de recorrer aos resultados
na construção do modelo respeitante às variáveis líquidos, usa os resultados operacionais e encontra
a testar. evidências de que uma menor volatilidade dos
resultados operacionais levam ao aumento da
3.2 Base de literatura e formulação das distribuição de dividendos. E conclui que após
hipóteses o aumento dos dividendos a volatilidade dos
resultados decresce.
A rentabilidade é um dos grupos de tri- Autores como Ribeiro (2010), Moreiras
butos recorrentes na explicação da política de et al. (2012) testam também a relação entre o
dividendos, considerada em diversos estudos lucro e a distribuição de dividendos. Esta possível
empíricos e teorias financeiras, sendo que estes relação negativa esperada entre a variabilidade dos
tributos financeiros evidenciam a rentabilidade resultados e os dividendos, levou à formulação e
que a mesma empresa apresenta, espelhando o teste da seguinte hipótese:
capital disponível e a distribuição destes fundos
sob a forma de dividendos. Hipótese 3: A variabilidade dos resultados
Autores como DeAngelo et al. (2004), da empresa está negativamente relacionada
Fama e French (2001), Lie (2005), Ribeiro (2010) com a distribuição de dividendos, ceteris
e Yegon, Cheruiyot e Sang (2014) concluíram que paribus.
as empresas com maiores níveis de rentabilidade
apresentam uma tendência superior para o paga- Lintner (1956), defende a existência de
mento de dividendos. Esta conclusão leva-nos a certa estabilidade na distribuição de dividendos,
esperar uma relação positiva entre a rentabilidade opinião defendida também por Ferreira et al.
e os dividendos. (2010) que encontrou uma relação positiva entre
Com base na literatura mencionada, os dividendos, e os atribuídos no ano imediata-
espera-se uma relação positiva entre a rentabilida- mente anterior.
de, resultados e os dividendos, por forma a testar Grullon et al. (2005) concluem que os
esta relação formulam-se as seguintes hipóteses: dividendos são afetados pelos resultados passados
e presentes, sendo que os resultados futuros não
Hipótese 1: A rentabilidade da empresa apresentam evidência sobre os dividendos.
está positivamente relacionada com os Ribeiro (2010) sugere que o lucro líquido
dividendos distribuídos pelas empresas e os dividendos relativos ao exercício econômico
portuguesas, ceteris paribus. anterior apresentam um efeito positivo e esta-
tisticamente significativo, para as empresas do
Hipótese 2: Os resultados da empresa PSI 20. Recentemente Mubin et al. (2014) testa
estão positivamente relacionados com os a estabilidade como determinante do pagamento
dividendos distribuídos pelas empresas de dividendos.
portuguesas, ceteris paribus. Com base no exposto, relativamente aos
resultados e dividendos do exercício anterior,
O risco, avaliado pela estabilidade dos espera-se uma relação positiva para as duas variá-
resultados, é também tido em conta e estudado veis, por forma a testar estes tributos, formula-se
em diversos estudos empíricos, sendo que este a seguinte hipótese:
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Bagues e Fumás (1995), Escuer e Cabestre (1995), Valor de mercado - O valor de mercado é um
Naceur, Goaied e Belane (2006), Benzinho (2007), atributo testado em diversos estudos empíricos
Ribeiro (2010) e Yegon et al. (2014). (Ribeiro, 2010), avaliado pelo valor da cotação das
Recorreu-se a um conjunto de variáveis ações. No presente estudo, foi usado para o seu
independentes para a explicação do valor do cálculo o valor de cotação referente ao último dia
dividendo distribuído por ação, e consequente- de cada ano, criando-se a variável cotação (COT).
mente dos fatores determinantes da política de Outra variável usada foi o valor da capitalização
dividendos seguida pelas empresas portuguesas. bolsita (CAPBOLS) de cada empresa referente
Relativamente às variáveis independentes, ao final de cada ano. A variável DIVYELDANT,
são vários os indicadores econômicos e financeiros, também pode ser relacionada com o fator, valor
associados às hipóteses de estudo, 13 variáveis se de mercado, pois evidencia o indicador de ren-
mostraram estatisticamente significativas após tabilidade do dividendo em relação ao valor da
aplicação do método stepwise, as quais são a seguir cotação das ações, do exercício anterior.
explicadas:
Dividend Yield (DIVYELD) - Este indicador
Payout Ratio (PAYOUT) - Este indicador eviden- evidencia a percentagem da remuneração do
cia a parte dos resultados líquidos distribuídos acionista dependente do dividendo. Os estudos
sob a forma de dividendos num determinado de Campbell e Shiller (1998) com os dados dos
exercício econômico. Esta variável foi incluída no EUA mostram que existe uma relação positiva
entre o dividend yield e o valor de mercado da
nosso estudo por forma a verificar a política de
empresa. No nosso estudo introduziu-se a variável
estabilidade no pagamento de dividendos, o que
DIVYELDANT por forma a testar a estabilidade
nos levou a incluir no nosso modelo a variável
da política dos dividendos.
(PAYOUTANT), isto é o indicador payout do
ano anterior.
Lucro líquido por ação (RESLIQAC) - O lucro
líquido é utilizado em estudos empíricos com
Rentabilidade Operacional do Ativo (RENDO-
objetivos similares ao presente, salientando-se os
PAT) - A rentabilidade do ativo da empresa ou in-
resultados obtidos por Lintner (1956) e Ribei-
dicador return on assets, evidencia a capacidade dos
ro (2010). Usamos o lucro líquido obtido pela
ativos da empresa gerarem resultados, é incluída
empresa e evidenciado no final de cada exercício
no estudo por forma a testar a significância da ren-
econômico, dividido pelo número de ações.
tabilidade na política de dividendos. A escolha des-
tas variáveis recai em estudos como Grullon et al. Resultado Operacional (RESOP) - O resultado
(2002) e Ribeiro (2010). operacional é utilizado, com a mesma finalidade
do resultado liquido, é o valor obtido pela em-
Dimensão - Testada no nosso modelo com re- presa e evidenciado no final de cada exercício
curso ao ativo líquido evidenciado nos relatórios econômico. Contudo, este é um indicador de
e contas do final de cada exercício econômico, o desempenho operacional da empresa, que para
volume de negócios (VNEG) evidencia o valor do muitos é visto como um indicador de avaliação
volume de negócios de cada empresa, o volume de das oportunidades de crescimento.
negócios por ação (VNEGAC), que é calculado
pela divisão do volume de negócios e o nº de ações Dividendo do exercício anterior (DIVEXANT)
da empresa. O ativo por ação (ATIVAC), ou seja, - No intuito de verificar a estabilidade na distri-
o valor do ativo líquido de cada empresa dividido buição de dividendos, no presente estudo empí-
pelo seu número de ações. Estes atributos são rico introduziu-se esta variável que se traduz nos
usados frequentemente em estudos com objetivos dividendos por ação que a empresa distribui aos
semelhantes ao nosso, como os estudos de Salsa seus acionistas relativamente ao exercício econô-
(2010) e de Ribeiro (2010). mico anterior.
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Autonomia financeira (AUTFIN) - A autonomia sectores apresentam, bem como pelas suas
financeira, sendo um indicador que se enquadra estruturas de contas. Este critério já tinha
numa análise do equilíbrio financeiro a médio e sido seguido por outros autores, como
longo prazo e que permite avaliar o nível de en- Papadopoulas e Charalambidis (2007) e
dividamento e risco associado à empresa, permite Ribeiro (2010).
analisar a estrutura financeira de uma empresa. A amostra final ficou, assim, reduzida a 12
Surge como outro dos indicadores apontados empresas que cumprem integralmente os critérios
na literatura revista como suscetível de explicar de seleção anteriormente enunciados.
a política de dividendos da empresa. Este indi-
cador determina a percentagem dos ativos que 3.5 Fontes de dados
são financiados pelo capital próprio, espelhando
a dependência da empresa em face de capitais de O presente estudo empírico recorreu a
terceiros. De uma forma genérica, quanto maior várias fontes de dados para obtenção dos dados
o seu valor melhor e maior é a estabilidade finan- necessários, sendo estas a Euronext Lisbon, a
ceira da empresa. Comissão do Mercado de Valores Mobiliários
(CMVM).
3.4 Amostra Na CMVM, delegação do Porto, proce-
deu-se à consulta dos relatórios contabilístico-
O presente trabalho incide sobre o mer- financeiros anuais em formato papel, relatórios
cado bolsista português, sendo que as empresas sobre o governo das sociedades das empresas
incluídas na amostra respeitam os seguintes cri- incluídas na amostra, compilando-se dados usados
térios de seleção: na determinação das variáveis empíricas.
i. Foram incluídas na amostra final as empre- Na Euronext Lisbon foram recolhidos os
sas que permaneceram consecutivamente seguintes dados: cotação das empresas referentes à
cotadas em bolsa durante no período última cotação do ano que cada ação apresentava e
temporal de 1997 a 2011 (15 anos); o valor dos dividendos distribuídos aos acionistas.
ii. Foram incluídas na amostra final as em-
presas que procederam à distribuição de 3.6 Processo de tratamento dos dados
dividendos em pelo menos um terço do
período temporal (cinco anos), seguido A amostra foi selecionada através do
ou interpoladamente. Este critério deve-se site da Euronext Lisbon, retirou-se uma lista das
essencialmente ao motivo das empresas empresas cotadas a 31 de Dezembro de 2011,
que fazem parte da praça portuguesa, fazendo uma correspondência com a lista das
não recorrem com muita frequência ao empresas cotadas em 31 de Dezembro de 1997,
pagamento de dividendos, esta ocorrência obtida através da BVL.
poderá dever-se ao fato da bolsa portu- Contudo, o contexto econômico-financei-
guesa ser a menos valiosa da Euronext ro português no período em estudo admitiu duas
Lisbon. Contudo, outra justificação é as alterações que precisaram ser levadas em conta na
empresas reportarem resultados negativos análise dos relatórios contábeis e financeiros das
no período temporal em estudo. Para que empresas consideradas. A primeira foi a conversão
os dados da amostra apresentem critérios da moeda nacional do escudo4 para o atual euro,
mínimos de coerência e evitar falhas de os relatórios e contas das empresas no período de
dados na construção do painel, evitando 1997 até 2000 inclusive apresentavam valores em
assim falhas. escudos, por forma a termos valores uniformes e
iii. Não foram incluídas na amostra final as todos na mesma unidade de coerência, pelo que
empresas de natureza financeira e des- se procedeu ao câmbio escudo – euro, fazendo-se
portiva devido à especificidade que estes a correspondência de 1 euro equivaleria a 200,482
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( i = 1,.....n)
Yi – variável dependente, ou seja, o indicador de dividendos por ação;
β – Coeficientes da regressão a estimar;
X i – variáveis independentes ou explicativas.
εi – erro ou variável aleatória.
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Durbin-Watson Test”, para um nível de significân- são estatisticamente significativas para um nível de
cia de 5%, por forma a testar as hipóteses H0: não significância de 5%, e traduz-se, tal como em Ri-
existe autocorrelação entre os resíduos VS H1: beiro (2010), no método dos mínimos quadrados
existe autocorrelação entre os resíduos. ordinários (MQO) com desvios padrões robustos.
O teste de Kolmogorov-Smirnov com a Este método revela-se adequado para colmatar
correção de Lilliefors é um teste de ajustamen- eventuais problemas de heteroscedastecidade,
to à normalidade, sob as seguintes hipóteses, sucetíveis de surgirem em amostras seccionais.
H0: X~N(µ,σ) vs H1: X~N(µ,σ). Para demonstrar a inferência estatística
A estatística de teste é dada pela maior do modelo de regressão, que consideramos mais
diferença destas duas diferenças, isto é D= max explicativo e robusto, iniciamos com uma abor-
{max (|F(xi)-F0(xi)|; Max (|F(xi-1)-F0(xi)|)} em dagem à análise de variâncias do modelo, o que
que F0(X)~N(µ,σ), o valor crítico da distribuição permite testar as hipóteses, H0: β1=β2=...=βk=0
de Kolmogorov- Smirnov encontra-se tabelado e vs H1: ∃i≠βi≠0; (i=1,...,k). O valor da estatística
rejeita-se H0 se D≥ Dtabela (α). F que possui distribuição F-Snedecor, apresenta
A estacionariedade da série foi outro um valor de 45,018. A esta estatística está asso-
dos pressupostos a serem verificados. Segundo ciada um p-value = 0,00, o que significa que é
Gujarati (2003) uma série temporal é estacionária estatisticamente significativa para um nível de
se em todos os momentos da sua distribuição de significância de 5%, rejeitando-se H0 em favor
probabilidade, a média e a variância são constan- de H1, concluindo que o modelo é significativo.
tes ao longo do tempo. É esperado que os erros Após a estimação da regressão, verifica-se
sejam independentes. Para verificar a presença que esta apresenta uma elevada capacidade expli-
de diferentes variâncias, utiliza-se a represen- cativa, isto é as variáveis independentes testadas
tação gráfica dos resíduos estandardizados e os explicam 77,9% das variações da variável depen-
valores estimados. Se os resíduos se distribuírem dente, esta capacidade explicativa é superior a
de forma mais ou menos aleatória em torno de grande parte da apresentada pelos estudos simi-
zero, a variância é constante. O pressuposto da lares, já que os dividendos seguem uma forma
distribuição normal dos erros é averiguado através aleatória, Random Walk5.
do gráfico da probabilidade normal; recorreu-se A presença de multicolinearidade foi ve-
ainda ao teste de raiz unitária por forma a avaliar rificada através do VIF, sendo que o modelo não
a estacionariedade da série. apresenta problemas de multicolinearidade, pela
matriz de correlação de Pearson, conclui-se que as
variáveis não apresentam correlação forte entre si.
4 Análise ao Modelo Relativamente ao pressuposto da indepen-
dência dos resíduos, através da tabela “Critical
Nesta seção será abordada, em primeiro lu- Values for the Durbin-Watson Test” não rejeitamos
gar, a validação dos pressupostos das metodologias H0, pelo que se pode concluir pela não existência
de MRLM e de Dados em Painel, e em segundo de autocorrelação entre os resíduos.
lugar será feita a análise e discussão dos resultados Pela análise dos gráficos de resíduos, nor-
dos modelos comparativamente. mal probability plot, conclui-se que os resíduos
apresentam uma distribuição normal, analisando
4.1 Análise à estimação e validação de o gráfico scatterplot, não estamos na presença de
pressupostos do MRLM homocedasticidade, corroborou-se pelo teste de
raiz unitária de que a série é estacionária.
No MRLM, pela aplicação do método O teste de Kolmogorov-Smirnov, usado
Stepwise, foram propostos e testados 15 modelos para averiguar se os erros seguem uma distribuição
diferentes, tendo sido selecionadas 13 variáveis normal, ao apresentar um p-value de 0,223 maior
independentes. Todas as variáveis consideradas do que o nível de significância de 0,05 permite
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concluir pela não rejeição de H0, ou seja, os dados como o melhor modelo explicativo, onde estão
possuem distribuição normal, e podemos concluir explícitos os coeficientes de determinação, os coe-
que nos modelos não existe violação aparente dos ficientes de determinação ajustados, a estatística
pressupostos. de Durbin Watson e a estatística F.
A tabela nº 2 apresenta o resumo de mo-
delos testados, o último modelo foi considerado
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Determinantes da Política de Dividendos: evidência de Portugal
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por autores como Patra et al. (2012) e Gizelle das áreas das finanças empresariais que tem con-
et al. (2013). cebido mais trabalhos de investigação empírica e
A dimensão, medida pela variável ATIVAC, teórica. O presente estudo teve por base identificar
apresenta uma relação positiva e estatisticamente os fatores determinantes da política de dividen-
significativa com os dividendos, defendendo a dos das empresas não financeiras do mercado de
ideia de que empresas de maior dimensão pagam capitais português, tendo sido aplicado o método
mais dividendos, o que vai ao encontro da con- dos mínimos quadrados ordinários num MRLM
clusão defendida por Holanda e Coelho (2012) em que a variável dependente é o dividendo por
e Gizelle et al. (2013). ação que a empresa distribui aos seus acionistas.
No presente estudo, a disponibilidade de De acordo com ótica da Teoria da Agência
meios líquidos e a sua estrutura financeira, testada de Jensen e Meckling (1976), a rentabilidade ao
sob indicadores de liquidez, solvência e cash flow, ser distribuída sob a forma de dividendos pode ter
não mostraram ser significativos, com exceção uma função mediadora de conflitos existentes en-
da variável AUTFIN, que apresenta uma relação tre investidores e gestores. Já sob a gênese da Teoria
positiva na explicação dos dividendos distribuídos. da Sinalização, a distribuição de dividendos pode
Este indicador expressa a participação do capital ser uma das formas de sinalização ao mercado.
próprio no financiamento, possibilitando analisar As conclusões do estudo para o indicador
o grau de alavancagem da empresa, em que um rentabilidade permitem ir ao encontro da opinião
aumento deste indicador implica uma diminui- de que as empresas cotadas na bolsa portuguesa,
ção do nível de endividamento e permitirá um que evidenciam um maior nível de rentabilidade
aumento nos dividendos. e resultados líquidos por ação, apresentam maior
Sendo que o indicador de autonomia tendência para pagar dividendos. O que mostra
financeira determina a percentagem dos ativos estar em consonância com a Teoria da Relevância
que são financiados pelo capital próprio. De uma dos Dividendos.
forma genérica, quanto maior for este indicador Contrariamente à evidência dos resultados
maior estabilidade financeira é apresentada pela líquidos, obteve-se uma relação negativa pelos
empresa, conclusão também obtida por DeAngelo resultados operacionais, concluindo que este
e DeAngelo (2009). No entanto, Ribeiro (2010) indicador apresenta um movimento contrário da
sugere que a autonomia financeira não é estatis- variável explicada e indicando que não é um valor
ticamente significativa. mais elevado dos resultados operacionais que fará
Quanto à variável solvência, medida da aumentar o montante distribuído em dividendos.
estabilidade financeira da empresa no presente es- Pelo que pode concluir-se que perante oportuni-
tudo, não se mostrou estatisticamente significativa. dades de crescimento as empresas optam por reter
O risco, avaliado pela estabilidade/volati- resultados para investi-los.
lidade dos resultados, foi testado empiricamente, Relativamente à influência exercida na po-
não se evidenciando estatisticamente significativo lítica de dividendos pelo nível de dívida apresen-
na explicação do montante de dividendos distri- tado pela empresa, conclui-se que os dividendos
buídos por ação, contrariamente aos resultados estão negativamente relacionados com a dívida,
de Litner (1956) e Grullon et al. (2002), que isto é uma empresa muito endividada tem ten-
concluíram que um aumento dos dividendos é dência a pagar menos dividendos.
efetuado por empresas com menor nível de risco. O presente estudo permite concluir que
as empresas cotadas na Euronext Lisbon, ao distri-
buírem dividendos apresentam uma valorização
5 Conclusões Gerais da cotação das suas ações e consequentemente da
sua capitalização de mercado.
Tal como foi referido na parte inicial do As empresas que permaneceram no índice
trabalho, a política de dividendos tem sido uma bolsista da Euronext Lisbon, no período de 1997 a
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2011, apresentam uma tendência de manutenção de governança corporativa das empresas brasileiras
e estabilidade no payout, concedendo privilégio de capital aberto que possuem investimentos
à prática de uma estabilidade na sua política de públicos. Revista Brasileira de Gestão de Negócios,
dividendos, encontrando-se também aqui evi- 12(37), 369-387.
dências coincidentes com o modelo de Lintner
(1956). Relativamente à indicação da política Arrazola, M., Hevia, J., & Mato, G. (1992).
de dividendos das empresas, num determinado Determinantes de la distribucion de dividendos.
exercício econômico, esta é influenciada positi- Investigaciones Económicas, 16(2), 235-258.
vamente pelos dividendos do exercício anterior.
Bagüés, E., & Fumás, V. (1995). Explicaciones
Quanto à dimensão empresarial, os resul-
alternativas para la política de dividendos: análisis
tados obtidos através de uma relação positiva e
empírico con datos empresariales españoles.
significativa, permitem concluir que as empresas de
Investigaciones Económicas, 19(3), 329-348.
maior dimensão mostram tendência a pagar mais di-
videndos, o que é coerente com a Teoria de Agência. Baker, M., & Wurgler, J. (2004). A catering
As conclusões dos vários estudos empíricos theory of dividends. Journal of Finance, 59(3),
sobre a política de dividendos, como referido an- 1125-1165.
teriormente, não são consensuais, o que nos leva
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2. ‘Trade-off significa uma situação de conflito de escolha,
optar por A em detrimento de B, a decisão quando Brugni, T., Sarlo, A., Neto, Bastianello, R., &
é tomada existe compreensão total dos dois lados da Paris, P. (2012). Influence of dividends on the
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3. ‘Trade-off significa uma situação de conflito de escolha, the BM&FBovespa. Revista Universo Contábil,
optar por A em detrimento de B, a decisão quando
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é tomada existe compreensão total dos dois lados da
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