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Espero que agora você possa ver que o TDAH em adultos não é apenas um proble-

ma trivial relacionado à atenção! Ao contrário, é um problema de longo alcance,


que afeta as habilidades humanas mais impor-
tantes: é uma condição que o priva da capacida-
de de ignorar os impulsos. É um déficit no fun-
cionamento executivo do cérebro que dificulta
muito regular e organizar seu comportamento
no decorrer do tempo para melhor prepará-lo
para o futuro.

Colocando de um modo simples, você e outros adultos com TDAH são cegos – ou
pelo menos míopes – em relação ao tempo. Não lhe falta conhecimento ou habi-
lidade. Seus problemas estão nos mecanismos
executivos que captam o que você já sabe e as
habilidades que já possui para os aplicar a um
comportamento mais efetivo em relação às ou-
tras pessoas e ao futuro. Em certo sentido, seu
intelecto (conhecimento) foi desconectado de
suas ações diárias (desempenho). Você pode saber como agir, mas não age dessa
maneira quando colocado em ambientes sociais em que essa ação o beneficiaria.
Sua carência de uma percepção do tempo tem efeitos debilitantes, até mes-
mo dolorosos. Você provavelmente não se prepara para os eventos previsíveis até
eles estarem praticamente em cima de você – e às vezes nem assim. Esse padrão é
uma receita para uma vida de caos e crise. Você
desperdiça suas energias lidando com as emer-
gências ou urgências do momento imediato,
quando uma pequena previsão e planejamento
poderiam ter-lhe facilitado a carga e provavel-
mente evitado a crise.
Esta descrição do TDAH mostra que as estratégias e ferramentas que mais podem
auxiliá-lo serão aquelas que o ajudarem a fazer o que você sabe:

Os tratamentos para TDAH serão mais úteis quando o ajudarem a fazer o que
você sabe no momento do desempenho nos ambientes naturais em que conduz
sua vida diária.
Quanto mais distante no espaço e no tempo um tratamento estiver deste ponto,
menor sua probabilidade de ajudá-lo.
A ajuda em relação ao tempo, ao timing e à falta do ritmo do comportamento é
fundamental. Isto significa modificar seu ambiente para ajudá-lo a fazer o que
você precisa fazer quando precisa fazê-lo. Também significa colocar à mão suas
ferramentas de apoio.

Dos Capítulos 7 a 9, foram descritos quatro tipos de autocontrole com os quais


você pode ter dificuldade em diferentes graus. Todas as diretrizes a seguir para
o planejamento de tratamentos, estratégias, ferramentas e métodos de enfren-
tamento eficazes podem ajudá-lo a lidar com os déficits nas funções executivas.
Entretanto, ao escolher suas próprias ferramentas de apoio, é preciso prestar
particular atenção àquelas que visam aos déficits com os quais você mais se
identificou.

Externalize as informações que em geral são mantidas na mente.


Isto significa simplesmente colocar peças-chave de informação
sob alguma forma física e inseri-las onde no momento o proble-
ma existe. Pare de tentar usar tanto as informações mentais.

Se seu chefe ou alguma outra pessoa lhe passou uma série


de instruções para executar algo nos próximos dias, pare de tentar manter a tare-
fa em sua cabeça a toda hora e se lembrar disso durante esse período de tempo.
Isso não funciona com o TDAH. Em vez disso, leve sempre no bolso um pequeno
caderno e uma caneta e anote imediatamente a tarefa, quaisquer
passos que lhe foram transmitidos para que ela seja realizada e
o prazo para sua conclusão. Depois, durante os próximos dias,
coloque o que escreveu em sua frente, no local onde o trabalho
deverá ser feito, para funcionar como sua memória de trabalho
externa – seu lembrete para realizá-lo. Você pode inclusive frag-
mentar esse plano em passos menores e inseri-los em seu plane-
jador diário como objetivos para cada hora do dia e para as pró-
ximas horas anteriores ao cumprimento do prazo. O importante
aqui não é a técnica – é o princípio que está por trás dela!

Torne o tempo físico. O TDAH faz você se concentrar principal-


mente no momento, tirando seu foco dos sinais e da percepção
interna de que o tempo está passando. Use cronômetros de
cozinha, relógios, computadores, calendários e quaisquer ou-
tros dispositivos que possam fragmentar o tempo em horas e
programe alarmes para marcar determinados períodos. Quanto
mais externa você tornar a passagem do tempo, e estruturar
esse tempo com lembretes físicos periódicos, maior a proba-
bilidade de controlar bem seu tempo.
Use incentivos externos. Providencie frequentes tipos externos
de motivação para auxiliá-lo durante qualquer trabalho. Por
exemplo, fragmente seu projeto em passos menores e dê a si
mesmo uma pequena recompensa por completar cada hora ou
meia hora de trabalho cumprido. As “próteses” motivacionais
são quase essenciais para você terminar projetos, atribuições,
planos pessoais ou compromissos sociais de longo prazo. Seja
a recompensa beber uma rápida xícara de café, chá ou um
refrigerante para voltar a sua área de trabalho, verificar rapi-
damente a posição de seu time esportivo favorito na internet,
ouvir uma música curta em seu CD player ou rádio, ou até
mesmo dar a si próprio um símbolo: providencie pequenas
recompensas para a realização de cotas de trabalho menores,
em vez de esperar até todo o trabalho estar pronto.

Normalize os déficits neurológicos básicos no


sistema executivo do cérebro. Até agora, o único
tratamento que mostra qualquer esperança
de atingir este objetivo é a medicação. Os
remédios para TDAH (veja o Terceiro Passo),
como os estimulantes ou os não estimulantes
atomoxetina ou guanfacina, podem melhorar
ou até mesmo normalizar os substratos neuro-
lógicos nas regiões executivas do cérebro, que
provavelmente são a base desse transtorno,
e suas redes relacionadas. Eles não revertem esses déficits per-
manentemente; no entanto, têm um efeito positivo significativo
enquanto permanecem em seu sistema.

Substitua as distrações por reforçadores para se concentrar na


tarefa imediata. Use quaisquer lembretes físicos que man-
tenham sua mente concentrada na tarefa e nos objetivos
imediatos.
Externalize suas regras. Transforme as regras em listas físicas.
Afixe cartazes, listas, quadros e outras ferramentas de ajuda no
ambiente apropriado – escola, trabalho ou ambiente social – e
os consulte frequentemente enquanto estiver nessas situações.
Você pode até mesmo conversar consigo mesmo em voz baixa
e assim expressar essas regras antes e enquanto estiver nessas
situações. Pode também usar um dispositivo para gravar e ouvir esses lembretes (usando
fones de ouvido para evitar distrair os outros!).

Fragmente qualquer tarefa que inclua grandes intervalos de tempo


em blocos menores e menos espaçados. Por exemplo, em vez de
abordar integralmente um projeto que deve ser feito durante
o próximo mês, fragmente-o em passos muito menores e faça
um passo por dia até o objetivo final. Dessa maneira, cada
passo não vai parecer tão opressivo. E você pode permanecer
motivado usando feedback imediato e incentivos para completar
cada passo.
Permaneça flexível e esteja preparado para mudar seu plano. Do
mesmo modo que acontece com uma doença crônica, como
o diabetes, um plano de tratamento é composto de muitas
intervenções que proporcionam alívio sintomático. Entretanto,
no decorrer do tempo, modificações dos sintomas e crises po-
dem periodicamente ocorrer. Não tema mudar o rumo – peça
ajuda para fazer isso, sempre que necessitar – e busque novas
maneiras para compensar os déficits que o TDAH lhe impõe.
É só o que você merece.

Tendo em mente essas importantes ideias,


você agora está pronto para controlar seu TDAH.
Nunca se esqueça de que, com a ajuda adequa-
da – incluindo informação, terapia, medicação,
estratégias comportamentais, trabalho árduo,
proteção e apoio da família e dos amigos –, você
pode realizar melhorias importantes e possivel-
mente substanciais em sua vida.

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