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UNIVERSIDADE FEDERAL DOS VALES DO JEQUITINHONHA E MUCURI

FACULDADE INTERDISCIPLINAR EM HUMANIDADES


LABORATÓRIO DE ARQUEOLOGIA E ESTUDO DA PAISAGEM (LAEP)
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

MATEUS DE SOUZA FERREIRA

A ARTE RUPESTRE DA ÁREA ARQUEOLÓGICA DE SERRA NEGRA – ALTO


ARAÇUAÍ: ESTUDO CRONOESTILÍSTICO DO SÍTIO AMAROS 01,
ITAMARANDIBA, MINAS GERAIS.

Diamantina – MG
Julho de 2014
MATEUS DE SOUZA FERREIRA

A ARTE RUPESTRE DA ÁREA ARQUEOLÓGICA DE SERRA NEGRA – ALTO


ARAÇUAÍ: ESTUDO CRONOESTILÍSTICO DO SÍTIO AMAROS 01,
ITAMARANDIBA, MINAS GERAIS.

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)


apresentado a Faculdade Interdisciplinar em
Humanidades (FIH) da Universidade Federal dos
Vales do Jequitinhonha e Mucuri como exigência
a obtenção do título de Bacharel em Humanidades.

Orientação: Prof. Dr. Marcelo Fagundes

Diamantina – MG
Julho de 2014
MATEUS DE SOUZA FERREIRA

A ARTE RUPESTRE DA ÁREA ARQUEOLÓGICA DE SERRA NEGRA – ALTO


ARAÇUAÍ: ESTUDO CRONOESTILÍSTICO DO SÍTIO AMAROS 01,
ITAMARANDIBA, MINAS GERAIS.

Monografia submetida à avaliação da banca examinadora abaixo-listada, como parte dos


requisitos necessários à obtenção do título de Bacharel em Humanidades, pela Faculdade
Interdisciplinar em Humanidades da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e
Mucuri (FIH/UFVJM).

______________________________________________________
Prof. Dr. Marcelo Fagundes (UFVJM) – Presidente/Orientador.

______________________________________________________
Prof. Dr. Marcelino dos Santos Morais (UFVJM) – 2º membro.

______________________________________________________
Profa. Dra. Danielle Piuzana Mucida (UFVJM) – 3º membro.

______________________________________________________
Profa. Dra. Ana Cristina Pereira Lage (UFVJM) – Suplente

Diamantina - MG
Julho de 2014
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus por ter me concedido o dom da vida, por ter me
dado sabedoria e inteligência e me guiado para o mundo da Arqueologia, por me ajudar a
sempre escolher o melhor caminho a ser seguido.
Um agradecimento especial à minha família, meu querido pai Sr. Antônio
Marcos, minha querida mãe Dona Elzi e meu irmão Marco Antônio, que mesmo estando longe
(Aracruz-ES), sempre me apoiaram em todas minhas decisões, me concedendo todo suporte
necessário para realizações dos meus sonhos.
Com carinho especial agradeço ao Amigo/Professor/Orientador Prof. Dr.
Marcelo Fagundes por acreditar em mim e me fazer acreditar do que sou capaz e que nada é
impossível, desde que se tenha amor pelo que faz. Obrigado por me mostrar o mundo da
Arqueologia e me ajudar a fazer parte dele.
Aos meus familiares residentes em Diamantina, um agradecimento especial para
os meus tios e tias, Prof. Dr. Miguel Brant Ferreira, Maria José, Marília Ferreira e Mércia
Ferreira por terem me acolhido o tempo necessário até que eu pudesse caminhar com minhas
próprias pernas.
A República Farrapos agradeço o companheirismo e o convívio sadio que
desfrutei por aproximados dois anos, em especial agradeço a todos moradores: Daniel, Diego
Alves (Bebezinho), Diego Almeida (Maradona), Diego Neris (Januária), Diego Veloso,
Neudson (Nelson), Jonathan (Cabessa), José Jhones (Jhow), Júnior, Marcus, Marcos (Molejo),
Luiz (Balottin) e Bruno. E é claro, a Cida, que desde a criação da República esteve junto
conosco, nos ajudando na organização da casa, sem ela essa República não seria nada.
Agradeço ao LAEP/NUGEO/UFVJM por ser minha segunda casa e pelo espaço
cedido tanto nos dias letivos, quanto nos feriados e finais de semana.
Ao grande Lucas Lara, muito obrigado pelo companheirismo nos inúmeros
trabalhos de campo e pela elaboração cartográfica impecável.
Valdiney Amaral Leite obrigado por me ajudar sempre nos meus trabalhos
arqueológicos, pela “co-orientação” simbólica, você sempre será um exemplo a ser seguido,
futuro Dr. Ney do Vale Jequitinhonha o meu muito obrigado.
Aos amigos Manuel Dimitri, Gilson Junio, Lucas Lara, Janderson Tameirão,
Fernanda Tameirão, Thaísa Macedo Petherson Piauí, João Piauí, agradeço pela paciência nos
trabalhos de campo e por me ensinarem diversas práticas relacionadas à arqueologia de
contrato.
Aos inesquecíveis amigos que fiz dentro do LAEP, Arkley, Janderson, Fernanda,
Gilson, Manuel, Atila Perillo, Thaísa, Ney, Ilziane, Rosi, Marcela, Luísa, Tatielly, Lucas T.A,
Eliane, Kelly, Marcelo Souza, Lidiane, Isadora, Ana Karine (Naka), Bira, Marcelo Fagundes,
Jorge, Priscila, Regiane, Landerson, Gambassi, Bruna, Lukas DJ, Lucas Santana, Milena,
Douglas do garimpo, Maíra, Carlos Henrique, Silvinha, Marlene, Kevelly, Thiago, Wellington
(calouro), Shirla e Hallan.
Em especial gostaria de agradecer à Silvinha, Milena, Lukas, Douglas e Maíra
pela paciência em me aturar todos os dias no Laboratório pelo apoio nos momentos importantes
de minha vida, pelas diversas discussões arqueológicas em busca de melhor entendimento sobre
o assunto, pela amizade durantes os campos e por inúmeras lembranças que guardarei para
sempre, vocês sempre serão eternos em minhas lembranças. Espero que um dia sejamos
companheiros de trabalhos por esse mundão da Arqueologia.
A equipe da Fronteiras Arqueologia, Sergio Bruno, Janderson Tameirao,
Samanta Mondini, Dayane Oliveira e Wanderson Esquerdo, Marcos (Baiano) e Seu Paulo,
agradeço pelas inúmeras oportunidades de campo no ramo da arqueologia de contrato.
Aos amigos e colegas da quinta turma do Bacharelado em
Humanidades/Geografia agradeço pelo companheirismo.
Aos professores do Bacharelado em Humanidade/Geografia Hernando Baggio,
Danielle Piuzana, Marcelino, Lúcio, Marcelo Fagundes e Maria Nailde meu muito obrigado
pelos ensinamentos que levarei por toda minha vida.
Aos meus amigos do Espirito Santo em especial Renan Cunha, Adelmo Cunha,
Tobias Guzzo, Jaques Ricatto, Mirelli Meirelles, Macelli Meirelles, Marcell Meirelles, Zikus
Meirelles e Marco Antônio agradeço por fazerem parte da minha vida.
As pessoas que fizeram parte de minha vida desde que cheguei em Diamantina
agradeço a Sandy, Dani Marx, Kelly, Barbara Barros, João Henrique, Jonathan (Cabessa),
Thiaguin, Hallan, Ilziane, Herbert (Dodó), Francisco (Chicão), Cleberty (Bibi), Pedro Sampaio
(Bel) muito obrigado por terem feito esses anos de Diamantina os melhores.
Agradeço a todos que contribuíram direta ou indiretamente para o sucesso deste
trabalho, muito obrigado a todos e desejo sucesso na vida de cada um de vocês.
(...) a prática da arqueologia é
extremamente complexa, e o arqueólogo
depende da colaboração de vários
especialistas (biólogos, geomorfólogos,
físicos, etc.). Por outro lado, ele dispõe
apenas de fragmentos da realidade do
passado – sobretudo o lixo, e ainda por cima
selecionado pelos agentes de degradação
natural. (PROUS, 2006/2007).
RESUMO

O sítio Amaros 01 está localizado na Área Arqueológica de Serra Negra, Complexo do


Ambrósio, em terras do município de Itamarandiba, MG. Trata-se de uma área limítrofe entre
o Vale do Jequitinhonha (Alto Vale do rio Araçuaí), e o Vale do Rio Doce, na borda leste da
Serra do Espinhaço, local onde foram identificados sessenta e cinco sítios arqueológicos. Toda
essa área apresenta um potencial arqueológico, sobretudo no que tange os sítios com presença
de painéis rupestres, que exibe grande variabilidade quando comparado aos sítios da região de
Diamantina, por exemplo. O presente trabalho teve como objetivo apresentar um estudo
cronoestilístico das figurações do sítio Amaros 01, com o intuito de entender o uso e ocupação
deste ambiente. O sítio Amaros 01 apresenta vários painéis rupestres, sendo mais comuns as
figurações filiadas à Tradição Planalto, entretanto um deles apresenta quatro figurações típicas
da Tradição Agreste (antropomorfos com mais de dois metros de comprimento), comum na
região Nordeste do Brasil. A metodologia utilizada consiste em diversas campanhas ao sítio
arqueológico, revisão bibliográfica regional, criação de pranchas explicativas para melhor
entendimento geral do sítio, análise das interferências antrópicas e naturais do sítio. Os
resultados obtidos nos mostram que os painéis rupestres do sítio Amaros 01 são riquíssimos em
informações, uma vez que apresenta figurações em estilos diferentes da maioria dos sítios
regionais. Este trabalho irá compor o banco de dados do PAAJ (Projeto Arqueológico do Alto
Jequitinhonha), fornecendo informações pré-históricas da região de Itamarandiba principais
características cronoestilísticas das pinturas rupestres desse sítio, cooperando assim para a
compreensão da arte rupestre regional e possibilitando um melhor entendimento da associação
entre Tradições, uma vez que, seus respectivos autores respeitaram o espaço, sendo visível que
não houve a sobreposição de Tradições.

Palavras-chave: Arqueologia, Arte Rupestre, Alto Jequitinhonha, Tradições Rupestres,


Complexo Arqueológico.
ABSTRACT

The site Amaros 01 is located in Black Mountain Archaeological Area, Complex Ambrose in
land in the municipality of Itamarandiba, MG. This is a borderline area between the
Jequitinhonha Valley (Upper River Valley Araçuaí), and the Rio Doce Valley, on the eastern
edge of the Espinhaço, where seventy-five archaeological sites were identified. This whole area
has archaeological potential, especially regarding the presence of sites with rock panels, shows
great variability when compared to sites in the Diamantina region, for example. This work aims
to present a study of cronoestilístico figurations Site Amaros 01 in order to understand the use
and occupancy of this room. The site presents several Amaros 01 rock panels, the most common
being affiliated figurations Tradition Plateau, however one of them presents four typical
figurations of Tradition Wasteland (anthropomorphic more than two meters long), common in
northeastern Brazil. The methodology consists of several campaigns at the archaeological site,
regional literature review, creation of explanatory boards for better overall understanding of the
site, analysis of natural and anthropogenic interference of the website. The results show us that
the rock panels Amaros Site 01 are very rich in information, since it presents figurations in
different styles of most regional sites. This work will form the database PAAJ (Archaeological
Project of the High Jequitinhonha), providing pre-historical information from the region
Itamarandiba cronoestilísticas main characteristics of the rock paintings that site, thereby
cooperating in the understanding of regional rock art, allowing for a better understanding the
association between traditions, since their authors respect the space, and there was no visible
overlapping traditions.

Keys word: Archaeology, Rock Art, Jequitinhonha High Valley, Rock traditions,
archaeological complex.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 14
JUSTIFICATIVA ................................................................................................................... 17
OBJETIVOS GERAIS ........................................................................................................... 18
OBJETIVOS ESPECÍFICOS................................................................................................ 18
PROBLEMATIZAÇÃO DA PESQUISA............................................................................. 19
HIPÓTESES ........................................................................................................................... 19
LINHA DE PESQUISA E ATUAÇÃO................................................................................. 19
ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (TCC) ................. 20
CAPÍTULO 01 - ASPECTOS TEÓRICOS ......................................................................... 22
1.1 - HISTÓRICOS DAS PESQUISAS EM ARTE RUPESTRE NO BRASIL .............................. 22
1.2 - A ARTE RUPESTRE EM MINAS GERAIS .......................................................................... 24
1.3 - CONCEITOS DE TRADIÇÕES NA ARQUEOLOGIA E NA ARTE RUPESTRE ............... 25
1.4 - AS TRADIÇÕES RUPESTRES............................................................................................... 26
1.5 – AS DIFERENTES INTERPRETAÇÕES E ANÁLISES DA ARTE RUPESTRE ................. 42
CAPÍTULO 02 - AMBIENTAÇÃO DA PESQUISA .......................................................... 45
2.1 - LOCALIZAÇÃO GEOAMBIENTAL ..................................................................................... 45
2.2 - CARACTERIZAÇÕES DO MEIO AMBIENTAL .................................................................. 46
2.3 - CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO ARQUEOLÓGICOS AMAROS 01 .................................. 56
CAPÍTULO 03 - PROCEDIMENTOS METOLÓGICOS ................................................. 59
CAPÍTULO 04 - RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................ 63
4.1 - REFLEXÕES TEÓRICAS ....................................................................................................... 63
4.2 - ANÁLISE DAS FIGURAÇÕES DO SÍTIO AMAROS 01 ..................................................... 64
4.3 - OS PAINÉIS RUPESTRES DO SÍTIO AMAROS 01 ............................................................. 69
4.3.1 – FIGURAÇÕES DO PAINEL 01...................................................................................... 70
4.3.2 - FIGURAÇÕES DO PAINEL 02 ...................................................................................... 73
4.3.3 - FIGURAÇÕES DO PAINEL 03 ...................................................................................... 75
4.3.4 - FIGURAÇÕES DOS PAINÉIS ISOLADOS ................................................................... 77
4.4 – RESULTADOS E ANÁLISES DOS PAINÉIS DO SÍTIO AMAROS 01 .............................. 79
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 89
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 91
REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS ....................................................................................... 95
APÊNDICES E ANEXOS ..................................................................................................... 96
ÍNDICE DE FIGURAS

Figura 1. Localização da Área Arqueológica da Serra Negra. Fonte: LAEP, 2011. ............... 16
Figura 2. Mapa da distribuição das tradições de arte rupestre no Brasil. Fonte: GASPAR, 2006.
.................................................................................................................................................. 27
Figura 3. Antropomorfos. Fonte: LINKE, 2008, p.72. ............................................................ 28
Figura 4. Grafismos policrômicos da Tradição São Francisco. Fonte: GASPAR, 2003......... 30
Figura 5. Gravuras de figurações antropomórficas da Tradição Amazônica. Fonte: MELO
VAZ, 2005 apud LEITE, 2012, p. 47. ...................................................................................... 31
Figura 6. Gravuras da tradição Litorânea Catarinense. Fonte: PROUS, 1992. ....................... 32
Figura 7. Gravuras associadas a tradição Meridional. Fonte: MELO VAZ, 2005 apud LEITE,
2012. ......................................................................................................................................... 33
Figura 8. Diferentes formas de gravuras da tradição Meridional. Fonte: PROUS, 1992. ....... 33
Figura 9. Gravuras associadas à tradição Geométrica Central. Fonte: PROUS, 1992. ........... 34
Figura 10. Gravuras associadas à tradição Geométrica Meridional. Fonte: PROUS, 1992. ... 34
Figura 11. Figurações atribuíveis a Tradição Nordeste em Minas Gerais. Fonte: LINKE, 2008,
p.71. .......................................................................................................................................... 35
Figura 12. Primeiro conjunto da tradição Planalto em Diamantina e região. Fonte: LINKE,
2008, p.66. ................................................................................................................................ 38
Figura 13. Fluidez nas representações dos detalhes anatômicos. Fonte: LINKE, 2008, p.68. 39
Figura 14. Preenchimento das figurações do segundo conjunto Planalto. Fonte: LINKE, 2008,
p.67. .......................................................................................................................................... 40
Figura 15. Preenchimento das figurações do terceiro conjunto Planalto. Fonte: LINKE, 2008,
p.69. .......................................................................................................................................... 41
Figura 16. Representações das figuras do conjunto estilístico da Tradição Planalto. Fonte:
LINKE, 2008, p.70. .................................................................................................................. 42
Figura 17. Mapa Hipsométrico da Serra do Ambrósio. Fonte: LAEP, 2011. ......................... 47
Figura 18. Domínios litológicos dos Complexos Arqueológicos. Fonte: LAEP, 2012. ......... 48
Figura 19. Localização da Área Arqueológica da Serra Negra. Fonte: LAEP, 2012. ............. 50
Figura 20. Localização Hipsométrico do Sítio Amaros 01. Fonte: LAEP, 2014. ................... 51
Figura 21. Litologia da região do Sítio Amaros 01. Fonte: LAEP, 2014. ............................... 52
Figura 22. Bacia Hidrográfica próxima ao Sítio Amaros 01. Fonte: LAEP, 2014.................. 53
Figura 23. Bacias Hidrográficas da Serra dos Ambrósio. Fonte: LAEP, 2012. ...................... 54
Figura 24. Classificações climáticas de acordo com Koppen. Fonte: clictempo.clicrbs.com.br,
2014. ......................................................................................................................................... 55
Figura 25. Classificação da Vegetação no Brasil. Fonte: Simielli, 2007. ............................... 55
Figura 26. Vegetação típica da Mata Atlântica (Floresta estacional Semidecidual). Fonte:
LAEP, 2013. ............................................................................................................................ 56
Figura 27. Localização do sítio Amaros 01 na bifurcação. Fonte: LAEP, 2013. ................... 57
Figura 28. Cobertura vegetacional do sítio Amaros 01. Fonte: LAEP, 2013. ......................... 58
Figura 29. Análise das figurações. Fonte: FERREIRA, 2014. ................................................ 62
Figura 30. Estilo das figurações no Sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014. .............................. 68
Figura 31. Figurações associadas à tradição Agreste. FERREIRA, 2014. .............................. 71
Figura 32. Pichações realizados no sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014................................ 71
Figura 33. Primeira campanha antes da abertura da estrada. LAEP, 2012. ............................ 72
Figura 34. Segunda campanha após abertura da estrada. LAEP, 2013. .................................. 73
Figura 35. Figurações do painel 02, do sítio Amaros 01. FERREIRA, 2013. ........................ 74
Figura 36. Figurações do painel 03, do sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014. ........................ 76
Figura 37. Liquens sobre as figurações do sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014. ................... 77
Figura 38. Figurações dos painéis isolados do sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014. ............. 78
Figura 39. Figurações praticamente não identificáveis do sítio Amaros 01. FERREIRA,
2014. ......................................................................................................................................... 78
Figura 40. Figurações do sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014. .............................................. 79
Figura 41. Metodologia das medições das figurações. FERREIRA, 2014. ............................ 86
ÍNDICE DE QUADRO

Quadro 1. Figurações encontradas no sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014. ........................... 65


Quadro 2. Tradições do sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014. ................................................. 66
Quadro 3. Colorações entradas no sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014. ................................ 67
Quadro 4. Detalhamento das figurações rupestre do Amaros 01. FERREIRA, 2014. ............ 69
Quadro 5. Análise dos zoomorfos do painel 02, do sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014. ...... 75
Quadro 6. Análise dos cervídeos de tom amarelado. FERREIRA, 2014. ............................... 76
Quadro 7. Detalhamento das figurações do Amaros 01. ......................................................... 85
Quadro 8. Medição das figurações em altura e largura do Amaros 01. FERREIRA, 2014. ... 88
ÍNDICE DE GRÁFICOS

Gráfico 1. Figurações do Sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014. .............................................. 65


Gráfico 2. Tradições rupestre do Sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014. .................................. 66
Gráfico 3. Domínios das figurações em vermelho Sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014. ....... 67
INTRODUÇÃO

A Área Arqueológica de Serra Negra está localizada a nordeste de Minas Gerais,


assentada nos domínios da Província de Mantiqueira, exatamente no limite entre o Cráton do
São Francisco e a Faixa Araçuaí, cuja expressão local é a Cordilheira do Espinhaço Meridional,
modelada por rochas da unidade Supergrupo Espinhaço de idade Paleo/mesoproterozóico
(Fagundes et al, 2012a, 2012b, 2013).
Ainda de acordo com Fagundes et al (2012b), o Supergrupo Espinhaço,
considerado como embasamento das unidades neoproterozóicas (Grupo Macaúbas e Grupo
Bambuí) experimentou levantamento generalizado e basculamentos localizados, quando da
tectônica extensional responsável pela individualização da Bacia Araçuaí. No final do
Neoproterozóico, o sistema Espinhaço e a Bacia Araçuaí experimentam forte tectônica de
inversão, em regime compressional, com dobras, zonas de cisalhamento, metamorfismo
regional e espessamento litosférico. Individualizam-se as unidades estruturais do Cráton do São
Francisco e Faixa Araçuaí.
A unidade externa da Faixa Araçuaí é constituída pelo embasamento
remobilizado pela orogênese brasiliana (Anticlinórios de Gouveia, Porteirinha e de Guanhães),
o Supergrupo Espinhaço da serra homônima (setor meridional) e o Grupo Macaúbas (incluindo
o Complexo ou Unidade Salinas (PEDROSA SOARES et al, 1992).
Segundo Fagundes (2013), a Área Arqueológica de Serra Negra encontra-se
inserida, sobretudo, no Grupo Guanhães, dividido em três formações:
 Inferior, de espessura discreta e raramente exposta ou presente, constituída por xistos
verdes ultramáficos e máficos, xistos pelíticos e delgadas lentes de itabirito, quartzito e
formação ferrífera;
 Média, com itabirito, itabirito carbonático, rocha cálcio-silicática, xisto carbonático,
quartzito ferruginoso e quartzito;
 Superior (ou Formação Serra Negra), com paragnaisse rico em intercalações de
anfibólio bandado, quartzito e itabirito raros na porção sul da área de ocorrência e
quartzito abundante, na porção norte.
Fagundes et al (2012b), ressaltam que há profunda discordância entre o
Supergrupo Espinhaço e a Formação Serra Negra, por outro lado, essa discordância é reforçada
pela notável diferença litológica-metamórfica entre tais unidades.
Deste modo, a maior parte da área de pesquisa encontra-se inserida nos domínios
do Grupo Guanhães - Formação Serra Negra, dominantemente constituída por Unidades do
embasamento (gnaisses), de idade Arqueana.
Em todo caso, tanto na porção NE quanto SE da área, são os quartzitos que
marcam as elevadas serras alinhadas no sentido NW-SE e que atingem seu ponto culminante
no Pico Pedra Menina (1.595m) (FAGUNDES et al, 2012a)

O sítio Amaros 01, objeto de estudo desta monografia, está implantado na Área
Arqueológica de Serra Negra, Complexo do Ambrósio, na Formação Serra Negra (com
quartzitos abundantes), em terras do distrito de Amaros, município de Itamarandiba, MG.

Trata-se de uma área limítrofe entre o Vale do Jequitinhonha (Alto Vale do rio
Araçuaí), e o Vale do Rio Doce, na borda leste da Serra do Espinhaço, sendo que até o momento
foram identificados sessenta e cinco sítios arqueológicos, a grande maioria com grafismos
rupestres filiados à Tradição Planalto, mas, como será discutido, tanto a Tradição Nordeste,
quanto a Agreste se fazem presentes em muitos dos painéis, principalmente na porção oriental
da área arqueológica (LEITE & FAGUNDES; FAGUNDES, 2013).

Logo, como apresentado por Fagundes (2013), trata-se de uma região com alto
potencial arqueológico (figura 1), sobretudo no que tange os sítios com presença de painéis
rupestres, estes exibindo grande variabilidade quando comparada aos sítios da região de
Diamantina, por exemplo.
Figura 1. Localização da Área Arqueológica da Serra Negra. Fonte: LAEP, 2011.
Os abrigos rupestres encontrados na Área Arqueológica da Serra Negra (todos
constituídos por quartzitos) se caracterizam pela diversidade de grafismos, apresentando
diferentes estilos gráficos e, possivelmente, se enquadrando em diferentes tradições ou, como
apresentado por Baeta (2011), sofrendo influências de tradições arqueológicas diferentes.

A Área Arqueológica de Serra Negra está constituída por três Complexos


Arqueológicos: Serra do Ambrósio, Campo das Flores e Felício dos Santos.
De acordo com Fagundes (2013, p. 68), entende-se por Complexo Arqueológico
e Área Arqueológica:

[...] uma assembleia de sítios implantados em um determinado domínio


biogeográfico e, portanto, apresenta características geoambientais semelhantes,
somada ao repertório cultural, sistema de implantação de assentamento (sejam
aldeias a céu aberto ou abrigos, sítios de ocupação semipermanente ou
temporária), sobretudo vinculado ao conceito de lugares persistentes. A soma de
vários Complexos forma uma Área Arqueológica que, além de compartilhar
características semelhantes, possui indicadores de uma rede de trânsito entre o
grupo (ou mesmo grupo) que divide um determinado território. Cabe destacar que,
de forma alguma, utilizam-se os conceitos de etnicidade ou identidade na definição
de Complexo ou Área. Com isso não se refuta esta possibilidade que, quiçá,
poderão ser inseridas do decorrer da pesquisa, com o aumento na quantidade de
dados e suas futuras interpretações.

Dos sítios componentes dos Complexos, a grande maioria são abrigos sob rocha
(quartzítica), com presença de painéis com mais variadas figurações rupestres, como será
discutido a frente. Os sítios a céu aberto, que devem existir, ainda não foram evidenciados.
Contudo, parte-se do princípio que o ápice de ocupações regionais deve estar relacionado aos
grupos de caçadores-coletores nômades, porém, por enquanto se trabalha no nível de hipótese.
Como base nestas informações preliminares, esta monografia tem como objetivo
apresentar os resultados da monografia em Pré-História Geral, que teve como foco os painéis
rupestres do sítio Amaros 01, localizado em terras do município de Itamarandiba, MG.
A intenção foi classificar as figurações rupestres por meio de diferentes
metodologias, em campo e laboratório, de modo que se pudesse compreender as técnicas
utilizadas pelo “pintor”, tintas, disposição das figurações nos painéis, escolha do abrigo, bem
como suas relações sincrônicas e diacrônicas.

JUSTIFICATIVA

O estudo dos grafismos rupestres tem contribuído sensivelmente para


compreensão acerca dos pontos importantes da ocupação pré-histórica de um complexo
arqueológico. Neste sentido, coopera para o entendimento sobre o modo de vida e cultura no
passado.

As análises no estudo aqui proposto buscaram destacar as especificidades e


particularidades dos painéis rupestres no que tange:

a. O modo utilizado para grafar;


b. Espessura dos traços;
c. Tonalidade das tintas utilizadas;
d. Estilos;
e. Morfologias.
Por fim, com todas estas informações buscou-se a formulação de um quadro
comparativo intra sítio, ou seja, entre os painéis do sítio Amaros 01 para que, em futuro
próximo, se possa realizar uma análise inter sítios, ou seja, com demais sítios regionalmente.

Deste modo, os sítios estudados pela equipe do LAEP (Laboratório de


Arqueologia e Estudos da Paisagem) irão cooperar para a compreensão dos modos de vida
pretéritos do Alto Jequitinhonha, principalmente no que se trata dos registros arqueológicos
Pré-Históricos.

Neste sentido, a análise dos painéis rupestres dos sítios Amaros 01 se justifica
pela diversidade estilística presenciada, que indicam a possível existência de duas tradições
rupestres descritas na literatura: Planalto e Agreste.

OBJETIVOS GERAIS

 Analisar os painéis rupestres do sítio Amaros 01 de modo que se possa indicar a


presença de diferentes estilos e/ou tradições arqueológicas.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Realizar a análise cronoestilísticas dos painéis rupestres de modo a indicar possíveis


similaridades e diferenças;
 Analisar as figurações individualmente buscando destacar suas principais
características de modo que se possa compará-la nos painéis rupestre (intra sítio);
 Buscar compreender as relações sincrônicas e diacrônicas intra e inter painéis do sítio
Amaros 01.

PROBLEMATIZAÇÃO DA PESQUISA

Neste estudo por meio das figurações rupestres e dos vestígios arqueológicos
presentes no sítio Amaros 01, busca-se compreender a forma do uso e ocupação deste abrigo,
uma vez que, há diversos momentos de ocupação, representados pelas sobreposições visíveis
nos painéis rupestres. Além disso, partiu-se da hipótese de duas tradições rupestres.

Por meio do levantamento bibliográfico regional e classificação cronoestilísticas


dos vestígios rupestres no sítio, busca-se responder os seguintes questionamentos:

 Os registros rupestres do sítio Amaros 01 podem ser classificados em duas tradições:


Planalto e Agreste?
 Em algum momento cronológico da ocupação deste sítio houve a coexistência desses
dois grupos?

HIPÓTESES

São várias as hipóteses possíveis que podem ser levantadas para sistematização
do estudo da arte rupestre. No sítio Amaros 01 estas perspectivas não são diferentes, dentre as
hipóteses levantadas as principais são:

i. Que o sítio por ter servido de abrigo temporário ao longo de sua história de ocupação,
abrigando pequenos bandos de caçadores coletores que habitaram a área durante o
Holoceno e deixaram suas evidências e transformando o local em marcos
paisagísticos (FAGUNDES, 2009).
ii. O sítio Amaros 01 foi ocupado por diversos grupos culturais, desta forma explica-se
a sua grande variabilidade estilística.

LINHAS DE PESQUISA E ATUAÇÃO

 Linhas de pesquisa: Arqueologia Pré-Histórica.


 Área de Atuação: Categorias cronoestilísticas e culturais em Arte Rupestre
ORGANIZAÇÃO DA MONOGRAFIA

O trabalho foi dividido em cinco capítulos e uma introdução onde será abordado
a justificativa deste trabalho, objetivos gerais e específicos, problematização da pesquisa,
hipóteses, linha de pesquisa e atuação.

O capítulo 01 aborda de forma breve e sucinta o contexto histórico da


Arqueologia e sua evolução desde o início das pesquisas no Brasil e, posteriormente, em Minas
Gerais. Aborda também os diversos conceitos de tradição na Arqueologia, além de defini-las
de acordo com alguns pesquisadores. A importância das discussões teóricas da missão Franco-
Brasileira e suas variadas interpretações na Arte Rupestres.

As informações abordadas a respeito da localização Geoambiental, como por


exemplo, ambientação da pesquisa, localização geográfica serão discutidas no capítulo 02, a
exposição dos aspectos naturais do local, como também a cobertura vegetal, caracterização da
paisagem, coordenadas UTM, altimetria, domínios morfoclimáticos e demais aspectos
relacionados a geografia regional.

Para a realização da pesquisa foram utilizados dos mais variados métodos para
obtenção do resultado. No capítulo 03, em específico, será abordado de forma sistemática todos
os passos que foram dados e sua metodologia para que fosse realizado o estudo das figurações
rupestres.

No capítulo 04 será abordado todos os resultados e discussões acerca do sítio


Amaros 01, como por exemplo, dimensões do abrigo, quantidade de painéis localizados em um
mesmo sítio, além de quantificação e análise de todas figurações existente. A importância desse
capítulo será a padronização cronoestilística do sítio Amaros 01, uma vez que, buscou-se
entender padrões de assentamentos e padronizações no modo de grafar desses grupos
antecessores.

De acordo com os objetivos buscados neste trabalho, problemas de pesquisas


levantados e analisados, hipóteses aceitas e refutadas e pretensão de continuidade com os
estudos na área em uma possível pós-graduação, todos esses tópicos serão discutidos em nossas
considerações finais.
Alguns detalhes que são de extrema importância para o leitor deste Trabalho de
Conclusão de Curso serão adicionados na parte em anexo no final deste trabalho, entendendo
que os mesmos buscarão informações extras sobre a área em estudo.
CAPÍTULO 01

ASPECTOS TEÓRICOS

1.1 HISTÓRICOS DAS PESQUISAS EM ARTE RUPESTRE NO BRASIL

Os primeiros registros rupestres no Brasil foram mencionados em 1958.


Segundo Gabriela Martin (2008), Feliciano Coelho de Carvalho encontrou gravuras próximas
ao rio Arasoagipe, em sua descrição das figurações foi: “(...) uma cruz, caveiras de defunto e
desenhos de rosas e molduras”.

Com o início da “Arqueologia Científica”, os trabalhos realizados por Annette


Laming-Emperaire (1962) e A. Leroi-Gourhan (1965), ambos influenciados pelo
estruturalismo, deram fortes contribuições à Arqueologia Brasileira. Madame Emperaire, em
especial, participou fortemente na formação de arqueólogos brasileiros na década de 1960,
sendo responsável por várias escavações e cursos (LEITE, 2012).

Foi por volta de 1964 foram realizadas as primeiras pesquisas sistemáticas tendo
como foco os sítios arqueológicos de arte rupestres aconteceram, sendo intensificados na
década de 1970 pela missão franco-brasileira. Essas pesquisas se espalharam pelo centro do
país até a região Nordeste, sendo umas das áreas onde as pesquisas mais sobressaíram em
questões metodológicas e de dados1.

A partir desse momento, com as intervenções da Missão Franco-Brasileira, a


Arte Rupestre no Brasil passa por um período de revolução e, dessa forma, aumenta as
pesquisas sistematizadas que passa a ser vista e compreendida de forma diferente, possuindo
maior embasando factual, ou seja, a análise do todo o contexto se torna mais importante para
compreensão por completo de um sítio.

Em 1977, com o falecimento dessa pesquisadora, N. Guidon e A. Prous, seus


orientandos, deram continuidades aos estudos de arte rupestre em suas respectivas regiões de

1 Um exemplo foram as pesquisas realizadas pela Dra. Niède Guidon e equipe na Serra da Capivara, Piauí, onde foram
cadastrados a maior concentração de sítios de arte rupestre no Brasil, com cronologias a partir de 26.000 A.P. Segundo Gaspar
(2006) essas datações tão antigas têm causado uma grande polêmica internacional, uma vez que coloca em questão o período
da chegada do Homem às Américas.
pesquisa, “(...) mas dentro de uma nova ótica, procurando, sobretudo, definir unidades
estilísticas e sequências cronológicas” (PROUS, 1992, p.146).

A organização tipológica e classificações estilísticas vêm desempenhando, desde


então, um papel destacado em estudos influenciados pelo estruturalismo, realizados na medida
em que possibilita o cruzamento de dados relativos às figuras inventariadas no contexto do sítio,
tais como: cores, dimensões, altura, técnica de elaboração, associações temáticas, sucessão de
estilos, distribuição nos suportes e seus relevos, relação com detalhes naturais da rocha, dentre
outras elementos inter e intrassítio (BAETA, 2011).

A classificação tipológica, embora não seja suficiente, para se chegar ao sentido de


arte, permite, quando as descrições tipológicas de sítios rupestres forem, sobretudo,
qualitativas, caracterizar e comparar facilmente entre si unidades estilísticas ou
descritivas (PROUS, 1985/86, p. 216 apud BAETA, 2011).

Por sua vez, a Escola Norte-Americana influenciou a Arqueologia brasileira com


à criação do PRONAPA – Programa Nacional das Pesquisas Arqueológicas (com
financiamento do Conselho Nacional de Pesquisa, com a colaboração do IPHAN), que teve
como pressuposto o mapeamento e estudo da pré-história brasileira utilizando essa linha
metodológica que seria desenvolvida por arqueólogos brasileiros sob orientação dos
pesquisadores norte-americanos Clifford Evans e Betty Meggers (LEITE, 2012)

No início dos anos oitenta, em 1981, foi criada a SAB – Sociedade de Arqueologia
Brasileira, que reúne arqueólogos de todo o Brasil. Quando de sua fundação, a SAB
adotou as configurações/classificações culturais estabelecidas pelos arqueólogos
ligados ao PRONAPA e seus seguidores (em termos teórico-metodológicos). Esse
fato transformou em verdades absolutas – em uma ortodoxia, os postulados e
caracterizações estabelecidas pela Arqueologia Processualista no Brasil, difusionista,
unilinear, multilinear e com poucas escavação e analogia etnográficas (ALVES, 2002,
p. 26 apud LEITE, 2012).

O PRONAPA foi a princípio criado com intuito de identificar os vestígios


arqueológicos, atuou em diversos ramos da Arqueologia inicialmente com a tecnologia
cerâmica, sobretudo após um “Seminário de Ensino de Pesquisas em Sítios Cerâmicos”
ministrado pelo casal norte-americano Clifford Evans e Betty Meggers.

Seu objetivo principal foi preparar e formar docentes vinculados a universidades


federais a realização de pesquisas de campo em arqueologia pré-colonial e estudos de
laboratório. Aguiar (1982 apud CONSENS e SEDA, 1990) aponta que as definições utilizadas
pelo PRONAPA no campo da arte rupestre trouxeram ainda novos problemas para a diversidade
de conceitos relativos à tradição na área de Arqueologia, pois suas analogias, não consideram
“um elemento novo e importante que é a intencionalidade estética”.

Para Loredana Ribeiro (2006, p.25), as primeiras pesquisas realizadas no Brasil


com foco na arte rupestre, aconteceram sob a ótica de quatro princípios, a saber:

a. A identificação das estruturas regentes da organização gráficas dos sítios;


b. A comparação etnográfica como suporte à interpretação dos significados dos grafismos;
c. A busca da visualização da padronização no registro gráfico para formulação de
classificações culturais por meio de análises formais;
d. A organização das unidades classificatórias em sequências cronológicas relativas
regionais.

1.2 A ARTE RUPESTRE EM MINAS GERAIS

As pesquisas arqueológicas em Minas Gerais (e no Brasil) remontam à primeira


metade do século XIX, por volta de 1870. Um grande expoente é o naturalista dinamarquês
Peter W. Lund, responsável pela publicação de ensaios sobre os vestígios pré-históricos de
Lagoa Santa, destacando, intencionalmente, o potencial arqueológico da área e do estado de
Minas Gerais (LEITE, 2012).

No estado de Minas Gerais, as datas mais antigas obtidas através de datações


seguras de carvões giram em torno dos 12.000 AP no vale do Rio Peruaçu, 12.960 AP na Lapa
Vermelha IV em Lagoa Santa e 10.500 AP na região de Diamantina (KIPNIS, 2009;
ISNARDIS, 2009; FAGUNDES, 2012a).

Segundo Ribeiro (2006), foi a partir dos anos de 1970 que ocorrem as principais
pesquisas com arte rupestre no Brasil, especificamente em Minas Gerais por meio da Missão
Arqueologia no Brasil, que tinham como principal pressuposto de estabelecer as características
estilísticas e crono-geográficas, além das definições de temas e composições gráficas. Assim,
poderia configurar uma interpretação para a arte rupestre por meio do sítio arqueológico.

As primeiras pesquisas realizadas, os arqueólogos da missão franco-brasileira


utilizaram como metodologia, prospecções, pequenas sondagens, coleta de superfície e
reprodução de acervos rupestres, assim como o agrupamento dos sítios localizados por tradições
arqueológicas.
Atualmente no estado de Minas Gerais, segundo Leite (2012), conta com várias
instituições que desenvolve pesquisas arqueológicas, sobretudo, com ênfase em figurações
rupestres. Podemos citar: Setor de Arqueologia da UFMG; Instituto de Arqueologia Brasileira
(IAB/RJ); o Laboratório de Arqueologia e Estudo da Paisagem da UFVJM –
LAEP/NUGEO/UFVJM, sendo que todos têm contribuído para o desenvolvimento da
Arqueologia mineira.

Tratando-se de arte rupestre em Minas Gerais, foram identificadas diversas


tradições, apresentando variados estilos e maneiras de compor as figurações. Prous (1992)
aponta a Tradição Planalto como o mais presente:

(...) Uma delas é a Tradição Planalto, em Lagoa Santa e na Serra do Espinhaço


(Botumirim, Conceição do Mato Dentro, Diamantina, Santana do Riacho, Serra do
Cabral e Serra do Cipó), marcada pela prevalência de figuras de animais
monocrômicos, principalmente cervídeos e peixes, embora apresentem ainda, em
certas regiões, alguns grafismos geométricos e antropomorfos. A cor preferida era o
vermelho, mas empregavam também o branco, o amarelo e o preto. As figuras dos
animais são desproporcionais em relação ao tamanho dos homens, sempre retratados
muito menores em situações de caça, e de forma mais simples. Um dos sítios típicos
dessa tradição é o Santana do Riacho, com mais de duas mil pinturas rupestres
realizadas entre quatro mil a oito mil anos (PROUS, 1992).

1.3 CONCEITOS DE TRADIÇÕES NA ARQUEOLOGIA E NA ARTE RUPESTRE.

É comum se ver a utilização do termo tradição na Arqueologia para classificação.


Quando usada para arte rupestre é caracterizada por meio de vestígios culturais alcançados
pelos resultados obtidos em campo, a tradição é definida pela temática (GUIDON, 1981-1982,
p.348 apud OLIVEIRA, 2012).

Dessa forma, o conceito de tradição é visto como conjuntos de recorrências que


expressam as normas ou códigos que, por meio da cultura, ou grupos culturais, agem da forma
que norteiam a produção da cultura material (RIBEIRO, 2006).

Na Arqueologia o estabelecimento do conceito de tradição esteve vinculado à


sistematização de dados para melhor compreensão dos dados, vinculando vestígios
arqueológicos às similaridades que eram observadas em suas características técnicas e formais.
Para a arte rupestre, em especial, as semelhanças observadas no que tange à temática, técnicas
e estilos, possibilitou a criação de várias tradições, a exemplo da Agreste, Nordeste, São
Francisco, Meridional, Amazônica, Geométrica e Planalto.
A tradição é dividida em subtradições, estilo ou fácies, que segundo Ribeiro
(2007), são categorias menores e geralmente são componentes de uma Tradição, que foram
definidas através da repetição de traços temáticos, formas de grafar, espessura dos traços,
figurações compostas com as mesmas características, indicam continuidade cultural,
correspondendo a códigos ou repertórios compartilhados por grupos separados no espaço, no
tempo ou em ambos.

Deve-se deixar claro que os atributos utilizados na arte rupestre, classificada em


estilos ou tradições, são ferramentas utilizadas pelos arqueólogos na busca das características
das figurações, criando generalizações que possam gerar dados importantes sobre os
conhecimentos de diferentes técnicas e estilos. Portanto, são leituras dos pesquisadores, não são
êmicas, ou seja, dos artistas.

André Prous (1999) propõe a criação de Tradições por regiões, pois cada lugar
possui sua particularidade. Ele acredita que antes de se iniciar uma pesquisa deve-se buscar a
separação dos registros rupestres, a princípio dividido por temas gráficos isolados por grandes
temas como: antropomorfos, zoomorfos e geométricos. Essa maneira não se tornou muito
eficiente, afinal era uma forma muito abrangente, portanto cada grande área foi dividida em
grupos de classificações menores, como por exemplo, zoomorfos dividiu-se em mamíferos,
peixes entre outros.

1.4 AS TRADIÇÕES RUPESTRES

É certo que não há limites físicos ou geográficos para a criatividade humana,


contudo, a vastidão do território brasileiro e a diversidade das manifestações rupestres que se
apresentavam aos cientistas, na fase embrionária das pesquisas a respeito da arte rupestre
brasileira, induziram a criação das tradições a fim de melhor explicar a distribuição espacial
destes vestígios (FERREIRA, 2011).

André Prous delimitou os conjuntos e subdividi-los em tradições para melhor


compreensão dos registros rupestres com fins didáticos e operacionais, conforme figura 2. No
primeiro momento foram identificadas oito grandes Tradições sendo elas: Tradição Amazônica,
São Francisco, Litorânea, Geométrica, Meridional, Agreste, Nordeste e, por fim, a Tradição
Planalto encontrado em abundância em Minas Gerais, principalmente em Diamantina e no Alto
Jequitinhonha, locais estudados por pesquisadores do Laboratório de Arqueologia e Estudo da
Paisagem (LAEP/NUGEO/UFVJM) e Museu de História Natural e Jardim Botânico
(MHNJB/UFMG), não sendo incomum encontrar nessas regiões associações a outras Tradições
(LINKE, 2008; ISNARDIS, 2009; FAGUNDES, 2010, 2013).

Figura 2. Mapa da distribuição das tradições de arte rupestre no Brasil. Fonte: GASPAR, 2006.

Para Prous (1992), ao tentar delimitar os grandes conjuntos, denominado na


Arqueologia brasileira de Tradições Arqueológicas, teve que incluir certa variabilidade intra-
regional, que pode estar relacionada a evoluções culturais no tempo e no espaço.

As semelhanças nos grafismos evidenciam influências culturais entre grupos, mesmo


distantes um do outro. O significado das pinturas é deixado em segundo plano, tendo
em vista a subjetividade que acompanha qualquer interpretação. As tradições podem
aparecer sobrepostas, dependendo da ocupação do território na época. Pigmentos
minerais garantiam cores duráveis. O vermelho/laranja e o amarelo eram obtidos do
óxido de ferro. O branco está associado à calcita. O preto vem do Manganês ou do
carvão (PROUS, 2002).
A Tradição Agreste, embora mais típica no Nordeste brasileiro, está presente em
Minas Gerais, e sua influência parece ter alcançado, pelo menos, parte da região do Alto
Jequitinhonha (ISNARDIS, 2008 apud BAETA, 2010; FAGUNDES, 2013; LEITE &
FAGUNDES, 2014).

A Tradição Agreste (figura 3) manifesta-se, principalmente, nos estados do


Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, no sul do Piauí substitui aos poucos a
tradição Nordeste e seria a única representada na arte rupestre entre 6.000 e 2.000 anos atrás.

Figura 3. Antropomorfos. Fonte: LINKE, 2008, p.72.

As características desta tradição, segundo Prous (1992), são grandes figuras


geométricas ou biomorfos. Trata-se, portanto:

(...) de grandes figuras monocromas, toscamente executadas, representando seres


humanos isolados (“bonecões”) ou animais pouco naturalistas, por vezes
acompanhadas por impressões de mãos. Essa tradição é considerada intrusiva no sul
do Piauí, e seria originária de Pernambuco, onde essas figuras são muito mais
numerosas (PROUS, 2006, pp.75-76).

Os animais mais retratados por essa tradição são, em grande parte, de quelônios
e aves de pernas grandes e com asas abertas.

Outra característica marcante desta tradição são as figuras de mãos em negativo


espalhados pelos painéis, ou mesmo decoradas com diversos padrões e as figuras antropomorfas
aparecem em grandes tamanhos, com braços e pernas abertos (FERREIRA, 2011).
Estilisticamente, os grafismos da Tradição Agreste não prezam por um traço
firme ou nitidez nas formas representadas, assim como os das Tradições Nordeste. Ao contrário,
as figuras são disformes, sem um sentido de composição ou coesão entre elas (BORGES, 2008,
p. 58).

Em Minas Gerais existem diversos registros dessa Tradição. Linke (2008) e


Fagundes (2013) localizaram sítios com temáticas da Tradição Agreste associados com a
Tradição Planalto em prospecções em Diamantina e região. O LAEP/UFVJM constatou sítios
com essas características no Complexo Arqueológico Campo das Flores, na região da Serra dos
Ambrósio e no Complexo Arqueológico Serra do Raio.

As pigmentações mais encontradas são as cores vermelha e amarela, em algumas


áreas arqueológicas ela se sobrepõe as figurações da Tradição Nordeste, numa visível ocupação
de um mesmo espaço por grupos culturalmente diferentes e separados cronologicamente, pois
o período de atuação da Tradição Agreste foi datado por volta de 10.500 e 6.000 anos A.P.
(BORGES, 2008, p.57).

Já a Tradição São Francisco é encontrada no vale do Rio São Francisco em


Minas Gerais, Bahia e Sergipe, bem como nos estados de Goiás e Mato Grosso (LEITE, 2012).

Essa temática é caracterizada pela presença de figuras abstratas ou geométricas


(figura 4) e, em menor incidência, de figuras zoomorfas, em especial, peixes, sáurios, pássaros,
cobras, além de formas humanas. A bicromia é comum e, em alguns casos, a tricromia. É
notável a ausência da figura de cervídeos e mesmo de quadrúpedes (BAETA, 2010).
Figura 4. Grafismos policrômicos da Tradição São Francisco. Fonte: GASPAR, 2003.

Os cartuchos (figuras ovais alongadas) representam uma parcela significativa


dos grafismos representados, aparecendo em todos os sítios onde esta Tradição ocorre e sendo
considerado seu elemento emblemático. Aparecem também grafismos biomorfos e
antropomorfos esquemáticos, via de regra em monocromia, e representações pouco numerosas
de figuras zoomorfas e possíveis figuras (lagartos, peixes, “espigas de milho” e “cactáceas”).
Há preferência por suportes amplos, iluminados, lisos e elevados é também característica desta
manifestação. As cores mais comuns são o vermelho e o amarelo (RIBEIRO, 2006, p.87-88).

Segundo Baeta (2010), no Alto Jequitinhonha, no sítio Barril, município de


Diamantina, há figuras exclusivamente geométricas, também indicando influências da Tradição
São Francisco.

A Tradição Amazônica tem como característica principal grafar em modo de


pinturas ou gravuras representações de antropomorfos sendo eles simétricos e geometrizados,
conforme figura 5, geralmente com tronco retangular e com preenchimento feito por linhas
cruzadas.
Figura 5. Gravuras de figurações antropomórficas da Tradição Amazônica. Fonte: MELO VAZ, 2005
apud LEITE, 2012, p. 47.

Segundo Gaspar (2006), pouco se sabe a respeito dessa tradição, necessitando-


se de mais estudos sistemáticos principalmente se comparada com algumas tradições muito
comum no estudo arqueológico como: as tradições Planalto, Nordeste ou São Francisco.

Os diferentes painéis mostram cabeças humanas gravadas, geralmente radiadas;


bastões e linhas curvadas; pinturas de retas e retângulos preenchidos com traços; além
das figuras humanas esquemáticas de mãos dadas. São, também, recorrentes os
desenhos de mão, algumas vezes preenchidos com círculos concêntricos (MELO
VAZ, 2005, p.29 apud LEITE, 2012).

No caso da Tradição Litorânea Catarinense são testemunhos que vão do


litoral até as ilhas com quinze quilômetros de distância. Essa tradição é caracterizada por
inscrições em rocha (granito) nos estudos de Prous as figurações vão de antropomorfos a
geométricos, conforme figura 6.

De acordo com Comerlato (2005), a maioria dos sítios do litoral central


catarinense está em ilhas, na costa rochosa (costões) que serve de suporte as gravuras, isoladas
ou agrupadas em conjuntos gráficos.
Figura 6. Gravuras da tradição Litorânea Catarinense. Fonte: PROUS, 1992.

Essa tradição foi inicialmente divulgada por Pe. Rohr e analisada por Prous e
Piazza (1977).

Seus sítios rupestres são os únicos até agora conhecidos no litoral brasileiro. Os
painéis, todos gravados e de acesso difícil, por vezes perigoso, estão localizados
exclusivamente em ilhas até 15 km distante do continente, e se orientam para alto mar.
Nem todas as ilhas do litoral centro-Catarinense foram decoradas, mas somente
algumas, regularmente separada por distâncias de 20-25 km, como se cada uma delas
correspondesse ao ponto “ritual” marítimo de uma etnia continental (PROUS, 1992,
p.153).

A importância deste conjunto de sítios para o estudo da arte rupestre no Brasil


dá-se devido à exclusividade na costa brasileira. São os únicos sítios de representação rupestre
até agora identificados em todo litoral brasileiro.

A Tradição Meridional recebe esse nome por ocorrer na região sul do Brasil e
outros países de fronteiras, caracteriza-se por gravuras geométricas lineares não figurativas,
incluindo traços retos paralelos ou cruzados e as vezes curvos, que combinam três traços
partindo de um vértice (Tridáctilo).
Figura 7. Gravuras associadas a tradição Meridional. Fonte: MELO VAZ, 2005 apud LEITE, 2012.

Figura 8. Diferentes formas de gravuras da tradição Meridional. Fonte: PROUS, 1992.

Os sítios do Rio Grande do Sul apresentam alinhamentos nas escarpas do Planalto,


sendo também encontrados em blocos isolados e em abrigos e grutas. As gravuras
foram feitas no arenito, principalmente pela técnica de incisão ou de polimento, tendo
sido, muitas vezes, a superfície da pedra previamente preparada através de
picoteamentos (GASPAR, 2006, p.46).

Quanto a Tradição Geométrica, a mesma é muito encontrada nos estados de


Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Goiás e Mato Grosso. Para Prous (1992) essa tradição é
caracterizada por gravuras geométricas quase sempre não havendo formação completa de
representações figurativas. Em virtude de sua abrangência espacial, ele a subdivide em
manifestações setentrionais e meridionais. Segundo Pessis (1992), essa tradição pode ser
caracterizada por pinturas que representam uma maioria de grafismos puros, figuras humanas
e algumas mãos, pés, répteis, extremamente simples e esquematizados.
Figura 9. Gravuras associadas à tradição Geométrica Central. Fonte: PROUS, 1992.

Figura 10. Gravuras associadas à tradição Geométrica Meridional. Fonte: PROUS, 1992.

As gravuras geométricas setentrionais (figura 9 e 10) encontram-se próximas a


rios ou cachoeiras, muitas delas em blocos que ficam submersos durante as enchentes. São
predominantes as depressões periféricas destacando-se também os “tridáctilos”. Os
geométricos meridionais estão em locais fora do alcance das enchentes. A técnica da gravura
por vezes é completada pela pintura. São comuns os triângulos com incisões ou pontos e as
“pegadas” de aves, veados, felinos ou humanos (FERREIRA, 2011).

A Tradição Nordeste foi definida pelas arqueólogas Niède Guidon e Anne


Marie Pessis a partir de sítios do Piauí, e no Rio Grande do Norte por Gabriela Martin. No
entanto, a distribuição espacial desta tradição compreende os estados de Pernambuco, Rio
Grande do Norte, parte da Bahia e Ceará, havendo ainda indícios de sua influência até o norte
de Minas Gerais (PROUS, 1992; LINKE, 2008; FAGUNDES, 2010, 2013; LEITE &
FAGUNDES, 2014; FERREIRA & FAGUNDES, 2013, 2014).

Figura 11. Figurações atribuíveis a Tradição Nordeste em Minas Gerais. Fonte: LINKE, 2008, p.71.

As figurações mais antigas dessa tradição são formadas por representações


antropomórficas agrupadas em cenas, associadas com figurações zoomorfas, os quais teriam se
desenvolvido entre 12.000 e 6.000 anos atrás, no Piauí Meridional (PROUS 1992). Segundo
Gaspar (2006), dentre todas as tradições a que mais se aproxima da Nordeste é a Planalto.
Porém, o que distingue da tradição Planalto é a abundância de antropomorfos agrupados
formando cenas de caça, dança, guerra, sexo, ritual, entre outras (figura 11).

Essa tradição possui peculiaridades que a tornam narrativa, ou seja, os desenhos


que compõe são representações humanas em movimento e ação, como por exemplo, rituais de
caça, de sexo, figurações que retratam o cotidiano de antigas populações de caçadores-coletores
(PESSIS, 2000, p.69).
Essa tradição é caracterizada por antropomorfos com representações da genitália
e corpo alongado, além de explorar o uso de imagens humanas e de animais com o mesmo grau
de importância, e ainda, às vezes, enaltecendo as figuras biomorfas, assim como descreve
Loredana Ribeiro:

É caracterizada pela representação, em proporções equivalentes, de antropomorfos e


zoomorfos, com figurações menos frequentes de “objetos” e fitomorfos e, mais raro
ainda, de geométricos. O maior traço distintivo deste conjunto são as figurações
naturalistas e dinâmicas envolvidas em cenas cotidianas (costa a costa, “cópulas”,
“dança”, “jogos”, “procissões”, “execuções”, “lutas”...). Com variações locais e
temporais destas características, a tradição se manifestaria no nordeste em diferentes
variedades cronoestilísticas, denominadas sub-tradição, complexos e estilos
(RIBEIRO, 2006).

As figuras da tradição Nordeste apresentam características monocrômicas e


policrômicas nas cores vermelhas, amarelas, brancas, preta e azul, ou ainda uso de diferentes
tonalidades de cor geralmente buscando o contraste com a cor do suporte natural, assim como
Conceição Lage define:

A análise de pinturas no Piauí, a pigmentação vermelha é proveniente do óxido e ferro


adicionado às outras substâncias ricas em cálcio; o amarelo é extraído da goetita
(óxido de ferro hidratado; o branco é obtido da kaolonita ou gipsita; o preto é resultado
do carvão animal ou vegetal, sendo o azul uma variação do preto em decorrência da
exposição e do recobrimento por depósitos minerais; o cinza é uma mistura natural
dos pigmentos vermelho e branco – hematita e kaolita (LAGE, 2002, p.257-8 apud
FERREIRA, 2011).

A Tradição Planalto foi definida a partir dos sítios de pinturas rupestres do


Planalto Cárstico de Lagoa Santa. Seus elementos definidores são os grafismos de zoomorfos,
sobretudo cervídeos e peixes, de composição monocrômica, que são acompanhados de outros
zoomorfos (quadrúpedes, geralmente menores que os cervídeos) e de antropomorfos muito
esquematizados (FAGUNDES, 2013).

Um dos traços marcantes desta tradição é a prática de realizar intensas


sobreposições nos painéis, dando uma aparência caótica, com associações homotemáticas
diacrônicas, especialmente entre cervídeos (ISNARDIS, 2009, p.97).

Essa tradição é caracterizada pela presença marcante de zoomorfos com destaque para
o “veado” associado a peixes, os quais possuiriam alguma “importância” para os pré-
históricos, em oposição a uma sugestiva ausência total de “emas” e “cobras”. Esse
conjunto rupestre havia sido observado particularmente “nos relevos ligados a serra
do Espinhaço”, apesar da possível dispersão ampla, o foco principal parecia estar no
centro mineiro, indicando vários sítios importantes desta tradição como na região da
serra do Cabral, vizinha a Jequitaí e um estilo particular aquela região: o Estilo Cabral
(PROUS, 1980, apud TOBIAS Jr., 2010).
As figurações da tradição Planalto são identificadas desde o norte do Paraná até
o estado de Tocantins, sendo que a região de maior ocorrência corresponde aos Cerrados e às
regiões serranas do Centro de Minas Gerais, onde suas figuras são, a princípio, as mais antigas,
possivelmente as mais antigas expressões gráficas no Carste de Lagoa Santa e Serra do Cipó
(BAETA, 2011).

Segundo Baeta (2011), em relação à coloração desse conjunto, as figuras são


pintadas em sua grande maioria monocrômicas quase sempre em vermelho ou amarelo,
raramente em preto, branco ou laranja, ainda mais incomuns são as figuras com as cores ocre,
marrom e rosa. Para a mesma autora, as figurações da tradição Planalto ocorrem em muitos
sítios de forme aparentemente desordenada, sobretudo em função das sobreposições.

Contudo, segundo Baeta (2011), mesmo assim é possível identificar a existência


de alguns conjuntos, associações ou agrupamentos.

Quanto à inserção no suporte rochoso, Baeta (2011), afirma:

Ocupam localidades diferenciadas nos abrigos, desde o contato com o piso até alturas
que podem chegar a 6 metros. Em regra, a maioria situa-se entre 50 cm e 2 metros de
altura em paredes planas ou pouco inclinadas, como também em suportes menos
rugosos, em tetos baixos ou altos, nichos e patamares. As dimensões das figurações
zoomorfas, por exemplo, variam entre 10 cm a 1,5 metros de comprimento, sendo que
a grande maioria se encontra entre 20 e 45 cm. Em regra, as figurações geométricas e
antropomorfas são menores, mantendo-se entre 15 e 40 cm.

A caracterização da tradição Planalto em Diamantina, disposta em maior


quantidade e expressividade da região em estudo, coube a Arqueóloga Vanessa Linke (2008).
Foi proposta pela autora a subdivisão em quatro conjuntos estilísticos distintos, com base na
sua distribuição estratigráfica nos diferentes sítios arqueológicos e, assim obtendo-se uma
cronologia relativa para esses sítios e criando padrões para a caracterização das diferentes
figurações da tradição Planalto (LINKE, 2013).

O primeiro conjunto, segundo Linke (2013), é o mais antigo, caracterizado por


figuras zoomorfas, quase que exclusivamente cervídeos e peixes, em vermelho ou amarelo. As
figurações são realizadas com poucos traços, possuindo muitas das vezes somente o contorno
do corpo. São raramente preenchidos com poucas linhas horizontais e paralelas. Há uma
valorização de determinados detalhes anatômicos representados como os joelhos, e ausência
total das orelhas, por exemplo.
Ainda de acordo com Linke (2013), em relação à expressividade numérica deste
conjunto, os seus respectivos autores não lotaram os sítios com suas figuras. Portanto em um
sítio com centenas de figuras, as que possam ser definidas como do primeiro conjunto da
tradição Planalto se resumam a algumas poucas unidades.

Figura 12. Primeiro conjunto da tradição Planalto em Diamantina e região. Fonte: LINKE, 2008, p.66.

O segundo conjunto desta tradição é caracterizado segundo Linke (2013), por


figuras zoomorfas de tamanhos variados (figura 12), chegando a medir desde vinte centímetros
a dois metros, geralmente em sobreposição ao primeiro conjunto. Grafismos atribuídos a este
conjunto podem ser reconhecidos como cervídeos, peixes, tatus, aves e outros pequenos
tetrápodes. Todas essas figurações podem estar ou não associados de pequenas figuras
antropomorfas. Este conjunto apresenta sempre detalhamento de joelhos, orelhas, postura,
proporção dos membros principalmente nos cervídeos, ou seja, grande fluidez nas
representações dos detalhes anatômicos.

Contudo, há uma característica, que até agora aparece exclusivamente neste conjunto,
quanto à composição gráfica das figuras, que nos permite reunir, a princípio, figuras
tão distintas (grandes com detalhes e pequenas sem detalhes) a este mesmo conjunto.
Trata-se de uma flexibilidade em compor o contorno e o preenchimento dos animais
e antropomorfos. O contorno, nestas figuras, não é composto por uma única linha que
circunda o preenchimento (as figuras deste momento são preenchidas com traços, ou
pontos, sendo que os traços muitas das vezes são compostos de forma ritmada). É
comum ver o traço do contorno virar preenchimento, e vice-versa (LINKE, 2008)

Cabe ressaltar que Vanessa Linke (2008), em sua dissertação de mestrado,


definia a tradição Planalto em cinco momentos a partir da região de Diamantina. Com o avanço
dos estudos na área notou-se similaridades entre o segundo momento e o quarto momento
anteriormente definidos, portanto na publicação à Revista Espinhaço (2013), a autora passa a
destacar apenas quatro momentos, fazendo a junção dos dois momentos citados.

Figura 13. Fluidez nas representações dos detalhes anatômicos. Fonte: LINKE, 2013.

Este conjunto é visualmente dominante nos sítios, às vezes nem sempre em


relação ao número de figura, mas em função da visibilidade que elas têm no sítio. As grandes
representações de cervídeos foram pintadas em local de fácil visibilidade nos painéis, ocupando
os suportes grandes e mais visíveis. Já as figuras menores são colocadas em locais mais
discretos, dessa forma, pode-se ver a diferenciação para exposição da figuração dentro de um
mesmo momento. Os grafismos desse conjunto chamam bastante atenção devido à prática
intensa de sobreposições em um mesmo painel, além de um emaranhado de cores e variações
no estilo de compor (LINKE, 2008).
Para Linke (2008), há uma característica nesse conjunto, que até agora é
exclusiva deste momento, que seria a composição gráfica das figuras, uma distinção enorme
entre elas, ou seja, as figurações grandes com detalhes, e as pequenas sem detalhes (figura 13).
Trata-se de uma facilidade em representar tais detalhes de acordo com a proporção da figura.
Em relação ao contorno, não é composto por uma única linha para o preenchimento, as figuras
são preenchidas por traços ou pontos de forma organizada e ritmada. É comum ver o traço
utilizado para o contorno da figura se tornar preenchimento e vice-versa (figura 14).

Do mesmo modo em que é comum ver que as pernas não são compostas de traços que
começam ou terminam no contorno do corpo, mas que saem de traços utilizados antes
como preenchimento. Ainda neste repertório gráfico é possível ver traços que
engrossam o dorso ou pescoço do animal, parecendo ter sido feitos para a proporção
do volume do corpo seja “concertada”, ou se torne mais agradável (harmônica) aos
olhos autor ou de um observador (LINKE, 2008, p. 66-67).

Figura 14. Preenchimento das figurações do segundo conjunto Planalto. Fonte: LINKE, 2008, p.67.

O terceiro conjunto segundo Linke (2008) é composto por figuras de


aproximadamente 50 centímetros (figura 15), e apresenta apenas figuras zoomorfas
correspondentes a tetrápodes. Diferentemente do segundo conjunto, nota-se uma rigidez quanto
à composição dos traços, o contorno do corpo aparece apenas com uma única linha simples e
seu preenchimento se dá de forma justaposta, raramente preenchida por ponto. Não há
valorização dos detalhes anatômicos, gerando assim pouco naturalismo nas representações.
As figurações existentes em poucos números localizam-se quase sempre em
pequenos blocos, nichos ou paredes isoladas no sítio, raramente existem sobreposições delas ao
conjunto anterior (LINKE, 2008).
Figura 15. Preenchimento das figurações do terceiro conjunto Planalto. Fonte: LINKE, 2008, p.69.

O quarto e último conjunto estilístico da Tradição Planalto na região de


Diamantina, segundo Linke (2013), é caracterizado por figuras zoomorfas de pequenas
dimensões, em sua maioria por figurações de cervídeos, quanto ao seu preenchimento sempre
aparecem de forma completa ou chapada (figura 16). A presença dessas figuras é rara,
paulatinamente encontra-se em sítios, e mesmo quando encontradas aparecem poucas figuras
característica deste conjunto. Quanto à escolha dos suportes parece que eles tinham como
preferência suportes amplos, tanto no tamanho quanto na morfologia e que não houvesse sido
intensamente pintado pelos conjuntos anteriores, em pouquíssimos casos foram encontradas
este conjunto em sobreposição.
Figura 16. Representações das figuras do quinto conjunto estilístico da Tradição Planalto. Fonte:
LINKE, 2008, p.70.

1.5 AS DIFERENTES INTERPRETAÇÕES E ANALÍSE DA ARTE RUPESTRE

Nas pesquisas iniciais houve diversas classificações para a arte rupestre, uma
dessas classificações colocava as pinturas e gravuras como apenas obras artísticas, e foram
julgados segundo critérios estéticos, deixando de lado o valor êmico, simbólico de cada
população sem ao menos levar em consideração a cultura local.

Para Prous (1999), há uma diferença no emprego do termo “arte” introduzida


nas sociedades produtoras desse registro e o atual conceito de arte entendido pela sociedade
contemporânea. Dessa forma os novos estudos arqueológicos estão substituindo o termo “arte
rupestre” por registros rupestres ou grafismos rupestres, devido à palavra “arte” e “artista”
terem a mesma raiz fazendo com esse termo seja entendido como lindas pinturas.

Por “arte rupestre” entendem-se todas as inscrições (pinturas ou gravuras) deixadas


pelo homem em suportes fixos de pedra (paredes de abrigos, grutas, mutações, etc.)
A palavra rupestre, com efeito, vem do latim rupes-is (rochedo); trata-se, portanto, de
obras imobiliares. No sentido de que não podem ser transportadas a diferença das
obras mobiliares, como estatuetas, ornamentação, pinturas sobre pelos, etc. (PROUS,
1992, p.210).
Para Anne M. Pessis (1992), considerar os registros rupestres unicamente como
obras artísticas de épocas pré-históricas não é o foco do estudo da Arqueologia, pesquisadores
devem ir muito mais além do seu significado exposto no painel, deve-se ler entre as entre linhas,
fazer com que o passado dinâmico revivo no presente estático.

Segundo Tobias Jr. (2010), na análise da arte rupestre dois aspectos devem ser
levados em consideração, ambos associados à posição do arqueólogo considerando-o como um
observador no presente, a saber:

 Sincronia: que é compreendida como um olhar que se abstém do tempo.


 Diacronia: que é a busca na identificação e reconhecimento dos elementos observados
frutos de uma construção histórica, visados no presente.

Percebe-se que existe uma padronização em relação à escolha dos sítios, e as


funções analisadas são: posição na paisagem, visibilidade à distância, proximidades de
acidentes topográficos (acúmulo de água), presença de fluxo d’água (rios, nascentes, lagoas),
não expostos ao sol e chuva e boa iluminação.

Já na escolha dos painéis rupestres, pode ocorrer de forma inesperada.


Acontecem inúmeros de casos de vários suportes lisos e de boa iluminação, mas que o artista
prefere optar em grafar um suporte rugoso, sendo que se fossemos nós jamais escolheríamos.

Alguma forma do gosto e da sensibilidade dos autores pode ser percebida: vontade de
aparecer através do espetacular da Tradição São Francisco; gosto pela representação
do movimento na Tradição Nordeste; ordenação lógica nas gravuras da fácies
Montalvânia, exuberante confusão aparente na Tradição Planalto (PROUS, 1999).

A interpretação na arte rupestre busca entender os significados atribuídos à


localização dos painéis na paisagem, representação das figuras, mas não com uma visão atual.

Desta forma, fica claro que a interpretação da arte rupestre não pode ser dada de
forma etnocêntrica, avaliando apenas o que se acha, ou que se pensa, precisa-se posicionar de
forma ampla e abrangente, tentando aproximar ao máximo da maneira em que eles viviam,
levando em consideração fatores indispensáveis para poder chegar a uma conclusão. É claro
que não se consegue deixar de lado a nossa interpretação, mas é necessário um distanciamento
e deixar com que o painel fale por si.
A Arqueologia aborda questões que precisam ser estudadas. Logo, alguns
questionamentos podem ser elaborados para que se possa refletir acerca dos resultados da
pesquisa, a saber:

1. Será que as semelhanças e diferenças vistas por nós hoje eram vistas por eles na época?
2. As classificações (Tradições) criadas por nós pesquisadores em Arqueologia tem
validade?

Com essas abordagens se deve ter um olhar crítico, multiplicando as observações


sobre cada detalhe possível, na expectativa que algum deles possa trazer informações, nas quais,
nos ajudem a responder indagações importantes como essas.
CAPÍTULO 02

AMBIENTAÇÃO DA PESQUISA

2.1 – LOCALIZAÇÃO GEOAMBIENTAL

O sítio Amaros 01 está implantado na Área Arqueológica de Serra Negra,


Complexo do Ambrósio, em terras do município de Itamarandiba, Minas Gerais, sob as
coordenadas UTM: 23K 7.996.155/708.020 (DATUM WGS 84), com elevação média de 1200
metros de altitude.

Assim, o sítio arqueológico está localizado no Vale do Rio Doce, na borda leste
da Serra do Espinhaço, na face oeste da Serra do Ambrósio (figura 17), em um local onde a
Floresta Estacional Semidecidual é marcante. Em toda Área Arqueológica de Serra Negra,
atualmente, foram identificados sessenta e cinco sítios arqueológicos (FAGUNDES, 2013).

Trata-se de uma área com alto potencial arqueológico, sobretudo no que tange
os sítios com presença de painéis rupestres, que apresenta grande variabilidade quando
comparada aos sítios da região de Diamantina, por exemplo (FAGUNDES, 2013).
2.2 CARACTERIZAÇÕES DO MEIO AMBIENTAL

A geologia regional é caracterizada pela presença de rochas do domínio Grupo


Guanhães - Formação Serra Negra (figura 21), dominantemente constituída por Unidades do
embasamento (gnaisses), de idade Arqueana (FAGUNDES et al, 2012a).
No mapa geológico dos municípios de Felício dos Santos, Itamarandiba, Rio
Vermelho e Senador Modestino Gonçalves, pode se ver diversos aspectos litológicos dentre
eles: Aglomerado, Laterita, Areia, Cascalho, Granitoides, Quartzito, Tufito,
Metaconglomerado, Ortognaisse entre outros (Figura 18).
Figura 17. Mapa Hipsométrico da Serra do Ambrósio. Fonte: LAEP, 2011.
Figura 18. Domínios litológicos dos Complexos Arqueológicos. Fonte: LAEP, 2012.
O Sítio Amaros 01 situa-se entre duas bacias hidrográficas: do Jequitinhonha e
do Doce. Mais próximo ao sítio encontra-se o rio Itamarandiba que corta o Complexo
Arqueológico. Mais distante encontram-se os rios Araçuaí e Suaçuí Grande.

O clima classificado de acordo com Köppen-Geiger é um clima tropical Cwb


(figura 24), caracterizados por verões brancos e úmidos (outubro a abril) e invernos mais frescos
e secos (maio a setembro), tem como características também a baixa variação da temperatura,
ou seja, independentemente da estação climática suas temperaturas médias não variam numa
amplitude de 10º C, além de suas estações do ano serem bem marcadas.

A cobertura vegetal da Serra do Ambrósio está caracterizada por um mosaico


(figura 25), que segundo Forancelli (2012 apud FAGUNDES, 2013), pode ser caracterizada por
um ecótono. Assim, caracteriza-se pela presença do Cerrado, com fitofisionomia de campo
rupestre, contudo, na vertente do rio Doce e nas encostas de algumas serras, a Floresta
Estacional Semidecidual se faz presente (figura 26).
Figura 19. Localização da Área Arqueológica da Serra Negra. Fonte: LAEP, 2012.
Figura 20. Localização Hipsométrico do Sítio Amaros 01. Fonte: LAEP, 2014.
Figura 21. Litologia da região do Sítio Amaros 01. Fonte: LAEP, 2014.
Figura 22. Bacia Hidrográfica próxima ao Sítio Amaros 01. Fonte: LAEP, 2014.
Figura 23. Bacias Hidrográficas da Serra dos Ambrósio. Fonte: LAEP, 2012.
Figura 24. Classificações climáticas de acordo com Koppen. Fonte: clictempo.clicrbs.com.br, 2014.

Figura 25. Classificação da vegetação no Brasil. Fonte: Simielli, 2007.


Figura 26. Vegetação típica da Mata Atlântica (Floresta estacional Semidecidual). Fonte: LAEP,
2013.

2.3. CARACTERIZAÇÃO DO SÍTIO ARQUEOLÓGICOS AMAROS 01

O Sítio Amaros 01 está implantado em um matacão de rocha quartzítica, em uma


cota altimétrica de 1200 metros acima do nível do mar (figura 20). Trata-se de um matacão
rochoso isolado entre uma bifurcação que se divide em duas estradas sem pavimentação (figura
27), fator que tem prejudicado intensamente a integridade do sítio arqueológico que tem sido
alvo de ação dos vândalos. Existe pouca vegetação na cobertura do sítio o que facilita ações
naturais que acabam destruindo as pinturas rupestres. Além disso, há a presença de pacote
sedimentar favorável às intervenções via escavação.
Figura 27. Localização do sítio Amaros 01 na bifurcação. Fonte: LAEP, 2013.

O matacão possibilitou a formação de duas áreas abrigáveis, uma a leste (onde


há maior concentração dos grafismos), e a oeste, onde há figurações e uma área abrigada bem
maior (figura 28).
Figura 28. Cobertura vegetal do sítio Amaros 01. Fonte: LAEP, 2013.
CAPÍTULO 03

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

As metodologias utilizadas para os estudos da arte rupestre são diversas e


consistem na somatória de técnicas e métodos próprios da Arqueologia para quantificação,
análise minuciosa e reflexão dos resultados.

Esta pesquisa foi realizada em diferentes frentes:

 Trabalho de campo: para caracterização do sítio arqueológico e seu repertório cultural;


 Atividades laboratoriais: para tratamento dos painéis rupestres e quantificações de
dados;
 Atividade de gabinete: para interpretação de dados e redação desta monografia.

O sítio Amaros 01 foi cadastrado em ficha própria e no CNSA/IPHAN (Cadastro


Nacional de Sítios Arqueológico); suas dimensões foram tomadas; fotografado e
georreferenciado para produção de material cartográfico.

O inventário fotográfico foi feito em diferentes etapas de campo com a intenção


de se obter luzes diferentes que possibilitassem diferentes visões sobre os painéis rupestres. No
que tange ao georreferenciamento, buscou-se indicar similaridades e mudanças no sistema de
implantação de sítios de registros rupestres, comparando dados relacionados à cota, tipo de
vegetação, curso d’água próximo, tipo de suporte (rocha) para confecção dos registros, etc.
(FERREIRA, 2012).

De modo geral, a metodologia utilizada no desenvolvimento da pesquisa no sítio


Amaros 01 consistiu em:

 Discussão bibliográfica sobre o tema: necessária para melhor compreensão do


contexto regional.

 Campanhas de campo ao sítio arqueológico: foram realizadas cinco campanhas ao


sítio, todas com objetivos diferenciados a fim de se obter dados mais coesos.

 Confecção de inventário de imagens: constituição de um acervo fotográfico dos


grafismos componentes dos painéis rupestres. Estas imagens foram feitas em
equipamentos e luzes diferenciadas, de modo que todos os detalhes pudessem ser
obtidos.

 Preenchimento de ficha de análise de arte rupestre: que contém as principais


características do sítio arqueológico e seu entorno, com destaque para as
geoambientais, de implantação e os aspectos técnicos e estilísticos dos painéis
rupestres.

 Tratamento das imagens: mudança nas matrizes de cores das figurações, de modo
que, facilite a visualização dos traços e criação de pranchas explicativas por meio
digital utilizando diversos softwares (Corel Draw, Photoshop) e até mesmo
aplicativo online próprio para arte rupestre (http://www.dstretch.com/).

 Descrição e análise minuciosa dos fatores interferentes ao sítio: Neste tópico são
analisadas todas as possíveis interferências nos painéis rupestres, os aspectos mais
relevantes são os geológicos, geomorfológicos, hidrográficos, vegetação, climáticos,
biológicos, antrópicos, etc. Outras características também são analisadas como:
localização do sítio na paisagem, visão frontal do abrigo, proteção à intempéries,
insolação, área de grande diferença nas cotas altimetrias (associado ao relevo), acesso
ao abrigo, tipo do suporte e características do abrigo.

 Calque digital: Em laboratório foram realizados os calques digitais do painel. Esta


etapa é realizada com o intuito de visualizar os micros traços e vestígios do painel
extraindo o máximo de informações possíveis dos pigmentos ou das sobreposições
que, às vezes, são invisíveis ao olho nu. Os softwares utilizados nesta pesquisa para
realização dos calques digitais foram o Corel Draw X6®.

 Características do painel rupestre: Aqui são analisadas diversas categorias das


figurações rupestres, são detalhes visto in situ e, posteriormente, reafirmados em
análises laboratoriais. De acordo com os estudos de Leite (2012) foram criados pela
equipe do LAEP/UFVJM uma série de classificações referente ao estudo de painéis
rupestres. Algumas dessas classificações foram utilizadas para análise deste estudo:

a) Localização das figurações: piso; central; pontos mais altos; pontos mais baixos.
b) Quantidade de figurações observáveis em campo.
c) Pintura mais baixa; pintura central; pintura mais alta.
d) Dimensões do painel (comprimento e altura).
e) Proximidade das figurações: conjuntos isolados; conjuntos relacionados; conjuntos
não-relacionados; conjuntos sobrepostos.
f) Ações naturais nos painéis: descamação; desbotamento; queda dos blocos; etc.
g) Estrutura do espaço utilizado: painel plano; nicho; quebra/pavimentos; etc.
h) Ações antrópicas: alterações propositais pré-contato; pichações; outro tipo de
destruição ou mutilação.
i) Eventos sincrônicos.
j) Eventos diacrônicos: diferença entre as figurações/conjuntos, sobreposições, pátinas,
níveis de descamação, recorrências intra e inter sítios.
k) Morfologia do grafismo e apresentação gráfica: figurações em perspectiva; qualidade
de figurações; movimento biomecânico (estático ou movimentação); naturalismo;
grafismos puros; figurações reconhecíveis ou não; cenas; quantidade de figurações
ou conjuntos isolados; perspectiva das figurações; tipologia das figurações; provável
filiação; cores; técnicas; dimensões dos grafismos; etc.

As análises dos painéis rupestres permitem a obtenção de informações técnicas


e culturais acerca de seus executores. É possivelmente inferir sobre uso e ocupação, escolhas,
técnicas, estilos, bem como a comparação entre sítios regionais.

Além disso, os estudos das sobreposições permitem o estabelecimento de


cronologias relativas. De acordo com Baeta (2011):

É impreciso, no entanto, o intervalo real de elaboração das figurações justapostas;


pois muitas podem ter sido elaboradas até no mesmo momento ou dia, de forma
sequencial, o que Consens (1990:59) considera “superposição sincrônica”; outros
grafismos, por sua vez, podem ter sido inscritos em épocas bem distintas (BAETA,
2011, p.171).

Para Isnardis (2004), as análises estratigráficas não se resumem somente à


estratigrafia do painel, mas sim:

 Analisar os comportamentos de um conjunto gráfico em relação aos seus


antecessores (há relação ou não);
 Reconhecimento e/ou aprovação dos grafismos anteriores;
 Indicações de continuidade ou ruptura de traços;
 Fazer associações temáticas, sincrônicas x diacrônicas;
Ainda segundo o autor, uma análise cronoestilística pormenorizada pode levar a
hipóteses sobre processos culturais: continuidade e mudança, influências e dispersão, unidade
e variabilidade (ISNARDIS, 2004).

Por fim, para classificação dos grafismos rupestres foi criado um quadro das
figurações e suas principais características (figura 29), de modo a compará-las, procurando
semelhanças como: espessura do traço, expressão de movimento, técnica utilizada, ordenação,
diferentes tipos de tradições, agente perturbador, tonalidade das cores, localização no painel.

Figura 29. Análise das figurações. Fonte: FERREIRA, 2014.


CAPÍTULO 4

RESULTADOS E DISCUSSÕES

(...) Seus autores detinham um código ou sistema comum de comunicação gráfica,


denotando “afinidades culturais”, não configurando necessariamente que
pertencessem a um mesmo grupo étnico ou cultural. As categorias de análise
utilizadas neste tipo de pesquisa são tentativas de organizar e sistematizar, aos
“nossos olhos” (correndo sempre o risco de cometer equívocos), esse importante
tipo de testemunho arqueológico pré-histórico (BAETA, 2011).

4.1. REFLEXÕES TEÓRICAS

Para se pensar os grafismos rupestres, partiu-se da prerrogativa de que: “os


remanescentes materiais de cultura são testemunhos de experiências vividas, coletiva ou
individualmente, e permitem aos homens lembrar e ampliar o sentimento de pertencer a um
mesmo espaço, de partilhar uma mesma cultura e desenvolver a percepção de um conjunto de
elementos comuns, que fornecem o sentido de grupo e compõem a identidade coletiva”
(RODRIGUEZ, 2001 apud FERREIRA, 2011).

O estudo dos vestígios arqueológicos permite remontar um passado de um grupo,


pois fornece elementos de como eles apropriavam-se da paisagem e como desenvolviam suas
próprias atividades culturais.

Levando em consideração estes aspectos, a arte rupestre tem grande significação


no que diz respeito à sua mentalidade ao pensar o que seria grafado, o uso da consciência
expondo suas ideias, seus pensamentos, a junção do visual com a representação, isso nos faz
confirmar que podemos representar graficamente apenas o que está sobre nossos olhos.

Na região dos Amaros foram identificados quatro sítios com registros rupestres
sendo denominados de Ambrósio 01, 02 e 03, além daquele que será retratado com maior
riqueza de detalhes: Amaros 01.

A priori os grafismos rupestres encontrados nesta área de estudo estão filiados à


Tradição Planalto, havendo apenas um diferencial nesse aspecto, quatro figurações associadas
à tradição Agreste, localizadas em um painel isolado no Amaros 01.
Com as particularidades nos conjuntos rupestres foram elaboradas algumas
hipóteses, analisando o modo de grafar, filiação de tradição e técnica utilizada dentre outros
aspectos, são elas:

iii. Que o sítio por ter servido de abrigo temporário ao longo de sua história de ocupação,
abrigando pequenos bandos de caçadores coletores que habitaram a área durante o
Holoceno e deixaram suas evidências e transformando o local em marcos
paisagísticos (FAGUNDES, 2009).
iv. O sítio Amaros 01 foi ocupado por diversos grupos culturais, desta forma explica-se
a sua grande variabilidade estilística.

Assim, utilizando alguns importantes estudos de arte rupestre em Minas Gerais


(PROUS, 1999; ISNARDIS, 2004; RIBEIRO, 2006; LINKE, 2008; TOBIAS JR., 2010;
BAETA, 1998, 2011; LEITE, 2012; FERREIRA, 2012), analisou-se as características
cronoestilísticas como composição de figuras, os detalhes morfoanatômicos que causam
visualmente aparência de mais ou menos naturalistas, além das dimensões, tipo de
preenchimento, tipo de contorno, a fim de se encontrar diferenças e similaridades de uma
determinada tradição.

4.2. ANÁLISE DAS FIGURAÇÕES DO SÍTIO AMAROS 01

Com as análises elaborou-se um banco de dados com as principais características


cronoestilísticas das pinturas rupestres desse sítio, buscando-se cooperar para a compreensão
da arte rupestre regional e possibilitando um melhor entendimento da associação entre
Tradições, uma vez que, seus respectivos autores respeitaram o espaço, sendo visível que não
houve a sobreposição de Tradições (Planalto e Agreste). Ao realizar todas as etapas da
metodologia foi criado um quadro de figurações, contabilizando todas as figuras encontradas e
classificando-as de acordo com sua possível tradição ou grupo rupestre (quadro 1).
FIGURAÇÕES QUANTIDADE PORCENTAGEM (%)
Antropomorfos 5 14%
Cervídeos 8 22%
Peixes 8 22%
Aves 0 0%
Mamíferos 1 3%
Geométricos 10 28%
Não Identificados 4 11%
Total de figuras 36 100%

Quadro 1. Figurações encontradas no sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014.

Figurações em números relativos


30%

25%

20%

15%

10%
PORCENTAGEM (%)
5%

0%

Gráfico 1. Figurações do Sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014.

Como se pode perceber o Sítio Amaros 01 possui trinta e seis figurações visíveis
(gráfico 1), dentre elas, em sua maioria identificáveis, sobretudo cervídeos e peixes, temática
normal por se tratar de um sítio com figurações associadas à Tradição Planalto que tem
principalmente em sua temática figurações zoomorfas.

Tratando das figurações rupestres, realmente pode-se observar certa


padronização do painel variando pouco o número de figurações por estilo.

As primeiras figuras Planalto a ocuparem os paredões da região de Diamantina


são representações predominantemente de cervídeos, marcadas por uma certa
economia de traços: tem-se o contorno e poucas linhas de preenchimento; os
animais têm volumes corporais bem marcados e detalhes anatômicos recebem
atenção, notadamente as coxas nas pernas traseiras, embora toda a figura se resolva
com poucas linhas. Os temas limitam-se a representação de cervídeos e de peixes,
monocrômicos, com uma frequência expressiva de figuras em amarelo – neste
conjunto o amarelo é empregado com mais assiduidade do que em qualquer dos
outros conjuntos (ISNARDIS, 2009).

O repertório cultural do Amaros 01 está constituído por um grande número de


cervídeos, peixes e geométricos o que caracteriza Tradição Planalto (conforme o quadro 01),
mas também possui um número significativo de grandes antropomorfos, somando quatro,
associados a Tradição Agreste.

TRADIÇÕES QUANTIDADE PORCENTAGEM (%)


Planalto 32 89%
Agreste 4 11%
Total de figuras 36 100%

Quadro 2. Tradições do sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014.

Nos painéis do sítio Amaros 01 há predominância da Tradição Planalto, o que


era de se esperar, uma vez que é o mais presente regionalmente. Uma pequena parcela das
figurações é atribuível à Tradição Agreste, totalizando 11% (quadro 2).
De qualquer forma, o fato da presença deste estilo na região é um dado
extremamente importante, uma vez que permite diferentes especulações a serem investigadas
pela pesquisa arqueológica, dentre elas: trata-se de um único estilo ou realmente há duas
tradições arqueológicas? Os painéis são contemporâneos? Há diferenças culturais nos painéis
observados no sítio Amaros 01?

Figurações rupestres (%)


100%
90%
80%
70%
60%
50%
PORCENTAGEM (%)
40%
30%
20%
10%
0%
Planalto Agreste

Gráfico 2. Tradições rupestres do Sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014.


O Gráfico 2 apresenta domínio da Tradição Planalto, comum em várias regiões
do Planalto Central e no Alto Jequitinhonha, era o resultado mais esperado. Contudo, há
características estilísticas e formais diferentes de outros sítios identificados regionalmente,
como será discutido (FAGUNDES, 2013; LEITE & FAGUNDES, 2014).
Uma pequena parcela das figurações é atribuível à Tradição Agreste, totalizando
8%, mas uma característica extremamente importante para o contexto regional, uma vez que a
Tradição Agreste é comumente encontrada no Nordeste brasileiro, mais precisamente Piauí,
Pernambuco e Ceará.
No que tange a análise de cores, a cor vermelha é a mais presente, comum a
Tradição Planalto, havendo variações na tonalidade. O amarelo, o preto e o branco são comuns
à Planalto, contudo no Amaros 01 apenas o amarelo ocorre entre os grafismos, totalizando 6%
do total (conforme quadro 3).

CORES QUANTIDADE PORCENTAGEM (%)


Vermelho 34 94%
Amarelo 2 6%
Total de figuras 36 100%

Quadro 3. Colorações entradas no sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014.

Coloração das figurações (%)


100%
90%
80%
70%
60%
50% Vermelho
40% Amarelo
30%
20%
10%
0%
Vermelho Amarelo

Gráfico 3. Domínios das figurações em vermelho no Sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014.

Os painéis rupestres do sítio Amaros 01 possuem grande diversidade de


grafismos, tanto em relação ao modo de grafar, quanto as mais diversas tradições e estilos
utilizados pelos artistas.
Figura 30. Estilo das figurações no Sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014.

Para sistematizar o estudo dos painéis rupestres do sítio Amaros 01, foi montado
um quadro de padronização cronoestilística respeitando as particularidades de cada figuração
observando-as nos quesitos espessura do traço, tonalidade das tintas, estilo morfológico, técnica
utilizada, modo de grafar (conforme figura 30).

Deste modo, se compararmos os grandes e pequenos zoomorfos mais naturalistas


da Serra do Cipó e de Diamantina, correspondentes aos momentos mais antigos
de pintura, vemos que os temas são os mesmos e que há um compartilhamento de
traços estilísticos – no caso, o uso de linhas para compor cervídeos
anatomicamente detalhados. Essas linhas são, contudo, usadas de modo muito
diverso. O que fazer é compartilhado entre as duas regiões, mas como fazer é
peculiar a cada uma delas. O que proponho é que a composição gráfica e, portanto,
a concepção gráfica são características integrantes de estilos regionais (BAETA,
2011).

4.3 – OS PAINÉIS RUPESTRES DO SÍTIO AMAROS 01

Para o estudo mais detalhado das figurações rupestres do sítio Amaros 01,
buscaram-se similaridades para análises dos painéis dividindo-os de forma arbitrária. Essa
divisão foi feita por grupo de figurações identificáveis e com grandes números de figurações
em um único espaço, divididos em três painéis e grupos de figurações isolados.

SÍTIO AMAROS 01 PAINEL


TOTAL %
CATEGORIAS VARIÁVEIS 01 02 03 ISOLADO
Antropomorfos 04 01 - - 05 14%
Cervídeos - 04 03 01 08 22%
Peixes - 01 04 03 08 22%
TIPOLOGIA DE
Aves - - - - -- --
FIGURAÇÕES
Mamíferos - - 01 - 01 3%
Geométricos - - - 10 10 28%
Não Identificados - - - 04 04 11%
Vermelho 04 06 06 18 34 94%
CORES
Amarelo - - 02 - 02 6%
Completa - 01 - - 01 3%
MORFOANATOMIA
Incompleta 04 05 08 18 35 97%
Estática - 04 05 18 27 75%
BIOMECÂNICA
Movimentação 04 02 03 - 09 25%
CONJUNTOS Sim - - - 18 18 50%
ISOLADOS Não 04 06 08 - 18 50%
Sim -- -- -- -- -- --
CENAS
Não 04 06 08 18 36 100%

Quadro 4. Detalhamento das figurações rupestre do Amaros 01. FERREIRA, 2014.

Como se pode observar no Quadro 4, as figurações rupestres foram divididas por


grupo de classificações de forma que facilitasse as análises do sítio. Para este trabalho utilizou-
se esta metodologia de divisão do sítio por painéis para que se pudessem comparar estilos
gráficos das diferentes figurações. Dentre as classificações também se separou por: tipologia
das figurações, cores, morfoanatomia, biomecânica, conjuntos isolados e cenas.
A partir das análises dos dados do quadro de figurações, pode-se afirmar que
94% das figurações foram realizados tonalidade vermelha, sendo apenas 6% na tonalidade
amarela.

No que tange a morfoanatomia foram divididas em duas grandes classes,


completa e incompleta, totalizaram 97% figurações de morfoanatomia incompleta, sendo
apenas 3% às figurações completa.

Para as contagens das figurações, foram divididas em quatro classificações


sendo elas: quatro figurações no painel 01, seis figurações no painel 02, oito figurações no
painel 03 e dezoito figurações nos painéis isolados, essa metodologia foi realizada de modo
padronizar os painéis e facilitar suas análises.

A maior quantidade no que tange à tipologia das figurações foram 28% de


geométricos, 22% de cervídeos e 22% de peixes, traços aleatórios foi definido quando a
figuração não se encaixa na tabela de tipologia descrita acima, portanto para contabiliza-los
criou-se a classificação com este nome.

4.3.1. FIGURAÇÕES DO PAINEL 01

O painel 01 localiza-se na parte mais visível do abrigo, nele possui quatro


figurações de antropomorfos associadas à tradição Agreste. Não há figurações associadas à
tradição Planalto.

Todas as figurações apresentam biomecânica, ou seja, apresentam


movimentação, uma vez que, todos os antropomorfos estão com braços levantados o que sugere
uma possível movimentação mecânica (figura 31).
Figura 31. Figurações associadas à tradição Agreste. FERREIRA, 2014.

O painel rupestre sofreu muito com as perturbações, tanto antrópicas quanto


naturais (figura 32), pode-se citar como exemplos: casa de cupim, intemperismo químico e
físico (chuva, vento e sol), além de pichações realizadas pelo homem, na parte inferior percebe-
se retiradas ou abatimentos de blocos. Há presença de manchas no lado esquerdo do painel
provenientes da umidade local, relacionado à percolação de águas pluviais.

Figura 32. Pichações realizados no sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014.


As pichações não foram contabilizadas, uma vez que o enfoque deste trabalho
são os grafismos indígenas. Como se pode ver na Figura 32, foi grafado uma estrela do PT
(Partido dos Trabalhadores) e diversos números realizados em preto na parte inferior do painel.
Muitas das pichações se devem ao acesso ao sítio, que fica na margem de uma estrada vicinal,
além disso, novos caminhos foram abertos entre uma campanha e outra (Figuras 33 e 34).

Figura 33. Primeira campanha antes da abertura da estrada. LAEP, 2012.


Figura 34. Segunda campanha após abertura da estrada. LAEP, 2013.

4.3.2. FIGURAÇÕES DO PAINEL 02

No que tange ao painel 02, ele localiza-se ao sul do painel 01, um pouco mais
protegido por árvores, mas da mesma forma continua exposto às perturbações naturais e
antrópicas.

Todos os grafismos estão associados à tradição Planalto, estando representados


por: quatro cervídeos, um peixe e um antropomorfo.

Algumas dessas representações possuem indicações de biomecânica, ou seja,


apresentam movimentação, cinco delas estão com morfologia incompleta sendo apenas uma
delas com toda morfoanatomia. As pinturas foram realizadas todas em tonalidade avermelhada,
o que caracteriza as pinturas deste painel como monocromática.
Figura 35. Figurações do painel 02, do sítio Amaros 01. FERREIRA, 2013.

Na análise das figurações rupestres se percebe que abaixo das figuras há uma
pátina no tom de vermelho claro o que pode apresentar uma preparação que antecede a execução
das pinturas (conforme figura 35).

A tradição Planalto é marcada pela prática intensa de sobreposições, na grande


maioria dos sítios rupestres encontrados em Minas Gerais, mesmo os autores tendo toda
disponibilidade de um grande paredão rochoso eles insistiam em grafar apenas umas imagens
sobres as outras. Outras características dessa tradição é a realização de pinturas de zoomorfos,
sendo eles cervídeos e peixes em sua grande maioria, e a prática da realização de pequenos
antropomorfos filiformes e traços aleatórios.

Ao analisar essas imagens associam-se todas as figurações às principais


características dessa categoria, como por exemplo, neste painel existem vários zoomorfos
(peixes e cervídeos), antropomorfo filiforme e preparação do painel anterior às pinturas.
Quadro 5. Análise dos zoomorfos do painel 02, do sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014.

Dos quatros cervídeos grafados neste painel como já havia dito anteriormente,
três possuem morfoanatomia incompleta, sendo apenas um deles todo completo que é a imagem
5 (quadro 5), inclusive este cervídeo encontra-se atravessado por um traço paralelo, o que
podemos inferir que seja um possível dardo, ou um provável ritual de caça.

4.3.3 . FIGURAÇÕES DO PAINEL 03

O painel 03 localiza-se ao lado direito do painel 02, um pouco mais escondido


devido à cobertura vegetal. As figurações são associadas à tradição Planalto e possui grafismos
em vermelho e amarelo.

Neste painel existem oito figurações rupestres, somente zoomorfos, sendo eles:
três cervídeos, quatro peixes e um mamífero. Todos possuem morfoanatomia incompleta, e
alguns apresentam biomecânica (movimentação), são cinco figurações estáticas e três com
expressões de movimentos.

O que faz esse painel diferente dos demais é a presença de duas figurações na
tonalidade amarela, e seis figurações na tonalidade avermelhada, o que torna o sítio
policrômicos, não é muito comum encontrar sítios policrômicos na tradição Planalto, mas as
figurações desta tradição existem na tonalidade vermelha, amarela, preta e branca.
Figura 36. Figurações do painel 03, do sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014.

Esse sítio possui diversas interferências naturais e antrópicas, como por


exemplo, na imagem acima podemos perceber um cupinzeiro sobre de parte das figurações
(figura 36), além de intemperismo, descamação e desplacamento do suporte. Há uma
preparação anterior do painel para depois fazer as pinturas, o que chamamos na arte rupestre de
pátina, além de intensa sobreposição de pinturas, sendo realizada por último as figurações em
amarelo.

Quadro 6. Análise dos cervídeos de tom amarelado. FERREIRA, 2014.

As figurações na tonalidade amarela são dois zoomorfos, um deles foi possível


fazer uma caracterização mais detalhada que é a imagem 7 (Quadro 6), se conseguiu identificar
a morfologia de um cervídeo. Já a imagem 8 (Quadro 6) sabe-se que é um animal por isso a
classificação de zoomorfo. Essa classificação se torna mais difícil devida à morfologia
incompleta das figurações, além de ações naturais como intempéries e ações biológicas.

4.3.4 . FIGURAÇÕES DOS PAINÉIS ISOLADOS

Os painéis isolados estão espalhados por todo o sítio são figurações associadas
à tradição Planalto em sua maioria traços aleatórios não formando figurações associadas ao que
conhecemos hoje, e algumas manchas que por desgaste natural das pinturas não conseguimos
identificar os traços.

As figurações destes painéis são monocromáticas (todas as pinturas em


vermelho), como dito anteriormente, são figurações de bastonetes, manchas e a representação
de zoomorfos isolados (peixe e cervídeo).

Figura 37. Liquens sobre as figurações do sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014.
Figura 38. Figurações dos painéis isolados do sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014.

Figura 39. Figurações praticamente não identificáveis do sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014.
Figura 40. Figurações do sítio Amaros 01. FERREIRA, 2014.

Como se pode perceber nas figurações citadas (figura 39 e 40), com exceção de
poucas figurações, quase todas são praticamente não identificáveis.

As figurações estão sendo destruídas com a presença antrópicas como se pode


perceber em alguns painéis pichações, pequenas retiradas de blocos, além do próprio desgaste
natural que acontece com o intemperismo químico provocado principalmente pela chuva,
presença de liquens que se formam com o contato de gordura ao painel.

4.4. RESULTADOS E ANÁLISES DOS PAINÉIS DO SÍTIO AMAROS 01

Após a realização de todos os procedimentos de campo e laboratoriais, montou-


se um quadro descrevendo todos os detalhes das figurações, buscando uma padronização das
figurações e facilitando o entendimento por meio de exposição sequencial das imagens, de
modo que o leitor possa ver todas as figurações pintadas de forma organizada por grupos
(conforme quadro 7), os tópicos escolhidos foram:

 Figurações: representação digital da pintura;


 Tema: consiste em classificar as figurações em grandes grupos buscando semelhanças
da figura retratada com que associamos nos dias atuais, por exemplo, zoomorfos,
antropomorfos, traços aleatórios, quando possível definimos um pouco mais afundo, por
exemplo, dentro de zoomorfos definimos: cervídeos, peixes, mamíferos;
 Morfoanatomia: são classificados em duas partes< completa e incompleta. Se definida
completa encerra-se a análise, pois a mesma apresenta seus detalhes completos, por
exemplo, um cervídeo vai possuir todas partes anatômicas de seu corpo, agora se
definida incompleta descrevemos o porquê desta definição, por exemplo, faltam as patas
dianteiras, falta a cabeça do zoomorfo;
 Biomecânica: também se divide em dois grupos os estáticos e os dinâmicos que
consistem basicamente em analisar as figurações, no que diz respeito, a sua
movimentação, por exemplo, patas dianteiras flexionadas, sugere uma possível
representação de movimentação deste animal, zoomorfos retratado com a cabeça virada
para trás, sugere um possível movimento de estar olhando para trás;
 Estilo: foram divididas as figurações por tradições como citado no primeiro capítulo de
acordo com as especificidades de cada região em que as figurações foram encontradas,
portanto este tópico está relacionado em definir a tradição;
 Técnica: modo que as pinturas foram executadas;
 Cor: é a coloração do pigmento, mesmo que as vezes percebemos uma variação na
tonalidade de uma mesma cor, por exemplo, vermelho claro, vermelho escuro, vermelho
amarelado, nós restringimo-nos em definir apenas a cor principal (vermelho, amarelo,
preto, branco).

Nº FIGURAÇÕES TEMA MORFOANATOMIA BIOMECÂNICA ESTILO TÉCNICA COR

Morfologia incompleta, Comum na


1 Zoomorfo falta a cabeça e as patas Estático tradição Pintura Vermelho
dianteiras Planalto

Morfologia incompleta, Comum na


2 Zoomorfo falta o dorso completo Estático tradição Pintura Vermelho
do animal Planalto
Morfologia incompleta,
faltam ambas patas e a Comum na
3 Zoomorfo cabeça do zoomorfo, Estático tradição Pintura Vermelho
dorso preenchido por Planalto
traços

Morfologia incompleta, Comum na


Com movimento
4 Cervídeo faltam as patas tradição Pintura Vermelho
nas articulações
dianteiras Planalto

Morfologia completa,
Com movimento Comum na
atravessado por um
5 Cervídeo nas articulações tradição Pintura Vermelho
traço no dorso e
dianteiras Planalto
chapado

Morfologia incompleta, Comum na


6 Zoomorfo faltam as patas e a Estático tradição Pintura Vermelho
cabeça Planalto

Morfologia incompleta,
falta toda a parte
Comum na
traseira do zoomorfo, Com movimento
7 Cervídeo tradição Pintura Amarelo
dorso preenchido por nas patas dianteiras
Planalto
traços e cabeça
chapada

Morfologia incompleta, Expressão de


Comum na
falta a parte traseira do movimento na
8 Zoomorfo tradição Pintura Amarelo
zoomorfo, corpo cabeça (olhando
Planalto
preenchido por traços para trás)

Morfologia incompleta,
falta o lado esquerdo da
cabeça e o braço Expressão de Comum na
9 Antropomorfo esquerdo, corpo movimento os tradição Pintura Vermelho
chapado e algumas braços levantados Agreste
partes preenchido por
traços
Morfologia incompleta,
falta a parte inferior do Expressão de Comum na
10 Antropomorfo antropomorfo, corpo movimento os tradição Pintura Vermelho
preenchidos por traços braços levantados Agreste
e chapado

Morfologia incompleta,
falta o braço esquerdo e Expressão de Comum na
11 Antropomorfo a cabeça, corpo movimento os tradição Pintura Vermelho
preenchido por traços e braços levantados Agreste
chapado

Morfologia incompleta,
faltam as pernas, corpo Expressão de Comum na
12 Antropomorfo preenchido por traços, movimento os tradição Pintura Vermelho
e cortado por um traço braços levantados Agreste
na horizontal

Morfologia incompleta,
faltam os detalhes
Comum na
anatômicos, faltam os
13 Antropomorfo Estático tradição Pintura Vermelho
braços, presença do
Planalto
falo, preenchimento
chapado

Morfologia incompleta,
Comum na
falta a cabeça do
14 Peixe Estático tradição Pintura Vermelho
zoomorfo, dorsal
Planalto
preenchido por traços

Morfologia incompleta,
faltam os detalhes
Comum na
anatômicos,
15 Peixe Estático tradição Pintura Vermelho
barbatanas, nadadeiras,
Planalto
cabeça, dorsal
preenchido por traços

Morfologia incompleta,
Comum na
falta a parte superior do
16 Peixe Estático tradição Pintura Vermelho
zoomorfo, dorsal com
Planalto
preenchimento chapado
Morfologia incompleta,
faltam os detalhes
Comum na
anatômicos,
17 Peixe Estático tradição Pintura Vermelho
barbatanas, nadadeiras
Planalto
e dorsal com
preenchimento chapado

Morfologia incompleta,
faltam os detalhes
Comum na
anatômicos,
18 Peixe Estático tradição Pintura Vermelho
barbatanas, nadadeiras
Planalto
e dorsal com
preenchimento chapado

Morfologia incompleta,
faltam os detalhes Comum na
19 Peixe anatômicos Estático tradição Pintura Vermelho
(nadadeiras) e dorsal Planalto
preenchido por traços

Morfologia incompleta,
Comum na
falta a parte inferior do
20 Peixe Estático tradição Pintura Vermelho
peixe, dorsal
Planalto
preenchido por traços

Morfologia incompleta,
faltam os detalhes
Comum na
anatômicos,
21 Peixe Estático tradição Pintura Vermelho
barbatanas, nadadeiras
Planalto
e dorsal com
preenchimento chapado

Morfologia incompleta,
faltam as patas, Expressão de Comum na
22 Mamífero preenchimento vazado, movimento nas tradição Pintura Vermelho
e dorso atravessado por patas Planalto
um traço

Geométricos Comum na
23 ou Não Retilíneo Estático tradição Pintura Vermelho
Identificáveis Planalto
Geométricos Comum na
24 ou Não Retilíneo Estático tradição Pintura Vermelho
Identificáveis Planalto

Geométricos Comum na
25 ou Não Retilíneo Estático tradição Pintura Vermelho
Identificáveis Planalto

Geométricos Comum na
26 ou Não Retilíneo Estático tradição Pintura Vermelho
Identificáveis Planalto

Geométricos Comum na
Formato não
27 ou Não Estático tradição Pintura Vermelho
identificado
Identificáveis Planalto

Geométricos Comum na
28 ou Não Retilíneo Estático tradição Pintura Vermelho
Identificáveis Planalto

Geométricos Comum na
29 ou Não Retilíneo Estático tradição Pintura Vermelho
Identificáveis Planalto

Geométricos Traço retilíneo Comum na


30 ou Não horizontal com traços Estático tradição Pintura Vermelho
Identificáveis curvilíneos verticais Planalto

Geométricos Traço retilíneo Comum na


31 ou Não horizontal com traços Estático tradição Pintura Vermelho
Identificáveis curvilíneos verticais Planalto

Geométricos Comum na
Traços verticais
32 ou Não Estático tradição Pintura Vermelho
retilíneos
Identificáveis Planalto
Comum na
Formato não
33 Mancha Estático tradição Pintura Vermelho
identificado
Planalto

Comum na
Formato não
34 Mancha Estático tradição Pintura Vermelho
identificado
Planalto

Comum na
Formato não
35 Mancha Estático tradição Pintura Vermelho
identificado
Planalto

Comum na
Formato não
36 Mancha Estático tradição Pintura Vermelho
identificado
Planalto

Quadro 7. Detalhamento das figurações do Amaros 01. FERREIRA,2014.

Todas as figurações rupestres desse sítio foram medidas, usando como


metodologia medição de altura e largura, dessa forma conseguiu-se ter uma proporção de como
foram realizadas às técnicas de pintura.

Para facilitar o entendimento de como foi realizado tais medições, a figura 41


ilustra o modo de como as figurações foram medidas.
Figura 41. Metodologia das medições das figurações. FERREIRA, 2014.

As figurações variaram seus tamanhos da menor pintura de aproximadamente


quatro centímetros até quase dois metros de altura (conforme quadro 8), essa variação é
importante, pois a partir delas conseguimos estabelecer padronizações no modo de grafar desses
autores, por exemplo, tamanho médio das figurações.

NÚMERO ALTURA LARGURA

1 27 cm 34 cm

2 19 cm 26 cm

3 22 cm 24 cm

4 40 cm 24 cm
NÚMERO ALTURA LARGURA

5 30 cm 29 cm

6 24 cm 26 cm

7 24 cm 18 cm

8 21 cm 12 cm

9 167 cm 42 cm

10 178 cm 52 cm

11 163 cm 42 cm

12 165 cm 48 cm

13 25 cm 12 cm

14 45 cm 23 cm

15 31 cm 16 cm

16 18 cm 4 cm

17 14 cm 6 cm

18 27 cm 9 cm

19 26 cm 8 cm

20 26 cm 13 cm

21 16 cm 9 cm

22 43 cm 34 cm

23 4 cm 10 cm

24 43 cm 15 cm

25 73 cm 6 cm

26 71 cm 9 cm

27 20 cm 12 cm

28 43 cm 13 cm

29 26 cm 3 cm

30 13 cm 26 cm

31 3 cm 18 cm

32 34 cm 8 cm
NÚMERO ALTURA LARGURA

33 27 cm 31 cm

34 35 cm 42 cm

35 28 cm 35 cm

36 78 cm 21 cm

Quadro 8. Medição das figurações em altura e largura do Amaros 01. FERREIRA, 2014.
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os objetivos que foram propostos para este trabalho foram alcançados em parte,
uma vez que novas pesquisas inter sítios devem ser executadas em futuro próximo, gerando
novos dados que poderão cooperar para uma compreensão mais assertiva sobre esta área
arqueológica. Além disso, a própria escavação do sítio permitirá a obtenção de dados sobre as
ocupações locais e, quiçá, até mesmo dados para a elaboração de uma cronologia.
Os resultados deste estudo, baseada nos estudos cronoestilísticos dos painéis
rupestres, demonstraram que o sítio teve diversos momentos de ocupação. Tal fato foi possível
pela observação das técnicas e temáticas entre as diversas formas de grafar a mesma figura,
assim como a existência duas tradições discutidas na literatura sobre o tema: as tradições
Planalto e Agreste.
Assim, buscou-se entender relações diacrônicas e sincrônicas das figurações,
buscando-se compreender as similaridades e diferenças nos grafismos pintados no sítio
arqueológico, bem como se buscando possíveis relações que mantinham entre si.
O sítio arqueológico Amaros 01 tem como principal fonte de discussão até o
momento os diferentes painéis rupestres evidenciados. Assim, trata-se de um importante sítio
arqueológico pré-colonial, porém que corre risco eminente de destruição em função à sua
exposição às práticas de vandalismo.
Está constituído por trinta e seis figurações rupestres, sendo que a maioria filiada
à Tradição Planalto, comum no centro mineiro e marcada, majoritariamente, pela presença de
figuras vermelhas, ocorrendo à associação clássica: cervídeos e peixes. Outros mamíferos, bem
como antropomorfos, são observados, porém em menor número.
Além disso, pode-se observar a presença de quatro grandes antropomorfos que
se caracterizam estilisticamente aos evidenciados em sítios comuns na região nordeste do
Brasil, na chamada Tradição Agreste, também descrita por outros autores em Minas Gerais
(BAETA, 2011).
Justamente a pesquisa buscou entender os diferentes estilos da arte rupestre
regional, bem como discutir se realmente há duas tradições rupestres, ou se trata de uma única,
com representações diferenciadas do que se tem observado em Minas Gerais.
Mesmo chegando ao final este estudo, há diversas inquietações pelos
pesquisadores do Laboratório de Arqueologia e Estudos da Paisagem (LAEP/UFVJM), há uma
gama de novas pesquisas envolto deste sítio, como, por exemplo, a possibilidade de escavar o
local, uma vez que, possui um pacote sedimentar favorável e poderia fornecer novas
informações sobre o assentamento.
Confirma-se, também, a hipótese de duas tradições pintadas neste sítio, tradição
Planalto e tradição Agreste, esta certeza parte do embasamento teórico científico já publicado
sobre as principais características destas tradições.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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2014.
APÊNDICE 01
APÊNDICE 02

TIPOLOGIA (PICHAÇÕES) QUANTIDADE PORCENTAGEM (%)

Números 8 57%

Estrela 1 7%

Não Identificados 5 36%

Total de figuras 14 100%

Tipologia das Pichações

Números
Estrela
Não Identificados

CORES (PICHAÇÕES) QUANTIDADE PORCENTAGEM (%)

Vermelho 1 7%

Preto 13 93%

Total de figuras 14 100%

Colorações das Pichações

Vermelho
Preto
ANEXOS 01

FICHA DE ANÁLISE DE SÍTIOS DE REGISTROS RUPESTRES DO LABORATÓRIO


DE ARQUEOLOGIA E ESTUDO DA PAISAGEM DA UFVJM

SITIO____________________________________ MUNICIPIO_________________________
UTM:_____________________________________________DATUM____________________
DATA DA ANÁLISE: _____/_____/_____
PAISAGEM REGIONAL
1. Geologia
a. Domínio
b. Rocha dominante
c. Rochas secundárias
d. Minerais
2. Geomorfologia

3. Hidrografia
a. Bacia
b. Rio principal
c. Curso d’água próximo  sim não _______________________

4. Vegetação (descrição)

5. UTM central_________________________________________________ Altitude_____________


6. Acesso ao painel/sítio
 Difícil  Moderado  Fácil
7. Relevo de acesso
 Plano/regular  Acidentado/ inclinado
8. Insolação incidente no sítio
a. Manhã  total  parcial  protegido
b. Tarde  total  parcial  protegido

9. Suporte
a. Tipo de rocha __________________________
b. Características
10. Descrição do perfil topográfico

11. Características do abrigo


 Caverna  Paredão  Lapa  Matacão  Outro _________________________
12. Piso do abrigo
 Regular e plano  Escalonado/ inclinado  Acidentado  Rochoso  Sedimentar 
Rochoso/sedimentar
13. Dimensões do abrigo
a. Comprimento total
 Pequeno (até 30m)  Médio (30 e 50m)  Grande (50 e 100m)  Muito grande (acima de 100m)
b. Profundidade
c. Área (em m2)
14. Formato da área abrigada
 Linear  Quadrangular  em “L”  Meia lua  Ômega
15. Perfil do abrigo
 Parede vertical (ou sub-vertical) e teto muito elevado
 Parede vertical e teto elevado
 Parede vertical restrita e teto horizontal
16. Iluminação do abrigo
 Clara  Média  Escura
17. Orientação do sítio
a. Ponto cardeal ________________
b. Voltado para o rio  sim  não
c. Voltado para campo rupestre  sim  não
d. Voltado para turfeira  sim  não
18. Suportes disponíveis
 verticais amplos  verticais restritos  teto escalonado ou restrito  teto amplo
19. Chuvas no abrigo
 Sim  Não  Não perceptível
20. Enxurradas no abrigo
 Sim  Não  Não perceptível
21. Presença de outros vestígios em superfície
 Sim Não
Descrever__________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
_______________________
22. Quantidade de painéis______
Descrição (USAR O VERSO)
1.
2.
3.
4.
CARACTERÍSTICAS DO PAINEL RUPESTRE
NÚMERO DO PAINEL ______ LOCALIZAÇÃO DAS FIGURAÇÕES
______________________
NATUREZA DO ESPAÇO UTILIZADO
1. Local das figurações
 Teto  piso central  pontos altos  pontos baixos
Quantidade de figurações observáveis em campo: ______________________
Pintura mais alta: ______________
Pintura mais baixa: ____________________
2. Dimensões do painel
COMPRIMETO: ______________________
ALTURA: ____________________________
3. Proximidade das figurações
 Conjuntos isolados
 Conjuntos relacionados (culturais/ cronologia relativa)
 Conjuntos não-relacionados  um  dois  três  mais que três
 Conjuntos sobrepostos  um  dois  três  mais que três
4. Ações naturais nos painéis
 Descamação  Desbotamento  Queda dos blocos
5. Estrutura do espaço utilizado
 Painel plano  nicho  quebra/pavimentos  outro tipo
_______________________________________
ASPECTOS GERAIS
6. Ações antrópicas
 Alterações propositais pré-contato  Pichações
 Outro tipo de destruição ou
mutilamento______________________________________________________
7. Eventos sincrônicos  há relações culturais entre as figurações
8. Eventos diacrônicos  diferença entre as figurações e/ou conjuntos  sobreposições 
pátinas  níveis de descamação  recorrências intra e inter sítios
9. Trocadilhos gráficos  sim  não Quantidade de figurações ______________________
10. Junção pictória  sim  não Quantidade de figurações ______________________

MORFOLOGIA DO GRAFISMO E APRESENTAÇÃO GRÁFICA


11. Figurações em perspectiva  sim  não Quantidade de figurações
______________________
12. Movimento  estática  movimentação. Explicar:
__________________________________________________________________________________
__________________________________________________________________________________
________________
13. Naturalismo  sim  não Quantidade de figurações ______________________
14. Grafismos puros  sim  não Quantidade de figurações ______________________
15. Figurações reconhecíveis  sim  não Quantidade de figurações
______________________
16. Figurações não-reconhecíveis (abstratas)  sim  não Quantidade de figurações
_____________________
17. Cenas  sim  não Quantidade de figurações ______________________
18. Conjuntos isolados  sim  não Quantidade de figurações ______________________
19. Cenas mais conjuntos isolados  sim  não Quantidade de figurações
______________________
20. Perspectiva das figurações
 Frontal – Quantidade de figurações ______________________
 Perfil – Quantidade de figurações ______________________
 Outra _______________________________ – Quantidade de figurações
______________________
21. Tipologia das figurações
 zoomorfos
 mamíferos, quantidade ______
 aves, quantidade __________
 répteis, quantidade __________
 Antropomorfos, quantidade ___________
 Biomorfos, quantidade _________
 Geométricos
 cartuchos _____  bastonetes_____  losangulares_____  grades _____ 
ziguezagues_____
 redes_____  círculos concêntricos _____  traços _____  traços paralelos _____ 
pontilhados _____
 triangulares _____  outros
_________________________________________________________________
22. Provável Filiação
 Planalto geral  Planalto conjunto 01  Planalto conjunto 02  Planalto conjunto 03
 Planalto conjunto 04  Planalto conjunto 5
 Agreste  Nordeste  Montalvânia
 Outra: _____________________________________________
23. Cores
 Vermelho. Descrever possíveis variações: ________________________________________
 Amarelo  Alaranjado  Preto
 Outra:__________________________________________
24. Espessura dos traços (no geral, aperfeiçoar em laboratório)
 Extra fina  Fina  Média  Grossa
25. Tipologia das figurações (quantitativo)
 Zoomorfos. Quantidade _________ Tipos:_____________________________________
 Antropomorfos. Quantidade _________ Tipos:____________________________________
 Geométricos. Quantidade _________ Tipos:_____________________________________
 Biomorfos. Quantidade _________ Tipos:_____________________________________
26. Técnica
 Pintura (dedo)  Pintura (pincel)  Crayon (lápis)  Raspagem  Outra
_____________________
27. Sobreposições
 Pouca  Média  Intensa
28. Tratamento estilístico
 Chapados ou sólidos. Quantidade:______________________________________
 Vazados totalmente. Quantidade:______________________________________
 Vazados com contorno aberto. Quantidade:______________________________________
 Vazados com preenchimento geométrico no interior (pontos ou traços).
Quantidade:______________________________________
 Traços ou linhas. Quantidade:______________________________________
29. Dimensões dos grafismos
 Pequenos (05 e 20 cm). Quantidade:____________________________
 Médios (21 a 60 cm). Quantidade:____________________________
 Grandes (61-180). Quantidade:______________________________
 Extra grandes (> 180 cm). Quantidade:____________________________

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