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UAB são licenciadas nos termos da Licença Creative Commons – Atribuição – Não Comercial – Compartilhada, podendo
a obra ser remixada, adaptada e servir para criação de obras derivadas, desde que com fins não comerciais, que seja
atribuído crédito ao autor e que as obras derivadas sejam licenciadas sob a mesma licença.
40 f.
ISBN:
CDU: 78.036
SUMÁRIO APRESENTAÇÃO
N
os dias atuais, temos vivenciado enormes mudanças em nossa sociedade.
A Internet, as redes sociais, e principalmente apps como o WhatsApp
tem absorvido um tempo significativo das pessoas. Com o advento dos
smartphones, qualquer um pode ter acesso garantido a 24 horas de entretenimento
ilimitado. Entretanto, devemos ter cautela no uso desses recursos, para que não
sejamos induzidos a perder o nosso valioso tempo. É essencial que tenhamos
controle sobre esses recursos tecnológicos, e saibamos identificar o que é importante
para o nosso desenvolvimento profissional e crescimento humano. Deixar de lado
o entretenimento excessivo, diminuir as horas on-line sem objetivo, e preferir à
interação “real” ao intercâmbio virtual com os amigos, pode ser bastante saudável.
Com a intenção de otimizar as suas horas de estudo on-line, essa disciplina foi
pensada com o uso de novas mídias. Esses recursos vão assessorar nas ações
didático-pedagógicas, dinamizando o método de ensino, e tornando a aprendizagem
significativa.
Este e-Book foi organizado em quatro Unidades, e em cada uma serão apresentados
os objetivos, o conteúdo programático, e os links para obras relevantes do século
XX. É essencial que você, aluno, desenvolva uma postura atuante, de interação
com os companheiros de curso, e também com a tutoria. Ser bem-sucedido na EaD
demanda disciplina, motivação e seriedade, só assim, a excelência na sua formação
pode ser alcançada.
Licenciatura em Música
1 A MÚSICA DO SÉCULO XX
OBJETIVOS
Conforme uma nova estética surgia, os teóricos prontamente criavam uma espécie de
rótulo, que de certa maneira, que definisse conceitualmente. Dessa prática, resultou
uma complexa lista de nomenclaturas com terminação em “ismo” e “dades”, como por
exemplo: impressionismo e atonalidade. Entretanto, a maior parte desses movimentos
estéticos, aparentemente distintos, compartilhava o mesmo propósito fundamental: o
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rompimento com os ideais românticos. Este fato, fez com que alguns críticos chamassem
essas correntes de “antirromânticas”.
Não foram todos os compositores do século XX, que romperam definitivamente com
a tradição, alguns continuaram a compor seguindo os preceitos do romantismo tardio.
Todavia, esses músicos utilizavam figurações rítmicas e construções harmônicas, que
os identificavam como artistas modernos. Dentre eles, podemos destacar o britânico
William Walton (1902-1983), e o estadunidense Samuel Barber (1910-1981). Existiram
também compositores que se negavam a se associar a qualquer uma dessas correntes
estéticas, considerando-se apenas “tradicionalistas”, por possuírem uma ligação estreita
com a música do passado. Entre esses, está o compositor britânico Benjamim Britten
(1913-1976), que sempre se recusou a ser rotulado. Algumas de suas obras mais
significativas são a Serenata (1943), a ópera Peter Grimes (1945), Spring Symphony
(Sinfonia Primavera) (1949), e o War Requiem (Réquiem de Guerra) (1961).
Fonte: http://www.steinway.com/.imaging/mte/steinway-us-theme/Large-Rectangle/dam/artists/immortals/Ben-
jamin_Britten_fma2.jpg/jcr:content/Benjamin_Britten_fma2.jpg
Para conhecer um pouco da obra de Britten, ouça o War Requeim (1961), uma das peças
mais relevantes do compositor. Ao ouvir tente listar os aspectos que você considera tradi-
cionais e modernos na composição de Britten. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=625WOYzdvFw>.
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1.2 Debussy e o Estilo Impressionista
Antes de passarmos para o estudo das correntes estéticas mais significativas do século
XX, precisamos retornar momentaneamente ao final do século XIX.
Alguns teóricos, entre eles, o compositor e regente francês Pierre Boulez considera
que a “música moderna” teve seu início com a peça orquestral L'Après-Midi d'un Faune
(Prelúdio ao entardecer de um Fauno), de Debussy. Essa obra, escrita em 1894, também
inaugurou o movimento impressionista na música. O termo impressionismo foi inspirado
no estilo de um grupo de pintores franceses denominados “impressionistas”, do qual,
Claude Monet é um dos seus maiores representantes. Esses artistas romperam com
o realismo na pintura, buscando registrar as cores da natureza a partir da perspectiva
momentânea com que os olhos humanos percebiam a luz e o movimento.
Fonte: http://www.edsonemiliano.com.br/blog/wp-content/uploads/2017/12/claude_debussy_
wide-5d26b979a1256897009111fd7adae5a49ca79e07.jpg
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lidar com esse problema, foi inspirado nas telas impressionistas. Enquanto os pintores
trabalhavam com as nuances de luz, sombra e cor, Debussy empregava diferentes timbres
orquestrais com efeito expressivo, como “cores”. O compositor era intuitivo na escolha
dos acordes, contrariando as regras da harmonia tradicional, e comum encontrar em
suas obras, tétrades com notas de tensão, desprovidas de função harmônica, e muitas
vezes, progredindo um após a outra, em movimentos paralelos. Além disso, Debussy
era recorrente no uso de escalas pentatônicas, modos gregos e escalas simétricas,
principalmente, a escala de tons inteiros. Está última pode ser ouvida nitidamente no
início da composição Voiles (Velas), segunda peça da série de doze prelúdios para piano,
publicados pelo compositor em 1910.
Figura 3 - Escala de tons inteiros em Voiles, Prelúdios, Livro I, no. 2, compassos 1-4
Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Voiles#/media/File:Debussy_Voiles,_Preludes,_Book_I,_no._2,_mm._1-4.png
Em suas obras para orquestra, Debussy emprega uma variada palheta de timbres,
alguns eram o resultado da combinação de dois ou mais instrumentos, outros provinham
do timbre de certos instrumentos em regiões extremas, tanto para o agudo, quanto para
o grave. Dentre as suas obras mais relevantes para o estilo impressionista, além da já
citada, L'Après-Midi d'un Faune (1894), estão: Nocturnes (1899); La Mer (O Mar) (1905),
ambas escritas para orquestra; e Imagens (1912), composta para piano.
Fonte: https://www.mikechurch.com/wp-content/uploads/2013/10/monet-impression-sunrise.jpg
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ganhou a atenção de músicos como Charles Ives (1874-1954), que utilizou músicas
folclóricas, danças populares, marchas militares e hinos religiosos, em suas composições,
e Aaron Copland (1900-1990), que fez uso de canções dos vaqueiros estadunidenses
em seus balés, Rodeo (1942) e Billy the Kid (1938).
Fonte: https://media.gettyimages.com/photos/hungarian-composer-bela-bartok-revising-his-earlier-folk-mu-
sic-at-picture-id183976016
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que de forma geral, eram baseados em padrões de danças populares, e em escalas
pentatônicas e modais. Em algumas ocasiões, o material recolhido e analisado era
inteiramente utilizado por esses compositores em suas obras, e o caso da Sonatina (1915),
que foi baseada em melodias recolidas por Bartók na Romênia, mais especificamente
na Transilvânia, e Two Romanian Folk Dances (Duas Danças Folclóricas Romenas)
(1910). Os compositores Kodáli e Williams fizeram o mesmo nas suas Dances of Galánta
(Danças de Galánta) (1933) e Five Variants of Dives and Lazarus (Cinco variantes de
mergulhos e Lázaro) (1939) respectivamente. Todavia, Williams buscavam introduzir em
suas obras apenas alguns aspectos essenciais da música folclórica por ele registrada,
sem verdadeiramente fazer menção direta ao material original. Segundo o próprio Bartók,
o objetivo deles era identificar a essência dessa música, totalmente desconhecida nos
círculos acadêmicos, e fazer dela o alicerce para as composições. Belá Bartók foi um dos
compositores nacionalistas de maior relevância no século XX, juntamente com Kodáli,
constituiu-se como um dos fundadores da etnomusicologia. A influência da música
folclórica da Europa Central em suas composições pode ser nitidamente notada em
obras como: Dance Suite (Suite de Dança) (1923); Music for Strings, Percussion and
Celesta (Música para Cordas, Percussão e Celesta) (1936); e Sonata for Two Pianos
and Percussion (Sonata para dois pianos e percussão) (1937).
Vamos ouvir a Music for Strings, Percussion and Celesta (Música para Cordas, Percussão e
Celesta) (1936) do compositor húngaro Belá Bartók. Tente reconhecer a influência folclórica
nesta obra. Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=ueMZGwp1iWE>.
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1.4 A Influência do Jazz
Fonte: https://i.ytimg.com/vi/HwPRMDqvojQ/maxresdefault.jpg
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Americano em Paris) (1928), e Rhapsody in Blue (1924); e o russo Ígor Stravinski, com
seu Ragtime for Eleven Instruments (1918), e a L'Histoire du soldat (O Conto do Soldado)
(1918). Outros compositores que enfatizaram, em menor proporção, a influência do Jazz
em algumas de suas obras foram: o britânico William Walton (1902-1983); o francês
Maurice Ravel (1875-1937); o estadunidense Aaron Copland (1900-1990); e o alemão
Kurt Weill (1900-1950), dentre outros.
Ouça a peça para piano e orquestra, Rhapsody in Blue Rhapsody in Blue, do compositor
estadunidense George Gershwin. O próprio compositor descreveu essa obra com “peça de
concerto de inspiração jazzística”. Tente enumerar os elementos de Jazz que você consegue
identificar ao ouvir a composição. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ss-
2GFGMu198>.
RESUMO
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BARTÓK, Belá. Music for Strings, Percussion and Celesta. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=ueMZGwp1iWE>.
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2 O SURGIMENTO DA ATONALIDADE
OBJETIVOS
Discutindo o sistema tonal, costumamos afirmar que uma determinada peça está em
certo tom. Isto é, a obra musical foi composta, tendo como base uma escala maior ou
menor. Por exemplo, uma composição escrita em Dó Maior, terá como polo de atração a
nota Dó, que é a tônica da escala, e todas as outras notas lhe serão “submissas” e terão
menos importância.
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Petrushka (1911) e Le Sacre du printemps (A Sagração da Primavera) (1913), ambas
do compositor russo Igor Stravinsky (1882-1971); o Bolero (1928) do músico francês
Maurice Ravel (1875-1937), nesta obra acontece a sobreposição de três tonalidades
simultâneas, Dó Maior, Mí Maior e Sol Maior, o que pode ser constatado na terceira
apresentação do tema; e o segundo movimento, intitulado Putnam’s Camp, da obra
orquestral Three Places in New England (Três Lugares na Nova Inglaterra) (1914), do
estadunidense Charles Ives (1874-1954), nesta parte da peça, Ives simula o que seriam
duas bandas marciais tocando juntas, mas em diferentes tonalidades.
Figura 7 – O compositor russo Igor Stravinsky, que fez uso da técnica politonal em
algumas de suas obras
Fonte: https://i.ytimg.com/vi/bdiyCf7RdyI/maxresdefault.jpg
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2.2 A Música Atonal
Como vimos anteriormente, Debussy, negava a tonalidade por outros caminhos. Usando
progressões harmônicas em movimentos paralelos, escolhendo os acordes pela sua
“cor” (sonoridade), ignorando totalmente as funções tonais e os campos harmônicos, e
utilizando escalas simétricas, como a de tons inteiros, por exemplo. Tudo isso, também
contribui bastante para o enfraquecimento do sistema tonal maior-menor.
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Figura 8 – O compositor austríaco Arnold Schönberg, dando aulas em uma classe de
composição nos EUA
Fonte: https://www.wien.info/media/images/arnold-schoenberg-unterrichtend-los-angeles-1940er-jahre-19to1.jpeg
Agora vamos ouvir uma obra atonal, Pierrot Lunaire (Pierrot ao luar) (1912), do compositor
austríaco Arnold Schönberg. Tente descreve a forma como a soprano interpreta a sua
parte. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=CPb2X9E6gVg>.
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e os estados de espírito mais íntimos do seu humano, em suas telas. Temas comuns
entre os pintores expressionista eram: o medo, o subconsciente, e os estados mentais.
Fonte: https://i.pinimg.com/originals/73/ae/77/73ae773145694ff9590c02175c7e3165.jpg
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isto é, com muitos saltos, pelos contrastes dramáticos de dinâmica, indo de um pianíssimo
diretamente para um fortíssimo por exemplo, e pelo uso de registros extremos nos
instrumentos. Uma das obras mais significativas, desta fase do expressionismo, é o
sexteto de cordas Verklärte Nacht (Noite Transfigurada) (1899) de Schönberg. Em 1908,
o compositor escreve o seu String Quartet Nº. 2 (Segundo quarteto de cordas), onde
no terceiro movimento, foi incluída uma soprano. Entretanto, é no quarto movimento
que Shöenberg leva o expressionismo para uma nova fase, ao abandonar a harmonia
cromática das partes anteriores, e se entregar ao atonalismo. Alguns versos cantados
pela soprano, neste movimento, remetem diretamente ao novo momento: “Ich fühle luft
von anderem planeten.” (Eu sinto ar de outro planeta.); e “Ich löse mich in tönen, kreisend,
webend,” (Eu me dissolvo em tons, circulando, tecendo,). Além dás já citadas, existem
outras peças relevantes para o estilo expressionista, são elas: Fünf Orchesterstücke
(Cinco Peças para Orquestra) (1909), de Shöenberg; a ópera Wozzeck (1925), e Drei
Orchesterstücke (Três Peças para Orquestra) (1915), ambas de Berg; e Five Pieces for
orchestra (Cinco Peças para Orquestra) (1913), de Webern.
Fonte: https://pictures.abebooks.com/TWOGCE/1487052667.jpg
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Ouça o sexteto de cordas Verklärte Nacht (Noite Transfigurada) de Schönberg. Tente
observar quais características dessa obra, se assemelham a música de Wagner. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=5h5Xc-rUef4>.
Existem algumas características que distinguem as obras de Anton Webern, das de seu
professor, Shöenberg, e de seu colega, Berg. As composições de Webern tendem a ser bem
mais curtas, e nelas, todos os instrumentos são solistas, em geral, executando notas isoladas.
O resultado sonoro é uma textura rarefeita, e pontilhista, nas palavras do compositor russo
Ígor Stravinski “como o cintilar dos diamantes...”. Esse estilo criado por Webern tem sido
bastante comparado com os quadros dos pintores pontilhistas, como os franceses Georges
Seurat e Paul Signac, por exemplo. Esses artistas, ao invés de usar pinceladas bem definidas
e delineadas, preferiam lançar sobre suas telas, inúmeros pontinhos minúsculos.
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/9/96/Georges_Seurat_026.jpg/800px-
Georges_Seurat_026.jpg
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Procure ouvir a peça Five Pieces for orchestra (Cinco Peças para Orquestra) do compositor
austríaco Anton Webern. Repare como os instrumentos da orquestra são trabalhados
pelo compositor. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=reqqQ-kBJQ0>.
RESUMO
WEBERN, Anton. Five Pieces for orchestra (Cinco Peças para Orquestra). Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=reqqQ-kBJQ0>. Acesso em: 31 maio 2018.
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3 O SERIALISMO E OUTRAS ESTÉTICAS
OBJETIVOS
Nesta terceira Unidade, iremos conhecer algumas outras correntes estéticas da música do
século XX. Além disso, vamos analisar algumas técnicas composicionais praticadas pelos
músicos modernos. Estudaremos as características fundamentais de cada movimento,
bem como, buscaremos apreciar algumas obras representativas historicamente.
Após certo período, tendo rompido definitivamente com o sistema tonal, e se entregue ao
atonalismo, Arnold Shöenberg decidiu que necessitava que algum princípio organizacional
que norteasse a composição de suas peças, e que de certa forma, substituísse a
tonalidade. Como um compositor formado na tradição austro-germânica, Schöenberg
precisava encontrar algum procedimento composicional que proporcionasse unidade,
coerência e alguma redundância as suas obras atonais. Depois de muita pesquisa e
reflexão, o músico criou o serialismo dodecafônico ou dodecafonismo.
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pode surgir fora da ordem previamente estipulada, ainda que a mesma nota possa se
repetir seguidamente. Além disso, as notas da série podem aparecer em qualquer oitava.
Outras três sequências derivam-se da série original, são elas: a Retrograda, a Invertida,
e a Retrograda Invertida. A Série Retrograda (2), nada mais é, do que a serie original
de trás para frente. Enquanto a Série Invertida (3) é a inversão dos intervalos da série
original, isto é, se a original inicia com um salto de 5ª justa ascendente, a invertida vai
começar com o mesmo intervalo, só que descendente. Por fim, a Série Retrograda
Invertida (4), é apenas a invertida lida de trás para frente. Vejamos os exemplos a seguir.
Fonte: https://bustena.files.wordpress.com/2014/03/tonerowscale.jpg
Ainda existe a possibilidade de cada uma dessas séries serem transpostas a qualquer
nota da escala cromática, mas não vamos nos aprofundar nessas transposições, pois essa
não é uma disciplina de composição musical. Essas séries são utilizadas horizontalmente
pelos compositores para a construção de melodias, e verticalmente para a formação de
acordes. De forma geral, as séries só apresentam ao compositor, as alturas a serem
empregadas, cabe a ele usar a sua habilidade e criatividade, para construir motivos,
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membros de frases, frases, períodos, seções, formas musicais, “acordes”, “progressões
harmônicas”, contrapontos, células rítmicas, texturas e a instrumentação.
Se Berg era o mais flexível, Webern certamente era o mais radical, entre os compositores da
“segunda escola de Viena”, no trato com o serialismo dodecafônico. A maior preocupação
do compositor era a de construir estruturas planejadas matematicamente, organizadas
em proporções equilibradas, e formalmente simétricas. Existem teorias que supõem que
Webern se inspirava em formas presentes na natureza, no arquétipo de algumas flores,
e na concepção de certos cristais. Suas obras mais representativas do dodecafonismo
são: a Symphony (Sinfonia) (1928); Quartet for violin, clarinet, tenor saxophone and
piano (Quarteto para Violino, Clarineta, Saxofone Tenor e Piano) (1930); e o Concerto for
Nine Instruments (Concerto para Nove Instrumentos) (1934).
Ouça uma das obras seriais mais significativas do compositor Alban Berg, o seu Violin
Concerto (Concerto para Violino) (1935). Observe como Berg mistura técnicas seriais,
com elementos típicos da música tonal. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=wckEFGK2q1s>
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3.2 O Movimento Neoclássico
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Instrumentos de Sopro) (1923), e a Symphony of Psalms (Sinfonia dos Salmos) (1930),
todas de Stravinsky; o Piano Concerto (Concerto para Piano) (1945), Cello Concerto
(Concerto para Violoncelo) (1940), Violin Concerto (Concerto para Violino) (1939), e a
Konzertmusik for brass and string orchestra (Música de Concerto para Metais e Cordas)
(1930), todas do compositor alemão Paul Hindemith (1895-1963); o bále Les Biches
(Os Queridinhos) (1924), o Concert Champêtre (Concerto Pastoral) (1928), ambos do
compositor francês Francis Poulenc (1899-1963); a ópera The Love for Three Oranges
(O Amor por Três Laranjas) (1921), e a Symphony No. 1 (Primeira Sinfonia) conhecida
também como Classical Symphony (Sinfonia Clássica), ambas do compositor russo
Sergei Prokofiev (1891-1953). Segundo o próprio compositor, a Sinfonia Clássica foi
escrita “tal qual seria criada por Haydn, se ele estivesse aqui”.
Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/55/Sergei_Prokofiev_03.jpg
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3.3 A Procura de Novos Timbres
Fonte: http://4.bp.blogspot.com/-9zy1JxS41B0/VLvfk_WZscI/AAAAAAAAAR4/5k_OBW7r_U8/s1600/
messiaen01.jpg
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Outro compositor que se influenciou bastante pela música do oriente foi o estadunidense
John Cage (1912-1992). Suas Sonatas e Interludes (1948) para o “piano preparado”
foram compostas numa tentativa de expressar a mágoa, a alegria, o medo, e a raiva,
emoções que Cage sentiu ao visitar a Índia. O compositor conseguiu criar uma nova gama
de sonoridades no piano, ao inserir em pontos estratégicos do interior do instrumento
uma série de objetos, tais como: nozes, correntes, parafusos, pedaços de borracha e de
plástico, entre outros. Esses itens podiam modificar o timbre, bem como, a afinação das
cordas do piano, causando sonoridades bem variadas, que muitas vezes, lembravam
instrumentos orientais como, sinos, gongos e tambores hindus.
Fonte: https://i.pinimg.com/originals/9e/e4/d2/9ee4d235951cc69c88caf7503dfafb53.jpg
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de cordas sejam tangidos na região entre o cavalete e o estandarte, ou mesmo sobre o
estandarte, gerando um timbre ruidoso e áspero. Em outros momentos da obra, Penderecki
pede que o instrumentista golpeie a caixa de ressonância do instrumento com o talão
do arco, causando um timbre percussivo. Em sua obra intitulada St. Luke Passion (A
Paixão Segundo São Lucas) (1966), o compositor acrescenta, afora o canto tradicional,
sussurros, falas, brados e assobios. Como vários outros compositores contemporâneos,
Penderecki também utilizou clusters e os quatros de tom em suas obras.
Fonte: https://i.ytimg.com/vi/Wtq5iCxCIdU/maxresdefault.jpg
Vamos ouvir agora a obra Polymorphia, de Penderecki, conduzida por ele próprio. Observe os
diferentes timbres que Penderecki consegue extrair da orquestra de cordas. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=vwImX18AS_E>.
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3.4 Schaeffer e a Música Concreta
Fonte: http://2.bp.blogspot.com/--UuQi-5Q4Fg/VdcvmBWvB4I/AAAAAAAA6qI/f46aIXou2pk/s1600/
maxresdefault.jpg
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Que tal ouvirmos os Cinq études de bruits (Cinco Estudos de ruídos) (1948). Essa foi à primeira
coleção de peças de música concreta compostas por Schaeffer. Tentem listar que sons do
cotidiano você consegue identificar ao ouvir a obra. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=CTf0yE15zzI>.
RESUMO
BERG, Alban. Violin Concerto (Concerto para Violino). Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=wckEFGK2q1s>. Acesso em: 5 jun. 2018.
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4 A MÚSICA ELETRÔNICA E A ALEATÓRIA
OBJETIVOS
Nesta quarta e última Unidade, iremos conhecer algumas das principais correntes
estéticas do século XX, como a música eletrônica e a aleatória. Do mesmo modo,
iremos analisar as técnicas empregadas no serialismo total, e ainda faremos uma breve
síntese, apresentando alguns das características mais comumente encontradas nas
obras modernas. Como de costume, abordaremos os conceitos teóricos, bem como,
apreciaremos obras expressivas historicamente.
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Após os sons serem registrados, previamente gravados ou gerados eletronicamente, os
compositores passavam a manipulação eletrônica dos mesmos. Existiam várias formas
de modificar os sons em estúdio, dentre elas, as mais utilizadas nessa época eram:
alterações no volume; filtragem de frequências; e a adição de vibratos, reverberação
e ecos. Os sons já modificados podiam ser misturados, fragmentados ou repetidos
incessantemente, formando ostinatos. Muitas técnicas de manipulação dos sons, criadas
pela música concreta, também foram utilizadas pelos compositores da música eletrônica,
tais como, a inversão, e a alteração de altura, mas diferentemente de Schaeffer, os
músicos alemães faziam essas modificações eletronicamente, e não, mas em fitas
magnéticas.
Uma peça de música eletrônica podia ser composta utilizando-se de sons gerados
eletronicamente em estúdio, de sons “naturais” pré-gravados, ou da mistura de ambos. A
composição finalizada em estúdio poderia ser “tocada” mecanicamente para público, ou
o compositor poderia manipular os sons “em tempo real” em frente à plateia. Existia ainda
a possibilidade, em concertos ou estúdio, de se juntar sons eletrônicos e instrumentos
convencionais, esses instrumentos poderiam ser modificados eletronicamente ou não.
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Figura 18 – O compositor alemão Karlheinz Stockhausen manipulando os sons no
estúdio
Fonte: https://i.ytimg.com/vi/EqsDLMii8gk/maxresdefault.jpg
Ouça a peça Gesang der Jünglinge (Canção dos Jovens), de Stockhausen. Tente
distinguir os sons eletrônicos, da voz infantil. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=nffOJXcJCDg>.
O primeiro a estender o uso das séries a outros parâmetros musicais foi o músico francês
Olivier Messiaen. Em 1949, o compositor escreveu a peça para piano Mode de valeurs et
d’intensités (Modo de valores e intensidades) na qual, serializou não apenas as alturas,
mas também o ritmo, a dinâmica e a articulação das notas. Essa experiência levou
Messiaen e seus, na época, alunos de composição, Stockhausen e Boulez, a investir
em experimentos serializando diversos elementos de suas obras. A ideia era aplicar
os preceitos da técnica dodecafônica de Shcöenberg, e serializar as alturas, o ritmo,
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a dinâmica e a articulação em conjuntos de 12 elementos cada, a esse procedimento
deu-se o nome de Serialismo Total. O francês Pierre Boulez (1925-2016) foi o primeiro
compositor a escrever uma obra completa usando a técnica, a Structures II (Estruturas
II) (1961) para dois pianos. Outra peça significativa, que também utilizou esse processo
composicional é Gruppen (Grupos) (1957), que foi composta por Stockhausen para três
orquestras, cada uma com seu próprio regente.
Tempos depois, o compositor Stockhausen concluiu que a técnica serial poderia ser
utilizada para controlar quaisquer aspectos do som.
Fonte: https://www.limelightmagazine.com.au/wp-content/uploads/2016/01/Pierre-Boulez-and-Olivier-009.jpg
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4.3 A Liberdade da Música Aleatória
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Stockhausen alargou as fronteiras da música aleatória, com o que ele chamou de “música
intuitiva”. No final da década de 1960, o compositor se recolheu por uma semana, em
total jejum, apenas meditando, desse momento de profunda reflexão existencialista,
surgiu à obra Aus den sieben Tagen (Dos Sete Dias) (1968), onde o músico desabafa:
“Desista de tudo, estávamos no caminho errado”.
Fonte: http://www.karlheinzstockhausen.org/img/Stockhausen_dvd_order_form.jpg?full=http://www.
karlheinzstockhausen.org/img/Stockhausen_dvd_order_form.large.jpg
Ouça a peça Zyklus für einen Schlagzeuger Schlagzeuger (Ciclo para um percussionista),
de Stockhausen. Veja se você consegue perceber a aleatoriedade da obra. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=OAzrcdq4YPk>.
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4.4 As Principais Características da Música do Século XX
Normalmente, as melodias são pouco lineares, contêm muitos saltos, são bastante
cromáticas, curtas e fragmentadas. Bem diferentes, das longas e expressivas linhas
melódicas românticas. Os glissandos também são muito comuns. Algumas composições
podem não apresentar melodias.
No século XX, os compositores voltaram os seus olhares para o timbre com grande
interesse. Houve uma maior preocupação em pesquisar novos sons, e incluir diferentes
timbres nas composições. Os instrumentos de percussão ganharam um destaque, nunca
antes alcançado. Além disso, os músicos começaram a buscar formas de extrair novos
timbres de instrumentos convencionais, usando registros extremos, surdinas, e diferentes
efeitos. Do mesmo modo, surgiram novas sonoridades provenientes dos equipamentos
eletrônicos, utilizados na música concreta e eletrônica.
Licenciatura em Música | 39
Ouça a cantata Belshazzar’s Feast (A Festa de Baltazar), escrita em 1931 pelo compositor
britânico William Walton. Tente listar quais das características acima você identifica nesta
obra. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=5S7By7pDjJ4>.
RESUMO
Licenciatura em Música | 40