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a obra ser remixada, adaptada e servir para criação de obras derivadas, desde que com fins não comerciais, que seja
atribuído crédito ao autor e que as obras derivadas sejam licenciadas sob a mesma licença.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO MARANHÃO

Reitor Professor Conteudista


Gustavo Pereira da Costa Rogério Lacerda Carvalho

Vice-Reitor Revisão de Linguagem


Walter Canales Sant´ana Lucirene Ferreira Lopes
Pró-Reitora de Graduação Designer de Linguagem
Andréa de Araújo Lucirene Ferreira Lopes
Núcleo de Tecnologias para Educação Designer Pedagógico
Ilka Márcia Ribeiro S. Serra - Coord. Geral Paulo Henrique Oliveira Cunha

Sistema Universidade Aberta do Brasil Projeto Gráfico e Diagramação


Ilka Marcia R. S. Serra - Coord. Geral Josimar de Jesus Costa Almeida
Lourdes Maria P. Mota - Coord. Adjunta | Coord. de Curso
Capa
Coordenação Designer Educacional Rômulo Coelho
Cristiane Peixoto - Coord. Administrativa
Maria das Graças Neri Ferreira - Coord. Pedagógica

Carvalho, Rogério Lacerda

História da Música Moderna e Contemporânea [e-Book].


/ Rogério Lacerda Carvalho. – São Luís: UEMA; UEMAnet,
2018.

40 f.

ISBN:

1. Música. 2. Atonalidade. 3. Serialismo. 4. Século XX. I. Título.

CDU: 78.036
SUMÁRIO APRESENTAÇÃO

UNIDADE 1 - A MÚSICA DO SÉCULO XX


1.1 Introdução à Música Moderna
1.2 Debussy e o Estilo Impressionista
1.3 O Movimento Nacionalista no Século XX
1.4 A Influência do Jazz
REFERÊNCIAS

UNIDADE 2 - SURGIMENTO DA ATONALIDADE


2.1 A Técnica Politonal
2.2 A Música Atonal
2.3 A “Segunda Escola de Viena” e o Estilo Expressionista
2.4 Webern e o Pontilhismo
REFERÊNCIAS

UNIDADE 3 - O SERIALISMO E OUTRAS ESTÉTICAS


3.1 O Serialismo Dodecafônico
3.2 O Movimento Neoclássico
3.3 A Procura de Novos Timbres
3.4 Schaeffer e a Música Concreta
REFERÊNCIAS

UNIDADE 4 - A MÚSICA ELETRÔNICA E A ALEATÓRIA


4.1 O Surgimento da Música Eletrônica
4.2 A Técnica do Serialismo Total
4.3 A Liberdade da Música Aleatória
4.4 As Principais Características da Música do Século XX
REFERÊNCIAS
APRESENTAÇÃO
Caro (a) estudante,

N
os dias atuais, temos vivenciado enormes mudanças em nossa sociedade.
A Internet, as redes sociais, e principalmente apps como o WhatsApp
tem absorvido um tempo significativo das pessoas. Com o advento dos
smartphones, qualquer um pode ter acesso garantido a 24 horas de entretenimento
ilimitado. Entretanto, devemos ter cautela no uso desses recursos, para que não
sejamos induzidos a perder o nosso valioso tempo. É essencial que tenhamos
controle sobre esses recursos tecnológicos, e saibamos identificar o que é importante
para o nosso desenvolvimento profissional e crescimento humano. Deixar de lado
o entretenimento excessivo, diminuir as horas on-line sem objetivo, e preferir à
interação “real” ao intercâmbio virtual com os amigos, pode ser bastante saudável.

Com a intenção de otimizar as suas horas de estudo on-line, essa disciplina foi
pensada com o uso de novas mídias. Esses recursos vão assessorar nas ações
didático-pedagógicas, dinamizando o método de ensino, e tornando a aprendizagem
significativa.

Este e-Book foi organizado em quatro Unidades, e em cada uma serão apresentados
os objetivos, o conteúdo programático, e os links para obras relevantes do século
XX. É essencial que você, aluno, desenvolva uma postura atuante, de interação
com os companheiros de curso, e também com a tutoria. Ser bem-sucedido na EaD
demanda disciplina, motivação e seriedade, só assim, a excelência na sua formação
pode ser alcançada.

Licenciatura em Música
1 A MÚSICA DO SÉCULO XX

OBJETIVOS

Entender o que as correntes estéticas de vanguarda tinham em comum;


Compreender o que é o estilo impressionista;
Identificar o que mudou no movimento nacionalismo, em comparação ao período
romântico; e,
Reconhecer como a música popular, e principalmente o Jazz, inspirou e influenciou
os compositores modernos.

Possuímos a nossa disposição uma vasta gama de recursos tecnológicos, como:


computadores, tablets, smartphones, sistemas de streaming, Internet etc. Todos eles
fazem parte do dia a dia de grande parte da população brasileira. Em nosso estudo
diário, faremos uso dessas tecnologias para enriquecer a abordagem dos conteúdos
apresentados nesta disciplina.

1.1 Introdução a Música Moderna

As tendências do século XX na música caracterizavam-se por uma extensa história de


erros, acertos, tentativas e experiências que conduziram os compositores a uma série de
inovações, no campo das técnicas composicionais, e também na criação de novos timbres.
Esses e outros aspectos contribuíram para tornar a música moderna altamente variada.

Conforme uma nova estética surgia, os teóricos prontamente criavam uma espécie de
rótulo, que de certa maneira, que definisse conceitualmente. Dessa prática, resultou
uma complexa lista de nomenclaturas com terminação em “ismo” e “dades”, como por
exemplo: impressionismo e atonalidade. Entretanto, a maior parte desses movimentos
estéticos, aparentemente distintos, compartilhava o mesmo propósito fundamental: o

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rompimento com os ideais românticos. Este fato, fez com que alguns críticos chamassem
essas correntes de “antirromânticas”.

Não foram todos os compositores do século XX, que romperam definitivamente com
a tradição, alguns continuaram a compor seguindo os preceitos do romantismo tardio.
Todavia, esses músicos utilizavam figurações rítmicas e construções harmônicas, que
os identificavam como artistas modernos. Dentre eles, podemos destacar o britânico
William Walton (1902-1983), e o estadunidense Samuel Barber (1910-1981). Existiram
também compositores que se negavam a se associar a qualquer uma dessas correntes
estéticas, considerando-se apenas “tradicionalistas”, por possuírem uma ligação estreita
com a música do passado. Entre esses, está o compositor britânico Benjamim Britten
(1913-1976), que sempre se recusou a ser rotulado. Algumas de suas obras mais
significativas são a Serenata (1943), a ópera Peter Grimes (1945), Spring Symphony
(Sinfonia Primavera) (1949), e o War Requiem (Réquiem de Guerra) (1961).

Figura 1 - Compositor britânico Benjamim Britten, que sempre negou os rótulos

Fonte: http://www.steinway.com/.imaging/mte/steinway-us-theme/Large-Rectangle/dam/artists/immortals/Ben-
jamin_Britten_fma2.jpg/jcr:content/Benjamin_Britten_fma2.jpg

Para conhecer um pouco da obra de Britten, ouça o War Requeim (1961), uma das peças
mais relevantes do compositor. Ao ouvir tente listar os aspectos que você considera tradi-
cionais e modernos na composição de Britten. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=625WOYzdvFw>.

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1.2 Debussy e o Estilo Impressionista

Antes de passarmos para o estudo das correntes estéticas mais significativas do século
XX, precisamos retornar momentaneamente ao final do século XIX.

Alguns teóricos, entre eles, o compositor e regente francês Pierre Boulez considera
que a “música moderna” teve seu início com a peça orquestral L'Après-Midi d'un Faune
(Prelúdio ao entardecer de um Fauno), de Debussy. Essa obra, escrita em 1894, também
inaugurou o movimento impressionista na música. O termo impressionismo foi inspirado
no estilo de um grupo de pintores franceses denominados “impressionistas”, do qual,
Claude Monet é um dos seus maiores representantes. Esses artistas romperam com
o realismo na pintura, buscando registrar as cores da natureza a partir da perspectiva
momentânea com que os olhos humanos percebiam a luz e o movimento.

Figura 2 - Compositor e pianista francês Claude-Achille Debussy, que foi influenciado


pelas telas dos pintores impressionistas

Fonte: http://www.edsonemiliano.com.br/blog/wp-content/uploads/2017/12/claude_debussy_
wide-5d26b979a1256897009111fd7adae5a49ca79e07.jpg

Claude-Achille Debussy (1862-1918) foi um compositor e pianista francês, que como


grande parte dos compositores do século XX, queria se ver livre da influência romântica,
sobretudo, da supremacia da música alemã. A forma como o compositor achou para

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lidar com esse problema, foi inspirado nas telas impressionistas. Enquanto os pintores
trabalhavam com as nuances de luz, sombra e cor, Debussy empregava diferentes timbres
orquestrais com efeito expressivo, como “cores”. O compositor era intuitivo na escolha
dos acordes, contrariando as regras da harmonia tradicional, e comum encontrar em
suas obras, tétrades com notas de tensão, desprovidas de função harmônica, e muitas
vezes, progredindo um após a outra, em movimentos paralelos. Além disso, Debussy
era recorrente no uso de escalas pentatônicas, modos gregos e escalas simétricas,
principalmente, a escala de tons inteiros. Está última pode ser ouvida nitidamente no
início da composição Voiles (Velas), segunda peça da série de doze prelúdios para piano,
publicados pelo compositor em 1910.

Figura 3 - Escala de tons inteiros em Voiles, Prelúdios, Livro I, no. 2, compassos 1-4

Fonte: https://pt.wikipedia.org/wiki/Voiles#/media/File:Debussy_Voiles,_Preludes,_Book_I,_no._2,_mm._1-4.png

Em suas obras para orquestra, Debussy emprega uma variada palheta de timbres,
alguns eram o resultado da combinação de dois ou mais instrumentos, outros provinham
do timbre de certos instrumentos em regiões extremas, tanto para o agudo, quanto para
o grave. Dentre as suas obras mais relevantes para o estilo impressionista, além da já
citada, L'Après-Midi d'un Faune (1894), estão: Nocturnes (1899); La Mer (O Mar) (1905),
ambas escritas para orquestra; e Imagens (1912), composta para piano.

Além de Debussy, alguns outros compositores escreveram peças no estilo impressionista.


Entre as obras mais significativas para o movimento, podemos destacar: Noches en Los
Jardines de España (Noites nos Jardins da Espanha) (1915), do compositor espanhol
Manuel de Falla (1876-1946); e I Pini di Roma (Os Pinheiros de Roma) (1924), do italiano
Ottorino Respighi (1879-1936).
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Figura 4 - Impression, Soleil Levant (Impressão, Nascer do Sol) (1872) de Claude
Monet, foi à tela que deu nome ao movimento impressionista na pintura

Fonte: https://www.mikechurch.com/wp-content/uploads/2013/10/monet-impression-sunrise.jpg

Ouça a obra L'Après-Midi d'un Faune (Prelúdio ao entardecer de um Fauno), de Debussy.


Tente descrever textualmente os elementos que tornam essa peça impressionista. Dis-
ponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Y9iDOt2WbjY>.

1.3 O Movimento Nacionalista no Século XX

O movimento nacionalista, que teve origem no período romântico, expande-se


exponencialmente no século XX, alcançando outros continentes e ganhando novos
simpatizantes. No continente americano, mas especificamente nos EUA, o nacionalismo

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ganhou a atenção de músicos como Charles Ives (1874-1954), que utilizou músicas
folclóricas, danças populares, marchas militares e hinos religiosos, em suas composições,
e Aaron Copland (1900-1990), que fez uso de canções dos vaqueiros estadunidenses
em seus balés, Rodeo (1942) e Billy the Kid (1938).

Figura 5 - O compositor húngaro Béla Bartók transcrevendo os materiais registrados


em suas pesquisas de campo

Fonte: https://media.gettyimages.com/photos/hungarian-composer-bela-bartok-revising-his-earlier-folk-mu-
sic-at-picture-id183976016

Na Europa, compositores como o bitânico Vaughan Williams (1872-1958), e os húngaros


Béla Bartók (1881-1945) e Zoltán Kodály (1882-1967), se dedicaram a uma abordagem
mais científica da música folclórica. Esses músicos constituíram pesquisas de campo em
comunidades rurais de seus respectivos países e nações vizinhas, registrando canções
e danças folclóricas. Após isso, de volta a seus gabinetes, transcreviam as músicas, e
faziam um estudo sistematizado das figurações rítmicas e dos contornos melódicos,

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que de forma geral, eram baseados em padrões de danças populares, e em escalas
pentatônicas e modais. Em algumas ocasiões, o material recolhido e analisado era
inteiramente utilizado por esses compositores em suas obras, e o caso da Sonatina (1915),
que foi baseada em melodias recolidas por Bartók na Romênia, mais especificamente
na Transilvânia, e Two Romanian Folk Dances (Duas Danças Folclóricas Romenas)
(1910). Os compositores Kodáli e Williams fizeram o mesmo nas suas Dances of Galánta
(Danças de Galánta) (1933) e Five Variants of Dives and Lazarus (Cinco variantes de
mergulhos e Lázaro) (1939) respectivamente. Todavia, Williams buscavam introduzir em
suas obras apenas alguns aspectos essenciais da música folclórica por ele registrada,
sem verdadeiramente fazer menção direta ao material original. Segundo o próprio Bartók,
o objetivo deles era identificar a essência dessa música, totalmente desconhecida nos
círculos acadêmicos, e fazer dela o alicerce para as composições. Belá Bartók foi um dos
compositores nacionalistas de maior relevância no século XX, juntamente com Kodáli,
constituiu-se como um dos fundadores da etnomusicologia. A influência da música
folclórica da Europa Central em suas composições pode ser nitidamente notada em
obras como: Dance Suite (Suite de Dança) (1923); Music for Strings, Percussion and
Celesta (Música para Cordas, Percussão e Celesta) (1936); e Sonata for Two Pianos
and Percussion (Sonata para dois pianos e percussão) (1937).

Além dos já citados, existiram outros compositores nacionalistas de relevância no


século XX, dentre eles estão o finlandês Jean Sibelius (1865-1957), e o russo Dmitri
Shostakovich (1906-1975). Sibelius se baseou em lendas e mitos escandinavos,
principalmente finlandeses, em várias de suas obras. Embora o compositor não usasse
diretamente o material folclórico em suas composições, a referência a sua terra natal
estava, de certa maneira, sempre presente nelas, como no poema sinfônico Finlândia
(1900). Já Shostakovich, se influenciou inteiramente pela cultura de seu país, e isso pode
ser comprovado pelas obras que escreveu. Suas composições mais representativas
do movimento nacionalismo russo são suas quinze sinfonias, várias delas relatam
acontecimentos históricos da Rússia, como por exemplo: a Sinfonia nº 7, Leningrado
(1941); a Sinfonia nº 11, o ano de 1905 (1957); e a Sinfonia nº 12, o ano de 1917 (1961).

Vamos ouvir a Music for Strings, Percussion and Celesta (Música para Cordas, Percussão e
Celesta) (1936) do compositor húngaro Belá Bartók. Tente reconhecer a influência folclórica
nesta obra. Disponível em:<https://www.youtube.com/watch?v=ueMZGwp1iWE>.

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1.4 A Influência do Jazz

Muitas correntes estéticas na música do século XX foram influenciadas pela música


popular, entre os gêneros urbanos mais influentes, está o Jazz. Vários compositores
absorveram elementos provindos do Jazz, tais como: a acentuação rítmica sincopada;
as “blue notes”; uso das surdinas nos instrumentos de sopro; a ênfase nos instrumentos
de percussão; e a utilização de notas nos registros extremas, principalmente no agudo.

Figura 6 - O compositor estadunidense George Gershwin, que além de compor música


de concerto, também escreveu musicais para a Broadway e canções populares

Fonte: https://i.ytimg.com/vi/HwPRMDqvojQ/maxresdefault.jpg

Dentre os compositores que fizeram uso de elementos jazzísticos em suas obras,


podemos destacar: o francês Darius Milhaud (1892-1974), com o seu balé La Création
du monde (A Criação do mundo) (1923); o estadunidense George Gershwin, em seus
Piano Concerto in F (Concerto para Piano em Fá Maior) (1925), An American in Paris (Um

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Americano em Paris) (1928), e Rhapsody in Blue (1924); e o russo Ígor Stravinski, com
seu Ragtime for Eleven Instruments (1918), e a L'Histoire du soldat (O Conto do Soldado)
(1918). Outros compositores que enfatizaram, em menor proporção, a influência do Jazz
em algumas de suas obras foram: o britânico William Walton (1902-1983); o francês
Maurice Ravel (1875-1937); o estadunidense Aaron Copland (1900-1990); e o alemão
Kurt Weill (1900-1950), dentre outros.

Ouça a peça para piano e orquestra, Rhapsody in Blue Rhapsody in Blue, do compositor
estadunidense George Gershwin. O próprio compositor descreveu essa obra com “peça de
concerto de inspiração jazzística”. Tente enumerar os elementos de Jazz que você consegue
identificar ao ouvir a composição. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=ss-
2GFGMu198>.

RESUMO

Nesta Unidade, ponderar sobre algumas correntes estéticas fundamentais na música do


século XX, dentre eles, o estilo impressionista, o movimento nacionalista, e a influência
do Jazz na música de concerto. Com a intenção de gerar uma imersão inicial, começamos
com um texto introdutório sobre a música do século XX, para em seguida, abordar os
movimento e estilos propriamente ditos. Buscamos ao término de cada assunto, traçar
uma reflexão entre a teoria, disposto no texto apresentado, e a composição musical.
Apreciar as peças, cuidadosamente selecionadas, é fundamental para o enriquecimento
da sua aprendizagem. Os links empregados neste texto têm o propósito de complementar
à construção do conhecimento, bem como, tornar lúdico o processo de aprendizagem.
Acima de qualquer coisa, estamos empenhados em contribuir para o seu desenvolvimento
intelectual, e a sua formação acadêmica, com a finalidade capacitá-lo a modificar a
realidade do nosso estado, e talvez do país.

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BARTÓK, Belá. Music for Strings, Percussion and Celesta. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=ueMZGwp1iWE>.

BRITTEN, Benjamin. War Requeim. Disponível em: <https://www.youtube.com/


watch?v=625WOYzdvFw>. Acesso em: 29 maio 2018.

DEBUSSY, Claude. L'Après-Midi d'un Faune. Disponível em: <https://www.youtube.


com/watch?v=Y9iDOt2WbjY>. Acesso em: 29 maio 2018.

GERSHWIN, George. Rhapsody in Blue. Disponível em: <https://www.youtube.com/


watch?v=ss2GFGMu198 >. Acesso em: 29 maio 2018.

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2 O SURGIMENTO DA ATONALIDADE

OBJETIVOS

Compreender o que é a técnica politonal;


Analisar como surgiu a música atonal no século XX;
Identificar as particularidades do estilo expressionista; e,
Entender o que caracteriza a música pontilhista.

Nesta Unidade, procuraremos estudar alguns estilos musicais, correntes estéticas,


e técnicas composicionais utilizados pelos músicos do século XX. Analisaremos as
peculiaridades inerentes a cada um, bem como, apreciaremos composições relevantes
como exemplos.

2.1 A Técnica Politonal

Discutindo o sistema tonal, costumamos afirmar que uma determinada peça está em
certo tom. Isto é, a obra musical foi composta, tendo como base uma escala maior ou
menor. Por exemplo, uma composição escrita em Dó Maior, terá como polo de atração a
nota Dó, que é a tônica da escala, e todas as outras notas lhe serão “submissas” e terão
menos importância.

No início do século XX, alguns compositores, começaram a fazer experiências com


a sobreposição de diferentes tonalidades na mesma peça, a isso se deu o nome de
politonalidade. As obras politonais apresentavam, concomitantemente, dois ou mais tons,
quando havia apenas dois, empregava-se o termo bitonalidade. Existem muitos exemplos
de música politonal no século XX, dentre elas, podemos citar: alguns trechos dos balés

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Petrushka (1911) e Le Sacre du printemps (A Sagração da Primavera) (1913), ambas
do compositor russo Igor Stravinsky (1882-1971); o Bolero (1928) do músico francês
Maurice Ravel (1875-1937), nesta obra acontece a sobreposição de três tonalidades
simultâneas, Dó Maior, Mí Maior e Sol Maior, o que pode ser constatado na terceira
apresentação do tema; e o segundo movimento, intitulado Putnam’s Camp, da obra
orquestral Three Places in New England (Três Lugares na Nova Inglaterra) (1914), do
estadunidense Charles Ives (1874-1954), nesta parte da peça, Ives simula o que seriam
duas bandas marciais tocando juntas, mas em diferentes tonalidades.

Figura 7 – O compositor russo Igor Stravinsky, que fez uso da técnica politonal em
algumas de suas obras

Fonte: https://i.ytimg.com/vi/bdiyCf7RdyI/maxresdefault.jpg

Ouça o balé Le Sacre du printemps (A Sagração da Primavera) (1913), de Stravinsky.


Tente perceber em que momentos duas ou mais tonalidades são sobrepostas. Disponível
em:<https://www.youtube.com/watch?v=5UJOaGIhG7A>.

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2.2 A Música Atonal

O termo atonalidade, significa ausência de tom. A música atonal, nega a tonalidade, e


busca a qualquer custo evitar a polarização de uma determinada nota, fazendo o uso
irrestrito de todas as 12 notas da escala cromática. Sendo assim, todas as notas têm
igual importância, e deixa de acontecer qualquer tipo força de atração entre elas. O
surgimento do atonalismo foi acarretado pela ampliação da harmonia cromática, nascida
ainda no período romântico. Compositores como Franz Liszt (1811-1886), Richard Strauss
(1864-1949), Max Reger (1873-1916), Alexander Scriabin (1871-1915), e principalmente
Richard Wagner (1813-1883), já haviam, de certo modo, esgotado todo o potencial do
sistema tonal, com o uso de tétrades com muitas notas de tensão, modulações a tons
afastados, e movimentos cromáticos entre os acordes. Ao ouvirmos certas obras, de
qualquer um desses músicos, a harmonia cromática presente nelas, muitas vezes, nos
leva a perder a noção de centro tonal. Isso conduziu gradativamente ao enfraquecimento,
e posterior destruição da tonalidade, que orientou os compositores ocidentais por mais
de três séculos.

Como vimos anteriormente, Debussy, negava a tonalidade por outros caminhos. Usando
progressões harmônicas em movimentos paralelos, escolhendo os acordes pela sua
“cor” (sonoridade), ignorando totalmente as funções tonais e os campos harmônicos, e
utilizando escalas simétricas, como a de tons inteiros, por exemplo. Tudo isso, também
contribui bastante para o enfraquecimento do sistema tonal maior-menor.

Podemos observar que todos esses procedimentos, que se iniciaram no Romantismo,


levaram ao surgimento do atonalismo no século XX. Posteriormente, a música atonal se
tornaria a essência do estilo expressionista, como veremos a seguir.

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Figura 8 – O compositor austríaco Arnold Schönberg, dando aulas em uma classe de
composição nos EUA

Fonte: https://www.wien.info/media/images/arnold-schoenberg-unterrichtend-los-angeles-1940er-jahre-19to1.jpeg

Agora vamos ouvir uma obra atonal, Pierrot Lunaire (Pierrot ao luar) (1912), do compositor
austríaco Arnold Schönberg. Tente descreve a forma como a soprano interpreta a sua
parte. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=CPb2X9E6gVg>.

2.3 A “Segunda Escola de Viena” e o Estilo Expressionismo

O expressionismo, assim como o estilo impressionista, também se inspirou nas artes


visuais. A corrente expressionista na pintura surgiu em Viena, capital da Áustria, no início
do século XX. A estética do movimento se caracterizava pelo uso de cores saturadas e
pinceladas grosseiras. Os artistas dessa corrente tentavam expressar, as experiências,

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e os estados de espírito mais íntimos do seu humano, em suas telas. Temas comuns
entre os pintores expressionista eram: o medo, o subconsciente, e os estados mentais.

Figura 9 – Blue Self Portrait (1910), autorretrato de Arnold Schönberg

Fonte: https://i.pinimg.com/originals/73/ae/77/73ae773145694ff9590c02175c7e3165.jpg

O estilo expressionista na música surge como uma espécie de “distorção” do romantismo


tardio, onde os compositores expressavam seus anseios mais íntimos e intensos, por
através das obras. Dentre os músicos mais representativos do estilo expressionista estão
os compositores austríacos: Arnold Schönberg (1874-1951); Alban Berg (1885-1935); e
Anton Webern (1883-1945). Berg e Webern eram alunos de composição de Schönberg,
que também era pintor. Esse grupo de compositores seria, mais tarde, conhecido como
a “Segunda Escola de Viena”, em referência a primeira escola, que era formada por
Haydn, Mozart e Beethoven.

No primeiro momento, o expressionismo fez uso da harmonia cromática, herdada do


romantismo, migrando posteriormente para o atonalismo, e depois para o serialismo. A
música expressionista se caracterizava pelo cromatismo, pelas melodias não lineares,

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isto é, com muitos saltos, pelos contrastes dramáticos de dinâmica, indo de um pianíssimo
diretamente para um fortíssimo por exemplo, e pelo uso de registros extremos nos
instrumentos. Uma das obras mais significativas, desta fase do expressionismo, é o
sexteto de cordas Verklärte Nacht (Noite Transfigurada) (1899) de Schönberg. Em 1908,
o compositor escreve o seu String Quartet Nº. 2 (Segundo quarteto de cordas), onde
no terceiro movimento, foi incluída uma soprano. Entretanto, é no quarto movimento
que Shöenberg leva o expressionismo para uma nova fase, ao abandonar a harmonia
cromática das partes anteriores, e se entregar ao atonalismo. Alguns versos cantados
pela soprano, neste movimento, remetem diretamente ao novo momento: “Ich fühle luft
von anderem planeten.” (Eu sinto ar de outro planeta.); e “Ich löse mich in tönen, kreisend,
webend,” (Eu me dissolvo em tons, circulando, tecendo,). Além dás já citadas, existem
outras peças relevantes para o estilo expressionista, são elas: Fünf Orchesterstücke
(Cinco Peças para Orquestra) (1909), de Shöenberg; a ópera Wozzeck (1925), e Drei
Orchesterstücke (Três Peças para Orquestra) (1915), ambas de Berg; e Five Pieces for
orchestra (Cinco Peças para Orquestra) (1913), de Webern.

Figura 10 – Os compositores da “Segunda Escola de Viena”, da direta para a


esquerda, Anton Webern, Arnaldo Schöenber e Alban Berg

Fonte: https://pictures.abebooks.com/TWOGCE/1487052667.jpg

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Ouça o sexteto de cordas Verklärte Nacht (Noite Transfigurada) de Schönberg. Tente
observar quais características dessa obra, se assemelham a música de Wagner. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=5h5Xc-rUef4>.

2.4 Webern e o Pontilhismo

Existem algumas características que distinguem as obras de Anton Webern, das de seu
professor, Shöenberg, e de seu colega, Berg. As composições de Webern tendem a ser bem
mais curtas, e nelas, todos os instrumentos são solistas, em geral, executando notas isoladas.
O resultado sonoro é uma textura rarefeita, e pontilhista, nas palavras do compositor russo
Ígor Stravinski “como o cintilar dos diamantes...”. Esse estilo criado por Webern tem sido
bastante comparado com os quadros dos pintores pontilhistas, como os franceses Georges
Seurat e Paul Signac, por exemplo. Esses artistas, ao invés de usar pinceladas bem definidas
e delineadas, preferiam lançar sobre suas telas, inúmeros pontinhos minúsculos.

Figura 11 – O Sena e la Grande Jatte (O Sena e a Grande Jatte) (1888), tela


pontilhista do pintor francês Georges Seurat

Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/thumb/9/96/Georges_Seurat_026.jpg/800px-
Georges_Seurat_026.jpg

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Procure ouvir a peça Five Pieces for orchestra (Cinco Peças para Orquestra) do compositor
austríaco Anton Webern. Repare como os instrumentos da orquestra são trabalhados
pelo compositor. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=reqqQ-kBJQ0>.

RESUMO

Nesta segunda Unidade, procuramos conhecer algumas técnicas e estilos praticados


pelos compositores do século XX. Entre eles, abordamos a Politonalidade, a Atonalidade,
o Expressionismo, e o Pontilhismo. Com a intenção de enriquecer o conhecimento sobre
essas correntes estéticas, destacamos alguns dos músicos e obras mais representativos
em casa uma delas. Além disso, selecionamos peças relevantes para a apreciação,
buscando continuamente a relação entre a teoria, e a prática dos compositores, com
objetivo de tornar a aprendizagem significativa.

SCHÖNBERG, Arnold. Pierrot Lunaire (Pierrot ao luar). Disponível em: <https://www.


youtube.com/watch?v=CPb2X9E6gVg>. Acesso em: 31 maio 2018.

_____. Verklärte Nacht (Noite Transfigurada). Disponível em: <https://www.youtube.


com/watch?v=5h5Xc-rUef4>. Acesso em: 31 maio 2018.

STRAVINSKY, Igor. Le Sacre du printemps (A Sagração da Primavera). Disponível em:


<https://www.youtube.com/watch?v=5UJOaGIhG7A>. Acesso em: 31 maio 2018.

WEBERN, Anton. Five Pieces for orchestra (Cinco Peças para Orquestra). Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=reqqQ-kBJQ0>. Acesso em: 31 maio 2018.

Licenciatura em Música | 22
3 O SERIALISMO E OUTRAS ESTÉTICAS

OBJETIVOS

Compreender os fundamentos do Serialismo Dodecafônico;


Analisar as características do movimento Neoclássico;
Investigar o surgimento de novos timbres na música do século XX; e,
Entender o que é a Música Concreta.

Nesta terceira Unidade, iremos conhecer algumas outras correntes estéticas da música do
século XX. Além disso, vamos analisar algumas técnicas composicionais praticadas pelos
músicos modernos. Estudaremos as características fundamentais de cada movimento,
bem como, buscaremos apreciar algumas obras representativas historicamente.

3.1 O Serialismo Dodecafônico

Após certo período, tendo rompido definitivamente com o sistema tonal, e se entregue ao
atonalismo, Arnold Shöenberg decidiu que necessitava que algum princípio organizacional
que norteasse a composição de suas peças, e que de certa forma, substituísse a
tonalidade. Como um compositor formado na tradição austro-germânica, Schöenberg
precisava encontrar algum procedimento composicional que proporcionasse unidade,
coerência e alguma redundância as suas obras atonais. Depois de muita pesquisa e
reflexão, o músico criou o serialismo dodecafônico ou dodecafonismo.

A técnica de composição dodecafônica consiste na ordenação das 12 notas da escala


cromática, em uma sequência escolhida pelo compositor, a esse conjunto de alturas dá-
se o nome de Série Original (1), pois ela é à base de toda a composição. Na música
dodecafônica todas as notas da série possuem a mesma importância, e nenhuma delas

Licenciatura em Música | 23
pode surgir fora da ordem previamente estipulada, ainda que a mesma nota possa se
repetir seguidamente. Além disso, as notas da série podem aparecer em qualquer oitava.
Outras três sequências derivam-se da série original, são elas: a Retrograda, a Invertida,
e a Retrograda Invertida. A Série Retrograda (2), nada mais é, do que a serie original
de trás para frente. Enquanto a Série Invertida (3) é a inversão dos intervalos da série
original, isto é, se a original inicia com um salto de 5ª justa ascendente, a invertida vai
começar com o mesmo intervalo, só que descendente. Por fim, a Série Retrograda
Invertida (4), é apenas a invertida lida de trás para frente. Vejamos os exemplos a seguir.

Figura 12 – Quadro com as séries, original, retrograda, invertida e retrograda invertida

Fonte: https://bustena.files.wordpress.com/2014/03/tonerowscale.jpg

Ainda existe a possibilidade de cada uma dessas séries serem transpostas a qualquer
nota da escala cromática, mas não vamos nos aprofundar nessas transposições, pois essa
não é uma disciplina de composição musical. Essas séries são utilizadas horizontalmente
pelos compositores para a construção de melodias, e verticalmente para a formação de
acordes. De forma geral, as séries só apresentam ao compositor, as alturas a serem
empregadas, cabe a ele usar a sua habilidade e criatividade, para construir motivos,

Licenciatura em Música | 24
membros de frases, frases, períodos, seções, formas musicais, “acordes”, “progressões
harmônicas”, contrapontos, células rítmicas, texturas e a instrumentação.

Uma das primeiras peças compostas por Schöenberg, empregando o serialismo


dodecafônico foi a Variations for Orchestra (Variações para Orquestra) (1928). Os alunos de
composição de Shöenberg, Webern e Berg, também foram atraídos para dodecafonismo
pelo seu professor, todavia, trabalhavam com o serialismo de forma distinta entre si. Berg,
por exemplo, era quem tinha a abordagem menos rígida, usava as notas muitas vezes,
fora da ordem serial, além de utilizar outros materiais motívicos, afora as restritas séries
predefinidas. De acordo com as suas necessidades composicionais, Berg ordenava as
alturas de suas séries de forma que tornasse possível a construção de acordes típicos
do sistema tonal. Uma obra séria e relevante de Berg é o seu Violin Concerto (Concerto
para Violino) composto em 1935. No último movimento da peça, Berg faz um tributo ao
compositor alemão do período Barroco, Johann Sebastian Bach, ao inserir um trecho
do coral intitulado Es ist genug (É o suficiente). A forma como Berg funde as séries
dodecafônicas, com acordes característicos do sistema tonal, tem sido o principal motivo
que torna as suas composições mais acessíveis aos ouvintes não especialistas.

Se Berg era o mais flexível, Webern certamente era o mais radical, entre os compositores da
“segunda escola de Viena”, no trato com o serialismo dodecafônico. A maior preocupação
do compositor era a de construir estruturas planejadas matematicamente, organizadas
em proporções equilibradas, e formalmente simétricas. Existem teorias que supõem que
Webern se inspirava em formas presentes na natureza, no arquétipo de algumas flores,
e na concepção de certos cristais. Suas obras mais representativas do dodecafonismo
são: a Symphony (Sinfonia) (1928); Quartet for violin, clarinet, tenor saxophone and
piano (Quarteto para Violino, Clarineta, Saxofone Tenor e Piano) (1930); e o Concerto for
Nine Instruments (Concerto para Nove Instrumentos) (1934).

Ouça uma das obras seriais mais significativas do compositor Alban Berg, o seu Violin
Concerto (Concerto para Violino) (1935). Observe como Berg mistura técnicas seriais,
com elementos típicos da música tonal. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=wckEFGK2q1s>

Licenciatura em Música | 25
3.2 O Movimento Neoclássico

O Neoclassicismo é um movimento musical surgido no século XX, mas fortemente


influenciado pela música de períodos anteriores ao romantismo, e contra os excessos e
exageros do romantismo tardio. As texturas pesadas e densas, comuns no século XIX,
foram trocadas por texturas homofônicas e polifônicas inspiradas na música de épocas
anteriores. O estilo de composição neoclássico valorizava a razão em detrimento da
expressividade emotiva, tão comum no estilo romântico.

Alguns compositores neoclássicos se influenciavam diretamente nos principais


músicos clássicos, como Haydn e Mozart. Apesar do termo “neoclassicismo” apontar
espontaneamente para o período clássico, outros artistas do movimento, voltaram ainda
mais no passado, e foram buscar inspiração em compositores barrocos como, Bach,
Händel, Purcell, e Monteverdi. Existiam ainda músicos como os britânicos: Vaughan
Williams (1872-1958), que se entusiasmou pela música modal de compositores
renascentista como Thomas Tallis (1505-1585); e Michael Tippett (1905-1998), que
obsorveu o estilo contrapontístico imitativo dos madrigais elisabetanos.

Como podemos constatar, o movimento neoclássico buscava absorver e reelaborar


estilos, técnicas de composição, gêneros e formas musicais pertencentes a outros
períodos anteriores ao romantismo. Dentre os gêneros do passado mais utilizado pelos
neoclassicistas estão: a toccata, a passacaglia, o concerto grosso, e a fuga. “Ritmos
motores”, inspirados no baixo continuo barroco, e a técnica do ostinato também eram
bastante apreciados pelos neoclássicos. Embora os compositores desta corrente
estética, buscassem suas referencias na música do passado, isso não impedia que
eles imprimissem os seus estilos particulares nas obras. Não obstante, nós podemos
encontrar elementos típicos da música do século XX nas composições neoclássicas, tais
como, melodias cromáticas, harmonia quartal e a politonalidade. A textura preferida dos
músicos deste movimento eram as polifônicas, com muito uso do contraponto imitativo,
e que verticalmente geravam acordes com muitas notas de tensão. A orquestração
neoclássica era bem enxuta, destinada a pequenas e médias formações, e primava pelo
contraste instrumental, com o uso frequente de instrumentos de sopros e percussão.

Entre as obras mais representativas do neoclassicismo, podemos destacar: o balé


Pulcinella (1911), Concerto for Piano and Wind Instruments (Concerto para Piano e

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Instrumentos de Sopro) (1923), e a Symphony of Psalms (Sinfonia dos Salmos) (1930),
todas de Stravinsky; o Piano Concerto (Concerto para Piano) (1945), Cello Concerto
(Concerto para Violoncelo) (1940), Violin Concerto (Concerto para Violino) (1939), e a
Konzertmusik for brass and string orchestra (Música de Concerto para Metais e Cordas)
(1930), todas do compositor alemão Paul Hindemith (1895-1963); o bále Les Biches
(Os Queridinhos) (1924), o Concert Champêtre (Concerto Pastoral) (1928), ambos do
compositor francês Francis Poulenc (1899-1963); a ópera The Love for Three Oranges
(O Amor por Três Laranjas) (1921), e a Symphony No. 1 (Primeira Sinfonia) conhecida
também como Classical Symphony (Sinfonia Clássica), ambas do compositor russo
Sergei Prokofiev (1891-1953). Segundo o próprio compositor, a Sinfonia Clássica foi
escrita “tal qual seria criada por Haydn, se ele estivesse aqui”.

Figura 13 - O compositor russo Sergei Prokofiev, um dos representantes do


neoclassicismo

Fonte: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/5/55/Sergei_Prokofiev_03.jpg

Ouça a Sinfonia Clássica de Prokofiev. Observe que elementos típicos do classicismo,


o compositor utilizou na obra. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=vGwW9ecNWEs>

Licenciatura em Música | 27
3.3 A Procura de Novos Timbres

Os compositores do século XX buscaram renovar as suas ideias, procuravam


incessantemente por novas referências, alguns encontraram na música oriental uma
nova fonte de inspiração. O músico francês Olivier Messiaen (1908-1992) por exemplo,
utilizou ritmos indianos da música hindu em suas obras. O compositor também se
inspirou no canto dos pássaros, tento registrado vários tipos de cantos, tanto do seu
país, quanto de outras partes do mundo. Depois de transcrito, esse material foi analisado
por Messiaen, e os padrões rítmicos e melódicos encontrados foram utilizados na
composição de obras como: Réveil des Oiseaux (Despertar dos pássaros) (1953) para
piano e orquestra; Oiseaux exotiques (Pássaros Exóticos) (1956) para piano e orquestra
de câmara; e Catalogue d’oiseaux (Catalogo dos Pássaros) (1958) uma coletânea de
treze peças escritas para piano, e baseadas em cantos de pássaros da França.

Figura 14 – O compositor francês Olivier Messiaen recolhendo o canto dos pássaros

Fonte: http://4.bp.blogspot.com/-9zy1JxS41B0/VLvfk_WZscI/AAAAAAAAAR4/5k_OBW7r_U8/s1600/
messiaen01.jpg

Licenciatura em Música | 28
Outro compositor que se influenciou bastante pela música do oriente foi o estadunidense
John Cage (1912-1992). Suas Sonatas e Interludes (1948) para o “piano preparado”
foram compostas numa tentativa de expressar a mágoa, a alegria, o medo, e a raiva,
emoções que Cage sentiu ao visitar a Índia. O compositor conseguiu criar uma nova gama
de sonoridades no piano, ao inserir em pontos estratégicos do interior do instrumento
uma série de objetos, tais como: nozes, correntes, parafusos, pedaços de borracha e de
plástico, entre outros. Esses itens podiam modificar o timbre, bem como, a afinação das
cordas do piano, causando sonoridades bem variadas, que muitas vezes, lembravam
instrumentos orientais como, sinos, gongos e tambores hindus.

Figura 15 – O compositor estadunidense John Cage, “preparando” o seu piano para


um concerto

Fonte: https://i.pinimg.com/originals/9e/e4/d2/9ee4d235951cc69c88caf7503dfafb53.jpg

Inúmeros compositores do século XX se entregaram a experiências semelhantes à de


Cage, com o objetivo de criar novos timbres, mesmo que de instrumentos convencionais.
Na peça Threnody to the Victims of Hiroshima (Treno para as vítimas de Hiroshima)
(1960), o compositor polonês Krzysztof Penderecki (1933 -) exige que os instrumentos

Licenciatura em Música | 29
de cordas sejam tangidos na região entre o cavalete e o estandarte, ou mesmo sobre o
estandarte, gerando um timbre ruidoso e áspero. Em outros momentos da obra, Penderecki
pede que o instrumentista golpeie a caixa de ressonância do instrumento com o talão
do arco, causando um timbre percussivo. Em sua obra intitulada St. Luke Passion (A
Paixão Segundo São Lucas) (1966), o compositor acrescenta, afora o canto tradicional,
sussurros, falas, brados e assobios. Como vários outros compositores contemporâneos,
Penderecki também utilizou clusters e os quatros de tom em suas obras.

Figura 16 – Partitura da obra Polymorphia (1961) do compositor polonês Krzysztof


Penderecki

Fonte: https://i.ytimg.com/vi/Wtq5iCxCIdU/maxresdefault.jpg

Vamos ouvir agora a obra Polymorphia, de Penderecki, conduzida por ele próprio. Observe os
diferentes timbres que Penderecki consegue extrair da orquestra de cordas. Disponível em:
<https://www.youtube.com/watch?v=vwImX18AS_E>.

Licenciatura em Música | 30
3.4 Schaeffer e a Música Concreta

Na década de 1940, o compositor francês Pierre Schaeffer (1910-1995) iniciou as suas


pesquisas e experiências nos estúdios da Rádio Francesa. Schaeffer criava composições
manipulando gravações feitas em fitas magnéticas, a esse estilo ele chamou de Musique
Concrète (música concreta), pois as peças eram criadas sem a abstração dos signos
musicais, de forma “concreta”, segundo o próprio compositor. O processo de composição
de Schaeffer começava com o registro eletrônico dos sons, que eram geralmente, sons
do cotidiano, como pessoas caminhando, o bater de uma porta, um ruído de trem etc.
Em seguindo, as gravações eram transferidas para outras fitas, onde os sons eram
manipulados e modificados de inúmeras formas. Algumas das principais técnicas
utilizadas por Schaeffer eram: a alteração na altura do som, isso podia ser alcançado
aumentando ou diminuindo a velocidade de rotação da fita, quanto mais rápido, mais
agudo o som se tornava, e vice-versa; e a inversão dos sons, quando a fita era “tocada”
de trás para frente. O último processo era a ordenação, em uma fita “master”, dos sons
já modificados em estúdio, o resultado final era a peça de música concreta, que poderia
ser ouvida sem a intervenção de um músico executante.

Figura 17 – O compositor francês Pierre Schaeffer nos estúdios da Rádio Francesa,


onde trabalhava

Fonte: http://2.bp.blogspot.com/--UuQi-5Q4Fg/VdcvmBWvB4I/AAAAAAAA6qI/f46aIXou2pk/s1600/
maxresdefault.jpg

Licenciatura em Música | 31
Que tal ouvirmos os Cinq études de bruits (Cinco Estudos de ruídos) (1948). Essa foi à primeira
coleção de peças de música concreta compostas por Schaeffer. Tentem listar que sons do
cotidiano você consegue identificar ao ouvir a obra. Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=CTf0yE15zzI>.

RESUMO

Nesta terceira Unidade, procuramos conhecer alguns estilos, e correntes estéticas da


música do século XX. Além disso, nós nos dedicamos à análise de certo número de
técnicas de composição empregadas pelos compositores modernos. Preocupados
em tornar a experiência rica e profunda, sugerimos algumas obras de compositores
representativos em cada estética abordada. Contudo, esperamos que o aluno, não se
limite apenas a apreciar as peças selecionadas, e procure conhecer outras composições
e compositores além dos citados no texto. Adentrar no conhecimento sobre a música
moderna é fundamental para a nossa formação, e consequentemente, ouvir música de
qualidade artística é sempre interessante.

BERG, Alban. Violin Concerto (Concerto para Violino). Disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=wckEFGK2q1s>. Acesso em: 5 jun. 2018.

PENDERECKI, Krzysztof. Threnody to the Victims of Hiroshima (Treno para as vítimas


de Hiroshima). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=Pu371CDZ0ws>.
Acesso em: 5 jun. 2018.

PROKOFIEV, Sergei. Symphony No. 1 (Primeira Sinfonia). Disponível em: <https://www.


youtube.com/watch?v=vGwW9ecNWEs>. Acesso em: 5 jun. 2018.

SCHAEFFER, Pierre. Cinq études de bruits (Cinco Estudos de ruídos). Disponível


em: <https://www.youtube.com/watch?v=CTf0yE15zzI>. Acesso em: 5 jun. 2018.

Licenciatura em Música | 32
4 A MÚSICA ELETRÔNICA E A ALEATÓRIA

OBJETIVOS

Compreender como surgiu a Música Eletrônica;


Analisar as técnicas do Serialismo Total;
Entender o que é a Música Aleatória; e
Identificar as principais características da Música do Século XX.

Nesta quarta e última Unidade, iremos conhecer algumas das principais correntes
estéticas do século XX, como a música eletrônica e a aleatória. Do mesmo modo,
iremos analisar as técnicas empregadas no serialismo total, e ainda faremos uma breve
síntese, apresentando alguns das características mais comumente encontradas nas
obras modernas. Como de costume, abordaremos os conceitos teóricos, bem como,
apreciaremos obras expressivas historicamente.

4.1 O Surgimento da Música Eletrônica

A música eletrônica surgiu na Alemanha, durante a década 1950. O material “original”


utilizado pela música eletrônica poderia tanto ser sons gravados previamente por
microfones, como na música concreta, quanto aqueles gerados eletronicamente em
estúdio. Os equipamentos responsáveis pela criação artificial de sons eram os osciladores
eletrônicos, os sons produzidos poderiam ser “puros”, isto é, sem as parciais da série
harmônica, ou “impuros”. Outro tipo de som muito utilizado pelos compositores da música
eletrônica era o “ruído branco”, que é formado pela soma de todas as frequências audíveis
ao ouvido humano.

Licenciatura em Música | 33
Após os sons serem registrados, previamente gravados ou gerados eletronicamente, os
compositores passavam a manipulação eletrônica dos mesmos. Existiam várias formas
de modificar os sons em estúdio, dentre elas, as mais utilizadas nessa época eram:
alterações no volume; filtragem de frequências; e a adição de vibratos, reverberação
e ecos. Os sons já modificados podiam ser misturados, fragmentados ou repetidos
incessantemente, formando ostinatos. Muitas técnicas de manipulação dos sons, criadas
pela música concreta, também foram utilizadas pelos compositores da música eletrônica,
tais como, a inversão, e a alteração de altura, mas diferentemente de Schaeffer, os
músicos alemães faziam essas modificações eletronicamente, e não, mas em fitas
magnéticas.

Uma peça de música eletrônica podia ser composta utilizando-se de sons gerados
eletronicamente em estúdio, de sons “naturais” pré-gravados, ou da mistura de ambos. A
composição finalizada em estúdio poderia ser “tocada” mecanicamente para público, ou
o compositor poderia manipular os sons “em tempo real” em frente à plateia. Existia ainda
a possibilidade, em concertos ou estúdio, de se juntar sons eletrônicos e instrumentos
convencionais, esses instrumentos poderiam ser modificados eletronicamente ou não.

O alemão Karlheinz Stockhausen (1928-2007) foi um dos compositores mais


representativos da música eletrônica. Stockhausen criou várias obras relevantes, dentre
elas, podemos citar: Kontakte (Contatos) (1960) para sons eletrônicos, piano e percussão;
Telemusik (1966); Mikrophonie I (Microfone 1) (1964) para gongo, dois microfones, dois
filtros e dois potenciômetros; e Gesang der Jünglinge (Canção dos Jovens) (1956), nesta
peça, o compositor combina a voz de uma criança com sons eletrônicos. Outras obras
relevantes são: Visage for tape (1961); e. Como una ola de fuerza y luz (Como uma onda
de força e luz) (1972), dos compositores italianos Luciano Berio (1925-2003) e Luigi de
Nono (1924-1990) respectivamente. Atualmente, o rótulo “Música Eletrônica” caiu em
desuso, sendo substituído pelo termo “Música Eletroacústica”.

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Figura 18 – O compositor alemão Karlheinz Stockhausen manipulando os sons no
estúdio

Fonte: https://i.ytimg.com/vi/EqsDLMii8gk/maxresdefault.jpg

Ouça a peça Gesang der Jünglinge (Canção dos Jovens), de Stockhausen. Tente
distinguir os sons eletrônicos, da voz infantil. Disponível em: <https://www.youtube.
com/watch?v=nffOJXcJCDg>.

4.2 A Técnica do Serialismo Total

O primeiro a estender o uso das séries a outros parâmetros musicais foi o músico francês
Olivier Messiaen. Em 1949, o compositor escreveu a peça para piano Mode de valeurs et
d’intensités (Modo de valores e intensidades) na qual, serializou não apenas as alturas,
mas também o ritmo, a dinâmica e a articulação das notas. Essa experiência levou
Messiaen e seus, na época, alunos de composição, Stockhausen e Boulez, a investir
em experimentos serializando diversos elementos de suas obras. A ideia era aplicar
os preceitos da técnica dodecafônica de Shcöenberg, e serializar as alturas, o ritmo,

Licenciatura em Música | 35
a dinâmica e a articulação em conjuntos de 12 elementos cada, a esse procedimento
deu-se o nome de Serialismo Total. O francês Pierre Boulez (1925-2016) foi o primeiro
compositor a escrever uma obra completa usando a técnica, a Structures II (Estruturas
II) (1961) para dois pianos. Outra peça significativa, que também utilizou esse processo
composicional é Gruppen (Grupos) (1957), que foi composta por Stockhausen para três
orquestras, cada uma com seu próprio regente.

Tempos depois, o compositor Stockhausen concluiu que a técnica serial poderia ser
utilizada para controlar quaisquer aspectos do som.

Figura 19 – Pierre Boulez e Olivier Messiaen, compositores pioneiros no uso do


serialismo total

Fonte: https://www.limelightmagazine.com.au/wp-content/uploads/2016/01/Pierre-Boulez-and-Olivier-009.jpg

Ouça a peça Gruppen, de Stockhausen. Observe como as três orquestras se relacionam


entre si. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=34_SfP7ZCXA>.

Licenciatura em Música | 36
4.3 A Liberdade da Música Aleatória

Enquanto muitos compositores procuravam controlar o máximo de elementos da


composição musical, como no serialismo total e na música eletrônica, as peças de música
aleatória buscavam exatamente o contrario, ou seja, dar maior liberdade ao executante,
fazendo uso do inesperado. O compositor poderia utilizar dessa imprevisibilidade, tanto
no processo composicional, quanto na execução da obra, ou ainda, nos dois momentos.
Em composições de música aleatória, o interprete pode ser levando a escolher que notas
tocar, em outros casos, as alturas podem ser indicadas, mas o ritmo não, e vice-versa. O
compositor também pode se utilizar do improviso, deixando que o executante contribua
com a composição da peça. Alguns músicos não utilizam a partitura convencional para
suas composições aleatórias, preferindo o uso de símbolos, diagramas, desenhos ou
apenas uma ideia escrita textualmente.

Compositores como John Cage e Karlheinz Stockhausen, usaram bastante os processos


aleatórios em suas peças. Cage, por exemplo, fez uso de 12 aparelhos de rádio,
sintonizados em diferentes estações, na obra Imaginary Landscape No. 4 (1951). Na
execução dessa composição, cada aparelho de rádio e operado por dois executantes,
um fica encarregado de sintonizar as estações, enquanto o outro controla o volume do
equipamento. O Concert for piano and orchestra (Concerto para Piano e Orquestra)
(1958) de Cage, pode ser executado de diferentes maneiras, como peça para piano solo,
como música de câmara, como sinfonia, ou ainda, como ária para soprano. Cabe aos
músicos, escolher que páginas da partitura tocar e, em que ordem. A condução da obra
é feita por uma contagem de tempo corrido, e o regente fica responsável por marcar o
andamento com os braços, como se fossem os ponteiros de um relógio. A Klavierstück
XI (Peças para Piano XI) (1953) de Stockhausen, foi composta em dezenove partes,
que podem ser executadas em qualquer ordem, cabe ainda ao pianista, escolher o
andamento, a dinâmica, e a articulação dentre seis tipos diferentes para cada. Em Zyklus
für einen Schlagzeuger (Ciclo para um percussionista) (1959) do mesmo compositor, o
instrumentista tem total liberdade para iniciar a execução da obra por qualquer parte
da partitura, que é em formato de espiral, pode ser no sentido horário, anti-horário, ou
mesmo de trás para frente.

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Stockhausen alargou as fronteiras da música aleatória, com o que ele chamou de “música
intuitiva”. No final da década de 1960, o compositor se recolheu por uma semana, em
total jejum, apenas meditando, desse momento de profunda reflexão existencialista,
surgiu à obra Aus den sieben Tagen (Dos Sete Dias) (1968), onde o músico desabafa:
“Desista de tudo, estávamos no caminho errado”.

Figura 20 – Os compositores Karlheinz Stockhausen e John Cage, que fizeram o uso


de procedimentos aleatórios em suas obras

Fonte: http://www.karlheinzstockhausen.org/img/Stockhausen_dvd_order_form.jpg?full=http://www.
karlheinzstockhausen.org/img/Stockhausen_dvd_order_form.large.jpg

Ouça a peça Zyklus für einen Schlagzeuger Schlagzeuger (Ciclo para um percussionista),
de Stockhausen. Veja se você consegue perceber a aleatoriedade da obra. Disponível
em: <https://www.youtube.com/watch?v=OAzrcdq4YPk>.

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4.4 As Principais Características da Música do Século XX

Se compararmos a música do século XX, com a de outros momentos da história da música,


podemos observar que em períodos anteriores é possível identificarmos um estilo, mais
ou menos comum, entre todos os compositores. Já no século XX, isso se torna mais
difícil, como vimos, a música deste momento histórico e uma enorme combinação de
diferentes tendências estéticas. Todavia, se nos esforçarmos um pouco, e analisarmos
quatro, dos mais importantes elementos da composição musical, podemos encontrar
algumas características, que irão nos ajudar a identificar uma obra como pertencente ao
século XX.

Normalmente, as melodias são pouco lineares, contêm muitos saltos, são bastante
cromáticas, curtas e fragmentadas. Bem diferentes, das longas e expressivas linhas
melódicas românticas. Os glissandos também são muito comuns. Algumas composições
podem não apresentar melodias.

As construções harmônicas apresentam muitos intervalos dissonantes. Em alguns casos,


os acordes podem ser formados por outras relações intervalares, além da sobreposição
de terças, como na harmonia quartal, e nos clusters, formados pela superposição de
segundas.

As figurações rítmicas apresentam muito o uso da sincope, além de métricas irregulares.


É comum, a utilização de compassos ímpares, como os de cinco, e sete, bem como, a
alternância entre eles. A polirritmia também é muito explorada, com diferentes padrões
rítmicos acontecendo simultaneamente, resultando numa espécie de contraponto rítmico.
As técnicas de ostinato, e os “ritmos motores” inspirados no baixo contínuo barroco, são
largamente empregados neste período.

No século XX, os compositores voltaram os seus olhares para o timbre com grande
interesse. Houve uma maior preocupação em pesquisar novos sons, e incluir diferentes
timbres nas composições. Os instrumentos de percussão ganharam um destaque, nunca
antes alcançado. Além disso, os músicos começaram a buscar formas de extrair novos
timbres de instrumentos convencionais, usando registros extremos, surdinas, e diferentes
efeitos. Do mesmo modo, surgiram novas sonoridades provenientes dos equipamentos
eletrônicos, utilizados na música concreta e eletrônica.

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Ouça a cantata Belshazzar’s Feast (A Festa de Baltazar), escrita em 1931 pelo compositor
britânico William Walton. Tente listar quais das características acima você identifica nesta
obra. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=5S7By7pDjJ4>.

RESUMO

Nesta última Unidade, nós tomamos conhecimento de algumas das características


presentes na música do século XX. Além disso, analisamos estilos, técnicas de
composição, movimentos e correntes estéticas. Esperamos que esse breve panorama
histórico da música do século XX tenha contribuído para o enriquecimento dos conceitos
teóricos, bem como, tenha aguçado o interesse pela apreciação de outros compositores
e obras representativas desse período.

STOCKHAUSEN, karlheinz. Gesang der Jünglinge (Canção dos Jovens). Disponível


em: <https://www.youtube.com/watch?v=nffOJXcJCDg>. Acesso em: 6 jun. 2018.

_______. Gruppen (Grupos). Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=34_


SfP7ZCXA>. Acesso em: 6 jun. 2018.

_______. Zyklus für einen Schlagzeuger (Ciclo para um percussionista). Disponível


em: <https://www.youtube.com/watch?v=OAzrcdq4YPk>. Acesso em: 6 jun. 2018.

WALTON, William. Belshazzar’s Feast (A Festa de Baltazar). Disponível em: <https://


www.youtube.com/watch?v=5S7By7pDjJ4>. Acesso em: 7 jun. 2018.

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