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PROFIBUS PA

Guia Rápido
Do projeto ao comissionamento

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Renato Silva1 Rodrigues
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Isenção de responsabilidade

Este livro tem por objetivo apresentar a tecnologia de forma simples, rápida e facilitada de tal maneira
que o usuário possa se aprofundar nos temas com uma bagagem técnica inicial consolidada, trata-se de uma
obra baseada nas normas técnicas e manuais de grandes empresas de automação do ramo, somado a
experiência do autor. Este livro não visa substituir as normas aplicáveis em cada âmbito das aplicações, e
qualquer divergências com as normas ou mesmo manuais técnicos de fabricante, deve-se sempre considerar
como verdadeiro o conteúdo das respectivas normas e fabricantes.
Sempre tenha as normas técnicas a disposição para a elaboração de projetos ou ações de instalação
e manutenção.

Copyright © 2021 Renato Silva Rodrigues


Todos os direitos reservados.

Por Renato Silva Rodrigues


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 2
1.1 Redes Fieldbus ................................................................................................... 2
1.2 O protocolo Profibus PA ...................................................................................... 2
2 O PROJETO .............................................................................................................. 3
2.1 Componentes da rede ......................................................................................... 3
2.1.1 Gateway ....................................................................................................... 3
2.1.2 Derivadores .................................................................................................. 5
2.1.3 Terminadores ............................................................................................... 9
2.1.4 Instrumentação .......................................................................................... 10
2.1.5 Cabo Fieldbus ............................................................................................ 11
2.2 Topologia base.................................................................................................. 12
2.3 Topologia para áreas classificadas ................................................................... 13
2.3.1 Topologia FISCO ....................................................................................... 13
2.3.2 Topologia Tronco de Alta Potência (HPT) .................................................. 16
2.4 Comprimento máximo da rede .......................................................................... 19
2.5 Quantidade máxima de dispositivos .................................................................. 20
3 A INSTALAÇÃO ....................................................................................................... 21
3.1 Encaminhamento de cabos ............................................................................... 21
3.2 Crimpagem ....................................................................................................... 23
3.3 Aterramento ...................................................................................................... 24
4 O COMISSIONAMENTO .......................................................................................... 28
4.1 Integração dos instrumentos ............................................................................. 28
4.1.1 GSD ........................................................................................................... 28
4.1.2 FDT/DTM e EDDL ...................................................................................... 31
5 MANUTENÇÃO DURANTE VIDA ÚTIL .................................................................... 33
5.1 Ruído ................................................................................................................ 34
5.2 Desbalanceamento ........................................................................................... 35
5.3 Nível de sinal..................................................................................................... 36
5.4 Jitter .................................................................................................................. 37
6 Bibliografia ............................................................................................................... 38

Por Renato Silva Rodrigues 1


1 INTRODUÇÃO

1.1 Redes Fieldbus


Em uma tradução livre, Fieldbus nada mais é do que a terminologia para “Redes de
Campo”. No mundo industrial, onde o Fieldbus é aplicado, estamos nos referindo as
diversas redes utilizadas para interligação da instrumentação (transmissores, atuadores e
outros dispositivos inteligentes) até o sistema de controle. Entre as diversas tecnologias
existentes, duas se destacam sobre a terminologia Fieldbus, o Foundation Fieldbus H1 e
o Profibus PA, ambas regidas sobre a mesma norma de camada física (IEC 61158-2).
Apesar da semelhança na instalação física, são dois protocolos de comunicação diferentes
e, portanto, diferem na forma de comunicação.
Neste guia iremos focar na aplicação do protocolo de comunicação Profibus PA, pois
no momento que este conteúdo está sendo desenvolvido, o Profibus PA tem se
apresentado como um protocolo que mais vem se expandindo no Brasil.

1.2 O protocolo Profibus PA


Desenvolvido nos anos 90, com a intenção de substituir a tecnologia 4-20mA+HART,
o protocolo Profibus PA é uma variante do protocolo Profibus DP, com seu meio físico
adaptado para os agressivos e extensos ambientes industriais, permitindo assim maior
imunidade à ruídos e longos comprimentos de cabos.
O Profibus PA permite a interligação de diversos instrumentos de campo com um
único par de fios para alimentação e comunicação, e tem como principais benefícios a
obtenção de maior quantidade de dados desses instrumentos em uma velocidade de
comunicação cerca de 30 vezes maior que o HART, além de maior precisão nas
informações que são recebidas nas devidas unidades de engenharia (ºC, bar, m³/h, etc.).
Assim como o Profibus DP, é utilizado o conceito mestre/escravo na comunicação
e existem dois tipos de mestres:
Mestre Classe I: Comunicação cíclica, com tempos definidos, usado para leitura
das variáveis de processo e acionamentos.
Mestre Classe II: Comunicação acíclica, sem tempos estabelecidos, usado para
parametrização e diagnóstico.

Neste guia você encontrará todo o conhecimento necessário para projetar, instalar
e comissionar uma rede Profibus PA do zero.

Por Renato Silva Rodrigues 2


2 O PROJETO
2.1 Componentes da rede
Para simplificar o entendimento da rede, gosto de dizer que o Profibus PA possui
apenas 3 componentes: Gateway, distribuidores e instrumentos.
Porém, aqui serei mais conservador, para inclusive, ser mais completo em minha
afirmativa. Portanto, digo que a rede Profibus PA possui não apenas 3 componentes, mas
sim 5, são eles:
- Gateway
- Distribuidores
- Instrumentos
- Terminadores de rede
- Cabo Fieldbus
Pode parecer trivial mencionar os terminadores e cabos, já que estão presentes em
praticamente todo tipo de rede, porém não mencioná-los seria um erro, visto que possuem
características únicas e especificas, que quando desprezadas podem gerar problemas de
comunicação.
Nos tópicos seguintes irei descrever e explicar a função de cada um deles, para só
então apresentar uma topologia típica e entendermos a rede por completo.

2.1.1 Gateway
Principal componente da nossa rede, presente sempre no início da topologia, o
gateway é o responsável por abrir um segmento Profibus PA a partir de uma rede de nível
superior como o Profibus DP ou Profinet. Ao menos até o momento que escrevo este guia,
não existe uma forma de obter o Profibus PA diretamente de um cartão de CLP, ele sempre
estará atrelado a alguma outra rede superior.
Os gateways são responsáveis não apenas por gerar o nível de sinal PA, mas
também por fornecer o nível de energia. Alguns fabricantes encapsulam as duas funções
em um único invólucro, outros preferem segregar.
Como dito anteriormente, o Profibus PA é uma variante do Profibus DP, portanto
quando falamos de uma conversão DP para PA, encontramos no mercado dois tipos de
gateways:

Links DP/PA
Conversor de protocolo Profibus DP para Profibus PA, onde o gateway se
apresenta ao mestre DP como um dispositivo final, com endereço próprio. O

Por Renato Silva Rodrigues 3


segmento Profibus PA aberto é visível apenas para o “Link DP/PA”, que coleta todas
as informações dos instrumentos e apresenta ao mestre DP.
Neste caso, se faz necessário fazer todo o mapeamento de memória dentro
do “Link”.
A imagem a seguir mostra a distribuição dos endereços DP e PA através de
uma arquitetura simples com uso do Link DP/PA:

Figura 1 - Topologia simples com Link DP/PA

Acopladores DP/PA
Conversor de protocolo Profibus DP para Profibus PA, onde o gateway é
invisível para o mestre DP, portanto não possui endereço próprio. O segmento
Profibus PA aberto é visível diretamente pelo mestre DP, dessa forma, os
instrumentos Profibus PA se apresentam ao mestre DP como se fossem
instrumentos DP.
Neste caso, deve-se adequar os arquivos GSD dos instrumentos para que
operem como instrumentos DP e então inseri-los na arquitetura como tal. Existem
softwares gratuitos que fazem essa conversão.
A imagem a seguir mostra a distribuição dos endereços DP e PA através de
uma arquitetura simples com uso do acoplador DP/PA:

Por Renato Silva Rodrigues 4


Figura 2 - Topologia simples com acoplador DP/PA

Importante observar que, como os instrumentos PA são vistos como DP pelo


mestre da rede, outros dispositivos conectados à rede Profibus DP não devem
possuir endereços conflitantes com os instrumentos instalados na topologia PA.

O acoplador DP/PA somente é possível pois o protocolo Profibus PA é uma variante


do Profibus DP. Quando precisamos abrir uma rede PA através de um protocolo diferente
como o Profinet ou Ethernet/IP, não é possível ter esse gateway invisível, e então
trabalhamos apenas utilizando o conceito de Links.

2.1.2 Derivadores
Os derivadores de campo, como o próprio nome diz, são responsáveis pela
distribuição dos cabos até os instrumentos. Eles não são componentes essenciais à rede,
porém são altamente recomendados por simplificar a instalação, distribuição dos cabos e
também devido a proteções adicionais que alguns modelos de mercado fornecem.
Você pode optar por instalar sua rede sem os derivadores e utilizar uma topologia
em linha (vide figura 3), essa é sem dúvida a forma mais econômica de instalação de uma
rede Fieldbus, entretanto é importante lembrar que o mesmo par de fios alimentará todos
os instrumentos, ou seja, se um deles for levado a um curto circuito ou for interrompido,
todos os outros instrumentos do segmento serão perdidos.

Por Renato Silva Rodrigues 5


Figura 3 - Segmento Profibus PA com Topologia linha

A fim de tornar a instalação mais segura e apropriada para intervenções durante


sua vida útil, a topologia “árvore” ou topologia “Tronco / Spur” passou a ser mais adotada
na indústria, e por este motivo o uso de derivadores passa a ser necessário (vide figura 4).

Figura 4 - Segmento Profibus PA com Topologia "tronco / spur"

Discutiremos melhor as topologias no tópico 2.2 deste guia. Até aqui, o importante
é entendermos porque os derivadores são importantes apesar de não serem
necessariamente obrigatórios em sua rede. A seguir, vamos entender as diferenças entre
3 tipos de derivadores existentes no mercado.

Por Renato Silva Rodrigues 6


Derivador simples
A versão mais básica dos derivadores de rede, nessa versão temos uma
simples caixa de derivação com bornes interligados, seja através de jumpers, seja
através de uma placa de circuito impresso.
Aqui você tem o benefício de remover ou instalar um instrumento sem a
necessidade de interromper o segmento de rede, em contrapartida, em caso de
curto circuito você ainda estará suscetível a perda de todo o segmento pela falha
de um único instrumento.

Figura 5 - Diagrama interno do derivador simples

Protetor de Segmentos
Podemos dizer que os protetores de segmentos são uma evolução natural
dos derivadores simples, pois essencialmente executam a mesma função na
topologia “tronco / spur”, entretanto temos diversos benefícios com essa tecnologia,
sendo a principal delas a proteção contra curto circuito! Dessa forma, além de
remover e instalar instrumentos sem a interrupção do segmento, você ainda estará
protegendo seus instrumentos caso algum deles venha a apresentar falha por curto
circuito.
Adicionalmente, alguns modelos de protetores de segmentos no mercado
protegem também contra problemas conhecidos como “Bouncing” (oscilações
durante a conexão/desconexão de instrumentos) e “Jabber” (Instrumentos com
falha de comunicação).

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Figura 6 - Diagrama interno do protetor de segmentos

Barreira de campo
Este tipo de derivador tem suas funções básicas similares ao protetor de
segmentos, porém seu diferencial está no baixo nível de energia disponibilizada nos
spurs, classificando seus canais como “intrinsecamente seguros” e assim
possibilitando o uso de instrumentos em áreas classificadas (ou atmosferas
potencialmente explosivas). Através da barreira de campo podemos utilizar uma
rede Profibus PA em áreas classificadas seguindo os conceitos da topologia
“Tronco de alta potência”, que veremos no tópico 2.3.2 deste guia.

Figura 7 - Diagrama interno da barreira de campo

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2.1.3 Terminadores
Todos os segmentos Profibus PA devem possuir dois terminadores, um no início da
rede, junto ao gateway, e outro no final na rede, instalado no último derivador. Este
terminador é composto basicamente de um resistor de 100ꭥ e um capacitor de 1µF em
série, e eles terão duas funções básicas:

1) Desvio de corrente de modulação:


Com o capacitor atuando como um filtro “passa alta”, apenas a forma de onda
referente a comunicação dos instrumentos passa pelo resistor. Os dois resistores
de 100ꭥ em paralelo cria um equivalente de 50ꭥ, que multiplicado pela corrente de
comunicação de aprox. 20mApp (sim! Os instrumentos se comunicam através da
variação da corrente e não da tensão) gera uma tensão resultante de 1Vpp. Agora
sim o gateway estará apto a reconhecer o sinal e transmiti-lo ao mestre DP.

2) Evitar reflexões de sinal:


Assim como em qualquer outra rede de comunicação, as altas frequências geram
reflexões no final de cada trecho de cabo, com o uso do terminador conseguimos
atenuar essas reflexões, que são grandes geradoras de ruídos.

Figura 8 - Detalhe da terminação de rede em uma topologia "tronco / spur"

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2.1.4 Instrumentação
A instrumentação é o elemento sensor ou atuador, elemento fim que desejamos
conectar e estabelecer comunicação com nosso CLP. O instrumento pode transmitir
diversas informações ao mestre como temperatura, pressão, vazão, fluxo ou mesmo atuar
um posicionador ou outros elementos, tudo vai depender da disponibilidade dos diversos
fabricantes de instrumentação para fornecer um dispositivo com comunicação Profibus PA.
Cuidado! Os protocolos Profibus PA e Foundation Fieldbus H1 compartilham do
mesmo meio físico, mas lembre-se que são protocolos diferentes, ou seja, seu transmissor
de pressão FF-H1 não irá funcionar em uma rede Profibus PA.

Figura 9 - Exemplo de instrumentação de campo

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2.1.5 Cabo Fieldbus
A norma IEC61158-2 especifica uma série de requisitos mínimos (comprimento,
bitola, indutância, capacitância, etc.) para os cabos utilizados em redes Fieldbus como o
Profibus PA. Os cabos são divididos em 4 tipos, A, B, C, D:

Comprimento
Tipo Descrição Secção
máx.

A Par trançado com malha de aterramento 0,80 mm² 1900 m

Multi cabo par trançado com malha de


B 0,32 mm² 1200 m
aterramento por par de cabo

Multi cabo par trançado sem malha de


C 0,13 mm² 400 m
aterramento

Multi cabo sem par trançado e apenas


D 1,25 mm² 200 m
malha de aterramento geral

O tipo mais comum na indústria é o “A”, e normalmente pode ser encontrado nos
principais fabricantes de cabos industriais através da denominação “Cabo Fieldbus tipo A”.
A cor da capa externa não é especificada pela norma, porém foi estabelecido um
padrão entre os usuários onde temos o laranja para aplicações em geral e a cor azul para
aplicações intrinsecamente seguras (a cor azul para esse tipo de aplicação é estabelecido
pela NBR IEC 60079-14).

Figura 10 - Exemplo cabo Fieldbus tipo A

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2.2 Topologia base
Todo o conteúdo apresentado na seção 2.1 deste guia permitirá que você
compreenda facilmente a topologia base da rede Profibus PA. Irei explorar apenas a
topologia “Tronco / Spur”, pois é largamente utilizada na indústria devido os benefícios
explicados na seção 2.1.2. Vamos ao diagrama base:

Figura 11 - Topologia base do Profibus PA

Pontos relevantes:
1) A rede Profibus PA sempre descenderá de outra rede superior (Profibus DP,
Profinet, Ethernet/IP, etc.) através de um acoplador ou Link (Gateway);

2) O cabo que conecta o gateway a todos os derivadores é chamado de cabo “Tronco”;

3) O cabo que conecta os instrumentos aos derivadores é chamado de cabo “Spur”;

4) A rede completa (Tronco + Spurs) é chamada de segmento de rede. Uma planta


pode ter inúmeros segmentos de rede para comportar todos os instrumentos;

5) Todo segmento de rede deve possuir duas terminações. Uma no início da rede junto
ao gateway e outra no último derivador. Não é necessário utilizar terminação nos
instrumentos nessa topologia;

Por Renato Silva Rodrigues 12


6) Cabo tipo Fieldbus em acordo com a IEC61158-2 é obrigatório! Cabo de
instrumentação comum é fisicamente parecido, mas tem características de
impedância, indutância e capacitância diferentes que afetam o bom funcionamento
da rede;

7) A somatória do comprimento dos cabos spur + tronco não devem ultrapassar


1900m (para cabo Fieldbus tipo A, vide seção 2.4);

8) Sempre se atente a máxima capacidade de corrente que a fonte do gateway é


capaz de fornecer ao segmento. Você deve somar não só o consumo dos
instrumentos, mas também o consumo dos distribuidores;

9) A tensão de saída do gateway não deve exceder 32Vcc. Alguns fabricantes


trabalham com valores levemente menores;

10) Se atentar a máxima quantidade de dispositivos (instrumentos) em cada segmento,


vide seção 2.5 para maiores detalhes;

2.3 Topologia para áreas classificadas


Uma das grandes vantagens do Profibus PA que permitiu que ele se difundisse tão
bem nas indústrias de processo foi a possibilidade de usá-lo dentro de áreas classificadas
(atmosferas potencialmente explosivas). Hoje existem basicamente duas topologias que
se destacam e que veremos a seguir.

2.3.1 Topologia FISCO


Na topologia FISCO (Fieldbus Intrinssically Safety COncept) temos uma condição
onde o gateway é responsável por limitar a energia do segmento, e assim garantir uma
instalação através do método de proteção “Segurança Intrínseca” (Ex i).
Vejamos a topologia utilizando um gateway com marcação [Ex ia]:

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Figura 12 - Topologia FISCO para Profibus PA

Os conceitos básicos utilizados na topologia base se mantem, com algumas


mudanças:
1) A fonte de alimentação do gateway possui limitação de tensão e corrente. Varia de
acordo com cada fabricante, mas os valores são em torno de 13Vcc e 100mA de
capacidade para fontes [Ex ia];

2) A baixa disponibilidade de corrente impede o uso de derivadores com proteção,


portanto apenas derivadores simples podem ser utilizados. Estes derivadores
devem atender as exigências da NBR IEC 60079-11;

3) A baixa disponibilidade de corrente também limita a quantidade de instrumentos em


campo, agora em torno de 8 a 10 instrumentos;

4) Comprimento máximo da rede cai para 1000m (somatória tronco + spurs para cabo
Fieldbus tipo A);

5) Comprimento máximo do spur cai para 30m;

6) A terminação de rede também deve atender a ABNT NBR IEC 60079-11;

Por Renato Silva Rodrigues 14


7) Capa externa do cabo Fieldbus na cor azul claro ou caso opte pelo uso de outras
cores, os cabos e dutos devem ser identificados por possuir circuitos em segurança
intrínseca;

8) É possível levar sua rede para dentro de uma área classificada Zona 0/20 e realizar
manutenções “à quente” sem risco de explosão. Lembre-se de verificar a marcação
Ex dos equipamentos (Gateways e instrumentos) e adequá-los de acordo com a
classificação da área;

Por Renato Silva Rodrigues 15


2.3.2 Topologia Tronco de Alta Potência (HPT)
As limitações impostas no uso da topologia FISCO impõe diversas dificuldades e
oneram os projetos de redes Profibus PA em área classificada. A topologia Tronco de Alta
Potência (High Power Trunk – HPT) permite a aplicação de uma topologia convencional
somada a proteção necessária para uso da rede em áreas classificadas.
O principal elemento da rede para se aplicar essa topologia é o derivador com
barreira de campo, que, conforme item 2.1.2 deste guia, irá abrir spurs com segurança
intrínseca incorporado (FISCO somente no Spur).
Vejamos a topologia:

Figura 13 - Topologia Tronco de Alta Potência para Profibus PA

Como podemos ver, esse conceito atende a aplicação em áreas classificadas,


mantendo a rede o mais próximo possível da versão convencional.
Vejamos os pontos mais relevantes:

1) Tronco da rede trafega alta tensão e corrente (aprox. 32Vcc / 500mA, de acordo
com o fabricante), portanto o gateway/fonte utilizado na topologia convencional e
no HPT são os mesmos;

2) O cabo tronco passa por dentro da área classificada (Até Zona 1/21) sem a
necessidade de um encaminhamento à prova de explosão (eletrodutos pesados e
unidades seladoras), porém toda prevenção para se evitar o rompimento do cabo
deve ser atendida conforme NBR IEC 60079-14;

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3) O cabo tronco e todos os dispositivos conectados a ele dentro da área classificada,
não permitem trabalhos “à quente”, incluindo as barreiras de campo, que
normalmente apresentam métodos de proteção do tipo Segurança Aumentada (Ex
e), Encapsulado (Ex m) ou similares para conexão do tronco;

4) Os spurs permitem manutenção à quente desde o conector na barreira de campo


até o instrumento;

5) Os terminadores de rede devem possuir marcação que atenda a classificação de


área presente, normalmente existem terminadores incorporados na própria barreira
de campo, facilitando a instalação e atendimento às normas;

6) Normalmente as barreiras de campo possuem Spurs com marcação [Ex ia], o que
permite instalação de instrumentos até em Zona 0/20 (verifique se a marcação do
instrumento permite seu uso nestes ambientes);

7) Capa externa do cabo dos spurs na cor azul claro ou caso opte pelo uso de outras
cores, os cabos e dutos devem ser identificados por possuir circuitos em segurança
intrínseca;

8) Capa externa do cabo tronco na cor laranja;

9) Comprimento máximo da rede (tronco + spurs) é de 1900m. Comprimento máximo


dos spurs FISCO é de 120m;

Como pudemos ver, ambas as topologias em áreas classificadas podem atender as


mais diversas demandas do mercado, cada uma com seus pontos fortes e fracos:

Pontos fortes do FISCO:


 Segmento 100% intrinsecamente seguro permite manutenção à quente em
qualquer ponto da instalação;

 Todo o segmento pode ser levado diretamente para uma área classificada Zona
0/20;

Pontos fortes do Tronco de Alta Potência:

Por Renato Silva Rodrigues 17


 Maior potência/energia no tronco permite maior número de instrumentos e
eletrônicas de proteção nos spurs, tudo isso com as devidas proteções Ex (não
apenas Exi, mas mix de métodos de proteção como Exe, Exd, Exm, etc);

 Maior comprimento de cabos (tronco e Spurs);

 Maior similaridade com a topologia convencional, permitindo uso de


instrumentos convencionais, à prova de explosão (Exd) e segurança intrínseca
(Exi) no mesmo segmento, mudando apenas o tipo de caixa de derivação;

Por Renato Silva Rodrigues 18


2.4 Comprimento máximo da rede
Abaixo veremos algumas tabelas com dados de comprimentos máximos aceitos
para cada segmento Profibus PA.

Comprimento total de acordo com o tipo de cabo Fieldbus usado:

Comprimento máx. total


Tipo Descrição
(Tronco + Spurs)

A Par trançado com malha de aterramento 1900 m

Multi cabo par trançado com malha de


B 1200 m
aterramento por par de cabo
Multi cabo par trançado sem malha de
C 400 m
aterramento
Multi cabo sem par trançado e apenas malha
D 200 m
de aterramento geral

Comprimento máximo dos spurs utilizando cabo Fieldbus tipo A (mais comum):

Comprimento total
Nº de Comprimento
Comprimento considerando a
instrumentos disponível para o
máx. do Spur quantidade máx. de
no segmento tronco
spurs

1-12 120 m 12 x 120 = 1440 m 1900 - 1440 = 460 m

13-14 90 m 14 x 90 = 1260 m 1900 - 1260 = 640 m

15-18 60 m 18 x 60 = 1080 m 1900 - 1080 = 820 m

19-24 30 m 24 x 30 = 720 m 1900 - 720 = 1180 m

25-32 1m 32 x 1 = 32 1900 - 32 = 1868 m

Comprimento máximo das redes FISCO:


Tronco + Spurs: 1000m
Spurs: 30m

Comprimento máximo das redes Tronco de Alta Potência:


Tronco + Spurs: 1900m
Spurs: 120m

Por Renato Silva Rodrigues 19


2.5 Quantidade máxima de dispositivos
O Profibus PA permite a utilização de até 32 dispositivos em um único segmento, na
prática o gateway já é um destes dispositivos, portanto, a quantidade máxima cai para 31
dispositivos.
Conforme podemos ver na tabela a seguir, o comprimento máximo do cabo do spur
varia de acordo com a quantidade de instrumentos no mesmo segmento:

Nº de
Comprimento
instrumentos
máx. do Spur
no segmento

1-12 120 m

13-14 90 m

15-18 60 m

19-24 30 m

25-32 1m

Essa é uma recomendação da “PROFIBUS Internacional” que visa atingirmos a


maior qualidade de sinal possível para nosso segmento de rede. Dessa forma, podemos
ver que a quantidade de dispositivos (instrumentos de campo) recomendado, pode variar
de projeto para projeto, porém em termos gerais, utilizar os 31 dispositivos poderia tornar
o projeto impraticável devido ao comprimento máximo do spur (1m), portanto são aplicados
entre 16 e 24 instrumentos por segmento (60m e 30m por spur respectivamente).

Por Renato Silva Rodrigues 20


3 A INSTALAÇÃO
3.1 Encaminhamento de cabos
Todo o encaminhamento de cabos deve seguir através de bandejamentos,
eletrocalhas e eletrodutos de forma a obter maior proteção mecânica possível contra o
rompimento do cabo, como em qualquer instalação elétrica de qualidade. Isso é válido para
instalações em áreas classificadas e convencionais, pois em nenhuma das situações
queremos nosso cabo tronco rompido causando a parada do processo. Em especial nas
áreas classificadas, utilizando a topologia HPT, o rompimento do cabo tronco pode causar
uma fagulha com potencial risco de ignição do ambiente explosivo, o que reforça a
necessidade da proteção mecânica. No caso dos spurs FISCO, ou mesmo utilizando a
topologia completa em FISCO, o risco de ignição por rompimento do cabo não existe,
devido aos baixos níveis de energia utilizados.
Importante salientar que, a norma NBR IEC 60079-14, não exige uso de unidades
seladoras, eletrodutos pesados e outros acessórios adventos de uma instalação por
método de proteção à prova de explosão (Exd), a norma exige apenas que seja garantido
a proteção contra rompimento dos cabos.
Atualmente, os cabos Fieldbus de qualidade possuem alta resistência a
esmagamento, permitindo que percorram até 15m fora das canaletas e bandejamento,
facilitando assim o projeto de encaminhamento.
Alguns pontos de destaque que devemos nos atentar na distribuição dos cabos pelo
campo:

 Os cabos devem estar afastados ao menos 300mm de qualquer cabeamento de


comando ou sinal convencional, e afastado ao menos 600mm de qualquer outro
cabeamento de potência;

 Evitar a formação de bobinas de reserva próximo ao instrumento. O excesso de


cabo pode gerar perda no nível de sinal, principalmente se o projeto estiver
trabalhando com os limites máximos de comprimento da rede. Além disso, as
bobinas podem se comportar como antenas e captar interferências
eletromagnéticas, gerando ruídos na rede;

 Prensa cabos adequados ao diâmetro da capa externo do cabo Fieldbus, evite


utilizar meios alternativos para alcançar o aperto do prensa cabo, pois isso pode
causar infiltração nos instrumentos e Derivadores, gerando desbalanceamento da
rede e até a corrosão dos terminais;

Por Renato Silva Rodrigues 21


 Obedeça a curvatura máxima dos cabos. Por mais que os cabos Fieldbus sejam
flexíveis, existem um ponto de curvatura máximo dado por cada fabricante, exceder
esses valores causa o desgaste prematura do cabo e até danos imediatos, que
podem gerar desbalanceamentos e até perda de nível de sinal;

 Cuidado com as saídas dos eletrodutos, pois sua borda metálica e o possível
movimento do cabo, pode danificar a capa externa do condutor com o passar do
tempo;

Por Renato Silva Rodrigues 22


3.2 Crimpagem
Pode parecer um assunto sem grande relevância, entretanto a crimpagem
inadequada dos fios pode se tornar um grande inimigo “oculto” das redes.
A crimpagem de cabos é essencial na qualidade de instalações elétricas, facilita o
dia-a-dia do instalador, evita que condutores fiquem expostos inadequadamente e evita o
desgaste do cabo com o aperto e desaperto de conectores. Não há dúvidas de que se trata
de um elemento essencial em qualquer instalação. Uma boa crimpagem com a ferramenta
e terminal adequado à bitola do fio irá apresentar um perfil completamente preenchido,
como mostrado na figura abaixo.

Figura 14 – Perfil de fios crimpados

Entretanto, caso o trabalho seja realizado com ferramenta e terminal inadequado, ou


mesmo um serviço de baixa qualidade, os perfis apresentados acima apresentarão
diversas lacunas vazias e por vezes danos ao terminal. Em um primeiro momento a falha
não irá gerar problemas, mas no decorrer nos meses e anos dois problemas podem
acontecer:

1) Mau contato – A folga entre o terminal e o condutor pode causar intermitência no


funcionamento de um instrumento ou mesmo do segmento como um todo;

2) Corrosão – Essas folgas dão espaço à umidade, somado a possíveis danos do


terminal, o efeito corrosivo avança rapidamente entre os condutores, derrubando
o nível de sinal da rede devido à resistência adicional, chegando ao ponto de
derrubar instrumentos do segmento;

Em ambientes sem a presença de áreas classificadas, caso não seja possível atingir
um padrão de qualidade aceitável na crimpagem, recomenda-se fortemente que os
condutores sejam conectados diretamente aos bornes de fixação, isso é, sem os terminais.

Por Renato Silva Rodrigues 23


3.3 Aterramento
Este é um dos temas mais importantes e também que gera mais dúvidas aos
usuários, pois o aterramento é responsável pela imunidade a interferências
eletromagnéticas, por consequência toda a comunicação da rede depende de uma
instalação adequada. A escolha da técnica de aterramento varia de acordo com as
condições de cada planta, aqui irei expor três possibilidades.
É importante lembrar que toda a comunicação através do cabo Fieldbus é baseada
em uma diferença de potencial entre o cabo positivo e negativo, portanto nenhuma das
duas vias pode ser conectada ao fio terra ou à malha de proteção do cabo (Shield).
Vejamos em detalhes cada uma destas técnicas:

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1) Aterramento em ponto único
Nesta técnica de aterramento temos toda nossa malha de proteção (Shield)
conectada em um único ponto, este normalmente dentro da sala de controle junto ao
gateway DP/PA.
Os derivadores de campo e instrumentos possuem seus aterramentos de
proteção de carcaça, porém estes não devem estar em contato com a malha do
segmento.
O cabo spur segue com sua malha de proteção até a chegada no instrumento,
onde ele deve ser isolado, ou seja, não deve ser conectado ao borne de aterramento
do instrumento (quando este é conectado à carcaça).
Este é o método mais comum utilizado no Brasil, pois sua simplicidade evita
problemas de loop de corrente gerados em aterramentos não equipotencializados.

Figura 15 - Diagrama de aterramento em ponto único

Por Renato Silva Rodrigues 25


2) Aterramento multiponto
Este seria o mundo ideal para qualquer planta industrial, malhas de aterramento
equipotenciais que permitem a conexão de qualquer dispositivo de forma mais segura
e com curtos trechos de cabo que garantem a melhor proteção contra interferências
eletromagnéticas, porém esta não é a realidade da maioria das plantas hoje, essa
técnica acaba exigindo muitos recursos na tentativa de equipotencializar as mais
diversas malhas, e quando a mesma falha, acarreta na geração de correntes de fuga
pela malha de proteção do segmento e por consequência, intermitência na rede e até
mesmo queima de equipamentos.
Como dito anteriormente, a realidade de cada planta é diferente, se você utiliza
essa técnica de instalação com a garantia da qualidade de todas as malhas, não há
porque não instalar seu segmento através deste conceito.

Figura 16 - Diagrama de aterramento em multiponto

Por Renato Silva Rodrigues 26


3) Aterramento Capacitivo
Diferentes áreas da planta possuem diferentes potenciais em seus
aterramentos, quando trabalhamos em áreas classificadas através de barreiras de
campo galvanicamente isoladas, existe uma preocupação adicional com possíveis
correntes na malha. A técnica de aterramento através de acoplamento capacitivo
permite isolar e evitar essas correntes.
No exemplo abaixo utilizo o conceito de aterramento em um único ponto com o
acoplamento capacitivo. Os capacitores estão indicados do lado de fora da barreira de
campo para melhor visualização, entretanto, os fabricantes de barreiras de campo já
integram esses capacitores na eletrônica do produto, não exigindo nenhum tipo de
intervenção externa.

Figura 17 - Diagrama de aterramento em único ponto com acoplamento capacitivo

Por Renato Silva Rodrigues 27


4 O COMISSIONAMENTO
4.1 Integração dos instrumentos
4.1.1 GSD
A integração dos instrumentos Profibus PA junto ao sistema de controle ocorrerá
através de arquivos de texto chamados GSD (General Station Description), nele estão
todas as informações e funcionalidades compatíveis com cada instrumento. Esse arquivo
é responsável por toda comunicação cíclica dos dispositivos com o Mestre Classe 1.
Existem dois tipos de arquivos GSD:

Profile GSD
Arquivo genérico que permite a integração de qualquer instrumento Profibus
PA de acordo com a quantidade de variáveis transmitidas. O ponto forte deste tipo
de arquivo é a intercambiabilidade dos instrumentos entre os diversos fabricantes,
significa que, se você possui o instrumento de um fabricante X e deseja substituir
ele por outro do fabricante Y, é possível faze-lo sem a necessidade de realizar
alterações dentro do sistema de controle. Em contrapartida, o Profile GSD pode não
explorar 100% das funcionalidades dos instrumentos instalados (e.g. diagnósticos,
informações adicionais, etc).

Manufacturer GSD
Arquivo criado pelo próprio fabricante do instrumento, cada tipo de
instrumento possui seu próprio arquivo GSD, e, portanto, tem capacidade de
explorar 100% das funções dos dispositivos, em contrapartida não permite a
intercambiabilidade, então se um instrumento precisar ser trocado, deverá ser feito
por outro equivalente, caso contrário será necessário a troca do arquivo GSD dentro
do sistema de controle exigindo a parada do processo para o download do novo
hardware no sistema de controle.

Independentemente do tipo de GSD que você optar usar, terá que inseri-lo dentro
do ambiente de programação do seu controlador, e aqui o procedimento pode variar de
acordo com o tipo de gateway que você utiliza:

Por Renato Silva Rodrigues 28


Se for um Link DP/PA: deverá ser inserido o dispositivo “Link DP/PA” e abaixo dele
todos os instrumentos existentes no segmento DP/PA. Utiliza-se aqui os GSDs
típicos para comunicação Profibus PA, as vezes identificados como “Phy MBP”.

Figura 18 - Exemplo de GSDs com Link DP/PA dentro do HW Config - Siemens

Se for um Acoplador DP/PA: deverá ser inserido os instrumentos PA diretamente


na árvore do Profibus DP (lembre-se, o acoplador é invisível), caso não esteja
conseguindo inserir o seu instrumento com velocidades acima de 45,45kbps, será
necessário a utilização de um software de conversão dos GSDs PA para GSDs DP,
ou “Phy MBP” para “Phy RS485”. Consulte o fabricante do acoplador para obter
esse software, normalmente é gratuito.

Figura 19 - Exemplo de GSDs com acoplador DP/PA dentro do HW Config – Siemens

No passado havia uma limitação de velocidade para redes que utilizavam


acopladores DP/PA, hoje isso não é mais uma verdade, você pode sim trabalhar
com velocidades de até 12Mbps no Profibus DP utilizando acopladores DP/PA
invisíveis.

Por Renato Silva Rodrigues 29


Ao inserir o instrumento na topologia de rede, você deverá informar que tipo de
informações esse instrumento deve entregar e onde ficarão armazenadas na memória do
controlador. Cada instrumento tem suas próprias características, na imagem a seguir você
pode ver um transmissor genérico que transmite 2 informações analógicas que ficam
armazenadas nos endereços 108 e 148. Tipicamente cada informação analógica ocupa 5
bytes e cada informação digital ocupa 2 bytes.

Figura 20 - Configuração dos Slots do GSD para transmissor genérico

Por Renato Silva Rodrigues 30


4.1.2 FDT/DTM e EDDL
A parametrização e diagnóstico dos instrumentos é realizada através de
comunicação acíclica com o Mestre Classe 2, e o arquivo responsável por essa integração
pode ser o EDDL (Electronic Device Description Language) ou o FDT/DTM (Field Device
Tool + Device Type Manager), depende da ferramenta Mestre Classe 2 que você está
utilizando.
O EDDL é um arquivo de texto que descreve todas as características dos
instrumentos, sua principal vantagem é a padronização da ferramenta de acesso,
normalmente o acesso acontece dentro do mesmo ambiente de desenvolvimento da lógico
do controlador, facilitando o dia-a-dia do programador que não necessitará de treinamentos
para parametrizar cada tipo de dispositivo.

Figura 21 - Configuração por EDDL via Simatic PDM

O FDT/DTM é uma ferramenta orientada à software, portanto visualmente mais


atrativa, o que pode exigir treinamentos adicionais. Sua principal vantagem é o maior
volume de informações que pode ser obtido dos dispositivos, incluindo gráficos de
tendência, diagnóstico aprimorados, entre outros. Neste conceito, você sempre terá uma
ferramenta FDT única (e.g. PACTware, Fieldcare, etc) e o DTM de cada dispositivo da rede
que deseja instalar.

Por Renato Silva Rodrigues 31


Figura 22 - Configuração por DTM usando o PACTware

Existe uma tendência entre os fabricantes de automação para padronizar ambas as


tecnologias em uma única, o FDI (Field Device Integration), mas o caminho é longo e por
isso ainda vemos muitos equipamentos utilizando apenas o EDDL e/ou FDT/DTM.

Por Renato Silva Rodrigues 32


5 MANUTENÇÃO DURANTE VIDA ÚTIL
A maioria dos problemas das redes Profibus PA durante sua vida útil estão
relacionados com a camada física da rede, ou seja, problemas de instalação, cabos e
instrumentos que se degradam, outras instalações que geram interferências, manutenções
incorretas, etc.
Fazer um acompanhamento das condições da sua instalação é vital para a saúde e
boa operação da sua rede, mas não basta uma análise visual, deve-se utilizar ferramentas
adequadas para isso: os analisadores de rede, ou ferramenta de diagnóstico avançado.
Entre as principais variáveis analisadas por essas ferramentas, estão:
 Tensão no segmento
 Corrente no segmento
 Ruído
 Desbalanceamento
 Nível de sinal
 Jitter

Veja que um simples multímetro não seria capaz de analisar todas essas
informações, talvez um osciloscópio e um usuário extremamente experiente na
manipulação dele e conhecedor do protocolo (profissionais raros). O uso de uma
ferramenta especifica para este tipo de análise facilita muito o dia-a-dia do usuário e não
exige que o mesmo seja um expert para obter e analisar estes dados!
Portanto, apesar da verificação da camada física não ser obrigatória, é extremamente
importante para que a experiência do usuário com a rede seja boa.
Vamos entender algumas dessas variáveis e quais as principais causas geradoras
de problemas.

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5.1 Ruído
O ruído é uma variação indesejada no sinal, que surge com diferentes
características. Um alto nível de ruído causa problemas de comunicação e a perda de
instrumentos na rede.

Figura 23 - Forma de onda destacando a presença de ruído

Principais geradores de ruído: Interferências eletromagnéticas; Problemas de


aterramento e blindagem; Fontes de energia alternada próximo a rede; Fontes de
alimentação da rede não regulada; Rede desbalanceada;

Valores limites de ruído:


Excelente: ≤ 50mV
Bom: > 50mV ... 100mV
Fora da especificação: >100mV

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5.2 Desbalanceamento
Este parâmetro informa o nível de “fuga” de um polo da rede (positivo ou negativo)
para o aterramento (Blindagem). O desbalanceamento é resultado de alguma capacitância
ou resistência entre os polos e o aterramento, e torna a rede suscetível a ruídos externos.

Figura 24 - Forma de onda destacando o desbalanceamento de sinal

Principais causas de desbalanceamento: Cabeamento danificado, torcido ou


submerso; Influência de algum dispositivo na rede;

Valores limites de nível de sinal:


Abaixo da especificação: < -84% Fuga ou curto do polo negativo
Baixo bom: -84% ... < -60% Fuga do polo negativo
Excelente: -60% ... +60%
Alto bom: >+60 ... +84% Fuga do polo positivo
Acima da especificação: >+84% Fuga ou curto do polo positivo

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5.3 Nível de sinal
O nível de sinal é a amplitude de tensão da componente de dados. Através dessa
variável podemos identificar a falta de terminadores de rede (Nível de sinal muito alto) ou
mesmo terminadores de rede em excesso (Nível de sinal baixo), lembrando que toda rede
deve possui apenas um terminador no início do segmento e outro no fim.

Figura 25 - Forma de onda destacando nível de sinal

Principais causas de desvio do nível de sinal: Excesso ou falta de terminadores de


rede; Comprimento de cabo maior que o permitido; Especificação errada do cabeamento.

Valores limites de nível de sinal:


Abaixo da especificação: < 200mV
Baixo bom: 200mV ... < 400mV
Excelente: 400mV ... 1200mV
Acima da especificação: >1200mV

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5.4 Jitter
O Jitter é um desvio no tempo da passagem do bit pelo ponto zero. O Jitter é medido
em µs (microssegundos). A análise do Jitter na manutenção preditiva é essencial, pois ele
observa pequenas mudanças na instalação, antes que elas gerem problemas mais graves,
por exemplo, desvios da impedância e capacitância.
Altos valores de Jitter podem gerar problemas de comunicação com a perda de
pacotes de dados e até mesmo a perda do instrumento na rede.

Figura 26 - Forma de onda destacando o Jitter

Principais causadores de Jitter: Falha nas fontes de alimentação; Falha nos


instrumentos de campo; Interferências eletromagnéticas; Problemas no cabeamento;
Crosstalk (Conversa cruzada).

Valores limites de Jitter:


Excelente: ≤ 2,4µs
Bom: > 2,4µs ... 3,2µs
Fora da especificação: > 3,2µs

Uma gestão ativa na medição de qualidade da camada física da sua rede Profibus
PA será fator determinante para o bom funcionamento dos seus segmentos e
consequentemente da planta fabril como um todo. O custo adicional que um analisador de
rede possui irá se pagar no primeiro evento de falha que você conseguir rastrear e
solucionar rapidamente através da ferramenta! Ou ainda, na manutenção preditiva que
você executar na rede evitando que um segmento caísse e consequentemente a planta
como um todo.

Por Renato Silva Rodrigues 37


6 Bibliografia

Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR IEC 60079-0, Edição 2008

Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR IEC 60079-11, Edição 2009

Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR IEC 60079-14, Edição 2009

Associação Brasileira de Normas Técnicas, NBR IEC 60079-27, Edição 2010

International Electrotechnical Commission, Industrial Communication Networks IEC


61158-2, Ed 6.0b 2014

PEPPERL+FUCHS, Fieldbus Engineers Guide, Edição 05/2013

SIEMENS, Industry Online Support, https://support.industry.siemens.com/, Acesso em


08/02/2021

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