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Modernização, Estado e

Questão Agrária
Moacir Palmeira
A vasta literatura que se tem ocupado das mudanças pm* que passou o
campo biasUeiiD nas últimas décadas dá especial atenção, e não sem razão, à
chapada modernização da agricultura. Na Vettlade contrariando ptevisões dos
analistas das décadas de SO e 60, o setor agrfcola, a partir de finais dos anos
60, absorveu quantidades crescentes de crédito agrícola, incoiporDu os chama*
dos “insumos modonos” ao seu processo {»odutivo, tecniíicando e mecanizan­
do a {Hxxlução, e integrou-se aos modonos circuitos de commciaUzação. O au­
mento da produtividade permitiu o aummito da produção de matérias-ptimas e
alimentos para a exportação e mesmo para o mmcado interno. Mesmo a produ­
ção (te alimentos para ^>astecimento das cidades, ^)esar de dificuldades que te-
riam a ver com (^ntações da política ecrmômica, teda sido, no entender de al­
guns estudiosos, “bastante razoável” (GRAZIANO da SILVA, 1987, p.25). A
alteração da base técnica da agricultura, associada à soa articulação “com a in­
dústria produtora de insumos e bens ^ capital pata a «^ricultora, e por outro,
com a indústria processadora de {»odatt^ naturais” levou ã formação do cha­
mado “complexo agroindustrial” (DH jGADO, 1985, p.l9; SORJ, 1980,
p.29-30) ou à “industrialização da agricultura”( GRA2^ANO da SILVA, 1987,
p.l9)>.
Essa modonízação, que se fez sem que a estrutura da ptopriedarte rural
fosse alterada, teve, no dizer dos econonàstas, “efdtos pervosos”: a proprie­
dade tomou-se mais concentrada, as disparidades de rmida aumentaram, o êxo­
do rural acentuou-se, aumentou a taxa de exploração da força de trabalho nas
atividades agrícolas, cresceu a taxa de auto-exfdcaação nas propriedad» meno­
res, piorou a qualidade de vida da população tzabalbadcHa do canpo. Por teso,
os aut(»es gostam de usar a expressão “modernização coosovadoia”.
Sem quCTer minimizar a importânda desse fgocesso, procuraremos chamar
a atenção neste trabalho para alguns outros processos sociais que, desmivol-
vendo-se mais ou menos no mesmo período, menos ou mais articulados com o
que é desoito como modernização, mas guardancfo autimonúa, contribuíram,
tanto quanto aquela altmação da base técnka da produção em vastos segmentos
do campo brasileiro, para conformar o pofil atual deste último e configurar os
pixfolemas hoje sodalmmite vividos como inportantes pela população, espe­
cialmente por aquelas configurações de intmesses que, em posições antagônicas
no espectro sodal, vinculam seus destinos ao d e s ^ da parte agrária do país,
^ Quando da ptimdra ledação deste attígo, nSo conhectamos ainda o Uvto de Delsado (ISSS, p. 62-3,
149), <iue pensa o CAI (con^lexo agroindustrial) nio apenas como naintegraçSQ tScnica, matem eer-
nxM de Inlegraçfio de ct^itais imeraetoiiais, tagã« qne apcdpriaiiosaode“aetof a^ cd a” fica com­
prometida nesse processo. Agradego a ios6 Francisoo Gnudaiio da Silva a indicapSo qne, como ficará
patente ao kmgo do texto, fin da maior inqtortánóa.
estudos AVANÇADOS *7
mesmo que soas mcAivações pouco t»iham de agrÉias ou que Bão tenhaiD um
picgeto para a e desc(Mifiem <k goe «dista tal nlidade. Em ontitos
casos, as motivações econômicas dos caiátalistas qoe investem na agtkwlta»,
qualquer que seja a origem de seus coûtais, residem menos na pmspectiva de aí
realizar luoos maior» do que em outros setores da economia ou, a exeaq>lo
dos rendors clássicos, de did retirar uma roída em nada inconqntível com os
seus lucros, do que na perspectiva de uma tqilicação de dinheiro comparativa'
mente vantajosa, dentro dos marcos de uma detmininada política econômica e
considnada a conjuntura do mercado, a outras ^licações financeiras
(DELGADO, 1985, parte D). Já para os tná)alhadores rúrais, náo se trata sim­
plesmente de representar a agricultura (ou a “lavoura’% como se dizia nutmif
outra é^oca) mas de acabar com a articulação himarquizada de interesses que se
pmisa ^ b ak o desse tmmo. O prcseto em que investem é um projeto de classe,
não é um projeto de setor, e a sociedade vislumbrada em suas manifest^ões
não c ^ nos limites da agricultura.
Os {»ocessos que vamos abordar não são ignorados pela litmatura da mo­
dernização. Ao contrário, a maior parte das informações com que vamos traba­
lhar foram buscadas nesses texte». No exercido que vamos &zer, o que muda é
a autonomia, atribuída, até segunda ordem, a cada um desses processos, e as
implicações sociais, essas ef^vamente não extraídas pelos autores, pelo menos
de uma forma dstemática, da oconênda de tais processos.
A Es{M*<q>ri^^ do Campesinato
Nos últimos quarenta anos, o pmfil da distribuição espadai da população
brasileira sofieu profunda alteração. Entre 1940 e 1980, invmtoam-se os per­
centuais das populações rural e urbana, a primeira caindo de rqnoximadamente,
70% da popt^Uição total para emea de 30%, enquanto a segunda aumentava de
30% para 70%.
As m igrares intmrnas foram as grand» responsáveis pelo crescimralo
urbano e o IBGE estima que, em 1970, de 30 míliiões de migrantes, total
acumulado de residmites em munic^os didintos tbqudes em que nasemam, 21
milhões *‘se dirigiram para as áreas urbanas” (FIBGB, 1979, p.23). Gecage
Martine, kvantk) em considnação também a migração tutal-urt>ana intramnni-
dpal estima que 7.299.000 migrantes se deslocaram do campo para a ddade na
década de 60 e 11.003.000 nos anos 70 (MARTINE, 1984, p.203). As migrações internas
O oesdm aito das migrações do canq» para a ddade não fd linear. Nos foram as grandes
responsái^peio
anos 60, pm exemplo, o fluxo migratário sofioi uma queda em seu ritmo que crmdmento
voltou a aederar-se na década seguinte. A homogeneidade desse processo tam­ IBGE cstttmmbano eo
qnc, em
bém é discutíveL No mesmo período, as ddades médias passaram a ter um pa- 1970,de30m Uli8esde
p d importante coo» recq>toras de migrantes e houve um certo rednedmia- acnmnlado
migrantes, total
mento tegicmal das migrações. Ainda nos anos 60, uma mudança iagmitante residentes emde
oconeu com relação aos períodos antmoies: as mi^açôes interurbanas revela- mnnicfptos «Brtintos
tam-se mais inqxHtantes que as migrações do canpo pata a ddade. Mas, nos daqueles em que
anos 70, endxma mantmido-se a supremada dacpidas, o fluxo de migrantes ru­ **senasceram, 21 milIAcs
rais teve um mesdmmito significativo (HBGE, 1979, p.24; MARTINE, 1984)^. áreasdirigiram para as
urbanas” .
’ Mardiiediaffla a atensSopanpoMfvebproideiiiMesttttoioos DessasvadaçSes, masa io c h ^ a negar
qne das teabaia, efeSvainmie, oeonido.
88 estados AVANÇADOS
P(v outro lado, isso que os autores go^m de deagruff como *'êxodo lu-
lal" éaoterim-à modernizarão daagrtc{dlmra,tmdo em tHinos de fluxos
tívos, como a simples kútura dos dados cens&ários su^ro, cpianto em totoos de
sua peicepçSo pela sociedade como um pn^lem a. Alfitedo 'Hat^nex Bano de
Almeida (1977, p.4M 2), analisando a litetatura que, entre e 1972, tratou
do “êxodo rural", assinala qi^ o marco tenqx>ral adoado pelos antoes é 1930.
A partir daquele ano, começaria a se dar o esvaziamento do canqx), atribuído
<mi às secas do Nodeste, ora à industrialização, ora à urbanização... Em tono
da mecanização agrícola que, em alguns estados, começa a tomar impulso nos
anos 40*50, discute-se se é causa oo conseqüência do êxodo. Já Aqráàa Ca­
margo, refoindo-se ao 2- Govono Vargas, lembra que “cedo a oposição des­
perta para o {»oblema agrário. Muitos, assustados pelos visíveis efeitos de um
acelerado êxodo rural que altera a fisionomia das grandes capitais, transfoindo
para elas os graves problemas que afligem o caoqx), conclamam a adoçõ> de
medidas governamentais corretivas” (CAMARGO, 19S1, p.l48). A mesma
autora deixa clara, ao longo de seu trabalho, a estreita vinculação estabelecida
oitre o êxodo rural e o problema agrário durante as discussões em torno da re­
forma agrária no período anterior a 1964. Provavelmente, esses deslocamentc»
á& população têm acompanhado diferentes tipos de crises no setor agropecuário
e os movimentos, nem senqrte regulares, de crescimento das atividades econô­
micas nas cidades que, conjugados ou não àqueles, exercem alguma atração
sobre determinados seamentos da população rural.
O que há de novo no “êxodo rural" das décadas mais recentes é que, em­
butido nele, está a expulsão sistemática de trabalhadoes rurais de difaortes
categorias^ do interior dos grandes domámos. É verdade que a expulsão de tra­
balhadores dependentes (moradores, agregados, colonos ou semelhantes) tam­
bém já ocorria no passado, mas o processo a que nos referimos tem caractoísti-
cas muito peculiares. Se, no passado, o trabalhador expulso encontrava casa
e trabalho em cmidições semelhantes numa outra propriôlade, ou mesmo, num
momento seguinte, tecraistítu& a primeira relação, na expulsão recentei a saída
da [uopriedade é defirútíva e sem substituição ou, dito de uma outra maneira, é
o mesmo tipo de contrata tradidonal^ que é liquidado.
Não nos parece pois desprovido de sentido falarmos de expropriação do
campesinato. Trata-se menos de despojamento dos trabalhadores nnais de seus
meios de produção, pois destes, de alguma maneira, Já haviam sido ou sempre
estivoam expropriados, mas de sua expropriação de relações sociais, por eles
vividas como naturais, que tonam viável sua particq}ação na produção e sobre
as quais, por isso mesmo, exercem algum controle que se traduz num certo sa­
berfazer.
^ SalvoreferenciaexpienBeinc<mti<rio,eai{»^areiDMOStmiiMira6aAaaorno3areca)>;peinB5t,coino
equivaleniea, como k lomoa usual no Bnsdnoadltioiacanoa,afinda(iiiosoaasaãlatiadoapenmnen*
tese tempoiÁios,oa paicrifoa coa anendalfaioa, bem como oaposseiroacoa pequeno» propricUrioa
familiares, que nio ealSo em queaiSo neate momeaio, maa de qu^ logo 8 legair, tnniemos.
^ OtipodecoatratoqoevincttUva,nopaaaado,eatieofnonMÍòreoprop(ieiátiodaienaemmttitomai8
que um aimplea oontiato de (labidbo. O que o trabalhador pomncial procomva num engenho ou nu-
wn/atenda en. uma easa de morada e iaao é que lhe permitia trabalhar para o patiSo, em troca de al­
guns dias de liabâllio gratuito eemanal ou paçM a um valor infetim' aos dema», ou ter aceaao a unsa
pequena extensão de tetra para cultivo proptio, medianteopagameiiiodenmaqttantiafixaemdi-
nhnto e alguns dias de tiabidho greniito anuais. Era a morada que assegurava também ao trabalhador
acesso à Sgua, à tenha e, eventualmmle, h inadtín e aos pastos da piopmdade e o inseria numa lelaçSo
de dívida pennanente com o proprietário. (I^aitndia, 197d, p. 30S-31S; Sigsud, i979, p. 33-36; Cér-
cia ir., 1983, cap. n e 1986; Hetedia, 1986, aq>. VII; Almeida eEsterci, 1979eBastos, 1977b).

estados AVANÇADOS 89
Os dados cemitáiios, na sua precariedade, inScam oan nttda e progiea-
siva diminuição (fc) n tím ^ de empregados permanertía, parceiros e atiras
condições, categOTias que desoevem os trabalhadores resideoíes drabo
propriedades, que de cerca de 40% do pisoai ociq>ado nos est^Ieãm » to s
agropecuários em 1940 passaram para ceica de 13% em 1980, embora, para os
primeiros, seja registrado um certo crescimento entre 1970 e 1980. Os empre­
gados tenywrários, que, via de regra, indicam trabalhadores assalariados não-
residentes dentro dos estabelecimentos, são subestimados pelos Censos, em que
pese a importância que lhes tem sido atribuída por estudos eq)ecíficos realiza­
dos nos últimos 20 anos. Segundo o Censo Agropecuário eles, que seriam
1.183.870 em 1940, correspondendo a 10,43% do pessoal ocupado na a^ope-
cuária, teriam passado a 2.767.880 em 1980 ou 13% do total desse ano. Ângela
Kageyama (1986, p. 77), todavia, remanejando os dados dos dois últimos cen­
sos, estimou os temporários em 3,4 milhões para 1975 e em 4,5 milhões para
1980.
O caráter geral dessa verdadeira exproprU^ão do campesinato^ revela-se
no momento em que, até mesmo nas áreas de fronteira agrícola em expansão, as
expulsões de posseiros deixam (fe ser apenas episódios de uma trajetória que
pode terminar, embora não necessariamente, com a conquista definitiva de um
pedaço de tmra (VELHO, 1972. csq>. 7) para dar lugar a uma “urbanização”
precoce (GRABOIS, 1971) que sinaliza o “fechamento da fronteira” para os
trabalhadores (GRA2^ANO da SILVA, 1982, cap. 6)^. Mais ainda, o alcance
da expropriação aparece quando a {HÓ(nia reprodução da pequena propriedade
estável no sul do país começa a ser ameaçada pela falta de alternativas para as
novas gerações, o latifúndio limitando sua fixação como pequenos pioinietários
na própria região e reduzindo-se as possibilidades de migração para o centro ou
o norte; mas também por seu endividamento junto áos bancos e pela inwabíli-
zação dos economicamente mais fracos no bojo do processo de competição que
se instala com a entrada do grande capital em circuitos sobre os quais, ante­
riormente, os agricultores tinham um relativo controle (PEIXOTO et al., 1979;
FIGUEIREDO, 1984, p. 163; CORADINI, 1982). Paradoxalmente, as moder­
nas cooperativas, que se expandem no sol do país, asseguram ao pequeno agri­
cultor menor controle do mercado do que os intermediários tradicionais, mesmo
quando lhes asseguram maiores ganhos (CORADINI, 1982, p. 59-60;
DELGADO, 1985, p. 164-190). Os dados censitários,
Se, no último caso, há uma certa associação entre a expropriação do cam­ na sua precariedade,
indicam uma nítida e
pesinato e a chamada modernização da agricultura, é preciso não se esquecer progressiva
que se trata de um movimento independente e, via de regra, anterior à (nópria diminuição do número
modernização. Tanto é assim que, escrevendo em 1967 sobre as “favelas ru­ de entregados
permanentes, parceiros e
rais”, expressão espacial da expulsão dos anos recentes, Maria Isaura Pereira outras condições,
de Queiroz (1978, p. 221-222) refere-se ao seu aparecimento, em princípios do categorias que
descrevem os
século, no Rio Grande do Sul, “associado às transformações do trabalho dentro trabalhadora
das estâncias de gado, {»úcipalmente com a paulatina cercadura dos campos e residentes dentro das
das propriedades” e ao seu desenvolvimento, em meados dos anos 50, no norte propriedades,...
Para um paralelo entre es$a expropriação e o processo clássico ver Sigaud, Os clandestinos e os direi­
tos, 1979,p. 35*():e, numa ótica um pouco diferente, Martins, Expropriação evMência: a tiuestõopo-
lüica no campo, 1980, p. 16-7.
Para uma crítica à idéia de “ fechameato da fronteira” ver Martins, o/>.cfr.,p. 17-8 e, do mesmo autor,
A reforma agrária e os limites da democracia na "Nova Repiibfíca", 1986, cap. 6.

90 estudos AVANÇADOS
do Paraná e c a Sio Rario, com a :
para expcxtação pda pecuária. Cdso Fartado (1964, p. 1^151) e Manuel Cor­
reia de Andrade (1964, p. I69-I70) falam da expulsão de im»adaies, com ca­
racterísticas semelhantes, na década de 50 e inicio dos anos 60, da zona da
mata nordestina, com a expansão dos canaviais provocada pelo aumento do
consumo interno e pela retomada das exportações de açúcar. Pesquisas mais re­
centes têm vinculado a expulsão de moradores, agregados, posseiros e outros
trabalhadores, em diferentes regiões do país, à substituição de produtos agríco­
las (BASTOS, 1977b, cap. II; GRYNSPAN, 1987, p. 58-60); à incorporação
de novas terras por um produto comercial tradicional (HBREDIA, 1986); à es­
peculação imobiliária (GRYAISPAN, 1987, p. 41-60); à substituição da agri­
cultura pela pecuária (GARCIA Jr., 1975 e 1983, p. 352-354; ALMEIDA e
ESTERCI, 1979; BASTOS, 1977b; GRAZIANO da SILVA, 1978, p. 91-92;
MARTINS, 1980, p. 45-66; GRYNSPAN, 1987) ou aos lances da luta de clas­
ses no campo (PALMEIRA, 1979, p. 41-55; SIGAUD, 1979; GARCIA Jr.,
1986). O que a mecanização, a criação de uma inha-estrutura custosa (de que a
irrigação é o melhor exemplo) e a utilização sistemática dos chamados insumos
modernos, bem como os padrões gerenciais centralizadores que introduzem,
vão fazer é criar, para além da impossibilidade estrutural de restabelecimento
dos contratos tradicionais provocada pela exfHopriação, uma limitação de or­
dem técnica.
A expropriação, assim concebida, não implica, necessariamente, em pro-
letarização. Ainda que ela possa ser condição para a oferta dos “braços dóceis
de um proletariado livre”, a que se refere Marx (1950, p. 174) à indústria ou à
agricultura moderna, não se trata de uma fatalidade. Ela pode viabilizar a for­
mação de um proletariado mas, por si só, não o produz. Assim, a expulsão dos
camponeses do interior das grandes propriedades não impediu que os pequenos
produtores entre 1940 e 1988 aumentassem em número mais que qualqua-outra
categoria de trabalhador rural - os “responsáveis e membros não-remunerados
da família” entre *>940 e 1980 passaram de 5,7 milhões, pouco mais de 50% do
total, para 15,6 milhões, quase 74% de todo o “pessoal ocupado nos estabele­
cimentos agropecuários” (FIBGE, 1986, p. 281)’ - ainda que também fossem
atingidos pelaexprc^ação, unm “exprc^riação indireta” (MARTINS, 1981, p.
141). Mas o qiK é importante reter é que, sendo um processo que envolve luta*^,
a expropriação não tem um resultado certo e, em determinadas circunstâncias, a
ruptura das relações sociais tradicionais é a condição mesma para que o traba­
lhador dependente transforme-se num camponês autônomo, mesmo que, em
condições precárias e pr»- pouco tempo; como também, por paradoxal que possa
parecer, que o acesso à propriedade de uma parcela de terra pode ser, muitas
Ve^s, não a preliminar da expropriação, como no caso anterior, mas a expres­
são deia prófria, ao inqdicar na liquidação da possibilidade de acesso do novo
proprietário à mata, à lenha, à água, a pastos de utilização coletiva, etc. (ES-
T l^C l, 1985, p. I24-I56). Pot isso mesn», não tem sentido pensá-la em ter-
’ Parâ uma visão dc problema de compatibilidade entre os dados dos diferentes censos e, especialmente,
entre Censos Agropecuários e Censos Demográficos, ver também o trabalho de Graziano da Siiva, A
modernização drAorosa, 1982, cap. 8 e Ary Silva Jr., kmprego rural: uma análise critica das categorias
dos Censos agropecuários e das estatísticas cadastrais, 1984, p. 115-63.
Martins (1981, p. 123) chamou a atenção, com n uita propriedade, para'o crescimento no námero de
g

posseiros, os “ ocupantes” <tos Censos, entre 1970 e 1975. um provável resul&do da resistência da­
queles trabalhadores ã expulsão.

estudos AVANÇADOS 91
' mos de uma adequação funci«ial anie^nldria a uma posterior prc^eta u a ção
mi, muito menos, o que se tomou mais fireqõeate nos dltimos anos, rixxdâ-la
simplesmente como um efeito perversp da modernização.
Se insistimos na dissociação entre expropriação e modernização e na dis­
tinção entie expropriação e proietarização é menos pela obsessão do rigor
conceituai do que pela intenção de chamar a atenção para certos efeitos qt» são
específicos da expropriação.
Assim, se a sinales saída de migrantes das ãieas rurais já contribui para
criar desequilíbrios nas estruturas sociais que sovem de supqrte, entre outras,
às ativ id a^ econômicas, com a expulsão sistemática de &nd>alha(knes dos
grandes domínios rurais e a inviabilização da pequena propriedade, em algumas
áreas, são as próprias estruturas que são transformadas. A desvinculaçlk) do
trrimlhador de suas ccmdições de produção tradicionais, ao mesmo tenqx> que
impecte sua reprodução social como agregado, morador ou colono, mesmo que
aqui e ali essas designações continuem sendo usadas cóm significados difi^n-
tes do passado, provoca a alteração do ''sistema de posições e qrosições so­
ciais” (BOURDIEU, 1966, p. 21S) que circunscreve as (»áticas sociais suas e
dos gru(X)S com que se relaciona.
. Para dtar s^)enas um exen^lo: a oposição fundamental entre morador
e ^nhor de engenho, na zona canavieira nordestina, pessoal, exclusiva, sd ad­
mitindo mediadores qim contribuíssem {>ara a sua plena realização, es[>acial-
mente circunsmita, com a expulsão, cede lugar a um conjunto de oposições so­
ciais em que eia jrermanece áiiidaniental, mas, pct assim dizer, muda de nature-
za.
A figura do senhor de engenho, destituída de seus atributos anteriores,
()assa a ter diante dela não mais um srHnatórío de moradores individualizados
mas uma "força de trabalho segmentada" (SIGAUD, 1979, p. 128-131) entre
fichados, que tendem a coincidir com os trsámlhadmes ainda residentes nas
- profviedades, e clandestinos, que corres(x>ndmn tmidencialmente aos trabalha­
dores expulsos e hoje residindo nas pontas de rua das ddades e (tovoados. Es­
sas novas oposições (ptoprietário-^hado; (Hofirietário-claodestino e fichado-
clandestino) não são fech»las nem espactalmente circunscritas, como era a re­
lação morador-senhor de engenho. Ao contrário, su()õem-8e mutuamente e su­
põem outras relações, mormente com a figura do anpreiteiro (anegimentadar
de mão-de-obra) que se toma o mediadm mitre trabaütadmes clandestinos e
(Hx^rietários. O em{neiteiro, jxjr sua vez, ao mramo tenqm que se opõe social-
mente ao [»oprietário e ao "trabalhador de pcmía de rua”, e indir^amente ao mttttfrnirariin ter sido
trabalhadtv residente no engmiho (com qumn o trabalh^or que recruta vai tocada pelo Estado
competir), depende de um certo tipo de coooociante local, o “dono de venda” **®» regra,
(SIGAUD, 1983) que o financia diretamente, mas stánetudo de forma indireta, d^^
ao vender mantimentos a crédito aos seus trabalhadores. Estabelece-se dessa que, explícita oo
maneira uma outra o|x>sição, entre trabalhadores do emineiteiro e “donos de Implicitamente,
venda”. Por outro lado, o antigo moradçr, tonqndo o contrato que estabelecia
com o senhor de engenho, a quem hoje iqrenas vmide sua força de trabalho, mpdtrnp, urbano que
como mediador ánico com o mundo fora dos engmihos, é [x>sto também na foi ao campo «a a mn
condição de vendedor da (nodução de seu sítio ^ou de pequeno intermediário empresariado rural
nas feiras da região (PALMEIRA, 1971; GARCIA, 1984) onde compele com o
(«queno pro|>rietário de íheas (>rõximas e com o trabalhador de (>onta de rua, m od«uí^-se.
92 estudos AVANÇADOS
que também atuam no pequeno negócio, fundiodo>se com eles na oposição ao
comércio estabeieddo, o i^ , na maiona das vezes, abastam a si prépiios e
aos grandes proprietários enquanto consumidores^. É do jogo entre essas divm--
sas relações que vai resultar, a cada momento, o peso relativo de cada uma das
categorias sociais que se articulam em tomo das diferentes posições nos vários
mercados que se estabelecmn, mercado de trabalho, mercado de terras, mancado
de produtos e - por que não? - mercado político (GARQA Jr., 1986, p. 31-32,
39-^)*°. Note-se que não se trata iqjenas do desdobramento de papéis antes
desen^nhados pelos mesmos personagens sociais, nem tão somente da apro-
ximação (ou da coloc^o em relação) de posições sociais, antes, por assim di­
zer, vinculadas a universos sociais diferentes, mas também do apareci^nto de
posições e personagens novos, capazes de graar interesses novos e ^ produzir
grupos que assumam como seus esses intaesses mas que só existem porque di­
minuíram as distâncias entre esses diferentes universos e porque se estruturou
um novo sistema de posições.
É plausível supor que rearranjos sociais equivalentes tenham ocorrido na­
quelas áreas onde a literatura chama a atenção para a emergência de figuras no­
vas como o bóia-fria^ o novo camponês tecnificado, o camponês integrado,
o cuUujue de fronteira e outras tantas.
Estado: ação e presença
A ação do Estado tea.. siuo destacada, com maior ou menor ênfase, pelos
que estudaram a agricultura brasileira ou por quem analisou o processo de mo­
dernização. No entanto, as implicações do fato de a modernização ter sido to­
cada pelo Estado são, via de regra, (teixadas de lado, em favor de um discurso
que, explícita ou implicitamente, credita tais mudanças a um emptesariarto mo­
derno, urbano que fo i ao campo ou a um en^Mesariado rural que, sabe-se lá por
que razões (talvez por já ser pensado como sendo um enq>resariado, ainda que
enrustido) modernízou-se. Essa M>ula do empresário rurd moderno, pode sct
ilustrada pce uma reportagem especial recentemente publicada numa das maio­
res e mais influentes revistas de circulação semanal do Brasil. (\'EJA, 1989, p.
106-110). Mas tanto os documentos governamentais quanto muitas das análises
feitas por economistas e cientistas sociais ten d ^ a tratar o setor privado e o
Estado como entidades estranhas uma à outra. Todos ressaltam, não há dóvida,
o peso dos em[Hesários na condução dos negócios do Estado. Mas as relações
entre andx>s são pensadas em tmmos de ie{»esentação e influência. Se essa mo­
dalidade de pensar já se mostrava inadequada para entendo: o funcionamento
do Estado brasileiro de antes do período auunitário, mais insuficiente ainda se
revela quando se trata de entendo* como tem operado esse Estado nas décadas
mais recentes, como mostram os trabalhos de René Dreifuss (1981) e Fonando
Henrique Cardoso (1975).
Do lado dos grandes proprietários operam-se também deslocamentos no gínero, mas não há espa^
paia abordá-los nos limites deste artigo. Sua análise pode ser encontrada em Hmédia (1986) e Careta
10Jr.(1986).
Uma análise cuidadosa da fotmasSo desses mercados e de sua aiticula$io pode ser encontrada na ar­
tigo de Afirfinio Raul Garcia Jr., “ IndusbializaçSo e tiansforma(6e$ sociais no campo” . Museu Na­
cional, 1987, estranbamente altmndo em soa publicação m volume O mercado de trabalho bra^eàv:
estrutura e conjuntura, Minist&rio do Tcabalho(Institoto de Economia Industrial (UFRJ), s(l, abril de
1987.

estudos AVANÇADOS 93
É dificil pensar a modernização da agricultura conduzida pelo Estado
sem pensar as transformações sofridas pelo fo^^mo Estado. É necessário não
propriamente elaborar uma teoria do moderno Estado brasileiro, de que os
cientistas políticos vêm se ocupando com menor ou maior sucesso, mas procu­
rar indicar, ainda que de modo aproximativo, o que tem sido a ação do Estado
no campo, analisar os meios através dos quais essa ação se tem dado e sobretu­
do explorar as suas implicações. Mas isso não basta. É preciso pensar o que a
simples presença do Estedo no campo tem significado.
Na primeira metade da década de 60 foi elaborada uma legislação especí­
fica para o campo. O primeiro passo foi o Estatuto do Trabalhador Rural, em
1963. A seguir, vieram o Estatuto da Terra, cm 1964, po/sivelmente a peça-
chave do novo aparato jurídico, e toda uma extensa legislação conplementar.
Criou-se também uma legislação previdenciária que teve efeitos importantes a
partir do início dos anos 70.
A perspectiva comumente adotada na abordagem dessas leis, tomadas
isoladamente ou agregadas segundo a preferência do analista, gira em tomo de
quatro questões: “Quem fez?’’; “A quem serviu?’’ e, se o observador se põe
mais à esquerda, “Foi ou não cumprida?’’, ou, então, se ele prefere se colocar à
direita, “Era ou não adequada à nossa realidade?’’. Essas perguntas, no seu
aparente bom senso, talvez se constituam no grande obstáculo à percepção so­
ciológica de um fato novo; uma legislação que passou a existir.
Tanto o Estatuto do Trabalhador Rural quanto o Estatuto da Tena e seus
desdobramentos foram resultado de um longo processo de lutas sociais e políti­
cas (CAMARGO, 1981). Longe de representarem a imposição unilateral da
vontade de um grupo, refletiram um jogo de conflitos e composições entre os
interesses dos setores sociais envolvidos com a questão da terra ou dos direitos
trabalhistas, ao mesmo tempo que expressaram as alterações nas “composições
de poder e estilos de populismo” que desembocaram no golpe militar de 1964
(id, ibid., p. 224). Nunca é demais lembrar que esse processo de luta tóo parou
com o Estatuto da Terra ou qualquer outra peça jurídica posterior. Ao longo do

94 estndos AVANÇADOS
legime aotoiitário e no período subsequente, o jogo de pressões e contrapres-
sões continuou a se fazer, direcionando a legislação mais para um lado ou para
outro (PALMHRA, 1987).
Antes de indicar uma política, a nova legislação impôs um novo recorte
da realidade, criou categorias normativas para uso do Estado e da sociedade,
capazes de permitir modalidades, antes impensáveis, de intervenção do primeiro
sobre esta dltima. Ao estabelecer, com força de lei, conceitos como latifiindio,
minifúndio, empresa rural; arrendamento, pareça, colonização, etc., o Estado
criou uma camisa-de-força para os tribunais e para os seüs próprios programas
de governo, ao mesmo tempo que tomou possível a sua intervenção sem o con­
curso de mediadores e abriu espaço para a atuação de gmpos sociais que reco­
nheceu ou cuja existência induziu. Nesse sentido, independentemente da efeti­
vação de políticas por ela possibilitadas - a reforma agrária, a modernização
agricola, a colonização são exemplos -- a nova lei passou a ter existência social
a partir da hora em que foi promulgada. Tomou-se uma referência capaz de
permitir a neordenaçâo das relações entre gmpos e propiciar a formação de no­
vas identidades.
Valéria a pena comparar o Estatuto da Terra com a Lei nS 22.631 que
criou o Serviço Social Rural (SSR), em 1955. Enquanto esta listava uma série
de atribuições para o SSR, que iam da “prestação de serviços sociais no meio
miaF’, visando a melhoria das condições de vida da sua população (alimenta­
ção, habitação, saúde, incentivos à atividade produtora) até a aprendizagem de
técnicas de trabalho, o fomento à “economia das pequenas propriedactés’’, a
criação de “comunidades” e a “realização de inquéritos e estudos”, o Estatuto
da Terra se propunha a “dar organicidade a todo sistbma rural do país (...)”. A
Mensagem n- 33, item 18, encaminhando ao Congresso o {»ojeto da Lei
n24.504de 1964,é explicita:“Daí a denominação do projeto que por constituir
um verdadeiro Estatuto da Terra visa regular os diversos aspectos da relação do
homemi
com a terra, tratando-os de forma OTgânica e global”.
Enquanto o SSR ma administrado por um (Conselho Nacional com um
presidente nomeado pelo Presidente da Rqniblica a partir de uma lista tríplice
apresentada pela Confederação Rural Brasileira (que, aliás, pt^ufa a maioria
(tos membros dos conselhos daquela entidade autárquica), o Estatuto da Terra
criou o Instituto Brasileiro de Reforma Agrária (IBRA), diretamente subordina­
do ao Presidente da República, “l<KaÍizando na jHÕptia chefia da Nação a res­
ponsabilidade pela eficiente execução do proc^so à& nradetnização de nossa
estrutura agrária...” (Lei n^ 4.504,1964, mensagem n^ 33, item 28).
No texto da lei que criou o SSR e da grande maioria dos dcKumentos que
o antecederam ou lhe dmam seguimento (anteprojetos, projetos, mnendas, men­
sagens, pareceres parlamentares e técrücos, manifestações de associações de
pix^etM os rurais, discursos, etc.) o que está em jogo é o meio rural, a po­
pulação rural, .a classe rural, o rurCcola, o ruratísta, o agrário (assim mesmo,
substantivado) ou coisas que tais. Vez por outra, quando se trata de compara­
ções com a indústria (SESI) ou o comércio (SESC), aparece a expressão “tra­
balhador rural” (RAPOSO, 1960). Já o Estatuto da Tetra está vazado numa
retórica muito mais próxima daquela que informava as fcnmulações dos partidá­
rios da reforma agrtüa antes de 1964. Os termos que utiliza - proprietMos ru­
rais, trabalhadores rurais, parceiros, arrendatários, ocupantes, etc. - supõem
estudos AVANÇADOS 95
uma divmidade de ioteiesses, n^ada no caso______ apOBB-
bilidade de políticas eqiecfficas para cada ama dagoete aem ai
diação de entidades patronais.
A legislação não deteinúna uma política. O Estatuto da Teoa, na soa am-
bigfiidade. abre a possibilidade de diferentes vias de desmvolvimento da agri^
cohuia e oferece nníltiplos instruioNitos de in tn v e o ^ ao EsUkÍo. Nos gover­
nos que se sucederam apds 1964, uma via foi primissada: adam odanizaçâodo
latiftindio, em prejuíra daquda que o a, ^»mitemente, privilegiada pela letra
do Estatuto, a da fcninação de propriedades familiares. Bonardo Soij (1980, p.
107), referindo-se à Amazônia, já havia chamadp a a le i ^ para a não defini­
ção a priori da forma que a colonização acabou assumindo na região. Na vm*-
dade, s ^ mais justo dizermos que uma via de transfonnaç^ do campo foi
sendo construída, à medida mesmo que aqueles instrummitos de intmenção
iam sendo acionados em função das ctifmetties conjunturas do jogo de intnes-
ses que se antepõem em tomo das questões ligadas à terra e à produção rurais,
que estão longe de ser estáticas ou refatidas a um elenco fixo de grupos sociais
e instituições.
O lugar estratégico atribuído à especulação financeira e a importância
atribuída à exportação de {Hodutos agrrqjecuáiios e agroindustrmis como ftmte
de divisas para o país, no modelo de desenvolvimmito adotado pelo regime nü-
Utar, f<»am, certamente, decisivos para a escolha da via da modernização con­
servadora. Delgado lelatíviza o piq>el desenq)md)a(h> pela agrfeultura como
fonte de divisas. A exportação agrícola, segundo ele, “no iníiâo do período, de
1967 até 1979, (...) comatxla praticamente a pauta de exprataç^es globais, com
participação em tomo dos 80%“. Mas, aolongodadécarht.háumadiverrifica-
ção do seu perfil, “com a introdução de novos e inqxirtantes {nodutos agtfcolas
e, principalmente, produtos agrícolas elaborados pelo setor indu^rial a jusante
da agricultura” (DELGADO, 1985, p. 27). Sua conclusão é que “essa mudança
na estrutura do comércio exterior a^cola altera um pouco o enfoque de consi­
derar o setor agrícola como fonte ptovedcna de divisas para o restante da eco­
nomia, pam fazer realçar também um novo aspecto das relações internacionais
do setor agrícola, que é o da integração de relações interindustriais”. (id. ibid.,
p. 26).
É dfficU dimensionar o que significou a intervenção do Estado na condu­
ção desse processo. Sua abrangência, todavia, não deixa lugar para düvidas. Há
um certo consenso entre os autores de que o grande instrumento de que se va­
leu o Estado foi o crédito subsidiado. Um estudo recente mostra que o volume
real do crédito rural, na primeira metade dos anos 70, cresceu quase três vezes,
permanecendo estável nc» anos seguintes, ntas os subsídios continuaram oes- Ao contrário do qve
cendoaté o final da década, passando a representar cerca de 18% do valor total {uaalmeote se snpSe, O
da produção agrícola, quando, no início do período, ctmespondíam a 1 ou 2%. repressfioao
movimento camponês
O mesmo trabalho, comparando o volume do crédito concedido c(Mn o valor e as tentativas de
brato da produção agrícola no mesmo paíodo, aponta evid&icias de desvio de e/amestíatçào
empreendidas pelo
empréstimos para outras atividades: na segunda tn^ade da década, o valor dos regime m ilitar irio
mé^tos concedidos girava an tomo de 70 a 90% do valor broto da produção conseguiram impedir
(GRAHAM et al., 1987, p. 22-23). Os dados apontam também para uma cres­ que o esforço de
cente concentração de o i^ to s em tomo de um pequeno mhnero de grandes to­ organização dos
traiMliiadores
madores (id. ibid., p.24-25). prosseguisse.

96 cstndos AVANÇADOS
Outro inâmmmto utiUzado graerosamfflilB pdos govomos fotam os in-
ctMitívos fiscais às atividades agropecuárias e conexas, em e^)ecial nas áreas da
SUDENE e da SUDAM. Entre 1975 e 1985, os finiÁ>s de incmitivos fiscais,
segundo relatário pr^atado pela Comissão de Avalkição dos Incentivos Fiscais
(COMIF) divulgado pela imprensa (ABBOTT, 1988, p. 18), **receberam US$ 6
Ulhões e 620 milhões”. O relattkio «ponta para a baixa imitalnlidade dos pro­
jetos, o não-cumprimoito de seus obj^vos de oiação de enpregos e distribui-
^ de imkla: **0 Fundo de Incmifivos da Amazônia (FINAM) recebeu US$ 1
bilhãoe 100 milhões, dos quais mais da m^áde se destinou ao setor agrcpecuá-
rio. Dos enpreendimmtos agropecuários incentivados, «penas 3% tiveram al­
guma rentalnlidade - os restantes, prejuí«»” (ABBOTT, 1988).
Quanto ao Nordeste, informa o relalõcio que o “FINOR-ipropecuário re­
cebeu US$ 13 bilhão, de 1975 a 1985, sendo que US$ 1,157 bilhão se destina­
ram i pecuária, basicamente para ‘modmnizar latifiindios’ - a média das áreas
incentivadas foi de 4.500 hectares, enquanto o tamanho médio dos estabeleci-
mmitos rurais do Nonfeste é de 37 hectares. Apesar dos recursos, 60% dos es­
tabelecimentos continuaram como ‘latífándios por exploração’, depois 14
anos, de acordo com o dltimo levantamento do INCRA” (id. ibid.).
O segredo «tesses investiinmitos pouco rentáveis está na colocação de
grandes somas de recursos em mãos de particulares sem qualquer tipo de risco.
O capital próprio, como tivemos ocasião de constatar, é substituído pela altna-
ção do valor cadastral da tena no INCRA. O estudo do COMIF vai falar de um
“comércio de incentivos em que as enqnesas «^ücam parte de seu imposto co­
mo incentivo, em troca de pagamento daquelas que receberão os recursos, os
quais, na verdade, pertencem à União, porque ^ dfvida fiscal” (ABBOTT,
1988). No caso do FINAM, o mesmo documento chama a atenção para o fato
de que “apenas 5% dos projetos não sofieram mudança de controle acionário e
a maior parte foi vendida depois do recebimento Jos recursos do FINAM, o que
caracteriza ‘uso especulativo dos incentivos’ ” (id. ibid.).
Um terceiro instrumento de pesC' na condução da política de modernização
foi a política de terras ptiblicas. Respaldados nos dispositivos legais que inibem
a propriedade pâblica de imóveis rurais em carárm- pomanente (Estatuto da
Tmra, art 10, eq>. §1^ e em toda uma sublegislação que brc^u dentro da bu-
rooacia governamental, expressa em portarias, normas, instruções, exposições
de motivos e até em sinqxles ordens de serviço, os governos do período autori­
tário operaram uma transfoência maciça do patrimônio fundiário da Nação para
particulares, srrfxretudo na Amazônia legal. Dos 126381.645 hectares adquiri­
dos e incorpcnados pela União e pelo INCRA entre 1970 e 1985, 31.829.966
foram transferidos, em caráter definitivo, sob a forma de propriedades rurais,
para particulares^ ^ Um dos mecanismos mais usados para operar essa transfe­
rência foram as licitações (os leilões de terras) que beneficiavam, pelo tamanho
dos lotes vendidos (500 a 3.000 hectares), pela inexist&xia de limitações à
aquisição de vários lotes pca- um mesmo grupo'^ e de exigêndas como aquelas
que se antepõem ao reconhecimento de posses, além da ptôpáa. mecânica dos
leilões e de todo o ritual envolvido (editais, projetos, etc.) que excluem os que
11 Fonbs; Dadosgertássobrea esMdadefitruBárlaaté 19SS, INCRA-DP.DFT, usttçoát 1986.
12 Segundo dados da mesoM fome, nin dnico gnq» econdmko adquiriu, em uma dniea UdiaçSo, no
Tenitdrio Federal do Anuq)«, em novemtoo de 1978, cerca de 160 mil hectares.

estudos AVANÇADOS 97
não têm recuisos paia cobrir lances e os <fK não dignem de lecmsos financò-
Tos e culturais pata sequa* entrar na paada, qoe b^i^davam grandes fozrai-
deiros e giupos econômicos nad<MiaiseestrangârosintNess^k>s na tora como
reserva de valor. Dos quase 32 milhões de hectares a que nos leferinros,
12.224.984 hectares fotam, assim, iocoipoiados ao estoque d t terras da grande
pro|»riedade. Curiosamente, essa política g en ^sa de alienação de tnras públi­
cas a grupos nacionais e estrangeiros se fez acompanhar de um ciescmite en­
volvimento das Foiças Armadas com o problema fundiário e com a questão da
terra
Nesses núnmos não estão incluídas as áreas que frnam objeto de contra­
tos de concessão de domütio de terras/pSblicas, a re b ito dos quais não dis­
pomos senão de informações fiagmèntáiias, qoe, segundo documento do
INCRA (ZANATTA, 1984, p. 187) são “uma forma especial de regularização
de áreas de até 600 vezes o módulo de exploração indefinida, cujos títulos
apresentem vícios insanáveis”, podendo ser realizada sem ccmcoirência - de
acordo com o mesmo autor, “uma forma adotada para proteger investimentos
pioneiros na Amazônia” - ou através de concorrência pública - “concessão de
áreas destinadas a projetos de colonização por enqnesas particulares”
Para atender a demandas de outros setores da sociedade, o Estado brasi­
leiro desenvolveu ainda pdíticas, não necessariamente vinculadas à agricultura,
mas que resultaram em mudanças importantes. Refiro-me, basicamente, à cons­
trução de grandes t^ra s pábUcas e, muito especialmente, à ccmstrução de gran­
des hidrelétricas, que provocaram o deslocamento foiçado de mUhaies de famí­
lias, a desativação de toda uma gama de atividades econmnicas e alterações
significativas na organização social das populações atingidas (SIGAUD et al.,
1987). Essas barragens, como também os açodes {^blicos e as rodovias, qoe
provocaram a valorização das terras próximas, somaram-se às políticas de que
falamos anteriormente no estímulo à especulação fundiária.
Acreditamos haver consenso entre os autores a respeito dos feito s per­
versos dessas políticas e de >seu caráter excluctente. Essa tem sido também a vi­
são dos governos que, ao longo dos anos, têm fcsmulado e reformuhulo planos
e programas, e desenvolvido ações mais genéricas ou mais localizadas para
conten^lar os excluídos. Isso é uma conseqãência não q>enas de uma vontaife
política de compensar aqueles que pagaram um preço tão alto pelo desenvolvi­
mento, mas é, também, uma decorrência da incapacidade dos môliadmes tradi­
cionais de absorverem o impacto de um processo de exclusão social de que fo­
ram co-fautores quando não do próprio esvaziamento das funções de mediação
exercidas pelos grandes fazendeiros operada pela legislação e pela ação do Es­
tado de qoe foram beneficiários. Ao longo dos últimos 20 anos, sucederam-se
os programas especiais, setoriais ou regionais, ou ainda, combinando essas duas
características, voltados para o atendimento às populações e áreas carentes.

13 Sobre a questão ver: Almeida, A .T. A segurança nacional e orevigoramento do poder regional,
1980; Martins, A mUitarização da questão agrária no Brasil, 1984.
14 O exemplo mais conhecido foi a concessão de 400.000 hectares no Parâ, em 1975, à construtora An­
drade Gutierrez pata a implantação do “ Projeto Tucnmã” , denunciada, na época, pela C onfedera^
Nacional dos Trabalhadores na Agricultura como lesiva aos interesses dos tminlhadores e da Nação.
Dez anos depois, segundo matéria publicada pela imprensa: “ Invasão e insegurança põem flm ao so­
nho de Tucuniã” , Jornal do Brasü, de 31/05/87, p. 20-21, o empreendimento estaria em crise e seria
palco de graves conflitos sociais.

98 estudos AVANÇADOS
A p d n c ^ desBM poMtoa qae tiniiam coiao tdvo o trab^iador foi
8 poUttca ptevideaciátifL Nio tcrl sido par acaso qae a oiação e iinplaotagSo
do Programa de Asdst^icia ao Trabalhador Rural (PRORURAL) coincidiu
com a arrancada da modernização da agricultura. O PRORURAL dcu existên­
cia real ao Fündo de Assistência ik>Trabalhador Rural (FUNRURAL), ante-
riormente ciiado, estendendo alguns dos benefícios da legislagão (nevidendátia
urbana ao canqw. Ao contrário de alguns ensaios feitos na área à& previdência
rural antmiomieote, « a uma polftica global para o conjunto dos trabalhadores
rurais, af incluídos desde o assalariado rural até o pequmio prt^iietário fami­
liar. O PRORURAL assegurava a partkápação de sindicatos patronais e de tra-
balhadmes nos seus ccmselhos e previa a cdebragão de ctKivênios, para a {»es­
tação de smrviços de saúde, entre outras instituições, cmn mndkatos, entidades
{invadas, etc. (CHIARQXI, W ll). A oiação dessa teia de relações mrvolven-
do siiidicatos de tnáralhmlQres, «ndicatos patnmais, hos{Htais particulares, mé­
dicos, associações médicas, prefeituras munid{>ais e rqaesmitações locais do
FUNRURAL saia le^XMisável, de{xns de a ^ n s anos, pOT mudanças bnpor~
tanles nas relações sociais im campo e ptO{»daria, já nos anos 80, a eclosão de
conflitos de carta mmita, sobrado no ail ck) país (CORADINI, 1988).

As vantagens oferecidas pelas políticas de modernização beneficiaram os


latiniundiáríos tradicionais mas também atraíram para o campo crqntais de ou­
tros setores da economia {>ara quem o c a n ^ passou a ser colocado como uma
alternativa interessante de investimento. Grandes gru{}os econômicos entraram
na {»odução agrícola ou agroíndustrial e passaram a imobilizar ciqiitais em ter­
ras, contando não ^lenas com a sua valorização, mas também com a pospecti-
va de crqrtação de recursos {lúblicos para a tealiz{^ ão de aplicações financeiras
mais vimtajosas no momento. Graziano da Silva (1982, p.77), analisando, em
fins dos anos 70, a expansão da agricultura {»nlísta, assinala que “além de re-
smva de valm*, a tara tem ainda constituído inqiortame meio de acesso a outras
formas de riqo^a, de que são exmiplos tf{»cos o crédito rural e os incentivos
fiscais”. Soij (1980, p. 109-110), referindo-se à Amaz^úa, afirma que a “pos­
sibilidade de ganhos extrordináiios tem determinado a conduta excqicional de
enqnesas multinacionais, que se caraterizam por não realizar investimentos em
estados AVANÇADOS 99
conywas de tenas, embota teabam aberto am exoeçáo «{oaolo ao caso btasiki*
ro”.
Esse estilo de intervenção do Estado toia um outro efeito; atrair os inte­
resses ligados a esses c a ta is para dentro da máquina <k) Estado, que é onde
passaram a se dar as decisões e os ajustes econômicos. Se, no passado, os inte­
resses da grande pro{»iedade rural se faziam sentir através do Legislativo e da
articulação de clientelas pessoais dentro da burocracia estatal, agora é a própría
garantia da condição de proprietário e a própria criação de oportunidades eco­
nômicas que passam por dentro da máquina estatal. É cmno se o mercado de
teiras passasse a atravessar a máquina do Estado. O Estado deixa de ser ^ n a s
utn regulador exterúo desse mercado. Ele se toma também um dos loci e um
dos agentes econômicos, ao lado de alguns dos drgáos pdblicos que o com­
põem, de alguns de seus funcionários e dos vendedores e compradores de terra
convencionais, dessas transações
Isso fortalece o velho capital agrário, que já dispunha de suas articula­
ções, mas sobretudo propicia uma coalização de interesses, qualquer que seja a
origem dos grupos que exinessam ou dos recursos que manipulam, em tomo da
especulação com a terra. As clientelas continuarão existindo, personalizadas,
mas não exclusivamente pessoais, porque passa a havm* um imperativo de efi­
cácia: é preciso assegurar que certas decisões de interesse comum para os que
fazem negócios envolvendo terra sejam tomadas. Toma-se comum nos orga­
nismos de Estado não só a presença de lobistas profissionais, representando
interesses de difmentes indivíduos ou empresas, como de funcionários pdblicos
competentes e imparciais que também se põem a serviço de intéresses privados
que, por efeito de sua própria atuação, acabam se convertendo em interesse pú­
blico.
A atenção dada à ação planejada, intencional, do Estado no canqm, que,
sem ddvida alguma, foi decisiva para o processo de mod»nização técnica de
setores importantes da agricultura brasileira, não pode deixar na obscuridade os
efeitos que a sua simples presença teve, num âmUto mais amplo, no sentido de
alterar esquemas de dominação preexistentes.
Essa presença, em si mesma, não é nova. Mesmo nas formas mais este­
reotipadas de dominação política tradicional, a autonanda ^ a le g a i de que
gozavam os chefes munidpais govemistas era uma eqiécie de “carta branca
que o governo estadual outorga aos cmreligionários locais, em cumprimento da
sua prest^âo no comiMomisso típico do 'coronelismo’ ” (NUNES I£A L, 1976,
p. 51).
O que é novo é uma jnes^ça que não passa mais, necessariamente, pela
mediação dos chefes locais, diminuindo-lhes o podo', através do esvaziamento
de suas funções ou pelo reconhecimento mi oiação de novos mediadores. Não
que os mediadores percam necessariamente o contrc^ sob «las clientelas, mas
esse controle passa a ser mediatizado pelo controle que tȋo que exocer sobre
determinados posh» na máquina do Estado - um Estado mais do que nunca
centralizado - tomando-se mais conq>lexo o seu trabalho de donwutção. A pa^
tronagem exercida pelos grandes proprietários, já abalada pela saída em massa
15 Sobre a necessidade de se estudar o processo regulatdrio no mercado de (erras ver Delgado, op
rtr.,p. 2i4ecap. 6(p. 191-228).

KMI estudos AVANÇADOS


dos trabalhadores de dentio das fazendas, deixa de ser um naecanismo exclusivo
de aiticulaçlo dos can^Kxieses com o Estado e com a sociedade. Abie-seapos-
sibilidade de patrões alternativos e de padrões alternativos, ao mesmo tempo
que se amplia o espaço para organizações estranhas ao sistema tradicional de
dominação.
Se, ao invés do caminho da modernização do latifündio, outra via de de­
senvolvimento da agricultura tivesse sido acionada ou imposta por fmça das
lutas sociais, certamente os resultados smam outros. Mas estamos querendo
chamar a atenção para que, independentemente da via tomada, os pressupostos
. legais da ação do Estado, artmuiados às prdjaias transformaç^s por ele sofri­
das enquarto máquina administrativa, além dos efeitos ptOvocados por sua
presença direta no campo, impuseram uma mudança das relações Estado/gran-
des proprietários/cançoneses. O reconhecimento social, operado legalmente
pelo Estatuto do Trabalhador Rural, e a possibilidade, aberta pelo Estatuto da
Terra, de uma intervenção direta do Estado sobre os grupos reconhecidos como
conqmndo o setor agrícola ou a agricultura, permitiriam a elaboração e aplica­
ção de políticas préprias para cada um desses grupos. O can^nês - o traba-
Uiador rural - tornou-se objeto de políticas, o que até então era inq)ensável,
criando-se condições para o esvaziamento das funções ds mediação entre cam­
poneses e Estado, até então exercida pelos grandes prr^etérios ou pw suas
organizações.
O Estatuto do Trabalhador Rural reconheceu a existência do trabalhador
rural como categmia profissional, vale díz^, como parte do mundo do trabalho
(este, por soa v ^ , parte de um mundo maior, conceindo pela legislação traba­
lhista, elabcnada durante o Estado Novo, dividido etute os mtmesses conciliá­
veis do ciq>ital e do trabalho). O Estatuto da Tetra reconheceu a existência de
uma questão agrária, de interesses conflitantes dentro daquilo que, até então,
o a tratado como um todo indivisível, a agricultura ou, já c o n v id a ao jtugão
corp<»ativista, a classe rural. Mas, ao fazê-lo, tentando identificar várias linhas
]K)ssíveis de conciliação desses int^esses, tentando ordenar as relações na agri­
cultura sem dngir-se a apenas uma de suas dimensões - a opos^ão entre kui-
fundiários e canqmneses ou assalariados rurais nas framulações reformistas pié-
64 - acabou alargando o ânibito da questão agrária, ou melhor, criando condi­
ções para que no jogo entre a refermicia legal e a atuação do Estado, de um la­
do, e os int^esses conflitantes de grandes proimetários e trabalhadores, de ou­
tro, questões como a das tenras jaiblicas e sua destinação, a da colonizaçú), a
do crédito e da relação entre campcreses devedores e bancos credores, a do
cooperativismo, a das obras pdblicas an área rural, prcá^lemas como secas e en­
chentes, entre outros, se inccuporassan à concepção de questão agrária dos
o Estatatoda Terra canqwneses e, num certo sentido, também dos grandes prc^etários, e se tor­
reconheceu a
«òst£atía de uma nassem, cada uma delas, além de objeto de conflitos específicos em pretexto
para o questionamento da política global do governo para o campo.
quesxào agráriot de
intercases conflitantes
dentro daquilo que,
até entdo, era tratado A Afirmação Política do Campesinato e a Virada da Igreja
como um todo
indivisfvel» a
agricultura ou, jé A implantação dos sindicatos de trabalhadmes rurais, que correu paralela
convertida ao Jargão a essa intervenção do Estado, contribuiria de modo decisivo para enfraquecer
corporativista, os padrões tradicionais de dominação. Antes mesmo (fe sua atuação, sua sim-
a ciasse rural.
estudos AVA.\ÇADOS 10]
pies presença ameaçaria aqueles padrões. O rindicato iria se colocar não só
COITO um mediador alt^nativo, mas como um vefculo para a inq>lemeatação de
regras inqjessoais que são a negação da dominação personalizada do larifúndio.
Através do sindicato, os trabalhadmes puderair- tsr acesso à Justiça e a imple­
mentação das leis tomou-se uma possibilidade real.
Os riscos de absorção dos sindicatos pelos esquemas cUentelfsticos tradi­
cionais foram minimizados por sua inserção numa estrutura vertical e nacional,
aquela do movimento sindical de trabalhadraes rurais. Fossem eles entidades
meramente locais, o resultado talvez fosse diferente. Mas eles são peças de uma
política para cuja elaboração contribuem, mas que só se con^leta em nível es­
tadual, na programação das federações de trabalhadores rurais, e em nível na­
cional, na programação de sua confederação.
Outra presença inqKirtante, ao longo desses anos, seria a da Igreja Católi­
ca. A rigm-, a Igreja, como instituiç«), sempre esteve presente no campo. Mas,
se ela permaneceu, como no passado, cobrindo, na fcnmulação de José de Sou­
za Martins, aspectos da vida do trabalhador rural não englobados pelos princí­
pios contratuais que informam a i^ o de partidos e sindicatos (MARTINS,
1985, p. 124), mudou o sentido de sua atuação. De supcHie das formas tradicio­
nais de dominação passou a suporte de contestação camponesa, para o que
contribuiu, certamente, seu conflito com o Estado, algum tenqro depois de im­
plantado o regime militar, que, por sua vez, intensificou-se com esse posicio­
namento.
Surgindo como força política na luta pela terra e por direitos trabalhistas
nos anos 50, da convergência conflituosa das ligas canqionesas e sindicatos ru­
rais, estimulados pc»' partidos de esquerda e pela Igreja Católica, o movimento
sindical dos trabsdhadores rurais teve um papel fundamental na transformação
da questão da reforma agrária em questão políüca.
Ao contrário do que geralmente se supõe, a repressão ao movimento cam­
ponês e as tentativas de domesticação enqseendidas pelo regime militar não
conseguiram impedir que o esforço de organização dos trabalhadcaes prosse­
guisse. Por razões já analisadas em outra parte (PALMEIRA, 1985), as entida­
des sindicais se reorganizaram com relativa rapidez e, ao mesmo tenq>o que
sustentaram lutas que se dispersaram politicamente coroo decorrência da própria.
conjuntura nacional, partiram para ampliar e frxtalecer sua organização em m-
vel nacional. O cimento ideológico dessa empresa política comandada, a partir
de 1968, pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura, seria a
bandeira da reforma agrária.
Usando habilmente a referência legal existente, o movimento sindical
conseguiu manter o seu perfil de força autônoma exigindo o cunqmitnento da Embutido no processo
lei, contestando publicamente o Govono no canqx> em que lhe era possível de desenvolvimento da
combater (iniciativas governamentais que atingissem diretamente interesses dos organização sindical,
trabalhadores rurais), num momento em que pratícamente inexistia contestação ocorria um outro
organizada fora das tentativas armadas: lutando para manter juntos na mesma processo de
conseqfiências
(vgaiiização todos os camponeses (do trabalhadm- volante ao pequeno proprie­ igualmente
tário familiar), todos os beneficiários potenciais da reforma agrá^. Na impos­ importantes: a
sibilidade da nmbilização pdítica (substituída pela defesa individual dos tra­ elaboração de uma
balhadores e pela pressão possível junto aos i^gãos do podmr), o movimento identidade de classe
pelos que trabalham
sindical desenvolveu um intenso trabalho pedagógico em tomo da questão da no campo.
102 estudos AVANÇADOS
refonna agtjóia como ponto de convogência dos interesses das di£nenfes ctde-
gorias de trababadoies furais.
Embutido no processo de desenvolvimento da oiganização sindical, oa»*-
ria um outro processo de consequências igualmmite inqK»tantes: a ebft)otaçâo
de uma identidade de classe pelos que trabalham no c a n ^ . A adoção da iden­
tidade de can^xmês signifkava juntar, em tomo da vincul^ão à tena através
do trabalho, pessoas e gnipos que o recorte por soa insoção numa relação de
dmninação determinada, por uma vinculação espacial qualquer, pot uma detn-
minada manmra de di^)or do produto do sen trabalho, por particularídades étni­
cas ou religiosas, s^Muava politicamente. ^
Onn a legislação, o {»oblema da ideittidade, fundamental ao reconheci­
mento poiftico, tomou-se mais conq)lexo. Ao introduzir figuras jurídicas novas
(parceiro, arrendatário, assalariado, etc.), e fazm* emn que o tr^mlhador fosse
obrigado a assumi-las para o exercício das novas práticas introduzidas em sua
vida pela previdência, pelos triininais, pelo próprio sindiemo, a legislação ctm-
tribufa para a ruptura das identidades **tradicionais” e abria a posábüidade de
uma dispersão de identidades. O problema foi agravado pela censura govana-
mental ao uso do termo ‘'camponês”. O movimento sindical dos trabalhadores
rurais conseguiu, todavia, realizar a proeza política de, desvencilhanckr-se da
diversidade de termos que eram utílirâdos pelos organismos oficiais, de ctm -
pônio a rurbxHa, qmqniar-se eficazmente daquele que era simultaneamente o
mais neutro (porque genético) e o menos noutro (pela referência ao trabalho)
- trabalhador rural - e inculcá-lo em suas base», adotando-o como um tomo
“naturalmente” genético para unir todos os que vivem do trabalho da tetra,
posseiro ou pequeno {nrqãi^áiio, arrmdatário ou patedro, assalariado perma­
nente ou tempenário, e fazendo-se teconheem’ pelãs demais forças sociais como
o seu representante.
Nesse jnocesso, os trabalhadores niiais foram amadurecendo um projeto
pF i^o de tdbrma agrária que contrtqmnbam às políticas eUft>otadtâ p ^ Go­
verno ndlitar. Projeto p n ^ o não significa projeto elabtmuio, no isolamerho,
por um pequeno grupo de ilummados, nem, muito menos, um projeto que tenha
brotado espontaneamente das bases. Trata-se de uma construção que se vai es­
boçando ao Itmgo dos anos, em cima de exigências postas pelas lutas desenvol­
vidas em vários nívds, cristalizando-se em conclusões de encontros, seminá­
rios, tomadas de posição, declarações, etc., incorporando análises produzidas
por intelectuais e avaliações dos que ocupam posições-chave no movimento,
que acabam sendo sistematizadas por ocasião de granas eventos, como o 3-
Congresso Nacional dos Trabalhadores Rurais, em 1979, e o 4- Congresso, em
Outra presença 1985, e assumidas como suas - diferencialmente, como em qualqu^ op^ação
importante, ao longo desse tipo - por trabalhadores e lideranças nas várias instâncias de organização
desses anos, seria a da
Igreja Católica. A sindic^. (^umKlo, em 1979, à época da abertura do Governo Figueiredo, o 3-
rigor, a Igreja, como Congrésso Nacional dos Trtd>ãlhadores Rurais (maio/79), patrocinado pela
instituição, sempre Ctmfednação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura ((DONTAG), propôs
esteve presente no
campo De suporte a sua “reforma agrária ampla, massiva, imediata e com a partK^»ção dos tra­
das formas balhadores” e associou r^orma agrária e democracia, criou um esposo novo
tradicionais de para a discussão deste tema e, pela ausência de in^locutores naquele mmnen-
dominação passou a to, o ocupou por inteiro. Pmíodo de reorganização partidária, nenhum partido
suporte de contestação
camponesa,... tinha condições de (»opor (pelo distanciamento do problema e pelo grau de
estudos AVANÇADOS 103
detalhamento de uma prq)05ta que sistanatizava uma experiêimia vivida) algu­
ma coisa qw se aproximasse do {»ejeto do Movimento Sindical dos Trabalha­
dores Rurais*^
Esse e^aço tendeu a ampliar-se entre 1979 e 19S4, com a nova otirata-
ção adotada pelo movimento dndical de dar prioridade às lutas coletivas. Mo>
bilizações sem {»ecedentes em tomo de preços mínimos e outros itens da políti­
ca agricola, {»evidência soõal, articu la^ das lutas em t(»no da teira, greves
de assalariados, protestos <h massa contra a construção de barragens ou pela
exigência de üutenização em terras, manifestações públicas em tomo de pro­
blemas como secas e barragens ou exigindo sin^lesmente a refcnma, sucede­
ram-se, afmnando a presença do movimento sindicai e delimitando um campo
de lutas bem mais amplo que a simples o{X>sição entre cam{X)neses e latifundiá­
rios.
No período pré-64, em que {»esasse a im{)ortância da mobilização cam{x>-,
nesa, a ref(»ma agrária pennanecia sendo, nos termos de Octavip lanni, “uma
questão posta pela cidade; posta no horizonte do partido, ou dos partidos, e que
tem a ver com um entendimento da questão da terra que não é {»opriamente o
do camponês, e que acaba sendo p do cam{X>nês, em certa medda” (lANNl,
1983, p. 64). Na verdade, o que se dava era o encontro de um discurso urbano
com a mobilização camponesa e a ie£pro{»iação desse discurso {)elo camptesi-
nato que emergia politicamente, sem que essa reelab(»ação se completasse an­
tes de 1964. Se a reforma agrária era {x>sta e até exigida pela mobilização cam-
(xmesa, ela era formulada por uma multiplicidade de programas partidários,
{uojetos de lei, etc., que competiam pelo encontro da f ^ u la mais adequada,
ao mesmo tempo que còm{)etiam {)elo enquadramento do canpesinato que
emmgia como força política (GRYNSPAN, 1987).
Nos anos recentes, diferrateroente do {»assado, a ief<»ma agrária seria
{»osta pelo movimento dos trabalhadores rurais e {>or um {»oderoso aliado, a
Igreja Católica que, desde meados dos anos 70, voltara a {»teocupar-se com o
{»oblema agrário, envolvendo-se diretamente na organização dor trabalhadores,
ero espedal nas áieas de expansão da fronteira agrícola do norte e do centro-
oeste. Invotia-se o sentido das <x>isas, conpárativamente at» anos 50 e 60: ao
invés da bandeira da reforma agrária ser o b j^ ^ conscientização <h»s canpo-
neses {»omovida {»or Uma elite ^ a n a , o {»r^lema agora « a as òrgmiizações
trabalhad(»es venderem a uma cidade tand)ém transformada a idéia de reforma
agrária e conseguirem, junto cran forças urbanas, levar o Governo a lealizá-la.
É significativo que tenha sido criada em 1982 uma Campanha Naciontü pela
Reforma Agrária cujos {»romotores e integrantes ermn, não os {»artidos {»olíticos
ou os sindicatos urbanos, mas a Confederação Nacional dos Trabalhadores na
Agricultura, a Comissão Pastoral da Terra, a Linha 6 da Conferência Nacional
dos Bispos do Brasil e duas pequenas organizações de intelectuais pró-reforma
agrária: a Associação Brasileira de Reforma Agrária (ABRA) e o Iristituto Bra­
sileiro de Análises Sociais e Econômicas (IBASE) que {»xpunham às forças so­
ciais tomar “a Reforma Agrária uma bandeira e um movimento concreto de to­
da a sociedade em apoio à Luta dos trabalhadores rurais”.
16 As conclusões do 3- e do 4^ Congresso Nacional dos Trabalhadcms Rurais, além de reivindicações
sobre a reforma agrária e a política agrfcola proprít mente ditas, incluem jmpostas articuladas sobre
colonização, terras publicas, incentivos fiscais, grânttes obras pdblicas, J u s t^ Agrida, seca, projetos
especiais. Tratam tinda das questôes trabalhistas e previdenciéiias e.fazem considerações sobre o
modelo ecoitámieo e a política nacional.

104 estados AVANÇADOS


o
0,’í^ ’%jH>)Í^ , \ u j. '4 y <ínt,
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A Reforma Agrária como Questão


Se o que vimos até aqui faz algum sentido, poderiamos concluir, negati­
vamente, que as mudanças soMdas pela sociedade brasileira, nas últimas déca­
das, não se limitaram à sua economia, e nem as mudanças na sua economia se
limitaram ao campo, e nem as mudanças sofridas pelo campo se limitaram à
agricultura, .e nem as mudanças na agricultura foram apenas econômicas, e nem
as mudanças econômicas no setor agrícola se restringiram h modernização tec­
nológica ou à integração ao mm:ado ou à integração ao complexo agroindús­
tria] e, finalmente, nem as mudanças sofiidas pelo setor agrícola para além da
modernização se limitaram aos seus efeitos perversos.
As transfmmaçóes ocorridas no campo foram maiores que a moderniza­
ção, valorada posítivamente, e os seus efeitos, lamratados e, algumas vezes,
justificados pelos que a estudam. Procuramos mostrar alguns dos processos
que, paraielamente à modernização, pesaram na transformação do perffl do se­
tor agrário brasileiro.
A colocação em evidência desses processos sugere que eles se combinam
em dois movimentos relativamente autônomos e contradit^os. Por um lado, a
progressiva ilegitimação das fcumas tradicionais de dominação, associada à in-
c q » c id ^ do Estado - um Estado que não é apenas árbitro, mas parte nas lu­
tas sociais - de gerar novas fmmas de legitimidade que têm levado à multipli­
cação dos conflitos e à anqiliação do seu “âmbito”. Não são mais apenas con­
flitos em tomo da terra, da produção ou das condições de trabalho, mas também
da construção de obras públicas, da assistência goveroantental nas situações de
calamidade, do meio ambiente, da assistência médica, etc. Não mais são apenas
conflitos que envolxam tão somente camponeses e latifundiários e, muito me­
nos, que se resolvam apenas entre eles.
Por outro lado, as vantagens asseguradas pelo Estado, no bojo da política
de modernização, atraíram para as atividades agropecuárias e agroindustriais,
estudos AVANÇADOS 105
mas sd»etiido pata a especvlação fiindiária, cqntais das mais ^versas origais,
criando-se uma coalizão de intnesses a n tomo do negddo com a tem incms-
tada na própria máquina do Estado. Paradoxalmeate, a modanização [novocon
um aumento do peso pdüdco dos proprietários de taras, modernas e tradicio­
nais.
Á reforma agrária é posta na ordem do dia pelo primeiro movimento. Não
se trata mais de uma política entre outras, que pode ou nã> s a to n a d a pelos
governantes. É uma demanda social que eles não podem ignorar. É uma questão
socialmente imposta. Daí a dificuldade que têm de se livrar do tema, memio
quando ele se toma politicam^te inconveniente. Mas o peso dos intaesses
agrários no in ta ia do Estado é sofideniemente grande para imobilizar qual­
quer tentativa nesse sentido. O governo da **Nova República” elaborou planos
ée reforma agrária, arquivou-os e continuou falando de reforma agrária. A
Constituinte inscreveu-a no texto da nova Carta, mas a inviatnlizou ao introdu­
zir a noção de **pro{»iedade produtiva”, isenta de desaptpiniação.
Não se trata, sinq^esmente, de um problema de govono, nem de um pro­
blema que envolva apenas determinados grupos. O que está em jogo na questão
da reforma agrária hoje - por força dos processos sociais que vimos - é a opo­
sição entre dois movimentos que envolvem confrontos de interesses diversificar
dos e que, per assim dizer, atravessam toda a sociedade. Nesses confiontos, o
que, por sua vez, está em jogo é a própria maneira de <^>erar do Estado. O im­
passe do Estado em administrar essa questão sodalmmite constraída reflete
também aquele da sociedade em escolha o Estado que deseja para g«rir os smis
próprios inquisses.

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108 estwlos AVANÇADOS

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