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DEPOIS de dois dias de nada para fazer além de fazer sexo e nos

preocupar com os policiais batendo na nossa porta, Jamie e eu


estávamos prestes a derrubar as paredes do quarto de motel gasto onde
Aaron nos abandonou na noite do assassinato do Santori. Ele fez pouco
mais do que vociferar algumas ordens quando saiu:

—Fique aqui até ouvir o contrário. Não saia. E não fale uma
palavra do que aconteceu esta noite. Nunca. Você está me ouvindo,
Kage?

Eu concordei entorpecido, esperando que eu estivesse o


entendendo através da névoa de drogas que meu tio Santori havia
injetado no meu sistema. O rosto do Jamie flutuava na minha visão, com
os olhos arregalados e assustados. Ele brincou no carro depois de jogar
Santori da varanda e vê-lo despencar até a morte, mas mesmo em meu
estado incapacitado, eu sabia que ele estava em choque. Claro que ele
estava. Ele tinha acabado de matar um homem.

Lembrei-me de fazer uma correção mental. Diabo, não um


homem. Porque Santori tinha sido tão desprovido de humanidade
quanto uma pessoa poderia ser.

Agora que Jamie tinha ficado obcecado com isso por dois dias sem
nada para distraí-lo, ele estava diferente. Não havia mais piadas, e seus
sorrisos pareciam cada vez mais forçados à medida que as horas se
arrastavam. Eu não sabia o que fazer por ele, e isso estava me
consumindo de dentro para fora.

—Volte para a cama, querido. — Eu acariciei o colchão flácido e dei


o que deveria ser um olhar de venha para cá. —Os percevejos estão
começando a ficar solitários sem você.

Seu suspiro desolado foi como um vento do deserto, soprando os


arbustos através da minha alma.

—Você não precisa tentar me animar, Kage. Só estou com fome,


isso é tudo. —Como se para pontuar sua declaração, seu estômago
roncou alto o suficiente para ser ouvido por todo o quarto de onde ele
estava na porta do minúsculo banheiro, vestindo nada além de sua cueca
três-dias-suja. Ele passou os braços em volta da cintura. —Eu acho que
meu estômago está tocando minha espinha dorsal.

No caminho para o motel, Aaron nos para um drive-thru e pediu


seis hambúrgueres, apenas o suficiente para nos impedir de morrer. Nós
comemos um na primeira noite, depois eu me levantei no meio da noite
e comi outro. No dia seguinte, descobri que aparentemente Jamie fizera
a mesma coisa. Isso deixou dois para cada um, e nós os comemos no
segundo dia. Agora não havia comida no quarto.

Eu estava tentando o meu melhor para ignorar o estrondo no meu


próprio intestino, mas saber que Jamie estava com fome fez algo para
mim. Isso me deixou com raiva.

Eu pulei da cama.
—É isso aí. Foda-se a regra de não sair do Aaron. São quase três da
tarde e precisamos de comida.

—Tem certeza? —Jamie perguntou, mas não foi muito de uma


luta. —Nós poderíamos pedir uma pizza. Uma fatia gordurosa de
calabresa com queijo escorrendo pela borda atingiria o ponto certo
agora.

—Nós já passamos por isso, Jamie. Eu não quero ninguém vindo


para este quarto. Ninguém chega perto de você.

—Eu sei. —Ele gemeu, apertando o abraço de urso em sua própria


barriga. —É só...

—De jeito nenhum. —Eu disse, vestindo meu jeans e deslizando


meu cartão de crédito no bolso. Enfiei meus pés em meus sapatos, atrás
de uma curva para dentro e cavando em meu calcanhar. —Foda-se. —Eu
rosnei, mais para meu próprio benefício do que o de Jamie. —Eu sou um
merda inútil se eu não posso nem alimentar meu maldito namorado.

Eu saí do quarto sem olhar para trás e fui para o escritório da


frente. Quando abri a porta de vidro, um sino enferrujado soou logo
acima da minha cabeça para anunciar minha chegada. Uma jovem
recepcionista com uma mecha rosa no cabelo loiro de raiz escura me
olhou como se eu tivesse vindo prendê-la. Pelo brilho dos seus olhos
vermelhos e o cheiro de maconha, eu poderia facilmente imaginar o
porquê.

—Comida. —Eu vociferei irritado, inclinando-me pela porta da


frente enquanto eu a mantinha aberta atrás de mim.
—Há uma lanchonete lá em baixo. —A menina apontou na direção
geral para a esquerda, como se fosse muito trabalho ser específica. —
Eles fazem as melhores panquecas de mirtilo, mas não há muitos
assentos. Normalmente é lotado, então se você não se importa de
esperar...

—Isso é bom. Vou fazer isso. —Eu deixei a porta se fechar, ouvindo
a campainha tocando atrás de mim, e atravessei o estacionamento.

Não havia muitos veículos no motel, e isso ajudou a diminuir


minha apreensão. Eu não tinha certeza do quão perigoso era eu ser visto
em público, mas achei que era uma boa ideia evitar a exposição
desnecessária apenas por precaução. O ar fresco era bom em meus
pulmões, e a luz do dia começou a trabalhar sua magia em mim em
questão de segundos. Meu passo tinha acabado de ficar mais leve
quando eu contornei o prédio e parei de repente, meu coração falhando
em meu peito.

Um Escalade preto estava estacionado do lado de dentro da


entrada do motel, parecendo agourento e fora de lugar, entre o punhado
de modelos de carros antigos da economia e o mar de vagas de
estacionamento vazias. O instinto me avisou que o SUV estava lá para
Jamie e eu, embora se era amigo ou inimigo, eu não fazia ideia. Eu não
estava prestes a chegar perto dele.

Eu mudei de curso e caminhei de volta para o quarto, desejando


que meus pés se movessem lentamente e minha postura permanecesse
neutra. Eu não podia chamar a atenção fazendo o que eu realmente
queria fazer. Cada célula do meu corpo estava gritando para eu correr.
Para voltar para Jamie o mais rápido que eu pudesse, porque o que
diabos eu estava pensando? Aparentemente meu cérebro se
transformou em mingau com todo o estresse e incerteza.

Como, em nome de Deus, eu pensei que era melhor deixar Jamie


sozinho, em vez de pedir a entrega de uma pizza? Naquele momento,
isso fazia sentido. Agora percebi que qualquer um poderia estar
espionando, e no momento em que saí do quarto, eles poderiam... Bem,
estremeci ao pensar no que poderia ter acontecido.

Voltei para o quarto, tentando controlar minha respiração. E meus


pensamentos. Eu tinha que ser forte por nós dois.

—Isso foi rápido. —Jamie olhou para mim da cama onde ele se
instalou para assistir a Cartoon Network1. Ele usou o controle remoto
para silenciar a TV, então se virou para mim com uma expressão
devastada. —Onde está a comida?

—Eles disseram que o restaurante é muito longe para ir andando.


—A mentira deslizou facilmente dos meus lábios. Muito facilmente. —
Nós temos que esperar. Tenho certeza que não vai demorar muito mais
tempo.

Jamie me olhou com os olhos semicerrados.

—Longe demais para andar, né? Isso vem de um cara que corre
três milhas todas as manhãs?

Dei de ombros e sentei pesadamente na beira da cama,


sobrecarregada pelo fardo da minha mentira.

1
Cartoon Network é um canal norte-americano de televisão por assinatura de rede de propriedade da
Turner Broadcasting System, que vai ao ar principalmente com programação animada.
—O que posso dizer? Eu estou fraco por falta de calorias. Sem
mencionar que eram hambúrgueres, Jamie. Eu preciso de comida de
verdade. Comida saldável. Levarei duas semanas para me recuperar de
não comer nada além de hambúrgueres por três dias.

—Tecnicamente, você só comeu hambúrgueres por uma noite e


um dia. Hoje você está morrendo de fome.

—Faminto? —Eu ri, tentando cortar a tensão. —Eu já passei por


pior. Não esqueça que eu tive que perder trinta quilos em onze dias
enquanto ainda mantinha minha força o suficiente para vencer uma
luta. Eu sou forte, querido.

Isso tirou um sorrisinho dele.

—Sim, você é.

—É com você que eu estou preocupado.

A carranca do Jamie não passou despercebida por mim.

Olhei de relance para o banheiro, uma caixa desagradável feita de


minúsculos azulejos rosas com linhas de argamassa que tinham
escurecido com o tempo e falta de limpeza adequada. Sem contar que
uma miríade de germes fizera dessas fendas escuras sua casa.

Eu tinha estremecido todo o caminho através do único banho


morno que eu tinha tomado, tateando na escuridão virtual atrás de uma
cortina de chuveiro de vinil mofada que apagava o brilho da luz do teto.
Uma mancha de ferrugem escura me fez olhar para baixo no buraco do
dreno, e pensei que os sapatos nunca me pareceram uma invenção tão
boa.
Em certo momento, durante meu banho no Inferno, meus dedos
haviam afundado em algo macio e pegajoso, eventualmente identificado
como uma barra desintegrada de sabonete Ivory, e eu engasguei e
coloquei a cortina do chuveiro de lado para investigar.

Tinha sido uma experiência de pesadelo, e não uma que eu queria


repetir, mas agora um banho parecia uma boa ideia. Isso acabaria com
a necessidade de conversar e diminuir as chances de Jamie descobrir
sobre o SUV preto que estava nos perseguindo. Era tão difícil mentir
para ele, especialmente quando ele olhava para mim com aqueles olhos.

—Eu acho que vou tomar um banho. —Eu disse, esticando meus
braços sobre a minha cabeça. —Meus músculos estão ficando rígidos por
serem tão sedentários, e a água quente vai ajudar a soltá-los.

—A água quente é uma fantasia legal, Kage. Pena que não há nada
naquele chuveiro. Ficará gelado em cinco minutos, e então você sairá de
lá mais duro do que quando entrou. —Jamie inclinou a cabeça e sorriu.
Um sorriso verdadeiro. —Então, novamente, mais duro soa bem.

O chuveiro foi esquecido. Como ele conseguia me excitar tanto,


não importa quais fossem as circunstâncias?

Eu subi na cama ao lado dele e passei a mão pela sua perna nua,
os cabelos crespos fazendo cócegas na ponta dos meus dedos da maneira
mais deliciosa. Sua boxer se abriu apenas o suficiente para tentar, e eu
estendi a mão para desliza-la para dentro.

—Deus, sim. —Jamie tomou fôlego quando eu encontrei seu pênis


e o senti endurecendo dentro do círculo do meu aperto.
—Eu não acho que vou conseguir tocar em você o suficiente,
Jamie. Seu corpo foi feito para as minhas mãos.

Eu comecei a acariciá-lo, paixão fervendo através de mim ao sentir


seu corpo respondendo ao meu toque. Ele afundou os dentes em seu
lábio inferior quando ele se empurrou para a minha mão. Eu sabia que,
se eu parasse agora, ele imploraria, e Deus como eu gostava disso. Ele
precisava de mim tanto quanto eu precisava dele. Ninguém jamais
desejou meu toque como ele desejava.

Quando o fiz se contorcer e sua respiração acelerou, inclinei-me


para levá-lo à minha boca, morrendo de vontade de saboreá-lo. Quem
precisava de comida quando eu tinha um banquete como este colocado
diante de mim apenas implorando para ser comido? Eu envolvi meus
lábios ao redor da cabeça de seu pênis e chupei suavemente,
provocando, algo que eu nunca teria feito antes de conhecer Jamie
Atwood.

Então o telefone tocou e eu saí dele como se eu tivesse sido


baleado. Jamie rolou para longe de mim e eu sabia que seu coração
estava martelando tanto quanto o meu.

—Porra! —Eu gritei antes que eu pudesse processar o novo


desenvolvimento. Tudo o que eu sabia naquele instante era que algo
havia me interrompido da minha tarefa obstinada de seduzir o meu
namorado e tinha assustado a merda toda fora de nós dois.

Então me dei conta de como era estranho o telefone do hotel estar


tocando. Eu sabia que a única maneira de nos contatar era por telefone
fixo, já que nossos dois telefones já tinham desligado, apesar de nossos
esforços para economizar bateria, mas esse conhecimento não
diminuíra o choque de ouvi-lo tocar.

—Você vai atender isso? —Jamie perguntou após o terceiro toque,


colocando seu pau de volta em sua boxer como se a pessoa do outro lado
da linha pudesse nos ver.

—Oh. Sim. —Eu entrei em ação e corri para pegar o telefone antes
que quem estivesse do outro lado da linha desistisse. O aparelho caiu
ruidosamente quando eu desajeitadamente o tirei do compartimento e
levei até o meu ouvido. —Olá? —Eu perguntei hesitante.

A voz de um homem, profunda e grave, soou acima da linha. Ele


não perdeu tempo para os negócios.

—Há um Escalade preto esperando por você na frente. Saia do


hotel, coloque seu namorado em um avião de volta à escola e vá para
casa. Mas eu estou te avisando... Mantenham suas bocas fechadas. Você
ainda não está fora de perigo.

—O que está acontecendo? —Eu perguntei, na esperança de obter


uma resposta direta.

O inarticulado segredo que o Aaron pediu tinha enviado uma


mensagem alta e clara, que na sequência da morte do Santori, Jamie e
eu tínhamos sido transferidos. Agora, em vez de participantes, éramos
espectadores.

—Isso não é da sua conta. Você e Jamie passaram dois dias em um


hotel, só isso. O registro mostra o check-in logo após as cinco da tarde
em questão. Além disso, você não sabe nada.
—Mas por que deveríamos dizer que estávamos aqui? Não
precisamos de uma história que não inclua nos esconder? Eu moro em
um hotel. Um bom. Por que eu iria querer trazer o Jamie para esse lixo?

—Diga o que você quiser. Essa parte não é importante, porque o


seu álibi é impermeável. Há um registro de você e Jamie fazendo check-
in em um hotel minutos antes de Santori ser testemunhado pulando
para a morte em um aparente suicídio, e as autoridades não
encontraram sinais de crime. Quem se importa com porque você estava
lá? Você estava. Isso é tudo que importa.

—Eu não entendo. Por favor, me diga alguma coisa. Como eles
não encontraram sinais de jogo sujo? E quanto à mesa de café quebrada?
E o corpo do Aldo?

—Todas as coisas que você não deve se preocupar.

Eu gemi, me sentindo como uma criança tentando entrar em uma


conversa adulta e sendo impedida.

—Por que não estamos fora de perigo, então? Você pode pelo
menos me dizer isso?

O estranho do outro lado da linha riu.

—Você nunca vai sair de perigo, filho. Não até o dia em que você
morrer.

Um calafrio percorreu minha espinha com suas palavras.

—Quem é Você?

—Um amigo.
—Bem, eu preciso de um nome. —Eu tentei, sentindo a futilidade
disso. —Então eu saberei a quem agradecer.

—Você quer me agradecer? —Ele rosnou. —Então tente não matar


mais ninguém. Está me ouvindo? Eu não quero nunca mais ter que
limpar sua bagunça novamente.

A linha foi desligada.

Jamie ficou sentado na cama olhando para mim com os olhos


arregalados, sua garganta trabalhando visivelmente para engolir.

—O que diabos foi isso?

Eu respirei fundo, conscientemente diminuindo o ritmo do meu


coração, e reuni minhas forças. Então desliguei o telefone e me virei para
ele com um sorriso que era todo músculo e nenhum sentimento.

—Coloque suas calças, garoto universitário. Estamos livres para ir.

—Só isso? Por que ele disse que não estamos fora de perigo?

Eu não queria preocupar Jamie depois de ele já ter passado por


tanta coisa, e eu certamente não queria repetir o que o homem tinha dito
para mim.

Não até o dia em que você morrer.

A palavra morrer pode lembrar Jamie que ele matou alguém, e eu


tinha acabado de passar os últimos dois dias tentando tirar essa
memória da cabeça dele. Em vez de responder à pergunta, peguei o jeans
do Jamie e levei-o até ele, caindo de joelhos e passando o jeans pelos
seus pés e pelas suas pernas.
—Eu odeio encobrir este corpo. —Eu disse, sorrindo para ele. —Eu
tive você nu e só para mim por dias. Não tenho certeza se quero mesmo
voltar à civilização.

Quando cheguei a calça tão longe quanto ela iria com Jamie ainda
sentado, ele se levantou sem avisar e me deixou deslizá-la até seu
quadril. Como uma reflexão tardia, eu pressionei um beijo rápido na
frente da sua boxer pouco antes de situar sua cintura e fechar o jeans.

—Pronto. Tudo coberto. Agora pegue seus sapatos e camisa.

—Kage? —Jamie incitou, seu rosto bonito se contorcendo com


uma preocupação mal disfarçada. —Você vai responder a minha
pergunta?

Abaixei-me para folhear a Bíblia de cortesia na mesa de cabeceira


e disse distraidamente:

—Você só precisa ter cuidado na vida, é tudo o que ele quis dizer.
Como, não seja paranoico, mas esteja ciente de que há sempre uma
chance de que as coisas não saiam do seu jeito.

Os ombros do Jamie relaxaram um pouco.

—Então você está dizendo que estamos noventa e nove por cento
limpos?

Eu sorri, encantado com o olhar esperançoso em seu rosto. Ele era


tão adoravelmente ingênuo.

—Sim, bebê. É isso que eu estou dizendo.

Eu não me incomodei em apontar o fato de que meu estômago se


torceu em nós. Que eu já estava limpo, que eu era inocente no
assassinato do Santori. Foi Jamie quem precisou de limpeza e proteção.
Meu doce e inocente Jamie. Eu fiz dele um assassino, e passaria o resto
da minha vida tentando compensar isso.

Pelo menos foi o que eu pensei naqueles últimos minutos em


nosso quarto de motel gasto, olhando para o amor da minha vida e
desejando que eu acordasse e descobrisse que os últimos três dias não
foram nada mais do que um pesadelo. Mas intenções nobres tinham um
hábito irritante de cair no esquecimento, especialmente quando a
pessoa que tinha essas intenções era má no coração.

Má, não importa o quanto ela tentasse ser boa.

Má como eu.
O NOSSO retorno ao Alcazar foi um regresso ao lar agridoce.
Santori se foi, e isso era uma vantagem definitiva. Não há mais assédio
moral, não há mais vigilância e não há mais manipulação de Kage como
um fantoche de vegetação. Mas a ausência do bastardo foi um vislumbre
da liberdade através de uma janela trancada, porque havia algo ainda
mais insidioso pairando sobre nós agora. O fato de que eu cometi
assassinato.

Meu tempo no motel foi preenchido com imagens do rosto do


Santori no momento em que ele percebeu que eu tinha jogado ele sobre
a varanda e não havia como voltar. A descrença que havia arregalado
seus olhos para o tamanho de meio dólar. A careta de acusação.

Mesmo que ele merecesse a morte e muito mais, eu ainda não


conseguia me livrar do sentimento de culpa de que eu realmente tomei
uma vida. Eu apaguei a força vital de outro ser humano.

O fato de ter sido em defesa própria era menos consolador do que


deveria ser. Foi autodefesa, disso eu tinha certeza. Então, por que nós
temos que ser tão sigilosos? As pessoas não saíam em defesa da defesa
o tempo todo? Uma pessoa legalmente não estava em seus direitos de
proteger sua própria vida, mesmo que isso resultasse na morte de outra
pessoa?
Algo não estava somando. Eu pensei que preferiria resistir ao
frenesi da mídia, ir ao tribunal e explicar o que aconteceu, e andar livre
sabendo que tudo estava acabado. Aquele Santori estava morto e eu fui
absolvido de qualquer delito. Então, por que não estávamos fazendo
isso? Por que estávamos fingindo que não tínhamos envolvimento? Se
algum dia formos descobertos, não seria mais difícil reivindicar defesa
pessoal depois de tentar encobri-la? E quem eram essas pessoas que
estavam puxando as cordas, nos dizendo o que fazer?

Eu ainda estava obcecado com essas perguntas quando o Escalade


parou na frente do Alcazar, e Kage e eu fomos praticamente jogados do
banco de trás para a calçada. O SUV acelerou, sem que o motorista nem
o homem no banco do passageiro da frente tivessem oferecido as mais
simples explicações. Claro que teria sido difícil conversar com o divisor
de vidro colorido que nos separava deles. Eles nos trataram como
prisioneiros, e o único conforto que eu senti durante toda a viagem foi
quando Kage deslizou a mão pelo assento e ligou seus dedos fortes com
os meus.

—O que vamos fazer? —Perguntei assim que Kage e eu estávamos


sozinhos na calçada. —Você tem um plano?

Ele ergueu as sobrancelhas.

—Vamos pedir serviço de quarto e comer o suficiente para dez


homens, então eu vou colocá-lo em um avião de volta para a Geórgia.
Mas primeiro, vamos entrar no meu hotel e agir como se não tivéssemos
ideia do que está acontecendo.

Eu estremeci.
—Você quer dizer que temos que mentir? Temos que fingir que
nem sabemos que Santori está morto?

—Isso é exatamente o que quero dizer. Você vai ter que ser
homem, Jamie. —Ele me deu o olhar mais severo que ele já direcionou
a mim. —Eu quero dizer isso. Esta é a vida real, querido. Sua capacidade
de ser convincente determinará seu destino. Você pode fazer um bom
show, depois voltar para a Geórgia e terminar o último semestre da
faculdade. Ou você pode se tornar um receptáculo de porra para um cara
chamado Manny que está cumprindo uma sentença de prisão perpétua.
—Ele olhou nos meus olhos, seu olhar frio e inflexível. —Assim. Como.
Você.

Eu esfreguei as mãos suadas para cima e para baixo nas minhas


coxas, depois olhei para a entrada da frente do Alcazar e de volta para
Kage. A respiração profunda que eu respirei e soltei pareceu me
recompor, como um batismo aéreo, e foi assim que comecei minha nova
vida.

—Então vamos fazer isso. —Eu sorri. —De jeito nenhum Manny
estará chegando perto dessa bunda.

Kage arrastou as pontas dos dedos pelo meu braço, sutil e


rapidamente.

—Esse é o meu garoto.

O ar do saguão do Alcazar estava quente. Tão quente que eu estava


de repente desejando ter um colarinho para abrir. Steve estava parado
atrás da recepção, parecendo entediado enquanto pintava as unhas
curtas com um tom pálido de pêssego que combinava com a gravata.
—Steve. —Kage advertiu. —Tampe essa merda e tente parecer
acolhedor. Este é um hotel, não um salão de beleza.

Steve derrubou a pequena garrafa, derramando uma poça de


pêssego no balcão e limpando-a inutilmente com uma folha de papel
enquanto palavras frenéticas saíam de sua boca.

—Merda, Kage. Você assustou o inferno fora de mim. Onde vocês


dois estiveram? Eu tentei seus celulares, mas as chamadas foram diretas
para o correio de voz, que nenhum de vocês se preocupou em criar. Você
sabe o que está acontecendo? Jesus Cristo, Está como um manicômio
por aqui.

Kage inclinou a cabeça para o lado e olhou para o amigo com uma
expressão confusa.

—Sobre o que você está tagarelando? —Ele apontou para a


bagunça que Steve estava espalhando por todo o balcão. —Consiga algo
melhor que um recibo de convidado para limpar isto, por favor. Uma
acetona não funcionaria melhor?

—Oh. Você está certo. Só não estou pensando com clareza. —Seus
dedos tremiam quando ele pegou uma caixa de lenços pré-umedecidos
da bolsa Gucci que ele tinha guardado embaixo do balcão e começou a
limpar a mancha. Ele baixou a voz e falou enquanto trabalhava. —
Alguém te contou o que aconteceu com Santori? Eu odeio ser o único a
fazer isso, mas você precisa saber.

—Você não está fazendo nenhum sentido. —Eu disse a ele,


surpreso com o quão calmo eu me sentia. —O que aconteceu com
Santori?
Steve largou o lenço em uma minúscula cesta de lixo, depois se
inclinou para nós com uma expressão de dor.

—Eu não sei como dizer isso sem ser franco. Santori pulou da sua
varanda na noite anterior. Disseram que ele bateu o suficiente para
quebrar o pescoço. Me desculpe, Kage, mas não sabia onde te encontrar.

—Então ele está... morto? —Kage perguntou, sua voz vazia. Ele
parecia tão chocado que quase acreditei nisso mesmo.

Steve assentiu devagar.

—Eu sinto muito. Eu sei que não havia nenhum amor perdido
entre você e seu tio, mas notícias como essa não deve ser fácil de ouvir.

—Você tem certeza? —Eu perguntei estupidamente. Eu era


horrível em mentir. Era tão difícil dizer se minhas perguntas eram
normais.

—Nós não tivemos que identificar um corpo. —Kage falou. —Eles


não fazem o parente mais próximo identificar o corpo?

—Eles não conseguiram encontrar você. —Steve falou. —Eles


fizeram Enzo e eu descermos para identificá-lo. Um recepcionista e um
chef. Você acredita nisso?

—Oh meu Deus! —Choque foi a primeira emoção genuína que eu


pude mostrar, e foi bom ser real por um momento. —Você realmente
teve que ir olhar o corpo dele? Isso foi bizarro?

Steve encolheu os ombros.

—Você acha que seria, mas… eu não sei, eu apenas me senti


entorpecido. Foi tudo muito clínico. Eu disse a eles: é ele. Enzo assentiu
e disse: Sim, esse é Peter Santori, todo formal e italiano, e então fez uma
cruz no peito como os católicos fazem. —Ele demonstrou com os dedos
com a ponta pintada da cor pêssego. —Isso é literalmente tudo o que eu
sei. Eles cobriram Santori com um lençol e um policial nos levou para
casa. Então Enzo e eu nos sentamos no restaurante depois que ele
fechou e compartilhamos três garrafas de Dom Perignon. Ugh. Dor de
cabeça por dias.

—Você e Enzo saíram? —A pergunta do Kage me pareceu um


pouco suspeita. Uma pessoa que acabara de descobrir que seu tio estava
morto estaria mais preocupada com quem bebeu champanhe com
quem?

Steve não parecia preocupado com a discrepância de foco.

—Sim, o Enzo é muito fofo. Eu acho que ele e eu nos ligamos... oh,
Deus, eu estou realmente dizendo a você que me conectei com alguém
enquanto identifico o corpo do seu tio? Posso ser mais insensível?

Kage zombou.

—Seja tão insensível quanto você quiser. Quanto a mim, parece


que não consigo me preocupar nem um pouco. Eu sinto que você acabou
de me dizer que um velho conhecido do ensino médio morreu. Parece
uma pena que alguém esteja morto, mas eu realmente não sinto nada.
Não tenho certeza se isso faz de mim uma pessoa má.

Steve estendeu a mão por cima da mesa para dar um tapinha no


ombro do Kage.

—Claro que não. Você provavelmente está apenas em estado de


choque. Além disso, o homem tratou você como lixo enquanto ele estava
vivo. Eu não te culparia nem um pouco se você se sentisse aliviado por
ele ter partido.

—Exatamente. —Eu disse. —Kage, você não tem motivos para ficar
triste. Seu tio não passava de um tirano do mal e agora ele não pode mais
machucá-lo. Não pode mais nos machucar. Devíamos dormir tranquilos
agora sabendo que ele teve o que mereceu. Depois das coisas que ele
fez... —Fiquei em silêncio, olhei para as minhas mãos e notei que eu as
estava torcendo. Imagens daquela noite inundaram minha mente. A
seringa inexplorada perfurando minha barriga, a descrença de Santori
quando ele caiu, Kage deitado no chão lutando por sua vida.

A adrenalina atingiu meu sistema, uma lembrança química do


medo que senti, trazendo tudo de volta com uma clareza gritante ali
mesmo no saguão do Alcazar. Quando encontrei minha voz novamente,
era baixa e ameaçadora, e tão diferente de mim.

—Ele se livrou fácil.

Kage me lançou um olhar de aviso, e eu sabia o que significava. Eu


estava saindo do roteiro. Eu precisava controlar minhas emoções antes
de me entregar. Enquanto eu estava ali respirando muito rapidamente,
tentando me acalmar, Steve e Kage continuaram conversando.

—Isso mesmo, ele se livrou fácil. —Steve concordou. Então ele


baixou a voz para um quase sussurro e disse: —Isso significa que sua
fortuna vai para você?

Kage riu sombriamente.

—Você vai direto a isso, não é?

Steve encolheu os ombros e ofereceu um sorriso hesitante.


—Você me conhece. Fale primeiro e pense depois, se for o caso. Eu
não tenho filtro.

—Não, você não tem. —Kage falou. —Se eu tivesse que adivinhar,
diria que eu sou o único herdeiro do meu tio. Eu não sei se isso é um
fato, mas não consigo imaginar o contrário. Para quem mais ele deixaria
tudo? Ele não tem outros parentes vivos que eu conheça, e ele preferiria
ter sido esfolado vivo do que dar um centavo à caridade. A menos que
talvez fosse para fins fiscais, e homens mortos não pagam impostos.

Steve olhou em volta para se certificar de que ele não poderia ser
ouvido.

—Então você é o chefe agora.

—Vamos esperar e ver antes de tirarmos conclusões precipitadas.


—Kage advertiu. —Pessoas já foram surpreendidas por testamentos
antes. Milionários deixaram suas fortunas para seus animais de
estimação. Honestamente, nunca dei muita atenção a vontade de
Santori antes. Eu apenas presumi que o bastardo iria viver para sempre.

—Todos nós pensamos. —Steve falou tomando folego.

DEPOIS que nós passamos pela Gruta e pedimos um bufê de


serviço de quarto, nós fizemos o nosso caminho para o andar de cima,
ambos mantendo nossas cabeças baixas e rezando para que ninguém
tentasse nos envolver em uma conversa. O apartamento do Kage estava
desconfortavelmente silencioso. Ele deve ter sentido isso também,
porque ele colocou um pouco de hip-hop no sistema de som e aumentou
o volume até que eu pude sentir o zumbindo baixo na superfície da
minha pele.

Eu fiquei na porta, incapaz de descobrir para onde ir. O lugar que


uma vez parecia uma casa era subitamente território estrangeiro, e a
cama onde Kage e eu tínhamos compartilhado tanto, parecia estar a um
milhão de quilômetros de distância. Eu o observei passar pela porta do
quarto e desaparecer, mas meus pés não se mexiam para o seguir. O
pensamento mais estranho me veio à mente: o tempo que passamos no
motel decadente poderia ser o último que iríamos passar como casal.

Mas isso era bobagem, certo?

Kage voltou segurando minha bolsa. A mesma bolsa com a qual eu


tinha voado para Vegas. A que eu deixei no Rover do Aldo quando ele e
Aaron me sequestraram e me levaram para o octógono do armazém
onde Kage teve suas infames lutas subterrâneas.

—Como você conseguiu isso? —Perguntei.

—Estava na cama. —Ele deu de ombros. —Eu acho que a fada das
bagagens entregou enquanto estávamos fora.

Eu balancei a cabeça de um lado para o outro, incapaz de processar


o fato de que minha bolsa desaparecida tinha misteriosamente
aparecido na cama do Kage.

—Mas...

—Você está realmente tão chocado, Jamie? Eu já vi tanta merda


louca nos últimos dias que acho que nada mais poderia me surpreender.
Eu acho que você não está entendendo a situação. Há algo acontecendo
que é muito maior do que você e eu. Pense nisso. Nós fomos levados
para longe de uma cena de assassinato, depois trazidos para cá, e
ninguém suspeita de nada. Nenhuma evidência, nenhuma suspeita,
nenhuma pergunta. E não é como se Santori fosse apenas um cara
comum na rua. Ele tinha dinheiro e conexões. Ele era um homem
poderoso que morreu em circunstâncias questionáveis, mas ninguém
pediu para falar conosco. Aparentemente, Steve era o único preocupado
com o nosso paradeiro. Quão estranho é isso?

Eu passei as duas mãos pelo meu cabelo, sentindo-me a uma


respiração distante da insanidade.

—É demais. —Eu disse, minha voz suave. —Eu não sei como
processar isso. Eu continuo tendo a sensação de a qualquer momento a
polícia vai chegar e colocar algemas em mim. Eu não posso ir para a
prisão, Kage. Isso tudo não pode ser um sonho ruim? O que eu vou
fazer?

Kage largou a bolsa e correu para o meu lado.

—Acalme-se, querido. Você não vai para a prisão. Juro pelo


túmulo de minha mãe, se alguém tentar tirar você de mim, vou te salvar
ou morrer tentando. Eu vou cair em uma tempestade de tiroteio policial,
Jamie. Vou levá-lo até o México nas minhas costas, se for preciso. Eu
vou...

Eu ri baixinho e joguei meus braços em volta do seu pescoço.

—Tudo bem eu já entendi. Você quer me proteger. Você me ama.


—Sim. —Ele disse, arrastando os lábios sedutoramente para o lado
da minha garganta. —Eu te amo. Não sei como vou viver sem você pelos
próximos seis meses.

—Você vai sentir minha falta? —Eu perguntei brincando,


nivelando meu corpo contra o dele e beijando seus lábios. —Do que você
irá sentir saudades sobre mim?

Ele rosnou e agarrou minha bunda com força, apertando uma


bochecha até que eu gritei.

—Está vendo como você se derrete quando eu toco em você?


Mesmo quando dói, você não se afasta. Você chega ainda mais perto,
como se pudesse subir no meu corpo.

—Sério? Eu faço isso?

—Sim, com certeza. Imagino o quão perto eu posso te fazer chegar.


—Ele mordeu com força o tendão sensível entre o meu pescoço e ombro,
e eu me pressionei contra ele com um gemido.

Ele estendeu a mão e beliscou meu mamilo, e eu joguei minha


cabeça para trás. Então ele inclinou a cabeça e mordeu com força o
mesmo mamilo, enviando fragmentos de dor irradiando através do meu
torso inteiro e descendo até o meu pau.

—Ah, porra. —Eu tomei folego, pulando em cima dele e


envolvendo minhas pernas em torno da sua cintura. —Como é que você
sempre sabe exatamente o que eu gosto?

—Eu não sei, bebê. Eu acho que você acabou gostando de tudo que
eu faço.
Eu ri.

—Isso é terrivelmente egoísta da sua parte.

—Sim? Vamos testar. —Ele agarrou minha bunda com as duas


mãos e me abriu. —Você gosta disso?

—Você sabe que eu gosto. Embora eu preferisse que estivéssemos


nus.

—Bem, por que você não disse? —Kage me colocou no chão,


chutou seus sapatos, e começou a tirar as roupas enquanto se movia em
direção ao quarto. —Aposto uma corrida com você.

Também comecei a tirar minhas roupas e corri para acompanhá-


lo. Na porta do quarto, eu tropecei em minha calça e cai esparramado
em cima da cama.

—Talvez você devesse tentar tirar os sapatos primeiro. —Kage


falou.

Ele se inclinou e os removeu para mim gentilmente,


amorosamente, como se também gostasse de tudo que acontecia entre
nós. Ele me ajudou a terminar de tirar a roupa, e quando nós dois
estávamos nus, ele subiu em cima de mim.

—Por que não posso deixar de querer você tanto? —Ele perguntou.
A expressão em seu rosto era sincera, como se ele realmente não
conseguisse descobrir como escapar de seu desejo por mim.

Eu definitivamente sabia como era. Eu estava lutando com o


mesmo sentimento desde a primeira vez que eu coloquei os olhos sobre
ele.
—Por favor, não. —Eu disse. —Nunca pare de me querer.

—Segure esse pensamento. —Kage falou, inclinando-se para pegar


o lubrificante da mesa de cabeceira. —Eu não posso processar até estar
dentro de você. A cabeça errada está no comando agora, e eu preciso dar
a ela o que ela quer.

Ele me preparou e entrou em mim, devagar. Ele foi tão gentil que
comecei a me perguntar se um sósia menos agressivo do Kage de alguma
forma tomara seu lugar.

—Agora, onde eu estava? —Ele perguntou. —Oh sim. Eu estava


prestes a explicar-lhe que não querer você está fora de possibilidade
para mim. Não é uma escolha, e não é algo que vai simplesmente
desaparecer, Jamie. Por alguma razão, você está sob minha pele.

Ele saiu de mim e empurrou de volta, estabelecendo um ritmo


lânguido que tinha a minha excitação aumentando constantemente. Eu
estava começando a esquecer a nossa conversa, todo o meu ser focado
no local onde nossos corpos se juntavam, mas eu queria dizer uma coisa
antes de me perder completamente.

— Não consigo parar de te querer, também. —Eu gemi quando ele


empurrou um pouco mais forte e chegou ao fundo dentro de mim.

—Então você não vai conhecer algum mauricinho idiota na


faculdade e esquecer tudo sobre mim? —Ele se empurrou para dentro e
para fora com força, me balançando e me fazendo chorar.

— Deus, não. Não há um mauricinho idiota de faculdade no


planeta que possa se comparar a você.
Kage saiu do meu corpo e sorriu para mim, parecendo a cada
pedaço o lutador arrogante.

—Você sabe por que, não é?

—Porquê? —Eu perguntei, temendo e almejando a resposta


simultaneamente. Porque eu conhecia o Kage. Eu sabia o que estava por
vir.

Ele me virou e me puxou de joelhos com um braço em volta da


minha garganta. Eu o vi executar um mata-leão muitas vezes e até tinha
sido sua vítima voluntária duas vezes, uma vez durante a prática e uma
vez durante o sexo. A última vez tinha terminado com Kage tendo um
colapso terrível, e no rescaldo eu prometi a Dr. Tanner que teríamos
cuidado a partir de agora.

Na época, eu quis dizer isso com cada fibra do meu ser, mas agora
que ele realmente tinha o braço em volta da minha garganta eu vacilei.
Eu sabia que deveria dizer a ele para parar, mas a sensação de estar
completamente dominado sem chance de escapar era como uma droga.
Eu era um viciado, viciado em Kage e em todas as coisas sombrias que
ele me ofereceu, incluindo a chance de dançar com a morte quando
cheguei ao meu clímax.

Com o braço ainda em volta da minha garganta, Kage puxou


minhas costas contra a sua frente e esfregou seu pau enorme e duro
entre as minhas pernas, provocando minhas bolas. Quando ele roçou
meu períneo, meu botão mágico como ele gostava de chamar, comecei a
me contorcer e gemer.

—Por favor, faça isso. —Eu disse, minha voz tensa com a pressão
do seu braço em volta da minha garganta. —Me fode, Kage. Me fode com
força. Uma última vez para a estrada. E certifique-se de gozar dentro de
mim. Quero um lembrete seu escorrendo pela minha perna quando eu
for pegar meu avião.

Eu me esforcei, movi minha bunda, tentando empalar-me nele. Eu


era uma coisa louca, incapaz de controlar-me.

Ele riu no meu ouvido, sem dúvida divertido e ligado com a


facilidade com que ele poderia me fazer desmoronar. Eu disse mais
algumas coisas que dariam à minha mãe um ataque cardíaco quando ele
alcançou ao redor com seu braço livre e começou a acariciar meu pau.
Eu estava impotente para lutar contra ele, mesmo que eu estivesse com
medo de gozar cedo demais. Eu precisava disso. Precisava senti-lo
enterrado dentro de mim.

— Ok, querido. —Ele disse contra meu ouvido. —Aqui está. Um


para a estrada.

Ele bateu seu pau duro na minha bunda e não parou até que suas
bolas bateram contra a minha mácula. Eu teria voado da cama se ele não
tivesse mantido seu aperto de morte na minha garganta. O som que saiu
da minha boca, depois disso era nada além de incoerência. Incoerência
quente, suja, imunda.

Kage ficava acariciando meu pau com um punho apertado, a linha


entre o prazer e a dor tão turva como sempre foi com ele. Meu buraco se
espalhou em torno dele, ordenhando-o, precisando senti-lo perder sua
semente. Para saber que eu era a causa disso.

— Kage... eu... —Essas foram as únicas duas palavras que eu


consegui falar, mas ele sabia o que elas significavam.
—Goze para mim, querido. —Ele rosnou em meu ouvido, sem
fôlego, carente e oscilando na borda do seu próprio orgasmo.

Deixei escapar um gemido longo e gutural enquanto meus


músculos se trancavam. O braço de Kage apertou ao redor da minha
garganta, cortando a circulação para o meu cérebro, e eu senti o toque
quente do meu próprio esperma no meu peito e no meu rosto, meus
lábios. Eu lancei minha língua para lamber, assim que Kage começou a
tremer atrás de mim.

#Gasper2, pensei enquanto mergulhava na doce escuridão.

Então, de repente, encontrei-me deitado de costas, piscando para


o teto enquanto meu coração fazia uma batida louca de death metal3.

Kage se inclinou sobre mim, seu belo rosto corado com paixão
irradiado, e castamente beijou-me na boca.

—E isso, meu sexy garoto da faculdade, é por isso que você não vai
esquecer de mim.

2
Alguém que gosta de ser sufocado ou estrangulado enquanto mantém relações sexuais.

3
Uma forma de heavy metal usando letras preocupadas com morte, sofrimento e destruição.
EU ERA um homem mau, nascido e criado para ser assim.

Durante a maior parte da minha vida eu aceitei esse fato, até mesmo
acolhi isso, como uma esposa abusada que se enrolava ao lado de seu
homem à noite, encontrando conforto nos mesmos braços que agrediam
a vida dela dia após dia. Mas ser mau significava que eu não merecia ser
feliz? Eu esperava que não, porque pela primeira vez na minha vida eu
tive a audácia de querer isso.

Jamie me faz feliz. Lutar me faz feliz, ou não exatamente feliz, mas
inteiro. Eu não entendia isso, mas eu sabia que precisava para ser
completo. Eu precisava dos dois.

Mas o que aconteceria quando eu trouxesse as únicas duas coisas


que eu amava para o meu novo mundo? O mundo que Santori criou e
caiu no meu colo.

Eu sabia que seu negócio não era honesto. Como poderia ser? A
mente do homem tinha sido distorcida e ele manchava tudo o que ele
tocava. Embora eu tivesse pouco conhecimento dos detalhes, o
pensamento de que Santori poderia ter executado uma operação
legítima era risível. Que surpresas desagradáveis ele guardou para mim?
Lavagem de dinheiro? Luta de cães? Evasão fiscal?
O que quer que fosse, eu não poderia ser ingênuo o suficiente para
pensar que um pouco da sujeira não iria se espalhar em Jamie, e eu não
queria fazer isso com ele. Ele era tão inocente, a única parte de mim que
era bom. E ele era uma parte de mim, assim como meu coração e meus
pulmões, e assim como os músculos Super treinados e o cérebro
analítico que trabalhavam em conjunto para me fazer uma máquina de
matar.

Talvez eu pudesse manter Jamie separado do meu novo mundo.


Protegê-lo do mal inato que estava vazando lentamente para fora de
mim como uma lama escura.

Eu estava destinado a me tornar meu tio? Essa era a pergunta que


me atormentava. Às vezes eu imaginava que seu espírito tinha
arranhado seu caminho em meu corpo, antes dele cair para a morte.
Talvez ele tivesse legado seu espírito para mim junto com seus negócios,
uma espécie de acordo dois-para-um que eu não poderia recusar. Se eu
assinasse esses papéis, estaria vendendo minha alma? Com certeza
parecia que sim.

Era ruim que eu não quisesse nada do bastardo malvado, mas ao


mesmo tempo minha ganância tenha assumido e me convencido de que
eu merecia tudo isso? Que por causa das coisas que ele fez comigo, eu
merecia ser rico além dos meus sonhos mais selvagens? Que Santori me
devia?

—Sr. Santori?... Sr. Santori. —A voz do advogado me trouxe de


volta. Levou algum tempo para eu registrar que ele estava falando
comigo e não com meu tio, que me parecia muito vivo naquele
momento. Eu precisava parar de pensar nele. Ele se foi.
—Desculpe, Sr. Burton. Minha mente estava vagando.

—Compreensível. — Ele disse. — Este é um momento estressante


para você, tenho certeza. Perder o homem que era essencialmente o seu
pai não deve ser fácil. O Sr. Santori, o outro Sr. Santori, fará falta. Ele
era um grande homem.

Eu procurei em seus olhos cinzentos por qualquer sinal de alegria,


porque certamente ele estava brincando, mas eu não encontrei nada
além de um olhar vazio. O olhar de um advogado, pronto para assumir
qualquer emoção que um júri queira ver ou espelhar o que quer que seu
cliente estivesse sentindo. No momento, esse cliente não estava
sentindo nada.

—Obrigado pela sua simpatia. —Olhei para o meu celular,


observando que eu estava em seu escritório há menos de cinco minutos,
mas eu já estava com vontade de sair dele. —Podemos continuar com o
testamento? Eu tenho um lugar para ir. —Era uma mentira, mas quanto
menos tempo eu tivesse que passar no escritório de um advogado,
melhor.

—Certamente. —Ainda não há reação naqueles olhos de aço. —Eu


preciso mencionar que há uma cláusula aqui que você pode achar um
pouco incomum. Afirma que você não tem permissão para vender
nenhum dos ativos por um período de dois anos.

—Por quê? —Eu perguntei, chocado. —Se eu for o dono, eu não


deveria ser capaz de fazer o que quiser com ele?

Ele sorriu ao redor, e não com seus olhos imparciais, e eu suspeitei


pela primeira vez que o amortecimento em sua expressão poderia ser
menos emocional e mais Botox. O homem era uma figura de cera em um
terno de três mil dólares.

—Seu tio estava preocupado com sua estabilidade, Michael. Ele


achava que você era um pouco jovem e volúvel, e ele temia que você não
desse uma chance ao negócio. Ele foi inflexível sobre permanecer na
família, e a única maneira que ele sabia como fazer isso era ter certeza
de que você não iria apenas vender na primeira chance que você tivesse.

Eu sorri.

—Eu acho que ele me conhecia bem, então.

Houve um lampejo de diversão nos olhos do advogado. A primeira


emoção real que ele permitiu passar por sua guarda.

—Acho que você estava planejando vender?

—Definitivamente tinha passado pela minha cabeça. Eu estava


pensando em vender tudo, levando meu treinador e meu chef, e
comprando um bom lugar nos arredores da cidade. E uma segunda casa
na Geórgia.

O Sr. Burton assentiu.

—Você certamente poderia fazer isso. Há muito aqui, Michael.


Muito para você viver pelo resto da sua vida. Mas era o desejo do seu tio
que você fosse o único a administrar os negócios da família. Ele tinha
certeza de que você mudaria de ideia quando se tornasse parte de tudo.
—Ele riu. — Vai ficar em seu sangue. Lembro-me dele dizendo isso.

Eu tive uma sensação de afundamento na boca do meu estômago.


Isso era Santori ainda me manipulando. O velho não ia me soltar. Não
tão facilmente. Ele tinha uma mão ao redor da minha garganta desde o
dia em que nos conhecemos, e mesmo agora seus dedos frios e mortos
estavam me espremendo do túmulo, cortando o sangue, e não me
deixando outra escolha senão bater. Santori ganhou oficialmente esta
rodada.

—Onde eu assino? —Perguntei, pegando os papéis e examinando-


os sem ver. Sem cuidado.

O Sr. Burton inclinou-se para a frente e apoiou os braços na mesa.

—Precisamos repassar a papelada primeiro.

—É o que é. Eu não preciso passar por isso.

—Você não quer pelo menos saber quanto você vale agora,
Michael?

Dei de ombros.

—Me diga.

Ele sorriu, aparentemente mais movido por dinheiro do que a


morte de um cliente. Em seguida, ele rabiscou um número em um bloco
de anotações e o deslizou pela mesa.

Eu girei e me inclinei para lê-lo, quase engasgando com a minha


língua quando avistei a figura na página. Havia tantas vírgulas.

—Isso diz 463 milhões. —Eu trouxe meu olhar de olhos


arregalados de volta para o rosto do Sr. Burton, parte de mim esperando
que ele percebesse que tinha cometido um erro agora que ele tinha
ouvido o número lido em voz alta.
—Mais ou menos algumas centenas de milhares e alguns centavos.
—Ele disse sem hesitação.

—Mas como? Quer dizer, eu sabia que ele era rico, mas...
quatrocentos... —Eu não consegui terminar. Minha mente estava muito
queimada.

—Com ativos e investimentos, isso se soma. Parabéns, Sr. Santori.


Você é um homem muito rico.

—Eu não tinha ideia de que ele tinha tanto dinheiro. Alguns
milhões não teriam me chocado, mas esse número é simplesmente
louco. O que é tudo que ele possui? Eu pensei que era apenas o Alcazar,
e talvez... —Eu dei um sorriso tímido. —Talvez algumas atividades
menos do que legais ao lado.

O rosto do Sr. Burton se transformou em cera novamente.

—Falaremos mais quando você se instalar em sua nova função.


Entretanto, listei as suas participações e as suas fontes de rendimento.
Eu sugiro que você leve essa papelada para casa e dê uma boa olhada.
Seu contador pode ajudá-lo a entender tudo e fornecer uma análise mais
detalhada.

—Eu não tenho um contador.

—Claro que você tem. Sua informação de contato está nos papéis.
—Ele sorriu para minha expressão perplexa. —É muito para absorver,
eu sei. Apenas respire. Você não vai ter que entrar e começar a micro
gerir tudo. Seu tio já teve tudo no lugar para você. Há gerentes que
administram as coisas há anos, então não há nada com o que se
preocupar. Apenas vá para casa, relaxe e veja seu dinheiro entrar. Mas
assine essa maldita vontade primeiro, porque eu preciso arquivar.
Embora seja uma herança grande, o processo de inventário não deve
demorar muito. Tudo é bem direto. Você tem sorte de não haver outros
parentes para contestar isso.

Eu assinei e então saí do escritório do Sr. Burton atordoado.


Fodendo 463 milhões de dólares. Era inacreditável. Quando saí do
escritório de advocacia e fui para a calçada, eu estava sorrindo. Sorrindo
como um idiota para todos por quem passei. Até mesmo o vovô de cara
azeda que parecia que me bateria com a bengala antes de dizer olá, deu
um grande sorriso de merda.

Quando cheguei ao meu Corvette, pisquei para um cara que estava


passando, fazendo malabarismo com a maleta e uma xícara fumegante
de café da Starbucks4. Não porque eu estava atraído por ele, mas porque
eu era rico. Fora deste mundo, porra oh-meu-deus rico. Eu mal podia
esperar para contar a Jamie.

Aparentemente a palavra viajou rápido, porque quando eu voltei


para o Alcazar, todo mundo estava sorrindo e me cumprimentando
como o Sr. Santori. Mesmo vindo das poucas pessoas que já me
chamavam assim, parecia diferente. Pela primeira vez, pareceu certo.
Mas quando cheguei ao meu apartamento de cobertura e entrei no
santuário familiar que eu chamava de lar por tantos anos, a realidade se
instalou.

O que eu estava fazendo? O que eu estava pensando? Eu não era


realmente o Sr. Santori, eu era? Eu era ruim, mas não tipo de mau do

4
Starbucks é a empresa multinacional com a maior cadeia de cafeterias do mundo; tendo sua sede em
Seattle, EUA.
meu tio. Eu era Michael Kage, a Máquina que poderia derrubar um cara
com um poderoso gancho de direita ou passar um braço em volta de sua
garganta e sufocá-lo até que ele não tivesse escolha senão bater ou ir
dormir. De qualquer forma, eu era o portador da derrota, o tomador de
dignidade.

Essa era a minha identidade. Eu precisava me lembrar disso.

Sentei-me no sofá e liguei a televisão, na esperança de encontrar


algo para tirar minha mente de tudo. Eu imaginei que um pouco de
entretenimento entorpecente fosse apenas a coisa certa para acalmar
meus pensamentos girando. Não funcionou, no entanto, e acabei
arremessando o controle remoto através do quarto. Então eu peguei
meu celular e fiz a ligação que eu estava esperando e temendo ao mesmo
tempo.

Jamie atendeu no segundo toque, sua voz pouco mais que um


sussurro.

—Estou na aula. Você está bem?

—Eu fiz isso, Jamie.

—Você assinou os papéis? —Seu sussurro soou um pouco mais


animado.

—Sim. Eu sou o orgulhoso novo proprietário da propriedade


Santori. Tudo que aquele desgraçado teve é meu agora.

—Isso é inacreditável. —Ele falou, sua voz muito mais alta do que
antes. —Como você vai celebrar seu recém adquirido status, Sr. Chefe?
—Mmmm, Sr. Chefe. Eu gosto do som disso saindo da sua boca. O
que o chefe realmente gostaria é de celebrar com você de joelhos,
olhando para mim com esses grandes olhos castanhos e me sugando até
a próxima semana.

—Sim? Bem, você sabe que eu sou um empreendedor quando se


trata do meu trabalho. Nada me faz mais feliz que agradar o chefe.
Então, quais são as especificidades da minha tarefa, Sr. Santori? Correr
minha língua ao redor da cabeça do seu pau? Deixar você foder minha
garganta até eu engasgar com isso?

—Você é um garoto tão imundo, Jamie. Só não se meta em


confusão por falar sujo em sala de aula. Eu odiaria ter que espancar essa
bunda.

Jamie riu, e o som era tão quente e familiar que me deixou com
saudades dele. Eu apertei contra a dor no meu peito e fechei os olhos,
ouvindo a voz que eu amava mais do que qualquer outra voz no mundo
inteiro.

—Eu saí para o corredor, Kage. Eu imaginei que o que você tinha
a dizer deveria ser importante ou você não teria me ligado quando sabia
que eu estaria na aula.

Suspirei.

—Você me conhece muito bem, eu acho.

—Na verdade, às vezes eu não acho que te conheço. Você é um


enigma.

Enigma estava certo. Até para mim mesmo eu era apenas uma
bagunça confusa. Num minuto eu estava orgulhoso de herdar milhões,
no seguinte eu estava sentindo pena de mim mesmo ou me rebelando
contra tudo isso. Eu sinceramente não sabia como deveria me sentir.

Tive a súbita vontade de falar com a Dra. Tanner, e isso fez meu
peito voltar a doer novamente. Ela se foi para sempre, e foi em parte
minha culpa. No entanto, outra pessoa que estava morta por minha
causa.

Eu ouvi um eco das palavras do Santori na noite em que ele


morreu. Você sabe quantas pessoas tiveram que morrer por sua causa?
Só porque você existe porra? Mal sabia ele que ele entraria na lista em
questão de minutos.

—Você está bem? —Jamie perguntou depois de eu ter ficado em


silêncio por muito tempo. —Eu preciso ir aí?

—Não, eu estou bem. —Eu assegurei a ele, embora eu me sentisse


menos do que certo. Seria bom envolver meus braços ao redor dele e
apenas segurá-lo por um tempo, sentir seu doce corpo se render ao meu.
Ele sempre foi tão flexível, e tão disposto a me deixar fazer o que eu
queria, era quase injusto. —Eu só queria falar com você, isso é tudo. Eu
precisava que você soubesse o que estava acontecendo, já que isso afeta
você também.

—Sim, eu acho. —Jamie soou incerto, cuidadoso. Ele nunca gostou


de ser muito presunçoso quando se tratava do nosso relacionamento, e
eu não era muito melhor. Nós dois tínhamos um mau hábito de dançar
em torno da verdade, mesmo que ela estivesse bem na nossa frente.

Muitos dos nossos problemas e desentendimentos anteriores


surgiram da nossa incapacidade de nos comunicar, e eu sabia que, se
quiséssemos fazer essa coisa de relacionamento funcionar, Jamie e eu
teríamos que aprender a ser mais abertos um com o outro. Eu estava
acostumado a manter meus medos e desejos mais profundos trancados
longe de todos, até mesmo das poucas pessoas que eu chamava de
amigos, então não seria fácil me abrir. Ainda assim, eu fiz um juramento
silencioso ao telefone que faria um trabalho melhor em compartilhar
meus sentimentos com ele.

Mas no futuro. Não agora. No momento, eu ainda estava tentando


processar tudo.

—Eu preciso ir, Jamie. E você precisa voltar para a classe antes que
o Dr. Washburn brigue com você por faltar.

— Eu sei. —Ele disse com um suspiro desapontado. — Não preciso


irritar o cara que tem meu futuro acadêmico em suas mãos. E tenho
certeza que você tem coisas para cuidar, agora que você é o patrão.

Eu ri.

—Espero que você me chame assim na próxima vez que eu tiver


você embaixo de mim. E se você continuar me provocando, isso será
mais cedo do que você pensa.

—Bom saber. Eu vou ter certeza de aumentar meus esforços. Eu...


—Ele limpou a garganta e baixou a voz para um quase sussurro. —Eu
sinto sua falta.

—Sinto sua falta também, universitário. Te vejo em breve.

Eu desliguei e tentei afastar a imagem do seu rosto da minha


mente. Doía muito saber que ainda tínhamos meses para podermos ficar
juntos permanentemente e quanto mais eu pensava sobre ele, mais eu
estava tentado a ser egoísta. Ir para Geórgia e pedir-lhe para deixar a
escola. Ele provavelmente faria isso se eu pedisse, e era exatamente por
que eu não podia.

O advogado estava certo sobre uma coisa. Eu não estava estável.


Eu poderia oferecer a Jamie o mundo em uma bandeja de prata, um
estilo de vida palaciano e todo o dinheiro que ele poderia querer. Mas eu
não poderia oferecer a ele uma garantia de que eu seria a rocha que ele
precisava.

O todo o sempre até que a morte nos separe era um tipo de certeza
que não fazia parte do pacote Kage. Doeu reconhecer isso, mas era a
verdade. Jamie precisava ter seu diploma para voltar atrás.

Apenas para o caso de eu não ser confiável.


TRÊS meses depois da nossa separação, Kage veio à Geórgia para
uma visita. Assim que eu voltei para a escola, ele e eu tínhamos falado
por horas no telefone, tentando decidir quantas vezes veríamos um ao
outro durante meus últimos seis meses de escola.

No início, planejamos para todos os finais de semana. Então foi a


cada outro fim de semana. Mas Kage tinha seus negócios e carreira na
luta para se concentrar, e eu tinha um diploma para ganhar, então nos
ver muitas vezes teria sido uma distração.

Por outro lado, seis meses era muito tempo sem nos ver. Então
responsavelmente e relutantemente concordamos que uma visita
perfeitamente cronometrada na metade do caminho entre o nosso adeus
e nossa junção seria o caminho a percorrer. A cada semana ou duas, um
ou outro de nós gostaria de sugerir voltar atrás nessa decisão, mas de
alguma forma conseguimos manter o plano. Nossos corações e nossos
braços direitos sofreram por isso, e quando chegou a marca de três
meses, nós dois estávamos perdendo nossas mentes.

Eu tinha acabado de pegar Kage no aeroporto no doce Range


Rover preto que ele havia me comprado, e estávamos indo para a casa
dos meus pais para uma visita. Depois do jantar, iríamos para um hotel,
já que meus pais não nos permitiam dormir no mesmo quarto.
No dia seguinte, nós voltaríamos ao estado da Geórgia, para o
condomínio que eu partilhava com os meus melhores amigos, Braden e
Trey. Os caras iam dar uma festa para Kage, que aparentemente era o
herói deles agora.

Eu tinha ouvido Braden falando no telefone para Deus sabe


quantas pessoas, prometendo-lhes autógrafos e uma chance de ver Kage
demonstrar alguns movimentos de MMA. Eu o avisei que Kage poderia
não estar disposto a tudo isso, mas Braden ainda continuou fazendo
promessas. Ele apenas falou sobre isso de uma forma mais calma, como
se eu não soubesse o que ele estava fazendo quando deixou cair a voz e
saiu da sala.

Quando eu encontrei Kage no aeroporto, ele estava parecendo


bom o suficiente para comer, em uma elegante camisa verde que
combinava com seus olhos, e jeans pálido com rasgos em lugares que
beiravam o obsceno. Até mesmo seus sapatos cor de camelo eram sexys,
com uma camurça suave que me fez querer tocá-los.

Seu cabelo escuro estava raspado por baixo, mas o topo estava
ainda maior do que a última vez que o vi. Ele estava solto, mas eu tinha
certeza que ele tinha a faixa de cabelo sempre presente em torno do seu
pulso apenas para o caso de ele querer amarrá-lo de volta. Estendi a mão
com os dedos trêmulos e empurrei uma mecha errante de seus olhos.

—Bom Deus. —Eu tomei folego, acolhendo-o. —Você está ainda


mais quente do que eu me lembro.

Ele sorriu.

—Sim?
—Oh sim.

—Bem, venha aqui e me mostre. —Ele não esperou que eu fizesse


um movimento. Em vez disso, ele largou a bolsa e me puxou contra seu
corpo.

Eu olhei ao redor nervosamente.

—E se alguém te reconhecer?

—Eu não dou a mínima. —Ele disse. —Eu senti muita saudade sua
para se importar.

Ele passou a mão na parte de trás da minha cabeça e trouxe meus


lábios aos seus, me maltratando com um beijo que era tão quente que
eu meio que esperava que o segurança do aeroporto viesse e nos
prendesse. Ele beliscou alegremente meus lábios antes de lamber minha
boca repetidas vezes, roubando minha sanidade.

No momento em que ele me soltou, creio eu que tinha esquecido


meu próprio nome. Eu também tinha um tesão inconfundível. Kage
olhou para a minha braguilha e voltou com um sorriso satisfeito.

—Pare de me olhar assim. —Eu disse, sentindo o pouco de sangue


que não estava no meu pau correndo para as minhas bochechas. —Eu
não quero fazer sexo em um banheiro de aeroporto.

—Então vamos sair daqui. —Ele disse.

Nossa junção foi apaixonante, tudo que eu poderia ter esperado e


muito mais, mas quando chegamos na estrada, Kage parecia distante.

—O que te deixou tão distraído? —Eu perguntei.


Ele acenou dispensando minha preocupação.

—Nada Bebê. Eu só estou cansado. Vou me animar quando


chegarmos à casa dos seus pais. Não posso prometer que vou estar de
bom humor amanhã, no entanto.

—Amanhã? —Perguntei confuso. Então me dei conta do que ele


deveria estar falando. Festa do Braden.

—Kage, é uma festa de cervejada, não uma viagem só de ida para


a forca. Se você não parar de se preocupar, eu vou ter que usar a
caminhonete 4x4 do Chase para tirar esse olhar azedo do seu rosto.

—Oh Deus. Não fique todo caipira comigo. Você é um garoto de


Vegas agora, e os meninos de Vegas não arrastam nada com picapes.

—Quer que eu leve você para um parque de caravanas? Dar a você


um gostinho da verdadeira experiência caipira? Se você não se animar,
farei isso.

—Tenho uma ideia melhor. Por que não levamos Cameron e a


Mexi-cadela para um parque de caravanas e largamos suas bundas lá?
Então poderemos festejar.

Eu não queria rir, mas eu fiz.

—É isso que tem você todo sombrio? O pensamento de ver Layla e


Cameron novamente?

—Sim, Jamie. É isso. Você não sabe o que é para mim ter que sair
com esses dois. Eles podem ter um bom tempo e transformá-lo em um
ruim. Layla tem um namorado, mas ela ainda sente a necessidade de
competir comigo. É tudo inveja, você sabe. Ela age como se tivesse que
protegê-lo do grande lobo mau ou algo assim, mas isso é tudo besteira.
Ela é louca porque você me quer em vez dela.

—Hmmm… você obviamente deu mais atenção a isso do que eu,


mas eu posso ver o seu ponto. Vou falar com ela e ver se consigo fazer
com que ela relaxe.

Kage me deu uma olhadela desagradável.

—Não, inferno, você não vai. Se alguém for falar com ela, serei eu.

Eu me inclinei e passei meus braços ao redor de seus ombros,


sentindo uma tensão que tinha muito pouco a ver com o tráfego de
Atlanta.

—Awww, querido. —Eu disse, dando um beijo em seu ombro. —


Você vai me proteger daquela pequena líder de torcida?

Ele deu de ombros.

—Foda-se Jamie. Isso não é engraçado. Estou cansado da merda


dela. Ela cava e cava até eu só querer sufocá-la. Pensando sobre isso,
talvez isso calaria a boca dela.

Eu me inclinei para trás e o observei pensativo, lembrando de algo


que minha mãe disse uma vez. Isso de que Kage não bateria em uma
dama. Na época, eu não tinha muita certeza sobre isso. Ainda não tinha.

—Posso te fazer uma pergunta estranha?

—Você pode perguntar. Não significa que eu vou responder. —


Seus lábios se apertaram quando ele pareceu estudar o tráfego com um
pouco de atenção, e eu poderia dizer que ele estava um pouco nervoso
sobre o que eu poderia perguntar.
—Você bateu em uma mulher alguma vez?

Suas sobrancelhas se ergueram em surpresa e ele riu.

—Isso é algo que está mantendo você acordado à noite?

—Não, apenas curioso. Você faria?

Ele pensou por um momento.

—Bem, eu nunca tive que fazer antes, mas acho que depende das
circunstâncias. Eu não acho necessariamente que as mulheres estão
isentas de serem atingidas. Eu ouvi sobre esse caso uma vez em que uma
mulher estava basicamente espancando o marido e sendo verbalmente
abusiva. Ela o encurralou no quarto e começou a bater nele com seu
próprio taco de beisebol, e quando ele finalmente teve o suficiente, ele
partiu para cima dela. Nocauteou ela. É claro que todos disseram que
ele estava errado por bater em uma mulher, mas esse tipo de
pensamento em preto e branco nunca ficou bem comigo. Porque, por
que ela pode bater nele tanto quanto ela queria, mas ele não tinha
permissão para se defender?

—Isso faz sentido. —Eu disse. —Mas ele seria culpado. Os homens
sabem que não podem bater em uma mulher, mesmo em defesa própria.
Talvez ele devesse ter simplesmente se afastado.

—Talvez ela devesse ter ido embora. —Ele ressaltou. —Eu acho que
o problema é que ambos sabiam que ele não poderia bater nela. Quer
dizer, eu não sou a favor de homens batendo nas mulheres por aí, mas
eu não acho que é certo as mulheres baterem nos homens também. Por
que o gênero tem que fazer parte da equação? Talvez uma maneira
melhor de se olhar para isso seja que não se deve agredir pessoas que
são menores ou mais fracas que você, mas que se deve esperar que
alguém razoavelmente se defenda de um ataque. —Ele ficou sombrio por
um momento, e eu podia ver que ele estava se retirando em suas
memórias. —As crianças são as que recebem um tratamento injusto.
Quantas vezes elas são atingidas ou maltratadas e ninguém sabe disso?
Elas são menores e mais fracas, mas precisam ser emocionalmente mais
fortes do que os adultos que abusam delas. É doentio.

Eu me senti mal. Com a minha pergunta, coloquei sal numa ferida


que nunca se fecharia totalmente. Kage e seu irmão podem não ter sido
espancados, mas eles foram terrivelmente abusados, e Evan perdeu sua
vida. De certa forma, Kage também perdera a vida naquela noite. Ele
nunca teve a chance de ser uma criança despreocupada, e isso rasgou
meu coração.

Eu me senti quase culpado pela infância feliz que eu gostava, e


ainda mais por não deixar meus pais saberem o quanto eu apreciava
isso. De repente eu não podia esperar para vê-los e jogar meus braços
em volta deles.

—Então, isso significa que você bateria na Layla? —Eu perguntei,


tentando levar a conversa de volta à pergunta original antes que Kage
ficasse muito sentimental.

Ele sorriu e olhou para mim.

—Não, bebê. Eu não bateria na sua ex-namorada. Eu iria embora.

—Você lutaria com uma garota no UFC?

Ele riu.
—Não, a menos que ela fosse maior que eu e representasse um
desafio. Há algum talento sério na divisão feminina e está melhorando
a cada dia, então quem sabe? Um dia desses, uma mulher pode bater na
minha bunda.

—Você me bateria? —Era uma pergunta estúpida, mas tinha


acabado de sair.

—Jamie, acho que você já sabe a resposta para essa pergunta.


Lembra daquela noite no seu quintal quando me deu um soco na cara?
Eu já estava chateado, e então quando você me acertou... Bem, vamos
apenas dizer que se eu fosse bater em você, teria sido naquele momento.

—Mas você não fez.

—Não, eu não fiz. Eu preferiria perder do que colocar uma mão em


você em uma luta, o que significa que neste momento, você é a única
pessoa que conheço que poderia me vencer em uma luta. Eu acho que
você provavelmente poderia me espancar até a morte e sair
completamente ileso. —Ele sorriu. —Mas isso não significa que eu não
vou tirar minha raiva em você de outras maneiras. Maneiras que você
parece gostar muito.

—E quais seriam essas maneiras? —Eu provoquei.

Ele encolheu os ombros.

—Me irrite e você vai descobrir.


MEUS PAIS atravessaram a porta da frente para o pátio antes
mesmo de termos colocado o Rover na garagem. Mamãe vestia o avental
e papai ostentava uma Henley de manga comprida que parecia
suspeitamente com a que Kage usara em sua última visita.

Eu estava começando a pensar que meu pai tinha uma coisa


secreta de adoração de heróis para com o meu namorado. Eu estava
acostumado com isso, no entanto. Todo mundo estava fascinado com
Kage, até mesmo as pessoas que não podiam suportá-lo.

—Jamie, você está atrasado. —Minha mãe falou. —Estávamos


começando a nos preocupar que o avião estivesse atrasado, ou que Deus
me livre de ter sofrido um acidente.

—Desculpe mamãe. Kage me fez dar a ele o Grand tour da Stone


Mountain5.

—Bem. —Ela disse. —Você poderia ter atendido seu telefone. Ele
continuou indo para a caixa postal.

Kage riu e envolveu minha mãe em um abraço de urso gigante.

5
Stone Mountain é uma cidade no Condado de DeKalb, no estado da Geórgia, nos Estados Unidos.
—Jamie tem um problema, Sra. Atwood. Ele parece não conseguir
manter o telefone carregado. Eu aprendi isso nos últimos três meses.

—Braden continua roubando meus carregadores. —Eu disse. —Eu


comprei três no último mês. Eu não sei o que ele faz com eles. Todos
devem estar no dormitório da Miranda. Ele fica lá a metade do tempo.

—Bem, eu vou ter uma conversa com Braden amanhã à noite. —


Kage falou.

—Por favor, —Mamãe falou. —Jamie não pode continuar pagando


pelos carregadores. Estamos com um orçamento apertado, como é.

Eu não disse à minha mãe que Kage estava me mandando


dinheiro. Ela pensava que eu estava vivendo economicamente, e eu
queria continuar assim. Meu pai teria um ataque se soubesse que meu
namorado estava me apoiando. Para ele, eu receber dinheiro do Kage
era o equivalente a me prostituir.

—Venham para dentro garotos. —Meu pai falou, estendendo a


mão para apertar a mão do Kage.

Uma vez que estávamos todos na casa, papai desapareceu em seu


escritório e voltou com uma garrafa de Johnnie Walker Red e despejou
em três copos, colocando-os todos na mesa de café. Ele se sentou em sua
poltrona reclinável enquanto Kage e eu nos sentamos no sofá.

—Não estrague o seu jantar. —Mamãe gritou da cozinha. —Eu


cozinhei o suficiente para alimentar um exército e não quero nenhuma
sobra.

—Diga uma vez que não tivemos sobras. —Eu falei de volta antes
de tomar um grande gole do meu copo e fazer uma careta. —Jesus, isso
é forte. Estou acostumado a cerveja de barril e bebidas bem aguadas do
Collegiate.

Papai esvaziou o copo e serviu-se de outro.

—Espero que você não esteja bebendo demais, filho. Seria uma
vergonha se você deixasse as festas impedirem você de se formar.

—Kage. —Minha mãe disse, saindo da cozinha e enxugando as


mãos em seu avental com babados. —Você não deixaria Jamie pôr em
risco a sua escolaridade, você iria? Precisamos de você para mantê-lo na
linha. Ele não nos ouve mais.

—Oh, não, Sra. Atwood. Jamie sabe que eu vou esfolar sua pele se
ele não tirar “A” neste semestre.

Meu pai enviou um olhar penetrante na direção do Kage e


realmente corou. Então o rosto do Kage ficou vermelho e ele olhou
timidamente para mim. De repente, eu sabia, sem sombra de dúvida,
que meu pai, Kage e eu estávamos imaginando Kage espancando minha
bunda, e isso me fez corar também.

Minha mãe parecia alheia.

—Bem, fico feliz. —Ela disse a Kage. —Ele é muito volúvel. Ele
precisa de uma forte influência para ajudar a manter os pés no chão.

—Mãe. —Eu protestei. —Pare de falar de mim como se eu não


estivesse na sala. Eu tenho A em todas as aulas, ok?

Ela parecia cética.


—Tudo bem, eu vou acreditar em sua palavra quanto a isso. —Ela
balançou o dedo para mim, por precaução, antes de voltar para a
cozinha.

Papai drenou sua segunda taça de Johnnie Walker e serviu outra.


Então ele serviu Kage uma segunda vez.

—Pelas notas As. —Ele falou, segurando o copo no ar antes de


beber todo o conteúdo. Kage levantou o copo e bebeu.

—Hey. —Eu disse, acenando meu copo vazio ao redor. —Eu não
recebo mais?

—Você vai estragar o seu jantar. —Papai falou.

—Eu não posso nem brindar às minhas próprias boas notas? —Eu
resmunguei, colocando meu copo na mesa de café com um pouco de
força demais.

A porta da frente se abriu e minha irmã Jennifer e seu namorado


Chase entraram.

—Hey. —Chase falou pausadamente, olhando para o licor e nossos


copos vazios. —Parece que estou atrasado para o Happy Hour.

—Sim. —Papai falou. —Você acabou de perder. —Ele pegou a


garrafa e correu de volta para seu escritório. Um momento depois, ele
voltou e foi para a cozinha, dando um beijo na minha mãe e uma
palmada no bumbum.

—Consigam um quarto vocês dois. —Jennifer falou, atirando-se no


sofá ao meu lado. —Há crianças impressionáveis presente.
—Fechem os olhos, crianças. —Minha mãe falou com uma risada.
—Seu pai bebeu um pouco demais. —Ela baixou a voz, mas eu ainda
podia ouvi-la falando com o pai.

Ele foi para trás dela e passou os braços em volta da sua cintura,
em seguida, começou a morder sua orelha e fazer ruídos guturais.
Mamãe riu e fez um vago esforço para afastá-lo.

—Oh, Jesus. —Jennifer falou, quando só nós poderíamos ouvir. —


Desde que ela teve câncer, eles se superaram. Você pensaria que eles são
um casal de garotos do ensino médio por todas as risadas e as coisas que
eles estavam fazendo.

Kage tirou o olhar do casal feliz na cozinha.

—Enfrentar a morte faz você apreciar o quão precioso é o amor. —


Ele olhou para mim. —Ou então eu ouvi.

—Awww... —Eu estendi a mão para dar um tapinha na perna do


Kage, a demonstração mais ousada de afeto a qual eu me sentia à
vontade na companhia atual, mas ele tinha outras ideias.

Ele agarrou meu braço e me pegou em seu colo. Então ele me deu
um beijo que acendeu um fogo instantâneo em minhas regiões
inferiores.

—Kage. —Eu engasguei antes dele me puxar para outro beijo


alucinante. Sua língua escorregou para um rápido gosto que me fez
derreter contra seu peito.

—O que tinha naquelas bebidas? —Chase perguntou. —Vocês


todos tomaram Boa noite Cinderela antes de chegarmos aqui.
—Papai. —Jennifer chamou. —O Chase pode tomar um pouco
desse Johnnie Walker?

—Acabou. —Papai gritou, embora todos nós soubéssemos que não


era verdade.

Chase pareceu tão abatido que quase senti pena dele, mas Jennifer
mudou de assunto rapidamente.

—Chase e eu vamos nos casar em junho.

Eu revirei meus olhos.

—Vocês marcam e desmarcam datas mais do que qualquer um que


eu já ouvi falar. Está me dando torcicolo. Apenas me ligue no dia do
casamento e eu vou ver se consigo ir.

Jennifer bufou.

—Muito obrigado. Eu não faria isso com você se você decidisse se


casar.

Kage passou um dedo pelo meu braço e, quando olhei para ele, ele
tinha uma expressão estranha em seu rosto. Eu não tinha certeza do que
significava exatamente, mas isso me fez sentir todo quente e confuso por
dentro. Eu me aconcheguei mais perto, correndo minhas mãos
secretamente sobre os peitos e abdominais do Kage e desejando como o
inferno que estivéssemos sozinhos.

Alguns minutos depois, quando eu estava prestes a cochilar, a


porta se abriu e meu irmãozinho Paul entrou correndo.

—Onde está o Kage?


—Bem aqui, amigo. —Kage falou, sua voz parecia tão grogue
quanto eu me sentia.

—Mamãe disse que você viria hoje. Eu disse ao meu amigo na


escola. Espero que esteja bem. Eu não disse a ele que você era o
namorado do Jamie.

Kage riu.

—Isso é bom. Sem danos causados.

Paul soltou um suspiro exagerado de alívio e se lançou em Kage,


me esmagando entre eles enquanto eles se abraçavam. Aos dez anos,
Paul ainda não havia perdido a gordura de bebê, e ele ficou um pouco
gordinho no último ano.

—Ei, Jamie. —Ele disse como uma reflexão tardia.

—Ei. —Eu disse. —Eu recebo um abraço?

—Eu acabei de te dar um abraço. —Ele disse. Mas ele jogou os


braços em minha volta de qualquer maneira e apertou.

—Eu trouxe algo para você, irmãozinho. —Kage falou.

—Irmãozinho? —Paul repetiu reverentemente. —O que você me


trouxe?

—Está na minha bolsa. —Kage falou. —Por que você não a leva
para o quarto de Jamie para mim e olha dentro. Você saberá quando ver.

—Você está subornando meu irmão para levar sua bolsa para
você? —Eu perguntei incrédulo.

Kage piscou.
—É para isso que os irmãozinhos servem.

Eu balancei a cabeça e me enterrei de volta no peito do Kage para


outra mini soneca. Era tão bom apenas tocá-lo, não queria me mexer.
Nunca.

Em algum momento, Kage me acordou gentilmente.

—Hora do jantar, dorminhoco. —Ele beijou o topo da minha


cabeça.

—Oh, caramba. Quanto tempo eu dormi?

—Não faço ideia. —Ele falou. —Eu desmaiei também.

Desenrolamos nossos corpos rígidos do sofá e mancamos para a


cozinha. Jennifer e Chase já estavam lá colocando uma porção de
comida em seus pratos. Papai estava pegando guardanapos e talheres.

—Paul. —Mamãe gritou enquanto servia chá em copos com gelo.


Ela se virou para olhar para nós. —Sirvam-se todos. Os pratos estão na
mesa.

—Obrigado, Sra. Atwood. —Kage falou. —Parece delicioso.

—Obrigado, Kage. Espero que você goste.

—É feito com amor. —Eu disse com uma piscadela exagerada.

Mamãe me deu um tapa no braço, em seguida, colocou suas mãos


em concha ao redor da sua boca e gritou novamente, mais alto desta vez.

—Paul!
Quando Paul entrou na cozinha, todos na casa ficamos em
silêncio. Não acho que qualquer um de nós poderia acreditar no que
estávamos vendo.

Meu irmão de dez anos estava vestido com uma camisa preta de
manga comprida, cortada logo abaixo do peito, e short preto de látex
que abraçava cada dobra e curva de seu corpinho gordinho. Ele era tão
pequeno que mostrava a faixa da sua cueca por cima, e o látex rolou para
as fendas na parte superior das suas coxas. Uma gargantilha de couro
preto estava enrolada frouxamente em volta do seu pescoço como uma
gravata, seus finos fios penduravam para baixo na frente, derrubados
por joias em forma de lágrimas de um azul pálido.

Paul ficou lá, descalço e vestido como um garoto de aluguel barato,


olhando para todos nós como se fôssemos loucos.

Jennifer soltou uma risadinha nervosa. Mamãe bateu um dos


copos na pia e ainda ninguém se mexeu.

Finalmente, Kage deu um passo à frente.

—Amigo, você viu a foto autografada que eu trouxe para você? A


que estava embrulhada em papel com a fita ao redor?

—Sim. — Ele falou. — Já está pendurada na minha parede. Acho


que talvez você precise me ajudar a esclarecer isso.

—Ok. Vamos esclarecer isso agora.

Paul deu de ombros.


—Ok. —Então ele se inclinou em torno do Kage para se dirigir a
mamãe. —Não deixe o Jamie comer todos os Lil Smokies6 antes de eu
voltar.

—Eu não vou, querido. —Mamãe disse, sua voz frágil.

Paul foi para o seu quarto, e Kage rapidamente foi atrás dele,
esticando os braços para o lado e bloqueando a maior parte da visão da
parte traseira do Paul de nós. Graças a Deus.

—O que no inferno santo filho da puta de todos os tempos acabou


de acontecer? —Meu pai falou quando eles estavam fora do alcance de
voz. Pela primeira vez na história, mamãe não se preocupou em criticá-
lo por sua linguagem.

Eu me virei para encará-lo, sufocando o riso que ameaçava me


escapar. Eu estava com medo de que se isso começasse, não pararia.

— Eu não sei exatamente, pai. Kage disse a Paul que havia um


presente para ele na sua bolsa... —Eu sorri. — Acho que Kage me trouxe
um presente, também?

Jennifer começou a rir e depois eu não consegui mais segurar a


minha risada. Eu não queria que Paul nos ouvisse e machucasse os
sentimentos dele, mas droga, essa merda era engraçada.

Fiz sinal para que todos me seguissem e os conduzi para o quintal,


onde imediatamente caí no chão e ri até minhas entranhas doerem.
Jennifer estava rastejando ao meu lado uivando de rir, a grama
grudando em seu cabelo vermelho. Mamãe estava rindo com a boca

6
Mini salsicha.
coberta, ainda um pouco chocada. Até papai e Chase estavam rindo.
Toda vez que pensávamos que estávamos sob controle, outro ataque
acontecia, e todos nós caíamos na risada de novo.

De repente Kage estava lá, me puxando para cima e calando todos


em voz alta. Quando ele tinha nos persuadido a nos acalmar, ele disse a
todos nós:

—Todos vocês precisam se acalmar. Não deem ao pobre menino


um complexo. Foi culpa minha, não dele.

Isso nos deixou sossegados rapidamente.

Paul veio até a porta mais apropriadamente vestido de jeans e uma


camisa, parecendo perplexo ao ver todos nós de pé no quintal.

—Não vamos comer? —Ele perguntou.

—Nós estávamos esperando por você. —Mamãe disse e mostrou o


caminho para dentro.

Todos concordamos e seguimos para dentro. Jennifer soltou uma


pequena risada assim que estávamos passando pela porta, então eu dei
um soco no braço dela. Forte.
APÓS O fiasco Paul-em-látex, a família voltou a sua dinâmica
normal: amorosa, mas um pouco hostil. O pai do Jamie atirou em mim
mais do que um olhar acusatório do outro lado da mesa, e eu aceitei.
Diabos, eu merecia. Eu tomaria meu remédio com prazer.

O jantar estava delicioso como sempre. O teor de gordura era


astronômico e muito do valor nutricional tinha sido cozido fora de
alguns dos pratos, mas a comida da mãe do Jamie foi um desvio rápido
e necessário da minha dieta rigorosa. Marco teria um ataque se ele
tivesse alguma ideia de como eu comi quando eu estava na Geórgia, mas
o que ele não soubesse não lhe faria mal.

Quanto a mim, eu gostei da sensação de quebrar as regras para


fazer o meu homem e sua família feliz. Em certo sentido, eles eram
minha família agora. Eu esperava que eles sentissem o mesmo.

Nós retiramos para a sala de estar, atolados até as brânquias, e a


Sra. Atwood ligou a TV.

—Vocês gostariam de assistir um filme?

Jamie gemeu.

—Eu faria, mãe, mas Kage e eu precisamos de um quarto de hotel.

—Devíamos ter feito reservas. —Eu disse.


Jamie colocou sua cabeça no meu ombro.

—Não se preocupe com isso. Eu disse que os hotéis por aqui não
se enchem a menos que haja um grande evento acontecendo.

—Mas eu sou um dono de hotel. —Eu disse. — Eu deveria saber


melhor do que esperar até o último minuto... —Peguei meu telefone e
pesquisei nas proximidades por hotéis.

A Sra. Atwood colocou suas mãos em seus quadris.

—Deviam ficar aqui esta noite. Temos espaço de sobra.

—Já falamos sobre isso, querida. —O Sr. Atwood falou. —Você não
quer que eles durmam no mesmo quarto, e Kage deixou perfeitamente
claro que ele não está bem com isso. Fim da história.

—Não é que não queira eles no mesmo quarto. —Ela disse. —Eu só
não concordo com... —Ela olhou para Paul e diminuiu seu tom de voz.
—Sexo antes do casamento.

Jamie levantou a cabeça do meu ombro e seu rosto se iluminou.

—Você quer dizer que podemos dormir juntos, desde que o


mantenhamos com classificação PG7?

—Jamie... —O pai dele advertiu.

—Ok, classificação G8. —Jamie alterou.

7
Restrição de audiência. PG( Parental Guidance suggested ) - Orientação Parental Sugerida
Parte do material pode não ser adequado para crianças. Os pais pediram para dar "orientação dos pais".
Pode conter algum material que os pais possam não gostar para seus filhos pequenos.

8
G -Audiências Gerais. Todas as idades admitidas. Nada que ofenda os pais por serem vistas por crianças.
A sra. Atwood mordeu o lábio, imersa em pensamentos.

—Bem, suponho que poderíamos abrir uma exceção. Faz-me


sentir horrível que vocês sempre tenham que ir ficar em outro lugar.
Esta é sua casa, e eu só quero chorar toda vez que você sai.

—Você chora toda vez que eles saem. —O Sr. Atwood falou.

Ouvir isso quebrou meu coração. Era egoísmos da minha parte


tirar Jamie da sua mãe, só porque eu era um bastardo com tesão. Eu me
senti tão envergonhado.

—Tudo bem, nós vamos ficar. —Eu disse. — Mas se você não se
importar, eu gostaria de compartilhar o quarto do Jamie com ele. —O
Sr. Atwood abriu a boca para protestar, mas antes que ele pudesse falar,
eu adicionei. —Não vai acontecer nada. Você tem minha palavra. —
Levantei minha mão, um juramento silencioso para eles e para mim
mesmo.

A Sra. Atwood sorriu, e ver sua alegria fez as bolas azuis que eu
sabia que estavam em meu futuro valer a pena a dor.

DEPOIS que Jennifer e Chase se despediram e se foram, o Sr.


Atwood trouxe o Johnnie Walker Red novamente.

—Eu vou dormir. —A sra. Atwood deu um grande bocejo, suas


pálpebras caídas. —Cozinhar tira muito de mim, e eu não tenho a mesma
energia que eu já tive uma vez. Vocês devem ir dormir logo, também,
Jamie. Eu gostaria de visitar alguns na parte da manhã antes de você
voltar para a escola.

—Claro, mamãe. —Jamie falou, se levantando para abraçar sua


mãe. — Obrigado por nos deixar ficar no meu quarto.

Tentei não cobiçar o traseiro do Jamie enquanto ele estava


abraçando sua mãe, mas ele estava ali apenas implorando pela minha
atenção. Fazia tanto tempo. Por três meses, eu estava planejando tomar
essa bunda hoje à noite, e agora teria que esperar. Meu pau começou a
se mexer em minhas calças, e eu ajustei minha posição no sofá e desviei
o olhar.

—Disponha, querido. —A Sra. Atwood falou. —Não me faça


arrepender da minha decisão.

—Palavra de escoteiro. —Ele falou, fazendo uma saudação com


dois dedos.

Ela sorriu.

—Você nunca esteve nos escoteiros.

—Verdade. —Ele disse com um sorriso. Ele voltou para o sofá e


sentou-se ao meu lado. Muito perto. —Noite, mãe.

—Noite. —Ela disse antes de ir para a cama.

O pai do Jamie serviu três copos de uísque e fez um gesto para que
pegássemos o nosso.

—Você não deveria mentir para sua mãe, Jamie. Você está tirando
vantagem da confiança dela.
Jamie fingiu estar chocado. Eu sabia que ele estava fingindo,
porque os cantos da sua boca tentaram se contorcer em um sorriso
culpado.

—Eu não estou mentindo para a mamãe. Você age como se Kage e
eu fossemos uma espécie de pervertidos loucos por sexo.

Por dentro, eu estava assentindo em pleno acordo.

Seu pai tomou o conteúdo do seu copo e o pousou vazio.

—Considerando o que seu irmão estava vestindo hoje, eu diria que


é uma avaliação justa. Você tem alguma ideia de como isso foi fodido?

Jamie riu.

—Sim, eu tenho. Mas você tem que admitir que foi engraçado. Nós
ainda estaremos falando sobre isso daqui a vinte anos.

—Pelo bem do seu irmão, espero que não. Pobre coitado.

—Me desculpe por isso, Sr. Atwood. —Eu disse, canalizando a


maior sinceridade em minha voz. —Paul me pediu uma foto autografada
na última vez que estive aqui. Eu a tinha embrulhado com uma etiqueta
e tudo, mas aparentemente o presente que eu trouxe para Jamie estava
bem em cima dele, e ele só assumiu que os dois eram para ele. Talvez se
eu tivesse colocado uma etiqueta no do Jamie, isso nunca teria
acontecido. Eu juro que eu poderia me chutar.

O Sr. Atwood franziu a testa.

—Isso não melhora nada. O fato de você ter comprado aquilo...


como quer que você o chame... para Jamie já é ruim o suficiente por si
só. —Ele olhou para Jamie. — Filho, é assim que você se veste quando
estás em Vegas?

—Não. —Jamie guinchou defensivamente. — Nunca usei nada


assim na minha vida. —Jamie olhou para mim com acusação em seus
olhos.

Então seu pai olhou para mim novamente, com um olhar de


acusação semelhante.

—Isso é tudo o que você pensa sobre o meu filho? Vestindo-o como
uma prostituta barata?

Sim, eu pensei. Porque eu realmente não podia esperar para ver o


Jamie naquela roupa. Eu não pensei em quase mais nada por dias antes
de sair de Vegas. E a gargantilha. Eu não queria que ele visse de
antemão, e especialmente não em seu irmão mais novo. Jesus Cristo.
Aquilo era especial, e eu mesmo queria dar-lhe.

—Peço perdão, senhor. —Eu disse, sabendo bem e muito bem que
eu provavelmente estava prestes a irritá-lo para salvar meu próprio
orgulho. —Essa roupa pode parecer um uniforme de prostituta para
você, mas para mim parece de bom gosto e sexy. Você já comprou
lingerie para a Sra. Atwood?

—Bem, isso não é da sua conta. —Ele disse, mas eu poderia dizer
pelo olhar culpado em seu rosto que ele tinha.

—Estou apenas tentando fazer um ponto. Além disso, acho seu


comentário de dois dólares ofensivo. Em primeiro lugar, sugere que eu
acho que Jamie é barato, quando o oposto é verdadeiro. Eu o valorizo
mais do que valorizo a mim mesmo ou a qualquer outra coisa na minha
vida. Em segundo lugar, essa gargantilha não é barata, Sr. Atwood. É
uma peça única, feita especificamente para ele substituir o colar
claddagh que eu arruinei. —Enfiei a mão no bolso e tirei a caixa de couro
pequena que eu tinha confiscado do Paul depois de explicar o mal-
entendido.

Abri a caixa e tirei a gargantilha, colocando-a sobre a palma da


mão.

—É um amuleto de platina claddagh, e o coração é feito de um raro


diamante azul. —Eu mostrei-lhes as pontas do fio de couro cru. —Estes
são diamantes azuis em forma de lágrima fixados em platina. —Eu olhei
para Jamie, de repente me sentindo vulnerável e bobo. —Não estou
tentando me gabar de quanto dinheiro gastei, mas essa peça é muito
especial para mim. Passei muito tempo trabalhando com o joalheiro
para acertar, porque eu amo o Jamie. Eu queria dar-lhe algo
significativo e precioso, assim como ele é para mim.

O Sr. Atwood apenas ficou sentado olhando para a gargantilha,


sem saber o que dizer. Ele não parecia zangado. Ele realmente parecia
tocado.

—Bem, o que está esperando? —Jamie perguntou, sorrindo. —


Coloque em mim.

Eu sorri e encaixei o laço sobre a sua cabeça, em seguida, deslizei


o cordão de platina pelos fios para apertá-lo em volta do seu pescoço.

— Você pode ajustar isso para o tamanho que quiser. —Expliquei.


—Use-a no alto do pescoço, onde ela aparece, ou solte-a de modo que
fique escondida dentro do colarinho da camisa. Os fios caem nas costas
como o seu antigo.
Jamie passou um dedo sobre o pingente claddagh, certificando-se
de que o coração estava apontando para o coração dele.

—É lindo, Kage. Obrigado. Eu nunca poderia te dar nada nem


perto de tão especial como este. Eu sinto... —Seus olhos lacrimejaram e
ele desviou o olhar.

Eu queria levá-lo em meus braços e ficar com ele até que ambos
estivéssemos ofegando por mais, mas seu pai estava sentado ali nos
observando. Tive que me contentar em colocar uma mão em seu joelho
e acariciar.

—Isso não é necessário, universitário. Você me dá de outras


maneiras. —Eu sorri. —Eu por acaso tenho um monte de dinheiro agora.
Deixe-me mimá-lo.

Jamie riu.

—Acho que eu gosto de ser mimado.

Seu pai limpou a garganta e pegou sua garrafa vazia.

—Bem, acho que vou para a cama, rapazes. Sugiro que vocês façam
o mesmo. Sua mãe vai ficar brava se você não acordar cedo e deixar ela
te alimentar e te mimar. Ela vive por essa merda, você sabe.

—Boa noite, papai. —Jamie disse, ainda me olhando com estrelas


em seus olhos. Deus, eu amava aquele olhar nele.

—Boa noite, Sr. Atwood. —Eu disse distraidamente, olhando para


Jamie.

Depois que seu pai se foi, Jamie pulou em mim. Ele me beijou
como ele queria, devorando minha boca de uma forma que era
inadequada para a sala de estar. Comecei a ficar duro e estendi a mão
para detê-lo.

—Pare de me provocar. —Eu disse. —Haverá tempo para isso


amanhã. Quando não estivermos mais na casa dos teus pais.

Jamie me deu um olhar amuado e pulou do sofá. Então ele pegou


minha mão e me puxou para cima.

—Vamos para o meu quarto.

Eu o segui até o pequeno quarto e olhei ao redor. Fotos cobriam as


paredes, todas com Jamie parecendo adorável como o inferno.
Segurando um taco de beisebol por cima do ombro, preparando-se para
um lance livre na quadra de basquete, fazendo caretas em sua camisa de
futebol, aproximando-se de seu encontro no baile de formatura.

Uma cama de tamanho normal dominava o espaço, arrumada com


um edredom preto e lençóis. Uma escrivaninha estava encostada a uma
parede e uma luminária de chão se erguia sobre um pufe azul no canto
ao lado do armário.

Minha bolsa estava no chão perto da cama, descompactada e


escancarada aberta para revelar a roupa de prostituta de dois dólares do
Jamie, que eu apressadamente empurrei de volta depois que consegui
que Paul a tirasse. O garoto ficou embaraçado e envergonhado, não
porque a roupa fosse inadequada, ele achava que era uma espécie de
equipamento de combate na moda, mas porque ele havia arruinado a
surpresa do seu irmão.

Eu finalmente o convenci de que estava tudo bem e que ele não


tinha nada a ser culpado, mas eu lamento que eu só tenha trazido para
ele uma foto autografada de mim mesmo. Em retrospecto, parecia um
presente egoísta, embora em minha defesa fosse exatamente o que ele
pediu.

Eu prometi a mim mesmo que o próximo presente que eu daria a


Paul seria algo especial. Algo que ele adoraria.

Jamie desapareceu no banheiro no final do corredor, e ele voltou


alguns minutos depois recém-limpo e pronto para dormir em nada além
de sua cueca boxer.

—Sua vez. —Ele falou, largando sua roupa dobrada sobre o pufe.

Peguei meu kit da mala, caminhei calmamente pelo corredor


silencioso e me tranquei no banheiro.

—Que um dia. —Eu murmurei para meu reflexo no espelho. —E


agora tenho que dormir com Jamie e não o tocar?

Eu balancei a cabeça e suspirei, em seguida, tirei a faixa de cabelo


do meu pulso e puxei meu cabelo para trás. Lavei meu rosto com um
esguicho do limpador que eu trouxe de casa, então escovei meus dentes.
Enquanto eu estava tomando banho, decidi que eu ia dormir de calça.
Melhor lutar contra a tentação.

Eu me preparei para uma noite difícil e voltei para o quarto do


Jamie, mas quando o vi, achei que deveria voltar para o banheiro e me
masturbar.

Ele estava de pé lá na penumbra do seu quarto todo enfeitado com


a roupa infame. Deus, era tão sexy nele quanto eu imaginei que seria.
Ainda mais porque ele estava bem na minha frente.
A maneira como seu abdômen espreitava por baixo da camisa mal
disfarçada era de tirar o fôlego. Pior ainda era o short. Aquele maldito,
short mau. Ele abraçava seu quadril perfeitamente, e seu pênis
endurecendo era visível demais através do tecido, posicionado ao lado e
curvando-se levemente enquanto se encostava na barra do seu short e
se esforçava para ser libertado.

Depois houve a gargantilha. Não só o meu pau latejava, mas agora


meu coração estava doendo também. Meu lindo Jamie estava usando o
colar que simbolizava meu amor por ele, que o marcava como meu, e ele
parecia um sexo ambulante. Era tudo que eu podia fazer para não o
derrubar na cama e foder a luz do dia fora dele. Eu gemi, agarrando meu
kit para a noite contra o meu peito como se isso pudesse me dar força.

Ele sorriu da minha reação óbvia e se virou, revelando os fios de


sua gargantilha pendurados em suas costas e chamando minha atenção
até os globos da sua bunda envoltos em látex. Meu pau contorceu-se em
minhas calças, e eu instintivamente agarrei-o com uma mão, mantendo
o aperto da morte na minha bolsa de produtos de higiene pessoal.

Meu olhar vagou até suas coxas, grossas de malhar, e suas


panturrilhas perfeitamente moldadas. Até seus pés eram bonitos. Ele
era fodidamente irresistível, e ele era meu para a tomar.

Se eu quisesse desrespeitar a mãe dele e despertar a fúria do seu


pai. Porra.

—Tire isso. —Eu falei, minha voz rouca.

—Não seja assim. —Jamie cutucou seu lábio inferior, o que sempre
me deixou louco de tesão. Ele sabia, e ele estava usando isso para sua
vantagem. —Eu pensei que você quisesse me ver nisso. Está
desapontado?

—Você bem sabe, e muito bem que eu estou quase gozando em


minha calça aqui, Jamie. Seus pais me matariam se soubessem o que eu
estava pensando agora. Pare de me provocar e vá para a cama antes que
eu perca o controle e faça algo que todos nós vamos nos arrepender.

—Tudo bem. —Ele falou. —Eu vou tirá-la.

Ele se despiu devagar e metodicamente, esticando os braços sobre


a cabeça e demorando-se na pose por tempo suficiente para mostrar
completamente seu peito e abdômen. Eu resisti ao desejo de ir até ele e
passar minhas mãos para cima e para baixo em seu torso. Eu queria
lamber seus mamilos e mordê-los quando eles endureceram a pequenos
picos apertados.

Ele jogou a camisa no pufe e depois deslizou os polegares para


baixo no cós daqueles shorts apertados de látex. Ele teve que puxar a
frente para fora do seu corpo para liberar seu pau, e minha boca encheu
de agua com a visão da cabeça jogando esconde-esconde sobre o tecido.
Ele parou lá por um momento, me provocando, em seguida, mordeu o
lábio inferior e deslizou uma mão dentro do short para segurar seu pau
e suas bolas.

—Mmmm. —Ele gemeu. — Essas coisas são tão apertadas no meu


pau.

—Não parece que você está com dor. —Eu disse, desejando que
minha voz não tivesse falhado.
—Eu não disse que dói. —Ele disse, passando a mão lentamente
até seu pênis e depois para fora do seu short. Então ele se virou,
mostrando-me sua bunda novamente, sabendo que era a maneira mais
rápida de acabar com a minha decisão de não o tocar.

—Dou-lhe uma, dou-lhe duas. —Ele disse, balançando os quadris


de um lado para o outro e batendo o látex sobre as bochechas da bunda.

Quando ele tinha removido o short do seu traseiro arredondado,


ele o deixou cair o resto do caminho até o chão, pisado fora dele e o
chutando para o pufe.

No final do seu "strip tease" passivo-agressivo, ele me encarou,


vestindo apenas a gargantilha. Seu pau lindo estava alto e orgulhoso.

—Eu tirei. —Ele disse. —Isso faz você feliz.

—Não. —Eu disse, incapaz de desviar o olhar ou sequer piscar. —


Me dá vontade de quebrar alguma coisa. Com meu pau.

Jamie riu e se aproximou, colocando uma mão quente no meu


peito.

—Acalme-se, assassino. Eu não vou tentá-lo mais. Eu usaria um


cinto de castidade se eu tivesse um, mas eu não tenho, então eu vou
dormir do meu lado. Não quero me esfregar em você acidentalmente
durante o somo. —Ele inclinou-se e me beijou, seus lábios macios e com
sabor de creme dental de menta. —Você está seguro comigo.

Ele subiu na cama, deixando-me de pé no lugar em que eu estava


enraizado desde que eu voltei para o quarto. Então o filho da puta
insolente colocou as costas para o centro da cama e sorriu para mim por
cima do ombro antes de desligar o abajur.
—Boa noite. —Ele disse calmamente, puxando a coberta até o
queixo.

Suspirei. Jesus, esta seria uma noite longa.

Eu me despi ficando em minha boxer, apesar de ter planejado


dormir de calça, e subi atrás de Jamie. Eu não conseguia me virar de
costas para ele, no entanto. Eu não estava chateado com ele, pelo amor
de Deus. Eu simplesmente não podia fazer sexo com ele.

Fiquei lá por um longo tempo com os olhos fechados, tentando


desligar meu cérebro e dormir, mas não consegui parar de pensar. Meus
pensamentos acabaram se transformando em trabalho, como quase
sempre acontecia quando eu estava estressado ou tinha muito silêncio
para preencher.

Eu não tinha mencionado isso para Jamie, mas havia um punhado


de funcionários que não pareciam gostar de mim. Eles eram
perfeitamente educados na minha cara, mas eu os peguei olhando para
mim às vezes com expressões que variavam de um vago desgosto a uma
franca hostilidade. O pior deles era o gerente do cassino, a quem eu
planejava me livrar quando encontrasse um substituto para ele.

Estranhamente, Mark Gladstone não fazia parte do grupo ao qual


eu me referi como Dissidente. Ele tinha aproveitado todas as
oportunidades para me incitar quando meu tio estava vivo, mas agora
ele estava mais caloroso, me envolvendo em conversas regulares e só
ocasionalmente me divertindo.

No começo, isso me deixou desconfiado, mas Mark me convidou


para uma bebida depois do trabalho. Cheguei perto de recusar, mas
depois pensei porque não? Eu poderia usar uma bebida, e ele não estava
sendo tão chato quanto antes.

Depois que Mark ingeriu uma quantidade razoável de álcool, sua


língua se soltou e o que ele disse me surpreendeu.

—Eu sempre tive ciúmes de você. —Ele disse com um sorriso


tímido. —Eu estava com ciúmes e achei que você fosse um pirralho
mimado. Você tinha um tio rico que lhe dava tudo que queria, e não
precisava fazer nada para merecê-lo. Enquanto isso, o resto de nós peões
tinham que arrastar nossas bundas para trabalhar todos os dias apenas
para pagar o aluguel. Além disso, você é tão bonito que todos ficam sem
fôlego e com os olhos trêmulos quando você entra na sala. Mulheres e
homens.

Ele zombou e tomou um gole saudável de sua quarta bebida.

—Por que você está me contando tudo isso? —Eu perguntei,


mexendo no meu copo vazio. Eu olhei ao redor em busca de uma
garçonete antes de adicionar: —Você está tentando me irritar?

—Nem um pouco. —Ele falou. —Estou tentando fazer as pazes com


você.

—Por quê? —Eu pressionei, ainda desconfiado.

Ele balançou a cabeça e riu.

—Porque eu vi algo que um dia me fez mudar de ideia sobre você.


Acho que você poderia dizer que tive uma epifania.

Eu levantei uma sobrancelha.

—Uma epifania? Que diabos você viu?


A garçonete veio e pegou o meu pedido para outra rodada de
bebidas enquanto Mark olhava para mim, seus lábios apertados. Parecia
que ele estava tentando decidir se me diria ou não. Finalmente, seus
lábios relaxaram e ele se abriu.

—Eu vi você treinando cerca de um mês atrás. Eu estava


descansando e estava perambulando pelo hotel como às vezes faço.
Descobri sua academia e você estava malhando enquanto seu treinador
gritava com você. —Ele sorriu. —Aquele homem é malvado como o
inferno. Pior que um sargento de treinamento.

Eu balancei a cabeça e sorri.

—Sim. Marco definitivamente não é tímido sobre me encher, mas


é por isso que eu ganho lutas.

— Talvez. Com certeza abriu meus olhos. Fui à academia mais


algumas vezes naquela semana e não pude acreditar. Você trabalhava
tão duro o tempo todo. Antes disso, eu achava que era a pessoa que
estava trabalhando duro e que você só ficava na sua cobertura a maior
parte do tempo, comendo caviar, fodendo e gastando o dinheiro do seu
tio.

—E agora?

—Você é um trabalhador, Junior. Seu treinador estava reclamando


de você não ter treinado o suficiente ultimamente, e você disse que tinha
um negócio para fazer funcionar agora. Você disse que se esforçaria
mais. Enquanto isso, voltei para o escritório, encostei-me à escrivaninha
e fofoquei com Cathy até que alguém mandou alguma papelada para
mim. Cerca de uma hora depois, você enfiou a cabeça no escritório de
banho tomado e vestido em um terno, e perguntou se alguém precisava
de alguma coisa. Eu fiquei chocado. Seu tio nunca teria feito nada
parecido. Inferno, eu não faria nada assim.

Ele balançou a cabeça e terminou a bebida assim que a garçonete


trouxe a próxima rodada.

—O que posso dizer? Eu mudei de opinião. E eu não digo essas


coisas para as pessoas, então é melhor você apreciar isso. —Ele apontou
um dedo para mim, fingindo ser uma ameaça.

Naquela noite, confidenciei a Mark sobre os dissidentes, não


entrando em detalhes, mas mencionando que um grupo de funcionários
parecia se ressentir da minha presença. Ele tinha falado os nomes de
alguns deles com um olhar conhecedor.

—Como você sabe quem eles são? —Eu perguntei em óbvio


choque.

Ele riu, depois se inclinou e baixou a voz.

—Há coisas acontecendo por aqui que eu não acho que você esteja
ciente, Junior. Por que você não faz uma visita ao Sceptre? Talvez você
encontre algumas respostas lá. —Então, porque o imbecil não se
conteve, ele adicionou. —Talvez se você não tivesse andado com a cabeça
erguida por todos esses anos, você não seria tão sem noção agora.

Eu ri, sabendo que ele estava certo.

—Só agora estou descobrindo isso.

—Você vai se sair bem. —Ele disse. —Você tem mais caráter em
um dos seus bíceps do que seu tio tinha em todo o seu corpo.
—Droga, Mark. Você está me fazendo corar como uma colegial
aqui. —Eu realmente fiquei um pouco corado, porque o elogio dele foi
tão genuíno e inesperado.

—Eu sei. —Ele disse. —Eu beijei sua bunda o suficiente para
conseguir minha estagiária? Você sempre disse que eu estava puxando
o saco do Santori errado.

—Nem mesmo perto. Mas eu posso levar isso em consideração se


você responder uma pergunta para mim.

—Atire. —Ele falou. —Eu posso estar bêbado o suficiente para


dizer a verdade.

Eu me inclinei para frente na minha cadeira, olhando Mark


diretamente nos olhos.

—Você realmente quer uma estagiária?

Mark riu, mas ele não desviou o olhar.

—Eu vou responder isso quando você me disser se você está


fodendo o seu estagiário.

—Ele não é mais meu estagiário. Ele é meu namorado.

Mark assentiu.

—Isso foi o que eu pensei.

Ele drenou seu copo, provavelmente se fortalecendo para o que


estava por vir. Sugando um pouco de coragem líquida.

—Sua vez. —Eu lembrei a ele quando o silêncio se esticou por


muito tempo.
Ele bateu o copo na mesa.

—Foda-se. Eu quero um estagiário. De preferência, aquele que faz


um luar como stripper.

—Eu sabia. —Eu disse com um sorriso maroto. —Steve estava


certo.

—Steve. —Mark falou. Ele não explicou por que a mera menção do
nome do Steve o irritou, e eu não perguntei.

A conversa se voltou para o lado escuro então. Uma vez que Mark
começou a ser honesto, parecia que ele não conseguia parar. Não
discutimos mais negócios, mas tudo bem. Mark me deu uma dica. Faça
uma visita ao Scepter, ele disse, e foi exatamente o que eu planejei fazer.

Era bom ter alguém em quem confiar, mesmo que não tivéssemos
nos falado tanto assim. Eu não tinha conseguido compartilhar meus
problemas de trabalho com Jamie porque não queria que ele se
preocupasse. E eu poderia admitir que parte disso era orgulho. Eu
queria que ele me visse como forte e capaz, e se ele soubesse que eu
estava lutando para me encaixar no meu próprio negócio, ele poderia
pensar menos de mim.

Eu o amava. Eu queria cuidar dele. Eu queria ser o tipo de homem


que merecia sua admiração. Ele me tirou da lama que era minha vida
anterior e me mostrou o que significa pertencer a alguém. Perder ele me
mataria.

Eu me aproximei dele em sua cama de infância e envolvi meus


braços gentilmente em torno de seu corpo nu, tentando não o acordar.
Eu só precisava segurá-lo por um tempo.
Minhas mãos coçaram para correr sobre sua pele macia e cedi à
tentação. Eu não me deixaria ir mais longe do que isso. Apenas um
pequeno toque para acalmar meus pensamentos tumultuosos. Ele
sempre teve esse efeito em mim.

Seu quadril estava liso sob meus dedos, e eu segui ao longo do seu
quadril e depois sua coxa. Cabelos crespos fizeram cócegas nas pontas
dos meus dedos, e eu me inclinei e senti o cheiro do seu cabelo. A pele
dele. Como o vento de outono e a torta de maçã, e os distintos
feromônios de Jamie Atwood.

O cheiro de casa.

Eu esfreguei minha ereção contra uma das bochechas da sua


bunda, o contato dolorosamente leve. Eu queria grudar nele, mas eu
prometi não foder, então isso teria que servir. Apenas uma delicada
massagem na parte inferior do meu pau para aliviar a necessidade. Só
por um minuto, e então eu pararia.

Jamie empurrou sua bunda de volta para mim e gemeu, como se


mexendo em seu sono, e meu pau empurrou para trás.

Eu enterrei meu nariz no cabelo dele e parei, alarmado. Não


acorde, pensei.

Mas era tarde demais.

Ele virou-se dentro do círculo de meus braços e jogou uma perna


sobre minha coxa. Se foi instinto ou experiência, dele ou minha, ele
acabou bem onde eu queria. Com a ponta do meu pau cutucando no seu
buraco.
Minha mente gritou para eu parar, mas meu corpo não estava
escutando. Antes que eu pudesse controlar a guerra, Jamie subiu
silenciosamente em cima de mim e sentou-se, espetando-se na minha
enorme ereção sem aviso prévio. Em um segundo nós estávamos
carinhosos e provocantes, e no próximo eu estava completamente
embainhado em sua bunda, que estava quente e inexplicavelmente
escorregadia por dentro. Ele já estava lubrificado e eu estava sem fôlego.

—Jamie. —Eu disse, minha voz aflita com o esforço para me


controlar. —Não podemos fazer isso.

—Já estamos fazendo isso. —Ele sussurrou.

Ele descansou a parte superior do corpo em cima da minha e


começou a ondular seus quadris, seu buraco apertado apertando para
cima e para baixo no meu eixo em pequenos incrementos. Ele alcançou
ao redor com uma mão e pegou um pouco de lubrificante do lugar que
nossos corpos estavam unidos. Então ele deslizou a mão entre nós e
acariciou seu próprio pau.

Quando ele estava suficientemente escorregadio, ele envolveu


ambos os braços firmemente em volta do meu pescoço e se achatou
contra mim novamente, imprensando seu pênis entre nós. Então ele se
perdeu completamente no movimento, sua bunda acariciando meu pau,
nossas barrigas acariciando o seu em conjunto.

Não houve gritos nem movimentos bruscos, nem impulsos nem


suspiros. Nós éramos um corpo e uma mente, nos movendo
silenciosamente em direção a um clímax, e quando isso aconteceu eu
pensei que iríamos espremer um ao outro até a morte.
Quando terminamos, eu envolvi meu corpo em torno dele e o
aconcheguei a mim, me sentindo horrível por quebrar minha palavra,
mas mais saciado do que eu já havia me sentido em minha vida. Eu
lidaria com a culpa amanhã. Agora eu só queria ficar com Jamie e
dormir.
NO DIA seguinte, nós decidimos pular à festa no apartamento do
Jamie. Jamie disse que ia ser chata, mas acho que ele estava realmente
me mostrando misericórdia. Se tivesse sido apenas Braden e Trey, eu
estaria bem com isso, mas o fato de Layla e Cameron terem sido
convidados era um problema para mim.

Jamie e eu passamos o dia todo com a família, comendo, sentados


no gazebo e assistindo TV. Foi uma mudança bem-vinda da agenda
agitada que eu estava mantendo em Vegas, e para a qual eu teria que
voltar na manhã seguinte.

Marco estava reclamando porque eu não estava treinando o


suficiente, mas não havia horas suficientes no dia para fazer
malabarismos com um novo negócio e uma carreira de lutador. Mais de
uma vez, considerei comprar meu contrato com o UFC.

Eu dormi no sofá, na segunda noite na Geórgia. Eu queria um


replay da noite anterior, mas entre o Desastre Paul-em-Látex, que agora
era o seu nome oficial no círculo de fofocas da família Atwood, e deixar
Jamie me usar como um brinquedo de merda, achei que eu já tinha
usado a minha cota de cartões livre da prisão.

Partir novamente foi mais difícil do que eu imaginava que seria.


—Me leve com você. —Jamie disse enquanto me seguia pelo check-
in do aeroporto parecendo desesperado. —Não quero terminar a escola.
Eu não dou a mínima mais.

—São apenas mais três meses. —Eu disse a ele, tanto para meu
próprio benefício quanto o dele. —Noventa dias mais torturante e então
nós estaremos juntos.

—Permanentemente? —Ele perguntou, precisando de


confirmação.

—Permanentemente. —Eu disse. —Eu não estaria convidando


você para o meu mundo se não fosse sério, Jamie. Eu quero você ao meu
lado.

Ele jogou os braços em volta de mim e se pendurou firme, mesmo


depois que o atendente de check-in ficou irritado e disse à próxima
pessoa na fila para ir na minha frente.

—Ok, eu posso esperar. Como você disse, são apenas três meses.
Parece que quanto mais perto fica, menos paciência eu tenho.

—Eu conheço o sentimento. —Eu disse. —Parece que os dias


continuam ficando mais longos.

—Senhor. —O atendente de check-in falou. —Você poderia, por


favor, dar um passo à frente ou sair da fila?

Eu assenti com a cabeça e tirei os braços do Jamie do meu pescoço.


Então toquei um dedo no novo colar de claddagh.

—Não se esqueça de mim.

Ele revirou os olhos.


—Como se eu pudesse.

—Senhor. —O atendente de check-in vociferou.

—Ok, ok. —Eu disse, tão irritado com ele quanto ele estava comigo.
—Jamie, eu tenho que ir. Vou ligar para você assim que chegar a Vegas.

Ele assentiu e se virou para sair, parecendo um cachorrinho


perdido. Quando terminei o check-in, ele se foi. Fora da minha vista por
mais três meses.

Steve estava de serviço quando voltei ao Alcazar, trabalhando no


segundo turno. Fiquei imaginando quem havia faltado, mas estava
cansada demais para perguntar. Ele me deu um olhar de pena enquanto
eu me arrastava pela recepção.

—Você está péssimo. —Ele disse. —Você disse a Jamie que eu disse
hey?

—Sim. —Eu disse, embora eu não tivesse pensado em Steve uma


vez na viagem.

—E ele está tão adorável como sempre?

—Mais. —Eu disse. —Estar longe é uma merda. Estou pronto para
ele ficar aqui para sempre.

—Eu também. —Steve falou. —Sinto falta do meu parceiro no


crime.

—Sim. —Eu suspirei, sem a energia para discutir com Steve sobre
o aspecto criminoso do relacionamento dele e Jamie. —Olha, estou
desgastado. Eu só vou para a cama, ok? Se alguém tiver uma
emergência, sabe onde me encontrar.
Os dias seguintes foram sem intercorrências, e eu estava tão
deprimido que provavelmente não poderia ter lidado com nenhuma
emoção. Marco comentou mais de uma vez sobre o meu humor, mas eu
estava grato por ele não ter sido fácil comigo. A única vez que tive algum
alívio da minha mente foi quando estava treinando.

Um mês depois que voltei, acidentalmente notei algo que não


deveria. Seguindo a dica de Mark Gladstone, comecei a investigar uma
das minhas várias propriedades, o Sceptre Hotel. Isso me confundiu,
como meu tio poderia ter um hotel inteiro que eu não conhecia, mas
também havia uma galeria de arte e estábulos que eu nunca tinha ouvido
falar.

Havia muito dinheiro passando por essas três propriedades. Cada


uma delas estava fazendo mais negócios do que o Alcazar.

Eu dirigi pelo Sceptre, esperando algo grandioso, e em vez disso


eu encontrei um pequeno hotel com apenas alguns carros no
estacionamento em volta. Uma placa com o Não há vagas estava acesa
em vermelho na frente do prédio. Como poderia um pequeno hotel com
apenas alguns convidados movimentar mais dinheiro do que o Alcazar,
que era pelo menos três vezes o tamanho e sempre quase cheio?

Parei no estábulo e o gerente com quem conversei parecia nervoso


ao me ver. Eu não fiquei muito tempo, mas pelo que pude ver, era uma
operação legítima. O que eu sei sobre cavalos, afinal?

Eu tentei visitar a galeria de arte quatro vezes. Não importa a hora


do dia, sempre estava fechada. Eu suponho que poderia ser a norma
para uma galeria de arte. Talvez eles só tivessem shows particulares.
Liguei para o número que tinha listado para a galeria, mas ninguém
atendeu ao telefone, e nunca foi para o correio de voz para que eu
pudesse deixar uma mensagem.

Eu me vi desejando saber mais sobre esses tipos de negócios, já


que ninguém parecia inclinado a me informar. Mark estava certo. Eu
tinha passado a vida com a cabeça na minha bunda, e agora eu estava
pagando por isso.

Ainda assim, eu não achava que minha falta de atenção era a única
razão pela qual eu não sabia sobre essas propriedades. Algo me dizia que
havia muito que meu tio mantinha discreto. Eu tinha uma sensação
desconfortável de que suas práticas de negócios questionáveis me
colocariam em problemas, mas como eu poderia combater alguma coisa
se não soubesse o que era. Tanto quanto eu poderia dizer, o Alcazar era
legítimo, e isso me trouxe algum conforto.

Eu não podia me dar ao luxo de chamar atenção para mim por ter
atividades suspeitas acontecendo na minha empresa, se não por outro
motivo, além de proteger Jamie. Se alguém começasse a investigar as
coisas, eles poderiam eventualmente perceber que havia algo suspeito
sobre a maneira como Santori havia morrido.

Muitos dos funcionários já haviam feito muitas perguntas sobre o


paradeiro do Aldo e Aaron. Eu sempre ofereci a mesma explicação vaga
de que eles tinham desistido depois que meu tio morreu. Isso pareceu
satisfazer a todos, exceto a gerente de Recursos Humanos, a impetuosa
mulher mais velha que Jamie chamava de Mulher gato Cathy. Ela me
encurralou no saguão um dia e expressou suas preocupações.

—Não foi feita a papelada de nenhum deles. —Ela disse. —É como


se ambos tivessem desaparecido no mesmo dia em que o Sr. Santori
morreu. Nenhum aviso ou qualquer coisa. Isso não parece estranho para
você?

—Eu acho que eles acharam que seu trabalho estava feito. —Eu
disse a ela. —Eu não falei com Aldo depois que meu tio morreu, mas falei
com Aaron, e ele me disse que não voltaria ao trabalho. Foi uma
experiência traumática para todos os envolvidos, e eu não pensei em
pedir papelada. Como você as tem no sistema agora?

—Como não comparecendo. —Ela disse.

—Bem, mude os registros para dizer que eles apresentaram suas


renúncias alguns dias depois da morte do meu tio. Isso é essencialmente
o que aconteceu. A falta de papelada é minha culpa.

—Aaron foi quem relatou à polícia. —Ela falou, claramente não


estava pronta para deixar o assunto morrer. —Então ele e Aldo
simplesmente desapareceram.

—Foi uma experiência traumática. —Eu disse novamente,


tentando disfarçar minha irritação e falhando miseravelmente. —Eu
suponho que eles queriam colocar isso atrás deles, e eu gostaria que
fizéssemos o mesmo. Aldo e Aaron eram funcionários pessoais do meu
tio. Agora ele está morto e eles não trabalham mais aqui. Fim da história.

Ela finalmente desistiu de tentar entender o desaparecimento


deles, e eu suspirei aliviado. Eu não precisava de empregados aleatórios
me perguntando sobre as circunstâncias em torno da morte do meu tio.
Eu tinha o suficiente para me preocupar em tentar fazer o papel de um
detetive confuso no meu próprio negócio.
Numa tarde de quinta-feira, finalmente encontrei alguém na
galeria de arte. O sinal fechado ainda estava no lugar, mas eu vi uma
mulher ruiva de vestido verde vagando por dentro. Quando eu bati, ela
desapareceu na parte de trás, então eu peguei meu celular e liguei para
o número. Sem resposta. Bati na porta por dez minutos e ela finalmente
me deixou entrar.

—Posso ajudá-lo? —Ela perguntou com cautela antes de o


reconhecimento aparecer em seu rosto. —Oh, senhor Santori. Por favor,
entre. Sou Stella. É bom te ver de novo.

—Nós nos conhecemos? —Eu perguntei, tentando lembrar e


ficando em branco.

—Costumo participar das suas lutas. Você sabe, aquelas no


armazém. Você está sempre compreensivelmente distraído, então eu
não estou surpresa que você não tenha me notado. Como você tem
estado?

—Eu estive bem, eu acho. Apenas tentando me familiarizar com o


negócio que meu tio me deixou.

—Uma tarefa assustadora, tenho certeza. —Ela falou. —Eu não te


invejo a esse respeito, embora graças ao seu tio você não precise se
preocupar com dinheiro pelo resto da sua vida.

—É verdade. —Eu disse. —Mas eu realmente quero aprender tudo


que eu puder. Você pode me falar um pouco sobre essa galeria? Santori
não compartilhou muito comigo em relação aos negócios, e isso
realmente me deixou em desvantagem. Acho que ele achou que eu era
apenas um garoto idiota.
Eu ri e ela se juntou a mim.

—Sim, ele poderia ser assim. O homem era um maníaco pelo


controle e digo isso com muito carinho.

Afeição. Parecia genuíno.

Depois de nos olharmos por um momento, ela pareceu lembrar da


minha pergunta.

—Ah, você quer saber algo sobre a galeria? Receio que não há
muito para contar. Nós hospedamos shows privados várias vezes por
mês. Patronos ricos aparecem, bebem litros de vinho e gastam dinheiro.
Tenho certeza que seria muito chato para alguém tão fisicamente
orientado quanto você. —Seus olhos varreram meu corpo, como se ela
estivesse imaginando como eu era sob minhas roupas.

Não me afastando da atenção, permiti que meus olhos a varressem


de volta. Ela era uma mulher bonita, provavelmente no final dos anos
cinquenta ou início dos anos sessenta, com mais curvas do que uma
estrada de montanha. Sua aparência e comportamento gritavam
dinheiro e sex appeal reservado, mas havia algo em seus olhos verdes
que me fizeram parar.

Suspeita? Antipatia?

—Eu adoraria ir a um show. —Eu disse a ela, mostrando um largo


sorriso e tentando conquistá-la.

Eu queria que ela visse o garoto que andava por aí com a cabeça
no rabo ao invés do homem que estava tentando pegá-la por
informações. Eu não sabia se estava conseguindo. Eu tinha a sensação
de que uma mulher como Stella poderia mascarar seus pensamentos
quase tão bem quanto Santori. Ela era um tubarão também. Disso eu
estava certo.

Quando minha dica não tão sutil não me rendeu um convite, fui
direto.

—Quando é o próximo show? Eu vou limpar minha agenda. Beber


vinho e olhar pinturas soa divertido.

—Oh. —Ela fez beicinho, e parecia quase sincera. —Sinto muito,


Sr. Santori, mas não temos nada marcado no momento. Eu vou ter a
certeza de ligar para você quando tivermos outro, no entanto.

Agradeci a Stella pelo tempo e parti, sentindo que havia perdido


aquela rodada. Mais do que nunca, eu estava convencido de que as
pessoas que trabalhavam para mim estavam tentando me manter de
fora, assim como Santori sempre fez.

Bem, eu tinha novidades para Stella e para qualquer outra pessoa


que achasse que tinham o direito de me tratar como um garoto idiota.
Eu não desistiria de tentar assumir o controle do meu próprio negócio.
E se eles não começassem a me tratar com algum respeito, eles estariam
na fila do desemprego. Eu era o chefe agora. Eu tinha o poder.

Quando cheguei de volta ao Alcazar, meu empresário me ligou


para dizer que me ofereceram uma luta. Eu estaria indo contra Anthony
Rodriguez, que atualmente era o concorrente número dois na categoria
Peso meio-médio.

—Inferno, diga-lhes que sim. —Eu disse. —Eu preciso dessa luta.

Eu esperava que a luta me ajudasse a recuperar algum senso de


normalidade em minha vida. Não ter permissão para vender o negócio
por dois anos estava me matando. Jamie estava chegando em breve, e
eu não queria nada além de pegar o dinheiro e lavar as mãos de tudo,
exceto o Alcazar. Infelizmente, isso não era uma opção.
A SEMANA em que fui morar com Kage foram os melhores sete
dias da minha vida. Bem, seis. Eu estava em coma no primeiro.

Desta vez, em vez de voar, eu tive que dirigir o Rover para sua nova
casa, carregado com todos os meus pertences que eram importantes o
suficiente para levar. Kage me assegurou que tudo que eu precisava era
eu e minhas roupas e que compraríamos qualquer outra coisa que eu
quisesse. Eu estava me acostumando a ter um namorado rico, mesmo
que isso ainda me fizesse sentir um pouco culpado.

Quando cheguei em Vegas, estava exausto. Tomei um banho e logo


adormeci, mal parando para dar um beijo e um abraço em Kage. O
conhecimento de que eu estava aqui para ficar tirou a sensação de
urgência que tivemos em nossa última visita.

Depois que acordei no dia seguinte, foi uma história diferente.


Kage pôs todo o resto em sua vida de lado, e tivemos uma gloriosa
maratona de quatro dias de sexo, serviço de quarto e filmes.

Em um ponto, Steve apareceu na nossa porta, tendo feito uma


chave de elevador que o levou até o andar da cobertura. Kage atendeu a
porta em boxer e com uma carranca no rosto.

—Onde está Jamie? —Steve perguntou sem preâmbulo.


—Bem aqui. —Eu chamei do meu cobertor no sofá.

Steve tentou entrar, mas Kage bloqueou sua entrada.

—Você não vai entrar aqui, Steve. E pare de fazer as chaves do


elevador para si mesmo. Você sabe que eu odeio isso.

—Mas eu quero ver o Jamie. —Steve lamentou. —Tem sido eras.

—Você pode vê-lo quando eu terminar com ele. —Kage falou, e


fechou a porta no rosto do Steve.

—Eu não vou desistir. —Steve gritou pela porta antes de se retirar
de volta para o trabalho.

Kage me levou para o andar de baixo no dia seguinte e me deixou


segui-lo como um cachorrinho enquanto trabalhava. Eu corri para Mark
Gladstone no saguão e tentei esconder minha repulsa.

—Você vem trabalhar conosco novamente? —Ele perguntou.

—Mais ou menos. —Kage e eu não havíamos discutido exatamente


como iríamos trabalhar comigo na mistura agora que eu estaria
morando com ele. Mesmo que tivéssemos sido descuidados ao redor do
Alcazar, Kage ainda não tinha assumido sua sexualidade para o público.

—Talvez agora que o velho está morto, você possa conseguir um


escritório. —Mark falou com seu tato habitual.

—Duvido. —Falei. —Eu não acho que vou trabalhar muito aqui.

—Bem, talvez pudéssemos sair para uma bebida novamente algum


dia. Ou seja, se o chefe tiver afrouxou a coleira em você.
—Oh, eu acho que a coleira dele será mais apertada do que nunca.
—Eu disse, gostando de ser misterioso.

Kage veio por trás de mim e puxou os fios da minha gargantilha


que estavam pendurados embaixo da minha camisa.

—Muito apertada. —Ele disse, usando os fios para me puxar contra


ele.

—Nós todos poderíamos sair. —Mark falou com um encolher de


ombros. —Pegar algumas garotas.

—Talvez em algumas semanas. —Kage disse com uma risada. —


Jamie precisa se instalar.

—Tudo bem, deixe-me saber. —Mark falou por cima do ombro


enquanto ele se abaixou em sua área de escritório atrás da recepção.

Eu me virei para Kage, surpreso.

—Eu acabei de entrar na quinta dimensão? Por que Mark


Gladstone está sendo legal conosco? E por que ele parece saber mais do
que deveria?

—Eu sou o chefe agora. —Kage falou. —Ele gosta do seu trabalho.

—Huh. —Eu grunhi. —E ele me chamou de nariz-marrom9.

9
Uma pessoa que tenta agradar (especialmente ao seu chefe) tanto que seu nariz fica marrom ao beijar
sua bunda.
Depois de morar com Kage por quase um mês, ele olhou para mim
com um sorriso travesso enquanto nos abraçávamos nus no sofá, minha
cabeça descansando em seu colo.

—Eu tenho uma pequena surpresa para você, universitário. Eu vou


te levar para sair amanhã. Em um encontro real.

—Em público? —Eu perguntei, choque e euforia guerreando


dentro de mim.

—Sim. —Ele falou. —Eu tenho o dia todo planejado para nós, mas
não vou te dizer o que vamos fazer. Você vai ter que esperar.

Eu fiz uma careta, me sentindo um pouco nervoso.

—Nós não vamos fazer paraquedismos, vamos?

Kage riu.

—Não era o que eu tinha em mente, mas se você preferir...

—Não. Tudo o que você planejou está bom, desde que não seja
uma ameaça à vida. —Eu reconsiderei por um momento e disse:—
Inferno, eu não me importo se isso ameaça a vida ou não. Você tem
trabalhado muito ultimamente, e eu preciso de um tempo um-a-um.

Kage passou os dedos pelo meu cabelo e olhou melancolicamente


para mim.

—Me desculpe por isso. Deixe-me fazer as pazes com você


amanhã. Eu prometo que nenhuma vida será ameaçada.
No dia seguinte, Kage me levou para comprar roupas. Então ele
me surpreendeu com uma visita ao spa, onde tivemos uma massagem
para casais de duas horas, seguida de um banho de ervas.

A sala de hidromassagem estava escura e fresca, e continha quatro


banheiras afundadas com pequenos azulejos. A luz transbordando do
corredor iluminava apenas o suficiente para que pudéssemos ver onde
cada banheira estava localizada. Quatro plumas espessas de vapor
flutuavam suavemente em direção ao teto.

Nós tiramos nossas vestes brancas fofas, e o atendente nos


designou uma banheira. Depois, borrifou uma mistura aromática de
ervas na água e colocou uma toalha branca espessa no chão, ao lado de
cada banheira.

—Há uma garrafa de óleo perfumado aqui se vocês quiserem


adicioná-lo ao seu banho. Quando vocês terminarem, apenas se sequem
e vistam suas vestes novamente. Largue as toalhas no cesto da porta e
depois volte para a sua sala de massagem, onde vocês receberam sua
última massagem de meia hora. —Ele se virou no último minuto. —Está
porta trava automaticamente quando se fecha. Alguém vai bater em
trinta minutos para avisar que está na hora.

Assim que o atendente saiu da sala, Kage saiu da sua banheira e se


juntou a mim na minha. Ele atravessou a água até que ele estivesse
sentado ao meu lado, perto o suficiente para que eu pudesse ver que ele
não estava usando nada além de um sorriso.

—Eu acho que ele quis dizer para você ficar na sua banheira. —Eu
disse, minha respiração presa em minha garganta.
—Eu sou um rebelde. —Ele disse baixinho. Então ele se inclinou e
apertou seus lábios nos meus, fazendo-me pensar pela centésima vez em
como seus lábios podiam ser macios e firmes ao mesmo tempo. Era um
dos muitos mistérios que eu ainda tinha que resolver sobre Kage.

Ele trabalhou sua boca lentamente contra a minha, me


provocando com beijos fugazes que me deixaram louco em antecipação.
Mais e mais ele capturou meus lábios entre os seus e os soltou,
trabalhando sem pressa de um lado para o outro, certificando-se de que
cada centímetro da minha boca estivesse completamente arrebatado.

Apenas quando eu pensei que a doce tortura continuaria para


sempre, ele se afastou e olhou para mim, seus olhos brilhando no escuro.

—Eu te amo, Jamie. Me desculpe, eu tenho estado tão preocupado


ultimamente. Vou tentar fazer melhor, ok?

—Ok. —Eu sussurrei.

—Você me perdoa?

Eu movi meu rosto para mais perto do dele até que houvesse
apenas um sopro de espaço entre os nossos lábios.

—Eu vou, se você continuar me beijando assim.

Ele rosnou e me beijou de novo, mas desta vez ele foi mais
insistente, me fazendo gemer. Quando eu separei meus lábios, ele
encontrou minha língua com a dele. Senti sua mão na parte de trás da
minha cabeça, seus dedos molhados deslizando pelo meu cabelo e me
agarrando, puxando suavemente até que cedi e joguei minha cabeça
para trás. Ele atacou minha garganta à mostra com sua boca faminta,
chupando meu pomo de Adão, depois deslizando a língua na cavidade
abaixo.

Eu ofeguei.

—Você vai me foder aqui?

—Cavalos selvagens não poderiam me impedir disso.

Ele inclinou a cabeça para baixo, inclinou-se para trás e levou um


dos meus mamilos em sua boca, apenas sobre a superfície da água. Ele
beliscou o outro mamilo entre os dedos e apertou com força, assim como
ele mordeu o primeiro.

O som que ele arrancou de mim era parte gemido, parte rugido, e
foi alto o suficiente para que Kage parasse de beliscar meu mamilo e
cobrisse minha boca com a mão.

—Você sabe que eu amo quando você faz barulho, bebê. Mas se
alguém entrar aqui enquanto estivermos fodendo, não vou parar. Então,
a menos que você queira fazer a caminhada da vergonha neste lugar, eu
sugiro que você tente mantê-los baixo.

—Eu não consigo. —Eu ofeguei quando ele descobriu a minha


boca. —Não quando você está fazendo isso comigo.

—Awww, me desculpe, querido. —Seus lábios se esticaram em um


sorriso lascivo que era tudo, menos de arrependimento. —Você quer que
eu vá devagar com você?

Eu balancei a cabeça freneticamente, esperando que ele não


acreditasse em mim. Se havia uma coisa que eu nunca quis que ele
fizesse, era ir devagar comigo. Eu ficaria feliz em fazer a caminhada da
vergonha se isso significasse que eu tive a experiência completa e
desimpedida com Michael Kage.

Para minha alegria, ele não me decepcionou.

Ele me puxou para cima e me girou, curvando-me ao lado da


banheira até que minha bunda estivesse bem longe da água. Então ele
pegou a garrafa de óleo perfumado, encheu a palma da mão com o
material e começou a passar em minha bunda com o primeiro dedo,
depois dois. Logo ficou claro que ele não estava apenas tentando me
deixar escorregadio. Ele estava tentando roubar minha sanidade.

Ele trabalhou aqueles dois dedos grossos habilmente dentro e fora


de mim até que eu estivesse balançando de volta para eles com cada
impulso, e choramingando como um animal irracional. A água
borbulhava e rodeava em torno das minhas pernas, aumentando minha
sobrecarga sensorial.

Dando beijos gentis em minha espinha, Kage me deixou duro com


seus dedos lá embaixo.

—Você gosta de ser fodido pelos meus dedos, Jamie?

—Sim. —Eu disse, a palavra ecoando na sala de azulejos.

—Então vamos tentar três. Você acha que pode tomar três dos
meus dedos grandes em sua bunda apertada?

Eu balancei a cabeça e engoli em seco, enrijecendo contra a


queimadura enquanto ele adicionava mais óleo, trabalhando o terceiro
dedo dentro de mim.
—Deus, Kage. —Eu engasguei quando ele me encheu além do que
eu pensei que poderia suportar. Minha respiração veio rápida e
superficial quando ele torceu os dedos, movendo-os para dentro e para
fora de mim e estabelecendo um ritmo constante que fez minha bunda
latejar e meu pau se esforçar para ter sua liberação.

—Isso é bom, querido? —Ele perguntou, sem parar.

—Tão bom. —Eu ofeguei. —Estou prestes a perder isso. Eu vou


gozar.

Ele parou de se mover e puxou os dedos para fora de mim.

—Tanto quanto eu amo ver você se contorcendo em meus dedos,


eu quero que você goze com meu pau dentro de você.

Eu respirei fundo várias vezes, me fortalecendo para o que estava


por vir. Minha bunda estava queimando, mas eu o queria lá novamente.
Eu desmoronei na beira da banheira, esperando. E quando ele
empurrou seu pau em mim e começou a se mover, eu agarrei a superfície
áspera do chão e choraminguei com cada estocada. Com a minha bunda
sensível por causa dedo brutal, parecia que ele estava me rasgando de
dentro para fora. Mas Jesus Cristo, era o que eu precisava. O que eu
ansiava.

Quando gozamos, foi em uníssono, e então nos aconchegamos nas


bolhas, nos tocando e nos beijando até que uma batida na porta nos
tirou do nosso paraíso aquático.

—Hora de começar a nossa massagem final. —Kage falou, e eu


acho que ninguém nunca pareceu menos desapontado com a
perspectiva de receber uma massagem.
Quando chegamos ao restaurante, eu estava relaxado e desossado,
com o formigamento das endorfinas arrepiando meus membros. Eu
estava praticamente cochilando em pé, tendo sonhos lúcidos com a vida
perfeita. Eu não acho que uma ameaça de bomba poderia ter me
assustado.

—Você parece feliz. —Kage falou, parecendo muito satisfeito


consigo mesmo.

—Eu estou. —Eu admiti. —Terrivelmente, ridiculamente feliz.


Sabe há quanto tempo estou esperando por isso?

—Sim eu sei. Eu não posso acreditar que estamos finalmente


vivendo juntos. Nós deveríamos ter comemorado mais cedo, no entanto.
Este dia foi incrível. —Ele enfiou a mão debaixo da mesa e esfregou
minha coxa, correndo os dedos até a minha virilha. Em um raro
momento pateta, ele rosnou como um tigre e apertou minha virilha. —
O que você acha de irmos foder no banheiro?

—Porra, você é insaciável. —Revirei os olhos, fingindo


aborrecimento. —Além disso, aqui não é a estação de ônibus, Kage. Eles
provavelmente têm uma equipe de segurança lá para impedir que as
pessoas roubem os assentos sanitários de ouro maciço.

Eu estava me fazendo de difícil, por que se não, nós realmente


acabaríamos fodendo no banheiro. Eu já tinha visões disso em minha
mente, e era quente. Na verdade, talvez não tenha sido uma ideia tão
ruim. Eu pensei que, provavelmente, eu poderia gozar de novo.

—Você não é divertido. —Suas feições se contorceram em um


beicinho de flerte que estava tão fora de lugar nele que me fez rir.
—Nós trocamos de personalidades hoje à noite? —Eu perguntei.

—Estou feliz para caralho. Me processe. —Inclinando-se para trás


em sua cadeira, ele fez uma pose sedutoramente relaxada e me
observou, suas pálpebras lânguidas de desejo. —Você é tão perfeito.
Como no mundo eu tive tanta sorte? Encontrá-lo nessa luta em Atlanta
foi a melhor coisa que já me aconteceu.

Fazia muito tempo desde que Kage me fez corar, mas meu rosto
ficou muito quente, e eu tive que desviar o olhar. Ele achava que tinha
sorte? Qualquer um com olhos e meio cérebro poderia ver que eu era o
sortudo nesse relacionamento. As chances de um cara como eu acabar
com um cara como ele eram astronômicas, e ainda assim eu estava aqui,
sendo elogiado por um deus do sexo que também tinha um coração de
ouro. O fato de que ele também tinha uma veia obscura de uma milha
de largura só o tornava muito mais quente.

—Você está apenas tentando me lisonjear para irmos ao banheiro,


não é? —Eu acusei.

—Está funcionando?

—Ainda não tenho certeza. Faça um pouco mais e vamos ver.

Nossa comida foi servida, então. Vieiras 10 e lagosta em molho


amanteigado de Estragão11. Comemos como se fosse ambrosia. Eu não

10
As vieiras são moluscos bivalves marinhos da família Pectinidae. Encontram-se em vários oceanos e
abundantemente na América do Norte, norte da Europa, e Japão, sendo bastante apreciadas como alimento
refinado.

11
Estragão é uma herbácea perene, de folhas pequenas e estreitas. É muito apreciado na cozinha e
acompanha diversos pratos.
sei se a comida era realmente boa, ou se a noite mágica apenas a fez
parecer assim.

—Essa refeição é absolutamente fora deste mundo. —Eu disse,


colocando a última vieira em minha boca e gemendo. —Precisamos fazer
com que Enzo aprenda essa receita.

Kage estava prestes a responder quando um homem apareceu e se


aproximou de nós em nossa mesa.

—Oi, Kage. —Ele disse, sorrindo. —Sou um grande fã seu. Você se


importaria se eu tirasse uma foto?

O cara estava sendo discreto, caso contrário ele poderia ter sido
expulso. Eu não imaginava a gerência de um restaurante extravagante
tolerando o assédio de seus convidados.

—Eu acho que sim. —Kage falou relutantemente. —Apenas faça


isso rápido, ok? E sem autógrafos. Estamos apenas tentando ter um
jantar tranquilo.

—Não tem problema. —O cara levantou o telefone e tirou uma foto


do Kage e eu. —Obrigado, Kage. Vejo você por aí, Jamie.

Eu esperava que ele voltasse para sua própria mesa, mas em vez
disso, ele foi em direção à porta da frente. O ritmo acelerado que ele
passou pela sala de jantar sugeria uma escapatória em vez de ir embora.

Kage olhou para mim, suas sobrancelhas juntas.

—Isso pareceu um pouco estranho para você?

—Sim. Eu pensei que ele queria uma selfie com você. E como
diabos ele sabia meu nome? Eu não sou uma celebridade.
—Estranho. —Ele colocou o guardanapo de volta em seu colo e
balançou a cabeça. —Ah, bem. Vamos esquecer dele e terminar o nosso
encontro. Se alguém mais quiser bater papo, vou apenas ameaçar
chamar a segurança.

Nós terminamos nossa refeição com um pouco menos de


entusiasmo do que antes. Eu não conseguia parar de pensar na estranha
interrupção. Como o cara sabia meu nome? Por que ele não apareceu na
foto? Eu tinha minhas suspeitas, mas não queria conscientemente
reconhecê-las. Principalmente, eu estava apenas chateado porque o cara
tinha interrompido uma das melhores noites que eu poderia lembrar de
ter tido.

Depois que bebemos uns copos de café expresso batizado, Kage


pagou e saímos. Na saída, passamos pela anfitriã, que tinha abandonado
o pódio no hall de entrada. Aparentemente, ficarmos sozinhos era
tentação demais para Kage deixar passar, porque ele me empurrou
contra o interior da porta e roubou um beijo rápido.

—Obrigado por este dia. —Eu disse quando ele se afastou. —Por
me fazer sentir tão especial.

—Você é especial. —Ele disse. —Eu deveria lembrá-lo disso com


mais frequência.

Ele empurrou a porta e nós saímos para a calçada, ambos


sorrindo. Mas antes mesmo de a porta se fechar atrás de nós, fomos
atacados por flashes de câmeras. Quatro homens bloquearam nosso
caminho para o manobrista, tirando fotos de nós e tentando gritar um
sobre o outro.

Malditos paparazzi.
Isso me lembrou das fotos que vi do Kage e Vanessa durante o seu
noivado falso. Só que era um restaurante diferente, nosso
relacionamento não era falso, e essa foto não foi planejada para a
imprensa. Esta era uma verdadeira invasão de privacidade e aconteceu
no pior momento.

—Onde está a Vanessa? —Um homem gritou. —Vocês dois se


separaram, ou vocês nunca estiveram realmente juntos?

Outro perguntou:

—Kage, você é gay?

Rapaz, eles não estavam puxando nenhum saco, estavam? A


audácia de suas perguntas era impressionante.

—Você e Jamie estão juntos? —O terceiro perguntou. Era o mesmo


cara que se aproximou de nós no restaurante. Aquele que tirou uma foto
de perto nossa tendo um jantar romântico juntos.

Puta merda, isso era ruim. Alguns pedestres pararam para ver o
que estava acontecendo e Kage levantou a mão para esconder o rosto.
Eu fiz o mesmo, sabendo que esconder nossos rostos a essa altura era
inútil.

O segundo homem repetiu sua pergunta, só que desta vez mais


alto.

—Kage, você é gay?

Kage me agarrou pela mão sem pensar e me arrastou atrás dele


pela calçada, empurrando os homens, que tiveram o bom senso de
correr para sair do caminho quando perceberam que não iríamos parar.
—Vocês não têm algo melhor para fazerem do que estragarem o
jantar de alguém? —Kage gritou por cima do ombro quando fizemos a
nossa fuga.

Os idiotas continuaram a tirar fotos e fazer comentários grosseiros


enquanto esperávamos que o manobrista trouxesse o Rover.

—Todo mundo vai saber amanhã. —Um dos repórteres falou. —


Você poderia muito bem responder às nossas perguntas.

—Você acha que o UFC vai entender? —Outro perguntou. —Você


não tem medo de perder seu contrato?

—Você pode me dar o número de telefone da Vanessa Hale? —Um


deles perguntou.

Finalmente, o manobrista apareceu com o Rover, e Kage


praticamente o jogou fora do seu caminho para entrar no banco do
motorista. Nós fechamos as portas e as bloqueamos, respirando
pesadamente e nos encarando em alarme. Graças a Deus as janelas eram
escuras.

—Foda-se! —Kage bateu as palmas das mãos com força no volante


e, em seguida, se afastou da calçada, estremecendo com o guincho não
intencional dos pneus.

—Tudo bem, Kage. Acalme-se e pense sobre isso. Aqueles idiotas


de baixa qualidade não têm nada contra você. Só porque dois homens
compartilham uma boa refeição juntos, não significa que eles estejam
dormindo juntos. Eles não têm provas. Eles estão apenas jogando merda
lá fora e esperando que alguma coisa pegue.

—Você não entende. —Ele disse.


—Então me explique. —Eu o persuadi suavemente, tentando
ignorar as batidas do meu próprio coração. O medo me agarrou da
cabeça aos pés, mas eu estava determinado a tentar deixar a mente de
Kage à vontade.

—Eu não estou preocupado que eles estejam sobre nós, Jamie. E
eu não tenho medo de me assumir gay. Eu só estou chateado por não ter
feito isso mais cedo. Esta não é a maneira do mundo descobrir. Você
merece o melhor. —Ele parecia frenético enquanto tentava mudar de
pista, quase batendo na frente do carro que ele acabara de passar. —Eu
não sabia o que dizer quando eles me expuseram no local, e entrei em
pânico. Eu sufoquei como uma vadia. Porra!

Uma buzina soou do lado de fora quando o carro que Kage quase
bateu passou por nós. O motorista se pendurou para fora da janela e
gritou algo ininteligível.

—Eu deveria bater nele. —Kage grunhiu, abaixando a própria


janela e gritando: —Beije minha bunda, seu mesquinho idiota. Venha
enfiar esse dedo na minha cara e me deixe quebrá-lo para você. —Ele
levantou a janela e olhou para mim, seus olhos brilhantes de loucura.

—Talvez eu deva voltar e fazer uma declaração oficial. —Ele bateu


no volante novamente. —Droga, eu deveria ter te beijado. Eu deveria ter
agarrado você, então sorrido e dito: Sim, eu sou gay. Este é meu
namorado, Jamie. Tenha uma boa noite. Por que eu não fiz isso?

—Acalme-se. —Eu disse a ele, aterrorizado em vê-lo tão


desequilibrado. —Você está chateado e não é hora de tomar decisões
precipitadas. Eles apenas nos surpreenderam, isso é tudo. Você não
pode esperar fazer a coisa perfeita em todas as situações, especialmente
quando sua carreira e sua reputação estão em jogo.

—Sem desculpas, Jamie. Eu estraguei tudo. Em vez de lidar com


isso como um homem, eu te abandonei. Mas juro por Deus...

Ele não terminou a frase e eu percebi que era melhor. Nós


seguimos o resto do caminho para casa em silêncio, e quando chegamos
lá, Kage se recusou a ir para a cama comigo. Eu tentei o meu melhor
para fazê-lo se sentir melhor, mas nada do que eu disse pareceu passar
por ele. Ele estava convencido que ele tinha de alguma forma me feito
mal, e me matava vê-lo se culpando por isso.

—Eu tenho trabalho a fazer. —Ele disse, sua voz calma e sem
emoção. —Vá para a cama e comece um filme. Eu me juntarei a você
depois de um tempo.

Eu assisti vários episódios de Family Guy12, mas pela primeira vez


eu não ri. Eu esperei e esperei, mas Kage nunca veio para a cama. Eu
estava nervoso demais para sair e vê-lo, com medo de irritá-lo ainda
mais. Quando fiquei com sede, entrei no banheiro e tomei água morna
da torneira em um daqueles copos de papel antisséptico bucal em
miniatura. Por fim, desisti e adormeci e, quando me levantei por volta
do meio-dia, ele já tinha ido.

12
Family Guy (Uma família da pesada) é uma sitcom de animação norte-americana criada por Seth
MacFarlane para a Fox Broadcasting Company em 1999.
NO DIA seguinte ao que Jamie e eu tivemos nosso pequeno

encontro com os repórteres, liguei para Grace Howard. Todos os atletas


do mundo estavam morrendo de vontade de serem apresentados no
Grace Howard Show. A mulher poderia, sozinha, fazer ou quebrar
carreiras com uma única entrevista.

Deixei meu número com o pessoal dela e uma mensagem


misteriosa: Michael Kage tem algo a dizer que vai explodir sua mente
de merda.

Eu imaginei que isso deveria chamar a atenção dela, e eu estava


certo. Grace pessoalmente me ligou de volta. Fiquei surpreso ao
descobrir que ela era uma grande fã e estava ansiosa para me ter no
programa.

—Se você quer revelar essa história, tem que ser agora. —Eu disse
a ela. —Em quanto tempo você pode me ter?

—Estou reservada. —Ela falou. —Mas se for uma história grande o


suficiente, eu posso cancelar tudo e te ter aqui hoje ou amanhã. O que
você tem a dizer?
—Eu não tenho tempo para isso. Você precisa preparar algumas
perguntas?

—Não vai demorar muito. Eu já estava planejando pegar você no


meu sofá. Ela riu. —Você é o sonho molhado de um jornalista esportivo.
Lutador clandestino, invicto, rico, envolvido com uma supermodelo,
tragédia recente em sua vida, próxima luta em cartaz principal. Isso
marca todas as caixas na minha lista de verificação e, em seguida, mais
algumas.

—Você tem uma caixa na sua lista de verificação para um lutador


gay? —Perguntei. —Porque é isso o que eu gostaria de marcar para você
hoje.

Grace respirou fundo e soltou o ar. Quando ela falou, sua voz era
baixa e uniforme, como se ela estivesse tentando refrear sua excitação.

—Essa é a caixa número um na minha lista, querido. Quão rápido


você pode chegar aqui?

—O tempo para eu vestir um terno e dirigir até o estúdio. Traga o


seu jogo A Game13, Grace. Isso vai ser grande.

—Revelar a história de que Michael Kage é gay? —Ela soltou uma


gargalhada feliz. —Grande não chega nem perto.

Eu desliguei o telefone e me preparei para a entrevista mais


importante que eu provavelmente faria.

13
A Game: Normalmente usado em jogos para se referir ao mais alto nível de jogo ou desempenho,
significa dar o seu melhor possível.
Naquela noite, expus minha sexualidade em televisão nacional. Eu
sentei Jamie no meu colo e transei com ele lentamente durante toda a
entrevista, embora ele estivesse compreensivelmente distraído. Depois
que acabou, levei-o para o quarto e terminei o trabalho, fazendo-o gozar
duas vezes antes de finalmente cairmos nos braços um do outro e
dormirmos.

Naquele momento, pareceu-me que todas as minhas


preocupações haviam desaparecido. Eu finalmente fiz isso. Não mais me
escondendo. Poderíamos exibir nosso relacionamento publicamente, e
se eu perdesse meu contrato, tudo bem. Eu não precisava de um
cinturão de campeão para ganhar a vida ou me tornar completo. Eu
tinha todo o dinheiro que eu precisaria, e eu tinha o amor da minha vida
ao meu lado.

Mas minha euforia durou pouco. Quando cheguei ao meu


escritório na manhã-tarde seguinte, porque tinha me metido novamente
no corpo do Jamie, um envelope estava na minha mesa. Não havia
nenhum carimbo nele, apenas meu nome impresso em tinta vermelha.
Dentro havia uma única folha de papel e rabiscado na mesma tinta
vermelha duas palavras sinistras:

Tenha cuidado.

O que isso significava? Isso tem algo a ver com a minha saída do
armário? Talvez algum idiota homofóbico louco estivesse me
ameaçando. Algum estranho entrou no meu escritório?

Uma possibilidade ainda mais sinistra era de que a mensagem


tivesse sido deixada por um dos meus próprios funcionários. E se fosse
um deles, eles estavam chateados por eu ter me assumido gay, ou era
sobre os negócios? Poderia ter sido o gerente do cassino, que olhava para
mim como se quisesse ver minhas tripas espalhadas na calçada ao lado
do meu tio. Ou até a Mulher gato Cathy, que havia manipulado
documentos da empresa sob minhas ordens.

A mensagem era vaga demais para eu sequer começar a decifrá-la.


Eu me senti como se estivesse em um filme, e infelizmente os vilões
nunca deixavam mensagens detalhadas. Sempre era uma besteira
enigmática que o herói não descobria até os últimos dez minutos do
filme, quando o vilão já estava em posição de foder seu mundo para o
inferno e voltar. Haveria uma respiração na nuca antes que o mundo
escurecesse, e ele acordaria para encontrar sua amante amarrada a uma
cadeira com uma bomba prestes a explodir. O herói não decifrou o
código a tempo suficiente para frustrar o vilão e viver feliz para sempre.
Sempre haveria danos colaterais enquanto ele se agitava inutilmente
tentando descobrir.

Esse pensamento me assustou mais, porque no meu filme, Jamie


seria o dano colateral. O amante infeliz que tinha cinquenta e nove
segundos para viver, a menos que eu conseguisse descobrir qual fio
cortar.

Eu tentei ignorar a horrível agitação no meu estômago. Talvez não


tenha sido nada. Apenas uma tentativa fraca de me irritar.

Abri a primeira gaveta da escrivaninha e coloquei a nota dentro,


bem ao lado da caixa de joias que encontrei no primeiro dia em que me
mudei para o escritório do meu tio. Tirei a caixa e olhei para dentro,
como fizera várias vezes antes.
O colar do meu tio. Uma corrente de espinha de peixe em ouro
maciço.

Eu nunca tinha notado ele usando qualquer joia, e me perguntei


por que ele a mantinha em sua mesa. Era obviamente muito cara. Talvez
um presente de alguém especial? Eu não podia imaginar quem daria a
ele um presente tão pessoal. Ele nunca namorou ninguém até onde eu
sabia. Eu sempre imaginei que ele fosse do tipo que se concentrava em
seu trabalho e fodia garotas de programa quando sentia vontade,
embora eu nunca tivesse visto nenhuma evidência disso.

Desenrolei a corrente cuidadosamente, notando pela primeira vez


que havia uma pequena curva no ouro perto do fecho. Após uma
inspeção mais minuciosa, ficou claro que a corrente não era nova como
eu pensara inicialmente, mas levemente sem brilho pelo desgaste.

Por que uma aberração como Santori teria um colar gasto em sua
mesa se não tivesse significado? Ele não era alguém que mantinha coisas
aleatórias por aí. Seu apartamento sempre pareceu um museu.
Spartan14, com um lugar para tudo e tudo em seu lugar.

O mistério me intrigou.

Entrei no banheiro ao lado e segurei a corrente no pescoço diante


do espelho. Não era muito grossa nem chamativa. Era elegante e
masculina ao mesmo tempo. Meio sexy. Eu decidi enviá-la para o
joalheiro para limpar e polir.

14
Dedicar-se totalmente a um propósito.
Por enquanto, recoloquei na caixa, olhei a nota mais uma vez e
fechei a gaveta. Eu tinha coisas mais importantes para me preocupar do
que correntes misteriosas e notas ameaçadoras, e se meu tio teve ou não
em algum momento uma namorada secreta.

Eu tinha enviado convites para uma festa de gala, minha tentativa


de dar uma nova vida ao Alcazar, e eu precisava pegar o último dos
RSVP15 para Enzo, para que ele pudesse fazer uma contagem final para
comida. A festa seria em uma semana e eu estava determinado a causar
uma boa impressão.

Pessoas do turismo estariam lá, o chefe da Câmara de Comércio,


celebridades locais com influência. A ideia era transformar o Alcazar em
um destino de primeira linha para clientes exigentes que queriam
ignorar o brilho de Las Vegas em favor de uma experiência mais
relaxante. Eu também decidi segmentar empresas para conferências e
viagens corporativas.

Nas semanas logo após à gala, as reformas começariam a


converter parte do prédio em um spa de alto nível. Jamie estava tão
apaixonado pela ideia que agora passava a maior parte dos seus dias
pesquisando spas e ajudando no planejamento.

Steve, que sonhava em algum dia ser designer de interiores,


implorou para que eu o deixasse supervisionar a decoração. Eu
relutantemente concordei quando ele e Jamie me encurralaram e

15
RSVP é a abreviatura de Répondez S'il Vous Plaît, expressão francesa que significa "Responda por favor".
O RSVP é utilizado pela pessoa que deseja confirmar quem irá no evento que ela vai realizar, desta maneira
pede a confirmação para ter um melhor planejamento do evento
imploraram, mas eu me encolhia toda vez que imaginava o que a
prostituta autoproclamada brilho poderia inventar.

—Tem que ser elegante. —Eu disse a Steve, usando a minha voz de
chefe severo sobre ele. Como se isso alguma vez tivesse funcionado.

—Duh. Com quem você acha que está falando?

Dei-lhe uma óbvia olhada, notando com espanto o cabelo loiro


manchado de pêssego, a gravata borboleta de cetim lavanda e as unhas
cravejadas com joias.

—Merda. Meu spa vai parecer que foi decorado por um unicórnio
com um Bedazzler16.

Steve riu.

—Realmente, Kage? Unicórnios não têm dedos. Como ele


seguraria um Bedazzler?

Eu dei a ele um sorriso maligno.

—Do mesmo jeito que você vai manter o emprego se você foder
meu spa.

Ele fez beicinho e cruzou os braços, roubando um movimento do


livro de regras do Jamie. Meu parceiro no crime, Steve havia o
chamado. E foi aí que percebi que meu namorado estava
inadvertidamente treinando meu funcionário nas sutilezas de me
manipular.

16
O Bedazzler é um eletrodoméstico que é usado para prender strass, tachas e remendos em roupas e
outros materiais.
—Apenas espere e veja, Sr. Santori. —Steve falou, exagerando no
título que ele raramente usava. —Você vai me dever um pedido de
desculpas no dia da inauguração.

Então, agora eu estava jogando um jogo de esperar para ver como


acabaríamos. Eu não queria ser um durão. Eu queria envolver as pessoas
que eu gostava. Estava se tornando mais evidente a cada dia que eu tinha
reunido uma espécie de família, Jamie, Steve, Marco, Enzo, Jason,
Vanessa, a família do Jamie e até mesmo seus amigos irritantes, e eu
queria fazê-los felizes. Mesmo que isso significasse ter um spa
Bedazzled.

Oh Deus, por favor, não me deixe ter um spa Bedazzled.

—VOCÊ ESTÁ pronto para o almoço? —Jamie enfiou a cabeça

pela porta do meu escritório, me assustando.

Percebi que tinha pegado aquela maldita nota de tinta vermelha


de novo e estava olhando para ela, imaginando todo tipo de coisas
hediondas. Eu a joguei de volta para a gaveta e olhei para Jamie,
sentindo a culpa em todo o meu rosto. A desajeitada hesitação no passo
do Jamie quando ele entrou na sala me disse que ele havia notado.

—Hey, querido. —Eu tentei cobrir, sabendo que era inútil. —Eu
estava sentado aqui pensando no quanto eu adoraria comer marisco
com você. E talvez uma fatia do bolo branco de casamento do Enzo? —
Eu balancei minhas sobrancelhas, esperando encantar Jamie para que
ele esquecesse o que tinha acabado de ver.

Se o estreitamento dos seus olhos fosse alguma indicação, ele não


estava caindo na publicidade enganosa. Mas ele teve aula suficiente para
não me questionar abertamente sobre o motivo de eu parecer tão
culpado. Em vez disso, ele respirou fundo e esperou pelo momento
certo, que aparentemente era depois do almoço, quando nosso bolo foi
servido.

Enquanto estávamos jantando na varanda da gruta, Jamie pegou


um pedaço de bolo e colocou-o na boca, gemendo como se estivesse
transando em vez de comer. Quando ele terminou a mordida e se
recuperou de seu orgasmo por comida, ele disse:

—A que devo este delicioso suborno? Talvez eu deva checar você


no trabalho com mais frequência.

Uma acusação e uma ameaça, tudo em um só. Agradável.

Nossa conversa durante o almoço foi leve, me embalando em uma


falsa sensação de segurança, mas agora as luvas tinham saído e eu teria
que me defender. Ou não. Eu não tinha certeza de como lidar com a
situação sem piorar as coisas, mas dei o meu melhor.

—Eu não estou fazendo nada que você deveria saber, se é isso que
você quer dizer. Há apenas algumas coisas que prefiro guardar para
mim e você vai ter que confiar em mim.

Aí está. Eu tive que admitir que estava satisfeito com a minha


resposta. Eu fui honesto e sucinto, e mantive minhas armas na minha
necessidade de privacidade, onde algumas coisas estavam relacionadas.
Jamie assentiu, mas ele tinha quebrado o contato visual comigo e
estava olhando para o bolo. Ele cortou um pedaço com o garfo e enfiou
na boca, claramente não tão satisfeito com a minha resposta quanto eu.

Deus, eu odiava perturbá-lo, mas eu odiava assustá-lo ainda mais.


Se ele descobrisse sobre a nota assustadora na gaveta da minha
escrivaninha, ele ficaria ainda mais preocupado do que eu, e a ilusão da
vida perfeita que eu estava tentando tão arduamente manter para ele
seria abatida.

Estava se mostrando difícil quando ele estava em volta do hotel o


dia todo. Eu precisava ser capaz de separá-lo das atividades diárias no
Alcazar, de modo que houvesse menos chance de ele aprender muito.
Talvez ele precisasse encontrar um hobby. Eu abri minha boca para
sugerir que ele fizesse isso, quando ele empurrou seu prato para longe e
se levantou.

—Estou indo para o andar de cima. —Ele falou. —Talvez possamos


assistir a um filme ou algo assim esta noite, se você não estiver muito
ocupado.

—Você não terminou seu bolo. —Eu disse, mas ele já estava a meio
caminho da saída. —Foda-se. —Joguei meu guardanapo sobre a mesa,
de repente sem apetite e com menos vontade ainda de voltar ao trabalho.

Meia hora depois, Enzo me encontrou ainda sentado na varanda


da Gruta, olhando para os arbustos que nos separavam do mundo
exterior.

—O bolo não estava bom? —Ele perguntou quando viu minha


sobremesa mal tocada e os restos da do Jamie. —Eu não fiz nada de
diferente, juro. Vocês amaram tanto na última vez.
Afastei meu olhar dos arbustos e tentei sorrir, tentando aliviar o
alarme genuíno no rosto do Enzo.

—O bolo estava delicioso, como sempre. Nós só não estávamos


com muita fome hoje.

Enzo deslizou seu corpo grosso no assento que Jamie tinha


desocupado e apoiou os cotovelos na mesa.

—Qualquer coisa que você queira falar, meu querido?

—Não realmente. —Eu disse. —Eu só tenho muita coisa em mente


hoje em dia. Administrar um hotel não é tão fácil quanto eu achava que
seria, e acho que estou deixando isso me abalar.

—Você sabe o que seu tio diria? —Ele mergulhou um dedo carnudo
na sobra de cobertura do bolo do Jamie e provou, em seguida, deu-se
um silencioso aceno de aprovação. —Santori diria que você deve delegar
mais responsabilidade. Será que você está tentando fazer muito por
conta própria?

—Talvez. —Eu admiti. —Mas eu quero fazer mais com o lugar. Há


muito potencial inexplorado aqui. E antes de você apontar o fato de que
eu poderia deixar este lugar apodrecer no chão e ainda estar com a vida
pronta, não é sobre o dinheiro.

—Eu sei que não é. —Enzo falou com um sorriso paternal. —Nunca
foi sobre dinheiro para você, Kage. Você é um bom menino, e eu tenho
fé que você vai resolver tudo. Mas enquanto isso, por favor, tente não se
enlouquecer. Você tem uma coisa boa com Jamie, mas vejo que parte da
luz desapareceu dos seus olhos. Não deixe o negócio arruinar sua
felicidade, ok? Você esperou muito para encontrá-lo.
Eu balancei a cabeça, sabendo que Enzo estava certo. Mesmo sem
ser dito, ele tinha visto através de mim e localizado a fonte da minha
tristeza.

—Como você consegue ser tão sábio? —Eu perguntei, girando


minha faca na mesa, fazendo minha própria versão improvisada de
Wheel of Fortune.17 Exceto por um giro, ele continuava apontando para
mim, fazendo-me suspeitar que a mesa não estava bem nivelada. Ou
talvez como todo mundo, a faca me achou culpado.

Enzo estendeu a mão e colocou sobre a minha faca, parando o


irritante movimento de rotação e terminando o jogo que estava me
distraindo da conversa. E da realidade. Eu dobrei minhas mãos no colo
para resistir à tentação de fazê-lo novamente.

—O fracasso faz você sábio. —Ele falou. —Se você soubesse


quantos erros eu cometi, você se perguntaria como eu ainda estou de pé.
Por que eu não desisti. —Ele parou por um momento, perdido em
pensamentos. —Eu já falei sobre minha infância na Itália?

Eu balancei a cabeça, imaginando que tipos de erros horríveis o


chef alegre poderia ter feito.

—Meu pai era vendedor ambulante. Todo dia ele pegava legumes
frescos do nosso jardim e os vendia em seu carrinho. Fiquei com
vergonha dele quando era mais novo, porque ele não tinha um emprego
de verdade como os outros pais. —Ele fez uma pausa novamente, e desta
vez seus olhos brilharam com o leve brilho de lágrimas. —Antes de

17
Wheel of Fortune é um game show exibido nos Estados Unidos que consiste em adivinhar palavras
escondidas em um painel. O programa Roda a Roda é uma versão brasileira inspirada neste.
morrer, ele disse algo para mim. Algo que me manteve através dos
tempos difíceis. Ele disse: Nesta vida todos nós temos nossos carros
para puxar, Enzo. Cada um preenchido com encargos, tristezas e
arrependimentos. Mas Deus não enche os carrinhos dos fracos com
uma carga mais pesada do que eles podem suportar. —Enzo riu e
enxugou seus olhos. —Espero que isso não tenha perdido o significado
na tradução.

—Eu não acho que perdeu algum significado, Enzo. —Estendi a


mão e cobri a mão dele com a minha. —Isso realmente me fez sentir
melhor, então você e seu pai realizaram um milagre hoje.

—Fico feliz em poder ajudar um pouco. —Ele falou. —Basta se


lembrar, quando o peso parecer pesado demais para suportar, dê uma
olhada no seu carrinho. Isso é o quão forte você é. —Enzo se levantou e
me deu um tapinha no ombro. —Eu tenho que voltar ao trabalho antes
que esses palhaços queimem minha cozinha. Você cuide de si mesmo,
ok? E cuide do seu jovem lá em cima. Seus fardos são dele agora
também.

Enzo se afastou, seu amplo traseiro balançando sob a gravata


puída do seu avental. Eu o observei ir, repetindo suas palavras na minha
cabeça.

Seus fardos são dele agora. Jesus.

Eu imaginei o carrinho de horrores que eu tinha que arrastar ao


redor, transbordando com todas as minhas besteiras. Enzo estava certo;
eu era forte. Eu era um boi, condicionado através de treinamento físico
e tragédia emocional para superar a dor e perseverar. Para agachar e
exercitar meu caminho através da adversidade.
Mas Jamie? Ele não era forte. Ele era uma coisa inocente e
protegida. E ele com certeza não era forte o suficiente para puxar a porra
do meu carrinho.
KAGE chegou em casa pouco depois das quatro, encharcado e
cheirando a suor. Fiquei feliz em ver que ele estava treinando em vez de
ter ficado sentado naquele escritório dele. Ele estava sempre em seu
melhor humor depois de um treino, para não mencionar que ele teria
uma luta em breve.

Eu sabia que ele estava perdendo o treinamento, e temia que ele


fizesse besteira e perdesse pela primeira vez. Eu não achava que ele
poderia lidar com isso em um bom dia, e certamente não em seu atual
estado de espírito agitado.

Pela milionésima vez desde o almoço, minha mente vagou de volta


para o que eu havia testemunhado no escritório do Kage. Eu não tinha
ideia do que ele estava fazendo. Tudo o que eu sabia era que ele tinha
escondido alguma coisa na gaveta da sua escrivaninha e olhado para
mim como se tivesse acabado de ser pego trapaceando.

Eu sabia que ele não estava traindo. Ou pelo menos eu esperava


que não. Kage era um monte de coisas, algumas obscuras e confusas pra
caramba, mas eu tinha certeza que ele não era um trapaceiro. Ele tinha
muita integridade para alguém que foi criado por um bandido. De certa
forma, ele tinha mais integridade do que eu.

Pensei no modo como ele agiu quando dormimos juntos na casa


dos meus pais. Ele realmente queria respeitar seus desejos de não fazer
sexo no meu quarto, e quando ele finalmente cedeu à tentação, ele se
sentiu tão culpado que me deixou com vergonha de ter agido do jeito
que eu fiz. Eu não pude evitar, no entanto. O pensamento de não tê-lo
depois de três meses de separação era insuportável.

Ele era tudo sobre o que eu pensava nos últimos seis meses de
escola. Durante o dia, eu me esforçava para me concentrar na aula, e
todas as noites, depois de conversarmos ao telefone, eu ficava acordado
na cama e pensava em desistir da escola.

Toda maldita noite. E às vezes eu chorava.

Eu não confessei isso para Kage. Ele estava determinado a me ver


terminando a escola e me formando, e se ele tivesse alguma ideia de
como eu estava deprimido e ansioso, isso o faria se sentir horrível. Ele
tinha o suficiente para se preocupar sem adicionar minha miséria e
lágrimas à mistura.

Eu pensei que se pelo menos eu pudesse chegar a Las Vegas e


morar com ele, tudo seria perfeito. Nós comeríamos fora, iríamos a
shows, assistiríamos a filmes, nos embriagaríamos em casas noturnas e
foderíamos os miolos um do outro. Ele me ensinaria os negócios e
comandaríamos o Alcazar juntos. Quando ele lutasse, eu iria com ele e
torceria como um idiota do seu canto, e quando ele ganhasse, eu deixaria
ele tirar sua agressividade no meu corpo.
Mas a realidade estava se tornando muito diferente da fantasia.
Nosso tempo sozinhos era fantástico, cheio de abraços e beijos que
faziam meu coração parecer que iria explodir. Claro que o sexo era tão
incrível como sempre, porque eu estava vivendo com o homem mais
sexy vivo. Infelizmente, entre administrar o Alcazar e treinar, Kage não
tinha tanto tempo para mim como eu pensei que ele teria.

Não poderia ser tudo resumido ao tempo, no entanto. Nós


passamos muito tempo separados quando eu estava fazendo estágio
para ele, especialmente depois que ele conseguiu seu contrato com o
UFC e teve que viajar e fazer aparições para se promover. Tinha
incomodado o inferno fora de mim estar longe dele, mas desta vez era
diferente. Ele estava diferente.

Eu não achava que ele me amava menos, e eu certamente não


achava que ele se arrependeu de me pedir para morar com ele. Ele dizia
coisas tão doces para mim que às vezes eu não podia duvidar que seus
sentimentos eram genuínos. Ele acabou de se assumir gay na televisão
nacional e disse a todo mundo que eu era o homem dele.

Então, o que foi, então? Era tão difícil descobrir qual era o
problema.

E Kage não ajudou em nada. Ele não parecia querer reconhecer o


elefante na sala, ou talvez ele não tenha percebido. Talvez eu fosse o
único que sentiu isso. Ele apenas agia como se tudo fosse legal e me
deixou estalando em minhas próprias dúvidas.

—Eu vou tomar um banho, querido. — Ele caminhou até o sofá,


deixou cair seu celular sobre a mesa de café e beijou o topo da minha
cabeça antes de ir para o quarto. —Coloque o filme. —Ele falou em voz
alta do banheiro.

Nenhuma menção do que aconteceu na hora do almoço. Nenhum


pedido de desculpas. Sem explicação.

O que ele estava escondendo?

Suspirei e brinquei com o controle remoto, procurando por algo


para assistir que ambos desfrutássemos. Alguns minutos depois, o
telefone do Kage começou a tocar e o nome do Steve apareceu na tela.

Peguei o telefone e corri para o banheiro.

—Steve está te ligando. —Eu disse.

—Bem, atenda, querido. —Kage falou, como se eu fosse idiota por


não ter feito isso primeiro.

—Ei, Steve. —Eu disse em saudação.

—Oh. Ei, Jamie. Estamos lidando com as ligações do chefe agora?

Eu ri.

—Não. Ele está no banho. O que está acontecendo?

— O que está acontecendo é que eu tenho uma modelo da Victoria


Secret muito puta aqui no Hall de entrada, e ela está dizendo que se eu
não der a ela um cartão-chave do seu apartamento, ela vai cortar minhas
bolas e fazer um colar com elas. Eu disse a ela que valeria a pena se ela
o na passarela no próximo desfile da Vicky.

—Eca. —Eu gemi. —Vá em frente e dê a ela o maldito cartão. Eu


não quero ter que me preocupar com a segurança das suas bolas.
Vanessa apareceu alguns minutos depois e entrou no apartamento
com o cartão-chave que Steve fizera para ela. Ela nem sequer disse olá
antes de começar seu discurso.

—Que porra ele estava pensando? —Ela perguntou, com os olhos


em chamas. —Ele é tão estúpido. Ele simplesmente não pensa.

Eu dei um sorriso hesitante.

—Eu suponho que você está falando sobre Kage.

—Claro. —Ela jogou as mãos para cima. —Quem mais?

Eu assenti.

—E eu suponho que a estupidez a que você está se referindo é ele


se assumindo no Grace Howard Show?

—Duh. —Ela disse. — Por que não você colocou algum juízo na
cabeça dele, Jamie? Você é o único que ele escuta.

A voz do Kage veio por trás de mim.

—Não era uma escolha dele para fazer, Nessy. Era minha.

Ela virou-se para ele, os olhos brilhando e garras saindo.

—Você não é o único afetado. Havia outras pessoas envolvidas.


Você não pensou em como suas ações as afetariam? Como elas me
afetariam?

—Aconteceu alguma coisa que eu não sei? —Ele perguntou, saindo


para a sala usando apenas uma toalha em volta da cintura. Olhei para
Vanessa, sentindo ciúme crescer em mim. Ela não precisava vê-lo assim,
todo molhado, sexy e quase nu.
Mesmo tão irritada como ela estava, ela levou alguns segundos
para checa-lo antes de continuar seu discurso.

—Está por toda a internet, Kage. Todo mundo está falando sobre
isso. TMZ18, Twitter, Instagram... Estou arruinada.

Kage riu levemente e levantou uma mão, gesticulando para ela se


acalmar.

—Eu acho que você está exagerando. Se alguém está arruinado,


sou eu. Eu sou o único que se assumiu, não você.

— Mas eu era sua maldita barba19, Kage. Há meses todos falavam


sobre nós como um casal. Num minuto iríamos nos casar, e no minuto
seguinte, você é gay. Como você acha que isso me faz parecer? Eu sou
patética, ou conscientemente estava cobrindo você por todo esse tempo.
De qualquer maneira, não parece bom. Não há como eu ganhar neste
cenário. Eu poderia muito bem me matar.

—Sente-se no sofá e respire fundo. —Kage falou. —As coisas não


são tão ruins quanto parecem agora. Nós vamos descobrir isso.

Ela se sentou, mas isso não fez nada para diminuir sua ira. Suas
delicadas mãos tremiam em seu colo.

—Você fez isso, Kage. Que direito você tem de me dizer que as
coisas não são tão ruins?

18
Thirty-mile zone é um site americano de entretenimento que surgiu como uma parceria entre o AOL e
a Telepictures, ambas pertencentes ao grupo Time Warner.

19
Uma mulher ou homem (embora, principalmente feminino) que é usado como um encobrimento para
um homossexual.
Ele se sentou ao lado dela e eu vi suas feições endurecerem um
pouco com as palavras dela.

—Eu sou o único que fez isso? —Ele perguntou. —Pelo que me
lembro, meu tio e minha equipe de relações públicas inventaram o plano
para usar você como diversão. Eu estava cuidando da minha vida,
pensando em me assumir, e a próxima coisa que me lembro é que eu
estava sendo intimidado para tirar fotos com você. Eu nunca aceitei
nada. Inferno, eu nunca soube que você estaria lá até que você
aparecesse. Se lembra da conferência de imprensa? Eu tinha Jamie
comigo e então você fez uma aparição surpresa.

Vanessa começou a chorar.

—Não é minha culpa. Eles me diziam que ajudaria a sua carreira.

Kage passou uma mão por seu cabelo molhado e suspirou.

—Eu sei. Essa situação estava toda fodida. Eu não lutei forte o
bastante. Deveria ter dito a Santori para beijar minha bunda e ter me
recusado a fazer isso. Tudo estava tão confuso, e eu não estava pensando
sobre as repercussões quando as pessoas finalmente descobrissem a
verdade. Eu só não queria lutar com ele.

Vanessa chorou ainda mais e inclinou-se contra o seu ombro,


soluços tremendo todo o seu corpo, e ele passou uma mão reconfortante
por suas costas. Quando ela conseguiu se controlar o suficiente para
falar, ela fungou e olhou para Kage.

—Eu sabia que você não queria fazer isso. Eu deveria ter recusado
também. Nós dois o deixamos nos manipular para fazer algo desonesto.
Agora ele está morto e somos nós que temos que pagar o preço.
—Você está falando o evangelho, querida. —Eu disse com uma
risada.

Tanto Kage quanto Vanessa olharam fixamente para mim, e em


retrospecto meu tom tinha sido um pouco irreverente. Eu estendi a mão
e desajeitadamente acariciei seu braço, tentando ignorar o fato de que
ela estava grudada no corpo quase nu do meu namorado como um papel
filme plástico. Um vestígio do seu rímel estava manchado em seu
ombro, e eu resisti ao impulso de limpá-lo.

—Alguém quer uma cerveja? —Eu perguntei. —Eu acho que temos
alguma sobra da nossa maratona de filmes de gângster.

—Eu quero. —Vanessa falou.

Kage se retirou da Vanessa e se levantou.

—Traga-me uma, querido. Eu vou me vestir.

—Já estava na hora. —Eu murmurei sob minha respiração quando


fui para a cozinha pegar as cervejas.

Não era exatamente que eu tinha ciúmes da Vanessa. Era só... Oh,
quem eu estava querendo enganar? Eu estava com ciúmes como o
inferno.

Não fazia sentido, considerando o fato de que o Kage era gay e


estava em um relacionamento comigo, mas isso não impediu o verme do
ciúme entrasse sob a minha pele. Eu não gostava de ninguém pendurado
em todo o meu namorado, muito menos uma megera como Vanessa
Hale. Eu não fui gay ou bi, ou o que quer que eu fosse por tempo
suficiente para abalar o condicionamento que me fazia pensar, claro que
ele é atraído por ela. Ela é uma modelo da Victoria's Secret.
Ainda assim, ela estava sofrendo, e eu deveria pelo menos tentar
mostrar alguma compaixão. Eu tirei a tampa da sua cerveja antes de
entregá-la para ela, esperando que isso fosse o suficiente. Então eu fui
para o quarto e fechei a porta atrás de mim.

Eu encontrei Kage sentado na cama, ainda em sua toalha, com o


celular pressionado contra o ouvido. Sua expressão era ilegível enquanto
ele ouvia.

—Aqui está a sua cerveja. —Eu sussurrei e ele a pegou de mim e


bebeu metade sem parar. Depois que ele respirou, ele bebeu a outra
metade e colocou a garrafa vazia na mesa de cabeceira.

—Eu entendo. —Ele disse para a pessoa ao telefone. Ele fez uma
pausa por um momento e depois riu. —Bem, eu não acho que Jamie iria
gostar de você se referindo a eu me assumindo como transando com o
cão.

Eu levantei minhas sobrancelhas, mas não interrompi. A pessoa


com quem ele estava conversando, obviamente não estava satisfeita com
a recente reviravolta dos acontecimentos, mas Kage não estava gritando
ou xingando, então achei que era um bom sinal.

Ele olhou para mim e sorriu, então abriu a sua toalha e me


mostrou. Isso me fez sorrir, também.

Eu desci em meus joelhos na frente dele, querendo ver mais do


que um pequeno flash. Abrindo sua toalha novamente, eu observei seu
corpo perfeito. O abdômen de tábua de lavar que não estava tão definido
como quando nos conhecemos, o V sexy que parecia fazer o mundo
inteiro desmaiar, e a trilha feliz que eu adorava traçar com meus dedos.
Eu fiz isso agora, seguindo todo o caminho até o ninho de cabelos
escuros onde seu pau descansava. Esperando pelo meu toque.

—Marco, eu não sou um idiota. —Ele falou, sua voz ainda


estranhamente serena. —Eu sabia que o UFC não iria me dar uma festa,
mas não pense o pior ainda. Poderia ir de qualquer jeito.

Eu me inclinei e corri minha língua ao longo do pau do Kage, em


seguida, envolvi meus lábios ao redor, tentando persuadi-lo a vida. Eu
chupei suavemente e fui recompensado com a sensação dele se firmando
em minha boca.

Quando estava a meio mastro, comecei a chupar a sério, sem me


preocupar com os sons que estava fazendo. Era meio quente saber que
Marco poderia me ouvir dando um boquete a Kage. Deus sabe que ele
me deu um inferno o suficiente para merecer isso.

Como se na sugestão, ouvi a voz de Marco ficar mais alta, embora


eu não pudesse dizer o que ele estava dizendo.

—Eu entendo. —Kage falou. — Mas tudo o que podemos fazer é


esperar. No final, é decisão deles. Para ser sincero... —Ele respirou fundo
e agarrou meu cabelo, puxando-me para fora de seu pau, que estava
totalmente duro agora e escorregadio com a minha saliva. —Para ser
honesto, eu não me importo com isso. Se eles não quiserem me dar a
luta por causa da minha orientação sexual, então que se fodam. Tenho
certeza de que Rodriguez ficaria feliz se eles dessem a luta para outra
pessoa.

Ele olhou para mim, ainda segurando meu cabelo firmemente em


uma mão. Voltei seu olhar, meus lábios frouxos e meus olhos
preguiçosos de luxúria. Eu estava morrendo de vontade de botar minha
boca nele novamente, e tinha certeza de que ele podia ver isso nos meus
olhos. Finalmente ele teve piedade de mim e de si mesmo e me puxou
de volta para o seu pênis.

Eu trabalhei avidamente, e ele começou a empurrar seus quadris,


fodendo minha boca e usando meu cabelo para guiar meus movimentos.
Em segundos, ele estava se enterrando até a raiz e eu estava me
engasgando com isso.

De repente ele parou de se mover, me fazendo esperar.

—Sim, Marco. —Ele disse, sua voz trêmula. —Escute, eu preciso ir.
A Vanessa está aqui, e ela está chateada. Me ligue quando você ouvir
alguma coisa. —Ele desligou e deixou cair seu telefone na cama.

—Jesus Cristo, você vai me matar. —Ele disse. Então ele começou
a foder minha boca com força e rapidez.

Eu gemi e agarrei suas pernas, me preparando para o ataque. Eu


mal podia respirar, mas eu enterrei meus dedos na carne musculosa das
suas coxas e instiguei-o, choramingando em torno de seu pênis enorme.
Tão duro quanto ele estava, e tão frenético quanto seus movimentos se
tornaram, eu sabia que ele estava no limite.

—Porra, sim. —Ele sussurrou com a voz rouca. —Oh, foda-se sim.
Engula meu esperma, bebê.

Ele enterrou a cabeça de seu pênis profundamente em minha


garganta e descarregou, suas pernas enrijecendo em pedra sob meus
dedos agarrados. Depois que ele esvaziou cada gota em mim, suas
pernas relaxaram, e ele puxou para fora da minha boca e respirou fundo,
estremecendo.
Eu olhei para ele e lambi meus lábios deliberadamente.

—Não posso acreditar que fizemos isso com o Marco no telefone.

Ele bagunçou meu cabelo e sorriu.

—Sim, bem, eu imaginei que se eu fosse bater e queimar, eu


poderia muito bem receber um boquete no caminho.
ERA A GRANDE noite do Kage. A festa de gala para promover o
Alcazar havia finalmente chegado, e o local estava lotado com algumas
das pessoas mais influentes da cidade. Eu examinei o quarto novamente
procurando por Kage. Parecia que o anfitrião estava atrasado para a sua
própria festa.

O barman se inclinou contra o bar diretamente em minha frente,


ignorando um convidado no extremo oposto que estava pedindo outra
bebida. Seus olhos brilhavam, seu cabelo escuro penteado e sua
mandíbula esculpida. Ele era o tipo de barman que provavelmente
recebia um monte de gorjetas.

—Posso pegar algo para você beber, Jamie?

—Algo forte. —Eu disse. —E que desça direto.

Quando ele deslizou um copo na minha frente, eu peguei e bebi.


Tequila. Eu nem sequer estremeci.

—Mais um. —Eu disse.

Ele pegou um copo limpo e veio para ficar na minha frente


enquanto ele servia. Sua cabeça balançava ao ritmo da música eletrônica
que ecoava nos alto-falantes do outro lado da sala de conferencias, onde
as luzes foram diminuídas e pontos multicoloridos se moviam no chão.

—Você sabe que essas são dose duplas, certo? —Ele perguntou.

Dei de ombros e bebi a segunda, me preparando para a


queimadura e nada acontecendo.

—Eu posso lidar com isso.

—Espero que sim. —Ele assentiu com a cabeça em direção à porta.


—O chefe acabou de chegar.

Minha cabeça girou ao redor, e lá estava Kage pairando apenas


dentro da entrada. O mundo desacelerou enquanto eu o observava.
Camisa azul-marinho de abotoar de um tecido fresco, seu brilho
captando a luz a cada movimento. Os três primeiros botões desfeitos
para revelar uma corrente em forma de espinha de peixe do melhor
ouro, e abaixo dela, cabelo no peito suficiente para fazer minha boca
encher de água. Sua calça era de uma cor carvão profundo, quase preto,
engomada, vincada e abraçando sua bunda.

Eu estava usando uma roupa semelhante, que ele deixou na beira


da cama para mim quando saí do chuveiro. A camisa era quase idêntica
à dele, com a exceção da minha cor ser um pouco mais clara, mas eu
tinha certeza de que não parecia tão estelar em mim como nele.

O observando agora, fiquei hipnotizado como se eu nunca o tivesse


visto antes. Como se eu não tivesse visto suas costas quando ele saiu do
nosso quarto às seis da manhã e seguiu para o temido trabalho que
esperava lá embaixo. O trabalho que estava o roubando de mim, tão
certamente quanto um amante secreto.
Ele caminhou pela sala com uma habilidade social que eu não
sabia que ele possuía, o lutador rebelde pensativo, substituído por um
sósia habilidoso da moda com um sorriso que iluminava o rosto de cada
pessoa em seu caminho. Ele poderia ter sido um político ou uma estrela
de cinema, tendo deixado para trás a atitude arrogante que ele tinha
mostrado aos repórteres na primeira noite que nos conhecemos. Ele
usava um terno naquela noite, também, mas hoje ele o usou de forma
diferente. Sua arrogância tinha se transformado em uma confiança
madura que era inebriante e aterrorizante.

Eu queria ir até ele, passar as pontas dos dedos por seus pelos do
peito e pedir-lhe que fosse ao nosso apartamento. Em vez disso, fiz sinal
para o barman me trazer outra bebida. Foda-se.

Kage estava distante há semanas, desde logo depois da entrevista


com Grace Howard, e eu sabia que não era apenas minha imaginação.
Houve momentos em que ele era o Kage que eu conhecia e amava, mas
mais e mais ele era um estranho para mim. Eu ainda não consegui
descobrir qual era o problema. Tivemos mais assédio de repórteres
desde que ele se assumiu gay e a esperada reação da mídia social, mas
eu não achei que isso o estivesse incomodando.

—Você pode querer pegar leve com esses meninos maus. —O


barman deslizou outro copo na minha frente, desta vez menor que os
dois anteriores.

—Qual é seu nome? —Eu perguntei, engolindo a dose e


adicionando o copo a minha crescente coleção.

—Você não se lembra de mim? —Ele perguntou com uma careta.


—Eu sou o Max. Nos conhecemos no verão passado quando você estava
estagiando aqui. Você entrou no cassino uma noite e pediu uma Lua
Azul20, e conversamos sobre seu trabalho e sua faculdade. Você disse
que esperava ser um escritor esportivo.

—Oh, sim. —Concordei, fingindo que me lembrava. —Bem, Max.


Da próxima vez me traga uma dessas duplas. Eu não sou um peso leve.

Ele me deu um sorriso conhecedor e foi servir um grupo de


convidados que se agruparam no final do bar.

Steve apareceu ao meu lado, com aroma de baunilha e


extravagante como sempre, com uma camisa azul apertada e gravata
borboleta. Uma lágrima estava gravada em glitter sob o canto externo
do seu olho direito.

Eu ri.

—O que é isso? Uma tatuagem de prisão gay?

—Muito engraçado. —Ele disse. —Você já está bêbado? —Ele


pegou um copo vazio do bar e cheirou-o. —Você sabia que a tequila
altera a personalidade? Os xamãs usam isso para entrar em contato com
seus animais espirituais.

—Você passou muito tempo na Wikipedia.

—É verdade, espertinho. Procure.

— Não, não é. Você está pensando em Peiote21. É um alucinógeno.

20
Lua Azul é um Drink.

21
Peiote é um pequeno cacto cuja região nativa estende-se do sudoeste dos Estados Unidos até o centro
do México. Tem sido usado por séculos pelos efeitos psicodélicos experimentados quando ingerido.
—Bem, eu sei que tequila me deixa em contato com meu espírito
animal. —Steve piscou e, em seguida, acenou para o barman. —Max,
duas doses duplas de tequila, por favor. Eu preciso alcançar Jamie,
então eu não vou precisar carregar sua bêbada daqui.

Quando Max se afastou para pegar as doses, Steve se inclinou para


perto do meu ouvido e sussurrou:

—Eu adoraria entrar em contato com o espírito animal do Max.


Pelo que ouvi, provavelmente é um garanhão.

Eu ri, distraído e voltei minha atenção para a sala, em direção a


Kage, que tinha uma pobre mulher em sua órbita. Ela estava flutuando
lá, sorrindo, sonhando, querendo. Eu reconhecia o olhar muito bem.

Steve bateu o segundo copo vazio no bar e tossiu, os olhos


lacrimejando.

—Se você encarar o Kage com mais força, você vai ter pés de
galinha amanhã.

—Eu não estou encarando. Só observando. Ele está bom esta noite,
você não acha?

—Bom é um eufemismo. Ele está como um picolé de mirtilo.


Fresco como gelo e apenas esperando para ser lambido. —Por causa dos
meus olhos estreitados, ele acrescentou:—Por você, é claro.

—Eu gostaria. Minha língua não pode chegar perto dele com todas
essas pessoas ao redor. Eu não acho que ele saiba que estou aqui.

Steve riu.
—Garanto-lhe que o homem sabe onde você está o tempo todo.
Lembre-se, ele tem aqueles olhos biônicos. Vá encontrar um cara quente
para flertar e você descobrirá rapidamente se ele sabe que você está aqui
ou não.

—Você realmente acha que eu deveria?

—Ummm, não. Inferno não. A equipe de limpeza vai estar ocupada


o suficiente sem ter que tirar manchas de sangue do carpete. —Ele
colocou a mão no meu ombro e apertou. —Anime-se. É só uma festa. Ele
está tentando ser um sucesso nesse negócio. Tomar o lugar de seu tio
significa acotovelar-se com pessoas influentes, e organizar uma festa é
uma ótima maneira de fazer isso. Quero dizer, olhe para ele. Ele
percorreu um longo caminho, você não acha, do lutador em roupas de
treino?

—Mas eu gosto do lutador em roupas de treino. Gosto dele quente,


suado e malvado.

—Quer dizer para todos os outros, certo? Porque quando ele é mau
para todos os outros, você tem ele todo para você.

—O que você está tentando dizer?

—Ei, eu entendo totalmente. Se ele fosse meu homem, eu ficaria


com ciúmes como o inferno também. Eu iria gostar de mantê-lo ocupado
no quarto todo o dia, mau parando para respirar, exceto para comer e
treinar. Mas as coisas são diferentes agora. Ele tem um negócio para
administrar, e se você me perguntar, ele está fazendo um grande
trabalho de entrar lá e fazer acontecer. Você deveria se orgulhar do
homem que ele está se tornando.
—Estou orgulhoso dele, Steve. Mas não consigo deixar de imaginar
onde me encaixo nisso e por quanto tempo. Jesus, não acredito que
acabei de dizer isso em voz alta. Max! —Eu acenei para outra bebida. —
Eu preciso ficar entorpecido e me divertir. Ele está apenas fazendo o
trabalho dele. Não há motivo para eu estar em pânico, certo?

—Sem nenhuma razão. Michael Kage, desculpe-me, Sr. Santori, é


completamente apaixonado por você. Ele só tem muito com que se
preocupar agora. Quando as coisas se estabelecerem em um bom ritmo,
vocês dois podem fazer uma viagem para algum lugar, como Cancun ou
Seychelles22. Você vai beber drinques com pequenos guarda-chuvas e
fazer amor na praia, e tudo ficará bem com o mundo. Você verá.

—Espero que você esteja certo. Pode parecer loucura, mas não
tenho mais nada além dele. A faculdade acabou, e meus amigos e
familiares... eles desapareceram. É como se eu tivesse dado tudo e feito
do Kage todo o meu mundo. Se eu não me encaixar no dele, então estou
perdido.

—Oh, Jamie. —Steve colocou os braços sobre meus ombros e me


puxou para um abraço, enchendo minhas narinas com uma baforada de
baunilha e tequila, e meus olhos com a queimadura de lágrimas não
derramadas.

—Eu realmente bebi demais. —Eu disse, esfregando os olhos


contra o ombro do Steve para secá-los antes de me afastar. —Eu estou
prestes a ficar todo emocional aqui.

22
Oficialmente República das Seicheles ou Seychelles, é um país insular localizado no Oceano Índico
ocidental.
—Isso significa que é hora de dançar. —Steve agarrou-me pelo
braço e me puxou para um ponto em frente à mesa do DJ. —Eu
recomendei esse cara para Kage. Ele se apresenta no clube onde eu vou
nas noites de sexta-feira.

Nós dançamos ao ritmo de uma música que eu nunca tinha


ouvido, e em seguida uma música mais rápida começou a tocar. Eu
seguia a movimentos do Steve, sendo o dançarino medíocre que eu era.
O álcool que eu tinha consumido me soltou o suficiente para que eu não
me importasse se eu parecesse um idiota.

Depois de mais algumas músicas, quando pude sentir um fino


brilho de suor cobrindo minha pele, Vanessa se juntou a nós. As dúvidas
que a fizeram chorar como um bebê na sequência de Kage se assumindo
gay, pareciam esquecidas agora enquanto ela se contorcia e balançava
em um vestido de grife que fazia pouco para esconder suas curvas de
Victoria's Secret.

—Você está quente esta noite. —Ela gritou para mim sobre a
música, como se tivesse escolhido as palavras diretamente do meu
cérebro. Ao ver minha expressão chocada, ela riu e girou ao redor,
passando o nariz e cheirando.

—O azul é realmente a cor dele. —Steve falou. —Se ele já não


estivesse comprometido eu daria em cima dele arduamente.

—Parem com isso, vocês dois. Eu não preciso me animar. —Eu


revirei meus olhos, mas eu gostei da atenção.

Vanessa pareceu perplexa.


—Por que você precisaria se animar? Você é co-anfitrião de uma
festa incrível. Olhe para todas as pessoas que apareceram. Você percebe
quantos políticos e celebridades estão aqui? Você está vivendo o sonho,
querido. Seriamente. —Ela tocou em seu nariz algumas vezes, a ponta
rosada brilhando na luz fraca.

—Você está resfriada? —Eu perguntei.

Ela deu um aceno irreverente de sua mão.

—Estou bem. Nada que pudesse me manter longe de uma festa.

—Jamie está fazendo beicinho porque Kage está ocupado


trabalhando nesse lugar como um chefe. —Steve disse, aparentemente
ansioso para transmitir meus problemas emocionais para Vanessa. —Eu
disse a ele que ele só precisava relaxar e deixá-lo fazer suas coisas. Kage
é o homem agora. Ele não pode simplesmente correr para um canto e
ficar com o namorado. Este é o grande momento, não o ensino médio.

—Você não me disse tudo isso. —Eu disse. —Você falou sobre sexo
na praia e bebidas com guarda-chuva.

Steve deu de ombros, ainda dançando.

—Bem, eu devia ter dito tudo isso, e agora eu fiz. Relaxe e divirta-
se. Basta pensar, você está dançando e se embebedando com a gente
enquanto Kage está trabalhando. Sortudo.

Vanessa fez um giro lento, maximizando o balanço de seus quadris


enquanto um homem que dançava nas proximidades observava com
interesse indisfarçado. Quando ela voltou ao redor, ela me agarrou pela
mão e fez eu me mover com ela.
—Imagine se Kage fosse um daqueles homens controladores. —
Ela falou. —Ele poderia fazer você ficar ao lado dele como cola o tempo
todo, assentindo e sorrindo como uma esposa troféu. Só que você seria
um namorado troféu. Nenhum homem nunca vai fazer isso comigo. Eu
prefiro festejar.

Eu não disse a ela que eu achava que eu poderia ser o namorado


troféu, por que quão idiota isso era. Em vez disso, perdi-me na dança até
que minha boca ficou seca e decidi que era hora de outra rodada de
bebidas. Eu acenei para eles me seguirem, e fomos para o bar, onde
bebemos duas doses ao mesmo tempo.

—Precisamos de algo mais forte do que isso. —Eu disse. —O que é


mais forte que tequila?

—Peiote, aparentemente. —Steve falou.

—Oh, eu sei. —Vanessa pulou para cima e para baixo em seus


calcanhares, desafiando as leis da física como só uma modelo poderia.
—Everclear23. A primeira vez que bebi, acordei no gramado da frente de
uma casa de fraternidade vestindo apenas minha calcinha.

Steve sorriu.

—E uma modelo da Victoria's Secret nasceu.

Deixei de ouvir sua conversa, porque quem se importava? Eu


estava em uma missão para encontrar a euforia no fundo de um copo.

23
Everclear é um álcool retificado (uma bebida alcoólica) produzido pela empresa norte-americana Luxco
com alto teor alcoólico da ordem de 95%.
—Oh, Maaaxxx... —Eu chamei, batendo um rápido rufar de
tambores no balcão com as palmas das mãos.

Ele fez seu caminho até mim com um sorriso.

—O que você precisa agora, Jamie?

Fiz um sinal para ele vir mais perto, tão perto que nossos narizes
quase se tocaram, e em um sussurro conspiratório perguntei:

—Você tem algo mais forte?

Max levantou uma sobrancelha e manteve sua voz baixa.

—Quão forte estamos falando?

—A coisa mais forte que você tiver aí atrás.

Eu estava flertando, falando óbvios duplos sentidos, mas estava


além de dar uma merda. Talvez se outro cara me desse um pouco de
atenção, Kage sairia do que quer que ele estivesse. Até mesmo Steve
sugeriu isso, mesmo que tenha sido em tom de brincadeira.

Max deu um olhar sutil aos meus lábios. Então ele respirou fundo,
fechou os olhos e os abriu novamente.

—Jamie, acho que você precisa desacelerar. Já chega para você.

—O que? Eu estou bem. —Eu protestei, ouvindo o insulto em


minha própria voz.

—Eu não vou perder meu emprego por você. —Ele falou.

—Por que você perderia seu emprego? Eu estou comemorando, e


se alguém não gostar, eles podem beijar minha bunda embrulhada em
Versace. Ou seja qual for essa marca idiota. —Eu girei ao redor como um
cachorro perseguindo o rabo, investigando o cós da minha calça em um
esforço para achar uma etiqueta, quando fui direto para Kage.

Ele olhou para mim, e o sorriso amigável com que ele encantou
todos os convidados foi substituído por uma carranca. Uma carranca
muito sexy que fez meus joelhos fraquejarem.

Michael Kage estava de volta em casa.

Sem dizer uma palavra, ele me agarrou pelo braço e me afastou de


Steve e Vanessa, que fizeram sons atrás de nós como se eu estivesse em
apuros. Ótimo. Steve estava certo, isso não era o ensino médio. No
momento, parecia mais como uma pré-escola, comigo sendo arrastado
para um intervalo.

Kage me arrastou todo o caminho através da sala para uma área


atrás da mesa do DJ. Eu nunca tinha estado naquela parte do hotel,
então eu não sabia o que esperar. Kage me puxou através de uma porta
para um quarto escuro e bateu a porta atrás de nós. Então ele ligou o
interruptor de luz, revelando o interior de um armário de suprimentos.

—Está tentando um replay da despensa da minha mãe? —Eu


perguntei.

Kage franziu o cenho.

—Não estou com humor para piadas, Jamie. O que diabos você
está fazendo esta noite?

—Kage, eu não sabia que eram dose duplas no início. E Steve e


Vanessa apareceram e ...
Kage não me deixou terminar. Ele me calou com um beijo duro em
meus lábios, não perdendo tempo enfiando a língua e lambendo
avidamente para mim. Tudo o que eu pude fazer foi me derreter contra
ele e deixá-lo fazer o que queria com a minha boca. Era um assalto. Um
ataque glorioso e entorpecedor na minha boca e nos meus sentidos.

—Kage. —Eu ofeguei quando ele se afastou o suficiente para eu


recuperar o fôlego.

—Silêncio.

Ele começou a desabotoar sua calça, me beijando várias vezes


enquanto ele a abria e a empurrava para baixo em suas coxas
musculosas. Só em vê-lo assim, com suas roupas extravagantes
empurradas para baixo e tortas, os cabelos cor de caramelo em suas
pernas capturando a luz, tinha-me duro e pronto. Abaixei-me para abrir
minha própria calça e soltei minha ereção, mas ele puxou minha mão
para longe.

—Você está me provocando a noite toda. —Ele falou, sua voz baixa
e áspera. —Ficando bêbado, dançando e flertando com todo mundo.
Tentando chamar minha atenção.

—Mas eu...

—Diga-me, Jamie. Diga que você estava tentando chamar minha


atenção.

—Eu estava tentando chamar sua atenção. —Eu suspirei e me


inclinei para ele, tomando uma golfada do seu perfume afrodisíaco. —
Parece que estou sempre tentando chamar sua atenção hoje em dia.
—E você acha que flertar é a maneira de fazer isso? Me fazendo
pensar que você é gostoso para outra pessoa?

Eu olhei para o seu pau duro e sorri.

—Parece que sim.

—Foda-se Jamie. Fique de joelhos.

—O que? —Eu perguntei, chocado com a crueldade em sua voz.

—Você me ouviu. Mandei você ficar de joelhos.

—Sim, Capitão. —Eu caí no chão, estremecendo com a picada do


concreto através da fina camada de carpete. Eu estava bêbado, então eu
não tinha dúvidas de que estaria ainda pior quando chegasse manhã.

Kage me agarrou pelos cabelos e me puxou em direção a ele,


esfregando a cabeça aveludada do seu pênis em meus lábios. Parecia o
paraíso.

—Essa boca é minha. —Ele disse. —Quando eu ouço você a usando


para falar sujo com outro cara, isso me deixa louco. Acho que preciso
lembrar a você a quem você pertence.

Concordei, ansioso para ser lembrado.

Seus olhos suavizaram um pouco.

—Abre a boca, bebê.

Eu abro os meus lábios largos para ele, gemendo quando ele se


empurrou para dentro. Fechei minha boca em torno dele e chupei
avidamente, mas ele controlou os movimentos, usando um punhado do
meu cabelo para me guiar.
Ele não era gentil, mas eu não esperava que ele fosse. Este era
Kage, meu lutador quente, e eu estava morrendo para ele me usar. Eu
queria que ele fosse brutal. Eu merecia isso.

Ele empurrou seu pau na minha garganta, gemendo de prazer


quando eu engasguei e ofeguei por ar. Meus olhos lacrimejaram, e ele
ainda empurrou de novo, ainda mais profundo desta vez, antes de recuar
apenas o suficiente para eu dar um suspiro. Ele repetiu o movimento
lenta e metodicamente até as lágrimas escorrerem dos meus olhos e ele
estar tremendo com a necessidade de gozar.

Eu me abaixei e espalmei meu pau através da minha calça,


esfregando com força, tentando me fazer gozar. Eu nunca me masturbei
antes, mas não era um encontro sexual normal. Era cru, sujo e
necessitado como o inferno. Era sobre ser usado e gozar do jeito que eu
podia. Eu precisava gozar, e eu não me importaria em arruinar minhas
calças para fazer isso.

Eu choraminguei, meus movimentos se tornando erráticos, e Kage


não tentou me impedir. Ele me observou com olhos febris e manteve o
aperto doloroso no meu cabelo enquanto ele fodia minha garganta.

Eu finalmente me masturbei até o clímax, gemendo longamente e


baixo em torno do pau do Kage enquanto eu disparava minha carga em
toda a minha calça. Ele ficou nos dedos dos pés e impulsionou para
baixo em um ângulo, ignorando a minha ânsia de vômito. Seu eixo
tremeu e pulsou, terminando no fundo na minha garganta.

Quando ele gozou, eu ofeguei por ar e trabalhei para uniformizar


minha respiração por tempo suficiente para que Kage ficasse
preocupado. Ele se ajoelhou ao meu lado e passou os braços em volta de
mim.

—Você está bem, querido? Eu não queria te sufocar de verdade.

—Eu estou bem. —Eu disse, quase de volta ao normal. —Acho que
eu tenho que manter meus pulmões em melhores condições se eu vou
estar chupando Michael Kage. Vou começar a fazer exercícios de
respiração na piscina do hotel.

Ele riu e esfregou a mão no meu cabelo, arruinando tudo ainda


mais. Não havia nenhum espelho no armário, mas eu tinha certeza de
que eu parecia uma prostituta só que masculino em uma Convenção de
motociclista gay. Olhos inchados, cabelos em pé, porra nas minhas
calças. Jesus Cristo.

—Minhas roupas. —Eu gemi. Agora que eu tinha voltado aos meus
sentidos, me masturbar em um terno Versace não parecia uma boa
ideia.

Kage, que tinha seu pau para fora, mas ainda assim conseguia se
parecer com 1 milhão de dólares, riu de mim.

—Aqui, serei seu espelho. Vamos te arrumar o suficiente para


passar pela festa, e então eu vou te levar lá para cima e te aconchegar.

—Eu tenho que ir para casa? —Eu gemi, desejando que eu tivesse
parado de beber cerca de cinco doses atrás.

—Querido, não consigo me concentrar com você aqui. Este é um


evento importante, e há muitas pessoas importantes aqui. Eu preciso
fazer grandes coisas com esse hotel ou nunca... —Ele parou
abruptamente e encostou sua testa na minha. —Nós realmente
precisamos disto, ok?

—Tudo bem. —Eu disse. —Me desculpe, fiquei bêbado e agi como
um idiota. Eu sinto tanto a sua falta. —Eu sufoquei as lágrimas. —Está
vendo? Eu estou chorando bêbado. Isso não é bom.

Kage me levantou e me ajudou a ficar apresentável. Nós não


poderíamos fazer muito sobre os olhos inchados ou a mancha úmida
sutil na frente da minha calça, mas ele foi capaz de pentear meu cabelo
com os dedos o suficiente para que eu parecesse razoavelmente
apresentável à distância. Em nosso caminho de volta através da festa,
um grupo de pessoas tentou sinalizar para chamar Kage, mas ele
inventou uma desculpa vaga sobre um assunto que precisava de sua
atenção e prometeu voltar em breve.

O passeio de elevador passou em uma névoa bêbada. Antes que eu


percebesse, estávamos de volta ao apartamento, onde Kage cumpriu sua
promessa de me aconchegar.

—Eu sei que isso é difícil para você. —Ele falou, puxando as
cobertas até o meu queixo e me dando um sorriso melancólico. —Eu
tenho estado ocupado e distante. Você tentou me dizer e eu não escutei.
Por favor, tente ter paciência comigo por mais algum tempo. Estou
fazendo o meu melhor. Enquanto isso, decidi que vou montar seu
próprio blog de MMA. Isso lhe dará algo para se concentrar, e esperamos
que isso tire a pressão de nós dois. Eu vou te dar o que quiser para o
negócio. O céu é o limite. O que acha disso?

—Parece... —Eu procurei por palavras, minhas emoções se


agitando entre mágoa e euforia. Meu próprio blog? Era um sonho se
tornando realidade. Mas ele estava fazendo isso apenas para que eu o
deixasse em paz?

Não. Não era justo eu pensar assim. Kage era atencioso e


carinhoso, e ele me amava. E, por Deus, eu precisava sair da porra da
sua cola. Eu só estava sendo egoísta e paranoico. E não vamos esquecer
bêbado.

Eu sorri para ele e o puxei para um beijo de boa noite.

—Parece incrível.
DUAS SEMANAS depois da festa, Jamie tinha tudo preparado
para seu novo blog. Eu dei a ele um cartão de crédito da empresa e disse
para ele ir à loucura. Ele tinha todas as coisas técnicas em ordem e agora
estava se mantendo à par dos acontecimentos no mundo do MMA e
fazendo postagens diárias.

Ele estava ganhando seguidores em ritmo acelerado,


provavelmente, em parte, devido à nossa infâmia na comunidade, mas
ele não se importava como ou por que os conseguiu. Ele estava apenas
curtindo seu novo negócio. Ele parecia feliz, e isso me deixou mais feliz
também.

Eu ainda tinha preocupações persistentes sobre o trabalho, mas


eu estava tentando levar as coisas a cada dia. Talvez eu pudesse apenas
dirigir o Alcazar e fingir que tudo estava normal, e se a polícia viesse me
prender por evasão de impostos ou por alguma coisa louca de que eu,
inconscientemente, fizesse parte, eu lidaria com isso então.

Alguns dias era fácil ser irreverente sobre isso. Outros, isso me
consumia.

Jamie e eu começamos a fazer nossas corridas matinais


novamente, e isso aliviava muito meu estresse. Mas às vezes não era tão
fácil ignorar as dúvidas que me atormentavam. Os ataques de ansiedade
que a Dra. Tanner ajudara a manter sob controle estavam ameaçando
novamente, e eu estava tendo sonhos perturbadores. Desde que eu
recebi essa mensagem misteriosa.

Tenha cuidado.

Eu ainda não tinha contado a Jamie sobre isso, e eu não planejava


fazer isso, mas eu também não podia continuar excluindo-o de tudo.
Isso estava começando a prejudicar nosso relacionamento. Eu não
queria perdê-lo. Eu precisava compartilhar alguns dos meus problemas
com ele.

Como Enzo disse, meu carrinho também era dele agora. Ele
deveria pelo menos conhecer alguns dos fardos que ele me ajudaria a
carregar.

—Eu tive um sonho ontem à noite. —Eu diminuí a velocidade para


uma caminhada, envergonhado por ter que lutar para recuperar o fôlego
o suficiente para falar.

Fazia anos desde que uma corrida de três milhas tinha feito isso
para mim, mas o trabalho ainda estava diminuindo meu cronograma de
treinamento. Se o UFC me chamasse para uma luta pelo campeonato
naquele momento, eu não tinha certeza se conseguiria cinco rodadas.
Claro, eu terminei com todos que eu já tinha lutado bem antes que o
último sino tocasse. De jeito nenhum eu confiaria o resultado da minha
luta para um trio de juízes e sua pontuação tendenciosa.

Minha luta contra Anthony Rodriguez, que no final, felizmente,


não havia sido cancelada por eu ter me assumido, seria de apenas três
rodadas. Um passeio no parque. Mas eu ainda tinha que me concentrar
mais no meu treinamento. Eu nunca me senti despreparado antes.
Jamie parou e descansou as mãos nos joelhos para recuperar o
fôlego, claramente mais fôlego do que eu. Eu virei para trás e esperei por
ele, e então continuamos em direção ao Alcazar, desta vez passeando
como um casal de amantes no parque.

—Sobre o que foi o seu sonho? —Ele finalmente perguntou quando


sua respiração voltou ao normal.

—Evan me ligou no telefone. —Eu sorri para a expressão chocada


do Jamie. —Eu sei, é estranho. Foi tão real, no entanto. Meu telefone
tocou, e eu o peguei no meio da noite, imaginando quem poderia estar
me ligando naquele horário. Quando ouvi a voz dele, soube que era ele.
A coisa toda foi tão real, levei alguns minutos para me convencer de que
tinha sido um sonho.

—O que ele disse? —Jamie perguntou, horrorizado.

—Ele disse: Não confie em ninguém. Estão todos atrás de você. —


Meu coração tomou uma queda livre dentro do meu peito enquanto eu
repetia as palavras. Isso me lembrou da nota: Tenha cuidado.

—Jesus, Kage. —Jamie me empurrou para o banco de ônibus mais


próximo e me arrastou para sentar ao lado dele. —Você precisa se afastar
deste lugar. Vamos tirar umas férias ou algo assim, ir até a Geórgia e ver
minha família, qualquer coisa para você sair daqui. Eu sei que esse
negócio passou a significar muito para você, mas estou preocupado.

—Acalme-se, querido. Foi apenas um Sonho. Meu irmão morto


não ligou para o meu celular na noite passada. —Eu ri, mas não havia
nada de engraçado nisso.
Eu não fui capaz de esquecer o sonho ou a sensação de mau agouro
que isso trouxe, mas eu tinha que tranquilizar Jamie. Eu precisava tirar
esse olhar do rosto dele. Deus, por que eu contei a ele sobre o sonho?

Porque você precisava, uma voz na minha cabeça sussurrou. A voz


de Evan. Conte a ele sobre a nota.

Comecei a contar em minha mente como a dra. Tanner me


ensinara a fazer, tentando manter minha ansiedade à distância.

Os olhos de Jamie se nivelaram com os meus.

—Eu ficaria menos preocupado se fosse realmente Evan. O fato de


não ser isso, significa que essas palavras saíram da sua mente, Kage. Eu
odeio dizer isso, mas talvez você esteja ficando um pouco paranoico.

—Foda-se Jamie. Você de todas as pessoas deve saber que eu


tenho muito com o que me preocupar. Não é como se estivéssemos
vivendo uma vida normal aqui. Alguma coisa ruim aconteceu, e fomos
forçados a deixar nossas próprias vidas para trás. Nunca estaremos fora
de perigo, lembra?

—Eu sei, mas veja quanto tempo passou. Aaron disse que tudo
ficaria bem, e tem sido até agora. Talvez possamos realmente apenas
relaxar agora. Eu admito que alguns dias é difícil olhar no espelho, e eu
fico um pouco paranoico às vezes quando vejo um carro de polícia, mas
eu não quero viver o resto da minha vida me preocupando com algo que
provavelmente nunca acontecerá. Temos que nos dar uma pausa e viver
o mais normalmente possível. Eu acho que se essa coisa eventualmente
voltar para nos pegar, nós vamos lidar com isso então. Se continuarmos
nos preocupando com isso agora, eu poderia já estar na prisão.
—Shhh. —Eu coloquei uma mão sobre sua boca e olhei ao redor
para me certificar de que ninguém estivesse ao alcance da voz. —
Quantas vezes tenho que lhe dizer para prestar atenção ao que você diz
em público? Há certas coisas que só falamos em nosso apartamento.
Entendeu?

—Bem. Mas acho que você precisa ver alguém, Kage.

—Ver alguém?

—Como um terapeuta. A Dra. Tanner não te ajudou quando você


estava a vendo?

—Ela ajudou. —Eu admiti, sentindo a mordida de culpa e tristeza


ao ouvir seu nome. Sabendo que ela provavelmente estava morta por
minha causa.

A polícia havia me questionado brevemente sobre seu


desaparecimento, mas isso foi tudo. Foi muito fácil, na verdade. Mandei
à família uma grande quantia de dinheiro, mas não fizera nada para
aliviar minha consciência culpada, especialmente nas poucas noites em
que seu marido me chamou em lágrimas. Eu não sabia o que fazer para
encontrá-la mais do que ele.

—Na época, eu precisava dela. —Eu disse a Jamie. —Ela me ajudou


muito. Mas agora estou bem.

—Talvez você não esteja. Você tem muito estresse sobre você
agora.

Eu joguei minhas mãos para cima e gemi.


—Eu sabia que não deveria ter contado sobre o sonho. Eu sabia
que você reagiria exageradamente. Eu deveria ter guardado para mim
mesmo.

Jamie franziu a testa e desviou o olhar.

—Ok, eu não sou estúpido. —Eu disse. —Eu percebo que o que
acabei de dizer soou paranoico, e você está pensando que acabei de
provar seu argumento, mas não quis dizer isso. Isso não era paranóia.

—Então o que era?

—Irritação, caramba. Eu não quero que você me diga que eu


preciso ver um terapeuta. Isso significa que você acha que sou fraco. Eu
não quero que você me veja desse jeito, Jamie. Eu deveria estar
cuidando de você e construindo uma vida incrível para nós. O que isso
diria sobre mim, se eu tivesse que ir chorando para um terapeuta porque
não consigo segurar minhas merdas juntas?

Ele estendeu a mão e começou a esfregar minha coxa.

—Diria que você é um ser humano que passou por alguma merda
de arrepiar os cabelos. Não há nada de errado em precisar falar com
alguém sobre isso.

Um terapeuta pode ajudá-lo a trabalhar com isso, para que você


possa se concentrar nas coisas que faz melhor. Espancando as pessoas,
sendo um empresário malvado, administrando uma empresa
multimilionária, mantendo seus funcionários na linha e encantando a
todos no mundo com aquele seu sorriso matador. —

Sua massagem distraída em minha coxa se transformou em um


apalpar cheio enquanto ele falava, seus dedos subindo sob a borda do
meu short e encontrando aquele ponto sensível na dobra entre minha
coxa e minha virilha. Meu pau estava começando a notar.

Eu me inclinei para trás com um sorriso, já me sentindo melhor.

—Onde você vai com essa mão, chefe?

Ele a arrebatou, um rubor adorável florescendo em seu rosto.

—É a mesma coisa que você me disse na primeira noite em que


dormi na sua cama, quando Vanessa e eu ficamos aqui.

—Eu não esqueci. Você começou a me sentir e tatear meu


abdômen como um twink24 bêbado na última chamada. Um belo de um
cara hétero você acabou sendo. E eu ainda estou tendo que te repreender
sobre essas mãos errantes. Tal pervertido.

—Isso é sua culpa. Você me disse para sentir seu abdômen para
ver como era um homem de verdade, seu egocêntrico.

Eu ri.

—Você deveria ser hétero, Jamie. Eu esperava que você os


cutucasse com seu dedo, os socasse ou algo assim, não iniciasse as
preliminares. Deus, eu estava tão excitado por você, era impossível não
responder. Então você me deixou pressionar minha ereção contra essa
bunda que estava me deixando louco por semanas, e você não se mexeu.
Se Vanessa não estivesse lá naquela noite, você estaria em apuros. Você
sabe disso, não é? Eu sou forte, mas droga. Você estava passando suas

24
Twink ou twinkie é um gíria GLBT para descrever homens homossexuais ou bissexuais adolescentes,
jovens adultos ou com estereótipo jovem, corpo magro ou atlético e liso, sem pêlos, cabelos androgênico e
afeminados.
pequenas mãos quentes por todo o meu corpo, esses grandes olhos
castanhos apenas me implorando para te foder. Praticamente me
deixando esfregar em sua bunda. Eu pensei, que menino educado e
honesto eu tenho na minha cama. Me pergunto o quão longe ele me
deixaria ir.

Ele cruzou os braços sobre o peito e fez beicinho. Ele era tão bom
nisso. Ele sempre me excitava com aquela boca expressiva. Eu estava
começando a suspeitar que havia uma corda conectando seu lábio
inferior ao meu pau, porque quanto mais ele aparecia, mais duro eu
ficava.

—Você foi o único que me fez assim. —Ele protestou. —Eu era
perfeitamente respeitável antes de te conhecer, e agora veja o quão longe
eu caí.

Ele estava jogando, claro, tentando ser fofo. E ele era fofo. Bonito
o suficiente para foder ali naquele banco de ônibus e me preocupar com
a prisão mais tarde. Mas seu comentário me machucou de uma maneira
que eu não esperava, e certamente Jamie também não esperava. A mera
sugestão de que eu o havia corrompido despertou a fera adormecida que
sempre parecia estar comigo agora. Aquela que sussurrava que eu não
era bom, que eu era veneno.

Eu tinha corrompido o Jamie? Eu sabia que o havia tirado de sua


inofensiva vida suburbana e fizera dele um assassino, mas eu o havia
corrompido sexualmente também? Quero dizer, é claro que eu o deixei
viciado em minha marca obscura de amor. Isso era um fato. Mas no
cerne de tudo, havia a possibilidade de eu ter interpretado mal os sinais
iniciais.
Cego pela minha própria atração por ele, talvez eu simplesmente
tivesse visto o que eu queria ver e o tivesse empurrado até ele desistir. O
pai do Jamie sugerira, para meu grande horror, que eu havia abusado
do meu poder profissional. Que eu efetivamente me engajado a
compensação em assédio sexual contra o filho dele.

Naquela época, eu queria torcer o pescoço do homem por ter tido


essa ideia, e muito menos plantá-la na cabeça do filho. Mas agora eu me
via imaginando se ele estava de alguma forma certo, ou pelo menos
parcialmente correto. Isso fez eu me sentir mal do estômago, por poder
ter sido culpado de coerção. Eu queria que Jamie tivesse me escolhido
por sua livre vontade.

—Jamie, você acha que teria sido gay se nunca tivesse me


conhecido?

Eu não conseguia olhar para ele, preferindo estudar as linhas


irregulares de grafite rabiscadas na superfície do banco perto da minha
coxa. Bobby B 2015. Eu tracei as palavras repetidamente, mal
registrando o que elas diziam.

—Essa é uma pergunta ridícula. —Jamie falou. —Por que você


perguntaria isso?

—Porque eu quero saber. —Eu estava afirmando o óbvio.

—Bem, eu não sei como responder. Eu nunca tinha pensado em


mim mesmo como gay ou mesmo bi antes de te conhecer, e nunca tinha
estado com um cara. Apenas garotas. Eu deveria ter uma namorada,
certo? E elas eram suaves e bonitas e sim, eu as queria. Se você tem uma
namorada bonita, você consegue fazer muito, e todo mundo acha que
você está fazendo isso acontecer. Mas...
Abandonei o traçado de palavras no banco e olhei para o rosto do
Jamie.

—Mas o que?

Ele suspirou.

—Houve momentos. Coisas que me confundiram um pouco. Eu


tentei não notar caras no vestiário ou no ginásio, ou no campo. A
aparência dos seus corpos, por vezes, chamava minha atenção de uma
forma que me deixava desconfortável. Eu não olhava por muito tempo,
no entanto. É fácil simplesmente empurrar essas pequenas coisas e
colocá-las como uma falha mental. Jamie, você está sendo bobo. Todo
mundo tem pensamentos assim às vezes. Esqueça isso. Não é nada. —
Ele riu. —Os anúncios pornôs eram um pouco mais difíceis de arranjar
desculpas, mas de alguma forma eu consegui.

—Anúncios pornôs? —Perguntei, intrigado.

Ele riu de novo, e eu tinha certeza de que vi a cor anterior


retornando às suas bochechas.

—Eu cliquei em um anúncio pornô gay uma vez, em um desses


sites gratuitos, por curiosidade, e acho que isso colocou cookies no meu
computador ou algo assim. Então eu via muito mais anúncios. No
começo, eles me incomodavam. Os videoclipes brilhavam no canto do
meu olho, e não me atrevi a olhar para eles por muito tempo. Não havia
realmente nada lá para mim de qualquer maneira, até... —Ele fez uma
pausa, e eu pude ver pelo olhar em seu rosto que nós estávamos indo
para um território realmente pessoal. —Uma noite, vi um anúncio que
atraiu meu interesse. Eu nunca vou esquecer isso enquanto eu viver. Era
um pequeno clipe, talvez cinco segundos de duração, preso a vários
outros clipes, mas este era algo totalmente diferente. Deus, isso é
embaraçoso.

—Jamie. —Eu disse, dando-lhe o meu olhar mais sincero. —Nós


tivemos nossas línguas na bunda um do outro. Acho que deixamos essa
coisa de embaraço na poeira há muito tempo.

Isso provocou uma risada real dele. Não uma daquela tentativas
tímidas que ele estava me dando apenas a alguns segundos antes, mas
um verdadeiro destruidor de intestinos que chamou a atenção de todos
a distância.

—Certo, tudo bem. Era esse jogador magro de baseball de joelhos,


e havia vários caras ao seu redor. Tudo o que eu podia ver deles eram
seus paus grandes, e esse carinha estava servindo eles. E o que
realmente me pegou foi o olhar em seu rosto. Ele estava amando isso,
Kage. Na verdade, parecia que ele precisava que esses grandes atletas o
usassem assim. Dizer que isso me excitou realmente não faz justiça, mas
eu não sei como descrever exatamente o que aconteceu. Eu acho que
significou algo para mim, e algo fez cócegas meu estômago e rolou como
ondas do mar. Eu gozava tão rápido quando assistia aquele clipe. Pior
ainda, houve momentos em que pensei nisso quando estava me
masturbando sem pornografia, porque era um acabamento rápido
garantido. Então eu apenas diria a mim mesmo que não era nada e
esqueceria.

—Então você nunca foi ao site e nunca viu o vídeo inteiro.

—Claro que não. Isso estaria errado. Quero dizer, parecia assim na
época.

—E o que você disse á si mesmo para racionalizar isso?


Ele encolheu os ombros.

—Era apenas um tabu. Apenas um tabu estranho que me livrou


por qualquer motivo. Se alguns homens podem usar meias femininas ou
fazer xixi em público, era tão chocante ou estranho eu ter uma queda
por um pequeno clipe gay? Quantas pessoas você acha que gosta de
assistir a uma coisinha estranha que elas não necessariamente querem
fazer na vida real? Na vida real eu era atraído por garotas, eu namorava
garotas, eu transava com garotas. Quem se importaria se eu tivesse esse
pequeno e irracional fascínio?

—Racionalização muito boa. Pena que foi tudo besteira.

—Eu sei, certo? —Ele sorriu. —Eu acho que a verdade é que em
algum lugar dentro de mim eu sabia que assistir aquele vídeo todo
abriria as comportas, e eu nunca seria capaz de fechá-las novamente.

—E agora, como você pensa em si mesmo? Bi? Gay? —Fiz uma


pausa, e então só para foder com ele eu adicionei. —Hétero?

—Muito engraçado. —Seus olhos ficaram sem foco quando ele se


retirou para seus pensamentos por um longo momento, então suspirou.
—Eu não sei, Kage. A verdade é que estou muito obcecado por você para
pensar em mais alguém, homem ou mulher. Às vezes eu olho para
pessoas bonitas e penso: estou realmente atraído por ele? Homens são
minha coisa agora? E eu sinceramente não sei, porque tudo que estou
fazendo é compará-los a você. Eles me lembram de você, porque eles são
homens, mas falta alguma coisa neles toda vez. Nenhum outro homem
está no mesmo universo de gostosura. Talvez, se eu não estivesse tão
cego por você, pudesse avaliar onde estou na balança, mas como é... —
Ele deu de ombros.
—E Cameron? —Eu perguntei, o nome como leite azedo na minha
língua. —Como você explica deixar ele te beijar e te levar para a cama
sem sua camisa?

Graças ao meu tio, eu tinha provas fotográficas do incidente


gravadas em minhas retinas por toda a eternidade.

—Cameron é fácil de explicar. Eu tinha acabado de ver aquela


revista com você e Vanessa na capa, dizendo que você estava noivo, e
essa foi a pior dor que já senti em toda a minha vida. Eu pensei que você
tivesse me abandonado. Então Cameron veio até mim. Ele era um cara
de boa aparência que era gay e para mim, e essa era a coisa mais próxima
que eu tinha de você. Mas ele não era você, Kage. Eu era como um
daqueles alcoólatras graves que acabam bebendo álcool quando não
conseguem pôr as mãos em qualquer bebida. Ele é álcool, e você é Dom
Perignon, e foi por isso que eu não pude continuar com isso.

—Cameron é álcool? —Achei sua analogia engraçada, e comecei a


rir. —Por favor, posso dizer isso a ele se eu o ver de novo? Isso fará
minha vida completa.

—Não, não seja mau. Ele não tem culpa que esteja sendo
comparado a você. Ele é um bom partido, e um dia desses ele será o
Cuervo Gold25 de alguém.

Eu zombei.

25
Tequila.
—Shirley Temple26 é mais parecido com ele. Ele é fraco, e se ele
flertar com você de novo, inferno, se a respiração dele acelerar até um
pouco quando ele olhar para você, eu não serei responsável pelo que faço
com ele.

Seus olhos se arregalaram.

—Você seria capaz de dizer se o ritmo da respiração dele


aumentou, mesmo que só um pouco?

—Sou treinado para perceber o menor sinal no octógono, querido.


Medo, distração, excesso de confiança. Emoções podem ser usadas
contra seus oponentes, e eles podem usá-las contra você também. Um
lutador que é sensível aos sinais físicos dos estados emocionais tem uma
vantagem distinta sobre quem não é. Então sim, eu posso dizer. E eu vou
estar observando.

—O que me traz de volta à sua preocupação.

—Minha paranoia, você quer dizer. —Eu disse amargamente.

—Como você quiser chamá-la, acho que você deveria conversar


com alguém sobre isso.

—Eu não preciso de um terapeuta, Jamie.

—Talvez você não precise de um, mas pode ser bom tirar algumas
coisas do seu peito.

—Eu não quero um terapeuta. —Eu me retirei com os dentes


cerrados, porque isso já estava ficando velho. Um terapeuta poderia

26
Shirley Temple é um drink não alcoolico.
ajudar com problemas emocionais, mas o que eu tinha eram problemas
reais. Eu tinha os dissidentes. Eu fui excluído da metade do meu
negócio. Eu tinha um namorado que poderia ser preso por assassinato
a qualquer momento. Eu tinha notas ameaçadoras aparecendo na
minha mesa. O que diabos um terapeuta poderia fazer sobre isso?

—Você verá um só para me agradar? —Jamie perguntou. —Estou


disposto a trocar favores sexuais.

—É uma má ideia tentar barganhar por sexo. —Eu rosnei. —Essa


bunda pertence a mim. Se eu quiser, vou pegá-la.

—Bem, talvez eu não vá deixá-lo.

—Mmmm… —Essas seis pequenas palavras me fizeram ficar duro


novamente. —Você deveria testar essa teoria em algum momento.
Parece que pode ficar interessante.

O pomo de Adão dele balançou quando ele engoliu, e eu sabia que


ele estava se imaginando interpretando aquela sexy luta de poder como
eu estava. Ele perderia, claro, mas isso era metade da diversão.
DEPOIS DA NOSSA corrida, Kage me deu um beijo demorado
logo na entrada do Alcazar, sem se importar com o grupo de convidados
passando por nós e saindo para a calçada. Era incrível estar aberto com
ele agora. Estar fora.

Não havia mais dúvidas em minha mente. Nada de me preocupar


com o que as pessoas pensariam se soubessem que éramos amantes.
Mesmo o ocasional insulto gay deixado no meu blog ou conta no Twitter
acabou saindo das minhas costas.

Meus sentimentos por Kage eclipsaram essas preocupações


mesquinhas, na medida em que eu me perguntava como eu já me
importei em primeiro lugar. Nos dias de hoje eu era como um geek que
de alguma forma conseguiu uma namorada supermodelo. Eu queria
exibir meu homem e as pessoas olharem para mim e pensarem em como
tive sorte de ter uma fera tão sexy para me agarrar à noite.

Era verdade. Eu era o cara mais sortudo do mundo.

Steve acenou para nós quando passamos pela recepção. Eu reduzi


a velocidade, mudei de direção e me dirigi para a minha dose matinal de
conversas sem sentido, mas Kage continuou se movendo em direção aos
elevadores.
—Tenho que me vestir para o trabalho. —Ele falou por cima do
ombro. —Jamie, não mantenha Steve conversando durante o dia todo.
Ele tem trabalho a fazer.

—Sim, Sr. Santori. —Eu disse, piscando para Steve.

—Ele é um patrão tão rabugento. —Steve falou. —Eu pensei que


ele era ruim quando era um lutador chateado, mas isso é muito pior.
Você não pode fazer algo sobre isso? Dar-lhe algo extra no quarto? Um
bom boquete poderia fazer maravilhas pelo humor dele, o que por sua
vez beneficiaria todos nós.

—Você está sugerindo que eu não estou fazendo o trabalho direito?


—Eu perguntei, genuinamente ofendido.

—Isso é exatamente o que estou sugerindo. Você precisa levar uma


pelo time. Faça a sua parte para melhorar o moral do escritório.

—Para sua informação, eu faço minha parte e faço isso de bom


grado. Mas nenhuma quantidade de sexo vai ajudar Kage agora. Ele tem
muito estresse, e não consigo descobrir exatamente o que está causando
isso. Parece que ele está trabalhando duro por aqui ou enfrentando
problemas para os quais não consegue encontrar soluções?

—O que você quer dizer? —Steve perguntou.

—Eu não sei exatamente. Algo parece estar o incomodando, mas


eu realmente não vi nenhuma razão para isso. Ele não reclama de nada
em particular.

—Talvez você esteja apenas imaginando. —Steve sugeriu. —Se


lembra do que falamos na festa? Você pode estar apenas sentindo
ciúmes e irritação porque Kage não tem tanto tempo para você
ultimamente. Você já falou com ele sobre isso? Se não, talvez devesse.

Eu apoiei meus cotovelos na mesa e suspirei.

—Eu realmente considerei isso, mas não acho que seja isso. Pelo
menos não só isso. Eu não falei com ele sobre isso, porque eu realmente
acho que cheguei a um acordo com isso. Sim, eu ainda me sinto
ciumento ou deixado de fora às vezes, mas tenho certeza que há outra
coisa. Eu pedi a ele para ver um terapeuta.

Steve assobiou.

—Aposto que foi como um balão de chumbo.

—Pior. Mas você acabou de dizer que ele tem estado rabugento
ultimamente. O que você acha que poderia estar causando isso? E antes
de responder, saiba que estou bem ciente de que você é a
autoproclamada rainha das fofocas por aqui. Nem tente negar isso.

—Eu nunca negaria isso. —Steve se afundou em pensamentos


profundos, tamborilando na mesa com uma manicure de cor lavanda
fresca.

—Eu gostei dessa cor. —Eu disse distraidamente. —Muito melhor


do que o pêssego pelo qual você ficou obcecado nesse último mês.

Steve admirou seus próprios dedos enquanto os estendia para


mim.

—Obrigado. —Ele falou. —Eu acho que funciona bem com o meu
tom de pele. Um grupo de meninas da faculdade ficaram tão loucas por
isso, que eu tive que escrever a marca e cor para elas. Eu imagino que
será a nova tendência da Universidade de Oregon no outono.

—Parabéns por ser um ícone da moda em Oregon. Não espere que


eu esteja usando isso em breve. Estou aliviado por você estar usando
uma cor diferente. Talvez um dia eu possa comer um pêssego sem
pensar em você.

Steve encolheu os ombros e puxou as mãos para trás.

—De qualquer forma, de volta a Kage. Eu não posso imaginar o


que poderia tê-lo em tal estado. Tudo parece normal por aqui. Alguns
dos funcionários foram um pouco rudes com ele no início. Mas então ele
começou a usar um terno, e deixou eles saberem que ele não estava
tomando nenhuma merda deles. Eu acho que eles pensaram que se eles
agissem assim o suficiente, ele ficaria entediado e recuaria. Eles não
estão acostumados com alguém realmente prestando atenção ao que
estão fazendo. Peter Santori estava muito ocupado e tinha muito
complexo de Deus para se incomodar com funcionários humildes, mas
Kage não se importa de descer do seu trono e se comunicar com as
massas.

—Por que você acha que alguns dos funcionários tinham um


problema com ele? Você sabe alguma coisa específica?

—Oh, só coisas de escritório de negócios. Ele estava fazendo


muitas perguntas sobre o gerente do cassino. Provavelmente pensou
que ele estava roubando ou deixando as pessoas trapacearem.

—Talvez ele estivesse. —Eu sugeri.


—Talvez, mas ele ainda está aqui. Eu não acho que Kage permitiria
roubar.

Eu ri.

—Eu odeio ser o único a informá-lo, mas a bússola moral do meu


namorado não é tão voltada para o Norte como você pode pensar.

Steve riu ainda mais do que eu.

—Sua bússola não está voltada para o norte? Por favor, me diga
que não é uma referência velada à sua vida sexual. Eu ficaria tão
desapontado.

—Nem mesmo perto.

—Você tem uma prova visual disso? —Ele perguntou com uma
cara séria. —Eu posso precisar ser convencido.

—Na verdade, eu tenho um vídeo de Kage me introduzindo a


maneira de como ser gay. Nós poderíamos ter uma exibição privada na
cobertura só com você, eu e Kage. Beber um pouco de tequila. Você
prefere preservativos com sabor ou regular?

Steve olhou para mim, seus olhos arregalados. Ele abriu a boca
para falar, mas o que saiu foi uma sequência confusa de vogais e
consoantes incompatíveis.

Eu dei a ele um sorriso presunçoso, sentindo orgulho de mim


mesmo.

—Não acredito. Eu consegui deixar o maior boca suja da cidade


sem palavras.
Steve finalmente conseguiu formar um pensamento em palavras.

—Eu sei que você está me provocando, seu merda.

—Claro que estou brincando com você. Se você algum dia ver o
corpo nu do Kage, será por causa de algum acidente esquisito, não
porque eu deixei.

—Mas há realmente um vídeo?

—Sim, há um vídeo.

Steve passou os dedos pela superfície do balcão, até onde eu


descansava minha mão, e tocou meu mindinho levemente com o dele.
Ele olhou para mim através de seus cílios, como uma garota que queria
alguma coisa.

—Eu posso ver isso? Eu prometo que não vou contar a ninguém.

Eu puxei minha mão para longe.

—Suas artimanhas não vão funcionar comigo, Steve. Não tem


como você chegar perto desse vídeo.

Ele endireitou-se e se afastou em direção à parede que dava para


a área da recepção. Então ele se virou para mim.

—Eu não posso acreditar que você fez isso comigo. Você não tinha
que me falar sobre o vídeo, você só fez isso para mexer com a minha
cabeça. Você sabia que eu nunca seria capaz de resistir.

Eu ri.

—Eu te conheço muito bem, Steve.


—Então você sabe que toda vez que eu olhar para qualquer um de
vocês de agora em diante tudo em que poderei pensar é nesse maldito
vídeo. Você é realmente uma pessoa cruel. Eu pensei que você seria uma
boa influência para o Kage, mas acho que o oposto aconteceu. Ele te
tornou um monstro.

—Ok, tudo bem. —Eu disse com um suspiro. —Você pode ver o
vídeo.

O rosto do Steve se iluminou e um sorriso ultrapassou suas feições


delicadas.

—Mesmo?

—Não, não realmente!

Steve cruzou os braços sobre o peito e fez beicinho.

—Saia. Agora, antes que eu me sinta tentado a arrancar seus olhos.

Eu segurei minhas mãos em sinal de rendição e me afastei da mesa


com um sorriso.

—Eu falo com você depois que você se acalmar. Ainda está
marcado para esta noite?

—Netflix, oito horas, cobertura. —Ele disse com relutância. Então,


em voz baixa: —Talvez você me surpreenda com uma mudança de
programação de última hora.

Eu ri quando me virei e fiz meu caminho até o elevador, sabendo


que ele não deixaria a conversa sobre vídeo descansar por um longo
tempo, se é que algum dia faria isso. Era tão divertido irritá-lo.
Eu entrei no elevador, mas assim que as portas estavam prestes a
se fechar, eu vi um homem correndo para pegá-lo, então eu segurei a
porta. Ele estava puxando uma mala grande em cada mão, uma com
uma mala menor oscilando em cima dela. Sua cabeça estava inclinada
em um ângulo de quase noventa graus enquanto ele lutava para manter
um celular colado entre a orelha e o ombro. As malas balançavam de um
lado para o outro nas rodas, e eu podia prever uma queda no futuro
próximo.

Ele se atrapalhou com sua carga como um palhaço de circo


malabarista, e sua aparência surpreendente promovia a ilusão. Cabelos
castanhos desgrenhados emolduravam um conjunto refinado de traços
faciais, e olhos azuis brilhantes disparavam freneticamente atrás de um
par de óculos de tartaruga enquanto ele lutava. Sua camisa de botão, que
continha um padrão colorido de peixe Koi27, não combinava nem um
pouco com sua calça xadrez estilo anos setenta. Ele era brilhante,
emitindo uma vibração enérgica que era impossível ignorar.

Não havia porteiros à vista, então, quando ele começou a


atravessar o limiar, estendi a mão e o aliviei da mala grande com a
menor equilibrada em cima. Ele me lançou um olhar agradecido.

—Precisamos continuar trabalhando com o medo do sucesso. —


Ele disse em seu telefone enquanto as portas se fechavam. Ele passou a
mão livre pelos cachos selvagens e estalou o pescoço. —Eu acredito que
sua recente incapacidade de terminar uma pintura está diretamente

27
Os peixes Koi são as carpas ornamentais coloridas originarias do Japão. Esses peixes são
um símbolo comum da cultura japonesa e chinesa.
relacionada à pressão de finalmente conseguir um patrocinador, e se ele
não me deixar ajudá-lo, ele vai gastar e falir. —Ele fez uma pausa,
ouvindo uma voz no outro fim da linha. —Isso não é incomum. Muitas
pessoas tentam parar quando se sentem perto de um avanço. Basta levá-
lo para a nossa próxima sessão, mesmo que você tenha que arrastá-lo
chutando e gritando.

O elevador parou no chão do homem e as portas se abriram. A essa


altura, fiquei fascinado com a conversa, então fiz sinal para ele ir e segui
com as duas malas.

Ele deu outro olhar apreciativo e fez um rápido agradecimento. No


meio do corredor, ele disse:

—Eu posso ajudá-lo. Apenas confie em mim e leve-o para a sessão.

Ele desligou e enfiou o telefone no bolso, depois se virou para mim.

—Muito obrigado. —Ele disse. —Eu realmente preciso investir em


um fone de ouvido bluetooth. Qual o seu nome?

—Jamie. —Eu disse. —Então você está fazendo terapia com um


cara para superar o medo do sucesso?

—Sim. Eu odeio ver pessoas se machucando sem razão. Este


homem é um grande artista, mas de repente ele começou a hesitar. Não
há problema, no entanto. Se ele vier falar comigo, eu posso ajudá-lo.

O cara parou em frente a uma porta, tirou um cartão-chave e abriu


o quarto de hotel recentemente limpo.
—Obrigado novamente por me ajudar. Irei falar para a maior
multidão que já tive, e tenho medo de ter trazido muitas opções de
roupas. Eu costumo empacotar isqueiro.

—Sem problemas. Eu estava realmente querendo falar sobre algo.

—Sim? —Seus olhos azuis se arregalaram.

—Meu namorado tem tido alguns problemas. Eu tentei convencê-


lo a ver alguém, mas ele é teimoso. Quando te ouvi no telefone, pensei
que talvez pudesse ajudar. E talvez tenha sido o destino. Quais são as
chances de nos encontrarmos em um elevador apenas alguns minutos
depois de eu ter conversado sobre terapia com meu namorado?
Estranho, certo?

—Então você acredita em sinais? —Ele perguntou, seus olhos


dançando atrás dos óculos.

-Claro, por que não?

Ele abriu a porta mais larga.

—Você gostaria de entrar e me contar um pouco sobre o problema


do seu namorado? Eu provavelmente posso ajudar, mas preciso saber
com o que estaria lidando.

Eu o segui para dentro, coloquei suas malas perto do armário e


peguei uma das duas cadeiras perto da janela.

—Ele tem um passado conturbado, para dizer o mínimo, mas acho


que ele é bastante normal, considerando tudo o que ele passou. É só que
tem havido muito drama ultimamente. O tio que o criou morreu
recentemente. —Fiz uma pausa aqui, sentindo a culpa tomar conta de
mim sobre o que eu estava deixando de dizer. —Meu namorado herdou
a fortuna do seu tio e um negócio para administrar, e parece que tudo
está o atingindo. Ele tem muito estresse sobre ele agora, e eu posso dizer
que algo está errado com ele. Ele nega, é claro, mas eu posso sentir isso.

O homem sentou-se na cadeira à minha frente e me entregou um


cartão de visita tie-dye28, no qual eu reprimi uma risada.

—Meu nome é Mason Key. —Ele falou. —Eu ficaria feliz em


conversar com seu namorado. Ele está ficando aqui com você agora? Se
não, uma consulta por telefone seria boa.

—Oh, eu não estou ficando aqui. —Eu disse. —Eu moro aqui.

—No hotel? —Ele perguntou, surpreso.

—Sim. Eu suponho que devo esclarecer algumas coisas. Eu moro


no andar de cima na cobertura com o meu namorado, que é dono deste
hotel. Não sei quanto tempo você ficará em Vegas, mas se você pudesse
conversar com ele pessoalmente, seria ótimo.

—Claro, eu vou me encontrar com ele. Você tem meu cartão.


Apenas me ligue depois que você conversar com seu namorado, e nós
vamos marcar um horário.

Dei um suspiro de alívio. Isso foi muito fácil. Agora era só uma
questão de conseguir que Kage cooperasse.

28
É uma técnica de tingimento artístico de tecidos, também usadas em cartões, etc.
DR. KEY era um homem interessante. Cabelos selvagens, ridícula
camisa havaiana, shorts xadrez e chinelos. Seu rosto estava animado de
uma maneira que sugeria excitação quase constante por estar vivo. Eu
decidi que ele era o meu oposto em todos os sentidos.

Como Jamie tinha me convencido a me encontrar com ele estava


além de mim. Eu não queria estar em uma terapia. Eu queria estar no
meu apartamento assistindo a um filme com Jamie e Steve. Eles
estavam se divertindo enquanto eu estava sendo psicanalisado pela
milionésima vez na minha vida.

—Sr. Santori. —Dr. Key falou, apertando minha mão e inclinando


a cabeça em direção ao pequeno sofá no canto. —Receio não ter
conseguido uma de suas suítes extravagantes. É um pouco estranho
entreter o dono do hotel em um de seus quartos de hóspedes.

—Não há problema. —Eu disse, tomando o meu lugar. —Eu não


tenho muitas razões para entrar nesses quartos, então é legal ter uma
desculpa para checá-los. As acomodações são confortáveis o suficiente?
Qualquer feedback construtivo?

—O quarto é muito bom. A maioria dos quartos de hotel que


reservei em Las Vegas eram um pouco gastos. Cansados, sabe. Como se
estivessem no topo da linha quando foram construídos, mas viram dias
melhores. O Alcazar tem uma tonelada de caráter, e tudo parece bem
cuidado. Estou impressionado.

—Obrigado. Isso significa muito. —Eu mudei de posição,


secretamente esperando que a conversa pudesse continuar em modo de
segurança até que fosse hora de sair. Preferiria muito mais discutir a
condição do meu hotel do que qualquer coisa remotamente relacionada
a sentimentos.

—Você tem orgulho deste lugar, e mostra isso. —Dr. Key falou.

Dei de ombros.

—Estou trabalhando em algumas melhorias. Nós teremos um spa


em breve, e estou animado com isso, mas não posso levar o crédito por
qualquer coisa que você esteja vendo aqui agora. Meu tio era
responsável por tudo isso. Eu só assumi depois que ele morreu.

—Sinto muito pela sua perda. —Dr. Key se sentou na cadeira de


frente para mim e fixou seus expressivos olhos azuis em mim. —Deve
ter sido muito difícil se encontrar sem o homem que criou você.

—Quanto Jamie lhe contou? —Eu me senti de repente desnorteado


e até mesmo um pouco traído. —Ele já contou toda a minha história de
vida? Talvez você nem precise falar comigo. Você pode apenas julgar
com base no que Jamie lhe disse.

O Dr. Key sorriu.

—Jamie me contou muito pouco sobre você. Ele disse que você
assumiu o Alcazar depois da morte do seu tio, que te criou desde que era
um garoto, e que você é um lutador do UFC. O básico, eu acho. O que ele
queria entrar em mais detalhes era sobre seus próprios sentimentos,
especificamente suas preocupações de que a transição estava sendo um
pouco estressante para você. Ele se preocupa muito com você e é por
isso que estamos tendo essa sessão. Eu acredito que posso te ajudar,
Kage. Ajudei muitas pessoas a lidar com a vida profissional e a entender
os sentimentos conflitantes que as levam a lutar. Existem alguns
problemas emocionais universais que causam falhas previsíveis no
desempenho e sou treinado para identificar esses problemas e ajudá-lo
a lidar com eles. Por exemplo, muitas pessoas experimentam o que
chamamos de medo do sucesso. Eu sei que soa contraditório, porque
todo mundo quer ter sucesso. Mas o estresse assume muitas formas, e
tenho visto pessoas quebrarem mesmo quando estão recebendo tudo o
que sempre quiseram.

—Eu sei o que é o medo do sucesso. —Eu disse, percebendo que


soava indevidamente azedo.

O Dr. Key sorriu, sereno.

—Ah, mas saber o que é e reconhecê-lo em sua própria vida são


duas coisas diferentes. E lidar com isso de forma eficaz depois de
reconhecer isso pode ser quase impossível sem a orientação correta.
Estou aqui para ser seu amigo, Kage. Estou aqui para conversar com
você e ouvir, para ajudá-lo a identificar quaisquer problemas que você
esteja tendo e para usar minha experiência e minha posição exclusiva de
terceiros para ajudá-lo a lidar com eles. Isso é tudo. Sem bobagens, sem
segundas intenções e sem julgamento. Apenas pense em mim como um
amigo. Estamos apenas tomando uma cerveja depois do trabalho e
desabafando sobre toda a merda, e vou jogar meus dois centavos quando
sentir que tenho alguns conselhos úteis.

Eu me levantei.
—Vamos então.

O Dr. Key levantou uma sobrancelha.

—Ir aonde?

—Pegar uma cerveja. Meu deleite. Eu odeio me sentir como se eu


estivesse em terapia. Como se eu fosse algum inseto que você está
estudando sob um microscópio. Eu tive isso toda a minha vida, e estou
farto disso.

O Dr. Key se levantou e sorriu brilhantemente.

—Parece ótimo. Mas se formos amigos, estou pagando pelo menos


uma rodada.

Levei o Dr. Key para o saguão e encontrei uma mesa mais isolada
no canto de trás. Havia dois casais sentados lá, mas eu compensei uma
rodada de bebidas em troca de se mudarem para outra mesa. Se eu fosse
falar sobre o meu negócio privado, precisávamos do lugar mais privado
disponível. Pedi duas cervejas para nós e, enquanto estávamos sentados
esperando por elas, o Dr. Key tomou as rédeas de volta.

—Então, conte-me um pouco sobre sua luta. Eu tenho que admitir


que não sei muito sobre o UFC, mas eu te procurei online. Muito
impressionante.

—Obrigado. Eu treinei praticamente toda a minha vida para


chegar onde estou. Eu planejo ter um cinturão dentro de um ano.

—Talento e confiança. Esses irão percorrer um longo caminho


para alcançar seus objetivos.

Eu ri.
—O que mais há?

—Bem, há motivação, que você também parece ter. Mas, como eu


disse anteriormente, há fatores que podem paralisar até mesmo os
indivíduos mais talentosos, confiantes e motivados. O medo é uma
dessas coisas. E antes de você venha todo grande lutador mal para cima
de mim e diga que não tem medo de nada, você precisa entender algo
sobre o medo. Não é necessariamente estar com medo que o bicho-
papão saia do seu armário se você fechar os olhos, e também não se
preocupar com alguém que vai te bater no ringue.

—O Octógono. —Eu corrigi. —E não, não tenho medo que alguém


me bata.

—Exatamente. Isso seria mais um medo do tipo falha. Só pelo


pouco que Jamie me contou e por falar com você, eu definitivamente
não acho que você sofra de medo do fracasso. Pelo menos não no ringue.
Ele sorriu. —Eu quero dizer o Octógono.

—Então do que você acha que eu tenho medo? Me esclareça.

O barman levou nossas cervejas até a mesa, e o Dr. Key agradeceu-


lhe antes de dar um longo e pensativo gole.

—É por isso que precisamos conversar mais. É óbvio para mim que
você tem alguns problemas subjacentes que estão fazendo com que
Jamie se preocupe com você.

Eu tomei metade da minha cerveja e coloquei suavemente sobre a


mesa.

—Ele acha que eu sou fraco.


—De modo nenhum. Ele me disse que você é o homem mais forte
que ele já conheceu, mas que você tende a manter as coisas engarrafadas
dentro.

—Ele acha que eu preciso de terapia porque não posso lidar com
um pouco de estresse no trabalho. Sim, eu precisava de terapia antes
para lidar com o que aconteceu com o meu irmão. —Eu ri. —E então eu
precisei de terapia para lidar com o que aconteceu na terapia. Mas estou
bem agora. Eu sou mais forte.

—Mas não estamos falando de força, Kage. Estamos falando de


você precisar falar sobre algo que está incomodando você. Mesmo as
pessoas mais fortes precisam tirar as coisas do peito às vezes, para
confiar em alguém em quem podem confiar. Deixe-me ser essa pessoa.

Eu pensei por um momento, pesando minhas opções. Se eu não


fizesse algum tipo de terapia, Jamie nunca me deixaria ouvir o final.
Inferno, eu sabia que ele estava genuinamente preocupado comigo, e
aborrecê-lo era a última coisa que eu queria fazer.

Mas havia algo mais que me fez cogitar a ideia. Eu gostei do Dr.
Key. Ele parecia um homem gentil e inteligente, e ele estava certo. Eu
precisava de alguém para conversar sobre a merda que estava
acontecendo na minha vida. Eu não poderia ser aberto com Jamie sobre
isso. Ele se preocuparia, ficaria com nojo de mim e partiria, e eu não
estava disposto a viver com nenhuma dessas coisas. Isso deixou o Dr.
Key.

—Tudo bem. —Eu disse. —Nós vamos fazer isso, em uma base
experimental no começo. Mas eu tenho regras.

—Vamos ouvir suas regras. —Dr. Key disse, bebendo sua bebida.
—Primeiro, faremos assim sempre. Como amigos. Não vou me
sentar em um sofá e ser tratado como um paciente. Nós saímos, nos
divertimos e conversamos.

—Soa bem para mim. —Dr. Key falou. —Na verdade, soa melhor
do que bom. Parece divertido. O que mais?

—Eu compartilho o que quero compartilhar. Eu não quero que


você tente me manipular para derramar minhas entranhas. Se eu quiser
seu conselho sobre um assunto, vou pedir. Caso contrário, está fora da
mesa.

—É justo. —Ele disse. —Eu posso fazer isso. Algo mais?

—Se você não mora na cidade, fica aqui no Alcazar enquanto


trabalha para mim. Você estará na equipe.

O Dr. Key franziu a testa.

—Oh, não sei se isso funcionará para mim. Eu tenho outras


obrigações. Pessoas que vejo.

—Eu tenho muito dinheiro, Dr. Key. Mais do que sei o que fazer,
honestamente. Se você tem outras pessoas que precisa ver, não me
importo de fazer isso daqui. A única coisa que peço é que você me faça
uma prioridade. Eu não sou muito exigente, e estou disposto a trabalhar
em torno de sua agenda dentro da razão. Vou lhe fornecer uma suíte
para morar e um pequeno salário para estar de prontidão para mim.
Você pode ver seus outros pacientes ao lado. Mas, Dr. Key ... se eu ligar
para você com uma emergência, espero que você me veja.

O Dr. Key esfregou o polegar no lábio inferior, pensando.


—Essa é uma oferta difícil de recusar.

—Então não recuse. Você e Jamie vieram até mim com isso,
lembra? Só estou contando meus termos.

O Dr. Key assentiu.

—Ok, Kage. Eu vou fazer isso. Em uma base experimental.

—Absolutamente. Se não funcionar para nenhum de nós, vamos


nos separar sem ressentimentos. Concorda? —Eu estendi minha mão.

—Concordo. —Ele apertou minha mão, e foi isso.

Depois que nos separamos, fiquei surpreso ao descobrir que me


sentia melhor. Nós não tínhamos realmente discutido nada importante
ainda, mas era libertador falar com alguém que não tinha a pele neste
jogo perverso que era a minha vida. Talvez essa coisa de terapeuta fosse
uma boa ideia, apesar de tudo, mas não pude deixar de imaginar o que
aconteceria quando meu novo amigo soubesse da verdadeira natureza
dos meus problemas.

—Ei, eu preciso de um favor. —Eu disse a Steve quando passei pela


recepção.

—Ok, mas vai custar-lhe. —Steve falou em sua voz cantante. Ele se
inclinou sobre a mesa e estudou as unhas, esperando que eu mordesse
a isca.

—Que tal você fazer isso por mim, e eu deixo você manter seu
emprego?

—Parece perfeito. —Ele disse. —O que posso fazer por você?


—Eu tenho um novo terapeuta, e ele vai ficar aqui por um tempo.
Preciso que você arranje para ele uma suíte e coloque-o com um cartão
de jantar grátis.

—Bastardo sortudo. —Ele disse. —Que tal álcool e jogos de azar?

—Deixe-o pagar por esses com seu próprio dinheiro. A última


coisa de que preciso é um adicto como um terapeuta.

—Bom ponto. —Ele bateu no teclado do computador, mas ele


manteve um sorriso malicioso no rosto o tempo todo.

—Do que você está sorrindo, Steve?

—Nada. —Ele falou. —Eu só acho fofo.

—O que é fofo?

—Você e Jamie. Ele conseguiu o que queria, não foi? —Quando não
respondi, ele continuou. —Quero dizer, ele queria que você conseguisse
um terapeuta, e agora você tem um.

—Você está prestes a me irritar, Steve. —Eu disse, apenas


levemente irritado.

—O que? Eu acho que é adorável. Adoro te ver assim, Kage. Você


é tão duro, malvado, letal, angustiado, gostoso... —Ele olhou para mim
e suspirou. —Bem, você sabe como você é. E aqui vem o pequeno Jamie,
querido do Sul com seus lábios beijáveis e seu lindo rosto e seu
deslumbrante, apertado... —Ele fez uma pausa para fazer movimentos
de apertar com as mãos, como se estivesse pegando um punhado duplo
do traseiro do meu namorado.
—Existe algum ponto em que você está tentando chegar, ou você
está apenas tentando me fazer te machucar?

Steve riu.

—Claro. Meu ponto é que você é chicoteado29, e eu amo isso. Você


precisa de mais alguma coisa para o Dr. Key? —Ele olhou para mim com
olhos inocentes e piscando.

Eu lutei contra o desejo de estrangulá-lo.

—Não, isso é tudo. —Afastei-me em direção aos elevadores, mas


me virei de volta no último segundo. —E mantenha suas mãos longe do
traseiro do Jamie.

Steve ergueu as sobrancelhas perfeitamente feitas.

—Eu realmente não toquei, Kage. Isso foi uma... —Ele apertou o ar
novamente enquanto procurava pela palavra certa. —Uma ilustração
dramática.

—Bem, não faça isso de novo.

Eu ouvi Steve rindo quando a porta do elevador se fechou. Filho


da puta atrevido. Ele ficou ainda pior desde que eu me tornei seu chefe,
e seu parceiro no crime apenas encorajava isso. Quando os dois se
juntavam, era um circo de insinuações. Eles se alimentam um do outro.
Era enlouquecedor, mas eu não podia dizer não a nenhum deles.

Steve estava certo, no entanto. Eu fui chicoteado porra.

29
Sendo completamente controlado por sua namorada ou namorado ... na maioria dos casos, um
cara sendo completamente controlado por sua namorada
Felizmente, essa era a menor das minhas preocupações. Eu tinha
um plano para tentar limpar o meu negócio, e eu teria que fazer uma
visita ao Scepter Hotel amanhã. Não era uma viagem pela qual eu estava
ansioso, mas minha conversa com o Dr. Key havia inexplicavelmente
reforçado minha confiança. Talvez as coisas estivessem começando a
olhar para cima.
EU ESPERAVA que Theodore Brown fosse um tipo nerd de

gerente de hotel, mas o homem que me cumprimentou na entrada do


Scepter fez com que eu desse uma outra olhada. Ele era alto e magro em
um terno azul escuro bem ajustado. A juba arrebatadora de cabelo loiro
caía sobre as omoplatas, atravessado por fitas de prata que se
misturavam tão perfeitamente que eram indetectáveis à distância.

—Pequeno Santori. —Ele disse, estendendo a mão estreita para eu


apertar.

Relógio de ouro grosso. Unhas polidas. Nenhum anel de


casamento.

—Sr. Castanho. Obrigado por me ver hoje.

—Oh, me chame de Theo. Todo mundo faz. —Ele deu um sorriso


fácil, revelando dentes que estavam retos, exceto por um incisivo
renegado que parecia ter uma mente própria. —Faz muito tempo, não
é? Pena que temos que nos reencontrar sob circunstâncias tão
desconfortáveis. —Ao meu olhar confuso, ele acrescentou: —Você não se
lembra de mim, não é?

Eu procurei a minha memória e veio com um espaço em branco.


—Não, receio não.

Ele saiu do meu caminho e gesticulou para eu entrar no hotel que


agora possuía, mas nunca tinha colocado os pés. Era bom. Não tão
elegante quanto o Alcazar, mas tinha um charme modesto.

Theo me conduziu pelo vestíbulo vazio, para um grande escritório


situado atrás da recepção e por um corredor. Uma escrivaninha de
madeira burl dominava o espaço, suas grossas linhas masculinas em
oposição ao seu dono magro. Ele deslizou atrás da mesa e indicou uma
cadeira posicionada diretamente na frente dele.

—Sente-se, pequeno Santori. Temos muita coisa para fazer. —Ele


escreveu uma mensagem de texto rápida e colocou o telefone na mesa
antes de continuar. —Eu estava pensando em quanto tempo você levaria
para aparecer na minha porta. Após a morte do seu tio, as coisas ficaram
confusas para todos. Eu queria ir até você, mas no final decidi esperar e
deixar você me encontrar sozinho. E agora, aqui está você.

—Estou com medo de estar em desvantagem, Theo. Você parece


me conhecer, mas não consigo lembrar onde nos conhecemos.

Ele riu.

—Você era muito novo na última vez que nos falamos. Dez ou onze,
talvez doze. Peter e eu voltamos. Acredite ou não, ele nem sempre foi o
cara todo o negócio que você sabia que ele era. Ele teve uma vida social
uma vez. —Ele parecia melancólico, como se talvez sentisse falta
daqueles dias.

—Não consigo imaginar meu tio tendo uma vida social. Vocês
eram ... amigos?
—De volta ao dia, éramos inseparáveis. Até me lembro do dia em
que você e seu pai chegaram ao Alcazar.

—E meu irmão, Evan? —Minha língua ficou grossa com as


palavras que eu não esperava sair.

—Ele deu um sorriso triste. —E seu irmão. Sinto muito pelo que
aconteceu com ele.

—Como ele era? —Perguntei, sentindo lamentável ter que


perguntar a um estranho sobre meu próprio irmão.

—Ele era criança, igual a você. Eu gostaria de ter mais detalhes


para você, mas eu acho que eu estava mais interessado no uísque e
dançarinas de Vegas do que em um par de garotinhos brincando de fugir
e correndo em círculos ao redor dos pés de Peter. Lembro-me que vocês
dois adoravam brincar com caminhões. —Theo riu, seus olhos se
distanciando enquanto ele se perdia na memória. —Peter ficava
chateado com vocês garotos correndo com os caminhões pelos
corredores e fazendo uma algazarra. Vocês vão expulsar os convidados,
ele dizia, mas ele não fazia vocês pararem de fazer isso. Ele
simplesmente não estava acostumado a ter filhos pequenos por perto,
só isso.

Achei que o relato da lembrança estava um pouco quente demais,


pintando Santori como uma figura paterna rabugenta, mas benevolente.
Eu não compartilhei minha opinião com ele, no entanto. Era melhor
apenas pressionar e tentar obter o máximo de informação possível,
agora que estava falando com alguém que tinha alguma idéia da infância
que eu mal conseguia lembrar.
—Que tal meu pai? Meu tio nunca falou muito sobre ele. Ele esteve
... —Parei, com medo de ser decepcionado de novo, depois encontrei
minha determinação. —Você sabe se ele já esteve no exército?

—Não, definitivamente não. Seu pai era do tipo trapaceiro de rua.


Ele não foi disciplinado o suficiente para estar no exército. Eu podia ver
Bobby indo contra alguns instrutores de broca imbecil. Ele teria chorado
ou dito para irem se foder. Não tenho certeza, no entanto. Bobby era
difícil de entender. —Ele fez uma pausa, estudando meu rosto. —Lhe
incomoda que ele não esteve no exército?

—Isso me incomoda um pouco, mas só porque era uma das poucas


coisas que eu achava que sabia sobre meu pai. Como se revelou falso, sei
menos ainda. —Passei a mão pelos cabelos, sentindo-me impotente. —
É como se minhas memórias tivessem sumido. Eu gostaria de poder
lembrar mais.

—Alguns pais não valem a pena lembrar. —Theo falou. —Não


falando do seu, especificamente. Eu sinceramente não o conhecia muito
bem. Mas não acho que tenha passado um dia que Peter desejasse poder
esquecer o pai. Que pedaço de trabalho.

Lembrei-me de todas as vezes em que meu tio se vangloriou de sua


criação estelar e zombou da linhagem inferior de meu pai.

—Santori disse que seu pai era um homem forte que cuidava de
sua família. Ele disse que meu pai veio do lixo.

—Ele fez isso? —Theo não tentou esconder sua surpresa. Ele
meditou por um momento, depois encolheu os ombros. —Talvez ele não
estivesse falando do seu pai.
—O que você quer dizer? —Perguntei, confuso. —Ele foi adotado
ou algo assim?

—Não. —Theo falou sacudindo a cabeça. —Eu só queria dizer...


quanto você sabe da vida do seu tio?

—Não muito, provavelmente. Ele só parecia falar sobre seu


passado quando estava tentando me dizer o quanto meu pai era uma
merda. —A amargura atava minhas palavras apesar de minhas
tentativas de permanecer neutro. Considerando como eu me sentia
sobre Santori, era inevitável.

Theo levantou-se e foi até um armário pesado e abriu a porta,


tirando uma garrafa com um líquido cor de âmbar. Havia um pequeno
refrigerador escondido na parte inferior do armário, e ele removeu uma
bandeja de gelo e começou a preparar bebidas.

—Essa garrafa de Macallen de quarenta anos foi um presente do


seu tio no último Natal. Eu acho que esta é uma ocasião perfeita para
finalmente se abrir, não é? —Ele riu. —Hey, acabei de perceber que essa
coisa é mais antiga que você.

—E provavelmente vale mais. —Eu disse.


—Mais do que você e eu juntos. —Theo riu. —Se você acreditasse nas
coisas que meus professores disseram sobre mim na escola, eu não valho
nada. Nunca pensei que eu chegaria a nada, mas olhe para mim agora.

Ele me entregou um dos copos de uísque e sentou-se na minha


frente novamente, tomando um gole e saboreando o sabor com os olhos
fechados. Então ele pareceu lembrar do que estávamos falando.
—Seu pai era muito diferente do seu tio. Ele era taciturno e
retraído onde Peter era... Bem, você sabe como ele era. Ele tinha um
carisma estranho. Seu pai, por outro lado, parecia espancado. Como um
lutador que está sem força, e tudo o que ele poderia fazer é ficar parado
e apanhar até o juiz terminar a luta.

—Sim. —Eu disse distraidamente, porque o que mais eu poderia


dizer? Eu me sentia tão triste pelo meu pai. Eu gostaria de poder voltar
no tempo e dar-lhe um abraço.

—Olhe. —Ele continuou. —Eu sei que provavelmente não é o que


você esperava ouvir, mas é apenas minha opinião sobre ele. Pelo que eu
entendi, ele tinha passado por muito com sua mãe e estava lutando para
superar o dano que sua perda causou. Quando ele apareceu na porta do
Peter com vocês dois meninos no reboque, acho que esse foi seu último
esforço para fazer uma boa vida para você. Seu orgulho estava
claramente abalado por ter que pedir ajuda, mas seu tio estava em
condições de fornecer onde ele não estava. —Ele tomou outro gole de
uísque. —Não estou tentando sujar sua opinião sobre seu pai. Você é
feito dos mesmos genes, afinal de contas, e veja como você saiu. Prova
de que as circunstâncias fazem o homem, sim?

—Claro, eu acho. —Eu engoli o resto do meu uísque e coloquei o


copo vazio na mesa, o gelo tilintando nas laterais do vidro.
Tentei esconder minhas emoções de Theo, embora provavelmente fosse
inútil. Emoções fortes que tinham uma maneira de se mostrar através.
Mas eu odiava ouvi-lo falar sobre o meu pai desse jeito. Eu amava meu
pai.

Eu não conseguia me lembrar muito sobre ele, apenas pedaços e


partes, mas mesmo sabendo que ele poderia ter me abandonado, não
abalou minha certeza de que ele era digno do meu amor. O medo de que
Santori poderia ter feito algo ruim para ele só fortaleceu meus
sentimentos.

Theo levantou-se e pegou meu copo vazio, tirou um lenço lavanda


do bolso e limpou o leve anel de umidade que havia deixado na
superfície da mesa.

—Reabastecer?

—Não, obrigado. Estou dirigindo.

—Um Santori consciente. Interessante. — Ele me estudou com


seus olhos castanhos astutos. —Tenho que dizer que é o primeiro para
mim.

—Não sou tão consciente. —Falei para ele. —Mas estou tentando
fazer melhor.

—No nosso negócio, a consciência não é necessariamente uma


vantagem. —Ele disse. —Peter teria sido o primeiro a lhe dizer isso.

—Bem, é mais ou menos sobre isso que eu vim conversar com


você. —Eu me contorci em meu lugar, não ansioso para decepcionar um
homem que trabalhara para o meu tio há anos. Um homem que
claramente considerava Peter Santori um amigo. —Desde que assumi o
comando da empresa, percebi que havia algumas coisas questionáveis
acontecendo sob o radar. Estou me preparando para fazer uma pequena
limpeza na casa, se você sabe o que quero dizer. Eu não estou te
acusando de nada, e você não vai perder o seu trabalho.

—Não tenho certeza se entendi. —Ele falou, com os olhos


cautelosos.
—Você vai ficar com a empresa que faz o mesmo salário que você
faz agora, mas pode haver algumas mudanças. É uma estipulação na
vontade do meu tio que eu não possa vender qualquer parte da
propriedade por um par de anos, mas eu estou pensando em alugar esta
propriedade e trazer você e qualquer um que você queira manter para o
Alcazar. Eu preciso ficar de olho em tudo, e não posso fazer quando as
coisas estão tão espalhadas. Vou fechar a galeria de arte e os estábulos,
mas também vou trabalhar muito para construir o Alcazar. Eu já tenho
algumas pessoas influentes me ajudando a reservar convenções e
retiros. Grandes coisas estão chegando. Há esta altura no próximo ano,
não haverá um quarto vazio no local. As pessoas terão que reservar com
seis meses de antecedência para passar pela porta da frente.

Parei de falar por tempo suficiente para recuperar o fôlego e ver


como Theo ia receber a notícia. Eu imaginei que este seria o momento
da verdade, quando eu descobriria se ele era mais do que apenas um
gerente de hotel e se ele sabia alguma coisa sobre a verdadeira natureza
dos negócios do meu tio.

No começo ele não disse uma palavra. Apenas ficou sentado lá


contemplando como uma estátua de pedra. Mas depois de alguns
minutos desajeitados, ele se inclinou para frente em sua cadeira e juntou
os dedos sob o queixo.

—Então você quer que eu vá trabalhar para você no Alcazar. O que


diabos eu estaria fazendo lá?

—Bem, estou planejando demitir o gerente do cassino, para que o


trabalho seja seu, se você quiser. Ele estava ganhando muito menos
dinheiro do que você, mas, como eu disse, você não deverá ter um corte
de salário. Meu tio, obviamente, valorizava você como empregado e
amigo, e honrarei esse relacionamento.

Theo me ofereceu um sorriso sem graça.

—E você está planejando me pagar o mesmo salário que eu ganho


aqui como gerente de hotel?

—Sim. Eu verifiquei seu histórico de pagamento antes de vir, e


garanto que estou disposto a pagar o mesmo em uma nova posição.

—Eu vejo. —Ele ficou pensativo por um longo momento. Então ele
pegou seu celular e digitou uma mensagem de texto antes de falar. —Por
favor, desculpe minha grosseria. Seu tio teria me dado uma bronca por
escrever mensagens de texto em sua presença, mas ele era uma velha
escola quando se tratava de tecnologia. Ele tinha pessoas cuidando de
cada pequena coisa para ele, então ele nunca poderia entender que o
negócio continua, mesmo quando você está tentando roubar um minuto
para tomar uma bebida com um velho amigo.

Eu ri, suas palavras aliviando um pouco da tensão que havia se


acumulado dentro de mim.

—Ele odiava alguém mexendo no telefone em sua presença.


Admito que costumava fazer isso apenas para irritá-lo às vezes.

—Confie em mim, seu tio estava bem ciente do fato de que você
fazia as coisas apenas para atingi-lo. —Theo deslizou o celular no bolso
interno do paletó. —Ok, pequeno Santori. Foi bom vê-lo novamente
depois de todos esses anos. Eu adoraria sentar e conversar mais, mas
tenho uma reunião marcada e as pessoas devem chegar a qualquer
momento. Se pudéssemos continuar isso mais tarde, isso seria
maravilhoso.

—Sim, claro. Eu não queria ocupar muito do seu tempo. Eu só


queria que você soubesse das mudanças que planejei, e achei que seria
melhor se eu desse as notícias pessoalmente. Como eu disse, respeito o
relacionamento que você teve com o meu tio.

—Eu aprecio isso, Michael. —Ele se levantou e gesticulou para eu


o seguir. —Deixe-me levá-lo até a porta.

Segui Theo até a porta da frente, onde dissemos adeus mais


amistosos. Enquanto eu caminhava para a garagem, eu estava me
sentindo muito bem sobre como as coisas tinham acontecido. Eu
esperava que ele colocasse pelo menos um pouco de resistência, mas ele
estava surpreendentemente calmo sobre a coisa toda. Provavelmente
porque ele sabia que estaria recebendo o mesmo salário para ter menos
responsabilidade.

Se todas as minhas decisões de negócios sobre a grande mudança


fossem tão fáceis, eu ficaria menos estressado em pouco tempo.
Eliminando a possibilidade de ser preso por lavagem de dinheiro e
evasão fiscal e Deus sabe o que mais, seria o primeiro passo para ter a
vida que eu realmente queria para Jamie e eu.

Depois de alguns anos, eu venderia tudo o que meu tio já havia


tocado e partiria para algum país que não fosse extraditar, talvez uma
ilha, para que Jamie nunca fosse trazido pelo o assassinato do Santori.
Espero que ele não se importe de negociar sua carreira no blog por uma
vida fácil de beber piña na praia e pescar ou algo assim. Inferno, eu não
sabia o que as pessoas faziam quando viviam em ilhas e não tinham
responsabilidades, mas eu estava ansioso para descobrir.

Jamie tinha aturado muita merda minha recentemente, e eu


precisava compensá-lo. Agora que tomei a decisão de limpar o negócio,
achei que devíamos comemorar com um bom jantar seguido de um
passeio romântico. Eu queria segurar sua mão, olhar em seus grandes
olhos castanhos e dizer que tudo ia ficar bem. Que eu só estava
estressado com o trabalho e que isso estava prestes a mudar.

Eu queria me desculpar.

Parei meu carro e peguei meu celular para mandar uma


mensagem para Jamie e dizer-lhe para se vestir, mas ergui minha cabeça
quando ouvi uma série de quatro portas batendo uma após a outra.

Um sedan preto tinha parado a um par de espaços do meu carro,


e os ocupantes agora estavam andando em minha direção em um ritmo
alarmante. Quatro homens grandes de casacos e Ray-Bans, todos com
cerca de um metro e noventa e uns cento e treze quilos, e todos
ostentando o mesmo estilo cavanhaque e buzz cut 30 . Eles pareciam
clones saídos de Matrix, e eu teria rido deles em voz baixa se eles não
estivessem todos carregando rifles semi-automáticos.

30
Um buzz cut é qualquer um dos vários penteados curtos geralmente projetados com cortadores
elétricos.
—Posso ajudá-lo? —Perguntei. Foi puro reflexo em vez de
educação, porque maldição, eles estavam me atacando rapidamente. E
aquelas armas. Isso não poderia ser bom.

Quando eles não responderam, eu enfiei a mão no bolso para


pegar as chaves do meu carro, deixando meu celular cair no chão no
processo. Quando me atrapalhei com as teclas, tentando localizar o
botão de desbloqueio remoto, os capangas me alcançaram. Um deles
chutou meu celular na parede da garagem, quebrando-o em pedaços. Eu
não parei para avaliar os danos.

A chave do carro deslizou para fora da minha mão, e eu


instintivamente caí em uma posição de luta, pronto para fazer o máximo
de dano possível. Eu senti a adrenalina no meu sistema chutar para os
níveis de super-heróis, o tipo que permite que pessoas comuns levantem
carros. Esta ia ser a luta da minha vida, e eu não ia cair sem levar alguém
comigo.

Enquanto os capangas desciam, eu peguei o mais próximo com um


soco duro no queixo. Meus reflexos estavam acendendo rápido, e eu
agarrei o próximo cara quando o primeiro caiu, girando em torno do seu
corpo e tomando suas costas. Sua cabeça estava em minhas mãos, e
percebi com uma clareza impressionante que eu ia quebrar o pescoço
dele. Mas inferno, havia quatro deles, e os outros dois se moveram atrás
de mim.

Um deles largou sua arma e me agarrou, envolvendo seus braços


em volta de mim e me tirando do cara que eu estava prestes a matar.
Assim como meus músculos tensos para torcer e quebrar a vida fora
dele, senti o cano de uma arma colada com força na base do meu crânio.
—Faça, e será o último movimento que você já fez nesta terra. —
Uma voz falou atrás de mim. Uma voz entrelaçada com o tipo de
confiança irrefutável que só pode ser inspirada por ter uma arma na
mão.

Eu tinha cerca de dois segundos para decidir se pouparia a vida de


um homem ou se perderia a minha. Uma imagem de Jamie brilhou em
minha mente e eu soltei. Eu estava no chão antes que eu pudesse piscar,
com três armas apontadas para a minha cabeça e um bastardo pesado
sufocando a vida fora de mim.

—Ele ia quebrar meu pescoço. —Disse o que teve sorte de ainda


estar respirando. —É melhor ele orar a Deus que eu não coloque uma
bala no cérebro dele só por pensar nisso.

—Eu acho que ele é mais esperto do que isso. —Outro falou. —Ou
pelo menos eu espero que ele seja. —Ele cutucou minha costela com sua
bota pesada. —Que tal isso, Sr. Santori? Você é mais esperto que isso?

Eu não respondi, então ele me puxou e me chutou com força. Dor


queimou através das minhas costelas, e eu prendi a respiração que eu
era incapaz de deixar sair.

—Foda-se. —Eu ofeguei, sabendo instantaneamente e, sem


sombra de dúvida, que havia aço na ponta daquela bota.

—Eu acho que isso vai valer por uma resposta. —Ele disse. —Você
sabe que você fodeu, certo Sr. Santori?

—Como é isso? —Eu perguntei, capaz de falar agora que a dor


estava diminuindo um pouco. —Eu não sei do que você está falando.
Quem é Você?
Ele riu e empurrou a arma contra o meu templo.

—Eu sou o entregador. Eu tenho uma mensagem importante para


você. Você está ouvindo?

—Sim, estou ouvindo. —Eu gemi.

—Bom. —Ele manteve a arma pressionada com força na minha


testa, empurrando o outro lado do meu rosto para o chão. —Ele disse
que está ouvindo, meninos. Deem a ele a mensagem.

Um chute forte me pegou quase no mesmo lugar, e ouvi um estalo


audível. Meu estômago revirou e a bílis subiu pela minha garganta como
uma maré amarga. Então mais chutes começaram a chover em mim, no
meu peito, meus braços, minhas coxas, minhas costas, minha virilha.
Então, muitos chutes, cada um me lembrando que o aço não dá.

Depois disso tudo foi um borrão de dor e uma raiva tão forte que
era palpável. E vergonha. Essa foi a pior parte. Porque caramba, eu não
deveria estar deitado no chão recebendo a merda expulsa de mim. Eu
deveria estar no caminho para levar meu namorado para jantar.

Em todo o meu treinamento, nunca me ocorrera que ser capaz de


vencer qualquer homem em combate corpo-a-corpo talvez não bastasse.
Que um dia eu estaria no lado errado de uma arma e teria que deixar
alguém me despedaçar até que eu não conseguisse respirar, não pudesse
falar, não pudesse revidar.

Era humilhante e nunca me senti tão indefeso. Quando meu tio


me drogou, eu pelo menos tive o luxo de uma mente nebulosa. Sabendo
o que estava acontecendo e não sendo capaz de fazer uma coisa sobre
isso era um milhão de vezes pior. Mas eu não podia morrer. Agora não.
Não quando eu tinha alguém contando comigo para viver. Então eu tive
que lutar contra todos os instintos dentro de mim que gritavam por mim
para lutar e para fazer aqueles filhos da puta de bico de aço pagarem.

Pela primeira vez em minha vida, tive que fazer a escolha


consciente de perder, e essa decisão quebrou algo dentro de mim que
era muito mais sério do que uma costela ou duas.

Em algum momento perto do começo do ataque, ouvi o


entregador, aquele com a arma na minha cabeça, dizer aos outros para
pegarem um pouco mais leve comigo.

—Relaxem as botas. —Ele falou. —Nós não o queremos morto.


Esta é uma entrega, não um acerto.

Por alguns segundos, pensei que era minha graça salvadora. O fato
de que eles realmente não queriam que eu morresse significava que o
entregador provavelmente não seria muito apressado em puxar o
gatilho, mas eu não podia contar com isso. Eu não podia arriscar a morte
instantânea por um palpite.

Tudo acabaria logo, de qualquer maneira. Eles estavam se


segurando. Eles não me queriam morto. Se eu pudesse apenas aguentar
por mais algum tempo, eu teria que arrastar meu corpo quebrado de
volta para casa, de volta para Jamie, que iria beijá-lo e fazer tudo
melhor. Então eu poderia formular um plano para me vingar.

Ninguém havia dito de quem era a mensagem, mas eu não


precisava de um nome pronunciado em voz alta. Eu sabia exatamente
quem era. O homem que tinha acabado de sorrir para o meu rosto e
educadamente me acompanhou até a porta. O homem cujo trabalho eu
acabara de ameaçar. O homem que enviara vários textos enquanto nós
estávamos sentados bebendo o uísque obscenamente caro do meu tio.

O último pensamento coerente que tive foi ter certeza de que Theo
Brown entendeu o que estava vindo para ele. Um dia desses eu ia
pessoalmente enfiar sua mensagem em sua bunda até ele engasgar com
ela.

Quando os capangas terminaram comigo, eu não podia saber o


número de golpes que seus capangas me deram. Pela sensação disso, eu
meio que esperava olhar para baixo e descobrir que havia sido reduzido
a um pedaço ensanguentado de carne amaciada, mas tudo parecia bem.
Não havia sangue. Qualquer dano que tenha sido feito estava escondido
furtivamente sob minhas roupas.
EU ESTAVA na janela do quarto assistindo a cor cinza assumir
toda a Vegas. A chuva havia aumentado de leve chuvisco a chuva
enquanto eu estava vigiando o horizonte, apagando tudo além da grade
da varanda, e eu estava feliz. Espelhava meu humor perfeitamente.
Depois de várias horas de mensagens e telefonemas não respondidos,
Kage tinha oficialmente sumido pela primeira vez desde que eu tinha
vindo morar com ele. Minha mente tentou chegar a possíveis razões, e
todas elas eram horríveis.

O clique da porta da cobertura enquanto ela se fechava me deu


uma sacudida, e eu tive que lutar para ficar onde estava. Para não correr
para a sala de estar e fazer um burro de mim mesmo.

Com as luzes apagadas e o apartamento quieto, Kage pensou que


eu não estava em casa, e um som assustado saiu dele quando ele entrou
no quarto e me encontrou em pé lá.

—Porra, Jamie. —Ele respirou. —Você me assustou. O que você


está fazendo aqui?

—Eu moro aqui. —Eu disse sem me virar, tentando acalmar o


ritmo de corrida no meu peito. —Onde você estava?

—Eu dei um passeio. —Ele falou, e eu podia ouvir a porra da


mentira em sua voz. —Eu precisava relaxar um pouco, mas...
Jesus, ele não podia sequer chegar a uma mentira convincente?
Ele nem estava tentando, e de alguma forma isso piorou ainda mais. Eu
era tão insignificante que ele nem sequer considerou a necessidade de
uma desculpa?

Eu não podia me virar e olhar para ele. Não o ver era a única coisa
que me mantinha são. Eu sabia que se eu colocasse meus olhos nele, o
desejo desesperado de ter sua atenção chegaria à superfície, e eu não
seria capaz de parar as palavras. As palavras carentes que me
rebaixariam em seus olhos.

—Você foi pego na chuva? —Eu perguntei em um tom monótono,


não me importando com a resposta.

—Por que você não olha para mim e vê por si mesmo? —Ele
perguntou. —Não fique de costas assim. Isso me faz sentir horrível.

—Talvez não ter atendido minhas ligações e textos é o que está


fazendo você se sentir horrível.

Droga, eu tinha dito isso. A última coisa que eu queria fazer era
parecer fraco, mas no final eu não pude resistir a ser irônico por ele ter
me machucado.

—Eu não estou com meu telefone, Jamie. Eu não sabia que você
estava tentando entrar em contato comigo. Sinto muito. —Ele veio atrás
de mim, tão perto que eu podia senti-lo, mesmo que não tivesse captado
o reflexo fantasma dele na janela. Seu rosto estava tenso e miserável.

Eu queria me virar e me inclinar contra ele, envolver meus braços


ao redor dele e deixá-lo me convencer de que tudo estava bem, mas eu
sabia que ele não podia. Isso não seria uma solução fácil, e sua expressão
miserável me dizia que ele também sabia disso. Se tivesse sido apenas
uma questão de perder o telefone ou ficar tão ocupado, ele não teria
tempo para se apresentar, teria sido simples.

Mas havia uma subcorrente escura em tudo ultimamente, uma


sensação de mau presságio de que eu não conseguia me livrar, não
importava o quanto tentasse racionalizar as coisas, e todas as tentativas
que fiz para dissipá-la e nos aproximar pioraram as coisas. O fato era
que algo estava muito errado entre nós, e parecia que não havia nada
que eu pudesse fazer além de nos assistir quebrar e queimar.

—Jamie, por favor, não seja assim. Eu queria voltar para você.
Acredite, eu preferiria estar aqui jantando com você do que onde eu
estava. É... —O reflexo dele desviou o olhar, como se procurasse quanto
da verdade ele poderia dizer. —As coisas não estão indo bem para mim
agora.

Eu cruzei meus braços e fiquei de costas para ele.

—Sim, bem, as coisas não estão ótimas para mim também. Eu


sinto que me mudei para longe da minha família e amigos apenas para
ficar sozinho. A verdade é que estou começando a me perguntar para
que serve tudo isso. —Fiz uma pausa, trabalhando na coragem de fazer
a próxima pergunta. —Por que você me pediu para vir aqui, Kage?

Ele estendeu a mão e tocou meu braço, envolveu seus dedos ao


redor do meu bíceps e tentou me virar, mas eu não estava tendo nada
disso. Sacudi a mão do meu braço e, no processo, lhe dei uma cotovelada
nas costelas.
Ele respirou fundo e grunhiu como se eu tivesse acabado de bater
nele com todas as minhas forças. Isso chamou minha atenção e eu me
virei para encará-lo.

—Eu sinto muito. Eu não queria te bater tão forte. Você está bem?

Sua expressão era de dor, e ele se inclinou para a frente na cintura,


uma mão em sua caixa torácica.

—Estou bem. —Ele sussurrou. —Não é sua culpa. Você não fez
nada.

—O que há de errado com você? —Eu abaixei a cabeça, tentando


chamar sua atenção. —Kage, me diga o que está errado.

Estendi a mão timidamente para tocar o local em que ele estava


segurando e ele saiu do meu alcance.

—Eu fui assaltado. —Ele falou, estremecendo. —Eles deram alguns


bons golpes, quebraram meu telefone. Eu realmente não queria contar
a você.

—Meu Deus. Deixe-me ver o dano. Eles quebraram uma costela ou


algo assim?

Kage ficou em pé com algum esforço e tentou dar um sorriso.

—Estou bem, querido. Não é nada para você se preocupar. Eu


estava com vergonha de falar sobre isso.

—Por que você ficaria envergonhado por ter sido pego? Isso
poderia acontecer com qualquer um.
—Não comigo. —Ele rosnou. —É fodidamente humilhante. Cada
um desses idiotas deveria estar no hospital agora, e eles estariam se...

—Se o que?

—Se eles não tivessem armas. Eu não pude lutar contra eles,
Jamie. Eu só pude ficar lá e apanhar.

—Armas? Jesus, eles poderiam ter te matado.

Ele riu e estremeceu novamente com a dor que causou em suas


costelas.

—Eles não queriam me matar. Eles só queriam algo de mim e


sabiam como conseguir.

—Eles pegaram seu cartão? Você ligou para a polícia?

—Não vale a pena. —Ele disse. —Eu cancelei o cartão, então está
tudo bem. Vou pegar um novo no correio.

—Mas a polícia deveria saber. Talvez eles possam encontrar esses


bandidos e tirá-los das ruas antes que eles façam isso para qualquer
outra pessoa.

Kage acenou com a mão, como se descartasse minha ideia tola de


tornar as ruas de Las Vegas mais seguras.

—Eu vou tomar um banho e tirar essa sujeira de mim. Você pode
apenas encontrar um filme para nós ou algo assim? Eu só quero ficar
limpo e relaxar com você na cama, se você não se importar.

—Certo. Claro. Alguma preferência para o filme?

Ele pegou uma toalha limpa do armário de roupas de cama e riu.


—Nada com armas ou luta.

Quando ele saiu do chuveiro, eu estava deitado nu na cama no


semiescuro, o quarto iluminado apenas pelo brilho do LCD. Uma
comédia estava pausada na tela. Kage correu para o armário e voltou
completamente vestido com uma camiseta de manga comprida e calças
largas de pijama.

—Eu me sinto um pouco malvestido. —Eu disse. —Achei que talvez


pudéssemos ficar nus enquanto assistíamos ao filme e, quando tudo
terminasse, eu poderia fazer meu homem se sentir bem depois de um
dia difícil. Você não teria que fazer nada. Eu acho que ser assaltado conta
como uma luta, e eu sei o quanto você gosta de queimar algumas calorias
depois de uma luta.

—Não realmente no humor, querido. Acontece que ter sua bunda


chutada não é tão afrodisíaco quanto chutar a bunda de outra pessoa.

Eu ri.

—Ok, mas só para você saber, eu estou pronto para levar um para
a equipe, se você mudar de ideia.

Kage subiu na cama e se colocou debaixo das cobertas, apoiando


vários travesseiros fofos atrás do pescoço, e eu comecei o filme.

—Procurando Nemo? —Kage sorriu. —Você não queria assistir


algo um pouco menos juvenil?

—Não essa noite. Vamos apenas ser um casal de crianças e


esquecer que existe um verdadeiro mundo adulto lá fora. Está me dando
nos nervos ultimamente. Inclinei-me levemente contra seu ombro e
recuei um pouco quando ele estremeceu.
Não demorou muito para Kage cair no sono, e quando ele começou
a roncar suavemente, eu apoiei um cotovelo e o observei por um longo
tempo. Seu rosto estava tão relaxado no sono, muito mais relaxado do
que eu tinha visto em muito tempo, e eu me perguntei pela milésima vez
sob que tipo de estresse ele deveria estar ao tentar se tornar um homem
de negócios quando tudo que ele conhecia era combate.

Ele se mexeu sob meu escrutínio, choramingando como uma


criança com o movimento. Então minha curiosidade levou o melhor de
mim, e eu levantei sua camiseta o mais furtivamente que pude,
precisando ver o ponto em suas costelas que parecia estar causando
problemas. Mas quanto mais eu revelava do seu corpo, mais horrorizado
eu ficava.

Seu torso inteiro estava coberto de hematomas roxos manchados


e arranhões vermelhos raivosos. Esse tipo de lesão não parecia uma
surra. Parecia um acidente de quase morte.

Apavorado, eu levantei a banda da sua calça suavemente e espiei


para dentro, sugando uma respiração com a visão. As contusões
continuavam até onde eu podia ver.

—Tendo uma visão? —Kage perguntou em voz baixa.

Eu olhei para o rosto dele incrédulo.

—Kage, você precisa ir ao hospital. Isso não é normal.

—Esqueça o hospital. Eu vou me curar.

—Vire-se. —Eu exigi.

—Por quê?
—Vire-se e deixe-me ver suas costas. Na verdade, tire esse pijama,
Kage. Eu preciso ver o que eles fizeram com você.

Ele suspirou.

—Jamie...

—Tire-o.

Ele suspirou novamente e desceu da cama, se movendo como um


velho decrépito.

—Tudo bem. —Ele disse. —Mas antes de fazer isso, você tem que
me prometer não falar mais em hospitais ou polícia. Combinado?

—Deve ser ruim. —Eu disse.

—Isto é. Nós temos um acordo?

—Você conhece seu corpo, Kage. Se você disser que não precisa de
um hospital, vou respeitar isso. Mas você tem que me prometer algo em
troca. Eu sei que você tem muito orgulho, mas você tem que me
prometer que se você tiver alguma ideia de que você pode precisar de
um médico, você vai. Não importa o que aconteça.

—Justo o suficiente. —Ele disse, puxando a camisa


cuidadosamente sobre a cabeça, depois tirando as calças e virando-se
para que eu pudesse ter uma experiência completa de 360 graus.

Eu suspirei.

—Kage… Oh meu Deus, isso é tão ruim. Você se olhou no espelho?


Você tem alguma ideia de como isso parece? Seu corpo inteiro é um
grande hematoma. Exceto...
—Exceto o que?

—Exceto que eles não tocaram seu rosto. Eu acho que o rosto seria
o primeiro alvo da maioria das pessoas. É como se eles quisessem que
você fosse capaz de cobrir com as roupas, e isso não faz nenhum sentido.
Por que os assaltantes fariam isso? Eles te socaram?

—Não.

—Isso não parece estranho para você?

Ele encolheu os ombros e começou o processo doloroso de puxar


as roupas de volta, então pareceu decidir que era muito esforço e deixou-
as cair de volta no chão.

—Kage, responda-me. Por que os assaltantes espancariam cada


centímetro do seu corpo, mas deixariam seu rosto intacto?

—Eu não sei, Jamie. Por que você não pergunta a eles? —Ele voltou
para a cama, jogou os travesseiros extras no chão e puxou o lençol para
cobrir o corpo machucado. —O importante é que não parece haver
nenhum dano real além de uma costela quebrada ou duas. Nenhuma
dor séria em meus rins ou qualquer coisa. Agora vamos dormir, ok?
Estou exausto.

Eu me aconcheguei ao lado dele, quase sem tocá-lo. Eu não podia


suportar causar mais dor a ele, mas queria que ele me sentisse perto
dele. Para saber que eu estava lá para ele, não importa o quê.

—Eu te amo, seu idiota teimoso. —Eu sussurrei. —Você sabe disso,
certo?
—Eu sei que você faz. —Ele disse calmamente. —Tanto quanto eu
não mereço isso.
NA MANHÃ seguinte, Jamie não queria sair do meu lado.
—Eu não preciso ir trabalhar hoje. —Ele falou. —Não é como se eu
tivesse um chefe para responder.

Sentei-me na cama e gemi com a dor esmagadora que se instalou


em meus ferimentos enquanto dormia.

—Você tem um chefe para responder. —Eu disse com os dentes


cerrados.

Fingir que não estava sofrendo era inútil. Não só seria fisicamente
impossível, mas Jamie já tinha visto o dano com seus próprios olhos.
Não era como se eu estivesse enganando alguém.

—Da última vez que verifiquei, eu trabalhava como autônomo. —


Ele argumentou, estremecendo de compaixão enquanto eu visivelmente
tremia de dor.

—Eu sou seu chefe. —Eu disse, tentando o meu melhor para
parecer autoritário. —Eu não posso chicotear sua bunda agora, mas
tenho certeza que sinto vontade de fazer isso. Eu não suporto você me
tratando como um inválido, Jamie. Se você não for trabalhar, eu vou
ficar muito chateado.
—Tudo bem. —Ele falou. —Fique com o meu telefone. Eu estarei
lá embaixo, e ficarei realmente chateado se você não me ligar se precisar
de mim.

Ele estendeu o celular e eu relutantemente peguei.

—Vou ligar se precisar de você. —Prometi.

Depois que tomamos um café da manhã no serviço de quarto e


Jamie saiu para comandar seu blog no escritório que eu tinha montado
para ele, fui ao banheiro e examinei os danos que os capangas do Theo
tinham causado.

A dor era tão intensa que eu não conseguia tirar minha camisa
sobre a minha cabeça. Eu tinha certeza que eles quebraram uma costela
ou duas, mas se isso fosse o pior, eu me consideraria sortudo. Eu
levantei a camisa o mais alto que pude e engasguei com os hematomas
roxos manchando meus lados. Botas com ponta de aço. Eu deveria
matar aqueles bastardos por até pensar em me chutar com essas coisas.

O resto já era ruim o suficiente, mas não parecia tão horripilante


quanto meus lados. Pelo menos minha virilha estava intocada. Graças a
Deus pelos pequenos milagres.

Depois que eu fiquei completamente deprimido com o estado do


meu corpo, eu me arrastei até a sala de estar como um velho frágil e me
abaixei cautelosamente para o sofá. Talvez um pouco de TV ajudasse a
me distrair. Alguns remédios para dor seriam muito bons também.

Liguei para o meu médico clínico geral, a quem não via há tanto
tempo, que estava preocupado que ele tivesse se esquecido de mim. Mas
ele não tinha, e com um pouco de mendicância eu consegui uma
prescrição de Hidrocodona31 entregue. Quando chegou, a dor estava tão
forte que mal consegui tirar a tampa da garrafa. Eu engoli três
comprimidos e esperei que isso fosse o suficiente.

Quando Jamie apareceu com o almoço, eu estava jogado de volta


no sofá em um quase estupor. Eu ainda estava todo dolorido, mas os
remédios tinham entorpecido a dor e entorpecido meu cérebro o
suficiente para não me importar muito.

—Ei, querido. —Eu disse enquanto ele depositava sanduíches de


carne assada e saladas na mesa.

—Oh, ei. —Ele falou. —Eu pensei que você estava dormindo. Você
nem se mexeu quando eu entrei.

—Eu não posso me mexer. —Eu disse, minha enunciação


preguiçosa e levemente arrastada. Eu simplesmente não tinha energia
para falar.

—Você está bem? —Ele se moveu para ficar em cima de mim, o


alarme aparente em seu rosto.

—Estou bem. —Eu disse. —Tomei alguns analgésicos.

—Eu posso dizer. Você está realmente confuso, mas estou feliz que
você não esteja mais sofrendo.

—Eu ainda estou sofrendo. —Eu disse. —Eu simplesmente não


sinto isso.

31
É um narcótico oralmente ativo com propriedades analgésicas e antitússicos.
Ele riu.

—O que você tomou? Heroína?

—Não. Três comprimidos de hidrocodona. Eles são muito bons.


Você quer um?

—Eu estou bem. Mas obrigada por se oferecer para me arruinar


durante as horas de trabalho, chefe.

—Um chefe que eu sou. —Eu disse. —Você pode trazer minha
comida para cá? Eu acho que preciso colocar algo no meu estômago. Eu
me sinto um pouco doente.

—Hidrocodona me deixa doente também. Eles me deram uma vez


no dentista e quando me machuquei jogando futebol. Essa merda é
brutal. Não exagere, ok?

Eu balancei a cabeça, mas na minha mente eu estava


definitivamente planejando exagerar. Qualquer coisa para aliviar a dor
horrível que eu tinha acordado para sentir.

Quando terminamos de comer, Jamie se inclinou e me beijou nos


lábios.

—Você vai ficar bem se eu voltar a trabalhar? Você sabe que eu


posso ficar.

—Não, você vai. —Eu disse, acenando para ele. —Eu não preciso
de uma babá.

—Tudo bem. —Ele falou. —Só não tome muito daquelas coisas. Há
uma transmissão ao vivo que preciso assistir chegando às cinco, então
eu deveria estar em casa logo após as seis. E só para você saber, a única
razão pela qual não estou tirando o dia de folga é porque você não me
quer por perto.

Eu sorri, sentindo minhas pálpebras caídas.

—Eu te amo.

Ele riu.

—Eu também te amo. Vá para a cama.

Depois que ele se foi, eu deitei no sofá por um tempo. O tempo não
tinha significado, então não tenho certeza de quanto tempo passou antes
que o telefone de Jamie tocasse. Eu me arrastei de algo como o sono e
atendi, desejando instantaneamente que não tivesse entorpecido meus
sentidos com drogas.

—Kage. —Uma voz familiar disse na linha. —Sou eu, Aaron.

Sentei-me de repente, estremecendo com a dor que atingiu


minhas costelas.

—Aaron? Onde você está?

—Não importa onde eu estou. —Ele falou.

—Como você sabia que eu estava com o celular do Jamie?

—Eu não sabia. —Ele falou. —Liguei para o seu primeiro e foi
direto para o correio de voz. O que diabos está acontecendo? Um
passarinho me disse que você foi pego pelos garotos do Theo Brown.

—Sim. —Eu gemi. —Eles me foderam muito mal. Acho que tenho
algumas costelas quebradas.
—O que você fez, Kage? Ele não teria colocado seus caras em você
por nada.

Eu balancei a cabeça.

—Por que eu deveria te contar alguma coisa? Você não se importa.


Você deixou Jamie e eu para cuidarmos de nós mesmos e simplesmente
desapareceu. Você nem me contou nada.

—Bem, eu não achei que precisaria te dizer para não foder com seu
próprio povo, Kage. Isso não era senso comum?

—Eu nunca tive nada disso de acordo com o meu tio.

—Estou começando a achar que ele estava certo. Ouça, Kage, há


algumas coisas que você precisa saber. Eu pensei que você fosse apenas
relaxar. Sente-se e conte o seu dinheiro. Concentre-se em sua carreira
de lutador. A próxima coisa que eu sei é que você estava se assumindo
na TV e agora ... —Ele suspirou. —Você não pode mexer com Theo
Brown, Kage. Ele vai matá-lo sem pensar duas vezes se ele achar que
você é uma ameaça para ele. Ele não dá a mínima. Está entendo o que
estou dizendo?

—Não com essa besteira vaga. Por que não posso mexer com ele?
Tudo o que fiz foi dizer-lhe que estava a fechando o Sceptre e transferi-
o para o Alcazar. O que está acontecendo, Aaron? E não minta para mim.
Eu soube que algo estava acontecendo e estou apenas tentando cobrir
minha bunda. Eu não quero ir para a cadeia porque tem alguma coisa
obscura acontecendo na minha empresa que eu nem entendo. Eu sou o
responsável pelo que acontece por aqui.

—Há muito a ser dito sobre a negação plausível.


Eu ri.

—A palavra operativa nessa sentença é plausível. Quem vai


acreditar que fui criado neste negócio e o herdei, mas não sei nada sobre
isso?

—Ponto justo. —Aaron falou. —Mas eu não posso falar sobre isso
por telefone.

—O que eu devo fazer então? Como posso me proteger? Eu nem


sequer tenho uma arma.

—Hmmm... —Aaron meditou. —Na verdade, você tem. Há um


antigo 3832 especial sob o colchão do seu tio, e há uma caixa de balas na
mesa de cabeceira dele. Tenha cuidado, no entanto. A arma está
carregada e não tem segurança. Basta apontar e disparar.

—Mas eu nunca disparei uma arma. —De repente eu me senti mal


do estômago novamente, e desta vez não tinha nada a ver com as drogas.

—É melhor você aprender rápido, filho. Eu acho que Theo Brown


estava apenas tentando assustá-lo, ou então você já estaria morto. Mas
não há como dizer o que ele fará se o clima o atingir. —Ele fez uma pausa
e suspirou ao telefone. —Porra, eu queria que você não tivesse ido e
cutucado um pau na toca da cobra.

—Por que você não me disse nada, Aaron? —Eu estava parecendo
desesperado agora.

32
Revólver.
—Acalme-se. —Ele falou. —Vou tentar ajudá-lo o máximo que
puder, mas você tem que me prometer uma coisa.

—O que é? —Eu perguntei, imaginando que tipo de barganha do


diabo eu teria que fazer.

—Você não pode contar a ninguém, e você tem que me ajudar.

—Ajudar você? O que eu estaria fazendo?

—Sem perguntas, Kage. Ou você concorda com meus termos ou eu


estou desligando.

Eu rosnei.

—Seja o que for, Aaron. Sim, eu vou te ajudar. E eu sei como


manter minha boca fechada.

Eu sabia que provavelmente estava concordando em manter ainda


mais segredos de Jamie, mas que escolha eu tinha?

—Tudo bem. —Aaron falou. —Eu me encontrarei com você em


breve. Mantenha seu telefone com você e responda a qualquer número
que você não reconheça. Você não vai querer perder minha ligação.

—OK. Quanto tempo?

Ele riu.

—Em breve. Agora pegue aquela arma do apartamento do seu tio.


Então olhe na gaveta de baixo do criado-mudo. Tire as balas primeiro,
depois passe os dedos pela parte de trás da gaveta. Há um fundo falso.

—O que tem lá? —Perguntei.


—Uma pequena história para dormir. Acho que você vai achar
muito divertida.

Assim que a linha morreu, eu pulei do sofá, lembrando-me tarde


demais de que estava ferido. A dor me deixou de joelhos, e eu tive que
usar a borda do sofá como alavanca para me arrastar para fora do chão,
gemendo todo o caminho.

Fui mancando até o quarto e peguei o cartão do apartamento do


meu tio na gaveta da minha mesa de cabeceira, imaginando se talvez eu
devesse encontrar um esconderijo menos óbvio. Então eu peguei uma
pequena mochila do meu armário e me esgueirei para o apartamento do
Santori.

Eu mal coloquei os pés no lugar desde que ele morreu. Cheirava a


mim, e uma inundação de memórias desconfortáveis passou por mim.
A morte de Santori, o medo de que eu morreria e, pior de tudo, o medo
de perder Jamie.

Afastei os pensamentos terríveis, liguei o interruptor de luz e corri


para o quarto principal. Quando pus os olhos no criado-mudo, congelei,
lembrando-me do taser33 que meu tio usara em mim naquela noite. O
que ele puxou da gaveta de cima.

Tomei passos vacilantes para o quarto e levantei o colchão,


pegando a arma e colocando-a gentilmente na cama. Então me virei para
o criado-mudo, sentindo um tremor na mão quando estendi a mão e abri
a gaveta de cima.

33
Marca de arma de choque.
Uma onda de náusea rolou pelo meu estômago quando vi o taser,
mas era uma arma, e eu precisava de armas. Peguei e coloquei na minha
mochila. Então abri a gaveta de baixo e tirei as balas, colocando-as
gentilmente ao lado do taser.

O compartimento secreto me levou cerca de um minuto para


descobrir, mas finalmente consegui. Dentro havia uma pequena pilha
de cadernos gastos presos por um cadarço. Eu os tirei e passei meus
dedos pela superfície do que estava em cima. Um título foi escrito em
caneta esferográfica desbotada na frente, e eu olhei para vê-lo na luz
fraca.

O Diário de Peter Santori.

Meu coração pulou uma batida ao ver essas palavras. Poderiam


esses cadernos inofensivos realmente conter os pensamentos e
sentimentos do meu próprio diabo pessoal? Era quase inconcebível, e
ainda assim eles estavam em minhas mãos.

Eu deslizei-os na mochila com o resto do meu saque e pendurei a


bolsa no meu ombro. Então peguei a arma. Aaron dissera que não havia
segurança. Aponte e atire, ele disse. Eu fui excessivamente cuidadoso
para não apontar para mim mesmo enquanto eu mancava de volta para
o meu próprio apartamento.

Uma vez que eu estava dentro, eu escondi as armas na parte de


trás do armário. Eu me preocuparia com elas mais tarde. Agora, havia
algo mais que eu tinha que fazer.

Puxei os diários da bolsa e os levei para a cama, tirando o primeiro


livro de debaixo da corda e colocando o resto na gaveta de baixo da
minha mesa de cabeceira. Eu olhei para o meu celular. Apenas mais de
três horas até Jamie chegar em casa.

Eu me inclinei para trás na cama, gemendo pela dor nos meus


lados. A medicação estava acabando, mas eu não tomei outra dose. Eu
precisava estar o mais sóbrio possível para isso.

Excitação e medo guerreavam dentro de mim. O que eu aprenderia


das páginas encadernadas que segurava nos meus dedos trêmulos? Eu
conhecia meu tio como o homem que me criou, o homem que me fez
matar meu próprio irmão e o homem que fez do meu namorado um
assassino. Agora eu estava prestes a descobrir quem era realmente Peter
Santori.

Abri o livro, respirei fundo e comecei a ler.


AO NOS APROXIMARMOS da entrada do Alcazar, meu pai

enfiou a mão no bolso de seu blazer xadrez de marca registrada e tilintou


com as chaves, outra revelação de que ele estava nervoso. A primeira foi
a hora que ele passou em frente ao nosso espelho de banheiro obscuro
raspando seu rosto e alisando o cabelo com pomada demais. Ele parecia
lamentável, como um bêbado na manhã de domingo.

—Por que estamos no seu trabalho? —Eu perguntei, olhando para


o velho hotel de luxo com uma mistura de admiração e pressentimento.

O Alcazar era o hotel mais impressionante que eu já tinha visto,


mas não por causa do tamanho. Enquanto as monstruosidades
chamativas na Las Vegas Strip alcançavam o céu como dedos
gananciosos, o comparativamente modesto Alcazar exalava um
esplendor gracioso que falava de dinheiro antigo e até de segredos mais
antigos. Sussurrava, em vez de gritar, e sua voz ofegante nunca deixava
de esfriar a superfície da minha pele.

—Você gosta deste lugar? —Meu pai perguntou, percebendo


minha apreciação desprotegida.

—É bom. —Eu disse, mantendo minha voz casual. Meu pai não
tinha o direito de conhecer meus pensamentos internos. Ele não. Nunca.
Era muito fácil para ele usar merda contra mim, e eu tive que lutar para
manter isso em mente em todos os momentos. Eu fingi indiferença e
soltei um suspiro entediado. —Você disse que íamos sair para chili
dogs34 no meu aniversário. Eles servem chili dogs no restaurante aqui?

Uma pequena parte desesperada de mim fantasiava que havia


uma festa surpresa esperando por mim dentro do hotel, completa com
serpentinas e presentes e bolo, todas as coisas que eu nunca tive em um
aniversário. Mas era uma fantasia infantil e hoje eu era oficialmente um
homem. Eu me senti idiota por pensar nisso.

Meu pai não respondeu à minha pergunta, e ele não olhou para
mim quando abriu uma das portas de vidro duplo do hotel.

—Só pensei em te mostrar onde eu trabalho. —Ele falou,


apertando o único botão de seu blazer.

Mentiroso. Ele tinha o hábito de abotoar quando estava sendo


desonesto, como se um pouco de lã xadrez pudesse encobrir as mentiras.
Fiquei imaginando quantos jogos de pôquer foram perdidos com o
toque do blazer abotoado.

—Mas estou com fome. —Eu disse, agarrando meu estômago. Eu


tinha tomado uma tigela de cereal naquela manhã, mas o leite estava
com dois dias de validade. Não tem idade suficiente para coagular, mas
o suficiente para perceber. Ainda assim, era melhor do que aquele leite
em pó quente que ele tinha às vezes. —Por favor, vamos apenas comer.
—Eu implorei. —Nem precisa ser chili dogs.

34
Chili dog é o nome genérico para um cachorro-quente servido em um coque e coberto com algum
tipo de molho de carne, como chili com carne.
Ele ignorou meus pedidos e fez sinal para eu entrar primeiro, mas
não por cortesia. Jack Santori não tinha um osso cortês em seu corpo.
Achei que ele estava esperando que eu fugisse, e me mandar primeiro
foi sua apólice de seguro.

—Por que estamos aqui? —Eu perguntei, minha irritação em


ascensão. —É preciso que seu filho trabalhe um dia, ou você está
planejando me usar como garantia em um jogo de pôquer?

—Não dê uma de esperto comigo. —Ele rosnou baixinho. —Você


sabe o que acontece quando você deixa essa boca tirar o melhor de você.

—Sim, senhor. —Eu disse, odiando minha própria fraqueza. —Eu


simplesmente não entendo porque você está me trazendo aqui depois de
todo esse tempo. Você disse que eu nunca deveria vir aqui.

—Não me questione. —Ele falou. —Eu sou o pai, não você. Eu digo
o que acontece e quando, e hoje eu digo que você vai conhecer meu
chefe. É hora de você aprender o que eu faço para colocar comida na
mesa.

Ele não falava muito sobre o seu trabalho, mas ocasionalmente ele
tinha chegado longe o suficiente em suas xícaras para deixar escapar
alguns detalhes assustadores. Contar a um adolescente sobre as nuances
de estrangular um homem com um fio de piano ou de se livrar de um
corpo não lhe renderia nenhum prêmio de pai do ano. Mas nem as
surras que ele encontrou motivo para me submeter em uma base quase
semanal. Às vezes eu pensava que era o desbotamento das contusões que
desencadeava sua violência, como se eu tivesse vindo desmarcado e
precisava do lembrete.
Aquele que poupa a vara odeia seu filho, mas aquele que o ama
desde cedo o castiga. Provérbios 13:24

Meu pai podia parecer um verdadeiro batedor da Bíblia quando


lhe convinha. Ele tinha cinco ou seis versículos que ele usaria para
desculpar seu próprio mau comportamento, e o resto do Livro Bom
poderia ir para o inferno no que lhe dizia respeito.

Ele era hipócrita e era desprezível. Eu o odiava. Eu amaldiçoava


qualquer semelhança com ele que vislumbrava no espelho, e eu sempre
esperei com todo o meu coração que quando eu crescesse em um homem
eu não seria nada como ele.

Dezoito anos, pensei ao entrarmos no elevador do elegante hotel


e começarmos nossa subida até o andar da cobertura. Eu tenho dezoito
anos agora. Eu posso sair se quiser.

O pensamento me encheu com uma mistura inquietante de


esperança e desesperança, porque a coisa que eu queria fugir era a
mesma coisa que me mantinha arraigada onde eu estava. Era uma
vergonha simples e antiquada. Meu pai me envergonhou pelo meu
comportamento e fiquei com vergonha de querer fugir. Era um
paradoxo do qual parecia não haver escapatória.

Um olhar desapontado ou uma palavra ameaçadora dele e, como


um animal de circo treinado, eu sempre voltava para a fila. Eu pediria
desculpas, limparia o apartamento, cozinharia o jantar para ele e
admitiria que era um menino mau que merecia punição. E hoje, por
mais que eu preferisse jogar videogames no salão de bilhar, eu andava
docemente ao lado dele no elevador do Alcazar para encontrar seu chefe
indescritível. E eu me sentiria culpado o tempo todo por não querer
estar lá, por odiar meu pai, e por desejar que toda a bebida e vida difícil
que ele teve finalmente o alcançasse e me desse a liberdade que eu era
covarde demais para levar eu mesmo.

Cortar minha própria garganta acabaria com isso. Eu fechava


meus olhos e via a borda da navalha, sentia a força enquanto cortava a
pele, cheirava o sangue quando ele jorrava e derramava. A paz desceu
sobre mim e eu reiniciei.

Quando as portas do elevador se abriram, meu pai me agarrou


pelo braço e me puxou para um corredor vazio e para a esquerda, para
uma porta no final do corredor.

—Não me envergonhe. —Ele falou em voz baixa antes de bater


timidamente na porta.

Eu esperava que eu não fizesse.

Eu esperava que fizesse.

O homem que atendeu tinha trinta e poucos anos, cabelos escuros


e bonito, com uma camisa branca de botões e calças cinza simples. Ele
exalava sofisticação sem esforço, com a camisa solta na gola e o cabelo
ligeiramente franzido. Eu resisti ao impulso de sorrir quando percebi
que ele estava descalço. Meu velho tinha passado todo esse tempo se
preparando, e ele parecia um vagabundo ao lado desse cara que nem se
dava ao trabalho de colocar sapatos.

—Sr. Rivera, muito gentil de sua parte se encontrar conosco. —


Meu pai estendeu a mão para um aperto de mão. Suas unhas estavam
desgastadas e mordidas, e a pele de seus dedos tinha um aspecto
desgastado pela falta de cuidado.
Rivera ignorou a mão oferecida, mas ele se afastou e fez sinal para
que entrássemos.

—Sente-se. —Ele indicou um sofá gordo de veludo cor de vinho,


então olhou diretamente para mim pela primeira vez. —Posso te dar
uma limonada?

Eu balancei a cabeça, mudo de medo. O velho tinha me avisado


para não o constranger, e no momento eu estava com medo de que era
exatamente o que eu faria se eu abrisse minha boca. Ainda pior, eu
estava com medo de me envergonhar. Eu nunca tive a oportunidade de
falar com um homem como Rivera, que estava intimidando sem sequer
tentar.

Enquanto ele entrava na cozinha, eu me enfiei em um canto do


sofá e fiz um inventário do que estava ao meu redor e tentei imaginar o
que cada item da sala deveria ter custado.

Papai soltou o botão do blazer e caiu na outra extremidade do sofá,


a barriga do bêbado caindo sobre o cós da calça.

—Giorgio Rivera é um homem muito poderoso. —Ele murmurou


sem mexer os lábios.

—Se você tivesse me avisado que nós estávamos vindo para cá, eu
teria me vestido melhor. —Eu olhei irritado para o meu short preto de
skate, camiseta R.E.M, e Converse high tops vermelho. Eu puxei a
bainha da minha bermuda para baixo para cobrir o arranhão
desagradável que eu tinha no meu joelho quando meu skate bateu em
uma pedra e me jogou na calçada. Foi embaraçoso quando aconteceu,
mas agora era ainda mais embaraçoso.
—Se eu tivesse dito a verdade, você teria lutado contra mim, do
jeito que você luta comigo em tudo.

Eu levantei minhas sobrancelhas, percebendo que o que ele disse


era verdade. Ele sabia que eu iria correr em um prédio em chamas para
chili dogs, mas se eu tivesse alguma ideia de que ele estava planejando
me levar para trabalhar com ele, eu teria escapado quando ele não estava
olhando e patinado até o salão de bilhar. Agora que eu estava realmente
aqui, fiquei feliz por meu pai ter me enganado.

Rivera voltou com um copo de limonada e me entregou com um


sorriso sutil, o rei servindo ao camponês.

—Obrigado. —Eu tomei um gole e grunhi meu prazer. —Esta é a


melhor limonada que já tive. Que marca é?

—Nenhuma marca. Temos um restaurante no hotel e eles são


frescos todos os dias. É um dos meus prazeres culpados. —Ele cruzou os
braços sobre o peito e sorriu, um gesto de orgulho ingênuo. O fato de
que um homem que claramente tinha tudo estava reivindicando direitos
de se gabar de um simples copo de limonada era divertido, mas em sua
defesa, era uma limonada muito boa.

Sorri e tomei outro gole, todos os pensamentos de vergonha


desapareceram da minha mente. O charme não afetado de Rivera me
deixava tão à vontade que eu corria o risco de esquecer que um cara
como eu não pertencia a um lugar como aquele.

Meu olhar voou mais uma vez para seus braços musculosos e a
sugestão de pele bronzeada aparecendo através do tecido branco de sua
camisa. Corei e desviei o olhar, mas meus olhos tinham outras ideias e
logo se concentraram nele novamente. Desta vez, eles beberam o
restolho escuro à sua mandíbula, a saliência de seu pomo de Adão, ea
cadeia de espinha de peixe dourado que brilhava no oco na base da sua
garganta.

Eu quase pulei quando meu pai quebrou o silêncio.

—Sr. Rivera, este é meu filho, Peter. O que eu te falei há alguns


meses atrás. Lembra no funeral de Rocco? —Ele fez o sinal da cruz sobre
o peito e murmurou: —Deus descanse sua alma.

A expressão de Rivera mudou quando ele lentamente olhou para


longe de mim e olhou para meu pai com olhos frios, os olhos de um
assassino.

—Eu lembro. —Ele falou antes de voltar a olhar para mim. Esferas
azuis de aço se fixaram nas minhas, encontraram minha alma e foram
mais fundo. Seu escrutínio atraiu outro rubor nas minhas bochechas.

—Bem, o que você acha? —Meu pai sorriu para ele como um
vendedor de carros usados tentando descarregar um limão. —Você quer
contratá-lo? Ele fez dezoito anos hoje e é mais forte do que parece. Me
bateu na luta de braço algumas vezes, certo filho? —Ele acenou para
mim, buscando confirmação.

Pensei em lembrar ao velho que ele estava bêbado demais para


levantar a cabeça naquelas ocasiões. Em vez disso, olhei para a enorme
janela na extremidade da sala e não disse nada.

Como de costume, meu pai foi quem me envergonhou, não o


contrário. Eu deveria saber que isso iria mal. Tudo o que ele tocava
virava merda.
Eu podia senti-lo ficar agitado ao meu lado enquanto o silêncio se
estendia e suas perguntas continuavam sem resposta. Ele gaguejou,
procurando por algo para dizer e chegando em nada.

Rivera não estava facilitando para ele, e uma pequena parte de


mim se alegrou. Se ao menos eu não tivesse que me sentar aqui com ele
enquanto ele caísse e queimasse, sabendo que Rivera me veria em falta
por associação. Ele pode ter contratado meu pai, mas ele claramente não
o respeitava como pessoa.

Agora que o tom da reunião havia mudado, não consegui olhar


para nenhum deles. Em vez disso, continuei a me concentrar na janela
panorâmica e no céu da tarde. O sol pairava no horizonte agora, um
brilho laranja ardente que logo desapareceria. Eu queria poder ir
embora também.

Theo provavelmente já estava no salão de bilhar com uma caneca


gorda de cerveja, fumando e observando a porta para qualquer sinal de
garotas com cabelos grandes e Levis apertados. Eu tentei me transportar
lá na minha mente, conjurando os aromas lembrados de cigarros e
colônia polo. Imaginei Theo, com seu cabelo loiro e constituição
robusta, e sua incrível capacidade de aliviar meu humor, mesmo depois
que meu pai estivera em uma de suas lágrimas.

Ele estaria sentado em uma mesa no canto de trás, a qual


praticamente todo mundo agora se referia como mesa do Theo, e seus
olhos se iluminariam quando ele me visse. Ele sorriria, mostrando os
dentes retos, exceto o incisivo lateral esquerdo, que não se alinhava com
o resto. Eu achava que isso lhe dava caráter.
—Peter. —Meu pai grunhiu, me puxando para fora da minha
imaginação e de volta para a cobertura deslumbrante no topo do
Alcazar. Eu quase tinha esquecido onde eu estava, um mecanismo de
defesa que eu aperfeiçoei durante anos de necessidade de escapar da
minha vida caseira de merda.

—Desculpe. —Eu murmurei, mudando a minha atenção da janela


e de volta para o meu pai. —Eu apaguei por um minuto. Perdi alguma
coisa?

—Bem, o Sr. Rivera estava apenas dizendo que poderia ter um


trabalho para você. Isso não é ótimo?

—Depende do tipo de trabalho que é. —Eu disse, esperando que


não tivesse nada a ver com o fio do piano.

Rivera riu.

—Você não vai jogar duro comigo, vai? Receio que não tenhamos
quaisquer aberturas na gestão no momento.

Corei novamente, desejando que cada palavra que o homem


dissesse não tivesse esse efeito em mim.

—Eu não achei que você fosse me tornar um gerente. Eu só...

—É um trabalho de assistente. —Rivera interrompeu, poupando-


me de mais constrangimento. —Você estará trabalhando diretamente
para mim. Ajudando com minha agenda, executando recados e
entregando pacotes. Coisas fáceis. Esteja aqui às oito da manhã de
amanhã, e nós vamos começar.
—Sim, senhor. —Eu disse, tentando esconder o meu entusiasmo
com a súbita virada dos acontecimentos. Então me lembrei de um
detalhe importante. —Eu não tenho certeza de quão útil eu serei para
recados e entregas. Ainda não tenho carro.

—Meu motorista te levará onde você precisar ir.

Eu quase perguntei por que o motorista não podia simplesmente


entregar pacotes e executar tarefas sozinho, mas eu não queria me fazer
perder o trabalho. Se havia uma coisa que eu aprendi na minha vida era
quando manter minha boca fechada.

Meu pai, por outro lado, não parava de falar todo o caminho para
casa.

—Você percebe o que isso significa, filho? Você está trabalhando


para Giorgio Rivera agora. Quer dizer, eu sabia que ele iria querer você.
Por que ele não quereria? Você é um chip do velho bloco. Mas tenho que
admitir que fiquei um pouco preocupado. Meu amigo Paul tem tentado
colocar seu filho no negócio, e Rivera continua adiando-o. Tenha em
mente que o filho de Paul é de seis e quatro, cento e quatro quilos. Esse
garoto é um maldito monstro, e ele lida com uma arma tão boa quanto
seu pai. Ganhou uma medalha de tiro no ROTC, sabe o que estou
dizendo?

Dei de ombros.

—Talvez Rivera não estivesse no mercado para um atirador. Ou


um monstro.

—Oh vamos lá. Sem ofensa, mas ele poderia ter conseguido
alguém para fazer recados. Pessoalmente, acho que tudo tem a ver com
o fato de você ser um Santori. Um homem como Giorgio Rivera
reconhece um bom sangue quando o vê.

—As pessoas são pessoas. —Eu disse. —Alguns são bons, outros
são ruins e não tem nada a ver com sangue.

Meu pai bufou, enojado comigo como de costume.

—Você simplesmente não entende, Peter. Como você ficou tão sem
noção é que eu nunca vou saber.

—Eu me pergunto. —Eu murmurei sob a minha respiração.

—Deve ser toda essa música rock que você ouve. —Ele continuou.
—Essa merda tem todos os seus filhos estragados ultimamente. Mas eu
tenho você com Rivera. Talvez ele possa fazer um homem de você. Deus
sabe que fiz o meu melhor.

—Eu aprecio você me ajudando a conseguir o emprego. —Eu disse,


tentando virar a maré da conversa antes que o velho se agitasse.

—De nada, filho. Agora você pode puxar seu peso e começar a
ajudar com as contas, sabe o que estou dizendo?

—Mas e a escola? —Eu soltei. —Eu queria usar meu próprio


dinheiro para passar pela faculdade. Nós conversamos sobre isso.

—E eu te disse que a faculdade é uma perda de tempo. Eu não fui


para a faculdade e estou ganhando um salário decente. As articulações
de fast food estão cheias de graduados universitários fazendo
hambúrgueres e administrando as caixas registradoras. Você já teve
uma chance de um bom trabalho e mal terminou o ensino médio. Muitos
homens matariam para estar onde você está agora.
Eu ri.

—Fazendo limpeza a seco para um mafioso?

—Empresário independente. —Meu pai disse com uma piscadela.


—E quem sabe? Pode levar a algo grande no caminho. Coloque um
pouco de carne em seus ossos e aprenda a usar uma arma, você pode
acabar sendo um guarda-costas ou algo assim. —Ele fez uma pausa em
pensamento. —Deixa pra lá. Você é muito mole para esse tipo de
trabalho. Mas tenho certeza que se você mantiver a cabeça baixa e fazer
o que o chefe diz, você acabará fazendo mais do que dar recados. Aposto
que daqui a alguns anos você poderá estar ganhando trinta mil dólares
por ano como eu.

—Você ganha trinta mil dólares por ano? —Fiquei atordoado e


meu pai teve a boa graça de parecer envergonhado.

—Dar ou receber. —Ele falou. —Antes de impostos.

Ele não queria que eu soubesse o quanto ele ganhava, porque a


maior parte acabou nas mãos de corretores de apostas e de pôquer.
Instintivamente eu sabia disso, mas ouvir o número falado em voz alta
me tirou o fôlego.

Eu cresci comendo macarrão e dormindo em um futon35, e meu


pai estava ganhando trinta mil dólares por ano. Era inacreditável. Foi
também mais um motivo para odiá-lo.

Eu não tinha ideia de quanto dinheiro eu estaria ganhando ao


fazer tarefas para Giorgio Rivera, mas seria condenável se eu fosse pagar

35
Um futon é um tipo de colchão usado na tradicional cama japonesa.
as contas de meu pai enquanto ele jogava fora cada centavo que
ganhava. Se eu estivesse pagando aluguel, seria no meu próprio lugar. E
por deus eu ia conseguir uma cama de verdade.
NAQUELA NOITE, assim que consegui me libertar do meu pai,
peguei meu skate e fui para o salão de bilhar. O vento parecia
particularmente bom contra o meu rosto enquanto eu corria pela
calçada, minha mente pulando para o meu iminente primeiro dia de
trabalho. Eu me perguntava como seria trabalhar com Giorgio Rivera. A
mera ideia me deu uma vibração na minha barriga.

Assistente.

Eu não tinha certeza do que a posição implicaria, mas o título


parecia pessoal. Eu estaria trabalhando de perto com o próprio homem?
E por que ele me queria, afinal? Certamente ele tinha melhores
candidatos do que um skatista punk de dezoito anos sem experiência
profissional. Até meu pai dissera que muitos homens matariam para
estar em minha posição e, pelo pouco que eu sabia sobre a natureza dos
negócios de Rivera, temia que a palavra matar não fosse um exagero.

Eu não poderia dizer a Theo todas essas coisas, no entanto. Ele era
meu melhor amigo, mas até os melhores amigos tinham limites. Eu teria
que ter cuidado para não confiar muito, especialmente quando eu tinha
algumas cervejas demais e ele dava aquele sorriso irresistível.

Quando cheguei ao salão de bilhar, parei meu skate com a ponta


do sapato, enfiei-o debaixo do braço e empurrei a porta. Theo estava
esperando, como eu sabia que ele estaria. Ele já passava mais tempo no
salão de bilhar do que em casa, e agora que a escola estava fora, ele
praticamente morava ali.

Eu me aproximei de sua mesa, tentando parecer tão frio e


indiferente quanto ele parecia em sua camiseta de Sex Pistols e cabelo
loiro praiano que caia em ondas até seus ombros.

—Santorini... —Ele disse, exagerando meu nome com uma sílaba


extra como ele adorava fazer. Ele passou a mão pelo cabelo e sorriu.

—Eu disse a você que eu não sou um fodido mágico. —Eu inclinei
minha prancha contra a parede atrás da mesa de Theo e fui para o bar
pegar um refrigerante.

Theo me alcançou no momento em que eu estava pedindo.

—Espere com o refrigerante, senhorita Martha. —Ele disse à


mulher atrás do balcão, usando sua voz fria que fazia todas as garotas (e
eu) desmaiarem. Então ele se virou para mim como se quisesse falar,
mas ele congelou por alguns segundos tensos, encarando meu rosto. Eu
sabia o que ele estava fazendo, especialmente quando seu olhar
demorou um pouco demais na área macia embaixo do meu olho.

Na semana passada eu tinha aparecido no salão de bilhar com um


olho roxo e um lábio quebrado. Eu normalmente ficava calado quando
tinha ferimentos, mas Theo tinha ligado e implorado para eu sair, então
eu engoli meu orgulho e puxei meu boné para baixo o mais baixo que
pude sem esbarrar nas coisas.
Eu esperava que ninguém notasse a condição do meu rosto, mas é
claro que Theo tinha percebido. Eu podia ver isso na suavização de sua
expressão quando ele teve um vislumbre do dano.

Ele nunca dissera nada, mas eu sabia que isso o incomodava


muito. O jeito que ele ficava olhando para mim quando ele pensava que
eu não estava prestando atenção quase me arrependia de ter decidido
sair, mas a noite tinha passado em um borrão de bêbado, e o elefante na
sala permaneceu sem reconhecimento.

Naquela noite ele achava que estava sendo sorrateiro, mas eu sabia
que ele estava checando por danos. Eu também sabia que ele podia ver
o tingimento amarelo fraco debaixo do meu olho, onde a contusão não
tinha desaparecido completamente.

—A cerveja é por minha conta. —Ele falou, puxando sua fiel


identificação falsa do bolso. —E vamos esquecer as meninas hoje à noite.
É só eu e você e toda a cerveja que podermos beber, aniversariante.
Cumprimentos da minha tia rica de Pasadena. —Ele acenou com uma
nota de cem dólares debaixo do meu nariz.

—Obrigado. —Eu disse, um calor intenso se desenrolando em meu


coração. Theo estava disposto a desistir de garotas por mim? Eu não
podia acreditar na minha boa sorte, mesmo que fosse apenas por uma
noite.

Theo não se sentia atraído por mim do jeito que eu era por ele, mas
eu não estava mais do que aquecendo a atenção extra ou entretendo uma
pequena fantasia inofensiva de que isso era mais para ele também. Foi
fácil sem o desfile constante de meninas. Naquela noite, ele mal olhava
para elas, e seus costumeiros comentários lascivos estavam visivelmente
ausentes.

—O babaca conseguiu alguma coisa para o seu aniversário este


ano? —Ele perguntou, usando seu nome predileto para meu pai.

—Não. —Eu disse, tentando fingir que não me incomodava. —Eu


sou muito velho para festas de aniversário e presentes.

—Então você não conseguiu o novo skate que você queria?

Eu apertei meus olhos, confuso, tentando lembrar de qual skate


ele estava falando.

—Aquele com o ceifador. —Ele falou. —Lembra que vimos no


shopping?

—Ohhh, o que eu não conseguia parar de falar sobre. Jesus, isso


foi no verão passado. Como você se lembra disso?

—Eu presto atenção, Pete. Você não pode deslizar qualquer coisa
por mim. —Ele bateu o dedo indicador em sua têmpora e piscou. —Essa
mente é como uma armadilha de aço.

—Ok, certo. Continue fumando toda aquela erva e você terá uma
mente como o queijo suíço.

—Então, você disse. —Theo riu, mas era um tipo distante de


risada, como se ele não estivesse mais na conversa. Ele começou a se
mexer com sua garrafa de cerveja e olhou ao redor da sala.

—O que há de errado? —Eu perguntei. —Você tem algo em mente?


—Espere um segundo. —Ele empurrou para fora de sua cadeira e
desapareceu no corredor.

Quando ele voltou, ele tinha uma plataforma de skate debaixo do


braço. Uma grande fita vermelha estava pendurada, ligeiramente
esmagada e meio desfeita. Ele entregou para mim com um sorriso
tímido, algo que eu nunca tinha visto no autoproclamado homem das
mulheres.

Minha boca ficou frouxa quando peguei a plataforma dele e


estudei a imagem pintada nas costas, uma figura de manto negro
segurando um coração sangrando em suas mãos esqueléticas. Era a
mesma plataforma fodona pela qual eu salivara durante meses.

Nós dois sabíamos na época que eu nunca conseguiria, porque eu


nunca consegui nada de novo, e depois de um tempo eu tinha bloqueado
isso em minha mente com todas as outras fantasias que nunca se
tornariam realidade. Junto com a fantasia de que Theo jamais me veria
como mais que um amigo.

—Isso é demais, Theo. —Corri meu dedo indicador amorosamente


sobre a imagem.

Ele se inclinou casualmente contra a parede.

—Eu te disse. Tia rica em Pasadena.

—Por que ela te mandou dinheiro? Ela morreu ou algo assim?

—Sim. —Theo falou. —Ela era a irmã da minha mãe. Ela tinha
muito dinheiro e não tinha filhos para deixar, então dividiu entre
sobrinhas e sobrinhos.
—Isso significa que você é rico agora?

Theo riu.

—Eu só ganhei cinco mil dólares, mas ei… eu tinha que dar um
presente de aniversário ao meu amigo. E você sabe exatamente quanto
eu gastei nessa plataforma. —Ele deu de ombros. —Não foi nada.

—Não é nada para mim. —Lágrimas ameaçaram encher meus


olhos, mas eu as segurei. —Obrigado, Theo. Você não tem ideia do que
isso significa para mim.

Levantei-me do meu assento e apoiei a plataforma na parede atrás


da nossa mesa. Depois joguei meus braços ao redor do pescoço de Theo,
sentindo a sensação de seu corpo contra o meu pela primeira vez em
nossa longa amizade.

—Ei, ei. —Ele disse baixinho, mas ele não lutou contra o abraço.
Em vez disso, ele levantou as mãos para me dar um tapinha desajeitado
nas costas. Eu poderia dizer que ele estava tentando manter uma
distância respeitável, mas quando eu o apertei mais forte, eu poderia
jurar que ele inclinou seu corpo para o meu. Só um pouco.

Eu o soltei e sentei novamente, mas não consegui parar de sorrir.


Bebi minha cerveja numa tentativa de voltar para onde estávamos antes,
para a amizade fácil que sempre tínhamos desfrutado, mas um
sentimento difuso se espalhou pelo meu corpo e tornou quase
impossível agir normalmente.

Uma parte de mim estava com medo de que Theo fosse perceber e
decidir que o presente tinha sido uma má ideia, mas ele não parecia
estar recuando de mim. Nem mesmo quando meu olhar enamorado
continuou deslizando sobre ele.

Depois de algumas horas, nós dois estávamos zumbindo da


cerveja, e minha bexiga tinha atingido o status de transbordamento. Eu
me levantei da minha cadeira, dando a minha condição com um leve
tropeço.

—Tenho que mijar. —Eu disse, passando por ele e indo para o
corredor.

O banheiro da cabine individual estava vazio e, como de costume,


cheirava a xixi e bolos velhos. Eu me aliviei, então parei na frente do
espelho por um longo tempo.

A temperatura no salão da piscina era sempre um pouco alta


demais para o conforto, e mechas escuras de cabelo haviam se prendido
à minha testa úmida e aos lados do meu pescoço logo acima da gola da
minha camiseta. Afofei meu cabelo um pouco para secá-lo, depois alisei
de novo. A contusão amarelada debaixo do meu olho tornou impossível
parecer inteiramente unido.

—Foda-se. —Eu disse ao meu reflexo. —Por que ele tem que gostar
de garotas?

Eu poderia ter falado comigo mesmo por mais tempo, mas alguém
bateu na porta do banheiro, trazendo-me de volta aos meus sentidos. Eu
endireitei meu cabelo e abri a porta.

Theo me encurralou quando saí do banheiro.

—Ei, por que você demorou tanto? Eu estava prestes a enviar um


grupo de busca.
—Eu estava tentando secar meu cabelo. —Eu disse. —É
fodidamente quente neste lugar, e estou todo suado.

—Você está? —Ele se inclinou para mim, um pouco instável em


seus pés, e empurrou meu cabelo para trás da minha testa. Então ele
arrastou a ponta do polegar gentilmente através da contusão amarelada
sob o meu olho. —Por que você não fica na minha casa hoje à noite?
Minha mãe está trabalhando no hospital agora. Ela não estará em casa
até as oito e meia da manhã. —Quando não respondi, ele acrescentou:
— Eu sei que você quer.

Seu tom era inconfundivelmente sugestivo, e foi a primeira vez


que ele deu qualquer indicação de que ele entendia como eu me sentia
sobre ele. Ele estava ciente dos pensamentos inapropriados que eu tinha
quando o via ficar com as meninas nos cantos escuros do salão de
bilhar?

Nos nossos quatro anos de amizade, ele nunca deixou


transparecer que sabia. Nunca me perguntara por que não tentava pegar
garotas. Agora ele estava fazendo comentários que soavam menos como
reconhecimento e mais como insinuações.

—Você está... —Eu reuni minha coragem e olhei em seus olhos. —


Você está flertando comigo?

Ele riu.

—Claro que não. Eu só estou dizendo... —Ele olhou para o corredor


vazio, certificando-se de que estávamos sozinhos, em seguida,
aproximou-se até que os dedos de seus tênis bateram nos meus. —Eu te
disse que era só você e eu hoje à noite, Pete. É seu aniversário. Eu quero
fazer o que te faz feliz.
—O que me faz feliz? —Eu perguntei, sentindo-me estúpido e
confuso.

—Sim. Vamos, vamos festejar na minha casa.

Eu tremia quando levei meu skate e minha nova plataforma para


o banco de trás do Trans-Am36 de Theo e entrei. Felizmente, ele colocou
uma fita cassete de ACDC e aumentou o volume, tornando desnecessária
a conversa. Eu não acho que eu poderia ter formado uma frase completa.

Quando nós tropeçamos em sua cozinha escura, ele me apoiou


contra a geladeira e me deu meu primeiro beijo. Ele tinha gosto de
cerveja e cigarros, e seus lábios eram suaves, mas ele não me beijou do
jeito que eu o vi beijar garotas. Foi hesitante, e a única vez que ele tentou
aprofundar o beijo, eu recuei.

Theo soltou uma risada pequena e desconfortável e dirigiu-se ao


seu quarto. Eu segui.

Não houve mais beijos nem toques delicados. Nós simplesmente


nos despimos e encaramos desajeitadamente um ao outro por um
momento. Então notei os cartazes em suas paredes. Cindy Crawford,
Christina Applegate e toda uma série de detalhes centrais da Playboy. Se
eu pudesse me teletransportar, já teria ido embora.

Theo tirou uma caixa de camisinhas de debaixo do colchão e


limpou a garganta para chamar minha atenção.

—Então, como fazemos isso?

36
Trans Am é uma versão do Firebird, automóvel fabricado pela extinta divisão Pontiac da
General Motors. Seu auge foi na década de 1970.
Dei de ombros.

—Você tem alguma vaselina ou loção para as mãos ou algo assim?


—Eu sabia de minhas próprias explorações solo que algum tipo de
lubrificação estava em ordem, mas essa era toda a direção que eu tinha
a oferecer.

Theo sorriu e pegou um pote meio vazio de vaselina da gaveta em


sua mesa de cabeceira.

Eu por acaso dei uma olhada em seu meio pau duro, depois no
meu tímido começo de ereção, e tudo que eu podia sentir era decepção.
Nas minhas fantasias, havia beijos, corridas febris e suspiros de prazer.
Pelo menos, tinha havido tesões enfurecidos. Eu poderia ficar duro em
segundos quando eu imaginava ter relações sexuais com Theo, mas
agora que eu estava de pé aqui na frente dele, meu desejo tinha tomado
um teste de chuva.

—O que é isso? —Ele perguntou.

Eu sentei na cama e escondi meu rosto em minhas mãos.

—Eu não sei, Theo. Acho que imaginei que minha primeira vez
seria diferente. Eu sei que você não... —As palavras ficaram presas na
minha garganta, porque era difícil para o meu ego admitir a verdade em
voz alta. Fechei os olhos por um longo momento até a coragem de falar
finalmente surgir. —Eu sei que você está apenas fazendo isso para ser
legal comigo, e isso só me faz sentir mal. Eu não quero ser um caso de
caridade.

Ele se sentou ao meu lado e cutucou meu joelho nu com o dele.

—Eu pensei que seria legal, sabe? Não me enoja nem nada.
—É exatamente isso. —Eu suspirei e caí de volta na cama. —Eu
preciso que minha primeira vez seja com alguém que realmente me
quer. Não ser incomodado não é suficiente.

Theo desabou ao meu lado e suspirou.

—Então as bichas querem romance ou algo assim? É isso?

Eu apertei meus dentes com suas palavras e me lembrei que esse


era Theo, meu melhor amigo. Ele pode não ter sido o mais sensível dos
caras, mas não havia malícia ou julgamento por trás de seu comentário.

—Eu não tenho ideia do que as bichas querem. —Eu admiti. —Mas
eu não me importo de um pouco de romance.

—Você quer que eu acenda algumas velas?

—Não, não velas, Theo.

Ele estendeu a mão e correu um dedo pelo meu braço.

—Você quer que eu diga que eu te amo ou algo assim?

—Foda-se não. —Eu disse com muita força. —Jesus Cristo, Theo,
eu não quero que você minta para mim. Eu só quero um pouco de
paixão.

Theo ficou sentado parado na beira da cama, olhando para o


espaço, parecendo tão perdido quanto eu me sentia. Quando eu não
aguentei mais o silêncio, levantei e comecei a puxar minhas roupas de
volta.

—Você vai me levar para casa? —Eu perguntei.

Theo saiu do seu torpor.


—Sim claro. Apenas deixe eu me vestir.

A volta para casa foi excruciante. Theo não tocou nenhuma música
nesse momento, e o silêncio foi o mais denso que já senti. Quando ele
entrou no estacionamento do meu prédio, eu abri a porta antes que o
carro parasse completamente.

Eu me inclinei sobre o banco e peguei meu skate, mas hesitei antes


de pegar a plataforma do ceifador.

—Você pode levá-lo de volta à loja e obter um reembolso, se quiser.


Eu sei que não mereço isso agora.

Theo realmente olhou para mim.

—O que diabos você está dizendo? Você não quer isso?

—Não. Eu quero muito, Theo. Mas eu me sinto estranho em aceitar


agora que você está com raiva de mim.

A expressão de Theo se suavizou.

—Eu não estou bravo com você, Pete. Eu apenas sinto... —Ele
acendeu um cigarro com dedos trêmulos, depois soltou um jato de
fumaça enquanto seus olhos se fixavam nos meus. —Eu quero que você
tenha, ok? É a única coisa que eu realmente queria comprar com esse
dinheiro. Eu só vou acabar com o resto.

Eu balancei a cabeça e recuperei a plataforma.

—Obrigado, Theo. É o melhor presente que eu já recebi. Você sabe


disso, certo?
—Tanto faz. Apenas aproveite. —Ele deu um aceno
desconsiderado e deu outra tragada no cigarro. —Eu vou te ver amanhã,
ok?

—Oh espere. Eu esqueci de te dizer que consegui um emprego. Eu


começo amanhã.

—Um trabalho? Onde?

—O hotel onde meu pai trabalha.

—Isso é legal. —Theo falou. —O que você é, um mensageiro ou algo


assim?

—Não, nada disso. O cara que é dono do hotel me contratou para


ser seu assistente.

—Assistente do chefe? —Theo perguntou, claramente chocado. —


Como você conseguiu um trabalho doce como esse?

Dei de ombros.

—Eu não sei. Meu pai me levou lá hoje e ele me contratou para ser
seu assistente.

—Você teve que preencher um requerimento e fazer uma


entrevista e toda essa merda? Talvez eu deva pôr em prática.

Eu fiz uma careta, percebendo pela primeira vez que eu não tive
que fazer nada para conseguir o emprego.

—Na verdade, mal nos falamos. Ele me deu um copo de limonada


e depois me disse para me apresentar para o trabalho amanhã de
manhã.
Theo me encarou com uma expressão confusa.

—Não, merda?

—Sim. Não há merda.

Theo sacudiu a cabeça.

—Você é um sortudo filho da puta, Pete. Estou falando sério sobre


conseguir um emprego para mim. Mas diga ao seu chefe que eu
preferiria cerveja a limonada para a minha entrevista.

Eu ri.

—Vai fazer.

Eu bati a porta e fui para o nosso apartamento no segundo andar,


rezando para que meu pai já estivesse desmaiado. Eu estava muito oco
da minha experiência com Theo para lidar com um bêbado beligerante.

Tudo o que eu conseguia pensar era em como as coisas acaram de


se tornarem estranhas entre meu melhor amigo e eu. Eu não tinha
percebido o quão dependente eu tinha me tornado em minhas fantasias
inocentes com ele até que elas se foram.

Antes, havia a emoção da atração secreta e a frágil esperança de


que algo crescesse entre nós. Agora não havia nada além de desilusão e
a sensação de que eu estava completamente e totalmente sozinho.
CHEGUEI A CASA de Rivera meia hora mais cedo, pensando que
ele ficaria impressionado com a minha pontualidade. Eu não esperava
que ele atendesse a porta usando nada além de um par de calças de
pijama de seda preta e um sorriso perplexo. Eu também não esperava
ter uma reação tão física a vê-lo daquela maneira, mostrando músculos
tensos, cabelos negros no peito, e uma trilha tentadora de cabelo que se
estendia até o cós.

E então havia o rosto dele. A barba em sua mandíbula, o inchaço


do lábio inferior, o olhar sonolento de meia pálpebra. Não deveria ter
havido nada obsceno sobre isso, e ainda assim em minha mente havia.
Todos os pensamentos torturantes da minha noite com Theo de repente
evaporaram.

—Meu, meu, —Ele falou em uma voz ainda rouca de sono. —Você
não é a coisa jovem e ansioso. —Quando eu não falei ou movi um
músculo, ele abriu mais a porta. —Você vai ficar no corredor o dia todo?

—Sim senhor. Quero dizer, não, senhor. —Eu encontrei meus pés
e corri passando por ele, colocando meu skate contra a parede do lado
de dentro da porta. —Peço desculpas por chegar aqui cedo. Eu não sabia
que você ainda estaria na cama.
—Tudo bem, Peter. Eu estava realmente apenas escovando os
dentes. —Ele olhou para o seu estado de nudez e riu, passando a mão
sobre o cabelo despenteado pelo sono. —Espero que você não se importe
com negócios casuais.

—Você é o chefe. —Eu disse, lembrando-me que ele era realmente


o chefe, e não havia nenhuma maneira de que eu deveria estar olhando
para ele do jeito que eu estava.

—Falando em trajes... —Rivera levantou uma sobrancelha e me


examinou da cabeça aos pés. —Vamos precisar de algo mais
apresentável para você. Você me representa agora e eu gosto de ficar
bem.

Isso doeu um pouco. A calça cáqui, camisa xadrez e os tênis


brancos de cano alto eram os melhores que eu tinha. Eu até arrastei o
velho ferro da mãe para fora do armário do corredor e pressionei-o.

—Eu não tenho tempo para fazer compras. —Eu menti. A verdade
é que, de qualquer forma, eu não teria condições de comprar nada
melhor. Eram escolhas escassamente escassas no departamento de
roupas masculinas da Wal-Mart.

Os olhos de Rivera se suavizaram e ele estendeu a mão para tirar


uma mecha de cabelo da minha testa.

—Manteiga de amendoim e chocolate. —Ele meditou suavemente.


No meu olhar confuso, ele disse: —Seu cabelo. É um tom incomum.
Como chocolate correndo com tiras finas de manteiga de amendoim.
—Como um Reece’s cup37. —Eu disse.

—Sim, como um Reece’s cup. —Ele riu e esfregou distraidamente


sua barriga lisa. —E agora estou com fome. E quanto a você? Você tomou
café da manhã?

Eu balancei a cabeça.

—Eu costumo comer uma tigela de cereal, mas eu estava tão


animado para chegar aqui que eu esqueci. —Meu estômago roncou
direto com a susgestão, e nós dois rimos, embora minha risada fosse
mais de vergonha do que diversão.

Rivera ligou para o serviço de quarto e pediu uma enorme


quantidade de ovos, bacon, salsichas, torradas, cereais, leite e suco de
laranja. Ele tinha limonada fresca entregue também, que ele colocou na
geladeira para depois. Enquanto esperávamos que a comida chegasse,
ele ligou para o seu alfaiate e pediu que ele viesse e tirasse minhas
medidas.

Nós comemos principalmente em silêncio, e depois que


terminamos, ele me convidou para sentar no sofá. Eu peguei o mesmo
lugar que tinha no dia anterior, enfiado no canto como se não quisesse
ocupar muito espaço, e Rivera passeava no chão na minha frente.

—Então, sobre seus deveres. —Ele falou, esfregando o queixo em


pensamento.

37
Os Copos de Manteiga de Amendoim da Reese's são a marca de balas n ° 1 vendida nos Estados
Unidos e consistem em um copo de leite, branco ou chocolate amargo recheado com manteiga de amendoim,
comercializado pela The Hershey Company.
—Sim? —Eu perguntei quando ele não continuou imediatamente.

Ele parou de andar.

—Eu devo admitir que eu realmente não trabalhei tudo isso. Tem
sido minha intenção conseguir um assistente por um longo tempo, mas
eu nunca pensei sobre o que eu faria. Eu sou uma espécie de maníaco
por controle, e é difícil para eu deixar as tarefas que eu estou
acostumado a lidar eu mesmo.

—Você está me demitindo no meu primeiro dia? —Eu perguntei


com uma risada nervosa.

—Não, claro que não. Tenho certeza que vou pensar em algo para
você fazer. Você só vai ter que ser paciente comigo, certo? —Ele esfregou
distraidamente o cabelo em sua barriga, arrastando as pontas dos dedos
para cima e para baixo na linha central enquanto jogava fora as ideias.
—Entregas, verificar o correio, me lembrar de compromissos...

Suas palavras desapareceram no fundo enquanto eu observava o


movimento hipnótico de seus dedos. Não sei quanto tempo passou antes
de perceber que Rivera havia parado de falar completamente. Eu olhei
para cima para encontrá-lo olhando meu rosto tão intensamente quanto
eu estava olhando sua mão.

Ele sorriu e levantou uma sobrancelha.

—Você ouviu o que eu acabei de dizer?

—Você disse... —Eu me esforcei para inventar algo. Qualquer


coisa. —Sinto muito, Sr. Rivera. Minha mente estava vagando. Ela faz
isso às vezes.
—Eu provavelmente deveria colocar algumas roupas. —Ele falou
com uma piscadela sutil.

Enquanto ele saiu da sala e se vestiu, eu me castiguei por ser tão


idiota. Eu tinha acabado de ser pego olhando meu novo chefe no
primeiro dia de trabalho, e ele deixou muito claro que ele percebeu. Eu
me perguntei se o deixava desconfortável ter outro homem olhando para
ele daquele jeito. Ele não parecia estar ofendido ou irritado, então isso
era um bom sinal.

Eu nunca tinha sido óbvio sobre checar caras, ou pelo menos eu


não achava que tivesse, mas Rivera dificultava. Seu corpo era como um
ímã para o meu olhar, e ele não tinha vergonha de mostrá-lo. Confiança
irradiava dele, e eu não tinha dúvida de que ele sabia o quão atraente ele
era.

Rivera não saiu do quarto por algum tempo e ouvi a voz dele pela
porta algumas vezes. Ele estava conversando com alguém no telefone, e
não parecia que ele estava muito satisfeito com eles. Eu senti pena do
pobre coitado do outro lado da linha, e pensei na maneira como ele
olhou para o meu pai no dia anterior. Até o momento ele não tinha sido
nada além de gentil comigo, mas eu não tinha dúvidas de que havia
outro lado no meu chefe que eu não queria provocar.

O alfaiate apareceu enquanto ainda estava ao telefone. Eu estava


nervoso por perturbá-lo, especialmente porque ele parecia irado, então
eu mesmo respondi à porta.

O homem do outro lado era pequeno, talvez de um metro e


noventa e seis, com uma linha de cabelo recuada e óculos de cor azul.
Seu terno azul risca de giz era imaculado, e ele carregava uma bolsa
preta a seu lado como um daqueles velhos médicos que faziam visitas
domiciliares.

—Você deve ser o alfaiate. —Eu disse.

—E você deve ser a roupa de emergência. —Ele deu a minha


vestimenta uma olhada óbvia, oferecendo um sorriso dissimulado no
lugar de um sorriso. —Eu posso ver porquê. Estou surpreso que Gio
tenha permitido que você atendesse a porta dele vestido dessa maneira.
Ele é muito particular.

—Eu sou seu assistente. —Eu disse defensivamente. —Eu estava


vestindo uma camiseta e shorts quando ele me contratou. Talvez ele não
seja tão particular quanto você pensa.

O alfaiate levantou uma sobrancelha.

—Oh, ele está particularmente bem. Nenhuma dúvida sobre isso.


Aparentemente, ele viu algo de que gostava em você, embora eu ache
que todos concordamos que não era o seu senso de moda.

—Mas você pode consertar isso, certo? Fazer-me parecer bom para
ele? —Eu esperava não parecer desesperado.

O alfaiate sorriu.

—Como Cinderela indo para o baile. Pense em mim como sua fada
madrinha.

—Cinderela? —Eu fiz uma careta. —Podemos atirar para o


príncipe em vez disso?

—Então, sem chinelos de vidro?


—Sem chinelos de vidro. E sem abóboras também.

—Devidamente anotado. Agora, por favor, fique apenas de cueca.

Meus olhos se arregalaram.

—Aqui? Na sala de estar do Sr. Rivera? —Com o olhar exasperado


do alfaiate, rapidamente tirei minhas roupas. Arrepios saltaram para a
superfície da minha pele. —Ok, vamos acabar com isso. Está frio aqui
com nada além da minha Calvin.

—Meu filho, essa não é uma cueca da Calvin Klein. Eu conheço um


par de Fruit of the Looms38 de dois anos quando os vejo.

Suspirei e olhei para minha cueca desalinhada, sua cor pairando


em algum lugar entre branco e cinza.

—Sim, eu não posso pagar Calvins. Eu queria poder, no entanto.


Eu arrasaria totalmente em um par vermelho. Você acha que eu ficaria
tão bom neles quanto Marky Mark39?

Ele examinou meu corpo por tempo suficiente para que eu me


pegasse desejando nunca ter feito a pergunta.

—Definitivamente. —Ele disse finalmente. —Você tem proporções


agradáveis, embora você possa ganhar cerca de vinte quilos de músculo.

38
Fruit of the Loom é uma empresa americana que fabrica roupas, principalmente roupas íntimas

39
Mark Robert Michael Wahlberg é um ator, rapper e produtor de cinema e televisão estadunidense.
Ele tirou uma fita métrica de sua bolsa preta e, na próxima
eternidade, alternou entre me medir e latir para eu ficar quieto. Vire
assim. Pare de se mexer. Preste atenção.

—Porra. Quanto tempo leva para fazer algumas medições?

—Aparentemente, muito tempo quando seu assunto não consegue


manter a postura correta. Seus ossos são feitos de geleia? Fique em pé.

Quando ele me virou para encarar o quarto principal, peguei


Rivera encostado na moldura da porta e me encarando com um sorriso
divertido. Ele estava vestido com calças cinza e uma camisa branca, mas
ele ainda estava descalço.

—Como vai, Bill? —Ele perguntou, ainda sorrindo. —Meu


assistente está lhe dando um tempo difícil?

O alfaiate se endireitou, pendurou a fita métrica no ombro e


inspirou profundamente.

—Bom Deus, acho que finalmente estamos prontos. Se as calças


forem de Capri e as jaquetas tiverem um braço a mais que o outro, você
pode culpar o Sr. Inquieto aqui.

Eu olhei para Bill.

—Não é minha culpa que medir um terno seja chato. É pior do que
assistir golfe ou boxe na TV com meu pai. É pior que a igreja.

Rivera riu de trás de mim.

—Eu concordo com você no golfe, Peter. E a igreja. Mas o que há


de errado com o boxe? É o esporte mais puro que existe.
—São apenas dois caras correndo em uma caixa e socando um ao
outro no rosto. —Argumentei. —Corridas de stock cars 40 podem na
verdade ser mais excitantes.

—Saia enquanto você está à frente, garoto. —Bill falou em voz


baixa. Então, em voz alta, ele anunciou: —Vou voltar para a loja. Tenho
muito trabalho a fazer se vou cumprir seu prazo, Gio. Me deseje sorte.

Depois que ele saiu, Rivera se aproximou de mim devagar, sem


fazer segredo de me olhar de cima a baixo. De repente, senti-me duas
vezes mais nu do que antes.

Eu me perguntei se ele me achou em falta. Muito magro. Ele estava


enojado com minha roupa íntima suja? Deus, por que eu não usei meu
mais novo par?

Porque a maioria dos assistentes provavelmente não fica quase


nu no primeiro dia de trabalho. Duh.

—O que aconteceu com a parte de trás do seu braço? —Rivera


perguntou.

Eu levantei meu braço e olhei para a mancha roxa e amarela logo


acima do meu cotovelo. Dei de ombros como se não tivesse ideia do que
ele estava falando. Na verdade, eu sabia sem nem olhar.

Era uma contusão, mantida fresca por meu pai, cuja maneira
favorita de me manter na linha e me lembrar do meu lugar era tirar a
merda do meu braço. Sempre no mesmo lugar. Eu me acostumei com

40
O termo Stock Car refere-se a uma forma de corrida automobilística popular principalmente nos
Estados Unidos, no Canadá, no México, na Grã-Bretanha, na Austrália, no Brasil, entre outros países.
isso ao longo dos anos. Era parte de mim agora, uma característica
definidora assim como meu cabelo e meus olhos.

Peguei minhas roupas e comecei a me vestir enquanto Rivera me


observava com olhos de falcão do azul mais claro. Isso me deixou
nervoso, e meus dedos tremeram um pouco quando tentei entrar em
minhas roupas.

—Você não sabe como você conseguiu o hematoma? —Ele


pressionou. —Parece doloroso.

—Não é. —Eu menti. —Acho que peguei alguns dias atrás quando
caí no meu skate. Viu? Mostrei-lhe o arranhão no meu joelho.

—É assim que você tem o olho roxo? —Ele gesticulou para os


restos amarelos pálidos do meu olho negro.

Porra. Ele havia notado. Este homem era muito observador para
conseguir qualquer coisa além dele. Eu tenho que lembrar disso no
futuro.

—Eu entrei em uma briga com algum babaca no salão de bilhar


quando estava bêbado. Não foi nada.

Ele deixou ir com um aceno de cabeça e eu respirei mais fácil. Eu


não estava acostumado a alguém descaradamente me questionando
sobre meus ferimentos.

Depois de me vestir, Rivera sentou-se no sofá, cruzou as pernas e


esticou um braço na parte de trás das almofadas.

—Por falar em luta, me explique o que você tem contra o boxe.

Oh Deus. Não isso de novo.


Sentei-me no lado oposto do sofá e apertei minhas mãos entre
meus joelhos.

—Isso vai me fazer perder meu emprego?

—Eu não sei. —Ele falou com um sorriso. —Você provavelmente


deve escolher suas palavras com cuidado.

Eu engoli, esperando que ele estivesse brincando.

—Bem, eu já te disse. Dois homens batendo um no outro, no final


da história. Quanto disso você pode aproveitar antes de envelhecer?

—Talvez se você tivesse dinheiro na linha, você teria uma opinião


diferente.

—Ok, certo. Eu poderia apostar um dólar em uma briga. O que isso


me faria se o meu cara ganhasse? Um quarto?

Rivera riu.

—Um sábado à noite, você vai descobrir. Eu às vezes tenho amigos


para assistir as lutas e tomar algumas bebidas. Eu garanto que você vai
achar interessante.

—Mas eu sempre saio com meu melhor amigo Theo no salão de


jogos aos sábados.

—Convide-o para ir junto. —Ele falou. —Ele vai se divertir


também. Eu faço uma festa de luta.

Quando a moça do serviço de quarto chegou para pegar nossos


pratos de almoço, Rivera recebeu um telefonema. Ele cobriu o receptor
com a mão e sussurrou para mim.
—Você pode ir agora, Peter. Vejo você amanhã às oito.
NO DIA SEGUNTE, fiquei do lado de fora da porta do Rivera por
três minutos antes de bater às oito em ponto. Parte de mim estava
desapontado que ele já estivesse vestido e pronto para o dia, mas eu
sabia que deveria estar feliz com isso. Mais olhares febris de mim, e ele
provavelmente iria bater na minha bunda e me jogar para fora da
varanda.

Estávamos no sétimo andar, com cinco andares de hóspedes e o


saguão entre eu e o chão. Como eu não queria morrer tão cedo, achei
melhor ficar de olho em mim mesmo, e isso seria muito mais fácil se
meu chefe não estivesse seminu.

—Eu pedi café da manhã. —Ele anunciou assim que entrei no


apartamento. —Mas primeiro, venha para o quarto. Eu tenho algo para
você.

Ah, os pensamentos que passaram pela minha cabeça. Quarto?


Algo para mim? Talvez eu não tivesse ouvido direito.

Rivera passou por mim e fez sinal para eu segui-lo. A luz da manhã
entrava pela janela panorâmica de um lado do quarto, o gêmeo da sala
de estar, e era o suficiente para ver tudo claramente. Havia uma área de
estar com um pequeno sofá e cadeira, e uma cama de dossel em mogno
esculpido.
Uma tapeçaria de parede intrincada estava pendurada na
cabeceira da cama e, ao pé, um grande baú estava coberto com três
ternos elegantes. Um azul escuro, um cinza e um preto. Cada um estava
pendurado com uma camisa branca e camiseta.

—O alfaiate só conseguiu três dos seis alterados ontem. Você terá


mais três amanhã.

Eu me virei e fiquei de boca aberta para ele.

—Ternos?

Ele levantou uma sobrancelha.

—Isso é um problema?

—Não, eu só... —Eu senti as lágrimas coçando as costas dos meus


olhos, e eu pisquei, rezando para não chorar.

Rivera se aproximou.

—O que é isso?

—Nada. Eles são tão legais. Isso é meio embaraçoso, mas eu nunca
tive um terno. Eu acho que nunca tive qualquer razão para usar um. —
Então eu lembrei do que eram os ternos. —Você realmente quer que eu
use isso para entregar pacotes? Eu pensei que você estaria me
conseguindo um uniforme, como os que os caras usam nos correios.

Ele encolheu os ombros.

—Como eu disse ontem, você me representa agora. Eu gosto de


causar uma boa impressão. Vá em frente e esperimente um. O azul, eu
acho.
Rivera pegou um par de meias pretas e um par de sapatos sociais
pretos brilhantes do chão e estendeu-as para mim.

—Eu sou muito bom em julgar o tamanho dos pés de um homem.


—Ele disse com uma piscadela. —Mas deixe-me saber se eles não se
encaixarem perfeitamente. Você precisa estar confortável.

Peguei os sapatos e as meias, peguei o terno azul e corri para o


banheiro ao lado. O espaço era tão impressionante quanto o resto do
apartamento, com telhas de pedra e um chuveiro grande o suficiente
para acomodar dois ou três homens. Ou um homem e três mulheres,
mais provavelmente. Homens com dinheiro geralmente eram playboys
impenitentes, ou pelo menos eu ouvira falar, e com sua boa aparência e
conta bancária gorda, Rivera provavelmente poderia ter um anúncio
diferente da Playboy em sua cama todas as noites.

—Quem é você? —Ele brincou quando eu finalmente surgi


vestindo o terno, mas eu não precisava que ele me dissesse que eu
parecia diferente. Eu mal me reconheci no espelho.

Meu pai usava um terno nas raras ocasiões em que ele ia à igreja
ou aos funerais, mas ele não se encaixava como este. O seu era largo
demais nos ombros, muito comprido nas mangas, e as calças
amontoavam-se ligeiramente ao redor dos sapatos gastos. O meu
encaixa perfeitamente.

—Você estava certo sobre os sapatos. —Eu disse, olhando para o


chão e me sentindo inseguro sob o escrutínio intenso de Rivera.

—Eu te disse que eu era um bom juiz. —Ele olhou para mim por
um momento e depois sorriu. —Você se vesti bem, garoto.
Meu rosto ficou aquecido.

—Obrigado, senhor.

Ele suspirou e bagunçou meu cabelo.

—Vamos. Vamos pegar alguma comida. Eles entregaram


enquanto você estava se trocando.

Depois que comemos, Rivera me deu minha primeira missão.

—Há um carro esperando por você lá embaixo, Peter. Carlos sabe


para onde ir. Quando chegar lá, basta entregar este envelope ao homem
atrás do balcão e dizer-lhe que Rivera envia seus cumprimentos.

—Isso é tudo?

—Isso é tudo. Vejo você quando voltar.

Eu não podia acreditar o quão fácil este trabalho estava se


tornando. Ainda não tínhamos conversado sobre dinheiro, mas valia a
pena apenas passar o tempo com Giorgio Rivera todos os dias. Qualquer
outra coisa era apenas exagero, tanto quanto eu estava preocupado.
Além disso, eu não sabia o quanto meu novo guarda-roupa o havia
colocado de volta, mas tinha que ser muito.
NO MÊS SEGUINTE, trabalhamos em uma rotina. Eu aparecia
no apartamento de Rivera às oito, tomava o café da manhã, entregava
alguns pacotes ou pegava coisas para ele, sim, a limpeza a seco era
minha responsabilidade, e terminava por volta das cinco.

Ele sempre se certificava de que eu comesse alguma coisa para o


almoço. Às vezes era serviço de quarto na casa dele, e às vezes Carlos e
eu parávamos e comíamos juntos as custas de Rivera.

Eu era pago nas sextas-feiras. Quinhentos dólares em dinheiro. Eu


abri uma conta bancária e coloquei a maior parte do dinheiro em
economias. Quando senti que tinha o suficiente, planejei arrumar meu
próprio apartamento.

—Então, estamos oficialmente no segundo mês. —Rivera falou


durante o café da manhã em uma manhã de quinta-feira. —Você está
gostando até agora?

—Eu amo isso. —Eu admiti. —Melhor trabalho de sempre.

—Sim? —Ele sorriu, claramente satisfeito. —E o que você acha do


Carlos?

—Ele fala muito, mas eu realmente gosto disso. Eu nunca conheci


um homem que conhecesse tantas piadas sujas. Ele parece ser um bom
homem de família também. Quando ele não está me fazendo rir, ele está
falando sobre sua esposa e duas filhas como se estivessem na lua.

—Isso definitivamente soa como Carlos. Ele também pensa muito


de você. —Ele recostou-se na cadeira e espalhou um pouco de geleia em
um biscoito, deu uma mordida e mastigou por um momento antes de
continuar. — Ele é um bom garoto, Carlos me disse. Não fala muito, mas
você pode dizer que há muita coisa acontecendo nessa cabeça dele.

Eu ri conscientemente.

—Bem, é difícil conseguir uma palavra com Carlos.

—Ele pediu a minha bênção para apresentá-lo à sua filha mais


nova, Stephanie.

—Por quê? —Eu soltei, olhando para Rivera com os olhos


arregalados.

Ele sorriu indulgentemente.

—Você tem a idade dela, é inteligente, bonito… e você tem um bom


trabalho que tem o potencial de se tornar um ótimo se você jogar suas
cartas corretamente. Como você disse, Carlos é um bom pai de família.
Ele está cuidando de suas garotas.

—Eu não entendi. Por que ele pediria sua bênção?

—Você é um dos meus agora. Sob minha proteção. Carlos entende


como funciona.

—Oh. —Era bobo, mas eu gostava do jeito que me fazia sentir saber
que Rivera me considerava um dele. Eu nunca me senti protegido em
minha vida. —O que você disse ao Carlos? Você deu a ele sua bênção?
Rivera esfregou as pontas dos dedos ao longo da barba em seu
queixo antes de responder.

—Eu disse a ele que teria que pensar sobre isso. Realmente, eu só
queria falar com você sobre isso primeiro. Pelo que sei, você já tem
alguém.

—Não. —Eu disse sem pensar em camuflar a verdade. —Eu não


tenho ninguém.

—Então você quer conhecer a filha dele?

—Não, não foi isso que eu quis dizer. Eu não quero conhecer a filha
de ninguém. Eu só quero fazer o meu trabalho e economizar meu
dinheiro.

—Para quê? —Ele perguntou.

—Para a faculdade, Sr. Rivera.

Ele riu.

—Acho que passamos do palco do Sr. Rivera, Peter. Me chame de


Gio.

Gio. Meu coração disparou.

Ele colocou o último pedaço de biscoito em sua boca e lambeu uma


mancha de marmelada de seu lábio superior. Eu desviei o olhar,
desconfortável com a forma como vê-lo lambendo o lábio me fez sentir.
Eu estava ficando duro, e isso era muito errado.
—Então você não quer uma namorada, ou simplesmente não tem
uma no momento? Você é um cara jovem. Eu não posso imaginar que
você esteja tão focado em ser responsável que você não pense sobre...

Ele não teve que terminar sua sentença. Nós dois sabíamos o que
ele queria dizer.

Sexo.

—Eu quero...

O que diabos eu estava prestes a dizer? Eu não poderia ser honesto


com ele. Não sobre isso.

Ele limpou a garganta, parecendo nervoso pela primeira vez.

—Correndo o risco de ultrapassar os limites, eu gostaria de


oferecer algo a você.

Minha cabeça se levantou e eu olhei para ele, apavorado com o que


sairia de sua boca em seguida.

Ele respirou fundo.

—Eu tenho a habilidade e os meios para fazer as coisas


acontecerem para você, Peter. Há mulheres aqui em Las Vegas que
adorariam te mostrar um bom momento, sem amarras. Bom, mulheres
limpas. Mulheres de qualidade.

—Não. —Eu praticamente gritei.

Droga, eu não queria uma prostituta, de qualidade ou não. Havia


atualmente apenas uma coisa que eu queria, e não era nem no reino das
possibilidades.
—Eu disse algo errado? —Gio perguntou. —Eu não quis ofender
você. Eu estava apenas tentando descobrir onde está sua cabeça. Não sei
como fazer isso sem fazer perguntas.

—Pare. —Eu disse, a palavra quase um sussurro.

Ele se levantou e veio ao redor de mim, colocando a mão


suavemente no meu ombro.

—Sinto muito, Peter. Eu só quero que você seja honesto comigo.


Eu quero ser alguém em quem você possa confiar. Alguém com quem
você possa contar. Eu me preocupo com você. Lembra-se do que eu
disse? Você está sob minha proteção.

—Eu não quero que você me encontre uma mulher. —Eu disse. —
Isso é tudo que posso te dizer.

Eu estava brincando com fogo. Eu poderia facilmente ter dito a ele


que não me sentia confortável com a ideia de estar com uma prostituta.
Eu não sabia se algum dia conseguiria sair e dizer que eu era gay, mas
parte de mim, a parte perversa e necessitada de mim, queria que ele
soubesse. Precisava que ele olhasse nos meus olhos e visse quem eu era.

—Você tem uma namorada? —Eu perguntei, chocado com a minha


própria coragem. Porque eu queria saber onde a cabeça do Gio estava
também. Era um tiro longo, mas talvez nossas cabeças não estivessem
tão distantes assim. Havia até uma pequena possibilidade de que elas
estivessem exatamente no mesmo lugar.

Eu não tinha visto nenhuma evidência do Gio ter uma vida


amorosa. Ele não mencionou nenhuma mulher e nenhuma apareceu. Eu
suponho que ele poderia ter sido apenas despreocupado com essas
coisas, mas eu tenho a nítida impressão de que ele era uma pessoa
sensual. E o jeito que ele olhava para mim às vezes era confuso. Eu
gostaria de poder vê-lo agora, mas ele ainda estava atrás de mim. Ainda
tinha a mão no meu ombro.

—Não, eu não tenho namorada. —Ele falou, inclinando-se perto


do meu ouvido. —Você gostaria de saber o porquê?

Estremeci com a proximidade dele, com o tom rouco em sua voz e


a sensação de sua respiração contra o lado do meu pescoço.

—Sim. —Eu sussurrei.

Mas antes que ele pudesse responder, uma batida soou na porta.
Gio rosnou e foi ver quem era, deixando meu ombro frio onde sua mão
estava.

—Espero que você tenha uma boa razão para me interromper. —,


Gio falou.

Seu tom era duro, assim como sua expressão, e me lembrei de


como ele falara com meu pai. Em todo o tempo que passamos juntos, ele
nunca tinha sido menos do que gentil comigo, e eu tinha esquecido que
ele não era um santo. Que ele provavelmente era um criminoso e eu
estava trabalhando para ele.

Gio conduziu um homem corpulento ao escritório e fechou a


porta. Tentei ignorar suas vozes abafadas porque imaginei que o que
quer que estivessem dizendo não fosse da minha conta, mas era
impossível ignorar o tom da conversa. Gio parecia zangado, mas ele não
ficou beligerante e gritou como meu pai teria feito. Ele manteve a voz
baixa e firme, e havia uma borda que enviou um frio na minha espinha.
Quando eles terminaram de falar, o grandalhão saiu do
apartamento, olhando para mim por cima do ombro enquanto batia a
porta. Gio olhou para a porta por um momento, com os olhos frios e
zangados. Então ele se virou para mim e sua expressão se suavizou.

—Você viu isso, Peter? Não foi minha imaginação que ele acabou
de bater a porra da minha porta, certo?

Eu balancei a cabeça, os olhos arregalados.

—Algumas pessoas nunca aprendem. —Gio sorriu


melancolicamente e atravessou a sala, puxando uma maçã da tigela de
cristal no balcão e mordendo. Então ele olhou para mim e inclinou a
cabeça enquanto mastigava e engolia. —O que você acha que eu deveria
fazer sobre isso? Devo deixar ir ou algum castigo em ordem?

Eu me contorci no meu lugar e escolhi minhas palavras com


cuidado.

—Eu acho que depende se ele trabalha ou não para você.

—Ele é meu empregado, sim.

—E ele tem uma razão legítima para estar chateado?

Gio riu.

—Suponho que todos acham que a raiva deles é justificada. Mas


acho que ele está errado e sua irreverência é perigosa em meus negócios.
Eu não posso me dar ao luxo de ser visto como fraco. Se eu não fizer
nada sobre o seu comportamento, ele vai pensar que ele pode se dar bem
com isso. Então ele vai reclamar de mim pelas minhas costas, fazendo
com que os outros funcionários pensem que podem entrar em minha
casa e bater na minha porta. A próxima coisa que você sabe, as pessoas
vão começar a pensar que não precisam ouvir uma palavra do que eu
digo. Eles não vão me respeitar.

—E isso seria ruim.

Ele assentiu.

—Muito ruim. Respeito é a única coisa entre mim e uma sentença


de prisão, Peter. Ou pior, uma bala.

—Então eu acho que você não tem escolha.

—Eu gosto do jeito que você pensa. —Ele disse com um sorriso. —
Você é uma pessoa sensível, mas entende que, quando chega a hora,
você faz o que tem que fazer.

—Exatamente. —Eu disse. Mas não pude deixar de imaginar que


tipo de punição eu tinha acabado de assinar para o funcionário
descontente. —Sr. Rivera, eu...

—Eu lhe disse para me chamar de Gio. —Ele falou. —De agora em
diante. Eu acho que você ganhou isso.

—Ok, Gio. —O nome ainda parecia estranho em meus lábios, mas


me dava uma emoção mesmo assim. Nós estávamos chegando perto. —
Eu ia dizer que não quero que ninguém seja demitido.

Ele me olhou estranhamente.

—Quem você está procurando? Ele ou eu? Esse homem ganhou


sua lealdade? Você sabe o nome dele?
—Claro que não. Foi idiota da minha parte dizer isso. Eu estava me
sentindo inseguro. Como, quem sou eu para dizer quem merece o quê?

Ele assentiu.

—Deixe-me tornar simples para você. Eu cuido de você e você


cuida de mim. Sempre.

Eu sorri.

—Isso torna tudo muito simples. Eu realmente quero fazer o que é


certo. Para você.

Ele se inclinou contra o balcão e me deu um sorriso preguiçoso.

—Você quer que eu fique orgulhoso de você, não é? Você quer me


agradar. Eu posso ver nos seus olhos toda vez que você olha para mim.

Eu hesitei, sem saber como responder.

—Hum… sim. Eu nunca tive...

Jesus, o que eu estava dizendo? Eu só ia derramar minhas


entranhas para ele? Dizer a ele que merda de vida eu tinha em casa?
Dizer a ele que às vezes eu imaginava cortar a garganta do meu pai e,
pior ainda, às vezes eu imaginava cortar a minha própria para fugir?

—Eu entendo. —Ele disse. —Você pode não saber disso, mas você
se comunica tanto com seus olhos que é quase assustador. Eu faço
perguntas o tempo todo, e raramente recebo uma resposta direta de seus
lábios. Mas seus olhos... Eles te entregam todas as vezes.

—Sério? —Meu rosto enrubesceu.


O que eu inadvertidamente comuniquei a Gio durante o mês em
que estivemos trabalhando tão próximos? Ele poderia ver meus
segredos mais sombrios? Ele poderia sentir como eu me sentia sobre
ele? Será que ele sabia que eu tinha caído com tanta força que fiquei com
medo de nunca mais poder olhar para outro homem sem ver seu rosto?

—Assim. —Ele falou. —Você é como um livro aberto. Como uma


tragédia shakespeariana se desdobrando diante de mim. Tão doce. Tão
vulnerável. Eu só quero fazer tudo bem para você, Peter. Você vai me
deixar fazer isso?

—Sim. —Eu sussurrei, sentindo minha garganta apertar em torno


de um soluço. —Eu quero que você faça tudo bem.

Ele assentiu.

—Você está dispensado pelo resto do dia. —Ele puxou um cartão


de crédito da carteira e entregou a mim. —Vá ao shopping e compre o
que chamar sua atenção. Não importa com o que você gasta. Eu posso
pagar isso. E pegue algo novo para vestir que não seja um terno. Escolha
algo que você ame.

—Você tem certeza? —Eu perguntei, nem mesmo tentando


esconder meu choque.

—Tenho certeza. Você quer me fazer feliz, certo?

—Sim, claro.

—Então vá gastar muito dinheiro. Tente me chocar. Vou checar


minha declaração, e se a quantia não me fizer uma aposta dupla, vou
ficar muito infeliz.
Coloquei o cartão de crédito no bolso e saí do apartamento
atordoado. O que ele achava que era muito dinheiro? Cem dólares? Mil?
Eu fui até o salão da piscina para pegar Theo, porque eu ia precisar de
ajuda.
NA MANHÃ SEGUINTE, pendurei meu paletó nas costas da

cadeira e sentei-me na mesa de café do Gio, como de costume, mas dessa


vez estremeci quando minha bunda sensível bateu no assento um pouco
duro demais.

Eu escondi minha expressão rapidamente, mas já era tarde


demais. Eu já havia me denunciado.

Gio se recostou na cadeira e estreitou os olhos para mim.

—O que você tem?

—Nada. —Meu tom era indiferente quando eu coloquei uma pilha


de ovos mexidos no meu prato e evitei olhar diretamente para ele. O
homem tinha um jeito de ver através de mim, e ele era a última pessoa
que eu queria que descobrisse o meu segredo sujo.

—Não minta, Peter. Você não é muito bom nisso.

Suspirei e sentei na minha cadeira, e tive que cerrar os dentes para


não estremecer novamente.

—Eu disse que não é nada, Gio. Você gosta de me envergonhar?


Eu caí ontem à noite e tenho uma contusão, ok? Isso faz você feliz? —Eu
sabia que parecia uma criança petulante, e estava usando suas próprias
palavras contra ele.
—Claro que não me faz feliz. —Ele disse calmamente. —Eu não
gosto de ver você com dor. Onde você caiu?

—No chuveiro. —Era uma boa desculpa, mas eu hesitei por um


tempo, e ficou óbvio no segundo que saiu da minha boca que Gio não
estava acreditando.

—O chuveiro, hein? —Ele inclinou a cabeça e quase sorriu. —


Deixe-me ver.

—Deixar você ver? Você está brincando comigo? Está no meu... —


Corei.

—Mostre-me. —Ele falou. —Levante-se e abaixe as calças. Você


pode virar primeiro. Não estou tentando envergonhar você.

Raiva ferveu dentro de mim, juntamente com outra emoção que


eu não queria nomear. Uma emoção que trouxe calor ao meu rosto e fez
meu coração pular no meu peito.

—Você perdeu a cabeça se você acha que eu vou abaixar minha


calça e deixar você olhar para o meu... —A palavra final não viria, mas
ele e eu sabíamos o que eu queria dizer.

Eu estava com raiva, mas pela expressão estrondosa no rosto de


Gio, ele estava ainda mais irritado do que eu. Ele se levantou e deu a
volta para o meu lado da mesa, olhando para mim com os olhos azuis
gelados.

—Eu não sou seu pai, Peter, e eu nunca machucaria você. Você não
sabe disso agora? É insultante que você não confie em mim quando tudo
o que eu tentei fazer é ajudá-lo a melhorar sua situação.
Ele se virou para ir embora, depois voltou ainda mais furioso do
que antes. Inclinando-se sobre mim e segurando os braços da minha
cadeira, ele me virou para encará-lo. Ele estava desconfortavelmente
perto, não deixando nenhuma chance de escapar de seu escrutínio.

—Eu não cheguei onde estou ignorando o que está acontecendo ao


meu redor. Ao contrário de você, presto muita atenção em tudo.

Eu tranquei na acusação, internalizei, senti como uma faca no meu


intestino. Eu estava acostumado a insultos, provavelmente mais do que
a maioria, mas não vindo de Gio. Ele nunca havia feito um comentário
depreciativo para mim antes, e percebi naquele momento o quão
emaranhado meu senso de autoestima havia se tornado com sua
aprovação.

—Ao contrário de mim? —Eu perguntei, minha voz fina e


vacilante.

Ele fechou os olhos por um segundo, visivelmente controlando sua


raiva.

—Sim, Peter. Não é sua culpa, no entanto. Você é jovem e


destreinado, mas vamos trabalhar em suas habilidades de observação.
Preocupar-me com você o tempo todo é muito perturbador e não posso
me permitir distrações.

—Você se preocupa comigo? —Eu estava atordoado. Por que um


homem poderoso como meu chefe estava preocupado comigo? Eu não
era ninguém.

—É claro que eu me preocupo, garoto bobo do caralho. —Ele


passou a mão pelo cabelo e rosnou. —Porra. Em que estou me metendo?
Ele estava falando em código, e ele estava mais emocionalmente
volátil do que eu já o vira, desconcertando desde a preocupação com a
raiva até a exasperação.

—Eu não entendo, Gio. O que tem você tão chateado?

Ele agarrou os braços da cadeira novamente e me olhou


diretamente nos olhos, o azul em seus olhos piscando como fogo e gelo.

—Não se faça de idiota comigo. Você acha que eu não sei o que ele
faz com você?

Eu engoli em seco e me inclinei para trás, tentando colocar a maior


distância possível entre mim e ele. Tentando não notar o aroma
temperado de sua colônia ou o calor que irradiava de sua pele.

—Eu não sei do que você está falando.

—O inferno que você não sabe. —Ele rosnou com os dentes


cerrados.

De repente eu estava de pé, e Gio estava me puxando para o


quarto, seus dedos fortes em torno do meu antebraço. Ele não era rude
comigo tanto quanto firme e insistente.

Eu lutei contra ele, uma voz frenética na minha cabeça gritando


para eu correr, para fugir antes que algo de ruim acontecesse, e percebi
com um choque que eu nunca lutei contra o meu pai quando ele me
machucou.

Se eu estivesse disposto a deixar um homem que eu odiava fazer o


que ele quisesse comigo, então por que eu estava me contorcendo para
escapar das garras de um homem que não tinha me mostrado nada além
de bondade e respeito? Esse conhecimento me deixou sóbrio o suficiente
para permitir que ele me levasse para o quarto.

Ele me levou para o lado da cama e me virou em direção a ela,


pressionando as pernas contra as minhas e me prendendo no lugar. Eu
podia sentir sua respiração ofegante na parte de trás do meu pescoço
quando ele passou os braços em volta de mim e começou a desatar o
cinto.

—Não. —Eu choraminguei quando senti meu zíper sendo


abaixado. Minhas calças caíram no chão em volta dos meus tornozelos.

—Acalme-se, Peter. Eu não vou te machucar. —Gio colocou os


dedos na barra da minha cueca e a puxou para baixo, segurando o tecido
com cuidado longe do meu corpo enquanto ele fazia isso. Então ele me
empurrou gentilmente sobre meu estômago e levantou minha camisa.

Quando o ar tocou a pele sensível, comecei a tremer, medo e


vergonha enviando tremores minúsculos por todo o meu corpo. Uma
lágrima escapou do canto do meu olho e caiu na cama.

—Não olhe. —Eu sussurrei.

Gio não falou, e no silêncio que se estendeu entre nós, tentei


imaginar o que ele estava sentindo. Raiva? Pena? Nojo? Eu sabia o que
ele estava vendo. Longos e inchados emaranhados do cinto do meu pai
estendiam-se de um lado da minha bunda para o outro, manchados pelo
roxo avermelhado pálido dos primeiros hematomas.

Enquanto eu a estudava no espelho naquela manhã, meu único


pensamento era que era melhor que um olho roxo ou um lábio
quebrado. Meu pai só me marcava onde os outros podiam ver quando
ele estava particularmente fora de controle. Geralmente ele tinha bom
senso para esconder o dano.

—Não é tão ruim. —Eu disse, minha voz mais forte do que eu
esperava. —Não dói muito, para ser honesto.

—Besteira. —Ele falou. —Isso é uma atrocidade.

—Você pode pensar que é abuso ou algo assim, mas não é. Eu


mereci isso.

Embora seu rosto estivesse escondido de mim, pude sentir Gio


ficando ainda mais irritado. Os músculos das pernas dele se apertaram
contra os meus e ele soltou um suspiro barulhento.

—E o que, por favor diga, um garoto de dezoito anos faz para


merecer esse tipo de surra?

—Eu não deveria ter aceitado seu cartão de crédito. Ele achou que
eu roubei.

—Ele bateu em você por minha causa? —Ele falou. —Porque eu


estava tentando fazer algo bom para você?

—Eu não o culpo. Eu teria pensado que foi roubado também.


Quero dizer, quem apenas entrega a um cara como eu um cartão de
crédito e diz a ele para gastar dinheiro? —Fiz uma pausa. —Ele também
está chateado porque eu não vou ajudá-lo com o aluguel. Mas se eu fizer
isso, não serei capaz de economizar para o meu próprio lugar. Eu prefiro
levar uma surra. —Eu me contorci na cama, me sentindo mais nu a cada
minuto. —Posso me levantar agora?
—Não. Você vai ficar onde você está. Eu tenho um pouco de creme
no banheiro que vai ajudar com a dor.

—Isso não é necessário. —Eu disse. —Eu nunca precisei. —Eu


parei de me incriminar. De admitir que esta não era a primeira vez que
eu tinha ferimentos como estes.

— É necessário, e você fará como lhe é dito. Eu sou o chefe e digo


o que acontece por aqui.

Ele entrou no banheiro e vasculhou uma gaveta antes de voltar


para ficar atrás de mim novamente. Suas pernas roçaram as minhas e
eu tentei ignorar o jeito que isso me fazia sentir.

—Eu agradeço a preocupação, Sr. Rivera, mas...

—Por que de repente você está me chamando de Sr. Rivera de


novo?

—Porque eu sinto... —Como eu me sentia? Envergonhado?


Exposto? —Muito perto. —Eu sussurrei. Sinto-me muito perto de você.

—E isso é uma coisa ruim? —Ele esguichou creme na mão, jogou a


garrafa na cama ao meu lado e começou a esfregar as mãos juntas. O
creme fez ruídos sutil de esmagar quando ele o aqueceu entre as palmas
das mãos. —Isso vai doer um pouco no começo, mas vai se sentir muito
melhor. Você verá.

O toque dos dedos no meu traseiro nu me surpreendeu, e eu


respirei profundamente. Gio murmurou um pedido de desculpas
enquanto passava a trabalhar com o creme suavemente sobre a carne
macia, tão delicadamente quanto possível. Eu estava tenso no início, me
apoiando contra a dor enquanto ele rapidamente cobria toda a área da
base da minha coluna até logo abaixo do topo das minhas coxas.
Momentaneamente, a dor começou a diminuir. Gio moveu as mãos
metodicamente, no começo mal fazendo contato com a minha pele e
lentamente trabalhando o creme mais fundo.

Antes de me dar conta, relaxei. Minha respiração diminuiu, meus


olhos se fecharam e perdi a sensação de toque. Suas mãos eram quentes,
calmantes e masculinas demais para não provocar uma resposta.

Senti uma agitação quando meu pau começou a encher contra o


tecido frio dos lençóis, algodão caro que parecia muito diferente do
tecido volumoso que cobria meu futon em casa. Era decadente, um
deleite sensual por conta própria, e eu estava mais excitado do que
jamais estivera em minha vida.

As mãos do Gio se moveram para baixo, amassando os músculos


das minhas coxas, onde o cinto de meu pai não se aventurara, e eu gemi.
A pedido dele, eu tinha começado a tirar meus sapatos quando entrei no
apartamento, e agora meus pés descalços enterravam-se no carpete
enquanto eu empurrava de volta um pouco para o seu toque.
E então ele parou.

—Isso deve resolver. —Ele falou, sua voz rouca e quebrada. Ele
limpou a garganta.

Eu queria protestar, implorar por mais, mas ao invés disso, fiquei


imóvel na cama. Agora que eu tinha sido trazido de volta aos meus
sentidos, eu estava muito ciente da minha ereção inadequada entre eu e
os lençóis, e comecei a me preocupar.

Se Gio notasse o efeito que ele teve em mim, ele me demitiria?


Certamente as coisas ficariam desconfortáveis entre nós depois disso.
Inferno, elas já seriam desconfortáveis. O homem tinha acabado de
descobrir o meu mais embaraçoso segredo, e pior ainda, ele tinha me
medicado como se eu fosse uma criança.

E agora eu ia ter que levantar com um tesão furioso. Eu sabia que


tinha que esconder isso dele a todo custo, mas como eu ia fazer isso com
ele parado ali me observando? Ele já havia me dito que prestava atenção
aos detalhes. Uma ereção nua era um detalhe muito difícil de perder.
Mas quando minha mente girou, tentando encontrar uma maneira de
disfarçá-lo, Gio se afastou e foi até a porta do quarto.

—Por que você não desliza suas roupas o resto do caminho e sobe
na cama? Descanse um pouco. Apenas tente ficar de barriga para baixo
até que o creme esteja completamente absorvido.

Ele não esperou por uma resposta. A porta se fechou atrás dele e
eu fiquei sozinho no luxo glorioso de sua cama. Eventualmente,
adormeci e sonhei com as mãos dele em mim.

Eu devo ter ficado exausto, porque não acordei até o final da tarde
quando ouvi vozes na sala de estar. A voz de Gio. E do meu pai.

Meu coração pulou na minha garganta e eu puxei as cobertas até


o meu queixo. Eu não conseguia ouvir o que eles estavam dizendo, mas
eles definitivamente não estavam tendo uma conversa amigável.

Alguns minutos depois, ouvi Gio entrar no quarto. Tentei fingir


que estava dormindo, mas ele sabia melhor.

—Eu acho que você ouviu isso. —Ele falou.


Eu abri meus olhos, envergonhada por ter sido pega jogando
gambá41.

—Eu não conseguia ouvir o que você estava dizendo, mas ouvi a
voz do meu pai. Ele parecia louco. Por que ele veio até aqui?

—Eu pedi para ele. Eu disse a ele que tinha notado os ferimentos
que ele lhe causou na noite passada e também lhe disse que lhe dei o
cartão de crédito.

—O que ele disse?

Gio soltou um suspiro de desgosto.

—Não importa o que ele disse, Peter. Ele aterrorizou você. Eu disse
a ele que você vai ficar no meu quarto a partir de agora, e ele não deve
se aproximar de você em nenhuma circunstância.

O medo me dominou. Parte de mim, a maior parte, odiava meu


pai. Mas o pensamento de deixá-lo me fez sentir culpado. Como se fosse
errado, e eu seria de alguma forma punido por isso.

Quando não falei nada, Gio sentou-se na cama ao meu lado. Eu


queria que ele me tocasse, mas ele não tocou. Em vez disso, ele ficou de
costas para mim e falou baixinho.

—Se ficar comigo deixa você desconfortável, posso fazer outros


arranjos para você. Eu não tive a oportunidade de consultá-lo primeiro.

Procurei a coragem de ser honesto e finalmente encontrei.

41
Um gambá muitas vezes age como morto quando confrontado com uma situação com a qual não
quer lidar. Por isso essa expressão.
—Não me deixa desconfortável, mas também não quero ser um
fardo para você. Você já fez muito por mim. Não quero que você pense
mal de mim.

—Eu não. —Ele falou. —E você nunca poderia ser um fardo para
mim. Eu sou um homem muito rico, Peter. Eu tenho os meios para fazer
o que quiser.

—Mas... —Mordi o lábio e tentei descobrir as palavras para


explicar o meu medo.

A verdade era que eu queria ficar com Gio, teria ficado feliz em sua
companhia a cada segundo do dia, mas não entendia sua oferta. Eu não
sabia se ele só me via como um caso de caridade ou se ele realmente se
importava comigo. O pensamento dele pensando mal de mim ou
sentindo pena de mim fazia minhas entranhas se agitarem. Isso quase
me deixou fisicamente doente.

Deus, eu era tão patético.

—Você realmente não sabe o que eu sinto por você? —Ele


perguntou, sua voz mais suave do que eu já ouvi.

—Você se preocupa comigo? —Eu perguntei hesitante.

—Eu faço. —Ele disse. —Mas isso é apenas parte disso. —Ele se
levantou e foi até a poltrona ao lado da cama, como se precisasse colocar
espaço entre nós para dizer o que queria dizer. —Eu quero você aqui. O
tempo todo.

—Como um assistente residente? —Eu perguntei, não ousando


sonhar que poderia ser mais do que isso.
A ideia de que Gio Rivera pudesse realmente me considerar um
amigo era ridícula. E a ideia de que ele poderia devolver minha paixão,
bem, isso era pior do que ridículo. Era um absurdo.

Ele balançou a cabeça para mim e eu pensei ter visto tristeza em


seus olhos.

—Venha aqui. —Ele falou.

—Onde? —Perguntei.

—Levante-se e venha até aqui.

Minha boca se abriu.

—Mas eu estou nu aqui embaixo. Você esqueceu?

—Não. —Ele falou. —Eu não esqueci. Eu sei que você está nu e eu
não me importo. Apenas saia de debaixo das cobertas e caminhe até aqui
para mim.

Alguma parte de mim se perguntou se eu estava de alguma forma


entendendo mal o seu pedido. Que assim que eu me descobrisse, ele
olharia para longe com desgosto e vergonha. Mas eu empurrei as
cobertas de volta e me levantei.

O desgosto e o embaraço nunca vieram. Ele me observou sem


vergonha, seus olhos azuis comendo cada centímetro da minha pele. Eu
estava tremendo com uma mistura de medo e desejo tão forte que meu
pau estava meio duro antes mesmo de chegar à cadeira.

Eu parei na frente dele, tentando ser corajoso enquanto ele olhava


descaradamente para o meu corpo. No meu pau endurecendo. Eu queria
encobrir por vergonha, mas não o fiz. Porque eu o queria tanto. Eu
queria acreditar no que estava vendo em seus olhos. Que ele me queria
tanto quanto eu o queria.

A lógica me dizia que era impossível, e uma voz no fundo da minha


mente estava sussurrando Garoto idiota, como você poderia ousar
esperar? Mas eu ousei. Fiquei nu e duro na frente do homem mais sexy
que eu já vi, e me atrevi com todo o meu coração.

Ele estendeu a mão e me puxou para o seu colo, abrindo as pernas


o suficiente para que minha bunda dolorida ficasse entre elas. Então ele
sentou-se e me abraçou ao peito, passando a mão para cima e para baixo
do meu braço, me acalmando.

—Eu sei que você foi ferido. —Ele falou, seus lábios roçando no
meu cabelo enquanto ele falava. —Eu não quero dizer apenas
fisicamente. Você foi maltratado, querido, e isso me deixa tão zangado
que eu poderia matar.

Meu coração quase parou, mas o movimento suave de sua mão no


meu braço me acalmou de volta.

Ele respirou fundo e soltou o ar, mexendo meu cabelo. Então ele
inclinou meu rosto para o dele e tocou seus lábios nos meus.

Um beijo de verdade, pensei. É assim que deve ser.

Ele não parou com apenas um beijo. Ele moveu seus lábios contra
os meus pelo que pareceram horas, me ensinando com seus movimentos
enquanto ele andava. Logo eu estava beijando de volta.

Quando ele enfiou a língua dentro da minha boca eu gemi e derreti


contra o seu corpo, amando a sensação de tudo o que ele estava fazendo
comigo. Ele me beijou até que eu pensei que iria morrer do puro êxtase
disso. Então ele se abaixou e passou a mão sobre a minha ereção.

Eu me afastei, ofegando quando a paixão explodiu dentro de mim.

—Você nunca foi tocado assim? —Ele perguntou.

Seus olhos disseram que ele já sabia a resposta, mas ele queria me
ouvir confirmar.

—Não. —Eu admiti. —Eu sou virgem. —Corei escarlate. —Na


verdade, esse foi meu primeiro beijo de verdade.

Ele apertou meu pau tão gentilmente, e meus olhos quase rolaram
de volta na minha cabeça. Ele assistiu a minha reação, suas pupilas
explodiram. Eu nunca tinha visto nada tão cru e poderoso quanto a
luxúria desenfreada que se escondia no azul e preto de seus olhos.

Não havia dúvida sobre se ele me queria ou não. Ele me queria


tanto que eu podia sentir isso saindo dele em ondas. Cada olhar e cada
toque comunicaram um desejo tão profundo que me tirou o fôlego.

De repente ele se levantou e me colocou gentilmente no chão.


Então ele me acompanhou até a cama.

—Curve-se, meu lindo menino. —Ele falou. —Eu preciso entrar


dentro de você.

Eu estava com medo, sem saber o que esperar, mas fiz o que ele
pediu e me inclinei sobre a cama. Ele correu a palma da mão suavemente
sobre a carne dolorida da minha bunda e eu respirei fundo.

—Acalme-se agora. —Ele persuadiu. Então ele abriu as bochechas


da bunda com os dedos e gemeu. —Porra, você é lindo.
Eu não me mexi quando ele começou a tirar suas roupas, fazendo
um rápido trabalho e deixando-as cair no chão. A gaveta do criado-
mudo se abriu, e eu o observei pelo canto do olho enquanto ele removia
uma garrafa de líquido claro.

Estava chocantemente frio quando ele esfregou na minha bunda,


mas a sensação agradável de seus dedos me tocando lá eclipsou o frio.
Logo estava quente, e ele deslizou a ponta do dedo apenas dentro do
meu buraco. Eu fiquei tenso, mas ele continuou, sussurrando palavras
ternas de encorajamento enquanto ele trabalhava o dedo dentro de
mim, pouco a pouco.

Então ele posicionou a cabeça do seu pau contra o meu buraco e


começou a empurrar. Lenta e metodicamente, ele fez o mesmo com seu
pênis, como fez com o dedo. Estava começando a queimar muito, mas
havia algo sobre isso que eu gostava.

—Isso vai doer. —Ele disse. —Mas a dor será apenas temporária, e
então você vai me querer dentro de você o tempo todo. Você confia em
mim?

—Sim, Gio. Eu confio em você.

E eu confiei nele. Eu confiei nele com meu corpo, meu coração,


minha vida e minha alma.

Ele empurrou seu pau duro com firmeza e de forma constante em


mim, não desistindo ou diminuindo a velocidade quando eu lutava
involuntariamente com a dor. Eu enterrei meu rosto na cama para
silenciar o som dos gritos que me arrancaram, assim como fiz quando
meu pai me açoitou.
Eu estava com vergonha da minha fraqueza, mas Gio fez uma
pausa e usou as mãos para virar o rosto para o lado. Minha bochecha
estava na cama e eu estava ofegante.

—Não tenha medo de me deixar ouvir você, querido. Eu sempre


quero saber o que você está sentindo. —Ele empurrou o resto do
caminho com um gemido baixo de prazer.

Eu gritei, sentindo a queimadura da minha carne virgem sendo


esticada e rasgada. Ele parou de se mover o tempo suficiente para me
deixar ajustar ao tamanho dele, e logo a dor lancinante se desvaneceu
em um pulsar que me consumiu. Quando ele começou a se mover
lentamente para dentro e para fora de mim, o resto do mundo se
dissipou, deixando apenas a minha bunda, o pau de Gio, e o ritmo
intenso de prazer e dor.

Eventualmente, eu estava ciente do meu próprio pau se movendo


contra a cama a tempo com seus movimentos, e me abaixei e agarrei-o.
Deus, a masturbação nunca se sentiu tão bem. Eu não poderia durar.

Eu fiquei tenso e soltei um grito angustiado enquanto derramava


minha semente na cama do Gio. Ele continuou se movendo atrás de
mim, seus movimentos acelerando até que eu podia sentir seu pênis
pulsando dentro de mim, enchendo minha bunda com jatos de porra
quente.

Depois de um momento, Gio saiu de mim e subiu na cama. Então


ele deu um tapinha no peito, um convite para subir no que eu
alegremente aceitei. Ele me abraçou perto dele e me beijou sem sentido
novamente, segundos se estendendo em longos minutos.
Quando ele terminou de me beijar no esquecimento, ele inclinou
meu queixo para cima e estudou meu rosto.

—Sim, você gostou. —Ele disse sem nunca fazer a pergunta.

Talvez ele estivesse dizendo a verdade quando disse que podia ler
cada emoção no meu rosto. Se ele pudesse, então ele saberia que eu era
o mais feliz que eu já estive em toda a minha vida. Ele também saberia
que eu tinha caído loucamente e profundamente apaixonado por ele, e
que se ele me deixasse, eu não iria sobreviver.
—EU SUGIRO que você coma alguma coisa. —Gio falou. —Você

quase não comeu nada ontem à noite. Quando o almoço chegar, você vai
se sentir mal.

—Desculpe, só não estou com fome hoje.

Eu olhei para o rosto sorridente de ovo mexido e bacon que eu


tinha construído no meu prato e desejei poder comer alguma coisa só
para apaziguar Gio. Eu não queria admitir a razão pela qual perdi o
apetite, mas era difícil esconder qualquer coisa dele.

—Você não se arrepende do que aconteceu entre nós, não é? Eu


nunca me perdoaria se...

—Deus, não. —Eu disse. —Eu lamento sobre isso menos do que
qualquer coisa que tenha acontecido na minha vida. Foi incrível.

Gio me observou atentamente enquanto ele mordia uma fatia de


melão e lambeu um pouco de suco de seu lábio inferior. Sua sofisticação
fácil garantiu que ele parecesse incrível, não importa o que ele estava
fazendo.

—Então você está preocupado em sentar na reunião de negócios


hoje. Você não sabe o que esperar.
Eu tinha conseguido uma promoção improvisada naquela manhã.
Ou talvez uma maneira melhor de dizer isso é que Gio decidiu expandir
minhas funções de tarefas domésticas para reuniões de negócios com
seus associados.

—É só que eu não conheço os outros homens. Eles são como meu


pai?

Gio levantou uma sobrancelha.

—O que você quer dizer com seu pai?

Eu me mexi, não querendo ser totalmente honesto. O que eu tinha


a dizer poderia ofendê-lo, e isso é algo que eu nunca quis fazer. Mas ele
iria empurrar até que ele conseguisse suas respostas, então eu decidi que
poderia muito bem falar.

—Quero dizer, eles trabalham para você... assim?

Ele riu, seus olhos azuis se enrugando nos cantos.

—Você quer saber se eles são homens violentos? Se eles


machucam as pessoas para ganhar a vida?

—Sim. —Eu disse. —Eles fazem o material do piano?

—Fio de piano? —Gio balançou a cabeça. —Seu pai lhe disse que
ele usa fio de piano nas pessoas?

Eu assenti.

—Ele mencionou uma vez quando estava bêbado. Entre outras


coisas.
Gio estendeu a mão por cima da mesa e inclinou meu queixo para
cima, gentilmente me forçando a fazer contato visual com ele.

—Seu pai não é um assassino contratado. A única coisa que ele faz
por nós é um pouco de coerção. Às vezes uma ameaça é tudo que alguém
precisa. Se isso não funcionar, um pouco de ação do punho geralmente
faz o truque.

—Mas com quem ele usa a ação do punho? —Eu esperava que não
fossem pessoas inocentes.

Gio suspirou.

—Você viu o cassino no andar de baixo, mas o que você


provavelmente não sabe é que tenho um acordo com um cara chamado
Z que lida com apostas esportivas para as pessoas. Às vezes essas
pessoas tomam dinheiro emprestado de nós. Se eles não podem pagar
de volta, seu pai e seu amigo Paul são enviados para incentivá-los a
descobrir como obter o dinheiro. Não é um negócio tão grande e,
sinceramente, não tenho muito a ver com essa parte do negócio. Para
mim, é apenas um projeto paralelo. Uma das várias coisas que eu me
envolvo.

—Meu pai ganha trinta mil dólares por ano? —Perguntei.

—Mais como metade disso, imagino. Ele é algo como um


contratado independente, e ele não é pago a menos que obtenha
resultados. Pense nisso como um trabalho baseado em comissão.

—Mas ele vem para trabalhar todos os dias, certo?

Gio já estava balançando a cabeça.


—Ele fica nos cassinos todos os dias. Z sabe onde encontrá-lo se
ele precisar dele. Ele tem uma vida justa, suponho, mas vou lhe contar
a parte mais interessante. —Gio se inclinou como se ele tivesse uma
fofoca suculenta. —Seu pai deve mais dinheiro a Z do que alguns dos
caras que ele está buscando. Às vezes, Z tira o pagamento, às vezes não.
Eu acho que depende do tipo de humor que ele está.

—Então você não trabalha diretamente com meu pai? —Perguntei.

—Nós só nos encontramos algumas vezes. Ele realmente trabalha


para Z, que trabalha para mim. Então, tecnicamente, suponho que você
poderia dizer que seu pai trabalha para mim.

Eu senti a vergonha familiar lavar-me.

—Meu pai é tão mentiroso, juro. Eu não sabia que ele estava
apenas nos cassinos o dia todo e espancava alguém de vez em quando.
Ele basicamente não tem um trabalho em tudo. Ele é como um daqueles
caras que ficam na loja de ferragens esperando que alguém o pegue para
um trabalho estranho.

—Olhe para mim, Peter. —Gio tamborilou os dedos na mesa até


que eu finalmente olhei para cima. Então ele sorriu. —Não importa o
que seu pai faz ou quanto ele exagera. Não só ele fez uma grande criança,
mas ele trouxe você para me encontrar e conseguiu um emprego para
você. Você tem que dar a ele adereços para isso. —Ele riu. —Eu quase
cancelei esse compromisso, você sabe.

—Sério? —Isso me pegou de surpresa. —Por que você não fez?

Ele encolheu os ombros.


—Algo me disse para não fazer. Quando tenho uma sensação
profunda no meu intestino assim, sempre ouço.

—E agora? —Eu não sei o que eu estava perguntando. Eu só sabia


que queria que ele continuasse falando. Ouvi-lo falar isso me faz sentir
bem.

—E agora aqui estamos. Você está feliz, certo? Você não se sente
seguro?

—Sim. —Minha voz era baixa, mas eu quis dizer tanto. Eu


trabalhava para Gio há um mês e morava com ele há dois dias, e já me
sentia mais decidido do que nunca.

—Diga-me. —Ele falou. —Porque você gosta de estar aqui comigo?

—Bem, eu não tenho que controlar minha boca. —Eu disse. —Na
verdade, você me encoraja a falar o que penso. Você não grita comigo.
Você não fica bêbado o tempo todo. Você cheira bem. —Eu esfreguei
distraidamente o hematoma no dorso do meu braço. —Você não me faz
sentir vergonha. E eu gosto de não comer cereal no café da manhã todas
as manhãs.

—É isso mesmo? —Gio olhou meu prato recolhido, e corei.

—Você sabe que eu costumo comer. Eu estava apenas preocupado


em sair com...

—Um monte de homens como seu pai. —Ele forneceu. —Bêbados


ásperos que poderiam se tornar maus a qualquer segundo.

—Como você me entende tão bem? —Eu perguntei.


—Eu não te entendo nada, Peter. Não há nenhuma maneira que eu
possa me relacionar com você ou simpatizar com seus sentimentos. Eu
não fui criado por um pai abusivo. Minha família sempre teve dinheiro.
Minha mãe não teve dois filhos de dois homens diferentes, depois os
abandonou e acabou em uma instituição mental.

Eu suspirei.

—Como você sabia? Eu nunca contei a ninguém.

Os olhos de Gio, que eu tinha visto brilhar com paixão e geada de


raiva, agora se desvaneciam em uma suave cambraia, e ele sorriu.

—Você está sob minha proteção, lembra? Eu não posso cuidar de


você se não souber o que estou enfrentando.

—Eu não a conheço mais. —Eu disse.

—Eu sei, e sinto muito por isso. Não consigo entender você e não
sei como você se sente, mas quero melhorar sua vida.

Eu funguei, sentindo a queimadura de lágrimas que não cairiam


se eu pudesse detê-las.

—Então eu sou um caso de caridade para você.

Gio veio para o meu lado da mesa e me puxou do meu lugar. Ele
passou os braços em volta de mim. Braços fortes que pareciam mais
quentes do que eu sabia que os braços podiam ser. Seus dedos
enrolaram no meu cabelo, e ele me puxou contra ele, pressionando
minha bochecha contra seu peito.
—Você está longe de ser um caso de caridade. Pareço o tipo de
homem que faz alguma coisa com a bondade do meu coração? Você me
acha do tipo que sacrifica minha própria felicidade por outra pessoa?

—Sim. —Eu disse, balançando a cabeça e fungando.

Uma risada baixa ressoou no peito dele, vibrando contra o meu


ouvido.

—Você estaria errado, então. Eu não jogo impar ou par, Peter. Se


as probabilidades não estiverem a meu favor, não aposto no jogo.

Eu me afastei e olhei para ele, confuso.

—Afinal, o que isso quer dizer?

—Isso significa que sinto que estou conseguindo mais do que você.
Você está aqui me deixa feliz.

Ele se inclinou e tomou meus lábios em um beijo suave, fazendo


amor com a minha boca. Eu nunca havia percebido como era
maravilhoso beijar alguém. Quando vi outras pessoas fazerem isso,
parecia apenas parte do sexo. Algo que você faz para esperançosamente
transar.

Gio mudou minha opinião sobre isso. Beijá-lo era como um evento
principal em si. Eu poderia ter deixado aquele homem lamber e
provocar e violentar minha boca o dia todo e nunca me cansar disso.
Infelizmente, não poderíamos fazer isso o dia todo. Demasiado cedo, ele
se afastou e deu ao meu cabelo um áspero afago.

—Hora de se vestir. Nós não queremos que os caras apareçam


enquanto estamos de cueca.
Eu olhei para a minha Calvin. Calvin Klein real, que eu tinha
comprado com o meu primeiro pagamento. Se havia uma coisa que eu
aprendi no meu primeiro dia no trabalho, é que você nunca sabe quando
vai ter que abaixar a calça na sala de estar de alguém. Eu não estava
prestes a ser pego em Fruit of the Looms de dois anos de idade. Agora
eu tinha Calvin em todas as cores que encontrei.

—Eu prefiro ficar assim o dia todo. —Eu admiti.

Gio olhou para a minha Calvin e olhei para suas cuecas de seda
estampadas. Nós dois estávamos duros.

Eu não tive a chance de explorar seu corpo na noite anterior. Eu


estava muito sobrecarregado e ele estava muito ansioso para me iniciar,
eu acho. Mas agora eu tinha o mais estranho desejo de tocar o que ele
tinha entre as pernas. A protuberância era irresistível.

Antes mesmo de perceber que estava fazendo isso, estendi a mão


e toquei-o no tecido. A sensação de dureza sob a seda escorregadia era
inebriante. Eu esfreguei suavemente com apenas as pontas dos meus
dedos, como se eu pudesse quebrá-lo. Como se fosse um artefato
precioso e eu tivesse sido encarregado de seu cuidado.

Gio me deixou tocar por um momento, então ele me agarrou pelo


pulso, estendeu a mão e soltou seu pênis do cós da cueca, e guiou minha
mão de volta para ele. Meus dedos deram a volta, e os dele foram ao
redor dos meus, e ele me mostrou o que ele gostava.

Ele acariciou seu pênis firmemente com a minha mão, e quando


ele pegou a velocidade, sua respiração ficou mais rápida também. Era
emocionante usar minha mão de maneira tão íntima, e observei com
fascinação ingênua enquanto ele trabalhava com meus dedos.
Lambi meus lábios enquanto olhava para ele, e Gio, que nunca
perdeu nada, me pegou fazendo isso.

—Você gostaria de provar? —Ele perguntou sem fôlego. —Vá em


frente, docinho. Coloque sua boca nele.

Eu me abaixei e apenas escovei a cabeça de seu pênis com meus


lábios. Ele diminuiu seus golpes e apertou um pouco mais forte, seus
movimentos intensos e deliberados.

Eu lancei minha língua para fora e para dentro da fenda, e provei


a gotícula leitosa que estava lá. Então eu dei a ponta de seu pênis um
beijo suave, de boca aberta, correndo meus lábios suavemente pelas
laterais e girando minha língua em torno dele.

Gio ficou tenso, e um jorro grosso e quente de porra jorrou em


minha boca quase sem aviso prévio. Ele gemeu longa e profundamente
enquanto enchia minha boca com outro jato e outro. Eu não pensei em
engolir, e os riachos de sua semente saíram da minha boca e desceram
pelo meu queixo.

Fechei a boca e engoli o que restava, batendo meus lábios.

—Mmm... —Eu disse, olhando para ele com uma careta.

Ele riu, e eu sabia que devia ter sido uma visão com meus olhos
selvagens e surpresos e queixo encharcado. Ele me puxou e me beijou,
lambendo minha boca e sentindo seu o gosto em mim. Então ele se
afastou e limpou a boca com as costas da mão.

—Você fez uma bagunça, Peter.


—Eu? —Eu perguntei incrédulo? —Você é o único que fez a
bagunça. Em mim.

Ele riu.

—Vá se limpar. Temos cerca de uma hora antes de as pessoas


começarem a chegar, e nós dois precisamos de um banho. Ele me deu
um tapinha de brincadeira no traseiro, e quando eu gritei, ele pareceu
chocado. —Desculpa. Eu esqueci que você ainda estava sensível.

—Não está tão ruim. —Eu disse. —O creme realmente ajudou.

Ele beijou o topo da minha cabeça.

—Eu ainda sinto muito. Agora se apresse e tome um banho para


que eu possa tomar o meu.

QUANDO A HORA da reunião chegou, Gio e eu estávamos

completamente limpos e vestidos, ambos de azul. Nós nos estudamos


lado a lado no espelho do banheiro antes dos convidados chegarem.

—Parecemos muito bem. —Eu disse.

—Um par combinando. —Gio alisou minha lapela e beliscou


minha bochecha. —E ninguém diria que você teve meu sêmen em seu
rosto uma hora atrás.

Sorri tanto que meu rosto estava em perigo de cãibra.


—Eu gostei. —Eu disse.

—Não tanto quanto eu, tenho certeza. —Ele se moveu para trás de
mim e agarrou meus quadris, apertando um pouco para que suas pontas
dos dedos fizessem cócegas apenas dentro dos meus quadris. Enquanto
eu ria e me contorcia, ele se abaixou e chupou meu pescoço, deixando
uma mancha molhada.

Eu limpei isso.

—Não me estrague. Eu preciso parecer profissional.

—Oh, isso me lembra. Eu tenho um caderno e uma caneta no


escritório para você. —Ele caminhou rapidamente para fora do quarto e
atravessou o apartamento para o seu escritório, que eu raramente tinha
tido a oportunidade de colocar os pés dentro.

Eu gemi quando o segui.

—Eu tenho o suficiente de tomar notas na escola. Você não pode


simplesmente pegar um gravador?

—Esse não é o ponto. —Ele falou. —Você precisa se tornar útil. Ou


pelo menos parecer útil. Você não pode simplesmente sentar lá e parecer
bonito. Eles vão se perguntar por que diabos eu convidei você para se
juntar a nós.

—Por que você está me convidando? Eu não entendo.

—Eu quero você lá. É tudo o que você precisa saber.

—Mas você age como se eles não gostariam que eu estivesse lá. —
Eu estava ficando nervoso de novo, e o fato de eu não ter comida no
estômago não estava ajudando.
—Eles vão ficar bem com isso desde que você tenha um propósito.
Ninguém quer um estranho ouvindo o seu negócio sem motivo. Nós
discutimos algumas questões delicadas.

—Ótimo. —Eu disse. —Eu não posso simplesmente ir assistir TV?


Ou que tal me dar alguns recados para entregar?

Gio encontrou um caderno no canto do seu esconderijo e me


entregou. Uma caneta estava alojada na encadernação em espiral.

—Tome notas. —Ele falou. —Faça seu trabalho.

Poucos minutos depois, havia três homens bem vestidos bebendo


limonada na sala de estar.

Frank, um italiano de quarenta e poucos anos, com bochechas


rechonchudas, cabelos penteados para trás e um cavanhaque brilhante,
reclamara o centro do sofá. Ele se esparramou, reivindicando tanto o
imóvel quanto humanamente possível.

Teddy se espremeu ao lado dele, tentando se tornar ainda menor


do que ele. Ele tinha um comportamento despretensioso de vendedor de
enciclopédia e, a partir de sua calvície de forma agressiva e barriga
arrebentando botões, imaginei que ele tivesse cerca de cinquenta e
cinco. Seu nariz era tão distraidamente fino que tive que me perguntar
se isso comprometeria seu olfato.

Z, o homem que Gio explicara era o chefe de meu pai, ocupara uma
das duas cadeiras da sala. Pela descrição de Gio, eu esperava um cara
durão que fumava charuto, mas a realidade era uma história bem
diferente. Calculei que ele tivesse vinte e tantos ou trinta e poucos anos.
Ele era magro como um viciado em drogas, com cabelos negros
espetados e um longo brinco de prata pendurado em sua orelha
esquerda. Seu rosto teria sido bonito se não tivesse olhos encovados e
lâminas nas maçãs do rosto.

Todos os três homens me encararam abertamente quando entrei


na sala, e pensei por um momento irracional que eu ainda poderia ter
alguma coisa no meu rosto. Ou talvez alguma coisa sobre meu
comportamento tenha gritado, perdi minha virgindade com Gio
Rivera.

Gio fez apresentações e todos nós apertamos as mãos. Então eu


tive que encontrar um lugar. Ou era escorregar ao lado de Frank na parte
restante do sofá ou sentar no chão. Eu me movi hesitante em direção a
Frank.

—Tome minha cadeira, Peter. —Gio falou.

—Eu não posso fazer isso. Esta é a sua reunião.

—Está bem. Eu esqueci que Frank ocupa quatro quarteirões da


cidade. Vou pegar outra cadeira no escritório. —Ele desapareceu e
voltou carregando uma enorme poltrona como se não fosse nada.

O homem era forte e, enquanto o observava, fantasiava com ele


me carregando assim. Me pegando e me segurando no ar enquanto ele
me fodia. Eu já tinha visto isso em vídeos pornográficos antes e achei
que parecia desconfortável, mas agora eu estava morrendo de vontade
de tentar.

Gio colocou a cadeira bem ao lado da minha e começou as coisas.


Ficou claro desde o início que eu não ia entender muito. Os outros
quatro homens tinham conhecimento prévio das situações que estavam
discutindo, e eles não tiveram tempo de soletrar para mim.

Eu apenas escrevi um pouco do que eles disseram e tentei parecer


meio inteligente. Cerca de dez minutos depois, me peguei rabiscando
fotos de caveiras e rosas. Theo sempre dizia que eu era muito bom em
desenho, então eu tinha praticado muito na escola quando eu deveria
estar fazendo anotações. Aparentemente velhos hábitos são duros de
morrer, porque aqui estava eu fazendo isso de novo. Só que desta vez eu
estava sendo pago por isso.

O grupo discutiu maneiras de extrair mais dinheiro dos


empreendimentos em que estavam trabalhando enquanto
minimizavam os riscos. Eu acabei entendendo que o risco significava
perder dinheiro ou ser pego pela lei.

Eu não era ingênuo o suficiente para pensar que qualquer coisa


que essa equipe fizesse era legítima, mas ouvir falar tão livremente era
desconcertante. Eu me vi imaginando alguns cenários que envolviam
policiais arrombando nossa porta e levando todos nós para a prisão.

Fiquei especialmente nervoso quando começaram a falar sobre


doces, que imaginei que poderiam ser traduzidos para drogas. Eles
usaram muitas palavras de código, e eu só consegui descobrir um casal.

Após a discussão dos negócios, a conversa se voltou para questões


de natureza mais pessoal. Todos perguntaram sobre a mãe doente de
Frank, e ele disse que ela teria que ir para um lar de idosos. Então Z falou
sobre a pneumonia que a mãe sofrera no último inverno. Teddy
recomendou algum remédio herbal que ele recentemente começou a
vender, e todos zombaram.
Uma vez, quando olhei para Gio, ele me lançou uma piscada sutil
e um sorriso. Isso fez com que toda a reunião valesse a pena.

Fiquei um pouco surpreso que Gio não tenha falado muito. Ele
sorriu e acenou para os caras de vez em quando.

Quando ele se levantou para encher sua limonada, ele encheu a


minha também. Agradeci e tomei um gole, tentando não parecer tão
obviamente apaixonado quando o olhei por cima da borda do copo.

Eu também tentei não olhar para o corpo dele. Toda vez que eu
fazia, imaginava o que estava embaixo de seu terno imaculado, e meu
rosto ficava quente. Uma vez, ele ajustou seu pau sutilmente em suas
calças enquanto ele cruzava as pernas, e eu juro que comecei a ficar duro
com aquele simples movimento.

—Então, o que há com o assistente? —A pergunta rude de Z tirou


minhas fantasias de Gio e me trouxe de volta ao presente desconfortável.

Todos os olhos estavam em mim.

Gio encolheu os ombros.

—Ele está tomando notas para mim, como eu disse.

—Ele vai para a faculdade para isso? —Frank perguntou. —Parece


que ele ainda está no ensino médio.

—Eu acabei de me formar. —Eu disse indignado.

—Você sabe taquigrafia? —Teddy perguntou. —Minha irmã toma


ditado de taquigrafia para um escritório de advocacia. Ela foi para a
escola noturna para aprender como fazê-lo, e agora eles a mantêm
ocupada o tempo todo.
Eu balancei a cabeça, me perguntando o que diabos era
taquigrafia.

—Deixe-me ver. —Z falou, acenando-me com a mão que não estava


segurando o copo de limonada.

—Desculpe-me? —Eu perguntei.

Z acenou com a mão novamente, desta vez mais animadamente.

—Traga para cá. Deixe-me ver o que você tem aí.

Gio não interveio, então me levantei do meu lugar e levei o caderno


até Z, corando até as pontas do meu cabelo. Este era o momento da
verdade, quando eles descobririam que eu não passava de uma fraude.

Ele pegou o caderno da minha mão e estudou-o por um longo


tempo, virando as páginas para trás e para a frente com a mão livre
enquanto o caderno estava em seu colo.

—Este é um bom trabalho, garoto.

—Obrigado. —Eu disse, incapaz de acreditar em meus ouvidos. Ele


estava falando sério?

Ele segurou o caderno para mim, mas quando eu tentei levá-lo de


volta, ele segurou.

—Talvez eu consiga que você faça algumas anotações para mim


algum dia. —Ele disse com um sorriso arrogante.

Gio riu, mas não era genuíno. Não como os que ele reservou para
mim.
—Ele trabalha em tempo integral para mim, Z. Eu não permito
clandestinidade.

Z deu de ombros e soltou o caderno, fazendo com que eu o pegasse


com muita força e tropeçasse um passo para trás. Então voltei para o
meu lugar, afobado.

Eu sabia que não deveria ter comparecido à reunião. Gio dissera


que os outros caras não se importariam, desde que eu tivesse um
propósito para estar lá, e Z acabara de descobrir que eu não tinha. Bem,
não é legítimo, de qualquer forma.

Por que diabos eu tinha desenhado esses rabiscos?

Olhei para Gio em busca de apoio, mas ele estava olhando para Z.
Parecia haver um confronto implacável entre eles.

Depois de alguns segundos, Z quebrou o contato visual e sorriu.

—Parece que você já treinou seu garoto certo. Terno sob medida,
sem sapatos. Melhor tomar cuidado, ou ele estará tomando o seu lugar.

Frank parou de cutucar distraidamente alguma coisa no pescoço e


se juntou à conversa.

—A mãe sempre nos obrigou a tirar nossos sapatos quando


chegamos à porta também.

Z olhou para a porta do apartamento de Gio e sorriu, depois me


deu uma olhada que não consegui decifrar. Isso até que percebi que não
havia sapatos na porta. Meus sapatos estavam no armário de Gio,
colocados ordenadamente abaixo dos meus ternos.
DUAS SEMANAS depois que me mudei para o apartamento de
Gio, o trabalho tornou-se quase inexistente. Eu ainda tentava fazer
coisas para ele, mas ele não parecia ter muito a oferecer em termos de
tarefas. Comecei a me perguntar se ele só havia me contratado para ficar
perto de mim, porque ele certamente não parecia ter uma necessidade
legítima de um assistente. Eu tinha chegado a entender que ele tinha
pessoas cuidando de quase tudo para ele, e ele era essencialmente
apenas o homem do dinheiro nos bastidores.

Ele me levou para jantares agradáveis e para o shopping, e uma


vez nós jogamos golfe em miniatura. Nós nunca agimos como se
estivéssemos em um encontro, pelo menos não onde outras pessoas
pudessem ver ou ouvir, mas sabíamos a verdade.

Gio sussurrava coisas para mim quando achava que ninguém


estava olhando. Coisas doces que faziam meu coração doer e coisas ruins
que faziam meu pau ficar duro.

No apartamento, nós comíamos e nos aconchegávamos na frente


da TV juntos. E claro que fizemos amor. Gio me queria com tanta
frequência agora que eu comecei a me lubrificar por ele.
Bom garoto. Ele diria quando me encontrasse pronto. E eu ficaria
corado com a necessidade, e com uma enorme sensação de orgulho que
eu não conseguia explicar.

Ele me comprou coisas também. Coisas ridículas que eu não


precisava, como um relógio Rolex e um par de tênis de trezentos dólares.
Nas duas vezes em que tentei protestar, ele olhou para mim com tanto
desejo em seus olhos que eu cedi. Quem era eu para negar a um homem
um pouco de felicidade?

Além disso, eu também estava feliz. No espaço de quatorze dias,


minha antiga vida evaporou no ar. Tanto quanto eu estava preocupado,
nunca tinha existido. Eu nunca havia existido. Não antes de Gio.

Certa noite, quando acabei de tirar a roupa para entrar no


chuveiro, Gio entrou no quarto. Ele estava se encontrando com algumas
pessoas na cidade, então ele estava todo vestido com seu terno sexy.
Assim que ele entrou pela porta, eu sabia que não era o Gio brincalhão
do minigolfe, ou o Gio do jantar romântico e fazer amor.

Esta noite ele era o homem de negócios. Meu favorito. Aquele que
poderia fazer homens crescidos murcharem com um olhar de seus olhos
azuis gelados. Aquele por quem eu me apaixonei.

—O que você está fazendo aqui todo nu e sozinho? —Ele


perguntou, chegando tão perto que eu podia sentir o cheiro de sua
colônia e os aromas da cidade que permaneciam em suas roupas e
cabelos.

—Prestes a tomar um banho. —Eu disse. —E pensando em Você.


—Sim? —Suas sobrancelhas subiram. —O que você estava
pensando?

—Que eu preciso de um apelido para você. Posso te chamar de G?


—Eu tracei meu dedo para frente e para trás ao longo da superfície lisa
de sua corrente de ouro.

—Não. —Gio falou. —Absolutamente não.

—Você me chama de todo tipo de coisas doces, mas eu não tenho


nada para você. Que tal Gigi? —Eu sorri para ele, esperançoso.

—Você está tentando me castrar, Peter?

—Eu não acho que isso seria possível. Você é o homem mais
masculino que conheço. Mas agora que somos íntimos, preciso de um
nome de animal de estimação para você. Algo que ninguém mais te
chamou, ou vai te chamar. Só eu.

Ele me deu um olhar sombrio e inflexível que eu conhecia bem, e


meu estômago chegou ao fundo.

—Você realmente quer me chamar de alguma coisa? —Ele me


perseguiu para trás do outro lado da sala até minhas coxas baterem na
cama. Ele agarrou meu pulso e me puxou contra ele, seu rosto a poucos
centímetros do meu. —Você pode me chamar de papai.

—Papai? —Eu gritei.

—Não é isso que eu sou? —Ele perguntou, sua voz uma carícia. —
Eu te alimento, cuido de você, te compro tudo o que você quer.

—Mas você também, hum...


—Fodo você? —Ele riu baixo em sua garganta. —Sim eu faço. O
mais frequente possível. Eu não me canso de você.

Eu engoli, lutando contra um desmaio. Meus joelhos estavam


fracos e corria o risco de cair.

Ele trouxe seus lábios aos meus, apenas mal fazendo cócegas na
superfície da minha pele.

—Eu te fodo bem, Peter? —Ele passou a mão ao meu lado e até a
minha bunda, agarrando um punhado e apertando suavemente.

Eu balancei a cabeça, respirando contra seus lábios enquanto


meus olhos se fechavam. Então ele me beijou. Apenas um pequeno
suspiro de um beijo.

—Diga isso. —Ele apertou minha bunda novamente, mais forte


desta vez, e o movimento puxou meu cu esticado. As terminações
nervosas se acenderam, enviando arrepios de sensações por todo o meu
corpo.

—Você me fode muuuito bem. —Eu sussurrei, apertando meu


buraco, precisando dele dentro de mim.

—Deite-se na cama e abra as pernas para mim.

Fiz o que ele pediu, dobrando os joelhos e abrindo as pernas, as


solas dos pés apoiadas no colchão. Mordi meu lábio inferior e corri a
mão lentamente pelo meu peito e meu abdômen, parando perto do meu
pau. Eu sabia que ele gostava de olhar para mim, e eu queria dar-lhe um
show, para tentá-lo a me dar o que eu queria em troca.
Ele subiu em cima de mim, trazendo seu rosto perto do meu mais
uma vez. Uma chama azul se enfureceu dentro de seus olhos, acendendo
todo o meu ser como um incêndio de verão.

—Você também gosta do meu pau grande, não é? —Ele se


esgueirou contra mim, e eu podia sentir sua ereção forçando dentro de
sua calça. A sensação do tecido contra a minha pele nua me fez ainda
mais duro.

—Sim. —Eu disse, correndo as palmas das minhas mãos na parte


de trás de sua camisa.

Mas Gio queria mais do que um simples sim. Ele pressionou sua
ereção na minha com tanta força que foi quase doloroso.

—Oh, Deus, sim. Eu amo o seu pau grande. —Eu disse, sabendo o
que ele queria ouvir. Eu envolvi minhas pernas ao redor de sua cintura
e me contorci contra ele como se pensasse que ele poderia me penetrar
com suas roupas.

—Você está pronto para mim? —Ele desenrolou minhas pernas de


seu corpo, levantou de joelhos na beira da cama, e pressionou um dedo
no meu buraco, empurrando apenas o suficiente para confirmar que eu
estava lubrificado. Quando meus músculos se apertaram e agarraram a
ponta do seu dedo, a insinuação de um sorriso inclinou o canto de seus
lábios.

—Bom menino. —Ele falou, abrindo as calças e trazendo seu pênis.


Ele se inclinou, apoiando-se com uma mão na cama, e pressionou a
cabeça contra a minha abertura sem entrar. —É isso que você quer?

—Sim. —Eu ofeguei, enrijecendo em antecipação.


—Diga-me. —Ele falou.

Ele queria que eu falasse. Eu poderia fazer isso.

—Foda-me. —Eu disse.

Ele empurrou de novo, mas não o suficiente para entrar em mim.


Ele estava me provocando.

—Você pode fazer melhor que isso, Peter. Pergunte-me bem. —Ele
balançou contra mim algumas vezes, a ponta do seu pau apenas
esticando meu buraco.

Deus, eu queria ele dentro de mim. A provocação era insuportável.

—Por favor, me foda. —Eu cavei meus pés na cama e me aproximei


dele, tentando forçá-lo a entrar em mim.

—Não é bom o suficiente. —Ele se moveu apenas fora do alcance e


sorriu. —Diga por favor, foda-me, papai.

Eu congelei, meus olhos se arregalando. Eu abri minha boca, mas


nada saiu. Eu tentei ignorar a vibração na minha barriga com o
pensamento de dizer essas palavras. Porque era horrível, não era? Era
pervertido, doente e vergonhoso. Então, por que meu pau ficou mais
duro?

—Vamos, você pode fazer isso. —Ele persuadiu. —Diga por favor…

—Por favor. —Eu repeti, a palavra me fazendo outro empurrão


provocante de sua ponta contra o meu buraco.

—Me. —Ele solicitou.


—Me. —Eu disse, suspirando quando ele se balançou em mim um
pouco mais forte.

—Foda. —Ele disse, sorrindo enquanto esperava que eu repetisse.

—Foda. —Outro empurrão, e desta vez sua cabeça quase quebrou


minha abertura.

Ele fez uma pausa dramática, olhando para mim antes de dizer:

—Papai.

Meu coração pulou no meu peito. Eu abri minha boca e depois a


fechei. Eu poderia fazer isso? Eu não queria, mas Deus, eu queria.
Muito. Mas se eu dissesse isso, ele saberia. Ele saberia que eu saí com
isso. Ele saberia que eu era ruim.

Mas ele era ruim, não era? Porque ele começou com isso, também.

Eu apertei meus olhos e selei meu destino.

—Papai.

Ele trabalhou a cabeça de seu pau apenas dentro de mim e parou.

—Todos juntos agora. —Ele falou. —Abra seus olhos e me diga o


que você quer que eu faça.

Eu abri meus olhos, sentindo a queimadura na minha bunda. Eu


estava longe demais para voltar agora. Eu tranquei meus olhos nos dele
e as palavras saíram dos meus lábios.

—Por favor, me foda, papai.


—Bom menino. —Ele rosnou empurrando em mim com tanta
força que eu gritei. Ele abaixou a cabeça na minha e mordeu o lóbulo da
minha orelha. —Um menino tão bom. —Ele sussurrou antes de bater em
mim uma e outra e outra vez.

Seu pau parecia enorme na minha bunda. Eu me perguntei se,


como eu, ele estava mais duro que o normal. Certamente parecia assim,
porque ele estava fora de controle. Ele fodeu como um animal sem
mente, como se sua cabeça nunca tivesse entretido outro pensamento
além de me reproduzir.

Seu bom garoto.

Eu amava o jeito que ele estava naquele momento, grunhindo e


batendo no meu corpo enquanto ele pairava sobre mim, seus cabelos e
olhos selvagens. Ele era feroz e imprudente, e eu nunca tinha visto nada
tão bonito em toda a minha vida.

Eu queria devorá-lo e ser devorado por ele. Eu queria me amarrar


a ele e me recusar a sair. Eu queria casar com ele. Pelo amor de Deus, eu
queria ter seus bebês.

Porque eu precisava ser sua porra de tudo, assim como eu


precisava que ele fosse meu.

De repente, ele saiu de mim e se curvou, acariciando


simultaneamente meu pau e levando-o em sua boca. Ele bombeou o eixo
rudemente enquanto chupava e lambia a ponta, implacavelmente me
trabalhando até que meus quadris se levantaram da cama e eu estava
gemendo e gozando em todos os lugares. Todo o seu rosto, seu cabelo,
meu peito.
Antes da última gota ter caído, Gio bateu seu pau de volta em mim
e aterrou sua liberação, sua semente quente me enchendo e me fazendo
inteiro.

Quando ele terminou, ele permaneceu pairando sobre mim,


tremendo e tentando recuperar o fôlego. Então ele se sentou de joelhos
e puxou a camisa e a camiseta por cima da cabeça em um movimento
suave. Ele os usou para enxugar o rosto antes de jogá-los no chão ao lado
da cama. Então ele rolou para o lado e me puxou para seus braços.

Ele esfregou meu cabelo, me acalmando, e eu aninhei em seu


pescoço e fechei meus olhos, deixando escapar um suspiro de satisfação.
Seus braços pareciam tão bons ao meu redor, como se pudessem apagar
dezoito anos de sofrimento com apenas um aperto.

—Estou apaixonado por você. —Ele disse suavemente.

Eu estremeci, meus olhos se abrindo. Eu tentei me inclinar para


longe, para ver seu rosto, mas Gio apertou seu aperto em mim e me
manteve exatamente onde eu estava.

—Não olhe para mim. —Ele falou. —Apenas feche seus olhos e
escute.

Eu balancei a cabeça e fiz o que ele pediu. A euforia me deixou


tonto e meu coração bateu forte contra a parede do meu peito, como se
estivesse tentando se libertar e voar.

—Eu nunca me senti assim antes. —Ele falou. —Nunca quis


alguém ou qualquer coisa como eu quero você. Desde o momento em
que você entrou na minha vida, não houve mais nada. Trabalhe, faça
festas, coma, tome banho, durma... tudo isso é apenas tempo de
marcação até que eu possa voltar para você. Eu não estou vivo quando
você está fora da minha vista, e quando estou com você, sou imortal. O
nível da minha obsessão é impressionante, Peter. Eu lhe digo isso não
porque eu sou um homem emocional, e não porque eu quero fazer você
se sentir bem. Palavras bonitas e romance não significam nada para
mim. Mas você precisa saber, bem aqui, esta noite... Eu nunca vou
deixar você ir. Você pertence a mim, para melhor ou para pior. Para
sempre. Você entende o que estou dizendo?

—Eu acho que sim. —Eu disse. —Mas você faz parecer uma
ameaça.

—Porque é, baby. —Ele beijou o topo da minha cabeça e suspirou.


—É a mais sincera ameaça que eu já fiz.
JAMIE VOLTOU PARA CASA meia hora mais cedo. Quando eu o
ouvi entrar no apartamento, eu me arrastei na cama e empurrei o diário
do Santori na gaveta, me machucando no processo. Eu estava tão
envolvido na história que eu tinha esquecido que estava ferido. Jesus
Cristo, minha cabeça estava girando.

Santori era gay? Eu não podia sequer imaginar a ideia.

Não só isso, mas quem era esse pequeno e manso Peter? Eu


simplesmente não conseguia conciliar o Peter Santori no diário com o
Peter Santori que eu conhecia. Suas personalidades eram mundos à
parte e, no entanto, tudo indicava o fato de que eles eram de fato um e o
mesmo. Foi surreal.

Jamie entrou no quarto e suspirou.

Eu tentei agir normalmente. Como se eu não estivesse morrendo


de vontade de arrancar o livro da gaveta e descobrir mais. Eu já estava
obcecado e a história do Peter estava apenas começando.

—Como você está? —Jamie perguntou. —Você conseguiu tempo


suficiente longe do Jamie hoje?

Eu balancei a cabeça, tentando tirar as teias de aranha. Tentando


sair da história de relacionamento de outra pessoa e voltar para a minha.
Peter e Gio tinham acabado de passar alegremente nos braços um
do outro, mas na vida real, minha vida, Jamie e eu estávamos em
desacordo. Alguma coisa aconteceu entre a hora do almoço e agora?

—Não seja assim, querido. Eu não estava me sentindo bem, só


isso.

—O que você fez o dia todo? —Jamie perguntou, tentando parecer


indiferente. Eu o conhecia bem o suficiente para ver através desse
truque. —Você assistiu TV, ou aquelas drogas deixaram você
completamente inconsciente?

—Eu estava praticamente nocauteado. —Eu menti, embora ainda


estivesse sentindo os efeitos.

Jamie pegou o celular e checou o registro de chamadas.

—De quem é este número?

Porra. Por que eu não apaguei o registro da ligação do Aaron? Eu


não poderia dizer a ele que tinha sido um número errado, porque ele
podia ver claramente que a ligação durou vários minutos. Eu decidi que
tinha que falar a verdade. De certa forma.

—Aaron ligou para nos verificar.

—Sério? —Jamie parecia chocado. —O que ele disse?

—Nada demais. —Eu disse. —Ele só queria ter certeza de que


estávamos bem.

—É isso? —Ele perguntou. —Depois de todo esse tempo, ele ligou


para dizer oi?
Dei de ombros.

—Ele queria saber se precisávamos de alguma coisa. Eu disse a ele


que estávamos bem.

—Você disse a ele que estávamos bem? —Ele perguntou incrédulo.

Ele tirou algo do bolso de trás e enfiou na minha cara. Era a nota
que eu escondi na gaveta da minha escrivaninha.

—Você passou pelas minhas coisas? —Mesmo que eu fosse o único


que escondia merda do Jamie, isso me irritou. —Eu não posso acreditar
que você iria bisbilhotar no meu maldito escritório. Por que você não
pode simplesmente confiar em mim?

—Porque você está mantendo as coisas de mim. —Ele balançou a


nota para dar ênfase. —Exposição A, Kage.

—Por que eu teria contado sobre isso? Eu nem sei o que significa
ou quem deixou. Eu só o encontrei na minha mesa no dia seguinte ao
show da Grace Howard. Pode ser qualquer coisa.

Jamie sacudiu a cabeça.

—Você ainda deveria ter me contado. Estamos em um


relacionamento. Nós vivemos juntos. Isso não significa nada para você?

—Claro que sim. —Passei a mão pelo meu cabelo, e mesmo esse
pequeno movimento enviou uma onda de choque de dor nas minhas
costelas. —Eu só não queria te preocupar. Eu quero que você seja feliz.

Ele andou pela sala e voltou, sua raiva mal contida.


—Como posso ser feliz quando não posso confiar em você para ser
honesto comigo? Eu sei que você não perdeu seu cartão de crédito ontem
à noite, Kage. Eu encontrei no seu bolso.

—Encontrou isso? —Eu soltava fumaça. —Você achou, ou estava


bisbilhotando de novo?

Ele correu para a cama e foi direto para o meu rosto, um tremor
de raiva percorreu seu corpo.

—Vou bisbilhotar se achar que há algo com o que me preocupar.


Se você acha que eu vou apenas sentar e ver tudo desmoronar, você está
redondamente enganado.

Eu soltei uma risada cruel.

—Algo para se preocupar? Você pensou que eu estava traindo você,


não é?

Eu estava sendo malvado e sabia disso. Eu nem sequer quis dizer


as palavras. Jamie estava absolutamente certo, e eu estava errado, mas
eu não podia me deixar ceder.

Ele se afastou de mim, seu rosto contorcido pela angústia da


traição. Eu coloquei aquele olhar lá, no lindo rosto que eu tanto amava.
O conhecimento me fez sentir mais inferior ainda.

—Na verdade, não. —Ele falou, assumindo valentemente o


controle de suas emoções. —Eu não achei que você estivesse me traindo.
Mas agora, a julgar por sua reação exagerada, estou começando a me
perguntar.
—Eu não estou traindo. —Eu disse, envergonhado por tê-lo feito
pensar em algo assim. —Eu nunca faria isso com você.

Jamie assentiu e olhou para mim por alguns segundos tensos.


Então ele foi calmamente para o armário e vestiu um moletom e uma
camiseta. Meu ritmo cardíaco acelerou e não diminuiu até que ele
emergiu de novo, aparentemente indiferente ao miniarsenal que eu
havia escondido no fundo do armário. Eu precisava descobrir como
apresentar tudo isso para ele, mas eu queria falar com Aaron primeiro.

Sem segurança. Aponte e dispare.

Se Jamie pegasse a arma e acidentalmente levasse um tiro, eu


nunca seria capaz de me perdoar. Mais uma vez, eu tinha colocado o
homem que eu amava em perigo.

Porra.

—Eu tenho uma arma. —Eu disse a ele. —Do apartamento do meu
tio. Eu também tenho um taser para você. O que ele usou em mim
naquela noite. Eles estão no armário, mas não mexa com eles até
aprendermos como usá-los, ok? A arma está carregada e não há
segurança nela.

—Você os pegou por causa do assalto? —Ele perguntou.

Eu balancei a cabeça, mesmo que não fosse realmente um assalto.


Eu tinha certeza que Jamie suspeitava disso, mas ele não me falou
diretamente.

—Você realmente acha que isso é necessário? Não me sinto


confortável carregando armas. Não poderíamos apenas pegar um pouco
de spray de pimenta?
—Spray de pimenta provavelmente não seria muito eficaz contra
quatro bandidos com armas, Jamie.

—Ok. —Ele respirou fundo e soltou, parecendo derrotado. —Eu


vou assistir um pouco de TV. Você quer assistir, ou eu deveria ir para a
sala de estar?

Sua voz era plana e eu não gostava do som disso, mas não havia
nada que eu pudesse fazer no momento. Não até que eu soubesse o que
estávamos enfrentando. Se o impulso chegasse, eu faria a última coisa
no mundo que queria fazer. Eu enviaria Jamie de volta para a Geórgia.

—Eu só quero dormir. Eu estou muito dolorido. —Era a verdade,


então por que se sentiu como uma mentira?

Porque você está fazendo um hábito de ser desonesto, uma


pequena voz dentro da minha cabeça sussurrou.

Jamie entrou na cozinha e voltou com meus remédios.

—Eu não quero que você se machuque.

Ele sacudiu dois para fora e entregou-os para mim com um copo
de água. Eu os peguei, embora não tivesse certeza se queria.

—Obrigado, querido. —Eu disse. —Por favor, não fique bravo. Eu


vou fazer as pazes com você assim que eu puder me mover novamente.

Seu rosto suavizou e ele passou a mão pelo meu cabelo.

—Kage... —Ele fez uma pausa, como se estivesse tentando


descobrir o que dizer. —Estou apenas irritado, isso é tudo. Eu não gosto
de ser mantido no escuro. Durma um pouco e eu falo com você de
manhã, ok? E não esqueça. Se você achar que precisa ir ao médico, me
avise. Eu posso estar com raiva, mas também estou preocupado com
você.

Eu balancei a cabeça e sorri.

—Claro, querido. Não se preocupe comigo, no entanto. Eu sou


durão.

—Sim. —Ele disse, virando-se para sair. —Às vezes você é muito
durão para o seu próprio bem.

—Eu te amo, universitário. —Eu falei atrás dele antes que ele
passasse através da porta.

—Eu também te amo. —Ele falou. —Não importa o que. —Então


ele desligou a luz e fechou a porta atrás dele.

Fiquei lá no escuro por um longo tempo, me vestindo com meus


pensamentos de assassinato, crime, perigo, armas e notas enigmáticas
escritas em tinta vermelha. O que minha vida se tornou? Estava girando
fora de controle e, por mais que eu orasse não iria, tudo estava
começando a afetar meu relacionamento com Jamie.

Decidi que seria melhor ligar para o Dr. Key de manhã. Eu


precisava de alguma ajuda para separar as coisas, e até que Aaron
achasse conveniente me fazer uma visita, o Dr. Key era tudo que eu
tinha. Ele era esperto. Ele me ajudaria a consertar as coisas com Jamie.

Pensar sobre o nosso relacionamento me lembrou do outro


relacionamento que eu praticamente vivi nas últimas horas. O romance
de Peter Santori e Gio Rivera.
Era inquietante e cativante. Eu precisava saber o que aconteceu
com eles.

Mais importante, eu esperava que os diários de Santori fossem a


chave para entender o que estava acontecendo na minha vida agora. Eu
já tinha aprendido que Theo Brown, o homem que enviara seus
capangas de Matrix para fazer carne picadinha do meu corpo, era o
melhor amigo do Santori. Eu também sabia que o hotel que eu agora
possuía pertencera a Gio Rivera. Quais outros segredos as páginas
continham?

Eu aprenderia mais sobre meu pai e Evan? Eu obteria uma melhor


compreensão dos eventos que me moldaram e da parte do meu tio
neles? Eu sentiria simpatia pelo homem que arruinou minha vida? Eu
viria a conhecer seu coração?

Eu estendi a mão e corri meus dedos ao longo da cadeia de espinha


de peixe na minha garganta. A cadeia de Gio. Um calafrio percorreu
minha espinha e estremeci.

Para encontrar respostas, eu teria que dar um passeio nos sapatos


de Peter Santori. Para experimentar sua vida. Para sentir o que ele
sentiu.

Era uma das perspectivas mais aterrorizantes que eu já havia


enfrentado, mas meus dedos já estavam ansiosos para puxar o livro
novamente. Eu estava querendo mais, e eu sabia que não seria capaz de
parar até que a última página de sua história tivesse sido virada.

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