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2014, autores Direitos para esta edigio cedidos a Editora da Universidade Federal dla Bahia, Feito 6 depésito legal. alizada conforme 0 Acordo Ortogréfico da Lingua Portuguesa de 1990, Grafia atu desde 2009. em vigor no Bra Ivan de Matos e Silva Jinior Capa Josias Almeida Jr. Projeto grafico, editoragao e arte final Sonia Chagas Vieira CRB-5/313 Normalizagao Rizomar Bispo Rocha Revisio SIB/UFBA/Faculdade de Educagao ~ Biblioteca Anisio Tei Saberes implicados, saberes que formam : 2 diferengs em perspectiva / Roberto Sidnel Macedo etal. (..]~Salvador : EDUFEA, 2034 379p. 11 (Sen: $78-85-232-1281-0 1 Professores -Formaglo. 2. Curriculos. 3. Educagdo - Estudo e ensino. |. Macedo, Roberto Sidne. I Titulo, 00 - 370.71- 23. ed. Editora filiada a sies> fBSU CBaLl UNIWERSITARIAS DE AMEMICA tATinaY et CAAIBE ‘Aawocage Bana dee (canes manne EDUFBA Rua Bardo de Jeremoabo, s/n, Campus de Ondina, 40170-115 Salvador-BA Brasil “TeVfax: (71)3283-6160/3283-6164 www.eduibaufba.br | edufba@ufba.br Universidade, territ6rio de identidade e mediagoes culturais: saberes implicados como politica de curriculo e formagao Claudio Orlando Costa do Nascimento Rita de Céssia Dias Pereira de Jesus 115, O menino do corpo reluzente: Ciéncias da Natureza Vanda Machado Ilustragéo de Rodrigo Siqueira 131 Pedagogias culturais do tempo presente forjando 0 outro-ameaca e as insurgéncias curriculares tensionando a producao da diferenga José Teixeira Neto - Zeléo 341 Sujeitos vigiados nas redes sociais do Orkut: dispositivos de controle que atingem a escola Telma Brito Rocha 159 Experiéncias formativas ao longo da vida: 0 ser professor em acgao/formacao Maria de Lourdes O. Reis da Silva 173 ATOS DE CURRICULO COMO EXPERIENCIAS EM FORMACGAO Didrios reflexivos como atos de curriculo e dispositivos de formagao Denise Moura de Jesus Guerra 193 Etnopesquisa, implicagdo, pertencimento e experiéncia formativa Roberto Sidnei Macedo 205 Atos de curriculo, re-existéncias e formagao de professores em atuagao: realces de uma etnopesquisa critica e multirreferencial Ana Verena Freitas Paim 217 Didrios reflexivos como atos de curriculo e dispositivos de formagao Denise Moura de Jesus Guerra Introdugao A partir do entendimento de que o fenémeno formagao se realiza em meio as agdes curriculares e na emergéncia de aprendizagens conside- radas valorativas e, consequentemente, significativas, ou seja, baseado a compreensao da intrinseca relagao entre curriculo ¢ formagao, 6 que o grupo de pesquisa em Currfculo ¢ Formagao (FORMACCE) vem operando, na universidade ou fora dela, com a escrita de didrios refle- xivos como atos de curriculo e dispositivos de formagao, nos quais os sujeitos provocados/implicados por outrem se colocam num processo de experimentagao de si, pesquisadores de si. Ao pensarmos curriculo, estamos concebendo/propondo formagao. Mas quem seleciona e elege os conhecimentos atividades considera- das formativas? O que os atores e grupos sociais envolvidos teriam a dizer sobre tais inteng6es? E eles dizem?! f no sentido de que as pes soas tém algo a dizer sobre suas experiéncias na relagdo estabelecida com os saberes de possibilidades formativas, que emerge a escrita do diario reflexivo como atos de curriculo. 193 194 QUE SABERES IMPLICADOS. SABE edo (2011) acerca da ding. Em consondncia com as ideias de Macedo (2011) ‘4 ‘ ja, os atos de currfculos ¢ mica curricular vinculada a formagao, 04 o asa suas implicagées formativas, podemos fee oe ae ere € sponsabilidade a Dm ao tomarmos a nossa respo toe pos atravessaRefletit sobre render a experiéncia que nos pas: ! " pees 6 uma atividade formadora, ja nos diz. (MACEDO, 2010; nder uma formaca construfda, predominantemente, pelo culo linear, fragmentad fico, de base curricular disciplinar? Um curriculo 1 * fe a lo, produto de simplificagées num mundo marcado por complexidades problemas globais que nos afetam. f ; O curriculo como texto em constante escrita revela o carater relacional e construcionista socialmente construfdo. O que, segundo Macedo (2010), transforma em atores/autores todos os implicados nas aces, movimentos, tessituras da formagao. Entender os atos de curricu- os vinculados a formacio significa compreendermos a relagao profun- damente imbricada entre currfculo e formagao, ao mesmo tempo é um modo de empoderar 0 processo de democratizagao do curriculo como ‘uma experiéncia singular ou bem comum socialmente referenciado. Desse lugar, compreender esta no ambito da existencialidade. A vida se constitui por atos de compreensao da propria existéncia. A compreensao de si produz sentidos, transforma, mesmo pelo viés das incompreensées! Para Macedo (2010), compreender implica, sobretudo, em aprofundar, distinguir, relacionar, objetivar, contextualizar, histo- ricizar para o aperfeicoamento da inteligéncia critica, da inteligéncia relacional das inteligéncias coletivas. Compreender por processos in- terativos como as pessoas mudam as suas vis6es de mundo imbricadas 4 seus pertoncimentos. Compreender a formagao! 0 ; : curriculares restritivas, ate Priedades privadas e das autoridades cor : Construgéo sociocultural criver on ati24 Macedo, curriculo é uma Srivada de caracterfsticas educacionais ¢ aOR ee ARIOS REFLEXIVOS COMO ATO Die URRICULO formativas configuradas por suj possibilidades instituin Suleitos que portam saberes ¢ valores de Para Macedo (2010, p. 45) Os atos de currfeulo fazom parte d, tido de nao encerrar a formaca ar a formagio num fond aera bmeno exterodeterminado pela mecanica curricular © suas palavras le orien, por conse éncia, nao vislumbram os formandos ¢ outros atorevanteres slo formagao como meros atendentes de clonals pouco aplicadores de modelos A préxis formativa, trazem 0 sen- demandas educacionais, tao padroes pedagégicos. Macedo (2011), inspirado no argumento de Dominicé de que a concepgao de formagao nao pode ser restrita a um 86 resultado de ‘ima atividade educativa, pois segundo esse autor trata-se de um fenomeno que inclui diferentes facetas da atividade curricular, tal como elas se desenham na vida de uma pessoa, enfatiza que toda formacao tem uma hist6ria a ser narrada e essa narrativa se revela ao longo da vida. As ideias desses autores demonstram a contfnua originalidade e criagéo em poténcia dos saberes da formagao e dos atos de curriculo. Significa considerar a experiéncia como fundante dos processos formativos. Sentido formativo da experiéncia narrada Aexperiéncia é formativa quando existe continuidade do conhe- cimento relevante e na medida em que esse conhecimento modifica, altera a perspectiva, a atitude e as habilidades do aprendente. Para Dewey, toda ado praticada ou sofrida em uma experiéncia modifica quem a pratica e quem a sofre, ao mesmo tempo em que essa modi- ficagdo afeta, quer queiramos ou nao a qualidade das experiéncias subsequentes, pois ao ser modificado pelas experiéncias anteriores de algum modo, seré outra a pessoa que passard pelas novas experiéncias. O que se aprende no processo de aquisigéo de um conhecimento em uma determinada situagao, torna-se um instrumento para compreen- der e lidar com situagées em devir. Entretanto, conforme observou Dewey, cada experiéncia afeta para melhor ou para pior as atitudes que contribuem para a qualidade das experiéncias subsequentes, ou seja, apenas algumas experiéncias podem ser consideradas formativas. Nesse contexto, Macedo (2010) advoga a favor de projetar/di- recionar o olhar sobre a qualidade da formagao, o que implica em 196 ES QUE FORMAM, SABERES IMPLICADOS, SABERES QUE FORMA’ compreender os acontecimentos saiabllizaderas - Sprendizagens consideradas valorativas pelos atores sociais aprend ees Processy, critico e situado, profundo de compreensao das aprendizagens ¢ dos respectivos artefatos mediadores. Compreender, reflexivamente, 0 conhecimento da formagao ea formagao do conhecimento, como agbes formativas, por uma pritics reflexiva valorizada, significa instrumentalizar-se com uma cond, cao impar para definir situagoes e decidir através do ponto de vid, em formagao qualificada. (MACEDO 2010, p. 195) Conforme Arroyo (2011), significa impregnar-se critica e dialeti- camente do repertério do trabalho docente que lhe pertence Por offcio, encerrando as experiéncias praticas e existenciais em situagées de descrigao profunda e andlise cada vez mais integradora. Desse lugar, a tomada de decisao de instruir-se a si mesmo coaduna com a atitude de narrar 0 préprio processo formativo que passa a constituir-se em experiéncia fundante do ator social em formagao. Aqui nos apropriamos do sentido de experiéncia em Larrosa, enquanto possibilidade existencial, criadora e inventiva da formacao: A experiéncia é um passo, uma passagem. Contém 0 “ x” do ex- terior, do exflio, do estranho, do éxtase. Contém também o “per” de percurso, do “Dassar atray da viagem, de uma viagem na vés”, qual o sujeito da experiéncia se prova e se ensaia a i monn a nao sem risco: No esperiri esté o DIARIOS REI XIVOS COMO ATOS DE CURRIC 10 O sentido da formas 0 6 pessoal ¢ relacional, implica, por conse- 0 de que toda formagio 6 autoformagao e hetero- ier experiénc guinte, na afirmal formagao. Entao, enquanto iniciati tas, embasadas pela ci lizagao e implicagdo com os construtos de form cocriagao, interagdes com outrem: pessoas, artefatos, meio ambiente, situagdes de encontro significativas consigo mesmo e com 0 outro. Os sujeitos de direito se autorizam, a partir mesmo da compreensao do curriculo instituidor da formagao na qual estao inseridos, a apropria~ rem-se de seus sentidos e significados e construirem/reconstrufrem ou desconstruirem, propostas curriculares embasadas nos processos de auto e heteroformagao situados. Goodson (2008) propée a implementagao de um curriculo por narragao porque concebe a potencialidade das narrativas como pro- vocadoras de reflexGes criticas sobre a materializagao do curriculo institufdo, ainda, prescritivo. Entretanto, esse autor denuncia que es- tamos apenas no comeco de uma nova especificagao para 0 curriculo educativo, vinculado ao aprendizado narrativo. Segundo Goodson (2008, p. 157) “No novo futuro social devemos esperar que 0 curriculo va se envolver com as missdes da vida, com os entusiasmos e objetivos que as pessoas articulam em suas vidas”. Atos de curriculo capazes de empoderar as pessoas. Lembrando Macedo (2011), as narrativas sio mobilizadoras de atos que forjam novos curriculos e concretizam formagao valorada. ‘A descrigdo densa da experiéncia formativa, que acontece no su- jeito prenhe de miltiplas referéncias e condigées contextuais, em po- téncia, é construtora de novas propostas formativas no/com 0 processo. ‘Ao formar-se, tendo a escrita de si como dispositivo eleito ¢ legitimado, © ator social sai da condigéo de mero participante de propostas cur- riculares exterodeterminadas para compor um cendrio formativo que Tesgata 0 sujeito e seu projeto de vida, legado inarredavel da formagao. individuais de autonomizagao, concer agiio, responsabi- “ao, como também A tessitura do didrio no continuo da formacgao Na atualidade, estamos reaprendendo, resgatando a agdo compreensiva do papel da pessoa na construgao das narrativas, 197 198 SABE} IMPLICADOS, SABER QUE FORMAM desconstruindo a cena de un verdade tinica ¢ absoluta, qu para o outro. No presente, existe um movimento em prol d da memoria, de escutar novas vozes dos distintos grupos sociais. Entretanto, para além da ¢ grupos sociais ‘ala pelo a valorizacag © instituigoes uta as narrativas dos sujeitos, doe constatam-se a pertinéncia ¢ a poténcia de fazer valee no interior dos currfculos concretos os debates, as controvéy construgées oriundas das narragées refletidas/formativas Podemos falar de uma meméria sociocultural que valoriza a dife renga e a multiplicidade de experiéncias, assim como contribui para transformagao da sociedade a partir, também, dos sujeitos, dos gru- Pos sociais e instituigd TSias, ag es alijadas dos seus direitos e pertencimentos, Memorias como registros individuais ou coletivos que, selecionados, compoem o patriménio cultural de um dado grupo. A explicitacio dessa memoria via narragao 6 reveladora de saberes e de valores. E desse lugar que os diérios reflexivos emergem e se conformam como atos de curriculo e formagao. A escrita dos didrios reflexivos se vincula a explicitagao e 8 compreensdo da experiéncia formativa e do Processo instituinte curricular, a partir da tomada de decisao da pessoa sobre sua formagao. O sujeito se autoriza a fazer a si mesmo ator/autor, pesquisador de si. Decide o que fazer, com que meios. Protagoniza sua prépria itinerancia formativa. Altera-se, move-se interativamente no acontecer da sua vida em formagao. (MACEDO 2012) Cabe, entre- tanto, qualificar essa escrita. Enquanto ato de currfculo, a narrativa pelo veio do didrio irrompe em ato responsével, criativo, critico, Te flexivo e ético-politico porque tem em si a possibilidade aprendente € emancipacionista. O autorizar-se a narrar a propria formagao implica numa aga concreta, intencional que permite a autorreferéncia, bem como 0S hibridismos, as miltiplas referéncias, a valoragao e a avaliagao 4° que é considerado formativo. Toda essa construgao se estabelece &™ ato relacional. Narramos nossa existéncia em relacao a outrem. Come afirma Macedo (2011, p. 46), “|... a experiéncia do mundo humane ® tuado e avaliative do sujeito, ao qual el? confere sentido a partir do mundo como materialidade concreta. 9 ato, portanto, postula, cria”. : O didrio reflexivo, de formagao como dispositive pedagogic? de aprendizagem, se constitui, entao, em narrativas reflexivas 44% sempre mediada pelo agir DIARIOS REFLEXIVOS COMO ATOS DE CURRICULO experiéncias subjetivas em relagao a outrem no processo formativo do ator social, em poténcia, protagonista, autor da sua construgio, da sua inventividade, da sua itinerancia. A experiéncia de narrar sobre a propria vida, pessoal e profissional ou episddios delas de alguma maneira, simultaneamente, nos sensibiliza e nos empodera a inventar e disseminar uma “escrita instituidora” (HESS; BARBOSA, 2010, p 97), capaz de romper com os modelos institufdos de escrita e forma- cao. Anténio Névoa, professor da Universidade de Lisboa e autor de diversas obras relativas as perspectivas (auto)biograficas na formagao de professores, ao prefaciar Josso (2004), realga como a utilizagao dos didrios e registros escritos permitem a cada um caminhar para si e... tornar-se formador. Os diarios reflexivos vém sendo utilizados como dispositive no campo da pesquisa ou empregados para fins pessoal e formativo. Seja em uma ou outra perspectiva, j4 que sio complementares, a formagao mediada pelos didrios reflexivos tem tido impacto significativo nas aprendizagens. No campo pessoal, mas interferente, as narrativas teflexivas permitem ao ator/autor rememorar, ajustar dilemas ocultos a sua percepgao pelas agées cotidianas do trabalho. Na dimensio da profissionalidade, possibilita a reflexao de teorias e praticas nos pro- cessos de trabalho. Zabalza (2004), ao potencializar os didrios como recurso para o desenvolvimento profissional permanente, elenca cinco etapas para 0 processo de aprendizagem: 1. Os sujeitos se tornam cada vez mais conscientes dos seus atos. 2. Realiza-se uma aproximagao analitica as praticas profissionais recolhidas nos diérios. 3. Aprofunda-se no significado das acées. 4. Possibilitam-se as decisdes e as iniciativas de melhoria introduzindo as mudangas que paregam aconselhaveis (a Partir dos registros e do novo conhecimento em relagio a eles). 5. Inicia- se um novo ciclo de atuagdo profissional (uma nova forma pessoal de tealizar o trabalho profissional) uma vez que vao se consolidando as mudangas introduzidas. Ademais, a experiéncia das narrativas por meio dos didrios reflexivos amplia o desejo, a iniciativa, o habito, a habilidade, o rigor de escrever; provoca ressonancias permanentes Ras agdes cotidianas do trabalho; proporciona o compartilhamento das experiéncias e mudangas mais cooperativas no trabalho; contri- bui para a perspectiva de avaliagéo pautada no acompanhamento e 199 SAMERES IMPLICADOS, SABERES QUE FORMAM Co-orientagio na qual negociagan, re ponsabiliza intercompreens autonomizagao, liagdo na formagio, explicitada na obra de Macedo (2010), ¢ se compatibiliza com outras modalidades didaticas, a exemplo dos memoriais ¢ portfélios. Do ponto de vista metodolégic jo concretizam a al xistem di as formas de conce- ber e escrever um didrio. Aqui, assumiremos a configuragao do didrio de itinerancia forjado por René Barbier na obra A pesquisa-agao que explicita como transformar um documento de caréter igiloso, pessoal em dispositive de partilha, de formagao. Segundo Barbier (2002), diario de itinerancia ¢ um instrumento de investigagao sobre si mes- mo em relagao ao grupo ¢ em que se emprega a triplice escuta/palavra ~ clinica, filos6fica e poética - da abordagem transversal. Bloco de spontamentos no qual cada um anota o que sente, 0 que pensa, o que medita, o que poetiza, o que retém de uma teoria, de uma conversa © que constréi para dar sentido a sua vida. Nesse contexto, o referide autor apresenta trés fases para a elaboracao do didrio: didrio-tascunho: diario elaborado e diério comentado, * O.dirio-rascunho -trata-se de uma escrita livre sobre qualquer oisa ou pessoa. & um registro do que lhe parece importante sobre sua vida ou de outrem, Aqui estao incluidas também as Parti do que se deseja ver expn que s "880, do didrio-rascunho em essonancia criadora com Sutras reflexdes, andlises que devem ser imediatamente registr; ; *eistradas. Assum ser media if Ne-se, ent a0 imaginaria com um leitor virtual. Escreve sia sic ‘ando acultura, g i eens! DIARIOS REFLEXIVOS COMO ATOS DE CURR{CULO. precisa ler os comentérios cientfficos, filos6ficos, poéticos que transversalizam a formagao. Barbier (2002, p. 139) afirma, ain- -lo no mais profundo do seu ser, ”, mas, fundamentalmente, da, que “[...] 0 texto deve to interrogé-lo sobre suas ‘evidéncias' precisa interessar. O texto comporta 0 paradoxo, a ordem, a desordem, o siléncio. Wittgenstein, citado por Barbier, afirma: “aquilo sobre 0 qual nao se pode falar, 6 preciso calé-lo”. Didrio comentado ~ Esta 6 a fase da escolha, da escuta e da reelaboragao. Nesse momento, oferecem-se para leitura frag- mentos ou a totalidade do didrio, na compreensao de que 0 texto foi cuidadosamente elaborado e, por conseguinte, in- teressa ao também ator/autor em formagao. O interesse pelo texto provoca reagao na forma de criticas ou ressonancias que devem ser escutadas para uma abertura reflexiva e construtiva da reelaboragao do escrito no diério-rascunho. Entéo, o apren- dente/formando pode reiniciar outro diario elaborado que sera de novo comentado e assim sucessivamente, permanentemente nos processos formativos da vida. Assim, nos contextos de formagao, esse dispositivo potencializa as narrativas dos sujeitos, suas itinerancias, evidenciando conhecimentos, saberes prdticos e te6ricos, expectativas, medos, satisfagao, atitudes de enfrentamento de desafios, criagées, cocriagdes como demarcagao da criagéo produzida em atos, na interagdo. Baseado na declaragao de Barbier, ao se socializar o didrio reflexivo ele pode se tornar coletivo e se constituir em inteligibilidades coletivas para novas aprendizagens e itinerancias curriculares. O didrio dispositivo formativo e curricular! Diérios precisam ser analisados, interpretados e problematizados em seu texto/contexto. Compreender a dindmica de escrever 0 coti- diano vivido exige um olhar atento, sintonizado para as experiéncias que se Ihes atravessam. E necessério ter em conta que tipo de uso se faz do diario ¢ como se abordam as informagées que ele contém. E Recessdrio analisar nas situagdes concretas a dimensdo referencial e xpressiva dos fatos. 201 SARERES IMPLICADOS, SABERES QUE FORMAM. Ideias conclusivas Ocurriculo e a formagao dos sujeitos de direito em situagao de for- magao estao relacionados as discussdes contemporaneas do educador critico-reflexivo que toma nas maos a sua itinerancia formativa, sem desconsiderar o poder, os engendramentos sociopoliticos e econémicos sobre a educagao, o conhecimento transmitido, a formagao inscrita num determinado currfculo cultural. Encontra-se no ambito da compreensao sobre curriculo e formagao, partindo da premissa do que os professores pensam sobre a pratica e como agem para ressignificd-la no campo do trabalho. A valorizagao das narrativas pelo veio do dispositive do diario se constitui em estratégia potente para reintroduzir/tensionar a vida cotidiana na formagao, considerando os sujeitos concretos da educagao: docente, discente e outros atores educativos. Referéncias ARROYO, M. G. Curriculo, territério em disputa. Petropolis, RJ: Vozes, 2011 BARBIER, R. A pesquisa-acdo. Tradugao Lucie Didio. Brasilia, DF Liber Livro, 2002 DEWEY, J. Experiéncia e educacao, 2. ed. Petropolis, RJ: Vozes, 2011 GOODSON, |. FAs politicas de curriculo e de escolarizagao: abordagens historicas. Petropolis, RJ: Vozes. 2008. HESS, R.; BARBOSA, J. G. O didrio de pesquisa: o estudante universitario € © seu didrio de pesquisa. Brasilia, DF: Liber Livro, 2010 JOSSO, M.-C. Experiéncias de vida e formagao. Sao Paulo: Cortez, 2004. LARROSA, J. Nietzsche & a educacdo. Belo Horizonte: Autantica, 2002 LOPES, A. C.; MACEDO, E. Teorias de curriculo. Sao Paulo: Cortez, 2011 MACEDO, R. 8. Atos de curriculo formagao em ato? entretecer © problematizar curriculo e formagao, Ih MACEDO, R. 8. Atos de curriculo e for Rio de Janeiro, v.13, n. 27, p. 67-74, jan MACEDO, R. 8. Compreender/mediar a flia, DF: Liber Livro, 2010. MOREIRA, A. FB. (Org.). Curriculo: questoes atuais c. SP: Popmus aoe questdes atuais. Campinas, SP: para compreender, ous, BA: Editus, 2011 Magao: o principe provocado. Teias Wabr. 2012 Jormagao: o fundante da educa? DIARIOS REFLEXIVOS COMO ATOS DE CURRICULO MORIN, E. A cabeca bem-feita: repensar, reformar, transformar 0 pensamento, 5. ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001. NOVOA, A. Vida de professores. Porto: Editora Porto, 1995. SILVA, T.T. Documentos de identidade: uma introdugao as teorias do qurriculo. Belo Horizonte: Auténtica, 1999. ZABALZA, M. A. Didrios de aula: um instrumento de pesquisa e desenvolvimento profissional. Porto Alegre: Artmed, 2004. 203

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