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Revista de

RADIODIFUSÃO
volume 07- número 08 - 2013

pesquisas em
ambientes digitais
TV INTERNET
RADIO CINEMA

ISSN impresso 1981-4984


ISSN eletrônico 2236-9619
“Pesquisas em ambientes digitais - TV • Internet • Radio • Cinema”

A (re) valorização do locutor na internet: estratégias


do rádio em um cenário de reconfiguração digital

Daniel Gambaro
dgambaro@usp.br

Eduardo Vicente
eduvicente@usp.br

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“Pesquisas em ambientes digitais - TV • Internet • Radio • Cinema”

A (RE) VALORIZAÇÃO DO LOCUTOR NA INTERNET: ESTRATÉGIAS DO RÁDIO EM UM


CENÁRIO DE RECONFIGURAÇÃO DIGITAL

Daniel Gambaro 1, Eduardo Vicente 2


1
Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, Brasil, dgambaro@usp.br
2
Escola de Comunicação e Artes/Universidade de São Paulo, São Paulo Brasil, eduvicente@usp.br

Resumo: O presente artigo traça uma breve reflexão seus sites. Uma pesquisa que está sendo iniciada na
sobre o modo como as tecnologias digitais estão Universidade do Minho, Portugal [3], tenta demonstrar
reconfigurando as formas de produzir e consumir como a forma das emissoras de notícia articularem
rádio. O principal argumento gira em torno da figura do suas páginas na internet valoriza pouco o áudio e
locutor de rádio FM e sua renovada importância em apresenta quase nenhuma especificidade da web.
estratégias de vinculação e fidelização da audiência, Assim, ao se assemelhar a portais de notícia comuns,
aliada a outras estratégias que podem ser essas emissoras vêm deixando de lado características
empreendidas pelas emissoras de rádio. Para tanto, importantes do meio e do suporte a que se condiciona.
foi desenvolvida uma pesquisa com locutores do dial
Essas discussões emergem principalmente em
FM paulistano, que expressaram suas opiniões sobre
mercados de rádio que possuem construções
o cenário.
seguramente diferentes daquela que encontramos no
Palavras chave: rádio, internet, locutor, apresentador Brasil, a começar pela forma como a programação
radiofônico. radiofônica é articulada – com maior atenção à
segmentação da audiência e baseada na vinculação
INTRODUÇÃO ouvinte/locutor. Tanto uma estrutura comercial melhor
composta como um costume enraizado de ouvir rádio
Em um recente encontro internacional sobre rádio
permitem que o veículo se configure dessa forma, com
realizado em julho [1], na Inglaterra, uma tônica
maior presença da voz do apresentador no ar. No
permeou algumas apresentações e debates sobre o
entanto, a preocupação central sobre o impacto da
rádio: como as ferramentas digitais mudam a forma de
internet hoje permeia a produção científica sobre o
consumo radiofônico. Há, sem sombra de dúvida, um
assunto. Afinal, de modo similar em diferentes países,
nivelamento da pesquisa internacional que vê o rádio
há um deslocamento do uso do rádio para outra
hoje como uma linguagem, serviço ou, nas palavras
plataforma tecnológica e ampliação da oferta de
do professor Tim Wall [2], uma instituição. A ele se
conteúdo e concorrência, o que pode colocar o
ligam diferentes conteúdos, primariamente em áudio.
mercado de emissoras rádio em xeque.
Os títulos de algumas apresentações sugerem,
Essa perspectiva internacional acrescenta algumas
inclusive, um olhar que já considera o rádio totalmente
questões ao debate radiofônico no Brasil: no centro da
inserido no ambiente digital. Por exemplo “It’s not
relação ouvinte/emissora, quais os elementos de
television, it’s radio with pictures”, do professor
vinculação realmente usados? Como as novas
Richard Berry da Universidade de Sunderland,
ferramentas digitais são acrescentadas no cotidiano
Inglaterra; ou “Radio Audience participation’s duality:
radiofônico? Mais ainda, como elas propõem uma
new technologies, new dilemas”, da pesquisadora
nova forma de consumir o rádio, adicionando inclusive
Asta Zelenkauskaite, da Drexel University, EUA. O
novos usos? São questões centrais em um processo
primeiro trabalho demostrou como algumas emissoras
que vise a manutenção da fidelidade da audiência. No
britânicas voltadas para o público jovem estão criando
ano passado, um e-book lançado pelo Grupo de Rádio
produções em vídeo para complementar as
e Mídia Sonora do Intercom [4] reuniu diferentes
transmissões em áudio. Em um dos exemplos, o show
artigos que deram continuidade aos debates que vêm
de uma dupla de apresentadores é transmitido
sendo empreendidos pelo grupo nos últimos anos. No
integralmente ao vivo, tanto pelo rádio como pela web,
caso brasileiro, o tônus central da discussão passa
e os ouvintes propõem atividades que, mesmo na tela,
pela tecnologia, pela definição sobre o que é rádio, e
não anulam as características da produção
pela forma como o jornalismo – principalmente – usa
radiofônica. Já a segunda apresentação mostrou uma
as redes sociais. Ainda é pequeno o debate sobre
investigação mais sistemática sobre participações de
questões de usos e formas de produção, cuja
ouvintes via redes sociais, e suas vinculações tanto
ampliação parece ser crucial neste momento em que o
com a emissora como entre os próprios ouvintes a
mercado radiofônico vive um movimento de retração
partir dos serviços de uma emissora de rádio italiana.
que começa a acelerar.
Outras pesquisas tentavam dar conta da forma
O rádio entrou nos anos 2000 com uma situação
como as emissoras estão usando a web,
relativamente estável: a participação publicitária girava
especialmente com relação à oferta de informação em
em torno de 4,5% e se manteve assim ano a ano,

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crescendo em valor em proporção semelhante ao informações por parte das empresas produtoras de
restante do investimento em publicidade. Já a conteúdo. Esta última abordagem, em especial, vem
penetração do veículo atingia cerca de 90% da colocando em xeque o modo como observamos as
população, segundo dados acumulados pelo projeto grandes empresas de rádio e TV, baseadas
Mídia Dados com a Ipsos/Marplan. O problema é que principalmente em um público sempre muito amplo.
esse cenário começou a mudar em 2005, com a
Claro, não podemos perder a perspectiva de que
popularização do acesso à internet no Brasil. A
esse é um processo em andamento de prazo
penetração do meio, ainda com dados da
indeterminado, e que o cenário final pode ser diverso
Ipsos/Marplan [5], caiu para cerca de 74% em 2012, e
do que estamos supondo neste momento. No entanto,
a participação do rádio na publicidade, no mesmo ano,
olhando especificamente para o rádio, percebemos
foi de cerca de 3,9%, segundo a revista
que existe a necessidade de uma tomada de ação
Meio&Mensagem [6]. O mercado paulistano concentra
mais clara e imediata, devido às recentes perdas de
a maior parte dessa verba, e portanto é onde se
público e uma leve queda das receitas do veículo, que
desenha o recorte que fazemos neste artigo (39,5%
crescem ano a ano em ritmo menor que a inflação.
da publicidade em rádio foi investido na região
metropolitana de São Paulo). Ao olharmos para a história do rádio desde os anos
1960 – após a implantação da TV no Brasil –
Assim, propomos discutir a produção radiofônica, a
percebemos uma reconfiguração natural da audiência,
partir da recontextualização do consumo de rádio por
que migra de horário e passa a consumir outro tipo de
conta da tecnologia digital [7]. Essa perspectiva, no
programação, de forma individualizada. Da audiência
entanto, só faz sentido se resgatarmos o papel ativo
coletiva e atenta para o solitário em trânsito, essa é
do apresentador radiofônico: tendo sido o principal elo
uma mudança que afeta inclusive os níveis de atenção
de ligação entre emissoras e ouvintes pelo menos até
dedicados à programação radiofônica [8]. Nesse
os anos 1990, a revalorização de sua personalidade
cenário, passa a fazer sentido que o locutor marque
parece ser elemento central de um rádio que se
maior presença na programação, tornando-se
propõe em contato imediato com o ouvinte.
importante elo de vínculação entre emissora e ouvinte.
Sugere-se que um dos possíveis caminhos é uma Seja o comunicador do AM ou o DJ do FM, seu nome
ação integrada bem elaborada do papel do locutor FM e sua personalidade contam bastante na lógica de
com as ferramentas e ofertas de conteúdo digitais: fidelização de público por meio do contato íntimo com
maior presença no ar, criando um vínculo sonoro com a audiência. Essa escolha também tem um caráter
o ouvinte, e a ampliação da esfera de sua econômico: produções mais caras, como a ficção
personalidade a partir do ambiente digital. Para radiofônica, encontram menos espaços por motivos
realizar esta tarefa, conversamos com alguns como a importância da TV em prover esse tipo de
locutores de rádio FM da cidade de São Paulo que, de produção; o já mencionado menor nível de atenção da
alguma forma, se destacam pelo tempo de emissora e audiência; o encolhimento da participação publicitária
elo criado com o ouvinte, ou pelo uso que fazem da do rádio, uma vez que a verba investida no meio não
web como plataforma para ampliarem o contato com a cresce, nos anos seguintes, na mesma proporção que
audiência, tanto em seus programas como fora deles. o bolo publicitário total – lembrando que este último
São eles Roberto Hais, da rádio Disney; PH Dragani e sofre grande expansão devido, principalmente, ao
Cadu Previero, da 89FM; Milton Jung, da CBN São desenvolvimento da economia brasileira.
Paulo; Sandra Groth, da 105FM; Marco Antônio, da
Durante as décadas de 1980 e 1990,
Kiss FM; e Laerte Gouveia, da rádio Transcontinental.
principalmente, o dial FM passa a concentrar a maior
Tentou-se, com esta seleção, uma boa
parte da audiência de rádio – e, consequentemente,
representatividade de emissoras de diferentes estilos,
dos investimentos publicitários. No entanto, como
usando como parâmetro a forma como os ouvintes se
reflexo da situação econômica do meio, também
relacionam com os locutores tanto pelos meios digitais
passa-se a investir menos em programação e na
como analógicos.
personalidade dos locutores, até a implantação de
dois modelos de emissoras que quase definitivamente
1. CONSTRUÇÃO DE UM FM SEM VOZ
enterram esse “locutor com personalidade”: as rádios
Não é uma novidade a afirmação de que todo o em rede e o modelo extremamente musical das rádios
cenário da comunicação de massa atravessa um “jovens” nas grandes capitais, influência para os
período de questionamentos, visto que são poucas as maiores mercados consumidores. Essa mudança, é
certezas estabelecidas diante da mudança acelerada mencionada por diferentes locutores entrevistados
que os avanços digitais da última década para esta pesquisa, como por exemplo Roberto Hais:
proporcionaram. Estão alinhados no caminho das “...não se tinha [nos anos 1980] muitas rádios
discussões temas diversos, como a manutenção da concorrentes, e depois, houve a segmentação do rádio:
publicidade vinculada a programas e grades de o rádio jovem, o rádio popular, a rádio News, a rádio
programação, novos usos e acessos do público ao qualificada... Essa mudança começou no final dos anos
conteúdo produzido, e a necessidade de 1980 com a vinda da Transamérica – houve uma
especialização ou segmentação na oferta de

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segmentação do rádio, o que fez com que houvesse os começa a testar um novo modelo de contato com o
perfis.” ouvinte, PH Dragani e Cadu Previero defendem a
O assunto foi debatido por diferentes profissão e alertam para os riscos profissionais que
pesquisadores, como Marcelo Kishinhevsky. Para ele, essa redução da importância do locutor traz:
o processo de segmentação sempre privilegiou muito “Aí o trabalho acaba sendo desvalorizado e mal
mais a abrangência de público, o que ajudaria a remunerado, cada vez mais.” “Eu acho que o
explicar uma certa padronização da voz do locutor nas profissional, no ar, deve se sentir um pouco
emissoras FM: desmotivado.” “São 4 horas que você fica no ar e você
não tem o feedback do ouvinte, você quer falar mas não
“Ao invés de identificar seus targets, as emissoras, ou a pode, fica sendo podado.”
direção das redes a que pertenciam, foram incapazes de
acompanhar a montanha-russa da diferenciação da 2.2 O locutor da popular
audiência, estabelecendo segmentos de público
abrangentes [...] na prática, ninguém conhecia a nova
Na outra ponta estão presentes as emissoras
audiência, segmentada, plural, com suas demandas chamadas populares, que são aquelas que abrangem
inéditas. Havia muito mais no país do samba e do futebol em sua programação uma gama bastante variada de
do que conseguiam enxergar os executivos das músicas brasileiras de diferentes segmentos. Se,
emissoras.” [9] ainda hoje, muitas populares apontam para o mesmo
caminho das outras emissoras – que é a quase total
Esse processo de segmentação que se seguiu na
eliminação do locutor do dial – muitas investem no
década de 1990, redundou na perda de significação
caminho contrário. Laerte Gouveia, o locutor mais
do papel do locutor como centro do programa na
ouvido do meio da noite no rádio paulistano, comenta
maior parte das rádios – com algumas exceções em
o sucesso da emissora em que trabalha:
umas poucas emissoras populares. Se, na década de
1980, havia até chamada em televisão para anunciar a “A Trans é líder hoje em praticamente todos os horários.
troca de emissora por um determinado locutor, na Ela é uma rádio popular e isso ajuda bastante... a nossa
década de 1990 a voz dele no rádio começa a ideia, nossa filosofia, é deixar o ouvinte à vontade. É
diminuir. deixar que o ouvinte se sinta amigo da rádio... A rádio é
um grande companheiro. É mais que um companheiro, e
representa histórias, grandes momentos... E a gente
2. O PERFIL DO LOCUTOR FM E SUA acaba fazendo amizade com as pessoas, principalmente
RELEVÂNCIA com aqueles que estão lá direto.”
2.1 O locutor sem voz O mesmo afirma Sandra Groth, uma das vozes
O perfil predominante do locutor em emissoras mais ouvidas no período da manhã:
segmentadas em estilos musicais específicos, “Eu tenho que trazer [o ouvinte] para uma roda de mesa,
especialmente as jovens e as easy listening, é de um pra sentar comigo e conversar comigo. Mesmo que não
apresentador sem nome. A comunicabilidade entre esteja me vendo. Eu estou aqui falando uma coisa e [ele]
locutor e ouvinte é prejudicada. Roberto Hais, cuja está do outro lado falando sozinho comigo no rádio [...] e
carreira é principalmente baseada em emissoras aí tem vontade de ligar, de falar, de participar. É essa a
mudança.”
jovens, afirma que isso é resultado direto da
segmentação na década de 1990, uma vez que as Assim, a intimidade entre ouvinte e locutor é
emissoras foram, aos poucos, suprimindo o papo com efetivamente um componente no que representa o
o ouvinte. Não existe espaço para opinião do locutor papel do rádio. Trata-se, claramente, de uma
na jovem, mas “deveria ter”, de acordo com Hais. aproximação com uma forma de fazer rádio mais
A opinião de diferentes locutores, de outros antiga, introduzida no Brasil entre as décadas de 1960
segmentos, não é muito diferente disso. Marco e 1970. Como podemos perceber, apesar de seguir a
Antonio afirma que é “tudo tão engessado; tão padrão; lógica de predominância musical na FM e adequação
tem rádio que não deixa o locutor falar o nome”. a uma plástica que dialoga com ouvintes e
Sandra Groth, locutora do segmento popular, lembra anunciantes, esse apresentador da rádio popular
como isso impacta nos índices de audiência: guarda para si uma personalidade tão importante
como a que o locutor da AM tem desde a década de
“Se você for ver o Ibope, Jovem Pan, Mix, estão tudo 1960. E, segundo muitos locutores, é esse espaço de
derrubadas, estão com o Ibope lá embaixo. [...] está comunicação com o público que garante índices de
faltando interagir. [elas] não falam, eles tocam música, audiência mais altos. A comparação feita por Roberto
fazem promoção e acabou...”
Hais gera uma pergunta importante neste contexto:
É unanimidade entre os locutores que existe a “No rádio popular você precisa comunicar, você precisa
necessidade de maior interação e maior personalidade ter a sua personalidade, ou a pessoa te deixa. Por que o
no contato com o ouvinte, especialmente em rádio jovem, hoje, não pode pegar o exemplo da rádio
emissoras segmentadas no público jovem ou em popular, e levar isso para uma comunicabilidade (que era
estilos musicais que exigiriam especialização dos comum) nos anos 1990?”
locutores no conhecimento histórico e musical do que
tocam. Locutores da 89FM, uma emissora jovem que

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Para tentar responder a esse questionamento, é Como lembra Roberto Hais, o locutor bem
importante analisar como seria a construção do perfil preparado reconhece o seu público e articula com
desse locutor que possui grande representatividade suas referências pessoais:
com o público.
“tem que conhecer o público para o qual [o locutor] está
2.3 A marca pessoal do locutor trabalhando, para quem ele vai falar... e sempre vai
pegar o exemplo de alguém que ele gosta muito de
Os traços de comunicabilidade, citados por Hais, ouvir: vai se basear, pra fazer o seu trabalho, em alguém
estão presentes principalmente no trabalho que os que gosta e que deu certo”.
locutores das emissoras populares fazem. Em
Os estilos próprios e individuais de cada locutor e a
resumo, é a criação de uma marca eficaz que tem dois
forma como eles apresentam e exploram as opiniões
pilares de sustentação bastante sólidos: primeiro, a
pessoais, colaborando para uma assinatura geral da
possibilidade de se comunicar com o ouvinte
emissora, geram algo ainda mais fundamental para
abertamente e, segundo, ser um personagem que
esse perfil atualizado do locutor: a credibilidade.
serve como referência.
Mesmo em tempos de internet, em que existe a
No primeiro aspecto, da comunicação, conta
complementaridade entre os diferentes espaços de
bastante a experiência e o preparo que o profissional
veiculação da informação, o locutor se mantém o mais
tem. Os entrevistados afirmam que conseguiram esse
importante representante da emissora. Afirma Cadu
reconhecimento a partir de suas experiências
Previero: “Tudo é afunilado no locutor. Todos os
pessoais, mas reconhecem que as emissoras em que
departamentos são importantes, mas é o de locução
trabalham, ao permitirem formas menos padronizadas
que é o elo com o ouvinte. É a cara da rádio”. E essa
de contato com o ouvinte, também se tornam
“cara da rádio” se constrói a partir de uma relação
fundamentais nesse contexto. Como afirma Marco
transparente, íntima e preenchida com informações
Antonio,
fundamentadas. No preparo do locutor –
“[estou] há tanto tempo no ar que galguei esse espaço. especialmente em uma rádio segmentada por estilo
Se alguém está deixando [eu fazer meu serviço]... é musical – é essencial que ele se aprofunde em
porque está funcionando, a galera está curtindo, mas eu conhecer os aspectos que são mais caros aos
não teria isso em outro lugar”. ouvintes.
Na formação dos locutores PH Dragani e Cadu Mais além, se a questão da credibilidade é
Previero, por exemplo, existiu um profissional nos importante em uma emissora musical, é mais em uma
anos 1990 que ajudava a afinar o que seria dito no ar, emissora jornalística. Milton Jung vai direto ao ponto,
o coordenador de locução. Em outra palavras, ao comentar que, uma vez que seu negócio é a
seguindo a plástica da rádio e uma clareza para notícia, a emissora de rádio deve prover uma estrutura
selecionar o que seria falado, esses locutores razoável para suficientemente permitir a apuração dos
ganharam a possibilidade de criar um estilo e uma fatos.
forma pessoal de comunicação. Surge, daí, o segundo
pilar, que é a criação de uma personalidade, o que “Eu não posso falar de qualquer assunto simplesmente
representa essa marca pessoal hoje em dia. porque saiu em qualquer lugar... não posso
simplesmente fazer, como um cidadão comum faria, uma
Marco Antonio é um bom exemplo desse perfil de crítica a alguém... o meu negócio é a credibilidade, e eu
locutor, com estilo claro, a que nos referimos. Ele tem não posso abrir mão disso”.
um personagem, o “Titio”, e é sob esse nome que ele 2.4 A voz do locutor: morte e vida
apresenta seu programa e, consequentemente, suas
opiniões sobre os diferentes assuntos que comenta. No limite, a exposição que fizemos até aqui do perfil
Sandra Groth, há tanto tempo no ar, também criou desejável de um locutor acaba representando a
uma relação íntima e alimenta o seu horário com um principal defesa feita neste artigo: que sua presença é
perfil de personagem que dialoga de modo bem tão essencial que precisa ser reforçada dentro do
coloquial e íntimo com os ouvintes, inclusive espaço da rádio. Conforme Sandra Groth:
assumindo um apelido dado por eles. No caso dela, “O [ouvinte] não está 24 horas ligado no rádio, ele vai
trata-se de um perfil profissional em uma emissora ouvir a música que ele quer, baixar o que ele quer, e
popular, em que, como vimos, o contato com o ouvinte acabou. O rádio, o apresentador, tem que se fazer vivo
é muito mais próximo. A análise fica ainda mais ali, porque é de onde vai vir uma identificação pro
interessante quando olhamos para os casos de PH ouvinte te ouvir... A pessoa está ligando pra ouvir o
Dragani e Cadu Previero, locutores que possuem apresentador, então a gente está voltando a ser
horários próprios na emissora em que trabalham: apresentador... só assim que [o rádio] vai conseguir
“Cada um tem o seu estilo, você tem seu nome, seu seguir em frente... quando [o locutor] não interage, vai
meio que morrendo dentro do rádio.”
estilo, a sua maneira de fazer o horário, cada um é
diferenciado”. Para todos os locutores entrevistados, é fundamental
que o ouvinte se sinta presente em uma conversa com
o locutor, e isso só é possível com esse profissional
que guarda uma personalidade e tem espaço na

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programação para poder falar. Além disso, a rádio “[...] a diversificação de espaços de difusão de conteúdo
essencialmente musical – algo para o qual as radiofônico depende dos usos dados pelos usuários, e
emissoras FM caminharam nos anos 1990 – não esses usos encontram correspondência com aqueles
surpreende mais o ouvinte. Nas palavras de Marco estabelecidos pelas empresas durante anos – por
exemplo, a referência que a programação regular
Antonio, o rádio tem “o fator surpresa”. Cadu Previero garante ao ouvinte-internauta. Até aqui, essa perspectiva
completa, afirmando que é satisfeita pelo papel que os websites das emissoras
“por mais que você tenha um playlist... o locutor faz o analisadas assumiram. A falha pode ser apontada se
papel humano costurando essas músicas todas, falando considerarmos que essa nova configuração deve ser,
a hora, dando um bom dia e um tchau. Existe uma vida para a empresa radiofônica, mais complexa do que
no rádio e eu acho que essa vida é o locutor”. realmente se apresenta; em termos de conteúdo, a
semelhança e influência a partir dos portais da web
Laerte Gouveia complementa: obrigam as emissoras a uma reestruturação do conteúdo
ofertado e sua ampliação em diversos sentidos. Por
“As pessoas têm vários motivos para não ouvir rádio,
outro lado, o que observamos é, no máximo, o
mas o cara está ali, ouvindo aquela caixinha, o cara
reaproveitamento do conteúdo ofertado na transmissão
gosta, e você tem que fazer o rádio ser agradável para
analógica. [11]
quem está curtindo aquilo, tem que criar formas pra
segurar o cara no rádio. Porque ele pode virar a chave e Assim, ao invés de ser um portal de conteúdo
ir pro MP3 muito rápido, e é uma briga desleal, porque segmentado no público-alvo da emissora, os websites
ele monta o playlist dele, ele escolhe o que quer ouvir.” parecem muito mais com páginas comerciais para
O fator escolha do ouvinte é, possivelmente, o que contato do ouvinte: fica a impressão de uma
mais demanda preocupações tanto entre os donos “obrigação” de oferecer esse tipo de acesso. No
das emissoras como entre os locutores. Como fica entanto, as emissoras de rádio não podem ignorar que
evidente a partir dos trechos colhidos, o ouvinte que o ouvinte reconfigurado como usuário busca novos
está preocupado apenas como conteúdo musical pode serviços agregados, tanto em nos websites como em
facilmente encontra-lo na internet. Mesmo em um país aparelhos portáteis como telefones e tablets. Por
como o Brasil, cujo acesso universalizado à internet enquanto, a principal oferta neste último é meramente
com qualidade de conexão está um tanto quanto um canal para ouvir a emissora e algum tipo de
distante, a oferta desse tipo de conteúdo é uma interação, muitas vezes a partir do redirecionamento
realidade. Dessa forma, os meios digitais representam para o perfil da emissora em redes sociais. Não quer
uma parcela da concorrência do rádio. dizer que o ouvinte esteja substituindo formas de
consumir rádio, e sim que ele está buscando novos
3. A RECONTEXTUALIZAÇÃO DIGITAL serviços para serem agregados àqueles que já
existem.
O ouvinte que está deixando de ouvir o rádio
analógico está também deixando de consumir o meio, Isso não elimina, no entanto, que o hábito de ouvir
ou está migrando para outras formas de acesso? A rádio é algo enraizado socialmente, estabelecido a
resposta para essa pergunta não é tão facilmente partir do uso atribuído historicamente ao veículo, como
alcançada porque faltam mecanismos capazes de afirma Miège [12]. Sandra Groth, locutora de longa
medir a audiência de forma individual. Os dados mais data, lembra que “pela internet se acessa rádio do
significativos que possuímos são de uma enquete mundo inteiro, mas o rádio é muito local. O rádio é
realizada pelo GPR - Grupo dos Profissionais do vivenciar o dia a dia da cidade”. Daí que o hábito de
Rádio, de 2009, que aponta que 82% das pessoas ouvir rádio se expande até mesmo para as outras
que responderam à pesquisa ouvem rádio via internet formas de acessar conteúdo, seja o podcast ou a
ou acessam as páginas das emissoras, e 42% ouvem webrádio. Duas observações feitas por locutores
na internet principalmente rádios que também existem distintos apontam para essa constatação: em primeiro,
no dial; desses, 83% procura ouvir o que está no ar, e PH Dragani opina que “o ouvinte gosta de ser
36% programação on demand. Apesar da pesquisa surpreendido; eu gosto de ser surpreendido e gosto de
não oferecer grande valor estatístico, serve para surpreender, e talvez o hábito seja o de ouvir rádio e
balizar um pouco os possíveis usos do rádio hoje. não o de ouvir sempre as mesmas coisas no mesmo
horário”; em segundo, Milton Jung, um dos mais
Esses dados foram debatido pelos autores em influentes âncoras do jornalismo radiofônico
pesquisa concluída em 2011 [10]. Na ocasião, a atualmente, analisa que a internet seria anteriormente
análise indicou que as emissoras de rádio estavam se como um cardápio radiofônico, em que “a pessoa ia
preparando para ofertar conteúdo na internet, de escolher o comentarista que ela ia ouvir, na hora que
modo que alguns websites já ofereciam alguns ela quisesse, e da emissora que ela quisesse, porque
serviços agregados, como promoções, acesso a ela não ia ficar refém de um programador.” Hoje, é
informação das equipes, notas jornalísticas, streaming diferente: estar em diferentes espaços significa, para a
de músicas e playlists, etc. No entanto, a produção de emissora de rádio, oferecer mecanismos para o
conteúdo para web dessas empresas em muito pouco ouvinte “consumir a sua marca. Mais que a ideia do
se diferenciava do que o internauta pode encontrar em cardápio”. Ou seja: o rádio se torna uma marca central
outros lugares.

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para diferentes produtos ofertados em ambientes Marco Antônio lembra que tudo mudou, que
midiáticos. paradigmas – como o da localização – foram
quebrados, o que possibilita que a emissora tenha
Segundo Andrew Dubber,
alcance muito maior em termos de público,
“[...] o “rádio” contemporâneo é digital praticamente da impactando na programação que passa a ser
mesma maneira que o rádio do século XX era direcionada a uma comunidade dispersa de pessoas.
“eletrônico”. Ou seja, ele não apenas usou aquele
“toque” particular de tecnologia mas também seguiu Mesmo locutores mais tradicionais, como Sandra
convenções e práticas inscritas no ambiente midiático Groth, reconhecem a importância das redes sociais na
em que a referida prática discursiva aconteceu”. [13] ampliação desse contato locutor-ouvinte. Para ela, a
internet serve principalmente como convite para o
Nesse sentido, Dubber propõe pensar o rádio como
ouvinte ligar e interagir ao vivo, complementando
uma prática discursiva multifacetada à qual se
alguma informação disponível na outra plataforma.
acrescentam novas potencialidades. Ao
considerarmos a amplitude deste debate, fica patente A ampliação dessa esfera de comunicação
que as emissoras FM paulistana estão apenas transforma o locutor em um elemento mais presente
iniciando esse processo de reconfiguração, distantes no cotidiano do ouvinte. Dá ao locutor a possibilidade
dessa configuração proposta. de feedback sobre seu trabalho, ao mesmo tempo em
que permite apontar seus próprios pontos de vista. As
No cenário atual e real, são as redes sociais que
redes sociais estendem a função do profissional para
vêm possibilitando algumas mudanças mais concretas
além do programa de rádio, possibilitando que ele seja
nos paradigmas de contato dos ouvintes com as
conhecido e reconhecido fora do seu horário na
emissoras de rádio, até mesmo na oferta de conteúdo.
emissora. PH anota que o locutor, hoje, “tem uma
A anteriormente limitada participação por telefone
resposta mais consistente daquilo que está fazendo”,
somou-se, primeiro, a trocas mais imediatas como
ao mesmo tempo em que consegue dar uma resposta
SMS e e-mail. Agora, a velocidade de troca via
imediata ao ouvinte. Se considerarmos que o rádio é
Facebook, Twitter – ou outra rede que se torne
feito especialmente desse contato íntimo com quem
relevante – deve ser levada em conta. Por outro lado,
está ouvindo a programação, alguns locutores
essa interferência do ouvinte ganha mais força quando
acreditam que há uma revitalização do rádio por conta
intermediada por alguém com personalidade, como o
dessas ferramentas digitais, como afirma Cadu
locutor. Nesse sentido, não é apenas a emissora
Previero:
como um todo que vai para as redes sociais, mas
também o apresentador que queira ser reconhecido “Eu acho que está mais vivo do que nunca porque as
como referência para o ouvinte. redes sociais são prova disso. Eles estão interagindo 24
horas, pedindo música 24 horas, comentando, tornando
3.2 O apresentador de rádio nas redes sociais a rádio cada vez mais viva e a gente que está no
estúdio, no ar ali, é um porta-voz disso tudo”
A presença do ouvinte interferindo na programação
passa a ser mediada pelo locutor. Se em um primeiro Mais importante que o contato com o ouvinte, no
momento essas ferramentas parecem distanciar os entanto, as redes sociais permitem que o locutor
ouvintes da emissora, criam-se novos laços entre eles conheça o seu público para direcionar melhor o seu
e os locutores. Milton Jung constata, por exemplo que trabalho. Como afirma Roberto Hais,
a interlocução não é com a emissora de rádio, “é com
“se o cara quer construir um vínculo com o ouvinte, ele
a pessoa; é com o apresentador... esse contato direto precisa fazer parte das redes sociais, precisa usar as
se abriu com o e-mail muito mais do que com as redes sociais ao seu favor... O Facebook dá tudo pra
formas que tínhamos antes, que eram o telefone e a você: quem são os caras que curtem as páginas, qual o
carta”. Cadu Previero afirma: perfil de idade, está tudo ali, só não vê quem não quer, e
[os locutores] estão muito preguiçosos hoje”.
“[O ouvinte] quer pedir uma música, ele não vai ligar e
esperar o telefone. Legal, funciona o telefone também, Em resumo, é possível afirmar que a boa utilização
funciona o site... enfim. Mas é tão forte isso, que o das redes sociais pelos locutores permite um trabalho
ouvinte criou um elo direto com o locutor. Então o locutor mais próximo da audiência. O momento, então, sugere
não é aquela coisa mais distante, o locutor é muito
um resgate da intimidade entre o apresentador e o
próximo deles. Eles têm uma resposta em tempo real de
você que está no estúdio naquele momento”. ouvinte, com a diferença que, agora, está baseada
tanto na voz como no seu perfil público na web. No
O imediatismo da resposta é aproveitado em entanto, o que ocorre internamente às emissoras é
programas como, por exemplo, o conduzido por Laerte muitas vezes o contrário. Na opinião dos locutores
Gouveia já há mais de quatro anos. O programa ouvidos nesta pesquisa, são dois os motivos
Trans.com entra em contato com o ouvinte por meio principais: a falta de preparo de uma nova geração de
de SMS, Twitter, Facebook e telefone para segurar apresentadores e a cegueira de diretores artísticos,
horas de conversa ao vivo, praticamente sem que decidem não apostar em mudanças em nome de
músicas, diariamente. “essa foi uma forma de associar uma economia tola. O que se verifica historicamente é
a internet, a interatividade, com o rádio, e de buscar uma perda de autonomia dos locutores, criada tanto
um público que não está ligado em rádio.”.

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“Pesquisas em ambientes digitais - TV • Internet • Radio • Cinema”

pelo perfil mais musical das emissoras, com a redução A importância da voz na vinculação entre pessoas,
de investimentos em formatos radiofônicos mais da interação ouvinte-locutor-emissora, nos parece ser
complexos, como pela transferência das negociações uma das características marcantes da radiodifusão
com o mercado fonográfico para a diretoria das rádios. que se prolongam atualmente. Esse é um debate que
Este, aliás, é um tema que ainda precisa ser debatido permeou textos de outros autores, como Balsebre:
em profundidade e que foge levemente do escopo
“A palavra radiofônica não é somente a palavra através
deste artigo; o que se pode adiantar é a perda do do rádio [...] ainda que transmita a linguagem natural da
poder de influenciar a decisão do consumo musical, o comunicação interpessoal, é palavra imaginada, fonte
que outrora chegou a representar uma parte da renda evocadora de uma experiência sensorial mais complexa”
do locutor. Hoje, o playlist é praticamente todo da [18]
emissora, e o locutor apenas reproduz as músicas
Essa experiência sensorial, garantida pela resposta
programadas pela direção artística, sem qualquer
íntima, se amplifica com a agilidade do feedback
poder de decisão.
digital. O locutor deve ressignificar sua personalidade
perante o ouvinte por meio de uma atividade mais
CONSIDERAÇÕES FINAIS
consistente das ferramentas da web.
As emissoras de rádio precisam ativar ferramentas
No entanto, essa nova centralidade do papel do
que facilitem o contato com o ouvinte, e que ofereçam
locutor não é uma tarefa fácil: mesmo em se tratando
material exclusivo a partir de outras plataformas,
de um profissional preparado, que expande seu
aproveitando ao máximo seus recursos. Trata-se,
universo de ação para as redes sociais, que tem
como afirmamos, da reconfiguração pelos meios
presença e personalidade em seu horário na
digitais, em que o rádio se torna uma instituição, uma
programação, a locução radiofônica ainda é, hoje,
marca, um centro de referência de conteúdo. Sua
uma profissão relativamente desvalorizada. A maior
presença em uma era digital implica,
parte dos entrevistados afirma que viver de rádio é
necessariamente, repensar seu posicionamento em
difícil, e eles precisam complementar o salário com
uma fase caracterizada pela multiplicidade de oferta,
outras atividades. Para muitos locutores, como Cadu
como apontado por Brittos e por Ferraretto [14].
Previero e PH Dragani, é um segundo emprego
Mariano Cebriá Herreros, ao analisar as novas
movido pela paixão: “eu acho que é paixão mesmo”,
potencialidades oferecidas pelo ciberrádio (forma
“a locução de FM te permite trabalhar em outras
como o autor chama a rádio na web), propõe
coisas”. Laerte Gouveia compartilha a mesma opinião:
caminhos e resultados dessa configuração:
“no rádio você tem que ser muito apaixonado [...] você
“No desenho da web aparecem integrados a emissão nasce locutor radialista... eu gosto do rádio, é um
sonora, o conjunto de informações paralelas e as amor incondicional”.
diversas modalidades de acesso, interatividade,
hipermidialidade e navegação... Já não é só uma
NOTAS
emissora, e sim algo mais, uma web que tende a ser
convertida em multimídia.” [15] [1] “The Radio Conference: A Transnational Forum”, realizado
entre 9 e 12 de julho de 2013 na Universidade de
Para o autor, isso significa também a possibilidade Bedfordshire, Luton, Inglaterra.
de perda do controle total da programação por parte [2] Professor de Rádio e Estudos de Música Popular na
da emissora, colocando em evidência o papel de Universidade de Birmingham City, Inglaterra. Na ocasião do
outros atores, como o ouvinte: Congresso, apresentou uma pesquisa intitulada “A new age
for radio: understanding radio's present from radio's past”.
“A ciberradio supõe uma mudança radical nos interesses
das emissoras. Estas perdem o papel hegemônico de [3] Os dados preliminares da pesquisa foram apresentados
controle sobre o processo, e talvez este seja o motivo também no mencionado congresso pelo autor Luís Antonio
Santos, Professor do Departamento de Ciências da
pelo qual a ciberradio propriamente dita esteja sendo Comunicação da Universidade do Minho, Portugal.
implantada de forma tão lenta. [16]
[4] DEL BIANCO, N.R. (org.). O rádio brasileiro na era da
Todavia, em virtude das características locais que convergência. São Paulo: Intercom, 2012
o rádio FM assume, bem como sua importância em [5] Os dados foram apresentados na publicação Mídia Dados
negociações de identidade, sugerimos que essas Brasil 2013, do Grupo de Mídia de São Paulo. Disponível em
mudanças passam primeiro pelo apresentador de http://midiadadosrdp.digitalpages.com.br/html/reader/119/1565
rádio, a voz da empresa. Como afirma Menezes em 9, acessado em 30/ago/2013.
um belo estudo sobre os elementos de articulação [6] Os dados foram publicados na edição de 27 de maio de 2013
entre os indivíduos de uma cidade, da revista Meio&Mensagem.

“[...] os locutores das emissoras de rádio estão [7] A ideia de “recontextualização” é usada pelo autor Andrew
continuamente rememorando efemérides, atualizando Dubber em artigo publicado na revista Significações, do PPG-
MPA da ECA/USP. Para o autor, a ideia de impacto dos meios
fatos antigos, comentando narrativas do cotidiano,
digitais parece equivocada ao sugerir deformações e
realizando rituais que remetem ao tempo mítico, mudanças, quando o que ocorre é, na verdade, muito mais
transmitindo a sensação de que estamos ‘localizados’ próximo de adaptações. Cf. DUBBER, A.. Repensando o
em determinado ‘lugar’ e em determinado ‘tempo’.” [17] rádio na era digital. Significação: revista de cultura
audiovisual. Revista do Programa de Pós-Graduação em

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“Pesquisas em ambientes digitais - TV • Internet • Radio • Cinema”

Meios e Processos Audiovisuais da ECA/USP. São Paulo, memso tempo, reconfigura o trabalho dos profissionais, que
Ano 40, nº 39, pp. 24-43, jan-jun/2013 são levados a acumular funções. O cenário pode possibilitar a
reconfiguração das empresas e nova importância social dos
[8] Cf. FERRARETTO, L.A.. O hábito de escuta: pistas para a meios, ou mesmo caminhar em outra direção, a de
compreensão das alterações nas formas do ouvir concentração maior de mercados. Cf. BRITTOS, V.C.. O
radiofônico. GHREBH – Revista de Comunicação Cultura e rádio brasileiro na Fase da Multiplicidade da Oferta. Verso
Teoria da Mídia. São Paulo, Número 9. Março/2007. & Reverso, São Leopoldo, n. 35, pp. 31-54, jul./ago. 2002; e
Disponível eletronicamente em cf. FERRARETTO, L.A.. Alterações no modelo
http://www.cisc.org.br/revista/ghrebh9/artigo.php?dir=artigos&i comunicacional radiofônico: perspectivas de conteúdo
d=Ferraretto em um cenário de convergência tecnológica e
[9] Cf. KISCHINHEVSKY, M.. O rádio sem onda: convergência multiplicidade da oferta. Em: FERRARETTO, L.A.;
digital e novos desafios na radiodifusão. Rio de Janeiro: e- KLÖCKNER, L. (orgs). E o rádio? Novos horizontes
papers, 2007, p.35 midiáticos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2010, pp. 539-556

[10] GAMBADO, D.. Rádio e tecnologias: os novos espaços e [15] Tradução livre para "Junto al diseño de la web aparece
caminhos possíveis do meio sonoro. Dissertação de integrado el de la emisión sonora, el conjunto de
mestrado. São Paulo: PPGMPA ECA/USP, 2011, pp. 121-122 informaciones paralelas y las diversas modalidades de
acceso, interactividad, hipermedialidad y navegación... Ya no
[11] Id.ibid, pp123-124 es una emisora sino algo más, una web que tiende a
convertirse en multimedia." HERREROS, M. C.. La radio en
[12] O teórico francês Bernard Miège identifica diferentes internet: de lo ciberradio a las redes sociales y la radio
processos sociais articulados a partir das novas tecnologias móvil. Buenos Aires: La Crujia, 2008, p.58
de informação e comunicação. Entre eles, a ampliação do
domínio midiático, em que os usuários esperam que os novos [16] Tradução livre para "La ciberradio supone un cambio radical
meios se diferenciem dos anteriores, sem deixar de lado en los intereses de las emisoras. Pierden su papel
práticas enraizadas socialmente. Cf. MIÈGE, Bernard. A hegemónico de control sobre el proceso. Tal vez es esta la
sociedade tecida pela comunicação: técnicas da razón profunda por la que a ciberradio propiamente dicha está
informação e da comunicação entre inovação técnica e implantándose con tanta lentitud.". HERREROS, op.cit, p.110
enraizamento social. São Paulo: Paulus, 2009, pp. 109-130
[17] MENEZES, J. E. O.. Rádio e cidade: vínculos sonoros. São
[13] Dubber, op.cit, p.35 Paulo: Annablume, 2007, p.69
[14] A fase da multiplicade de oferta significa, do ponto de vista da [18] BALSEBRE, A.. El lenguaje radiofónico. Madri: Ediciones
empresa de comunicação, maior concorrência em diferentes Cátedra, 1994, p.35
frentes, e maior necessidade de produção de conteúdo. Ao

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