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COLETÂNEA DO CONGRESSO
PAULISTA DE ENSINO DE
CIÊNCIAS:
DISCUTINDO EC EM PAÍSES
IBEROAMERICANOS
2022
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Shigunov Neto, A et al. (org.) Coletânea do Congresso Paulista de Ensino de Ciências. 2022.
Capa e edição: Alexandre Shigunov Neto, André Coelho da Silva e Ivan Fortunato
Bibliografia
ISBN: 978-65-87891-25-5
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Shigunov Neto, A et al. (org.) Coletânea do Congresso Paulista de Ensino de Ciências. 2022.
COMISSÃO CIENTÍFICA
Alessandra Viveiro, Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP
Alexandre Shigunov Neto, IFSP - Itapetininga
André Coelho Silva, IFSP - Itapetininga
António Cachapuz – Universidade de Aveiro, Portugal
Carol Joglar Campos, Universidad de Santiago de Chile, Chile
Ceneida Fernandez Verdu, Universidad de Alicante, Espanha
Clara Vasconcelos, Universidade do Porto, Portugal
Claudia Amoroso Bortolato, Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP
Cristhianny Bento Barreiro - Instituto Federal Sul-rio-grandense - IFSUL
Daisi Chapani, Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia UESB
Diana Parga, Universidad Pedagógica Nacional, Colômbia
Dulce Maria Strieder, Universidade Estadual do Oeste do Paraná - UNIOESTE
Hildegard Susana Jung, Unilasalle
Isabel Sofia Godinho da Silva Rebelo, Instituto Politécnico de Leiria, Portugal
Ivan Fortunato, IFSP - Itapetininga
Jeane Cristina Gomes Rotta, Universidade de Brasília - UnB
Joan Josep Solaz-Portolés, Universitat de València, Espanha
Juliana Rink - UNICAMP
Luciano Denardin de Oliveira, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
- PUC-RS
Marcelo Esteves de Andrade - Instituto Federal do Espírito Santo - Ifes
Mónica Baptista, Universidade de Lisboa, Portugal
Olga Lucia Castiblanco Abril, Universidad Distrital Francisco José de Caldas,
Colômbia
Paulo Cezar de Faria, Universidade Federal de São Carlos – UFSCar
Rui Marques Vieira, Universidade de Aveiro, Portugal
Silvia F. de M. Figueirôa, Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP
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SUMÁRIO
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Climatologia, já que, como aponta Santos (2006, p. 228) “a Botânica é uma das mais
antigas áreas do conhecimento humano, fazendo parte do cotidiano da humanidade”.
O que se tem observado é que o ensino dos conteúdos botânicos apresenta
uma excessiva ênfase na memorização de nomenclaturas científicas, além de
escassez de aulas práticas e investigativas, materiais didáticos insuficientes e
ausência de contextualização histórica (Freitas et al., 2012; Minhoto, 2014; Pieroni,
2019). Nesse sentido, o livro didático constitui um importante recurso utilizado pelos
professores em sala de aula e, muitas vezes, configura-se como uma das únicas
ferramentas para a prática docente (Delizoicov et al., 2011).
O Guia de Livros Didáticos do Programa Nacional do Livro Didático (PNLD),
elaborado e financiado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação
(FNDE), avalia, periodicamente coleções selecionadas para que possam ser
adquiridas e distribuídas nas escolas públicas brasileiras. No guia de 2014, período
utilizado na presente pesquisa, são apresentadas as 20 coleções selecionadas por
avaliadores da área de Ciências Naturais. Na avaliação, feita pelos especialistas, cada
coleção é analisada a partir de um quadro comparativo (ficha de avaliação) que aborda
aspectos referentes à Proposta Pedagógica, bem como aos itens: Conteúdo, Ciência,
Pesquisa e Experimentação, Manual do Professor e Projeto Editorial (Brasil, 2013).
A formulação dos livros didáticos por parte de autores e autoras é feita com
base nas aprendizagens essenciais voltadas para o desenvolvimento das
competências e habilidades preconizadas em diferentes propostas curriculares, tais
como os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN (BRASIL, 1998), o Currículo do
Estado de São Paulo (São Paulo, 2012) e, mais recentemente, a Base Nacional
Comum Curricular – BNCC (Brasil, 2017). Considerando as orientações para a área
de Ciências da Natureza presentes nessas propostas,
Metodologia
O presente trabalho é um recorte da tese de doutorado em Educação Escolar
da autora Laís Goyos Pieroni (Pieroni, 2019). Optamos pela análise de conteúdo para
investigar a estrutura de significado que há nos livros didáticos selecionados,
referentes aos conteúdos de Botânica. Como referência metodológica, utilizamos
autores que apresentam e descrevem o método e as técnicas utilizadas pela análise
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de tratamento e interpretação dos resultados, tais como Bardin (2011); Franco (2005);
Tomotani e Salvador (2017); Lüdke e André (2013); Lima (2013); Krippendorff (2004).
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(*) Fonte: Guia de livros didáticos: PNLD/2014. Ciências: ensino fundamental, anos finais
(Brasil, 2013).
Resultados e discussão
Iniciamos esta discussão apresentando alguns aspectos referentes à
distribuição dos conteúdos relacionados à Botânica nos livros didáticos selecionados.
Enquanto nas CLD 03, 04 e 05 os conteúdos botânicos estão divididos nos 6º e 7º
anos, nas CLD 01 e 02 verificamos que esses conteúdos foram apresentados em
quatro e três volumes, respectivamente; diferentemente da divisão proposta pelos
PCN (Brasil, 1998) e pelo Currículo de Ciências do Estado de São Paulo (São Paulo,
2012), nos quais a Botânica aparece nos 6º e 7º anos do Ensino Fundamental. Essa
diferença, na distribuição dos conteúdos entre as diretrizes e os livros didáticos, pode
contribuir para um ensino de Botânica descontextualizado, já que os professores se
orientam a partir das propostas curriculares e documentos oficiais. No entanto, se os
conteúdos e as abordagens dos volumes estiverem articulados, há a possibilidade de
resgatar aprendizagens de um volume para o outro. Ainda assim, o professor deve
saber trabalhar essas relações em sala de aula, incorporando-as a outras estratégias
de ensino e recursos didáticos, contextualizando e problematizando os conteúdos.
Em alguns livros didáticos há pouca ou nenhuma contextualização das
nomenclaturas científicas e o uso excessivo de nomes, reforçando um ensino pautado
apenas na memorização e na transferência de saberes. Entendemos que o estudo da
Botânica apresenta uma gama de termos importantes e indispensáveis para o
aprendizado, mas é necessário que haja a problematização dos conceitos
apresentados, seja com o auxílio de imagens e exercícios ou propostas de atividades
diferenciadas e textos complementares. Cabe ressaltar que nem todos os volumes
analisados apresentaram conteúdos botânicos para todas as categorias.
Ao analisarmos as CLD, observamos que o ensino das diferentes áreas da
Botânica aparece de maneira linear nos livros didáticos, seguindo uma estrutura que
se inicia com a organização estrutural dos seres vivos, passando pelo estudo da
diversidade vegetal e dos processos fundamentais para o crescimento e
desenvolvimento das plantas, finalizando com os conteúdos referentes aos
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ecossistemas e biomas.
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se, atualmente, que existem três linhagens principais de briófitas – hepáticas, musgos
e antóceros – e que elas não se restringem apenas a habitats úmidos e sombreados,
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Além do texto introdutório, o livro do aluno reserva uma página inteira para a
diversidade e classificação das briófitas, além de chamar a atenção para a importância
desse grupo em ambientes de regiões árticas, como a tundra.
A presença de temas relacionados à degradação ambiental causada pela ação
humana, especialmente em biomas e ecossistemas brasileiros, foram recorrentes em
nossas análises. Seja na comunidade onde mora, seja nos veículos de comunicação
ou nas redes sociais, tais conteúdos estão presentes na vida cotidiana do educando
e merecem atenção em sala de aula. Na CLD02, volume um, por exemplo, são
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propõe aos alunos que argumentem e sustentem um ponto de vista a respeito dessa
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exploração a partir de um fato fictício sobre um remédio contra câncer cujo princípio
ativo “é uma substância retirada de uma orquídea que existe apenas na Mata Atlântica
brasileira” e que foi patenteado por uma empresa norte-americana (Gowdak; Martins,
2012, v. 01, p. 247). Os autores propõem a discussão a partir de dois
questionamentos:
a) Nosso país deveria ter algum direito sobre o lucro da venda dos
remédios e até sobre o “segredo” de como ele é produzido, uma vez
que a orquídea a qual são retiradas substâncias importantes só existe
no Brasil?
b) Você acha que a Mata Atlântica e a Floresta Amazônica, ambas
as maiores florestas tropicais do mundo, onde encontramos grande
diversidade de animais e vegetais que podem ser utilizados para
produzir remédios para tratamento e cura de diversas doenças, devem
ser exploradas por qualquer país do mundo (patrimônio da
humanidade) ou apenas pelo Brasil (patrimônio brasileiro)? (Gowdak;
Martins, 2012, v. 01, p. 247).
propõe uma reflexão sobre a interação entre fauna e flora no processo de dispersão
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comuns à realidade dos alunos, como alguns tipos de raízes e caules utilizados na
alimentação, são utilizadas para ilustrar os conceitos trabalhados nas CLD.
Observamos, em todas as CLD analisadas na categoria B, o seguinte padrão
na distribuição dos conteúdos botânicos: abordagem dos conceitos sobre células
vegetais, em capítulos sobre organização estrutural dos seres vivos; apresentação
dos tipos de funções das estruturas vegetais nos capítulos referentes aos grupos de
plantas, especialmente as angiospermas; imagens fotográficas ou representações
esquemáticas, relacionadas ao texto, inseridas à medida que a informação é
apresentada; além da escassez de seções de leituras e atividades complementares.
Categoria C - FISIOLOGIA VEGETAL: a Fisiologia vegetal abrange
conhecimentos sobre transporte de água e solutos pelos tecidos vegetais, bioquímica
e metabolismo, crescimento e desenvolvimento das plantas. Dentre esses, o estudo
de conceitos referentes a fotossíntese é essencial, já que somos totalmente
dependentes dela. Nesta categoria, investigamos a distribuição dos conteúdos
referentes ao estudo das funções fisiológicas e bioquímicas das plantas e suas
relações e interdependências com as diversas estruturas vegetais. No ensino de
Botânica, diversas são as pesquisas que tratam das dificuldades encontradas por
professores e alunos ao trabalharem conteúdos de Fisiologia vegetal, especialmente
conceitos relacionados a processos como a fotossíntese e a germinação de vegetais
(Brittes, 2017; Carvalho et al., 2017; Liesenfeld, 2015; Souza; Almeida, 2002). Em
nossa análise de conteúdo, observamos que todas as CLD iniciam os estudos sobre
esses processos com imagens ficitícias de espécies vegetais e questionamentos a
respeito do fenômeno da fotossíntese e/ou da germinação de sementes.
Destacamos, no segundo volume da CLD02, uma atividade a respeito do uso
de agrotóxicos. O exercício, intitulado “Desafio”, apresenta uma fotografia de um
produtor agrícola, devidamente paramentado com equipamentos de proteção
individual, aplicando defensivos agrícolas em uma lavoura e a seguinte questão:
“Constatou-se que um poderoso inseticida, após ser utilizado por agricultores de uma
região, acarretou forte diminuição na colheita de frutos. Por que isso aconteceu?” A
imagem utilizada para ilustrar o problema pode suscitar outros questionamentos, tais
como: Quais os efeitos da toxicidade de substâncias químicas, como os inseticidas,
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seus usos” por entendermos que o estudo da Botânica perpassa a mera abordagem
da reprodução e memorização de nomes e conceitos científicos. Buscamos identificar
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elementos que possam fazer com que o aluno se reconheça como sujeito
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Considerações finais
Entendemos que uma educação problematizadora é aquela que “rompe com
os esquemas verticais característicos da educação bancária” (Freire,1987, p. 39), e
faz da sala de aula um espaço de diálogo, de construção da autonomia e um constante
ato de desvelamento da realidade. Assim, “enquanto a concepção “bancária” dá
ênfase à permanência, a concepção problematizadora reforça a mudança” (Freire,
1987, p. 42). Para Ursi e colaboradores (2018, p. 12), muitas vezes o ensino de
Botânica é efetivado de maneira não contextualizada, “sendo esse provavelmente um
dos fatores que causam maior desinteresse e dificuldade de aprendizagem por parte
dos estudantes”.
Em nossa análise de conteúdo, realizada em cinco coleções de livros didáticos
de Ciências Naturais para os anos finais do ensino fundamental, foi possível identificar
diferentes aspectos relacionados à distribuição e à escolha dos conteúdos,
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Referências
Bardin, L. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 2011. 229 p.
didáticos: PNLD 2014. Ciências: ensino fundamental anos finais. Brasília, 2013.
Página
Shigunov Neto, A et al. (org.) Coletânea do Congresso Paulista de Ensino de Ciências. 2022.
Freire, P. Pedagogia do Oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
Freitas, D.; Menten, M. L. M.; Oliveira e Souza, M. H. A.; Lima, M. I. S.; Buosi, M. E.;
Loffredo, A. E.; Weigert, C. Uma abordagem interdisciplinar da Botânica no
ensino médio. 1. ed. São Paulo: Moderna, 2012. 160p.
Judd, W.S. et al. Sistemática vegetal: um enfoque filogenético. 3.ed. Porto Alegre:
Artmed, 2009. 632p.
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Krenak, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das
Página
Letras, 2019. 64 p.
Shigunov Neto, A et al. (org.) Coletânea do Congresso Paulista de Ensino de Ciências. 2022.
Mancuso, S. Revolução das plantas: um novo modelo para o futuro. São Paulo:
Ubu Editora, 2019. 192 p.
Raven, P. H.; Evert, R.F.; Eichhorns, S. Biologia vegetal. 8 ed. Rio de Janeiro:
Guanabara Koogan, 2014. 876 p.
Santos, F.S. A Botânica no ensino médio: será que é preciso apenas memorizar
nomes de plantas? In: Silva, C. C. (org.). Estudos de História e Filosofia das
Ciências: subsídios para aplicação no ensino. São Paulo: Livraria da Física, 2006.
p. 223-244.
Ursi, S.; Barbosa, P. P.; Sano, P. T.; Berchez, F. A. de Souza. Ensino de Botânica:
conhecimento e encantamento na educação científica. Estudos avançados, v. 32,
n. 94, p. 5-24, 2018.
Vinholi Júnior, A. J.; Vargas, I. A. de. Os saberes locais quilombolas sobre plantas
medicinais: a promoção de um diálogo de saberes como estratégia diferenciada para
o ensino de Botânica. In: IV Encontro da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-
Graduação em Ambiente e Sociedade – IV ENANPPAS, 2008, Brasília. Anais [...].
Distrito Federal: ANPPAS, 2008.
CLD02
Gowdak, D.O; Martins, E.L. Ciências Novo Pensar. 1. ed. São Paulo: FTD, 2012.
(Obra em 4 v. para alunos do 6º ano ao 9º ano).
CLD03
Nery, A.L.P.; Catani, A.L.; Killner, G.I.; Aguilar, J.B.V.; Takeuchi, M.R.; Signorini, P.
Para viver juntos: Ciências. 3. ed. São Paulo: Edições SM, 2012. (Obra em 4 v.
para alunos do 6º ano ao 9º ano).
CLD04
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