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1 - Daniel Francisco de Andrade
1 - Daniel Francisco de Andrade
RIBEIRÃO PRETO
2020
DANIEL FRANCISCO DE ANDRADE
RIBEIRÃO PRETO
2020
Catalogação na fonte elaborada pela Biblioteca do
Centro Universitário Moura Lacerda
Bibliotecária Gina Botta Corrêa de Souza CRB 8/7006
Comissão julgadora
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Profa. Dra. Rita de Cássia Petrenas (Escola Superior de Tecnologia e Educação – ASSER
Porto Ferreira)
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Agradeço ao Senac, por oportunizar minha formação e acreditar no profissional que vem a cada
dia amadurecendo. A cada professor que no processo intenso de formação também me forma
enquanto educador e pessoa. A equipe técnica, Cacilda Peixoto Pucci Veloso, Marina Latuf
Bittar, Vivian Fructuoso Vieira, pela parceria, apoio e torcida. Aos apoios técnicos, Felipe
Augusto de Oliveira, Murillo Torres, Michelle de Andrade Gomes Isabela Ramos Pacor
Serafim, Isadora Miarelli Lutfala, Rosemeire Aparecida Claudino Santos, Marcela Lacerda
Alves, pelo companheirismo e por me fortalecer sempre. Aos gerentes, Josiane Serrano,
Leandro D’Arco e Ettore Polleti por acreditarem em mim e me ajudarem em meu processo de
formação. Ao irmão que a vida me presenteou que transcendeu o trabalho, Hélio Silvio Junior,
a Sheila Aparecida Vitoreli Santos pela parceria de sempre. A Rosangela, por toda torcida e
entusiasmo e pelas palavras de carinho. A Fernanda Ferro da Silva e Debora Carolina Bonato
De Sa, por comprar as ideias e na parceria de diversos projetos loucos. E ainda a todos os
funcionários desta escola incrível que é o Senac Franca, que de forma direta e indireta me
ajudaram e me acolheram neste processo.
A professora Célia Regina Vieira de Souza -Leite, pela paciência e por acreditar em mim.
Agradeço ao Matheus B Batista, por estar sempre junto e entender meus debates, angústias e
medos em relação ao processo do mestrado que é tão intenso.
A todas as pessoas que passaram em minha vida e que me ensinaram e me serviram de exemplo
em como ser e a como não ser.
Em especial aos participantes da pesquisa que despiram suas vidas sem pudores a este estudo.
Obrigado e continuem a lutar, o mundo precisa e merece ser um lugar melhor.
Lutar pela igualdade sempre que as diferenças nos discriminem. lutar pela diferença sempre
que a igualdade nos descaracterize.
RESUMO
Nos dias atuais há uma crescente discussão acerca das questões relacionadas a gênero e
sexualidade, sendo a identidade de gênero um dos focos desses debates. Entendemos que
estamos inseridos numa sociedade heteronormativa, embora o binarismo de gênero não seja
suficiente para abarcar todas as formas de ser e sentir. Nessa perspectiva o objetivo deste
trabalho consiste em compreender a trajetória dos transgêneros no mundo escolar, bem como
seus desafios. Para tanto foi realizada uma pesquisa qualitativa com dois transgêneros (travestis
e transexuais), que foram selecionados aleatoriamente. Foi aplicada uma entrevista
semiestruturada, analisada, e dividida em categorias, a fim de compreender os significados e
vivencias presentes nas falas dos participantes. Neste sentido apresentamos uma análise da
trajetória escolar dos participantes da pesquisa, onde se evidencia a urgência em movimentar e
propor ações que levem a discussão a respeito dos transgêneros, oportunizando acesso à escola
de maneira equânime como é oportunizado as pessoas cisgêneros.
ABSTRACT
Today there is a growing discussion about issues related to gender, with gender identity being
one of the focuses of these debates. To understand that we are inserted in a heteronormative
society, although binary gender does not sufficient to cover all forms of being and feeling. From
this perspective, the objective of this study is to understand the trajectory of transgender people
in the school environment, as well their challenges. For this, a qualitative research was carried
out with two trans genders (transvestites and transsexuals), who were randomly selected. Was
a semi-structured interview, analyzed, and divided into categories, in order to understand the
meanings and experiences present in the participant`s statements. This meaning we present an
analysis of the school trajectory of the research participants, were we noted the urgency to
propose actions that lead the discussion about transgender people, providing access to the
school in an equitable way as it is for cisgender people.
APRESENTAÇÃO...................................................................................................12
INTRODUÇÃO........................................................................................................15
3 METODOLOGIA..................................................................................................63
CONSIDERAÇÕES ................................................................................................95
REFERÊNCIAS.......................................................................................................98
12
APRESENTAÇÃO
Este trabalho teve início após alguns questionamentos que fiz quando
acompanhava o desenvolvimento de uma turma da escola que trabalho. Na ocasião
recebíamos uma mulher trans que desenvolvia muito bem todas suas atividades, mas
enfrentava um problema, estava desempregada e não conseguia nenhuma colocação no
mercado de trabalho. Segundo ela, ao realizar entrevistas de trabalho e constatarem que
se tratava de uma mulher trans, não davam continuidade ao processo. Terminou por
desistir do curso, parar sua transição e assim conseguir participar de processos seletivos
e conseguir sua vaga. Deixou para trás sua formação educacional e um sentimento
estranho se fez presente em mim, deixando-me inquieto e tirando-me do conforto em que
me encontrava, me fazendo recordar de toda minha trajetória escolar.
Terminei o curso de letras em 2003, mas, antes mesmo do término acabei por
estagiar em um programa da prefeitura de Franca, onde ministrei um curso que acontecia
no contraturno da escola, neste projeto intitulado “Sementes do amanhã”, atendíamos
crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade. Foram três anos de muitos
aprendizados, vivências e muitas dificuldades. Período este que me formei professor
muito mais que na sala de aula. As histórias de vidas daqueles alunos me colocaram em
contato com uma realidade que até então que eu desconhecia e me fizeram pensar em
qual educador eu queria me tornar.
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Por várias vezes me questionei sobre qual era a parcela de culpa do sistema,
pois alguns jovens, então, com seus dezessete anos, mal sabiam escrever seus nomes,
diversos questionamentos me permearam naquele período: qual era a oportunidade
daqueles jovens no mundo do trabalho? Qual eram seus desafios e dificuldades em sua
trajetória escolar? Essa falta de acesso a formação escolar influenciava na culminância
desses jovens no mundo do crime? Ao longo de cinco anos essas e outras perguntas me
inquietaram. Terminei por sair da Fundação CASA, sem conseguir responder minhas
perguntas, deixando também algumas inimizades, uma vez que alguns diretores escolares,
insistiam em aprovar alguns jovens, mesmo estes serem semialfabetizados. As amizades
construídas na Funda CASA me deram base para continuar acreditando na educação e
que ela ainda pode mudar histórias e oportunizar a realização de sonhos.
Não me esquecendo que junto a formação de pedagogia fui buscar outra pós-
graduação que fiz no Centro Universitário de Franca, onde estudei Gestão de Pessoas,
pesquisando o transgênero no mundo do trabalho.
Com termino das duas formações acima, fui buscar o programa de mestrado
da Moura Lacerda, com o intuito de estudar a trajetória de transgêneros na escola, mesmo
não estando em meu lugar de fala, tinha o intuito de utilizar do meu privilegio de homem
cisgênero, branco, de orientação homossexual, e assim amplificar a voz de sujeitos
transgêneros que estão à margem da sociedade sem oportunidades, acessos e formação.
INTRODUÇÃO
Seguindo este ponto de vista a mulher vem sendo educada com vistas nos
trabalhos e cuidados do lar e dos filhos, enquanto o homem é instruído a prover o sustento
da família que constituir, ocupando a função de “chefe” do lar e das relações ali existentes
(SOARES, 2002). Podemos observar esta questão nas lojas de brinquedos que ainda nos
dias atuais focam na produção de brinquedos para meninos que envolvam aventura, força,
super-heróis e para as meninas o foco continua em brinquedos que remetem aos cuidados
da casa, das crianças, criando bonecas que parecem bebes de verdade (Reborn), e
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princesas. Remetendo assim que o homem é criado para o mundo externo e a mulher para
o mundo privado.
De acordo com Lobo (2018) ainda nos dias de hoje as mulheres têm seus
direitos negados, além de aumentar os casos de feminicídios e violência contra as
mulheres e estupros.
aventura, ao trabalho, a força, as cores são azuis, entre outros, e se são meninas busca-se
a delicadeza, a fragilidade, a beleza, as cores estão associadas ao rosa.
1
Leticia Lanz nome social de Geraldo Eustáquio de Souza – Psicanalista, Mestra em Sociologia e
Especialista em Gênero e Sexualidade
18
Freud na sua obra “Três Ensaios sobre Sexualidade (FREUD, 1972)”, amplia
a compreensão sobre a sexualidade humana, afirmando que ela não tem por finalidade a
procriação, mas sim, a busca pelo prazer, que passa por diversas fases: oral, anal e fálica.
[...] uma energia que nos motiva para encontrar amor, contato, ternura e
intimidade; ela integra-se no modo como sentimos, movemos, tocamos e
somos tocados, é ser-se sensual e ao mesmo tempo ser-se sexual. A
sexualidade influencia pensamentos, sentimentos, ações e interações e, por
isso, influência também a nossa saúde física e mental (WHO, 2017, p.1).
Louro (2000) afirma que existem dois discursos que permeiam a sexualidade,
um defende a ideia da sexualidade como algo natural, associada à visão biológica, e outro
discurso está relacionado ao construcionismo, no qual entende a sexualidade como uma
construção histórica, é importante dizer que ambas as visões normatizam, instauram
saberes que produzem verdades, sendo assim podem ser consideradas como sendo uma
invenção social.
Weeks (2003), afirma que o casamento passou a ser visto como um meio de
libertar os homens da imoralidade. Nos séculos XII e XIII houve uma difusão desse
posicionamento cristão associando o sexo ao casamento, os teólogos passaram a debater
a vida sexual das pessoas casadas detalhadamente, no sentido de encontrarem respostas
detalhadas para as questões morais que surgiam no cotidiano (FOUCAULT, 1997).
Desta forma, ainda nos dias atuais, há uma prevalência que coloca a temática
da sexualidade como fator determinante de personalidade e espera-se que as pessoas se
comportem de acordo os rótulos que lhe são atribuídos, as pessoas que fogem dos padrões
da heteronormatividade impostos pela sociedade tendem a vivenciar a margem, cerceadas
de direitos básicos.
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pessoas, seja por meio de debates, artigos de revistas, enredo de filmes e/ou
novelas (DALL’AGNOL, 2003, p. 28-29).
Segundo Leticia Lanz (2014, p.307) gênero como ser entendido como:
[...] desejo e/ou atração muito forte que levo o indivíduo a escolher sempre o
mesmo tipo específico de pessoa – ou os mesmos tipos específicos de pessoas
– na hora de manter relações sexuais. Oficialmente a sociedade reconhece a
existência de apenas dois tipos de orientação: 1) heterossexual – em que um
macho se sente atraído por uma fêmea ou vice-versa e 2) homossexual – em
que o macho se sente atraído por outro macho ou uma fêmea atraída por outra
fêmea.
Nos dias atuais não somente as identidades se tornam múltiplas, mas também
os sujeitos que são ditos como minorias se tornam visíveis, como relata Louro (2001,
p.1):
As chamadas "minorias" sexuais são, hoje, muito mais visíveis do que antes,
e, consequentemente, torna-se mais acirrada a luta entre elas e os grupos
conservadores. Esse embate, que merece uma especial atenção de estudiosos/as
culturais e educadores/as, torna-se ainda mais complexo se pensarmos que o
grande desafio não consiste, apenas, em assumir que as posições de gênero e
sexuais se multiplicaram e escaparam dos esquemas binários; mas também em
admitir que as fronteiras vêm sendo constantemente atravessadas e que o lugar
social no qual alguns sujeitos vivem é exatamente a fronteira. Uma nova
dinâmica dos movimentos (e das teorias) sexuais e de gênero está em ação.
Portando, o sexo sofre uma elaboração social. De acordo com Saffioti (1992),
o gênero é uma maneira de existir do corpo e o corpo é uma situação, ou seja,
um campo de possibilidades culturais recebidas e reinterpretada. Desta forma,
o corpo é essencial para definir a situação da mulher ou do homem no mundo,
porém é insuficiente para defini-la enquanto mulher ou defini-lo enquanto
homem (Apud SANTOS, 2005).
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A ideia de que gênero ainda está somente ligado à biologia era alicerçada pela
comunidade científica, que acreditava que a mulher exercia um papel de cuidadora da
família, dos filhos. É somente no início dos anos 60, com os movimentos feministas que
essa visão começa a mudar.
2 Segundo Parsons a teoria funcionalista da antropologia e da sociologia admite que a sociedade é um todo
organizado por meio de funções que os indivíduos, instituições e grupos sociais desempenham. Nesse
sentido, a sociedade é um todo complexo dividido em partes, sendo que cada parte desempenha um papel
individual. A junção dessas partes fragmentadas explica o todo. A sociedade é, então, uma totalidade
complexa e sistemática. (PORFIRIO, 2020)
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Nesse sentido, os estudos buscam trazer uma noção relacional, entre homens
e mulheres, com o objetivo de transformar os paradigmas sociais, promovendo discussão
sobre novos temas. Em decorrência a sociedade é convidada a perceber a invisibilidade
de parte dos atores sociais, colocando em destaque que tanto homens como mulheres são
produtos do meio social (GARCIA, 2015).
Assim, podemos dizer que assim que a criança nasce, herda as expectativas
da família e seu processo de socialização vai sendo construído a partir dessas
expectativas, inclusive determinando comportamento socialmente aceito para homens e
para mulheres (LANZ, 2014).
Segundo Leticia Lanz (2014) o termo transgênero pode ser entendido como
um guarda-chuva que abarca diversos subgrupos, dentre podemos citar: andrógenos,
dragqueen, dragkings, transformistas, transexual, travesti, crossdresser, dentre outros. Foi
a partir do ativista, norte americano, Leslie Feinberg, um trans-homem, que o termo
transgênero passou a ser utilizado como guarda-chuva para abarcar todas as identidades
que não se enquadram nas normas e condutas impostas pela sociedade baseadas no ideal
do que é ser homem e mulher.
Transgênero não quer dizer um gay (ou lésbica ou bi) mais afetado, nem uma
patologia mental do indivíduo. Não é tampouco o nome de mais uma
identidade gênero-divergente (como travesti, transexual, crossdresser, drag
queen, transhomem, etc.) mas um termo guarda-chuva, que reúne debaixo de
si todas as identidades gênero-divergentes, ou seja, identidades que, de alguma
forma e em algum grau, descumprem, violam, ferem e/ou afrontam o
dispositivo binário de gênero.
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Azul para meninos, rosa para meninas, branco para quem está em transição e
para quem não se sente pertencente a qualquer gênero. Simboliza que não
importa a direção do seu voo, ele sempre estará correto!
mulher e se identifica com sua vagina, desta forma aqueles que não se enquadram
enquanto cisgênero são considerados transgêneros.
A primeira coisa a se dizer sobre o termo transgênero é que não se trata de mais
uma identidade gênero-divergente, mas de uma circunstância sociopolítica de
inadequação e/ou discordância e/ou desvio e/ou não-conformidade com o
dispositivo binário de gênero, presente em todas as identidades gênero-
divergentes (LANZ, 2014, p. 70).
De acordo com Jesus (2013) as pessoas transgêneras (termo utilizado nos dias
de hoje) que pertenciam ao povo Mohave e vivam na região do Rio Colorado, no Deserto
de Mojave, nomeavam as mulheres transexuais de Alyha, estas por sua vez, deveriam
assumir os hábitos considerados femininos, como por exemplo costurar, e os homens
transexuais eram chamados de Hwame e quando casados, seguiam os tabus requeridos de
maridos quando suas esposas menstruavam.
Para Lanz (2014 p. 70) transgênero refere-se a todo tipo de pessoa envolvida
em comportamentos e/ou atividades que transgridem as normas de conduta impostas pelo
dispositivo binário de gênero. As principais categorias de transgêneros são o andrógino
(pessoas que apresentam características masculinas e femininas), a dragqueen e
transformista (pessoas que transvestem do sexo feminino com intuito artístico), a/o
transexual (pessoas que transgredem a norma binaria de gênero), a travesti e o
crossdresser (qualquer pessoa que se apresente usando roupas ou adereços considerados
culturalmente de uso do sexo oposto).
Nesta visão Sagrillo (2017) chama a atenção para a questão falocêntrica que
está no imaginário coletivo de nossa sociedade, que por algum tempo distinguia uma
categoria de transexual por aquela pessoa que tinha aversão ao pênis ou havia realizado
o procedimento cirúrgico de ressignificação sexual. Mas é importante ressaltar ainda que
esta compõe uma visão biológica, mas a questão de gênero transcende esta visão e faz
referência as questões sociopolíticas. Portanto, na visão sociológica, o falo (pênis) não
influencia na diferenciação dessas nomenclaturas. Uma vez que a travesti também pode
fazer a cirurgia de reaparelhamento genital, nesse sentido o que diferencia uma
nomenclatura da outra é o posicionamento pessoal, ou seja, como a pessoa se apresenta
para sociedade, transcendendo assim as questões culturais, políticas, econômicas.
Em linguagem mais técnica, o transgênero pode ser descrito como alguém cuja
identidade de gênero apresenta algum tipo de discordância, conflito ou não
conformidade com as normas de conduta socialmente aceitas e sancionadas
para a categoria de gênero em que foi classificado ao nascer (LANZ, 2014,
p.74).
visão de que o gênero identificado pela pessoa normal estaria submetido ao seu sexo
biológico (LEITE JUNIOR, 2011).
[...] o diagnóstico pode, ainda assim, (a) incutir, naqueles que recebem o
diagnóstico, um sentimento de ter um transtorno mental; (b) acirrar o poder do
diagnóstico na conceitualização da transsexualidade enquanto patologia e (c)
ser usado como argumento para manter a transsexualidade no âmbito das
doenças mentais por aqueles que participam de institutos de pesquisa com
amplo suporte econômico.
Cada vez mais, são necessárias e urgentes propostas de agendas voltadas para
pessoas “trans” no intuito de minimizar e extinguir violências exercidas contra a
população transgênera, apenas pelo fato de fugirem da cisheteronormas. Nesse intuito
foi fundada no ano de 2000 na Cidade de Porto Alegre a Associação Nacional de Travestis
e Transexuais (ANTRA), no qual se constitui uma rede nacional que articula em todo o
Brasil 127 instituições que desenvolvem ações para promoção da cidadania da população
de Travestis e Transexuais (ANTRA, 2009).
Figura 2: Mapa dos assassinatos de 2019 (ANTRA, 2019). Este mapa foi retirado do site da Antra em
2019, a partir de 06/04/2020 é necessário a solicitação do uso, bem como explicar o objetivo de sua
utilização.
Bixa estranha
A música como toda arte deve ser vista como uma metáfora, como uma
expressão, que pode de alguma forma nos remeter a conteúdos pessoais ou coletivos.
Segundo Conceição (2010, p.58)
A arte é qualificada como uma das formas de consciência social [...], ou seja,
[...] é também através da arte que os homens tomam consciência das
transformações da base econômica e das alterações que eles promovem na
superestrutura da sociedade. A arte não se coloca acima das relações sociais.
Ela é inerente a essas relações. É um componente da superestrutura que pode
contribuir para distintas funções e utilidades, conforme a interpretação e a
posição do artista.
forma, ao se identificarem com a música podem tomar consciência do seu papel político
e social.
Figura 3: Índice de acesso de Pornografia de Pessoas Transgêneras por Países – Fonte: RANGEL,
Quirino. Pais que mais mata trans no mundo, Brasil é também o que mais acessa pornôs do gênero,
reforça pesquisa. Observatório G Uol. 2018.
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A escola é
história e da realidade em que está inserido, humanizando-se, lutando pela liberdade, pela
desalienação e pela sua afirmação no mundo, enfrentando uma classe dominadora, que
por vezes determina o padrão de conduta e identidade das pessoas, buscando assim sair
da opressão, exploração e injustiça. Perpetuando-se (FREIRE, 1998).
Nesse sentido, a escola é o lugar que deve permitir e promover meios para
que o aluno possa se preparar para realizar seus projetos de vida, incluindo todos, sem a
exclusão de identidade de gênero, orientação sexual, classe social, etnia, raça, religião,
enfim respeitando as singularidades de cada ser humano.
Nos dias de hoje existem pessoas que lutam para a mudança da visão escolar,
a escola carrega em seu bojo uma ideário de atuação, no qual suas ações consistem em
disciplinar e de normatizar, resultando numa atuação sistemática sobre os corpos dos
alunos, ainda que ela negue, há uma constante preocupação na manutenção desses
padrões e segmentação do seu público.
Desde seus inícios, a instituição escolar exerceu uma ação distintiva. Ela se
incumbiu de separar os sujeitos – tornando aqueles que nela entravam distintos
dos outros, os que a ela não tinham acesso. Ela dividiu também, internamente,
os que lá estavam, através de múltiplos mecanismos de classificação,
ordenamento, hierarquização. A escola que nos foi legada pela sociedade
ocidental moderna começou por separar adultos de crianças, católicos de
protestantes. Ela também se fez diferente para os ricos e para os pobres e ela
imediatamente separou os meninos das meninas (LOURO, 1997, p.57).
Observamos nas práticas escolares o controle diário dos corpos, sendo esses
docilizados, ensinados, disciplinados, medidos, avaliados, examinados, aprovados ou
reprovados, categorizados, corrigidos, forçados, reforçados, adaptados. E a interação da
escola se faz presente por todas as fases do desenvolvimento, desde bebês a jovens e
adultos, se fazendo presente no desenvolvimento físico, emocional, intelectual e sexual.
vezes, não tocar); fazendo com que tenha algumas habilidades e não outras [...]
E todas essas lições são atravessadas pelas diferenças, elas confirmam e
também produzem diferença. Evidentemente, os sujeitos não são passivos
receptores de imposições externas. Ativamente eles se envolvem e são
envolvidos nessas aprendizagens – reagem, respondem, recusam ou as
assumem inteiramente.
De acordo com Reis e Ribeiro (2002) há uma falta de incentivo por parte das
secretarias da educação, para a preparação de professores para lidar com essas questões
em sala de aula, que representam ainda nos dias de hoje um tabu e esbarra-se em questões
permeadas pelo preconceito e pela discriminação.
divergentes, como se fosse possível inibir estas dimensões da vida do aluno, este
comportamento no ambiente escolar legitima diversos tabus e falácias (OLIVEIRA,
2000).
Segundo Ribeiro (1990) o espaço escolar continua sendo o local ideal para se
discutir e refletir sobre orientação sexual, bem como as questões de gênero. Considerando
que na escola o aluno possa se sentir livre para se expressar e dialogar sobre quem ele é.
E cabe a escola refletir sobre as identidades e não as determinar.
Figura 4: Matrículas com nome social – Fonte: Secretaria da Educação do Estado de São Paulo
Sabemos que estes são apenas algumas hipóteses de desafios que as pessoas
transgêneras lidam no seu cotidiano escolar, nesse sentido, sinto-me responsável em
buscar um aprofundamento nos seus desafios e dificuldades para minimizar o isolamento
e o sofrimento psíquico que muitas vezes culminam no abandono da escola.
63
3 METODOLOGIA
Os autores que seguem tal corrente não se preocupam em quantificar, mas, sim,
compreender e explicar a dinâmica das relações sociais que, por sua vez, são
depositárias de crenças, valores, atitudes e hábitos. Trabalham com a vivência,
com a experiência, com a continuidade e também com a compreensão das
estruturas e instituições como resultado da ação humana objetiva. Ou seja,
desse ponto de vista, a linguagem, as práticas e as coisas são inseparáveis
(MINAYO, 2000, p.24).
protagonistas”. Desta forma, a entrevista reflexiva tem por intuito a horizontalização das
relações de poder, considerando assim a subjetividade de todos os envolvidos no processo
da pesquisa (SZYMANSKI, 2011). Tal tipo de entrevista facilita a intervenção do
pesquisador, uma vez que considera toda a subjetividade envolvida e estimula a aceitação
do entrevistado despertando maior interesse na pesquisa.
Neste primeiro contato, ocorreu de forma informal, com um bate papo, sendo
virtual com a participante 1 e pessoalmente com o participante 2, neste momento o
pesquisador se apresentou, discorreu sobre os objetivos da pesquisa e o sigilo da
identidade dos participantes e trocou contatos para o agendamento da entrevista
Nessa pesquisa, optamos por trabalhar apenas com uma pergunta disparadora
para que o(a) entrevistado(a) explanasse livremente, sendo que a pergunta consiste em:
“Como foi sua trajetória escolar?”.
2º. A entrevista será dividida em partes chamadas de unidades de significado, uma vez
que é impossível analisar o sentido todo de uma única vez, portanto será evidenciado
essas unidades de significado que se relacionam umas com as outras, e indicam momentos
diferentes na totalidade da entrevista;
Afrodite era uma deusa de vários amores, foi obrigada a se casar com Hefesto,
por ordem de Zeus. No entanto, não gostava do marido. Um dos amantes com o qual ficou
mais tempo foi Ares (o deus da guerra). Após separar-se de Hefesto, Afrodite casou-se
com Ares. No entanto, a deusa continuou mantendo outros casos amorosos fora do
casamento (BULFINCH, 2006).
Por ter tido diversos relacionamentos amorosos, Afrodite gerou vários filhos
com diferentes parceiros.
• Com Ares, os filhos gerados por Afrodite foram: Eros (deus da paixão e
do amor), Anteros (deus da ordem), Deimos (deus do terror), Harmonia (deusa da
concórdia) e Fobos (deus do temor).
Uma curiosidade sobre a deusa Afrodite, que na Grécia Antiga, Afrodite era
considerada a deusa protetora das prostitutas. É considerada a Deusa da Beleza, do Amor
e dos Prazeres (BULFINCH, 2006).
Afrodite – [...] eu acho que todos já sabiam por que desde criança sempre tive
um jeito muito diferente né, muito afeminado né e quando eu resolvi assumir
mesmo, só meu pai ficou 2 anos sem conversa [...]
Ceneu – [...] eu contei pra minha mãe né, nesse primeiro momento que eu tava
gostando de uma menina e aí pra ela foi o fim do mundo. Ela e meu pai
passaram um mês sem falar comigo [...]
Ceneu – [...] e daí no começo foi muito difícil assim esse entendimento da
minha mãe porque sair de uma relação heterossexual e depois dizer pra ela que
não era aquilo que eu queria na relação como uma mulher [...]
Nessa fala, podemos observar que Ceneu estava buscando construir sua
identidade, e experimentando como deveria ser a sua sexualidade, naturalmente ele foi
levado pela heteronormatividade a experimentar a princípio uma relação heterossexual
enquanto pessoa cisgênero. Depois experimentou uma relação homossexual ainda
enquanto pessoa cisgênero, só então percebeu que a sua identidade de gênero que não
estava adequada com a imagem que tinha de si.
De acordo com Amorin (2018) o sentimento de inadequação e a confirmação
de que a sua família está fora dos padrões se confirma através das relações vivenciadas.
A mãe de Ceneu não entende que sua filha é inicialmente homossexual pois ela já havia
namorado homens e essa mudança era inadmissível.
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Aprendemos ao longo de nossas vidas que família deveria ser composta por
homem, mulher e seus respectivos filhos, os comerciais dos anos 80 reforçaram este
estereótipo com seus comercias de televisão e a chamada “família margarina” assim tudo
e qualquer formação familiar que não se enquadrava neste modelo era considerada
desestruturada. Para os pais dos respectivos participantes, ao entenderem que seus filhos
não seguem a norma padrão quebram seus modelos mentais e suas expectativas do que é
ser homem e do que é ser mulher, nesse sentido podemos entender que o silêncio das
famílias está relacionado também com internalização de um novo modelo que até então
desconheciam.
Essa relação com a família faz emergir diversos sofrimentos psíquicos, há
ainda aqueles que se sentem julgados, condenados pelos pais, familiares e amigos, em
decorrência disso também não conseguem apoio, incentivo e suporte para conquistas
sejam elas pessoais ou profissionais. Enfim, a diversas causas que levam ao sofrimento
psíquico, algumas delas comuns entre as pessoas cisgênero, algumas comuns somente as
pessoas transgressoras das heterônomas. O fato é que muitos desses sofrimentos podem
ser atenuados ou até mesmo evitados quando há compreensão da família ou mesmo das
pessoas próximas.
Ainda, é importante ressaltar que enquanto ser social, o homem é incapaz de
viver sozinho, alheio ao mundo, portanto ao longo da vida ele participa de diversos
grupos, alguns escolhidos por ele. Nesse sentido as amizades são de fundamental
importância para no processo de identificação dos indivíduos, bem como na constituição
de uma rede de apoio para dar suporte a eles. De acordo Fehr (1996) a amizade pode ser
considerado um relacionamento pessoal e voluntário, que propicia intimidade e ajuda, no
qual as duas partes gostam uma da outra e buscam a companhia uma da outra, além de
poder haver uma identificação com o outro. Tanto Afrodite quanto Ceneu percebem uma
maior identificação com o sexo oposto, e na fase da infância consideram que as
brincadeiras com o sexo oposto fazem mais sentido tanto a forma de conviver ou mesmo
o estar juntos.
Afrodite – [...] “então desde criança os meninos tudo sabia. Engraçado que na
escola tinha muita amizade com mulheres né”.
Ceneu – [...] “nessa época também eu tinha uma amizade muito forte mais
com meninos, eu não entendia aquela coisa de boneca e casinha para mim era
muito esquisito. Eu preferia outras brincadeiras assim, mas, nunca tive nenhum
problema por conta disso assim
73
Ceneu, relata sobre seu incomodo de não poder expor seu corpo da mesma
forma que seus amigos, não compreendia que não podia jogar futebol no time sem camisa,
afinal o seu time estaria todo sem camisa, e ainda não compreendia porque todos seus
amigos conseguiam e podiam fazer “xixi” de pé, sua mãe até tenta explicar a partir de sua
percepção de mundo e do que ela entende por ser homem e por ser mulher, mas reproduz
o discurso limitante afirmando que Ceneu não poderia se comportar assim por ser uma
menina.
Antes de nascer os pais já projetam aos seus filhos todas as expectativas de
gênero, se nasce menino vai usar azul, portanto será estimulado a ser o super-herói, a não
e ser fraco e não chorar, deverá brincar de carrinhos, jogos de aventuras, explorar o seu
corpo, ser livre entre outros; a menina, por sua vez, irá usar rosa, se tornando uma
princesa, portanto, deve ser meiga, cuidar do lar, brincar de boneca, sentar-se de pernas
fechadas, preservar sua intimidade, entre outros.
Contudo, mesmo antes do nascimento somos expostos ao julgamento e
levados a aceitar como ideal a heteronormatividade, o que destoa dessas normas é
considerado transgressor, podendo gerar diversas incertezas bem como conflitos
identitários, resultando numa diversidade de traumas e sentimentos de inadequação.
Nesse sentido, percebemos atualmente uma alta taxa de suicídios na população
LGBTQI+, segundo levantamento divulgado pela ANTRA (2019), esse sentir-se
descolado do que é massivamente divulgado como o correto, gera diversos conflitos e
sofrimento psíquico o que pode resultar numa ideação suicida.
Afrodite – [...] “desde que eu me entendo por gente, já com meus 5,6,7 anos,
que eu consigo me lembrar bem até os 4 anos de idade, .eu nunca brinquei com
brinquedo de homem né de menino, sempre brinquei com coisas de menina...
né [...]
Afrodite - [...] esses dias mesmo eu encontrei uma prima minha, bem mais
velha que eu que me viu e falou, nossa você tá linda né, mas não tinha como
você desde bebê, você tinha todos os jeitinhos de uma menina. O jeito de você
75
se sentar era de menina, a forma de você ser quando criança, 4,5 anos de idade,
era de uma menina [...]
Afrodite - [...] quando eu resolvi assumir mesmo. Só meu pai ficou 2 anos sem
conversa [...]
Ceneu - [...] jogar futebol também que era uma outra questão de não é para
você sabe [...].
Ceneu relata que por diversas vezes ouviu que futebol não era para ele, pois
era menina e deveria estar brincando de boneca ou “casinha” com as outras meninas. A
forma que cada indivíduo se comporta, age ou manifesta o expõe ou não ao preconceito,
caso algo saia do padrão causa estranheza, desconforto nas pessoas ao seu redor. Mais
uma vez a norma de gênero e a regra de comportamento se faz presente.
76
Afrodite relata que sua saída do armário foi apoiada por uma amiga, ambas
fizeram o processo juntas, a experimentação de indumentárias femininas, o uso de
hormônios, maquiagem foram alicerçadas e apoiada na amizade, nesse sentido ter apoio
de alguém próximo legitima a sua revelação.
Afrodite – [...] “eu tinha uma amiga que estava Mario [nome fictício] hoje é a
Maria [nome fictício] e a gente começamos juntas. A gente deixamos os
cabelos cresce. Começamos a tomar hormônio, eu me lembro da primeira saia
que é pus com 14 anos de idade eu pus a primeira saia o primeiro sapato de
salto né, brinco e batom, era uma coisa assim meia estranha, mas, daí um ano
já estava toda transformada nas ruas”
Ceneu – [...] “eu raspei a cabeça e decidi que eu ia começar de novo. A partir
daquele dia que eu ia ser quem eu era. Foi nossa demais assim e ainda bem que
eu tive amigos também que me apoiaram que tiveram lado a lado, dizendo é
isso que você que faze, então ótimo, você vai ficar mais feliz assim? E também
eu entendi que o conflito de identidade era tão grande e não como passo de
mágica né, mas, depois do entendimento e da aceitação e de ver que tava tudo
bem”.
órgão sexual, ele está mais ligado ao posicionamento de cada indivíduo e como ele se
apresenta para a sociedade.
Este pensamento pode ser ilustrado pela fala de Ceneu, que afirma antes
mesmo de fazer uma intervenção no seu corpo já se sentia homem, a princípio não
considerava este processo necessário. Segundo Ceneu, seu modo de ser e estar no mundo
era de um homem, um homem que transgride as regras binarias e se auto afirma mesmo
não mudando efetivamente seu corpo. Para a mulher transgênero há o entendimento do
senso comum que se não fez a cirurgia automaticamente é considerado travesti, se fez a
“reaparelhagem” pode ser considerado transexual, afirmando assim mesmo no meio
LGTBQI+ a generalização dos corpos.
Podemos ainda citar o fato passibilidade, que significa que o transgênero se
aproxima das características do gênero que se declara, assim no caso de mulheres trans
irá determinar como elas percorrem pela sociedade e são expostas em maior ou menor
grau, ao preconceito, uma vez que a transgeneridade é mais ou menos percebida.
Já o homem transgênero não passa pela mesma situação da mulher trans, uma
vez que, caso ele não faça nenhuma intervenção ele acaba por sendo encarado apenas
como uma mulher masculinizada. O que gera também um sofrimento psíquico, uma vez
que não é reconhecido com o gênero o qual se identifica, sendo visto mais uma vez como
uma caricatura.
Ceneu – [...] eu não tomava hormônios ainda e nem achava que era uma coisa
que eu queria começar naquele momento [...]
Ceneu [...] acho que não. Não precisa realmente de uma de uma transição
física. Eu acho que a transição mental e a de identidade é, seria suficiente, mas
eu depois, eu decido que não, enfim [...]
torna-se homem, e esse processo se dá internamente, cercada sim por diversos percalços
e sofrimentos.
É importante refletirmos sobre as identificações que as pessoas fazem acerca
de si, esse processo irá determinar o gênero que a pessoa se reconhece e como esta pessoa
gostaria de ser tratada, portanto cabe a sociedade respeitar a singularidade de cada pessoa,
entendendo que cada ser humano teve um percurso para se construir, não cabe a sociedade
defini-los, limitá-lo ou ainda exclui-los.
Afrodite – [...] “na época eles não deixavam por nada que era feminino, se a
gente colocasse, a gente era expulsa pelo diretor da escola. O diretor nos
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Afrodite [...] o diretor que era homofóbico, transfóbico né. Ele expulsava a
gente por qualquer ação e reação. Eu mesma fui expulsa por ele 3 vezes por
conta de vestes né [...]
Ceneu – [...] “os professores e direção acho que eles não ligavam muito, igual
na outra escola, existia uma coisa, ai ignora. Não tá fazendo nada de errado,
tipo errado, tipo, sei lá.: quebrar a escola, mas xingar o aluno de viado era tipo,
não é errado deixa ele, deve se viado mesmo, não tinha importância”.
Nesse dialogo com Ceneu percebemos que a direção escolar não age de modo
político, as crenças e preconceitos pessoais dos diretores conduzem a normativa da escola,
82
portanto quando Louro (2000) ressalta que a escola dociliza os corpos e os enquadra em
padrões definindo as atividades que são direcionadas para os meninos e para as meninas,
entendemos o quanto a heteronormatividade é um véu indivisível que envolve até as
pessoas mais instruídas. Portanto o preconceito atravessa inclusive as pessoas cultas, que
não cultivam a alteridade pelos demais. Nesse sentido qual seria o papel da escola? A
conclusão é que deveria ser imparcial e fomentar o conhecimento para que cada um
pudesse tirar suas próprias conclusões, embora saibamos que não há imparcialidade nas
nossas decisões.
Ceneu – [...] “teve uma época na terceira série que eles separaram a turma de
meninos e meninas. As meninas tinham que fazer aula de balé e os meninos
tinham que fazer futebol. Eu passei um ano fazendo balé e eu chorava e
chegava em casa assim, arrasado, e falava para minha mãe: mãe eu não quero.
Você pode ir lá falar pra eles que eu não quero. Que eu quero fazer aula de
futebol, acho muito mais legal.
Ceneu – [...] “em 2016, eu fazia cursinho da Unesp, assim e lá tinham umas
discussões mais abertas sobre outras coisas, inclusive sobre gênero, sobre
sexualidade, sobre a diversidade de sexualidade que existe, né, me fazia te
mais contato e também porque eu tava lendo muito sobre o assunto”.
transgêneros. Lanz (2017) afirma que ao lado da família a escola funciona como uma
importante força social na profilaxia e na terapêutica dos desvios de gênero. Nos relatos
de Afrodite e Ceneu vimos ambos relatarem processos de violência simbólica que
vivenciaram em sua trajetória escolar.
Violências estas que vão perseguir o indivíduo durante todo seu processo de
aceitação, sendo que o contrário poderia facilitar o autoconhecimento, a autoestima,
aceitação de si e do outro. Portanto, quando a escola cumpre seu papel de informar de
permitir que cada pessoa seja ela mesmo, evita uma série de sofrimentos.
Lanz (2017) afirma que as pessoas transgênero fazem um esforço imensurável
no intuito de se adequar ao discurso que é reproduzido em diversos seguimentos da
sociedade que afirmam que elas são e estão inadequadas. A escola por sua característica
poderia ser um local de transformação e debate, colaborando assim para a diminuição das
violências exercidas contra a população transgênero bem como fomentaria a diminuição
do sofrimento psíquico que estas violências geram e também o sentimento de estar
deslocado ou mesmo transgredindo as regras do que se considera-se certo , aceito e bem
vindo na sociedade.
Ceneu – [...] “nunca houve esse tipo de conversa, de, aí existem pessoas
homossexuais. Não tinha ideia, ninguém nunca falou isso pra mim. Ninguém
falou que tudo bem você ter outra identidade de gênero que não a cisgênero.
Ninguém nunca tinha me falado nada. E aí no período de escola isso é uma
dificuldade que se eu tivesse sabido antes. Se alguém tivesse me contado. Se
alguém tivesse colocado isso como uma possibilidade ok, sabe, mas naquela
escola, com a religiosidade que eles pregavam, porque tinha isso também. Não
era possível assim sabe”.
incisiva. Então não acontecia muitas piadinhas que eu não tinha. Risadinha e
conversinha, as coisas. Eu acho que era muito ríspido antigamente”.
Afrodite – [...] “a gente percebia que ele tava até com uma expressão suave,
mas quando ele me via dentro da escola, por algumas vezes, as vezes ele
aparecia, ele me olhava com um comportamento muito agressivo. Como se diz:
eu tô de olho em você e eu vou te pegar de novo .Então eu já tinha um
sentimento assim, nossa eu vó arruma problema de novo, ai chegava em casa,
a mãe vinha em cima, o pai vinha em cima, porque tava dando problema na
escola”.
Ceneu – [...] “passei uma semana sem ir na aula. Falei nossa, eu vou lá falar
com essa coordenadora e ver o que eu faço, né. E ai fui lá e falei com ela o que
tinha acontecido e ela: jamais que ela fez isso assim para te agredir, ela tava
fazendo uma piada. Ai eu falei, mas é uma piada que eu me senti agredido [...]
Ceneu – [...] “eu tive um problema, até nesse semestre, com uma professora
que eu achei que ela teve uma fala transfóbica. Não era uma discussão sobre
ela ter dito ou não. É sobre eu achar que ela teve uma fala transfobica, assim
[...] [fala de Ceneu relatando que a professora havia feito uma piada em sala
de aula, na qual a professora relata que alguns filmes apresentam homens
engravidando, e ela fala: onde já se viu homem ficar gravido. Neste momento
Ceneu pensou - eu sou homem e posso ficar gravido!]
É posto que não é função do professor ser sexólogo, mas este deve estar
preparado para acima de tudo respeitar as diferenças e lidar com as questões relacionadas
a diversidade sexual, é preciso preparar o professor para lidar com as questões referente
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a sexualidade que vão para além da visão biológica, entendendo que ampliar o debate
sobre as diversidades de identidade de gênero e sexual não erotiza a criança, Brandão e
Lopes (2018) destacam que trazer este debate para a escola não irá determinar, incentivar
ou erotizar as crianças, ao contrário do que fomenta alguns grupos religiosos e
parlamentares, que insistem em empregar erroneamente o conceito de ideologia de gênero
como algo verdadeiro e que irá “acabar” com a família e levando as crianças e os
adolescentes ao desvio da normalidade.
A falta de preparo de toda equipe escolar e em especial o professor não apenas
exclui, expõe, mas, também cerceia o transgênero de obter oportunidades de formação e
assim, não perpetuar o cenário já exposto, o da vulnerabilidade social e a falta de
oportunidade, que pode levar a prostituição. Afrodite relata que sentia-se perseguida por
uma professora, embora não há como saber se era perseguição ou se reprovava por
merecimento, o fato é que ela não compreendia o processo, a professora não dava o devido
feedback, que de acordo com Afrodite, qualquer meio que ela buscava para tirar boas
notas não era suficiente, inclusive chegava a “colar na prova”, mas sempre acabava
reprovada. Nessa afirmativa podemos observar o despreparo do professor que poderia
dialogar com Afrodite apontando o caminho que deveria percorrer para melhorar seu
desempenho, podemos deduzir que há um preconceito que pode levar o professor a julgar
desnecessário seu esforço em buscar alternativas de ensino, uma vez que no senso comum
há a percepção que o futuro do transgénero feminino é a prostituição.
Ceneu [...] E aí a única coisa que eu pensei na hora foi eu vou sair dessa sala.
Naquele momento eu não conseguia me colocar, sabe, achei muito duro E ai
eu fui falar com a coordenadora que foi outro erro né [...]
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Afrodite – [...] “eu tive o apoio de algumas professoras, né, que me olhavam
riam brincavam. Tinha uma professora que me dava chocolate, ela não dava
pros outros alunos, mas ela dava pra mim. Então eu acho que ela me via de
uma forma diferente, né, dona Iraí”. [...]
Ceneu por sua vez, relembra de um professor que trouxe algo positivo em
meio aos processos que vivenciou na escola. Segundo Ceneu havia um descaso ou mesmo
uma negativa em olhar para as questões de gênero, identidade e orientação sexual na
escola. Ele relata que houve um professor que era mais aberto, que tentou balizá-lo em
relação a sua postura, buscava alertar que seu comportamento estava exacerbadamente
agressivo, o que não faria bem para ele e para os outros, nesse sentido o professor buscou
acolher a raiva de Ceneu, embora ele não sentiu-se acolhido plenamente.
Ceneu – [...] “Tinha um professor de Literatura e redação que ele era o mais
aberto, assim muito mais no antenado nas questões, aí ele falava: nossa eu acho
que você tá muito radical. Eu falava, eu, se ninguém falar não vai acontecer
nada, então eu vou fica aqui falando [...]
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A escola deixa marcas em todos nós, passamos anos nos relacionando com
diversos tipos de pessoas, de diferentes idades e concepção de mundo. O professor exerce
um papel de grande importância no processo de construção da aprendizagem e da
construção do indivíduo. A todo momento ele deve mediar as vivencias escolares, seja na
construção do conhecimento ou naquilo que o aluno expõe de si mesmo no ambiente
escolar. Para tanto, o professor deve sempre buscar meios para lidar com essas questões,
sendo que uma alternativa é a formação continuada para melhorar sua atuação no processo
de ensino aprendizagem, bem como ficar atento ao ser humano que está ali no espaço
escolar e que este precisa de acolhimento, olhares, proteção, compreensão e entendimento
que vão além da simples aprendizagem inserida no currículo.
Incluir nos currículos escolares temas como sexo, identidade de gênero e
orientação sexual são de extrema importância, uma vez que aborda a questão de equidade,
de construção de cidadania, temas estes tão fundamentais quanto se aprender matemática,
português, história e geografia. Entretanto, atualmente estamos nos deparando com o
desmonte da cidadania na escola, nos últimos tempos a bancada religiosa do congresso
passou a cercear a ação de professores, que já eram despreparados, em desenvolver a
educação sexual nas escolas. Falar de sexualidade se tornou proibido e quem o fizer pode
ser punido chegando a perder seu trabalho, parece uma incoerência, uma vez que no
passado a punição para quem abordava a questão sexual era apenas de cunho moral.
Ceneu -[...] “na quarta série, a gente teve aquelas aulas sobre educação sexual,
mas era sobre prevenção, sobre como usar camisinha, sobre gravidez precoce,
esse tipo de coisa. Nunca se teve uma conversa sobre sexualidade e gênero.
Nunca houve esse tipo de conversa. De. Aí, existem pessoas homossexuais,
não tinha ideia. Ninguém nunca falou isso pra mim. Ninguém falou que tudo
bem você ter outra identidade de gênero que não a cisgênero. Ninguém nunca
tinha me falado nada. E aí no período de escola isso é uma dificuldade. Que se
eu tivesse sabido antes. Se alguém tivesse me contado. Se alguém tivesse
colocado isso como uma possibilidade, ok, sabe”. [...]
Ceneu - [relatando como era as aulas de educação sexual [...] "estavam falando
sobre gravidez e, é isso. E aí me ensinaram. Eu lembro que a a gente até saiu
da sala por um momento. As meninas, porque tinha sei lá, um aparato, uma
coisa que eles iam ensinar. Eles iam ensinar os meninos a colocarem camisinha
sabe”. [...]
Daniel - [...] tiraram as meninas da sala?
Ceneu - [...] é tipo (risos) e não tinha camisinha feminina. Inclusive só
mostraram uma camisinha. Masculina. E ai, explicaram sobre a coisa de
gravidez na adolescência, quando era perigoso, que tinha que se prevenir. Aí
mostraram também coisas sobre anticoncepcionais etc., mas nada disso, sabe.
Nada de existem outras formas de sexualidade”.
Segundo o relato de Ceneu percebemos que o sexo ainda nos dias de hoje é
compreendido como proibido, é colocado para os alunos como errado, como sujo. É
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importante destacar que nada mudou nesta trajetória, pois o preconceito vivenciado por
Ceneu no ensino fundamental continua também na graduação. Nesse sentido, as aulas de
educação sexual não ajudam a construir uma visão crítica no formato que estavam
acontecendo, pelo contrário, elas segregam, separam, cria-se um tabu, um abismo sobre
o ser sexual. Nessa perspectiva é importante lembrar que quando falamos de aulas sobre
educação sexual, deve-se debater além da prevenção e da saúde sexual temas como
gênero, identidade de gênero, orientação sexual, promovendo assim uma desmistificação
de algo comum entre todos os seres.
O ensino sobre educação sexual não deve ser de forma alguma diferente para
meninos e meninas, ambos devem compreender a singularidade de seus corpos, e
aprender a respeitar as diferenças, só assim estaremos formando pessoas conscientes e
cidadãos emancipados.
Afrodite – [...] “eu tinha que usar o banheiro masculino, mesmo com toda
afeição feminina, porque tinha uma forma muito física do corpo e do rosto, né.
Eu, já com 14 anos de idade tinha seios. Eu tinha que usar o banheiro dos
meninos e na hora que chegava lá acontecia algumas coisas, né, por parte deles
se insinuarem, quererem se mostrar parte intimas. Isso quando criança, né.
Então isso acontecia bastante né” [...]
desvio de caráter, há um julgamento de que o banheiro será utilizado com outros fins, ou
ainda há uma negação da identidade do transgênero, não reconhecendo com o gênero que
ele se apresenta. Benevides e Nogueira (2018) relatam os transgêneros precisam
justificar, explicar e se impor para que obtenham o direito ao uso do banheiro.
Ceneu- [...] “ai ela perguntou pra mim e o banheiro? Você vai usar o banheiro
feminino né? Porque, como que você vai usar o banheiro masculino? [...]
Ceneu [...] E aí, ir ao banheiro, tipo. Lá não tem um banheiro perto da sala
onde eu estudo. [...] eu sempre vou muito rápido, né. [...] por que sei lá,
qualquer hora pode ser um risco, qualquer hora pode ser hora de você ser
violentado sabe [...]
obscuridade do transgênero, colocar a “cara” no sol significa andar pelas ruas, enfrentar
o mundo, enfrentar os preconceitos das pessoas, perder o medo e se expor.
Há uma relação de amor e ódio quanto ao transgênero, essa dualidade
apresenta dois aspectos, em um o desejo sexual, os transgêneros são vistos como fetiche,
estão relacionados ao sexo no imaginário de uma grande parcela da sociedade, e noutro
são considerados desviantes, ou seja, dignos de ódio. É comum as pessoas transgêneros
serem associadas a profissionais do sexo e estigmatizadas como pertencentes ao gueto a
uma subclasse da sociedade.
Afrodite – [...] às vezes no banheiro, pra usar o banheiro, tinha alguns dos
meninos que se insinuava. Mostrar as partes íntimas e falava umas. Algumas
coisas”.
Ceneu relata que seu pai lhe atribuía afazeres domésticos pelo fato de ser
mulher. A atitude deste pai vem repleta de um mapa mental que foi construído através
dos tempos. A ideia dele consiste que toda mulher deve gostar de lavar louça, sendo essa
ação compreendida como afazeres femininos, e compõe o imaginário da sociedade.
Observamos como o imaginário da sociedade se comportar ao adentrarmos
em uma loja de brinquedos para crianças, onde encontramos em sua maioria os super-
heróis para os meninos; e para as meninas, a louça, vassoura, jogo de panelinhas, dentre
outros brinquedos que fazem alusão ao serviço doméstico, como também as bonecas que
representam o cuidar das crianças, constituindo no senso comum uma obrigação das
mulheres. Desta forma, quando o pai de Ceneu acredita que ele deve gostar de lavar louça
por ter nascido mulher, ele na verdade está reproduzindo uma expectativa construída
socialmente.
Ceneu – [...] “meu pai sempre falava: mas você é mulher, como que você não
gosta de lavar louça. Ai, não gosto, odeio, acho horroroso”.
Na escola, também não poderia ser diferente, esse discurso normativo se faz
presente, na medida em que não há uma visão crítica, assim de acordo com os relatos de
Afrodite, a postura do diretor da sua escola demonstra que a expectativa de gênero
também percorre o ambiente escolar, essa fiscalização das vestimentas beirava a ditadura
do gênero, conforme narra Lanz (2017) determinando, controlando e punindo quem não
estava enquadrado no que o diretor acreditava ser o correto para o ambiente escolar.
Afrodite –[...] “Ele não aceitava. De forma alguma que a gente nem tivesse
trejeitos ou jeito. Ele não aceitava não, ele era completamente fechado, né. Ele
era rígido. Ele não aceitava nem os trejeitos de aluno. As vezes a gente
colocava um pouquinho a calça, um pouquinho mais apertada, ele já ficava
nervoso. Ele já xingava, ele já brigava, ele já falava em expulsão. Em da
suspensão, né. Chamava minha mãe pra falar: olha o comportamento do seu
filho. O seu filho é um menino que ser menina e essas coisas assim”. [...]
Observamos nesse relato que são aplicadas diversas sanções aos transgêneros,
seja por atores específicos ou mesmo pela sociedade como um todo, pelo simples ato
destes transgredirem o binarismo de gênero. Essa inadequação e o sentimento de
deslocamento é produzida heteronormatividade, que podem resultar no distanciamento
das pessoas, que simbolicamente ficam trancadas em seus “armários”, invisibilizadas sem
o direito de serem e estarem no mundo de forma plena, gerando angústias e diversos
sofrimentos psíquicos, pois, ficam totalmente impotentes de aliviar suas tensões
93
De acordo com o relato de Ceneu diariamente refletia sobre como sua vida
era “errada” e isso só potencializava sua dor em relação ao sentir que estava transgredindo
as normas. A crença religiosa da família Ceneu pode ter acentuado o silêncio de seus pais
em relação a percepção que tinham do filho. Lanz (2017) afirma que o sentimento de
culpa dos transgêneros é maior em pessoas criadas em famílias religiosas, pois nelas
emerge o sentimento de vergonha, de estar errando e não obedecendo as leis de Deus.
94
- VIVÊNCIAS / OPORTUNIDADES
CONSIDERAÇÕES FINAIS
sexual, identidade de gênero não irá destruir nenhuma família ou influenciar nenhuma
criança em relação a sua identidade.
Diversos “nãos” são ditos as pessoas transgênero ao longo de suas vidas.
Podemos afirmar que a falta de acolhimento da família, a percepção de si mesmo e a
percepção de que está vivenciando algo “errado” causa sofrimento, dores, traumas, coloca
a pessoa transgênero em uma condição psicológica de enfrentamento com ela mesmo e
com a sociedade. Muitos desses sofrimentos podem ser atenuados ou até mesmo evitados,
quando há uma educação efetiva, quando há um debate sobre as possibilidades de ser e
estar no mundo, quando há uma conscientização acerca das diferenças. Nesse sentido,
enquanto sociedade somos responsáveis por grande parte do sofrimento psíquico de
pessoas transgênero
Vimos que a trajetória escolar ainda é marcada por falta de conhecimento por
parte da direção, professores, enfim por toda a comunidade escolar. Nesse sentido, há
uma necessidade urgente por formação continuada e o fomento de uma agenda que
discuta educação sexual na escola bem como gênero, identidade de gênero e orientação
sexual, objetivando minimizar preconceitos, promover dignidade a pessoas transgênero
em sua trajetória escolar e assim oportunizar condições de formação, entendimento de si
e do outro, resultando efetivamente em oportunidade e condições melhores a estas
pessoas.
A história de vida de Afrodite e Ceneu exemplificam todo esse cenário,
podemos citar que Afrodite vivenciou a rejeição familiar, escolar e econômica e viu na
prostituição uma oportunidade de sobreviver. Ceneu, por sua vez, foi rejeitado por sua
família num primeiro momento, embora, conseguiu percorrer um caminho diferente e
hoje está cursando a graduação de psicologia. Duas histórias tão próximas de luta,
rejeição, transgressão da ordem que seguem caminhos distintos, e ao mesmo tempo
reafirmam a necessidade de olhar e propor discussões que fomentem um caminho digno
e com oportunidades para todas as pessoas transgênero. Nesse sentido é necessário que a
frase de Boaventura de Souza Santos seja efetivamente vivenciada em nossa sociedade,
“Lutar pela igualdade sempre que as diferenças nos discriminem. Lutar pela diferença
sempre que a igualdade nos descaracterize”.
O pano de fundo desta pesquisa é amplificar a voz de pessoas que por muitos
anos não vêm sendo ouvidas, que cada vez mais elas possam ter o direito de serem quem
são podendo estar em lugares onde possam discutir e propagar suas ideias, vivencias,
amores, dores, sabores.
97
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