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Capítulo 1

Fundamentos da política e
da sociedade brasileiras

JOSÉ MURILO DE CARVALHO

o problema político central do Brasil é nativas além do pau-brasil e de ani mais


construir um país que combine três coisas: exóticos. Os nativos não produziam mer-
liberdade, participação e justiça social. Te- cadorias aproveitáveis. A nova colônia não
mos liberdade, alguma participação e muita podia competir com as riquezas comerciais
desigualdade. A liberdade e a participação, das Índias Orientais. A necessidade, porém,

para sobreviverem,
de. Perseguindo esseprecisam geraro igualda-
tema central, texto se de
trosdefender
europeus,a conquista
sobretudo dos ataques edeespa-
franceses ou-
divide em duas partes. A primeira aponra as nhóis, forçou a Coroa portuguesa a dar iní-
principais características da formação social cio à colonização, trinta anos após a chega-
brasileira desde a colonização portuguesa até da da esquadra de Cabral. Colonização sig-
1930, quando o país começa a passar por nificava "produzir para o mercado euro-
mudanças aceleradas. Nesse longo períod o peu".
de 430 anos houve grande continuidade na O produto que naquele momento se re-
economia, na composição das classes e gru- velou mais adaptável à região foi o açúcar.
pos sociais e nas relações sociais (como exem- Para sua produção eram necessários terra,
plo de mudança importante, pode-se citar capital e mão-de-obra. A terra, abundante e
apenas a abolição da escravidão em 1888), facilmente arrancada dos nativos, foi dis-
A segunda parte resume as grandes mudan- tribuída em vastas sesmarias. O capital veio
ças posteriores a 1930 e aponta os proble- de portugueses enriquecidos no comércio
mas não resolvidos em nossa trajetória para com as Índias e de capitalistas judeus ..A
uma sociedade democrática. mão-de-obra foi buscada inicialmente na
escravização da população indígena. Entre-
tanto, como esta dificilmenre suportava o
1. Os Fund
amentos
. 1500-1930 trabalho nos engenhos e era rapi damente
dizimada por guerras e epidemias, recor-
reu-se, já a partir da segunda metade do
1.1 A colon
izaçãoportug
uesa
século XVI, à importação de escravos da
Os conquistadores portugueses, como costa ocidental da África. Desenvolveu-se,
todos os outros do fim do século XV e iní- então, um vasto e.duradouro tráfico de es-
cio do XVI, além de difundir a fé, estavam cravos que durou três séculos. Calcula-se
interessados em encontrar riquezas naturais que cerca de três milhões de escravos afri-

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e mercadorias vendáveis na Europa ..A co- canos tenham sido tra nsportados para a
lõnia americana apresenrava poucas alter- América portuguesa até 1822 e mais um

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~ milhão para o Brasil, até 1850. Vieram es- nos. Tinham desaparecido cerca de três mi-
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cravos de várias etnias e de diferentes tradi- Ihões de indígenas e entrado número seme-
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ções culturais, saídos de regiões que iam da lhante de africanos escravizados. Embora não
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baía de Benin, na costa ocidental da África, haja estatísticas a respeito, é certo que boa
"O onde hoje fica a Nigéria, em direção ao sul, parte da população livre era composta de
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até Moçambique, já na parte oriental daquele mestiços de todos os tipos, sobretudo de bran- ,.
'" continente. cos e negros (mulatos) e de brancos e índios
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Grande propriedade, escravidão e pro- (caboclos).Independentemente das razões que


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<> dução para o mercado externo foram traços levaram à mestiçagem, ela passou a caracteri-
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definidores da colonização portuguesa na zar a população da colônia e do futuro país.
América. Essa composição demográfica foi altera-

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o da apenas na segunda metade do século XIX,
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quando a abolição do tráfico de escravos
E 1.2 População
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(1850) e a da escravidão (1888) forçaram a
::J Portugal à época da conquista tinha uma busca de mão-de-obra, agora livre, em paí-
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pequena população
de habitantes. Tendode cercaum
criado de vasto
um mil hão
impé- ses europeus,
gração, sobretudo
incentivada ou na Itália. A nova
voluntária, a queimi-
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rio no século XVI, que se estendia da Amé- acrescentou no século XX substancial com-
rica à África e à Ásia, não contava com gente ponente japonês, mudou a cara do país, so-
suficiente para colonizar as novas terras da bretudo no sul. O censo de 2000 regi stra a -
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América. Faltavam, sobretudo, mulheres presença de 52% de populaçãobranca, con-
brancas para a formação de famílias regula- centrada no sul e sudeste, 9% de população
res. Tirando vantagem de sua superioridade negra (nordeste e sudeste) e 39% de popula-
tecnológica, a minoria portuguesa impôs-se ção parda ou mestiça (nordeste e norte).
à população nativa, calculada em cerca de Pela maneira como se formou a popula-
quatro milhões, boa parte da qual fo i dizi- ção nacional, não se pode falar em coope -
mada por doenças e guerras, à semelhança ração de três raças, ou de três culturas. Pri-
do que se passava na parte espanhola da meiro, porqu e houve um processo inicial
América. Como solução para a escassez de violento de submissão, pela escravização, de
mão-de-obra, os portugueses recorreram nativos e africanos, levado a cabo pelos
então à importação maciça de escravos afri- conquistadores. Segundo, porque tanto o con-
canos. Dada a escassez de mulheres brancas, tingente europeu quanto o nativo e o africa- ,
o colonizador miscigenava-se com mulheres no incluíam diferentes grupos étnicos e cu!- .'
indígenas e africanas, processo em que estu- turais. A primeira razão ajuda a explicar os
pro e consentimento se misturavam de ma- preconceitos e as desigualdades sociais basea-
neira indistinguível. dos na cor das pessoas. A segunda revela
Três séculos depois da conquista, à época maior riqueza cultural do que a pretendida
da independência da colônia, a população do pelo mito das três raças. Não há entre nós
novo país foi calculada em torno de quatro uma cultura branca européia, mas várias, as-
milhôes de habitantes, número semelhante ao sim como há várias culturas africqnas. Além
de 1500. Dessesquatro
indígenas e um milhãomilhões , 800 milafrica-
eram escravos eram disso, adegeografia
parte também
diversidade responde por boa
cultural.
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de melhor resultou da mineração foram as
cidades coloniais mineiras, com seus magní-
ficos exemplares de arte barroca.
À época da independência, a economia
colonial podia ser descrita de maneira
simplificada. Era composta por: grandes lati-
fúndios voltados p<lraa produção de merca-
dorias exportáveis, como o açúcar, o tabaco,
o algodão; fazendas dedicadas à produção
agropecuária para o mercado interno (cere-
ais, leite e carne) e à criação de gado, estas
últimas sobretudo no norte e no sul; e cen-
tros mineradores já em fase de decadência.
Acrescente-se ainda grande número de pe-
quenas propriedades voltadas para a agri-

cultura e a pecuáriacapitais
dades costeiras, de subsistência. Nas ci-
de províncias,
predominavam O grande e o pequeno comér-
cio. Os comerciantes mais ricos eram os que
se dedicavam ao tráfico de escravos.
'. A única alteração importante nessa eco-
nomia foi uma troca de produtos de expor-
tação verificada com o desenvolvimento da
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cultura do café. Já na década de 1830, esse
produto assumira o primeiro lugar nas ex-
1.3 Ec
onomia
portações, acima do açúcar e do tabac o. Mas
, A produção de açúcar e tabaco em al- o café não mudou o padrão econômico an-
guns pontos da costa, o extrativismo e a pe- terior: era também um produto de exporta-
cuária no interior dominaram a economia ção baseado no trabalho escravo. Esse mo-
dos séculos XVI e XVII. No século XVIII, a delo sobreviveu ainda por mais cem anos.
descoberta de ouro e diamantes na r"gião Só começou a ser desmontado após a Seguú-
que hoje inclui os estados de Minas Gerais, da Guerra Mundial. As conseqüências da
Goiás e Mato Grosso acrescentou nova di- hegemonia do café foram principalmente
mensão à economia colonial. Pela primeira políticas. O fato de se ter ela estabelecido a
vez, grandes contingentes populacionais se partir do Rio de Janeiro ajudou a consolidar
deslocaram para o interior da colônia. Re- o novo governo do país sediado nessa pro-
sultou da nova economia um efeito impor- víncia. Se não fosse a coincidência do centro
tante de integração econômica: a vinda de político com O centro econômico, os esfor-
tropeiros do sul e do no rte para o interior ços da elite polí tica para manter a unidade
do país. A descoberta do ouro também pro- do país poderiam ter fracassado. Ao final do
vocou o deslocamento do centro adminis- século XIX, o deslocamento da produção do
trativo da colônia da Bahia para o Rio de café para São Paulo favoreceu a implantação
Janeiro. Além dessas conseqüências, o que da República.e a introdução do federalismo.

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1.4 Socieda
de os prof issionais liberais, padres e frades,
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'Cii A economia colonial gerou uma divisão militares, pequenos comerciantes. Em segui-
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de classe s muito hierarquizada e bastante da, vinham pequenos burocratas, artesãos,
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simples. No topo da pir âmide, estavam os costureiras, parteiras, operários, vendedores'


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grandes proprietários rurais e os gr andes ambulantes, domésticas, prostitutas.
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comerciantes das cidades do litoral. No meio, As mulheres ocupavam posição peculiar
<' "ti na sociedade colonial e imperial. As brancas
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rurais e urbanos, os pequenos mineradores eram as únicas a constituírem famílias orga-
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e comerciantes, além dos funcionários pú- nizadas e legalizadas. Tinham situação pri-
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blicos. Mais abaixo, estavam os arte sãos , vilegiada em relação às outras mulheres, so-
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agregados das fazendas, capangas e popula- bretudo suas escravas, mas não escapavam

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o ções indígenas. Na base da pi râmide, ao sistema patriarcal, que as submetia ao
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mourejavam os escra vos. As relações entre poder do chefe da família. Eram excluídas
E da vida política e mesmo da vid a civil, fi-
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essas classes se baseavam em combinação va-
<: cando confinadas aos limites da casa gr an-
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riada de violência e paternalismo. A violên-
cia predominava na relação senhor-esc ravo; de ou do sob rado. No extr emo oposto, as
o paternalismo, entre ricos e pobres. mulheres escravas ocupavam a posição mais
No mundo rural, a grande propriedade baixa da escala social, inf erior até mesm o à
resumia as relações entre as classes. Nela pre- do homem escravo. Além do trabalho for-
. dominava inconteste o proprietário, a cuja çado, eram obrigadas a se s ubmeter às
dominação todos se submetiam. Submetia- investidas sexuais dos senhores e dos filhos
se a ele a família imedi ata, formada por sua destes. As mulheres livres pobres, na maioria
mulher e filhos, assim como a parentela, não-brancas, embora não estivessem su jeitas
composta de genros, noras, sobrinhos, afi- aos constrangimentos sociais das brancas ri-
lhados. Submetiam-se ainda o padre, os cas e legais das escravas, não escapavam ao
agregados, moradores, artesãos, capangas. domínio de pa is e companheiros, pois o
Finalmente, estava sob seu jugo toda a patriarcalismo impregnava a escala social de
escravaria. Na grande propri edade, fosse ela alto a baixo.
engenho de açú car, fazenda de caf é ou de Ao lado da grand e propriedade e da esC
gado, o senhor era a tonte do poder econô- cravidão, o patriarcalismo constituía uma
mico, social e polí tic,? Ele fornecia prote- terceira coluna no edifício que sustentava a
ção e dist ribuía castigos. Substituía o pró- sociedade.
prio Estado. A ação do governo se detinha
na porteira das fazendas.
1.5 Educação e religião
A população urbana era pequena, até
1920 apenas 17% dos brasileiros viviam em As condições em que se deu a coloniza-
cidades de 20 mil habitantes ou mais ,mas ção não favoreciam a educação, uma das
apresentava composição mais complexa. condições indispensáveis para a formação de
Entre os ric os comerciantes e alto s buro- cidadãos. No início, os jesuítas encarrega-
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i cratas, em um extremo, e os escravos, no ram-se da catequiz ação dos índios; e da edu-
outro, havia grande variedade de grupos cação popular. Os colégios jesuítas eram as
ocupacionais. Os mais bem colocados eram únicas e~colas'p'acolõnia. Mas, além de ter a

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catequização implicado a destruição da cul- A Coroa portuguesa, em contraste com a


tura indígena e a imposição do catolicis- espanhola, não permitiu jamais a criação de
mo, as escolas jesuítas eram muito poucas universidades na colônia. Na época da Inde-
para o tamanho da colônia e se localiza- pendência, havia 23 universidades na parte
vam nas cidades costeiras. Em 1759, houve espanhola e nenhuma na parte portuguesa.
um retrocesso nessa situação já de si pre- Cerca de 150 mil pessoas haviam se forma-
cária. Os jesuítas foram expulsos da me- do nas universidades coloniais espanholas,
trópole e da colônia e a educação pop~lar ao passo que apenas 1.242 brasileiros tinham
ficou nas mãos do Estado. Foram criadas passado pela Universidade de Coimbra. O
aulas régias, a cargo de professores pagos Brasil independente não alterou radicalm ente
pelo governo. Mas, novamente, as aulas essa política. Apenas quatro escolas superio-
régias eram pouquíssimas para o tamanho res foram criadas até 1830 e as primeiras
do país e da população. universidades só apareceram no século XX.
A falta de escolas era agravada pelo fato A educação superior pública manteve sua
de não inte ressar aos senhores educar seus função de treinar elites.
escravos. Excetuando-se alguns africanos de Outra dimensão importante na formação
cultura muçulmana que eram alfabetizados, de nossa socieda de é a religião. A coloniza-
a totalidade dos escravos e libertos era anal- ção tinha como uma de suas justificativas a
fabeta. O patriarcalismo, por sua vez, era difusão da fé católica. O primeiro nome do
responsável pela não-educação das mulhe- país foi Terra de Vera Cruz . Lembre-se, no
res. Restritas a tarefas domésticas, as mu- entanto, que, em 1517, Martinho Lutero ini-
lheres eram excluídas da educação formal. ciou o movimento de Reforma religiosa. O
As brancas de famílias ricas podiam, no má- catolicismo ibérico reagiu fortemente con-
ximo, aprender a cantar ou tocar piano, para tra a renovação protestante, e a nova ordem
alegrar os saraus domésticos. dos jesuítas se colocou à frente da Contra-
O trágico resultado dessa falta de preo- reforma. Como havia união entre Igreja e
cupação com a educação popular apareceu Estado, junto com os conquistadores che-

no
em primeiro
1872. Meiorecenseamento
século após anacional, feito
Independên- garam à ecolônia
jesuítas muitos Os
franciscanos. padres, sobretudo
jesuítas ficaram
cia, só 16% da população era alfabetizada. famosos por seu esforço em converter os in-
Mais meio século' del;'0is, o censo de 1920 dígenas. Trabalhando juntos, Estado e Igreja
registrava 24% de alfábetizados, apenas 8% impuseram o catolicismo à população nati-
a mais do que em 1872. Fruto da esc ravi- va e posteriormente aos escravos africanos.
dão, do patriarcalisriJo e do obscurantismo, O resultado foi a formação de uma socieda-
o analfabetismo só fez reforçar as bases da de uniformemente católica, embora com boa
desigualdade social. Sintomaticamente, em dose de influência de religiões africanas e in-
1920, a taxa de alfa betização dos estran- dígenas.
geiros era o dobro da dos brasileiros natos. A união entre Estado e Igreja teve conse-
A educação superior mereceu mais aten- qüências importantes. A Coroa portuguesa
ção. Mas duran te o período colonial ela se desfrutava do padroado, isto é, de privilégios
limitava aos que podiam viajar à metrópole concedidos pelo papa relacionados com o
para estudar na Universidade de Coimbra. governQ da Igreja. Documentos papais de-

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e viam passar pela aprovação da Coroa e ca- 1.6 Polftica
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biam também a ela a aprovação dos bispos
e e a indicação de párocos. Os padres eram a) Patrimo
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funcionários públicos e recebiamordenado
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do governo. A situação era vantajosa para Duas características marcaram a forma-
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o Estado, que podia contar com a burocra- çãopolítica do país, ambasrelacionadascom
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<ti cia da Igreja para executar tarefas adminis- a natureza da colonizaçãoportuguesa. Apri-
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Q) trativas, como o registro de nascimentos, meira foi o caráter estatal da empresa colo-
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U casamentos e óbitos. Durante o Império, os nial. A viagem de Cabral, e as que se segui-
: -e
"O párocos também faziam parte das mesas ram, foram patrocinadas pela Coroa portu-
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<t i eleitorais e das juntas de recrutamento mi- guesa. A ocupação e a exploração da terra
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Ul litar. O Estado podia, ainda, contar com a conquistada também se deram sob patrocí-
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Q) Igreja para pregar a submissão dos católi- nio oficial. No início, a Coroa tentou repas-
E sar a particulares a tarefa da colonização,
<ti cos à autoridade secular. Para a Igreja Ca-
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c: tólica, havia a vantagem de ser considerada utilizando o instrumento das capitanias he-
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a religião oficial, fato que a protegia da com- reditárias. A experiência fracassou, porém,
petição de outras religiões. Mas o padroado e a Coroa recuperou o controle sobre todo
a tornava dependente do Estado, até mes- o território colonial. Até o final da colônia a
mo em seu governo interno. Um exemplo administração se fez sob o controle da me-
de conflito gerado por essa dependência foi trópole, que nomeavavice-reis,capitães-ge-
a Questão Religiosa, surgida na década de nerais, magistrados, padres e bispos. Como
1870, quando o governo imperial colocou disse um rei português, o Brasil era a vaca
na cadeia dois bispos que haviam tomado a leiteira da Coroa. A segunda característica
iniciativa de proibir os católicos de perten- está relacionada à escassez de recursos hu-
cer à maçonaria. manos de Portugal. A metrópole não dis-
Do ponto de vista político, a fusão de punha de gente suficiente para colonizar a
Igreja e Estado reforçava o poder e dificul- nova terra, nem tinha pessoal qualificado
tava o surgimento de oposição e mudanças. para administrá-Ia. A Coroa foi forçada a

Um exemplo disso foi a questão da escravi- recorrer à cooperação dos potentados ru-
dão. Em outros países, como Inglaterra e rais para expandir a colônia, manter a or-
Estadps Unidos, foram igrejas ou seitas dis- dem e tocar a administração, sobretudo 'no
sidentes, como os quakers, que constituíram interior. A segurança no interior estava nas
a vanguarda do abolicionismo.No Brasil,em mãos das ordenanças, tropas comandadas:
parte, sem dúvida, p'elofato de estar ligada por ricos proprietários. Mesmo na região
ao Estado, a Igreja Católica foi sempre coni- mais controlada pela Coroa, a das minas de
vente com a escravidão. O monopólio da re- ouro e diamantes, o concurso de particula-
ligião foi outro fator a dificultar a educação res se fazia indispensável. A coleta de im-
popular. A IgrejaCatólica, à exceção dos je- postos nas Minas Gerais estava entregue a
suítas, não se ocupou da tarefa. Além disso, contratadores que os recolhiam e repassa-
a ação das igrejasprotestantes, tradicional- vam ao governo em troca de comissão.
mente preocupadas coma alfabetização, era Alguns dos env,olvidos na Inc6nfidência
limitada: - Mineira eram contratadores que se viram
em difi'culda"desde pagar a cota do góver-

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no, por causa da q ueda na produção do ouro. candidatos do governo os votos de que ne-
As duas características parecem contra- cessitavam e o governo entregava-lhes o con-
ditórias, pois indicam um governo ao mes- trole dos cargos políticos locais. Esse siste-
mo temp o forte e sem rec ursos. Mas elas ma atingiu seu apogeu durante a Primeira
constituíram um aspecto essencial da políti- República (1889-1930). Formou-se uma pi-
ca brasile ira: a mistura, O conluio, entre o râmide de poder que ia do cor onel ao presi-
poder estatal e o poder privado. Essa mistu- dente da República, passando pelos gover-
ra leva o nome de patrimonialismo, pois sig- nadores dos estados. No melhor estilo
nifica que o Estado distribui seu patrimônio patrimonialista, o poder do Estado se aliava
_ terras, empregos, títulos de nobreza e ao poder privado dos proprietários, susten-
honoríficos - a particulares em troca de co- tando-se os dois mutuamente, em detrimen-
operação e lealdade. Em u m sistema to da mas sa dos cidadãos do campo e das
patrimonial não há cidadãos. Há súditos en- cidades que ficava à margem da política.
volvidos num sistema de trocas com o Esta- A dimensão da exclusão popular pode ser
do, regido pelo favorecimento pessoal do avaliada com auxílio dos dados do censo de

governante, de um lado, e pela lealdade pes- 1920. Os médios e grandes proprietários,


soal do súdito, de outro. O clientelismo e o donos de cem hectares ou mais, representa-
nepotismo, ainda fortes até hoje, são um re- vam naquela data apenas 180 mil pessoas,
síduo do patrimonialismo. numa população de 30,6 milhôes. Esses 180
O patrimonialismo é a coluna política mil eram os coronéis da República, que man-
que se ju ntou às três outras na sustentação davam nos muni cípios e iufluenciavam os
de nossa sociedade. governos estaduais e nacional.

b) Coron
elismo c) Estado e governo

Um dos melh ores exemplos de como se Ao se tornar o país ind ependente em


mesclaram entre nós o pode r do Estado e o 1822, a elite política brasileira optou por uma
monarquia representativa como forma de
dos particulares é o coronelismo. O coronel governo, de acordo com o modelo francês
era o comandante máximo da Guarda Nacio-
nal. Essa Guarda foi criada em 18~1 e subs- da época. Monarquia, para facilitar a pre-
tituiu as ordenanças da época colonial . Não servação da unidade do país em torno da fi-
t 'l- era paga pelo Estadi> e não fazia parte da gura do imperador e manter a ordem social.
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burocracia oficial. Era sustentada pelos co- Representativa, para atender à oposição aos
mandantes, em geral proprietários rurais e governos absolutistas, muito forte desde a
comerciantes ricos. Os coronéis se trans- Revolução Francesa de 1789. A Constitui-
formaram em chefes políticos locais. Quan- ção de 1824, outorgada por D. Pedro I, con-
do a República introduziu o federalismo, os tinha todos os direitos civis e políticos reco-
governadores dos estados passaram a ser es- nhecidos nos países europeus. Afastava-se do
colhidos por eleição popular. Precisavam en- sistema inglês, modelo das monarquias re-
i' tão do apoio dos coro néis para vencer as elei- presentativas da época, pela adoção do Po-
çôes. Surgiu, assim, um pacto entre governos der Moderador, que dava ao imperador
e coronéis, segundo o qual estes davam aos grand.7 controle sobre o ministério. Essa

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Constituição, com apenas uma alteração em da República: A própria República não ti-
1834, sobreviveu até 1889, sendo substituí- nha povo.
da pela Constituição Republicana de 1891, O fim do Império significou maior po-
que durou até 1930 . der para os estados e também para os se-
O imperador era o chefe do gov erno e nhores de terra, dando origem ao sistema
do Estado. Escolhia os ministros entre os lí- coronelista. A proclamação da República
deres dos partidos Liberal e Conservador. Os também coincidiu com a ascensão de São
deputados gerais eram eleitos por quatro Paulo à posição de estado hegemônico da
anos, a não ser que a Cãmara fosse dissolvi- federação, graças ao des locamento da pro-
da, de acordo com os procedimentos do par- dução do café pa ra novas terras e a entra-
lamentarismo. Os senadores eram eleitos por da de milhares de imigrantes italianos. Na
toda a vida em listas tríp lices. As províncias ausência do Poder Moderador, a base de
tinham suas assembléias também eleitas, sustentação do regime republicano foi
mas seus presidentes eram escolhidos pelo transferida para um acordo entre os estados
governo central. As principais alterações mais ricos e mais populosos, sobretudo Mi-
introduzidas na República foram a intro-
dução do presiden cialismo, a eleição popu- nas Gerais
nome e São
de Pol íticaPau
doslo.Estados
Esse acordo levou
e durou aréo
lar do presidente para mandatos de quatro 1930. Quase todos os presidentes da Repú-
anos, e a dos governadores dos estados, de blica vieram dos dois grandes esrados.
acordo com o sist ema federal então intro-
duzido.
A realidade da vida política distava mui- 1.7 A Abolição

to dos dispositivos legais. O novo país só A principal mudança social ocorrida no


havia tido experiência representativa nas elei, Império foi a abol ição do tráfi co de escra-
ções municipais da época colonia l e, mesmo vos, em 1850, e da escravidão, em 1888. Os
assim, nelas só votavam os chamados "ho- escravos africanos tinham sido a base da eco-
mens bons", ou seja, os proprietários de ter- nomia nacional durante quase quatro sécu-
ra. A abertura do direito de voto a outras los. Eles eram indispensáveis nas fazendas,
camadas da população não resu ltou de ime- nos engen hos e também na economia urba-
diato no bom funcion amento do sistema re- na, onde exerciam variada gama de ativida- _
presentíltivo. Mulheres e escravos não vota- des, desde o serviço domés tico, a cargo das
vam. A dependência social da população escravas, até trabalhos de rua exercidos por
impedia que os cida dãos exercessem com vendedores, artesãos, carregadores, prostitu-
autonomia o direito do voto. O controle dos tas. Os escravos de ganho eram o sustento de
senhores de terra no interior e a pressão das muitas pessoas pobres nas cidades.
autoridades nas cidades falseavam as eleições. A escravidão produzia riqueza para os
A situação agravou-se quando os analfabe- senhores e para o país, mas ao cus to de ne-
I tos foram proibidos de votar, em 1881. A gar ao escravo as condições de cidadão e de
I partir de então, a participação eleitoral, mes-
I
, ser humano. Ao fazê-lo, comprometia a saú-
mo em eleições presidenciais, só superou 50/0 de política da sociedade como um ,todo. O
I da população em 1930. Não se podia falar
I. na existência de democracia representativa -senhor de escravo era pessoalme~te livre,
mas não tinha o sentido da liberdade civil,
I no Brasil, nem mesmo após a proclamação pois nãO"respeitava o direito à liberdade de
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seus esc ravos. Era um cidadão aleijado. cidades, tanto operários como da classe mé-
Como conseqüência da generalização da es- dia. Os militares se revoltavam. Movimentos
cravidão no país, a liberdade civil não era culturais, como a Semana de Arte Modern a
um valor central da sociedade. Os próprios de 1922, desafiavam a tradição. Assim, em-
l:Scravos,ao se libertarem, muitas vezes com- bora o movimento que derrubou o último pre-
pravam escravos. Como disse Joaquim sidente da Primeira República não tivesse sido
Nabuco, a escravidão afetou os valores do uma revolução no sentido estrito do termo,
próprio cidadão brasileiro, dentro de cuja precipitou, mesmo assim, mudanças que, a
cabeça conviviam o senhor e o escravo, a médio prazo, deslancharam profundas trans-
arrogãncia e a subserviência. formações políticas, sociais e econômicas no
A abolição significou um passo funda- país agrário-exportador-oligárquico que O
mental na história do país. Ela incorporou à Brasil tinha sido até então.
sociedade nacional parcela substancial de
pessoas antes excluídas . Só a partir da aboli-
2.2 Ind
ustrializa
ção e urbanização
ção é que se pôd e falar na existência, ainda

embrionária, de uma nação brasileira. A crise de 1929 e, dez anos mais tarde, a
Segunda Guerra Mundial aceleraram muito o
processo de substituição de importações ini-
2. Um novo Brasil, 1930-20
00
ciado durante a Primeira Guerra. O país teve
que produzir os bens industrializados que an-
2.1 Diviso
r de éguas tes sempre importara. O processo não mais
se interrompeu, avançando,na década de 1950,.
O ano de 1930 foi um divisor de águas.
com a implantação da indústria automobilísti-
Até então, as mudanças sociais e políticas ti-
ca e, na década de 1970, com a produção de
nham sido poucas e muito lentas. A partir
máquinas e equipamentos. Atualmente, o Bra-
de 1930, houve grande aceleração nas mu-
sil não pode mais ser definido como um país
danças, cujas principais causas foram exter-
essencialmente agrícola ..O café ocupa papel
nas. A ptimeira delas foi a Guerra Mundial
modesto nas exportações. O agronegócio é
de 1914-1918, que provocou carestia, gre- um setor próspero da economia, sobretudo
ves e início de substituição de importações.
na produção de carnes, soja, suco de laranja,
Em se~ida, veio a Revolução Comunista de
mas não represen ta mais o grosso da expor-
1917, depois a implantação do fascismo na
ração, localizado em bens industrializados,
Itália e, já na década de 1930, a tomada do
como carros, máquinas, eletrodomésticos, .
poder pelos nazistas' na Alemanha. Mas o
fator que mais influenciou nessas mudanças aviões, além de minérios e serviços.
foi a grande crise d~ 1929, causada pela que- Paralelamente ao processo de industria-
lização, e .mais rapidamente do que ele, ve-
bra na bols a de valo res de Nova York. O
rificou-se uma transformação radical na lo-
impacto foi imediato na exportação de café,
calização e ocupação do território pela po-
e atingiu o coração da economia nacional.
Houve, porém, também causas internas. pulação. Houve um deslocamento maciço de
A Política dos Esta dos não conseguia mais pessoas do campo para a cidade. S~,em 1920,
manter o controle sobre as oligarquias des- menos de 20% da população morava nas ci-
contentes e sobre os setores emergentes nas dades,.,em 1?.60 já era m 45%; em 1980,

.,

27
~,

680/0;e, em 2000, mais de 80%, chegando a nha sido supr imido, foi eliminado o direito
90% no Sudeste. Inverteu -se completamen- de expressão e de organização, essenciais à
te a situação. O Brasil passou a ser um país participação política. Ao final da ditadura, a
urbano, comparável nesse ponto aos Esta- participação foi retomada e assumiu novas e
dos Unidos. Se o mundo rural que resta ain- variadas formas.
da possui traços do antigo, ele hoje repr e- Um avanço importante na construção
senta pequena parcela da população. A gran- democrática se deu na década de 1960, quan-
de maioria dos brasileiros reside nas cidades do a Igreja Católica abandonou sua posição
e se emprega na indústria, no comércio e nos de aliada do Estado. Durante os governos
serviços ou engrossa o setor de desemprega- militares, ela cumpriu papel muito positivo
dos e subempregados. de opositora da ditadura e defensora dos per-
seguidos políticos, além de ter organizado as
comunidades de base. Nos anos recentes, o
2.3 A entrada do povo na política
crescimento rápido de outras religiões, sobre-
Desde a proclamação da República até tudo as pentecostais, alterou radicalmente o
1945, a participação eleitoral não passou de quadro religioso do país, tornando-o mais rico
5% da população. A partir dessa data, o cres- e diversificado e reduzindo a força popular
cimento do eleitorado foi rápido e constan- da Igreja Católica.
te, mesm o durante os governos militares,
quando não havia liberdade de oposição. Em
2.4 Ensaiosde democra
cia
1960, votaram 18% dos brasileiros; em
1980,47%, uma expansão de 161%. A Cons- Os esforços para organizar um siste ma
tituição de 1988, ao permitir o voto do anal- de governo que incorporasse a participação
fabeto, mais de cem anos depoi s de sua ex- popular tiveram fracassos e êxitos. A primei-
clusão, e ao baixar para 16 anos a idad e mí- ra tentativa (1945-1964) fracassou quando
nima para votar, deu o impul so final à de- as elites se ju ntaram aos militares para põr
mocratização do voto. Hoje estão alistados fim ao regime democrát ico. Nova tentativa

126 milhõesporcentagem
brasileiros, de eleitores, que
cerca
se de 70% dos
compara fa- teve início em 1985, ao fim do go verno mi-
litar. O saldo da nova experiência tem sido
voravelmente com as dos países de mais lon- positivo. Instituições como sindicatos, par-
ga tradição democráti,ca. tidos e imprensa têm exercido livremente
A entrada do poyo na pol ítica não foi suas atividades; os poderes constitucionais,
tranqüila. Ela se deu, de início, dentro de Executivo, Legislativo e Judiciário, têm no
um processo chamado de populista, inicia- geral funcionado de acordo com a lei; os
do por Getúlio Vargas na década de 1940.
, rituais da democracia, eleições, debates,
Além de votar, o povo começou a manifes- campanhas, não têm sido interrompidos.
tar-se também nas organizações sindicais, nas Apesar de os resul tados sociais do funci o-
greves operárias, nos comícios e em campa- namento da democracia política serem ain-
nhas nacionais, como a da defesa do petró- da insatisfatórios, é preciso levar em conta
leo. A participação foi interrompida em 1964 que a prá tica democrática é recente e preci-
e dificultada durante os 21 anos de duração sa de tempo para se aperfeiçoar.
da ditadura militar. Embora o voto não te-

.,

28

- - - - ~ m
. .

2.5 A polftica social ciedade ainda pesam no presente sob a for-


ma da desigualdade social. Apesar de ser a
A década de 1930 foi um marco tam-
oitava economia do mundo, o Brasil está en-
à
, I bém
ra donogoverno
qU,ese refere mudança
em relação de postu-
aos direitos so- tre os países mais desiguais, isto é, entre aque-
les em que é maior a distância entre ricos e
iI ciais, mesmo na ausência da democracia
pobres. Tem havido algum progresso na re-
política. Os sindicatos operários foram re-
dução da pobreza a partir da introdução do
conhecidos, uma vasta legislação trabalhis-
Plano Real em 1993, mudança acelerada
ta foi introduzida, culminando em 1943 com
pelas políticas sociais como a Bolsa Escola ,
a Consolidação das Leis do Trabalho, e fo-
depois mudada para Bolsa Família. Mas em
ram criados vários instituto s de previdência
e aposentadoria. Pela primeira vez, os ope- 2005, os 50% mais pobres detinham apenas
rários urbanos foram objeto de atenção do 12% da renda nacional, ao passo que os 10%
governo. Posteriormente, foram também in- mais ricos ficavam com 460/0. Cai o número
cluídos na legislação trabalhista e social os de pobres, mas a distância entre ricos e po-
trabalhadores rurais, as empregadas domés- bres quase não se altera. A desigualdade
ticas e os trabalhadores autônomos. Embora incide
ção maissobretudo
vitimadossobre
ao os grupos
longo da popula-
da história, os
o sistema ainda não funcion e satisfatoriamen-
te, sua introdução constituiu mudança im- descendentes dos escravos, os trabalhadores
portante no sen tido de estender a setores rurais, as mulheres, os nordestinos.
cada vez mais amplos da população a parti- Os resíduos da escravidão sobrevivem no
cipação na riqueza pública. preconceito racial e nas desigualdades entre
brancos e não-brancos no que se refere à ren-
da e à educação. O índice de analfabetismo
entre não-brancos é duas vezes superior ao
dos brancos. Estes têm, em média, dois anos
a mais de escolaridade que os primeiros.
Igualmente, a renda média dos brancos é o
dobro da dos não-brancos. Essa desigualda-
de' é a razão da discussão atual sobre meios
de corrigir a injustiça histórica cometida con-
tra os escravos trazidos da África.
As desigualdades regionais também são
dramáticas. O analfabetismo no Nordeste
em 2000 era de 26%, mais que o dobro do
~,

, nacional. O analfabetismo funcional (qua-


.-',:
---
4'~4' , .••
tro anos ou menos de escolaridade) atinge
50% da população nordestina.
Apesar de as mulheres terem consegui-
3. O grande desafio: reduzir a do superar a inferioridade no que se refere à
desigualdade
educação, até mesmo superando os homens
Apesar das grandes mudanças havidas, nesse
balho campo, osmenores
ai.ndasão salários pagos paraSegundo
para elas. igual tra -
as características da formação de nossa so- .. ... .

"

29
. .

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~
o censo de 2000, o salário médio das mulhe-
'ii3
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res naquele ano ainda equivalia a apenas 71 %
co
..o do salário médio dos homens. A pobreza
QJ
"O
co rural se reflete nas estatísticas de educação e
"O
QJ
renda. A taxa nacional de analfabetismo em
.<:;
o 2000 era de 12,8%, mas nas áreas rur ais su-
u>

co bia para 28%. A renda média urbana era de


"O
R$ 854 ,00, contra R$ 327,00 da renda ru-
'"co
u ral. Outro resíduo do latifúndio é a existê n-
~ €
'O cia dos trabalhadores sem-terra. Num país
c.
co imenso, chegamos ao sécu lo XXI sem re-
"O

u> solver o problema da dem ocratização da


.s
< :: propriedade rural.
'"E O crescimento acelerado das cidades ge-
co
"O
< :: rou també m uma grande população urbana
"
u..
pobre, excluída do mercado formal de tra-
balho e vivendo em condições precárias, com
pouco acesso aos serviços públicos. A misé-
ria urbana facilitou a entrada do tráfico de
drogas nas comunidades, que, por sua vez,
causou o aumento da violência em noss as
grandes cidades, com índices de homicíd ios
só inferiores aos de países vítimas de guerra
civil. Um sistema policial inadequado e uma
justiça ineficiente contribuem para tornar a
segurança individual um dos problemas mais
sérios do país.
O grande teste da democracia política de

que gozamos desde 1985, e o grande desa-


fio dos brasileiros, será conceber e executar
polític:,s que gerem desenvol vimento e, em
conseqüência, reduzam a desigualdade que

I nos separa e a violência que nos amedronta.


A desigualdade é hoje o equivalente da es-

I,: cravidão no século XIX. José Bonifácio di-


zia da escravidão que ela era um cânce r que
I
corroía as entranhas da nação e ameaçava
I sua existência. O mesmo se pode dizer hoje
da desigualdade. Para isso se faz necessário
I,
envolvimento cada vez maior dos cidadãos
na política e recuperação da crença nas ins-
tituições representativas, abalada por práti-
cas anti-republicanas.

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Sugestões de leitura

FAUSTO, B. História do Brasil. São Paulo, Edusp, 1996.


CARVALHO, J . M . Cidadania no Brasil:o lon go cami nho. Rio de Ja nei ro: Civi li zaçãBrasileira,
o 200~.

IGLÉSlAS, F. Trajetória política do Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.

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