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Contradições do ·Presidencialismo

de Coalizão: uma Leitura do


Primeiro Biênio do Governo Lula 1
Felipe Nunes RESUMO: O objetivo deste trabalho é discutir o Presidencialismo de Coalizão, mais especificamente,
mostrar que apesar do sucesso legislativo do governo petista no primeiro biênio, garantido em parte,
pela coalizão estruturada, pelos bons resultados eleitorais do PT na Câmara, e pela popularidade al-
Thiago
cançada por Lula, percebemos que a coalizão de governo tinha problemas que poderiam, como de fato
Rodrigues ocorreu, levar a uma situação de quase paralisia do Executivo no Congresso no segundo biênio. A saber:
Silame (1 l montagem de uma coalizão pragmática ampla, (21 estratégias de negociação ad hoc da agenda gover-
nativa, (31 distribuição desproporcional de ministérios frente ao tamanho das bancadas na Câmara.
Graduandos em
Ciências Sociais'UFMG
( ABSTRACT: The objective of this work is argue the Presidentialism of Coalition, more specifically, to point
the inherent contradictions to the coalition that supported the government Squid in its first biennium
and that they had guaranteed it a relative success in this period.
Palavras-Chave:
Presidencialismo de
Coalizão, Introdução partidárias os principais poderes de agenda, e os
Comportamento Este texto pretende analisar o 1 o biênio do poderes legislativos delegados ao Executivo, os
Legislativo, governos brasileiros têm obtido um relativo su-
Governo Luís Inácio Lula da Silva (Partido dos
Relação entre cesso na aprovação de sua agenda governativa.
Trabalhadores) no que tange à composição e ao
Executivo e O primeiro argumento baseia-se na análise
Legislativo, funcionamento da coalizão que sustentou o seu
governo nesse período. Partimos de três argu- empreendida por Arend Lijphart (20031 em seu
Governo Lula
mentos básicos para a análise seguinte: (1 l o ar- "Modelos de Democracia". O autor utiliza dez va-
ranjo institucional brasileiro dispersa poderes no riáveis para classificar os regimes democráticos
KeyWords: momento de constituição dos órgãos decisórios entre "majoritários" ou "consensuais". As dez di-
Coalitional devido, principalmente, à combinação do Federa- ferenças são formuladas em. termos dos contras-
Presidentialism, Le- lismo com a representação proporcional de lista tes dicotômicos entres os dois modelos acima e
gislative Behavior, aberta; (21 com o objetivo de aprovar sua agenda, agrupadas em duas dimensões (LIJPHART, 2003,
Executive-Legislati- p. 191. A primeira chamada de executivo-partidos,
os presidentes brasileiros tendem a construir
ve Relations, e a segunda, de federal-unitária. Trabalhando com
coalizões governativas após as eleições para
Lula' s government tais variáveis,. o autor constrói o argumento de
garantir maioria qualificada no Congresso, dadas
as dificuldades de obtê-las via processo eleitoral que a melhor ordem democrática para países
tendo em vista a agenda de reformas constitu- em desenvolvimento seria aquela que permitisse
cionais em debate; e por fim, (31 considerando a a inclusão das demandas oriundas das diversas
atual lógica de organização dos trabalhos legis- clivagens sociais no sistema político. Segundo o
lativos, que cóncentra nas mãos das lideranças próprio autor, "a opção consensual é a mais atra-
ente para os países que estão elaborando as suas
principais constituições democráticas, ou que
aspiram a uma reforma democrática" (LIJPHART,
20031. Baseados nesta argumentação identifica-
mos a presença de elementos dispersivos tanto
na composição dos órgãos decisórios, como, por
exemplo, a representação proporcional de lista
aberta, o multipartidarismo, o bicameralismo
incongruente e a organização federativa; quanto
no momento da tomada de decisão, a saber: o
1 Uma primeira versão bicameralismo simétrico, a exigência de maioria
deste trabalho foi apresen-
tado no VI Seminário de Ini-
qualificada para modificação da constituição e a
ciação Científíca da UNIUBE, possibilidade de revisão judicial no que se refere à
realizado em Uberlândia em
2005. Gostaríamos de agra- mudanças constitucionais. Desta forma, descor-
der, em especial, ao Professor tinava-se para o governo Lula, desdeo seu início,
Carlos Ranulfo Melo pela leí-
tura atenta e cuidadosa. Seus um cenário político permeado pela pluralidade de
comentários foram essenciais
para a finalização deste
interesses legítimos que, portanto, deveriam ser
trabalho. Evidentemente, as considerados na tomada de decisão, inclusive na
opiniões aqui expressas são
de inteira responsabilidade formatação da coalizão de governo.
dos autores O segundo argumento leva em consideração


os dois períodos democráticos experimentados
pelo nosso país. Tanto o regime populista que
vigorou entre 1946 e 1964, quanto a ordem
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democrática inaugurada em 1988, foram marca- sobre a agenda legislativa impede que este tipo
dos por governos de coalizão (Abranches, 19881. de estratégia seja dominante". Os autores ar-
Visando obter maioria parlamentar que lhes per- gumentam que, além do controle sobre o acesso
mitam aprovar sua agenda, os presidentes "con- a lista de candidaturas, outros meios podem ser
vidam" os partidos, ou facções dos mesmos, para utilizados para manter as bancadas disciplinadas.
integrar sua base de apoio parlamentar já que o O principal mecanismo seria o controle da agenda
quadro multipartidário torna quase impossível exercido pelos líderes partidários que, por essa
a existência de governos unipartidários e, faz via, reduziriam as oportunidades para a ação indi-
com que, mesmo as coalizões eleitorais tenham vidualista dos parlamentares e contribuiriam para
dificuldades para conquistar amplas maiorias no o sucesso na aprovação da agenda apresentada
legislativo. pelo Executivo.
A costura da coalizão pode ser feita através A seguir, utilizaremos essas discussões como
de acordos políticos e/ou de patronagem. De toda pano de fundo para a leitura analítica do primeiro
forma, o presidente negocia com os partidos ofe- biênio do Governo Lula. Nosso argumento é que
recendo-lhes postos ministeriais e/ou nas esta- os resultados positivos obtidos pelo Governo neste
tais, em troca de apoio para a aprovação de sua período não estão só relacionados à estruturação
agenda. O bom funcionamento de tal mecanismo de sua coalizão, aos resultados eleitorais do PT
depende de bancadas disciplinadas. Portanto, para a Câmara e à popularidade alcançada pelo
a dispersão advinda do cenário eleitoral e que Presidente Lula, mas também à emergência de
dificulta a formação de bancadas governistas um novo cenário político onde o PT, figurando pela
majoritárias, podem ser contrabalançados pela primeira vez corno principal partido da situação,
distribuição de cargos políticos. Como mostra- compõe uma coalizão pragmática ampla e distribui
remos adiante, o governo Lula não se apresenta os ministérios dando ênfase à sua legenda2 .
como exceção à regra. O presente artigo desenvolve-se em torno do
Por fim, o terceiro argumento admite que conceito de Presidencialismo de Coalizão cunhado
mesmo· considerados os elementos acima, o por Sérgio Abranches. Procuraremos apresentar
arranjo institucional brasileiro, no que concerne a coligação eleitoral que elegeu o Presidente Lula
a organização dos trabalhos legislativos, conce- e a coalizão que sustentou seu primeiro biênio
de poderes de agenda ao Colégio de Líderes e de governo, de forma a identificar os principais
a Mesa Diretora. Segundo Figueiredo e Limongi atores políticos envolvidos neste processo. Utili-
(1 9991 "não é necessário que a disciplina parti- zando dois expressivos exemplos, chamaremos à
dária seja gerada fora do Congresso, na arena atenção para o sucesso obtido pelo Governo Lula
eleitoral, L .. l mesmo admitindo que a legislação · no que se refere à aprovação de sua agenda go-
eleitoral brasileira leva os parlamentares a culti- vernativa. Por fim, focaremos nossa análise nas
var 'o voto pessoal', não será ocioso lembrar que contradições existentes na formatação da coa-
as políticas de cunho distributivista que garan- lizão do Governo Lula que acabaram deflagrando
tem este tipo de conexão eleitoral dependem do uma quase paralisia do Executivo no Congresso
acesso à arena decisória. O controle centralizado nos dois últimos anos de mandato petista.

2 O PT se torna a princi-
pal figura da situação por ser
o partido do Presidente, e o
PSDB configura-se como o
principal partido da oposição
já que esta é a agremiação
que polariza a disputa elei-
toral presidencial com o PT
desde 1994.

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..: -

CENTRO A c A o Ê MIcO O E C líÊ N G I AS SOCIAIS REVISTA TRÊS (eee) PONTOS

vação da sua agenda. As chances de sucesso de


O primeiro biênio do Governo Lula um governo ideológico, situado à esquerda eram
Com a eleição de Luis Inácio Lula da Silva para reduzidas. Como podemos observar, uma possível
Presidente havia uma grande esperança de mu- coalizão dos partidos ideologicament e situados à
dança no paradigma de condução das políticas esquerda somava 32,3% das cadeiras da Câma-
sociais no país. As urnas da eleição majoritária ra, frente aos 39,5% de cadeiras pertencentes
na esfera federal declararam explicitamente aos partidos de direita.
esta vontade. O novo Presidente foi eleito em
segundo turno com votação de mais de 60% dos
votos válidos. O que significou uma sinalização da
sociedade brasileira em torno de um projeto de
mudança.
Pesquisas de opinião 3 realizadas logo após o
resultado da eleição presidencial apontavam para
uma expectativa otimista em torno do mandato
petista. O Presidente eleito assume, segundo a
pesquisa, com 67% do eleitorado esperando dele
uma administração ótima (20%1 ou boa (47%). A
administração Lula chega ao final de seu primeiro
ano de mandato com um índice de aprovação pela
população de 41 %, um dos mais altos se compa-
rado aos dos presidentes anteriores 4 . A imagem
do Governo Lula no final do primeiro mandato
(nas duas medidas: escala "ótima/boa/regu lar I
ruim/péssima" e dicotômica: "aprova/desapr ova")
permanece claramente positiva.

Gráfico 1 - Avaliação do governo Lula


Avaliação do Governo Lula
Dezembro 2003

Previdência em dois tempos. DADOS, 2005

Ruim Péssimo
Tal fato não é novidade no cenar1o político
Bom ótimo Regular
brasileiro. Sérgio Abranches (19881 cunhou a
Sobre a pesquisa: pesquisa realizada de 4 a 8 de dezembro de
2003. Forma feitas 2mil entrevistas em 145 municipios do pais expressão "Presidencialis mo de Coalizão" para
com eleitores de 16 anos ou mais. A margem de erro é de 2,2 demonstrar que em decorrência das caracterís-
pontos percentuais e o grau de confiança é de 95%
ticas heterogêneas de nossa estrutura social e
Fonte: IBOPE dos elementos dispersivos de constituição· dos
órgãos decisórios, o Executivo é organizado com
No entanto, devido às características de nos- base em grandes coalizões partidárias visando
so sistema eleitoral e partidário, as regras que superar os entraves gerados na relação entre
transformam votos em cadeiras legislativas não este poder e o Legislativo. Segundo o autor, as
3 IBOPE. Pesquisas de refletiram este mesmo desejo. Diferentemente coalizões são costuradas levando-se em conside-
Opiião. 2002 e 2003 do que se observou na eleição presidencial, a ração duas dimensões: (11 a dimensão partidária,
4idem. composição de forças na Câmara dos Deputa- que envolveria aproximação de forças ideologi-
dos não conferiu maioria parlamentar em torno camente próximas; e (21 a dimensão regional I
5 Vale mencionar
verbete "Presidencialismo do projeto lançado pelo Executivo. Como mostra estadual. Explicando o Brasil de 46-64, o autor
de Coalizão" publicado na
Folha de São Paulo, caderno
a tabela 1 o PT (Partida· dos Trabalhadores) só afirma que desde aquele período o país sempre
MAIS, do dia 26/06/2005 em conseguiu ocupar 17,7% das cadeiras em tal experimentou coalizões sobre dimensionadas:
que Fabiano Santos sinaliza
a possibilidade de governos casa. Em comparação, o PFL (Partido da Frente "(. .. ) em nenhum caso, o governo sustentou-se
de minoria. Liberal) conquistou 16,4%. Ou seja, a correlação em coalizões mínimas L .. l o cálculo dominante


de forças resultant~ das eleições proporcionais req'ueria coalizões ampliadas, seja por razões de
induzié o governo a montar uma coalizão prag- sustentação partidário-parla mentar, seja por ra-
mática, ou funcional, que lhe conferisse a. apro- zões de apoio regional" CABRANCHES, 1988).
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Segundo Abranches existem três momentos vitória da esquerda no Brasil se potencializa.


que envolvem a formação da coalizão. O primeiro A partir desse quadro,· o partido vitorioso
momento é caracterizado pela coligação eleitoral passou a enfrentar um novo desafio: o de montar
e envolve uma dimensão programática, ou seja, uma coalizão de governo capaz de sustentar uma
que tende a aglutinar partidos que possuem agenda legislativa destinada a alterar o status
plataforma política semelhante. Neste ponto, quo. O desafio foi facilitado pelo fluxo migratório
a coligação que elegeu o presidente Lula já se de parlamentares em direção à base de susten-
apresentava de forma peculiar, pois contou com a tação do governo, fato ·também observado no
participação de um partido ideologicamente dis- primeiro governo FHC (MELO, 20041. Posterior-
tante: o PL. O segundo momento é caracterizado mente, a incorporação do PMDB ao Ministério,
pela montagem do governo e envolve a distribui- partido que elegeu 14,4% das cadeiras da câma-
ção de recursos financeiros e políticos através da ra, proporcionou, formalmente, ao governo uma
patronagem, onde se destacam as nomeações de base superior ao patamar dos 308 deputados,
ministros. Por fim, o autor destaca o terceiro e número necessário para a aprovação de emendas
fundamental momento, que é o de funcionamento constitucionais 7 .
de governo. A deserção ou a cooperação dos par- Desta forma, o governo consegu.iu conduzir de
tidos, relativamente à agenda do Executivo, é o forma eficiente os trabalhos no seu primeiro biê-
aspecto fundamental deste momento. nio. Como demonstrado anteriormente, o Presi-
Para citar o exemplo discutido neste texto, dente contava com um alto grau de popularidade
analisemos a coligação de primeiro turno que ao fim do seu primeiro ano de governo. Segundo
elegeu Lula Presidente. São dois os comentários Mainwaring (1 993: 221 "quando os Presidentes
pertinentes: (1 J parte da coligação se compôs são populares, políticos de todas as colocações
levando em conta a dimensão partidária. Nes- e matizes os apóiam, mas quando perdem popu-
te sentido, PT, PC do B (Partido Comunista do laridade freqüentemente encontram dificuldades
Brasill, e PCB (Partido Comunista Brasileiro) em encontrar apóio até mesmo em seus próprios
compartilhavam pontos convergentes da agenda partidos". Sendo assim, acreditamos que a vari-
política proposta pelo candidato eleito. Colocando ável popularidade do Presidente - elevada neste
estes mesmos num espectro ideológico, poderí- momento - foi um dos elementos que influenciou
amos classificá-los como partidos de esquerda. de forma positiva a aprovação da agenda do Exe-
(21 parte da coligação explica-se pelo movimento cutivo neste período estudado.
do PT em direção ao centro e pela necessidade de Passamos, então, a discutir o que chamamos
serem superadas resistências junto à importantes de o terceiro momento do Presidencialismo de
setores da sociedade. Estamos nos referindo, Coalizão: como funcionou o governo Lula nos dois
como principal manifestação dessa idéia, a inser- primeiros anos.
ção do PL (Partidà Liberal) na coligação eleitoral, Dispostos os atores relevantes na arena polí-
e de seu maior representante, o então candidato tica, acreditamos que dois episódios exemplificam
à vice-presidente, Senador José Alencar, impor- a tese aqui apresentada de que, num primeiro
tante representante de parte do empresariado momento, o governo obteve resultados satisfa-
nacional. Tal aliança mostrou-se necessária haja tórios. Seriam eles: (1 J as eleições do Deputado
vista a enorme rejeição que Lula tinha frente ao Federal João Paulo Cunha (PT~SPJ para Presidên-
empresariado e às elites econômicas brasileiras. cia da Câmara e do Senador José Sarney (PMDB-
As urnas das eleições de 1 989, 1994 e 1 998 APJ para a Presidência do Senado; e {21 a rápida
comprovaram isto. Nas três eleições presi- aprovação da Reforma da Previdência.
denciais que disputou, Lula não logrou sucesso Em relação ao primeiro ponto, vale a pena
devido a um posicionamento radical em torno de considerar a importância do cargo de Presidente
bandeiras clássicas da "esquerda" como, por da Câmara dos Deputados na relação Executivo/
exemplo, a proposição do não pagamento da dí- Legislativo. Como mostram Figueiredo e Limongi
vida externa. (1 9991 os trabalhos legislativos são organizados
Na discussão sobre o segundo momento con- segundo a lógica partidária. Ou seja, o Colégio de
sideramos o apoio dos partidos derrotados no Líderes e a Mesa diretora detêm importância es- 6 O PMDB compõe a
chapa com o PSDB, tendo
primeiro turno às candidaturas que competirão tratégica nesta Casa, exercendo influência sobre a Deputada Federal Rita
em segundo turno como potenciais alianças para a agenda política, definindo o ritmo e a pauta de Camata, como candidata a
vice-presidente do candidato
a montagem do governo. Levando-se em conside- votação. Como consta no Regimento Interno da José Serra (PSDB). No en-
ração que partidos são atores coletivos que se tanto, alguns segmentos do
Câmara dos Deputados, o presidente da Casa partido apóiam de maneira
movimentam de maneira racional, estes se posi- pode suspender as sessões legislativas quando "informal" o candidato do PT,
como é o caso do senador por
cionaram frente a um quadro que lhes permitisse necessário; organizar, ouvido o Colégio de Líde- Minas Gerais, Hélio Costa.
obter recursos políticos e financeiros a partir de res, a agenda com a previsão das proposições a
7 Importante frisar a in-
uma análise sobre o potencial vencedor. Passado serem apreciadas; designar a Ordem do Dia das corporação formal do PMDB
o primeiro turno, o bloco de apoio ao candidato do à coálizão do governo. Adian-
sessões, assim como deferir a sua retirada e/ou te este fato será analisado
PT expande-se incorporando o apoio do PPS, PSB, seu arquivamento. Cabe ainda ao presidente da como uma das contradições
percebidas na coalizão costu-
POT, PTB, e PV 6 . A coligação .assim constituída Casa decidir, juntamente com o Presidente do rada por Lula.
garantiria ao governo 218 cadeiras na Câmara, Senado sobre a convocação extraordinária do
ou seja, o equivalente a aproximadamente 42% Congresso Nacional.
das cadeiras. A incorporação destes partidos
impulsiona ainda mais a candidatura de Lula e a
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É uma estratégia racional do Executivo indicar dores, interessados em discutir a redistribuição


um parlamentar de sua base de apoio para a Pre- de recursos e negociar um novo pacto federativo,
sidência da Câmara devido à relevância do cargo. e conseguiu fazer com que estes pressionem as
Considerando-se que a agenda substancial de po- respectivas bancadas estaduais a votar as pro-
líticas públicas é proposta pelo governo 8 é de se posições do Executivo.
esperar que este coloque atores que favoreçam Além disso, houve uma inversão na posição
o encaminhamento de suas matérias no Legisla- e nos recursos disponíveis aos principais par-
tivo. Neutralizar os veto players no processo de tidos envolvidos: PT, PSDB e PFL. O partido do
decisão favorece o Executivo na implantação de Presidente Lula assume a condição de situação
sua agenda, tendo em vista que o Legislativo ape- no plano Federal. Já PSDB e PFL se posicionam
nas delegou muito de seus poderes ao Executivo, como oposição ao governo. Em conseqüência da
podendo requerer de volta suas prerrogativas a inversão de papéis dos partidos na arena políti-
qualquer momento. ca, ocorre um comportamento indisciplinado dos
A Presidência da Câmara dos Deputados, por deputados da oposição relativamente à orienta-
se tratar de um cargo estratégico para o go- ção de seus líderes partidários. A proposta de
verno, teve como principal candidato o Deputado reforma do governo Lula aproximava-se muito
Federal do PT de São Paulo, João Paulo Cunha. A daquela proposta por FHC. Isso contribuiu para
popularidade do Presidente Lula somada a uma que os deputados do PSDB e do PFL se dividis-
eficiente articulação com o PMDB, que em troca, sem entre fazer oposição ao governo ou manter
levou a Presidência do Senado com José Sarney, posicionamento coerente àquele adotado quando
possibilitou uma tranqüila e importante vitória da votação da PEC 33 11 . Como mostra a tabela 2
para o governo. A relação do Legislativo com o o próprio PT, o mais disciplinado dos partidos no
Executivo tornava-se mais harmoniosa tendo o governo FHC (97,1% 12 ), reduz o percentual mé-
governo conseguido eleger um deputado da mes- dio de fidelidade neste· momento do governo Lula
ma legenda do Presidente para o principal cargo CB8,9%l. O .PSDB que obtinha fidelidade média de
da mesa diretora. Tendo em vista a necessidade 82,4% na votação da PEC 33 cai para 51 , 6% na
de reformas, dentre elas, a tributária, a previ- votação ocorrida na PEC 40. Logo, a Reforma da
dênciária e a política, tal fato facilitaria a tra- Previdência foi aprovada mesmo com a discipli-
mitação de projetos desta natureza nas casas na média da base aliada tendo sido de apenas
legislativas. Além disso, a eleição de João Paulo 80,7%. A explicação está no comportamento não
Cunha manteve a tradição de que a maior banca-· disciplinado dos partidos da oposição (64,8%1.
da legislativa na Câmara dos Deputados elege o
Presidente da Mesa.
Resultados benéficos advindos desta vitória
estratégica para o governo podem ser obser-
vados nas votações no primeiro biênio. Daremos
especial atenção para um ponto polêmico na
agenda política do governo Lula e que, contudo,
conseguiu ser aprovada sem maiores contratem-
pos. Trata-se da votação e aprovação da Reforma
da Previdência.
8 AMORIM NETO e Tal reforma é tida como polêmica porque
SANTOS. A produção legis- envolve, dentre outras coisas, custos concen-
lativa do Congresso: entre a
paróquia e a nação. p. 94 trados e benefícios difusos para a sociedade.
9 A reforma da pre-
Os Deputados que se posicionam a favor da
vidência do Governo Lula reforma podem ser "punidos", no momento elei- .
impôs custos para servidores,
aposentados e pensionistas toral, pelos grupos de preferências intensas 9 que
do setor público. Para maio- acreditam acumular perdas significativas com tal
res informações sobre tal
reforma ver "A Reforma da projeto. Mesmo polêmica, o Executivo conseguiu
Previdência em Dois Tempos".
Melo e Anastasia, Dados, vai
aprovar tal reforma nas duas casas legislativas.
48, n° 2 2005 Assim como mostram Melo e Anastesia (20051,
1O A Reforma da tal resultado foi obtido, principalmente, devido
Previdência aprovada neste a duas questões peculiares: 1) o governo con-
governo pode ser considera-
da tímida, pois não alcançou seguiu adesão por parte dos governadores ao
as proporções desejadas pelo
projeto inicial do Executivo.
projeto de reforma da previdência casando às
discussões em torno das reformas tributárias e
11 Ver capítulo 7 de
"Executivo e Legislativo na do pacto federativo; 21 as bancadas de oposição
Nova Ordem Constitucional" não votaram de forma disciplinada.
Figueiredo e Limongi, 1999.
No primeiro governo Fernando Henrique Car-
12 Porcentagem de doso (1994-1998) houve uma tentativa frustra-
fidelidade partidária à indica-
ção da liderança de bancada. da de aprovar uma Reforma Previdenciária ampla.
Figueiredo e Limongi, 1999.
Não obtendo sucesso 10 , o desafio foi passado
para o próximo Presidente. Ao alinhar as discus-
sões sobre as reformas tributária e previdenci-
ária, o governo Lula obteve o apoio dos governa-
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Contudo, a coalizão governativa se mostrará


problemática no decorrer da dinâmica do exer-
cício do mandato do Presidente Lula, e isso
por dois motivos: (1 J a incorporação de partidos
ideologicamente distantes à base aliada gera pro-
blemas internos ao partido do Presidente. Quando
o governo se dispõe a aceitar a presença de par-
tidos de centro e direita, tais como PMDB, PTB e
PL na sua base, em nome da governabilidade, ele
cria condições para que aflorem disputas inter-
nas entre os partidos de esquerda que compõem
a coalizão. Na medida em que o governo tende a
atender as solicitações dos partidos de centro-
direita incorporados à coalizão, abre-se espaço
para contestação, dentro do partido do presiden-
te, dos setores que não concordam com as me-
didas em votação. Podemos apontar ainda o rom-
pimento do PDT e do PPS, respectivamente, em
2003 e 2004 com a coalizão governativa de Lula.
As diferenças ideológicas refletidas nos interes-
ses de cada grupo acabam criando incentivos
para a deserção nas votações governistas que
necessitariam de uma coalizão disciplinada. Tanto
a ala direita quanto a ala esquerda da coalizão vão
"lutar" para que seus issues sejam defendidos. A
questão posta para o governo é, então, conse-
guir conciliar interesses divergentes. Aumenta
este dilema o fato de que historicamente, o PT
sempre tenha se posicionado como oposição às
idéias pregadas pela direita. Em suma, a vitória
presidencial faz com que o PT movimente-se na
direção de uma ética de responsabilidade, dis-
tanciando-se do comportamento marcado pela
convicção, o que gera conseqüências no plano
de sua identidade partidária; (2) Como forma de
compensar a ampliação das alianças, o governo
opta por montar um ministério que favoreça o PT, FONTE: elaboração própria a partir dos dados do Jornal Folha de
e assim, diminui os incentivos à cooperação dos São Paulo de 01 de janeiro de 2002
partidos à direita da coalizão com a agenda pro-
posta pelo Executivo. Conforme mostra a tabela 3,
o Presidente privilegiou seu partido na nomeação
dos ministérios. O PT, além de ficar com os prin-
cipais ministérios das áreas política, econômica e
social (Casa Civil, Saúde, Educação, Previdência,
Fazenda, Planejamento e Desenvolvimento Social
e Combate à Fome 13l, tomou posse de pastas de
menor relevância, tais como Desenvolvimento
Agrário, e Minas e Energia. Outra observação
pertinente diz respeito às secretarias especiais
de governo. Como nos mostra a tabela 4, o PT é
hegemônico na ocupação de tais cargos. O par-
tido do Presidente obteve 52% dos ministérios, FONTE: elaboração própria a partir dos dados do Jornal Folha de
sendo que ocupou apenas 1 7, 7% das cadeiras na São Paulo de 01 de janeiro de 2002
Câmara. A distribuição de ministérios não levou
em conta o peso proporcional dos demais parti-
dos pertencentes à base aliada, principalmente o O caso do PMDB merece atenção devido às 73 Atualmente pode-
PMDB. Coube a estes poucos ministérios, cargos conseqüências advindas da relação entre tal mos considerar o Ministério
do Desenvolvimento Social,
de segundo escalão, e chefias em empresas es- partido e o governo. No primeiro ano do governo uma pasta de grande rele-
tatais. Como Ministérios representam a principal Lula o PMDB, como mostra a tabela 3, não re- vância. Tal fato se dá devido,
principalmente, à unificação
forma de acesso a recursos políticos no Brasil, cebe nenhum ministério, mas mesmo assim dá de diversos programas sociais
a citada distribuição desproporcional de pastas apóio considerado 14 aos projetos do executivo. no Programa Bolsa Família, o
que fez com que este Minis-
acabou desenhando um ambiente propício à de- A incorporação do PMDB ao governo em 2004 tério obtivesse maior dotação
orçamentária.
serção a longo prazo. foi uma tentativa de ampliar a coalizão tendo em
vista que o partido contava com 14,4% das ca-
deiras da Câmara dos Deputados. Contudo, vale
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lembrar a hipótese desenvolvida neste artigo de para a representação proporcional. A adoção des-
que "o governo opta por montar um ministério te mecanismo de conversão de votos em cadeiras
que favoreça o PT, e assim, não cria incentivos à significa que as diversas clivagens sociais podem
cooperação dos partidos à direita da coalizão com ter acesso ao sistema político. Considerando-se
a agenda proposta pelo Executivo". Desta forma, a heterogeneidade estrutural vigente na socieda-
acreditamos que a inclusão do PMDB ao governo de brasileira, podemos perceber um alto grau de
sem levar em conta o peso proporcional de sua "inclusividade" em nosso sistema político. Pode-
bancada, gera uma certa frustração e contribui mos perceber, ainda, que a-dimensão da demo-
para a manutenção da cisão entre a ala governis- cracia relacionada à representação é fortalecida
ta liderada pelos Senadores José Sarney e Renan neste momento. Com relação ao momento de
Calheiros; e uma outra ala oposicionista tendo à funcionamento, ou da tomada de decisões, dos
frente dos descontentes o ex-governador do Rio órgãos decisórios nós podemos perceber uma
de Janeiro Anthony Garotinho, e o Deputado Fe- intensa concentração de poderes no arranjo ins-
deral Michel Temer. titucional brasileiro. A organização dos trabalhos
legislativos em torno das lideranças partidárias
pode ser apontada como exemplo para ilustrar tal
ponto. A concentração de poderes reforça o atri-
buto ou a dimensão da democracia relacionada à
estabilidade. Tal dimensão é de extrema impor-
tância se levarmos em conta o quadro de pobreza
e desigualdade social vigente no país.
A organização de governos de coalizão pare-
ce-nos fruto deste arranjo institucional peculiar
ao Brasil. O quadro multipartidário associado
à representação proporcional contribui para a
fragmentação das bancadas o que faz com que a
coligação eleitoral vencedora geralmente não ob-
tenha maioria qualificada para aprovar uma agen-
da de mudanças. Torna-se necessário a inclusão
de outros partidos ao governo. Tal inclusão se dá
através da distribuição de pastas ministeriais,
*PT, PCdoB, PSB, PDT, PPS, PV, PTB, e PL
cargos de confiança em empresas· estatais e por
**PT, PCdoB, PSB, PPS, P\1, PTB, PL e PMDB outras formas de recursos públicos.·
FONTE: Votações Nominais na Câmara dos Retomando a argumentação desenvolvida nes-
Deputados 2003-2004; te artigo, mostramos que o Governo Lula não é
Fernando Limongi e Argelina Cheibub Figueiredo,
exceção a regra, ou seja, procurou organizar uma
Banco de Dados Legislativos, CEBRAP.
Elaboração Magna Inácio (2006)
coalizão majoritária. Tal coalizão, operando em um
novo cenário onde o PT passa a ser situação e o
Tal cisão pode ser percebida nos dados de PSDB passa a ser oposição, e auxiliada pela popu-
comportamento parlamentar elencados na tabe- laridade do recém eleito Presidente da República
la 5 retirada de Inácio (2006J. A autora mede o influenciou positivamente a aprovação da agenda
apoio dos partidos da coalizão ao governo utilizan- proposta pelo Executivo.
do o índice de Rice 15 . Tal índice para o PMOB mos- Apresentamos no trabalho duas vitórias de
tra que esse partido coopera mais com o governo pontos importantes para o Executivo. Estamos
antes de entrar formalmente para a coalizão nos referindo a eleição do deputado paulista João
(88,4), do que depois que recebe os ministérios Paulo CPTJ para a Presidência da Mesa Diretora e
de Comunicação e Previdência Social (80,8). do senador José Sarney CPMOBJ para a Presidên-
Por fim, a tabela 5 serve-nos para reforçar a cia do Senado, além da aprovação da PEC 40. No
14 Na votação da
PEC 40 o líder do PMDB importância da coalizão na aprovação da agenda que se refere à eleição do deputado petista para
indica votação a favor do
governo e cerca de 70% da
do Executivo. O índice de Rice médio considerando a presidência da Câmara consideramos que a vi-
bancada vota com o líder e, os partidos que compõe a coalizão considerados gência de um "costume", de uma regra informal,
consequentemente, com o
governo. na tabela no primeiro ano de governo Lula é de que permite à maior bancada eleger o presidente
90,5 - mostrando alto apoio da base ao governo. da Casa teve peso preponderante. Deve-se levar
15 "Tal índice, que
eXpressa a diferença entre as O mesmo índice depois da primeira reforma minis- em conta também o fato de PT e PMDB terem
posições majoritárias e mino-
ritárias dos votantes, iridica a
terial é de 81 ,6, continuando alto mesmo com a "firmado" um acordo para que ambos tivessem
presença de unidades ou de insatisfação do PMOB. seus interesses . particulares garantidos. O
divergência entre as manifes-
tações de voto. Quanto mais PMDB por ter a maior bancada no Senado tinha
próximo do valor máximo
Considerações Finais interesse em eleger o presidente desta Casa. O
(1 00), maior a unidade dos
votantes no posicionamento O arranjo institucional brasileiro pode ser PT, por sua vez, que possuía a maior bancada na
favorável ou contrário numa
determinada votação, quanto caracterizado como um modelo híbrido. Contudo, Câmara dos Deputados, tinha o objetivo de con-
mais próximo do valor míni- este hibridismo se manifesta em momentos dife- trolar a Presidência da mesma. Podemos dizer
mo (1 ), maior a divisão entre
estes votantes". rentes. No momento de constituição dos órgãos então, que os partidos interessados em fazer
decisórios o modelo apresenta elementos que valer o "costume" ou a tradição trocaram apoio
possibilitam a dispersão de poder. Relacionado mútuo e o primeiro biênio continuou reproduzindo
a este ponto gostaríamos de chamar a atenção a regra informal mencionada acima.
REVISTA TRÊS PONTOS C E N T R O A C A O Ê M I C O D E C I Ê N C I A S S O C I A I S

Outro ponto comemorado como uma vitória momento seguinte.


expressiva do governo, foi a aprovaçãÓ da PEC Por fim, consideramos relevante apontar a pri-
40. Baseados em Melo e Anastasia (2005), mos- meira derrota significativa sofrida pelo governo, e
tramos que um dos fatores preponderantes e que configurará a dinâmica perversa do segundo
peculiares para a aprovação da PEC 40 foi o com- biênio. Referimo-nos à tentativa mal sucedida de
portamento indisciplinado das bancadas da opo- aprovar a reeleição imediata para Presidente do
sição. Os parlamentares do PSOB, por exemplo, Senado e da Câmara. Tal atitude beneficiaria de
que faziam parte da oposição ao governo neste forma direta o andamento legislativo em favor da
momento, votam de maneira cindida em relação a agenda do Executivo, tendo em vista, que tanto
orientação do seu líder (a favor do governo), pois José Sarney quanto João Paulo, teriam uma pro-
a reforma, do ponto de vista ideológico, agradava babilidade de serem reconduzidos aos respectivos
aos parlamentares deste partido e em muitos cargos já que conduziram de forma satisfatória
pontos assemelhava-se a reforma proposta no os trabalhos legislativos 16 . A estratégia adotada
governo FHC. O PFL também sofre com este pelo governo não surtiu o efeito desejado, já que
problema já que a indicação do líder é contrária a maioria dos parlamentares não aceitou as mu-
ao governo, mas os termos do projeto identifi- danças propostas para as regras do jogo. Muitos
cam-se com os interesses dos governadores, parlamentares acusaram o governo de querer
que exerceram pressão sobre suas bancadas tomar uma decisão em benefício próprio·, contra-
estaduais já que a reforma da previdência estava riando a autonomia prevista na divisão entre os
atrelada às discussões da reforma tributária. Poderes. Dá-se, então, o contexto para a com-
Contudo mostramos que a coalizão montada petição "inusitada" em torno da presidência da
por este governo mostrava-se problemática, Câmara no segundo biênio (2005/2006).
devido a dois principais aspectos. O primeiro as- Acreditamos que as conseqüências das con-
pecto remete-nos a diversidade ideológica de tal tradições que envolvem a coalizão de governo,
coalizão. Trata-se de uma coalizão extremamente apresentadas neste artigo, se tornam mais evi-
heterogênea, contando com partidos da direita dentes e intensas no decorrer do segundo biênio
(PP, PTB e PU, centro CPMOBJ e esquerda CPT, deste. A montagem de uma coalizão pragmática
POT, PPS e PC do Bl. Esta diversidade se mos- ampla, aliada à estratégias de negociação ad
trará um problema se levarmos em consideração hoc da agenda governativa, com a distribuição
as preferências históricas de cada partido. Cada desproporcional de ministérios frente ao tama-
ponto da agenda do Executivo teve que ser ne- nho das bancadas na Câmara vão modificar a
gociado de forma ad hoc, e a cada negociação o relação entre o Executivo e o Legislativo no se-
governo teve que oferecer incentivos à coopera- gundo biênio. A derrota eleitoral sofrida pelo PT
ção aos partidos mais distantes do programa do na disputa para Presidência da Mesa da Câmara
governo. Esta dinâmica pode gerar um desgaste dos Deputados pode ser considerada um "divisor
do Executivo com os partidos mais próximos ide- de águas", pois a partir da eleição de Severino
ologicamente do seu programa, principalmente Cavalcanti (PP-PEJ, o Executivo terá que passar
com o partido do presidente. O outro aspecto a lidar com um ator institucional com poder de
que gostaríamos de salientar diz respeito à veto. Porém a análise desta eleição e os desdo-
estrutura de incentivos montada pelo governo bramentos políticos, no que diz respeito tanto a
para aprovar sua agenda. A forma como se deu a aprovação da agenda do Executivo, quanto à atual
distribuição de ministérios entre os partidos da crise política vivenciada serão objeto de análise
coalizão se foi suficiente para garantis elevado de um próximo trabalho.
nível de disciplina nos dois primeiros anos, termi-
nou por dificultar a coordenação dos trabalhos no

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Contato com os autores: Felipe Nunes: felipe_nunes@uol.com.br


Thiago Silame: thiago.silame@gmail .com 11

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