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BACHARELADO LETRAS/LIBRAS
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ÍNDICE DE ILUSTRAÇÕES
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APRESENTAÇÃO DA DISCIPLINA
3
APRESENTAÇÃO DO PROFESSOR
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Sumário
UNIDADE I – ESTUDOS DA TRADUÇÃO ........................................................6
1 INTRODUÇÃO À UNIDADE .............................................................. 7
BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................... 87
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DISCIPLINA – FUNDAMENTOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO
UNIDADE I – ESTUDOS DA TRADUÇÃO
Professora – Maria Helena Nunes Almeida
Objetivo da aprendizagem;
Plano de estudo:
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1 INTRODUÇÃO À UNIDADE
2 FUNDAMENTOS HISTÓRICOS
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O campo de estudo que investigaremos tem caráter desbravador, isto é,
seu início se deu a partir do momento que povos, culturas e línguas diferentes
começaram a ter contato umas com as outras, como também com base na
necessidade de comunicação entre os povos. Estas ações fizeram com que as
práticas tradutórias começassem a surgir, obviamente, não como estudamos e
vemos hoje, mas com suas particularidades conforme as diferentes épocas e
contextos.
Segundo Campos (1987), historicamente, a questão da tradução surgiu
pela necessidade que todos os envolvidos na construção da maior torre já vista
- Torre de Babel – tinham de se comunicar, visto que a ideia desta construção
era que a mesma alcançasse o céu, entretanto este grande projeto não estava
sendo visto com bom grado pelo Senhor dos Exércitos, sendo assim, fez com
que todos os envolvidos no projeto não conseguissem/pudessem se comunicar
mais.
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fatos são mais recorrentes do que imaginamos, a língua é essencial, e
precisamos dela para viver.
Enfim, é preciso entender o quão importante foi essa breve reflexão sobre
a linguagem, pois sem ela não haveria a comunicação entre os povos, seja nas
línguas orais ou nas línguas de sinais, não haveria a troca cultural entre os
povos, como também, não haveria a tradução. Podemos, então, concluir e
compreender a importância da língua como ferramenta social, como ferramenta
cultural, sobretudo a sua relevância para a comunicação entre os seres
humanos, logo, se temos a língua essencial às trocas sociais, temos a tradução
somada a essa troca, ou seja, não se pode desligar o uso da língua, em diversos
contextos sociais, e ato tradutório.
Para Oustinoff (1956, p. 12), “a primeira função da tradução é, então, de
ordem prática: sem ela, a comunicação fica comprometida ou se torna
impossível”. O processo histórico que universalizou a tradução começou desde
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sempre, podemos citar aqui como exemplo a primeira tradução da bíblia,
atualmente, o texto bíblico é mais foi traduzido no mundo, foram muitas e muitas
línguas, atingindo diferentes povos, culturas e regiões da terra. Segundo
Oustinoff (1956), os textos bíblicos foram o objeto de maior empreendimento
dentro da história da tradução, e isso até os dias atuais.
Com a tradução podemos manter uma língua viva e transformar a sua
condição de sobrevivência para Oustinoff (1956, p. 12), “uma língua que não se
consegue mais traduzir é uma língua morta, antes de a tradição vir a ressuscitá-
la”. Se ignorarmos a existência da tradução, perderemos uma língua e,
consequentemente, uma cultura e um povo. Assim, vemos, mais uma vez, a
importância da tradução e como ela pode colaborar ao uso e à difusão da língua
de um povo a outro grupo social.
Caros alunos agora chegamos ao fim da nossa primeira reflexão, logo,
destacam-se dois pontos cruciais, primeiramente, a importância da linguagem
para o ser humano, e não menos importante da tradução como ferramenta social,
em prol da continuidade destas línguas e da comunicação entre os povos.
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3 CONCEITOS E ASPECTOS DA TRADUÇÃO
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Figura 1 - Imagens de textos bíblicos – Bíblia Física e de Aplicativo, respectivamente.
Fonte: Imagem da autora
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Outro conceito importante que precisamos aprender é o de tradução
interlingual, este é um pouco mais fácil de compreender, pois é mais comum ao
nosso cotidiano. Tradução interlingual consiste em interpretação de signos
verbais por meio de outra língua. Por exemplo: do inglês para o português,
Italiano para o Francês, Português para Libras e, assim por diante. Na imagem
da Figura 2 temos a exemplificação deste conceito.
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Na imagem da Figura 3 contemplamos um nítido exemplo de tradução
intersemiótica - o livro do Harry Potter, da autora J. K. Rowling, que foi adaptado
e produzido para as telas do cinema. Em uma das imagens temos a capa do livro
e na outra a capa do DVD do filme.
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Durante todo o processo tradutório precisamos ter a preocupação em
relação à estrutura da língua, a intenção do autor, bem como o respeito cultural
da língua-alvo. Quando pensamos em todos estes referenciais no campo da
tradução, chegamos a um ponto primordial para analisarmos, que é a coerência
que o trabalho teve em seu produto final. Todos estes questionamentos
englobam a discussão e reflexão de um único conceito - o da ‘fidelidade’ - um
tema polêmico, notório quando buscamos este tema na Internet e, encontramos
as discussões realizadas há muito tempo no campo no que tange à tradução.
Segundo Vasconcelos e Junior (2009, p. 12) a fidelidade está relacionada a
questão da autonomia do tradutor/ intérprete, pois no momento em que é
realizado determinada leitura daquele trabalho que está sendo realizado, as
concepções teóricas condizem com a realidade vivida naquele momento.
Será que uma tradução termo a termo, palavra a palavra significa ser
coerente e atinge o objetivo do texto-fonte? Vamos pensar nas possibilidades
dos erros que podem ocorrer devido à semântica da palavra, bem como outras
possibilidades, como a incompatibilidade com a estrutura linguística entre outros.
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pode ficar incompreensível para o interlocutor surdo, visto que não respeita a
estrutura linguística da Língua Brasileira de Sinais (SVO).
Vocês devem estar se perguntando: mas por que estamos falando sobre
tradução palavra por palavra se o assunto era fidelidade, professora? Como
disse Oustinoff (1956), traduzir não é meramente uma operação literária ou
linguística, estamos falando em passagens de conceitos, conceitos coerentes na
língua-alvo, mantendo o objetivo da mensagem do locutor e respeitando sua
cultura.
Reflita!
Há uma banda curitibana formada por mulheres, cujo objetivo é
disseminar a independência e a valorização das mulheres no hodierno, o nome
é Mulamba. Pensando nisso, convido vocês a ouvirem uma música da banda e
a analisar sua letra, que tem uma forma única de lidar com o cotidiano feminino.
Pergunto a vocês: as mulheres surdas precisam participar desta luta também?
Como poderiam ter acesso a essa música? Óbvio, que por meio de uma
interpretação/tradução em Libras, sendo assim, solicito que leiam a letra da
música, pensem em alguns dos conceitos aprendidos – intralingual,
interlingual, fidelidade – e assistam ao vídeo da interpretação feita pelo Jonatas
Medeiros, TILS da UFPR.
Ontem desci no ponto ao Quando a noite virar dia Pra onde eu não sei (pra
meio dia Nem vai dar manchete onde eu não sei)
Contramão me parecia (nem vai dar manchete) Socorro (socorro)
Na cabeça a mesma reza Amanhã a covardia vai Sou eu dessa vez (sou eu
Deus, que não seja hoje o ser só mais uma que dessa vez)
meu dia mede, mete, e insulta E eu corro (eu corro)
Faço a prece e o passo Vai filho da puta Pra onde eu não sei (pra
aperta Painho quis de janta eu onde eu não sei)
Meu corpo é minha pressa
Ouviu-se um grito agudo Socorro (socorro)
engolido no centro da cidade Tirou meus trapos, e ali Sou eu dessa vez (sou eu
E na periferia? Quantas? mesmo me comeu dessa vez)
Quem? De novo a pátria puta me Hoje me peguei fugindo
O sangue derramado e o traiu E era breu, o sol tinindo
corpo no chão E eu sirvo de cadela no Lá vai a marionete
Guria cio Nada que hoje dê manchete
Por ser só mais uma guria E eu corro (eu corro) (E ainda se escuta)
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Socorro tô num mato Sou eu dessa vez
sem cachorro Morreu na contramão
A roupa era curta Ou eu mato ou eu morro atrapalhando o sábado
Ela merecia E ninguém vai me julgar (Pra onde eu não sei)
O batom vermelho Agonizou no meio do passeio
Porte de vadia E foda-se se me rasgar a público
Provoca o decote roupa (Sou eu dessa vez, e eu
Fere fundo o forte Te arranco o pau com a corro)
Morte lenta ao ventre forte boca Morreu na contramão como
Eu às vezes mudo o meu E ainda dou pra tu se fosse máquina
caminho chupar (Pra onde eu não sei,
Quando vejo que um homem Pra ver como é severo o socorro)
vem em minha direção teu veneno Seus olhos embotados de
Não sei se vem de rosa ou Eu faço do mundo cimento e tráfego
espinho pequeno (Sou eu dessa vez)
Se é um tapa ou carinho E Deus permita me Amou daquela vez como se
O bendito ou agressão vingar fosse máquina
E se mudasse esse ponto de E Deus permita me (Pra onde eu não sei,
vista vingar socorro)
E o falo fosse a vítima E Deus permita me Amou daquela vez como se
O que o povo ia falar? vingar fosse a última
Trocando, assim, o foco da E eu corro (Sou eu dessa vez)
história Pra onde eu não sei (pra
Tirando do homem a glória onde eu não sei)
De mandar nesse lugar Socorro
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deixou o significado claro ao público-alvo? E, por fim, entendam como é
importante e fundamental o papel do tradutor e intérprete de Libras.
4 O PROFISSIONAL TRADUTOR
Caros alunos, neste último tópico da unidade haverá uma discussão sobre
a formação do tradutor. Durante este capítulo fizemos algumas breves
comparações/relações com as línguas sinais, desta feita, isso será discutido de
maneira mais aprofundada em nossa última unidade, inicialmente abordaremos
as línguas orais.
Como vimos anteriormente, os tradutores surgiram a partir da
necessidade da comunicação e troca entre os povos, uma atividade milenar.
Contudo, a grande preocupação até os dias atuais diz respeito ao modo como
ocorre a formação destes profissionais.
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Recentemente a tradução começou ganhar espaço no meio acadêmico.
Antes estar neste espaço, era discutida de forma breve, com pouca notoriedade
dentro da área da Literatura e da Linguística. Segundo Paschoal (2007) somente
a partir de 1970, a tradução começou ganhar popularidade, o que instigou
discussões relevantes a seu respeito e, assim, ganhou espaço como disciplina
específica, mas considerada, apenas, uma formação complementar nos cursos
de Letras.
Sabemos que o ato de traduzir requer muitas competências, o que implica
numa formação mais específica e completa, pois a formação de um professor de
línguas requer outras competências profissionais.
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Para Paschoal (2007) a formação do tradutor contribui para o
desenvolvimento das habilidades necessárias para atuação, sendo que em um
curso de formação não é necessário a sistematização e normalização em
diferentes etapas, mas sim, que as formações busquem a cooperação de
diferentes disciplinas, buscando uma formação geral e completa em todos os
âmbitos, língua e tradução.
Segundo Pagano (2009), a formação do tradutor requer o
desenvolvimento de habilidades que vão muito além do conhecimento
linguístico, por isso os cursos de formação precisam ter um olhar especial com
a prática tradutória e o processo tradutório em si, garantindo ao estudante de
tradução o desenvolvimento de percepções mais acentuadas em relação à
prática, conhecer as teorias e oportunizar a reflexão destas ações e, ainda, fazer
a relação prática versus teoria. Conforme suas reflexões, Paschoal (2007)
compreende que a grande preocupação que os cursos e os formadores
necessitam ter é a clareza das intenções neste contexto, que é formar tradutores
e não teóricos da tradução. Arrojo (1986) também complementa esse
pensamento dizendo:
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A formação adequada do profissional tradutor implica no domínio das
estratégias tradutórias, as quais ele deve ter ao realizar o seu trabalho. Posto
isto, enumeramos algumas das principais competências que o tradutor precisa
ter – competência linguística, competência tradutória e, por último, e não menos
importante, a competência referencial. Segundo Pagano (2009, p. 12) “a prática
da tradução requer estratégias de diversas naturezas, algumas das quais podem
ser adquiridas por meio da experiência, sendo que outras podem ser
desenvolvidas ou aperfeiçoadas pela formação profissional”.
Competência linguística segundo Roberts (1992, apud Quadros, 2004)
é a habilidade que o profissional precisa ter em manipular as línguas envolvidas
nos processos tradutórios, compreender e usar as línguas enredadas em todos
os seus aspectos, expressando-se corretamente, fluentemente e da forma mais
clara possível, na língua-alvo.
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Outros autores (Lowe, Pym, Hatim e Mason) preferem falar de
“habilidades e destrezas tradutórias”. Lowe aponta
características tais como: compreensão leitora e capacidade de
redação, velocidade etc.; Pym destaca a habilidade de gerar
diferentes opções e de selecionar uma única delas em função
dos fins específicos e do destinatário; Hatim e Mason postulam
destrezas de processamento do texto original (reconhecer a
intertextualidade, localizar a situacionalidade, inferir a
intencionalidade, valorizar a informatividade etc.) e de
processamento do texto de chegada (estabelecer
intertextualidade e situacionalidade, criar intencionalidade,
equilibrar a informatividade etc.) e habilidades de transferência
para renegociar estrategicamente com eficácia, eficiência e
relevância. (HURTADO, 2005, p. 23).
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Compreendemos durante esta unidade o quão complexo é o trabalho do
tradutor, uma vez que traduzir não é apenas a passagem de uma palavra de uma
língua para outra, vai muito além, como falamos durante toda essa leitura. Quão
trabalhoso é o processo tradutório, cabendo a nós, profissionais tradutores, fazer
escolhas que sejam mais viáveis e coerentes à língua-alvo, à cultura e ao público
que irá utilizar aquela tradução.
Precisamos estar cientes e conscientes do trabalho que assumiremos,
além disso, nos questionarmos a respeito da nossa competência sobre
determinado trabalho. Sempre nos perguntarmos: será que eu possuo as
competências necessárias para exercer e assumir esse trabalho? Isto porque
está em nossas mãos, literalmente, o entendimento e até a única forma de
adquirir informações sobre alguns assuntos.
É importante compreendermos que no mundo complexo da tradução não
podemos viver sozinhos, a crítica construtiva de outro colega de profissão, que
exerce a função há mais tempo, por exemplo, só vem a colaborar e aprimorar
nosso serviço. Quando surgem dúvidas sobre alguma coisa no momento da
tradução podemos buscar livros, glossários, dicionários, como também, fazer
trocas e reflexões com os nossos pares, que já possuem mais experiência e
tempo de trabalho. As trocas são riquíssimas e nos ajudam a construir nossa
identidade profissional!
Busquem colocar em prática tudo que aprendemos durante esta unidade,
agora é o momento de fazer a relação teoria e prática, que é tão importante neste
processo de formação de vocês. A partir de agora as suas escolhas tradutórias
serão mais conscientes e caberá a você distinguir se foi uma boa escolha ou
não.
Lembre-se sempre de seu papel social como tradutor, se pensarmos,
especificamente na comunidade surda, imaginem que maravilhoso seria se tudo
fosse de fácil acesso e compreensível a eles? Cabe a nós (sim, nós tradutores,
surdos e comunidade em geral) lutarmos pelo direito linguístico e tradutório
destes cidadãos, para que eles possam ter o direito de informação tanto quanto
nós.
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Nunca se esqueça: a tradução permite que línguas e culturas continuem
vivas e cabe a nós esta tarefa. Por isso, sempre anseie em conhecer, estudar,
aprimorar e refletir sobre o seu ato tradutório.
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DISCIPLINA – FUNDAMENTOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO
UNIDADE II – ESTUDOS DA INTERPRETAÇÃO
Professora – Maria Helena Nunes Almeida
Objetivo da aprendizagem:
Plano de estudo:
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1 INTRODUÇÃO À UNIDADE
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visto que o mesmo exige alta complexidade cognitiva e qualquer deslize no ato
interpretativo pode ocasionar um abalo emocional.
Para finalizarmos, espero que vocês leiam e olhem, com muita atenção e
carinho, todos os vídeos que sugerimos neste capítulo, pois, por meio deles
vocês poderão fazer a relação teoria e prática. Vocês, também podem buscar o
conhecimento em outros lugares além desta apostila, como, por exemplo, pelo
Youtube, o qual consiste em um instrumento riquíssimo, que só veio fortalecer e
aumentar nosso conhecimento. Sabendo onde procurar e como procurar, este
meio tecnológico é como um grande livro aberto, que nos proporciona
conhecimento e incontáveis relações teóricas e práticas.
Bons estudos!
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negociações de guerra data de milhares de anos, a história
moderna da interpretação inicia-se há apenas 100 anos, com as
negociações do Tratado de Versalhes, após a I Guerra Mundial,
centrada principalmente na interpretação de conferências
(PÖCHHACKER, 2004, p. 28, apud CARNEIRO, 2017, p. 3).
Segundo Carneiro (2017) logo que este tipo de trabalho começou a ser
executado chamou a atenção dos pesquisadores pelo fato de ser uma atividade,
extremamente, complexa e única. Impulsionando, a partir de então, os estudos
pertinentes à área e a preocupação de formar os profissionais para exercer esse
tipo de trabalho.
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3 CONCEITOS E ASPECTOS DA INTERPRETAÇÃO
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Quando pensamos na perspectiva das línguas de sinais, esse contato
com o público ocorre de forma bem diferenciada em relação às línguas orais, isto
é, enquanto o intérprete de língua oral fica dentro de uma cabine, o intérprete de
língua de sinais fica em contato direto e exposto para todo o público, seja no
palco ou em um local mais próximo do público-alvo, entretanto, exemplificando
como ocorreria aqui no Brasil, isso ocorre quando a palestra é ministrada do
português (língua-fonte) para a Libras (língua-alvo).
Nesta esteira, tivemos alguns avanços no Brasil, por exemplo, em
congressos internacionais e específicos da Língua de Sinais, o intérprete já
trabalha dentro de uma cabine, quando a interpretação ocorre em Libras (língua-
fonte) para o Português (língua-alvo), o que antes ocorria de forma mais
‘precária’, pois o profissional fazia a interpretação sentado no auditório junto aos
outros participantes (o que implica em muitas interferências), hoje, este trabalho
ocorre dentro de uma cabine, com abafamento de som, sem interferências
tecnológicas e humanas, assim como em interpretações de línguas orais. Claro,
estamos falando de congressos maiores, com mais recursos, porém já é uma
nova perspectiva e novas possibilidades para a realização de um trabalho mais
adequado e seguro.
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Carvalho (2007) divide esse processo em três etapas: compreensão,
desverbalização e reexpressão. Conforme vimos na citação anterior, essas três
etapas englobam todo o processo, desde o recebimento do discurso a partir da
língua-fonte até a produção do discurso na língua-alvo. Vale-nos, neste
momento, retomar algo que dissemos e solicitamos a reflexão de vocês na
unidade anterior: será que saber/conhecer uma língua já permite que a pessoa
se torne/seja um intérprete? Vocês podem perceber com os escritos de
Carvalho, que o processo é muito mais complexo e rápido, por isso o intérprete
além de dominar a língua, precisa também dominar as estratégias de
interpretação.
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Entre as estratégias cognitivas que utilizamos para traduzir
existem algumas que podem nos servir de apoio interno ao longo
do processo tradutório. Este apoio interno se dá, sobretudo, por
meio do nosso conhecimento de mundo, que abrange nossos
conhecimentos enciclopédicos, incluindo-se nele toda nossa
bagagem cultural, e o conhecimento procedimental que nos
ensina como utilizar o que já conhecemos. (ALVES, 2009, p. 57).
Reflita!
A fim de refletirmos um pouco mais sobre o que falamos, a respeito de as
competências necessárias para ser um intérprete, vamos ver a entrevista da professora
Fernanda com o intérprete Ulisses Carvalho, que foi realizada em fevereiro de 2018 no
seu canal do Youtube, em que falam sobre o perfil profissional, a formação, as
competências. Ulisses é intérprete das línguas orais, porém as temáticas abordadas,
durante a entrevista, vêm ao encontro com tudo que falamos até agora: Será que saber
uma língua me torna um intérprete? Será que mesmo sendo intérprete posso abraçar o
mundo e atuar em todas as áreas?
Esperamos que vocês consigam, a partir deste vídeo, minuciar a formação e a
responsabilidade que vocês, como futuros profissionais, terão!
Link para acesso: (para quem precisar é só ativar a legenda!)
https://www.youtube.com/watch?v=3dW9WjajeE8
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Figura 5 - Entrevista com o tradutor Ulisses Carvalho.
Fonte: Canal do Youtube – Teacher Fernanda, 2018.
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Com o intuito de exemplificar, citamos um exemplo que, normalmente
ocorre na TV. A Figura 6 mostra a entrevista pós-luta do atleta Aldo. Para a
realização da entrevista foi necessário o trabalho do intérprete, que optou por
realizar um trabalho na forma consecutiva. É um exemplo simples, que nos
ajudará a organizar e compreender este conceito de interpretação.
Link para acesso do vídeo:
https://www.youtube.com/watch?v=8Kmp7r3f0z0
Interpretação a partir do minuto 2:52
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não a fizesse palavra por palavra, mas uma tradução literal, mantendo a
fidelidade semântica, porém dentro da estrutura gramatical do português. O
objetivo de utilizar essa estratégia tradutória é que vocês, caros alunos,
consigam fazer reflexões significativas em relação às escolhas do intérprete.
A Figura 7 traz dois tradutores, um homem que faz a leitura do texto em
Espanhol, e a mulher que faz a interpretação consecutiva para o inglês, logo em
seguida temos a transcrição do inglês e do espanhol, bem como, a tradução em
português das duas falas.
Link para acesso:
https://www.youtube.com/watch?v=Nl1p7NRAOQI
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pueblo se llama Espera. Sí: “Espera”. Y – and not just any language: German. The
tiene 4 mil habitantes. Su economía village is called Espera and it has a
dependía mucho últimamente de la population of 4 thousand. The economy of
Construcción. Llegó a tener hasta 37 this village had been basically construction
empresas de hormigón prensado y casi based up until recently there were 30 plus
toda la población masculina se dedicaba a companies only in a special type of
esta actividad, entretanto muchas de las concrete. And while most of the men were
mujeres trabajaban en el campo. Pero, al working in that industry, the women largely
pararse el boom del ladrillo, pues, todo se attended the fields. But all of that came to
vino abajo. De todos modos, es curiosa la sudden hot with the end of the construction
reacción que les lleva al aprendizaje de un boom and so now they are dealing with
idioma tan difícil como el alemán, this. But it’s great strange it seems to me
precisamente. Porque en inglés se supone for them to have chosen German of all
que habría más puertas. Aunque el inglés things as the way out of their current
lo hable todo el mundo, la aprobación problems. You would think English for
específica, temática, para un oficio o una instance would be more of a door opener,
profesión, podría parecer más adecuada. although of course it’s also true that more
Pero no: los habitantes de Espera, o al people know it so it’s less of an edge or
menos 120 de ellos, han optado por some sort of vocational training of specific
aprender alemán. Y no es casualidad que training for a particular occupation would
la primera palabra que han aprendido a seem to be a more obvious solution, but
decir en alemán los habitantes de Espera whatever the reason the inhabitants of
sea precisamente la palabra “Arbeit”: Espera, or at least 120 of them so far, have
“trabajo”. Hay que pensar en las cifras del chosen to learn German. And not by
pueblo para entender este fenómeno. Son chance have they chosen to learn as their
francamente escalofriantes: 1234 first words of vocabulary the word “Arbeit”
demandantes de empleo, y eso en un – in other words, “work”. Now the figures
pueblo de 4 mil habitantes. Algunos for Espera are absolutely horrendous when
sobreviven a base de trabajo esporádico: you think of 1234 jobseekers in the village
campaña de la fresa en Huelva, cosecha with a total population of 4 thousand. Many
de la fruta en Zaragoza, vendimia a finales people cope by taking seasonal work,
de agosto, aceituna en noviembre... Pero they’ll harvest strawberries in Huelva, then
cuando hay una familia a que mantener es will go to harvest fruit in Zaragoza, in
muy duro vivir así, al menos por mucho August they will go to the grape harvest
tiempo, sin la menor seguridad de que and then in late fall they will harvest olives.
incluso esos trabajos esporádicos And they receive a lot of support from their
persistan en el futuro. Y en España, más families, but when you have a family to
bien en Espera, se vislumbra ya el regreso support it’s very difficult to cope with this
de la otra estampa clásica de la migración kind of seasonal migration. It’s hard to
de los años 60: la migración hacia support a family and there’s no guarantee
Alemania. Pensemos que los años 60 y 70 that the work will still be there next season.
Espera perdió habitantes. Pasó de 5 mil a So in a way Espera is now starting to go
3 mil porque mucho se fueron, back to what it was in the 60s when many
principalmente a Cataluña, Francia e of the population emigrated to Germany.
incluso Alemania. Menos en la luna, dicen Now, the village of Espera seems to be
los lugareños, espereños hay en todo el returning now to a different image of what
mundo. Los de los años 60 tuvieron it was like in the 1960s, with people
algunas sorpresas, como las retenciones emigrating on a more less seasonal basis
de impuestos que eran muy altas y to Germany. Because in fact of the 60s and
superiores incluso para los solteros. Si the 70s the population of Espera dropped
cobraban 1000 marcos alemanes, pues, from 5 thousand to 3 thousand, with people
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recibían solo 500. Pero, en fin... las cosas emigrating to Catalonia, France, and
han cambiado bastante. En esa época, se indeed Germany. In fact, the saying goes
emigraba por hambre. Y por ahora no es in the village that except for the moon there
ese el caso de la emigración actual, are Espera villages just about everywhere
gracias a subsidios, ahorrillos y desde in the world. Now, in the 1960s the people
luego mucho apoyo familiar. La iniciativa who emigrated ran up against a number of
que les cuento es por lo menos curiosa. No surprises, such as high withholding tax,
se me habría ocurrido nunca, a pesar de especially for singles. A single man might
que a mí me gustan los idiomas e incluso expect to be earning a thousand marks and
algo sé cómo aprenderlos. El alemán, then find that he only had five thousand...
dicen algunos intérpretes, solo se aprende [correction] five hundred in his pocket at
bien de la madre o en la cama, y the end of the day. But there have been
francamente dudo que la profesora del significant changes since then and why of
pueblo esté dispuesta a eso último. En the people of Espera emigrated out of
todo caso, tiene una bien merecida fama hunger at the time they are now not quite
de difícil, por ello hay que felicitar a esas in that dire position. They’ve got subsidies,
personas que se han animado a hacer algo they’ve got some savings and they
distinto ante la crisis. Aunque el primer certainly have family support where that’s
paso tenga que ser aprenderse el available. So we can say that this is a
nominativo, el acusativo, el dativo y el rather unusual solution that they’ve taken.
genitivo... y cosas tan raras como la luna It’s rather striking. I have to say: I never
sea masculina y el sol femenino. would have thought of anything like that,
Pues¡mucha suerte y qué cundael because even though I’m somebody who
esfuerzo! Muchas gracias. likes languages and knows how to learn a
language the saying amongst interpreters
is that German can only be learned as a
mother tongue or in bed. And of course, I
seriously doubt the German teacher in
Espera will be willing to put up with the
second solution. But, in any case, German
is acknowledged to be a rather difficult
language. I have to congratulate these
people who’ve come up with a different
way to combat the crisis even thought that
means they’ll have to learn the nominative,
genitive, dative, and accusative cases...
and weird things such as that the moon is
masculine and the sun is feminine (which
is the other way around from the way it is
in Spanish). So in any case good luck!
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Se a pessoa cobrasse 1.000 marcos voltando a uma imagem diferente de como
alemães por um trabalho, receberia era nos anos 60, com as pessoas
apenas 500. Mas, enfim... as coisas emigrando para a Alemanha, mas com
mudaram bastante. Nessa época, as uma base menos temporária. Porque, na
pessoas emigravam por causa da fome. E, verdade, nos anos 60 e 70, a população de
por enquanto, não é esse o caso da Espera caiu de 5 mil para 3 mil, com
emigração atual, graças a subsídios, pessoas emigrando para a Catalunha,
pequenas economias e, sem dúvidas, França e Alemanha. Segundo um ditado
muito apoio familiar. A iniciativa que estou de Espera, há grupos daquela cidade em
contando a vocês é, no mínimo, curiosa. quase todos os lugares do mundo, exceto
Eu nunca teria pensado nisso, apesar de na lua. Na década de 60, as pessoas que
gostar de idiomas e, inclusive, de saber um emigraram enfrentaram uma série de
pouco sobre como aprendê-los. Alguns surpresas, como a alta retenção de
intérpretes dizem que só se aprende bem impostos, especialmente para solteiros.
o alemão se a aprendizagem acontecer Um homem solteiro que esperasse ganhar
com a mãe ou na cama – e, sinceramente, mil marcos poderia descobrir que, no final
duvido que a professora daquela pequena do dia, só teria 500 mil... [correção] 500 no
cidade esteja disposta à última opção. De seu bolso. Mas houve mudanças
qualquer forma, o alemão merece a fama significativas desde então, e, pelo fato de
de ser difícil; por essa razão, é preciso pessoas da cidade de Espera terem
parabenizar a essas pessoas que emigrado para fugir da fome, agora elas
decidiram fazer algo diferente diante da não estão nessa posição horrível. Elas têm
crise, mesmo que o primeiro passo seja subsídios, algumas economias e,
aprender o caso nominativo, o acusativo, o certamente, apoio da família quando
dativo e o genitivo... e coisas tão estranhas possível. Então, podemos dizer que se
como “lua” ser masculino e “sol”, feminino. trata de uma solução bastante incomum. É
Então, muita sorte e que o esforço valha a impressionante. Eu preciso dizer: eu
pena! Muito obrigado. nunca teria pensado em algo assim,
porque, embora eu seja alguém que gosta
de idiomas e saiba como aprender um, os
intérpretes dizem que o alemão só pode
ser aprendido como língua materna ou na
cama – e, claro, eu duvido que a
professora de alemão da cidade de Espera
esteja disposta à segunda opção. Mas, de
qualquer forma, o alemão é reconhecido
como um idioma muito difícil. Eu tenho de
parabenizar a essas pessoas que
inventaram uma maneira diferente de
combater a crise, mesmo que isso
signifique que elas terão de aprender o
caso nominativo, o genitivo, o dativo e o
acusativo... e coisas estranhas como “lua”
ser masculino e “sol”, feminino (no
espanhol, funciona ao contrário). Então, de
qualquer forma, boa sorte!
46
Após leitura e análise, vale-nos construir um processo reflexivo sobre as
ações tradutórias, o qual será permeado por questões. Estas questões terão
respostas e os respectivos comentários, os quais servirão como um norte ao
nosso processo de aprendizagem.
3) Correção de uma informação por parte da tradutora (5.000 > 500 marcos
alemães), algo relativamente frequente na modalidade de tradução de
que estamos tratando:
Si cobraban 1000 marcos alemanes, pues, A single man might expect to be earning a
recibían solo 500. thousand marks and then find that he only
had five thousand... [correction] five
hundred in his pocket at the end of the day.
47
Se pessoa cobrasse 1.000 marcos Um homem que esperasse ganhar mil
alemães por um trabalho, receberia marcos poderia descobrir que, no final do
apenas 500. dia, só teria 500 mil... [correção] 500 no
seu bolso.
(...) y cosas tan raras como la luna sea (...) and weird things such as that the moon
masculina y el sol femenino. is masculine and the sun is feminine
(which is the other way around from the
way it is in Spanish).
(...) e coisas tão estranhas como “lua” ser (...) e coisas estranhas como “lua” ser
masculino e “sol”, feminino. masculino e “sol”, feminino (no espanhol,
funciona ao contrário).
48
Após a análise desta interpretação consecutiva, podemos pensar o quão
importante é a memória para o profissional intérprete. No caso exibido sobre
interpretação consecutiva é fato que a intérprete possui como apoio suas
próprias anotações, feitas durante a fala do orador, porém são apenas palavras-
chave para a construção da interpretação, sendo assim, a memória da
profissional precisa elaborar e trabalhar em alto nível de capacidade, para que
seja possível reter as informações.
49
acessos a um determinado componente de nossa memória
podem ser estabelecidos de forma múltipla, ou seja, temos
várias possibilidades de acesso a esta rede de interrelações a
fim de recuperarmos uma informação previamente armazenada.
(ALVES, 2009, p. 62).
50
Como podemos perceber a memória de longo prazo é importantíssima
para o intérprete, pois é por meio dela que ocorre a possibilidade de retomar e
resgatar conceitos no ato interpretativo. E por isso cada profissional intérprete
terá a sua, pois a sua constituição depende das vivências e contextos em que
cada um está inserido.
Com a finalidade de complementar as reflexões sobre memória de longo
e curto prazo, trago, vocês, as discussões de Freire (2008) em relação a teoria
Modelos dos Esforços do pesquisador Daniel Gile (1995).
Gile (1995) pontua que durante o ato interpretativo, especificamente,
durante a realização do processo da interpretação simultânea, o intérprete
realiza três esforços durante a realização do trabalho, são eles: esforço de
audição e análise, esforço de produção e esforço de memória de curto prazo.
É preciso compreender que durante a realização da interpretação
simultânea, de um modo geral, o processo todo engloba muito mais que
simplesmente uma troca de léxico, é necessário atentar-se às possíveis
ambiguidades, reconstruindo o sentido do discurso da língua-fonte para a língua-
alvo, assim, o primeiro é o esforço de audição e análise, que compreende em:
51
você está, simultaneamente, exposto ao outro público, o público-alvo, e você,
rapidamente, faz a associação daquela sua representação na representação da
outra língua e, consequentemente, faz a interpretação. Em outras palavras,
você, intérprete, ouve uma palavra na língua portuguesa e, rapidamente, sua
mente processa a sua representação e já faz referência a sua possível
representação em Libras, fazendo, assim, que você sinalize e deixe o discurso
claro ao público que está assistindo.
Por conseguinte, o esforço da memória de curto prazo reflete na
capacidade que o profissional precisa ter em guardar as informações relevantes
durante o processo interpretativo, bem como, possuir a capacidade de também
relembrar e resgatar todas as informações quando necessário.
52
desenvolvidos, há, ainda, um leque de condições que acabam dificultando o
trabalho do intérprete. Isto é, ao pensar em todo o contexto interpretativo, o
intérprete acaba tendo desvantagens, Gile (1995) investiga esta relação desigual
entre o intérprete, o palestrante e o público. Sendo que, este público quer apenas
ter o contato com o conteúdo original e que a interpretação esteja a mais próxima
possível do original, mas não considera o desempenho e os estágios que o
intérprete precisa passar, os quais são:
53
Além de todos os conceitos e reflexões que trabalhamos, discutimos e
entendemos até agora, há outro ponto importante para a formação do intérprete:
o trabalho em dupla, o qual já havia falado na primeira unidade. Realizar trocas
de conhecimentos e experiências com nossos colegas de trabalho é
importantíssimo, pois permite a nós, profissionais, conhecermos diferentes
realidades de atuação, diferentes estratégias, visto que cada intérprete tem seu
perfil de atuação.
Conforme estudamos, o trabalho do intérprete é extremamente
desgastante, por isso, é necessário que o trabalho seja realizado, no mínimo, em
dupla, isto permite o revezamento durante todo o evento.
54
O ideal é que estes revezamentos ocorram entre 20 e 30 minutos, pois
conforme estudamos em Gile (1995) a capacidade de processamento mental é
limitada e qualquer desempenho, que passa desta capacidade de
processamento, já fica comprometido. Quando pensamos na perspectiva das
línguas de sinais, podemos acrescentar o desgaste físico que uma interpretação
de longa duração pode causar, em um contexto de interpretação da língua oral
para a língua de sinais.
55
Para finalizar, reiteramos que a situação ideal de atuação é com três
intérpretes, pois assim ocorreria o revezamento tanto do intérprete que está
atuando efetivamente como do intérprete de apoio.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
57
DISCIPLINA – FUNDAMENTOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO
UNIDADE III – ESTUDOS DA TRADUÇÃO E INTERPRETAÇÃO DA LÍNGUA
DE SINAIS
Professora – Maria Helena Nunes Almeida
Objetivos de aprendizagem:
Plano de estudo:
58
1 INTRODUÇÃO À UNIDADE
60
de sinais. Outro elemento fundamental neste processo é o
reconhecimento da língua de sinais em cada país. (QUADROS,
2004, p. 13).
61
Belo Horizonte, Teófilo Otoni, Brasília e Recife, além da matriz
no Rio de Janeiro.
f) Em 2000, foi disponibilizada a página dos intérpretes de língua
de sinais www.interpretels.hpg.com.br. Também foi aberto um
espaço para participação dos intérpretes através de uma lista de
discussão via e-mail. Esta lista é aberta para todos os intérpretes
interessados e pode ser acessada através da página dos
intérpretes. (QUADROS, 2004, p. 15).
62
Seja um pesquisador!
Vocês já leram a lei que regulamenta nossa profissão, na íntegra? Você, como
futuro tradutor e intérprete de Língua Brasileira de Sinais, precisa conhecê-la,
por isso leia e complemente seus estudos.
63
meio de validação durou pelo período de 10 anos, período que as instituições
teriam para organizar e oferecer um ensino superior específico à área.
As legislações vigentes e o crescimento pela busca de formação dos
profissionais contribuíram para que os surdos continuassem suas lutas em busca
de educação e profissionais de qualidade, bem como seu direito a acesso em
qualquer âmbito social. A lei não só regulamenta e estabelece normativas em
relação à profissão, mas também garante o direito linguístico ao surdo.
Oportunizando e criando acessibilidade em espaços que eles não possuíam
ainda, hoje, podemos perceber que a preocupação e os olhares referentes aos
surdos são diferentes, o direito ao acesso começa ser instituído e o surdo e o
intérprete começam a ter mais visibilidade na sociedade.
64
defendidos por Barbosa (2004), que em seu livro Procedimentos Técnicos da
Tradução propõe uma recategorização dos procedimentos técnicos e contempla
em suas reflexões pontos linguísticos e extralinguísticos. A professora discorre
sobre as teorias nas perspectivas das línguas orais, porém alguns
pesquisadores da área da Língua Brasileira de Sinais já fizeram análises e
sistematizações dessas técnicas na perspectiva da língua de sinais, dentre eles,
escolhemos Santiago (2012).
Segundo Barbosa (2004, p. 63), o objetivo em pontuar essas teorias é o
de facilitar a compreensão do processo tradutório, “acredito que, assim, poderá
estar facilitada a tarefa do tradutor, que terá à sua disposição uma série de
procedimentos que efetivamente recobrem o que acontece no ato da tradução”.
66
Dentre os procedimentos indicados por Barbosa (2004) daremos início a
nossas explanações a partir da tradução palavra por palavra, e, em seguida, a
todos os outros para facilitar seu entendimento.
Tradução literal:
67
podemos observar: considera a tradução literal como “aquela em que se mantém
uma fidelidade semântica estrita, adequando, porém a morfossintaxe às normas
gramaticais da LT” (AUBERT 1987. p. 15 apud BARBOSA, 2004, p. 65).
Transposição:
68
subjugada a uma única categoria gramatical, na Libras, por
conta das características da modalidade de língua gestual-
visual, um mesmo sinal pode simultaneamente indicar o sujeito
(oculto), o verbo e adjetivação da ação ou do sujeito.
(SANTIAGO, 2012, p. 42).
Modulação:
Equivalência:
69
Este procedimento pode ser confundido com o anterior, porém na
“Equivalência”, o intérprete opta pela interpretação não literal – substituindo os
signos linguísticos, mas respeitando a gramática da língua-alvo –, ou seja, dá
(oferece) uma equivalência de significados. Esta técnica também pode ser
utilizada em expressões idiomáticas, provérbios, ditos populares, entre outros.
Para Barbosa (2004, p. 67), “a equivalência consiste em substituir um segmento
de texto da LO (língua original) por outro segmento da LT (língua de tradução)
que não o traduz literalmente, mas que lhe é funcionalmente equivalente”.
Em Libras, isso ocorre da seguinte forma: o intérprete faz a interpretação
para a Língua de Brasileira de Sinais, dando um sentido equivalente ao da
língua-fonte, porém não aplica o sentido e o entendimento para a língua-alvo.
Santiago (2012) utiliza como exemplo: “ele ainda está no B-A-BA” e a
interpretação fica: “ELE – A- E- I- O- U”. Como vocês podem perceber, foi feita
uma interpretação equivalente à língua-fonte, porém o sentido não contemplou
o público-alvo, será que o surdo compreenderia o significado?
Omissão vs explicitação:
70
Já a explicitação engloba a marcação do espaço pelo sinalizante, por
exemplo, quando a pessoa, que está discursando, cita uma conversa entre duas
pessoas, mas que no momento fica confuso ‘quem estava falando o que para
quem’, sendo assim o intérprete opta por marcar e retomar os referentes (os
envolvidos na conversa) durante a sinalização.
Reconstrução de períodos:
Melhorias:
Por exemplo, podemos citar o uso da boia (ou listagem como diz a autora):
‘hoje fui ao mercado e comprei: macarrão, feijão, batata, arroz e carne’, no
momento da sinalização, para que fique claro o discurso, pontuamos cada item
comprado na mão de apoio, esta mão de apoio é a boia.
Explicação:
73
Decalque:
Adaptação:
74
4 OS PROFISSIONAIS: TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LIBRAS
Seja um pesquisador!
Para complementar seus estudos, sugiro a leitura completa do código de
ética. Para tal ação, indico a leitura do livro “O tradutor e intérprete de Língua
Brasileira de Sinais e Língua Portuguesa”, da autora Ronice Muller de Quadros,
organizado pelo MEC no ano de 2004. Este livro discute muitas questões
75
relacionadas à área da tradução e interpretação de Libras e pode ajudá-lo a
desbravar e conhecer mais sobre esse mundo.
76
Quando pensamos em um contexto de sala de aula inclusiva esse ponto
é muito delicado, isto é, o não interferir. Normalmente, o professor já tem
restrições em aceitar outro profissional em sala, pois se sente ameaçado ou por
outras questões que sempre ficam subentendidas no contexto, sendo assim, a
relação entre estes profissionais é muitas vezes instável. Na hipótese de o
intérprete interferir ou fazer qualquer tipo de questionamento durante uma aula,
a compatibilidade entre eles fica estremecida. E ao ocorrer isto, o único
prejudicado, neste processo, é o aluno surdo. Isto porque, a realização de um
trabalho em conjunto entre professor e intérprete pode não acontecer, por isso,
a postura do intérprete de Libras em sala de aula precisa ser totalmente ética e
responsável, para que o processo de ensino-aprendizagem do aluno surdo não
fique comprometido.
Em relação à atuação em sala de aula, e já fazendo referência à citação
apresentada adiante, propomos algumas reflexões: será que dentro de sala de
aula inclusiva, principalmente na educação infantil e séries iniciais, mesmo que
o aluno não possua ainda fluência em Libras, é ‘permitido’, ou melhor, coerente
que um “intérprete” sem fluência entre em sala para trabalhar com este aluno?
Será que um aluno que ainda não é fluente é passivo de um intérprete sem
fluência também? O que vocês pensam sobre isso? E o que isso implica no
ensino-aprendizagem do aluno?
Recordem que, nas unidades anteriores, discutimos que ser fluente não
implica somente em saber a língua, mas estar apto a todo o contexto de uso
desta língua, pois este contexto determina o uso da língua e as escolhas, por
exemplo, as escolhas de modalidade de interpretação – simultâneo, consecutivo
ou sussurrado – bem como as estratégias pertinentes para cada discurso. Logo,
fluência significa ter as três competências: linguística, referencial e
tradutória. Convido vocês, caros alunos, a refletirem mais uma vez, retomem os
apontamentos dados a pouco e analisem as questões realizadas até o momento
na disciplina.
Por isso, conforme estabelece o artigo 4º do código de ética, precisamos
ser coerentes ao assumir nossos trabalhos, tendo consciência das nossas
77
escolhas e assumir a responsabilidade de que se houver qualquer tipo de perda,
essa será por parte do aluno surdo.
Reflita!
Conforme estudamos, anteriormente, a relação e o papel do intérprete de
Libras em sala de aula inclusiva, muitas vezes são de discussões em um grupo
de intérprete. Por isso, peço que façam a leitura do texto “Interpretar ensinando
e ensinar interpretando: posições assumidas no ato interpretativo em contexto
de inclusão para surdos”, da autora Audrei Gesser, publicado no livro Estudos
da Tradução e da Interpretação de Língua de Sinais no ano de 2015.
A partir da leitura, respondam: qual é o papel do intérprete de língua de
sinais no cenário educacional atual?
Acesso ao artigo:
Link: https://periodicos.ufsc.br/index.php/traducao/article/view/2175-
7968.2015v35nesp2p534
78
Figura 11 - Artigo: Interpretar ensinando e ensinar interpretando: posições assumidas no ato
interpretativo em contextos de inclusão para surdos – autora Audrei Gesser.
Fonte: Cadernos de Tradução – v. 35, n.2, 2015.
79
O capítulo 4º do código de ética aborda uma temática que já discutimos
no capítulo anterior, que é a relação com os colegas de profissão:
Assim como acontece nas línguas orais, nas línguas de sinais não ocorre
de forma diferente, é preciso que os tradutores e intérpretes possuam boas
relações entre seus pares. Atualmente, são muitos os campos de atuação e
precisamos levar em consideração a experiência que alguns intérpretes já
tiveram em determinadas áreas, considerar a troca de conhecimento, valorizar
as experiências profissionais, pois estas poderão ser de grande valia aos outros,
além de difundir cada vez mais a qualidade da profissão. E o tipo de
conhecimento que citamos não é apenas aquele relacionado às estratégias
utilizadas no processo de passagem de uma língua para outra, mas também
questões, envolvendo a forma de contratação e remuneração e aumento de
oportunidades no mercado de trabalho, que notadamente está crescendo.
Em relação à remuneração, precisamos considerar a tabela de honorários
pensada, discutida e organizada pela Federação Brasileira das Associações dos
Profissionais Tradutores e Intérpretes e Guia-Intérpretes de Língua Brasileira de
Sinais (FEBRAPILS). Nesta tabela, sempre que há uma defasagem de valores
e/ou novas áreas de atuação surgem, é realizada uma atualização, tornando-se
coerente àquela determinada época.
A tabela é dividida em contextos de atuação interpretação Libras/
Português-Português/ Libras, tradução e guia-interpretação Libras/Português-
Português/ Libras e/ou Interpretação Libras/outras línguas de sinais. Alguns dos
contextos contemplados nesta tabela são: contextos de conferência, sociais,
80
artísticos e culturais, jurídicos, clínicos, empresariais, sociais, político. Tradução
técnica, literária, transcrição, entre outros.
A esfera educacional também é contemplada nesta tabela e é dividida em
níveis educacionais de ensino para a atuação – básica e tecnológica; superior;
especialização, mestrado e doutorado – e como discutimos lá no nosso primeiro
tópico, há a luta sobre melhores condições de trabalho, por isso, é preciso
conhecer e seguir esta tabela, para que todos os intérpretes possuam igualdade
salarial em qualquer cidade, estado e região deste país.
82
reflexão os postulados da pesquisadora Lacerda (2010, p. 137) que permite
entendermos melhor esta questão da formação,”o intérprete molda-se às
demandas da prática e vai constituindo-se como TILS nas e pelas experiências
que vai vivenciando”. Atuar em esferas diferenciadas proporciona aprendizado
amplo e profundo, pois há uma vivência da língua em diferentes contextos, o que
permite uma apropriação ainda melhor da língua e da cultura do surdo.
Seja um pesquisador!
83
Figura 12: Intérprete Surdo de Língua de Sinais Brasileira: o novo campo de
tradução/interpretação cultural e seu desafio – autora: Ana Regina Campello.
Fonte: Cadernos de Tradução, v.1, n33, 2014.
84
85
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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BIBLIOGRAFIA
GILE, Daniel. The Effort Models in Interpretation. In: Basic Concepts and
Models for Interpreter and Translator Training. Amsterdam/Philadelphia:
John Benjamins,1995. p.159-190.
87
HURTADO ALBIR, Amparo. A aquisição da competência tradutória:
aspectos teóricos e didáticos. In: Competência em tradução: cognição e
discurso. Org. Pagano, Adriana; Magalhães, Célia; Alves, Fábio. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2005. p. 19- 57.
89