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Copyright © 2020 Mário Lucas

ERICK – Série Alcateia: Livro 3


Mário Lucas
1ª Edição

Capa: Ellen Scofield


Diagramação: April Kroes

Todos os direitos reservados.


Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produtos da imaginação do autor. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
São proibidos o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer parte dessa
obra, através de quaisquer meios — Tangível ou intangível — sem o
consentimento escrito da autor.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei Nº . 9.610/98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Sinopse
Agradecimentos
Prólogo
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
Capítulo XXIII
Capítulo XXIV
Capítulo XXV
Capítulo XXVI
Capítulo XXVII
Capítulo XXVIII
Capítulo XXIX
Próximo Livro
Redes Socias
Sobre o Autor
Obras do Autor
AVISO: Apesar do nome da série, este livro não se trata de fantasia ou
sobrenatural. É um romance hot contemporâneo, com amor, humor, mistério,
muitas cenas quentes, e pode ser lido de forma independente dos demais.
Contém cenas de sexo explícito. Livro recomendado para maiores de 18
anos.
Erick, é um jovem conhecido por sua beleza e cafajestagem. Apelidado
de "negão" pelos amigos, ele possui a fama de sedutor e vive a vida
intensamente como se todos os dias fossem os últimos. Aventureiro, rebelde,
fogoso e inconsequente, adora desafios perigosos e adrenalina pura,
principalmente quando o assunto é mulher.
Mas tudo muda quando Kelly, uma jovem astuciosa e linda, surge em
sua vida com más intenções, ela é uma aspirante a ladra, mas na falha
tentativa de roubá-lo, acaba se apaixonando por ele, sentimento este que
deverá ser provado com uma missão: Kelly agora terá que ajudar Erick contra
um inimigo que ameaça tomar o império da mãe dele, um resort hotel à beira-
mar.
Num jogo de mentiras e vingança, nasce um amor puro, romântico e
abrasador, mas será que o casal resistirá às consequências das suas atitudes?
Por outro lado, Erick nem sonha que a mãe a quem tanto quer ajudar, esconde
um grande segredo sobre a sua vida.
À Jessica de Alcântara Figueiredo e à Alessandra Portechel, porque elas
fizeram toda a diferença.
Abro os olhos devagar, a bagunça à minha volta é grande. Estou no
quarto da minha casa de praia, jogado na cama de bruços, totalmente nu e
sozinho. Sozinho? Minha cabeça ainda está zonza da bebedeira e putaria da
noite anterior.
Pelo chão há roupas espalhadas de mais de uma pessoa, litros secos de
cerveja, e manchas de bebida. A luz do sol invade o cômodo pela janela de
onde também sopra a conhecida brisa marítima.
— Ai... minha cabeça — gemo, rouco, virando sobre os lençóis que
cheiram a sexo selvagem. Olho para o teto, de braços abertos, a ressaca me
tomando.
Apalpo o colchão, procurando minha cueca, mas não a encontro. Sento
devagar, pondo os pés no piso sujo. Levanto ainda tonto, mas fico parado por
alguns instantes para me equilibrar. Sigo até o espelho na parede, olhando o
meu rosto, os olhos bem vermelhos, as olheiras bem marcadas, cara de
ressaca braba.
Observo meu corpo negro e másculo um pouco murcho por causa do
álcool que corre por ele, vejo o sinal que possuo no ombro esquerdo, uma
pinta mais escura que a minha pele chocolate, é a minha “marca de gostoso”,
assim a chamo. Tenho uma tatuagem em cada braço, miro o meu membro,
surpreendendo-me por ele ainda estar com a camisinha, tiro-a, jogando no
chão.
Estou meio confuso, tentando lembrar direito do que aconteceu. Acho
minha cueca boxer branca em um canto e a visto. Imagens da noite passada
vêm como flashes na mente, da loira incrível comigo neste quarto. Cadê ela,
hein?
Caminho até o banheiro, pisando sobre uma calcinha e uma cueca, abro
a porta, encontrando Thiago jogado no chão com uma menina. Eles transaram
aqui? Os dois estão peladões.
— Thiago — o chamo, com a voz cansada. — Thiago.
— Hum — ele geme, ainda com os olhos fechados, virando o rosto para
o lado.
— Cadê a gata que dormiu comigo, mano?
— Foi embora ontem — responde, sonolento.
— E como é que não vi isso?
Thiago abre os olhos, percebe como está e reclama:
— Porra véi, dá licença, cadê a privacidade? Sai daqui, negão, estou
pelado!
Fecho a cara pra ele, a porta também. Idiota. Está na minha casa e me
expulsa do meu banheiro! Folgado. Mais flashes com a gatinha surgem, a
gente dançando na festa, se beijando loucamente.
— Cadê o meu celular? — Indago, procurando, não o encontrando. —
Minha carteira — também não a encontro, percebendo que a coisa é séria. —
A chave do meu carro! — Fico em pânico, esbugalhando os olhos. — Droga!
Ela me roubou! É isso! Saio do quarto apressado, desço a escada
correndo e quase caio para trás quando chego na sala de estar, vendo o
tamanho da bagaceira! Uma galera inteira dormindo por todos os cantos. Está
tudo uma verdadeira zorra, bebida para todos os lados, um caos!
Ponho as mãos na cabeça, chocado!
— Eu tô lascado — murmuro, tentando medir mentalmente o tamanho
desse estrago.
A que ponto chegou essa festa? Onde eu estava quando tudo chegou a
esse nível? Cadê a ladra que me roubou? Ela vai pagar caro por isso.
“Quando entro em movimento, nada pode me parar, e neste
meu temporal, arrastei as duas comigo, as
minhas garotas selvagens.”

— ERICK
TENSÃO SEXUAL

“Não sinto um pingo de medo”

Parnaíba, Piauí.

É manhã, estou na escola com os meus parceiros, na sala de aula,


fazendo a prova final nos primeiros dias de janeiro. Esse é o resultado por
passarmos o ano inteiro levando as aulas na brincadeira, essa é a nossa última
chance para passar pro 3º ano, entretanto, mantemos a cara de pau. Está tudo
sob controle
Eu, Thiago, Eliseu e Ramon, todos na mesma fila de carteiras, nesta
ordem, fingimos para a professora que estamos concentrados fazendo a
prova, mas a verdade é que esperamos um deslize seu para podermos trocar
as pescas. Estou com as respostas, e tenho que repassar para os demais, não
posso deixá-los reprovarem.
Shirley, a professora gostosa de matemática, passa por mim, espichando
os olhos protegidos pelos óculos sexys, observando a minha prova, e continua
caminhando, fiscalizando todos. Mordo o lábio inferior, com tesão, ao olhar
sua bunda escondida pela saia apertada que vai até os joelhos, rebolando
pausadamente. Thiago, às minhas costas, chama a minha atenção com o
olhar, pedindo ajuda.
Levanto a mão sobre o ombro rapidamente, entregando-lhe um
pequenino bolo de papel com as informações valiosas, que em seguida será
repassado para Eliseu. Ramon é o único que tenta resolver as questões
sozinho, ele vai conseguir.
— Que vergonha, os únicos da turma de prova final — comenta Shirley,
ranzinza. — Olha no que dá passar o ano não levando a escola a sério. É bom
fazerem o melhor neste exame, pois não aliviarei desta vez.
— Calma professora, vai dar tudo certo — falo, com a voz de brincalhão
e irônica de sempre.
— Melhor para você, seu Erick. Aliás, para todos vocês, porque avisei o
ano inteiro que este dia iria chegar, e olha só, eu estava certa!
Minutos depois, estamos todos sentados do lado de fora da sala de aula,
esperando o resultado. Sou o menos preocupado, pois sei que dará tudo certo,
por isso mexo no celular relaxado, enviando convites da minha festa de
aniversário pelo WhatsApp.
— Mano, tem certeza que essa pesca está certa? Se eu reprovar a minha
mãe vai me matar, véi! Não poderei sair de casa nem ir pro teu aniversário,
‘tá entendendo?! — Thiago está nervoso, ele é branco, do cabelo preto, o
mais baixo da turma, contudo, bonito.
— Vai dar certo, todas aquelas respostas estavam corretas, essa prova
‘tá no papo! — Respondo, sorrindo, confiante.
— Negão, como tem tanta certeza assim? Você não estuda! Com quem
conseguiu as respostas? — Pergunta Eliseu. “Negão” é o meu apelido. Eliseu
tem a pele morena como a minha, mas é gordinho, do pescoço largo, de
bochechas redondas.
— Segredo de estado — digo.
— Ah ‘tá! — Resmunga.
— Agora você hein Ramon, é covarde, né, respondeu a prova inteira e
não ajudou ninguém! — Acusa Thiago.
— Foi por querer ajudá-los o ano inteiro que vim parar aqui com vocês,
não poderia arriscar mais! — Ramon cruza os braços, emburrado. Ele tem
cara de nerd, usa óculos, é branquinho, de cabelos louros penteados para o
lado.
— Galera, relaxa — digo. — Ramon vai passar porque estudou, e nós
vamos passar também porque eu tinha todas as respostas. Se concentrem no
que vai rolar mais tarde, que é o meu aniversário de dezessete anos. Essa
festa tem que ser a festa!
— Mano, nem me fale, estou louco pra pegar umas turistas gostosas! —
Thiago se empolga. — O Felipe está entregando os convites lá na praia?
— Sim, já que ele não ficou de final, era a única coisa que podia fazer
— respondo. Felipe é o irmão gêmeo de Thiago.
— Não estou confiante nessas respostas — Eliseu gosta de encher o
saco, preocupado. — Se eu reprovar meu pai toma o carro, a sua mãe fará
igual, Erick.
— É..., além disso, essa professora Shirley é gostosa, mas é linha dura.
Mesmo que esteja tudo certo, acho que ela vai nos reprovar por vingança,
pelo tanto de merda que fizemos durante o ano. Minha mãe passou o natal e o
réveillon pegando no meu pé — conta Thiago.
Troco olhares com Ramon, com sorrisos marotos, de amigos, desses que
só a gente sabe o que significa. Da turma, ele é em quem mais confio para
contar os meus segredos. A professora aparece na porta da sala, fazendo
todos engolirem em seco, menos eu. Ela nos encara, tão séria que, por um
momento, até penso que dará merda.
— Aprovados — informa, nos fazendo felizes. — Agora sumam daqui!
— Nos expulsa. Obedecemos sem pensar duas vezes, saímos da escola
deserta rumo aos nossos carros. O meu é um Jeep preto dos antigos, meu
bebê, enquanto o do Eliseu é um celta caindo aos pedaços. Como a cidade é
pequena e todos nos conhecem, ninguém esquenta por sermos menores e
dirigirmos. Quem manda nesta porra somos nós, sou eu!
— Terceiro ano aí vamos nós! — Grita Eliseu.
— Ai professora Shirley, chegando em casa, eu vou passar um bom
tempo no banheiro por você, em agradecimento, gostosa! — Grita Thiago,
devasso.
— Cala a boca, filho da puta, se ela escutar irá nos reprova — Ramon
fica nervoso, todos rimos. Ele e Thiago entram no Jeep comigo, Eliseu vai
para o seu celta. Estamos em Parnaíba, cidade vizinha a Luís Correia, onde
moramos.
— EU SEI QUE EU QUERO É CURTIR MUITO NESSA FESTA
HOJE, PAPAI! — Grito, ligando o automóvel, sorrindo.
— PEGAR TURISTA GOSTOSA... — berra Ramon e Thiago, em coro.
— TURISTA GOSTOSA... — repito.
— GOSTOSA — grita Eliseu, saindo em disparada. Vou logo atrás dele,
acelerando para ultrapassá-lo, pegando rixa. O gordinho percebe e acelera
mais, juntos fazemos uma poeira monstra às nossas costas.
— EU PEGO, EU PEGO! — Grito para ele, enquanto Ramon e Thiago
gargalham alto. É uma diversão que fazemos quase sempre ao deixarmos a
escola.
— CHUPAAA — grita Thiago para Eliseu, quando o ultrapassamos,
pondo a cabeça para fora da janela. Eliseu mostra o dedo para nós, com raiva,
ele sempre perde. Recebo uma mensagem no celular, e ao ver do que se trata,
freio de uma vez, Thiago acaba batendo a cabeça na lateral da janela. —
AAAI!
Ramon gargalha, Eliseu também, parando ao nosso lado.
— Mano, foi mal, é que recebi uma mensagem importante. Vocês vão
ter que descer aí, acabou de surgir um compromisso.
— O quê? — Ramon fica indignado. — Erick, a gente tem que terminar
de preparar a tua festa, temos que ir para as praias entregar os convites para
as turistas, só o Felipe não vai dar conta.
— Sem contar que temos que ir à casa de praia ver as cervejas e o som,
que horas o DJ vai chegar? — Indaga Eliseu.
— Desgraçado, a minha cabeça está doendo! Eu podia te matar agora, se
não fosse essa festa hoje... — resmunga Thiago.
— Vai dar tudo certo, pessoal. Ramon entrega convites em Maramar
com o Eliseu, depois os dois vão para a casa de praia para adiantar as coisas.
Deixem o Thiago na Atalaia com o Felipe, eles entregam convites lá e
adiantam as cervejas que faltam, depois irei buscá-los. Lembrando que a mãe
de ninguém pode saber do nosso esquema aqui, hein. Eu apareço mais tarde,
a gente se fala pelo celular.
— E para onde você vai? — Pergunta Thiago, com raiva pela pancada
que levou.
— Esse negão vai atrás de mulher, só pode ser — Eliseu advinha,
semicerrando os olhos desconfiado.
— Desçam do carro, bando de boiola! — Ordeno, buzinando.
Eles saem, emburrados.
— Você vai ver, Erick! Está trocando amigo por mulher de novo e dessa
vez me machucou! Mano, não vou te perdoar, isso não se faz com um amigo!
— Thiago faz drama outra vez.
— Nossa, Thiago, a Globo está te perdendo. Nos encontramos mais
tarde, falou! — Despeço-me, indo embora.
— Pau no cu! — Xinga Ramon.
Dirijo pelas ruas de Parnaíba, sentindo o clima tropical da segunda
maior cidade do Piauí, perdendo apenas para Teresina. Ela se localiza na
bacia hidrográfica do Rio Parnaíba e é cortada por este que se divide em
vários braços, formando o famoso Delta do Parnaíba, o único em mar aberto
das Américas e o terceiro maior do mundo, só perdendo para o do Nilo, no
Egito, e o do Mekong no sudeste asiático.
Parnaíba é um lugar de muitas belezas naturais, com grande valor
histórico para o estado, apresentando inúmeros imóveis históricos, com
muitos pontos turísticos, que vem crescendo de forma acelerada. Amo este
local, pois me criei aqui e em Luís Correia, a cidade vizinha, onde moro,
especificamente na praia do Coqueiro, no Resort Hotel Algas, cuja dona é a
minha mãe. Contudo, estudo em Parnaíba, as escolas daqui são melhores.
Agora, sigo rumo a um esquema dos bons, gostoso, um dos melhores
que já conquistei. Minha festa será à meia noite, na virada, estou fazendo
tudo às escondidas com os meus parceiros, nossas mães não podem saber,
senão não será como queremos, dará merda, não teremos liberdade para
fazermos o que quisermos. Além disso, a minha mãe me colocou de castigo
desde dezembro, por eu ter ido para a prova final, mas essa aprovação irá
fazê-la me deixar livre novamente, com certeza.
Agora devo focar no que está prestes a acontecer, na gata que irei
encontrar. É um dos meus mais recentes esquemas aqui em Parnaíba, além
dos que já tenho em Luís Correia e região. Acho que jamais conseguirei ser
homem de uma mulher só, não posso ver uma gata atraente que me derreto
fácil, fácil. Essa que irei pegar agora, é uma grande conquista! Se todos os
meus amigos ficassem sabendo, iriam me idolatrar ainda mais. Mas já diz o
ditado: quem come quieto, come sempre.
Sorrio, safado, me divertindo com os meus próprios pensamentos.
Tenho que ser esperto, e como sempre, paro o carro uma rua antes da
casa dela, isso foi recomendação sua, nosso caso não pode ser descoberto por
vários motivos. Abaixo o espelho do teto do carro, analiso o meu rosto, me
deparando com os meus olhos verdes felinos, que sempre me rendem boas
aventuras.
Troco a farda da escola por uma regata branca, deixando de fora meus
braços sarados e negros, frutos da academia. Digamos que meu corpo se
desenvolveu mais rápido que o dos outros rapazes da minha idade, tenho uma
grande estatura, aparento ser mais velho, tipo uns vinte e dois anos, contudo,
sempre dizem que meu rosto de menino danado acaba denunciando que sou
mais jovem.
Coloco um boné preto, para tentar esconder um pouco o rosto, desço do
carro, o trancando pelo botão da chave. Chego à rua seguinte, avisto a casa
que desejo entrar, o meu alvo, caminho depressa, com a cabeça baixa,
tentando evitar qualquer reconhecimento. Passo direto pelo imóvel pequeno,
olho em volta, e como um gato, pulo o muro dos fundos rapidamente,
seguindo o caminho já conhecido. Me aproximo da casa, entro pela janela de
vidro da cozinha que me aguarda destrancada.
Alguns minutos depois, ouço o som de um carro estacionar na frente, o
portão abrindo, a chave destrancando a porta. Encosto-me na parede, a
mulher entra, com uma bolsa de lado no ombro e alguns livros no antebraço
direito. Agarro-a pela cintura, a encosto contra a porta que bate, se fechando,
ela dá um pequeno grito de susto, deixando os materiais caírem, mas ao me
vê, sorri, acalmando-se. É a minha querida e gostosa professora Shirley.
— Erick, seu maluco! Tá doido?! — Pergunta, enquanto a miro, safado.
— Tô sim professora, já estou daquele jeito..., com o pau duro feito ferro
— sussurro em seu ouvido. Ela acaricia o meu rosto, tocando os meus lábios
carnudos com o polegar, se excitando.
— Devia tê-lo deixado reprovar — comenta.
— Obrigado pelas respostas, estou aqui para agradecer.
— É? — Adoro a sua voz manhosa, olhando para a minha boca, me
querendo.
— Aham.
Nossos corpos estão colados, sou maior que ela. Lambo o seu queixo, de
leve, ela me beija, faminta, sentindo a pressão do meu cacetão contra o seu
abdômen. Nossos lábios se envolvem, esfregando e comendo uns aos outros,
nos excitando, quentes.
— Isso é tão imoral..., ninguém pode saber, Erick — geme.
— Só nós sabemos que eu te fodo gostoso, professora — a minha voz é
penetrante, intensa, sedutora. Levo as mãos para a sua bunda apertada na
saia, que parece inchar a cada instante.
— Colocou mesmo o plug como pedi? — Pergunto, saliente. Ela
assente, mordendo o lábio inferior. — Eu quero ver — sorrio, malévolo.
Seguimos para o seu quarto, nos beijando, com o calor subindo pela pele.
Abro sua blusa com força, desabotoando tudo.
— Oh! — Geme, me ajudando a tirar a sua roupa, enquanto apalpo os
seus grandes seios, vendo os imensos bicos me provocarem, me chamando.
— Fica de quatro na cama — ordeno, com a voz firme, de macho, como
ela gosta.
Este jogo de sedução com palavras sujas é o que nos fascina. Adoro
mandar e ela ama obedecer, nos divertimos com essa tensão sexual. Logo
vejo sua bunda bem arrebitada diante de mim, enquanto seu rosto fica colado
ao colchão. Levanto a sua saia com pressa e brutalidade, ouvindo a sua
respiração forte. Mordo suas nádegas branquinhas, fazendo sua pele se juntar
na minha boca e ficar vermelha, depois espalmo uma delas, descendo a
calcinha, lentamente, vendo o plug anal aparecer, enfiado no seu cuzinho,
com a base em forma de esmeralda para fora.
Sorrio de orelha a orelha, me excitando ainda mais! Ela o usou mesmo,
durante todo o tempo na escola, assim como pedi, caralho!
— Safada... gostosa... — xingo, esfregando minhas mãos na sua carne
— Quer que eu como o seu cuzinho, quer?
— Quero — geme, em resposta.
Retiro o plug bem devagar, a parte que estava introduzida no
buraquinho dela é de silicone, com a ponta redondinha, toda melada do
lubrificante. Posso até sentir o cheiro. Coloco-o na boca, absorvendo o sabor
gostoso da minha professora misturado ao lubrificante aromatizado. Está tudo
limpo e eu não tenho frescura, adoro!
Tiro a roupa, o meu pau surge poderoso, é o meu parceiro fiel, está
armado, grande, negro, da cabeça larga e vermelha, as veias quase saltando
para fora, pulsando, com o cacho de coco (vulgo bolas) inchado, com pelos
pequenos, intimidador, louco para foder. Começo o meu ritual de sempre,
balançando-o para a direita e esquerda simultaneamente, batendo-o contra o
meu corpo, pesado, fazendo barulho com esta massa grossa e vigorosa,
enquanto sorrio safado, com a língua para fora, de os olhos famintos,
desejando esta mulher!
— Vem logo, gostoso — geme a professora, doida para me dar, com o
dedinho na boca, se arreganhando ainda mais.
Abro bem as suas nádegas com as mãos e passo a língua em volta do seu
cu delicioso, molhado. Automaticamente uma onda de prazer cresce sobre o
corpo dela a ponto de fazê-la mover o corpo para a frente, mas a puxo pelo
quadril de volta para o mesmo lugar.
Chupo-a, movendo-me para os lados, para cima, para baixo, e também
fazendo movimentos circulares. Abocanho a sua carne quente e íntima,
vendo-a arrepiar, faço bom uso dos meus lábios carnudos, arrastando-os por
essa região hipersensível, descendo para sua xota que anseia por mim. Molho
um dos polegares com a saliva, o enfio no orifício da minha professora
enquanto sugo seus lábios vaginais deliciosos para dentro da boca, me
fartando.
Espalmo a sua raba, sacolejando a ponta da língua dentro da sua
xoxotinha ao mesmo tempo em que sinto o meu polegar ser pressionado por
seus músculos anais, que se contraem, piscando, abrindo e fechando com
volúpia. Como eu gosto de boceta! É a coisa mais maravilhosa que Deus fez
na face da Terra, com certeza. Obrigado meu Deus pelas bocetas que
criastes, e pelo pau que me destes para comer tais bocetas criadas, penso.
Juro que não estou sendo profano com este pensamento, apenas agradeço
realmente por uma coisa que acho essencial para viver.
Sinto o suquinho vaginal dela arder na minha boca. Que gostoso! Quero
mais! Arrasto os lábios lambuzados de volta para o seu esfíncter anal, enfio
dois dedos em suas entranhas, socando fundo várias vezes.
— Ooh... safado..., pervertido..., imoral..., gostoso..., eu vou gozar! — A
mulher arfa, com as mãos agarradas aos lençóis.
Meus dedos ficam encharcados do seu orgasmo que também a molha
inteira por dentro e por fora, deixando suas paredes vaginais tensas, nervosas,
latejando, contraindo, os lábios vaginais inchados. Delícia. Agora sim posso
continuar! Masturbo-me um pouco enquanto passeio a língua em volta da
boca, absorvendo cada fluído que ainda me lambuza, como um lobo, jogando
meu olhar faminto sobre o corpo da professora.
— Onde está a sua coleira? — Indago, com a voz cheia de tesão, sexy.
— Na gaveta — geme em resposta.
Pego a coleira de couro, colocando em sua garganta. Faço-a ficar de
quatro novamente, ponho uma camisinha, observando a ponta do meu caralho
molhada de tesão, o líquido transparente nascendo. Posiciono-me direito para
ter equilíbrio, cercando o bumbum empinado da Shirley com as minhas
pernas, preparando-me para comê-la enquanto enrolo a alça da coleira na mão
direita, puxando-a, fazendo a gostosa ficar um pouco sem ar.
— Eu vou te arregaçar — aviso, com a voz penetrante.
— Ooh — geme, ao me sentir por trás.
Ela agarra os lençóis com força quando toco a ponta do meu cacete na
entrada do seu cuzinho molhado e lubrificado. Movo o quadril, começo a
penetração, descendo a madeira devagar, de cima para baixo, vejo a cabeça
larga, carnuda e quente do meu caralho amassando, enquanto o introduzo em
suas entranhas. A professora, ao me sentir, tenta fugir outra vez, mas não
permito, faço uma enterrada gostosa, sendo ajudado pelo lubrificante do
preservativo, minhas veias pulsam enquanto os músculos anais dela lutam
contra a minha invasão, posso senti-los me pressionando e latejando.
Vou até o fim, aprofundando-me em seu corpo, atolando o seu
buraquinho de vez, nesta pressão prazerosa. Puxo-a pela coleira, fazendo-a
erguer o rosto em gemido, passando a bombardeá-la gostoso. Crio um vai e
vem intenso e forte, socando tudo sem dó e piedade. Fico boquiaberto, vendo
a mulher toda arriada para mim.
Paraliso um momento, totalmente dentro da gostosa, atolando-a até as
bolas, ela rebola a bunda com força e determinação, mexendo, fazendo da
nossa mistura algo inigualável. Sinto meu pau bagunçá-la todinha com o seu
rebolado frenético, fecho os olhos por um momento, gemendo, mordendo o
lábio inferior..., puta que pariu! Volto a comandar as investidas, meto várias
vezes sem parar, numa sequência inédita, arrombando minha professora!
Passo a brincar com ela, intercalando as penetrações entre o seu cu e
boceta. Penetro embaixo, tiro, penetro em cima, tiro, e assim por diante.
Espalmo a sua nádega, e quando sinto a vontade de gozar chegando, já sei o
que fazer, pois não gosto de ser rápido e deixar a mulher na mão. Devo ser
um macho imbatível na cama! Esse é o meu objetivo!
Olho para a parede, oi parede, tudo bem? Penso. Parede... parede, oh
parede, foca na parede, Erick. Tudo isso para retardar o gozo, uma técnica
passada de amigo para amigo. Minha língua naturalmente sai da boca,
mostrando o quanto estou sedento, o quanto gosto de sexo. Arfo, com
coração batendo acelerado, meu corpo inteiro avisa que estou prestes a gozar.
Não conseguirei segurar por mais tempo!
Parede... parede, oi parede! Parede linda, gostosa..., não!! Parede feia!
Ridícula!
Viro Shirley, deixando-a de frente para mim, arreganhada, caio sobre
ela, entre as suas coxas que apertam o meu corpo. Meto fundo em sua boceta
mais uma vez enquanto nos beijamos loucamente. A foda continua, a madeira
descendo várias vezes.
— Shirley? — A voz é de um senhor, do outro lado da porta.
— Meu pai! — Sussurra, amedrontada, esbugalhando os olhos, tentando
levantar, mas não permito, pondo o dedo indicador em sua boca.
— Está aí, filha? A porta da sala estava aberta, eu fui entrando.
— Você tem que sair daqui — ela murmura.
Balanço a cabeça negativamente. Não sinto um pingo de medo.
— Eu ainda não gozei — sussurro, em resposta, desafiador.
A FESTA

“Eu sou o rei da minha cidade, das mulheres, do mar, de tudo!


E isso me basta”

O pai dela tenta abrir a porta do quarto, a maçaneta se move, mas está
trancada, graças a mim. Sorte nossa.
— Não... — sussurra Shirley.
— Sim — insisto, devasso, libidinoso.
Assim, continuo fodendo-a gostosinho, adorando vê-la lutar para não
gemer, com o meu corpo pesando sobre o seu. Seus seios estão apertados
contra o meu peitoral, volto a beijá-la, como forma de abafar os nossos
ruídos.
— Shirley, meu amor? Dormiu? — O seu pai continua falando,
aumentando a nossa tensão sexual, o perigo, a adrenalina, a imoralidade!
Uma força poderosa passa a se concentrar em mim, acelero as estocadas,
inchando dentro da gostosa, sentindo o gozo subir, as veias pulsantes. A
fenda da cabeça do meu pau abre e fecha, ejaculo bastante, explodindo,
potente, abrindo a boca, louco pra soltar um rugido de prazer. Da mesma
forma está a professora, tentando controlar a respiração. Jogo-me ao seu lado,
fazendo barulho.
— Shirley, você está aí ou não?
— Oi pai, estou sim..., desculpa..., eu estava dormindo. Já vou sair.
Sorrio descaradamente para ela, notando a sua exaustão e satisfação.
Logo depois, vou embora, pulando a janela do seu quarto, tomando cuidado
para não ser visto, voltando feliz para o meu carro. Como diria Roberto, são
tantas emoções!
Agora sigo rumo a Luís Correia, a 14 km de Parnaíba, cerca de 20
minutos ou menos de carro. As duas cidades fazem parte dos quatro
municípios litorâneos do Piauí, Luís Correia é composta por várias praias
cujos nomes são os mesmos dos povoados, além disso, é o município com
maior extensão de litoral do estado, com um clima tropical maravilhoso.
Em pouco tempo, chego em casa, ao pequeno povoado do Coqueiro,
cercado dos mais variados tipos de casa, as de luxo, as simples, e várias
outras para alugar em alta temporada. Aqui temos bares, restaurantes, hotéis à
beira mar, é um dos points mais badalados da região. O lugar apresenta lindas
paisagens dominadas por coqueiros, praia tranquila de ondas pequenas, que é
muito procurada por praticantes de kitesurf, por ter ventos fortes durante todo
o ano.
A praia possui uma barreira de corais em parte de sua extensão, que só
fica visível durante a maré baixa, formando piscinas naturais de águas
transparentes. Posso dizer que é um cantinho do paraíso para quem gosta de
tranquilidade e diversão, e também um dos lugares mais caros para os
turistas, o nosso alvo. É uma área mais luxuosa, fica a leste do centro da
cidade, um lugar de gente bonita e jovem!
O Hotel Algas é lindo, localizado à beira-mar. A infraestrutura é
formada por chalés de um andar, distribuídos pelo espaço que ao todo contém
quarenta e dois apartamentos e suítes, duas delas com hidromassagem.
Também há dois restaurantes, estacionamento sombreado, três bares, salão de
jogos, três piscinas (duas delas com minis-tobogãs), área de lazer com campo
de voleibol, futebol, frescobol de praia, espaço para a prática de slackline, o
lounge na praia e, por fim, a minha casa.
Os chalés são construídos de pedras aparentes, na cor creme, mesclada
com colunas de madeira escura. Os apartamentos são totalmente equipados
para dar o máximo de conforto à clientela, com frigobar, som ambiente, ar-
condicionado, telefone com discagem direta, TVs, tudo com um toque de
elegância e luxo casual. As suítes ficam de frente para o atlântico.
Tenho muitas histórias para contar sobre estes apartamentos, foi em um
deles que anos atrás perdi a virgindade, com uma hóspede. Desde então as
hóspedes são o meu foco, vivo com uma ali e aqui, porque não posso perder a
chance!
Pelo fato de todo o Resort ser enorme, há ruelas ladrilhadas dentro dele
por onde estão distribuídos os chalés, um deles, menor, é o escritório da
minha mãe. O verde se encontra por toda parte, a natureza é formada de
jardins, palmeiras, coqueiros, flores e gramado, que perfuma o ambiente.
Os restaurantes ficam em pontos estratégicos para atender todo mundo,
em locais diferentes do Hotel, mas são iguais, compostos por um salão aberto
com várias mesas, espaço para banda, cozinha e banheiros. A estrutura
também é formada por pedras aparentes, mesclada com colunas e piso de
madeira escura.
O lounge é um espaço na praia, com barracas guarda-sóis de lona branca
espalhadas pelo piso de madeira escura sobre a areia branca, tudo ao ar livre,
mais barzinho, cozinha, e espaço para DJ.
A minha casa fica próxima a um dos restaurantes, um pouco escondida,
com mais privacidade. É feita de pedras aparentes escuras, um rústico
misturado a uma elegância praiana. Nela a minha mãe não trabalha, é
proibido, pois casa para ela é casa, e trabalho é trabalho.
Ao chegar na portaria, buzino para o Maicon, o porteiro, que está na
cabine tirando sua velha soneca. Ele acorda espantado com o meu barulho,
abaixo o vidro do carro já gargalhando. O senhor de uns cinquenta anos de
idade, vestido em seu uniforme com o símbolo do Hotel, resmunga da sua
janela:
— Tu quer me matar do coração, menino?! Se a sua mãe não fosse a
minha patroa, eu te dava uma surra, viu!
— Pois vem agora! — O desafio, entrando na brincadeira. — ‘Tá
pensando que tenho medo de velho, é? Velho eu jogo é no museu, viu!
— Ah, moleque! — Ele gargalha, e abre os portões.
— MAAAICON! — Grito, zoando.
— EEERICK! — Ele faz o mesmo.
Dirijo pela rua até o escritório da minha mãe.
POM! POM!
Buzino, Eduardo o secretário, aparece na porta, um homem louro com
cara de bonzinho.
— Minha mãe se encontra, Eduardo?
— Não, acho que está na sua casa — responde, vermelho do sol, tem
cerca de trinta anos.
— ‘Tá bom; ei Edu!
— Fala, Erick — diz, desgostoso, talvez já esperando uma piada minha.
Adoro encher o seu saco — Você não é mais apaixonado pela minha mãe,
não, né?
— Olha, me respeite! Quantas vezes terei que dizer que essa história é
mentira, e que... — ele fica alterado, me arrancando gargalhadas. Saio
disparado, deixando-o falar sozinho.
Troco algumas mensagens com Felipe, afirmando que logo o encontro, e
estaciono na porta de casa. Entro, já chamando por minha mãe.
— Mãe! — Corro para a cozinha, não a encontrando, subo a escada. —
Dona Helen! O primeiro quarto é o dela, abro a porta de uma vez, a encontro
se levantando da escrivaninha, assustada, fechando o notebook.
— Erick! — Briga. — Quantas vezes vou te dizer que não gosto quando
entra no meu quarto sem bater?
— Ah mãe, foi mal, eu esqueci — me justifico, estranhando o seu
comportamento — O que foi? O que a senhora tem?
— Nada, só fiquei um pouco perturbada com o seu susto — tenta
desconversar.
— A senhora estava falando com quem neste notebook, hein? —
Pergunto, desconfiado, brincalhão.
— Com ninguém, meu filho; Cadê? Já fez a sua prova final? E aí?
Faço uma cara triste, mirando o chão.
— Ah não, não vai me dizer que reprovou, Erick! Tudo menos isso.
Olha...
— EU PASSEI! — Grito, a abraçando forte, tirando-a do chão com
facilidade, rodando-a, sorrindo. Minha mãe parece uma marionete em meus
braços.
— Para! Me põe no chão! — Ordena, séria. — Você não fez mais do
que a sua obrigação! Aliás, a sua obrigação era ter passado de primeira, e não
ter ido fazer prova final, em pleno início de janeiro, na véspera do seu
aniversário. Estou muito magoada, viu!
— Ah mãe, eu passei, meu. O importante é isso. Foi só um vacilo que
dei em matemática, mas já corrigi. Seu filho aqui é superinteligente, tirei dez,
pode confiar! — Vanglorio-me, tentando tirar a sua chateação.
— Sei..., e nem pense que porque amanhã é seu aniversário, você vai
sair hoje, nem pense! Ainda está de castigo.
— Mãe, como assim?! Eu passei! — Já fico nervoso.
— Repito, não fez mais do que a sua obrigação, mas está proibido de
sair do Hotel — responde, enquanto se olha no espelho da parede, arrumando
o cabelo louro. Ela usa um lindo vestido azul.
— Mas amanhã é o meu aniversário.
— E...?
— Ah, quero curtir com os meninos!
— Curtir como? Aonde?
— Ah..., na casa de um deles...
— Está mentindo, se quer curtir, curte aqui, sob as minhas vistas, você
já me aprontou muito, Erick, não vai fazer merda de novo.
— Mãe, só ficarei com meus amigos — insisto, fazendo cara de
cachorro pidão.
— Não, se quiser os traga para cá.
— Posso pelo menos ir lá falar com eles sobre vir para cá, então?
— Onde?
— Na Atalaia — respondo.
— ‘Tá bom, mas não demore.
— O.K. — Saio rápido, antes que ela mude de ideia.
Entro no meu quarto, que fica ao lado, e é uma zorra, todo bagunçado,
roupa pelo chão e em todos os cantos. Sento-me na cama, retiro os tênis, e
troco de roupa, pondo uma bermuda. Em seguida, corro, descendo as escadas,
e antes de vazar, ouço o grito da minha mãe:
— Não demore, hein!
— ‘Tá bom, mãe! — Reviro os olhos, chateado! Droga, ela e seus
castigos! Só por causa dessa maldita prova final, aliás, maldita nada, bendita,
bendita prova final.
Em minutos, chego à praia de Atalaia, que lembra aquelas de novelas,
com águas verdes revoltosas, de ondas fortes e espumantes. A margem é
repleta de barracas de palha, lotadas de turistas, com banhistas para todo lado.
Luís correia possui muitas praias, e a conurbação delas forma o município.
Encontro os gêmeos na grande e lotada barraca do nosso parceiro
Pedrão, eles, assim como eu, usam camisa regata, bermuda e chinelos, a
típica roupa de praia.
— Olha aí o homem! — Diz Felipe, sentado numa mesa com Thiago,
me esperando.
— Não queria vir mais não, é? — Indaga Thiago, emburrado.
— Estava enrolado com a minha mãe. E aí, cadê as cervejas? —
Pergunto, em tom baixo.
— Estão só esperando você chegar para levarmos pro carro — responde
Felipe.
Assim, pegamos as caixas de cerveja e colocamos no porta-malas, e
mais outras duas no banco de trás.
— Falta só mais uma caixa, meninos. — Informa Pedrão.
— Thiago, vai pegar com ele — digo.
Em resposta, ele me mostra o dedo, dizendo:
— Olha aqui para você, vá tu! Eu passei o resto da manhã toda
entregando os teus convites enquanto você comia alguém por aí. Vá
trabalhar, folgado!
Felipe gargalha comigo, adoro aborrecer os meus amigos.
— E vai logo, mano, que não podemos ficar dando bandeira aqui.
Ninguém pode nos ver com esse tanto de cerveja, senão estamos lascados —
avisa ele, parando de rir.
— Isso é verdade — confirma Pedrão. — E que ninguém fique sabendo
que eu a forneci a vocês, hein.
— Calma, Pedrão, vai dar tudo certo, vamos para longe, ninguém vai
ficar sabendo. E o senhor como sempre será bem recompensando.
— Então vamos logo.
O carro está parado bem atrás da barraca dele, no calçadão, ao lado da
avenida que divide a cidade do mar. Ao passar entre as mesas, esbarro sem
querer numa garota que parece surgir do nada, que me chama a atenção. Ela
me cativa de cara, com seus olhos azuis fascinantes. Retiro até os óculos
escuros para contemplá-la melhor.
Ficamos aqui, nesta troca de olhar intensa e quente. Ela me seduz com o
seu rosto perfeito, felino, selvagem, de lábios carnudos e rosados, nariz
pequeno, de olhar que me enfeitiça a cada segundo. O seu cabelo loiro e
molhado, para trás, denuncia que ela vem do mar, sua pele ainda está
molhada, coberta apenas pelo biquíni tentador. Quanta beleza numa pessoa
só, meu Deus!
A garota abre seu sorriso encantador, me fazendo engolir em seco, é
tudo rápido e ao mesmo tempo devagar. Finalmente ela desvia do meu
caminho, os meus olhos seguem o seu caminhar, vejo sua bunda durinha
rebolar naturalmente até a mesa onde se encontra sozinha. Sozinha? Um
mulherão desses não pode estar sozinha, ela parece ter no máximo uns
dezoito anos, senão menos. Será?
Respiro fundo, preparando-me para atacar. Meu corpo já está quente,
vendo-a vestir sua saída de praia transparente, curta, deixando suas belas
pernas à amostra, a cinturinha perfeita, toda uma delícia, um pecado. Ela me
vê chegar, rodeando a sua mesa, até que paro em sua frente.
— ‘Tá sozinha? — Pergunto, a encarando profundamente, jogando o
meu charme.
— Agora não mais — responde, sua voz é doce, agradável.
— Eu sou o Erick.
— Kelly — ela ri novamente. Não consigo explicar este tipo de atração
que sinto agora, meu peito palpita, a minha respiração pesa, mas me controlo,
não quero transparecer nenhum tipo de ansiedade.
— O que vai fazer hoje à noite?
— Não sei, ouvi dizer que aqui a noite é um pouco parado.
— Mas a de hoje não será — pego a carteira no bolso traseiro da
bermuda e lhe entrego um convite, um cartão preto, com um endereço.
— O que vai ser lá?
— Uma festa muito boa, se você for será melhor ainda.
— Eu vou pensar.
— Se for não vai se arrepender. Estarei te esperando.
POM!
Os gêmeos buzinam o carro do calçadão, chamando a minha atenção
— Meus amigos estão me chamando, tenho que ir — informo.
— Aquele é o seu carro? — Hum, ela gosta de carros. Legal.
— Sim — me despeço.
Minutos depois, dirijo para a praia de Macapá, o local da festa, onde
tenho uma casa de praia. É o lugar perfeito para fazer muito barulho, já que é
mais afastado de tudo.
— Convidaram turistas gatas? — Pergunto aos gêmeos. Felipe está
sentado ao meu lado, Thiago atrás, segurando as caixas de cerveja para não
caírem.
— Um monte de gata, mano, e quando falamos que a cerveja era livre,
elas ficaram muito interessadas — conta Felipe, animado.
— Tomara que venham todas, era cada delícia! — Lembra Thiago,
animado, e todos sorrimos.
Chegamos em Macapá, um lugar calmo e bucólico, em sua maior parte
deserto, de águas verdes e boas para a prática do kitesurf. Aqui também é um
paraíso, na maré baixa os bancos de areia parecem dunas conectadas pela
água.
Paramos em uma casa de praia bonita, de pedras brancas aparentes e
algumas paredes em amarelo, com alpendres ao redor de colunas em madeira
erguidas sobre a calçada. O imóvel possui um andar, é cercado por muros
altos, coqueiros e grama verdinha. Possui piscina, e as janelas são em vidro.
Há uma cancela de madeira como portão de entrada.
— É nessas horas que agradeço por ter esse meu amigo rico, meu Deus!
Erick, cara, essa sua casa de veraneio é show! — Thiago não reduz a
empolgação, sorridente.
— Toda vez que viemos aqui você diz isso, Thiago. E para de me
chamar de rico. — Peço.
— Mas se tu é rico, porra! — Reitera.
Da minha galera, sou realmente o que possui maiores condições, vida
boa, mas nem sempre foi assim. Quando criança, o Hotel ainda era apenas
uma pousada, cresci com os meninos do povoado, minha família cresceu nos
negócios, hoje temos dinheiro, contudo, nunca larguei os meus amigos. Tudo
que tenho e vivo acabo compartilhando com eles, porque só tem graça assim,
não gosto de ficar sozinho, adoro gente, alegria, curtição e festa!
Os gêmeos pertencem a uma família de pescadores. A família do Eliseu
trabalha no ramo das pousadas, a do Ramon com barracas na praia. Todos
somos amigos desde sempre, mas somente com Ramon divido as minhas
histórias mais secretas.
— Sorte nossa que ninguém alugou ela até agora, e olha que ainda
estamos em alta temporada — observo, me referindo à casa.
A minha mãe aluga o imóvel em época de alta temporada, que é julho,
agosto, dezembro, até metade de janeiro, período de férias ou feriado
prolongado, quando Luís Correia enche de turistas. Como o meu aniversário
é no início do mês, ainda dá tempo de chamar uma mulherada imensa para o
evento. Buzino para Eliseu e Ramon, que saem da casa.
— Ah, pensei que vocês não chegariam mais! — Diz Eliseu, mirando o
relógio de pulso.
— Bora, zé do bode, para de reclamar e vamos trabalhar, que hoje à
noite aqui vai encher de mulher, papai! — Abro o porta-malas. — Mas a
minha mãe não pode sonhar que estou usando esta casa pra fazer aniversário.
— Por quê? Achei que depois que você falasse que passou de ano, a tia
iria amansar — comenta Ramon.
— Que nada, ainda estou de castigo, vou ter que fugir de casa, mas vai
dar certo.
— Mas também, lembram da festa de aniversário do Erick do ano
passado? Quase tocamos fogo no Resort — lembra Eliseu, todos rimos.
— Agora vamos trabalhar, galera! — Comando, assim partimos para
colocar a mão na massa!
Nos dividimos em duplas, carregamos as caixas de cerveja para os
frízeres espalhados pela casa, que por sinal, ficam lotados. O DJ e sua equipe
chegam e montam todos os equipamentos de som, eu quero ver esse chão
tremer com o paredão enorme que consegui. Também há jogos de luzes com
efeitos especiais para criar um estilo meio balada. Montamos tudo e
terminamos às 17h.
Há um momento em que Ramon me chama num canto.
— E aí, comeu a professora de novo? — Sussurra, curioso.
— Claro, mano, o Erick aqui não brinca em serviço. Finalizei!
— Aaah moleque! É por isso que eu te amo, tu é demais, cara! — Ele
me abraça, rindo.
Após deixar tudo pronto, volto para casa sob as ligações da minha mãe,
que hoje está insistindo em pegar no pé. Que saco!
— E aí, filho, seus amigos vão vir pra cá? — Ela pergunta, assim que
entro em casa. Está deitada no sofá, assistindo.
— Só amanhã, hoje todos estão ocupados — minto, me aproximando.
— Amanhã eu faço um bolinho pro meu neném.
— Ah, dona Helen, agora lembrou que sou seu filho? Só me tratou mal
hoje — faço drama.
— Não lhe tratei mal, só te lembrei que está te castigo.
— O que a senhora está fazendo aqui a essa hora? — Pergunto,
surpreso, pois normalmente ela estaria trabalhando.
— Estou exausta, muito trabalho hoje, me dei folga. A Maria e o
Eduardo cuidarão de tudo.
— Ah tá.
— Vem cá, dá um beijo na sua mãe — pede, a obedeço, com muito
carinho, lhe abraçando também e caindo em cima dela como uma árvore
desaba sobre uma formiga. — Sai... que não te aguento mais, está muito
pesado esse meu bebêzão, Jesus.
Sento-me no chão, encostando no sofá, sorrindo. Olho para a TV, vejo
uma cena da novela, de pai e filho.
— Mãe, a senhora já imaginou como seria se meu pai estivesse vivo? —
Pergunto, um pouco sonhador. É sempre assim, todo ano lembro do pai que
nunca tive, que morreu antes de eu nascer.
— Meu filho... — minha mãe não gosta de falar sobre o assunto.
— Eu sei que a senhora não gosta de falar dele.
— Não é que eu não goste, é que... é como lembrar do seu avô..., me
deixa triste — a sua voz fica um pouco abalada, e começo a acariciar o seu
cabelo.
— Eu sou mesmo parecido com ele? — Tento imaginá-lo, já que
também não existe nenhuma foto sua.
— Sim, diria que até demais, menos os olhos, você tem...
— Os seus olhos, eu sei — completo, sorrindo.
— E vocês não são parecidos só por fora, por dentro também. Seu pai
era muito safado quando se tratava de mulher, ele nunca foi só meu — conta,
tristonha, reflexiva. — Que fique claro que isso não é uma coisa boa, não
gosto de ver você com as cinquenta namoradas que tem na cidade, isso não é
certo, não se faz. Não quero mais receber reclamação da mãe de ninguém,
como eu já disse, se você aparecer com um bebê aqui...
— Eu me protejo, mãe, me protejo. Estou solteiro, não sou
comprometido com ninguém, não consigo ser de uma só — a provoco, pois
sei que ela odeia esses tipos de comentários.
— Safado! — Recebo um tapinha no ombro, aproveito o momento para
partir para cima dela, a beijando várias vezes no pescoço, fazendo cócegas.
— Para, menino! — Paro, a olhando nos olhos com amor. — Eu te amo,
meu filho, te amo muito.
— Também te amo, mãe — a abraço.

Mais tarde, estou pronto para a minha festa, de calça jeans rasgada,
tênis, camisa polo branca, relógio caro no pulso, a carteira cheia da grana e
camisinhas. São exatamente 23:00h e a minha mãe continua na sala, lá
embaixo, sem dormir, assistindo TV. Tento fugir três vezes, mas não rola.
Agora tentarei outra vez. Entretanto, mal saio do quarto e já entro novamente
ao vê-la subir pela escada, em seguida escuto seus passos até o seu quarto, o
trancar da porta, esta é a minha chance!
Em segundos, estou do lado de fora, dirigindo depressa. Recebo uma
ligação do Ramon.
— CARALHO MANO, ONDE ESTÁ VOCÊ? A FESTA ESTÁ
BOMBANDO! — Grita, com a voz de bêbado.
— Tô chegando, já chegando! — Fico empolgado.
Acelero até chegar na festa, que está lotada de gente bonita, jovem, a
maioria desconhecida, mas não me importo, esse era o objetivo! Passo pelas
pessoas que dançam loucamente ao som do paredão, me aproximo da piscina,
chamando a atenção de vários olhares. Thiago, que dança perto do DJ, sorri
de orelha a orelha ao me fitar, sobe no pequeno palco e pede para baixarem o
som, tomando o microfone.
— Agora sim, galera! Chegou o dono da festa, recebam com aplausos:
ERICK! — Grita, apontando para mim.
Todos batem palmas, recebo uma garrafa de cerveja. Várias músicas
eletrônicas tocam, Felipe, Thiago e Ramon já estão com suas gatas, menos
Eliseu que, como sempre, não tem coragem de chegar em ninguém.
Quando o álcool sobe, até parece que conhecemos todos aqui, vira uma
festa de amigos de infância que dançam juntos e brincam na zoação. É muita
diversão e loucura. O DJ passa a tocar um pouco de funck, tenho umas três
gostosinhas sarrando em mim, descendo até o chão enquanto seco mais
garrafas de cerveja, pois adoro beber e me esbaldar!
Próximo da meia-noite, todos começam a fazer uma contagem
regressiva para me parabenizar, em frente à piscina, os parceiros estão ao
meu lado, recebo milhares de parabéns. Eu sou o rei da minha cidade, das
mulheres, do mar, de tudo! E isso me basta.
No meio da mulherada que me cerca, avisto Kelly, a loiraça linda que
encontrei hoje de manhã na praia. Ela me observa sedutora, está
simplesmente maravilhosa! Saio de perto das outras, vou em sua direção, a
perdendo de vista por alguns instantes até encontra-la se afastando de todos,
saindo pela cancela.
A encontro encostada no muro, magnífica, em um vestido tubinho, de
saltos, com o cabelo loiro solto, bem maquiada, o que a deixa ainda mais
linda. Essa boca de batom vermelho acaba comigo! Paro em sua frente, bebo
até o último gole de cerveja e jogo a garrafa na areia, enquanto encosto o meu
rosto no seu. Nossos corpos se colam, transpassando calor, gerando uma
química potente!
— Te encontrei — diz, sorrindo.
— Você é um sonho? — Indago, hipnotizado por sua beleza extrema.
— Não... eu sou a mais pura realidade.
A garota coloca sua língua saliente e gostosa entre os meus lábios
carnudos, invadindo a minha boca, me fazendo fechar os olhos. Que
tentação! A correspondo, a agarrando pela cintura, pressionando seu corpo
contra o meu, fazendo-a me sentir duro e forte enquanto nos beijamos. Quero
muito essa gata, e irei tê-la, agora!
PESADELOS

“É o meu único filho, meu amado primogênito”

Nosso beijo é quente e avassalador, parece até que nossas bocas foram
feitas uma para outra. Esse corpinho delicioso dela pressionado contra o meu,
seu perfume gostoso que me invade. Kelly está me fazendo delirar, e quero
mais! Muito mais.
Ela vira o rosto, desgrudando as nossas bocas, ofegante. Ficamos sem
ar!
— Eu não sabia que era uma festa de aniversário, no convite só dizia ser
uma festa, com bebida livre — comenta, mudando de assunto.
— Essa era a intenção. Eu e meus amigos achamos que se colocássemos
“festa de aniversário”, a galera não iria querer vir.
— Inteligentes — elogia. — Quantos anos você ‘tá fazendo?
— Dezessete.
— Eu tenho dezoito. Bem, vamos curtir seu aniversário então.
Kelly me puxa pela mão e nos leva de volta à balada. A observo dos pés
à cabeça de novo, a gata sabe se vestir, tem estilo, usa um daqueles colares
tipo coleira, brincos e pulseira. Com certeza é a mais bonita da festa, gostosa,
e de um sorriso encantador, sedutor, que me enfeitiça a cada momento que
passamos juntos.
Dançamos com as luzes e efeitos especiais nos iluminando na escuridão
gostosa. Ela se diverte, esfregando o corpo no meu sensualmente,
gargalhando. De onde veio? Quem é? Há algo de diferente nesta garota, que
ainda não consigo explicar. Ela é como uma sereia, me carregando até um
mar de emoções. Não sinto apenas vontade de possuí-la, mas de conhecê-la
melhor. Ela emana uma energia boa e excitante que unida à minha parece nos
fazer voar em pensamento.
Kelly continua me provocando, me seduzindo, mas também não facilito
as coisas para ela, esfrego suavemente as mãos por seus braços, com o rosto
colado ao seu, sentindo seu perfume. Alguns diriam que fazemos a dança do
acasalamento, porque está quente e sensual! Seco mais uma garrafa.
Ramon aparece de repente, me abraçando, acompanhado de uma
menina.
— ERICK MANO, ESSA FESTA ESTÁ DEMAIS! — Grita no meu
ouvido, devido ao som alto.
— DEU TUDO CERTO, COMO PLANEJAMOS — o respondo.
— Quem é essa gata, mano?
— Linda, né, vai ser minha; cadê os meninos?
— Sei lá daqueles veados, vou ali satisfazer as minhas necessidades.
Tchau, negão! — Ele se vai, volto para a loira que me abraça.
— Fazia um bom tempo que eu não vinha para uma festa boa assim —
comenta, em meu ouvido.
— ‘Tá gostando? — Pergunto.
— Muito. Estou curtindo bastante. — Ela busca um novo beijo, por mim
tão esperado. A tomo em meus braços, nossos lábios voltam a ter contato
constante, se tocando, esquentando um ao outro.
— Que tal curtir agora só nós dois? — Proponho.
Recebo seu olhar de danada e concordância, puxo-a pela mão, a levo
para o primeiro andar. No meio do caminho, a gata pega uma garrafa de
cerveja. Subimos a escada, encontro dois casais ficando no corredor, mas o
quarto continua trancado, a chave está comigo, pois não sou otário, o reservei
para mim. Destranco, entramos.
— Essa casa é linda, esse quarto. Tudo aqui é seu? — Pergunta, indo até
a janela, vendo a galera dançar e se divertir lá embaixo. A abraço por trás,
beijo o seu ombro nu, molhando a sua pele com a língua. A loira fecha os
olhos, se excitando.
— Sim — respondo. — A minha família também é dona de um hotel à
beira-mar, na praia do Coqueiro.
— Nossa — diz, impressionada.
— De onde você é? Nunca te vi por aqui. — Ela vira, segurando o meu
rosto entre as mãos.
— Dos seus sonhos — responde.
Sorrio, voltamos a nos beijar com fogo. O nosso toque parece um sonho,
possuindo uma química perfeita. Desço as mãos para sua bunda apertada
nesse vestidinho, puxo-a para o meu colo, tirando-a do chão, sustentando seu
corpo no meu. Suas pernas laçam o meu quadril, ouço o seu gemido ao sentir
a minha força, minhas pegadas em sua bunda e coxas.
Nos beijamos com gosto, selvagens, nossas bocas nos transformando em
um só. Sento na beira da cama, Kelly remexe a bunda em cima do meu
cacetão, o sentindo duro sob a calça. Levanto seu vestido, aperto as suas
nádegas quentes, espalmando uma delas com muita força.
— Aaai! — Ela geme, mordendo o meu lábio carnudo.
A gata sai do meu colo, se ajoelhando à minha frente. Ah, não acredito
que ela quer me chupar! E sem eu precisar pedir! Que maravilha! Ajudo-a a
abrir a minha calça, colocando o meu membro para fora, decido tirar tudo
logo, não gosto de nada me prendendo neste momento, fico despido da
cintura para baixo.
Noto a surpresa dela ao ver o meu pau chocolate, extremamente duro e
forte em sua frente, gigantesco, viril. Kelly engole em seco, parece
intimidada, suas bochechas até coram, o que me excita ainda mais, me
abrindo um sorriso de satisfação e orgulho. Mas ela começa o boquete
devagar, perdendo a timidez aos poucos, pondo a cabeça da minha rola
dentro da sua boquinha, lambendo-a lá dentro de todas as formas possíveis,
me deixando louco, me fazendo revirar os olhos em gemido.
Ela sabe chupar, me afundando garganta abaixo, seus lábios esfolam ao
se esfregarem no corpo do meu membro, recebendo essa massa negra e
volumosa, me fazendo pirar, latejando de tesão!
Em um momento, sinto necessidade de assumir o controle, enrolo a mão
em suas madeixas douradas, passando a controlá-la e fodê-la, fazendo-me ir e
vir, pressionando sua língua, deixando-a sem espaço, tocando o céu da sua
boca, roçando em seus dentes. Ela afasta o rosto, ofegante, não é fácil me
aguentar. Mas quero mais!
Levanto, trago o seu rosto de novo para o meu pau, esfregando-o na sua
face, brincando, lambuzando-a, dando batidinhas em suas bochechas
vermelhas, devasso, libidinoso, imoral. Em seguida, enfio o máximo que
posso outra vez, bem devagar, entrando e saindo, bombando, Kelly
novamente pede arrego, tossindo, babando.
— Vem cá, vem! — A puxo pelo cabelo para um beijo molhado, me
surpreendo quando sou masturbado. Sua mãozinha se perde em mim, queimo
com o seu toque apertado. Novamente pressiono a sua bunda, dou-lhe mais
uma tapa, a jogo na cama com brutalidade.
Tiro os seus saltos e puxo o seu vestido, delícia! Jogo a minha camisa
longe, ficando nu por completo, Kelly me admira, observando cada pedaço
meu, principalmente o meio das pernas, assim como faço com ela,
contemplando seu corpinho feminino que me deixa alucinado de luxúria.
Caio em cima dela, esfregando minha pele quente na sua, arrastando o pau
em brasa por sua bocetinha, pressionando-o contra o seu abdômen.
— Ooh, Erick! — Mia, adoro quando chamam o meu nome.
— Gata gostosa do caralho — Rosno, apertando os seus seios delicados,
fazendo-os estufar entre os meus dedos. Chupo cada bico delicioso que se
perde dentro da boca e possuem um sabor inigualável. Giro a língua várias
vezes em volta deles, me alimentando, me satisfazendo.
Kelly roça as unhas no meu cabelo, arfando ao mesmo tempo em que
roça as pernas entre o meu corpo, me laçando, louca para me dar! Volto a
beijá-la, meus lábios carnudos são consumidos de forma voraz, ela gostou
deles, é perceptível, pois me toma como se precisasse disso para viver.
Escorrego uma das mãos por seu corpo, passo os dedos por dentro da sua
calcinha, sentindo a sua intimidade molhada vibrar ao meu toque instigante e
provocante. Afundo a língua em sua boca, sou sugado imediatamente, em um
contato que abafa os nossos gemidos.
Esfrego o dedo médio entre seus lábios internos e sensíveis, em
movimentos de vai e vem, excitando o seu clitóris, deslizando entre suas
carnes íntimas, criando ondas de energia sexual, fazendo-a queimar. Retiro a
sua calcinha, escorregando a peça por suas coxas douradas, ansioso, chocado
com tanta perfeição. Quando vejo sua xoxotinha apetitosa aparecer brilhando
do seu mel, sorrio, faminto, arrastando a língua enorme e pontuda em volta
da boca, como um lobo, sedento. Nunca vi uma tão maravilhosa, parece até
falar comigo, me chamando, vem Erick, me chupa, me come, e a respondo
mentalmente, já vou, coisa linda da minha vida.
Arreganho as coxas da gata, abrindo-a até o limite, deixando seu monte
de Vênus completamente disponível, para o meu bel prazer. O beijo gostoso,
delicadamente, devagarinho, intenso.
— OOOH — Kelly quase grita, enquanto recebe a minha língua
saliente, ávida.
Lambuzo seus lábios vaginais de lado a lado, fazendo a garota perder os
sentidos e gemer cada vez mais alto, apertando os próprios seios, uma
imagem que me fascina e faz meu cacete pulsar, batendo contra a barriga,
querendo foder. Porém, preciso ter paciência, porque adoro fazer uma oral de
tirar o fôlego.
Sugo a sua vulva, desço em movimentos circulares até o seu cuzinho
rosado. É tudo lindo aqui, o verdadeiro significado de perfeição! Uma boceta
toda rosinha, inchada, de lábios acentuados, leves, lembrando pétalas de uma
flor cheirosa e necessitada. Kelly então me surpreende, erguendo os quadris,
fazendo-se mover na minha boca para cima e para baixo. Entro nesta dança,
arrastando a língua em todas as direções possíveis e impossíveis, lambendo e
chupando com gosto. Como é bom! Obrigado meu Deus por estas xoxotas!
Dessa vez não posso esperar, tenho que me sentir dentro dessa garota o
quanto antes, estou louco por ela! Levanto, começo o meu ritual, balançando
o quadril, sacudindo o caralho de lá para cá, quente pelando. A língua está
para fora, como um lobo sedento, o cacho de coco cresce, escuro, volumoso.
Visto a camisinha, pairando sobre Kelly, abrindo as suas pernas com as
minhas, abaixando o meu quadril num molejo veloz, penetrando suas
entranhas macias sem precisar usar as mãos. Gememos juntos quando meu
saco quase bate contra o seu orifício.
Sinto o pau afundar com dificuldade por suas paredes vaginas. Ela me
aperta e contrai, enquanto latejo e cresço ainda mais, a possuindo, a
dominando, a tomando para mim, viril, forte. Chego ao seu limite, Kelly
arranha as minhas costas, possuída pelo desejo. Nossa união proporciona um
prazer imenso, entretanto, noto um traço de dor na expressão dela, já que sou
grande e grosso. Seus olhos até brilham, me encantando.
— Você é muito grande para mim — geme, inflando o meu ego, me
deixando doido. Fico alucinado, com o coração palpitando.
— Sua boceta é tão apertada..., tão gostosa, gata — murmuro, rouco. —
Eu vou arregaçar você — rosno.
Soco o pau nela em um desce e sobe lento, para não machucá-la, indo
somente até onde pode aguentar, mas a cada estocada, aprofundo-me um
pouco mais, atolando-a enquanto chupo o seu pescoço. A loira põe as mãos
no meu peitoral, tentando de alguma forma controlar as penetrações para que
não doam, grunhindo de prazer, observando-me arrombá-la devagarinho.
Após alguns minutos nesse vai e vem moderado, acelero as estocadas,
metendo com força e rapidez, do jeito que adoro. Quando ela geme mais
forte, me torno menos intenso, variando os golpes, sempre entre a potência e
a leveza, a fodendo com bastante tesão.
Tanto eu como ela parecemos sofrer uma espécie de tortura do prazer,
chegando ao limite da volúpia. É uma conexão imensurável, algo surreal, que
não lembro de ter sentido com outra pessoa, está sendo fantástico porque
Kelly sabe contribuir e mexer com o meu psicológico, retribuindo tudo de
volta, em uma atração explosiva.
Continuo arregaçando-a, fodendo-a como uma máquina, mas tentando
ser cuidadoso, descendo a madeira, metendo, golpeando, enterrando numa
pressão sem igual, libidinoso, lascivo, delirante! Os gemidos dela crescem, as
veias da sua garganta aparecem.
Percebo que Kelly vai gozar, não paro, continuo batendo o saco contra
seu cu, fazendo barulho e, de repente, acontece um fenômeno: o corpo da
loira fica todo vermelho em segundos, mudando de cor literalmente, ela
explode, esguichando pelas brechas existentes entre a nossa união, nos
molhando! Fico chocado, pois nunca vi uma mulher esguichar na minha vida,
até paro com os movimentos, a contemplando, acariciando o seu rosto.
A garota ofega, de olhos fechados.
— O que foi? — Pergunta, notando um Erick abobado.
Respondo com um beijo intenso, voltando a comê-la gostosinho, logo
sua pele muda de cor outra vez, me deixando perplexo por perceber que a
gata vai para o segundo orgasmo! É um seguido do outro! É uma experiência
até então desconhecida para mim. Aproveito o momento para descarregar
todo o meu tesão também, o poder sexual do meu corpo segue fulminante
para a cabeça do pau, a fenda dela pisca, explodo junto com Kelly, em um
frenesi avassalador!
— AAH! — Urro, gozando muito, ejaculando em grande quantidade,
descarregando toda essa energia para fora do corpo através da rola,
enfraquecendo logo em seguida. A minha respiração quebra várias vezes, sou
tomado por milhares de sensações prazerosas, o coração bate em ritmo
acelerado, os olhos fechados mostram o quanto sinto o orgasmo.
Afundo o rosto no pescoço da loira, ofegando, com os músculos ainda
vibrando. Ela parece destruída, exausta, incrivelmente impressionada
comigo. Aos poucos a sua pele volta ao tom normal. Sinto as últimas gotas
do meu leite preencherem a camisinha dentro da sua boceta nervosa.
— Essa foi... a melhor transa da minha vida — confesso, me jogando ao
lado, e ela ri.
— Foi a minha melhor também..., não esperava por isso..., meu Deus.
Retiro a camisinha lotada de porra, jogando-a para longe.
— Vamos de novo? — Convido.
— Mas já? Quer me matar?
— Talvez — sorrio, acariciando o seu rosto. — Você é linda demais —
a elogio, a beijo carinhosamente.
— Você é perfeito com essa boca e estes olhos. Nunca me senti assim
com um garoto..., foi especial — confessa.
— Vai ser especial a noite inteira.
— E o seu aniversário?
— Foda-se, aniversário eu faço todo ano, agora você, nem sei quando
vou te ver outra vez. Isso se... eu te deixar ir.
— Não pode me impedir de sumir.
— Não duvide de mim, gata.
Ela ri, corando, e por algum motivo se cobre com o lençol.
— Tu seria um ótimo namorado, sabia? — Indaga.
— Hoje sou seu namorado, então. Você é minha e eu sou seu, só seu.
— Nossa, aprendeu essas frases prontas com quem? Com o seu pai?
— Meu pai morreu quando eu era pequeno, nem lembro do seu rosto —
conto.
— Ah, me desculpa.
— Tudo bem. Mas respondendo a sua pergunta, acho que é genética.
Ela gargalha.
— Pode ser, ou você copiou de algum lugar.
— A minha mãe assiste algumas novelas, sabe...
— Ah, te peguei! — Ela dá um tapinha em meu ombro, voltamos a nos
beijar em meio às gargalhadas. Me excito, partimos para o segundo round!
Abro os olhos devagar, a bagunça à minha volta é grande. Estou no
quarto da minha casa de praia, jogado na cama de bruços, totalmente nu e
sozinho. Sozinho? Minha cabeça ainda está zonza da bebedeira e putaria da
noite anterior.
Pelo chão há roupas espalhadas de mais de uma pessoa, litros secos de
cerveja, e manchas de bebida. A luz do sol invade o cômodo pela janela de
onde também sopra a conhecida brisa marítima.
— Ai... minha cabeça — gemo, rouco, virando sobre os lençóis que
cheiram a sexo selvagem. Olho para o teto, de braços abertos, a ressaca me
tomando.
Apalpo o colchão, procurando minha cueca, mas não a encontro. Sento
devagar, pondo os pés no piso sujo. Levanto ainda tonto, mas fico parado por
alguns instantes para me equilibrar. Sigo até o espelho na parede, olhando o
meu rosto, os olhos bem vermelhos, as olheiras bem marcadas, cara de
ressaca braba.
Observo meu corpo negro e másculo um pouco murcho por causa do
álcool que corre por ele, vejo o sinal que possuo no ombro esquerdo, uma
pinta mais escura que a minha pele chocolate, é a minha “marca de gostoso”,
assim a chamo. Tenho uma tatuagem em cada braço, miro o meu membro,
surpreendendo-me por ele ainda estar com a camisinha, tiro-a, jogando no
chão.
Estou meio confuso, tentando lembrar direito do que aconteceu. Acho
minha cueca boxer branca em um canto e a visto. Imagens da noite passada
vêm como flashes na mente, da loira incrível comigo neste quarto. Cadê ela,
hein?
Caminho até o banheiro, pisando sobre uma calcinha e uma cueca, abro
a porta, encontrando Thiago jogado no chão com uma menina. Eles transaram
aqui? Os dois estão peladões.
— Thiago — o chamo, com a voz cansada. — Thiago.
— Hum — ele geme, ainda com os olhos fechados, virando o rosto para
o lado.
— Cadê a gata que dormiu comigo, mano?
— Foi embora ontem — responde, sonolento.
— E como é que não vi isso?
Thiago abre os olhos, percebe como está e reclama:
— Porra véi, dá licença, cadê a privacidade? Sai daqui, negão, estou
pelado!
Fecho a cara pra ele, a porta também. Idiota. Está na minha casa e me
expulsa do meu banheiro! Folgado. Mais flashes com a gatinha surgem, a
gente dançando na festa, se beijando loucamente.
— Cadê o meu celular? — Indago, procurando, não o encontrando. —
Minha carteira — também não a encontro, percebendo que a coisa é séria. —
A chave do meu carro! — Fico em pânico, esbugalhando os olhos. — Droga!
Ela me roubou! É isso! Saio do quarto apressado, desço a escada
correndo e quase caio para trás quando chego na sala de estar, vendo o
tamanho da bagaceira! Uma galera inteira dormindo por todos os cantos. Está
tudo uma verdadeira zorra, bebida para todos os lados, um caos!
Ponho as mãos na cabeça, chocado!
— Eu tô lascado — murmuro, tentando medir mentalmente o tamanho
desse estrago.
A que ponto chegou essa festa? Onde eu estava quando tudo chegou a
esse nível? Cadê a ladra que me roubou? Ela vai pagar caro por isso.
Ele me agarra com violência, tentando me submeter à sua vontade,
querendo me estuprar! Não! Grito, e me desvencilho dos seus braços. Corro
um pouco, mas caio na areia da praia. Está escuro, é noite, e as ondas fazem
barulho. Alonso senta sobre mim, segurando meus pulsos afoitos, ele é mais
forte.
— Não lute, Helen. Não consigo mais esperar, vai ser gostoso, você vai
ver! — Sinto nojo dele e em seguida o meu vestido é rasgado.
— Não Alonso! PARA! NÃO! — Berro, amedrontada. Ninguém vai me
socorrer, a praia está deserta. Uma sucessão de coisas acontece em flashes de
terror, e tudo termina com o som do tiro!
Pow!
Acordo do pesadelo gritando e chorando, dando de cara com Maria,
apavorada, entrando no quarto, vindo em meu socorro.
— Helen, calma! — A mulher me abraça, sentando ao meu lado. — Foi
só um pesadelo.
— De novo Maria, de novo voltei a ter esse pesadelo! — Choramingo.
— Por que isso voltou a me assolar, meu Deus?
— Helen se controla, o Erick pode ouvir! — Ela levanta, olha para fora
do quarto por alguns segundos e tranca a porta. — O quarto dele está em
silêncio, acho que ainda dorme.
Maria é um anjo em minha vida, uma grande amiga e empregada fiel
desde que papai morreu, que me ajudou a criar o Erick, é madrinha dele, e
acompanhou a minha luta para crescer o negócio da família e transformar no
que é hoje. Ela tem quarenta e cinco anos de muita alegria e resiliência, a pele
morena e os cabelos pretos. Mora comigo, e é a chefe de cozinha dos dois
restaurantes do Algas.
— Já fazia tanto tempo que eu não tinha esses pesadelos, e agora eles
voltaram, assim, do nada — reflito, quase murmurando.
— O seu pai diria que isso é um mal pressentimento — ressalta Maria.
— E eu concordaria com ele. Ai Maria, sinto tanta falta do papai.
— Eu também sinto falta do velho Matheus. Parece que faz tanto tempo
que estamos sem ele, mas só faz um ano.
— Pois é — uma lágrima escorre por minha face.
— Já que ele se foi, você não acha que passou da hora de contar ao
Erick toda a verdade, sobre a outra família dele?
— Mas prometi ao papai que não faria isso.
— A verdade é que o seu Matheus foi muito infantil em te pedir essa
promessa estúpida. Você sabe que eu nunca concordei com essa mentira. No
início até que tudo bem, ele era uma criança, mas agora Erick está quase um
adulto, vai conseguir entender todos os seus motivos.
Sento-me, apreensiva só de cogitar essa possibilidade.
— Não será todo esse mar de maravilhas. Essa mentira se tornou uma
bola de neve... O Erick pensa que o pai está morto, imagina se descobrir que
está vivo... ele iria me odiar e se afastar de mim.
— Não se disser os seus motivos, tudo o que passou, como a vida te
trouxe até aqui. Sem contar a felicidade do meu afilhado em descobrir que
tem um pai, você sabe mais do que ninguém que ele sempre sentiu falta
disso.
— Eu sei..., mas não é só isso. O Erick não foi um filho desejado pelo
Victor, e, além disso, o irmão do Erick — sussurro — é o seu primo. Entende
isso, Maria? Eu e a minha irmã tivemos filhos do mesmo homem! — Ponho
as mãos no rosto, destroçada ao lembrar dessa história.
Maria respira fundo.
— Pelo menos o pai do Erick não era um louco feito o Alonso, e nem
um ambicioso como o Alex — ela lembra dos outros dois homens do meu
passado.
— Não, o Victor não era nada disso, ele era um menino-homem cheio de
vida, feliz, sedutor, intenso, diferente de todos que já namorei. Eu, ele e a
minha irmã, Laura, éramos três inconsequentes naquela época, essa é a verde.
Erramos tanto, e acho que a única coisa em que acertamos foram os nossos
filhos. Às vezes fico imaginando como seria se o Erick conhecesse o irmão
dele, sabe, o meu sobrinho, Apolo — sorrio, pensando. — Eu já conversei
com ele algumas vezes por vídeo-chamada, e ele é um amor, e assim como o
Erick se parece muito com o pai.
— Então, Helen, olha como isso faria maravilhas na vida do Erick, conta
pra ele.
— Não, ainda não. Mesmo depois de todos esses anos, ainda não estou
preparada. Nunca vou esquecer de tudo que ouvi e vi antes de deixar aquela
família.
Respiro fundo e enxugo os olhos.
— Vamos esquecer esse assunto, por favor — peço. — Hoje é
aniversário do meu filho, precisamos fazer um bolo antes que ele acorde.
— Tudo bem, vou tomar um banho e correr para o restaurante — a
mulher vai embora e me deixa sozinha no quarto. Olho o relógio que ainda
marca 05:30h, e decido levantar.
Mais tarde, caminho por meu lindo resort, até o restaurante, onde uma
mesa com várias gostosuras me aguarda. Troco sorrisos e cumprimentos com
os hóspedes que chegam para tomar café, e meu peito se enche de alegria
com o sucesso do meu negócio. Algas é um sonho realizado de papai, o
ajudei a construir cada pedaço desse paraíso, e jamais trocaria o que tenho
hoje por minha vida antiga, pela época em que ainda me chamava Lorrana.
Enquanto como um delicioso bolo de milho, vejo Eduardo passando, e o
chamo. Ele ajeita os óculos, e vem. O convido para sentar e conto-lhe sobre o
aniversário do Erick enquanto nos alimentamos.
— Ah, hoje é o aniversário dele? — Indaga o homem magro, alto, de
barba feita, louro de olhos castanhos, vestido no uniforme do hotel.
— Sim, Maria já está terminado de assar o bolo — informo.
— Que bom, adoro tudo o que a Maria faz.
Penso em algo, e digo:
— Edu, é..., eu quero aumentar o seu salário, o que acha?
— Por quê? — Ele estranha.
— Porque... você é um ótimo funcionário, está conosco há tanto tempo
e...
— E...
— Voltei a ter pesadelos com o Alonso nesta madrugada — confesso,
cabisbaixa.
— Helen, a gente já conversou tanto sobre isso.
— Eu sei, mas... não consigo esquecer tudo o que você fez por mim, e
acho que nunca vou poder pagar o suficiente por isso.
— Tudo o que fiz foi por... — Vacila, e engole em seco — Pelo seu pai.
Devia muito ao seu Matheus, e era a única solução.
— Será? Às vezes penso que não, que havia outras saídas.
— A gente não precisa reviver essa história, Helen. Esquece, ficou para
trás — a voz dele é mansa, mas percebo que o toquei na ferida.
Edu é um homem sério e reservado, com um ar misterioso de quem
sofreu muito na vida, e foi por minha causa. Essa culpa permanece em mim
todos os dias.
— Obrigada novamente, por tudo — peço, pondo a mão sobre a dele, o
deixando meio nervoso.
— Eu já... vou indo para o escritório — o homem foge como o diabo
foge da cruz, me deixando confusa.

Entro em casa cauteloso, ouço barulho na cozinha e corro para o andar


de cima, chegando em meu quarto sem ser visto. Suspiro, aliviado, mas logo
lembro que fui roubado pela loira e me encho de raiva. Tenho que encontrá-
la!
Alguém bate na porta, e me jogo rápido na cama, cobrindo-me com o
edredom.
— Erick? — Maria entra.
— Oi, madrinha — respondo, fingindo acordar agora
— Levanta e toma banho, preparei um bolo para você, vamos cantar
parabéns no restaurante.
— ‘Tá bem.
— E agora deu para dormir de tênis?
Olho para baixo e vejo o tamanho do vacilo.
— Sabe que nem notei — sorrio, falso.
— Sei — recebo seu olhar de desconfiança, e logo ela vai embora. A
madrinha sempre me pega no pulo!
Mesmo com muito sono, tomo banho e vou para o restaurante, onde
todos me aguardam e me recebem cantando parabéns. Amo essa família!

Teresina, Piauí.

Apolo sorri enquanto eu, sua mãe, seu avô e a empregada cantamos
parabéns para ele. Como amo esse garoto. É o meu único filho, meu amado
primogênito.
FANTASMA

“Faço qualquer coisa que você quiser”

Apolo ri forçado, tentando, de alguma forma, condizer com o momento


diante de todos. Sei que ele não se recuperou dos acontecimentos recentes,
acho que eu também não. Faz apenas dois meses que o inferno acabou, ainda
assim, nunca minha vida pareceu tão turbulenta, descontrolada, como pai e
como homem.
É difícil me olhar no espelho e saber que não pude evitar toda aquela
desgraça que aconteceu entre o meu filho, a namorada e a mãe dela. Que não
vi Érica, a vizinha, seduzi-lo e induzi-lo a fazer tudo o que fez. De repente,
vi o meu reflexo jovem espelhado em Apolo, da época em que eu não media
esforços para conseguir o que queria, quando aprontei bastante ao lado de sua
mãe e sua tia desaparecida, Laura e Lorrana respectivamente.
Hoje estamos aqui, eu e Laura, lado a lado, batendo palmas para o nosso
garoto que agora faz dezessete anos. Às vezes trocamos olhares, a lembrança
dela vindo atrás de mim vestida de noiva sempre retorna à mente, outra
grande loucura, que também me faz recordar de Leda, a minha namorada.
Onde ela está? Será que ainda é minha mesmo? Que porra toda foi aquela?
Que segredos ela escondia com a Gui? Por que Gui morreu? São tantas
perguntas.
Pisco, voltando a realidade, saio de meus devaneios, e olho para a loira
mais uma vez. Depois do fora que lhe dei, nunca mais tocamos no assunto,
somos maduros o suficiente para não deixar predominar um clima
constrangedor entre a gente, só que nem sempre isso é possível. Ela sabe da
merda que fez por não acreditar em mim no passado, sabe que estou com o
orgulho e o coração feridos, e eu agora sei que ela ainda me ama. Entretanto,
não posso afirmar isso tão verdadeiro quanto antes, pois ficamos dois anos
separados, é tempo demais para um sentimento sobreviver, ainda que tão
forte quanto o nosso.
As noites não têm sido fáceis, sonho com a Laura, mas também com a
leda, penso em uma e na outra. Foi aquele maldito beijo com a loira que me
deixou balançado. A perdoei, é fato, mas ao meu ver as coisas não são tão
fáceis assim, não dá para pegar tudo o que aconteceu, jogar na caixinha do
esquecimento e simplesmente me entregar. E tem a Leda, eu gosto dela, estou
preocupado, há mais de sessenta dias não sei de nenhuma notícia sua além
daquelas que passaram nos jornais.
Sei que a ruiva não é uma assassina, que tudo é mentira e que tem a ver
com aquele cara misterioso com quem a flagrei conversando junto com a Gui.
Continuo aguardando por soluções da polícia, mas até hoje nada!
É tragédia de todo lado, sinto-me encurralado, sem lugar para fugir.
Contudo, o que mais me dói é notar Apolo regredindo e voltando a ser aquele
garoto fechado e cabisbaixo de antes. Foi tão longo o processo do seu
amadurecimento, fazê-lo se amar e se enxergar, e agora voltamos à estaca
zero.
Sei que ele ainda ama Tatiana, mas esse romance é impossível, não há
condições de dar prosseguimento sabendo que ele também se envolveu com a
mãe dela. Quem diria que é possível alguém pegar mãe e filha sem saber
dessa relação de parentesco? Tudo culpa daquela vadia psicopata, que neste
momento deve estar queimando no inferno.
Laura acha que o nosso filho está tristonho assim devido ao suposto
assalto. Ela como mãe sente que há algo mais, contudo jamais saberá de toda
a verdade, é um segredo meu e do Apolo. Sinto que ela também não superou
descobrir que a nossa separação foi armada por sua própria mãe, tanto que
não convidou a velha para o aniversário, porém isso seria impossível de
qualquer forma. Apolo ainda não sabe dessa treta.
Ao fim da canção, ele apaga as velas e todos o abraçamos, um de cada
vez. Após sermos servidos pela Val, comemos em um silêncio sinistro. Não
há felicidade aqui, cada um está quebrado de alguma forma.
— Victor, a sua namorada já apareceu? — Rivaldo decide engatar uma
conversa. — Acha que ela realmente tem algo a ver com a morte daquela
mulher?
— Papai esse não é momento.
— Tudo bem, Laura — digo, depois olho para o senhor — A Leda
continua desaparecida, e é a principal suspeita do crime, mas sei que não fez
isso, ela jamais faria. A polícia descobriu que um parente da vítima foi
sequestrado e que os sequestradores estavam pedindo dinheiro, como Leda
está desaparecida, eles desconfiam que ela esteja por trás disso, mas eu sei
que não. O que me preocupa é esse seu sumiço, tenho medo dela ter sido
pega por um desses malfeitores, contudo, fiz tudo o que estava ao meu
alcance para encontrá-la, só que ainda não obtive sucesso. Os investigadores
que contratei não me trouxeram resultados e nem a polícia.
— É um verdadeiro mistério — ele conclui.
— Sim — concordo.
Voltamos ao silêncio por alguns longos segundos.
— Onde está a minha avó, por que não veio? — Pergunta Apolo, e todos
trocamos olhares desconfortáveis.
— Vocês ainda não contaram a ele? — Rivaldo parece perplexo.
— Não, papai. Eu estava esperando o momento certo, o Apolo ainda não
se recuperou dos últimos acontecimentos; e o senhor está muito linguarudo!
— Não me contaram o quê?
Laura se remexe na cadeira, procurando uma vala para se jogar e se
esconder. A mulher respira fundo e responde:
— Meu filho... nós descobrimos que... foi a sua avó que armou para eu e
seu pai nos separarmos. Ela contratou aquela mulher das fotos.
Apolo fica chocado. Ele veio morar comigo, acreditou na minha
inocência, porém jamais cogitou que a avó tivesse culpa no cartório.
— Isso é sério? — Pergunta, e lhe confirmo com o olhar — A minha
avó? Mas... por que ela fez isso? — A raiva passa a tomá-lo.
— Porque a sua avó é uma desgraçada!
— Papai!
— Uma safada! Uma infame ruim! É isso que ela é — Rivaldo desabafa,
enquanto Laura não consegue seguras as lágrimas. — E eu quero o divórcio,
já até entrei com o processo.
O clima fica ainda mais pesado, Laura decide deixar a mesa, sumindo
para algum canto da casa.
— É inacreditável — Apolo não consegue mensurar o tamanho do caos.
Permaneço calado, sem chão.
— Desculpe-me, meu neto, escolhi o pior dia para isso, hoje é o seu
aniversário.
— Eu vou atrás da minha mãe — ele levanta e some também.
Respiro fundo, cobrindo o rosto com as mãos.
— Perdão, Victor.
— Uma hora ele tinha que saber — digo.
— Não por isso, mas por duvidar da sua índole por todo esse tempo —
confessa.
— Eu possivelmente duvidaria, não posso julgá-lo. E dentre todos, você
foi o único que... mesmo duvidando, também me deu a mão, trouxe o Apolo
para perto de mim. Obrigado digo eu.
Ele força um sorriso.
— O que você e Laura pretendem fazer para contornar todo esse
bombardeio em volta do menino? — Pergunta.
— Concordamos em procurar um psicólogo. Acho que até eu estou
precisando de um — confesso. É triste.
— Acharia muito mais eficaz uma viagem.
— Viagem?
— Sim. Vocês três precisam sair daqui, dessa áurea ruim que norteia
essa família, e nada melhor do que viajar para esquecer de toda essa
catástrofe. Vão respirar novos ares, vai ser bom para o Apolo e para vocês
também
Reflito um pouco, e respondo:
— Bem, até que gostei da ideia, mas... viajar com a Laura neste
momento tão caótico entre a gente. Talvez fosse melhor só eu e o Apolo.
— E do que tem medo?
— De absolutamente nada — justifico-me, estranhando a sua pergunta.
Por que ele fez essa pergunta ridícula?
— Pense bem, será bom para o meu neto ter a mãe e o pai juntos, ao seu
lado, mesmo que como amigos. Quando ele está contigo, não está com ela e
vice-versa, e agora ele precisa dos dois. Uma praia seria ideal.

Após comer meu delicioso bolo de aniversário e fugir das desconfianças


da minha mãe quanto às minhas olheiras e um certo odor de cerveja, sigo
para o telefone fixo do restaurante e ligo para Eliseu, para saber se eles
conseguiram encontrar a bandida da Kelly. Só consigo pensar nela e em me
vingar pelo que me fez.
Ainda estou tentando entender como não a vi fugir. Será que fui dopado
em algum momento? Nem lembro quando apaguei, e olha que sou duro na
queda. A loira não teria conseguido fugir sem que eu visse. Bandida! Ladra
sem vergonha e gostosa, que gostosa! Que roubou a minha carteira, celular e
até o meu carro.
Contudo, estou um pouco tranquilo, sei que ela com certeza não foi
muito longe, pois mal sabe que meu Jeep tem um dispositivo antifurto, um
bloqueador automotivo, que faz com que o carro pare de andar depois de
alguns quilômetros rodados senão for acionado ao entrar. Este bloqueador é
comandado por um sensor escondido dentro do carro que ela jamais
encontrará. Kelly deve ter ficado no meio do caminho, na madrugada, sem
rumo.
— Oi, e aí, achou ela? — Pergunto a Eliseu, ao ser atendido.
— Ela não, mas achamos o carro, ‘tá aqui abandonado na estrada —
informa, me fazendo gargalhar de felicidade.
— Eu sabia! — Vibro. — O meu dispositivo antifurto não me deixaria
na mão, se aquela bandida achava que iria me roubar, estava muito enganada,
onde vocês estão?
Mais tarde, chego na região da praia de Macapá novamente, local da
minha festa, em uma estrada meio deserta onde Eliseu e Ramon me
aguardam. Um funcionário do hotel me trouxe de moto, e, assim que avisto
meu amado carrinho, corro até ele e o abraço no capô.
— Meu bebê, lindo! — Exclamo, o beijando várias vezes. — Ai que
saudade, que saudade! Eu sabia que você voltaria pra mim.
— Para com isso, veado! — Reclama Eliseu.
— O celular e a carteira não estão aqui — informa Ramon,
inspecionando o interior do Jeep, num estilo Sherlock Holmes.
— Bandida! Ladra sem vergonha! — Xingo, com raiva.
— Negão, como ela foi embora sem tu perceber? Nunca vi isso
acontecer contigo.
— Ela só pode ter me dopado, Eliseu. Que diaba!
— Foi o que pensei — declara Ramon. — E pelo que analisei, o
bloqueador automotivo cortou a injeção de combustível aqui, não muito
longe da casa de praia, como esperávamos. Ela não contava com isso, e ficou
sem eira e nem beira no meio da estrada, mas como o movimento de gente
estava forte por conta do seu aniversário, a ladra deve ter conseguido uma
carona.
— Precisamos encontrar essa ladra, pois como não conseguiu levar o
carro, deve saber que estou atrás dela, então vai procurar um jeito de ir
embora, já que não é daqui.
— E não é mesmo, nunca vi uma gata daquela por aqui. Deve ter vindo
para roubar os manés — fala Eliseu.
— Ela pensa que eu sou um, mas está enganada.
— Pior que não podemos nem chamar a polícia, senão a nossa farra
inteira seria descoberta — lembra Ramon.
— Vou comprar um bloqueador desses para mim também, vai que meu
carro é roubado.
— Quem é que vai roubar essa tua lata-velha, Eliseu? — Ramon o
provoca.
— Lata-Velha que tu pega empestada quando quer comer gente! —
Retruca Eliseu, ele odeia que falem mal do seu carro.
— Parem de brigar! — Reclamo. — Temos que correr, senão a Kelly
foge!
— Tive uma ideia! Vamos rastrear o teu celular.
— Verdade, Ramon, como não pensei nisso antes? — Me empolgo.
Ele faz o procedimento através do celular dele e dá tudo certo!
— ACHAMOS, CARALHO! — Grito, alegre.
— E vamos logo até ela, pois está na BR, esperando busão para ir
embora com certeza — chama Ramon.
— Vamos no teu carro Eliseu, Kelly já conhece o meu e não quero que
nos reconheça, não de cara. Vamos pegá-la no pulo!
Minutos depois, achamos a loira, sentada no banco de uma parada de
ônibus isolada na estrada, com uma mala de rodinhas rosa ao seu lado. Eliseu
estaciona longe, para que ela não perceba a nossa presença.
— E agora? — Pergunta ele. Estou ao seu lado, e Ramon atrás.
— Agora um de vocês vai lá pegar a mala dela — respondo, mirando a
bandida pelo vidro do carro.
— Como assim “um de vocês”, Erick? Quem foi roubado foi tu, as
coisas são suas — reclama Eliseu. — E por que a mala?
— Porque lá deve estar tudo o que ela me roubou, e as suas coisas
pessoais também. Quero deixá-la sem nada, para sentir o gosto do próprio
veneno. Mas não pode ser eu a fazer isso.
— Por quê? — Pergunta Ramon, desconfiado.
— Porque a Kelly já me conhece, e contei a ela onde morava. Ou seja,
se depois essa bandida quiser me procurar para fazer zoada, pode acabar me
entregando para a minha mãe e consequentemente todos nós estaremos
fodidos.
— Então por essa lógica, eu também não posso fazer o serviço, ela me
viu ontem à noite quando falei contigo, não lembra?
— É verdade — confirmo, e então miramos Eliseu.
— Ah, eu não vou, não — ele cruza os braços gordos, decidido a não ir,
mas sei como convencê-lo.
— Te dou duzentos — proponho.
— Quatrocentos.
— Trezentos e não se fala mais nisso.
— Mano do céu, isso vai ser demais! — Ramon começa a rir.
— Mas não vou de rosto limpo — Eliseu retira uma meia grande do
porta-luvas.

Maldita hora em que aceitei fazer essa merda! Olho para trás
arrependido, mas os meninos no carro fazem um sinal com a mão, me
instigando a continuar. Ainda bem que o local está meio deserto. Essa meia
no rosto está me impossibilitando de respirar direito, pareço um touro
encapuzado.
Paro às costas da loira e grito com a voz grossa:
— MOÇA, PASSA A MALA!
— AAAAH — ela berra ao me ver, assustada, e me assustando também,
eu não esperava por isso!
— Não, não, não precisa gritar, moça — abaixo o tom, e em seguida
lembro de voltar ao papel — É SÓ PASSAR A MALA, EU NÃO VOU TE
MACHUCAR...
— AAAH, SOCORRO! — Ela começa a me bater, e resolvo tomar a
mala dela.
— MOÇA, FACILITA, SOLTE!... AAAI — grito com a dor dos seus
tapas fortes
— SOLTA A MINHA MALA, BOLA DE FOGO!
— Bola de fogo?... AI, NÃO ME BATE! — Grito, nervoso, correndo
em direção ao carro, amedrontado, com ela me perseguindo.
Sinto a garota pular em minhas costas, juntos vamos ao chão.
— ERICK! ERICK SOCORRO! — Peço ajuda, não há outra saída, a
mulher está endemoniada.

Tomo a direção do carro, e paro ao lado de Eliseu, que está no chão, de


bruços, apanhando da Kelly que está montada nele. Ramon ri que nem
criança, chegando a chorar com tantas gargalhadas. Desço do automóvel
furioso e quando a ladra me vê, entende tudo.
— Oi, bandida — falo, com raiva.
— Então foi você que armou essa palhaçada?! — Indaga, largando o
gordinho e levantando, irritada, descabelada, mas ainda assim, maravilhosa.
— Só vim pegar o que é meu de volta — puxo a mala com brutalidade, e
a loira não se atreve a tentar tomá-la de mim. — Levanta, Eliseu, bora! — O
chamo, sério.
— Não vai levar a minha mala! Só leve o que é seu...
— Olha aqui sua cadela, eu vou levar tudo, sabe por quê? — A intimido,
aproximando o meu rosto do seu, sou um gigante perto dela. — Isso vai te
servir de castigo por ter tentado me roubar e ter pego as minhas coisas, sorte
sua que não chamei a polícia, senão tu ia pra cadeia, ou melhor, pro canil, que
é o teu lugar!
Entrego a mala para o Ramon e entro no carro com Eliseu que ainda
tenta respirar direito. Assumo o banco do motorista enquanto Kelly começa a
chorar, fazendo teatro, caindo em desespero.
— Mas todas as minhas roupas estão aí, as minhas coisas, por favor não
faz isso! — Implora.
— Oh, que pena — debocho, dando a partida.
— Erick, por favor, não! Não faz isso! — a loira grita, correndo,
tentando nos acompanhar — Faço qualquer coisa que você quiser, mas
devolve o que é meu! POR FAVOR!
Acelero, mostrando o dedo para ela pela janela. Game over, bebê.

Mais um dia de trabalho, estou no escritório com Eduardo, cada qual em


sua mesa, atrás do seu notebook. O espaço é arejado, com um estilo praiano
elegante, confortável. Há retratos meus com Erick e papai em alguns cantos.
Eduardo, como sempre, trabalha eficientemente, sem deixar a desejar.
Às vezes ele nem percebe quando paro e o observo concentrado. O acho fofo
e ao mesmo tempo atraente, com a sua forma séria de levar as coisas e o ar
misterioso que o cerca. Mesmo o conhecendo há tantos anos, ainda me pego
com a sensação de não conhecer o homem que trabalha comigo todos os dias.
Só falamos sobre o serviço, nada além.
Aqui está ele pegando a caneca de café e molhando os lábios rosados,
com os olhos atentos na tela do note. Ele é formado em contabilidade, e me
tira do sufoco sempre, me direcionando pelo caminho correto, sem ele eu
estaria perdida. Foi papai quem pagou os seus estudos, uma das formas de
agradecê-lo pelo sacrifício que fez por mim no passado.
Maria já me falou algumas vezes e eu recentemente passei a desconfiar
que Eduardo talvez seja afim de mim. Ele sempre foi muito reservado e
indecifrável, nunca deu em cima, nem jogou indireta, é muito respeitoso,
exceto pelos olhares que me lança de vez em quando.
— O que foi? — Ele pergunta, notando a minha atenção totalmente
voltada para ele.
— Nada — minto, sorrindo, sem jeito.
— Tem certeza? — Insiste, curioso.
— Na verdade... quero te fazer uma pergunta, Edu. Mas é uma coisa
meio íntima e se não quiser responder, não precisa.
— ‘Tá bom — diz, desconfiado.
— Você..., é que eu nunca vi e nem ouvi, mas... você tem namorada?
— Não — responde, engolindo em seco. — Mas... por que isso agora?
— Curiosidade, só isso — nossa, não sei disfarçar. — Mas... você não é
gay, não, né?
— Não! — Exclama, indignado com a pergunta, me assustando.
— Olha, só perguntei por perguntar, jamais pensei isso de você...
— Helen, eu sou macho, e que isso fique bem claro — afirma, me
surpreendendo com a forma viril como falou, e adorei saber disso.
— Tudo bem, tudo bem, desculpa — coloco a mão no rosto, morta de
vergonha, mas ainda não matei a curiosidade — Edu.
— Oi — responde, desgostoso.
— Olha, vou ser bem reta e direta: você é afim de mim?
Ele esbugalha os olhos, surpreso. O telefone toca bem na hora.
— Alô — ele atende. Droga! — Como é que é, seu Maicon? — Eduardo
fica sério, me preocupando — Ele disse o quê? ‘Tá, vou falar com ela.
— O que foi? — Pergunto.
— É o Alex..., ele está no portão, querendo entrar, mas o seu Maicon
não deixou, claro — informa.
— O Alex? Aqui? Mas o que ele quer depois de tudo o que fez? —
Indago, sem acreditar no que ouvi.
— Também estou me fazendo a mesma pergunta, ele quer falar com
você.
Encontramos com Alex na entrada do hotel, ele está encostado em um
S10, onde há uma linda garota negra. O desgraçado do meu ex está diferente,
emana poder e riqueza, mas ao abrir seu conhecido sorriso, mostra que
continua o crápula de sempre.
— Helen, meu amor, quanto tempo — diz, irônico, retirando os óculos
escuros, demonstrando toda a sua maldita beleza. Ele é um homem alto,
branco, de cabelos pretos penteados para trás e olhos castanhos. Eduardo se
interpõe entre a gente, não o deixando se aproximar de mim. — Dudu, você
ainda está por aqui?
— E você? Está perdido, seu bandido salafrário? — Retruca Eduardo.
— Eu? Bandido? Não foi você que passou anos na prisão? — Alex o
provoca, sagaz.
— Desgraçado...
— Calma, Edu — tomo a frente dele antes que faça besteira, miro Alex
cara a cara. — O que veio fazer aqui, Alex? Sabe que não é bem-vindo no
Algas.
— Precisamos bater um papo.
— Não temos nada para conversar. Vá embora!
— Não até termos um particular, Helen. Ou será que devo chamá-la de...
Lorrana? — Ele sussurra o meu antigo nome em meu ouvido, me fazendo
arrepiar amedrontada.
Este fantasma voltou para me assombrar.
RIVAIS

“Eu quero o hotel, quero o Algas”

Como Alex sabe o meu antigo nome? Como? Paraliso, amedrontada


com o seu sorriso sarcástico.
— Vai me convidar para entrar? — Ele pergunta, agora sério,
intimidador, enquanto a garota dentro do carro nos observa.
— Vamos pro escritório — respondo, desgostosa. Lhe dou as costas,
Eduardo me segue.
— Você enlouqueceu? Vai deixar que este desgraçado ponha os pés aqui
de novo? Seu pai o expulsou daqui! — Lembra Edu, inconformado.
— Sei muito bem o que aconteceu há dois anos, Eduardo, mas preciso
saber o que ele quer agora — tento não ficar estressada. Faço sinal para o
porteiro deixar Alex entrar, os portões se abrem.
— O Alex não presta, tentou roubar você e seu pai, além de querer casar
contigo apenas por interesse.
Eduardo tem razão, mas Alex pode, de alguma forma, estar ciente do
meu passado, e isso significa perigo. Ao chegarmos no escritório, peço para
Eduardo esperar do lado de fora, ele se vai decepcionado, Alex entra em
seguida.
— Ah, que saudade desse lugar — diz, irônico.
— Não seja sínico! — Falo, sentada à mesa.
— O Dudu está lá fora espumando de raiva. Tadinho... sempre me
invejou, sempre teve ciúmes de você, mas você nem percebia...
— Pare de falar besteira, e diga logo o que quer! — Determino, pois não
estou afim de perder tempo com esse crápula.
— Hum, ela está interessada — ele ri, maléfico.
Alex é uma cobra peçonhenta, que quase conseguiu enganar a mim e ao
meu pai, que no passado o empregou no hotel por ele ser filho de uma antiga
funcionária que morreu. Desde então, o cafajeste passou a dar em cima de
mim, a me seduzir, sempre foi bonito e sabia disso, se mostrava romântico,
atencioso, tanto que quase revelei a ele a minha outra identidade, a minha
história.
Naquela época Alex era um sonho, achei que estava com o homem mais
maravilhoso do mundo, ele me pediu em casamento, pediu ao meu pai, que
aceitou na hora. Mas descobrimos que ele só queria casar comigo por
interesse, para ter direitos sobre o Algas, que tinha um relacionamento
secreto com a nossa antiga secretária, os dois roubavam o hotel a meses.
Assim, papai o expulsou depois de humilhá-lo na frente de todos,
mostrando quem ele realmente era. Desde então nunca mais ouvimos falar
nele, e agora está de volta, diferente, bem vestido, pois antes era um pobre
coitado, não tinha nada!
— Antes você não tinha pressa assim, adorava passar um bom tempo
comigo. Lembra da gente nessa parede aí atrás? Eu te comendo feito uma
cachorra...
Antes que continue, arremesso a caneca nele, mas o diabo tem um bom
reflexo e desvia o rosto. Contudo, consigo retirar o seu sorrisinho da cara.
— Me respeita! — Exclamo, levantando, batendo as mãos na mesa.
— Enlouqueceu?! — Ele rebate no mesmo.
— Não pense que ainda sou aquela idiota que você enganou no passado
— aviso.
— Então é assim que quer brincar, Lorrana? Pois muito bem, vamos
direto ao ponto — ele retira um pendrive do bolso e me entrega. — Olha isso,
acho que vai gostar!
Olho para o homem desconfiada, plugo o objeto no notebook. Vejo
várias digitalizações de um caderno, imagens de escritos antigos, páginas
amareladas com partes queimadas, que me fazem reconhecer a minha letra
em todas elas.
— Como conseguiu essas fotos? — Pergunto, assustada, tentando ligar
os pontos.
— Antes de ir embora daqui, segui você e seu pai na noite em que fui
expulso. Vi os dois atearem fogo numa caixa e ir embora. Como não queria
sair de mãos abanando, resolvi verificar do que estavam se livrando, e
encontrei o seu diário parcialmente queimado, assim como uma identidade. O
fogo não levou tudo, deu para ver a sua foto, seu primeiro nome... Lorrana.
Está tudo aí, é só verificar.
— As pessoas podem trocar de nome, se você não sabe — comento,
insegura.
— Ah, é claro que sei. Mas isso não foi o mais importante. Nas páginas
que sobraram do diário, dá para ler perfeitamente que você é uma assassina.
Meu coração se aperta no peito.
— Não sei do que está falando — murmuro. Pode ser um blefe.
— Ah não? Pois vou te lembrar. As páginas com a sua assinatura e com
sua caligrafia, contam da noite na praia em que você atirou covardemente no
seu namorado, Alonso — ele sente prazer em falar isso.
— Isso não é verdade — tento argumentar.
— Só que você não foi presa, né? No seu lugar, quem pagou pelo crime,
por cinco anos, foi o pobre Dudu.
Lágrimas descem por minha face, me denunciando, fazendo Alex voltar
a sorrir.
— Depois eu que sou o bandido, o salafrário, o desgraçado. Pelo visto
temos muito em comum. Sabe que andei pesquisando, tirei dúvidas com um
advogado, a verdade é que... se chegar às autoridades que a real assassina do
Alonso é você, o processo pode ser reaberto, haverá um novo julgamento,
pois o homicídio ainda não prescreveu. O Edu também pode se complicar,
porque é crime assumir um crime que não cometeu — Alex gargalha,
malévolo, me deixando devastada. Ele está com a faca e o queijo na mão. —
É, você pode ser presa, Helen, ou... Lorrana, não sei — debocha.
— Essas páginas antigas não provam nada! Outra pessoa pode ter escrito
isso no meu lugar e inventado essa história, você por exemplo — tento mudar
o jogo.
— Acho meio difícil, a polícia vai reabrir o inquérito e investigar tudo
detalhadamente. A perícia, através de um exame, comprovará que é a sua
caligrafia, associarão os fatos, e você vai se lascar. Sem contar que o
delegado, pai do Alonso, nunca gostou de você, né, eu li o processo no
fórum. Imagine a repercussão desse caso, já consigo até ver as manchetes dos
jornais com o seu nome. A dúvida irá explodir na mídia, todos iriam cair em
cima de você. Certamente o seu fim seria parar na cadeia.
Abaixo a cabeça, tentando não parecer derrotada diante dele.
— É... se eu fosse você, não arriscava, é perigoso. Chamará muita
atenção, no diário há muitos detalhes que intensificam a veracidade da prova.
Agora refaça aquela pergunta, mas dessa vez com mais educação — pede,
porém, fico calada. — Faça! — Ordena, parando de rir, se tornando
tenebroso.
— O que... você quer, Alex? — Minha voz sai fraca.
— Eu quero o hotel, quero o Algas — responde, ambicioso, me
deixando de coração na mão. — Como não estou mais afim de casar contigo
e quero todos os direitos só pra mim, irei comprá-lo, mas por um preço justo,
hein. Porque... não sei se percebeu, mas agora tenho dinheiro.
— Isso só pode ser brincadeira — comento, arrasada. — Tudo isso é
vingança?
— Também, afinal, o Algas é referência na região, já bem conhecido
pela galera de fora. Mas nunca esquecerei que seu pai expulsou a minha mãe
daqui após anos de trabalho, após usá-la de todas as formas. E quando a
coitada morreu, ele me contratou por pena, achando que me compraria com
um empreguinho medíocre.
— Ele só queria te ajudar...
— Ele queria era apaziguar a culpa! Matheus sabia que a minha mãe se
suicidou por causa dele! — Alex rosna, amargo, seus olhos brilham. — Ela o
amava, seu a pai somente a usou, a iludiu!
— Meu pai nunca prometeu nada, sua mãe é que confundiu tudo...
— Chega! Não me interessa mais. Só o que me interessa é o hotel, e
pronto. Ou é isso, ou você vai pra cadeia — ameaça, me deixando
encurralada.

Chego ao Algas com um sorriso de satisfação estampado no rosto. Olho


pelo retrovisor, vendo a mala da Kelly no banco traseiro. Que pena ela ser
uma ladra, pois fodia muito bem. Jamais esquecerei do nosso sexo incrível,
foi surreal, uma experiência única pra mim.
Seu Maicon abre os portões, e corre até a minha janela, me
preocupando.
— O que foi, seu Maicon? Parece que viu um fantasma — digo.
— E vi, meu filho, você nem imagina quem está aqui — diz, me
deixando curioso.
— Quem?
Acelero para chegar logo no escritório, sentindo o sangue esquentar nas
veias após descobrir que Alex está de volta, que teve a audácia de vir aqui.
Nunca nos gostamos, desde que ele começou a namorar a minha mãe, eu
sentia que não prestava, constatei isso quando o flagrei com a secretária. O
denunciei ao vovô, que só não mandou prendê-lo pela tentativa de roubo em
consideração à sua mãe que já havia trabalhado no hotel.
Estaciono em frente ao escritório, atrás de um S10. Avisto uma garota
negra, da minha cor, chocolate, muito bonita, gordinha gostosa, de cabelo
preto, liso. Está encostada no carro, de braços cruzados. Paro à sua frente, a
encarando zangado.
— Quem é você? — Pergunto, sério.
— Por que quer saber? — Rebate, me fazendo erguer as sobrancelhas.
— Esse carro é do Alex?
— Por que quer saber? — Ela é ousada, arisca, mas eu sou mais.
Aproximo o rosto do seu, sentindo seu perfume delicioso, olhando no
fundo dos seus olhos.
— Porque ele está no meu hotel, e não é bem-vindo aqui — digo, sério.
— Suzy, se afaste desse aí! — Exclama Alex, às minhas costas,
reconheço a sua voz. Ela o obedece.
Ele está saindo do escritório com a minha mãe, vindo em minha direção.
Eduardo chega com a minha madrinha e um dos nossos seguranças.
— Erick, quanto tempo, você cresceu — ele é sarcástico.
— Cresci, e olha só, estou do seu tamanho, se eu fosse você não pisava
mais aqui, senão...
— Senão o quê?
— EI! — Exclama a minha mãe, vindo até nós, se interpondo em nosso
meio. Os outros também se aproximam, todos contra o traste — Não quero
você perto do meu filho, Alex!
— E eu não quero que ele chegue perto da minha filha! ‘Tá ouvindo?
Nunca mais! — Retruca o bandido, estressadinho, com raiva. Ela é filha
dele? Desde quando tem filha?
— Se pisar aqui de novo, arrebento a tua cara! — Ameaço, mirando o
meu rival, apontando o dedo na sua cara enquanto Eduardo me puxa.
Alex gargalha, sarcástico.
— Quem vai deixar de pisar aqui é você, seu moleque! Aliás, todos
vocês, pois esse hotel em breve será meu e não quero gentinha por aqui!
— Como é que é? — Indago, achando tudo uma maluquice.
— Helen, do que ele está falando? — Pergunta Eduardo, tão confuso
quanto eu.
Minha mãe não sabe o que dizer, está nervosa. Basta isso para me fazer
desconfiar que tem algo de muito errado acontecendo
— Mas é nunca que você vai ser dono daqui! — Exclamo, furioso. —
Não lembra que foi expulso pelo meu avô? Bandido! Vagabundo! —
Vocifero.
— Erick, cala a boca! — Ordena minha mãe.
— Havia me esquecido o quanto tu é ousado, moleque — Alex me
fuzila com os olhos.
— Quem pensa que é para chamar o meu afilhado de moleque?! —
Retruca a minha madrinha.
— Amadeus, tira esse homem daqui — ordena Edu, e o segurança
avança no homem.
— Não me toca! Eu vou embora — Alex entra no carro com a tal filha
— Mas eu volto, Helen — diz, em tom ameaçador.
Ao perceber que se trata de uma ameaça, olho em volta, avistando uma
pedra grande no chão, que é usada como parte da decoração do jardim. Pego-
a, sentindo o seu peso, levanto-a sobre a cabeça, corro em direção ao S10, e a
arremesso sobre o capô com toda a minha força, amassando o ferro! Ajo tão
rapidamente que nem dá tempo de me impedirem.
A pedra rola e cai no chão. A garota grita, assustada, enquanto Alex
espuma de raiva, recebendo o meu sorriso vitorioso.
— ERICK, MEU FILHO! — Berra a minha mãe, apavorada.
Edu me segura pelas costas, não me deixando avançar no desgraçado.
— VEM! VEM! — O chamo para a briga, bufando.
— VAI PAGAR CARO POR ISSO, SEU MOLEQUE
DESGRAÇADO! — Ele ameaça, e vai embora.
Para completar a confusão, minha mãe desmaia, aterrorizando a todos.

Saio do quarto pronto para ir a boate, bato na porta do Apolo. O


convidei para ir comigo, quero tentar desanuviar seus pensamentos, fazê-lo
esquecer do que aconteceu. Preciso reanimá-lo de qualquer jeito, para que
volte a ser o meu garoto de antes. Ele abre a porta, vestido apenas em um
short de dormir.
— Ué, ainda não está pronto? — Indago.
— Eu não vou, pai, desculpa — diz, desanimado.
— Filho, vamos, vai ser bom para você respirar novos ares — incentivo.
— Não tô afim. Entendo o que o senhor está tentando fazer por mim,
mas não vai rolar, não quero sair.
Suspiro, entristecido com sua situação.
— Então ficarei aqui contigo.
— Não, o senhor precisa trabalhar. Eu tô bem, só preciso... ficar um
pouco sozinho.
— Qualquer coisa me liga, O.K.?
— O.K.
O abraço e vou embora, mas durante todo o serviço só penso nele, em
como levantar sua autoestima, fazê-lo voltar à vida. É tão triste ver meu filho
sofrer e ao mesmo tempo me sentir incapaz de ajudá-lo. Mas reverterei essa
situação de alguma forma.
No dia seguinte, próximo ao meio-dia, saio do banheiro enrolado na
toalha, pensando na Leda, lamentando pela situação na qual ela me viu pela
última vez, recebendo um beijo da Laura. Não consigo me conformar com o
seu sumiço, para onde ela foi? Não é possível que seja uma criminosa de
verdade, nisso não consigo acreditar.
Ligo para o seu número pela milésima vez, mas não chama, como
sempre, e isso me entristece, me preocupa. De repente, lembro das palavras
de Rivaldo.
“— Acharia muito mais eficaz uma viagem... Uma praia seria ideal.”
Visto-me, desço para a sala, encontrando Valrene varrendo a casa.
— Val, cadê meu filho?
— Na sala de jogos com o Kenai. A vida dele agora é essa, ou lá ou no
quarto. Vou te dizer, se ele continuar assim vai dar ruim. Não é normal um
garoto dessa idade andar triste desse jeito — responde a mulher, emburrada,
pois ama o Apolo.
— É exatamente isso que estou tentando resolver — afirmo, e vou até
ele, sentando-me ao seu lado no sofá.
— Filho, eu tenho uma proposta para te fazer, mas não quero que me
responda agora.
— Uma proposta? Qual? — Ele fica curioso.
— Que tal eu, você e a sua mãe viajarmos, juntos?
— Nós três? Juntos? — Estranha, é realmente algo meio inacreditável
após tanto tempo. — Por quê?
— Ah, acho que estamos precisando disso, relaxar depois de tudo o que
passamos. Espairecer e respirar outros ares vai nos ajudar a esquecer um
pouco toda aquela loucura.
— Mas o senhor tem certeza que quer que a minha mãe vá conosco?
— Por que não? Nós ainda somos amigos, meu filho.
— E para onde iríamos?
— Para algum lugar que tenha praia. Pensei nas Bahamas, por exemplo.
A gente foi lá quando você tinha dez anos — recordo.
— Sim, eu lembro. É que...
— Não me responda agora. Primeiro pense com carinho, vai ser muito
bom pra gente.

Estou no shopping, e paro em um restaurante, encontrando Morgana,


uma amiga antiga que está me esperando. Ela mora fora, e como está de
férias no Brasil, aproveitamos para nos ver. A abraço forte antes de sentar à
mesa.
— Ai amiga, que saudade, que bom que deu pra te ver nesse tempinho
em que está aqui no Brasil — digo, segurando em sua mão, trocando sorrisos
com ela.
— Também estou muito feliz, Laura, eu estava morrendo de saudades.
— E como anda o curso de medicina?
— Concluindo, está uma loucura, mas consigo dar conta, apesar do
marido e filha necessitarem da minha atenção a todo instante. Mas vamos
falar de você, notei a sua voz tristinha no telefone. O que está acontecendo?
Me conta. Cadê aquele seu maridão lindo de morrer, aquele negão terremoto?
— Adoro suas piadas, mas não consigo rir com naturalidade.
— A última vez que nos vimos eu ainda estava casada, né — relembro.
— Ah não, vocês se separaram? — Ela fica passada.
— No início acreditei que sim, mas após dois anos descobri a verdade e
quebrei a cara.
— Menina, que babado forte é esse? Me conta tudo.
Conto tudo à ela, que fica de queixo caído.
— Nossa, mas que merda, hein mana. Eu não queria estar no seu lugar
— ela fica perplexa.
— A verdade é que nem eu queria estar no meu lugar.
— Mas com uma mãe dessas, quem precisa de inimigo? Amiga por que
ela fez isso?
— Pior é que não sei. Mamãe nunca gostou do Victor, nunca o aceitou, é
preconceituosa, até para o neto, Apolo, olhava meio torto, por causa da cor do
menino.
— Laura, mas você ficou casada com o Victor por anos, por que isso
agora? É muito estranho.
— Não sei explicar... descobri que a minha mãe é completamente louca,
só uma pessoa maluca para tomar uma atitude dessas e destruir a família da
própria filha — reflito.
— Mana, sei que não teve culpa, mas... em nenhum momento acreditou
no seu negão... digo, Victor?
— Pior que não, as fotos eram provas muito fortes. Achei que o filme
estava se repetindo, como aconteceu com o pai dele.
— Ah, quase me esqueci que você pegou pai e filho. Ai que luxo, quem
me dera... quer dizer, credo, Deus me livre — Gargalhamos, ela é impossível!
— Ah desculpa, não pude evitar. Continua.
— Eu confundi tudo, acreditei que Victor fosse como Wagner. Naquela
época nós estávamos em constantes desentendimentos, passando por uma
fase péssima do casamento, que me fizeram crer na traição.
— Laura, eu não queria ser a pessoa a te dizer isso, mas a sua mãe é uma
sociopata e precisa de tratamento urgente, pessoas assim não são normais —
Morgana fica séria, e seriedade no caso dela não é um bom sinal.
Respiro fundo, tentando engolir essa verdade de frente.
— Mas e agora? Vamos focar no que importa, está na cara que ainda
ama o seu ex. O que vai fazer quanto a isso?
— Ele me rejeitou quando fui procurá-lo, está apaixonado por outra
mulher, só que no momento eles estão separados.
— Perfeito, então você irá continuar atrás dele, porque negão como o
Victor tu não acha na feira, bebê!
— Ah, sua louca — suas palavras até que me deixam mais animada.
— Mas estou falando sério! Se quiser quicar novamente naquela
anaconda, tem que reconquistar o boy, tem que correr atrás, porque mulher
pra ele não vai faltar, o homem é um deus da beleza!
— Cala a boca, vai me matar de vergonha, maluca! — Gargalhamos
bastante, tapo a boca com as mãos para não gritar de tanto rir até me
recompor. — Mas ele não me quer, não tenho o que fazer.
— Tem certeza? Você é linda, até eu te quero, pena que sou
heterossexual.
— Se bem que... o nosso beijo foi muito intenso, senti que ele sentiu
também, sabe — conto.
— Então ele ainda gosta de você, Laura. O amor pode ter diminuído, o
orgulho de homem deve estar ferido e com razão, pois apesar de você ter sido
enganada, Victor é que foi o injustiçado. Então, mãos à obra, querida!
Penso um pouco nas palavras dela, e me encho de coragem.
— Quer saber, você está certa! Tenho que reconquistar o meu homem de
volta!

Que estranha essa proposta do meu pai. Ele está tentando de tudo
mesmo para me ver normal outra vez, para me fazer esquecer do inferno que
vivi. Só que o problema é que não consigo esquecer de nada. Sei que sou o
culpado de tudo de ruim que aconteceu, e ninguém me convencerá do
contrário. O que mais quebrou meu coração foi perder minha namorada, a
garota que amo, Tati.
Continuo na sala de jogos, largado no sofá, pensando em tudo isso.
Kenai abusou a minha tristeza e saiu, me deixando sozinho. Meu celular
chama.
— Alô? — Atendo.
— Apolo, sou eu, sou eu, a Tati! — Ouço a sua voz aflita, levanto,
surpreso. É como um soco de emoção se espalhando por todo o meu corpo.
— Oi, meu amor, tudo bem? Como você está? — Pergunto,
emocionado, os olhos já enchendo de lágrimas.
— Não estou nada bem, preciso de você, estou com muita saudade,
penso em você todos os dias — revela, chorando, acabando comigo.
— Também penso em você todos os dias, meu amor. Tentei te ligar
várias vezes, mas seu número antigo não chama.
— Foi a minha mãe, ela tomou meu celular por todo esse tempo, e
tentou me convencer a te esquecer, mas não consigo... eu te amo, Apolo.
— Também te amo, Tati, te amo muito — me declaro.
— Só agora consegui entrar em contato, e não posso demorar, senão
minha mãe vai desconfiar. Estou na casa dos meus avós, viemos para cá
desde que papai morreu. Quero muito te ver — ela implora, me deixando
aflito. — Prometeu que iria dar um jeito de me ver...
— E irei cumprir! Agora me diz onde você está.
Minutos depois, entro no quarto do meu pai, ele está na cama com o
notebook.
— Pai, aceito a sua proposta, aceito viajar com o senhor e a minha mãe
— confirmo, sorrindo.
— Mas já? — O homem ri de volta.
— Ah, eu estive pensando... a gente precisa mesmo respirar outros ares,
e já tenho um lugar para onde podemos ir.
— Qual?
— É aqui mesmo no nosso estado, Luís Correia.
VERDADES SECRETAS

“Não posso te perder mais uma vez, de novo não!”

Acordo um pouco zonza, a minha visão se ajusta até que tudo fica claro.
Estou no quarto, pela janela percebo que já amanheceu. Erick está sentado na
poltrona em frente à cama, observando-me, um sorriso surge em seu rosto ao
me ver despertar.
— Que bom que acordou, mãe. Está se sentindo bem? — Ele pergunta.
— Sim, estou... mas o que houve? — Não lembro bem das coisas.
— Depois que o desgraçado do Alex foi embora ontem, a senhora
desmaiou. Chamamos o médico, ele te analisou e lhe deu um sedativo. Disse
que a senhora precisava repousar.
— Precisava mesmo — sento-me na cama. — Chame a sua madrinha,
quero conversar com ela.
— Mas antes deve conversar comigo; que história é essa do Alex
comprar o hotel? — Ele estava só esperando eu acordar para saber desse
assunto.
— Erick, por favor, não quero falar sobre isso... — tento desconversar.
— Ele está lhe ameaçando? — Sinto a raiva apossando-se do seu corpo,
conheço o meu filho, raiva o transforma num inconsequente sem medidas.
Não consigo respondê-lo, é difícil enganá-lo, prefiro ficar calada.
— Então aquele filho da mãe está lhe ameaçando! — Exclama, andando
de um lado a outro, fumegando.
— Erick, para! Não quero que se envolva nesta história, eu vou resolver.
— O que ele tem contra a senhora? Não pode ser nada, você nunca fez
nada — ele nem imagina o quanto o meu passado é sujo. — E não vou
permitir que venda o hotel! — Garante, adoro sua proteção, contudo, preciso
controlá-lo.
Alguém bate na porta, Eduardo entra.
— ‘Tá tudo bem? — Pergunta ele, preocupado, posso ver o quanto se
preocupa comigo.
— Ainda estou..., vou ficar bem, se Deus quiser.
Maria aparece e vem me abraçar. Troco olhares com ela e com Edu, nós
sabemos que precisamos conversar.
— Erick, saia e feche a porta — ordeno. — Preciso conversar com Edu
e sua madrinha.
— Como é que é? A senhora vai contar a eles e não vai me contar? —
Meu filho fica indignado. Ele é difícil de domar.
— Não há nada para contar, é só uma conversa...
— Para de mentir, eu te conheço! O que o Alex tem contra a senhora
que fará o hotel ser dele?
— Erick, para! — Exclamo, estressada. — Sai do quarto e fecha a droga
dessa porta, agora!
Ele me olha com muita raiva misturada a decepção, vai embora
fumegando, batendo a porta com toda a sua força, quase quebrando a parede.
— Ele vai descobrir tudo — caio em pranto, pondo as mãos na cabeça.
— Helen... Edu tranca a porta — pede Maria, acariciando o meu rosto.
— Erick vai descobrir tudo, ele é muito inteligente — repito, desolada.
— O que está acontecendo? O que aquele bandido te falou? — Pergunta
Eduardo.
— Ele sabe o que fizemos no passado, Edu. Sabe que quem atirou no
Alonso foi eu e que você assumiu a culpa em meu lugar — conto,
desesperada.
— Mas como ele descobriu? — Eduardo ajeita os óculos, surpreso.
Falamos aos sussurros.
— O desgraçado roubou meu diário... um antigo, que joguei no fogo
para esconder o passado. Ele o pegou das chamas antes que todas as páginas
se queimassem, ainda naquela época em que papai o expulsou do Algas.
— Mas você contou no diário a verdade, não foi? — Indaga Maria. —
Contou que Alonso tentou te estuprar, que você pegou a arma dele e atirou
para se defender.
— Maria, a questão é que no processo ficou como homicídio doloso, lá
consta os dois tiros, e o pior é que Edu assumiu tudo quando a polícia
chegou.
— Mas você não me pediu para assumir nada, cheguei antes da polícia,
vi a situação e decidi assumir o crime por causa de... por causa do seu pai, ele
estava tão feliz com você e o Erick — sua voz vacila.
— Gente, isso não importa mais! A verdade é a que está no processo! Se
isso vier à tona, eles irão reabrir o caso, investigar, ver o meu diário, e vou
parar na cadeia!
— Mas já faz dez anos que tudo isso aconteceu. Erick ainda era uma
criança, Alex nem trabalhava no hotel. Além disso, Eduardo já cumpriu a
pena, já acabou, você não pode mais ser acusada de nada, pode? — Pergunta
Maria, em dúvida.
— Teoricamente sim — Edu raciocina. — Não sou advogado, mas...
quando a gente é preso aprende muita coisa de Direito e... o crime após a
sentença ainda está longe de prescrever. Acho que... se a polícia ou o
Ministério Público ficarem sabendo desse diário da Helen, ela corre sim risco
de ser presa, e... eu também... de novo — ele entende a gravidade da situação.
— Você por que, Edu? — Maria quer entender.
— É crime assumir um crime no lugar de outra pessoa.
— Não quero que o meu filho ache que sou uma assassina... — volto a
chorar, arrasada. — E não quero mais prejudicar nenhum de vocês,
principalmente você Edu.
— Claro que não, você foi vítima daquele vagabundo, agiu em legítima
defesa — Maria me defende.
— Mas agora não se trata só disso, imagina o escândalo que vai ser se a
verdade for exposta — Eduardo mede os danos.
— Eu estaria acabada, o Algas estaria destruído, Alex quer o hotel.
— Mas esse homem é um capeta que voltou do inferno para infernizar a
nossa vida, só pode! — Maria toma ódio.
— Ele quer se vingar, Maria, Alex sempre quis o Algas por conta do
caso da mãe dele com papai.
— Ele é um louco! — Afirma Dudu.
— Eduardo, me deixa ficar a sós com a Helen um pouco, por favor.
Ele assente, e vai embora.
— Helen... eu estou aqui pensando, se o Alex pegou o seu diário, ele
também não ‘tá sabendo da Lorrana, não? — Maria lembra de outro
problema.
— Ao que parece não. Ele chegou me chamando de Lorrana, me
assustando, mas descobriu mesmo foi sobre o Alonso. Nem lembro se no
diário havia algo sobre a Lorrana, acho que não. O que ele sabe da Lorrana
está apenas no meu antigo RG, que também encontrou parcialmente
queimado.
— Graças a Deus! Menos mal! Se Alex quer o hotel, imagina só o que
iria querer se descobrisse que você tem uma família podre de rica.
— Nem quero pensar. Alex sempre foi ambicioso, sempre quis ter o que
não podia e agora parece ter dinheiro, mesmo assim quer o hotel por
vingança.
— E aquela tal filha dele? Que estranho, de filha dele ela não tem nada
— comenta.
— Não é possível ele ter uma filha daquela idade. Há dois anos
trabalhava aqui, e nunca ouvimos nada sobre isso. Porém não duvido, Alex é
mentiroso nato. O que me surpreende é ele estar com dinheiro, pois nunca
teve nada, nem queria trabalhar.
— Mas e agora Helen, o que vamos fazer? Você não pode vender esse
hotel pra ele, não pode!
— Eu não sei... papai jamais me perdoaria se me desfizesse do Algas.
Preciso pensar. Só de uma coisa tenho certeza, não permitirei que vocês
saiam prejudicados novamente por minha causa. Dessa vez não.

Mas que droga! Estou com vontade de berrar de raiva! Odeio quando
minha mãe me trata como criança, tenho quase o dobro do seu tamanho, será
que não enxerga isso? Preciso descobrir de que forma Alex está lhe
ameaçando, e se ela me esconde o jogo é porque a treta é séria pra caramba.
Eduardo passou aqui mudo como sempre, agora minha madrinha aparece do
mesmo jeito.
— A senhora precisa me dizer o que esse vagabundo tem contra a minha
mãe — exijo.
— Ele não tem nada, para de caçar coisa aonde não existe, Erick. O
Alex só... fez uma proposta de comprar o hotel, e... sua mãe recusou, só isso
— ela mente.
— Já que insistem em me esconder a verdade, descobrirei sozinho, e a
senhora sabe que irei conseguir!
Ela começa a brigar comigo, mas não lhe dou ouvidos, regresso para o
meu quarto. Jogo-me na cama e faço uma vídeo-chamada para os meus
amigos, todos atendem. Conto a eles o que está rolando.
— Mano, mas o que será que Alex tem contra a tia Helen que pode fazê-
la vender o hotel pra ele? — Indaga Ramon.
— É exatamente o que quero saber, mas todos aqui estão me
escondendo o jogo, não posso esperar a boa vontade deles enquanto Alex nos
ameaça. Jamais deixarei que fique com a minha casa, com o sonho do meu
avô!
— E o que pretende fazer, negão? — Indaga Eliseu.
— Primeiro tenho que descobrir onde ele está com a filha, e para
encontrá-lo, preciso da ajuda de vocês.
— Você disse “filha”? — Pergunta Felipe, que divide a tela com o
irmão.
— É, ele apareceu com uma, é uma gordinha gostosa. Vocês me ajudam
a procurá-lo?
— Mas é claro, zé do bode.
— Deixa com a gente!
— Vai dar certo!
Eles confirmam ao mesmo tempo, encerro a ligação. Jogo o celular para
longe, ponho as mãos atrás da cabeça, respirando fundo, tentando ficar um
pouco mais calmo. Observo a mala da Kelly, sinto curiosidade em abri-la, é o
que faço. A primeira coisa que vejo são várias calcinhas, que me abrem um
sorriso safado. Não resisto, pego uma fio dental, minúscula, rosinha,
invadindo a minha mente de flashes da nossa transa maravilhosa. Cheiro a
peça íntima, sugando todo o perfume, suspirando, excitado, lembrando.
— Ah, que xoxota cheirosa, meu pai..., mas é uma xoxota má, ladra! —
Rapidamente lembro do que ela me fez, jogo a calcinha para longe, limpando
a mão na camisa como se tivesse tocado em algum tipo de vírus. — Afastai,
Senhor, estas xoxotas más, afastai — murmuro, de olhos fechados, com a
cabeça erguida.
Encontro um álbum de fotografias da loira com a família, ela, o pai e a
mãe, deduzo. Algumas notas de cinquenta e mais nada, só produtos de
higiene pessoal. Não há nada de grande valor.

Nem acredito que Victor está vindo aqui em casa! Na ligação ele disse
que preferia falar pessoalmente, que não é nada com o que me preocupasse,
que passaria aqui antes de ir para a boate. Mesmo assim, estou empolgada,
teremos um momento a sós.
Procuro o melhor vestido, ele sempre gostou de me ver de vestido, dizia
que sentia muito tesão na época em que éramos casados. Morgana está certa,
preciso reconquistá-lo, preciso do seu perdão e dele na minha vida, pois
sempre o amei. Tentei me enganar, mas isso só aumentou a minha dor. Sei
que errei feio, mas todos merecem uma segunda chance.
Fico pronta, sinto-me lindíssima. A campainha toca, meu coração
palpita, é ele! Borrifo um pouco de perfume no pescoço, caminho depressa
para a sala. Ao abrir a porta, deparo-me com Victor, lindo como sempre,
perfeito, maravilhoso. Ele é um negro chocolate muito atraente, de lábios
carnudos e vermelhos, rosto de lobo, com cara de mau. Tem olhos
profundamente castanhos, escuros, o cabelo sempre bem cortado, em nível
baixo, a barba cerrada.
Seus olhos vasculham meu corpo de cima abaixo, assim como faço com
ele, o convido para entrar. Sinto seu delicioso perfume ao passar por mim. É
um gigante musculoso e gostoso.
— Oi, Victor — sorrio.
— Oi, Laura, boa noite — ele tem o sorriso mais perfeito da Terra.
Nos sentamos no sofá, lado a lado. Trocamos um breve olhar desviado
por ele. Jogo o cabelo para o lado, fazendo charminho, tentando atraí-lo, mas
Victor se mantém firme.
— Fiquei surpresa com sua ligação, dizendo que precisava falar comigo,
e também curiosa — digo.
— Pois é, eu vim te fazer um convite.
— Um convite?
— Sim, pensei em algo além do psicólogo para reanimar o Apolo. Fiz a
proposta e ele aceitou, o que me deixou muito feliz, pois foi a primeira vez
que o vi sorrindo de verdade depois de tudo.
— E o que é?
— Uma viagem à praia, já escolhemos até o lugar, Luís Correia.
Fico completamente surpresa com o convite, feliz, viajar com eles seria
incrível!
— Nossa Victor, adorei a ideia — nem consigo disfarçar a felicidade. —
Isso vai ser ótimo pro Apolo, tenho certeza. Com o nosso apoio unido,
podemos fazê-lo superar tudo de ruim.
— Sim, acho que ter o pai e a mãe por perto será bom para ele.
— A última vez que fui à praia, foi com vocês... ainda estávamos
casados — lembro, me arrependo em seguida, não quero tocar nesse assunto
chato.
Victor prende a voz.
— Desculpa, falei sem pensar — peço.
— Não, tudo bem, eu disse a mesma coisa a ele.
— E por que Luís Correia? Nada contra, tenho visto muitas notícias do
litoral do nosso estado, uma melhor que a outra, inclusive estive lá quando
menina, papai possuía uma casa de praia no local.
— Apolo que escolheu, disse que quer conhecer, acabei ficando
interessado também, nunca fui ao nosso litoral. Acho que temos que conhecer
a nossa terra, o nosso Piauí, já viajamos muito para fora e nos esquecemos
daqui.
— Isso é verdade. Pois eu aceito, e estou muito feliz por terem lembrado
de mim. — Trocamos sorrisos, sinto uma imensa vontade de beijá-lo.
— Bem, já que aceitou, agora quero te fazer outro pedido, que procure
um lugar para nos hospedarmos, de preferência, à beira-mar. Você sempre foi
boa em escolher os melhores locais, eu não sei fazer isso.
— Sem problemas. Mas para quando é a viagem?
— Para esta semana.
— Esta semana? — Fico surpresa, ficarei louca para organizar tudo.
— Temos que aproveitar as férias do Apolo, então quanto antes melhor.
— Entendi..., tudo bem, pesquisarei um lugar o mais rápido possível.
Victor levanta, se preparando para ir embora, me deixando frustrada.
— Bom, então eu já vou — se despede.
— Já? — Indago, sem jeito.
— Já, o trabalho me chama.
— Não quer... ficar um pouco mais? — O convido, esperançosa. — Um
vinho, talvez?
Victor percebe as minhas segundas intenções.
— Não, Laura. Realmente preciso ir, mas agradeço o convite — a sua
educação me dilacera.
O acompanho até a porta, voltando à imensa solidão.

Estou no escritório, esperando Helen aparecer. Depois de tudo que ela


falou mais cedo sobre a ameaça do Alex, fiquei pensando em como poderia
ajudá-la e tirá-la dessa situação. Coitada, estava tão frágil, tão sensível,
chorando, tive pena, vontade de cuidar dela, de abraçá-la e dar carinho.
Ah Helen, se soubesse o quanto te amo, e pela primeira vez na vida ela
desconfiou disso, me fazendo aquela pergunta da qual me arrependo de não
ter respondido imediatamente, antes de atender aquele maldito telefonema
sobre a chegada daquele bandido.
Nosso segredo foi descoberto por um inimigo. Me lembro como se fosse
ontem dela ligando para o hotel desesperada, no meio da noite, querendo
falar com seu Matheus, mas quem atendeu foi eu, e corri para ajudá-la. A
encontrei chorando, toda marcada, com a roupa rasgada, ao lado do Alonso
que estava morto.
Alguém chamou a polícia, eu não poderia deixar que Helen recebesse a
culpa, ela tinha chegado a pouco tempo, o seu Matheus a amava tanto, e
ainda havia o Erick, que era uma criança. Sei muito bem o que é crescer sem
mãe, além disso, Alonso era filho do delegado, que faria de tudo para acabar
com ela. Então tomei a decisão que mudaria toda a minha vida, a mandei ir
embora antes da polícia chegar, a expulsei, e tomei a arma das suas mãos, o
que me custou cinco anos de prisão.
Helen entra no escritório. É incrível como consegue ser linda até triste,
com seu lindo cabelo dourado.
— Nossa, já escureceu, só agora consegui vir aqui — comenta.
— Eu cuidei de tudo, não se preocupe — garanto.
— Você sempre cuida de tudo. Não sei o que faria sem você, Edu — ela
me abraça, com as lágrimas já descendo por sua face, me compadecendo. A
correspondo, a abrigando em meu corpo com carinho.
— Vai dar tudo certo. Estou aqui para você — sussurro, ela desgruda os
nossos corpos.
— Obrigada, prometo que dessa vez não deixarei que nada de mal te
aconteça.
— Para de falar assim, assumir aquela morte foi decisão minha, você
não me pediu nada.
— Mas aceitei...
— Pelo Erick, ele precisava de você, o seu pai também.
— Nada justifica — ela enxuga as lágrimas. — Falou com o advogado?
— Sim, ele disse que a prova que o Alex tem em mãos pode ser
considerada como um fato novo no caso do Alonso, o processo pode ser
reaberto.
Helen respira fundo, refletindo, preocupada.
— Já me decidi, Edu..., o melhor a fazer é vender o hotel para o Alex...
— Não vai fazer isso! Eu não vou deixar.
— É o melhor, Edu, ou então vou pra cadeia — ela tenta me convencer.
— Faço um acordo com ele para não demitir nenhum de vocês, vou embora
para outro lugar com o Erick.
— Não! — Exclamo, com raiva.
— Por que não?
— Porque... — engulo em seco, tomando coragem, de coração acelerado
— não posso te perder mais uma vez, de novo não!
— Então você gosta mesmo de mim? — Ela sussurra, surpresa, de olhos
brilhando.
— Eu te amo, Helen..., sempre te amei!
Helen fica pasma com as minhas palavras, boquiaberta. Leva alguns
segundos para que avance em mim, me beijando, se entregando. Vou ao céu
com o nosso toque, é tudo que sempre sonhei, que sempre desejei, mas nunca
tive coragem de revelar. Misturamos os lábios até ficarmos sem ar, trocamos
olhares que dizem tudo. Nossos corpos clamam um pelo outro, não aguento
mais esperar!
A jogo contra a mesa, levanto o seu vestido. Ela está alucinada, carente,
cheia de tesão como eu, transamos por muito tempo, é o melhor sexo da
minha vida!

Ramon me liga, afirmando que encontrou o endereço do Alex. Meia


hora depois, estacionamos perto da casa do bandido. É um imóvel grande e
bonito, sem muros ao redor.
— É aqui? — Pergunto.
— Sim, essa é a casa do Alex — diz Ramon. — E agora, o que está
pensando em fazer?
— A garota, a filha do Alex, quero falar com ela — respondo
— Para quê?
— Vou me aproximar dela, tentar criar alguma intimidade...
— Obter informações sobre o pai.
— Exatamente, verei o que posso colher dela sobre Alex e sobre o que
ele tem contra a minha mãe.
— Não lembro de nenhuma gata resistir a esses teus lindos olhos verdes
— nós rimos.
— Pois é, espero que com ela não seja diferente.
— Ela é bonita?
— Gordinha gostosa, muito linda, uma delícia. O Alex disse para não
me aproximar dela — debocho.
— Ah, coitado, foi o mesmo que dizer “vai Erick, pega a minha filha”.
Ele não te conhece.
— Não, ele me subestima porque sou jovem, mas vou provar a ele que
não vai tomar o hotel da minha mãe, não mesmo.
— Olha lá, é o Alex!
Alex sai da casa, entra em seu carro, dá tchau para a filha, e vai embora
numa direção oposta à nossa.
— É agora, vou lá! Fica de olho aqui, qualquer coisa me liga — digo,
descendo do carro, correndo até o imóvel.
Bato na porta, ela abre, surpreendendo-se ao me ver, e tenta fechar
imediatamente, mas não deixo.
— Ei, ei, calma, calma, não vim fazer confusão, juro! — Faço-me de
bom moço.
— Então, o que quer aqui? Alex não está! — Retruca.
— Ah, melhor, eu não vim falar com ele, vim falar contigo.
— Comigo? Falar o quê? — Fica curiosa.
— Posso entrar?
— Claro que não! Alex disse para você não se aproximar de mim,
lembra?
— Olha, relaxa, só vim pedir desculpas pela minha agressividade ontem.
Geralmente não sou assim, é que seu pai me tirou do sério.
— Ah, é? Você também tirou ele do sério, ainda mais pelo que fez no
carro dele. As desculpas deveriam ser para ele.
— Não há como, ele me provocou, e vim pedir desculpas a você
porquê... não quero deixar uma má impressão — a minha voz é doce como
rapadura.
A gatinha sai de sua posição defensiva, descruzando os braços.
— E por que se importa com a minha opinião? — Indaga, erguendo a
sobrancelha, desconfiada, fazendo biquinho com seus lábios carnudos.
— Por nada — sorrio, safado.
— Garoto... se o Alex te pega aqui — ela ri, notando minhas intenções.
— O que ele poderia fazer? Só estamos conversando, não estamos
fazendo nada demais — Aproximo-me dela. — A não ser que... você queira
me convidar para entrar.
— Não mesmo. Vá embora, desculpas aceitas.
Ela fecha a porta na minha cara, me fazendo rir. Volto pro carro.
— E aí mano? — Pergunta Ramon, curioso.
— Ela é mais esperta do que pensei, não se deixa enganar fácil, gosto
disso. É um desafio, mas não estou afim de perder tempo.
— E agora?
— Vamos ficar aqui, esperar a noite se estender. Vou entrar nessa casa
na madrugada sem que eles percebam — afirmo, mirando o imóvel
determinado.
— Tu é louco? Isso é invasão de privacidade, maluco!
— Foda-se, e nem pense em arregar, preciso de você aqui fora para me
ajudar caso dê merda.
— É claro que vai dar merda! — Ramon não está gostando nada dessa
ideia.
Mais tarde, quase 2h da madruga, o acordo, avisando que vou tentar
penetrar na residência do inimigo. Alex voltou cerca de 20 minutos depois
que a gordinha bateu a porta na minha cara
— Erick... — Ramon me repreende, medroso. — Como vai entrar na
casa?
— Não sei, vou dar um jeito — desço do carro, saio no meio da
escuridão. A rua está deserta, sem um ser vivo à vista. Encosto-me na parede
do imóvel, procuro alguma entrada fácil. Tento abrir a janela de vidro da sala,
que para a minha surpresa, está destrancada! Nossa, que sorte!
Salto vagarosamente para dentro, abaixo-me atrás do sofá, quase sendo
pego em flagrante por Alex que passa pelado em direção a um cômodo. Meu
coração bate forte, mas a vontade de descobrir alguma coisa é maior, é o que
me move. Cautelosamente sigo o rastro do bandido, parando ao lado da porta
aberta, ouvindo eles conversarem. Olho com cuidado, e me surpreendo com a
garota nua na cama onde aparentemente acabou de rolar um sexo quente.
— Vem — chama ela. — Eu quero mais.
— Gosta de foder com o papai, gosta? — Ele pergunta, fico chocado!
ALIANÇA FATAL

“Quero que você o seduza como fez comigo”

Não posso acreditar, o Alex come a própria filha?!


— Diz pra mim, gosta de foder com o papai, gosta? — Fala ele, safado,
acariciando o rosto dela.
— Para, Alex! — Reclama a garota — Não gosto que fique dizendo que
é meu pai em nossos momentos íntimos, isso é nojento, já te falei, parece
doentio! — Ela se cobre com o lençol.
— Ah, é só uma fantasia, meu bem. Sabemos que não sou o seu pai de
verdade, e agora também não sou mais o seu padrasto.
— Que fantasia horrorosa, não gosto! Já te falei muitas vezes! — Ela
senta na cama.
— Ah não, não levanta, hoje é seu aniversário de dezoito anos, deixa eu
terminar de te dar o meu presente, deixa... — Alex busca um beijo, mas a
garota desvia o rosto.
— Não, sai... — a voz dela agora é de tristeza. — Já te pedi para não
ficar me chamando de filha ou dizendo que é meu pai quando estivermos no
quarto. Isso me faz lembrar da minha mãe, e fico triste.
— Meu amor, a sua mãe morreu sem saber da gente, já te disse para não
se culpar de nada. Eu gostava dela, ela era uma boa esposa, mas não pude
evitar me apaixonar por você. Te amei desde a primeira vez em que te vi. Foi
inevitável, nós não conseguimos controlar.
Então ele era o padrasto dela e eles se pegavam enquanto ele ainda era
casado com a mãe dela! Que loucura!
— Não se esqueça que só me entreguei a você depois que a minha mãe
morreu! Jamais trairia ela!
— Mas você traiu, Suzy...
— Não traí! — Exclama a garota, levantando e vestindo a calcinha.
Então seu nome é Suzy.
— A gente não transava, mas namorava, isso é traição também...
— Para, seu idiota! Não quero lembrar disso! Você é um estraga prazer
mesmo! Quer me machucar mais?! Vai em frente!
— Vem cá, vem cá — ele a puxa e a joga na cama, deitando sobre seu
corpo e prendendo-a a ele.
— Sai, me solta! — Suzy chora.
— Juro que nunca mais vou tocar nesse assunto do passado, juro.
Desculpa. Olha pra mim... eu te amo, eu te amo demais!
Eles trocam um beijo longo.
— Eu também te amo — a garota se declara. — Você é tudo o que me
restou.
Ele faz mais algumas carícias nela.
— Então, Suzy, me conta essa história direito, o que aquele moleque
veio fazer aqui enquanto eu não estava? — Pergunta.
Olha, ele quer saber de mim. Tiro o rosto da porta, com receio de ser
visto de relance, fico apenas os escutando.
— Sim, ele veio aqui, disse que queria falar comigo e não contigo.
— Falar com você, é? Rum... sei. Que moleque ousado.
— Acho que ele queria saber de alguma coisa — Suzy reflete, é esperta.
— Com certeza, ele quer descobrir o que tenho contra a mamãezinha
dele, ‘tá com medo de perder o hotel. Duvido muito que ela tenha contado o
nosso segredinho a ele — Alex sorri, debochado. Tenho vontade de entrar no
quarto e lhe dar uma surra.
— E que segredinho é esse mesmo? Eu quero saber, você ainda não me
disse como ficaremos com esse hotel.
— Ora, eu vou comprá-lo, simples.
— Ah tá, pensa que me engana. O que tem contra ela?
É agora! Ele tem que falar!
— Um diário, cheio de segredos perigosos, perigosíssimos — ouço a sua
gargalhada maléfica.
— Que segredos?
— Meu bem, você é muito curiosa, isso é conversa de gente grande.
— Onde está esse diário? No cofre?
Então ele tem um cofre!
— Para Suzy, para! — Reclama.
— Você disse que não haveria mais segredos entre a gente!
Ouço passos e recuo veloz para a sala, mas não há tempo. Suzy surge na
porta, porém, antes que possa me ver, Alex a puxa para dentro do quarto
outra vez, me fazendo quase enfartar!
Decido ir embora, por hoje já deu. É hora de vazar daqui antes que dê
merda. Com muito cuidado, retorno para o carro.
— Mano, graças a Deus que voltou, estava me cagando de medo aqui,
velho. — Revela Ramon, nervoso.
— Vamos vazar daqui, já sei o suficiente! — Ligo o carro, dou a ré e
saio disparado
— Sério? O que descobriu?
— Que eles dois são padrasto e enteada, que a mãe dela morreu e agora
Alex come a garota. O nome dela é Suzy.
— O quê? — Meu amigo fica perplexo.
— Isso mesmo. Descobri também que Alex tem um diário com segredos
da minha mãe, que está escondido num cofre, e é isso que está usando para
ameaçá-la.
— Então precisamos tomar o diário dele. Mas como faremos isso?
— É exatamente no que estou pensando.

Um novo dia surge e, apesar da loucura do Alex, acordo um pouco mais


leve. Agora, enquanto tomo café no restaurante, conto a Maria o motivo do
meu sorriso: Edu.
— Ah meu Deus do céu, eu não acredito! — Maria tapa a boca com as
duas mãos, totalmente surpresa e maravilhada com a notícia — O Edu?? O
Dudu?? Quem diriaaa??
— Pois foi, e fiquei chocada como você, pensando — conto, sorrindo.
— O homem é intenso e forte, sabe dominar uma mulher.
— Carinha de bom moço... de quem não aguenta nada, e no fim te pega
de jeito!
— Ele faz o serviço direito, pega de jeito mesmo, e forte, eu amei! Acho
que já estou até apaixonada — faço bico.
— Eita que você não muda mesmo, Helen, se o homem for bom de
cama, já fica apaixonada. — Maria me repreende.
— É verdade, nunca mudei, sempre fui assim, iludida. Mas agora sei
manter o controle.
— Mas e aí? E depois do sexo?
— A gente conversou um pouco, tentando entender o que havia
acontecido.
— Transaram de novo?!
— Não, porque depois lembramos que estávamos com tanta pressa que
esquecemos de usar camisinha, então fui atrás de remédio. Ainda não
decidimos nada.
— E o que você pensa em decidir? — Maria está curiosa. — Eu sempre
disse que ele era afim de você, mas sempre muito discreto.
— Até demais, por isso que eu duvidava, me fazia mil perguntas. Mas
não sei o que vai acontecer, ele disse que me ama — sorrio.
— Mas você não a ama.
— Ah, não sei, é tudo novo para mim, mesmo conhecendo ele por todos
estes anos, sempre gostei do Edu como amigo. Porém, estou numa idade em
que não dá mais para perder tempo brincando de namorados, não tenho
paciência pra isso. Ando muito carente, e ter alguém me dizendo tudo o que
ele me disse foi incrível. Mas por outro lado, sinto um pouco de medo devido
aos embustes que passaram por mim, não quero ir com muita sede ao pote.
— Ah, pois decida logo, Edu já está chegando aí — Maria levanta da
cadeira.
Vejo Eduardo chegando com uma das mãos atrás das costas.
— Bom dia, seu Edu, tudo bem? — Ela nem sabe disfarçar, oh Cristo!
— Tudo bem, Maria, bom dia. Bom dia Helen — ele me olha diferente.
— Fique à vontade para tomar café, vou para a minha cozinha.
Maria se afasta, deixando eu e Dudu a sós. Ele retira a mão das costas e
me entrega uma linda rosa envolvida no plástico para presente. Fico
maravilhada, nem lembro se algum dia na vida um homem me deu flores, e
como estou num momento sensível, meus olhos enchem de lágrimas.
— Pra você — ele diz, enquanto levanto.
— Ah, Edu, quer me matar? Logo agora que ando tão sensível. Que
lindo! Obrigada — O abraço, e ele me corresponde com sua força, com o seu
calor e vigor. Não resisto, e o beijo, fazendo-o corar por estarmos em meio à
outras pessoas.
Nos sentamos, e ele me acompanha no café.
— Não consigo parar de pensar no que aconteceu ontem — ele revela.
— Eu não sei se... eu fiz... do jeito certo. Há um tempo que não fico com
ninguém, e...
— Você fez, e foi muito bom — confirmo, para que ele não tenha
dúvidas.
— Que bom... também gostei muito, foi como imaginei, aliás, bem
melhor — sorri, tímido, me encantando mais. Que homem é esse?
— Por que tantos anos calado, Edu? Por que não falou pra mim?
— Com o tempo fiquei me perguntando isso. Primeiro, quando você
chegou aqui, eu te achava demais pra mim, sabe. Depois teve o Alonso, e
consequentemente fiquei afastado, do que adiantaria revelar o que sentia da
cadeia? Não queria de nenhuma forma que se sentisse obrigada a estar
comigo.
— Oh, Edu — as lágrimas descem mais uma vez, não aguento segurar a
emoção.
— Aí, quando saí da prisão, achei você um sonho mais distante ainda e
dediquei os próximos anos nos estudos, com o auxílio que seu pai me deu.
Mas me arrependi quando te vi com o Alex. Sempre o medo, a insegurança, e
a baixa-autoestima me fizeram te perder. Hoje amadureci, e... — Ele engole
em seco, seus olhos brilham — posso falar sobre isso abertamente. Sem
receios.
— Como fui burra..., idiota. — Digo, enxugando as lágrimas.
— E essa noite concluí que passei tempo demais calado. Não vou mais
fazer isso de agora em diante — Edu recupera a voz, sendo firme novamente.
— Por isso, Helen, eu preciso saber se você quer ser minha, quer?
Respiro fundo, são tantos sentimentos que me cercam agora.
— Eu quero. Acho que sempre fui sua, Dudu, só não sabia disso —
coloco a mão sobre a dele, recebendo seu sorriso largo, de orelha a orelha,
com lágrimas descendo por sua face.
Sinto toda a sua felicidade em me ter como sua mulher, e isso me
fascina, me encanta, me apaixonando cada vez mais. Por que não me
entregar? A vida está me dando esse presente depois de tantas decepções. Por
que negar?
Ele aperta a minha mão, me passando o seu calor que parece me
fortalecer. Ele enxuga as lágrimas, e faço o mesmo.
— É, se a gente chorar mais, isso aqui vai alagar — comenta, nos
arrancando gargalhadas.

Acordo com o seu Maicon me ligando. Atendo o celular com uma


careta, bocejando. Rolo na cama, pegando o celular.
— Oi, seu Maicon — digo, sonolento.
— Erick, meu filho, tem uma moça aqui no portão te procurando.
— É a Ana Filipa?
— Não.
— A Jessica?
— Não.
— A Flay?
— É uma tal de Kelly.
Quer dizer que a ladra veio me procurar? O que ela quer? Que saco!
— Ah tá..., diz que eu não estou.
— Ela falou que só sai daqui quando você aparecer.
— Merda..., pois diz para esperar, apareço já aí.
Já fico mal-humorado. Levanto, tomo banho bem lentamente, sem
pressa, quero que ela espere. Depois me arrumo na velocidade de uma
tartaruga, caminho pelo hotel, rumo à saída, trocando olhares com algumas
hóspedes delícias no caminho. Encontro Kelly com a mesma roupa que usava
na última vez em que a vi. Ela usa óculos de sol, e está com a bolsa de lado
no antebraço.
— Sim, no que posso ajudar? — Faço um tom de quem não entende o
motivo dela estar aqui
— Por favor, devolve a minha mala — implora, se aproximando.
Percebo que está triste e um pouco suada, o cabelo meio bagunçado, mas
ainda assim, linda.
— Eu ainda posso dar queixa de você na polícia — maltrato.
— Para, Erick! Eu já entendi que está me castigando pelo que fiz! Eu sei
que errei, mas tudo o que tenho está naquela mala, é sério. E demorei pra te
encontrar, para chegar aqui. Não foi fácil esses dias...
— Não vou te dar nada, vai embora — falo, sério, e lhe dou as costas.
Ela me segura pelo braço.
— Olha... — e começa a chorar. — Por favor..., eu faço o que você
quiser, qualquer coisa...
Ela desaba em pranto, parece não estar num dia bom. Seu choro agora
não me parece nada falso. Infelizmente, fico comovido.
— Faço qualquer coisa que você quiser..., juro — choraminga. De
repente, um estalo vem à minha mente. Tenho uma ideia! Kelly pode ser útil
para mim.
— ‘Tá bom, não precisa chorar. Vem comigo — a chamo, a
surpreendendo. Ela me segue pelo hotel, deslumbrada com a beleza e o
requinte do lugar, com a riqueza que os hóspedes exalam. O Algas é
exatamente assim, um espaço para clientes que podem pagar por todos os
nossos serviços. — Espera aqui — ordeno.
Entro no escritório da minha mãe e a encontro aos beijo com Eduardo,
quase caio duro no chão!
— O QUE É ISSO?? — Exclamo, indignado, os assustando.
— Erick, meu filho! — Ela fica toda desconcertada. Eduardo fica
vermelho que nem um tomate, sem saber onde meter a cara.
— Eduardo cara, como é que tu pega a minha mãe assim, sem me
consultar?
— A gente ia..., a gente ia te contar... no momento certo — ele gagueja.
— Quê isso Erick? Desde quando namorado meu precisou pedir a sua
permissão? As suas namoradas me pedem permissão?
— Meu Deus..., ‘tá bom, não tenho nada a ver com a sua vida, só vim
lhe dizer que tô levando uma menina lá pra casa. Estou avisando antes,
porque não quero passar vergonha quando a senhora chegar.
— Que menina, Erick? De novo? A minha casa não é bordel! — Minha
mãe sempre diz isso, mas não adianta de nada, transformo meu quarto num
puteiro cinco estrelas.
— É só uma amiga...
— Nunca vi mulher ser sua amiga!
— Helen — chama Edu, em um tom brando, pedindo implicitamente
para ela permitir.
— Tudo bem — minha mãe concorda.
— Ganhou um ponto comigo agora, hein Edu! — Pisco para ele. — Mas
olha só, escritório não é lugar de namorar, não, é de trabalhar.
— Olha quem fala, ah menino, vá te catar! — Minha mãe fica doidinha.
— Vou ficar de olho, principalmente em você Eduardo. Essa sua carinha
de santo não me engana mais, fica esperto, mano — aviso, fechando a porta.
Volto para Kelly, que continua observando tudo encantada ao seu redor.
É notável que ela não está acostumada com o luxo.
— Vamos — a chamo.
Chegamos em casa, e subimos a escada.
— Sua mala está no meu quarto — informo, e ela continua me seguindo,
observando cada canto da casa atentamente.
Abro a porta, deixo ela entrar, e a tranco em seguida.
— Ali — aponto para a mala dela.
Kelly sorri, e confere os seus pertences.
— Você mexeu nela — afirma, tirando o sorriso do rosto. — Onde está
o meu álbum de fotografias?
— Tinha um álbum aí? — Me faço de desentendido
— Claro que tinha, onde está Erick? — Jogo-me na cama, pondo as
mãos atrás da cabeça, sorrindo maldoso — Erick, o álbum é a única
lembrança que tenho da minha mãe, cadê?
Ah, então fiz bem em pegá-lo.
— Quer ele de volta? Então tira a roupa — ordeno, sério, fazendo cara
de mau.
A garota fica chocada com as minhas palavras. Seus olhos brilham
rapidamente, e sua expressão se torna um misto de decepção e humilhação
completa. Ela me odeia agora, e se sente como uma prostituta, é visível.
Vamos ver o quanto esse álbum é importante para ela.
Aos poucos, as suas peças de roupa vão ao chão, até que somente o sutiã
e a calcinha cobrem o seu lindo corpo. Como Kelly é linda e gostosa,
perfeita. Engulo em seco, a desejando, com o pau crescendo veloz e furioso.
Ela respira fundo, com as lágrimas molhando o seu rosto, e tira tudo, ficando
completamente nua, como uma sereia encantadora, capaz de enganar
qualquer homem e levá-lo ao inferno sorrindo
Seu nojo e raiva por mim são visíveis. A contemplo por alguns
segundos, louco para jogá-la nessa cama. Um tesão imenso percorre todo o
meu corpo, mas tenho que me segurar.
Pego uma toalha e jogo nela, que fica sem entender.
— Agora vai tomar banho — mando.
— O quê? — Indaga.
— Vai te fazer bem, você ‘tá precisando — abro o meu sorriso irônico,
Kelly fica puta, mas como quer o álbum, não diz nada e me obedece.
Aproveito para mandar mensagem aos meus amigos, avisando que ela
voltou e quais são os meus novos planos. Depois do banho, a loira ainda está
um pouco apreensiva, sem saber o que esperar de mim, mas pensando no
pior, com certeza. Ela fica parada, me olhando, com seu lindo cabelo dourado
de lado, molhado, toda gostosa.
— Pode se vestir, não vou te olhar — digo, mexendo no celular sem lhe
dar atenção — Fique despreocupada, não transo com garotas sob ameaça, não
faz o meu tipo. Só vou ficar no quarto, porque não confio em você. Ela
parece pasma com a minha atitude, se vestindo. Não resisto, a olho de
soslaio, que garota, meus caros, que garota! — Está com fome? — Indago.
— Por que está fazendo isso? — Estou adorando deixá-la desconcertada.
— Eu te fiz uma pergunta.
— Estou! — Responde, mal-humorada, odiando o meu comportamento.
Após dar uma repaginada no visual, a loira parece bem melhor e muito
mais gata. Descemos para a cozinha, onde preparo dois sanduíches para nós
enquanto ela me aguarda na mesa, perplexa. Pego uma jarra de suco deixada
na geladeira, e em segundos estamos nos alimentando, trocando olhares. Ela
sorri para mim, por algum motivo, mas não a correspondo.
— Vai me contar logo por que está fazendo isso? — Pergunta, após
terminar de comer, enquanto se limpa com o guardanapo.
— Curiosa? — Indago.
— Claro!
— Você sabe que tem uma dívida comigo, não sabe? Me enganou,
tentou me passar para trás...
— Vai ficar jogando isso na minha cara para sempre?
— Só se eu quiser. Enfim, estou com o seu álbum, mas além dele, você
tem uma dívida comigo pelo que me fez, e sei exatamente como vai pagar.
— Se não é com sexo, é o quê?
— É muito mais difícil que isso. A questão é que tenho um inimigo, ele
está com algo do meu interesse, que está guardado no seu cofre. Quero que
você o seduza como fez comigo, bote-o para dormir como fez comigo,
descubra o segredo do cofre e pegue o diário. Assim, te devolvo o teu álbum,
ficamos quites, e cada um segue o seu rumo.
— Um diário? É só isso? — Indaga Kelly, estranhando.
— Sim, mas lá pode ter mais coisas..., ele tem dinheiro e você pode ficar
com todo o resto, eu não preciso — sou sincero.
Kelly reflete por alguns instantes, me analisando
— É mentira, você quer me ferrar para se vingar...
— Não é mentira. Se eu quisesse mesmo me vingar de você era só te
expulsar daqui e nunca mais te devolver o álbum, ou até mesmo te denunciar
na polícia, pois tentou me roubar e deve ter feito isso com outros por aqui.
— Por que eu?
— Digamos que você faz o tipo do Alex, além de saber enganar e
roubar, é uma ladra, a pessoa perfeita para o que preciso.
— Hum... — ela ainda está desconfiada. — Ele se chama Alex?
— Sim, aquele otário.
— Por que não gosta dele?
— Isso não te interessa. É pegar ou largar, e aí?
— ‘Tá bom, eu aceito.
— Agora só tem uma coisa, garota — falo sério, pegando no seu pulso
com bastante força, a assustando. — Se me enganar de novo, juro que dessa
vez não terei pena de você!
— Ai, tudo bem! — Ela reclama, puxando o braço, sentindo a dor e a
marca que deixei em sua pele.
— Ótimo.
— E onde ficarei enquanto esse plano não dá certo? — Pergunta,
acariciando o pulso.
— Infelizmente... aqui — digo, desgostoso, procurando o número de
Ramon no celular.
— Grosso..., precisa disso?
— Com você precisa.
— Já que vamos trabalhar juntos, você podia voltar a ser fofo como
naquela noite.
— Fofo é o meu pau, você quer ver? — Retruco, Kelly revira os olhos,
cruzando os braços, fazendo bico. — Oi Ramon, ficou de olho no Alex como
te pedi?
— Fiquei, mano. Ele está aqui na Atalaia, e advinha, logo na barraca do
nosso amigo, Pedrão — responde Ramon.
— Com a Suzy?
— Não, sozinho, o Pedrão disse que é o segundo dia que ele vem para
cá, nesse horário.
— Ah é? Fazendo o quê?
— Tomando cerveja, banhando no mar, paquerando a mulherada.
— Hum..., ótimo, vai dar tudo certo.
— E aí, cadê a bandida?
— ‘Tá aqui — olho para ela, que se faz de emburrada. — Ela aceitou
fazer o serviço.
— Eita, vem chumbo grosso por aí, só quero ver no que tudo isso vai
dar! — Sorri.
— Vai dar tudo certo, estou confiante — sou positivo.
— O problema é que você sempre está.
— Vou aí agora com ela. Tchau — desligo
Kelly me olha, entendendo tudo.
— O tal Alex está na praia?
— Sim.
— E você quer me levar para conhecê-lo agora?
— Sim, não posso perder tempo. Vamos — digo, levantando.
— Olha Erick, se ele é um cara que tem dinheiro, não vai querer uma
garota mal vestida — argumenta, me fazendo franzir a testa.
— O que quer dizer com isso?
— Estou precisando de roupas, de biquíni, tudo o que tenho está um
trapo!
— Ah, está pensado que sou tão idiota?
— Olha, se quer que tudo dê certo, tem que ouvir a minha opinião
também. Já estive com homens ricos antes, são várias coisas em uma mulher
que chamam a atenção deles. As minhas roupas estão um farrapo, velhas, e se
vou encontrar ele na praia, também preciso comprar biquíni, é sério. Lembra
que eu quero o álbum, não vou te enganar.
— Não sei, não — fico com o pé atrás. Mas que menina ousada, me
rouba e ainda quer me fazer gastar com ela!
— Então ‘tá bom, já que é assim, já que não quer me ouvir. Mas lembre-
se que só teremos uma chance, se ele não gostar de mim, já era.
— Isso, muito bem, fica agourando o meu plano, sua bandida! Ótimo!
— Bufo, irritado, a puxo pelo braço, bruto.
— Ai, para onde está me levando? — Ela pergunta, como uma
menininha chata!
— Pro carro, você não tem que fazer compras? Agora só não pensa que
sou teu marido, porque não sou! E nem teu carcereiro! — Ela ri, vitoriosa, me
tirando do sério.
No caminho para o shopping, ligo para Ramon, desmarcando o nosso
encontro. Enquanto isso, a loira parece estar nas nuvens, sorrindo de orelha a
orelha, puxando conversa comigo toda hora, mas mantenho-me frio, não
quero intimidade demais.
— Ai que lindooo — diz, mexendo no enfeite de cachorro que tenho
pendurado no para-brisa.
— É lindo, mas não é pra roubar não — disparo.
— Ah, como você é chato! — Ela resmunga. — Que músicas tem aqui?
— Não mexe — falo, mas Kelly fica metendo o dedo lá, sem me dar
ouvindo, se achando a dona do carro, só pode! Escolhe uma música e
aumenta o som, dançando e cantando no banco.
— AI, ADORO ESSA MÚSICAAA!! — Grita, me deixando surdo.
Olho para a loira sorrindo e se divertindo sozinha, dançando, esbanjando
beleza. Se prestasse, até que seria uma ótima pessoa. De repente, saio do
modo ranzinza sem perceber, me pego com um pequeno sorriso no rosto, essa
garota é completamente doida!
Chegamos ao Shopping de Parnaíba, o único centro de compras,
serviços e entretenimento da região do litoral do Piauí, que atende à demanda
reprimida de cerca de 810 mil pessoas, distribuídas por mais de 29 cidades,
nos estados do Piauí, Maranhão e Ceará. Como não entendo muito bem de
roupa feminina, deixo a ladra escolher a loja que quiser.
— Olha, não vai abusar, não, que não nasci para ser sugar daddy —
aviso, falando no ouvido dela.
— Tudo bem, só vou comprar o necessário. Que chato! — A loira
reclama, entrando na loja e sendo atendida por uma moça.
Não resisto, e olho para a bunda dela nesse shortinho apertado e surrado.
É, realmente as suas roupas podem melhorar. Não demora muito, e Kelly já
parece ser a dona da loja e amiga de infância de quase todas as atendentes,
que ficam trazendo peças para ela vestir sem parar, encantadas de verdade
com a sua simpatia. Ela parece a garota mais feliz do mundo, sorrindo e
trocando comentários com as funcionárias que a elogiam o corpo perfeito
dela.
Bufo, enchendo o saco de tudo isso, sentado no sofá, de frente para o
vestuário, a esperando, mas parece que essas compras não vão acabar nunca!
De repente, ela abre a cortina do boxe só de biquíni preto, que contrasta com
a sua pele, olhando sensualmente para mim, me provocando, dando voltinhas,
me deixando desconcertado, meu queixo quase vai ao chão!
— O que achou? — Pergunta, me fazendo engolir em seco. Puta que
pariu! Diaba! Não a respondo, e pego uma revista para folhear, mas a
imagem dela só de biquíni não sai mais da minha cabeça, que gostosa! Em
seguida ela abre a cortina novamente, dessa vez em um maiô vermelho, que
modela muito bem o seu corpo.
Cruzo as pernas rapidamente, tentando controlar uma ereção nervosa
que quer surgir, e finjo que não a vi. Maldição!
— Psiu... — ela assovia para mim. A olho sério, vendo essa maravilha,
mas finjo não me surpreender. Ela parece não acreditar na minha atuação e
sorri provocante, mexendo comigo.
Ela volta para o boxe, e aproveito para passar as mãos no rosto e em
sguida ajeitar o pau dentro da bermuda, que está tão duro que chega a doer.
Oh Deus, tanto que te pedi... Por que esta provação, senhor? O resultado é
que saímos do shopping três horas depois, com várias sacolas. A bandida
conseguiu me persuadir, e estou puto por ter caído na sua lábia!
— Ai, compra sorvete pra mim? — Me pede, enquanto caminhos para o
carro.
— Não! — Retruco.

A nossa viagem saiu mais depressa do que imaginávamos, Laura


rapidamente encontrou na internet um lugar como queríamos e conseguiu
reservar duas suítes num hotel à beira-mar, na praia do coqueiro, em Luís
Correia. Agora, estamos os três no meu BMW, já na cidade, prestes a chegar
no nosso ponto de descida.
— Mãe, qual é mesmo o nome do hotel? — Pergunta Apolo, no banco
de trás, Laura está ao meu lado.
— Algas — responde ela, Apolo volta a mexer no celular. — Foi o
melhor que achei por essa região, com várias áreas de lazer, recomendação de
uma amiga. Pelas fotos é um lugar calmo, bonito, aconchegante e sofisticado.
— Foi muita sorte encontrar vaga — digo.
— O rapaz que me atendeu, Eduardo, disse a mesma coisa, pois estamos
em alta temporada.
— E ainda bem que Luís Correia é perto de Teresina, só 4 horas de
viagem; é aqui, já chegamos. — Paro no portão de entrada do hotel.
Nos identificamos com o porteiro, mostramos as nossas reservas e
somos liberados para entrar. Procuramos o nosso chalé, onde um funcionário
nos recebe atenciosamente, e nos acompanha até os nossos apartamentos.
Fico em um com duas camas com o Apolo, e Laura fica ao lado. Ambos os
quartos são enormes e luxuosos, e realmente bem confortáveis, com um
cheirinho gostoso e vista para o mar. A decoração é praiana, uma
simplicidade sofisticada aos nossos olhos.
Há uma cestinha na cama, com um bilhete, flores e um sabonete feito na
região, nos dando boas-vindas. Como saímos bem cedo da cidade grande,
após nos acomodarmos, decidimos ir a um dos restaurantes para almoçar. Um
garçom nos recebe e nos mostra uma mesa. Pegamos o cardápio e pedimos
um belo peixe assado enquanto o ventinho do mar sopra em nós.
— Está gostando, filho? — Indago, vendo-o com a cara enfiada no
celular.
— Filho, seu pai está falando com você — Laura chama a atenção dele.
— Sai desse celular um pouco — pede.
— Foi mal. Eu estou gostando sim, muito. — Responde Apolo,
sorrindo.
— Também estou gostando, o atendimento, por enquanto, está sendo
exemplar — falo, sorrindo.
— Com licença, tenho que atender essa ligação — Apolo sai do
restaurante, se afastando de nós um pouco.
— Quem será? — Pergunta Laura.
— Não sei, quando ele chegar, nós perguntamos — algo me diz que
Apolo está aprontando.
Saio da cozinha para receber os novos hóspedes, sempre faço isso com
todos que chegam ao restaurante pela primeira vez. Assim, me aproximo do
casal, uma loira muito bonita, que me parece familiar, e um homem negro
esbelto, talvez o mais lindo que já vi em toda a minha vida, que também me
parece familiar.
— Olá, boa tarde, hóspedes novos? — Indago, sorrindo.
— Sim — responde a mulher.
— Sejam muito bem-vindos ao Algas, queremos que se sintam em casa.
Eu sou a Maria, chefe de cozinha dos dois restaurantes, e garanto que
daremos o nosso melhor na cozinha para que possam viver as melhores
experiências gastronômicas neste cantinho do paraíso.
— Ah, que bom, me chamo Laura Cordeiro, prazer — ela me
cumprimenta, estendendo a mão, e quando diz seu nome, automaticamente
lembro da Helen, que já me contou várias vezes sobre a sua irmã, inclusive já
falou o sobrenome e também mostrou foto. É ela! Só pode ser.
— Victor Lobo, prazer — ele aperta a minha mão também, e agora
tenho certeza que estas pessoas são quem eu penso que são. Victor... Laura...
aqui, meu Deus. Fico pasma, mas ainda quero acreditar que seja mentira.
Abro-lhes um sorriso amarelo, lembrando das histórias que a Helen me
contou.
— Ah... que bom, e... vocês são de onde? — Pergunto, tentando
disfarçar o nervosismo.
— Teresina, acabamos de chegar e estamos famintos — responde
Victor, confirmando outra vez as minhas suspeitas. São eles!
— E aquele é o nosso filho, Apolo — a mulher aponta para um jovem
alto e bonito, que fala ao telefone fora do restaurante. Vejo Erick parando
com o carro perto dele, e vindo em sua direção. Minha nossa! Fico
boquiaberta, paralisada, em choque, sem reação! — Está tudo bem com a
senhora?
Falo com Tatiana no celular, disfarçadamente, para que meus pais não
percebam.
— Não, hoje acho que não vai dar para nos encontrarmos, Tati... Sei que
está com pressa, também estou, mas... não posso dar bandeira, meus pais nem
sonham que vim aqui por sua causa — digo a ela. — Agora tenho que
desligar, tchau. Te amo.
Aproveito que um rapaz passa por mim, e chamo a sua atenção. Ele é
negro e alto como eu.
— Oi, tudo bem? — O cumprimento.
— E aí, cara. Hóspede novo? — Ele pergunta.
— Sim, eu me chamo Apolo.
— Ah, eu sou o Erick.
IRMÃOS LOBOS

“De fato, o passado está batendo em minha porta,


mas não quero abrir.”

— Sabe onde fica a praia de Atalaia? — Pergunto.


— Sei, cara, amanhã de manhã eu vou lá.
— Ah, é porque quero conhecê-la.
— Se quiser ir comigo amanhã, de boa.
— Sério mesmo? — Sorrio.
— Claro.
— Erick — uma mulher de avental aparece e leva o rapaz para longe,
acho essa atitude um pouco estranha.
Volto para o restaurante, sentando-me à mesa. Apesar de mentir sobre o
motivo dessa viagem, estou adorando ver os meus pais juntos, faz anos que
isso não acontece, é demais. Eu particularmente adorarei se eles reatarem,
mas sei que as coisas não são tão simples assim. Meu pai foi muito ferido, no
entanto, também não culpo a minha mãe, a minha avó é a verdadeira vilã
dessa história.
— Com quem estava falando, meu filho? — Pergunta Victor.
— Ah, é um cara que conheci, parece gente boa.
— Não, quero saber com quem você estava falando no celular.
— Ah... — tenho que inventar uma desculpa convincente. — Com o
meu avô, ele ligou para saber como estávamos.
— Papai? Ah, por que não me deixou falar com ele? — Pergunta minha
mãe.
— Ah, nem lembrei disso — sorrio. — E aí, o que vamos comer?
Sinto que meu pai está desconfiado, mas quando somos servidos, ele
parece desencanar. Não posso lhe contar que estou aqui por causa da Tati,
que voltei a falar com ela, senão serei morto. Sei que estou errando em mentir
de novo, mas a vontade de ver a minha namorada é maior.

Minha madrinha me leva para longe do restaurante, está bastante


estranha.
— O que houve, madrinha? — Indago.
— O que veio fazer aqui, meu filho? — Pergunta ela, olhando para trás
algumas vezes.
— Vim pegar umas quentinhas, vou almoçar em casa. — Explico.
— Ah, era só ter ligado, eu mandava alguém deixar.
— Mas acabei de chegar da rua, madrinha. Não estou entendendo, por
que não quer que eu vá no restaurante?
— Quem disse que não quero que vá? ‘Tá doido. É que..., você viu a sua
mãe?
— Não, já disse que acabei de chegar — repito.
— Pois se vê-la, diga para me esperar em casa, que tenho um assunto
muito importante para tratar com ela. E quanto às suas quentinhas, pode ir,
que mando deixá-las para você.
— Hum..., O.K. — digo, desconfiado.
Volto paro o Jeep, sigo para casa. Kelly desce do carro toda gostosinha,
já vestida em uma das roupas novas que comprei, carregando umas dez
sacolas, se achando uma rainha. Damos de cara com a minha mãe, que se
surpreende com a cena.
— Quê isso? — Pergunta ela.
— Ah, mãe, essa aqui é a Kelly, a minha amiga, que te falei —
apresento, desgostoso.
— Ah..., sua amiga, é? — Minha mãe analisa Kelly dos pés à cabeça,
notando que de minha amiga ela não tem nada, por um momento sinto
vontade de rir da cara da coroa.
— Olá tia, prazer, eu sou a Kelly — elas trocam um aperto de mão.
— Você está grávida? — Dispara minha mãe. Kelly fica sem reação.
— Ah mãe, por favor! — Reclamo, passando por elas, entrando em
casa.
— Não, tia, não se preocupe, eu não estou grávida e nem quero filho tão
cedo, Deus me livre.
— Ah, que bom, pelo menos você tem cabeça. Erick já trouxe outras
aqui que na sua idade já queriam ser mães, fiquei horrorizada — elas entram
e fecham a porta.
— Sério, dona Helen? Ah, eu acho isso patético, mas infelizmente
muitas jovens priorizam a família. Não que isso seja errado, mas acho que
devemos pensar em estudar primeiro, em ter um futuro.
Talvez se formar em um curso de bandida, penso. É muita cara de pau
dessa garota.
— Exatamente, Kelly — minha mãe sorri para ela, as duas sentam no
outro sofá, e de repente, já parecem melhores amigas, o que me deixa
embasbacado. — Eu tive o Erick muito cedo, era uma pessoa completamente
diferente quando mais nova, só pensava besteira, fazia muitas loucuras,
depois amadureci e me arrependo muito de não ter dado valor a um curso
superior, sabe? A maior parte da minha vida foi trabalhando aqui no hotel,
porém, hoje colho os frutos
— Ah, que bacana, entendo a senhora. Às vezes a vida não é como a
gente quer, mas Deus é quem manda, então, basta buscarmos e esperarmos —
a loira se mostra compreensiva.
— Deus é tudo pra mim. Mas e você, estuda?
— Eu terminei o ensino médio e estou parada faz um tempo, ainda não
tive a oportunidade de começar o superior — conta Kelly.
— Por quê? — Dona Helen fica curiosa.
Kelly respira fundo.
— É que... eu tive que fugir de casa por causa do meu padrasto — a fito
atentamente neste momento, suas palavras parecem muito sinceras, assim
como tristes. — Ele... era muito violento, e... batia tanto em mim como na
minha mãe quase que diariamente, depois colocava culpa no álcool. Só que...
a minha mãe não conseguiu resistir, e morreu. Desde então eu venho vagando
pelo mundo..., me virando para sobreviver.
Ela me observa por um instante, com os olhos brilhando, me deixando
compadecido, minha mãe fica do mesmo jeito.
— Meu Deus, Kelly... você tem quantos anos?
— Dezoito.
— E como chegou aqui?
— É que o meu sonho era conhecer o mar, sabe. Então peguei carona,
fiz o que deu, foi aí que conheci o seu filho.
Minha mãe sorri amigavelmente.
— Eu entendo muito bem pelo que está passando. Então, fique à
vontade aqui em casa, já gostei muito de você. Vem cá, me dá um abraço —
elas se abraçam, a dona Helen segura as lágrimas, emocionada.
— Ah, obrigada, pode ficar tranquila, estou na sua casa e vou lhe
respeitar — Kelly assegura. Minha mãe debocha.
— Ah, mas isso você não vai fazer mesmo, querida, não com este aí por
perto. Conheço o meu gado. Bem, tenho que ir trabalhar — ela levanta.
— A madrinha mandou avisar para a senhora esperá-la aqui, que quer
conversar com você — aviso.
— Eu passo lá no restaurante e falo com ela. — Dona Helen vai embora.
Olho para Kelly que ainda enxuga as lágrimas.
— Espero que toda essa historinha aí não seja mentira — comento, ela
me fita.
— Acredite no que quiser, não me importo com a sua opinião — fala,
aborrecida e tristonha, pegando as sacolas, subindo para o quarto, me
deixando mal. Essa garota é o capeta! Nunca senti pena de bandido antes,
agora estou sentindo. Tem alguma coisa errada.
Decido assistir um pouco de televisão e dar espaço para ela se recuperar
após esse momento de volta ao passado. Contudo, após algum tempo, escuto
barulhos, acho por bem ir averiguar o que está acontecendo. Chego no quarto,
quase caio para trás quando vejo Kelly fazendo a maior bagunça, mexendo
em tudo, tirando as coisas do lugar, movendo os móveis.
— O que está fazendo com o meu quarto?! — Exclamo, aterrorizado.
— Olha, eu não disse nada antes, mas isso aqui está um lixo! — Fala,
pegando a vassoura e varrendo o chão, jogando as minhas cuecas e meias
para um canto.
— Você não tem permissão para mexer nas minhas coisas! — A puxo
pela mão, saindo do cômodo. — Vamos almoçar, deixa o meu quarto em paz!
Estou no escritório trabalhando, quando lembro que Erick disse que
Maria quer falar comigo. Levanto, avisando a Edu que vou ao restaurante,
mas assim que abro a porta, avisto Victor, Laura e Apolo, caminhando pela
rua, se aproximando. O QUÊ?? Fico chocada, até pisco, desejando que tudo
seja uma miragem, mas são eles, aqui!
Fecho a porta, e dou passos para trás até bater na minha mesa,
aterrorizada, sem entender absolutamente nada. O que eles estão fazendo
aqui?! Me descobriram? Como? Entro em pânico, com uma louca vontade de
chorar!
— Helen, o que foi? — Edu percebe o meu desespero e vem até mim.
— Como eles chegaram aqui? Por que vieram aqui? — Murmuro,
pasma, olhando para o nada.
— Quem? Eles quem?
— Me descobriam... o Erick vai saber que menti... — fico apavorada só
de imaginar.
— Do que está falando? Helen, está me deixando preocupado.
Toc! Toc! Toc!
— Olá, tem alguém aí? — É voz do Victor! Engulo em seco.
Edu faz menção em ir até a porta, mas o impeço, e faço sinal de
silêncio.
Toc! Toc! Toc!
Meu coração bate acelerado, não estou preparado para este encontro.
Não assim! As minhas pernas ficam bambas. De fato, o passado está batendo
em minha porta, mas não quero abrir. Eles parecem desistir e vão embora, me
deixando um pouco mais aliviada.
— Observa se eles se foram — peço para Eduardo, sussurrando.
— Não há mais ninguém aqui — ele diz, olhando para o lado de fora.
Respiro fundo, deixando as lágrimas caírem, passando as mãos nos
cabelos, repleta de lembranças da minha vida como Lorrana. Como isso é
possível? Não consigo entender como eles chegaram aqui.
— Helen, você pode me dizer o que está acontecendo? — Pergunta Edu,
se aproximando.
— Nada... é que...
Maria entra no escritório, e pela sua cara, já noto que está sabendo da
novidade
— Helen, eu estava te procurando por todo lugar; o que aconteceu? —
Ela nota o quanto estou abalada.
— Não sei, ela começou a chorar de repente — conta Eduardo.
— Edu, por favor, você pode sair? Eu preciso... conversar com a Maria.
— Helen — ele não gosta do meu pedido.
— Por favor — insisto. E o homem vai embora, desagradado
— Você viu eles, não foi? — Pergunta Maria.
— Vi... e estou chocada até agora. É como se o passado estivesse aqui,
batendo na minha porta, e eles quase entraram no escritório — conto, com
medo.
— Pois é, eles chegaram hoje mais cedo, estavam almoçando lá no
restaurante, por isso mandei o Erick dizer a você para não sair de casa.
— Ele me disse, mas não dei ouvidos. O que eles estão fazendo aqui?
Será que me descobriram?
— Acho que não.
— Mas não foi eu quem registrou a estadia deles aqui. Só pode ter sido
o Edu
Corro para o notebook dele, e vejo a lista dos novos hóspedes.
— O que vai fazer? — Pergunta Maria.
— A lista de hóspedes fica com o Edu — afirmo, procurando — Está
aqui, eles estão hospedados nas suítes de frente para o mar, chegaram hoje de
manhã, reservaram as vagas e tudo, meu Deus!
— Foi obra do acaso minha amiga, do destino!
— Não sei o que pensar.
— Se eles soubessem que você está aqui, já estavam te procurando,
pensa!
— E agora Maria, o que vou fazer? O Erick não pode descobrir que
menti para ele durante todos estes anos, dizendo que o pai está morto, quando
na verdade está vivo! Meu filho vai me condenar, me massacrar. E eu fiz uma
promessa ao meu pai de não contar nada, de esquecer a minha outra vida, da
Lorrana, de tudo o que passei.
— Helen, já te falei que essa promessa do seu Matheus é ridícula! E
quanto ao Erick, ele iria adorar descobrir que tem um pai...
— Mas não sei se o pai dele gostaria de descobrir que teve um filho
comigo, e a minha família? Meu outro pai, Rivaldo? O que ele vai pensar de
mim? E não quero destruir o casamento da minha irmã, eles pareciam tão
felizes.
— Helen, para de pensar nos outros e pensa no Erick, no que ele
gostaria...
— Por que tudo isso está acontecendo?! É o Alex de um lado e agora a
minha família do outro! Não vou aguentar tudo de uma vez! — Caio em
pranto.
— A gente pode resolver isso agora, vai lá e fala com a sua família,
conta sobre o Erick...
— Não, Maria! Você enlouqueceu? — Exclamo, nervosa. — A
descoberta do Erick irá abalar todas as suas estruturas, com tudo. Preciso dar
um jeito de irem embora.
— O quê?! — Maria fica indignada. — Não dá para manda-los embora!
Qual seria a desculpa? Nunca fizemos isso com os nossos clientes, vai dar
confusão.
Abraço Maria, chorando muito.
— Não quero que o meu filho me condene e se afaste de mim —
choramingo. — Ele é explosivo, e odeia ser enganado.
— A vida está te dando uma oportunidade de concertar todos os erros,
não jogue isso fora.

O hotel é realmente maravilhoso, estou gostando de cada detalhe.


Resolvemos conhecer o lounge, um espaço de lazer na praia. Escolhemos
uma barraca e nos acomodamos na mesa. Um DJ toca músicas eletrônicas
suaves, que combinam perfeitamente com o ambiente. O sol está
maravilhoso, e o mar parece estar me chamando. De repente, me vejo com
muita vontade de banhar e sentir a água salgada no corpo.
Há gente bonita e rica para todo lado. Eu e Apolo nos preparamos para
correr para o mar, e ficamos apenas de sunga.
— Deixa eu passar o protetor filho, calma — pede Laura, espalhando o
creme nas costas do rapaz. Meu filho é lindo, e parece um gigante perto da
mãe, daqui a pouco estará maior que eu.
Instintivamente, olho para o lado, e vejo moças me lançarem olhares de
interesse. Só então noto o volume natural entre as minhas pernas. Não há
como evitar, sempre fica marcado.
— Quer que eu passe protetor em você também, Victor? — Ela se
oferece.
— Eu mesmo passo, obrigado — respondo, educado. Quero evitar
aproximação entre a gente por enquanto, ainda estou com o orgulho ferido, e
não posso deixar que ela confunda as coisas. Fui quebrado em cacos, não dá
para juntar tudo facilmente.
Assim, espalho o protetor aos poucos pelo meu corpo chocolate, minhas
mãos enormes facilitam o trabalho. Depois, espero mais um pouco até a
proteção agir, e sigo com Apolo, caminhando até a água. Observo que não só
a minha sunga está marcada, a dele também, e sorrio.
— O que foi? — Ele pergunta.
— Nada, bem-dotado — digo. Apolo olha para baixo e depois para mim.
— Eu tive a quem puxar, né — responde.
Em segundos, entramos no mar, mergulhamos e nos divertimos como há
tempos não fazíamos. Que delícia essa água, toda cristalina. Curtimos,
nadamos, e regressamos para a barraca, onde belos camarões assados nos
aguardam. Depois, Laura decide dar um mergulho, ao deixar a saída de praia
cair, mostra seu corpo esbelto coberto apenas por um maiô preto, me fazendo
engolir em seco. Ela só melhora a cada dia, é incrível! Linda demais, e já foi
minha.
Apolo decide acompanhá-la, os observo de longe, sorrindo, felizes. Isso
deixa o meu coração alegre. Apesar de tudo, sei que Laura também foi vítima
e sofreu bastante com as loucuras da sua mãe, ela merece ter um momento de
paz. Esse é o nosso momento de paz.

A comida da minha madrinha é maravilhosa, a quentinha estava uma


delícia. Termino de comer, e resolvo ver o que Kelly está fazendo, ela
preferiu não almoçar e correu para o quarto. Não confio em deixá-la sozinha
por muito tempo. Abro a porta, e dou de cara com um espaço totalmente
organizado.
Todas as roupas que estavam espalhadas pelo chão foram postas dentro
do cesto de roupa suja, as meias, livros e equipamentos eletrônicos estão
todos em seus devidos lugares, em lugares que nem eu mesmo sabia que
existiam dentro desse quarto. O guarda-roupas nunca antes pareceu tão
feminino, com as roupas dobradas, os perfumes num canto, acessórios em
outro, e agora há uma parte só dela, com maquiagem e etc.
Não há mais resto de comida pelos cantos, a cama ficou um brinco, os
tênis e sapatos estão organizados. Tudo brilha, cheira bem, e Kelly termina de
amarrar o terceiro grande saco de lixo.
— O que foi que fez com o meu quarto, garota? — Pergunto, sem
acreditar, chocado!
— Ora, estes três sacos de lixo respondem a sua pergunta? — Ela
responde, fazendo bico. — Organizei essa baderna, porque não irei dormir
em um chiqueiro!
Caminho pelo cômodo, indignado com tanta limpeza.
— Quem mandou fazer isso, Kelly? Estava tudo em seu devido lugar,
era a minha bagunça! E agora? Não saberei achar nada! Meu Deus!
— Ah, para de drama!
— E onde pegou essas colchas de cama?
— No quarto da sua mãe.
— O quê?! — Fico embasbacado. — Quem te deu permissão para entrar
no quarto da minha mãe?
— Ela mesma, liguei para o escritório, o número estava na mesinha do
telefone lá embaixo.
Esfrego as mãos na cabeça, enlouquecido, controlando-me para não
explodir enquanto ela arrasta o saco de lixo para fora. Sigo para o banheiro, e
parece outro lugar, o sabonete foi trocado, o sanitário lavado, o chão está
brilhando, não há pelos pubianos perdidos pelos cantos. Senhor! Estou
perdido!
Mais tarde, por volta da meia-noite, quando termino de tomar banho,
saio do banheiro apenas de toalha, deparando-me com a loira deitada na
cama, para a minha surpresa, já que deixei um colchonete esperando por ela
no chão. Que abusada!
Miro sua bunda apertada no shortinho curto, e a blusa leve deixando
parte da sua barriga à amostra. Caralho, como é linda essa bandida, até
dormindo consegue ser sensual. Prefiro não usar cueca à noite, gosto de me
sentir livre e confortável, por isso, visto apenas um samba-canção, que
sempre uso para dormir, após passar cerca de dez minutos o procurando, pois
não reconheço mais este quarto!
Agora penso em como expulsar Kelly da minha cama. Ela parece estar
dormindo, mas tenho as minhas dúvidas. Aproximo-me, e a observo por
longos segundos, analisando cuidadosamente sua face, e sim... ela já pegou
no sono, e sei que foi de propósito! Aproveitou que fui tomar banho. Diaba!
Agora teremos que dividir a cama que, apesar de ser de casal, é pequena para
mim, pois sou espaçoso e grande.
Vou para o outro lado, deito-me de costas para ela, mal-humorado, com
a cara fechada. Tento-me manter o mais distante possível, imaginando um
muro entre a gente. A minha raiva vem do fato de que Kelly parece conseguir
tudo de mim facilmente. Sinto-me um mané perto dela, não consigo dobrá-la
e manipulá-la facilmente como sou acostumado a fazer com as outras. Essa
garota voltou para bagunçar a minha vida!
Olho-a uma última vez, e estremeço por dentro com tanta beleza,
pensando sacanagem. Viro-me, tentando afastar os pensamentos malignos,
fechando os olhos com força, buscando adormecer, lutando para o sono
chegar. Vamos contar lobinhos? A minha mãe fazia isso quando eu era
criança, para me fazer dormir. Um lobinho... dois lobinhos... três lobinhos...
quatro...
Sinto uma movimentação suspeita às minhas costas, o que me faz abrir
os olhos, porém, não movo um dedo, apenas estranho o que parece ter sido
uma aproximação de Kelly. Esquece isso, Erick, vá dormir. Cinco lobinhos...
seis lobinhos... sete... Kelly se movimenta outra vez, e põe a mão sobre o meu
ombro. Entro em pânico! Mas continuo fingindo que estou em sono
profundo. Sai, diaba! Deus, afastai essas ladras!
— Afastai estas xoxotas malignas, Senhor... afastai.... — Murmuro,
orando para não cair em tentação. Engulo em seco, excitando-me com o
toque dela. Sua mão escorrega por meu braço até o abdômen, e de repente ela
encosta o corpo completamente no meu, abraçando-me. — Cristo, me
proteja!
Ouço seu sorriso malévolo, sua mão faceira passeia para dentro do meu
calção e toca o meu cacetão que já está parcialmente excitado.
— Oooh... não... — solto grunhidos. Não quero ceder! Ela me roubou,
ela não me merece! Kelly me aperta gostoso, me fazendo crescer e inchar
ainda mais. Suspiro, pegando fogo aos poucos.
A loira desce o meu calção, deixando-me nu, e me puxa com força,
como uma gata selvagem, vindo para cima de mim, descendo a boca rumo ao
meu caralho e arrebitando a bunda bem no meu rosto, na posição 69. Quer
me enlouquecer! Não tenho saídas e nem quero mais sair, vou foder essa
garota! Dou uma lapada segura em sua raba, forte, fazendo sua pele ondular.
— Aaah! — Ela geme.
— Bandida... — rosno, suspirando ao sentir sua língua lambendo a
cabeça larga e massuda do meu pau. Automaticamente, mordo seu bumbum e
rasgo seu short ao mesmo tempo em que seus lábios afundam no meu pau,
engolindo-me com gosto.
Faço sua bunda aparecer, vendo sua calcinha minúscula surgir, acochada
em sua bocetinha, e rasgo-a também, abocanhando sua intimidade em
seguida, faminto, voraz, desejando essa garota mais que tudo! Ela passou o
dia inteiro me provocando, e agora vai tomar! Arrasto a língua por seus
lábios vaginais molhados, fazendo-a ondular a bunda no meu rosto,
esfregando suas nádegas em mim, enquanto geme com a cabeça do meu pau
dentro da boca. Que gostoso!
Seguro-a fortemente pelos quadris, enterrando a face nas suas carnes
íntimas, acelerando as lambidas e sugadas, brincando entre suas entradas,
querendo devorá-la ao máximo! Beijo sua xoxota, esfregando meus lábios
carnudos nos seus, lambuzando-me com vontade, hipnotizado, enlouquecido,
envolvido nesse tesão extremo que nos consome e nos faz queimar, ardendo
em libido. É uma conexão surreal que tenho com essa garota, ela me deixa
necessitado, como se ainda fosse virgem, como se nunca antes tivesse
experimentado uma mulher na vida.
Kelly me chupa com gosto e abundância, sinto sua saliva descendo pelo
corpo extenso da minha rola. Abro suas nádegas, arregaçando-a o máximo
que consigo, e faço lambidas servidas em toda sua região íntima, movendo a
língua freneticamente, instigando, provocando, cutucando, melando,
sorvendo, alimentando-me! Em um momento, molho meu polegar e o penetro
no orifício dela, percebendo que a loira ainda é virgem, seu cuzinho é
intocado.
Ela geme forte, tentando me impedir de tocá-la nessa região, mas lhe
dou uma lapada forte, mostrando quem é que manda, e continuo lhe
chupando, sentindo as contrações que seus músculos anais fazem em volta do
meu dedo. Aos poucos a loira se entrega mais e mais, deixando-se sentir
prazer por completo, gemendo forte, quase sentando no meu rosto, rebolando
o bumbum, a ponto de explodir.
— Erick! — Geme, quase em sufoco, vibrando.
— Hmmf... — aprecio todos os sabores que invadem a minha boca,
recebendo todo seu suco garganta abaixo. Kelly fica alucinada, arrastando a
xota entre os meus lábios, e goza, gritando, esquecendo do mundo, ficando
toda vermelha, mudando de cor outra vez, impressionando-me! Ela é linda
gozando, incrível, perfeita, uma loucura!
Jogo-a para o lado, e arranco cada peça de roupa que ainda sobrou em
seu corpinho violão. A puxo, bruto, colocando-a de quatro na minha frente.
Estou sedento, com a cabeça do pau babando, louco para penetrá-la. Ele está
tão duro, que quando tenho que abaixá-lo até a entrada de Kelly, sinto uma
câimbra gostosa, um estalo muscular que até me arrepia, e o enfio por
completo dentro dela, de uma só vez, até meu saco inchado bater contra suas
nádegas.
A nossa união é molhada, escorregadia, perfeita. Afundo-me em suas
entranhas, seus lábios vaginais se esfregam contra as veias pungentes do
corpo largo do meu caralho, me apertando ao mesmo tempo em que seus
músculos batalham para tentar me conter e receber por completo. Seguro
Kelly pelos quadris e prossigo metendo forte, socando, golpeando,
afundando, enterrando-me nela com volúpia, fazendo barulho!
Espalmo sua nádega e a seguro pelos cabelos, trazendo seu rosto para
trás, vendo-a delirar e gemer forte, me recebendo em seu interior, sentindo-
me grosso e grande por dentro, bagunçando tudo, fodendo-a como um macho
verdadeiramente fode uma mulher. O nosso ritmo é intenso e ligeiro, não
paro como os movimentos de ir e vir. Meu quadril trabalha poderoso, e assim
continuo arrombando essa loira delícia, fazendo os nossos corpos queimarem,
tocando fogo na cama.
Puxo-a pelos cabelos, fazendo-a ficar de joelhos como eu. Levo uma
mão ao seu pescoço e a outra aos seus seios durinhos e redondos enquanto
Kelly pressiona meu caralho, abrindo e fechando a bocetinha, prendendo e
soltando, sugando-me. Fico doido, libero grunhidos de prazer, apertando a
sua garganta, controlando o ar que ela respira, beijando sua boca. Nossas
línguas se misturam, enroscando-se uma na outra. Meu coração bate
acelerado, e Kelly bate o corpo contra o meu, escorregando a xota pelo meu
caralho molhado, indo até a ponta e voltando, devagarinho
Deixo-a brincar comigo, ela pinga, molhando o colchão. Chupo a sua
orelha, mordiscando-a e gemendo gostoso, sussurrando em seu ouvido.
— Dá a bocetinha pra mim, dá... bandida — rosno.
— Ela é sua, Erick... sua — mia, indo e vindo, e rebolando lentamente
comigo em seu meio, atravessando-a.
Volto a assumir o controle, e soco forte, fazendo uma surra de pau sem
dó nem piedade, massacrando essa garota em meus braços, judiando dela
com fogo e paixão, querendo-a além do limite, entregando-me ao prazer
supremo. Como é gostosa, cheirosa, apetitosa... minha! Estoco o caralho
várias vezes seguidas em suas entranhas, comendo-a, fartando-me, intenso e
viril.
Aperto os seios dela, estufando-os, eles estão quentes e sensíveis.
Pressiono os biquinhos, enquanto sua boca procura a minha com avidez. Seu
corpo é meu, me pertence! Há um súbito desejo possessivo apoderando-se de
mim gradativamente nesse vai e vem delicioso. Estou atolando-a, enchendo o
seu copo com a minha brutalidade e devassidão, em estocadas e enfiadas
quentes e mundanas.
Grudo os nossos corpos, nossas peles roçam uma na outra, escorrego os
dedos até sua vulva e a estimulo. Os gemidos da loira se intensificam, são
música para os meus ouvidos. E nessa sarrada feroz, em socadas seguras,
com essa luxúria nos cercando ilimitadamente, deliro junto com ela até ter
um orgasmo poderoso. Ejaculo todo o meu leite, explodindo sua xota
encharcada que esguicha contra mim absurdamente.
Vou à loucura com a sua mudança de tom novamente, beijando seus
ombros, lambendo seu pescoço e sua boca, cuidando da minha gata, contudo,
ainda não estou satisfeito. Deixo Kelly deitar de bruços, exausta, e distribuo
beijinhos por suas costas até sua bunda, abrindo suas nádegas outra vez,
vendo todo o seu melado lindo. Arregaço-a, ouvindo os seus gemidos, e foco
em seu cuzinho, chupando-o.
Roço a língua em volta do seu esfíncter, cutucando, lambendo,
instigando, provocando. A loira agarra os lençóis com força, empinando a
raba, tomando uma nova carga de prazer. Arrasto meus lábios em volta do
seu buraquinho, me deliciando com o perfume, com o gosto.
Tenho uma ideia, levanto, procurando uma coisa, e volto com o plug
anal após molhá-lo com o lubrificante. Abro a bunda da Kelly novamente e
introduzo o brinquedo em seu orifício.
— Ai, Erick... — ela geme, com dor, mas tomo todos os cuidados
possíveis para não machucá-la.
Mordo seu bumbum, enchendo a boca com a sua pele, roçando os dentes
em sua carne, devorando-a pedaço por pedaço.
— Hoje vou comer o seu cuzinho.
— Vai doer — geme, manhosa, mas não lhe dou ouvidos.
— Empina — ordeno, e ela arrebita a raba, sentindo o plug invadi-la até
o limite. Lapeio cada nádega, com força moderada, deixando-a mais marcada
do que já está. Pego o frasco de lubrificante, e espalho o líquido nela, ao
redor do seu cuzinho, melando-a, fazendo-a brilhar. Está perfeito! Tudo isso
para que Kelly consiga aguentar a minha penetração mais facilmente em
seguida.
Depois, passo alguns minutos trocando beijos e carícias com ela,
esperando seus músculos anais relaxarem com o brinquedo. O retiro quando
chega o momento, e deito-me de conchinha com a loira, posicionando a
cabeça do caralho na boca do seu orifício, iniciando a penetração, sem pressa.
A loira geme forte, mas mantenho-me calmo, sei que vai demorar e não
será nada fácil. Sinto a ponta do meu pau amassando ao penetrá-la,
ajustando-se ao seu buraquinho quente e molhado, até que escorrego para
dentro do seu corpo, e a pressão exercida contra mim é absurda e imoral
Nós gememos, e os próximos longos minutos são de espera e bastante
cuidado. Abro-a pouco a pouco, aprofundando-me em seu corpo lentamente,
invadindo-a, sendo atacado por seus músculos que não param com as
contrações em nenhum instante. Chego à conclusão de que Kelly não
conseguirá receber mais do que a metade da minha rola, e decido fodê-la
apenas parcialmente, o suficiente para receber muito prazer. Agora sou seu
dono totalmente.
As estocadas são lentas e pressionadas, encontro bastante dificuldade
para prosseguir, mas não paro com o movimento gostoso, vou devagar e
sempre. Pego fogo, com bastante tesão, vendo a loira entre a dor e o prazer,
fechando os olhos, sentindo-me arrombá-la. Nossos corpos estão colados,
busco seus lábios e a beijo deliciosamente.
Ela está muito quente e lubrificada. Continuo fodendo, descendo a
madeira em ritmo lento, apertado, latejante. Espalmo a sua raba e esmago os
seus seios entre os dedos, chupando o seu pescoço, desejando-a loucamente.
Ela me enche de libido com suas caras e bocas, pressionando o meu caralho,
abrindo e fechando o cu a cada estocada que faço.
E assim, nesse sexo sem pressa, gozo outra vez, retiro a camisinha no
momento e explodo em cima da bunda loira, sujando-a em abundância. Me
satisfazendo por completo. Em seguida, pego Kelly nos braços e a levo para o
banheiro, onde tomamos banhos juntinhos, agarradinhos, curtindo o pós-
sexo.
Trocamos vários beijos debaixo do chuveiro, e em um momento ela me
olha apaixonada, assim como acho que estou olhando para ela.
— Você é incrível — me elogia.
— Você também — digo, acariciando o seu rosto perfeito.
— Me perdoa por ter feito o que fiz contigo — pede, deixando as
lágrimas descerem por sua face. — Sei que não há justificativa, mas é que as
coisas ficaram muito difíceis pra mim... passei até fome, e a forma mais fácil
que encontrei para me virar foi... roubando. Ninguém quis me dar emprego...
não tenho currículo algum, aqui ninguém me conhece e não queria me
prostituir. Também não podia voltar para casa e continuar apanhando. Por
incrível que pareça, até agora... só você me ajudou, de certa forma.
A abraço, acolhendo-a em meu colo.
— Tudo bem, já passou, eu te perdoo. Vamos esquecer dessas merdas,
juro que não vou mais te julgar. Eu também não sou nenhum santo, mas
tenho dom para confusão — conto.
— Eu sou confusão? — Ela pergunta.
— Sim, das grandes, mas acho que consigo te conter.
— Consegue sim, como jamais outro conseguiu — declara, me
apertando forte.

Pela manhã, saio de fininho do quarto, tentando não acordar o meu pai
que dorme como uma pedra. Olho para o quarto ao lado, deduzo que a minha
mãe também deve estar em sono profundo, ainda repondo as energias de tudo
o que fizemos ontem. Troco mais algumas mensagens com Tati, e caminho
pelo resort, procurando alguma forma de ir encontrá-la na praia de Atalaia,
como combinamos.
De repente, sou surpreendido por Erick, que para o carro ao meu lado.
Ele está acompanhado de uma loira maravilhosa.
— E ai cara, vai ou não vai? — Pergunta ele, chamando-me, sorridente e
feliz.
— Mas é claro! — Respondo, e entro no Jeep, sentando no banco
traseiro.
Logo saímos do hotel e seguimos pela estrada.
— Qual o seu nome mesmo? — Ele já esqueceu?
— Apolo
— Eu sou a Kelly — diz a loira, ela é linda. Retira os óculos escuros,
fitando meu rosto com atenção — Nossa... você e o Erick se parecem
bastante. Será que são irmãos? — Brinca, nos fazendo rir. Troco olhares com
ele pelo retrovisor, ambos constatando que o que ela disse é mesmo verdade,
temos uma certa semelhança.
JOGO PERIGOSO

“Tudo vale a pena se for para ficar com ela, meu coração e
meu corpo dizem isso agora.”

— Quem dera, sempre quis ter um irmão, mas minha mãe nunca
encontrou um homem que preste depois do meu pai — conto.
— Também queria um, mas meus pais, não — revela Apolo.
— De onde você é? — Pergunta Kelly.
— Teresina.
— A minha mãe nunca me deixou ir a Capital — afirmo
— É mesmo, por quê? — Ele fica curioso.
— Não sei, todos os meus amigos já foram lá, menos eu, só vejo fotos e
notícias.
— Ah tá.
— Vai conhecer a Atalaia?
— Não, irei ver a minha namorada, faz algum tempo que não nos
vemos.
— Ai, que lindo — comenta Kelly.
— ‘Tá certo, vai matar a saudade. Namoram a distância?
— Não, ela morava em Teresina, mas a família dela se mudou para cá
— conta Apolo. — E vocês?
— Vamos fazer um jogo perigoso — sou sarcástico, sorrindo sagaz.
Deixo Apolo na parte menos movimentada da praia, longe das barracas,
como ele pediu. Nos despedimos, e sigo viagem com Kelly até a barraca do
Pedrão. Estacionamos longe, Ramon vem ao nosso encontro, apertando
minha mão pela janela do carro.
— E aí, parceiro — ele me cumprimenta.
— E aí, cadê o otário? — Indago.
— Na barraca.
Olho para Kelly, ansioso.
— É agora — falo.
A gata respira fundo, um pouco apreensiva.
— ‘Tá nervosa? — Pergunto.
— Estou... mas vai passar — ela responde, levemente apreensiva.
— Eu sei que vai conseguir, conseguiu comigo — comparo, sorrindo.
— Porque talvez você seja uma presa mais fácil — brinca.
Nossos olhos se encontram, e ficamos um pouco mais sérios. Puxo-a
pelo queixo e a beijo carinhosamente, sentindo seu doce sabor. Ramon se
afasta, nos dando privacidade.
— Então já vou — a loira se despede, fazendo menção à porta. A seguro
pelo braço.
— Não precisa..., você sabe, né? — Fico sem jeito, sentindo uma coisa
me incomodar. Kelly me olha sem entender.
— Não precisa o quê?
— É... — Coço a cabeça, fazendo uma careta. — Sabe como vai abordar
o cara?
— Acho que... sim.
— ‘Tá — falo, sem jeito. Não sabendo lidar com o que está
acontecendo. Esse não sou eu.
— Quer falar alguma coisa, Erick? — Kelly parece desconfiada.
Respiro fundo, mordendo o lábio.
— É só..., não precisar beijar o Alex — digo. Ela sorri, encantada.
— ‘Tá bom — concorda. — Ah, já que entramos neste assunto. Você
vai mesmo ver a tal Suzy?
— Claro, eu trabalho numa ponta e você em outra, vamos tentar de tudo,
preciso chegar nesse cofre.
— Então, sem beijos também — determina. — Combinados?
— O.K. — levanto as mãos, em sinal de rendido, fazendo bico.
Kelly desce do automóvel, linda, maravilhosa, usando a saída de praia
que comprei para ela.
— Me beija também, gostoso! — Ramon me provoca, nos fazendo rir.
— Cai fora, veado!
Ele acompanha a loira até a barraca, sumindo do meu campo de visão.
Imagino Alex tentando beijá-la, e já fico meio irritado. Por que estou
sentindo vontade de ir até lá e observar de perto? É só para fiscalizar e
constatar que dará tudo certo. Nada além disso, mas não posso, tenho que ir
atrás da Suzy.
Chego na casa dela, e outra vez sou recebido de cara feia.
— Você de novo? — Indaga, desconfiada.
— E aí! — Digo, invadindo a casa.
— Ei! Onde pensa que vai?! — Retruca ela.
— Eu vim te buscar.
— Me buscar? Enlouqueceu? Não vou a lugar nenhum com você, agora
saia da minha casa ou ligarei para o Alex!
— Ah, qual é! Olha, eu briguei com o seu pai, não contigo. Relaxa, para
de me tratar mal, vim chamá-la para sair, para nos divertir, só isso. Não te
cansa ficar aqui o dia inteiro presa? — Indago.
— Vai embora Erick, se meu pai me ver contigo, não vai gostar nem um
pouco — me expulsa, educada.
— E quem disse que ele precisa saber?; já foi no Delta do Parnaíba? É
pra lá que quero te levar, tenho certeza que vai adorar ver aquela maravilha, é
lindo demais.
— Já vi fotos, lá é muito bonito mesmo — Suzy parece tentada.
— É bem melhor do que ficar presa aqui, te garanto — jogo pesado para
persuadi-la
— Por que não chama outra? Por que eu?
— Porque gostei de você, já disse isso na outra vez que vim aqui.
— Você não tem chances comigo, Erick — ela é sincera.
— Tudo bem, considere o meu convite como um passeio de amigos.
— Eu não vou — ela nega, abrindo a porta, esperando que eu saia.
Deito no sofá com as mãos atrás da cabeça, folgado, me esparramando
de boa.
— Sai daí garoto, vai embora! — Pede ela, um pouco nervosa.
— Só vou sair se vier passear comigo, do contrário ficarei até o seu pai
chegar e vamos ver no que vai dar — sorrio, na cara de pau.
— Tu é louco! — Parece que deixei a linda sem saídas.
— Ah, vamos! Sei que vai gostar! Não ‘tá fazendo nada aqui mesmo,
vamos! — Insisto, piscando para ela.
Estou sentado na areia, olhando para o mar, esperando Tatiana aparecer.
Ligo para ela pela quinta vez, mas não sou atendido.
— Cadê você, Tati? — Me pergunto, ansioso.
Estou longe das barracas, numa parte menos movimentada da praia da
Atalaia. Sou invadido por lembranças de momentos com Tati, Aline e Érica,
até terminar naquela terrível tragédia. Recordo das palavras de meu pai, que é
melhor me manter afastado da minha namorada, mas a questão é que a amo,
descobri isso tarde, mas a amo, passei todo esse tempo de afastamento só
pensando nela.
Não gosto de mentir para o meu pai, não posso mais fazer isso, devia ter
contado a ele, mas temo que me impeça de ver o meu amor. As imagens
daquele jantar do caos vêm à mente novamente, e depois o acidente da Érica.
Será mesmo que estou fazendo a coisa certa? Será que não estou reabrindo
uma ferida?
— Apolo! — Ouço a voz dela gritando às minhas costas.
Meu coração acelera as batidas enquanto levanto e olho para trás, para
ela! A minha namorada está aqui! Trocamos sorrisos, olhares emocionados, e
corremos em direção ao outro, de braços abertos, como se fôssemos atraídos
por uma força magnética incontrolável. Nossos corpos se unem, nos
abraçamos com muita força, tentando afagar tamanha saudade.
Choramos, é como se hoje fosse o último dia das nossas vidas, e este o
nosso último momento, ou o início de todos eles. Sinto seu perfume, seu
abraço apertado, trata-se de uma troca intensa de sentimentos por longos
segundos, corpo a corpo, com medo de não ser real.
— Meu amor, meu amor — falo.
— Eu te amo, Apolo! Te amo tanto! — Ela se declara.
— Também amo você, muito! — Seguro seu rosto entre as mãos, a beijo
várias vezes seguidas, são beijos misturados a lágrimas.
Dou-me conta de que não importa toda a cagada que fiz e continuo
fazendo, tudo vale a pena se for para ficar com ela, meu coração e meu corpo
dizem isso agora. Nos acalmamos com o passar do tempo, nossa respiração
volta ao normal, e trocamos beijos apaixonados. Enxugo as lágrimas na sua
face, ela é minha.
— Por que não me atendeu? — Pergunto. — Achei que tinha desistido.
— Esqueci o celular na casa da minha prima, a casa dela é o único lugar
que a minha mãe me deixa ir. Desde que chegamos aqui, sinto-me uma
prisioneira! — Ela denuncia.
— Mas por que sua mãe faz isso? — Pergunto algo que acho já saber a
resposta.
— Ela sabe que te amo e que não te esqueci, acho que... tem medo de eu
fugir para Teresina, para te ver, como já prometi uma vez. As primeiras
semanas aqui foram horríveis, a gente discutiu muito e ainda discute, não sei
por que ela proíbe o nosso namoro. Depois que papai morreu a minha vida se
tornou um inferno, eu só tenho você! — Choraminga, me abraçando outra
vez.
— Calma, eu estou aqui — falo, preocupado, pois sei o real motivo da
Aline não querer mais o nosso relacionamento. Também me envolvi com ela,
envolvi-me com mãe e filha sem saber do laço de parentesco que as envolvia,
tudo manipulação da Érica, uma maldita que me usou para realizar sua
vingança. Volto a lembrar das palavras de meu pai, mas é mais forte do que
eu.
— Minha prima está esperando a gente no carro — Tati avisa.
— Vamos pra casa dela, né?
— Sim.
Seguimos abraçados até o carro, sou apresentado a tal prima mais velha,
e em instantes chegamos na casa vazia, onde recebemos total privacidade e
liberdade para ocupar um dos quartos. Fecho a porta, miro a beleza da minha
amada, sentindo um misto de culpa com desejo. Quero lhe contar toda a
verdade, preciso.
— O que foi, meu amor? — Tati toca o meu rosto, enquanto uma
lágrima molha a minha face.
— Eu... preciso te contar... uma coisa — minha voz treme, meu coração
acelera.
— O quê? — Ela acaricia os meus braços, tento buscar a coragem para
lhe contar tudo o que aconteceu, mas minha voz não sai.
Meus lábios são beijados docemente, sou envolvido pelo aroma dela,
aos poucos vou me entregando, sentindo meu pau crescer forte e viril dentro
da calça. Puxo Tatiana para os meus braços, espremendo-a contra meu corpo
quente, sou um gigante perto dela, estou morrendo de saudade. Nosso beijo
se torna intenso, são muitos sentimentos envolvidos, mas minha tristeza é
queimada aos poucos por esse fogo avassalador que emana do nosso contato.
Aperto sua coxa nua com força, erguendo sua saia, esmagando sua carne
com os dedos, apalpando sua bunda com pressa, com ansiedade, faminto. Ela
geme, oferecendo o pescoço aonde arrasto a língua, molhando a sua pele.
Nosso amasso vira algo forte e tentador, até que não resisto mais e a jogo na
cama, de bruços. Mordo o lábio de tesão ao ver seu bumbum cor do leite,
arrebitado, esperando por mim. Lapeio suas nádegas, abrindo-as em seguida,
vendo toda sua intimidade enquanto as mãos dela agarram os lençóis,
movidas pela libido.
Chupo minha namorada todinha, tirando-lhe cada peça de roupa,
molhando-a com a língua que devora cada parte do seu corpo esbelto. Transo
com ela como um animal feroz, selvagem, fodendo-a intensamente, viril,
matando a saudade, exalando um amor bruto e apaixonado, até restar apenas
nossas almas, satisfeitas e exausta com mais de 1h de sexo.

Levo Suzy para o Porto dos Tatus, na cidade de Ilha Grande, cerca de 9
km de distância de Parnaíba, onde todos os dias barcos e lanchas levam
turistas para conhecer o santuário ecológico Delta do Parnaíba, o único em
mar aberto das américas e o terceiro maior do mundo.
Guardo o carro em um dos estacionamentos, vou com Suzy até a beira
do rio, perto dos vários píeres que dão acesso às barcas de passeio, que
carregam cerca de setenta a oitenta pessoas. O local está cercado de gente, a
maioria entrando nos barcos, guias dão instruções pelo microfone, há placas
com avisos em cada canto. O sol brilha forte sobre nós, Suzy está toda
equipada, com seu look praiano, linda, é a gordinha mais bonita que eu já vi.
Ela sorri encantada, observando cada detalhe.
Compro nossas pulseiras, alugo uma lancha incrível, recebemos os
coletes salva-vidas do Capitão, e logo estamos navegando pelo imenso e
poderoso rio Parnaíba, cortando a água escura que faz ondas ás nossas costas.
O vento sopra gostoso, deixando o clima mais do que agradável.
— Nesta época do ano a água do rio Parnaíba é barrenta, como estamos
vendo agora, mas no verão se torna clara — conto.
— Este lugar é lindo — comenta Suzy, maravilhada, observando os
paredões de mangue cercando as margens do rio. A vegetação esverdeada e
intocada possui um santuário natural com fauna e flora riquíssimas. O rio
deságua no mar atlântico em cinco grandes braços, desenhando a letra grega
Delta, daí o nome Delta do Parnaíba.
— Você ainda não viu nada, o Delta é um arquipélago com 2.700 Km
quadrados de área, formado por mais de setenta ilhas.
— É maravilhoso.
— Uma paisagem exuberante, né. Daquele lado é Maranhão, e desse
Piauí — informo.
— Você vem muito aqui?
— Até que não, moro aqui perto, não é mais novidade pra mim. Mas
sempre que venho, fico maravilhado.
— Por que me trouxe aqui?
— Imaginei que não conhecia, queria que conhecesse — minto.
— Por que me trouxe aqui, Erick? — Ela repete a pergunta, essa morena
não é boba. Estamos de óculos escuros.
— Porque quero ser seu amigo.
— Tu não tem cara de ser amigo de meninas como eu — trocamos
sorrisinhos irônicos.
— Mas estamos aqui como amiguinhos, não foi essa a sua imposição?
Além disso, acho que você tem namorado.
— Tenho mesmo — confirma ela, fitando a paisagem enquanto a brisa
passeia por seus cabelos...
— Me admira.
— Por quê?
— Seu papai parece ser muito ciumento — toco na ferida. — Ele sabe
desse seu namorado?
— Claro que sabe... e ele não é tão ciumento assim. Além disso, Alex na
verdade é o meu padrasto — conta, sem jeito.
— Ah é? Bem que desconfiei, pois quando ele morava aqui, nunca falou
em filha alguma, e você já é bem crescidinha — comento, dando corda.
— Minha mãe o conheceu quando eu tinha dezesseis, vivíamos os três
juntos... mas ela morreu há três meses — sua voz embarga, parece triste de
verdade. Ainda assim é muito difícil acreditar em você, bebê, penso.
— Que pena..., sei como é — sou sincero.
— Você tem a sua mãe.
— Mas não tenho o pai..., ele morreu antes do meu nascimento —
conto, sentindo uma certa tristeza invadir o meu peito.
— É diferente, você jamais sentirá falta dele como sinto da minha mãe,
porque convivi com ela.
— Mas sinto falta como se ele estivesse vivo, entende. A vida inteira foi
assim..., é difícil ver todo mundo com um pai, menos você.
— Agora só me sobrou o Alex — ela fica cabisbaixa. — É por causa
dele que me trouxe aqui? Quer provocá-lo?
— Eu odeio o seu pai, mas estou nem aí pra ele agora — acaricio a mão
dela, a deixando desconcertada. — Te trouxe aqui porque quis trazer, porque
quero te conhecer melhor, ficar perto — minha é intensa, penetrante.
— Você é bom, sabia? Estou impressionada — ela desfaz o nosso toque.
— Mas lembre-se do que te disse antes de sairmos de casa.
Continuamos navegando pelo rio imenso, lindo, caldoso, paradisíaco,
passando pelos igarapés, pelo manguezal verde e deslumbrante que está por
todos os lados, é a natureza viva e intensa. Paramos bem próximos do
mangue, contemplamos vários caranguejos saindo de suas tocas, gargalhamos
com a figura do homem-lama, um cara com o corpo todo melado de barro
negro, mostrando-nos os caranguejos que capturou. A argila no corpo é para
protegê-lo contra os mosquitos.
O passeio continua, a lancha é veloz. Paramos no chamado Morro
Branco, uma duna de trinta metros de altura no meio do rio. Há duas barcas
ancoradas por perto, e turistas explorando o local. Ajudo Suzy a subir na
areia, chegamos ao topo de mãos dadas, observando o paraíso lá de cima.
Andamos pela ilha, encontrando uma piscina natural incrível onde
mergulhamos e nos divertimos por vários minutos, ela de biquíni, eu de
sunga.
A garota aos poucos para de ser hostil e se entrega à diversão. Não tento
nada com ela, primeiro porque fiz um combinado sem sentido com a Kelly, e
segundo porque se eu atacar, Suzy irá recuar. Quando nos cansamos, chamo-
a para continuar com o passeio.
— Ainda tem mais? — Pergunta, sorrindo.
— Claro — afirmo. — Vou te levar à ilha dos Poldros agora, que fica na
fronteira entre o oceano atlântico e o rio Parnaíba.
— Sério?
— Sério! Vamos! — Corremos pela areia, recebendo as fortes brisas do
vento no corpo, sob o sol maravilhoso.
Retornamos à lancha, navegamos até a ilha dos Poldros, um paraíso
entre o mar e o rio. É nítida a divisória das águas, a coloração destacada na
fronteira entre a água doce e salgada. É basicamente um lindo pedaço de areia
branca no meio do nada. Há diversas barcas ancoradas por perto e muitos
turistas.
— Meu Deus, isso é o paraíso! — Diz a morena, sorrindo, com os olhos
brilhando.
Suzy me surpreende, ela é uma mistura de inocência com esperteza, de
anja com diabinha, já que se relaciona com o próprio padrasto. Mas se eu não
soubesse desse detalhe, a definiria como uma menina doce, divertida,
sorridente, sonhadora, e totalmente ingênua quanto ao Alex. Apesar dela
saber dos planos dele sobre o hotel, percebo que não o conhece de verdade,
não sabe do seu caráter podre, acha que o bandido é um príncipe.
Seguimos para a costa da ilha, entramos no misto de mar com rio, onde
ondinhas vêm constantemente, com pouca força. Acontece um momento mais
íntimo entre nós naturalmente, quando pego a garota pelo quadril largo,
trazendo-a mais para o fundo. Nossos rostos ficam bem próximos, contudo,
ela engole em seco e foge.
— Agora me diz se isso aqui não é melhor do que ficar naquela casa? —
Pergunto, há mais banhistas ao nosso redor.
— O.K., você venceu — responde Suzy. — Mas falando em casa, já
estamos a horas por aqui, o Alex vai...
— Shhh — faço sinal de silêncio. — Não pense nisso agora, só curta o
momento. Do que adianta vir ao litoral do Piauí e ficar trancada em casa? —
Ela se cala, acho que consegui persuadi-la outra vez. — Onde você morava?
— Puxo assunto.
— Teresina — responde.
— E por que vieram para cá?
— Você sabe, o Alex quer comprar o hotel da sua mãe.
— Por quê?
— Porque ele quer nos dar uma vida mais estável, manter um negócio é
uma opção.
— Mas por que ele quer comprar justamente o meu hotel?
Suzy revira os olhos e respira fundo, não gostando do assunto,
entretanto, não posso mais enrolar, preciso atacar. Estamos com mais da
metade do corpo coberto pelo mar, de braços abertos, pairando na água. Ela
não me responde.
— Tu sabe que ele ameaça a minha mãe com alguma coisa, não sabe?
A garota foge, saindo da água, a sigo.
— Aonde você vai? — Pergunto, sério.
— Acho que você até resistiu muito tempo sem tocar neste assunto,
quase acreditei que só queria sair comigo.
Caminhamos pela areia, abandonando o mar ela na frente.
— E por que não quer tocar no assunto?
— Porque não é da minha conta, isso é o Alex que está resolvendo, é
entre ele e a sua mãe! — Retruca.
— Você sabia que ele quase se casou com a minha mãe? Ele te contou
isso?
Suzy para de caminhar e me olha nos olhos chocada, incrédula.
— Que história é essa? — Fica curiosa.
— Ele trabalhava no Algas antes de conhecer a sua mãe, era nosso
funcionário, e seduziu a minha mãe para tentar casar com ela e ter direitos
sobre o hotel. Quase conseguiu, mas dias antes do casamento, o peguei no
flagra transando com a nossa secretaria. Descobrimos todo o seu plano, a
secretária era sua cúmplice.
— Isso é mentira..., o Alex jamais faria isso!
— Ah, não? O que espera de um cara que ameaça outra pessoa para
conseguir o que quer? Ele não presta, está te enganando como um dia
enganou a minha mãe...
— Para! — Ela exclama, confusa, chorando. — Não quero ouvir mais
nada que venha de você, até porque não vou acreditar! Só quero... que me
leve pra casa, agora! De onde eu nunca deveria ter saído.
Tenho vontade de explodir, mas me controlo e sigo a garota até a lancha.
Mais tarde, chegamos na sua casa. Ela não me deixa falar mais nada e desce
do carro, indo embora. Soco o volante, puto! Merda! Vou embora frustrado,
torcendo para Kelly ter se saído melhor que eu.
Que ideia idiota essa de sair com esse menino! Foi a pior coisa que já fiz
na vida! Saímos às 9h e agora já são 12h, Alex com certeza ficará puto se
descobrir. Torço para que ele ainda não tenha chegado. O pior de tudo foi
ouvir Erick falando do Alex com a mãe dele! Estou morrendo de ciúmes,
confusa, pois não sabia desse detalhe.
Entro em casa vendo a figura sombria do homem sentado no sofá, de
pernas cruzadas, me aguardando
— Onde diabos você estava? — Pergunta, entre dentes, intimidando-me.

Volto para o hotel depois da manhã maravilhosa com a minha


namorada. Estou muito feliz por ter reencontrado o meu amor, mas perdi a
hora, devia ter voltado mais cedo. Entro no AP, deixando a porta aberta, meu
celular chama, é a Tati.
— Pai? — Olho para os lados, constatando que estou sozinho. — Oi
Tati, já cheguei, meu amor. — Falo no celular. — Não, eles não estão aqui,
devem ter ido almoçar. E você, já chegou em casa?... ‘tá, beijo, te amo.
Desligo, a porta bate às minhas costas, vejo meu pai só de bermuda, com
a cinta na mão, ameaçador, e entendendo tudo: ele estava me esperando! Fico
assustado, não estava esperando por essa!
— ‘Tá mentindo pra mim de novo, Apolo? — Indaga ele, a voz grossa e
furiosa rasgando o ar.
FÚRIA E DESEJO

"Kelly que outrora foi a minha confusão,


agora é a minha calmaria.”

— Pai... calma, olha... — tento argumentar inutilmente.


— Então foi por isso que você escolheu vir pra Luís Correia? — Indaga
o homem, se aproximando, intimidador, apertando o cinto na mão com tanta
força que faz um estalo. — Por causa da Tati?
— Pai... — não tenho tempo de dizer mais nada, recebo uma lapada
forte nas costelas e braço, os locais ardem imediatamente, a dor queimando.
— AI! — Exclamo.
— Quantas vezes eu conversei com você?! — A voz dele aumenta,
furiosa. — Quantas vezes te pedi para não mentir mais pra mim?! — Recebo
mais duas lapadas dolorosas, ao tentar me afastar, caio na cama, nervoso,
com medo. — Fiz tudo por você, tentei ser seu amigo, passei a mão na sua
cabeça mesmo diante de toda essa merda, e é assim que me agradece?!
Ele passa a me bater de verdade, lapada por cima de lapada. Choro,
tentando falar, mas ele não me ouve, está possuído pela raiva, por causa das
minhas mentiras.
— PAI..., PARA! — Grito, em pranto, tentando me defender.
— Quer passar perto da morte de novo, QUER?! — Ele empurra a
minha cabeça com força, deixando-me de bruços sobre o colchão, e continua
me batendo. — Acha que vou te deixar morrer?!
— EU AMO ELA! — Berro, ofegando, as cintadas cessam. — Amo ela,
pai — as lágrimas encharcam o meu rosto.
Ouço meu pai se afastar, respirando forte, acalmando-se.
— Desculpa..., eu ia te contar... — soluço. — Estava com medo do
senhor não me deixar vê-la..., foi ela que entrou em contato comigo..., não
resisti... — o homem gigante deixa a cinta cair, mirando-me preocupado,
pensando no que dizer.
— Quando você ia me contar, Apolo? — Sua voz sai calma, porém
triste, ele está visivelmente decepcionado comigo, isso me destrói. —
Quando tivesse uma arma de novo apontada pra você?
— Não...
— Acha que foi pouco o que aconteceu na casa do Cláudio?
— Não, não, não... — abaixo o rosto, as lágrimas caem pesadas nos
lençóis.
— Você quer ver mãe e filha se matarem?
— Não! — Exclamo, socando a cama. — Mas foi mais forte que eu!!
— Nós vamos embora agora! — Sentencia, direto e reto.
— Não! — Retruco, levantando, o encarando.
— Não? — Indaga, odiando a minha afronta. Vejo sua montanha de
músculos sobressair-se à minha frente.
— Eu amo ela — tento argumentar novamente, deixando mais lágrimas
descerem.
Ele balança a cabeça positivamente, fechando os olhos, dando-me as
costas outra vez, refletindo, se encostando na parede.
— Tu ama ela, né? — Pergunta, sem me olhar nos olhos.
— Sim. — Respondo, enxugando as lágrimas, sentindo o corpo doer da
surra que levei.
— Pois vai deixar a Tatiana decidir se quer ou não o seu amor — aponta
o dedo na minha cara, raivoso. — Vai virar homem e vai contar pra ela toda a
verdade! Não era isso que você queria vindo aqui?
Assinto, inseguro.
— Sei o que devo fazer..., só não tive coragem ainda.
— Pois agora vai ter que ter! — Retruca. — Mas antes avisará a mãe
dela sobre isso, para não gerar um caos na família, ‘tá me entendendo?
— Sim, pai.
— E o meu envolvimento nessa novela acaba aqui! Não irei intermediar
mais nada! Você fará tudo sozinho dessa vez, para aprender, porque achei
que já tinha aprendido.
Ficamos em silêncio por longos segundos. Seguro o choro, de cabeça
baixa, sentindo-me um fracasso por tê-lo enganado outra vez.
— Agora vem cá — me chama, abrindo os braços, corro para abraçá-lo,
soluçando. Posso perder tudo, menos a amizade dele! Recebo seu conforto e
carinho, seu beijo na minha cabeça, sinto-me protegido. — Engole esse choro
— ordena. — Tu ainda vai me enlouquecer, garoto.

Estou no quarto, escolhendo o chapéu e o óculos de sol que melhor


cubram o meu rosto para poder sair de casa. Agora fico presa mais do que de
costume, com medo de ser vista por meus parentes. Não consigo mais dormir
desde que eles chegaram aqui, fico perturbada, pensando no que irei fazer.
Sinto o círculo cada vez mais se fechando, me deixando a ponto de explodir.
Por um lado, sei que devo me revelar a eles, contar ao Victor sobre
Erick, mas por outro, tenho tanto medo do meu filho me rejeitar depois disso,
medo da reação do meu pai Rivaldo ao saber da verdade, da reação do Victor,
e ainda por cima, minha mente se perturba com a ameaça de Alex.
Ele não deu mais sinal de vida depois daquele dia, porém tenho certeza
que é de propósito, quer me deixar agoniada pensando no que irá fazer a
seguir. Deus, me dê um pouco de paz, um caminho para seguir, uma luz para
resolver todos estes problemas simultaneamente! Peço.
Resolvo fechar a janela, olho para fora e avisto Laura, minha irmã, de
chapéu e óculos de sol, passando na frente da minha casa. Ela tropeça sem
violência, olhando automaticamente em minha direção, é tudo muito rápido!
Em um reflexo, fecho as cortinas, paralisando em seguida, preocupada. Será
que ela me viu?
Tin don
O som da campainha ecoa pela casa, fazendo meus olhos se arregalarem
instantaneamente, amedrontada! É ela, só pode ser, Laura me reconheceu! A
campainha toca outra vez, ela não vai desistir, quer entrar! Continuo
congelada, sem saber o que fazer!
— JÁ VAI! — Escuto Kelly gritar, saindo do quarto do Erick. Entro em
pânico e vou desesperada ao seu encontro.
— Kelly! — Paro a menina no meio do caminho.
— O que foi tia, que cara é essa?
Penso rápido, e retiro a blusa branca, permitindo que o sutiã apareça.
— O que a senhora está fazendo? — Kelly não entende nada.
— Você se parece comigo; Erick ainda não chegou, né? — Ela
realmente se parece comigo, notei isso desde a primeira vez que a vi, cabelo
loiro, olhos claros.
— Não, ele ainda... não chegou.
Tin don, tin don!
— Vista essa blusa, quero que você atenda a porta e diga que está
sozinha aqui, que não mora mais ninguém contigo — falo rápido, nervosa.
— Por quê?
— Depois eu te explico, agora faz o que estou pedindo, por favor! —
Imploro.
Kelly me obedece, mas antes que atenda Laura, retiro cada porta-retratos
que possa me denunciar da sala, escondendo-me atrás da parede mais
próxima.
— Oi, o que foi? — Pergunta a menina, após abrir a porta.
— Oi, é que... você... você estava na janela ali em cima? — Escuto a
voz confusa da minha irmã, após tantos anos, dói meu coração.
— Sim, era eu, por quê? — Kelly mente.
— Não, não era você — Laura está convicta.
— Mas é claro que sim, moça...
— Está sozinha aqui? — Ouço a voz da mulher mais próxima.
— Estou, e a senhora não pode ir entrando assim.
Sinto que Laura está bem perto de mim, do outro lado da parede.
— Ah... olha, desculpa, eu... devo estar louca mesmo. Perdão, achei que
tinha visto outra pessoa, alguém... muito especial pra mim — a voz dela é
triste, está abalada, decepcionada, e me faz chorar em abundância.
Ela vai embora, a porta bate, se fechando.
— Tia, o que foi isso? O que houve? Quem era ela? — Kelly está
preocupada.
— Por favor, querida, não me pergunte nada... Só prometa que não vai
contar nada disso ao Erick, ‘tá bom? — Peço.
— Não se preocupe, tia, vai ficar só entre a gente. Eu não vi nada e não
sei de nada. — Responde, tranquilizando-me.
Jesus, isso foi tão real! Achei que havia visto minha irmã, Lorrana,
minha querida irmã, que me deixou tanta saudade! Ainda estou em choque,
vários sentimentos afloraram em uma explosão, e agora me pego chorando,
com as mãos tremendo enquanto caminho devagar, afastando-me da casa que
acabei de invadir.
Jamais me conformei com o sumiço da Lorrana, arrependo-me de tantas
coisas erradas que fiz. Deixei-me levar pela raiva e ressentimento, assim
como ela, e isso nos tornou inimigas, nos afastando. Depois que desapareceu,
sua ausência se tornou um marco na família, abalando papai
estrondosamente. Mamãe, como sempre, só reclamou, dando de ombros,
falando que Lorrana é uma mal-agradecida, enquanto eu também sofria como
papai, pois me sinto culpada por minha irmã nunca mais ter voltado para
casa.

A discussão entre eu e Alex fica intensa.


— O que é?! — Exclamo, irritada. — É só você que pode sair? Tenho
que ficar em casa presa enquanto você vai se divertir?!
— Já disse que saio a trabalho, estou estudando o nosso futuro
empreendimento! — O homem retruca, enquanto desvio dele rumo ao meu
quarto, sendo seguida.
— Você está é gastando o dinheiro que a gente tem! O que a minha mãe
nos deixou é muito, mas não vai durar para sempre! Se quiser comprar o
hotel, tem que deixar o suficiente! — Argumento, enquanto jogo a bolsa de
lado na cama e enrolo-me na toalha.
— Você não precisa se preocupar com isso! Disso cuido eu! — Ele está
transtornado. Toda vez que não consegue me ter sob controle fica assim.
— Claro, porque você diz que confia em mim, mas no fundo é tudo
mentira! Você esconde coisas de mim, até mesmo a senha do cofre. Lembre-
se que esse dinheiro também é meu!
— É sério que está me falando isso, Suzy? Você sabe muito bem que
esse dinheiro é sujo! Criminoso! É por isso que não te deixo mexer no cofre,
tomo o maior cuidado. O que aconteceu? Com quem saiu? — Vejo o ciúme e
a raiva crescerem por seu corpo
— Só estou falando a verdade! Alex, você esconde coisas de mim! Não
é sincero comigo como sou contigo!
— Que coisas são essas que está falando? — Ele me prende pelos
braços, quase me machucando. — Fala!
— Por que não me disse que já foi noivo da mãe do Erick, hein?! —
Disparo, com ódio e ciúmes, não consegui segurar.
— Aaah, então era com ele que você estava? Foi ele quem te disse isso?!
FALA! — Alex grita, furioso, me apertando.
— Me solta! — Grito de volta, soltando fogo pelas ventas, homem
nenhum me segura!
— Vou mostrar àquele moleque com quem é que está mexendo! — Alex
sai de casa desgovernado. Tento pará-lo, mas é inútil!

A vida não está sendo fácil depois da morte do Cláudio, meu marido, e
do afastamento de Teresina. Não se trata de problemas financeiros, pois meu
sogro me ajuda com as crianças, meus pais também. O problema é familiar,
pois Tatiana, minha filha mais velha, está em constante conflito comigo,
brigamos quase que diariamente depois que viemos morar com os meus pais,
ela reclama da ausência da nossa antiga casa, dos amigos que tinha em
Teresina e principalmente da saudade do namorado, Apolo.
Tudo isso me fez entrar em uma espécie de depressão. Jamais esquecerei
do maldito dia em que abri aquela porta e dei de cara com Apolo, meu ex-
amante, que chegava para o jantar de namoro com a minha filha. Toda essa
loucura foi armada friamente pela Érica, uma psicopata que queria vingança
do meu marido! Ela e seu comparsa acabaram morrendo, o que me deixa
mais em paz, com menos medo.
Por outro lado, não consigo sentir tristeza pela morte de Cláudio, não
mesmo. Passei anos da minha vida doando-me a um homem que não me
merecia, sendo enganada por ele, traída inúmeras vezes. Mas o pior de tudo,
foi ele ter guardado dinheiro criminoso em casa para bandidos, pondo a mim
e aos nossos filhos em risco. Como pude me deixar enganar tanto?
Fui uma burra! Uma idiota! Deixei a minha carência falar mais alto,
envolvendo-me imoralmente com Apolo! Ele apareceu na minha vida com
uma intensidade que não pude controlar. Agora só o que me resta é
sofrimento, uma depressão que tento esconder de mim mesma, tomando
remédio controlado às escondidas, sem receita médica.
O pior é não ter alguém para conversar, para desabafar. Não contei a
verdade aos meus pais, escondo tudo deles e dos meus filhos, para eles o pai
foi um exemplo. Agora sinto-me mais morta do que antes, não estou viva,
não estou bem, e cada dia pareço pior para enfrentar as adversidades da vida.
Tati dificulta as coisas, me jogando coisas na cara todos os dias, culpando-me
por tudo! Se ela souber da verdade sobre o pai, talvez me olhe com outros
olhos, porém, se souber da verdade quanto a mim e Apolo, irá me desprezar
friamente. Só quero reconstruir a nossa vida, mas está tão difícil!
Não posso deixar a minha filha continuar namorando com Apolo, pois
mesmo que ele tenha sido manipulado, sempre soube o que estava fazendo, a
enganou também. Além disso, a união deles seria cruel demais para mim!
Como eu conseguiria encarar essa situação? Como poderia vê-lo com a
minha filha e não lembrar de tudo que vivemos?! Definitivamente não há
condições disso acontecer!
Nesse momento já passa das 14h, estou deitada na cama, local que se
tornou a minha morada quase o dia inteiro. O quarto está escuro, janela
fechada, luz desligada. Decido finalmente levantar, pego um remédio tarja
preta sobre a escrivaninha, sigo rumo à cozinha.
Passo pela sala, avisto meu filho Rafael assistindo TV com o avô. Chego
na cozinha, abro a geladeira, pego uma jarra d’água de vidro, coloco sobre o
balcão, olho para os lados, verificando se estou sozinha, não quero que
alguém saiba que estou me automedicando. Nunca quis ir ao médico também,
não quero que pensem que estou maluca, ponho os comprimidos na boca, a
água vem em seguida.
Minha mãe aparece de repente, pela porta dos fundos, assustando-me,
pois agora me assusto com qualquer coisa. O copo escorrega da minha mão,
espatifando-se em cacos. Mamãe tenta me ajudar a limpar, pedindo calma,
mas acabo discutindo com ela e corto o dedo, o que me deixa ainda mais
atordoada, tudo parece demais, catastrófico. Ao tentar lavar o ferimento na
pia, abro a torneira com força, causando um vazamento, que me deixa em
pânico, simultaneamente lembrado do terror que Érica me fez passar.
Minutos depois, estou deitada no colo da minha mãe, no quarto. Ela
acaricia meus cabelos, cuidando de mim enquanto miro meu dedo agora com
um curativo.
— Por que todo aquele pânico? Lembrou do assalto em sua casa, não
foi? — Pergunta mamãe.
— Sim — respondo.
— Você precisa procurar alguma ajuda, minha filha...
— Já disse que não vou a médico nenhum, mamãe! — Retruco, seca.
— Tem que superar tudo e esquecer o passado.
— Mas para esquecer não preciso ir ao psiquiatra!
— Estou muito preocupada, o seu pai está, os seus filhos...
— Só o Rafael se preocupa comigo, mamãe, a Tati me odeia.
— Ela é só uma adolescente rebelde que te culpa por tudo o que
aconteceu, mas isso vai passar!
— Será que vai, mamãe? Onde ela está?
— Ainda tá na casa da prima...
Ouvimos o som de porta batendo com força, e constatamos que ela
chegou.
Minutos depois, vou ao quarto dela, Tati está tomando banho. Avisto
seu celular na escrivaninha, o pego, vejo uma notificação de mensagem
enviada por “A”. Fico desconfiada, só pode ser o Apolo! Ela aparece de
repente, saindo do banheiro furiosa, enrolada na toalha, tomando o aparelho
da minha mão.
— Mas o que você está fazendo, aqui?! — Exclama. — Quem mandou
mexer no meu celular?!
— Quem é esse “A” que te enviou mensagem agora? — Pergunto,
nervosa.
— Isso não te interessa! — Retruca.
— Olha como fala comigo, não esqueça que eu sou sua mãe!
— Mãe? Que tipo de mãe só quer o mal da filha?! Você me afastou da
minha cidade, do meu lar, dos meus amigos, do meu namorado!
— Quando você vai entender que foi para o seu próprio bem? Para o
nosso bem? — Retruco.
— Para o seu bem, você quer dizer! Você nem pensou em mim e no
Rafael!
— Como pode falar isso?
— Se o meu pai estivesse vivo tudo seria diferente, ele sim saberia lidar
com essa situação, foi só um roubo, todo mundo pode ser roubado em
qualquer lugar do mundo!
— Não se trata só disso, Tatiana...
— E do que se trata, então? Você não sabe ser mãe! O meu pai sim sabia
ser pai, um ótimo pai, ele era maravilhoso, perfeito! Pensava em mim e no
meu irmão, muito diferente de você. Você nem mesmo chorou no enterro
dele! Que tipo de esposa não chora no enterro do próprio marido...?
— O TIPO QUE ERA TRAÍDA! — Berro, nervosa. Ela se cala,
pensando em minhas palavras. Não aguento mais servir de saco de pancadas!
— O quê?
— Acha que seu pai era perfeito? — Choramingo. — Ainda não havia
falado nada porque queria preservá-lo para você e seu irmão, mas quer saber
da verdade?! O Cláudio era um cafajeste! Me traiu a vida toda!
— Isso é mentira... — ela não quer acreditar.
— Aguentei tudo calada, sendo desrespeitada dia após dia, sabe por
quê? Porque pensava em você e no seu irmão! Por causa da droga dessa
família que carreguei e carrego nas costas até hoje!
— MENTIRA! — Tati grita. — Você não vai conseguir manchar a
imagem do meu pai!
Pego o celular do Cláudio no bolso da roupa e entrego a ela.
— Está duvidando? Olha o celular do seu pai, o WhatsApp dele, e tire
suas próprias conclusões.
Ela vê algumas fotos, chorando.
— Não, não vou acreditar nisso! — Tati arremessa o celular para longe.
— O quê?! — Fico indignada e ainda mais magoada.
— Chega! Sai daqui! Odeio você, odeio! — Fico sem chão, saio do
quarto, indo para o meu, sofrendo.

Após deixar Suzy em casa, passo numa oficina para ajeitar um


probleminha no carro. Depois de 20 minutos, sigo para o Algas, encontrando
Alex com o S10 estacionado bem na frente do portão, discutindo com seu
Maicon que não permite a sua entrada.
POOOM!
Buzino, chamando sua atenção, desço do carro e encontro com o diabo
no meio do caminho. Nos fuzilamos com os olhos, ambos exalando ódio um
do outro.
— Era com você mesmo que eu queria falar — ele aponta o dedo na
minha cara.
— É? Pois estou aqui, e abaixa a porra desse dedo, senão eu quebro ele
— ameaço.
— Falei pra você ficar longe da minha filha, seu moleque!
— Fico se quiser... — debocho, o provocando. Em resposta recebo um
soco, que devolvo na mesma intensidade. Encosto-me no carro para recuperar
o equilíbrio, Alex investe outro golpe, porém desvio, e o acerto na barriga,
arrancando-lhe o ar.
Ouço a voz da minha mãe e do porteiro se aproximando, contudo, estou
possesso, avanço no meu oponente com brutalidade, vamos ao chão. Ambos
sangramos, recebo outro soco, que devolvo com uma cotovelada. Bolamos
em chutes e murros até sermos separados.
— NÃO ENCOSTA NO MEU FILHO! — Xinga minha mãe, enquanto
um segurança me segura, e outro empurra Alex para longe.
— Eu falei pra ele não se aproximar da minha menina! — Alex está
transtornado, assim como eu, ambos ainda querendo brigar.
— O quê? — Minha mãe me olha, sem entender nada.
— Não terei mais paciência com você, Helen! Seu prazo para me vender
o hotel termina semana que vem!
Tento de todas as formas me desvencilhar do gigante que me segura,
mas é inútil. Alex vai embora, eu e minha mãe vamos para casa. Ela não para
de buzinar no meu ouvido um só segundo, e para completar a confusão,
minha madrinha a acompanha nos sermões. Estamos todos no meu quarto,
Kelly segura uma compressa de gelo no machucado que tenho na bochecha, a
gata está visivelmente preocupada.
— Você quer me enlouquecer, hein?! — Exclama minha mãe,
transtornada, andando de um lado a outro. — O que diabos foi fazer
procurando a filha do Alex, Erick?! Pra quê?!
Permaneço calado, suado, puto, ofegante.
— Meu filho, tanto que a sua mãe pediu para você não fazer nada — diz
minha madrinha, agoniada com a situação.
— Os meus problemas, eu resolvo! — Continua minha mãe. — Olha pra
você, com o rosto sangrando...
— Mas o dele sangrou também... — digo, esticando um sorriso
maléfico.
— Você não vai mais sair de casa! ‘Tá de castigo! Me dá a chave do
carro — exige.
— Mãe... — falei irritado.
— Me dá a porra da chave!
Entrego-lhe a chave com ódio. Ela sai do quarto com a madrinha,
deixando-me furioso, possuído. Estou tentando defendê-la e é assim que me
agradece?
— Erick, calma... — antes que Kelly consiga terminar, levanto em
explosão e arrebentando a porta do banheiro com um chute, aos gritos,
socando-a várias vezes seguida.
— AAAAH!!!!!
— MEU DEUS! — Minha mãe reaparece na porta, aterrorizada.
— Tia, por favor, deixa que eu cuido dele! — Pede Kelly, nervosa,
assustada.
— Vamos, Helen! — Minha madrinha puxa a minha mãe, enquanto
chuto os estilhaços da porta, enlouquecido. Ajoelho-me no chão, machucando
meus tendões a cada soco, fazendo-os sangrarem.
— Erick, para! — Pede Kelly, apavorada. — Erick, me escuta!
Suas mãos avançam em meus antebraços, os segurando. Ela se ajoelha
na minha frente, chorando, me fazendo parar. Ofego bastante, como um touro
brabo, com as lágrimas queimando a minha face.
— Olha pra mim — ela pede, murmurando. A obedeço, vendo seus
olhos brilharem. — Vai dar tudo certo... vai dar tudo certo... calma... calma.
Consegui marcar um encontro com Alex amanhã, vai dar tudo certo.
Ela leva as mãos vagarosamente ao meu rosto, me fazendo até mesmo
ficar com pena dela por tê-la assustado tanto. Sou abraçado fortemente, fecho
os olhos com o seu toque que parece aliviar a minha alma.
— Fica calmo — pede.
Aos poucos a fúria vai embora, minha respiração volta ao normal, Kelly
consegue me acalmar, me traz paz. Ela me leva para o banheiro e liga o
chuveiro, deixando a água me molhar mesmo estando vestido. Nossos rostos
ficam grudados, os olhos fechados.
O seu carinho me faz bem. Kelly que outrora foi a minha confusão,
agora é a minha calmaria.

É madrugada quando recebo mensagem da Tati.


TATI: Amor, vem pra cá, preciso de você agora, por favor.
APOLO: O que houve?
TATI: Minha mãe me disse coisas horríveis sobre o meu pai, passei o
dia inteiro muito mal, preciso de você. Vem à minha casa agora, deixo a
janela aberta para você entrar. Por favor, não posso ficar sozinha hoje. Não
posso!!!
A coisa parece estar séria, não posso deixá-la sozinha. Saio do quarto
com cuidado, para que meu pai não acorde.

Acordo assustada de um pesadelo, ligo o abajur rapidamente, levando


alguns longos segundos para me acalmar. Abro a gaveta da escrivaninha,
pego meu remédio, saio do meu quarto e vou para a cozinha. No caminho de
volta, algo me faz parar na porta do quarto da minha filha, abro a porta.
A primeira coisa que noto é a janela aberta, a luz da lua invade o
ambiente por ela, tomando a cama de Tatiana. Ao lado da garota, está Apolo!
Assusto-me ao reconhecê-lo, fico paralisada, em choque! Meu coração
dispara quando ele acorda, trocando olhares comigo, sentando lentamente na
cama, é quando percebo que os dois estão nus! Oh, meu Deus! Eles se
relacionaram aqui!
Apolo levanta, vindo até mim, com o pau enorme balançando enquanto
caminha. Recuo, dou passos para trás, em um certo desespero silencioso que
treme todo o meu corpo, não consigo falar nada, minha voz some. Ele chega
cada vez mais perto, o olhar penetrante, rosto sedutor, sorriso sagaz, corpo
perfeito. Fico presa entre ele e a parede, não tenho para onde fugir! Apolo
está maior, ganhou mais alguns músculos, há uma fina camada de pelugem
surgindo em seu queixo, o tornando ainda mais tentador.
— Não... — sussurro, tentando empurrá-lo, mas é inútil. Sou beijada,
sua pele está quente, me queima, me transforma em fogo.
Sinto sua mão gigante apertar o meu seio direito, a outra levanta minha
camisola, penetrando a minha calcinha. Seus dedos longos e hábeis atingem a
minha intimidade, me deixando molhada! Não posso estar assim, meu corpo
não deve reagir desse jeito! Apolo me intimida com o seu olhar devasso, ele
não se importa com a Tati que está dormindo a poucos metros de nós!
Seu pau duro e grosso é pressionado contra meu abdômen, tento afastá-
lo, mas sou mais fraca. Minha coxa é erguida, me arrancando um fino
gemido, ele cospe na mão, lambuza seu mastro enorme, e o penetra em
minhas entranhas com força! Sinto uma explosão de prazer me atingindo, é
tão bom senti-lo tão fundo e grosso, acabando comigo!
Seu quadril move-se sem parar, habilidosamente, sua mão livre tapa a
minha boca, abafando os meus gemidos enquanto sou fodida de forma feroz,
silenciosa, em mais pura libertinagem! Olho para a minha filha, as lágrimas
descendo por meu rosto enquanto sou invadida por seu namorado, o desejo e
a culpe me consomem na mesma intensidade. Deus irá me condenar, pois
estou gostando disso!
O GOLE DA VERDADE

"Você é a coisa mais importante da minha vida”

Acordo assustada, com a mão dentro da calcinha, percebendo que


novamente sonhei com Apolo! Meu Deus, quando isso terá fim? Quero
esquecê-lo para sempre, mas ainda não consegui! Isso só mostra o quanto
esse garoto foi intenso na minha vida, tanto positiva quanto negativamente.
Tati o ama, eu não. Também não sei o que ainda sinto por ele além de
raiva e rancor. Quando penso que no passado cheguei a me apaixonar, a
pensar loucamente que poderia namorar um garoto de dezesseis anos, sinto-
me um fracasso. Minha vida estava tão complicada naquela época, que a
única saída parecia ser Apolo, só que eu não poderia imaginar que ele era o
namorado da minha própria filha!
Foi uma grande decepção, tudo parte de uma vingança macabra. É por
isso que não posso permitir que Tatiana continue com ele, pois eu iria sentir
que estávamos a enganando, esse peso e essa culpa jamais me abandonariam,
porque todo vez que o olhasse, lembraria de tudo, até dos momentos íntimos!

Convenço Tati por mensagem que não posso sair de casa neste horário, é
loucura. Saí do quarto para conversarmos melhor, sem perigo de acordar o
meu pai, para poder consolá-la direito. Se ela ficou arrasada com o que
descobriu do pai, imagina quando descobrir o fundo desse poço. Mas a
verdade terá que vir à tona, não dá para fugir dela. Amo Tati, e por amor
tenho que ser verdadeiro, sincero, tenho que contar a verdade e deixá-la
decidir se depois disso ainda existirá nós dois.

Acordo com as carícias de Kelly que está deitada sobre o meu corpo,
sorrindo lindamente, apaixonada. Na noite passada ela definitivamente
cuidou de mim, conseguiu me acalmar como nunca antes alguém conseguiu,
e isso me deixa mais encantado por ela. A cada minuto que passamos juntos,
descubro sua outra face, até chego a acreditar que nem toda ladra é bandida.
O mais assustador, é que só estamos juntos há apenas três dias, nunca antes
uma química com uma gata deu tão certo.
— Bom dia, furioso — diz ela, deslizando a ponta dos dedos pelo meu
rosto.
— Bom dia — sorrio, lhe fazendo cafuné.
— Está melhor agora?
— Sim, bem melhor, ainda mais agora com você do meu lado, cuidando
de mim.
Ela gosta muito das minhas palavras, não consegue disfarçar, me
beijando. Agarro sua bunda, transamos bem gostoso, é o melhor café da
manhã: chá de boceta. Tomamos banho, e após nos vestirmos, puxo conversa.
— Então, o seu encontro com o Alex ficou marcado para hoje à noite,
certo? — Pergunto.
— Sim — ela responde.
— E como foi o encontro na praia? Foi fácil chamar a atenção dele?
— Sim, foi. A gente conversou, ele me disse que era um empresário, que
está aqui investindo em um novo empreendimento que se resume em comprar
um hotel.
Baixo os olhos por um instante, Kelly já sacou tudo.
— Erick — a loira toca o meu rosto. — Foi melhor eu ter entendido o
porquê de estarmos fazendo tudo isso, agora sinto-me mais motivada por
saber que é para ajudar a sua mãe e proteger o seu lar. Pode não ser a forma
mais correta... mas não somos corretos mesmo, né — ela dá de ombros.
— Não, ser correto pra mim sempre foi chato. Gosto de ser bagunçado
— afirmo.
— Eu não te definiria como bagunçado, mas sim como rebelde e...
intenso.
A agarro pela cintura, grudando nossos corpos.
— Olha só..., até que gostei — sorrio.
— E se o Alex está jogando baixo com a sua mãe, faremos o mesmo
com ele.
— Obrigado, gata — a beijo gostoso, aliviado. — Você disse a ele o que
combinamos?
— Sim, falei que era uma estudante de medicina que estava aqui de
férias, que era uma menina de família rica, que gostava de viajar sozinha.
Acho que ele acreditou, sou boa nisso — ela ergue uma das sobrancelhas, me
provocando.
— Sei muito bem o quanto é mesmo.
— Você tinha que ver como os olhos dele brilharam quando falei que
era de família rica.
— O filho da mãe é ambicioso.
— Sim, e gosta de beber, vou fazer um “batizado” pra ele, e vamos
descobrir a senha desse cofre hoje à noite — a loira está decidida,
determinada — Mas preciso leva-lo a algum lugar, não dá para deixa-lo
dopado no restaurante onde marcamos o encontro.
— A família do Elizeu, meu amigo, aluga casas na cidade, vamos
conseguir uma bem cara de estudante de medicina pra você — adoro meu
sarcasmo.
— Ai, eu vou adorar! — Kelly sorri maliciosamente e me beija.
— E o que mais rolou no encontro? — Estou curioso.
— Nada, ah, ele tentou me beijar — conta, faço uma careta. — É
mentira! — Ela gargalha da minha cara, porém lhe dou umas lapadas na
bunda em resposta, depois nos beijamos outra vez. — E o seu passeio com a
tal Suzy, hein? Pode me contar tudo! — Exige, dando uma de Sherlock
Holmes.
— Ah, foi legal, nos divertimos muito! Ela é linda só de biquíni, e eu
mais ainda só de sunga — Kelly me empurra, de cara fechada, me arrancando
gargalhadas.
— Você não sabe brincar, seu ridículo!
O celular dela recebe uma mensagem.
— Olha aqui, o trouxa acabou de mandar uma mensagem, querendo
saber se o nosso encontro vai acontecer!
Agarro-a pelas costas, mirando a tela do seu aparelho.
— Responde — digo.
— Calma, para quê a pressa? Deixa ele ficar um pouco ansioso.
— Sua diaba!
Estou na cama, com um band-aid acima da sobrancelha, onde aquele
moleque me machucou ontem. Mas ele irá me pagar, semana que vem esse
hotel será meu, não há para onde a mãe dele correr!
Suzy entra no quarto, trazendo-me uma bandeja com o café da manhã.
Ela é demais, perfeita, a amo mais que tudo. Apesar de eu sempre andar
pisando na bola, tenho essa garota como a pessoa mais importante da minha
vida, após a morte da minha mãe, ela é a única a quem consegui amar de
verdade. Sou servido, e ganho um beijo de bônus.
— O machucado parou de doer? — Ela pergunta, me olhando não tão
feliz.
— Parou, você sempre consegue me curar de qualquer mal, meu amor
— a elogio, mas ela não se deixa encantar por isso. Como um pedaço de bolo
de milho — E essa carinha? Ainda está chateada comigo?
— Claro que sim, você não devia ter ido caçar briga com o Erick, não
aconteceu nada entre a gente, eu jamais iria te trair.
— Sei disso, Suzy, não foi esse o motivo que me fez ir atrás dele, mas
sim a afronta que ele me fez, querendo pôr você contra mim, por ter se
aproximado de ti — a seguro carinhosamente pelo queixo. — Não quero que
nenhum outro homem se aproxime de você além de mim, entende isso? —
Ela é minha, sou e sempre serei o seu único homem.
— Sim — responde, cabisbaixa.
— Mas não gostei de saber que você aceitou o convite e caiu na rede
dele, estou magoado — declaro.
— Também estou magoada, Alex. Saí apenas para ver um pouco das
maravilhas da região, não suportava mais ficar presa! Não gostei de saber que
você já teve um caso com a mãe do Erick, tu nunca me disse que a compra
desse hotel fazia parte de uma vingança pessoal sua; ela ainda mexe com
contigo?
— Claro que não, Suzy, claro que não! — Defendo-me. — A Helen
nunca significou nada pra mim, e a minha vingança não é exatamente contra
ela, mas sim contra tudo o que o pai dela fez à minha mãe. Ela serviu aquele
velho por anos, o amou, ganhou esperanças, e depois foi jogada na sarjeta.
Prometi a ela que não deixaria isso barato, a Helen era só um degrau para que
eu chegasse aonde queria, ainda continua sendo.
— Eu também sou só um degrau para você, Alex? — Ela indaga,
deixando uma lágrima fugir, pondo-se no lugar da outra.
Seguro seu rosto com as mãos.
— Claro que não, meu amor, claro que não! — A acaricio. — Você é a
coisa mais importante da minha vida, a primeira mulher que amei além da
minha mãe, eu faria tudo por você, tudo! Quantas vezes já te disse isso? Não
vou te perder, não posso te perder, eu te amo! — A beijo docemente.
— É que você sempre conta as coisas pela metade, às vezes tenho a
impressão de que não te conheço — confessa Suzy.
— ‘Tá vendo como aquele moleque mexeu com a sua cabeça? — Tenho
raiva, porém uma ideia surge. — Quer me conhecer? Pois bem, estamos no
lugar certo, te levarei ao meu passado.

Chego com Suzy nas ruínas da minha antiga casa de taipa, o lar
miserável onde vivi com a minha mãe metade da minha vida, que fica num
cantinho pobre e esquecido de Luís Correia. Não há vizinhos por perto, o
imóvel fica no meio do matagal, está completamente abandonada.
— Você morava aqui? — Pergunta Suzy, embasbacada, enquanto
andamos pelo espaço pequenino.
— Sim — respondo, nunca mais quis voltar aqui, mas foi necessário
para provar o meu amor a ela.
— Meu Deus.
— Nem sei como essa casa ainda está de pé após tantos anos, mas foi
aqui que vivi metade da minha vida miserável. Aqui vi minha mãe morrer
apaixonada pelo pai da Helen. Agora você me entende? Quero fazer justiça!
— Rosno.
— Oh, meu amor! — Suzy me abraça forte, acalentando o meu ódio.
Saímos do casebre, entramos no carro, mas antes de partirmos, recebo
uma mensagem de Kelly confirmando o nosso encontro.

Entro no escritório aliviada por não ter dado de cara com nenhum dos
meus parentes no caminho de casa até aqui. Tranco a porta, tiro os óculos de
sol e o chapéu de praia, encontrando Eduardo me olhando desagradado.
— Você ainda não me contou o que está acontecendo, Helen, está me
enrolando; eu não sou de confiança? — Ele pergunta, de braços cruzados,
encostado à mesa.
— Não é isso, Edu — estou encurralada novamente.
— Então o que é? Se vamos ter um relacionamento tem que ser baseado
na verdade, chega de mentiras e de segredos.
— Eu estava procurando as palavras certas para te contar, tenho medo
de como vai me olhar depois que souber da verdade — confesso.
— Te olharei com estes mesmos olhos, mas preciso saber por que anda
se escondendo daqueles hóspedes?
— Porque eles são a minha família — revelo, de olhos fechados.
— O quê?
— Antes de vir para cá... eu tinha outra família e outro nome..., me
chamavam de... Lorrana — Assim, conto tudo a ele. — E foi isso — concluo,
entristecida
— Helen..., não sei o que dizer — diz ele, mirando o chão, boquiaberto.
— Nem sempre fui essa pessoa equilibrada que você conhece hoje, Edu.
— Conto, não tenho mais lágrimas para chorar. — Fui movida pela vingança,
pelo ódio, irresponsabilidade e imaturidade.
— Então quer dizer que... aquele hóspede, o tal de... Victor, é o pai do
Erick?
— Sim.
— A loira é a tia dele e o menino é o irmão?
— Sim.
— Enrolei para te contar a verdade, confesso. Nós acabamos de começar
o nosso relacionamento, não queria soltar essa bomba logo de início, mas o
entendo se quiser terminar — meu peito se aperta só de pensar nesta hipótese.
Eduardo respira fundo.
— Você ainda... gosta dele?
— De quem? Do Victor? Não, claro que não! Ele foi uma aventura da
minha juventude, muito forte, muito intensa, confesso, mas não sinto mais
nada por ele, porém temos um filho junto. Hoje ele está casado com a minha
irmã, ele sempre a amou e não imagina que o Erick existe. O meu filho... —
vacilo, deixando as lágrimas tomarem de conta — nasceu de uma vingança
minha, mas hoje... é a coisa mais preciosa da minha vida.
Eduardo parece bastante abalado.
— Eu não sei... tenho que pensar — diz, indo embora.
Chamo Apolo para jogar futebol em uma das áreas de lazer do Algas,
estamos apenas de calção de praia, suados, driblando a bola na areia
descalços. Há mais hóspedes ao redor, em outras áreas, jogando vôlei,
frescobol. Laura foi para a casa de massagem, um espaço construído em
madeira entre os coqueiros.
— Ah não! — Reclama Apolo, enquanto sorrio, correndo ao seu redor,
feliz pelo gol.
— Preste atenção, cara, já é o terceiro gol que faço! Não vou facilitar pra
você — brinco.
— Olha pai, é o cara que conheci aqui, que me levou até a praia, o
Erick! — Observamos o rapaz passando.
— Chama ele para jogar uma bolinha com a gente — sugiro.
— Erick! — Grita Apolo.
O rapaz vem até nós, é um garanhão bonito, da nossa cor, tem a altura
do Apolo, sou apenas um pouco maior que os dois. Erick tem os lábios
carnudos, um sorrisão que me parece familiar, olhos intensamente verdes,
cabelo bem cortado, em nível baixinho, como o nosso. Trocamos apertos de
mão, e, estranhamente, sinto que já o conheço.
— E aí cara, tudo bem? ‘Tá curtindo o Algas? — Ele pergunta a Apolo.
— Sim, bastante. Olha, esse aqui é o meu pai, Victor.
— Prazer, eu sou o Erick.
— Está hospedado aqui também? — Indago.
— Não, moro aqui, a minha família é dona desse paraíso — responde,
me passando uma energia boa, há uma felicidade natural o cercando.
— Ah, que legal — não consigo identificar o que acho de tão diferente
nele. Sinto-me incomum, não sei explicar.
— Quer bater uma bolinha conosco? — Apolo convida.
— Só se for agora! — Diz ele, tirando a camisa.
A bola volta a rolar pela areia, sob o sol radiante, no calor gostoso, entre
as brisas da praia. Nos divertimos bastante, Erick sabe jogar muito bem, até
consegue me driblar e fazer alguns gols. Logo parecemos íntimos, trocando
provocações saudáveis, brincando, gargalhando, desafiando um a outro. Por
algum motivo desconhecido, esse garoto consegue me encantar, isso nunca
aconteceu antes.
— Que foi, cansou? Tão rápido? — Ele me provoca.
— Você é bom, cara — o elogio, ofegando.
— Vamos tomar alguma coisa, o calor já está demais — Apolo nos
chama.
Seguimos para a lanchonete mais próxima, à beira-mar.
— Um suco, por favor — pede meu filho.
— Manda uma cerveja gelada, Rodrigão — pede Erick, me
surpreendendo com o pedido, mas prefiro não dizer nada. Ele dá o primeiro
gole, sorrindo, gelando a goela. — Espero que vocês estejam se divertindo
muito por aqui, esse hotel é tudo de bom, e cheio de gatas — diz as últimas
palavras mirando uma gostosa que passa de biquíni. Sorrio, lembrando que
fazia muito isso na sua idade.
— E então, Apolo, viu sua namorada? — Pergunta Erick.
— Sim — ele responde de forma vaga, desviando o olhar por um
momento, tocar no assunto deixa o clima chato devido ao que aconteceu
ontem.
— Vejo que já são amigos, trocaram até segredos — observo, dando
continuidade ao assunto.
— Olha, só não é meu amigo quem não quer — declara Erick. — Eu sou
um cara muito de boa. Contudo, minha mãe diz que tenho dom para
confusão, que herdei isso do meu pai, que gosto do perigo como ele gostava.
— Ah, seu pai morreu? — Fico curioso.
— Sim, assim que eu nasci, fui criado só pela minha mãe.
— Meu pai também — conta Apolo.
— Sério, Victor? — Pergunta Erick.
— Sério, não foi fácil, mas consegui sobreviver.
— Não é fácil mesmo, apesar de nunca ter convivido com o meu, me faz
uma falta danada. Sempre imagino como seria nossa convivência. Se ele
estivesse vivo, daria glória por ter um filho como eu, eu seria “o filho” sabe,
o filhão, o motivo de todo o seu orgulho. Ele me amaria, logo que sou um
comedor de xereca nato!
Gargalhamos com suas palavras, é hilário.
— Ele olharia para mim e diria: “meu filho, eu te amo porque você
seguiu os passos do seu pai, é um supercomedor de xereca”.
Rimos alto, não acredito que estou ouvindo isso.
— Nem te conheço, mas já gosto de você, garoto — afirmo para ele.
Decidimos voltar a jogar, depois corremos até o mar no pôr do sol,
mergulhamos nas ondas. Em um momento, noto que Apolo e Erick se
parecem fisicamente, consequentemente parecendo comigo, a diferença é que
Erick tem cara de safado, enquanto Apolo tem carinha de anjo, só que de anjo
sabemos que ele não tem nada.

Olho-me no espelho, satisfeita com o que vejo, uso um vestido curto,


branco, com ar de recatado, deixando parte das coxas douradas à amostra, o
cabelo está preso em um rabo de cavalo impecável, a maquiagem ficou
perfeita. Estou pronta para encontrar Alex.
Após descobrir o real motivo dele estar fazendo isso, sinto-me mais
segura e motivada a ajudá-lo. Erick me surpreende a cada dia que passamos
juntos, nunca antes senti-me atraída tanto física quanto emocionalmente por
um homem. Sim, o vejo como um homem e não como um garoto de
dezessete anos, pois não parece, primeiro porque, fisicamente falando, Erick
é só músculos, de barriga tanquinho, bem-dotado, até sua bunda durinha me
deixa louca. Sou apaixonada por seus lábios do pecado, seus olhos
esverdeados, sua intensidade, seu fogo. Ele é o menino mais lindo que já vi.
Além disso, psicologicamente falando, Erick também é maduro, bastante
inteligente, amoroso, cuidadoso, protetor, ciumento, explosivo, corajoso,
impetuoso. Ele tenta me esconder que tem ciúmes de mim, mas não consegue
e acho isso tão fofo! O pior é que estou do mesmo jeito, o encaro como meu
namorado, só não lhe disse isso ainda. A verdade é que acho que estou
apaixonada, algo que não esperava. Diante dele fui uma ladra, mas é ele que
está roubando a minha sanidade.
O contraditório é que, pela primeira vez na vida, sinto-me valorizada
como mulher e como pessoa, mesmo por ele, que teve todos os motivos para
me tratar como uma qualquer depois do que aprontei. Se arrependimento
matasse, eu já estaria morta. Sei que nada justifica os meus atos, mas a vida
foi dura comigo, todos os homens que cruzaram o meu caminho me
massacraram, trataram-me como uma qualquer, como um objeto, tentaram se
aproveitar da minha ingenuidade, exceto Erick, com ele foi diferente.
Ele sai do banheiro enrolado na toalha, mostrando seu abdômen
trincado, o corpo da cor do pecado, lindo e tentador. Mas ao me ver, faz uma
careta, coçando a cabeça.
— O que foi? — Pergunto, sem entender, mostrando-me para ele.
— Tudo isso pro Alex? — Se aproxima, me observando emburrado, é
bem maior que eu, pareço uma formiguinha diante da sua grande estatura.
— Não, é tudo para você, é por você que estou fazendo isso, quero que
saiba — respondo.
— Ah é? Não é mais pelo álbum?
— Não, até porque já o encontrei — informo, o surpreendendo.
Erick continua analisando o meu look.
— Não está achando esse vestido muito curto? Porque eu estou — ele
diz, sem jeito.
— Não, para mim está ótimo — finjo que não estou percebendo o
ciúme.
— É sério, acho que o Alex não vai curtir, ele é do tipo que gosta de
garotas tipo freiras, sabe.
— É?
— Sim, se eu fosse você apostava num vestido longo, acho de verdade
que ficará mais legal. Esse aí está... feio.
— Achou feio?
— ‘Tá... estranho — mente, sentando-se na beira da cama.
Dou uma voltinha, sensualizando, recebendo seu olhar de interesse.
— Sério que estou?
— Acho que... dá para impressioná-lo de uma outra forma, com uma
abordagem mais “tia Antônia” e menos “Bruna Surfistinha”.
Gargalho horrores, mas ele continua mantendo a pose. Sento em seu
colo, o beijando gostoso.
— Como você mente mal, senhor Erick — digo, tesuda. Ele me joga na
cama, pairando sobre mim, entre as minhas pernas.
— Sinto muito em lhe dizer, mas vou ter que te comer antes que saia.
— Eu bem que queria, mas não...
— Sim...
— Já estou atrasada — o empurro, voltando a ficar de pé. — Tenho que
estar bonita o suficiente para fisgar o Alex, então pare de reclamar da minha
roupa.
— Até de burca você ficaria linda, gata.
— Cadê seus amigos, já chegaram?
— Sim, Elizeu está lá fora com o Ramon — responde, tirando a toalha,
indo nu até o guarda-roupa, procurando uma cueca. Vejo sua bunda máscula
pelo reflexo do espelho, e arrependo-me imediatamente por não ter aceitado
dar pra ele. Ai que tentação!
Alex envia uma mensagem.
— Tenho que ir, o boy está chamando — pego a bolsa, esperando pelo
Erick, que termina de se vestir.
Enquanto seguimos para o térreo, ele outra vez chama a minha atenção:
— Cuidado, não precisa fazer... nada demais para que o Alex conte
alguma coisa, você sabe o que estou querendo dizer.
— Não se preocupa, meu amor, eu sou sua, só sua — lhe dou um
selinho, ele não consegue conter o sorrisinho de satisfação. — Estou
adorando esses ciúmes, é tão excitante.
— Ciúmes, eu? Claro que não.
Encontramos os amigos dele estacionados na porta, entro no banco
traseiro do celta.
— Eu vou nesse carrinho? — Indago, com desprezo.
— Carrinho? — Elizeu fica puto. — Ora, respeite o meu carro! Por que
ninguém respeita o meu carro?!
Todos rimos.
— Primeiro mostrem a ela onde fica sua casa de estudante, para onde
vai ter que levar o otário depois do restaurante — Erick instrui aos meninos.
— Tudo certo, meu patrão — responde Ramon.
— Só estou fazendo isso por você, negão, porque por mim, não chegava
perto dessa aí nunca mais depois do que ela fez comigo — resmunga Elizeu,
no volante.
— Não se preocupe, querido, não vou te bater hoje — falo, séria,
divertindo-me com a situação.
— HA HA HA, que engraçadinha, você! — Elizeu ergue uma das coxas
e solta um peido monstruoso, barulhento, deixando seu gás venenoso se
espalhar dentro do carro.
— O que é isso? — Pergunto, indignada.
— É o meu cu te dizendo OOOI! — Responde ele, rindo, adorando me
ver sofrer com seu fedor. Erick o acompanha nas gargalhadas.
— Porra, macho, vai cagar no mato, veado! — Reclama Ramon,
tapando o nariz, fazendo uma careta assim como eu.
— Erick, eu não vou mais com ele! — Reclamo, quase chorando, com
os olhos ardendo devido à catinga de ovo podre.
— Agora estou me sentindo vingado! Vamos! — Elizeu dispara, nos
levando embora.
Como combinado, primeiro visitamos a minha suposta casa, recebo as
chaves, depois chegamos ao restaurante, local do encontro. Estou um pouco
nervosa, calma Kelly, vai dar tudo certo, penso. Saio do carro, com a garantia
de que Elizeu e Ramon ficarão de olho. Entro no estabelecimento luxuoso,
um dos mais caros da cidade. Avisto Alex, que fica maravilhado ao me ver
chegar.
— Uau, você está deslumbrante — ele elogia.
— Obrigada, você também não está nada mal — falo. Ele usa um suéter
verde bem escuro, calça jeans e sapatos. Está sofisticado, perfumado, é
incrivelmente lindo, pena que não presta. Alex é cavalheiro, puxa a cadeira
para eu me sentar.
— Preciso te pedir desculpas, pois já pedi o nosso prato.
— Ah sério, o quê?
— Lagosta, gosta?
— Adoro, meus pais também amam — minto. — Eles só gostam do
melhor, sabe. Pediu vinho também?
— Ainda não, estava em dúvida se você bebia.
— Bebo, só que moderadamente.
— Você lembra uma verdadeira moça de família — ele diz, pobre
coitado, só que não.
— Sim, em parte. Gosto de ser recatada, mas também amo me divertir,
sabe.
— Entendo, e acho fantástico. Veio a Luís Correia sozinha mesmo? Isso
me impressionou — Alex faz um sinal para o garçom.
— Às vezes gosto de estar sozinha, sabe, e já tive muitas amizades
falsas, pessoas que se aproximam de mim só por interesse.
Ele pede um vinho.
— Ah, entendo, sei como é, esse é o lado ruim de ter dinheiro, já passei
muito por isso — nossa, como ele é cínico, mente na cara de pau.
— Você também está em Luís Correia sozinho?
— Não, estou com a minha filha, na verdade sou padrasto dela, a mãe
morreu faz pouco tempo.
— Ah, que pena.
A conversa flui bastante, e nos damos superbem, ele em nenhum
momento desconfia de mim. Bebemos, comemos, bebemos outra vez, o
incentivo a beber e finjo estar o acompanhando, mas mantenho-me lúcida,
enquanto o homem se torna menos sóbrio. Chega a ser maçante a quantidade
de vezes que o ouço falar que é rico, que tem muitas posses, como se através
disso tentasse me seduzir. Mulher gosta de dinheiro, mas odeia achismo e
futilidade.
Quando chega o momento de irmos embora, ele me leva para casa, é
hora de atacar! Estacionamos na porta.
— Acho que exagerei um pouco no vinho — ressalta Alex.
— Acho que eu também — minto.
— Não, você está ótima — ele tenta me beijar, mas desvio o rosto
educadamente, sorrindo maliciosa.
— Quer entrar? — Convido, dando-lhe esperança.
Entramos, avisto os amigos do Erick antes de fechar a porta, dentro do
carro, na esquina. Sigo para a cozinha, retiro um frasquinho da bolsa com o
“batizado” e despejo dentro da garrafa de vinho que retiro da geladeira. Pego
as taças, volto para a sala.
— Ah, quer me embebedar? Não posso perder o controle — Alex
brinca, prevendo os próximos acontecimentos. Encho as nossas taças.
— Ah, sem bebida não tem graça, quero que você me mostre quem é de
verdade. — Digo, sentando-me ao seu lado no sofá.
— Como assim?
— Não existe aquele ditado que a cachaça entra, e a verdade sai? — Sou
irônica, mas ele nem percebe. Entrego-lhe a taça.
— É verdade, mas esse sou eu, Kelly, não tenho nada a esconder.
Sorrio, o provocando indiretamente, enrolando para levar a taça à boca
enquanto ele bebe.
— Sabia que o seu sorriso é uma das coisas mais lindas que já vi em
toda a minha vida? — Me elogia.
— É mesmo?

Estou no restaurante do hotel com Apolo e Victor, onde acabamos de


jantar. Agora ouço-os contarem sobre a tarde maravilhosa que tiveram com
um garoto chamado Erick, enquanto uma banda local faz um show ao vivo
para todos os hóspedes. Está uma noite linda, de céu estrelado.
— Estou vendo que esse Erick conquistou vocês — comento.
— Ele é muito engraçado! — Diz Apolo.
— É mesmo, esse menino me encantou, tem alguma coisa nele que me
chamou a atenção, mas não sei o que é. Me lembra alguém familiar — conta
Victor, sorridente.
— Vocês estão falando tanto dele, que agora também fiquei interessada
em conhecê-lo — afirmo, enquanto Victor bebe cajuína.
— Você vai gostar dele, mãe — Apolo levanta. — Bem, eu já vou, a
pelada hoje me deixou exausto; você vem, pai? — Apolo chama o pai, que
parece indeciso.
— Já, filho? — Indaga ele.
— Vocês podem ir se quiser, ficarei mais um pouco, quero ver o show
— aviso, para tirar qualquer obrigação dos ombros do Victor, caso a tenha.
— Filho, ficarei mais um pouco também — diz ele, surpreendendo-me.
Apolo se despede e some de vista. Troco olhares com Victor.
— Tem certeza que quer mesmo ficar, Victor? — Indago.
— Tenho, por quê?
— Não sei, às vezes tenho a impressão de que você tem medo de ficar a
sós comigo.
— Ah é? Por que eu teria? Nós somos bons amigos agora, não somos?
“Bons amigos”, até parece que gosta de dizer isso. Disfarço, sorrindo,
sem lhe dar uma resposta concreta.
— Traga duas cervejas, por favor — ele pede ao garçom. — Chega de
cajuína.
Minutos mais tarde, há várias garrafas secas, bebemos muito enquanto
sorrimos dos casais dançando, alguns são muito engraçados, tentando entrar
no ritmo do forró, no momento são tocados os clássicos de Luiz Gonzaga.
— Quer dançar comigo? — Victor convida, me surpreendendo,
realmente eu não esperava por isso.
— Quero — respondo, após longos segundos processando essa
pergunta.
Ele me estende a mão, levando-me para o centro do salão como um
cavalheiro. Dançamos o forró arrochado de Luís Gonzaga, inicialmente
desengonçados, mas depois pegamos o passo. Rio sem parar, meu ex
continua duro como sempre. Contudo, em um momento, ele segura meu
corpo ao seu com mais firmeza, intensificando o nosso contato. Tudo
desaparece ao meu redor, de forma que só consigo enxergar a ele, e a mais
ninguém
Seu rosto é perfeito, seus olhos negros me consomem, sua boca me
chama, quero este homem mais que tudo! Porém tenho que me controlar, não
quero forçar a barra. No meio da madrugada, voltamos para o chalé, ainda no
zero a zero, isso me deixa frustrada.
— Boa noite — Victor se despede, deixando-me inconsolável, mas ele
não consegue entrar no quarto, ascendendo uma faísca de esperança. —
Droga, Apolo trancou a porta — resmunga.
— À essa hora ele já deve estar dormindo.
— Sim — concorda, de olhos marejados, o álcool corre por seu corpo.
— Se quiser pode dormir no meu quarto — sugiro, nós trocamos
olhares.
Ele entra no cômodo comigo em silêncio, parecemos dois estranhos,
sem saber como se comportar diante do outro. Vou ao banheiro, tomo um
belo banho, empolgada, ansiando pela tão sonhada reconciliação. Mas
minhas esperanças vão por água abaixo ao encontrar Victor deitado no tapete,
com um dos travesseiros sob a cabeça, descamisado, as costas largas e
definidas chamando a minha atenção.
Respiro fundo, entendendo sua negação a qualquer tipo de aproximação.
Ele sabe que o quero, mas não está disposto a facilitar. Fico desanimada,
frustrada, então lembro das palavras da minha amiga Morgana, decidindo
jogar pesado. Deixo o robe que cobre o meu corpo ir ao chão, ficando
completamente nua.
— Victor — o chamo, com a voz sensual. Ele vira o rosto em minha
direção, olhando para mim, engolindo em seco ao perceber que estou
completamente disposta a ser sua.
SOB A MORTE

“Vejo o corpo enrolado em um tapete,


o cabelo dourado para fora,
ensanguentado”

Victor me olha com uma ponta de desejo, é perceptível que está


balançado, que ainda me deseja. Seus olhos passeiam por todo o meu corpo
nu, que ainda cintila do creme que passei minutos antes, estou perfumada,
sinto-me atraente, fatal. Mas sou destruída quando ele diz apenas três
palavras:
— Boa noite, Laura — sua voz parece triste, seus olhos se escondem,
não vejo mais sua face. Fico SEM CHÃO, completamente, tão arrasada que
deito-me com as lágrimas descendo sucessivamente sem parar, após vestir o
robe outra vez.
Mesmo cobrindo-me com o edredom, sinto um frio enorme dominar
meu corpo atrelado a dor desta rejeição. Quando a gente ama alguém, ser
machucado é triplamente mais fácil. É como se o meu coração tivesse sido
esfarelado entre os dedos dele, voando para longe como fumaça. Contudo, no
fundo, cogitei esta possibilidade, ninguém disse que seria fácil, Laura, penso.

Alex acaricia meu ombro, termina de tomar todo o seu vinho, sorri para
mim, e quando investe em um beijo, seu celular chama, graças a Deus, pois já
estava pensando como fugiria de mais uma tentativa.
— Só um momento — ele levanta, se afastando para atender a ligação.
Pergunto-me quando o efeito do “batizado” surgirá — Oi filha... o quê?...
como assim?... calma... Suzy tenha calma, estou indo!
Fico atônita, não estava nos planos Alex ir embora tão cedo! O remédio
com certeza surtirá efeito em alguns minutos.
— Vai embora? — Pergunto.
— Infelizmente sim, a minha filha teve um acidente doméstico, cortou a
mão, está precisando de mim — diz, está realmente preocupado.
— Ah, que pena — penso no que fazer — Logo agora que estávamos
nos conhecendo melhor — minha voz é sensual, numa tentativa de fazê-lo
ficar.
— Teremos outra oportunidade — ele acaricia minha face, encantado,
buscando outro beijo.
— Quem sabe na próxima, se você não for embora — nego.
— Tudo bem — concorda, e vai embora.
Ligo para os amigos do Erick, eles vêm me pegar, levando-me de volta
ao hotel.
— Quer dizer que você não conseguiu passar cinco minutos com o
Alex? — Pergunta Elizeu, me provocando. — Tá fraquinha, hein neném.
Achei que esse cabelo loiro valia alguma coisa.
Ele ri com Ramon, tirando sarro da minha cara.
— Nem vou te responder, bola de fogo! — Retruco, enojada. Elizeu
fecha a cara ao ouvir seu apelido, enquanto seu amigo continua gargalhando
feito uma hiena.

Kelly me conta o que aconteceu e fico frustrado, não com ela, mas com
o acontecido.
— Droga — bufo, enquanto vejo-a se despir.
— Pois é, a filha dele ligou bem na hora que ele terminou de tomar o
“batizado”, agora ela que vai aguentar o pai bem grogue — conta a loira.
— Ela não é filha dele, é a namorada.
— Sério?
— Sim; tomara que não descubra que o Alex foi drogado — reflito,
coçando o queixo.
— Há essa possibilidade, mas vamos torcer para que tanto ele como ela
pensem que é apenas o efeito do álcool.
Kelly veste seu baby-doll, percebendo a minha preocupação, senta ao
meu lado, fazendo-me carinho.
— Calma, vai dar tudo certo.
— Se o Alex descobrir que foi drogado, está tudo perdido, ele não vai
mais querer se aproximar de você — uma certa tensão passa a se apossar de
mim.
— Vai dar tudo certo, Erick — repete Kelly, me beijando, distraindo-
me.
Mas o que não sabemos, é que ainda nesta madrugada, receberei uma
ligação que mudará tudo.
— Alô? — Falo, com a voz sonolenta, é um número desconhecido,
Kelly continua dormindo ao meu lado.

Ao raiar do sol, saio do quarto da Laura frustrado, confuso, foi MUITO


difícil negar fogo dela quando a vi nuazinha daquele jeito, toda gostosa
chique para mim. Caralho, ela realmente me quer, foi capaz de jogar baixo,
fiquei excitado em segundos ao vê-la, mas tive que resistir, não posso possuí-
la sem ter certeza de que a quero de verdade, não há mais tempo para
namoricos à essa altura do campeonato, ainda mais com a minha ex-mulher.
Chega uma época na vida em que é tudo ou nada. Somos adultos, não
temos mais paciência para enrolação ou frescurinhas, não se trata disso
agora, não estou querendo matá-la na unha, a questão é que preciso de tempo,
tecnicamente ainda estou namorando com Leda, mesmo não sabendo notícias
dela há dois meses. Além disso, preciso pensar em Laura com calma, tivemos
um término terrível, não fui digno de sua confiança, é preciso dar um passo
de cada vez, ir com calma, descobrir se nós dois ainda é possível.
Entro em meu quarto, encontrando Apolo na cama, mexendo no celular.
— E aí, como foi a noite? — Ele me pergunta, sorrindo maroto.
— Você fez de propósito, Apolo — concluo, mas que garoto danado!
— Não fiz, não — nega, rindo com sua cara de pau.
— Sei...
— É sério, sempre tenho o costume de fechar a porta quando vou
dormir, quando acordei e vi que o senhor não estava aqui, deduzi que só
poderia estar no quarto ao lado — explica ele.
— Pois para sua informação a minha noite foi ótima, dormi como uma
pedra — minto, na verdade passei a noite de pau duro pensando na Laura.
Tiro a camisa e procuro a toalha para tomar banho.
— Sério? E a mãe? — Ele está curioso. É perceptível que deseja ver os
pais como um casal outra vez.
— Teve uma noite ótima também, eu no chão e ela na cama, se é o que
quer saber, seu besta — resmungo, entrando no banheiro, paro na porta e
olho para ele.
— Ah... tá. — Diz, desanimado.
— Hoje haverá um passeio oferecido pelo Hotel, eu vou chamar a sua
mãe para ir comigo, enquanto isso você aproveita e vai encontrar com a
Aline.
Apolo se torna sério, engole em seco.
— Terá que dar conta disso sozinho, filho — reitero.
— Eu sei — sua voz é triste — Irei conseguir, mas... o que digo pra
mãe?
— Eu invento algo — sigo para debaixo do chuveiro.
Após tomar banho e vestir um look confortável, que se resume numa
bermuda, camisa social branca meio aberta, sandálias e óculos escuros, vou
ao quarto de Laura. Ela me atende belíssima, com um rabo de cavalo perfeito,
porém seu rosto não parece muito contente, seus olhos não fixam nos meus,
suas bochechas ruborizam, ainda há vergonha da noite passada.
— O que você quer? — Me pergunta, desgostosa.
— Te perguntar se vai ao passeio oferecido pelo hotel para os hóspedes,
é daqui a pouco.
— Não estou interessada, desculpe — ela tenta fechar a porta, mas não
deixo, é evidente que está chateada comigo.
— Laura... vamos, acho que vai ser legal — minha voz é mansa, olho
em seus olhos.
— Às vezes eu não te entendo, Victor.
— Nós viemos para cá com uma intenção, o nosso filho, e também para
relaxar, não vamos estragar isso, por favor — peço, educado. — Vem
comigo.
A gostosa chique abaixa a cabeça, respirando fundo.
— Tudo bem... eu vou.
Mais tarde, uma van com a logomarca do Algas para em nosso chalé,
entro com Laura, encontrando outros hóspedes animados para o passeio. A
gostosa chique usa óculos de sol, bolsa e chapéu, mas o me chama a atenção
mesmo, é a sua saída de praia em crochê, deixando de fora suas belas coxas,
as mais lindas que já vi em toda a minha vida.
— Onde está o Apolo? — Ela pergunta, sentamos lado a lado.
— Ele disse que está com dor de barriga, exagerou no café da manhã —
minto.
— Nossa... por que vocês não me chamaram? Ele parecia tão bem, vou
ficar com ele.
— Não é para tanto. Na verdade, acho que é uma desculpa dele para
ficar e paquerar uma moça pela qual ficou interessado.
— Ah, entendi.

Estou no escritório, atordoada, esperando o Edu aparecer. Não quero


perdê-lo! De todas as coisas ruins que estão me acontecendo agora, além de
Erick e Maria, Eduardo é a única coisa que tenho, alguém em quem estou
encontrando um porto seguro, estou perdidamente apaixonada. Ele
finalmente aparece.
— Boa tarde — diz, sério, colocando as pastas em cima da mesa.
— Não sei se é uma boa tarde — respondo.
— Como assim?
— Não te vejo desde ontem, Edu, te liguei e você não me atendeu.
Fiquei preocupada. Eu sei... que a revelação sobre a minha outra vida te
abalou de alguma forma...
— Helen...
— Sei que agora me vê com outros olhos, que não pareço mais aquela
mocinha inocente que você pensava...
— Helen...
— Mas por favor... não me abandone — imploro, o abraçando forte,
deixando as lágrimas caírem, o surpreendendo. — Não me deixe, Edu,
preciso de você... percebo isso agora mais do que nunca! Está acontecendo
tanta coisa ruim na minha vida e a única certeza que tenho é você — fito seus
olhos.
— Helen, eu te amo — ele segura o meu rosto entre as mãos. —
Confesso que... fiquei sim abalado com o que me disse, mas... desde ontem
estou pensando e pensando que, só agora consegui te ter pra mim, e se eu
tinha alguma dúvida dos seus sentimentos, consegui matá-la depois que me
falou a verdade. Olha... eu não sou um iludido, sei que ainda não me ama
tanto quanto te amo, talvez até da sua parte ainda não seja amor...
— Edu...
— Mas já que me deu essa chance, não vou jogá-la fora, quero que me
ame também, estarei ao seu lado para passarmos juntos sobre essas
dificuldades.
Fico emocionada com as palavras dele. Logo nos beijamos
intensamente, apaixonados.
— Olha, eu fui... muito machucada em todos os relacionamentos
anteriores que vivi, por isso é um pouco difícil pro meu coração se abrir —
revelo. — Eu gosto muito de você, e quero amá-lo, muito, só preciso que
tenha um pouco mais de paciência, e que não se afaste de mim.
— Todo tempo que precisar — ele sussurra em meu ouvido. Em
segundos, estamos nos entregando um ao outro novamente.
Seguimos rumo à praia Pedra do Sal, única praia de Parnaíba, cidade
vizinha a Luís Correia. Durante a viagem, passamos pelo Parque Eólico
chamado Complexo Delta, pelas janelas da van contemplamos as gigantes
torres eólicas, que geram energia limpa e sustentável com a força dos ventos,
de acordo com as informações dadas por nosso guia que está de pé, falando
sobre o lugar, história e etc.
Ao chegarmos no local, somos informados que ela recebeu a devida e
efetiva atenção do Poder Público do Município a pouco tempo, passou por
uma revitalização que melhorou pontos antes fracos do local, e que agora
recebem uma quantidade muito maior de turistas.
A praia fica a cerca de 15 KM do centro de Parnaíba, faz parte do Delta
por se localizar na Ilha Grande de Santa Isabel, uma das ilhas fluviais. Ao
chegarmos, avistamos um conjunto de rochedos graníticos que avançam
oceano adentro, dividindo a praia em dois lados: o bravo — para esportes
radicais, frequentado mais por surfistas por possuir fortes ondas — e o lado
manso, propício para descanso, pescaria artesanal, acompanhar o pôr do sol,
que segundo o nosso guia, é a principal atração do lugar.
É tudo maravilhoso, duas praias em uma, há uma beleza rústica ao redor.
Bem perto do mar de águas claras, em meio às pedras, há um Farol, que deixa
a paisagem ainda mais charmosa.
Nos instalamos no lado manso, onde há várias barracas à beira-mar, e
barquinhos coloridos de pescadores atracados nas águas, deixando um ar
romântico, bonito, agradável. O grupo de hóspedes se desfaz para explorar,
vou com a loira para a barraca que mais nos chama a atenção, principalmente
pelo cheiro da peixada.
— Estou curioso para conhecer aquelas pedras, quer me acompanhar
enquanto a peixada não fica pronta? — A convido.
— Tem certeza? — Indaga Laura.
— Certeza de quê?
— Que quer que eu vá contigo?
— Claro que tenho, vem — estendo a mão para ela, trocamos olhares
profundos, aquele que só nós entendemos. O seu toque me toca por dentro,
essa mulher ainda mexe comigo! De repente, parecemos dois adolescentes,
constrangidos, caminhando de mãos dadas como namoradinhos puros.
Chegamos às pedras gigantes, avistando o grande mar aberto, o vento
sopra forte, enquanto as ondas explodem lá embaixo. Para a minha surpresa,
Laura é tomada por uma felicidade incomum, gargalhando com o movimento
da natureza.
— O que foi? — Pergunto, achando-a engraçada.
— Não sei, aqui me sinto feliz — diz, continuando a sorrir, tanto que me
deixo gargalhar também, lhe acompanhando. Parecemos dois bobos em mais
repleto descontrole humorístico. Sua felicidade me fascina, o tempo parece
parar com sua presença tão próxima à minha. Rimos até perder a graça. —
Por que esse jogo comigo? — Ela pergunta, do nada.
— Não estou jogando — sou sincero.
— Está sim.
— Juro que não. Só não quero tomar nenhuma atitude precipitada. Você
me entende?
Laura assente, tentando não demonstrar que está mexida.
— E por que a pressa? Você não era assim — ressalto.
— Acho que... é o medo de te perder — ela confessa, arrebatando-me,
tomando a minha voz por alguns segundos, fui pego de surpresa.
— Eu estou aqui, Laura.
— Não temos certeza disso, Victor.
Baixo os olhos por um instante.
— É tanta coisa que aconteceu na minha vida... nas nossas vidas, que
acabou me fazendo mudar muito, talvez para pior. Eu estava perdida, e acho
que ainda estou tentando me encontrar. Você está certo em não ter pressa,
talvez a Laura, que já foi a sua esposa, não esteja mais aqui.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, escutando o bar, as ondas
ribombando, quebrando contra os rochedos, espichando em nossos pés.
— Isso sou eu quem tenho que descobrir — a respondo, fitando seus
lindos olhos esmeralda que se emocionam à base de um sorriso.
Ela sorri para mim, se emocionando.
— Ah, não vou chorar, não vou, ultimamente ando chorando muito —
ela respira fundo, controlando-se para não deixar nenhuma lágrima fugir.
Gargalho, depois voltamos a mirar o oceano, lindo, magnífico,
poderoso.

Paguei um garotinho qualquer para entregar um bilhete a Aline enquanto


ela fazia a feira na rua. Disse que queria encontrá-la na igreja da cidade, é
onde estou a esperando agora, tenso, nervoso, de coração acelerado. É como
voltar ao mesmo pesadelo. Ela, assim como eu, foi mais uma vítima de Érica,
mas sei que o seu ódio por mim é sem medidas, pois sem querer, fiz parte da
destruição da sua família e do seu coração.
Estou sentado em um dos bancos, o local está vazio, há somente três
fiéis rezando espalhados pela igreja. Olho para trás, vendo Aline chegar em
um vestido preto, como se tivesse vindo para um velório. Ela está mais magra
do que me lembro, abatida, contudo, continua bela. Seus óculos escuros são
retirados, mostrando seus tristes olhos que me reconhecem de longe, seus
passos parecem ser friamente calculados até mim, e finalmente senta-se ao
meu lado.
— Escolheu um péssimo lugar para nos encontrarmos — ela comenta,
sem me olhar nos olhos — Aqui é um local sagrado, onde venho pedir perdão
pelos meus pecados... e você é um deles.
Suas palavras sussurradas me afetam.
— Eu já suspeitava que você estava aqui, o comportamento da Tati
denunciou isso, eu estava pressentindo que você nos encontraria, que viria até
nós..., infelizmente estava certa. Pelo amor de Deus..., o que você quer,
Apolo? — Seus olhos brilham, Aline parece ter medo de mim, isso me
machuca.
— Eu quero... contar toda a verdade pra Tati — disparo, temeroso,
fazendo os olhos dela me fitarem assustados.
— Você está louco?... Então foi pra isso que veio? Para acabar com a
nossa vida de vez? — Suspira, com ódio, controlando-se para não dar vazão
ao rancor e demais sentimentos ruins sobre mim.
— Não, Aline, claro que não.
— Acha pouco tudo o que aconteceu? A morte do Cláudio, tudo...
— Claro que não!
— Então por que está aqui? Por que veio pra cá?
— Porque amo a Tati! Eu amo a sua filha — minha voz sai forte,
veemente.
— O quê?... — Ela ri, incrédula. — Apolo, o seu amor é uma mentira,
tão bem construída que até você mesmo acredita.
— Não..., eu sei que é diferente porque... — as lágrimas molham a
minha face — Com a Érica, achei que sabia o que era amar, mas depois...,
depois de descobrir quem ela era de verdade e namorar com a Tati, entendi
que o que sentia pela Érica não era nada comparado ao amor.
— E por mim? — Ela engole um soluço, em pranto, que parece rasgar a
sua garganta por dentro. — O que você sentiu por mim?
Abaixo a cabeça, envergonhado, as lágrimas gotejam no banco.
— Amizade — respondo, encarando-a. Aline vira o rosto para o outro
lado, tentando inutilmente conter o choro com a mão.
— Me perdoa..., por favor — toco em seu braço, mas ela se afasta. —
Eu não sabia o que estava fazendo, não sabia da verdade, das intenções da
Érica..., jamais podia imaginar, não seria capaz de fazer tudo isso se soubesse
que você era a mãe da Tati.
Minha cabeça dói só de voltar a reviver essa tragédia, minhas mãos
tremem, meu coração se revolve no peito. Nós passamos alguns longos
segundos chorando, da forma mais silenciosa possível. Por que, meu Deus?
— Eu tenho tanto ódio de você... — Aline fecha os olhos com força —
Mas não é maior que o ódio que tenho de mim mesma..., por ter me deixado
envolver.
— Me perdoa — peço outra vez. — Eu preciso do seu perdão..., preciso
do perdão da Tati..., só assim conseguirei viver normalmente e continuar com
ela também.
— Para te perdoar... eu teria que me perdoar também..., e não consigo!
— Revela, devastada.
— Você não pode se culpar, foi vítima..., eu sou o culpado —
choramingo, arrasado.
A mulher ergue a cabeça, de olhos fechados, respirando fundo.
— O amor da juventude é o mais forte de todos, porque... os jovens
acreditam que nunca haverá um fim — filosofa, voltando a me fitar. — A
Tatiana é assim, nada que eu fizer ou falar... vai conseguir afastá-la de você...
ou você dela. A minha própria filha não acredita em uma só palavra que sai
da minha boca.
Voltamos ao silêncio mortal. Não sei mais o que dizer.
— Você não veio aqui me pedir permissão para contar tudo a Tati...,
veio só avisar. Quer saber o que vai acontecer, Apolo? Ela vai te odiar... e
sofrer... muito. Mas se por um acaso eu... estiver enganada, e ela te perdoar,
não conseguirei vê-los juntos sem que ela saiba da verdade. Então... que
assim seja.
Nossa troca de olhar se torna intensa, como um presságio para outra
tragédia. Aline levanta vagarosamente, faz o sinal da cruz no corpo, e vai
embora, deixando-me sozinho, com a pior de todas as tarefas, de todas as
missões.
Regresso para o hotel, fico no quarto, deitado, pensando sem parar em
como contar a verdade à minha namorada. Sou consumido por uma dor feroz,
que me corrói por dentro, não esperava esse comportamento da mãe dela,
achava que iria me massacrar, tentar me expulsar. Ao final da tarde, meu
sofrimento alivia, é quando meu pai chega do passeio. Conto tudo a ele, que
também fica surpreso com o “consentimento” de Aline.
— Realmente eu não esperava isso da Aline. Ela se mostrou madura, e
colocou a felicidade da filha acima da sua dor, desde que pelo caminho da
verdade. Ela agiu como eu agi contigo — fala meu pai.
— Sim... foi exatamente isso — digo, cabisbaixo.
— Agora chegou o momento, Apolo — sua mão pousa sobre meu
ombro. — Coragem, filho..., o amor não se faz de mentiras.

Anoitece, espero Kelly chegar no quarto, enquanto penso em tudo. Ela


entra pela porta, arrumada, sorridente, me deixando empolgado.
— E aí, deu tudo certo? — Pergunto, ansioso.
— Sim, fiz o que tinha que fazer e comprei a câmera — ela retira da sua
bolsa de lado uma micro câmera embalada num saquinho plástico.
— Ótimo — sorrio de orelha a orelha.
Kelly recebe uma mensagem no celular.
— É o Alex?
— Sim — confirma, sorrindo.
— Marca pra amanhã à noite — designo.
— ‘Tá.
Na noite do dia seguinte, pensamento positivo Erick, você vai conseguir
o que quer do Alex, vai conseguir, penso, enquanto ando de um lado a outro
do quarto, com o celular na mão, que finalmente toca, graças a Deus!
— Oi Kelly, e aí, já está na casa? — Estou muito ansioso!
— Claro, agora sou uma bela estudante de medicina — ela é
deliciosamente irônica, com a voz sensual.
Toc! Toc!
— Calma aí que tem alguém batendo na porta — digo, abrindo a porta e
vendo minha mãe.
— Oi filho, tudo bem? — Indaga ela.
— Oi mãe, tudo bem sim — respondo, querendo me livrar dela. — O
que foi?
— Só vim ver como você estava, sei que está chateado comigo pelo
castigo, mas eu fiz pro seu bem, não quero que fique procurando confu...
— Tudo bem, mãe, entendi — sorrio forçado.
— Entendeu? Nossa, mas você nunca entende um castigo... ‘tá estranho,
cadê a Kelly?
— Ah, hoje ela foi dormir na casa de amigos; era só isso?
— Que pressa é essa?
— Cagar — respondo, fazendo uma careta.
— Quê?
— Eu tô morrendo de vontade de cagar, por isso a pressa — passo a
mão na barriga, fingindo que a situação dentro dela não está legal.
— Vixe, pois ‘tá bom, era só isso!
Fecho a porta na cara dela.
— Eita! Vai ao luau hoje? — Pergunta.
— Não, estou de castigo! — Respondo, depois volto a falar com a
Kelly, em tom baixo. — Oi Kelly.
— Está conseguindo ver bem daí? — Ela pergunta.
— Ah, pera — me joga na cama, acessando o notebook, abrindo o
programa da câmera. Logo consigo ver Kelly, só de baby-doll, bem sensual
no quarto da "sua casa" de estudante de medicina. — Sim, agora estou te
vendo, gostosa — sorrio, safado, a desejando.
— Ah, que bom — ela me manda um beijo.
— Está tudo bacana. A câmera ficou bem escondida?
— Sim, o Alex nunca que vai perceber. ‘Tá me vendo bem mesmo? —
A bandida mostra a bunda, provocando-me.
— Quando isso acabar, eu vou te arregaçar! — Prometo, arrancando-lhe
gargalhadas.
— Tem alguém na porta, só pode ser o Alex, ele chegou! — Diz ela,
sumindo do meu campo de visão.

Saio do quarto para observar a movimentação pelo hotel, todos os


hóspedes se dirigindo para o lounge onde acontece um lindo luau. Daqui vejo
tochas, o fogo resplandecendo, a galera de branco divertindo-se com o DJ,
parece muito bom e gostoso. Sinto até vontade de ir.
Para a minha surpresa, Laura surge do seu quarto, linda, de branco,
perfumada, incrível, de arrasar corações. Para onde ela vai?
— Laura? Vai sair? — Indago, surpreso.
— Sim, hoje haverá um luau, não ficou sabendo? — Responde,
sorridente, passando por mim, toda soltinha.
— Estou sabendo, só não esperava que você fosse. Vai sozinha assim
mesmo? — Como assim ela vai pra merda do luau?
— Não, um hóspede me convidou — responde, afastando-se, me
deixando incomodado com esta informação.
— Um hóspede? — Imediatamente tento lembrar de algum cara que
possa ter dado em cima dela. — Que hóspede? — Pergunto a mim mesmo,
franzindo a testa.
Volto pro quarto, Apolo está na cama, mexendo no celular.
— Filho, não vai para o luau?
— Não estou afim. O senhor vai?
— Eu acho que... vou — ela pensa que ficará lá sozinha? Está muito
enganada!

Kelly fica sumida do quarto por algum tempo, só vejo a cama, o guarda-
roupas, a janela entreaberta, a cortina sendo soprada pelo vento. Enfim ela
reaparece, agora com Alex, que é puxado pela gravata, ambos seguram sua
taça de vinho, bebendo.
— Hmm, você se vestiu assim especialmente pra mim, foi? — Ele
pergunta, safado. Faço uma careta, há uma súbita raiva me incomodando por
ver a loira nessa roupa tão curta com esse desgraçado! Sei que faz parte do
plano, mas a minha vontade agora é de mandar tudo pra puta que pariu! Eles
sentam na cama.
— Sim — responde Kelly, sensual.
— Você é uma delícia, sabia? — Vou matar esse cara!
— É?
— Vem cá, me dá um beijo! — Ele tenta agarrá-la, mas Kelly o faz
parar quando meu coração está quase saindo pela boca. Percebo que não
estou psicologicamente preparado para esta merda!
— Só se der um virote — ela o desafia, é para que o “batizado” faça
efeito logo. — Se conseguir beber tudo de uma vez, deixo você me beijar —
o provoca.
— Eita garotinha difícil.... — Alex, está meio bêbado, otário!
Ele aceita o desafio e bebe tudo, em seguida busca pelo prometido.
Kelly o beija, a sensação é como arrancar o meu braço!
— PUTA QUE PARIU, KELLY! — Soco a cama, nervoso, com o
sangue quente, bufando feito um animal.
O desgraçado tenta intensificar as coisas, mas Kelly foge, pegando as
taças.
— Ah, o que foi? Volta aqui! — Ele chama, manhoso.
— Eu vou pegar mais vinho — Ela sai do quarto.
— Não, chega de vinho, vem cá, estou louco por você — Alex tenta
puxá-la de volta para os seus braços asquerosos.
— Calma..., eu já volto — ela ri, sumindo, essa bandida maldita! Que
ódio!
Alex fica sozinha, pondo as mãos na cabeça, parece não se sentir bem,
acho que é a droga fazendo efeito. Mais alguns segundos e ele cai para trás,
na cama, tonto. Assisto tudo bem sério agora, isso aqui está ficando melhor
que BBB. A loira retorna com as taças cheias, colocando-as no criado-mudo
após ver Alex tombado.
— Alex? Tudo bem com você? — Ela senta ao lado dele.
— Ah, não sei, de repente... fiquei meio tonto... — diz ele, com a voz
mole.
— Está conseguindo me ver?
— Tudo está um pouco... embaçado
— Quer mais vinho? — Kelly pega a taça, levando-a à boca de Alex.
— Não..., não quero — geme, indefeso, vulnerável. A taça volta para o
mesmo lugar após Alex dar alguns goles.
— Agora me conta, Alex, qual é a senha do cofre? — É agora! Ele tem
que dizer!
— Senha? — O homem está devidamente grogue, esse é o momento!
— Sim, a senha do seu cofre, qual é? Me diz
— Eu não... posso dizer— sua voz é confusa, a língua parece enrolada.
— Qual é a senha, Alex? Diz pra mim — a loira insiste.
— Saia de perto dele, sua vagabunda! — Uma terceira voz surge no
quarto, ainda não consigo ver de quem é, Kelly olha para trás.
Suzy surge na imagem, com uma faca enorme na mão, deixando Kelly
assustada, que levanta da cama. Fico assustado também. O que essa louca vai
fazer?
— Caralho! — Engulo em seco.
— Quem é você? Como entrou na minha casa? — Pergunta Kelly.
— Então é você que anda se encontrando com ele, eu sabia que tinha
alguém! — Suzy chora, erguendo a lâmina.
— Garota, abaixa essa faca, abaixa, vamos conversar! — Kelly está
nervosa, com as mãos na frente do corpo em sinal de defesa.
— Não tenho nada para conversar com você! NADA! — Suzy fica
transtornada, se aproximando da minha gata, chorando. — Desgraçada...
pegando o meu namorado!
— Olha..., NÃO! — A loira grita quando Suzy investe nela com a
lâmina, as duas vão ao chão, saindo do meu campo de visão.
Salto da cama com a cena, chocado, ouvindo os gritos da loira!
— Caralho! Pura que pariu! — Saio correndo, desesperado, tenho que
socorrê-la!
Parece que estou acordando de um pesadelo em que ouvi a voz da Suzy
e os gritos da Kelly. Sento-me, ainda um pouco tonto, dando de cara com
Suzy no chão, encostada na parede, em posição fetal, chorando, com as mãos
sujas de sangue, a faca ao seu lado, ensanguentada.
— Suzy... — a chamo, sem entender o que está acontecendo. — O que
você fez? — Indago, temeroso, os olhos esbugalhados, prevendo o pior.
A garota chora sem parar, deixando-me ainda mais nervoso.
— Eu matei ela — responde, chorando, amedrontada, assustando-me. —
Eu matei.
Os olhos dela desviam em uma direção, os sigo, vejo o corpo enrolado
em um tapete, o cabelo dourado para fora, ensanguentado, assim como o chão
que está banhado em sangue. É uma cena horrorosa, de filme de terror!
GAROTAS SELVAGENS

“às vezes é preciso se aliar ao inimigo,


que depois pode se tornar seu amigo.”

Meu coração acelera diante dessa cena, jamais imaginaria que Suzy seria
capaz de uma coisa dessas, ela não! A minha garotinha é pura e inocente,
como isso aconteceu?! Engulo em seco, levantando, saindo da tontura que
ainda me cerca um pouco. Agacho-me e toco no tapete, melando a ponta do
dedo de sangue.
— Não toca nela! — Exclama Suzy, ficando de pé, largando a faca. —
Não quero mais ver o rosto dela, não quero — geme, em pranto.
— Tem certeza que ela está morta? — Pergunto.
— É claro que tenho, seu idiota, fiquei transtornada! — Ela leva as mãos
à cabeça, pensando na catástrofe.
— Por que você fez isso, Suzy? — Pergunto, com a voz mansa, a
segurando pelos braços.
— Por sua causa, seu imbecil! Traidor! Traidor! — Exclama, com ódio.
— Não fala assim, meu amor...
— Não me chama de "meu amor", eu sabia que você estava aprontando,
senti o cheiro dessa vagabunda por perto! Te segui até aqui...
— Não pode ter feito isso, você jamais faria, cadê a minha garotinha
pura e inocente, a minha menina?
Suzy se afasta, dando-me as costas, chorando arrasada.
— Devia... ter matado você e não ela! Fiquei com tanto ódio quando vi
os dois na cama! Que merda! Agora... eu vou pra cadeia por sua causa! A
minha vida acabou, meu Deus... — A garota fica desesperada, deixando-me
compadecido, não irei permitir que meu amor fique longe de mim!
— Jamais deixarei você ser presa, jamais! Nunca vou permitir que te
afastem de mim, meu amor!
— PARA DE ME CHAMAR DE “AMOR”! — Ela grita, me
empurrando, manchando a minha camisa de sangue — Você não me ama,
estava me traindo com essa vagabunda! E agora... eu me ferrei — Suzy está
apavorada com a hipótese de ir parar na cadeia, mas sei como resolver isso.
— Acalme-se, iremos contornar esta situação, ninguém irá saber deste
crime — seguro seu rosto entre as mãos, beijando sua testa carinhosamente,
tentando lhe passar segurança — Podemos enterrá-la no fundo do quintal e
dar o fora daqui!
— Não... aqui é muito perto, ela morava aqui! Não dá certo... temos que
pensar em outro lugar.
Ficamos em silêncio, pensando, tenho que protegê-la, não permitirei que
algum mal lhe aconteça.
— Meu bem, eu quero que saiba que ela era... apenas uma diversão, não
significava nada pra mim...
— Cala a boca, Alex, o problema agora é muito mais sério do que nós
dois.
— Não... nada é mais importante que nós dois. Eu te amo, você é a
única pessoa que importa na minha vida.
— Você é um doente... e eu também... — Suzy está desesperada, parece
perdida. — Temos que nos livrar desse corpo... que tal a sua antiga casa?
Aquela casinha onde me levou, fica no meio do nada, tem mato, está tudo
abandonado.
— Sim, é verdade! Lá é um ótimo lugar para descartá-la. Farei isso,
levarei o corpo antes que alguém que a conheça sinta a sua falta!
— E eu? — Choraminga Suzy, amedrontada, arrependida pelo que fez,
sem saber como agir.
— Você fica aqui, limpa essa bagunça, esse sangue, se livra de tudo que
possa nos culpar, e depois me encontra em casa. Vamos embora hoje mesmo.
— Embora? Mas como assim "embora"? E o Hotel?
— A gente vê isso depois, deixamos a poeira baixar, porque vão notar o
desaparecimento dessa menina, ela era de família rica...
— Então era por isso que estava ficando com ela?! Porque ela era de
família rica?! — Suzy me bate, enciumada.
— Para, Suzy, para! Não podemos brigar agora, temos que nos
concentrar no que vamos fazer, e devemos ficarmos unidos! — A seguro
pelos pulsos, em seguida lhe abraço carinhosamente.
— Estou com medo, Alex..., não quero ir pra cadeia... — choraminga.
— Vai ficar tudo bem, só precisamos... agir com calma. Agora faça o
que eu disse, limpe tudo, não deixe nenhuma prova, e vá para casa me
esperar. Levarei Kelly para aquele casebre, lá realmente é um ótimo lugar
para me livrar dela.
Suzy concorda, e nos separamos como planejado. Dirijo pela cidade,
indo para a minha antiga casa, logo estou cercado pelo matagal, na escuridão
profunda da noite, aqui não há nada e nem ninguém a não ser as ruínas do
local que um dia foi o meu lar. Pego o rolo do tapete com o cadáver no banco
traseiro, caminho até os fundos do casebre, ouvindo os grilos cantando,
coloco Kelly no chão e procuro por uma pá, preciso fazer a cova.
Estou ofegante, suado. De repente, sou surpreendido com a luz intensa
de faróis de carros bem na minha frente, que me iluminam na escuridão!
Quem é? Quem pode ser? Quem está neste lugar esquecido?! Protejo os olhos
da luz intensa com o antebraço. Três homens mascarados saem dos
automóveis com cassetetes, vindo em minha direção. Tento correr, mas
tropeço em algo, caindo com violência.
Os mascarados me batem com muita força! Grito para eles pararem, mas
é inútil.

Visto-me de branco, ponho a melhor roupa que encontro na mala,


sentindo-me um negão muito bonito, perfumado, com todos os pensamentos
voltados para Laura, quero descobrir quem é esse tal hóspede que a convidou
para o luau. Como assim ela conhece outro cara num piscar de olhos? Sei
não, pode até ser uma mentira para me persuadir, e se for... está funcionando.
Chego no lounge lotado de gente bonita, dançando e conversando ao
som de uma música eletrônica agradável misturada ao violão que combina
com o ambiente, com o mar. Algumas gatas batem o olho em mim enquanto
procuro a gostosa chique, noto o quanto a decoração do ambiente está
espetacular, o céu resplandecendo em infinitas estrelas, o fogo das tochas em
perfeição.
Avisto Laura em uma mesa bebendo e conversando com um cara mais
jovem. Um cara mais jovem?? Como assim?? Eles sorriem, o papo parece
bom, mas que merda! Fico surpreso, Laura veio com aquele papinho de não
querer me perder e tudo mais, e agora está aí papeando com esse molecote,
dando trela pra ele! Maldita! Que raiva dela e desse carinha, mais dele do que
dela, se é que isso é possível. Quem ele pensa que é?
Contudo, raciocino e chego à conclusão de que Laura pode estar
querendo me ganhar pelos ciúmes. Seus olhos me espiam por um rápido
momento, ela sabe que estou aqui. O pirralho a chama para dançar, fazendo
meus punhos cerrarem, caminho na direção dela, estou disposto a arrancá-la
de perto dele, mas uma gata com uma taça na mão, parecendo bem soltinha e
atrevida, me para no meio do caminho, pondo a mão no meu peitoral,
dançando na minha frente sem que eu precise pedir.
Fito Laura, ela já percebeu a presença da outra, mas continua fingindo
não se importar. Bom, se é assim que ela quer fazer, vou dançar conforme a
música, literalmente. Acompanho a gatinha que está pra lá de Bagdá, no
ritmo da música. De repente, eu e minha ex-mulher estamos, visivelmente,
tentando fazer ciúmes um pro outro, ela rebola na frente do moleque, me
deixando louco de ódio, mas a moça na minha frente faz pior, sarrando a
bunda por meu corpo, até me assusta um pouco com tamanha ousadia assim
de primeira.
Meu mundo cai quando o pirralho puxa Laura repentinamente para um
beijo, ela se afasta dele imediatamente, respondendo-lhe com um tabefe, mas
a essa altura estou puto, quando vejo já estou pagando na mesma moeda. Não
sinto nada após o beijo rápido com a mulher, mas ela fica toda derretida,
querendo mais, procuro minha ex, vendo-a vermelha como um tomate, é a
mais verdadeira definição de raiva.
Laura foge da festa, vou atrás dela, mas devido à aglomeração de
pessoas no caminho, acabo perdendo-a de vista. Chego no chalé e
aparentemente não há sinal dela, será que veio para cá? Tento abrir a porta do
seu quarto, está trancada, ela está aqui!
— Laura? — A chamo, quero falar com ela, preciso dela. Bato. —
Laura... por favor, me responde — peço, encostando a testa na porta,
respirando fundo, triste, de olhos fechados, arrependido por ter feito mais
uma merda. Eu quero essa mulher, não há mais dúvida alguma, penso.
Lembro da nossa canção, começo a cantar — Se você vê estrelas... demais,
lembre que o sonho não volta atrás... chega perto e diz anjo...
É a nossa música de casal, do Roupa Nova, a que nos acompanhou na
nossa primeira dança. Continuo sem resposta, mas prossigo a cantar, parece
até que estou fazendo uma serenata.
— Se você sente o corpo colar, solte o seu medo bem devagar, chega
perto e diz anjo, bem mais perto e diz anjo...
Antes que eu possa cantar qualquer outro verso, Laura abre a porta, seus
olhos estão molhados, ela sorri para mim, apaixonada. Meu coração enche de
felicidade, como a amo, meu Deus, amo demais. É muita emoção que nos
rodeia, nossa troca de olhar diz tudo, mas eu posso dizer mais um pouco. A
puxo para os meus braços e afirmo:
— Eu sou teu macho — minha voz é forte e intimidadora.
A loira pula em meu colo, laçando meu quadril com as pernas, a seguro
com toda a minha força, com vontade, intensificando o nosso contato, e nos
beijamos avassaladoramente, com muita paixão, carinho, emoção. Nossos
lábios unidos criam um sabor sem igual, um sentimento intensamente forte,
que agora tenho certeza ser indestrutível: o amor.
Agora sim me sinto completamente entregue a esse amor, à Laura. Eu a
quero na minha vida, para todo o sempre! Nosso toque se mistura junto às
lágrimas, trocamos sorrisos enquanto seu corpo quente esfrega no meu e
minhas mãos descem para a sua bunda enorme, deliciosa. Que saudade! Irei
fodê-la agora mesmo!
— Pai? Mãe? — Apolo aparece do nada, incrédulo com a cena. Laura
salta do meu colo de volta pro chão tão rápida quanto o Flash.
— Meu filho?! Você está aí! — Ela fica completamente sem jeito,
corando, envergonhada.
— Sim... e vocês aí — ele ironiza, percebendo o clima entre nós.
Fecho a cara para ele, o empurro de volta pro seu quarto, bruto,
fechando a porta na sua cara.
— Ah, vai dormir, garoto! — Resmungo, sorrindo para Laura em
seguida. Logo passeio os olhos por todo o seu corpo, faminto, sentindo o pau
vibrar dentro da calça.
— Victor... — ela também está visivelmente excitada.
A agarro pela cintura, batendo seu corpo contra o meu, entrando no seu
quarto, fechando a porta. A jogo contra a parede, avançando em seu corpo,
em sua boca, em seu pescoço, com ela gemendo ao pé do meu ouvido.
— Victor, calma..., calma — sua boca escorrega da minha, ofegante.
— O que foi? — Pergunto, ansioso, mordendo o lábio inferior, com o
caralho pressionando contra o seu abdômen.
— Aqui não, aqui não dá, o Apolo está aí do lado...
— O quê? — Arrasto a língua por seu pescoço — Mas eu te quero
agora! — digo, exigente.
— Eu também quero, meu amor — ela morde o meu lábio, provocando-
me, roçando a coxa torneada na minha perna — Quero muito... — ela aperta
meu cacete por cima da roupa, que está duro feito pedra.
— Oor... — deixo escapar um fino gemido enquanto chupo sua orelha.
— Mas aqui não, amanhã procuramos um lugar..., longe do nosso filho.
— Amanhã? — Desanimo, amanhã parece tão distante.
Chupo sua língua, sugando para dentro da boca, cobrindo sua raba
gostosa com as mãos, apertando sua carne entre os dedos.
— ‘Tá bom — concordo, obtendo um autocontrole absurdo.
Enrolo para sair do seu quarto, ela demora para se despedir de mim,
trocamos vários beijinhos até que a porta finalmente se fecha. Eu tinha
esquecido como é este sentimento, estas brincadeirinhas carinhosas que
tocam a alma. Miro o céu estrelado, sorrindo, agradecendo a Deus por essa
reconciliação.

Acordo zonzo, sem entender o que está acontecendo direito, até me dar
conta de que estou preso a uma cadeira, de pés e mãos amarradas, sem poder
me mover. Levo mais alguns segundos para assimilar minha atual situação,
ainda meio zonzo, ouvindo vozes por perto:
— Ela morreu mesmo? — Alguém pergunta.
— Sim, está morta — outra pessoa confirma. — O que faremos com o
corpo?
— Enterra lá atrás, não há outra opção.
Finalmente consigo erguer o rosto, vendo nada mais nada menos que
Erick, maldito moleque! Ele termina de dar instruções a um cara que ainda
continua de máscara, e vem até mim, furioso, sentando na cadeira à minha
frente. Ainda não consigo acreditar que ele teve a ousadia de me prender
aqui, dentro da minha antiga casa.
— O que está pretendendo com isso, garoto? Como me encontrou aqui?
— pergunto, sem conseguir juntar as peças.
— Viu o que a sua cachorrinha fez?! Ela matou a Kelly, é uma
assassina! — Rosna, me surpreendendo.
— Você... conhecia a Kelly — concluo.
— A missão dela era te seduzir e te drogar esta noite, para saber...
— A senha do meu cofre — lembro da loira me pedindo isso minutos
antes de eu apagar. Droga... caí feito um patinho. — Seu desgraçado! Mas
como descobriu que tenho um cofre?
— Invadi a sua casa um dia desses, sou bom nisso, saí sem deixar
rastros. Tenho certeza que lá encontrarei algo que você usa para ameaçar a
minha mãe.
— Não vai encontrar nada! — Retruco, a raiva aos poucos me consome,
como pude ter sido tão tolo diante dele? Eu o subestimei! — Lá não há nada
do seu interesse, moleque vagabundo!
Erick levanta, soca o meu rosto violentamente e volta a sentar,
acariciando a mão que usou para me golpear. Cuspo sangue, possesso, o
odiando com todas as minhas forças.
— Você vai pagar por isso, garoto — prometo. — Pode me bater o
quanto quiser, jamais saberá a senha — zombo. — A Kelly quase conseguiu,
pena que morreu. Olha o que você fez com ela..., acabou com a vida da
garota, a culpa é sua — tento mexer com o seu psicológico, vendo uma
lágrima de dor e culpa descer por sua face enraivecida.
— A culpa é da Suzy e você sabe muito bem disso, do contrário não
tentaria esconder o corpo da loira neste fim de mundo.
— Como sabe de tudo isso? — Estou agoniado por dentro só de pensar
que esse infeliz está por traz dessa história toda.
— Acontece que a Kelly estava com uma câmera escondida no quarto,
que filmou tudo, inclusive o seu próprio assassinato, a prova do crime, que
vai levar sua filhinha pra cadeia — ele me mostra o vídeo no celular. Fico
gelado, não há como negar que é a minha Suzy cometendo o ato. — O
objetivo era eu assistir tudo de camarote, mas... não contei com a
possibilidade daquela doente chegar de surpresa e acabar com a vida da
minha namorada! — Ele abaixa a cabeça, deixando as lágrimas caírem.
— Não pode ser — sussurro, sem chão, estou em suas mãos.
— Isso só me deu mais um motivo para acabar com a tua raça. Aqui tem
tudo, até vocês combinando de esconder o cadáver neste inferno — então foi
assim que ele soube me encontrar aqui. — Não era pra Kelly morrer... —
choraminga, com ódio. — Mas não deixarei que a morte dela seja em vão. Ou
você me diz a senha do cofre agora, ou... envio esse vídeo para a polícia,
deixando você e Suzy serem levados direto para a delegacia.
Fico encurralado, não posso de modo algum chamar a atenção da
polícia, já tenho passagem por lá. Da mesma forma, não posso correr o risco
de perder Suzy, a minha menina, o meu amor, a minha neném.
— Nunca, me ouviu bem? Nunca! — Falo, entredentes. — Mas posso
te oferecer outra possibilidade.
Erick ri, debochado.
— Tu não está em condição de exigir absolutamente nada! — Afirma,
mas não lhe dou ouvidos.
— Se me deixar sair daqui, prometo ir embora da cidade com a Suzy e
nunca mais você ou sua mãe nos verão outra vez.
— Até que essa proposta é tentadora, mas... prefiro não correr o risco.
Agora diz a senha! — Exige, me deixando puto!
— Vai pro inferno! — Exclamo, tentando avançar nele, desejando matá-
lo.
Erick respira fundo, controlando a fúria e faz uma ligação.
— Bota a garota na linha — ordena, sério, colocando a ligação no viva
voz.
— Alex..., Alex... — É a Suzy! DROGA!
— Meu amor! — A respondo, aflito com sua voz desesperada.
— Há dois deles aqui, estão mascarados e armados..., eu não quero
morrer — ela geme, chorando. Fico sem chão!
— Calma, Suzy, eu vou resolver tudo... — miro Erick, ele está se
divertindo, sorrindo, maléfico. — VOU ACABAR COM VOCÊ, SEU
FILHO DA PUTA!! — Berro, ouvindo suas gargalhadas. — Manda eles
saírem de perto dela!!
— Uma vida por outra, o que acha? Já que ela tirou a Kelly de mim,
posso muito bem tirá-la de você — ele ameaça, me fazendo ofegar, meu
coração bate forte.
— Você não teria coragem — afirmo, duvidoso.
— Bota o cano pra fazer barulho — ele ordena, um tiro é disparado,
Suzy grita em seguida, deixando-me atordoado!
— Maldito!
— A senha, Alex, bora! — Exige.
— Alex, vem logo — minha garota geme, fico de coração na mão. Não
saídas, esse garoto é pior do que eu imaginava!
Respiro fundo, tomando coragem.
— Cinco, nove..., seis, quatro, oito, zero — falo, pensando em toda a
minha grana que está no cofre, mas a vida de Suzy é mais importante.
— Ouviram? — Erick pergunta aos comparsas.
— Eu vou pegar todos vocês, irei destruí-los — prometo, furioso.
Ele gargalha, debochando, sem me dar qualquer crédito.
— Foi bom fazer negócios com você, Alex — diz, levantando. — Seu
celular e notebook ficarão comigo, vai que tenha mais alguma coisinha neles,
né. Agora você não tem mais nada contra a minha mãe, mas eu tenho tudo
contra você e Suzy, é bom que se lembre bem disso. Agora vou embora, e
espero que esta seja a última vez que esteja te vendo, pro seu próprio bem... e
não inventa de aprontar nada, não, que vai ser pior, bem pior. Procura ir
embora de Luís Correia! Vai pro inferno, OTÁRIO! — Ele mostra os dedos e
a língua, sumindo de vista, deixando-me sozinho.
Ouço os carros saírem, levando toda a luz embora, fico no breu,
sofrendo de ódio, derrotado, humilhado. Após passar a madrugada inteira me
mexendo, chegando a cair no chão, no raiar do dia, finalmente consigo me
libertar das cordas. Saio exausto do casebre, com dores pelo corpo inteiro,
arrastando-me até o carro. Chego em casa pensando na minha garota, procuro
por ela desesperadamente, mas não a encontro!
Chamo por seu nome, olhando em cada canto do imóvel, mas ela não
está em lugar nenhum! Fico aflito, correndo para o quarto. Retirando o
espelho da parede, encontrando o cofre aberto, com apenas um envelope
dentro. Abro-o, retirando a carta, reconhecendo as letras da Suzy.

Alex, depois que o Erick veio aqui e pegou o diário, finalmente consegui
acessar o cofre que ficou aberto, o lugar que você jamais me deixou ver ou
disse a senha, e agora sei o porquê. Lá, além do dinheiro, havia um vídeo
gravado pelas câmeras de segurança da nossa antiga casa, mostrando você
matando a minha mãe!
Jamais esperava por isso, percebi que fui enganada durante todo este
tempo! Você destruiu a única família que eu tinha, a minha mãe. O que sente
por mim não é amor, é doença. Eu não devia ter matado aquela garota, mas
sim você. Nós somos dois monstros, e devemos ficar distantes um do outro,
para sempre! Esqueça-me!

— Não! — choramingo, perdido em lágrimas. O meu mundo está


desabando, e não tenho controle sobre isso.

Essa noite foi a pior de todas em muitos dias. Senti bastante falta da
Kelly, todo o quarto parece bem maior e triste sem ela. Desço a escada,
encontrando minha mãe, Eduardo e minha madrinha conversando na sala
sobre o que fazer com Alex.
— Filho, já conversei com o Edu e a Maria, nós vamos tentar fazer uma
proposta significativa para o Alex, para que ele desista de comprar o Algas
— ela me informa, tadinha, nem imagina quantas águas já rolaram.
— Não precisa — digo, lhe entregando o diário, deixando a ela e aos
outros boquiabertos. — O Alex não tem mais nada contra a senhora, já
resolvi tudo.
— Erick... esse é o meu...
— Diário, isso mesmo. Tomei do Alex, apaguei todas as cópias que
existiam, ele não pode mais fazer nada.
— Meu filho, como você fez isso? — Minha madrinha está em choque.
— Não importa — sou frio, só consigo pensar na Kelly.
— Importa sim, Erick! E você... leu o que...
— Li, mãe, eu li tudo, não me aguentei de curiosidade, queria saber o
que a senhora estava me escondendo. Não se preocupe, não estou com raiva,
entendi que apenas se defendeu do desgraçado do Alonso quando ele tentou
te estuprar. Ele teve o que mereceu. Quanto a você, Edu, agora o admiro
muito mais do que antes, obrigado por ter deixado a minha mãe me criar.
Eduardo sorri, feliz com as minhas palavras, todos estão surpresos e
felizes comigo.
— Ah, meu filho, eu não acredito... — ela me abraça forte, com os olhos
brilhando — Tive tanto medo de você me julgar se soubesse de toda essa
história.
— A senhora tem que confiar mais em mim, mãe — digo, forçando um
sorriso.
— Agora nos conte como conseguiu pegar isso do Alex — minha
madrinha insiste, preocupada.
— Não adianta vocês ficarem me perguntando, eu não vou dizer nada.
Dei meu jeito e pronto! E quanto ao Alex, acho que ainda hoje ele vai embora
da cidade.
Edu gargalha.
— Garoto, você não existe! — Ele diz.
— Por que você está com essa carinha triste? Onde está a Kelly? —
Minha mãe me conhece.
— Ela foi embora, e... não vai mais voltar, nunca mais — digo,
cabisbaixo, voltando pro quarto.
Recebo mensagem dos gêmeos, avisando que Alex foi embora de Luís
Correia, o que me conforta.

O dia passou rápido, mas consegui encontrar o local perfeito para ficar a
sós com Laura. Com a ajuda do hotel, viajamos para outra praia, Barra
Grande, na cidade de Cajueiro da Praia, onde chegamos com o pôr do sol.
Apolo continua no Coqueiro, sozinho, feliz com a nossa reconciliação, era
tudo que ele queria.
Estacionamos num chalé à beira-mar, todo em madeira, com varanda,
belíssimo, e pronto para nós.
— Que casa é essa? — Laura está encantada, sorrindo para o vento.
— É um dos chalés que o Algas aluga para os hóspedes nesta praia.
— Adorei, é lindo.
— Só não viemos mais cedo porque eles passaram o dia organizando e
limpando tudo. — A abraço pelas costas. — Agora somos só nós dois.
Nos beijamos intensamente.
— Já que é assim... quero que seja inesquecível — seus olhos
provocantes avisam que ela irá aprontar alguma.
Após estarmos acomodados, chega o momento que tanto esperávamos.
Estou nu na sala, com os braços sobre a cabeça, os pulsos presos à uma
argola de ferro fixada na parede, com o caralho duro feito aço, latejante,
observando Laura surgir do quarto, incrível, na sua roupa de dominatrix, com
uma chibata na mão. É agora, eu e ela, a noite toda!
Ela me olha sexy e poderosa com sua máscara cobrindo metade do seu
rosto, trouxe brinquedinhos de Teresina, isso quer dizer que tinha esperanças
de me reconquistar nessa viagem, já prevendo que faríamos um sexo quente.
Como sempre, é precavida. A observo tomado pelo desejo, meu pau pulsa de
tesão, imenso, erguido, a cabeça enorme, veias latejantes, sedento, negro,
quente.
A gostosa desfila até mim como uma deusa, a chibata em couro
deslizando em sua mão, as meias apertadas em suas coxas torneadas, o
espartilho emoldurando seu corpo esbelto, estufando seus seios voluptuosos,
a tanga de renda escondendo sua boceta protuberante, maravilhosa, que me
chama. Todo o seu look é em tom de preto e vinho, um tesão absurdo que me
deixa louco só de olhá-la. Mordo os lábios, sedento, está sendo como nos
velhos tempos, adoro tudo isso!
— Estava com saudade de mim, baby? — Pergunta, com a voz sensual,
enquanto escorrega a ponta da chibata entre o meu peitoral.
— Mui... — recebo uma leve chibatada na bochecha, abro meu sorriso
sacana, lembrando que não devo falar, somente balançar a cabeça positiva ou
negativamente para responder às suas interrogações, assumindo devidamente
o meu papel de submisso, e assim faço, assentindo.
— Você está tão duro... — o couro alcança a cabeça do meu cacete que
vibra ao senti-lo — tão grande e forte.
Laura encosta seu corpo no meu, nos fazendo pegar fogo, pressionando
meu pau entre nós dois, lambendo minha bochecha como uma gata, onde me
golpeou. Sua língua arrasta em minha pele, molhando a minha face, ela
mordisca meu lábio inferior, fazendo de mim seu brinquedo, seu objeto
sexual para fazer o que quiser. Gosto desse papel de ser usado e abusado, foi
uma das coisas que me fez se apaixonar por ela no passado: sua forma única
de foder.
Sou beijado com fogo, nossos lábios se atacam em uma mistura de
carnes sensual, avassaladora, é molhado, gostoso, fogoso, as línguas se
enroscam de uma maneira tão intensa que nos falta o ar. A química é perfeita,
como se nos transportasse para outro mundo. Laura se afasta, ofegante,
deixando-me com gostinho de quero mais, espero por cada passo seu, curioso
e ansioso pelo que fará a seguir.
Ela se agacha aos meus pés, arranhando as minhas coxas, descendo, me
fazendo arrepiar, sua língua molha a minha virilha com um selinho,
provocando. Desejo-a me chupando mais que tudo agora, porém a loira quer
me torturar, e está conseguindo, mexendo com a minha razão, me fascinando.
Sua mão segura meu caralho duro, quente, latejante, recebo mais alguns
beijinhos em volta dele, mas sem tocá-lo, arrancando alguns gemidos meus.
Movo o quadril para frente, encostando a ponta do cacete nos lábios
dela, recebo uma chibatada no peitoral, um aviso para que não me mexa, mas
é impossível, o meu eu dominador já grita dentro de mim, querendo sair feito
uma fera. A dominatrix fixa seus olhos esmeraldas na minha imagem quando
esfrega a língua na parte inferior do meu pau, molhando minha vasta
extensão até parar na ponta, onde ganho mais um selinho. Ergo a cabeça em
gemido, contraindo os pulsos contra as minhas amarras, a sensação é surreal!
— Oooh... — rosno, gutural.
Laura puxa meu caralho para baixo, o envergando, fazendo-me sentir
uma câimbra gostosa com este movimento. As lambidas se intensificam nas
laterais, na parte superior, molhando toda a minha massa negra, chegando por
fim na cabeça brilhante, larga e avermelhada, onde sua língua gira em volta,
no contorno, fazendo-me suspirar. Ela se mostra fogosa, sexy, provando que
quer me levar à beira da loucura, que ama me chupar, o que conta bastante.
A fenda da ponta do meu caralho é lambida, os fluídos são sugados,
descendo pela garganta da loira que engole tudo com gosto, como se
estivesse experimentando o néctar da libido. Não resisto e penetro sua boca,
dessa vez Laura não contesta, apenas aceita, empolgada, mamando seu
negão, engolindo-me mais, permitindo que eu me afunde pouco a pouco
goela abaixo, com as veias esfregando em seus lábios deliciosos que me
sugam para dentro.
— Humf... — ela geme, ao me sentir atolando sua boquinha aberta ao
máximo que pode. Seus olhos marejam ao mesmo tempo que escorrego para
o fundo, pressionando sua língua, roçando em seus dentes. Laura respira
apenas pelo nariz, em um momento relaxa a mandíbula, seus olhos
esbugalham quando me toma por inteiro, babando, a sua saliva escorrendo
entre nossa união. É incrível!
Quando não suporta mais, me cospe para fora, ofegante, vermelha. Sou
masturbado por alguns longos segundos e chupado outras vezes, com
empenho, com dedicação.
— Gosta de chupar o seu macho, gosta? — Pergunto, safado, fodendo
sua boquinha, indo e vindo com o quadril. Ela responde intensificando o
boquete, chicoteando meu caralho com a língua, judiando da minha libido,
extravasando sua luxúria.
Slup! Slup! Slup! Slup!
Vibro quando o gozo chega potente, uma certa cócega na cabeça do pau.
É forte, uma verdadeira erupção, uma explosão de jatos que percorrem por
dentro do corpo do meu cacete e explodem dentro da garganta da loira,
enchendo-a de porra em abundância. Laura não suporta e me cospe outra vez,
fazendo-me subir e bater contra meu abdômen, arremessando sêmens para
longe. Vê-la toda lambuzada é sensacional, foi um dos melhores boquetes da
minha vida! Minhas pernas até enfraquecem, a testa soa, é muita adrenalina
sexual.
A loira se ergue, retira a máscara, limpa o rosto, pega um pequeno
frasco de lubrificante sobre a mesinha ao lado e despeja o líquido quente
sobre o meu peitoral, lambuzando meu corpo, descendo a mão até o meu pau,
melando tudo. O que será que ela vai aprontar agora? Meus olhos brilham
com todo esse jogo sexual. A mulher desce a sua tanga lentamente, com a
bunda arrebitada em minha direção, fazendo eu me excitar novamente a cada
movimento vagaroso e sensual do seu bumbum, sua boceta gostosa surge,
inchadinha, perfeita, peladinha, de lábios gigantes. Oh Deus!
Ela joga lubrificante sobre a própria raba, sua pele cintila com o líquido,
provocando-me enquanto encosta o corpo ao meu outra vez, de costas,
amassando suas nádegas contra minha rola grossa, bruta.
— Aiin — ela mia gostoso, puta que pariu! Meu caralho é colocado
entre suas coxas, pressionado contra sua xoxota, começando um esfrega-
esfrega sem medidas! Laura vai e vem, prendendo-me no meio do seu corpo,
roçando as nossas carnes que escorregam na oleosidade, queimando,
excitando, instigando, nos levando à loucura! Essa mulher é uma diaba! Sua
boca busca a minha, também não fico parado, movo os quadris, para frente e
para trás, atravessando suas coxas, sarrando em sua bocetinha, abrindo
caminho entre seus lábios vaginais, tomando o controle da situação!
A carne úmida dela desliza pelo corpo do meu mastro, ondulando sobre
as veias quentes. Sugo sua língua no instante em que, num molejo saliente,
penetro em suas entranhas apertadas, afundando em sua xoxotinha sem
dificuldade, socando até meu saco bater contra seu cuzinho. A loira arfa,
sentindo-me dentro de seu corpo, pressionado por suas milhares de
contrações que transformam a nossa união na mais quente lascívia, é a prova
de que fomos feitos um para o outro.
Ela me segura pela cintura, impedindo-me de criar novos movimentos,
acostumando-se outra vez à minha longa invasão, que chega a tocar seu
útero, quase partindo-a ao meio. Ela mexe a bunda bem devagar, em
movimento circular, abrindo e fechando sua boceta, apertando-me, nos
torturando, nos levando ao limite. É tão gostoso que não consigo conter os
gemidos. O lubrificante faz suas carnes íntimas pegarem fogo, queimando-me
em seu interior enquanto suas nádegas roçam em mim, esfregando, num
ritmo sedutor.
Ela vai e vem com a bunda, retirando meu caralho centímetro por
centímetro das suas entranhas lentamente, até que somente metade da ponta
dele fica em seu interior, recebendo a pressão, levando-me à loucura! Laura
volta, enterrando metade de mim em seu corpo, gemendo, pegando fogo.
Seus músculos me apertam, não espero mais por ela e ponho-me a trabalhar,
fodendo a minha mulher! Soco tudo, fazendo barulho com a nossa união, até
que Laura goza, ensandecida, explodindo, molhando-me inteiro. Eu havia
esquecido o quanto é lindo vê-la ter um orgasmo.
Ela se afasta, esguichando pela xota, tremendo as pernas, encostando-se
no sofá para ter apoio.
— Me solta agora! — Ordeno.
A loira não pensa duas vezes e me liberta, a agarro com força,
prendendo-a em meus braços, esmagando-a contra meu corpo enquanto
devoro sua boca, com as mãos gigantes cobrindo sua bunda carnuda, onde
espalmo três vezes seguidas, mostrando quem é que manda, subjugando-a.
Laura não tem para onde fugir e geme durante nosso beijo, sentindo meu
caralho contra seu abdômen.
Jogo-a no sofá, bruto, pondo-a de quatro, ela deita a cabeça sobre o
assento, empinando o bumbum, já sabe qual é a minha preferência. Dou-lhe
mais uma lapada, sua carne está toda vermelha, marcada, não espero por mais
nada e enfio-me em sua boceta sem dó, como um animal sedento, como um
lobo feroz que eu realmente sou, fodendo, metendo, enterrando, socando,
golpeando seu corpo, mostrando a quem ela pertence.
— Você é minha.... minha! — Rujo, prendendo seus pulsos atrás das
suas costas, a dominando
— Eu sou sua... sua! — Grunhe, embevecida.
A surra de pau não para, penetro-lhe sucessivas vezes, observando nossa
mistura de cores, meu pau negro se afogando em sua bocetinha rosada que
aos poucos fica vermelha, uma delícia. Esfolo mesmo, atolando a loira sem
dó, sempre metendo até o fim, fazendo o meu saco imenso chocar contra sua
entrada. O nosso contato é quente, lubrificado, causando-me uma ardência
refrescante e deliciosa. As nádegas da gostosa tremem com o nosso impacto,
ondulando a cada estocada viril e potente.
Paro por alguns instantes, enrolo a mão em suas madeixas, puxando sua
cabeça para trás com cuidado, sem machucar, arrancando-lhe um gritinho
com o movimento brusco. Afundo o polegar grosso em seu cuzinho apertado
enquanto continuo metendo avassalador, abrindo espaço nela, tomando tudo
de si, a comendo inteira e de verdade.
Flop! Flop! Flop! Flop!
A nossa penetração é intensa e poderosa, fazendo barulho. Giro a ponta
do dedo no seu esfíncter, alargando-a, Laura goza outra vez, encharcando-me
com seu mel. Paro um pouco, respirando forte, deixando a mulher de frente,
retirando seu corpete, deixando-a apenas de meias. Deito sobre ela, entre suas
coxas que me prendem. Chupo seus seios volumosos, um de cada vez,
sugando os bicos, estufando-os entre os dedos.
Estou louco por ela, não vejo mais nada além do seu prazer, quero
consumi-la como o fogo consome as coisas, ardente, veloz e fatal! Laura é
perfeita, continua linda, exuberante, só melhorou ao longo dos anos, a quero
mais que tudo! Arrasto a língua por seu pescoço, chupo sua orelha, devoro
sua boca, fazendo mais uma enterrada delirante, invadindo-a. Cruzo as nossas
mãos, encosto os nossos rostos, mordo seu lábio inferior e continuo
trabalhando com o quadril, bombando sua boceta, faminto, ávido, tomando-
lhe todo prazer que possa me dar!
Além de toda essa luxúria, é possível enxergar que a nossa troca de
emoção é inevitável, há amor transpassando entre nossos corpos, sobre o
nosso toque. A quero para toda a minha vida.
— Eu te amo, Victor... eu te amo! — Ela declara, com lágrimas fugindo
por sua face, me encantando, levando-me ao extremo.
— Eu também te amo, meu amor! — Uno nossos lábios outra vez,
roçando em seu clitóris a cada golpe em suas entranhas.
Ponho o antebraço direito sob seu pescoço para ter equilíbrio,
acelerando o sexo, metendo sem parar, com a mão cobrindo o seu rosto,
contemplando seu semblante que fica incrível ao gemer de prazer. Então a
força vem, estremecendo todo o meu ser, concentrando-se no meu pau, me
fazendo explodir outra vez, em um orgasmo alucinante.

Saio de casa após todos estarem dormindo, dirijo para o meu destino,
observando o céu profundamente estrelado pelo para-brisas, mirando pelo
retrovisor a mala de couro preta no banco de trás. A estrada está escura, os
faróis iluminam o caminho até a minha casa de praia em Macapá.
Entro no imóvel de luzes ligadas e portas destrancadas, pondo a mala no
sofá enquanto ouço risos e barulho de água vindos da piscina. A vida é
interessante, para conseguir uma coisa, às vezes é preciso se aliar ao inimigo,
que depois pode se tornar seu amigo.
Sorrio, sacana, chegando a área externa, observando a piscina, há uma
garrafa de champanhe na beira com duas taças cheias. Da água, emerge
Kelly, vagarosamente, sensual, sorrindo maliciosa para mim, com o cabelo
loiro molhado para trás. Ao seu lado, emerge Suzy, linda do mesmo jeito,
molhada, provocante. A loira e a morena só de biquíni.
— Oi gato — diz Kelly.
— Nós estávamos esperando por você — completa Suzy.
Eu sempre consigo tudo o que quero, quando entro em movimento nada
pode me parar, e nesse meu temporal, arrastei as duas comigo, as minhas
garotas selvagens.
TRIO SELVAGEM

“Um beijo triplo, gostoso, divino e fatal”

Suzy e Kelly parecem duas sereias magníficas, com sua beleza


selvagem, uma leite, a outra chocolate, uma magra, a outra fofinha. Trocamos
sorrisos vitoriosos, lembro de tudo que fizemos até aqui:
Começou naquela noite, depois da primeira tentativa da loira em
drogar Alex, que terminou com ele indo embora após uma ligação de Suzy,
que supostamente se acidentou. Descobri depois que não passou de um
exagero da garota para fazer o namorado voltar para casa, pois ela estava
desconfiada de que era traída. Acontece que o “batizado” fez um efeito
catastrófico, e Alex revelou algo tão grave à Suzy que a fez lembrar de mim,
o inimigo do seu “papai”, por isso me ligou na madrugada, uma ligação que
mudou tudo.
— Alô? — Falo, com a voz sonolenta, é um número desconhecido, Kelly
continua dormindo ao meu lado.
— Erick? — Ouço a voz doce, mas com traços de amargura.
— Quem é?
— Sou eu... Suzy — ergo as sobrancelhas, estranhando sua ligação, mas
ao mesmo tempo doido para descobrir o que ela quer.
— Suzy... — sento na cama, de costas para a loira. — O que você quer?
Como conseguiu o meu número?
— Eu dei o meu jeito. Estou ligando porque quero me encontrar com
você amanhã... precisamos conversar.
— Conversar... o quê?
— Sobre o Alex, agora quero destruí-lo — declara, sua voz entona um
pouco de ódio ao citar o nome do infeliz.
— Ah ‘tá, acha mesmo que vou acreditar nisso? — Debocho, levantando
e andando nu pelo quarto.
— Eu sei que é difícil acreditar, mas o que tenho para falar não pode
ser dito por telefone. Olha... o que você precisa saber por enquanto é que...
descobri que o Alex fez algo terrível na minha vida, e que agora quero ficar
ao seu lado, me juntar a você para seja lá o que pretenda fazer com ele, mas
quero tirá-lo da minha vida, assim como sei que quer tirá-lo da sua.
— Não sei se posso confiar em ti, gatinha.
— Então não confie, mas ao menos me ouça — pede, parece sincera,
fico balançado, não tenho nada a perder.
— Tudo bem — concordo, em seguida marcamos o local do encontro.
No dia seguinte, pela manhã, após minha mãe sair de casa para
trabalhar, pego o carro escondido e vou encontrá-la, acompanhado de Kelly
e Ramon, todos muito curiosos para saber o que Suzy tem a falar. Eu não
queria trazer a loira, mas ela insistiu, acho que por ciúmes, contudo a deixo
no carro com Ramon, que trouxe por precaução, para me resguardar de
alguma possível armadilha do Alex.
Entro na lanchonete, local do encontro, onde a gordinha delícia me
aguarda, sento diante dela que, assim como eu, está de óculos escuros, olho
ao redor rapidamente, até agora parece tudo seguro.
— Estou aqui — digo. — Quero entender por que, de repente, uma
moça tão apaixonada pelo pai, agora quer destruí-lo... — sou direto e
irônico.
— Ele não é meu pai de verdade — revela, surpreendendo-me, não
esperava que me contasse seu segredo. — Ele era... o meu... namorado —
seus olhos desviam dos meus, procurando um buraco para se esconder de
tanta vergonha. Se chegou ao ponto de me falar isso, então a treta realmente
é séria, algo abalou a união deles.
— Seu namorado? — Finjo surpresa, boquiaberto — Mas... ele não era
casado com a sua mãe?
A gatinha respira fundo, nervosa, sei que deve ser difícil pra ela falar
sobre esse assunto, revelar que é uma putiane. Ela mira o nada, e passa a
contar a sua história:
— Desde quando Alex passou a namorar a minha mãe, e o levou lá pra
casa, notei seus olhos em mim, eu tinha apenas dezesseis anos — fala,
cabisbaixa, parece estar reabrindo uma ferida. — Mas sempre fingi que não
percebia, sabe, em respeito à minha mãe, que tinha muito dinheiro, só que...
sujo, dinheiro de crime.
— Que tipo de crime? — Fico curioso.
— Tráfico de drogas — estou surpreso outra vez, esse buraco é fundo.
— Ela viu no Alex talento para participar do esquema, eles passaram a ser
sócios, além de namorados, quer dizer, ele trabalhava para a minha mãe,
mas agia como se fosse dono, sempre querendo mais. Com o tempo, quando
ficávamos sozinhos em casa, ele aproveitava para se aproximar... cada vez
mais de mim — ela me olha, com medo de ser julgada.
— Entendo.
— Mas sempre fugi, eu juro! Porém, ele era muito sedutor... e bonito,
enquanto minha mãe era rígida, colocava-me para baixo, sempre dizendo
que eu era feia, ridícula, gorda, às vezes achava até que ela me odiava, sofri
bastante. O Alex passou a ser um amigo naquela casa em que me sentia tão
sozinha e desprezada, mesmo assim, resisti por mais de um ano às investidas
dele, pois a minha mãe, apesar dos maus tratos, era a minha mãe.
“Mas um dia ela me bateu sem motivos, uma surra que me fez sangrar,
o Alex veio cuidar de mim e se aproveitou da minha fragilidade e carência
para me roubar um beijo. Desde então, passamos a ficar escondidos, mas
sem sexo, era o pingo de respeito que eu achava na época que ainda tinha
pela minha mãe. Só que, Alex e ela passaram a brigar muito por causa dos
negócios, ele queria fazer uma cosia que poria tudo em risco, ela não
permitia.
Ao mesmo tempo o nosso relacionamento se tornava mais intenso, ele
queria me possuir, mas eu não permitia, dizia que jamais faria isso com a
minha mãe, que isso era demais! Contudo, em uma noite, fui dormir na casa
de uma amiga, na madrugada recebi ligações de Alex que foi me pegar muito
preocupado, dizendo que havia saído com mamãe para trabalhar, que... um
concorrente nosso preparou uma emboscada, que ela havia morrido em uma
troca de tiros. Fiquei desolada, nem mesmo pude me despedir.”
Lágrimas descem pela face da morena.
“Foi quando Alex falou que continuar em Teresina seria perigoso
demais... ele lembrou de Luís Correia, do hotel que sempre disse que seria
dele. Assim, viemos para cá com todo o dinheiro que tínhamos no cofre, que
só ele sabe a senha. Mas ontem... ontem Alex chegou bêbado em casa, com
cheiro de mulher, nós discutimos e ele acabou revelando que matou a minha
mãe! — Revela, chorando ainda mais, fico chocado! — O pior de tudo foi vê-
lo acordando hoje sem nem lembrar do que me disse.
Passei a noite inteira chorando, juntando as peças enquanto ele
desmaiou, morto de bêbado ou drogado, não sei. Pelo pouco que me disse, a
história só pode ser real, Alex sempre disse que queria viver comigo, só
comigo, várias vezes me falou em fugir, eu que não aceitava, que não tinha
coragem em respeito à minha mãe, e de repente, ela morre, num momento
que parecia tão propício a ele.”
— Então você tem certeza que ele matou a sua mãe? — Pergunto.
— Tenho. Ele até me disse como fez, que aproveitou que eu não estava
em casa... — ela fica arrasada ao lembrar. — Além disso... procurei as
gravações da câmera de segurança da nossa casa daquela noite antes de
virmos para cá, mas não encontrei, ou ele queimou ou estão guardadas
naquele cofre — raciocina.
— Estou chocado com toda essa história, mas não duvido nada que Alex
tenha mesmo acabado com a vida da sua mãe, ele quase acabou com a da
minha — sou sincero. — E aí você lembrou de mim?
— Sim. Lembrei exatamente do que você disse que ele aprontou com a
sua família no passado, sabia que você estava tentando fazer com que eu te
ajudasse de alguma forma a ferrar com o Alex, estava tentando me seduzir
naquele dia em que se fazia de meu amigo, levando-me para passear.
— Que pena que não deu certo, nós formaríamos um belo casal —
brinco, sorrindo safado, quebrando o gelo.
— Isso não tem graça, estou falando sério! — Suzy me repreende,
enxugando as lágrimas.
— ‘Tá bom, foi só para quebrar o gelo. Agora acredito de verdade que
tu mudou de lado — volto a ficar sério.
— Olha, eu sei que o Alex tem um diário que, pelo que entendi, pode
ferrar a sua mãe, está no cofre, mas não sei a senha. Tenho esperanças de
que lá tenha alguma prova que o incrimine em relação a minha mãe também.
— O cofre! É onde eu queria chegar — é hora de jogar limpo.
Suzy se surpreende.
— Já sabia do cofre?
— Digamos que eu sabia de muita coisa do que você me disse.
— Mas como? — a gatinha está encabulada.
— Eu sou o Erick, gata, e você está na minha área, aqui eu mando, aqui
sempre sei de tudo! — Deixo-a sem palavras. — Agora vamos ao que
interessa, não entendi muito bem o seu plano.
— Porque não tenho um, foi por isso que vim aqui, para saber o seu
plano. O que quero é acessar o cofre, pegar o meu dinheiro e acabar com o
Alex, coisa que não tive coragem de fazer ontem à noite, preciso de ajuda.
— Olha, se está falando em matá-lo, isso não vai rolar, por mais que eu
queira vê-lo morto, não sou um assassino e nem mandante de assassinato.
Suzy abaixa a cabeça.
— Eu também não, senão há essa hora ele já estaria com a boca cheia
de formiga; ai que ódio desse desgraçado! — Suzy enxuga outra lágrima, ela
é tão linda, até irritada, com essas bochechas fofinhas cor de Nutella. —
Quem sabe... eu encontre uma prova de que ele matou a minha mãe, não sei.
— Mas isso não te serviria de nada — raciocino.
— Por quê?
— Se o dinheiro que está no cofre é sujo, e você o quer, a polícia não
pode chegar perto. Se chegarem ao Alex, facilmente chegam a você.
— É verdade, ele sempre falou que não podíamos chamar atenção. Mas
quero tomar o dinheiro dele, quero que fique na miséria, que é a coisa da
qual tem mais medo.
— Sério?
— Seríssimo, Alex morre de medo de voltar a ser pobre, assim como
teme ficar sem mim. Agora sei e entendo que ele me tem como um prêmio,
sabe? É algo meio doentio, um fascínio por eu ser bem mais nova e filha da
sua finada esposa. De algum modo ele ainda se diverte com esta obsessão
que chama de amor, tanto que não me deixa sair de casa e quando saio tem
que ser em sua companhia, está tão grave que ele foi capaz de matar minha
própria mãe para ficar comigo.
— Pensando bem em tudo que observei de vocês, acho que tem toda a
razão. É um perigo continuar ao lado desse maluco, chegará um momento
em que ele pode te ver não mais como um prêmio e sim como... posse —
reflito.
— Acho que isso já está acontecendo — Suzy cruza as mãos sobre a
mesa, trançando os dedos, preocupada.
Respiro fundo.
— Nós temos interesses em comum: destruir o Alex... e abrir aquele
cofre. Só precisamos saber o que fazer — penso em algum plano, Suzy
parece fazer o mesmo.
Olho para a TV do estabelecimento, na parede, reconheço o filme que
passa no momento, é daquele cara que teve que se fingir de morto para
poder fugir de uma prisão onde foi colocado por armadilha dos inimigos.
— Esse filme, eu conheço ele.
— O Conde de Monte Cristo? — Indaga Suzy.
— Exato! — Sorrio de orelha a orelha, malévolo. — Hum... isso é
interessante. Acabei de ter uma ideia louca, mas para isso você precisa
conhecer uma pessoa.
Chamo Ramon e Kelly para participarem da nossa reunião. Agora
estamos os quatro na mesa, conversando sobre a minha ideia maluca de
matar Kelly de mentirinha, para criar uma prova contra Alex e assim fazê-lo
— através do medo de perder Suzy e se complicar com a polícia — revelar a
senha do cofre! É claro que tive que atualizar a Suzy sobre quem era Kelly e
da “relação” dela com Alex.
— Essa sua ideia é a mais louca e impossível que já ouvi na minha vida
— diz a gordinha delícia. — Mas pode dar certo, porque eu já tentei várias
vezes tirar essa senha do Alex e não rendeu, e se eu não consegui, Kelly
jamais conseguiria, pode apostar — ela fita a loira.
— Erick, não sei se consigo fazer tudo isso parecer real — diz Kelly,
pensativa.
— Mas eu sei! — Suzy parece obstinada. — Fiz um curso de teatro, meu
sonho é ser atriz, pelo menos era. Vou fazer isso dar certo, a gente treina
hoje mesmo... vai ser como... uma das peças que eu apresentava na
adolescência.
— Posso conseguir o sangue — Ramon se manifesta. — A casa nós já
temos.
— E não podemos esquecer da câmera — lembra a loira..
— Então ‘tá decidido! — Confirmo, espalmando a mesa. — Vai ser
assim que acabaremos com o Alex.
Naquele mesmo dia, Ramon foi com Suzy e Kelly para a casa que Elizeu
nos emprestou, para que elas treinassem a atuação do dia seguinte. Eu voltei
para o hotel antes que a minha mãe desse por minha ausência e a minha
situação com ela ficasse pior.
Fiz um grupo do WhatsApp com os meus quatro parceiros e as minhas
garotas selvagens. Ramon me ajudou a explicar tudo para Elizeu, Thiago e
Felipe, eles toparam me ajudar, a amizade era tudo! Ramon conseguiu
sangue de boi, Elizeu as máscaras que usaríamos.

Anoiteceu, espero Kelly chegar no quarto, enquanto penso em tudo. Ela


entra pela porta, arrumada, sorridente, me deixando empolgado.
— E aí, deu tudo certo? — Pergunto, ansioso.
— Sim, fiz o que tinha que fazer e comprei a câmera — ela retira da sua
bolsa de lado uma micro câmera embalada num saquinho plástico.
— Ótimo — sorrio de orelha a orelha.
Kelly recebe uma mensagem no celular.
— É o Alex?
— Sim — confirma, sorrindo.
— Marca pra amanhã à noite — designo.
— ‘Tá.
Na noite seguinte, todos já estavam a postos. Kelly chegou no final da
tarde em sua casa de estudante de medicina, onde Ramon lhe entregou três
garrafas plásticas de dois litros repletas de sangue, que ela escondeu no
quarto onde tudo iria acontecer.
Depois a loira me ligou, enquanto esperava Alex aparecer.
— Tem alguém na porta, só pode ser o Alex, ele chegou! — Diz ela,
sumindo do meu campo de visão.

Enquanto Kelly drogava Alex, Suzy estava com Thiago e Felipe


estacionados fora da casa, esperando um sinal da loira para entrar e
começar o espetáculo, tudo precisaria parecer real diante da câmera! Elizeu
e Ramon me esperavam no caminho do hotel, eu só poderia sair de casa no
último momento, pois ainda tinha a minha mãe para despistar. Todos
trocávamos mensagens a todo instante pelo WhatsApp.
Quando chegou a hora, fugi do Algas, encontrando com Ramon e
Elizeu, partindo para o velho casebre, enquanto Suzy entrava na casa,
aparecendo no momento certo em frente à câmera, como havia treinado,
fazendo o suposto crime acontecer sem a câmera ver, somente dando a
entender, criando a sugestão, mostrando ela investindo com a faca em Kelly,
depois os gritos, o sangue, e pronto! Tínhamos uma morte!
Alex acordou acreditando em tudo, a atriz Suzy fez tudo parecer real
mesmo, chorou, enquanto eu e os meninos, cada um em seus postos,
assistíamos esse filme pelos nossos celulares, morrendo de rir e vibrando a
cada cena, cada expressão no rosto do desgraçado. Ela conseguiu convencê-
lo sobre onde deveria esconder o corpo, e tudo foi um sucesso! Tínhamos a
senha!
O cofre foi aberto pelos gêmeos, lá Suzy encontrou realmente a
gravação do assassinato da sua mãe, mas o dinheiro ficou com Felipe e
Thiago, para garantirmos que ela não fugiria até eu dar a parte dos meus
amigos e de Kelly que entraram nesta empreitada. Mais tarde, após
abandonar Alex no fim do mundo, recebo a maleta cheia do dinheiro,
pagando a parte de cada integramente, menos das garotas, que me
esperariam na casa de praia, onde era mais seguro no momento.
No dia seguinte, esperei a confirmação dos gêmeos para saber se Alex
havia realmente vazado da cidade, e quando a barra ficou limpa, vim ao
encontro das meninas.
E agora eu estou aqui com elas.
— Você não vai entrar? — Kelly me convida para a piscina.
— É claro que vou, ou não me chamo Erick, gata — pisco para ela.
Tiro a roupa, ficando apenas de sunga, mergulho, nadando por dentro
d’água, emergindo entre as garotas selvagens.
— É... acho que nós conseguimos — Suzy está feliz.
— Sim, conseguimos — eu estou mais feliz ainda.
— Somos incríveis! — comentou Kelly.
— Vamos beber muito para comemorar! — Afirmo, buscando as taças,
mostrando a língua. Agora o bicho vai pegar!
Comemorar uma vitória nunca foi tão fascinante! Estouro mais uma
garrafa de champanhe, é a terceira desde que cheguei. Continuo com as
garotas na piscina aquecida, na nossa festa particular, não paramos de sorrir,
nos divertindo, ficando cada vez mais bêbados. Encho as taças, bebemos,
conversamos, gargalhamos, deixando o álcool dominar o ambiente.
Num piscar de olhos, eu e Kelly começamos a nos pegar
indecentemente, como bem sabemos fazer, misturando os lábios num beijo
gostoso, intenso, até nos faltar o fôlego. Quando finalmente paramos,
miramos Suzy, que nos observa, visivelmente excitada, tanto quanto nós.
Troco olhares com a loira, que parece ler meus pensamentos. Estendo a mão
para a morena, que a segura, aceitando o nosso convite.
Ponho as duas cara a cara, até que, de repente, tão natural quanto a luz
do dia, suas bocas se tocam sensualmente, bem na minha frente, fazendo meu
pau vibrar com a cena, parece até um sonho. Elas se afastam, tentando se dar
conta do que estão fazendo, mas as induzo a mais um beijo, que não é
negado. A timidez gradativamente vai embora, entro no misturar das línguas,
criando um beijo triplo, gostoso, divino e fatal. Não são necessárias palavras
agora, tudo está apenas... fluindo.
É fantástico, sem igual, único. É a primeira vez que participo de um
ménage, e de modo totalmente inesperado. É claro que, quando cheguei aqui
e vi as moças de biquíni, logo tive pensamentos safados, porque sempre
tenho, é inevitável, porém não planejei nada ou fiquei com essa intenção, até
porque a minha prioridade se chama Kelly, gosto muito dela, a admiro pra
caramba depois dessa loucura que fez por mim, além de ter ficado bastante
preocupado de algo dar errado e ela morrer de verdade.
Nossos lábios se misturam, se envolvem, beijo Kelly que beija Suzy que
me beija, é um ciclo mútuo, simultâneo, perigoso, fascinante. Prendo as duas
à mim pela cintura, chupo o pescoço da morena enquanto o meu é chupado
pela loira, nós nos entregamos à essa libido intensa que toma posse dos
nossos corpos, nos levando para algo desconhecido, mas com certeza
prazeroso. Estamos no lado raso da piscina, com metade do corpo para fora
da água.
Desfaço o laço do biquíni de Kelly, seus seios surgem, rosadinhos,
esbeltos, chupo um de cada vez, com tesão, me fartando, enquanto Suzy
abraça-me pelas costas, beijando meu ombro, excitada. Repito o mesmo
processo com ela, afogando-me nos seus seios cheios, enormes, ao mesmo
tempo em que sou tocado pela loira, que põe meu caralho para fora,
masturbando-me dentro d’água. Que gostoso.
As puxo para fora, pego a garrafa de champanhe, seguimos para o
quarto, onde termino de despi-las. Estamos bêbados, dominados pela luxúria,
entregues, imorais, bebo na boca do litro. Como eu disse, nunca fiz sexo à
três, mas deixo-me guiar pelos instintos e pelos anos de boas aulas nos sites
pornográficos, sei que darei conta, nasci pra viver este momento, estou
pronto!
Elas vão para a cama, fico em pé do lado de fora, puxo-as pela nuca,
fazendo-as me chuparem ao mesmo tempo, não há mais ninguém virgem
aqui, somos jovens, porém conhecemos o sexo, não é novidade. Descubro
que estou enganado, é totalmente novo ter duas bocas abusando do meu
caralho ao mesmo tempos, duas línguas percorrendo por ele timidamente, o
lambuzando, o molhando inteiro até o saco, brincando comigo, provocando-
me. Levo as mãos à cabeça, fechando os olhos com força, rugindo. Que
loucura!
É surreal, intenso, fora do contexto. Sou chupado duplamente, beijos
molhados me cercam da ponta da rola até as bolas. Seguro as meninas pelos
cabelos, tomando controle da situação, delirando a cada lambida, a cada
esfregada que os lábios delas fazem contra minhas veias latejante. As pontas
das suas línguas fazem mágica, torturando-me ao tocarem na fenda da minha
glande, por onde libero o pré-gozo. Nunca gemi tanto em minha vida, quase
lembro uma menininha virgem, mordendo o lábio inferior, viajando nesta
lascívia. Puta que pariu! É o meu sonho de punheteiro se realizando! Estou
no céu sem fim.
Derramo champanhe no meu pau, o molhando, sentindo uma ardência
gostosa, terminando de secar a garrafa, livrando-me dela em seguida, as
meninas bebem tudo, se jogando, curtindo. Movo o quadril, indo e vindo,
arrastando-me entre as bocas delas, roçando em suas carnes, brincando. Bato
o caralho na face de uma, babando, melando seu rosto, mostrando que posso
fazer o que quiser, repetindo o ato na face da outra, a saliva escorrendo pelas
bochechas. É a putaria rolando solta, sem pudor, sem amarras, somos três
loucos incondicionais.
Penetro na boquinha de Kelly, socando várias vezes, devagar, ela cora,
tentando dar conta do meu tamanho enquanto bato na parte interna da sua
bochecha, sua pele ondula por fora. Passo para Suzy, afundando por sua
garganta, sarrando em seus dentes, esmagando sua língua. Fazemos outro
beijo triplo, dando uma pausa no boquete duplo antes que eu tenha que pedir
ajuda à parede para não gozar rápido. Elas deitam ao meu comando, ambas
com as pernas abertas na beira da cama, agora é a minha vez de brincar!
Começo com a loira, enquanto acaricio a bocetinha da morena com a
mão direita, provocando seu clitóris, arrancando-lhe gemidos. Lambuzo as
carnes íntimas da Kelly, chupando-a com gosto, me fartando, faminto, voraz,
penetrando seu reguinho, movimentando-me para cima e para baixo
freneticamente, bebendo do seu mel que não para de nascer e descer por
minha garganta.
— Oooh..., Erick! — Ela se contorce, agarrando os lençóis, suspirando
em volúpia. Suzy a beija, completando o cenário da orgia, da devassidão, que
acontece de forma tão natural que é até lindo de se vê. Uma troca de prazer
rara e fantástica.
Sugo a minha bandida, chicoteando sua vulva dentro da boca ao mesmo
tempo em que introduzo o dedo do meio nas entranhas da morena. As garotas
gemem em conjunto, criando uma sinfonia gutural, é uma loucura! A excito,
instigando, incitando, provocando, cutucando, Kelly perde toda a compostura
de vez, gritando e gozando, me banhando. Deixo-a vibrando com as milhares
de sensações do orgasmo arrebatador, passando para Suzy.
Saio da boceta leite, começo a oral na xota chocolate, sem perder a
vontade, o gosto, a fome. Suzy é mais sensível, tenho que manter suas pernas
abertas para poder alcançar suas carnes mais profundas, inchadas,
protuberantes. Ela é escandalosa, até parece que nunca recebeu uma mamada
na vida, contudo, gosto disso, de vê-la perder o controle, isso me excita ainda
mais! Kelly a beija, abafando todos os seus sons, aqui ninguém fica parado.
Percebo que as duas são igualmente deliciosas, mas possuem gostos e
aromas diferentes, agora posso me definir como um verdadeiro degustador de
pepecas, variando entre uma e outra assim viro especialista. Levo a morena à
loucura, ela prende meu rosto entre as coxas, gozando, Kelly suga seus
mamilos, um composto de sensações suficientes para fazê-la explodir na
minha boca.
— AAAAH... — Suzy berra, extravasando, tomada pelo prazer.
Procuro um preservativo, protejo-me, é hora de partir pro nível dois!
Ajeito as garotas de quatro na beira da cama, fico em pé do lado de fora, duro
feito pedra. É uma visão divina, maravilhosa, as duas bocetas aqui, leite e
chocolate, esperando por mim. Sorrio de orelha a orelha, encantado. Faço o
meu ritual, balançando o quadril, sacolejando a rola pesada de lá para cá, com
a língua para fora, seduzido, hipnotizado!
Começo com Suzy, a novidade, lapeio sua raba gigante, que possui
algumas poucas celulites, que não influenciam em nada para mim, ela é linda
de qualquer jeito, a desejo intensamente agora, esse tanto de carne me deixa
louco! Penetro-lhe devagar, pois ela ainda não está acostumada com a minha
magnitude. Aos poucos aprofundo-me mais, esticando suas carnes molhadas,
ouvindo seus grunhidos, seu corpo queima, chego ao limite, pondo tudo para
dentro, iniciando os movimentos.
Recebo suas contrações, sendo bombardeado em seu interior. Acelero as
estocadas, batendo o saco contra seus lábios vaginais, descendo a madeira até
o talo, ávido. Para que a loira não fique só olhando, penetro-lhe com o dedo
do meio, dando conta das duas simultaneamente, mantendo a nossa conexão
sexual viva a cada segundo, sem parar. Nossos corpos se conectam sem fim,
conversando entre si na mais intensa libertinagem! Vou com tudo,
implacável, arregaçando a morena, deixando-a alucinada.
Revezo, penetrando Kelly agora, puxando-a pelas madeixas, deixando-a
de joelhos, ereta, socando em sua bocetinha como se não houvesse o amanhã,
passo o antebraço por seu busto, pressionando seus seios, prendendo-a a
mim, sugando sua orelha, lhe comendo, lhe fodendo, metendo, bombando,
avassalador, incansável, fazendo barulho. Ela me aperta por dentro, abrindo e
fechando, pressionando minha rola grossa e viril que lhe arromba inteira,
atolando, esfolando, escorregando por seus lábios vaginais numa conexão
incrível.
Volto para Suzy, deito sobre ela, entre suas pernas, beijando sua boca,
mordiscando sua carne, enterrando o caralho em seu interior, trabalhando
duro, potente, ofegante, levando nossa química além dos extremos, fora do
limite. Fico de joelhos, sem parar com as estocadas, puxo a loira pela nuca,
nos beijamos sem pudor, estou soando, nosso calor é forte, pegamos fogo.
Kelly chupa meu pescoço, arranhando o meu corpo, ela adora me tocar, me
pegar.
Deito-me, coloco-a em cima de mim e sou cavalgado com maestria.
Suzy vem me beijar, depois beija a colega e me beija novamente. Esmago as
coxas da loira entre os dedos, enquanto ela me suporta inteiro dentro de si,
mexendo, rebolando gostoso. Somos mundanos, viramos parte da
lubricidade, não queremos parar, estamos presos um ao outro e a cama é o
nosso refúgio. Nossos corpos parecem um só, a vergonha disse adeus.
Kelly deita sobre meu corpo, chupando minha língua, também chupo a
sua, continuando com as investidas. As moças trocam de lugares, Suzy passa
a me cavalgar enquanto a loira fica agachada sobre o meu rosto, segurando na
cabeceira da cama para se equilibrar, recebendo minhas chupadas nos lábios
da sua xoxotinha. Ela arrasta a boceta na minha cara mesmo, me surrando,
perfeita. Nossos gemidos tomam conta da casa, é como uma dança, onde
bailo como uma e com a outra ao mesmo tempo, seguindo o ritmo, sem
perder o compasso.
Crio uma nova posição, jogo a morena na cama, Kelly fica sobre ela e
eu fico sobre Kelly, viramos uma espécie de sanduíche, nossas pernas se
enroscam, as peles se misturam, as mãos se cruzam, as respirações batem
uma contra a outra, os olhares se encontram e desencontram. As duas se
beijam, eu beijo as duas, somos consumidos pelo desejo, até que não resisto
mais, meu corpo estremece, é como um furacão levando-me ao ápice e em
seguida me entorpecendo, um orgasmo animal, selvagem.
— UUUH!! — Uivo, embevecido. Agora pode me levar, Jeová, estou
pronto!
A VERDADE

“É agora, não há mais como fugir.”

Acordo de manhã como há muito tempo não acordava, feliz, tranquilo,


sorrindo, após uma boa noite de sexo e amor intenso. A cama em que estou é
deliciosa, parece não querer me deixar sair, minha cabeça está afundada nos
travesseiros. Há pouca claridade no quarto, procuro por minha amada, mas
não a encontro.
— Laura? — A chamo, estranhando sua ausência. Nossos momentos de
ontem não saem da minha mente, foi o céu.
Levanto, abro a cortina de linho da varanda, deixando o vento e a
claridade entrar com força total, deparando-me com a visão divina, a faixa de
areia branca por toda a costa sob um bosque de coqueiros, o mar azul
simplesmente magnífico.
— Que paraíso... — murmuro, fascinado. Há uma rede armada no canto,
ao lado de uma mesinha para dois, onde um manjar como café da manhã me
aguarda: frutas, beijus, ovos, bolo, café e leite quentinho.
— Meu amor? — Laura surge vestida em minha camisa, que deixa suas
pernas de fora, o cabelo bagunçado, lembrando uma linda leoa, com o sorriso
deslumbrante. Em suas mãos há uma bandeja com um um mousse que desejo
à primeira vista. Ela fecha a cara por algum motivo — Oh... Victor! Vai ficar
pelado na varanda para todo mundo te ver?
Só então me dou conta de que estou nu, volto para dentro.
— Nossa..., acredita que nem percebi? — A loira me dá um selinho,
pondo a bandeja sobre a mesa, terminando de aprontar o nosso café — E de
onde veio toda essa comida? — Pergunto, indo para o banheiro.
— Do restaurante aqui perto, com o qual o hotel tem convênio —
explica. Ela se livra da camisa, vindo para debaixo do chuveiro comigo, me
beijando gostoso, um beijo feliz e amoroso. Fodemos outra vez, o gasto de
energia nos deixa famintos. Tomamos café, conversamos, admiramos a
paisagem magnífica, sentindo a brisa do vento nos afagar. Observamos
alguns kitesurfistas fazerem manobras no mar, é lindo.
Logo estamos mergulhando na água salgada, morninha, curtindo a maré
baixa que forma piscinas naturais, o ambiente se torna ainda mais paradisíaco
com o passar do tempo, parece uma grande lagoa azul numa atmosfera
remota e relaxada. Laura ri pro vento, feliz da vida, agora fica claro que
estávamos com muitas saudades um do outro, extravasamos sentimentos
mútuos, nos divertindo como nunca antes. Finalmente deixamos o mar, nos
sentando em uma das piscinas naturais formada na praia, agarradinhos,
pegando um pouco de sol.
Caminhamos pela areia, de mãos dadas, passando por outros turistas e
várias barracas, as pessoas se divertem por todos os cantos, felizes, vivendo a
emoção que é estar aqui. Não sei se todos estão amando como nós, mas
parecem.
Acordo sentindo a ressaca me tomar, vejo Suzy dormindo como um
anjo, procuro por Kelly, mas não a encontro. Onde ela está? Levanto bem
devagar, me situando, com uma leve dor de cabeça. Visto a cueca, procuro a
loira no banheiro, mas não a encontro, desço para o térreo, avistando-a
sentada nas portas de acesso à piscina, mirando o nada, agasalhando-se com o
lençol.
Sento ao seu lado, abraçando.
— Bom dia, gata — beijo-lhe na testa.
— Bom dia — ela responde, tristonha, em seu rosto também há marcas
de ressaca.
— O que está fazendo aqui?
— Nada — ela está estranha.
— Tudo bem?
— Aham — mente. Seguro seu rosto entre as mãos, a forçando olhar
para mim, mas ela se recusa, fechando os olhos.
— Olha pra mim — peço, ela obedece após alguns segundos, as suas íris
azuis me hipnotiza. — O que está acontecendo, fala pra mim — minha voz é
mansa, amorosa. Uma lágrima foge pela face dela, preocupando-me.
— É que ontem... — sua voz falha.
— Ontem...?
— Você gostou, né..., de nós três?
— Gostei, você não?
— Sim, mas... e agora?
— E agora o quê? — Não consigo compreendê-la.
— Vai querer ficar com ela... outra vez? — Agora entendi, meu Deus...,
Kelly me ama!
— Não... — sorrio. — Claro que não.
— Vai querer ficar com nós duas sempre? — Choraminga, a voz
embargada, machucada.
— Não, gata. Só se você quiser — afirmo. — Eu só fiz ontem porque
você deixou, não faria se você não quisesse — sou sincero.
— Por quê? — Mais lágrimas descem por suas bochechas coradas.
— Porque pra mim você é a minha namorada, e por que... eu...
— Você...?
— Te amo — confesso, fazendo ela chorar ainda mais, emocionada. A
abraço, acolhendo-a em meus braços.
— Como sabe disso? Como sabe que me ama? Como saberei que não
está mentindo?
— Não está acreditando? Tudo bem, não te julgo, é difícil até pra mim,
demorei reconhecer, primeiro porque... nunca gostei tanto de alguém como
gosto de você. É estranho, sabe..., é forte, novo, tive certeza disso quando tu
fez tudo aquilo por mim, correndo perigo com a Suzy diante do Alex para me
ajudar, nunca uma garota foi tão longe por minha causa. Em poucos dias você
conseguiu me fazer te odiar, te admirar, e... te amar, é isso, não sei mais o que
dizer. Meu coração bate mais forte quando você está por perto.
Ela me beija, tomando um ar de felicidade incrível, abraçando-me.
— Que bom que me ama, porque senão... eu iria te matar! — Declara,
nos fazendo rir. — Eu também te amo, Erick... muito — declara, manhosa,
parecendo uma menininha carente, fazendo bico.
— Ah é? Como sabe disso? Como sabe que me ama? Como saberei que
não está mentindo? — Imito sua voz, ela gargalha.
— Para! — Pede, estapeando meu ombro de leve. — Eu sei que te amo
porque... sinto-me completa quando estou contigo. Porque... você foi o
primeiro garoto com quem sonhei casando...
— Casando? — Me surpreendo.
— Sim.
— É, acho que seremos um belo casal, podemos ter dois filhos e um
cachorro.
— Ainda não terminei — fico calado, esperando por ela. — Eu te amo
porque... você me tratou como gente, mesmo quando eu não merecia — ela
volta a chorar. — Ninguém nunca... sabe? Não sei mais o que faço sem você.
— Então fica comigo pra sempre, simples — proponho.
— E a sua mãe?
— Ela vai aceitar, já aceitou, ela e todos do hotel te adoram, seu brilho
contagia as pessoas. Você é a ladra que roubou o meu coração.
Kelly me beija outra vez, apaixonada, nosso beijo se torna intenso,
carregado de sentimentos.
— Promete que nunca mais vamos ficar com outra pessoa? — Pede,
enquanto nos deitamos no piso.
— Prometo.... Eu sou só seu, e você é só minha — digo, entre beijos,
enquanto me acomodo entre suas pernas.
— Promete que nunca vamos nos separar? — Ela geme, quando me
sente jogar sua calcinha para longe.
— Prometo — sussurro em seu ouvido, baixando a cueca e lhe
penetrando. Transamos outra vez.
Mais tarde, acordamos Suzy, decidindo ir curtir a praia, já que estamos
todos cheios da grana. Corremos pelo paraíso de Macapá, com águas em tom
verde-esmeralda, sorrimos, gritamos, brincamos, mergulhamos, nadamos,
andamos de lancha, e por fim, comemos uma bela refeição numa barraca à
beira-mar, matando a fome, repondo todas as energias. Alugo um kite e faço
manobras nas ondas enquanto as meninas me observam da praia. Corremos
até uma piscina natural distante, deixo elas me enterrarem na areia molhada,
ficamos horas à toa, felizes.

Estou em casa, no sofá, após refletir bastante em tudo que anda


acontecendo ultimamente. Maria entra pela porta, sentando-se ao meu lado.
— O que foi, Helen? Por que mandou me chamar no meio do serviço?
— Pergunta, curiosa e preocupada. — Aconteceu mais alguma coisa?
— Aconteceu — afirmo, séria, a assustando. — Pensei bastante, e
depois do que Erick fez, afastando o Alex de nós, percebi que ele está
preparado para saber a verdade sobre o pai. Vou contar tudo a ele, Maria, não
quero mais carregar o peso dessa mentira.
— Muito bem, minha amiga! Muito bem! — Maria segura minhas mãos,
vibrando, feliz com a notícia. — O nosso menino vai adorar descobrir que
tem um pai, e que ainda por cima está bem perto dele. Quando fará a
revelação?
— Assim que Victor e Laura retornarem de Barra Grande, o Edu me
disse que eles alugaram a nossa casa de veraneio e estão por lá esses dias,
meu sobrinho ficou aqui. Quero prepará-los primeiro antes de encontrarem
com o Erick, não quero soltar a bomba na frente do meu filho.
— Eu concordo, você está certíssima. É hora da verdade, minha amiga,
vai dar tudo certo, você irá conseguir — ela me apoia. Que Deus me ajude.

O céu está escuro, parece que vem uma grande tempestade, espero Tati
na praia de Atalaia, onde nos encontramos à primeira vez. Ela chega
silenciosa, abraçando-me por trás. Trocamos sorrisos, olho profundamente
em seus olhos, tomando coragem para lhe fazer a grande e catastrófica
revelação. É agora, não há mais como fugir.
— Tudo bem? — Ela pergunta, acariciando minha face. — Por que está
assim? Parece perturbado com alguma coisa — nota.
Permaneço em silêncio, buscando as palavras.
— A minha mãe... mudou, ela sabe que você está aqui, mas... não me
impediu de te ver. Isso não é fantástico? — Comemora, tão inocente. —
Apolo, meu amor, o que houve?
Uma lágrima escorre por meu rosto.
— Tati... eu te amo, mas... pra gente ficar junto, você precisa saber da
verdade — minha voz está embargada.
— Que... verdade?
— Existem muitas coisas que não sabe, muitas coisas que precisa saber
para que... possamos ter um relacionamento sincero.
— Estou ficando assustada — comenta, medrosa.
— Antes de tudo... quero que saiba que só vou te contar tudo, porque te
amo, e preciso do seu perdão.
— Perdão? — Ela não entende nada, fico em silêncio, o vento sopra
frio, ouço um trovão entre as nuvens. — Fala logo, Apolo — pede, nervosa.
Aos poucos as minhas palavras saem, conto desde o início, sobre como
conheci Érica, sobre o segredo que descobri dela, a forma que me manipulou
a fazer todas as merdas, e como cheguei a me envolver com Aline sem saber
que era a mãe de Tatiana. Gradativamente, Tati se destróis diante do que
houve, chora, leva as mãos à cabeça, horrorizada ao saber os segredos do seu
pai que era peça chave em toda essa história também.
— Não..., não... — choraminga, entrando em desespero. — Diz que é
mentira — implora.
Caio de joelhos no chão, derrotado, com o coração em pedaços.
— É verdade — quero morrer, meu sofrimento é imenso. — Me perdoa
meu amor... eu não sabia... não queria que fosse assim...
— Você é um monstro! — Exclama, decepcionada, arrasada. — Você
acabou com a minha vida, com a vida do meu pai! É tudo culpa sua!
— Não...
— Não quero te ver nunca mais, Apolo! NUNCA MAIS!
Ela libera um grito horrível e sai correndo, a dor que emana do seu
corpo me atinge com força. Levanto o rosto, vendo-a se distanciar numa
loucura terrível, olho para a direção oposta, avistando Aline, que parece estar
nos observando desde o início. A mulher chora, sem chão, ela sabia que isso
aconteceria, já esperava. Tati me odiará por toda a eternidade, não tem mais
volta. Aline corre atrás da filha, sinto que aqui se encerra a nossa história.
Caio na areia, chorando feito um bebê, o mar está revolto, começa a
chover com força, e tudo que quero é desaparecer, morrer para que essa dor
passe, para não sentir mais nada. Levanto, decido a pôr um fim em tudo isso,
pego um táxi de volta para o hotel, no caminho, faço a mensagem de
despedida no celular:

Pai e mãe, amo vocês, mas não consigo mais


viver. Preciso dar um fim em tudo isso.
Não se separem, sempre quis que estivessem juntos.
Adeus.

Entro no quarto todo molhado, pego um dos lençóis para usar como
corda. Subo em uma cadeira, prendo uma ponta no teto e a outra enrolo em
minha garganta, o mais acochado possível. Suspiro, tomando coragem, todas
as cenas terríveis do passado explodem na minha mente, chuto a cadeira,
ficando suspenso no ar, sufocando, tremendo os pés, sentindo a minha vida ir
embora, a minha visão escurecer. No último instante, lembro dos meus pais,
do quanto irão sofrer sem a minha presença, arrependo-me do que estou
fazendo em milésimos de segundos, mas já é tarde demais, apago.
Acordo com um impacto de doer todo o corpo, caí brutamente no chão,
o nó se desmanchou, devolvendo-me a vida. Busco o ar violentamente,
assustado, levando longos segundos para me dar conta do que está
acontecendo. Finalmente me recomponho, vendo a marca em volta do meu
pescoço no espelho, as lágrimas ainda descem, não sei o que fazer.
Saio do quarto, avistando uma mulher andando com uma sombrinha em
meio ao temporal. O guarda-chuva voa para longe com a força do vento, a
derrubando, meu instinto natural obriga-me a ajudá-la, já estou banhado
mesmo, um pouco mais de água não fará diferença. Corro, ajudando-a a
levantar.
— Moça, você está bem? — Exclamo, para que ela possa me ouvir,
finalmente miro seu rosto, que parece entrar em pânico ao me ver. Meu Deus,
não acredito. — Tia... Lorrana?
Um trovão ecoa estrondosamente pelo céu!
DO MESMO SANGUE

“Os três vão pagar caro por isso.”

Tia Lorrana me leva para sua casa, entramos molhados da chuva,


continuo abalado ao vê-la bem aqui, na minha frente, pois até então era
alguém que eu só via algumas vezes na tela do notebook do meu avô, além
dele ela só aceitava falar comigo. Após a mulher fechar a porta, seus olhos
encontram os meus, é simplesmente constrangedor, nunca cogitei este
acontecimento.
— Eu... vou pegar umas toalhas pra gente. Espere aqui, é rápido — diz,
completamente sem jeito, subindo a escada.
Suspiro, bestificado, incrédulo, tentando entender o que ela está fazendo
aqui, lembrando do grande sofrimento do meu avô por tantos anos com a
ausência da filha. Por que minha tia não voltou para casa, para o meu avô?
Não é possível que também esteja hospedada no hotel por acaso. Olho em
volta, isso aqui tem mais cara de casa mesmo do que de chalé para hóspedes,
a decoração é linda, praiana, leve.
Avisto alguns porta-retratos com a foto de um rapaz, aproximo-me, o
reconhecendo, é o Erick, o amigo que fiz aqui no Algas, em algumas imagens
ele está mais jovem, outras parecem mais atuais, em algumas está com a
minha tia, abraçados, comemorando aniversário. Eles são parentes? Ouço os
passos da mulher às minhas costas, ela trocou de roupa, pôs uma toalha no
cabelo, me entregando outra.
— Ele... é seu filho? — Pergunto, curioso, apontando para o Erick.
— Sim — responde.
Miro os porta-retratos outra vez, raciocinando.
— Então o Erick... é meu primo?
A mulher respira fundo, parece tomar coragem.
— Não..., ele é seu irmão — dispara, mais um trovão ribomba pelos
céus. Fico em choque.
— O quê? — Indago, impactado, sem entender nada.
— Acompanhe-me — me convida, sigo-a até a cozinha, nos
acomodamos na mesa — Essa história é longa, querendo ou não você faz
parte dela, é da família, e assim como todos, precisa saber da verdade.
Ponho a toalha nas costas, para me aquecer, após me servir com um café
quente, tia Lorrana passa a me contar sua longa história, fico mais surpreso a
cada palavra que sai da sua boca. É impressionante e ao mesmo tempo...
assustador. Ela resume tudo, mas faço várias perguntas para entender, no fim,
acho-a uma verdadeira maluca.
— Eu não sei... o que dizer — murmuro, minha voz quase não sai, meu
coração está acelerado. — Então meu pai não sabe do Erick?
— Ainda não, mas saberá assim que voltar com a sua mãe, chega de
segredos — diz, enxugando os olhos
— Meu Deus, ele e a minha mãe vão pirar — reflito.
— Tenho mais medo da reação do meu filho, é com ele que me
preocupo, é por ele que estou fazendo isso.
— Se eu fosse o Erick, e descobrisse que sou fruto de um... estupro, iria
te odiar. Porque... se a senhora fez sexo sem o consentimento e ciência do
meu pai, foi um estupro — concluo, abismado.
Mais lágrimas descem pelo rosto dela, contudo se mantém firme.
— Eu sei, eu errei..., me deixei levar por um desejo de vingança, e
depois agi da forma que achei menos prejudicial a todos, mas acabei afetando
o meu filho. Eu só quis... protegê-lo — choraminga, desmoronando.
Respiro fundo, parece até que me falta o ar. Meço as palavras, penso em
dizer merda, mas me calo, lembrando das cagadas que fiz até aqui, as mesmas
que minutos atrás me fizeram atentar contra a minha própria vida. Não sou
melhor que ela, não posso julgá-la.
— Desculpa, tia — peço, pensativo — Não estou aqui para te julgar, eu
não tenho gabarito para julgar ninguém. Apesar de ser jovem, já errei muito
nesta vida. Só estou surpreso, é... muita novidade. Imagina descobrir ter um
irmão assim, do nada, é no mínimo chocante.
— Obrigada... porque pra mim também não foi nada fácil conviver com
esta culpa — ela volta a ficar um pouco mais calma. — Esta história é muito
mais longa, e tem centenas de pormenores, alguns deles que você não sabe,
que devo falar apenas ao seu pai e à sua mãe, que são as peças dessa história
ao meu lado.
— Certo. Nem sei se quero saber de todos os pormenores, é tudo muito
louco — rio de nervoso, ela também.
— Obrigada outra vez. Olha... sei que você já conhece e já falou com o
Erick, quero que me prometa que não falará nada a ele, eu mesma direi, mas
ante tenho que preparar o Victor.
— Prometo que não falarei nada — afirmo, ela ri fragilmente.
— O que achou de descobrir que tem um irmão?
— Quer que eu seja sincero? Sempre quis ter um irmão — revelo, ela ri
com mais naturalidade, é como um alívio, me fazendo perceber que seu maior
medo é que Erick seja rejeitado. — Acho que nos daremos bem, já gosto
dele.
— Acredito que sim — ela diz, imaginando. — Sempre pensei em vocês
dois juntos, sempre quis saber sobre você, meu sobrinho lindo — acaricia
meu rosto com afeto.
Nós conversamos sobre mais algumas coisas, já estamos há umas 2h
aqui, a chuva cessa, e quando decido ir embora, Erick aparece.
— Apolo? O que está fazendo aqui, cara? — Ele pergunta, curioso,
troco olhares com tia Lorrana.
Olho para Erick sem saber o que dizer, o vendo com outros olhos agora,
é tão surreal o fato de sermos irmãos. Sua mãe também se mantém calada,
nervosa, agora que sei da verdade, a coisa fica mais tensa.
— E aí? — Indaga ele. — Vocês vão continuar me olhando com essas
caras ou vão me responder?
— Eu... vim te procurar, Erick — minto.
— É, ele veio te procurar, meu filho, mas no caminho pegou chuva junto
comigo, e acabou ficando aqui, esperando passar — completa a mulher.
— Mas a chuva já acabou faz um tempo — observa Erick.
— Mas... nós ficamos conversando, não posso conversar com os seus
amigos?
— Claro que pode, mãe, só estranhei, mas de boa, seja bem-vindo à
minha casa, mano! — Me cumprimenta, feliz, está sempre feliz,
diferentemente de mim.
Ficamos calados por alguns segundos, não consigo parar de olhá-lo,
agora vendo muito do meu pai nele. É fascinante!
— Erick, você não queria mais voltar pra casa, meu filho, passou o dia
inteiro fora! — Minha tia engata uma conversa.
— Eu estava na casa do Ramon, mãe — responde ele, jogando-se no
sofá, sorrindo, os olhos brilhando como se tivesse voltado do paraíso.
— Ah..., eu já vou — faço menção em ir até a porta.
— Como assim já vai, cara? Não veio me procurar?
— Ah, é verdade, não era nada importante — tento despistá-lo.
— Vamos para o meu quarto, lá poderemos conversar sem os olhos da
minha mãe por perto — ele passa o antebraço pelo meu pescoço, levando-me
para a escada — Mãe, não venha ouvir atrás da porta, hein!
— Me respeita! — Ela retruca, olho-a uma última vez, tentando lhe
passar segurança.
— Seja bem-vindo ao meu cafofo! — Diz Erick, ao adentrarmos no
cômodo que é bem jovial.
— Que organizado — comento
— Foi a Kelly, antes dela dormir aqui isso era uma bagunça.
— Aquela loira? É a sua namorada, né.
— Sim, apenas não formalizamos isso ainda, mas ela já sabe que é
minha. Cara, é engraçado, ela chegou de repente, bagunçando toda a minha
vida, mas foi ficando, ganhando o meu respeito, e agora eu estou...
— Apaixonado — completo, deixando ele sem palavras.
— Nossa, está tão na cara assim? Hoje me declarei para ela, foi a
primeira vez que me declarei para uma menina na vida. Eu tô fodido... — ele
ri, fingindo lamentar.
— Por quê?
— Cara, eu nunca tive nada a sério com ninguém, sempre fui de todas e
todas foram minhas, e não me importava com sentimentos. Só queria comer e
sair batido — gargalhamos. — Não podia ver um rabo de saia, mas agora...
Kelly apareceu e me dominou! — Ele leva as mãos ao rosto, fingindo chorar,
fazendo-me rir. — E agora Jesus? Preciso de uma resposta! Serei capado? Oh
pai, falai com este teu servo pecador. É a xereca da loira pra sempre agora?
Gargalho alto, doendo a barriga de tanto rir. Ele é muito bom! Mas ao
lembrar da minha situação, volto a ficar sério.
— Cara, a única coisa que posso te dizer é: cuida bem dela, cuida
mesmo, tenta não enganar, não mentir, porque se perdê-la vai sofrer bastante
— minha voz sai entristecida. Erick percebe.
— E você? Como vai com a namorada? Era sobre isso que queria falar
comigo?
Fico alguns segundos calado, pensando em desabafar, Erick me passa
confiança, e agora que sei que ele é o meu irmão, sinto-me mais próximo
dele. Sentamos na cama.
— Eu fiz muita merda com ela, cara — conto. — Hoje contei tudo o que
aprontei, ela... fugiu — sinto vontade de chorar. — Eu a amo, mas o que fiz
não tem volta, não dá para concertar..., ela nunca vai me aceitar outra vez —
desabo, chorando.
— Mano... — ele desiste de falar, passando o antebraço por meu
pescoço outra vez, consolando-me. — Nunca passei por isso, até porque é a
primeira vez que estou gostando de uma gata de verdade, mas... vai dar tudo
certo, você vai conseguir superar — me consola.
Sorrio, fungando, achando-me imbecil por fazer essa cena.
— Obrigado, cara. Desculpa, eu não devia estar te ocupando com meus
problemas — digo, levantando.
— Cara, amigos são pra isso, sei que nos conhecemos a poucos dias,
mas já te considero — afirma, passando uma energia boa. — Sabe do que
você precisa? De uma cervejinha gelada para ajudar a superar esta fase.
— Eu não bebo — afirmo.
— Só uma vez não vai fazer mal, tenho certeza que você ficará bem
melhor depois, vai por mim — diz, confiante.
— Sua mãe deixa você beber?
— Claro que não, mas também não consegue me impedir. Escondi umas
cervejas na geladeira, fica aqui, volto já — ele sai pela porta, retornando
minutos depois com um isopor repleto de latinhas e gelo, me impressionando.
— Minha mãe foi trabalhar, agora sim poderemos ficar à vontade.
— Erick, para quê tudo isso? Você é louco? — Pergunto, chocado.
— Ah, não se assusta, não, é só para eu não precisar ficar descendo toda
hora — diz, despreocupado.
Os minutos vão passando e as latinhas secando, bebo mais do que o
esperado. Erick põe músicas de sofrência para tocar, nos divertimos, falando
de mulher, de jogos e outras coisas mais. Aos poucos esqueço Tati, o
passado, todas as coisas ruins, entregando-me à gargalhadas sem fim, pois
Erick é um verdadeiro palhaço. Ele seca uma lata atrás da outra, porém se
mantém sóbrio, muito diferente de mim, que já estou mais pra lá do que pra
cá.

Estou deitado na cama de um motel de quinta categoria na beira da


estrada, desolado, após perder tudo, meu dinheiro e principalmente a minha
menina, o meu amor. Dentro de mim uma voz alerta que há algo de errado,
que foi tudo muito rápido e perfeito demais. Lembro de tudo que aconteceu,
parte por parte, desde o momento em que acordei naquela casa, deparando-
me com Kelly morta de um lado e Suzy com a arma do crime do outro.
“— Podemos enterrá-la no fundo do quintal e dar o fora daqui!
— Não... aqui é muito perto, ela morava aqui! Não dá certo... temos que
pensar em outro lugar.”
Lembro da conversa com Suzy durante o acontecido.
— Por que ela achava que a Kelly morava lá? — Me pergunto,
raciocinando. — Como podia afirmar isso com tanta certeza?
Foi ela que me induziu a esconder o corpo no casebre, onde Erick já
estava me esperando! Onde está o corpo?
— Filhos da mãe... — concluo o óbvio, fui engando! Levanto
imediatamente, vou para o carro, pegando o caminho de volta para Luís
Correia ao cair da noite.
Os três vão pagar caro por isso.
Estou na cama com a minha amada, após mais um sexo incrível,
transamos enquanto chovia. Agora estamos agarradinhos, pelados,
transpassando calor um para o outro.
— Victor — Laura me chama, com a voz doce, acariciando minha mãe.
— Sim — a respondo.
— Preciso te dizer que... eu nunca consegui ser feliz ou me sentir
realizada com outra pessoa como me sinto ao seu lado. Durante a nossa
separação, tentei me enganar, esquecer do quanto amava você, mas não
adiantou. Eu te amo, me perdoa por não ter acredito na sua versão da história
— pede, acariciando meu rosto.
— Shhh — toco seus lábios com o dedo indicador. Nossa troca de olhar
parece infinita.
— A nossa separação me machucou muito... e me fez esquecer dos meus
sentimentos por você, porém bastou sua presença de volta que lembrei que o
nosso amor é sinônimo de universo.
Ela ri, encantada, me abraçando forte, chorando em silêncio.
— Sem você eu não vivo — declara, nos beijamos gostoso.
— Quero ter mais um filho com você — revelo, arrancando-lhe um
sorriso de concordância.
— Tudo bem.
— Tudo bem mesmo?
— Por que não? Sempre desejamos mais um, e eu estou ficando velha,
então temos que correr.
— Você está ótima, é a minha gostosa chique — vou para cima dela,
fazemos amor outra vez.
No dia seguinte, acordamos bem cedo, envio mensagem ao nosso filho,
avisando que estamos voltando para o Algas. Quero saber como foi a
conversa dele com Tatiana, tomara que meu garoto esteja bem. Ao
estacionarmos na frente do nosso chalé, para a nossa surpresa, Apolo está nos
aguardando na porta.
— Oi, meu filho — diz Laura, descendo do carro, eles se abraçam.
— Oi mãe, como foi de viagem? — Indaga.
— Foi ótimo, e estes olhos vermelhos?
— Dormi tarde.
O abraço também.
— O que ‘tá fazendo aqui fora, Apolo? — Pergunto.
— Esperando por vocês.
— Nossa, que filho maravilhoso nós temos — brinca Laura, acariciando
o rosto dele.
— Então me ajude com as malas, amanhã retornamos para Teresina —
faço menção rumo ao porta-malas.
— Nós não vamos embora amanhã, pai.
— Por quê? — Laura fica curiosa, assim como eu.
Apolo respira fundo e responde:
— Vocês precisam me acompanhar agora, tenho que mostrar uma
pessoa a vocês — o garoto nos puxa pela mão, não entendemos
absolutamente nada.
Somos levados até uma casa, ele mesmo abre a porta, nos fazendo
entrar.
— O que estamos fazendo aqui, Apolo? — Indaga Laura, estranhando.
— Eu estive aqui, tive uma impressão errada da dona da casa.
— Apolo, fala logo quem é essa pessoa — peço, curioso, estranhando
seu comportamento enquanto observo o espaço.
— Victor... olha — Laura está parada em frente a uma mesinha repleta
de porta-retratos, bestificada, observando um deles em específico.
Miro a imagem da mulher de cabelos dourados como os dela,
reconhecendo a pessoa, é inacreditável!
— É a... Lorrana — digo, admirado.
Ouvimos passos às nossas costas, alguém desce pela escada, é ela,
Lorrana, ressurgindo das cinzas.
MEDO

“Que tal brincar de morrer de verdade agora?”

Ficamos boquiabertos, sem reação, congelados diante de Lorrana que


nos encara temerosa. Sou invadido por milhares de lembranças de anos atrás,
não sei o que dizer, o que fazer, é como se eu estivesse vendo um fantasma.
Laura está completamente emocionada, em choque, com os olhos em
lágrimas, sua irmã reaparece após tantos anos.
— Oi Laura, e... Victor — ela diz, engolindo em seco, de rosto erguido,
tentando manter o olhar em nós, parece envergonhada, medrosa, controlando
o nervosismo.
Laura corre até ela de repente, a abraçando muito forte, gemendo alto,
em um pranto que ecoa pela casa, é um abraço de muita saudade, amor e
carinho. Lorrana fica estática, ela não esperava por essa atitude, mas
corresponde a irmã, chorando em resposta. No toque delas, é possível ver o
quanto sofreram separadas, dá para notar a saudade gritando. Lorrana sumiu
em um momento crítico das nossas vidas, ela me amou, mas eu amava Laura,
fizemos uma espécie de triângulo amoroso onde todos saíram machucados,
um jogo sujo do qual não me orgulho.
Apolo sai de fininho, deixando nós três sozinhos, pergunto-me se não
estou sobrando aqui, afinal, é um assunto de família e por mais que eu tenha
me envolvido com Lorrana, não temos laços de sangue. Estou cheio de
dúvidas, tenho curiosidade sobre onde ela esteve todo esse tempo, para mim
ela é uma pessoa boa que apenas se deixou levar pelos sentimentos intensos,
éramos jovens inconsequentes, tivemos os nossos erros um com o outro.
Tento sair, mas sou impedido.
— Victor, por favor fique, preciso conversar com vocês dois — diz
Lorrana, fazendo-me voltar surpreso, todos sentamos, eu com a gostosa
chique em um sofá e a loira dois no outro.
— Onde você esteve? — Laura faz a pergunta que não quer calar, com
as bochechas coradas, ainda enxugando os olhos marejados.
— Aqui... bem aqui — responde Lorrana, uma lágrima ainda molha a
sua face.
— Por que foi embora?
— Porque eu precisava. Nós três... — ela desvia o olhar para mim —
éramos tão jovens quando tudo aconteceu. Fiz uma loucura... para me vingar
dos dois, mas depois me arrependi, só que já era tarde demais.
— Do que está falando? — Quero entendê-la.
— Eu te amava, Victor, toda errada, mas te amava, só que você amava a
Laura. Eu aprontei com ela, e ela pediu a sua ajuda para aprontar comigo... —
choraminga, relembrando. Laura abaixa a cabeça, sabemos que é verdade. —
Só que nenhum de nós levou em conta os sentimentos, eu me apaixonei por
você e vocês se apaixonaram um pelo outro. Quando descobri a verdade
fiquei louca de raiva, de ciúmes! Naquela época, na minha cabeça Laura
estava vencendo outra vez, ela sempre vencia, então prometi vingança.
— Minha irmã — Laura está desolada. Meu coração bate forte, sinto
que uma bomba irá explodir.
— Depois que vocês foram atacados por aquela louca e foram para o
hospital... eu invadi o seu quarto, Victor. Você estava meio dopado pelos
remédios que os médicos te deram, se recuperando do tiro que levou, mas...
mesmo assim, consegui fazer... sexo contigo
Laura me olha confusa e surpresa, mas não estou tão diferente dela.
— Comigo? — Não consigo lembrar deste episódio.
— Sim..., você achou que estava sonhando com a Laura, eu fui embora
depois de conseguir o que queria.
— O que você queria, Lorrana? — Laura está com medo.
— Um filho — confessa, mirando os porta-retratos, sigo seus olhos,
reconhecendo o garoto feliz que está em muitos deles. Sou arrebatado por
uma sensação estranha e visceral. Olho para Lorrana sofrendo, volto a olhar
para as fotos do garoto, meus olhos enchem de lágrimas, uma ideia
impossível invade a minha mente.
— O Erick... é o meu... filho?
— Me perdoa... eu não sabia o que estava fazendo, o que estava
pensando... agi por impulso — ela está arrasada.
— Agiu por impulso? — Indago, abismado. — É isso que está me
dizendo? Está brincando comigo?
— Não..., é verdade. Naquela época achei que um filho poderia fazer
você ficar comigo e se separar da Laura. Eu te entreguei a minha virgindade,
estava louca apaixonada — choraminga, me deixando sem chão. Troco
olhares com Laura que não sabe o que dizer, é algo tão inimaginável que até
parece mentira! — Só que no dia seguinte me arrependi, soube que Laura
estava grávida de você, percebi que jamais teria espaço de verdade em seu
coração. Mas os dias se passaram, descobri que também carregava um filho
seu, entrei em desespero, precisava sumir, então inventei aquela viagem para
Nova Yorke.
“Os meses passaram rápido, por três vezes fiquei diante dos remédios,
pensando em abortar, mas não tive coragem... Decidi ir a uma clínica
especializada nessas coisas, porém antes do procedimento começar, Deus...
pareceu falar comigo, tive um ataque de nervosismo e saí correndo de lá,
desesperada... eu não era uma assassina!”
Nós três choramos, enquanto Lorrana conta a sua trajetória de vida.
— Aquele bebê mexeu na minha barriga, falou comigo..., consegui ouvi-
lo! Não poderia fazer aquilo! Me senti perdida, sozinha..., por vezes liguei
para o papai e para a mamãe, quis contar a verdade, mas aí ficava sabendo
das novidades, do Apolo que estava para nascer, do casamento de vocês...
Como contar o que tinha feito? Como?! Resolvi que quando o neném
nascesse, iria dá-lo para adoção, pois na minha cabeça eu não tinha como
criá-lo, não me via como uma mãe, não saberia o que fazer. Só que senti as
dores cedo demais, Erick decidiu vir antes do esperado, foi uma luta até eu
conseguir chegar no hospital, achei que iria morrer, achei que não
conseguiria.
“Lembro-me... que a médica perguntou aonde estava o pai, mas não
soube o que responder... apenas sabia que era a vida batendo na minha cara e
me mostrando as consequências das minhas atitudes. Quando Erick nasceu,
todos os meus planos de se livrar dele foram por água abaixo... eu me
apaixonei pelo meu filho, o amei desde o primeiro momento em que ouvi o
seu choro! Era o meu filho!
Volto a mirar os porta-retratos, é inacreditável demais, loucura demais,
estou profundamente tocado!
— Ele ficou na incubadora por algum tempo, e eu passei por várias
dificuldades enquanto aprendia a ser mãe. Depois papai me ligou contando
do nascimento do seu netinho, Apolo... foi quando descobri que ele e Erick
nasceram no mesmo dia. Isso devia querer significar alguma coisa, não é?
Após dois anos criando desculpas para não voltar pra casa, me escondendo de
vocês, mesmo sabendo que o certo seria contar a verdade... mamãe,
desconfiada, veio me fazer uma visita surpresa. “De quem é esse menino
negro?” Ela me perguntou, tive que contar toda a verdade.
“Ela ficou revoltada com a história de nós três, nos odiou, e até
amaldiçoou o Erick. Cuspiu na minha cara, disse que tinha nojo de mim e da
Laura, que éramos... putas, porque engravidamos do mesmo homem... e que
se vingaria do Victor. Falou que eu jamais deveria voltar a Teresina com o
meu filho, que papai me renegaria pelo que fiz, que vocês dois já estavam
casados e que ela não seria submetida a esta vergonha diante da sociedade,
com dois netos negros e do mesmo vagabundo — Ficamos chocados, a coisa
só piora. Velha desgraçada!
“Mas o pior veio em seguida... eu me irritei com tudo o que ouvi, joguei
na cara dela que sempre preferiu a Laura, que sempre fui jogada para
escanteio, crescendo à sombra da minha irmã, que nunca fomos tratadas
iguais, e foi quando... ela revelou que isso seria impossível, porque eu era...
adotada — a voz de Lorrana fraqueja, lembrando, seu rosto está vermelho de
tanto chorar.
— O quê? — Laura não consegue acreditar, está sem chão.
— Sim, nós não somos irmãs.
— Não...
— Lembra quando eu perguntava por minhas fotos de bebê para os
nossos pais?
— Eles diziam que haviam perdido. — Responde Laura, recordando,
abismada.
— Eles só tinham as suas, foi quando, desde criança, comecei a pensar
que não era tão importante quanto você. Leonor revelou que papai me adotou
de uma família carente que morava no litoral do Piauí, aqui, na praia do
Coqueiro. A minha família passava necessidade, Rivaldo me viu e se
apaixonou por mim, meu pai biológico me entregou a ele para que eu não
morresse de fome. Após revelar a verdade, Leonor reiterou que me queria
bem longe de Teresina para sempre, que nunca me considerou como filha de
verdade e agora ainda menos com o Erick, falou que Rivaldo me adotou por
pena e que me renegaria se eu voltasse pra casa com aquele menino. Fiquei
sem chão, mas antes dela ir embora a obriguei a falar o nome do meu pai
biológico.
“Alguns meses depois, decidi saber mais sobre a minha origem, voltei
para o Brasil secretamente, para o Piauí, para a praia do Coqueiro. Bastou um
olhar do meu pai verdadeiro para me reconhecer como sua filha, só havia ele,
minha irmã gêmea e mãe biológicas faleceram num acidente de carro. Ele
contou que não havia outra opção, ou me dava para ser adotada ou eu
morreria de fome. Falou que procuraram por mim durante anos, mas nunca
me encontraram, mostrou as provas do quanto procuraram por mim e como
nunca me esqueceram. Pediu para que eu ficasse, para que eu fosse junto com
Erick, a sua nova felicidade diante de tanta tristeza.”
“Resolvi recomeçar aqui, ao lado do meu verdadeiro pai, vi isso como
uma nova oportunidade que Deus estava me dando. Usei o resto de dinheiro
que eu tinha e investi numa pequena pousada que hoje se tornou este hotel.
Aqui eu recebi o amor que sempre busquei, que sempre precisei. Os anos se
passaram, o meu medo de voltar e contar toda a verdade sempre foi maior,
pois eu também temia que o Erick fosse preterido como eu fui.
— O nosso pai sempre nos amou igualmente, Lorrana! — Rebate Laura.
— E eu sempre te amei também, mas... a mamãe às vezes nos colocava uma
contra a outra, e você começou a me odiar gratuitamente.
— Eu sei, é verdade, eu descontava o meu ódio em você. Mas aqui
encontrei um novo lar, entende? Encontrei abrigo, me escondi do mundo, de
vocês, mudei até de nome, assumi o meu nome de batismo, o qual recebi
quando nasci, Helen.
— E o que você disse ao Erick sobre mim? — Pergunto, machucado.
— Absolutamente nada — confessa, abaixando a cabeça, as lágrimas
despencando — Menti pra ele a vida toda... disse que o pai morreu em um
acidente, pouco tempo depois que ele nasceu.
Levanto, indo para a janela mais próxima, tentando respirar direito,
enxugando os olhos, pensando em toda essa confusão, lembrando do passado,
do que fiz a ela, do nosso envolvimento até chegar aqui, do que ela passou.
Sou um misto de ódio com... compaixão.
— Eu tive medo, Victor — Lorrana continua, aos soluços. —
Principalmente de você rejeitar o Erick... você não me amava, e estava feliz
com a Laura, com o Apolo. Eu não queria estragar isso, não queria ser o pivô
da separação de vocês, transformar a catástrofe que criei em algo ainda
maior. O Erick foi crescendo... a mentira também, tive medo do meu filho me
rejeitar, de me julgar, de não me entender.
Permaneço em silêncio, com o peito doendo pra caralho
— Minha irmã... você teve os seus motivos... você não quis proteger
somente a você e ao Erick, mas também a nós. Pensou em mim, no Victor e
no Apolo — fala Laura, entendendo a outra. Também a entendo, mas é
chocante mesmo assim. — Você não vai falar nada, Victor? Ela se
arrependeu, assim como nós nos arrependemos do que fizemos a ela. Todos
erramos, não podemos julgá-la.
— Eu não vou te julgar, Lorrana — digo, olhando-a nos olhos. — Sei do
que fiz também, mas... agora não dá pra falar. Preciso de um tempo para
digerir tudo isso. Só me diz uma coisa..., cadê o Erick?

Saio de casa cedo, dando as velhas desculpas à minha mãe. Depois que a
surpreendi resolvendo seu problema com Alex, percebi que ficou mais de boa
comigo, que agora confia mais em mim. Chego à casa de praia com Ramon,
pegando Kelly e Suzy, que sentam no banco de trás, sorridentes, de biquíni,
envolvidas em saídas de praia, superamigas, todos estamos de óculos escuros.
— E aí, estão preparadas para o nosso passeio de despedida? —
Pergunto a elas, enquanto dirijo.
— De despedia? — Indaga Ramon, ao meu lado.
— É, cara, a Suzy vai embora amanhã — o informo.
— Embora? Pra onde?
— Para algum lugar fora do Brasil, onde eu possa me reencontrar.
— Legal, e você Kelly? — Ramon está curioso.
— Pergunta pro Erick — ela me provoca, trocamos olhares pelo
retrovisor. Suzy e Ramon fazem graça, zoando da gente.
— Kelly vai ficar comigo... para sempre — afirmo, é o estopim para
Ramon me tripudiar com tanta zoação, ele ri que dói a barriga.
— MEU DEUS, EU NÃO ESTOU ACREDITANDO! — Ele grita,
exagerado.
— Ai que fofinho vocês, quero ser a madrinha — Suzy se derrete,
abraçando a amiga que está pior que manteiga na frigideira.
— Chega, vamos logo pro Delta! — Acelero, tentando calá-los, mas é
impossível.
Ao chegarmos no Porto dos Tatus, que por sinal está repleto de gente
para tudo que é lado, com barcas zarpando cheias de turistas, escolho uma
lancha maravilhosa para passearmos, de grande porte, maior do que qualquer
outra aqui, de proa aberta com almofadas para deitar.
— Velho, vou ao banheiro rapidinho — avisa Ramon, enquanto ajudo as
meninas a subirem no barco.
— O.K., mas não demora — digo, vendo-o sumir de vista.
Mas os minutos se prolongam e nada dele voltar, todos ficamos
impacientes, pois queremos aproveitar o dia.
— Porra, cadê o Ramon? — Me pergunto, ligando para ele, puto com a
sua demora.
— E aí, garoto? Tenho outros clientes na fila, estou perdendo tempo —
o capitão me apressa.
— Espera só um pouco — ligo para Ramon outra vez. Será que ele viu
alguma gatinha e se distraiu?
— Erick, vem logo, o Ramon pode pegar outra lancha e nos alcançar —
Kelly está certa.
— Então vamos — confirmo, enviando uma mensagem ao Ramon. A
nossa lancha zarpa pela imensidão do rio, por suas águas amarronzadas,
caudalosas, fortes. Deito com as garotas nas almofadas da proa, batemos
papo enquanto desfrutamos da linda paisagem.
— Ah, que lugar lindo — Kelly se surpreende. — Quais são os animais
que constituem a fauna daqui?
— Macacos-prego, — respondo — guarás, jacarés-tinga.
— Ai, morro de medo de jacaré, que bicho feio.
— Kelly, passa protetor nas minhas costas, por favor — pede Suzy, elas
se protegem com o creme. Peço para Kelly passar o protetor em mim
também, Suzy se afasta para pegar um pouco de bronze, nos deixando à
vontade.
Agarro a loira, trocamos sorrisos e beijos molhados, rolando nas
almofadas.
— Quer dizer que eu ficarei com você para sempre? Você promete? —
Ela pergunta, encantada, feliz.
— Prometo. Você quer?
— Eu quero, quero muito! Amo você!
— Também te amo! — Nos beijamos outra vez, agarro ela todinha, tê-la
só de biquíni em meus braços é uma tentação. Ela sente a minha ereção,
vendo a protuberância em minha sunga, me olhando saliente, mordendo meu
lábio inferior.
— Aqui não, safado.
— Eu não consigo controlar, você me deixa louco! — Rosno, ela
gargalha, mas me controla.

Paro em um canto escondido na frente do hotel, esperando algum sinal


daquele moleque para poder confirmar se minhas suspeitas são verdadeiras.
Vejo seu carro saindo pelos portões, o sigo até uma casa de praia em Macapá,
onde concluo que tudo é verdade, a vagabunda da Kelly está viva e Suzy está
com eles. Choro de ódio com esta cena, pegando meu revólver no porta-
luvas, quero acabar com eles! Mas antes preciso recuperar o meu dinheiro.
Como Suzy foi capaz de me enganar dessa forma? Ela me traiu e vai
pagar! Os sigo até o Porto dos Tatus, os observo de longe, vendo-os entrarem
em uma lancha, mas o amigo de Erick se afasta, resolvo ir ao seu encontro.
Entro no banheiro, o garoto está lavando as mãos, assustando-se quando me
vê pelo reflexo do espelho. Saco a arma, o intimidando e pedindo silêncio
com o dedo indicador.
— Alex? — Ele dá passos para trás, até bater contra parede, estamos
sozinhos.
— Ah, então você me conhece? Era você um dos mascarados que estava
com o Erick naquele dia em que me amarraram? — Ponho o cano da pistola
bem próximo da sua testa, fazendo-o tremer de medo.
— Por favor não me mata — implora.
— Para onde aquele moleque está indo com as vadias?
— Eu... não sei — como é ousado, ainda tem coragem de mentir.
— Onde está o meu dinheiro? — Rosno, irritado.
— Não sei do que está falando...
Acerto sua cabeça com o cano do revólver, fazendo-o cair sangrando,
desfalecido. Não perderei tempo com ele, desse mato não sairá cachorro. O
arrasto pelos cabelos, o jogando dentro do box, fechando a porta. Seu celular
toca antes que me afaste, é o Erick, penso em atendê-lo, mas pensando bem, é
melhor não, ele é muito esperto, pode escapar de mim se souber da minha
presença, é melhor pegá-lo de surpresa.
O celular chama outra vez, enquanto saio do banheiro, até que chega
uma mensagem, Erick avisa para qual ilha está indo, me fazendo rir satisfeito,
um lugar deserto é tudo o que eu quero. Pego uma lancha sem o
consentimento do dono, e saio disparado antes que ele perceba, atrás do trio.
Os encontro na ilha citada, vendo-os deixar o barco e correr pelas dunas,
sumindo de vista. Aproximo-me da lancha, fazendo-me de amigo para o
capitão que aguarda os clientes voltarem da diversão, dou-lhe um golpe de
surpresa, o apagando e o amarrando em seguida. Caminho pela ilha, com
sangue nos olhos, encontrando as garotas se divertindo, nadando numa
piscina natural ao lado de Erick, malditos.
Aponto a arma para eles, os pegando de surpresa.
— Que bonito — sou sarcástico, eles saem da água assustados —
Bravo! Bravo! Vocês conseguiram me fazer de idiota direitinho... mas agora
acabou a palhaçada! — Aviso, cheio de ódio.
— Alex... — Suzy tenta falar.
— Que tal brincar de morrer de verdade agora? — Pergunto.

Até que meu reencontro com o passado está sendo menos catastrófico do
que imaginei, Laura e Victor estão sendo maduros, no fundo eles sabem que
também contribuíram para toda essa confusão. Porém sei que a culpa maior é
minha, não estou me vitimando, só contando o que me trouxe até aqui. No
fim, a verdade está sendo libertadora.
Victor, apesar de preferir se manter calado, pensando no que dizer
enquanto observa os retratos do novo filho, não me surpreendeu tanto quanto
Laura, que mudou bastante assim como eu. Converso com ela em um
cantinho afastado, explicando-lhe os pormenores, em nenhum momento a
minha irmã se demonstra afetada com a descoberta de Erick.
— Nós sofremos tanto com o seu desaparecimento — comenta ela.
— Sinto muito, mas foi o caminho que escolhi seguir, não sei se foi o
melhor ou pior, de qualquer forma... todos sofremos. Perdão — peço,
cabisbaixa.
— Eu que te peço perdão. Sinto que tenho uma parcela de culpa em tudo
isso... foi o que me matou por dentro em todos esses anos. A dor da sua
ausência... me consumia — revela, deixando uma lágrima escapar. — A
mamãe é cruel.
— Dela eu não senti saudades, não mesmo, já de você e do papai, senti
bastante. Porque apesar de brigarmos tanto, eu te amava, você era a minha
referência — nos abraçamos outra vez. — Mas o pior ainda está por vir.
— Pior?
— O Erick... ele não vai me perdoar — reflito, arrasada.
— Talvez ele entenda.
— Não mesmo, ele sempre sonhou em ter um pai, sempre sentiu falta,
parece até que sentia que o seu estava vivo, e eu sempre mentindo.
— Vai dar tudo certo, quero muito conhecer o meu sobrinho — ela tenta
me animar.
— Laura..., você não ‘tá com raiva de mim?
Laura fica em silêncio por alguns segundos e respira fundo, desviando o
olhar marejado.
— Há alguns anos, eu e Victor nos separamos, foi armação da mamãe.
Resumindo: não acreditei nele, na sua índole, e quase o perdi. Nós voltamos
agora, aqui, nesta viagem, após saber da verdade. Não posso ficar com raiva
sabendo que no passado também não fui fácil, não quero mais brigar, já sofri
demais, todos nós sofremos. Só quero paz daqui para frente, entende? Eu te
compreendi, você agiu conforme as circunstâncias, foi uma guerreira, errou,
mas se arrependeu, assim como eu e Victor nos arrependemos.
— Obrigado por isso, minha irmã — seguro sua mão, sorrindo. — Mas
ele ainda está tentando engolir essa situação — ressalto, observando Victor
abalado.
— Victor é um pouco tinhoso, mas o coração é mole, vamos dar tempo a
ele.
Ouço meu celular chamar, o encontro em cima da mesinha, o atendendo.
— Alô?
— Tia Lorrana, é o Ramon! — O garoto parece desesperado.
— Ramon, o que houve? — Pergunto, preocupada.
— É o Alex, ele veio atrás do Erick!
— O Alex?! — Fico nervosa, chamando a atenção de Victor e Laura. —
Onde vocês estão? Cadê o meu filho?
O MONSTRO

“Eu mal conheci o garoto... e já posso perdê-lo”

Estou com muito medo, sinto que algo de ruim vai acontecer. Como
Alex nos encontrou? Olho ao redor rapidamente, não vejo ninguém, nenhuma
alma viva além de nós, estamos vulneráveis, à mercê deste louco armado.
Erick se interpôs em nossa frente, está protegendo a mim e à Suzy como um
escudo, sem medo algum, e isso é o que mais me preocupa, pois os poucos
dias que passei com ele foram o suficiente para conhecer seu espírito rebelde.
Meu coração bate pesado, acelerado, fico tensa assim como Suzy,
enquanto Erick parece planejar alguma coisa.
— Todo mundo pro barco! Vamos dar um passeio! Agora! — Ordena
Alex, fazendo movimentos bruscos com a arma, nos assustando, ele está
totalmente desequilibrado, tenho medo da pistola disparar de repente.
— A gente não vai a lugar nenhum contigo, Alex — responde Erick,
sério, desafiador, fazendo meu peito doer. Alex ri, sarcástico.
— Você ainda tem coragem de teimar comigo, moleque?! Foi tudo ideia
sua, né?! Tentou acabar com tudo o que eu tinha, mas hoje vou recuperar —
ele fita Suzy — Já o seu fim, Erick, será no fundo daquele rio, para ninguém
te encontrar. Então por isso, CAMINHA AGORA! — Berra, furioso.
— Erick..., vamos — sussurro, medrosa, pondo a mão em seu ombro.
Ele vira para mim sério, decidido a cometer uma loucura. Balanço a
cabeça negativamente, implorando para que não fizesse nada.
— VAMOS, PORRA! — Alex atira para o alto, assustando a todos nós.
— PARA, ALEX! — Grita Suzy, amedrontada.
— Contigo eu converso mais tarde.
Erick se afasta de mim, como se estivesse se despedindo, me fazendo
chorar.
— Não — murmuro, entrando em desespero.
— Eu já disse que não vamos a lugar nenhum, seu otário!! E abaixa a
porra dessa arma! — Grita, exigente.
Alex quase encosta o cano da arma na testa de Erick, que não demonstra
um pingo de medo.
— Eu devia ter me livrado de você há muito tempo, desde que entrou no
meu caminho pela primeira vez, moleque..., tu não tem medo da morte?
— Não tenho medo de você! — Erick agarra a mão do inimigo,
passando a travar uma batalha com ele pelo poder da arma.
— ERICK! — Grito, em pranto
— CORRAM! — Berra ele.
— Vamos, Kelly! — Suzy me puxa, desesperada enquanto meu corpo
não quer sair do lugar, temendo pelo meu namorado.
— Mas e o Erick? — Indago, amedrontada.
— A gente tem que fugir! — Ela me puxa com mais força, obrigando-
me a correr, mas antes de podermos nos distanciar efetivamente, ouvimos o
som do tiro.
— ERICK!! — Meu mundo desaba quando avisto Alex levantando,
deixando meu amor no chão, sangrando. Mais um disparo é feito, acabando
comigo, Suzy fica arrasada. — NÃOO! — Meu mundo desaba, não sei o que
fazer.
— Permaneçam onde estão, senão eu atiro! — Alex nos ameaça, vindo
em nossa direção, mesmo que eu quisesse, não conseguiria correr, é como se
meu coração tivesse parado de bater, só consigo olhar para o Erick imóvel,
distante. — Meu amor... por que você ‘tá fugindo de mim? — Alex segura
Suzy pelo rosto, ela parece com nojo dele.
— Eu não sou... o seu amor — rosna.
— Por que se envolveu com aquele moleque? Por que o ajudou contra
mim? — Uma lágrima desce por sua face, é de fato um psicopata.
— Ter matado a mãe dela não foi o suficiente?! — Retruco, com raiva,
recebo uma bofetada em resposta.
— Cala a boca, vadia! — Ele me pega pelos cabelos com violência, me
fazendo gritar de dor, acertando-me com um soco, vou ao chão, rolando na
areia quente, sentindo o sangue molhar a minha face!
— Kelly! — Suzy tenta me ajudar, mas o desgraçado não deixa.
— Chega! Vamos logo para a porra do barco!
Já no barco, o caos não cessa, Alex está disposto a nos infernizar, é a sua
vingança. O que fará conosco?
— Vai Suzy, assume o leme! — Ordena ele, a morena o obedece, me
surpreendendo — Ela não te contou que sabe conduzir lancha? Eu que
ensinei a ela, ensinei tudo! E qual foi o resultado? Traição.
— Pra onde vamos, Alex? — Suzy faz o barco se mover, enquanto
permaneço sentada, só de biquíni, chorando, lembrando do Erick, observando
o capitão desacordado e amarrado aos meus pés.
— Pra um lugar especial. Não se preocupe, conheço muito bem esse
Delta. Infelizmente aquele moleque quis morrer mais cedo, porém ainda
tenho essa vadia para me vingar — fico aterrorizada. — Quanto a você Suzy,
voltaremos a ser como antes, sei que sou capaz de fazê-la me amar outra vez
— ele a abraça, mas ela só chora em silêncio, sem corresponde-lo.
Navegamos pelo rio, nos aprofundando naquela imensidão, passando
pelos paredões de mangue. O que mais me assusta é não saber o nosso
destino, Alex demonstra que realmente conhece a região, o que me assombra,
pois sei que está com algo doentio em mente. Penso em atacá-lo de alguma
forma, mas não tenho coragem, ele está armado, pode atirar em mim antes
mesmo que eu consiga me aproximar.
— Mostra os pulsos, vagabunda — ordena, apavorante.
— Não — choramingo, ele se irrita e puxa as minhas mãos com
violência, grito, tentando lutar, mas sou outra vez.
— Alex! — Exclama Suzy, fazendo menção em nossa direção, mas
paralisa ao ter o revólver apontado para ela.
— Continua pilotando esta merda! — Ela o obedece, sofrendo por mim,
enquanto meus pulsos são presos, Alex me olha feliz, sombrio ao terminar os
últimos nós bem apertados — Está com medo, estudante de medicina? Atriz,
puta! Agora fica quietinha... Você e o Erick fizeram a cabeça da minha
menina, do meu amor.
— Eles não fizeram nada disso, Alex! — Retruca Suzy, em lágrimas,
chamando sua atenção.
— Fizeram sim, te colocaram contra mim...
— Não, você me colocou contra você! Desde que entrou na minha vida
só fez o mal, me seduziu, enganou a mim e a minha mãe, mentiu, e no final
nos separou, matando ela!
Aproveito a distração dele para cutucar o capitão com o pé,
discretamente, tentando acordá-lo.
— Eu fiz um favor para você meu amor, sua mãe te odiava, tinha inveja
de você, não queria ter tido você, te maltratava, não lembra disso?
— Apesar de tudo ela era a minha mãe, você é um doente e me infectou
com a sua doença, me fez de idiota, me deixou cega!
Finalmente o capitão acorda, se dando conta do que está acontecendo.
Ele troca olhares comigo, discretamente, notando o meu estado de
impotência, o meu desespero. Ele tenta pegar com as pontas dos dedos uma
adaga na sua cintura, mas como seus pulsos também estão presos, tem grande
dificuldade.
— Aqui, para aqui — ordena Alex a Suzy, paramos bem perto do
manguezal, onde podemos ver o barro com várias locas de caranguejos. O
capitão está quase alcançando a adaga quando recebe um tiro no coração,
Alex está completamente louco, grito apavorada. — Eu mandei você ficar
quieta — meu coração bate acelerado, minhas mãos tremem, o sangue
continuava escorrendo por meu rosto, a próxima será eu!
— Para, Alex! Para de atirar nas pessoas, seu assassino! — Exclama
Suzy, nervosa.
— Não me chama assim, meu amor... só estou tentando concertar a
merda que essa puta e aquele moleque desgraçado fizeram com a gente. Você
vai voltar a me amar, vamos esquecer de tudo isso! Mais tarde pegaremos o
nosso dinheiro e vamos embora para bem longe daqui, recomeçar — ele
parece um maníaco, forçando Suzy a beijá-lo, mas ela o empurra e lhe bate,
até que ele a segura fortemente pelos braços, indignado com a reação dela.
— Eu nunca vou te amar outra vez, nunca! Você é um monstro! —
Rosna a morena, enojada.
— Eu sou um monstro, é? — Alex acerta Suzy no estômago,
arrancando-lhe o ar, fazendo-a cair, tentando respirar direito — Então vou te
mostrar o monstro! — Ele vem em minha direção furioso, me pegando pelos
cabeços e me lançando ao lado do capitão morto.
Ele une a corda que prende meus pulsos ao corpo do morto, deixando a
distância de um metro e meio entre a gente, nos empurra para a popa da
lancha, a um passo de cair na água, fazendo-me perceber seu plano maléfico:
é assim que quer me afogar!
— Não — murmuro, amedrontada, tentando lutar, sou novamente
puxada pelo cabelo, erguendo o meu rosto à força.
— Sabe por que viemos aqui? — Indaga, me lançando seu olhar
assassino enquanto Suzy está roxa, sem respirar direito, sem conseguir
levantar e me ajudar. — Este era meu lugar favorito quando eu morava na
região, quando era um simples pescador, porque neste ponto fiz um amigo,
olha ele ali — sou obrigada a fitar o mangue, mas não consigo ver nada além
de mato e lama. — Preste atenção, ele está logo ali — aponta.
Fico horrorizada ao avistar um jacaré que parece ter uns dois metros ou
mais de comprimento, horrível, camuflado entre os galhos, nos observando
atentamente, com olhos que lembram óculos, com fendas no centro, terríveis.
— Não, não, não..., por favor..., não! — Gemo, aos prantos.
— Aaah você viu ele, né! É o jacaré do mangue!! Mas não se preocupa,
ele não costuma atacar. Algumas pessoas já foram mordidas, de fato, mas
elas o provocaram, então quando eu te jogar na água, não faça muito
escândalo, senão você pode chamar a atenção dele! Não é mesmo amigão?!
— Grita pro bicho, para deixá-lo ainda mais atento. Alex gargalha maléfico,
como um demônio, divertindo-se. — E então, vai querer morrer afogada ou
virar comida de jacaré? — Pergunta.
— Vai para o inferno, seu desgraçado! — Exclamo, pegando a adaga do
capitão e a enfiando em uma das coxas do meu opressor. Tento lhe atacar
outra vez, mas Alex segura os meus pulsos no ar, e me empurra para dentro
do rio com muita força. Inicialmente afundo, mas consigo emergir em
desespero. Olho diretamente para o jacaré que se move assustado com a
confusão, chicoteando o rabo. — SUZY!! — Estou apavorada, tossindo.
Alex empurra o capitão para a água, assim que ele afunda, a corda que
nos conecta pesa bastante, me puxando pelos pulsos violentamente, sou
levada para as profundezas escuras!

Lorrana recebeu a ligação de alguém que a deixou desesperada, só o que


sei é que o meu filho, Erick, está em perigo, nada além, porque a loira dois
ficou tão nervosa que nem conseguiu explicar direito a situação. Disse que
precisava ir ao Delta urgentemente salvar o garoto, agora estou com ela,
Laura e Apolo, dirigindo feito um louco rumo ao Porto dos Tatus.
Apolo está ao meu lado, enquanto Laura consola a irmã no banco de
trás.
— Lorrana, por favor, tenta ficar calma e me fala quem é esse Alex —
peço, vendo-a supernervosa.
— É um inimigo da nossa família, que odeia o Erick. Ele estava me
ameaçando, tentando tirar o hotel de mim, então o Erick conseguiu afastá-lo,
mas Alex voltou para se vingar, machucou o Ramon, amigo do meu filho, e
foi atrás dele no Delta. Alex é capaz de tudo — conta, chorando.
Fico intensamente nervoso, sentindo pelo garoto, é o meu filho e tem
dezessete anos, falou comigo, gostei dele, senti uma conexão.
— Calma, Victor — Laura tenta me consolar.
— Eu mal conheci o garoto... e já posso perdê-lo — desabafo, Lorrana
abaixa a cabeça, envergonhada, culpada.
— Pai, não fala isso! — Apolo me repreende. — Deus não vai deixar
acontecer nada de mal. Nós conseguiremos salvar o Erick.
— Se eu pego esse tal de Alex, esse filho da puta — rosno, com raiva
dele sem nem conhecê-lo.
Chegamos ao Porto dos Tatus, estacionamos no primeiro lugar
disponível e corremos entre as pessoas até o píer, encontrando com dois
policiais chamados por nós. Há barcas lotadas de gente saindo pelo poderoso
e gigantesco rio.
— Encontraram o meu filho? — Lorrana pergunta aos militares, aflita.
— Senhora, não encontramos nem o rapaz que estaria aqui nos
aguardando — informa um deles.
— O Ramon? Mas eu falei com ele, ele disse que iria me esperar aqui
para irmos juntos até a ilha em que o meu filho foi.
— Ele não lhe disse que ilha é essa?
— Não, a gente se falou muito rápido, mas era para o Ramon estar me
esperando aqui! Meu Deus, como ele faz isso comigo?! — A loira dois chora,
olhando em volta desolada.
— Me diga uma coisa, por que esse tal de Alex quer matar o seu filho?
— Pergunta o policial, despreocupado.
— Este homem é um inimigo da família, e a informação que obtivemos
é que ele foi atrás do meu filho com a intenção de lhe fazer mal — sou claro e
objetivo, para que ele entenda de uma vez por todas.
— Ah, você é o pai dele?
— Sim — respondo, ficando impaciente.
— Bem, infelizmente, sem sabermos para qual das ilhas do Delta o seu
filho foi, não temos como agir, é inútil sair pelo rio sem saber qual direção
seguir, são mais de setenta ilhas — informa, nos deixando sem chão.

Alex empurra Kelly e o capitão para dentro do rio, me deixando


desesperada. Tento respirar direito, estou quase desfalecendo, sem ar, o soco
que recebi no estômago foi muito forte. Analiso o espaço ao meu redor,
avistando uma barra de ferro num canto, escondida! Sento-me, buscando
forças da alma, respirando um pouco melhor, com o nervosismo misturado ao
medo. Pego a barra de meio metro, escondendo-a atrás das costas antes de
Alex levantar e vir até mim.
— Pronto, meu amor, agora somos só nós dois... de novo... para sempre
— o miro com ódio, respiro fundo e o acerto com a barra, usando toda a força
que me resta, bem no ferimento que Kelly lhe fez.
Ele grita, deixando a arma cair, dando alguns passos mancos para o lado.
Pego a pistola e levanto, o mirando.
— Abaixa a arma, meu amor, abaixa isso, você me ama, lembra? — O
respondo com um tiro no seu ombro, o homem perde o equilíbrio e cai no rio.
Toda essa barulheira faz o jacaré se agitar no mangue, perturbado, entrando e
sumindo na água, saliente, perigoso!
Fico em choque com o que acabei de fazer, chorando. Corro para a popa
desesperada, procurando por minha amiga.
— KELLY! KELLY! SOCORRO! — Minha voz ecoa pela imensidão
do rio, mas não tenho resposta.
Uso a adaga para tentar cortar a corda enquanto sou puxada pelo corpo
do capitão cada vez mais para o fundo. Olho para cima, em pânico, vendo luz
da superfície sumindo, ficando distante. Grito inutilmente, vendo as bolhas se
formarem com o ar que sai da minha boca. Finalmente, com muito esforço e
desespero, consigo ficar livre, usando o resto da minha força para nadar de
volta para cima.
Contudo, perco as forças no meio do caminho, estou muito embaixo, nas
profundezas, sinto que não irei conseguir. Paraliso, sentindo que estou
afogando, voltando para o fim. Não quero morrer, não quero! Penso na minha
mãe e no Erick, lembro que eles não iriam querer que fosse assim, então
desperto, voltando a nadar desesperadamente até atingir a superfície,
emergindo, tossindo muito, me debatendo, tentando enxergar as coisas
direito.
Avisto Suzy gritando por mim, aflita, me chamando, sua voz ainda está
um pouco distorcida aos meus ouvidos. Nado em sua direção, fraca,
destruída, nossas mãos se conectam, ela me puxa para a popa da lancha, mas
antes que eu consiga ser totalmente salva, Alex surge às minhas costas,
agarrando o meu pé.
— AAAH! — Berro, apavorada.
— SOLTA ELA! — Grita minha amiga.
Neste momento acontece o inimaginável: o jacaré surge das profundezas
como uma fera que realmente é, abocanhando a cabeça de Alex com força
total, avassalador, invencível, mortal, o levando para dentro da água. Suzy
me puxa inteiramente para dentro do barco, estamos aos gritos, chocadas,
mas conseguimos nos salvar.
No auge do nosso desespero, com Lorrana gritando desesperadamente
pelo tal Ramon, avistamos uma lancha se aproximando com algumas pessoas.
— AQUI! — Grita um deles, chamando a nossa atenção.
— É o Ramon! — Diz Lorrana, esperançosa. Nos aproximamos do
barco que parece ser da saúde local, há homens de branco cuidando de um
rapaz ensanguentado, Erick. Fico sem chão.
— É O MEU FILHO! — Berra Lorrana, em sofrimento, levando as
mãos à cabeça, aterrorizada, Laura a abraça.
Uma ambulância para às nossas costas, pelo visto já havia sido avisada.
Os paramédicos saem carregando Erick para dentro do carro, ligeiros, mal
consigo chegar perto do meu filho, que está pálido, desfalecido, morrendo.
PAI E FILHO

"Eu sou o seu pai"

A vida novamente me mostra o caos, a loucura em que pode tomar


forma, assustando, surpreendendo, usando-me como um mero peão que se
move ao seu bel prazer. Caralho, como lidar com toda esta situação? Não sei
se tenho raiva, culpa, se choro ou rio, são muitas emoções, sensações!
Acabo de descobrir que fiz sexo contra a minha vontade em certo ponto
da minha vida, com a mulher que enganei para conseguir ajudar Laura a se
livrar de suas chantagens. É loucura pensar que Lorrana mora justamente no
lugar onde vim descansar com a família, ainda por cima com um filho meu,
que ocultou por dezessete anos das nossas vidas e que agora está entre a vida
e a morte.
Estou tentando entender todo este turbilhão de sentimentos que se
passam dentro de mim enquanto dirijo rumo ao hospital, seguindo a
ambulância onde Laura e Lorrana estão com o garoto. Às vezes miro o céu,
tentando falar com Deus, buscando os porquês. Será que estou pagando por
todos os meus pecados? Pelas burradas que fiz no passado com a Lorrana?
Uma parte de mim sente ódio dela por ter escondido este segredo, mas a
outra, sabe que para ela não foi fácil, que realmente poderia ter mudado tudo
se simplesmente tivesse falado da existência do menino.
Penso em como teria sido saber de Erick desde cedo, com certeza eu não
o rejeitaria, mas não seria fácil também conviver com as duas irmãs, ambas
com filhos meus, seria ainda mais difícil do que já foi o meu relacionamento
com a Laura. Por outro lado, reflito sobre todos os anos que perdi com o
garoto, o quanto ele deve ter sentido a minha falta, sofrendo por pensar que
eu estava morto.
Sei muito bem como é crescer sem pai, não é nada fácil, conheço os
sentimentos que Erick deve ter sentido, ao lembrar dele automaticamente
lembro de mim quando garoto, tão feliz, sorridente, amante da vida, vivendo
apenas com a minha mãe, sem uma figura paterna, enfrentando a vida de
frente, amadurecendo mais rápido que o comum, pulando sobre cada
dificuldade e seguindo em frente.
Coitado dele, oh meu Deus, não deixe nada acontecer com o meu filho,
penso. Sim, tenho mais um filho, como ele reagirá à esta descoberta? Será
que gostou de mim também naquele dia da pelada? Como seria para ele
acordar e descobrir que tem um pai?
— Pai, — Apolo põe a mão sobre o meu antebraço quando
estacionamos no hospital — calma — tenta me passar tranquilidade.
— Eu estou calmo, Apolo — minto, suspirando.
— Não está, pelo contrário, está tenso, relaxa um pouco.
— Juro que vou tentar, foram muitas informações de uma só vez.
— Eu sei, ou o senhor acha que foi fácil descobrir que eu tenho um
primo-irmão?
Só agora consigo pensar pelo lado dele.
— Oh, meu filho, você deve estar me achando um filho da mãe.
— Não, pai, a tia Lorrana me explicou tudo, a única diferença é que
agora eu entendo o porquê de eu ter aprontado tanto, é porque sou seu filho
— brinca, quebrando o clima tenso por alguns segundos, conseguindo me
fazer esticar um sorriso.
— Como está encarando essa situação de ter um novo irmão?
— De uma forma um pouco assustadora, mas sei que vai passar. Erick é
muito gente boa, adoro ele — Abraço o meu garoto, o achando tão maduro
agora.
— Vamos, ele precisa da gente, da nossa energia — o chamo, saímos do
carro.
Erick é levado para a sala de cirurgia às pressas, ficamos todos em um
corredor, sentados nas cadeiras frias, observando doentes, enfermeiros e
médicos de lá para cá. O tempo é esmagador, parece não passar, nos
deixando aflitos a cada instante. O médico surge, procurando pela família do
garoto.
— Eu, doutor, eu sou a mãe do Erick! — Declara Lorrana, indo até o
homem em desespero, o seu namorado, Eduardo, agora está com ela — Por
favor, me conte como está o meu filho, preciso saber se ele ficará bem, por
favor! — Implora. Todos ficamos atentos ao doutor.
— O caso do seu filho é delicado, ele foi atingido no abdômen e no
tórax, vamos fazer a cirurgia de extração dos projéteis agora, mas ele perdeu
muito sangue, precisamos de uma transfusão imediatamente ou ele morrerá.
A questão é que as bolsas do hospital estão vazias, necessitamos de um tipo
sanguíneo compatível.
— O meu sangue é tipo A, o dele é B! — Informa Lorrana, nervosa,
voltando ao desespero. — E agora, doutor?
— O meu tipo sanguíneo é B, eu sou o pai dele! — Manifesto-me,
levantando.
— Ah, o senhor é o pai? Ótimo, acompanhe-me! — Laura me beija
antes de ir, abraço Apolo, troco olhares de apoio com Lorrana, sigo o doutor.
Sou levado a uma sala onde em questão de dois minutos fazem um
exame de compatibilidade entre o meu sangue e o do Erick, que dá positivo,
afirmando com certeza absoluta que ele é realmente meu filho. Coletam o
meu sangue enquanto o meu garoto está na sala de cirurgia, odeio agulhas me
perfurando, mas enfrento este medo pelo garoto, farei tudo que estiver ao
meu alcance para ajudá-lo à sobreviver. Ele vai conseguir!
Estou aflito, com uma certa agonia, quero tanto conhecê-lo, saber tudo o
que fez em todos estes anos em que não me conhecia. Como serei recebido
por ele? Como será daqui para frente? É o meu menino, sangue do meu
sangue, só em saber disso já me sinto responsável. Como a vida pode ser
assim tão louca? Como posso sentir afeto por este menino que nem mesmo
desejei? Ele é fruto de um estupro, de uma sexo sem consentimento, jamais
planejado, porém, predestinado!
Ao final de tudo, me entregam um algodão, coloco no local do antebraço
onde fui furado, voltando para onde estava, sentando entre o meu filho e a
minha mulher, que me abraçam, me passando uma energia boa. À nossa
frente, no outro lado do corredor, está Lorrana abraçada a Eduardo, que a
consola. Que situação!
— Obrigada de verdade, Victor — ela agradece, enxugando as lágrimas
— Tudo que eu puder fazer por ele a partir de agora, farei — respondo.
O tempo passa devagar, devastador, deixando-nos aflitos, é torturante.
Depois de quase 2h, o médico reaparece, parece ter acabado de sair da sala de
cirurgia, com a máscara abaixo do queixo, as mãos molhadas, recém lavadas,
o semblante cansado. Todos nos levantamos para recebê-lo.
— A cirurgia foi um sucesso — responde, nos deixando aliviados. —
Uma das balas acertou o intestino, uma região não perigosa, a outra que foi
no tórax, pode agradecer a Deus, pois não atingiu nenhum órgão vital. Nós
retiramos os projéteis e o garoto passa bem, ele é resistente.
— Ah, graças a Deus! — Todos trocamos abraços de felicidade, menos
eu e Lorrana, é meio constrangedor.
— E o sangue dele, doutor? — Pergunto.
— Fizemos a transfusão, foi perfeito. Agora Erick está dormindo,
acredito que amanhã pela manhã já acorde. Eu diria que este jovem tem muita
sorte e que Deus gosta bastante dele, pois não tivemos nenhuma complicação,
agora é só esperar a recuperação.
— E aonde ele está? Eu já posso vê-lo? — A loira dois está ansiosa.
— Sim, a senhora se informe sobre o horário de visitas na recepção. Ele
está na UTI, deve ficar lá pelo menos nas primeiras 48 horas, está sob efeitos
de fortes analgésicos. Agora tenho que ir — o home nos dá as costas.
Vamos à recepção e descobrimos que as visitas na UTI são de uma
pessoa por vez, somente a família e por apenas duas horas. Troco olhares
com Lorrana, ambos estamos com vontade de ver o garoto.
— Acho que seria interessante a Lorrana ver o Erick hoje, e amanhã ser
a vez do Victor — Laura idealiza, nós concordamos.
— Então vocês podem ir descansar no Algas, mal chegaram de viagem e
já ocorreu toda esta loucura — diz Lorrana.
— É o que vamos fazer, agora que sabemos que o Erick passa bem —
respondeu a irmã. Vamos, Victor?
— Sim, vamos — confirmo, mas a minha vontade é de ficar aqui, porém
sinto-me exausto, preciso descansar.
Nos despedimos do casal e seguimos de volta para o hotel, os três meio
extasiados com a situação, com a descoberta, a confusão. É inacreditável.
Apolo vai para o quarto dele, eu fico com Laura em seu quarto.
— Senti que você ainda está um pouco hostil com a Lorrana, mas é
normal, ela está do mesmo jeito — Laura engata uma conversa, após sair do
banho, procurando algo para vestir. Estou deitado, já banhei, agora só reflito
sobre tudo.
— É verdade, o que eu sinto pela sua irmã é uma mistura de raiva com
culpa, sabe? Eu a entendo e ao mesmo tempo tenho vontade de julgá-la. Tive
que me controlar para não falar besteira, lembrei bastante do nosso passado,
enxerguei que ela teve seus motivos, ainda mais com a Leonor lhe dizendo
aquelas coisas terríveis.
— Minha mãe, sempre ela — Laura põe uma camisola, deitando ao meu
lado, abraçando-me. — Como alguém pode ser tão malévola?
— E você, meu amor, como está se sentindo com essa descoberta do
Erick?
Laura leva alguns segundos para falar.
— Não está sendo fácil — confessa, com a voz triste. — Nós já
passamos por tantas coisas, e agora mais essa — respira fundo, enquanto lhe
faço cafuné. — Mas se teve uma coisa que aprendi com a nossa separação, é
que tudo tem um porquê, tudo tem um motivo. Em outra época eu terei
surtado de ciúmes, teria sido egoísta, mas agora, à essa altura do campeonato,
prefiro encarar as coisas da forma mais positiva possível. Prefiro receber
Erick de braços abertos, afinal é o meu sobrinho e enteado, ele não teve culpa
de nada.
Suas palavras tocam a minha alma, aliviando-me. Trago seu rosto para
mim, as lágrimas descem por sua face angelical.
— Você nem imagina o quanto essa sua atitude me conforta, meu amor
— enxugo seu pranto com os polegares.
— A Lorrana passou anos desaparecida, foram anos em que me culpei
por isso, agora que ela voltou, não quero perde-la. Em suas palavras senti
sinceridade e os fatos falam por si sós, Já fui vítima de mamãe assim como
ela, sei o que é se sentir incapaz, impotente, enganada, sem controle sobre a
própria vida. Tudo que quero agora é paz, com o tempo sei que me
acostumarei com a ideia desse filho... de vocês.
A abraço mais forte, beijando sua testa, afagando o seu sofrimento, eu a
entendo, ela é mulher, e ver seu homem com um filho da própria irmã não é
nada fácil, é surreal. Acredito que o tempo sarará todas as nossas feridas, nós
vamos conseguir superar tudo juntos e continuaremos com o nosso amor.
No dia seguinte, estou ansioso para ver o Erick, volto com Apolo para o
hospital. Encontramos Lorrana no corredor, com uma bolsa gigante do lado,
usando outra roupa, com uma cara péssima, cheia de olheiras, de cabelo
bagunçado.
— E aí, como ele está? — Pergunto.
— Está bem, só dormindo muito — responde. — Vem, eu vou te levar
até lá. Deixe suas coisas com o Apolo, porque vão te vestir em outra roupa.
A obedeço, entregando meus pertences ao Apolo. Chego a uma sala
onde visto uma roupa especial, até toca na cabeça tenho que pôr. Após
cumprir com todos os procedimentos, finalmente acompanho uma enfermeira
até a UTI do Erick, onde há mais dois pacientes, cada um em suas camas. O
garoto dorme com o soro direto na veia, vestido em uma beca hospitalar, me
aproximo dele devagar, vendo-o tão frágil e tão guerreiro ao mesmo tempo.
Uma forte emoção toma conta de mim, deixo as lágrimas descerem, sentindo
algo inexplicável.
Seguro sua mão, a apertando um pouco.
— Ei, campeão — falo, com a voz embargada. — Tudo bem com você?
— Respiro fundo. — Você vai sair daqui e nós vamos nos divertir muito...,
faremos muitas coisas juntos..., meu filho.
Engulo em seco, respirando com dificuldade por causa da máscara,
observando o garoto enorme, forte, musculoso, lindo demais, da cor de
chocolate, nem parece que tem apenas dezessete anos, seu corpo já é de
homem, é meu filho mesmo! De repente, sinto sua mão apertar a minha,
surpreendendo-me, esbugalho os olhos, atento. Lentamente, Erick abre os
olhos, fitando-me.
Sorrio bobo para ele, sem saber o que fazer, fico ansioso e nervoso ao
mesmo tempo, é muito sentimento envolvido, nossas mãos unidas significam
muito para mim. Ele tenta me identificar, sonolento.
— Quem é... você? — Pergunta com dificuldade, com a voz bem fraca.
— Eu sou o seu pai — declaro, o surpreendendo.
— Pai?
— Sim, sou o seu pai.
— Você... vai... ter muito... orgulho... de mim — responde, me tirando o
chão. Minhas lágrimas aumentam, caindo em abundância, nunca imaginei
que essas seriam as primeiras palavras que eu ouviria dele. Esse garoto é
meu, é incrível, gigantesco, brilhante, já o amo!
— Já sinto orgulho de você, pois você é muito forte — digo,
emocionado, de voz embargada.
Erick volta a dormir, me deixando de coração leve, lhe dou um beijo na
testa, bem carinhoso, cuidando dele, agora não quero mais sair de perto.
Estou rezando pelo meu filho na capela do hospital, de joelhos diante da
imagem de Jesus Cristo, com o terço nas mãos, quando ouço a voz de Laura.
— Lorrana — ela me chama, levanto, olhando para trás, vendo-a com o
nosso pai, Rivaldo. Fico impactada, sem reação enquanto o senhor de bengala
me observa sem acreditar, tremendo o lábio inferior, emocionado. Caio em
lágrimas, correndo em sua direção, de braços abertos, o abraçando bem forte.
Meu Deus, como sonhei com este momento!
Após nos acalmarmos e pararmos de chorar, sentamos em um dos
bancos da pequena capela.
— Me perdoa pai..., por favor..., não saberei viver sem o seu perdão..., é
que aconteceram tantas coisas — tento explicar, enquanto ele acaricia as
minhas mãos.
— A Laura me contou tudo, minha filha, não preciso saber de mais
nada, só o que tenho a lhe dizer é que... não passei todos estes anos sofrendo
com a sua ausência e procurando por você para chegar aqui agora e te julgar.
Eu te amo, Lorrana, só quero o seu bem, minha filha. Sei das perversidades
que a Leonor é capaz de fazer, você foi uma guerreira, mas por favor... nunca
mais me deixe — ele implora, é de cortar o meu coração. — Não posso viver
sem vocês duas.
Eu e Laura o abraçamos, emocionadas.
— Nunca mais, papai. Nunca mais! — Afirmo, aos prantos, como é bom
sentir o cheirinho dele.
— Vamos curar todo este mal, tudo de ruim que nos aconteceu... nós
vamos conseguir superar — afirma Laura, choramingando, seguro sua mão
em um gesto de união, voltamos a ser irmãs e amigas, graças a Deus!
Quando meu tempo com Erick infelizmente acaba e retorno para a
minha família, vejo que Rivaldo já chegou, Laura havia me avisado que iria
buscá-lo, ele ligou ontem à noite e ficou sabendo de tudo. Pelos seus olhares
tortos, logo percebo que tem algo para me falar, tanto que me chama para um
canto distante dos outros, preparo-me psicologicamente.
— O que você tem a me dizer sobre tudo isso, Victor? — Ele me
pergunta, exigente, erguendo uma sobrancelha, querendo satisfações.
Respiro fundo.
— Rivaldo, sei que somos amigos, eu devo muito a você, mas acredito
que já esteja ciente da situação. Este é um assunto que só diz respeito a mim e
à Lorrana, não tenho o que te falar.
— Você me fez acreditar que amava a Laura! — Rosna, controlando a
raiva.
— E não menti, eu a amo, tanto que reatamos o nosso relacionamento
aqui. Eu não sabia do Erick, o que você quer ouvir de mim?
— Você o considera como filho?
— É claro. Não o pedi, não o concedi, mas é meu — explico.
Rivaldo ficou alguns segundos em silêncio.
— Você me enganou, Victor, nunca me disse que já havia se envolvido
com a Lorrana. Estou profundamente decepcionado, realmente achei que
fosse diferente do seu pai...
— Não me compare a ele, por favor — peço, sério. — Sinto muito, é só
o que posso lhe dizer. Não quero estender mais este assunto, não há motivos
para isso, não quero feri-lo. — Saio, deixando-o sozinho e revoltado. É mais
um problema.
Ao reencontrar os outros, sou informado de que todos fomos intimados a
ir à delegacia, Eduardo fica no hospital caso Erick precise de alguma coisa.
Contamos tudo o que sabemos, as respostas são praticamente às mesmas,
Lorrana conta um pouco sobre Alex e sobre as garotas que estavam com
Erick, que por sinal, desapareceram, a polícia está procurando por elas.
No fim, a loira dois retorna para o hospital, enquanto eu, Laura, Apolo e
Rivaldo seguimos para o hotel. A gostosa chique vai acomodar o pai em um
quarto designado por Lorrana, enquanto aproveito o momento para conversar
com Apolo em seu cômodo. Nos sentamos em sua cama, ele me conta como
foi com Tatiana.
— Acabou, pai, não tem mais volta — diz ele, triste, reflexivo. — Hoje
recebi uma mensagem dela, onde me pedia para esquecê-la para sempre, que
me culpava de tudo, repetiu que eu era um monstro, foi devastador.
— Não leve em consideração nada do que ela te disse — digo. —
Tatiana está furiosa, decepcionada, nestes momentos é comum falar demais e
dizer até o que não devia.
— Não, pai, ela está certa, a culpa é minha, fui causador de toda aquela
merda — se reprime. Pouso a mão sobre o seu ombro.
— Para com isso, filho, você não teve culpa, foi usado por aquela
bandida que te manipulou, e sabe disso. Hoje você amadureceu drasticamente
devido à esse problema, mas quando conheceu Érica, era apenas um garoto
inocente. Você sabia que o que estava fazendo era errado, certo, mas não
tinha consciência das dimensões.
— Não sei, pai — ele é difícil. O abraço.
— Para de pensar besteira, garoto. É hora de esquecer a Tati e superar,
agora vamos catar a sua mãe e ir comer alguma coisa, porque estou morrendo
de fome.
O puxo pela mão, é o meu garotinho amado. Agora tenho dois, eita pai.

Acordo lentamente, abrindo os olhos devagar, minha visão embaçada


volta ao normal até que consigo notar a presença da minha mãe, ao meu lado,
segurando a minha mão, olhando para mim com os olhos repletos de
lágrimas.
— Oi... mãe — digo.
— Oi, meu bebê lindo — ela enxuga as lágrimas. — Que bom que
acordou. — diz, emocionada.
— Onde... eu estou? — Pergunto, não reconhecendo o quarto branco,
recebo soro na veia, uso roupa de hospital, estou deitado numa cama estanha,
sentindo um cheiro estranho.
— Você está no hospital, agora na enfermaria, veio da UTI hoje cedo,
passou por cirurgia e tudo, para retirar as balas — ela explica.
Levo alguns segundos para me situar, lembrando de tudo o que
aconteceu. Toco onde recordo que fui atingido, sentindo os curativos.
— O Alex..., foi o Alex mãe — denuncio, assustado, enquanto sou
abraçado.
— Eu sei, meu filho, já sei de tudo. Ah, que bom que você está bem,
quase morri de preocupação.
— Cadê as meninas? — Pergunto, lembrando delas, preocupado. —
Cadê a Kelly?
— A polícia descobriu que elas viajaram para São Paulo, estão atrás
delas para saberem do desaparecimento do Alex e do dono da lancha que
vocês usavam.
— Então elas estão bem? Ele... não fez nada com elas? — Fico mais
calmo com esta notícia.
— Pelo que sabemos, não, o delegado disse que elas foram vistas
sozinhas, não havia nenhum homem com elas; Erick... o que você escondeu
de mim? Como você conseguiu pegar o diário dele? Por que Kelly estava
com a filha do Alex e por que você estava com elas?
— Ela não é filha dele de verdade...
— Não importa! — retruca ela, preocupada, se controlando para não
brigar comigo. — Eu te pedi tanto para não se envolver com ela, meu filho,
por que é tão teimoso?
— Porque é da minha natureza, mãe. Tudo o que eu fiz foi pensando na
senhora. Não podia permitir que aquele filho da puta ficasse te ameaçando
daquele jeito — sou sincero.
— Ah, meu Deus — ela desiste de discutir, me abraçando e beijando
outra vez. — Não contei a polícia sobre o diário, eles estão loucos para falar
com você, estão desconfiados, querem entender. Eu disse apenas que Alex
queria se vingar porque foi demitido do hotel anos atrás, o que não deixa de
ser verdade.
— Deixa comigo, eles não vão saber nada além do que devam saber —
falo, confiante, minha mãe balança a cabeça, vendo que sou um caso perdido,
nunca vou mudar, tenho vontade de rir.
— Ai garoto, eu não sei se te mato ou se te abraço!
— Me abraça — peço, sendo correspondido.
— Tive tanto medo de te perder — choraminga.
— Mãe..., não deixa mais me botarem para dormir..., eu não quero —
peço, um pouco enjoado.
— Mamãe não vai deixar — como é bom ter o seu carinho.
— E cadê o Alex? — Estou curioso.
— Ninguém sabe, ele sumiu, o desgraçado. Estou achando isso muito
estranho.
— As meninas devem ter conseguido se livrar dele! — Raciocino. — E
o Ramon? Ele está bem?
— Está ótimo, foi o primeiro a depor.
— Preciso falar com ele antes de conversar com a polícia, Ramon sabe
de muita coisa, tenho que ficar por dentro do que ele disse.
— Vou ligar pra ele, então — minha mãe liga, converso com o meu
parceiro, que me tranquiliza ao afirmar que só disse o suficiente, óbvio, era o
que eu previa.
Os policias chegam minutos depois, me mostrando um vídeo no celular
da câmera de segurança do aeroporto, onde Kelly e Suzy pegam um avião
para São Paulo. É possível perceber que elas estavam mesmo sozinhas, sem o
Alex. Após centenas de perguntas, consigo fazer o delegado acreditar que
Alex tinha raiva de mim por querer se vingar da minha família e por eu já ter
me envolvido com Suzy, sua suposta filha.
Minha mãe volta para o quarto depois que eles vão embora.
— Tudo certo — afirmo, a tranquilizando.
— Ah, que bom. Graças a Deus — diz, segurando em minha mão outra
vez, o seu toque me faz lembrar de algo.
— Mãe, mudando de assunto..., eu tive um sonho muito real, acabei de
lembrar. Sonhei que... acordei aqui e... vi o meu pai. Ele falou comigo, disse
que era o meu pai, até me pareceu alguém conhecido, mas não lembro quem.
Minha mãe fica séria, pensativa.
— Que doido, acho que... foi delírio meu...
— Não foi um delírio. Foi real.
— Como assim? — Não entendo nada.
Dona Lorrana respira fundo e dispara:
— Erick..., eu menti pra você, o seu pai... está vivo.
RECONSTRUINDO CORAÇÕES

"Eu estou aqui..., meu filho."

Fico calado, mirando minha mãe abobado, nem consigo processar o que
acabou de me dizer. Ela enlouqueceu? Começo a rir, gargalhando.
— Mãe..., a senhora por acaso ‘tá filmando isso? É alguma pegadinha?
— Ela abaixa o rosto, decepcionada.
— Estou falando sério, Erick — conheço esse tom de voz, é sério
mesmo. — Menti para você a vida toda, o seu pai... se chama Victor Lobo...,
o seu irmão... Apolo Cordeiro Lobo. Eles estão hospedados no nosso hotel,
você já os viu...
— Quê? — Ainda estou incrédulo, confuso. — Que porra é essa que a
senhora está me contando?
— Não xinga, meu filho — pede. — Eu vou te contar tudo..., chega de
mentiras!
A partir desse momento meu mundo desaba pouco a pouco, a cada
palavra que escuto sair da boca dela. Aqui, neste quarto de hospital, descubro
a história triste e sombria que é a minha vida, lágrimas vêm aos meus olhos
instantaneamente, não posso evitar. Minha mãe esquarteja meu coração em
milhares de pedaços.
Como ela foi capaz de tudo isso? Ela sempre foi o meu exemplo de
verdade, de mulher, de confiança! Estou arrasado, devastado, me pego
chorando feito um bebê, ela chora também, mas as suas lágrimas, os seus
motivos, não me convencem! Pelo contrário, me ferem, me dilaceram, jogam-
me no lixo! Meu peito sangra, é como se ela tivesse o arrancando, tomando a
força toda a imagem que construí dela durante toda a minha vida! Devido ao
pranto intenso, meu abdômen dói no ferimento.
— Então quer dizer que... eu sou fruto... de um estupro? — Indago,
destruído, enojado, nem consigo olhar direito a mulher diante de mim.
— Não fala assim, Erick...
— A vida toda, você... me viu sentindo a falta do meu pai, perguntando
como ele era, querendo saber das nossas... semelhanças...
— Erick...
— E sempre me dizia a mesma... coisa, que era para eu esquecê-lo, que
ele... havia morrido. Você ria... da minha cara...
— Jamais, meu filho!
— Você é fria, não tem... coração. Quem é você? — Pergunto,
abismado, sofrendo.
— Eu sou a sua mãe, Erick — ela se derrama em lágrimas. — Tudo o
que fiz foi por medo de você sofrer...
— Chega... — Imploro. — Por favor, basta.
— Meu filho... — ela tenta me tocar, mas não permito.
— Não..., sai daqui... — ordeno, sentindo o ódio subir por minhas veias.
— Não faz isso, Erick..., por favor não faz isso com a sua mãe... —
implora, de mãos cruzadas, clamando.
— Mãe? Que... mãe? — Soluço. — Sai daqui! — Exclamo, assustando-
a.
— Não grita comigo...
— SAAAAI! SAAAAI DAQUIII! SAAAAI — Berro, descontrolado,
minhas mãos tremem, fico altamente nervoso.
A mulher vai embora devastada, soluçando, gemendo em pranto
profundo como se isso fosse a pior coisa que estivesse acontecendo na vida
dela, mas na verdade é o contrário! É a minha vida! Toda a droga da minha
vida! Não quero olhar para sua cara, nunca mais!
— Mas o que está acontecendo aqui? — Pergunta uma enfermeira,
aparecendo na porta. — Eu vou fazer uma aplicação em você, um calmante...
— ela tenta se aproximar, mas a empurro com violência, fazendo-a cair.
— VOCÊ NÃO VAI FAZER PORRA NENHUMA!
— AAH! — Ela grita, assustada.
— EU QUERO SAIR DAQUI! QUERO IR EMBORA! — Arranco o
soro da veia, gemendo de dor quando a agulha sai da minha pele.
— Não faça isso! — Pede a enfermeira.
— ME DEIXA EM PAZ! SAI!! — Estou furioso, a mulher corre
assustada.
Coloco os pés no chão, mas quando tento caminhar, caio, tonto, fraco.
Tento levantar sozinho, mas sem sucesso, meu abdômen dói muito, gemo
forte, chorando. Tudo começa a embaçar, sinto medo, não quero dormir de
novo, as lágrimas descem como fogo queimando a minha face. Fui enganado,
feito de fantoche, um boneco com o qual ela brincou e fez o quis! Minha
vontade, meu querer, minha vida, tudo foi ignorado!
Passo mal, meu mundo foi destruído completamente, meu pai nunca me
desejou, nunca me quis, fui fruto de um estupro, de uma vingança, nem ela
me quis, sou um bastardo renegado, um acidente no meio do caminho, um
arrependimento, uma mentira! Quando penso que vou desmaiar, mãos firmes
me levantam pelos braços, com cuidado, erguendo-me. Abro os olhos e dou
de cara com Victor, me sustentando, olhando-me com ternura.
— Eu estou aqui..., meu filho — ele diz, com a voz acolhedora.
Ao ouvir suas palavras, meu coração parece começar a ser reconstruído.
Estou tão emocionado que nem me reconheço, são milhares de sentimentos
que me invadem de uma só vez. Não há palavras, só sei chorar, carente,
machucado, o abraço, me apoiando em seu corpo, sentindo o seu calor de...
— Pai! — Falo, sentimental, como poucas vezes fui antes.
O homem me aperta contra seu corpo, amoroso, sinto seu coração
ribombar, parece nervoso, sem saber ao certo como reagir comigo. Ofego,
tentando controlar a respiração, tentando não soluçar para não sentir tanta dor
física e mental, mas no colo dele encontro um abrigo seguro e fraternal, que
me dá paz. Entretanto, quando vejo o médico e a enfermeira aparecerem na
porta com uma bandeja que carrega uma injeção, fico apavorado.
— Não! — Gemo, em desespero. — Não quero dormir de novo, não,
não!
— Você não pode ficar de pé agora, garoto! — Resmunga o médico.
— Esperem! Me deem um tempo com ele! — Meu pai mostra a mão a
eles em sinal de pare.
— Mas...
— Assim não, ele precisa ficar calmo, não vou permitir que façam nada
com ele neste estado! — Sua voz é firme, estou às suas costas, protegido por
ele.
— Só alguns minutos — assevera o médico, fechando a porta, saindo
com a enfermeira. Volto a chorar, estou muito sensível, não me reconheço,
nunca fiquei assim.
— Ei, cara — Victor segura meu rosto, enxugando as minhas lágrimas.
—Calma..., respira..., respira devagar. Sigo os seus conselhos, não
acreditando que este momento está mesmo acontecendo, que ele está aqui
comigo, que é real! O admiro, boquiaberto, encantado. — Inspira pelo nariz e
solta pela boca. Isso... bem devagar.
As batidas do meu coração desaceleram, diminuem o ritmo, pouco a
pouco vou me acalmando.
— Vamos voltar para a cama — sua voz é calma, macia e ao mesmo
tempo grave. Sua mão segura a minha, ajudando-me a deitar. — Eu estou
aqui, Erick..., estou aqui, meu filho. Deixo as lágrimas descerem, agora mais
calmas, enquanto fungo, emocionado, cada vez que ele me chama de filho
sou arrebatado por uma chuva de emoções indescritíveis. — Opa..., calma...,
fica calmo, respira — Admiro o seu rosto, ele é bonito, mais ou menos como
eu imaginava.
— Não... me deixa sozinho — peço, com a voz fraca.
— Nunca mais — garante, sorrindo, acolhedor.
— Agora o médico precisa te analisar, ‘tá bom? Eu não vou sair daqui,
vou fica contigo. Você precisa deixar o médico fazer o trabalho dele, para
que você fique bem o quanto antes. Eu vou te ajudar.
Assinto, agora bem mais calmo. Victor levanta, indo atrás do médico,
que volta com a enfermeira, eles aplicam o soro em mim outra vez, com mais
alguns remédios. Meu pai não larga a minha mão, sentado em uma cadeira ao
lado da minha maca. De repente, me pego sonolento de novo, sentindo as
dores indo embora, mas antes de apagar, junto forças e falo:
— Pai — minha voz sai fraca.
— Oi.
— Eu juro... que vou ser o melhor... filho... do mundo.
As lágrimas avançam por sua face outra vez, apertando a minha mão.
— E eu te juro que serei o melhor pai — promete, me fazendo sorrir
antes de apagar.

Acordo mais uma vez, respiro fundo, como se estivesse saindo de um


pesadelo, sonhei muito com tudo o que a minha mãe disse, senti raiva dela,
mas quando vejo Victor aqui, ao meu lado, cochilando na cadeira, quando
percebo que ainda segura a minha mão, fico calmo de novo. Sorrio, o
observando encantado, é verdade mesmo: eu tenho um pai! Pela janela de
vidro, percebo que anoiteceu, ou será que é a noite de outro dia? Por quanto
tempo dormi?
Não quero acordar Victor agora, deve estar cansado, ele parece ser tão
legal! Mas é claro que ele deve ser legal, é meu pai, oxente! Porque eu sou
legal, bastante, então, pela lógica, eu sou legal porque ele também é. Isso! O
que mais será que temos em comum? Com certeza muitas coisas. Olho para o
céu estrelado pela janela.
— Obrigado por ter me dado um pai, Deus. Muito obrigado —
agradeço, aos sussurros.
— Opa... — O homem gigante acorda, esbugalho os olhos, sem saber
como agir, o que vou dizer? — Olha quem acordou.
— Você — falo, sorrindo.
— Cara, eu cochilei de repente. Eu estava acordado ainda pouco, foi do
nada, caí no sono.
— Você, quer dizer..., o senhor, é... deve estar muito cansado de passar
o dia aí. Foi mal, é que eu dou muito trabalho mesmo, todo mundo diz isso —
digo, sem jeito.
— Eu não posso falar isso..., ainda — ressalta, mas já prevejo que um
dia ele falará. — Estou te conhecendo agora.
— A gente se falou naquele dia..., nunca imaginei.
— Como imaginaríamos?
— Você..., o senhor, está bem? — Estou curioso.
— Eu é quem deveria perguntar isso, né — ele parece estar de muito
bom humor.
— Não, é que... eu quero saber se... ‘tá tudo bem em descobrir que tem
um filho..., no caso, eu.
— A partir de agora acho que vai ficar tudo bem.
— Mas... já sei que o senhor não me desejou, que... eu fui fruto de um...
— Shhh — pede silêncio — Erick, querendo ou não, você é o meu filho.
Essa é a nossa realidade agora, vamos esquecer o passado — pede, me
aliviando, mas ainda estou curioso.
— Eu sei, mas... eu quero dizer que... entendo de boa se o senhor não
quiser... me aceitar — mentira, por dentro morro de medo disso acontecer.
— Mas é claro que quero, eu sou o seu pai, ou acha que dormi nesta
cadeira dura por obrigação? — nós rimos, ele é engraçado. — Estou aqui
porque quero, quero te conhecer e ser o seu pai se você deixar, porque eu
sempre quis ter mais filhos.
Choro outra vez, porra!
— Erick, nós não sabemos os planos de Deus, somos pequenos demais
diante da sua grandeza, mas se ele me revelou você, foi por algum motivo, e
acredito que foi para nos aproximar, para nos conhecermos. Veja pelo lado
bom, você já tem dezessete anos, a gente podia ter passado a vida inteira sem
saber um do outro, mas Deus não quis assim.
— É verdade — choramingo. — Obrigado, Jesus — agradeço. —
Cara..., tenho certeza que nunca chorei tanto na minha vida. As coisas que o
senhor está me dizendo..., estas palavras..., você não sabe o quanto isso é
importante pra mim! — Estou emocionado.
— Pode apostar que eu sei, fui criado sem pai a vida inteira, e mesmo
com a minha mãe sempre presente, sei muito bem o que você passou, pois a
sua história é muito parecida com a minha. Acho que é por isso que consigo
me colocar tanto no seu lugar, já posso dizer que te amo, meu filho.
— Cara..., não fode comigo desse jeito... Caralho..., se meus amigos me
vissem agora iriam me zoar tanto — respiro fundo, tentando enxugar as
lágrimas. — Eu não sou muito de expressar sentimentos, mas... sempre
sonhei com este momento se eu tivesse um pai, sabe, e agora eu tenho, então
preciso falar. Pai... eu te desejei tanto, tanto, tanto, a minha vida inteira, que
você está aqui hoje. Eu te amo, pai, porque sempre... quis você comigo.
— De fato, a gente vai fazer uma piscina aqui hoje — ele ri entre as
lágrimas, me abraçando novamente. Como é bom o seu abraço.
— Olha, tem uma pessoa que quer muito te ver. Na verdade mais de
uma, mas ele quer ter exclusividade. Vou lá chamá-lo.
Ele sai do quarto, voltando com Apolo.
— Maninho! — Digo, feliz.
— Fala, meu irmão! — O garoto está feliz, nos abraçamos.
— Naquela noite em que bebemos, você já sabia? — Pergunto, curioso.
— Já, mas a tia Lorrana queria contar, então me pediu segredo.
— Que história é essa? Vocês beberam? — Indaga nosso pai, fico
receoso, não quero lhe causar uma má impressão, acabou de me conhecer.
— Esse doido me embebedou — conta Apolo, rindo.
— Você, Erick? — O homem ergue uma sobrancelha, repreensivo.
— Eu? Te embebedar? Quê isso, Apolo, ‘tá doido? Nem sei o que é
cachaça, para a sua informação nem gosto dessas coisas. Não acredita nele,
não, pai, é tudo mentira! — Me defendo, eles gargalham enquanto levo a
situação a sério, não quero que o meu pai saiba que sou um alcoólatra
anônimo, assim, de primeira. — Tudo bem, eu dei um pouco de cerveja pra
ele, confesso, mas o Apolo é muito fraco para bebida, com três cervejas já
estava caindo.
— Hum..., não sei, não, hein, vamos ter uma conversa muito séria sobre
álcool — avisa.
Uma loira muito bonita entra no quarto.
— Com licença — diz ela, sorrindo, aproximando-se.
— Essa é a Laura, a minha esposa — Victor nos apresenta.
— Sou a mãe do Apolo, e... sua tia. Prazer em conhecê-lo, Erick — nos
cumprimentamos. Ela parece alguém famosa, sei lá, sinto orgulho do meu pai
por ter uma mulherão desses ao seu lado, quando eu crescer quero ser igual a
ele!
— Prazer, nossa, que bom saber que tenho uma tia tão bonita assim — a
elogio, todos rimos.
— Está tudo bem com você? Está se sentindo bem?
— Acho que sim, tia, só estou faminto — Passo a mão sobre a barriga.
— Ah, eu vou avisar a enfermeira. Victor, vem comigo, por favor.
— ‘Tá bom, meu bem. Meninos, eu volto já — os dois formam um casal
da porra, desaparecendo pela porta.
— Quer dizer então que o nosso pai, comeu... ops, quer dizer..., pegou,
é..., ficou com as duas irmãs, que no caso são a minha mãe e a sua? —
Indago a Apolo, aos sussurros.
— Aham — ele confirma Apolo.
— Puta que pariu, eu sabia que meu pai era fodedor! — Digo, animado.
— ‘Tá doido? — Meu irmão gargalha.
— É que eu sabia que se tivesse um pai, ele seria um transariano que
nem eu, quer dizer, eu seria um transariano que nem ele, porque se eu sou
comedor, provavelmente ele também é, por isso que eu sou, entendeu?
— Entendi nada, o que é um transariano? — Apolo se diverte.
— Oras, é um cara que transa muito. Você é, né?! — Indago, exigente.
— Sou o quê?
— Comedor, cara! Porque você é o meu irmão e filho do nosso pai,
então, a genética explica que nós dois temos que ser comedores que nem o
nosso pai.
— Cara, não sei, acho que sim — ele não consegue parar de rir.
— Humm, com certeza deve ser, essa carinha de anjo aí não me engana
— falo, desconfiado, analisando o rosto dele. — Cara, por que você está
rindo? — Pergunto.
— Porque você é muito doido e engraçado, mas gosto disso, tu me
diverte e me faz rir. Ultimamente acho que estou precisando rir um pouco.
— Eu gostei de você desde a primeira vez que nos falamos — lembro.
Apolo parece lembrar de algo, ficando sério.
— A sua mãe está lá fora, muito mal.
— Ah, não me fala dela, cara. — Viro o rosto, aborrecido. — Não quero
mais saber dela.
— Você não pretende perdoá-la?
— Um dia, talvez, mas agora não — minha voz é triste. — Eu passei
vida inteira querendo um pai, e ela sabia disso, mesmo assim mentia
descaradamente. O que mais me doeu foi saber que... eu não fui planejado,
que fui uma vingança, um estupro.
— Eu te entendo, Erick. Só quero te falar que já fiquei contra o meu pai
uma vez, e... não é legal, não é bom o afastamento, a distância, a falta de
comunicação.
— Sério? Mas nosso pai parece tão perfeito, o que ele te fez?
— Eu diria que o nosso pai é o melhor pai do mundo, mas essa é uma
longa história.
— O.K, Apolo, deixa eu te pedir uma coisa, a partir de agora as coisas
que fizermos juntos, tu não solta assim pro nosso pai, não, porque não quero
que ele tenha uma má impressão de mim, entende? Senão fica difícil sair
contigo.
— ‘Tá bom, irmão — ele confirma, feliz.
Um senhor entra no quarto, Apolo nos apresenta, descubro que é meu
avô, conversamos bastante. Uma enfermeira aparece, me trazendo comida,
janto enquanto bato papo com os meus novos familiares, todos parecem
gostar de mim, o que me deixa muito aliviado.
Após três dias na companhia do meu pai que não me deixou sozinho
nem por um momento, trocamos muitas informações sobre as nossas vidas,
nos conhecendo melhor. Ele me mostra a cicatriz que possui em um dos
ombros decorrente de um tiro que levou aos dezenove anos de idade de uma
louca.
— Essa cicatriz é do tiro que levei para proteger a sua tia — conta,
mostrando a marca, enquanto o ouço sentado na cama, vestido agora em
minhas próprias roupas que Maria trouxe para mim, esperando o médico
chegar para me dar alta.
— Até nisso somos parecidos, agora tenho duas cicatrizes, foram dois
tiros — comento. — Mas por que essa tal de Sibele fez isso com o senhor?
— É uma longa história, foi ela quem encomendou a morte do meu pai,
para resumir — explica, me deixando perplexo.
— Meu Deus, coitado do meu avô.
— Mas não pense nisso agora, foi antes de você nascer, já faz bastante
tempo.
— O que houve com essa assassina?
— Prisão, por vários anos — seu tom de voz muda, lembrando do
passado sombrio. — Inclusive, foi por causa desse tiro que eu fui parar no
hospital, e foi lá que a sua mãe... fez você... comigo — ele mede as palavras,
cuidadoso.
Abaixo a cabeça, triste com isso.
— Pai... como será agora? — Pergunto, sem jeito — Eu não quero ser
um peso na sua vida. Eu sei que fui uma espécie de... acidente. Para mim só o
fato de saber que tenho um pai já é o suficiente.
— Três dias com você aqui, e estou descobrindo que foi o melhor
acidente da minha vida — declara, deixando-me encantado. — Quando olho
para você, vejo o meu reflexo na sua idade. Você não vai ser um peso na
minha vida, as portas da minha casa sempre estarão abertas para te receber.
Agora você tem que se acertar com a sua mãe.
— Não quero falar com ela agora, não dá — confesso, cabisbaixo.
— Tinhoso que nem eu nessa idade, oh Deus — Victor ri. — Mas uma
hora terá que falar, não dá para ficar de mal com ela por muito tempo, é a sua
mãe.
— Que me enganou a vida inteira.
— Não foi apenas culpa dela, eu também tive culpa.
— Mas o senhor não estava consciente, estava?
— Na hora, não, mas antes aprontei com a sua mãe, filho, ela acabou
aprontando comigo também, e nesse bate-volta nasceu você.
— Você já a perdoou?
— A gente não chegou nessa coisa de se perdoar, estamos apenas...
tentando encarar a realidade da melhor forma possível.
— O que me dói são as mentiras desde que nasci, eu sempre quis ter um
pai, ela sabia disso — falo, cruzando os braços, Victor acaricia minha cabeça.
— Eu te entendo, você precisa de tempo.
Saio do hospital ajudado por meu pai após ouvir todas as instruções do
médico de como deve ser a minha rotina por quase um mês. Caminho
devagar, meu abdômen dói com os movimentos. Tenho uma surpresa ótima,
deparo-me com todos os meus quatro amigos me esperando, sorridentes. Eles
vêm até mim, troco apertos de mão com cada um.
— E aí, macho, como é que vai essa força? — Pergunta Ramon.
— Daqui a pouco eu estarei de boa de novo — respondo.
— E quem é esse aí, Erick? — Elizeu observa o meu pai, curioso.
— É o meu pai — digo, sorrindo.
— Teu pai? — Os gêmeos perguntam ao mesmo tempo.
— Sim, sou o pai dele mesmo, me chamo Victor Lobo — se apresenta.
— Como isso é possível, mano? — Filipe está incrédulo.
— É uma longa história, eu explico para vocês depois. Mas juro que não
estou de zoeira, é tudo verdade — falo, sério.
— Olha, se tu não tivesse quebrado, só iria sair daqui depois de explicar
tudo — diz Thiago. — Porque nós somos os teus parceiros, mano, na peleja e
na alegria.
— Vocês são os melhores amigos da vida — declaro.
— Eita, que a viadagem aqui está gratuita. Vai embora mesmo, Erick,
vai — Elizeu faz todos rirem, até meu pai.
— O senhor está vendo o que eu tenho que aguentar? — Indago a ele,
gargalhando.
Continuamos caminhando, deixando meus parceiros para trás, paramos
diante do supercarro do meu pai que me deixa boquiaberto, é um BMW
branco do caralho de lindo, Apolo nos aguarda encostado nele, de óculos
escuros, braços cruzados, todo bonitão.
— E aí, maninho! — Nos cumprimentamos.
— Eu que devo te chamar de maninho, sou mais velho que você, sabia?
— Pergunta.
— É? — Fico curioso.
— Sim, já me informei, nasci três horas antes de você.
— Cara, que loucura termos nascido no mesmo dia. Minha mãe sempre
disse que eu tinha sede de vir logo ao mundo.
— Já a minha sempre disse que parecia que eu não queria mais sair da
barriga.
— Meu Deus, que máquina! — Passo a mão pelo capô, arrepiando com
a sensação de tocar nesta maravilha.
— Gostou? — Pergunta Victor.
— Se eu gostei? Isso aqui é um sonho, se eu dirigir isso, acho que vou
até pro céu.
— E você já sabe dirigir?
— Desde os quinze — sorrio maroto.
— E aqui te permitem dirigir? — Apolo estranha.
— Cidade pequena ninguém esquenta não, além disso, aqui todo mundo
me ama... quer dizer, quase todo mundo.
— Quer dirigir? — Meu pai convida, mostrando as chaves do carro.
— O quê? O senhor está falando sério? — Fico incrédulo.
— Mas é claro.
— Ah, não sei... acho melhor não... o médico disse que não posso fazer
nenhum esforço.

RAMON
Observamos boquiabertos Erick sair dirigindo o BMW.
Pom! Pom!
Ele ainda tem a audácia de buzinar para gente, sorrindo descarado,
ostentando, enquanto se afasta.
— MAS COMO É QUE PODE UM CÃO DESSE SER TÃO
SORTUDO ASSIM NA VIDA, MANO?! — Grita Elizeu, puto, todos
gargalhamos alto.
— Né? — Indaga Thiago, também sem acreditar. — E eu continuo aqui,
pobre lascado, sabendo que meu pai é um fodido e que vou andar na porra
desse teu Celta, Elizeu, que não vale nada! Ou seja, nada muda na minha
vida, só na vida alheia!
— Tu ‘tá falando mal do meu carro, Thiago? Pois agora você vai andar
a pé, porra!
— Macho, eu vou perguntar a minha mãe se ela não pulou a cerca com
algum turista ricaço e se eu, por acaso, não sou filho dele. Mano, que vida
difícil! — Digo, aos risos, enquanto todos entramos na "máquina" do Elizeu,
que quase toca o chão com o nosso peso.
— Mano, vocês são tudo um bando de otário, véi! — Observa Filipe. —
Só sabem falar merda! Mas se o Erick não chamar a gente para andar naquele
carro, bora pegar ele e lhe dar uma surra, que nem vocês fizeram com o Alex!
— O Erick tem sorte que eu amo ele! — Observa Elizeu, ligando o
carro. — MAS EU TÔ COM UMA RAAAAIVAAA! — Grita, socando a
buzina do carro várias vezes.
— Eu também quero ser rico, Jesus! — Exclamo, mirando o céu.

Erick nos leva até o hotel, dirigindo muito bem, por sinal. Ele vai
devagar, para não agitar muito o carro e consequentemente sentir dores. Fico
feliz por vê-lo feliz com Apolo, observo os dois conversando, sorrindo, com
brilho nos olhos, são os meus meninos, estou orgulhoso por ter dois rapazes
tão lindos e gentis.
Paramos na frente da casa da Lorrana, descemos do automóvel. Apolo
ajuda o irmão a andar, abraçado a ele. Ao entrarmos pela porta, todos estão
nos esperando, Lorrana resplandece ao ver o filho que não a recebe há alguns
dias.
— Erick, meu filho! — Ela vai em sua direção, o abraçando sem ser
correspondida. Erick lhe vira o rosto, sério, sem dizer nada, o clima fica
pesado. Laura vem ao meu encontro, entrelaçando o braço ao meu. Rivaldo,
Maria e Eduardo observam a situação tristes.
— Apolo, por favor, me ajuda a chegar no meu quarto — o garoto pede,
afastando-se da mãe, que fica sem chão, não conseguindo conter as lágrimas.
— Meu filho..., deixa eu cuidar de você — ela implora, mas ele continua
andando, subindo a escada, sem se importar.
Eduardo a abraça, troco olhares doídos com Laura, é bastante
complicado esta situação.
— Lorrana, a gente pode conversar em particular? — A convido,
enquanto ela enxuga as lágrimas.
— Claro — concorda, a sigo até a cozinha. — O que foi? — Está
curiosa.
— O que você acha do Erick ir comigo para Teresina? — Disparo, a
deixando perplexa.
— O quê?! — Pelo visto sua resposta é “não”.
A DESPEDIDA

“Agora é hora de um novo ciclo, uma nova vida!”

— Você o convidou? — Ela pergunta como se eu tivesse cometido um


assassinato.
— Não...
— A Laura já sabe disso?
— Não, calma — minha voz é pacífica. — A minha pergunta foi uma
hipótese, ainda não falei com o Erick e nem com a Laura sobre isso porque
primeiro quero saber a sua opinião, afinal você é a mãe dele.
Lorrana respira fundo, se acalmando, levando as mãos à cabeça,
chorando, sem resposta.
— Eu acho que seria interessante ele dar um tempo daqui para esfriar a
mente, para a mágoa que sente por você passar. — Explico da maneira mais
calma possível.
— Eu não sei, Victor..., não me vejo longe do meu filho — choraminga,
devastada só de pensar nesta hipótese.
— Não quero distanciá-lo de você, mas confesso que tenho vontade de
passar mais tempo com ele, conhecê-lo melhor, saber quem é o meu filho,
entende?
A mulher assente, refletindo sobre a questão.
— Não me dê uma resposta agora, só pensa com carinho — Peço,
voltando para a sala. Passo por todos, cumprimento cada um com o olhar,
apenas Rivaldo não me corresponde, que triste. Laura está muito curiosa,
noto de longe, puxo-a pela mão, voltando para o nosso AP. Conto-lhe a
minha ideia de levar Erick. — O que você acha?
Seu semblante não é dos melhores.
— Eu, você, Apolo e Erick juntos? — Indaga, pensando na ideia.
— Isso — torço para que ela curta a ideia.
— Não sei, Victor..., não sei mesmo — suspira, refletindo sobre a
questão.
— Eu sei que não é fácil para você, mas também não está sendo para
mim. Nós reatamos agora, não quero mais te perder, porém quero permanecer
perto do Erick. Não sei explicar, mas... nestes poucos dias que passei com ele
lá no hospital fiquei apaixonado pelo garoto, acho que devido à sua história
de vida que se parece bastante com a minha.
Puxo o rosto da loira pelo queixo, trazendo seus olhos chorosos para
mim.
— Meu amor — a abraço forte, ela desaba, tentando se acalmar.
— Eu também não quero te perder mais, nunca mais, e... entendo que
quer ficar mais tempo com o Erick, mas..., ah, sinto-me uma idiota por não
conseguir aceitar esta situação facilmente, sabe. Não sei porque está doendo,
mesmo eu estando feliz por reencontrar a minha irmã. Está doendo, entende?
— Entendo perfeitamente, meu amor. Está doendo porque você me ama,
e no fundo... o seu lado mulher tem ciúmes por me ver com um filho fora do
nosso relacionamento, isso é completamente normal, você é um ser humano.
— Mas o Erick não tem culpa de nada..., me sinto egoísta agora —
confessa, enquanto lhe faço carinho, estamos em pé, no meio do quarto. Viro
seu rosto rosado do pranto para mim.
— Eu sempre vou ser seu — garanto, beijando-a em seguida,
docemente. — E você sempre será minha — a beijo outra vez.
Gradativamente, as lágrimas dela dão lugar ao desejo e à paixão, nossas
bocas se conectam intensamente, se tornando ferozes. Laura geme, sentindo
minhas mãos descerem por suas costas e apalparem sua bunda perfeita,
durinha enquanto arrasto a língua por seu pescoço, já de pau duro.
A jogo de contra a parede, mordendo o seu ombro, erguendo seu
vestido, baixando a sua calcinha. Faço-a chupar três dedos meus que em
seguida meto em sua bocetinha sedenta, preparando-a para mim. Desço a
calça com velocidade, com pressa, pondo o caralho pulsante para fora
enquanto beijo a minha mulher com fogo. Penetro as suas entranhas, enfiando
fundo, deslizando por seus lábios vaginais até meu saco bater contra sua
bunda com força, exercendo pressão.
Começo o soca-soca, puxando a parte superior da sua roupa, bruto,
pondo seus seios medianos para fora, os esmagando entre os dedos,
beliscando os bicos ao mesmo tempo em que mordisco a sua orelha. Laura se
entrega, gemendo forte, roçando as unhas na parede, empinando a raba, me
recebendo com violência, com ferocidade. A dor dar lugar à luxúria, ao amor
ardente, ao fogo que queima os nossos corpos. Sinto-a pingando, chegando
ao ápice arrebatadoramente, gritando, sentindo minhas mãos prendendo os
seus quadris enquanto a surra de pau acontece insana, fazendo barulho por
todo o quarto.
Bap, bap, bap, bap, bap!
A loira explode, esguichando, molhando-me inteiro, seus fluídos
escorregam por suas pernas voluptuosas e agora frágeis, trêmulas. Viro-a de
frente, erguendo sua coxa direta e penetrando-lhe outa vez, esmagando seu
seio com a mão livre, deixando-a ensandecida, arrancando-lhe outro orgasmo
que a deixa bamba. Enrolo a mão em suas madeixas, deixando-a de joelhos
diante de mim enquanto me masturbo insanamente até explodir na sua
boquinha, melando o seu rosto, subjugando-a como ela adora, fazendo-a
minha, só minha!

Entro no quarto do Erick, vendo-o na cama com o irmão, batendo papo


enquanto jogam videogame, superamigos. Fico feliz por isso, mas agora tudo
o que quero e preciso é do seu perdão. Estou arrasada, sem estruturas, passei
três dias longe dele por exigência sua, nunca ficamos tanto tempo sem nos
ver e agora a ideia de Victor me assusta.
Erick vira a cara quando entro, só isso já me corta a alma.
— Apolo, nos dê licença, preciso conversar com o meu filho — peço
mantendo-me séria, não vou mais chorar, já chorei demais.
— O Erick não pode se estressar, tem que ficar de repouso, foram
recomendações do médico — Ele me informa antes de sair, preocupado.
Observo meu filho emburrado, Erick sempre foi assim, me obedece, mas
quando se irrita desobedece muito mais, faz as coisas escondido, uma vez até
fugiu de casa. A verdade é que sempre tentei suprir a figura do pai na vida
dele, até mesmo nas questões em que se precisava de pulso forte, mas o
resultado foi completamente falho.
— Filho, eu sei que você está chateado, mas tenta entender o meu lado,
por favor — peço, com a voz firme.
— Por que você não tenta entender o meu?
— “Você” não, “senhora” — o corrijo.
— Em todos os meus aniversários sempre te falei o quanto gostaria que
meu pai estivesse presente — recorda, engulo em seco, machucada, sei que é
verdade.
— Erick...
— E você sempre dizia a mesma coisa, que ele tinha morrido, que nós
éramos parecidos, que blábláblá...
— Eu sei, mas...
— Quando você ia me deixar na escola, eu sentia inveja das outras
crianças que tinham pais — as lágrimas rolam por seu rosto, me
emocionando. — E no dia dos pais... só eu não tinha a quem desejar
felicitações.
— Você tinha o seu avô... — tento argumentar inutilmente.
— Para..., ele era o meu avô, não o meu pai. Sempre senti um grande
vazio, era como se... eu soubesse que o Victor estava vivo. Era como... se eu
sentisse, de alguma maneira, que você mentia, mas jamais imaginei que fosse
real.
Encosto-me na parede, com as mãos no rosto, soluçando em pranto.
Tudo que ele diz é verdade, não consigo retrucá-lo, estou sem forças para
lutar, é inútil! A culpa me consome até a alma, me queima, me transforma em
cinzas jogadas ao vento que se perdem para sempre.
— Lembrei de toda a minha vida e notei o quanto você foi fria... má —
sua voz é de decepcionado.
— Não... eu só tinha medo, muito medo. Entenda, fiz você sem o
consentimento do seu pai... e ele amava a minha irmã. Como poderia chegar
contigo nos braços e apresentar a ele?
— Mesmo que Victor me rejeitasse, pelos menos eu saberia que ele
estava vivo, eu saberia que tinha um pai. A escolha era minha de querer ou
não ir atrás dele. Você... não me deu escolhas..., simplesmente me tirou todas
elas e me impôs a sua vontade.
— Meu filho — tento me aproximar, mas ele não deixa.
— Você algum dia iria me contar a verdade? — Pergunta, chorando em
silêncio, sem olhar para mim. Fico sem resposta por longos segundos. —
Fala! — Insiste.
— Eu acho que sim.
— Acha? — Ele sorri com desdém, me dilacerando.
Respiro fundo, me enraivecendo.
— Eu te pari... te criei, fiz tudo por você! — Jogo na sua cara. — Errei?
Sim, mas não mereço ser tratada dessa forma! Não mereço! Eu sou a sua mãe
e você me deve respeito, seu moleque! — Aponto o dedo na sua cara,
engolindo o choro, furiosa, ofegante. Ele me ignora, com o rosto virado,
fingindo que não estou aqui. Não suporto isso, decido sair, devastada,
deixando-o sozinho.
No dia seguinte, de manhã bem cedo, chamo Maria para conversar no
meu quarto.
— Victor quer levar o Erick para Teresina — conto, deixando a mulher
assustada.
— Ele exigiu isso? — Pergunta.
— Não, perguntou a minha opinião, mas notei que está com bastante
vontade — respiro fundo. — Ele disse que... é bom para o Erick esquecer a
mágoa que sente por mim agora, e que também quer conhecer o filho.
— É, pensando por este lado. A gente sabe como é o Erick, cabeça
quente, explosivo, intenso, rebelde. Nós o criamos por todo esse tempo e
nunca conseguimos substituir a presença de um pai em sua vida, essa é a
verdade. Talvez seja melhor deixa-lo ir, e... sentir a nossa falta, nos valorizar,
valorizar você como mãe. Ao mesmo tempo, é bom ele estar perto do Victor,
ele me pareceu um homem bem centrado, maduro, forte, vai pôr o garoto nos
eixos, torná-lo melhor.
Penso por alguns instantes.
— Sim Maria, você tem razão. Sei que errei, mas não consigo aceitar a
forma com estou sendo tratada pelo Erick, mas também o entendo, só ele que
não me entende. Agora vou lá no lounge, encontrar com o Victor e a Laura
para falar a respeito disso.
— Como a sua irmã está reagindo à esta ideia do marido? — Maria está
curiosa.
— É o que irei constatar agora — digo, indo ao encontro deles. Ambos
estão bebendo água de coco, junto-me a eles na mesa. — Bom dia.
— Bom dia — me cumprimentam, em coro.
— E então, pensou na minha proposta? — Pergunta Victor.
— Sim, e... por mim tudo bem. Acho que é o melhor agora, Erick
precisa de pulso firme, um pulso que nunca tive, ele é muito danado, os tiros
que levou dizem isso por si só. Além disso... talvez com esta viagem, ele me
valorize mais como sua mãe e enxergue tudo o que fiz por ele desde que
nasceu.
Laura acaricia a minha mão.
— Eu te entendo, minha irmã, não está sendo nada fácil para você.
— E para você, Laura, como está sendo? Como está encarando esta
ideia? Afinal, Erick é um filho fora do casamento. Sinto muito em lhes dizer,
mas onde meu filho chega tem presença, é impossível não notá-lo. Vocês
estão preparados para recebê-lo? Será que não vai conturbar a relação de
vocês? — Sou objetiva.
— Eu e o Victor conversamos à respeito ontem — diz minha irmã. —
Nós estávamos separados, acabamos de reatar, e... decidimos que o melhor é
eu ficar na minha casa e ele na casa dele com os garotos, pelo menos por
enquanto. Estamos recomeçando, se reconhecendo, pondo as coisas de volta
no lugar, e tem o Erick agora, então... cada coisa no seu momento. Victor
precisa ter este tempo com ele, e nós dois precisamos ter o nosso tempo para
nos readaptarmos.
Fico surpresa, porém tranquila.
— Certo.
— Agora, mudando de assunto, que tal me falar algumas coisas sobre o
Erick, para eu não ter que descobrir tudo sozinho e recebê-lo melhor lá em
casa — pede Victor, surpreendendo-me outra vez, ele será um bom pai, sinto
isso.
— Tem caneta e papel? — Pergunto.

Hoje vou embora para Teresina, alguns dias se passaram desde que saí
do hospital. Observo o meu quarto, despedindo-me, as minhas malas já foram
levadas lá para baixo. Lembro de cada momento maravilhoso que vivi aqui
desde quando pequeno até agora mais recente com a Kelly. Abro a gaveta do
guarda-roupas, lembrando de algo muito importante, pego sua calcinha e
cheiro, sugando o perfume, apaixonado.
— Kelly..., onde você está, meu amor? — Pergunto-me, pois não
consegui me comunicar com ela.
Guardo a calcinha no bolso da calça, saindo do cômodo, miro-o uma
última vez, uma cena surge aos meus olhos como se eu estivesse assistindo à
uma tela de cinema, de quando eu tinha apenas doze anos e caí de bicicleta.
Minha mãe passava remédio no meu joelho machucado sobre a cama:
— Ai mãe, esse remédio dói, arde demais! Arde! — reclamo, vendo-a
cuidadosa com o frasco e o algodão.
— É para doer mesmo, para você aprender a não correr de bicicleta
naquela velocidade. Agora tira a mão dessa ferida! — Ordena, a minha
perna está sobre as dela.
— Não mãe, por favor! Não! — Imploro, chorando.
— Me obedeça, Erick! — Ordena. A obedeço, fechando os olhos com
força para não ver, sentindo a dor, gemendo. — Pronto, pronto, já passou —
diz, abanando o ferimento com a mão, tentando fazer a ardência cessar mais
rapidamente. — Você é um homem ou um saco de batatas?
— Um homem, oras! — Respondo, irritado.
— Ah bom, que bom — Ela sorri, acariciando o meu rosto.
— A senhora está sorrindo, né, se o meu pai tivesse vivo não ia deixar
isso acontecer! — Resmungo.
— É..., provavelmente não. Mas agora isso vai sarar, quando eu falar
pra você não fazer uma coisa, me escute, porque sou sua mãe e só quero o
seu bem — Ela me presenteia com um beijo carinhoso na testa.
Miro a porta ao lado, a porta da minha mãe, sei que ela está lá dentro,
sequer ouvi sua voz hoje, minha madrinha avisou que ela não quis sair.
Minha mão coça para bater, para me despedir dela, chego a erguer o
punho, mas desisto no último instante, sou orgulhoso demais. Desço a escada
com um certo vazio no peito, pensando nela, na dona Helen, mas talvez seja
melhor assim. Ela não quer falar comigo, também não falarei com ela.
Ao sair de casa, tenho uma grande surpresa, há uma fila de pessoas para
se despedir de mim, contendo quase todos os empregados do hotel, mais
vários amigos, principalmente meu quarteto de parceiros.
— Tchau madrinha, eu vou sentir muito a sua falta e falta da sua
comida, é claro. — Me despeço dela, a abraçando, vendo-a se derramar em
lágrimas.
— Eu sabia que um dia você iria voar daqui... só não sabia que seria tão
cedo! Oh meu Deus! — Choraminga, enxugando as lágrimas. — Olha, fiz
esse bolo pra viagem — me entrega um bacia, carinhosa, como amo essa
mulher.
— Obrigado, madrinha, eu te amo — emociono-me, é impossível ser
diferente.
— Eu também te amo, meu filho — ela me abraça forte outra vez.
O próximo da fila é Eduardo.
— Edu — aperto sua mão, mas ele me puxa para um abraço apertado
que até me surpreende, lágrimas descem por sua face.
— Você é um bom garoto, rapaz, um bom garoto — Sua voz embarga,
nunca o vi chorar antes. — Se cuida, Erick, vai fazer muita falta.
— E você cuida da minha mãe..., por favor, eu confio em ti — peço, de
coração na mão.
— Pode deixar comigo — garante, dando tapinhas em meu ombro.
Agora é a vez do porteiro.
— SEU MAAAICON! — Grito, sempre o chamei assim.
— EEERICK! — Ele me corresponde da mesma forma, trocamos um
abraço. Em seguida me despeço de mais umas dezenas de funcionários, todos
entristecidos com a minha partida. Por fim, chega a hora dos meus amigos
fiéis, eles quatro me abraçam de uma só vez, formando um bolo.
— Macho, eu vou sentir tua falta demais — Ramon é sincero.
— Também vou sentir, zé do bode — sorrio.
— Erick, me adota — Eliseu chora que nem um bezerro desmamado.
— Já te disse que o meu primeiro filho vai ser homem, Eliseu.
— Vá se foder! — Ele me mostra o dedo do meio, em seguida me
abraça outa vez.
— Véi, se um dia tu precisar de um contador, é só me chamar — avisa
Filipe.
— Você está tatuado no meu peito, mano, pior que rapariga — fala
Thiago, nos fazendo gargalhar.
Caminho até o BMW, onde meu pai, minha tia, meu irmão e meu avô
me aguardam.
— Nos vemos lá daqui a algumas semanas, quero ficar um pouco mais
com a sua mãe — Diz meu avô, nos abraçamos enquanto os outros entram no
carro. Olho uma última vez para todos os meus conhecidos, são cerca de
trinta pessoas me vendo ir embora.
— Isso não é um adeus, pessoal, é um até logo! — Exclamo.
— VALEU, EEERICK! — Grita Ramon, batendo palmas, todos lhe
acompanham, alguns gritam e assobiam, fazendo muito barulho. Meu nome é
chamado dezenas de vezes enquanto entro no automóvel. Olho para o andar
de cima, para a janela da minha mãe, nem sinal dela, meu coração se aperta,
mas agora é hora de um novo ciclo, uma nova vida!
EM FAMÍLIA

"Se prepara Apolo, nós vamos aprontar muito juntos."

Seguimos caminho rumo à Teresina. Meu pai coloca uma música


divertida para tocar, nos descontraindo.
— Então vocês têm um cachorro? Eu gosto de cachorro — comento.
— Sim, é o Kenai, estou com muitas saudades dele — diz Apolo.
— Ele é lindo — comenta tia Laura.
— A Val me ligou várias vezes falando que ele não queria comer, que
estava dormindo na minha cama, me procurando pela casa, tristonho — fala
Victor.
— Ah, cachorro é assim mesmo, ele sente a nossa falta. Eu já tive uma,
ela se chamava Polly, mas morreu afogada nas ondas.
— Nossa, mano, que chato.
— Pois é, depois disso eu não quis mais saber de criar outra, mas acho
que vou gostar de conhecer o Kenai.
— Erick, é a primeira vez que está indo a Teresina? — Indaga meu pai.
— Sim, estou muito curioso para conhecer a cidade e conhecer vocês
também.
— Victor já lhe falou sobre a Alcateia? Acho que vai adorar — Laura ri,
os outros também.
— É, vai mesmo — confirma Victor.
— A boate? Bom, já aviso que gosto de festa.
Continuamos com o nosso papo gostoso até chegarmos em Teresina.
Primeiro vamos ao apartamento da minha tia, onda ela desce, é quando
descubro que não morará mais conosco, aproveito o momento em que meu
pai a ajuda com as malas para falar com Apolo.
— A tia Laura não morará conosco? — Pergunto.
— Não, eles voltaram com o relacionamento agora, talvez precisem de
mais tempo até tudo ficar como antes.
— Ah, entendi — reflito sobre isso.
— Não se preocupe, não é por sua causa — Apolo me tranquiliza.
— Que bom, não quero ser um incômodo, sabe.
Victor volta para o carro.
— Pronto, vamos para casa? — Indaga ele, nos olhando contente.
Chegamos a um condomínio um pouco afastado da cidade, na zona leste
de Teresina, que segundo o meu irmão, é a zona mais nobre da cidade. O
local é imenso, parece até uma cidade vizinha, só que privada e planejada
para a realeza, é essa a impressão que tenho. O terreno esverdeado dá lugar às
mansões que surgem aos poucos, lembrando aqueles filmes americanos de
bairros luxuosos.
— Essa é a casa de vocês? — Fito o imóvel, impressionado com tanta
belezura.
— Sim — Confirma meu pai, pegando o controle e abrindo o portão,
entramos, estacionando na garagem que fica de frente para a piscina, ao lado
há uma academia só deles, fico maravilhado com tanta coisa boa em um só
lugar.
Admiro outra máquina guardada na garagem, um Lamborghini vermelho
impecável, meu queixo vai ao chão, porém tento fingir costume para não
passar vergonha.
— Incrível, né? — Indaga Apolo, enquanto nosso pai abre o porta-malas
do BMW, retirando as nossas coisas.
— Você já... o dirigiu? — Pergunto, curioso.
— Eu não sei dirigir, ainda mais um Lamborghini que é muito potente,
vai de zero a cem quilômetros em segundos, é preciso ter a mão leve para
manuseá-lo.
— A minha mão é tão leve — brinco, Apolo gargalha.
— Vamos entrar — chama Victor.
Antes de adentrarmos na casa, um pastor alemão negro lindo surge de
repente, lembrando um lobo, se jogando em cima do meu pai, latindo
desesperado.
Au! Au! Au! Au! Au!
— Kenai! — Exclama Victor, largando a mala, ajoelhando-se,
abraçando o cão que o lambe, feliz pelo retorno do dono, em um desespero
bom e incontrolável. — Oi Kenai, calma, meu filho, calma.
— Kenai, cadê o meu abraço? — Apolo tenta chamar a atenção do
animal.
— Ele só quer saber do papai, né meu bebê lindo? — Victor mima o
animal.
Entramos no imóvel luxuoso, a empregada vem nos receber, sorridente.
— Ah até que enfim vocês chegaram! — Exclamou ela, abraçando
Victor.
— Oi, Val.
— Seu Victor, que saudade! Como foi de viagem?
— Maravilhosa e surpreendente — a última palavra é dita olhando pra
mim.
— Então esse é o... Erick? — A mulher analisa-me curiosamente.
— Sim, sou eu — respondo, rindo.
— Olá, prazer em conhecê-lo, eu sou a Valrene, estou aqui para ajudar e
servir — me cumprimenta muito educada — Minha nossa senhora, ele é
como o Apolo, a cópia do seu Victor, não há nem como duvidar do
parentesco, mas com estes olhos verdes já vi que vai dar trabalho.
Todos gargalhamos.
— Eu espero não dar — digo.
— Você arrumou o quarto dele como eu pedi? — Pergunta Victor.
— Arrumei, mas ainda estou passada com esta história, como assim seu
filho?
— A curiosidade matou o gato, Val. Vamos subir logo.
— Sim, senhor.
Todos seguimos para o segundo andar, cada um para o seu devido
cômodo, a empregada me leva ao último do corredor, que é tão belo quantos
os outros dois, com vista para a piscina
— Deixei tudo arrumadinho, no ponto pra você, viu — Valrene dá
batidinhas cama, certificando-se de que está tudo em ordem.
— Está perfeito, incrível — sorrio, feliz.
— Que bom que gostou, agora me diz uma coisa: você é filho do seu
Victor com quem? Quer dizer que ele pulou a cerca com a dona Laura? —
Seus olhos cobiçosos por resposta me engolem.
— Ah, não, meu pai não te contou? Eu sou filho...
— Gostou do quarto, Erick? — Indaga meu pai, às minhas costas,
aparecendo na porta.
— Gostei muito.
— Pode ir, Val, obrigado — ele a dispensa, a mulher vai embora se
roendo de curiosidade. Victor a espera se distanciar, fitando-me pensativo. —
Filho, vamos combinar de manter as explicações do nosso parentesco em
segredo, ‘tá bom? — Sua mão pousa sobre meu ombro.
— Por quê? Não quer que saibam que sou seu filho?
— Não é nada disso, a Valrene já sabe que você é o meu filho, eu disse a
ela isso e nada mais. Os outros não precisam saber as condições em que você
foi feito, me entende?
— Sim — concordo, cabisbaixo, até porque eu também quero esquecer
desta parte da história.
— Só quero te preservar, não quero que as pessoas te julguem, porque se
elas ficarem sabendo da verdade vão te julgar sem dó e piedade, pode
acreditar — o homem me abraça, consolando-me, é melhor assim. — Mas
isso não quer dizer que é para esconder a sua mãe e a sua vida, para todos os
efeitos em algum momento da vida eu tive um caso com a sua mãe e pronto,
e que nessa época eu ainda não estava casado com a sua tia Laura, O.K.?
— O.K. — Confirmo.
Ao anoitecer, temos um ótimo jantar, que por sinal me tira da zona de
conforto, pois Valrene tem um tempero completamente diferente da minha
madrinha, mas isso não significa que cozinhe ruim, na verdade sua comida é
maravilhosa também. Como ainda não posso ingerir comidas pesadas, como
algo bem leve, de sobremesa temos petit gateau com morangos, que me
enche os olhos à primeira vista, mas antes que eu possa levar o primeiro
pedaço à boca...
— Erick, acho melhor não fazer isso — Victor me repreende, sério.
— Por quê? — Não o entendo.
— O médico disse que você não pode ingerir comidas pesadas, e petit
gateau me parece bem pesado agora.
— É não — nego, com água na boca.
— É sim, por isso pedi a Val que trocasse a sua sobremesa — a mulher
troca meu prato por outro apenas com morangos repartidos ao meio, fico em
uma desanimação infinita. Apolo se controla para não rir.
— Mas é que... estou achando o meu estômago tão forte hoje — tento
persuadi-lo.
— Depois que tirar os pontos, quem sabe.
Vejo tristemente Val se afastar com a minha sobremesa. Apolo cai na
gargalhada, meu pai o acompanha, Valrene também, retornando com o meu
prato original.
— Vocês estavam tirando onda comigo? — Concluo tudo.
— Ah, você tinha que ver a sua cara! — Meu irmão não para de rir,
enquanto a sobremesa me é devolvida.
Após o jantar, seguimos os três para a sala de jogos, entrando em uma
competição pelo videogame, nos divertindo bastante, conversamos, nos
conhecemos melhor, trocamos informações sobre a vida do outro, nossa
amizade cresce gradativamente, é incrível.
Na manhã seguinte, bem cedo, vou ao quarto do mano.
— Apolo, acorda! — Mexo nele, enquanto se enrola na cama.
— O que é, Erick? Vai dormir — boceja, preguiçoso.
— Cara, você tem que fazer as caminhadas matinais comigo, o médico
mandou, não posso ir sozinho. Quero ficar bom logo pra gente se divertir!
Então vamos!
Ele bufa, mas levanta e se prepara. Saímos após tomarmos o café da
manhã, seguro no ombro dele para ter apoio. Há alguns moradores correndo
ao longo do caminho, se exercitando.
— Todo este povo aqui é rico? — Observo meninos jogando no campo
de futebol.
— O que você acha? — Responde Apolo.
Uma garota passa correndo por nós, ela tem cor de Nutella, é linda,
posso sentir seu doce perfume, seu cabelo cacheado e sedoso chama a
atenção, assim como seu shortinho curto que desenha bem a sua raba. Ela usa
fones de ouvido, parece até que nem vê a gente. Troco olhares de interesse
com Apolo, nos conectamos em pensamentos, nosso instinto masculino fala
por nós.
— Uuuh , quem é essa delícia? — Fico animado.
— É a Sabrina, mora a poucas casas da nossa.
— Como é gostosa, não acha?
— É gostosa — meu maninho ri safado.
— Por que você não pega ela? — O provoco.
— Eu? Por quê? Por que você me inclui nas coisas?
— Porque sei que gosta, safado. Se prepara Apolo, nós vamos aprontar
muito juntos.
— Parece que Sabrina é afim do nosso pai, gosta de homens mais
velhos, segundo o que ele me disse uma vez.
— Então já deve transar, para ter dado em cima do nosso negão alfa —
concluo. — Se ela passar aqui de novo, vou deixá-la sem jeito.
— Ah mano, tu já vai aprontar? — Apolo espera pelo pior, rio da cara
dele.
— Sim, e vai ser legal — como andamos devagar, dá tempo de Sabrina
voltar. — Oi! — Falo alto, para que ela possa ouvir já que usa fones, até
aceno, chamando a sua atenção. Ela para diante de nós, retirando os fones,
nos olhando com estranheza.
— O que foi? — Pergunta, com seu rostinho bonito.
— Ah, eu sou o Erick, e esse aqui é o meu irmão...
— Ela já me conhece, eu sou o Apolo — o garoto tem atitude, é dos
meus.
— Você é filho do... Victor, né? — Indaga a ele.
— Sim, e ele também.
— O quê? Mais um? Mas eu só via você por aqui — a garota me
analisa.
— Ah, é porque eu morava na praia com a minha mãe, agora moro com
meu pai.
— Ah ‘tá — seu indicador enrola em uma de suas mechas, sensual. — E
cadê o Victor, ele já voltou? Eu senti falta..., quer dizer, percebi a ausência de
vocês.
— Ele está aqui sim, mas não é sobre ele que a gente quer falar — tento
trazê-la para nós.
— Ah tá, quase esqueci que me pararam, e do que querem falar? —
Pergunta, fingindo não ter curiosidade, fazendo biquinho, gostosa!
— É que a gente viu você passando, e te achamos... interessante. Então
conversamos e chegamos a uma dúvida: será que você pegaria eu ou pegaria
ele? — Disparo, na cara de pau, Apolo fica estático, querendo me matar.
A Garota ri em deboche.
— Isso só pode ser piada — ela nos observa com desdém.
— Ah, mas você não precisa responder agora, pode pensar, mas... há
uma terceira opção, tu pode pegar nós dois..., ao mesmo tempo, se quiser —
pisco pra ela.
— Vem cá, vocês estão pensando que eu sou o quê?
— Um pedaço gostoso de chocolate — responde Apolo, me fazendo
vibrar de emoção por dentro! Troco olhares com ele, é isso aí garoto!
— Ah é? Pois sabe qual é a minha resposta? Eu pegaria o pai de vocês!
— Responde Sabrina, toda abusada, ousada, com um sorriso travesso,
provocante, se afastando. — Mandem um recado meu pra ele, digam para ele
ir qualquer dia lá em casa, sábado à noite geralmente eu fico sozinha.
— Caralho, Apolo, você é muito bom! — O elogio, rindo!
— A última vez que fiz uma abordagem assim foi com o meu pai lá no
shopping, no ano passado. Esqueci como é divertido! Mas que história é essa
de nós dois com ela? ‘Tá louco?
— Foi só para te dar um incentivo, e parece que funcionou.
À noite, vamos ao cinema com o nosso pai, rimos muito, nos divertimos,
e compramos várias roupas novas, eu ganho até um novo celular. Os dias vão
se passando, eu e Apolo somos matriculados na mesma escola e na mesma
turma, as aulas estão prestes a começar. Há noites em que meu pai vai dormir
com a tia Laura, se dividindo entre ela e nós eficientemente, é muito bom ver
o esforço dele em nos dar atenção, principalmente a mim que cheguei agora.
Estamos cada dia mais próximos e mais amigos.
Chega o momento de ir ao hospital retirar os pontos dos meus
ferimentos, aos poucos volto a ser um garoto comum, conseguindo fazer as
mesmas coisas de antes. Certa noite, Victor convida a mim e ao meu irmão
para irmos conhecer a Alcateia, incrivelmente Apolo nunca foi à boate, bom
que a nossa surpresa será a mesma, espero.
Deixamos o condomínio muito bem vestidos, num estilo esporte
despojado, apenas Apolo usa um estilo esporte fino, não quero me achar,
mas... exalamos beleza e poder, somos os três lobos, os três fodões das
galáxias! Sorrio de orelha a orelha com os meus próprios pensamentos.
Me encanto por cada parte da Alcateia, há muita gente dançando e se
divertindo, é um verdadeiro sucesso, no térreo acontece uma rave muito
louca, com explosões de fogo e papéis laminados do palco, o teto é quase
inteiramente digital, com várias imagens que seguem o ritmo da música,
parece até o universo.
Victor apresenta os filhos à todos os funcionários da casa, que
cumprimentamos com alegria, dá orgulho saber que o nosso pai é tão fodão
assim, além de ser amado por todos os que o cercam, está visível essa sua
característica, a simpatia e carisma natural. Ele é o chefe, o dono da porra da
toda, o patrão!
— Estão gostando? — Pergunta, falando alto devido ao som quase
ensurdecedor nos rodeando.
— Legal — afirma Apolo, na dele, com seu jeito reservado.
— ESTOU AMANDO! — Berro, empolgado, então me controlo. — ‘Tá
legal, bem legal mesmo, bota legal nisso!
Fico me imaginando subir no palco e me jogar em cima da galera, como
acontece nos filmes. Meus olhos brilham, quantas gatas! Por todos os lados!
Entramos no elevador, para o primeiro andar, onde nos deparamos com um
ambiente totalmente diferente do primeiro, lembrando um cabaré de muito
luxo. A música é lenta, sensual, gostosas dançam no palco, enquanto há
várias mesas espalhadas pelo salão com clientes, todos sob uma luz vermelha.
— Chefinhooo, boa noite! Boa noite meninos! — Um homem
afeminado nos cumprimenta.
— Boa noite — respondemos.
— Este é o Everton, meu gerente. Everton, estes são os meus filhos.
— Ah, esse aqui eu já conheço, Apolo, né? — Ele toca no braço do meu
irmão.
— Isso — Apolo confirma, rindo, observando a figura.
— Agora este aqui é carne nova — olha para mim, acariciando o meu
rosto, enquanto fico sem jeito. — Mas já sei o seu nome, Erick, seu pai já nos
contou sobre você. Sejam bem-vindos! A casa hoje está lotada, lá embaixo
‘tá uma loucura, já vou correndo pra lá.
— Estou enganado ou vi uma cara nova entre os seguranças? —
Pergunta Victor.
— Contratei faz apenas alguns dias.
— Depois me passa a ficha dele, ele me parece familiar — o negão alfa
parece desconfiado de algo.
— O.K. — Everton vai embora.
Ocupamos uma das mesas, bem de frente para o palco, onde as strippers
fazem mágica no pole dance, pelo salão, em alguns pontos, outras mulheres
vestidas estilo mulher-gato, brincam com os clientes, pisando neles, dando
algumas chicotadas e etc, me deixando boquiaberto
— Que mundo é este? — Pergunto, encantado, boquiaberto.
— É a Alcateia, meu filho — responde Victor.
Babo nas strippers, elas são perfeitas, lindas, fascinantes, engulo em
seco, imaginando mil sacanagens. Apolo parece estar tão ludibriado quanto
eu. A minha sanidade vai embora quando uma das mulheres fica de quarto e
arrebita a bunda enorme na calcinha fio dental bem na nossa frente, olhando-
me sensualmente, fico boquiaberto!
Imediatamente miro meu pai com água na boca, com cara de cachorro
pidão.
— Pai, eu quero! — Peço, quase imploro. Victor e Apolo riem.
— Bem, temos que ver se é da vontade delas, mas se for, me diga, qual?
— Pergunta meu pai, agora sério e desafiador.
— O senhor tá falando sério? — Fico empolgado.
— Ora, claro que estou. Escolha primeiro, depois eu falo com ela e vejo
se topa.
Sorrio devasso, cafajeste, respirando fundo, mirando o palco com
cuidado, analisando as mulheres.
— Ela — murmuro, fitando a de cabelo castanho curto. — Eu quero ela.
— Muito bem, quando o show encerrar, falo com ela. É incrível a pose
natural do meu pai, ele exalava poder, virilidade, masculinidade, e atrai
olhares a todo instante.
— E o Apolo? — Pergunto.
— O que tem eu, cara? — Ele indaga, entre risos.
— Escolhe uma também, você não vai me deixar sozinho nessa, vai? —
Victor nos observa calado.
— Pode ficar à vontade, estou tranquilo — mente, dá para notar que ele
também quer, apenas precisa ser encorajado.
— Você tem que fazer isso comigo, maninho, vai ser divertido — o
incentivo, trocamos olhares que confirmam a sua vontade.
Apolo se concentra, observando as dançarinas com atenção, deixando-se
levar pelo fascínio delas, a feminilidade, a beleza.
— Aquela — escolhe, sua voz emana forte e decidida.

Após o show das meninas, vou ao camarim afirmando que meus filhos
estão interessados nelas, algumas negociações são feitas e elas topam. Sei que
isso é politicamente incorreto, mas eu sigo uma certa filosofia de vida onde
aprova que os filhos se divirtam enquanto podem, desde que com segurança e
responsabilidade, coisas que irei garantir. Além disso, quero agradar Erick e
entreter Apolo, ambos são muito diferentes, mas no sentido masculino são
bastante parecidos.
Levo cerca de 1h para organizar tudo, chamo um funcionário de minha
inteira confiança, entrego-lhe a chave do meu carro, afirmando que hoje ele
será motorista dos meus rapazes, que os levará até o meu apartamento. As
duas strippers entram no carro discretamente, esperando pelos garotos.
— Apolo e Erick, prestem atenção, o meu funcionário é de confiança e
cuidará de vocês, sejam responsáveis e discretos, não esqueçam que ainda são
menores, então qualquer atitude inconsequente recairá sobre mim. Apenas
divirtam-se, mas com cuidado. Vocês serão levados para um dos meus
apartamentos, lá terão privacidade, qualquer coisa me liguem.
— Pode deixar — confirma Erick.
— O.K. — confirma Apolo.
Os vejo partirem ansiosos, torço para que tudo fique bem. Retorno para
a boate, decido ficar um pouco no bar do térreo, vendo a galera na balada, a
conhecida movimentação de sempre, gente se divertindo bastante, luzes
especiais por todos os lados. Bebo um pouco de whisky, converso com
alguns funcionários, admiro a festa, até que o meu olhar bate com o dela.
Sim, lembro da mulher outra vez, está me olhando entre os demais que
pulam ao seu redor. O tempo parece ficar em câmera lenta, mas as sombras e
os lasers não me permitem reconhecer a dona dessas madeixas escuras, seu
rosto não me surge completamente.
Tenho uma sensação ruim, preciso acabar com isso! Deixo o copo no
balcão, caminhando na direção dela, a mulher foge, tentando se perder
propositalmente em meio às pessoas. Aumento a velocidade, quase
alcançando suas costas, abrindo caminho entre as pessoas, chegando a
empurrá-las com violência.
— Ei! — Exclamo, mas ela não olha para trás. — Ei! — Grito, na
tentativa de fazê-la parar, estendo a mão, segurando em seu longo cabelo, que
para a minha surpresa, é uma peruca. Fico parado, mirando a cabeleira na
mão, processando este fato, volto a procurar a farsante, mas não a encontro,
ela sumiu.
DE VOLTA ÀS AULAS

"Não estou com uma boa sensação"

Na sala de controle da Alcateia, observo atentamente três monitores,


procurando as imagens da pequena perseguição que fiz à mulher de peruca
durante a rave que ainda acontece lá embaixo. O funcionário responsável
pelo monitoramento das câmeras volta o vídeo até acharmos o que queremos.
Peço para ele dar zoom no rosto da mulher misteriosa. Everton está ao meu
lado, assistindo a tudo curioso.
— Mais — ordeno, sendo obedecido em seguida, a imagem é
aproximada o máximo possível, mas quando chega ao limite, as luzes
especiais não me deixam ver de quem se trata — Droga! — Praguejo. —
Continua. — O vídeo prossegue, mas não dá para enxergar absolutamente
nada devido à multidão, o que me frustra.
— É o máximo que consigo, chefe — diz o homem, respiro fundo.
— Tudo bem. Volte o vídeo até a parte que ela está me encarando, e
imprima a imagem mesmo que não dê para ver seu o rosto.
— Mas quem será essa bicha, gente? — Everton está encabulado.
— Eu não sei, mas tenho quase certeza que é a mesma mulher que me
observava no dia em que eu dançava com a Leda.
— A sua ex? O patrão acha que elas podem estar ligadas?
— Talvez — digo, raciocinando. — Mas vou descobrir. Quero todo
mundo da boate em alerta, é a segunda vez que a vejo por aqui, já pode ter
vindo outras vezes, usava aquela peruca preta, pode ter usado outras,
precisamos pegá-la! Quero saber quem é — estou decidido.

Não sei bem quando começou, mas sinto que não terá hora para acabar.
Com o BMW em movimento, eu e Apolo estamos numa pegação intensa
com as strippers no banco de trás, elas estão no meio, doando-se
intensamente para nós. Línguas rolam solta, se enroscando uma na outra,
lábios se misturam, mãos salientes tomam vida própria, o clima
gradativamente queima, sem sequer esperar chegar no AP.
O escuro nos acoberta, oferecendo a privacidade suficiente que
precisamos para a putaria, como se adivinhasse os nossos pensamentos, o
motorista põe uma música sensual para tocar, em alto volume, nos deixando
confortáveis também quanto aos sons emitidos. De repente os casais estão
chupando e sendo chupados, troco olhares com Apolo enquanto as gatas nos
fazem um boquete ao mesmo tempo, enquanto a cidade passa lá fora, prédios
e mais prédios ficando para trás.
Gemidos ecoam, tapas, puxões de cabelo, a coisa toma uma proporção
inimaginável, a química é puro fogo e adrenalina. Chegamos ao apartamento
do nosso pai, Apolo ocupa um quarto, eu o outro, o sexo não demora a
acontecer. As mulheres parecem se comunicar através dos gritos, pois
consigo ouvir a gata do Apolo daqui, e tenho certeza que ele escuta a minha
de lá. O prazer assume os nossos corpos, as mulheres se surpreendem com a
nossa ferocidade juvenil com ar de experiência.
Fodo como se não houvesse o amanhã, entregando-me ao máximo,
dando tudo de mim, e quando finalmente acaba, caio no colchão, soado, com
o caralho todo babado, com a stripper toda marcada e exausta ao meu lado,
sorrindo satisfeita, porém fico com a sensação de ainda não ser o bastante.
Uma ideia perversa e deliciosa atravessa a minha mente, levanto, visto a
cueca, saio do quarto, bato na porta do meu irmão, ele atende respirando
ofegante, de tolha, todo suado também, com os músculos inflados.
— O que foi? — Pergunta, ofegante. Sorrio, orgulhoso, percebendo que
fez um bom trabalho. — Que foi?
— Vamos trocar? — Proponho.
— Quê? — Apolo não entende.
— De mulher, vamos trocar?
O garoto franze a testa, raciocinando, entendendo as minhas intenções,
parecendo gostar delas, abrindo seu sorriso de anjo safado.
— Você não presta! — Fala.
— Bora, meu amigo! — O puxo pelo braço, jogando-o para o meu
quarto, enquanto entro no dele.

Estou no meu quarto, olhando meu look em frente ao espelho do closet,


arrumando-me para o jantar na casa da tia Laura daqui a pouco. Agora tenho
um closet, é surreal, mas não ocupo metade do espaço que ele proporciona.
Apolo entra.
— E aí, maninho — o cumprimento.
— Está pronto? — Indaga, o analiso, está bem bonitão como sempre.
— Acho que sim — confirmo, voltando para o quarto com ele.
— Está tudo bem?
— Sim, por quê? — Estranho sua pergunta.
— Porque desde ontem, depois que saímos com as strippers, você ficou
meio distante, ou será que é só impressão minha?
Sorrio, vendo que ele é muito observador.
— Não, não é só impressão, fiquei meio boladão mesmo — confirmo.
— O que houve? Não curtiu? É impossível, tu comeu as duas assim
como eu.
— Curti, gostei, foi demais, só que... lembrei da Kelly, e você não vai
acreditar, mas... aquelas duas de ontem, não me senti satisfeito.
Apolo fica surpreso.
— Cara, é o amor, quando a gente transa com sentimentos e sem eles, dá
para notar bem a diferença. Com a gata que amamos, é prazer e amor, com as
outras, é só prazer.
— Estou descobrindo isso agora, porque ainda não tinha amado alguém.
— Não conseguiu descobrir nada sobre a Kelly?
— Não, mas o nosso pai disse que está atento à investigação da polícia
de Luís Correia e Parnaíba — informo.
— Acho que se você pedir a ele para pagar um investigador particular...
— Acha que ele faria isso?
— O nosso pai? Ele faria tudo por nós — Confirma Apolo, confio nas
suas palavras.
Meu celular toca, é um número desconhecido.
— Alô — atendo.
— Filho? — Meu coração se aperta, reconheço a voz dela, da minha
mãe. Fico calado por alguns segundos, percebendo que estou com saudades
dela, já estamos há cerca de duas semanas sem nos ver, nunca ficamos tanto
tempo distantes assim. — Meu filho, que bom ouvir a sua voz..., olha, não
desliga, fala com a mamãe. Eu estou morrendo de saudade.
Fecho os olhos, lágrimas pesadas descem rasgando a minha face, e com
elas as lembranças de tudo o que ela me fez.
— Como... você está? — Há medo em sua voz, medo de ser rejeitada.
— Bem — respondo, seco, sem demonstrar sentimentos. — Muito bem.
E você?
— Estou péssima sem você, Erick — ela começa a chorar, me
dilacerando, miro Apolo com o coração na mão.
— É a tia? — Ele pergunta, confirmo que sim, afastando-me.
— Mas, como está aí na casa nova? Já começaram as aulas?
— Ainda não, começa amanhã — mantenho a pose, engolindo o choro,
a vontade de soluçar.
— Ah, que bom — ela está feliz por me ver lhe correspondendo. —
Você está comendo direito?
— Estou, mãe..., mas agora não posso falar mais, estou de saída para um
jantar na casa da tia Laura. Está tudo bem, viu, fica bem.
— Eu te amo, meu filho — são as últimas palavras que ouço antes de
terminar a ligação. Apolo vem até mim e me abraça.
— Cara, esquece o que aconteceu, perdoa ela — pede. — Só assim você
vai ter paz, sei que sente a falta dela, é a sua mãe.
— Só preciso de mais um pouco de tempo.
— Meninos! — Ouvimos nosso pai chamar da sala, enxugo as lágrimas
antes de acompanhar Apolo, saindo do quarto.
— Olha só, quem diria..., são os meus filhos, meus amados rapazes —
Victor nos observa descendo pela escada com orgulho nos olhos. Nos
aproximamos dele, que nos segura pelos ombros, nos contemplando. —
Minha mãe teria muito orgulho de mim ao ver os netos lindos que lhe dei, ah
com certeza teria.
Eu e Apolo o abraçamos, felizes. É muito amor envolvido.
— É claro que somos lindos, somos os seus filhos — brinco. — O
senhor já se olhou no espelho? É por isso que aquelas gatas da Alcateia se
derretem quando o senhor passa.
Gargalhamos.
— E é claro que a minha avó teria orgulho do senhor, pois é o melhor
pai do mundo — Apolo o elogia.
— Obrigado — Victor agradece. — Agora é melhor irmos ou vamos nos
atrasar para o jantar, e a Laura não vai gostar.
Seguimos para a garagem, entramos no carro, pegando a estrada.
— Pai, eu estava pensando..., sei que o senhor está atento à investigação
que rola na minha cidade, mas..., será que há condições de pagar um
investigador particular para procurar pela Kelly?
— Você sente falta dela — ele conclui.
— Sim — confirmo, cabisbaixo.
— Lembrou dela ontem? Enquanto estava com a stripper?
— Como sabe? — Fico curioso.
— Porque só as mulheres que amamos de verdade se fazem serem
lembradas quando estamos nos braços de outra. Vocês dois são tão diferentes
e ao mesmo tempo muito iguais, principalmente em um ponto que diz
respeito à mim, o que prova o nosso laço de sangue, que é amar
intensamente. Os homens da família Lobo podem demorar, faça chuva ou
faça sol, mas um dia irão amar, um dia serão marcados.
— É, eu fui marcado por aquela bandida — comento, com um sorriso
bobo no rosto, lembrando da minha loira.
— Eu fui marcado pela Tati, mas... não tem mais volta — Apolo olha
pela janela de vidro, vazio, distante, lembrar dessa garota o machuca.
— Só que vocês são muito jovens, se apaixonar nesta idade é muito
perigoso, porém maravilhoso — o homem respira fundo. — Não se preocupe,
Erick, amanhã providencio um investigador particular, vai dar certo.
— Obrigado — sorrio, contente.
Chegamos ao apartamento da tia Laura, ela nos recebe deslumbrante, em
um vestido verde-escuro, que combina com os seus lindos olhos, está muito
sorridente, parece feliz, o que me acalma em perceber que eu sou bem-vindo,
que a minha presença não é negada, mesmo que implicitamente. Nem quero
pensar em ser uma pedra no sapato dela com o meu pai, demorei engolir que
eles ficariam “namorando”, cada um em sua casa, com encontros quase que
diários, mas pelo visto isso está dando certo.
Ela me cumprimenta com um aperto de mão carinhoso, abraça e beija os
outros dois. Ver Laura ao lado de Victor, por algum motivo, me faz lembrar
da Kelly comigo, que saudades. Fico impressionado com o tamanho do
apartamento, em um estilo artístico-moderno, com quadros gigantes de
fotografias feitas por ela em cada canto. Na mesa, um banquete nos aguarda,
o cheiro está incrível.
— Foi a senhora que fez? — Pergunto, curioso, tia Laura não parece
com uma dona de casa, assim como a minha mãe.
— Ajudei a fazer, contratei uma cozinheira, não sou muito boa na
cozinha — confessa.
— Mas sabe fazer coisas deliciosas — afirma meu pai, a abraçando por
trás, eles se comportam como se não se vissem a meses. Batemos um bom
papo antes de começarmos a comer, tento ser o mais comportado possível na
mesa, não quero fazer feio, presto atenção nos talheres que eles usam para
cada prato e os copio.
— E aí, estão gostando? — Pergunta Laura, nos observando.
— É..., dá para engolir — brinca Apolo, pois a comida está deliciosa.
— Ah, é? — A mulher ergue uma sobrancelha.
— Estou brincando, mãe, está muito bom.
— Está maravilhoso, meu amor — afirma meu pai, com sua voz grossa
e branda.
— E você Erick? Está gostando?
— Estou, tia, já até acabei — sou sincero.
— Quer repetir? — Ela oferece.
— Posso? — Pergunto, sem jeito.
— Mas é claro — todos riem.
— Está gostando da nova vida?
— Muito, é bom ter um pai e um irmão, uma tia, um avô. Ah, também
quero conhecer a minha avó — comento, mas parece que falei demais, todos
agora parecem desconfortáveis.
— A nossa avó não é das melhores — comenta Apolo, sem jeito.
— É das piores — Victor ri sozinho, recebendo olhares repreensivos de
Laura, parando com a graça.
— E que dia as aulas de vocês iniciam? — A mulher rapidamente muda
de assunto.
— Amanhã — respondo.
— Você e Apolo ficarão na mesma sala?
— Sim.
— Melhor assim.
— Espero não receber ligações da escola sobre você, viu Apolo — avisa
meu pai, erguendo a sobrancelha para ele.
— Ah, pai, por favor... — Apolo revira os olhos.
— Mentira, que Apolo já foi para diretoria — é hilário só de pensar. —
Cara tu me surpreende a cada dia, essa carinha aí de bebê inocente engana
mesmo! — Disparo, recebendo os olhares de um irmão furioso, lembrando-
me da presença de sua mãe entre nós.
— Como assim? — Pergunta a tia. Ops...
— Ah..., eu estou só brincando — disfarço, descarado. — É que... Apolo
não tem cara de quem já foi para a diretoria.
— Hum..., mas ele é sim um bebê inocente, não é só de cara, não, né
filho lindo da mamãe? — Ela acaricia o rosto dele, me controlo MUITO para
não rir. Tia Laura não imagina que esse menino não é de Deus. Apolo está
com vontade de me socar.
Terminamos o jantar delicioso. Depois da sobremesa de tirar o fôlego,
vamos para os sofás, tia Laura nos mostra álbuns de fotografias antigos, vejo
fotos da minha mãe pequenina ao lado dela, ouço histórias engraçadas e etc.
O tempo passa sem que percebamos, nos damos todos muito bem.

O jantar foi um sucesso, consegui ver Laura mais próxima de Erick, o


que me confortou a alma, sinto uma paz fluir por todo o meu ser agora que
estou na cama ao lado dela, os garotos voltaram para casa de táxi. A minha
gostosa chique está completamente nua sobre mim, acabamos de fazer um
amor incrível.
— Obrigado por hoje — agradeço, acariciando seu cabelo.
— Por quê? — Pergunta.
— Você não imagina o quanto foi importante para mim essa sua atitude.
Adorei o jantar e você foi incrível com o Erick.
— Ele não tem culpa de nada. Além disso, tenho certeza que você me
ama, assim como eu te amo, o que houve no passado foi mais uma peça do
destino, não podemos evitar. — Laura me beija docemente. — Amor, hoje de
manhã aconteceu uma coisa estranha — comenta.
— O quê? — Fico curioso.
— Peguei um cara me fotografando escondido no estacionamento do
mercado.
— Viu o rosto dele?
— Não, estava com um capuz.
— E como sabe que era homem?
— Bom, eu acho que era..., não tenho certeza, mas fotografei a placa do
carro dele, quando fugiu.
— Ele fugiu?
— Sim, quando caminhei em sua direção, gritando para saber quem era.
— É a primeira vez que isso acontece? — Fico preocupado.
— Pior que não. Aconteceu também ano passado, perto do fim de ano,
quando fui ao shopping com Henrique quando ainda estava com ele. Só que
naquela ocasião eu não consegui ver quem me fotografou.
— O.K., você vai me dar a placa desse carro, eu vou descobrir quem é,
isso está estranho.
— Muito estranho, não estou com uma boa sensação — Laura fica
reflexiva.
— Comigo também anda acontecendo uma coisa — revelo, chamando a
sua atenção.
— Com você?
— Tem uma mulher me vigiando ou me perseguindo, sei lá.
— Que mulher, Victor? — Sua voz sai seca, com resquícios de ciúmes.
— Calma, não é nada disso que está pensando, coisinha furiosa —
brinco. — Já vi ela duas vezes na Alcateia, me observando de longe, mas
devido às luzes especiais e lasers da boate, não consegui identificar o seu
rosto, nem pelas câmeras. A primeira vez que ela surgiu foi antes do final do
ano passado também, e agora depois que chegamos da praia.
— A mesma coisa comigo. Oh meu Deus, será que tem alguém nos
perseguindo? — A loira fica assusta.
— Se tiver, vai se dar mal, não vou deixar nada acontecer conosco — A
abraço fortemente.
Confesso que não estou nada feliz para o início das aulas, como sempre,
a única coisa que me agrada nisso é saber da presença do Erick ao meu lado,
o que deixa a ideia de voltar a conviver com os meus "inimigos" mais amena.
Desde que Erick chegou nas nossas vidas, mesmo com tão pouco tempo, já o
considero para caramba. Incrivelmente sua felicidade e humor me fazem
esquecer de todo o mal do meu passado, isso vem me confortando bastante.
— Qual é, Apolo, se anima! — Ele diz, empolgado, estamos no banco
de trás do carro que pedimos por aplicativo, que nos leva até o colégio. —
Hoje as aulas vão começar, vai ser demais!
— Vai ser lindo — sou irônico.
Ao entramos na sala, dou de cara com a velha e odiada galera do fundão,
Samuel ou Samuca ao lado de seus comparsas Anísio e Luís, o trio dos
idiotas. Troco olhares com o meu rival, ele parece não gostar nada de me ver,
enquanto Erick chama a atenção de todos com seus olhos verdes. Como
sempre, sento-me em uma das carteiras da frente.
— Vai ficar aí? — Pergunta Erick, ainda de pé. — Vamos lá pro fundão
— convida.
— Mano, eu só sento na frente, não me dou bem com a galera do fundo
— informo discretamente.
— ‘Tá bom então — o garoto senta ao meu lado, fico satisfeito com a
sua escolha.
Mais alunos chegam gradativamente, inclusive a Vanessa, a garota que
era afim de mim e até se declarou para mim no ano passado, ela está ainda
mais linda, senta-se ao meu lado esquerdo. Trocamos olhares rapidamente,
observo suas madeixas negras em um coque, o volume dos seus seios sob a
blusa.
— Oi, Vanessa — puxo assunto.
— Oi, Apolo — responde, só isso e nada mais.
Erick me cutuca, falando “GATA” em silêncio, se referindo à Vanessa.
Neste momento meus olhos se voltam para a última aluna que entra na turma:
Isabela, a que me atraiu para aquela humilhação no passado. Ela está linda e
sexy como sempre, a mais bonita da turma, uma negra chocolate incrível. A
garota joga o cabelão e bate os olhos em mim, assim como em Vanessa ao
meu lado que nem lhe dá atenção, decidindo vir até nós, infelizmente.
— Oi, Apolo, quanto tempo — fala, cínica, mascando chiclete,
acariciando o meu rosto. — Sentiu saudades de mim?
Afasto sua mão.
— Não me toca — ordeno, sério.
— Ai, seu grosso. Depois a gente conversa — se despede, indo para o
seu lugar após espiar Erick por alguns instantes, ele está chocado por Isabela
ter falado comigo. Mas o meu dia só piora, e como se não fosse o bastante,
ouço a voz de Samuel se aproximando às minhas costas.
— Olha quem voltou..., e agora trouxe uma namoradinha — me
provoca, sarcástico, ao lado de seus comparsas. — Bom assim, que não rouba
mais a namorada dos outros! — Finjo que não o escutei, viro o rosto,
deixando-o falar sozinho.
— Não me ignora que eu estou falando com você, infeliz — rosna, me
dando um empurrão nas costas.
Três, dois, um! Quando me dou conta o inferno acontece: Erick soca
Samuel no estômago sem aviso prévio, em segundos nós dois lutamos contra
ele e seus dois amigos, quebrando tudo, a galera grita enlouquecida, a
bagaceira rola solta!
A CHÁCARA

“Corro até o corpo imóvel, com o coração acelerado”

Estou fodido, fodidão, fodidaço! Meu pai vai me matar! Logo no


primeiro dia de aula, caralho! Mas eu não podia deixar aquele projeto de Ken
tocar no meu irmão! Ele teve o que mereceu, apanhou que ficou roxo ao lado
de seus amigos, Apolo me ajudou a dar a surra que eles mereciam, no
entanto, estamos com algumas marcas também, fora da sala do diretor,
esperando nosso pai chegar! O meu plano de ser o filho perfeito já deu
merda! Por que tenho que ser esquentado desse jeito?!
— E agora, Apolo?! Nós estamos fodidos, mano! À essa hora o nosso
pai já deve estar vindo pra cá, já sabe da merda que fizemos, ele vai brigar
comigo! Droga! — Estou nervoso.
— ‘Tá com medo? — Meu irmão possui um sorriso no rosto que não
entendo.
— Não tenho medo de nada! — Retruco. — Só do meu pai ter uma
imagem errada de mim logo agora que nos conhecemos — roo as unhas,
pensando à respeito.
— Você nos contou coisas muito piores que já fez, uma briga na escola
nem chega perto, tenho certeza que meu pai está preparado para qualquer
coisa que venha de você.
— E de você também! Santo do pau oco! — Rebato, nós gargalhamos.
— Mesmo assim ainda estou tenso; por que tu não para de rir, cacete?!
— Porque foi muito massa eles apanhando da gente. Obrigado por me
defender, irmão — agradece, se divertindo com a situação.
— Cara, você acha mesmo que eu deixaria um filha da puta daqueles
chegar falando e tocando em você daquele jeito? No meu irmão? No meu
maninho do coração? Ah não, não mesmo! Nós somos do mesmo sangue, e
estamos juntos! — Trocamos um forte aperto de mão. — Mas e agora, o
diretor vai acreditar em nós ou neles?
— Vai acreditar em quem está mais machucado — Apolo tira o sorriso
do rosto, pensando à respeito.
— Ou seja, neles. Mas nós podemos ser expulsos?
— Se depender deles, sim. Até porque é a segunda vez que venho com
eles para a diretoria, naquela época todos fomos suspensos, só que eu por
mais dias.
A cada dia que passa descubro que ainda tenho muito a conhecer do meu
"maninho". Na escola as gatas esfregam a xota na cara dele, além de ser
invejado pelos otários! Eu o amo! O idolatro!
— Olha, fica sabendo que estou com muita raiva de você! — Declaro,
cruzando os braços.
— De mim, por quê? — Ele estranha, erguendo as sobrancelhas.
— Porque tu não me preparou para nada disso! Não me falou que era o
fodão da escola, que as gatas piravam em ti e os otários tinham inveja.
— Porque eu não sou o fodão de porra nenhuma, Erick. Esses caras que
sempre implicaram comigo devido aquela vadia da Isabela — o nome dela é
dito com nojo.
— Aquela gostosa que pegou no teu rosto?
— Sim.
— Cara tu tem que comer ela — imploro.
— Você não começa! — Me repreende, apontando o dedo na minha
cara, reviro os olhos, suspirando.
O diretor abre a porta da sala, deixando saírem os três imbecis, sendo
que o loiro está de olho roxo do soco que lhe dei, o tal de Samuel.
— Esperem na sala que designei — O diretor ordena, com a voz seca,
Samuel aproveita um momento de distração dele para nos fazer um símbolo
de que nossas cabeças irão rolar, simulando um corte na própria garganta
com a mão. Desgraçado. — Com vocês eu já conversei, este tipo de
violência é inaceitável nesta escola! Agora vou esperar os pais de todos
chegarem e tomar as devidas providências. Dessa vez não passará em branco,
dê adeus a esta escola, Apolo — ameaça, fechando a porta com raiva.
— E eu? — Pergunto, sem entender meu pobre destino.
— Você vai se salvar, é a sua primeira advertência — diz Apolo, sério,
refletindo sobre a sua situação péssima.
— Jamais continuarei aqui sem você, mano, então dá na mesma —
afirmo.
De repente, Isabela aparece do nada, sorrindo saliente para nós,
rebolando a bunda até a sala do diretor, batendo na porta, parece estar
aprontando alguma. O homem atende, ainda estressado.
— O que está fazendo aqui, dona Isabela?
— Preciso falar com o senhor — a garota faz voz de anjo.
— Agora, não, estou ocupado resolvendo sobre a briga destes garotos!
— É sobre isso mesmo que quero falar, eu vi tudo, e quero lhe contar
como de fato tudo aconteceu. Eles são inocentes! — Aponta para nós, Apolo
fica embasbacado ao vê-la nos defender. Isabela começa a chorar e continua
com o seu teatro. — Foi o Samuel que começou toda a confusão, provocando
eles porque está com ciúmes que não sou mais sua namorada e... tenho um
lance com o Apolo.
— O quê? — Meu irmão está desnorteado.
— A senhorita está querendo dizer que você e o Apolo estão namorando
e que Samuel fez tudo isso por ciúmes? — Pergunta o homem.
— Sim — mente, enxugando as lágrimas de jacaré. Jesus amado!
— Isso é verdade, Apolo?
Percebo que Apolo quer negar, o impeço de falar quando ponho a mão
sobre sua coxa.
— Sim — afirmo em seu lugar.
— Eu perguntei a ele, é verdade sim ou não, Apolo?
— É..., sim — responde o garoto, desgostoso, querendo matar a gata
esperta.
— Hum, obrigado pelas informações, Isabela, agora fique calma e volte
para a sala — a porta da diretoria novamente é fechada.
— Por que você fez isso?! — Apolo está puto, levanta, ficando de frente
para Isabela, que muda de personalidade em um segundo, saindo do seu papel
de menina doce e preocupada com as injustiças, voltando a ser cobrinha!
— Porque eu te devia um pedido de desculpas, pelo que fiz a você ano
passado com aqueles otários — responde, com um sorriso travesso.
— Isso é sério?
— Sim, e sinta-se lisonjeado, pois eu não sou de me desculpar e nem de
reconhecer meus erros, mas fiz! Pronto! Só que ainda não acabou..., agora
você está me devendo uma, baby — ela entrelaça o pescoço de Apolo com
seus antebraços, me abrindo um sorriso.
— Não estou te devendo nada, Isabela!
— Está sim, vou te lembrar — ela cochicha algo no ouvido dele, minha
curiosidade vai a mil. — Ou é isso, ou desminto tudo pro Diretor. Ela dá um
selinho nele e vai embora, feliz, vitoriosa.
— Ela quer o quê? — Estou louco para saber.
— Que eu transe com ela — responde, sem nenhuma animação,
voltando a sentar do meu lado. Fico chocado.
— Cachorro..., você é um putiano! — Brinco, sorrindo, feliz.
— Para, Erick! Para! — Reclama. — Essa menina ‘tá armando alguma,
ela não presta, agora tenho nojo dela!
— Mentira! Não tem como ter nojo dela. Mano, você vai comer ela! —
Sentencio, ansiando por este acontecimento.
— Não vou mesmo! — Apolo está decido.
— Mas ela está se arrastando por você! — Exclamo, tapando a boca em
seguida, minha voz ecoa pelo corredor.
— Fodeu — Sigo o seu olhar aterrorizado, avistando nosso pai
caminhando em nossa direção como um trator desgovernado.
Automaticamente nos encolhemos, é a primeira vez que me intimido com o
seu olhar, engulo em seco, talvez porque já o respeite muito.
— No primeiro dia?! — Indaga, entredentes. — Porra! — O homem
entra na sala do Diretor sem bater.
Imediatamente junto as mãos, olhando para o alto.
— Oh, senhor nas alturas, velai por nós pecadores, agora e na hora da
morte, amém.
Apolo cai na gargalhada.
— Cara, você é uma figura! — Afirma, entre risos.
Após toda esta loucura, voltamos para casa no carro com o nosso pai,
Apolo vai no banco do carona, eu no de trás.
— Não sei que milagre livrou vocês da expulsão, mas ainda pegaram
suspensão por uma semana, e na primeira semana de aula! Eu avisei pra
vocês...
— Pai, foi aquele filho da puta, ele chegou empurrando o Apolo, aí
soquei ele, não podia deixar barato! — Nos defendo
— Mas não era para deixar ninguém com olho roxo! É a segunda vez,
Apolo!
— Pai, o Samuel provocou, ele estava caçando briga — diz Apolo.
— Claro que estava! Entendi muito bem o jogo daquele garoto, se fez de
vítima para prejudicar vocês e os dois caíram feito patos! Pelo menos ele foi
expulso, ele e os amiguinhos.
— Sério? — Apolo está incrédulo.
— Sim.
Falo “ISABELA” em silêncio, Apolo lê meus lábios.
— Vocês ficarão sem videogame! — Victor sentencia.
— Ah não... — reclama Apolo.
— E sem strippers!
— Ah não! — Falo com Apolo, em coro, isso não pode ficar pior.

Neste fim de tarde decido fazer algo nada fácil: ir atrás da minha mãe.
Desde aquele episódio terrível em que descobri toda a tragédia que ela fez na
minha vida, nunca mais a procurei, atendi às suas ligações ou visitei a
mansão. Pelo que papai me disse por telefone, ela ainda está morando lá, e
esse "ainda" se deve ao fato de ele ter pedido o divórcio. Segundo meu pai,
mamãe será expulsa, pois lutará com todas as forças para que ela não fique
com a mansão. Não tenho dúvidas de que ele conseguirá, pois apesar da dona
Leonor ser esperta e manipuladora, meu pai sempre comandou o dinheiro, o
poder da família Cordeiro.
Desço do carro, admirando o imenso e lindo jardim em volta do palácio,
perdi as contas de quantas vezes fiz isso. Avisto uma das empregadas se
dirigindo com uma bandeja à barraca de madeira branca em meios às flores, é
a hora do chá. Adentro o local, encontrando a senhora levando a xícara aos
lábios, junto-me a ela na mesa.
— Mamãe — Ela mira as rosas, fingindo que não estou aqui. Não a
odeio, só não a compreendo, cheguei a sentir repulsa dela, mas agora,
olhando-a, só enxergo o vazio, por mais que pareça bem, com uma leve
maquiagem no rosto e roupas claras, leves, cabelo em um coque perfeito.
— Pode ir, Eliza — dispensa a jovem empregada, a novata, que se vai,
e só então traz os seus olhos à mim. — Está bronzeada, Laura, foi boa a
viagem à praia com a sua... família? — A última palavra é falada com
deboche.
— Sim. Muito boa — Confirmo, segura, não me deixarei abalar por seu
cinismo. — Até papai acabou indo, não notou?
— Juro que tentarei acreditar nesta sua paz, minha filha, aposto que ela
se manteve firme ao reencontrar aquela... — sua voz falha. — A Lorrana e o
seu... filhinho cor de carvão.
Fecho os olhos por breves instantes, respirando fundo com a atrocidade
que ela acabou de dizer.
— O nome dele é Erick, é um jovem muito bonito e simpático, seu
neto...
— Vai se relacionar com ele também?
— Como a senhora pode ser tão baixa? — Fico abismada, tento não me
abalar, mas é impossível. — Me respeite! — Exijo.
— Se ao menos você se desse o respeito...
— E a senhora nem sabe o que isso significa isso! — Rebato, tentando
manter a sanidade enquanto mamãe prossegue calma, tomando mais um gole
do chá, inabalável. Como é fria! — Você sabia que a Lorrana estava lá este
tempo todo, né? Na praia!

— Não, mas sabe que com o tempo cheguei a desconfiar? Foi o seu pai
quem me contou, ele saiu daqui na tentativa inútil de me fazer sentir medo
das suas ameaças, recebi até uma intimação para uma audiência de divórcio
ontem. Tolo..., acha que será fácil se livrar de mim — debocha.
— Quando foi que a senhora se tornou assim tão fria..., tão má? Ou será
que sempre foi desse jeito e eu que demorei a perceber?
— Defina "má", pois se for tentar sozinha carregar uma família inteira
nas costas, concertando todos os erros que ela cometeu, então sim, eu sou
má!
— “Concertar os erros” é armar para que a filha se separe do marido e
afastar a outra filha do convívio familiar? Renegar o neto...
— Que neto? Só tenho um neto, e somente o considero como tal porque
tive a chance de fazê-lo viver perto de mim. Foi uma dificuldade e tanto amar
o Apolo, mas consegui.
— A senhora não consegue mesmo enxergar todo o estrago que fez na
minha vida e na vida da Lorrana, né?
— Eu tentei salvar a nossa família daquela praga chamada Victor. Desde
que o vi pela primeira vez sabia que iria odiá-lo, um pobre bastardo, coitado,
negro, vindo do subúrbio de Teresina, que não se parecia em absolutamente
nada com o pai, sem a sua grandeza, sem a sua sabedoria. Se você tivesse um
pingo de respeito aos bons costumes e à moral jamais teria se envolvido com
o filho dele! Quando descobri tudo, tive nojo da Lorrana e pena de você...,
minha filha de sangue, achando que estava perdida, encantada pelos feitiços
daquele imundo. Jurei vingança contra ele, tentei muitas coisas, mas você
sempre foi uma cega, até que aproveitei a instabilidade no relacionamento de
vocês para contratar aquela puta.
"Mas agora, que te vi sair correndo como uma idiota atrás dele, após
saber da verdade, deixando de lado a chance de um casamento com um
homem digno, cheguei à conclusão de que você e Lorrana é que são putas, as
duas. Vocês foram uma decepção para mim tão grande, que se eu pudesse
voltar no tempo não teria engravidado de você e muito menos aceitado aquela
bastarda! — Há ódio na voz de Leonor que me encara com nojo, repulsa,
sinto o mesmo por ela, é triste!
— Vejo que realmente foi uma perca de tempo vir aqui, eu tinha
esperanças, confesso, de lhe encontrar com algum tipo de arrependimento.
Fique sabendo que tudo que a senhora fez no passado está caindo por terra
agora, papai está com Lorrana, a perdoou, eu a perdoei. Victor está com
Apolo que está adorando o novo irmão, os três juntos aqui em Teresina, e o
meu amor com Victor é tão forte que vai conseguir superar tudo isso. A
senhora está aqui, sozinha..., infeliz — Consigo atingi-la, sua face muda,
enraivecendo.
— Antes só do que mal acompanhada — rebate, amarga. — Sabe, eu
devia ter deixado Lorrana voltar de Nova York com o seu carvãozinho
naquela época, aí sim queria ver este seu "amor" resistir. Você não tem
vergonha na cara, não, sua idiota? — Levanto, caminhando rumo ao carro,
não sou obrigada a ficar aqui ouvindo isso. — Ela teve um filho com o seu
marido! — Esbraveja, saindo de si, seguindo-me. — E você vai acreditar
neste papinho de estupro só para ficar com aquele rato preto vagabundo!
— CHEGA! VOCÊ É UM MONSTRO! — Berro, enquanto Eliza, a
empregada, nos observa da porta frontal da mansão. — EU TENHO
VERGONHA DE SER SUA FILHA!!
— E VOCÊ É UMA VADIA! — Ela aponta o dedo na minha cara. —
VOCÊ E A SUA IRMÃ...
De repente, acontece algo surreal: Leonor cai para trás, desfalecendo, se
debatendo no chão, espumando pela boca, mirando-me com horror, uma cena
terrível! Meu coração quase sai pela boca, levo alguns segundos para
assimilar o que está acontecendo.
— Mamãe! — Grito, me ajoelhando ao seu lado, a segurando no colo.
— Socorro! Socorro! — Miro Eliza parada, serena, enquanto estou
desesperada. — Vá pedir ajuda, menina! Corre!
— Eu não, pois quero que ela morra — responde a empregada,
calmamente, deixando-me em choque!

Chego na Alcateia mais cedo, o sol ainda está se pondo, tenho que
resolver o que está perturbando os meus pensamentos. Ao sair do elevador e
tentar ver a hora no celular, descubro que o aparelho está descarregado.
Encontro com Everton no caminho.
— Ele já está lá? — Indago.
— Sim, lhe esperando como o senhor pediu — responde.
— Obrigado, Everton — agradeço, entrando na minha sala, encontrando
o novo segurança que achei familiar, sentado na cadeira de frente à minha
mesa, sento-me diante dele, do outro lado, o encarando. — Olá, tudo bem?
Augusto, não é mesmo? — Indago, lendo seu currículo.
— Sim — confirma o homem forte, careca, de brinco na orelha, cara de
mau, barba avantajada.
— Bem, Augusto, você está trabalhando aqui há poucos dias, mas quero
saber uma coisa: de onde te conheço? — Sou direto, deixando os papeis de
lado, cruzando as mãos.
— Não nos conhecemos — sua voz lembra um dinossauro de tão grossa,
há um ar de cinismo nele que me incomoda profundamente.
— Ah, acho que você está enganado e eu estou certo. Te acho familiar,
sabe..., e quando alguém me é familiar é porque o conheço.
— Não nos conhecemos — repete, mal-encarado.
— Bem, se é assim, também não vamos ter esta oportunidade. Está
demitido — Informo, sério.
O homem levanta rapidamente, me encarando com ódio, cerrando os
punhos, pronto para a briga. Levanto em seguida, devagar e sem medo, o
mirando olho no olho, sinto que não posso confiar nele.
— Rua — Ordeno, vendo o cara finalmente se retirar, mas isso não
acabará aqui, irei descobrir quem ele é! Coloco o rosto para fora da porta
discretamente, vendo Augusto pegando o elevador, corro até a escada de
emergência, chegando lá embaixo no momento em que ele sai pela porta da
boate.
O sigo sem ser notado, vendo-o entrar no carro, miro a placa, a
reconhecendo, é a mesma que Laura me mostrou na foto hoje de manhã, do
homem que a fotografou! Agora uma peça se encaixa, quem é este infeliz?!
Corro para o meu automóvel, seguindo o dele até a região norte de Teresina,
para uma chácara antiga distante de tudo, no meio do mato. Paro distante, em
outra rua onde escondo o carro.
Desço, corro até a esquina, observando Augusto passar pela velha
cancela de madeira, entrando na chácara, estacionando dentro do cercado, ele
é recebido por alguém encapuzado, algum comparsa! Agora que não saio
mesmo daqui, quero saber o que este filho da puta estava pretende
perseguindo a mim e a Laura, chegando a se infiltrar na Alcateia!
Após 1h de sentinela, com a escuridão já abrangente, Augusto sai com o
encapuzado no carro, deixando a chácara para trás de luzes acesas. Escondo-
me, eles passam direto, fazendo poeira. Decido investigar a casa, corro até o
cercado, rodeando a propriedade pelo mato, camuflando-me, observando
atentamente, tentando me certificar de que não há mais alguém ou câmeras.
Atravesso os arames do cercado, chegando aos fundos da residência,
entrando pela porta da cozinha após arrombá-la. Passo cuidadosamente pela
cozinha podre e fedorenta, observo o primeiro quarto de porta entreaberta,
esbugalhando os olhos ao ver algo terrível: uma mulher grávida amarrada em
uma cadeira com um saco preto cobrindo o rosto.
CHOQUE!
MEDO!
Corro até o corpo imóvel, com o coração acelerado, puxo o saco e quase
caio para trás, minhas pernas até enfraquecem de tanta indignação ao ver...
— Leda! — Murmuro, abismado, mirando a ruiva desfalecida, a minha
ex-namorada!
A FACE DO MAL

“É o fim!”

Não consigo crer que diante de mim está Leda, desacordada, bagunçada,
suja, mas sem ferimentos aparentes. Coitada! Ruiva..., meu relacionamento
mal-acabado. Será que ela está aqui durante todo este tempo de
desaparecimento, presa, sequestrada? O que fizeram com ela? Por quê?
Desgraçados! Não consigo compreender absolutamente nada, as peças não se
encaixam na minha mente. Tenho que utilizar de toda a minha força mental
para sair do estado de choque e me aproximar dela novamente.
— Leda... — chamo, dando tapinhas leves no seu rosto, tentando
acordá-la, um pouco desesperado. Desamarro-a da cadeira. — Leda, acorda!
Acorda! — Pego-a em meus braços. — Leda! Leda! — Estou muito
preocupado.
A mulher abre os olhos lentamente, me reconhecendo, sua expressão
toma um alívio imenso com a minha imagem, um sorriso de felicidade ao me
ver, mas ainda está fraca, porém me abraça forte, se tremendo, em desespero.
— Victor..., meu amor..., me perdoa..., me perdoa — murmura,
chorando.
— Te perdoar pelo quê? — Indago, sem entender.
— Por não ter te contado..., mas eles sequestraram o irmão da Gui,
queriam dinheiro..., ela me pediu ajuda e silêncio.
— Quem Leda? Quem são eles? — Estou muito curioso, um pouco
nervoso.
— A Gui não conseguiu juntar a quantia que eles pediram no prazo...,
então nos enganaram marcando um encontro para devolver o garoto, mas na
verdade queriam mais grana..., aí você apareceu do nada...
Lembro do dia em que segui as duas até o encontro com aquele cara,
sim, é ele mesmo! Augusto! Maldito! Ele que falou com elas duas, com a
mala cheia de dinheiro! Eu sabia que o conhecia de algum lugar!
— A mala caiu no chão, eles ficaram sem o dinheiro — a voz dela
fraqueja, seus olhos fecham por alguns segundos.
— Calma, depois você me conta com calma, está fraca! — Ando com
ela para fora do quarto, no colo.
— Quando fui te falar a verdade, vi... você com a Laura..., não
suportei..., ao voltar para casa encontrei a Gui morta, foram eles, então eu
fugi, fiquei com medo, vi que estava sendo procurada pela polícia..., quando
finalmente tive coragem para te achar, eles me sequestraram.
— Você está grávida? — Mudo de assunto, parando de caminhar,
olhando em seus olhos chorosos.
— De três meses..., é seu, meu amor — fico sem chão com tanta
informação. Meu Deus, que caos, ela sofreu muito, tadinha.
— Tudo bem, agora eu estou aqui, vamos embora, vou te salvar e te
proteger de agora em diante — prometo.
Antes de alcançar a porta da cozinha, um pitbull raivoso entra por ela.
MERDA! O animal rosna pra gente, latindo, preparando-se para atacar,
mostrando os dentes que podem estraçalhar qualquer coisa. Dou passos para
trás enquanto ele se aproxima devagar, nos fazendo recuar, então ataca,
correndo em nossa direção como um demônio, entro rápido em outro quarto,
fechando a porta com o pé, sentindo a força violenta dele do outro lado,
empurrando, feroz, a ruiva fica apavorada.
— Tudo bem, Leda, tudo bem — tento acalmá-la, ela controla o choro.
Estamos no escuro, procuro o interruptor de energia, o encontro, a luz
surge, tomo outro grande susto: há fotos minhas, da Laura e do Apolo
espalhadas pelas quatro paredes, por todos os lados, todas recentes!
— O que é isso?! — Indago, em terror, olhando em volta enquanto o
maldito cachorro continua latindo e atacando a porta do outro lado.
— Quando eles me sequestraram..., mudaram de alvo..., queriam você e
a Laura..., falaram em vingança — Leda desmaia.
Coloco-a numa cama de solteiro surrada, observo novamente as
imagens, agora com mais atenção, é assustador! Há fotos minhas com a Leda,
e da Laura com Henrique. A minha família está em risco! Encontro jornais e
revistas com notícias nossas, da Alcateia, dos meus avanços como
empresário, informações sobre a Laura, das entrevistas que ela deu na TV,
das suas exposições na Europa.
— Que merda! — Praguejo. Tenho que sumir daqui!
Abro a janela, o cachorro para de latir. Pego Leda no colo, saltando para
o lado de fora.
Au! Au! Au! Au!
O cão corre em nossa direção, nos perseguindo, tenho que pensar rápido,
não dará tempo de fugir. Jogo Leda no ombro direito, cato um pedaço de
madeira forte do chão, acertando-a na cabeça da fera quando pula em nós. Me
desequilibro um pouco, dando três passos para trás, quase caindo, mas sou
forte, recupero a posição, diferentemente do cachorro, que rosna, caído, com
a cabeça ferida, tremendo as patas. A pancada foi implacável!
Saio da propriedade, atento a tudo, seguindo sempre perto do mato para
caso precise me esconder, a escuridão da noite ajuda na camuflagem. Chego
ao meu carro, ponho Leda no banco do passageiro, prendendo-a ao cinto de
segurança, tomo o meu lugar, ligando o automóvel, fazendo a ré. Lembro que
há outro celular no porta-luvas, o pego enquanto entro na estrada.
— O que está acontecendo? — Pergunta a ruiva, sonolenta.
— Estou ligando para a polícia, estamos indo embora... — neste
momento, recebemos uma pancada, outro carro bate com toda a força em nós,
nos fazendo colidir contra uma árvore. Fico zonzo, minha visão turva, tudo
embaçado.
— Victor..., você está bem? — A voz da Leda está distante, minha testa
sangra.
— Vai ficar... tudo bem — asseguro, com a voz fraca, pondo a mão em
seu ombro. Desço do carro para ver o que houve, encontrando Augusto
saindo do seu automóvel e vindo feroz em minha direção, pronto para brigar.
Ele tenta me chutar, mas desvio, acertando-lhe com um soco, recebo
outro em resposta e um golpe na perna que me faz ajoelhar. Invisto contra seu
abdômen, quase lhe tirando o ar, levanto, o empurrando com violência até
fazê-lo bater contra o carro, o soco, tento lhe enforcar, mas o infeliz consegue
se livrar das minhas mãos e me acerta com uma joelhada, socos no rosto, vou
ao chão!

Tudo aconteceu tão rápido, os empregados da mansão chamaram o


socorro, a polícia, e agora estou aqui, em uma sala de espera no hospital,
esperando receber mais informações da minha mãe porque as primeiras foram
as piores possíveis. Sinto-me chorosa, desgostosa, apavorada, lembrando da
imagem doentia de Eliza, a empregada.
Em nenhum momento ela correu ou fugiu, pelo contrário, permaneceu
lá, queria que soubéssemos que a culpada do envenenamento é ela! Mas por
que, meu Deus? O que Eliza tem contra a minha mãe? O que houve? É um
absurdo, uma loucura! Tento ligar novamente para Victor, mas só dá caixa de
mensagem.
— Victor..., cadê você? — Murmuro, agoniada, enxugando as lágrimas.
Preciso dele ao meu lado agora. Avisto Apolo e Erick se aproximando,
levanto, abraçando o meu filho.
— Mãe, calma, eu estou aqui — sigo seu conselho, voltando ao
controle.
Nos sentamos, conto tudo a eles.
— Mas que empregada louca! — Erick está embasbacado.
— Mas por que a Eliza fez isso? — Pergunta Apolo, incrédulo, sem
entender.
— Eu não sei, ela ficou lá olhando para a mamãe, gostando do seu
sofrimento, esperou a polícia chegar e foi levada para a delegacia.
— Tia, tem caroço nesse angu, ela não iria fazer isso sem motivo.
— Como a vovó está?
— Ela teve um AVC, eles estão tentando retirar o veneno do corpo dela,
não sei o que será. — Volto a enxugar as lágrimas. — E cadê o pai de vocês?
— Não conseguimos falar com ele, o celular só cai na caixa de
mensagem — informa Erick.
— Está acontecendo a mesma coisa comigo — afirmo.
— Ele saiu de casa mais cedo hoje, disse que tinha assuntos pendentes
para resolver na Alcateia — afirma Apolo. — Mas eu tenho o número do
Everton, o gerente, vou ligar pra ele!
O garoto faz a ligação, mas a conversa demora mais do que o esperado,
deixando seu semblante preocupado.
— O que foi? — Pergunto, temerosa, nem sei porquê.
— Everton também está preocupado com o nosso pai, disse que ele
demitiu um segurança com o qual estava desconfiado e depois saiu no carro
atrás dele.
— Como assim atrás dele?
— Everton disse que viu que meu pai seguindo o homem.
— Será que é aquele segurança que ele disse parecer familiar? — Erick
raciocina, pensativo.
— Do que vocês estão falando? Quem é este segurança?! — Pergunto,
preocupada, o meu sexto sentindo diz que isso não é bom.

— Ele pediu pro gerente a ficha de um segurança que achou familiar,


mas não lembrava quem era — responde Erick.
— É verdade, Erick, só pode ser o mesmo segurança.
— Conheço o pai de vocês, ele é muito sagaz, se foi atrás deste
segurança é porque tem alguma coisa acontecendo, e eu não estou com um
bom pressentimento.

Acordo com um balde de água fria na cara, assustado, esbugalhando os


olhos, confuso, sem entender merda nenhuma. Minha visão embaçada
novamente, pisco, tentando enxergar, dando-me conta de que estou amarrado
à uma cadeira.
— Acorda... — ouço uma doce voz, mas que soa maligna para mim. —
Acorda Victor, a festa já vai começar.
Minha visão retorna, finalmente consigo enxergar alguém na minha
frente, miro seu rosto, meu coração quase sai pela boca quando vejo o
conhecido sorriso maléfico, usando uma blusa preta com capuz, sem
sobrancelhas, assustadora.
— Sibele...? — Sussurro.
— Olá, estava com saudades de mim? Voltei — é irônica.
— Então você é a cabeça por trás disso tudo — concluo.
— É, Victor, eu mudei. — Ela retira o capuz, mostrando sua careca, não
possui mais um fio de cabelo, o que deixa a sua imagem ainda mais
horripilante. — Não sou mais aquela menina ingênua, passional. Agora sou
perigosa, e vou destruir você, todos vocês! — Promete, pelo visto os anos na
prisão não a fizeram deixar de ser uma psicopata.
Sinto a presença de Augusto às minhas costas, contente com a situação,
tento entender como ele se aliou à essa mulher. Miro Leda jogada num canto,
desacordada, a alguns metros de mim.
— Pelo visto o tempo na prisão não te fizeram deixar de ser uma doente
— provoco-a.
— Se me chamar de doente de novo, eu vou cortar a sua língua —
ameaça, mas não tenho medo, não lhe dou ouvidos.
— Você devia estar presa.
— Dezesseis anos, três meses e vinte e um dias, você acha pouco?
ACHA?! — Exclama a última palavra, com ódio na voz.
— Por que você não esquece de vez a mim e à minha família?
— Porque vocês são inesquecíveis, meu bem, — ela toca o meu rosto
com os seus dedos sujos. — Não houve um dia em que eu não pensasse em
você e na Laura, aquela desgraçada que nunca soube valorizar o meu amor.
— Você precisa de ajuda, de tratamento — concluo.
— Foram muitos anos naquela prisão que você e a Laura me tiraram! Eu
tinha uma vida, uma carreira promissora, mas a sua chegada acabou com
tudo, me abstendo do controle. Sabe o que me tornei agora? O descontrole, o
desequilíbrio, sou o oposto de tudo que é perfeito. Diante de mim não pode
haver alegria, nem risos, só dor e sofrimento, a mesma dor e o sofrimento que
tive em todos estes anos enjaulada.
“Você deve estar se perguntando como tudo isso aqui foi planejado.
Bem, já conheceu o Augusto, né? Meu aliado. — Ela aponta para o
brutamontes sorridente, minha vontade é de quebrar os dentes dele. — Nós
nos tornamos amigos por circunstâncias do meio. Desde que fiquei livre
passei a observar você e Laura, quase todos os dias, fotografando seus
momentos de felicidade, tentando arquitetar a minha vingança, pois sabia que
só ela me traria a paz que tanto busquei em todos estes anos reclusa.
Não há mais como alterar o passado, ter de volta a vida que eu tinha,
mas não é tarde para fazer você e Laura sentir o mínimo do que eu senti.
Então vi você namorando com esta pobre coitada — ela caminha em direção
à Leda, me deixando aflito. — Segui você no dia em que seguiu ela e a outra
no encontro com Augusto, onde ele perdeu o dinheiro.”
— Se você não tivesse entrado no meu caminho, hoje eu estaria curtindo
a vida sossegado, nada disso estaria acontecendo — Afirma o homem, há um
resquício de amargor em sua voz.
— Curtindo a vida com dinheiro fruto de um sequestro? — O provoco.
— E daí? — Ele dá de ombros. — Cada um escolhe o meio pelo qual
quer ganhar a vida, eu gosto de dinheiro fácil. A defensora pública era um
bom alvo, mas tive que matá-la por segurança, a ruiva tomou a culpa, eu saí
ileso — se enaltece, criminoso, bandido.
— Foi aí que eu resolvi me apresentar a ele, já que seguia os seus passos
desde a confusão com a mala de dinheiro. Convenci Augusto de que
tínhamos coisas em comum, ele queria dinheiro, eu queria vingança. Mudei o
seu foco para o namorado da ruiva, um homem rico e poderoso, mas você
sumiu de repente, Victor, assim como Laura, a família feliz resolveu viajar.
Contudo, um dia de guarita na Alcateia nos fez pegar Leda, a nossa galinha
dos ovos de ouro. Ela te contou que está esperando um filho seu?
Meu ódio cresce gradativamente, Sibele está bem pior do que antes,
maldita!
— Augusto se infiltrou na Alcateia para descobrir para onde vocês
viajaram, decidimos que era melhor esperar que voltassem, tudo seria mais
fácil de se executar aqui em Teresina. Mas novamente você se mostrou um
enxerido, Victor, descobriu tudo e veio parar aqui antes mesmo de
conseguirmos pedir uma boa quantia pelo resgate
— Os dois vão pagar caro por isso, eu juro — ameaço.
A mulher gargalha alto, em deboche.
— Quem vai pagar é você! Já que veio com tanta boa vontade a nós,
agora será a nossa nova galinha dos ovos de ouro! Laura terá que ser bem
generosa para salvar a tua pele, o que ela não imagina, é que em minhas
mãos, você não tem salvação!
— Psicopata! — Xingo, cuspindo nela.
— Já sei como a Laura ficará sabendo da sua condição, vou enviar um
pedaço dessa sua língua suja para ela, não há melhor susto que este. Augusto,
por favor, traga o alicate — pede, calmamente, doentia.
O brutamontes entrega o que ela pediu.
— Segura a cabeça dele. — ordena, malvada.
— Não me toca, não me toca! — Exclamo, furioso, recebendo um soco
no rosto que fazem meus ouvidos zumbirem novamente, minha visão embaça
por alguns segundos, fico mole, Augusto puxa minha cabeça para trás,
forçando a minha testa, me fazendo uma boca de peixe contra a minha
vontade, com violência.
— Nhão... — não consigo falar direito, sinto medo.
— Você fala demais..., sempre falou — Sibele é sarcástica, enfiando a
ponta do alicate em minha boca e prendendo a ponta da minha língua com
força, machucando. Gemo de dor, entrando em desespero, mas estou
impotente, não consigo mexer o rosto, enquanto os vilões riem
diabolicamente.
— Isso é por ter matado o meu cachorro — Rosna Augusto.
— Ah, Victor, não tenha medo, vai ser só um pedacinho — Sibele retira
um canivete do bolso, fecho os olhos, não consigo lutar nem me defender,
sou obrigado a aceitar meu horrível destino.
Toc! Toc! Toc!
Abro os olhos, vendo os vilões estáticos, sem saberem o que fazer.
Tento pedir por socorro, mas Augusto tapa a minha boca imediatamente,
enquanto Sibele resolve se aproximar da porta, desconfiada.
— Quem é? — Pergunta
— É o entregador de pizza.
Eu e Apolo estamos com a tia Laura, aguardando notícias da nossa avó
que nem cheguei a conhecer ainda e já está quase morrendo, pelo visto. Fico
encabulado com essa história da empregada ter lhe dado veneno de rato, que
maldade, que loucura. Qual seria o motivo para ela ter feito isso?
— Apolo fica aqui com as minhas coisas, eu vou no banheiro — Laura
deixa a bolsa, entregando seu celular na mão do filho, saindo.
— Cara, onde está o nosso pai? — Indago, curioso.
— Não faço ideia.
Uma mensagem aparece na tela do celular da tia Laura, com o nome do
Victor.
— Olha, é ele! — Apolo, abre a mensagem que nos preocupa, nosso pai
pede socorro junto à uma localização. — Socorro?
— Isso é sério? — Fico em dúvida.
— Este é o antigo número do meu pai, o outro está caindo na caixa de
mensagem quando tentamos entrar em contato.
Apolo abre a localização.
— Mas o que ele está fazendo no meio desse mato? — Meu irmão está
tão contrariado quanto eu.
— Temos que ir averiguar, o gerente disse que ele saiu atrás daquele
segurança, e agora essa mensagem, boa coisa não deve ser — concluo.
— Tem razão, vou mandar a localização para o meu WhatsApp e apagar
do celular da minha mãe, não quero preocupá-la mais do que já está.
— Certo.
Quando a tia Laura retorna, lhe damos uma desculpa para sair, pegamos
um táxi e seguimos a pista. Paramos com o carro em uma chácara no meio do
nada, afastada da cidade, avistamos o BMW do Victor estacionado dentro do
cercado.
— É o carro dele, nosso pai está aqui! — Apolo fica ansioso.
— Querem que eu buzine? — Pergunta o motorista.
— Não — nego. — É melhor o senhor chamar a polícia.
— Por quê? — Indaga Apolo.
— Nosso pai pediu socorro na mensagem, não sabemos o que está
acontecendo dentro desta casa, se chamarmos a atenção podemos acabar nos
comprometendo ou comprometendo ele.
— É, ele tem razão — o motorista concorda comigo. — Este lugar é
perigoso, frequentemente a polícia encontra corpos desovados por esta
região.
— Então não vou esperar a polícia chegar, preciso ajudar o meu pai se
for caso — Apolo desce do automóvel, seguindo para a chácara, teimoso.
— Moço, desliga o carro para não chamar a atenção e faz o que eu disse,
chame a polícia — vou atrás do meu irmão, correndo, o acompanhando
quando ele ultrapassa a cancela.
— Calma, mano, o que está fazendo?! — O seguro pelo braço.
— Olha, é a voz dele — sussurra, ficamos em silêncio, nos aproximando
da janela, espiando discretamente, avistando Victor em uma situação
péssima. Também há uma mulher desfalecida no chão.
— É a Leda, a ex do nosso pai — murmura Apolo. — E agora, o que
faremos?

Os bandidos trocam olhares, estranhando o tal entregador de pizza,


enquanto eu reconheço a voz do Erick.
— Vá embora, não queremos pizza — nega Sibele.
— Pediram uma aqui neste fim de mundo, só pode ser aqui, é a única
casa de luzes acesas — insiste, este garoto está se arriscando, agora temo por
ele. Como veio parar aqui?
— Não é aqui, vai embora!
— Mas, minha senhora, não posso voltar com o pedido, agora você vai
ter que comprar.
— Eu não quero porra de pizza nenhuma!
— Ah, pois nós temos um problema sério...
— Vá embora!
— Minha senhora eu sou trabalhador, eu podia estar matando, roubando,
sequestrando, mas não, estou fazendo o meu trabalho, deixe de zanga —
retruca, atrevido.
Leda se mexe no chão, acordando. Droga! Ouço um golpe metálico bem
forte às minhas costas que faz o brutamontes me soltar e ficar tonto. Volto a
respirar, com desespero, buscando ar, Sibele saca uma arma em minha
direção, confusa, observando o que está acontecendo às minhas costas,
fazendo-me concluir que Augusto briga com alguém.
Erick arromba a porta, acertando a cabeça da vagabunda com uma pá
tradicional, que cai desacordado, é tudo muito rápido. Ele vem me desamarrar
enquanto ouço a voz de Apolo, descobrindo que é ele que se arrisca a lutar
com Augusto. Assim que fico liberto das amarras, levanto furioso, pego a pá
das mãos de Erick, indo para cima do bandido, acertando sua cabeça com
tanta força que o ferro amassa, é o suficiente para derrubar o homem.
Aproveito que está caído para enchê-lo de chutes, tanto na barriga
quanto no rosto, fico transtornado, descontando todo o ódio por ele ter tocado
no meu filho e na Leda!
— Pai, já chega! — Apolo e Erick me seguram, me afastando do
desgraçado. Vejo Sibele desacordada, sangrando.
— Desgraçada — rosno, mirando-a com nojo, Leda vem em nossa
direção, a abraço. — Vamos sair daqui. — A ruiva se apoia em mim para
caminhar, meus filhos nos acompanham. — Como vocês chegaram aqui? —
Estou curioso.
— Recebemos a sua mensagem pedindo socorro e com a localização —
informa Apolo.
— Foi eu que mandei enquanto estava no carro — diz Leda, trocamos
sorrisos.
— CUIDADO! — Erick grita, vendo a bandida saindo da casa armada
com o revólver.
Pow! Pow!
Tudo parece girar em alguns segundos, a respiração sucumbindo, os
olhos se fechando. É o fim!
SEM CALOR

“— Por que você tentou matar a nossa mãe? ”

Acordo lentamente, meus olhos pesam, parecem que não querem me


deixar enxergar. Enfim, me vejo em um lugar desconhecido, um quarto de
hospital. Ah, meu Deus, de novo, não, penso. Um homem e uma mulher ao
meu lado me olham sorridentes, não os conheço, mas pelos seus trajes
brancos deduzo serem médico e enfermeira.
— Oi — ele me cumprimenta. — Está me vendo bem?
— Sim — murmuro.
— Qual é o seu nome?
— Vi... Victor. — Falo com dificuldade.
— Qual é o nome dos seus filhos?
— Apolo... e Erick.
— Isso, muito bem, ele está reagindo bem — fala com a mulher que faz
anotações em uma caderneta. O médico põe o estetoscópio em mim, ouvindo
as batidas do meu coração. — Está se sentindo bem, Victor?
— Mais ou menos — respondo, sinto-me cansado.
— Os sinais vitais dele estão muito bem, isso é um milagre.
— Onde estão... os meus filhos?
— Calma, eles já foram avisados que você acordou, sua família está a
caminho.
— Estão bem?
— Sim, todos bem.
— E a... Leda?
— Ela também está bem.
— Há quanto tempo... estou aqui?
— Você vai já saber, mas queremos que mantenha a calma e não se
assuste com as mudanças — a voz dele tenta me tranquilizar;
— Que mudanças? — Franzo a testa.
— Muitas coisas mudaram e você não pode entrar em desespero, tudo
bem? — Fala a enfermeira.
— Como assim? — Estou confuso.
Laura entra no quarto, segurando a mão de uma menina bonitinha,
chocada ao me ver, seus olhos se derramam em lágrimas imediatamente. O
médico vai até ela e lhe passa algumas instruções que não consigo escutar
bem, enquanto a garotinha loira, a coisa mais linda que eu já vi na vida, me
olha escondida atrás da minha mulher. Quem é ela? A enfermeira mexe nos
aparelhos conectados à mim, o médico a chama, eles saem.
— Victor — Laura parece não acreditar, emocionada, surpreendendo-
me.
— Oi, meu amor — respondo, lembrando que terei que conversar com
ela sobre a Leda, — Por que me olha assim?
A mulher larga a mão da criança e me abraça forte, soluçando em
pranto, sinto o seu calor, é tão bom, parece que ela não me toca há muito
tempo.
— Meu amor, por que você está chorando? Está tudo bem, eu estou
bem, o pior... já passou — meu rosto é acariciado docemente por sua mão
trêmula.
— Mamãe, por que você está chorando? — Pergunta a menina, que
aparenta ter uns seis anos de idade. Por que ela chama Laura de mãe? Troco
olhares com a loira sem entender o que está acontecendo. Quem é essa
garota?
— Minha filha, lembra do papai? — Laura aproxima a criança de mim.
— Aham — responde, ela é a minha filha? Como assim?
— Olha, ele acordou, conta pra ele o que aconteceu.
— Papai, você teve um acidente e dormiu por cinco anos — dispara, e é
como uma flecha no meu coração. Suspiro, virando o rosto, abismado, não
pode ser!
— Cinco anos? — Indago, incrédulo. — Eu... fiquei em coma por...
cinco anos? — Meu mundo desaba.
Laura assente, confirmando a verdade que nem ela mesma quer
acreditar. Meu Deus..., por quê? A minha vida..., cinco anos..., o que fiz para
merecer isso?
— Mamãe, eu acho que ele ‘tá passando mal — diz a menininha, eu não
consigo sequer demonstrar reação para com ela ainda, estou em mais
profundo choque! Fecho os olhos bem forte, tentando processar esta
informação.
— Victor! — Leda surge segurando a mão de uma menininha do cabelo
tão vermelho quanto o seu. Minha nossa!
Laura leva a nossa filha para longe após trocar olhares desagradáveis
com Leda. Fico paralisado, sinto vontade de chamar a loira e pedir para que
não se afaste, mas já é tarde.
— Meu amor, você acordou, finalmente você acordou! — Leda avança
em mim, me dando dois selinhos na boca, sem me deixar reagir. Ela me
abraça, em lágrimas, continuo feito uma estátua.
— Papai! Papai! — Grita a pequena ruivinha, me abraçando.
Começo a entrar em desespero, olho para os lados, buscando uma luz,
uma saída, isso não pode ser real! Cinco anos!
— Olha, meu amor, a nossa filha, veja como é linda!
Duas filhas, eu tenho mais duas filhas, de duas mulheres diferentes,
como elas encarraram isso durante todo este tempo?! Quando percebo, já
estou ofegante, assustado, a minha voz não sai, me sinto vulnerável,
impotente, sem controle sobre mim mesmo, sem poder algum sobre a minha
própria vida.
— Meu amor, você está bem? — Indaga Leda, acariciando o meu rosto.
— Sei que é muita informação, mas vai ficar tudo bem...
— Desencosta dele! — Laura puxa a mulher pelo pulso, irritada.
— Eu sou a mãe da filha dele! — Rebate Leda, se desvencilhando da
loira, respondendo na mesma ferocidade.
— E eu sou a esposa e a mãe de dois filhos dele! — Retruca Laura,
dando ênfase ao "dois".
Fico boquiaberto, mirando as duas quase indo aos tapas, simplesmente
não sei o que fazer. Miro as duas garotinhas, minhas filhas! Para completar o
circo, dois homens feitos, negros lindos, entram pela porta, Apolo e Erick!
— Pai! — Dizem em coro, ambos me abraçam, Leda e Laura se afastam
uma da outra, cada uma em um canto da sala, enquanto Apolo e Erick estão
emocionados, me contemplando.
— Pai, que bom que você voltou! — Diz Apolo, segurando a minha mão
esquerda.
— Pai, eu senti tanto a sua falta! — Erick, segura a minha mão direita.
Me sinto mal, é tudo muito novo, muita informação, não consigo processar.
— Victor, você vai ter que escolher! Ou eu ou ela! — Exige Leda,
decidida, trocando olhares furiosos com Laura.
Todos se entreolham neste momento e depois trazem seus olhos para
mim, esperando uma resposta, entro em pânico interno.
— Eu sou a esposa dele! — Retruca Laura.
— Victor me ama!
— Pai, o senhor está bem? — Pergunta Apolo, enquanto suas irmãs
choram e gritam vendo as mães discutindo.
CAOS.
— Pai, acorda! — Manda Erick. — Acorda! Pai acorda!
Acordo do pesadelo, ofegando sem parar, olhando para todos os lados
assustado, me dando conta de que estou no chão com Apolo e Erick ao meu
lado, ainda estamos na chácara, tudo não passou de um terrível sonho. Vejo
Sibele sendo levada pela polícia, algemada, gritando em pânico.
— NÃO! EU NÃO QUERO VOLTAR PRA CADEIA! — Agoniza ela,
enquanto é arrastada pelos guardas.
Procuro por Leda, encontrando-a caída mais na frente, sangrando no
chão, então entendo tudo!
— Ela se jogou na sua frente, pai, ela salvou a sua vida! — Informa
Apolo, tristonho.
— Você caiu e bateu a cabeça, ficou desacordado por alguns minutos —
conta Erick.
Vou até a ruiva que ainda está acordada, um sorriso surge em seu rosto
ao me ver, seguro a sua mão em desespero, vendo sua barriga sangrar, os
tiros foram no abdômen.
— Nós dois..., foi real? — Ela me pergunta, com a voz fraca, os olhos
baixos, me estraçalhando por dentro.
— Sim, foi sim, foi real! — Confirmo, apertando a sua mão, sentindo o
seu calor se esvair e dar lugar ao frio da morte.
— Você me amou?
— Sim! Eu te amei! Eu te amei, Leda..., por favor não vai embora... —
imploro, entre lágrimas. — Não vai embora.
— A nossa filha seria linda — são as suas últimas palavras, seu toque
desvanece, ficando completamente sem calor, Leda não respira mais,
fechando os olhos para sempre, arrancando-me um pedaço da alma.
Choro, sentindo uma dor indescritível, a culpa tomando conta de mim de
forma colossal, sem chances de ir embora. Meus filhos me abraçam,
consolando-me, me sinto um nada, não pude defendê-la!

Estou no hospital sozinha, angustiada, andando de um lado a outra na


sala de espera, quando Lorrana e papai entram, abraço os dois.
— Viemos o mais rápido que pudemos — informa minha irmã.
— Minha filha! — Papai me aperta carinhosamente. — Como está,
Leonor?
— Nada bem, mas agora a sua situação está mais controlada, porém o
risco de morte é iminente.
— Onde estão Erick, Apolo e Victor? — Pergunta Lorrana.
— Victor sumiu desde cedo, ligo, mas seu celular não chama. Apolo e
Erick vieram aqui, porém ficaram pouco, disseram que precisavam sair,
falaram nada com nada, e agora também não me atendem.
— Que estranho — diz meu pai.
— Também acho, papai, tem algo errado, eu sinto isso, e não é só pela
mamãe — declaro, meu celular chama, é o meu filho, atendo. — Apolo! Por
que não me atendeu... — perco a voz quando ele começa a explicar tudo,
encosto-me na parede para não desabar com tamanho choque.
— O que houve, Laura? Os meninos estão bem? — Minha irmã fica
preocupada, continuo ouvindo Apolo, abismada.
— Onde vocês estão? — Pergunto, sem chão.
Conto a terrível notícia à Lorrana e também ao nosso pai, ele fica no
hospital enquanto ela me acompanha até a casa do Victor. No caminho,
choro, pensando na maldita Sibele, em toda esta atrocidade, e na coitada da
Leda, minha irmã me consola, também horrorizada com a história.
Ao entrarmos pela porta, nos deparamos com Apolo e Erick no sofá,
tensos. Erick, ao avistar a mãe, corre desesperadamente até ela, lhe dando um
abraço apertado, o que a deixa maravilhada e emocionada. É notável o quanto
ambos sentiam falta um do outro. Vou ao encontro do Apolo, o abraçando
também, mais uma vez corri risco de perder o meu garoto.
— Meu filho, você está bem? Te fizeram algum mal? — Pergunto,
acariciando o seu rosto, preocupada.
— Não, o maior mal quem sofreu foi o meu pai, ele está arrasado — diz
o garoto.
— Mas como tudo isso aconteceu? Vocês estavam no hospital comigo,
não estavam?
— Eu vou te explicar tudo.
— Eu também quero saber — afirma Lorrana, se aproximando de mãos
dadas com o filho.
Sentamos e os dois nos contam tudo. Após saber da história completa,
subo para o quarto do meu amor, o encontrando na cama, vidrado no nada,
sofrendo, de olhos marejados de tanto chorar.
— Victor — vou até ele, o abraçando acolhedoramente, arrasada por vê-
lo destruído assim.
— Eu estou tão cansado, Laura..., tão cansado — confessa, entre
lágrimas.
— Meu amor, tudo isso vai passar, vai passar — tento consolá-lo, o
beijando na cabeça.
— Ela esperava um filho meu.
— Eu sei, os meninos me disseram. Leda foi muito corajosa.
— Aquela maldita Sibele voltou do inferno para me machucar outra vez,
mas agora o ferimento foi bem mais profundo, não sei se esta ferida vai curar
— ele soluça, sem esperanças, sofrendo, sofro junto com ele. — Não
consegui protegê-la...
— Meu amor, você não teve culpa, por favor não diga isso!
— A culpa foi minha.
— Não, Victor, para com isso! Você não tinha como saber! Para! —
Faço-o olhar para mim. — A culpa foi daquela maldita, e se Deus quiser ela
pagará por mais este crime! Nós vamos superar isso juntos, eu estarei ao seu
lado, não vou largar a sua mão! — Prometo.

Deixo Victor dormindo no quarto, e choro um pouco no corredor,


sozinha, sentindo-me indiretamente culpada pela morte da Leda, já que foi o
meu passado e do Victor que a atingiu sem aviso prévio. Então era aquela
louca da Sibele nos perseguindo o tempo todo, nos fotografando, nos
observando. Hoje tenho a certeza que essa mulher foi a pior coisa que já
apareceu na minha vida.
Há dezessete anos ela quase matou o Victor e dessa vez matou a Leda,
estou horrorizada. O Victor amou tanto aquela garota, eu soube disso naquele
dia em que descobri toda a armação da minha mãe, ele escolheu ela ao invés
de mim, e doeu tanto que cheguei a aceitar o que achei ser o fim do nosso
relacionamento. Coitada dessa menina, jamais merecia o fim que recebeu,
ainda mais grávida. Fico arrasada só de pensar em sua morte.
Como seria a nossa vida com mais um filho fora da relação?
Sinceramente, eu não sei se suportaria, mesmo tendo acontecido enquanto
estávamos separados, mas, contudo, eu preferia infinitamente que Leda
estivesse viva e desse a luz àquela criança do que morta pelas mãos daquela
desgraçada psicopata com quem ela não tinha nada a ver. Leda foi uma
vítima, eu nunca a vi como inimiga, até porque isso nunca fez sentido, apesar
de sermos completamente apaixonadas pelo mesmo homem. Ela foi a única
mulher a quem Victor amou depois de mim.
Diante dele eu me fiz de forte, para poder consolá-lo, mas agora, estou
extravasando toda a minha tristeza.
— Laura — Lorrana corre até mim. — O que você tem, minha irmã? —
Seu abraço me conforta
— Ela podia ter matado os nossos filhos — gemo, com muita dor.
— Mas Deus não deixou isso acontecer, esqueça.
— O Victor está arrasado, ele se culpa pela morte da menina.
— Sei que não é fácil falar, mas vocês têm que ser fortes! Aquela
desgraçada da Sibele vai pagar no fogo do inferno, eu tenho fé!
— Talvez eu não consiga mais ser forte, além de toda esta tragédia ainda
tem mamãe. Lorrana, você... tinha que ver a frieza daquela menina..., ela
disse na minha cara que queria mamãe morta!
— É muita coisa ruim que você teve que presenciar em um só dia, não
entra em pânico, respira!
— Vamos tomar uma água, vem, você está muito debilitada
emocionalmente — seguimos para a cozinha, a empregada não está aqui,
creio que já foi embora. Sentamos à mesa, Lorrana prepara um café, me
servindo.
— Vamos encarar toda essa crise pelo lado bom — ela segura a minha
mão, — não estamos mais sozinhas, temos novamente uma a outra, temos o
papai, os nossos filhos unidos. A vida está nos testando mais uma vez,
esporrando a nossa cara, temos que resistir! Também estou triste por todos os
acontecimentos, mas feliz porque Erick me perdoou.
— Que bom, Lorrana — estico um breve sorriso.
— De agora em diante, vou tentar suprir de todas as formas os anos em
que estive ausente na vida de vocês, também será uma forma de me redimir
por todo o mal que cometi.
— Você não tem que se redimir de nada, minha irmã, todos já estamos
fazendo isso, mas obrigada — agradeço.
Após deixar minha irmã e nossos filhos mais calmos, decido regressar
ao hospital para ficar com mamãe e mandar papai para casa. Laura quis me
acompanhar, mas não permiti, ela já fez muito, a aconselhei a cuidar do
Victor e dos meninos. Durmo no hospital, recebendo a notícia do médico de
que o quadro da dona Leonor não é nada bom, que ela entrou em uma espécie
de coma, que está sendo observada rigorosamente.
À tarde, papai vai para o hospital, me substituir, sigo para a casa da
Laura, onde a encontro e durmo um pouco. Mais tarde, todos, exceto papai,
seguem para o enterro da Leda, Victor dá um jeito de avisar à família dela, o
sol se põe com o caixão indo para debaixo da terra. É muito triste.
Victor está abraçado à Laura e eu a Apolo e Erick, todos tristes. O pior
de tudo é ver a família da garota arrasada com a sua morte, eles nos contaram
que passaram dias sem dormir, preocupados com o sumiço dela, contaram o
quão boa pessoa ela era. É ultrajante.

Uma semana se passa, sem sinal de melhora da dona Leonor, que


continua desacordada. Durmo todas as noites com papai na mansão, pois ele
ficou sozinho. Ainda estou encabulada com essa tentativa de homicídio
causada por essa tal Eliza, indago os demais empregados à respeito, mas eles
não sabem dizer nada sobre ela, só que mamãe a contratou através de uma
empresa. O delegado responsável pelo caso entra em contato conosco,
afirmando que Eliza ainda não disse nada sobre o motivo do crime, que quer
falar com os parentes de mamãe primeiro, o que me deixa curiosa.
Combino com Laura e vamos à delegacia falar com a criminosa, para
tentar resolver o caso com mais celeridade. Nos colocam em uma sala
especial com Eliza, onde podem nos ver e nos escutar, ela está sem algemas,
há dois guardas conosco. Ficamos cara a cara com ela, a tensão pesa no ar,
não é uma questão fácil de se enfrentar. Tento imaginar o que levou uma
menina tão jovem, de aparência gentil, bonita, a acabar com a própria vida
tão cedo.
Laura não perde tempo e lança a pergunta que o mundo quer saber:
— Por que você tentou matar a nossa mãe?
OS SUCESSORES

“Preciso de um sucessor”

— Ela ainda está viva? — Pergunta a garota, como é ousada!


— Essa sua pergunta foi ridícula, mas a nossa mãe está viva sim, só que
em estado muito grave devido ao que você fez. Você tem noção do que fez,
menina? — Laura indaga, perplexa.
— E o que ela fez a mim e à minha família, não conta? — Rebate,
gerando troca de olhares entre mim e Laura.
— Do que você está falando? Quem é a sua família? — Pergunto,
curiosa.
— Vocês devem se lembrar do meu pai, Alfredo, ele trabalhou naquela
mansão há muitos anos, era o jardineiro.
— Alfredo? — Indago, lembrando vagamente.
— Eu lembro dele — Laura recorda. — A gente chamava ele de
Alfredinho, mas... já faz bastante tempo.
— Faz vinte anos, foi antes de eu nascer, mas na época minha mãe já
estava comigo na barriga, e a mãe de vocês destruiu a nossa vida.
— Explique isso melhor, o que aconteceu? — Quero saber mais.
— A bruxa da Leonor se interessou pelo meu pai, e teve um caso com
ele — a menina dispara, nos deixando chocadas.
— Isso é impossível, mamãe sempre teve preconceito com negros, e
Alfredo era negro — observa Laura.
— Ah, é? Então por que meu pai trabalhava lá? Depois dele não houve
outro.
— É verdade, depois do Alfredo não lembro de mais negros trabalhando
lá em casa. — Laura pensa alto.
— Ela teve um caso com o meu pai, mas quando ele soube que a minha
mãe estava grávida, quis dar um basta no relacionamento infiel, Leonor não
quis aceitar, ela ficou obcecada pelo próprio empregado. Meu pai contou a
ela que iria ter uma filha, que não queria perder o emprego, porém não queria
manter o caso, ela não concordou e o demitiu.
— E só por isso você fez essa atrocidade? Porque seu pai foi demitido?
— A contesto.
— Claro que não! — Retruca Eliza. — Minha mãe ficou desconfiada do
comportamento do meu pai, mas ele não contou o motivo da demissão, foi
quando o inferno na vida deles começou, Leonor passou a perseguir meu pai,
mas ele se manteve firme, negando. Como um pedido de desculpas, ela
ofereceu um novo emprego a ele, em uma empresa de uma amiga, meu pai
como precisava, aceitou, afinal eu estava prestes a nascer, éramos pobres.
Mas era tudo um plano horrível da Leonor, colocaram joias nas coisas do
meu pai e ele foi preso. Pobre, negro, sem dinheiro para advogado, morreu na
cadeia, mas antes a mãe de vocês fez questão de ir visitá-lo, falar que
planejou tudo, porque não aceitava ser rejeitada.
— Com base em quê você faz estas acusações? Isso foi o que te
contaram! — Rebate Laura, desconfiada.
— Antes de morrer meu pai contou tudo à minha mãe, eu cresci vendo
ela sofrer por causa disso, mas junto ao meu crescimento, nasceu a vontade
de vingança. Fiz de tudo para conseguir o emprego na mansão, por meses
procurei por provas, e encontrei o que precisava nas coisas da dona Leonor,
algumas cartas de amor que ela escreveu para o meu pai, mas que ele
devolveu no portão, nas mãos dela, pedindo para que ela o deixasse em paz!
A verdade é que não tive um pai por culpa daquela velha!
"Eu sei que ele não foi santo ao se envolver com ela, mas se arrependeu
e quis se afastar. Leonor armou toda essa cilada, deixando a minha mãe
sozinha no momento mais difícil da vida dela, foi um milagre eu ter nascido
com saúde. Minha mãe lutou sozinha a vida inteira para me criar, e morreu há
um ano com uma doença rara que não teve dinheiro para tratar. Com certeza
tudo teria sido muito mais fácil e diferente se meu pai estivesse ao lado dela,
mas não teve essa chance!"
— Onde estão estas cartas? — Indaga Laura.
Mais tarde, seguimos com o delegado para a mansão, atrás destas cartas,
as encontramos no local indicado por Eliza. Lemos tudo na presença de
papai, ficamos arrasados, os policias vão embora com mais uma prova.
— O senhor está bem, papai? — Pergunto, vendo-o reflexivo, pensando
em tudo o que descobriu.
— Mais de uma vez, enquanto estava dormindo, sua mãe chamou por
Alfredo — ele abaixa a cabeça, isso lhe dói, Laura e eu o abraçamos. — Mas
naquela época eu a amava tanto que..., simplesmente fechei os olhos, não
quis investigar, nunca tinha visto nada e tinha medo de ver, porém eu notava
que ele era um dos empregados por quem ela mais tinha apreço.
— Ah, papai — Laura fica triste por ele.
— Que ela apodreça naquela cama de hospital — ele deseja, com
amargor.
Dias depois, papai contrata um advogado para Eliza, nós não nos
opomos, não queremos que a "pobre coitada" tenha o mesmo destino que
Alfredo. Papai na verdade quer com isso se sentir vingado também, até
porque nas cartas estava bem explícito o quanto mamãe tentava Alfredo.
Ficamos horrorizadas com a sua hipocrisia durante a vida inteira, nos
xingando, nos recriminando, quando fez igual ou pior, ficou claro que a sua
repulsa por negros nasceu do momento em que foi renegada por um deles,
deixando seu rancor recair sobre todos os outros.

Aproveito que Victor veio dormir comigo hoje, no meu apartamento,


para continuar lhe dando todo o amor do mundo, para ajudá-lo a superar a
morte da Leda e do filho. Conto-lhe sobre a descoberta que fizemos quanto
ao passado de mamãe, enquanto estamos no sofá, ele com a cabeça sobre as
minhas coxas, recebendo as minhas carícias.
— Então sua mãe, no fundo, gostava de negão? — Indaga, com humor,
dando sinal do velho Victor voltando.
— Victor, não fala assim — peço. — Mas sim, Alfredo era negro, até
mais que você.
— Como assim mais que eu? Eu sou negro.
— Digamos que Alfredo era negro café, você é negro chocolate, assim
como Apolo e Erick.
— Apolo é só um pouquinho mais claro — ressalta. — Agora entendo
todo o ódio da sua mãe por mim, ela nem sempre odiou negros, passou a
fazer isso depois de ser rejeitada por um.
— Tomando assim raiva de todos os outros. Quanta hipocrisia. Chega a
doer a minha cabeça só de pensar. E se você visse as cartas, o que ela
escrevia para o Alfredo, dizendo do que sentia falta. Conseguimos perceber
que era a dona Leonor que tentava o rapaz, enfim, isso também não exclui a
culpa dele, mesmo assim papai contratou um advogado para Eliza.
— A garota que tentou matar a Leonor? — Victor fica impressionado.
— Aham.
— Caralho..., espero que a mídia não saiba disso, senão seu pai pode
ser...
— Papai é muito poderoso e discreto, Victor, você o conhece. Agora ele
tem muito ódio da mamãe, como se já não bastasse o que ela fez conosco e
com Lorrana, ainda tem mais essa.
— E como sua mãe está?
— Péssima, o coma continua, não reage a nada, e não há perspectivas de
reação.
— E você meu amor, como está? — Ele acaricia o meu rosto, fitando-
me com os seus olhos castanhos, escuros, profundos. Victor é, com certeza, o
homem mais lindo que conheci na vida.
— Ah, meu bem, acho que não tenho palavras para explicar, estou triste
pela mamãe, e triste por você.
— Eu te amo tanto.
— Eu te amo mais — o beijo docemente. Meu celular chama, é do
hospital, fico apreensiva. Olho para Victor tensa. — Alô..., sim, sou eu —
lágrimas descem com a notícia. Victor me abraça. Mamãe morreu.
Na manhã seguinte, todos estamos no enterro da dona Leonor, vestindo
o temido preto, a cerimônia é triste e fatal como todas as outras, mas não o
suficiente para deixar a família em lágrimas, cada um colhe o que planta.
Após o enterro, seguimos para a mansão a convite do papai, que se
reúne conosco em seu escritório, nos observando seriamente, atrás de sua
grande e refinada mesa.
— Bem, por muito tempo imaginei que este seria um dia de muita dor
para mim, mas não posso ser hipócrita, depois de tudo que descobri de
Leonor, concluí que ela já foi tarde — dispara ele, deixando todos nós meio
chocados, Victor segura um riso.
— Mas papai... — nem consigo repreendê-lo.
— Não diga nada, Laura, só estou expressando o meu sentimento,
respeito e entendo o de todos vocês, não estou debochando, jamais. Só quero
deixar claro que não estou sentindo nada pela morte dela, a minha decepção
foi indescritível.
— Papai, por que nos trouxe aqui? — Lorrana desvia o assunto.
O senhor respira fundo, cruzando as mãos, pensando e fala:
— Assim como a mãe de vocês, logo chegará a minha hora — tentamos
retrucá-lo, mas ele prossegue sem nos dar ouvidos. — Sendo assim, tenho
que pensar como será após a minha partida, foi por isso que os trouxe aqui. Já
conversei com Lorrana, ela me parece não querer largar o seu hotel.
— De maneira alguma, é o meu trabalho, a minha vida — afirma a
mulher.
— Quanto a Laura, nunca se interessou pelos negócios da família,
construiu a sua carreira como fotógrafa, e eu me sinto orgulhoso por isso,
tenho orgulho das duas, ambas têm suas profissões, suas vidas, porém preciso
de um sucessor. Já comentei com Apolo algumas vezes sobre o meu desejo
que ele fique à frente da Cordeiro futuramente, como CEO, parece que às
vezes eu sou o único da família a lembrar que temos uma empresa
transnacional. As nossas carnes são vendidas no Brasil e afora, uma herança
de meu pai, e que em breve precisará de um novo líder para continuar, mas
agora tenho outro neto, Erick. — Todos voltamos os olhos para o meu
sobrinho que parece ser pego de surpresa.
— O senhor... está querendo que eu também tome conta da sua
empresa? — Erick parece inseguro.
— Vocês são os meus netos, temos um patrimônio a zelar. Apesar de
parecer muito cedo ainda, não quero mais estender esta conversa, preciso
saber o que pensam da vida, sobre o futuro de vocês.
Ficamos em silêncio por alguns segundos, esperando pelos garotos.
— Vovô, desde que o senhor comentou sobre isso comigo, fiquei
pensando à respeito, já até comentei com o meu pai, e... por mim tudo bem,
eu posso ficar à frente da empresa, pretendo me formar em direito, posso me
especializar em direito empresarial, acho que dá para casar as duas coisas. Se
o meu irmão quiser ficar comigo, por mim tudo bem — todos sorrimos para
Apolo, o meu orgulho é saber que ele já tem todo o seu destino trilhado na
mente.
— Muito bem, e você Erick? — Papai o indaga outra vez. O garoto
respira fundo.
— É..., ainda não tive tempo de falar com ninguém à respeito, mas vou
aproveitar o momento. Olha, sinceramente, até conhecer o meu pai e chegar
em Teresina, eu não sabia e nem pensava muito sobre o meu futuro. Mas
agora eu sei, e o que eu quero é ser como o meu pai, se ele permitir, pretendo
trabalhar na Alcateia ao seu lado, me formar em administração também. É
isso que eu quero.
— Mas é claro que eu deixo, meu filho — responde Victor. — Por mim
você e Apolo seguem as carreiras que quiserem, eu me sentirei feliz ao vê-los
realizados no que escolherem.
— Se é assim, acho que já estamos conversados — conclui papai. —
Mas Erick, saiba que na Cordeiro sempre haverá um espaço para você.
— Pare já com isso, Rivaldo! Os filhos são meus, você já me levou um,
quer levar o outro também? — Victor brinca, todos caímos nas gargalhadas.

Após quinze dias da morte da minha avó, minha mãe finalmente decide
voltar para Luís Correia, mas antes, meu pai produziu um almoço de
despedida para ela em sua casa. Estamos todos em volta da mesa, comendo,
felizes, conversando, sorrindo, esquecendo um pouco das dores dos dias
atrás.
Aos poucos a alegria invade o nosso meio, Eduardo também está
presente, veio há três dias para buscar dona Helen/Lorrana. Após a
comilança, chega a hora de nos despedirmos da minha mãe e do namorado.
Ela abraça a cada parente, inclusive o Victor, o que mostra que os dois estão
verdadeiramente de bem após toda a loucura.
— Victor, adorei o almoço, muito obrigada mesmo, vou presentear
todos vocês com um almoço também quando retornarem à Luís Correia, que
por sinal, espero que não demore a acontecer — Diz ela, feliz.
— Pode deixar, nós vamos voltar sim, mas cedo do que você imagina —
meu pai pisca para Eduardo, deixando todos curiosos. O que eles estão
armando?
— Meu filho — ela me abraça muito forte, a tiro do chão, como faço
sempre. — Menino, eu te mato! Olha, não quero mais ouvir falar em brigas
na escola! Se comporte! Lembre-se que de Luís Correia para Teresina é
apenas quatro horas de viagem — me avisa.
— Tudo bem, minha mãe querida!! — Abro-lhe meu sorriso descarado.
— Amo vocês, família, qualquer coisa, me liguem — Ela entra no carro
com Edu.
— Tchau, gente! — Edu buzina, sumindo de vista.
— Eu e papai também já vamos — Laura beija o meu pai, se despedindo
de mim e Apolo também, o vovô faz igual, eles saem no carro dela.
Volto com Apolo e Victor para dentro de casa, nos deparamos com Val
recolhendo os pratos sujos da mesa, noto que sobraram muitas tortas
recheadas de chantili.
— Vocês só quiseram saber do carneiro! — A mulher reclama,
caminhando para a cozinha, carregando a louça. — Nem sobrou espaço para
a sobremesa!
Tenho uma ideia perversa, melo a mão de chantili e sujo Apolo no rosto.
— Filho da puta! — Xinga ele, enquanto caio na risada até ser calado
com um pedaço de torta na cara jogado por meu pai, eles se divertem com a
cena.
— Vocês querem guerra? — Indago, logo começa a batalha, tortas são
lançadas de um lado a outro, sujando tudo e todos pela frente, mas no fim Val
nos obriga a limpar toda a baderna, terminamos com um gostoso banho de
piscina.
No dia seguinte, na escola, estou com meu mano no intervalo,
conversando e rindo à toa, até que a gostosa da Isabela aparece com aquele
seu ar de ousada, se achando a dona da porra toda, a última bolacha do
pacote. Ela olha para mim, há dias que me encara, por fim olha para Apolo,
que não lhe dá atenção.
— Vai ser hoje, gato — a garota decreta, entregando a ele um pedaço de
papel.
— Hoje o quê? — Apolo fica sem entender.
— Que você vai me pagar o que deve. Eu esperei todo este tempo em
respeito à sua avó, mas já chega de esperar — Isa vai embora, rebolando.
Troco sorrisos de choque com Apolo.
— O que tem aí? — Pergunto, fitando o papel nas mãos dele, curioso.
— O endereço dela, e o horário para visitá-la mais tarde.
— Você vai, né?
— ‘Tá doido, Erick? Eu te disse que não suporto essa garota.
— Mas a dívida tem que ser paga, Isa ainda pode nos denunciar para o
diretor
— Que se foda, quero mais é que ela me deixe em paz.
— Sendo assim..., acho que posso resolver isso para você — o olho
cafajeste.
— Safado.
— Enquanto isso, você bem que podia visitar outra pessoa, né —
miramos Vanessa, distante, lendo um livro, ela também é uma delícia, boa
gente, louca pelo Apolo de verdade.
— Eu já pensei nisso muitas vezes, mas..., não sei, não quero garotas
apaixonadas por mim agora, acho que criei uma espécie de trauma — Ele fica
reflexivo.
— É só jogar limpo, diz quais são os seus reais interesses, no caso sexo,
vai que ela está afim.
— Erick, a Vanessa não é safada como a Isabela.
— Eu sei, não estou dizendo isso, mas de sexo todo mundo gosta, cara.
Já ouviu falar em "amigos de foda"?
Mais tarde, às 20h em ponto, bato na porta do apartamento de Isabela,
que atende só de baby-doll, uma perfeição! Meus olhos se enchem ao mirar
seu corpinho apertadinho, sinto o seu perfume, ela está pronta pro abate. Eu
também, modéstia à parte, estou um gato, mais ainda do que antes, pois agora
malho todos os dias com os lobos, vai ser xeque-mate!
— O que você está fazendo aqui? — Ela estranha a minha presença,
como esperado. Invado sua residência. — Ei! Enlouqueceu? Eu não deixei
você entrar! — Reclama, fechando a porta, vindo atrás de mim. Hummm,
fechou a porta, hein, penso.
Sento no sofá imenso e luxuoso, estirando os braços, todo folgado,
olhando para ela com meu sorriso matador.
— O Apolo não pôde vir, então vim em seu lugar, vou pagar a dívida no
lugar dele — sorrio com a minha cara de pau. A garota ri alto, bem sarcástica,
cruzando os braços.
— Muito engraçado, agora dá o fora! Pensa que eu sou idiota??
— Claro que não, você é muito inteligente. Mas quer saber o que penso
sobre você de verdade?
— Hum?
— Que é uma garota que acha que vive em uma disputa constante com
as pessoas ao seu redor, querendo sempre ser superior, a melhor, mas que na
verdade está disputando contra si mesma, e isso gata, não faz bem pro
coração — ponho a mão no lado esquerdo do peito, vendo a expressão no
rosto dela mudar, o deboche vai embora completamente. — Você não gosta
do Apolo, pode até estar atraída, mas eu sei que só quer ficar com ele para
provar à sua ex-amiga, Vanessa, que é a "melhor" e que todos os garotos
beijam os seus pés. Mas deixa eu te falar, gata, você não precisa provar nada
a ninguém, e esse tipo de comportamento só faz as pessoas te odiarem. A
cada dia você está mais sozinha naquela sala por conta do seu ego, não acha
que ‘tá na hora de mudar isso?
Os olhos dela enchem de água, mas sem deixar cair lágrima alguma.
— Vem cá, aproveita que eu estou aqui e vamos conversar —
estendendo-lhe a mão direita — Você pode sentar aqui — com a mão
esquerda dou dois tapinhas no sofá, no espaço ao meu lado. — Ou aqui —
dou dois tapinhas na minha coxa. — Você escolhe.
MINHA PARA SEMPRE

“Sabrina suspira, percebendo que é real,


que vai acontecer, que é
agora ou nunca!”

Está claro que surpreendi Isabela ao mostrar que sei quem ela é de
verdade por dentro e quais são as suas reais intenções, o motivo do seu
comportamento tão ridículo com todos na escola. Ela abaixa o rosto por
alguns segundos, desestabilizada, mira a minha mão esperando pela sua, a
segura, vem até mim sensualmente, deixando-me com água na boca, e
quando menos espero, como um furacão, me esbofeteia com tanta força que
devo ter ficado marcado.
— Quem é você para falar essas coisas de mim?! — Exclama, furiosa.
— Vai sonhando que algum dia sentarei nas suas pernas, otário. Só que não!
Vai ficar só na vontade!
— Ah, mas eu não vou ficar mesmo! — Retruco, levantando e
agarrando-a com toda a minha força. Prendo a gata feroz em meus braços
com um lace inquebrável, beijando sua boca com raiva, ela luta contra mim,
tentando se soltar, gemendo dentro da minha boca onde tenta rejeitar meus
lábios nos seus. Mas, como eu desconfiava, aos poucos ela se rende, seus
gemidos de fúria se enchem de lascívia, entregando-se.
Nosso beijo deixa de ser agressivo, a coisa se intensifica cada vez mais a
ponto de nossos corpos pegarem fogo e ficarmos sem fôlego. Trocamos
olhares de desejo, desço a mão para a sua bunda escondida no shortinho
curto, a apertando com força entre os dedos, ouvindo os seus gemidos. A
garota cede, entrando num caminho sem volta, a jogo no sofá, onde
transamos com fogo, gostoso, mais do que eu esperava.
No dia seguinte, converso com Apolo em seu quarto.
— E aí, como foi? — Ele está curioso, lançando-me seu sorriso safado.
— Ótimo, consegui domar a fera, que é mais gostosa do que eu pensava
— digo, satisfeito.
— Sério? Que bom, então, agora sei que ela me deixará em paz.
— Pode apostar que sim. E tu? Foi ver a Vanessa?
— Fui.
— E...?
— Você estava certo, eu fui sincero com ela.
— Vocês transaram?
— Aham, foi ótimo — revela, me fazendo rir de orelha a orelha.
— É por isso que eu te amo, maninho, você é foda! — Pulo em cima
dele, o abraçando, caímos na cama.
— Sai, maluco! — Ele me afasta, aos risos. Ouvimos o som do ronco de
uma máquina incrível, que nos leva até a janela, de onde avistamos nosso pai,
nos esperando em seu Lamborghini.
— Querem dar uma volta? — Nos convida, em segundos estamos com
ele. Victor me cede a direção, Apolo senta ao meu lado, estou muito excitado
ao sentir o poder deste superesportivo vibrando sob meus pés.
— Erick, você já escutou tudo o que eu te disse sobre este carro, né? —
Pergunta meu pai, na janela, nervoso por me deixar dar uma voltinha no seu
bebê.
— Sim, pai! — Confirmo, acelerando um pouco, ouvindo o ronco que
me dá vontade de gritar.
— Ele tem mais de 700 cavalos e chega de 0 a 100km/h em menos de
três segundos, entendeu? — Informa o homem, vagarosamente, mas mal
consigo escutá-lo, quero saber mesmo é de sair em disparada.
— Sim, posso sair agora? — Peço permissão, ansioso, de olhos
arregalados, Victor recua, preocupado.
— Não esqueça, vá o mais devagar possível, e só ande dentro do
condomínio.
— Sim, pai.
— Filho, preste atenção, você tem que tomar muito cuidado, pois
sempre tem algum vizinho andando pelo condomínio...
— UOOOU! — Grito, emocionado, saindo o mais veloz que posso,
deixando meu pai para trás quase em pânico. É uma adrenalina indescritível
dirigir um Lamborghini, estou voando.
— PORRA, ERICK, VAI DEVAGAR! — Apolo está se cagando de
medo ao meu lado enquanto o vendo bate em nós com força.
Piso no acelerador, surtando, feliz, gritando, indo além dos limites, até
que avisto Sabrina, passando por ela como um raio. Desacelero, dando a ré.
— Você quer matar a gente? — Meu irmão está tremendo, até engole
em seco.
— Mano, como assim você não sentiu essa emoção? Meu Deus, este é o
carro da minha vida, que lindo! — Estou excitado, paro ao lado de Sabrina,
que tira os fones de ouvido ao nos ver. — Oi, delícia — pisco para ela,
abrindo-lhe um sorriso — Quer dar uma voltinha com a gente?
— Eu não, já ando no do meu pai — responde, fazendo bico.
Miro Apolo que revira os olhos, esqueci que aqui todo mundo é rico.
— Mas duvido que você ande com dois irmãos gatos como a gente —
brinco.
— A modéstia mandou lembranças, e mesmo que eu quisesse ir, não
tem espaço para mim aí.
— Você pode sentar nas minhas pernas, se quiser — convida Apolo,
safadinho.
A garota balança a cabeça negativamente, rindo da nossa cara de pau,
mas aceita o convite. Logo estamos os três rindo, nos divertindo, andando no
imenso e esverdeado condomínio, descendo e subindo na estrada, vendo
alguns vizinhos, passando pelas casas luxuosas até voltar à nossa, onde
encontramos nosso pai na porta, preocupado ao nível do caralho master.
— Olá Victor, estou adorando conhecer seus filhos — Sabrina desce do
automóvel, nos dando tchau, indo embora contente, rebolando. Tchau,
pedaço de maravilha, penso.
— Mas tu é demais! — Victor reclama, querendo me matar.
— Pai, eu juro que foi o meu pé que pesou, não tive culpa. Além disso,
o Apolo mandou eu acelerar, esse menino não é de Deus! — Tento me
defender.
— Eu mandei acelerar?! ‘Tá doido?! — Exclama Apolo, emburrado
com a mentirinha, passamos a discutir.

Certa noite, levo Laura a um restaurante especial, ao chegarmos no


local, a surpreendo com o espaço inteiramente vazio, reservado só para nós
dois. O ambiente está repleto de rosas vermelhas, decorando cada parte, uma
banda toca uma linda canção, elevando os nossos sentidos. Estamos com
trajes tão exigentes quanto a ocasião, eu em um terno de grife, ela em um
vestido fino.
— Victor — Os olhos da loira brilham, contemplando todo o arranjo e
requinte ao seu redor.
— Tudo para você, meu amor — puxo a cadeira, ela senta.
— Onde estão os demais clientes?
— Ainda não percebeu? Reservei o restaurante só para nós dois.
— Por quê? — A mulher continua embasbacada.
— Porque hoje é uma noite especial. Neste dia, há alguns anos, nós nos
“casamos”, não se lembra? — Faço sinal de aspas.
— É claro que me lembro, jamais esquecerei. Você, mesmo sabendo que
legalmente somos impedidos de constituir matrimônio, organizou uma linda
festa simbólica, que ficou marcada na memória.
— Sim, exatamente. E você se lembra deste restaurante? — Trocamos
sorrisos de amor.
— Foi onde tivemos o nosso primeiro almoço juntos. Você me pegou no
estúdio de surpresa, eu disse que gostava de comer aqui. No dia seguinte,
fomos para onde você gostava, para um restaurante flutuante, onde
dançamos.
Acaricio sua mão, a puxo para um beijo doce, fazendo um sinal para o
garçom nos trazer o espumante.
— Tão romântico — diz, surpresa.
— Eu sou um homem romântico — afirmo, sabendo que isso não é tão
verdade assim.
— Agora está mais.
— Te ter comigo me faz querer ser o melhor para você — Laura se
derrete, com os olhos brilhando.
— Assim você vai me fazer chorar, e eu não quero estragar a minha
maquiagem — ela suspira, enquanto o garçom aparece com a garrafa, nos
servindo.
— Vamos brindar? — A convido.
— A quê exatamente brindaremos?
— Ao nosso amor, à nossa vida a dois, e ao nosso casamento.
— Vamos nos casar de novo, é?
— Vamos — confirmo.
Fazemos o brinde, levamos as taças aos lábios, fico esperando ela
perceber a surpresa. Após o primeiro gole, Laura nota a aliança no interior da
taça.
— Victor — se emociona. Tomo a taça dela, retiro o anel com um garfo,
limpando-o com um guardanapo.
— Sua mão senhorita, por favor — peço, ela me mostra seus dedos,
tocando-me. Ponho a aliança no devido lugar, terminando com um beijo
carinhoso. — Você é minha para sempre — afirmo, puxando-a para dançar
romanticamente.

Alguns meses depois, em um belo e maravilhoso fim de tarde, onde o


vento sopra suavemente, com o mar de fundo da linda praia do Coqueiro,
estou sobre um altar montado sobre a areia, ao lado de Eduardo e de um juiz
de paz, com alguns poucos e essenciais convidados à nossa frente, todos
observando as noivas se aproximarem lindamente.
Laura vem acompanhada de Apolo, Lorrana é acompanhada por Erick, o
que arrebata o meu coração de uma só vez, Edu também fica bastante
emocionado, é lindo, magnífico. Todos estamos num estilo praiano esporte
fino, vivendo este momento gracioso. Parece o mais belo dos sonhos avistar
Laura caminhando em minha direção, maravilhosamente linda, mesmo
sabendo que estamos nos casando outra vez de forma apenas simbólica, para
fortalecer o nosso amor, que não se deixa atingir pelas imposições legais,
somos maduros o suficiente e já tivemos muita história juntos para não
darmos atenção a isso. Lorrana e Eduardo casarão de verdade.
Apolo e Erick estão radiantes, seguindo a marcha nupcial, trazendo as
mães para os seus respectivos parceiros. O ambiente é tomado pela
felicidade, paz, amor e cumplicidade, finalmente o mundo parece conspirar a
favor de todos nós. O juiz começa o seu discurso:
— Em tempos tão difíceis, onde já não se vê mais romance, as pessoas
se perguntam se ainda existe o amor. São tantas decepções amorosas que
aquela velha história de encontrar a tampa da sua panela parece piada, não é
mesmo? Mas a nossa reunião aqui e agora prova que o amor ainda existe sim.
Nós não viemos celebrar um casamento, não, viemos celebrar o amor, este
sentimento que nasce da troca de olhares, do toque, do perfume, das atitudes,
da paciência, da reciprocidade. O amor, meus caros, é um conjunto de coisas
que deixa uma marca poderosa na alma, difícil de esquecer, mas que pode ou
não ser eterna. O amor precisa ser regado, ele é como uma planta que para
crescer e florir precisa de cuidados.
"Os noivos, ao saírem daqui, começarão uma vida em comunhão, seus
corpos constantemente serão um, suas almas serão confidentes, mas para que
isso aconteça é necessário regar o amor. A vida em conjunto traz
dificuldades, há sempre obstáculos a serem superados na vida a dois, e para
que haja o triunfo, é necessário paciência, cumplicidade, diálogo. Se há um
problema, é preciso expressá-lo, não fique calado, converse, cheguem a um
ponto em comum e o superem. A felicidade está no companheirismo, no
respeito. Amem e vivam como se todos os dias fossem os últimos, para que
não percam nenhum deles"
Todos batem palmas, maravilhados com tantas palavras lindas, ele
continua:
— Agora, eu vou pedir para que os noivos digam às suas parceiras o que
mudou na vida deles ao conhecê-las — o juiz me passa seu microfone.
— Laura, quando eu te conheci, era apenas um garoto que já achava ser
um homem, que vivia a vida distante de qualquer sentimento verdadeiro. Mas
você me fez amadurecer, me mostrou o que era amar de verdade pela
primeira vez e saber que não precisava de mais ninguém além de você na
minha vida. Laura, foi você que me fez um homem, que me completou, me
amadureceu, se tornando assim uma necessidade no meu dia a dia. Você me
deu uma família... — minha voz falha, fico emocionado. — Com você eu
descobri o que é ser pai, por isso e por tudo mais, te amo e te amarei
eternamente.
Todos nos aplaudem, a loira não consegue segurar as lágrimas, trocamos
apertos de mãos. Entrego o microfone para ela.
— Victor, meu grande amor, antes de você..., o meu coração era tão
gelado que eu nem mesmo conseguia sentir as batidas, me escondi em uma
capa de tristeza e rancor onde acreditava não existir felicidade. Mas você me
mostrou que eu estava enganada, que não era tarde para amar e ser amada,
que ainda havia esperança. Você me lapidou, mostrou uma Laura que havia
sido esquecida dentro do meu ser, suas mãos a trouxeram e volta. Se eu te fiz
crescer, contigo cresci muito mais, aprendi o verdadeiro significado de amor,
de ser mulher, esposa e mãe. Basta te olhar para ter certeza que há um
coração batendo aqui do lado esquerdo do peito.
Todos batem palmas outra vez, tento beijar a minha amada, mas sou
impedido pelo juiz.
— Ainda não, controlem-se — diz o homem, fazendo todos rirem.
Laura passa o microfone para Eduardo.
— Bom, quero começar dizendo que sou péssimo com as palavras,
quem me conhece sabe disso — Edu causa mais humor na plateia. — Mas
por esta mulher, vale tudo, até falar infinitamente. Helen, antes de você eu
era... solidão, descrença e insegurança, mas contigo me tornei união,
coragem, perseverança. O meu amor pode ser chamado de absurdo, de
loucura, mas não me importo com o que dizem, desde que eu a tenha do meu
lado. Eu te amo, meu amor, você é a mulher da minha vida.
A galera vibra, chora, Lorrana está banhada em lágrimas, pegando o
microfone, é realmente um momento emocionante para todos.
— Antes de você, Edu, eu era um fantasma, uma alma vagando vazia,
perdida sobre inúmeros erros do passado, sem saber por onde seguir, que
rumo tomar para concertar tantos sentimentos quebrados. Você, Dudu, foi o
meu caminho, a luz que me guiou pelas trevas, a mão que manteve erguida
durante a tormenta, o meu apoio, o sentimento real que me fez te amar de tal
maneira, que agora não me vejo mais se você. Que bom que nunca desistiu de
mim, pois agora te prometo que jamais desistirei de você.
Mais aplausos e mais gritos surgem da plateia. O juiz libera, os casais se
beijam em harmonia, simultaneamente, exalando amor para todos os cantos.
Damos continuidade à cerimônia, colocamos as alianças, e descemos do altar
sob uma chuva de pétalas brancas. O sol se põe às nossas costas,
aproveitamos para tirar várias fotos, com toda a família e amigos, até os
companheiros do Erick entram na bagunça.
Festejamos o casamento no lounge, ao som de um DJ incrível, dançando
sob as luzes especiais, bebendo e comendo, rindo, se divertindo. Abrimos
espumantes, gritamos, gargalhamos, conversamos sobre o futuro, e dançamos
até a canseira surgir.
No dia seguinte, partimos de volta para Teresina, onde nos preparamos
para viajar no próximo dia para a nossa lua de mel. Quando amanhece, os
casais seguem para o aeroporto, com destino a Milão, lugar escolhido para
curtirmos todos os nossos momentos de amor. Antes de pegarmos o avião,
miro seriamente os meus filhos.
— Comportem-se — ordeno, erguendo uma sobrancelha. — Não quero
saber de confusão lá em casa, ouviram?
— Sim pai — respondem em coro. Os abraço conjuntamente, eles se
despedem das mães e de Edu, parto com o coração aliviados, sei que eles
serão bons garotos.

Ao voltarmos do aeroporto para casa, troco olhares com Apolo, sabemos


o que precisamos fazer. A primeira coisa é dispensar a Val.
— Pode ir tranquila, Val, volte só segunda, ‘tá bom? Não, volte só na
terça, é melhor — a acompanho até a porta.
— Mas hoje ainda é sexta! — Retruca a mulher, desconfiada.
— Olha aí que maravilha! Você vai ter um superferiadão! Quase férias
— como eu sou descarado.
— O seu pai não vai gostar nada disso! — Me repreende.
— Se você não contar, eu também não conto! Tchau — fecho a porta na
cara dela, olhando para o imóvel vazio, onde eu e meu maninho vamos fazer
a festa acontecer!
Ao cair da noite, a música rola solta e bem alta, há gente por todos os
lados da casa, pulando, dançando e bebendo do jeito que eu gosto. Muitos
dos convidados são da escola e do próprio condomínio, meus amigos não
podiam faltar, por isso paguei a passagem deles de Luís Correia diretamente
para Teresina. Transformei a casa do meu pai num verdadeiro puteiro
comportado, uma balada sem tamanho, onde a alegria não falta, nem a
bagunça. Alguns objetos se quebram devido à loucura de alguns, mas está
tudo sob controle.
— Mano, o nosso pai vai nos matar, esse povo vai acabar com a nossa
casa! — Diz Apolo, surgindo da multidão com uma cerveja na mão,
soluçando em seguida, já parece meio bêbado.
— Amanhã, se a gente ficar vivo, compramos o que foi quebrado —
respondo, quase gritando em seu ouvido para que ele possa me escutar. —
Agora vamos mostrar quem manda nesta porra.
Subo na mesa de jantar com Apolo, enquanto o funck rola solto, tiramos
as camisas, pulamos, enquanto todos gritam e se jogam. Por algum motivo,
nos separamos, ando pela casa, vendo casais se formarem em cada canto, se
pegando, os beijos quentes rolando ilimitadamente. Avisto Isabela com
Vanessa, visivelmente procurando por mim e Apolo, depois que ficamos com
elas, passaram a nos tratar como seus respectivos namorados, mas eu e meu
maninho não queremos compromisso agora.
Fujo delas como o diabo foge da cruz, batendo contra uma coroa que
parece birutinha, bêbada, feliz.
— Obrigado, essa festa está muito boa! — Ela agradece.
— Quem é você? — Pergunto, pois não lembro de tê-la convidado.
— A vizinha da frente!
— Aaah, mas a senhora não é casada?
— Eu sou?! — Ela tenta lembrar, forço-lhe um sorriso, me afastando.
Ouço a campainha tocar, passo pela multidão, alcançando a porta, dando de
cara com a gostosa da Sabrina, que me olha saliente, a meses eu e Apolo
tentamos fica com ela, mas está difícil.
— Você veio — observo, tomando mais um gole de cerveja.
— Eu vim — confirma, exalando charme.
— Bom, eu te falei que se você viesse era porquê... aceitou a nossa
proposta — aproximo meu rosto do seu.
— Sim, eu aceitei — confirma, me deixando boquiaberto, duvidoso.
— Sério?
— Sério.
— Tipo, sério mesmo?
— Aham.
— A gente vai te arregaçar — aviso.
— Tem que ser com cuidado, só quero se for os dois! — Impõe, me
impressionando.
— O que te fez mudar de ideia?
— A curiosidade.
Respiro fundo, enchendo-me de felicidade, preparando-me para mais
uma grande experiência.
— ‘Tá bom, então. Você passa pela festa e sobe a escada, entra no
segundo quarto, espera que já chegamos lá — instruo, ela confirma com o
olhar, passando por mim, miro sua bunda que rebola enquanto se afasta. Meu
Deus, preciso encontrar o Apolo antes da Vanessa!
Caminho sorrateiramente pela festa, avistando ele conversando com ela
e com a Isa, que me procura. Droga! Olho ao redor, encontro Ramon, puxo-o
para um canto escondido.
— O que foi, maluco? — Ele indaga, sem entender o motivo do puxão.
— Preciso que você distraia aquelas duas, eu e Apolo vamos fazer um
serviço — peço.
— Ah mano, logo agora que eu estou no bem bom! — Ramon mira a
gatinha que espera por ele.
— Você vai ter a noite toda, caralho! — Retruco, impaciente, vendo
Sabrina subir pela escada.
— ‘Tá bom, gay! — Ele vai até o trio, conversa com os três, inventa
algo, e sai puxando as garotas, deixando o caminho livre. Faço um sinal para
Apolo, que me segue até a escada.
— O nosso jantar chegou, está lá no quarto nos esperando — informo,
recebendo seu olhar cafajeste.
— Ela topou? — Pergunta, incrédulo.
— Vamos! — O abraço, seguindo para o quarto, mas antes, puxo Eliseu.
— Não deixe ninguém subir essa escada — ordeno.
— Sim, meu patrão!! — Ele confirma prontamente, se pondo entre nós e
o restante da galera, corpulento, ninguém terá coragem de ultrapassá-lo.
Troco sorrisos ansiosos com o meu irmão antes de adentrarmos no
quarto, onde encontramos Sabrina, o nosso lindo pedaço de chocolate, nos
aguardando. Tanta insistência, tantas indiretas, agora parecem que renderão
frutos. Engulo em seco, assim como Apolo, nos aproximamos dela, que fica
entre nós, decidindo para qual de nós dois manterá o olhar cobiçoso.
Essa garota possui algo diferente, algo que nos seduz, que aguça nosso
tesão reprimido, tê-la aqui é como um prêmio, uma dádiva. A encurralamos
entre nossos corpos quentes, Apolo na frente, eu atrás, minha mão na coxa
dela, a dele em seu braço delicado. Sabrina suspira, percebendo que é real,
que vai acontecer, que é agora ou nunca!
ALPHAS

O álcool me deixa mais corajoso e com os sentidos aguçados, assim


como Apolo, trocamos olhares perigosos, famintos, que indicam o mesmo
propósito: comer Sabrina bem gostosinho. Ele fecha os olhos e rouba os
lábios dela com desejo, enquanto afasto as madeixas da garota para arrastar a
língua por sua nuca perfumada, nosso toque a faz arrepiar, ascendendo uma
chama que só tende a queimar cada vez mais.
Pressiono o pau duro contra sua bunda arrebitada por natureza, fazendo-
a se contrair contra a parede de músculos negros do meu irmão, sem ter para
onde fugir. Sabrina me beija, atiçando suas vontades enquanto tem sua blusa
erguida, e seus seios pequenos chupados por meu irmão, que está sedento
como um animal no cio. Somos lobos vorazes, envoltos de tesão por essa
morena que há dias mexe com os nossos pensamentos, nos tirando o pior de
todos eles.
Sabrina volta para os lábios de Apolo, aproveito para erguer seu vestido
e baixar sua calcinha molhada, lentamente, beijando suas coxas em seguidas,
arrancando-lhe gemidos abafados na boca do outro, que morde seu lábio
inferior, descendo a mão para a sua bocetinha no momento em que minha
língua invade suas nádegas, tocando seu cu tímido.
— Oooh — a gostosa geme, vendo-se entre os dedos salientes de um, ao
mesmo tempo em que é chupada por trás pelo outro. Puxo sua roupa
completamente, a deixando nua e indefesa para nós. Apolo tira a roupa,
decidido, focando na menina com luxúria, eu do mesmo jeito.
Sabrina mira o tamanho dos nossos pacotes, nossas varas apontadas para
o alto, vigorosas, grossas, latejantes. Ela engole em seco, sabendo que a
batalha não será fácil, mas faremos com que seja prazerosa. Agora estamos os
três nus, envolvidos nos mesmos tons de pele. Apolo e eu agimos como um
só, a nossa experiência nos deixa fluir pelo corpo da menina, trancando-a
entre nossos corpos outra vez, onde a pressionamos pela frente e por trás com
nossos caralhos que pegam fogo.
Esmago os seios dela entre as mãos enquanto ele toma sua língua em
mais beijos molhados, o clima se intensifica gradativamente. Apolo escorrega
pelo corpo de Sabrina, ajoelhando-se em sua frente, pondo sua coxa esquerda
sobre o ombro, chupando sua boceta, ávido, faminto. Faço igual, só que por
trás, abrindo as suas nádegas, voltando a atiçar o cuzinho dela, ficamos os
dois brincando com todos os pontos de prazer da garota, que ecoa gritos pelo
quarto, tendo sensações inacreditáveis.
Sabrina é cheirosa em todos as suas partes, seu perfume nos inebria, nos
faz querer mais da sua carne. A minha língua brinca em seu esfíncter,
girando, lambuzando, indo de um lado a outro, terminando com um beijo
gostoso, molhado, quente. Os gemidos dela aceleram, sua mão aperta a minha
cabeça, meu irmão também está fazendo um ótimo trabalho em sua xota,
devorando seus lábios vaginais, se lambuzando, se fartando, matando a sua
sede. Levamos nossas línguas em pontos tão profundos que a garota tem seu
primeiro orgasmo, enfraquecendo de prazer, quase caindo, mas a seguramos
em nossos braços.
Levo-a para a cama, Apolo pega as camisinhas, nos protegemos,
observando a morena no colchão, toda molhada entre as coxas, pronta para
nós. Meu maninho toma a frente, pegando Sabrina no colo, mexendo o
quadril habilmente até escorregar o pau grosso por suas entranhas,
encaixando na boceta dela. A garota geme forte, erguendo a cabeça, sentindo
o impacto. O sexo começa, eles transam gostoso, Apolo faz o serviço bem
feito, mostrando do que é capaz, comendo a menina como um macho viril e
inabalável, porém cuidadoso.
Deixo eles brincarem um pouco, fico como expectador por alguns
minutos, vendo a menina se entregar, entrelaçando as coxas no quadril dele,
sendo devorada, fodida, é muito excitante, mas também quero experimentar,
só assistir não basta. Me aproximo por trás, ajudando a sustentá-la, abrindo
suas nádegas, tocando seu cuzinho com a ponta do pau. Apolo para de se
mover, ajudando-me a manter a garota arregaçada para facilitar a minha vida.
Forço a penetração, a cabeça massuda do meu caralho amassa, tentando se
introduzir no buraquinho quente.
Tento ser cuidadoso, mas a posição em que estamos é desconfortável,
meu mano percebe isso, indo para a cama, deitando, deixando Sabrina por
cima, com a bunda empinada na beira, disponível para mim. Sorrio, malvado,
cafajeste, escorregando a mão pela nádega redondinha dela, dando um tapa
em seguida, enquanto Apolo mete mais um pouco em sua xota molhada.
Pego um lubrificante, encho a bunda dela com o líquido, melando toda a
sua pele. Faço um sinal para Apolo, que novamente fica imóvel, me
esperando. Tento uma nova penetração, dessa vez conseguindo afundar em
seu rego anal, escorregando para dentro, abrindo seus músculos, metendo
gostoso. Sabrina geme forte, Apolo suaviza sua dor com um beijo, sinto ele
dentro da boceta dela, estamos divididos por uma fina camada de pele
apenas.
São dois mastros poderosos, grandes, grossos, fortes, atolando a garota
completamente, nos seus dois pontos mais íntimos. Ficamos parados, a
pressão é intensa, tanto que não nos dá liberdade para começar com os
movimentos ainda. A sorte de Sabrina é que já fez sexo anal antes, ela nos
revelou isso, senão seria mais difícil penetrá-la, com toda a certeza. Ninguém
aqui é mais criança, somos devassos em busca do prazer.
Eu e Apolo tentamos ser cuidadosos o máximo possível para não partir a
garota ao meio, nossos caralhos latejam, abrindo espaço dentro dela. Começo
os movimentos, lentamente, recebendo as contrações maravilhosas, jogo mais
um pouco de lubrificante na nossa união, que facilita as investidas, mas não
tanto quanto esperado, logo percebo que se o meu mano não me der total
espaço, essa dupla penetração não vai dar certo.
Peço ajuda a ele, Apolo sai do corpo de Sabrina, me liberando enquanto
acaricia o rosto dela, tomando sua boca, brincando com sua língua. Lapeio
outra vez a bunda dela, que ondula com o impacto, Sabrina grunhi, sentindo
as minhas estocadas por trás, afundando em suas entranhas, fodendo o seu
cuzinho saboroso, apertado, aquecido, úmido, incrível. Subo na cama,
ficando sobre ela, tendo-a entre as minhas pernas, arregaçando suas nádegas,
metendo agora de cima abaixo, descendo a madeira gostoso, em um ritmo
lento, provocante, alucinante, entorpecendo os sentidos.
A pressão diminuiu, sinto-me mais livre dentro da gostosa, não perco
tempo, aproveito o momento, comendo ela como tanto desejei, dando vazão a
lubricidade que nos queima, nos consumindo.
— Aaah! — Geme ela, quando paro os movimentos, deixando Apolo
entrar em sua xoxotinha outra vez, saio para lhe dar espaço, o garoto volta
faminto, socando com força, sem dó e piedade.
Vejo o orifício da gata piscar enquanto meu irmão bomba sua boceta,
faço um sinal para ele, me reposicionando, agora voltaremos a ficar
duplamente dentro dela. Tenho um pouco de dificuldade no início, mas
estoco com sucesso, escorrendo para dentro de Sabrina, novamente sentindo
Apolo do outro lado, nossos caralhos passam a se moverem ao mesmo tempo,
lentos, fodendo a garota, a atolando, sufocando suas carnes íntimas, levando
os três à loucura.
Contudo, ainda não conseguimos penetrá-la por inteiro, não os dois ao
mesmo tempo, percebo que tanto eu como meu maninho só a fodemos
parcialmente, com metade de nós dentro de seu corpo, se pressionarmos tudo,
podemos machucá-la. Em certos momentos, somos obrigados a virar estátuas,
ficamos imóveis até as contrações se acalmarem, é como uma massagem
delirante em nossos paus, apertando vários pontos do nosso prazer, nos
levando a gemer também.
— Mexe a bunda — ordeno, dando mais um tapinha na raba dela.
Sabrina me obedece, tomando o comando, rebolando o quadril
vagarosamente, controlando a profundidade com que tem a mim e ao outro
em suas entranhas. Eu e Apolo permanecemos imóveis, deixando ela agir,
mexendo gostoso, acochando nossos caralhos naturalmente, indo e vindo, nos
fazendo deslizar por suas carnes anais e vaginais, é uma sensação tripla,
intensa, fervorosa, avassaladora, é como se a garota tivesse dançando
suavemente em nossos membros, criando um prazer únicos, difícil de
encontrar. Nos deixamos levar pelo fetiche, porém Sabrina logo se ver
submissa outra vez, nos recebendo com fogo.
Com o tempo, nosso trio chega à mesma vibe, entrando em sintonia,
curtindo o momento sem impasses, elevando o sexo à alturas extremas. A
coisa flui naturalmente agora, quando Sabrina pede, paramos por alguns
segundos, voltando em outros. Puxo Sabrina pelo cabelo, erguendo seu rosto,
Apolo aproveita para chupar sua garganta, nossos toques se complementam,
deixando a gata louca, buscando por nós mais e mais. Seguimos o ritmo
lento, sem violência, deixando a luxúria agir sem medida.
Meu irmão pede para trocarmos de posição, ele toma o meu lugar,
pegando Sabrina de quatro enquanto tiro a camisinha, pondo-a para chupar a
minha rola, fodendo a sua boquinha. Sabrina recebe socadas atrás e na frente,
seu corpo vai e volta, sua face está ruborizada, belisco seus seios ao mesmo
tempo em que movo o quadril, invadindo seus lábios, esmagando sua língua,
roçando em seus dentes, escorregando por sua goela, comprimindo os cantos
da sua boca.
Seguro minha massa grossa e negra, toda babada, repleta de veias
pulsantes, arrastando-o pela face da morena, lambuzando o seu rosto, batendo
em suas bochechas, a saliva escorre entre os lábios dela misturada ao sabor
do meu pré-sêmen. A garota lambe o meu pau como se fosse um pirulito,
com delicadeza, entre gemidos, recebendo o outro por trás, tentando se
dividir entre a gente.
Mais uma vez trocamos de posição, coloco a gostosa de pernas abertas
diante de mim, mantenho suas cochas arregaçadas, enquanto fodo sua
bocetinha inchada, vermelha com a quantidade de sexo que está recebendo
em um só dia. Apolo se diverte fazendo a garota chupá-lo agora, ao mesmo
tempo em que belisca os seios dela, sugando os mamilos para dentro da boca
ora ou outra.
Nosso momento fica mais intenso, dividimos a garota sem problemas, e
para a nossa surpresa, ela pede para ser duplamente penetrada outra vez.
Dessa vez fico por baixo, Apolo por cima, novamente sentimos dificuldade
de escorregar para dentro do seu corpinho sensível, mas com insistência,
conseguimos, ocupando todo o espaço que Sabrina tem a nos oferecer.
Aceleramos o ritmo, a garota agora comanda um pouco mais, escolhendo a
velocidade com que se entrega a nós totalmente.
Ela me beija voraz, chupando a minha língua, recebendo tapas do Apolo
em sua bunda, sendo nossa sem barreiras, sem contenções. Os gemidos se
tornam um só, aos poucos os três se elevam juntos, seguindo uma explosão
de sentidos sem tamanho, sem proporções, Sabrina explode outra vez,
chegando ao ápice, gozando, embevecida, sem forças, ofegante. Ela não
aguentará continuar, está visivelmente exausta.
Me reúno com Apolo diante dela jogada na cama, a puxamos para uma
oral, observando sua boquinha se dividir entre nossos caralhos quentes e
robustos. Nos masturbamos, Sabrina chupa os nossos sacos, esfrega os lábios
pelos corpos das nossas rolas, ofegante, tentando dar conta, até que chegamos
ao limite do prazer. Explodimos simultaneamente sobre a garota, que recebe
nossas jatadas de porra, uma chuva de leitinho aquecido que mela seu rosto e
corpo, a banhamos com o nosso prazer, trocando sorrisos cafajestes no fim.
Troco um aperto de mão com meu maninho, trabalho concluído com
êxito!
A vida é repleta de altos e baixos, de dificuldades, mas não deixa de ser
bela, sempre vale mais a pena viver, pois só vivendo é possível mudar o
curso das coisas ao seu favor. Acordo, respirando fundo, com um sorriso
bobo no rosto. Mais um dia. Miro o teto por alguns segundos, feliz, tenho
todos os motivos para ser o homem mais feliz do mundo.
— Amor? — Chamo por Laura, mas não a encontro. Levanto, nu,
enrolando-me na toalha. Tomo um belo banho, estranhando o silêncio no
apartamento, há algo de errado. Escovo os dentes, visto uma roupa, sigo para
a sala, olhando ao redor, não avistando ninguém.
Chego a cozinha, vendo a bagunça de um café da manhã alegre pela
mesa. Preparo um sanduíche e o como com satisfação, tomando um gostoso
suco de goiaba também, meu preferido. Retorno para a sala, esmagando
alguns brinquedos sem querer, como sempre. Sento-me no sofá, ligo a TV,
estou bem tranquilo até ouvir um furacão irromper pela porta, Heitor, meu
filho de oito anos, pula em meus braços, gritando, ainda de pijama, com uma
capa do super-man nas costas.
— VAMOS, PAPAI! TEMOS QUE SALVAR A PRINCESAAA! —
Grita ele, determinado, olhando para frente.
— Desde quando o super-man salva princesas? — Indago, observando a
felicidade da minha vida. Heitor é negro como eu, mas de cabelo volumoso e
rebelde, muito preto e liso como o da mãe, tem olhos escuros, lábios
carnudos, é belo, lindo!
— AH PAI, EU SÓ QUERO VOAR! — Diz, ansioso, de olhos
radiantes.
— ‘Tá bom! — O pego no colo, deixando-o deitado sobre meus
antebraços estendidos, criando-lhe uma espécie de plataforma para que ele se
imagine sobrevoando pela casa, e assim acontece.
Heitor grita de felicidade, enquanto corro com ele por todo o AP, até
chegar no quarto, onde despencamos na cama, trocando gargalhadas
incontáveis, mas o garotinho não fica nada satisfeito.
— Ah, pai, eu quero mais! Vamos!
— Meu filho, seu pai está velho, não aguenta mais muita coisa, não —
falo, com preguiça de correr tudo de novo.
— Que velho o quê, o senhor é o homem mais forte que eu conheço! Eu
quero voar mais...
— SAI DE PERTO DO MEU PAI! — Grita minha menininha, surgindo
na porta, loira como a mãe, de olhos esverdeados, os braços cruzados, com
uma careta para o irmão gêmeo que de gêmeo fisicamente não tem nada. Ela
é o meu pedacinho de céu ciumento.
— Leda! — Laura chama por ela. — Já conversamos que o papai é de
todo mundo!
— Não e não! — Grita a garota, furiosa. — O papai é meu, mamãe, só
meu.
— Eu sou seu, meu amor, não chore minha vida, minha razão de viver
— pego-a no colo, tão fofa a minha bebê, a amo tanto. Todos seguimos para
a cozinha, acompanhando Laura que está com algumas sacolas lotadas de
compras.
— Ah, Leda, para de ser chata, eu quero voar com o meu pai! —
Reclama Heitor, Leda mostra a língua para ele.
— Olha o que falamos sobre esta língua, hein! — A repreendo.
— Desculpa, papai — pede, com sua carinha de anjo, não tenho como
resistir.
— Pai, eu quero voar! — Insiste Heitor, me puxando pela bermuda.
— Pronto, vão voar os dois! — Decido, pegando Heitor no braço livre,
correndo com os dois pela casa agora, ouvindo seus gritos e risos constantes.
— Victor, cuidado para não cair com essas crianças! — Reclama minha
mulher maravilhosa, que fica mais linda a cada dia. Vou ao chão com Heitor
e Leda propositalmente, fazendo cócegas neles sem parar, ouvindo-os
gargalhar cada vez mais alto, os dois se contorcem tentando fugir das minhas
mãos.
— MAMÃE, SOCORRO! — Grita Leda, entre risos. Laura retira as
sandálias e corre até nós, entrando na brincadeira, pulando em cima de mim,
fingindo me conter em seus braços.
— Rápido crianças, corram e se escondam que vou segurar esse pai
malvado! — Exclama ela, os gêmeos a obedecem, fugindo juntos pela casa,
sumindo pelos cantos, procurando locais para se esconderem.
— AAH, EU VOU PEGAR VOCÊS! — Berro, com uma voz
monstruosa. Laura me beija inúmeras vezes, rolo com ela pelo tapete, ficando
sobre seu corpo, tornando nosso toque mais quente e vigoroso.
— Eu estou com tanta saudade! — Gemo, manhoso, mordiscando sua
orelha.
— Só quando as crianças dormirem, seu safado — ela mordisca meu
lábio inferior, me olhando com desejo
— PAI MALVADO, VOCÊ JÁ ESTÁ VINDO?! — Ouço a voz da
garotinha vinda de algum lugar do apartamento.
— SIM, JÁ ESTOU INDO! — Respondo.
— PAI MALVADO, EU NÃO ESTOU NO MEU QUARTO, VIU! —
Avisa Heitor.
— CERTO!
— Eu te amo — Laura me beija várias vezes.
— De que tamanho é esse amor? — Murmuro.
— Do tamanho do universo!
— Hmmm, que bom, o universo é muito grande. Eu também te amo,
meu amor — a puxo, nós levantamos, dou um tapa na sua bunda. — Minha
gostosa chique.
Ando na praia de mãos dadas com a minha filha, Cecília, de sete anos de
idade e o pai dela, Eduardo. Tiramos o dia de hoje para nos divertir e
caminhar, respirar este ar maravilhoso da manhã. Cecília fala pelos cotovelos,
nos perguntando mil e uma coisas, a respondemos sorridentes, nos divertindo
com as próprias respostas. Ela anda entre a gente, agarrada às nossas mãos, às
vezes chutando a areia com os seus pezinhos lindos, é loira como eu, minha
filha amada.
Como amo essa menina, assim como amo o meu marido, nós somos
felizes. O vento sopra, a água do mar bate em nossos pés descalços, e assim
curtimos o lindo dia, catamos conchas na areia da praia, Cecília adora fazer
isso, adoramos brincar com ela, é a nossa flor encantada, nossa fada
princesinha.
Eduardo a pega no colo, erguendo-a no ar, rodando, sorrindo, afirmando
que é o homem mais feliz do mundo, e ao seu lado me sinto a mulher mais
feliz e de mais sorte de toda a Terra. Obrigada Deus.

Estou na minha sala, na minha empresa, a Cordeiro, ocupando por mais


um dia o cargo de CEO desta transnacional, dia este que está sendo
decepcionante enquanto tento encontrar uma nova secretária à minha altura.
Todas as candidatas aprovadas na seleção apresentadas a mim até agora
foram uma verdadeira perca de tempo, me deixando impaciente para ouvir
tantas respostas mal elaboradas que incomodam os meus ouvidos.
Mas este é apenas um dos fardos que vieram com as glórias de se tornar
o único da família responsável por todo este império construído de geração
em geração. Agora estou sentado atrás da minha mesa magnífica, vestido em
um terno de luxo, poderoso, ouvindo tediosamente a mulher diante de mim,
que se enrola nas palavras, fungando em cada uma delas, fugindo das minhas
perguntas enquanto se empenha em discursar, como se fosse algum tipo de
política.
Miro seu currículo outra vez, parece atraente, mas se mostra inútil diante
de tanta insegurança e asneira, não sei como ela e as outras três que já
dispensei passaram por esta merda de seleção, que se prova ter sido um
verdadeiro fracasso, talvez o melhor seja renovar a minha equipe do RH, eles
estão em falta seriamente. Respiro fundo, perdendo a paciência de vez, ergo a
mão para a mulher, que se cala.
— Obrigado, pode ir — a interrompo, ela se surpreende.
— Oh, mas... eu fui mal? — Pergunta, será que é ingênua assim?
— Não tanto, mas a minha irmã de oito anos faria melhor — tento ser o
mais educado possível. Ela fica embasbacada, mas sai sem fazer ruídos.
Eu mudei, não sou mais um menino, um adolescente inconsequente,
bonzinho, emotivo. Não, agora sou um homem sério, maduro, respeitado, por
alguns temido, por muitas desejado. Tenho a Cordeiro em minhas mãos,
quero deixar a minha marca como meus antecessores, e para isso preciso dos
melhores comigo, de gente incompetente já basta a antiga secretária. Quero
uma funcionária proativa, que não apenas obedece, mas também opine,
somente quando for algo construtivo, é claro, que não tenha medo do serviço,
que não é pouco. Resumindo: quero alguém que me impressione.
Alguém bate na porta, a próxima candidata entra, procuro seu currículo
entre os demais, desviando o olhar para ela por um segundo que se entende
por quase toda a eternidade. Há uma mulher incrivelmente linda diante de
mim, cabelo preto, ondulado, corpo tentador, rosto de anjo indefeso. A saia
comportada se molda às suas coxas voluptuosas, a blusa recatadamente
esconde o belo tamanho do seu busto, me fazendo engolir em seco.
— Com licença — pede, mexendo nos óculos que escondem os lindos
olhos azuis, seu perfume me invade avassaladoramente.
Suspiro, saindo dos seus encantos, recordando que não me envolvo mais
com mulheres como ela.
— Se veio ser mais uma incompetente, dê meia-volta — digo, ríspido, a
pegando de surpresa. Ela fica sem reação, estática, sem voz por alguns
instantes.
— Não, doutor Apolo, eu não vim ser incompetente, mas sim ocupar o
cargo vago de secretária — responde, confiante, lá no fundo gosto da sua
resposta.
— Como sabe o meu nome, senhorita... Bianca? — Leio o nome dela
nos papeis.
— Busco descobrir antes onde e com quem vou trabalhar — diz,
sentando-se na cadeira à minha frente, mantendo o olhar seguro no meu.
Sorrio, quase em deboche.
— Você fala como se fosse a candidata perfeita para o cargo — ressalto.
— Vou provar que sou — garante, me fazendo erguer a sobrancelha. —
Por onde devo começar?
Trocamos olhares intensos, não sei porquê, mas sinto que esta mulher
vai me dar trabalho!

Estou na minha boate, Alcateia, numa noitada daquelas, onde a casa fica
cheia com tanta clientela. Isso é maravilhoso, mais dinheiro para o meu bolso
e mais renome. Já sou bastante conhecido não só no meio feminino, mas
também no meio empresarial, como um dos empresários mais destacados do
Brasil.
A Alcateia oferece diferentes serviços para clientes diferenciados, numa
mistura de prazer e diversão, há anos é puro sucesso! Mas para tudo isso
render e fazer acontecer, é necessário muito trabalho, e sou eu quem faço a
coisa girar.
Neste momento, ando de um lado a outro, resolvendo pendências pelo
prédio, onde no térreo acontece as baladas, no primeiro andar temos fetiches
sadomasoquistas sendo realizados por dominadores e dominadoras, além de
strippers no palco. No segundo andar fica o escritório.
— Protejam aquela entrada de trás porque eu não quero mais cliente vip
reclamando que não foi bem recebido pela nossa boate. Agora se for cliente
que nem aquele velho pau no cu da semana passada, manda tomar no cu.
Entendido? — Indago a dois seguranças, estou conversando com eles na
minha sala. Eles assentem e se vão, me deixando sozinho.
Pego alguns papéis que tenho que analisar, mas antes que eu possa
perder alguns minutos neles, meu rádio transmissor chama.
— Erick falando, câmbio.
— Mano, você tem que vir aqui no camarim — fala Thiago, um velho
amigo meu, agora gerente da Alcateia.
— O que foi que houve, Thiago?
— Aquelas strippers brigando de novo, e dessa vez trancaram a porta,
não estão me ouvindo!
— Chama os seguranças e arromba! — Me pergunto por que ele ainda
não fez isso.
— Se fosse para causar B.O., eu não estava te chamando!
— O.K, estou indo aí!
Saio da minha sala bufando, pego o elevador, desço até o primeiro
andar, que é estilo um cabaré clássico, mas na era moderna. Uma cantora
gostosa entoa uma música sensual no palco, enquanto os clientes servem de
submissos para dominadores e dominadoras de fetiche, que brincam com
eles, os humilham, e fazem outras coisinhas a mais, tudo dentro da fantasia,
nada de sexo, nem aqui, nem nas salas íntimas, o máximo que pode rolar é
um nude. Só eu que não preciso obedecer a essas regras.
Encontro Thiago na porta de um dos camarins, dá para ouvir as garotas
discutindo lá dentro. Bato com muita força, exclamando:
— É o chefe de vocês, abram esta porra! — Exijo, sério. O silêncio
surge de repente, dois segundos depois abrem. Entro com Thiago às minhas
costas, dou de cara com quatro dançarinas, duas de um lado, duas do outro,
todas com os nervos à flor da pele. — O que está acontecendo aqui?
— É essa recalcada que fica falando mal de mim pelas costas! Invejosa!
— Acusa uma.
— Invejosa é você! Tem inveja porque rebolo melhor, porque tenho a
bunda maior! — Acusa a outra, me fazendo revirar os olhos. Logo percebo
que a briga é entre duas, as outras defendem suas amigas.
— Chega! — Dou um basta. — Você, lá pra fora com o Thiago, as
outras duas acompanham — ordeno, três saem, fico só com uma das
barraqueiras, que chora, de braços cruzados, puta da vida. — Como é que tu
me explica isso? De novo brigando com ela?
— É ela que é uma invejosa, chefinho! — Choraminga, arrasada. Antes
que possa falar mais, a envolvo em meus braços, cuido dela como se fosse
uma criança.
— Eu sei, eu sei. Mas sabe por quê? Porque quem tem talento incomoda
mesmo, e você é uma pessoa talentosa — digo, acariciando a cabeça dela.
— Eu sou — repete, fungando.
— A mais talentosa de todas, e pessoas talentosas não andam batendo
boca por aí, pega mal, se continuar assim eu serei obrigado a te mandar
embora — falo como se não quisesse fazê-lo.
— Não chefinho, eu não quero ir! — Ela retira o rosto do meu peitoral,
em um leve desespero só de pensar nesta hipótese.
Passo os dedos cuidadosamente por seus olhos, enxugando as suas
lágrimas, continuando a atuar:
— Também não quero que vá, você sabe que te adoro — dou um selinho
na sua boca. — Que é a minha preciosidade aqui — dou outro, enquanto a
mulher aos poucos se derrete.
— Eu sei — diz, manhosa, me puxando pela gola da camisa, me
beijando com mais vontade. — Também te adoro, você é o melhor chefe do
mundo.
— Então comporte-se, está bem? Hoje quero que esqueça todas as
mágoas, suba naquele palco e faça aqueles homens babarem por você. Quero
que arrase, que dê um show! Pode fazer isso por mim?
Pergunto, enquanto aperto a sua bunda na saia minúscula, deixando-a
doida.
— Sim — murmura, excitada, se esfregando em mim, me sentindo duro
batendo contra o seu abdômen. — Ai chefinho, quero tanto chupar o seu pau
de novo.
— Mais tarde. Agora retoca essa maquiagem, e chega de brigas, O.K.?
— ‘Tá! — Confirma, um pouco mais animada.
Desgrudo dela com dificuldade, saio do camarim, passando a mão na
boca para me livrar do seu batom. Vejo Thiago conversando com as outras,
puxo a segunda barraqueira pela mão, a levando para um canto onde não
podemos ser vistos.
— O que aconteceu? — Pergunto.
— Ela que tem inveja do meu brilho, chefe! Aquela garota me detesta
porque sabe que eu sou a melhor! — Ela fala, inconformada.
— Quem disse que é a melhor?
— Você.
— Então por que não acredita em mim? Eu digo e repito, você é a
estrela desse lugar, a atração principal — acaricio o seu rosto, distribuindo
beijos por sua face enquanto falo.
— Desculpa, chefe, devia ter te escutado — ela passa a me
corresponder, se derretendo.
— Devia mesmo, porque se continuar assim, não vou poder fazer nada,
vai ser justa causa...
— Não chefinho, não me demite, não! — Geme na minha boca,
manhosa, enquanto aperto a sua bunda, afundando meus dedos enormes em
sua carne fofa.
— Estou falando sério — desgrudo dela, olho-a com seriedade. — Não
quero mais que isso se repita. Agora suba naquele palco e mostre seu brilho
para o público. Quero te ver alçando voo!
— Tudo bem, chefe! Até por que eu sou uma profissional, né?
— Claro, e profissionais não batem boca por aí. Você é a estrela! —
Garanto, vendo o brilho crescer em seus olhos.
— Obrigada, chefe. Mas estou com saudades — ela acaricia o meu
braço.
— Depois resolvemos isso — pisco, cachorro.
Minutos depois, eu e Thiago observamos todas elas se apresentarem no
palco, juntas, como se fossem melhores amigas.
— Elas ainda vão nos enlouquecer, vamos tomar umas lá embaixo — o
chamo.
— Bora, patrão! — Thiago me acompanha, ele não nega uma.
Chegamos ao térreo, onde acontece uma rave incrível, a casa está lotada
de gente jovem e bonita que se esbalda ao som do DJ. Falo com várias
pessoas que me cumprimentam até sentar no bar com Thiago. Pedimos
nossos drinks e passamos a beber, nos divertindo. Após algumas taças, vejo
uma loira passando no meio da multidão, meu coração quase para. Esbugalho
os olhos, levantando, caminhando em sua direção, hipnotizado.
— Kelly! — A chamo. É ela! A minha primeira namorada! A minha
primeira paixão, o grande amor da minha vida! — Kelly!
Consigo alcançá-la, mas ao tocar em seu ombro e ver seu rosto, meu
mundo desaba ao perceber que se trata de outra pessoa. A mulher me olha
sem entender nada, a deixo ir, decepcionado. Passo as mãos na cabeça, ainda
pensando sobre isso, percebendo o quanto estou fodido sem Kelly em minha
vida! Volto para o bar.
— O que foi, mano? — Thiago pergunta, notando que estou diferente.
— Cuida de tudo aí, eu preciso ir embora — digo, dando tapinhas no seu
ombro e me afastando, confuso, abalado.
— Como assim, cara? O que houve? — Ele me segue, preocupado.
— Nada! Preciso ir!
Saio da boate, pego meu Lange Rover Velar e sigo para casa. Durante o
percurso, enquanto passo pelas ruas iluminadas da noite de Teresina, lembro
de quando eu tinha dezessete anos, quando ainda morava na praia, quando
Kelly entrou na minha vida.
Respiro fundo, enquanto dirijo, tristonho, lembrando agora do momento
em que Kelly saiu da minha vida. Quando levei dois tiros de um louco que
queria se vingar da gente e ela teve que fugir com Suzy para se salvar.
Acordei no hospital, com a notícia de que estavam sendo procuradas pela
polícia, de que tinham ido embora, mas para onde eu nunca soube! Ainda
tenho esperanças de um dia reencontrá-la, de um dia voltarmos a viver o
nosso amor.

CONTINUA...
Nova York, Estados Unidos.

Os sons dos tiros ecoam por meus ouvidos, vejo o amor da minha vida,
Erick, na areia, sangrando, morrendo, o rosto feliz do assassino. O meu
sofrimento é agonizante, depois o barco, a água me tirando o fôlego, tiros, um
jacaré feroz, e finalmente a fuga. Tudo passa por minha cabeça em flashes
descontrolados, ao abrir os olhos, pisco, voltando à realidade.
Estou numa festa de gente poderosa e rica, numa mansão moderna e
gigantesca, na área externa, no vasto jardim onde o evento acontece. É noite,
convidados andam luxuosos de um lado a outro, uma banda de requinte entoa
uma música clássica dominada por um maravilhoso saxofone, que combina
com o ambiente sofisticado. É o aniversário de sessenta anos das indústrias
automobilísticas Foxhill.
Uso um vestido branco, justo, que deixa bem à amostra todas as minhas
curvas, o coque prende os meus cabelos loiros de maneira fina, destacando os
brincos caros, os últimos que me restaram.
Estou parada sozinha em uma mesa estratégica, a metros das paredes de
vidro que cercam o quarto do anfitrião, vejo ele sair do local, momento em
que as luzes se desligam. Levo a minha taça à boca, bebendo mais um pouco
do meu espumante. Volto a ficar atenta mesmo após ser invadida por
lembranças do passado, fito o poderoso Hector Foxhill sair pela porta da
frente, escoltado por seus dois seguranças, sendo um deles uma mulher,
passando a conversar socialmente com os convidados.
Olho discretamente para a direita, faço um sinal de positivo com o rosto
para Suzy, a minha amiga, que está distante. Em seguida, vejo-a sumir de
vista, preparo-me para mudar de lugar, mas bato em alguma coisa, caindo
sentada sobre as pernas de alguém, assim, de repente! Minha taça se quebra
no chão, levo alguns milésimos de segundos até perceber que estou nas coxas
de um cadeirante.
Levanto-me completamente sem jeito, desnorteada.
— Oh meu Deus, me desculpe! — Peço, olhando para o homem que ri
lindamente. Rapidamente noto o quanto ele é bonito, ainda mais sob esse
terno, os cabelos de um castanho louro, lisos, penteados para trás, os olhos
cor de mel, o rosto tão perfeito quanto de um anjo.
— Está tudo bem — ele diz, calmamente, ao mesmo tempo em que
percebo que chamei a atenção de algumas pessoas com o incidente, tudo que
eu menos queria.
— Não, não está. Eu não te vi, me desculpe mesmo.
— Já estou acostumado, as pessoas geralmente não veem um
paraplégico — ele baixa os olhos por um segundo, fico compadecida.
— Não sei os outros, mas eu geralmente vejo sim, e tenho grande
respeito. Isso foi realmente um aci...
— Já disse que está tudo bem, relaxa — ele estende a mão para mim, a
qual aperto. — David — se apresenta.
— Kelly — trocamos sorrisos. Logo procuro por Hector, mas não o vejo
em lugar algum. Também não vejo sinal de Suzy. Droga! — Ah..., eu preciso
ir.
— É, seu namorado já deve estar preocupado.
— Ah não, eu estou sozinha.
— Até qualquer dia — David se despede, me afasto, lhe deixando com
um sorriso. Nossa, isso não podia ter acontecido, não devia me distrair!
Caminho entre as pessoas, passando por algumas mesas, olhando para
todos os lados discretamente, mas nada do anfitrião com seus seguranças.
Pego o celular da bolsa, envio uma mensagem para a minha amiga:
KELLY: Está tudo bem aí? Perdi o cara de vista!
Continuo cercando a casa, tentando ver algo pelas janelas, andando entre
risos e garçons. As batidas do meu coração aceleram, começo a ficar
preocupada, aflita, até que a minha mensagem é respondida:
SUZY: Se quer ver a sua amiga viva, é melhor vir agora ao escritório do
Dr. Foxhill.
Paraliso, em choque com este texto. E agora? O que farei? Não há para
quem pedir socorro, é só eu e ela!
Respiro fundo, processando este chamado até me dirigir para dentro da
casa, não posso abandoná-la! Não posso fugir. Um segurança me acompanha
em silêncio até o escritório, todo o imóvel é um luxo, em tons escuros. A
porta me é aberta, entro com coragem e medo, vendo Hector Foxhill parado,
de costas para mim, olhando a festa lá fora pela vidraça. A luz está desligada,
o ambiente é iluminado apenas pelas luzes da parte externa, me pergunto o
porquê.
— Era isso que você e sua amiguinha queriam? — O homem ergue a
mão, mostrando a gargantilha em diamantes.
— Onde ela está? — Pergunto, com medo.
— Eu perguntei primeiro — a sua voz é gélida, grossa, com um toque de
ódio.
— Eu... não sei do que está falando...
Ele gargalha, sua risada sinistra corta o ar, me arrepiando.
— Amadoras — diz, com desprezo. — Mas confesso que estou
impressionado com a audácia. Se infiltraram em minha festa sem serem
convidadas, invadiram a minha casa e tentaram roubar uma das joias mais
importantes para mim...
— Eu...
— Isso tudo terá um preço, senhorita, e posso lhe garantir que será
muito caro — o homem finalmente se vira, mostrando-me sua face
ameaçadora, com o maxilar cerrado, e seu olhar parece que vai me destruir.
Olho para a porta às minhas costas, estou nervosa, mas não quero demonstrar.
Ele faz deboche. — Desista, a partir de hoje não há mais como fugir de mim.
Agora você e a outra ladra estão em dívida comigo, e irão me pagar de um
jeito ou de outro.
— Onde está a Suzy? — Repito a pergunta, sentindo o perigo.
— Ela ficará comigo, será minha propriedade, e você se casará com o
meu filho — afirma, em plenitude, como se fosse a coisa mais normal do
mundo, enquanto acende um charuto.
— O quê? — Estou incrédula, assustada.
— Ele gostou de você, há muito tempo uma mulher não chama a sua
atenção — Hector volta a mirar a vidraça, despreocupado, fumando,
enquanto a fumaça se dissolve no ar.
— Não sei o que está pretendendo com isso, mas...
— Quero um neto, um herdeiro saudável, após isso, te devolvo sua
amiguinha, viva, e deixo vocês em paz, se... você fizer exatamente tudo o que
eu mandar e não sair da linha, pois meu filho não pode saber de nada.
Meus olhos se enchem de água, mas não quero chorar diante dele,
porém estou desesperada!
— Você... não pode fazer isso! — Tento retrucar, há ódio em minha
voz. — É sequestro! Cárcere privado!
Hector ri, maléfico.
— Blábláblá..., garota, não sabe mesmo com quem está lidando. A sua
sorte e da sua amiguinha é que são bonitas, do contrário... — ele não conclui,
isso me deixa aterrorizada.
— Eu vou chamar a polícia...
— Faça isso, e a Suzy... morre. Deixe de me obedecer pelo menos por
algum segundo e você morre também, ou... posso colocá-las em um de meus
leilões.
Me sinto indefesa, incapaz, sem saídas! Minha mão está tremendo, meu
coração quase saindo pela boca. Engulo em seco, chego a pensar que vou
desmaiar a qualquer segundo. Estou em pânico!
— Estamos de acordo? — Ele solta baforadas no ar, é incrível a sua
frieza, a maneira como conversa comigo, como se suas imposições fossem
pedidos comuns. Uma lágrima desce, não sei o que fazer. — Perguntarei só
mais uma vez: estamos de acordo? — Sua voz grave corta o ar novamente.
— Sim — digo, sem chão.
— Agora venha aqui — fico imóvel, não quero me aproximar deste
homem, sou um misto de fúria e medo, quero acabar com a raça dele, porém
o temo. Ele é um dos homens mais poderosos de NY, detentor de uma
imagem impecável, jamais imaginei que pudesse se submeter a este tipo de
coisa, isso é coisa de... criminoso, mafioso, de gente inescrupulosa. — Venha
agora! — Ordena, finalmente o obedeço, parando ao seu lado. — Lá está o
meu garoto. Não vai ser difícil, ele até que é bonito, uma vez recebeu convite
para modelar, seu único defeito é não andar — percebo que ele está se
referindo ao cadeirante no qual esbarrei minutos atrás, fico chocada! — Você
já o conhece..., David.
— Eu não o conheço, só tive um esbarrão com ele ali fora, isso é
loucura! — Rosno.
— Loucura ou não, ele gostou de você, eu vi como a olhava, e será mais
fácil assim, pois David é um jovem tolo, precisa gostar para foder alguém.
Patético. — Foxhill olha para mim, sarcástico, impiedoso com o meu
sofrimento. — Você precisará conquistá-lo, quero que se casem, pois essa
gestação terá que acontecer perto de mim, apesar que... a partir de hoje, meu
pessoal irá vigiá-la 24 horas.
— Por favor, me deixe ir embora com a Suzy, não conseguirei fazer
isso, você está enganado... — imploro, desesperada.
— Shhh — Hector faz sinal de silêncio. — Veja pelo lado bom, você
terá uma vida que com certeza nem chegou perto de possuir algum dia.
Depois que meu herdeiro nascer, poderá ir para onde quiser, receberá uma
pequena comissão se for uma boa menina — ele tenta acariciar a minha face,
mas me afasto, enojada, porém Hector segura meu queixo com força,
esbugalhando os olhos, aterrorizante, aproximando o rosto do meu. — É
melhor você ser uma boa menina — diz em meu ouvido, entredentes, em
ameaça, enquanto mantenho os olhos fortemente fechados.
Sou jogada para longe como uma coisa qualquer. Desgraçado! Hector
volta a fumar seu charuto, envolto do seu terno preto, odeio admitir que nele
agora vejo uma imagem não só de poder, mas também de maldade absoluta.
— Agora vá e faça o meu querido David se apaixonar por você. E
lembre-se: a partir de hoje eu sou a sua sombra, estou com a Suzy — diz, de
costas para mim, definitivamente não sei o que fazer. Caminho rumo à porta,
pensando em um milhão de coisas, todas ruins.
Preciso protegê-los!
É a única coisa que grita na minha mente! O segurança me acompanha
até a saída da casa, enquanto caminho, busco algum sinal de Suzy,
esperançosa, mas sem sucesso. Meu Deus, por que tudo isso?
De volta ao jardim, sigo para o banheiro mais próximo, choro feito uma
criança. Levo alguns minutos para me recompor. Enxugo as lágrimas, dou
um retoque na maquiagem, e regresso para o evento, vendo os seguranças
pelos cantos me observarem.
Miro David Foxhill à distância, solitário, em sua cadeira de rodas
moderna. Um garçom passa ao meu lado, tomo-lhe uma taça de espumante na
qual dou um virote para criar coragem. Respiro fundo, sigo até o meu
inesperado objetivo, com a plena consciência de que este inferno está só
começando.
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Mário Lucas é piauiense, mora em Teresina, cidade dos seus
personagens. É advogado, aventureiro e sonhador. Começou a escrever aos
quinze anos, e agora não quer mais parar. “Victor” é o seu primeiro e-book
publicado, e já possui mais dois romances da série concluídos.
VICTOR: SÉRIE
ALCATEIA - LIVRO I
Livro recomendado para maiores de 18 anos.

Victor é um simples mecânico, lindo, intenso e sedutor que, viciado em


adrenalina sexual, se envolve com mulheres casadas para obter o prazer
quente do perigo.
Mas a sua vida muda radicalmente quando ele descobre ser herdeiro de uma
grande fortuna deixada por um pai desconhecido. O jovem é levado a uma
casa luxuosa e passa a morar com Laura, a viúva, uma mulher cheia de
segredos e tentadoramente linda.
Agora, sob o mesmo teto, a atração entre eles é inevitável e se intensifica a
cada dia, mesmo os dois pertencendo a mundos tão diferentes. Ela é chique,
ele bruto, mas ambos ilimitados.
Victor se vê diante de uma realidade totalmente nova, cercado de riqueza e
poder. Seu desejo pela madrasta se torna obsessivo, afinal, Laura é o seu
maior desafio. Possuí-la é imoral, proibido e fatal, pois ela pode ser a sua
perdição ao se transformar na principal suspeita da estranha morte de seu pai.
Neste primeiro livro da série Alcateia, é contada a história abrasadora de
Victor, um romance original que foge dos padrões, narrado na visão
masculina, hot, instigante e misterioso.
OBS: Esta história não se trata sobre lobos, não é uma fantasia! “Lobo” é
visto aqui no sentido figurado.
APOLO: SÉRIE
ALCATEIA – LIVRO II

Contém cenas de sexo explícito. Livro recomendado para maiores de 18 anos.

Apolo Lobo, é um lindo jovem que apesar do rosto de anjo, possui a mente
pervertida e os sentimentos à flor da pele. Ele é obrigado a voltar a morar
com o pai, Victor, o qual culpa pela dissolução da família. E em meio a
conflitos familiares e traumas que ressurgem, uma nova vizinha, Érica, chega
ao condomínio atraindo o garoto de forma ardente.
Movido pelo desejo e curiosidade, Apolo acaba descobrindo um segredo de
Érica, dando início a um jogo quente e perigoso onde a vingança é a cartada
final. Ele é desafiado, treinado, e fará de tudo para sentir o maravilhoso sabor
de ter uma mulher sob seu corpo, provando que não é de falar, mas sim de
fazer, mas talvez o preço a ser pago seja alto demais.
Victor Lobo, viveu anos se sentindo o homem mais feliz e realizado de todos,
entretanto, a vida lhe mostrou que pode ser cruel arrancando-lhe a mulher
amada e o respeito do filho por uma mentira perversa. Agora, solteiro, tem a
sua carreira em ascensão e as mulheres que quer para satisfazê-lo apenas
carnalmente, pois não consegue esquecer o amor do passado.
Contudo, o que importa nesse momento é reestabelecer seu laço paterno com
Apolo, e quem sabe o destino lhe traga uma nova paixão.
Neste segundo volume da série Alcateia, pai e filho terão que redescobrir o
amor familiar e verão que possuem muita coisa em comum, principalmente
no quesito mulheres. Amor, sexo, traição e vingança se unem a cada capítulo
tentadoramente.
OBS1: Este é o segundo livro da série, antes é preciso ler o primeiro, Victor.
OBS2: Esta história não se trata sobre lobos, não é uma fantasia! “Lobo” é
visto aqui no sentido figurado.
Table of Contents
Sinopse
Agradecimentos
Prólogo
Capítulo I
Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Capítulo XIX
Capítulo XX
Capítulo XXI
Capítulo XXII
Capítulo XXIII
Capítulo XXIV
Capítulo XXV
Capítulo XXVI
Capítulo XXVII
Capítulo XXVIII
Capítulo XXIX
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