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BIBLIOTECA DE FILOSOFIA E HISTORIA DAS CIENCIAS Vol. n° 5 1on de Albuquerque © Roberto Machado Diteitos adquiridos por EDICOES GRAAL LTDA. Rua Hermenegildo de Barros, 31-4 Giiria - Rio de Janeiro ~ CEP 20.241 © Copyright by EDICOES GRAAL LTDA. Impresso no Brasil / Printed in Brazil JURANDIR FREIRE COSTA ORDEM MEDICA E NORMA FAMILIAR TOMBG. -:39B8L Co FLCH=USP 8 ee.cus soos VISALYOS ria Fundador: MAX DA COSTA SANTOS Capa: Sonia Maria Goulart DEDALUS - Acervo - FFLCH-FIL ona COrdem medica © norms faniliar/ ee 21000007622 Ficha catalogréfica CIP ~ Brasil. Catalogagio-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ Costa, Jurandir Freire, C8730 Ordem médica e norma fa Costa. ~ Rio de Janeiro: (Biblioteca de ats) Bibliografia iasse médica - Brasil - Histéria_ 2. Familia ~ Or- ganizacao social 3, Pais.e filhos I. Titulo II. Série DD - 301.4410981 301.42 301.427 CDU ~ 323.381.1081 )091) 3 79-0215 85.14 A meméria do Dr. Philippe Paumelle Aos primeiros mestres, Paulo Sette e José Lins de Almeida A Célia, Cecilia e Tiago ‘Aos amigos, em especial, a Jackie. amt a Capitulo 5: ADULTOS E CRIANCAS 1, Direito do pai, morte aos filhos 2. A protecio da infaincia A familia nefasta O cultivo da infancia 173 INTRODUCAO O espaco da ordem O tempo disci O fisico disci A regulacdo do sexo «. cate momento, tomowse banal consatar que a Gam RSET bapieagbes dadas ao fato multiiamse. A ai é sucessivamente imputada a0 afrou- ; a0 enfraquecimento da autoridade ; a0 a on ia; a0 A disciplina moral 3. A infiincia «reduzida» incia de classe, consciéncia de rasa, consciéncia nacional... lo 6: HOMENS E MULHERES . O contrato conjugal .. Em suma, viduos estariam como que desapren- dendo as regras de convivéncia que mantinham a familia coesa. Cada um deles parece aspirar justamente aquilo que se opde a0 direito ou s aspiragdes do outro. Libertinos, c sq, Machismo e pateridade ‘S\ A mie e DA ie higiénic jada dos médicos .... fiante, Os membros da familia, 7 tormando imigos. O lar moderno deixou de cumprir suas antigas fun 4 : ‘A familia estaria vivendo em rude impasse. Perdeu seus Pr jutas € mundanas 265 a in ees antigos valores sem conseguir criar nada que pudesse subst ee on jos. A mobilidade sécio-cultural do universo citadino privou-a de Rani mee seus vinculos tradicionais e, ao mesmo tempo, da possit de BIBLIOGRAFIA CITADA ++ 275 de estabelecer novos relacionamentos sélidos. Sem au? por- ul , foi submetida a uma social, através de sua a este estado de dependén- icativo, a argumentos seme- do caos em que se encontravam que a jou-se na, intimidade de suas vidas. ira década do século passado, a familia Valendo-se dos altos. precirias condigies de irigida sobretudo as revolucionar os costumes familiares. Por seu fincias sociais, para transformicla na instituigéo conjugal e_ nuclear caracteristica dos nossos tempos. Converteu, além higienicamente ti mento, sindnimo hist atrelada a0 destino politico de uma determinada classe social, a bburguesia, de duas maneiras historicamente inéditas. Por um » 0 COrpO, © SEXO € OS sentimentos conjugais, parentais ¢ is passaram a ser programadamente usados como instrumen- ao polit is de diferenciacao social daque- que ordena 0 convivio social , reproduzindo, no 98 resultados obtidos pela educagao higiénica. Neste ca chegou a fusao entre aquisigao de imica da vida dos individuos. ‘A educagao fisica defendida pelos higienistas do século XIX criou, de fato, 0 corpo saudavel. Corpo rabusto ¢ harmonioso, ‘organicamente oposto 20 corpo relapso, flacido © doentio do individuo colonial. Mas, foi este corpo qu representante far 0 racismo € explorar e manter ex- social da burguesia marginalizagao sécio-econdmica, nao logravam conformar-se 20 modelo anatémico construido pela higiene do preconceito racial ja de classe burguesa. O- racismo nao € um acess6rio ideolégico, acidentalmente a0 ethos burgués. A fancia de classe tem, na consi desde a infiincia, aprende «superior» aos que se & que geralmente estéo su ecrioulos», «paratbas», «c se social, continua avaliando pejorativamente 0 corpo, os gestos, a fala, 0 modo de ser € viver dos mal: Continua, malgré lui, fascinado pelo corpo burgués, higienica- a figura do «bem educado», cuja norma ideal € 0 comportamento reprimido e disciplinado do gentlema,.. ._petit-bourgeois europeu. Mas, as custas de uma crescente tendéncia & autoculpalizagao, que se tomou a marca registrada do sujeito «civilizado» e aburguesado. Do sujeito forcado a exercer um autocontrole tiranico sobre si mesmo. Do sujeito ensinado a reagir com extrema intolerincia as menores falhas morais — suas ou de seus pares — imas ocasides, pelo softi- nial. Mas, desde entdo, o nivel dé intelectual entraram na era da competigao. pela ordem econémica mas também pela ‘as colaboraram no processo de hierarquizagao social da idéia de que o individuo «culto» era ». Difundiram, simu ceito de que 0 cérebro do homem capacitava-o para as profis- es intelectuais, enquanto o da mulher sé the permitia exercer atividades domésticas, A educagao sexual que, segundo a higiene, deveria transfor- mar homens € mulheres em reprodutores e guardides de proles sas © «racas puras» conseguiu, em grande parte, estes objetivos. 4 A sanidade fisica da familia de elite aumentou, na medida em que as condutas sexuais mas. € feminina foram sendo respectivamente reduzidas as fungdes «pai » ¢ da «mie», Em contrapartida, est desencadeou uma epidemia de represséo sexual intrafamiliar que, até ber transformou a casa burguesa numa verdadeira médica». Instigados real hi criangas que se masturbavam; casados, a hut ndo casavam; heterossexuais, a reprimir homossexuais etc. O sexo tornou-se emblema de respeito ¢ poder sociais. Os indivi duos passaram a uséclo como arma de prestigio, vinganga ¢ punigio. Finalmente, © amor entre pais ¢ filhos,isonhado pela higie- ney concretizou-se. Na familia conjugal moderna os pais dedi- cam-se as criangas com um desvelo inconcebivel nos tempos coloniais. No entanto, ¢ este é um aspecto fundamental, de maneira permanentemente insatisfatria. Perante 08 novos técni- cos em amor familiar, os pais, via de regra, continuam sendo vistos como ignorantes, quando ndo .? “Tal esquema sofria, naturalmente, pequenas variagSes. Na prancha de Debret, Visita a uma fazenda, nota-se que 2 fun¢ao tradicionalmente preenchida pela varanda era suprida pela sala de visitas.®’ Em outra prancha do mesmo dos ricos depois do jantar, 0 tempo que desfrutado na galeria que circunda trilateralmente o rés-do-c Nao obstante comum nas residéncias ru- 2 varanda dos fundos que preferencialmente concentra- 1po € as atividades ligadas ao «estar». Angulo, observa-se uma nitida diferenga entre 0 estar» do homem © 0 da mulher,. O primeira aproveitava grande parte de seu tempo ocioso na rua. Na estampa Os refrescos do largo do paldcio, Debret da conta deste fendmeno, harrando 0 cotidiano de um cidadio médio do Rio de Janeis “Esse homem tranqiiilo, observador religioso dos usos brasilei- ros mais tradicionais, levanta-se antes do fresca uma parte da cidade, entra na primei ‘ou ouve missa e continua seu passeio até as seis horas da manha. Volta, entdo, despe-se, almoga, descansa, limpa seus faz a sesta até duas ou trés horas da letter e sai de novo as quatro horas. ia pelas quatro horas da tarde que se le pequenas rendas chegar de todas as Tei pp 80 ruas adjacentes 20 Largo do Palacio a fim de sentarem nos parapeitos do cais onte tém por costume respirar 0 ar fresco, até a hora da Ave Maria». TO pequeno capitalista no é entretanto freqiientador exclu- sivo do Largo do Palicio; também todas as tardes os comercian- tes ai se relnem... Um pouco mais tarde, a esses grupos se ajuntam os capitaes de navios... Finalmente a obscuridade ¢ a frescura da noite dispersam os grupos mergulhando o largo num siléncio., . ‘Gunato ao tempo livre do homem rural, assim 0 descreve Carlos Lemos: «... temos que iro «estar» da mulher do ‘cestar» do homem, Quando o elemento masculino nao permanece ho sertip... fica lidandé com as armas, areios, cavalos, com as ‘criagdes, diverte-se afiando as esporas de seus galos de briga, exe com 0s passarinhos, bebe cachaga e tem seus jogos, jnclusive de cartas. E conversa, conversa bastante contando acausos»...»6 ‘Fora destas alternativas, quando Ihe ocorria permanecer em casa, sem nenhuma tarefa exigida pelos negécios, 0 homem como observava Saint-Hilaire, «ignorava os encan- € do estudo».? ‘A mulher, pelo contraio, ficava muito mais tempo no inte- rior da babitagao. Seu cio mesclava-se invariavelmente com ‘guma ocupagao doméstica: «Nas atividades femininas € que encontramos bem defii igdo de funcdes atinentes So lazer com as do servigo doméstico. Numa familia grande, cheia de filhos, os legitimos ¢ os naturais, todos sob o mesmo feto, cheia de agregados, de moleques ¢ de meninas «do servi gon, de parentes velhos © encostados é que dificlmente iremos Sgber como. termina a obrigagio do cotidiano © comeca a diverséo, onde principia o lazer e finda o servigo doméstico de fnanutengio ou de subsisténcia, Havia a segregacio moura das mulheres ¢ elas nunca aparecendo a ninguém e sempre esprei- tando pelas zavam na trangados, dos doces, bolos, biscoitos, dos remédi xaropes e emplastros. «Essa superposicao estar-servigo houve em qualquer classe social, porque ao elemento feminino nao restaram outras alterna tivas além daquelas do forno, fogio, agulha e uma ou outra roga no fundo do quintal, na horta, no parreiral. Por isso, tanto na casa da classe dominante, como na pobre, vemos a mulher cri- ando seus filhos e vivendo o dia-a-dia na zona de servigo»* Esta descricdo pode ser confirmada por um ou outro traba- Iho de Debret, Uma senhora brasileira em seu lar.? Na estampa vé-se uma dona de casa que costura ¢ ensina a filha a ler, tendo 20 lado duas escravas que também se ocupam do mesmo tipo de servigo. Uma outra confirmagéo da superposi¢ao do sestar» com 0 servigo é dada pelo proprio uso funcional da varanda. Ina von Binzer, descrevendo a varanda de uma residéncia rural do séc. plo uso que era feito daquele local, destinado ssatempo entre as horas de refeigao mas a inumerveis outras atividades domésticas: fabrico de pao, passa- gem de roupa, limpeza de calgados, preparacao de alimentos, etc..." © «estar» da familia colonial, portanto, regulava-se pela dis- tingao social do papel do homem e da mulher ¢ pela natureza das atividades domésticas. 0 homem, a quem era permitido um maior contato com @ mundo, com a sociat menos tempo em casa. Os cuidados da re gues A mulher que, entretanto, nao podia imprimir aos aposentos a marca de suas necessidade: Esta, posigao de dependéncia diante do marido refletia-se na ‘organizagio dos interiores. Como veremos, o interior da casa colonial era desprovido da maioria dos objetos que tornam um ambiente agradavel e propicio ao repouso. Ao homem pouco interessava estruturar um arranjo doméstico voltado para 0 apro- outra maneira, nao poderia fi tiva pessoal nem de autonomi jca para tanto. Além do que, comprimida pela estrutura funcional da residéncia, era obrigada a dispensar essas ocupagdes supérfluas e ocupar 0 tempo ocioso nos trabalhos caseiros. ‘A casa brasileira até o séc. XIX era um misto de unidade de 9 Prods « consumo, Boa arte dos vveres,wensios domes Cos € objetos pessoais de que necessita uma familia eram fabri- cados na propria residéncia. A mulher gerenciava esta pequena empresa sem concurso algum do marido. Realidade que criou, entre outros, © preconceito da mulher preguicosa ¢ indolente, viajantes estrangeiros colaram esse rétulo as mulheres 5 pelas aparéncias que suas ocupagées domést Luccock, por exemplo, notando que as donas de casa passavam grande parte do tempo sentadas, que raramente safam jas e precocemente envelhecidas, cha- mou-as de inertes preguigosas No ent sob a dptica da organizagao domé: cada um destes aspectos projeta uma nova si conduta feminina. A postura sentada da costume portugués, herdado por sua vez das culturas drabes © slower *, 17 @ Seat es aor no Brevi asidtica, que prescrevia esta posigo fisica a mulher que traba- Ihava ou repousava. Além disso, essa postura era adequada a funcionalidade da casa colonial. Sentada devia permanecer a mulher que comandava uma casa cujas dimensdes, funcionamen- to € disposi¢ao arquiteténica exigiam uma mobilizagao fisica exaustiva de quem tentasse transitar desordenadamente por todos os seu cémodos. Nas plantas das casas grandes e de algu- ‘mas residéncias urbanas apresentadas por Carlos Lemos, con- tam-se, por vezes, 5, 7, 8, 9 e até 12 quartos.'? Estas mesmas plantas mostram também que as zonas de servigos localizavam-- se as vezes no exterior e que a auséncia de esgotos ¢ agua encanada exigia que as atividades de higiene corporal fossem realizadas fora da casa, Portanto, qualquer movimentacio fisica supérflua deveria ser evitada. Embora contando com a explora- do parasita de escravos e outros servicais, ainda assim as donas *» casa tinham que deslocar-se muito. ‘S quantidade de pessoas a servico da familia era outro fator inante na postura sentada da mulher. Luccock calculava ero médio de pessoas numa casa do Rio, em 1808, era jendrin dizia que numa familia comum havia 7 ou 8 ihena observou em algumas casas baianas a presen- ga de 60, 70 ou mais pessoas.'’ Era, portanto, entendivel que a dona de casa permanecesse a maior parte do tempo sentada. Desta forma, determinava um ponto de referéncia fixo na casa, de onde pudesse centralizar 0 comando e a inspegio dos servi- gos. Quanto aos outros dois aspectos da conduta feminina que chocavam 0s viajantes — a aparéncia fisica e © retraimento social — teremos ocasido de ver o que eles representavam no universo de valores da época. No momento, importa notar como © sistema econmico ¢ social somava-se a0s efeitos de divisio social dos sexos, desvalorizando o interior da casa. Desvaloriza- Go que se traduzia por certos sinais como a pobreza decorativa das ambientes internos. ‘A maioria dos historiadores € viajantes mostrou como, via de regra, a casa brasileira era pobre no mobiliario ¢ decoracio. Alcantara Machado observou que a mobilia os objetos de ‘omnamentago eram escassos na residéncia colonial.'® Luccock, descrevendo algumas casas do Rio, afirmava: «O mobilidrio dos ‘aposentos mais elegantes é escasso ¢ pobre. Véem-se neles, em geral, um sofé de madeira, 20 mesmo tempo tosco e fantéstico no formato, acompanhado de umas poucas cadeiras de modelo semelhante, muitas delas s4o pintadas de vermelho e branco ¢ omadas de grupos e ramalhetes de flores, algumas delas fe talvez, ha cerca de cem anos atras. Em salas de pretensdes m: modestas, somente 0 sofa aparece, ou entio duas a trés cadei- ras; em lugar desses assentos, as mulheres usam de esteiras, em que em geral se assentam com as pernas cruzadas por baixo do corpo.” Ewbank fazia observagées semelhantes: «... pude observar que a sala e a mobilia eram adequadas ao clima tropi- cal: teto alto, esteiras no chio, cadeiras ¢ sofas com assento de vime, paredes cobertas de papel, nada de tapetes, passadeiras, cortinas, lareira e outras coisas essenciais em nossas salas».'8 Gilberto Freyre, citando Dampier ¢ Saint-Hilaire anota 0 mesmo adesprezo de ticos pelo conforto doméstico: a grandeza que alardeavam era, nas cidades, a do trajo, no mato, a dos cavalos ajaezados de prata, E principalemtne a do niimero de escravos € a da extensao das terras».1? Liicio Costa resume desta forma 0 mobilidrio tipico de uma casa grande dos primérdios: «além do pequeno oratério com 0 santo de confianga, camas, cadeiras, de Alcintra, Vida € morte do bondevame, Sio Paulo, Manns: 1972 pp. 36 tsp. fades 2M 85 tamboretes, mesas ¢ ainda arcas. Arcas ¢ bais para ter onde meter a tralha toda».:0 Contudo, a vetustez dos interiores nio se devia apenas ao desprezo do homem pelo lazer doméstico ou a indiferenciagio entre lazer € trabalho caseiros femininos. O atraso técnico ¢ econdmico determinavam, em parte, esse ascetismo material Todos os objetos de decoragao eram importados e, portanto, caros € dificeis de serem adquiridos. Os méveis eram fabricados artesanalmente ¢ os artifices eram poucos. Por outro lado, ja se observou como o aperfzigoamento da inddstria e do material de construgao introduziu modificasdes no interior da residéncia: «... 0 emprego de madeiras serradas, com jungdes mais perfeitas, difundiu 0 uso de assoalhos encera- dos, em substituicao aos antigos, de tibuas largas e imperfeitas, lavados semanalmente, iniciando-se em decorréncia 0 uso de tapetes e méveis mais finos». Da mesma forma, 0 progresso nas instalagées hidrdulicas, resolvendo 0 problema do abastecimento de gua e esgoto, dispensou um grande nimero de servicais ¢ liberou espacos para Sveis, antes reservados & circulagao de pessoas. Porém, ao lado destes fatores, a negligéncia do conforto doméstico revelava_o desprestigio, quando néo a completa 1. do sentimento de ide ou privacidade familiar. termo, designamos a série de condutas e reagdes emo- cionais que levaram a familia a concentrar nos membros do parentesco estrito (pai, mae, filhos) a atengdo antes dispersa no grupo de escravos, agregados ¢ «clientes». ‘A familia dominada pelo sentimento de privacidade gue-se da familia antiga, em varios sentidos. Em primeiro pais ¢ filhos comecam a valorizar 0 cor entre eles, abandonando a companhia continua de elementos estranhos, porventura residentes na casa. Em segundo lugar, os pais passam a ter maior interesse pelo desen sentimental dés filhos, educando-os de maneira m: lizada e le ncia, a ganhar maior conscién- 0s imperativos de sobrevivéncia material. Em seu clissico estudo sobre a crianga ¢ a familia, Phillipe Ariés observa q ricamente, este tipo de sentimento nem sempre existiu.:? Sua presenca s6 se tornou perceptivel na Renascenca, quando a mudanca induzida na «representagio da Infancia» por religiosos e pedagogos veio modificar radicalmente No caso brasileiro, nao nos interessou saber qual ponto de partida do sentimento de intimidade. Nao poderiamos afirmar se lonizago ele sempre existiu ¢ foi mantido atrofiado, nem também, se tendo por acaso existido, em mei ingularidades do ambiente sécio-ccondmi € bastou-nos constatar que, tendo ou naa existido anteriormente, suas manifestagdes até comegos do século XIX foram extremamente rarefeitas. E que, em seu surgimento ou revitalizagao, a medici mo comegou a ser concel mullado pelos médicos do-séc. XIX era, ai€-enlio, inexistente ou despercebido. Alauns testemunhos dessa auséncia chegaram até nds e dentre eles citariamos 0 descaso com que eram tratados os habitos de alimentagdo e'de vestudrio. ‘A negligéncia na maneira de portar-se as refeigdes ou na maneira de vestir e conseqiientemente de reagir ao que modera- damente chamariamos pudor do corpo e de suas fungé dlemonstram como a fama antiga degprevava convivio nano, ritual da alimentagdo, a reunido da familia em torno da atende a necessidades outras que nio as da pura nutricdo ica. A refeicao é ocasido de encontro e retragao da f sobre ela mesma. E também oportunidade dada aos individuos de exercerem controles reciprocos sobre suas condutas. Numa familia modema, a mesa € um dos locais onde os cdnjuges relatam os acontecimentos didrios; repartem os problemas do- mésticos; discutem as dificuldades na educacao dos fil er rogam estes Gltimos sobre suas atividades lidicas, escolares afetivas, ete. Nela também se ensina a maneira correta de co. todo 0 modo de viver burgués é trans neste momento de encontro, onde o ideal do gentleman, do p bourgeois contido, disciplinado, higiénico e polido, funciona ‘como norma do bem conduzir-se na casae na vida. Na habitagdo antiga, a maioria destes elem ausete, Lactock, mando os his de aliments una familia, comentava: «E ali (na varanda) que tomam suas refet ges usando de uma velha tabua calocads sob snes par de tamboretes de pau para completar e quando existem dessas coisas, uma ou duas cadeiras. A refeigio principal consta de um jantar ao meio-dia, por ocasido da qual o chefs da ens sua esposa e filhos as vezes se retinem ao redor da mesa: é mais ‘comum que a tomem no chéo, caso em que a esteira da dona da casa € sagrada, ninguém se aproximando dela Sendo os favorit reconhecidos... Somente os homens usam faca; mulheres ¢ criancas se servem dos dedos. As escravas comem a0 mesmo fempo, em pontos diversos da sala, sendo que por vezes su senhoras Ihes dio um bocado com as prdprias mos.» Contine, ando a descrigao, afirma’o autor: «Comem muito ¢ com xrande avidez e, apesar de embebidos em sua tarefa, ainda scham acham 23, Laceoek, John, op cit pp. 8182 88 tempo para fazer grande bulha. A altura da mesa faz com que o rato chegue a0 nivel do queixo; cada qual espalha seus cotove- los ao redor e, colocando o pulso junto & beirada do prato, faz ‘com que por meio de um pequeno movimento habil, 0 contetido todo se Ihe despeje na boca. Por outros motivos além deste, no ‘hd limpeza nem boas-maneiras durante a refeigao; 0s pratos nao sio trocados, sendo entregues ao copeiro segurando-se 0 garfo a faca numa mesma mio; por outro lado, os dedos so usados ‘com tanta freqiiéncia quanto o préprio garfo. Considera-se como Prova incontestavel de amizade alguém comer do prato de seu 10, € assim, no € raro que os dedos de ambos se vejam wuitaneamente’ mergulhados num s6 prato... Quando facas ¢ garfos'se acham em repouso, fica cada um numa das maos, Vertical e descansando sobre 0 cabo, ¢, quando deles néo se tém mais necessidade, limpa-se ostensivamente a faca na toalha da mesa». ‘Observagdes semelhantes foram feitas por Freycinet *, Tol- lenare ¢ Seidler *! Referindo-se aos utensilios de mesa, Gilber- to Freyre nota que a generalizacao do garfo ¢ da faca s6 se deu no séc, XIX. Debret, retratando «O Jantar no Brasil» sublinha regras de comportamento nas refeigies que vio no mesmo sentido das afirmacées anteriores. Durante a refeigio, anotava ele, era tolerada a «negligéncia no trajer € no «Rio, como em todas as outras cidades do Brasil, era costume, durante 0 ¢éte-d- téte de um jantar conjugal, que 0 marido se ocupasse silencio- samente com seus negdcios ¢ a mulher se distraisse com os negrinhos que substituem os doguezinhos, hoje quase completa- mente desaparecidos na Europa». 28, Freyre, Gilberto, Sobradore Mucambos, op. ity ¥. 3p. 777 29, Debt Jean-Baptiste vp. ct. pp. 7578. tamente, pela valorizagio do 108. Por essa preocupagio em aproveitar cada instante do contacto pessoal para educar fisica e moralmente as criangas e sobretudo para reativar os lagos de n € expor 0 corpo ¢ as fungdes corporais na intimidade, a mesma indisciplina era reco- nhecida. Luccock dizia das mulheres que «quando entre amigos intimos, véem-se apenas de camisa, cingida a cintura pelos cordées da saia e com as algas freqiientemente caindo de um dos ombros; nao usam meias ¢ raramente poem chinelos ou mesmo 0s socos de madeira com correias pardas a que chamam de tamancos. Os cabelos sio compridos e em geral despentea- dos...» E, dos homens: «... € comum o cavalheiro aparecer com uma barba de varios dias, os cabelos pretos em franco desalinho, embora besuntados de gordura e sem roupa alguma sobre sua camisa de alpodio... esse traje... 0 poe de peito aberto € com as mangas arregagadas até os ombros; mas se, noutras vezes, acha-se atacado a0 pescoco ¢ em redor dos pulsos por grossos botdes... as fraldas ficam de fora, pendentes a meia canela por cima da cinta que firma ao redor do lombo um par de calgas curtas, as pernas vao nuas e os pés metidos em tamancas. Nada disso ¢ la muito correto, tanto mais que a epiderme dos brasileiros abunda em pelos e é bastante queimada do sol no peito e nas pernas». *! Gilberto Freyre refere-se a fatos idénticos, como se segue: | «Dentro de casa, na intimidade do marido e das mucamas, mulheres relassas, Cabegio picado de renda. Chinelo sem meias. Os peitos as vezes de fora. Maria Graham quase nao conheceu no teatro as senhoras que reinam de manha dentro de casa — i tamanha a disparidade entre o trajo caseiro ¢ 0 de ceriméniay.%? Sobre a postura dos homens dizia 0 autor: «Depois do almogo ‘ou do jantar, era na rede que eles faziam longamente 0 quilo, j palitando os dentes, fumando charuto, cuspindo no cho, tando alto, peidando, deixando-se abanar, agradar ¢ catar pio- Ihos pelas molequinhas, cocando os pés ou a genitalia». ‘Almeida Prado corrobora esta visio: «No povo em geral ¢ muitas vezes na burguesia — funciondrios pablicos, pequenos comerciantes, professores, etc... — 0 homens comiam & mesa sem as mulheres, que preferiam sentar no chao sobre esteiras & moda oriental, por causa dos filhos pequenos que traziam a0 colo nessas ocasides. Garfos figuravam pouco porque as facas | serviamn para cortar e também para enfurnar alimentos na boca. ‘Os demais convivas, mulheres € ctiangas comiam com os dedos, cla pelo fato de as refeigdess se efetuarem na mais idade, quando o funcionario piblico, liberto da farda que envergava na reparticdo, se punha a frescote, de ceroulas, chinelos © camisa, estendido na marquesa de palhinha entre ‘apenas vestidas de camisolas, cruas de cor nuas € 0 que dedilhava enquanto a mucama Ihe ex- Por conseguinte, a pobreza dos interiores ¢ a frouxidio no, controle dos costumes pessoais eram causa e conseqiiéncia da | escassez do sentimento de privacidade. Frouxidio que, no entanto, se mantinha para responder a necessidades coneretas da familia. sua hegemonia recorrendo a meios of padrio © manipulagoes afi im. Compadres, afithados e demais clientes, quando wdos aos senhores por lagos outros que no os da -ondmica ou da submissio colocando-se como ago de unido entre as «ca: compromissos. O parentesco religioso-emocional tornava o desi- fe. Como observou Maria Sylvia Franco, «a domi- Ihantes supde um certo grau de indeterminacao agio social» que veio a traduzir-se na idas de diferenciagao social» costumes». O compadrio barreiras, nivelando por baixo certos jana favorecia 08 exploragdo econdmica ¢ 0s de «castar e raga que os separava da massa de 2 dos cos- ia social > reclamava certos nagdo entre ser na forma de ocultava, em parte, preconc agregados tumes aproximava na Ainda assim, essa si no universo da residén contacto com seus verdac § acontecimentos pi Quando exposta ao mundo, em ros iguais — nas festas religiosas ou poderio. Nestes momentos, a distingdo renascia, como que mbrando a todos quem detinha o poder. ao 0p. cit, 9.80, Outro fator determinante na displicéncia dos costumes do- mésticos foi a presenca de escravos. Ussel observ: aristocratas europeus até o séc. XVIII praticamente na nenhuma preocupagéo com o pudor diante de s« barreiras de sangue eram tao fortes que nenhum midade, nenhuma conduta fazia com que os primeiros corressem (0 risco de terem o prestigio ou posigao social postos em risco pelos segundos. * 'No Brasil, com pequenas variantes, repetiu-se 0 fendmeno. Pouco importava aos senhores 0 que seus escravos pensassem de suas maneiras de vestir, comer, dormir, etc... © olhar ¢ 0 julgamento do negro jamais fariarn com que a diviséo de «cas- ias» fosse rompida, Ndo havia a menor preocupacao da familia em afetar um esmero qualquer, um sentimento qualquer de pudor diante de um escravo, cuja natureza era ideologicamente préxima & de um bem material ou a de um animal Negligente diante do agregado, para simular familiaridade de costumes, € diante do escravo, por desprezar ¢ desconsiderar . 0 senhoriato era pouquissimo solicitado a mudar 0 imo. falmente, uma outra varidvel concortia para a estagnagdo desses habitos: a regra de sociabilidade. A familia antiga no Apenas recebia pouco em casa, como s6 recebia 0s que,com ela se identificavam do ponto de vista dos costumes. Os modelos de convivio eram sempre os mesmos. Cada familia repetia a outra. E, como todas se aparentavam, 0 mesmo se eternizava. Como sera visto, a urbanizagao veio quebrar esse circuito, oferecendo altemativas de convivéncia e forgando a casa antiga a teno- Todavia, a auséncia de intimidade, embora se inscrevesse na estratégia de dominio patriarcal sobre 0 meio, no dependia apenas desta estratégia para substituir. Impedimentos intrinsecos 2 organizacao familiar forcavam-na a prescindir daquela ordem de sentimento. Dois elementos nessa organizagio obrigavam a familia a excluir a privacidade de seu convivio: a dependéncia da 36. Us san, Le repeesion sexual, MExio, Roca, 1974, pp 6588. casa para com 0 escravo ¢ a dependéncia da familia para com 0 pai. No primeiro caso, a familia era passivamente impedida de estabelecer uma maior aproximagao entre seus membros, pois dispersava-se nas numerosas relages com os servig ivamente impedia essa aproximacio, para man- do poder paterno ¢ assegurar a sobrevivéncia do patriménio, O funcionamento da casa col vel sem © braco escravo. Todo requeria. Liicio Costa sintetiza expressivamente essa situagdo, afirmando: «A maquina brasi € do Império, dependia dessa mistura de coisa, de bicho e de gente, que era 0 escravé Era ele que fazia a casa funcionar: havia negro para tudo — desde negrinhos, sempre mao para Fecados, até negra velha, babé. O negro era esgoto, era agua Corrente no quarto, quente fria; era interruptor de luz e botao de campainha; o negro tapava goteira e subia vidraca pesa era lavador automatico, abanava que nem ver Freyre relata que «uma senhora do Rio dis: que 0s seus escravos eram um aperre dirgtamente individuos, como as de higiene e amamentagio de recém-nasci- dos, Além do mais, 0 escravo criava um outro obsticulo a intimidade, determinando a forma de comunicagio entre os ocupantes da residéncia. Homens ¢ mulheres, dando ordens a escravos, habituavam-se a gritar ¢ a falar alto.’ Ou tendiam a repetir © tom arrogante ¢ brutal com que a eles se dirigiam quando falavam uns com os outros ou com os filhos.“? E mesmo quando conseguiam conter a prepoténcia eram obrigados trovejando, em virtude do bulicio da casa e das grandes cias que as vastas salas, quartos e corredores, interpunham ent as pessoas. Os escravos, wam em todos os sentidos a idade. A simbiose em que & ia F€0rganizagao com vistas s moradores. om ele impedia st flundou sua coeso num 1a piramidal cujo topo era ocupado pelo homem, em sua polivalente funcdo de pai, marido chefe de empresa € comandante de tropa. Do homem era exigida toda iniciativa econémica, cultural, social € sexual. Os demais mem- bros do grupo ligavam-se mutuamente e ao pai, de modo absolu- tamente passivo. Toda alianga voluntaria em fungao de objetivos ‘comuns era excluida. O pai representava o principio de unidade da propriedade, da moral, da autoridade, da hierarquia, enfim, de todos os valores que mantinham a tradicao € o status quo da familia, Este género de solidariedade desestimulava todo elo afetivo que incentivasse motiv familiar nao devia nem podia ordenar-se de da, formada para reagir uniforme e prontamente a paterna, Era 0 pai que, defendendo o grupo, determinava o grau de instrugao, a profissao, as escolhas afetivas © sexuais de seus dependentes. A familia reagia adaptadamente a essas circunstin- cias. Convicta de que ele tinha o direito natural e «sobrenatural» de mandar e ser obedecido conformava-se a isso. ‘A decorréncia deste estado de coisas era 0 afastamento emocional do homem para com o resto da familia. Quanto mais distante ¢ inacessivel, tanto mais autoridade possuia. Mulheres € filhos ouviam-no, de tempos em tempos, para obedecer. Nao havia necessidade de contacto permanente e prolongado para que a ordem, na residéncia colonial, produzisse seus efeitos. O medo & punicao bastava. As relagdes sentimentais intimas eram, em conseqiiéncia, dispensiveis. Portanto, 0 «estar» e 0 convivio c nam em comum com seus congéneres de épocas mais recentes. O des- conforto material despreparava 0 ambiente para receber a fami- A quantidade de pessoas estranhas pulveriza as relagdes € pessoais. O temor ao pai mantinha fixa a distancia ividuos. O «estar» nao criava a intimida- a concentracdo de interesse entre cénjuges, pais e filhos. A habitagao antiga nao buscava obter aquele cl calmo, tranqililo, caloroso ¢ aconchegante que veio a ser 0 ideal da convivéncia da familia em periodos posteriores. A relativa indiferenciagdo da casa na cadeia produco-consumo, associada a seu correlato humano que foi a indiferenciagao emocional entre vinculo familiar estrito e vinculo social externo, despit-a da atmosfera de «lar-doce-lar» tao comum ao subseqiiente estrei- tamento da relagio casa-familia. Como seria pre © conteiido emocional da familia refletia e adequava-se a seu continente. A casa colonial produzit 10s A sua imagem e semelhanca. Sua intimidade superfi- ial, atrofiada, pouco diversificada prolongou-se e serviu de exemplo a seus habitantes. Os membros da familia antiga eram destituidos daquilo que poderiamos chamar modernamente de «profundidade psicolégi- ca». Eles eram, por assim dizer, psicologicamente extrovertido: sentimentalmente centrifugos. Nada, em suas intimidades afeti- vas, evocaria a representacdo que o individuo urbano e moderno tem de suas necessidades psiquicas. O gosto pela explorasio, dariedade do grupo. O individuo 96 trospectivo voltado para a ) descoberta de sua verdade interior era uma figura excepcional no mundo colonial. Bem entendido, nao se trata de negar a nossos antepassados a capacidade imaginativa, 0 poder de izaga i mentos ou a possibilidade de expri soais de modo inconfundivel e irredutivel a0 outro. Quando 0 iindividuo colonial possuia indubitavelmente, a nosso ver, sentimentos, desejos ¢ aspiragdes personalizadas. A interiorida- de a que mos referimos pertence a uma outra ordem de fenéme- nos. Ela diz respeito & importincia que seré dada & histéria e as singularidades psiquicas dos individuos na explicagao dos mé- veis de sua existéncia social e na formagao dos conteiidos afeti- Vos € representativos de sua consciéncia. , 08 individuos tendiam a ver, de modo , €M_ SCUS alos, gestos, desejos e manifestagdes sociais a expresso de uma ordem causal extema ao destino pessoal. A série de determinagdes religiosas ¢ familiares mono- polizava a significago do fato emocional privado. A visio ética corrente amputava na raiz todo pensamento que pretendesse explicar o fato psiquico, psicologicamente. A fixagao dos indivi- duos na rede de interesse do grupo, do pai, da propriedade ¢ dos antepassados, tornava-os portadores de uma psicologia rasa, sem relevo ou especificidade. Os eventos exteriores, o fato diverso, 0 ‘A solidariedade da familia colonial inibia, portanto, a dualidade. A convivéncia na casa nfo se voltava para o estimul decifracao e satisfagao das particulfridades individuais. A ausén- cia de intimidade paralisava este movimento que, s6 posterior- mente, no instante em que a familia teve due recorrer & criativi- dade {ual para impor-se ao meio, seré retomado e desen- volvido. Curiosamente, este instante surge quando a familia, assalta- da por dispositivos normalizadores como a higiene, abre a casa ao convivio social. Dai em diante ela vai enriquecer sua i dade, como a casa, seus utensilios ¢ 0s sujeitos, suas individu: dades. © amor entre pais ¢ filhos, abrigados por méveis de 1uxo, refeigdes sofisticadas ¢ indumentarias bem-cuidados, pode entio florescer. Da mesma forma, 0s espiritos rudes, as maneiras obtusas e-as sensibilidades grosseiras foram transformados pel corpos disciplinados, plenos de pudores morais e escripul Bsiolésios, ‘em almas requintadas e romanticamente angi las. n teriorizagao dos individuos progre mesmo compasso. A RECEPCAO COLONIAL: 0 CONTATO COM 0 MUNDO percebe dade entre casa € rua, que se encontra nas al aquela cont wuidade do espaco exterior pela sala ¢ da sala pel ‘erior, aquela continuidade que deixa viver os animais pelas vielas, como em casa. Em nenhuma vista, em nenhum quadro de Franz Post, em nenhum dos cronistas, se percebe aquela intimidade, aquele calor decorrente de um longo contato social face a face, como é comum nas aldeias, nas areas ‘onde a vida tem sempre um sentido de comunidade libercou completamente dos vinculos tribais e clénicos. io contririo, o portugués que chega € sempre um proprietario, um senhor, um homem de comércio, um empresé- Tio. Suas ambigdes sao ao mesmo tempo senhoriais € burguesas, mercantis e principescas. A rua nao é jamais a sua casa, mas 0 focal de ceriménia perante o qual se realiza como branco ¢ senhor. Despreza-a nos centros ment sme-a nos maiores, quando 0 comércio assume o predominio. Nunca, porém, sobre ela se derrama». "A citagio de Nestor Goulart introduz a questo essencial lagdes da famfia com 0 exterior. A segregaedo da familia € uma afirmagdo consensval entre ‘Tomando como ponto de partida a organizacao arquitet6nica da casa, pode-se ver que a sala de visitas e 0 quarto de héspedes prolongavam a intengo social da varanda. Antonil, aconselhan- do aos senhores de engenho receber seus héspedes, dizia: «ter casa separada para os héspedes ¢ grande acerto, porque melhor se recebern € com menor estorvo da familia ¢ sem prejuizo do recolhimento que hio de guardar as mulheres ¢ as filhas € as mogas de servico interior, ocupadas no aparelho do jantar e da cela». Luis Saia, descrevendo a casa paulista da Colénia, demons- tra como a planta dessas residéncia definia uma faixa fronteira composta de um «alpendre central tendo aos lados a capela e 0 quarto de héspedes».45 Esta era a zona de interedmbio com 0 mundo, separada da residéncia familiar propriamente dita: «Até a faixa fronteira chegam o héspede, 0 agregado, o mameluco ¢ 0 thes entretanto vedado 0 acesso a parte mais ia. O héspede tem seu dormitério aberto sobre © alpendre, sem ligacao com o interior da morada. Deste modo sua presenga acontece «independente da mais familia». Embora o autor constate que a familia paulista era es, mente segregada com relagio as demais familias brasi diversos cronistas ¢ historiadores referiram- tes em muitas outras regides do pais, casa guardava da rua. As figuras de dragdes, ledes & cachorros nos umbrais dos portées; or cacos de garrafas nos muros; as langas pontudas e as grades de ferro nos mesmos Portées seriam a transposico dos padrdes de relacionamento social da familia colonial para as grandes residéncias do impé- tio.#? Outro indicio arquitetural expressivo da situagao fa jada no centro da residéncia, a alcova néo dispunha iluminagao ou qualquer outra comunicagéo com 0 e devia estar protegida contra agressdes serreno, correntes de ar, maus cheiros da rua) ou assaltos ite (marinheiros bébados, ladrées, ciganos e ivas de namoros nao consentidos entre as mulhe- Tes e seus eventuais pretendentes).*® orada Paulista, Sio Pasi, Perspectiva, 1972, . 6. ber, Sabrados ¢ Mucambor, op it ¥. 2 p41, ncia com que a familia abordava ou se deixava penetrar pelo meio social era o confinamento doméstico das mulheres. O isolamento das mulhe- ese sua excluséo do convivio com os héspedes do marido ou itantes eram fatos correntes ainda nas primeiras décadas do Haddad compilou referéncias a0 fendmeno de viagem de Koster, Castelnau, Gardner, Luccock, 9 O recenseamento de testemunhos simila- res seria redundante desnecessirio. retanto, que a maioria dos historiadores interpretou o fato exclusivamente como um residuo da maneira pela qual a mulher era tratada na cultura érabe. Sem desacredi- tar tal ponto de vista, é preciso assinalar que esta forma de idade feminina nao foi especifica do Brasil. Em outras les ou comunidades agvirio-rurais a mulher apresentava este mesmo tipo de retraimento doméstico e subordinacao 30 homem. Flandrin refere-se a acontecimentos deste género entre os mpponeses da Auvergne, no séc. XIX, e 05 define como produto da representacgo que atribuia a mulher 0 qualificativo de «espécie inferior».0 Shorter aponta fatos semelhantes em Deux-Sévres, onde as mulheres nao sentavam & mesa com os maridos; ¢ no Jura, onde elas se retiravam dos locais em que se encontravam pessoas estranhas. Como Flandrin, ele afirma que (os camponeses da Europa tradicional consideravam as mulheres como uma «parte inferior da raga humana». Mas levanta ainda a hipdtese de que a rigida divisao do trabalho — o homem, fora de casa, a mulher, no — aliada & auséncia quase geral de afeicao entre os cénjuges, derivada do casamento de razo, eram as causas originais da situagdo.s' Hunt também se refere a submisséo da mulher ao marido € A sua escassa participagdo os fa do Outre Soin Nino social, fornecendo outras explicagaoes além das expostas acima. Para 0 autor esta situagao era conseqiiéncia da real inferioridade Juridico-econémica em que se encontrava a mulher, privada que era do acesso & heranga dos bens familiares. Esta pluralidade de explicagdes permite-nos dar 20 isola- mento da mulher brasileira significagdes novas. A mulher timida, reticente nas relagdes com o estranho, com o extrafamiliar, resumia em sua conduta as determinagGes sociais que a aprisio- navam na casa. O casamento de «razio» ou interesse: a inexis- i nto de amor entre os cénjuges; a inferioridade je» que Ihe foi tributada; a dependéncia eco- némica para com o homem (pai, inndo, tio, tutor) ea rigida divisio do trabalho social compunham a moldura do confifamen- to da muther. ‘A permanéncia da mulher no interior da casa devia-se, antes de mais nada, & sua funcdo econémica. A muther era 0 capi -do-mato, 0 gerente e 0 caixeiro do marido. Ninguém melhor que ela estava habilitada a zelar pelo patriménio doméstico do homem. Dependendo juridica, afetiva, moral ¢ religiosamente do marido, prestava-se docilmente a organizar a producao econdmi- ca da casa, supervisionando 0 trabalho escravo. Mio-de-obra gratuita, a mulher permitin por tempo a auto-suficiéncia das residéncias, fendmeno necessirio a0 despotismo senhorial sobre a cidade, Além desta fungdo produtiva «primériae, era ela quem se encarregava de suprir 0 escasso mercado de servigos das cida- des. A dona-de-casa era enfermeiro, médico, sacerdote profes- sor. Distribufa medicamentos em caso de doencas, ensinava 20s filhos as primeiras letras ¢ cumpria uma enorme quantidade de obrigagdes religiosas: tercos, ladainhas, novenas, promessas, etc. Sua posicao estava estreitamente ligada a situagéo da casa no confronto com os patcos recursos urbanos. Representava, de certa maneira, a submissao da cidade & familia, wand citron wm History — he pcoieyo aN. York, Evanson Sea Fela, Loson tn erty * café torrado, pio-de-I6 ‘A mulher quase no tinha necessidade de ausentar-se da casa para obter 0 que precisava. O comércio A familia in loco, sustentando o sistema eco pelos vendedores. Del século XIX a dama brasileira pouco saia de casa; os vendedores batiam & sua portas.°? Debret retratou vendedores ‘ambém retratados por Rodolfo ¢ Car- Jos Chambelland.5$ No que se diz. respeito a roupas, calgados e outros objetos de adomo pessoal, as familias também se faziam atender a domicilio por lojas,, mascates ¢ negras «boceteirasy. Estes comerciantes ofereciam todas sorte de produtos; chapéus, boti- nas, fitas, pentes, travessas, filds, bicos, rendas, perfumes, vestidos, esculturas religiosas, etc.56 O isolamento da mulher era, portanto, uma conseqiiéncia da de de contato da familia com 0 mundc, na realidade da época. Acresga-se a este modo de convivio social 60s prolongados periodos de gravidez ¢ «resguardos», num tempo fem que os métodos contraceptivos eram praticamente desconhe- idos; permanénciada mulher em casa teré no «citime mouro ou mais ténue. O cuidado com a moral feminina era a expressdo iltima ¢ talvez @ mais supérflua, de um sistema econémico-social bem mais opressivo. No caso das «mulheres-fi- Thase, obviamente, as razdes do enclausuramento nio tinham 0 ‘mesmo significado material. O patriarca prendia as filhas em alcovas ou por tris das rétulas para evitar possiveis ligagdes Renault, Delso, © Rio artigo nos anincios de jorais, Rio de Jane, José Olymeio, apr 866 afetivas entre elas © homens sem fortuna ou posiglo social vantajosa, Em suma, o isolamento feminino traduzia o papel instru- mental que as mulheres desempenhavam na reprodugio do regi- me econémico. Agentes passivos na multiplicagao das riquezas do marido, elas perpetuavam a maquina de opressio, a0 mesmo tempo que a ela se submetiam. No entanto, quaisquer que tenham sido os motivos da au- do» € no contato com a rua eles I da reserva social da familia antiga. Reserva que s6 seri abalada com 0 desenvolvimento urbano, Depois da chegada do Prin exibir uma variedade de tipos absolutamente desconheci- da em jgueses; comercian- tes, pol ratos © artistas das mais di espago de antigos burocratas e senhores rurais. O centro do poder deslocou- e com esse deslocamento mudaram as regras que permitiam a Na sociedade antiga a imobilidade da hierarquia social ensava certos instrumentos de afirmagao de poder que, a partir de entéo, tornaram-se necessérios. Um deles era a forma particular de sociabilidade que consiste em receber periodica- ‘mente, para festas ¢ reuni tes do mundo econémico, A famtlia colonial recebia pouco.," A recepgdo era um item da conduta social desvalorizado e pouco exercitado. Numa sociedade em que prevalecia a mentalidade rural e religiosa a festa privada» perdia parte de seu sentido. A fami sua socit especial no: ritmava a exibigdio de seu poderio. Nestas ocasices ela apare nos locais coletivos devidamente ornada com os emblema: inconfundiveis de «casta» ¢ raca. A festa religiosa e até mesmo a trivial abrigaso espiritual, como ir a missa, serviam de pretexto 57. Bdmundo, Lain. op i, v2 104 a cidade passou a ostentagéo da opuléncia familiar. Indo & missa os senhores faziam-se transportar em seges, cadeirinhas ou liteiras, por escravos cuja indumentéria demonstrava a riqueza de seus donos. Nas procissSes, repartiam-se em irmandades ¢ confrarias, que 0s distinguia dos demais grupos. Era impossivel aos compo- nentes dos grupos inferiores confundirem-se com as elites. As ‘marcas raciais ¢ as insignia sas afastavam qualquer inde- terminago neste sentido. A festividade pablica, a céu aberto, apenas consagrava 0 status quo. Construida & imagem do ritual ica, a sociabilidade_ da introducao ao epilogo. regularmente a “omportamentos pilblicos secularmente estabelecidos. Toda ‘a original, toda surpresa criativa estava ausente. A fre das festas era predeterminada, bem ‘como seus momentos e finais. Este jogo de cartas marcadas era obedecido e aceito pelos grupos sociais que nao dispunham de nenhuma alternativa cultu- ral que a ele se opusesse. Sua monotonia ¢ intermiténcia aten- diam satisfatoriamente as necessidades da sociedade antiga. O acordo entre as poucas familias possuidoras de riquezas nao incentivava a concorréncia ¢ a rivalidade em tomo de detalhes da conduta e da apresentagdo social dos individuos. De ante- mio, perdedores e vencedores conheciam seus papéis. A nature- za da sociabilidade era a consagracao recorrente do ja estabele- cido. Os desacordos, quando ganhavam proporcao imprevista, eram solucionados pela violéncia costumeira, pela vinganca onde a forca bruta do mais potente subjugava, manu externa obedecia a ‘A familia participava deste rito, repet série de preparativos inexisténcia da recepcdo doméstica era, portanto, entendi- vel. Segundo Kénig, um dos motores da competicdo por vanta- i jcas através do enriquecimento ¢ refina- mento no convivio social € a expansio numérica dos represen- tantes das classes dominantes.'* Nas sociedades em que 0 58. Konia, René. Soclopie de la mode, Pars, Payot, 196 tos niimero desses elementos é é 10s € exo, o conheciment pivo ¢ Deeetea ee 8 ostentagiio de predicados daquela meas ae Predicados visam a intimidar ou seduzir estranhos, pazes de avaliar a verdadeira forca social de quem as apatenas Ente conecion cea oe toes a singe bre 1 de Can, comporave s:,com0 ua socedade pecconpettive fos rman does sein Com 2 keplantagzo da aristocracia ¢ dos repre: ite Tio» foi sacudido.5? Face aque oa snclento pos ismo da alma ou i outra qualquer tradiga0 de impor- ‘ncia ligada aos costumes locais, A condisdo para introduzie se junto & aristocracia era aristocratizar-se. ~ Cortida pelo enobrecimento, A obtencdo $s fomou-se uma questio de honra e los facilitavam 0 prestigio Junto a0s «principes» © 0 consegiiente : i eqiiente usufruto da maquina de privilégios estatais. Mas esse enobrecimento do estatut + @ adocao de novos habitos culturais: «A concessio de titulos e cargos se) i 05 pelo Rei atraia alguns & capital, onde assimilavam © modo de vigs de eureren i as classes populares. Os habionier dae om também se acostumaram a considerar o Rio 10 capital, que vam para tratar de negécios ga por curosidade,passando @ adotar os costumes € modo de yer dos europeus».A familia de assim, seu Processo de abertura para uma nova ade. Sotiabilidade imposta, num primeiro nivel, pela ise, nas aparéncias, A nobreza ou a burguesia ias, Mas também, num o mai : ; utro nivel, por motivos priticos e bem menos genéricos. pas ae Numa sociedade que se secularizava rapidamente, as ocasi- es de encontro prescrito pelo calendario religioso nao s6 come- gavam a diminuir como ndo conseguiam acompanhar as exigén- Cias de contatos sociais provocados pelo dinamismo econémico. As festas privadas tornaram-se uma necessidade. Nelas criavam- se condigdes de relacionamento favordveis aos. interesses econd- micos e politicos de quem as promovia. Nas reunides «burg sas» estreitavam-se aliangas politicas, organizavam-se conspi gOes econdmicas, tramavam-se sabotagens fiscais, estimulavam- se intrigas contra os concorrentes, etc... A recepgao adquiriu a fungdo de veiculo informal na disputa pelo poder. Muitas festas organizadas nos «saldes do Segundo Reinado» serviram a este propésito.$! ‘Ao lado destes objetivos, a recepedo, paralelamente, enqua- drou-se na estratégia de enriquecimento da aristocracia empo- ida ou de enobre mnalmente, uma das formas de aquisicao de riqueza presti- dos senhores era a alianga entre familias, através do casa- mento. Na Colénia, a rusticidade de costumes e a escassez de familias ricas que se relacionavam entre si converteu 0 casamen- que conhecia e comunicava sua decisio aos interessados que, habitualmente, aceitavam-na sem relutancia. ‘A diferenciacao social iniciada no periodo joanino compli- cou sobremodo esta situacdo. A oferta de bons partidos aumen- tou ea disputa por eles ganhou uma complexidade notivel. casamento j4 no dependia exclusivamente da escolha do pai. Ser rico ou aristocrata ndo assegurava incondicionalmenge a0 jovem 0 casamento mgis_ vantajoso. © bom nao enon rocurava-se o melhor! A aparéncia fisica, as boas man Tequinte fa educagao, a sofisticacao do gosto, et na contabilidade do poder, quase em pé de 6 ver: Piao, Wanderley, Slies « damar do Seeundo Reinado, 34 ed, Sio Palo Marin, 1588 107 iheiro 8 de nobreza. A recepcio converteu-se em lugar de exibico das qualidades dos filhos e de contendas entre familias que tentavam incorporar a seus patriménios a fortuna e los dé parceiro visado, titicas_de poder, como conseaiiéncia, ampli ‘mente & margem de liberdade e expressio das parti idades pessoais. A sedugo do futuro céajuge estava em relagio direta com os encantos do sedutor. O jogo social mudava as regras. Passou a existir lugar para o imprevisivel. As derrotas e vitérias ndo eram previamente definidas. A invent dade de cada um poderia infletir expectativas quase defini Qs individuos comecavam a diferenciar-se do magma f Impelidos a se individualizarem por um ou outro motivo, em breve, os elementos da familia comegaram a notar que podiam desfrutar dessa nova posi¢ao para aumentar a massa de poder de que dispuinham na casa, No caso das mulheres, essa manobra é ‘particularment dente, Por muito tempo explotadas por pais ¢ maridos, tios, Da habilidade feminina dependia o sucesso de um salo ou de uma recepcao. Da maneira como as mulheres se comporta- vam, recebiam, hospedavam ou se insinuavam junto a persona- , dependia, as vezes, 0 bom encaminhamento ou econdmica do homem.. Em troca desse género de ex passaram a re haviam tido antes: Como veremds adia shistérica» vai ter seu d icar um cuidado € uma atengao que nunca , a mulher «nervosa», «clorética>, médico estreitamente ligado a ic. O corpo nervo~ © desequilibrio de forgas que se instaurou na familia de elite do séc. XIX. 10 € mundanismo formaram os polos de um circuito © romance urbano captou vivamente esta realidade social da grande, média ¢ pequena «burguesias brasileiras agitando-se, continuamente, no clima mundano das festas privadas. Mostrou, também, a revalorizacdo da vontade feminina nas querelas amorosas e nos negécios de casamento. Em Diva, de Alencar, Emilia, a heroina adolescente, tiraniza a casa burguesa com seu. mau-humor, sua impertinéncia e seus «ataques de nervos». Os pais, impotentes, terminam apelando para 0 médico, novo herdi colonial mantinha sua coesio através da extrove ividuos ¢ de sua introversao social. A com a expresso ou desenvolvimento das singularidades pessoais permitia que © primado do pai e do grupo continuassom se exercendo sem conflites. A nova sociabilidade, dando maior autonomia aos desejos individuais quebrou, pouco a pouco, os fios e suportes da antiga trama de relagGes familiares. A familia passou a viver um impasse criado pela urbanizacao. Ou modifi cava seus habitos para acompanhar as novas regras da competi- a0 social e econdmica ou persistia atada a seu modo usual de viver, correndo © perigo de debilitar-se ou morrer economica- mente. Qualquer escolha era, portanto, desestruturante Foi esse periodo de anomia interna que favoreceu a aceita- do da medicina como padrio regulador dos comportamentos jené ajudou a familia a adaptar-se & urbani indo, simultaneamente, normas coerentes de organizagio in- tema. O objetivo higi do Estado redefiniu as formas de convivénci do, a cada um dos membros da familia, novos papéis e novas fungées ulando a competigéo interna entre eles, freiando aqui vinculos entre homens, mulheres, adultos ¢ criangas, a medicina (62, Aeneas, José de. Div, Ho de Taner, Tecnprint, ica for , enfim, uma ética compativel com a sobrevi- econémica € a solidez do miicleo familiar «

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