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Erlayne Beatriz Félix de Lima Silva, Maria de Fatima Pereira

Alberto, Cibele Soares da Silva Costa

SOCIOEDUCAÇÃO: concepções teóricas no contexto

ARTIGO
das medidas socioeducativas1

Erlayne Beatriz Félix de Lima Silva*


Maria de Fatima Pereira Alberto**
Cibele Soares da Silva Costa***

A medida socioeducativa (MSE) diz respeito à perspectiva de responsabilização para adolescentes e jovens a
quem se atribui a autoria de um ato infracional no Brasil a partir da década de 1990. No que se refere ao termo
socioeducação, percebe-se que este, ao ser utilizado no contexto das MSE, necessita de conceituações que possi-
bilitem construir e executar uma ação socioeducativa baseada em pressupostos teóricos consistentes. A discussão
apresentada neste artigo tem por objetivo caracterizar as concepções teóricas e as bases epistemológicas sobre
socioeducação no contexto das MSE com base na literatura sobre o tema. A partir da análise dos textos, pode-se
dizer que, no campo das MSE, a socioeducação se caracteriza como categoria teórica em construção, constituída
por concepções teórico-epistemológicas diferentes, com destaque para a educação social, justiça restaurativa e
políticas públicas, que disputam saberes relacionados à juventude a quem se atribui a autoria de atos infracionais.
Palavras-chave: Socioeducação. Concepções Teóricas. Medidas Socioeducativas. Juventude.

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INTRODUÇÃO influenciados pela educação popular de Paulo
Freire, entendida como medida de responsabi-
A medida socioeducativa (MSE) diz res- lização atrelada a uma perspectiva pedagógica
peito à responsabilização para adolescentes e que estaria efetivamente comprometida com
jovens a quem se atribui a autoria de um ato os direitos humanos e com o fim das relações
infracional, vigente no Brasil a partir da dé- sociais de exploração fundamentadas no modo
cada de 1990 com a promulgação do Estatuto de produção capitalista (Moreira, 2013).
da Criança e do Adolescente (ECA) e em con- No que se refere ao termo socioeduca-
sonância com a Constituição Federal de 1988 ção, percebe-se que, ao ser utilizado no con-
(Brasil, 1990). Esta adentra as políticas des- texto das MSE, este necessita de conceituações
tinadas à população infanto-juvenil a partir que possibilitem construir e executar uma ação
das reivindicações dos movimentos sociais, socioeducativa baseada em pressupostos teóri-
cos consistentes, tendo em vista a elaboração
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* Universidade Federal da Paraíba. Centro de Ciências Hu- de uma prática comum no cenário socioedu-
manas e Letras. Departamento de Psicologia (CCHLA-UFPB).
Cidade Universitária – CCHLA – Bloco Humanístico, Cam- cativo brasileiro (Bidarra, 2011; Guerra, 2017;
pus I – Castelo Branco I. Cep: 58051-900. João Pessoa – Pa- Oliveira et al., 2015; Rodrigues; Oliveira, 2016;
raíba – Brasil. erlayne.beatriz@gmail.com
http://orcid.org/0000-0002-3380-2881 Silva; Muller, 2011).
** Universidade Federal da Paraíba. Centro de Ciências Hu- Diante disso, o objetivo deste artigo é
manas e Letras. Departamento de Psicologia (CCHLA-UFPB).
Cidade Universitária – CCHLA – Bloco Humanístico, Cam- caracterizar as concepções teóricas e as bases
pus I – Castelo Branco I. Cep: 58051-900. João Pessoa – Pa-
raíba – Brasil. jfalberto89@gmail.com epistemológicas sobre socioeducação no con-
http://orcid.org/0000-0003-2515-9571
*** Universidade Federal da Paraíba. Centro de Ciências Hu-
texto das medidas socioeducativas, a partir da
manas e Letras. Departamento de Psicologia (CCHLA-UFPB). literatura sobre o tema. Parte-se do pressupos-
Cidade Universitária – CCHLA – Bloco Humanístico, Cam-
pus I – Castelo Branco I. Cep: 58051-900. João Pessoa – Pa- to de que a socioeducação como concepção
raíba – Brasil. cibele_sscosta@yahoo.com.br
http://orcid.org/0000-0002-7004-2818 teórica se configura como campo de disputas
1
Este trabalho foi realizado com apoio da Coordenação de teórico-práticas no qual coexistem diferentes
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Códi-
go de Financiamento 001. perspectivas teóricas e epistemológicas desde

http://dx.doi.org/10.9771/ccrh.v35i0.36268 1
SOCIOEDUCAÇÃO: concepções teóricas no contexto ...

a constituição até a aplicação e execução das CONCEPÇÕES TEÓRICAS DE


MSE, o que representa uma limitação ao efe- SOCIOEDUCAÇÃO PARA AS ME-
tivar a política de socioeducação e a garantia DIDAS SOCIOEDUCATIVAS
de direitos dos adolescentes atendidos por ela.
Entende-se como relevante discutir so- No que se refere à origem do termo, Oli-
bre as concepções teóricas e epistemológicas veira et al. (2015) discorrem que este advém da
que guiam a socioeducação no contexto das noção de educação social, proposta por Gomes
MSE tendo em vista que a socioeducação se da Costa, pedagogo brasileiro que se tornou re-
configura como uma perspectiva de responsa- ferência na luta pelos direitos da infância e ju-
bilização de caráter pedagógico para os ado- ventude no país e na defesa da proteção integral
lescentes e jovens a quem se atribui a autoria para este público, foi um dos redatores do ECA e
de atos infracionais, compreendendo que estes considerado um dos responsáveis pela mudança
sujeitos vivenciaram situações de violência e de paradigma no atendimento aos adolescentes e
desigualdades sociais provenientes da explora- jovens a quem se atribui a autoria dos atos infra-
ção da classe trabalhadora no modo de produ- cionais – emergindo no cenário socioeducativo
ção capitalista (Brasil, 2018; Silva; Giovinazzo brasileiro “com a responsabilidade de evidenciar
Jr., 2016). Assim, é importante refletir sobre as o caráter educativo das medidas, rompendo com
concepções teóricas neste campo, tendo em o caráter até então punitivo, coercitivo e corre-
vista que estas discussões podem contribuir tivo que prevalecia na execução das medidas”
para pensar sobre a formulação e efetivação de (Oliveira et al., 2015, p. 581). Com isso, estes au-
políticas públicas, bem como respaldar a prá- tores apresentam uma noção de socioeducação
tica profissional na perspectiva da garantia de a partir da perspectiva da educação social, com-
direitos da juventude a quem se atribui a auto- prometida política e eticamente com a transfor-
ria de atos infracionais. mação da sociedade.
Nesse sentido, ressalta-se que a juven- Somado a isso, Cunha e Paiva (2016)
tude é compreendida neste estudo como cate- discorrem que a socioeducação enquanto prá-
goria teórica, que se refere ao período da vida tica pedagógica comprometida com o direito
associado ao desenvolvimento da autonomia e do público-alvo atendido teve como primeira
consciência, que tem como forças motrizes do tentativa a proposta da educação pelo traba-
desenvolvimento a construção de um projeto lho de Gomes da Costa, por volta da década
de vida, inserção no trabalho e escolha de uma de 1980, mas que não foi efetivada como prá-
profissão, identificação com grupos e estabe- tica institucional nesta época, tendo sido reto-
lecimento de relacionamentos afetivos, media-
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mada a partir do ECA. Neste, a socioeducação


dos pelas relações sociais e econômicas que é reafirmada como perspectiva de garantia de
atravessam os sujeitos, em determinados mo- direitos, no qual seu caráter pedagógico é com-
mentos histórico-culturais (Abrantes; Bulhões, preendido com base nas perspectivas da Edu-
2016). Assim, busca-se transcender a questão cação Popular e Social, advindas das contri-
da faixa etária como principal demarcador da buições de Paulo Freire, que teria por objetivo:
juventude e compreendê-la como momento
Construir um projeto educacional mais justo, so-
da vida perpassado por um conjunto de as-
lidário e humano. Nessa perspectiva, o processo
pectos sociais, culturais e econômicos que são educativo é considerado mediador essencial para
vivenciados pelos sujeitos em suas trajetórias mudança de padrões de conduta, modos de vida,
de vida e que se relacionam com os papéis so- atitudes e relações sociais. Propôs-se, a partir desta
cialmente determinados para as diferentes ex- perspectiva, a tratar os educandos de forma integra-
da aos contextos e vivências de sua própria realida-
pressões da juventude na sociedade brasileira
de social. (Cunha; Paiva, 2016, p. 88)
(Pessoa; Alberto; Lucas, 2017).

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Alberto, Cibele Soares da Silva Costa

É importante destacar que, apesar das re- presença educativa, que diz respeito a “uma
ferências dos autores à educação social de Pau- presença intencional, deliberada. Tem a inten-
lo Freire, este autor não utilizou o termo socio- ção de exercer sobre o outro uma influência
educação em suas obras. Lima e Carloto (2009), construtiva” (Costa, 2001, p. 29).
ao discutirem sobre ações socioeducativas no Na tentativa de refletir sobre as concep-
contexto das políticas de assistência social, ções e pressupostos teóricos que possam sub-
também associam o termo às ideais de educa- sidiar a prática profissional junto as medidas
ção como prática para liberdade de Paulo Frei- socioeducativas, Bidarra (2011), também ali-
re, mas assinalam que o educador não o usou nhada com a educação social, apresenta uma
diretamente em sua obra. As autoras também noção de socioeducação como processo educa-
apontam que, apesar do termo “socioeducati- tivo que deve contemplar a produção e repro-
vo(a)” se aproximar das concepções pedagógi- dução dos bens histórica e coletivamente pro-
cas de Paulo Freire, existe ainda uma ausência duzidos pela sociedade de forma intencional
de definição teórica em relação ao conceito no e particular para cada sujeito que participa do
campo das políticas sociais, mas assinalam que processo socioeducativo.
este se direciona a ações que se baseiam em Com isso, observa-se que uma boa parte
práticas dialógicas e participativas. da literatura vem considerando a socioeduca-
Diante disto, Alberto et al. (2016), ao ção a partir de uma perspectiva voltada para a
discutirem o significado da ação socioeduca- noção de educação social que tem Paulo Freire
tiva no contexto das políticas sociais de assis- como principal influenciador. Tal aspecto se re-
tência social, com ênfase no Programa de Erra- laciona com o movimento de base política e so-
dicação ao Trabalho Infantil, apontam que este cial vivenciado pelo Brasil nas décadas de 1980
termo pode apresentar diferentes significados e 1990 que culminou na promulgação da Cons-
conforme a área que está sendo empregado e tituição Federativa de 1988 e no ECA em 1990.
que tal diversidade se expressa numa multi- Essa concepção de socioeducação pode ser
plicidade de ações que não necessariamente considerada como um avanço para política de
contemplam os aspectos da autonomia e cida- atendimento à infância e juventude brasileira,
dania propostos por Paulo Freire. principalmente, no que diz respeito aos adoles-
Partindo da perspectiva da socioeduca- centes e jovens a quem se atribui a autoria de
ção proposta pelo ECA, enquanto prática de atos infracionais, pois busca no processo de res-
educação social voltada para as medidas socio- ponsabilização destes construir ações educati-
educativas, Brito e Almeida (2014) assinalam vas que visem o pleno desenvolvimento pessoal
que a socioeducação se configura, então, como e social destes sujeitos (Moreira, 2013).
uma prática educativa direcionada para o con- A educação social é situada por Diaz Caderno CRH, Salvador, v. 35, p. 1-14, e022047, 2022

vívio social e o exercício da cidadania. A par- (2006) como aquela que se dá em todos os con-
tir disso, reafirmam a necessidade de práticas textos de convivência dos indivíduos, engloba
pedagógicas que tenham por base a Pedagogia espaços formais e não-formais de educação e
da Presença de Gomes da Costa, a qual enfa- tem como objetivo principal a preparação dos
tiza a necessidade de uma aproximação dos sujeitos para a vida em comunidade, ou seja,
profissionais que compõem o sistema socioe- para o convívio social. Ainda segundo este au-
ducativo dos socioeducandos no cotidiano do tor, a educação social surge na Alemanha no
acompanhamento desses jovens, exigindo dos fim do século XIX e início do século XX de-
profissionais uma postura de abertura, reci- vido a necessidade por parte da educação de
procidade e compromisso com o processo edu- construir uma pedagogia que apresentasse res-
cativo do jovem. Segundo Costa, a pedagogia postas e soluções para as necessidades indivi-
da presença se materializa por meio de uma duais e sociais advindas do contexto histórico

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SOCIOEDUCAÇÃO: concepções teóricas no contexto ...

e político vivenciado no período de industria- cessos educativos e formativos, além de estar


lização daquele país (processos migratórios, intrinsecamente relacionada com a ação trans-
pobreza, proletarização do campo, desigualda- formadora da sociedade (Fernandes, 2016).
de social, exclusão econômica etc.). Conforme Entretanto, ressalta-se que trabalhar
este autor: nessa perspectiva implica problematizar a ló-
gica do punitivismo e encarceramento utili-
A educação social é uma prática social que medeia
a socialização dos indivíduos. [...] A sua didácti-
zado pelo Estado como estratégia de controle
ca deve promover no indivíduo a sensibilização e e extermínio da juventude pobre brasileira.
tomada de consciência das suas necessidades não Compreender a socioeducação a partir da edu-
sentidas para que estas possam ser percebidas e pro- cação social é desconstruir a lógica do encar-
curadas (necessidades exprimidas) […] a educação ceramento e fortalecer as MSE de meio aberto
social, para além de solucionar determinados pro-
que não se utilizam da privação de liberdade.
blemas de convivência, tem uma função não menos
importante, que é a de ser um instrumento iguali-
Diante disso, torna-se contraditório pensar al-
tário e de melhoria da vida social e pessoal. (Diaz, gumas MSE, como a de internação, pelo viés
2006, p. 102-103) da educação social, no entanto, entende-se que
essa concepção, ao ser utilizada nesse contex-
Percebe-se na literatura que alguns auto- to, tem em vista a tentativa de reforçar a ga-
res apresentam a educação social em paralelo rantia dos direitos dos jovens e se constitui
ou interface com a educação popular, sendo na dinâmica contraditória das MSE enquanto
esta última bastante conhecida devido ao teó- sanção/punição e ação pedagógica.
rico e educador Paulo Freire. Segundo Gadotti Alguns autores também situam a socio-
(2012), a educação popular tem como princi- educação a partir da Justiça Restaurativa. Nes-
pal pressuposto a categoria “Conscientização”, se sentido, Valente e Oliveira (2015) apontam
a qual estaria voltada essencialmente para o que a socioeducação, ao ser considerada nesta
processo de construção de uma consciência perspectiva, caracteriza-se pela prevalência
crítica individual e social, destinada à eman- de um caráter pedagógico que busca promo-
cipação política e humana de todos os sujeitos, ver aos adolescentes e jovens a construção
com ênfase para aqueles que tem seus direitos de novas trajetórias de vida alinhadas com a
oprimidos, violados, e que vivem as expres- perspectiva de garantia de direitos e da res-
sões da desigualdade social numa sociedade ponsabilização. Esta última passa a ser enten-
baseada no modo de produção capitalista. dida como uma construção dialógica do jovem
Conforme Gadotti (2012), a educação com a sociedade, a partir da problematização e
social é entendida como fundamentalmente conscientização acerca das consequências das
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construída a partir da prática social e voltada ações individuais nas relações com os demais
para ela. Segundo esse autor, a educação social sujeitos que constituem a sociedade.
pode ser compreendida como dialeticamente No enfoque da Justiça Restaurativa, bus-
relacionada à pedagogia social, pois a primeira ca-se compreender o jovem não apenas por
volta-se para a prática social, enquanto a se- meio do ato infracional que lhe foi atribuído,
gunda diz respeito aos embasamentos teóricos mas a partir das relações deste com a dinâmica
metodológicos, de modo que o desenvolvimen- da sociedade, tendo em vista uma responsabi-
to de uma implica na transformação da outra. lização que seja construída e dialogada junta-
Assim, a educação social, bem como a pedago- mente com o jovem. Um aspecto de destaque
gia social são consideradas como pertencentes acerca da Justiça Restaurativa para a socioe-
ao campo da pedagogia da práxis, a qual numa ducação é a noção de Janela da Disciplina So-
perspectiva de base marxiana enfatiza os con- cial, que está relacionada com a utilização da
flitos de classe inerentes à sociedade nos pro- disciplina nas ações de responsabilização dos

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Alberto, Cibele Soares da Silva Costa

jovens, podendo se constituir como punitiva, democratização do atendimento, acesso a direitos,


negligenciadora, permissiva ou restaurativa, afirmação de igualdade em espaços de diálogo, em
ambientes seguros e respeitosos, valorização das
característica que vai depender do modo de
diferenças, através de processos sociopedagógicos
condução das práticas profissionais, institucio- que considerem os danos, os responsáveis pelos
nais e estruturais que perpassam o acompanha- mesmos e os prejudicados pela infração. […] Nes-
mento dos jovens (Jacques; Gershenson, 2016). sa perspectiva, pode-se contribuir para fortalecer o
Segundo Jacques (2015, p. 72), na perspectiva protagonismo dos sujeitos na construção de estraté-
de garantia dos direitos humanos dos jovens: gias para restaurar laços de relacionamento e confia-
bilidade social rompidos pela infração.
Deve existir um equilíbrio entre o controle e o
apoio, pois uma prática fundamentada na punição Ademais, a análise das produções cien-
ou retributiva está centrada no alto controle com tificas sobre a socioeducação também possibi-
baixo apoio, remetendo à pedagogia da vingança e lita compreendê-la a partir de sua dimensão
culpabilização dos sujeitos. Torna-se negligenciado-
enquanto política pública, sinalizando como
ra quando esses dois parâmetros – controle e apoio
pressupostos o que está disposto no ECA e no
– são baixos, ou seja, marcam intervenções caracte-
rizadas pela indiferença. São permissivas ou reabi- Sinase, baseando-se na perspectiva da garan-
litadoras quando existe baixo controle e alto apoio tia de direitos dos adolescentes e jovens. Neste
– justifica e protege os autores de atos infracionais sentido, a partir dos princípios e parâmetros
das consequências de seus atos. A ação se torna res- determinados pelo Sinase, Silva (2012, p. 8)
taurativa quando há alto controle e alto apoio.
traz uma possível definição da socioeduca-
Além disso, Ferrão, Santos e Dias (2016) ção caracterizada como “uma política públi-
apontam que a Justiça Restaurativa pode ser ca jurídico-sancionatória e sociopedagógica,
uma das possibilidades de trabalho capaz de ressaltando-se que esta última dimensão deve
enfrentar as dificuldades encontradas no cam- se sobrepor à primeira”. Desse modo, a socio-
po socioeducativo, pois enfatiza a responsabi- educação, como política pública, caracteriza-
lização, o desenvolvimento da autonomia dos -se como ação do Estado que busca, a partir de
sujeitos, o respeito e a participação das pesso- uma sanção, responsabilizar o adolescente e o
as envolvidas nas situações afetadas pelo ato jovem a quem se atribui a autoria de um ato in-
cometido, de modo que podem proporcionar o fracional, sem deixar de considerar a necessi-
desenvolvimento de intervenções qualificadas dade destes de acesso a um conjunto de ações
no sistema socioeducativo, tendo em vista a que garantam seus direitos sociais.
ressignificação do ato infracional e do projeto Para garantir essa responsabilização pe-
de vida dos jovens. Além disso, é uma prática dagógica, a socioeducação, como política pú-

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preconizada pelas legislações devido a sua ca- blica, carece da articulação de um conjunto
pacidade de promover a articulação da rede de de setores provenientes das políticas sociais.
atendimento das políticas públicas. Em consonância com tal pensamento, Jacques
Assim, os autores apontam que a Justiça (2015, p. 72) afirma que “A socioeducação, en-
Restaurativa apresenta para o campo da socio- quanto política pública que busca a garantia e a
educação uma concepção de lidar com o ato efetivação dos direitos humanos destes jovens,
infracional e as MSE a partir de um viés peda- pressupõe a “articulação e a intersetorialidade”
gógico que considere a participação do jovem entre as políticas públicas”. Essa articulação en-
no seu processo de responsabilização. Segun- tre as demais políticas públicas diz respeito ao
do Aguinsky e Capitão (2008, p. 262): princípio da incompletude institucional deter-
minado pelo Sinase, que responsabiliza todo o
A Justiça Restaurativa, ao invés de versar sobre sistema de garantia de direitos na efetivação da
transgressões e culpados, materializa possibilida-
política de socioeducação (Moreira, 2013).
des concretas de participação individual e social,

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Nesse sentido, ao compreender a socioe- detrimento do crescimento do capital (Bidarra,


ducação como política pública, o principal as- 2011; Cunha, 2013).
pecto destacado pela literatura é a necessidade Desse modo, observa-se nesta concepção
de articular as diversas políticas para garantir o a compreensão da socioeducação no que diz
processo de responsabilização do adolescente respeito a sua aplicabilidade, ou seja, discute-
e do jovem de modo efetivo e pedagógico. Com -se os aspectos necessários para execução das
isso, o conceito de rede também é enfatizado medidas socioeducativas aplicadas aos ado-
nessa perspectiva e abrange o conjunto de ins- lescentes e jovens a quem se atribui a autoria
tituições que compõem o sistema de garantia de atos infracionais. Nesse sentido, os autores
de direitos para a população infantojuvenil. compreendem que o processo de responsabili-
Em relação a isso, Pinto e Silva (2014, p. 158) zação dos jovens deve estar conectado com a
assinalam que “a sustentação de uma proposta garantia dos seus direitos fundamentais, isto é,
socioeducativa depende do compromisso as- a medida socioeducativa precisa estar articu-
sumido pela ‘rede de atendimento’ e pela equi- lada com as demais políticas públicas, tendo
pe de profissionais dos centros de atendimento em vista os “eixos” norteadores dessas medi-
ao adolescente autor de ato infracional”. das: família, escolarização, profissionalização,
Entretanto, essa afirmativa precisa ser saúde, esporte, lazer, cultura e espiritualidade,
analisada com cuidado, pois a sustentação da além de levar em consideração as necessida-
rede de atendimento das políticas públicas não des e demandas específicas de cada sujeito
é responsabilidade exclusiva dos profissionais. (Costa, 2017; Pinto; Silva 2014).
Apesar de serem uma parcela importante para No entanto, a literatura sobre a aplica-
efetivação da política socioeducativa, é preciso ção das MSE tem demonstrado que as medi-
considerar os aspectos estruturais que estão na das caracterizam-se por uma contradição entre
gênese das políticas públicas e que, por vezes, aspectos educativos/pedagógicos e punitivis-
impossibilitam o fluxo de atendimento e a ar- tas (Jimenez; Frasseto, 2015), os quais podem
ticulação destas. ser observados nas políticas públicas que exe-
Portanto, podemos compreender que a cutam as MSE por meio da superlotação das
socioeducação enquanto política pública “vol- unidades destinadas ao cumprimento das
ta-se essencialmente para os adolescentes e medidas de internação, pela não oferta de ati-
jovens que tiveram seus direitos violados ou vidades pedagógicas, profissionalizantes e de
que violaram direitos pelo cometimento de in- lazer, pela presença da violência institucional
frações, configurando-se atualmente como um e pela falta de sentido dessas medidas para os
Sistema Nacional articulado e com caracterís- adolescentes e jovens que as cumprem (Alber-
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ticas específicas” (Oliveira et al., 2015, p. 582). to; Amorim, 2017; Costa; Alberto; Silva, 2022;
Nessa perspectiva, destaca-se a responsabi- Medeiros et al., 2014; Teixeira, 2015).
lidade do Estado em garantir um sistema de A presença dos elementos punitivistas
atendimento ao jovem que possa proporcionar são considerados graves entraves para a polí-
uma responsabilização comprometida com os tica pública de atendimento socioeducativo,
direitos sociais desse grupo. tendo em vista que estão associados com prá-
Contudo, essa responsabilidade do Esta- ticas menoristas vigentes antes do ECA. Nesse
do não tem sido concretizada de forma efetiva, sentido, defende-se a luta pela efetivação de
tendo em vista que o Estado, numa socieda- políticas que garantam os direitos da popula-
de capitalista, situa-se a partir do conflito de ção infantojuvenil a quem se atribui a autoria
interesses entre o desenvolvimento do capital de atos infracionais, promovendo a concretiza-
e a garantia de direitos da população, sendo ção de ações e práticas educativas que possibi-
esta última frequentemente negligenciada em litem a desvinculação com o ato infracional e a

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construção de projetos de vida dignos e alicer- ca, entretanto, ambos estão interrelacionados
çados nos direitos humanos. (Minayo, 2014).
Diante do exposto, observa-se que a li- Um aspecto importante na teoria críti-
teratura apresenta diferentes concepções para co-dialética é a relação entre a base material
a socioeducação no contexto das MSE, como a e o processo de consciência dos sujeitos, pois
educação social, a justiça restaurativa e as po- compreende-se que o modo de produção, as
líticas públicas. Nota-se que a socioeducação estruturas de classes e o modo de pensar dos
se apresenta como conceito em construção, sujeitos estão correlacionados (Minayo, 2014).
que ora apresenta concepções teóricas, em sua Isto é, entende-se que os sujeitos são produtos
maioria embasadas na perspectiva de garantia das relações estabelecidas dentro deste modo
de direitos, ora apresenta elementos relacio- de produção e sociabilidade, o qual se baseia
nados à aplicação prática das MSE, principal- principalmente na exploração da força de tra-
mente discussões sobre a construção de uma balho de uns sujeitos sobre outros e no con-
ação pedagógica efetiva. Tais elementos nos flito de classes. Assim, de um lado tem-se os
levam a entender que este conceito ainda se exploradores, capitalistas, que formam a clas-
apresenta em construção, a partir de diferentes se dominante, e do outro a população pobre e
concepções teórico-práticas que disputam sa- explorada que constituem a classe dominada,
beres no campo socioeducativo. o proletariado (Tonet, 2006).
Nesse sentido, na teoria crítico-dialética
só é possível uma sociedade justa e igualitária
BASES EPISTEMOLÓGICAS DA com a superação do modo de produção capi-
SOCIOEDUCAÇÃO NO CONTEX- talista, sendo essa condição fundamental para
TO DAS MEDIDAS SOCIOEDUCA- o pleno desenvolvimento humano (Saviani,
TIVAS 2019). Ademais, como elementos essenciais
no processo de rompimento com o sistema ca-
Partindo das concepções de socioedu- pitalista, essa perspectiva destaca a educação
cação descritas acima, foi possível identifi- como estratégia de contribuição na construção
car que os autores que estudam essa temática da consciência de classe por meio da apropria-
estão pautados em perspectivas teóricas e/ou ção do desenvolvimento historicamente acu-
pedagógicas que embasam suas análises sobre mulado pela humanidade e a organização da
o campo das medidas socioeducativas. Desse classe trabalhadora (Saviani, 2015).
modo, faz-se necessário compreender quais as Assim, reitera-se a perspectiva crítico-
bases epistemológicas norteadoras das concep- -dialética como a base epistemológica da edu-
ções encontradas. cação social, tendo em vista que ela tem como Caderno CRH, Salvador, v. 35, p. 1-14, e022047, 2022

No que se refere à educação social, ob- principal característica a construção teórica


serva-se que esta se aproxima da base episte- e prática pelo fim das situações de opressão
mológica crítico-dialética na medida em que que constitui o sistema social político vigente,
busca promover uma prática pedagógica que enfatizando o papel do Estado nesse cenário.
tem a emancipação dos sujeitos como meta a Somado a isso, a educação social pode ser con-
ser alcançada. A perspectiva crítico-dialéti- siderada uma pedagogia da práxis, isto é, uma
ca tem como uma das principais correntes o pedagogia que produz conhecimento tendo em
marxismo, o qual fundamenta-se no materia- vista a intervenção crítica na realidade social
lismo histórico e no materialismo dialético. (Carvalho, 2008; Gadotti, 2012).
O primeiro se refere ao caminho teórico para No que se refere à sua aplicação na so-
compreensão da realidade, enquanto o segun- cioeducação, nota-se um movimento teóri-
do se constitui como a estratégia metodológi- co e prático em direção a construção de uma

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concepção que compreenda as situações de de trabalho, não só dos que estão formalmente
opressão, as quais são submetidas a infância e inseridos no mercado, mas como daqueles que
juventude, e busque a superação delas em to- também não foram inseridos, sendo que para es-
das as instâncias, inclusive no aspecto de res- tes predomina a lógica da violência e do encar-
ponsabilização da juventude a quem se atribui ceramento, evidenciando a chamada Face Penal
a autoria de atos infracionais. Entretanto, na do Estado para os pobres, que recairá principal-
aplicação das MSE, por vezes, se utiliza des- mente sobre a juventude (Behring, 2018).
ta concepção em paralelo com outras opostas, No que diz respeito à Justiça Restaura-
tendo em vista que as instituições e o próprio tiva, apesar de ser entendida pela literatura
sistema de justiça predominantemente se ba- como uma teoria ainda em construção, perce-
seiam em perspectivas não críticas como o po- be-se que ela se aproxima da perspectiva feno-
sitivismo e neoliberalismo. menológica, que se destacou principalmente
O positivismo, historicamente, tem se após a Segunda Guerra Mundial, juntamente
constituído como a corrente filosófica predo- com o marxismo, como uma das teorias crí-
minante na área das ciências humanas e so- ticas aos modos de produção e relação cres-
ciais e tem como principal fundamento a con- centes nos países capitalistas daquela época
cepção de que a sociedade humana é regulada (Minayo, 2014). Nessa perspectiva, o conhe-
por leis naturais que influenciam todo o fun- cimento é entendido como relativo e produto
cionamento da vida social, política, econômica da vivência que cada sujeito experiencia, exige
e cultural dos indivíduos. Com isso, para esta uma postura descritiva e compreensiva dos fe-
perspectiva, o lugar que os indivíduos ocupam nômenos, na qual os indivíduos fazem parte
socialmente é resultante da natureza da orga- do processo que necessita ser compreendido
nização social que tem suas leis permanentes, (Behring; Boschetti, 2011).
cabendo à ciência legitimá-los por meio de ide- Além disso, ressalta-se nessa teoria a ne-
ologias sociais desiguais e conservadoras (Mi- cessidade de investigar os fenômenos a partir
nayo, 2014). de sua essência, isto é, o sentido atribuído ao
Esse tipo de pensamento produz uma fenômeno por aquele que o percebe ou viven-
sociedade baseada no individualismo, na cia, utilizando-se o método intuitivo (Goto;
competitividade e na desigualdade como me- Moraes, 2016). Somado a isso, valoriza a subje-
diadores das relações sociais, nas quais pro- tividade e as experiências dos sujeitos em um
pagam-se a ideia do “mérito de cada um em determinado momento, compreende que os
potenciar suas capacidades supostamente na- indivíduos estão num processo de constante
turais” (Behring; Boschetti, 2011, p. 60). Isso transformações, as quais se dão principalmen-
Caderno CRH, Salvador, v. 35, p. 1-14, e022047, 2022

implica a compreensão da desigualdade social te a partir dos sentidos e significados que os


como uma lei natural e imutável, pensamen- sujeitos atribuem às experiências que viven-
to alinhado com a perspectiva econômica li- ciam e assim constroem a sociedade (China-
beral, na qual priorizam-se: o individualismo, zzo, 2013).
a liberdade, a competitividade, a propriedade Nesse sentido, a fenomenologia compre-
privada como direito natural e valorização do ende o indivíduo como principal responsável
desenvolvimento econômico com a mínima pelo seu modo de ser e estar no mundo, atri-
intervenção do Estado, naturalizando a misé- buindo a ele a importância de ser considerado
ria e a pobreza. como protagonista dos fenômenos sociais. En-
Assim, a lógica liberal e positivista con- tretanto, essa visão pode não considerar com a
vém para a manutenção da sociedade capita- devida importância os aspectos estruturais que
lista, e nesta, o ajustamento e disciplinamento determinam as relações sociais e o processo de
social se dá pelo controle e exploração da força constituição da subjetividade dos indivíduos,

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Erlayne Beatriz Félix de Lima Silva, Maria de Fatima Pereira
Alberto, Cibele Soares da Silva Costa

delegando a eles a responsabilização pelas Um aspecto de destaque referente à apli-


consequências advindas do contexto econômi- cação da Justiça Restaurativa é a presença do
co, social e político na realidade dos sujeitos. discurso da ressocialização dos indivíduos,
Assim, conforme Amorim (2018) em sua que abarca uma perspectiva curativa e tera-
pesquisa de doutorado sobre as concepções pêutica (Santos; Cagliari, 2011), conferindo
acerca da Justiça Restaurativa na política de uma responsabilidade individual ao sujeito a
socioeducação, a perspectiva epistemológica quem se atribui a prática do ato infracional,
predominantemente encontrada foi a fenome- desconsiderando os aspectos sociais, culturais
nológica/existencial/humanista, caracterizan- e econômicos que perpassam as trajetórias dos
do-a como uma perspectiva de enfoque inter- jovens.
pessoal. Isso quer dizer que a Justiça Restau- Desse modo, pode-se dizer que a pers-
rativa enquanto concepção teórica subsidiará pectiva da Justiça Restaurativa no campo da
práticas com ênfase nas relações interpessoais socioeducação apresenta uma concepção pe-
construídas entre os indivíduos nos espaços dagógica que difere do ajustamento social
compartilhados por estes. preconizado pelo positivismo, na medida em
Além disso, Prudente e Sabadell (2008) que leva em consideração as necessidades dos
discorrem que a Justiça Restaurativa, por ser sujeitos no processo de responsabilização por
considerada enquanto um novo paradigma no um ato considerado uma infração social, mas
campo jurídico, ainda apresenta conceitos e que tem limitações pois seu enfoque são as
definições em construção. Apesar disso, esses relações interpessoais entre os indivíduos, ne-
autores elencam três princípios fundamentais gligenciando a importância da estrutura social
da Justiça Restaurativa que deve perpassar as nos processos de desigualdade e violência atri-
suas possíveis definições e conceitos: a) o deli- buídos aos jovens pobres.
to é entendido como um conflito interpessoal Em relação à socioeducação enquanto
que resulta em danos à um indivíduo ou co- política pública, observa-se que esta pode ser
munidade, caracterizando-se enquanto uma entendida a partir de duas perspectivas epis-
transgressão a lei; b) o objetivo da justiça deve temológicas principais. Por um lado, pode ser
ser a reconciliação entre os sujeitos e a repa- compreendida a partir do viés crítico-dialéti-
ração dos danos resultantes do delito; e c) o co, que a entende como ferramenta essencial
sistema de justiça deve promover a participa- no processo de garantia de direitos da classe
ção das vítimas, ofensores e comunidade no trabalhadora e como ferramenta potenciali-
processo de resolução dos conflitos. zadora do processo de superação da socieda-
Nessa perspectiva o foco não é o crime/ de capitalista. Por outro lado, também pode
delito, mas sim as consequências do ato pra- ser considerada a partir do positivismo como Caderno CRH, Salvador, v. 35, p. 1-14, e022047, 2022

ticado e as relações sociais afetadas por este. instrumentos de controle e ajustamento social
Com isso, volta-se também para o futuro des- para manutenção da sociedade capitalista e
sas relações sociais, no sentido da reparação desigual (Behring, 2015; Ferraz, 2014).
dos danos causados, diferentemente da justi- As políticas públicas a partir da pers-
ça comum que foca apenas na punição do in- pectiva crítico-dialética são compreendidas
divíduo pelo ato cometido ao invés das suas enquanto políticas resultantes da luta entre
implicações (Prudente; Sabadell, 2008). Nesse classe trabalhadora e capital, tendo o Estado
sentido, a vítima ganha papel de destaque no como mediador entre a garantia de condições
processo de resolução do conflito ou dano cau- de sobrevivência dos trabalhadores e o desen-
sado por meio da promoção do diálogo entre as volvimento do capital. Entende-se ainda nessa
partes, a qual deve ser baseada na voluntarie- perspectiva que as políticas sociais, apesar de
dade entre ambos (Macedo, 2013). serem consideradas enquanto uma conquista

9
SOCIOEDUCAÇÃO: concepções teóricas no contexto ...

da classe trabalhadora e sua defesa seja neces- de e repercutem no modo de organização e con-
sária e importante, elas não são consideradas dução das práticas no contexto das MSE. Nesse
como a via de solução para a desigualdade sentido, as perspectivas não críticas embasadas
social inerente à sociedade que vivemos, ali- no positivismo e no liberalismo perpetuarão
cerçada sob o modo de produção capitalista concepções que compreendem os sujeitos como
(Mendonça, 2012). os únicos responsáveis pelo ato infracional,
Na perspectiva positivista, as políticas sem considerar os aspectos sociais, políticos e
sociais são pensadas principalmente a partir econômicos que perpassam a realidades desses
dos vieses econômicos e políticos. No primeiro sujeitos, bem como reproduzirão concepções e
são entendidas como possibilidade de redução práticas de encarceramento e criminalização da
dos custos da reprodução da força de trabalho, juventude pobre, principalmente por meio de
tendo em vista que o Estado assume uma par- medidas de privação de liberdade.
cela desses gastos, e no segundo são tidas como Em contraposição, as perspectivas críti-
ferramentas de cooptação e legitimação do sis- cas, buscam construir conhecimentos e práxis
tema capitalista na medida em que os indivídu- que compreendam os sujeitos na dinâmica das
os passam a ser controlados como trabalhado- relações sociais de produção, tendo em vista a
res que dependem da venda da sua força de tra- eliminação das situações de opressão as quais
balho (Behring; Boschetti, 2011; Ferraz, 2014). a população pobre enfrenta no seu cotidiano.
Com isso, ao compreender a socioedu- Ademais, acrescenta-se as perspectivas feno-
cação a partir de uma perspectiva crítica das menológicas, que podem parecer um avanço
políticas sociais, entende-se a socioeducação em relação ao positivismo e liberalismo, po-
como espaço de disputa numa sociedade ca- rém ainda apresentam limitações por enfatizar
pitalista pela garantia de direitos dos jovens processos de responsabilização individuais, ou
das classes pobres que enfrentam as conse- que não consideram devidamente as questões
quências da desigualdade social por meio da estruturais políticas, econômicas e sociais.
criminalização da pobreza e consequentemen- Diante do exposto, defende-se neste ar-
te de suas existências. Somado a isso, por ser tigo, que apesar da socioeducação no contexto
considerada enquanto espaço de disputa en- das MSE ainda se apresentar como conceito em
tre os interesses de classes sociais distintas, construção, esta deve ser pensada e alicerçada
essas políticas podem se apresentar de forma sob os princípios dos direitos humanos e da
contraditória, ora contendo aspectos de uma garantia de direitos dos jovens, conforme de-
perspectiva, ora de outra, a depender do jogo terminado pela Constituição Federal de 1988,
de forças desenvolvido pela sociedade civil, pelo ECA e Sinase. Nesse sentido, a concepção
Caderno CRH, Salvador, v. 35, p. 1-14, e022047, 2022

Estado e capital. Isso se dá, pois, apesar dos mais adequada para pensar a base teórica da
esforços empreendidos pela sociedade civil na socioeducação é a Educação Social, que tem
implementação de práticas sociais mais justas por base epistemológica a perspectiva crítico-
e emancipatórias, estamos inseridos numa so- -dialética, tendo em vista que esta compreende
ciedade fundamentada no modo de produção os sujeitos a partir das contradições vivencia-
capitalista, no qual a necessidade de controle das na sociedade capitalista tendo como finali-
social das classes pobres se constitui como fer- dade o fim das relações de opressão e explora-
ramenta essencial para manutenção do siste- ção que a população pobre enfrenta nesse sis-
ma vigente (Behring, 2015). tema. Compreende-se também que a aplicação
Portanto, observa-se que as concepções dessa concepção nas políticas públicas se faz
de socioeducação apresentam bases epistemo- a partir de diversos entraves provenientes da
lógicas diferentes, críticas e não críticas que re- luta de classes, mas reafirma-se que é a par-
fletem perspectivas de compreender a socieda- tir da garantia dos direitos e da luta pelo fim

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Erlayne Beatriz Félix de Lima Silva, Maria de Fatima Pereira
Alberto, Cibele Soares da Silva Costa

das desigualdades sociais e econômicas que a social impulsiona a garantia de direitos da po-
socioeducação, enquanto teoria e prática, en- pulação infanto-juvenil, e por outro lado, a ló-
tendida como unidade dialética indissociável, gica do capital busca o controle e ajustamento
deve se constituir. social por meio de ações repressivas que cri-
minalizam aqueles mais afetados pelas expres-
sões da desigualdade social.
CONSIDERAÇÕES FINAIS Compreende-se que discutir sobre as
concepções e bases epistemológicas constru-
Considerando o objetivo deste artigo de ídas pela literatura podem contribuir com a
caracterizar as concepções teóricas e as bases produção do conhecimento no campo da so-
epistemológicas sobre socioeducação no con- cioeducação, tendo em vista que esse concei-
texto das medidas socioeducativas a partir da to necessita de definições teóricas mais apro-
literatura, pode-se dizer que no campo das fundadas. No entanto, considera-se como uma
MSE, a socioeducação caracteriza-se enquan- limitação o fato de a discussão empreendida
to categoria teórica em construção constitu- contemplar apenas o contexto brasileiro, suge-
ída por concepções teórico-epistemológicas re-se que novos estudos possam refletir sobre a
diferentes que disputam saberes relacionados construção da socioeducação enquanto catego-
aos adolescentes e jovens a quem se atribui a ria teórica em diálogo com contextos interna-
autoria de atos infracionais. A disputa de pers- cionais que apresentam realidade semelhante
pectivas sobre a socioeducação pode ser con- ao Brasil, como o contexto da América Latina.
siderada uma limitação para esse campo como
política pública que visa a responsabilização
Recebido para publicação em 7 de abril de 2020
atrelada à garantia de direitos da população Aceito em 30 de novembro de 2022
atendida, pois apresenta contradições entre
seus pressupostos.
Essas contradições são expressas a partir REFERÊNCIAS
de tentativas de junção de perspectivas críticas
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Caderno CRH, Salvador, v. 35, p. 1-14, e022047, 2022
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ele está inserido. Pessoa: Editora da UFPB, 2017. p. 19-31.
No entanto, compreende-se que a jun- ALBERTO, M. F. P. et al. Programa de Erradicação do
Trabalho Infantil: concepções de educandos e famílias.
ção de perspectivas opostas reflete o sistema Psicologia: Ciência e Profissão, Brasília, DF, v. 36, n. 2,
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econômico e político no qual a sociedade se
AMORIM, T. R. S. A justiça restaurativa na política de
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SOCIOEDUCAÇÃO: concepções teóricas no contexto ...

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Caderno CRH, Salvador, v. 35, p. 1-14, e022047, 2022

13
SOCIOEDUCAÇÃO: concepções teóricas no contexto ...

SOCIO-EDUCATION: theoretical conceptions in SOCIO-ÉDUCATION: conceptions théoriques


the context of socio-educative measures dans le contexte des mesures socio-éducatives

Erlayne Beatriz Félix de Lima Silva Erlayne Beatriz Félix de Lima Silva
Maria de Fatima Pereira Alberto Maria de Fatima Pereira Alberto
Cibele Soares da Silva Costa Cibele Soares da Silva Costa

The socio-educative measure (SEM) is about La mesure socio-éducative (MSE) correspond à la


the perspective of accountability for teenagers perspective de responsabilisation des adolescentes
and young adults for whom the authorship of an et des jeunes, auteurs d’infractions au Brésil,
infraction is attributed in Brazil since the decade of depuis les années 1990. En ce qui concerne le
1990. In what concerns the term socio-education, terme socio-éducation, on perçoit bien que celui-
it is noticed that this when used in the context of ci, en étant employée dans le contexte des MSE, a
the SEM, needs conceptualizations that enables besoin de conceptualisations qui rendent possible
constructing and executing a socio-educative action la construction et l’exécution d’une action socio-
based in consistent theoretical assumptions. The éducative basée sur des hypothèses théoriques
discussion shown in this article has as an objective consistantes. La discussion présentée dans cet
characterizing the theoretical conceptions and the article a pour objectif de caractériser les conceptions
epistemological bases about socio-education in the théoriques et les bases épistémiologiques sur la
context of the SEM from the literature about the socio-éducation dans le contexte des MSE à partir
theme. From the analysis of the texts it can be said de la littérature sur le thème. À partir de l’analyse
that in the field of the SEM, the socio-education des textes, on peut dire que dans le champ des MSE,
characterizes itself as theoretical category under la socio-éducation se caractérise comme catégorie
construction, constituted by different theoretical- théorique en construction, constituée par des
epistemological conceptions, with emphasis on conceptions théorico-épistémologiques différentes,
social education, restorative justice, and public mettant l’accent sur l’éducation sociale, la justice
policy, which dispute knowledge related to the restaurative et les politiques publiques, qui se
youth to whom the authorship of acts of infraction disputent des savoirs concernant une jeunesse qui
is attributed. est considéré coupable d’infactions.

Keywords: Socio-education. Theoretical Conceptions. Mots-clés: Socio-éducation. Conceptions Théoriques.


Socio-educative Measures. Youth. Mesures Socio-éducatives. Jeunesse.

Erlayne Beatriz Félix de Lima Silva – Doutora e mestra em Psicologia Social pela Universidade Federal
da Paraíba (UFPB). Pesquisadora do Núcleo de Pesquisas e Estudos sobre o Desenvolvimento da Infância
Caderno CRH, Salvador, v. 35, p. 1-14, e022047, 2022

e Adolescência (Nupedia/UFPB). Principal publicação: SILVA, E. B. F. L.; ALBERTO, M. F. P.; COSTA, C. S.


S. Trajetórias de jovens pelas políticas sociais: garantia ou violação de direitos? Psicologia USP, São Paulo,
v. 31, p. 1-9, 2020.
Maria de Fatima Pereira Alberto – Pós-doutorado em Psicologia pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte (UFRN). Doutora em Sociologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Professora Titular do Departamento de Psicologia e do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social
da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Coordenadora do Núcleo de Pesquisas e Estudos sobre o
Desenvolvimento da Infância e Adolescência (Nupedia/UFPB). Bolsista de Produtividade em Pesquisa
do CNPq – Nível 1D. Principal publicação: ALBERTO, M. F. P; PESSOA, M. C. B.; MALAQUIAS, T. A.
P.; COSTA, C. S. S. V. Trabalho infantil e ato infracional: análise histórico-cultural do desenvolvimento
infantojuvenil. Revista da SPAGESP, [s. l.], v. 21, n. 1, p. 127-142, 2020.
Cibele Soares da Silva Costa – Psicóloga, mestra e doutora em Psicologia Social pela Universidade
Federal da Paraíba (UFPB). Pesquisadora do Núcleo de Pesquisas e Estudos sobre o Desenvolvimento da
Infância e Adolescência (Nupedia/UFPB). Principal publicação: ALBERTO, M. F. P; PESSOA, M. C. B.;
MALAQUIAS, T. A. P.; COSTA, C. S. S. V. Trabalho infantil e ato infracional: análise histórico-cultural do
desenvolvimento infantojuvenil. Revista da SPAGESP, [s. l.], v. 21, n. 1, p. 127-142, 2020.

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