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BIOARQUITETURA E AGROECOLOGIA

Vivência de
BIOCONSTRUÇÃO

Priscila Martins Last (Shanti)


Bioarquiteta e Permacultora
Marcelo Chini
Bioconstrutor e Permacultor
Sumara Lisbôa
Bioarquiteta e Permacultora
www.moradanatural.com
PRINCÍPIOS DA CONSTRUÇÃO ECOLÓGICA
 Minimizar impacto ambiental no local e fora dele
 Utillizar materiais existentes no local: Obtenção de materiais da região e
proximidades – será mais fácil cuidar pessoalmente do impacto gerado pela
sua extração, evitando grandes deslocamentos e poluição.
 Dar preferência a materiais reciclados e reaproveitados ao invés de
materiais industrializados e novos.
 Auto-suficiência em água, energia, alimentos: utilização de energias
naturais.
 Reduzir, Reaproveitar e Reciclar resíduos da construção e do uso cotidiano
(lixo, águas)

CONSTRUÇÃO COM TERRA


“Casa de terra tem que ter um bom chapéu e uma boa bota.”
As paredes necessitam de proteção contra água e umidade. Os beirais
devem ter no mínimo 80cm, ideal é 1 metro de largura.
A base da parede precisa estar protegida da umidade do chão, através de
fundação alta (30-50cm acima do solo) e feita de forma a não conduzir
umidade (pedras secas ou impermeabilizante adicionados à massa).
Utilizar-se de bons sistemas de drenagem do solo em terrenos muito
úmidos ou lugares onde existem períodos de chuva muito longos. Estes
drenos podem ser feitos com bambus enterrados, valas com pedras ou
tubos perfurados e enterrados.
As áreas molhadas de cozinha e banheiros devem receber um tipo de
reboco repelente de água ou revestimento de pedras, cerâmica, cimento,
etc. Sempre existem alternativas de menor impacto e custos.

MATERIAIS

ARGILA
Confere plasticidade e elasticidade à mistura, é responsável pelo efeito
pegajoso e aderente da terra.
Possui alta capacidade de retração.
É encontrada em várias tonalidades.

AREIA
A areia é um agregado do solo que confere maior resistência à compressão.
Ajuda a diminuir fissuras e trincas provocadas pela retração da argila.
A granulometria usada varia conforme a finalidade da mistura.

FIBRAS (capim de campo, palha, cascas de arroz/trigo/feijão, fibra de coco,


sisal, agave, bambu, serragem, crinas de animais, etc.)
Agregados que melhoram a coesão da mistura devido à absorção de água
pelos poros. Reduz a retração da argila e diminui o surgimento de trincas e
fissuras.

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Funciona também como uma malha, realizando resistência à tração (a
exemplo do adobe e cob). A palha ou bambu no meio das paredes recebem
pouco contato com luz e ar portanto sua decomposição é mínima através
dos anos.

CAL (de preferência Cal Virgem para construção)


Agregado mineral que funcional como estabilizante para as diferentes
massas de terra, perante umidade suficiente.
Através de trocas iônicas entre cal e argila, ocorre aglomeração das
partículas finas, evitando a penetração de água.
Também ajuda a aumentar a resistência à compressão.

ESTRUME
Contribui na estabilização da massa contra entrada de água.
Para utilização de estrume animal, deixá-lo em repouso de 1-4 dias para
que haja fermentação, aumentando assim o efeito de estabilização da terra.

ADITIVOS IMPERMEABILIZANTES (estabilizantes incorporados à massa após


serem devidamente processados)
- Terra de cupinzeiro: esfarelar e peneirar
- Baba de plantas como piteira, palma, cactos: triturar as plantas e
peneirar, deixando escorrer apenas a baba. Diluí-la em seguida na própria
água que vai ser usada na massa ou pintura.
- Óleo de linhaça: acrescentar pequenas porções em massas que vão
precisar de uma boa impermeabilização.
- Baba de cupim sintética: também muito boa para agregar partículas e
impermeabilizar, mas é um produto mais caro e só encontrado em grandes
centros.
- Polvilho de mandioca: muito bom aglutinante para acabamentos como
reboco natural e pinturas com pigmentos de terra, é só diluir na própria
água da mistura.
- Cola madeira: ótima para fixar pigmentos, é só diluir pequenas porções na
água da mistura.

TIPOS DE TERRA

A terra utilizada na construção deverá estar livre de matéria orgânica, ou


seja, ao ser retirada do local deve ser descartado o horizonte A, a camada
superior onde contém raízes e organismo vivos, e utilizado o horizonte B,
terra mais sedimentada. A terra do horizonte A geralmente é bem fértil e
servirá nos canteiros ou na recuperação da própria área onde retiramos o
solo.
O solo deve ser peneirado antes de sua utilização.
Os solos constituem-se principalmente por argila e areia. Nas construções
com terra, a proporção entre argila e areia deve estar em equilíbrio,
conforme o tipo de massa e o tipo de técnica em que será aplicado. Certos
solos requerem adição de areia, pois são muito argilosos, enquanto outros
necessitam adição de argila, pois são muito arenosos.
Na maioria das técnicas o teor de argila tem que ser maior que o de areia.

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As técnicas que utilizam o barro em estado mais seco, como taipa-de-pilão,
superadobe e solo-cimento, apresentam retração muito mais baixa e maior
resistência e durabilidade em relação às técnicas de misturas mais úmidas
(adobe, cob, pau-a-pique).
O primeiro passo é realizar testes de solo para identificar as características
da terra disponível no local, para então modificá-la conforme a necessidade.

Um toque de amigo: Sempre é bom testar as misturas em pequenas


quantidades e de varias formas, registrando bem as proporções para que
possam ser repetidas em maior quantidade depois. Você vai perceber que
bioconstrução necessita muito mais de percepção do que de receitas prontas.

TESTES DE SOLO

a. Teste de sedimentação: colocar, num pote de vidro, 10cm da terra a ser


avaliada e 5cm água, acrescentando uma pitada de sal e agitando em
seguida até formar um conjunto homogêneo. Deixe repousar até que a
água fique clara. Medir a altura das distintas camadas. A areia é mais
pesada e se acumula no fundo do pote. As demais camadas são em seguida
o silte, a argila e no final a água com matéria orgânica em suspensão.
Mede-se a porcentagem de de areia e argila do solo, cada centímetro
equivale a 10%.

b. Teste da queda de bola: formar uma bola de terra a mais seca possível e
suficientemente úmida para enrolá-la num diâmetro de 4cm. Deixá-la cair
ao chão a partir da altura do peito. Se a bola ficar levemente achatada e
mostrar pouca ou nenhuma fissura, é uma terra com conteúdo de argila
elevado e alta capacidade aglutinante. De maneira geral, precisará
acréscimo de areia. Se a bola ficar completamente partida e esfarelada, é
uma terra muito arenosa e com baixo conteúdo de argila, onde sua
capacidade aglutinante será insuficiente para ser utilizada como material de
construção. Já no caso de a bola ficar relativamente partida, porém também
um tanto coesa, possui pouca capacidade aglutinante, mas uma composição
que permite utilizá-la para adobes ou taipa-de-pilão.

c. Teste da fita: este teste indica a plasticidade da terra. Tomar uma porção
de terra, umedecendo-a lentamente até que se possa enrolar um cordão
sobre uma mesa, e atingir um cilindro do tamanho de um lápis. Amassá-lo
entre os dedos formando uma fita com 3-6mm de espessura. Quanto mais
comprida ficar a fita antes de se romper, maior será a plasticidade da terra.
Menos de 4cm = muita areia; 4-7cm = argiloso.

d. Teste de resistência seca: identifica o tipo de terra em função de sua


resistência. Moldar duas ou três pastilhas de terra bem úmida com cerca de
1cm de espessura e 2-3cm de diâmetro. Deixá-las secar ao sol por 2 ou
mais dias. Após esse tempo, tentar esmagar as pastilhas entre os dedos
indicador e polegar. Se for um solo arenoso ou siltoso, irá quebrar
facilmente.

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A silte é um componente da argila que retira sua capacidade de coesão.
Pontos brilhantes no solo podem indicar a existência de mica. A presença de
mica indica menor quantidade de silte. Este tipo de solo é bom para
fabricação de adobe, cob e taipa-de-pilão (técnicas que necessitam de
maior coesão). Podemos visualizar melhor estes pontos brilhantes do solo
quando esfregamos um pouco de terra nas mãos.
A maioria das técnicas construtivas com terra requer um solo composto
aproximadamente por 60% argila e 40% areia, mas é sempre necessário
avaliar o solo disponível, corrigí-lo se necessário, para atingir a melhor
mistura.
Toda terra pode ser corrigida e transformada em boa matéria-prima para as
técnicas, mas devemos de preferência usar solos que precisem de menos
transformações economizando energia de trabalho e recursos.
Quando o solo se apresenta argiloso de mais podemos corrigí-lo
acrescentando uma porcentagem de areia, já quando o solo é arenoso se
acrescenta uma porcentagem de cal, terra de cupinzeiro, estrume ou até
cimento, como no caso do solo-cimento.

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TÉCNICAS

 ADOBE

Tijolos de terra crua que secam naturalmente sem necessidade de queima.


A mistura deve ter resistência à compressão e umidade. Ideal é testar em
torno de 5 misturas diferentes antes de usá-la em definitivo. O melhor jeito
de testar é fazer alguns adobes e observá-los durante a secagem para
perceber suas características de retração, resistência e umidade.
A massa de adobe pode ser feita apenas de terra peneirada, ou receber
agregados como areia, estrume, cal, etc. O tipo de solo disponível irá
determinar a quantidade de areia a ser acrescentada, sendo que a massa
final deve conter aproximadamente 30-50% de areia e 50-70% de terra
argilosa.

RECEITA BÁSICA:
3 partes de massa de terra peneirada (barro+areia)
1 parte de estrume
pedaços de capim seco (picado comprido)
Podem-se acrescentar aditivos impermeabilizantes à massa. A baba de
cupim sintética pode ser usada na proporção 500:1 (água:baba) e substituir
a água da mistura
Alguns pedaços de capim seco (picado comprido) espalhados na massa vão
ajudar com que os adobes não rachem e aumentar sua resistência.
Após feita a mistura adequada com os ingredientes ainda secos, precisamos
molhar lentamente e sovar a massa com os pés até encontrar uma mistura
de boa liga, homogênea no ponto em que se consiga grandes bolas de barro
com as mãos, jogando na fôrma de madeira molhada.
Deve-se limpar o excesso de terra, tirar a fôrma com cuidado para não
deformar o adobe, onde a massa tem de estar com consistência para
permanecer no formato da fôrma. Caso ele sofra deformação aos poucos, é
devido ao excesso de água.
A fôrma pode ter tamanho variável, de preferência não muito grande para
facilitar o manuseio: 15X20X30cm é um bom tamanho, adobes muito
grandes demoram mais para secar e são de difícil manuseio, adobes
menores são mais práticos e leves. A fôrma deve ser mergulhada num
galão com água entre cada desenforma para facilitar seu deslizamento, mas
se mesmo assim estiver grudando devemos passar também um pouco de
areia na parte interna.
Cura e secagem: protegidos do sol e do vento, em local arejado, virando a
posição dos tijolos periodicamente para secagem homogênea e lenta, o que
diminui a ocorrência de fissuras de retração. O tempo é aproximadamente
15 a 30 dias, dependendo do clima. Se os adobes racharem durante a
secagem talvez seja falta de areia, se os adobes ficarem um pouco
quebradiços e farelentos talvez falte argila, podemos corrigir a mistura
usando um pouco de cal.
Os adobes podem ser assentados com massa: 1 parte de areia, 1 de terra
argilosa e ½ parte de cal.
Procure programar a produção de adobes para épocas com poucas chuvas
ou então você precisará cobrí-los com lona em dias chuvosos e seu tempo
de secagem será maior.
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Em grandes produções pode-se usar betoneira para preparar a massa, mas
precisa de menor cuidado com a quantidade de água, pois é fácil exagerar.
O terreno de secagem deve ser plano e bem pilado.
Esta é uma técnica estrutural e não precisa de pilares, de acordo com as
dimensões da obra. Colocar um pouco de amarração com vergalhão de ferro
ou mesmo com arame forte nos cantos das paredes e nas vergas sobre
portas e janelas.

 COB

RECEITA BÁSICA:
3 partes de massa de terra peneirada (barro+areia)
1 parte de estrume
Palha seca picada
água para dar liga
Palha seca picada pode ser a que tiver disponível: arroz, trigo, feijão, capim
de campo, feno, taboa, fibra de bananeira, etc.
Mistura da massa: sobre uma lona resistente, misturar terra e areia,
acrescentar água aos poucos, pisotear bastante, acrescentar o capim,
pisotear mais um pouco e enrolar a massa como um rocambole, com o
auxilio da própria lona, segurando pelas extremidades e fazendo a massa
rolar sobre ela. Estará no ponto se fizermos um tijolo parecido com um pão
grande e ele estiver difícil de separar quando pegamos dos dois lados e
puxamos.
O cob é excelente para construções orgânicas, além de paredes retas pode-
se fazer paredes curvas, formas redondas, ovais, iglus, fornos, sofás,
prateleiras e o que a imaginação mandar.
Os tijolos devem ser moldados conforme o gosto, aproximadamente no
tamanho de adobes, e travados como se travam os tijolos comuns. Deve-se
dar uma apertada com as pontas dos dedos a cada tijolo colocado. Os
tijolos unem-se por si mesmos formando praticamente um único bloco,
portanto dispensa massa de assentamento.
É importante proteger a base da parede contra umidade através de
fundação saliente do chão.
Parede: Deve ser erguida com o cob ainda úmido, subindo no máximo 40-
50cm por dia em altura em função de que a massa é mole e não aguenta
muito peso. Por isso, otimizamos a obra e ganhamos tempo ao subir todas
as paredes simultaneamente.
Para maior sustentação e estabilidade, é bom fazer a base da parede numa
espessura maior que o topo (tipo 40 cm e 20 cm).
Ideal é construir o telhado antes das paredes, com estrutura independente,
que ao final pode ser reduzida (parcialmente removida) quando a parede já
estiver seca e pronta para receber o peso do telhado. Neste caso, é ideal
colocar uma peça de madeira sobre a parede para receber e distribuir a
carga unifomemente.

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 TAIPA DE PILÃO

Consiste em socar com um pilão a mistura de terra dentro de fôrmas de


madeira ou metal. Nas placas de madeira é indicado passar algum tipo de
óleo para auxiliar na desenfôrma. Em ambos os tipos de fôrma, o ideal é
travá-las com parafusos (tipo barra rosqueável) tranpassados e protegidos
por pedaços de cano rígido, para preservar o tamanho original da parede ao
longo das diversas camadas e não permitir que a fôrma ceda.
A mistura de terra para taipa de pilão deve ter uma proporção mais ou
menos de:

RECEITA BÁSICA:
3 partes de massa de terra peneirada (barro+areia)
geralmente acrescenta-se cal (para 4 carrinhos de terra e areia vai mais ou
menos ½ saco de 25 kg).
água

Depois de tudo misturado acrescenta-se água aos poucos, mas a mistura


final não pode estar nem muito úmida, nem muito seca. O ponto é quando
apertamos a mistura pronta entre as mãos e ela se aglutina sem encharcar
a mão, mais ou menos como se fosse uma farofa.
Esta parede tem resistência para ser estrutural, para isso precisa de
espessura suficiente e um travamento reforçado nos cantos e em grandes
vãos de paredes. Pode ser associada com estrutura de madeira (pilares)
para dar melhor amarração às paredes. As peças de madeira colocadas
sobre as paredes (chamadas linhas) servirão para distribuir o peso da
cobertura mais uniformemente sobre as mesmas.
Quando está sendo executada entre pilares, faz-se travamento horizontal
de amarração com arame entre os pilares e a parede e também a cada
fiada de taipa.
No caso de não haver pilares, o ideal é fazer cada fiada intercalando-se nos
cantos de forma a criar um travamento natural.
Os cantos são os pontos mais delicados da taipa-de-pilão. Fôrmas para
juntar dois lados de paredes são mais difíceis de fazer e travar e, além
disso, esta é uma região da casa que recebe maior esforço da cobertura. É
bom que o peso do telhado esteja sendo distribuido uniformemente sobre
as paredes e é bom usar arames e vergalhões em L nos cantos para dar
maior amarração e evitar patologias futuras.
Trabalha-se sempre com dois conjuntos de fôrmas, de forma que a fôrma
inferior está firme e dá suporte enquanto a superior está sendo socada.
Socar a massa não depende de força, mas sim de ritmo. Devem-se socar
espessuras de no máximo 10cm por vez para não criar regiões menos
resistentes onde se soca menos. Sempre se começa socando do meio para
as pontas. Coloca-se 20cm de terra que será socada até ficar com 10cm.
A parte inferior da parede de taipa deve estar protegida contra umidade
através de base de pedras ou outro tipo de fundação.

Toque de amigo: As barras de travamento das fôrmas costumam atrapalhar


o processo de socagem, por isso nestes pontos devemos usar um pedaço de
tábua e uma marreta para poder socar por baixo das travas sem afetá-las,
evitando rachaduras no loca.
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 ACABAMENTOS NATURAIS: Rebco, Pinturas, Chão Batido

Pasta de cal: É um dos mais importantes componentes para um bom


acabamento, sendo usada na maioria das receitas de reboco e pinturas
naturais. É composta principalmente pela cal de construção (se possível, cal
virgem) diluída em água e deixada descansar ao menos durante uma semana,
mexendo de vez em quando.

REBOCO E PINTURAS
Podem ser aplicados sobre paredes de terra ou de alvenaria convencional.
O uso de materiais naturais equaliza a umidade, gasta menos energia, é
mais barato e não é venenoso.
A composição dos Acabamentos Naturais baseia-se em:
- algo que cole (argila)
- algo que tenha certa elasticidade e resista à tração (fibras)
- algo que resista à compressão (areia)
O grau de granulação é decrescente em relação ao tipo de trabalho:
Estrutura -> Reboco -> Acabamento
O segredo é a boa mistura; testar com o material disponível para encontrar
as proporções ideais.
Pode-se adicionar:
- Fibras: esterco de vaca (gruda!) e de cavalo (gruda menos!).
- Colas: farinha de trigo, polvilho azedo, leite em pó (entra por último para
dar resistência), ovos, colas, óleos diversos (linhaça e baba de cactos, que
também impermeabilizam).
O óleo de linhaça é um ótimo impermeabilizante para pisos, tetos e paredes
de terra. Pode ser aplicado em várias demãos após a finalização da parede.
Pode-se acrescentar babas obtidas a partir das plantas (piteira, cactos,
palma) ou baba de cupim sintética, como estabilizantes para a massa e
impermeabilizantes.
Reboco: se rachar, precisa de alguma das opções abaixo:
-> mais areia
-> mais fibra
-> menos argila
-> menos água
Se esfarelar, precisa de alguma das opções abaixo:
-> mais argila
-> mais aglutinante
A secagem deve ser relativamente lenta, evitando sol, vento e chuva, para
diminuir o surgimento de rachaduras. Por isso é preferível utilizar em
ambientes internos ou proteger bem das intempéries.
O acabamento se faz depois de as paredes prontas e antes do piso.
Antes de rebocar, a parede deve estar seca. Para dar o acabamento ou
pintura natural, é preciso molhar o reboco depois de seco. A tinta pode ser
aplicada sobre superfície seca.

Receita básica para REBOCO:


3 partes areia peneirada
1 parte argila peneirada
1 parte pasta de cal

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Método: misturar com um pouco de água (preparar de um dia para outro,
ou até uma semana antes). Após a 1° demão, raspar a massa com um
garfo facilitando a “pega” da 2° demão, está deve ser misturada sem a
argila, somente com:
3 partes areia
1 parte pasta de cal
Obs.: Pode-se substituir a pasta de cal na primeira demão por estrume

PARA A FABRICAÇÃO DA TINTA COM SOLOS VOCÊ PRECISA:


(Fonte: Cores da Terra)

terra, água e cola;


enxada, pá ou cavadeira, sacos ou latas para coletar a terra;
uma lata de dezoito litros;
um galão (3,6 litros) para medir a terra e um balde para diluir a cola;
uma balança, se acaso desejar as medidas em peso;
recipientes com medida em litros para dosar a quantidade de água;
colher de madeira (ou uma furadeira com uma ponteira misturadora) para
dissolver a terra
rolo de lã ou de espuma, ou brocha e pincéis para retocar;
peneira

Dicas de preparo da terra para fazer a tinta:


escolher terra de várias cores de sua região; preparar pequenas
quantidades de tinta e pintar um pedacinho da parede para escolher a cor
que te agrada; misturar as tintas para obter diferentes tons;
coletar a quantidade necessária para a pintura e para fazer retoques
futuros;
tanto as terras argilosas quanto as arenosas podem ser usadas para
fabricação de tintas;
para o preparo da tinta, a terra tem que estar livre de sujeiras (pedras,
pedaços de madeira, etc);
a terra pode ser coletada tanto seca quanto úmida;
para guardar a terra por muito tempo é melhor secá-la para evitar o mofo;
para terras muito arenosas, destorroe e peneire a terra a ser usada;
se você escolher um solo arenoso e quiser produzir uma tinta fina, é preciso
peneirar a terra através de uma das seguintes maneiras: 1- secar a terra,
destorroar e peneirar; 2- dissolver a terra em água, bater, passar na
peneira e, para obter uma tinta mais fina ainda, filtrar a massa molhada em
uma meia de nylon (meia-calça).
a tinta de solos pode ser feita com cola branca (de madeira) ou cola de
amido (grude – polvilho azedo ou goma de tapioca), entretanto, tinta feita
com grude deve ser aplicada somente em interiores (secos e arejados) e a
de cola branca tanto em interiores quanto em exteriores.

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PREPARO DA TINTA COM COLA BRANCA (CONHECIDA COMO COLA DE
MADEIRA)
(Fonte: Cores da Terra)

Ingredientes:
Para fabricar aproximadamente dezoito litros de tinta com cola branca você
precisará de:
6 a 7 kg de terra ou 2 galões 3.6 litros (se quiser cores mais claras
substitua parte da terra por cal).
3 kg de cola branca; (pode ser substituída por baba de cactos ou palma,
porém deve-se usar cerca de 6 litros de baba e diminuir bem a quantidade
de água para não ficar ralo).
12 litros de água.

Modo de preparo:
Colocar 10 litros de água em uma lata e adicionar a terra;
Utilizar uma colher de madeira ou as próprias mãos para misturar bem até
atingir a consistência de uma vitamina de frutas, ou seja, desfazer toda a
terra na água;
 Opção: A colher de madeira pode ser substituída por um agitador
manual (cabo de vassoura pregado ou parafusado a uma madeira que
será movimentado para cima e para baixo formando um turbilhão
pelas laterais da madeira com a lata, ou uma furadeira elétrica com
um misturador adaptado;
Diluir a cola em 1 litro de água em outra vasilha;
Adicionar a cola já diluída à vitamina de terra e misturar bem. Por fim,
acrescentar, aos poucos, aproximadamente 1 litro de água e misturar até
obter a consistência de tinta. Quanto mais a tinta for batida, melhor será
sua consistência.
Aplicação:
Antes de aplicar a tinta, limpe bem a superfície a ser coberta. Certifique-se
de que não há mofo, umidade, vazamentos ou infiltrações que possam
comprometer a pintura.
Em superfícies com boa porosidade e resistência a primeira demão de tinta
de terra funciona como um fundo preparador. As outras demãos completam
o cobrimento.
Em superfícies com pouca porosidade, muito lisas ou esfarelando, é
necessário aplicar uma demão de cola diluída em água com consistência de
tinta, que funciona como fundo preparador. Esperar secar e depois aplicar a
tinta de terra.
Em paredes já pintadas com cal é preciso fazer limpeza do excesso.
A tinta de solo pode ser aplicada com rolo de espuma, de lã ou brocha, de
modo similar às tintas convencionais.
Uma lata de tinta (18 litros) é suficiente para dar uma demão numa área
que varia de 70 a 90m2.

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PREPARO DA TINTA COM GRUDE DE POLVILHO AZEDO (GOMA DE
TAPIOCA) (Fonte: Cores da Terra)

Para fazer 9 litros de grude são necessários os seguintes ingredientes:


600 g de polvilho azedo (goma de tapioca) (6 xícaras);
150 g de soda cáustica em escamas com 98% de pureza (1 e 1/2 xícara);
7,5 litros de água;

Modo de preparo do grude:


Cuidado: Soda cáustica é extremamente alcalina e corrosiva, usar luvas e
óculos para se proteger;
Colocar 3 (três) litros de água num balde de plástico. Acrescentar a soda
cáustica e misturar para diluir totalmente. Reservar esta mistura de soda.
Não usar vasilha de metal, pois a soda corrói;
 Atenção: Quando a soda mistura com água produz muito calor,
esquentando acima de 50ºC (graus);
Colocar um litro de água em um balde. Acrescentar o polvilho azedo e
misturar até obter uma mistura leitosa;
 Atenção: é importante fazer a pré-mistura para desmanchar bem o
polvilho (da mesma forma que desmanchamos a maizena para fazer
mingau).
Acrescentar 3,5 (três e meio) litros de água à mistura leitosa de polvilho e
misturar;
Finalmente, aos poucos, acrescentar a mistura de soda cáustica no polvilho
desmanchado em água, mexendo em movimentos circulares, até formar o
grude com consistência de melado de cana.

Para fabricar aproximadamente dezoito litros de tinta com grude você


precisará de:
6 a 7 kg de terra ( se quiser cores mais claras substitua parte da terra por
cal);
9 litros de grude;
9 litros de água.

Modo de preparo e aplicação da tinta com grude :


Colocar 9 (nove) litros de água em uma lata e adicionar a terra;
Utilizar uma colher de madeira para misturar bem até atingir a consistência
de uma vitamina de frutas;
 Opção: A colher de madeira pode ser substituída por uma furadeira
com um misturador adaptado;
Acrescentar o grude aos poucos e misturar bem, até obter a consistência
de tinta. Quanto mais a tinta for batida melhor será sua consistência.
Aplicar a tinta feita com grude da mesma maneira que a tinta feita com
cola branca.

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TERRA E MADEIRA
 PAU-A-PIQUE

É a mais tradicional das técnicas em terra brasileiras, encontrada em


diversas regiões tanto nas construções urbanas quanto rurais.
Com estrutura de bambu ou madeira, consiste em fazer uma malha
quadriculada de 15 X 15 cm aproximadamente, utilizando-se de bambu ou
madeira bem amarrados nos pilares bases e vigas da casa. O pau-a-pique
não é uma parede estrutural, apenas uma vedação, e por isso necessita
estar amarrado a uma estrutura principal, em vãos aproximados de 2m.
Para ajudar no preenchimento dos vãos podem-se utilizar, junto com a
massa, ramos de algum arbusto (como alecrim do mato ou outra espécie,
ainda verde), torrões secos de terra, pedaços de entulho ou pequenas
pedras e lascas, completando-se com a massa de terra. Caso não haja
outros materiais para o preenchimento, funciona perfeitamente se utilizada
apenas a massa do pau-a-pique.
Para a massa ter uma boa pega deve-se usar terra argilosa com uma boa
liga, podendo ser acrescentado estrume ou barro de fundo de açude, lago
ou lagoa (lodo). A resistência à compressão será dada pela areia, e a
resistência à tração será dada por fibras +- grossas (capim picado,
serragem, palha de arroz).
Traço básico: 3:1 (terra:areia)
Outros exemplos
- Para argila: 10 argila, 3 estrume, 2 areia, 2 serragem
- Para lodo: 3 lodo, 1 terra (70% areia e 30% argila), 1 cinza, 1 esterco.
Método: misturar os materiais num buraco ou sobre o solo, pisotear até
soltar do fundo ou adquirir consistência adequada.
Deixar secar por alguns dias antes de aplicar o reboco.

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TERRA E PLÁSTICO
 SUPER-ADOBE (HIPERADOBE)

Técnica com ótima resistência, maleabilidade e mais resistente contra a


umidade.
Indicado para alicerce e paredes, é auto-portante e apresenta baixo custo.
Podem ser feitas cúpulas e iglus com super-adobe.
Consiste em terra prensada dentro de sacos de polipropileno (deixar alguns
centímetros de sobra em cada lado do saco para enrolar por baixo).
Usar terra úmida, não encharcada.
No caso de cobrir com telhado, é necessário colocar uma tábua sobre a
parede para distribuir as cargas uniformemente.
Pode ser assentado diretamente na vala de fundação ou sobre o chão plano.
Pelo lado de fora deve ser feito uma barreira para água (dreno).
Método: encher os sacos com balde sem fundo, socar sobre o saco e ao
lado para obter uma superfície lisa e contínua.
Entre cada fiada de sacos, correr um arame farpado que funciona como
amarração da parede.
Os tipos de terra podem ser vários, conforme disponível no local. Esta
técnica não é tão exigente no tipo de solo, porém sempre necessita um
pouco de argila para dar coesão à mistura. Pode-se acrescentar pequenos
pedaços de pedras ou torrões.

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TERRA E CIMENTO
 SOLO-CIMENTO E SOLO-CAL

Uso de terra + cimento e/ou cal (estabilizantes), aumentando a resistência


mecânica à compressão e evitando a queima dos tijolos tradicionais.
Pode ser usado na forma de tijolos prensados ou paredes monolíticas
socadas.
O cimento atua como estabilizante contra água nos solos de baixo conteúdo
argiloso. Ao mesmo tempo, quanto maior o teor argiloso mais cimento será
necessário para alcançar este efeito.
A terra usada deve ser arenosa e de fácil desagregação, sem matéria
orgânica e com pouco teor de argila. Sua aparência é semelhante à usada
em argamassas de alvenaria e reboco, deve ser peneirada em malha fina e
conter pouca umidade (5%).
O teor de umidade pode ser verificado pressionando-se um pouco de terra
na mão e observando se permanece a marca dos dedos bem definida, o que
significa umidade adequada. Caso esfarele, tem pouca umidade. Se as
marcas estiverem muito molhadas, tem muita água.
Traço para tijolos:
1 parte de cimento
7 a 15 partes de terra peneirada (contendo 50-70% areia)
Água suficiente para atingir a umidade necessária
A quantidade de cimento depende da finalidade do tijolo. Tijolo a vista
requer mais cimento, tijolo comum requer menos cimento.
*(um saco de cimento rende aprox. 400 tijolos prensados)
Colocar um pouco de cinza fina na fôrma para não grudar.
As máquinas envolvidas no processo são duas:
Triturador/destorroador: tritura e mistura terra e cimento (pode ser
substituído por soquetes de madeira e peneiras).
Prensa: faz o tijolo (pode ser substituído por uma forma e um soquete
pequeno para pilar a massa dentro da forma)
{Uma empresa fornecedora de máquinas: Sahara (11) 6943-6955}
Cura: Após a prensagem, empilhar os tijolos.
Necessitam mínimo de 7 dias de secagem à sombra e protegidos do vento.
(A resistência máxima de peças que utilizam cimento é alcançada sempre
aos 28 dias).
Nos três primeiros dias, pulverizar água sobre as pilhas de tijolos.
Fazer a mistura suficiente para o uso do dia (ou até 24h), remexendo
sempre. A mistura deve ser sempre homogênea em coloração e umidade.
Assentamento: com um filete de solo-cimento, utiliza muito pouco material
pois a junta é quase seca.
Para fundação, traço: 1:8 ou 1:6 (cimento:terra) + óleo ou baba de cupim
(impermeabilizante).
Fazer valas lineares com medidas aproximadas de 30x30cm
(alturaXlargura), colocar pedras ou britas no fundo e socar a mistura com
pilão, em várias camadas de 20cm até chegarem a 10cm.

15
TERRA E PALHA

 TAIPA-LEVE

A taipa leve não é uma parede estrutural. Ela é ideal para divisórias,
vedação e paredes de segundo pavimento, visto que é um material mais
leve.
Utilizar palhas que contenham muita sílica: arroz, trigo e aveia. A palha
contribui para o conforto térmico do ambiente.
Ingredientes: (teste: fazer bolinho de terra e soltar, deve espalhar pouco)
Argila fina peneirada
Palha cortada (tamanho médio-grande)
Método: faz-se um caldo de argila, mexendo bem, e depois joga sobre o
monte de palha sobre uma lona. Mistura-se bem com um garfo, formando
uma palha melecada, que pode ser colocada diretamente dentro da fôrma e
socada (a exemplo da taipa de pilão). Os vãos de parede devem ter
armação estrutural independente.

PALHA
 PAREDE DE FARDO DE PALHA

Fardo começa a ser usado em Arkansas, EUA, em 1840, existem obras de


1905 que ainda estão de pé.
Proporciona bom condicionamento termo-acústico:
20 X mais térmico que o adobe
24 X mais térmico que tijolo queimado
Bom para paredes externas ou divisórias, deve-se deixar o lado liso do
fardo virado para dentro do ambiente.
Utiliza-se palha de arroz, trigo ou aveia.
Fardo deve pesar de 9 a 12 kg, com dimensões habituais: 90 X 40 X 30 cm,
por isso o projeto deve ser múltiplo de 9.
No caso de vedação: a estrutura de bambu ou madeira é posicionada como
escoras, pelos dois lados da parede, amarrando os dois lados com arame.
Para amarrar, passar um finco com buraco (tipo uma agulha) por onde se
puxa o arame.
No caso de estrutural: cobrir com telhado, é necessário colocar uma tábua
sobre a parede para distribuir as cargas uniformemente.
Para imunização, borrifar ácido bórico entre um fardo e outro.
Se for rebocar, cobrir os bambus com juta e fechar os vãos entre os fardos
com palha melecada com terra.

16
CIMENTO E FERRO
 FERROCIMENTO

Utilizada principalmente para construção de cisternas para armazenamento


de água de chuva. Para armazenar água potável a cisterna deve ser vedada
da luz solar e protegida contra insetos.
Pode ser usado também para confeccionar formas arqueadas e orgânicas
para construção de tanques, coberturas e outras superfícies. As formas
curvas resistem a maiores cargas de compressão que as demais formas.
Possui um alto rendimento, pois a espessura é fina proporcionalmente à
superfície gerada. Contudo, utiliza bastante aço (100kg/m³), e mais areia
que no concreto (300kg/m³), o que aumenta um pouco do custo.
Para cisterna utiliza-se:
malha ortogonal de ferro 10x10cm (4,2 ou 5,0 mm)
tela (de pinteiro ou de plástico)
alicate grande
arame recozido
argamassa de cimento (2 de areia mista: ½ de média e ½ de fina, 1 de
cimento e água).
placa de qualquer material para escorar um dos lados enquanto passa a
argamassa.
A espessura e bitola do aço não podem variar para não provocar trincas.
A espessura final do ferrocimento será de 1-3 cm.
Leva-se aproximadamente três dias para confecção de uma cisterna com
capacidade de 20.000l com cinco pessoas
Método:
1º dia Chão e contrapiso + armação
(malha ortogonal+tela+amarração dos nós com arame)
2º dia Primeira mão de massa
3º dia Segunda mão de massa por dentro e fora, passar esponja para
alisar e enche d’água.
Secagem: Deixar de 15 a 20 dias curando cheia d’água.
Para os primeiros dias, mantê-la sombreada e protegida do sol por folhas.
Umedecer também por fora da caixa.
Durante este período, as rachaduras podem curar-se sozinhas, pois há o
processo de cristalização da água nestes veios. Caso não aconteça,
remendar com massa.
Como manutenção, deve ser esvaziada de 6 em 6 meses para limpar com
água sanitária.
Cálculo do volume da caixa d’água: V= ∏ r² X h (m³)
O diâmetro mínimo deve ser de 1m para uma pessoa conseguir trabalhar
dentro.
Traço (areia:cimento)
Piso 3 :1
Parede 2:1 : ½ (água)
Tampa 2:1
Posicione o registro de saída a 10 cm do fundo e o dreno de limpeza no
fundo da caixa. Direcione a saída de excesso (ladrão) para um canal de
infiltração. A ligação da calha à caixa deve ser direta, sem uso de sifão.

17
COBERTURAS
 TELHADO-VIVO (TELHADO-JARDIM)

Oferece melhor conforto termo-acústico ao ambiente. Além disso, ele não


impermeabiliza o solo da construção que está cobrindo, contruibuindo assim
positivamente com o meio ambiente: aquece menos o planeta porque não
reflete a radiação solar (como as telhas metálicas e superfícies de
concreto), infiltra água que pode ser captada e utilizada, e também realiza
fotossíntese.
Para calcular a estrutura é necessário considerar 300Kg/m², o dobro de um
telhado com telha cerâmica.
A diferença entre os telhados convencionais é que deve ser feito um
tablado, seja de madeira, bambu ou outro material, para sustentar a
grama. Também pode ser instalado sobre laje de concreto impermeável.
Um teto-vivo deve ter no mínimo 70% de gramíneas, para se garantir as
trocas de umidade com o meio ambiente, sendo assim, não acumularia
muita água, o que compromete a estrutura.
Caso queira diminuir a manutenção utilizar capim local, no caso de outras
gramíneas haverá necessidade de aguar em períodos de estiagem. Uma boa
planta com poucas necessidades é o boldo-do-chile rasteiro, que tem a
vantagem de ser medicinal.
Equipamentos: estrutura, tablado, geomembrana ou lona + carpete velho,
5-10 cm de terra argilosa, leivas de grama, abas e calha.
É possível captar água de chuva com este tipo de cobertura.
Quanto maior a camada de terra, há a possibilidade de plantar outras
espécies vegetais.
No caso de inclinações maiores que 15° devem ser feitos retentores de
água ao longo da descida da água e suportes para maior fixação da terra.

 QUINCHA (TELHADO DE PALHA)

Cada região possui seus tipos próprios de palha e folhas grandes, que já são
usadas como cobertura. Obervar a técnica local e a experiência dos que
trabalham com estas técnicas.
A amarração do material acontece de diferentes maneiras.

No Rio Grande do Sul:


Pode-se fazer o telhado de macega e cola de sorro, junco ou palha Santa
Fé. Tem-se Santa Fé a cada 4 anos, onde a fibra está mais desenvolvida e
dura, pode alcançar a altura de 1,5m.
A palha deve ser colhida na lua minguante e secada ao sol por 1 semana a
1 mês. A armazenagem deve garantir a secagem homogênea para não
mofar.
Este tipo de telhado precisa de bastante inclinação, e deve ter a espessura
ideal de 20 a 25cm.
Quanto mais sol e ventilação mais durabilidade.

18
A palha vai sendo amarrada por nós furando os tuchos de dentro para fora,
puxando e esticando. Cada ponto tem em torno de um palmo de distância
entre o outro. A costura vai perfazendo toda a volta da construção, até
completar a primeira camada.
Tipos de Quincha: em escada e escama, vai de ripa a ripa e dura de 8 a
10anos; em escova, leva mais palha porém é mais durável dura de 15 a
20anos; e corrida, leva menos palha.
Equipamentos: agulha, pente, alicate de corte, corda de segurança, arame
de quincha ou cipó e de rabixo.
Método: escovar o feixe, costurar e bater sobre o arame.

19
ENERGIA RENOVÁVEL
 AQUECIMENTO SOLAR

Sistema ASBC (Aquecimento Solar de Baixo Custo), consultar


www.sociedadedosol.org.br
Consumo médio de água num banho de 10 min.= 40 l (4 l/min.)
Consumo diário/pessoa= 100 a 200 l
Painel coletor solar: 100 l = 1,5 painel
200 l= 3 painéis (com 2h de sol, aquece a 60ºC)
As placas de PVC alveoladas podem ser confeccionadas ou compradas,
exemplo marca Medabil. As placas são encaixadas ortogonalmente em
tubos de PVC ø32 cortados longitudinalmente, com um transpasse de 0,5
cm.
Cada placa deve ser pintada com tinta fosca preta para aumentar a
absorção de calor.
Passar cola de araldite mais talco mineral. Aguardar 2h para virar e colar do
outro lado.
Este tipo de placa não pode receber cobertura de vidro pois o material não
suporta temperatura maior que 65ºC.
As placas coletoras devem ser posicionadas sempre abaixo do reservatório
(de 5cm a 30cm). Sua orientação é para a direção Norte, e a Inclinação=
latitude + 10 ºC (compensa a variação da inclinação solar ao longo do ano).
As placas podem ser posicionadas lado a lado, nunca uma acima da outra,
pois isso dificultaria a circulação da água ente elas.
É bom colocar um registro no banheiro para controlar a entrada de água fria
no boiler. Assim, à noite antes de usar a água quente pode-se impedir a
entrada de água fria no boiler durante a noite.
Na primeira semana de uso, recomenda-se não usar esta água quente para
cozinhar.
Ao invés de utilizar boiler elétrico, utilizar latão de exportação de mel dentro
de uma caixa de madeira com material isolante, ex: fibras vegetais.
Existem outros sistemas para aquecimento alternativo de água, como
garrafas pet, mangueiras, pneus, etc.

20
CICLO DA ÁGUA
 ÁGUAS CINZAS

CÍRCULO DE BANANEIRAS: ver Anexo 1

SISTEMA DE VALOS DE IRRIGAÇÃO


É o mais viável e adaptável às condições simples.
Material: solo, árvores, pá e enxada. Manutenção de 10 min/semana.
Considerar: número de usuários, solo, inclinação do terreno, fontes de
água, sol, árvores e vegetação existentes, etc.
Quanto mais inclinado o terreno, mais sinuosos devem ser os valos, para
favorecer a boa infiltração.
Princípios do Design:
1. A fonte de abastecimento e armazenagem de água limpa tem de estar
localizada num nível mais alto que as áreas uso na casa, e estas mais
altas que a área de irrigação com AC. Sistema em forma de cascata.
2. Inclinação, caimento e largura do valo variam conforme a necessidade de
liberar mais ou menos água, e permeabilidade do solo (argiloso ou
arenoso). Captação e entre plantas: estreito; sobre raízes: largo.
3. Água não fica estagnada e é bem distribuída em plantas suficientes para
absorverem-na completamente.
4. Planejamento do sistema para que não haja empoçamento d’água em
solo saturado por mais de 24h, caso contrário a AC torna-se escura e
com mal cheiro.
5. Cada propriedade deve infiltrar sua própria água sem escoá-la para
vizinhos ou ruas.
6. Valas devem ser ajustadas para distribuição uniforme.
7. Se as fontes d’água cinza chegam ao terreno separadamente em
diferentes locais para infiltração, tem-se a vantagem dele ficar
homogeneamente irrigado e produtivo.
Na localização das áreas molhadas de uma casa deve-se levar em conta
a privacidade, sol, qualidade do solo, proteção de fontes d’água, etc.
Implementação:
 Pavimentar (pedras, cimento, tijolos, madeira resistente) áreas onde há
queda d’água para não empoçar e escavar o solo
 Subir o nível de áreas de transitação e locais de trabalho em pé (tipo
tanque, pia)
 Verificar os níveis do percurso (com mangueira de nível) para que a água
escoe pela gravidade Ideal é i= 1-2%
 Escoamento pluvial não deve se misturar às AC (assim, AC não escoa da
propriedade sem o devido tratamento)
 Definir as fontes de AC e quantidade para então planejar sistemas de
conexão dos canos com os valos
 Definir quantidade de valos: muita AC necessita 2 sistemas alternáveis
(a válvula pode ser uma pedra) para não sobrecarregar em umidade

 ÁGUAS NEGRAS: ver Anexos 2 e 3 (Bacia de Evapotranspiração

21
 BANHEIRO SECO (SANITÁRIO COMPOSTÁVEL)

Utilizamos aqui o sistema de rampa, que deve ter inclinação de 45º e estar
perpendicularmente posicionada em relação à latitude solar da região, de
modo que os raios aqueçam a maior área possível do sistema.
O funcionamento do banheiro seco gira em torno do aquecimento - por
calor solar - da massa orgânica (cocô) misturada com “serragem”, da
circulação do ar quente por dentro do sistema e sua saída através da
chaminé. Em função da troca de ar, o banheiro seco não apresenta odores;
se isto vier a acontecer, será em função do excesso de urina (amônia) no
sistema, onde se deve evitar o uso para urinar.
Após 6 meses de uso de um dos vasos, lacramos a tampa e colocamos em
uso a outra câmara. Durante os próximos 6 meses a matéria orgânica
continuará recebendo calor do sol até ficar completamente seca e sem vida.
(O Carbono presente na serragem que é colocada sobre o cocô cada vez
que usamos o banheiro seco, está numa proporção muito alta (500:1) em
relação ao Nitrogênio da massa orgânica. O excesso de carbono extingue a
condição de vida de qualquer microorganismo ali presente e assim a massa
orgânica seca).
As fezes humanas são ricas em fósforo e por isso devem ser repostas na
terra após saírem do banheiro seco. Primeiramente, devemos reequilibrar o
nível N/C para 1:25 através do processo de compostagem.
Antes do primeiro uso do banheiro seco, cobrir o fundo da rampa com uma
camada de 10 a 15 cm de serragem ou cinzas para que o material orgânico
já caia sobre ela.

 BANHEIRO SECO MÓVEL

Mais prático e barato.


Utilizar um galão grande de 200 l que ficará encaixado sob uma tampa de
vaso sanitário.
O sistema será usado da mesma maneira, cobrindo-se as fezes com
serragem, até completar 3/4 da altura do galão. Ele deve ser então
substituído por outro, completando o espaço restante com esterco ou restos
de cozinha.
De duas em duas semanas aproximadamente, torna-se a completar com
matéria orgânica até que o sistema pare de ter cheiro, se estabilize e
seque. É bom que a tampa só esteja cobrindo o galão sem vedar
completamente para que haja uma leve ventilação.
Depois disso, a massa pode ser incorporada à composteira.

22
BIBLIOGRAFIA

BUENO, Marcelo. Eco-construções. Apostila IPEMA.


BUENO, Mariano. O grande livro da casa saudável. São Paulo: Roca, 1995.
DETHIER, Jean. O futuro da arquitetura de terra. Reportagem.
FERREIRA, Oswaldo P. (coord.). Madeira: uso sustentável na construção civil.
São Paulo: Instituto de Pesquisas Tecnológicas: SVMA: SindusCon-SP,
2003.
GAIA. Educação Gaia – Educação para o desenho de ecovilas. 2006.
LAMBERTS, PEREIRA, GHISI e PAPST. Conforto e Desempenho Térmico de
edificações. Florianópolis: Depto. de Arquitetura e Urbanismo e Depto. de
Engenharia – UFSC, 2001.
LUDWIG, Art. Create an oasis with greywater. Santa Barbara: Oasis Design,
2006.
MASCARÓ, Juan Luis. Infra-estrutura habitacional alternativa. Porto Alegre:
Sagra, 1991.
MINKE, Gernot. Manual de construccion en tierra. Montevideo: Nordan-
Comunidad, 1994.
PAIM, Flávio; CHAVES, Otávio Urquiza. Habitações Auto-Sustentadas:
Diretrizes Permaculturais Coometal. Porto Alegre: ARCOO Cooperativa de
Trabalho Transdisciplinar, 1995.

PEMAC - Programa Estadual de Manejo da Água de Chuva - RS


PERMEAR. Qualificação Profissional em Restauro e Conservação do Patrimônio
Histórico e Arquitetônico. Tiradentes, 2006.
TOO, Lilian. Guia Completo do Feng Shui. São Paulo: Avatar, 1998.
Universidade Federal de Viçosa. CORES DA TERRA – Fazendo tinta com solos.
Departamento de Solos, Viçosa: UFV, 2007.

Cursos:
Eco-construção: IPEMA-Instituto de Permacultura da Mata Atlântica, 2002 e
IPEP-Instituto de Permacultura e Ecovilas da Pampa, 2004 e 2005.
Bambu, 2005 com Lúcio Ventania e Guillermo Gayo.
Materiais Ecológicos e Tecnologias Sustentáveis para Arquitetura e Construção
Civil – Práticas e Aplicações: IDHEA-Instituto para o Desenvolvimento da
Habitação Ecológica, 2005.

PÁGINAS VIRTUAIS:
www.ipemabrasil.org.br
www.ipep.org.br
www.idhea.com.br
www.gaiaeducation.org
www.fdd.org.br/html/capaguas.htm
www.ecosistemas.net
www.ecooca.org.br
www.sitiovagalume.com
www.moradanatural.com
www.sumaralisboa.net

23
ANEXO 1

Construção de círculo de bananeiras (tratamento e reuso de


águas cinzas1)
Introdução
A primeira vista, o que se vê num círculo de bananeira pode enganar o olhar meio desatento de
quem o vê mas não enxerga. De fácil construção e manejo, o círculo de bananeiras é um elemento
fundamental na habitação urbana ou rural por cumprir mais de uma função importante: tratar a água
localmente, compostar resíduos orgânicos e produzir alimentos, tudo num círculo de 2m de diâmetro... como
pode?

Bananeiras evapo-transpiram uma quantidade enorme de água, de 15 até 80 litros diários, de


acordo com a estação do ano, variedade, clima local, etc. Outras variedades podem ser plantadas no círculo
para aproveitar as diferentes condições de umidade, insolação e de estrutura: espécies de sombreado
podem ficar na parte interna do círculo, espécies secas do lado de fora, bem como vinhas trepadeiras
“escalando” as bananeiras ou uma treliça eventualmente colocada ao centro. Ao receber água cinza
normalmente rica em nutrientes compostos por restos de alimentos (pia da cozinha), terra, poeira e suor
(tanque de lavar roupa e chuveiro), além de outros restos orgânicos da casa (papel, e restos de cozinha), as
plantas crescem com mais vigor, produzindo frutos muito saudáveis.

Como fazer
1. Comece marcando um círculo de 2m de diâmetro
2. Cave um buraco com até 1m de profundidade no centro e amontoe a terra escavada ao redor do
buraco, como um anel
3. Cubra o buraco com papel molhado, papelão ou folhas de bananeira
4. Preencha o vazio com matéria orgânica grossa como galhos grossos, folhas, palha, etc.
5. Espalhe um pouco de esterco, cinza, calcário, ou composto orgânico
6. Encha o buraco até formar uma cúpula, pois com o passar do tempo o material vai compostar e vai
diminuir bastante
7. Se houver pedras, pode usá-la para marcar a borda externa
8. Plante as mudas de bananeira a cada 60cm, do lado externo do monte de terra, furando a camada
de jornal e mulche.
9. Alterne com mamoeriros e preencha os espaços no topo e no lado de fora da borda com batata
doce (dez mudas devem ser suficientes para cobrir o monte)
10. Se quiser pode usar também mamona para criar um pouco de sombra, e confrei nas bordas como
adubação verde.
11. No lado de dentro do anel, onde há sombra e umidade, inhame, gengibre, taioba e o que mais tiver
em mãos.

Vantagens no tratamento e reuso local de águas cinzas


 Promove a recarga do lençol freático
 Diminui o consumo de água tratada (para irrigação)
 Mantém os nutrientes no local
 Promove o crescimento das plantas e árvores
 Diminui o volume de esgoto e consequentemente o impacto em fossas e na rede de tratamento
 Causa menor demanda de energio e uso de químicos
 Conscientiza o usuário da importância de usar produtos de limpeza biocompatíveis

1
água servida sem fezes
24
Figura 1 – Círculo completo Figura 2 - Instalação de água e detalhes
construtivos
Importante
Como todo sistema vivo, é importante levar em conta que a maioria absoluta dos detergentes,
sabões em pó e sabonetes de banho, e produtos de limpeza doméstico contém uma infindável quantidade
de contaminantes químicos que prejudicam o crescimento, e de fato a vida de espécies vegetais e animais
(isso inclue você!). Ao optar por usar um círculo de bananeiras esteja consciente da importância na
mudança de hábito quanto a compra e uso desses produtos, privilegiando o uso de produtos neutros e
simples, como sabão de côco, de glicerina, de banha, de cinza, etc. Sabão e água resolvem a maioria
absoluta das questões de limpeza doméstica, são muito mais baratos, e também compatíveis com a vida
em todo seu esplendor. A natureza agradece, e você ainda vai comer frutas deliciosas, experimente!

Lembre-se também de usar espécies e variedades adaptadas a seu clima e divirta-se!

Guilherme Castagna

Referências

Revista Permacultura Brasil, edicão 12, marco/2003


Create an Oasis with Greenwater, Art Ludwig, Oasis Design 2005
Branched Drain Greywater Systems, Art Ludwig, Oasis Design 2005

ReVoluções Sustentáveis, Rede de Intercâmbio e Voluntariado em Ações Sustentáveis


http://www.culturaspermanentes-brasil.blogspot.com
revolucoes@gmail.com

25
ANEXO 2

Jogando o esgoto para cima


Sistema de evapotranspiração se coloca como solução simples, acessível e sustentável.
Por Sérgio Pamplona

Foi em janeiro de 2000 que o permacultor e arquiteto estadunidense Scott Pitman, em


alguns cursos pelo Brasil, suscitou a curiosidade de muita gente ao descrever o sistema de esgoto
que enfeitava a sala de sua casa, na cidade de Santa Fé, no Novo México. Muitos estranharam
que o belo jardim de inverno cheio de viçosas plantas tropicais, com produtivas bananeiras, fosse
a parte visível do tal sistema, capaz de tratar esgotos e produzir vida com emissão zero de
efluentes.
Funciona a partir de um princípio muito simples e engenhoso, cuja lógica não é a de livrar-
se de um problema, fazendo o esgoto “sumir” para dentro da terra (e dos lençóis freáticos) como
nos sumidouros, mas aproveitar os nutrientes para produzir biomassa e alimentos com plantas
capazes de evapotranspirar a água desse efluente. Daí os nomes que ele ganhou por aqui: bacia,
tanque ou leito de evapotranspiração (LET).
Alguns permacultores resolveram adaptar tal sistema à nossa realidade, já que nos EUA
utiliza-se um elemento industrializado de plástico que não temos por aqui para começar a digestão
do esgoto. Chegou-se à conclusão que ele não seria necessário, uma vez que manilhas de
concreto e pneus velhos funcionam bem, além de serem mais coerentes na busca por uma
solução não só eficiente como acessível para todos.
A construção do sistema
1. O primeiro passo é o dimensionamento. Alguns acham que ele deve receber todo o esgoto
misturado (águas cinzas e negras). Outros, eu incluído, consideram que essa mistura cria um
volume desnecessário de esgoto a ser evapotranspirado, uma vez que as águas cinzas (aquelas
que não contêm fezes) podem ser facilmente resolvidas em pequenos sistemas autônomos, como
círculos de bananeiras. Portanto, usamos o sistema de evapotranspiração exclusivamente para as
águas negras (dos vasos sanitários), com um dimensionamento padrão de 2m² de superfície por
usuário. Em locais quentes, onde as plantas têm maior evapotranspiração, esta área é mais que
suficiente, mas em locais muito frios, é possível que o sistema venha a necessitar de mais plantas
e/ou mais área para evaporação.
2. Escolhe-se um local que receba boa insolação e cava-se a vala, geralmente retangular. Sua
profundidade deve ser de 1 metro, com o fundo nivelado, para que o efluente se espalhe por igual.
No caso de terrenos inclinados é a parte mais rasa que deve ter 1m de profundidade.
3. Em seguida, impermeabiliza-se o fundo e as paredes, para evitar infiltração no lençol freático,
principalmente em terrenos arenosos e permeáveis. Pode ser usada uma massa de cimento e
areia lavada sobre tela metálica ou plástica. Nesse caso, deve ser feito antes um chapisco das
paredes. Outra opção é o uso de lona plástica revestindo todo o fundo e as paredes, mas deve-se
tomar cuidados para não furá-la, colocando camadas de serragem no fundo e de papelão nas
paredes antes de assentá-la no local. Outra ainda, e a mais natural, é a proposta pelo próprio
criador do sistema, John Watson: aplica-se nas paredes uma massa de palha com barro e
estrume fresco de gado ou cavalo. Essa massa, em contato com o efluente, gerará um filme de
bactérias que colmatará as superfícies, ou seja, fechará os seus poros.
4. Constrói-se a câmara séptica ou fermentador, que é o local onde uma condição anaeróbia vai
começar a digerir o esgoto. Ela deve atravessar a vala longitudinalmente ou na diagonal. Em uma
de suas pontas fica a entrada do cano de esgoto. Como dito acima, usamos meias manilhas de
concreto (tipo calha, com 40 a 50 cm de largura) ou pneus velhos. As manilhas são usadas de
duas formas: apoiadas sobre tijolos furados ou maciços de boa qualidade (que não se
enfraqueçam pelo constante encharcamento), com os furos ou espaços perpendiculares à
câmara, de forma a permitir a saída do efluente pelo fundo. Ou então apoiadas no chão e furadas
em vários pontos, de forma a que o efluente possa escoar para fora. Os pneus são a opção mais
simples e barata e devem ser enfileirados de pé entre cacos de telhas e tijolos, que também
preenchem as frestas entre eles.
5. Começa-se a encher a vala. A primeira camada, desde o fundo até cobrir a câmara séptica, é
o leito filtrante, ou camada porosa. Como o nome diz, ela é feita com material poroso, que vai ser
colonizado por bactérias que digerem o efluente em seu curso para cima. Restos de entulhos,
telhas e tijolos são muito bons.
26
6. Acima desse leito, de baixo para cima, camadas de pedras de mão, brita, areia e terra para
plantio. Cada camada pode ter uns 15 cm, a depender do material disponível.
7. Convém colocar um tubo “ladrão” 10cm abaixo da superfície no lado oposto à entrada do
esgoto para drenar água de chuva e monitorar se algum efluente está saindo. Isso pode acontecer
em caso de sobrecarga eventual do sistema (numa grande festa, por exemplo). Nesse caso, o
excesso, pode ser direcionado para um círculo de bananeiras ou uma vala menor coberta com
mulche. Porém, se o ladrão apresentar um fluxo constante, pode ser que o sistema esteja
subdimensionado em termos de área ou de quantidade de plantas.
8. Finalmente, o mulche e o plantio, que deve ser intensivo. Algumas espécies utilizadas são
comestíveis como banana (Musa sp.), mamão (Carica papaya L.), inhame e taioba (Colocasia
sp.), e ornamentais como copo-de-leite (Zantedeschia aethiopica), maria-sem-vergonha
(Impatiens walleriana), lírio-do-brejo (Hedychium coronarium), caeté banana (Heliconia spp.) e
junco (Zizanopsis bonariensis).
Dúvidas e cuidados
Não, um sistema desses não emite cheiro. Todo o processo anaeróbio está bem embaixo
da terra. Se isso acontecer, é o caso de um sistema subdimensionado ou em sobrecarga, em que
o efluente mina na superfície. E, sim, as bananas e os mamões podem ser comidos
tranqüilamente.
Outra dúvida clássica: e o lodo? Respondemos com outra pergunta: que lodo? Em um
sistema séptico bem feito onde só se entra com matéria orgânica e água, tudo se degrada e dilui,
de papel higiênico a fios de cabelo. O que não se pode é permitir a entrada de material inorgânico
(areia, terra, plásticos), ou de produtos químicos como detergentes, desinfetantes ou bactericidas,
que devastam a “flora digestiva” de sistemas vivos como esse.
Em volta do leito de evapotranspiração devem ser cavadas valetas para desviar o
corrimento superficial da água de chuva, que pode sobrecarregá-lo. Além disso, o ideal é construir
o sistema alguns meses antes de começar a utilizá-lo.
E deve-se ter sempre em mente que se trata de um sistema vivo, que deve ser
acompanhado e curtido com cuidado e atenção, embora sua manutenção basicamente seja a
poda e a retirada do excesso de plantas mortas ou secas. É uma ótima oportunidade para
observar e aprender um pouco mais com a natureza e seus processos quase mágicos e sempre
belos.

ANEXO 3
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