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Scanned by CamScanner COLEGAO CONTOS DO MUNDO A presente colesio, iniciada com "OS RUSSOS — aatiyos © modernot", verti destinada a ser uma verdadeire tatelogla do conto universal. A clesio © teadvsio dou teabathou ek entreque a um grupo de esctl: teres escolhiios entre ot melhores, © no seu derenvolviments ext “Co. Jegho" constisuirs, além da antologia & que noe referimos, blstéeia aintética da literatura mundial. Em cada volume, prefactado sempre per um dot nossos oe tterltores, serk estudada de um feral Uteratura do pals 5 We paises a que ile ae refer goindose assim um a bistiela Weerksla, Eratase de um emp BroporySes até agora de ‘sm nossa lingua, ¢ eafo feltores do Brasil poderio svalisr. A "Colesio Seid fark de 18 volumes, | templanda a nota aces ac volumes Dextes, um seri dedicado a0 Breall, * A SAIR BREVEMENTE 1 2 Sérte OS IN antigos ¢ modernos * 3 Série OS NORTE-AMERICANOS by CamScanner Esta publicagao foi digitalizada por Milton dos Santos como um esforco de preservacao e divulgacao da obra do escritor russo Leonid N. Andreyev (1871-1919) publicada em Portugués (Brasil e Portugal) eoee This publication has been scanned by Milton dos Santos as an effort to preserve and disseminate the work of the Russian writer Leonid N. Andreyev (1871-1919) published in Portuguese (Brazil and Portugal) Hip Se este trabalho é util ou de interesse para vocé, agradecemos seu apoio em divulga-lo! Nota: nao ha nenhuma intengao de se trans- gredir eventuais direitos autorais existentes sobre esta obra. 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MAcHAnO ent Companhia Editora Leitura 1944 Primaina sigh: a Rie de daneire, Beast dar, Auguite Beleae, Axel Lestochen,, Hebera Burle Marne Alcides da Rothe Miranda, Este livro E volume ¢ o primeiro de uma série que tive a idéia de organisar, apresentando 20 nosso publica, em trae dugies assinadas pelos melhores escritores brasileiros, ox melhores contos de tédas as literaturas, © segundo volume seri dedicado aos contistas ingleses, e @ terceiro. nos norte-americanos. As outras lites raturas nacionais iro desfilando, ¢ estou certo de que a colesao completa constituira uma obra capaz de honrar 0 progresso editorial brasileiro, Sou cu o autor da antologia,.mas no espero disso a menor gléria literaria. E que fic sobretudo um trabalho de cooperagao Pedi opiniio a todo o mundo, procurei ouvir os melhores conhece- dores do assunto ¢ [evel para o escritério mais de 250 livros empres tados. Li ferozmente, mas nio conficl em demasia em meu proprio citério. Tive sempre em mente que éste € um trabalho para 0 grande pablico e que isso, ao invéz de me desculpar qualquer dex caso, aumentava minhas responsabilidades. Espero sobretudo quey através da leitura do preficio, das notas © dos contos, o Ieitor posa ter uma visio geral da evolucio da literatura russa- Minha ambigio é que éste volume — asim como os outros que estou organizando — valha por um curso. Minha primeira idéia foi apresentar todos os_contos tradu- ridoi diretamente do russo. Arranjar tradutores nao era tareta dificil, mas havia um obsticulo intransponivel: a falta da grande maioria dos textos. Este o motive pelo qual quase todos os contos sGo traduzidos do francis e do inglés. Consolei-me sclecionando as mais acreditadas traduges existentes nessas linguas. Alegro-me pelo fato de poder apresentar em tradugao direta do ruso duas obras primas: "O Capote” ¢ “Os Sete Enforcados". Ambos foram traduzidos por cscritores brasileiroa em colaboragaa com sabedores do russo, Evandro Pequeno — um dos raros brasileiros que sabe aso — tradusiu diretamente dois contos de Tikhonov. 7 Deixo aqui os meus agradecimentos a todos que ajudaram néte mutirio — aconselhando, traduzindo, colaboranda ou em+ prestando livros — © rogo aos criticos que examinem com atengio esta obra, apontando falhas ou omissGes que cu posta remediar em edigSes posteriores, E acredito que a cxperiéneia adquirida do pre- paro déste volume seri itil na elaboragio dos demais. Z E haveria de comegar pelos russos esta série, que a éles cabem, nas horas de hoje, todas as precedencias. Atoa ¢ palida que scja, esta € 2 nossa homenagem Aquéles que estio afogando no pro- prio sangue, ¢ no sangue dos alemies, o pesadelo de Hitler. Léde é@ste livro: éle matard vossa fome de beleza, mas vos dari séde de justica. Leningrado agonisa, sitinda; Ja as defezas do Moscou te arrebentam; ji as ruas de Stalingrado estio tomadas; j& os exércitos parecem destrogados, ¢ milhdcs foram mortos, ¢ tudo. € perdido, Que salva a Russia? Seri Deus, seri o inverno, a dis- tinclaT Deus (sabemos pelos jornais) foi assassinado ha muito tempo por qualquer pelotio de fuzilamento composto de soldados bébedos; © inverno passa, a distincia se encurta. Que salva a Risssia 7 Léde Gogol, tereis a resposta: é a alma de Akaki Akakie- vitch, eu vos digo, é a alma déle. & o desgragado que quer 0 Seu capote. E que, morto, niio vai procurd-lo ao outro mundo: volta a éste © arranca & forca o capote de Sua Exceléncia: 0 capote roubado do alemfa nacista, o capote aveludado e blindado de todos os opres- sores ¢ exploradores do homem Foram brigadas de milhdes de Akaki Akakievitch que, mon- tados em tanqucs fantammas a cuspir todos os fogos do i are rancaram para o Oeste. A carta do menino Vanka chegou ao seu destino ! O mujique enorme de Schedrin despertou do sono de sd culos ¢ niio cstremeces quando viu Suas Exceléncias — mas Suas Exceléncias estremeceram, ¢ com téda razio. Os sete enforcados de Andreicy, saudam, pendurados no ar, um dia nascente. As gran- des barbas ao vento, os pés nus, Tolstoi pisa o chio de um novo caminho. O mais puro orvalho da madrugada vai limpando as manchas de sangue; e, depois dos bombardcios, enquanto os homens reconstrocm as casas ¢ a8 grandes fabricas, sentimos que renasce em siléneio, timida e imortal, a cerejeira de Olecha. RUBEM BRAGA Prefacio constituinda © primeira ‘contos ¢ novelas da Rissa - 4 de ratuaat esctitor, so 0% seus melhores s do conto russo ¢ em que se diferencia tem 0 fantastcg cerebral das historias orf So técnlen das de Frangaj nem a ‘¢ cscandinayas; nem a sormbria ‘gio dos povos da Europa Central: ‘do conto espanol ¢ italiano; americana; nem o carater our” e oO ido de Assis, predominantes ainda na eH ; ‘i ‘de historias curtas. g Sarai aves ‘ésses tragos assim distribuidos esquemiticamente ‘marcar 0 contérno mais saliente de cada uma dessas intone do conto ¢ da novela. Contrariando ésse e+ guema, a América do Norte di um Poe ¢ um Hawthorne; na Franga de Maupassant se encontra também um Gerard de Nerval ¢ um No- dier, ¢, assim por diante} a pass ‘de qualquer literanira sc/aflema pela variedade de formas de =F Que trouxe entio de ori alo escrtor Fusso 30. contp © & novela, se nestes nijo predomina nenhuma das caracteristicas defini- O leitor que se incumba de com os prépeios dados que aqui Ihe relembramos. Em téda Ii Stal lconscisaite dos povos do mesmo nivel cultural, ‘ha um subsolo humano comum peel seta metic erences a vitalicante Tinica ¢ geogrificamente a Rissia é uma area das mais ricas © extensas do Universo. Desa fisica ¢ social nasceu tamanha variedade de formas de viver e de sentir que, sem a cons 9 ciéncia politica © a vontade construtiva dos Sovictes, chegariam 4 confusio © ao amorfismo anarquico, com todo o séquito de supersti- GBes © o aventurisma dos povos desorganizados. Por ai se pode bem aferit 0 palpitante matcrial humano de que se aproveitaram os exer}. tores russos de antes da Reyolugio. A alma do povo, difusa © sofre. dora, fivida, incocrente ¢ nostalgiea — afluiu 4 pena déles. E na | século passado, a literatura dos outros paises se enriquecera subita- mente A revelacko désse mundo virgem. Comecara entio a crescer a | influéncia literaria da Russia em outros povos, inclusive no nosso, A arte de contar ¢ um dom do pove eslave, — dom que the teria vindo da Asia. Q homem russe, ao mesnto tempo que se ex: pande muito ¢ ficilmente, € capaz do mais demorado mergulho em : si mesmo. Rapidamente passa do estado de alegria para o de angistia 7 niilista, da aventura para o éxtase vago. Parece viver mais intensa- mente quando conversa € se comunica: quando conta... \ Ha qualquer coisa de brasileiro nessa incapacidade de guare dar-se, nessa vontade de fazer confissies. Pelo fato de serem impre- vistas as suas reacties, niio se deve taxar de incocrentes certos tipos da ficg&o literarin que poem em jégo tio espantosa mobilidade dos mais opostos estados de alma. Sao as flutuagoes reais do ser profundo que se desnuda com tila a riqueza © variedade contraditoria dos senti- mentor. fa vida. Esse realismo romintico foge assim & concepsio clissica da arte. Nem a arquitetura, nem a ordem légica do espirito mediter- rineo. As coltas e aspectos imediatos do real adquirem certa fluide= © ec dilatam até as fronteiras do mistério, produzindo a imagem total de uma visio; por outro lado, a indeterminado do sonho nunca se \ destiga da terra e do homem, A revelagio do mundo ¢ dada pelas imagens ¢ pela contemplagao, nunca por conceitos. Pela experiéncia i vivida, muito mais que pela abstragio. Aparentemente 6 conto russo nlo tem construgio, como o romance inglés; basta ler os de Tehekhov, A principio, nada mais vé o Ieitor do que uma justaposigio de pequenos fatos, notagies instantineas, — tal como numa tela impressionists. Quando menos espera, surpreende-se em méio de um ambiente densamente criado; as personagens aparccem saturadas dessa atmosfera © seus Restos ¢ movimentos se poem em fungio dela, como s¢ a pro- Tongassem . A pasagem do sonho para a realidade, como a da para a natureza, se opera de mancira tio im tivel qui penis 0 esldrco ened wen cide ipelalescrttorsi NESE era aaa costumes ¢ uma estranha galeria de tipos que esa literatura nos teas; € também a sensaczo lirica da vida, a que se jontam © grotesco, © triste € 0 trigico quotidianos. No plano de fundo, — sempre a pal: sagem intimamente associada 4 fisionomia das coisas © ao drama das criaturas. 10 Scanned by GamScanner A unidade do conto russo é mais de carater interior © afetivo do que propriamente formal. Niio que seus contistas se despreocupem da forma. Transmudado em construgia literdrla, 0 cimento humano pode tomar a forma geométrica das vigas, sem perder o calor © a espontancidade da vida. Veja-se 0 caso de Puchkin, : Os esctitores eslavos sabem, como os espanhdls, que a forea da linguagem com os seus ritmos e a sua tessitura depende da malor ou menor carga de poesia ¢ experiéncia humana que 6 chamada a exprimir ¢ suscitar. Poucas linhas, uma simples frase, 4s vezes uma unica palavra — c citnos a ouvir um gemido, uma imprecacao, um harulho de igua ou de vento na estepe. : E natural que todo © sabor de uma lingua nao possa ser intel. ramente restituido por uma tradugio em que muitos de seus matizes se evaporam. Tanto mais quanto a lingua rusia é de dificil apren- dizagem ¢ 0 acesso 4 sua literatura s se torna possivel pelas pomtes francesas, inglesas ou castelhanas, das quais se serviu a quase totall- dade dos tradutores nesta antologia, 3 Em duas fontes principais, que explicam a sua fOrca, se alle menta essa literatura: o povo e a terra. O sofrimento, a misérii opressio, as superstigdes, a hicrarquia social, 0 misticismo relij formam aqui o mals rico fermento humano. Do outro lado, a gleba com as suas extensies desérticas, onde a vida do mujique primario oferecia um contraste com a da nobreza ocidentalizada © corrom| sentido do social é 0 trago dominante em t6da essa litera- tura, tanto a anterior como a posterior 4 revolugao proletiria. Me- Ihorar as candigoes de vida ¢ 0 destino do homem, apontarlhe os caminhos da salvacio, clevi-lo do estado inferior de escravidao animal para o de dignidade civil de libertagio cultural — vinha senda a preocupasao de scus escritores, até mesmo os de feitio mai introspective © individualista. Nalguns, essa preocupagio se mani. festa sob a forma de ironia velada ou de sitira aos costumes (Gogol, Tehekhov); noutros, o ardente amor 4 humanidade descamba num profetismo impreciso de iluminado (Dostoievski, Tolstoi). Em todos, sempre 0 desejo de justica e de fraternidade, o dom de simpatia hu- mana, surgidos da propria vida miscrayel e do sofrimento surdo do povo. A literarura eslava tinha assim ésse cardter universal que iria aproximi-la das outras. Rica de seiva humana, ela transbordou os seus limites na- sionais ¢ se dirigiu ao mundo. Dostoievski o percebera e proclamara no discurso de inauguracio do monumento de Puchkin em Moscou: “A missio do homem russo é incontestivelmente européia ¢ mun- dial. Ser c tornar-se um verdadciro russo talvez signifique, em ultima amélise, sere tornar-se irmio de todos os homens.!” Sem Esse cariiter messiinico, mas com o mesmo sentido unie versalista, féz-se € tornou-se vitoriosa naquele pais a’ reyoliigio pro- letaria. Naturalmente, a posigio do espirito, diante da nova ordem nascida da subvervao da antiga, teve que se deslocar e deslocar-se Scanned by CamScanner para se por a servico daquela. Os escritores, porém, na sua malaria, cram ainda individualistas, tributicios do pasado. © rigor ¢ as intransigencias da diregio politica responsivel pela tarefa de consolidar uma revolugio apenas triunfante, das for- fas que a procuravam sabotar, feriram os artistas como uma ameagy ‘sua Iiberdade de criagio. Desaparecia a contradicio entre 0 indi- viduo co seu meio social, ou, pelo menos, criadas as condigdes nova ¢ revolucionirias para que essa contradicio desaparecesse, — Perde- farm os antigos esctitores a fonte principal de auas inspiragies. Av arte burguesa precisava da dor e do vicio como a sua melhor ma- téria prima. Desde que o pove, até entio sofredor ¢ explorada, co megava a participar diretamente na sua propria reconstrugdo, deixou de oferecer aoa artistas e escritores o lado de sombra que Thes con+ vinha agora os da nova era Inau- gurada. Artistas © poctas que weram da noite czarista acordaram espantados ao amanhccer da Uniio Soviética. Mas a sociedade se fransformou mais depressa que os homens. A maioria dos cserl- tores que saudaram o advento da Revolucdo tracia ainda as tans € © clima da burguesia. Sua sensibilidade ia chocar-se com a violenta vontade socialista, que predominar a consciéncia politica. Se as perspectivas da revolucio vitoriosa pareciam claras aos seus chefes € temevindas ao profetarindo oprimida, aos escritores © artistas elas te apresentavam sob luzes diferentes. Muitos dos que a preeonizaram cm suas cbras ¢ atitudes, acustaram-se diante da realidade que ia modificar os fundamentos da comunhiio social ¢ do proprio indi. viduo, Os temas ¢ personagens seriam Era preciso evitar que a atividade déles degenerasse em agao contrarevoluctoniria, O aforismo de "a_transformacio de nds mesmos coincide com a das circunstincins”, nfo podia aplicarsse psteleaiet te a situagio, tio depressa haviam mudado as ‘cireuns- tincias. ‘Avidos de sentir e de dar expressio aos seus sentimentos, 04 artistas ¢ poetas da velha Russia nao sabiam como se comportar na nova repablica proletirla. Ficilmente se compreende o drama espl- fHtual por que passaram. Drama do individuo em face de sua propria solidio. Enquanto muitos hesitavam, outros mais novos ¢ arrojados tomavam a dianteira ¢, organizados em grupos ¢ Ses literd- fias, procuravam impor uma arte que traduzisse as aspiracGes ¢ 2 alma do proletariado no poder. Surglram manifestos e discussSes. Os extremistas — Maiakovski 4 frente — pediam o rompimento completo com a tradic¢iio da arte burgucsa ¢ esperavam que um es tilo novo nascese da ideologia revolucionaria. Os moderados — aconselhs do que a cultura burguesa trouxera de roelh gee Seo e Riomanet arth curiqueciasen ttn lpens ta epectaeeny Gritavam alguns contra a literatura de propaganda, contra a arte dirigida, Por outro lado, a epopéla da construgao socialista © 1z os diversos aspectos dessa batalha gigantesca deviam também inte ressar os escritores e artistas, Além disso, era necessario liquidar os tesiduos da literatura furguesa para que esta nao Viesse a transfor: marse num novo fermento contra-revolucionario. O partido dirl gente o compreendera, ¢, para que a sua acdo politica nia fdse comprometida, apolou francamente a literatura c os escritores pro Jethrios. Criticos e ensaistas, animados agora pela atitude dos lideres politicos, procuravam bases teéricas que diferencassem_n arte bur- guesa da prolctaria. Tanto dentro como fora da Uniio Soviética, realizaram-se congressos em que s¢ debatia o problema da fungio da arte ¢ do escritor em face da Revolucio. Nesses debates intervie- ram com oportunas consideragies os escritores revolucionarios de outros paises. De tudo resultou uma concepgio mais humana e livre de criagio artistica diante e em fungio mesma da nova ordem social. Por sua vez, jA estava consolidada a revolugao dos operarios © cam- poneses. Os hersis da epopéia de outubro passaram a construtores da sociedade socialista. Novas formas de viver, menos rigidas agora, nasciam de suas maos. Em abril de 1932, 0 proprio partido, pelo seu Comité Cen- tral, reconhecendo que “os quadros das associagées litcrarias © artie ticas proletirias cxistentes se tornaram muito estreitos e dificultam 9 desenvolvimento da criaco artistica’ —resolveu abolir a ditadura Titerria ¢ condenar a politica de ihtransigéncia nésse terreno. Su- primiu a Associagio dos Escritores Proletirios © aconselhou os escri- tores de varios grupos a que se unissem para o objetivo comum da edificagio socialista, Finalmente, o Cangresso dos Escritores Sovié= ticos, em setembro de 1934, adotow a formula do romancista Sobolev: ‘0 faverno ¢ o partido concederam aos escritores todos os direitos, salvo o de escrever mal’. Salvo o de escrever mal... Isso mostra que sem o rigor da forma ¢ o respeito is leis da criacio literdria, qualquer produgio, por i if ia que seja de intengGes, nfo ter’ direito a existir como obra de arte. Em conseqiéneia, as produgdes melhoraram de qualidade Talentos novos, provindos de classes hi pouco analfabetas ¢ oprimi- das, revelaram a sua vocacio. Muitos déles figuram aqui nesta Anto- logia, no melo dos grandes mesires de outrora. Se em sua arte nio se encontram ainda certos elementos de duragio da arte burguesa ultrapasiada, nela é muito forte o scntido cinematografico do instante, a que se referia Malraux, — instantes vividos pela infincia da Uniiio Soviética. ANNIBAL M. MACHADO 13 Scanned by CamScanner Notas _biograficas KIN, Alexandre Sergulevitch (1799-1837) Natural de Moscow, de orizem nobre. Folla figura mais importante do romaniismo rusyo. Sob a iafluénela de aire © Tyron, compés uma série de poemas algo cinicot, que o levaram a0 no € na Criméia. Tinham os seus primeiros ensalos podticos uma a de tonalidade sfrancerada. Fol no desttrro que tere oportue at contacto com Dyton, caja personalidade vigorosa haveria de Imprenionilo fandamente. O marco ialclal de sua carreira fol um pocma herol- cfmien, Ruili ¢ Ludmila (1820), sibre asunto nacional, Dotado de extraordi- niria imapinacio lirica e de uma Intelipincia viva, Puchkin passou depolt a mur- Preender a alma russa, escrevendo versor que, pela sua belesa, harmonia ¢ frescor lirico, iriam imortalirdlo, De sua obra poética — O Pri A fonte de DahichiSerah ete, — destaca-re, como verdadeira obraprima, 0 poenta Fugénio Onicruine (1830), em cuja eaborsgio Pechkin trabalhou dex anos, a fim de tornito perfeita.'No drama Boris Godunow (1825) pis em foco tipos_e paitazens da Riwla, dentro de uma técnica que lembra # dos dea: mas de Shakespeare. Pablicou’ alguns volumes de contos e novelas, entre i aproveitamento de um episédio da jolts de Pugachov. O conto “A Dama de Espada”, incluido na presente antolosia, & conaiderada pelos criticos um primar da flegdo ruse de todos es tempos, pela finura de sua fantasia, pela preciiio paicoldzica, pelo color rido da pintura do meio ambiente © pelo acabamento artistic. Naturesa at dente © impetuora, Pachkin morreu aos 38 anos, quando se batin em duela enm um oficial emigrado francés. GOGOL, Nicolau (1809-1852) Natural da Ucrinia. Transportando-se para Petersbuzgo, comecou a escrever cantor, que alcancaram surpreendente éxito, pela sua tonalidade levemente sentimental ¢ romintica. Depols, Gogol estudow alguna episddion da época das lutas dos couacos contra 4 Polénla dos meados do seul XVIL © realizou entio um pequeno romance que the daria grande renome — Taras Dulba (1834). £ esta, na realidade, uma obra-prima clinica da prowa rama, Dai ex dianie Gogol procerow transpor para a mua ficcio as re vida social de seu tempo. Senso de anilise, humor, veia satirica, agudeza Jépica, nada disso the faltava, © a sua obra eitava fadada a tornarse - ramente singular no plano das literatura rua, Em 1836 escreveu uma comédla célebre — O Revisor, sitira tercivel aot costumes da época © as normas tradicio- fais da administragio crarista, Gogol viajou pela Europ: publicow a tua grande obra, que ¢ As Almas Mortar Wesenhada meticulosamente, com intencio de critica social. © nome dado aor servo rusas, pelox quais o proprietirle tina tributo sequnda censos antigos que nio levavam em conta ox falec peover- tando uma rara anedota que the fol concada, alist, por Puchkin, Gogol criou uma sitic de tipos © descreves o ambiente rural rumo. Dé seus conton, 0 é tum dos methores, dos mais sigaificativos de sua arte Inimitivel, "Todos nos det sendemos de O Capote”, disse uma ves Dostoievakl. Tarass Bulba e As Almay Mortas ji foram editador no Brasil. 15 Scanned by CamScanner LERMONTOV, Michail Gurevitch (1814-1841) Outra expremii romantisme russ. Mults moro, ligow-ea latimamense a Puchi Hocaciae por Drroa. OGclal de um repimenta de Guards, fol deportada para o Chea: virrade da maneira violenta « lnconve- ie arecatdetaren: wan poset morte de Puchiin. Tendo desa- Geelo, coma a ecu mestre, allis—, nie sua iStca erladora © do seu extracrdt am poema simbélica de spreclivel en vergadura, O Demdaio (1838), om que a porta canta « satureta da Gebrria, Neutros pocmas ¢ not conto que escreveu revelou sempre um temperamenco melancilico, revolisda contra a rida 0 melo social, bastante caracteristien de waa feigio de prosador o conta “O Fatallata”, por isso mesmo tracido pare as paginas déste volume. TURGUENIEY, Ivan Serguievitch (1816-1883) Rico, de origem nobre, T alev Inicioa a sua carreira Hterhria com uma sirle de conto, em que se refletla nitidamente a vide rural da Rimls da época, Ox camponesce que [et aparece fem nat suse -piginas de flecio foram retrsrados com viva simpatle, ressaltadoe & wus miséria, oF teus sentimentor generoeai, a sua CR de reslgnagio. ‘As mutoridades viram nat Narratives de wet Cacader Intenso politica, ¢ 0 autor fol preso ¢ condenada so caillo em sua propriedade campestre durante dols anos. Tm 1855 vision para Curopa, fixando revidéncs ma Alemanha ¢ depois na Franga, onde morreu. A influincia europdia frase sentir ma ua prose. De tal naturess crams as qualidades artisticas de seu evtile que @ critica @ comiagrou como © Flaubert da Riis, Esa virloa doa seus romances Turgueniey compis, com Frande finura psicolégica, um mocaico da vida social de sew pelt, particularmente 4 macion aristocriticos, Gregus du suas paginas de Ficgko, univermlizou-se a ex peessio miilista. Turgoenier Jevava para a literatura wm tranquilo sencimento pesimista. Devethe @ romance ruso algumas de suas paginas mais perfeltas ¢ alguna des erus tipos mals vivos, 1 No Brasil jh foram divulgades, em portugal, as seguloses obras de Tar- sucler: Radine, Ninho dle Nebres, Pais ¢ Filhos © Fumaga, DOSTOIEVSKL, Fedor Mikhallovitch (1821-1881) De origem humilde, Dow tolevshi troaxe do berge obscura as marcas do génlo ea sina do desgracndo. Fol o mais profundamente remo dos romancistas rumor, tende sido universal camo senhem outra. © homens, fol um Infeliz, que o asar, a misivia « = cpl: lepsia perseguiram de mancirs extremamente crucl. Estreou naz letras com oma novela — Os Pobres Diabos (1846) ==, em que deu vida a uma sirie de tipos criador pela wun Inaginaio extrsondinisla, todos recortados da mama dos bo- milder, do pobres, dos desajucades. Acusado de smpatias revolucionirias, fol candemado b morte em 1849, Agraciado, fol enviads para » Sibérla, onde vivea quatro anos « onde colherla o materia! humana para uma de suas malores obras — RecordagSe: da Casa dos Morte. Del em diante Dovtolevekl Iria der as le tras universais piginas de génio, de uma Intensldade peleokigha, de ema vite Udade dramitics, da uma autenticidade hamana taramente atingidas por qual- quer extro excritor, O mondo que él criou é wm munde sombsie ¢ petitice: a hlstSelas, sempre amarge e¢ terrivelsy ov homens, une Infelises, persequidos pela fome, pelo crime, pelo viclo, pela doenga ou pela loucera. Dew-nos uma representagio da inferna = a Inferno plantado no chio da Rimla. Os sons li ares sie malcoreportos, difusos, escritos num extils nada astutico. Mas a ver dade que eilee transparcee & tado-poderoes. ‘A obra de Destolerskd J fol quase toda traduida para o portegude Lamgada em edicées porrugueses @ braiileirar, Cltamer, entre extae dldmas, ot seulates: Os Pobres Diabor, Recardacie: da Casa dos Mortos, Humithator e 9 ~ ‘Ofendider, Ot Irmo: Karemazer, © Ldlota, O1 poucnos, Crime ¢ Contize, Did- | rig de Um Escritar, © Eterm Marida, ers. ! 16 Scanned by GamScanner © tonto inserto nesta coletines fol retirado do Didrie de Um Esctior constiral, segundo 4 erica, um dos mtlhores trabsihos de Dostolewski mum pt nero a que fle pouco s dediou. SCHEDRIN, Nicolai (1826-1889) Preudimimo we Michail T. Saldkov. Fun- clonirio do govteno, escreves uma série de conto « novelas em que expuahs = | siuagie da burocracis carivta ¢ desenhare & Gislanomia da gente do wn melo. Tomaram or seus tribalhoe um cariter de aresagio, em tom'veermente ¢ de mar naira satirica, de tal sorte que obtiveram funda reperensaio « foram imitsdos por } outros autores. Os aristocratas e ot camponeses, as tradicées feudals ¢ 08 coum rics do povo esta nas pizinas de fiegio de Schedrin, que ¢ conslderado © mai rue dos excritores unos, pela felgsa autenticaments regionalita de mus obra. Fol um flzador de tizot, de rara fbeya, As suas memérlas — Movcoviias dot tem fos pretéritos — representam um quadra vieo ds sociedad ruma de seu tempo. Tacreveu, slim de grande nimero de conto, as sefulntes novelas! 1 Semhores Golavler, Ar Meiquinhesss da Vida, Moderadas ¢ Saficentes, A Hisdévia do Paro Tonto, etc, No Beall alnds nto fol traduside nenhem Uivro de Schedrin, Ox dols contos Incluidon peste antolopia rerelam a técnica ¢ 0 expirito da Schedrin. o* tracos patiéticos ¢, tambéas, o¢ toques de sarcasma que so maito da sua arte de narrar e de pintar. TOLSTOL, Leio Nikotaivitch (1828-1910) A obra e = vida de Tolitol ve com- pletam para nos dar a medida do reu ginio. De origem nober, canew a Univer- sidade de Kasen. Arrulnado, entrou para o exircite, pastoa alpuns anos ma guar: tide do Chocao © participou da defesa de Sebastopol. Nas horat de larer, eo creveu catio trés volumes de memérias — Infdaria, Adolercincia © Mocidale —. que o tornariam loro eflebre. Abandonande s carreira das armat, Tofstoi frequentou a weledads de Peterburro ¢ Mosoa « vitjou pela Europa. De re | creo & Tunsla, esfarado da aglagio mundane, recofheuse & sua propeledade, } a Tasala Poliana, onde, levado por uma interprets pessoal dos Evangelbor, penou a vivcr uma vila de spéstolo) vida humilde, em contacto com « terre. Fie A sua dourrina, prepou a purer de comumes, o amor catre oe homens, » | | molesiou. Quis entregar pare de mus propriedade son camponeses da reglic, no que fol obuado pela copita, Nam dis de inverne fuga do lar e fol morrer numa da estrada de ferro. Em larasis Pollena excreveu Tolatol oe ems gran- dea Tivrot, que hoje conetituem patrimémio da Iiteramara universal, coma Guerra © Pay, And Kavenina ¢ Resmurreigin. © govéene sevidtico tramiormoa Larnala Poliena em Museu Tolatol, onda ve calms 2 meméria de ttniw. Quando ov alemies invadirem a Rimsia, dedruiram o Museu, Logo que o Esércita Ver- malho reconquiston a dren euaitada pelas hordas nasletes, foram determinadas Providincias pare a feconetituicio da Lasnala Poliama. ‘A obra de Tolnol, wedusida para o porcepals, tem ude sucemivas edi es brasileira. ‘A pequena novela eecothida neste volume—=A Morte de Ivan IMliich — € uma satéatica obreprima da flecio rua. LESKOV, Nikolai Semyonovitch (1831-1895). Naseew em Orel. Educade num ambiente tradicionalltra, tornowse reaclonaria © cacreveu dola romances de ten incia antirerolucloniris — Sem Salda (1804) ¢ Aud as Ohimas Conrequincias (1870), que'provoveres gtasde reacko. Lesher fol exchsida dor melon Hie | faries, ¢ durante 2 vida totcrs cow difmado, « ponto de os de | aida recoshecide © valor de suse obras. Leshov conseculu ose em edeal- } niscracie eclealhstica. Em 1872 publicow outa romance — ‘oleae 0 as caluelro-viajante de uma firma ingles, viajando durante dez ance por thda a 17 Scanned by GamScanner Rémia. Consegain anim um coaheciments profundo dos comumes ¢ da lingua. fem populares, com que iris enriquecer consderavelmente a sua obra, Inimeros contos de Loker cto poveador de tipot do porn: gente da clero oficlal, sect. Flos, comerciantes, artesiot, servos. Um ios seus contos malt famowos ¢ “A Lady Macbeth da Districo de Uzemsk", do qual é tirado o libreto de dpera de Show takoviich. Eo wee methar romance & na opiniio da critica sutorisads, o Uma Familia Decadente — Crémica dor Principes Protounow (1874), ane conutitol tum quadro vivo da sristocracia raral rosa em liquidacdo. O contista, entretanto, wupera o romancista. Foi um artista da conto, apreciado, robretado, pela substin. cla foldirica de wa Uterstura. Leshoy morrea em Petersburge. USPENSKL Nicolai (1837-1889). Antes de ver escritor, fol tum simples mestre- exola, de todestas condicser. Premido pela necesaidade, aproveitow as stint ten- déncias liseririat e pasou a escrever pequenas narrativas, pintande sambientes ‘humilies « figures do pore. Era dotads de algum senso de humor © sera Bre Palcoliglea, foram mal interpretados pela critica de sua época. O conto In- Ueide neva tmolorie & conuletada dow mals caracteristicon de mia maneira de narrar @ ie finat tipo, Hd mito do prépelo ‘Uspenakl nas pitinar de O Mestre KOROLENKO, Viadimie Glaktlonovitch (1853-1921) Nascea ma Pequena Réaeie. Tramsporou pars a eta Urerarura o profunde sentimenrto humanitiria que o caracterizou na vida social, Homem bom, de natutets aletive © tena, Ateata 04 apelos de sua conciéneia generous, Korolenko sempre adrogou 4 causa des pobres © des desprotezides da torte, protestou sempre contra as ine jasticas, on erros ¢ a1 riolagées aon direitos do bomem, sempre sovorrea oF fie ceuitadoe ¢ amparoa oe humildes, agindo ou excrevendo. Ease a lidade virorosa que traneparcce em sua preva, que é allée, de um iro mestre. Korolenks tinha semsa da narrative. Juntese a ino 0 lowiate do lirlmo, o wheco da frase musicale a belesa da forma. A Hisdria da Mew Contempordnco © O Minico Cego so obras que revelam o méthor das suas poulbilidades de exctitor, © tkimo, entlo, tem qualquer cola de uma eletia pottica. ty, ght Shar de Kerolenke forem reunkise em 9 volumes ¢ slo multo lidas na -Hs. 8. GARCHIN, Veewoled (1855-1888). Cenquanto nic baja eecrito mals de dee cons, Garchin é comsdderado um mestre da pros roms. Alremas de suas pie gina: wa realmente modelares, tendo cauada em sua época profunda reper ‘cussio, como ¢ o cao de uma pequena norela intinitada Nota: do Valgar Ivonor, em que foram fizadas cenas da guerra reno-turca. Hi um fund dramitleo em wane narratives. A natureta melancélica ¢ doentis de Garchin, que allis mores loues sot 3} anos, estampamse ma obra de redurido porve ¢ extraotdiniria slgni- ficacio que tle legou A literarura runs. ‘TCHEKHDV, Anton (1860-1904) Contleta por exceléncia, Tehekhov carscterizon- at pelo equilibrio ¢ harmonla do extile, pela penetragla pricolégica, pela freacor de Imiginagio. Miniaturisia primero, compin uma série inumerivel de flagrentes da rida rama, com um coloride levements irbalco. “Arata Incomparhvel", woeten o chameva Tolstl, reconhecendo-the o primor da técaica. Tehekhor aproveitsy: pe aevunina mals estranhos ¢ ov tipos mals curiows, em sltuaden eiprcisit, dentro de ema atmoafers a que no [alive certa tonalidade lirics e alpams vubstincs dremitica. Discipala de Maupamant, adotou e aconselhod soy excritores mals ores, comes econ de tebatinss cattale Lessin com o nstile, a sobriedade © 4 neterslidade, © dedém pelo supériluo, Palavras Initels, pelea exprer des rasan, pelas anotacSes tentimencals. de maléstia incurivel, que Jevaria ainda moco so thmale, Tehekhov abslahose de lever h van rte 0 amar. ie ous vida" smc mderoey shemale wm ery do stort Apmuat dimo, pequena ¢ & parte wus cbra at agora waduide pare o portucués. Ani alicese tenham alle cscathdos pars sata antclels claco conlon de 18 \ Scanned by GamScanner SOLOGUB, Fédor (1863-1927) Prradinime de Tédor Kusmkch Teteraihoy, Poets ¢ escritor, que exerceu certa Ialluéacia em sua Epocs. Sébrio, lmples, pre- cho, Sologub excrered pisinas de slngular substincls, com um toque Pestoal ia discutivel, a pros bem melhor que a pores. Falra ace seus pormas © que havia sempre em sua Prova; certo mistésia, o tom abserato, a felglo patética. tum narrador seraente, que sabla apreender vx problemas pulcobigicos com, fie @ peneiracio. Legow.a literatura rasan alrune tipos frmiainos que = critica se toricada os de Turguenicy. Publicow e+ seguintes obrasi poesia —~ 1 {1904}, © Clrenla am Chamar (1908), O+ Auras de Au Sembrat (1896), Os Sonkor Penores (1896), O MO Deminia Mesquinho (1905), A Lenda Criada, Pacmas (1896), Po. Péolas (1913); Pros Apuilhsa da Mantz (1904 2h. C19Td). GONKL, Maxima (1868-1936). Paeudboime de Aleari Masimovitch Pechkov- Nascen ‘em Nihal Novgerad. Fhe de gente pobre, (erkl conhecew a miseeia, Paro fome, eaperimentow vartos oficior, Fol uma vida, sua, tica de erperiie Tie de sbseincia humana. Depots de haver escrito versot, Gorkl panos, & escrever contos © pequenat ide feicia realists, vavados num estilo timples tte “Annus aerrattar obtvecam exttaonlinkrla popularidade, @ loge Gorkd Adquiria renome internacional. Fol te a reslidade o fundador ds Ierarura pro” Terariay e saa ficgio € pavoada de trabalhadores, devemorezadon, wapabundos, pe quenos comerciantes, mies de famill que iriam tonite autor Predileto da era savidtica. Preparou durante slguns sida preeo, por lea mesmo, viriae veses. Elelto ra a Acodemia Ruma, alo wie Nomct pose ue sun cadeirat fol anulada a eleigke, vob o prevents de. que Betti 'Seze fake oa eras pipeis era ordem™. Em vieta dino, Tchekhor « Koro: Janke alastaramse daquela institulclo. Depa de Revolugio, serviu conclentcmente i causa vovidticn, wth oe Sld- mos dias ds tea existéncla. Tobibe conferida a Ordrm de Leniow. Entre ov seas Titec mals Lamnores, cita-se @ romance A Mie. Ov de malor valor lseriria, pri fobiogrifica, Minka Infancia em primeira luxar- Ima do pave ruwo, poem ser considerados mo- tempo regional e universal. Tradutidos pare ladmeror Micman forum Ides com igual Interéwe oo mundo intelro. Na U. R. 3. S-, hole culranee a meméria de Gorkl com verdadelra untio. QO geverme roviitico pebll- fou as suas Obras Campictar, tendo lancado edigher sucemives, que ji slcancam tallhGes de exemplares. Forum tredurides para o porrumnés, entre outras, as seguintes obras: A Mae, A Coafissis, Minka Infancia, Genhands mew Ble, Or Varobundot, Os De- Fencrodon, Primeire Amor, Na Prinée, A vila de Kilm Samgin © © [uptie. BUNIN, Tran Alexeevitch (1870-1944). Nesey em Voronesh. Tendo estrande Tania dedicouse so conto e excreveu, no pinero, alcumas Frio, msedida, preciso, Dunin revelou-se mm ar + Em sus obra ‘apreseniam-re, como obserron wm © desenvolvimento tanqtilo + onfenudo da narrs Primorces, Benin o tive. Evailist soa ees Unwanazi um pow cibloo? CGT ry ier tipener tr py iret rect primeira ves conleride enthe @ um sscritor ruc. Danin viveu mulios ance entre owtray, as so Selucamte (1913), jo parte de um grupo ceacionisla, de esiladon: A (1919), O Vale Aride (1912), Fedo 4), O Caratheive de Sdo Francisco (19: A Fonte dos Dias (1933: Banin je foram trad 19 conto “O Cavalheizo de Sie Franchco", incluido neva antologia, 4 ems dé runs Pisin: male brithantes, eemdo de notar que a vas versio Inglesa so deve a Hi, 1 Lawrence. ANDREIEV, Leonid Nikslacvitch (1871-1919). Nase - Estreou nas pia publicacie de alguna contos realistas, i feigio debs ae a Ia"W905. ‘Depot pessoa a euteves trabalhon de para ian ss tems dy latelenc geeal ws. dpecar 5 Brcokaciay co gxscacics dou revalecloniciow, 1 relacSes entre os sexes. Com ama capacidade invenche extraondiniria, mas de tendéncla mbrbida, He sabia wurpretnder ov ralticos ¢ focalizar os problemas nos seus aspectos humanos. Pesalmists, Ai criou tia humanidade amarga ¢ platow da vide sm guadra Inalterivelmente tragica. Ila piginas 20. ghee de peadelos. Com um estilo vive Shoes ‘on cineae ra seas fie ge oe — ‘ret, A sew feepeito: “Ele quer aterrorizar-me, porém et Bio medo.” tice Vindinir Pormer, que e chamon “matemitico do horrer", acentua nko Baver na obra de Andreey o normal, o quotidianc, o comum ds vide de cada diat 9 « excecior ob a1 salidncias; ob on desajumamentor. Dar suas novelas, fol Os Sete Enforcados a que mals impreulonou at hoje—e é ela que figura na presente a No fim da vida, Andreev tornouse reaciomirio © combatra o reeime sorlitica, mrrartada pela ‘seu espitito derrodata ¢ pela soa meatalldade micbida. Andreiey escrereut O Ablima (1902), Na Névoa (1902), O Prasamente £1903). O Sere Vermethe (190%), Sovsa (1907), Judas Learotes (1907), Qe Sete, Eaforcadar (1908), Sachhe Feaulien (1911), Didrle de Setanat, Come finder de um Pequeso Homem Durante Grundes Dias — novela: Os dias de iss, ‘Anfina (1910), Ekaterina Ivenona (1912), € Profener teatrals) ¢ A Vida do Homem (1907), Andtema, Um Diem, Ele fol cebofeteaien A Vea don Cise cosslon” KUPRIN, Aletandre Ivanovich (1870-1935). Nasera om Narwvchat, alle. da Fetes te Rome Degete de ee ide coeadens peader, conser de chee, sede, jerualecn, militar, macinico ¢ amrdoome, Kupela fevse excrtor « eatrros ‘mancira reidosa, com wena novelh intitalada Meloque C1896). A ral on de eecen Ducio, em 1903, tonowo célabre. Kurrin de molde mance A Fous tragoa em vanto panorams de prowituliio na, Riiais, coon grande Taro de cndcian Durance sas en shawena na Eeiraeh aati fadsarsc s Revolugho, Rove, sanifeonae Gonttitla wo tepime iniiuide. | Deb zando @ seu paity pauou a viver em Helsinglors, Paris ¢ ‘Avray, onde ex crevea ox enas Glimas obras, Em 1937 voltou A pirls, para morrer mo BDO segulsee, ema Leningrad. ‘A Foua ¢ 0 Duelo ji foram tradusi¢or para a nossa idioma, ARTZYBACHEY, Mikhall Pesrovieh (1878-1927). Naieu em Kharkov. Estodou fn Academia Imperial de Dela Artes, de Petenberts. Tomouss bastane conor cdo na U, R. 5. 5. © 8a Eutope later com reblicagia da wu romance $3 sine (1907), Levado por wuss conviccSes de anarquista, He criow, me [eure na um sove D. Juan, animal Ure « sem mene pelo de vi od enolema @ valdade, Um tips esrmante de selvecesa, Ro sea — imagem 3 Em 1912 enteve prev durante alguns mess. Nio do ssevimento rere 20 Scatined by GamScanner vrérno soviétice. Matou-c a tuberculose. Artrybacher cecreveu, entre outres, os seguintes obrait [ven Lande (1915) — justamenre 0 Invero de Sanines ttm skraista, a quem rrrwenaram oe prases hedonisticon —, () Milonérie. (1 5). Contos da Rerolugde (1917) ¢ O Sefeagem (1924) — fieclos # Guerra (1! Cheme (1917), A Lei do Seleagem (1923), Areantes ¢ Inimaigar (1927) — em tion. ZAMIATIN, Eugueal Iranovitch (1884-1937). Naseew em Tambow. Fol cope shalro, prafesior de construcha naval da Escola [olistcnica de Perrograde, Cone: trula um dot malorey quebra-gelo sovidticos, © “Lenine™. Estreow nae letras em 1916, com um Urro de contos, Iniitulado Hltérias de Distrite, a que se sexele um outro — Os Inwuleres (1932) —, critica mordat sos coutumen ing! Fito Inquleta ¢ Inconformista, merecea, por igual, a ceneura dad creriataa «, day soviétican, Escreveu uma novela— Nos (1924) —, viako satiriea da sob o regime socialista de cua pitria no future, a qual teve 2 sua circalacio interditada na Tisia. Em vista disso, delaou a eeu pals ¢ fol river em Parl. Téz também uma peca de tratro bastante ovigieal — A Poles. Escri- tor, sofres a inflaéneia direta de Remitov. Era, entretanto, uma perronalidade sora De seu estils, dit um crite que d construido como uma verdadeien maquina, Sua narrative é fria — uma engrenagem de pecas hibilmente dispouta Ele evitava o supérilec, utiliiando ums linguagem eliptica, que dave A sua proses algo da tenlca timematogrifica, Um leve tom iednico alla-re & felcko ripulamente matemidca de wa prose. ‘SEIFULINA, Lidia Nikolaerna (1869- }. Nescew na Sibds clalmente pequence trabathos de feicko resionalista ¢ narrai ruerta civil. Publicout Ox Violatores das Leis (1 ada vide dow memores ma Hawday O Hams C1 ‘contra os sevieres} Wirineia (1924), etc. Seifutina filioase A excel Tia cm cua obte paginas de uma crocts quate brutal. De femi- >, Judeu de origem, nascea em Fabrica de cerveja em Moscou- Em 1903 vem virmade de ruas atividades politica, Mo ride pelo espirito de ave Berlim a pd e 2 pd voltou pare s Risin. Ainda sdolescente percorreu a Europa. Flaow residéncla pa Franga, entre 1909 £1917, tornandose bastante conkeclda nos meios literkrios ¢ Jornal . Quan do te devencadeou Mevolegio Rusa, voltou a Pitria afm de participa dos acontecimentos. Depols de uma slrie de s,, Ehresbarg fol, swcensiramente, dirstor de cena de um teatro Infanill, ajadente de domador de leras, operisio, gala de muewt, correla diplomirico, ec. Em 1920 esteve Bovamense ma France, como diplomats, « na ano segulnte publicava a sua pri- imeice obra As Aventuras Cetruordindrias de Jilio lurenito —, em que, sprovel | bor (1922), Tram D. B. (1925, O Amor de foana Ney (1923), O Verde do Ano 2S (1926), A dex Iguais, © Bera junto oo ria de Mewen, Seis (1923), Uma Res em Momou (1927), Fabrica de Seahos (' Chor (1934), « 01 volumes de porn — A Vigllia « Calor Bestial. Ou seus Berraso, « sairgico, como s twa prépela pemos. Publicos. recentemente Bins pocmat tnuroledos Pocmar edbre @ Ousrrs. aL CamScanner —_—$—$———ase—ewu[vmaaamaox—€" Scanned by No Beasil ji foram tradusidos ox segulates Hvros de Ilya Ehrenturg: As Extraordindrias Aventuras de Jilio Jurenlio, Morte aa Ineaor Alemia! — artigos © crinicas sSbre a resistincla ruma—e A Queda de Paris—aovela que reflete a vida da Frasca nod seus Inatantes rupressoe de dor, angostla © vergonha, BABEL, tease Exmanouiloviich (1894: —), Filho de um comerciante Judeu, nascea cm Ouewa. Estudou cléncias socials e fix 0 cure da Univershlede de Saratov, Em vistode de sua otlgem Judaica, no pide estabslecerse em Sia Pr. ternburro. A serule, Incorporouse ao Exército, lutow na frente da Numinia, tre- Bathou na Tehecs ¢ no Cominarlada do Povo para o: Negiclos da Educaglo, esteve engajada no Exército do Norte quanda da Invurreigio de Indeniich © foi toldade do de cavalaria de Dedienny, particlpou da Comimio Gorernamen. {al de Odeus, fea reportarens em Petenburgo e cea Tifls, Datam de 1909 oF seus primeiros trabalhos — uns contos escritoy em francis. Gorkl aconselhow-o x absn- dosar por algum tempo 1 literatura afim de conhecer melhor a vida. Em 1925 reuniu em volame alpuns daqueles contos. Dols aos depols, outro livre de comtor A Cavularis Vermelha—, que constiruiu uma sensagio nos melos literi- rloe sovideices, sobretuda em virtude do procesto feito por Dadienny, contra a Tancita coma Habel focaliroa a vida dos saldador. Segundo um critlco, Babel ‘opuaha so lirlema vaga © emotivo dos seus contemporineos a precisio, a sangue-’ Irlo ¢ © conhecimenta técnico. ‘Atento aos bona modelos da ficcio universal, revelouer sébrio, conciso ¢ exato, Nenhuma fala originalldade. Espirito de sbserracio, Finura pakcoligica ¢ slmplicidade de estilo — els me qualidades mee tras de Dabel. Babel ji pubticow alm de A Cavolerla Vermetha, o drama Crepiucwle © ema wuto-bicgrafla — Hindrias do mew pembal, OLENCHA, Youry (1894 —). Fito de funcionition ruston, ced revelow suas tendéacias literatias, Tetse jornalista, ¢ foi na banca de imprenis que o tur ‘a Revolucio. Seu primeiro romance despertou grande Interrme © po- |. Nie sia numerons at toss obras, porém muito discatidas. & um dos mals apreclados esctitores sovitticos. nko, depois qua reéprio pal vor, tol grafico, taquir, mizics, emprezada de comdrclo, matinheiro, ator, cum Ggonedotn, Seldede da Karelagho, por das viees quam o fusilarnm, Ao chepar ext Fetrogrado, procurou ou meioe Intelectusls © fundow, com oy da rua peraclo, © grupo doe Lrmiot Serspita. Acentua wm critica que dle trousera da Siberls o rio. darlam asnelbot romsnchita de [rancy: Os Franco-Adteadares, (1920), 0 69 (1922), As Areias Arwes (1923), O Halito de De- Aventuras de wan faquir, © ox volumes de con Bi serie (1927), Venton ‘Séeima Ribein & toe i A Vola de Buda, etc. TIKHONOV, Nicolal Semlonorlich (1896) — Antigo elemento da Cavalatta ‘Vermetha, de - ‘Tikhosow pertenca hb geraghe dos aucritares sovidiicos. Antes, doe posts, peraue a sua obra padticas # ma teall- dade da malor vals. Nels ve enconiram o¢ reflecos de sua vida de fevolucioai- tle. Publicoa aa obrast pore =A Horda (1922), © Hidremel (1922), Em busca do Horst (1927)) Pros Homem (1927). a az ined by CamScanner | KATAEV, Valentin (19 ). Nascea Iemio de Eopmle Te a 0007), Neattac asia fesida dese, wm” out come ha Revolagio, nos combates da ‘Ucrdina, apetar de nie ter comuniata ‘nllients. Exteve prise, e em 1921 veltou a Moscow, cade comeves sleveavolver autvidades foraliccas, Esritenautetn srdrica per exceléneia Katace revela humor « praca cm tala que publica. Tem ciczitn blvériae Infants, contos, enredos para filmes ¢ libretos Speras cbanlcas., Dols romances sie wr'vass brat prlacipaiat Ox Dissimulodorcs (1927) —que ¢ wma critica dm bvurmcriticn sovidtca—eAvunie, Tempo ! (1932) > cbeerraciins ‘competiho socialista” entre dois operirios. uma comédia— Serre ee ene ei esa car Mes now [eimatroe exe da Rerelesio. i KOZHENIKOV, V. (190%). Nasceu em 1909, em Narim, onde sew Antes da guerra steal, publicow dois livros remde ‘Apa « Conpenk na Extebe. O conta Marto © Abell”, induide wesca stool ¢cararne ja wun tmancire de parrar @ fiz grande suceuo me i Os sete enforcados LEONIDAS ANDREIEV Tradugis de ORIGENES LESSA “Eripitur periona manet res” Luerecro A Leon Tolstoi T “A UMA HORA DA TARDE, EXCELENCIA” O MINISTRO era muito gordo, com uma predisposigio multo forte para os ataques apopléticos. Como fésse mecestirio evitar-lhe tédas as emogdes violentas, tomaram-se as miximas precaugoes antes de anunciar que fra descoberto um complot contra a sua pessoa, Quando se viu, porém, que éle aco- Thia com calma, ¢ até com um sorriso, a noticia, acrescentaram-se of pormenores : 0 atentado seria no dia seguinte, quando Sua Exceléncia saisse de casa, para o despacho. Alguns terroristas, munidos de revdlveres « de bombas, — que tinham sido denunciados por um gente provocador e estavam sendo diretamente seguidos pela policia — reunir-se-iam, 4 uma hora da tarde, junto A escadaria, ¢ espera riam que o ministro saisse, Nessa ocasiio, justamente, os criminosos Ppresos. — Perdio ! — interrompeu o ministro, surpréso. — Como sabem éles que irei ler amanhi, 4 ea da tarde, o men relatério, quando eu mesmo +6 sei disso hi dois dias? ‘© eomandante do Corpo de Defcsa teve um gesto vago de quem nio sabia, ¢ repetiu : — Justamente 4 uma hora da tarde, Exeeléncia ! Surpréso satisfeito, a um tempo, com a habilidade com que a policia conduzira aquéle caso, o ministro agitou a cabega e um sorriso 302 j Scanned by CamScanner de desdém veio bolar sibre o1 seus grosses Libios roxos. Depois, com @ mesmo sorriso, féz rapidamente todos os preparativos necesrios para ir passar a noite noutro palici fim de que 04 policials pudes- sem agir mais livremente. A espdsa ¢ ot dois filhot foram, também, afastados do local perigoso em que iriam reunirse no dia seguinte os terroristas, Enquanto houve fur, na nova residéncia, ¢ enquanto ca seus amigos © familiares se movimentavam em tieno déle, protestands a sua indignagio, sorridentes ¢ mesureiros, 0 ministro manteve-se agradivelmente impressionade ¢ do melhor humor. Pa- recia-lhe que the haviam dado ou que esavam para dar uma grande recompensa inesperada, Mas os amigos foram-se, apagaram-te as luzes. Vinha da rua o clario Intermitente ¢ fantastico das limpadas voltaicas, buscando o teto ¢ a1 paredes, entrando pelas grandes ja- nelas, simbolo, para éle, da fragilidade de todos os cadeados, de todos os muros, de tédas as vigilinclas, E entio, na siléncio ¢ na salldio de um quanta que nio era su. apoderou-se da grande dignitério um terror indescritivel. Softia de uma enfermidade do rim, A cada emogdo violenta inchavam-lhe as faces, pés e mins, fazendo-o parecer mais pesado € maior. Agora, como um montio de carne tiimlda que pesasse sdbre as molas do Icito, sentie, com a angistia dos enfermos, crescer a inchagio do proprio rosa, que se tornava como que estranho ao reno da corpo. Seu pensamenta voliava a sorte cruel que o amea- ava. Evocou, um apés outro, 08 atentados recentes, tinham sido Tangadas bombas contra personagens ¢ mesmo de mais alta categoria, Aquelas explosses terriveis dlilace- Favam os corpot em mil pedagos, projetavam o¢ cérebros contra oF muros sujos, de tijolo, e arrancavam os dentes dos mazilares. E, Aquela simples evocacso, parecla-lhe que 0 seu corpo inchado, ‘espathado sobre 0 leito, jd estava sofrendo ov efeitos de uma tremenda e =ado. Imaginon of seus brags destacados dos ombros, os dentes que-rados, a cérebro em frangalhos. Aa pemas se inteiricavam, Imdvels, os pés durot coma os de um cadiver. Agitouse, respirou com fragor, towlu, para evitar tida semelhanga com um morta. . Envolveuse com o vivo fumor das molas sonoras ¢ a agitagio macia que nem por sombras morrera, que estava ainda longe, muito longe da morte, como se (Sue outro homem, pronunciou cam voz de baixo, forte ¢ clara, na solidia calma do quarto: — Boa gente !... Boa gente !... Eram os agentes de policia que éle louvava dessa mancirs, o« guardas, os soldados, tados a1 que protegiam a sua vida ¢ haviam descoberto 0 complot, em tempo ainda de evitar o atentado. Mas. embora se agitawe ¢ falame, sorrinda com desdém dos desavtrados terroristas, ndo conseguia convencerse de que estava salvo. Parecla- The antes sentie que a morte, da qual [Gra ameagado, estava ali presente e permancceria junto déle até © momento cm que o asiassl- ww a nos fossem agarrados, privados das suas armas ¢ langados em prisio segura. Ja num Sngulo do quarto, dircita ¢ imdvel, sem poder mir, estava a morte como um soldado obediente posta ali de sentincla Por uma vontade estranha c desconhecida. — A uma hora da tarde, Exceléncia ! ressoava a frase, em todos ot tons, alegre, sarcastica, irritada ou teimosa. E tinha a impressio, ainda, de que centenas de gramafones, espalhados aqui ¢ acoli, pelo quarto, gritassem sucessivamente, com a estupida regularidade das miquinas: "A uma hora da tarde, Ex. celéncia !" E aquela hora do dia seguinte, que, até pouco antes, fora para éle absolutamente igual a tédas as outras, assumia agora uma im- portineia ameagadora. Saltava do ama vida distinta, estendendo-se cor dividiee a vida em duas partes. Antes e depois daquela, ncnhuma bora existia, Unica, orgulhosa c obeceante, aquela hora tinha dircito a uma existéncia propria. — Entiio! Que quereis? — perguntou o ministro irritado. Os gramofones uivavam : * — A uma hora da tarde, Exceléncia! — E © poste negro, furn esgar, jnelinouse. Batendo os dentes, o ministro ergucu-te, sentando-se no leito. Eralhe abaolutamente impossivel dormir. Apertando contra 0 rosto as mios intumescidas, imaginow, com uma preciso terrivel, como se teria levantade no outro dia, se nfo soubesse de nada. Terla bebido o café, vestirse-ia, ¢ nem éle, nem o criado que the teria servida o café, nem o guarda-portio que the poria a pele, no vestibule, teriam sentido a inutilidade de seme- Thantes cuidados,.. E a grande capa de peles, © 0 corpo, ¢ o café que tomara, seriam aniquilados pela exploso ¢ arrebatados pela morte... Depois, o guarda-portio abriria a porta da rua... Sim, aquéle bom homem respeitosissimo, de olhos azuis, de olhar franco, de numerosas condecora: militares, teria aberto <= justamente le, com as proprins {—a porta terrivel! Todos sorriam, porque Ignoravam tudo. — Ah! — exclamou de sibita 0 minisero em vor alta, abal- xando lentamente as mos, pondo o rosto a descoberto. Olbando na treva, longe, com um olhar atento ¢ fixo, esten- deu s mio direita para virar o interruptor da Lampada, Levantouse depois ¢, descalco, pies a caminhar pelo quarto, desconhecia . Achou outro interruptor e ligow-o também. A camara, Inundada de uma luz vivida, tornou-se alegre. Sé o leito em desordem, as colchas caidas no cho, denunciava um terror que ainda nto se dissipara por

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