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Boletim da SBNp - Atualidades em Neuropsicologia

02.19
www.sbnpbrasil.com.br

Síndromes
Neuropsicológicas
Sociedade Brasileira de Neuropsicologia (SBNp)

Presidente Leandro Malloy-Diniz Membros da SBNp Jovem


Deborah Amaral de Azambuja José Neader Abreu Alberto Timóteo (MG)
Paulo Mattos Alexandre Marcelino (MG)
Vice-presidente Ana Luiza Costa Alves (MG)
Rochelle Paz Fonseca Conselho Fiscal André Ponsoni (RS)
Fernando Costa Pinto Emanuelle Oliveira (MG)
Tesoureira Geral Lucia Iracema Mendonça Érika Pelegrino (RJ)
Andressa Moreira Antunes Marina Nery Júlia Scalco (RS)
Luciano Amorim (PA)
Tesoureira Executiva SBNp Jovem Maila Holz (RS)
Beatriz Bittencourt Ganjo Marcelo Leonel (RJ)
Presidente Mariana Cabral (MG)
Secretária Geral Victor Polignano Godoy Mariuche Gomides (MG))
Katie Almondes Priscila Corção (RJ)
Vice-presidente Waleska Sakib (GO)
Secretária Executiva Thais Dell’Oro de Oliveira
Luciana Siqueira
Secretário Geral
Conselho delibetarivo Lucas Matias Felix
Annelise Júlio Costa

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Expediente

Editora-chefe Avaliadores desta edição


Giulia Moreira Paiva
Isabela Sallum Guimarães
Editoras assistentes Psicóloga pela Universidade Fede-
Mariuche Rodrigues Gomides ral de Minas Gerais (UFMG). Mestre
Thaís Dell’Oro de Oliveira em Medicina Molecular pela UFMG.
Membra do grupo de pesquisa
Coordenador editorial Laboratório de Investigações em
Alexandre Marcelino Neurociência Clínica no INCT em
Medicina Molecular (LINC-INCT-
Projeto gráfico e editoração -MM).
Luciano da Silva Amorim

Equipe de revisores
Alina Todeschi
Camila Bernardes
Emanuel Querino
Giulia Moreira Paiva
Isabela Guimarães
Lucas Matias Félix
Thaís Dell’Oro de Oliveira
Victor Polignano Godoy

Editada em: julho de 2019


Última edição: janeiro de 2018
Publicada em: julho de 2019

Sociedade Brasileira de Neuropsicologia

Sede em: Avenida São Galter, 1.064 - Alto dos Pinheiros


CEP: 05455-000 - São Paulo - SP
sbnp@sbnpbrasil.com.br
www.sbnpbrasil.com.br

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Sumário

05 REVISÃO HISTÓRICA
Síndromes neuropsicológicas pouco comuns

11 REVISÃO ATUAL
O controverso transtorno não verbal de aprendizagem: entre
evidências e incertezas

21 RELATO DE PESQUISA
Quais fatores de reserva cognitiva impactam o risco de síndro-
mes neuropsicológicas como os quadros demenciais?

29 ENTREVISTA

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REVISÃO HISTÓRICA

Síndromes Neuropsicológicas
Pouco Comuns
Alberto Timóteo

Algumas síndromes neuropsicológicas são pouco reportadas na literatu-


ra científica. Os motivos para isso variam, mas geralmente estão relacio-
nados a dois principais fatores: a raridade em que os casos se apresen-
tam e a dificuldade em realizar diagnóstico diferencial destas síndromes
com outras condições possíveis. Por causa disso, alguns pesquisadores
vêm dedicando seus estudos a síndromes ainda não amplamente
abordadas, de forma a entender melhor como se organiza o cérebro
em diferentes condições e como pode se prevenir erros diagnósticos
com maior facilidade. Dessa forma, um artigo de 2016 (Ardila, 2016) foi
escrito com o objetivo de revisar a literatura atual de quatro síndromes
que se enquadram nesta situação. São elas: somatoparafrenia, akine-
topsia, paramnesia reduplicativa e autotopagnosia. O objetivo deste
texto é abordar estas quatro síndromes, explicando como apresentam
os sintomas e o que se sabe sobre elas até então através da literatura
mais recente da área.

Somatoparafrenia

A somatoparafrenia é uma síndrome associada geralmente a lesões no


lado direito do cérebro, que faz com que o paciente tenha uma crença
ilusória de que um membro do seu corpo não pertence a si, geralmente
um braço ou uma mão. Foi em 1942, por Gertsmann, que a síndrome foi
descrita pela primeira vez. A descrição foi realizada com base na obser-
vação dos sintomas de dois pacientes com lesões no hemisfério direi-
to do cérebro, eles apresentavam, além da crença de que os próprios
órgãos superiores do lado esquerdo não pertenciam a si mesmos, falhas

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somatosensoriais e anosognosia, ou seja, incapacidade de reconhecer


a própria condição (Gertsmann, 1942).

Uma revisão da literatura foi realizada em 2009 (Vallar & Ronchi, 2009)
com o intuito de verificar a quantidade de casos publicados dessa
condição até então na literatura científica, além de compará-los, a fim de
obter informações mais precisas relacionadas às áreas do cérebro rela-
cionadas à condição e sintomas que acontecem juntamente às crenças
disfuncionais presentes na síndrome. Foram encontrados na literatura,
56 casos reportados, sendo 25 deles em homens e 31 em mulheres.
Destes casos, cinco apresentaram sintomas da somatoparafrenia a par-
tir de uma lesão no hemisfério esquerdo do cérebro, sendo que a noção
de não-pertencimento dos órgãos aconteceu, dessa vez, no lado direito
do corpo. Em relação aos sintomas, alguns dos pacientes reportaram
uma sensação de estranheza em relação a uma determinada parte do
corpo. Outros reportaram sentir que o órgão estava de fato separado do
corpo, porém, a maioria reportou o “senso de não-pertencimento” em
que o paciente tinha certeza de que aquele órgão não pertence de fato à
sua estrutura corporal.

Em uma análise de correlação anatômica realizada em 2012, Gandola e


colaboradores (2012) comparou 11 diferentes pacientes com somatopa-
rafrenia com outros 11 pacientes sem somatoparafrenia, mas com sinto-
mas correlatos, como déficits motores e anosognosia. Um padrão foi en-
contrado nas conexões fronto-temporo-parietais em todos os pacientes,
porém, os pacientes que possuíam especificamente somatoparafrenia
demonstraram padrões de lesões adicionais em regiões subcorticais
como o tálamo, gânglios da base e amígdala. Apesar destas conclusões,
não há nenhum artigo posterior a 2016 que descreva relações novas
encontradas em relação a esta síndrome, demonstrando que há ainda
necessidade de novas pesquisas. Além disso, por ser uma síndrome
rara, há a carência de pacientes, o que tornam os dados estatísticos das
pesquisas menos confiáveis.

Akinetopsia

A akinetopsia é uma síndrome que pode ocorrer após lesão específica


no lobo occipital, mais precisamente nas áreas extra-estriadas. O seu
principal sintoma é a perda da capacidade do paciente de perceber mo-
vimentação a partir da visão. Da mesma forma que a síndrome anterior,
esta foi descrita pela primeira vez a partir da observação de um caso

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clínico único em que o paciente obteve uma lesão vascular na região


pré-estriada de forma bilateral. Zihl e colaboradores (1983) descreveram
a sua observação acerca deste paciente, que mesmo perdendo a capa-
cidade de discriminar objetos em movimento, não perdeu a capacidade
de perceber formas e cores estáticas. A noção do paciente para movi-
mentos a partir da audição, por sua vez, era preservada.

Estudos posteriores identificaram que a parte V5 do córtex visual está


estritamente relacionado a essa síndrome (Heutink, 2018), e além disso,
que esta parte está mais relacionada à percepção de objetos em alta
velocidade do que para objetos em baixa velocidade. Neste artigo de
2018, o estudo de uma paciente com akinetopsia em comparação com
sujeitos saudáveis, teve como base metodológica um teste para com-
putador desenvolvido para verificar a noção de movimento de objetos
em diferentes velocidades. Desta maneira, a partir da observação da
atividade cerebral em exames de imagem, verificou-se a extensão dos
sintomas apresentados pela síndrome em decorrência de uma lesão
específica na região V5. Além disso, observou-se que a paciente apre-
sentava melhor performance quando encarava velocidades mais baixas,
e estes valores iam decrescendo à medida que a velocidade dos estí-
mulos aumentava.

A akinetopsia é uma síndrome neuropsicológica pouco reportada na


literatura, são poucos artigos que podem ser encontrados desta síndro-
me em específico em buscadores de artigos como pubmed e google
acadêmico. Porém, apresenta um padrão bem consistente em relação
aos sintomas e à região de lesão. A síndrome é importante de ser es-
tudada pois as bases neurológicas para a percepção visual em geral
ainda não são facilmente descritas. Dessa forma, entendendo as lesões
em pontos específicos e os seus efeitos, pode-se ter uma visão mais
aprofundada acerca de como estas regiões cerebrais funcionam e quais
papéis desempenham.

Paramnésias Reduplicativas

A primeira vez que a paramnésia reduplicativa foi descrita na literatura


científica foi em 1903 por Pick. A síndrome é caracterizada pela crença
de que um lugar familiar, uma pessoa, um objeto ou uma parte do corpo
foi duplicado. A maior parte dos casos reportados na literatura se refe-
rem a lugares duplicados, como o hospital que o paciente frequenta, a
sua própria casa, ou até a mesmo a cidade em que vive. Uma série de

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estudos foi realizada a fim de entender os sintomas desta paramnésia.


Por isso, em uma revisão da literatura (Politis & Loane, 2012), verificaram
cerca de 14 estudos que relatam pesquisas com a paramnésia redu-
plicativa, comparando sintomas e correlações anatômicas. A maioria
destes estudos eram de estudos de caso com um único paciente, mas
alguns deles apresentavam número maior de sujeitos, o que garante
uma confiança estatística maior.

As correlações anatômicas para a paramnésia reduplicativa são pouco


específicas e tal ponto já se mostra carente de informações mais espe-
cíficas na literatura. Um estudo de 1997 realizado por Murai et al. ob-
servou 77 pacientes com dano cerebral focal, e foram avaliados quanto
a paramnésia reduplicativa através de um questionário. Neste estudo,
47 pacientes possuíam lesão no hemisfério esquerdo, 21 no hemisfério
direito e 9 dano bilateral. Destes 77 pacientes, somente 6 apresenta-
vam paramnésia reduplicativa. Em três destes a lesão estava situada
no hemisfério direito, em dois a lesão era bilateral, porém com o lado
direito dominante e em um destes a lesão era no hemisfério esquerdo. A
maioria deles apresentou paramnésia reduplicativa para lugares. Apesar
dos resultados apontarem a relação da síndrome com o lado direito do
cérebro, ainda não há nenhum estudo que afirme tal relação comprova-
damente, necessitando de pesquisas mais atuais que possam determi-
nar não só a lateralidade, mas também a região específica que provoca
esta síndrome.

Autotopagnosia

Também descrita inicialmente por Pick, desta vez em 1908, a autoto-


pagnosia é um distúrbio do esquema corporal próprio no qual o paciente
não consegue localizar, reconhecer ou identificar partes específicas do
corpo. Eles demonstram dificuldade em localizar partes do próprio corpo
em relação ao corpo inteiro. Apesar disso, estes pacientes conseguem
identificar partes de objetos, ou de animais, sendo um distúrbio relacio-
nado ao corpo humano (Ogden, 1985). Alguns estudos posteriores veri-
ficaram que os sintomas da autotopagnosia podem ser aliviados através
do uso de um espelho, através do reconhecimento das partes corporais
refletidas (Tobita et al., 1995).

De todas as quatro síndromes citadas, a autotopagnosia é a mais ca-


rente de estudos recentes. Além do artigo de Ardila de 2016 em que ela
é descrita e os estudos acerca dela são reunidos, não há nenhum outro

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artigo mais recente que fale sobre a síndrome. As correlações anatô-


micas encontradas mais confiáveis são relatadas em artigos de 2002
e 2006 (por Guariglia et al. e Laiacona et al., respectivamente). Nestes
artigos verifica-se que a síndrome é geralmente relacionada a lesões no
lobo parietal posterior esquerdo, e um caso reportado foi associado com
um acidente vascular na região subcortical esquerda. Um caso ainda
foi descrito a partir de uma lesão no hemisfério direito de um paciente
que se apresentava com o lado direito dominante para linguagem. Em
um estudo realizado com ressonância magnética funcional em 2008
por Corradi-Dell’Acqua e colaboradores foi sugerido que dano no sulco
intraparietal posterior esquerdo pode especificamente desencadear os
sintomas da síndrome.

Como a síndrome possui pouca literatura recente relacionada, conclui-


-se que faltam mais estudos com exames de imagens, a fim de compro-
var a correlação anatômica encontrada no artigo de 2008. Um estudo
mais amplo com diversos pacientes também se torna necessário, para
verificar a presença de sintomas em relação a diferentes configurações
de lesões e acidentes vasculares diferentes. Como é uma condição rara,
assim como as outras, é possível concluir que se torna uma atividade
complexa de se executar, porém se torna benéfica caso seja feita.

Conclusões

A importância de estudar as síndromes neuropsicológicas, seus sinto-


mas e áreas anatômicas correlacionadas se dá no momento em que um
tratamento para o paciente está nas mãos de um diagnóstico diferencial
bem feito. Para as síndromes que ocorrem com menor frequência, esta
importância é ainda mais salientada, uma vez que uma condição previs-
ta a partir de uma lesão cerebral ou uma síndrome bem identificada me-
lhora a qualidade do tratamento que está à disposição do paciente. Além
disso, entender como estas síndromes funcionam e de onde surgem
dá aos cientistas informações preciosas sobre localização das funções
cerebrais e o papel da relação entre diferentes áreas do cérebro.

Referências

Ardila, A. (2016). Some unusual neuropsychological syndromes: Somatoparaphrenia,


akinetopsia, reduplicative paramnesia, autotopagnosia. Archives of Clinical Neuropsy-

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chology, 31(5), 456-464.

Corradi-Dell’Acqua, C., Hesse, M. D., Rumiati, R. I., & Fink,G. R.(2008).Where is a nose
with respect to a foot? The left posterior parietal cortex processes spatial relationships
among body parts. Cerebral Cortex, 18, 2879–2890.

Gandola, M., Invernizzi, P., Sedda, A., Ferrè, E. R., Sterzi, R., Sberna, M., ... & Bottini, G.
(2012). An anatomical account of somatoparaphrenia. Cortex, 48(9), 1165-1178.

Guariglia, C., Piccardi, L., Allegra, M. P., & Traballesi, M. (2002). Is autotopoagnosia real?
EC says yes. A case study. Neuropsychologia, 40, 1744–1749.

Gerstmann,J.(1942). Problem of imperception of disease and of impaired body


territories with organic lesions: Relation to body scheme and its disorders.Archives of
Neurology & Psychiatry, 48, 890–913.

Heutink, J., de Haan, G., Marsman, J. B., van Dijk, M., & Cordes, C. (2018). The effect
of target speed on perception of visual motion direction in a patient with akinetopsia.
Cortex.

Laiacona, M., Allamano, N., Lorenzi, L., & Capitani, E. (2006). A case of impaired naming
and knowledge of body parts. Are limbs a separate sub-category? Neurocase, 12,
307–316.

Murai, T., Toichi, M., Sengoku, A., Miyoshi, K., & Morimune, S. (1997). Reduplicative pa-
ramnesia in patients with focal brain damage. Neuropsychiatry, neuropsychology, and
behavioral neurology, 10(3), 190-196.

Ogden, J. A. (1985). Autotopagnosia: Occurrence in a patient without nominal aphasia


and with an intact ability to point to parts of animals and objects. Brain, 108(4), 1009-
1022.

Politis, M., & Loane, C. (2012). Reduplicative paramnesia: a review. Psychopathology,


45(6), 337-343.

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REVISÃO ATUAL

O controverso Transtorno
Não Verbal de Aprendizagem:
entre Evidências e Incertezas
Emanuelle Oliveira

O Transtorno Não-Verbal de Aprendizagem (TNVA) surge como um


quadro nosológico sugerido por Johnson e Myklebust na década de
60, descrito principalmente pela discrepância entre o QI verbal e o de
execução observada em algumas crianças e adolescentes. De acor-
do com os critérios propostos por esses e outros autores o Transtorno
Não Verbal de Aprendizagem é caracterizado também por dificuldades
persistentes em aspectos motores, sociais e de aprendizagem da ma-
temática, principalmente naqueles aspectos que não envolvem com-
petências verbais (Spreen, 2011). As dificuldades acadêmicas são de
suma importância de investigação e intervenção uma vez que afetam a
adaptação social, na medida em que está associada a desfechos nega-
tivos na formação escolar, empregabilidade e renda (Parsons & Bynner,
2005). Portanto, compreender a etiologia, nosologia e evidências acerca
desse transtorno é fundamental para uma prática clínica ética e baseada
em achados científicos robustos. Ainda hoje, esse é um transtorno não
validado por manuais que guiam a prática clínica e de pesquisa, como
o DSM-V e CID-10, devido às controvérsias acerca dos critérios diag-
nósticos, sobreposição de sinais e sintomas com outros transtornos,
entre outras discussões que colocam em prova a validade desse quadro
nosológico.

Alguns autores sugeriram uma série de critérios diagnósticos a fim de


delimitar, baseado em estudos prévios, quais são os aspectos a serem

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considerados durante a avaliação de um possível caso de TNVA. De


acordo com Mammarella e Cornoldi (2014) são cinco os critérios que
caracterizam uma criança ou adolescente com esse quadro clínico: (1)
a discrepância de pelo menos um desvio padrão do desempenho entre
a medidas de inteligência verbal e a inteligência visuo-espacial/percep-
tiva, sendo a inteligência verbal maior do que os índices perceptuais;
(2) baixo desempenho em habilidades motoras e visuo-construtivas,
apresentando uma performance de um desvio padrão abaixo da média
normativa; (3) baixo desempenho em matemática, caracterizado por
dificuldades visuo-espaciais na resolução de cálculos, contrapondo o
desempenho na leitura, com diferença de pelo menos um desvio pa-
drão entre essas competências; (4) memória de trabalho visuo-espacial
pobre com pelo menos um desvio padrão abaixo da média; (5) dificul-
dades socioemocionais, caracterizadas por dificuldades na compreen-
são da emoção ou problemas de sociabilidade, sendo utilizado apenas
como um critério de subdivisão do TNVA e não como um critério diag-
nóstico (Mammarella, 2014).

Portanto, o transtorno não-verbal de aprendizagem pode ser caracteri-


zado por uma série de aspectos cognitivos comprometidos associados
a fatores preservados discrepantes. Considerando esses fatores é possí-
vel caracterizar três dimensões principais que descrevem o TNVA: habi-
lidades visuo-espaciais e motores comprometidos, ótima competência
verbal e baixas habilidades sociais e de interação. É dessas dimensões
que surgem a fenomenologia subjacente como, habilidades precoces
de comunicação complexa, problemas em realizar tarefas escolares que
exigem habilidades motoras e visuoespaciais (por exemplo, cortar e es-
crever), problemas de compreensão social, de interpretação de histórias,
e resposta e adaptação a situações novas. Esses indivíduos apresentam
déficits em competências relativas à compreensão de relação semântica
implícitas em textos, significados complexos e abstratos, em contraposi-
ção a uma boa habilidade de leitura, incluindo aspectos de identificação
de letras, processamento fonológico e ortografia (Fine, Semrud-Clike-
man, Bledsoe e Musielak, 2013; Garcia-Nonell, Rigau-Ratera & Artigas,
2006) .

Além disso, indivíduos com TNVA costumam apresentar dificuldades


em perceber a totalidade de um problema (principalmente de nature-
za visuoespacial), focando em aspectos concretos, interferindo no seu
desempenho visuo-construtivo e de organização espacial. Essa dificul-
dade afeta sua capacidade de interpretar relações espaciais e causais,

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bem como a expressão da compreensão da informação, e sua habilida-


de de classificação (Foss, 1991; Fine et al, 2013). O comprometimento
na organização espacial afeta também a execução de cálculos mate-
máticos, explicando o baixo desempenho encontrado nesses indivíduo
(Garcia-Nonell et al, 2006)

A dificuldade em resolução de problemas novos, frequente em indiví-


duos com TNVA, é oriunda do déficit nas funções executivas, que afeta
aspectos como a interpretação de textos, na medida em que há dificul-
dades em realizar inferências e abstrair a idéia do que é lido (Garcia-No-
nell, et al; Foss 1991). São encontrados também déficits na manipulação
de informação em tarefas que exigem memória de trabalho, ainda que
a retenção simples de informação esteja preservada. Essas dificulda-
des se refletem, por exemplo, na realização de cálculos complexos, em
contraposição de recuperação simples da tabuada, uma vez que não há
manipulação da informação, somente acesso lexical ao resultado (Gar-
cia-Nonnel et al, 2006).

Além dos delineamento do perfil cognitivo do transtorno não verbal de


aprendizagem, evidências apontam para aspectos emocionais e sociais
deficitários neste quadro nosológico. Um estudo conduzido com o ob-
jetivo de compreender o perfil emocional e psicossocial dos indivíduos
com TNVA indicou que esse grupo apresenta problemas mais elevados
em aspectos como depressão, problemas sociais, problemas de aten-
ção e ansiedade quando comparado a indivíduos típicos. Déficits nessas
competências sociais/emocionais são expressos mais frequentemente
sob a forma internalizante, com baixa incidência de comportamentos
agressivos e de quebra de regras. Comportamentos mais externalizan-
tes são percebidos mais no início do desenvolvimento de indivíduos
com TNVA, principalmente na infância, apresentando mais explosões
negativas e flutuações de humor. Além disso, crianças com TNVA mais
novas, entre 6 e 9 anos de idade, demonstram mais inflexibilidade e
dificuldade de expressar emoções, bem como em demonstrar mais
comportamentos empáticos, sendo menos capazes de controlar as
emoções de maneira mais adequada a situação (Metsala, Galway, Ishaik
e Barton, 2017).

Além de aspectos emocionais, déficits em competências sociais são


frequentemente relatados na literatura. De acordo com o mesmo estudo,
entre 70 e 75% dos sujeitos com TNVA são classificados como dentro
da faixa clínica para problemas de ajuste social. A origem desses déficits

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são explicados sob diferentes hipóteses. Alguns autores apontam que


indivíduos com TNVA tem problemas no reconhecimento de expressões
emocionais de outrém, que afetam consequentemente a compreensão
das suas próprias emoções. Essa compreensão deficitária de emoções
de outras pessoas é avaliada e confirmada pelo baixo desempenho
desse grupo clínico no reconhecimento de expressões faciais, princi-
palmente em identificar e classificar expressões de felicidade e tristeza.
A percepção de expressões de raiva e medo, no início do desenvolvi-
mento, são compatíveis com pares da mesma idade, mas ao longo do
desenvolvimento parece haver um déficit maturacional na compreensão
dessa competência social. Entretanto, o perfil mais externalizante no
início do desenvolvimento de crianças com TNVA, também sugere que
o déficit em competências sociais é decorrente da baixa compreensão
e reconhecimento das suas emoções, que posteriormente afetam a
regulação de respostas adaptativas e prejudicam as relações sociais e o
feedback positivo do ambiental social. Todo esse contexto favorece que
interações sociais não sejam recompensadoras e auxiliem no desenca-
deamento de sintomas depressivos (Metsala et al, 2017).

Outra teoria acerca dos déficits em competências sociais, apontam para


o desajuste social como causa de um déficit primário em competên-
cias visual-espacial e competências atencionais. De acordo com essa
teoria a dificuldade inicial no processamento de informações não-ver-
bais, influenciam na percepção e interpretação das relações sociais e
interpessoais. Aspectos como tom de voz, expressão facial, gestos e
outras convenções sociais, têm pouco significado para esses indivíduos
impactando na forma como se relacionam. Essa dificuldade de com-
preender aspectos não-verbais na comunicação social, afeta inclusive a
forma como eles se vêem. Devido a precocidade do desenvolvimento de
habilidades verbais, altas expectativas são colocadas sobre essas crian-
ças, desviando a atenção das dificuldades subjacentes a competências
sociais. Esse desvio da atenção afeta a maturação dessas habilidades,
promovendo o desenvolvimento de habilidades sociais restritas a inter-
pretações literais e pouco fluidas das relações interpessoais. Entretanto,
posteriormente, esses indivíduos começam a encontrar outras dificul-
dades acadêmicas, como aquelas relativas às habilidades matemáticas,
e a atenção volta aos problemas de competências sociais, simultanea-
mente (Foss, 1991).

Os aspectos etiológicos do transtorno não verbal de aprendizagem são


caracterizados principalmente pela anormalidade na substância branca

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do hemisfério direito. Além disso, há também um associação da disfun-


ção conexional entre hemisférios como um aspecto da origem neurobio-
lógica do transtorno (Garcia-Nonnel et al, 2006). Acredita-se que devido
a uma disfunção do hemisfério direito, responsável por funções cogniti-
vas visuo-espaciais, de interação social e linguagem não-verbal, os in-
divíduos com TNVA possuem déficits nesses aspectos. O desempenho
discrepante entre os componentes verbais e executivos da inteligência
geral característico desse quadro, indicam uma assimetria hemisférica
cerebral, uma vez que o processamento de informação de ambas natu-
rezas são associados a ativação de hemisférios cerebrais distintos (Wa-
jnsztejn, Bianco e Barbosa, 2016). Por esses fatores, o transtorno não
verbal também é conhecido com transtorno do hemisfério direito ou da
substância branca (Garcia-Nonnel et al, 2006). A inibição da ativação de
regiões fronto-estriada, temporal e límbica, está associado ao desempe-
nho discrepante entre competências verbais e espaciais, uma vez que
as estratégias para resolução de problemas cognitivos dessa natureza
selecionados por indivíduos com desempenho rebaixado em aspectos
espaciais, utilizam menos de redes frontoestriatais (Margolis, Davis, Pao,
Lewis, Yang, Tau, e Marsh, 2018).

Ainda que a investigação acerca desse transtorno vem sendo condu-


zida nas últimas três décadas, se mantém muita controvérsia dentro do
meio acadêmico e científico, não sendo admitido como entidade noso-
lógica por manuais que conduzem a prática clínica como o DSM-V e o
CID-10, como dito anteriormente. Essa falta de apoio se dá pelas poucas
evidências científicas acerca da nosologia do quadro, sobretudo devido
a poucos dados a respeito da frequência, base neuropsicológica e simi-
laridade com outros transtornos como Asperger, Síndrome Velocardiofa-
cial, Síndrome de Turner e Agenesia do Corpo Caloso (Spreen, 2011).

Muitos dos estudos conduzidos buscando indícios científicos acerca da


existência desse transtorno trazem consigo falhas metodológicas, preju-
dicando aspectos como validade e confiabilidade da pesquisa (Spreen,
2011). Um grande problema enfrentado pelos pesquisadores da área
é a baixíssima incidência desse transtorno na população, dificultando
a coleta de dados em grupos amostrais robustos. De maneira geral, o
perfil cognitivo e emocional de crianças e adolescentes com TNVA com
critérios diagnósticos mais bem delimitados, impedem encontrar uma
amostra significativa dessa população. Diante de critérios diagnósticos
menos rígidos, o problema passa a ser o conflito com outros transtornos
do desenvolvimento, uma vez que esses critérios se adequam a outros

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tipos de transtorno, como Asperger ou Discalculia (Metsala et al, 2017).


Além disso, aspectos como problemas em definir os critérios de exclu-
são da amostra, descrição vaga dos critérios utilizados para seleção
da amostra, bem como negligência com as comorbidades possíveis,
impedem que os estudos desenvolvidos para compreensão do qua-
dro e propostas de intervenção sejam realmente fidedignos e passíveis
de generalização ao contexto clínico. Atualmente, a alta incidência de
comorbidades e coincidência de sintomas e sinais com outros quadros
nosológicos tem sido o maior empecilho no desenvolvimento da pesqui-
sa na área (Fine et al, 2013).

Uma das maiores controvérsias acerca do TNVA gira em torno da se-


melhança com a Síndrome de Asperger, um transtorno que se enquadra
dentro do espectro autista. De acordo com o DSM-V, a síndrome de
asperger é atualmente incluída no espectro, que se refere a um conjunto
de apresentações de um quadro clínico que inclui déficits persistentes
na comunicação e interação social, incluindo déficits na reciprocidade
sócio emocional, comunicação não verbal e no desenvolvimento de
relações; comportamentos e interesses restritos e repetitivos, incluin-
do inflexibilidade de rotina ou comportamentos ritualizados; sintomas
apresentados no início do desenvolvimento, e que causam prejuízo
significativo em aspectos sociais, ocupacionais e em outras áreas do
funcionamento (American Psychiatric Association, 2014). A similaridade
de prejuízos e competências apresentados por indivíduos com Transtor-
no Não Verbal de Aprendizagem e Síndrome de Asperger, aponta para
a compreensão do mesmo fenômeno sob diferentes perspectivas, uma
perspectiva neuropsicológica e uma psicopatológica. Ainda que alguns
desses aspectos, como as dificuldades relativas às competências de
socialização, sejam compartilhados pelos indivíduos de ambas condi-
ções clínicas, algumas diferenças também já foram apontadas. Aspectos
relativos ao processamento simultâneo, habilidades não verbais, como
praxias visuoconstrutivas, memória operacional e principalmente o
planejamento, são mais deficitários em indivíduos com transtorno não
verbal de aprendizagem quando confrontados com o desempenho de
sujeitos com síndrome de asperger. O desempenho em aspectos lin-
guísticos receptivos, como compreensão verbal e gramatical, são mais
deficitários em indivíduos com asperger quando comparados aos indiví-
duos com TNVA. O perfil neuropsicológico de Asperger é delineado por
dificuldades em habilidades verbais sem prejuízos marcados em com-
petências cognitivas não verbais, prejuízos esses normalmente asso-
ciados aos déficits decorrentes do TNVA. Além disso, o perfil comporta-

16 Boletim SBNp, São Paulo, SP, v.2, n.1, p. 1-33, fevereiro/2019


02.19

mental envolvendo aspectos sociais, é discrepante daqueles propostos


pelos critérios diagnósticos do DSM-V, uma vez que não é necessária
a presença de interesses restritos e estereotipias para o diagnóstico do
transtorno não verbal de aprendizagem (Gavilán, Fournier-Del e Berna-
beu-Verdú, 2007).

Outro quadro clínico com sinais e sintomas semelhantes ao descritos


por autores como sendo um perfil de Transtorno Não Verbal de Aprendi-
zagem é a dificuldade de aprendizagem na matemática, ou até mesmo
a discalculia. Isso porque indivíduos com TNVA frequentemente apre-
sentam dificuldades relativas à competências matemáticas. Ademais, a
não imposição do critério diagnóstico acerca das dificuldades sociais no
quadro de TNVA, podem indicar a presença de um transtorno de apren-
dizagem com déficits em habilidades sociais concomitantes as dificul-
dades escolares, e não um quadro de TNVA propriamente dito. Entretan-
to, estudos apontam que as dificuldades vivenciadas pelos indivíduos
com TNVA são mais relacionados aos déficits decorrentes das dificul-
dades visuo-espaciais, não afetando aspectos relativos ao conceitos
matemáticos, uma vez que exigem domínios linguísticos, potencialidade
de indivíduos com esse transtorno (Fine, 2013). É comum encontrar pro-
blemas em competências sociais e emocionais em crianças com discal-
culia, mas que são decorrentes das dificuldades de aprendizagem, não
sendo um componente do transtorno (Martínez e Semrud-Clikeman,
2004). Além disso, as dificuldades relativas à matemática em casos de
indivíduos com TNVA sugerem um padrão de desatenção, e não pro-
priamente de um déficit na cognição numérica (Fine, 2013).

As dificuldades relativas a atenção, também estão associados ao quadro


de Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), e podem
indicar a presença desse quadro e não de TNVA. O déficit atencional
afeta não somente habilidades escolares, como também as compe-
tências sociais, uma vez que a percepção das relações interpessoais é
papel fulcral no desenvolvimento adequado dessa habilidade. Dificulda-
des como reconhecimento de emoções, são coincidentes no quadro de
TNVA e também TDAH, devido ao déficit primário em recursos atencio-
nais (Fine, 2013).

Ainda que diante de controvérsias, quanto a sobreposição de quadros


nosológicos com os sintomas descritos pelo autores que defendem a
nosologia do TNVA, crianças com esse perfil existem e métodos inter-
ventivos aplicados à elas são necessárias para sua devida adaptação

Boletim SBNp, São Paulo, SP, v.2, n.1, p. 1-33, fevereiro/2019 17


02.19

social e escolar. Considerando o perfil de baixas competências sociais


em indivíduos com TNVA, um método interventivo eficaz neste domínio
é a que busca promover as habilidades sociais (Foss, 1991; Metsala et
al, 2017). As intervenções também devem passar por aspectos de com-
preensão e processamento de informação não-verbal, uma vez que es-
sas competências são exigidas em atividades acadêmicas, que influen-
ciam no pleno desenvolvimento do indivíduo. Para tal, relações espaciais
que são normalmente processada de maneira confusa e rígida, devem
ser treinadas de maneira a tornarem-se mais precisas e flexíveis. Esse
treinamento deve fornecer instruções multissensoriais para estabelecer
associação entre as informações percebidas no ambiente, fornecendo
uma sequência de passos de automonitorização do desempenho. Essas
informações podem ser de natureza verbal (como textos), visuoespacial
(como cópia de figuras geométricas), ou social (como de situação de
relação interpessoal). No caso do treinamento do domínio visuoespacial,
o treinamento deve incluir rótulos verbais para formas geométricas, me-
dições lineares e estimação de distância. O treino de competências ver-
bais, por sua vez, deve não se concentrar em aspectos de intervenção
para aprimoramento de vocabulário, uma vez que essa é uma potenciali-
dade de indivíduos com esse perfil, mas permitir maior flexibilidade entre
aspectos mais abstratos da linguagem, como similaridades e diferenças,
classificação e categorização, e relações holísticas, causais e espaciais,
auxiliando na compreensão das informações implícitas contidas no tex-
to. Para tal é possível realizar uma lista de etapas para serem realizadas,
até que o procedimento seja automatizado, evitando que sejam dadas
respostas precipitadas, focando apenas nas relações entre as palavras,
e não fazendo as associações implícitas subjacentes. Ainda no que diz
respeito a intervenção no domínio verbal, a compreensão textual pode
ser aprimorada através do treino de diferentes aspectos que buscam
promover a retiradas das informações essenciais para elucidação do
tema. Discutir o assunto antes da leitura, ler questões acerca do tema
lido e fazer um resumo do que for lido após o final de cada parágrafo,
através da verbalização ou subvocalização, podem ser estratégias ensi-
nadas interessantes para indivíduos com TNVA. Esse tipo de estratégia
auxilia na identificação de padrões de composição textual e no desen-
volvimento de significados entre palavras que podem indicar relações
implícitas importantes (Foss, 1991).

Diante das controvérsias e evidências acerca desse quadro nosológico,


é possível compreender a necessidade de mais investigação científica
sobre a etiologia, critérios diagnósticos e nosologia do transtorno. É ine-

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02.19

vitável negar que existem crianças com esse padrão de comportamento,


associado a um perfil neuropsicológico específico de déficits e poten-
cialidades. Anterior ao processo de intervenção é necessário melhor
delineamento do procedimento de avaliação, visando não diagnosticar
de maneira errônea indivíduos com esse quadro nosológico. Apenas ne-
gar a existência desse transtorno é prejudicar o acesso dessas crianças
a um plano interventivo bem delimitado, focado em suas dificuldades
e utilizando de suas competências, visando melhor adaptação social
e educacional. Então, é compromisso ético e profissional de clínicos e
pesquisadores da área dos transtornos de aprendizagem, direcionarem
esforços para compreensão desse quadro clínico, visando, enfim, confir-
mar ou não a existência do transtorno não verbal de aprendizagem, bem
como fornecer os devidos instrumentos necessários para seu diagnósti-
co e intervenção.

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20 Boletim SBNp, São Paulo, SP, v.2, n.1, p. 1-33, fevereiro/2019


02.19

RELATO DE PESQUISA

Quais Fatores de Reserva


Cognitiva Impactam
no Risco de Síndromes
Neuropsicológicas como os
Quadros Demenciais?
Maila Rossato Holz e André Ponsoni

Os Transtornos Neurocognitivos Maiores (demências) são quadros que


geram um alto impacto funcional e afetam de forma negativa diversos
aspectos da qualidade de vida do indivíduo e de seus cuidadores, com
prevalência mundial estimada em cerca 47 milhões de pessoas em
2015 (número que pode triplicar até 2050) (Livingston et al., 2017b).
Frente a isso, a relevância para a prática clínica de quadros demenciais
pode ser observada a partir da extensa quantidade de pesquisas dispo-
níveis na literatura que investigaram aspectos relacionados ao tratamen-
to (psicofarmacológico e intervenções psicoterapêuticas), prognóstico e
fatores de risco para o desenvolvimento de qualquer transtorno neuro-
cognitivo.

Neste contexto, Livingston e colaboradores (2018) destacam nove fa-


tores que se observados podem reduzir o desenvolvimento de quadros
demenciais na população. Dentre eles o nível de escolaridade, perda au-
ditiva, hipertensão, obesidade, fumo, depressão, sedentarismo, isolação
social e diabetes estão entre os principais fatores de risco para o desen-
volvimento de quadros neurodegenerativos (Livingston et al., 2017b).

Boletim SBNp, São Paulo, SP, v.2, n.1, p. 1-33, fevereiro/2019 21


02.19

Como se pode observar, alguns desses fatores estão relacionados


aos efeitos benéficos da estimulação cognitiva ao longo da vida e que
também estão relacionados na categorização da reserva cognitiva (RC),
construto relevante na compreensão de variáveis com potencial efeito
neuroprotetivo ao longo da vida e indispensável ao se estudar processos
neurodegenerativos (Amato, 2018).

A RC pode ser compreendida como a capacidade que o cérebro tem


para lidar com o efeito negativo de neuropatologias à cognição, na me-
dida em que uma alta RC pode diminuir a velocidade com que se apre-
sentam alterações neurocognitivas (Grande et al., 2017). Percebe-se
que quem tem baixa RC pode até mesmo aumentar a velocidade com
que esses prejuízos surgem (Grande et al., 2017). Por envolver o nível de
estimulação cognitiva ao longo da vida (de forma translacional), alguns
estudos calcularam a RC como um conjunto de medidas envolvendo
escolaridade, quociente intelectual e tipo de trabalho desenvolvido ao
longo da vida (Frankenmolen, Fasotti, Kessels, & Oosterman, 2018;
Grande et al., 2017), outros estudos que variáveis socioculturais como
os hábitos de leitura e de escrita, atividades físicas (Habeck et al., 2017).
É interessante notar que as variáveis socioculturais não são imutáveis, ou
seja, podem ser estimuladas ao longo da vida ou em períodos específi-
cos, denotando o potencial preventivo e remediativo do trabalho com a
RC em quadros neurodegenerativos como a demência (Amato, 2018).

O potencial da RC para remediar dificuldades cognitivas decorrentes


do envelhecimento pode ser observado no estudo de Frankenmolen e
colaboradores (2018). Os autores investigaram os efeitos da idade, de
funções executivas (FE) e da RC no uso de estratégias mnemônicas,
encontrando em seu modelo a RC como o melhor preditor para o uso de
estratégias para auxiliar a memória tanto no dia-a-dia, quanto em tarefas
que avaliaram componentes de memória. Roldán-Tapia e colaboradores
(2017) verificaram os possíveis efeitos neuroprotetivos da RC em pes-
soas saudáveis ao avaliar 172 indivíduos em diversas funções neuro-
cognitivas. Seus resultados indicam que a plasticidade cerebral pode
ser influenciada por fatores como escolaridade e RC, especialmente,
nos componentes executivos de controle inibitório, flexibilidade cogni-
tiva e memória de trabalho. Frente a isso, é provável que um ambiente
com maior demanda cognitiva possibilita ao indivíduo lidar melhor com
tarefas que envolvam memória, flexibilidade cognitiva ou monitoramento
na medida em que se envelhece.

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02.19

Muitas das pesquisas com a RC foram realizadas em populações com


demência, ou Traumatismo Crânio Encefálico (Mathias & Wheaton,
2015). Recentemente maior atenção vem sendo despendida para
uma possível relação entre a RC, desempenho cognitivo e desfechos
funcionais em psicopatologias que podem ter uma natureza neurode-
generativa, como o Transtorno de Humor Bipolar (THB) (Anaya et al.,
2016; Hinrichs et al., 2017). Com a heterogeneidade de perfis cognitivos
observados nessa psicopatologia e a falta de clareza acerca de fatores
que podem influenciar no desempenho neurocognitivo de pessoas com
THB, a RC surge como uma proposta interessante ao se investigar seu
papel como possível moderador da cognição. Cinco estudos recentes
buscaram investigar esta relação entre RC, cognição e funcionalidade,
encontrando resultados interessantes (Amoretti et al., 2016; Anaya et al.,
2016; Forcada et al., 2014; Grande et al., 2017; Hinrichs et al., 2017).

Grande e colaboradores (2017) observaram em uma amostra de 102


indivíduos com THB que altos níveis de RC (estimada através da escola-
ridade, QI e emprego) estavam relacionados a um melhor desempenho
cognitivo em medidas de atenção, fluência verbal fonêmica e semântica,
e memória episódica. Outro estudo que avaliou 224 pessoas com THB
em eutimia identificou uma associação entre alta RC e melhor desempe-
nho em diversos componentes neurocognitivos, melhor funcionalidade
e em parte com medidas de qualidade de vida (Anaya et al., 2015). Ain-
da, destaca-se que Hinrichs e colaboradores (2017) investigaram o pos-
sível impacto da RC na preservação da neurocognição em 159 pessoas
com THB ao longo de cinco anos em que seus resultados indicaram que
os indivíduos com THB não apresentaram declínio cognitivo mais acen-
tuado, quando comparados aos participantes controles e que maiores
medidas de inteligência (um componente da RC) podem se apresentar
como um fator protetivo ao declínio cognitivo.

O maior foco para o trabalho com transtornos mentais na RC, em espe-


cial com transtornos de humor, está em acordo com dados da literatura
que mostram uma possível relação entre ter um transtorno de humor
e, posteriormente, desenvolver um quadro de demência (da Silva et al.,
2013; Cherbuin, Kim, & Anstey, 2016). Apesar da existência de algumas
evidências acerca dessa relação, alguns estudos apontam que a pre-
sença de depressão não aumenta o risco para quadros demenciais (Wil-
son et al., 2016). Enquanto outros sugerem que a presença de prejuízos
cognitivos graves concomitantes a um Episódio Depressivo Maior (EDM)
deve ser interpretada como indício de quadro demencial subjacente, e

Boletim SBNp, São Paulo, SP, v.2, n.1, p. 1-33, fevereiro/2019 23


02.19

não como uma consequência do transtorno em si (Heser et al., 2016).


Como Livingston e colaboradores (2017) sugerem há vários fatores
relacionados a maior risco vascular para o desenvolvimento de de-
mências. Dentre eles, um estudo nacional realizado indica que maiores
hiperintensidades de substância branca (ou seja, maior componente
vascular) em pacientes com Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) e
Alzheimer leve tem maiores prejuízos de memória episódica visual (Holz
et al., 2018). Assim como os maiores riscos, percebe-se que existe um
conjunto de fatores associados a maior proteção da cognição dentre
eles um estudo indicou os hábitos de leitura e de escrita explicaram me-
lhor desempenho nos escores de fluência verbal (fonêmica e de verbos)
do que o próprio diagnóstico em adultos idosos controles, com CCL e
Alzheimer leve (Kochhann, Holz, Beber, Chaves, & Fonseca, 2018).

Dessa forma, percebe-se que as variáveis socioculturais apresentam fa-


tores de risco e proteção para o desenvolvimento de um quadro demen-
cial. Assim as alterações de humor começaram a ganhar um foco para
analisar o quanto aumenta-se o risco de desenvolvimento de demência.
Uma revisão sistemática com histórico de THB para verificar o aumen-
to do risco de demência sugeriu que houve um aumento significativo
naqueles que tinham diagnóstico de THB quando comparado a adultos
saudáveis (Diniz et al., 2017). Contudo, ainda percebe-se o quanto o
diagnóstico diferencial clínico é necessário para diferenciar se o quadro
de THB apresentou uma piora clínica significativa no indivíduo, ou se
essas alterações no paciente com THB já são advindas do início de um
quadro demencial. Visto que alterações no humor e demência proble-
mas de saúde mentais muito identificados na neuropsiquiatria do enve-
lhecimento (Muliyala & Varghese, 2010).

Assim é importante estabelecer quais são as diferenças dos indivíduos


que apresentam Transtorno de Humor (unipolar ou bipolar) ao longo da
vida e diferenciam daqueles com depressão de início tardio. Isto porque
a prevalência de depressão nas demências ocorre em 9 a 68% dos
casos relatados na literatura (Muliyala & Varghese, 2010). Sendo que a
depressão de início tardio comumente trás prejuízos associados a fun-
ções executivas e processamento de informação (Sheline et al., 2006;
Muliyala & Varghese, 2010). Outro aspecto muito discutido nos Trans-
torno de Humor e nas demências são os sintomas neuropsiquiátricos
pertencentes aos mesmos diagnósticos.

Sabe-se que a apatia é um sintoma que pode ser notado tanto nos

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transtornos de humor, quanto nas demências. Assim a análise da apatia


isoladamente da sua apresentação torna-se um dos principais fatores
de diagnóstico diferencial no envelhecimento. Um estudo longitudinal
realizado com idosos com CCL indica que ter os sintomas separados de
apatia ou junto com a depressão apresentam maior risco para desenvol-
vimento da doença de Alzheimer do que aqueles idosos com CCL sem
sintomas neuropsiquiátricos (Ruthirakuhan, Herrmann, Vieira, Gallagher,
& Lanctôt, 2019).

Um estudo indica que os sintomas neuropsiquiátricos são os principais


confundidores na avaliação clínica diagnóstica dos quadros demenciais.
Dessa forma, existem instrumentos como Neuropsychiatric Inventory
Questionnaire – NPI para medir a intensidade, gravidade de sintomas
na demência (Camozzato, Godinho, Kochhann, Massochini, & Chaves,
2015). Percebe-se, ainda, que com o aumento da gravidade do quadro
seja ele de CCL, seja de demência há simultaneamente um aumento
dos sintomas psiquiátricos como depressão, apatia, agitação psico-
motora, psicoses (delírios e alucinações) (Siafarikas et al., 2018). Esses
resultados também foram corroborados demonstrando que o nível de
RC é influenciado pela severidade do estagiamento da demência, ou
seja, indivíduos com doença de Alzheimer que apresentem maior RC se
beneficiam positivamente quanto o andamento da doença (Sobral, Pes-
tana & Paúl, 2015). Percebe-se com isso que quanto maior a RC mais
ela tem a tendência de retardar, ou a desacelerar os prejuízos quando
acabam enfrentando uma patologia cerebral como a doença de Alzhei-
mer (Michel, 2016).

A RC, apesar de ser um conceito teórico criado, nos auxilia na interpre-


tação sobre um mecanismo ativo e flexível que pode ser moldado ao
longo da vida (Barulli & Stern, 2013) a partir de estratégias mais eficien-
tes para resolução de problemas, planejamento e melhor funcionamen-
to para uso de estratégias cognitivas. Dessa forma, idosos com CCL
podem a partir de treino cognitivo, estratégias externas e mudanças no
ambiente sociocultural retardar ou até mesmo diminuir a velocidade do
desenvolvimento de um quadro neurodegenerativo. De fato alguns au-
tores sugerem que viver em um ambiente enriquecido pode compensar
o declínio cognitivo em pacientes com a Doença de Alzheimer (Tucker &
Stern, 2011).

Assim entende-se que a RC pode atuar como um moderador entre a


patologia cerebral e clínica (Stern et al., 2018). Isto porque, ela não repre-

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02.19

senta apenas uma mudança de plasticidade cerebral, mas ela serve


como um componente de desfecho entre a patologia, as alterações
neuroanatômicas, as experiências vividas e rotina do indivíduo poden-
do atuar na prevenção, ou minimização da doença neurodegenerativa
(Steffener & Stern, 2012).

Dessa maneira, compreende-se que trabalhar com adultos e idosos


com transtorno de humor, THB, envelhecimento saudável e CCL é
imprescindível para que esses entendam como as alterações compor-
tamentais, cognitivas e funcionais podem afetar sua rotina e dia-a-dia.
Além disso, estabelecer políticas públicas de saúde, programas para es-
tabelecer os parâmetros e conhecimento sobre RC cerebral podem ser
fatores auxiliarão a retardar o desenvolvimento mais precoce dos síndro-
mes neuropsicológicas como os Transtornos Neurocognitivos Maiores
(demências). Igualmente como criar modelos de programas baseado
em treinos cognitivos específicos para cada função cognitiva auxiliaria
pacientes alterações neuropsicológicas a minimizar suas dificuldades
nos principais domínios afetados, criando-se assim estratégias externas
para lidar com essas queixas e déficits.

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ENTREVISTA

Nesta edição, Maila Rossato e André Possoni entrevistaram Caroline


de Oliveira Cardoso. Ela é psicóloga, Doutora em Psicologia pela Ponti-
fícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Mestre em
psicologia com ênfase em cognição humana pela PUCRS, especialista
em Neuropsicologia (PROJECTO), professora do Curso de Psicologia
da Universidade FEEVALE, Supervisora do Estágio Profissionalizante
em Neuropsicologia do Centro Integrado de Psicologia da Universidade
Feevale, Membro do GT ‘Neuropsicologia’ da ANPEPP, atua como psi-
cóloga e neuropsicóloga clínica em consultório particular e é sócia-fun-
dadora na Conectare NeuroPsi - Atendimento, formação e conexões em
Neuropsicologia.

O que é uma síndrome neuropsicológica? Ela pode estar associa-


da a doenças como Transtorno do Espectro Autista, Transtornos
de Aprendizagem, entre outros?
Síndrome se refere a um conjunto de sintomas e características que são
observáveis e estão associadas a alguma condição clínica. Na neu-
ropsicologia, podemos considerar uma síndrome neuropsicológica o
conjunto de sintomas cognitivos, comportamentais e emocionais que o
paciente apresenta e é justamente esse um dos objetivos da avaliação
neuropsicológica. Ou seja, a avaliação busca, de forma geral, identificar o
funcionamento cognitivo, socioemocional e comportamental (sintomas,
sinais, características) do paciente e em conjunto com análise do perfil
neuropsicológico e análise clínica, pode também auxiliar no diagnóstico
nosológico.

Considerando o perfil neuropsicológico, diante dos resultados de diver-


sos estudos, sabe-se que as crianças com diagnóstico de Transtorno
Específico de Aprendizagem normalmente apresentam prejuízos de fun-
ções executivas no componente de memória de trabalho. Pacientes com
Transtorno Espectro Autista normalmente tem dificuldade no compo-
nente executivo de flexibilidade cognitiva. É importante conhecer qual
o perfil mais esperado para cada quadro clínico, contudo, importante
ressaltar que não existe um perfil único e pode acontecer do paciente ter

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o diagnóstico de transtorno específico de aprendizagem e não ter pre-


juízo de memória de trabalho. O perfil neuropsicológico não é um critério
diagnóstico, mas conhecer o perfil neuropsicológico de cada paciente
nos auxiliar a compreender melhor suas habilidades e dificuldades,
desenvolver intervenções específicas voltadas nos déficits cognitivos
primários/ secundários e orientar cuidadores e escola, por exemplo.

Como podemos observar os impactos funcionais de uma síndro-


me neuropsicológica?
No dia a dia, há diversas maneiras de identificar o funcionamento cog-
nitivo e comportamental do paciente. Por exemplo, no ambiente escolar,
podemos observar de que maneira o aluno responde as questões no
caderno; se ele se distrai com facilidade e não consegue controlar o
foco de sua atenção nas atividades ou na professora; se consegue com-
preender as instruções das tarefas.

Durante o processo de avaliação, na Hora do Jogo, podemos observar


a maneira como ele conduz as brincadeiras, se consegue criar uma
história com início, meio e fim, observar a modalidade das brincadeiras, a
criatividade, tolerância a frustração, linguagem, comunicação, se conse-
gue se manter na atividade por mais tempo ou se faz trocas constantes.
Em casa, mesma coisa, como se organiza, se realiza as atividades diárias
como as realiza, e assim por diante. Será a partir da frequência e intensi-
dade desses sintomas ou características que precisarão ser analisadas,
assim como, o impacto que gera na funcionalidade do indivíduo, ou seja,
se esses sintomas geram prejuízos no ambiente escolar, na autogestão,
na relação interpessoal ou no desempenho escolar.

Existe algum tratamento (medicamentoso, psicoterápico, esti-


mulação) mais afetivo para as síndromes neuropsicológicas?
Após identificarmos o perfil neuropsicológico de cada paciente precisa-
mos refletir e sugerir encaminhamos que sejam efetivos e que possam
trazer benefícios no dia a dia do paciente. O principal tratamento indica-
do para pacientes que apresentam prejuízos cognitivos é a reabilitação
neuropsicológica. Nesse processo, de modo geral, busca-se melhorar
ou remediar os processos cognitivos que foram prejudicados, visando
uma melhor qualidade de vida. Assim como, caso o paciente se encon-
tram com desempenho abaixo em suas tarefas diárias frente à deman-
da do ambiente, também pode-se auxiliar no desenvolvimento dessas
habilidades que não foram ainda adquiridas.

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Contudo, além das intervenções remediativas, atualmente, têm se falado


e sido propostas intervenções que tem como objetivo potencializar e
aperfeiçoar as habilidades cognitivas. Tais intervenções têm um impor-
tante papel preventivo, no sentido de que são planejadas para serem
utilizadas com pessoas em desenvolvimento típico, com a finalidade de
potencializar os processos cognitivos e evitar prejuízos no futuro.

Há diferenças entre uma síndrome neuropsicológica e uma dis-


função executiva?
A grande diferença entre uma síndrome neuropsicológica e uma disfun-
ção executiva é que a síndrome é mais abrangente atendendo qualquer
função cognitiva (memória, atenção, linguagem, praxias, comunicação,
funções executivas...). Enquanto a disfunção executiva é um funcio-
namento anormal prejudicado, primariamente, das funções executivas.
Sabe-se que a síndrome neuropsicológica pode levar a prejuízos de
múltiplas funções cognitivas (memória, atenção, linguagem, praxias,
comunicação...), assim como também as funções executivas, contudo,
entende-se como síndrome os sinais, sintomas e características que
ocasionam uma condição crítica de alteração nesse caso cognitiva.
Já nos casos das disfunções executivas as alterações ocorrerão nos
componentes tripé das funções executivas como flexibilidade cognitiva,
controle inibitório, memória de trabalho, ou nos componentes executivos
superiores como planejamento, tomada de decisão e organização de
forma alterada sendo mais passível de tratamento quando identificado
inicialmente.

Assim como referi anteriormente, cada vez mais têm sido propostas
de programas e intervenções voltadas para promoção das habilidades
cognitivas. Normalmente, esse tipo de intervenção é realizada no con-
texto escolar, pelo professor. Existem vários estudos mostrando que as
crianças que participam desses programas melhoram suas habilidades
cognitivas, comportamentais, desempenho escolar se comparado ao
grupo de crianças que permanecem apenas com as atividades regu-
lares. Outros trazem também, através de estudos de follow-up, que os
ganhos se mantêm depois de um tempo da intervenção.

No Brasil, há alguns programas voltados para crianças para estimular as


funções executivas, como o PIAFEx, PENcE, Heróis de Mente. Quando
realizei o programa do PENcE o objetivo foi exatamente voltado para os
componentes pilares das funções executivas a memória de trabalho,
planejamento e controle inibitório, atualmente, estamos avançando no

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programa com um projeto para aumentar para além desses compo-


nentes e acrescentar mais formigas de regulação emocional que é alvo
e foco também dentro das funções executivas. Assim para além dos
programas, sabe-se que adoção de medidas específicas também pode
contribuir para manter, ou até mesmo evitar prejuízos cognitivos, como
por exemplo, práticas de exercícios físicos, frequência diária de hábitos
de leitura e escrita para além da escola, yoga, mindfulness, atividades
com músicas, alimentação saudável, qualidade do sono, entre outros.

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